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Compreensão histórica do regimeempresarial-militar brasileiro

Historical understanding of theBrazilian corporate-military regime

Fábio Konder ComparatoProfessor Emérito

Universidade de São Paulo

Resumo

Este artigo busca compreender como o regime político que se ins-talou no país após o Golpe de 1964 fundou-se na aliança das Forças Ar-madas com os latifundiários e os grandes empresários, nacionais e es-trangeiros, e como esse consórcio político engendrou duas experiências pioneiras na América Latina: o terrorismo de Estado e o neoliberalismo capitalista. Grandes empresários não hesitaram em financiar a instala-ção de aparelhos de terror estatal, como a Operação Bandeirante (em-brião do futuro DOI-CODI), ou ainda a Federação das Indústrias de São Paulo – FIESP, que convidou empresas a colaborar – enquanto a Ford e a Volkswagen forneciam automóveis, a Ultragás emprestava caminhões e a Supergel abastecia a carceragem militar com refeições congeladas. Entre outros, um dos setores em que a colaboração do empresariado com a corporação militar mais se destacou foi o das comunicações de massa, necessário para a difusão sistemática dos méritos do sistema capitalista.

Palavras-chave: regime autoritário, colaboração empresarial-mili-tar, terrorismo de estado, neoliberalismo capitalista.

Summary

This article seeks to understand how the political regime settled in Brazil after the coup d’etat in 1964 was based on the military alliance with the landowners and big businessmen, foreign and domestic, and how this political consortium engendered two pioneering experiments in Latin America: State terrorism and capitalist neoliberalism. Great entrepreneurs do not hesitate to finance the installation of apparatus of State terror, like Operação Bandeirante (embryo of the future DOI-CODI), or Federação de Indústrias de São Paulo – FIESP that invited companies to cooperate – while Ford and Volkswagen provided cars, Ultragás lent trucks and Supergel supplied the military prisons with frozen meals. Among others, one of the sectors in which the business collaboration with the military corporation stood out was the mass communications, necessary for the systematic dissemination of the merits of the capitalist system.

Keywords: authoritarian regime, corporate-military collaboration, state terrorism, capitalist neoliberalism.]

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Compreensão histórica do regime empresarial-militar brasileiro

Fábio Konder ComparatoUniversidade de São Paulo

ano 12

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Cadernos IHU ideias é uma publicação quinzenal impressa e digital do Instituto Humanitas Unisinos – IHU que apresenta artigos produzidos por palestrantes e convidados(as) dos eventos promovidos pelo Instituto, além de artigos inéditos de pesquisadores em diversas universidades e instituições de pesquisa. A diversidade transdisciplinar dos temas, abrangendo as mais diferentes áreas do conhecimento, é a característica essencial desta publicação.

UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS

Reitor: Marcelo Fernandes de Aquino, SJ

Vice-reitor: José Ivo Follmann, SJ

Instituto Humanitas Unisinos

Diretor: Inácio Neutzling, SJ

Gerente administrativo: Jacinto Schneider

www.ihu.unisinos.br

Cadernos IHU ideiasAno XII – Nº 205 – V. 12 – 2014ISSN 1679-0316 (impresso)

Editor: Prof. Dr. Inácio Neutzling - Unisinos

Conselho editorial: MS Caio Fernando Flores Coelho; Profa. Dra. Cleusa Maria Andreatta; Prof. MS Gilberto Antônio Faggion; Prof. MS Lucas Henrique da Luz; MS Marcia Rosane Junges; Profa. Dra. Marilene Maia; Dra. Susana Rocca.

Conselho científico: Prof. Dr. Adriano Neves de Brito, Unisinos, doutor em Filosofia; Profa. Dra. Angelica Massuquetti, Unisinos, doutora em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade; Profa. Dra. Berenice Corsetti, Unisinos, doutora em Educação; Prof. Dr. Celso Cândido de Azambuja, Unisinos, doutor em Psicologia; Prof. Dr. César Sanson, UFRN, doutor em Sociologia; Prof. Dr. Gentil Corazza, UFRGS, doutor em Economia; Profa. Dra. Suzana Kilpp, Unisinos, doutora em Comunicação.

Responsável técnico: MS Caio Fernando Flores Coelho

Revisão: Carla Bigliardi

Editoração eletrônica: Rafael Tarcísio Forneck

Impressão: Impressos Portão

Cadernos IHU ideias / Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Instituto Humanitas Unisinos. – Ano 1, n. 1 (2003)- . – São Leopoldo: Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2003- .

v.

Quinzenal (durante o ano letivo).

Publicado também on-line: <http://www.ihu.unisinos.br/cadernos-ihu-ideias>.

Descrição baseada em: Ano 1, n. 1 (2003); última edição consultada: Ano 11, n. 204 (2013).

ISSN 1679-0316

1. Sociologia. 2. Filosofia. 3. Política. I. Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Instituto Hu-manitas Unisinos.

CDU 3161

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Bibliotecária responsável: Carla Maria Goulart de Moraes – CRB 10/1252

ISSN 1679-0316 (impresso)

Solicita-se permuta/Exchange desired.As posições expressas nos textos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores.

Toda a correspondência deve ser dirigida à Comissão Editorial dos Cadernos IHU ideias:

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COMPREENSÃO HISTÓRICA DO REGIME EMPRESARIAL-MILITAR BRASILEIRO

Fábio Konder Comparato

Meio século após a instauração do mais longo regime de exceção de nossa história política, é importante examinar suas causas e analisá-lo num amplo contexto social, ultrapassando fatos singulares e personagens individuais.

Com esse propósito, parece-me necessário considerar, an-tes de tudo, a tradicional estrutura de poder vigente entre nós e a posição que nela ocupou a corporação militar.

1Posição das Forças Armadas na Estrutura de nosso Poder Político

Em todo o curso da História do Brasil, a organização do poder apresentou uma estrutura dualista, englobando, de um lado, os agentes estatais e, de outro, os potentados privados, ou seja, os grandes proprietários e empresários. Enquanto os pri-meiros se apresentaram oficialmente como titulares do poder político e administrativo, os segundos, graças ao seu poderio econômico, não deixaram de exercer sobre aqueles uma in-fluência determinante. Essa organização do poder político, a bem dizer, é própria da civilização capitalista. “O capitalismo”, como bem advertiu Fernand Braudel, “só triunfa quando se iden-tifica com o Estado, quando é o Estado”.1

Como órgão auxiliar dessa estrutura dualista de poder, sempre atuou a Igreja Católica. A monarquia portuguesa havia obtido do papado, durante a Idade Média, o privilégio do pa-droado régio, que habilitava o monarca a propor a criação de novas dioceses, escolher os bispos e propor sua sagração ao papa; além do chamado beneplácito, que era o poder do rei de aprovar previamente as normas e determinações da Santa Sé destinadas ao reino. Em razão do padroado, que vigorou entre nós até a República, os eclesiásticos atuaram como autênticos funcionários da Coroa. Mesmo após a separação entre a Igreja e o Estado, estabelecida pela primeira Constituição republicana de 1891, a Igreja Católica exerceu no Brasil uma influência deci-siva, em defesa da ordem política estabelecida.

1 La dynamique du capitalisme, Éditions Flammarion, 2008, p. 68.

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Quanto ao povo propriamente dito, ele nunca, nem de lon-ge, deteve a soberania e, salvo períodos de curta duração – co-mo durante a “Era Vargas”, por exemplo – ficou totalmente alheio ao esquema geral de exercício do poder político, mesmo quan-do, a partir do período republicano, foi constitucionalmente pro-clamado como a fonte de onde emanam todos os poderes.

Entre os dois grupos dominantes acima nomeados – os agentes estatais e os potentados privados – estabeleceu-se aquela dialética da ambiguidade a que se referiu o historiador José Murilo de Carvalho, retomando uma expressão cunhada pelo sociólogo Guerreiro Ramos.2 Cada um desses grupos de poder sempre busca, antes de tudo, realizar o seu próprio inte-resse, e não o bem comum do povo. Mas, salvo conflitos episó-dicos, mantêm-se associados, em situação de mútua depen-dência. Assim, enquanto o conjunto dos agentes estatais – governantes, legisladores, juízes, membros do Ministério Pú-blico, altos funcionários – no exercício de suas funções oficiais favorece a realização dos interesses econômicos dos potentados privados, estes últimos, sob o disfarce da submissão ao poder oficial, não cessam de exercer pressão sobre os primeiros em to-dos os níveis – legislação, administração, prestação da justiça –, quando não os corrompem, pura e simplesmente. Aliás, a genera-lizada prática da corrupção dos agentes públicos, herdada de Por-tugal, marcou toda a nossa história, havendo chamado a atenção de notáveis viajantes estrangeiros no século XIX.3

Até o final do Império, as Forças Armadas atuaram como organização auxiliar desse esquema dúplice de poder. A partir da Guerra do Paraguai (1865-1870), entretanto, a corporação militar manifestou crescente insatisfação com o seu estado de dependência na organização estatal, como passamos a ver.

a) Período colonial

A colonização portuguesa, tanto na América quanto na Ásia e na África, teve, desde o início, um caráter nitidamente mercantil.4

2 Cf. José Murilo de Carvalho, I A Construção da Ordem, II Teatro de Sombras,Rio de Janeiro (Editora UFRJ – Relume Dumará), 2ª ed., p. 212.

3 Vejam-se Auguste de Saint-Hilaire, Viagem pelas Províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais, Editora da Universidade de São Paulo e Livraria Itatiaia Edi-tora Ltda., 1975, p. 157; John Luccock, Notas sobre o Rio de Janeiro e partes meridionais do Brasil, Editora da Universidade de São Paulo e Livraria Itatiaia Editora Ltda., 1975, p. 321; Charles Darwin, O Diário do Beagle, Editora UFPR,2006, p. 100

4 Cf., principalmente, Caio Prado Jr., Formação do Brasil Contemporâneo, cit., pp. 15 e ss.; Sérgio Buarque de Holanda, Visão do Paraíso, 2ª ed., São Paulo (Companhia Editora Nacional e Editora da Universidade de São Paulo), Cole-ção Brasiliana – vol, 333, 1969, pp. 318 e ss.; Raymundo Faoro, Os Donos do Poder, 1ª edição, 1958; 3ª edição, Editora Globo, 2001, pp. 45 e ss.

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Com efeito, a partir do reinado de D. João I, inaugurador da dinastia de Avis na segunda metade do século XIV, o pequeno reino ibérico conheceu a primeira grande revolução dos tempos modernos, com o rompimento da milenar estrutura social da ci-vilização indo-europeia. Nesta, como sabido, a sociedade era dividida em três estamentos (États, Stände): o dos clérigos, o dos aristocratas-militares e o dos simples servos lavradores. Su-cedeu que, no dealbar da Baixa Idade Média, nas localidades chamadas “burgos de fora”, ou seja, não sujeitas ao poder feu-dal, surgiram e prosperaram três grupos sociais estranhos àque-la tripartição estamental, e que passaram, em razão de sua ori-gem territorial, a ser denominados burgueses: os comerciantes, os juristas e os militares de profissão.

O Mestre d’Avis, assumindo o trono logo após a grande crise de 1383-1385 entre Portugal e Castela, afastou da Corte a nobreza favorável à aliança entre ambas as Coroas ibéricas e chamou a si aquelas três categorias de burgueses, atribuin-do-lhes a missão de servi-lo diretamente na luta pela manuten-ção da independência do reino. Criou, destarte, aquele esta-mento burocrático, cuja atuação na história política de nosso país foi analisada em profundidade por Raymundo Faoro em obra já clássica.5

A grande aventura colonial, desenvolvida a partir da desco-berta da América e a abertura do caminho marítimo para as Ín-dias, foi desde o início montada com o auxílio dos militares e comerciantes ligados à Coroa. O próprio rei tornou-se o primeiro comerciante do reino. Em suma, como disse Alexandre Hercula-no, fundou-se em Portugal um regime de capitalismo político.6

No sistema das capitanias hereditárias, por primeiro insta-lado no Brasil, a autoridade máxima local, o capitão-donatário, era dotado de todos os atributos régios, notadamente o poder militar, e desenvolvia pessoalmente a atividade de exploração mercantil da terra. Sobrevindo o regime de governo-geral, inau-gurado por Tomé de Souza em 1549, garantiu-se, em benefício de alguns senhores de engenho designados pela Coroa, o oligo-pólio da produção de açúcar. “O ser senhor de engenho”, asse-verou Antonil em sua obra de 1711,7 “é título a que muitos aspi-ram, porque traz consigo o ser servido, obedecido e respeitado de muitos.”

Criou-se, em consequência, em todo o período colonial, uma estrutura dúplice de poderes, reunindo, de um lado, os grandes fazendeiros e senhores de engenho e, de outro, o esta-mento burocrático nomeado pela Coroa, ou seja, os altos funcio-nários régios. Entre esses dois grupos de potentados, estabele-

5 Os Donos do Poder, cit.6 História de Portugal, 8ª ed., Lisboa (Bertrand), t. I, p. 99.7 Cultura e Opulência do Brasil, Editora Itatiaia Limitada e Editora da Universida-

de de São Paulo, 1982, pág. 75.

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ceram-se ao longo dos séculos estreitas relações de parentesco, amizade e compadrio.8

No conjunto dos funcionários oriundos da metrópole, os mi-litares sempre predominaram, pois desde o início da aventura colonial houve constante preocupação com a defesa do territó-rio. A corporação militar organizava-se em três grupos9: 1) as tropas de linha, compostas essencialmente de regimentos portu-gueses, e que operavam em todo o território colonial; 2) as milí-cias, constituídas também por tropas regulares de recrutamento compulsório, mas não remuneradas, distribuídas em freguesias ou circunscrições eclesiásticas; 3) os corpos de ordenanças, que abrangiam toda a população masculina entre 18 e 60 anos, não recrutada nos dois primeiros corpos militares.

Essa avassaladora organização militar nunca se distin-guiu pela disciplina. Enquanto os chefes mantinham-se estrei-tamente unidos à classe dos ricos senhores, sendo que muitos oficiais de alto grau adquiriam propriedades rurais ou torna-vam-se comerciantes, a soldadesca cometia frequentes abu-sos contra a população pobre. Luís dos Santos Vilhena, em suas crônicas da Bahia do final do século XVIII,10 relata a fre-quência com que, nas épocas de escassez de alimentos, os militares invadiam currais e açougues, a fim de se apossar de toda a carne destinada à venda.

b) Período imperial

Desde a criação do Estado brasileiro independente, em 1822, até o final do reinado de D. Pedro II, a corporação militar representou o braço armado da Coroa imperial, em defesa da or-ganização política centralizada e da unidade territorial do país.

Nessa posição, as Forças Armadas atuaram, já em 1824, na pacificação do conflito entre o presidente da Província de Pernambuco, nomeado pela Corte, e seu adversário local. Nos anos seguintes, a corporação militar teve que enfrentar, não poucas vezes, segmentos rebeldes dos proprietários agrícolas e comerciantes urbanos, ou seja, o outro ramo da dominação oli-gárquica. Assim sucedeu durante todo o período regencial – Guerra dos Cabanos (Pará, 1835-1840), Guerra dos Farrapos (Rio Grande do Sul e Santa Catarina, 1835-1845), Sabinada (Salvador, 1837-1838), Balaiada (Maranhão e Piauí, 1838-1841) – estendendo-se até os primeiros anos do reinado de D. Pedro II: revoltas liberais de 1842 e a Revolta Praieira de 1848.

8 Cf. Stuart B. Schwartz, Sovereignty and Society in Colonial Brazil – The High Court of Bahia and its Judges 1609-1751, University of California Press, 1973, capítulo XIII (The Brazilianization of Bureaucracy).

9 Para maiores informações sobre o assunto, cf. Caio Prado Jr., Formação do Brasil Contemporâneo, 2011 (Companhia das Letras), pp. 329 e ss.

10 A Bahia no Século XVIII, vol. I (Livro I), Editora Itapuã, 1969, pp. 129-130.

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A corporação militar foi, porém, poupada no combate aos vários levantes de escravos, como a Revolta dos Carrancas em Minas Gerais em 1831, a Revolta dos Malês na Bahia em 1835 e os combates contra quilombolas. Nesses confrontos, o gover-no imperial preferiu servir-se das forças policiais e dos chama-dos capitães-do-mato, estipendiados pelos senhores rurais. O governo chegou mesmo a criar, em 1831, como força auxiliar da polícia, a Guarda Nacional. Compunham-na todos os cida-dãos ativos de 21 a 60 anos, entendendo-se como tais as pes-soas que dispunham de uma renda anual de 100 mil-réis e constituíam, nessa condição, os eleitores de primeiro grau.11

Eles formavam a ínfima minoria de brasileiros, considerada a “elite” da nação.

Mais importante que isso, todavia, foi o desempenho de pri-meira linha das Forças Armadas imperiais em vários conflitos externos, como as sucessivas guerras platinas e, sobretudo, a Guerra do Paraguai (1865-1870).

Esta última representou o fator desencadeante de um in-conformismo geral no seio da corporação militar. Havendo com-batido ao lado das tropas da Argentina e do Uruguai, repúblicas onde os militares podiam ocupar altos postos políticos, inclusive a chefia do Estado, os oficiais brasileiros não mais aceitavam permanecer como cidadãos de segunda categoria, sem desfru-tar de todas as liberdades políticas asseguradas aos civis. Por outro lado, nossos militares tomaram consciência de sua condi-ção humilhante de subordinados ao poder escravocrata, deven-do assinalar-se que um contingente apreciável das tropas brasi-leiras era composto de escravos.

A partir de 1883 e praticamente até a Proclamação da Re-pública, ocorreu uma série de incidentes, que os historiadores classificaram como “a questão militar”. Influenciados pela prega-ção positivista, desenvolvida sobretudo por Benjamin Constant na Escola Militar da Praia Vermelha, os integrantes das Forças Armadas começaram a reivindicar direitos fundamentais de ci-dadania que lhes eram recusados, como o de reunião e de livre manifestação política.

Por outro lado, com o crescimento exponencial da fuga de escravos e a multiplicação de quilombos em todo o sudeste do país, o governo imperial, pressionado pelos grandes proprietá-rios rurais e verificando a fraqueza dos contingentes policiais, tentou recorrer às forças do Exército para a recaptura dos fugiti-vos, o que causou generalizado mal-estar entre os militares. A tensão agravou-se até que, em outubro de 1887, poucos meses

11 De acordo com o disposto no art. 90 da Constituição imperial de 1824, “as no-meações dos Deputados e Senadores para a Assembleia Geral, e dos Mem-bros dos Conselhos Gerais das Províncias, serão feitas por Eleições indiretas, elegendo a massa dos Cidadãos ativos em Assembleias Paroquiais os Eleito-res de Província, e estes os Representantes da Nação e Província”.

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antes da Abolição, o Clube Militar, sob a presidência de Deodoro da Fonseca, dirigiu um apelo à Princesa Regente, no sentido de que os soldados ficassem dispensados da “captura de pobres negros que fogem à escravidão”.

Em suma, ao final do Império as Forças Armadas entraram em aberto conflito, não só com os agentes estatais detentores do poder político oficial, mas também com o conjunto dos gran-des proprietários agrícolas; ou seja, os dois grupos titulares efe-tivos da soberania.

É nesse contexto que sobrevém a Proclamação da Repú-blica. Como sempre em nossa História, o povo ficou totalmente alheio ao episódio. Na famosa carta a um amigo, Aristides Lobo, que assistira à manifestação de protesto de Deodoro e sua tropa no Campo de Santana, assim declarou: “O povo assistiu àquilo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava. Muitos acreditavam sinceramente estar vendo uma parada”.

c) O consulado militar

Os primeiros anos do novo regime transcorreram sob a for-ma de um verdadeiro consulado militar, com Deodoro da Fonse-ca e Floriano Peixoto na chefia do Estado. Para se ter uma ideia do ambiente de insegurança e temor que então predominou, ressalte-se que, em março de 1890, como reação a um simples cartaz afixado em certos pontos do Rio de Janeiro, conclamando o povo a pôr abaixo a ditadura, três civis foram presos e subme-tidos, pela primeira vez desde 1825, a julgamento pela Justiça Militar, que os condenou a penas de prisão. O regime empresa-rial-militar instaurado em 1964 voltou a dar preponderância à Justiça Militar, determinando sua competência obrigatória para julgar os crimes ditos contra a segurança nacional.

Sob a chefia de Floriano, a situação de turbulência latente acabou por explodir em duas revoltas da Armada contra o Exér-cito, em 1891 e 1893; neste último ano coincidindo com o defla-grar da Revolução Federalista no Rio Grande do Sul, em oposi-ção à ditadura positivista de Borges de Medeiros.

De qualquer maneira, para os grandes fazendeiros do Su-deste do país, onde surgiu a ideia republicana – o Manifesto de 1870 foi lançado em Itu, Estado de São Paulo – os militares já haviam feito o que deles se esperava, ou seja, derrubar a mo-narquia. Eles deviam, doravante, voltar à caserna e entregar o comando do Estado aos civis; o que foi feito, afinal, em 15 de novembro de 1894, com a assunção da Presidência da Repú-blica por Prudente de Morais, legítimo representante da oligar-quia cafeeira.

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d) A “República Velha” (1894-1930)

O restabelecimento da supremacia do poder civil não sig-nificou um apaziguamento da insubordinação dos militares; longe disso.

Já em 1904, no contexto da revolta popular contra a vacina obrigatória, instituída por Osvaldo Cruz para debelar a febre amarela, deu-se no Rio de Janeiro a Revolta da Escola Militar da Praia Vermelha, na qual morreram, em confronto com as forças policiais, além de um aluno, o tenente-coronel e senador Lauro Sodré e o general Travassos.

Na década de 1920, com o chamado movimento tenentista, irrompeu a revolta da jovem oficialidade do Exército contra a falsidade de uma representação política subordinada ao poder latifundiário. Em 1922, um grupo de tenentes revoltou-se no for-te de Copacabana. Em 1924, em São Paulo, a capital ficou três semanas em mãos de jovens militares, chefiados pelo general reformado Isidoro Dias Lopes. Ainda em 1924, graças à junção de um contingente militar, que se retirava vencido de São Paulo, com outro grupo de soldados rebeldes, chefiado pelo capitão Luis Carlos Prestes, futuro líder do Partido Comunista, teve iní-cio a façanha da Coluna Prestes, que percorreu em torno de 25 mil quilômetros no território nacional, protestando contra o regi-me político fraudulento da “República Velha”.

e) A “Era Vargas”

Sobrevindo a chamada Revolução de 1930, que levou Ge-túlio Vargas à Presidência da República, este percebeu desde logo a necessidade de contar com o apoio do novo operariado industrial urbano, bem como da jovem oficialidade das Forças Armadas; tudo no contexto da primeira experiência de intensa propaganda política pessoal levada a efeito no Brasil. Assim, além de criar a legislação trabalhista e desenvolver a organiza-ção sindical sob a tutela do governo, Getúlio não hesitou, duran-te o período de governo provisório, em nomear tenentes do Exército como interventores em todos os Estados da Federação. Além disso, cercou-se de vários generais na cúpula do governo, o que lhe permitiu, sem qualquer reação, repudiar em 1937 o Estado Constitucional (em 1934 fora promulgada nova Constitui-ção), instituindo o Estado Novo, de inspiração fascista. Graças ao apoio militar, foram sucessivamente esmagadas a revolta co-munista de 1935 e a integralista de 1938, as quais contaram com a participação de oficiais do Exército.

Com o início da Segunda Guerra Mundial, Getúlio decidiu, após dois anos de hesitação, apoiar os Estados Unidos no con-flito bélico. Em julho de 1941, assinou um pacto secreto com o governo ianque para a construção de bases aéreas e navais no

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extremo oriental do Nordeste brasileiro, como trampolim para o transporte de tropas e armamentos norte-americanos em territó-rio africano, onde já operava a Wehrmacht. Em compensação, o governo americano liberou um empréstimo de 20 bilhões de dó-lares para a fundação da Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda, o primeiro complexo de siderurgia criado na América Latina.

Em agosto de 1942, após o torpedeamento de 21 navios mercantes brasileiros que navegavam em nosso mar territorial, o governo declarou o estado de beligerância e, logo após, a de-claração de guerra contra a Alemanha e a Itália. Um ano depois, em 9 de agosto de 1943, foi criada a Força Expedicionária Bra-sileira – FEB, enviada em 1944 para combater na Itália.

A influência norte-americana fez-se presente também no pla-no da política interna, envolvendo os militares. Em 1943, o Gene-ral Manuel Rabelo criou a Sociedade Amigos da América, que contava com o apoio dos Generais Horta Barbosa e Candido Ron-don. Em 1944, Oswaldo Aranha, desde há muito amigo dos ame-ricanos, desligou-se do Ministério das Relações Exteriores e pas-sou a apoiar a instauração de um regime democrático.

Tal como ocorreu após a Guerra do Paraguai, nossos mili-tares da FEB, ao retornarem da Europa, onde foram sacrificadas 443 vidas, sentiram-se inconformados com sua posição subordi-nada na estrutura da máquina governamental. Acresça-se a isto o fato de que o governo norte-americano, servindo-se da recen-te ligação de seus generais com os comandantes das tropas da FEB na Itália, passou a pressionar o ditador a deixar o poder, alegando que a guerra contra as potências do Eixo Roma-Berlim-Tóquio fora desenvolvida em nome dos ideais democráticos.

Na verdade, o que mais incomodava os Estados Unidos era o nacionalismo getulista em matéria de política econômica, for-temente contrário aos interesses das macroempresas norte-americanas. Em 1938, foi criado o Conselho Nacional do Petró-leo, sendo localizada pela primeira vez no ano seguinte, na Bahia, uma reserva do óleo. O cartel internacional do petróleo, com forte apoio norte-americano, desenvolveu, desde logo, forte pressão sobre o governo brasileiro para impedir a exploração do combustível, o que realmente aconteceu.

Terminada a guerra, Getúlio, que acabara de receber total apoio de Luis Carlos Prestes, foi afinal deposto pelos generais Góis Monteiro e Eurico Gaspar Dutra em 29 de outubro de 1945. Conservou, no entanto, seus direitos políticos e, sobretudo, imenso apoio popular. Nessa condição, aproveitando-se das dis-posições da lei eleitoral, que permitia candidaturas individuais em mais de um estado, foi eleito deputado federal por sete esta-dos e senador por São Paulo e Rio Grande do Sul. Optou pela cadeira de senador do estado gaúcho.

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Lançando mão de uma argúcia política jamais igualada en-tre nós, Getúlio criou dois partidos políticos, o PSD e o PTB; o primeiro reunindo os grandes líderes ruralistas e os novos em-presários industriais, e o segundo como porta-voz da massa tra-balhadora urbana, enquadrada pelos sindicatos, desde sempre getulistas. Ou seja, como disse ferinamente seu grande opositor, Carlos Lacerda, enquanto o PSD criava a miséria, o PTB explora-va suas consequências.

O maquiavelismo do grande líder populista não se limitou, porém, a isso. Abertas as eleições para a Presidência da Repú-blica, Getúlio apoiou a candidatura do General Dutra, que o de-pusera em 1945. Afastou, com isso, toda oposição militar ao processo eleitoral, além de tranquilizar o grande empresariado, inquieto com a livre atuação dos militantes comunistas.

O governo do (já então) Marechal Dutra representou a pri-meira grande experiência de liberalismo capitalista no Brasil, es-pecialmente em matéria de política cambial, movimentação inter-nacional de capitais e comércio exterior. Conquistou, com isso, o apoio integral do grande empresariado, nacional e estrangeiro. No campo propriamente político, Dutra deu inteira satisfação aos Es-tados Unidos, ao apoiar abertamente o processo judicial que con-duziu à cassação do registro do Partido Comunista, em 1947.

Ao voltar legitimamente à Presidência da República pela via eleitoral em 1951, Getúlio Vargas pôs fim à orientação liberal privatista do seu antecessor, suscitando com isso a oposição do empresariado à sua linha de governo. Logo após a posse, foi criada, junto à Secretaria da Presidência, uma Assessoria Eco-nômica, composta de competentes administradores públicos de orientação nacionalista. Esse órgão exerceu, na prática, pela primeira vez em nosso país, as funções de planejamento gover-namental, dando especial atenção à política de investimentos na infraestrutura econômica. Da Assessoria Econômica presiden-cial saíram, entre outros, os projetos de criação da Petrobras, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico, do Fundo Ro-doviário Nacional e da Eletrobras.

Estava-se, porém, naquele momento, em pleno conflito da chamada Guerra Fria – o confronto não bélico entre os Estados Unidos e seus aliados, de um lado, e a União Soviética e seus satélites, de outro. A corporação militar encontrava-se à época fundamente dividida entre oficiais nacionalistas, favoráveis es-pecificamente ao monopólio estatal de exploração do petróleo, e oficiais treinados e doutrinados pelos norte-americanos, que advogavam a livre iniciativa econômica do setor privado, ainda que estrangeiro.

Estes últimos acabaram afinal por prevalecer e, estimula-dos pelo principal partido da oposição, a União Democrática

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Nacional – UDN,12 aderiram abertamente à campanha de críti-cas a Getúlio, acusando-o de ser o chefe de uma massa de subversivos e corruptos; ou seja, exatamente o mote utilizado dez anos depois para justificar o golpe que deu origem ao regi-me empresarial-militar.

Em fevereiro de 1954, o chamado “manifesto dos coronéis”, reivindicando uma ampliação dos recursos orçamentários desti-nados ao Exército e protestando contra o aumento do salário mínimo em 100%, forçou Getúlio Vargas a exonerar João Goulart, Ministro do Trabalho, e o General Ciro Espírito Santo Cardoso, Ministro da Guerra.

Na madrugada do dia 5 de agosto, o líder udenista Carlos Lacerda e seu guarda-costas, o major da Aeronáutica Rubens Florentino Vaz, sofreram no Rio de Janeiro um atentado a bala, que feriu Lacerda e matou o major Vaz. Imediatamente, os oficiais mais graduados daquela Arma reuniram-se em comissão de in-quérito no aeroporto do Galeão (a chamada “República do Ga-leão”), e poucos dias depois obtiveram a confissão de membros da guarda pessoal do presidente Getúlio Vargas de que o atenta-do fora por eles planejado e executado. A partir de então, os ofi-ciais superiores do Exército e da Marinha manifestaram-se solidá-rios com a Aeronáutica e passaram a exigir a renúncia de Getúlio. Buscou-se, sem êxito, até o dia 23 uma fórmula de conciliação. No dia seguinte, pela manhã, recebendo do irmão, Benjamin Vargas, a informação de que o oficialato das três Armas exigia sua renúncia imediata da Presidência da República, Getúlio suicidou-se, provo-cando em todo o país intensa revolta popular.

O suicídio de Getúlio foi, na verdade, um golpe de mestre, que adiou por dez anos a mudança do regime político.

f) O período pós-Vargas

Embora derrotadas pelo inesperado golpe do suicídio, as For-ças Armadas permaneceram em estado de constante agitação.

Em 11 de novembro de 1955, o então Ministro da Guerra, General Henrique Teixeira Lott, decidiu prevenir um golpe de Es-tado em preparação para impedir a posse do presidente da Re-pública regularmente eleito, Juscelino Kubitschek de Oliveira. O presidente em exercício, Carlos Luz, foi deposto, e o vice-presi-dente, Café Filho, que sucedera Getúlio e se afastara da presi-dência por razões de saúde, foi impedido de voltar ao poder.

Uma vez empossado, Juscelino tomou a resolução de orga-nizar o indispensável apoio militar em torno do seu governo. Co-

12 Leia-se, sobre esse partido, a monografia de Maria Victoria de Mesquita Benevi-des, AUDN e o Udenismo – Ambiguidades do Liberalismo Brasileiro (1945-1965),Paz e Terra, 1981.

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mo resumiu Maria Victoria de Mesquita Benevides,13 a organiza-ção desse apoio fez-se de três maneiras: 1) a atribuição ao ministro da guerra, General Lott, de um papel preponderante na manutenção da ordem interna e da disciplina militar; 2) o atendi-mento das reivindicações dos militares, quanto a vencimentos, equipamentos e promoções, aliado ao apoio das Forças Armadas à política desenvolvimentista do governo; 3) a crescente participa-ção dos militares no exercício das funções governamentais.

Apesar desse empenho em articular seu governo com os interesses das Forças Armadas, o governo Kubitschek não lo-grou suprimir a hostilidade da corporação militar. Em 1956 e 1959, por exemplo, oficiais da Aeronáutica declararam-se em estado de insurreição contra o presidente, respectivamente em Jacareacanga (PA) e Aragarças (GO).

Graças, porém, às suas iniciativas ousadas, como a cons-trução de Brasília e a criação de grandes facilidades para a ins-talação de uma indústria automobilística no território nacional, Juscelino conquistou integral apoio do empresariado.

Em janeiro de 1959, um fato relevante mudou o cenário político de toda a América Latina: um grupo de revolucionários cubanos, sob a liderança de Fidel Castro, tomou o poder na ilha, instaurando um regime comunista.

As eleições para a sucessão de Juscelino Kubitschek vol-taram a trazer grande insatisfação no seio das Forças Arma-das. Candidato da coligação partidária governista PSD-PTB, o já então Marechal Lott foi derrotado por Jânio Quadros, candi-dato da oposição.

No campo da política externa, o governo de Jânio foi mar-cado pelo conflito aberto com os Estados Unidos. A abertura do comércio exterior aos países socialistas e, sobretudo, a conde-coração de Che Guevara com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, suscitaram a aberta hostilidade dos oficiais mi-litares anticomunistas ao seu governo.

Após a renúncia de Jânio, em 25 de agosto de 1961, os ministros militares, marechal Odílio Denys, almirante Sílvio Heck e brigadeiro Gabriel Grün Moss, declararam-se contrários à pos-se do vice-presidente João Goulart, que se encontrava ausente do país, em viagem oficial. Imediatamente, o governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, levantou-se contra os ministros militares, obtendo o apoio do comando do III Exército, sediado em Porto Alegre.

O confronto acabou sendo resolvido por meio de uma tran-sação conciliatória: os ministros militares aceitaram a investidu-ra de João Goulart como presidente da República, contanto que se adotasse o sistema parlamentar de governo; o que foi feito pelo Congresso Nacional ao votar a emenda constitucional nº 4,

13 O governo Kubitschek – Desenvolvimento Econômico e Estabilidade Política,Paz e Terra, 1976, p. 149.

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de 2 de setembro de 1961. Dita emenda previa, em seu art. 25, que a lei “poderá dispor sobre a realização de plebiscito que decida da manutenção do sistema parlamentar ou volta ao siste-ma presidencial, devendo, em tal hipótese, fazer-se a consulta plebiscitária nove meses antes do termo do atual período presi-dencial”. Realizado o plebiscito, uma ampla maioria optou pelo retorno ao sistema presidencial de governo. O Congresso Na-cional, dando cumprimento à vontade popular, aprovou a emen-da constitucional nº 6, de 23 de janeiro de 1963.

Em 12 setembro de 1963, centenas de sargentos, fuzilei-ros e soldados da Aeronáutica e da Marinha de Guerra suble-varam-se em Brasília, ocupando na madrugada importantes centros administrativos. O motivo do levante foi a decisão toma-da pelo Supremo Tribunal Federal, que confirmava a inelegibili-dade das pessoas enumeradas no art. 132, parágrafo único da Constituição de 1946 (praças de pré, suboficiais, subtenentes, sargentos e alunos das escolas militares de ensino superior).

Chegamos, assim, seis meses depois, ao golpe de Estado que pôs fim ao regime constitucional e instaurou a dominação militar-empresarial durante mais de vinte anos.

2O Golpe Militar de 1964 e a Instauração do

Regime Autoritário

Origens do golpe

Na gênese do golpe de Estado de 1964, encontramos a profunda cisão lavrada entre os dois grupos que sempre compu-seram a oligarquia brasileira: os agentes políticos e a classe dos grandes proprietários e empresários.

Até então, os conflitos entre ambos eram sempre resolvi-dos por meio de arranjos conciliatórios, segundo a velha tradi-ção brasileira. Nos últimos anos do regime constitucional de 1946, porém, essa possibilidade de conciliação tornou-se cada vez mais reduzida. A principal razão para tanto foi o agravamen-to do confronto político entre esquerda e direita no mundo todo, no contexto da Guerra Fria e, em especial, na América Latina, com a Revolução Cubana. Deve-se notar, aliás, que naquela época boa parte das nossas classes médias havia abandonado sua tradicional colocação à direita do espectro político, passan-do a apoiar as chamadas “reformas de base” do governo João Goulart: a reforma agrária, a bancária, a tributária e a política de repúdio ao capital estrangeiro.

Era natural, nessas circunstâncias, que os grandes proprie-tários e empresários, nacionais e estrangeiros, temessem pelo

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seu futuro em nosso país e se voltassem, agora decididamente, para o lado das Forças Armadas, a fim de que estas depuses-sem os governantes em exercício, substituindo-os por outros, associados aos potentados privados, segundo a velha herança histórica. Uma vez perpetrado o golpe de estado, manifesta-ram-se desde logo a favor dele a Igreja Católica14 e várias enti-dades de prestígio da sociedade civil, como a Ordem dos Advo-gados do Brasil.

O que o empresariado não levou em conta, todavia, era o fato de que a corporação militar amargurava, desde a proclama-ção da República, uma série de tentativas malsucedidas para li-vrar-se da subordinação ao poder civil. Não seria justamente na-quele momento, quando chamadas a salvar o grande empresariado do perigo esquerdista, que as Forças Armadas iriam depor os governantes em exercício e voltar em seguida à caserna.

Na preparação do golpe, o governo norte-americano teve uma atuação decisiva. Já em 1949, um grupo de altos oficiais do Exército Brasileiro, entre os quais o general Cordeiro de Farias, influenciados pelos Estados Unidos, criou, nos moldes do Natio-nal War College norte-americano, o Instituto de Altos Estudos de Política, Defesa e Estratégia, a seguir denominado Escola Supe-rior de Guerra. Com o aprofundamento da chamada Guerra Fria e, sobretudo, logo após a tomada do poder em Cuba por Fidel Castro, esse instituto de ensino passou a formar a oficialidade brasileira para impedir a assunção do poder pelos comunistas, assim compreendidos todos os agentes políticos que, embora não filiados ao PCB, manifestassem, de alguma forma, oposição aos Estados Unidos. Pode-se afirmar que todos os oficiais mili-tares que participaram do golpe de 1964 foram alunos da Escola Superior de Guerra. Os cursos lá administrados, aliás, não eram reservados apenas aos militares, mas abertos também a políti-cos e empresários de destaque.

De 1961 a 1966, atuou como embaixador norte-americano no Brasil Lincoln Gordon, que já em 1960 havia colaborado na implantação da Aliança para o Progresso, programa de ajuda oferecido pelos Estados Unidos aos países da América Latina, a fim de evitar que eles seguissem o caminho revolucionário de Cuba. Na preparação do golpe, Gordon coordenou a criação no Brasil de entidades de propaganda política, como o Instituto Bra-sileiro de Ação Democrática – IBAD e o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais – IPES. Sabe-se, aliás, por uma gravação de-pois divulgada, que já em 30 de julho de 1962 Lincoln Gordon

14 Em declaração de 29 de maio de 1964, os bispos brasileiros afirmaram que, vendo “a marcha acelerada do comunismo para a conquista do poder, as for-ças armadas acudiram em tempo e evitaram que se consumasse a implanta-ção do regime bolchevista em nossa terra”. Atendendo, no entanto, à preocu-pação da minoria episcopal quanto ao viés autoritário do regime castrense, a declaração advertiu: “Que os acusados tenham o sagrado direito de defesa e não se transformem em objeto de ódio ou de vindita”.

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discutiu com o presidente Kennedy, na Casa Branca, o gasto de US$ 8 milhões para “expulsar do poder, se necessário”, o presi-dente João Goulart.

Como arma decisiva, o governo norte-americano – ao que parece, a pedido dos militares brasileiros golpistas – desenca-deou, em março de 1964, a Operação Brother Sam, consistente em uma força-tarefa naval composta de um porta-aviões, quatro destróieres e navios-tanques para exercícios ostensivos na cos-ta sul do Brasil, além de 110 toneladas de munição.

A aliança das Forças Armadas com os detentores do poder econômico privado

Ao assumirem o comando do Estado, os chefes militares não hesitaram, ao longo dos anos, em mutilar o Congresso Na-cional e o Judiciário: 281 parlamentares foram cassados, e três ministros do Supremo Tribunal Federal, aposentados compulso-riamente. Os governantes militares fizeram questão de subme-ter à sua dominação absoluta, durante as duas décadas do regi-me, o conjunto dos integrantes do poder civil, como uma espécie de desforra pela longa série de frustrações políticas por eles, homens de farda, sofridas desde o final do século XIX. É preciso reconhecer que a grande maioria dos agentes públicos, poupa-dos pela repressão instaurada após o golpe, colaborou desonro-samente no funcionamento deste.

O novo regime político fundou-se na aliança das Forças Ar-madas com os latifundiários e os grandes empresários, nacio-nais e estrangeiros. Esse consórcio político engendrou duas experiências pioneiras na América Latina: o terrorismo de Esta-do e o neoliberalismo capitalista. A partir do exemplo brasileiro, vários outros países latino-americanos adotaram, nos anos se-guintes, com explícito apoio dos Estados Unidos, regimes políti-cos semelhantes ao nosso.

Um dos setores em que a colaboração do empresariado com a corporação militar mais se destacou foi o das comunica-ções de massa. As Forças Armadas e o grande empresariado necessitavam dispor de uma organização capaz de desenvolver, em todo o território nacional, a propaganda ideológica do regime autoritário, com a constante denúncia do perigo comunista e a difusão sistemática, embora sempre encoberta, dos méritos do sistema capitalista.

Os chefes militares decidiram, para tanto, fixar sua esco-lha no Sistema Globo de Comunicações. Em 1969, ele possuía três emissoras (Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte). Quatro anos depois, em 1973, já contava com nada menos do que onze.

A dominação empresarial do sistema de comunicações de massa continuou a subsistir, uma vez encerrado o regime auto-

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ritário, e persiste até hoje. A Constituição Federal de 1988 dis-põe, em seu art. 220, § 5º, que “os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio”. Mas até o momento em que escrevo estas linhas – mais de um quarto de século depois de promulgada a Consti-tuição em vigor – esse dispositivo constitucional, como vários outros do mesmo capítulo, permanece ineficaz por falta de regu-lamentação legal.15

O casamento entre a corporação militar e o empresariado continuou inabalado, enquanto subsistiram grupos de oposição decididos a desenvolver, com ou sem apoio cubano, a luta arma-da contra o regime autoritário.

No Brasil, os grandes empresários não hesitaram em finan-ciar a instalação de aparelhos de terror estatal. No segundo se-mestre de 1969, por exemplo, o II Exército, com sede em São Paulo, lançou a Operação Bandeirante – embrião do futuro DOI-CODI (Destacamento de Operações Internas e Centro de Operações de Defesa Interna) – destinada a dizimar os princi-pais opositores ao regime.16 Reunido com banqueiros paulistas no segundo semestre daquele ano, o então ministro da econo-mia Delfim Neto pediu e obteve sua contribuição financeira, ale-gando que as Forças Armadas não tinham equipamento nem verbas para enfrentar a “subversão”. Ao mesmo tempo, a Fede-ração das Indústrias de São Paulo – FIESP convidou as empre-sas que a integravam a colaborar no empreendimento. Assim, enquanto a Ford e a Volkswagen forneciam automóveis, a Ultra-gás emprestava caminhões e a Supergel abastecia a carcera-gem militar com refeições congeladas.

A quebra de confiança do empresariado no poder militar

A lua de mel entre os grandes empresários e as Forças Armadas, porém, não durou muito tempo. Em 12 de dezembro de 1968, exatamente na véspera do lançamento do Ato Institu-cional nº 5, que suspendeu o habeas corpus nos casos de cri-mes políticos e contra a segurança nacional, o chefe da Polícia Federal impediu a publicação, no jornal superconservador OEstado de São Paulo, do editorial em que o diretor Júlio de Mes-quita Filho condenava o “artificialismo institucional, que pela pressão das armas foi o País obrigado a aceitar”.

15 Inconformado com essa vergonhosa submissão do Poder Legislativo aos potentados privados do setor de comunicação social, consegui convencer em 2011 um partido político (PSOL) e a Confederação Nacional dos Trabalha-dores em Comunicação e Publicidade – Contcop a ingressarem com ações diretas de inconstitucionalidade por omissão no Supremo Tribunal Federal (ADO nº 10 e 11).

16 Cf. Elio Gaspari, A Ditadura Escancarada, 2002, Companhia das Letras, pp. 59 e ss.

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Alguns anos mais tarde, quando se verificou que todos os grupos engajados na luta armada contra o regime haviam sido exterminados, os empresários começaram a manifestar sua irri-tação com a permanência dos militares no comando do Estado brasileiro. Tanto mais que os homens de farda deixaram-se se-duzir pelas vantagens econômicas particulares desfrutadas no comando do Estado, tais como o exercício de cargos de admi-nistração altamente remunerados em empresas estatais, várias delas criadas a partir do golpe de 1964.17

Em 1974, um dos grandes sacerdotes do credo liberal, Eu-gênio Gudin, declarou publicamente que “o capitalismo brasilei-ro é mais controlado pelo Estado do que o de qualquer outro país, com exceção dos comunistas”. A seguir, em fevereiro de 1975, o jornal O Estado de São Paulo publicou uma série de nada menos do que onze reportagens sob o título Os caminhos da estatização, enquanto a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo divulgava o documento intitulado O Processo de Estatização da Economia Brasileira: O Problema do Acesso aos Recursos para Investimentos.18

A classe empresarial entendia, assim, haver chegado o mo-mento de voltar a instalar no país o tradicional regime da falsa democracia representativa, em cuja fachada aparece o poder oficial atribuído a agentes políticos eleitos, enquanto por trás de-la tem livre curso a dominação econômica, exercida pelos poten-tados privados.

A pressão empresarial contra as Forças Armadas no co-mando do Estado coincidiu com a eleição, para a Presidência dos Estados Unidos, de Jimmy Carter, crítico implacável das vio-lações de direitos humanos cometidas pelo regime militar brasi-leiro. Em entrevista a um periódico norte-americano, ele chegou a afirmar:

“Quando Kissinger [Secretário de Estado no governo Ri-chard Nixon] diz, como fez há pouco, que o Brasil tem um tipo de governo compatível com o nosso, bem, aí está o ti-po de coisa que nós queremos mudar. O Brasil não tem um governo democrático. É uma ditadura militar. Em muitos as-pectos é altamente repressiva para os presos políticos.”19

17 Confiram-se os dados referidos por Elio Gaspari (A Ditadura Encurralada,2004, Companhia das Letras, pág. 54): “Em 1962 só doze das trinta maio-res empresas pertenciam ao Estado. Em 1971 elas eram dezessete. No final do delfinato [período de atuação de Antonio Delfim Neto como ministro dos governos militares] o Estado detinha 45,8% do patrimônio líquido das 5.257 principais empresas não agrícolas. Em 1972, durante as grandes festas do Mi-lagre [o período de crescimento médio anual de 10% da economia brasileira], o Estado era dono de 46 das cem maiores empresas não financeiras do Brasil, e de nove das cem maiores empresas manufatureiras (contra sete em 66). No delfinato a participação do setor público na indústria passara de 8% em 1966 para 15% em 72”.

18 Apud Elio Gaspari, A Ditadura Encurralada, cit., pp. 59 e ss.19 Citado por Elio Gaspari, A Ditadura Encurralada, cit., p. 373.

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Por sua vez, no seio do episcopado brasileiro – embora vinculado, como de costume, aos detentores do poder supremo – destacaram-se as figuras exponenciais de D. Helder Câmara e de D. Paulo Evaristo Arns, para denunciar sem eufemismos, tan-to aqui como no exterior, as atrocidades praticadas contra pre-sos políticos.

O regime militar entrava, assim, em sua fase de declínio inelutável, havendo perdido o apoio dos grupos que, tradicional-mente, compõem a estrutura do poder entre nós.

A fase final do regime

Tudo parecia encaminhar-se para a “distensão lenta, gra-dual e segura”, como pregava o General Golbery do Couto e Silva, não fora o fato de restar irresolvida a questão das atroci-dades cometidas pelos agentes militares e policiais, no quadro do terrorismo de Estado.

Conforme dados oficiais da Comissão Especial sobre Mor-tos e Desaparecidos Políticos, criada pela Lei nº 9.140 de 1995, foram comprovados, até fevereiro de 2014, 362 (trezentos e ses-senta e dois) casos de opositores políticos assassinados ou de-saparecidos durante o regime militar.

Já a Secretaria Especial de Direitos Humanos do Ministério da Justiça, no relatório intitulado Direito à Memória e à Verdade,publicado em 2007, afirmou que tivemos não menos de 475 (quatrocentos e setenta e cinco) mortos e desaparecidos políti-cos durante aquele período. Calcula-se, ademais, que 50 mil pessoas foram presas por razões políticas, sendo a maior parte delas torturadas, algumas até a morte. O governo militar chegou mesmo a aparelhar, em Petrópolis, uma casa onde pelo menos 19 pessoas foram executadas, sendo seus corpos incinerados a fim de não deixar vestígios.20

Em momento algum de nossa vida de país independente, os governantes, quer no Império, quer na República, chegaram a cometer tão repugnantes atrocidades.

A pressão do empresariado para que os chefes militares deixassem o poder foi reforçada com a redução significativa da taxa de crescimento econômico do país, a partir do final do go-verno Geisel. Mas a corporação fardada hesitava em deixar o comando do Estado, procurando a todo custo uma garantia de que, quando isso ocorresse, os agentes policiais e militares res-ponsáveis pelos atos de criminalidade violenta contra opositores ao regime não seriam punidos. Essa solução contava com o apoio decidido do grande empresariado, quando mais não fosse porque alguns de seus líderes, como assinalado anteriormente,

20 Tive a honra de ser advogado da única sobrevivente da Casa da Morte de Petró-polis, Inês Etienne Romeu, em ação declaratória proposta contra a União Fede-ral em 1999, pelo sequestro, cárcere privado e torturas cometidos contra ela.

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foram coautores dos crimes de terrorismo de Estado, havendo financiado a operação do sistema repressivo.

Por sugestão dos políticos colaboradores do regime, os chefes militares decidiram afinal embarcar no movimento já ini-ciado de anistia aos presos e exilados políticos, de modo a es-tendê-la aos autores de crimes de terrorismo de Estado.

Em junho de 1979, o general-presidente Figueiredo apre-sentou ao Congresso Nacional um projeto, convertido em 28 de agosto na Lei nº 6.683. Ela concedeu anistia “a todos quantos [...] cometeram crimes políticos ou conexos com estes”; assim considerados “os crimes de qualquer natureza relacionados com crimes políticos ou praticados por motivação política”. Lançando mão de cavilosa astúcia, os redatores da lei, ao invés de desig-narem precisamente os demais crimes abrangidos pela anistia, além dos delitos políticos propriamente ditos, preferiram utilizar a expressão técnica “crimes conexos”. Ora, ela é totalmente inepta no caso, pois são considerados como tais tão somente os delitos com comunhão de intuitos ou objetivos, e ninguém em são juízo pode afirmar que os opositores ao regime militar e os agentes estatais que os torturaram e mataram tivessem agido com objetivos comuns.

Irresignado com essa solerte velhacaria, sugeri em 2008 ao Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil que ajuizasse, em relação a essa lei, uma arguição de descumpri-mento de preceito fundamental perante o Supremo Tribunal Federal. A ação foi proposta, pedindo-se ao tribunal que inter-pretasse o texto legal de acordo com a Constituição que entrou em vigor em 1988, em cujo art. 5º, inciso LXIII, dispõe-se que o crime de tortura é insuscetível de graça ou anistia, sendo in-controverso que toda lei contrária ao texto ou ao espírito de uma Constituição nova considera-se tacitamente revogada por esta. Pediu-se, ademais, que a lei de anistia fosse interpretada à luz dos princípios e normas do sistema internacional de direi-tos humanos.

Em abril de 2010, o Supremo Tribunal Federal julgou, por maioria, improcedente a ação proposta pela OAB. Desse acór-dão foi interposto recurso de embargos declaratórios, pois o tri-bunal deixou de considerar o fato de que vários dos crimes ditos conexos, cometidos por agentes do regime militar – como, por exemplo, o sequestro ou a ocultação de cadáver –, são qualifica-dos como permanentes ou continuados; o que significa que ain-da não se consideram consumados e, portanto, não foram abrangidos pela lei de anistia, dado que esta declarou não apli-car-se aos crimes cuja consumação é posterior a 15 de agosto de 1979.

Seis meses depois desse julgamento, mais exatamente em 24 de novembro de 2010, a Corte Interamericana de Direitos Humanos, por unanimidade, condenou o Estado Brasileiro, ao

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julgar o Caso Gomes Lund e outros v. Brasil (“Guerrilha do Ara-guaia”). Nessa decisão, declarou a Corte:

“As disposições da Lei de Anistia brasileira que impedem a investigação e sanção de graves violações de direitos humanos são incompatíveis com a Convenção America-na [sobre Direitos Humanos], carecem de efeitos jurídicos e não podem seguir representando um obstáculo para a investigação dos fatos do presente caso, nem para a iden-tificação e punição dos responsáveis, e tampouco podem ter igual ou semelhante impacto a respeito de outros casos de graves violações de direitos humanos consagrados na Convenção Americana ocorridos no Brasil.”

Dois foram os fundamentos para tal decisão.Em primeiro lugar, o fato de que as gravíssimas violações

de direitos humanos praticadas durante o terrorismo de Estado do nosso regime empresarial-militar constituíram crimes contra a humanidade; ou seja, crimes nos quais é negada às vítimas a condição de ser humano.

Em duas Resoluções formuladas em 1946, a Assembleia Geral das Nações Unidas considerou que a conceituação tipológi-ca de tais delitos representa um princípio de direito internacional.

Essa mesma qualificação foi dada pela Corte Internacional de Justiça às disposições da Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948, cujos artigos III e V estatuem que “todo homem tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal”, e que “ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante”.

Ora, os princípios, como assinalado pela doutrina contem-porânea, situam-se no mais elevado grau do sistema normati-vo. Eles podem, por isso mesmo, deixar de ser expressos em textos de direito positivo, como as Constituições, as leis ou os tratados internacionais.

O segundo fundamento da decisão condenatória do Estado Brasileiro no processo Gomes Lund e outros v. Brasil (“Guerri-lha do Araguaia”) foi o fato de que a Lei nº 6.683 de 1979 repre-sentou, na verdade, uma autoanistia, inadmissível no sistema internacional de direitos humanos. Como salientou a referida Sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos, a res-ponsabilidade pelo cometimento de graves violações de direitos humanos não pode ser reduzida ou suprimida por nenhum Esta-do, menos ainda mediante o procedimento de uma autoanistia decretada pelos governantes responsáveis, pois trata-se de ma-téria que transcende a soberania estatal.

Pois bem, no julgamento pelo Supremo Tribunal Federal da arguição de descumprimento de preceito fundamental nº 153, proposta pelo Conselho Federal da OAB, o ministro relator e ou-tro que o acompanhou afirmaram que a Lei nº 6.683 não poderia ser concebida como autoanistia, mas sim como uma anistia bila-

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teral entre governantes e governados. Ou seja, segundo essa original interpretação, torturadores e torturados, reunidos em uma espécie de contrato particular de intercâmbio de presta-ções, teriam resolvido anistiar-se reciprocamente...

Frise-se, desde logo, a repulsiva imoralidade de um pacto dessa natureza, se é que ele realmente existiu: o respeito mais elementar à dignidade humana impede que a impunidade dos autores de crimes hediondos ou contra a humanidade seja obje-to de negociação pelos próprios interessados.

Na verdade, o propalado “acordo de anistia” dos crimes contra a humanidade, praticados pelos agentes da repressão, não passou de uma encoberta conciliação oligárquica, na li-nha de nossa mais longeva tradição. A validade de qualquer pacto ou acordo supõe a existência de partes legitimadas a concluí-lo. Se havia à época, de um lado, chefes militares de-tentores do poder supremo, quem estaria do outro lado? Por-ventura, as vítimas ainda vivas e os familiares de mortos pela repressão militar foram chamados a negociar esse acordo? O povo brasileiro, declarado solenemente como titular da sobera-nia, foi convocado a referendá-lo?

O mais escandaloso de toda essa tese do acordo político é que, após a promulgação da lei de anistia, certos agentes milita-res continuaram a desenvolver impunemente sua atividade terro-rista. O Ministério Público Militar apurou que, entre 1979 e 1981, houve 40 atentados a bomba, praticados por um grupo de oficiais militares reunidos em uma organização terrorista. Foi preciso, no entanto, aguardar até fevereiro de 2014, ou seja, 33 anos depois do último atentado, para que fosse apresentada denúncia criminal contra os integrantes dessa quadrilha por homicídio doloso, asso-ciação criminosa armada e transporte de explosivos.

É deplorável constatar que o nosso país é o único na Amé-rica Latina a continuar sustentando a validade de uma autoanis-tia decretada pelos militares que deixaram o poder. Na Argenti-na, no Chile, no Uruguai, no Peru, na Colômbia e recentemente na Guatemala, o Poder Judiciário decidiu pela flagrante incons-titucionalidade desse remendo institucional.

O caso do regime pós-militar argentino é paradigmático a esse respeito e nos cobre de vergonha. A Suprema Corte de Justiça do país julgou inconstitucional, em 2005, a anistia dos crimes cometidos pelos agentes estatais contra os opositores políticos aos governos militares, iniciando-se desde então os consequentes processos penais. Pois bem, até fevereiro de 2014, nada menos do que 370 (trezentos e setenta) criminosos dos dois regimes militares argentinos (1966-1973 e 1973-1983) foram condenados à pena de prisão; inclusive dois ex-presi-dentes da República, que amargaram a prisão perpétua, sendo que um deles faleceu no cárcere. A persecução penal esten-deu-se até mesmo a ex-magistrados, considerados coautores de tais crimes.

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No Brasil, bem ao contrário, até hoje nem um só autor de crime praticado no quadro do terrorismo de Estado do regime empresarial-militar foi condenado pela Justiça. Passados mais de três anos da prolação da sentença condenatória da Corte Interamericana de Direitos Humanos, o Estado Brasilei-ro ainda não cumpriu nenhum dos seus 12 pontos conclusi-vos, em flagrante violação da Constituição Federal e do siste-ma internacional de direitos humanos. De minha parte, há pelo menos três anos tenho envidado esforços no sentido de que essa grave omissão de nossos Poderes Públicos seja le-vada a juízo no Brasil e denunciada perante as instâncias in-ternacionais, a fim de que fique bem marcada a responsabili-dade do Estado brasileiro.

Conclusão

A votação da lei de anistia em 1979 representou, na verda-de, a conclusão de um pacto oculto entre as Forças Armadas e ambos os grupos que sempre exerceram conjuntamente a sobe-rania entre nós – os agentes políticos e os potentados econômi-cos privados –, com o objetivo de devolver aos dois últimos o comando supremo do Estado, que os militares haviam arrebata-do em 1964.

Nesse episódio, à semelhança de tantos outros em nossa História, o povo foi posto de lado, como se nada tivesse a ver com isso. A Constituição promulgada em 5 de outubro de 1988, seguindo as que a antecederam, proclama solenemente que “to-do poder emana do povo” (art. 1º, parágrafo único). Chega mes-mo a declarar que o povo exerce seu poder não apenas por meio de representantes eleitos, mas diretamente, isto é, me-diante plebiscitos e referendos (art. 14).

Tais declarações constitucionais – é lamentável dizê-lo – são meras figuras de retórica.

Sem dúvida, os cidadãos brasileiros votam regularmente em eleições. O conjunto dos eleitos, no entanto, sempre ficou muito longe de defender os verdadeiros interesses da maioria do eleitorado, pertencente aos estratos pobres da população. O que os mal chamados representantes do povo defendem, isto sim, são os interesses da minoria proprietária e empresária, a qual fornece, por meio de doações, nada menos que dois ter-ços das receitas dos principais partidos políticos. Para se ter uma ideia da falsidade de nossa democracia representativa, basta assinalar um só fato: enquanto cerca de 40 mil produto-res agrícolas, os quais exploram 50% das áreas cultiváveis do país, elegem de 120 a 140 deputados federais, os componen-tes das 4 a 6 milhões de famílias que praticam a agricultura familiar são representados no Congresso Nacional por, no má-ximo, 12 deputados.

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Quanto às instituições da democracia direta – grande novi-dade do texto constitucional de 1988 –, elas só existem no pa-pel. O art. 49, inciso XV da Constituição dispõe que “é da compe-tência exclusiva do Congresso Nacional autorizar referendo e convocar plebiscito”. Ou seja, o povo soberano somente poderá tomar diretamente decisões políticas, quando autorizado pelos seus representantes. Trata-se, sem dúvida, de uma original mo-dalidade de mandato...

Enquanto persistir essa triste realidade, não ficará afastada a possibilidade de voltarem a ocorrer prolongados desmandos políticos, como o provocado pelo golpe de Estado de 1964.

Felizmente, a consciência pública começa aos poucos a se dar conta de que a única via de solução para esse impasse con-siste em instituir no país um regime político de efetiva soberania popular, no qual haja a supremacia constante do bem comum do povo (a res publica romana) sobre todo e qualquer interesse par-ticular, com controles permanentes sobre o exercício do poder em todos os níveis. Em suma, a criação de um autêntico Estado de Direito, Republicano e Democrático.

Para alcançar esse objetivo, o caminho é longo e penoso. Mas o que importa é começar desde logo a dar os primeiros passos, no sentido da defesa intransigente da dignidade do po-vo brasileiro.

“Se as coisas são inatingíveis... ora!Não é motivo para não querê-las...Que tristes os caminhos, se não foraA presença distante das estrelas!”21

21 Mário Quintana, Espelho Mágico.

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CADERNOS IHU IDEIAS

N. 01 A teoria da justiça de John Rawls – Dr. José NedelN. 02 O feminismo ou os feminismos: Uma leitura das produções teóricas – Dra. Edla EggertO Serviço Social junto ao Fórum de Mulheres em São Leopoldo – MS Clair Ribeiro Ziebell e Acadêmicas

Anemarie Kirsch Deutrich e Magali Beatriz StraussN. 03 O programa Linha Direta: a sociedade segundo a TV Globo – Jornalista Sonia MontañoN. 04 Ernani M. Fiori – Uma Filosofia da Educação Popular – Prof. Dr. Luiz Gilberto KronbauerN. 05 O ruído de guerra e o silêncio de Deus – Dr. Manfred ZeuchN. 06 BRASIL: Entre a Identidade Vazia e a Construção do Novo – Prof. Dr. Renato Janine RibeiroN. 07 Mundos televisivos e sentidos identiários na TV – Profa. Dra. Suzana KilppN. 08 Simões Lopes Neto e a Invenção do Gaúcho – Profa. Dra. Márcia Lopes DuarteN. 09 Oligopólios midiáticos: a televisão contemporânea e as barreiras à entrada – Prof. Dr. Valério

Cruz BrittosN. 10 Futebol, mídia e sociedade no Brasil: reflexões a partir de um jogo – Prof. Dr. Édison Luis

GastaldoN. 11 Os 100 anos de Theodor Adorno e a Filosofia depois de Auschwitz – Profa. Dra. Márcia TiburiN. 12 A domesticação do exótico – Profa. Dra. Paula CaleffiN. 13 Pomeranas parceiras no caminho da roça: um jeito de fazer Igreja, Teologia e Educação Popular

– Profa. Dra. Edla EggertN. 14 Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros: a prática política no RS – Prof. Dr. Gunter AxtN. 15 Medicina social: um instrumento para denúncia – Profa. Dra. Stela Nazareth MeneghelN. 16 Mudanças de significado da tatuagem contemporânea – Profa. Dra. Débora Krischke LeitãoN. 17 As sete mulheres e as negras sem rosto: ficção, história e trivialidade – Prof. Dr. Mário MaestriN. 18 Um itinenário do pensamento de Edgar Morin – Profa. Dra. Maria da Conceição de AlmeidaN. 19 Os donos do Poder, de Raymundo Faoro – Profa. Dra. Helga Iracema Ladgraf PiccoloN. 20 Sobre técnica e humanismo – Prof. Dr. Oswaldo Giacóia JuniorN. 21 Construindo novos caminhos para a intervenção societária – Profa. Dra. Lucilda SelliN. 22 Física Quântica: da sua pré-história à discussão sobre o seu conteúdo essencial – Prof. Dr. Paulo

Henrique DionísioN. 23 Atualidade da filosofia moral de Kant, desde a perspectiva de sua crítica a um solipsismo prático

– Prof. Dr. Valério RohdenN. 24 Imagens da exclusão no cinema nacional – Profa. Dra. Miriam RossiniN. 25 A estética discursiva da tevê e a (des)configuração da informação – Profa. Dra. Nísia Martins do

RosárioN. 26 O discurso sobre o voluntariado na Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS – MS Rosa

Maria Serra BavarescoN. 27 O modo de objetivação jornalística – Profa. Dra. Beatriz Alcaraz MaroccoN. 28 A cidade afetada pela cultura digital – Prof. Dr. Paulo Edison Belo ReyesN. 29 Prevalência de violência de gênero perpetrada por companheiro: Estudo em um serviço de aten-

ção primária à saúde – Porto Alegre, RS – Prof. MS José Fernando Dresch KronbauerN. 30 Getúlio, romance ou biografia? – Prof. Dr. Juremir Machado da SilvaN. 31 A crise e o êxodo da sociedade salarial – Prof. Dr. André GorzN. 32 À meia luz: a emergência de uma Teologia Gay – Seus dilemas e possibilidades – Prof. Dr. André

Sidnei MusskopfN. 33 O vampirismo no mundo contemporâneo: algumas considerações – Prof. MS Marcelo Pizarro

NoronhaN. 34 O mundo do trabalho em mutação: As reconfigurações e seus impactos – Prof. Dr. Marco Aurélio

SantanaN. 35 Adam Smith: filósofo e economista – Profa. Dra. Ana Maria Bianchi e Antonio Tiago Loureiro

Araújo dos SantosN. 36 Igreja Universal do Reino de Deus no contexto do emergente mercado religioso brasileiro: uma

análise antropológica – Prof. Dr. Airton Luiz JungblutN. 37 As concepções teórico-analíticas e as proposições de política econômica de Keynes – Prof. Dr.

Fernando Ferrari FilhoN. 38 Rosa Egipcíaca: Uma Santa Africana no Brasil Colonial – Prof. Dr. Luiz MottN. 39 Malthus e Ricardo: duas visões de economia política e de capitalismo – Prof. Dr. Gentil CorazzaN. 40 Corpo e Agenda na Revista Feminina – MS Adriana BragaN. 41 A (anti)filosofia de Karl Marx – Profa. Dra. Leda Maria PaulaniN. 42 Veblen e o Comportamento Humano: uma avaliação após um século de “A Teoria da Classe

Ociosa” – Prof. Dr. Leonardo Monteiro MonasterioN. 43 Futebol, Mídia e Sociabilidade. Uma experiência etnográfica – Édison Luis Gastaldo, Rodrigo

Marques Leistner, Ronei Teodoro da Silva e Samuel McGinityN. 44 Genealogia da religião. Ensaio de leitura sistêmica de Marcel Gauchet. Aplicação à situação atual

do mundo – Prof. Dr. Gérard DonnadieuN. 45 A realidade quântica como base da visão de Teilhard de Chardin e uma nova concepção da

evolução biológica – Prof. Dr. Lothar SchäferN. 46 “Esta terra tem dono”. Disputas de representação sobre o passado missioneiro no Rio Grande do

Sul: a figura de Sepé Tiaraju – Profa. Dra. Ceres Karam BrumN. 47 O desenvolvimento econômico na visão de Joseph Schumpeter – Prof. Dr. Achyles Barcelos da CostaN. 48 Religião e elo social. O caso do cristianismo – Prof. Dr. Gérard DonnadieuN. 49 Copérnico e Kepler: como a terra saiu do centro do universo – Prof. Dr. Geraldo Monteiro SigaudN. 50 Modernidade e pós-modernidade – luzes e sombras – Prof. Dr. Evilázio Teixeira

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N. 51 Violências: O olhar da saúde coletiva – Élida Azevedo Hennington e Stela Nazareth MeneghelN. 52 Ética e emoções morais – Prof. Dr. Thomas KesselringJuízos ou emoções: de quem é a primazia

na moral? – Prof. Dr. Adriano Naves de BritoN. 53 Computação Quântica. Desafios para o Século XXI – Prof. Dr. Fernando HaasN. 54 Atividade da sociedade civil relativa ao desarmamento na Europa e no Brasil – Profa. Dra. An VranckxN. 55 Terra habitável: o grande desafio para a humanidade – Prof. Dr. Gilberto DupasN. 56 O decrescimento como condição de uma sociedade convivial – Prof. Dr. Serge LatoucheN. 57 A natureza da natureza: auto-organização e caos – Prof. Dr. Günter KüppersN. 58 Sociedade sustentável e desenvolvimento sustentável: limites e possibilidades – Dra. Hazel

HendersonN. 59 Globalização – mas como? – Profa. Dra. Karen GloyN. 60 A emergência da nova subjetividade operária: a sociabilidade invertida – MS Cesar SansonN. 61 Incidente em Antares e a Trajetória de Ficção de Erico Veríssimo – Profa. Dra. Regina ZilbermanN. 62 Três episódios de descoberta científica: da caricatura empirista a uma outra história – Prof. Dr.

Fernando Lang da Silveira e Prof. Dr. Luiz O. Q. PeduzziN. 63 Negações e Silenciamentos no discurso acerca da Juventude – Cátia Andressa da SilvaN. 64 Getúlio e a Gira: a Umbanda em tempos de Estado Novo – Prof. Dr. Artur Cesar IsaiaN. 65 Darcy Ribeiro e o O povo brasileiro: uma alegoria humanista tropical – Profa. Dra. Léa Freitas PerezN. 66 Adoecer: Morrer ou Viver? Reflexões sobre a cura e a não cura nas reduções jesuítico-guaranis

(1609-1675) – Profa. Dra. Eliane Cristina Deckmann FleckN. 67 Em busca da terceira margem: O olhar de Nelson Pereira dos Santos na obra de Guimarães

Rosa – Prof. Dr. João Guilherme BaroneN. 68 Contingência nas ciências físicas – Prof. Dr. Fernando HaasN. 69 A cosmologia de Newton – Prof. Dr. Ney LemkeN. 70 Física Moderna e o paradoxo de Zenon – Prof. Dr. Fernando HaasN. 71 O passado e o presente em Os Inconfidentes, de Joaquim Pedro de Andrade – Profa. Dra. Miriam

de Souza RossiniN. 72 Da religião e de juventude: modulações e articulações – Profa. Dra. Léa Freitas PerezN. 73 Tradição e ruptura na obra de Guimarães Rosa – Prof. Dr. Eduardo F. CoutinhoN. 74 Raça, nação e classe na historiografia de Moysés Vellinho – Prof. Dr. Mário MaestriN. 75 A Geologia Arqueológica na Unisinos – Prof. MS Carlos Henrique NowatzkiN. 76 Campesinato negro no período pós-abolição: repensando Coronelismo, enxada e voto – Profa.

Dra. Ana Maria Lugão RiosN. 77 Progresso: como mito ou ideologia – Prof. Dr. Gilberto DupasN. 78 Michael Aglietta: da Teoria da Regulação à Violência da Moeda – Prof. Dr. Octavio A. C. ConceiçãoN. 79 Dante de Laytano e o negro no Rio Grande Do Sul – Prof. Dr. Moacyr FloresN. 80 Do pré-urbano ao urbano: A cidade missioneira colonial e seu território – Prof. Dr. Arno Alvarez KernN. 81 Entre Canções e versos: alguns caminhos para a leitura e a produção de poemas na sala de

aula – Profa. Dra. Gláucia de SouzaN. 82 Trabalhadores e política nos anos 1950: a ideia de “sindicalismo populista” em questão – Prof. Dr.

Marco Aurélio SantanaN. 83 Dimensões normativas da Bioética – Prof. Dr. Alfredo Culleton e Prof. Dr. Vicente de Paulo BarrettoN. 84 A Ciência como instrumento de leitura para explicar as transformações da natureza – Prof. Dr.

Attico ChassotN. 85 Demanda por empresas responsáveis e Ética Concorrencial: desafios e uma proposta para a

gestão da ação organizada do varejo – Profa. Dra. Patrícia Almeida AshleyN. 86 Autonomia na pós-modernidade: um delírio? – Prof. Dr. Mario FleigN. 87 Gauchismo, tradição e Tradicionalismo – Profa. Dra. Maria Eunice MacielN. 88 A ética e a crise da modernidade: uma leitura a partir da obra de Henrique C. de Lima Vaz – Prof.

Dr. Marcelo PerineN. 89 Limites, possibilidades e contradições da formação humana na Universidade – Prof. Dr. Laurício

NeumannN. 90 Os índios e a História Colonial: lendo Cristina Pompa e Regina Almeida – Profa. Dra. Maria

Cristina Bohn MartinsN. 91 Subjetividade moderna: possibilidades e limites para o cristianismo – Prof. Dr. Franklin Leopoldo

e SilvaN. 92 Saberes populares produzidos numa escola de comunidade de catadores: um estudo na pers-

pectiva da Etnomatemática – Daiane Martins BocasantaN. 93 A religião na sociedade dos indivíduos: transformações no campo religioso brasileiro – Prof. Dr.

Carlos Alberto SteilN. 94 Movimento sindical: desafios e perspectivas para os próximos anos – MS Cesar SansonN. 95 De volta para o futuro: os precursores da nanotecnociência – Prof. Dr. Peter A. SchulzN. 96 Vianna Moog como intérprete do Brasil – MS Enildo de Moura CarvalhoN. 97 A paixão de Jacobina: uma leitura cinematográfica – Profa. Dra. Marinês Andrea KunzN. 98 Resiliência: um novo paradigma que desafia as religiões – MS Susana María Rocca LarrosaN. 99 Sociabilidades contemporâneas: os jovens na lan house – Dra. Vanessa Andrade PereiraN. 100 Autonomia do sujeito moral em Kant – Prof. Dr. Valerio RohdenN. 101 As principais contribuições de Milton Friedman à Teoria Monetária: parte 1 – Prof. Dr. Roberto

Camps MoraesN. 102 Uma leitura das inovações bio(nano)tecnológicas a partir da sociologia da ciência – MS Adriano

PremebidaN. 103 ECODI – A criação de espaços de convivência digital virtual no contexto dos processos de ensino

e aprendizagem em metaverso – Profa. Dra. Eliane SchlemmerN. 104 As principais contribuições de Milton Friedman à Teoria Monetária: parte 2 – Prof. Dr. Roberto

Camps MoraesN. 105 Futebol e identidade feminina: um estudo etnográfico sobre o núcleo de mulheres gremistas –

Prof. MS Marcelo Pizarro NoronhaN. 106 Justificação e prescrição produzidas pelas Ciências Humanas: Igualdade e Liberdade nos discur-

sos educacionais contemporâneos – Profa. Dra. Paula Corrêa Henning

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N. 107 Da civilização do segredo à civilização da exibição: a família na vitrine – Profa. Dra. Maria Isabel Barros Bellini

N. 108 Trabalho associado e ecologia: vislumbrando um ethos solidário, terno e democrático? – Prof. Dr. Telmo Adams

N. 109 Transumanismo e nanotecnologia molecular – Prof. Dr. Celso Candido de AzambujaN. 110 Formação e trabalho em narrativas – Prof. Dr. Leandro R. PinheiroN. 111 Autonomia e submissão: o sentido histórico da administração – Yeda Crusius no Rio Grande do

Sul – Prof. Dr. Mário MaestriN. 112 A comunicação paulina e as práticas publicitárias: São Paulo e o contexto da publicidade e pro-

paganda – Denis Gerson SimõesN. 113 Isto não é uma janela: Flusser, Surrealismo e o jogo contra – Esp. Yentl DelanhesiN. 114 SBT: jogo, televisão e imaginário de azar brasileiro – MS Sonia MontañoN. 115 Educação cooperativa solidária: perspectivas e limites – Prof. MS Carlos Daniel BaiotoN. 116 Humanizar o humano – Roberto Carlos FáveroN. 117 Quando o mito se torna verdade e a ciência, religião – Róber Freitas BachinskiN. 118 Colonizando e descolonizando mentes – Marcelo DascalN. 119 A espiritualidade como fator de proteção na adolescência – Luciana F. Marques e Débora D.

Dell’AglioN. 120 A dimensão coletiva da liderança – Patrícia Martins Fagundes Cabral e Nedio SeminottiN. 121 Nanotecnologia: alguns aspectos éticos e teológicos – Eduardo R. CruzN. 122 Direito das minorias e Direito à diferenciação – José Rogério LopesN. 123 Os direitos humanos e as nanotecnologias: em busca de marcos regulatórios – Wilson EngelmannN. 124 Desejo e violência – Rosane de Abreu e SilvaN. 125 As nanotecnologias no ensino – Solange Binotto FaganN. 126 Câmara Cascudo: um historiador católico – Bruna Rafaela de LimaN. 127 O que o câncer faz com as pessoas? Reflexos na literatura universal: Leo Tolstoi – Thomas Mann

– Alexander Soljenítsin – Philip Roth – Karl-Josef KuschelN. 128 Dignidade da pessoa humana e o direito fundamental à identidade genética – Ingo Wolfgang

Sarlet e Selma Rodrigues PetterleN. 129 Aplicações de caos e complexidade em ciências da vida – Ivan Amaral GuerriniN. 130 Nanotecnologia e meio ambiente para uma sociedade sustentável – Paulo Roberto MartinsN. 131 A philía como critério de inteligibilidade da mediação comunitária – Rosa Maria Zaia Borges AbrãoN. 132 Linguagem, singularidade e atividade de trabalho – Marlene Teixeira e Éderson de Oliveira CabralN. 133 A busca pela segurança jurídica na jurisdição e no processo sob a ótica da teoria dos sistemas

sociais de Nicklass Luhmann – Leonardo GrisonN. 134 Motores Biomoleculares – Ney Lemke e Luciano HennemannN. 135 As redes e a construção de espaços sociais na digitalização – Ana Maria Oliveira RosaN. 136 De Marx a Durkheim: Algumas apropriações teóricas para o estudo das religiões afro-brasileiras

– Rodrigo Marques LeistnerN. 137 Redes sociais e enfrentamento do sofrimento psíquico: sobre como as pessoas reconstroem

suas vidas – Breno Augusto Souto Maior FontesN. 138 As sociedades indígenas e a economia do dom: O caso dos guaranis – Maria Cristina Bohn

MartinsN. 139 Nanotecnologia e a criação de novos espaços e novas identidades – Marise Borba da SilvaN. 140 Platão e os Guarani – Beatriz Helena DominguesN. 141 Direitos humanos na mídia brasileira – Diego Airoso da MottaN. 142 Jornalismo Infantil: Apropriações e Aprendizagens de Crianças na Recepção da Revista Recreio

– Greyce VargasN. 143 Derrida e o pensamento da desconstrução: o redimensionamento do sujeito – Paulo Cesar

Duque-EstradaN. 144 Inclusão e Biopolítica – Maura Corcini Lopes, Kamila Lockmann, Morgana Domênica Hattge e

Viviane KlausN. 145 Os povos indígenas e a política de saúde mental no Brasil: composição simétrica de saberes para

a construção do presente – Bianca Sordi StockN. 146 Reflexões estruturais sobre o mecanismo de REDD – Camila MorenoN. 147 O animal como próximo: por uma antropologia dos movimentos de defesa dos direitos animais –

Caetano SordiN. 148 Avaliação econômica de impactos ambientais: o caso do aterro sanitário em Canoas-RS – Fer-

nanda SchutzN. 149 Cidadania, autonomia e renda básica – Josué Pereira da SilvaN. 150 Imagética e formações religiosas contemporâneas: entre a performance e a ética – José Rogério

LopesN. 151 As reformas político-econômicas pombalinas para a Amazônia: e a expulsão dos jesuítas do

Grão-Pará e Maranhão – Luiz Fernando Medeiros RodriguesN. 152 Entre a Revolução Mexicana e o Movimento de Chiapas: a tese da hegemonia burguesa no

México ou “por que voltar ao México 100 anos depois” – Claudia WassermanN. 153 Globalização e o pensamento econômico franciscano: Orientação do pensamento econômico

franciscano e Caritas in Veritate – Stefano ZamagniN. 154 Ponto de cultura teko arandu: uma experiência de inclusão digital indígena na aldeia kaiowá e

guarani Te’ýikue no município de Caarapó-MS – Neimar Machado de Sousa, Antonio Brand e José Francisco Sarmento

N. 155 Civilizar a economia: o amor e o lucro após a crise econômica – Stefano ZamagniN. 156 Intermitências no cotidiano: a clínica como resistência inventiva – Mário Francis Petry Londero e

Simone Mainieri PaulonN. 157 Democracia, liberdade positiva, desenvolvimento – Stefano ZamagniN. 158 “Passemos para a outra margem”: da homofobia ao respeito à diversidade – Omar Lucas Perrout

Fortes de SalesN. 159 A ética católica e o espírito do capitalismo – Stefano ZamagniN. 160 O Slow Food e novos princípios para o mercado – Eriberto Nascente Silveira

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N. 161 O pensamento ético de Henri Bergson: sobre As duas fontes da moral e da religião – André Brayner de Farias

N. 162 O modus operandi das políticas econômicas keynesianas – Fernando Ferrari Filho e Fábio Hen-rique Bittes Terra

N. 163 Cultura popular tradicional: novas mediações e legitimações culturais de mestres populares pau-listas – André Luiz da Silva

N. 164 Será o decrescimento a boa nova de Ivan Illich? – Serge LatoucheN. 165 Agostos! A “Crise da Legalidade”: vista da janela do Consulado dos Estados Unidos em Porto

Alegre – Carla Simone RodegheroN. 166 Convivialidade e decrescimento – Serge LatoucheN. 167 O impacto da plantação extensiva de eucalipto nas culturas tradicionais: Estudo de caso de São

Luis do Paraitinga – Marcelo Henrique Santos ToledoN. 168 O decrescimento e o sagrado – Serge LatoucheN. 169 A busca de um ethos planetário – Leonardo BoffN. 170 O salto mortal de Louk Hulsman e a desinstitucionalização do ser: um convite ao abolicionismo –

Marco Antonio de Abreu ScapiniN. 171 Sub specie aeternitatis – O uso do conceito de tempo como estratégia pedagógica de religação

dos saberes – Gerson Egas SeveroN. 172 Theodor Adorno e a frieza burguesa em tempos de tecnologias digitais – Bruno PucciN. 173 Técnicas de si nos textos de Michel Foucault: A influência do poder pastoral – João Roberto Barros IIN. 174 Da mônada ao social: A intersubjetividade segundo Levinas – Marcelo FabriN. 175 Um caminho de educação para a paz segundo Hobbes – Lucas Mateus Dalsotto e Everaldo CesconN. 176 Da magnitude e ambivalência à necessária humanização da tecnociência segundo Hans Jonas –

Jelson Roberto de OliveiraN. 177 Um caminho de educação para a paz segundo Locke – Odair Camati e Paulo César NodariN. 178 Crime e sociedade estamental no Brasil: De como la ley es como la serpiente; solo pica a los

descalzos – Lenio Luiz StreckN. 179 Um caminho de educação para a paz segundo Rousseau – Mateus Boldori e Paulo César NodariN. 180 Limites e desafios para os direitos humanos no Brasil: entre o reconhecimento e a concretização

– Afonso Maria das ChagasN. 181 Apátridas e refugiados: direitos humanos a partir da ética da alteridade – Gustavo Oliveira de

Lima PereiraN. 182 Censo 2010 e religiões:reflexões a partir do novo mapa religioso brasileiro – José Rogério LopesN. 183 A Europa e a ideia de uma economia civil – Stefano ZamagniN. 184 Para um discurso jurídico-penal libertário: a pena como dispositivo político (ou o direito penal

como “discurso-limite”) – Augusto Jobim do AmaralN. 185 A identidade e a missão de uma universidade católica na atualidade – Stefano ZamagniN. 186 A hospitalidade frente ao processo de reassentamento solidário aos refugiados – Joseane Mariéle

Schuck PintoN. 187 Os arranjos colaborativos e complementares de ensino, pesquisa e extensão na educação supe-

rior brasileira e sua contribuição para um projeto de sociedade sustentável no Brasil – Marcelo F. de Aquino

N. 188 Os riscos e as loucuras dos discursos da razão no campo da prevenção – Luis David CastielN. 189 Produções tecnológicas e biomédicas e seus efeitos produtivos e prescritivos nas práticas sociais

e de gênero – Marlene TamaniniN. 190 Ciência e justiça: Considerações em torno da apropriação da tecnologia de DNA pelo direito –

Claudia FonsecaN. 191 #VEMpraRUA: Outono brasileiro? Leituras – Bruno Lima Rocha, Carlos Gadea, Giovanni Alves,

Giuseppe Cocco, Luiz Werneck Vianna e Rudá RicciN. 192 A ciência em ação de Bruno Latour – Leticia de Luna FreireN. 193 Laboratórios e Extrações: quando um problema técnico se torna uma 0questão sociotécnica –

Rodrigo Ciconet DornellesN. 194 A pessoa na era da biopolítica: autonomia, corpo e subjetividade – Heloisa Helena BarbozaN. 195 Felicidade e Economia: uma retrospectiva histórica – Pedro Henrique de Morais Campetti e Tiago

Wickstrom AlvesN. 196 A colaboração de Jesuítas, Leigos e Leigas nas Universidades confiadas à Companhia de Jesus:

o diálogo entre humanismo evangélico e humanismo tecnocientífico – Adolfo NicolásN. 197 Brasil: verso e reverso constitucional – Fábio Konder ComparatoN. 198 Sem-religião no Brasil: Dois estranhos sob o guarda-chuva – Jorge Claudio RibeiroN. 199 Uma ideia de educação segundo Kant: uma possível contribuição para o século XXI – Felipe

Bragagnolo e Paulo César NodariN. 200 Aspectos do direito de resistir e a luta socialpor moradia urbana: a experiência da ocupação

Raízes da Praia – Natalia Martinuzzi CastilhoN. 201 Desafios éticos, filosóficos e políticos da biologia sintética – Jordi MaisoN. 202 Fim da Política, do Estado e da cidadania? – Roberto RomanoN. 203 Constituição Federal e Direitos Sociais: avanços e recuos da cidadania – Maria da Glória GohnN. 204 As origens históricas do racionalismo, segundo Feyerabend – Miguel Ângelo Flach

Page 33:  · 2014-03-21 · A grande aventura colonial, desenvolvida a partir da desco-berta da América e a abertura do caminho marítimo para as Ín-dias, foi desde o início montada com

Fábio Konder Comparato possui graduação em Direito pela Universidade de São Paulo (1959) e doutorado em Direito pela Université Paris 1 (Pan-théon-Sorbonne) (1963). Professor Emérito da Fa-culdade de Direito da Universidade de São Paulo e Doutor Honoris Causa da Universidade de Coim-bra. É especialista em Filosofia do Direito, Direitos Humanos e Direito Político. Titular da Medalha Rui Barbosa, conferida pelo Conselho Federal da Or-dem dos Advogados do Brasil.

Algumas publicações do autorCOMPARATO, Fábio Konder. Brasil: verso e reverso constitucional. In:Cadernos IHU ideias. São Leopoldo: Instituto Humanitas Unisinos, ano 11, n. 197, 2013.

COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direitos Huma-nos. São Paulo: Saraiva, 2013. 8. ed. 577 p.

COMPARATO, Fábio Konder. Rumo à Justiça. São Paulo: Editora Saraiva, 2010. v. 01. 449 p.

COMPARATO, Fábio Konder. Ética: Direito, Moral e Religião no Mundo Moderno. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

COMPARATO, Fábio Konder. Sobre a Legitimidade das Constituições.In: Revista Latino-Americana de Estudos Constitucionais, v. 5, p. 19-56, 2005.