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Continuidade de atratores para sistemas dinâmicos: decomposição de Morse, equi-atração e domínios ilimitados Henrique Barbosa da Costa

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  • Continuidade de atratores para sistemas dinâmicos:decomposição de Morse, equi-atração e domínios

    ilimitados

    Henrique Barbosa da Costa

  • SERVIÇO DE PÓS-GRADUAÇÃO DO ICMC-USP

    Data de Depósito:

    Assinatura: ______________________

    Henrique Barbosa da Costa

    Continuidade de atratores para sistemas dinâmicos:decomposição de Morse, equi-atração e domínios ilimitados

    Tese apresentada ao Instituto de CiênciasMatemáticas e de Computação – ICMC-USP,como parte dos requisitos para obtenção do títulode Doutor em Ciências – Matemática. EXEMPLARDE DEFESA

    Área de Concentração: Matemática

    Orientador: Prof. Dr. Alexandre Nolasco de Carvalho

    USP – São CarlosJunho de 2016

  • Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Prof. Achille Bassie Seção Técnica de Informática, ICMC/USP,

    com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

    Costa, Henrique Barbosa daC834c Continuidade de atratores para sistemas dinâmicos:

    decomposição de Morse, equi-atração e domíniosilimitados / Henrique Barbosa da Costa; orientadorAlexandre Nolasco de Carvalho. – São Carlos – SP,2016.

    120 p.

    Tese (Doutorado - Programa de Pós-Graduação emMatemática) – Instituto de Ciências Matemáticas e deComputação, Universidade de São Paulo, 2016.

    1. Atratores. 2. decomposição de Morse.3. semifluxos multívocos. 4. equi-atração.5. semifluxos skew-product. 6. equação deChafee-Infante. 7. espaços uniformemente locais.8. continuidade de atratores. I. Carvalho, AlexandreNolasco de, orient. II. Título.

  • Henrique Barbosa da Costa

    Continuity of attractors for dynamical systems: Morsedecomposition, equi-attraction and unbounded domains

    Doctoral dissertation submitted to the Instituto deCiências Matemáticas e de Computação – ICMC-USP, in partial fulfillment of the requirements for thedegree of the Doctorate Program in Mathematics.EXAMINATION BOARD PRESENTATION COPY

    Concentration Area: Mathematics

    Advisor: Prof. Dr. Alexandre Nolasco de Carvalho

    USP – São CarlosJune 2016

  • Aos meus pais,

    minha irmã e

    meu irmão.

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeço a todas as pessoas que, direta ou indiretamente, ajudaram e apoiaram meucrescimento pessoal e profissional. Meus pais, irmãos, amigos, colegas e professores, queparticiparam, incentivaram e influenciaram minha trajetória acadêmica. Ao meu orientador,Alexandre Nolasco, exemplo de dedicação e amor pelo trabalho, por acreditar em mim e à minhanamorada, Ana, por manter a minha estabilidade.

    Agradeço à FAPESP pela confiança e apoio financeiro e à CAPES pelo financiamento aoestágio no exterior.

  • “O universo é uma harmonia de contrários.”

    (Pitágoras)

  • RESUMO

    COSTA, H. B.. Continuidade de atratores para sistemas dinâmicos: decomposição deMorse, equi-atração e domínios ilimitados. 2016. 120 f. Tese (Doutorado em Ciências –Matemática) – Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC/USP), São Carlos –SP.

    Neste trabalho estudamos a dinâmica assintótica de problemas parabólicos sob vista de diferentesteorias, particularmente interessados na estabilidade das propriedades dinâmicas dos sistemas.Estudamos a equi-atração no caso não autônomo pelos semifluxos skew-product, que transfor-mam o sistema dinâmico não autônomo em um autônomo num espaço de fase conveniente. Paramodelos multívocos, em que o semifluxo é uma função cujos valores são conjuntos, desenvolve-mos a decomposição de Morse e mostramos sua equivalência com a existência de um funcionalde Lyapunov, que é um resultado muito importante na teoria de semigrupos. Também estudamosa continuidade da dinâmica assintótica de um problema parabólico em um domínio ilimitadoquando o aproximamos por domínios limitados específicos.

    Palavras-chave: Atratores, decomposição de Morse, semifluxos multívocos, equi-atração, semi-fluxos skew-product, equação de Chafee-Infante, espaços uniformemente locais, continuidade deatratores.

  • ABSTRACT

    COSTA, H. B.. Continuidade de atratores para sistemas dinâmicos: decomposição deMorse, equi-atração e domínios ilimitados. 2016. 120 f. Tese (Doutorado em Ciências –Matemática) – Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC/USP), São Carlos –SP.

    In this work we study assimptotic properties of parabolic problems under some different view ofpoints, particularlly interested in the stability properties of the systems. We study equi-attractionin the non autonomous case using skew-product semiflows, which transform the non autonomousdynamical system into a autonomous one in a convenient phase space. For multivalued semiflows,in which the semiflow is a set valued function, we develop the Morse decomposition and showits equivalence with admiting a Lyapunov funcional, wich is a important result on the semigrouptheory. We also study the continuity of the asymptotic dynamic for a parabolic problem in anunbouded domain when we approach it by bounded ones.

    Key-words: Attractors, Morse decomposicion, multivalued semiflows, equi-attraction, skew-product semiflows, Chafee-Infante equation, locally uniform spaces, continuity of attractors.

  • SUMÁRIO

    1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

    2 PRELIMINARES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 192.1 Semigrupos, processos e atratores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 202.2 Continuidade de atratores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 252.3 Dinâmica gradiente e decomposição de Morse . . . . . . . . . . . . . 282.4 Equi-atração para sistemas dinâmicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 322.5 Semifluxos skew-product . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 372.6 Espaços uniformemente locais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 412.7 Inclusões diferenciais e semifluxos multívocos . . . . . . . . . . . . . 502.8 A equação autônoma de Chafee-Infante . . . . . . . . . . . . . . . . 56

    3 EQUI-ATRAÇÃO E CONTINUIDADE DE SEMIFLUXOS SKEW-PRODUCT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

    3.1 Sobre semifluxos skew-product . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 643.1.1 Equiatração e continuidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 643.1.2 Taxas de convergência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 673.2 Equiatração para sistemas não-autônomos . . . . . . . . . . . . . . . 683.2.1 Para atratores uniformes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 683.2.2 Equiatração para atratores cociclo e pullback . . . . . . . . . . . . . 723.3 A relação entre continuidade dos distintos atratores . . . . . . . . . 753.4 Aplicação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

    4 DECOMPOSIÇÃO DE MORSE MULTÍVOCA . . . . . . . . . . . . 814.1 Semifluxos multívocos dinamicamente gradientes, decomposições

    de Morse e funções de Lyapunov . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 814.1.1 Dinâmica gradiente implica decomposição de Morse . . . . . . . . . 834.1.2 Funcional de Lyapunov implica em dinâmica gradiente . . . . . . . . 864.1.3 Decomposição de Morse implica em funcional de Lyapunov . . . . . 874.2 Infinitos componentes de Morse . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 914.2.1 Dinâmica gradiente implica decomposição de Morse . . . . . . . . . 954.2.2 Funcional de Lyapunov implica dinâmica gradiente . . . . . . . . . . 964.2.3 Decomposição de Morse implica em funcional de Lyapunov . . . . . 984.3 Aplicação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99

  • 5 CONTINUIDADE DE ATRATORES PARA CHAFEE-INFANTE . . 1055.1 A semicontinuidade superior de atratores globais . . . . . . . . . . . 1085.2 Sobre a semicontinuidade inferior . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110

    REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115

  • 17

    CAPÍTULO

    1INTRODUÇÃO

    A teoria de sistemas dinâmicos descreve fenômenos que evoluem com o tempo e, dessamaneira, servem como modelagem para diversas áres da ciência como física, biologia e economia.Estudar a dinâmica assintótica de um sistema dinâmico é avaliar seu comportamento futuro,neste contexto a existência dos chamados atratores nos permite compreender o padrão de umsistema. Neste trabalho estudamos sistemas dinâmicos sob algumas perspectivas, em todas elas aexistência de atrator tem papel fundamental.

    Como, em modelagem matemática, todas as medidas e relações são feitas com erros,isto é, erros de medição e que simplificação do modelo, devemos estar sempre preocupados senossos modelos ainda aproximam bem a realidade. Em outras palavras, devemos estar semprecientes que nossos modelos são estáveis por perturbações, de modo que assim garantimos queos resultados obtidos são confiáveis. Uma modelagem que não garanta esta estabilidade podeassumir grandes erros com variações pequenas dos dados e deixa de ser confiável para previsõesa longo prazo. Com isto em vista, estudamos aqui a continuidade sistemas dinâmicos, que, emtermos matemáticos, se traduz em semicontinuidade dos conjuntos atratores, ou seja, queremospoder a dinâmica do atrator limite não é perdida quando perturbamos o sistema.

    A teoria de Morse apresenta um papel importante para o estudo das estruturas do atratorglobal, é um resultado bem conhecido para teoria de semigrupos que existe uma decompo-sição de Morse se e somente se o semigrupo é dinamicamente gradiente (CONLEY, 1978;RYBAKOWSKI, 2012). Foi demonstrado recentemente que estas propriedades são equivalentestambém à existência de um funcional de Lyapunov associado ao sistema (ARAGÃO-COSTAet al., 2011; PATRÃO, 2007). Esta teoria foi estendida quando o número de compontentesinvariantes de Morse é infinito (CARABALLO et al., 2013) enquanto em (CARABALLO etal., 2015) o caso não autônomo é considerado. Sistemas gradientes são importantes pois sãouma classe ampla, devido aos resultados citados anteriormente, de sistemas que são estáveis porperturbações (CARVALHO; LANGA, 2009).

  • 18 Capítulo 1. Introdução

    Quando tratamos de problemas não autônomos uma importante ferramenta em desenvol-vimento para o estudo da dinâmica são os semifluxos skew-product. Tais semifluxos transformamo sistema não autônomo em um sistema autônomo num espaço produto de uma forma bem enge-nhosa (SACKER; SELL, 1977; SACKER; SELL, 1973; SELL; YOU, 2013). A teoria de Morsee suas equivalências foi descrita para semifluxos skew-product (BORTOLAN; CARVALHO;LANGA, 2014). Contudo, a propriedade de equi-atração, inerente dos sistemas dinâmicos quesão estáveis por perturbação (BABIN; VISHIK, 1992; LI, 2007), a relação desta propriedadecom a continuidade no contexto de semifluxos skew-product era um problema a ser tratado.

    Vamos descrever o conteúdo da tese de doutoramento. No Capítulo 2 enumeramosconhecimentos preliminares que são importantes e foram estudados para o desenvolvimento dorestante do trabalho. Há uma grande mistura entre resultados clássicos e novos conceitos, quedemonstram nossa abordagem aos problemas.

    No Capítulo 3 desenvolvemos a relação entre equi-atração para semifluxos do tipo skew-product e continuidade de atratores globais para estes semifluxos. Ainda tratamos da equi-atraçãopara as diversas noções de atratores para sistemas não autônomos relacionados ao semifluxoskew-product, para ser mais preciso, a equi-atração dos atratoers uniformes e atratores cociclo.Por fim, relacionamos as continuidades dos diferentes conceitos de atratores.

    No Capítulo 4 desenvolvemos a teoria de Morse para semifluxos multívocos, original-mente gerados por soluções de problemas de Cauchy cuja unicidade não pode ser garantida.Trabalamos tanto com o caso com finitos ou infinitos componentes de Morse para o sistema.

    Finalmente, em 5, estudamos um problema parabólico, investigando a continuidade dosatratores globais do sistema. O problema tratado é uma equação de Chafee-Infante (CHAFEE;INFANTE, 1974). Aproximamos o sistema gerado pelas soluções globais do problema de Chafee-Infante em um domínio ilimitado pelo problema posto em domínios limitados que preenchem oprimeiro quando passando ao limite. Obtemos semicontinuidade superior dos atratores globaisdos sistemas e uma resposta parcial para a semicontinuidade inferior.

  • 19

    CAPÍTULO

    2PRELIMINARES

    Neste capítulo apresentaremos os conceitos básicos necessários para o entendimentodo trabalho realizado e está aqui de modo que nosso texto seja fechado e o leitor não necessite(tanto quanto for possível) recorrer a textos auxiliares.

    Começaremos o capítulo apresentando os sistemas dinâmicos na Seção 2.1, tanto nocaso autônomo como não autônomo, e apresentamos a definição de atrator, o conjunto quecontém toda a dinâmica assintótica do sistema. Na seção seguinte introduzimos o conceito decontinuidade, que nos dirá se nossa estrutura é consistente e estável por perturbações, propriedadevital na modelagem matemática. Vale notar que obter a semicontinuidade inferior requer maiorconhecimento das estruturas dos atratores, o que pode ser bastante complexo. Na Seção 2.3apresentamos condições necessárias e suficientes para que um sistema dinâmico possua aestrutura necessária para se obter a continuidade de atratores, que leva o nome de dinâmicagradiente.

    Alternativamente, demonstramos que a continuidade de atratores é equivalente a pro-priedade de equi-atração da família de atratores do sistema. Na Seção 2.4 comparamos as duasdefinições.

    Dessa forma passamos pelo básico dos sistemas dinâmicos não lineares e entramosem detalhes de seus ramos nas seções seguintes. Na Seção 2.5 apresentamos a definição desemifluxos skew-product, que são uma maneira de converter um sistema não autônomo em umsistema autônomo num espaço de fase conveniente. Estudamos as propriedades assintóticas dossemifluxos skew-product e outros objetos da dinâmica assintótica que surgem naturalmente aofazermos esta análise.

    Na Seção 2.6 desenvolvemos a teoria dos espaços localmente uniformes, que são alterna-tivas para desenvolver semifluxos e resolver sistemas relacionados a equações diferenciais emque o domínio de definição não é limitado, uma vez em que os convencionais espaços de funçõesLebesgue integráveis são muito restritos nesse caso.

  • 20 Capítulo 2. Preliminares

    Estudamos inclusões diferenciais e sua relação com semifluxos multívocos na Seção2.7. Desenvolvemos esta teoria de semifluxos que surgem nas aplicações quando não podemosgarantir unicidade de soluções de uma equação diferencial, por exemplo. Apresentamos conceitosrelacionados ao atrator global de um semifluxo multívoco e também sobre estruturas do atratorglobal.

    Finalmente, na Seção 2.8, estudamos a equação de Chafee-Infante autônoma com condi-ções de Dirichlet definidas no domínio [0,π] da reta e mostramos as propriedades do seu atratorglobal, tendo em vista nossa aplicação.

    2.1 Semigrupos, processos e atratoresNesta seção apresentaremos o alicerce do nosso trabalho. A teoria de sistemas dinâmi-

    cos não lineares estuda um certo modelo condicionado a uma regra de evolução. As referên-cias para esta seção são inúmeras, recomendamos os trabalhos clássicos (BABIN; VISHIK,1992; BILLOTTI; LASALLE, 1971; HALE; MAGALHAES; OLIVA, 2013; TEMAM, 2013;LADYZHENSKAYA, 1991) e, mais recentemente, (CARVALHO; LANGA; ROBINSON, 2012;CHOLEWA; DLOTKO; SOCIETY, 2000; ROBINSON, 2001).

    O espaço fase em que a dinâmica ocorre será denotado por X , em geral, (X ,d) é umespaço métrico, porém a maioria dos casos trabalhados neste texto nos especificamos a espaçosde Banach ou Hilbert. Denotaremos por C (X) o conjunto de todas as funções contínuas de X emX .

    Um processo, ou processo de evolução, em X é uma família de aplicações {S(t,s) : t ≥ s}em C (X) tal que:

    1. S(t, t) = I, para todo t ∈ R,

    2. S(t,s) = S(t,τ)S(τ,s), para todo t ≥ τ ≥ s,

    3. (t,s,x) ↦→ S(t,s)x é contínuo, para todo t ≥ s e x ∈ X .

    Dado um processo, a solução correspondente à condição inicial x(s) = xs é a aplicação t ↦→S(t,s)xs de [s,∞] em X .

    O operador S(t,s) toma a cada dado x em X no tempo inicial s e evolui até o estadoS(t,s)x com tempo final t. Sobre hipóteses apropriadas, soluções da equação diferencial nãoautônoma ẋ = f (t,x) gerará um processo pondo S(t,s)x = x(t,s;x), isto é, S(t,s)x é a soluçãono tempo t com valor initial x(s) = x.

    Um processo que depende apenas do tempo decorrido, isto é, um processo de evoluçãopara o qual S(t,s) = S(t− s,0), para todo t ≥ s, é chamado um processo autônomo e a famíliade operadores {T (t) : t ≥ 0} dada por T (t) := S(t,0), t ≥ 0, satisfaz

  • 2.1. Semigrupos, processos e atratores 21

    1. T (0) = I,

    2. T (t + s) = T (t)T (s), para todo t,s≥ 0,

    3. (t,x) ↦→ T (t)x é contínuo, para todo t ≥ 0 e x em X .

    Uma família {T (t) : t ≥ 0} em C (X) que verifica as hipóteses acima é chamada de semigrupo.

    Para um processo autônomo S(·, ·) com S(t,s) = T (t− s) para todo t ≥ s, o comporta-mento das soluções quando t→ ∞, que é conhecido como dinâmica forward, é equivalente aocomportamento das soluções quando s→−∞, o que é chamado de dinâmica pullback. Paraprocessos gerais os limites dinâmicos acima podem não ter relação nenhuma e produzirempropriedades qualitativas completamente diferentes.

    Atratores globais desempenham papel fundamental no estudo dos sistemas dinâmicos esua dinâmica assintótica. Vamos apresentar aqui os principais resultados e definições sobre osatratores e discutir as diferenças que surgem no caso autônomo e não autônomo.

    Começamos introduzindo um significado para o termo atração. Denotamos por dist(A,B)a semidistância de Haussdorf entre os conjuntos A e B, definida por

    dist(A,B) = supa∈A

    infb∈B

    d(a,b).

    Observamos que dist(A,B) = 0 implica apenas que A⊂ B.

    A distância de Haussdorf, denotada por distH(·, ·), é definida pondo

    distH(A,B) = max{dist(A,B),dist(B,A)} . (2.1.1)

    Definição 2.1.1. Dizemos que A atrai B (sob ação de T (·)) se dist(T (t)B,A)→ 0, quandot→+∞.

    Definição 2.1.2. Um conjunto A⊂ X é invariante por T (·) se T (t)A = A para todo t ≥ 0.

    Observamos que um conjunto é invariante não apenas implica que uma solução quecomece em A continua em A (i.e. T (t)A⊆ A para todo t ≥ 0). Portanto um conhecimento dastrajetórias com condições iniciais em A é essencial para o entendimento da dinâmica assintótica,uma vez em que A não “encolhe” quando evolui.

    Definição 2.1.3. Uma função contínua x(·) : R→ X é uma solução global de T (·) se satisfazT (t)x(s) = x(t + s) para todo s ∈ R e t ≥ 0.

    A órbita de uma solução global é o conjunto

    Γ(x(·)) =⋃t∈R

    x(t).

    O lema abaixo caracteriza os conjuntos invariantes por um semigrupo.

  • 22 Capítulo 2. Preliminares

    Lema 2.1.4. Um conjunto A é invariante sobre T (·) se e somente se consiste da coleção deórbitas de soluções globais.

    Definimos agora um atrator para um semigrupo.

    Definição 2.1.5. Um conjunto A ⊆ X é um atrator global para o semigrupo T (·) se

    (i) A é compacto;

    (ii) A é invariante; e

    (iii) A atrai cada conjunto limitado de X .

    Está claro que decorre das propriedades (i)− (iii) que se há um atrator global A paraum semigrupo T (·), então ele é único. Caracterizamos o atrator global com respeito à família decompactos que atraem limitados e, também, com respeito à família de invariantes limitados efechados. Mais precisamente:

    Lema 2.1.6. O atrator global A de um semigrupo T (·) é o compacto minimal que atrai cadalimitado de X e o conjunto invariante limitado e fechado maximal.

    Teorema 2.1.7. Se um semigrupo T (·) possui um atrator global A , então

    A = {x ∈ X : existe uma solução global limitada x : R→ X com x(0) = x}. (2.1.2)

    No contexto de sistemas dinâmicos não autônomos precisamos de mais cuidado para adefinição de atrator global pois alguns problemas surgem. Neste caso, em geral, trabalhamoscom a atração pullback. Vários trabalhos na literatura trazem interessantes aplicações a respeitodos processos de evolução e os conhecidos atratores pullback. Citamos, por exemplo, (CHE-BAN; KLOEDEN; SCHMALFUSS, 2002; CARVALHO et al., 2007; CARVALHO; LANGA;ROBINSON, 2012) e (KLOEDEN, 2000)

    Um conjunto não autônomo é uma família de conjuntos indexados em um espaço métrico,isto é, uma coleção {Z(λ )⊂ X : λ ∈ Λ}. Os elementos individuais do conjunto não autônomosão chamados de “fibras” ou “seções” do conjunto.

    Definição 2.1.8. Um conjunto não autônomo A (·), indexado em R, é invariante pelo processoS(·, ·) se

    S(t,τ)A(τ) = A(t), para todo t,τ ∈ R com t ≥ τ.

    De modo a abreviar e refletir a terminologia autônoma nos referiremos a tal famíliatambém como um conjunto invariante.

    Definição 2.1.9. Uma solução global para um processo S(·, ·) é uma função ξ : R→ X tal queS(t,s)ξ (s) = ξ (t) para todo t ≥ s.

  • 2.1. Semigrupos, processos e atratores 23

    Assim como o Lema 2.1.4 no caso não autônomo podemos caracterizar os conjuntosinvariantes.

    Lema 2.1.10. Uma conjunto não autônomo A(·) é invariante sobre S(·, ·) se e somente se consistede uma coleção de soluções globais.

    Vamos definir agora o conceito de atração pullback.

    Definição 2.1.11. Seja S(·, ·) um processo de evolução. Dado t ∈ R dizemos que um conjunto Apullback atrai B no tempo t sob ação de S(·, ·) se

    lims→−∞

    dist(S(t,s)B,A) = 0. (2.1.3)

    Dizemos ainda que A atrai limitados no tempo t se (2.1.3) é válido para cada limitadoB em X . Um conjunto não autônomo A(·) em X atrai pullback limitados de X sob o processoS(·, ·) se A(t) atrai pullback limitados de X no tempo t sob S(·, ·) para cada t ∈ R.

    Vamos então apresentar o conceito de atrator pullback.

    Definição 2.1.12. Uma família {A (t) : t ∈R} é um atrator pullback para o processo de evoluçãoS(·, ·) se

    (i) A (t) é compacto para cada t ∈ R;

    (ii) A (·) é invariante com respeito a S(·, ·);

    (iii) A (·) atrai pullback limitados de X ; e

    (iv) A (·) é a família minimal de fechados com a propriedade (iii).

    A propriedade (iv) em geral é requisitada pois sem ela não há garantias da unicidadedo atrator pullback, ver, por exemplo, (CARVALHO; LANGA; ROBINSON, 2012, Definition1.12).

    No nosso trabalho de doutoramento sempre supomos como hipótese a existência doatrator global, ou pullback, para o semigrupo, ou processo, em questão. A seguir vamos citar,em virtude da completude da teoria, definições e resultados que caracterizam o atrator de umsistema dinâmico e condições suficientes para um sistema dinâmico possuir atrator.

    Vamos assumir que S(·, ·) é um processo no espaço métrico (X ,d).

    Definição 2.1.13. O ω-limite pullback no tempo t de um subconjunto B de X é definido por

    ω(B, t) :=⋂τ≤t

    ⋃s≤τ

    S(t,s)B (2.1.4)

  • 24 Capítulo 2. Preliminares

    ou, equivalentemente,

    ω(B, t) ={

    y ∈ X : existem sequências {sk} ≤ t, skk→∞−→−∞

    e {xk} ⊂ B tais que y = limk→∞

    S(t,sk)xk}.

    (2.1.5)

    Está claro que se T (·) é um semigrupo e ST (·, ·) o processo correspondente, então ω(B, t)independe de t e

    ω(B) =⋂s≥0

    ⋃τ≥s

    T (τ)B. (2.1.6)

    Lema 2.1.14. Se K é compacto em X e {xn} ∈ X é uma sequência com dist(xn,K)→ 0, quandon→ ∞, então {xn} tem uma subsequência convergente cujo limite está em K.

    Definição 2.1.15. Um processo S(·, ·) num espaço métrico X é assintoticamente pullback com-pacto se, para cara t ∈R, cada sequência {sk}≤ t com sk→−∞, quando k→∞, e cada sequêncialimitada {xk} ∈ X a sequência {S(t,sk)xk} possui subsequência convergente.

    Se T (·) é um semigrupo, então o processo ST (·, ·) correspondente é pullback assintotica-mente compacto se, e somente se, para cada sequência limitada {xk} ∈ X e sequência {tk} ≥ 0com tk

    k→∞−→ ∞, a sequência {T (tk)xk} possui subsequência convergente. Neste caso dizemos queT (·) é assintoticamente compacto.

    Lema 2.1.16. Sejam S(·, ·) um processo de evolução assintoticamente compacto e B um sub-conjunto limitado não vazio de X . Então, para cada t ∈ R, ω(B, t) é não vazio, compacto, atraipullback B no tempo t e S(τ, t)ω(B, t) = ω(B,τ), para todo τ ≥ t.

    Teorema 2.1.17. São equivalentes:

    ∙ O processo S(·, ·) possui atrator pullback A (·).

    ∙ Existe uma família de compactos K(·) que pullback atrai limitados de X sob S(·, ·).

    Em ambos casos

    A (t) =⋃{ω(B, t) : B⊂ X , B é limitado}, (2.1.7)

    e A (·) é minimal no sentido de que se existe outra família de fechados limitados Ã(·) quepullback atrai limitados de X sob S(·, ·), então A (t)⊆ Ã(t), para todo t ∈ R.

    No caso autônomo a caracterização do atrator global é um tanto mais simples.

    Corolário 2.1.18. Seja T (·) um semigrupo. Existe atrator global A para T (·) se, e somentese, existe um compacto K de X que atrai todos limitados de X sob ação de T (·). Neste caso,A = ω(K).

  • 2.2. Continuidade de atratores 25

    2.2 Continuidade de atratoresNesta seção vamos definir o conceito de estabilidade com o qual trabalharemos. Estabili-

    dade significa que nossos modelos são coerentes com falhas de medições e aproximações. Nadinâmica assintótica é comum associar a estabilidade com a continuidade dos atratores globaispara sistemas dinâmicos. Usaremos como referência para esta seção os trabalhos (BABIN;VISHIK, 1992; CARVALHO; LANGA; ROBINSON, 2009; CARVALHO; LANGA; ROBIN-SON, 2012; CARVALHO; LANGA, 2007; HALE; RAUGEL, 1989; HALE; LIN; RAUGEL,1988) e (HALE, 2010).

    Vamos então definir o conceito de continuidade com o qual trabalharemos.

    Definição 2.2.1. Sejam (X ,d) um espaço métrico e Λ um espaço de parâmetros com umamétrica. Se {Aλ : λ ∈ Λ} é uma família de subconjuntos de X , diremos que

    1. {Aλ : λ ∈ Λ} é semicontínua superiormente em λ0 se

    dist(Aλ ,Aλ0)→ 0 quando λ → λ0.

    2. {Aλ : λ ∈ Λ} é semicontínua inferiormente em λ0 se

    dist(Aλ0 ,Aλ )→ 0 quando λ → λ0.

    3. Se {Aλ : λ ∈ Λ} for simultaneamente semicontínua superior e inferiormente em λ0,diremos que a família é contínua em λ0.

    O resultado a seguir é bastante utilizado para caracterizar o comportamento semicontíniosuperior e inferior através de sequências de {Aλn} com λn→ λ0.

    Lema 2.2.2. Seja X e Λ espaços métricos e {Aλ : λ ∈Λ} uma família de compactos de X . Então

    ∙ Aλ é semicontínua superiormente em λ0 se, e somente se, sempre que λn→ λ0, quandon → ∞, qualquer sequência xn ∈ Aλn tem uma subsequência convergente cujo limitepertence a Aλ0;

    ∙ Aλ é semicontínua inferiormente em λ0 se, e somente se, para todo x0 ∈ Aλ0 e λn→ λ0existe uma sequência xn ∈ Aλn tal que xn→ x0 quando n→ ∞.

    Daremos, no restante da seção, condições suficientes para uma família de sistemasdinâmicos autônomos e não autônomos ser semicont́inua superior e inferiormente.

    Diremos que a família de semigrupos {Tη(·) : η ∈ [0,1]} no espaço de Banach X écontínua em η = 0 se

    supt∈[0,T ]

    supx∈K‖Tη(t,x)−T0(t,x)‖→ 0 quando η → 0, (2.2.1)

    para quaisquer T > 0 e K compacto de X .

  • 26 Capítulo 2. Preliminares

    Teorema 2.2.3. Seja {Tη(·) : η ∈ [0,1]} uma família de semigrupos contínua em η = 0. SeTη(·) possui um atrator global Aη , para cada η ∈ [0,1], e⋃

    η∈[0,1]Aη é compacto , (2.2.2)

    então a família {Aη : η ∈ [0,1]} é semicontínua superiormente em η = 0.

    Obter a semicontinuidade inferior de atratores globais é uma tarefa muito mais árdua quea semicontinuidade superior. Necessitamos informações a respeito da estrutura do atrator global.Definiremos, então, a variedade instável de um conjunto invariante, a princípio assumiremos queestes são pontos de equilíbrio, por simplicidade.

    Seja e* um ponto de equilíbrio do semigrupo T (·), isto é, existe uma solução globalξ : R→ X de T (·) tal que ξ (t)≡ e*. A variedade instável de e* é definida por

    W u(e*) ={

    y ∈ X : existe solução global φ : R→ X tal que φ(0) = y e φ(t) t→−∞−→ e*}.

    (2.2.3)

    Dada uma vizinhança V de e*, a variedade instável local de e* é o conjunto dos pontosy de V tais que existe solução gloal φ : R→ X tal que φ(0) = y, φ(t) t→−∞−→ e* e φ(t) ∈V , paratodo t ≤ 0. Denotamos tal conjunto por W uloc(e*).

    Teorema 2.2.4. Seja {Tη(·) : η ∈ [0,1]} uma família de semigrupos contínua em η = 0 quesatisfaz:

    1. Tη(·) tem um atrator global Aη , para cada η ∈ [0,1].

    2. Se Eη denota o conjunto das soluções estacionárias de Tη(·), existe p ∈ N tal que Eη ⊃{e*,η1 , . . . ,e

    *,ηp }, para todo η ∈ [0,1].

    3. Existe δ > 0 para o qual W uδ (e*,ηj ), a variedade instável local tomando V = B(e

    *,ηj ;δ ), é

    tal que a família {W uδ (e*,ηj ) : η ∈ [0,1]} é semicontínua inferiormente.

    4. A0 =p⋃

    j=1

    W u(e*,0j ).

    Então a família {Aη : η ∈ [0,1]} é semicontínua inferiormente em η = 0.

    Os resultados acima podem ser generalizados para o caso não-autônomo considerandoos atratores pullback.

    Consideramos {Sη(·, ·) : η ∈ [0,1]} uma família de processos de evolução em X talque, para cada η , existe atrator pullback Aη(·). Assumimos que os processos se comportam

  • 2.2. Continuidade de atratores 27

    continuamente em η = 0, mais precisamente, suponhamos que para cada t ∈ R, compacto K deX e T > 0,

    supτ∈[0,T ]

    supx∈K

    d(Sη(t, t− τ)x,S0(t, t− τ)x)→ 0, quando η → 0. (2.2.4)

    Suponhamos que para cada t ∈ R, ⋃η∈[0,1]

    Aη(t) é compacto. (2.2.5)

    Adicionalmente, suponhamos que a família de atratores pullback seja limitada no passado, isto é,

    ⋃η∈[0,1]

    ⋃s≤t

    Aη(s) é limitado. (2.2.6)

    Com estas hipóteses vamos apresentar o resultado de semicontinuidade superior.

    Teorema 2.2.5. Seja {Sη(·, ·) : η ∈ [0,1]} uma família de processos com atrator pullback Aη(·)tal que (2.2.4), (2.2.5) e (2.2.6) são satisfeitas. Então Aη(·) é semicontínua superiormente emη = 0, isto é, para cada t ∈ R, a família {Aη(t) : η ∈ [0,1]} é semicontínua superiormente.

    A fim de falarmos da semicontinuidade inferior no caso autônomo foi preciso entrar emdetalhes sobre a estrutura do atrator limite. No caso de semigrupos o ponto chave do Teorema2.2.4 está na família de variedades instáveis locais dos pontos de equilíbrio do sistema. Nocaso de processos de evolução a definição de solução estacionária não tem sentido prático esubstituímos o conceito de solução estacionária por soluções globais do processo de evolução,ver Definição 2.1.9.

    Se E(·) é um conjunto não autônomo limitado no passado, então definimos a variedadeinstável de E(·) como sendo

    W u(E(·)) ={(τ,ζ ) ∈ R×X : existe uma solução global ξ : R→ X de S(·, ·)

    com ξ (τ) = ζ e limt→−∞

    dist(ξ (t),E(t)) = 0}.

    A seção da variedade instável no tempo τ é denotado por

    W u(E(·))(τ) = {ζ : (τ,ζ ) ∈W u(E(·))} .

    E a variedade instav́el local no tempo τ de uma solução global ξ*(·) é definida pondo

    W uδ (ξ*(·))(τ) ={

    ζ ∈ X : existe uma soluçã o global ξ para S(·, ·) com ξ (τ) = ζ ,

    dist(ξ (s),ξ*(s))< δ para todo s≤ τ e dist(ξ (s),ξ*(s))s→−∞−→ 0

    }.

    Vejamos então um resultado que garanta a semicontinuidade inferior da família deatratores pullback Aη(·).

  • 28 Capítulo 2. Preliminares

    Teorema 2.2.6. Seja {Sη(·, ·) : η ∈ [0,1]} uma família de processos com atratores pullbackAη(·). Assumamos que (2.2.4), (2.2.5) e (2.2.6) são satisfeitas. Se

    ∙ existe uma sequência de soluções limitadas no passado {ξ j* (·)} j∈N de S(·, ·) tal que

    A0(t) =∞⋃

    j=1

    W u(ξ j* (·))(t).

    ∙ para cada j ∈ N, existe uma família {ξ j,η* : η ∈ [0,1]}, com ξ j,η* : R→ X uma soluçãolimitada no passado de Sη(·, ·) e t j ∈ R tal que

    supt≤t j

    d(ξ j,η* (t),ξj* (t))

    n→∞−→ 0,

    ∙ a variedade instável local de ξ j,η* (·) se comporta continuamente quando η → 0, isto é,para cada j ∈ N, existe δ j > 0 e t j ∈ R tal que

    supt≤t j

    distH(

    W uδ j(ξ j,η*

    )(t),W uδ j

    (ξ j*)(t))

    n→∞−→ 0.

    Então a família {Aη(·) : η ∈ [0,1]} é contínua para t ∈ I, isto é,

    supt∈I

    distH(Aη(t),A0(t))→ 0, quando η → 0,

    onde I é qualquer intervalo limitado de R.

    2.3 Dinâmica gradiente e decomposição de Morse

    Nesta seção vamos apresentar a decomposição de Morse e mostrar que se um sistemadinâmico admite decomposição de Morse então seu atrator global possui uma dinâmica gradientee existe um funcional de Lyapunov associado.

    Este resultado foi um grande avanço para a área de sistemas dinâmicos não lineares, umavez em sistemas gradientes são contínuos por perturbações, mas, no geral, é uma tarefa difícilencontrar um funcional de Lyapunov associado. Contudo, demonstrar que o atrator global possuiuma dinâmica gradiente pode ser mais simples e, com os resultados que apresentaremos nestaseção, veremos que dinâmica gradiente e existência do funcional de Lyapunov são equivalentes.O que implica diretamente que sistemas dinamicamente gradientes são estáveis por perturbaçãoe, desse modo, uma classe bem ampla de sistemas possui tal propriedade. As referências paraesta seção são os trabalhos (ARAGÃO-COSTA et al., 2011; ARAGÃO-COSTA et al., 2012;ARAGÃO-COSTA et al., 2013; CARVALHO; LANGA; ROBINSON, 2012; CONLEY, 1978;HALE, 2010) e (RYBAKOWSKI, 2012).

  • 2.3. Dinâmica gradiente e decomposição de Morse 29

    Os resultados aqui apresentados também são verificados em processos de evolução,porém nossa aplicação para semifluxos multívocos é feita a partir da teoria de semigrupos,portanto apresentaremos os resultados mais simples.

    Fixemos (X ,‖·‖) um espaço de Banach e um semigrupo T (·) em X , o qual possui atratorglobal A . Usaremos a notação Oε(B) = {x ∈ X : d(x,B)< ε} para a ε-vizinhança de B em X ,mais precisamente

    Oε(B) = {z ∈ X : ‖z−b‖< ε para algum b ∈ B}=⋃b∈B

    B(b,ε),

    onde B(b,ε) é a bola centrada em b e raio ε .

    Definição 2.3.1. Dizemos que M = {M1, . . . ,Mn} é uma família de invariantes isolados (paraT (·)) se existe um δ > 0 para o qual

    Oδ (M j)∩Oδ (Mk) = /0, 1≤ j < k ≤ n,

    e M j é o invariante maximal (com respeito a T (·)) de Oδ (M j).

    Definição 2.3.2. Dizemos que T (·) com atrator global A e família de invariantes isoladosM = {M1, . . . ,Mn} é um semigrupo gradiente com respeito a M se existe uma aplicaçãocontínua L : X → R tal que

    1. a aplicação t ↦→L (T (t)x) é uma função não-crescente em t ≥ 0 para cada x ∈ X ;

    2. L é constante em cada M j; e

    3. L (T (t)x) = L (x) para todo t ≥ 0 se, e só se, x ∈⋃n

    j=1 M j.

    Um função L com tais propriedades é dito uma funcional de Lyapunov para T (·) com respeitoa M .

    Definiremos agora o que seria uma dinâmica gradiente. Para tal, vamos definir formal-mente o que seria uma estrutura homoclínica.

    Definição 2.3.3. Sejam T (·) um semigrupo e M = {M1, . . . ,Mn} uma família de invariantesisolados. Uma estrutura homoclínia em M é uma coleção não vazia {Ml1, . . . ,Mlk} de M ,juntamente com uma coleção de soluções globais {ξl1, . . . ,ξlk}, tais que

    limt→−∞

    dist(ξl j(t),Ml j) = 0 e limt→∞ dist(ξl j(t),Ml j+1) = 0, 1≤ j ≤ k,

    em que El1 = Elk+1 .

    Definição 2.3.4. Um semigrupo T (·) com atrator global A é dinamicamente gradiente com res-peito a família de invariantes isolados M = {M1, . . . ,Mn}, se satisfaz as seguintes propriedades:

  • 30 Capítulo 2. Preliminares

    G1. Dada solução global ξ : R→ X em A , existem j,k ∈ {1, . . . ,n} para os quais

    limt→−∞

    dist(ξ (t),E j) = 0 e limt→∞

    dist(ξ (t),Mk) = 0.

    G2. A família M não possui estruturas homoclínicas.

    Podemos então caracterizar os semigrupos gradientes.

    Teorema 2.3.5. Um semigrupo T (·) é gradiente com respeito a uma família de invariantesisolados M = {M1, . . . ,Mn} se, e somente se, é dinamicamente gradiente com respeito a M .

    Apresentaremos a noção de par atrator-repulsor.

    Definição 2.3.6. Diremos que um subconjunto não vazio A de A é um atrator local se existeε > 0 tal que ω(Oε(A)) = A. O repulsor A* associado ao atrator local A é o conjunto definidopor

    A* = {x ∈A : ω(x)∩A = /0}. (2.3.1)

    O par (A,A*) é chamado um par atrator-repulsor para T (·).

    Não é difícil ver que se (A,A*) é um par atrator-repulsor então A* é fechado, invariante edisjunto de A.

    Observamos que A é um atrator local se, e somente se, é compacto invariante e atrai umaε-vizinhança de si mesmo, para algum ε > 0. Notamos também que a definição de atrator localpedimos que A atraia uma vizinhança de A em X , mas isto equivale a atrair uma vizinhança de Aem A , como veremos nos lemas a seguir, em que supomos que T (·) é um semigrupo em X comatrator global A .

    Lema 2.3.7. Se A é compacto e invariante por T (·) e existe ε > 0 tal que A atrai Oε(A)∩A entãodado δ > 0 existe δ ′> 0 tal que γ+(Oδ ′(A))⊂Oδ (A), onde γ+(Oδ ′(A)) =

    ⋃x∈Oδ ′(A)

    ⋃t≥0 T (t)x,

    a órbita positiva da vizinhança.

    Lema 2.3.8. Seja S(t) := T (t)|A . Claramente S(·) é um semigrupo no espaço métrico A . Se Aé um atrator local para S(·) no espaço métrico A e K é um compacto de A tal que K∩A* = /0,então A atrai K. Além disso, A é um atrator local para T (·) em X .

    Com a noção de atrator local podemos definir a decomposição de morse de um atratorglobal A .

    Definição 2.3.9. Dada uma família crescente /0 = A0 ⊂ A1 ⊂ . . .⊂ An = A de atratores locais,para j = 1, . . . ,n defina M j := A j∩A*j−1. A n-upla ordenada M := (M1, . . . ,Mn) é chamada umadecomposição de Morse de A .

  • 2.3. Dinâmica gradiente e decomposição de Morse 31

    Lema 2.3.10. Seja T (·) um semigrupo dinamicamente gradiente com respeito à família deinvariantes isolados M = {M1, . . . ,Mn}. Então existe um 1≤ k≤ n tal que Mk é um atrator localpara T (·) em X .

    Seja T (·) um semigrupo dinamicamente gradiente com respeito à família de invariantesisolados M = {M1, . . . ,Mn} e assumamos que M1 seja um atrator local para T (·). Segue quecada M j, com j > 1, está contido em M*1 , o repulsor associado a M1.

    Considerando a restrição T1(·) de T (·) a M*1,0 := M*1 , então T1(·) é um semigrupo dina-micamente gradiente em M*1 relativo à família de invariantes isolados {M2, . . . ,Mn}. Podemosassumir, sem perda de generalidade, que M2 é um atrator local para T1(·) em M*1 . Se M*2,1 é orepulsor associado ao conjunto invariante isolado M2 de T1(·) em M*1 podemos prosseguir econsiderar a restrição T2(·) do semigrupo T1(·) a M*2,1 e T2(·) será um semigrupo dinamicamentegrandiente com respeito à família de invariantes isolados {M3, . . . ,Mn}.

    Repetindo o processo, após um número finito de passos, obtemos uma reordenação deM de modo que M j é um atrator local para a restrição de T (·) a M*j, j−1.

    Nestas condições, defina A0 = /0, A1 = M1 e para j = 2,3, . . . ,n

    A j = A j−1∪W u(M j) =j⋃

    k=1

    W u(Mk), (2.3.2)

    em que W u(M) = {x ∈A : existe solução global limitada ξ : R→A com ξ (0) = x e α(ξ )⊂M}, a variedade instável do subconjunto invariante M de A e

    α(ξ ) = {z ∈ X : existe uma sequência tnn→∞−→ ∞ tal que z = lim

    n→∞ξ (−tn)},

    denota o α-limite de uma solução global ξ . Fica claro que An = A .

    Teorema 2.3.11. Seja T (·) um semigrupo dinamicamente gradiente com respeito à família deinvariantes isolados M = {M1, . . . ,Mn} reordenada de maneira que M j é um atrator local para arestrição de T (·) a M*j−1, j−2. Então a família A j definida em (2.3.2) é um atrator local para T (·)em X ,

    M j = A j∩A*j−1e M é uma decomposição de Morse de A .

    Proposição 2.3.12. Seja T (·) um semigrupo dinamicamente gradiente com respeito à famí-lia de invariantes isolados M = {M1, . . . ,Mn} reordenados de maneira que constituam umadecomposição de Morse do atrator global A . Então

    n⋂j=0

    (A j∪A*j) =n⋃

    j=1

    M j. (2.3.3)

    A fim de fecharmos o ciclo de equivalências, devemos construir uma função de Lyapunova partir de uma decomposição de Morse.

  • 32 Capítulo 2. Preliminares

    Lema 2.3.13. Se T (·) é um semigrupo com atrator global A , a função h : X → R definida por

    h(x) = supt≥0

    d(T (t),A ) (2.3.4)

    para x ∈ X , está bem definida, é contínua e a aplicação [0,∞)∋ t ↦→ h(T (t)x)∈R é não crescentepara cada x ∈ X . Ainda mais, h−1(0) = A .

    Lema 2.3.14. Sejam T (·) um semigrupo com atrator global A e (A,A*) um par atrator-repulsorem A . Existe uma função contínua f : X → R satisfazendo:

    1. [0,∞) ∋ t ↦→ f (T (t)x) ∈ R é descrescente para cada x ∈ X .

    2. f−1(0) = A e f−1(1) = A*.

    3. Dado x ∈ X , se f (T (t)x) = f (x) para todo t ≥ 0, então x ∈ A∪A*.

    Os lemas anteriores são uma inspiração para a construção do funcional de Lyapunov.

    Teorema 2.3.15. Sejam T (·) um semigrupo com atrator global A e uma família de invariantesisolados M = {M1, . . . ,Mn}. Se existe uma família crescente de atratores globais /0 = A0 ⊂A1 ⊂ . . .⊂ An = A que constitui uma decomposição de Morse de A , então o semigrupo T (·)é gradiente relativamente a M . Isto é, existe um funcional de Lyapunov relativo à famíliaM . Ainda mais, o funcional L : X → R pode ser escolhido de modo que L (M j) = j− 1,j = 1, . . . ,n.

    2.4 Equi-atração para sistemas dinâmicos

    Nesta seção discutiremos a continuidade de atratores para sistemas dinâmicos, o que éuma maneira de garantir que nossa modelagem é consistente perante perturbações. As referênciasbásicas para esta seção são (CARVALHO; LANGA; ROBINSON, 2009; CARVALHO; LANGA;ROBINSON, 2012; LI; KLOEDEN, 2004). Apresentaremos resultados para semigrupos eprocessos de evolução e também algumas das provas do caso de semigrupos. Optamos por estasprovas pela simplicidade, a generalização para processos de evolução pode ser vista, por exemplo,em (CARVALHO; LANGA; ROBINSON, 2012, Secction 3.4).

    Sejam X um espaço de Banach e {Tη(·) : η ∈ [0,1]} uma família de semigrupos em X esuponhamos que para cada η exista atrator global Aη em X .

    Diremos que {Tη(·) : η ∈ [0,1]} é coletivamente assintoticamente compacta em η = 0se, dadas uma sequência {ηk} com ηk

    k→∞−→ 0, uma sequência limitada {xk} ∈ X e uma sequência{tk} ≥ 0 com tk

    k→∞−→∞ para a qual {Tηk(tk)xk} é limitada em X , então {Tηk(tk)xk} é relativamentecompacta.

  • 2.4. Equi-atração para sistemas dinâmicos 33

    Definição 2.4.1. Seja {Tη(t) : t ≥ 0} um semigrupo com atrator global Aη , para cada η ∈ [0,1],diremos que a família de atratores {Aη : η ∈ [0,1]} equi-atrai subconjuntos limitados de X se

    limt→∞

    supη∈[0,1]

    distH(Tη(t)B,Aη) = 0, (2.4.1)

    para cada subconjunto limitado B de X .

    Mostraremos como este conceito é equivalente à continuidade de atratores.

    Teorema 2.4.2. Seja {Tη(·) : η ∈ [0,1]} uma família de semigrupos que é contínua (como em(2.2.1)) e coletivamente assintoticamente compacta em η = 0. Suponha que Tη(·) tem um atratorglobal Aη para cada η ∈ [0,1] e que

    ⋃η∈[0,1]Aη seja limitado. Se {Aη : η ∈ [0,1]} equi-atrai

    limitados, entãodistH(Aη ,A0)→ 0 quando η → 0.

    Demonstração. SejaB =

    ⋃η∈[0,1]

    Aη (2.4.2)

    que é limitado em X .

    Dado ε > 0, da equi-atração existe t0 = t0(ε,B) tal que

    supη∈[0,1]

    dist(Tη(t)B,Aη)≤ ε, para todo t ≥ t0. (2.4.3)

    Dos fatos de que a família {Tη(·) : η ∈ [0,1]} é contínua e coletivamente assintoticamentecompacta em η = 0 e B é limitado, existe η0 ∈ (0,1] tal que

    dist(Tη(t0)Aη ,T0(t0)Aη)≤ ε, para todo η ≤ η0. (2.4.4)

    De (2.4.3) e (2.4.4), obtemos

    dist(Aη ,A0)≤ dist(Tη(t0)Aη ,T0(t0)Aη)+dist(T0(t0)Aη ,A0)≤ 2ε. (2.4.5)

    De maneira análoga obtemos, de (2.4.3),

    dist(A0,Aη)≤ 2ε. (2.4.6)

    O que completa a prova da continuidade dos atratores.

    Apresentaremos uma recíproca do Teorema 2.4.2. Para tal, diremos que uma família desemigrupos {Tη(·) : η ∈ [0,1]} é uniformemente limitada se⋃

    η∈[0,1]

    ⋃t≥0

    Tη(t)B é limitada

    sempre que B é limitado de X .

  • 34 Capítulo 2. Preliminares

    Teorema 2.4.3. Seja {Tη(·) : η ∈ [0,1]} uma família de semigrupos contínua e coletivamenteassintoticamente compacta em η = 0. Se Tη(·) tem atrator global Aη , para cada η ∈ [0,1], afamília {Tη(·) : η ∈ [0,1]} é uniformemente limitada e que

    distH(Aη ,A0)→ 0, quando η → 0, (2.4.7)

    então para cada sequência {ηk} com ηk→ 0, quando k→∞,⋃

    k∈NAηk é relativamente compactoe {Aηk : k ∈ N} equi-atrai limitados. Consequentemente, existe η0 ∈ (0,1] tal que

    ⋃η∈[0,η0]Aη

    é limitado e {Aη : η ∈ [0,η0]} equi-atrai limitados.

    Demonstração. A compacidade de⋃

    k∈NAηk segue imediatamente da continuidade dos atratoresglobais. Provaremos a equi-atração por contradição. Suponhamos, então, que existam ε > 0,sequências {tk} ≥ 0 com tk→ ∞, quando k→ ∞, e {xk} limitada em X tal que

    dist(Tηk(tk),Aηk)≥ 2ε.

    De (2.4.7) podemos assumir que

    dist(Tηk(tk)xk,A0)≥ ε.

    Da limitação uniforme da família {Tη(·) : η ∈ [0,1]}, segue que

    B =⋃

    k∈N

    ⋃t≥0

    Tηk(t)xk

    é limitado. A continuidade e compacidade assintótica coletiva em η = 0 implicam que para cadat ≥ 0, exite b ∈ B tal que

    dist(T0(t)b,A0)≥ ε

    o que contradiz o fato de que A0 atrai limitados de X sob T0(·). Mostramos assim que a família{Aηk : k ∈ N} equi-atrai limitados de X . A existência de η0 pode ser facilmente demonstradapor um argumento de contradição.

    Um fato interessante da equi-atração é que se tivermos uma estimativa para a continuidadedos semigrupos então podemos passar essa estimativa para medirmos a distância entre os atratoresglobais. O que segue no teorema a seguir.

    Teorema 2.4.4. Seja {Tη(·) : η ∈ [0,1]} uma família de semigrupos para os quais existe atratorglobal Aη , para cada η ∈ [0,1]. Denote B =

    ⋃η∈[0,1]Aη e suponha que existe função contínua e

    estritamente decrescente γ : [0,∞)→ [0,∞) tal que

    supη∈[0,1]

    dist(Tη(t)B,Aη)≤ γ(t), t ≥ 0 (2.4.8)

    esupx∈D

    dist(Tη(t)x,T0(t)x)≤ Eη(t), para todo t ≥ 0 (2.4.9)

  • 2.4. Equi-atração para sistemas dinâmicos 35

    onde Eη(t)→ 0, quando η → 0, para cada t ≥ 0. Dessa maneira, vale a estimativa

    distH(Aη ,A0)≤ infε∈γ([0,∞))

    2{

    Eη(γ−1(ε)+ ε)}. (2.4.10)

    Demonstração. Para cada t ≥ 0,

    dist(Aη ,A0)≤ dist(Tη(t),Aη ,T0Aη)+dist(T0(t)Aη ,A0). (2.4.11)

    De (2.4.9) temos

    dist(Tη(t)Aη ,T0(t)Aη)≤ supx∈Aη

    d(Tη(t)x,T0(t)x)≤ Eη(t).

    Unindo (2.4.9) e (2.4.11) obtemos

    dist(Aη ,A0)≤ Eη(t)+ γ(t).

    Portanto, para ε ∈ γ([0,∞)) e t = γ−1(ε),

    dist(Aη ,A0)≤ Eη(γ−1(ε))+ ε.

    De maneira semelhante obtemos

    dist(A0,Aη)≤ Eη(γ−1(ε))+ ε

    e (2.4.10) está provada.

    Corolário 2.4.5. Suponha que as condições do Teorema 2.4.4 estão satisfeitas com

    ∙ γ(t) = ce−νt para algum c≥ 1, ν > 0 e para todo t ≥ 0;

    ∙ Eη(t) = ρ(η)eLt , t ≥ 0, onde L > 0 e ρ : [0,1]→ [0,∞) é contínua com ρ(0) = 0.

    Então existe uma constante c̃ > 0 tal que

    distH(Aη ,A0)≤ c̃ρ(η)ν

    ν+L .

    Demonstração. No Teorema 2.4.4 tomamos γ−1(ε) = log(c/ε)1ν , de maneira que (2.4.10) leia-

    se

    distH(Aη ,A0)≤ 2 infε∈(0,c]

    {ρ(η)

    ( cε

    ) Lν+ ε}.

    Minimizamos o lado direito da inequação acima e obtemos

    distH(Aη ,A0)≤ 2cL

    L+ν

    ((L

    ν eν

    ) −Lν+L

    +

    (LeL

    ν

    ) νν+L)

    ρ(η)ν

    ν+L

    e a prova está completa.

  • 36 Capítulo 2. Preliminares

    Para processos de evolução podemos recriar resultados análogos aos anteriores, quemostram que equi-atração pullback é equivalente à continuidade de atratores pullback. Vamosconsiderar aqui {Sη(·, ·) : η ∈ [0,1]} uma família de processos de evolução e para cada η ∈ [0,1]suporemos que existe atrator pullback {Aη(t) : t ∈ R}.

    Assumimos, ainda, que para cada t ∈R a família de atratores pullback {Aη(·) : η ∈ [0,1]}satisfaz ⋃

    η∈[0,1]Aη(t) é compacto. (2.4.12)

    Definição 2.4.6. Diremos que a família {Aη(t0) : η ∈ [0,1]} equi-atrai pullback limitados de Xno tempo t0 se

    lims→−∞

    supη∈[0,1]

    dist(Sη(t0,s)B,Aη(t0)) = 0 (2.4.13)

    para cada limitado B de X .

    Teorema 2.4.7. Seja {Sη(·, ·) : η ∈ [0,1]} uma família de processos em X com correspondentesatratores pullback {Aη(·) : η ∈ [0,1]}. Assumamos que (2.2.4), (2.2.6) e (2.4.12) são satisfeitas.Se, para algum t0 ∈ R, {Sη(·, ·) : η ∈ [0,1]} é contínua no tempo t0 e em η = 0 e a família deatratores {Aη(t0) : η ∈ [0,1]} equi-atrai pullback limitados de X , então

    distH(Aη(t0),A0(t0))→ 0, quando η → 0.

    Novamente, para fazermos a recíproca do Teorema 2.6.11 se faz necessário mais hipótesessobre os processos de evolução.

    Definição 2.4.8. Dizemos que a família de processos {Sη(·, ·) : η ∈ [0,1]} é uniformementepullback limitada no tempo t se ⋃

    η∈[0,1]

    ⋃τ≤t

    ⋃s≤τ

    Sη(τ,s)B

    for limitado, sempre que B é um limitado de X .

    Definição 2.4.9. Seja t ∈ R. Dizemos que a família de processos {Sη(·, ·) : η ∈ [0,1]} é coleti-vamente pullback assintoticamente compacta no tempo t e em η = 0 se, sempre que {ηk} é umasequência com ηk→ 0, {sk} ≤ t é uma sequência com sk→−∞, {xk} é uma sequência limitadaem X e {Sηk(t,sk)xk} é limitada, implicar que a sequência {Sηk(t,sk)xk} possui subsequênciaconvergente.

    Podemos ver facilmente a relação entre as definições acima e as respectivas definiçõesno caso de semigrupos.

    Teorema 2.4.10. Seja {Sη(·, ·) : η ∈ [0,1]} uma família de processos em X com correspondentesatratores pullback {Aη(·) : η ∈ [0,1]}. Assuma que para algum t0 ∈ R a família de processos

  • 2.5. Semifluxos skew-product 37

    {Sη(·, ·) : η ∈ [0,1]} é contínua em t0 e em η = 0, úniformemente pullback limitada em t0,coletivamente pullback assintoticamente compacta em t0 e

    distH(Aη(t0),A0(t0))→, quando η → 0,

    então⋃

    η∈[0,1]Aη(t0) é compacto e {Aη(t0) : η ∈ [0,1]} equi-atrai pullback no tempo t0.

    Teorema 2.4.11. Seja {Sη(·, ·) : η ∈ [0,1]} uma família de processos com atratores pullback{Aη(·) : η ∈ [0,1]}. Assumamos que

    ∙ as hipóteses (2.2.4), (2.2.6) e (2.4.12) estão satisfeitas;

    ∙ existe uma função estritamente descrescente ζ : [0,∞)→ [0,∞) com ζ (0) = ζ0 e tal quelims→∞

    ζ (s) = 0 para a qual vale a estimativa

    supη∈[0,1]

    dist(Sη(t,s)

    ⋃η∈[0,1]

    τ≤t

    A (τ),Aη(t))≤ ζ (t− s),

    para todo s≤ t;

    ∙ existem constantes c,L > 0 e sequência {ρk}> 0 com ρkk→∞−→ 0 tal que

    dist(Sη(t,s)x,S0(t,s)y)≤ ceL(t−s)(d(x,y)+ρk).

    Entãodist(Aη(t),A0(t))≤ h(ρk) := min

    ε∈(0,ζ0]2{

    ceLζ−1(ε)ρk + ε

    }.

    Corolário 2.4.12. Assuma as condições do Teorema 2.4.11 são satisfeitas e que existe ν > 0 talque ζ (t− s) = ce−ν(t−s) para todo s≤ t. Então existe uma constrante c̃ > 0 tal que

    distH(Aη(t),A0(t))≤ c̃ρν

    ν+Lk .

    2.5 Semifluxos skew-productNesta seção falaremos sobre os semifluxos skew-product. Como motivação para sua

    definição vamos considerar uma equação diferencial não autônoma num espaço de Banach X{xt = f (t,x),

    x(0) = x0 ∈ X .(2.5.1)

    Consideremos o espaço Cb := Cb(R×X ,X) das funções contínuas e limitadas de R×Xem X munido de uma métrica ρ que o deixa completo e o grupo das translações θ(·) agindo emCb, isto é,

    θ(t) f (s,x) = f (t + s,x), t,s ∈ R e x ∈ X .

  • 38 Capítulo 2. Preliminares

    Suponhamos que f ∈ Cb e seja Σ f o fecho da órbita de f por θ(·), ou seja, Σ f = {θ(t) f : t ∈ R}no espaço métrico Cb.

    Dado σ ∈ Σ f consideramos o sistema{xt = σ(t,x),x(0) = x0 ∈ X

    (2.5.2)

    e para x0 ∈ X seja x(t,x0,σ) a solução de (2.5.2) no tempo t ∈ R com função não autônomaσ ∈ Σ f e condição inicial x(0) = x0. Usaremos a notação ϕ(t,σ)x0 := x(t,x0,σ). Observe quetais soluções satisfazem as seguintes propriedades:

    1. ϕ(0,σ)x0 = x0;

    2. [0,∞)×X×Σ f ∋ (t,x0,σ) ↦→ ϕ(t,σ)x0 ∈ X é contínua; e

    3. (a propriedade do cociclo) ϕ(t + s,σ)x0 = ϕ(t,θ(s)σ)ϕ(s,σ)x0.

    Devido a esta propriedade a aplicação ϕ é conhecida como semifluxo cociclo.

    Uma aplicação ϕ : [0,∞)×X × Σ→ X juntamente com um grupo θ(·) com as pro-priedades acima é chamado de um sistema dinâmico não autônomo (ou nds para abreviar)e denotaremos por (ϕ,θ)(X ,Σ). Contudo podemos ter estes mesmos elementos sem que hajauma equação diferencial envolvida. Por isso vamos apresentar a teoria de forma abstrata, commotivação a aplicação em equações diferenciais não autônomas. As referências desta seção são(BORTOLAN et al., 2013; BORTOLAN; CARVALHO; LANGA, 2014; SELL; YOU, 2013) e(SELL, 1967).

    Suponhamos que (C ,ρ) é um espaço métrico completo com um grupo θ(·) agindo emC , o qual é chamado de grupo diretor.

    Fixamos σ0 ∈ C . Denotamos Γ = {θ(t)σ0 : t ∈ R}, a órbita de σ0 por θ(·) em C e porΣ o fecho de Γ, o qual suporemos ser compacto em C . Por fim, sejam X um espaço de Banach eϕ : [0,∞)×X×Σ→ X um semifluxo cociclo e consideremos o nds (ϕ,θ)X ,Σ0 .

    A seguir vamos explorar as diversas propriedades de atração de um sistema dinâmiconão autônomo (ϕ,θ)(X ,Σ). Mais precisamente, vamos definir os atratores uniforme e cociclo eapresentaremos o semifluxo skew-product, que é um semigrupo em um espaço de fase específico.

    Definição 2.5.1. Seja (ϕ,θ)(X ,Σ) é um sistema dinâmico não autônomo. Um atrator uniformeAη (se existir) para o sistema é o fechado minimal de X tal que

    supσ∈Σ

    dist(ϕ(t,σ)B,Aη)→ 0, quando t→ ∞,

    para cada limitado B de X .

  • 2.5. Semifluxos skew-product 39

    O atrator uniforme performa uma atração forward no tempo uniformemente com respeitoa σ no grupo diretor, citamos (CHEPYZHOV; VISHIK, 2002), e uma caracterização é dadapela propriedade de invariância levantada. Como visto no caso de semigrupos e processos deevolução, soluções globais e a propriedade de ser invariante estão bem conectadas.

    Uma solução global por x e σ do nds (ϕ,θ)(X ,Σ) é uma aplicação ξ : R→ X que satisfaz,para todo t ≥ s,

    ϕ(t− s,θ(s)σ)ξ (s) = ξ (t) e ξ (0) = x.

    Definição 2.5.2. Dizemos que M ⊂ X é levantado invariante pelo nds (ϕ,θ)(X ,Σ) se para cadax em M existe σ ∈ Σ e uma solução global ξ : R→ X passando por x e σ cuja imagem estácontida em M.

    Dizemos ainda que M é um levantado invariante isolado se existe uma vizinhança U deM para a qual M é o levantado invariante maximal em U .

    Proposição 2.5.3. O atrator uniforme para o sistema dinâmico não autônomo (ϕ,θ)(X ,Σ), seexistir, é o levantado invariante limitado maximal em X .

    Vamos definir agora o semifluxo skew-product. Seja (ϕ,θ)(X ,Σ) um sistema dinâmiconão autônomo em (X ,Σ). Associamos a ele o sistema dinâmico autônomo ou semigrupo π(·) emX= X×Σ, com a mética da soma, pondo

    π(t)(x,σ) = (ϕ(t,σ)x,θ(t)σ) , t ≥ 0. (2.5.3)

    Não é difícil ver que π(·) definido como acima é um semigrupo, conhecido como semifluxoskew-product.

    Como semigrupo, o semifluxo skew-product pode possuir atrator global A em X. Aseguir, apresentaremos definições a fim de relacionar o atratores uniformes com o atrator globalpara o semifluxo skew-product.

    Definição 2.5.4. Dizemos que o sistema dinâmico não autônomo (ϕ,θ)(X ,Σ) é uniformementeassintoticamente compacto se existe um compacto K ⊂ X tal que

    limt→∞

    supσ∈Σ

    dist(ϕ(t,σ)B,K) = 0, (2.5.4)

    para todo limitado B de X .

    Proposição 2.5.5. Sejam (ϕ,θ)(X ,Σ) é um sistema dinâmico não autônomo com Σ compacto eπ(·) o semifluxo skew-product correspondente. São equivalentes:

    1. existe um compacto K de X×Σ tal que para todo limitado B de X×Σ

    limt→∞

    dist(π(t)B,K) = 0.

  • 40 Capítulo 2. Preliminares

    2. existe um compacto K de X tal que para todo limitado B de X

    limt→∞

    supσ∈Σ

    dist(ϕ(t,σ)B,K) = 0.

    É consequência direta da proposição acima que a compacidade assintótica uniforme donds (ϕ,θ)(X ,Σ) implica na existência de um atrator global para o semifluxo skew-product π(·).

    Teorema 2.5.6. Se (ϕ,θ)(X ,Σ) é uniformemente assintoticamente compacto e Σ é compacto,então (ϕ,θ)(X ,Σ) tem um atrator uniforme.

    Vamos finalizar a seção falando do semifluxo cociclo e fazendo uma relação entre ospossíveis tipos de estruturas assintóticas apresentadas.

    Diremos que um conjunto não autônomo {A(σ) : σ ∈ Σ}, com A(σ) ⊂ X para todoσ ∈ Σ, é limitado, fechado ou compacto se cada fibra A(σ) é limitada, fechada ou compacta emX , respectivamente.

    Definição 2.5.7. Suponhamos que (ϕ,θ)(X ,Σ) seja um sistema dinâmico não autônomo. Dizemosque o conjunto não autônomo compacto {A(σ) : σ ∈ Σ} é um atrator cociclo para o sistemadinâmico não autônomo se

    (i) A(·) é invariante, isto é, para todo t ≥ 0 e σ ∈ Σ

    ϕη(t,σ)A(σ) = A(θ(t)σ).

    (ii) A(·) Σ-pullback atrai limitados de X , isto é, para cada limitado B de X , temos

    dist(ϕ(t,θ(−t))B,A(σ))→ 0, quando t→ ∞. (2.5.5)

    Teorema 2.5.8. Seja (ϕ,θ)(X ,Σ) um sistema dinâmico não autônomo com Σ compacto. Se π(·),o semifluxo skew-product associado, possui atrator global A, então o conjunto não autônomo{A(σ) : σ ∈ Σ} definido como A(σ) = {x ∈ X : (x,σ) ∈ A} é o atrator cociclo para (ϕ,θ)(X ,Σ).

    Sem hipóteses adicionais a recíproca do teorema anterior não é verdadeira, a princípio oatrator cociclo não é necessariamente limitado em geral. Apresentamos, então, a definição deatração uniforme para obtermos um resultado recíproco.

    Definição 2.5.9. Suponhamos que A(·) é o atrator cociclo para o sistema dinâmico não autônomo(ϕ,θ)(X ,Σ), com Σ compacto. Dizemos que A(·) uniformemente equi-atrai limitados de X se

    limt→∞

    supσ∈Σ

    dist(ϕ(t,θ(−t)σ)B,A(σ)) = 0,

    para todo limitado B de X .

  • 2.6. Espaços uniformemente locais 41

    Teorema 2.5.10. Se A(·) é o atrator cociclo para o nds (ϕ,θ)(X ,Σ) uniformemente equi-atrailimitados de X e ∪σ∈ΣA(σ) é precompacto em X , então o conjunto A associado a A(·), dado por

    A=⋃

    σ∈ΣA(σ)×{σ}

    é o atrator global para o semifluxo skew-product π(·) em X.

    Teorema 2.5.11. Suponhamos que o nds (ϕ,θ)(X ,Σ) seja uniformemente assintoticamente com-pacto, então existe um atrator uniforme A e um atrator cociclo {A(σ) : σ ∈ Σ} e vale

    ⋃σ∈Σ

    A(σ) = A . (2.5.6)

    Vamos agora rapidamente relacionar o semifluxo cociclo de um sistema dinâmico nãoautônomo com processos de evolução.

    Dado um σ em Σ construímos um processo de evolução da seguinte maneira: parat ≥ s ∈ R, defina

    Sσ (t,s) = ϕ(t− s,θ(s)σ). (2.5.7)

    Se {A(σ) : σ ∈ Σ} é o atrator cociclo para o nds (ϕ,θ)(X ,Σ), então o conjunto nãoautônomo {A(θ(t)σ) : t ∈ R)} é o atrator pullback do processo definido em (2.5.7).

    2.6 Espaços uniformemente locais

    Nesta seção vamos explorar os espaços conhecidos como uniformemente locais e geraçãode semigrupos por operadores elípticos nos mesmos. As referências para esta seção são ostrabalhos (ARRIETA et al., 2004; ARRIETA et al., 2007; ARRIETA et al., 2004; CHOLEWA;RODRÍGUEZ-BERNAL, 2009; MIELKE, 1997; WANG, 1999) e (ZELIK, 2003).

    Para 1≤ p < ∞ defina LpU(Rn) = {u ∈ Lploc(R

    n) : supx∈Rn‖u‖Lp(B(x,1)) < ∞,}, onde B(x,1)

    denota a bola de centro em x e raio 1, com norma

    ‖u‖LpU (Rn) = supx∈Rn‖u‖Lp(B(x,1)). (2.6.1)

    Para p = ∞ a definição análoga seria: u ∈ L∞U(Rn) se, e somente se, supx∈Rn‖u‖L∞(B(x,1)) < ∞ e isto

    implica que supx∈Rn|u(x)|< ∞, isto é, L∞U(Rn) = L∞(Rn).

    Observamos que LpU(Rn) contém L∞(Rn), Lq(Rn) e LqU(Rn), sempre que q≥ p.

    Na definição de LpU(Rn) o fato de tomarmos a bola de raio 1 em x é puramente instru-mental. Tomando o raio r > 0 geraríamos os mesmos espaços com normas equivalentes, comconstantes que dependem apenas de n e não de p.

  • 42 Capítulo 2. Preliminares

    Considere o grupo das translações {τy : y ∈ Rn}, τyu(x) = u(x− y), para y ∈ Rn. Deno-tamos por L̇pU(Rn) o subespaço das funções de L

    pU(Rn) que são contínuas por translações com

    respeito à norma ‖ · ‖LpU (Rn). Isto é,

    ‖τyu−u‖LpU (Rn)→ 0, quando ‖y‖→ 0.

    Note que C∞0 (Rn) ⊂ L̇pU(Rn) e portanto Lp(Rn) ⊂ L̇

    pU(Rn), para 1 ≤ p < ∞. Se p = ∞

    temos L̇∞U(Rn) = BUC(Rn) = {u : Rn→ R : u é uniformemente contínua e limitada}. Observa-mos também que BUC(Rn)⊂ L̇pU(Rn), para 1≤ p < ∞.

    Quando Ω⊂ Rn é um domínio ilimitado arbitrário, a definição de LpU(Ω) também fazsentido e geram espaços diferentes dos Lp(Ω) usuais, tomando B(x,1)∩Ω, x ∈Ω, no supremoem (2.6.1) anterior.

    A seguir daremos outra caracterização dos espaços uniformemente locais. Ambas asdefinições se mostram importantes para entendimento de diferentes propriedades, a anterior, naopinião do autor, sendo mais intuitiva e a seguinte tendo muita importância analítica. Para talvamos utilizar funções peso e espaços Lp com peso.

    Seja ρ : Rn → (0,∞) uma função peso. Denotamos como o espaço com peso, para1≤ p < ∞,

    Lpρ(Rn) ={

    u ∈ Lploc(Rn) :

    ∫Rn|u(x)|pρ(x)dx < ∞

    }(2.6.2)

    com a norma dada por ‖u‖Lpρ (Rn) = (∫Rn |u(x)|pρ(x)dx)1/p.

    Consideramos os pesos transladados ρy(x) := τyρ(x) = ρ(x−y), x ∈Rn, e o espaço compeso correspondente Lpτyρ(Rn) = L

    pρy(Rn).

    Desse modo, definimos o espaço uniformemente local

    Lplu(Rn) =

    {u ∈ Lploc(R

    n); supy∈Rn‖u‖Lpρy(Rn) < ∞

    }, (2.6.3)

    com a norma dada por ‖u‖Lplu(Rn) = supy∈Rn ‖u‖Lpρy(Rn).

    Primeiramente, observamos que se ρ ∈ L1(Rn) ∩ L∞(Rn), então Lp(Rn),L∞(Rn) ⊂Lplu(R

    n)⊂ Lpρ(Rn).

    Consideramos também o subespaço L̇plu(Rn) das funções contínuas por translação com

    respeito à norma ‖ · ‖Lplu(Rn). Isto é,

    L̇plu(Rn) =

    {u ∈ Lplu(R

    n) : ‖τyu−u‖Lplu(Rn)→ 0, quando ‖y‖→ 0}.

    Os espaços definidos acima dependem da função peso que escolhida, contudo este detalheé comumente omitido da notação. Definiremos uma classe de funções peso para as quais osespaços Lplu(R

    n) coincidem. Na literatura comumente fixa-se um peso que faz parte desta classe,o mais usual em Rn é a função ρ(x) =

    (1+ |x|2

    )−ν , com ν > n/2.

  • 2.6. Espaços uniformemente locais 43

    Definição 2.6.1. A classe I consiste dos pesos contínuos, estritamente positivos ρ que satisfa-zem as seguintes propriedades:

    (i) ρ ∈ L1(Rn),

    (ii) existem constantes λ ,c > 0 e r ≥ 0 tais que, para qualquer ξ ∈ Rn, com |ξ | ≥ r

    ρ(ξ )≤ c min|x−ξ |≤λ

    ρ(x). (2.6.4)

    Observamos que:

    1. Se ρ ∈I , então ρ ∈ L∞(Rn) e

    supx∈Rn

    ρ(x)≤ cV (λ )

    ∫Rn

    ρ(x)dx, (2.6.5)

    onde V (λ ) =V (1)λ n denota o volume da bola n-dimensional de raio λ .

    2. Se ρ ∈I , então ρα ∈I desde que α ≥ 1.

    3. A condição (ii) é equivalente ao seguinte: “para todo λ > 0, existe c = c(λ )> 0 tal queρ(ξ )≤ c min

    |x−ξ |≤λρ(x), para qualquer ξ ∈ Rn”.

    Em particular, se ρ ∈ I , então para qualquer ε > 0, o peso ρε(x) = ρ(εx) ∈ I e osespaços Lpρε (Rn) e L

    pρ(Rn) coincidem com normas equivalentes.

    Proposição 2.6.2. Assuma que ρ : Rn → (0,∞) é uma função peso contínua e estritamentepositiva. Então Lplu(R

    n) ⊂ LpU(Rn) com inclusão contínua. O mesmo é válido para L̇plu(R

    n) eL̇pU(Rn).

    Se, em adição, ρ ∈I , então os espaços Lplu(Rn) e LpU(Rn) coincidem algébrica e topolo-

    gicamente. O mesmo vale para L̇plu(Rn) e L̇pU(Rn).

    Lembramos que W k,ploc (Rn) é o espaço de todas as funções u ∈ Lploc(R

    n) cujas derivadasdistribucionais Dσ u estão em Lploc(R

    n), para todo σ multi-índice com |σ | ≤ k.

    Definiremos agora os espaços de Sobolev uniformemente locais. Para 1≤ p≤ ∞ defini-mos:

    1. u ∈W k,pρ (Rn) se e só se u ∈Wk,ploc (R

    n) e

    ‖u‖W k,pρ (Rn) = ∑|σ |≤k‖Dσ u‖Lpρ (Rn) < ∞.

  • 44 Capítulo 2. Preliminares

    2. u ∈W k,plu (Rn) se e só se u ∈W k,ploc (R

    n) e

    ‖u‖W k,plu (Rn)= ∑|σ |≤k‖Dσ u‖Lplu(Rn) < ∞.

    Também consideramos o subespaço das funções contínuas por translações na norma‖ · ‖W k,plu (Rn)

    , denotado, como antes, por Ẇ k,plu (Rn).

    3. u ∈W k,pU (Rn) se e só se u ∈Wk,ploc (R

    n) e

    ‖u‖W k,pU (Rn) = ∑|σ |≤k‖Dσ u‖LpU (Rn) < ∞,

    ou, equivalentemente,

    ‖u‖W k,pU (Rn) = supx∈Rn‖u‖W k,p(B(x,1)) < ∞.

    De maneira completamente análoga definimos o subespaço das funções contínuas portranslações denotado por Ẇ k,pU (Rn).

    Para todo x ∈ Rn e h ∈ BRn(0;1), se u ∈W 1,p(B(x,2)) então podemos escrever u(x+h)−u(x) =

    ∫ 10 ∇u(x+ sh) ·hds e, dessa maneira,∫

    B1(x)|u(x+h)−u(x)|pdx≤

    ∫B1(x)

    ∫ 10‖∇u(x+ sh)‖p‖h‖pdsdx

    portanto‖u(·+h)−u‖Lp(B(x,1)) ≤ c‖h‖ (2.6.6)

    em que c = ‖∇u‖Lp(B(x,2)). Isto é, Wk+1,p

    U (Rn)⊂ Ẇk,p

    U (Rn), para todo k ∈ N.

    É importante considerarmos espaços intermediários em adição aos que definimos acima.Para isto considere ((·, ·))θ qualquer functor de interpolação.

    Definição 2.6.3. Para 1 ≤ p < ∞, k ∈ Z+ e s ∈ (k,k+1) ponha θ ∈ (0,1) dado por s = θ(k+1)+(1−θ)k, Isto é, θ = s− k. Definimos os espaços intermediários:

    (i) Para Ω = B(y,1), y ∈ Rn, ou qualquer domínio suave em Rn, definimos

    W s,p(Ω) =((

    W k+1,p(Ω),W k,p(Ω)))

    θ,

    W s,p(Rn) =((

    W k+1,p(Rn),W k,p(Rn)))

    θe

    W s,pρ (Rn) =((

    W k+1,pρ (Rn),Wk,pρ (Rn)

    ))θ.

    (ii)W s,plu (R

    n) =((

    W k+1,plu (Rn),W k,plu (R

    n)))

    θe

    Ẇ s,plu (Rn) =

    ((Ẇ k+1,plu (R

    n),Ẇ k,plu (Rn)))

    θ.

  • 2.6. Espaços uniformemente locais 45

    (iii) Alternativamente, podemos definir o espaço AW s,plu (Rn), o espaço das funções tais que

    supy∈Rn‖u‖W s,pρy (Rn) < ∞,

    com norma dada por

    ‖u‖AW k,plu (Rn)= sup

    y∈Rn‖u‖W s,pρy (Rn).

    E, considerando os elementos contínuos por translações, temos AẆ s,plu (Rn).

    (iv)

    W s,pU (Rn) =

    ((W k+1,pU (R

    n),W k,pU (Rn)))

    θ

    e

    Ẇ s,pU (Rn) =

    ((Ẇ k+1,pU (R

    n),Ẇ k,pU (Rn)))

    θ.

    (v) Como anteriormente, podemos definir o espaço AW s,pU (Rn) como o espaço das funçõestais que

    supy∈Rn‖u‖W s,p(B(y,1)) < ∞

    com norma dada por

    ‖u‖AW s,pU (Rn) = supy∈Rn‖u‖W s,p(B(y,1)).

    E considerando os elementos que são contínuos por translações temos o subespaçoAẆ s,pU (Rn).

    As famílias de espaços definidos acima dependem do functor de interpolação e sãodecrescentes à medida em que aumentamos s e/ou p.

    Lema 2.6.4. Os elementos de Ẇ s,pU (Rn) e Ẇs,plu (R

    n) são contínuos por translação na norma decada espaço respectivamente.

    Em adição aos resultados anteriores, para qualquer functor de interpolação((·, ·))

    θ ,θ ∈ (0,1):

    Proposição 2.6.5. Seja ρ : Rn→ (0,∞) uma função peso contínua e estritamente positiva. Para1≤ p≤ ∞, k ∈ Z+, θ ∈ [0,1) e pondo s = k+θ temos

    (1) para cada y ∈ Rn

    W s,plu (Rn) ⊂ AW s,plu (R

    n) ⊂ W s,pρy (Rn)∩ ∩ ∩

    W s,pU (Rn) ⊂ AWs,p

    U (Rn) ⊂ W s,p(B(y,1))

    em que cada inclusão é contínua. O mesmo vale para os espaços com pontos.

  • 46 Capítulo 2. Preliminares

    (2) Assuma que ρ ∈I , então os espaços W s,pU (Rn) e Ws,plu (R

    n) coincidem algébrica e topolo-gicamente. O mesmo vale para os espaços Ẇ s,pU (Rn) e Ẇ

    s,plu (R

    n).

    Vamos estender a desigualdade de Nirenberg-Gagliardo e as imersões de Sobolev paraos espaços uniformemente locais definidos acima.

    Vamos, primeiro, fixar algumas notações. Se k∈Z+ denotamos por Ckbd(Rn) o espaço das

    funções com todas derivadas parciais contínuas e limitadas até a ordem k, C∞bd =⋂∞

    k=0Ckbd(R

    n) eBUCk(Rn)⊂Ckbd(R

    n) é o subespaço das funções com todas derivadas parciais uniformementecontínuas e limitadas até a ordem k.

    Para k ∈N e µ ∈ (0,1), Ck+µ(Rn) denota o espaço de Banach das funções u∈ BUCk(Rn)uniformemente Hölder contínuas em Rn juntamente com suas derivadas até ordem k, embutidocom a norma

    ‖u‖Ck+µ (Rn) = ∑|σ |≤k

    supx∈Rn|Dσ u(x)|+ ∑

    |σ |=ksup

    0

  • 2.6. Espaços uniformemente locais 47

    é contínua e localmente compacta. Mais ainda,

    ‖u‖Ck+µ (Rn) ≤C‖u‖θAW s,pU (Rn)

    ‖u‖1−θLqU (Rn)

    com 0 < µ < 1, θ ∈ [0,1] e 1 < p,q < ∞ e, ainda,

    k+µ ≤ θ(

    s− np

    )+(1−θ)n

    q.

    (iii) Se ρ ∈ I , a inclusão AW s1,p1U (Rn) ⊂Ws2,p2ρ (Rn) é compacta, desde que s2 ∈ N, s1 > s2,

    1 < p1 ≤ p2 < ∞ e s1− np1 > s2−np2

    .

    A parte (iii) do Lema 2.6.6 é verdadeiro para os espaços W s,pU (Rn) com s ∈ N, contudopodemos estendê-lo para os espaços intermediários pela interpolação.

    Sobre a densidade de espaços de funções nos uniformemente locais enunciamos oseguinte lema.

    Lema 2.6.7. Se ρ ∈I e 1 ≤ p < ∞, então C∞bd(Rn) ⊂⋂

    k∈NẆ k,pU (R

    n) é um subconjunto denso

    de Ẇ s,pU (Rn), para cada s≥ 0.

    Vamos terminar esta seção apresentando alguns resultados que garantem que operadoresde segunda ordem elípticos geram semigrupos analíticos tanto em espaços com peso quanto emespaços uniformemente locais. Os resultados foram extraídos de (ARRIETA et al., 2004).

    Seja

    A :=−n

    ∑k,l=1

    akl(x)∂k∂l +n

    ∑j=1

    b j(x)∂ j + c(x), (2.6.7)

    um operador diferencial de ordem dois com coeficientes a valores complexos satisfazendo fracascondições de regularidade.

    Considere as diferenciações parciais D j =−i∂ j e, renomeando as funções coeficientesem (2.6.7) teremos

    A =n

    ∑k,l=1

    akl(x)DkDl +n

    ∑j=1

    b j(x)D j + c(x) (2.6.8)

    Dizemos que um operador A como em (2.6.8) é elíptico se satisfaz a condição:

    Definição 2.6.8 (Condição de elipticidade uniforme (M,θ0)). Denotemos por

    A0(x,ξ ) =n

    ∑k,l=1

    akl(x)ξkξl, x, ξ ∈ Rn,

    o termo principal de A. Assumimos que os coeficientes akl são limitados e que exitem constantesM > 0 e θ0 ∈ (0,π/2) tais que para todo x,ξ ∈ Rn com |ξ |= 1 valem:

    A0(x,ξ )≥1M

    > 0, (2.6.9)

  • 48 Capítulo 2. Preliminares

    |arg(A0(x,ξ ))| ≤ θ0. (2.6.10)

    Definição 2.6.9 (Operador setorial). Sejam K ≥ 1, a ∈ R e θ ∈ (0,π/2). Dizemos que umoperador linear Λ : D(Λ)⊂ Y → Y é (K,θ ,a)−setorial no espaço de Banach Y se o resolventede Λ contém o setor Sa,θ = {z ∈ C;θ ≤ |arg(z−a)| ≤ π}∪{a} do plano complexo e para todoλ ∈ Sa,θ

    ‖(λ −Λ)−1‖L (Y ) ≤K

    1+ |λ −a|.

    Note que D(Λ) não precisa ser denso em Y , mas Λ é necessariamente fechado.

    Se Λ é setorial, então −Λ gera um semigrupo analítico, contínuo até t = 0 se o domíniode Λ for denso em Y .

    Vamos definir uma segunda classe de pesos que será utilizada nos resultados do final daseção.

    Definição 2.6.10. Dizemos que uma função peso ρ : Rn→ (0,∞) está na classe R = Rρ0,ρ1 se:

    (i) ρ ∈C2(Rn);

    (ii) |∂ jρ(x)| ≤ ρ0ρ(x), para todo x ∈ Rn e j = 1, . . . ,n, onde ρ0 > 0 é uma constante;

    (iii) |∂ j∂kρ(x)| ≤ ρ1ρ(x), para todo x ∈ Rn e j,k = 1, . . . ,n, onde ρ1 > 0 é uma constante.

    Observe que se ρ ∈R então |∇ρ(x− ty)|ρ(x− ty)

    ≤√

    nρ0, o que leva a estimativa

    ρ(x)≤ ρ(x− y)e√

    nρ0|y|, x,y ∈ Rn. (2.6.11)

    Particularmente, se ρ ∈R, então

    ρ(x)≤ c min|y−x|≤λ

    ρ(y),

    com λ ,c > 0 para |x| ≥ r e algum r > 0. E, dessa maneira, se ρ ∈ L1(Rn)∩R, então ρ ∈I .

    Teorema 2.6.11. Sejam 1 < p < ∞, M > 0, θ0 ∈ (0,π/2), θ ∈ (θ0,π/2) e ρ0,ρ1 > 0 dados.Existem constantes C,K ≥ 1 e µ > 0 tais que dado qualquer operador elíptico A ∈ E (M,θ0, p)define um operador (K,θ ,−µ)−setorial no espaço X = Lpρ(Rn), para qualquer ρ ∈Rρ0,ρ1 , comdomínio DX(A) =W

    2,pρ (Rn). Ainda mais, Aµ := µI +A é um isomorfismo linear de DX(A) em

    X e

    ‖Aµ‖L (DX (A),X)+‖A−1µ ‖L (X ,DX (A)) ≤C. (2.6.12)

  • 2.6. Espaços uniformemente locais 49

    Teorema 2.6.12. Sejam 1 < p < ∞, M > 0, θ0 ∈ (0,π/2), θ ∈ (θ0,π/2) e ρ0,ρ1 > 0 dados.Existem constantes C,K ≥ 1 e µ > 0 para os quais qualquer operador elíptico A ∈ E (M,θ0, p)define um operador (K,θ ,−µ)-setorial no espaço X = LpU(Rn) com domínio DX(A) =W

    2,pU (Rn).

    Ainda mais, Aµ := µI +A é um isomorfismo linear de seu domínio, DX(A) em X e vale(2.6.12).

    Além disso, para λ ∈ S−µ,θ ∪{−µ},

    ‖λ I−A‖L (W 2,pU (Rn),L

    pU (Rn))

    +‖(λ I−A)−1‖L (LpU (Rn),W

    2,pU (Rn))

    ≤C(λ ,µ,K). (2.6.13)

    Então −A gera um semigrupo analítico {S(t); t ≥ 0} em LpU(Rn) e a equação linear{ut +∑nk,l=1 akl(x)DkDlu+∑

    nj=1 b j(x)D ju+ c(x)u = 0

    u(0) = u0 ∈ LpU(Rn).

    tem uma única solução u(t) = S(t)u0, para t ≥ 0.

    Note que o Teorema 2.6.12 é verdadeiro assumindo apenas que ρ ∈R - podendo assimassumir pesos que crescem no infito. Neste caso, devemos substituir, no enunciado do teorema,os espaços W s,pU (Rn) pelos espaços W

    s,plu (R

    n).

    Lema 2.6.13. Seja {S(t); t ≥ 0} um semigrupo analítico no espaço de Banach X . Suponhamosque para algum espaço de Banach Y e para t > 0 a aplicação

    S(t) : X → Y

    seja contínua. Então, para cada u0 ∈ X , a curva do semigrupo (0,∞) ∋ t ↦→ S(t)u0 é analítica emY . Mais ainda, para cada t0 o raio de convergência da série de Taylor em Y não é menor do queem X .

    Em particular, se Y ⊂ X com imersão contínua, então {S(t); t ≥ 0} define um semigrupoanalítico em Y .

    Corolário 2.6.14. Assuma que A é um operador diferencial como em (2.6.8) com coeficientesakl ∈ BUC(Rn), b j ∈ L

    p jU (Rn) e c ∈ L

    p0U (Rn) onde p j > n e p0 >

    n2 . Então, para qualquer 1 <

    r ≤ ∞ e qualquer u0 ∈ LrU(Rn), existe uma única solução da equação linear{ut +∑nk,l=1 akl(x)DkDlu+∑

    nj=1 b j(x)D ju+ c(x)u = 0

    u(0) = u0 ∈ LrU(Rn)

    dada por u(t) = S(t)u0, t ≥ 0, que satisfaz

    (0,∞) ∋ t ↦→ S(t)u0 ∈ BUC(Rn)

    é analítica.

    Ainda mais, existem constantes µ,K e α ≥ 0 tais que vale a estimativa

    ‖S(t)u0‖BUC(Rn) ≤ Keµt

    tα‖u0‖LrU (Rn), para t > 0. (2.6.14)

  • 50 Capítulo 2. Preliminares

    Teorema 2.6.15. Sejam, como no Teorema 2.6.12, 1 < p < ∞, M > 0, θ0 ∈ (0,π/2), θ ∈(θ0,π/2), ρ0,ρ1 > 0 dados e assuma as condições de regularidade mais fortes b j ∈ L̇

    p jU (Rn) e

    c ∈ L̇p0U (Rn), onde p j, j = 0,1, . . . ,n, satisfazem as relações:

    p j =

    p, se p > n,p j > n, caso contrário. (2.6.15)e

    p0 =

    p, se p > n/2,p0 > n, caso contrário. (2.6.16)Então −A, com domínio D(A) = Ẇ 2,pU (Rn), gera um semigrupo analítico fortemente contínuoem L̇pU(Rn).

    2.7 Inclusões diferenciais e semifluxos multívocosNesta seção iremos discutir propriedades e características de funções avaliadas a con-

    juntos e também apresentaremos algo sobre inclusões diferenciais e discutiremos semifluxosmultívocos, citando algumas propriedades que os diferem dos semifluxos usuais.

    Vamos ver algumas propriedades interessantes de funções cujos valores são conjuntos,também conhecidas como multifunções, funções multívocas.

    As referências básicas utilizadas nesta seção são (AUBIN; FRANKOWSKA, 2009;AUBIN; CELLINA, 2012; VALERO, 2001) e (TOLSTONOGOV; UMANSKIÎ, 1992).

    Definição 2.7.1. Seja X e Y espaços métricos. Uma função multívoca F de X em Y é caracteri-zada pelo seu gráfico G(F), o subconjunto do espaço produto X×Y definido por

    G(F) := {(x,y) ∈ X×Y : y ∈ F(x)}

    Dizemos que F(x) é a imagem ou o valor de F em x. Quando existe pelo menos um ponto x ∈ Xpara o qual F(x) é não vazio, dizemos que F é não trivial e quando F(x) ̸= /0 para todo x, entãoF é dita estrita. O domínio de F , denotado por D(F), é o subconjunto

    D(F) := {x ∈ X : F(x) ̸= /0}.

    Dizemos que uma aplicação multívoca entre os espaços métricos, X e Y , é semicontínuasuperiormente em x ∈ D(F) se para qualquer vizinhança U de F(x), existe δ > 0 tal que paraqualquer y ∈ BX(x,δ ), F(y) ⊂ U . Quando F é semicontínua superiormente em todo pontox ∈ D(F), dizemos que F é semicontínua superiormente.

    Quando F(x) é compacto, F é semicontínua superiormente em x se, e só se, para todoε > 0, existe δ > 0 tal que para todo y ∈ BX(x,δ ), F(y)⊂ BY (F(x),ε).

  • 2.7. Inclusões diferenciais e semifluxos multívocos 51

    Por outro lado, uma aplicação multívoca F : X→Y é dita semicontínua inferiormente emx ∈D(F) se para todo z ∈ F(x) e qualquer sequência {xn} ∈D(F) convergindo à x em X , existiruma sequência zn ∈ F(xn) que converge para z em Y . Quando F é semicontínua inferiormenteem todo ponto x ∈ D(F), dizemos que F é semicontínua inferiormente.

    No caso unívoco as duas definições são equivalentes à continuidade da aplicação em x.Porém, há exemplos simples de funções multívocas que satisfazem um sem satisfazer o outro, evice-versa.

    Exemplo 2.7.2. Considere a função multívoca F1 : R→ R dada por

    F1(x) =

    [−1,+1], se x ̸= 0{0}, se x = 0.é semicontínua inferiormente em zero mas não é semicontínua superiormente em zero.

    Por outro lado, a função multívoca F2 : R→ R definida por

    F2(x) =

    {0}, se x ̸= 0[−1,1], se x = 0.é semicontínua superiormente em zero porém não semicontínua inferiormente em x = 0.

    F1

    0

    F2

    0

    Figura 1 – Funções semicontínuas porém não contínuas

    Definição 2.7.3. Se F é semicontínua superiormente e inferiormente em x ∈ X , então dizemosque F é contínua em x.

    Vamos agora discutir brevemente inclusões diferenciais, algumas propriedades e resul-tados de existência serão enunciados sem provas. Trabalhamos com inclusões diferenciais daforma {

    x′(t) ∈ F(x(t)),x(0) = x0.

    (2.7.1)

  • 52 Capítulo 2. Preliminares

    Vamos assumir que as imagens F(x) são convexas. O caso não autônomo também pode sertratado, porém como nosso trabalho foi voltado para o caso autônomo não iremos considerá-loexplicitamente.

    Uma solução para o problema de Cauchy (2.7.1) no intervalo [0,T ] é uma funçãox : [0,T ]→ X absolutamente contínua para a qual (2.7.1) está satisfeita.

    Se K é um fechado convexo, definimos por

    m(K) é o elemento de K com a menor norma. (2.7.2)

    Diremos que uma solução da inclusão diferencial (2.7.1) é uma solução devagar se paraquase todo t ∈ [0,T ], x′(t) = m(F(x(t))). Uma aplicação ϕ é localmente compacta (respectiva-mente localmente limitada) se para cada ponto no domínio D(ϕ) existe uma vizinhança que cujaimagem é um compacto (respectivamente um limitado).

    Teorema 2.7.4. (AUBIN; CELLINA, 2012, Theorem 3, Chapter 2) Sejam X um espaço de Hil-bert e Ω⊂R×X um aberto contendo (0,x0). Seja F uma aplicação semicontínua superiormentede Ω nos subconjuntos não vazios, fechados e convexos de X . Assumimos que x ↦→ m(F(x)) élocalmente compacta. Então existe T > 0 e uma função absolutamente contínua x definida em[0,T ], solução para a inclusão diferencial (2.7.1).

    Agora, vamos falar um pouco sobre semifluxos multívocos de forma abstrata. Tambémdefiniremos atratores globais neste contexto, a definição difere um pouco da usual. A construçãoabaixo pode ser encontrada, por exemplo, em (BALL, 1997; CARABALLO; MARÍN-RUBIO;ROBINSON, 2003; KAPUSTYAN; KASYANOV; VALERO, 2014) e (KAPUSTYAN; PANKOV;VALERO, 2012).

    Seja X um espaço de Banach, em que 2X denota o conjunto das partes de X e P(X) de-nota a coleção de todos subconjuntos não vazios de X . Considere W+=C (R+,X)= { f : [0,∞)→X : f é contínua} e seja R ⊂W+ uma família de funções que satisfazem as seguintes hipóteses:

    H1. Para cada x ∈ X existe ϕ ∈R tal que ϕ(0) = x.

    H2. ϕτ(·) = ϕ(·+ τ) ∈R, se ϕ ∈R, para todo τ ≥ 0;

    H3. se ϕ1, ϕ2 ∈R são tais que ϕ2(0) = ϕ1(s), s > 0, então ϕ definida pondo

    ϕ(t) =

    {ϕ1(t), se t ≤ sϕ2(t− s), se t > s,

    pertence a R;

    H4. Se {ϕn} ∈R é uma sequência tal que ϕn(0)→ x0, para algum x0 ∈ X , então existem umasubsequência e ϕ0 ∈R tal que ϕnk(t)→ ϕ0(t) uniformemente em compactos de R+.

  • 2.7. Inclusões diferenciais e semifluxos multívocos 53

    Um semifluxo multívoco, ou m-semifluxo para encurtar, é uma aplicação G : R+×X →P(X) tal que

    1. G(0,x) = {x}, para todo x ∈ X ;

    2. G(t + s,x)⊆ G(t,G(s,x)), para todo t,s≥ 0 e x ∈ X .

    Dizemos que o semifluxo multívoco é estrito se G(t + s,x) = G(t,G(s,x)), para todo t,s≥ 0 e xem X .

    Dada uma família R em W+ satisfazendo as hipóteses (H1)-(H2) podemos associar umm-semifluxo da seguinte maneira:

    y ∈ G(t,x) se existir ϕ ∈R tal que y = ϕ(t) e ϕ(0) = x. (2.7.3)

    Se (H3) for verdadeira também então G será um semifluxo multívoco estrito e se (H4) valerentão G(t, ·) : X →P(X) será semicontínua superiormente, assumindo valores compactos paracada t ≥ 0.

    Nesse sentido podemos ter duas definições de soluções globais, uma para a família deaplicações e outra para o semifluxo multívoco G. Veremos que elas coincidem, desde que ashipóteses (H1)-(H4) estejam satisfeitas.

    Uma aplicação Φ : R→ X é uma solução global, ou trajetória completa, de R se

    Φ(·+h)|[0,∞) ∈R, para todo h ∈ R.

    Diremos que uma aplicação Φ : R→ X é uma solução global, ou trajetória completa, de G se

    Φ(t + s) ∈ G(t,Φ(s)) para todo s ∈ R e t ≥ 0.

    Proposição 2.7.5. Se (H1)-(H2) são satisfeitas, então qualquer trajetória completa de R é umatrajetória completa de G. Reciprocamente, se (H1)-(H4) valem, então uma aplicação Φ : R→ Xé uma solução global de R se, e somente se, é um solução global de G.

    Nosso intuito agora é definir atratores globais para m-semifluxos e, após isso, vamosdefinir o par atrator-repulsor no caso multívoco e propriedades que serão importantes no desen-volvimento da teoria.

    Seja A um subconjunto de X . Então diremos que A é

    ∙ invariante se A = G(t,A), para todo t ≥ 0.

    ∙ fracamente invariante, ou quasi-invariante, se para todo x ∈ A, existe uma trajetóriacompleta Φ de R cuja imagem está contida em A.

    ∙ negativamente (positivamente) invariante se A⊂ G(t,A) (A⊃ G(t,A)) para todo t ≥ 0.

  • 54 Capítulo 2. Preliminares

    Com isso, diremos que A ⊂ X é um atrator global para o semifluxo multívoco G se

    (i) A é negativamente invariante;

    (ii) A atrai qualquer limitado B de X , isto é,

    dist(G(t,B),A )→ 0, quando t→ ∞;

    (iii) é o conjunto fechado minimal que atrai limitados em X .

    Observamos que se G é um m-semifluxo estrito, então o atrator global A é invariante.Mais ainda, se assumirmos as hipóteses (H1)-(H2) valem e ou (H3) ou (H4) é satisfeita, en-tão podemos caracterizar o atrator global como a união das soluções globais limitadas. Maisprecisamente, se K denota o subconjunto das soluções globais e limitadas de R, então

    A = {Ψ(0) : Ψ ∈K}. (2.7.4)

    As definições de ω-limite e α-limite são similares ao caso unívoco. Se B é um subcon-junto de X , então

    ω(B) = {y ∈ X : existem sequências tn→ ∞ e yn ∈ G(tn,B) para a qual yn→ y}.

    Se ϕ ∈R, então ω(ϕ) = {y ∈ X : existe uma sequência tn→ ∞ tal que ϕ(tn)→ y}. Edefinimos o α-limite de uma solução global de maneira análoga, tomando sequências tn→−∞.

    Proposição 2.7.6. (BALL, 1997, Lemma 3.4 and Proposition 4.1) Seja G um m-semifluxo comatrator global A . Se B é um subconjunto não vazio e limitado de X , então ω(B) ⊂ A é nãovazio, compacto, fracamente invariante e atrai B com sob ação de G.

    É interessante e inerente dos semifluxos multívocos que os conjuntos ω-limite não sejaminva