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o nó e a rede

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  • UNIVERSIDADE DE SO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CINCIAS HUMANAS

    DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM GEOGRAFIA HUMANA

    Em outro ponto da rede Desenvolvimento geogrfico desigual e o vaivm do

    capital nas operaes de Contact Center

    Marina Castro de Almeida

    Orientador: Dr. lvio Rodrigues Martins So Paulo

    2013

    Tese apresentada ao programa de Ps-graduao em Geografia Humana do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Doutor em Geografia

  • ii

    Para Samuel

  • iii

    AGRADECIMENTOS

    Devo imensa gratido a todos que estiveram comigo nesse caminho. No

    apenas aqueles que se misturam neste trabalho, mas tambm aqueles que

    acompanharam de longe, torcendo e estimulando meus passos.

    s minhas avs pelas especiais oraes, vibraes e boas energias que

    mandavam to carinhosamente. Aos meus novos avs, Rose e ao Paulo, pelo

    doce acolhimento e pela compreenso das minhas ausncias. A todos vocs

    agradeo por me ensinarem a ter f e esperana. Pela sabedoria, grandiosa e

    simples, que transcende a cincia e aquieta a alma.

    Faltam palavras para agradecer a aqueles que esto presentes nas

    entrelinhas deste trabalho porque se misturam a mim mesma: minha Me e meu

    Pai, Las e Fausto, e meu companheiro, Samuel. Obrigada pelo amor e pela doura

    que nos une.

    Agradeo aos professores Mara Mnica Arroyo e Ricardo Castillo, pela

    importante contribuio no exame de qualificao. Ao professor Ricardo Castillo

    agradeo tambm o apoio para a realizao do estgio de doutorado na City

    University of New York (CUNY).

    Meus mais sinceros e carinhosos agradecimentos aos Professores e colegas

    que me receberam na CUNY. Ao professor Neil Smith (in memoriam), agradeo a

    especial gentileza e o acolhimento. professora Cindi Katz, pelo convvio dirio, pelo

    carinho e pelas reflexes geogrficas. Aos colegas do Graduate Center: Chris

    Calienes, Denisse Andrade, Deen Sharp, Robin Mcginty, Rafael Mutis e Nathaniel

    Sheets, agradeo a parceria, e em especial aos fins de tarde no Slatterys Midtown

    Pub. Gisele e ao Luiz tenho enorme gratido por terem sido minha famlia em

    Nova York, pela doce companhia nas descobertas dos cantos mais encantados da

    Ilha.

    CAPES, pela concesso da bolsa que me permitiu realizar o estgio de

    doutorado-sanduche.

    Aos trabalhadores dos Contact Centers, agradeo pela enorme contribuio

    ao permitirem minha aproximao com sua luta cotidiana. Aos dirigentes dos

  • iv

    sindicatos, em especial, em So Paulo e em Recife, por me receberem e partilharem

    informaes importantes que tanto estimularam minha pesquisa.

    Agradeo tambm aos amigos e parceiros nesta caminhada: Maria Rita,

    Yanci, Carlos Geraldino e Andr Baldraia. E a todos os queridos amigos dos quais tive

    de me afastar neste perodo. Tati, ao Gustavo e Simone, pelas prticas, Vidya!

    Aos colegas da PUC, especialmente Regina e ao Mauro, pela pacincia.

    Por fim, expresso meu amor e mais profundo agradecimento ao Samuel. Meu

    companheiro na vida e parceiro na geografia. Agradeo sua generosidade, seu

    cuidado e o rigor de sua participao neste trabalho. Voc no apenas segurou

    minha mo quando tudo parecia desmoronar, mas me mostrou o caminho com toda

    doura. Venceu a teimosia e o cansao, insistiu e confiou. Apoiou

    incondicionalmente minhas decises, me acompanhou no estgio em Nova York e

    nos perodos em que estivemos distante voc ainda estava l, me dando fora,

    dividindo a vida. Tomara, seja sempre assim, tomara.

  • v

    RESUMO

    Esta pesquisa tem como objetivo principal analisar a apropriao do

    desenvolvimento geogrfico desigual brasileiro pelas empresas de Contact Center. A

    constituio e expanso das operaes brasileiras de teleatendimento esto

    atreladas s privatizaes do setor de telecomunicaes, com a aquisio das

    empresas estatais por grandes transnacionais, e a consequente terceirizao dos

    servios a partir do final da dcada de 1990. A anlise da diviso territorial do

    trabalho das operaes de teleatendimento revela a presena de foras centrpetas,

    com a manuteno do controle nas principais metrpoles brasileiras, e centrfugas,

    com a disperso das unidades de produo para os centros urbanos no

    metropolitanos e para a regio Nordeste. O uso seletivo da densidade tcnica e

    informacional do territrio permite s empresas a incorporao lucrativa de reas

    onde os recursos, principalmente, capital e trabalho, so desvalorizados.

    Palavras chave: empresas de Contact Center; diviso territorial do trabalho; uso

    corporativo do territrio; reas desvalorizadas; ajuste-espacial

  • vi

    ABSTRACT

    The present work intends to analyze the exploitation of Brazilian uneven

    geographical development by Contact Center companies. Since the end of the 1990s,

    the establishment and expansion of Brazilian operations telemarketing has been

    linked to the privatization of the telecommunications sector, with the subsequent

    acquisition of state enterprises by large transnational corporations, with has resulted

    in the outsourcing of services. The corporations territorial division of labor shows the

    presence of both centripetal forces, with maintenance control in major Brazilian

    cities, and centrifugal forces, with the dispersion of production facilities in non-

    metropolitan and urban centers in the Northeast. The selective use of technical and

    informational density allows companies to lucratively incorporate areas where

    resources, especially labor and capital, are devalued.

    Key words: Contact Center companies; territorial division of labor; corporate use of

    the territory; devalued areas; spatial-fix

  • vii

    SUMRIO Introduo 01

    Captulo 1 Globalizao, servios e o setor de telecomunicaes 12

    1.1 Gnese e consolidao das empresas de Contact Center no Brasil 12

    1.2 Terceirizao dos servios de teleatendimento e precarizao do trabalho como estratgia competitiva

    19

    1.3 Expanso e caractersticas dos Contact Centers brasileiros 22

    Captulo 2 Os Contact Centers no territrio brasileiro: tipologia das empresas e dos servios prestados

    34

    2.1 Das centrais de atendimento aos Contact Centers 34

    2.2 Tipologia dos servios de Contact Center 41

    2.3 Tipologia dos servios de tecnologia da informao (TI) 46

    2.4 Tipologia das empresas brasileiras de Contact Center 49

    Captulo 3 Redes geogrficas e uso corporativo do territrio pelos Contact Centers

    57

    3.1 Redes corporativas e fluidez potencial 57

    3.2 Rede de fibra tica e uso corporativo do territrio 62

    3.3 Rede telemtica: fatores de localizao e mecanismos de excluso 68

    3.4 Flexibilidade locacional das operaes: o uso da tecnologia VOIP (Voz sobre Protocolo de Internet)

    75

    3.5 Diviso territorial do trabalho da empresa Tivit e os servios de TI 80

    3.6 Desenvolvimento geogrfico desigual e a prestao de servios das empresas Atento e Contax

    84

  • viii

    Captulo 4

    Alienao do trabalho nas operaes de Contact Center

    92

    4.1 Entre o avano tecnolgico e a precarizao do trabalho nos Contact Centers

    92

    4.2 As dimenses da flexibilidade e o rgido controle do trabalho pelo capital

    99

    4.3 A normatizao da flexibilidade: adaptaes da legislao trabalhista brasileira s demandas corporativas

    102

    4.4 Cooperao trans-espacial: o trabalhador coletivo geograficamente disperso e o papel ativo do espao

    109

    4.5 Escala geogrfica: tempo e espao de luta 114

    Captulo 5 Diviso territorial do trabalho das empresas de Contact Center no Brasil

    120

    5.1 Os Contact Centers e as foras de concentrao e disperso na metrpole de So Paulo

    120

    5.2 Disperso territorial dos Contact Centers e o papel dos centros urbanos no metropolitanos

    128

    5.3 Velhos regionalismos e a atuao do Grupo Algar em Uberlndia (MG)

    136

    5.4 Ajuste espacial e as empresas de Contact Center na cidade de Santos (SP)

    139

    5.5 Nordeste: Nova ndia brasileira para os Contact Centers 143

    Captulo 6 Alm das fronteiras: a rede mundial de Contact Center 154

    6.1 Neoliberalizao do espao: novas tecnologias e velhas formas de precarizao do trabalho

    154

    6.2 O mapa mundial dos servios de Contact Center 159

    6.3 Entre o interno e o externo: a insero do Brasil no mercado mundial de Contact Center

    173

  • ix

    6.4 Acumulao alm das fronteiras: o uso corporativo do territrio brasileiro

    176

    Concluses

    183

    Bibliografia 192

  • x

    NDICE DE MAPAS, TABELAS, QUADROS, GRFICOS, FIGURAS E FOTOS MAPAS

    Mapa 1 Nmero de operadores por municpio em 2011 e percentual de crescimento, Brasil, 2003 - 2011

    25

    Mapa 2 Escolaridade e nmero de operadores por estado, Brasil, 201 28

    Mapa 3 Gnero e nmero de operadores por estado, Brasil, 2011 30

    Mapa 4 Cidades com sede de empresas de Contact Center e rede de fibra tica, Brasil, 2010

    66

    Mapa 5 Diviso Territorial do trabalho da empresa Tivit, 2011 81

    Mapa 6 Distribuio e nmero de operadores da empresa Atento, 2011 86

    Mapa 7 Distribuio e nmero de operadores da empresa Contax, 2013 89

    Mapa 8 Nmero de sede de empresas de Contact Center por municpio, 2013, e crescimento percentual dos operadores por estado, Brasil, 2003 - 2011

    123

    Mapa 9 Nmero de operadores (2011) e crescimento percentual, 33 municpios selecionados, 2003 - 2011

    130

    Mapa 10 Nmero de operadores em 2011 e percentual de crescimento em 2003 - 2011, regio Nordeste

    149

    Mapa 11 Nmero de empresas de Contact Center, pases selecionados, 2013 160

    TABELAS

    Tabela 1 Crescimento do nmero de PAs e do faturamento no ramo de Contact Center, Brasil, 1999 - 2011

    22

    Tabela 2 Principais empresas de Contact Center, Brasil, 2011 51

    Tabela 3 Velocidade mdia de conexo Internet, em diferentes pases, 2011

    69

    Tabela 4 Variao do percentual de PAs por regio, Brasil, 2000 - 2011 145

    Tabela 5 Diferena salarial anual dos operadores em Contact Centers prprios e terceirizados, pases selecionados, 2007

    164

  • xi

    QUADROS

    Quadro 1 Principais sistemas tcnicos dos Contact Centers 38

    Quadro 2 Principais servios prestados pelos Contact Centers 43

    Quadro 3 Servios de tecnologia da informao 46

    Quadro 4 Valor mensal de Internet por operadora, Brasil, 2009 70

    Quadro 5 Valor mensal de Internet por operadora em diferentes pases, 2009 70

    GRFICOS

    Grfico 1 Escolaridade dos operadores, Contact Centers prprios e terceirizados, Brasil, 2005

    50

    Grfico 2 Nmero de Contact Centers, segundo o porte, por segmento atendido, Brasil, 2005

    54

    Grfico 3 Percentual de uso da tecnologia VOIP, pases selecionados, 2005 79

    Grfico 4 Crescimento no nmero de PAs das empresas Atento, Contax e Tivit, 1999-2013

    85

    Grfico 5 Contact Centers, mercado domstico e internacional, pases selecionados, 2007

    162

    Grfico 6 Percentual de operadores com curso superior, pases selecionados, 2007

    166

    FIGURAS

    Figura 1 Funcionamento do Contact Center 40

    Figura 2 Computao em Nuvem 47

    Figura 3 Principais Backbones de Internet da rede pblica (RNP), Brasil, 2012 73

    Figura 4 Sistema de ligao gratuita entre VOIPs 76

    Figura 5 Sistema de comutao por circuitos 77

    Figura 6 Sistema de comutao por pacotes 78

  • xii

    FOTOS

    Foto 1 Central de atendimento da empresa Contax 97

    Foto 2 Show room da empresa Algar, Vila Olmpia, So Paulo 127

  • 1

    INTRODUO

    heila sonhava em ser arquiteta, como o curso em uma universidade privada era

    muito caro para o seu oramento, decidiu que trabalharia durante um ano como

    operadora de Contact Center para sustentar seus estudos. Trs anos mais tarde,

    depois de passar por cinco empresas diferentes, Sheila percebeu que seu salrio mal

    dava para pagar as contas. A vontade de cursar uma faculdade dava lugar

    exausto. Bom dia, meu nome Sheila, em que posso ajudar?. Sua voz deve ser

    sorridente, proibido tossir, gaguejar, responder aos insultos e no seguir o script.

    Ah, e tem que olhar o cronmetro, ele fica piscando no canto da tela.

    Antes de ir para sua posio de atendimento (PA), Sheila passa na sala da

    fonoaudiloga: quanto menos seu sotaque for carregado, mais os clientes te

    respeitam. No incio, o mais difcil foi acertar o ritmo, as chamadas no podem

    ultrapassar os dois minutos recomendados, mas se falar muito rpido o cliente no

    entende. Voc baiana, n?. Sheila diz que j ouviu gargalhadas pelo telefone. O

    assdio diminuiu quando ela passou a usar uma fala mais neutra. Eu at comecei

    a concordar que o sotaque paulista e o carioca so mais claros mesmo.

    S

  • 2

    Apesar de estar em Recife, sua cidade natal, a maior parte dos clientes

    atendidos esto em So Paulo. s vezes eles ainda me perguntam como est o

    tempo e dizem que Pernambuco deve ser um bom lugar para morar. Mas quando o

    problema no pode ser resolvido, as agresses so comuns. Um cliente uma vez me

    disse: aposto que voc est no Nordeste, todas as vezes que a ligao cai na base de

    atendimento do Rio Grande do Sul os atendentes so classe A.

    Sheila est entre os 420 mil operadores de telemarketing brasileiros, de

    acordo com dados do Ministrio do Trabalho e Emprego (MTE/CAGED, 2013).

    Entretando, a Associao Brasileira de Telesservios (ABT) contabiliza mais de 1,2

    milhes de profissionais no ramo. Considerados os metalrgicos dos dias atuais, os

    jovens e, sobretudo, as mulheres, compem a maior parte dessa categoria de

    trabalhadores que est entre as que mais crescem no Brasil: 11% ao ano, entre 1999

    e 2011 (callcenter.info.br, 2012).

    Os novos proletrios brasileiros no usam macaces azuis e no esto dentro

    das metalrgicas ou das automobilsticas. Alis, enquanto a produo de automveis

    cresceu vertiginosamente no Brasil, os postos de trabalhos nessas indstrias foram

    substitudos pela modernizao das plantas de produo (PRAUN, 2006). A

    prestao de servios tem sido responsvel pela multiplicao dos empregos. Nesse

    setor, o expressivo crescimento do nmero de operadores de Contact Center

    representa a possibilidade de um trabalho formal para os jovens com baixa

    qualificao.

    Apesar de responsvel pelo ingresso de milhares de pessoas no mercado de

    trabalho formal, as ocupaes no ramo de teleatendimento se caracterizam pela

    precarizao, expressa, sobretudo, por dois aspectos: a baixa remunerao e as ms

    condies de trabalho. O salrio mdio pago aos operadores no Brasil foi de R$

  • 3

    780,00, em 2011, e no so raras as remuneraes inferiores ao salrio mnimo, para

    os contratos em tempo parcial (MTE/CAGED, 2013).

    Em relao s condies de trabalho, a intensificao do ritmo dos

    atendimentos, a imposio de metas e a exposio dos trabalhadores menos

    produtivos so prticas comuns nos Contact Centers. A flexibilizao da jornada de

    trabalho para atender s demandas das empresas (turnos noite, aos finais de

    semana e feriados), e a alta rotatividade tambm caracterizam as precrias

    condies de trabalho dos operadores.

    Ao contrrio do esperado, a gerao de empregos formais no foi

    acompanhada de maior proteo ao trabalhador. A rpida expanso das operaes

    de Contact Center no Brasil caracteriza-se pela explorao de um grande nmero de

    trabalhadores, reproduzindo as desigualdades sociais e territoriais.

    As diferenas salariais de acordo com o gnero e com a funo exercida

    (operador, supervisor e gerente) intensificam as tenses e as desigualdades

    associadas aos Contact Centers. A aluso s antigas metalrgicas e ao taylorismo se

    refere tambm ao parcelamento das tarefas, padronizao dos atendimentos e ao

    uso da tecnologia para o controle do tempo e dos movimentos dos trabalhadores

    (VENCO, 2007).

    A apropriao e a reproduo das desigualdades territoriais so evidentes

    nas estratgias de localizao das empresas. A principal delas a recente tendncia

    de disperso territorial das operaes para o Nordeste brasileiro e para os centros

    urbanos no metropolitanos e, ao mesmo tempo, a manuteno do controle nas

    principias metrpoles do pas.

    O constrangimento vivenciado pela operadora Sheila est longe de

    representar uma exceo. Os treinamentos para a neutralizao do sotaque dos

    trabalhadores nordestinos so cada vez mais comuns. A migrao das operaes

  • 4

    para reas desvalorizadas - onde os salrios so menores, a organizao sindical

    menos consolidada e a concorrncia com os demais setores empregadores mais

    baixa - tem sido uma estratgia recorrente para a ampliao dos lucros das

    empresas.

    O principal objetivo da anlise da diviso territorial do trabalho dos Contact

    Centers compreender como se d a distribuio e a acumulao do excedente a

    partir de uma economia poltica do territrio (SANTOS e SILVEIRA, 2001, p. 289).

    Para tanto necessrio entender como as empresas se apropriam dos recursos

    (desvalorizados) fundamentais para a reproduo ampliada do capital. Diante desta

    tarefa, elaboramos algumas questes: Quais so as foras que agem para o

    movimento de aglomerao e de disperso das operaes de Contact Center no

    territrio brasileiro? Qual o papel das tcnicas da informao para a ampliao e a

    apropriao do excedente? Como as empresas se utilizam do desenvolvimento

    geogrfico desigual brasileiro, ao se instalarem em reas desvalorizadas, e qual o

    papel do Estado nesse processo? Como se realiza a guerra entre os lugares, isto ,

    a disputa entre os entes da federao para a atrao de investimentos privados, do

    ponto de vista da diviso territorial do trabalho dos Contact Centers? Por fim, quais

    so as consequncias territoriais decorrentes da insero do Brasil no mercado

    mundial de Contact Center?

    Os servios prestados pelas empresas de Contact Center dependem do

    acesso a um aparato tecnolgico relativamente complexo. Apesar das operaes

    realizadas nas centrais de atendimento serem simples, a integrao entre as

    unidades das empresas viabilizada pelo domnio das tcnicas da informao. O

    acesso banda larga e a integrao entre telefonia e informtica so fundamentais

    para a eficiente comunicao dos dados corporativos.

  • 5

    O centrifuguismo (disperso) das unidades de operao combinado com a

    centralizao do controle. Entretanto, a anlise dessas foras revelam situaes mais

    intricadas. Um importante exemplo a exigncia das empresas-cliente em relao

    localizao das operaes. Destarte, em alguns casos, a disperso territorial das

    unidades de produo acompanhada da manuteno de unidades estratgicas

    (alm das sedes corporativas) nas grandes metrpoles brasileiras, como em So

    Paulo e no Rio de Janeiro. A otimizao de sistemas tcnicos (entre diferentes

    unidades das empresas) e a instalao de operaes para servirem de mostrurios

    para os clientes explicitam algumas das estratgias para a ampliao das vantagens

    da localizao nas metrpoles.

    A apropriao desigual e seletiva das redes geogrficas garante s grandes

    empresas de Contact Center o uso competitivo do territrio (SANTOS e SILVEIRA,

    2001, p. 295). As vantagens de cada lugar no so aproveitadas igualmente por

    todos os agentes. As grandes empresas desempenham um papel fundamental na

    organizao espacial, j que o Estado prov a normatizao e o equipamento do

    territrio para atender s suas demandas.

    A disperso territorial das operaes e a incorporao de reas

    desvalorizadas explicam fenmenos recentes, como a proclamao da regio

    Nordeste como a Nova ndia brasileira para os Contact Centers. A expresso no

    faz referncia s benesses decorrentes do crescimento econmico nordestino to

    anunciado pela mdia e pelos governos estaduais e federal. Ao contrrio, se trata do

    uso do desenvolvimento geogrfico desigual brasileiro. A disponibilidade de enorme

    contingente de jovens com poucas possibilidades de emprego e vastas aspiraes

    profissionais abre o caminho clera competitiva das empresas.

    A rotatividade menor e os salrios mais baixos, comparados ao Sudeste, e o

    comprometimento dos trabalhadores, atraem as empresas, mas os benefcios so

  • 6

    ainda mais amplos. Os fundamentos da guerra entre os lugares (SANTOS, 1994a;

    1996a) se ampliam e alm dos incentivos fiscais so concedidos privilgios de toda

    ordem. Os municpios oferecem terrenos e a instalao de infraestrutura para a

    efetivao dos fluxos corporativos, como rede de banda larga e sistema de

    transporte para os trabalhadores (mesmo durante a noite).

    Fora das capitais, os centros urbanos no metropolitanos tambm exercem

    atrao aos Contact Centers. O crescimento do nmero de operadores tem sido

    expressivo nas cidades interioranas, onde, no por coincidncia, so pagos os

    salrios mais baixos do pas. A construo das condies necessrias renovao da

    acumulao - tanto no que se refere infraestrutura quanto produo de normas -

    representa o ajuste espacial (HARVEY, 2006a) para a superao da tendncia

    reduo das taxas de lucro. A incorporao de novos territrios, devidamente

    equipados para a multiplicao do excedente das empresas de Contact Center,

    contribui para a reproduo das contradies inerentes acumulao.

    Entretanto, a expanso geogrfica um ajuste espacial sempre temporrio,

    visto que o capital necessita constantemente ampliar sua reproduo. Assim, os

    territrios que agora representam novas alternativas para o capital superacumulado

    passaro a concentrar o capital excedente e novas reas desvalorizadas precisaro

    ser incorporadas. Da a lgica capitalista exigir novos ajustes espaciais e constantes

    expanses geogrficas.

    As presses para insero do Brasil no mercado mundial de Contact Center

    partem dos empresrios e do Estado. O discurso hegemnico clama pela

    modernizao das leis trabalhistas brasileiras e para a adequao do territrio aos

    ditames da competitividade global. A proficincia dos trabalhadores em uma

    segunda lngua seria outra urgncia para a exportao dos atendimentos. O uso do

  • 7

    territrio brasileiro para as operaes offshore j est em curso, especialmente em

    determinas reas ajustadas ao desenvolvimento de atividades modernas.

    As novas formas de aglomerao atendem s necessidades impostas pela

    ordem da competitividade. Tais pores do territrio, vinculadas diretamente aos

    pontos centrais do capitalismo mundial, favorecem a rentabilidade das grandes

    empresas. As exigncias corporativas se referem tanto qualificao da mo-de-

    obra, que deve ser preparada para operar sistemas tcnicos de ponta, quanto s

    redes de comunicao de dados para viabilizar o controle remoto da produo,

    quase sempre localizado nos pases desenvolvidos.

    A fim de compreender como o capital se apropria do desenvolvimento

    geogrfico desigual e o reproduz nas diversas escalas, realizamos a anlise da diviso

    territorial do trabalho das empresas de Contact Center. Para tratar das contradies

    inerentes acumulao, que se materializam de forma cada vez mais intensa fora

    dos pontos centrais do capitalismo, dedicado o olhar para o outro ponto da rede,

    isto , para as reas desvalorizadas. Nestas, os ajustes impostos por uma lgica

    quase sempre externa ditam o movimento de vaivm do capital.

    Na tarefa de analisar este movimento, o trabalho foi dividido em seis

    captulos. No primeiro, intitulado Globalizao, servios e o setor de

    telecomunicaes, analisamos a gnese e a expanso das empresas de Contact

    Center no Brasil. A abertura de um novo mercado de teleatendimento, a partir da

    privatizao das companhias de telecomunicaes, no final da dcada de 1990,

    analisada luz das variveis do atual perodo da globalizao. A origem das

    principais empresas de Contact Center brasileiras e suas estratgias organizacionais,

    pautadas, sobretudo, no uso das novas tecnologias da comunicao e da informao

    tambm compem os propsitos deste captulo. Avaliamos ainda a prestao de

  • 8

    servios s empresas e as estratgias para a reduo dos custos trabalhistas,

    particularmente, por meio da intensificao da terceirizao.

    No segundo captulo, apresentamos a tipologia das empresas e dos servios

    prestados pelos Contact Centers. Para tanto, partimos da transformao das antigas

    centrais de atendimento nos atuais Contact Centers, tanto no que se refere s

    estratgias corporativas para ampliao dos lucros, quanto s condies de trabalho

    dos operadores. Neste captulo, so abordados tambm os servios de tecnologia da

    informao (TI) prestados por algumas empresas brasileiras de teleatendimento. No

    que se refere tipologia das firmas de Contact Center, alm dos diferentes servios

    prestados, so consideradas tambm a origem do capital e o porte da empresa, de

    acordo com o faturamento, as posies de atendimento e o nmero de funcionrios.

    No terceiro captulo, buscamos compreender como a apropriao desigual e

    seletiva das redes geogrficas configura-se como uma das principais expresses do

    uso corporativo do territrio. Para cumprir esta tarefa, verificamos como o uso da

    rede de fibra tica no territrio brasileiro privilgio das grandes empresas, o que

    pode ser confirmado, por exemplo, pela anlise da localizao das sedes das

    empresas de Contact Center. Abordamos as contradies inerentes seletividade

    das redes geogrficas no Brasil e a condio de excluso digital da maior parte da

    populao. Por fim, apresentamos a diviso territorial do trabalho das empresas

    Tivit, Atento e Contax como forma de elucidar as materializaes do uso corporativo

    do territrio pelas empresas de Contact Center.

    O quarto captulo trs uma anlise das condies de trabalho nos Contact

    Centers. Para alm da associao entre a informatizao das tarefas e a qualificao

    do trabalho, verificamos a extrema precarizao vivenciada pelos trabalhadores do

    ramo de teleatendimento. As diversas dimenses da flexibilidade que beneficia s

    empresas so abordadas e contrapostas rigidez persistente expressa na

  • 9

    sofisticao dos instrumentos de controle do trabalho. As inovaes tecnolgicas

    aplicadas ao alargamento da produo da mais-valia nos diversos pontos do planeta

    viabilizam a cooperao trans-espacial, ou seja, a unificao dos trabalhadores

    dispersos sob o comando do capital. A alienao impera e as possibilidades de sua

    superao so reduzidas diante da generalizao do estranhamento do trabalho.

    Novas formas de mobilizao devem ser operadas para enfrentar a constante

    ampliao da escala de ao dos representantes do capital.

    No captulo cinco, analisamos a diviso territorial do trabalho das empresas

    de Contact Center. O objetivo principal foi analisar as foras de disperso e de

    aglomerao em suas intricadas combinaes, como as estratgias corporativas para

    ampliao das vantagens locacionais nas metrpoles brasileiras e a disperso

    territorial para a incorporao de reas desvalorizadas. Neste captulo, central o

    exame do expressivo crescimento das operaes de Contact Center nos centros

    urbanos no metropolitanos e, sobretudo, das condies que atraem as empresas

    para estas localidades. Os acordos polticos e os velhos regionalismos (VAINER,

    2007) so abordados a partir da anlise das operaes da empresa Algar, em

    Uberlndia (MG). Na cidade de Santos (SP), o ajuste espacial verificado em

    projetos de revitalizao das reas centrais, que significam, na verdade, respostas

    s exigncias para a instalao das grandes empresas. Por fim, a regio Nordeste

    avaliada com especial ateno, diante de sua designao como a Nova ndia para

    as empresas de Contact Center.

    No sexto e ltimo captulo, avaliamos as decorrncias territoriais da insero

    do Brasil no mercado internacional de Contact Center. Abordamos ainda, as

    migraes das prestaes de servios de teleatendimento numa escala

    internacional, enfatizando as condies favorveis s empresas no mundo

    subdesenvolvido. Ateno particular dedicada ndia e s Filipinas, como polos de

  • 10

    prestao de servios offshore, destinados, principalmente, ao mercado norte-

    americano. No Brasil, examinamos as possibilidades e os limites da insero do

    territrio ao mercado mundial de Contact Center.

  • 11

  • 12

    1

    GLOBALIZAO, SERVIOS E O SETOR DE TELECOMUNICAES

    1.1 Gnese e consolidao das empresas de Contact Center no Brasil

    atual perodo da globalizao, entendido por Santos (1999; 2000), como o

    estgio superior de internacionalizao do modo de produo capitalista, se

    caracteriza, de acordo com Frederico (2013), pela indissociabilidade de trs

    importantes variveis: a hegemonia da ideologia e das polticas neoliberais (HARVEY,

    2004a; PECK; TICKEL, 2002); o domnio da lgica financeira nas esferas pblica e

    privada (CHESNAIS, 1996); e a centralidade da informao (SANTOS, 1996a; LOJKINE,

    1995).

    Para Peck e Tickel (2002, p. 382), assim como a retrica da globalizao, os

    discursos em defesa do neoliberalismo naturalizam as regras do mercado e, com

    isso, assumem um alinhamento com os principais interesses do poder poltico-

    econmico contemporneo. Os autores propem uma concepo processual,

    expressa pelo termo neoliberalizao, cujos efeitos so diversificados e desiguais,

    O

  • 13

    mas com incidncia e difuso mundiais. Para eles (2002, p. 38), o neoliberalismo

    surgiu como uma concepo terico-ideolgica nos Estados Unidos, na dcada de

    1970; se transformou num projeto poltico-econmico, na dcada seguinte, nos

    governos Reagan e Thatcher; para se aprofundar e adquirir uma forma mais

    tecnocrtica, difundindo-se por quase todo o planeta, a partir da dcada de 1990.

    O processo de neoliberalizao no monoltico em forma nem universal

    em vigor (PECK e TICKEL, 2002, p. 384), ao contrrio, extremamente flexvel e se

    reestrutura a cada crise que ele prprio provoca, nutrindo-se do desenvolvimento

    desigual e ampliando-se em diferentes escalas, das atividades econmicas

    especficas, s lgicas dos diferentes territrios.

    No caso brasileiro, a adoo, ainda que parcial, das diretrizes do Consenso de

    Washington, na dcada de 1990 (FIORI, 2001), promoveu, dentre outros eventos, a

    privatizao e a internalizao de grandes empresas transnacionais. O sistema

    estatal de telecomunicaes brasileiro, criado no incio da dcada de 1970 (DIAS,

    1995; 2005), foi adquirido quase que exclusivamente por corporaes

    transnacionais, abrindo novas possibilidades de acumulao para essas empresas

    (HARVEY, 2010).

    Para o setor de telecomunicaes, o neoliberalismo no representou apenas

    a chegada de grandes empresas estrangeiras, mas, sobretudo, a abertura de um

    novo mercado. Aps as privatizaes, as novas controladoras do sistema telefnico

    brasileiro criaram empresas especializadas nos servios de teleatendimento (Contact

    Center), com o objetivo de reduzir seus custos de produo. A criao dos Contact

    Centers, ao mesmo tempo em que desobrigou as teles das despesas com a mo-de-

    obra, impulsionou tambm o surgimento de novos servios: atendimento ao

    consumidor, suporte tcnico, televendas, cobrana e recuperao de crdito.

  • 14

    Dentre as principais firmas que deram origem aos primeiros Contact Centers

    no pas destacam-se: a espanhola Telefnica, criadora da empresa Atento; a Portugal

    Telecom, fundadora da Dedic; a Temex/Embratel, com a Brasilcenter; a Companhia

    de Telecomunicaes do Brasil Central (CTBC), criadora das empresas ACS e Algar

    Tecnologia; e a Telemar (atualmente Oi), com a empresa Contax. Das 20 maiores

    empresas do ramo, no ano de 2010, apenas cinco eram totalmente de capital

    nacional (ANURIO BRASILEIRO DE CALL CENTER E CRM, 2011).

    A obrigao das empresas em fornecer informaes sobre os produtos aos

    consumidores foi estabelecida pelo Cdigo de Defesa do Consumidor, em 1990, ao

    regulamentar a criao do Servio de Atendimento ao Consumidor (SAC). Porm, o

    crescimento da demanda pelos servios de teleatendimento ocorreu, sobretudo,

    com as privatizaes no final da dcada de 1990.

    Como ocorreu em outros setores, o perodo pr-privatizao foi de intensa

    precarizao dos servios de telefonia como forma de legitimar a concesso dos

    servios pblicos s empresas privadas. Como relata Dantas (1996), embora no

    faltassem recursos empresa estatal Telebrs, seus investimentos foram

    sistematicamente contidos, criando um dficit de infraestruturas e de servios que

    seria aproveitado posteriormente pelas empresas privadas.

    Para o autor (1996, p. 121), aps as privatizaes, as classes mdia e alta, j

    razoavelmente supridas de servios bsicos comearam a demandar servios

    interativos que lhes permitiriam aderir aos novos padres de consumo. Com isso,

    ocorreu uma rpida expanso no nmero de acessos a telefones fixos e celulares, de

    pouco mais de 19 milhes, em 1996, para mais de 250 milhes, em 2011 (ANATEL,

    2011) - fato que estimulou ainda mais a crescente demanda por servios de

    teleatendimento no territrio brasileiro.

  • 15

    Como ressaltado no incio do captulo, associada s polticas neoliberais, a

    financeirizao da economia tambm se constitui como uma das principais

    caractersticas do atual perodo da globalizao. Como asseveram Harvey (2004a) e

    Arrighi (1996), nos momentos de crise estrutural do capitalismo, como a que

    vivenciamos desde a dcada de 1970, o capital excedente busca incessantemente

    novas formas de valorizao, como aquelas possibilitadas pelos investimentos e

    especulaes financeiras. Como destaca Chau (2013, p. 125), o deslocamento do

    poder de deciso do capital industrial para o financeiro se tornou o centro nervoso

    do capitalismo, com o aumento da desvalorizao do trabalho produtivo e o

    privilgio mais abstrata e fetichizada das mercadorias: o dinheiro.

    importante destacar o papel dos Private Equity 1 no ramo de

    teleatendimento. Mudanas regulatrias feitas pelo Estado brasileiro, no incio da

    dcada de 2000, tornaram lcito o registro dos fundos de Private Equity, que

    deixaram de ser considerados investidores estrangeiros e passaram a desfrutar de

    isenes fiscais sobre os ganhos de capital. Com isso, os fundos financeiros

    adquiriram aes das principais empresas brasileiras, dentre elas, as de

    teleatendimento.

    A alterao da Comisso de Valores Mobilirios (CVM)2, no segundo governo

    Fernando Henrique Cardoso, regulamentou e autorizou a atuao dos diversos

    agentes financeiros do mercado brasileiro. A introduo dos Fundos de

    Investimentos em Participaes (FIPs) 3 , em 2003, flexibilizou os investimentos

    1 Private Equity um tipo de atividade financeira realizada por instituies que investem em 2 A Comisso de Valores Mobilirios (CVM) uma entidade autrquica vinculada ao Ministrio da Fazenda e tem poderes para disciplinar, normalizar e fiscalizar a atuao dos diversos agentes do mercado. 3 Os Fundos de Investimentos em Participaes so constitudos em condomnios fechados criados para o investimento na compra de participaes em empresas ou empreendimentos especficos. Alm de adquirir aes, debntures, bnus de subscrio de empresas de capital aberto ou fechado, esses fundos participam da tomada de decises da empresa, com efetiva influncia na definio da poltica estratgica e da gesto das firmas das quais tm participao.

  • 16

    estrangeiros no territrio brasileiro e concedeu benefcios tributrios aos

    investidores. A nova legislao introduzida pela CVM autorizou a participao dos

    investidores estrangeiros na gesto e administrao das empresas, com iseno total

    do Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF), apropriao dos lucros e no resgate ou

    amortizao de cotas (FREIRE, 2011).

    De acordo com o jornal Valor Econmico (28/02/2013), os Private Equity

    movimentaram mais de US$ 14 bilhes no Brasil entre 2010 e 2011. Do total de

    fuses e aquisies realizadas em 2012, 37,5% tiveram a presena dos fundos

    financeiros, percentual superior mdia mundial, de 25%.

    Em 2010, por exemplo, o fundo americano Apax Partners, tornou-se acionista

    majoritrio da empresa de teleatendimento e tecnologia da informao Tivit. Outro

    fundo de investimento americano, o Bain Capital, adquiriu, em 2012, a empresa

    Atento, antiga subsidiria do grupo Telefnica, por US$ 1,3 bilho (VALOR

    ECONMICO, 28/02/2013).

    O Bain Capital iniciou seus investimentos no ramo de teleatendimento no

    Japo, em 2009, com a compra da maior operadora do pas, a Bellsystems24. Na

    ndia, adquiriu a GenPact, em 2012, e nos EUA possui investimentos na empresa

    Stream International. A negociao com a Telefnica demonstra seu interesse na

    atuao relevante da Atento na Amrica Latina, onde pretende expandir sua base de

    clientes (callcenter.inf.br, 2013; O GLOBO, 12/10/2012).

    Assim como em outros setores, a aquisio de empresas por fundos

    financeiros representa a ampliao das possibilidades de acumulao para um

    pequeno grupo de especuladores. Os planos de aquisio so viabilizados pela alta

    capacidade de endividamento dos fundos, assegurada pela facilidade de obterem

    emprstimos com custo reduzido no mercado internacional. Para fazer com que as

  • 17

    empresas adquiridas cresam rapidamente, os Private Equity contraem dvidas muito

    maiores do que qualquer empresa estaria disposta a suportar.

    A primeira fase das operaes dos fundos de Private Equity consiste na

    deteco das potenciais empresas para o investimento. Aps a aquisio das aes,

    os emprstimos so amortizados por meio do corte dos custos das empresas. Com o

    aumento da produtividade e a diminuio das despesas, a empresa passa a ter uma

    rpida valorizao, momento em que os fundos vendem suas aes. Como o

    principal objetivo obter lucro ao vender suas participaes, o momento de sada,

    fase chamada de desinvestimento, um dos mais importantes de toda a operao

    (BONFIM, 2008, p. 33).

    Com o apoio e o consentimento estatal, os especuladores so desobrigados

    de divulgar informaes sobre a reestruturao das empresas. Para atingir a

    valorizao almejada comum o corte de custos por meio de demisses ilegais, do

    encerramento de operaes pouco lucrativas e da mudana e sobreposio de

    tarefas desenvolvidas por cada funcionrio. A atuao na gesto da empresa

    sempre por tempo determinado, a meta conseguir maior lucro no menor perodo

    possvel.

    Por fim, como ressaltado inicialmente, aliada s polticas neoliberais e

    financeirizao da economia, a emergncia das tcnicas da informao est entre os

    trs principais vetores da globalizao. O desenvolvimento das redes telemticas4

    corporativas e sua aplicao na produo e transmisso de informaes tiveram um

    papel significativo na origem e na expanso das atividades de teleatendimento.

    4 Rede telemtica o conjunto de tecnologias da informao e da comunicao resultante da integrao entre os recursos das telecomunicaes (telefonia, satlite, cabo, fibras pticas etc.) e da informtica (computadores, programas e sistemas de redes), que possibilitou o processamento, a compresso, o armazenamento e a comunicao de grandes quantidades de dados (nos formatos texto, imagem e som), em curto espao de tempo, entre usurios localizados em qualquer ponto do planeta.

  • 18

    A associao entre a informtica e as telecomunicaes possibilitou uma

    nova diviso territorial do trabalho das empresas, por meio da disperso territorial

    das diferentes etapas da produo e da centralizao do controle. A integrao

    remota entre as unidades das empresas tem redefinido a hierarquia entre os lugares

    e reas desvalorizadas 5 tm sido (re)incorporadas produo. As grandes

    corporaes, capazes de se apropriar das novas possibilidades de fluidez, usam a

    possibilidade de transferir dados e ordens como vantagem competitiva. Para Castillo

    (2003, p. 9), a competitividade atual orientada pela preciso, qualidade e rapidez

    das relaes intra e interfirmas, no podendo prescindir da combinao entre

    telecomunicaes e informtica.

    Para o ramo de teleatendimento, o desenvolvimento das novas tecnologias

    da informao e da comunicao (NTIC) possibilitou uma mudana estratgica e

    organizacional nas centrais de atendimento, como eram chamados, at o incio da

    dcada de 2000, os locais onde os atendentes realizavam contatos por telefone com

    os clientes. Alm dos tradicionais servios de telemarketing, as centrais passaram a

    agregar um nmero ainda maior de servios, com o uso de mdias diversas, passando

    a ser denominadas de Contact Centers.

    O novo termo designa a prestao de servios integrados e de maior

    complexidade, com base em um nmero maior de informaes sobre os

    consumidores, tais como: renda, local de residncia, faixa etria, escolaridade e

    periodicidade e tipologia das compras. Os novos mtodos de gesto da informao

    permitiram a manipulao de bancos de dados cada vez mais complexos, capazes de

    cruzar preferncias e traar o perfil do potencial consumidor, adequando-se ao novo

    regime de acumulao flexvel6 (HARVEY, 2004a; BENKO, 2001).

    5 Aquelas que permitem maiores taxas de acumulao pelo capital devido aos menores custos de produo, sobretudo, de mo-de-obra. 6 Acumulao flexvel o termo utilizado por David Harvey (2004a) para caracterizar o novo padro de acumulao capitalista, a partir da dcada de 1970, enfatizado pela flexibilidade nos processos de

  • 19

    O atual perodo da globalizao, caracterizado pela associao entre as

    tcnicas da informao, as polticas neoliberais e a financeirizao da economia, o

    contexto em que se expandem as atividades de Contact Center. Sua distribuio

    territorial a expresso da apropriao do desenvolvimento geogrfico desigual

    (SMITH, 1988; HARVEY, 2006a) pelos representantes do capital. A rpida propagao

    das operaes no mercado brasileiro e mundial no seria possvel, com tamanha

    intensidade e profuso, sem a associao entre os eventos de ordem tcnica e

    poltica supracitados.

    1.2 Terceirizao dos servios de teleatendimento e precarizao do trabalho como estratgia competitiva

    A gnese e a expanso das atividades de Contact Center esto intimamente

    relacionadas ao atual perodo de mundializao do capital e de forte externalizao

    das atividades das grandes corporaes. Como salienta Chesnais (1996, p. 28), as

    redes mundiais privadas de telecomunicaes permitem a extenso das relaes de

    terceirizao, particularmente, entre empresas dispersas territorialmente, bem

    como a deslocalizao de tarefas rotineiras das indstrias.

    Para Castillo (2000), as alteraes no regime de produo fordista para a

    acumulao flexvel e suas diversas formas hbridas, conferiram maior relevncia

    informao em todo o ciclo de produo, distribuio, consumo, e, sobretudo, na

    gesto dos fluxos. Segundo Lojkine (1995), o atual perodo caracteriza-se por uma

    verdadeira Revoluo Informacional, decorrente da interconexo entre a produo

    e a esfera dos servios, isto , a informao deixa de ser apenas utilizada, para ser

    tambm produzida, conformando-se como uma mercadoria. Dessa forma, como

    analisado por Silva (2001, p. 107), as corporaes, ao produzir e comercializar

    produo e do trabalho, expressos, principalmente, por novos padres da diviso territorial do trabalho, da regulao estatal e do consumo.

  • 20

    informaes na forma de banco de dados, consultoria e assessoria, promovem uma

    maior aproximao entre os setores produtivo e de servios.

    Kon (2004, p. 37) enfatiza o crescimento dos servios prestados s empresas,

    caracterizados como intensivos em conhecimento e informao. Para a autora, as

    divises tradicionais entre manufatura e servios no fazem mais muito sentido, j

    que em certos setores manufatureiros de alta tecnologia, o trabalho de pesquisa e

    desenvolvimento de produtos torna-se fundamental. Na atualidade, cada vez mais

    tais atividades tm sido transferidas para o setor de servios por intermdio da

    terceirizao.

    Como demonstra Cavalcante (2003), a transferncia de atividades para

    outras empresas no setor de telecomunicaes brasileiro ocorre desde a dcada de

    1970. Porm, com as privatizaes, na dcada de 1990, a terceirizao se expandiu e

    alcanou praticamente todas as reas das empresas. Para o autor, aps as

    privatizaes, tornou-se recorrente o discurso da reduo de custos por meio da

    externalizao de atividades secundrias.

    No Brasil, a estratgia de transferncia dos custos trabalhistas foi dissimulada

    pela ideia de especializao e criao de atividades modernas e qualificadas,

    supostamente desempenhadas pelas empresas subcontratadas. Tais prticas

    corporativas foram apoiadas pelo discurso da competitividade, que de acordo com

    Ardinat (2012), trata-se de uma singular unanimidade proclamada como

    prioridade absoluta, no se restringindo apenas ao meio empresarial, incorporando

    tambm cidades e regies.

    Como asseveram Marcelino e Cavalcante (2012), a partir da dcada de 1990,

    a terceirizao passou a ter um lugar preciso no mercado de trabalho brasileiro, se

    tornando o mais importante recurso estratgico das empresas para a gesto e a

    reduo dos custos com a fora de trabalho. Com isso, ao invs da suposta

  • 21

    transferncia de tarefas que deveriam ser desempenhadas por empresas

    especializadas, com trabalhadores mais qualificados, a nfase dada reduo dos

    custos, por meio do enxugamento dos quadros funcionais e da precarizao das

    relaes de trabalho. Para os autores, a terceirizao todo processo de

    contratao de trabalhadores por empresa interposta, cujo objetivo ltimo a

    reduo de custos com a fora de trabalho e/ou a externalizao dos conflitos

    trabalhistas.

    As transformaes decorrentes da privatizao do setor de telecomunicaes

    brasileiro deu origem a uma nova estratgia para a ampliao da terceirizao, com

    a criao de novas empresas, como o caso das operadoras de Contact Center. A

    dispensa de um grande nmero de funcionrios das empresas de telecomunicaes

    fazia parte da reorganizao produtiva do setor, e no raro, os ex-funcionrios eram

    contratados pelas empresas de teleatendimento recm-criadas para desempenhar

    funes iguais ou semelhantes s que desempenhavam antes. Como mencionado na

    seo anterior, os principais exemplos so as empresas Atento, Contax e Brasil

    Center, que nasceram como subsidirias e com vnculos patrimoniais com as

    companhias telefnicas que lhes deram origem, respectivamente, a Telefnica, a

    Telemar e a Embratel.

    Como no plano jurdico a terceirizao restrita atividade-meio, ou seja,

    aquela que no a atividade central da empresa, as operaes transferidas das

    teles para as operadoras de Contact Center tornaram-se alvo de intenso debate. O

    Tribunal Superior do Trabalho no definiu uma posio consensual nos processos

    julgados. O reconhecimento das atividades de teleatendimento como forma lcita de

    terceirizao pelas empresas telefnicas tem se apoiado em argumentos associados

    ao ganho de produtividade e eficincia, alcanados, supostamente, pela

    especializao. Nesses casos, a distino entre atividade meio e atividade fim

  • 22

    defendida pela suposta necessidade de concentrao dos esforos no interesse

    central da empresa.

    Em outra perspectiva, o carter ilcito da terceirizao do teleatendimento

    pelas empresas de telecomunicaes tem sido associado aos efeitos precarizantes

    da terceirizao e ao desrespeito aos direitos fundamentais conquistados pelos

    trabalhadores, como o princpio da isonomia salarial.

    A especializao dos servios prestados e a gerao de emprego qualificado

    esto entre os contrassensos proclamados pelos setores empresariais na tentativa

    de justificar a terceirizao. Entretanto, a realidade do trabalho nas centrais de

    atendimento expressa justamente o contrrio: a simplificao, a falta de autonomia

    e a desqualificao.

    1.3 Expanso e caractersticas dos Contact Centers brasileiros

    O ramo de teleatendimento brasileiro, praticamente inexistente antes das

    privatizaes, teve um crescimento expressivo entre 1999 e 2011, com aumento

    mdio de 15% a.a. no seu faturamento, ao passar de R$ 95,9 milhes para R$ 9,76

    bilhes (callcenter.info.br, 2012). O nmero de posies de atendimento (PAs)

    tambm aumentou sensivelmente no perodo, de 5.078 para 228.576, como

    demonstrado na tabela 1.

    Tabela 1. Crescimento do nmero de PAs e do faturamento no ramo de Contact

    Center, Brasil, 1999 - 2011 Ano 1999 2003 2007 2011

    PAs 5.078 46.747 151.563 228.576

    Faturamento (milhes R$)

    95,9 2.150 4.820 9.766

    Fonte: Anurio Brasileiro de Call Center e CRM, 2011/2012; callcenter.inf.br/ranking, 2013. Na mesma direo, os dados do Cadastro Geral de Empregados e

    Desempregados (CAGED), do Ministrio do Trabalho e Emprego, demonstram que o

  • 23

    nmero de operadores de telemarketing tambm teve um crescimento

    expressivo: de 125.154, em 2003, para 413.979, em 2011, aumento de 231%. Neste

    ltimo ano, a regio Sudeste concentrava 73% dos operadores brasileiros, seguida

    pela regio Nordeste, com 11%, Sul, com 9%, Centro-Oeste, com 7%, e Norte, com

    apenas 1%. Somente o estado de So Paulo detinha pouco mais da metade do total

    do nmero de operadores, com 210.981, seguido pelos estados de Minas Gerais,

    com 44.831, e Rio de Janeiro, com 40.652. A cidade de So Paulo possua, no mesmo

    ano, 122.959 operadores, 23% do total brasileiro.

    Apesar da regio Sudeste, em particular o estado de So Paulo, ainda

    concentrar o maior percentual do nmero de operadores, o ritmo de crescimento

    entre os estados e regies brasileiras tem se alterado nos ltimos anos. At 2008, o

    estado de So Paulo juntamente com os estados da regio Sul possuam, em geral,

    um crescimento anual superior ao da regio Nordeste. A partir daquele ano, a

    situao se inverteu, com a instalao de grandes empresas de teleatendimento na

    regio nordestina. Desde ento, enquanto o crescimento em So Paulo, no Rio de

    Janeiro e nos estados da regio Sul ficou em apenas um dgito, com crescimento

    negativo em alguns anos, a regio Nordeste verificou um incremento anual mdio de

    15%. Nos anos de 2010 e 2011, enquanto todos os estados da regio Sul e o Rio de

    Janeiro obtiveram reduo no nmero de operadores, a regio Nordeste obteve um

    crescimento mdio de 16%.

    A exceo na regio Sudeste foi o estado de Minas Gerais, que apesar de ter

    sofrido uma queda de 6% no nmero de operadores no ano de 2008, teve um

    crescimento mdio de 11% ao ano, entre 2009 e 2011. Em Minas Gerais, destaca-se,

    sobretudo, o crescimento significativo do nmero de operadores em cidades como

    Montes Claros, Uberlndia e Juiz de Fora, alm da Regio Metropolitana de Belo

    Horizonte.

  • 24

    No Nordeste, o crescimento concentrou-se principalmente nas Regies

    Metropolitanas de Salvador, Recife e Fortaleza, nas capitais Natal (RN), Joo Pessoa

    (PB), Macei (AL), Aracaj (SE), Teresina (PI) e So Luiz (MA) e em algumas cidades

    do interior, como Caruar (PE), Feira de Santana (BA) e Campina Grande (PB). O

    mapa a seguir mostra a distribuio do nmero de operadores por municpio em

    2011 e o percentual de crescimento entre 2003 e 2011.

  • 25

    Mapa 1. Nmero de operadores por municpio em 2011 e percentual de crescimento, Brasil, 2003 - 2011

    Ao contrrio dos estados da regio Nordeste, no Sul e Sudeste, o aumento

    percentual no nmero de operadores foi mais significativo fora das principais

  • 26

    Regies Metropolitanas7 entre 2003 e 2011. Enquanto no Sudeste, o aumento nas

    Regies Metropolitanas foi de 225%, nas demais cidades foi de 316%. No Sul, a

    respectiva relao foi de 109%, nas Regies Metropolitanas, para 144%, nas demais

    cidades. No estado de So Paulo, enquanto a Regio Metropolitana cresceu 230%, o

    restante do estado cresceu 335%. Situao semelhante de Minas Gerais, onde a

    Regio Metropolitana de Belo Horizonte teve um aumento de 307%, enquanto o

    interior cresceu 549%, no mesmo perodo.

    No Nordeste, a situao se inverte, as Regies Metropolitanas de Salvador,

    Recife e Fortaleza tiveram um crescimento conjunto de 414%, enquanto as demais

    cidades cresceram 316%. Outro fato relevante que no Sul e Sudeste os operadores

    esto distribudos em um nmero maior de cidades, quando comparado ao

    Nordeste. Nesta Regio, poucas cidades do interior se destacam com relao ao

    nmero e ao crescimento percentual dos operadores, como pode ser visualizado no

    Mapa 1.

    Os dados demonstram, portanto, que o crescimento no nmero de

    operadores tem sido mais expressivo na regio Nordeste, em particular nas suas trs

    grandes Regies Metropolitanas, e nas cidades do interior dos estados de So Paulo

    e Minas Gerais. A diferenciao espacial do ritmo de crescimento do nmero de

    operadores corrobora com dois movimentos mais gerais: a involuo

    metropolitana de So Paulo (SANTOS, 1996b), caracterizada pelo crescimento

    econmico do interior superior ao da metrpole paulistana; e o significativo

    crescimento econmico e a instalao de atividades modernas na regio Nordeste,

    sobretudo, a partir da segunda metade da dcada de 2000. Ambas as questes so

    analisadas de maneira mais detalhada no Captulo 5.

    7 Para a comparao dos dados foram consideradas as nove Regies Metropolitanas: Porto Alegre, Curitiba, So Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Fortaleza e Belm.

  • 27

    Alm da distribuio espacial, outra caracterstica importante do trabalho

    nos Contact Centers o predomnio da mo-de-obra feminina e do emprego de

    trabalhadores com ensino mdio completo, geralmente cursando o ensino superior.

    O mapa a seguir apresenta o nmero de operadores por estado e a escolaridade dos

    trabalhadores.

    Mapa 2. Escolaridade e nmero de operadores por estado, Brasil, 2011

  • 28

    De maneira geral, a qualificao da maior parte dos operadores empregados

    nos Contact Centers brasileiros baixa quando comparada a outros pases8: 89%

    deles possuem ensino mdio completo e apenas 6% possuem formao superior. Os

    estados que detm o maior percentual de trabalhadores com apenas o ensino

    fundamental completo so: Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Minas Gerais, com,

    respectivamente, 18%, 13% e 11% do total. Do outro lado, os trs estados que

    possuem o maior percentual de operadores com ensino superior so Paran, Paraba

    e Sergipe, todos com 10% dos trabalhadores graduados (MTE/CAGED, 2013).

    Ao contrrio do que se poderia imaginar, enquanto alguns estados das

    regies Sul e Sudeste possuem baixo percentual de operadores com ensino superior,

    como Rio Grande do Sul (4%) e So Paulo (5%), no Nordeste, quatro estados

    superam a mdia nacional de 5% (Paraba, Sergipe, Rio Grande do Norte e Piau). A

    presena de operadores relativamente mais qualificados na regio Nordeste pode

    significar a falta de oportunidade de emprego em outras reas para esses

    profissionais, o que faz com que os trabalhadores se submetam atividade exaustiva

    e mal remunerada nos Contact Centers.

    Os dados demonstram a inconsistncia do discurso que vincula as atividades

    do setor de servios alta qualificao dos trabalhadores. Ao contrrio do que

    levianamente divulgado, os operadores no so capacitados pelos treinamentos das

    empresas de Contact Center, tampouco iniciam uma carreira profissional a partir do

    primeiro emprego no setor. A grande maioria dos trabalhadores possui o ensino

    mdio como escolaridade mxima e um percentual muito pequeno est inserido no

    ensino superior. As tarefas realizadas nas centrais de atendimento so simples,

    repetitivas e exaustivas, e no dependem de criatividade e reflexo. Os

    atendimentos so padronizados e a tecnologia utilizada restrita e no permite que 8 No Captulo 6 feita uma anlise comparativa mais detalhada da escolaridade dos operadores de Contact Center em diferentes pases.

  • 29

    o operador tome decises, qualquer imprevisto deve ser encaminhado ao supervisor

    imediato.

    Como ressaltado anteriormente, outro aspecto importante do trabalho nos

    Contact Centers o uso majoritrio de mo-de-obra feminina. O percentual de

    mulheres empregadas no ramo de teleatendimento brasileiro em 2011 era de 78%.

    A variao nos diferentes estados em relao mdia nacional muito pequena, de

    83% de mulheres empregadas no Maranho e no Piau, a 68% em Gois. O mapa a

    seguir apresenta o percentual de operadores por gnero nos estados brasileiros.

  • 30

    Mapa 3. Gnero e nmero de operadores por estado, Brasil, 2011

    Somente o estado de So Paulo empregava mais de 166 mil operadoras,

    Minas Gerais quase 36 mil, Rio de Janeiro cerca de 30 mil e nos estados do Nordeste

    mais de 35 mil mulheres trabalhavam nos Contact Centers. Alm de representarem a

  • 31

    maior parte da mo-de-obra empregada, as mulheres recebem salrios inferiores

    aos dos homens. O salrio mdio pago, em 2011, a uma operadora no Brasil foi de

    R$ 772,00, enquanto um operador recebeu R$ 840,00, diferena de 11%. Os estados

    com a maior disparidade entre os salrios foram: Rio Grande do Sul, Distrito Federal

    e So Paulo, onde as mulheres ganhavam 15% a menos, seguidos pelo Rio de

    Janeiro, com diferena de 10%.

    Ao contrrio do que se poderia esperar, nos estados do Nordeste, as

    mulheres recebem em mdia salrios superiores aos dos homens, com exceo da

    Bahia e de Pernambuco, onde os homens ganham, respectivamente, 7% e 6% a mais.

    J nos principais estados empregadores como So Paulo, Minas Gerais, Rio de

    Janeiro e Paran, a disparidade do salrio muito prxima mdia brasileira de

    11%, em favor dos trabalhadores do sexo masculino.

    Como assevera Nogueira (2009, p. 188), apesar de a precarizao atingir

    enorme contingente da classe trabalhadora, ela tem sexo. Segundo a autora, a

    flexibilizao do trabalho feminino, que instituiu, dentre outras normas, a jornada

    em tempo parcial e remuneraes inferiores ao salrio mnimo, s foi possvel com o

    consentimento de toda a sociedade. Assim, h uma espcie de acordo social que

    legitima a conciliao entre a vida familiar e a profissional como uma

    responsabilidade exclusiva do sexo feminino.

    A compreenso do trabalho e do salrio da mulher apenas como

    complementares renda familiar, ainda que ele tenha se tornado cada vez mais

    representativo, contribui para a desigualdade e a vulnerabilidade da mulher no

    mercado de trabalho. A jornada de trabalho de seis horas no ramo de

    teleatendimento comumente associada possibilidade de conciliar o emprego

    com os estudos e com os afazeres domsticos.

  • 32

    Porm, os relatos observados nos trabalhos de campo demonstraram como a

    condio de trabalho das operadoras reflete o preconceito e a subordinao da

    mulher, o que corrobora para a desigual diviso sexual do trabalho. As punies s

    ausncias para o acompanhamento dos filhos em consultas mdicas e em

    internaes e as presses para o cumprimento de metas distanciam o emprego da

    possibilidade de realizao profissional, e o transforma num mal necessrio, apenas

    para atender s necessidades mais imediatas de sobrevivncia.

    Outro aspecto recorrente nas entrevistas eram os insultos e assdios sofridos

    durante os atendimentos, quando os clientes desqualificam o trabalho das

    operadoras e no raramente pediam para ser transferidos para um funcionrio

    com um cargo mais elevado9.

    A insero da mulher no mercado de trabalho tem sido consolidada de forma

    precria e desigual e as atividades nos Contact Centers contribuem para a

    manuteno dessa ordem. A explorao do enorme contingente de mo-de-obra

    feminina nas operaes de teleatendimento intensifica a submisso e o desrespeito

    mulher e reproduz as injustias expressas na diviso sexual do trabalho.

    9 Uma importante e detalhada anlise do trabalho feminino nos Contact Centers foi realizada por Nogueira (2006).

  • 33

  • 34

    2

    OS CONTACT CENTERS NO TERRITRIO BRASILEIRO: TIPOLOGIA DAS EMPRESAS E DOS SERVIOS PRESTADOS

    2.1 Das centrais de atendimento aos Contact Centers

    nicialmente, os atuais Contact Centers eram denominados de centrais de

    atendimento, pois suas funes restringiam-se a operaes mais simples,

    associadas soluo de dvidas e s reclamaes dos consumidores. Bagnara e

    Marti (2001), ao analisarem a evoluo das centrais de atendimento nos Estados

    Unidos, afirmam que na dcada de 1960, elas funcionavam apenas como claim

    offices (escritrios de reclamaes), com a funo de facilitar a comunicao entre o

    cliente e a empresa.

    Para os autores, as inovaes tecnolgicas e a mudana de comportamento

    do consumidor, que passou a exigir assistncia para o uso dos produtos adquiridos,

    resultaram em transformaes estruturais nas centrais de atendimento. Os antigos

    escritrios de reclamaes (claim office) evoluram para claim factory (fbrica de

    reclamaes), na dcada de 1970; depois para os chamados communication node

    I

  • 35

    (pontos de comunicao), uma dcada mais tarde; at finalmente, nos anos 1990,

    passarem a ser denominados de selling node (pontos de venda). Cada etapa agregou

    mudanas tcnicas e operacionais, fazendo com que as empresas pudessem auferir

    maiores lucros por meio da prestao de servios de teleatendimento.

    A transio inicial para as denominadas claim factories decorreu do aumento

    no nmero de consumidores atendidos e da prestao de assistncia mais

    especializada, como o suporte tcnico. Ainda que as reclamaes representassem a

    maior parte dos atendimentos na dcada de 1970, o uso de novos objetos tcnicos,

    tais como o Distribuidor Automtico de Chamadas (DAC), elevou a produtividade das

    centrais de atendimento com o gerenciamento das filas das chamadas,

    transformando-as em verdadeiras fbricas de servios (BAGNARA e MARTI, 2001).

    Posteriormente, as claim factories (fbricas de servios) transformaram-se

    em communication nodes (pontos de comunicao), ao ampliar e diversificar o

    motivo dos contatos com os clientes. Os operadores tinham de ter grande

    capacidade de comunicao e de gerenciamento de conflitos. Por fim, na dcada de

    1990, as centrais de atendimento passaram a ser denominadas selling nodes, ao

    integrar as estratgias corporativas de cuidar e reter clientes. Os novos pontos de

    venda tornaram-se uma ferramenta para a ampliao da acumulao ao agregar

    outras funes, tais como as novas formas de marketing, propagandas, testes e

    promoes.

    No territrio brasileiro, a popularizao das centrais de atendimento est

    associada criao, em 1990, do Cdigo de Defesa do Consumidor, que obrigou as

    empresas a fornecer aos consumidores informaes sobre produtos e servios. A

    constituio dos Servios de Atendimento ao Consumidor (SAC) se insere no

    movimento que teve incio na dcada de 1970, com a instituio do Grupo Executivo

    de Proteo ao Consumidor (PROCON) e da Associao de Defesa e Orientao do

  • 36

    Consumidor (ADOC), dentre outras organizaes que expressam a normatizao e a

    fiscalizao dos setores varejistas e industriais, como o Instituto Nacional de

    Metrologia (INMETRO).

    A partir da dcada de 1990, com a criao das chamadas 0800, muitas

    empresas passaram a disponibilizar servios gratuitos de telefonia. Inicialmente, a

    maior parte das chamadas feitas pelos consumidores consistia no atendimento pr e

    ps-venda, com a requisio de informaes sobre produtos e servios e

    reclamaes. As respostas oferecidas pelas centrais de atendimento eram simples,

    padronizadas e, no geral, no resolviam os problemas dos clientes. Como no havia

    uma integrao com os demais setores da empresa, no era possvel fornecer

    informaes mais complexas ou suporte tcnico ao consumidor.

    Do mesmo modo que ocorreu nos Estados Unidos, as centrais de

    atendimento brasileiras tambm foram apropriadas como forma de gerar mais lucro

    s empresas, ainda que inicialmente representassem apenas custos para as

    corporaes.

    As privatizaes das empresas estatais de telecomunicaes, no final da

    dcada de 1990, e a emergncia das novas tecnologias da comunicao e da

    informao permitiram a transformao das antigas centrais de atendimento

    brasileiras em verdadeiras unidades de informao (SILVEIRA, 2006). Para a

    autora, o compartilhamento de dados e, especialmente, a constante produo de

    novas informaes ampliou as funes inicialmente atribudas s centrais.

    O trabalho dos operadores tambm ganhou uma nova cadncia, com o

    aumento da presso para a soluo de problemas inesperados e para o

    cumprimento de metas. A partir de ento, os operadores podiam conectar

    diferentes bancos de dados, fazendo com que a sobreposio de tarefas caracteriza-

    se a nova rotina dos operadores. Alm do registro das dvidas e reclamaes dos

  • 37

    consumidores, os operadores passaram a aproveitar o contato para a oferta de

    novos produtos. O bom relacionamento com o cliente ficou a cargo do operador,

    obrigado a solucionar os problemas no menor tempo possvel, obter novas

    informaes e alimentar os bancos de dados, alm de oferecer novos servios

    adequados ao perfil de cada consumidor.

    O uso cada vez mais intenso das novas tecnologias exigiu do trabalhador

    agilidade na anlise das informaes transmitidas nos atendimentos. O operador,

    alm de chamar o cliente pelo nome, precisa reconhecer como cada consumidor

    classificado pela empresa e identificar o melhor caminho para a efetivao de novos

    negcios, distinguindo quais produtos devem ser ofertados, quais valores de crditos

    podem ser autorizados, dentre outras abordagens.

    O aumento da produtividade e a maior eficincia dos Contact Centers esto

    associados ao uso de determinados sistemas tcnicos, como o Distribuidor

    Automtico de Chamadas (DAC); a Unidade de Resposta Audvel (URA) e,

    especialmente, a Telefonia Integrada ao Computador, denominada de Computer-

    Integrated Telephony (CTI). O quadro a seguir apresenta os principais equipamentos

    que passaram a compor os Contact Centers.

  • 38

    Quadro 1. Principais sistemas tcnicos dos Contact Centers

    Sistemas Tcnicos Funes

    DAC (Distribuidor Automtico de Chamadas) Sistema de distribuio e roteamento de chamadas para a organizao de filas de espera de acordo com critrios predefinidos.

    PABX (Sigla em ingls para Troca Automtica de Ramais Privados)

    Equipamento que administra as chamadas externas (recebidas ou efetuadas) e realiza sua distribuio automtica entre os operadores internos s empresas.

    URA (Unidade de Resposta Audvel) Dispositivo que fornece informaes para a realizao do autoatendimento.

    CTI (Sigla em ingls para Integrao entre Computador e Telefonia)

    Integrao entre os sistemas telefnicos e computacionais que permite a troca de informaes simultaneamente ao atendimento.

    CRM (Sigla em ingls para Gesto de Relacionamento com o Cliente)

    Conjunto de ferramentas para orientao das estratgias corporativas para o aumento dos lucros de cada cliente a partir do armazenamento de informaes sobre as interaes com a empresa.

    Fonte: Elaborao prpria a partir dos portflios de servios das empresas

    O DAC um sistema telefnico que permite o atendimento automtico das

    chamadas e a organizao de filas. Quando o cliente faz a ligao, o DAC pode

    encaminh-la para um operador disponvel, para uma fila de espera ou ainda para

    uma Unidade de Resposta Audvel (analisada a seguir). Com isso, as chamadas tm

    menos chances de receberem sinal de ocupado, o que evita que o usurio desista

    da ligao.

    A integrao do DAC com outros componentes, como os gerenciadores PBX

    (sigla em ingls para troca automtica de ramais privados), permite o transbordo das

    chamadas para outros ramais, inclusive para unidades da empresa instaladas em

    outro municpio. O DAC permite classificar os clientes a partir de critrios pr-

    estabelecidos. Com isso, possvel dar prioridade aos clientes mais importantes, o

    que pode ser feito em todos os canais utilizados: nas chamadas telefnicas, por e-

    mail ou chat, e nos atendimentos via Web. O DAC tambm registra o histrico de

    dados e atendimentos, alm da gerao de relatrios.

    A Unidade de Resposta Audvel (URA) o aparelho que permite o

    encaminhamento automtico da chamada e o autoatendimento a partir de menus

  • 39

    de opes. No geral, a URA um computador convencional com um hardware

    especfico que agrega as funes de telefonia, como: atender, discar e reconhecer

    dgitos e fala. As principais tarefas realizadas pela URA so o pr-atendimento e o

    roteamento das chamadas para as posies de atendimento de acordo com a opo

    informada pelo cliente.

    Algumas operaes mais simples podem ser feitas automaticamente, por

    meio do autoatendimento. Por exemplo, ao ligar para uma operadora de carto de

    crdito, as funes podem ser apresentadas em um menu inicial: digitar 1, para

    bloqueio ou desbloqueio do carto; digitar 2, para saldo ou extrato; digitar 3, para o

    cancelamento em caso de perda ou roubo, etc. Outros procedimentos tambm

    podem ser realizados sem a mediao de um atendente, tais como o acesso a

    endereos de empresas, horrios de funcionamento ou agendamento de servios.

    Quando a ligao encaminhada para o operador, ele dispe de todas as

    informaes do cliente na tela de seu computador, fornecidas no pr-atendimento e

    pelo histrico registrado. A oferta do servio ou do produto mais adequado a cada

    situao guiada por bancos de dados integrados ao sistema de telefonia. Trata-se

    da tecnologia CTI (Telefonia Integrada ao Computador, traduo da sigla em ingls),

    que permite integrar uma rede telefnica a terminais de computadores ligados em

    rede e controlados por softwares especficos para as operaes de Contact Center.

    No CTI, os softwares so utilizados tanto para os procedimentos mais

    simples, como o controle da velocidade de discagem e o preenchimento dos dados

    do cliente, quanto para as operaes mais complexas, como a distribuio das

    chamadas entre as unidades da empresa.

  • 40

    Figura 1. Funcionamento do Contact Center

    Fonte: Elaborao prpria

    A centralizao dos dados e, principalmente, a combinao de ferramentas

    para o acesso gil e eficiente a todas as informaes esto entre as principais

    funes desempenhadas pelos softwares de Customer Relationship Management

    (CRM), isto , de gesto de relacionamento com o cliente. Alm do registro e do

    tratamento das informaes, o CRM permite separar os contatos por tipos de

    clientes ou de fornecedores e, especialmente, organizar e expor todas as

    informaes de forma simples e visvel durante os atendimentos.

    A hierarquizao dos consumidores realizada a partir do histrico de

    vendas e da identificao de afinidades e preferncias. Ao identificar os principais

    clientes, isto , aqueles que respondem pela maior parte dos lucros da empresa, as

    estratgias de venda so direcionadas para este grupo. A oferta de produtos ou

    servios associados a compras anteriores um dos exemplos das possibilidades de

    atuao dos softwares de CRM. Os servios de atendimento ps-venda tambm so

    revertidos em informaes, tais como: os horrios crticos quando a maior parte dos

    clientes entra em contato; quais so os clientes com maior insatisfao; dentre

    outras variveis que podem ser aplicadas em novas formas de ao da empresa.

  • 41

    As operaes de teleatendimento que antes eram restritas ao final de um

    processo, ou seja, soluo de problemas e reclamaes, fidelizao do cliente ou

    realizao de uma venda, ganharam novas atribuies. A informao se tornou a

    matria-prima e a fonte de energia para o funcionamento dos Contact Centers, que

    alm de produzi-las passaram a comercializ-las por meio de servios de

    consultorias, planejamento de campanhas publicitrias, pesquisas de mercado e

    gerenciamento logstico.

    2.2 Tipologia dos servios de Contact Center

    O desenvolvimento do ramo de teleatendimento acompanhou as

    transformaes tcnicas e polticas ocorridas no territrio brasileiro na virada do

    milnio. O imperativo da competitividade (SANTOS, 1999b), em um mercado cada

    vez mais globalizado, imps um novo ritmo aos fluxos corporativos, especialmente,

    no que se refere produo e transmisso de dados entre as empresas.

    O uso das novas tecnologias da comunicao e da informao (NTCI) ampliou

    os canais de contato com os consumidores e possibilitou a prestao de mltiplos

    servios na mesma chamada. Do ponto de vista das condies polticas, a

    terceirizao dos servios de atendimento ao consumidor foi instituda e

    intensificada em nome da ampliao dos lucros, especialmente pela economia de

    escala, isto , pela expanso da capacidade de produo sem o aumento

    proporcional dos custos.

    Apesar dos servios de teleatendimento manterem uma estreita ligao

    entre si e dependerem de uma complexa infraestrutura para o compartilhamento

    dos dados, possvel dividi-los em trs grupos: o primeiro compreende as atividades

    gerais de teleatendimento; o segundo est relacionado s vendas e gesto dos

  • 42

    negcios; e o terceiro abrange atividades especficas de TI, associadas ao

    fornecimento e manuteno de infraestrutura tecnolgica.

    O Quadro 2 apresenta as trs principais atividades prestadas pelas

    operadoras de Contact Center. Os servios ofertados so amplamente diversificados,

    tanto em relao ao valor agregado, como no que se refere aos sistemas tcnicos

    demandados. Os Contact Centers podem ser contratados para atividades mais

    simples, como os servios de atendimento e os servios orientados venda, ou

    para atividades mais complexas como os servios associados gesto das

    empresas-clientes.

  • 43

    Quadro 2. Principais servios prestados pelos Contact Centers

    Servios de Atendimento

    Informao Comercial

    Divulgao de produtos, projetos e atividades desenvolvidas para consumidores e mercado em geral

    Gesto de Reclamaes

    Contato direto entre os consumidores e a empresa, para atendimento s reclamaes, encaminhamento de solues dos problemas e registro de informaes para maior eficincia dos negcios e servios

    Fidelizao Extrair maiores lucros dos clientes ativos, prestando servios e informaes ps-venda e oferta de produtos associados ao perfil do cliente

    Reteno Promover reteno e recuperao de consumidores, principalmente os mais lucrativos para a empresa Suporte Tcnico

    Fornecer apoio tcnico durante a prestao de servios, pr e ps-venda

    Estudos de Satisfao

    Aferir o grau de satisfao dos consumidores e manter bancos de dados capazes de guiar as estratgias comerciais

    Servios Orientados Venda

    Planejamento de Campanhas

    Anlise de informaes para a definio de estratgias de acordo com o perfil do consumidor e dos potenciais clientes para cada tipo de servio prestado

    Televendas Realizao de chamadas ativas e otimizao das chamadas recebidas para a oferta de servios e produtos de acordo com o perfil do consumidor

    Otimizao de Vendas

    Aproveitar o contato com os clientes para realizar o cross selling (venda de bens e servios) e o up selling (venda de atualizaes e complementos de algum bem ou servio)

    Servios Associados Gesto das Empresas-clientes

    Business Process Outsourcing (BPO)

    Terceirizao de Processos do Negcio, isto , oferta de servios integrados, com alta tecnologia para gesto informacional das empresas-clientes, visando otimizar tarefas e diminuir os custos

    Business-to-Business

    Gesto de relacionamento entre a empresa-cliente e as demais empresas

    Gesto de recebveis

    Anlise e aprovao de crdito e estratgias de cobrana e recuperao de crdito do cliente final (pessoa fsica ou jurdica)

    Estratgias comerciais

    Aquisio de novos contratos entre os clientes e investimentos na conquista de novos consumidores, operaes de reteno e fidelizao

    Fonte: adaptado de Silva Neto, 2005

    Os servios de atendimento consistem na divulgao de informao

    comercial, na gesto de reclamaes, fidelizao e reteno dos clientes, no

    fornecimento de suporte tcnico e na realizao de estudos de satisfao. Alm das

    tradicionais abordagens de ateno ao consumidor (informao e reclamao), as

    polticas de fidelizao e de reteno dos clientes representam tambm alguns

  • 44

    exemplos de como as empresas se apropriaram da estrutura dos servios de

    atendimento para elevar ao mximo seus benefcios.

    Como o custo para angariar novos clientes e convenc-los a adquirir um novo

    produto mais elevado do que ampliar o lucro advindo de um cliente habitual, o

    objetivo das polticas de fidelizao e reteno fortalecer o relacionamento com

    os consumidores, ou seja, aumentar o percentual de participao de cada cliente.

    A intensificao da comunicao com o consumidor visa, portanto, a oferta

    de produtos e servios, ainda que associada ou disfarada de assistncia ou de

    proteo ao consumidor. O contato ps-venda, para aferir a satisfao dos

    consumidores, utilizado para a oferta de novos produtos.

    Os artifcios para a reteno e a fidelizao dos clientes so geralmente

    guiados pelas informaes obtidas com as compras anteriores, capazes de identificar

    o potencial para novos negcios.

    No que se refere ao suporte tcnico, as empresas utilizam os contatos para

    fornecer informaes para a instalao de produtos ou resoluo de problemas e,

    recentemente, tem se intensificado a prestao de servios mais especializados.

    Para tanto, os Contact Centers passaram a contratar profissionais com formaes

    especficas, tais como: tcnicos em TI, para assessorar nas atualizaes de softwares;

    e mdicos, nas operaes que prestam servios s seguradoras de sade.

    Com relao aos servios orientados venda, a mundializao de um

    sistema tcnico hegemnico e a possibilidade de produo e gerenciamento das

    informaes corporativas permitiram s empresas a otimizao de determinadas

    atividades, sobretudo, das campanhas de vendas. Estas passaram a ser feitas a partir

    da seleo dos clientes potenciais, escolhidos com base no cruzamento de bancos de

    dados detalhados que indicam as melhores estratgias de marketing. Como relatado

    anteriormente, as formas de abordagem so definidas de acordo com o perfil do

  • 45

    consumidor traado a partir da anlise de informaes coletadas pelo histrico de

    contatos ou compradas de empresas de consultoria.

    Alguns contratos de terceirizao extrapolam a prestao de servios de

    teleatendimento e integram atividades mais complexas, associadas gesto dos

    negcios das empresas-clientes. Dentre as atividades, destacam-se o Business

    Process Outsourcing (BPO) e o Business-to-business (gesto do relacionamento com

    os demais agentes corporativos).

    A terceirizao de Processos do Negcio ou BPO uma estratgia utilizada

    pelas grandes empresas para a reduo dos custos trabalhistas e operacionais por

    meio da subcontratao. As atividades transferidas para as empresas terceiras

    envolvem diversos servios como: atendimento ao consumidor, contabilidade, folha

    de pagamento, atividades fiscais e financeiras, cobrana, recrutamento e seleo e

    treinamento da mo-de-obra. Os processos terceirizados dependem do grau de

    integrao entre a empresa-cliente e a terceirizadora. Em alguns casos, delegada

    apenas a gesto de bancos de dados de clientes ativos, para a seleo dos contratos

    mais lucrativos e a definio de estratgias de marketing. Em outras situaes, h a

    terceirizao da auditoria, da estrutura logstica e da criao e manuteno dos

    softwares e das plataformas informacionais.

    O que ocorre, portanto, o aumento da prestao de servios