2014_lusmairmartinsdebrito

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE CEILÂNDIA GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA Lusmair Martins de Brito PROGRAMA MAIS MÉDICOS: SATISFAÇÃO DOS USUÁRIOS DAS UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE DE CEILÂNDIA/DF QUANTO AO ATENDIMENTO MÉDICO Ceilândia-DF 2014

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saúde pública

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  • UNIVERSIDADE DE BRASLIA

    FACULDADE DE CEILNDIA

    GRADUAO EM SADE COLETIVA

    Lusmair Martins de Brito

    PROGRAMA MAIS MDICOS: SATISFAO DOS USURIOS DAS UNIDADES

    BSICAS DE SADE DE CEILNDIA/DF QUANTO AO ATENDIMENTO MDICO

    Ceilndia-DF

    2014

  • Lusmair Martins de Brito

    PROGRAMA MAIS MDICOS: SATISFAO DOS USURIOS DAS UNIDADES

    BSICAS DE SADE DE CEILNDIA/DF QUANTO AO ATENDIMENTO MDICO

    rea de Concentrao: Sade Coletiva.

    Linha de Pesquisa: Trabalho em Sade.

    Orientador: Profo. Dr. Everton Nunes da Silva.

    Ceilndia-DF

    2014

    Monografia apresentada ao Curso de Graduao

    em Sade Coletiva da Faculdade de Ceilndia-

    FCE, como requisito para a obteno do ttulo de

    bacharel em Sade Coletiva.

  • Lusmair Martins de Brito

    PROGRAMA MAIS MDICOS: SATISFAO DOS USURIOS DAS UNIDADES

    BSICAS DE SADE DE CEILNDIA/DF QUANTO AO ATENDIMENTO MDICO

    Monografia aprovada pela banca examinadora em __/__/__ para obteno do ttulo de

    bacharel em Sade Coletiva.

    Banca Examinadora:

    ________________________________________________

    Orientador: Dr. Everton Nunes da Silva.

    (Faculdade de Ceilndia-Universidade de Braslia)

    ___________________________________________________

    Membro: Prof. M. Carla Pintas Marques.

    (Faculdade de Ceilndia- Universidade de Braslia)

    ___________________________________________________

    Membro: Profo. M

    e. Srgio Ricardo Schierholt.

    (Faculdade de Ceilndia-Universidade de Braslia)

    Ceilndia-DF

    2014

  • DEDICATRIA

    Ao meu alicerce e porto seguro, Luzia Vilma; Ludmila;

    Arthur e Natel, pelo apoio, pacincia, carinho e incentivo

    durante toda a graduao. Aos meus avs Geraldo e

    Benedita por tudo que fizeram por mim. E aos usurios das

    unidades bsicas de sade de Ceilndia que contriburam

    com o trabalho.

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo a DEUS pela: conquista; fora; sade e f.

    A minha me, Luzia Vilma; aos meus avs, Geraldo e Benedita; a minha irm

    Ludmila e ao meu esposo Natel, que com muito esforo, de forma imensurvel e impagvel

    me ajudaram a chegar at aqui. Eu amo e admiro muito vocs!

    Minha imensa gratido a toda minha famlia, em especial, minha tia Maria; Cleusa;

    Colandi; Adeilda e ao meu tio Nelson pelo carinho; auxlio; compreenso; disposio a me

    acolher e ajudar em qualquer situao, principalmente, nos momentos mais difceis.

    Ao meu afilhado e sobrinho, Arthur, que apesar da inocncia de criana, me deu

    nimo e fora para continuar seguindo meu caminho.

    Aos amigos Lamartine; Ivano e Wnia, assim como, a todos do colgio Classe por

    todo o apoio; confiana; pacincia e incentivo.

    Aos meus colegas, pessoas maravilhosas que a universidade me permitiu conhecer,

    por todas as apresentaes e trabalhos em grupo; pelas experincias e compartilhamento de

    saberes; por terem minimizado as dificuldades e a dor da distncia da famlia; pelas alegrias e

    momentos nicos.

    A todos os professores pelos ensinamentos; generosidade; contribuio em minha

    formao pessoal e profissional e principalmente por terem me despertado a paixo e

    admirao pela Sade Coletiva e pelo SUS.

    Ao professor Dr. Everton Nunes da Silva, pelos ensinamentos; orientao; pacincia e

    estmulo. Sua confiana e contribuio foram fundamentais para a elaborao deste trabalho.

    banca, que dedicou tempo e disponibilidade, se propondo a contribuir e avaliar este

    trabalho.

    Agradeo a todos os profissionais das unidades bsicas de sade de Ceilndia, por

    terem cedido o espao para pesquisa; pela recepo e oportunidade dada realizao deste

    trabalho.

    E, enfim, a todos que contriburam para minha formao.

  • EPGRAFE

    RESUMO

    Eu sou para cada pessoa aquilo que ela acha que eu sou, mas o que para mim importa o que eu

    estou procura de ser e isso eu ainda no sou.

    Angela Delphim

  • RESUMO

    Introduo: A falta de mdicos tida como o principal problema do SUS. difcil encontrar

    mdicos generalistas, assim como mdicos que queiram trabalhar no SUS, nas periferias das

    grandes cidades e nos municpios. A distribuio dos mdicos pelo pas desproporcional, a

    permanncia maior nos grandes centros e nos municpios com mais servios. As

    oportunidades de emprego formal para mdicos ultrapassaram o nmero de graduados no

    pas. O Estado brasileiro tem tentado resolver a questo da m distribuio de mdicos pelo

    pas. Em 2013, o governo criou o Programa Mais Mdicos. Objetivo: Avaliar a satisfao dos

    usurios das Unidades Bsicas de Sade de Ceilndia/DF, quanto ao atendimento mdico dos

    profissionais do Programa Mais Mdicos, em 2014. Metodologia: Esse estudo foi submetido

    ao Comit de tica e Pesquisa. Trata-se de um estudo exploratrio de corte transversal,

    descritivo-analtico, com abordagem metodolgica quali-quantitativo. Foi realizado um

    levantamento das variveis pontos favorveis e desfavorveis do Programa Mais Mdicos, e posteriormente comparados com a avaliao da satisfao dos usurios, quanto ao programa e

    ao atendimento mdico. Houve a aplicao de questionrio para os usurios dos profissionais

    do Programa Mais Mdicos, em um Posto e em 10 Centros de Sade de Ceilndia, a coleta de

    dados ocorreu de agosto a setembro de 2014. Foram entrevistados 243 usurios, todos

    pacientes de mdicos cubanos, sendo 22 usurios por unidade bsica de sade e em mdia 16

    usurios por mdico cubano, somente em um centro de sade o de nmero 6, foram

    entrevistados 23 usurios, onde no ltimo dia de coleta de dados, foi encontrado maior

    nmero de pacientes dos profissionais do programa. S foi convidado a participar da pesquisa

    usurios que j tiveram, ao menos, uma consulta com um mdico do programa. Foi aplicado o

    termo de consentimento livre e esclarecido. A aplicao do questionrio foi individual e

    assistida. Resultados: A avaliao mostrou que os usurios esto satisfeitos: 95,1% da

    amostra a favor do programa, o principal motivo a falta de mdicos; 70% da amostra no

    tem preferncia em ser atendido por um mdico brasileiro ou estrangeiro; 15% preferem o

    atendimento dos estrangeiros; 57% avaliaram como excelente e deram nota 10 ao atendimento

    dos mdicos; 65% falaram que no demorou a serem atendidos; 67% disseram que a consulta

    dos mdicos do programa levou mais de 15 minutos; 73% relataram que o mdico fez exame

    fsico; 96,7% afirmam que houve a relao mdico-paciente; 75% acham que existe alguma

    diferena entre os mdicos do programa e os outros que j atendem no centro de sade; 91%

    acham que o programa aumentou o nmero de consultas e diminui o tempo de espera para o

    atendimento mdico e 92% tiveram sua demanda resolvida na consulta. Consideraes

    finais: Os usurios das unidades bsicas de sade de Ceilndia esto satisfeitos com o

    atendimento mdico e so favorveis ao Programa Mais Mdicos. O trabalho contestou as

    principais crticas feitas ao programa e aos profissionais participantes. Ratificou a falta de

    estrutura e de mdicos nas unidades bsicas de sade de Ceilndia.

    Palavras-chave: Ateno Bsica. Atendimento mdico. Satisfao dos Usurios. Programa

    Mais Mdicos. Ceilndia/DF.

  • ABSTRACT

    Introduction: The shortage of physicians has been seen as the main problem of the SUS. It is

    difficult to find general physicians as well as professionals who want to work in the public

    health system, in the outskirts of major cities and towns. The distribution of physicians across

    the country is asymmetric and the physicians supply is higher in large cities and municipalities with more services. The formal employment opportunities for physicians

    exceeded the number of graduates in the country. The Brazilian government has tried to

    address the maldistribution of physicians across the country. In 2013, the government created

    the program More Doctors (Programa Mais Mdicos). Objective: To evaluate user

    satisfaction in Basic Health Units in Ceilndia/DF related to the health care professionals

    from the Program More Doctors in 2014. Methodology: This study was submitted to the

    Ethics Committee and Research. This is an exploratory study with a cross-sectional

    descriptive-analytical approach, with qualitative and quantitative methodological approach. It

    was searched for favorable and unfavorable points related to the More Doctors Program, and

    subsequently compared with the assessment of user satisfaction, as the program and medical

    care was performed. A questionnaire was developed and applied to users in 10 Health Centers

    in Ceilndia, in which there are physicians from the More Doctors Program. Data collection

    occurred from August to September 2014. 243 users, all patients of Cuban doctors were

    interviewed, with 22 users from each basic health unit and an average of 16 users per Cuban

    doctor. It was only invited to participate in the research users who have already had at least

    one consultation with a medical program. The term of free and informed consent was applied.

    The questionnaire was individual and assisted. Results: The evaluation showed that users are

    satisfied: 95.1% of the sample supported of the program, the main reason is the lack of

    doctors; 70% of the sample did not have a preference to be treated by a Brazilian or foreign

    doctor; 15% prefer the service of foreigners; 57% rated it as excellent and gave note 10 to the

    care of doctors; 65% said they did not take long to be assisted; 67% said that the consulting

    physicians of the program took more than 15 minutes; 73% reported that the doctor did the

    physical examination; 96.7% said that there was a doctor-patient relationship; 75% think there

    is difference between physicians from the program and others that already worked in the

    health center; 91% believe that the program increased the number of queries and reduces the

    waiting time for medical care, and 92% had their query resolved in demand. Conclusion:

    Users of basic health units in Ceilndia are satisfied with the medical care and are more

    favorable to the More Doctors Program. Our work did not supported the main criticisms of

    the program; it confirmed the lack of structure and physicians in primary healthcare units

    Ceilndia.

    Keywords: Basic Care. Medical Care. User Satisfaction. Programa Mais Mdicos.

    Ceilndia/DF.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1- Proporo de mdicos por 1.000 habitantes por UF/Brasil, 2012.............................11

    Figura 2- Opinio sobre a proposta do governo de trazer mdicos estrangeiros para trabalhar

    no Brasil (Resposta estimulada e nica, em %)........................................................................21

    Figura 3- Nmero de consultas na Ateno Bsica em janeiro de 2013 e janeiro de 2014......23

    Figura 4- Nmero de encaminhamentos hospitalares em janeiro de 2013 e janeiro de 2014...24

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1- Comparativo das experincias de provimento de profissionais de sade no

    Brasil.........................................................................................................................................03

    Quadro 2- Principais pontos da Lei n 12.871/2013 do Programa Mais Mdicos....................16

    Quadro 3- Pontos considerados favorveis e desfavorveis do Programa Mais Mdicos........19

    Quadro 4- Opinio sobre a proposta do governo de trazer mdicos estrangeiros para trabalhar

    no Brasil por: sexo; idade; escolaridade e regio (Resposta estimulada e nica, em %)..........21

    Quadro 5- Programa Mais Mdicos: estados com a ampliao do nmero de mdicos,

    assistncia mdica e reduo de encaminhamento a hospitais de janeiro de 2013 a janeiro de

    2014...........................................................................................................................................24

    Quadro 6- Programa Mais Mdicos: estados com nmero de atendimentos de diabticos;

    hipertensos; de pr-natal; sade mental; usurios de lcool e drogas, comparao entre 2013 e

    2014...........................................................................................................................................26

    Quadro 7- Nmero de consultas na ateno bsica nos estados brasileiros em janeiro de 2013

    e janeiro de 2014; por demanda imediata, agendada e de cuidado continuado.......................29

    Quadro 8- Os principais motivos dos usurios que so a favor e contra o Programa Mais

    Mdicos.....................................................................................................................................66

    Quadro 9- As principais diferenas de acordo com os usurios entre o atendimento dos

    mdicos cubanos e brasileiros...................................................................................................70

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1- Avaliao dos usurios das Unidades Bsicas de Sade de Ceilndia/DF, quanto ao

    atendimento mdico dos profissionais do Programa Mais Mdicos, em 2014.........................40

  • LISTA DE GRFICOS

    Grficos 1- Sexo dos usurios das unidades bsicas de sade de Ceilndia.............................43

    Grfico 2- Idade dos usurios das unidades bsicas de sade de Ceilndia.............................44

    Grfico 3- Escolaridade dos usurios das unidades bsicas de sade de Ceilndia..................45

    Grfico 4- Opinio dos usurios quanto ao tempo que levaram para serem atendidos............46

    Grfico 5- Opinio dos usurios quanto ao tempo de durao da consulta do profissional do

    Programa Mais Mdicos...........................................................................................................47

    Grfico 6- Opinio dos usurios quanto ao tempo da consulta do profissional do Programa

    Mais Mdicos............................................................................................................................47

    Grfico 7- Opinio dos usurios quanto realizao do exame fsico no atendimento pelo

    profissional do Programa Mais Mdicos..................................................................................48

    Grfico 8- Opinio dos usurios quanto explicao dos exames receitados pelo profissional

    do Programa Mais Mdicos......................................................................................................49

    Grfico 9- Opinio dos usurios quanto explicao dos medicamentos prescritos pelo

    profissional do Programa Mais Mdicos..................................................................................50

    Grfico 10- Opinio dos usurios quanto ao esclarecimento de suas dvidas no atendimento

    do profissional do Programa Mais Mdicos.............................................................................51

    Grfico 11- Dvidas dos usurios quanto ao diagnstico mdico do profissional do Programa

    Mais Mdicos............................................................................................................................52

    Grfico 12- Opinio dos usurios quanto segurana profissional transmitida pelo mdico do

    Programa Mais Mdicos...........................................................................................................52

    Grfico 13- Opinio dos usurios quanto disponibilidade do profissional do Programa Mais

    Mdicos em ouvir o paciente....................................................................................................53

    Grfico 14- Opinio do usurio quanto ao interesse do profissional do Programa Mais

    Mdicos na avaliao do seu caso.............................................................................................54

    Grfico 15- Opinio dos usurios quanto gentileza e respeito do profissional do Programa

    Mais Mdicos no atendimento..................................................................................................55

    Grfico 16- Opinio dos usurios quanto o comportamento profissional do mdico do

    Programa Mais Mdicos...........................................................................................................55

    Grfico 17- Opinio dos usurios quanto relao mdico-paciente no atendimento do

    profissional do Programa Mais Mdicos..................................................................................56

    Grfico 18- Opinio dos usurios quanto competncia profissional do mdico do Programa

    Mais Mdicos............................................................................................................................57

  • Grfico 19- Opinio dos usurios quanto o domnio do profissional do Programa Mais

    Mdicos da lngua portuguesa...................................................................................................58

    Grfico 19.1- Incmodo dos usurios e/ou Influncia na consulta do portugus falado pelo

    profissional do Programa Mais Mdicos..................................................................................58

    Grfico 20- Compreenso dos usurios da linguagem utilizada no atendimento pelo

    profissional do Programa Mais Mdicos..................................................................................59

    Grfico 21- Opinio dos usurios quanto estrutura do consultrio utilizado pelo profissional

    do Programa Mais Mdicos......................................................................................................60

    Grfico 22- Opinio dos usurios quanto resoluo de suas demandas no atendimento do

    profissional do Programa Mais Mdicos..................................................................................61

    Grfico 23- Avaliao dos usurios quanto ao atendimento mdico do profissional do

    Programa Mais Mdicos...........................................................................................................62

    Grfico 24- Atribuio de nota pelos usurios ao atendimento mdico do profissional do

    Programa Mais Mdicos...........................................................................................................63

    Grfico 25- Posio dos usurios quanto ao Programa Mais Mdicos.....................................64

    Grfico 26- Opinio dos usurios quanto preferncia no atendimento de mdicos brasileiros

    e/ou estrangeiros.......................................................................................................................67

    Grfico 27- Opinio dos usurios quanto s mudanas na assistncia mdica ocasionadas pelo

    Programa Mais Mdicos...........................................................................................................68

    Grfico 28- Opinio dos usurios quanto s diferenas no atendimento entre o mdico do

    Programa Mais Mdicos e os outros que j atendem na unidade bsica de sade...................69

    Grfico 29- Opinio dos usurios quanto ao nmero de mdicos nas unidades bsicas de

    sade de Ceilndia....................................................................................................................71

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ABRASCO - Associao Brasileira de Sade Coletiva

    ACS - Agente Comunitrio de Sade

    Art - Artigo

    BVS - Biblioteca Virtual em Sade

    Caged - Cadastro Geral de Empregados e Desempregados

    CAPES - Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior

    CEBES - Centro Brasileiro de Estudos de Sade

    CEI - Comisso de Erradicao de Invases

    CEP - Comit de tica em Pesquisas com Seres Humanos

    DF - Distrito Federal

    DIRAPS - Diretoria Regional de Ateno Primria Sade

    DSEI - Distritos Sanitrios Especiais Indgenas

    GM - Gabinete do Ministro

    Fepecs - Fundao de Ensino e Pesquisa em Cincias da Sade

    Fiocruz - Fundao Oswaldo Cruz

    Ipea - Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada

    MG - Minas Gerais

    MP - Medida Provisria

    MS - Ministrio da Sade

    OMS - Organizao Mundial da Sade

    OPAS - Organizao Pan-Americana da Sade

    PIASS - Programa de Interiorizao das Aes de Sade e Saneamento

    PISUS - Programa de Interiorizao do Sistema nico de Sade

    PITS - Programa de Interiorizao do Trabalho em Sade

    PROVAB - Programa de Valorizao do Profissional da Ateno Bsica

    PSF - Programa Sade da Famlia

    PT - Portaria

    RA - Regio Administrativa

    Revalida - Exame Nacional de Revalidao de Diplomas Mdicos expedidos por Instituio

    de Educao Superior Estrangeira

    SES/DF - Secretaria de Estado de Sade do Distrito Federal

    SciELO - Scientific Electronic Library Online

  • SCNES - Sistema Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Sade

    SUS - Sistema nico de Sade

    UPAS - Unidade de Pronto Atendimento

    UNASUS - Universidade Aberta do SUS

  • SUMRIO

    1. INTRODUO...........................................................................................................01

    2. OBJETIVOS................................................................................................................08

    2.1 Objetivo Geral.........................................................................................................08

    2.2 Objetivos Especficos..............................................................................................08

    3. MARCO TERICO...................................................................................................09

    3.1 Formao, escassez e distribuio de mdicos no Brasil........................................09

    3.2 Programa Mais Mdicos..........................................................................................12

    3.3 Avaliao em sade e satisfao do usurio...........................................................31

    3.4 Formao mdica em Cuba.....................................................................................33

    4 METODOLOGIA.......................................................................................................35

    4.1 Tipo de Estudo........................................................................................................35

    4.2 Local de Estudo.......................................................................................................36

    4.3 Populao de Estudo...............................................................................................37

    4.4 Amostra...................................................................................................................37

    4.5 Aspectos ticos.......................................................................................................37

    4.6 Fonte de Dados........................................................................................................38

    4.7 Instrumento..............................................................................................................38

    4.8 Processo...................................................................................................................38

    4.9 Anlise dos Dados...................................................................................................39

    4.10 Limitaes.............................................................................................................39

    4.11 Oramento.............................................................................................................39

    5 RESULTADOS E DISCUSSO................................................................................40

    6 CONSIDERAES FINAIS.....................................................................................73

    7 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS......................................................................75

    8 APNDICES................................................................................................................88

    Apndice A- Instrumento da Pesquisa..........................................................................88

    Apndice B- Termo de Consentimento Livre Esclarecido- CTLE...............................90

    9 ANEXOS.......................................................................................................................92

    9.1 Anexo A- Parecer do Comit de tica em Pesquisa...............................................92

  • 1

    1 INTRODUO

    A falta de mdicos no Brasil tida como um problema na sade. De acordo com

    Astun (2013), uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (IPEA), realizada

    em 2011, mostrou que 58,1% da populao identificaram a falta de mdicos como o principal

    problema do Sistema nico de Sade (SUS). difcil encontrar mdicos de algumas

    especialidades, assim como mdicos que queiram trabalhar no SUS, nas periferias das grandes

    cidades e nos municpios (CECCIM; PINTO, 2005).

    O Brasil tem 1,8 mdico por mil habitantes, nmero menor que o do Reino Unido

    (2,7), da Argentina (3,2), do Uruguai (3,7), de Portugal (3,9) e da Espanha (4,0). Assim como

    faltam profissionais, a distribuio tambm desproporcional: em 22 estados, o nmero de

    mdicos est abaixo da mdia nacional, sendo que cinco deles possuem menos de 1 mdico

    por mil habitantes, como o caso do Maranho (0,58), Amap (0,76), Par (0,77), Piau

    (0,92) e Acre (0,94). Mesmo em estados com maior relao de mdicos por habitantes, como

    So Paulo (2,49), h municpios com menos profissionais como Registro (0,75), Araatuba

    (1,33) e Franca (1,43) (BRASIL, 2013a). O nmero de mdicos por mil habitantes no Distrito

    Federal de 2,43 (SCHEFFER, 2013).

    Segundo Astun (2013), dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados

    (Caged), mostram que de 2003 a 2011, as oportunidades de emprego formal para mdicos

    ultrapassaram o nmero de graduados no pas: sendo 146 mil vagas em relao a 93 mil

    formados.

    O Modelo Biomdico ainda predominante no ensino de muitas escolas de sade

    brasileiras. Este, avalia o paciente com foco na doena, no biolgico, na busca e combate do

    agente etiolgico (CUTOLO, 2006). Nesse modelo de ateno, a sade no tratada com base

    no coletivo, na promoo e preveno, o diagnstico individual, a prioridade para a

    recuperao e reabilitao da doena. O contexto em que o paciente esta inserido, suas

    condies de vida, hbitos, costumes e crenas no so considerados.

    Desde a segunda metade do sculo 20, comeou a surgir na sade um grande nmero

    de tecnologias, inovaes e especializaes. A formao profissional e os servios de sade

    direcionaram-se para o uso de tcnicas, equipamentos e drogas modernas. O ensino mdico

    focou-se no modelo hospitalocntrico e no conhecimento especializado. Ser mdico

    especialista se tornou sinnimo de reconhecimento, status e dinheiro, o que gerou a criao de

    vrias especialidades. A relao mdico-paciente passou a se relacionar com a questo da

  • 2

    produtividade (AMORETTI, 2005). Fato que pode explicar a falta de interesse e o

    desprestgio por parte dos mdicos, com o clnico geral, ou com o mdico da famlia com

    atuao na ateno bsica nas periferias e/ou municpios.

    A formao em determinadas especialidades e a carreira que o mdico pretende seguir,

    influencia na sua incorporao e adequao no mercado de trabalho. A maior parte dos

    mdicos que se formam no permanece no local onde cursaram a graduao, retornam para

    suas cidades de origem. A permanncia maior nos grandes centros, estando relacionada

    tambm escolha da localidade em que esse profissional pretende atuar (SCHEFFER, 2013).

    A distribuio desigual de mdicos pelo pas tambm est vinculada implantao dos

    servios e, geralmente, a precariedade dos servios mais comum nas regies carentes.

    Comumente se concentram mais mdicos em regies onde h mais especialistas, sendo assim,

    os servios de sade mais complexos e especficos esto nos grandes centros, sendo quase

    inexistentes nos pequenos municpios. Os municpios com mais servios possuem maior

    nmero de mdicos (SCHEFFER, 2013).

    O Estado brasileiro tem tentado resolver a questo da m distribuio de mdicos pelo

    pas com intervenes na extenso universitria, na oferta de incentivos e benefcios para os

    profissionais que queiram atuar nas reas mais carentes do pas. Algumas dessas intervenes

    so: o Projeto Rondon e o Programa de Interiorizao das Aes de Sade e Saneamento

    (PIASS), anteriores a criao do SUS. Depois do sistema nico de sade criado, o Programa

    de Interiorizao do Sistema nico de Sade (PISUS); o Programa de Interiorizao do

    Trabalho em Sade (PITS) e o Programa de Valorizao do Profissional da Ateno Bsica

    (PROVAB). Nenhuma dessas medidas conseguiu assegurar por completo a oferta de mdicos

    no pas (GIRARDI, 2011; OLIVEIRA, et al., 2014). Abaixo segue o quadro 1, comparando as

    experincias de provimento de profissionais de Sade no Brasil.

  • 3

    Quadro 1- Comparativo das experincias de provimento de profissionais de sade no Brasil

    Anlise RONDON PIASS PISUS PITS PROVAB

    Objeto Integrao

    nacional;

    Interiorizao;

    Desenvolvimento

    Nacional e

    Preparao de

    Recursos

    Humanos

    Extenso de

    cobertura;

    Implantar estrutura

    bsica de sade

    pblica nas

    comunidades at 20

    mil habitantes no

    Nordeste; Carter

    permanente

    Interiorizao

    de equipe

    mnima de

    sade com

    suporte de

    uma unidade

    de sade.

    Maior e melhor

    distribuio de

    mdicos;

    Aperfeioamento

    da formao e

    impulsionamento

    da Ateno

    Bsica

    Provimento de

    mdicos,

    enfermeiros e

    dentistas em

    reas remotas

    e de extrema

    pobreza

    articulada

    proposta de

    superviso

    Perodo 1960 Atual 1970-1985 1993- 1994 2001 2011 - Atual

    Pblico Estudantes

    universitrios e

    servidores

    pblicos

    Predominantemente

    nvel mdio e

    elementar

    Mdico,

    Enfermeiro e

    ACS

    Mdicos e

    Enfermeiros

    Mdicos,

    Cirurgies

    Dentistas e

    Enfermeiros

    Total de

    Participantes

    350.000

    universitrios e

    13 mil

    professores, at a

    edio de 1989

    - - 300 municpios

    com 421

    profissionais,

    sendo 181

    mdicos

    3.968 mdicos,

    na edio 2014

    Localidades Interior do pas,

    reas

    desprovidas de

    infraestrutura

    reas desprovidas

    de infraestrutura

    398

    municpios

    da regio

    Norte

    151 municpios

    at 50 mil

    habitantes que

    no tenham PSF,

    com piores

    indicadores de

    sade,

    participantes dos

    programas sociais

    do Governo

    Federal.

    Todos os

    municpios

    brasileiros

    Aes Aes de sade e

    aes

    educacionais

    atravs da

    integrao com

    os campi

    avanados

    Saneamento bsico

    e programas de

    desenvolvimento

    socioeconmico

    UPAs;

    Interiorizao

    do mdico,

    enfermeiro e

    ACS

    Aes em sade

    para a Ateno

    Bsica

    Aes em

    sade para a

    Ateno

    Bsica

    (continua)

  • 4

    Quadro 1- Comparativo das experincias de provimento de profissionais de sade no Brasil

    (concluso)

    Governana Ministrio da

    Educao-

    Foras Armadas

    Ministrio da

    Sade- Gabinete da

    Presidncia da

    Repblica

    Ministrio da

    Sade,

    Estados e

    Municpios

    Ministrio da

    Sade, Conselho

    Nacional de

    Secretrios de

    Sade, Conselho

    Nacional de

    Secretarias

    Municipais de

    Sade, Entidades

    Profissionais,

    Coordenaes

    Estaduais de

    Ateno Bsica e

    Executiva dos

    Estudantes de

    Medicina

    Ministrio da

    Sade,

    Conselho

    Nacional de

    Secretrios de

    Sade,

    Conselho

    Nacional de

    Secretarias

    Municipais de

    Sade,

    Fundao

    Osvaldo Cruz,

    Instituies de

    Ensino,

    Secretarias

    municipais e

    estaduais de

    sade

    Fonte: LENIDAS, 2014, com adaptaes.

    Em 2013, o governo criou o Programa Mais Mdicos, para tentar resolver o problema

    da falta de mdicos na ateno bsica, nos municpios do interior e nas periferias das grandes

    cidades do Brasil. A meta levar 15 mil mdicos para regies onde faltam profissionais. O

    objetivo do programa agilizar os investimentos em infraestrutura para os hospitais e

    unidades de sade e aumentar o nmero de mdicos nas regies carentes do pas (BRASIL,

    2013e).

    O Programa Mais Mdicos prope quatro medidas: a primeira fazer com que haja

    melhorias na infraestrutura e nos equipamentos da sade; a segunda ampliar o nmero de

    vagas na graduao de medicina e na especializao/residncia mdica; a terceira o

    aperfeioamento do curso de medicina no pas e a quarta colocar mdicos nas regies

    prioritrias do SUS (BRASIL, 2013e).

    Na primeira fase do programa, as inscries eram para mdicos formados no Brasil, ou

    para os que j possuam autorizao para atuar no pas. No entanto, foram poucos inscritos e

    sobraram vagas, ento se abriram inscries para os mdicos estrangeiros. Os pr-requisitos

    para esses profissionais eram: possuir habilitao para o exerccio da medicina no pas de

    origem, ter conhecimento em lngua portuguesa e ser de um pas em que o nmero de mdicos

    por habitantes fosse maior do que no Brasil. Antes de comearem a atuar, os mdicos

    estrangeiros deveriam passar trs semanas sob avaliao de universidades pblicas e

  • 5

    secretarias estaduais e municipais de sade, alm de serem supervisionados durante todo o

    programa por esses rgos (BRASIL, 2013e).

    Os mdicos estrangeiros recebem uma bolsa federal de R$ 10 mil por ms, paga pelo

    Ministrio da Sade, alm de uma ajuda de custo para instalao em seu local de destino, no

    valor de at trs vezes o valor da bolsa, conforme a regio onde trabalhar. Os profissionais

    estrangeiros trabalham com licena provisria do Conselho Regional de Medicina, que ter

    validade somente durante a permanncia do mdico no projeto, para atuar na ateno bsica e

    nas regies indicadas pelo programa. O Governo Federal que direcionar a atuao dos

    mdicos com registro provisrio para as reas carentes e vulnerveis, sendo assim, eles ficam

    dispensados do Exame Nacional de Revalidao de Diplomas Mdicos expedidos por

    Instituio de Educao Superior Estrangeira (Revalida) (BRASIL, 2013d).

    Foram selecionados mdicos graduados em instituies reconhecidas por seus pases e

    com formao equivalente s diretrizes curriculares adotadas no Brasil. Ao chegarem ao pas,

    os profissionais receberam uma capacitao de acolhimento e avaliao na Ateno Bsica,

    com durao de trs semanas. Ao ter feito a inscrio, o mdico declarou ter conhecimento da

    Lngua Portuguesa, o que foi avaliado nessa capacitao (BRASIL, 2013e).

    Os municpios com prioridade para participar do programa so os que contam com

    20% ou mais da populao vivendo em vulnerabilidade social, periferias de capitais e regies

    metropolitanas, e municpios com mais de 80 mil habitantes que possuem os mais baixos

    nveis de receita pblica per capita do pas. Os Distritos Sanitrios Especiais Indgenas

    (DSEI), tambm participam do programa. Ao aderir ao programa, os municpios ficam

    responsveis pela moradia e alimentao dos mdicos. O programa ter validade de trs anos,

    sendo prorrogvel por mais trs (BRASIL, 2013e).

    Segundo Salles (1997), o atendimento tido como um ponto relevante na competio

    entre os servios de sade, pois representa a empresa. considerado um fator essencial nas

    organizaes prestadoras de servios mdicos. Para os usurios, o atendimento de sade de

    qualidade quando o mdico mostra conhecimento tcnico e d ateno ao paciente, ouve suas

    queixas, necessidades e demandas; consegue interpretar sua descrio do problema e/ou

    sintoma e realiza a anamnese. Os usurios associam qualidade ao fato de receberem os

    servios que procuram.

    Ao procurar um mdico, geralmente os usurios procuram segurana, confiana e

    aceitao para colocar-se fsica e psicologicamente; fatores essenciais na relao mdico-

    paciente. importante que o mdico saiba interpretar a descrio do usurio sobre seu quadro

  • 6

    de sade, alm de aceitar e respeitar sua experincia pessoal, sem fazer julgamentos e sem

    preconceitos, pois est sujeito a atender pessoas de diferentes culturas, classes sociais e nveis

    educacionais. Por esses fatores, de extrema importncia que o profissional conhea o

    contexto; a realidade da rea em que vai atuar; as dificuldades; necessidades e principais

    demandas da populao abrangente.

    O Programa Mais Mdicos recebe muitas crticas, dentre elas, a de que os usurios dos

    servios de sade correm riscos no atendimento com os mdicos do programa, principalmente

    os estrangeiros, por serem profissionais mal formados, desqualificados e por no dominarem

    o idioma ou no conhecerem os dialetos dos brasileiros, nem to pouco as peculiaridades

    culturais, sociais e econmicas do pas, assim como as necessidades, demandas e problemas

    de sade da comunidade onde vo atuar. Diante disto, o presente estudo avaliou a satisfao

    dos usurios das unidades bsicas de sade de Ceilndia, quanto ao atendimento dos mdicos

    do programa.

    Partiu-se da premissa que os usurios das unidades bsicas de sade de Ceilndia,

    estavam satisfeitos com o Programa Mais Mdicos e com o atendimento prestado pelos

    profissionais, pois com a implementao do programa o servio passou a contar com mais

    mdicos; os atendimentos aumentaram; o tempo de espera e as filas para consulta diminuram

    e o atendimento no se diferenciou a de um profissional brasileiro ou formado no pas. A

    hiptese do estudo foi a de que os usurios estavam insatisfeitos com o atendimento dos

    profissionais do programa, pois h divergncias na formao; assim como diferenas entre as

    doenas em que esto acostumados a tratar em seus pases e as tpicas, ou mais comuns no

    Brasil; alm do fato de no dominarem o idioma, nem conhecerem os dialetos e o contexto em

    que esto trabalhando, circunstncias que podem influenciar na qualidade do atendimento.

    O interesse em estudar o tema, Programa Mais Mdicos, surgiu pela falta de mdicos

    no pas ser um dos principais problemas e demandas do SUS, alm de o programa ser alvo da

    populao excluda e que possui acesso desigual ao sistema de sade. Bem como pela

    importncia do sanitarista conhecer a opinio dos usurios do servio, para que o

    planejamento de polticas e programas, direcionados a solucionar a carncia de profissionais,

    seja mais prximo da realidade, necessidade e demanda da populao. Ainda, pelo estudo ser

    uma forma de possibilitar que o usurio seja ouvido e de incentivar o fortalecimento do

    controle social no SUS.

    Ao fazer uma busca com as palavras-chave, Programa Mais Mdicos, nas bases de

    dados Biblioteca Virtual em Sade (BVS); Scielo e Peridicos CAPES, foi encontrado apenas

    cinco artigos na BVS, um artigo e um editorial no Peridico CAPES. J com a busca

  • 7

    integrada das palavras satisfao do usurio; atendimento mdico e ateno bsica nenhum

    artigo. Portanto, no foi encontrado nenhum estudo que aborde o tema Satisfao do Usurio

    no Atendimento Mdico com os Profissionais do Programa Mais Mdicos. O debate em

    questo persiste como lacuna de pesquisa, havendo pouca literatura cientfica que aborde a

    temtica proposta neste estudo.

    Os argumentos inicialmente apresentados refletem a relevncia do tema e estimula

    como questionamento central, qual a qualidade do atendimento prestado pelos profissionais

    do Programa Mais Mdicos.

  • 8

    2 OBJETIVOS

    2.1. Objetivo Geral

    Avaliar a satisfao dos usurios das Unidades Bsicas de Sade de Ceilndia/DF,

    quanto ao atendimento mdico dos profissionais do Programa Mais Mdicos, em 2014.

    2.2. Objetivos Especficos

    Levantamento dos pontos favorveis e desfavorveis do Programa Mais

    Mdicos;

    Elaborar um instrumento para avaliar a satisfao dos usurios em relao ao

    atendimento dos mdicos do programa;

    Conhecer a percepo dos usurios sobre o Programa Mais Mdicos quanto :

    sua aceitao, o domnio da lngua portuguesa pelos profissionais, diferenas no atendimento

    entre os mdicos do programa e os que j atendem na unidade de sade e mudanas na

    assistncia ocasionadas pelo programa;

    Analisar se h preferncia do usurio em ser atendido por mdicos brasileiros

    e/ou estrangeiros;

    Avaliar o atendimento mdico (quanto: ao tempo de consulta, a realizao do

    exame fsico, a explicao dos exames e medicamentos que foram prescritos, o

    esclarecimento das dvidas dos usurios na consulta, as dvidas dos usurios em relao ao

    diagnstico mdico, a segurana profissional transmitida pelo mdico, oportunidade dada

    pelo profissional para o usurio expressar sua opinio, ao interesse do mdico em resolver a

    demanda do usurio, a gentileza e respeito do mdico, ao comportamento profissional do

    mdico, a relao mdico-paciente, as dvidas dos usurios referentes competncia do

    mdico, a resoluo da demanda dos usurios, a avaliao e as notas atribudas ao

    atendimento mdico) de acordo com a percepo dos usurios;

    Conhecer a opinio dos usurios quanto estrutura das unidades bsicas de

    sade e ao nmero de mdicos na ateno bsica em Ceilndia.

  • 9

    3 REFERENCIAL TERICO

    O marco terico foi estruturado em quatro partes com o objetivo de melhor descrever

    o contexto do problema de pesquisa: Programa Mais Mdicos. A parte 1 discute a formao

    dos mdicos brasileiros, a falta e m distribuio do profissional no pas; a segunda parte

    apresenta o Programa Mais Mdicos, seus pontos positivos e negativos, suas principais

    crticas e alguns resultados do programa por estado; a parte 3 descreve sobre a avaliao na

    sade e satisfao do usurio; e por ltimo, a parte 4 explicita brevemente o modelo de

    formao mdica em Cuba, por se tratar do pas com maior nmero de profissionais no

    programa.

    3.1. Formao, escassez e distribuio de mdicos no Brasil

    marcante a m distribuio das escolas mdicas no Brasil, ainda mais a dos

    Programas de Residncia Mdica. Faltam escolas de medicina em diversas regies do pas

    (CECCIM; PINTO, 2005). A distribuio dos cursos de medicina desigual, dentre outras

    razes, por questes populacionais, econmicas e polticas. A maioria dos cursos de medicina

    criados nos anos 60 e 70 estavam localizadas nas regies Sul e Sudeste, regies com maiores

    ndices econmicos e de desenvolvimento social. J em 2003, dos 112 cursos que existiam no

    pas, 68% estavam localizados nessas reas, o que equivale a 70% das 10.631 vagas

    oferecidas por ano no pas (ROMULO, 2007). De acordo com Pierantoni (2012), a regio

    Sudeste mantm o maior nmero de cursos do pas; no entanto, de 2000 a 2010, as escolas

    mdicas se expandiram mais no Norte (370%), seguido do Nordeste (152%), Centro-Oeste

    (113%), Sudeste (51%) e Sul (40%).

    As vagas de residncia mdica so mais concentradas em algumas regies do pas

    como no Sudeste e Sul, sendo menos oferecidas no Norte e Nordeste. Assim como tem

    especialidades que so mais procuradas e valorizadas no mercado. Enquanto outras como a

    Medicina de Famlia e Comunidade, so menos procuradas e possuem menor reconhecimento.

    No pas 71% de vagas nessas especialidades, mais generalistas e ligadas ateno bsica, so

    ociosas (MICHEL; OLIVEIRA; NUNES, 2011). necessrio que a residncia mdica seja

    reformulada de acordo com as necessidades de profissionais da sade no pas (MASSUDA;

    CUNHA; PETTA, 2007).

    O ensino mdico brasileiro voltado para a doena, fragmentado em especialidades e

    dependente de tecnologias. Dentre os vrios problemas relacionados inadequao da

  • 10

    formao mdica, provavelmente o principal esteja relacionado ao perfil do mdico formado,

    que organizado no modelo biologicista e na medicalizao, tendo o hospital como a base de

    toda a formao mdica, no atendendo a grande maioria das necessidades de sade da

    populao (CAMPOS; CHAKOUR; SANTOS, 1997). Alm da formao, no levar em

    considerao as peculiaridades culturais, econmicas, sociais e religiosas do povo brasileiro;

    no valorizar as vivncias ou a prtica com a comunidade, assim como as demandas e

    necessidades da populao que depende do SUS.

    A graduao e ps-graduao em medicina, na grande maioria, se baseiam no modelo

    biomdico e hospitalocntrico; nas inovaes tecnolgicas da sade e nas especialidades

    mdicas. O que acaba influenciando no perfil do mdico formado, pois o profissional comea

    a traar sua carreira e suas escolhas de especializao, atuao e/ou mercado de trabalho na

    graduao; ps-graduao e educao permanente. O que impacta nas caractersticas da

    assistncia prestada nos servios de sade (CARVALHO, 2013).

    Enumeram-se alguns fatores que contribuem para a insatisfao dos usurios com

    atendimento e com a qualidade dos servios de sade: a fragmentao do saber mdico em

    inmeras especialidades; os equipamentos para realizao de exames e tratamentos serem de

    alta tecnologia e de custo elevado; muitos profissionais no exercerem a prtica da anamnese

    e a relao mdico-paciente ter se fragilizado.

    Tem-se verificado que o perfil dos profissionais formados no apropriado o

    suficiente para atuar com foco na ateno integral sade, contemplando aes de promoo,

    proteo, preveno, ateno precoce, cura e reabilitao (GIL, 2005). Os mdicos que esto

    no mercado de trabalho foram e continuam sendo formados dentro de uma metodologia que

    voltada para o hospital e privilegia a abordagem individual e curativa. So profissionais que

    no conseguem ultrapassar o espao do consultrio mdico e sugerir diagnsticos e aes para

    o coletivo, com uma abordagem agregadora, sem a qual, torna-se complicado alcanar

    resultados considerveis (CAMPOS; BELISRIO, 2001).

    De acordo com Amoretti (2005), mdicos sem completar a residncia e especialistas

    esto atuando como generalistas na ateno bsica o que est comprometendo a qualidade do

    atendimento e aumentado os encaminhamentos, por no serem profissionais qualificados para

    trabalharem com foco na coletividade, promoo e preveno de doenas. A formao tcnica

    e especialista negativa para o SUS, pois no prioriza o trabalho em equipe, interdisciplinar;

    a promoo e preveno da sade; alm de no serem preparados para lidar com as principais

    necessidades, demandas e doenas regionais do pas (AMORETTI, 2005).

  • 11

    Em 2013, o Brasil contava com 400 mil mdicos, sendo uma taxa de dois profissionais

    por 1.000 habitantes. Segundo estimativas, os estados com maior renda possuem o maior

    nmero de mdicos, enquanto os com menor renda, com menos mdicos. A regio Norte

    conta com 1,01 mdico por 1.000 habitantes e a Nordeste com 1,2; so reas que esto abaixo

    do ndice nacional, enquanto a regio Sudeste possui uma quantidade de mdicos duas vezes

    maior do que o Nordeste. Para um sistema de sade gratuito e universal, o nmero de mdicos

    insuficiente (SCHEFFER, 2013). A falta de mdicos e a m distribuio geogrfica do

    profissional so tidas como um problema de sade mundial (GIRARDI, 2010). A seguir a

    figura 1 mostra a proporo de mdicos por 1.000 habitantes, segundo unidades da federao.

    Figura 1- Proporo de mdicos por 1.000 habitantes por UF/Brasil, 2012

    Fonte: CFM, 2012; IBGE, 2012 (populao).

    As regies que mais atraem os mdicos so as que possuem infraestrutura,

    estabelecimentos de sade, maior financiamento pblico e privado, melhores condies de

    trabalho, remunerao, carreira e qualidade de vida (SCHEFFER, 2013). A alta concentrao

    de mdicos nas grandes cidades e a baixa distribuio pelo restante do pas est diretamente

    ligada s desigualdades socioeconmicas e regionais, causadas pelo baixo investimento

    pblico e privado nas reas mais pobres do pas. O que acarreta m qualidade de vida para a

    populao dessas reas e no propicia as condies necessrias para o exerccio da medicina,

    desestimulando a opo do profissional em atuar nessas reas (MEDICI, 1985).

    Algumas dificuldades em se garantir ateno mdica nos interiores o alto custo; a

    estrutura precria e a falta de profissionais, alm de estarem cada vez mais especializados. A

  • 12

    interiorizao da ateno bsica vem sendo garantida com o Programa Sade da Famlia, no

    entanto, para atuar nesse programa so necessrios mdicos generalistas, que ainda so

    escassos no SUS (AMORETTI, 2005).

    3.2. Programa Mais Mdicos

    O Programa Mais Mdicos foi criado em 8 de julho de 2013, pelo Governo Federal.

    institudo pela Medida Provisria (MP) n 621/2013, convertida posteriormente na Lei n

    12.871/2013. Os objetivos so: aumentar o nmero de mdicos nos interiores e periferias das

    grandes cidades; ampliar o nmero de vagas no curso de medicina e de residncia mdica no

    pas; alm de acrescentar ao curso de medicina dois anos de atuao na rede pblica de sade

    (BRASIL, 2013a). O captulo VI da Lei n 12.871/2013, no seu Art. 13, institu, no mbito do

    Programa Mais Mdicos, o Projeto Mais Mdicos para o Brasil. O Programa consiste no

    conjunto de projetos relacionados ao provimento e a formao mdica, j o Projeto ao

    estritamente de provimento de profissionais.

    A seleo e ocupao das vagas do projeto seguem a seguinte ordem de prioridade:

    mdicos formados em instituies de ensino superior brasileira ou com diploma revalidado no

    pas e a mdicos estrangeiros com habilitao para exerccio de medicina no exterior

    (BRASIL, 2013e).

    Os ministrios da Educao e da Sade so responsveis pela coordenao do projeto.

    Os mdicos participantes recebem aperfeioamento como: curso de especializao por

    instituio pblica de ensino superior, com atividades de ensino, pesquisa e extenso, com a

    assistncia diante da integrao ensino-servio, durante trs anos e s exercero a medicina

    exclusivamente no mbito do projeto. Esses profissionais podem receber bolsas, cujos valores

    foram regulamentados pela PT GM/MS 1369/2013: bolsa-formao- com valor mensal de R$

    10.000,00; bolsa-superviso- de R$ 4.000,00 e bolsa-tutoria- de R$ 5.000,00 (BRASIL,

    2013b).

    A Unio autorizada a pagar despesas com deslocamento dos mdicos participantes e

    seus dependentes legais, assim como ajuda de custo para despesas de instalao do mdico no

    valor de R$ 30.000,00, para municpios situados na regio da Amaznia Legal, em regio de

    fronteira e reas indgenas, pagas em 2 parcelas (70% no primeiro ms e 30% no sexto ms);

    o valor de R$ 20.000,00, para municpios situados na Regio Nordeste, na Regio Centro-

    Oeste e na regio do Vale do Jequitinhonha-MG, pagas em 2 parcelas (70% no primeiro ms e

    30% no sexto ms) e o valor de R$ 10.000,00, para capitais, regies metropolitanas, Distrito

  • 13

    Federal e municpios no contemplados nas faixas anteriores, paga em parcela nica no

    primeiro ms de participao (BRASIL, 2013b).

    A MP 621/13 instaura o programa a fim de formar mdicos para o SUS com alguns

    objetivos: aumentar o nmero de mdicos nas regies mais prioritrias, com a finalidade de

    diminuir as desigualdades regionais na rea da sade; consolidar ateno bsica no Pas;

    aperfeioar o ensino mdico e fornecer mais experincia prtica durante a formao;

    acrescentar mais mdicos em formao nos servios do SUS, conhecendo e vivenciando a

    realidade dos usurios do sistema; reforar a educao permanente pela capacitao e

    superviso das instituies de ensino superior prestadas aos mdicos do projeto; realizar a

    troca de conhecimentos e experincias entre os profissionais formados no Brasil com os que

    possuem formao em outros pases (BRASIL, 2013b).

    Em relao s aes que devem ser tomadas para se alcanar os objetivos do Programa

    Mais Mdicos, a MP 621/2013, em seu artigo 2, determina: reorganizar a criao dos cursos

    de medicina e vagas de residncia mdica para regies mais carentes, com mais necessidade

    de profissionais e que tenham estrutura nos servios de sade com condies de oferecer

    campo de prtica suficiente e de qualidade para os alunos; criao de novos padres para a

    formao mdica no Pas e incentivar o aumento do nmero de mdicos capacitados para

    trabalhar na ateno bsica em sade, atravs da juno entre o ensino-servio (BRASIL,

    2013b).

    As regies que possuem prioridade em participar do Projeto Mais Mdicos so

    municpios de difcil acesso, em que faltam mdicos ou que tenham populaes em situao

    de vulnerabilidade e que se enquadrem em pelo menos uma das seguintes condies:

    municpio com 20% ou mais da populao vivendo em extrema pobreza; estar entre os 100

    municpios com mais de 80.000 habitantes, com os mais baixos nveis de receita pblica per

    capita e alta vulnerabilidade social de seus habitantes; estar situado em rea de atuao de

    Distrito Sanitrio Especial Indgena; estar nas reas referentes aos 40% dos setores censitrios

    com os maiores percentuais de populao em extrema pobreza dos municpios. Os municpios

    interessados em participar do projeto e que se encaixam em algum critrio devem se

    manifestar por meio de um termo de adeso e compromisso (BRASIL, 2013b).

    Os gestores do Distrito Federal e dos estados devem dar apoio aos entes federativos,

    instituies de educao superior e organismos internacionais, no mbito de sua competncia,

    para o andamento do projeto; compor as comisses estaduais do projeto e tomar medidas

    necessrias para a execuo de suas aes no seu mbito de atuao (BRASIL, 2013b).

  • 14

    O Distrito Federal e os municpios devem tomar as mesmas medidas, alm de incluir

    os mdicos em equipes de ateno bsica nas modalidades previstas na Poltica Nacional de

    Ateno Bsica, nas regies prioritrias para o SUS, respeitando os critrios de distribuio

    estabelecidos no projeto; fornecer ambientes adequados com segurana e higiene,

    fornecimento de equipamentos necessrios, instalaes sanitrias e mnimas condies de

    conforto para o trabalho dos profissionais; inscrever o mdico do projeto recebido pelo

    municpio no Sistema de Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Sade (SCNES) e

    apresent-lo na respectiva equipe de ateno bsica em que atuar; juntamente com o

    supervisor acompanhar e fiscalizar as atividades de ensino-servio, as atribuies necessrias

    para o recebimento da bolsa destinada aos profissionais e o cumprimento da carga horria de

    40 horas semanais estabelecidas pelo projeto para os mdicos participantes, com exceo das

    especificidades das equipes de sade da famlia ribeirinhas e fluviais (BRASIL, 2013b).

    Os municpios tambm tero que se comprometer a no trocar os mdicos que j

    compe as equipes de ateno bsica pelos profissionais do projeto; manter as equipes que j

    existem; garantir moradia e alimentao para os mdicos participantes e oferecer estrutura

    adequada para que o projeto tenha condies de acontecer (BRASIL, 2013b).

    As instituies pblicas de ensino superior brasileira devem contribuir e atuar

    conjuntamente com os entes federativos, instituies de ensino superior e organismos

    internacionais, no mbito de sua competncia, para execuo do projeto; monitorar e

    acompanhar as atividades desempenhadas pelos mdicos, supervisores e tutores acadmicos

    participantes; indicar os tutores e coordenar o desenvolvimento acadmico do projeto; fazer a

    seleo dos supervisores; oferecer os mdulos de acolhimento e avaliao, assim como curso

    de especializao e atividades de pesquisa, ensino e extenso aos mdicos participantes

    (BRASIL, 2013b).

    Os tutores acadmicos do Projeto Mais Mdicos tm o papel de coordenar as

    atividades acadmicas conjuntamente com os supervisores e os gestores do SUS; apontar por

    meio de um plano de trabalho as obrigaes a serem realizadas pelos mdicos e supervisores e

    a metodologia de acompanhamento e avaliao; inspecionar o acompanhamento e avaliao

    que executada pelos supervisores, garantindo sua continuidade; interligar as atividades do

    curso de especializao s atividades de integrao ensino-servio; informar as instituies de

    ensino superior, caso tenha alguma ocorrncia de situaes em que seja necessrio tomar

    providncias, e apresentar relatrios constantemente, relatando as atividades que foram

    executadas no projeto instituio pblica de ensino superior qual est vinculado e

    coordenao do projeto (BRASIL, 2013b).

  • 15

    J as atribuies dos supervisores fazer visitas frequentes para acompanhar o

    trabalho dos mdicos do projeto; prestarem apoio aos profissionais, por meio de telefone e

    "internet" e junto aos gestores do SUS, acompanhar e avaliar as atividades referentes a

    ensino-servio e o cumprimento da carga horria (BRASIL, 2013b).

    O acolhimento dos profissionais do Projeto Mais Mdicos foi presencial e ocorreu em

    8 capitais brasileiras (So Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Braslia, Recife, Salvador,

    Fortaleza e Porto Alegre) teve contedo de lngua portuguesa e referente ao SUS, suas

    atribuies e funcionamento na ateno bsica. Foi realizada uma avaliao para verificar se

    os mdicos estrangeiros possuam conhecimentos em lngua portuguesa em situaes

    cotidianas da prtica mdica no Brasil (BRASIL, 2013b).

    O aperfeioamento para os mdicos do projeto ocorre por meio de curso de

    especializao, oferecido por instituies de ensino superior brasileira vinculadas ao UNA-

    SUS, atividades de ensino, pesquisa e extenso, que ter componente assistencial mediante

    integrao ensino-servio. A jornada de trabalho dos mdicos de carga horria semanal de

    40 horas no curso de especializao e nas atividades de ensino, pesquisa e extenso nas

    unidades bsicas de sade no municpio e no Distrito Federal e acesso inscrio em servios

    de Telessade (BRASIL, 2013b).

    No que diz respeito oferta de cursos de medicina e vagas para residncia mdica, a

    MP 621/13 declara que, a partir de 9 de julho de 2013, permitido abertura de cursos de

    graduao em medicina por instituies de ensino superior privada, que dever ocorrer por

    meio de chamamento pblico, a cargo do Ministro da Educao que regulamentar: a pr-

    seleo dos municpios, avaliando as necessidades e relevncias da existncia do curso no

    local e a estrutura do servio de sade, verificando se adequada para abranger o curso,

    incluindo, no mnimo, os seguintes servios, aes e programas: a) ateno bsica; b)

    urgncia e emergncia; c) ateno psicossocial; d) ateno ambulatorial especializada e

    hospitalar; e e) vigilncia em sade (BRASIL, 2013b).

    de responsabilidade do gestor local disponibilizar a instituio de ensino superior

    que vencer o chamamento pblico, estrutura de servios, aes e programas de sade

    necessrios para a implantao e para o funcionamento do curso de graduao em medicina.

    No que diz respeito formao mdica no Brasil, a MP 621/13 coloca que todos os cursos de

    medicina do pas, tanto pblicos quanto privados, tero que, a partir de 2015, acrescentar um

    ciclo de dois anos na formao, sendo eles atuao na ateno bsica e em urgncia e

    emergncia no mbito do SUS. Esses ciclos podero ser supervisionados por mdicos com

  • 16

    ps-graduao, sendo previsto o pagamento de bolsa para os estudantes pelo Ministrio da Sade. A adequao da matriz curricular dos cursos de

    medicina dever ser feita pelo Conselho Nacional de Educao e as instituies de ensino superior tm at 180 dias, a partir da data de

    publicao da Medida Provisria (BRASIL, 2013b).

    Abaixo segue o quadro 2, de elaborao prpria, com base nos principais pontos da Lei n 12.871/2013, que institui o Programa Mais

    Mdicos.

    Quadro 2- Destaques da Lei n 12.871/2013 do Programa Mais Mdicos

    Objetivos Critrios definidores das

    regies prioritrias

    O Projeto Mais

    Mdicos foi oferecido

    Os mdicos do projeto

    podem receber bolsas nas

    seguintes modalidades

    Penalidades aos

    mdicos do projeto que

    descumprirem a Lei

    Da autorizao para o

    funcionamento dos cursos

    de medicina

    Diminuir a carncia de

    mdicos nas regies

    prioritrias para o SUS, a fim

    de reduzir as desigualdades

    regionais na rea da sade;

    Municpio com 20% ou

    mais da populao vivendo

    em extrema pobreza;

    Aos mdicos formados

    em instituies de

    educao superior

    brasileira ou com

    diploma revalidado no

    Pas;

    Bolsa-formao;

    Advertncia; Pr-seleo dos Municpios

    para a autorizao de

    funcionamento de cursos de

    Medicina, ouvido o

    Ministrio da Sade;

    Fortalecer a prestao de

    servios de ateno bsica em

    sade no pas;

    Estar entre os 100

    municpios com mais de

    80.000 habitantes, com os

    mais baixos nveis de receita

    pblica "per capita" e alta

    vulnerabilidade social de

    seus habitantes;

    Aos mdicos formados

    em instituies de

    educao superior

    estrangeiras, por meio de

    intercmbio mdico

    internacional

    Bolsa-superviso; Suspenso; Procedimentos para a

    celebrao do termo de

    adeso ao chamamento

    pblico pelos gestores locais

    do SUS;

    (contnua)

  • 17

    Quadro 2- Destaques da Lei n 12.871/2013 do Programa Mais Mdicos

    (concluso)

    Aprimorar a formao mdica

    no pas e proporcionar maior

    experincia no campo de

    prtica mdica durante o

    processo de formao;

    Estar situado em rea de

    atuao de Distrito Sanitrio

    Especial Indgena;

    - Bolsa-tutoria Desligamento das aes

    de aperfeioamento

    Critrios para a autorizao

    de funcionamento de

    instituio de educao

    superior privada

    especializada em cursos na

    rea de sade;

    Ampliar a insero do mdico

    em formao nas unidades de

    atendimento do SUS,

    desenvolvendo seu

    conhecimento sobre a

    realidade de sade da

    populao brasileira;

    Estar nas reas referentes

    aos 40% dos setores

    censitrios com os maiores

    percentuais de populao

    em extrema pobreza dos

    municpios

    - - - Critrios do edital de seleo

    de propostas para obteno

    de autorizao de

    funcionamento de curso de

    Medicina;

    Fortalecer a poltica de

    educao permanente com a

    integrao ensinoservio por

    meio da atuao das

    instituies de educao

    superior na superviso

    acadmica das atividades

    desempenhada pelos mdicos;

    - - - - Periodicidade e metodologia

    dos procedimentos

    avaliatrios necessrios ao

    acompanhamento e

    monitoramento da execuo

    da proposta vencedora do

    chamamento pblico

    Promover a troca de

    conhecimentos e experincias

    entre profissionais da sade

    brasileiros e mdicos

    formados em instituies

    estrangeiras;

    - - - - -

    Estimular a realizao de

    pesquisas aplicadas ao SUS

    - - - - -

    Fonte: elaborao prpria.

  • 18

    O Programa Mais Mdicos recebe muitas crticas como: a de que o programa uma

    iniciativa com interesse poltico, o qual no leva em considerao a qualidade do atendimento

    mdico prestado populao; de modo que a proposta foi feita por quem no conhece a

    realidade do SUS; assim como o programa um desperdcio de dinheiro pblico, o certo seria

    investir em infraestrutura e polticas pblicas de sade; alm de que o mdico, por si s, no

    resolve o problema do sistema, que no se baseia apenas na falta do profissional, mas sim na

    precariedade da estrutura, falta de tecnologias e insumos, tanto quanto, de equipes

    multidisciplinares; ainda que os profissionais do programa so mal preparados por isso podem

    oferecer risco populao; o programa degrada a residncia mdica, pelos residentes serem

    obrigados a prestarem servio durante dois anos, no havendo a garantia de superviso apta

    (CARAMELLI, 2013; LOPES, 2013).

    Segundo Lopes (2013), o Brasil necessita de mais sade e no s de mdicos. O

    Programa Mais Mdicos uma evidncia de que nada foi feito em sade no pas, h anos.

    Caso o SUS tivesse estrutura e todos os direitos trabalhistas fossem cumpridos, no haveria

    falta de mdicos no sistema. O programa coloca a classe mdica brasileira como responsvel

    pela falta de profissional, mas encobre as ms condies de trabalho. Os profissionais do

    programa esto sendo desrespeitados pelas condies em que foram contratados e de trabalho.

    Muitos profissionais que participam do programa no foram aprovados no Revalida, o que

    indica fragilidade dos profissionais e do programa.

    Por causa do Programa Mais Mdicos no Brasil, passa a existir o atendimento mdico

    para pobres e outro para os ricos. Os pobres que moram em favelas e/ou interiores possuem a

    medicina exercida por mdicos estrangeiros sem a revalidao do diploma e conta com a

    estrutura precria do SUS. Os ricos so atendidos por profissionais qualificados em estrutura

    adequada e contando com insumos e tecnologias avanadas (LOPES, 2013).

    Em seguida o quadro 3, de elaborao prpria, apresenta pontos considerados

    favorveis e desfavorveis do Programa Mais Mdicos, com base em algumas referncias

    como: Amaral; Pgo-Fernandes; Bibas (2012); Caramelli (2013); Lopes (2013). Tambm

    foram utilizadas informaes levantadas de publicaes do site de instituies de:

    representao profissional (Associao Brasileira de Educao Mdica); ensino e pesquisa

    (ABRASCO, FIOCRUZ, CEBES, Universidade de Braslia) e meios de comunicao (Jornal

    Folha de So Paulo e Correio Brasiliense).

  • 19

    Quadro 3- Pontos considerados favorveis e desfavorveis do Programa Mais Mdicos, segundo publicaes do

    site da ABRASCO, FIOCRUZ, CEBES Associao Brasileira de Educao Mdica, Universidade de Braslia,

    Jornal Folha de So Paulo e Correio Brasiliense

    Favorveis Desfavorveis

    Aumentar o nmero de profissionais mdicos na ateno bsica

    O programa considerado de interesse poltico/ partidrio demanda interna do governo

    Ampliao de vagas para a graduao mdica

    A proposta de criao do programa foi feita por quem no conhece a realidade do SUS

    um projeto que veio do movimento popular que clama por sade de qualidade a todos

    O governo federal no consultou previamente s entidades e escolas mdicas para a criao do programa

    O programa contraps dois modelos de medicina: um fundado no direito e na solidariedade; e outro baseado na perspectiva de que a profisso a escalada para se ganhar muito dinheiro, ficar poderoso e rico

    O programa um desperdcio de dinheiro pblico

    Condicionar o mdico que recebeu formao do setor pblico a passar dois anos servindo ao SUS

    No h um conjunto de medidas, de intervenes que deem sustentabilidade ao programa

    A ampliao de vagas para residncia, priorizando residncias para mdicos de sade da famlia e de outros especialistas em falta no SUS

    O programa faz importao de mdicos estrangeiros

    Mais investimentos em infraestrutura para a construo, ampliao e reforma de unidades de sade

    A forma de contratao dos profissionais (contrato provisrio) no prev direitos trabalhistas/ so contratos precrios e com uma remunerao no compatvel com a responsabilidade e exclusividade

    Oportunidade dos profissionais conhecerem a realidade brasileira

    Os mdicos estrangeiros atenderem sem terem feito o exame de revalidao do diploma

    Todos os mdicos estrangeiros terem de cursar especializao em Ateno Bsica

    O programa no vai resolver os problemas da sade

    O programa o primeiro passo para um caminho maior de transformao na formao dos mdicos brasileiros

    O programa causa competio com o mercado de trabalho dos mdicos brasileiros

    Em curto prazo, uma frao da populao passar a ter acesso sade e ateno mdica

    A vinda dos mdicos estrangeiros uma medida de curto prazo que no se sustenta

    H uma grande carncia de profissionais formados no Brasil para atuar na ateno bsica, assim como muitos que atuam, no tm formao para trabalhar nesse modelo o que uma limitao

    Os mdicos cubanos so mal formados

    Os mdicos cubanos so do povo e para o povo, j lidam com condies precrias de estrutura, esto preparados

    O aumento isolado do nmero de profissionais mdicos no ser capaz de resolver os problemas estruturais enfrentados pelo SUS

    Os mdicos brasileiros no querem trabalhar nas periferias, preferem as capitais

    considerado um problema os profissionais estrangeiros no dominarem a lngua portuguesa e nem conhecerem os dialetos do portugus brasileiro

    O programa poder contribuir para a concretizao de um SUS mais justo e equnime

    Considera-se que o programa comprometer a qualidade do atendimento nos servios de sade e vai expor a parcela mais carente e vulnervel da populao aos riscos decorrentes do atendimento de profissionais mal formados e desqualificados

    Precisamos de profissionais mais humanos Ampliar o tempo de formao nos cursos de Medicina em dois anos considerado uma manobra, que favorece a explorao de mo de obra

    O programa cubano na rea de medicina de famlia muito reconhecido no campo internacional

    A abertura de mais vagas em cursos de medicina no ir proporcionar a melhoria dos sistemas de sade locais

    (continua)

  • 20

    Quadro 3- Pontos considerados favorveis e desfavorveis do Programa Mais Mdicos, segundo publicaes do

    site da ABRASCO, FIOCRUZ, CEBES Associao Brasileira de Educao Mdica, Universidade de Braslia,

    Jornal Folha de So Paulo e Correio Brasiliense

    (concluso)

    O conjunto de medidas do Mais mdicos, j promoveu pelo menos um impacto positivo: colocou o SUS no centro da pauta nacional

    Toda a estrutura que falta sade pblica, tambm faltar aos novos cursos de medicina que sero criados

    A extenso da ateno primria sade em geral, e da Estratgia de Sade da Famlia, para mais de 90% dos brasileiros, nunca foi assumida como meta por nenhum governo federal ou estadual

    Com o nmero de professores, a infraestrutura e os funcionrios que as faculdades pblicas de medicina tm hoje, haveria grande dificuldade de aplicar o segundo ciclo ao curso

    Fonte: elaborao prpria.

    O Procurador-Geral da Repblica confirmou a legalidade do Programa Mais Mdicos,

    declarou constitucionalidade da Medida Provisria e da Lei que criaram o programa, o

    mesmo possui requisitos de urgncia e relevncia, no viola os princpios da legalidade; do

    direito sade; dos direitos sociais dos trabalhadores; da autonomia universitria; de proteo

    do mercado interno; do concurso pblico; da isonomia e da licitao pblica (BRASIL,

    2014a).

    De acordo com o Ministrio da Sade e com a Advocacia-Geral da Unio, o programa

    no tem relao trabalhista ou vnculo empregatcio de qualquer tipo com os profissionais

    participantes, o mesmo, cumpre todas as regras legais em relao atuao deles, baseado na

    integrao ensino e servio. Referente ao Revalida, o governo federal disse que a proposta

    est definida na lei do programa, com o objetivo de fornecer atendimento exclusivo na

    ateno bsica, em local especfico e por um perodo determinado. Durante o programa, os

    profissionais sero supervisionados por instituies de ensino (BRASIL, 2013c).

    Segundo Datafolha (2013), em junho e agosto de 2013, foram feitas 2.615 entrevistas

    em pesquisa realizada em 160 municpios do pas para conhecer a opinio das pessoas em

    relao vinda dos mdicos estrangeiros para trabalhar no Brasil. Deste total declaram ser

    favorveis medida 54% (era 47%, no fim de junho), contrrios 40% (era 48%), indiferentes

    4% (era 2%) e no souberam responder 2% (era 2%), conforme mostra a figura 2 e o quadro

    4. A margem de erro de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos, para o total da

    amostra.

  • 21

    Figura 2- Opinio sobre a proposta do governo de trazer mdicos estrangeiros para trabalhar no Brasil (Resposta estimulada e nica, em %), Brasil, 2013 Fonte: DATA FOLHA, 2013.

    Os participantes da pesquisa do Datafolha, que foram a favor e contra a vinda dos

    mdicos estrangeiros para trabalhar no Brasil, se caracterizam quanto: ao sexo; idade;

    escolaridade e regio do Brasil. Quanto aos favorveis: a maioria foi do sexo masculino (59);

    a faixa etria que prevaleceu foi de 16 a 24 anos de idade (57); tendo a maioria como

    escolaridade o nvel fundamental (59) e a maior parte eram da regio Norte (60). J os

    contrrios: o maior nmero foi do sexo feminino (43); na faixa etria de 45 a 59 anos (43);

    com nvel superior (52) e da regio Centro Oeste (43).

    Quadro 4- Opinio sobre a proposta do governo de trazer mdicos estrangeiros para trabalhar no Brasil por: sexo; idade; escolaridade e regio (Resposta estimulada e nica, em %), Brasil, 2013

    Opinio A favor Contra Indiferente No sabe Total

    54 40 4 2 100

    Caractersticas

    pessoais

    Sexo Masculino (59)

    Feminino (50)

    Masculino (37)

    Feminino (43)

    Masculino (3)

    Feminino (5)

    Masculino (1)

    Feminino (2)

    100

    Idade 16 a 24 anos (57); 25

    a 34 anos (54); 35 a

    44 anos (55); 45 a 59

    anos (52); 60 anos

    ou mais (55)

    16 a 24 anos (38);

    25 a 34 anos (41);

    35 a 44 anos (40);

    45 a 59 anos (43);

    60 anos ou mais

    (36)

    16 a 24 anos (4);

    25 a 34 anos (4);

    35 a 44 anos (3);

    45 a 59 anos (4);

    60 anos ou mais

    (6)

    16 a 24 anos (1);

    25 a 34 anos (1);

    35 a 44 anos (2);

    45 a 59 anos (2);

    60 anos ou mais

    (3)

    100

    Escolaridade Fundamental (59);

    Mdio (54) e

    Superior (43)

    Fundamental

    (34); Mdio (41)

    e Superior (52)

    Fundamental (5);

    Mdio (4) e

    Superior (4)

    Fundamental (2);

    Mdio (1) e

    Superior (1)

    100

    Regio Sudeste (53); Sul

    (51); Nordeste (60);

    Norte/ Centro oeste

    (52)

    Sudeste (42); Sul

    (40); Nordeste

    (35); Norte/

    Centro oeste (43)

    Sudeste (4); Sul

    (7); Nordeste (3);

    Norte/ Centro

    oeste (4)

    Sudeste (1); Sul

    (2); Nordeste (2);

    Norte/ Centro

    oeste (1)

    100

    Fonte: DATAFOLHA, 2013, com adaptaes.

    O Programa Mais Mdicos, em abril desse ano, contava com 13.235 mdicos. Eles

  • 22

    foram distribudos pelas regies brasileiras da seguinte forma: o Sudeste e Nordeste contavam

    com mais profissionais, 4.170 e 4.147 mdicos respectivamente; o Sul com 2.261; Norte

    1.764 e Centro-Oeste 893. Os outros 305 profissionais estavam atuando em distritos indgenas

    (BRASIL, 2014b). O Distrito Federal em 2013 recebeu 61 mdicos do programa, deste

    quantitativo, 16 eram mdicos com formao no Brasil, e 45 no exterior. Esses profissionais

    esto atendendo a 210 mil pessoas (BRASIL, 2013e).

    Em junho, o programa j possua mais de 14,4 mil profissionais distribudos pelo

    Brasil. Os brasileiros que se inscreveram foram 1.846 brasileiros e 1.187 mdicos formados

    fora do Brasil, o que corresponde apenas a 20% dos profissionais. Inscreveram-se

    espontaneamente dois mdicos cubanos, o que representa menos de 0,01% da oferta. Desta

    forma, o Brasil fez um termo de parceria junto a Organizao Pan-Americana da Sade

    (OPAS), com Cuba. O acordo internacional supre 80% da ao, mais de 2.700 cidades so

    atendidas exclusivamente por mdicos cubanos. Dos mdicos estrangeiros participantes do

    programa 11.429 so cubanos (OLIVEIRA, et al., 2014). Caso o programa dependesse

    somente de inscries individuais de mdicos, aproximadamente 40 milhes de brasileiros

    continuariam sem acesso ateno mdica (BRASIL, 2014c).

    Conforme Brasil (2014d), em agosto de 2014 o programa j atendeu 50 milhes de

    pessoas e superou a meta inicial estipulada de 46 milhes de brasileiros. Os mdicos esto

    distribudos em 3.785 municpios e 34 distritos indgenas. Em mais de dois mil municpios

    que possuem pelo menos um mdico do programa, as consultas realizadas nos centros de

    sade de todo pas, aumentaram em aproximadamente 35%, foram 5.972.908 em janeiro de

    2014, contra 4.428.112 em janeiro de 2013 (BRASIL, 2014e), conforme pode ser visto na

    figura 3.

    De acordo com Lenidas (2014), o Programa Mais Mdicos ampliou a cobertura da

    Equipe de Sade da Famlia: 2.674 novas equipes foram compostas, fazendo a cobertura de

    aproximadamente 9 milhes de pessoas, cerca de 5% da populao brasileira.

  • 23

    Figura 3- Nmero de consultas na Ateno Bsica em janeiro de 2013 e janeiro de 2014

    Segundo Brasil (2014e), com o Programa Mais Mdicos, diminuiu-se em 20% o

    nmero de encaminhamentos a hospitais, passando de 20.170 em janeiro de 2013 para 15.969

    em janeiro de 2014, como pode ser visto na figura 5. Ampliaram-se os atendimentos de

    pessoas com: diabetes em cerca de 45% a mais de consultas, passando de 587.535, em janeiro

    de 2013, para 849.751 em janeiro de 2014; pacientes com hipertenso arterial aumentaram em

    5% e as consultas de pr-natal, em 11%, como pode ser visto na figura 4.

    Figura 4- Nmero de encaminhamentos hospitalares em janeiro de 2013 e janeiro de 2014

  • 24

    Abaixo seguem trs quadros que apresentam alguns resultados do Programa Mais Mdicos, em 25 estados da federao; no foram

    encontrados dados do Distrito Federal e Rio de Janeiro. A maioria dos nmeros comparativo entre janeiro de 2013 a janeiro de 2014, ou de

    perodos em que no existia o programa e a partir de sua implementao. Os quadros esto dispostos da seguinte forma: quadro 5, com dados da

    ampliao do nmero de mdicos; assistncia mdica e reduo de encaminhamentos a hospitais. O quadro 6 traz o nmero de atendimentos de

    diabticos; hipertensos; de pr-natal; sade mental; de usurios de lcool e drogas. Por fim, o quadro 7 apresenta o nmero de consultas na

    ateno bsica em 2013 e 2014; consultas por demanda imediata; agendadas e de cuidado continuado. Os quadros so de elaborao prpria, mas

    os dados tm como referncia o portal da sade (BRASIL, 2013;2014).

    A ampliao do nmero de mdicos, assim como a assistncia mdica, foi maior no estado de So Paulo com 2.187 profissionais,

    cobrindo cerca de 7,5 milhes de paulistas. A reduo de encaminhamentos a hospitais tambm foi maior no estado, com 70% (de 1.893 em

    2013, para 568 em 2014) dos casos (quadro5).

    Quadro 5- Programa Mais Mdicos: estados com a ampliao do nmero de mdicos, assistncia mdica e reduo de encaminhamento a hospitais de janeiro de 2013 a

    janeiro de 2014

    Estado Ampliao do n de mdicos Assistncia mdica Reduo de encaminhamento a hospitais

    Acre 33 A cerca de 552 mil acreanos ...

    Alagoas 192 A cerca de 662 mil Alagoanos ...

    Amap 127 A cerca de 438 mil amapaenses ...

    Amazonas 453 A cerca de 1,5 milho de amazonenses ...

    Bahia 1.359 A cerca de 4,7 milhes de baianos 33,2% (de 3.418 em 2013, para 2.282 em 2014)

    Cear 86 A cerca de 2,9 milhes de cearenses 18,2% (de 1.127 em 2013, para 922 em 2014)

    Esprito Santo 400 A cerca de 1,4 milho de capixabas ...

    Gois 454 A cerca de 1,5 milho de goianos 57,5% (de 1.164 em 2013, para 495 em 2014)

    Maranho 651 A cerca de 2,2 milhes de maranhenses 29,9% (de 1.825 em 2013, para 1.279 em 2014)

    (continua)

  • 25

    Quadro 5- Programa Mais Mdicos: estados com a ampliao do nmero de mdicos, assistncia mdica e reduo de encaminhamento a hospitais de janeiro de 2013 a janeiro de 2014

    (concluso)

    Mato Grosso 198 A cerca de 683 mil mato-grossenses 30% (de 223 em 2013, para 322 em 2014)

    Mato Grosso do Sul 196 A cerca de 676 mil mato-grossenses- do- sul 32,7% (de 284 em 2013, para 191 em 2014)

    Minas Gerais 1.235 A cerca de 4,2 milhes de mineiros ...

    Par 586 A cerca de 2 milhes de paraenses ...

    Paraba 260 A cerca de 897 mil paraibanos ...

    Paran 868 A cerca de 2,9 milhes de paranaenses 52,7% (de 2.140 em 2013, para 1.012 em 2014)

    Pernambuco 646 A cerca de 2,2 milhes de pernambucanos ...

    Piau 327 A cerca de um milho de piauienses ...

    Rio Grande do Sul 1.081 A cerca de 3,7 milhes de gachos ...

    Rio Grande do Norte 238 A cerca de 714 mil Rio-Grandenses 20% (de 20.170 em 2013, para 15.969 em 2014)

    Rondnia 290 A cerca de 1 milho de rondonienses ...

    Roraima 136 A cerca de 469 mil roraimenses ...

    Santa Catarina 448 A cerca de 1,5 milho de catarinenses 37% (de 709 em 2013, para 447 em 2014)

    So Paulo 2.187 A cerca de 7,5 milhes de paulistas 70% (de 1.893 em 2013, para 568 em 2014)

    Sergipe 148 A cerca de 518 mil sergipanos ...

    Tocantins 142 A cerca de 489 mil tocantinenses ...

    Total 12.741 - -

    Fonte: elaborao prpria.

    O estado com maior nmero relativo de atendimentos de diabticos foi o Amap com 85,4% (de 205 em maro de 2013 para 380 em

    maro de 2014). O Cear teve mais atendimentos de hipertensos com 67,5% (de 197.648 em 2013, para 331.069 em 2014). J os atendimentos de

    pr-natal foram maiores no Piau com 63,9% (de 7.950 em 2013, para 13.032 em 2014). O Rio Grande do Sul teve mais atendimentos de sade

    mental com um aumento de 288% (de 37.992 em 2013, para 147.614 em 2014). No Amap, os atendimentos a usurios de lcool tiveram um

    incremento de 55,1% (de 234 em maro de 2013, para 363 em maro de 2014) e drogas com 55,1% (de 138 em maro de 2013, para 204 em

  • 26

    maro de 2014) foram maiores em relao aos outros estados (quadro 6).

    Quadro 6- Programa Mais Mdicos: estados com nmero de atendimentos de diabticos; hipertensos; de pr-natal; sade mental; usurios de lcool e drogas, comparao entre 2013 e 2014

    Estado Atendimento de

    diabticos Atendimento de

    hipertensos Atendimento de

    pr-natal Atendimento de sade

    mental Atendimento a usurios

    de lcool Atendimento a usurios

    de drogas

    Acre ... ... ... 16,9% (de 89 em 2013,

    para 104 em 2014) ... ...

    Alagoas Aumento de 24,2% ... ... ... ... ...

    Amap

    85,4% (de 205 em Maro de 2013, para

    380 em Maro de 2014)

    60,6% (de 617 em Maro de 2013,

    para 991 em Maro de 2014)

    ... ... 55,1% (de 234 em Maro

    de 2013, para 363 em Maro de 2014)

    55,1% (de 138 em Maro de 2013, para 204 em

    Maro de 2014)

    Amazonas 17,6% (de 8.538 em

    2013, para 10.033 em 2014)

    21,8% (de 18.951 em 2013, para

    23.088 em 2014)

    22,8% (de 13.312 em 2013, para 16.342

    em 2014)

    84,6% (de 624 em 2013, para 1.152 em 2014)

    ... ...

    Bahia ... ... ... 39,3% (de 6.887 em 2013, para 9.592 em

    2014)

    8,1% (de 2.135em 2013, para 2.308 em 2014)

    ...

    Cear 19,4% (de 57.928 em 2013, para 69.181em

    2014)

    67,5% (de 197.648 em 2013, para 331.069 em

    2014)

    ... 46,5% (de 19.191 em 2013, para 28.110 em

    2014)

    50,2% (de 1.613 em 2013, para 2.423 em 2014)

    ...

    Esprito Santo ... ... ... 6,3% (de 2.815 em

    2013, para 2.992 em 2014)

    ... 46% (de 87 em 2013, para

    127 em 2014)

    Gois ... ... ... 21,3% (de 4.476 em 2013, para 5.431 em

    2014)

    23,6% (de 679 em 2013, para 839 em 2014)

    ...

    (continua)

  • 27

    Quadro 6- Programa Mais Mdicos: estados com nmero de atendimentos de diabticos; hipertensos; de pr-natal; sade mental; usurios de lcool e drogas, comparao entre 2013 e 2014

    Maranho ... ... ... 54,2% (de 1.629 em 2013, para 2.512 em

    2014) ... ...

    Mato Grosso 6% (3.728 em 2013, para 3.942 em 2014)

    ... 24% (de 4.515 em

    2013, para 5.596 em 2014)

    ... ... ...

    Mato Grosso do Sul

    13,9% (de 8.886 em 2013, para 10.125 em

    2014) ...

    15% (de 6.927 em 2013, para 7.974 em

    2014)

    34% (de 3.503 em 2013, para 4.694 em 2014)

    ... ...

    Minas Gerais Aumento de 7,5% ... Aumento de 17% 18,6% (de 21.071 em 2013, para 24.986 em

    2014)

    34,8% (de 3.264 em 2013, para 4.400 em 2014)

    ...

    Par ... ... 2,5% (de 24.578 em 2013, para 25.197

    em 2014) ... ... ...

    Paraba ... ... ... ... ... ...

    Paran 44,1% (de 33.062 em 2013, para 47.650 em

    2014) ...

    56,3% (de 18.983 em 2013, para 29.663

    em 2014)

    42,9% (de 19.108 em 2013, para 27.304 em

    2014) ... ...

    Pernambuco 10,4% (de 43.708 em 2013, para 48.272 em

    2014) ...

    55,1% (de 42.384 em 2013, para 65.725

    em 2014)

    32,2% (de 18.769 em 2013, para 24.810 em

    2014) ... ...

    Piau ... ... 63,9% (de 7.950 em 2013, para 13.032

    em 2014) ... ... ...

    Rio Grande do Sul

    23,2% (de 15.585 em 2013, para 19.195 em

    2014) ...

    30% (de 10.088 em 2013, para 13.101

    em 2014)

    288% (de 37.992 em 2013, para 147.614 em

    2014) ... ...

    (continua)

  • 28

    Quadro 6- Programa Mais Mdicos: estados com nmero de atendimentos de diabticos; hipertensos; de pr-natal; sade mental; usurios de lcool e drogas, comparao entre 2013 e 2014

    (concluso)

    Rio Grande do Norte

    45% (de 587.535, em

    2013, para 849.751 em

    2014)

    Aumento de 5% Aumento de 11% ... ... ...

    Rondnia ... ... ... ... ... ...

    Roraima 25,5% (de 1438 em 2013, para 1804 em

    2014)

    8,7% (de 4.059 em 2013, para 4413 em 2014)

    ... ... ... ...

    Santa Catarina 16,2% (de 19.368 em 2013, para 22.501 em

    2014) ...

    63,5% (de 16.884 em 2013, para 27.612

    em 2014) ... ... ...

    So Paulo 12,9% (de 71.116 em 2013, para 80.305 em

    2014) ... ...

    15,1% (de 16.737 em 2013, para 19.262 em

    2014) ... ...

    Sergipe 16,4% (de 12.197 em 2013, para 14.202 em

    2014)

    11,5% (de 28.825 em 2013, para

    32.150 em 2014)

    10,8% (de 9.319 em 2013, para 10.326,

    em 2014)

    39,7% (de 3.200 em 2013, para 4.470 em

    2014)

    53,4% (de 305 em 2013, para 468 em 2014)

    49,2% (de 128 em 2013, para 191 em 2014)

    Tocantins 23,5% (de 5.538 em 2013, para 6.841 em

    2014)

    16,3% (de 18.608 em 2013, para

    21.634 em 2014) Aumento de 6,3%

    6,1% (de 2.127 em 2013, para 2.257 em