2014-03-15 - nos dias que correm

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  • 8/17/2019 2014-03-15 - Nos Dias Que Correm...

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    Nos dias que correm...

    A coluna desta semana vem num tom um pouco diferente das anteriores. Antes de mais: não,

    o motivo não é uma bronca dos redatores da página pedindo a diminuição do tamanho para “atender 

    ao perfil do nosso leitor”. Antes fosse... O motivo é ue a vida, bonita e bonita como ela é !e viva o

    "on#aguinha pra nos lembrar disso...$, nos obriga aos temas a partir da sua andadura. Andou pra lá,

    é carnaval. Andou pra cá, é... %ois bem, vamos &untos ver o ue é.

    'm ()*+, alguns meses antes de “o gigante acordar” no rasil, um grupo se reivindicando

    neona#ista colou carta#es no prédio onde fica a sede do meu partido, o %- o mesmo prédio onde

    também está a sede do %/01. Os carta#es, muito amigáveis e civili#ados, esbrave&avam algo como

    ue “comunista bom é comunista morto” e ue abandonássemos a região sob pena de agress2es.

    'm &unho dauele ano, o “gigante” acorda meio de mau humor e, muito nervoso com o

    despertador, e3pulsa boa parte da esuerda !partidos e movimentos sociais$ de um grande ato na

    %residente 4argas...

    5as por ue diabos reuentar essa pauta6

    %orue semana passada, no dia *( de março 7 apenas uatro dias depois do 8ia

    9nternacional da 5ulher 7 aconteceu algo ue simplesmente não pode acontecer. -om a palavra, os

    estudantes da 1: “8uas estudantes da 1niversidade foram alvo de mais uma tentativa de estupro

    em frente ao bande&ão, agredidas e intimidadas uma delas pelo simples fato de ser comunista e estar 

    com o broche de sua organi#ação pol;tica< O agressor esbrave&ou ofensas anticomunistas,

    machistas, intolerantes, além de defender a superioridade da raça ariana em pleno século ==9”.

    O inaceitável se combina com o inadmiss;vel: alegando despre#o pela posição pol;tica das

    camaradas, um homem se sente autori#ado a agredilas se3ualmente. 0oda forma e3pressa um

    conte>do: aui, a forma 7 a agressão se3ual 7 e3pressa o conte>do de uma visão de mundo ue

    internali#a o tratamento dos seres humanos como coisas, como mero meio para a consecução de fins

    alheios a sua vontade. ', neste caso, como ob&eto pra canali#ar o e3travasamento de impulsos

    irracionais. “/e for mulher então, melhor” 7 o senso comum, desconhecendo a ?ist@ria, acha ue

    são frágeis, e portanto o covarde se sente mais seguro.

     este caso espec;fico, mais uma ve# a vida mostra os limites do velho e bom senso comum:

    um grupo de mulheres se reuniu, impediu ue o agressor fugisse e garantiu ue deva responder pelo

    ue fe# diante da sociedade. ' é a; ue entramos n@s !obviamente, me diri&o Buelas e Bueles ue

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    sacaram ue não, ue a pol;cia e o &udiciário não são “a sociedade”$: a hora é de prestar toda a

    solidariedade Bs companheiras agredidas em iter@i semana passada. ' mostrar ue não: ue n@s

    não vamos engolir o crescimento da irracionalidade, do conservadorismo e do machismo, nem na

    1, nem em lugar nenhum. Cue n@s, com a pure#a da resposta das crianças, vamos continuar 

    fa#endo a vida ser bonita, pra todDs n@s, e do &eito ue a gente uer.

    Es companheiras e aos companheiros ue não se curvam, saudaç2es de longe e um lembrete

    sempre atual:

     O -A59?O, -O5 5A9AFG4/F9

    Assim como a criança

    humildemente afaga

    a imagem do her@i,

    assim me apro3imo de ti, 5aiaH@svHi.

     ão importa o ue me possa acontecer 

     por andar ombro a ombro

    com um poeta soviético.

    Iendo teus versos,

    aprendi a ter coragem.

    0u sabes,

    conheces melhor do ue eu

    a velha hist@ria.

     a primeira noite eles se apro3imam

    e roubam uma flor 

    do nosso &ardim.

    ' não di#emos nada.

     a segunda noite, &á não se escondem:

     pisam as flores,

    matam nosso cão,

    e não di#emos nada.

    Até ue um dia,

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    o mais frágil deles

    entra so#inho e nossa casa,

    roubanos a lu# e,

    conhecendo nosso medo,

    arrancanos a vo# da garganta.' &á não podemos di#er nada.

     os dias ue correm

    a ninguém é dado

    repousar a cabeça

    alheia ao terror.

    Os humildes bai3am a cervi#:e n@s, ue não temos pacto algum

    com os senhores do mundo,

     por temor nos calamos.

     o silJncio de meu uarto

    a ousadia me afogueia as faces

    e eu fantasio um levanteK

    mas amanhã,

    diante do &ui#,

    talve# meus lábios

    calem a verdade

    como um foco de germes

    capa# de me destruir.

    Olho ao redor 

    e o ue ve&o

    e acabo por repetir 

    são mentiras.

    5al sabe a criança di#er mãe

    e a propaganda lhe destr@i a consciJncia.

    A mim, uase me arrastam

     pela gola do palet@

    B porta do templo

    e me pedem ue aguarde

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    até ue a 8emocracia

    se digne aparecer no balcão.

    5as eu sei,

     porue não estou amedrontado

    a ponto de cegar, ue ela tem uma espadaa lhe espetar as costelas

    e o riso ue nos mostra

    é uma tJnue cortina

    lançada sobre os arsenais.

    4amos ao campo

    e não os vemos ao nosso lado,no plantio.

    5as no tempo da colheita

    lá estão

    e acabam por nos roubar 

    até o >ltimo grão de trigo.

    8i#emnos ue de n@s emana o poder 

    mas sempre o temos contra n@s.

    8i#emnos ue é preciso

    defender nossos lares,

    mas se nos rebelamos contra a opressão

    é sobre n@s ue marcham os soldados.

    ' por temor eu me calo.

    %or temor, aceito a condição

    de falso democrata

    e rotulo meus gestos

    com a palavra liberdade,

     procurando, num sorriso,

    esconder minha dor 

    diante de meus superiores.

    5as dentro de mim,

    com a potJncia de um milhão de vo#es,

    o coração grita 5'09LA

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    '81AL8O AI4'/ 8A -O/0A

     iter@i, LM, *N+

     ota: %oema publicado no livro POs -em 5elhores %oetas rasileiros do /éculoP, organi#ado por

    Mosé Jumanne %into, pag. (*Q.

    /ensato seria dei3ar isso pra trás, &á ue na seuJncia ficou claro uem estava na luta: os neona#i

    dei3aram os atosK a esuerda voltou a poder empunhar suas bandeiras em pa# !feli#mente boa parte

    dela não as bai3ou em momento algum$K os atos contra as remoç2es, a -opa e as Olimp;adas tJmsido importante espaço de mobili#açãoK e parece ue tudo ficou bem de novo na democrática

    democracia representativa brasileira !há controvérsias... 5as ficam pra outros momentos, ue a vida

    é longa$. %ois então: por ue retomar a bendita pauta6

    'ste foi um dia marcante: e3pulsos embai3o de bombas e porrada, com companheiros machucados,

     por figuras organi#adas e incapa#es de tolerar a pluralidade de ideias e a e3pressão aberta de

    diferentes posiç2es pol;ticas num Ato p>blico.

    A “livre e3pressão de posiç2es na#istas” não se inclui entre os direitos pol;ticos pela simples ra#ão

    de ue pressup2e a eliminação f;sica do diferente ou sua submissão sem mais a uma elite definida

    “por nascimento” no caso, o “diferente” são os comunistas, os afeitos a toda e ualuer orientação

    se3ual ue não a “hetero”, os negros, os &udeus, os árabes e... em >ltima, a maior parte da

    humanidade, e3istente pra servir a uma peuena elite de privilegiados. -omo se vJ, algo muito

    diferente da sociedade atual.

    ui, vale uma nota: na#ismo RO S posição pol;tica, RO deve poder ser e3presso

    livremente e RO, não tem '?15A afinidade de pro&eto ou de visão de mundo com socialismo

    ou comunismo. 'm caso de d>vida, aprofundamos o assunto numa pr@3ima coluna.

    S p>blico e not@rio ue o capitalismo, em seu desenvolvimento, se apropria das formas mais

    ab&etas de opressão de uma parcela da humanidade por outra pra garantir sua reprodução !tem gente

    ue di# “arcaicas”, mas não concordo não: são bastante modernas$.