2010 03 08 gampopa - ornamento da preciosa liberação - completo

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O Ornamento da Preciosa Liberação Gampopa CEBB-CM 1 / 288 O Ornamento da Preciosa Liberação A Joia que Realiza Desejos Dos Nobres Ensinamentos Gampopa Tradução do tibetano para o inglês Khenpo Konchog Gyaltsen Rinpoche Editado por Ani K. Trinlay Chödron Tradução do inglês para o português Centro de Estudos Budistas Bodisatva (CEBB) - 2009

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Livro de Gampopa

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O Ornamento da Preciosa Liberação Gampopa

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O Ornamento da

Preciosa Liberação

A Joia que Realiza Desejos Dos Nobres Ensinamentos

Gampopa

Tradução do tibetano para o inglês Khenpo Konchog Gyaltsen Rinpoche

Editado por Ani K. Trinlay Chödron

Tradução do inglês para o português Centro de Estudos Budistas Bodisatva (CEBB) - 2009

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Conteúdo Prefácio por S. S. XIV Dalai Lama Agradecimentos Introdução do Tradutor Homenagem Introdução PARTE 1: A Causa Primária Capítulo 1: A Natureza de Buda I. Família Desconectada II. Família Indefinida III. Família dos Ouvintes IV. Família dos Realizadores Solitários V. Família Mahayana A. Classificação B. Definição C. Sinônimos D. Superioridade E. Características Causais F. Marcas PARTE 2: A Base de Trabalho Capítulo 2: A Vida Humana Preciosa I. Liberdades II. Vantagens III. Fé Confiante IV. Fé Esperançosa V. Fé Clara PARTE 3: A Causa Contribuinte Capítulo 3: O Mestre Espiritual I. Razão II. Classificação III. Características de cada Classificação IV. Método V. Benefícios PARTE 4: O Método Introdução à Parte 4 Antídoto para o Apego a esta Vida Capítulo 4: Impermanência I. Classificação II. Método de Meditação

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III. Efeitos Benéficos da Meditação Antídoto para o Apego aos Prazeres do Samsara Capítulo 5: O Sofrimento do Samsara I. O Sofrimento que Tudo Permeia II. O Sofrimento da Mudança III. O Sofrimento do Sofrimento A. Reino dos Infernos B. Reino dos Fantasmas Famintos C. Reino dos Animais D. Reino dos Humanos E. Reino dos Semideuses F. Reino dos Deuses Capítulo 6: O Carma e seu Resultado I. Classificação II. Características Primárias de Cada Classificação A. O Carma Não-meritório e Seu Resultado 1. Matar 2. Roubar 3. Sexo Impróprio 4. Mentir 5. Fala Separativa 6. Fala Agressiva 7. Fala Inútil 8. Cobiça 9. Pensamentos Negativos 10. Visões Errôneas B. O Carma Meritório e Seu Resultado C. O Carma e o Resultado da Concentração Meditativa Inabalável III. Atribuição IV. Resultado Definido V. Ampliação a Partir de Pequenas Ações VI. Inevitabilidade Antídoto para o Apego ao Prazer da Paz Capítulo 7: Bondade Amorosa e Compaixão I. A Prática da Bondade Amorosa A. Classificação B. Objeto C. Característica Identificadora D. Método de Prática E. Medida da Prática F. Qualidades da Prática II. A Prática da Compaixão

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A. Classificação B. Objeto C. Característica Identificadora D. Método de Prática E. Medida da Prática F. Qualidades da Prática Antídoto para o Desconhecimento do Método de Prática para Atingir a Iluminação Introdução ao Antídoto para o Desconhecimento do Método de Prática Capítulo 8: Refúgio e Preceitos I. Fundamentos A. Família Mahayana B. Tomar Refúgio nas Três Joias 1. Classificação 2. Base de Trabalho 3. Objetos 4. Duração 5. Motivação 6. Cerimônia 7. Atividades 8. Treinamento 9. Efeitos Benéficos C. Preceitos Pratimoksha Capítulo 9: O Cultivo de Bodicita II. Essência III. Classificação IV. Objetivos V. Causa VI. De Quem a Recebemos VII. Método (Cerimônia) VIII. Efeitos Benéficos IX. As Desvantagens de Perdê-la X. As Causas da Perda XI. Método para Retomá-la Capítulo 10: O Treinamento na Bodicita de Aspiração XII. Treinamento A. Treinamento na Bodicita de Aspiração 1. Não Abandonar os Seres Sencientes em Nossos Corações 2. Recordar os Efeitos Benéficos da Bodicita 3. Reunir as Duas Acumulações 4. Praticar a Mente Iluminada 5. Afastar-se das Quatro Ações Não-virtuosas e Aproximar-se das Quatro Ações Virtuosas

Capítulo 11: O Treinamento na Bodicita de Ação

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B. Treinamento na Bodicita de Ação 1. Número Definido 2. Ordem Definida 3. Características 4. Definição 5. Divisão 6. Agrupamento Capítulo 12: A Perfeição da Generosidade I. Reflexões sobre as Falhas e as Virtudes II. Definição III. Classificação IV. Características de Cada Classificação V. Ampliação VI. Perfeição VII. Resultado Capítulo 13: A Perfeição da Ética Moral I. Reflexões sobre as Falhas e as Virtudes II. Definição III. Classificação IV. Características de Cada Classificação V. Ampliação VI. Perfeição VII. Resultado Capítulo 14: A Perfeição da Paciência I. Reflexões sobre as Falhas e as Virtudes II. Definição III. Classificação IV. Características de Cada Classificação V. Ampliação VI. Perfeição VII. Resultado Capítulo 15: A Perfeição da Perseverança I. Reflexões sobre as Falhas e as Virtudes II. Definição III. Classificação IV. Características de Cada Classificação V. Ampliação VI. Perfeição VII. Resultado Capítulo 16: A Perfeição da Concentração Meditativa I. Reflexões sobre as Falhas e as Virtudes II. Definição

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III. Classificação IV. Características de Cada Classificação V. Ampliação VI. Perfeição VII. Resultado Capítulo 17: A Perfeição da Sabedoria Discriminativa I. Reflexões sobre as Falhas e as Virtudes II. Definição III. Classificação IV. Características de Cada Classificação V. O Que Deve Ser Entendido VI. O Que Deve Ser Praticado VII. Resultado Capítulo 18: Os Aspectos dos Cinco Caminhos I. Caminho da Acumulação II. Caminho da Aplicação III. Caminho do Insight IV. Caminho da Meditação V. Caminho da Perfeição Capítulo 19: Os Dez Bhumis dos Bodisatvas I. Definição II. Significado do Bhumi III. Razão para a Classificação em Dez Níveis A. Primeiro Bhumi B. Segundo Bhumi C. Terceiro Bhumi D. Quarto Bhumi E. Quinto Bhumi F. Sexto Bhumi G. Sétimo Bhumi H. Oitavo Bhumi I. Nono Bhumi J. Décimo Bhumi K. Iluminação PARTE 5: O Resultado Capítulo 20: Iluminação Perfeita I. Natureza II. Significado do Nome III. Classificação IV. Definição V. Razão Definitiva para a Existência de Três Kayas VI. Características dos Três Kayas

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VII. Marcas Especiais PARTE 6: As Atividades Capítulo 21: As Atividades do Buda I. Atividades de Corpo II. Atividades de Fala III. Atividades de Mente APÊNDICES Apêndice A: Senhor do Darma Gampopa Seção 1: Um Breve Relato sobre a Vida do Senhor do Darma Gampopa Seção 2: Manifestações Milagrosas Seção 3: O Método de Ensino de Gampopa Apêndice B: Histórias Citadas no Texto Sudhana Sadaprarudita Rei Anala Maudgalyayana Sangharakshita Nawa Chewari Velho ao Nascer As Filhas do Rei Krika Mahadatta Rei Bala Maitreia Angulimala Udayana Nanda Ajatashatru Apêndice C: Estrutura do Texto Apêndice D: Breve Biografia do Tradutor Títulos de Obras Citadas Glossário Notas Bibliografia

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Dedicação Este livro é dedicado a Sua Suprema Santidade, Tenzin Gyatso, o XIV Dalai Lama, o exemplo incomparável neste planeta da paz interna e externa naturais, e aos meus lamas-raiz por sua bondade ilimitada.

O DALAI LAMA

Prefácio

Fico satisfeito em saber que o Centro Tibetano de Meditação Drikung Kagyu está publicando uma versão em inglês de O Ornamento da Preciosa Liberação de Gampopa. Gampopa também é conhecido pelo nome Dakpo Lhaje – “O Médico de Lhaje”. De todos os discípulos de Milarepa, os dois mais destacados eram chamados de “o sol e a lua”, e Gampopa era o discípulo “sol”. Ele foi um grande e bondoso professor, e um praticante de vasto conhecimento e disciplina. Este texto é uma obra excelente que reflete a combinação de dois sistemas de ensinamento – a tradição Kadampa e a tradição Mahamudra. Gampopa recebeu a transmissão completa da tradição Lamrim de Jowo Je e da tradição Mahamudra de Naropa. Este texto é, portanto, um texto Lamrim, e reflete a visão filosófica Madhyamika. Mas também reflete implicitamente os ensinamentos de Anuttarayogatantra e Mahamudra. O Mahamudra não é explicado explicitamente, entretanto, uma vez que este é um texto dos sutras, e o Mahamudra trata dos ensinamentos secretos do tantra. Visto que muitos ocidentais estão agora desenvolvendo um interesse sincero pelos ensinamentos do Buda, a versão em inglês deste ensinamento maravilhoso chega na hora certa, e estou seguro de que ela será de grande ajuda para os leitores da língua inglesa. Eu gostaria de lembrar o leitor de que não basta simplesmente conhecer o significado do Darma – devemos sempre nos esforçar para aplicá-lo em nossas vidas cotidianas, e para seguir de forma sincera o método de prática que Milarepa e Gampopa nos ensinaram. 10 de Junho de 1996

Agradecimentos Somos sinceramente gratos por todas as causas e condições que tornaram possível a publicação desta tradução. Um empreendimento desta profundidade só poderia ter sido realizado com o apoio bondoso e generoso de outras pessoas. Em especial, eu gostaria de reconhecer os esforços de: - Todos os membros dos Centros Drikung Kagyu nos Estados Unidos, por lerem repetidamente o manuscrito, sugerindo melhorias e nos encorajando a completar o projeto. Gostaríamos de agradecer especialmente a Robin Adams, por seu apoio financeiro compassivo, e a Steve Willing, por sua edição e revisão meticulosas. - Ao Lama Gyursam Acharya, lama residente do Centro Tibetano de Meditação, que foi útil de tantas formas. - Ao grupo da Snow Lion Publications, por garantirem a publicação bem-sucedida deste e de outros livros.

Possa a virtude acumulada por este trabalho, e por todos os méritos de todas as vidas, serem uma causa para a iluminação de todos os seres sencientes!

Khenpo Konchog Gyaltsen Rinpoche

Ani K. Trinlay Chödron Julho de 1997

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O Ornamento da Preciosa Liberação Gampopa

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O Ornamento da Preciosa Liberação

A Joia que Realiza Desejos Dos Nobres Ensinamentos

por

Gampopa

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Introdução do Tradutor

Presto homenagem a todos os lamas-raiz e aos lamas da linhagem! Por favor, concedam suas bênçãos a mim E a todos os seres sencientes!

O Senhor do Darma Gampopa (1074 – 1153 D.C.), autor de O Ornamento da Preciosa Liberação, possuía realização completa dos ensinamentos e práticas do budismo, a filosofia ensinada pelo Buda Sakiamuni em, aproximadamente, 560 A.C. Gampopa estudou o sistema de treinamento dos sutras na linhagem Kadampa, e recebeu o treinamento tântrico do grande santo Milarepa. Desta forma, por ter corporificado a forma completa do budismo, o Senhor Gampopa estabeleceu com sucesso o budismo completo no Tibete. Sua linhagem de discípulos se espalhou por toda Jambudvipa e se tornou a joia da coroa de todo o budismo. Ele dissipou completamente a escuridão da confusão, e resolveu todos os mal-entendidos entre os sistemas dos sutras e dos tantras. É por isso que, dentre os discípulos de Milarepa, ele ficou conhecido como o “discípulo sol”. Na verdade, era como se o próprio Buda tivesse se manifestado novamente em forma humana. Portanto, os ensinamentos de Gampopa são reconhecidos como completamente puros e preciosos. Dentre os muitos textos importantes que ele escreveu, O Ornamento da Preciosa Liberação é, provavelmente, o mais significativo. Gampopa disse: “Para qualquer um que deseje me encontrar, o estudo de O Ornamento da Preciosa Liberação e da Guirlanda Preciosa do Caminho Excelente é o mesmo que estar comigo”. Assim, o Ornamento da Preciosa Liberação atua como regente de Gampopa nos tempos atuais. Neste livro você encontrará a forma completa do budismo – desde o ponto inicial, a base pela qual começamos o caminho, até a realização da iluminação e a manifestação de atividades para o benefício de infinitos seres sencientes. A primeira tradução para o inglês desta obra foi realizada pelo professor Herbert Guenther em 1959. Sua dedicação e iniciativa tornaram este texto conhecido entre os ocidentais, e muitas pessoas receberam grandes benefícios deste generoso esforço. Eu me alegro por isso, e respeito muito este trabalho maravilhoso. Devido à sua tradução, eu fui encorajado por muitos estudantes a ensinar O Ornamento da Preciosa Liberação. Durante as aulas, eu traduzi diretamente do tibetano para meu inglês simples, e busquei apoio para passagens difíceis no livro do professor Guenther. Desta forma, levamos cerca de dois anos e meio para passar por todo o texto. Muitos estudantes expressaram quanto benefício receberam desta apresentação direta. Assim, pensando que outros também poderiam se beneficiar, decidimos publicar esta tradução. Para que vocês, leitores, não tenham que consultar muitas fontes diferentes, traduções da história da vida do Senhor do Darma Gampopa e outras histórias citadas no texto foram incluídas aqui. Elas foram tiradas do Bendurya Tratsom, compilado pelo Venerável Khenpo Lodro Donyo, um dos meus melhores amigos dos tempos de escola. O livro dele é muito útil ao estudar O Ornamento da Preciosa Liberação porque ele complementa todas as histórias. Nos séculos sétimo, oitavo, décimo, décimo primeiro e décimo segundo no Tibete, muitos tradutores iluminados transportaram o budismo do sânscrito para o tibetano. Os textos budistas de que dispomos em tibetano podem ser traduzidos quase que exatamente de novo para o sânscrito, sem perder nada do seu significado original. Isto foi possível porque a língua tibetana é muito rica e se aproxima bastante do sânscrito. Além disso, eles traduziram e retraduziram os textos muitas vezes. Havia três estilos básicos de tradução naquele tempo: literal, focado no significado, e tanto literal quanto focado no significado combinados. Muitos grandes tradutores fizeram o esforço de traduzir o texto literal e o significado juntos. Fizemos todo esforço possível aqui para traduzir desta forma, mas devido às limitações da língua inglesa, e ao significado profundo do Darma, esta tradução ainda poderá ser melhorada no futuro. O Ornamento da Preciosa Liberação é um dos livros que eu mais prezo. Eu tive a boa fortuna de receber este precioso ensinamento do aclamado mestre Khunu Lama Rinpoche, Tenzin Gyaltshen. Eu recebi ensinamentos Vajrayana, incluindo o Caminho Quíntuplo do Mahamudra, do eminente mestre de retiros Khyunga Rinpoche durante meu retiro de três anos. Do iluminado mestre de retiros Pachung Rinpoche eu recebi as Seis Yogas de Naropa, o Mahamudra, e muitas outras instruções e transmissões. Khunu Lama Rinpoche nasceu na Índia setentrional. Ele era um estudioso consumado do sânscrito. Além disso, ele foi ao Tibete e estudou com muitos eminentes professores das diferentes escolas, ganhando compreensão de todos os aspectos do conhecimento, tanto convencional quanto absoluto. Mais tarde ele dedicou sua vida a retiros, renunciando a todas as preocupações mundanas para corporificar os

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ensinamentos que tinha estudado. Desde que recebi este ensinamento dele, tenho feito esforços para compreender este livro. Dei ensinamentos sobre ele para monges em diferentes monastérios em diversas ocasiões, e também para estudantes ocidentais. Muitos séculos se passaram, os estilos de vida e cultura mudaram, mas o budismo puro – os ensinamentos sobre o sofrimento e as causas do sofrimento, felicidade, paz e suas causas – não muda. Mesmo este livro tendo sido escrito no século onze, ele continua relevante para o mundo ocidental do século vinte e um, com suas tecnologias científicas e materiais altamente desenvolvidas. Eu penso que a sabedoria de Gampopa está bastante de acordo com as modernas teorias científicas. Gampopa baseou seu texto na Lâmpada para o Caminho da Iluminação de Atisha. Khunu Lama Rinpoche dizia que este foi o primeiro texto Lam rim1 a ser escrito no Tibete, e que todos os outros grandes textos Lam rim posteriores se basearam em O Ornamento da Preciosa Liberação. Portanto, todas as escolas budistas tibetanas o estudam. Este é um texto de importância crítica como base para o tradicional retiro de três anos. Os vinte e um capítulos deste livro descrevem sistematicamente o caminho que deve ser trilhado para alcançar a iluminação – nem mais, nem menos. Se você deixar de lado um passo o objetivo não será atingido. Mais do que isso não é necessário, a rota está completa. Este livro é uma instrução essencial e não um comentário extenso; sem significados ocultos – apenas ensinamentos precisos e consistentes. Todos que estiverem interessados no budismo podem estudá-lo e aplicá-lo em suas práticas. Se você estudar este texto completamente, conquistará uma compreensão da forma completa dos estágios do budismo. Não espere entender tudo lendo o texto apenas uma ou duas vezes. Como Sua Santidade o Dalai Lama enfatiza, é melhor confiar em um professor autêntico e praticar para entender a completa profundidade desta grande obra.

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SINOPSE

PARTE 1: A CAUSA PRIMÁRIA

Capítulo 1: A Natureza Búdica

Este livro inicia abordando a natureza búdica, que é a causa primária ou “semente” para atingir a iluminação. Se esta causa não estivesse presente, não importaria quanto esforço fosse realizado, pois não haveria progresso. Por exemplo, em uma fazenda, se não houver a semente, não importa o quanto se cultive ou fertilize, pois nada irá crescer. Mas, se houver a semente, a causa primária, então a semente irá brotar quando encontrar as causas contribuintes adequadas e, em algum momento, dará seus frutos. Por outro lado, mesmo que haja a semente, se ela não encontrar todas as causas e condições necessárias não irá brotar ou crescer. Do mesmo modo, mesmo estando todos os seres sencientes permeados pela natureza búdica, a semente da iluminação, o sucesso depende de cada indivíduo. Se não forem aplicadas as causas necessárias será necessário mais tempo para manifestar o resultado desejado. Ilustrando de outra forma, a semente de mostarda está permeada pelo óleo. Não há diferença entre o óleo na semente e o óleo na jarra. Um não é melhor que o outro. Mas, até que ele seja efetivamente produzido a partir da semente de mostarda, ele não poderá ser chamado de “óleo”. Para que o óleo seja produzido, todas as causas e condições necessárias são requeridas: primeiro é preciso saber que há óleo na semente de mostarda, então deve-se saber como extrair o óleo, e, finalmente, como aplicar o esforço adequadamente. Assim, será possível obter o óleo. Igualmente, apesar de todos os seres sencientes estarem permeados pela natureza búdica, eles não podem ser chamados de “Buda” até realizarem o estado búdico. Portanto, para alcançar a iluminação, primeiro precisamos saber que possuímos a natureza búdica, o potencial completo que não é diferente da natureza do Buda. Essa é uma forma de fortalecer a autoestima e de cortar as atitudes de desesperança e desencorajamento. Com base nesta confiança, devemos aplicar estes estágios progressivos como um instrumento para manifestar completamente a natureza da iluminação perfeita. Devido ao interesse e coragem individuais, alguns alcançam a iluminação antes que os outros. Portanto, o Senhor do Darma Gampopa descreveu cinco diferentes famílias. O Senhor Jigten Sumgön2 disse: “A natureza búdica é inerentemente pura e possui todas as qualidades excelentes do Buda”. Essa fala vajra é explicada em maiores detalhes em seu texto Gong Chik. Qual é o significado do fato de que todos os seres sencientes estão permeados pela natureza búdica? Significa que não importa o quão impiedoso alguém possa ser, ainda assim existe alguma bondade amorosa e compaixão, pelo menos com a própria família. Quando o sol está no céu, não importa o quão densa seja a camada de nuvens, alguma pálida luz ainda brilhará através delas. Da mesma forma, nossa natureza búdica não pode ser completamente obscurecida, e, assim, todos temos o potencial de progredir e manifestar completamente a iluminação. Para compreender a natureza búdica em detalhes estudem o Tantra Insuperável do Buda Maitreia. Também existem muitos sutras e comentários sobre este tópico.

PARTE 2: A BASE DE TRABALHO

Capítulo 2: A Vida Humana Preciosa

Como mencionado anteriormente, mesmo que a natureza búdica permeie todos os seres sencientes, algumas causas são necessárias para manifestar completamente esse potencial. A vida humana é uma das causas mais importantes. Ela é a base de trabalho para alcançar a iluminação. A vida humana chamada de “preciosa” é uma vida com liberdades e vantagens. Ter liberdades significa que há interesse no caminho e também se dispõe de tempo suficiente para estudar e praticar os ensinamentos – verdadeira independência. Mesmo havendo muitos seres humanos no mundo, nem todos têm interesse no Darma, e mesmo aqueles que têm interesse podem não ter tempo para participar. Para eles não é possível dedicar tempo suficiente de suas vidas para avançar. Portanto, nem todos os seres humanos têm uma vida preciosa, apenas uns poucos.

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Ter vantagens significa dispor de uma compilação de todas as diferentes causas e condições. Se apenas uma das dez vantagens estiver faltando, então perdemos a oportunidade de praticar o precioso Darma, mesmo sendo seres humanos. Portanto, quando possuímos as liberdades e vantagens temos a oportunidade de superar todo o sofrimento, de desenraizar todas as causas do sofrimento e de alcançar as qualidades completas da iluminação. Dessa forma, ao possuirmos essas qualidades devemos tomar vantagem delas completamente, sem procrastinação ou preguiça. O tempo passa rapidamente a cada instante, não há tempo adicional para prolongarmos nossas vidas. O conhecimento é infinito e não temos tempo para estudar todas as coisas. Assim, deveríamos aproveitar o curto período de tempo que temos da melhor forma possível, recebendo a essência dos ensinamentos e aplicando-os na prática o mais rápido possível. Liberdades e vantagens não surgem sem causas, mas são o resultado de grandes ações virtuosas e da acumulação de méritos e sabedoria através de muitas vidas. Se você não acumular novamente estas virtudes, méritos e sabedoria, e apenas “gastá-los” com os prazeres e felicidade desta vida, você pode não reconquistar este corpo humano precioso que possui agora. Se isto acontecer, você perderá toda a chance de beneficiar a si mesmo e aos outros. Como é melhor trocar a felicidade temporária do samsara pela felicidade definitiva da iluminação! É por isso que é tão importante estar vividamente consciente da oportunidade que temos com esta vida humana. É como uma joia preciosa que seguramos em nossas mãos – se a jogarmos na lama ou a trocarmos por uma pedra comum isso seria muito triste. Para utilizarmos esta vida humana da melhor forma precisamos ter fé, ou confiança. Primeiramente, a confiança está baseada no papel da causa e efeito. Todos os sofrimentos do samsara são causados pelas ações não-virtuosas; todos os benefícios e felicidade, temporários ou definitivos, são causados pelas ações virtuosas. Devemos ter confiança na lei inexorável de causa e efeito e, assim, aplicarmo-nos nesta prática. Então, para nos liberar completamente do ciclo do samsara precisamos desenvolver a aspiração de alcançar a iluminação, o estado completamente desperto. Vejam este estado como o benefício e felicidade absolutos, e vejam que não há outra forma de gerar felicidade duradoura. Para fortalecer esta confiança olhamos para as qualidades excelentes do Buda, do Darma e da sanga. O Buda é a corporificação de sabedoria e compaixão. O Darma é o veículo que nos dá a oportunidade de nos livrar de toda a confusão e de desenvolver as qualidades do Buda. É a alquimia absoluta que transforma todas as negatividades. A sanga apresenta exemplos de praticantes bem-sucedidos, guerreiros no campo de batalha do samsara que vencem todos os oponentes – o samsara e as emoções aflitivas – que protegem todos os seres sencientes e os levam em direção à iluminação. Assim, quando possuímos fé apoiada pelas liberdades e vantagens de uma vida humana preciosa, não levará muito tempo para cruzarmos o oceano do samsara e para trazermos benefícios a tantos seres sencientes.

PARTE 3: A CAUSA CONTRIBUINTE

Capítulo 3: O Mestre Espiritual Mesmo possuindo vidas humanas preciosas não estamos livres do samsara, e estamos tomados pela confusão. Assim, precisamos de orientação para nos mostrar o caminho para a iluminação. Este é um fator crucial. Até mesmo para receber uma educação geral, samsárica, temos que confiar em bons professores que estudaram por um longo tempo, e que possuam experiência e um bom caráter. Sem estas qualificações necessárias não iremos receber as instruções adequadas. Agora estamos tratando de como nos liberar do samsara, um tema muito mais difícil. Se o professor não conhece a natureza do samsara e da iluminação e, especialmente, se não tem experiência com as práticas necessárias, então é como um cego guiando outro cego. Ao invés de dissipar a confusão, mais confusão surgirá. Portanto, certas qualificações são necessárias para os mestres espirituais. Estas qualificações especiais foram explicadas pelo Buda em muitos textos dos sutras e dos tantras. Deveríamos, inicialmente, examinar cuidadosamente um mestre espiritual e, então, segui-lo para receber ensinamentos. Não confiem apenas em uma boa primeira impressão. Dentre as muitas qualificações, uma das mais importantes é bodicita. Se um mestre espiritual recebeu os votos de bodicita, praticou-os por algum tempo, e cuida deles como se fossem a sua própria vida, então ele pode ser confiável mesmo não sendo um erudito ou muito articulado. Se o mestre espiritual estiver tomado pelas emoções aflitivas, entretanto, a relação só trará confusões e pode até mesmo destruir a sua pequena acumulação de virtudes.

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Portanto, examinem cuidadosamente as qualificações do mestre espiritual de acordo com o testemunho das palavras do Buda e de sua própria experiência. Quando vocês encontrarem um mestre espiritual adequado ao nível em que se encontram, então sigam-no adequadamente sem permitir que a arrogância e o ego interfiram. Apoiem suas atividades com trabalho sincero e provendo suas necessidades, mas especialmente através da aplicação dos ensinamentos na prática – experimentar e compreender os ensinamentos. Se vocês estiverem tomados pela arrogância e propósitos egoístas, então não receberão as bênçãos; não importando a grandeza do mestre espiritual ou o poder e profundidade dos ensinamentos. O mau uso das instruções que recebemos pode, na verdade, causar mais sofrimento ao invés de levar à liberação do sofrimento. Portanto, o Senhor do Darma Gampopa disse: “Se você não praticar o Darma de acordo com o Darma, ele poderá levá-lo aos reinos inferiores.” Portanto, receba os ensinamentos com motivação pura, vendo-os como o método para purificar toda a confusão e emoções aflitivas, como um remédio para curar a doença crônica do samsara, e para alcançar a iluminação completa. Usar o Darma para aumentar os prazeres samsáricos é chamado de “enfraquecer o Darma” e “fazer mau uso do Darma”. Para receber todas as vantagens dos preciosos ensinamentos do Darma devemos cultivar uma motivação pura e aplicar, sinceramente, os ensinamentos na prática, sem nos preocuparmos com as realizações samsáricas.

PARTE 4: O MÉTODO

O mestre espiritual pode nos transmitir muitos ensinamentos e instruções que combatam os quatro obstáculos que nos impedem de alcançar a iluminação. Os mais essenciais são as instruções sobre a natureza impermanente de todos os fenômenos e a natureza de sofrimento dos seis reinos do samsara; esses ensinamentos nos apontam o método especial para liberarmo-nos do apego. As instruções sobre o carma e o resultado mostram o método especial para renunciarmos às causas do sofrimento. O antídoto para o próprio egoísmo é a alegria e felicidade das práticas da bondade amorosa e da compaixão. Para abrir as portas para a iluminação e entrar na cidadela da liberação a cerimônia de refúgio é necessária. O método para alcançar a iluminação é o cultivo e a prática da bodicita. Através destes métodos avançaremos, progressivamente, pelos dez bhumis e, como resultado final, chegaremos à iluminação com os três kayas. A partir deste estado manifestaremos, sem esforços, atividades para o benefício dos seres sencientes até o final do samsara.

Capítulo 4: Impermanência Existem três emoções aflitivas, também chamadas de os três venenos: apego, raiva e ignorância. A ignorância é a causa-raiz da existência do samsara. A ignorância obscurece a consciência clara da mente de ver o papel de causa e efeito e a natureza última de todos os fenômenos. Isto significa que não conseguimos ver e entender a lei da interdependência de todos os fenômenos, as causas grosseiras e sutis e seus efeitos. Como resultado, todos os fenômenos, e de modo especial a própria pessoa, são percebidos como permanentes, únicos e reais. Devido a isso, surge o apego a si mesmo e às coisas de que gostamos. Qualquer coisa que vá contra isto recebe nossa aversão e nos tornamos muito defensivos. Esforçamo-nos constantemente nesse reino sem fim. Nesta dimensão, não importa o quanto tentemos, não há como alcançar ou experimentar a felicidade absoluta. Essas emoções perturbadoras foram internalizadas por tanto tempo, as semente das propensões inveteradas cresceram tanto, que sentimos que elas são naturais. Elas surgem sem esforço quando encontramos as condições adequadas. O que quer que pensemos nós fazemos. Nutrimos e alimentamos esta manifestação incessantemente. Dependendo da qualidade da mente criamos diferentes reinos e manifestamos todas as diferentes emoções aflitivas. Mas, na realidade, estas manifestações são apenas impermanentes – como uma bolha ou um sonho. Para nos liberarmos e purificarmos os três venenos devemos conhecer a natureza impermanente de todos os fenômenos como antídoto para o apego, e reconhecer o estado de sofrimento de todos os seres sencientes como antídoto para a aversão. O carma e seu resultado proporcionam um antídoto que libera a ignorância. O apego é uma emoção aflitiva da qual é muito difícil alcançar a liberação. Ele está tão enraizado nas nossas mentes. E, a partir dele, o desejo e a fixação surgem. A contemplação da impermanência é um dos métodos mais efetivos para liberar o apego transitório. Quando contemplamos a natureza momentânea de todos os fenômenos, então a forma ou objeto específicos aos quais estamos apegados mudam. A forma como

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nos relacionávamos com o objeto não existe mais, assim não há sentido ou benefício em permanecermos apegados. Como o orvalho sobre uma folha de grama, ele se evapora como uma ilusão. Em vez de ficarem aborrecidos ou preocupados com isso, apenas vejam isso como a verdadeira natureza daquele fenômeno. Aceitem a mudança e permitam que ela aconteça. Liberem o apego. Antes de realizarem o Mahamudra de suas próprias mentes, a prática da impermanência deve ser usada como uma forma muito efetiva de liberar o apego e a raiva. O progresso, então, torna-se fácil porque todos os fenômenos são impermanentes – apenas contemplem e sustentem a consciência disto, relembrando constantemente. Vivam momento a momento. Quando possuímos a consciência plena da impermanência a realização do Mahamudra não é tão difícil, porque compreender a natureza mais sutil da impermanência é o mesmo que realizar o Mahamudra.

Capítulo 5: O Sofrimento do Samsara Todos os seres sencientes nos seis reinos do samsara encontram-se em um estado de sofrimento. Alguns já estão experimentando o sofrimento e outros caminham em direção a ele. Mesmo aqueles que são muito bem-sucedidos em suas vidas, seja no campo dos negócios, política ou ciência, também não estão livres do sofrimento. Alguns, na tentativa de livrarem-se do sofrimento acabam criando as causas para mais sofrimento. Assim, com esta consciência, você tem a oportunidade de liberar-se da aversão e da raiva, especialmente em relação aos inimigos ou àqueles de quem você não gosta. Libere a raiva e conquiste a oportunidade de desenvolver interesse e compaixão. Como seres humanos sofremos devido a velhice, doença e morte. Lutamos para conquistar as coisas que desejamos e, então, lutamos para proteger as coisas que temos. Assim como experimentamos esses tipos de sofrimento no reino humano experimentaremos as condições descritas neste capítulo se renascermos em outros reinos. Mas, mesmo no reino humano, podemos experimentar o sofrimento dos seis reinos – não fisicamente, mas mentalmente. Imagine-se em um deserto sem água e com ondas de calor tão fortes que você se sente como se estivesse sendo assado em um forno. Essa sensação parece interminável, mesmo se durar um curto tempo. Isso é como o reino dos infernos quentes. Às vezes, quando você está em uma montanha durante uma nevasca não há lugar para se esconder do vento. Suas roupas são inadequadas e seus pés e mãos congelam. Novamente, mesmo que isso dure um curto tempo, você sentirá como se fosse para sempre. Isso é como um reino dos infernos gelados. Às vezes, você faz uma longa jornada e fica completamente exausto sem nada para comer ou para beber. Não há restaurantes por perto. Você sente que está morrendo de fome e de sede. A compleição de seu corpo muda, você se sente tão magro e fraco. Isso é como a experiência dos fantasmas famintos. Às vezes você é torturado por outras pessoas, escravizado, sem liberdade para expressar seus desejos e sentimentos. Você se sente entorpecido, incapaz de fazer qualquer coisa. Você não sabe o que fazer ou como se comportar. Isso é como o sofrimento do reino dos animais. Às vezes a sua mente é completamente tomada pelo ciúme da dignidade, riqueza ou prosperidade de outra pessoa. Você é tomado por este sentimento e age para prejudicar os outros, mas o resultado traz ainda mais sofrimento. Isso é como a vida dos semideuses. Às vezes você se sente tão pacífico e feliz. Tudo vai bem e você está orgulhoso da situação. Você fica dominado pelo pensamento: “Não há ninguém como eu”. Mesmo experimentando isso por um longo tempo, ainda assim você acha que foi muito rápido. Mais tarde, especialmente no momento da morte, surge tanto sofrimento por ter de abrir mão de condições agradáveis. Isso é como o sofrimento do reino dos deuses Este livro contém explicações especialmente detalhadas sobre os reinos dos infernos. O objetivo não é deprimir as pessoas. Pelo contrário, este é um ponto muito importante para identificar o sofrimento. Se falharmos em reconhecer a natureza do sofrimento, do qual estamos nos esforçando para nos livrar, então não saberemos como praticar o Darma adequadamente. Assim, leitores, ao lerem este capítulo, em vez de se sentirem deprimidos ou negativos e de tentarem fugir ou ignorá-lo, leiam-no completamente e contemplem bem este ponto. Acordem! Suas mentes têm estado dormindo no samsara por um longo tempo. Reconheçam o tipo de lugar em que vocês estão e apliquem o Darma a seus corações. Então, façam todos os esforços para fugir do samsara. O Senhor do Darma Gampopa também explicou o sofrimento de três formas. O sofrimento do sofrimento refere-se à experiência de dor física e mental. O sofrimento da mudança significa que todas as alegrias temporárias, tais como a juventude e o sucesso na vida, estão sujeitos à mudança e levam ao

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sofrimento quando estamos apegados a eles. O sofrimento que tudo permeia se refere ao fato de que todos os seres no samsara estão envoltos pelo sofrimento; mesmo se formos bem-sucedidos, ainda assim não haverá satisfação. É certo que o sofrimento virá. Definitivamente não estamos livres do sofrimento.

Capítulo 6: O Carma e seu Resultado Esses sofrimentos não são independentes ou desprovidos de causas. Conhecer suas causas e efeitos irá liberar a ignorância. Um primeiro momento de pensamento positivo traz felicidade em um segundo momento. Um primeiro momento de pensamento negativo trará sofrimento num segundo momento. Todos os fenômenos existem num fluxo momentâneo de causa e efeito. Portanto, as dez não-virtudes são a causa geral do sofrimento no samsara, em particular o sofrimento dos três reinos inferiores. A alegria e a felicidade dos reinos superiores do samsara e a própria iluminação se baseiam nas dez virtudes. Essa lei de causa e efeito é o que constitui todos os fenômenos. Quando não conhecemos essa lei somos chamados de “ignorantes”. Mesmo que fizéssemos um grande esforço - até mesmo sacrificar nossas vidas – não há como nos liberarmos do sofrimento. Quando conhecemos essa lei, diz-se que estamos “livres da ignorância”. Então, todos os nossos esforços a cada momento se tornam causas para a liberação do sofrimento. Quando somos ignorantes, não importa que estejamos pouco apegados ao nosso ego, não saberemos como beneficiar sinceramente os outros e a nós mesmos. Mas, quando possuímos essa sabedoria temos a capacidade de ser sinceros com nós mesmos. Todas as coisas são interdependentes. Uma circunstância em particular não surge sem uma causa, de causas errôneas, ou de uma causa incompleta. Assim, para que algo se manifeste é necessário que haja as causas e condições completas. Tomem um carro, por exemplo – para fazê-lo funcionar precisamos de todas as causas e condições necessárias. Se uma delas estiver faltando o carro não funcionará. Da mesma forma, nossa paz interior e equilíbrio também dependem de muitas diferentes causas. Não importa o quanto tentemos ou tenhamos expectativas em relação ao resultado, a não ser que as causas e condições adequadas tenham sido desenvolvidas, o esforço será em vão. É muito importante conhecer a lei das causas e condições que resultam no samsara e no nirvana. Sem tal sabedoria não poderemos criar um ambiente positivo. Como se diz: “Apesar de desejarmos a felicidade, devido à ignorância nós a destruímos como se fosse um inimigo. Queremos nos livrar do sofrimento, mas corremos atrás dele.” Os detalhes e as manifestações sutis do carma são mais difíceis de investigar e compreender que a vacuidade. Assim, é muito importante estudar essa seção sobre o carma cuidadosamente, não apenas como uma tradição budista, mas como a fronteira entre a causa do sofrimento e a causa da felicidade para todos os seres sencientes.

Capítulo 7: Bondade Amorosa e Compaixão Em geral, todos os seres sencientes desejam liberar-se do sofrimento e alcançar a harmonia, a paz e a felicidade. Dentre as muitas causas e condições, gerar bondade amorosa e compaixão no coração é uma das fontes principais para a realização destes objetivos. Algumas pessoas reagem imediatamente, pensando que ao se dedicarem à bondade amorosa e à compaixão elas deveriam sacrificar tudo pelos outros e não deixar nada para si mesmas. Então elas dizem: “Mas, e eu?” Pelo contrário, no momento em que desenvolvemos bondade amorosa sinceramente e compaixão genuína, neste momento experimentaremos paz e harmonia em nossas mentes. Este tipo de paz e harmonia não precisa de outras fontes – apenas aquele momento de sentimento autêntico. Não precisamos sacrificar nada além de espaço suficiente em nossas mentes para guardar esta joia preciosa. O amor e a compaixão que surgem do apego a alguém são limitados e podem não ser genuínos. Portanto, considerem a possibilidade de desenvolver bondade amorosa e compaixão com base na razão, sendo esta a verdadeira causa da harmonia e da paz. Visto que todos os seres sencientes, desde nosso mais querido amigo ao pior inimigo, desejam ser felizes e se afastar do sofrimento, iremos nos esforçar para equilibrar nossas mentes com base neste ponto de forma a desenvolver bondade amorosa e compaixão. Aqui, Gampopa utiliza habilmente a técnica de desenvolver bondade amorosa e compaixão pela própria mãe desta vida. Esta prática é adequada para a pessoa mediana, que tem sua mãe como a pessoa mais próxima, oferecendo a ela um tratamento gentil e carinhoso por toda sua vida, ou pelo menos por um quarto de sua vida. Isto gera uma conexão muito forte. A mãe está sempre pensando como seu filho poderia ser a

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pessoa mais bem-educada e bem-sucedida, e de como ela preza sua criança como seus próprios olhos ou coração. Mas aqueles que têm algum conflito com seus pais e não têm espaço em seus corações para eles podem tomar um outro exemplo, escolhendo alguém que seja muito próximo e querido nesta vida - talvez um amigo, um irmão ou um filho. Com este método, desenvolvam uma bondade amorosa e compaixão que alcancem todos os seres sencientes. É óbvio que a arrogância egoísta, ciúme e raiva não nos trarão harmonia ou paz. Pelo contrário, elas são a verdadeira causa-raiz da violência e da desarmonia para o indivíduo assim como para a sociedade. O autocentramento é a fonte de todas as condições indesejáveis e conflitos que encontramos no samsara. Cuidar dos outros e respeitá-los é a fonte de todo benefício, felicidade e paz. Portanto, budistas ou não, não há escolha além de entender e praticar a bondade amorosa e a compaixão. Há ainda outra razão para praticá-las. Do momento em que nascemos até nossa morte nossas vidas são completamente dependentes de outras pessoas, seja no nível mundano ou no desenvolvimento espiritual. Sem a bondade e a generosidade dos outros não conseguiríamos sobreviver. Assim, investiguem esta razão cuidadosamente, e vejam que não há outra escolha além de desenvolver a bondade amorosa e a compaixão se quisermos alcançar a paz e a felicidade genuínas. Além disso, o cultivo dessas qualidades preciosas depende dos outros. Sem os outros seres sencientes não haveria como desenvolver amor e compaixão em nossas mentes. Tanto a realização relativa quanto a absoluta da paz e felicidade que tudo permeiam dependem deste pensamento altruísta. Assim, cuidaremos desta qualidade que é como uma joia que concede desejos, e usaremos todas as diferentes técnicas para realizá-la e fortalecer seu progresso em nossos corações, porque esse é o solo no qual iremos plantar e cultivar a árvore da bodicita.

Capítulo 8: Refúgio e Preceitos O refúgio é um método especial, um caminho de alegria, para nos liberarmos do samsara e alcançarmos a iluminação. Como já explicado nos capítulos anteriores, todos os seres sencientes estão permeados pela natureza búdica, porém, não reconhecendo este estado, eles permanecem confusos no samsara na roda de causas e sofrimento. O sofrimento das experiências individuais é como as ondas do oceano, arrebentando infinitamente, uma após a outra. Enquanto estiver no samsara não espere paz completa e felicidade. O refúgio é o caminho para liberá-lo deste ciclo. O refúgio corporifica os ensinamentos completos do Buda. Todas as diferentes práticas, tanto as chamadas preliminares quando as avançadas, todas partem do refúgio. O refúgio é a base, o caminho e a fruição. O refúgio da base é a natureza primordial não-fabricada, o modo de permanência, a forma como o todo da realidade é constituído livre de confusões. Quer você realize o refúgio ou não, ele sempre foi natural e livre de elaborações. Essa natureza interdependente é a sabedoria absoluta que permeia todos os fenômenos do samsara e do nirvana sem dualidade. O Buda realiza completamente esta realidade, assim, esta sabedoria que tudo permeia e o Buda não podem ser diferenciados. É por isso que dizemos que o Buda despertou completamente do sono da ignorância e alcançou todas as qualidades excelentes. Neste estado de sabedoria, nada está oculto. Todos os universos são óbvios; não há necessidade de especulação; não há nada a ser investigado. Como tudo está presente, dizemos que o Buda realizou o pensamento não-conceitual que corporifica a compaixão e a sabedoria primordial incondicionais e que tudo permeiam. Deste estado, o Buda manifesta muitas diferentes formas para beneficiar os seres sencientes. A base para todas estas manifestações é o darmakaya. Como o espaço, ele é livre de elaborações e é a base para todas as qualidades e manifestações. A partir dele o Buda manifesta uma forma chamada de sambogakaya, um corpo celestial, para beneficiar os bodisatvas avançados. Então, para os praticantes comuns, o Buda se manifesta na forma nirmanakaya, o corpo de emanação. Através destes diferentes estados de manifestação ele oferece todos os ensinamentos que descrevem completamente o samsara e a iluminação. Por estas razões, tomamos refúgio no Buda. Para atingirmos a iluminação devemos estudar e praticar todos os ensinamentos do Buda para dissipar nossa confusão e alcançar a liberação do sofrimento. Portanto, tomamos refúgio no precioso Darma. Para estudar e praticar precisamos de guias e exemplos. Um exemplo claro é encontrado na sanga, os grandes bodisatvas, assim como os Arhats Ouvintes e Realizadores Solitários, que estão avançados em seus estudos e realização dos ensinamentos, e que possuem confiança inabalável no Buda e no Darma. Portanto, tomamos refúgio na sanga.

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Ao tomar refúgio no Buda, no Darma e na sanga começamos a seguir o caminho da purificação dos diferentes tipos de obscurecimentos e a reunir os dois tipos de acumulações de mérito e sabedoria. Isto se chama “refúgio do caminho”. Seguindo o caminho incansavelmente, persistentemente, com confiança total e devoção, atingiremos o resultado – a iluminação completa e insuperável, que é o darmakaya. O darmakaya é a designação do Buda que corporifica completamente os ensinamentos do Darma e é o estado de perfeição da sanga. Isto se chama “refúgio da fruição”. Portanto, o refúgio corporifica todos os ensinamentos. Não o considerem apenas como uma prática preliminar, não sendo uma prática principal. Ele é importante como o primeiro passo em direção às portas da iluminação, e ele é importante no meio e no final. Como este caminho do refúgio apresenta os meios para dissipar nossa confusão sobre as causas do sofrimento e o método para realizar as qualidades excelentes do Buda, do Darma e da sanga, ele é o meio para atingir alegria, paz e felicidade. É por isto que ele é chamado de “o alegre caminho do refúgio”. Sempre pratique o refúgio com alegria e o sentimento de ser muito afortunado. Sacrifique-se enfrentando alguns pequenos sofrimentos de forma a se liberar de todos os sofrimentos. Os preceitos também são chamados de votos ou ética moral, que é o mesmo que disciplina. De modo geral, para alcançar a iluminação devemos purificar todos os obscurecimentos e nos afastar das ações não-virtuosas. Historicamente nunca houve um Buda que não tenha sacrificado estas obscuridades e aperfeiçoado as qualidades de sabedoria. Por este motivo, existem tantos diferentes níveis de preceitos com tantos diferentes números de votos. Esses preceitos são colocados como um veículo especial para a abstenção das ações não-virtuosas, para manter o corpo, a fala e a mente de acordo com um estado harmonioso e as ações virtuosas. Desta forma, os preceitos são uma fundação importante para o desenvolvimento de nossa concentração meditativa e da realização do insight. Eles são a fundação para todo o crescimento espiritual, a verdadeira causa do renascimento em uma próxima vida com uma existência humana preciosa. Algumas pessoas pensam que ética moral e disciplina não são importantes ao se praticar a mais elevada yoga tântrica e a visão da vacuidade; elas acham que os preceitos são direcionados para praticantes inferiores, e não para os avançados. Isto pode estar indo longe demais. Pelo contrário, aqueles que são mais realizados nos aspectos sutis do Darma têm uma conduta ainda mais sensível e genuína, constituindo um grande exemplo para os seguidores. Seguir os preceitos e mantê-los é uma prática de 24 horas por dia. É um verdadeiro teste para os praticantes do Darma sustentar sua disciplina a cada momento pelo resto de suas vidas. Utilizar toda nossa energia de formas virtuosas é um método muito importante para o treinamento do corpo, da fala e da mente. Assim, seria bom para todos os praticantes do Darma seguirem, pelo menos, os cinco preceitos, treinando-os bem, e pensarem mais seriamente em se tornarem um monge ou uma monja. Ao invés de pensar que vocês foram colocados numa prisão, tomem os preceitos como ornamentos. Para aqueles que os sustentam bem os preceitos podem se tornar uma fonte de paz e alegria, e são uma forma especial de praticar purificação. À medida que a purificação aumenta, as emoções aflitivas diminuem, oferecendo uma chance maior de realizar a natureza da mente, o Mahamudra.

Capítulo 9: O Cultivo da Bodicita Tendo por base a bondade amorosa, a compaixão e o refúgio, cultivamos bodicita, a mente da iluminação. Essa mente não apenas está focada na felicidade dos seres sencientes, mas também busca a ação para liberá-los da confusão e do sofrimento, e para alcançar a paz e a felicidade, tanto temporárias quanto absolutas. Bodicita é a mente universal, estendendo-se como o espaço; ilimitada, ela é chamada de bodicita , a mente preciosa. Esta é a espinha dorsal do budismo. Sem bodicita a iluminação não é possível, não importando o esforço que seja aplicado neste ou naquele método ou caminho espiritual. Eles seriam como uma semente apodrecida da qual não podemos esperar nenhum fruto. Bodicita é uma luz tão forte que pode dissipar a escuridão da ignorância e da confusão como nenhuma outra luz conseguiria. Bodicita é um machado tão grande que pode cortar a raiz do samsara, o que nenhum machado comum poderia fazer. Bodicita é uma vassoura tão grande que pode varrer a poeira da causa e sofrimento do samsara, o que nenhuma vassoura comum poderia fazer. Bodicita é um fogo tão intenso que pode queimar por inteiro a floresta da confusão, o que nenhum fogo comum poderia fazer. Bodicita é um remédio tão potente que pode curar a doença crônica das emoções aflitivas, o que nenhum remédio comum poderia fazer. Bodicita é uma espada tão grande que

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pode cortar a teia da dualidade, o que nenhuma espada comum poderia fazer. Para aqueles que estão interessados em liberar-se do sofrimento e trazer benefícios aos outros seres sencientes a bodicita é o ponto a ser sustentado, cuidado e realizado. A iluminação é a formação mental perfeita de bodicita. Portanto, o Senhor do Darma Gampopa explicou muito cuidadosamente em grandes detalhes sobre como a bodicita deve ser realizada e como exercitá-la. Estudem-na cuidadosamente e tragam essa mente preciosa aos seus corações. Quando alguém possui bodicita terá uma coragem indômita – nenhum medo ou dúvida sobre permanecer no samsara para beneficiar os seres sencientes até o fim. Quando alguém possui bodicita não surgirá o pensamento de cuidar apenas de si mesmo, nem haverá interesse na própria paz. Essa pessoa se tornará completamente dedicada ao serviço dos outros seres sencientes sem discriminações, assim como a terra serve como a base imparcial para que os seres sencientes e não-sencientes se movam e cresçam, sustentando suas vidas. Da mesma forma, água, fogo e ar proporcionam um benefício universal. Do mesmo modo a motivação da bodicita é imparcial. Se esses efeitos benéficos tão grandes são conhecidos, como perder a oportunidade de aplicá-los no crescimento e de, assim, beneficiar os outros? Aquele que possui essa mente é chamado de bodisatva. As pessoas têm os bodisatvas em alta estima, e esperam que eles resolvam seus problemas, que tragam paz e felicidade e curem todos os seus conflitos. É pelo fato de a bodicita ser preciosa que os bodisatvas são considerados tão preciosos. Um bodisatva que possua essa bodicita não será levado quando todos os diferentes tipos de sofrimento, obstáculos e condições indesejáveis surgirem. Pelo contrário, ele terá métodos muito poderosos e os utilizará continuamente para treinar sua mente e para purificar e fortalecer sua prática. Assim, não importa o que se manifeste na vida de um bodisatva, tudo se torna uma forma específica para praticar – relembrando-o da impermanência, do sofrimento do samsara, e do progresso da bodicita. Desta forma, eles não têm que fazer um esforço especial para gerar paz e felicidade.

Capítulo 10: O Treinamento na Bodicita de Aspiração A bodicita de aspiração baseia-se em grande compaixão e sabedoria. A grande compaixão vem da projeção dos seres no samsara e da observação de sua natureza de sofrimento. Para liberar-se desse ciclo de sofrimento deve ser desenvolvida grande sabedoria. Até se tornar um Buda ninguém possui a capacidade infinita de beneficiar os seres sencientes. Para poder beneficiar os seres sencientes através da manifestação infinita de atividades sem esforço é preciso alcançar a iluminação. Portanto, essa mente deve ser cultivada. Existem três maneiras de cultivar a bodicita de aspiração: como um rei, como o capitão de um navio e como um pastor. A realeza é cultivada reunindo, inicialmente, todas as qualidades do líder de um país. Após se tornar rei, o país será governado e os seres serão beneficiados. Igualmente, a bodicita de aspiração “como um rei” é cultivada primeiramente fazendo esforços para purificar os obscurecimentos e reunir as qualidades da iluminação. Então, segue-se a ajuda a todos os seres sencientes. O capitão de um navio irá embarcar todos os passageiros no navio, guiando-o nos oceanos e chegará à outra margem com esses passageiros. Da mesma forma, o bodisatva cultiva bodicita de aspiração dizendo: “Possamos eu e todos os seres sencientes atingir a iluminação juntos.” Um pastor leva todas as ovelhas e animais para pastarem em um local com boa grama e água, e protegerá o rebanho dos predadores. Ao anoitecer ele os trará de volta para a fazenda e os guardará em segurança nos seus currais. Apenas depois ele irá para casa e descansará. Da mesma forma, o bodisatva cultivará bodicita dizendo: “Não me afastarei ou passarei para o nirvana até que todos os seres sencientes estejam livres do samsara e atinjam a iluminação.” Os meios para preservar, fortalecer e avançar esta mente na prática são bem explicados no texto.

Capítulo 11: O Treinamento na Bodicita de Ação Uma vez que o bodisatva tenha cultivado bodicita de aspiração, ele deve se esforçar para aperfeiçoar essa mente, de forma a realizar o precioso pensamento altruísta e aplicá-lo para o bem de todos os seres sencientes. Todo o estudo e as práticas, mesmo sentar por um momento, fazer uma prostração ou recitar um mantra se tornam métodos para desenvolver essa mente. Todas as emoções aflitivas estão incluídas nas três categorias de venenos: desejo, aversão e

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ignorância. Estes três são o núcleo a partir do qual todos os tipos de emoções aflitivas se manifestam e criam incontáveis carmas negativos, através dos quais nos deparamos com o sofrimento e obstáculos sem fim. Para purificá-los e, finalmente, desenraizá-los, o Buda ensinou os respectivos antídotos para cada um. Portanto, todos os ensinamentos do Darma podem ser categorizados em três grupos: Vinaya, Sutra e Abhidarma. O tema principal do Vinaya tem por foco a ética moral, a disciplina e os preceitos. Os Sutras abordam com maior ênfase a permanência serena e outros métodos de concentração mental. O Abhidarma enfatiza mais a originação interdependente e a sabedoria discriminativa ou insight. Apesar dessa classificação, esses ensinamentos do Darma estão fortemente interconectados. Além de ética moral, o Vinaya inclui instruções sobre meditação e a sabedoria discriminativa do insight. Adicionalmente a técnicas de meditação, os Sutras também ensinam ética moral e a sabedoria discriminativa do insight. Além de ensinamentos sobre a sabedoria discriminativa do insight, o Abhidarma também ensina ética moral, disciplina e concentração meditativa. Ao estudar esses três cestos e, efetivamente, seguir o treinamento em ética moral, concentração meditativa e sabedoria discriminativa, a sua interdependência se tornará bastante clara. Sem o apoio dos outros dois, apenas um dos treinamentos não é suficiente para alcançar a iluminação. Quando possuirmos uma conduta pura, isso nos ajudará a nos liberarmos das ações não-virtuosas, manterá nossas mentes claras, e nos fortalecerá para domarmos nossas mentes com sucesso. Quando a mente é sustentada através do apoio da ética moral é muito mais fácil alcançar a estabilidade mental e a permanência serena. Não é possível estabilizar as qualidades positivas da concentração meditativa sem ética moral. Quando a mente se encontra concentrada nas dez virtudes ela se torna calma, pacífica e clara. Com esta base é muito mais fácil acender a luz do insight especial. A chama da sabedoria discriminativa será mantida quando estiver protegida do vento dos pensamentos dispersivos, o que se torna uma forma bastante poderosa de dissipar a escuridão da confusão e das emoções aflitivas, e de atingir a liberação do samsara. Essas são as ações que devemos desenvolver em nossas mentes e aplicar ao longo do aperfeiçoamento dos cinco caminhos. O Senhor do Darma Gampopa divide esses três treinamentos em seis paramitas, que são explicadas em detalhes nos próximos seis capítulos.

Capítulo 12: A Perfeição da Generosidade A prática da generosidade é um método especial para cortar o apego a qualquer coisa que seja para o benefício próprio. Essa prática é especialmente projetada para mostrar como abrir o coração e a mente, e como aprender a repartir todas as coisas necessárias, tais como habilidades e sabedoria, com os outros, especialmente com aqueles que estão desprotegidos e não as possuem. Outras pessoas fizeram grandes esforços para criar todas as coisas que desfrutamos, tanto materiais quanto espirituais. Por exemplo, se vocês lerem a história da vida de Milarepa, vocês poderão ver como ele sacrificou sua vida e enfrentou muitas dificuldades para atingir a iluminação em uma única vida e tornar todos esses grandes ensinamentos disponíveis para as gerações futuras. Devemos realizar essa natureza e cuidar bem das coisas utilizando-as da melhor maneira e compartilhando-as com todos os outros seres sencientes. Temos essa importante responsabilidade. A mente da generosidade também é um método especial para cortar a estreiteza, o ciúme e o orgulho, para alcançar harmonia, e para nos liberar da avareza e das fixações. Quando estamos abertos e possuímos a mente da bodicita não é necessário ter nada para dar aos outros porque já estamos oferecendo nós mesmos a todos os seres. Quando a mente está livre da avareza ela já está praticando generosidade. Outras práticas de generosidade são detalhadas no texto. Devemos entendê-las corretamente e aplicá-las na prática.

Capítulo 13: A Perfeição da Ética Moral A ética moral é um dos treinamentos mais importantes para todos os praticantes. Ela é a técnica para desenvolver disciplina física, verbal e mental para evitar as propensões inveteradas do samsara e para canalizar a atenção para a iluminação. Isso gera uma oportunidade maior para realizar o Mahamudra. Como o Mahamudra é o resultado da completa perfeição da purificação, o quanto mais pura for a disciplina maior será a clareza mental. Essa clareza e talidade da mente são o significado do Mahamudra. Além disso, quando clareza e harmonia se encontram na mente, surge a moralidade pura. Como uma criança em crescimento a mente deve, inicialmente, ser protegida das circunstâncias ameaçadoras e perigosas.

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Depois, ao receber educação, e após desenvolver todas as credenciais acadêmicas necessárias, poderemos ser úteis e prestar serviços para a sociedade. Da mesma forma, enquanto estiverem em um estado mental frágil e não-treinado, sejam cautelosos para protegerem a mente dos pensamentos e ações não-virtuosas. Protejam a mente com as cercas dos diferentes votos. Então, após receber muitos ensinamentos dos veículos dos Ouvintes e dos bodisatvas, treinem a mente adequadamente, fortalecendo-a em sabedoria e compaixão. Finalmente, com esse apoio, manifestem o verdadeiro benefício para os seres sencientes para liberá-los do sofrimento e estabelecê-los no estado da iluminação. Para os praticantes de todos os níveis a atenção mental e a consciência da ética moral são cruciais. Quando mantemos a ética moral da disciplina adequadamente nos tornamos um exemplo que inspira outras pessoas a seguirem o caminho para a iluminação. Na verdade, definir se alguém é um bom praticante ou não, depende de como ele sustenta os diferentes tipos de votos. Os votos do Vinaya, dos bodisatvas e do mantra secreto todos têm os mesmos pontos essenciais: evitar as causas do samsara, atingir a iluminação através do treinamento da própria mente, e beneficiar os seres sencientes.

Capítulo 14: A Perfeição da Paciência A paciência é uma prática especial que é um antídoto para todas as emoções aflitivas, mas, especialmente, para a aversão, a raiva e o ódio. A paciência tipifica alguém que está livre de medos, baseado em sabedoria e compaixão. Ter paciência não significa desperdiçar tempo e energia, mas é um método especial para combater e superar os obstáculos à paz e à harmonia, nos estados relativo e absoluto. Por outro lado, as emoções aflitivas, especialmente a raiva e o ódio, destroem toda a paz, clareza e harmonia do universo interior, o mundo da mente. A destruição e a violência no mundo externo se manifestam a partir desse estado. Não importa o quanto o mundo físico se desenvolva através de tecnologias e interesses materiais, a vida pode se tornar miserável sem paz e clareza no mundo interno. Apesar de despendermos muito de nosso tempo e energia desenvolvendo faculdades e organização externas, suportando pressão e prazos da alta velocidade de nosso estilo de vida moderno, também é racional e prático desenvolver a riqueza interior da sabedoria e da compaixão. A riqueza da paz, da compaixão e da harmonia não podem ser dadas a vocês pelos outros, vocês mesmos devem esforçar-se para manter esse treinamento em suas mentes. Ninguém deseja ser feio e destrutivo, mas assim que a raiva e o ódio surgem nas mentes, toda a feiura se manifesta e as pessoas se tornam destrutivas. Todos ao redor ficam com medo, e assim elas ficam isoladas. Por outro lado, quando a mente é mantida em um estado de bondade amorosa e compaixão há espaço para a paz e a clareza, e assim todas as outras pessoas irão respeitá-las e confiar nelas. Isso faz delas bons seres humanos, e faz com que valha a pena possuir uma vida humana preciosa. Assim, seja na vida espiritual ou convencional, esforcem-se a cada dia para gerar alegria e felicidade. Para o progresso espiritual em direção à iluminação, a prática da paciência é um dos treinamentos mais importantes, porque ela elimina a delusão e o ódio.

Capítulo 15: A Perfeição da Perseverança A perseverança é como uma “mão” especial, com a qual coletamos as riquezas das virtudes, da sabedoria e da compaixão. É um antídoto especial para a preguiça. A preguiça não trará benefício algum, seja no samsara ou no nirvana; ela apenas desperdiça nosso tempo e energia com delusões e sonhos. Esse apego à alegria dos prazeres desta vida é como um sonho. Não apenas isto, ele frequentemente gera dor e cria obstáculos. A preguiça surge da fraqueza, sabotando a força mental, de forma que não é mais possível superar os obstáculos à felicidade desta vida, e muito menos à iluminação. O apego preguiçoso à vida samsárica nos deixa tão ocupados com as atividades das oito preocupações mundanas, mas isso é como correr atrás de belos e coloridos arco-íris. Desta forma, a vida humana preciosa com todas as excelentes oportunidades é desperdiçada. Se utilizada adequadamente ela poderia ter sido usada para realizar o objetivo último – a iluminação. Essa vida é apenas como um sonho ou uma apresentação mágica. No final, não podemos carregar nada conosco, portanto é importante aumentar o poder de nossa inteligência e sabedoria, e usar essa vida humana preciosa da melhor forma possível. Se não recebermos os preciosos ensinamentos do Darma, nossas vidas não serão muito diferentes da vida dos animais. Alguns animais trabalham duramente para juntar coisas e criar um lugar confortável para

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viverem, mas eles não possuem a mente especial de sabedoria que conhece o samsara e o nirvana, e assim seu sofrimento é sem fim. Nós que possuímos vidas humanas preciosas devemos despertar do sono da delusão, vestir a armadura do compromisso para purificar todos os nossos conflitos mentais, e realizar a sabedoria primordial. Com esse compromisso, devemos aplicar alegremente nossas mentes na prática do Darma do Nobre Caminho Óctuplo a cada momento, até nos liberarmos do samsara. Perseverança não é apenas completar nominalmente um retiro de três anos, ou seis anos, ou nove anos, mas é o fortalecimento de todas as qualidades positivas da sabedoria e compaixão através da presença mental consistente da purificação de todos os pensamentos e ações não–virtuosos.

Capítulo 16: A Perfeição da Concentração Meditativa A concentração meditativa é explicada de forma precisa neste capítulo, detalhando tanto a meditação analítica quanto a de estabilização. A meditação analítica se refere a um método de treinamento da mente através da investigação do mundo e da própria vida. Todos os fenômenos funcionam a partir da constituição de suas causas e condições. Essa compreensão dissipa a confusão de ver todas as coisas como substanciais e permanentes, e assim o apego é liberado. O apego é uma das causas mais substanciais de vagarmos infinitamente no samsara. Pelo poder do apego, fixamo-nos aos objetos como se fossem reais. A partir desta causa, ódio e medo surgem e a mente não poderá ser estabilizada. Portanto, antes de fazerem esforços para estabilizar a mente, investiguem como os fenômenos são temporários e possuem apenas uma natureza momentânea. Vocês descobrirão que não existe essência alguma no samsara; não importa quanto esforço vocês produzam, é como correr atrás de uma miragem. Com base nesta investigação racional, estabilizem a mente com base nas dez virtudes. Sem uma mente estável, não será possível desenvolver clareza e acuidade mental. A estabilidade é como canalizar rios dispersos sob uma ponte, ela gera força e poder. Por outro lado, uma mente dispersa não alcançará quaisquer qualidades positivas, mesmo meditando por centenas de anos. Portanto, é importante ler a história das vidas dos grandes mestres para ver como eles renunciaram às atividades samsáricas e dedicaram completamente suas vidas em locais isolados, e ver as qualidades excelentes que eles desenvolveram, e como eles demonstraram o caminho correto e beneficiaram incontáveis seres. Sem desculpas deveríamos dedicar nossas vidas e energia para canalizar e organizar nossas mentes de acordo com os diferentes níveis dos estados meditativos. Desta forma nos livraremos de toda confusão e conseguiremos abrir as portas para a liberação.

Capítulo 17: A Perfeição da Sabedoria Discriminativa A sabedoria discriminativa é uma qualidade especial da mente que penetra a natureza não-fabricada de todos os fenômenos. Sem a prática da sabedoria discriminativa não é possível liberar-se do samsara ou alcançar a iluminação, não importa o esforço que seja realizado na prática das outras cinco paramitas. As outras cinco podem trazer grande benefício e conforto na vida, mas não é possível alcançar o insight especial sem sabedoria discriminativa. É essa sabedoria que corta todas as delusões. Porém, sem o apoio das outras paramitas, apenas sabedoria não é o suficiente para alcançar a iluminação. As cinco primeiras perfeições são chamadas, coletivamente, de “método”, e a sabedoria discriminativa é chamada de “sabedoria”. Suas práticas são igualmente necessárias para reunir as duas grandes acumulações. Como um avião, as duas asas do método e da sabedoria podem cruzar o oceano do samsara e pousar na outra margem, a iluminação. Como o Sutra do Coração afirma: “Forma é vazio, vazio também é forma. Forma nada mais é do que vazio, vazio nada mais é do que forma.” Uma grande força mental é necessária para penetrar este significado. Não iremos negar a realidade a partir da investigação, mas conquistaremos uma sabedoria especial de como todas as coisas são compostas por causas e efeitos interdependentes. Sua natureza essencial é a vacuidade que tudo permeia, não-fabricada. Ao mesmo tempo, os fenômenos se manifestam incessantemente a partir desta vacuidade. A existência aparente dos fenômenos e a vacuidade que tudo permeia não são duas entidades diferentes, mas sim inseparáveis. Quando realizamos isto através da experiência da prática meditativa, ocorre uma grande abertura. A mente torna-se livre de fronteiras, de forma que as qualidades excelentes da sabedoria e da compaixão poderão se manifestar. Tudo se torna óbvio, e nada mais está oculto. Não há necessidade de especular ou

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investigar. Os detalhes das investigações a serem realizadas na prática de meditação são descritos claramente neste capítulo. Essa sabedoria discriminativa transcende todas as diferenças de cultura, crença e religião. Ela nos permite experimentar a natureza universal, não-fabricada. Assim, se vocês desejam liberar-se de todas as fronteiras e confusões, este caminho deve ser seguido, sem escolhas.

Capítulo 18: Os Aspectos dos Cinco Caminhos O desenvolvimento mental da sabedoria e da compaixão descritos nos dezessete capítulos anteriores, durante o qual purificamos os diferentes níveis de obscurecimentos, é cultivado completamente ao longo dos cinco caminhos. O primeiro é conhecido como caminho da acumulação. Através do estudo e do treinamento nas quatro fundações – a raridade e preciosidade da vida humana e suas oportunidades; a impermanência de todos os fenômenos compostos, incluindo a vida humana preciosa; o sofrimento que permeia completamente o samsara; e a lei inexorável da causação cármica – conquistamos uma compreensão clara da necessidade de nos liberarmos do samsara e de alcançar a iluminação. Com base nesta percepção, nossos esforços são focados e organizados para o caminho espiritual. Com a orientação de mestres espirituais, começamos a reunir as diferentes instruções e métodos que estabelecerão a mente em um estado claro e unifocado. Com esta fundação, uma grande bondade amorosa, compaixão e bodicita serão desenvolvidas. Este é o caminho da acumulação.

Na sequência, no caminho da preparação continuamos este desenvolvimento treinando a mente e fortalecendo o poder da sabedoria para combater as emoções aflitivas. Estudando e familiarizando-nos através da prática com a ideia de que tudo é interdependente e ilusório, desenvolveremos o talento de suprimir e subjugar todo o poder das emoções aflitivas. Este é o caminho da preparação.

Com base na concentração meditativa unifocada e com o apoio do insight especial, penetraremos a natureza da própria mente, e seremos completamente vitoriosos na batalha com as delusões e obscuridades aflitivas. O processo da realização da vacuidade que tudo permeia no estado meditativo é chamado de caminho do insight.

Para nos fortalecermos e purificarmos todas as tendências habituais, dissipando obstáculos no caminho para a iluminação, precisamos manter constante presença mental e lembrança. Relembrar a impermanência de todos os fenômenos dissipa o apego a esta vida. Relembrar a natureza de sofrimento do samsara dissipa o apego aos prazeres do samsara. Relembrar a bondade amorosa e a compaixão dissipa os obstáculos à própria paz e liberação. Fortalecer a prática da bodicita dissipa a ignorância sobre como atingir a iluminação. Praticar a compreensão de tudo como a natureza ilusória livre de identidades é o método para dissipar a fixação aos fenômenos como reais. Este modo de treinamento é o caminho da meditação.

Ao aperfeiçoar todos estes treinamentos não há necessidade de aprender mais nada. Ao purificar, aniquilando completamente todos os obscurecimentos sutis através da absorção que é como um vajra, a sabedoria primordial que tudo permeia irá florescer. Este é o chamado caminho da sabedoria que tudo permeia. Ao realizar este nível não há nada mais a dissipar ou a adicionar. Ele transcende todas as concepções de dualidade e realiza a mente primordial desta forma. Este é o chamado caminho da perfeição, e é o estado búdico.

Capítulo 19: Os Dez Bhumis dos Bodisatvas O Senhor do Darma Gampopa descreve sistematicamente os dez bhumis de uma forma breve, porém precisa. O momento da realização do terceiro caminho, do insight, a compreensão da natureza completa da mente não-fabricada livre de fronteiras, é chamado de primeiro bhumi. Mas, apenas realizar a vacuidade não é a conquista última. Se os fenômenos fossem simplesmente vazios de existência inerente não haveria mais o que fazer ao atingir tal realização. Mas, visto que eles não são apenas vazios, há a necessidade de treinamento adicional e de um maior desenvolvimento das qualidades. Todos esses treinamentos ocorrem do segundo ao décimo bhumis. Assim, os bodisatvas passam pelos treinamentos nas dez paramitas da generosidade, ética moral, paciência, perseverança, concentração meditativa, sabedoria discriminativa, meios hábeis, aspiração, força e sabedoria primordial. Ao atingirmos o primeiro bhumi, durante o equilíbrio meditativo experimentaremos a vacuidade que

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tudo permeia, como a natureza do espaço. Mas, no estado pós-meditativo, ainda percebemos a dualidade devido à coesão das tendências habituais. Do segundo ao décimo bhumis esta coesão de tendências habituais é purificada, assim como os obscurecimentos associados às emoções aflitivas e os obscurecimentos sutis. As duas acumulações de mérito e sabedoria não estão completamente desenvolvidas até a realização do décimo bhumi, que é o nível próximo à iluminação e o nível final dos bodisatvas. Um bodisatva de décimo nível possui grande poder para manifestar sem esforços atividades que beneficiam incontáveis seres sencientes. A mente deste bodisatva está completamente tomada por compaixão incondicional livre de objetos, e grande sabedoria. Tal ser está livre de toda dúvida e medo, e tem coragem indômita e habilidade para beneficiar os seres sencientes até o final do samsara.

PARTE 5: O RESULTADO

Capítulo 20: A Iluminação Perfeita

Após o aperfeiçoamento do décimo bhumi é alcançada a iluminação, a natureza completa da sabedoria que tudo permeia, denominada darmakaya. Essa é a perfeição completa do benefício para si mesmo; é o estado que corporifica todas as qualidades excelentes das práticas do Darma; é o estado de perfeição da sanga. Não há especulações, nada a investigar. Ele é livre de todos os pensamentos conceituais da dualidade, e assim esse estado é chamado de “pensamento não-conceitual da sabedoria primordial coemergente”, a perfeição total da paz e da bem-aventurança além dos pensamentos e expressões conceituais. É livre de todas as limitações e vasto como a natureza ilimitada do espaço. É a natureza completamente não-fabricada, além dos compostos e não-compostos. É o estado de não-dualidade das verdades relativa e absoluta.

Também é a base para a manifestação de todas as formas de um buda. O sambogakaya, o corpo de sabedoria celestial que é marcado pelos seus 112 atributos, manifesta-se para os grandes bodisatvas que são altamente realizados em seu treinamento espiritual. Cada uma das marcas físicas é o símbolo da purificação de todos os obscurecimentos e do desenvolvimento de todas as qualidades excelentes. O nirmanakaya, o corpo de emanação, manifesta-se no mundo para os seres comuns e oferece os ensinamentos do Darma em níveis diferentes de acordo com as faculdades e disposições mentais variadas dos seres.

Do seu ponto de vista os praticantes os percebem em diferentes níveis, mas no estado búdico não há diferenciações. Todas as manifestações búdicas são aspectos da sabedoria discriminativa. A natureza não-nascida dessa sabedoria não-fabricada, que tudo permeia, é o darmakaya; aquilo que é incessante é o sambogakaya; sua natureza não-dual é o nirmanakaya; a natureza inseparável dos três é o svabhavikakaya. O Senhor do Darma Gampopa explica cuidadosamente a natureza búdica e a interdependência dos três kayas que são manifestados para beneficiar os seres sencientes.

PARTE 6: AS ATIVIDADES

Capítulo 21: As Atividades do Buda Ao longo dos cinco caminhos e dez bhumis os bodisatvas aplicam grande esforço para a purificação e a realização de todas as qualidades excelentes. Ao terminarem, é como um ceramista girando sua roda para o benefício de todos os seres sencientes. Se o ceramista construiu adequadamente sua roda, ela gira sem esforços e fabrica centenas de potes. Da mesma forma, um buda que aperfeiçoou todas essas qualidades manifesta, sem esforços, infinitas atividades. Porém, até mesmo as atividades de um buda dependem de causas e condições. Para que os seres sencientes possam encontrar as atividades de um buda eles precisam ter carma positivo e boa fortuna suficientes para receber as bênçãos, mesmo que as atividades dos budas se manifestem incessantemente. Se a condição da água não estiver presente, então a lua das atividades não poderá ser refletida. Portanto, esforcem-se sempre para encontrar estas preciosas atividades. O Senhor do Darma Gampopa tirou todas as metáforas desse capítulo do Tantra Insuperável, um comentário de Maitreia sobre o discurso final dos ensinamentos do Buda.

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Em resumo, aqueles que tiverem o interesse e a oportunidade de estudar e praticar esse texto magnífico, escrito pelo ser iluminado, o Senhor do Darma Gampopa, são muito afortunados. Esse texto é a essência de todos os três pitakas Mahayana. Cada sentença, cada palavra desse livro são tão preciosas; é fala vajra que dissipa a ignorância e a confusão. Esse livro contém todas as bênçãos magníficas dos budas dos três tempos. Portanto, leitores, observem seu significado cuidadosamente, guardem-no em seus corações e apliquem-no na prática. Os méritos e virtudes desse trabalho, assim como os de todos os budas, bodisatvas, arhats e todos os seres sencientes, são dedicadas da seguinte forma: Gloriosos, sagrados, veneráveis, preciosos, bondosos lamas-raiz e da linhagem, Assembleia divina de yidams e assembleias dos budas, bodisatvas, iogues, Ioguines e dakinis que habitam nas dez direções, Por favor, ouçam minha oração! Pelo poder desta vasta raiz de virtude, Possa eu beneficiar todos os seres através de meu corpo, minha fala e minha mente. Possam todas as aflições do desejo, do ódio, da ignorância, da arrogância e Do ciúme não surgir em minha mente. Que os pensamentos sobre fama, reputação, riquezas, honra, e Preocupação com esta vida não surjam nem por um instante. Que meu fluxo mental seja umedecido pela bondade amorosa, Compaixão e bodicita, e que, através delas, Eu possa me tornar um mestre espiritual com qualidades positivas Iguais à imensidão do espaço. Possa eu conquistar a realização suprema do Mahamudra nesta mesma vida. Possam os tormentos do sofrimento não surgir nem mesmo no Momento de minha morte. Possa eu não morrer com pensamentos negativos. Possa eu não morrer confuso pelas visões errôneas. Possa eu não experimentar uma morte extemporânea. Possa eu morrer alegremente e feliz na grande luminosidade da Talidade da mente e na claridade do darmata que tudo permeia. Possa eu, de qualquer forma, conquistar a realização suprema Do Mahamudra no momento da morte ou no bardo. Pelas virtudes acumuladas nos três tempos Por mim e por todos os seres sencientes do samsara e do nirvana, E pela raiz inata de virtude, Possamos eu e todos os seres sencientes atingir rapidamente A iluminação insuperável, perfeita, completa e preciosa. Khenpo Konchog Gyaltsen Frederick, Maryland

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Homenagem

Prostrações ao nobre Manjushri em sua forma jovial!

Presto homenagem aos Vitoriosos, aos seus seguidores, ao Darma sagrado,

e aos lamas que são sua fundação.

Este nobre ensinamento, que é como uma joia que realiza desejos,

Será escrito para meu próprio benefício e de outros, a partir da bondade

de Mila e do Senhor Atisha.

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Introdução

De modo geral, todos os fenômenos estão incluídos nas duas categorias de samsara e nirvana. O que é chamado de samsara é vazio por natureza, uma projeção confusa. A característica que o define é que ele se manifesta como sofrimento. O que é chamado de nirvana também é vazio por natureza, mas todas as projeções confusas foram extintas e dissipadas. A característica que o define é a liberação de todo o sofrimento.

Quem está confuso no samsara? Todos os seres sencientes dos três reinos estão confusos. Qual é a base do surgimento da confusão? A confusão surge com base na vacuidade. O que faz com que a confusão surja? A causa da confusão é a grande ignorância. Como esta confusão opera? Ela opera através das atividades e experiências dos seis reinos de migrantes. O que exemplifica esta confusão? Esta confusão é como o sono e o sonho. Quando esta confusão se originou? Esta confusão se originou no samsara sem princípio. Qual é o erro desta confusão? Todas as experiências resultam em sofrimento. Quando esta confusão poderá ser transformada em sabedoria primordial? Quando atingirmos a iluminação insuperável.

Se você pensa que esta confusão talvez se dissipe por si mesma, então entenda que o samsara é

conhecido por ser infinito. Entenda que o samsara é confusão. Entenda quanto sofrimento se dá nele. Entenda o tempo de sua duração. Entenda que não há liberação espontânea.

Portanto, de hoje em diante, você deveria se esforçar o máximo possível para alcançar a iluminação insuperável. Quais itens são necessários para realizar este tipo de esforço? O sumário:

A causa primária, a base de trabalho, a causa contribuinte, O método, o resultado e as atividades – Todos os seres discriminativos deveriam entender que Estes seis itens compreendem a explicação geral Sobre a iluminação insuperável.

A causa primária da iluminação insuperável, a pessoa que é a base de trabalho para a realização da

iluminação, as causas contribuintes que encorajam a prática, o método de prática, o resultado que é alcançado e as atividades que se seguem à realização – estes são os tópicos que devem ser entendidos. Explicando-os na ordem:

A causa primária é a essência do Bem-aventurado2. Como base de trabalho a vida humana preciosa é excelente. A causa contribuinte é o mestre espiritual. O método são as instruções do mestre espiritual. O resultado é o corpo perfeito do Buda. As atividades beneficiam os seres sencientes, sem pensamentos conceituais.

Estes seis tópicos formam o corpo deste texto. Agora, os ramos serão explicados em detalhes.

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PARTE 1

A Causa Primária

A Causa Primária é a Essência do Bem-Aventurado

CAPÍTULO 1

Natureza de Buda Precisamos atingir a iluminação insuperável liberando-nos do estado confuso do samsara. Mas, será possível para seres inferiores como nós alcançar a iluminação, mesmo se fizermos o esforço? Como não atingiríamos a iluminação se fizéssemos o esforço!? Todos os seres sencientes, incluindo nós mesmos, já possuem a causa primária para a iluminação, a Essência do Bem-Aventurado. Como se afirma no Sutra Rei da Absorção Meditativa:

A Essência do Bem-Aventurado permeia todos os migrantes. O Pequeno Sutra do Parinirvana diz:

Todos os seres sencientes possuem a Essência Daquele que Assim se Foi.1

E também o Grande Sutra do Parinirvana afirma:

Por exemplo, assim como a manteiga está presente no leite, da mesma forma a Essência Daquele que Assim se Foi permeia todos os seres sencientes.

E o Ornamento dos Sutras Mahayana:

Mesmo a talidade sendo indiferenciada para todos os seres, Só podemos chamar alguém de “Aquele que Assim se Foi”, quando há a purificação completa. Portanto, todos os seres possuem esta essência.

Através de qual raciocínio pode ser demonstrado que os seres sencientes possuem a Natureza de Buda?2 Por todos os seres sencientes estarem permeados pela vacuidade do darmakaya, porque não há diferenciações na natureza da talidade, e por todos os seres pertencerem a uma “família”. Devido a estas três razões todos os seres sencientes possuem a natureza búdica. O Tantra Insuperável afirma:

Como a forma perfeita do Buda se irradia, Como não há distinções na talidade, e Como todos os seres pertencem a uma “família”, Todos os seres sencientes possuem desde sempre a Essência da Iluminação.

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Explicando a primeira razão: “Todos os seres sencientes estão permeados pela vacuidade do darmakaya”, isto significa que a iluminação final é o darmakaya, darmakaya é a vacuidade que tudo permeia e a vacuidade permeia todos os seres sencientes. Portanto, todos os seres sencientes possuem a natureza búdica. Dizer que “não há diferenciações na natureza da talidade” significa que a talidade do Buda é idêntica à talidade dos seres sencientes. Nenhuma é melhor ou pior, maior ou menor, superior ou inferior. Assim, por este motivo todos os seres sencientes possuem a natureza búdica. “Todos os seres pertencem a uma família” significa que todos os seres sencientes podem ser categorizados nas cinco famílias do Buda. Quais são elas? O sumário:

A família desconectada, a família indefinida, A família dos Ouvintes, a família dos Realizadores Solitários e A família Mahayana – Estas são as cinco famílias do Buda. I. Família Desconectada. Em primeiro lugar, o que significa o termo “família desconectada”? Ele se refere a seis características, tais como nenhum interesse pelo que os outros pensam, nenhuma modéstia, nenhuma compaixão e assim por diante. O grande Acharya Asanga colocou da seguinte forma:

Mesmo ao verem o sofrimento e as falhas do terrível samsara eles não se comovem.

Mesmo ao ouvirem sobre as grandes qualidades do Buda eles não possuem fé. Eles não têm modéstia, nenhum interesse pelo que os outros pensam, absolutamente nenhuma compaixão e Não experimentam o menor arrependimento ao cometerem, repetidamente, ações não-virtuosas. Aqueles que apresentam estas seis características não têm a chance de trabalhar em direção à iluminação.

Isto também é explicado no Ornamento dos Sutras Mahayana:

Existem aqueles que apenas cometem ações não-virtuosas. Existem aqueles que destroem sistematicamente as qualidades positivas. Existem aqueles que não possuem a virtude que conduz à liberação. Assim, aqueles que não têm virtudes não possuem a causa da iluminação. Em geral, diz-se que aqueles que apresentam tais atributos constituem a família desconectada. Eles vagarão pelo samsara por um longo tempo, mas isto não significa que eles nunca alcançarão a iluminação. Se eles fizessem o esforço, em algum momento até mesmo eles atingiriam a iluminação. O Buda afirmou no Sutra do Lótus Branco da Grande Compaixão:

Ananda! Se um ser senciente que, de outra forma, não teria chance alguma de alcançar a iluminação, visualizasse um Buda no espaço e oferecesse uma flor àquela imagem, o resultado deste ato levaria este ser ao nirvana. No devido tempo, até mesmo esta pessoa atingiria a iluminação. Assim, o nirvana é possível para ele.

II. Família Indefinida. A natureza da família indefinida depende de causas contribuintes. Se elas seguirem um mestre espiritual Ouvinte, associarem-se a amigos Ouvintes, ou estudarem os diferentes textos dos Ouvintes, então estas pessoas despertarão na família dos Ouvintes. Elas estudarão e seguirão este caminho e tornar-se-ão parte da família dos Ouvintes. Da mesma forma, se estas pessoas encontrarem mestres Realizadores Solitários ou Mahayana, então elas despertarão, respectivamente, na família dos Realizadores Solitários ou na família Mahayana. III. Família dos Ouvintes. A família dos Ouvintes é composta por aqueles que temem o samsara e

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anseiam por alcançar o nirvana, mas que possuem pequena compaixão. Assim foi dito:

Aqueles que têm medo ao verem os sofrimentos do samsara E que anseiam por alcançar o nirvana, Mas que possuem pouco interesse em beneficiar os seres sencientes –

Estas são as marcas da família dos Ouvintes. IV. Família dos Realizadores Solitários. A família dos Realizadores Solitários inclui aqueles que possuem os três atributos anteriores e, adicionalmente, são arrogantes, mantêm a identidade de seus mestres secreta, e preferem permanecer em lugares isolados. Assim foi dito:

Medrosos diante da lembrança do samsara, ansiando pelo nirvana,

Com pequena compaixão, arrogantes, Discretos sobre seus professores, e apreciadores do isolamento –

Os sábios deveriam entender que estas são as marcas da família dos Realizadores Solitários.

Assim, estas duas famílias, Ouvintes e Realizadores Solitários, engajam-se em seus respectivos veículos, e mesmo atingindo o resultado de suas práticas, estes resultados não são o nirvana final. Em qual estado eles permanecem ao atingirem seus frutos? Eles sustentam estados de concentração meditativa não-aflitos3, mas estes estados se baseiam na marca psíquica da ignorância. Como seus estados de concentração meditativa são não-aflitos, eles acreditam que alcançaram o nirvana, e permanecem nestes estados. Se estes estados não são o nirvana final, então poderíamos questionar o porquê de o Buda ter ensinado estes dois caminhos. Existe alguma razão para o Buda ter ensinado estes dois caminhos? Sim. Por exemplo, suponham que grandes mercadores deste continente de Jambudvipa estivessem navegando pelos oceanos procurando joias. Após muitos meses no mar, em algum lugar desolado, eles ficam completamente exaustos e cansados e pensam: “Não há mais como conseguir as joias”. Ao se sentirem desencorajados e se prepararem para retornar, o capitão dos mercadores manifesta uma enorme ilha através de seus poderes milagrosos, e permite que todos ali descansem. Após alguns dias, quando todos descansaram e relaxaram, o capitão diz: “Ainda não atingimos nosso objetivo. Agora devemos ir adiante e encontrar nossas joias.” Da mesma forma, os seres sencientes de pouca coragem se apavoram ao ouvirem sobre a sabedoria do Buda. Eles creem que alcançar a iluminação é muito difícil, e pensam: “Eu não sou capaz de fazer isto.” Existem outras pessoas que não estão interessadas em entrar no caminho, ou que, ao entrarem, voltam atrás. Para combater estes dois problemas, o Buda apresentou estes dois caminhos, e permite que eles descansem nestes estados. No Sutra do Lótus Branco do Darma Sublime se diz:

Desta forma, todos os Ouvintes Pensam que alcançaram o nirvana. Mas eles não atingiram o nirvana final Revelado pelo Buda. Eles só estão descansando. Quando os Ouvintes e Realizadores Solitários estão bem descansados nestes estados, o Buda percebe a situação e os encoraja a atingir a iluminação. E como o Buda os encoraja? Ele os desperta através de seu corpo, fala e mente de sabedoria. “Com sua mente de sabedoria” significa que luz se irradia a partir da sabedoria do Buda e toca os corpos mentais dos Ouvintes e Realizadores Solitários. No momento em que a luz os toca, eles despertam de suas meditações não-aflitas. Então, o Buda aparece fisicamente diante deles. Através de sua fala ele diz:

Ó monges! Vocês ainda não terminaram seu trabalho; vocês não finalizaram tudo aquilo que se espera de vocês. A sua experiência de nirvana não é o nirvana final. Assim, todos vocês, monges, devem seguir o caminho para a iluminação. Vocês devem atingir a realização do Buda.

E do Sutra do Lótus Branco do Darma Sublime, em forma de verso: Monges, hoje eu declaro: Vocês não alcançaram o nirvana final.

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O Ornamento da Preciosa Liberação Gampopa

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Para atingir a sabedoria primordial do Onisciente, Vocês devem cultivar grande perseverança. Desta forma, vocês alcançarão a sabedoria do Onisciente. Motivados pelo Buda desta forma, estes Ouvintes e Realizadores Solitários cultivam bodicita. Eles praticam o caminho do bodisatva por muitas incontáveis kalpas, e, no final, atingem a iluminação. O Sutra da Jornada a Lanka relata desta mesma forma. E também, o Sutra do Lótus Branco do Darma Sublime afirma: Estes Ouvintes não alcançaram o nirvana. Praticando completamente o caminho do bodisatva Eles atingirão a iluminação. V. Família Mahayana. Que tipo de família é a Mahayana? O sumário:

Classificação, definição, sinônimos, Razão pela qual é superior às outras famílias, Características causais, e as marcas. Estes seis pontos compreendem a família Mahayana. A. Classificação. Esta família possui duas classificações: a família naturalmente manifesta e a família que pode ser perfeitamente desenvolvida. B. Definição. Em segundo lugar vem a explicação das respectivas “essências” destes indivíduos. A família naturalmente manifesta possui, desde um tempo sem início, o potencial para desenvolver todas as qualidades búdicas através da talidade4. A família que pode ser perfeitamente desenvolvida possui o potencial de alcançar as qualidades búdicas através do poder do hábito às raízes de virtude5. Assim, ambas têm a chance de alcançar a iluminação. C. Sinônimos. Os sinônimos de família são potencial, semente, esfera e modo natural de permanência. D. Superioridade. As famílias dos Ouvintes e Realizadores Solitários são inferiores pelo fato de purificarem apenas o obscurecimento das emoções aflitivas. A família Mahayana é superior por purificar seus seguidores dissipando os dois tipos de obscurecimentos – emoções aflitivas e os obstáculos sutis à iluminação. Portanto, a família Mahayana é superior e insuperável. E. Características Causais. As características causais desta família são descritas como “desperta” e “não-desperta”. A família desperta alcançou o fruto perfeitamente, e os sinais são muito óbvios. A família não-desperta não alcançou o fruto perfeitamente, e suas marcas não são óbvias. O que poderia causar o despertar desta família? Esta família pode despertar através da liberação das condições desfavoráveis, e através do apoio de condições favoráveis. Se os opostos ocorrerem, então eles não despertarão. Existem quatro condições desfavoráveis: nascer em condições desfavoráveis, não possuir uma tendência habitual para a busca da iluminação, envolver-se com condições errôneas, e estar muito encoberto por obscurecimentos. Existem duas condições favoráveis: a condição externa de um professor e a condição interna da mente que deseja adequadamente o precioso Darma, e assim por diante. F. Marcas. As marcas desta família são os sinais que indicam a família dos bodisatvas. O Sutra dos Dez Nobres Bhumis coloca: A família dos sábios bodisatvas Pode ser reconhecida pelos seus sinais. Assim como o fogo é reconhecido pela fumaça E a água é reconhecida pelos pássaros aquáticos.

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Neste caso, quais são os tipos de marcas? Seus corpos e fala são naturalmente gentis sem a necessidade de um antídoto. Suas mentes são menos enganadoras, e apresentam bondade amorosa e clareza para com os seres sencientes. Assim, o Sutra dos Dez Nobres Bhumis afirma: Sem aspereza ou arrogância, Evitando todo o engano e esperteza, Apresentando uma atitude clara e amorosa para com todos os seres sencientes – Este é um bodisatva. Em outras palavras, em quaisquer ações preparatórias os bodisatvas sempre cultivam compaixão por todos os seres sencientes, têm grande inclinação pelos ensinamentos Mahayana, não hesitam em enfrentar dificuldades, acumulam de modo completo as raízes de virtude das perfeições. Assim, no Ornamento dos Sutras Mahayana se diz: Tendo desenvolvido compaixão no estágio de preparação, Interesse devotado, paciência, Acumulando perfeitamente as virtudes – Estes são os sinais da família Mahayana. Assim, dentre estas cinco famílias, aqueles que se encontram na família Mahayana estão muito próximos da iluminação. As famílias dos Ouvintes e Realizadores Solitários os conduzirão à iluminação, mas a causa se encontra mais distante e levará um longo tempo. Na família indefinida, alguns estão próximos e outros levarão muito tempo. A família desconectada é conhecida pelo Buda por vagar no samsara por um longo tempo, mas isto não significa que eles não atingirão a iluminação. Eles podem atingir a iluminação, mas levará muito tempo. Portanto, visto que todos os seres sencientes pertencem a uma destas famílias, todos têm a natureza de Buda. Desta forma, pelas três razões acima, foi demonstrado que todos os seres sencientes possuem a natureza búdica. Além disso, considerem os seguintes exemplos: a prata que se encontra na pepita, o óleo na semente de mostarda, e a manteiga que se encontra no leite. Da pepita de prata podemos extrair prata; da semente de mostarda podemos produzir óleo; e do leite, podemos produzir manteiga. Do mesmo modo, seres sencientes podem se tornar budas.

Este é o primeiro capítulo, que explica a causa primária, de O Ornamento da Preciosa Liberação,

A Joia que Realiza Desejos dos Nobres Ensinamentos.

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PARTE 2

A Base de Trabalho

Como Base de Trabalho a Vida Humana Preciosa é Excelente

CAPÍTULO 2

A Vida Humana Preciosa

Todos os seres sencientes possuem a natureza búdica. Sendo este o caso, será que todos os seres dos

cinco reinos1, tais como os seres dos infernos, fantasmas famintos e assim por diante, têm a capacidade de trabalhar na busca da iluminação? Não. Apenas uma “vida humana preciosa”, que apresente as duas qualidades de liberdades e vantagens, e uma mente que sustente os três tipos de fé, é uma boa base para trabalhar até a iluminação. O sumário: Liberdades e vantagens, Confiante, esperançosa e clara, Duas do corpo e três da mente – Estas cinco compreendem a base de trabalho excelente. I. Liberdades. Possuir as “liberdades” significa estar livre das oito condições desfavoráveis. Estas oito condições desfavoráveis são mencionadas no Sutra do Darma Sublime da Clara Recordação: Infernos, fantasmas famintos, animais, Bárbaros, deuses de longa vida, Sustentar visões errôneas, ausência de um Buda, Mudez – Estas são as oito condições desfavoráveis. . De que forma estas condições são desfavoráveis? Nos reinos dos infernos os seres têm a natureza de sofrimento constante; fantasmas famintos são torturados por sofrimentos mentais; os animais estão pesadamente subjugados pela ignorância. Estes três não possuem modéstia e nenhuma preocupação com o que os outros pensam. Seus fluxos mentais são vasos inapropriados; portanto, eles não têm a oportunidade de praticar o Darma. Os deuses de longa vida se encontram em estados não-conceituais nos quais todas as atividades mentais cessaram. Portanto, eles não têm a oportunidade de praticar o Darma. Por apresentarem vidas mais longas que os seres humanos, todos os reinos dos deuses constituem-se em condições desfavoráveis. Todos

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os deuses estão em condições desfavoráveis por estarem apegados à felicidade temporária e por não terem tempo para o esforço no Darma. Portanto, a pequena quantidade de sofrimento que é experimentada pelos humanos possui grandes qualidades, pois a partir dela desenvolvemos uma sensação de tristeza com o samsara. Isto pacifica nossa arrogância. Isto faz com que surja em nós compaixão pelos outros seres. Isto faz com que aprendamos a gostar das ações positivas e a nos afastar das ações negativas. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas diz: Além do mais, o sofrimento tem qualidades positivas: Ao ficarmos desconsolados diante dele, a arrogância é dissipada, Compaixão surge por aqueles que estão na existência cíclica, O mal é evitado e alegria é encontrada na virtude. Esta é a explicação de como os quatro reinos não-humanos não possuem liberdades. Mesmo sendo seres humanos, os bárbaros têm dificuldades em encontrar os seres espirituais. Aqueles que sustentam visões errôneas não conseguem compreender que as ações virtuosas são a causa de renascimentos superiores ou da liberação. Ao nascer em uma época em que não houve um Buda não existem professores que possam explicar o que deve ser feito e o que deve ser abandonado. Pessoas mudas ou sem inteligência não conseguem compreender os ensinamentos sobre virtude e não-virtude. Quando se está livre de todas estas oito condições, isto se chama a “liberdade excelente”. II. Vantagens. As dez vantagens são divididas em dois grupos - as cinco qualidades que devem ser alcançadas individualmente, e as cinco que provêm de condições externas. As cinco a serem conquistadas individualmente são: Nascer como humano, nascer em um país central, possuir todas as faculdades, Não cair em ações negativas, possuir devoção pelos ensinamentos. O que significa “nascer como humano”? Para alguém ser considerado humano deve possuir os órgãos masculinos ou femininos. “Um país central” refere-se a um lugar onde há a oportunidade de seguir os seres santos. “Possuir todas as faculdades” significa estar livre da mudez ou falta de inteligência, e ter a chance de praticar o Darma virtuoso. “Possuir devoção pelos ensinamentos” significa ter fé de que o Vinaya ensinado pelo Buda é a base para toda a prática do Darma. “Não cair em ações negativas” significa não cometer nenhum dos crimes hediondos nesta vida. As cinco qualidades que provêm de condições externas são: um Buda surgiu neste mundo, um Buda ensinou o precioso Darma, o Darma que foi ensinado continua existindo, existem seguidores deste Darma, e existe o apoio amoroso e bondoso de outras pessoas. Assim, ao possuir todas as dez qualidades, cinco individuais e cinco externas, este estado é chamado de “vantagens excelentes”. Quando estes dois itens, liberdades e vantagens, estão presentes, então esta é uma “vida humana preciosa”. E por que ela é chamada de preciosa? Ela é igual a uma joia preciosa que concede desejos.

A. Ela é preciosa por ser difícil de obter. B. Ela é preciosa por ser de grande benefício.

A. Difícil de Obter. O Cesto dos Bodisatvas afirma:

É raro nascer como humano, É raro manter uma vida humana, É raro encontrar os ensinamentos do Darma sagrado e Também é raro o surgimento de um Buda.

O Sutra do Lótus Branco da Grande Compaixão afirma:

É difícil encontrar um nascimento humano. É difícil encontrar as liberdades excelentes. Também é raro que um Buda apareça nesta terra. Também é difícil

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encontrar o interesse devotado pelo Darma. Também é difícil manter perfeita aspiração.

No Sutra Plantando o Nobre Caule: É difícil encontrar liberdade diante das oito condições desfavoráveis. É difícil encontrar um nascimento humano. É difícil encontrar a disponibilidade perfeita. Também é difícil encontrar o surgimento de um Buda. Também é difícil encontrar pessoas com todas as faculdades. Também é difícil ouvir os ensinamentos do Darma de um Buda. Também é difícil seguir os preciosos seres santos. Também é difícil encontrar mestres espirituais autênticos. Também é difícil praticar completamente o que é ensinado nos ensinamentos perfeitos. Também é difícil ter um modo de vida correto.2

Também é difícil encontrar pessoas que se esforcem no reino humano de acordo com o Darma. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas diz: “Liberdades e vantagens são muito difíceis de encontrar”. Quais tipos de exemplos existem para mostrar como é difícil encontrar uma vida humana preciosa? Quais tipos de seres têm dificuldades para obter uma vida humana? Por que ela é difícil de ser obtida? Um exemplo é mencionado em Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas: Por estas mesmas razões o Buda disse Que tão difícil quanto é para uma tartaruga colocar seu pescoço Em um anel à deriva no vasto oceano, É extremamente difícil atingir o estado humano.

Isto foi explicado pelo Buda nos sutras: Suponham que toda a superfície da terra fosse um oceano e uma pessoa jogasse nele um anel de

madeira com apenas um orifício. Este anel flutuaria para lá e para cá em todas as direções. No oceano, há uma tartaruga cega que vive muitos milhares de anos, mas que sobe à superfície apenas uma vez a cada cem anos. Seria muito difícil que a cabeça da tartaruga encontrasse o orifício do anel; ainda assim, é possível. Nascer com uma vida humana preciosa é muito mais difícil.

Quais seres têm dificuldades em encontrar uma vida humana preciosa? Os seres que nascem nos três reinos inferiores têm dificuldades em renascer como humanos.

Por que uma vida humana preciosa é difícil de ser obtida? Este corpo de liberdades e vantagens é conquistado através da acumulação de ações virtuosas, e aqueles que renascem nos três reinos inferiores não sabem como acumular virtudes. Pelo contrário, eles cometem ações não-virtuosas constantemente. Portanto, apenas aqueles que renascem nos reinos inferiores com uma quantidade de carma negativo muito pequena, e aqueles cujo carma poderá amadurecer em outra vida, têm a chance de renascer com uma vida humana.

B. Grande Benefício. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma: “Visto que ela realiza o que é

significativo para o homem...” Em sânscrito, “homem” é purusha, que é traduzido como “capacidade” ou “habilidade”. Portanto,

uma vida humana com as qualidades de liberdades e vantagens proporciona a capacidade ou habilidade de alcançar ou estados superiores temporários ou a realização final; portanto, ela é chamada de purusha. Além disso, existem três tipos diferentes de habilidade: a inferior, a mediana e a superior. Como se diz na Lâmpada para o Caminho da Iluminação.

Deve-se entender que existem três tipos diferentes de pessoas: Inferiores, medianas e superiores. Uma pessoa inferior tem a habilidade de alcançar o reino dos humanos ou dos deuses sem cair nos

reinos inferiores. Assim se diz:

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Aquele que se esforça, por todos os meios, Para alcançar os prazeres do samsara Para seu próprio benefício – Este é chamado de uma pessoa inferior. Uma pessoa mediana tem a habilidade de alcançar um estado de paz e felicidade livrando-se do

samsara. Assim se diz: Aquele que vira as costas para os prazeres do samsara E se abstém de ações não-virtuosas, Mas que só está interessado em sua própria paz – Este é chamado de uma pessoa mediana. Uma pessoa superior tem a habilidade de alcançar a iluminação pelo benefício de todos os seres

sencientes. Assim se diz: Ao verem o sofrimento em seu próprio fluxo mental, Eles se esforçam para extinguir completamente o sofrimento dos outros – Estes são chamados de pessoas supremas. Além disso, o Acharya Chandragomin colocou: Como são grandes seus efeitos benéficos! Ao obter a vida humana preciosa, Podemos nos livrar do oceano de renascimentos e também Lançar a semente da iluminação suprema. Esta mesma vida humana tem qualidades maiores que uma Joia que realiza desejos, Assim, como não colher os seus frutos? O caminho pelo qual os humanos podem conquistar força mental Não pode ser seguido pelos deuses ou nagas, Nem mesmo pelos semideuses, garudas, vidyadharas, kinnaras ou urakas. Esta vida humana de liberdades e vantagens tem a capacidade de evitar todas as não-virtudes, e de

realizar todas as virtudes; ela tem a habilidade de cruzar o oceano do samsara; ela tem a habilidade de prosseguir no caminho para a iluminação, e tem a capacidade de atingir a iluminação perfeita. Portanto, ela é superior à vida dos deuses, nagas e assim por diante. Ela é muito superior à joia que realiza desejos. Assim, visto que esta vida humana que apresenta liberdades e vantagens é difícil de ser obtida e apresenta grandes efeitos benéficos, ela é denominada “preciosa”.

------------------------------------ Apesar de ser difícil de obter e de apresentar grandes efeitos benéficos, ela é muito fácil de perder.

Não há ninguém que possa prolongar a vida, existem muitas causas para a morte, e cada momento passa instantaneamente. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma:

Não é adequado me regozijar Achando que no dia de hoje eu serei o único a não morrer, Pois, chegará inevitavelmente o momento Em que eu me transformarei em nada. Portanto, contemple como é difícil obter esta vida humana preciosa, como é fácil perdê-la, e como são

grandes seus efeitos benéficos. Pense neste corpo como um barco, e faça o esforço necessário para cruzar o oceano do samsara. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma:

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Confiando no barco deste corpo humano, Livrem-se do grande rio da dor! Visto que é difícil conseguir este corpo novamente, Esta não é hora para dormir, ó tolos! Encare este corpo como um cavalo, e use-o para fugir do precipício do sofrimento samsárico. Assim

se diz: Cavalgando o cavalo de um corpo humano puro Escape do precipício perigoso do sofrimento do samsara. Ou pense neste corpo como um servo e faça-o trabalhar pela virtude. Assim se diz: Este corpo dos seres humanos deve tornar-se um servo da virtude. Seguir o caminho virtuoso requer fé. Sem fé, não será desenvolvida a virtude. Assim, o Sutra dos Dez

Darmas afirma: Qualidades virtuosas não nascerão Em uma pessoa sem fé. Assim como um broto verde Não nasce de uma semente queimada. E também, o Sutra da Guirlanda de Budas afirma: Uma pessoa mundana sem fé Não conseguirá entender a iluminação do Buda. Portanto, devemos desenvolver fé. O Sutra da Nobre e Profunda Representação afirma: Ananda, funda sua mente com a fé. Este é o pedido do Tatágata. Neste caso, o que significa “fé”? Existem três tipos de fé: confiante, esperançosa e clara. III. Fé Confiante. Entenda que esta fé depende da compreensão do tópico “causa e resultado” – a

Verdade do Sofrimento que surge da Verdade da Origem do Sofrimento3. Além disso, ela surge da confiança de que a felicidade no mundo do desejo é fruto de causas virtuosas. Confiança de que o sofrimento no mundo do desejo é resultado de ações não-virtuosas. Confiança de que a felicidade dos dois reinos superiores é resultado de causas inabaláveis. Confiança de que ao engajar-se em ações não-virtuosas de corpo, fala e em emoções aflitivas, que são chamadas de Verdade da Origem do Sofrimento, obtêm-se os cinco skandas aflitos, que são chamados de Verdade do Sofrimento.

IV. Fé Esperançosa. Ao entender a natureza extraordinária da iluminação insuperável deve-se seguir

o caminho com respeito e reverência, de forma a realizá-lo. V. Fé Clara. A fé clara surge no fluxo mental com base nas Três Joias. Desenvolva devoção e interesse

pelo Buda como o professor que mostra o caminho, o Darma que se transforma no caminho e a sanga que nos guia ao longo da realização do caminho. O Abhidarma afirma:

O que é a fé? É confiança, esperança e clareza em relação à causa e seu resultado, às verdades e às Três Joias.

Além disso, a Guirlanda Preciosa de Joias diz: Aquele que não desiste do Darma Por desejo, aversão ou ignorância É denominado alguém que possui grande confiança no Darma.

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Esta pessoa é o recipiente supremo para a realização do estado absoluto. Não abandonar o Darma “por desejo” significa não abandonar o Darma devido ao apego. Por

exemplo, se alguém dissesse: “Se você desistir do Darma, eu lhe darei uma grande recompensa em riquezas, um homem ou mulher, a realeza e assim por diante”, ainda assim você não abandonaria o Darma.

Em segundo lugar, não abrir mão do Darma “por aversão” significa não abandonar o Darma devido ao ódio. Por exemplo, suponha que alguém o prejudicou no passado. Mesmo se você estiver sendo prejudicado no presente, você não desistiria do Darma.

Por terceiro, não abandone o Darma “por medo”. Por exemplo, alguém pode vir até você e dizer: “se você não desistir do Darma eu ordenarei a 300 soldados para cortarem cinco onças da carne de seu corpo a cada dia.” Mesmo assim, você não desistiria do Darma.

Quarto, não abandonar o Darma “por ignorância” significa não desistir do Darma por tolices. Por exemplo, alguém pode dizer a você que não existem tais coisas como a verdade da ação ou a verdade do resultado, e que as Três Joias não são válidas, e perguntar: “Por que você pratica o Darma? Desista!” Ainda assim, você não desistiria.

Aquele que tem estas quatro confianças possui fé verdadeira e é o veículo supremo para alcançar o bem definitivo. Assim, aquele que possui tal fé obtém efeitos benéficos inconcebíveis: o cultivo da atitude de um ser supremo, o afastamento de todas as condições desfavoráveis, a posse de uma sabedoria aguda e clara, e uma ética moral que não declina. Esta pessoa destruirá todas as emoções aflitivas, irá além de estar sujeita aos obstáculos dos maras e encontrará o caminho da liberação. Esta pessoa acumulará grandes virtudes, ela verá muitos budas e receberá bênçãos magníficas dos budas, e assim por diante. O Darani Denominado Joia Tripla afirma:

Aquele que tem devoção pelo Buda e pelo Darma do Vitorioso, E possui confiança no modo de vida dos bodisatvas – Se tal ser tiver confiança na iluminação insuperável, Então ele cultivará a mente dos seres excelentes. Os sublimes budas surgirão diante daquele que tem fé e oferecerão os ensinamentos do Darma. O

Cesto dos Bodisatvas coloca:

Assim, quando os bodisatvas possuem fé, todos os sublimes budas os verão como vasos adequados, aparecerão para eles e mostrarão a eles o caminho perfeito dos bodisatvas.

Assim, o corpo humano precioso que possui liberdades, vantagens e as três fés é denominado a base de trabalho para a prática da iluminação insuperável.

Este é o segundo capítulo, que explica a base de trabalho, de O Ornamento da Preciosa Liberação,

A Joia que Realiza Desejos dos Nobres Ensinamentos.

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PARTE 3

A Causa Contribuinte

A Causa Contribuinte é o Mestre Espiritual

CAPÍTULO 3

O Mestre Espiritual

Mesmo possuindo a base de trabalho excelente, uma vida humana preciosa, se não formos encorajados por mestres espirituais1, então será difícil seguirmos o caminho para a iluminação devido ao poder das tendências inveteradas não-virtuosas de vidas passadas e à força destas tendências habituais. Portanto, é necessário seguir mestres espirituais. O sumário: Razão e classificação, As características de cada classificação, O método e os benefícios de seguir mestres espirituais – Estes cinco itens compreendem a relação com o mestre espiritual. I. Razão. Existem três razões que explicam por que devemos seguir um mestre espiritual:

A. Escrituras B. Lógica C. Comparações

A. Escrituras. Em primeiro lugar, do Sutra Condensado da Perfeição da Sabedoria:

O nobre discípulo que tem respeito pelo lama Deveria sempre seguir o sábio lama, Pois ele, assim, receberá qualidades positivas do lama.

E do Sutra da Perfeição da Sabedoria em 8000 Linhas: Desde o início, um bodisatva-mahasatva que deseje alcançar A iluminação perfeita, completa e insuperável, Deveria encontrar, seguir e prestar respeito aos mestres espirituais. B. Lógica. Aquele que aspira a alcançar o estado onisciente deveria seguir um mestre espiritual por não saber como acumular méritos, ou como purificar obscurecimentos. A ilustração positiva são os budas dos três tempos. Do outro lado estão os realizadores solitários.

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Explicando: de forma a alcançar a iluminação perfeita e completa, todas as acumulações, incluindo mérito e sabedoria primordial, devem ser reunidas. Os meios para fazer isto dependem do mestre espiritual. Todos os obscurecimentos, incluindo as emoções aflitivas e os obscurecimentos sutis à iluminação devem ser purificados. Os métodos para abandonar estes obscurecimentos dependem do mestre espiritual. C. Comparações. Um mestre espiritual é como um guia ao viajarmos para um lugar desconhecido, como uma escolta quando vamos a um lugar perigoso e como um barqueiro ao cruzarmos um grande rio. Explicação da primeira comparação. Ao viajarmos para um lugar desconhecido sem um guia, há o perigo de errarmos o caminho, de nos perdermos ou de nos desviarmos do caminho. Quando um bom guia é seguido, então não haverá o perigo de errarmos o caminho, nem o perigo de nos perdermos, nem o perigo de nos desviarmos do caminho. Alcançaremos nosso destino sem desperdiçar quaisquer passos. Da mesma forma, ao ingressarmos no caminho para a iluminação sem um mestre espiritual Mahayana como guia, então há o perigo de nos perdermos nos caminhos não-budistas, de nos enganarmos no caminho do Ouvinte, ou de nos desviarmos para o caminho dos Realizadores Solitários. Por outro lado, se a orientação de um mestre espiritual for seguida, então, sem nos enganarmos de caminho, sem nos perdermos e sem nos desviarmos, conseguiremos chegar à cidadela da onisciência. Como se conta na história da vida de Srisambhava: O mestre espiritual é como um guia que nos conduz

Ao longo do caminho da perfeição. A segunda comparação é a de um lugar perigoso que apresenta as ameaças de ataques de assaltantes, ladrões, animais selvagens, e assim por diante. Ao irmos para tais lugares sem uma escolta nossos corpos, vida e posses estarão sob perigo. Com uma escolta adequada pode-se chegar ao destino sem quaisquer perigos. Da mesma forma, ao ingressarmos no caminho para a iluminação e ao aspirarmos pela cidadela da onisciência realizando as grandes acumulações de mérito e sabedoria primordial, sem um mestre espiritual como escolta, há o perigo de perdermos esta vida de condições favoráveis e de perdermos nossa acumulação de virtudes para os ladrões e assaltantes – os pensamentos discursivos internos, as emoções aflitivas e os maras externos, espíritos malévolos, e assim por diante. Assim se diz: Quando a multidão de emoções furtivas tiver uma chance Elas roubarão todas as suas virtudes e, em condições favoráveis,

Levarão até mesmo sua vida. Mas, se você não se afastar do mestre espiritual, que é como uma escolta, você se aproximará da

cidadela da onisciência sem perder sua acumulação de virtudes, e sem permitir que sua vida de condições favoráveis seja levada. Portanto, como se conta na história da vida de Srisambhava:

Todos os méritos dos bodisatvas serão preservados pelo mestre espiritual. Na história da vida da upasika Acala se conta: Cada mestre espiritual é como uma escolta que o levará ao estado da onisciência. A terceira comparação: ao cruzar um grande rio a bordo de um barco sem o barqueiro você não

chegará à outra margem, pois o barco ou irá afundar sob a água, ou será levado pela correnteza. Com um barqueiro você chegará à outra margem através dos esforços dele. Da mesma forma, ao cruzar o oceano do samsara sem um mestre espiritual para atuar como barqueiro, então mesmo que você encontre o barco do Darma sagrado você será carregado pela correnteza do samsara, ou se afogará no samsara. Como se diz:

O barco não o levará à outra margem do rio sem um barqueiro. Mesmo se você Possuir as qualidades completas você não se livrará do samsara sem um lama. Portanto, se você seguir um mestre espiritual que seja como um barqueiro você alcançará a margem

seca do nirvana e o outro lado do oceano samsárico. O Sutra Plantando o Nobre Caule afirma:

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Um mestre espiritual é como um barqueiro que cruza o oceano do samsara. Portanto, vocês devem seguir mestres espirituais que sejam como guias, escoltas ou barqueiros. II. Classificação. Existem quatro classificações para os mestres espirituais: O mestre espiritual comum, O mestre espiritual bodisatva, que já alcançou determinados bhumis, O mestre espiritual nirmanakaya e O mestre espiritual sambogakaya. Estes quatro tipos estão relacionados às realizações espirituais dos discípulos. Quando se é um ser

comum, ou iniciante, não é possível ter como mestres espirituais os budas e bodisatvas que já atingiram níveis superiores, e assim, seguimos mestres espirituais comuns. Quando os obscurecimentos cármicos estão mais purificados podemos seguir um mestre espiritual bodisatva de níveis superiores. Após completar o caminho da grande acumulação podemos seguir um mestre espiritual nirmanakaya. Ao alcançarmos o nível de um bodisatva podemos seguir um mestre espiritual sambogakaya.

Dentre estes quatro qual é o maior benfeitor? Quando estamos na escuridão dos obscurecimentos do carma das emoções aflitivas não temos a oportunidade de nem mesmo ver o rosto de um mestre espiritual superior, e assim, como poderíamos segui-lo? Ao encontrarmos mestres espirituais comuns, recebendo a luz de seus ensinamentos que iluminam o caminho, teremos a oportunidade de encontrar mestres espirituais superiores. Portanto, o maior benfeitor para nós são os mestres espirituais comuns.

III. Características de Cada Classificação. A. Mestres Espirituais Nirmanakaya e Sambogakaya. Tendo purificado os dois tipos de

obscurecimentos, o Buda corporifica a perfeição das purificações. Possuindo as duas sabedorias oniscientes, ele corporifica a perfeição da sabedoria primordial2.

B. Mestres Espirituais Bodisatvas. Mestres espirituais bodisatvas que alcançaram níveis superiores,

do primeiro ao décimo bhumis, possuem níveis diversos de sabedoria e purificação. Em especial os bodisatvas que alcançam níveis acima do oitavo possuem dez poderes para beneficiar os outros seres: poder sobre a vida, mente, provisão de necessidades, causa ou ação, nascimento, intenções, preces de aspiração, milagres, sabedoria discriminativa e Darma.

“Poder sobre a vida” significa que ele pode viver por tanto tempo quanto desejar. “Poder sobre a mente” significa que ele pode sustentar a concentração meditativa por tanto tempo

quanto desejar. “Poder sobre a provisão de necessidades” significa que ele é capaz de derramar uma chuva de

ilimitadas coisas necessárias para os seres sencientes. “Poder sobre a causa” significa que ele pode mudar os efeitos do carma de uma vida específica para

outra esfera, mundo, reino ou nascimento. “Poder sobre o nascimento” significa que ele pode sustentar a concentração meditativa e, se nascer no

mundo do desejo, ele não será afetado pelas suas falhas. “Poder sobre as intenções” significa que ele consegue transformar qualquer coisa em terra, água,

fogo, e assim por diante. “Poder sobre as preces de aspiração” significa que se ele tiver a intenção de beneficiar perfeitamente a

si mesmo e aos outros, isto se realizará. “Poder sobre milagres” significa que ele pode demonstrar inúmeras manifestações de forma a fazer

com que os seres sencientes se interessem pelo caminho espiritual. “Poder sobre a sabedoria discriminativa” significa que ele alcançou a perfeição da compreensão dos

fenômenos, de seu significado, da definição das palavras e confiança. “Poder sobre o Darma” significa que, em um instante, os bodisatvas podem satisfazer completamente

todos os seres sencientes de acordo com suas disposições e em suas diferentes línguas, através de palavras e agrupamentos de letras, com base em muitos diferentes tipos de sutras, e assim por diante.

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C. Mestres Espirituais Comuns. Existem três tipos de mestres espirituais comuns: aqueles que possuem oito qualidades, aqueles que possuem quatro qualidades e aqueles que possuem duas qualidades. Em relação ao primeiro tipo, Os Bhumis dos Bodisatvas afirmam:

Devemos compreender que um bodisatva que possui oito qualidades é um mestre espiritual perfeito. Quais são elas? Ele possui a ética moral de um bodisatva, é um estudioso dos ensinamentos dos bodisatvas, possui realização, possui compaixão e bondade, possui destemor, possui paciência, possui uma mente incansável e é um especialista em expressão verbal.

O segundo tipo é descrito no Ornamento dos Sutras Mahayana: Ele é um grande estudioso e dissipa todas as dúvidas, O que quer que ele diga é aceitável e distingue as duas Realidades3 – Este é um perfeito mestre espiritual bodisatva. “É um grande estudioso” refere-se a ele ser capaz de oferecer vastos ensinamentos devido a sua

grande sabedoria. O mestre espiritual pode dissipar as dúvidas porque ele possui uma profunda sabedoria discriminativa. Suas palavras são aceitáveis porque sua ação é pura virtude. Ele é capaz de explicar as características primárias das emoções aflitivas e de sua purificação.

O terceiro tipo é delineado em Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas: Um mestre espiritual é sempre um especialista Nos ensinamentos Mahayana. Ele não irá abandonar o voto de bodisatva Mesmo sob o risco da própria vida. Em outras palavras, um mestre espiritual deve ter estudado o veículo Mahayana e manter o voto de

bodisatva. IV. Método. Quando um mestre espiritual é encontrado, existem três formas de segui-lo. Estas são:

A. Segui-lo através de respeito e serviço, B. Segui-lo através de devoção e reverência e C. Segui-lo através de prática e persistência nos ensinamentos.

A. Respeito e Serviço. O primeiro item tem duas subdivisões. Segui-lo “através do respeito” significa

fazer prostrações, ficar em pé rapidamente, curvar-se, circum-ambular, expressar-se com um sentimento de proximidade no momento adequado, fitá-lo alternadamente sem parar, e assim por diante. O exemplo é de como Sudhana4, o filho de um mercador, seguiu seus mestres espirituais. O Sutra Plantando o Nobre Caule afirma:

Não se deve nunca ficar satisfeito ao olhar para um mestre espiritual Porque é difícil ver um mestre espiritual, é raro que eles apareçam Nesta terra, e é difícil encontrá-los. Seguir o mestre espiritual “através de serviço” significa oferecer a ele comida dármica, roupas,

acomodações, remédios e todos os outros tipos de coisas necessárias, mesmo sob o risco de seu próprio corpo e vida. O exemplo é de como Sadaprarudita5 seguiu seus mestres espirituais. Na história da vida de Srisambhava se afirma:

A iluminação de um Buda será alcançada através do serviço aos mestres espirituais. B. Devoção e Reverência. Segui-lo “através de devoção e reverência” significa que devemos olhar

para o mestre espiritual como se ele fosse o Buda. Não deveríamos desobedecer aos seus ensinamentos.

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Deveríamos desenvolver devoção, respeito e uma mente clara. O exemplo é a forma como Naropa seguiu seus mestres espirituais6. A Perfeição da Sabedoria Mãe dos Vitoriosos afirma:

Você deveria reverenciar persistentemente, repetidamente e constantemente os Mestres espirituais. Seja muito generoso com eles e trate-os com carinho. Além disso, devem-se evitar as visões errôneas sobre os meios hábeis dos mestres espirituais. Pelo

contrário, devemos ter grande respeito por eles. Por exemplo, vejam a história da vida do Rei Anala7. C. Prática e Persistência. Seguir o mestre “através da prática e da persistência nos ensinamentos”

significa integrar verdadeiramente e praticar os ensinamentos do mestre espiritual ouvindo, contemplando, praticando meditação e persistindo. Isto fará com que o mestre espiritual fique supremamente satisfeito. O Ornamento dos Sutras Mahayana diz:

Seguir o mestre espiritual significa praticar todos os ensinamentos. Com isso, ele ficará completamente satisfeito. A iluminação será alcançada quando o mestre espiritual estiver satisfeito. Como se conta na história

da vida de Srisambhava: Quando você satisfizer o mestre espiritual, você atingirá a iluminação de todos os budas. Existem três etapas para receber ensinamentos de um mestre espiritual: preparação, ensinamentos e

consequência. Em primeiro lugar, “preparação” significa receber os ensinamentos com bodicita, a mente da

iluminação. Enquanto estiver recebendo os ensinamentos deve-se olhar para si mesmo como um paciente, para o Darma como o remédio, e para o mestre espiritual como o médico. Ouvir e praticar firmemente o Darma deveria ser visto como a recuperação da doença. Como consequência, os defeitos de ser como um pote emborcado, um pote rachado, e um pote cheio de veneno serão evitados.

V. Benefícios. Os efeitos benéficos de seguir um mestre espiritual são mencionados na história da

vida de Srisambhava:

Nobre Família! Um bodisatva bem protegido por mestres espirituais não cairá nos reinos inferiores. Um bodisatva que é escoltado por mestres espirituais não cairá nas mãos de pessoas más. Um bodisatva que é orientado por um mestre espiritual não se desviará do caminho Mahayana. Um bodisatva que é guiado por um mestre espiritual ultrapassará o nível de uma pessoa comum.

A Perfeição da Sabedoria, Mãe dos Vitoriosos afirma:

Um bodisatva-mahasatva que é bem orientado por um mestre espiritual alcançará rapidamente a iluminação completa e insuperável.

Este é o terceiro capítulo, que ensina sobre o mestre espiritual, de

O Ornamento da Preciosa Liberação, A Joia que Realiza Desejos dos Nobres Ensinamentos.

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PARTE 4

O Método

O Método são as Instruções do Mestre Espiritual

Introdução à PARTE 4

Uma vez que possuímos a causa primária, a natureza búdica, estamos seguindo em um fluxo contínuo no samsara sem princípio. Em algum momento devemos ter conquistado uma vida humana preciosa e também encontrado um mestre espiritual. Assim, quais falhas nos impediram de alcançar a iluminação no passado? Nós fomos dominados por quatro obstáculos.

Então, quais são estes quatro obstáculos à realização da iluminação? Estar apegado às atividades desta vida, estar apegado aos prazeres do samsara, estar apegado à paz e não compreender o método de prática que leva à iluminação.

Como estes obstáculos podem ser dissipados? Eles serão dissipados pelas instruções do mestre espiritual.

Quantas e quais são as instruções do mestre espiritual? O sumário: Meditação sobre a impermanência, Meditação sobre as falhas do samsara e sobre causa e resultado, Meditação sobre a bondade amorosa e a compaixão, E os vários elementos do cultivo de bodicita – Estes quatro itens compreendem As instruções do mestre espiritual. Repetindo, elas são: instruções para a prática de meditação sobre a impermanência, instruções para a

prática de meditação da reflexão sobre as falhas do samsara e sobre causa e seu resultado, instruções para a prática de meditação sobre a bondade amorosa e a compaixão, e instruções sobre como cultivar bodicita.

A contemplação do tema da impermanência remedia o apego às atividades desta vida. Refletir sobre as falhas do samsara e sobre o carma, as causas e seus resultados remedia o apego aos prazeres do samsara. Meditar sobre bondade amorosa e compaixão remedia o apego ao prazer da paz. Cultivar a suprema bodicita é o antídoto para a incompreensão do método que leva à realização da iluminação.

Estes são os fatores utilizados para cultivar a mente e desenvolver bodicita. Do momento em que se toma refúgio até o ponto em que se medita sobre o significado da verdadeira ausência de identidades, ou dos cinco caminhos aos dez bhumis, todos os ensinamentos do Darma estão incluídos no cultivo de bodicita. Algumas práticas formam a fundação para cultivar a mente iluminada, algumas são objeto do cultivo da mente, algumas são métodos para cultivar a mente, algumas são treinamentos no cultivo da mente, algumas são efeitos benéficos do cultivo da mente, e algumas são resultados do cultivo da mente. Assim, todos os ensinamentos Mahayana estão incluídos no cultivo da mente (bodicita). Portanto, todas estas instruções devem ser transmitidas pelo mestre espiritual. Confie no mestre espiritual. O Sutra Plantando o Nobre Caule afirma:

O mestre espiritual é a fonte de todos os ensinamentos virtuosos. Alcançar a onisciência depende das instruções do mestre espiritual.

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O ANTÍDOTO PARA O APEGO A ESTA VIDA

CAPÍTULO 4

Impermanência

A primeira instrução é a meditação sobre a impermanência, como antídoto para o apego a esta vida. Em geral, todos os fenômenos compostos são impermanentes. O Buda disse:

Ó monges! Todos os fenômenos compostos são impermanentes. De que forma eles são impermanentes? O fim da acumulação é a dispersão. O fim de toda construção

é a queda. O fim de um encontro é a separação. O fim da vida é a morte. Os Versos Proferidos Intencionalmente afirmam:

O resultado de toda acumulação é a dispersão. O resultado da construção é a queda. Todos aqueles que se unem se separam. O fim da vida é a morte.

Como devemos meditar sobre isto? O sumário: Classificação, método de meditação e Efeitos benéficos da meditação – Estes três itens compreendem Todas as contemplações sobre a impermanência. I. Classificação. Existem dois tipos:

A. Impermanência do mundo externo, B. Impermanência dos seres sencientes internos1.

Além disso, a impermanência do mundo externo é categorizada de duas formas: impermanência

grosseira e impermanência sutil. O mundo interno também é categorizado de duas formas: impermanência dos outros e de si mesmo.

II. Método de Meditação. A. Impermanência do Mundo Externo. 1. Primeiro, Considere a Impermanência Grosseira do Mundo Externo. Do ponto inferior deste

círculo cósmico de ar até o quarto estágio de concentração meditativa não há nada que possua a natureza de

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permanência ou solidez; nada é imutável. Às vezes, todas as coisas do primeiro estágio de concentração meditativa para baixo são destruídas pelo fogo. Às vezes, todas as coisas do segundo estágio de concentração meditativa para baixo são destruídas pela água. Às vezes, todas as coisas do terceiro estágio de concentração meditativa para baixo são destruídas pelo ar.

Quando o mundo é destruído pelo fogo não restam nem mesmo as cinzas, como óleo consumido pelo fogo. Quando ele é destruído pela água, nenhum sedimento é deixado, como o sal dissolvido na água. Quando o mundo é destruído pelo ar, não restam nem mesmo pequenas partículas, como um monte de pó varrido por um forte vento. Isto é explicado no Tesouro do Abhidarma:

Este mundo será destruído pelo fogo sete vezes, e então uma vez pela água. Quando ele for destruído pela água sete vezes, então ele será destruído pelo fogo sete vezes. No final ele será destruído pelo ar.

O quarto estágio de concentração meditativa não será destruído pelo fogo, água ou ar. Ele será extinto

por si mesmo quando os seres sencientes que nele habitam morrerem. O Tesouro do Abhidarma afirma: A impermanência daqueles palácios se manifesta e os dissolve junto com os seres sencientes. Além do mais, há indicações de que este mundo será destruído pelo fogo. O Sutra Requisitado pelo

Chefe de Família Palgyin afirma:

Após um kalpa, este mundo, que possui a natureza do espaço, tornar-se-á espaço. Até mesmo o Monte Meru será queimado e se desintegrará.

2. Impermanência Sutil do Mundo Externo. A impermanência sutil pode ser vista na mudança das

estações, no nascimento e no ocaso do sol e da lua, e no desaparecimento do instante presente. Devido ao poderoso surgimento da primavera neste mundo, o solo se torna macio, as cores se tornam

avermelhadas, e a grama, as árvores e os vegetais todos começam a brotar. Isto nada mais é do que um sinal da mudança, causado pela impermanência. Pelo poderoso surgimento do verão o solo se torna úmido, as cores se tornam esverdeadas, e as árvores, grama, vegetais e folhas se abrem. Isto também é uma mudança causada pela impermanência. Devido ao poder do outono o solo se endurece, as cores se tornam amareladas, e as árvores, grama e frutos amadurecem. Isto também significa impermanência, a mudança dos tempos. Pela aproximação poderosa do inverno todo o solo se congela, as cores empalidecem acinzentadas, e as árvores e a grama secam. Isto também demonstra os tempos de mudança, a impermanência.

“Impermanência no nascimento e no ocaso do sol e da lua” significa que pelo poder da aurora este mundo externo fica claro e luminoso, mas quando vem a noite, ele se torna escuro. Isto também é um sinal da impermanência.

Por terceiro temos a impermanência “vista no desaparecimento do momento presente”, a cada momento. O momento inicial deste mundo não existe mais em um segundo momento. Cada momento é parecido, e devido a esta similaridade nós nos deludimos e os percebemos como o mesmo, como o fluir de um rio.

B. Impermanência dos Seres Sencientes Internos. 1. Impermanência dos Outros. Dos dois tipos de impermanência associados aos seres sencientes, o

primeiro é a impermanência dos outros. Todos os seres sencientes dos três mundos são impermanentes. O Sutra da Nobre e Profunda Representação afirma:

Os três mundos são tão impermanentes quanto nuvens de outono. 2. Segundo Ponto, a Impermanência do Próprio Indivíduo. Nós também não teremos escolha,

teremos que partir para uma próxima vida. Isto pode ser compreendido através: a) Da investigação da própria impermanência, b) Aplicando a impermanência dos outros a si mesmo.

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a) Investigando a própria impermanência. Meditem sobre o primeiro tópico das seguintes formas: meditem sobre a morte, meditem sobre as características da morte, meditem sobre a exaustão desta vida e meditem sobre a separação.

Para meditar sobre a morte, devemos pensar: “Eu mesmo não poderei permanecer neste mundo por muito tempo e terei que partir para a próxima vida.” Contemplem isto.

Meditem sobre as características da morte contemplando: “Minha vida cessará, a respiração cessará, este corpo se tornará um cadáver, e esta mente terá que vagar por lugares diferentes.” Simplesmente contemplem isto.

Meditem sobre a exaustão da vida contemplando: “Do último ano até agora um ano se passou, e por esta medida minha vida se tornou mais curta. Do último mês até agora um mês se passou, e por esta medida minha vida se tornou mais curta. De ontem para hoje se passou um dia, e por esta medida minha vida se tornou mais curta. O momento que acabou de passar é o fim de um momento. Por esta medida, minha vida está mais curta.” Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma:

Não se estabilizando definitivamente nem de dia nem de noite, A vida está sempre se esvaindo E nunca se torna mais longa, Por que a morte não chegaria para alguém como eu? Meditem sobre a separação contemplando: “Neste momento, aquilo que eu possuo – meus parentes e

minhas posses, este corpo e assim por diante, que eu prezo tanto – nenhum deles poderá me acompanhar para sempre. Em um momento próximo eu terei que me separar deles.” Contemplem isto. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma:

Até este momento, eu não tinha compreendido Que terei de deixar todas as coisas para trás. Outra forma de praticar esta meditação [sobre a própria impermanência] é contemplar os tópicos

organizados em “três por três”2. Meditem sobre a impermanência da morte contemplando:

(1) Definitivamente eu irei morrer. (2) O momento da morte é incerto. (3) Não haverá ajuda quando a morte chegar.

(1) Existem três razões para a certeza da morte: (a) porque não há ninguém do passado que esteja vivo, (b) porque este corpo é composto, (c) porque a vida está se exaurindo a cada momento, a morte irá definitivamente ocorrer. (a) Minha morte é certa porque ninguém do passado está vivo. O Acharya Ashvaghosha disse:

Seja na terra ou nos céus, você já viu alguém que nasceu e não morreu, ou já ouviu falar de alguém? E ainda assim você duvida!

Portanto, mesmo os grandes seres com clarividência infinita e poderes milagrosos não puderam

escapar para um lugar onde não existe a morte. O que dizer de pessoas como nós?! Como se diz:

Grandes sábios com os cinco tipos de clarividência3 podiam voar alto nos céus, e mesmo assim não conseguiram encontrar um lugar onde ninguém morra.

Não apenas isto, mas os seres nobres – os Realizadores Solitários, os grandes Arhats dos Ouvintes – finalmente tiveram que abandonar seus corpos. O que dizer de pessoas como nós?! Os Versos Proferidos Intencionalmente afirmam:

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Todos os Realizadores Solitários e os Ouvintes do Buda abandonaram seus corpos. Assim, por que isto não aconteceria com seres ordinários como nós?

Não apenas isto, até mesmo o perfeito e completo Buda, o corpo nirmanakaya com as marcas maiores e menores, e de uma natureza como a de um vajra indestrutível, também deixou o corpo. O que dizer de pessoas como nós?! O Acharya Ashvaghosha afirmou:

A forma de todos os budas, adornada pelas marcas maiores e menores – mesmo este corpo vajra é impermanente. O que dizer do corpo dos outros seres que não possuem essência, como uma árvore aquática!4

(b) Minha morte é certa, pois este corpo é composto e todos os fenômenos compostos são impermanentes. Tudo aquilo que é composto é de uma natureza perecível. Os Versos Proferidos Intencionalmente afirmam: Ai de mim! Como tudo que é composto é impermanente, então tudo está sujeito a nascimento e morte. Visto que este corpo não é não-composto, ele deve ser composto; portanto, ele é impermanente e a morte é certa. (c) Minha morte é certa, pois a vida se exaure a cada momento. A cada momento a vida se aproxima da morte. Podemos não perceber isto ou estar conscientes, mas podemos examinar esta situação através de exemplos. Assim como uma flecha atirada por um arqueiro habilidoso, como a água caindo de uma montanha íngreme, ou como uma pessoa sendo levada para a execução, a vida passa rapidamente. No primeiro exemplo, quando um arqueiro atira sua flecha em um alvo, ela não para no espaço por um momento até que alcance o alvo. Da mesma forma, nossa vida não para nunca, ela se aproxima da morte rapidamente. Como se diz:

Assim como uma flecha atirada por um arqueiro habilidoso: tão logo a corda é solta, ela não para, mas rapidamente atinge seu alvo. Assim também é com a vida de todos os humanos.

No segundo exemplo, assim como a água cai de uma montanha íngreme sem parar por um instante, da mesma forma é muito óbvio que a vida de uma pessoa não para. A Coleção do Pináculo Precioso afirma:

Amigos! Esta vida passa rapidamente como a água caindo da rocha de uma montanha íngreme. Uma pessoa infantil não está consciente disto e se torna arrogantemente embriagada pela tolice de suas posses.

E também, os Versos Proferidos Intencionalmente afirmam: Assim como a corrente de um grande rio, que se move sem voltar atrás. No terceiro exemplo, um prisioneiro sendo levado para a execução, cada passo que o prisioneiro dá o

aproxima da morte. Da mesma forma, nossas vidas também se aproximam da morte a cada minuto. Assim, o Sutra da Nobre Árvore afirma:

Como um prisioneiro sendo levado para a execução, cada passo que ele dá o leva para mais perto da morte.

E também, os Versos Proferidos Intencionalmente:

Para uma pessoa que, definitivamente, será executada, cada passo que ela dá a leva mais próximo da execução. Assim também é a vida de todos os humanos.

(2) A incerteza do momento da morte é explicada por três razões:

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(a) porque a duração da vida é indefinida, (b) porque o corpo não tem uma essência, e (c) porque existem muitas causas para a morte. Portanto, não há certeza sobre o momento da morte. (a) Em outros reinos ou continentes a duração da vida é definida. Mas neste mundo nossas vidas não têm uma duração definida. Conforme é mencionado no Tesouro do Abhidharma: Aqui ela é indefinida, é de dez anos no final e é indefinida no início5. E como ela é indefinida? Os Versos Proferidos Intencionalmente afirmam:

Alguns morrem no útero, outros no momento do nascimento, da mesma forma alguns morrem enquanto engatinham, e outros enquanto correm por aí. Alguns ficam velhos, outros morrem jovens, alguns morrem no alvorecer da juventude. No final, todos passam.

(b) Dizer que o corpo não possui essência significa que não há uma única substância sólida nele, apenas os trinta e seis componentes impuros6. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas coloca: Em primeiro lugar, mentalmente separe As camadas de pele [da carne] E então com o escalpo da discriminação Separe a carne da estrutura óssea. E tendo aberto até mesmo os ossos Olhe diretamente para a medula. Ao examinar isso tudo pergunte-se, “Onde está a essência?” (c) “Muitas causas da morte” significa que não existe nada que não contribua para a nossa própria morte e a dos outros. A Carta a um Amigo afirma: Esta vida apresenta muitos perigos; ela é mais frágil Que uma bolha levada pelo vento. É uma grande maravilha ter tempo para viver; Inspirar e expirar, e despertar do sono. (3) Também há três razões pelas quais não haverá ajuda no momento da morte: (a) não poderemos ser ajudados por nossas posses, (b) não poderemos ser ajudados por nossos parentes ou amigos, (c) não poderemos ser ajudados por nossos corpos. (a) Não poderemos ser ajudados pelas nossas posses. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma: Mesmo que eu possa viver alegremente por um longo tempo Tendo acumulado uma grande quantidade de riquezas materiais, Terei que partir de mãos vazias e destituído de tudo, Como se tivesse sido roubado por um ladrão. Além de não nos trazer benefícios, as posses nos prejudicam nesta vida e no além. O prejuízo para esta vida vem das discussões e lutas pelas posses, e por experimentar o sofrimento de se tornar um escravo das riquezas, protegendo-as dos ladrões. Mais adiante, seremos lançados aos reinos inferiores a partir da maturação do resultado destas ações. (b) Não poderemos ser ajudados por nossos parentes ou amigos. Assim se diz:

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Quando o momento da morte chegar seus filhos não servirão como refúgio, nem seu pai, sua mãe ou amigos. Não há ninguém em quem você possa tomar refúgio.

Além de não nos trazer benefícios, os parentes nos incomodarão nesta vida e depois. O prejuízo para esta vida é o grande sofrimento devido ao medo de que eles possam morrer, ficar doentes, ou serem derrotados por outros. Mais tarde seremos lançados aos reinos inferiores devido à maturação do resultado. (c) Não poderemos ser ajudados por nossos próprios corpos. Não obteremos ajuda das qualidades deste corpo e nem do próprio corpo. Independente de quão poderoso e forte este corpo seja, ele não pode retornar da morte. Não importa o quão flexível e veloz ele seja, ele não poderá escapar da morte. Não importa o quão eruditos e eloquentes nós sejamos, não poderemos escapar da morte debatendo. Por exemplo, quando o sol está se pondo por trás das montanhas, ninguém poderá atrasá-lo ou impedi-lo. O próprio corpo não poderá ajudar. Conforme se diz:

Este corpo, que é bem sustentado pela comida e roupas que são acumuladas através de grandes dificuldades, não nos acompanhará, mas será devorado pelos pássaros ou cães, ou cremado em labaredas de fogo, ou irá apodrecer sob a água, ou será enterrado sob o solo.

Além de não nos beneficiar no momento da morte, ele trará dificuldades nesta vida e depois. O prejuízo para esta vida é de que este corpo não consegue tolerar a doença, o calor, o frio, a fome, a sede, o medo de quem alguém bata nele, o medo de que alguém o mate, o medo de que alguém o torture, ou o medo de quem alguém possa arrancar sua pele. Mais tarde, devido às falhas deste corpo, seremos lançados nos reinos inferiores a partir da maturação do resultado. (b) Aplicando a impermanência dos outros a si mesmo. Praticar a impermanência da morte “aplicando a impermanência dos outros” se refere à observação da morte de outra pessoa, a ouvir sobre a morte de outra pessoa e a recordá-la em sua mente. Por primeiro, a prática de meditação sobre a impermanência da morte ao observar alguém que esteja morrendo. Por exemplo, considerem algum parente próximo, cujo corpo é forte, que apresenta uma compleição muito brilhante e um ânimo positivo, e que não tem nenhuma ideia de morte em sua mente, de forma alguma. Suponham que, repentinamente, ele seja assolado por uma doença mortal. Toda a força de seu corpo se perde, e ele não pode nem mesmo sentar. Sua face radiante e compleição desaparecem; seu rosto se torna pálido. Sua sensação é de sofrimento. Ele não consegue tolerar a doença, ele não consegue aguentar a dor, os remédios e tratamentos não fazem efeito, rituais e cerimônias religiosas não funcionam mais. Ele entende que irá morrer, que não há outra escolha. Ele reúne seus últimos amigos e parentes, come sua última refeição, repete suas últimas palavras. Neste momento contemplem: “Eu também possuo a mesma natureza essencial, estou nas mesmas condições, e tenho o mesmo caráter. Eu não estou além desta realidade.” Quando sua respiração cessa, dali em diante, não importa o quão amável e importante ele possa ter sido naquela casa, daquele ponto em diante ele não poderá ficar nem mais um dia ali. Ele é deitado em uma maca e amarrado, e o carregador de corpos o leva embora. Algumas pessoas de sua casa abraçam o corpo e fingem se agarrar a ele afetuosamente. Outros choram e fingem estar abatidos, outros caem no chão em um desmaio, enquanto outros amigos dizem que o corpo é terra e pedras, e que estas ações são tolas e não têm sentido. Uma vez que o corpo foi levado para fora da casa, e você percebe que ele nunca mais retornará, então você deveria praticar a meditação. Lembrem-se de tudo isto e contemplem: “Eu também sou da mesma natureza essencial, estou na mesma condição, e tenho o mesmo caráter. Eu não estou além desta realidade.” Quando o corpo chega ao cemitério e é jogado ali, quando ele é comido por vermes, cães, chacais, outros animais selvagens, quando os ossos são espalhados aqui e ali, ao ver estas coisas, relembre-se, como antes, contemplando “Eu também sou da mesma natureza” e assim por diante. Pratique a impermanência da morte ao ouvir sobre os outros que já morreram. Ao ouvir que alguém está morto ou que há um cadáver, relembre-se da impermanência da morte como antes, contemplando: “Eu também sou da mesma natureza” e assim por diante. Pratique a impermanência da morte relembrando os outros que já morreram. Lembre-se dos mortos, jovens e velhos, que o acompanharam em sua cidade ou lar. Relembre-se da impermanência da morte como

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antes, contemplando: “Logo eu também terei o mesmo destino” e assim por diante. Conforme se afirma em um sutra:

Visto que não é certo o qual chegará antes, o amanhã ou o próximo mundo, então sem me esforçar pelo amanhã, eu deveria me preparar para o próximo mundo.

III. Efeitos Benéficos da Meditação. A consciência da impermanência de todos os fenômenos compostos nos leva à liberação do apego a esta vida. Além disso, ela nutre a fé, apoia a perseverança, e rapidamente nos libera do apego e da raiva. Ela se torna uma causa para a realização da natureza única de todos os fenômenos.

Este é o quarto capítulo, que explica a impermanência de todos os fenômenos compostos, de

O Ornamento da Preciosa Liberação, A Joia que Realiza Desejos dos Nobres Ensinamentos.

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O ANTÍDOTO PARA O APEGO

AOS PRAZERES DO SAMSARA

CAPÍTULO 5

O Sofrimento do Samsara

Você pode pensar que estará tudo bem se a impermanência causar a sua morte, porque você renascerá novamente e, uma vez tendo renascido, você terá a oportunidade de desfrutar todos os prazeres gloriosos dos deuses e humanos, e isto será o suficiente para você. Tal pensamento denota alguém que está apegado aos prazeres do samsara. Como antídoto para esta atitude deve-se meditar sobre as falhas do samsara. O sumário: O sofrimento que tudo permeia, Bem como o sofrimento da mudança e O sofrimento do sofrimento – Estes três constituem as falhas do samsara. Se estes três sofrimentos fossem explicados através de exemplos, o sofrimento que tudo permeia seria como uma fruta verde, o sofrimento da mudança seria como comer arroz envenenado, e o sofrimento do sofrimento seria como o mofo na fruta.1 Se estes três sofrimentos fossem explicados através de suas definições, o sofrimento que tudo permeia seria como um sentimento neutro, o sofrimento da mudança seria como um sentimento de prazer, e o sofrimento do sofrimento seria como um sentimento de sofrimento. Se as características primárias destes três sofrimentos fossem explicadas, veríamos que somos permeados pelo sofrimento no momento em que os skandas aflitos surgem.2

I. O Sofrimento que Tudo Permeia. As pessoas comuns não sentirão o sofrimento que tudo permeia, assim como alguém que, por exemplo, é assolado por uma séria moléstia e, assim, uma pequena dor nos ouvidos não será perceptível. Mas os seres santos – os seres nobres que estão além do samsara, tais como aqueles que entraram na corrente, e assim por diante3 – verão o sofrimento que tudo permeia como sofrimento; assim como quando alguém está se recuperando de uma grave moléstia, e a pequena dor de uma infecção no ouvido passa a ser experimentada como sofrimento. Há outro exemplo. Quando um cabelo se encontra na palma de sua mão não há sofrimento ou desconforto. Mas, quando este mesmo cabelo está no seu olho, há sofrimento e desconforto. Da mesma forma, este sofrimento não será percebido como sofrimento pelos seres comuns, mas será visto como sofrimento pelos seres nobres. O Comentário ao Tesouro do Abhidarma afirma: Quando um cabelo é levado da palma da mão ao olho, Haverá desconforto e sofrimento. Os pueris, assim como a palma da mão, Não estão conscientes do cabelo do sofrimento que tudo permeia. Os santos são como o olho, E sentirão este sofrimento que tudo permeia.

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O Ornamento da Preciosa Liberação Gampopa

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II. O Sofrimento da Mudança. O segundo tipo, o sofrimento da mudança, é assim chamado porque todo o prazer e a felicidade do samsara se transformarão, no final, em sofrimento. O Sutra do Lótus Branco da Grande Compaixão afirma:

O reino dos deuses é uma causa de sofrimento. Todos os reinos humanos também são causas de sofrimento.

Portanto, mesmo se alguém conquistasse uma monarquia universal sobre os seres humanos, isto conduziria, finalmente, ao sofrimento. A Carta a um Amigo afirma: Mesmo se alguém se tornasse um monarca universal, Acabaria caindo na escravidão do samsara. Não apenas isto, mas mesmo alguém que alcançasse o corpo e a satisfação de Indra, o rei dos deuses, finalmente cairia e morreria. Mais uma vez, a Carta a um Amigo afirma: Mesmo se alguém se tornasse Indra, que é digno de louvor, Cairia à terra pelo poder de seu carma. E não apenas isto, mas alguém que atingisse o estado de Brahma e assim por diante, rei dos deuses que transcenderam o mundo do desejo, e que experimentam o prazer da concentração meditativa, finalmente cairia. A Carta a um Amigo afirma: Alguém que atinja o prazer e a felicidade do estado de Brahma, Livre do reino do desejo, Tornar-se-á novamente combustível para o fogo de Avici, E sofrerá continuamente. III. O Sofrimento do Sofrimento. Por terceiro, o sofrimento do sofrimento é o surgimento de todos os sofrimentos maiores somando-se ao sofrimento que tudo permeia no momento em que adquirimos os skandas aflitos. Nesta categoria deveríamos entender dois tipos de sofrimento: o sofrimento dos reinos inferiores e o sofrimento dos reinos superiores. Explicando o primeiro tipo, o sofrimento dos reinos inferiores que consistem nestes três:

A. Infernos, B. Fantasmas famintos, C. Animais.

Cada um destes deve ser compreendido através de quatro categorias: classificação, localização, tipo

de sofrimento e duração da vida. A. Reino dos Infernos. Em primeiro lugar temos a classificação do reino dos infernos. Existem oito

infernos quentes e oito infernos gelados, totalizando dezesseis, os quais em conjunto com os infernos ocasionais e os infernos circundantes perfazem dezoito. 1. Infernos Quentes. Onde estão localizados os infernos quentes? Abaixo desta Jambudvipa. Muitos seres se debatem lá. Abaixo de todos se encontra Avici, o inferno do Sofrimento Constante. Acima deste está o Pratapana, ou inferno do Calor Intenso; o Tapana, ou inferno Quente; o Maharaurava, ou inferno das Grandes Lamentações; o Raurava, ou inferno das Lamentações; o Samghata, ou inferno do Esmagamento; o Kalasutra, ou inferno da Linha Negra; e o Samjiva, ou inferno do Renascer. Assim, o Tesouro do Abhidarma afirma: 20.000 yojanas abaixo daqui se encontra o inferno do Sofrimento Constante. Acima deste estão os outros sete infernos.

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Quais tipos de sofrimento eles produzem? Isto é explicado de acordo com seus nomes. No primeiro, o inferno do Renascer, os seres se cortam e matam uns aos outros, após o que surge uma fresca brisa. Quando esta brisa toca seus corpos eles renascem novamente. Isto acontece repetidamente até que a duração de suas vidas se exaura. No inferno da Linha Negra, os corpos dos seres que lá renascem são cortados por espadas ou machados flamejantes nos pontos em que houver uma linha negra marcada em seus corpos. Conforme se diz: Alguns são cortados por espadas E outros são retalhados por machados afiados. No inferno do Esmagamento, os corpos dos seres que lá renascem são esmagados entre duas montanhas ou entre placas de ferro. Primeiramente, duas montanhas enormes se aproximam como cabeças de carneiros e esmagam estes seres. Após isso, as montanhas se separam e uma brisa fresca reanima os corpos como antes. Então, eles são novamente esmagados. A Carta de Treinamento afirma: Duas enormes e aterrorizantes montanhas como os chifres de um carneiro Esmagam os corpos daqueles que ali se encontram até virarem poeira. Outros são prensados entre placas de ferro e um fluxo de sangue surge como quatro rios. Conforme foi dito: Alguns são prensados como sementes de gergelim, Outros são moídos como uma farinha fina. No inferno das Lamentações, os seres sencientes que ali estão queimando soltam gritos aterrorizados de medo. No inferno das Grandes Lamentações, os gritos são ainda mais aterrorizados devido ao sofrimento mais intenso. No inferno Quente os seres são torturados pelo fogo e assim por diante. Bronze derretido é derramado em seus corpos e queima os órgãos internos do corpo. Então eles são empalados pelo ânus até o topo da cabeça por uma arma pontiaguda. No inferno do Calor Intenso os seres são torturados ainda mais. Bronze derretido queima todo o interior de seus corpos, deixando apenas a pele, e chamas aparecem através das nove aberturas.4 Novamente, eles são empalados pelo ânus e pelas solas dos dois pés até o topo da cabeça e os dois ombros por uma arma pontiaguda de três pontas. Assim se diz: Da mesma forma, alguns são fervidos Em um fluxo fervente de metal derretido, Outros são empalados Por armas quentes e pontiagudas. No inferno do Sofrimento Constante há uma casa metálica em chamas, com 20.000 yojanas de altura e comprimento, na qual há uma chaleira de bronze com muitos yojanas de tamanho. Nesta chaleira os seres são cozidos em bronze e cobre ferventes derretidos. O fogo os circunda pelas quatro direções. Assim se diz: Alguns são cozidos como sopa de arroz Em uma enorme chaleira feita de metal. Por não haver intervalos no seu sofrimento, este inferno é chamado de Sofrimento Constante. Qual é a duração da vida destes seres? O Tesouro do Abhidarma afirma: No inferno do Renascer e assim por diante – os oito reinos Um dia é equivalente a um dia Na duração da vida dos deuses do reino do desejo. Portanto, a duração de suas vidas se assemelha Àquela dos deuses do reino do desejo.

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A duração da vida dos Quatro Reis Guardiões é igual a um dia e uma noite no reino do inferno do Renascer. Assim, trinta dias equivalem a um mês, doze meses perfazem um ano. Em seus termos, a duração da vida no inferno do Renascer é de 500 anos. Em termos humanos, ela é igual a 1.620.000.000.000 de anos. Da mesma forma, a duração da vida no inferno da Linha Negra é de 1.000 anos, que é similar à duração da vida no reino dos deuses do Céu dos Trinta e Três. Em termos humanos, isto equivale a 12.960.000.000.000 de anos. A duração da vida no inferno do Esmagamento é de 2.000 anos, que é similar à duração da vida dos deuses Livres do Combate. Em termos humanos, equivale a 103.680.000.000.000 de anos. A duração da vida no inferno das Lamentações é de 4.000 anos, que é similar à duração da vida no reino dos deuses da Alegria. Em termos humanos, equivale a 829.440.000.000.000 de anos. A duração da vida no inferno das Grandes Lamentações é de 8.000 anos, que é similar à duração da vida no reino dos deuses da Emanação Prazerosa. Em termos humanos, equivale a 6.635.520.000.000.000 de anos. A duração da vida no inferno Quente é de 16.000 anos, que é similar à duração da vida no reino dos deuses Controlando a Emanação de Outros. Em termos humanos, equivale a 53.084.160.000.000.000 de anos. A duração da vida daqueles que estão no inferno do Calor Intenso é de um oitavo de kalpa. No inferno do Sofrimento Constante a duração é de um quarto de kalpa (antahkalpa). Como se diz:

No inferno do Calor Intenso, meio antahkalpa, e no inferno do Sofrimento Constante, um antahkalpa.

2. Infernos Circundantes. Estes se localizam nas quatro direções ao redor dos oito infernos. No primeiro inferno adicional existem brasas nas quais os seres se afundam até os joelhos. Tentando escapar dos reinos dos infernos quentes eles pisam ali e toda sua pele, carne e sangue se queimam. Quando eles levantam suas pernas para dar um próximo passo eles se recuperam novamente. Próximo a este, o segundo inferno adicional é um pântano nojento de corpos pútridos, no qual os seres são perfurados até os ossos por insetos de corpos brancos, cabeças pretas e bicos afiados. Ao lado deste, o terceiro inferno adicional consiste em uma estrada cheia de lâminas onde todas as árvores e florestas têm folhas cortantes. Cães malhados furiosos e agressivos vivem neste lugar. Há uma floresta com folhas de agulhas de ferro, e há corvos com bicos de ferro. Aqueles que ali vagueiam sofrem grandes ferimentos. Próximo a este, o quarto inferno adicional é um rio fervente de brasas de onde não há saída. Os mensageiros de Yama se posicionam próximos a ele e impedem os seres de sair, e assim eles são cozidos neste rio. Assim, o Tesouro do Abhidarma afirma: Dezesseis adicionais circundam os oito nas quatro direções: As Brasas em Chamas, o Pântano dos Corpos Pútridos, a Estrada de Lâminas, E assim por diante, e o Rio Fervente. Os guardiões do reino dos infernos – os Yamas em forma humana e os corvos com bicos de ferro, e assim por diante – são eles seres sencientes ou não? A escola Vaibhasika afirma que eles são seres sencientes, e a escola Sautrantika diz que eles não são seres sencientes. A escola Yogacara e a linhagem de Marpa e Milarepa afirmam que eles se manifestam nas mentes dos seres sencientes pelo poder de suas ações negativas. Em relação a isto, Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma: Quem criou intencionalmente Todas as armas para os seres dos infernos? Quem criou o chão de ferro que queima? De onde surgiram todas as mulheres [do inferno]? O Sábio disse que todas estas coisas São [frutos] de uma mente negativa. 3. Os Oito Infernos Gelados. Existem oito tipos de infernos gelados: o Arbuda, ou inferno das Bolhas; o Nirarbuda, ou inferno das Bolhas que Explodem; o Atata, ou inferno do Tremer e Bater os Dentes; o Hahava, ou inferno “A-chu”; o Huhuva, ou inferno da Grande Lamentação; o inferno Utpala, no qual a pele

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dos seres quebra como pétalas da flor utpala; o inferno Padma, no qual a pele dos seres quebra como pétalas de lótus; e o inferno Mahapadma, no qual a pele dos seres quebra como as pétalas de um grande lótus. O Tesouro do Abhidarma afirma: Existem oito infernos gelados. O das Bolhas e assim por diante. Onde se localizam estes infernos? Abaixo desta Jambudvipa, próximos aos oito infernos quentes. Que tipo de sofrimento eles experimentam? Seus sofrimentos correspondem aos seus nomes. Nos dois primeiros, os seres sofrem um frio tão intolerável que bolhas cobrem seus corpos inteiros. No segundo faz tanto frio que as bolhas explodem. Estes nomes se referem à mudança das condições físicas. Os próximos três são nomeados de acordo com o som feito por aqueles que experimentam o frio intolerável. No sexto a pele se torna azul e quebra em cinco ou seis pedaços como pétalas da flor utpala. No sétimo, o azul se torna vermelho e o corpo quebra em dez ou mais pedaços como pétalas de lótus. No oitavo, a cor se torna vermelho escuro e o corpo quebra em cem ou mais pedaços como as pétalas de um grande lótus. Os três últimos se referem à mudança das condições físicas. Qual é a duração de suas vidas? O Exaltado explicou isto através do seguinte exemplo:

Monges! Por exemplo, suponham que houvesse nesta Magadha um celeiro com capacidade para oitenta bushels, e que este celeiro estivesse cheio de sementes de mostarda, e alguém removesse uma semente a cada cem anos. Monges, desta forma, esvaziar completamente o celeiro de mostardas em Magadha, de oitenta bushels de capacidade, é muito mais rápido do que chegar ao fim da vida dos seres sencientes que renascem no inferno das Bolhas. Monges, a vida no inferno das Bolhas que Explodem dura vinte vezes mais do que a vida no inferno das Bolhas, e assim por diante. Monges, a vida no inferno do Quebrar Como um Grande Lótus é vinte vezes mais longa do que no inferno do Quebrar Como um Lótus.

Isto foi abreviado por Vasubandu no Tesouro do Abhidarma: A cada cem anos, Tire um grão de mostarda do celeiro. No final, a duração de uma vida no inferno das Bolhas terá transcorrido. Os outros são multiplicados por vinte. Portanto, a duração da vida no inferno das Bolhas é o tempo de esvaziar um celeiro; no inferno das

Bolhas que Explodem é de 20 vezes; no inferno do Bater os Dentes, é de 400 vezes; no inferno “A-chu” é de 8.000 vezes; no inferno da Grande Lamentação é de 160.000 vezes; no inferno do Quebrar Como uma Utpala é de 3.200.000; no inferno do Quebrar Como um Lótus é de 64.000.000; e no inferno do Quebrar Como um Grande Lótus é de 1.280.000.000.

4. Infernos Ocasionais. Podem existir muitos seres reunidos, ou dois, ou apenas um, conforme são

criados pelo poder do carma individual. Existem muitos tipos deste inferno e suas localizações são indefinidas. Eles podem estar em rios, montanhas, desertos, ou outros lugares sob a terra ou nos reinos humanos, como foi visto, por exemplo, pelo venerável Arya Maudgalyayana.5 Da mesma forma, isto foi visto por Sangharakshita6 em uma terra seca, de muito sofrimento. A duração de suas vidas também é indefinida.

Estas são as explicações sobre o sofrimento dos seres sencientes nos reinos dos infernos. B. Reino dos Fantasmas Famintos. As classificações são: Yama, o rei dos fantasmas famintos e os

fantasmas famintos dispersos. Onde eles se localizam? Yama, o rei dos fantasmas famintos, vive a 500 yojanas abaixo desta Jambudvipa. Os fantasmas famintos dispersos apresentam localizações indefinidas, tais como lugares secos e assim por diante.

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Existem três tipos de fantasmas famintos dispersos: aqueles que têm obscurecimentos externos à comida e à bebida, aqueles com obscurecimentos internos e aqueles que têm obscurecimentos gerais à comida e à bebida.

Que tipos de sofrimentos eles experimentam? Os fantasmas famintos que possuem poderes milagrosos experimentam algo como os prazeres dos deuses. Aqueles que têm obscurecimentos externos à comida e à bebida veem os alimentos como pus e sangue. Eles veem outros seres protegendo os alimentos e os impedindo de comer e beber. Aqueles que têm obscurecimentos internos não têm a habilidade para comer ou beber mesmo que outros não os impeçam. Como se diz:

Alguns sofrem de fome – Suas barrigas são como montanhas E suas bocas são tão pequenas como buracos de agulhas. Eles não têm a habilidade De conseguir nem mesmo um pequeno bocado de comida impura. Aqueles que têm obscurecimentos gerais à comida e à bebida se dividem em dois grupos – os

guirlandas de fogo e os comedores de imundícies. Aqueles do primeiro grupo, ao comer ou beber, sentem seus estômagos queimarem. Os que estão no segundo grupo comem excrementos, bebem urina, ou comem sua própria carne, como foi visto por Nawa Chewari7 em um deserto seco.

Qual é a duração da vida de um fantasma faminto? Um mês no reino dos humanos equivale a um dia dos fantasmas famintos. Trinta dias como estes perfazem um mês, e doze meses são um ano. Em seus termos, eles vivem 500 anos. Assim, o Tesouro do Abhidarma afirma:

Todos os fantasmas famintos vivem 500 anos, Em seus anos de meses e dias.

C. Reino dos Animais. Sua classificação é quádrupla: aqueles que têm muitas pernas, quatro pernas, duas pernas, e aqueles que não têm pernas. Onde eles se localizam? Nos oceanos, planícies ou florestas. Para a maioria deles, os oceanos são seu lar. Que tipo de sofrimento eles experimentam? O sofrimento de serem usados, de serem massacrados e o sofrimento de serem comidos uns pelos outros. O primeiro tipo se refere aos animais domésticos sob o poder dos humanos. Como se conta: Indefesos, eles são torturados. Mãos, pés, laços e ganchos de ferro os escravizam. O segundo sofrimento se refere aos animais selvagens. Assim se conta: Alguns morrem por pérolas, lã, ossos, Sangue, carne e pele. O terceiro tipo de sofrimento se aplica à maioria, que residem nos grandes oceanos. Como se diz: Eles comem o que quer que caia em suas bocas. Qual é a duração da vida dos animais? Ela é indefinida. A mais longa dura um quarto de kalpa. Conforme se relata: Dentre os animais a vida mais longa é de um antahkalpa. Estas são as explicações sobre os sofrimentos dos reinos inferiores. Os sofrimentos dos reinos superiores são categorizados em três tipos: D. O sofrimento dos seres humanos, E. O sofrimento dos semideuses e

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F. O sofrimento dos deuses.

D. Reino Humano. Existem oito diferentes sofrimentos no reino humano. O Sutra da Entrada no Útero afirma:

O nascimento também é sofrimento, a velhice também é sofrimento, a doença também é sofrimento, a morte também é sofrimento, a separação dos seres amados também é sofrimento, encontrar-se com aqueles que não são queridos também é sofrimento, não encontrar o que desejamos também é sofrimento e a dor de proteger o que possuímos também é sofrimento.

O nascimento é a raiz de todos os outros sofrimentos. Existem quatro diferentes tipos de nascimento.8

O mais comum é o nascimento do ventre de uma mãe, e a explicação será dada de acordo com este tipo. Os seguintes sofrimentos ocorrem no estado intermediário (Tib. bardo) antes da concepção. Os seres

no bardo possuem poderes milagrosos – eles caminham nos céus e, com a visão dos deuses, eles podem ver o futuro local de nascimento à distância. Devido ao poder do carma, quatro confusões se instalam: uma tempestade surge, cai uma forte chuva, a escuridão desce, e surge um som amedrontador como se fosse emitido por muitas pessoas. Quando estas se dão, serão experimentadas dez percepções errôneas, de acordo com o carma positivo ou negativo:

O ser acredita que entrou em um palácio. O ser acredita que está subindo aos andares superiores de uma casa. O ser acredita que ascende a um trono. O ser acredita que entra em uma cabana de grama. O ser acredita que entra em uma casa de folhas. O ser acredita que entra em um monte de grama. O ser acredita que entra em uma floresta. O ser acredita que entra em um buraco na parede. O ser acredita que entra em um monte de palha. Ao perceber desta forma de acordo com seu carma, o ser vê o futuro pai e a mãe copulando à

distância, e vai até lá. Aqueles que acumularam grande mérito e irão renascer em um lugar superior verão um palácio ou

uma casa com vários andares e irão até lá. Aqueles que acumularam uma quantidade intermediária de méritos e irão renascer numa condição mediana veem uma cabana de grama e assim por diante, e vão até lá. Aqueles que não acumularam méritos e irão para um lugar inferior verão um buraco na parede e irão até lá.

Ao chegar, se o ser irá renascer como homem ele desenvolverá apego pela mãe e aversão pelo pai. Se ele for renascer como mulher, então ele se sentirá apegado ao pai e sentirá aversão pela mãe. Com este apego e aversão a consciência se mistura às secreções do pai e da mãe, e se diz que uma criança foi concebida. Daí em diante a criança permanece no útero por trinta e oito semanas. Alguns permanecem oito, nove ou dez meses. Para outros é indefinido, e alguns permanecem até mesmo sessenta anos.9

Na primeira semana após a concepção da criança, o embrião, a combinação dos órgãos do corpo com a consciência, experimenta o sofrimento inconcebível de ser cozido e frito em uma chaleira quente. Neste momento ele é chamado de “forma oval”, porque ele parece com um coágulo.

Durante a segunda semana, o vento que tudo toca surge no útero da mãe. Quando ele toca o embrião, os quatro elementos se manifestam. Neste momento ele é chamado de “forma oblonga”, porque ele parece com iogurte duro ou manteiga.

Na terceira semana, o vento ativador surge no útero da mãe. Ao tocar o embrião os quatro elementos se manifestam mais fortemente. Neste momento ele é chamado de “aglomerado”, porque sua forma é como uma colher de ferro ou um ovo de formiga.

Da mesma forma, na sétima semana o vento que aperta surge no útero. Ao tocar o embrião, dois braços e duas pernas surgem. Neste momento há um grande sofrimento, como se uma pessoa poderosa estivesse puxando os membros e outra pessoa os estivesse açoitando com um bastão.

Da mesma forma, na décima primeira semana o vento do surgimento das aberturas ocorre no útero da mãe. Quando este vento toca o bebê as nove aberturas surgem. Neste momento há um grande sofrimento como se um dedo estivesse mexendo em uma ferida nova e aberta.

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Há ainda outros sofrimentos. Quando a mãe come alimentos desbalanceados, tais como algo gelado, o bebê experimentará o sofrimento de ser jogado na água gelada. Da mesma forma, quando a mãe ingere comida quente ou ácida, e assim por diante, o bebê experimentará sofrimentos. Se a mãe comer muita comida o bebê sentirá a dor de ser espremido entre rochas. Quando a mãe come pouca comida o bebê experimentará o sofrimento de ser balançado no céu. Quando a mãe caminha duramente, ou pula, ou apanha, então o bebê experimenta o sofrimento de rolar de uma montanha. Quando a mãe tem atividades sexuais frequentes o bebê experimenta o sofrimento de ser açoitado por espinhos.

Na trigésima sétima semana ele se tornará consciente da imundície e do fedor do útero, da escuridão e da prisão. Ele se sentirá completamente infeliz e desejará escapar.

Na trigésima oitava semana o vento que colhe as flores surgirá no útero da mãe. Ao tocar o bebê este mudará de posição de forma a ficar de frente para a abertura do útero. Neste momento há um grande sofrimento como se ele tivesse sido pego por uma máquina de ferro.

Assim, durante o longo período no útero o bebê sente calor, como se estivesse sendo cozido em um recipiente muito quente, e é tocado pelos trinta e oito diferentes ventos. Desde o momento em que era uma forma oval até completar a formação do corpo, ele se desenvolveu a partir da essência do sangue da mãe, e assim por diante. Assim, o Sutra da Entrada no Útero diz:

Inicialmente, a forma oval Será transformada na oblonga carnosa. Daí surgirá a forma de aglomerado, E o aglomerado se tornará duro. Transformando a forma sólida A cabeça e os quatro membros surgem. Então, os ossos crescem e completam o corpo. Tudo isto é causado pelo carma. Após isso, o vento do olhar para baixo surgirá. Ao tocar a criança ela começará a nascer. Suas mãos

irão se esticar. Neste momento há um grande sofrimento como se estivesse sendo arrastada para uma rede de fios de ferro.

Alguns morrem no útero; às vezes a mãe e o bebê morrem juntos. Quando um bebê nasce e cai no chão ele experimenta um enorme sofrimento – como ser jogado em um monte de espinhos. Quando ele é lavado há um enorme sofrimento – como se sua pele fosse arrancada e, então, ele fosse esfregado contra uma parede.

Considerem esta quantidade de tempo, o tipo de sofrimento e dor, e o tipo de constrição, escuridão e imundície. Por mais gananciosa que uma pessoa seja, se você pedisse a ela para ficar coberta em um poço sujo por três dias em troca de três onças de ouro, ela não concordaria. Ainda assim, o sofrimento do útero é pior do que isto! A Carta de Treinamento diz:

Fedor e imundície inconcebíveis, Constrição e escuridão – Entrar no útero da mãe é como estar no inferno. É preciso enfrentar um sofrimento inconcebível. Assim, ao entender isto, como alguém pode pensar em entrar no útero mais uma vez? Brevemente, existem dez sofrimentos inconcebíveis relacionados ao envelhecimento: o corpo muda, o

cabelo muda, a pele muda, a compleição muda, as habilidades mudam, a dignidade muda, a acumulação de méritos muda, a resistência à doença muda, a mente muda e a passagem do tempo nos leva para perto da morte.

Primeiro, “o corpo muda” significa que uma vez seu corpo foi estável, ereto e firme, e agora ele se torna curvado e depende de uma bengala.

“O cabelo muda” significa que uma vez seu cabelo foi negro e brilhante, e agora ele se torna cinzento, ou careca, e assim por diante.

“A pele muda” significa que uma vez sua pele foi macia e lisa como a seda de Varanasi ou a fina seda chinesa, e agora ela se torna espessa, dura e enrugada como um bracelete amassado.

“A compleição muda” significa que uma vez ela foi brilhante como uma flor de lótus recém aberta, e agora ela se torna azulada e pálida como uma flor murcha.

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“As habilidades mudam” significa que uma vez você era capaz e estava pronto para fazer qualquer coisa. Quando isto muda a força se perde e você não suporta qualquer esforço. Ao perder a força da mente você perde interesse em quaisquer atividades. Ao perder o poder dos sentidos você não consegue mais projetar os objetos adequadamente10, e comete erros.

“A dignidade muda” significa que certa vez as outras pessoas o louvaram e o respeitaram. Quando isto muda as pessoas o desprezam, mesmo se elas forem inferiores a você; sem razão aparente elas não gostam de você, você é ameaçado pelas crianças, e você embaraça seus filhos e netos.

“A acumulação de méritos muda” significa que toda a riqueza que você acumulou diminui. Você não consegue manter o calor do corpo e não sente mais o gosto da comida. Especialmente, se você quiser comer aquilo que não tem, será difícil de encontrar alguém para oferecer isto a você.

“A resistência à doença muda” significa que você é abatido pela “doença” da velhice, que é a pior doença, porque ela atrai todas as outras doenças, e você sofre.

“A mente muda” significa que você esquece imediatamente o que você diz, ou faz, e fica confuso. “A passagem do tempo o leva para perto da morte” significa que a respiração se torna mais curta e

difícil, e você se aproxima da morte, assim como todas as formas compostas se deterioram. Assim, o Sutra da Nobre e Profunda Representação afirma:

O envelhecimento faz com que a beleza se torne feia. A velhice leva a dignidade e as habilidades. A velhice nos rouba a felicidade e causa sofrimento. A velhice traz a morte e nos rouba nossa compleição. Existem incontáveis sofrimentos da doença, mas brevemente, existem sete: o sofrimento da grande

dor, o sofrimento de operações agressivas, o sofrimento dos remédios quentes ou amargos, o sofrimento de ter de parar de comer e beber o que gostamos, o sofrimento de agradar os médicos, o sofrimento da diminuição da riqueza, e o sofrimento do medo da morte. O Sutra da Nobre e Profunda Representação afirma:

Ser torturado pelo sofrimento de uma centena de doenças e pelo medo de contraí-las É como ser um fantasma faminto durante a vida humana. Também há sofrimentos ilimitados na morte. O Sutra das Instruções para o Rei afirma:

Grande rei, da mesma forma, quando você for apanhado pelo bastão pontiagudo do senhor da morte, então você será afastado de toda arrogância – sem refúgio, sem protetor, sem apoio, e torturado pela doença. Sua boca secará; seu rosto mudará; você moverá seus membros; você não poderá trabalhar; catarro, muco, urina e vômito grudarão em seu corpo; sua respiração será curta; você será evitado pelos médicos e dormirá em sua última cama; a continuidade desta vida samsárica será interrompida; haverá grande temor dos mensageiros de Yama, o senhor da morte; sua respiração irá parar e sua boca e nariz ficarão abertos. Você deixará este mundo para trás e prosseguirá para o próximo, transmigrando completamente de um lugar para outro. Você entrará em uma grande escuridão e cairá em um precipício, será carregado pelo grande oceano, caçado pelos ventos cármicos, e irá em uma direção desconhecida. Você não poderá dividir sua fortuna. Ao gritar: “Ai de mim, mãe! Ai de mim, pai! Ai de mim, filho!” não haverá refúgio, nem protetor, nem apoio, apenas o grande rei, o Darma.

“O sofrimento de se separar dos seres amados” significa que quando aqueles aos quais você está apegado, seus pais, filhos, parentes, e assim por diante, morrem, há um sofrimento ilimitado de lamentações, luto, choro, gritos, e outras expressões de tristeza.

“O sofrimento de ter de encontrar aqueles de quem não gostamos” se refere ao sofrimento ilimitado de encontrar nossos inimigos odiados, o que resulta em brigas, discussões, lutas, e assim por diante.

Os últimos dois tipos de sofrimento são facilmente compreensíveis. E. Reino dos Semideuses. O sofrimento dos semideuses é similar ao sofrimento dos deuses, com os

sofrimentos adicionais da arrogância, ciúmes e lutas. Como se diz:

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Os semideuses sofrem mentalmente A partir do ciúme da glória dos deuses.

F. Reino dos Deuses. Os deuses do reino do desejo11 experimentam o sofrimento de lutar com os

semideuses; de sentir desgosto com seus prazeres; de serem humilhados, esquartejados, massacrados e banidos; a transferência da morte; e a queda para os reinos inferiores. Como se diz:

Cinco sinais da morte aparecem quando os deuses se aproximam dela: suas roupas ficam manchadas com sujeira, suas guirlandas de flores murcham, suor aparece em suas axilas, um cheiro nojento sai de seus corpos, e eles se desgostam com seus próprios assentos.

Os seres nos reinos da forma e da não-forma não têm estes tipos de sofrimento, mas eles sofrem a

transferência da morte e não têm uma localização livre, e assim eles irão experimentar o sofrimento dos reinos inferiores. Quando os seres que desfrutam do prazer de estados superiores exaurem seu carma, eles cairão em reinos inferiores.

Portanto, este estado samsárico possui uma natureza de grande sofrimento, como uma casa em chamas. O Sutra da Entrada no Útero afirma:

Ai de nós, o oceano do samsara está em chamas – ardendo, ardendo extremamente, ardendo supremamente, e ardendo extremamente supremamente. Portanto, não há um ser senciente que não seja torturado por ele. E que tipo de fogo é este que queima tão fortemente? É o fogo do desejo, da aversão e da ignorância. O fogo do nascimento, da velhice e da morte. Estes queimam constantemente através do fogo do sofrimento, lamentação, desconforto e conflitos. Portanto, ninguém está livre deles.

Assim, quando alguém está consciente das falhas do samsara, ele irá se afastar dos prazeres do

samsara. O Sutra do Encontro do Pai e do Filho afirma: Ao vermos as falhas do samsara, Iremos desenvolver uma forte sensação de tristeza, Quando tememos a prisão dos três reinos, Iremos nos esforçar para evitá-los. O Acharya Nagarjuna também colocou desta forma: O samsara é assim: Não há bons renascimentos dentre os deuses, Humanos, seres infernais, fantasmas famintos, e animais. Entendam que o nascimento é a fonte de muitos sofrimentos.

Este é o quinto capítulo,

que ensina sobre o sofrimento do samsara, de O Ornamento da Preciosa Liberação,

A Joia que Realiza Desejos dos Nobres Ensinamentos.

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CAPÍTULO 6

O Carma e seu Resultado

Você pode se perguntar quais são as causas dos sofrimentos que acabaram de ser explicados. Deve-se entender que elas provêm do carma das ações aflitas1. Assim, o Sutra dos Cem Karmas afirma:

A partir de muitas diversas causas cármicas Foi criada esta diversidade de migrantes.

E do Sutra do Lótus Branco da Grande Compaixão:

Este mundo é produzido pelo carma; este mundo se manifesta através do carma. Todos os seres sencientes são produzidos pelo carma; eles surgem a partir da causa, o carma; eles são completamente classificados pelo carma2.

E também, o Tesouro do Abhidarma afirma: Os vários mundos são criados pelo carma. O que é o carma? É o carma da mente e o carma do pensamento3. A Coleção do Abhidarma afirma: O carma é criado pela mente e pela sua força. E também, o Tratado Fundamental do Caminho do Meio afirma: O Rishi Supremo disse: “Todo o carma da mente e de seu pensamento...” O que são estes dois? O carma da mente é o carma da consciência. Aquilo que é criado pela mente é o pensamento da mente; isto deve ser compreendido como o carma do corpo e da fala. O Tesouro do Abhidarma afirma: A mente é o carma da consciência. Pela sua força o carma do corpo e da fala se manifestam. Para explicar estes tipos de carma e os resultados criados pela sua força, o sumário: Classificação e características primárias, Atribuição e resultado definido, Ampliação a partir de pequenas ações e inevitabilidade – Estes seis compreendem o carma e seu resultado. I. Classificação. Existem três tipos de carma e de resultado:

A. O carma não-meritório e seu resultado, B. O carma meritório e seu resultado e C. O carma e o resultado da concentração meditativa inabalável.

II. Características Primárias de Cada Classificação. A. Primeiramente, O Carma Não-meritório e Seu Resultado. De modo geral, existem numerosas

ações não-meritórias, mas elas são brevemente resumidas em dez – três de corpo, por exemplo tirar a vida e

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assim por diante; quatro de fala, contar mentiras e assim por diante; e três de mente, cobiça e assim por diante. Existem três subcategorias para cada uma das dez: classificação, resultado e ação distintiva.

1. Matar. a) Classificação do Ato de Matar. Existem três tipos: matar através das portas do desejo, da raiva e

da ignorância. O primeiro tipo significa matar para conseguir carne, peles e assim por diante, por esporte, para a própria riqueza, e para sustentar os seres amados e a si mesmo. O segundo tipo significa matar pelo surgimento da raiva, por ressentimento, ou por competição. O terceiro tipo se refere a fazer sacrifícios, e assim por diante.

b) Três Resultados do Ato de Matar. Existem três resultados: o resultado da maturação do ato, o resultado similar à causa e o resultado geral da força. O “resultado da maturação do ato” significa que o agente renascerá no reino dos infernos. Experimentar um “resultado similar à causa” significa que mesmo que o agente renasça no reino humano sua vida será curta ou ele experimentará muitas doenças. O “resultado geral da força” significa que o agente renascerá em um lugar inauspicioso onde há pouca dignidade.

c) Ação Distintiva do Ato de Matar. Tirar a vida do próprio pai, caso ele também seja um Arhat, é um carma muito pesado e negativo.

2. Roubar. a) Classificação do Ato de Roubar. Existem três tipos de roubo: tomar coisas através da força, tomar

coisas secretamente, e tomar coisas através da trapaça. O primeiro significa roubar pela força sem qualquer razão. O segundo significa roubar coisas entrando em uma casa sem os outros perceberem, e assim por diante. O terceiro se refere à trapaça usando medidas, escalas, e assim por diante.

b) Três Resultados do Ato de Roubar. O “resultado da maturação do ato” significa que o agente renascerá como um fantasma faminto; o “resultado similar à causa” significa que mesmo que o agente renasça no reino humano, ele terá riquezas insuficientes. O “resultado geral da força” significa que o agente renascerá em um lugar onde há mais geadas e granizo do que o normal.

c) Ação Distintiva do Ato de Roubar. Roubar os pertences de um mestre espiritual ou das Três Joias é um carma muito pesado e negativo.

3. Conduta Sexual Imprópria. a) Classificação da Conduta Sexual Imprópria. Existem três tipos de conduta sexual imprópria:

proibida pela família, proibida pelo possuidor e proibida pelo Darma. O primeiro tipo significa a conduta sexual imprópria com a própria mãe, irmã, e assim por diante4. O segundo tipo significa conduta sexual imprópria com alguém que é possuído por um marido ou rei, e assim por diante. O terceiro tem cinco subcategorias: mesmo com a própria esposa, conduta sexual imprópria se refere a: partes impróprias do corpo, locais impróprios, momentos impróprios, número impróprio e comportamento impróprio. Partes impróprias do corpo são a boca e o ânus. Lugares impróprios são aqueles próximos ao mestre espiritual, monastérios, ou estupas, ou em uma reunião de pessoas. Momentos impróprios são durante um retiro especial5, quando grávida, ao amamentar uma criança, ou quando o dia ainda está claro. Número impróprio é mais do que cinco vezes. Comportamento impróprio se refere a bater ou manter relações com um homem ou hermafrodita na boca ou no ânus.

b) Três Resultados da Conduta Sexual Imprópria. O “resultado da maturação do ato” significa que o agente renascerá como um fantasma faminto. O “resultado similar à causa” significa que mesmo que o agente renasça no reino humano, ele se tornará a esposa de seu inimigo. O “resultado geral da força” significa que o agente renascerá em um local onde há mais poeira do que o normal.

c) Ação Distintiva da Conduta Sexual Imprópria. Manter relações com a própria mãe, e se ela for uma Arhat, é um carma muito pesado e negativo.

4. Mentir. a) Classificação da Mentira. Existem três tipos de mentira: mentiras espirituais, grandes mentiras e

pequenas mentiras. O primeiro tipo significa mentir sobre a posse de uma qualidade suprema do Darma6. O segundo tipo significa contar uma mentira que faz diferença entre um dano ou benefício para si mesmo ou outra pessoa. O terceiro tipo se refere a uma mentira sem benefícios ou danos.

b) Três Resultados da Mentira. O “resultado da maturação do ato” significa que o agente renascerá no reino dos animais. O “resultado similar à causa” significa que mesmo que o agente renasça no reino

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humano, ele será difamado. O “resultado geral da força” significa que o agente renascerá com mau hálito. c) Ação Distintiva da Mentira. Difamar o Bem-aventurado e mentir para o próprio mestre espiritual

são carmas muito pesados e negativos. 5. Fala Separativa. a) Classificação da Fala Separativa. Existem três tipos de fala separativa: separar de forma forçada,

separar indiretamente e separar secretamente. O primeiro tipo significa separar amigos diante deles. O segundo tipo significa separar amigos através de linguagem indireta. O terceiro tipo significa separar secretamente.

b) Três Resultados da Fala Separativa. O “resultado da maturação do ato” significa que o agente renascerá no reino dos infernos. O “resultado similar à causa” significa que mesmo que o agente renasça no reino humano, ele será separado de seus seres amados. O “resultado geral da força” significa que o agente renascerá em um lugar injusto.

c) Ação Distintiva da Fala Separativa. No que se refere à fala separativa, usar palavras desagradáveis com a nobre sanga é um carma muito negativo.

6. Fala Agressiva. a) Classificação da Fala Agressiva. Existem três tipos de fala agressiva: direta, sinuosa e indireta. O

primeiro tipo é forçado, atacar diretamente as diversas falhas de alguém. O segundo tipo é usar sarcasmo ou palavras engraçadas para magoar. O terceiro tipo é atacar as falhas de alguém dizendo coisas negativas para seus amigos e parentes.

c) Três Resultados da Fala Agressiva. O “resultado da maturação do ato” significa que o agente renascerá no reino dos infernos. O “resultado similar à causa” significa que mesmo que o agente renasça no reino humano ele receberá muitas notícias desagradáveis. O “resultado geral da força” significa que o agente renascerá em um lugar quente e seco onde há mais malfeitores do que o normal.

c) Ação Distintiva da Fala Agressiva. Utilizar a fala agressiva para prejudicar os próprios pais ou Seres Nobres é um carma muito pesado e negativo.

7. Fala Inútil. a) Classificação da Fala Inútil. Existem três tipos de fala inútil: falsa, mundana e verdadeira. O

primeiro tipo significa recitar mantras e ler os textos dos hereges, e assim por diante. O segundo tipo é a conversa sem objetivos. O terceiro tipo é dar ensinamentos do Darma para aqueles que não têm respeito e que são vasos impróprios.

b) Três Resultados da Fala Inútil. O “resultado da maturação do ato” significa que o agente renascerá no reino animal. O “resultado similar à causa” significa que mesmo que o agente renasça no reino humano sua palavra não será respeitada. O “resultado geral da força” significa que o agente renascerá em um lugar em que o clima não é agradável.

c) Ação Distintiva da Fala Inútil. Em relação à fala inútil, distrair aqueles que estão praticando o Darma é um carma muito pesado e negativo.

8. Cobiça. a) Classificação da Cobiça. Existem três tipos de cobiça: com relação a si mesmo, com relação aos

outros e com relação a nenhum7. O primeiro tipo significa estar apegado à própria raça, clã, corpo, qualidades e fortuna, e pensar: “Não há ninguém como eu”. O segundo tipo significa estar apegado à prosperidade dos outros e pensar: “Eu gostaria de ter isso”. O terceiro tipo é estar apegado a uma mina subterrânea, ou algo do gênero, que não pertence a ninguém, e pensar: “Eu gostaria de ter aquilo”.

b) Três Resultados da Cobiça. O “resultado da maturação do ato” significa que o agente renascerá como um fantasma faminto. O “resultado similar à causa” significa que mesmo que o agente renasça no reino humano, ele terá uma cobiça ainda mais forte. O “resultado geral da força” significa que ele renascerá em um lugar com más colheitas.

c) Ação Distintiva da Cobiça. O desejo de roubar a riqueza de um renunciante é um carma muito pesado e negativo.

9. Pensamentos Negativos. a) Classificação do Pensamento Negativo. Existem três tipos de pensamentos negativos: aquele que

surge do ódio, do ciúme e do ressentimento. O primeiro tipo significa o desejo de matar outras pessoas pelo

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ódio, como em uma batalha. O segundo tipo significa o desejo de matar um competidor por medo de que ele possa superá-lo. O terceiro tipo significa o desejo de matar por guardar mágoas passadas na mente.

b) Três Resultados do Pensamento Negativo. O “resultado da maturação do ato” significa que o agente renascerá no reino dos infernos. O “resultado similar à causa” significa que mesmo que o agente renasça no reino humano ele experimentará um ódio ainda mais forte. O “resultado geral da força” significa que o agente renascerá em um lugar onde os alimentos são amargos e grosseiros.

c) Ação Distintiva do Pensamento Negativo. Em relação ao pensamento negativo, cometer um dos crimes hediondos8 é um carma muito negativo.

10. Visão Errônea. a) Classificação da Visão Errônea. Existem três tipos de visão errônea: visão errônea da causa e do

resultado, da verdade e das Três Joias. O primeiro tipo significa não acreditar que sofrimento e felicidade são causados pela não-virtude e pela virtude. O segundo tipo significa não acreditar que se atinge a Verdade da Cessação mesmo que a Verdade do Caminho seja praticada. O terceiro tipo significa não acreditar nas Três Joias e difamá-las.

b) Três Resultados da Visão Errônea. O “resultado da maturação do ato” significa que o agente renascerá no reino dos animais. O “resultado similar à causa” significa que mesmo que o agente renasça no reino dos humanos, ele será ainda mais ignorante. O “resultado geral da força” significa que o agente renascerá em um lugar sem colheitas.

c) Ação Distintiva da Visão Errônea. Em relação à visão errônea a crença apenas em verdades literais, racionais e observáveis é um carma muito pesado e negativo.

Todos os resultados de “maturação” acima são apresentados em termos gerais. Existem também três

classificações específicas: pelo tipo de emoção aflitiva, pela frequência e pelo objeto. Primeiramente, se alguém age com ódio ele renascerá no reino dos infernos. Se ele agir com desejo

renascerá como um fantasma faminto. Se ele agir com ignorância renascerá no reino dos animais. A Guirlanda de Joias Preciosas afirma:

Por apego renascerá como um fantasma faminto, Por ódio será lançado ao reino dos infernos e Por ignorância renascerá como um animal. Em relação à frequência, quando são criadas inúmeras ações não-virtuosas ocorrerá o renascimento

no reino dos infernos; ao cometer muitas ações não-virtuosas o renascimento se dará no reino dos fantasmas famintos; ao cometer algumas ações não-virtuosas o renascimento será no reino dos animais.

Em relação ao objeto, ocorrerá o renascimento no reino dos infernos se houver ação não-virtuosa tendo por objeto seres de nível superior; se o objeto forem seres medianos o agente renascerá como um fantasma faminto; se forem seres comuns ele renascerá como um animal.

Esta é a explicação da causa e do resultado das não-virtudes. A Guirlanda de Joias Preciosas afirma: Desejo, aversão, ignorância, E o carma criado a partir deles são não-virtudes. Todos os sofrimentos advêm da não-virtude, Assim como os reinos inferiores. B. Carma Meritório e Seu Resultado. 1. O Carma. Evitar as dez não-virtudes constitui o que chamamos de as dez virtudes. Além disso,

viver de acordo com atividades virtuosas significa: proteger a vida dos outros, praticar grande generosidade, sustentar ética moral, falar a verdade, harmonizar aqueles que estão brigando, falar pacifica e polidamente, falar com significado, praticar a redução do apego e desenvolver contentamento, praticar bondade amorosa e assim por diante, e engajar-se no significado perfeito.

2. Os Resultados. As ações virtuosas também têm três resultados. O “resultado da maturação do

ato” é de que o agente renascerá no reino humano ou dos deuses do mundo do desejo. O “resultado similar à causa” é de que o agente experimentará uma longa vida por ter evitado matar, e assim por diante, conforme as relações com todo o resto. O “resultado geral da força” é de que, ao evitar matar, o agente

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renascerá em um local com fortes propriedades, um ambiente especial, e assim por diante, conforme as relações com todo o resto.

Desta forma é apresentado o carma da causa e do resultado do mérito. A Guirlanda de Joias Preciosas

afirma: Não-apego, não-agressão, uma mente sem obscurecimentos, E o carma criado por eles são virtudes. Todos os reinos superiores surgem da virtude. Assim como a paz e a alegria em todas as vidas. C. O Carma e o Resultado da Concentração Meditativa Inabalável. 1. O Carma. Ao praticar a causa, a concentração meditativa de absorção, serão obtidos os resultados

nascidos da concentração meditativa. A concentração meditativa de absorção possui oito passos preparatórios, oito níveis de concentração meditativa e uma concentração meditativa especial.

2. Resultados da Concentração Meditativa. O “resultado” se refere aos dezessete reinos dos deuses

da forma9 e aos quatro reinos dos deuses da não-forma10. Aqui, a causa e o resultado estão diretamente relacionados um ao outro. Em geral, todos se baseiam nas dez virtudes.

O primeiro estágio de concentração meditativa começa ao praticar a “ejeção”11 e o correspondente estágio preparatório de meditação sem obstrução, o qual, quando completado, se torna a fundação para o primeiro estágio de concentração meditativa propriamente dito. A realização efetiva da primeira concentração meditativa dissolve as aparências grosseiras e os fatores mentais, e o que permanece é o pensamento discursivo muito sutil, reflexão (Scr. vicara), alegria (Scr. piti), e êxtase (Scr. sukha). Ao praticar esta concentração meditativa ocorrerá o renascimento no primeiro reino dos deuses da concentração meditativa, o reino de Brahma. Ao praticar a concentração meditativa especial ocorrerá o renascimento no reino de Mahabrahma.

O segundo estágio de concentração meditativa começa praticando-se ejeção e o correspondente estágio preparatório sem obstrução. Na realização efetiva da segunda concentração meditativa os primeiros dois fatores mentais (pensamentos discursivos e reflexão) agora são pacificados, e são experimentados apenas os dois fatores mentais de alegria e êxtase. Ao praticar a concentração meditativa da alegria e do êxtase ocorre o nascimento no segundo reino dos deuses da concentração meditativa, conhecido como Deuses da Luz Menor, e assim por diante.

Do mesmo modo, a ejeção e a preparação devem ser entendidas para todo o resto. Na realização efetiva da terceira concentração meditativa a alegria é evitada, e ao praticar a

concentração meditativa do êxtase, ocorre o nascimento no terceiro reino dos deuses da concentração meditativa, chamado de Deuses da Virtude Menor, e assim por diante.

A quarta concentração meditativa é a prática de evitar o pensamento discursivo sutil, reflexão, alegria e êxtase. Ao completar a quarta concentração meditativa ocorre o renascimento no quarto reino dos deuses da concentração meditativa, chamado de Sem Nuvens, e assim por diante.

Após renunciar às quatro concentrações meditativas o próximo estágio é chamado de Espaço Ilimitado. Praticando este estágio ocorre o renascimento no reino dos deuses do Ayatana do Espaço Infinito12. Ao renunciar a este estado ocorrerá o renascimento no estado de consciência ilimitada. Praticando este estágio ocorrerá o renascimento no reino dos deuses do Ayatana da Consciência Infinita. Ao renunciar a este estado ocorre o renascimento no estado de nem percepção nem não-percepção. Praticando este estágio ocorrerá o renascimento no reino dos deuses do Ayatana da Nem-Percepção nem Não-Percepção.

Que espécie de caminho é este chamado de “nascido da renúncia”? Ele significa rejeitar os níveis inferiores, tornando-se, assim, livre do apego.

Os níveis do Ayatana do Espaço Infinito, e assim por diante, são assim chamados porque sua projeção é o espaço? Não. Para os três primeiros, ao entrar em absorção, o espaço infinito, e assim por diante, são projetados na mente e os estágios são nomeados de acordo14. Depois, quando a absorção é completamente realizada eles não são mais trazidos à mente. O último é assim chamado porque há uma percepção muito pequena; apesar de esta percepção não ser clara, também não deixa de existir.

De modo geral, todas estas oito concentrações meditativas estão baseadas em uma mente unifocada e virtuosa.

Esta é a explicação sobre o carma da causa e resultado da concentração meditativa inabalável.

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A Guirlanda de Joias Preciosas afirma: A partir da concentração meditativa infinita e da ausência de forma Ocorrerá a experiência do êxtase de Brahma, e assim por diante. Portanto, os criadores deste samsara são os três carmas aflitos. III. Atribuição. Esta terceira categoria, a atribuição do carma, significa que você experimentará os

resultados do carma que você criar. Os resultados amadurecerão nos skandas do agente, e não de outros. A Coleção do Abhidarma afirma:

O que significa a atribuição do carma? A experiência da maturação do carma é daquele que o criou. É incomum aos outros, assim, é chamada de atribuição.

Se não fosse este o caso, o carma que foi criado poderia ser perdido, ou haveria o perigo de enfrentar um resultado não criado pela própria pessoa. Portanto, em um sutra se diz:

O carma criado por Devadatta não amadurecerá na terra, na água, e assim por diante. Mas este carma amadurecerá nos skandas e ayatanas daquele indivíduo em particular. A quem mais poderia este carma resultar?

IV. Resultado Definido. A quarta categoria significa que ocorrerá a experiência de felicidade e sofrimento sem erros a partir dos resultados do carma virtuoso e não-virtuoso. Haverá a experiência de felicidade a partir da acumulação de virtude. Ao acumular não-virtudes haverá a experiência do resultado do sofrimento. E também, a Coleção do Abhidarma afirma:

O que significa o resultado definido do carma? Ocorrerá a experiência da maturação do carma que foi criado por aquela pessoa. Haverá a experiência definida da virtude e da não-virtude do carma que foi criado.

E do [Tipo] Menor de Contemplação Próxima: Será alcançada a felicidade através da virtude. O sofrimento resulta da não-virtude. Além disso, virtude e não-virtude Explicam claramente o carma e seu resultado. O Sutra Requisitado por Surata afirma: Da semente picante nascerão frutos picantes. Da semente doce nascerão frutos doces. Através destas analogias os sábios compreendem que A maturação da não-virtude é picante, e A maturação das ações brancas é doce. V. Ampliação a Partir de Pequenas Ações. Esta quinta categoria significa a maturação de um grande resultado a partir de um pequeno carma. Por exemplo, em relação às ações não-virtuosas, diz-se que haverá a experiência de um kalpa no reino dos infernos para cada instante de pensamento negativo. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma: O Buda afirmou que aquele que mantém um pensamento negativo Contra um benfeitor, tal como um bodisatva, Permanecerá no inferno por tantos éons Quantos foram os momentos de pensamentos negativos. Por um ou dois momentos de fala negativa haverá experiência de sofrimento por 500 vidas, e assim

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por diante. Os Versos Proferidos Intencionalmente afirmam: Mesmo de uma pequena não-virtude Haverá um grande medo na próxima vida. E será fonte de todos os sofrimentos – Como veneno no estômago. A partir de uma pequena ação virtuosa um grande resultado amadurecerá. Os Versos Proferidos Intencionalmente colocam: Mesmo que um pequeno mérito seja criado, Ele conduzirá a grande felicidade na próxima vida. Serão alcançados grandes benefícios Como uma colheita próspera. VI. Inevitabilidade. A sexta categoria, a inevitabilidade do carma, significa que, a não ser que um antídoto para o carma seja aplicado, o resultado chegará sem perda ou desperdício mesmo que kalpas incontáveis tenham transcorrido. O carma pode permanecer dormente por um longo tempo, mas, de alguma forma, quando forem encontradas as condições apropriadas, o resultado se apresentará. Assim, desenvolve-se o temor diante dos sofrimentos do samsara e se ganha confiança no carma e seu resultado. Como se diz: Aquele que volta suas costas aos prazeres do samsara E se abstém de ações não-virtuosas, Mas, que está interessado apenas em sua própria paz, É conhecido como uma pessoa medíocre. Conforme afirmado pode-se cultivar a mente de uma pessoa medíocre. Como exemplo, veja as sete filhas do Rei Krika.15 O Sutra dos Cem Carmas afirma: Todos os carmas de todos os seres Não se perderão mesmo em cem kalpas. Quando todas as causas e condições se reunirem, O resultado amadurecerá. O [Tipo] Menor de Contemplação Próxima coloca: É possível até mesmo que o fogo se torne frio. É possível até mesmo que o vento seja amarrado por uma corda. É possível até mesmo que o sol e a lua caiam ao chão. Mas o amadurecimento do carma é infalível.

Este é o sexto capítulo, que explica o carma e seu resultado, de

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O ANTÍDOTO PARA O APEGO

AO PRAZER DA PAZ

CAPÍTULO 7

Bondade Amorosa e Compaixão

Os ensinamentos sobre as práticas de bondade amorosa e compaixão são o remédio para o apego ao prazer da paz. O que significa “estar apegado ao prazer da paz”? É o desejo de alcançar o nirvana apenas para si mesmo, sem uma mente altruísta pelos seres sencientes. E, devido a isso, o ser não beneficia os outros. Isto é o que se chama de “veículo inferior”. Assim se diz: Para alcançar o próprio benefício Ele sacrifica o benefício de muitos outros. Quanto maior o interesse por si mesmo desta forma, Mais isto se torna supremamente benéfico para ele. Mas, ao desenvolver bondade amorosa e compaixão, então há apego aos seres sencientes, e não se ousa atingir a liberação apenas para si mesmo. Portanto, deveríamos praticar bondade amorosa e compaixão. Manjushrikirti disse: O praticante Mahayana não deveria separar sua mente Da bondade amorosa e da compaixão nem mesmo por um instante. E: O benefício dos outros é preservado pelo amor e pela compaixão, e não pelo ódio. I. Bondade amorosa. Em primeiro lugar, a prática da bondade amorosa. O sumário: Classificação, objeto, características identificadoras, Método de prática, medida da prática e qualidades da prática – Assim, estes seis Compreendem completamente o estudo e a prática da bondade amorosa incomensurável. A. Classificação. Existem três categorias: bondade amorosa tendo os seres sencientes por objeto, bondade amorosa tendo os fenômenos por objeto e bondade amorosa livre de objetos. O Sutra Requisitado por Aksayamati afirma:

A bondade amorosa tendo seres sencientes como objeto é praticada pelos bodisatvas que acabaram de despertar a bodicita. A bondade amorosa tendo fenômenos por objeto é praticada pelos bodisatvas que estão engajados na conduta do caminho. A bondade amorosa livre de objetos é praticada pelos bodisatvas que alcançaram a confiança no Darma não-nascido1.

Segue uma explicação sobre o primeiro tipo de bondade amorosa.

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B. Objeto. Todos os seres sencientes são seu objeto. C. Característica Identificadora. Uma mente que deseja que todos os seres sencientes encontrem a felicidade. D. Método de Prática. Esta prática se baseia na memória da bondade de todos os seres sencientes. Portanto, relembre a bondade dos seres sencientes. Nesta vida, sua mãe foi, de todos, a mais bondosa. Quantos tipos de bondade uma mãe pode oferecer? Existem quatro: a bondade de oferecer um corpo, a bondade de suportar dificuldades por nós, a bondade de nos dar a vida e a bondade de nos mostrar o mundo. A Perfeição da Sabedoria em 8000 Versos afirma:

Por que é assim? A mãe nos deu o corpo, a mãe passou por dificuldades, a mãe nos deu a vida e a mãe nos mostrou todo o mundo.

A “bondade de nos dar um corpo” significa que, inicialmente, nosso corpo não estava completamente desenvolvido, nem nossa compleição agradável. Nós começamos no útero da mãe como um simples ponto oval e uma forma oblonga, e a partir daí nos desenvolvemos através da essência vital do sangue e da carne da mãe. Crescemos a partir da essência vital de seu alimento, enquanto ela passava por embaraços, dor e sofrimento. Depois de nascermos, de um pequeno verme até estarmos completamente crescidos, ela desenvolveu nossos corpos. A “bondade de suportar dificuldades por nós” significa que, inicialmente, não estávamos vestindo roupas com ornamentos, não possuíamos riquezas e não trouxemos quaisquer provisões. Chegamos apenas com uma boca e um estômago – de mãos vazias, sem quaisquer coisas materiais. Quando chegamos a este lugar, onde não conhecíamos ninguém, ela nos deu comida quando estávamos famintos, ela nos deu bebida quando estávamos com sede, ela nos deu roupas quando estávamos com frio, ela nos deu riquezas quando não tínhamos nada. Além disso, ela não nos deu apenas coisas que não precisava. Pelo contrário, ela nos deu aquilo que não ousaria usar para si mesma, coisas que não ousaria comer, beber ou vestir, coisas que não ousaria empregar para a felicidade desta vida, coisas que não ousaria usar como riquezas para a próxima vida. Em resumo, sem buscar felicidade para esta ou para a próxima vida, ela cuidou de sua criança. Ela não obteve estas coisas facilmente ou prazerosamente. Ela as reuniu gerando vários carmas negativos, através de sofrimentos e dificuldades, e as deu todas para sua criança. Por exemplo, a criação de carmas negativos: ela alimentou seu filho a partir de várias ações não-virtuosas como pescar, matar animais, e assim por diante. Por exemplo, sofrimentos: para oferecer para seu filho ela acumulou posses trabalhando em negócios como fazendas, e assim por diante, calçando a geada como sapatos, vestindo as estrelas como chapéu, cavalgando sobre o cavalo de suas pernas, a barra de sua saia como chicote, oferecendo suas pernas para os cães e seu rosto para o povo. Além disso, ela amou este desconhecido mais do que seu pai, sua mãe e seus professores que foram tão gentis com ela. Ela olhou para a criança com olhos amorosos, e a manteve aquecida em panos macios. Ela balançou a criança com seus dez dedos e a levantou alto no céu. Ela falou com a criança com uma voz amorosa e agradável, dizendo: “Pequeno felizardo, você que delicia a mamãe! Lu, lu, queridinho”, e assim por diante. A “bondade de nos dar a vida” significa que, no início, não éramos capazes de comer com nossas próprias bocas e mãos, nem éramos capazes de suportar todas as diferentes dificuldades. Nós éramos como frágeis insetos sem força, éramos apenas tolos e não conseguíamos pensar em nada. Mais uma vez, sem nos rejeitar, a mãe nos serviu, nos colocou no colo, nos protegeu do fogo e da água, nos manteve longe de precipícios, dissipou todas as coisas perigosas, e realizou rituais. Temendo pela nossa vida ou por nossa saúde ela buscou adivinhações e consultou astrólogos. Através de muitas cerimônias rituais e muitas outras diferentes coisas ela protegeu a vida de sua criança. A “bondade de nos mostrar o mundo” significa que, no início, não chegamos aqui sabendo muitas coisas, vendo amplamente, e apresentando talentos. Só conseguíamos chorar e mover nossas mãos e pés. Além disso, não sabíamos nada. A mãe nos ensinou a comer quando não sabíamos como. Ela nos ensinou a nos vestir quando não sabíamos como. Ela nos ensinou a caminhar quando não sabíamos como. Ela nos ensinou a falar quando não sabíamos dizer “Mamãe” ou “Oi”, e assim por diante. Ela nos ensinou diversas

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habilidades, artes criativas, e assim por diante. Ela tentou nos fazer iguais a todos, quando éramos diferentes; e tentou fazer o injusto justo para nós. Nós não tivemos uma mãe apenas nesta vida, mas desde o início deste samsara sem início ela nos serviu como mãe incontáveis vezes. O “Sutra do Samsara Sem Início” afirma:

Este mundo inteiro – se ele fosse transformado em pedaços do tamanho de frutos de junípero por uma pessoa, e outra pessoa fosse contá-los, seria possível exaurir o mundo todo. Mas não é possível contar o número de vezes que um ser senciente atuou como nossa mãe.

E também, a Carta a um Amigo coloca: Utilizando pedaços do tamanho de frutos de junípero, A Terra seria insuficiente para dar conta do limite De nossa linhagem materna. A cada vez que tivemos uma mãe, ela realizou o mesmo tipo de bondade como sempre. Portanto, a bondade de uma mãe é ilimitada, e assim, tão sinceramente quanto possível, meditem para desenvolver amor em seus corações, e desejem o benefício e a felicidade dela. E não apenas isto, mas todos os seres sencientes já foram nossas mães, e todas as mães realizaram o mesmo tipo de ações bondosas. Qual é o limite dos seres sencientes? Assim como o espaço é ilimitado, assim os seres sencientes o permeiam. O Sutra da Prece de Aspiração Pela Conduta Adequada diz: Ilimitado como a infinitude do espaço, Tal é o número de seres sencientes. Portanto, deveríamos praticar desenvolvendo um desejo puro para que todos os seres sencientes, ilimitados como o espaço, possuam felicidade e benefícios. Ao despertarmos este tipo de mente, isto se chama bondade amorosa genuína. O Ornamento dos Sutras Mahayana afirma: Da medula de seus ossos, Os bodisatvas veem cada ser senciente Como suas próprias crianças. Desta forma, eles consistentemente desejam beneficiar os outros. Quando, pelo poder da bondade amorosa, lágrimas vêm aos olhos e os pelos do corpo se levantam, isto se chama bondade amorosa genuína. Ao direcionar este tipo de mente para todos os seres sencientes igualmente, isto se chama bondade amorosa incomensurável. E. Medida da Prática. Quando alguém não deseja mais a felicidade para si mesmo, mas apenas para outros seres, esta é a perfeição da prática da bondade amorosa. F. Qualidades da Prática. Através da prática da bondade amorosa são obtidas inúmeras qualidades. O Sutra da Lâmpada da Lua afirma: Oferendas ilimitadas de diversos objetos Preenchendo milhões de campos Oferecidas aos seres supremos – Isto não se iguala à prática da bondade amorosa. Mesmo a prática de bondade amorosa por um instante traz méritos ilimitados. A Guirlanda de Joias Preciosas coloca: O alimento cozido em 300 panelas e Oferecido para os famintos três vezes por dia – Este mérito não pode ser igualado À prática de bondade amorosa por um único instante.

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Serão alcançados oito benefícios através desta prática de bondade amorosa até alcançarmos a iluminação. A Guirlanda de Joias Preciosas afirma: Seremos amados pelos deuses e seres humanos e também seremos protegidos por eles, Alcançaremos paz mental e muitas felicidades, Não seremos atacados por venenos ou armas, Realizaremos nossos desejos sem esforço e Renasceremos no mundo de Brahma. Mesmo alguém que não se liberou do samsara Obterá estas oito qualidades da bondade amorosa. Para proteger-se, a prática da bondade amorosa é a melhor, como se conta na história do brâmane Mahadatta2. Para proteger os outros, a prática da bondade amorosa também é muito boa, como se conta na história do Rei Bala Maitreia. II. Compaixão. Quando a bondade amorosa é aperfeiçoada desta forma, a prática da compaixão não é difícil. O sumário: Classificação, objeto e características identificadoras, Método de prática, medida da prática e qualidades da prática – Assim, estes seis Compreendem completamente o estudo e prática da compaixão incomensurável. II. Classificação. Existem três tipos de compaixão: compaixão tendo seres sencientes como objeto, compaixão tendo fenômenos como objeto e compaixão livre de objetos. Dentre estes, o primeiro significa desenvolver compaixão ao ver o sofrimento dos seres sencientes nos reinos inferiores, e assim por diante. O segundo tipo: quando se está bem treinado na prática das Quatro Nobres Verdades, e se entende causa e resultado, tendo dissipado a permanência e solidez, compaixão surge por aqueles seres sencientes que estão confusos e que sustentam a permanência e a solidez, e que não compreendem causa e resultado. O terceiro tipo: ao se posicionar em equilíbrio meditativo, e ao realizar todos os fenômenos como tendo por natureza a vacuidade, a compaixão surge, especialmente por aqueles seres que percebem tudo como sendo real. Como se diz: Os bodisatvas que se mantêm no estado de equilíbrio meditativo E que desenvolvem o poder da perfeição da prática5

Desenvolvem compaixão, especialmente por aqueles Que são presas do demônio de sustentar tudo como sendo real. Destes três tipos de compaixão iremos meditar sobre o primeiro tipo. B. Objeto. Todos os seres sencientes são seu objeto. C. Característica Identificadora. Uma mente que deseja que todos os seres sencientes se afastem do sofrimento e de suas causas. D. Método de Prática. Iniciamos esta prática a partir dos sentimentos que temos por nossa mãe desta vida. Suponha que sua mãe esteja em um lugar onde alguém irá bater nela, cortá-la em pedaços, cozinhá-la ou queimá-la no fogo, ou suponha que ela estivesse congelando de frio e seu corpo estivesse cheio de bolhas. Você teria extrema compaixão por ela. Da mesma forma, os seres sencientes do reino dos infernos, que foram com certeza nossas mães, estão sendo torturados por estes tipos de sofrimento. Como poderia não surgir compaixão? Assim, deveríamos meditar com um desejo compassivo de liberar tais seres do sofrimento e de suas causas. E também, se sua mãe estivesse em um lugar onde ela sofresse de sede e fome, fosse torturada pela doença, febre, medo e uma sensação de abandono, então você teria uma compaixão extrema. Da mesma forma, os seres sencientes do reino dos fantasmas famintos, que foram com certeza nossas mães, estão sendo

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torturados por estes tipos de sofrimento. Como poderia não surgir compaixão? Assim, meditem com um desejo compassivo de liberar tais seres do sofrimento. Da mesma forma, se sua mãe estivesse em um lugar onde ela sofresse pela velhice e fraqueza, e se estivesse escravizada sem escolha, apanhasse, fosse morta, esquartejada, e assim por diante, então você teria extrema compaixão. Da mesma forma, os seres sencientes no reino dos animais, que foram com certeza nossas mães, estão sofrendo desta forma. Como poderia não surgir compaixão? Assim, meditem com um desejo compassivo de liberar tais seres de todos os seus sofrimentos. E se sua mãe estivesse perto de um precipício onde ela poderia cair por mil yojanas, e estivesse sem saber de tal perigo, e se ninguém o mostrasse a ela, então, quando caísse no abismo, experimentaria grande sofrimento e seria incapaz de subir novamente, e você teria uma compaixão extrema. Da mesma forma, os deuses, humanos e semideuses estão perto do perigoso precipício dos reinos inferiores. Eles não percebem que deveriam evitar ações negativas; eles não encontraram mestres espirituais; quando eles caírem, será difícil sair dos três reinos inferiores. Como poderia não surgir compaixão? Assim, meditem com um desejo compassivo de liberar tais seres de seus sofrimentos. E. Medida da Prática. Quando se está completamente purificado do apego a si mesmo, e se está completamente liberado da cadeia de apego a si mesmo; quando das profundezas da mente há o desejo de que todos os seres sencientes se liberem do sofrimento, então a prática da compaixão foi levada à perfeição. F. Qualidades da Prática. Qualidades ilimitadas surgem da prática desta meditação. A Expressão da Realização de Chenrezig afirma:

Se alguém tivesse uma única qualidade, seria como se o Darma de todos os budas estivesse na palma de sua mão. Que qualidade é esta? Grande compaixão.

O Sutra da Realização do Dharmadatu afirma:

Abençoado, onde quer que a roda preciosa do grande monarca se encontre, lá estão suas tropas. Abençoado, da mesma forma, onde quer que a grande compaixão de um bodisatva se encontre, lá estarão todos os Darmas dos budas.

O Sutra Apresentando os Segredos do Tatágata afirma:

Guhyapati (Senhor dos Segredos), a sabedoria primordial do Onisciente surge a partir da raiz da compaixão.

Assim, quando através da bondade amorosa se deseja que todos os seres alcancem a felicidade, e através da compaixão se deseja que todos os seres se liberem do sofrimento, então não há mais interesse em alcançar a paz e a felicidade apenas para si. Então, haverá deleite em atingir a iluminação pelo benefício de todos os seres. Este se torna o remédio para o apego ao prazer da paz. Portanto, ao desenvolvermos bondade amorosa e compaixão na mente, cuidaremos mais dos outros do que de nós mesmos. A Lâmpada para o Caminho da Iluminação afirma: Ao examinar a natureza do próprio sofrimento, Desenvolve-se o desejo de liberar completamente Todos os seres do sofrimento. Este é denominado um Ser Supremo. Assim, deve-se cultivar a mente dos Seres Supremos. Por exemplo, vejam a história do brâmane Mahadatta6.

Este é o sétimo capítulo,

que ensina a bondade amorosa e a compaixão, de O Ornamento da Preciosa Liberação,

A Joia que Realiza Desejos dos Nobres Ensinamentos.

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O ANTÍDOTO PARA O DESCONHECIMENTO

DO MÉTODO DE PRÁTICA

PARA ALCANÇAR A ILUMINAÇÃO

Introdução ao Antídoto para o Desconhecimento do Método de Prática

Agora será explicado o Darma do cultivo da mente que busca a iluminação suprema, como antídoto

para o desconhecimento do método de prática para atingir a iluminação. O sumário: Fundação, essência, classificação, Objetivos, causa, de quem a recebemos, Método, efeitos benéficos, desvantagens de perdê-la, A causa da perda, método de reparo e o treinamento – Estes doze compreendem o cultivo da bodicita.

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CAPÍTULO 8

Refúgio e Preceitos

I. Fundação. Primeiramente, a base para o cultivo da mente da suprema iluminação é uma pessoa que: A. Pertence à família Mahayana, B. Tomou refúgio nas Três Joias, C. Mantém algum dos sete votos pratimokhsa, e D. Possui bodicita de aspiração. Estes itens formam a base para o cultivo da bodicita de ação. Uma pessoa que possua estas qualidades até a tomada de refúgio é a base para o cultivo da bodicita de aspiração. Isto é assim, porque, conforme é mencionado nos Bhumis dos Bodisatvas, a bodicita de aspiração é necessária para cultivar a bodicita de ação. A Lâmpada para o Caminho da Iluminação afirma que devemos tomar refúgio para cultivar a bodicita de aspiração. A Lâmpada para o Caminho da Iluminação também diz que para cultivar bodicita de ação é necessário um dos votos pratimoksha. O Tesouro do Abhidarma afirma que tomar refúgio é necessário para receber os votos pratimoksha. Os Bhumis dos Bodisavas mencionam que sem pertencer à família Mahayana não poderemos receber o voto de bodisatva mesmo se cultivarmos a mente através de uma cerimônia. Portanto, todos os elementos devem ser conectados e reunidos. A. Família Mahayana. De modo geral, deve-se pertencer à família Mahayana, mas de modo particular deve-se estar na família desperta. Estes detalhes devem ser compreendidos conforme explicado no primeiro capítulo. B. Tomar Refúgio nas Tês Joias. Para explicar o segundo tópico, o objeto de nossa tomada de refúgio, vocês podem se peguntar se devem tomar refúgio nos poderosos deuses Brahma, Vishnu, Mahadeva, e outros; ou nos poderosos deuses e nagas locais que moram nas montanhas, rochas, lagos ou árvores, e assim por diante. Eles não são objetos de refúgio porque eles não podem oferecer refúgio. Nos sutras se diz: Os seres mundanos tomam refúgio Nos deuses das montanhas, Florestas, altares, Rochas e árvores. Estes não são o refúgio supremo. Deveríamos tomar refúgio em nossos pais, parentes, amigos e outros – aqueles que são bondosos conosco e que nos beneficiam? Eles também não poderão nos oferecer refúgio. O Sutra da Representação da Manifestação de Manjushri afirma: Os pais não são um refúgio. Os parentes e amigos também não são um refúgio. Eles irão seguir seu próprio destino e irão abandoná-lo. E por que eles não podem oferecer refúgio? Para oferecer refúgio, eles deveriam estar livres de todo medo e do sofrimento. Estes seres não estão livres do medo e se encontram em um estado de sofrimento. Portanto, os budas são os únicos que estão completamente livres do sofrimento, o Darma é o único caminho para a prática da iluminação e a sanga é o único guia para a prática do Darma. Portanto, tomamos refúgio neles três. Assim, em um sutra se afirma: De hoje em diante, tome refúgio no Buda, No Darma e na sanga,

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Que protegem os desprotegidos E dissipam o medo daqueles que estão amedrontados. Mesmo eles possuindo o poder de oferecer refúgio, se eu os procurar buscando refúgio eles poderão me proteger? Não há razão para duvidar disto. O Grande Sutra do Parinirvana afirma: Ao tomar refúgio nas Três Joias Será alcançado o estado de destemor. Portanto, será explicado como tomar refúgio nas Três Joias. O sumário: Classificação, base de trabalho, objetos, duração, Motivação, cerimônia, atividades, Treinamento e efeitos benéficos – Estes nove compreendem a explicação sobre como tomar refúgio. 1. Classificação. Existem duas categorias de refúgio: o refúgio comum1 e o especial. 2. Base de Trabalho. Também existem duas bases de trabalho. A base de trabalho comum é alguém que teme o sofrimento do samsara e que vê as Três Joias como deidades. A base de trabalho especial é a pessoa que está na família Mahayana e que possui o corpo puro dos deuses ou humanos. 3. Objetos. Existem dois objetos de refúgio: a) Explicação sobre os Objetos Comuns. Os objetos comuns são: a Joia do Buda – o Abençoado, Exaltado, que possui a perfeição da purificação, sabedoria primordial e qualidades excelentes; a Joia do Darma, em duas partes – a literatura que contém os doze aspectos do Darma2, e o Darma da realização, que consiste na Verdade do Caminho e na Verdade da Cessação; a Joia da sanga, que também se divide em duas. A sanga comum é uma comunidade de quatro ou mais monges completamente ordenados. A sanga dos Seres Nobres é chamada de os “Quatro Pares” ou “Oito Indivíduos”4. b) Os Objetos Especiais de Refúgio. Os objetos especiais de refúgio são os objetos que se apresentam à nossa frente, aqueles que possuem realização completa e a talidade. Na primeira categoria, os objetos que se apresentam à nossa frente, o Buda corresponde às imagens do Bem-Aventurado, o Darma às escrituras Mahayana, e a sanga é a comunidade de bodisatvas. Em um estado de completa realização, os objetos são o Buda, como a corporificação dos três kayas; o Darma, como a paz do precioso e nobre Darma e nirvana; e a sanga, consistindo nos bodisatvas que alcançaram os grandes bhumis. Em relação ao objeto da talidade, apenas o Buda é um objeto de refúgio. O Tantra Insuperável afirma: Em última instância apenas o Buda constitui um objeto de refúgio para os seres. Neste caso, como pode o Buda ser o refúgio absoluto? O mesmo texto afirma: Por este grande Vitorioso ser a corporificação do Darma, Que é a realização final da sanga. Por ser o refúgio absoluto, o Sábio está livre de nascimento e cessação, é completamente purificado, está livre do desejo, e possui a natureza do darmakaya. A assembleia dos três veículos5 atinge a perfeição quando alcança a pureza absoluta do darmakaya. Portanto, o Sábio é o refúgio absoluto. Neste caso, o Darma e a sanga são refúgios absolutos ou não? O Tantra Insuperável afirma: Nem os dois aspectos do Darma Nem a assembleia de Seres Nobres Constituem um refúgio supremo. Por que eles não são refúgios absolutos? O primeiro tipo de Darma é, simplesmente, a reunião de um

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monte de nomes e escrituras. Uma vez que você cruzar terá de abandoná-los como um barco. Portanto, este não é um refúgio absoluto. Dos dois aspectos do Darma da realização, a Verdade do Caminho é composta, e assim, é impermanente. Portanto, ela é enganosa, e não é um refúgio absoluto. De acordo com os Ouvintes, a Verdade da Cessação extingue sua continuidade como se apagássemos uma lâmpada, assim ela é não-existente e, portanto, não é um refúgio absoluto. A própria sanga tem medo do samsara e busca refúgio no Buda; por ter medo ela não é o refúgio absoluto. Assim, o Tantra Insuperável afirma: Por ser abandonado e por ser enganoso, Por não existir e por ter medo, Os dois tipos de Darma e a nobre assembleia Não são refúgios absolutos. Portanto, o Acharya Asanga disse:

O refúgio inexaurível, o refúgio eterno, o refúgio imutável, o refúgio absoluto é apenas um – Aquele que Assim se Foi, o Destruidor dos Inimigos, o Completo e Perfeito Buda.

Neste caso, isto não contradiz a explicação que afirma que há três tipos de refúgio? Os três refúgios surgem como um método para guiar os seres sencientes. O Sutra da Grande Liberação afirma: Em resumo, um refúgio e três métodos. Como são apresentados os três métodos? O Tantra Insuperável afirma: Pelo professor, ensinamentos e discípulos, Três veículos e três agentes – De acordo com os interesses Foram apresentados os três refúgios. Os três métodos foram apresentados de acordo com as três qualidades, três veículos, três agentes e as três aspirações. Além disso, de forma a demonstrar as qualidades do professor, o Buda é o refúgio para aqueles que seguem o veículo dos bodisatvas e aqueles que estão interessados em realizar as atividades supremas de um Buda. Eles tomam refúgio no Buda, o ser supremo dentre os “bípedes”. De forma a demonstrar as qualidades dos ensinamentos, o Darma é o refúgio para aqueles que seguem o veículo dos Realizadores Solitários e que estão interessadas no trabalho pelo Darma. Eles tomam refúgio no Darma, a liberação suprema de todos os apegos. De forma a demonstrar as qualidades dos praticantes, a sanga é o refúgio para as pessoas que seguem o veículo dos Ouvintes, e que estão interessadas no trabalho pela sanga. Elas tomam refúgio na sanga, a mais excelente de todas as comunidades. Assim, os três refúgios são apresentados pelos três significados e de acordo com as seis pessoas. O Exaltado, Abençoado, disse isto em um estado convencional de forma a que todos os seres sencientes pudessem gradualmente entrar nos diferentes estágios dos veículos. 4. Duração. A duração também tem duas subdivisões. Na forma comum, toma-se refúgio de agora até a morte. No tipo especial toma-se refúgio de agora até que a iluminação seja alcançada. 5. Motivação. Também há dois tipos de motivação. A motivação comum é tomar refúgio pensando no próprio sofrimento insuportável. O tipo especial é tomar refúgio pensando no sofrimento insuportável dos outros. 6. Cerimônia. Existem dois tipos de cerimônia de refúgio. a) Na cerimônia comum, primeiro o discípulo suplica ao mestre para realizar a cerimônia, então o mestre faz oferendas diante das Três Joias. Se isto não for possível, então o discípulo deveria visualizar as Três Joias no espaço e, mentalmente, fazer prostrações e oferendas. Então, o discípulo repete após o mestre:

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“Por favor, ouçam-me, todos os budas e bodisatvas. Por favor, ouçam-me, mestres. Meu nome é ____ . Deste momento em diante, até que eu alcance a iluminação, eu tomo refúgio em todos os budas, os seres supremos dentre os “bípedes”. Eu tomo refúgio no Darma, a liberação suprema de todos os apegos. Eu tomo refúgio na sanga, a mais excelente de todas as comunidades”. Isto deve ser repetido três vezes, do coração. b) A cerimônia superior consiste em: (1) preparação, (2) a cerimônia, de fato, e (3) conclusão. (1) Preparação. Inicialmente, oferece-se uma mandala de flores a um mestre qualificado que é digno de ser seguido, e então pede-se a ele para realizar a cerimônia. O mestre espiritual irá aceitar se o discípulo pertence à família Mahayana e é um vaso adequado. No primeiro dia ele prepara os objetos de refúgio, realiza as oferendas e explica os efeitos benéficos de tomar refúgio e as falhas de não tomar refúgio. (2) Cerimônia. No segundo dia, ele realiza a cerimônia, propriamente dita. Inicialmente, o discípulo cultiva a mente de que todos os objetos de refúgio diante dele são o verdadeiro refúgio, faz prostrações, e oferendas. Então, ele repete após seu mestre da seguinte forma: “Por favor, ouçam-me, todos os budas e bodisatvas. Por favor, ouçam-me, mestres. Meu nome é _____. Deste momento até que eu alcance a iluminação, eu tomo refúgio em todos os budas, os seres supremos dentre os “bípedes”. Eu tomo refúgio no Darma da paz e nirvana, a suprema liberação de todos os apegos. Eu tomo refúgio na sanga, a assembleia suprema dos bodisatvas que alcançaram o estado de não-retorno.” Assim, repita três vezes. Após isso, os objetos de refúgio da realização completa são convidados e o discípulo os visualiza como efetivamente presentes, faz prostrações, e oferendas. Com uma mente de entrega completa ele repete a cerimônia de refúgio três vezes, como antes. Após isso, ele se prostra e faz oferendas ao objeto de refúgio da talidade, livre das três esferas7. Todos os fenômenos são primordialmente livres de identidades, existindo sem qualquer identificação própria. O Buda, o Darma e a sanga também deveriam ser vistos desta forma. Este é o refúgio inexaurível, eterno, imutável e absoluto. O Sutra Requisitado pelo Rei Naga Anavatapta afirma:

O que é tomar refúgio com uma mente livre das atividades mundanas? Aqueles que realizam que todos os fenômenos são não-existentes e não possuem forma, percepção e características, veem o Buda perfeitamente. Isto é tomar refúgio no Buda. Aqueles que realizam que todos os fenômenos são da natureza do darmadatu tomam refúgio no Darma. Aqueles que realizam que todos os fenômenos compostos e não-compostos são não-duais tomam refúgio na sanga.

(3) Conclusão. O terceiro dia é a cerimônia de conclusão, onde se faz oferendas às Três Joias com gratidão. 7. Atividades. O Ornamento dos Sutras Mahayana afirma: Proteção de todos os males, Liberação dos reinos inferiores e da falta de habilidades, Liberação da visão de que existe uma pessoa, e proteção dos veículos inferiores – Portanto, este é o nobre refúgio. Assim, o refúgio comum protege de todos os perigos, dos três reinos inferiores, da falta de meios hábeis, e da crença em uma identidade fixa. O refúgio especial protege dos veículos inferiores, e assim por diante. 8. Treinamento. Existem três treinamentos gerais, três treinamentos particulares e três treinamentos comuns. a) Os três treinamentos gerais consistem em fazer um esforço constante para realizar oferendas às Três Joias, mesmo oferecer tudo que comemos ou bebemos; não abandonar as Três Joias mesmo sob o risco da própria vida ou por grandes recompensas; e tomar refúgio repetidamente relembrando das qualidades das Três Joias.

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b) Os três treinamentos particulares são: tendo tomado refúgio no Buda, não deveríamos tomar refúgio em outros deuses. O Grande Sutra do Parinivrvana diz: Aquele que toma refúgio no Buda É o puro upasaka. Nunca busque refúgio Em outros deuses. Tendo tomado refúgio no Darma, não deveríamos prejudicar os seres sencientes. Como se diz em um sutra: Ao tomar refúgio no Darma precioso Sua mente deveria se afastar de prejudicar e machucar os outros. Tendo tomado refúgio na sanga, não deveríamos confiar em hereges. Como se diz em um sutra: Ao tomar refúgio na sanga Não deveríamos confiar em hereges. c) Os três treinamentos comuns são respeitar a Joia do Buda sob qualquer forma, até mesmo um pedaço de tsatsa; respeitar a fundação da Joia do Darma, os livros e textos do precioso Darma, até mesmo uma sílaba; e respeitar a preciosa Joia da sanga, as vestes do Buda, até mesmo um remendo de tecido amarelo. 9. Efeitos Benéficos. Existem oito efeitos benéficos da tomada de refúgio: o ingresso no caminho budista; o refúgio se torna a fundação para todos os outros preceitos; o refúgio se torna uma causa para a purificação de todos os carmas negativos acumulados anteriormente; não seremos ameaçados pelos diferentes obstáculos humanos e não-humanos; realizaremos tudo que desejarmos; atingiremos a grande causa do mérito; não cairemos nos reinos inferiores; e alcançaremos rapidamente a iluminação perfeita. C. Votos Pratimoksha. O terceiro tópico são os preceitos pratimoksha, que são divididos em quatro grupos ou oito bases de trabalho. Dentre estas oito, com exceção da upavasatha8, todas as outras sete podem ser tomadas como bases de trabalho. Os sete tipos de pratimoksha são: bhikshu, bhikshuni, shiksamana, shramanera, shramanerika, upasaka e upasika. E dos Bhumis dos Bodisatvas:

Dentre os preceitos pratimoksha existem sete formas de receber os preceitos de forma perfeita. Estes são o bhikshu, bhikshuni, shiksamana, shramanera, shramanerika, upasaka e upasika. Estes são divididos em leigos e renunciantes.

Por que é necessário o voto pratimoksha para cultivar a bodicita de ação? Deve-se entender que eles são um fundamento através de três razões: 1. Analogia, 2. Autoridade escritural e 3. Lógica. 1. Analogia. Não é adequado convidar um grande monarca para residir em um lugar onde há fezes, sujeira e imundícies. Este lugar deveria estar bem limpo e decorado com muitos ornamentos. Assim, da

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mesma forma, não podemos convidar o rei da bodicita para residir onde o corpo, a fala e a mente não estão afastados das não-virtudes e estão maculados pela sujeira do carma negativo. Pelo contrário, a bodicita deveria ser convidada para residir onde o corpo, a fala e a mente estão livres da sujeira da decadência e estão completamente adornados pela ética moral do abandono. 2. Autoridade Escritural. O capítulo sobre o cultivo da mente do Ornamento dos Sutras Mahayana afirma: Sua base são os vastos preceitos. Assim, o preceito upavasatha, que dura apenas vinte e quatro horas, não é “vasto”. Os outros sete preceitos não são como este, e assim, eles são votos vastos. Portanto, estes sete preceitos são explicados como a fundação para o cultivo da mente. A Lâmpada para o Caminho da Iluminação diz: Aquele que mantém Um dos sete preceitos pratimoksha Tem a alegria de receber os preceitos dos bodisatvas. Caso contrário, não. Portanto, qualquer um dos sete preceitos pratimoksha é aceito como fundação. 3. Lógica. Ao receber os preceitos pratimoksha abandonamos as ações prejudiciais aos outros e as motivações negativas. O voto do bodisatva faz com que levemos benefícios aos outros. Sem evitar as negatividades não há como beneficiar os outros. Alguns argumentam que a ordenação pratimoksha não pode ser a fundação para receber o voto de bodisatva porque os eunucos, hermafroditas, deuses, e assim por diante, não podem receber os preceitos pratimoksha, mas o voto de bodisatva pode ser obtido por estes seres. Além disso, os votos pratimoksha não podem ser a fundação para a manutenção dos votos de bodisatva porque a morte faz com que os preceitos pratimoksha cessem, mas não faz com que os votos de bodisatva cessem. Resposta: existem três aspectos com relação aos preceitos pratimoksha, dependendo do estado mental de cada um: a) Se estes sete votos foram aceitos apenas por um desejo de alcançar a felicidade dos três reinos, então isto é moralidade com segundas intenções. b) Se estes preceitos foram aceitos de forma a liberar-se completamente de todo o sofrimento, esta é a moralidade associada à renúncia dos Ouvintes. c) Se eles foram aceitos com a atitude de alcançar a grande iluminação, esta é a moralidade dos preceitos dos bodisatvas. Os primeiros dois tipos não podem ser recebidos por eunucos, hermafroditas, deuses, e assim por diante, e cessarão no momento da morte. Se estes votos declinarem, eles não podem ser renovados, e assim, portanto, eles não podem ser uma fundação para os preceitos dos bodisatvas. A moralidade dos preceitos dos bodisatvas existe nos impotentes, hermafroditas, deuses, e assim por diante, e não cessará no momento da morte. Se ela declinar, poderá ser renovada. Portanto, ela é a fundação para o recebimento e manutenção dos votos de bodisatva. O comentário ao Ornamento dos Sutras Mahayana afirma: Qual é a base para esta mente? A base é a ética moral dos votos dos bodisatvas. Esta disciplina é necessária para cultivar bodicita, mas é opcional para sua manutenção. Por exemplo, mesmo sendo necessária a disciplina da concentração meditativa de forma a estabelecer a fundação da realização dos votos não-aflitos, ela é opcional como fundação para sua manutenção. Não é necessária uma cerimônia específica para receber os votos pratimoksha de bodisatva. Isto é assim porque anteriormente você recebeu o voto de treinamento dos Ouvintes. Se mais tarde você cultivar a atitude especial, isto se transforma no voto do bodisatva. Mesmo que você libere-se da mente inferior (a atitude do Ouvinte), você não abandonará a mente de renúncia (o treinamento). Assim, uma pessoa que pertence à família Mahayana, que tomou refúgio nas Três Joias, e que segue qualquer um dos sete votos pratimoksha é considerada uma fundação adequada para o cultivo da mente da

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iluminação.

Este é o oitavo capítulo, que explica o refúgio e os preceitos, de

O Ornamento da Preciosa Liberação, A Joia que Realiza Desejos dos Nobres Ensinamentos.

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CAPÍTULO 9

O Cultivo da Bodicita II. Essência. A essência do cultivo da bodicita é o desejo de alcançar a iluminação perfeita e completa para o benefício dos outros seres. O Ornamento da Clara Realização afirma:

O cultivo da bodicita é o desejo de alcançar a iluminação perfeita e completa Para o benefício dos outros.

III. Classificação. Existem três classificações do cultivo da iluminação suprema: A. Comparações, B. Delimitação e C. Características primárias.

A. Comparações. Primeiramente, a bodicita foi classificada através de exemplos que vão desde os seres comuns até o estado búdico por Arya Maitreia, no Ornamento da Clara Realização:

Terra, ouro, lua, fogo, Tesouro, mina de joias, oceano, Vajra, montanha, remédio, mestre espiritual, Joia que realiza desejos, sol, melodia, Rei, depósito de tesouros, estrada, Meio de transporte, fonte, Som elegante, rio e nuvem – Assim, estas são as vinte e duas comparações.

Estas vinte e duas comparações vão desde a aspiração sincera até a realização do darmakaya. Além disso, elas serão relacionadas aos cinco caminhos:

(1) O desejo sincero de alcançar a iluminação é como a terra porque ela é a base de todas as qualidades virtuosas. (2) Uma intenção geral de alcançar a iluminação é como o ouro; ela nunca muda até que se alcance a iluminação. (3) Possuir um pensamento altruísta é como a lua crescente, que fortalece todas as virtudes. Estas três compreendem o nível comum, o caminho da acumulação dos pequenos, medianos e grandes.

(4) Apresentar uma dedicação sincera é como o fogo porque ela queima todo o combustível dos obscurecimentos às três formas de onisciência. Este compreende o caminho da aplicação.

(5) Possuir a perfeição da generosidade é como um tesouro que satisfaz todos os seres sencientes. (6) Possuir ética moral é como uma mina de joias porque ela é a fonte de todas as qualidades preciosas. (7) Possuir paciência é como o oceano, que não é perturbado mesmo quando condições indesejáveis se abatem sobre ele. (8) Possuir perseverança é como um vajra, que é tão sólido que não pode ser destruído por quaisquer meios. (9) Possuir concentração meditativa (Scr. samadhi) é como o Monte Meru, a maior das montanhas; ele não se dispersa por pensamentos projetados. (10) Possuir sabedoria discriminativa é como um remédio que cura todas as doenças das emoções aflitivas e dos obscurecimentos sutis à iluminação. (11) Possuir meios hábeis é como um mestre espiritual que nunca abandona o benefício dos seres sencientes em todos os tempos. (12) Realizar preces de aspiração é como uma joia que realiza desejos que preenche todas as aspirações. (13) Possuir força é como o sol, que amadurece completamente todos os aspirantes. (14) Possuir sabedoria primordial é como o som melodioso do Darma, oferecendo ensinamentos para inspirar os aspirantes. Assim, estas dez, respectivamente, compreendem os dez bhumis, iniciando com Grande Alegria, e são objetos dos caminhos do insight e da meditação.

(15) Possuir clarividência especial acompanhada de grande sabedoria é como um grande rei que pode beneficiar os outros seres sencientes sem restrições. (16) Possuir méritos e a sabedoria perfeita é como um depósito de tesouros, um armazém de muitas acumulações virtuosas. (17) Possuir os ramos da iluminação é

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como uma estrada que os Seres Nobres trilharam e que será seguida por outros. (18) Possuir compaixão e insight especial é como um meio de transporte, no qual podemos prosseguir tranquilamente sem nos desviar para o samsara ou nirvana. (19) Possuir o poder da lembrança total e da confiança é como a água de uma fonte; sem exaurir-se ela guarda o Darma que foi ouvido e que não foi ouvido. Estes cinco compreendem o caminho especial de um bodisatva1.

(20) Possuir o “bosque do Darma” é como ouvir sons elegantes que declamam uma bela canção aos aspirantes que desejam alcançar a liberação. (21) Possuir o “caminho de uma só direção” é como a corrente de um rio, beneficiando os outros sem se desviar do caminho. (22) Possuir o darmakaya é como uma nuvem, manifestando-se no céu de Tushita e assim por diante, no qual todos os seres sencientes se apoiam2. Estes três compreendem o nível búdico.

Assim, estas vinte e duas comparações englobam tudo, desde o nível comum até o estado búdico. B. Delimitação. Existem quatro classes de delimitação: o cultivo da bodicita com interesse, o cultivo

da bodicita com pensamento altruísta, o cultivo da bodicita em completa maturidade e o cultivo da bodicita livre de véus3. O primeiro é o nível do comportamento interessado. O segundo se estende do primeiro ao sétimo bhumi. O terceiro vai do oitavo ao décimo bhumi. O quarto é o nível da iluminação. Assim, o Ornamento dos Sutras Mahayana afirma:

O cultivo de uma atitude iluminada É acompanhado nos diferentes níveis Por interesse, pensamento altruísta, Completa maturidade e, igualmente, o abandono dos véus. C. Características Primárias. Existem duas classificações das características primárias: bodicita

absoluta e bodicita relativa. O Sutra que Esclarece o Pensamento afirma: Existem duas classes de bodicita: absoluta e relativa. O que é bodicita absoluta? É a vacuidade que tudo permeia dotada da essência da compaixão; clara,

imutável, e livre de elaborações. O mesmo sutra coloca: A mente da iluminação absoluta está além deste mundo, livre de Todas as elaborações, supremamente pura, dentro do absoluto – Imaculada, imutável e muito clara como a continuidade de uma Lâmpada protegida do vento. O que é bodicita relativa? O mesmo sutra diz: A bodicita relativa dedica-se a liberar todos os seres sencientes Do sofrimento através da compaixão. A bodicita absoluta é alcançada através da realização de darmata, e a bodicita relativa é obtida

através de uma cerimônia ritual. Isto é afirmado no Ornamento dos Sutras Mahayana. Em qual estágio surge a bodicita absoluta? No primeiro bhumi, denominado Grande Alegria, e adiante. Isto é afirmado no comentário ao Ornamento dos Sutras Mahayana:

A bodicita absoluta surge a partir do primeiro bhumi, Grande Alegria. Existem duas classificações para a bodicita relativa: bodicita de aspiração e bodicita de ação.

Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas coloca: Em resumo, a bodicita Deveria ser compreendida de duas formas: A mente que aspira ao despertar E a mente que se coloca a buscá-lo.

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Existem muitas visões sobre a diferença entre estes dois, aspiração e entrar em ação. Na linhagem de Shantideva, que era um discípulo da linhagem de Nagarjuna, que se originou com Arya Manjushri, a aspiração é como um desejo de ir, uma contemplação sobre o desejo de alcançar a iluminação completa; a ação é como o ato de, efetivamente, ir, agir para realizar o objetivo. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas diz: Assim como é compreendido a partir da distinção Entre a aspiração de ir e a ação de, efetivamente, ir, Assim o sábio compreende, por sua vez, A distinção entre estas duas.

Na linhagem de Dharmakirti, que vem do Acharya Asanga e que foi fundada por Arya Maitreia, a aspiração é o compromisso de atingir a fruição: “Eu irei alcançar a iluminação perfeita para o benefício de todos os seres sencientes”. Entrar em ação é um compromisso com a causa: “Irei treinar-me nas seis paramitas, que são a causa da iluminação”. O mesmo significado se encontra na Coleção do Abhidarma:

Existem dois tipos de bodicita: não-especial e especial. Primeiramente, a atitude não-especial é pensar: “Oh, possa eu atingir A iluminação insuperável, perfeita e completa.” A atitude especial é pensar: “Desta forma, possa eu alcançar a perfeição completa da generosidade,

E assim por diante, até a perfeição da sabedoria discriminativa”. Assim, isto completa a explicação sobre as comparações, delimitação e características primárias da

bodicita. IV. Objetivos. Os objetivos da bodicita são atingir a iluminação e beneficiar os seres sencientes. Nos

Bhumis dos Bodisatvas se afirma: Portanto, a bodicita tem como objetivos a iluminação e os seres sencientes. O objetivo da “iluminação” significa buscar a sabedoria primordial do Grande Veículo. A seção sobre o cultivo da bodicita no Ornamento dos Sutras Mahayana afirma: Igualmente, seu objetivo é a busca pela sabedoria primordial. O objetivo dos “seres sencientes” não significa um ser senciente ou dois ou alguns, mas sim todos os seres sencientes que se espalham por onde quer que haja espaço. Onde quer que os seres sencientes estejam permeados pelo carma e pelas emoções aflitivas eles estarão tomados pelo sofrimento. Portanto, eu irei cultivar a mente para dissipar todos esses sofrimentos. O Sutra da Prece de Aspiração pela Conduta Adequada afirma: Ilimitada é a extensão do espaço, Ilimitado é o número de seres sencientes, E ilimitados são o carma e as delusões dos seres – Tais são os limites de minhas aspirações. V. Causa. As causas para o cultivo de bodicita são explicadas no Sutra dos Dez Darmas: Esta mente é cultivada através de quatro causas: Enxergar os efeitos benéficos da bodicita, Desenvolver devoção por Aquele-que-Assim-se-Foi, Enxergar o sofrimento de todos os seres sencientes, e A inspiração de um mestre espiritual. Os Bhumis dos Bodisatvas também apresentam quatro causas: Quais são as quatro causas?

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A família nobre e perfeita é a primeira causa para o cultivo de bodicita. Seguir o Buda, os bodisatvas e um mestre espiritual com o coração é a Segunda causa para o cultivo de bodicita. Cultivar compaixão por todos os seres sencientes é a terceira causa Para o cultivo de bodicita. Ter destemor diante do sofrimento das dificuldades que são longas, variadas, Duras, e sem interrupções, é a quarta causa para o cultivo de bodicita. O Ornamento dos Sutras Mahayana afirma: A bodicita que nasce através de uma cerimônia adequada e a bodicita absoluta Possuem duas causas diferentes4. Devido ao poder dos amigos, ao poder da causa, ao poder da raiz, ao poder do ouvir, Ou através de tendências virtuosas, A bodicita aparece de forma estável ou instável, Quando ela nasce em uma cerimônia adequada conduzida por outros. O cultivo da bodicita que é “conduzido por outros” se refere à mente que é cultivada a partir da revelação de outros, e que é obtida através de uma cerimônia adequada. Isto se chama bodicita relativa. “Pelo poder dos amigos” significa cultivar a mente através dos conselhos de um amigo espiritual. “Pelo poder da causa” significa que ela se desenvolve a partir do poder da família Mahayana. “Pelo poder da raiz de virtude” significa desenvolvê-la fortalecendo sua família. “Pelo poder do ouvir” significa que quando se ouvem diversos ensinamentos também se desenvolve bodicita. “Pelo poder das tendências virtuosas” significa que nesta vida podemos desenvolver bodicita ouvindo, sustentando, praticando persistentemente, e assim por diante. A bodicita é instável quando se desenvolve pelo poder dos amigos; todos os outros casos – surgindo da causa e assim por diante – são estáveis5. A causa do nascimento da bodicita absoluta. Como se diz: Quando o Perfeitamente Iluminado se encontra satisfeito, Quando a acumulação de méritos e de sabedoria perfeita foi bem reunida, Quando não há pensamentos conceituais, sabedoria perfeita do Darma, Isto é entendido como a bodicita absoluta. Em outras palavras, a bodicita absoluta é obtida lendo as escrituras, praticando e através da realização. VI. De Quem a Recebemos. De qual objeto obtemos bodicita? Existem dois sistemas, um com um mestre espiritual, e outro sem. Se não houver perigo para a própria vida ou preceitos deveríamos encontrar um mestre espiritual, mesmo que ele esteja distante, para receber os votos do bodisatva. As qualificações do mestre são: habilidade em conduzir a cerimônia dos votos, ele mesmo deve ter recebido os votos e os mantido sem declinar, ter a habilidade de realizar gestos físicos e de falar, treinar discípulos com compaixão e não estar interessado em riquezas. A Lâmpada para o Caminho da Iluminação diz: Deve-se receber o voto De um nobre mestre espiritual com as qualificações adequadas. Que possua a habilidade de realizar a cerimônia, Que tenha sustentado o voto, e Que tenha paciência e compaixão para realizar a cerimônia – Este ser é reconhecido como um mestre espiritual qualificado. Os Bhumis dos Bodisatvas afirmam: Tendo gerado a aspiração do bodisatva, sendo harmonioso com o Darma, Tendo recebido o voto, possuindo habilidades, capaz de revelar o significado Através da fala, e com a habilidade de fazer os outros compreenderem o significado.

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Mas, mesmo se este tipo de mestre espiritual estivesse próximo a nós, se ir até ele representasse perigo para nossa vida ou para nossa ética moral, então, esta situação é denominada de “o Lama não existe”. Portanto, pode-se receber o voto da bodicita de aspiração ou ação recitando a liturgia para cada um três vezes do fundo do coração, diante de uma imagem d´Aquele-que-Assim-se-Foi. Os Bhumis dos Bodisatvas afirmam: Caso não haja alguém com estas qualidades, o bodisatva Deveria tomar adequadamente por si mesmo os preceitos da ética moral De um bodisatva, diante de uma imagem d´Aquele-que-Assim-se-Foi. Se não puder encontrar nem um mestre espiritual nem uma imagem, então devem-se visualizar claramente os budas e bodisatvas no espaço, e recitar a cerimônia da bodicita de aspiração ou ação três vezes, e recebê-las desta forma. Assim, a Coleção de Instruções Transcendentais coloca: Se este tipo de mestre espiritual não estiver presente, Visualize claramente os budas e bodisatvas das dez direções, E tome o voto pelo seu próprio poder. VII. Método (Cerimônia). Existem diversos sistemas de instrução das linhagens dos grandes eruditos. Apesar de haver muitos, aqui serão apresentados dois sistemas. Estes são: A) A tradição de Shantideva da linhagem de Nagarjuna, que foi fundada por Arya Manjushri, e B) a de Dharmakirti da escola do Acharya Asanga, que foi fundada por Arya Maitreia. A. Shantideva. Na tradição de Shantideva, que vem de Nagarjuna e que foi fundada por Arya Manjushri, existem três tópicos: 1. A preparação, 2. A cerimônia, 3. A conclusão. O primeiro tópico tem seis subdivisões: fazer oferendas, purificar as não-virtudes, regozijar-se com as virtudes, requisitar que a Roda do Darma seja girada, suplicar para que não passem para o parinirvana, e dedicar a raiz de virtude. 1. Preparação. a) Fazer Oferendas. Em primeiro lugar, fazer oferendas envolve dois elementos: o objeto ao qual estamos fazendo as oferendas e as próprias oferendas. (1) Objeto. Existem duas formas de fazer oferendas: com a clara presença das Três Joias, ou não. Estejam elas presentes ou não, a oferenda trará mérito igual. Portanto, devemos fazer oferendas quer as Três Joias estejam presentes ou não. O Ornamento dos Sutras Mahayana afirma: De forma a aperfeiçoar as duas acumulações, faça oferendas de roupas Para os budas com uma mente clara, estando na presença deles ou não. (2) As Oferendas. Existem dois tipos de oferendas: superáveis e insuperáveis. O primeiro tipo tem duas categorias: oferenda de posses materiais e oferenda de prática de meditação. O primeiro tipo (posses materiais) compreende prostrações, preces, materiais de riquezas dispostos na ordem apropriada, materiais que não são possuídos por alguém, e oferendas manifestadas pela mente e pelo corpo. Estes devem ser compreendidos em detalhes. A oferenda de prática de meditação se refere à meditação sobre o corpo da deidade (Sct. deva-kaya-mahamudra) e à manifestação de oferendas pelo poder da concentração meditativa do bodisatva. Oferendas insuperáveis podem ser feitas com um objeto ou de forma livre de objetos. O primeiro é a prática da bodicita. Como se diz: Quando o estudioso praticante medita e pratica a bodicita,

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Esta é a oferenda preciosa e suprema aos budas e bodisatvas. Oferendas sem objetos consistem na meditação sobre o significado da ausência de identidades. Esta é a oferenda suprema. O Sutra Requisitado por Susthitamati, o Filho dos Deuses afirma: Um bodisatva que aspire à iluminação Fará oferendas de flores e incenso, assim como de alimentos e bebidas, Ao Buda, o ser supremo dentre os humanos, Por milhões de kalpas – tão numerosos quanto os grãos de areia do Ganges. Mas aquele que ouviu e desenvolveu paciência Com a clara luz do Darma da não-existência Do eu, da vida e da pessoa, Este realiza a oferenda suprema ao ser humano supremo. E do Sutra do Grande Som do Leão: Aquele que não cria pensamentos de percepção e concepções Faz oferendas Àquele-que-Assim-se-Foi sem aceitações ou rejeições; Entrar na não-dualidade é uma oferenda para o Bem-Aventurado. Amigos, Como o corpo d´Aquele-que-Assim-se-Foi é não-existente por natureza, Não se faz oferendas visualizando-o como existente. Isto completa a explicação sobre como fazer oferendas. b) Purificar Não-virtudes. De modo geral, virtudes e não-virtudes dependem completamente da motivação mental de cada um. A mente é o soberano, e o corpo e a fala são os servos. A Guirlanda de Joias Preciosas afirma: A mente precede todos os darmas, portanto a mente é chamada de soberana. Assim, quando a mente é dominada pelas emoções aflitivas do desejo, aversão, e assim por diante, e os cinco crimes hediondos6, ou as cinco ações próximas7, ou as dez ações não-virtuosas forem cometidos, votos e samaya forem quebrados, e assim por diante; quer eles tenham sido cometidos pela própria pessoa, ou pedindo a outros para fazê-lo, ou por regozijar-se com as ações dos outros, isto é chamado de “não-virtude”. Não apenas isto, mesmo que você ouça o Darma precioso, contemple e medite sobre ele, ainda assim é não-virtude se a mente estiver tomada pelas emoções aflitivas do desejo e da aversão. O resultado destes é o sofrimento. A Guirlanda de Joias Preciosas afirma: Desejo, aversão, ignorância, E o carma criado por eles são não-virtudes. Todos os sofrimentos provêm das não-virtudes, Assim como os reinos inferiores. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas diz: “Como eu posso me livrar completamente da negatividade,

A fonte da miséria?” Continuamente, dia e noite, eu deveria Considerar apenas isto. Portanto, deve-se declarar e purificar todas as não-virtudes. É certo que elas podem ser purificadas pela confissão? Sim, é exatamente assim. O Grande Sutra do Parinirvana diz: Ao purificar as ações negativas através do remorso e ao repará-las, Elas são purificadas da mesma forma como a água lamacenta é limpa pelo toque Da joia da água, ou assim como a lua brilha ao sair de trás das nuvens.

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E: Portanto, se você sentir remorso pelas ações negativas e Confessá-las sem nada esconder, todas serão purificadas. Como devemos purificá-las? Através das portas dos quatro tipos de poderes. O Sutra Apresentando os Quatro Darmas afirma: Maitreia, quando um bodisatva-mahasatva possuir os quatro poderes, As ações negativas e sua acumulação serão vencidas por eles. Quais são os quatro? Eles são: (1) o poder do remorso, (2) o poder do antídoto, (3) o poder da resolução e (4) o poder da confiança. (1) Poder do Remorso. O poder do remorso total envolve um sentimento de grande arrependimento pelas ações negativas anteriores, e completa declaração e confissão diante dos objetos. Como deveríamos desenvolver este sentimento de arrependimento? Existem três formas para gerar o arrependimento: (a) investigando a falta de sentido das não-virtudes, (b) investigando o medo de seus resultados e (c) investigando a necessidade de liberar-se delas rapidamente. (a) Primeiro, a falta de sentido. Algumas vezes eu cometi ações negativas para subjugar inimigos, às vezes para sustentar parentes, às vezes para proteger este corpo e às vezes para acumular riquezas. Quando eu morrer e partir para a próxima vida, estes inimigos, parentes, lugares, corpo e riquezas não me seguirão. Mas o carma negativo e os obscurecimentos das ações negativas irão me seguir onde quer que eu nasça, não me deixando escapar. O Sutra Requisitado pelo Chefe de Família Palgyin afirma: Pais, irmãos, filhos, esposas, Servos, riquezas e outros parentes Não nos seguirão após a morte. Mas as nossas ações irão nos seguir. E também: Quando o momento do grande sofrimento chegar, Meu filho e esposa não serão um refúgio. O sofrimento será experimentado apenas por mim. Neste momento, eles não irão dividi-lo comigo. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas diz: Deixando todos devo partir sozinho. Mas, por não ter entendido isso Eu cometi vários tipos de maldade Na relação com meus amigos e inimigos. Meus inimigos irão se transformar em nada. Meus amigos irão se transformar em nada. Eu também me transformarei em nada. Da mesma forma, todos se transformarão em nada. Assim, eu gerei ações negativas pelos inimigos, parentes, corpo e riquezas, mas estes não irão me seguir por muito tempo. Contemplando que estas ações negativas geram muitos problemas e são de pequeno benefício, desenvolva grande remorso. (b) Segundo, o medo do resultado. Se você acha que mesmo que as ações negativas sejam de pouco benefício elas não o prejudicarão, então medite neste segundo significado. Você deveria investigar os temíveis

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resultados das ações negativas e gerar arrependimento. Além do mais, deveríamos temer as ações negativas i) perto do momento da morte, ii) ao morrer e iii) após a morte. i) Primeiro, o medo perto do momento da morte. No momento em que a morte se aproxima, os malfeitores experimentam o sofrimento inconcebível de serem tomados pela dor, e assim por diante. Como se diz: Enquanto deitado em minha cama, Apesar de rodeado por meus amigos e parentes, A sensação de ter a vida extirpada Será experimentada apenas por mim. ii) Segundo, os resultados amedrontadores no momento da morte. O Senhor da Morte, negro e aterrorizante, segura em sua mão uma coleira, que ele amarra aos nossos pescoços, e nos leva para os reinos dos infernos. Somos torturados por trás por muitos seres que carregam diferentes armas – varas, facas especiais, e assim por diante – e, desta forma, experimentamos muito sofrimento. Assim, Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas diz: Quando agarrado pelos mensageiros da morte, Que benefício meus parentes e amigos poderão me trazer? Apenas meu mérito poderá me proteger então, Mas nele eu nunca confiei. A Carta de Treinamento diz: A coleira do tempo puxa seu pescoço e os temíveis senhores da Morte o Torturam com suas varas e chicotes, e o levam embora. Talvez você pense que não terá medo do Senhor da Morte, neste caso, Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas diz: Petrificado fica aquele que hoje É conduzido a uma câmara de torturas. Com a boca seca e os olhos aterrorizados e fundos, Toda sua aparência fica transfigurada. Desnecessário, então, mencionar o tremendo desespero Ao ser abatido pela doença do grande pânico, Sendo agarrado pelas formas físicas Dos temíveis mensageiros da morte. iii) Terceiro, os terríveis frutos das ações negativas após a morte. Como resultado das ações negativas, você cairá nos grandes infernos e experimentará o sofrimento infindável de ser queimado, cozido, e assim por diante. Portanto, deve-se desenvolver um grande temor. Nagarjuna afirmou na Carta a um Amigo: Quando alguém vê um desenho dos infernos, Ou ouve, relembra, lê sobre eles, ou Vê suas formas, o medo surge. Desnecessário mencionar o que acontece quando se experimenta O resultado intolerável. Portanto, o resultado das ações negativas é amedrontador, e assim deveríamos sentir remorso. (c) Terceiro, a necessidade de purificar as não-virtudes rapidamente. Você pode pensar que é o suficiente purificar as não-virtudes na última fase de sua vida, mas isto não é o suficiente. Você deve purificá-las rapidamente. Isto porque há o perigo de você morrer antes de as negatividades serem purificadas.

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Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma: Pois eu posso perecer Antes de purificar minhas negatividades; Assim, por favor protejam-me de forma que Eu possa rapida e seguramente me livrar delas.

Se eu achar que não irei morrer antes de purificar minhas ações negativas, então eu deveria entender que o Senhor da Morte não está preocupado se eu purifiquei minhas ações negativas ou não. Ele aproveitará qualquer oportunidade para levar minha vida. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas diz: O não-confiável Senhor da Morte Não espera que as coisas sejam feitas ou desfeitas. Esteja eu doente ou saudável, A duração desta vida flutuante é instável.

Portanto, visto que não posso confiar na força de minha vida, eu deveria confessar rapidamente porque há o perigo de que eu morra antes de purificar minhas ações negativas. Assim, visto que este é o caso, eu deveria sentir remorso. Desta forma, por estas três razões, eu gero remorso pelas ações negativas e as declaro e purifico diante de objetos especiais e de outros. Assim, purificar as ações negativas pelo poder do remorso total é como aproximar-se de um poderoso credor quando você não pagou seus débitos. Em tempos antigos, Angulimala8, o malfeitor que matou 999 pessoas, alcançou o estado de Arhat ao purificar suas ações negativas pelo poder do remorso total. A Carta a um Amigo de Nagarjuna diz:

Aquele que não possui discernimento, Mas que mais tarde desenvolve atenção mental, É como a lua radiante surgindo por detrás das nuvens. Por exemplo, Nanda, Angulimala, Ajatashatru e Udayana. (2) O Poder do Antídoto. O antídoto completo para as ações negativas é a prática da virtude. Ela causa a exaustão das aflições. A Coleção do Abhidarma afirma: Para combater o carma das ações negativas, aplique seu antídoto. Mesmo já tendo sido criado, o resultado da não-virtude pode ser transformado Em outra coisa pelo poder do antídoto. O Tesouro d´Aquele-que-Assim-se-Foi afirma: Purifique os atos negativos com a meditação da vacuidade. O Sutra do Diamante diz: Ler os sutras profundos purifica os atos negativos. Estabelecendo os Três Compromissos Primários e o Sutra Requisitado por Subahu colocam: A recitação dos mantras secretos purifica as ações negativas. O Sutra do Monte de Flores diz: Fazer oferendas à estupa do tatágata purifica as ações negativas. O Capítulo de um Sutra sobre o Corpo d´Aquele-que-Assim-se-Foi afirma: Atos negativos são purificados fazendo imagens do Buda, e também se diz Que eles são purificados ouvindo os ensinamentos, lendo textos, escrevendo textos,

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E assim por diante, de acordo com seu interesse em ações virtuosas. O Discurso sobre a Disciplina diz: Aquele que cometeu ações negativas Pode purificá-las com a virtude e Tornar-se um ser radiante neste mundo, Como o sol e a lua emergindo por detrás das nuvens. Pode-se pensar que é necessário realizar tantos atos de virtude quanto foram os não-virtuosos. Isto não é necessário. O Grande Sutra do Parinirvana afirma: A realização de apenas uma virtude elimina muitas ações negativas. E: Por exemplo, assim como um pequeno vajra parte uma montanha, um pequeno Fogo queima toda a grama, e uma pequena quantidade de veneno mata os seres Sencientes, da mesma forma uma pequena virtude purifica muitos feitos negativos. Portanto, é importante esforçar-se no caminho da virtude. O Sutra da Luz Dourada afirma: Alguém que gere um mal abominável Por mil kalpas, Ao confessar tudo de uma única vez Será completamente purificado. Para ilustrar a purificação completa das ações negativas pelo antídoto, considerem o exemplo de uma pessoa que cai em um pântano nojento, e, após sair dele, toma um banho e se perfuma com fragrâncias. Em tempos antigos, Udayana9, o malfeitor que matou sua mãe, praticou o poder do antídoto completo, purificou sua ação negativa, renasceu em um reino dos deuses, e alcançou o fruto de entrar-na-corrente. Assim se diz:

Aquele que não possui discernimento, Mas que mais tarde desenvolve atenção mental, É como a lua radiante surgindo por detrás das nuvens. Por exemplo, Nanda, Angulimala, Ajatashatru e Udayana. (3) Poder da Resolução. Por medo das causas que amadurecerão no futuro cessamos de cometer ações negativas. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma: Eu suplico a todos os Guias do Mundo: Por favor, aceitem meus erros e minha maldade, Visto que estes não são positivos. No futuro eu não mais os cometerei. Todos os atos negativos são purificados pelo poder da resolução, como se o curso de um rio perigoso fosse invertido. Em tempos antigos, Nanda10, o malfeitor que era muito apegado a uma mulher, atingiu o fruto do estado de Arhat purificando suas negatividades pelo poder da resolução. Assim se diz:

Aquele que não possui discernimento, Mas que mais tarde desenvolve atenção mental, É como a lua radiante surgindo por detrás das nuvens. Por exemplo, Nanda, Angulimala, Ajatashatru e Udayana. (4) Poder da Confiança. O poder da confiança é tomar refúgio nas Três Joias e cultivar a mente da iluminação suprema. Purificar as ações negativas tomando refúgio nas Três Joias é mencionado na Expressão

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da Realização de Sukan: Aquele que toma refúgio no Buda Não renascerá nos reinos inferiores. Ao deixar este corpo humano Obterá o corpo dos deuses. O Grande Sutra do Parinirvana afirma: Ao tomar refúgio nas Três Joias Será alcançado o estado de destemor. Purificar as ações negativas cultivando a mente da suprema iluminação é mencionado no Sutra Plantando o Nobre Caule: Isto causa a exaustão de todas as não-virtudes como se elas fossem Enterradas sob o solo. Isto queima todas as falhas como o fogo ao final de um kalpa. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas coloca: Como entregar-se a um bravo homem quando estamos com medo, Ao entregar-me a esta Mente do Despertar eu serei rapidamente liberado, Mesmo que eu tenha cometido maldades extremamente insuportáveis. Por que, então, aqueles que são conscientes, não se devotam a isso? Assim, o poder da confiança purifica todas as ações negativas como a proteção de uma pessoa poderosa11, ou como o veneno que é expelido pelos mantras12. Em tempos antigos, Ajatashatru13, o malfeitor que matou seu pai, purificou suas ações negativas, e se tornou um bodisatva ao praticar o poder da confiança. Assim se diz:

Aquele que não possui discernimento, Mas que mais tarde desenvolve atenção mental, É como a lua radiante surgindo por detrás das nuvens. Por exemplo, Nanda, Angulimala, Ajatashatru e Udayana. Se as ações negativas podem ser purificadas mesmo por um dos poderes individualmente, então por que elas não seriam purificadas pelos quatro poderes juntos? Sinais da purificação das ações negativas surgirão nos sonhos. O Dharani da Invocação diz: Se em um sonho estivermos vomitando comida estragada, bebendo iogurte, leite, e assim por diante, olhando para o sol e a lua, caminhando nos céus, olhando para fogueiras em brasa, sendo capazes de dominar búfalos e pessoas vestindo roupas negras, vendo uma reunião de bhikshus e bhikshunis, subindo em uma árvore que dá leite, ou em um elefante, boi, montanha, trono de leão, ou mansão, ou ouvindo os ensinamentos do Darma, e assim por diante, estes são sinais de afastamento das ações negativas. Isto conclui a explicação sobre as práticas de purificação. c) Regozijar-se com as Virtudes. Todas as virtudes que os seres meritórios acumularam no passado, no presente e no futuro são objeto da meditação sobre o regozijo. Além disso, meditem sobre o regozijo prazeroso de: Quaisquer raízes de virtude que foram estabelecidas pelos incontáveis, ilimitados, inconcebíveis budas que surgiram nas dez direções no passado, desde o momento em que eles desenvolveram bodicita pela primeira vez, reuniram os dois tipos de acumulações, e purificaram os dois tipos de obscurecimentos, até alcançarem a iluminação completa.

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Quaisquer raízes de virtude que foram estabelecidas do momento em que eles giraram a Roda do Precioso Darma após atingirem a iluminação, amadurecendo completamente os aspirantes, até passarem para o nirvana. Quaisquer raízes de virtude que foram estabelecidas do momento em que eles atingiram o parinirvana até os ensinamentos do Darma desaparecerem. Quaisquer raízes de virtude que foram estabelecidas pela manifestação de todos os bodisatvas. Quaisquer raízes de virtude que foram estabelecidas por todos os nobres Realizadores Solitários que já surgiram. Quaisquer raízes de virtude que foram estabelecidas por todos os nobres Ouvintes que já surgiram. Quaisquer raízes de virtude que foram estabelecidas pelos seres comuns. Todas estas acumulações – meditem regozijando-se com todas elas. Da mesma forma, regozijem-se com todas as virtudes do presente e do futuro. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas coloca: Eu me regozijo pelo despertar dos budas E também pelos níveis espirituais dos bodisatvas, E assim por diante. Isto conclui a meditação sobre o regozijo. d) Requisitando que a Roda do Darma seja girada. Existem muitos budas em todas as dez direções14 que não estão dando ensinamentos para gerar respeito pela Joia do Darma, e para proporcionar a acumulação de mérito nas pessoas que suplicam por eles. Focando estes budas deveríamos suplicar e pedir pelos ensinamentos. Assim se diz: Com mãos em prece, eu suplico Aos budas de todas as direções Para que brilhe a lâmpada do Darma Para todos aqueles que estão confusos na tristeza da miséria. e) Suplicando para que não atinjam o parinirvana. Existem muitos budas nas dez direções que estão se preparando para atingir o parinirvana de forma a fazer com que a mente dos seres renuncie à visão de permanência, e para desenvolver perseverança naqueles que são preguiçosos. Focando estes budas suplicamos para que eles não atinjam o parinirvana. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma: Com mãos em prece, eu suplico Aos Conquistadores que desejam ir embora Para permanecerem por incontáveis éons, E não abandonarem o mundo na escuridão. Esta é a conclusão da explicação sobre como requisitar os ensinamentos do Darma e a súplica para não atingirem o parinirvana. f) Dedicação da raiz de virtude. Dediquem todas as raízes de virtude que foram criadas no passado para dissipar o sofrimento dos seres sencientes e levá-los a se estabelecerem na felicidade. Como se diz: Assim, pela virtude acumulada Através de tudo que tenho feito, Possa a dor de cada criatura viva Ser completamente eliminada. Assim, dediquem. Isto explica a preparação para a bodicita. 2. A Cerimônia. A expressão do compromisso é explicada na Coleção de Instruções Transcendentais. Quando Arya Manjushri renasceu como o Rei Ampa, ele se dirigiu ao Buda Meghanadaghosa e obteve as instruções sobre o desenvolvimento da bodicita de aspiração e recebeu o voto de bodisatva ao mesmo tempo.

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Da mesma forma, deveríamos recebê-los juntos. Como se diz: Do início ao fim Do samsara sem princípio nem fim, De forma a realizar atividades ilimitadas pelo benefício Dos seres sencientes, Diante do Senhor do Mundo, Eu cultivo bodicita. E assim por diante. Repita isto três vezes. Ou, também podemos receber as instruções da bodicita recitando estas breves palavras de Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas: Assim como os sugatas anteriores Deram nascimento à mente do despertar, E assim como eles permaneceram sucessivamente Nas práticas dos bodisatvas – Da mesma forma, para o bem de todos aqueles que vivem, Eu dou nascimento à mente do despertar, E, igualmente, eu também seguirei Sucessivamente as práticas. Repita isto três vezes. Se desejar cultivar a bodicita e receber o voto separadamente, então recite as palavras separadamente e os receba. Isto completa a cerimônia do voto do bodisatva. 3. Conclusão. Faça oferendas em apreciação às Três Joias e medite sobre a vasta alegria e felicidade da grande realização que foi alcançada. Como se diz: Uma pessoa com sabedoria discriminativa Sustenta bodicita com uma mente grandiosa e clara. De forma a ampliar isto, Ela deveria animar sua mente alegremente desta maneira. E assim por diante. Assim, a tradição de Shantideva foi explicada através da preparação, cerimônia e conclusão. B. Dharmakirti. A tradição de Dharmakirti da escola do Acharya Asanga, que foi fundada por Arya Maitreia, tem dois tópicos: 1. Cultivando a bodicita de aspiração e 2. Recebendo o voto da bodicita de ação. O primeiro contém três tópicos: a) preparação, b) cerimônia e c) conclusão. 1. Cultivando a bodicita de aspiração. a) Preparação. A preparação também tem três subdivisões: (1) súplica, (2) reunião das acumulações e (3) refúgio especial. (1) Súplica. O discípulo que deseja cultivar bodicita se dirige a um mestre espiritual qualificado e faz

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prostrações. O mestre espiritual dá instruções e, através destas instruções, leva o discípulo a renunciar ao samsara, a desenvolver grande compaixão por todos os seres sencientes, a gerar o desejo de alcançar a iluminação, a desenvolver confiança nas Três Joias e a desenvolver devoção pelo mestre. Depois disto, o discípulo repete da seguinte forma após o mestre: “Por favor, ouça-me, mestre. Assim como todos Aqueles-que-Assim-se-Foram, Destruidores do Inimigo, Completamente Perfeitos Budas e bodisatvas que residem em níveis superiores cultivaram a mente da iluminação perfeita e insuperável, da mesma forma, eu _____, peço ao mestre que me permita cultivar a atitude iluminada da iluminação insuperável e perfeita”. Repita isto três vezes. (2) Reunir as acumulações. Inicialmente, prostre-se ao mestre e às Três Joias, então faça oferendas do que quer que você possa reunir, ou visualize mentalmente todas as oferendas que existem. Os votos de shramanera são recebidos do updadya (Tib. Khenpo) e do acharya, os votos de bhikshu são obtidos da sanga, mas os dois tipos de bodicita são obtidos através da acumulação de méritos. Portanto, se você tiver riquezas, não adianta oferecer apenas um pouco, deve-se fazer uma grande oferenda. No passado, bodisatvas ricos fizeram grandes oferendas. Eles ofereceram dez milhões de templos, e então cultivaram bodicita. O Sutra da Era Afortunada conta: Durante a regência do Rei Zamlin, o Sugata Drakjim, Após oferecer dez milhões de templos ao tatágata Dawaytok, desenvolveu bodicita pela primeira vez. Se você possuir poucas riquezas é o suficiente fazer uma pequena oferenda. Em tempos antigos, bodisatvas que tinham poucas posses fizeram pequenas oferendas. Ao oferecer uma lâmpada feita de uma lâmina de grama, eles cultivaram bodicita. Como se conta: Durante a regência do sugata Ronkye Tenpa, o tatágata Thayewo Após oferecer uma lâmpada feita de uma única lâmina de grama Desenvolveu bodicita pela primeira vez. Novamente, se não tiver nenhuma posse, não é necessário sentir-se triste devido à falta de meios. Será suficiente fazer três prostrações. Em tempos antigos, bodisatvas fizeram três prostrações e desenvolveram bodicita. Como se conta: O tatágata Yongden Trengdan Após ter feito três prostrações Diante do tatágata Gyi Dan Desenvolveu bodicita pela primeira vez. (3) Refúgio especial. É o mesmo que foi explicado anteriormente no capítulo 8. b) Cerimônia. O mestre dá instruções ao discípulo da seguinte forma: “Onde quer que haja o espaço, existem seres sencientes. Onde quer que haja seres sencientes eles estarão permeados pelas emoções aflitivas. Onde há emoções aflitivas há o carma negativo. Onde há ações negativas, o sofrimento permeia. Estes seres sencientes que estão sofrendo foram todos nossos pais, e esses pais foram muito gentis conosco. Assim, os seus bondosos pais estão afundando no oceano do samsara, torturados por inúmeros sofrimentos; não há ninguém para protegê-los. Há tanto sofrimento que eles estão exaustos e tomados pelas delusões. Assim, meditem sobre como seria maravilhoso se eles encontrassem a paz, a face da felicidade. Que maravilhoso se eles estivessem livres desse sofrimento! Contemplem esta meditação de bondade amorosa e compaixão por um instante. “Além disso, contemplem ‘Neste momento eu não tenho a capacidade de beneficiar todos esses seres. Portanto, de forma a beneficiar todos os seres eu deveria alcançar o estado daquele que é chamado de Buda completo, aquele que exauriu completamente todas as falhas e aperfeiçoou todas as qualidades, e possui todas as habilidades para beneficiar os seres sencientes.’ Traga isto à sua mente.” Depois disto, repita após o mestre espiritual: “Por favor, ouçam-me, todos os budas e bodisatvas das dez direções. Por favor, ouçam-me mestres. Meu nome é _____. Pelas raízes de virtude que acumulei em todas as minhas vidas através das práticas de generosidade, ética moral e prática de meditação, mesmo que eu as tenha realizado, pedido a outros para o fazerem, ou regozijado com as ações dos outros, por todas estas

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virtudes, assim como os budas, todos Aqueles-que-Assim-se-Foram, Destruidores do Inimigo, Completamente e Perfeitamente Iluminados, Exaltados, e os grandes bodisatvas-mahasatvas que residem nos níveis superiores cultivaram a mente da iluminação perfeita e insuperável, da mesma forma eu ______ , de agora até alcançar a iluminação perfeita e insuperável, irei cultivar a mente da iluminação perfeita e insuperável para resgatar todos aqueles seres sencientes que ainda não cruzaram, para liberar aqueles que não estão livres, para ajudar aqueles que não encontraram o fôlego para sair, e para ajudar aqueles que ainda não alcançaram o nirvana final a alcançá-lo.” Assim, repita três vezes. “Os seres que não cruzaram” significa os seres sencientes que habitam os reinos dos infernos, fantasmas famintos e animais - todos aqueles nos reinos inferiores que não cruzaram o oceano do sofrimento. “Resgatar” significa liberá-los do sofrimento dos reinos inferiores e estabelecê-los nos reinos superiores dos deuses e humanos. “Aqueles que não estão livres” significa os seres nos reinos dos humanos e deuses que não estão liberados da escravidão das correntes de ferro das emoções negativas. “Liberados” significa estabelecê-los no bem definitivo ao liberá-los das emoções aflitivas e alcançar o estado da liberação. “Aqueles que não encontraram o fôlego” significa os Ouvintes e Realizadores Solitários que não encontraram o “fôlego” do Mahayana. “Expirar o fôlego” significa aqueles que expiraram e entraram na visão e comportamento do veículo Mahayana ao cultivar a mente da suprema iluminação e atingir o estado do décimo bhumi. “Aqueles que não alcançaram o nirvana final” significa aqueles bodisatvas que não atingiram o nirvana livre de fixações. “Alcançar o nirvana final” significa que estes bodisatvas prosseguem através de todos os caminhos e bhumis e, então, alcançam o nirvana final, o que significa que eles alcançaram a iluminação. “Para” significa fazer o compromisso de alcançar a iluminação de forma a realizar todas as ações necessárias. (c) Conclusão. Tendo alcançado benefício tão grande, deveria surgir grande alegria e deveríamos meditar sobre a grande felicidade. E também deveríamos receber explicações sobre todos os treinamentos. Assim, aquele que cultiva esta mente é um bodisatva, que significa ter o desejo de alcançar a iluminação de forma a beneficiar todos os seres sencientes, ter o desejo de liberar todos os seres sencientes após atingir a iluminação, focar a mente na iluminação e nos seres sencientes, e, para este propósito, possuir uma grande mente de guerreiro e coragem indômita. Isto completa a cerimônia para o cultivo da bodicita de aspiração. 2. Recebendo o voto da bodicita de ação. Há três tópicos em relação a estes votos: (a) preparação, (b) cerimônia e (c) conclusão. (a) Preparação. A preparação tem dez subdivisões: súplica, perguntar sobre os obstáculos comuns, explicar os diferentes tipos de falhas, explicar os problemas das falhas, explicar os efeitos benéficos de receber os votos, reunir as acumulações, perguntar sobre os obstáculos incomuns, encorajamento, desenvolver o pensamento especial altruísta e explicar brevemente o treinamento. (b) Cerimônia. O discípulo deveria cultivar o desejo de aceitar o voto. O mestre chama o nobre discípulo pelo nome e pergunta: “A base do treinamento de todos os bodisatvas do passado e sua ética moral, a base do treinamento de todos os bodisatvas do futuro e sua ética moral, a base do treinamento de todos os bodisatvas residindo nas dez direções no presente e sua ética moral, os bodisatvas do passado que foram treinados com base nestes treinamentos e ética moral, os bodisatvas do futuro que serão treinados, os bodisatvas das dez direções que estão sendo treinados no presente com base nestes treinamentos e ética moral - todos os tipos de ética moral são a ética moral da restrição, a ética moral de acumular virtudes e a ética moral de beneficiar os seres sencientes – você quer aceitá-los de mim, o bodisatva com o nome ____ ?” Isto é perguntado três vezes. O discípulo deveria responder: “Sim, eu quero”, três vezes. (c) Conclusão. A conclusão tem seis subdivisões: fazer o anúncio, explicar os efeitos benéficos de entrar no estado da sabedoria onisciente, advertir para que o voto não seja proclamado aleatoriamente, fazer com que o discípulo compreenda descrevendo brevemente o treinamento, fazer oferendas como apreciação e

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dedicar a raiz de virtude. Isto conclui o recebimento do voto da bodicita de ação. Esta é a tradição de Dharmakirti. VIII. Efeitos Benéficos. O cultivo de bodicita tem dois tipos de efeitos benéficos: A) Mensuráveis e B) Incomensuráveis. A. Efeitos Mensuráveis. Há duas subdivisões:

1) os efeitos benéficos do cultivo da bodicita de aspiração e 2) os efeitos benéficos do cultivo da bodicita de ação.

1) Efeitos Benéficos do Cultivo da Bodicita de Aspiração. Este item possui oito subdivisões: a) Ingressar no Mahayana, b) Torna-se a base para todo o treinamento dos bodisatvas, c) Todas as ações negativas serão desenraizadas, d) A iluminação insuperável estará enraizada, e) Serão obtidos méritos ilimitados, f) Todos os budas ficarão satisfeitos, g) O ser se tornará útil para todos, h) Será alcançada rapidamente a iluminação perfeita. a) Se alguém não cultivou a suprema bodicita esta pessoa não é contada como parte da família Mahayana, mesmo que possua um comportamento excelente. Se a pessoa não ingressou no Mahayana não conseguirá atingir a iluminação. Mas aquele que cultivou a bodicita suprema ingressou no Mahayana. Os Bhumis dos Bodisatvas afirmam: Imediatamente após cultivar a mente, entra-se no Mahayana, A iluminação insuperável. b) Se alguém não possui o desejo de atingir a iluminação, que é chamado de mente de aspiração, não há base para que ocorra o desenvolvimento das três moralidades15, que constituem o treinamento dos bodisatvas. Quando se possui o desejo de atingir a iluminação estas três moralidades são desenvolvidas e mantidas. Portanto, esta mente é a fundação para o treinamento. Os Bhumis dos Bodisatvas afirmam: Cultivar a mente é a fundação para todos os treinamentos dos bodisatvas. c) O antídoto para as ações negativas é a virtude, e bodicita é suprema dentre todas as virtudes. Portanto, quando há um antídoto sua natureza é eliminar o seu oposto – todas as não-virtudes. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma: Assim como o fogo ao final de uma era Ela consome instantaneamente todo o mal. d) O continuum mental dos seres sencientes é como o solo, quando encharcado pela umidade da bondade amorosa e da compaixão, se a semente da mente iluminada estiver plantada, os trinta e sete ramos da iluminação irão crescer, o fruto da iluminação amadurecerá, e toda a paz e felicidade para os seres sencientes surgirá. Portanto, quando bodicita é cultivada, a iluminação terá se enraizado. Os Bhumis dos Bodisatvas dizem: Cultivar a mente é a raiz da iluminação Perfeita, completa e insuperável. e) A acumulação de méritos ilimitados é explicada no Sutra Requisitado pelo Chefe de Família Palgyin: Os méritos da bodicita –

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Se eles tivessem uma forma visível Que preenchesse todo o espaço, Eles seriam ainda maiores. f) Como todos os budas ficarão satisfeitos é contado no Sutra Requisitado pelo Chefe de Família Palgyin: Tal como o número de grãos de areia no Ganges, Assim são os campos búdicos de todos os budas. Se alguém os preenchesse completamente com joias E fizesse esta oferenda aos Bem-Aventurados, Ainda assim seria uma oferenda muito superior Juntar suas mãos em prece E cultivar bodicita. Esta oferenda está além de qualquer limite. g) Tornar-se útil para todos os seres é mencionado no Sutra Plantando o Nobre Caule: É como uma fundação para se tornar útil para todo o mundo. h) A rápida realização da iluminação completa é explicada nos Bhumis dos Bodisatvas: Ao cultivar a mente, não será possível permanecer nos dois extremos16. Rapidamente será atingida a iluminação completa. 2. Efeitos Benéficos do Cultivo da Bodicita de Ação. Existem dez benefícios em cultivar a bodicita de ação. Além dos oito anteriores, eles são: a) O próprio benefício aumenta constantemente e b) O benefício para os outros surge de diversas formas. a) O cultivo da bodicita de ação é diferente da anterior visto que a força contínua do mérito surge constantemente, quer se esteja dormindo, inconsciente, sem percepções, etc. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma: Deste momento em diante, Mesmo quando dormindo ou despreocupado, Uma força de méritos igual ao céu Surgirá perpetuamente. b) O benefício para os outros surgirá de diversas formas significa que o sofrimento de todos os seres sencientes será dissipado, eles serão estabelecidos na felicidade, e as emoções aflitivas serão cortadas. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma: Pois aqueles que estão privados da felicidade E carregados com muitos pesares, Serão satisfeitos com todas as alegrias. Dissipando todo o sofrimento E esclarecendo toda a confusão. Onde há uma virtude comparável? Onde há tal amigo espiritual? Onde há mérito similar a este? B. Efeitos Incomensuráveis. Segundo, “efeitos benéficos incomensuráveis” significa que todas as qualidades surgem a partir deste momento, até que se torne um buda, e assim elas são incomensuráveis. IX. As Desvantagens de Perdê-la. Ocorrem três falhas quando a bodicita enfraquece: através destas falhas caímos nos reinos inferiores, através destas falhas não podemos beneficiar os outros e através destas falhas levamos um longo tempo para atingir os bhumis dos bodisatvas.

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Primeiro, quebrar o compromisso por deixar a bodicita enfraquecer é enganar todos os seres. Pela maturação deste fruto renasceremos nos reinos inferiores. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma: Se, tendo feito esta promessa, Eu não a colocar em ação, Então, por ter enganado todos os seres sencientes, Que tipo de renascimento eu obterei? Segundo, com esta falha não será possível beneficiar os outros. Assim se diz: Pois caso isto acontecesse, O benefício de todos se enfraqueceria. Terceiro, levará um longo tempo para atingirmos os bhumis dos bodisatvas. Como se diz: Assim, aqueles que têm a força de gerar a mente do despertar, Assim como a força para enfraquecê-la, Permanecem girando na existência cíclica. E, por um longo tempo, estarão impedidos de chegar aos bhumis dos bodisatvas. X. As Causas da Perda. Existem duas formas de perder a mente que cultivou bodicita: a causa de perder a aspiração e a causa de perder a ação. A primeira consiste em abandonar os seres sencientes, seguir as quatro ações não-virtuosas17, e gerar a mente contrária, que é desarmônica com a virtude. A causa da perda do voto de ação é explicada nos Bhumis dos Bodisatvas: Existem quatro tipos de ofensas que fazem com que a bodicita seja perdida, Se forem cometidas a partir das pesadas aflições emocionais. Ofensas negativas pequenas e medíocres são simplesmente terríveis. Os Vinte Preceitos afirmam: Além disso, ao perder a bodicita de aspiração, isto também quebra a Bodicita de ação. A Coleção do Completo Estabelecimento diz: Existem quatro causas para a quebra do voto de bodisatva. As duas anteriores, Abandonar o treinamento e gerar visões errôneas. Shantideva disse: Gerar uma mente desarmônica também quebra o voto. XI. Método para Retomá-la. Ao perder a bodicita de aspiração, ela pode ser restaurada gerando a mente novamente. Se houve a quebra do voto da bodicita de ação devido à perda da mente de aspiração, ele é restaurado automaticamente quando se restaura a bodicita de aspiração. Se o voto foi quebrado por outras causas, ele deve ser refeito. Se foi através das quatro ofensas, a confissão é o suficiente se foram cometidas ações medíocres ou pequenas. Os Vinte Preceitos afirmam: Se alguém perder o voto, deve refazê-lo.

Se foi através de emoções aflitivas medíocres, Confesse diante de três bodisatvas.

Todas as outras, confesse diante de um. Aflita ou não, a própria mente deve ser a testemunha18.

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Este é o nono capítulo, que explica o cultivo da suprema bodicita, de

O Ornamento da Preciosa Liberação, A Joia que Realiza Desejos dos Nobres Ensinamentos.

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CAPÍTULO 10

O Treinamento na Bodicita de Aspiração XII. Treinamento. Após cultivar a bodicita existem dois tipos de treinamento: A) Treinamento na bodicita de aspiração e B) Treinamento na bodicita de ação. A) O Treinamento na Bodicita de Aspiração. O sumário: Não abandonar os seres sencientes em seu coração, Recordar os efeitos benéficos dessa mente, Reunir as duas acumulações, Praticar repetidamente a mente iluminada e Aceitar as quatro virtudes, evitando as quatro não-virtudes – Esses cinco itens compreendem o treinamento na bodicita de aspiração. O primeiro é o método para não perder a bodicita. O segundo é o método que não permite o enfraquecimento da bodicita. O terceiro é o método para aumentar a força da bodicita. O quarto é o método para aprofundar a bodicita. O quinto é o método para não esquecer a bodicita. 1. Não abandonar os seres sencientes em seu coração. Por primeiro, o treinamento em não abandonar os seres sencientes em seu coração é o método para não perder a bodicita. O Sutra Requisitado pelo Rei Naga Anavatapta afirma: Um bodisatva que possui uma única qualidade detém todas as

Qualidades excelentes dos budas. Qual é essa qualidade? Uma mente que não abandona ninguém em seu coração.

Suponham que alguém aja desfavoravelmente com vocês e vocês adotem uma atitude de distanciamento dessa pessoa, e não tenham interesse por ela. Mesmo tendo uma chance de ajudar essa pessoa no futuro vocês se recusariam a fazê-lo. Mesmo se chegasse o momento de proteger essa pessoa de perigos vocês não o fariam. Isso se chama “abandonar os seres sencientes”. Além disso, o que significa “abandonar os seres sencientes”? Isso se refere a todos os seres sencientes ou apenas a um? Até mesmo os Ouvintes e os Realizadores Solitários não abandonariam todos os seres sencientes, e tampouco os falcões e os lobos. Portanto, se abandonarem um só ser senciente e não aplicarem o antídoto no espaço de tempo de uma sessão1, então perde-se a bodicita. É completamente sem sentido abandonar seres sencientes em seu coração enquanto se é chamado de bodisatva, mantendo um outro treinamento. Por exemplo, isso é como matar seu único filho e, então, acumular riquezas às custas dele. É claro que não iremos abandonar essa atitude com os seres que nos beneficiam, mas há o perigo de abandoná-la com aqueles que nos prejudicam. Com esses, especialmente, deveríamos cultivar compaixão e nos esforçar para levar a eles benefícios e felicidade. Essa é a tradição dos Seres Nobres. Assim se diz: Quando o mal é realizado em troca de ações positivas, Mesmo então ele deve ser respondido com grande compaixão. Os seres excelentes desse mundo retribuem uma ação positiva Para cada feito negativo recebido. 2. Recordar os efeitos benéficos da bodicita. Segundo, o treinamento em recordar os efeitos benéficos da bodicita é o método para evitar o seu enfraquecimento. A Lâmpada para o Caminho da Iluminação

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diz: A qualidade do cultivo da mente de aspiração Foi explicada por Maitreia, no Sutra Plantando o Nobre Caule. Assim foi dito. Nesse sutra os efeitos benéficos da bodicita são ilustrados através de 230 comparações. Todos esses efeitos benéficos são abreviados em quatro categorias. Assim: ”Ó filho de nobre família! A bodicita é como a semente de todas as qualidades dos budas”, e “Ela dissipa toda a pobreza como Vaisravana”, e assim por diante, referem-se aos efeitos benéficos para si mesmo. “Ela protege completamente todos os migrantes como um abrigo”, e “Ela suporta todos os seres sencientes como o solo”, e assim por diante, referem-se aos efeitos benéficos para os outros. “Como ela é vitoriosa sobre todos os inimigos das emoções aflitivas, ela é como uma lança”, e “Ela corta completamente a árvore do sofrimento como um machado”, e assim por diante, referem-se ao seu efeito benéfico de afastar todas as condições desfavoráveis. “Ela realiza todas as aspirações como um nobre vaso”, e “Ela realiza todos os desejos como uma joia preciosa que concede desejos”, e assim por diante, referem-se ao seu efeito benéfico de estabelecer todas as condições favoráveis. Desta forma, ao recordarmos essas virtudes, iremos cuidar amorosamente dessa preciosa bodicita. Assim, quando praticarmos, sustentaremos essa mente sem deixá-la enfraquecer. Portanto, devemos relembrar persistentemente todos esses efeitos benéficos; deveríamos recordá-los pelo menos uma vez a cada sessão. 3. Reunindo as duas acumulações. Terceiro, o treinamento na reunião das duas acumulações é o método para aumentar a força da bodicita. A Lâmpada para o Caminho da Iluminação afirma: A acumulação de mérito e sabedoria É a natureza da causa da perfeição. E assim por diante. A “acumulação de mérito” refere-se às dez ações virtuosas, aos quatro métodos de reunião, e assim por diante, conforme relacionados aos meios hábeis. A “acumulação de sabedoria primordial” se refere à realização destas práticas de forma completamente livre das três esferas, e assim por diante, conforme se relacionam com a sabedoria perfeita. Desta forma, a reunião das duas acumulações estabelece o poder da bodicita na própria mente. Portanto, reúnam persistentemente as duas acumulações; mesmo recitar um único mantra pode reunir as duas acumulações, e, assim, isso deve ser feito pelo menos uma vez a cada sessão. O Discurso a uma Assembleia afirma: Hoje, como eu deveria acumular Mérito e sabedoria? Como eu poderia beneficiar os seres sencientes? Os bodisatvas contemplam constantemente desta forma. 4. Praticando a mente iluminada. Quarto, praticar a mente iluminada repetidamente é o método para aprofundar a bodicita. A Lâmpada para o Caminho da Iluminação diz: Após desenvolver a bodicita de aspiração Deve-se fazer um grande esforço para aprofundá-la. Neste item são apresentados três tópicos: praticar a mente da causa da iluminação, praticar a mente da iluminação propriamente dita e praticar a mente da ação iluminada. Praticar esses três itens aprofunda a bodicita. Em relação ao primeiro, desenvolvam bondade amorosa e compaixão por todos os seres pelo menos uma vez a cada sessão. A prática da iluminação propriamente dita é o desejo de obter a iluminação pelo benefício de todos os seres sencientes. Contemplem isso três vezes durante o dia e três vezes durante a noite. Usem a cerimônia detalhada para o cultivo da bodicita ou, pelo menos, repitam o seguinte a cada sessão:

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Tomo refúgio no Buda, no Darma e na sanga até que eu alcance a iluminação. Pelo mérito da generosidade e de outras ações virtuosas, possa eu alcançar a Iluminação pelo benefício de todos os seres. Existem duas subdivisões na mente da ação da iluminação: praticar a atitude de beneficiar os outros e praticar a purificação da própria mente. Primeiro, cultivem a mente para dedicar e oferecer seus corpos, riquezas e todas as virtudes dos três tempos para o benefício e a felicidade dos outros. Segundo, pratiquem a purificação de suas mentes. Sempre observem a ética moral e afastem-se das ações negativas e das emoções aflitivas. 5. Rejeição das quatro ações não-virtuosas e aceitação das quatro ações virtuosas. Quinto, o treinamento na rejeição das quatro ações não-virtuosas e na aceitação das quatro ações virtuosas é o método para não esquecer a bodicita. A Lâmpada para o Caminho da Iluminação afirma: Deve-se observar completamente esse treinamento conforme explicado Para recordar a bodicita mesmo em outras vidas. Onde esse treinamento é explicado? O Sutra Requisitado por Kashyapa afirma:

As quatro ações não-virtuosas são assim descritas: Kashyapa, um bodisatva que possui quatro qualidades irá esquecer a bodicita. Quais são essas quatro? Essas são .... e assim por diante. De forma abreviada elas são: enganar o lama e aqueles dignos de veneração; causar remorso nos outros quando o remorso não é apropriado; por aversão dizer palavras inapropriadas sobre um bodisatva que cultivou bodicita; e comportar-se enganosamente com os seres sencientes.

As quatro ações virtuosas são explicadas desta forma:

Kashyapa, um bodisatva que possui quatro qualidades irá recordar a bodicita imediatamente após o renascimento em todas as suas vidas até que ele obtenha o coração da iluminação. Quais são estas quatro? Essas são ... e assim por diante. De forma abreviada elas são: não contar mentiras conscientemente, mesmo sob o risco da própria vida; estabelecer de modo geral todos os seres sencientes na virtude, de modo especial nas virtudes do Mahayana; olhar os bodisatvas que cultivaram bodicita como budas e proclamar suas qualidades em todas as dez direções; manter sinceramente uma atitude altruísta com todos os seres sencientes.

Explicação da primeira ação não-virtuosa. Quando alguém engana o mestre espiritual, o abade, um mestre, ou alguém digno de oferendas contando uma mentira com uma mente insincera, a bodicita estará perdida se o antídoto não for aplicado dentro de uma sessão, quer eles estejam conscientes da mentira ou não, quer eles estejam satisfeitos ou não, quer ela seja grande ou não, ou quer eles sejam enganados ou não. A primeira ação virtuosa é o antídoto. Desista conscientemente de contar mentiras, mesmo sob o risco da própria vida. Explicação da segunda ação não-virtuosa. Quando alguém realiza ações virtuosas e você tenta fazê-lo sentir remorso por isso, a bodicita estará perdida se o antídoto não for aplicado dentro de uma sessão, quer esta pessoa realmente sinta remorso ou não. A segunda ação virtuosa é o antídoto. Estabeleça todos os seres na virtude, em especial nas virtudes do Mahayana. (Nota: Chengawa e Chayulwa especificam ações virtuosas Mahayana. Gyayondak coloca ações tanto Mahayana quanto Hinayana. Tomem, por exemplo, a prática da generosidade. A ação de oferecer é virtuosa, mas se você sentir fome amanhã e tiver que mendicar, isso poderá gerar remorso)2. Explicação da terceira ação não-virtuosa. Quando, por raiva, você utilizar palavras impróprias com alguém que cultivou bodicita, ela estará perdida se o antídoto não for aplicado em uma sessão, quer você tenha expressado falhas comuns ou falhas no Darma, seja de forma direta ou indireta, de forma específica ou não, gentilmente ou asperamente, quer outros tenham ouvido ou não, quer eles estejam satisfeitos ou não. A terceira ação virtuosa é o antídoto. Enxerguem os bodisatvas que cultivaram bodicita como budas e esforcem-se para proclamar suas virtudes em todas as dez direções.

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Explicação da quarta ação não-virtuosa. Quando, de forma enganadora, você cometer fraude com algum ser senciente, a bodicita estará perdida se o antídoto não for aplicado em uma sessão, quer a pessoa esteja consciente ou não, ou quer isso tenha gerado prejuízos ou não. A quarta ação virtuosa é o antídoto. Mantenha a atitude altruísta para com todos os seres sencientes e procure beneficiar os outros sem considerar seu próprio benefício.

Este é o décimo capítulo, que explica o treinamento na bodicita de aspiração, de

O Ornamento da Preciosa Liberação, A Joia que Realiza Desejos dos Nobres Ensinamentos.

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CAPÍTULO 11

O Treinamento na Bodicita de Ação B) O Treinamento na Bodicita de Ação. Existem três tipos de treinamento para a bodicita de ação: o treinamento na moralidade superior, o treinamento no pensamento superior e o treinamento na sabedoria discriminativa superior. A Lâmpada para o Caminho da Iluminação afirma: Ao manter o voto da bodicita de ação E treinar-se bem nos três tipos de ética moral, A devoção pelos três treinamentos morais aumentará. Generosidade, ética moral e paciência são os treinamentos em moralidade superior. Concentração meditativa é o treinamento no pensamento superior. Sabedoria discriminativa é o treinamento na sabedoria superior. Perseverança serve de apoio para os três. O Ornamento dos Sutras Mahayana diz: Em relação aos três treinamentos Explicou o Vitorioso as seis paramitas adequadamente. As primeiras três pertencem ao primeiro treinamento. As últimas duas pertencem aos últimos dois E uma pertence a todos os três. Portanto, o sumário: Generosidade, ética moral, paciência, Perseverança, concentração meditativa e sabedoria discriminativa – Esses seis itens compreendem o treinamento na bodicita de ação. O Sutra Requisitado por Subahu afirma:

Subahu, para que um bodisatva-mahasatva atinja a iluminação rapidamente, ele deve concentrar-se persistentemente no aperfeiçoamento das seis paramitas. Quais são estas seis? Elas são: a perfeição da generosidade, a perfeição da ética moral, a perfeição da paciência, a perfeição da perseverança, a perfeição da concentração meditativa e a perfeição da sabedoria discriminativa.

Essas seis serão explicadas em uma forma concisa e, então, cada ramo será explicado em maiores detalhes. A explicação do significado conciso. O sumário: Número definido, ordem definida, Características, definição, Divisão e agrupamento – Esses seis itens compreendem as seis paramitas. 1. Número definido. As seis paramitas são explicadas de acordo com um estado superior temporário e o bem definitivo, sendo três para o estado superior temporário e três para o bem definitivo. As três para o estado superior temporário são a generosidade, que gera prosperidade; a ética moral, que é para o corpo; e a paciência, que é para as pessoas ao redor. As três para o bem definitivo são a perseverança, que é para aumentar a virtude; a concentração meditativa, que é para a permanência serena; e a sabedoria discriminativa, que é para o insight especial. Assim, o Ornamento dos Sutras Mahayana diz:

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Riquezas excelentes, corpo excelente, E ambiente excelente São para o estado superior temporário. E assim por diante. 2. Ordem definida. Elas são explicadas na ordem em que são desenvolvidas na mente. A partir da prática da generosidade será aceita a ética moral pura sem focar preocupações materiais. Quando se possui ética moral surgirá a paciência. Quando se tem paciência será feito esforço com perseverança. Quando se faz esforço com perseverança a concentração meditativa surgirá. Quando se está absorto em concentração meditativa a natureza de todos os fenômenos será realizada perfeitamente. Ou a ordem é explicada da prática inferior até a superior. As inferiores são explicadas primeiro e as superiores são explicados posteriormente. Ou, de outra forma, a ordem vai do nível mais grosseiro para o mais sutil. Aquelas que são mais grosseiras ou fáceis de aplicar são explicadas antes e aquelas que são mais sutis e mais difíceis de seguir são explicadas depois. O Ornamento dos Sutras Mahayana diz: A segunda surge na dependência da primeira; Como algumas estão abaixo e outras acima, Como algumas são mais grosseiras e outras mais sutis, Desta forma, sua ordem se delineia, respectivamente. 3. Características. A perfeição de cada uma das seis paramitas dos bodisatvas, generosidade e assim por diante, é categorizada em quatro características: elas enfraquecem os seus opostos; elas produzem a sabedoria primordial do pensamento não-conceitual; elas satisfazem tudo o que é desejado; elas amadurecem os seres sencientes das três formas1. O Ornamento dos Sutras Mahayana afirma: A generosidade destrói seu oposto, Possui a sabedoria primordial do pensamento não-conceitual, Satisfaz todos os desejos e Amadurece os seres sencientes das três formas. E assim por diante. 4. Definição. A “generosidade” dissipa a pobreza, a “ética moral” leva ao frescor2, a “paciência” enfrenta o ódio, a “perseverança” é a aplicação ao Supremo, a “concentração meditativa” volta a mente para o interior, a “sabedoria discriminativa” realiza o significado último. Elas são a causa de cruzar o samsara e atingir o nirvana. Portanto, elas são chamadas de “paramitas”3. Assim, o Ornamento dos Sutras Mahayana afirma: Portanto, assim se diz: Dissipando a pobreza, Gerando frescor e enfrentando o ódio, Aplicando-se ao Supremo e mantendo a mente interiorizada, Realizando o significado último. 5. Divisão. Generosidade da generosidade, ética moral da generosidade, paciência da generosidade, perseverança da generosidade, concentração meditativa da generosidade, sabedoria discriminativa da generosidade, e assim por diante – cada uma das seis tem seis divisões, totalizando trinta e seis. Assim, o Ornamento da Clara Realização afirma: As seis paramitas, generosidade e assim por diante, Agrupadas individualmente São a prática da armadura da iluminação Que é explicada precisamente multiplicando seis por seis. 6. Agrupamento. Elas também são agrupadas nas duas acumulações. Generosidade e ética moral são a acumulação de méritos, e a sabedoria discriminativa é a acumulação da perfeita sabedoria. Paciência, perseverança e concentração meditativa estão incluídas em ambas as acumulações. Assim, o Ornamento dos Sutras Mahayana afirma: Generosidade e ética moral

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São a acumulação de méritos. Sabedoria discriminativa é a acumulação da perfeita sabedoria. As outras três pertencem a ambas.

Este é o décimo primeiro capítulo, que explica o treinamento na bodicita de ação, de

O Ornamento da Preciosa Liberação, A Joia que Realiza Desejos dos Nobres Ensinamentos.

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CAPÍTULO 12

A Perfeição da Generosidade Seis tópicos descrevem os detalhes sobre a bodicita de ação. O sumário: Reflexões sobre as falhas e as virtudes, Definição, classificação, Características de cada classificação, Ampliação, perfeição e resultado – Esses sete itens compreendem a prática da perfeição da generosidade. I. Reflexões sobre as Falhas e as Virtudes. Aqueles que não praticaram a generosidade irão sempre sofrer pela pobreza e, de modo geral, irão renascer como fantasmas famintos. Mesmo se renascerem como humanos eles irão sofrer pela pobreza e falta de meios. O Sutra Condensado da Perfeição da Sabedoria afirma: Os avarentos renascerão no reino dos fantasmas famintos. Caso eles renasçam como humanos, então eles irão sofrer pela pobreza. O Discurso sobre a Disciplina relata: O fantasma faminto replicou a Nawa Chewari, “Pelo poder da avareza Nós não praticamos generosidade. Assim, aqui estamos no mundo dos fantasmas famintos.” Sem a prática da generosidade não temos como beneficiar os outros e, assim, não poderemos atingir a iluminação. Assim se diz: Sem a prática da generosidade ninguém acumulará riquezas. Sem riquezas não é possível reunir os seres sencientes, E muito menos atingir a iluminação. Por outro lado, aqueles que praticam a generosidade encontrarão a felicidade de ter riquezas em todas as suas diferentes vidas. O Sutra Condensado da Perfeição da Sabedoria afirma: A generosidade dos bodisatvas corta o renascimento como fantasma faminto. Da mesma forma, a pobreza e todas as emoções aflitivas são eliminadas. Agindo com bondade será alcançada a riqueza infinita, mesmo durante A vida de bodisatva. E também a Carta a um Amigo diz: Deve-se praticar generosidade adequadamente. Não há melhor parente que a generosidade. Engajando-se no Caminho do Meio afirma: Esses seres desejam a felicidade. E todos os seres humanos que não possuem riquezas não são felizes. Sabendo que a riqueza vem da generosidade, O Buda falou primeiro sobre a prática da generosidade.

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Reiterando, aqueles que praticam generosidade poderão beneficiar os outros. Com generosidade poderão reunir praticantes e, então, estabelecê-los no precioso Darma. Assim se diz: Através da prática da generosidade, é possível Amadurecer completamente os seres sencientes que estão sofrendo. Mais uma vez, é mais fácil para aqueles que praticaram generosidade atingir a iluminação insuperável. O Cesto dos Bodisatvas afirma: Para aqueles que praticam generosidade alcançar a iluminação não é difícil. O Sutra da Nuvem de Nobres Joias afirma: A generosidade é a iluminação do bodisatva. O Sutra Requisitado pelo Chefe de Família Draksulchen explica, alternativamente, as virtudes da generosidade e as falhas de não praticá-la:

Uma coisa que é dada é sua; as coisas guardadas em casa não são. Uma coisa que é dada tem essência; as coisas guardadas em casa não têm essência. Uma coisa que foi dada não precisa ser protegida; as coisas guardadas em casa precisam ser protegidas. Uma coisa que é dada está livre de medos; as coisas guardadas em casa trazem medo. Uma coisa que é dada está mais próxima da iluminação; as coisas guardadas em casa levam na direção dos maras. A prática da generosidade levará a grande riqueza; as coisas guardadas em casa não geram grande riqueza. Uma coisa dada trará riquezas inexauríveis; as coisas guardadas em casa são exauríveis. E assim por diante.

II. Definição. A definição de generosidade é: a prática de oferecer tudo, sem apegos. Uma mente coemergente ao desapego – Com essa motivação, oferecendo completamente todas as coisas. III. Classificação. A generosidade tem três classificações: A) Oferecer posses, B) Oferecer proteção e C) Oferecer o Darma. A prática de oferecer posses estabilizará o corpo dos seres, oferecer proteção estabilizará suas vidas e oferecer o Darma estabilizará suas mentes. Além disso, as duas primeiras práticas de generosidade estabelecem a felicidade dos seres nesta vida. Oferecer o Darma estabelece sua felicidade também nas próximas vidas. IV. Características de Cada Classificação. A. Oferecer Posses. Dois tópicos descrevem a prática de oferecer posses: 1. Oferecer de forma impura e 2. Oferecer de forma pura.

O primeiro deve ser evitado e o segundo deve ser praticado. 1. Oferecer de Forma Impura. Adicionalmente, existem quatro subtópicos neste item: a) Motivação impura,

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b) Materiais impuros, c) Receptores impuros e d) Método impuro.

a) Motivação impura. Existem motivações errôneas e impuras. Primeiro, a generosidade com motivação errônea é oferecer algo para prejudicar os outros, com um desejo por fama nesta vida e por competição com outra pessoa. Os bodisatvas devem evitar esses três. Os Bhumis dos Bodisatvas afirmam:

Os bodisatvas deveriam evitar a generosidade para matar, escravizar, punir, aprisionar ou banir outras pessoas. Bodisatvas não deveriam exercer a generosidade por fama e elogios. Bodisatvas não deveriam exercitar a generosidade para competir com outros.

A motivação inferior é a generosidade motivada por medo da pobreza nas próximas vidas, ou pelo desejo de possuir o corpo e a riqueza dos deuses ou humanos. Ambos devem ser evitados pelos bodisatvas. Assim se diz: Os bodisatvas não deveriam oferecer por medo da pobreza. E:

Os bodisatvas não deveriam oferecer para alcançar o estado de Indra, de um monarca universal, ou de Ishwara.

b) Materiais impuros. Outras práticas impuras de generosidade a serem evitadas são explicadas nos Bhumis dos Bodisatvas. De forma abreviada, o sentido é: para evitar substâncias materiais impuras, um bodisatva não deveria oferecer veneno, fogo, armas e assim por diante, mesmo se alguém implorar por eles para prejudicar a si mesmo ou outras pessoas. A Guirlanda de Joias Preciosas afirma: Se o veneno é o que irá ajudar, Então deve ser ministrado o veneno. Mas, se mesmo uma fina iguaria não for de ajuda, Então ela não deve ser oferecida. Assim como quando alguém é mordido por uma cobra Cortar o dedo pode ser benéfico, O Buda disse que mesmo deixando alguém desconfortável Coisas úteis devem ser realizadas. Vocês não deveriam oferecer armadilhas ou meios para caçar animais selvagens àqueles que pedem – em resumo, qualquer coisa que possa prejudicar ou gerar sofrimento. Vocês não deveriam oferecer seus pais ou empregá-los como trabalhadores. Seus filhos, esposa e outros não deveriam ser dados sem o consentimento deles. Vocês não deveriam oferecer pequenas quantidades se possuírem grandes riquezas. Vocês não deveriam acumular riquezas para oferecer. c) Receptor impuro. Para evitar receptores impuros não ofereçam seus corpos ou pedaços deles para os demônios marakuladevata, porque eles os pedem com motivações negativas. Vocês não deveriam oferecer seus corpos aos seres que estão sob a influência dos maras, insanos, ou que têm mentes perturbadas, porque eles não precisam deles e não têm liberdade de pensamento. Os bodisatvas também não deveriam oferecer comida ou bebida àqueles que são glutões. d) Método impuro. Para evitar os métodos impuros vocês não deveriam oferecer de forma infeliz, com raiva ou com uma mente perturbada. Vocês não deveriam oferecer com desdém ou desrespeito por uma pessoa inferior. Vocês não deveriam oferecer ao ameaçar ou repreender mendigos. 2. Oferecer de Forma Pura. Existem três subtópicos neste item:

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a) Materiais puros, b) Receptores puros e c) Método puro.

a) Materiais puros. Este primeiro tópico tem duas subdivisões: posses internas e posses externas. Posses internas. Estes materiais são aqueles relacionados ao seu corpo. O Sutra Requisitado por Narayana

afirma:

Você deveria dar sua mão àqueles que desejam mãos, deveria dar sua perna àqueles que desejam pernas, deveria dar seu olho àqueles que desejam olhos, deveria dar sua carne àqueles que desejam carne, deveria dar seu sangue àqueles que desejam sangue, e assim por diante.

Os bodisatvas que ainda não realizaram a igualdade de si mesmos e dos outros deveriam oferecer

apenas seus corpos inteiros, não pedaços. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma: Aqueles que não possuem a pura intenção da compaixão Não deveriam oferecer seus corpos. Ao invés disso, nessa e em vidas futuras, Deveriam oferecê-los à causa da realização do grande propósito. Posses externas. Posses externas são comida, bebida, roupas, meios de transporte, filhos, esposa e

assim por diante, de acordo com a prática do Darma. O Sutra Requisitado por Narayana afirma: Essas são as posses externas: riquezas, grãos, prata, ouro, joias, ornamentos, Cavalos, elefantes, filho, filha e assim por diante. Aos bodisatvas chefes de família é permitido oferecer todas as posses internas e externas. O

Ornamento dos Sutras Mahayana diz: Não há nada que os bodisatvas não possam oferecer a outros – Corpo, riquezas e assim por diante. Um bodisatva monge ou uma monja podem oferecer tudo, exceto os três mantos do Darma, que não

devem ser dados. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma: Deem tudo, exceto os três mantos monásticos. b) Receptores puros. Existem quatro tipos de receptores: receptores com qualidades especiais, como

mestres espirituais, as Três Joias e assim por diante; receptores que são especialmente úteis para você, como seu pai, sua mãe e assim por diante; receptores que são especiais devido ao seu sofrimento, como aqueles que são pacientes, desprotegidos e assim por diante; recipientes que são especiais por serem prejudiciais, como inimigos e assim por diante. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas coloca:

Eu trabalho nos campos da excelência, benefício e assim por diante. c) Método puro. Os métodos da generosidade são oferecer com motivação excelente e com ação

excelente. O primeiro é a prática de oferecer para a iluminação e para o benefício dos seres sencientes, motivado por compaixão. Em relação à generosidade com ação excelente os Bhumis dos Bodisatvas colocam:

Os bodisatvas exercitam a generosidade com devoção, respeito, por sua própria mão, Em tempo e sem prejudicar os outros. “Com devoção” significa que um bodisatva deveria estar feliz nos três tempos. Ele está feliz antes de

oferecer, tem uma mente clara enquanto oferece e não se arrepende após oferecer algo. “Com respeito” significa oferecer de forma respeitosa. “Por sua própria mão” significa que eles não pedem a outros para fazer

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em seu lugar. “Em tempo” significa que quando eles têm posses, esse é o momento para oferecer. “Sem prejudicar os outros” significa não gerar sofrimento às pessoas ao redor. Mesmo que as posses sejam suas, se as pessoas ao redor chegarem com lágrimas nos olhos quando você for oferecer alguma coisa, então não o faça. Não ofereça riquezas que foram roubadas ou trapaceadas – aquilo que pertence a outros.

A Coleção do Abhidarma diz: Ofereça repetidamente, ofereça com equanimidade e satisfaça todos os desejos. “Oferecer repetidamente” é a qualidade de um benfeitor que repete o ato incessantemente. “Oferecer

com equanimidade” refere-se a uma qualidade do receptor, o benfeitor oferece a todos imparcialmente. “Satisfazer todos os desejos” é uma qualidade daquilo que é dado, o benfeitor deveria oferecer o que quer que o receptor deseje.

Isso completa o oferecimento de posses. B. Oferecer Proteção. Oferecer proteção significa gerar destemor diante do medo de ladrões, animais

selvagens, rios e assim por diante. Os Bhumis dos Bodisatvas afirmam: A generosidade do destemor é proteger os seres de coisas como leões, tigres, Crocodilos, reis, assaltantes, ladrões, rios e assim por diante. Isso completa o oferecimento de proteção. C. Oferecer o Darma. Quatro tópicos descrevem a prática de oferecer o Darma.

1) O receptor, 2) A motivação, 3) O Darma propriamente dito e 4) O método de apresentação dos ensinamentos do Darma.

1. Receptor. Ofereça o Darma para aqueles que desejam o Darma, aqueles que têm respeito pelo Darma e para professores do Darma. 2. Motivação. Evite os pensamentos negativos e mantenha pensamentos agradáveis. Além do mais, “evitar pensamentos negativos” significa que você deveria oferecer os ensinamentos do Darma sem considerações por riquezas, honra, elogios, fama e assim por diante – outras atividades mundanas. O Sutra Condensado da Perfeição da Sabedoria afirma: Dê os ensinamentos de modo completo aos seres sencientes sem considerações materiais. O Sutra Requisitado por Kashyapa coloca: Oferecer os ensinamentos do Darma com uma mente pura sem considerações materiais É algo grandemente louvado por todos os Vitoriosos. “Manter pensamentos agradáveis” significa apresentar o Darma motivado pela compaixão. O Sutra Condensado da Perfeição da Sabedoria coloca: Ofereça o Darma ao mundo para eliminar os sofrimentos. 3. Darma propriamente dito. Apresente o Darma, os sutras e assim por diante sem erros ou perversões. Os Bhumis dos Bodisatvas afirmam:

Ao oferecer o Darma o significado deve ser apresentado sem erros, deve ser apresentado de forma lógica e deve ser permitido ao discípulo praticar perfeitamente a base do treinamento.

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4. Método de apresentação dos ensinamentos do Darma. Você não deveria oferecer ensinamentos imediatamente quando alguém os pede. O Sutra Rei da Absorção Meditativa afirma: Em relação à generosidade de oferecer o Darma, Se alguém o requisitar, Primeiramente vocês devem responder da seguinte maneira, “Eu não o estudei em detalhes”. E também: Não o apresente imediatamente. Deve-se começar examinando o vaso, Quando você conhecer o vaso adequadamente, Então deveria oferecer-lhe ensinamentos mesmo quando ele não requisitar. O oferecimento de ensinamentos deveria se dar em um lugar limpo e agradável. O Sutra do Lótus Branco do Sublime Darma afirma: Em um lugar limpo e agradável, Estabeleça um trono amplo e confortável. O professor deve sentar-se ao trono e oferecer os ensinamentos. Assim se diz: Sente-se em um trono firme, decorado com diversas sedas. O professor deveria oferecer os ensinamentos bem vestido, limpo, arrumado e com um comportamento gentil. O Sutra Requisitado por Sagharamati afirma: O professor do Darma deveria estar limpo, apresentar comportamento gentil, Estar bem arrumado e bem vestido. Assim, com todos os discípulos reunidos o professor senta-se ao trono. Para afastar obstáculos ele deveria recitar o mantra que supera o poder dos maras. O Sutra Requisitado por Sagharamati afirma: TADYATHA SHAME SHAMA WATI SHAMITASATRU AM KURE MAM KURE MARA ZITE KAROTA KEYURE TEZO WATI OLO YAM VISUDDHA NIRMALE MALA PAN AYE KHUKHURE KHA KHA GRASE GRASANA O MUKHI PARAM MUKHI A MUKHI SHAMITWANI SARVA GRAHA BANDHANANE NIGRIHITVA SARVA PARAPRA WADINA VIMUKTA MARA PAS ASTHAVITVA BUDDHA MUDRA ANUNGATITA SARVA MARE PUTSA RITA PARISUDHE VIGATSANTU SARVA MARA KARMANI2

Sagharamati, quando essas sílabas são recitadas no início e, então, os ensinamentos do Darma são oferecidos, por cem yojanas ao redor nenhum dos maras poderá criar obstáculos. Aqueles que puderem se aproximar não conseguirão criar obstáculos.

Então, quando os ensinamentos do Darma forem oferecidos eles deveriam se relacionar ao tópico em análise e deveriam ser claros e moderados. Isso completa o oferecimento dos ensinamentos do Darma. V. Ampliação. Mesmo que essas três generosidades sejam pequenas existem métodos para ampliá-las. O Cesto dos Bodisatvas afirma:

Sariputra, um bodisatva sábio pode fortalecer mesmo um pequeno presente. Ele

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pode fortalecê-lo através do poder da sabedoria primordial, pode expandi-lo através do poder da sabedoria discriminativa e pode torná-lo infinito através do poder da dedicação.

Primeiro, ampliar a generosidade “através do poder da sabedoria primordial” advém da realização completa que está livre das três esferas. Essa é a realização de que aquele que oferece é como uma ilusão, o presente é como uma ilusão e o receptor também é como uma ilusão. Segundo, para que alguém receba muitos méritos da generosidade, deve-se compreender que ela é ampliada pelo poder da sabedoria discriminativa. Em qualquer tipo de prática de generosidade, se você a realizar, inicialmente, com a intenção de oferecer coisas para estabelecer todos os seres no estado da iluminação; durante, manter-se sem apego ao que é oferecido; no final, livre de expectativas sobre o resultado, você receberá grandes méritos por essa generosidade. O Sutra Condensado da Perfeição da Sabedoria afirma: Deve-se permanecer sem apego ao que é dado. Também não se deve esperar qualquer resultado. Portanto, quando alguém oferecer algo com grande habilidade, Haverá uma virtude infinita, mesmo que o presente seja pequeno. Terceiro, tornar a generosidade infinita através do poder da dedicação. A prática de generosidade é ampliada infinitamente se ela é dedicada à iluminação insuperável pelo benefício de todos os seres sencientes. Os Bhumis dos Bodisatvas afirmam: Não se deve praticar a generosidade olhando para o resultado3. Todas as práticas de generosidade devem ser dedicadas à iluminação Insuperável, perfeita e completa. A dedicação não apenas amplia o ato de generosidade, mas também o torna inexaurível. O Sutra Requisitado por Aksayamati diz: Sariputra, por exemplo, uma gota de água que cai no oceano não se extinguirá Até o final do kalpa. Da mesma forma, quando se dedica a raiz de virtude para A iluminação, ela não se extinguirá de agora até que se alcance o coração da Iluminação. VI. Perfeição. Em relação à perfeita purificação da generosidade a Coleção de Instruções Transcendentais afirma: Quando se age a partir da vacuidade e da essência da compaixão Todo o mérito será purificado. Quando as práticas de generosidade estão baseadas na vacuidade elas não se tornarão uma causa do samsara. Quando estão baseadas na compaixão elas não serão causas para o veículo inferior. Elas serão causas apenas para a realização do nirvana livre de fixações e, portanto, elas serão “puras”. “Com base na vacuidade” significa, de acordo com o Sutra Requisitado por Ratnacuda, que a prática de generosidade deveria estar selada pelos quatro selos da vacuidade. Assim se diz:

Deve-se praticar a generosidade com os quatro selos. O que são esses quatro? Ela deve estar selada pela vacuidade que tudo permeia do corpo interior, selada pela vacuidade da riqueza exterior, selada pela vacuidade da mente subjetiva e selada pela vacuidade do Darma da iluminação. Deve-se praticar com esses quatro selos.

A generosidade “com base na compaixão” significa oferecer porque você não pode tolerar o sofrimento dos seres sencientes individualmente ou em geral. VII. Resultado. Devem-se entender os resultados da generosidade nos estados convencional e absoluto. O resultado absoluto é a realização da iluminação insuperável. Os Bhumis dos Bodisatvas dizem:

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Assim, todos os bodisatvas que aperfeiçoam completamente a prática da generosidade Alcançarão a iluminação insuperável, perfeita e completa. No estado convencional haverá prosperidade através da prática de oferecer posses, mesmo se ela não for desejada. Além do mais, será possível reunir praticantes através da generosidade e conectá-los à iluminação. O Sutra Condensado da Perfeição da Sabedoria afirma: A generosidade dos bodisatvas corta o renascimento como fantasma faminto. Da mesma maneira a pobreza e todas as emoções aflitivas são eliminadas. Agindo de forma bondosa será conquistada uma fortuna infinita,

Mesmo durante a vida de bodisatva. E todos os seres sencientes serão amadurecidos através da prática da generosidade. Os Bhumis dos Bodisatvas afirmam: Aquele que oferece alimentos será forte. Aquele que oferece roupas terá uma boa compleição. Aquele que oferece meios de transporte será estável. Aquele que oferece lâmpadas terá boa visão. Ao oferecerem proteção, os obstáculos e maras não poderão atingi-los. A Guirlanda de Joias Preciosas afirma: Oferecendo proteção àqueles que têm medo Os maras não poderão atacá-lo, E o poder supremo será conquistado. Ao oferecer os ensinamentos do Darma o Buda será encontrado rapidamente, irá acompanhá-lo e tudo que é desejado será realizado. A Guirlanda de Joias Preciosas afirma: Oferecer os ensinamentos do Darma para aqueles que os desejam Faz com que os obscurecimentos sejam dissipados E a companhia dos budas seja alcançada. Rapidamente será conquistado tudo aquilo que é desejado.

Este é o décimo segundo capítulo, que explica a perfeição da generosidade, de

O Ornamento da Preciosa Liberação, A Joia que Realiza Desejos dos Nobres Ensinamentos.

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CAPÍTULO 13

A Perfeição da Ética Moral

O sumário: Reflexões sobre as falhas e as virtudes, Definição, classificação, Características de cada classificação, Ampliação, perfeição e resultado – Esses sete itens compreendem a prática da perfeição da ética moral. I. Reflexões sobre as Falhas e as Virtudes. Mesmo que você exerça a prática da generosidade você não obterá o corpo perfeito dos deuses e humanos se não possuir ética moral. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma: Mesmo conquistando riquezas através da generosidade, Aquele que falhar na ética moral cairá nos reinos inferiores. Sem a prática da ética moral você não encontrará os ensinamentos do Darma. O Sutra A Posse da Ética Moral afirma: Por exemplo, uma pessoa sem visão não poderá ver formas. Da mesma forma uma pessoa sem ética moral não verá os ensinamentos do Darma. E também, sem ética moral não será possível liberar-se dos três mundos do samsara. Esse mesmo sutra menciona: Por exemplo, uma pessoa sem pés não poderá caminhar por uma estrada. Da mesma forma uma pessoa sem ética moral não poderá alcançar a liberação. Reiterando, sem ética moral você estará se desviando do caminho espiritual e, assim, não poderá atingir a iluminação insuperável. Por outro lado, ao possuir ética moral você poderá obter um corpo perfeito. O Sutra Condensado da Perfeição da Sabedoria afirma: Através da ética moral serão evitados o renascimento no reino dos animais e outros, As oito condições desfavoráveis e sempre haverá liberdade. Ao possuir ética moral você poderá estabelecer a fundação para toda bondade e felicidade. A Carta a um Amigo diz: Assim como o solo é a base para o movimento e a imobilidade, Da mesma forma a ética moral é a base para todas as qualidades excelentes. Possuir ética moral é como ser um solo fértil. Sobre esta base todos os frutos das qualidades positivas crescerão. Engajando-se no Caminho do Meio afirma: Quando todas as qualidades positivas crescem no campo da ética moral, Pode-se desfrutar do resultado incessantemente. Ao possuir ética moral serão alcançadas as diversas portas para as concentrações meditativas. O Sutra da Lâmpada da Lua afirma:

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Será alcançada, rapidamente, a concentração meditativa não-aflita; Esse é o efeito benéfico da pura ética moral. Ao possuir ética moral será realizado tudo aquilo pelo qual fizemos preces de aspiração. O Sutra do Encontro do Pai e do Filho afirma: Para aquele que mantém a ética moral Todas as preces de aspiração se realizarão. Ao possuir ética moral será fácil atingir a iluminação. O mesmo sutra diz: A pura ética moral traz consigo muitos efeitos benéficos. Desta forma não será difícil atingir a iluminação. E assim por diante – existem muitas qualidades grandiosas. O Sutra A Posse da Ética Moral coloca: Aquele que possui ética moral irá encontrar o Buda quando ele surgir. Aquele que possui ética moral tem o ornamento supremo dentre todos. Aquele que possui ética moral é a fonte de toda alegria. Aquele que sustenta a ética moral será louvado por todo o mundo. E assim por diante. II. Definição. A definição da ética moral é apresentada por quatro qualidades. Os Bhumis dos Bodisatvas afirmam:

Deve-se compreender que a definição da ética moral é apresentada por quatro qualidades. Quais são essas quatro? Receber preceitos de forma perfeita de outros, possuir motivação pura, renovar a prática se ela declinar, possuir presença mental e respeito para que a prática não decline.

De forma abreviada, essas quatro qualidades são resumidas nas duas categorias de receber e proteger. Na citação acima receber é a primeira qualidade, proteger são as últimas três. III. Classificação. A ética moral possui três classificações. A) Ética moral de restrição, B) Moralidade de acumular o Darma virtuoso e C) Moralidade de beneficiar os seres sencientes.

A primeira significa restringir sua mente em uma posição adequada. A segunda significa amadurecer as qualidades do Darma em sua mente. A terceira significa amadurecer completamente os seres sencientes.

IV. Características de Cada Classificação. A. Ética Moral de Restrição. Dois tópicos descrevem a moralidade das restrições:

1) Comum e 2) Incomum. 1) Restrição moral comum. Primeiro, a forma comum refere-se aos sete tipos de votos pratimoksha. Os Bhumis dos Bodisatvas afirmam:

Dentre os preceitos pratimoksha existem sete formas de receber os preceitos perfeitamente. Esses são bhikshu, bhikshuni, shiksamana, shramanera, shramanerika, upasaka e upasika. Eles estão divididos entre os leigos e os renunciantes.

Todos eles nos restringem de prejudicar outros seres. Os votos pratimoksha trazem restrições para o

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próprio benefício, mas os bodisatvas se restringem para o benefício dos outros seres. O Sutra Requisitado por Narayana afirma:

Não se deve manter a ética moral para possuir um reino, nem pelos reinos superiores, nem pelos estados de Indra ou Brahma, nem por riquezas, nem pelo estado de Ishwara, nem pelo corpo. Da mesma forma não se deve manter a ética moral pelo medo do renascimento no reino dos infernos. Da mesma forma por medo de renascer como um animal. Nem se deve manter ética moral por medo de renascer no mundo de Yama1. Pelo contrário, deve-se manter ética moral para estabelecer os seres no estado de Buda. Deve-se manter a ética moral para beneficiar e trazer felicidade a todos os seres sencientes.

2) Ética moral incomum. Shantideva, seguindo o Sutra da Essência do Espaço, afirmou que existem cinco falhas-raiz para um rei, cinco para os ministros e oito para os súditos. Existem dezoito itens, mas quatorze falhas propriamente2. Esse sutra menciona: a) Roubar as posses das Três Joias é uma falha-raiz; b) proibir o Darma precioso – o Sábio disse que essa é a segunda falha-raiz;

c) segurar pelo manto, bater ou aprisionar um monge que renunciou a seus votos, ou fazer com que um monge renuncie a seus votos;

d) cometer qualquer um dos cinco crimes hediondos; e) sustentar visões errôneas; f) destruir cidades e vilas – essas são as falhas-raiz mencionadas pelo Buda. g) expressar a vacuidade para aqueles que não foram treinados; h) fazer com que aqueles que entraram no caminho para a iluminação desistam de atingir o estado de Buda. i) fazer com que alguém renuncie a um voto pratimoksha conectando-o ao veículo Mahayana3;

j) manter a crença de que o treinamento não irá dissipar as emoções aflitivas do desejo e assim por diante, e influenciar outras pessoas desta forma;

k) expressar as próprias qualidades positivas para conquistar riquezas, honras e elogios, e abusar de outras pessoas;

l) expressar enganosamente que “Eu possuo a paciência do ensinamento profundo”4; m) fazer com que um praticante seja punido, pegar para si uma oferenda às Três Joias, aceitar propinas; n) interromper alguém em meditação de permanência serena, ou tomar as provisões de um praticante em retiro e oferecê-las a alguém que faz orações - essas são as falhas-raiz que levam ao renascimento nos grandes reinos dos infernos.

Na tradição de Dharmakirti, que segue os Bhumis dos Bodisatvas, existem quatro falhas-raiz e quarenta e seis falhas secundárias. Os Vinte Preceitos, que são uma abreviação dos Bhumis dos Bodisatvas, colocam: Louvar a si mesmo e abusar dos outros por apego a riquezas e honra, Não oferecer o Darma e riquezas, por avareza, àqueles que estão sofrendo E estão sem proteção, Punir raivosamente outra pessoa não aceitando suas desculpas, Evitar o veículo Mahayana e oferecer ensinamentos falsos. As quarenta e seis falhas secundárias também são mencionadas nos Vinte Preceitos: Não fazer oferendas às Três Joias, Entregar-se ao apego em sua mente, e assim por diante5. B. Ética Moral da Acumulação de Virtudes. Após receber perfeitamente o voto da ética moral dos bodisatvas acumulem virtudes através do corpo, fala e mente para alcançar a iluminação. Em resumo, isso é

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chamado “acumulação de virtudes”. Quais são elas? Os Bhumis dos Bodisatvas afirmam:

Manter e sustentar a moralidade dos bodisatvas; fazer esforços alegremente para ouvir, contemplar e meditar; oferecer serviços e honrar todos os professores; ajudar e cuidar de pessoas doentes; oferecer corretamente e proclamar as qualidades positivas; regozijar-se com a paciência e mérito dos outros; ter paciência quando outros o olharem como inferior; dedicar a virtude para a iluminação e fazer preces de aspiração; fazer oferendas às Três Joias e fazer esforços pelos ensinamentos virtuosos; sustentar introspecção; relembrar o treinamento dos bodisatvas; proteger o treinamento de bodisatva com consciência vigilante; proteger todas as portas dos sentidos e comer moderadamente; esforçar-se na prática da meditação, não dormindo cedo demais à noite ou até tarde de manhã; seguir mestres espirituais e pessoas autenticamente santas; investigar seus próprios erros e purificá-los – desta forma, praticar essas qualidades positivas, protegendo-as e ampliando-as é chamado de ética moral da acumulação de virtudes.

C. Ética Moral de Meneficiar os Seres Sencientes. Em resumo, existem onze tópicos a compreender. Quais são eles? Os Bhumis dos Bodisatvas afirmam:

Apoiar atividades significativas; dissipar o sofrimento dos seres sencientes que estão sofrendo; mostrar os métodos para aqueles que não os conhecem; recordar a bondade dos outros e retribuí-la; proteger os outros de seus medos e acabar com o luto daqueles que estão sofrendo; oferecer coisas necessárias àqueles que não as possuem; fazer provisões para receber discípulos na comunidade do Darma e agir de acordo com o nível de compreensão dessas pessoas; gerar alegria proclamando as qualidades perfeitas; corrigir adequadamente alguém que estiver fazendo coisas erradas; evitar gerar medo através de poderes milagrosos; e fazer com que outros se inspirem com os ensinamentos.

Além disso, para gerar confiança e fé nos outros e para evitar falhas, deve-se evitar as ações impuras das três portas e sustentá-las de forma pura. Ações Impuras do Corpo. Evite as ações desnecessárias, como corridas, saltos e outros. Você deveria manter suas ações de forma suave e gentil, com um rosto sorridente. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma: Agora, enquanto tenho liberdade para agir, Eu deveria sempre apresentar um rosto sorridente, E parar de parecer raivoso, franzindo o rosto, Devo ser um amigo e conselheiro para o mundo. E ao olhar para os outros: Ao observar alguém com meus olhos, Pensando: “Eu irei despertar completamente devido a esse ser”, Eu deveria olhá-lo com um coração aberto e com amor. E ao sentar: Eu não deveria sentar com minhas pernas esticadas Nem esfregar minhas mãos. E ao comer: Ao comer eu não deveria encher minha boca, Comer ruidosamente ou com minha boca aberta.

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E ao mover-me: Eu não deveria movimentar, sem consideração e ruidosamente, Cadeiras e outros, Nem abrir portas violentamente. Eu deveria sempre me regozijar com humildade. E ao dormir: Assim como o Buda deitou-se para morrer Eu também deveria me deitar na direção desejada. Ações Impuras de Fala. Evite a fala inútil e palavras agressivas. As falhas da fala inútil são mencionadas no Sutra da Nuvem de Nobres Joias: Os pueris se afastam do precioso Darma, Suas mentes se tornam arrogantes e ríspidas, Eles se afastam muito da permanência serena e do insight especial – Essas são as falhas da fala inútil. Eles nunca demonstram devoção pelos professores E sempre se alegram com a fala enganosa e maliciosa. Eles seguem sem essência e seu discernimento se deteriora – Essas são as falhas da fala inútil. De acordo com o Sutra da Lâmpada da Lua as falhas da fala agressiva são: O que quer que seja vista como erro dos outros Não o declare como erro – Pois você receberá os resultados De quaisquer ações que realizar. O Sutra das Instruções sobre a Não-produção de Todos os Fenômenos diz: Aquele que falar sobre as falhas de um bodisatva estará distante da iluminação. Falar sobre os erros de alguém por ciúme o deixará muito longe da iluminação. E assim por diante. Portanto, deve-se evitar a fala inútil e as palavras agressivas. Como Tornar a Fala Pura. Em Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas é afirmado: Ao conversar eu deveria falar com meu coração e sobre o que é relevante. Tornando o significado claro e a fala agradável Eu não deveria falar motivado por desejo ou raiva, Mas sim em um tom gentil e com moderação. Ações Impuras da Mente. Evite o desejo por ganhos e honras e o apego ao sono, à indolência e assim por diante. As falhas do desejo por ganhos e honras são mencionadas no Sutra Requisitado com Extrema Sinceridade:

Maitreia, os bodisatvas deveriam investigar e compreender que o apego a ganho e honra produzirá o desejo. Deve-se compreender que ganho e honra produzirão ódio, deve-se compreender que ganho e honra produzirão ignorância, deve-se compreender que ganho e honra produzirão o engano, deve-se compreender que todos os budas desaprovam ganho e honra, deve-se compreender que ganho e honra destroem as raízes de virtude, deve-se compreender que ganho e honra são

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como uma prostituta mentirosa. E assim por diante. Mesmo que você conquiste riquezas não ficará satisfeito. O Sutra do Encontro do Pai e do Filho afirma: Por exemplo, você não ficará satisfeito Bebendo água em um sonho. Da mesma forma todos os objetos do desejo sensorial Não trarão satisfação mesmo que você possa desfrutar deles. Com essa compreensão deve-se reduzir o apego e praticar o contentamento. As Falhas do Apego ao Sono. Assim se diz: O apego ao sono e à indolência Fará com que a inteligência diminua.

Também fará com que a mente discriminativa enfraqueça. E sempre o manterá distante da sabedoria primordial.

E: Aquele que está apegado ao sono e à indolência Torna-se letárgico, preguiçoso e sem discernimento. Ele pode ser vencido pelos obstáculos dos seres não-humanos E, quando nas florestas, poderá ser atacado. E assim por diante. Portanto, essas falhas devem ser evitadas. Em relação às ações puras da mente deve-se manter a fé e assim por diante conforme explicado anteriormente (no capítulo 2). V. Ampliação. A ética moral será ampliada através de sabedoria primordial, sabedoria discriminativa e dedicação, conforme explicado anteriormente (no capítulo 12). VI. Perfeição. A perfeição da ética moral é suportada pela vacuidade que tudo permeia e pela compaixão, conforme explicado anteriormente (no capítulo 12). VII. Resultado. Devem-se compreender os resultados da prática da ética moral nos estados convencional e absoluto. No estado absoluto será alcançada a iluminação insuperável. Os Bhumis dos Bodisatvas afirmam: Aperfeiçoando completamente a paramita da ética moral dos bodisatvas Será alcançada a iluminação insuperável, perfeita e completa. No estado convencional, mesmo não a desejando, será alcançada a felicidade perfeita do samsara. O Cesto dos Bodisatvas afirma: Sariputra, não há prazer perfeito e glorioso nos reinos dos deuses e dos humanos Que um bodisatva com pura ética moral não vá desfrutar. Um bodisatva continuará seguindo seu caminho sem se deixar prender pelas alegrias e felicidades do samsara. O Sutra Requisitado por Narayana afirma:

Um bodisatva que possui tal ética moral não cairá de uma monarquia universal por possuir introspecção e desejo pela iluminação. Ele não cairá do estado de Indra por possuir grande introspecção e o desejo pela iluminação. E assim por diante.

Um bodisatva que possui esse tipo de ética moral será louvado e honrado por seres humanos e não-humanos. O mesmo sutra diz:

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Os deuses sempre se prostrarão a um bodisatva que repousa na coleção da ética moral e ele sempre será louvado por todos os nagas. Ele sempre será louvado pelos yakshas e os gandarvas farão oferendas a ele. Ele sempre será procurado por brâmanes, reis, mercadores e chefes-de-família. Os budas sempre pensarão nele e ele será estimado por todo o mundo, incluindo os deuses. E assim por diante.

Este é o décimo terceiro capítulo,

que explica a perfeição da ética moral, de O Ornamento da Preciosa Liberação,

A Joia que Realiza Desejos dos Nobres Ensinamentos.

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CAPÍTULO 14

A Perfeição da Paciência

O sumário: Reflexões sobre as falhas e as virtudes, Definição, classificação, Características de cada classificação, Ampliação, perfeição e resultado – Esses sete itens compreendem a prática da perfeição da paciência. I. Reflexões sobre as Falhas e as Virtudes. Mesmo realizando as práticas da generosidade e da ética moral, se não for desenvolvida a prática da paciência a raiva se manifestará. Com o surgimento da raiva todas as virtudes que foram acumuladas anteriormente através da generosidade e da ética moral serão destruídas em um instante. O Cesto dos Bodisatvas afirma: Aquilo que é chamado de raiva destruirá as raízes de virtude

Acumuladas através de centenas e milhares de kalpas. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas coloca: Quaisquer ações virtuosas, Tais como venerar os budas e a generosidade, Que foram acumuladas ao longo de mil éons, Serão todas destruídas em um momento de raiva. Reiterando, se você não possuir paciência e a raiva entrar em sua mente, isso é como uma flecha envenenada perfurando seu coração. Você não experimentará alegria, felicidade ou paz devido à dor mental. Você não conseguirá nem mesmo dormir bem. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma: Minha mente não experimentará a paz Se promover pensamentos dolorosos de raiva. Não encontrarei alegria ou felicidade, Incapaz de dormir, permanecerei inquieto. E: Resumindo, não existe ninguém que viva feliz guardando raiva. Enfatizando mais uma vez, se você não possuir paciência o ódio e a raiva penetrarão em sua mente e sua face ficará desfigurada, fazendo com que seus amigos, parentes e servos fiquem cansados e tristes. Mesmo se você lhes oferecesse alimento e riquezas eles não se aproximariam. Assim se diz: Assim, parentes e amigos ficarão desconsolados. Apesar de atraídos por minha generosidade eles não confiarão em mim. Se você não possuir paciência os maras irão alcançá-lo e criarão obstáculos. O Cesto dos Bodisatvas afirma: Os maras irão alcançá-lo e criarão obstáculos se você possuir uma mente cheia de ódio. Se você não possuir paciência, uma das seis paramitas do caminho para a iluminação estará incompleta e, assim, você não atingirá a iluminação insuperável. O Sutra Condensado da Perfeição da Sabedoria

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afirma: Aquele que possui ódio e não possui paciência, como poderá atingir a iluminação? Por outro lado, aquele que possui paciência tem uma das virtudes supremas dentre todas as raízes de virtude. Como se diz: Não há mal como o ódio, Não há fortaleza como a paciência. Assim, devo me esforçar de diversas formas Para meditar sobre a paciência. Se você possuir paciência, mesmo no estado convencional encontrará toda a felicidade. Como se diz: Aquele que, consistentemente, suplanta o ódio Encontrará a felicidade agora e nas próximas vidas. Se você dominar a prática da paciência atingirá a iluminação insuperável. O Sutra do Encontro do Pai e do Filho afirma: A raiva não é o caminho para a iluminação. Portanto, ao meditar

Sobre a bondade amorosa a iluminação será produzida. II. Definição. A definição de paciência é um sentimento de tranquilidade. Os Bhumis dos Bodisatvas afirmam: Uma mente livre de confusões e permeada por um sentimento de tranquilidade Acompanhada de compaixão – em resumo, deve-se compreender que esta é A definição da paciência de um bodisatva. III. Classificação. A paciência possui três classificações: A) A paciência de sentir-se tranquilo com alguém que o prejudica, B) A paciência de aceitar o sofrimento e C) A paciência para compreender a natureza do Darma. O primeiro tipo é a prática da paciência ao investigar a natureza daquele que nos prejudica. O segundo tipo é a prática da paciência ao investigar a natureza do sofrimento. O terceiro tipo é a prática da paciência ao investigar a natureza inequívoca de todos os fenômenos. Colocando de outra forma, os primeiros dois tipos são praticados no estado convencional e o terceiro tipo é praticado no estado último de compreensão. IV. Características de Cada Classificação. A) A Primeira Classificação. Pratiquem a paciência com aqueles que trazem obstáculos a vocês e a suas famílias agredindo, machucando, odiando e abusando de vocês, e assim por diante. O que significa praticar a paciência? Não se deixar perturbar, não retaliar e não guardar ressentimento na mente são chamados de paciência. De acordo com Shantideva deveríamos investigar: 1) que aqueles que nos prejudicam não possuem liberdade, 2) que esse mal é a falha de nosso próprio carma, 3) que ele é uma falha de nosso corpo, 4) que ele é uma falha de nossa mente, 5) que ambos estão igualmente errados, 6) o benefício,

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7) o sentimento de gratidão, 8) que todos os budas ficarão satisfeitos e 9) que ele traz grandes efeitos benéficos. 1. Investigando que aqueles que o prejudicam não possuem liberdade. Por exemplo, tome alguém como Devadatta que não tinha a liberdade de evitar o mal devido ao poder do ódio. Quando o ódio está presente não somos capazes de gostar do objeto de nosso ódio. Portanto, visto que essa pessoa está fora de controle não há razão para revidar. Como se diz: Portanto, tudo é governado por outros fatores E, dessa forma, nada governa a si mesmo. Tendo compreendido isto eu não deveria ficar com raiva De fenômenos que são como aparições. 2. Investigando que esse mal é uma falha de seu próprio carma. Em minhas vidas anteriores eu prejudiquei outros seres da mesma forma que estou sendo prejudicado agora. Portanto, visto que essa é uma falha que vem de meu próprio carma negativo não há razões para retaliar. Como se diz: Anteriormente eu devo ter causado um mal similar Aos outros seres sencientes. Portanto, está correto que esse mal seja retribuído A mim, que sou uma causa de sofrimento para os outros. 3. Investigando que esse mal é uma falha de seu corpo. Se eu não possuísse este corpo a outra pessoa não teria um alvo para atirar suas armas. Portanto, visto que é por possuir um corpo como este que estou sendo prejudicado, não há razões para retaliar. Como se diz: Tanto a arma quanto meu corpo São as causas de meu sofrimento. Visto que o outro deu origem à arma e eu ao corpo, De quem eu deveria ter raiva? 4. Investigando que esse mal é uma falha de sua mente. Não vejo esse corpo excelente como algo que possa tolerar facilmente o mal infligido pelos outros; pelo contrário, eu o vejo como um corpo frágil e inferior. Portanto, ele é suscetível ao sofrimento. Visto que esse mal é causado pela minha mente não há razões para retaliar. Como se diz: Se, em cego apego, eu me agarro A esse abscesso sofredor da forma humana Que não suporta ser tocado, De quem eu deveria ter raiva quando ele é ferido? 5. Investigando que ambos estão igualmente errados. Como se diz: Se alguém, por ignorância, fizer o mal, E outro, por ignorância, ficar com raiva dele, De quem é o erro? E quem estará livre do erro? Portanto, seja cauteloso com as falhas e erros e pratique a paciência. 6. Investigando o benefício que se recebe. Ao praticar paciência com alguém que me prejudicou, minhas ações negativas serão purificadas através desta prática. Eu irei aperfeiçoar as acumulações ao purificar as ações negativas e alcançarei a iluminação por aperfeiçoar as acumulações. Portanto, essa pessoa que me prejudica é, na verdade, um grande benfeitor, portanto, eu devo praticar a paciência. Como se diz: Devido a eles eu irei purificar minhas negatividades,

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Aceitando pacientemente os males que eles me causaram e assim por diante. 7. Investigando a gratidão. Sem a perfeição da paciência a realização da iluminação não é possível. Sem os seres que me prejudicam eu não poderei praticar a paciência. Portanto, esse malfeitor é um amigo do Darma a quem eu devo ser muito grato, e, portanto, eu praticarei a paciência. Assim se diz: Eu deveria ficar feliz em ter um inimigo, Pois ele me auxilia em minha conduta para o despertar. E por eu ser capaz de praticar paciência com ele, Ele é digno de receber Os primeiros frutos de minha paciência, Pois, desta forma, ele é a causa da mesma. 8. Investigando que todos os budas ficarão satisfeitos. Como se diz: Além disso, de que forma melhor podemos retribuir aos budas Que concedem benefícios incomensuráveis E que cuidam do mundo sem pretensões, Do que satisfazendo os seres sencientes? 9. Investigando que ele traz grandes efeitos benéficos. Como se diz: Pois muitos que os satisfizeram Alcançaram, desta forma, a perfeição. Os Bhumis dos Bodisatvas afirmam:

Pratique a paciência cultivando as cinco atitudes: a percepção de sentir-se próximo àquele que o prejudica; a percepção de que tudo se dá através de condições interdependentes; consciência da impermanência; percepção do sofrimento e a percepção de abraçar completamente os seres sencientes em seu coração.

Primeiro, a percepção de sentir-se próximo àquele que o prejudica. Esse ser senciente maléfico em outras vidas foi um de seus pais, um parente ou professor e você recebeu benefícios incontáveis dele. Portanto, nesse momento, devido a esse tipo de dano, não é razoável retaliar. Portanto, pratique paciência trazendo-o para o seu coração. Segundo, a percepção de que tudo se dá através de condições interdependentes. Essa pessoa que o prejudica é dependente de condições, apenas um fenômeno projetado. Pratique a paciência contemplando que não há um “eu”, ser senciente, vida ou pessoa que agride, bate, abusa ou critica. Terceiro, a consciência da impermanência. Por natureza, os seres sencientes são impermanentes e estão sujeitos à morte. Portanto, pratique paciência contemplando que não é necessário matar porque os seres sencientes irão, naturalmente, morrer. Quarto, a percepção do sofrimento. Todos os seres sencientes são torturados pelos três tipos de sofrimento. Eu deveria dissipar esse sofrimento, e não levar os seres a ele. Portanto, devo praticar paciência com suas ações ao perceber o seu sofrimento. Quinto, a percepção de abraçar completamente os seres sencientes. Quando cultivei bodicita eu o fiz pelo benefício de todos os seres sencientes; portanto, ao praticar paciência abraçando-os completamente não é apropriado retaliar por pequenos danos. B) A Segunda Classificação, a Paciência de Aceitar o Sofrimento. Com a mente cheia de alegria e sem tristeza pelo seu sofrimento, aceite voluntariamente o sofrimento da prática que leva à iluminação insuperável. Os Bhumis dos Bodisatvas citam:

... aceitando voluntariamente os oito diferentes tipos de dificuldades como o sofrimento relativo aos lugares, e assim por diante.

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De modo geral, os sofrimentos são estes: ao se tornar um monge ou uma monja você deve passar pelo sofrimento de esforçar-se para conseguir os mantos do Darma, provisões e assim por diante; fazer oferendas, seguir e honrar as Três Joias e os mestres espirituais; ouvir os ensinamentos; oferecer ensinamentos do Darma; recitar orações; meditar; esforçar-se em sua prática de meditação avançando à noite e cedo de manhã sem dormir. Sem ficar triste, cansado, exausto, com calor, com frio, com fome, com sede, perturbado e assim por diante, aceite voluntariamente o sofrimento do esforço para beneficiar os seres sencientes através das onze formas mencionadas anteriormente (no capítulo 13). Além disso, aceitar o sofrimento voluntariamente é como, por exemplo, passar por uma cirurgia, um tratamento, para curar-se do sofrimento de uma doença virulenta. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma: Ainda assim, o sofrimento envolvido em meu despertar é limitado, É como o sofrimento de deixar que uma incisão seja feita Para remover e destruir uma dor maior. Praticando a paciência você é vitorioso na batalha do samsara; ao aniquilar o inimigo das emoções aflitivas você se torna um verdadeiro guerreiro. Neste mundo, os guerreiros tornam-se renomados por matar inimigos comuns, que possuem a natureza da morte. Mas, eles não são guerreiros – sua ação é como enfiar uma espada em um cadáver. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma: Os guerreiros vitoriosos são aqueles que, Desprezando todo o sofrimento, Vencem os inimigos do ódio e assim por diante; Os guerreiros comuns massacram apenas cadáveres. C) A Terceira Classificação, a Paciência para Compreender a Natureza dos Fenômenos. Os Bhumis dos Bodisatvas afirmam: A aspiração pelos oito temas, tais como as qualidades positivas das Três Joias e assim por diante. Deseje e pratique pacientemente a realização da vacuidade inerente dos dois tipos de identidade na natureza última. V. Ampliação. A paciência será ampliada através de sabedoria primordial, sabedoria discriminativa e dedicação, conforme explicado anteriormente (no capítulo 12). VI. Perfeição. A perfeição da paciência é suportada pela vacuidade que tudo permeia e pela compaixão, conforme explicado anteriormente (no capítulo 12). VII. Resultados. Devem-se compreender os resultados da paciência nos estados absoluto e convencional. No estado absoluto a iluminação insuperável será atingida. Os Bhumis dos Bodisatvas colocam: Ao apoiar-se em vasta e ilimitada paciência para produzir o resultado da iluminação, Um bodisatva irá alcançar a iluminação insuperável, perfeita e completa. No estado convencional serão conquistadas uma compleição agradável, fama, uma vida longa e será alcançado o estado de um monarca universal em todas as diferentes vidas, mesmo não desejando estes resultados. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma: Durante a existência cíclica a paciência causa A beleza, saúde e renome. Desta forma viverei por um longo tempo E conquistarei os vastos prazeres dos reis universais chakra.

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Este é o décimo quarto capítulo, que explica a perfeição da paciência, de

O Ornamento da Preciosa Liberação, A Joia que Realiza Desejos dos Nobres Ensinamentos.

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CAPÍTULO 15

A Perfeição da Perseverança

O sumário: Reflexões sobre as falhas e as virtudes, Definição, classificação, Características de cada classificação, Ampliação, perfeição e resultado – Esses sete itens compreendem a prática da perfeição da perseverança.

I. Reflexões sobre as Falhas e as Virtudes. Mesmo desenvolvendo a prática da generosidade e assim por diante, isso será chamado de preguiça se não houver perseverança. Quando se é preguiçoso não é possível realizar a virtude, beneficiar os outros e a iluminação não será alcançada. O Sutra Requisitado por Sagharamati afirma:

A pessoa preguiçosa não possui generosidade e assim por diante até sabedoria. A pessoa preguiçosa não poderá beneficiar os outros.

A pessoa preguiçosa está distante da iluminação. Por outro lado, quando se possui perseverança todas as qualidades virtuosas crescerão sem

obscurecimentos. O Sutra Condensado da Perfeição da Sabedoria diz: A perseverança não permitirá o obscurecimento de todas as qualidades virtuosas. Através dela será atingido o tesouro da sabedoria primordial ilimitada do Vitorioso. Quando se possui perseverança é possível atravessar a montanha da visão sobre os agregados

transitórios1. O Ornamento dos Sutras Mahayana afirma: A perseverança leva à liberação da visão sobre os agregados transitórios. Ao possuir Perseverança a iluminação insuperável será rapidamente alcançada. O Ornamento dos Sutras Mahayana também afirma: A perseverança permitirá a realização da suprema iluminação. O Sutra Requisitado por Sagharamati diz: Para aqueles que praticam a perseverança não é difícil alcançar a iluminação Insuperável, perfeita e completa. E isso porque, Sagharamati, onde há perseverança Há iluminação. O Sutra Requisitado por Purna afirma: Para aquele que pratica a perseverança persistentemente A iluminação não será difícil.

II. Definição. A definição da perseverança é o sentimento de alegria com as virtudes. A Coleção do Abhidarma afirma: O que significa perseverança? É o antídoto para a preguiça.

É possuir alegria absoluta com as virtudes.

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O comentário ao Ornamento dos Sutras Mahayana diz: Ter alegria perfeita com as virtudes – essa é a essência da perseverança. A perseverança é o antídoto para a preguiça que obstaculiza a iluminação. Existem três tipos de preguiça: A) Preguiça da apatia, B) Preguiça da desconsideração e C) Preguiça grosseira. A) Apatia. Primeiro, a “preguiça da apatia” significa estar apegado às alegrias do torpor tais como ficar deitado, dormir, descansar e assim por diante. Esses estados devem ser evitados. Por que deveríamos evitá-los? Porque não há tempo para eles nessa vida. O Buda disse em um sutra: Ó monges! A consciência está diminuindo, a vida está terminando,

A força da vida está indo embora e os ensinamentos do Buda irão, seguramente, perecer. Como alguém não praticaria com perseverança e diligência? Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma: Enquanto a morte estiver, de fato, se aproximando Eu irei acumular méritos. Se você acha que é aceitável acumular virtudes no momento da morte, compreenda que, então, não há tempo para acumular virtudes. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma: Mesmo que, então, eu abandone a preguiça, de que me adiantará? Esse não é mais o momento! Se você acha que não irá morrer até completar a acumulação de virtudes, compreenda que não há certeza disso. Como se diz: O não-confiável senhor da morte Não espera até que as coisas sejam feitas ou desfeitas. Esteja eu doente ou saudável A duração desta vida passageira é instável. Então, como deveríamos evitar a apatia? Deveríamos evitá-la como se uma cobra estivesse sobre nosso colo ou como se nossos cabelos estivessem em chamas. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma: Assim como eu rapidamente ficaria em pé Se uma cobra estivesse em meu colo, Da mesma forma se a preguiça ou a apatia surgirem Eu, rapidamente, irei evitá-las. A Carta a um Amigo coloca: Se seu cabelo ou roupas pegarem fogo acidentalmente, Postergue até mesmo a extinção do fogo. Esforce-se para livrar-se do renascimento no samsara, Pois não há trabalho mais importante a fazer do que este. B) Desconsideração. Segundo a “preguiça da desconsideração” significa um sentimento de desencorajamento na mente que pensa: “Uma pessoa fraca como eu, como eu poderia alcançar a iluminação?” Você deveria evitar essa desconsideração por si mesmo evitando o desencorajamento. Como você deve evitar o desencorajamento? Como se diz:

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Se desenvolvessem a força de sua prática Até mesmo as moscas, mosquitos, abelhas e insetos Conquistariam a iluminação insuperável Que é tão difícil de atingir. Assim, se eu não abandonar o modo de vida dos bodisatvas, Por que alguém como eu, que nasceu na raça humana, Não será capaz de chegar ao despertar, visto que sou capaz De reconhecer aquilo que é benéfico e o que é prejudicial? C) Preguiça grosseira. Terceiro, “preguiça grosseira” significa estar apegado a não-virtudes como destruir inimigos, acumular riquezas e assim por diante. Essas ações são causas imediatas do sofrimento e, portanto, devem ser evitadas. III. Classificação. A perseverança apresenta três classificações: A) Perseverança da armadura, B) Perseverança da aplicação e C) Perseverança insaciável. O primeiro tipo é a motivação excelente, o segundo é o esforço aplicado excelente e o terceiro é a perfeição destes dois. IV. Características de Cada Classificação. A. Perseverança da Armadura. De agora até que todos os seres sencientes estejam estabelecidos na iluminação insuperável, eu não desistirei da perseverança na virtude. Deve-se vestir uma armadura como esta. O Cesto dos Bodisatvas afirma: Sariputra, deve-se vestir uma armadura inconcebível.

Não se deve relaxar a perseverança na busca da iluminação até o final do samsara. O Sutra da Explicação sobre o Estabelecimento da Armadura afirma: Os bodisatvas deveriam vestir uma armadura Para atrair os seres sencientes. Como os seres sencientes são inumeráveis, Deve-se vestir uma armadura ilimitada. O Sutra Requisitado por Aksayamati afirma: Não vista a armadura contando: “por tantos kalpas eu irei vestir a armadura E por tantos kalpas eu não irei”. Deve-se vestir uma armadura infinita. Os Bhumis dos Bodisatvas afirmam: Ficarei feliz mesmo se tiver que permanecer nos infernos por milhares de kalpas Para liberar um único ser senciente do sofrimento. O que dizer de um pequeno Período de tempo e de uma pequena quantidade de sofrimento?

Isso é chamado de perseverança da armadura de um bodisatva. B. Segundo, Perseverança da Aplicação. A perseverança aplicada pode ser de três tipos: 1) Esforço diligente para evitar as emoções aflitivas, 2) Esforço diligente para realizar as virtudes e 3) Esforço diligente para beneficiar os seres sencientes.

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1. Primeiro, esforço diligente para evitar as emoções aflitivas. As emoções aflitivas do desejo e assim por diante e todas as ações que elas influenciam são a raiz de todos os sofrimentos. Portanto, por um longo tempo, purifique-as individualmente e faça com que elas não mais se manifestem. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma: Se eu me encontrar em meio a uma multidão de concepções emocionais aflitivas Irei enfrentá-las com milhares de meios hábeis. Como um leão em meio às raposas Eu não serei afetado por esse bando de emoções aflitivas. Qual seria um exemplo de atenção mental? Como se diz: Aqueles que praticam deveriam estar tão atentos quanto Um homem amedrontado que carrega uma jarra cheia de óleo de mostarda E que está sendo ameaçado por alguém como uma espada Que o matará se ele derramar uma só gota. 2. Segundo, esforço diligente para realizar virtudes. Você deveria esforçar-se para aperfeiçoar as seis paramitas sem considerações nem mesmo pelo próprio corpo ou vida. Como deve-se fazer tal esforço? Deve-se fazê-lo com as cinco perseveranças: persistentemente, com devoção, inabalavelmente, sem voltar atrás e sem arrogância. O primeiro é fazer um esforço constante. O Sutra da Nuvem de Nobres Joias diz: Um bodisatva é aquele que persevera em todos os diferentes tipos de ações Sem que o corpo e a mente se cansem. Essa é a chamada perseverança persistente De um bodisatva. O segundo, esforçar-se com devoção, significa perseverar rapidamente, com alegria e felicidade. Como se diz: Assim, para completar essa tarefa, Irei me dedicar a ela Assim como um elefante atormentado pelo sol do meio-dia Mergulha em um lago. O terceiro é o esforço inabalável. Sua mente não deveria se deixar abalar pela negatividade dos pensamentos conceituais, das emoções aflitivas e das dificuldades do sofrimento. O quarto é esforçar-se sem voltar atrás. Você não deveria voltar atrás ao ver a negatividade dos outros, sem comportamento selvagem, perturbações, visões degeneradas etc. Isso é mencionado no Sutra de Aryavajradwaza. O quinto é a perseverança sem arrogância. Ao desenvolver a perseverança não se torne arrogante. 3. Terceiro, esforço diligente para beneficiar os seres sencientes. Isto significa apoiar aqueles que não estão sendo apoiados e assim por diante, através dos onze tópicos mencionados anteriormente (no capítulo 13). Essas são as explicações sobre a perseverança aplicada. C. Terceiro, Perseverança Insaciável. Você deve perseverar sem nunca se dar por satisfeito até alcançar a iluminação. Como se diz: Se eu sinto que nunca encontro objetos sensoriais o bastante, Que são como o mel sobre a lâmina de uma navalha, Então, por que eu deveria achar que já tenho Méritos suficientes, que se transformam em felicidade e paz? V. Ampliação. A perseverança será ampliada através de sabedoria primordial, sabedoria discriminativa e dedicação, conforme explicado anteriormente (no capítulo 12).

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VI. Perfeição. A perfeição da perseverança é suportada pela vacuidade que tudo permeia e pela compaixão, conforme explicado anteriormente (no capítulo 12). VII. Resultados. Devem-se compreender os resultados da prática da perseverança nos estados absoluto e convencional. No estado absoluto a iluminação insuperável será atingida. Os Bhumis dos Bodisatvas afirmam: Ao aperfeiçoar completamente a paramita da perseverança os bodisatvas Atingiram a iluminação insuperável, perfeita e completa; estão atingindo A iluminação completa e atingirão a iluminação completa. O fruto do estado convencional é a posse das alegrias supremas da existência, mesmo enquanto estiver no samsara. O Ornamento dos Sutras Mahayana coloca: Através da perseverança serão realizados todos os desejos, mesmo enquanto no samsara.

Este é o décimo quinto capítulo, que explica a perfeição da perseverança, de

O Ornamento da Preciosa Liberação, A Joia que Realiza Desejos dos Nobres Ensinamentos.

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CAPÍTULO 16

A Perfeição da Concentração Meditativa

O sumário: Reflexões sobre as falhas e as virtudes, Definição, classificação, Características de cada classificação, Ampliação, perfeição e resultado – Esses sete itens compreendem a prática da perfeição da concentração meditativa.

I. Reflexões sobre as Falhas e as Virtudes. Mesmo que desenvolva as práticas da generosidade e assim por diante, diz-se que elas serão dispersas se você não possuir concentração meditativa. Sob a influência da dispersão sua mente será aprisionada pelas garras das emoções aflitivas. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma:

Pois aquele cuja mente é distraída É presa fácil para as garras das emoções aflitivas. Além disso, sem concentração meditativa não será possível desenvolver clarividência, e sem

clarividência não será possível beneficiar os outros. A Lâmpada para o Caminho da Iluminação afirma: Sem a realização da permanência serena Não será desenvolvida a clarividência. Da mesma forma, sem o poder da clarividência Não será possível beneficiar os seres sencientes. E também, sem concentração meditativa não será realizada a sabedoria discriminativa, e sem

sabedoria discriminativa não será possível atingir a iluminação. A Carta a um Amigo diz: Sem concentração meditativa Não será possível desenvolver sabedoria discriminativa. Por outro lado, quando se possui concentração meditativa será abandonado o apego a objetos

inferiores, será desenvolvida a clarividência e as diversas portas da concentração meditativa se abrirão à mente. O Sutra Condensado da Perfeição da Sabedoria afirma:

Através da concentração meditativa os objetos sensoriais inferiores são abandonados. Certeza, clarividência e concentração meditativa serão realizadas. Reiterando, quando se possui concentração meditativa a sabedoria discriminativa surgirá e as

emoções aflitivas serão eliminadas. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas coloca: Tendo compreendido que as emoções aflitivas são completamente superadas Pelo insight superior acompanhado pela permanência serena... Quando se possui a perfeita concentração meditativa será alcançado o insight especial e perfeito e

surgirá compaixão por todos os seres sencientes. O Sutra da Realização do Darmadatu afirma: Através da absorção mental a realidade será vista de forma perfeita, como ela é.

Enxergando a totalidade da realidade de forma perfeita, como ela é, um bodisatva Desenvolverá grande compaixão por todos os seres sencientes.

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Além disso, quando se possui concentração meditativa será possível estabelecer todos os aspirantes no estado da iluminação. O Ornamento dos Sutras Mahayana afirma:

Através da concentração meditativa todos os seres sencientes serão Estabelecidos nos três tipos de iluminação. II. Definição. A definição da concentração meditativa é de que ela possui a natureza da permanência

serena, a mente repousa internamente de forma unifocada na virtude. Do capítulo sobre a concentração dos Bhumis dos Bodisatvas:

A mente repousa unifocada na virtude. Esse tipo de concentração meditativa é alcançado através da eliminação completa das distrações, que

são o oposto da concentração. A. Primeiro, devem-se evitar as distrações. Afastar-se das distrações é chamado de isolamento,

estado no qual se está isolado da agitação física e a mente está isolada dos pensamentos discursivos. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma:

Através do isolamento do corpo e da mente Os pensamentos discursivos não ocorrerão. Deve-se compreender que o isolamento da agitação física é discutido em seis tópicos:

1) a característica primária da agitação, 2) a causa da agitação, 3) as falhas da agitação, 4) a característica primária do isolamento, 5) a causa do isolamento e 6) as qualidades positivas do isolamento.

1. A característica primária da agitação é a dispersão por estar em meio aos filhos, cônjuge, séquito e

posses. 2. A causa da agitação é o apego aos seres sencientes tais como filhos, cônjuge, séquito e assim por

diante; apego às posses tais como alimentos, coisas materiais e assim por diante; apego à fama, elogios e assim por diante. Essas coisas não contribuirão para evitar a agitação. Assim se diz:

A vida mundana não é abandonada devido ao apego às pessoas E ao desejo por ganhos materiais etc. 3. As falhas da agitação devem ser compreendidas de forma geral e particular. Em relação à agitação

geral, o Sutra Requisitado com Extrema Sinceridade afirma: Maitreia, existem vinte diferentes tipos de defeitos. Quais são esses vinte?

O corpo está descontrolado, a fala está descontrolada e a mente está descontrolada. As emoções aflitivas grosseiras crescem desenfreadamente. Até mesmo a fala mundana é afetada. Os maras têm a chance de triunfar. Falta atenção mental. A permanência serena e o insight especial não podem ser alcançados. E assim por diante1.

Em particular, a iluminação não será atingida se houver a falha do apego aos seres sencientes. O Sutra da Lâmpada da Lua afirma: Aquele que se entrega completamente aos objetos sensoriais, Agarra-se a filho e esposa e está apegado ao lar que deveria ser rejeitado,

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Não alcançará a iluminação de forma alguma. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma: Através do apego aos seres vivos Estou completamente obscurecido da realidade perfeita.

Portanto, devem-se evitar esses apegos. Como se diz: Isso não pode me beneficiar E eu, também, não posso beneficiá-lo. Portanto, fique longe desta infantilidade. Os efeitos benéficos de evitar tal estado. O Sutra da Lâmpada da Lua comenta: Tendo renunciado ao apego a filhos e esposa, Com medo do lar e tendo renunciado a ele, A realização da iluminação não será tão difícil. Também há os dois defeitos do apego a posses e fama. Posses e fama não podem ser mantidas para

sempre e criarão dificuldades. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma: Seja qual fama e renome que eu tenha acumulado Eles não terão o poder de me acompanhar. Em segundo lugar é dito: Pelo empilhamento dos objetos aos quais você tem apego Miséria mil vezes maior surgirá. 4. A característica primária do isolamento é estar livre dessas agitações. 5. A causa do isolamento é permanecer em um monastério por conta própria. O que é um

monastério2? Estar em um cemitério, floresta, caverna ou planície. 500 braças é o alcance do ouvido. Um local que esteja a uma distância de um alcance do ouvido de uma cidade é chamado de monastério. O Tesouro do Abhidarma afirma:

500 braças é o alcance do ouvido; este local é chamado de monastério. 6. As qualidades positivas do isolamento. Escapar da agitação e permanecer em um monastério para

buscar a iluminação e para beneficiar os seres sencientes possui muitas qualidades positivas: a) é uma oferenda excelente a todos os budas, b) o samsara será renunciado, as oito preocupações mundanas3 serão abandonadas e as emoções aflitivas não serão encorajadas,

c) a concentração meditativa se estabelecerá. a) O primeiro. Dar sete passos em direção a um monastério com a motivação de permanecer lá com

bodicita pelo benefício dos seres sencientes satisfaz mais a todos os budas do que fazer oferendas de diversos alimentos, bebidas, flores e assim por diante. O Sutra da Lâmpada da Lua afirma:

O Vitorioso não será honrado Por oferendas de comida e bebida, Ou, da mesma forma, de roupas, flores, incenso e guirlandas. Haverá um mérito maior em dar sete passos em direção a um monastério Para beneficiar os seres sencientes Renunciando ao mal, os fenômenos compostos.

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b) O segundo. Em relação à renúncia do samsara, à liberação das oito preocupações mundanas e ao

desencorajamento das emoções aflitivas esse mesmo sutra diz: Igualmente, todos os fenômenos compostos serão renunciados, Não haverá desejo por todos os mundos E as emoções aflitivas não se manifestarão. c) O terceiro. O objetivo principal é desenvolver a concentração meditativa rapidamente. O mesmo

sutra diz: Afaste-se das vilas e das cidades, Sempre busque a floresta e o isolamento, Sempre permaneça só como um rinoceronte. Logo você alcançará a suprema concentração meditativa. Isso explica como permanecer isolado da agitação física. B. Isolando a mente dos pensamentos discursivos. Enquanto estiver no monastério, contemple o

motivo de você ter ido para lá. Lembre que você veio para esse monastério devido ao medo da influência perturbadora das vilas e das cidades. Lembre-se como você temia a influência da agitação. O Sutra Requisitado pelo Chefe de Família Draksulchen afirma:

Temeroso e amedrontado pela agitação; temeroso e amedrontado por riquezas e honras; temeroso e amedrontado pelos amigos maldosos; temeroso e amedrontado por mestres não-virtuosos; temeroso e amedrontado pelo desejo, ódio e ignorância; temeroso e amedrontado pelos maras dos skandas, pelas emoções aflitivas, pelo Senhor da Morte e pelo Devaputra; temeroso e amedrontado pelos reinos dos infernos, fantasmas famintos e animais – com este medo e temor eu fugi para esse monastério.

Agora, investigue as ações de corpo, fala e mente: se eu matar, roubar e assim por diante enquanto

meu corpo estiver no monastério, então eu não serei diferente dos animais selvagens, caçadores, ladrões e assaltantes. Eu deveria evitar essas ações contemplando que elas não realizarão meus desejos.

Investigue a fala: se eu me envolver com fala inútil ou separativa, ou usar palavras agressivas e assim por diante enquanto estiver no monastério, então eu não serei diferente dos pavões e papagaios, melros, cotovias e assim por diante. Eu deveria evitar esse tipo de fala, pois isso não realizará meus desejos.

Então, investigue a mente: se eu manifestar apego, ódio, ciúme e assim por diante enquanto estiver no monastério, então eu não serei diferente dos animais selvagens, chimpanzés, macacos, ursos e assim por diante. Eu deveria evitá-los porque eles não realizarão meus desejos.

Isso termina a explicação sobre como isolar a mente dos pensamentos discursivos. C. Através do isolamento da mente e do corpo as distrações não surgirão. Sem distrações você

poderá entrar em concentração meditativa. Você deve treinar sua mente. Você deve meditar e aplicar o antídoto para a emoção aflitiva que for mais forte:

1) para remediar o apego, contemple a feiúra; 2) para remediar o ódio, contemple a bondade amorosa; 3) para remediar a ignorância, contemple a originação interdependente; 4) para remediar o ciúme, pratique a equalização de si mesmo com os outros; 5) para remediar o orgulho, pratique a troca de si mesmo pelos outros;

6) se você tiver emoções aflitivas em intensidades similares ou pensamentos discursivos, então pratique a observação da respiração.

1. Apego. Se o apego for mais forte, então contemple a feiura da seguinte forma. Primeiro, observe

seu corpo como um composto de carne, sangue, pele, ossos, medula, linfa, bile, fleuma, muco, excremento e

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assim por diante. Contemple as trinta e seis substâncias impuras4. Após isso, vá para um cemitério e observe um corpo que esteja morto por um dia, dois dias, três dias, quatro dias e cinco dias. Ele se transforma em uma cor mais escura, torna-se inchado e pútrido e é, então, destruído por vermes. Ao ver isto, apenas contemple que seu corpo é da mesma natureza, esse estranho, e não está além desse estado. Observe um corpo sendo levado para o cemitério e os ossos sendo separados e espalhados, alguns ainda com carne e alguns com ligamentos. Em um corpo que esteja morto há muitos anos os ossos se tornam brancos como conchas marinhas. Após mais alguns anos eles assumem uma coloração cinza empoeirada. Assim, contemple que seu corpo também é da mesma natureza, esse estranho, e não está além desse estado.

2. Ódio. Se o ódio for mais forte, então contemple a bondade amorosa como antídoto. A bondade

amorosa foi explicada anteriormente como sendo de três tipos. Aqui, concentre-se na bondade amorosa com os seres sencientes. Primeiro, cultive a mente que estabelece a felicidade e benefícios para os seres que estão próximos a você. Então pratique a bondade amorosa igualmente com os parentes, e depois com os parentes e com as pessoas comuns, e então ainda mais com as pessoas comuns. Então pratique para aqueles que estão ao seu redor, e depois para aqueles em sua cidade ou vila. Depois disso, pratique pelos seres sencientes do leste e assim por diante – das dez direções.

3. Ignorância. Aqueles em quem a ignorância é mais forte deveriam contemplar a lei da originação

interdependente como remédio. O Sutra da Semeadura do Arroz diz:

Monges, aquele que compreende esse ramo de arroz compreende o significado da originação interdependente. Aqueles que conhecem a originação interdependente conhecem o Darma. Aqueles que conhecem o Darma conhecem o Buda.

Além disso, a) a interdependência do samsara é explicada na ordem direta e b) a interdependência do nirvana é explicada em ordem inversa. a) O primeiro dos dois tópicos: interdependência externa e interdependência interna. A

interdependência interna apresenta dois tópicos:

(1) interdependência com causas e (2) interdependência apoiada por condições.

(1) O primeiro, interdependência interior com causas. Como se diz:

Monges, por essa causa aquilo é produzido. Como isso é produzido aquilo nasce. Desta forma, pela condição da ignorância as formações mentais surgem. Devido à condição do nascimento ocorrem velhice, morte, dor, lamentação, sofrimento, infelicidade e aflições. Portanto, desta forma o vasto agregado do sofrimento surge.

Isso é explicado de acordo com o reino do desejo e com o nascimento do útero de uma mulher. (a) No princípio, surge a ignorância, que é a confusão que compreende erroneamente todo o

conhecimento; (b) Sob a influência da ignorância são criadas as formações mentais do carma das virtudes e não-

virtudes aflitas. Isso se chama “formação mental condicionada pela ignorância”; (c) A semente desse carma é plantada na mente, o que é chamado de “consciência condicionada pelas

formações mentais”; (d) Pelo poder desse carma, a mente fica completamente confusa, entra no útero de uma mulher e um

embrião é gerado e assim por diante. Isso se chama “nome e forma condicionados pela consciência”; (e) Desenvolvendo nome e forma todos os sentidos do olho, ouvido e assim por diante, são

completados. Isso se chama “os seis campos crescentes condicionados por nome e forma”; (f) A interação do órgão visual e assim por diante, o respectivo objeto e a consciência são chamados

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de “contato condicionado pelos seis campos crescentes”. (g) Através do contato são experimentados os sentimentos de alegria, sofrimento ou indiferença. Isso

se chama de “sensações condicionadas pelo contato”; (h) Quando surgem as sensações seguem-se alegria, apego e apego intenso. Isso se chama “desejo

condicionado pelas sensações”; (i) Devido a esse apego o desejo se intensifica e surge a vontade de não estar separado do objeto de

desejo. Isso se chama “fixação condicionada pelo desejo”; (j) Através dessas fixações, o carma e a existência de corpo, fala e mente são novamente criados. Isso

se chama “existência condicionada pelas fixações”; (k) Esse carma cria os cinco agregados (Sct. skandas). Isso se chama “nascimento condicionado pela

existência”; (l) Após o nascimento, os agregados existentes crescem, amadurecem e cessam. “Amadurecem”

significa envelhecem; “cessam” significa morrem. Isso se chama “velhice e morte condicionadas pelo nascimento”.

Devido à ignorância, grande apego e fixações, a morte causa a dor interna conhecida como desgosto. Esse desgosto gera expressões em palavras, que são as lamentações. Quando as cinco consciências experimentam infelicidade, isto é chamado de sofrimento. Quando ele surge na mente é chamado de “infelicidade mental”. Além disso, dessa forma todo o subconsciente aflito é chamado de “mente perturbada”.

Esses doze devem ser compreendidos através de três grupos. Ignorância, fixação e apego compreendem o grupo das emoções aflitivas. Formação mental e existência são o grupo do carma. Consciência e assim por diante, todos os sete restantes, são agrupados como sofrimento. O Tratado sobre a Essência da Interdependência diz:

Os doze elementos interdependentes devem ser compreendidos em três grupos. O Sábio descreveu a interdependência através de emoções aflitivas, carma e sofrimento. O primeiro, oitavo e nono correspondem às emoções aflitivas. O segundo e o décimo correspondem ao carma. Os sete restantes correspondem ao sofrimento. Os exemplos para eles são: a ignorância é como alguém que planta uma semente, o carma é como o

campo, a consciência é como a semente, o desejo é como a umidade, nome e forma são como brotos, os outros são como ramos, folhas e assim por diante. Se não houvesse ignorância as formações mentais não surgiriam. Igualmente, sem nascimento, velhice e morte não ocorreriam. Mas, como há a ignorância as formações mentais são completamente criadas. E da mesma forma, quando há o nascimento velhice e morte irão ocorrer.

A ignorância não pensa “Eu criarei as formações mentais”, as formações mentais não pensam “Nós fomos criadas pela ignorância”. Da mesma forma, o nascimento não pensa “Irei criar velhice e morte”, velhice e morte não pensam “Fomos criadas pelo nascimento”. Mas, quando há ignorância as formações mentais surgem e se manifestam. Da mesma forma, quando há o nascimento, velhice e morte surgem e se manifestam. Assim, essa é a interdependência interna com causas.

(2) Interdependência interna apoiada por condições. Terra, água, fogo, ar, espaço e consciência são os seis elementos. O elemento terra gera a solidez do corpo. O elemento água gera a coesão do corpo. O elemento fogo digere o que comemos, bebemos e assim por diante. O elemento ar faz com que ocorram a inalação e a exalação. O elemento espaço gera os espaços internos do corpo. O elemento consciência cria as cinco consciências e a consciência mental aflita. Sem essas condições um corpo não nascerá. Através da combinação desses seis elementos o corpo funciona completamente. Esses seis elementos não pensam “eu estabeleço a solidez” e assim por diante. O corpo também não pensa “eu fui criado por essas seis condições”. Mas, a partir dessas condições, o corpo é originado.

Além do mais, quantas vidas são necessárias para completar esses doze elementos interdependentes?

O Sutra dos Dez Nobres Bhumis afirma: Ignorância e formações mentais se relacionam com o passado.

Consciência até sensações ocorrem no presente. Desejo e assim por diante até existência se relacionam ao futuro.

Então o ciclo continua.

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b) A interdependência do nirvana é explicada na ordem inversa. Quando todos os fenômenos são

realizados como possuindo a natureza da vacuidade que tudo permeia, então a ignorância cessa. Quando ela cessa, todos os elos respectivamente cessam, até velhice e morte. Como se diz:

Quando a ignorância cessa, então as formações mentais cessam e assim por diante. Quando o nascimento cessa, então velhice, morte, desgosto, lamentações, sofrimento, Infelicidade mental e aflição todos cessam. Assim, o vasto agregado do sofrimento cessa. 4. Ciúme. A prática de equalizar a si mesmo com os outros é o antídoto para aqueles que têm o ciúme

como emoção mais forte. Assim como você deseja a felicidade, os outros seres sencientes também desejam a felicidade. Assim como você não gosta do sofrimento, os outros seres sencientes também não gostam do sofrimento. Portanto, pratique a meditação de cuidar de você mesmo e dos outros seres igualmente. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma:

Antes de qualquer coisa, eu deveria esforçar-me Para meditar sobre a igualdade entre mim e os outros. Eu deveria proteger todos os seres como faço comigo mesmo Porque todos são iguais na busca da satisfação e no afastamento da dor. 5. Orgulho. Se você tiver um problema maior com o orgulho você deve praticar esforçando-se para

conseguir trocar a si mesmo pelos outros. Os seres sencientes infantis sempre cuidam de si mesmos e trabalham por seu próprio benefício, e assim sofrem. Os budas cuidaram dos outros e trabalharam pelo seu benefício, e assim atingiram a iluminação. Como se diz:

Os infantis trabalham pelo seu próprio benefício, Os budas trabalham pelo benefício dos outros. Apenas vejam a diferença entre eles! Portanto, compreenda que o cuidar apenas de si mesmo é uma falha e abandone o apego a si próprio.

Compreenda que cuidar dos outros é uma qualidade positiva e olhe para os outros como para si mesmo. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma:

Tendo enxergado o erro de cuidar apenas de mim mesmo E o oceano de bondade em cuidar dos outros, Eu irei rejeitar, completamente, todo o egoísmo E irei me habituar a aceitar os outros seres. 6. Emoções aflitivas equivalentes. Se as emoções aflitivas forem equivalentes ou se você tiver muitos

pensamentos discursivos, então deveria treinar na respiração. Pratique a meditação da observação da respiração – contar, acompanhar e assim por diante – seis no total. O Tesouro do Abhidarma afirma:

Existem seis tipos: Contar, acompanhar, permanecer, Analisar, transformar e Purificar completamente. Na tradição do sistema do mantra secreto deve-se treinar sem evitar, praticar ou transformar as

emoções aflitivas. Também há o sistema da linhagem de Marpa que deve ser compreendido através de instruções orais. Pode-se compreender tudo isso a partir da sabedoria primordial coemergente e dos seis Darmas do glorioso Naropa.

Esse são os processo graduais para treinar a mente no caminho da concentração meditativa. III. Classificação. A concentração meditativa propriamente dita apresenta três classificações: A) a concentração meditativa de permanecer em bem-aventurança no presente,

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B) a concentração meditativa para acumular qualidades positivas e C) a concentração meditativa para beneficiar os seres sencientes. A primeira é o método para tornar a mente um vaso adequado. A segunda é o estabelecimento de

todas as qualidades positivas do Buda com base em um vaso adequado. A terceira é beneficiar os seres sencientes.

IV. Características de Cada Classificação. A. Permanência em Bem-aventurança. A concentração meditativa da permanência em bem-

aventurança no presente é explicada nos Bhumis dos Bodisatvas:

A concentração meditativa de todos os bodisatvas é livre de pensamentos discursivos, tranquiliza perfeitamente o corpo e a mente, é supremamente pacífica, é livre da arrogância, não experimenta o “sabor” e é livre de percepções – o que descreve o estado mental de permanência em bem-aventurança durante esta vida.

”Livre de pensamentos discursivos” significa manter a mente unifocada, livre de pensamentos

discursivos, tais como existência, não-existência etc. “Tranquiliza perfeitamente o corpo e a mente” significa eliminar todas as ações negativas de corpo e mente. “Supremamente pacífica” significa fluir sem esforços. “Livre da arrogância” significa estar livre das emoções aflitivas da visão. “Não experimentar o sabor” significa não possuir as emoções aflitivas da existência. “Livre de percepções” significa estar livre do desfrute das formas e assim por diante.

As portas para todos esses diferentes estados são as quatro concentrações meditativas: a primeira, a segunda, a terceira e a quarta. A primeira concentração ainda apresenta os fatores analítico sutil e discursivo mental. A segunda apresenta alegria e a terceira apresenta a ben-aventurança muito sutil. A quarta apresenta equanimidade.

B. Acumulando Qualidades Positivas. A concentração meditativa da acumulação de qualidades

positivas pode ser incomum ou comum. A primeira é uma variedade ilimitada e inconcebível de concentrações meditativas relacionadas às dez forças, cujos nomes os Ouvintes e Realizadores Solitários nem mesmo conhecem, então como poderiam acessá-las? As comuns - liberação5, superação6, exaustão crecente7, sabedoria discriminativa8 e assim por diante – são tidas em comum com os Ouvintes e Realizadores Solitários. Mas, enquanto seus nomes são comuns, suas naturezas são diferenciadas.

C. Beneficiar os Seres Sencientes. É possível manifestar incontáveis corpos com base em qualquer

uma das concentrações meditativas e, então, beneficiar os seres sencientes através das onze formas descritas anteriormente (no capítulo 13), tais como apoiar as atividades significativas e assim por diante.

Neste caso, existem os estados chamados de “permanência serena” e “insight especial”9. O que é a permanência serena e o que é o insight especial? A permanência serena é a perfeita absorção da mente pela própria mente. O insight especial significa a discriminação clara do que é certo e do que é errado tomando esta base. O Ornamento dos Sutras Mahayana afirma:

Como a mente permanece perfeitamente em absorção pela própria mente E por discriminar completamente todos os fenômenos, Eles são chamados de permanência serena e insight especial. A permanência serena é a concentração meditativa propriamente dita. O insight especial é a

sabedoria discriminativa.

V. Ampliação. A concentração meditativa será ampliada através de sabedoria primordial, sabedoria discriminativa e dedicação, conforme explicado anteriormente (no capítulo 12). VI. Perfeição. A perfeição da concentração meditativa é suportada pela vacuidade que tudo permeia e pela compaixão, conforme explicado anteriormente (no capítulo 12).

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VII. Resultados. Devem-se compreender os resultados da prática da concentração meditativa nos

estados absoluto e convencional. No estado absoluto a iluminação insuperável será atingida. Os Bhumis dos Bodisatvas afirmam:

Os bodisatvas, ao aperfeiçoarem completamente a concentração meditativa, atingiram a iluminação insuperável, perfeita e completa; irão atingir a iluminação completa e estão atingindo a iluminação completa e perfeita.

No estado convencional, serão conquistados os corpos dos deuses livres do reino do desejo. O

Acharya Nagarjuna afirma: Ao abandonar completamente a alegria, felicidade e sofrimento do reino do desejo Será atingido o estado igual ao dos deuses Dos níveis de Brahma, Clara Luz, Virtude Crescente e Grande Fruição, Das quatro concentrações meditativas.

Este é o décimo sexto capítulo, que explica a perfeição da concentração meditativa, de

O Ornamento da Preciosa Liberação, A Joia que Realiza Desejos dos Nobres Ensinamentos.

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CAPÍTULO 17

A Perfeição da Sabedoria Discriminativa O sumário: Reflexões sobre as falhas e as virtudes, Definição, classificação, Características de cada classificação, O que deve ser compreendido, o que deve ser praticado e Resultados – Esses sete itens compreendem a perfeição da sabedoria discriminativa. I. Reflexões sobre as Falhas e as Virtudes. Mesmo tendo desenvolvido as práticas da generosidade até a concentração meditativa, o estado de onisciência não será alcançado sem possuir a sabedoria discriminativa. E por quê? Seria como um grupo de pessoas cegas que não chegarão à cidade de seus sonhos sem um guia. Como se diz no Sutra Condensado da Perfeição da Sabedoria:

Se milhões de bilhões de pessoas cegas não estiverem acompanhadas por um guia que enxergue, e se elas não conhecerem a estrada, como elas poderão entrar na cidade? Sem a sabedoria discriminativa as cinco outras perfeições cegas não serão capazes de alcançar a iluminação.

Por outro lado, quando se possui sabedoria discriminativa, então será possível atingir o estado de onisciência porque, assim como um grupo de pessoas cegas que são conduzidas a uma cidade pela ajuda de um guia, o corpo completo da acumulação de virtudes – generosidade e assim por diante – foi levado ao caminho da iluminação. Como se afirma em Engajando-se no Caminho do Meio:

Assim como um grupo de pessoas cegas é facilmente conduzido ao lugar que desejam chegar com a ajuda de alguém que possua visão, então, da mesma forma, a sabedoria discriminativa guiará as outras qualidades cegas à vitória.

E o Sutra Condensado da Perfeição da Sabedoria afirma:

Tendo compreendido completamente a natureza dos fenômenos a partir da sabedoria discriminativa, avança-se perfeitamente para além dos três reinos.

Se este é o caso, então apenas sabedoria discriminativa deveria ser suficiente. Por que são necessários todos esses métodos de generosidade e assim por diante? Nenhum deles é suficiente isoladamente. A Lâmpada para o Caminho da Iluminação afirma: Assim se diz, “Método sem sabedoria discriminativa e Sabedoria discriminativa sem método são prisões.” Portanto, não abandone qualquer um deles. Onde, então, onde ficaremos presos se praticarmos método e sabedoria discriminativa separadamente? Se um bodisatva se apoiar apenas na sabedoria discriminativa sem método, ele cairá na paz unilateral do nirvana afirmada pelos Ouvintes e ficará preso nesse estado, incapaz de alcançar o nirvana livre de fixações. Além disso, ele ficará preso neste estado permanentemente, segundo afirmações do sistema de três veículos. Mesmo de acordo com as afirmações do sistema de veículo único, ele ficará preso por 84.000 kalpas. Se ele se apoiar apenas no método, sem sabedoria discriminativa, ele não atravessará para além do estado de uma pessoa infantil e comum. Portanto, continuará preso no samsara. O Sutra Requisitado por Aksayamati afirma:

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Uma vez que a prática da sabedoria discriminativa sem método irá prendê-lo no nirvana, e a prática do método sem sabedoria discriminativa irá prendê-lo no samsara, então é necessário unificar as duas práticas.

O Sutra Apresentado por Vimalakirti afirma: Qual é a prisão dos bodisatvas e qual é sua liberação? Sabedoria discriminativa não apoiada por método é uma prisão; Sabedoria discriminativa apoiada por método é liberação. Método não apoiado por sabedoria discriminativa é uma prisão; Método apoiado por sabedoria discriminativa é liberação. Portanto, a prática de método ou sabedoria discriminativa separadamente é uma atividade de Mara. O Sutra Requisitado pelo Rei Naga Sagara afirma: Existem duas atividades de Mara: método separado de sabedoria discriminativa E sabedoria discriminativa separada de método. Elas devem ser abandonadas Ao reconhecê-las como atividades de Mara. Por exemplo, assim como precisamos de olhos para discernir a estrada e de pés para cruzar as distâncias que nos separam da cidadela que desejamos alcançar, da mesma forma, para atingir a cidadela do nirvana livre de fixações, precisamos unificar o olho da sabedoria discriminativa com os pés do método. O Sutra do Monte Gaya afirma: Em resumo, o caminho Mahayana tem duas vias: método e sabedoria discriminativa. Além do mais, a sabedoria discriminativa não surge por si só. Por exemplo, se alguém acendesse um fogo com uma pequena quantidade de madeira uma fogueira grande e duradoura não surgiria. Mas, se você fizer um fogo com uma grande quantidade de madeira seca, ele se tornará uma grande e duradoura fogueira e não será possível extingui-lo mesmo se você quiser. Da mesma forma, não surgirá grande sabedoria discriminativa se houver apenas uma pequena acumulação de mérito. Mas, por outro lado, grande sabedoria discriminativa surgirá onde houver uma grande acumulação de méritos da generosidade, ética moral e assim por diante, e ela queimará todos os obscurecimentos. Portanto, para obter sabedoria discriminativa é preciso apoiar-se na generosidade e assim por diante. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma: Todos esse ramos1 foram ensinados pelo Buda com o objetivo da sabedoria. II. Definição. A definição de sabedoria discriminativa é a discriminação perfeita e completa de todos os fenômenos. A Coleção do Abhidarma afirma: O que é sabedoria discriminativa? É a perfeita e completa discriminação dos fenômenos. III. Classificação. O comentário ao Ornamento dos Sutras Mahayana lista três tipos: A) Sabedoria discriminativa mundana, B) Sabedoria discriminativa supramundana inferior e C) Sabedoria discriminativa supramundana superior. IV. Características de Cada Classificação. A) Sabedoria discriminativa mundana. O estudo da medicina e da cura, da lógica, da linguística e o estudo das artes – a sabedoria discriminativa que surge a partir destes quatro é chamada de sabedoria discriminativa mundana. B) Sabedoria discriminativa supramundana inferior. A sabedoria discriminativa supramundana

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inferior surge ao ouvir, refletir e meditar sobre os ensinamentos dos Ouvintes e Realizadores Solitários. É a realização de que os agregados aflitos são impuros, da natureza do sofrimento, impermanentes e destituídos de identidade. C) Sabedoria discriminativa supramundana superior. A sabedoria discriminativa supramundana superior surge ao ouvir, refletir e meditar no caminho Mahayana. É a realização de que todos os fenômenos são, por natureza, vazios, não-nascidos, sem fundação e sem raízes. A Perfeição da Sabedoria em 700 Linhas afirma: A realização de que todos os fenômenos são não-nascidos –

Essa é a perfeição da sabedoria discriminativa. E o Sutra Condensado da Perfeição da Sabedoria coloca:

Entender completamente que todos os fenômenos não possuem qualquer existência inerente é a prática suprema da perfeição da sabedoria discriminativa.

E também a Lâmpada para o Caminho da Iluminação afirma:

Aquilo que se denomina sabedoria discriminativa é completamente explicado como surgindo da realização da vacuidade da existência inerente, que é a realização de que os agregados, elementos constituintes e fontes são destituídos de nascimento.

V. Aquilo que Deve Ser Compreendido. Dentre os três tipos de sabedoria discriminativa a sabedoria supramundana superior deve ser estudada. Ela será explicada em seis tópicos: A) A refutação da fixação à existência das coisas, B) a refutação da fixação à inexistência das coisas, C) a falácia da fixação à inexistência, D) a falácia de ambas as fixações, E) o caminho que leva à liberação e F) nirvana, a natureza da liberação. A) Primeiro, a refutação da fixação à existência das coisas. Na Lâmpada para o Caminho da Iluminação, Atisha coloca: Não é lógico que algo que já exista venha a surgir.

E aquilo que não existe é como uma flor dos céus2. E assim por diante, como é analisado através de tais grandiosos raciocínios. Se isto for explicado de acordo com o Lam-rim, a existência e a fixação a ela podem ser categorizadas em duas “identidades” e ambas são, por natureza, vazias. Quais, então, são essas duas identidades ou “mentes”3? Elas são denominadas de “identidade individual” e “identidade dos fenômenos”. O que é a identidade individual ou mente? Apesar de existirem muitos sistemas de explicação sobre esse assunto, na verdade uma pessoa é a combinação da consciência e da continuidade dos agregados aflitos, sempre saltitantes, flutuantes e imprudentes. Pedaços de um Sutra afirma: Esse continuum é chamado de “pessoa”, ou em outras palavras,

É apenas imprudência e flutuação. A fixação a esta pessoa como sendo permanente e única leva ao apego e ao agarrar-se a ela como “eu” ou “identidade”. Isso é que deve ser compreendido como a identidade da pessoa ou mente. As emoções aflitivas são produzidas por essa identidade. O carma4 é produzido pelas emoções aflitivas. O sofrimento é produzido por este carma. Portanto, a raiz de todo o sofrimento e falhas é a identidade ou mente. O Comentário sobre a Cognição Válida diz:

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Se o eu existe, então conhecemos o outro. A partir de eu e outro surgem apego e aversão. De sua completa interação todos os conflitos se manifestam. Agora, o que é a identidade dos fenômenos? Deve-se entender que os fenômenos são os objetos de fixação externa e a mente de fixação interna5. Por que eles são chamados de “fenômenos”? Por portarem suas próprias características. Pedaços de um Sutra afirma: Aquilo que porta suas próprias características é chamado de fenômeno. A identidade dos fenômenos consiste nestes dois itens: fixação e apego – tomando-os como existentes e apegando-se a eles.

A explicação de como as duas identidades são, por natureza, vazias: Primeiro, a refutação da identidade pessoal. O Acharya Nagarjuna afirma na Guirlanda de Joias

Preciosas: Afirmar que “eu” e “meu” existem é contrário ao significado último. O significado aqui é de que o eu não existe de modo absoluto. Se o eu ou mente existissem de forma absoluta, então quando a mente alcançasse o insight da verdade o eu deveria existir. Entretanto, quando a mente atinge o insight da natureza essencial da verdade, o eu não está lá; portanto, o eu não existe. A Guirlanda de Joias Preciosas afirma:

Portanto, quando alguém compreende completamente “como as coisas são” de Forma perfeita, os dois não surgem.

“Compreender completamente como as coisas são” significa enxergar a verdade. “Os dois não surgem” significa o não-surgimento do apego a “eu” e “meu”. Além do mais, se a identidade ou mente existe, então investigue se ela surge de si mesma, de outro, de ambos ou dos três tempos. Ela não surge de si mesma, pois ou a identidade já existe ou ela ainda não existe. Se ela ainda não existe, então ela não pode se tornar uma causa para produzir a si mesma. Se ela já existe, então não pode produzir seu próprio resultado. Assim, há uma contradição em afirmar que a identidade produz a si mesma. Ela também não surge a partir de um outro, porque este outro não é uma causa. Como pode ele não ser uma causa? Uma causa deve estar relacionada a um resultado. Até que surja um resultado não é possível que haja uma causa. Quando não há uma causa, não há um resultado, conforme demonstrado anteriormente6. A identidade também não surge de ambos. Ambos os argumentos são falhos, como explicado antes. A identidade também não surge dos três tempos. Ela não surge do passado porque o passado é como uma semente podre, seu poder germinativo foi exaurido. Ela não surge do futuro, visto que isso seria como o filho de uma mulher estéril. Ela também não surge do presente, visto que não seria apropriado para o produtor e o que é produzido surgirem simultaneamente. Portanto, a Guirlanda de Joias Preciosas afirma:

Visto que a identidade pessoal não surge de si mesma, dos outros, de ambos ou dos três tempos, então a fixação a esta identidade se extingue.

“Não surge” significa que ela não é produzida. Ou pode-se entender da seguinte forma: investigue se isto que é chamado de “identidade pessoal” existe no corpo, na mente ou em um nome. Este corpo possui a natureza dos quatro elementos. A solidez do corpo é a terra, sua umidade é a água, seu calor é o fogo e sua respiração e mobilidade são o ar. Assim, a identidade não está nestes quatro elementos, bem como a mente não se encontra nos quatro elementos externos da terra, água, fogo e ar. A identidade se encontra na mente? Não, porque a mente não existe em lugar algum, não tendo sido vista por si mesmo ou pelos outros. Visto que a própria mente não existe, a identidade não pode ser encontrada nela.

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A identidade se encontra em um nome? Não, porque um nome é apenas algo temporariamente designado. Ele não se encontra na matéria nem possui qualquer relação com a identidade. Portanto, por estas três razões, a identidade pessoal ou mente foi estabelecida como não-existente. Existem dois tópicos que refutam a identidade dos fenômenos. Será demonstrado que o objeto de fixação externa não existe e que a mente de fixação interna também não existe. A explicação do primeiro. Alguns afirmam que os objetos externos são substancialmente existentes. Os Vaibhasika dizem que as menores partículas, por sua própria natureza, existem fisicamente como materiais que são redondos, unitários e sem divisões. Estas partículas estão circundadas por outras pequenas partículas, mas com um espaço entre elas. Porém, elas parecem estar juntas, como a grama em um campo viçoso ou a cauda de um iaque7. Elas não se afastam, mas são mantidas juntas pelo carma dos seres sencientes. Assim foi afirmado. O sistema Sautrantika afirma que apesar de existirem partículas, elas circundam umas às outras sem espaços entre elas, mas sem se tocarem. Apesar de eles fazerem tais afirmações, nenhum está correto, pois as partículas existem ou como unidades ou como muitas. Se uma partícula é unitária, então ela deve ser divisível em partes ou não. Se ela pode ser dividida em partes, então haverá uma parte leste, oeste, sul, norte, superior e inferior. Visto que ela agora se transformou em seis partes, a afirmação de que a partícula é unitária foi refutada. Se uma partícula não puder ser dividida em partes, então todas as coisas possuiriam a natureza de uma única partícula, o que obviamente não é o caso. Sobre esse assunto, os Vinte Versos colocam: Se seis partes são aplicadas a uma única partícula A menor partícula se torna seis. Se seis são encontradas em um mesmo lugar, Esta aglomeração se torna o mesmo que uma única partícula. Agora, sobre a existência de muitas partículas. Se uma partícula existisse, então seria adequado dizer que muitas, sendo a acumulação de unidades, também poderiam existir. Mas, como não se pode demonstrar a existência de uma única partícula, muitas também não podem existir. Portanto, visto que a menor partícula não existe, os objetos externos, sendo da natureza desta partícula, também são não-existentes. Então, o que são estas coisas existentes que aparecem à nossa percepção? O surgimento de objetos externos se deve à delusão da mente. Visto que a mente surge desta forma, existem as aparências8. Como podemos compreender que este é o caso? Podemos entender através das escrituras, da lógica e de comparações. Primeiro, através das escrituras. O Sutra da Guirlanda de Budas afirma: Ó filhos do Vitorioso! Os três reinos são apenas a mente. E também, o Sutra da Jornada a Lanka afirma: A mente que é agitada pelas propensões habituais Surge como a aparência dos objetos. Os objetos não existem de forma real, é a mente. É um erro ver os objetos como externos. Segundo, raciocínio. O raciocínio nos convence de que o surgimento dos objetos externos é apenas a complicação de uma mente confusa, pois aquilo que surge e permanece não possui existência real. É como chifres em um homem ou uma árvore visualizada na meditação. Da mesma forma, porque aquilo que é não aparece9, devido às alterações10 e devido às diferentes projeções nas aparências11, portanto, esses surgimentos são apenas confusão. Terceiro, comparações. Como comparações, as manifestações são como sonhos, ilusões de uma apresentação mágica e assim por diante. Assim foi demonstrado que os objetos de fixação externa não possuem existência. Explicação do segundo ponto, de que a mente de fixação interna é não-existente. Alguns afirmam (Realizadores Solitários e a Escola Yogacara) que a mente de fixação interna realmente existe de forma autoconsciente e autoiluminadora. Apesar deles assim afirmarem, existem três razões para sua não-

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existência: 1) A mente não existe quando analisada momento a momento. 2) A mente não existe, visto que não foi encontrada por ninguém. 3) Visto que não há objetos, a mente não existe. 1) Primeiro. Essa mente autoconsciente e autoiluminadora é encontrada em um momento ou em muitos? Se for em um momento, então este momento ou é divisível nos três tempos ou não. Se ele é divisível nos três tempos, então este momento não existe, visto que se transformou em muitos. A Guirlanda de Joias Preciosas afirma: Assim como um momento apresenta um final, Da mesma forma deveríamos investigar seu início e meio, também. Portanto, visto que um momento se tornou três, O mundo não permanece em um único momento. Entretanto, se um momento não puder ser dividido nos três tempos, então esse momento se torna não-existente. Portanto, visto que um momento não existe, a mente também é não-existente. Se for afirmado que existem muitos momentos: se um único momento existisse, então estaria correto dizer que muitos momentos existem pela acumulação de unidades. Mas, visto que um único momento não existe, muitos momentos também são não-existentes. E, visto que muitos momentos são não-existentes, a mente também é não-existente. 2) Explicando o segundo ponto, de que a mente não foi encontrada por ninguém. Procurem por esta, assim chamada, mente e veja se ela se encontra fora do corpo, dentro ou na interface, acima ou abaixo. Investiguem bem que tipo de forma ou cor ela possui. Desta forma, procurem até alcançarem certeza. Busquem de acordo com as instruções de seus professores sobre como variar a observação e assim por diante. Se você não a encontrou ou a enxergou através de todos os meios de pesquisa, então não há nenhum sinal de algo a ser visto, nem uma cor. Não é que você não tenha encontrado algo que existe. Aquele que procura, o objeto procurado e a busca estão além dos objetos do intelecto. Eles estão além de expressão, pensamento e conhecimento. Portanto, ela não é encontrada, mesmo procurando em todos os lugares. O Sutra Requisitado por Kashyapa afirma:

Kashyapa, a mente não é encontrada dentro, fora ou na interface. Kashyapa, a mente não pode ser investigada, não pode ser mostrada, não tem uma base, não aparece, não pode ser percebida e é livre de fixações. Kashyapa, a mente não foi vista, não é vista e não será vista por todos os budas.

E também, do Sutra Abraçando Plenamente o Darma Sagrado: Portanto, a mente é como palha e enchimento. Tendo compreendido completamente que a mente não possui existência, Não se agarre a ela como se possuísse algum núcleo, Pois ela é vazia por natureza. Fenômenos vazios por natureza Não existem. Foi demonstrado que todos os fenômenos adventícios Possuem esta natureza. Aquele que é sábio aniquila brilhantemente os dois extremos E treina no caminho do meio. O caminho para a iluminação é entender que os fenômenos são vazios por natureza. Isto também foi demonstrado por mim. O Sutra do Darmadatu Inabalável diz: Todos os fenômenos são inerentemente não-nascidos, Sem fixações por natureza, Livres de todas as limitações das atividades e da ação

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E estão além dos objetos do pensamento conceitual ou não-conceitual. Portanto, visto que a mente não foi encontrada por ninguém não há benefício em dizer que ela é autoconsciente e autoiluminadora. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma: Quando ela não é vista por ninguém, Então se ela é iluminadora ou não iluminadora É como a pose graciosa do filho de uma mulher estéril. Até mesmo falar sobre isso é sem sentido. E Tilopa diz: Kyeho! Esta é a sabedoria primordial, além do caminho da fala e Não é um objeto da mente. 3) Explicação do terceiro. Conforme explicado anteriormente, visto que os objetos externos, tais como formas e assim por diante, não possuem existência, a mente de fixação interna também não existe. O Capítulo de um Sutra Demonstrando a Natureza Indivisível do Darmadatu afirma:

Perceba passo a passo se esta mente é azul, amarela, vermelha, branca, marrom ou da cor do cristal. Ela é pura ou impura? Ela pode ser chamada de permanente ou impermanente? Ela possui uma forma ou não? Visto que a mente não possui forma, não pode ser mostrada, não aparece, é não-obstruída, é imperceptível, não se encontra dentro, fora ou na interface, ela é completamente pura, totalmente não-existente. Ela não pode ser liberada por ser o elemento que tudo permeia.

Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas diz: Quando não há nada a ser conhecido, o que é chamado de “conhecendo”? Como, então, pode-se dizer “conheço”? E: Visto que o conhecimento não existe É certo que não há consciência. Isto demonstra que a mente de fixação interna não existe.

Desta forma, a fixação à existência das coisas foi refutada. B) Segundo, a refutação da fixação à inexistência das coisas. Visto que as duas identidades não existem sob qualquer forma de coisas existentes, poder-se-ia dizer que elas, portanto, são inexistentes. Entretanto, elas também não são inexistentes. Como é possível? Porque as duas identidades ou mentes só poderiam ser ditas inexistentes se elas tivessem anteriormente existido e depois cessado. Porém, visto que os fenômenos chamados de “duas identidades” ou “mentes” desde o início nunca possuíram existência inerente, eles estão além dos extremos de existência e inexistência. Saraha disse: Fixar-se à existência é como o gado, Fixar-se à inexistência é ainda mais estúpido.12

O Sutra da Jornada a Lanka afirma: As coisas externas não existem e também não inexistem. A mente, também, é completamente livre de fixações. Abandonar todas as visões é a característica do não-surgimento. E também, a Guirlanda de Joias Preciosas coloca:

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Quando a existência não pode ser encontrada, Então como poderia haver a inexistência? C) A explicação do terceiro, a falácia da fixação à inexistência. Neste caso, se a fixação à existência dos objetos é a raiz do samsara, então, ao acreditar na inexistência não seria alcançada a liberação do samsara? Esta última visão é uma falácia ainda maior que a anterior. Como Saraha disse: Fixar-se à existência é como o gado, Fixar-se à inexistência é ainda mais estúpido.12

O Sutra do Monte de Joias afirma: Kashyapa, é melhor permanecer com uma visão da existência inerente Das pessoas tão grande quanto uma montanha Do que assumir a visão da vacuidade. Também foi dito: Através do engano de sustentar a visão da vacuidade, Aqueles de faculdades mentais inferiores são prejudicados. O Tratado Fundamental do Caminho do Meio afirma: Diz-se que não é possível curar aqueles que Sustentam a visão da vacuidade. Por que eles são incuráveis? Por exemplo, se dermos um purgativo a um homem doente, quando a doença e o remédio tiverem sido ambos eliminados, o paciente estará curado. Entretanto, se a doença foi tratada, mas o remédio não foi digerido, o paciente não será curado e irá morrer. Da mesma forma, a visão sobre a existência pode ser dissipada pela meditação sobre a vacuidade. Mas, ao adotar a visão da vacuidade e se apegar a ela, a pessoa chegará a nada e terá que se deparar com os reinos inferiores. A Guirlanda de Joias Preciosas afirma: Aquele que crê na existência migrará para um reino de felicidade, Enquanto que aquele que acredita na inexistência migrará para os reinos inferiores. Comparada com a anterior, esta visão é uma falácia ainda maior. D) A explicação do quarto, a falácia de ambas as fixações. Na verdade, a fixação à existência e à inexistência são falácias por caírem nos extremos do eternalismo e do niilismo. O Tratado Fundamental sobre o Caminho do Meio afirma: Acreditar na existência é a visão do eternalismo, Acreditar na inexistência é a visão do niilismo. Cair nas visões do eternalismo ou do niilismo é ignorância. Os ignorantes não serão liberados do samsara. E também, a Guirlanda de Joias Preciosas diz: Fixar-se ao mundo, Que é como uma miragem, Dizendo que ele existe ou não existe é ignorância. Não será possível atingir a liberação quando se é ignorante. E) A explicação do quinto, o caminho que conduz à liberação. Então, de que forma a liberação é atingida? A liberação surgirá a partir do caminho que não cai nos dois extremos. A Guirlanda de Joias Preciosas afirma:

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Entender completamente da forma perfeita13

Trará a liberação ao não permanecer em nenhum dos dois extremos.14

E: Assim, não confiar em nenhum dos dois extremos é a liberação. Portanto, o Tratado Fundamental sobre o Caminho do Meio afirma: Por esta razão, o sábio não permanece Na existência ou na inexistência. Se alguém se perguntar o que é o caminho do meio, que evita os dois extremos, o Sutra do Monte de Joias afirma:

Kashyapa, se você perguntar qual é a forma correta para um bodisatva aplicar o Darma, ela é a seguinte: é o Caminho do Meio que examina perfeitamente todo e qualquer fenômeno. Kashyapa, se você perguntar o que é o Caminho do Meio, esse exame de todo e qualquer fenômeno, aplique-se da mesma forma. Kashyapa, a permanência é um extremo, a impermanência é outro extremo. O que é chamado de o meio entre estes dois extremos não pode ser investigado, não pode ser demonstrado, não é aparente, é imperceptível. Kashyapa, aquilo que é chamado de Caminho do Meio é o exame individual e perfeito de todo e qualquer fenômeno. Kashyapa, aquilo que é chamado de “eu” é um extremo, aquilo que é chamado de “não-eu” é outro extremo. Da mesma forma, Kashyapa, aquilo que é chamado de “samsara” é um extremo e “nirvana” é o outro extremo. Aquilo que é chamado de meio entre estes dois extremos não pode ser investigado, não pode ser demonstrado, não é aparente, é imperceptível. Kashyapa, aquilo que é conhecido como Caminho do Meio é o exame perfeito e individual de todo e qualquer fenômeno.

Shantideva diz: A mente não se encontra dentro ou fora, Nem pode ser encontrada em qualquer outro lugar. Não se encontra misturada com coisa alguma, nem está separada. Como a mente não é coisa alguma, A natureza dos seres sencientes é o nirvana. Portanto, não manter concepções sobre os dois extremos é o que se chama de caminho do meio. Entretanto, o caminho do meio não pode ser examinado. Na verdade, ele está livre de ser tomado como um objeto, ele está além da conceitualização. Atisha afirma: Além do mais, a mente do passado já cessou e pereceu.

A mente do futuro não nasceu nem surgiu. A mente do presente é muito difícil de examinar Por não possuir cor ou forma como o céu.

O Ornamento da Clara Realização afirma: Não está deste lado ou do outro lado, Nem entre os dois. Por ser a mesma em todos os tempos, Ela é reconhecida como a perfeição da sabedoria discriminativa. F) A explicação do sexto, a natureza da liberação é a natureza do nirvana. Se todos os fenômenos do

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samsara não são existentes nem inexistentes, então o nirvana é algo existente ou inexistente? Algumas pessoas que olham de forma objetiva para essa questão, pensam que o nirvana é algo existente, mas não é assim. A Guirlanda de Joias Preciosas afirma: Se o nirvana não é inexistente, Então como poderia ser existente? Se o nirvana fosse algo existente, então teria que ser composto. Se ele fosse composto, então, no final, ele deveria desaparecer. O Tratado sobre o Caminho do Meio afirma: Se o nirvana fosse algo existente, então teria que ser composto. E assim por diante. Mas ele também não é algo inexistente. É afirmado no mesmo texto: Ele não é algo inexistente. O que é ele, então? É a completa exaustão de todos os pensamentos que se fixam à existência e à inexistência. O nirvana está além da conceitualização e é inexprimível. A Guirlanda de Joias Preciosas afirma: A exaustão da fixação à existência e à inexistência É o que se chama de nirvana. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma: Quando existência e inexistência deixam de se apresentar à mente, Então não há objeto alternativo. Portanto, a mente está completamente pacificada, sem projeções. O Sutra Requisitado pelo Nobre Brahma coloca: Aquilo que é chamado de nirvana completo é a pacificação total de todas As percepções e a liberação de todos os movimentos. O Sutra do Lótus Branco do Sublime Darma diz: Kashyapa, a realização da igualdade de todos os fenômenos é o nirvana. Portanto, o nirvana é a simples pacificação do engajamento em pensamentos conceituais. Ele não existe como qualquer tipo de fenômeno – surgimento, cessação, abandono, realização etc. Assim, o Tratado Fundamental sobre o Caminho do Meio afirma: Sem abandono, sem realização, Sem aniquilação, sem permanência, Sem cessação, sem surgimento, Assim é o nirvana. Visto que ele não possui surgimento, cessação, abandono, realização e assim por diante, o nirvana não é criado por ninguém, não é planejado e não é uma transformação. O Sutra do Precioso Céu afirma: Não há nada a remover. Não há a menor coisa a acrescentar. É a visão perfeita do significado perfeito. Quando perfeitamente visto, encontra-se a liberação completa. Apesar de existirem métodos para compreender a sabedoria discriminativa, ou a própria mente15, estes surgem do ponto de vista dos pensamentos conceituais; o significado real da sabedoria discriminativa ou mente está além do que pode ser conhecido ou expresso objetivamente. O Sutra Requisitado por

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Suvikrantivikrama diz: A perfeição da sabedoria discriminativa não é exprimível de qualquer forma. Está além de todas as palavras. O Elogio à Mãe por Rahula afirma: Homenagem à Mãe dos Vitoriosos dos três tempos – indescritível, inimaginável, Inexprimível perfeição da sabedoria discriminativa, não-nascida, incessante, Da natureza do espaço, sabedoria primordial autoconsciente! Isto conclui a explicação sobre o que deveria ser compreendido sobre a sabedoria discriminativa. VI. O Que Deve Ser Praticado no que se refere à mente ou sabedoria discriminativa. Se todos os fenômenos são vazios você poderia se perguntar se é necessário praticar aquilo que você compreendeu. Por exemplo, mesmo que a pepita de prata possua a natureza da prata, até que ela seja derretida a prata não aparecerá. Se desejarmos prata derretida, precisamos derreter a pepita. Da mesma forma, todos os fenômenos são, desde o início, da natureza da vacuidade, livres de todas as elaborações. Mas, visto que há o surgimento das múltiplas coisas para os seres sencientes e a experiência dos diversos sofrimentos, esta sabedoria deve ser compreendida e praticada. Portanto, deve-se compreender conforme explicado anteriormente. Em relação à prática existem quatro estágios: as preliminares, o equilíbrio meditativo, o estágio pós-meditativo e os sinais da prática. O passo preliminar é posicionar a mente em seu estado natural. Como ela é estabilizada: a Perfeição da Sabedoria em 700 Linhas diz:

Um filho ou uma filha de nobre família deveria tomar um assento em isolamento, deveria deliciar-se em um lugar livre de perturbações e, então, sentar-se na postura do lótus completo, sem deixar a mente se preocupar com sinais e assim por diante.

Deve-se prosseguir de acordo com as preliminares do Mahamudra. Então, para todos os métodos de equilíbrio meditativo deve-se, também, treinar de acordo com as instruções do Mahamudra. Deve-se posicionar a mente livre de esforços, sem qualquer conceitualização sobre existência, inexistência, aceitação ou rejeição. Deixe a mente livre de esforços. Em relação a isto, Tilopa disse: Não pondere, pense ou reconheça. Não medite ou examine. Deixe a mente para si mesma. E também, em relação a como descansar uma mente fatigada: Ouça, filho. Você está conceitualizado. Aqui o eu não está nem preso nem liberado. Portanto, Kyeho! Descanse de sua fadiga livremente, Sem dispersões ou complicações. Nagarjuna também colocou: Assim como a mente de um elefante fica tranquila após ter sido domada, Ao cessarem todas as idas e vindas permanece-se naturalmente em relaxamento. Compreendendo isto, de que Darma eu necessito? E ele também disse:

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Não conceitualize sobre qualquer lugar e não pense em coisa alguma. Não faça construções artificiais; repouse naturalmente e sem esforços. O estado descomplicado é um tesouro natural inato, O local para onde todos os Vitoriosos dos três tempos se foram. Shavari afirma: Não aponte falhas em nada, Não pratique coisa alguma, Não deseje o calor, sinais e assim por diante – Apesar de a não-meditação ter sido, realmente, ensinada, Não caia sob o poder da preguiça e da indiferença. Pratique continuamente a atenção mental. Realizando o Significado da Meditação diz: No momento da meditação, não medite sobre coisa alguma. O que é chamado de “meditação” é apenas uma designação. Saraha também disse: Se houver qualquer tipo de apego, libere-o. Onde houver realização, isto é tudo o que há. Além disso, não há nada a ser compreendido por ninguém. E Atisha afirmou: É profunda e livre de elaborações. É luminosa, não-criada, Não-nascida, incessante e pura desde o início. A esfera do Darma que tudo permeia, que possui a natureza do nirvana, Sem centro ou fronteiras, Não pode ser conceitualizada pelo olho sutil da inteligência, Portanto, deveria ser vista sem negligência, excitação ou obscurecimento. E: A esfera do Darma que tudo permeia é livre de elaborações. Posicione sua mente neste estado, livre de elaborações. Posicionar a mente neste estado é o método inequívoco para a prática da sabedoria discriminativa. Além disso, a Perfeição da Sabedoria em 700 Linhas afirma:

Onde quer que não haja aceitação, fixação ou rejeição dos fenômenos, isto é meditar na perfeição da sabedoria discriminativa. Onde quer que não haja fixação alguma, isto é meditar na perfeição da sabedoria discriminativa. Onde quer que não haja conceitualização ou objetificação, isto é meditar na perfeição da sabedoria discriminativa.

A Perfeição da Sabedoria em 8000 Linhas afirma:

Meditar sobre a perfeição da sabedoria discriminativa é não meditar sobre qualquer tipo de fenômeno.

E do mesmo sutra: Meditar sobre a perfeição da sabedoria discriminativa é como meditar sobre o céu.

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Se nos perguntarmos o que “meditar sobre o céu” quer dizer, o mesmo texto explica: O céu é livre de pensamentos conceituais; a perfeição da sabedoria discriminativa É livre de pensamentos conceituais. O Sutra Condensado da Perfeição da Sabedoria afirma: Não conceitualizar surgimento ou não-surgimento É a prática suprema da perfeição da sabedoria discriminativa. O Acharya Vagisvara também diz: Não pense sobre aquilo que pode ser pensado E não pense sobre aquilo que não pode ser pensado. Quando não se pensa nem sobre o que pode ser pensado nem sobre o que não Pode ser pensado, a vacuidade será enxergada. Se nos perguntarmos como a vacuidade pode ser enxergada, assim se diz no Sutra da Realização do Darmadatu: Quando a vacuidade é enxergada, não há visão. E: Ó Exaltado, não enxergar os fenômenos é enxergar perfeitamente. E: Não enxergar coisa alguma é enxergar a talidade. A Pequena Verdade do Caminho do Meio diz: Não enxergar é enxergar, como já foi dito nos profundos sutras. O Sutra Condensado da Perfeição da Sabedoria afirma:

Alguns seres sencientes dizem que enxergam o céu, porém, como o céu pode ser “visto”? Examinem o significado disto. Da mesma forma, o Tatágata mostrou que esta é a forma de enxergar todos os fenômenos.

No estado pós-meditativo tudo deveria ser visto como uma ilusão mágica e a acumulação de méritos, generosidade e assim por diante deveria ser reunida da melhor forma possível. O Sutra Condensado da Perfeição da Sabedoria afirma: Aquele que entende que os cinco agregados são como uma ilusão mágica – Não diferenciando a separação entre os agregados e a ilusão mágica – E cuja conduta é pacífica, Esse é alguém cuja ação é a suprema perfeição da sabedoria discriminativa. O Sutra Rei da Absorção Meditativa afirma: Os mágicos criam diversas formas Como cavalos, elefantes, carroças e assim por diante. Eles não se fixam ao que quer que surja. Da mesma forma, todos os fenômenos deveriam ser entendidos desta forma.

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Praticando a Talidade afirma: Mesmo que alguém possua a consciência da presença mental do pensamento Não-conceitual, a acumulação de méritos não deve ser descontinuada. Assim, quando alguém se habitua desta forma, o equilíbrio meditativo e o estado pós-meditativo se tornam indiferenciados e estarão livres de arrogância. Assim se diz: Não há a arrogância de que “Eu estou em equilíbrio meditativo” ou “eu me levanto dele.” Por quê? Porque a natureza dos fenômenos foi completamente realizada. Portanto, o mérito de permanecer apenas por um momento no estado da verdade absoluta, a vacuidade, a perfeição da sabedoria discriminativa, é ilimitadamente maior do que kalpas ouvindo ou lendo o Darma, ou praticando as raízes de virtude, generosidade e assim por diante. O Sutra Ensinando a Talidade afirma:

Sariputra, se alguém meditar na estabilização da talidade por apenas um estalar de dedos, mérito maior será gerado do que por alguém que ouve o Darma por um kalpa. Sariputra, desta forma deve-se sinceramente instruir os outros na estabilização meditativa da talidade. Sariputra, mesmo todos aqueles bodisatvas que foram anunciados como futuros budas permanecem, apenas, nesta estabilização meditativa.

O Sutra da Ampliação da Grande Realização afirma:

Entrar em tal concentração meditativa mesmo por um momento gera benefícios maiores do que proteger as vidas dos seres dos três reinos.

O Sutra da Grande Protuberância da Coroa afirma: Existe um mérito maior em meditar sobre o significado do Darma por um único dia Do que em ouvir e refletir sobre os ensinamentos por muitos kalpas.

Isto é assim porque nos afastamos do caminho de nascimento e morte desta forma. O Sutra do Ingresso na Fé afirma:

A meditação sobre a vacuidade por uma única sessão de um iogue tem um mérito maior do que reunir as acumulações de mérito, atavés da provisão16 de todos os seres sencientes dos três reinos por todas as suas vidas.

Se o significado da vacuidade não estiver na mente não poderemos atingir a liberação através de outras virtudes. O Sutra das Instruções sobre a Não-produção de Todos os Fenômenos afirma:

Apesar de sustentar o comportamento moral por um longo tempo e ter praticado concentração meditativa por milhões de kalpas, se este significado perfeito não for realizado, não será possível a liberação através desse ensinamento. Aquele que compreende os ensinamentos sobre a nulidade não se apegará a qualquer fenômeno.

O Sutra das Dez Rodas diz: Através da estabilização meditativa todas as dúvidas serão cortadas. Outros meios apenas não são capazes de fazer isto. Visto que a prática da estabilização meditativa é suprema, Aqueles que são sábios deveriam ser sinceros em sua prática. E, no mesmo texto:

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Existe um mérito maior em meditar por um único dia do que em kalpas

copiando,lendo, ouvindo ou recitando o Darma. Quando se detém o significado da vacuidade não há coisa alguma que não esteja incluída no caminho. Tomar refúgio está incluído, pois no Sutra Requisitado pelo Rei Naga Anavatapta é dito:

Um bodisatva sabe que todos os fenômenos não possuem identidades, seres sencientes, vida, pessoas, como o Tatágata, o perfeito não ver – não ser nascido, não ter características, não ser fenômenos – isto é tomar refúgio no Buda com uma mente livre de confusões. A assim chamada talidade dos fenômenos do Tatágata é a esfera do Darma que tudo permeia. Essa esfera do Darma que tudo permeia penetra todos os fenômenos. Portanto, ver isto é tomar refúgio no Darma com uma mente livre de confusões. Aquele que medita sobre a não-composta esfera do Darma que tudo permeia e se apoia no veículo não-composto dos Ouvintes e não está preocupado com a dualidade de compostos e não-compostos toma refúgio na sanga com uma mente livre de confusões.

O cultivo da bodicita também está incluído. O Sutra do Grande Desenvolvimento da Mente Iluminada diz:

Kashyapa, todos os fenômenos são como o espaço, sem características, são completa e pura clara luz desde o princípio. Isto é como se denomina o cultivo da bodicita.

Também se diz que a visualização das deidades e os mantras são completos quando a realização da vacuidade existe. O Tantra Hevajra diz: Não há nem meditação nem meditante, A deidade não existe e os mantras também não possuem existência. Na natureza livre de todas as elaborações Residem perfeitamente todas as deidades e seus mantras – Vairocana, Akshobya, Amogasidhi, Ratnasambava, Amitaba, Vajrasatva. O Uttaratantra da União dos Gloriosos e Grandiosos Budas com as Perfeitas Dakinis afirma: A realização não surgirá a partir de estátuas e assim por diante. Entretanto, quando se faz Um enérgico esforço na bodicita o iogue se tornará a deidade. O Grande e Secreto Yogatantra do Pico de Diamante diz:

A característica de todos os mantras é a mente de todos os budas, pois esse é o método para realizar a essência dos fenômenos. A característica dos mantras é explicada como sendo adequadamente detentora da esfera do Darma que tudo permeia.

Realizar rituais de oferenda de fogo também está incluído. O Tantra Rei do Néctar Secreto afirma:

Por que este é o ritual de oferenda de fogo? Ele é o ritual de oferenda de fogo porque queima o pensamento conceitual e concede a realização suprema. Queimar madeira e assim por diante não é o verdadeiro ritual de oferenda de fogo.

Até mesmo o caminho – as seis perfeições – está completo aqui. O Sutra da Absorção Meditativa Diamantina afirma:

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Quando alguém não se afasta da vacuidade as seis perfeições estão incluídas17. O Sutra Requisitado por Brahma Visesacinti afirma:

Não pensar é generosidade. Não manter diferenciações é ética moral. Não distinguir é paciência. A liberação da aceitação e da rejeição é perseverança. O desapego é concentração meditativa. Pensamento não-conceitual é sabedoria discriminativa.

O Sutra da Essência da Terra diz:

Os sábios que meditam sobre a vacuidade dos fenômenos não permanecem, nem dependem do mundo. Não se fixando a toda a existência, a ética moral perfeitamente virtuosa estará bem guardada.

O mesmo sutra afirma:

Todos os fenômenos possuem um único sabor, visto que a vacuidade não possui características. A mente nem se fixa nem está apegada a qualquer coisa. Esta paciência será grandemente benéfica. Os sábios, tendo começado a agir com perseverança, lançam todos os apegos à distância. Suas mentes nem se fixam nem estão apegadas a qualquer coisa. Isto é chamado de o campo perfeitamente meritório. Para o benefício e felicidade de todos os seres sencientes, a estabilização meditativa é praticada e o pesado fardo é abaixado. Remover completamente todas as aflições é a característica daqueles perfeitamente sábios.

Fazer prostrações também está incluído. O Sutra do Precioso Céu diz:

Assim como água derramada sobre água, manteiga misturada com manteiga, enxergar perfeitamente esta sabedoria primordial autoconsciente por si só já constitui fazer prostrações.

Isto também é fazer oferendas. O Sutra do Encontro do Pai e do Filho diz:

Aquele que confia na vacuidade dos fenômenos e aspira aos campos búdicos faz oferendas ao Professor. Essa é a oferenda insuperável.

O Tantra Rei do Néctar Secreto afirma:

A oferenda do significado absoluto satisfaz o Buda. Ele não se alegra com oferendas de incenso e assim por diante. Diminuir a rigidez da própria mente é a grande oferenda que agrada ao Buda.

E também, quando se possui esta visão, esta é a própria purificação das ações negativas. O Sutra do Carma Completamente Puro afirma:

Aquele que deseja confessar-se deveria sentar-se ereto e olhar para o significado último. Olhar adequadamente para a perfeição é o arrependimento supremo e o despertar.

A sustentação da ética moral e do samaya também estão incluídos neste significado. O Sutra Requisitado pelo Filho dos Deuses Susthitamati diz:

Aquele que não manifesta a arrogância de possuir votos ou não detém a ética moral do nirvana. Esta é a ética moral completamente pura.

E do Sutra das Dez Rodas:

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Mesmo que alguém permaneça em casa e não corte sua barba ou cabelo18, não vestindo os mantos do Darma e não tendo recebido os preceitos de ética moral, tal ser – detentor da verdade sublime dos fenômenos – deveria ser reconhecido como o monge supremo.

Ouvir, refletir e meditar também estão incluídos neste significado. O Tantra da Completa Não-Fixação afirma:

Aquele que comeu da comida da natureza descomplicada irá satisfazer todos os princípios, sem exceção. Os seres infantis, não tendo compreendido isto, se apoiam em palavras e termos. Todas as coisas são características da própria mente.

Saraha também disse:

Isto é ler, isto é compreender, isto é meditar, isto também é aprender a memorizar comentários. Não existe nenhuma visão que possa indicar este estado.

Tormas e rituais do Darma diários também estão incluídos neste significado. O Tantra Rei do Néctar Secreto coloca:

Oferendas, tormas e assim por diante, todas as diversas atividades – ao descobrir a talidade da mente, tudo está, definitivamente, incluído aqui.

Neste caso, se todos estes métodos estão incluídos na meditação sobre a essência da talidade da mente, por que aparecem ensinamentos sobre tantos métodos graduais? É para o propósito de guiar todos aqueles seres sencientes de pequena fortuna, que são ignorantes sobre a natureza última. O Ornamento da Sabedoria Crescente afirma:

Aquilo que foi explicado como a relação entre as causas e condições e, também, sobre entrar nos diferentes estágios – tudo isto foi ensinado como um método para aqueles que são ignorantes. Quando se possui este Darma espontaneamente estabelecido, por que seriam necessários métodos graduais?

O Surgimento da Visão da Felicidade Suprema afirma: Assim, a natureza do ser é como o céu.

Eu alcancei esta natureza que é permanentemente livre. O Sutra do Precioso Céu diz:

Enquanto alguém não tiver entrado no oceano da esfera do Darma que tudo permeia, ainda existem caminhos e níveis distintos. Tendo alcançado este oceano da esfera do Darma que tudo permeia, não há o menor nível ou caminho para cruzar.

Atisha coloca: Ao confiar persistentemente na mente em equilíbrio meditativo, Não é necessário seguir, como prática principal, as virtudes de corpo e mente. Os sinais da prática da sabedoria discriminativa são: haverá autodeterminação na virtude, as emoções aflitivas irão diminuir, a compaixão pelos seres sencientes surgirá, haverá esforço sincero na prática, todas as distrações serão abandonadas e não haverá fixação ou apego a esta vida. A Guirlanda de Joias Preciosas afirma: Ao meditar sobre a vacuidade haverá autodeterminação na virtude e assim por diante.

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VII. Resultados. Devem-se compreender os resultados da prática da sabedoria discriminativa nos estados convencional e absoluto. O resultado absoluto é a realização da iluminação insuperável. A Perfeição da Sabedoria em 700 Linhas afirma:

Manjushri, aquele que praticar a perfeição da sabedoria discriminativa, este grande bodisatva despertará rapidamente, completamente e perfeitamente na iluminação insuperável, completamente perfeita.

O resultado convencional será o surgimento de toda a felicidade e fortuna. O Sutra Condensado da Perfeição da Sabedoria afirma:

Sejam quais forem a felicidade e os confortos fenomênicos dos budas, bodisatvas, Ouvintes, Realizadores Solitários, todos os deuses e todos os migrantes, todos eles surgiram da perfeição da sabedoria discriminativa.

Este é o décimo sétimo capítulo, que explica a perfeição da sabedoria discriminativa, de

O Ornamento da Preciosa Liberação, A Joia que Realiza Desejos dos Nobres Ensinamentos.

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CAPÍTULO 18

Os Aspectos dos Cinco Caminhos Ao cultivar a mente da suprema iluminação e, então, treinar persistentemente, serão percorridos todos os caminhos e níveis de um bodisatva. Segue-se a explicação sobre o caminho. O sumário: O caminho da acumulação, o caminho da aplicação, O caminho do insight, o caminho da prática de meditação e O caminho da perfeição completa – Estes cinco compreendem a explicação sobre os caminhos. Os cinco caminhos de acordo com a Lâmpada para o Caminho da Iluminação: Inicialmente, o caminho estabelece uma fundação através do estudo e da prática do Darma para as pessoas de capacidade inferior e mediana. Então, cultiva-se a mente da bodicita de aspiração e de ação, reunindo-se as duas acumulações. Isso explica claramente o caminho da acumulação. “Então, gradualmente, alcança-se o calor1 e assim por diante” explica o caminho da aplicação. “Obtém-se o nível da Grande Alegria e assim por diante” explica os caminhos do insight, da meditação e da perfeição. I. Caminho da Acumulação. Aquele que pertence à família Mahayana cultiva bodicita, recebe ensinamentos dos mestres e esforça-se nas virtudes até que o calor da sabedoria seja atingido. Durante este tempo, o progresso é classificado em quatro estágios: compreensão, aspiração, aspiração superior e realização. Por que ele é chamado de caminho da acumulação? Porque, ao longo dele, é realizada a acumulação de virtudes para se tornar um vaso apropriado para a realização do calor e assim por diante. Portanto, ele é chamado de caminho da acumulação. Essas também são chamadas de virtudes-raiz que são similares à liberação. Neste estágio, doze dos ramos da iluminação são praticados: A) os quatro tipos de atenção mental, B) os quatro tipos de abandono perfeitos e C) os quatro fundamentos para os poderes milagrosos.

A) Os quatro tipos de atenção mental são: 1) sustentar a atenção mental do corpo, 2) sustentar a atenção mental das sensações, 3) sustentar a atenção mental da mente e 4) sustentar a atenção mental dos fenômenos. Esses quatro estágios ocorrem durante a etapa inferior do caminho da acumulação. B) Os quatro tipos de abandono perfeitos são: 1) abandonar as não-virtudes que foram criadas, 2) não permitir que novas não-virtudes surjam, 3) produzir os antídotos, as virtudes que ainda não surgiram e 4) permitir que as virtudes que surgiram cresçam. Esses quatro estágios ocorrem durante a etapa intermediária do caminho da acumulação. C) Os quatro fundamentos para os poderes milagrosos são: 1) absorção da forte aspiração, 2) absorção da perseverança,

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3) absorção da mente e 4) absorção da investigação. Esses quatro estágios ocorrem durante a etapa superior do caminho da acumulação. II. Caminho da Aplicação. O caminho da aplicação inicia após o aperfeiçoamento do caminho da acumulação. Ele possui quatro estágios, correspondendo à realização das Quatro Nobres Verdades: calor, calor máximo, paciência e realização do mais elevado darma mundano. Por que ele é chamado de caminho da aplicação? Porque aqui faz-se um esforço para realizar diretamente a verdade.

A. Cinco Poderes. Além do mais, durante os estágios do “calor” e “calor máximo”, cinco poderes2 são praticados: O poder da fé, O poder da perseverança, O poder da atenção mental, O poder da absorção e O poder da sabedoria discriminativa. B. Cinco Forças. Durante os estágios da “paciência” e “mais elevado darma mundano”, cinco forças3 são praticadas: A força da fé, A força da perseverança, A força da atenção mental, A força da absorção e A força da sabedoria discriminativa. III. Caminho do Insight. O caminho do insight inicia após o mais elevado darma mundano, consistindo na permanência serena como base para o insight especial focado nas Quatro Nobres Verdades. Quatro insights correspondem a cada uma das Quatro Nobres Verdades, totalizando dezesseis – oito aceitações pacientes e oito consciências; a aceitação paciente do darma que leva à consciência do sofrimento, a consciência do sofrimento propriamente dita, a paciência contínua que leva à sabedoria discriminativa que caracteriza a realização da Verdade do Sofrimento, a sabedoria discriminativa contínua subsequente à realização da Verdade do Sofrimento e assim por diante4. Por que é chamado de caminho do insight? Porque aqui as Quatro Nobres Verdades, que não eram enxergadas anteriormente, são realizadas. Neste estágio se dão sete dos ramos da iluminação: O ramo da perfeita atenção mental, O ramo da perfeita discriminação, O ramo da perfeita perseverança, O ramo da perfeita alegria, O ramo do perfeito relaxamento, O ramo da perfeita absorção e O ramo da perfeita equanimidade. IV. Caminho da Meditação. O caminho da prática meditativa inicia após a realização do insight especial. Ele possui duas divisões: A) O caminho da prática de meditação mundana e B) O caminho da prática de meditação além do mundo. A) Prática de meditação mundana. Consiste no primeiro, segundo, terceiro e quarto estágios meditativos; e nos estágios sem forma da ampliação da natureza infinita do espaço, da ampliação da infinitude da consciência, ampliação da nulidade de tudo e ampliação da nem percepção nem não-percepção. Existem três propósitos para praticar esta meditação: suprimir as emoções aflitivas que devem ser abandonadas no caminho da meditação; estabelecer as qualidades especiais das Quatro Incomensuráveis e assim por diante; criar a fundação para o caminho além do mundo.

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B) Prática de meditação além do mundo. Consiste no treinamento da permanência serena e insight especial, focando os dois tipos de sabedoria. Durante o caminho do insight havia duas “aceitações pacientes” e duas “consciências” correspondendo a cada uma das Quatro Nobres Verdades, totalizando dezesseis. As oito aceitações pacientes foram completadas no caminho do insight. A familiarização com as oito consciências ocorre no caminho da meditação, através da permanência serena e do insight especial relacionados às quatro concentrações meditativas e a três das absorções sem forma. Além disso, faz parte da consciência dos fenômenos familiarizar-se com a realização da talidade do Darma. Faz parte da consciência contínua familiarizar-se com a realização da sabedoria primordial. O estado de nem percepção nem não-percepção é apenas meditação mundana porque o movimento da sensação é tão obscuro. Por que ele é conhecido como caminho da meditação? Porque aqui ocorre a familiarização com as realizações que foram alcançadas no caminho do insight. Neste estágio se dão oito dos trinta e sete ramos da iluminação: Visão perfeita, Concepção perfeita, Fala perfeita, Ação perfeita, Modo de vida perfeito, Esforço perfeito, Atenção mental perfeita e Absorção perfeita5. V. Caminho da Perfeição. Após a absorção diamantina (vajra), é realizada a natureza da consciência, a consciência da exaustão e a consciência do não-nascimento. A absorção diamantina é o estado na fronteira com o caminho da meditação e está incluída nos estágios da preparação e livre de obstruções. Essa absorção é como um vajra por ser não-obstruída, dura, estável, com um único sabor e por permear tudo. “Não-obstruída” significa que ela não pode ser afetada pelas ações do mundo. “Dura” significa que ela não pode ser destruída pelos obscurecimentos. “Estável” significa que ela não pode ser abalada por pensamentos discursivos. “Com um só sabor” significa que todas as coisas possuem um só sabor6. “Que tudo permeia” significa que ela observa a talidade de todo o conhecimento. A “consciência da exaustão das causas” que surge após essa absorção é a sabedoria primordial que observa as Quatro Nobres Verdades pelo poder da exaustão de todas as causas. A “consciência do não-nascimento7” é a sabedoria primordial que observa as Quatro Nobres Verdades pelo poder do abandono do resultado, o sofrimento. Em outras palavras, essa sabedoria primordial observa claramente a exaustão das causas e a não-produção dos resultados e é chamada de “consciência da exaustão e da não-produção.” Por que ele é chamado de caminho da perfeição? Porque o treinamento é aperfeiçoado e a cidadela do nirvana é alcançada – é por isto que é chamado de caminho da perfeição. Neste estágio existem dez realizações do não-mais-treinar8: começando com a visão perfeita do não-mais-treinar até a absorção perfeita do não-mais-treinar e, então, a liberação completa do não-mais-treinar e a sabedoria primordial perfeita do não-mais-treinar – estas dez realizações do não-mais-treinar estão incluídas nos cinco skandas não-aflitos:

Fala perfeita do não-mais-treinar, ação perfeita e modo de vida perfeito estão no skanda da ética moral; Atenção mental perfeita do não-mais-treinar e absorção perfeita estão no skanda da absorção; Visão perfeita do não-mais-treinar, concepção perfeita e esforço perfeito estão no skanda da sabedoria discriminativa;

Liberação completa e perfeita está no skanda da liberação completa; Consciência perfeita está no skanda que enxerga a sabedoria primordial da liberação completa.

Este é o décimo oitavo capítulo,

que explica os aspectos dos cinco caminhos, de O Ornamento da Preciosa Liberação,

A Joia que Realiza Desejos dos Nobres Ensinamentos.

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CAPÍTULO 19

Os Dez Bhumis dos Bodisatvas Ao longo desses cinco caminhos existem quantos bhumis? Iniciante, ação dedicada, Então os dez bhumis dos bodisatvas e O estado búdico – Esses dez e três compreendem os bhumis. Todos esses bhumis são mencionados na Lâmpada para o Caminho da Iluminação: Atinge-se a Grande Alegria e os outros. “Grande Alegria” é o primeiro bhumi dos bodisatvas e “os outros” referem-se aos dois inferiores e aos dez bhumis superiores. O bhumi dos iniciantes é o caminho da acumulação porque ele amadurece a mente que, antes, era imatura. O bhumi da atividade dedicada é o caminho da aplicação porque aqui há uma forte dedicação ao significado da vacuidade. Durante este período, os fatores que se opõem às paramitas, como a mesquinharia e assim por diante, as emoções aflitivas que são abandonadas no caminho do insight e os obscurecimentos imputados ao conhecimento são suprimidos e não tornam a surgir. Os dez bhumis dos bodisatvas vão do bhumi da Grande Alegria até o décimo, Nuvem do Darma. O Sutra dos Dez Nobres Bhumis afirma:

Ó Filhos do Vitorioso! Esses são os dez bhumis dos bodisatvas: Grande Alegria ... e assim por diante.

O primeiro, Grande Alegria, é atingido no momento do caminho do insight quando é realizado o significado da vacuidade que tudo permeia. O segundo até o décimo ocorrem durante o caminho da meditação e são formas de familiarizar-se com a talidade que foi realizada no primeiro bhumi. Esses bhumis devem ser compreendidos de modo geral e em particular. Primeiro, a explicação geral apresenta três tópicos: I) A definição dos bhumis, II) Seu significado e III) A razão para sua classificação em dez níveis. I) Definição. A definição dos bhumis é: sabedoria discriminativa, apoiada pela absorção, através da qual o fluxo mental contínuo do praticante realiza diretamente a ausência de identidade de todos os fenômenos. II) Significado dos bhumis. Eles são chamados de “bhumis” porque cada um é uma fundação para suas respectivas qualidades, ou porque cada um se torna uma base para ir adiante, um após o outro. Comparações para o significado dos bhumis:

Como a sabedoria primordial está contida neles e suas qualidades são desfrutadas aqui, diz-se que os bhumis são como um curral para o gado; Como a sabedoria primordial avança através deles, diz-se que os bhumis são como uma pista de corrida; Como a sabedoria primordial é a base para o nascimento de todas as qualidades positivas, diz-se que os bhumis são como um campo.

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III. Razão para a classificação em dez níveis. Eles são classificados em dez devido aos diferentes treinamentos realizados em cada um. Na explicação em particular, existem nove tópicos para cada bhumi: 1) O nome característico, 2) o significado característico, 3) o treinamento característico, 4) a prática característica, 5) a purificação característica, 6) a realização característica, 7) o abandono característico, 8) o nascimento característico e 9) a habilidade característica. A) Primeiro Bhumi. 1) Nome característico. Grande Alegria. 2) Significado característico. Este bhumi é chamado de “Grande Alegria” porque aqueles que o alcançam experimentam grande alegria por se aproximarem da iluminação e beneficiarem os seres sencientes. O Ornamento dos Sutras Mahayana afirma: Aproximando-se da iluminação E vendo o benefício para os seres sencientes, Grande alegria é obtida, Portanto, ele é chamado de “Grande Alegria”. 3) Treinamento característico. Este bhumi é aperfeiçoado através do treinamento nos dez pontos, tais como a motivação pura com todos os seres e assim por diante. O Ornamento da Clara Realização afirma:

O primeiro bhumi é alcançado treinando-se completamente nos dez pontos e assim por diante1.

4) Prática característica. Os bodisatvas que se encontram neste bhumi praticam, de modo geral, todas as dez paramitas, mas com ênfase especial na perfeição da generosidade. Eles desejam satisfazer todos os seres sencientes. Assim, o Sutra dos Dez Nobres Bhumis diz:

Das dez paramitas, eles praticam principalmente a generosidade no primeiro bhumi, mas isto não significa que eles não pratiquem as outras.

5) Purificação característica. O Sutra dos Dez Nobres Bhumis diz:

Aqueles que se encontram no bhumi da Grande Alegria possuem uma grande visão. Através do poder da forte determinação eles podem ver muitos budas. Muitas centenas de budas! Muitos milhares de budas! Igualmente, eles podem ver muitas centenas de milhares de budas. Ao vê-los, com grande pensamento altruísta, eles fazem oferendas e os veneram. Da mesma forma, eles respeitam e oferecem serviço a todas as sangas. Esta raiz de virtude é dedicada para a iluminação. Eles recebem ensinamentos destes budas, contemplam os ensinamentos, guardam os ensinamentos, praticam persistentemente os ensinamentos e, então, amadurecem os seres sencientes através dos quatro métodos2.

Assim, por muitos kalpas eles veneram e seguem o Buda, o Darma e a sanga; eles amadurecem os

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seres sencientes e dedicam a virtude à iluminação insuperável. Através destas três causas a raiz de virtude destes bodisatvas se torna muito pura. Assim se diz:

Por exemplo, quando um artesão aquece o ouro este se torna mais puro, claro e maleável. Da mesma forma, a raiz de virtude de um bodisatva do primeiro bhumi se torna crescentemente pura, clara e maleável.

6) Realização característica. De modo geral, os bodisatvas nos dez bhumis têm a mesma realização enquanto se encontram no estado de absorção meditativa. Explicando individualmente, as diferenças ocorrem durante o estado pós-meditativo. No primeiro bhumi, é realizado o significado de entrar no darmadatu que tudo permeia. Assim, é alcançada a igualdade de si mesmo com os outros. Por isso, em Discriminando o Caminho do Meio dos Extremos é mencionado “o significado de permear em todas as direções.” 7) Abandono característico. Neste bhumi, em relação aos obscurecimentos das emoções aflitivas, todas as oitenta e duas emoções3 que devem ser purificadas no caminho do insight são purificadas sem deixar resquícios. Em relação aos três tipos de obscurecimentos imputados ao conhecimento, aqueles que são como a casca de uma árvore são removidos. Neste momento, o bodisatva está livre de cinco medos. O Sutra dos Dez Nobres Bhumis afirma:

Tão logo o bhumi da Grande Alegria é atingido, o bodisatva está livre do medo de não conseguir se sustentar, o medo de não ser elogiado, o medo da morte, o medo do renascimento em um reino inferior e o medo do palco em grandes aglomerações.

8) Nascimento característico. Um bodisatva que reside neste bhumi se tornará, usualmente, um monarca sobre Jambudvipa e dissipará o obscurecimento da mesquinharia em todos os seres sencientes. A Guirlanda de Joias Preciosas afirma: Através desta maturidade espiritual ele se tornará um monarca sobre Jambudvipa. O nascimento característico é ensinado aqui de forma muito geral. Para o benefício dos outros seres os bodisatvas podem se manifestar em diferentes formas, de acordo com as necessidades dos praticantes, como se conta na História das Vidas do Buda. 9) Habilidade característica. O Sutra dos Dez Nobres Bhumis afirma:

Um bodisatva que reside no bhumi da Grande Alegria faz grandes esforços por suas aspirações. Se ele for renunciante4, em um momento ele poderá entrar em cem diferentes tipos de absorção e verá cem budas, estando perfeitamente consciente de suas bênçãos. Ele poderá mover cem sistemas de mundos, poderá dirigir-se a cem diferentes campos búdicos, manifestará cem diferentes mundos e amadurecerá cem diferentes seres sencientes. Ele pode permanecer em equilíbrio por cem kalpas, poderá enxergar os cem kalpas anteriores e os cem kalpas futuros. Ele poderá abrir cem portas dos ensinamentos do Darma e manifestará cem corpos de emanação, cada um com um séquito de cem bodisatvas.

B) Segundo Bhumi. 1) Nome característico. Imaculado. 2) Significado característico. Este bhumi é chamado de “imaculado” porque aqueles que residem nele estão livres das máculas da imoralidade. Assim: Por estarem livres das máculas da imoralidade este bhumi é chamado de “imaculado”.

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3) Treinamento característico. Este bhumi é aperfeiçoado através dos oito treinamentos em ética moral, gratidão e assim por diante. Assim se diz: Ética moral, gratidão, paciência, Regozijo, compaixão e assim por diante5. 4) Prática característica. Um bodisatva que reside neste bhumi pratica, de modo geral, todas as dez paramitas, mas com ênfase especial na perfeição da ética moral. 5) Purificação característica. Conforme mencionado anteriormente, a raiz de virtude de um bodisatva é profundamente purificada pelas três causas. Assim é dito:

Por exemplo, o ouro que é banhado em ácido se torna ainda mais purificado. Da mesma forma, a raiz de virtude de um bodisatva do segundo bhumi se torna ainda mais pura, clara e maleável.

6) Realização característica. Neste bhumi os bodisatvas compreendem o significado do supremo darmadatu e pensam: “Devo fazer um grande esforço para purificar e realizar tudo”. Por isso é mencionado, “o significado do supremo”. 7) Abandono característico. Em relação aos obscurecimentos das emoções aflitivas do segundo ao décimo bhumis, das dezesseis emoções aflitivas que devem ser abandonadas no caminho da meditação6, todas as suas aparências óbvias são suprimidas, enquanto que suas sementes ainda não são abandonadas. Em relação aos obscurecimentos imputados ao conhecimento, aqueles que são como creme são removidos. 8) Nascimento característico. Um bodisatva que reside neste bhumi se tornará, normalmente, um monarca sobre os quatro continentes, e estabelecerá todos os seres sencientes nas dez virtudes, dissipando as dez não-virtudes. Assim se diz:

Através desta maturidade espiritual, ele se tornará um monarca, possuindo os sete itens gloriosos e preciosos para beneficiar os outros.

9) Habilidade característica. Em um instante, ele atingirá mil absorções e assim por diante7. C) Terceiro Bhumi. 1) Nome característico. Radiante. 2) Significado característico. Este bhumi é chamado de “radiante” porque nele as aparências do Darma e da absorção são claras e a luz do Darma irradia para os outros. Assim se diz: Como a grande luz do Darma se irradia, ele é chamado de “Radiante”. 3) Treinamento característico. Este bhumi é aperfeiçoado através do treinamento nos cinco tópicos, tais como ouvir insaciavelmente e assim por diante. Assim se diz: Ouvindo insaciavelmente o Darma e Ensinando o Darma sem considerações materiais e assim por diante8. 4) Prática característica. Um bodisatva que reside neste bhumi pratica, de modo geral, todas as dez paramitas, mas com ênfase especial na perfeição da paciência. 5) Purificação característica. Conforme mencionado anteriormente, a raiz de virtude de um bodisatva é profundamente purificada pelas três causas. Assim é dito:

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Por exemplo, um artesão pule o ouro em suas mãos e, sem perder qualquer parte do peso do ouro, purifica todas suas manchas. Da mesma forma, a raiz de virtude de um bodisatva que reside neste bhumi não declina, mas se torna cada vez mais pura, clara e maleável.

6) Realização característica. Neste bhumi, os bodisatvas compreendem o significado supremo do Darma como uma causa do darmadatu. Para receber um só verso dos ensinamentos do Darma estes bodisatvas se sacrificariam saltando em três mil fogos universais. Assim é mencionado, “o significado do supremo relacionado à causa”. 7) [Abandono característico.9] 8) Nascimento característico. Um bodisatva que resida neste bhumi se tornará, normalmente, Indra, o rei dos deuses, e terá grande habilidade em dissipar os desejos dos seres sencientes. Assim se diz: A grande habilidade do rei dos deuses que dissipa desejos. 9) Habilidade característica. Em um instante, ele atingirá cem mil absorções e assim por diante.

D) Quarto Bhumi.

1) Nome característico. Luminoso. 2) Significado característico. Este bhumi é chamado de “luminoso” porque os dois véus são queimados pela luz brilhante da sabedoria primordial de todos os ramos da iluminação. Assim se diz:

Como uma luz radiante que queima completamente tudo que se opõe à iluminação, Esta é a qualidade deste bhumi, Portanto, ele é chamado de “Luminoso” E os dois obscurecimentos são queimados. 3) Treinamento característico. Este bhumi é aperfeiçoado através dos dez treinamentos, tais como morar em um local solitário e assim por diante10. Assim se diz:

Morando em uma floresta, possuindo poucos desejos, satisfeito, mantendo a disciplina de forma pura e assim por diante.

4) Prática característica. Um bodisatva que reside neste bhumi pratica, de modo geral, todas as dez paramitas, mas com ênfase especial na perfeição da perseverança. 5) Purificação característica. Conforme mencionado anteriormente, a raiz de virtude de um bodisatva é profundamente purificada pelas três causas. Assim é dito:

Por exemplo, quando um hábil ourives transforma o ouro puro em um ornamento, ele não poderá ser igualado por qualquer ouro que não esteja em forma de ornamento. Da mesma forma, a raiz de virtude de um bodisatva que atinge este quarto bhumi não poderá ser igualada pela raiz de virtude dos bodisatvas que estão nos bhumis inferiores.

6) Realização característica. Neste bhumi os bodisatvas compreendem o significado da não-fixação completa e estão livres do apego ao Darma. Assim é mencionado, “o significado da completa não-fixação”. 8) Nascimento característico. Um bodisatva que resida neste bhumi se tornará, normalmente, o rei de Suyama11, e terá grande habilidade em derrubar a visão dos agregados transitórios em todos os seres sencientes. Assim se diz:

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Torna-se o rei de Suyama e possui grande habilidade em derrubar a visão dos agregados transitórios.

9) Habilidade característica. Em um instante, ele atingirá um milhão de absorções e assim por diante. E) Quinto Bhumi.

1) Nome característico. Muito Difícil de Treinar. 2) Significado característico. Este bhumi é chamado de “muito difícil de treinar” porque os

bodisatvas que atingem este bhumi se esforçam para amadurecer os seres sencientes e não se envolvem emocionalmente quando os seres respondem negativamente, o que é muito difícil. Assim se diz:

Estabelecendo o benefício dos seres sencientes e protegendo sua própria mente – mesmo para os sábios isto é difícil de fazer e, portanto, é chamado de Muito Difícil de Treinar.

3) Treinamento característico. Este bhumi é aperfeiçoado evitando as dez falhas, tais como estar apegado ao lar devido às posses e assim por diante. Assim se diz: Estando associado e apegado ao lar, morando em lugares agitado e assim por diante12. 4) Prática característica. Um bodisatva que reside neste bhumi pratica, de modo geral, todas as dez paramitas, mas com ênfase especial na perfeição da concentração meditativa. 5) Purificação característica. Conforme mencionado anteriormente, a raiz de virtude de um bodisatva é profundamente purificada pelas três causas. Assim é dito:

Por exemplo, quando um hábil ourives adorna o ouro com pedras preciosas, ele não poderá ser igualado por qualquer outro ouro. Da mesma forma, a raiz de virtude de um bodisatva que atinge este quinto bhumi não poderá ser igualada pela raiz de virtude dos bodisatvas que estão nos bhumis inferiores.

6) Realização característica. Neste bhumi os bodisatvas compreendem o significado do continuum da natureza não-diferenciada e compreendem as dez equanimidades. Assim é mencionado, “a não-diferenciação de todos os continuums”. 8) Nascimento característico. Um bodisatva que resida neste bhumi se tornará, normalmente, o rei dos deuses de Tushita13, e terá grande habilidade em dissipar as visões errôneas dos não-budistas. Assim se diz:

Através de sua maturidade espiritual ele se torna rei dos deuses de Tushita e dissipa as visões aflitas de todos os não-budistas.

9) Habilidade característica. Em um instante, ele atingirá dez milhões de absorções e assim por diante. F) Sexto Bhumi.

1) Nome característico. Obviamente Transcendente. 2) Significado característico. Este bhumi é chamado de “obviamente transcendente” porque,

suportados pela perfeitação da sabedoria discriminativa, os bodisatvas não residem nem no samsara nem no

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nirvana, e assim eles são obviamente transcendentes, além do samsara e do nirvana. Assim se diz:

Apoiando-se na perfeição da sabedoria discriminativa, ele não habita nem no samsara nem no nirvana, e assim é obviamente transcendente.

3) Treinamento característico. Este bhumi é aperfeiçoado através dos doze treinamentos: inicialmente realizando as seis paramitas da generosidade e assim por diante, e então renunciando aos seis tópicos, tais como o apego às realizações dos Ouvintes, Realizadores Solitários e assim por diante. Assim se diz: Aperfeiçoando a generosidade, ética moral, paciência, perseverança, concentração meditativa, sabedoria discriminativa e assim por diante14. 4) Prática característica. Um bodisatva que reside neste bhumi pratica, de modo geral, todas as dez paramitas, mas com ênfase especial na perfeição da sabedoria discriminativa. 5) Purificação característica. Conforme mencionado anteriormente, a raiz de virtude de um bodisatva é profundamente purificada pelas três causas. Assim é dito:

Por exemplo, quando um hábil ourives adorna o ouro com lápiz lazúli, ele não poderá ser igualado por qualquer outro ouro. Da mesma forma, a raiz de virtude de um bodisatva que atinge este sexto bhumi não poderá ser igualada pela raiz de virtude dos bodisatvas que estão nos bhumis inferiores.

6) Realização característica. Neste bhumi os bodisatvas compreendem o significado das emoções aflitivas e da impureza, e entendem perfeitamente a interdependência da não-existência das emoções aflitivas e de sua purificação. Assim é mencionado, “o significado das emoções aflitivas e da impureza”. 8) Nascimento característico. Um bodisatva que resida neste bhumi se tornará, normalmente, o rei dos deuses de Nirmanratia15, e terá grande habilidade em dissipar a arrogância dos seres sencientes. Assim se diz:

Através de sua maturidade espiritual ele se torna rei de Nirmanratia, tornando-se inigualável por qualquer um dos Ouvintes e pacifica a arrogância.

9) Habilidade característica. Em um instante, ele atingirá cem milhões de absorções e assim por diante. G) Sétimo Bhumi.

1) Nome característico. Muito Distante. 2) Significado característico. Este bhumi é chamado de “muito distante” porque ele está relacionado

ao caminho de uma via e é a perfeição da ação. Assim se diz: Por estar relacionado ao caminho de uma via ele é chamado de “Muito Distante”. 3) Treinamento característico. Este bhumi é aperfeiçoado renunciando aos vinte tópicos, tais como o apego à existência própria e assim por diante, e praticando os vinte tópicos contrários, tais como as três portas para a liberação e assim por diante16. Assim se diz: Guardando a si mesmo, aos seres sencientes e assim por diante. E: Compreendendo as três portas para a liberação e assim por diante.

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4) Prática característica. Um bodisatva que resida neste bhumi pratica, de modo geral, todas as dez paramitas, mas com ênfase especial na perfeição dos meios hábeis. 5) Purificação característica. Conforme mencionado anteriormente, a raiz de virtude de um bodisatva é profundamente purificada pelas três causas. Assim é dito:

Por exemplo, quando um hábil ourives adorna o ouro puro com todos os tipos de joias, ele se torna muito belo e não pode ser igualado por qualquer outro ornamento de Jambudvipa. Da mesma forma, a raiz de virtude de um bodisatva que atinge este sétimo bhumi é mais pura, e não poderá ser igualada pela raiz de virtude dos Ouvintes, Realizadores Solitários e bodisatvas que estão nos bhumis inferiores.

6) Realização característica. Os sinais do Darma dos sutras e assim por diante aparecem sem diferenciações; através deles, os bodisatvas deste bhumi compreendem o significado da não-diferenciação. Assim é mencionado, “o significado da não-diferenciação”. 8) Nascimento característico. Um bodisatva que resida neste bhumi se tornará, normalmente, o rei dos deuses de Parinirmitvashavartin15, e terá grande habilidade em estabelecer as realizações diretas dos Ouvintes e dos Realizadores Solitários. Assim se diz:

Através de sua maturidade espiritual ele se torna rei de Parinirmitvashavartin e será um grande mestre levando os seres à realização direta das Quatro Nobres Verdades.

9) Habilidade característica. Em um instante, ele atingirá um bilhão de absorções e assim por diante. H) Oitavo Bhumi.

1) Nome característico. Inabalável. 2) Significado característico. Este bhumi é chamado de “inabalável” porque ele não pode ser movido

pela percepção do esforço com sinais e pela percepção do esforço sem sinais18. Assim se diz: É chamado de “Inabalável” porque não pode ser movido pelas duas percepções. 3) Treinamento característico. Este bhumi é aperfeiçoado através dos oito treinamentos, tais como compreender todas as ações dos seres sencientes diretamente e assim por diante19. Assim se diz:

Compreendendo as mentes de todos os seres sencientes, possuindo compaixão a partir da clarividência e assim por diante.

4) Prática característica. Um bodisatva que reside neste bhumi pratica, de modo geral, todas as dez paramitas, mas com ênfase especial na perfeição da aspiração. 5) Purificação característica. Conforme mencionado anteriormente, a raiz de virtude de um bodisatva é profundamente purificada pelas três causas. Assim é dito:

Por exemplo, quando um hábil ourives transforma o ouro puro em um ornamento que adorna a cabeça ou o pescoço do monarca de Jambudvipa, ele não poderia ser igualado por qualquer outro ornamento utlizado pelo povo de Jambudvipa. Da mesma forma, a raiz de virtude de um bodisatva que atinge este oitavo bhumi é mais pura, e não poderá ser igualada pela raiz de virtude dos Ouvintes, Realizadores Solitários e bodisatvas que estão nos bhumis inferiores.

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6) Realização característica. Um bodisatva que alcança este nível atingiu a paciência do Darma não-nascido e não se amedronta pelo significado da natureza não-nascida da vacuidade, compreendendo tudo como o espaço e estando livre dos pensamentos discursivos sobre todos os fenômenos. Tendo alcançado a paciência da natureza não-nascida de todos os fenômenos, ele compreende o significado do não-crescimento e não-diminuição, através do qual ele enxerga a não-diminuição e o não-crescimento das emoções aflitivas ou de sua purificação. Assim é mencionado, “o significado do não-crescimento e da não-diminuição”. Também se diz que existem “quatro tipos de maestria”. Estes são: domínio sobre os pensamentos não-discursivos, domínio sobre os campos búdicos puros, domínio da sabedoria primordial e domínio sobre o carma. Destes quatro, o bodisatva que atinge o oitavo bhumi deve realizar o domínio sobre os pensamentos não-discursivos e sobre os campos búdicos. Além disso, um bodisatva que atinge este bhumi obterá dez poderes. Esses dez poderes são: poder sobre a duração da vida, sobre a mente, provisões necessárias, carma, nascimento, desejos, preces de aspiração, milagres, sabedoria discriminativa e poder sobre o Darma20. 8) Nascimento característico. Um bodisatva que resida neste bhumi se tornará, normalmente, Brahma, rei dos mil universos21, e terá grande habilidade em estabelecer os ensinamentos dos Ouvintes, Realizadores Solitários e assim por diante. Assim se diz:

Através de sua maturidade espiritual ele se torna Brahma, rei dos mil universos, e possui habilidade incomparável em estabelecer os ensinamentos dos Arhats e Realizadores Solitários.

9) Habilidade característica. Em um instante, ele atingirá tantas absorções quanto as partículas de poeira em um milhão de universos e assim por diante. I) Nono Bhumi.

1) Nome característico. Grande Sabedoria Discriminativa. 2) Significado característico. Este bhumi é chamado de “grande sabedoria discriminativa” porque

aqueles que o atingem possuem sabedoria discriminativa perfeita. Assim se diz:

Eles possuem um grande talento em discriminar os significados de forma pura, assim este bhumi é chamado de “Grande Sabedoria Discriminativa”.

3) Treinamento característico. Este bhumi é aperfeiçoado através dos doze treinamentos, tais como infinitas preces de aspiração e assim por diante. Assim se diz: Infinitas preces de aspiração, compreensão da língua dos deuses e assim por diante22. 4) Prática característica. Um bodisatva que reside neste bhumi pratica, de modo geral, todas as dez paramitas, mas com ênfase especial na perfeição da força. 5) Purificação característica. Conforme mencionado anteriormente, a raiz de virtude de um bodisatva é profundamente purificada pelas três causas. Assim é dito:

Por exemplo, quando um hábil ourives transforma o ouro puro em um ornamento que adorna a cabeça ou o pescoço de um monarca universal, ele não poderia ser igualado por qualquer outro ornamento utlizado pelos reis de um continente ou pelo povo dos quatro continentes. Da mesma forma, a raiz de virtude de um bodisatva que atinge este nono bhumi é mais pura, e não poderá ser igualada pela raiz de virtude dos Ouvintes, Realizadores Solitários e bodisatvas que estão nos bhumis inferiores.

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6) Realização característica. Dos quatro tipos de maestria, os bodisatvas neste bhumi realizam a natureza do domínio sobre a sabedoria primordial por terem atingido os quatro tipos de sabedoria discriminativa perfeita. Quais são estas quatro sabedorias? Como se diz no Sutra dos Dez Nobres Bhumis:

Quais são estas quatro sabedorias discriminativas? Elas são: o surgimento incessante da perfeita sabedoria discriminativa do Darma, a perfeita sabedoria discriminativa do sentido, a perfeita sabedoria discriminativa do significado e a perfeita sabedoria discriminativa da confiança.

8) Nascimento característico. Um bodisatva que resida neste bhumi se tornará, normalmente, Brahma, rei dos dois mil universos23, e terá grande habilidade em responder todas as questões que são perguntadas. Assim se diz:

Através de sua maturidade espiritual ele se torna Brahma, rei dos dois mil universos, e possui habilidade incomparável em responder todas as questões dos seres sencientes, Arhats e assim por diante.

9) Habilidade característica. Em um instante, ele atingirá tantas absorções quanto as partículas de poeira em um milhão de campos búdicos ilimitados e assim por diante. J) Décimo Bhumi.

1) Nome característico. Nuvem do Darma. 2) Significado característico. Este bhumi é chamado de “nuvem do Darma” porque aqueles que o

atingem derramam a chuva do Darma como uma nuvem, pacificando a poeira das emoções aflitivas dos seres sencientes. Colocando de outra forma, as portas do dharani e da absorção no Darma permeiam tudo, assim como uma nuvem cobre o céu. Assim se diz:

Esse bhumi é chamado de “Nuvem do Darma” porque, como uma nuvem, ele permeia o darma do espaço através de dois fatores.

3) Treinamento característico. Este não é explicado no Ornamento da Clara Realização, mas sim no Sutra dos Dez Nobres Bhumis:

Ó Filhos do Vitorioso! Os bodisatvas que atravessaram o nono bhumi discriminam completamente, fazem florescer o conhecimento ilimitado através dos dez treinamentos. Então atingem o bhumi da iniciação na sabedoria primordial da onisciência24.

O “bhumi da iniciação na sabedoria primordial da onisciência” é o décimo bhumi. Por que ele é assim chamado? Os budas das dez direções enviam aos bodisatvas que residem neste décimo bhumi sua luz radiante. Isto é explicado em detalhes no Sutra dos Dez Nobres Bhumis. A Guirlanda de Joias Preciosas menciona: Porque os budas concedem seu poder irradiando sua luz para os bodisatvas. 4) Prática característica. Um bodisatva que reside neste bhumi pratica, de modo geral, todas as dez paramitas, mas com ênfase especial na prática da sabedoria primordial. 5) Purificação característica. Conforme mencionado anteriormente, a raiz de virtude de um bodisatva é profundamente purificada pelas três causas. Assim é dito:

Por exemplo, quando os grandes artistas do reino dos deuses criam um ornamento adornado por pedras preciosas que adorna a cabeça ou o pescoço de

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Mahesvara, o rei especial dos deuses, não há comparação com outros ornamentos dos deuses ou humanos. Da mesma forma, a sabedoria primordial transcendente de um bodisatva do décimo bhumi não pode ser superada pelas qualidades de todos os seres sencientes, Ouvintes, Realizadores Solitários ou bodisatvas até o nono bhumi.

6) Realização característica. Dos quatro tipos de maestria, os bodisatvas neste bhumi realizam o domínio sobre o carma, beneficiando os seres sencientes através de diversos poderes milagrosas à sua vontade. 8) Nascimento característico. Um bodisatva que resida neste bhumi se tornará, normalmente, Mahesvara, rei especial dos deuses, e terá grande habilidade em oferecer ensinamentos sobre as perfeições para todos os seres sencientes, Ouvintes, Realizadores Solitários e todos os bodisatvas. Assim se diz:

Através de sua maturidade espiritual ele se torna o senhor supremo de Sudhavasin25 e é um mestre da sabedoria primordial infinita.

9) Habilidade característica. Em um instante, ele atingirá tantas absorções quanto os bilhões e trilhões de átomos em todos os campos búdicos ilimitados e assim por diante. Além disso, de cada poro de sua pele podem ser manifestados, em um instante, incontáveis budas acompanhados de incontáveis bodisatvas. Também podem manifestar muitos seres como deuses, seres humanos e assim por diante. Ele tem a habilidade de oferecer ensinamentos manifestando-se na forma de Indra, Brahma, guardiões, reis, Ouvintes, Realizadores Solitários ou budas, dependendo dos praticantes. Engajando-se no Caminho do Meio afirma: A cada momento ele pode manifestar dos poros de sua pele incontáveis budas acompanhados de incontáveis bodisatvas, assim como deuses, seres humanos e semideuses. Isto completa a explicação sobre os dez bhumis dos bodisatvas. K) Estado Búdico. O estado búdico é o bhumi chamado de “caminho da perfeição”. Todos os obscurecimentos das emoções aflitivas, que devem ser purificados no caminho da meditação, e os obscurecimentos imputados ao conhecimento, que são como a seiva de uma árvore, são completamente purificados em um momento quando a absorção vajra é alcançada. Assim, todos esses bhumis são completados em três kalpas ilimitados. Os Bhumis dos Bodisatvas afirmam:

Todos eles são realizados em três kalpas ilimitados. Durante o primeiro kalpa ilimitado, é alcançado o bhumi da Grande Alegria, passando completamente pelas ações de aspiração. Este estado é alcançado através de esforço persistente; de outra forma, sem persistência este bhumi não será alcançado. Durante o segundo kalpa ilimitado, alcança-se o oitavo bhumi passando pelos outros até o sétimo, Muito Avançado. Isto é certo, pois o bodisatva puramente motivado fará o esforço, definitivamente. Durante o terceiro kalpa ilimitado, alcança-se o décimo bhumi, Nuvem do Darma, passando através do oitavo e nono bhumis. Aqueles com preseverança extraordinária podem comprimir este prazo para um antahkalpa, e alguns até mesmo para um mahakalpa. Deve-se compreender que não é possível comprimi-lo para um kalpa ilimitado.

Este é o décimo nono capítulo,

que explica os bhumis dos bodisatvas, de O Ornamento da Preciosa Liberação,

A Joia que Realiza Desejos dos Nobres Ensinamentos.

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PARTE 5

O RESULTADO

O Resultado é o Corpo da Perfeita Iluminação.

CAPÍTULO 20

Perfeita Iluminação Assim, o estado búdico perfeito dos três kayas é alcançado, passando completamente por todos os caminhos e bhumis. A Lâmpada para o Caminho da Iluminação afirma: A iluminação de um buda não está distante demais. Assim, o sumário para a iluminação é: Natureza, significado do nome, Classificação, Definição, número definido, características E marcas especiais – Esses sete itens compreendem os kayas do Buda perfeito e completo. I) Natureza. A natureza de um buda perfeito e completo é: A) Purificação perfeita e B) Sabedoria primordial perfeita. A) Purificação perfeita. Os obscurecimentos das emoções aflitivas e os obscurecimentos ao conhecimento foram suprimidos nos bhumis e caminhos e, quando ocorre a absorção vajra, eles são completamente abandonados, sem resquícios. Os obscurecimentos ao equilíbrio meditativo e outros estão incluídos nestes dois obscurecimentos. Portanto, ao purificar estes dois, todos os obscurecimentos são abandonados. B) Sabedoria primordial perfeita. Existem opiniões diferentes sobre a sabedoria primordial de um buda. Alguns acreditam que um buda possui pensamentos discursivos, assim como sabedoria primordial. Alguns dizem que um buda não possui pensamentos discursivos, mas que possui a sabedoria primordial que está muito claramente consciente de tudo. Outros afirmam que a continuidade da sabedoria primordial cessou. Alguns dizem que um buda nunca possuiu sabedoria primordial. Posse da sabedoria primordial: Tanto os sutras quanto os shastras afirmam que um buda possui sabedoria primordial. O Sutra Condensado da Perfeição da Sabedoria afirma:

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Portanto, aquele que deseja alcançar a consciência suprema e transcendente de um buda deveria ter confiança na “Mãe dos Budas”1.

E também, a Perfeição da Sabedoria em 8000 Linhas afirma:

O Buda perfeito e completo atingiu perfeitamente a sabedoria primordial livre de qualquer obscurecimento diante de qualquer fenômeno.

O vigésimo primeiro capítulo deste mesmo sutra coloca:

Existe a sabedoria primordial do Buda insuperável. Existe o Giro da Roda do Darma. Existe o amadurecimento dos seres sencientes.

Existem muitos ouros sutras que explicam a sabedoria primordial. De acordo com os shastras, o Ornamento dos Sutras Mahayana afirma: Assim como quando os raios do sol nascem Todos os raios de luz surgem, Da mesma forma deve-se compreender o surgimento da

Sabedoria primordial de todos os budas. E assim por diante. E: A sabedoria do espelho é inabalável. As outras três sabedorias primordiais dependem dela: Equanimidade, discriminação e ação realizada. Outros shastras também explicam sobre a sabedoria primordial de um buda. Aqueles que afirmam que um buda possui sabedoria primordial se baseiam nestes textos. Como a sabedoria primordial é possuída: Em resumo, existem duas sabedorias primordiais: 1) A sabedoria primordial de ver a realidade tal como ela é, 2) A sabedoria primordial da onisciência. 1) A primeira, “Ver a realidade tal como ela é”, significa compreender o significado último. Conforme mencionado anteriormente, ao aperfeiçoar a talidade completa durante a absorção vajra, é alcançada a liberação completa dos objetos através da qual todos os pensamentos grosseiros são pacificados. Desta forma, o sabor único da ausência de elaborações, o darmadatu e a sabedoria primordial são alcançados. Por exemplo, é como misturar duas águas ou duas manteigas em uma só. É como dizer: “eu vi o espaço”, quando não há formas a serem vistas. A grande sabedoria primordial livre de aparências é a base para todas as qualidades preciosas. Assim se diz:

Por exemplo, assim como uma água é misturada com outra ou como duas manteigas são fundidas em uma, a sabedoria primordial inseparável é unificada completamente com o objeto de conhecimento, livre de elaborações. Isto é chamado de darmakaya, que é a natureza de todos os budas.

E:

As pessoas expressam em palavras que elas “veem” o espaço. Mas investiguem questionando como elas podem “vê-lo”. Da mesma forma, o Buda explicou como os darmas devem ser vistos. Não existe outro exemplo para explicar isto.

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2) A “sabedoria primordial da onisciência” significa conhecer o significado de todos os estados convencionais. Com base na absorção vajra é alcançada a grande sabedoria primordial aniquilando todas as sementes de obscurecimentos. Com este poder, todo o conhecimento dos três tempos pode ser visto muito claramente, assim como uma fruta cristalina na palma de sua mão é vista perfeitamente. Os sutras também mencionam que o convencional é conhecido pelo Buda. Assim se diz: Uma pena de pavão Surge de muitas diferentes causas. Elas não podem ser todas apreendidas sem o conhecimento completo. Ter este conhecimento é o poder da onisciência. O Tantra Insuperável diz: Com a maior compaixão, conhecendo todos os mundos, tendo visto todos os mundos... De que forma isto é visto e conhecido? Não é como enxergar os fenômenos como se fossem reais; eles são vistos e compreendidos como ilusão. O Sutra da Realização do Darmadatu diz:

Por exemplo, quando os mágicos conjuram uma apresentação mágica, eles a compreendem completamente e não ficam apegados a esta ilusão. Da mesma forma, todos os três mundos são como apresentações mágicas, e o sábio, completamente iluminado Buda, está consciente disto.

O Sutra do Encontro do Pai com o Filho diz:

O mágico manifesta a mágica, e porque ele entende isto como mágica, não fica confuso sobre isto. Você enxerga todos os seres desta forma. Prostro-me e louvo o Onisciente!

Argumento: Os budas não possuem conhecimento onisciente do convencional. Alguns dizem que o Buda perfeito e completo possui a compreensão do significado último, que é a sabedoria de ver a realidade tal como ela é, mas que não possui a sabedoria do estado convencional, que é a sabedoria primordial da onisciência. Não é que o Buda não esteja consciente de algo que pode ser conhecido, mas, na verdade, não existe o nível convencional e, portanto, a sabedoria primordial de conhecê-lo não existe. Além disso, eles argumentam que o convencional surge de forma subjetiva para os seres comuns, infantis, que surgem pela ignorância das emoções aflitivas, e para os três Seres Nobres, que surgem pela ignorância livre de aflições. Por exemplo, estas percepções são como as de pessoas com catarata, que veem cabelos caindo e imagens embaralhadas. O Buda purificou completamente a ignorância durante sua absorção vajra e compreendeu o significado da talidade, um estado no qual não há fenômenos a serem vistos. Portanto, o Buda não possui este estado convencional confuso; como, por exemplo, alguém que se curou da catarata não enxerga mais cabelos caindo ou imagens embaralhadas. Assim, o estado convencional surge pelo poder da ignorância e existe apenas em relação ao mundano. No estado da iluminação o convencional não existe, e assim não há como existir uma sabedoria primordial que o apreenda. Se o Buda tivesse cognição das aparências, então ele estaria vendo os objetos da delusão e ficaria, ele mesmo, confuso. Isto contradiz a permanência do Sábio no estado de absorção e assim por diante. O Sutra da Nobre e Profunda Representação afirma: O Buda perfeito e completo sempre se encontra em absorção. Refutação: Os budas possuem conhecimento onisciente do estado convencional. Aqueles que acreditam no argumento anterior, de que o Buda possui sabedoria sobre o estado convencional, dizem que a mente não se tornará dispersa apenas por se encontrar em um estado pós-

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meditativo; e assim, não há contradição com a citação de ele sempre se encontrar em absorção e assim por diante. Não é correto presumir que ele ficará confuso apenas por apreender o objeto da confusão. Mesmo compreendendo todos os objetos de confusão conhecidos pelos outros – esta mente, que conhece toda a confusão e mostra que ela é a causa do estado temporário e mostra a liberação da iluminação para todos os seres sencientes – como ela poderia ficar confusa? Portanto, assim se diz: Apenas conhecendo a confusão, Esta mente não se confunde. Outros dizem que não há uma falha lógica em trazer um objeto convencional à mente sem fixar-se a ele como real. Mesmo o Buda projetando o objeto, ele não se confunde com ele. Sabedoria Primordial Pós-meditativa: Portanto, aqueles que sustentam o argumento anterior de que o Buda possui sabedoria do estado convencional acreditam que ele possui sabedoria primordial pós-meditativa, que é chamada de “todo-conhecedora”. Assim se diz:

Tendo, anteriormente, compreendido a realidade tal como ela é, sem pensamentos discursivos, ele se engaja em um estado de equilíbrio meditativo não confuso. Depois, apreendendo todo o conhecimento convencional com o pensamento conceitual, ele se engaja no período pós-meditativo nas aparências confusas.

A outra opinião, de que o Buda não possui sabedoria primordial pós-meditativa, é expressa no Sutra da Vasta e Nobre Porta da Realização:

O Tatágata não atinge nada após alcançar a iluminação direta e completa. Isto é assim porque não há objetos a serem apreendidos.

Outros ainda dizem:

Alguns hereges dizem que a liberação é um lugar onde devemos chegar. Ao atingir o estado completamente pacífico nada resta, como um fogo que foi apagado.

Assim, todas as diferentes opiniões foram explicadas. Posição Kadampa: O Geshe acredita que a natureza do verdadeiro Buda, perfeito e completo, é o darmakaya. O darmakaya é a exaustão de todos os erros, ou apenas o retorno à natureza inerente. Mas estes são apenas rótulos. Na verdade, o darmakaya é não-nascido, livre de elaborações. O Ornamento dos Sutras Mahayana afirma: A liberação é apenas a exaustão de toda a confusão. Portanto, o Buda é o darmakaya; visto que o darmakaya é não-nascido e livre de elaborações, ele não pode possuir sabedoria primordial. Neste caso, pode-se dizer que isto contradiz as duas sabedorias primordiais descritas nos sutras, mas na verdade não é contraditório. Quando a consciência do olho é estimulada por um objeto azul, dizemos: “eu vi o azul”. Da mesma forma, esta sabedoria primordial que se transforma no darmadatu é chamada de sabedoria que vê a realidade tal como ela é. Este conhecimento sobre todos os fenômenos é relativo, e, portanto, é apresentado de acordo com a percepção dos praticantes. Este sistema é confortável.

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Posição de Milarepa: A posição de Jetsun Mila em relação à sabedoria primordial: ele disse que esta sabedoria não-fabricada está além das palavras e dos pensamentos conceituais, tais como existência e não-existência, eternalismo ou niilismo, e assim por diante. Ela não será contradita independente do nome que se use para expressá-la. A sabedoria primordial também é assim. Aqueles que são vistos como eruditos – mesmo se eles perguntassem ao próprio Buda – não acredito que ele diria que é de uma forma ou de outra. O darmakaya está além dos conceitos, é não-nascido, livre de elaborações. “Não me pergunte, apenas olhe para sua própria mente”. Isto indica que não há uma opinião em especial no sistema de Milarepa. Portanto, a natureza búdica é a purificação perfeita e a sabedoria primordial perfeita. O Tantra Insuperável diz: O estado búdico é indivisível, porém podemos categorizá-lo pelas suas qualidades de pureza; As duas qualidades da sabedoria primordial e da liberdade – Comparáveis ao sol no céu. E o Ornamento dos Sutras Mahayana afirma: As sementes dos obscurecimentos das emoções aflitivas e ao conhecimento, Apesar de presentes por um longo tempo, São completamente desenraizadas e purificadas pela renúncia. O estado búdico é possuído por aqueles que desenvolvem qualidades excelentes. II. Significado do Nome. Por que alguém é chamado de “Buda”? Aquele que despertou completamente (Tib. sang) da ignorância, como se saísse de um sono, e fez com que florescesse completamente (Tib. gye) a sabedoria discriminativa dos dois conhecimentos, é chamado de Buda (Tib. sangye). Assim é dito:

Por ter despertado do sono da ignorância e ter deixado florescer a sabedoria discriminativa dos dois conhecimentos ele é chamado de Buda.

“Despertar do sono da ignorância” é a purificação perfeita, conforme explicado anteriormente. “Deixar florescer a sabedoria discriminativa dos dois conhecimentos” significa a perfeição da sabedoria primordial, conforme explicado antes. III. Classificação. As formas de um buda são classificadas em três: darmakaya, sambogakaya e nirmanakaya. O Sutra da Luz Dourada diz: Todos os tatágatas possuem três formas: darmakaya, sambogakaya e nirmanakaya. Algumas escrituras mencionam duas formas, ou mesmo quatro ou cinco. Apesar de elas afirmarem assim, todas as formas estão incluídas nestas três. O Ornamento dos Sutras Mahayana menciona: Deve-se compreender que todas as formas de um buda estão incluídas nestas três. IV. Definição. O darmakaya é a identidade do verdadeiro buda. A Perfeição da Sabedoria em 8000 Linhas afirma: Não deveríamos ver o Buda como os corpos da forma. O Tatágata é o darmakaya. O Sutra Rei da Absorção Meditativa diz: Não deveríamos ver o Vitorioso como os corpos da forma.

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Deve-se compreender que os dois corpos da forma se manifestam a partir da combinação destes três fatores: A) As bênçãos magníficas do darmakaya, B) A projeção dos praticantes e C) Preces de aspiração devotadas anteriores. A) Além do mais, se eles aparecessem apenas através das bênçãos do darmadatu (darmakaya), então, visto que todos os seres sencientes são permeados pelo darmadatu, todos seriam liberados sem esforço e seriam capazes de ver a face do Buda. Este não é o caso. Portanto, eles não aparecem apenas através das bênçãos do darmadatu. B) Os corpos da forma surgem apenas a partir da projeção dos praticantes: é um erro projetar uma aparência que não existe. Visto que todos os seres sencientes cometem este erro desde um tempo sem início, então, se alguém alcançasse a iluminação com base neste erro, todos já teriam alcançado a iluminação. Este não é o caso. Portanto, eles não aparecem apenas através da projeção dos praticantes. C) Os corpos da forma surgem apenas devido a dedicadas preces de aspiração: o Buda perfeito e completo aperfeiçoou as preces de aspiração dedicadas ou não? Se ele não as tivesse aperfeiçoado, então ele não poderia ser onisciente. Se ele as tivesse aperfeiçoado, então todos os seres deveriam ser liberados sem esforço apenas devido às suas preces de aspiração dedicadas, pois tais preces são realizadas de forma imparcial. Este não é o caso. Portanto, eles não aparecem apenas devido às preces de aspiração dedicadas. Assim, os dois corpos da forma surgem através da combinação destas três forças. V. Razão Definitiva para a Existência de Três Kayas. É devido à necessidade. O darmakaya é para o próprio benefício e os dois corpos da forma são para o benefício dos outros. Como o darmakaya beneficia a própria pessoa? A obtenção do darmakaya é a base para todas as qualidades positivas. Qualidades positivas como força, destemor e assim por diante são reunidas como se tivessem sido atraídas. Isto não acontece apenas quando o darmakaya é atingido, mas mesmo aqueles dedicados ao darmakaya que possuem uma realização pequena, parcial ou elevada obtêm graus diferentes destas qualidades positivas. Respectivamente, eles obtêm qualidades pequenas, numerosas, e infinitas. As experiências mundanas supremas – todos os poderes perfeitos, clarividência e absorção meditativa e assim por diante – são alcançados através da dedicação ao darmakaya. O abandono dos obscurecimentos, clarividência, poderes milagrosos e assim por diante – todas as qualidades dos Arhats Ouvintes – são atingidas através de uma pequena realização do darmakaya. O abandono de obscurecimentos, absorção meditativa, clarividência e assim por diante – todas as qualidades dos Arhats Realizadores Solitários – são alcançadas através de uma realização parcial do darmakaya. O abandono de obscurecimentos, absorção meditativa, clarividência e assim por diante – todas as qualidades dos bodisatvas nos bhumis – são alcançadas através de uma realização superior do darmakaya. Os dois corpos da forma são manifestados para beneficiar os outros. O sambogakaya é manifestado para os praticantes com maior purificação e o nirmanakaya é manifestado para os praticantes impuros. Portanto, é certo que o Buda possui três formas. VI. Características dos Três Kayas. A. Darmakaya. O darmakaya é simplesmente rotulado como a exaustão de todos os erros através da realização do significado da vacuidade que permeia todos os fenômenos, ou como o simples reverso da natureza da projeção confusa. Na verdade, ele não possui de forma alguma a identificação, as características ou a designação “darmakaya”. Foi assim que Milarepa disse. Se expressado por outro ângulo, o darmakaya possui oito características: 1) Igualdade, 2) profundidade, 3) permanência,

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4) unicidade, 5) perfeição, 6) pureza, 7) radiância e 8) relação com o desfrutar. 1) Igualdade: não há diferenças entre o darmakaya de todos os budas. 2) Profundidade: por ser livre de toda elaboração, é difícil de ser realizado. 3) Permanência: não é composto; não possui início, meio ou fim; é livre de nascimento e cessação. 4) Unicidade: é indivisível porque o darmadatu e a sabedoria primordial não podem ser diferenciados. 5) Perfeição: é livre de erros porque está além do exagero e da inferiorização. 6) Pureza: está livre dos três obscurecimentos2. 7) Radiância: não há pensamentos discursivos; apenas pensamentos não-conceituais são projetados no estado não-conceitual. 8) Relação com o desfrutar: corporificando a natureza das vastas qualidades positivas, ele é a fundação para o desfrute completo (sambogakaya). O Tantra Insuperável diz: Sem início, sem centro e sem fim, Completamente indivisível, Livre dos dois, Livre dos três, Imaculado e livre de conceitos – Assim é o darmadatu. A compreensão de sua natureza é a visão Do iogue que permanece em meditação. O Ornamento dos Sutras Mahayana afirma: O corpo da natureza é igualdade, é sutil e está relacionado ao desfrutar. B. Sambogakaya. O sambogakaya também possui oito características: 1) Séquito, 2) campo, 3) forma, 4) marcas, 5) Darma, 6) atividades, 7) espontaneidade e 8) naturalmente não-existente. 1) Séquito: o séquito que acompanha este corpo são os bodisatvas que residem em todos os bhumis. 2) Campo de desfrute: o campo no qual o desfrute é experienciado é o campo búdico completamente puro.

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3) Forma de desfrute: é o corpo de desfrute do Buda Vairocana e assim por diante. 4) Marcas: as marcas possuídas são as trinta e duas maiores3 e as oitenta menores4. 5) Desfrute total do Darma: o desfrutar completo do Darma é o ensinamento Mahayana completo. 6) Atividades: as atividades são profetizar a iluminação dos bodisatvas e assim por diante. 7) Espontaneidade: todas as suas atividades são livres de esforço; como a joia suprema elas se manifestam espontaneamente. 8) Naturalmente não-existente: mesmo manifestando-se de diversas formas, na verdade ele é da cor do cristal, livre da natureza de toda diversidade. O Ornamento dos Sutras Mahayana afirma: O sambogakaya, em todos os campos búdicos, É diferenciado pelo seres próximos, campo, marcas, Forma, completo desfrute do Darma e atividades. E também, o Ornamento da Clara Realização afirma: Por dominar as trinta e duas marcas maiores e as oitenta menores, E por desfrutar dos ensinamentos Mahayana, ele é chamado de Sambogakaya do sábio. C. Nirmanakaya. O nirmanakaya também possui oito características: 1) Base, 2) causa, 3) campo, 4) tempo, 5) natureza, 6) engajamento, 7) amadurecimento e 8) liberação. 1) Base: sua base é o darmakaya, que é imutável. 2) Causa: ele surge do grande desejo compassivo de beneficiar todos os seres. 3) Campo: seus campos são os completamente puros e os completamente impuros. 4) Tempo: ele é incessante enquanto o mundo existir. 5) Natureza: ele se manifesta de três formas. A emanação artística é especialista em todas as diversas artes, tais como tocar o alaúde e assim por diante. A emanação do nascimento manifesta diversos corpos inferiores como coelhos e assim por diante. A emanação superior desce de Tushita, entra no útero da mãe e assim por diante até entrar no parinirvana. O Ornamento dos Sutras Mahayana afirma:

Esse corpo de emanação dos budas é um grande método para a liberação completa, manifestando-se consistentemente através de artistas, nascimento, grande iluminação e parinirvana.

O Tantra Insuperável afirma:

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Através de diversas formas, que por natureza são aparições, Aquele nascido de forma excelente no nascimento mais elevado Desce do Reino da Grande Alegria, Entra no útero real e nasce de forma nobre na Terra. Perfeitamente hábil em todas as ciências e capacidade, Desfrutando da companhia de sua consorte real, Renunciando, passando por mortificação, Indo para o local denominado Coração da Iluminação, Ele derrota as hostes de Mara. Então, a iluminação perfeita, girando a Roda do Darma E passando para o nirvana – em todos esses lugares, Tão impuros, o nirmanakaya realiza estes feitos enquanto O mundo existir. 6) Engajamento: ele conduz uma multiplicidade de seres comuns a engajarem-se no caminho, gerando interesse pelos três tipos de nirvana. 7) Amadurecimento: ele amadurece completamente todas as acumulações daqueles que entraram no caminho. 8) Liberação: ele libera aqueles que estão completamente amadurecidos na virtude da escravidão da existência. O Tantra Insuperável diz: Esta forma faz com que os seres entrem no caminho do nirvana e amadureçam completamente. Estas são as oito características do nirmanakaya. O Ornamento da Clara Realização diz:

As atividades imparciais do corpo – o incessante nirmanakaya do Sábio, beneficia de formas variadas todos os seres sencientes enquanto o samsara existir.

VII. Marcas Especiais. Existem três marcas especiais do estado búdico: A) Igualdade, B) permanência e C) surgimento. A. Marca Especial da Igualdade. Os darmakayas de todos os budas são inseparáveis de sua base, o darmadatu e, portanto, eles são iguais. Os sambogakayas de todos os budas são inseparáveis em sua realização e, portanto, eles são iguais. Os nirmanakayas de todos os budas manifestam atividades comuns e, portanto, eles são iguais. O Ornamento dos Sutras Mahayana afirma: Eles são iguais em sua base, realização e atividades. B. Marca Especial da Permanência. O darmakaya é, por natureza, permanente, por ser o estado último livre do nascimento e da cessação. O sambogakaya é permanente devido ao seu contínuo desfrutar do Darma. O nirmanakaya é permanente, por suas atividades manifestarem-se repetidamente. Mesmo desaparecendo, mesmo que o fluxo de sua continuidade cesse, ele aparece sem perder uma oportunidade. O Ornamento dos Sutras Mahayana diz:

Eles são permanentes por sua natureza, pela continuidade incessante e pela continuidade de suas ações.

C. Marca Especial do Surgimento. O darmakaya surge através da purificação dos obscurecimentos ao conhecimento do darmadatu. O sambogakaya surge através da purificação das emoções aflitivas. O

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nirmanakaya surge através da purificação do carma.

Este é o vigésimo capítulo, que explica o resultado, a perfeita iluminação, de

O Ornamento da Preciosa Liberação, A Joia que Realiza Desejos dos Nobres Ensinamentos.

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PARTE 6

AS ATIVIDADES

As Atividades São o Benefício dos Seres Sencientes sem Pensamentos Conceituais.

CAPÍTULO 21

As Atividades do Buda Inicialmente, cultivando a mente da iluminação; então, praticando os ensinamentos e o caminho; no final, alcançando o resultado da iluminação - tudo isto é feito pelo único propósito de dissipar o sofrimento e estabelecer a felicidade para todos os seres sencientes. Quando a iluminação é alcançada não há pensamentos conceituais ou esforço. Portanto, como podem os budas se manifestar para os seres sencientes? Sem pensamentos conceituais ou esforços, os budas manifestam benefícios para os seres sencientes espontaneamente e incessantemente. A explicação de como isto ocorre. O sumário: O corpo beneficia os seres sencientes sem pensamentos conceituais; A fala e a mente também beneficiam os seres sencientes sem pensamentos conceituais; Estes três compreendem as atividades de um buda. Beneficiar os seres sencientes sem pensamentos conceituais através do corpo, fala ou mente é explicado através de exemplos do Tantra Insuperável: Como Indra, o tambor, as nuvens, Brahma, O sol, uma joia que realiza desejos, o espaço E a Terra, assim é o Tatágata. I. Atividades do Corpo. "Manifestando-se como Indra". Esta é uma comparação para mostrar como o corpo beneficia os seres sencientes sem pensamentos conceituais. Por exemplo, Indra, o rei dos deuses, mora em um palácio vitorioso com um séquito de deusas. Este palácio possui a natureza do lápis lazúli, claro e limpo e, por isso, a imagem de Indra é refletida para fora do palácio. Da terra, homens e mulheres veem os reflexos de Indra com todos os seus prazeres e fazem preces de aspiração para que eles também possam renascer lá rapidamente, e esforçam-se para desenvolver virtudes com este propósito. Desta forma, eles renascem lá depois da morte. O surgimento de tais reflexos não apresenta pensamentos conceituais ou movimento. Da mesma forma, aqueles que ingressam no propósito maior - meditar e assim por diante - verão o corpo do Buda perfeito, com as marcas maiores e menores, manifestando diversas atividades: caminhando, parado, sentado, dormindo, oferecendo ensinamentos do Darma, absorto em meditação e assim por diante. Ao vê-los, eles desenvolvem devoção e motivação e, para alcançar a iluminação, eles se engajam nas suas causas - o cultivo da bodicita e assim por diante - e, finalmente, a atingem. O surgimento deste corpo não apresenta pensamentos conceituais ou movimento. Assim se diz: Assim como os reflexos da forma do rei dos deuses

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Aparecem no claro solo de lápis lazúli, Assim também a reflexão da forma do rei dos poderosos sábios Aparece no claro solo das mentes dos seres. Isto descreve o corpo beneficiando os seres sencientes sem pensamentos conceituais. II. Atividades da Fala. "Como o tambor dos deuses". Esta é uma comparação para mostrar como a fala beneficia os seres sencientes sem pensamentos conceituais. Por exemplo, acima do palácio dos deuses vitoriosos existe o tambor dos deuses, que é chamado "Sustentando o Poder do Darma". Ele se manifesta pelo poder das ações virtuosas passadas dos deuses. Sem pensamentos conceituais, este tambor relembra os deuses descuidados, soando o Darma de que: todos os fenômenos compostos são impermanentes, todos os fenômenos são destituídos de identidades, todos os estados aflitos possuem a natureza do sofrimento e a cessação completa é a paz. Assim se diz: Através do poder da bondade anterior dos deuses, O tambor do Darma nos reinos divinos Sem esforço, localização, forma mental ou conceito, Exorta todos os deuses descuidados repetidamente, com o toque de

“Impermanência", "sofrimento", "ausência de identidade" e "paz". Da mesma forma, mesmo não havendo esforço ou pensamento conceitual, a fala do Buda manifesta os ensinamentos de acordo com as disposições dos seres afortunados. Assim se diz: Desta forma, o darmakaya que tudo permeia é livre de esforços e assim por diante. Porém, a fala do Buda permeia todos os seres sem exceção, Ensinando a nobre doutrina para aqueles de boa fortuna. Isto descreve a fala beneficiando os seres sencientes sem pensamentos conceituais. III. Atividades da Mente. "Como uma nuvem". Esta é uma comparação para mostrar como a mente de sabedoria beneficia os seres sencientes sem pensamentos conceituais. Por exemplo, no verão, as nuvens se reúnem no céu sem esforço, fazendo com que as plantações e outros cresçam perfeitamente com a chuva que cai sobre o solo, sem pensamentos conceituais. Assim se diz: As nuvens da estação chuvosa, de forma contínua e sem esforços, Derramam grandes quantidades de água sobre a terra E são a causa das boas e abundantes colheitas. Da mesma forma, as atividades da mente de sabedoria amadurecem a colheita de virtudes dos praticantes através da chuva do Darma, sem pensamentos conceituais. Assim se diz: Da mesma forma, nuvens de compaixão, sem qualquer conceitualização, Derramam as águas dos nobres ensinamentos do Vitorioso E geram as colheitas de virtude para os seres sencientes. Esta é a descrição da mente de sabedoria beneficiando os seres sencientes sem pensamentos conceituais. "Como Brahma". Por exemplo, mesmo sem se mover de seu palácio, Brahma, rei dos deuses, pode ser visto em todos os reinos dos deuses. Da mesma forma, o Buda, mesmo não se movendo do darmakaya, beneficia todos os praticantes manifestando os doze feitos e assim por diante. Assim se diz: Sem esforços e sem deixar seu reino, Brahma pode manifestar sua presença em qualquer morada divina. Igualmente, sem nunca se afastar do darmakaya,

O grande Vitorioso manifesta, sem esforços, suas emanações

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Em qualquer esfera, para os afortunados. "Como o sol". Por exemplo, a luz radiante do sol faz com que floresçam os lótus e outros – uma diversidade infinita de flores - em um instante, sem pensamentos conceituais. Da mesma forma, a luz radiante do Darma faz com que floresçam os lótus virtuosos das mentes de infinitas famílias e as disposições dos praticantes, sem pensamentos conceituais e sem esforços. Assim se diz: O sol, sem pensamentos, pela irradiação de sua própria luz, Faz com que, simultaneamente, muitos lótus floresçam e outras coisas amadureçam. Igualmente, sem pensamentos, o sol do Tatágata derrama seus raios Do nobre Darma sobre os "lótus" que são os seres a serem treinados. Ou, em outras palavras, a imagem do sol é refletida simultaneamente em todos os recipientes de água claros. Da mesma forma, o Buda é refletido simultaneamente em todos os praticantes com visão pura. Assim se diz: Devido a isto, A reflexão infinita do sol do Sugata Manifesta-se em todos os recipientes Dos praticantes puros, simultaneamente. "Como uma joia que realiza desejos". Por exemplo, mesmo a joia que realiza desejos não apresentando pensamentos conceituais, ela manifestará o que quer que seja necessário, se rezarmos para ela. Da mesma forma, apoiar-se no Buda realiza todos os propósitos associados aos diversos desejos dos Ouvintes e assim por diante. Assim se diz: Uma joia que realiza desejos, apesar de estar livre de pensamentos, satisfaz Simultaneamente todos os desejos daqueles que estão em seu raio de atividade. Da mesma forma, apesar de aqueles com diversas aspirações receberem muitos Ensinamentos ao confiarem no Buda, que realiza seus desejos, mesmo assim o Buda não precisa concebê-los. Da mesma forma, o alaúde, o espaço e a terra são comparações sobre como beneficiar os seres sencientes sem pensamentos conceituais.

Este é o vigésimo primeiro capítulo, que explica as atividades de um buda, de

O Ornamento da Preciosa Liberação, A Joia que Realiza Desejos dos Nobres Ensinamentos.

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O Ornamento da Preciosa Liberação, a Joia que Realiza Desejos dos Nobres Ensinamentos,

uma explicação sobre os estágios do caminho do veículo Mahayana, foi composto pelo

médico Sonam Rinchen a pedido do Bhante Dharmakyab. Dharmakyab atuou como

escriba.

A joia que realiza desejos do precioso Darma manifesta-se para o benefício dos seres

sencientes sem pensamentos conceituais. Pelo mérito de sua transcrição, possam todos os

seres sencientes atingir a suprema iluminação!

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O Ornamento da Preciosa Liberação Gampopa

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Apêndices

Senhor do Darma Gampopa O Buda profetizou sua vinda nesta era, Você realizou todas as intenções do Buda, Grande Ser, você atingiu espontaneamente o Corpo. Eu me prostro ao incomparável Gampopa! Senhor Jigten Sumgön

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APÊNDICE A:

O Senhor do Darma Gampopa Apesar de a história da vida do Senhor do Darma Gampopa já ter sido traduzida em diversos livros, um breve relato sobre a vida do autor foi incluído aqui, para plantar a semente da devoção naqueles que desejam liberar-se do samsara. SEÇÃO 1: Um Breve Relato sobre a Vida do Senhor do Darma Gampopa

De modo geral, a história de sua vida e liberação é profunda como o oceano e vasta como o espaço. Apenas um buda poderia relatá-la completamente. Neste tempo dos preciosos ensinamentos do quarto Buda, Sakiamuni, incontáveis grandes eruditos e professores realizados surgiram neste mundo como as contas de um mala de pérolas. Dentre eles, o Senhor do Darma Gampopa, que está iluminado desde um tempo imemorável, é como o Monte Meru, cuja fundação é a essência das quatro joias preciosas. Apesar disso, ele manifestou-se do darmakaya imutável para beneficiar e liberar aqueles seres sencientes que estão obscurecidos pela ignorância; que vagam neste reino inóspito, experimentando o sofrimento dos quatro rios do nascimento, velhice, doença e morte; escravizados e torturados pela besta selvagem das emoções aflitivas do desejo, ódio etc. Como disse o Senhor Phagmo Drupa: Mentok Dazey, com Padma Lama, que se manifestou com o nome de Chandraprabhavakumara, Nesta terra das neves você se manifestou com o nome de Monge Médico. Eu me prostro àquele que foi profetizado pelo Buda. Como é mencionado, o Senhor do Darma Gampopa nasceu pela primeira vez incontáveis kalpas atrás, durante a época do Buda Padmey Dawa, como o bodisatva Mentok Dazey. A história detalhada sobre ele é contada no Sutra Rei da Absorção Meditativa, que faz parte do Kangyur. Para aqueles que estiverem interessados, o capítulo 36 deste sutra é intitulado Mentok Dazey. Segue-se um breve relato extraído desta fonte. Certa vez, durante o período de declínio dos ensinamentos do Buda Padmey Dawa, 7.000 bodisatvas foram expulsos de um reino. Eles foram para a floresta da Bondade Absoluta, e lá permaneceram com o bodisatva Mentok Dazey. Incontáveis seres sencientes foram estabelecidos no estado de não-retorno. O rei daquele país era Pawey Jin, que possuía 84.000 rainhas, 1.000 filhos príncipes e 500 filhas princesas, todos vivendo em meio a grande riqueza e prazeres. Mentok Dazey se encontrava absorto em um estado meditativo. Com seu olho clarividente ele percebeu que havia muitos bodisatvas renascidos naquele reino. Ele sabia que se eles ouvissem os preciosos ensinamentos poderiam alcançar o estado de não-retorno, mas se não ouvissem, eles poderiam cair em reinos inferiores. Assim, ele se levantou de sua concentração meditativa e disse a todos os bodisatvas: “Eu irei às vilas, cidades e reinos oferecer ensinamentos para beneficiar os seres”. Eles responderam: “Existem muitas pessoas más e descontroladas que podem prejudicá-lo”, e suplicaram para que ele não fosse. Mentok Dazey disse: “Se você apenas se proteger dos obstáculos, como poderá preservar os ensinamentos do Buda e beneficiar todos os seres sencientes?” Com isto, ele prosseguiu para o palácio e ofereceu ensinamentos para as rainhas, príncipes, princesas e muitas outras pessoas por sete dias sem parar para comer ou beber. Pelo seu esforço, a semente para a realização da iluminação foi plantada em incontáveis seres. Todos nas proximidades se tornaram completamente devotos a ele.

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O rei Paway Jin percebeu esta situação e ficou com ciúme, pensando: “Talvez este monge tome meu reino!” Assim, o rei ordenou ao açougueiro Gache, que não possuía senso de virtude ou não-virtude, para assassiná-lo, dizendo: “Dar-te-ei uma grande recompensa.” Gache tomou sua espada, caminhou em meio à assembleia e cortou os membros do corpo do bodisatva Mentok Dazey. Luz irradiou-se de seu corpo e, em vez de sangue, jorrou um fluxo de leite. Após sua morte, seu corpo assumiu uma cor dourada e estava marcado com todos os sinais auspiciosos. Então o rei pensou: “Ai de mim! Este monge estava no estado de não-retorno da iluminação! Eu cometi tal crime hediondo! É certo que cairei nos infernos como resultado.” Ao mesmo tempo, os deuses nos céus confirmaram isto, falando desta forma: “Sim, você o fez e isto acontecerá.” O rei estava aterrorizado e caiu no chão em grande lamentação. Os deuses estavam tristes e diziam: Evite completamente o apego ao corpo! E também não se apegue a esta vida! Vindo da floresta da Bondade Absoluta, Mentok Dazey foi perseguido aqui neste reino. Os deuses também avisaram os bodisatvas que tinham ficado na floresta, e todos os monges correram para ver o corpo de Mentok Dazey. Eles gritavam: “Ele mantinha uma ética moral impecável. Que tipo de ação negativa poderia tal monge ter cometido?”, e assim por diante. Então, eles desmaiaram e caíram no chão. O rei cremou seu corpo num fogo de madeira de sândalo, agaru, e outros materiais preciosos. Sinais inconcebivelmente maravilhosos se manifestaram naquele momento. Os restos foram reunidos e colocados em uma estupa preciosa construída para este propósito. Lá o rei fez incontáveis oferendas e práticas de purificação três vezes ao dia por muitos milhares de anos. Depois de morrer, o rei renasceu no reino dos infernos, onde permaneceu por muitos kalpas. No Sutra Rei da Absorção Meditativa, o Buda Sakiamuni disse: “Eu era este rei Paway Jin. Você, bodisatva Chandraprabhavakumara, era Mentok Dazey”, o que o deixou muito feliz. Posteriormente ele renasceu no Tibete como o Senhor do Darma Gampopa, também conhecido como O Médico. O próprio Senhor do Darma Gampopa disse aos três iogues de Kham: Quando meu nome era Chandraprabhavakumara No tempo do Buda perfeito, O Exaltado Senhor Sakiamuni Ofereceu os ensinamentos do Sutra Rei da Absorção Meditativa a meu pedido. Os grandes bodisatvas recordam suas incontáveis vidas anteriores. No Sutra do Lótus Branco da Grande Compaixão, o Buda também predisse a vinda de Gampopa da seguinte forma:

Ananda, depois de eu morrer, no futuro, surgirá ao norte o Monge Médico, que já prestou serviços a tantos budas. Ele respeitou e honrou muitos budas, desenvolveu a raiz de virtude, desenvolveu o pensamento altruísta, entrou perfeitamente no caminho Mahayana e trabalhou pelo benefício e felicidade de muitos seres sencientes. Ele é um douto erudito que pratica as escrituras dos bodisatvas, louva o Mahayana e ensina perfeitamente o caminho Mahayana aos outros. E assim por diante.

Novamente ele disse: “Ananda, este monge médico fará com que meus ensinamentos floresçam amplamente. Não se entristeça e não lamente.” O grande tradutor Marpa disse a Milarepa: Um filhote nascido de um abutre É um sinal do surgimento de um discípulo incomparável. Todo o espaço sendo preenchido por pássaros É um sinal do florescimento da linhagem Kagyupa.

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Assim foi profetizada a vinda do Senhor do Darma Gampopa, todos seus discípulos e sua linhagem. Vajrayogini também disse a Milarepa que ele reuniria muitos discípulos como o sol, a lua e as estrelas. Dentre eles, Gampopa seria como o sol. Portanto, ele é objeto de oferendas e de refúgio para todos os seres sencientes, incluindo os deuses. Gampopa nasceu em Nyal, no sul do Tibete. Sei pai era Nyiwa Gyalpo e sua mãe Nyalsa. Era o ano do Porco de Terra (1074 D.C.) e o oitavo dia do mês do Vesak. Seu nascimento foi acompanhado de muitos sinais maravilhosos. Ele teve dois irmãos e era o segundo mais velho. Ele estudou muitos temas com seu pai, que era um grande estudioso e praticante. Ele se casou aos vinte e dois anos e teve um filho e uma filha. Ele estudou as diferentes técnicas de cura com o grande professor indiano Kyeme, o médico tibetano Bizi e outros – trinta professores no total. Ele se tornou um curador e médico tão famoso, beneficiando tantos seres sencientes, que era como se o Buda da Medicina tivesse reaparecido. Tanto seu filho quanto sua filha foram levados, de alguma forma, pela lei da impermanência. Logo depois, sua esposa foi torturada por uma terrível doença e não pôde se recuperar de forma alguma. Perto do final, com apego a ele, ela disse: “Não há felicidade na vida de chefe-de-família. Após minha morte, ó Médico, pratique o Darma com todo seu coração.” Ele respondeu: “Quer você sobreviva ou morra eu prometo praticar o Darma.” Lágrimas caíam de seus olhos enquanto ela morria. Este acontecimento levou-o a desenvolver uma forte renúncia. Ele se tornou monge com o Khenpo Loden Sherab de Mangyul, assistido por Sherab Nyingbo de Shang Shung e Changchub Sempa de Yide. Aos vinte e seis anos ele recebeu os votos de ordenação completos e assumiu o nome Sonam Rinchem (Mérito Precioso)1. Gampopa estudou em detalhes o Vinaya com seu primeiro e segundo professores. Ele praticou e se tornou o melhor dos monges na observação dos preceitos, como Upali. Com o Khenpo Loden Sherab de Mangyul ele aprendeu as práticas de Chakrasamvara de acordo com a tradição de Sangkar. Do grande mestre Changchub Sempa de Yide ele recebeu os votos do bodisatva e outras instruções. Ele alcançou a realização de ver todas as aparências fenomênicas como um arco-íris e experimentou o grande pensamento não-conceitual, onde não há diferenciação entre o dia e a noite. Ele podia permanecer em absorção meditativa por sete dias seguidos. Quando ele encontrou o Geshe Drewa, Geshe-la perguntou: “Você tem uma boa absorção meditativa?” Gampopa respondeu: “Minha absorção meditativa não é diferente de uma caminhada em um campo tranquilo e agradável. Eu não tenho dificuldades em sustentar os estados de bem-aventurança, clareza ou pensamento não-conceitual simplesmente posicionando meu corpo.” Além disso, ele estudou a disciplina monástica, bem como o caminho da perfeição e outros. Ele recebeu muitas outras iniciações, ensinamentos tântricos e outras instruções do Geshe Jya-dulzin. Então ele foi ao Geshe Nyukrum e estudou o Lam-rim referente às três pessoas. Gampopa estudou em vastos detalhes e se tornou como um farol da escola Kadampa. Da mesma forma, ele recebeu ensinamentos dos Geshes Chakriwa, Gyayondak e outros, e engajou-se na prática da mente unifocada. Nesta época aparecia para ele em sonhos e durante sua experiência comum um iogue alto de cor azulada, vestindo uma roupa de algodão amarrada em seu ombro e carregando um cajado. Esta figura colocava sua mão sobre a cabeça de Gampopa, então assoprava sobre ela e desaparecia. A meditação de Gampopa se desenvolveu ainda mais. Ele mencionou isto a outro monge que disse: “Você é um monge de moralidade muito pura. O surgimento de tal iogue é um obstáculo criado por Pekar (um protetor do Darma). Você faria melhor em meditar sobre Miyowa.” Gampopa praticou como instruído, mas o iogue visitante apareceu ainda mais frequentemente. Enquanto isso, Milarepa, o Senhor dos Iogues, que alcançou o estado de Vajradhara em uma única vida, estava em Pho Tho (Caverna da Rocha Vermelha), oferecendo ensinamentos aos seus discípulos – iogues e ioguines, incluindo Rechungpa e outros. Os discípulos mais velhos disseram a ele: “Agora você está envelhecendo. Caso você parta para um outro campo búdico e precise de um regente, por favor aponte aquele em quem você confia e dê a ele os ensinamentos completos. Senão não haverá ninguém que possa guiar os discípulos.” Milarepa disse: “Eu sou um iogue. Não haverá um regente para mim. Mas haverá um discípulo que é capaz de realizar todas as minhas atividades. Hoje à noite eu irei ver onde ele está. Voltem amanhã de manhã cedo.” Na manhã seguinte, todos os seus discípulos se reuniram ansiosamente e Milarepa disse: “Logo chegará aquele que é chamado de “Médico”, e que é um monge na tradição do Vinaya. Ele receberá meus ensinamentos completos como se fosse transferido o conteúdo de um vaso para outro. Este é capaz de realizar atividades em todas as dez direções. Na noite passada, em meu sonho, ele veio com um vaso de cristal vazio e eu derramei toda a ambrosia de meu vaso prateado no dele.”

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Ele continuou: “Nasce um filho e o pai já está velho. Haverá um grande ser para espalhar o Darma como o sol nascente e ele beneficiará incontáveis seres sencientes.” Então cantou esta canção: Prostro-me a todos os Senhores Lamas E suplico aos seres amorosos!

O leite da leoa das neves branca do leste Guardado em preciosa tigela de ouro Não deve ser vertido em um vaso ordinário. Se o for, o vaso quebrará e o conteúdo será desperdiçado. As instruções de Naropa e Maitripa – Mesmo sendo renomadas como profundas - Sem a prática elas não possuem profundidade. Após praticá-las há grande profundidade. O pai Marpa as trouxe e eu, Milarepa, as pratiquei. As três palavras de experiência de Milarepa – Apesar de renomadas por serem produtivas e efetivas, Elas não serão oferecidas para um vaso inadequado. Eu as oferecerei quando um vaso apropriado aparecer. Eu as oferecerei quando o filho, Tonpa2, chegar. Neste momento, Gampopa estava caminhando e encontrou três mendigos conversando à beira da estrada. Um deles disse: “Nós três somos tão infelizes. Seria tão maravilhoso se apenas tivéssemos uma boa tigela de vegetais.” O outro disse: “Se você está expressando desejos, então é melhor desejar da seguinte forma: seria maravilhoso ser como o Rei Tsede3.” O terceiro disse: “Tsede também irá experimentar a morte. Nada poderá ajudá-lo neste momento, assim como qualquer outra pessoa. É melhor aspirar a ser como Milarepa, o Senhor dos Iogues. Ele não precisa de roupas e quando não há comida as dakinis lhe trazem ambrosia. Ele pode montar o leão das neves e não teme o nascimento ou a morte.” Ao ouvir isso, Gampopa desenvolveu espontaneamente uma tal devoção por Milarepa que lágrimas vieram aos seus olhos. Por um longo tempo ele não conseguiu nem mesmo andar. Finalmente, ele voltou ao seu quarto e começou a recitar a prece de sete ramos, que era sua prática principal nesta época. Mas ele era interrompido frequentemente e pensou: “O que está acontecendo?” Assim, ele meditou em permanência serena e teve uma experiência de clareza e vacuidade maiores do que nunca. Mais tarde ele convidou os três mendigos ao seu quarto e ofereceu a eles um belo prato de vegetais. Ele perguntou sobre o paradeiro do grande iogue sobre o qual eles tinham estado conversando, e fez muitas outras perguntas. Um dos mendigos disse: “Ele está em Gungthang em Mangyul. Apesar de eu não tê-lo visto por mim mesmo, muitas pessoas vão para lá para vê-lo, mas muitos não o encontram. Alguns veem uma estupa de cristal, alguns o veem como o Buda Sakiamuni. Ele se manifesta de muitas diferentes formas. Na maior parte do tempo ele permanece nas montanhas de Drin e Nyeman.” Gampopa disse: “Eu gostaria de ir até lá. Vocês podem me acompanhar?” Eles disseram: “Você parece jovem, nós não seríamos capazes de acompanhá-lo. Se você for para a região oeste do Tibete, você o encontrará. Ele é celebrado e muito conhecido por lá.” No dia seguinte os mendigos desapareceram, eles deviam ser uma manifestação do próprio Milarepa, inspirando-o a encontrar o lama4. Já tomado por sua devoção anterior, agora Gampopa gerou uma devoção incomparável e decidiu que tinha que ir. Ele pediu permissão aos lamas Kadampa. Ele juntou quatro onças de ouro e algum chá vendendo suas propriedades. Assim, ele iniciou a jornada com um amigo. Quando eles chegaram a Gurmo, seu amigo não pôde prosseguir. Então ele encontrou seu caminho pedindo orientações a diversas pessoas. Em certo momento ele encontrou um mercador de nome Dasang de Nyeman que disse: “Milarepa, o Senhor dos Iogues, cuja renomada realização espalha-se por todo o Tibete, encontra-se em Chuwar nesta época.” Gampopa sentiu-se como se tivesse encontrado o próprio Milarepa. Tomado por alegria ele abraçou, com lágrimas, o mercador, e recebeu orientações detalhadas. Quando Gampopa chegou a Dingri, ele ficou doente devido a uma desordem na sua energia do ar e quase morreu. Ele permaneceu lá por muitos dias sem nem mesmo tomar água. Durante este período ele olhava para a direção onde Milarepa estava e suplicava-lhe.

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Nesta época, Milarepa estava ensinando seus discípulos em Tashi Gang. Às vezes, ele parava para meditar e começava a sorrir. Os alunos perguntavam a Milarepa: “Você vê alguma realização especial na mente de um discípulo afortunado? Ou você vê alguma falha na mente de um discípulo infeliz?” Milarepa disse: “Não vejo nenhum dos dois.” Eles perguntaram novamente, dizendo: “Então qual é a razão para o seu comportamento?” Milarepa respondeu: “Meu filho, o professor do Tibete central chegou a Dingri. Ele sente dor em todo seu corpo. Ele está suplicando ao lama com lágrimas nos olhos. Pelo poder de sua devoção surgiu compaixão em mim e eu o abençoei em minha meditação. Eu fiquei feliz, e por isso sorri.” Lágrimas também escorriam dos olhos de Milarepa. Finalmente, Gampopa encontrou Milarepa em Tashi Gang, e fez oferendas de chá, ouro e outras coisas, e prostrou-se muitas vezes. Juntando suas mãos no coração ele disse: “Atravessei uma longa distância, enfrentei muitas dificuldades, sempre ansiando pelos preciosos ensinamentos. Por favor, aceite-me como discípulo.” Milarepa disse: “Eu tenho alguns discípulos que vieram até mesmo da Índia, que é muito mais distante do que o lugar de onde você veio.” Ele ofereceu a Gampopa o resto do néctar de sua kapala e disse a ele para bebê-lo. De início, Gampopa hesitou em aceitar, por ser um monge e estar diante de tantas pessoas ali. Milarepa disse: “Não seja indulgente, com um monte de pensamentos, apenas beba.” Gampopa, com medo de cometer algum erro, bebeu tudo. Este foi um sinal auspicioso de que ele era um vaso apropriado e que receberia todos os ensinamentos. Milarepa perguntou: “Qual é o seu nome?” Ele respondeu: “Sonam Rinchen.” Milarepa disse: “Mérito (Tib. sonam) se refere à reunião da grande acumulação. Precioso (Tib. rinchen) significa que você é precioso para todos os seres sencientes.” Ele repetiu isto três vezes. Gampopa, então, pediu-lhe para contar sobre sua vida e liberação. Milarepa disse: “É maravilhoso que você tenha vindo até aqui por devoção a mim, mas eu não quero seu ouro ou chá. Use-os como provisões para a sua própria meditação. Esta é a canção de minha vida e liberação:” No espaço, darmakaya livre de elaborações, Reúnem-se as nuvens da incessante compaixão. Presto homenagem aos pés do bondoso Marpa, Senhor e refúgio para os seres afortunados. Meu filho Rechungpa está à direita, E Shiwa Wo à esquerda, Apoiado à direita e à esquerda, Médico, ouça esta canção! Na terra da glória imaculada Existem muitos que se vangloriam. Mas, na Índia central, dois são renomados como o sol e a lua. Naro e Maitri são estes dois. O filho do coração destes dois grandes sidas, A corporificação dos budas dos três tempos, É Marpa Lotsawa, o tradutor. Por ele ser o regente da mandala, E para atrair os seres afortunados, Seu renome foi espalhado pelos dakas e dakinis. Ao ouvir seu nome não ofereci resistência. Com grande esforço cheguei até ele. Ao vê-lo, fui tomado por grande alegria e felicidade. Prestei homenagem aos seus pés de lótus, Supliquei a ele para me conceder as instruções profundas E para ensinar-me a realização da iluminação nesta mesma vida. O pai-buda disse, ‘Devido à compaixão amorosa de Naro, Eu possuo a espada dos ensinamentos Que cortam a continuidade do samsara nesta vida.’

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O Ornamento da Preciosa Liberação Gampopa

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Sendo pobre, eu não tinha posses para oferece-lhe. Assim, eu o satisfiz com o esforço de minhas três portas5. Com a compaixão dos conhecedores dos três tempos Ele compreendeu minha aspiração. De sua grande mente compassiva Eu recebi todos os ensinamentos das quatro correntes de linhagens Sem omissão ou adição. Assim ele garantiu. Ele também disse, ‘Nesses tempos de degenerescência Não temos muito tempo livre e há muitos obstáculos. Não caia na armadilha do mero conhecimento. Tome a prática de meditação como essência.’ De modo a retribuir a generosidade do lama, Açoitado pelo medo da morte, Pelo poder da mente, com a força da perseverança, Eu transformei o mau augúrio do pensamento conceitual. Ao realizar a verdadeira natureza dos três venenos, Reconheci o estabelecimento simultâneo da face dos três kayas. De forma a transmitir aos seres afortunados Todas as bênçãos, experiência e realização da linhagem, Irei instruí-lo nos profundos ensinamentos. Portanto, pratique e propague os ensinamentos. Assim, Médico, por favor tenha isto em mente, Fique relaxado e não tenha pressa. Esta é a minha vida e liberação, um iogue. Mais tarde teremos discussões mais detalhadas. Ouro e este velho homem não combinam, Também não tenho chaleira para fazer chá. Se você pretende realizar a linhagem Kagyu Observe minha vida e pratique como eu. Esta é a minha resposta para sua questão. “As iniciações e ensinamentos que você recebeu anteriormente não são insuficientes, mas para que seja auspicioso e pela glória da interdependência, eu irei dar a você as iniciações.” Usando a mandala de Sindhura6 Milarepa procedeu com todas as iniciações e transmitiu todas as bênçãos da Linhagem Oral. Gradualmente, passo a passo, ele passou alegremente todos os ensinamentos e instruções profundos. Gampopa praticou a meditação por um ano e realizou todas as qualidades das energias dos canais e dos ventos, e alcançou a certeza sobre as instruções do lama. Muitos pensamentos sobre os ensinamentos de seus lamas anteriores surgiram, e ele os discutiu em detalhes com Milarepa. Milarepa esclareceu todas as suas dúvidas e hesitações. “Veja, professor médico, não corra atrás da visão, mas siga a prática de meditação. Existem muitas formas de se perder na prática da vacuidade, também é possível enganar-se sobre as próprias experiências.” Milarepa disse isto e continuou com os detalhes. Então ele cantou esta canção. A Visão! Olhe para sua própria mente. Se você busca a visão fora da mente... Veja, Médico! É como um super-humano buscando riquezas. A Meditação! Não afaste as falhas da letargia e da excitação. Se você afastar as falhas da letargia e da excitação na meditação... Veja, Médico! É como segurar uma lâmpada sob o sol. A Conduta! Não discrimine entre aceitação e rejeição. Se você discriminar entre aceitação e rejeição em sua conduta... Veja, Médico! É como estar preso em uma teia.

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O Samaya! Tenha confiança na visão. Se você buscar em outro lugar além do samaya que não precisa de proteção... Veja, Médico! É como tentar reverter o curso de um rio. O Resultado! Estabeleça a certeza em sua mente. Se você buscar qualquer outra coisa além do resultado que nada atinge... Veja, Médico! É como um sapo pulando no céu. O Lama Absoluto! Habitue sua própria mente. Se você procura o lama em qualquer lugar além de sua própria mente... Veja, Médico! É como abandonar sua própria mente. Portanto, toda essa existência visível do samsara e do nirvana... Veja, Médico! É o produto de sua própria mente. Então Gampopa pensou: “Isto tudo é verdade”, e fez um esforço ainda maior em sua prática de meditação. Certa vez, ele sonhou com vinte e quatro diferentes presságios, que ele contou a Milarepa7. Ele explicou todos os detalhes em uma canção e disse: “Meu filho, médico-Tonpa, os sinais que você recebeu são previsões sobre sua futura linhagem. Guarde em sua mente os detalhes do seu significado como eu expliquei sem esquecimento, e seja uma testemunha se eles estão corretos ou não: você alcançará a realização direta da natureza livre de confusões de sua mente. Neste momento, sua mente desenvolverá uma grande devoção, maior ainda do que agora, e você me enxergará como o Buda Vajradhara. Você estará livre de nascimento e morte ainda nesta vida.” “De modo geral, se você deseja ser um meditante perfeito, não se apegue a sinais como sonhos e outras experiências, senão Mara poderá segui-lo.” “Não dê ouvidos ao que os outros dizem, exceto pelas instruções do lama e suas próprias decisões definitivas. Agir de outra forma apenas fará com que sua mente encontre obstáculos. Ofereça suas três portas ao lama.” “Siga as instruções do lama sem deixar sua mente vaguear nesta ou na próxima vida. Se agir de forma contrária, há o perigo de experimentar a primeira falha-raiz do mantra secreto, que destrói a raiz da felicidade nesta e nas vidas futuras.” “Não julgue as falhas dos amigos no Darma. Não seja artificial e não tenha pensamentos negativos; isto pode gerar uma falha-raiz por não compreender as mentes dos outros.” E assim por diante, Milarepa deu muitas instruções essenciais detalhadas. Então ele disse: “Você não precisa permanecer aqui. Vá para um lugar ao leste, uma montanha chamada Gampo. Ela parece com um rei sentado em seu trono, e o pico da montanha é como o meu chapéu. Seu campo é como uma mandala dourada. A frente da montanha é como um monte de joias preciosas. A parte de trás é como seda branca costurada. As sete montanhas à frente são como ministros fazendo prostrações. Vá para lá e você reunirá muitos alunos.” E assim Milarepa cantou esta canção: Meu filho Tonpa, você irá para o Tibete central ou não? Tonpa, se você for, Pode surgir, às vezes, o desejo por comida. Quando o desejo por comida vier, tome a absorção meditativa não-aflita como alimento. Compreenda todos os sabores deliciosos como ilusão. Experimente o que quer que surja como darmakaya. Às vezes pode surgir o desejo por roupas. Quando o desejo por roupas surgir, vista a calorosa alegria do tummo como roupa. Compreenda que todas as coisas finas e macias são ilusão. Experimente o que quer que surja como darmakaya. Às vezes pode surgir a saudade de sua terra natal. Quando a saudade de sua terra natal surgir, tome o local permanente da

talidade do Darma como sua casa. Compreenda que sua terra natal é ilusão.

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Experimente o que quer que surja como darmakaya. Às vezes pode surgir o desejo por riquezas. Quando surgir o desejo por riquezas, tome as sete nobres joias8 como riqueza. Compreenda que todas as riquezas são ilusórias. Experimente o que quer que surja como darmakaya. Às vezes pode surgir o desejo por companhia. Quando o desejo por companhia surgir, tome a sabedoria primordial autossurgida como companhia. Compreenda que todas as companhias são ilusórias. Experimente o que quer que surja como darmakaya. Às vezes pode surgir saudade do lama. Quando surgir saudade do lama, suplique a ele no topo de sua cabeça sem separação. Medite sobre ele no centro de seu coração sem esquecimento. O lama também é ilusão e sonho. De modo geral, compreenda que todas as coisas são ilusão. A montanha Gampo no leste É como um rei sentado em seu trono. Lá, alunos se encontram diante desta montanha. Vá para lá e beneficie os seres sencientes. Você, filho, irá beneficiar muitos seres sencientes. O seu nome agora é Bhikshu Vajradhrik Jambudipakirti9. Dito isto, Milarepa concedeu a ele todas as iniciações completas, as bênçãos dos ensinamentos e das instruções essenciais, até mesmo a torma das dakinis e dos protetores do Darma. “Filho, você irá beneficiar muitos seres sencientes. Quando você chegou, ocorreram muitos sinais maravilhosos. Enquanto você esteve aqui, nós competimos e você sempre esteve à frente. Eu sonhei que você irá beneficiar ainda mais seres do que eu.” E assim o lama se despediu dele. Eles caminharam por uma certa distância. Quando se aproximaram de uma ponte Milarepa disse: “Por certas razões não cruzarei esta ponte. Coloque no chão sua carga e teremos uma última conversa.” Milarepa deu a ele uma arura10 dourada abençoada e fósforos metálicos como presente de despedida. “Quando eu passei por momentos difíceis buscando a realização, eu me beneficiei muito desta instrução. Talvez você possa encontrar dificuldades, ocasionalmente, com as oscilações de sua prática de meditação. Assim, estas instruções podem ser úteis.” Então ele deu a Gampopa as instruções sobre a natureza não-dual da mente e sobre a energia do ar do Mahamudra. “De modo geral, você será um meditante perfeito. Evite a arrogância da linhagem de sua família. Corte as amarras aos parentes e amigos e se afaste das atividades mundanas. Seja um filho das montanhas. Unifique todos os Darmas e pratique. Suplique a este velho pai. Além disso, não se deixe acompanhar por pessoas que corporificam fortemente os três venenos, pois elas podem influenciá-lo. Seja cauteloso e atento como um animal selvagem ferido ou um pássaro. Seja pacífico e controlado. Você deve ter grande paciência e ser harmonioso com todos. Mantenha-se limpo e arrumado. Tenha poucos pensamentos. Passe o tempo de seu retiro em silêncio com a porta selada. Enquanto estiver nas montanhas não deixe sua mente se dispersar com comida, bebida e rituais.” “Não abandone seu mestre vajra, mesmo que você compreenda que sua mente é como o Buda. Reúna pequenas acumulações, mesmo que tenha aperfeiçoado as práticas de acumulação e purificação. Seja cuidadoso até mesmo com as pequenas não-virtudes, mesmo que você compreenda que a natureza do carma e do resultado é como o espaço. Pratique a Guru Ioga em quatro sessões, mesmo que você compreenda a inseparabilidade entre o equilíbrio meditativo e o estado pós-meditativo. Não calunie o Darma ou qualquer outra pessoa, mesmo que você compreenda a natureza da equanimidade entre você e os outros. Filho, tente retornar antes do décimo quarto dia do mês do cavalo do ano da lebre.” Então ele cantou esta canção: Filho, quando a liberação da elaboração surgir em sua mente, Não procure por palavras ou rótulos. Há o perigo de ficar preso nas oito preocupações mundanas. Filho, posicione sua mente sem arrogância. Você, Tonpa do Tibete Central,

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Você compreende, Médico de Dakpo? Filho, quando a liberação surgir em seu interior, Não use o raciocínio lógico. Há o perigo do esforço sem significado. Filho, posicione sua mente sem pensamentos conceituais. Você, Tonpa do Tibete central, Você compreende, Médico de Dakpo? Filho, quando você realizar a natureza vazia de sua mente, Não investigue se ela é “uma ou muitas”. Há o perigo de cair no niilismo. Filho, posicione sua mente livre de elaborações. Você, Tonpa do Tibete central, Você compreende, Médico de Dakpo? Filho, quando você meditar no Mahamudra, Não faça esforço nas ações virtuosas de corpo e fala. Há o perigo de que a sabedoria primordial não-conceitual possa se dissipar. Filho, posicione sua mente em um estado não-confuso. Você, Tonpa do Tibete central, Você compreende, Médico de Dakpo? Filho, quando sinais e previsões aparecerem, Não se deixe atrair ou fixar demasiadamente. Há o perigo de essas aparências terem ocorrido pelo poder de Mara. Filho, posicione sua mente livre de fixações. Você, Tonpa do Tibete central, Você compreende, Médico de Dakpo? Filho, quando você estiver estabilizando sua mente, Não busque a clarividência. Há o perigo da felicidade e arrogância influenciadas por Mara. Filho, posicione sua mente livre de expectativas. Você, Tonpa do Tibete central, Você compreende, Médico de Dakpo? O Tonpa do Tibete central, Gampopa, prostrou-se aos pés de Milarepa com lágrimas nos olhos. Milarepa disse: “Eu vou lhe dar as quatro iniciações de uma só vez, e dê-se por satisfeito.” Assim, a iniciação da deidade foi concedida ao seu corpo, e seu corpo foi abençoado pela mandala da deidade. A iniciação do mantra abençoou sua fala, e ele recebeu a bênção da fala como mantra. A iniciação do Darma abençoou sua mente e introduziu a mente não-nascida como o darmakaya. Milarepa colocou seus pés na coroa da cabeça de Gampopa, e o iniciou nas qualidades infinitas do Vajracharya. E assim foi transmitida a iniciação do samadhi. “Agora, eu tenho mais uma instrução essencial profunda, mas não ouso dá-la. Assim, por favor, vá!” Milarepa ficou para trás enquanto Gampopa cruzava a ponte e já se ia a alguma distância. Então, quando ele mal conseguia ouvi-lo, Milarepa o chamou de volta. Milarepa disse: “A instrução que eu não ouso dar – se eu não a der a você, então a quem seria?” Gampopa ficou muito feliz e perguntou: “Devo fazer uma oferenda de mandala?” Milarepa disse: “Não, não é necessário fazer uma oferenda de mandala, mas não desperdice essa instrução.” Milarepa levantou a parte de trás de sua roupa e mostrou suas nádegas, cheias de calos. “Dentre todas as instruções essenciais, não há nenhuma mais profunda do que a prática de meditação. Eu meditei persistentemente até que minhas nádegas ficaram assim e alcancei grandes qualidades. Você também deve praticar meditação com perseverança.” Isso impressionou Gampopa profundamente. Então, como o lama havia previsto, ele foi para o Tibete central. Milarepa reuniu seus discípulos e disse: “Este médico-Tonpa irá beneficiar muitos seres sencientes. Na noite passada, em meu sonho, um abutre voou de mim até o Tibete central e pousou no topo de uma

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grande montanha. Gansos dourados lá se reuniram vindo de todas as direções. Após um instante, os gansos partiram e cada ganso reuniu 500 mais. Finalmente, todo o país estava preenchido por gansos. Eu vivo como um iogue, mas minha linhagem terá muitos seguidores monges. Este médico irá beneficiar incontáveis seres sencientes. Eu contribuí grandemente para os ensinamentos do Buda.” E assim, ele ficou satisfeito. Gampopa foi para o Tibete central onde encontrou novamente seus lamas Kadampa. Eles se engajaram em muitas discussões e Gampopa acabou focando em práticas rituais. Mas ele não estava obtendo progresso em sua meditação, não experimentou o calor e os sinais da absorção meditativa como antes. Então, Gampopa desesperou-se e suplicou a Jetsun Mila unifocadamente. Como um relâmpago, ele experimentou o surgimento de Milarepa diante dele. Naquele momento, ele realizou a natureza completa do modo de permanência do Mahamudra. Ele cantou esta canção: Eh Ma Ho! (Que maravilha!) Esta clara luz da sabedoria prístina autoconsciente, Além de existência e inexistência, Está livre de eternalismo ou niilismo. Clara, livre de identificações. Por ser sabedoria primordial Está livre de surgimento ou cessação. Tem a natureza da bem-aventurança, livre de elaborações, Naturalmente livre, sem objetos. Experimente a bem-aventurança sem identificações! Experimente a clara sabedoria primordial da vacuidade! Experimente a claridade primordial sem necessidade de esforços! Experimente a não-dualidade inseparável! Experimente a clara luz sem aceitação ou rejeição! Experimente o resultado sem esperança ou medo! Que maravilhoso que minha mente encontrou esse significado! Ao surgir certeza na mente, não há oscilações. Ao compreender todas as coisas como enganosas, não há o medo do apego. Ao compreender toda a diversidade como mente, há liberação do abandono e da realização. Ao enxergar as emoções aflitivas como sabedoria primordial, não há necessidade de antídotos. Quando a mente é realizada desta forma, O darmakaya se estabelece espontaneamente. Gampopa atou um mala de sementes bodhi de 121 contas ao tronco de uma árvore e disse: “Se todos os budas dos três tempos profetizaram a minha existência, esse mala irá brotar desta árvore viva.” Dito isso, ramos e folhas verdes nasceram. Neste momento ele disse: “A natureza não-nascida da mente não existe sob qualquer forma. Ela pode claramente se manifestar de todas as formas, qualquer coisa é possível. Que maravilhoso é isto!” E ele cantou assim: Esta mente da talidade, clara e vazia – Esta é a visão que eu compreendo agora. Esta mente comum, não-dispersa11 - Esta é a meditação que eu compreendo agora. Esta consciência interdependente, sem fixações – Esta é a experiência que eu compreendo agora. Esta certeza que surge na mente – Esta é a realização que eu compreendo agora. Este desapego que flui livremente – Esta é a conduta que eu compreendo agora. Esta natureza clara e vazia da consciência –

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Este é o darmakaya que eu compreendo agora. Esta mente pura que nada atinge – Este é o resultado que eu compreendo agora. Que maravilhosa é a vastidão da mente preciosa! Este é o próprio resultado, surgindo ao mesmo tempo que a causa. Não realizado ou visto, Ele não é percebido pela percepção maculada. Gampopa foi a Wolkha, Nyang Gom, Sangrirepa e assim por diante, e estabeleceu muitos discípulos no amadurecimento e na liberação, quando, então, cantou esta canção: Irei cantar uma canção da esfera da talidade do Darma, Juntando algumas palavras que vêm da sabedoria primordial, E que irão estabelecer o significado da não-dualidade. Esta compaixão pelos outros sem apego – Guarde-a firmemente como um método supremo. Esta consciência coemergente – Guarde-a firmemente como sabedoria primordial. Esta experiência de certeza do pensamento conceitual da percepção – Guarde-a firmemente como o darmakaya. Quando for experimentada, a essência será vista. Estas aparências habituais e o som dos rótulos – Guarde-os firmemente como o absoluto. Quando a estabilidade é alcançada, a verdade será vista. Se você deseja realizar este significado, Pratique como a corrente de um rio: Posicione-se relaxadamente sem muita confusão, Posicione-se naturalmente sem investigações, Posicione-se no estado livre de objetos sem trazer coisa alguma à mente. Unifique experiência e realização: É realização quando não há mais interrupção, É de uma única natureza quando é como o espaço, É quando você enxerga a própria mente como o Buda. Acredito que vejo diretamente a talidade do Darma. Acredito que a percepção libera-se por si mesma. Acredito que a espontaneidade é atingida sem expectativas. Isto não é algo para os seres comuns. Não pode ser compreendido mesmo pelos grandes estudiosos. Não pode ser compreendido mesmo pelos muito inteligentes. Não é objeto dos dialéticos. Encontra-se no caminho das bênçãos magníficas. Depende da fala dos lamas. Será realizado por aqueles com devoção. É o caminho de todos os meditantes. Não é benéfico contar a todos. Após isto, Gampopa permaneceu em meditação por um longo tempo e deu ensinamentos a muitos discípulos. Como Milarepa tinha previsto, a deidade local Wote Gong Gyal relembrou-o de ir para Daklha Gampo, onde ele pretendia permanecer em retiro em uma caverna com as portas seladas por doze anos. Mas

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uma dakini falou com ele da seguinte forma: É melhor propagar os ensinamentos do Darma por doze anos Do que ficar em retiro atrás de uma porta selada. Dito isto, ela desapareceu. Não muito tempo depois, Lok Kya Tonpa de Tsang, que era pretensioso e estava bastante envolvido com as oito preocupações mundanas, aproximou-se dele. Quando ele pediu por ensinamentos, Gampopa cantou desta forma: Os cinco agregados são o Buda – Não teria você estado apegado ao corpo ordinário? A conduta do mantra secreto interior – Não teria você estado deludido pela conduta inferior? A árvore da vida do samaya e dos votos – Não os teria você queimado com o fogo das emoções aflitivas? Os seres sencientes dos seis reinos que foram suas mães – Não os teria você abandonado por seu próprio medíocre benefício? A concentração meditativa ininterrupta – Não teria você estado disperso por elaborações? A visão imutável, naturalmente estabelecida – Não teria você caído nos dois extremos? A meditação da bem-aventurança e da clareza livre de apegos – Não teria você estado preso à cola da experiência? A conduta naturalmente automanifesta – Não teria você estado deludido pela conduta pretensiosa? A ação atemporal dos votos superiores – Não teria você quebrado o samaya do mantra secreto? Não possuindo confiança interior – Não estaria você contradizendo carma e resultado? Todos os meditantes sem qualificações – Não estariam eles pressionados pela montanha do orgulho? Não estaria você preso à teia das oito preocupações mundanas? Não teria você sido apanhado pelo gancho desta vida? Todos os meditantes, observem cuidadosamente! Existem muitos precipícios perigosos e inesperados em que podem cair. Quando Gampopa falou desta forma, Lok Kya Tonpa compreendeu totalmente o significado e praticou sinceramente com grande devoção. Mais tarde, ele se tornou um iogue bastante conhecido. Com o tempo, Gampopa reuniu incontáveis discípulos do Tibete central, do sudoeste e do leste. Eles eram vasos adequados, incluindo 500 bodisatvas que atingiram níveis elevados como o mestre Khyung Tsang Chen, os três sidas de Kham e assim por diante. A maior parte deles alcançou a confiança nas práticas dos canais e energias, possuía o olho sobrenatural da clarividência e seguia os doze treinamentos da vida ascética12. Eles passavam seu tempo em um lugar sagrado por trás de portas seladas. Desta forma, todo o país foi preenchido por grandes mestres.

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SEÇÃO 2: Manifestações Milagrosas

Gampopa realizou inconcebíveis e magníficas manifestações. Segue-se apenas um breve relato. O povo de Lhasa testemunhou a chegada de Gampopa no décimo terceiro dia do primeiro mês. Lá, ele fez preparações, e no décimo quarto dia realizou uma cerimônia de consagração. No décimo quinto dia ele concluiu com um ritual de agradecimentos. Isto foi relatado por muitas pessoas de Lhasa. O patrono Gebum disse: “O lama veio para a minha casa no décimo terceiro dia e fez preparações. No décimo quarto dia ele realizou uma cerimônia de consagração, e no décimo quinto fez uma cerimônia de agradecimentos. E então ele voou para o céu! Que maravilhoso!” Os monges de seu monastério disseram: “Gampopa saiu do retiro no décimo terceiro dia, deu instruções de meditação no décimo quarto, décimo quinto e décimo sexto dias para todos aqueles que tinham se reunido, vindo de todos os lugares do Tibete. Ele não foi a lugar algum.” Então, seu assistente Salgyang disse: “Durante os três meses do inverno o precioso lama permaneceu em retiro em seu quarto. Ele não deu ensinamentos, permanecendo em jejum e em silêncio.” Assim, ele tinha se manifestado em quatro lugares ao mesmo tempo. Certa vez, o discípulo Legze perguntou: “No passado, os Ouvintes e outros foram capazes de realizar a absorção meditativa chamada de exaustão e supressão. Por que não mais agora?” Gampopa respondeu: “Porque você ainda não treinou sua mente o bastante.” Na manhã seguinte, Legze foi oferecer iogurte ao lama, mas o que ele viu na cama de Gampopa foi uma grande fogueira que tocava o teto. Ele ficou tão apavorado que saiu correndo e contou para Salgyang. Os dois voltaram rapidamente para o quarto. Não havia fogo algum, apenas o Senhor do Darma sentado em seu trono. Desta forma, ele demonstrou a realização da absorção meditativa chamada de exaustão e supressão dos cinco elementos. Em outras ocasiões, muitos discípulos testemunharam que, ao sol do dia e à luz da noite, Gampopa não produzia sombra. Uma vez o meditante Loten veio para fazer uma oferenda de papel. O assistente de Gampopa permitiu que ele fizesse a oferenda pessoalmente. Ele voltou e perguntou: “Quem fez aquela estátua de Chenrezig de Mil Braços? É tão bela e maravilhosa! E onde se encontra o lama?” Quando o assistente o levou novamente para o quarto não havia estátua, apenas o lama. Outra vez o mestre Gomtsul disse: “Que surpreendente! O bodisatva que atinge os níveis superiores pode revelar todos os 3000 universos na menor semente de mostarda. A semente de mostarda não é menor que os 3000 universos e os 3000 universos não são maiores do que ela.” Gampopa disse: “Este é o modo natural da talidade do Darma. Qualquer coisa é possível no estado convencional. Um corpo inteiro pode ser refletido em dois pequenos olhos. Um espelho de quatro polegadas pode refletir os corpos completos de elefantes e cavalos. Uma pequena poça pode refletir a lua e o céu.” Ele disse: “Olhe para mim!” Gampopa tinha se transformado no corpo do Buda maior do que a montanha Gampo, enquanto permanecia em seu quarto, que era capaz de acomodar cinco pessoas. Gampopa disse: “Quando eu estava em Sang Lung13, eu compreendi a forma como os três kayas se manifestam. Com isso, eu fiquei muito feliz. Antes, quando eu recitava mantras, os demônios e espíritos podiam me prejudicar. Agora, mesmo que eu não recite um único mantra, estes demônios e espíritos não podem chegar até mim. Antes, quando eu encontrava geshes e eruditos eu tinha insegurança. Agora, não importa a grandeza do erudito que eu encontre não há insegurança porque a porta do Darma está aberta.” Uma vez o discípulo Gargom pediu a Gampopa a transmissão da prática de Chakrasamvara das treze deidades. Durante a cerimônia, uma corrente de mantras radiantes saiu de sua boca e se dissolveu em Gargom. Ele desenvolveu grande devoção e enquanto prostrava-se viu Gampopa na forma de Chakrasamvara com quatro faces e doze braços. Outra vez, a mãe do discípulo Kyogom faleceu. Kyogom fez uma imagem dos budas das cinco famílias, trouxe-a ao lama e pediu por uma bênção de consagração. Ele disse: “Por favor, faça-o rapidamente porque o corpo deve ser cremado logo.” Gampopa respondeu: “Sim, está certo. Queime um incenso e faça uma oferenda de mandala.” Então ele manifestou-se na forma do Buda. De seu ushnisha irradiou-se luz colorida de arco-íris e dissolveu-se nas imagens. O som surpreendente e maravilhoso de música podia ser ouvido dos céus e caiu uma chuva de flores. Ele olhou para o céu e disse: “É assim que se faz uma consagração rapidamente.” Certa vez um pastor entrou na prática de meditação ao apenas ouvir o nome de Gampopa. Havia um homem chamado Gyalgom Dorje que, apesar de nunca ter visto Gampopa, experimentou a realização de sua meditação através de oferendas de mandala feitas com devoção. Outra vez, Nyang Tang e Shergom estavam indo pedir instruções de meditação a Gampopa. Mas

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neste dia eles não conseguiram chegar a Gampo e pararam em uma estação nas colinas, cheios de devoção. No meio da noite Nyang realizou o Mahamudra, assim como Shergom na aurora. Uma mulher leprosa de Wolkha não podia se aproximar devido às feridas em suas pernas e mãos. Ela olhou para o pico da montanha onde o lama vivia, rezou e suplicou a ele com devoção. Mais tarde, ela se recuperou de sua doença e foi encontrar o lama. Ela recebeu muitas instruções e se tornou altamente realizada. Uma vez, ele estava em pé, vestido com seus três mantos do Darma, enquanto fazia o mudra do néctar dos polegares unidos. No primeiro dia ele manifestou sete corpos, no segundo ele apareceu sob quatorze formas, e no terceiro suas formas preenchiam completamente a caverna. Então, todas as formas se dissolveram em seu corpo novamente. O Senhor Gampopa demonstrou inconcebíveis manifestações. Aqui, apenas um pequeno número delas foram contadas. SEÇÃO 3: O Método de Ensino de Gampopa

O Senhor Gampopa guiava seus discípulos através do Lam rim, e para os praticantes mais avançados ele dava instruções sobre o Mahamudra e as Seis Iogas de Naropa. Desta forma, ele ofereceu incontáveis ensinamentos, vastos e profundos, a muitos grandes discípulos. Essas coleções podem ser estudadas por qualquer um que tenha interesse. Esse Senhor do Darma, que era a corporificação da compaixão, possuía habilidade excelente em guiar os discípulos para a iluminação livre de toda confusão e das causas do sofrimento. Em certas ocasiões, ele ensinava desta forma:

Contemplar a impermanência é a causa-raiz de uma prática de meditação bem sucedida. Portanto, relembre isto para liberar a mente do apego. É muito importante focar causa e efeito, carma e resultado, porque isso nos permite ser sinceros em nossa prática e atividades. Se esses ensinamentos não forem guardados com firmeza na mente, sua prática do Darma não fluirá bem. Aquele que carrega essas instruções em seu coração será sempre um praticante muito sincero que se esforçará para liberar-se do samsara. É importante treinar sua mente em bondade amorosa, compaixão e bodicita. Se elas estiverem firmes em seu coração, cada ação será uma causa para beneficiar os outros seres. Sem isto não será possível alcançar os dois corpos da forma – o nirmanakaya e o sambogakaya. Sem conquistá-los não será possível atingir o darmakaya, pois eles são interdependentes. Se o darmakaya não for realizado, não haverá liberação do samsara. Por exemplo, é como ter medo do céu. Não importa onde você renasça, estará no estado samsárico. Bodicita relativa é importante no início porque sem ela não estaremos na família Mahayana. É importante no meio, porque sem este caminho pode-se cair nos caminhos dos Ouvintes ou dos Realizadores Solitários. É importante no final porque sem ela não atingiremos os dois corpos da forma. A contemplação da impermanência é importante no início porque sem ela não teremos desapego a esta vida. É importante no meio porque sem ela tomaremos as coisas como permanentes e não nos liberaremos delas. É importante no final porque os significados da impermanência e da vacuidade são os mesmos. A consciência do carma e do resultado é importante no início porque levará à pura ética moral e fechará as portas dos reinos inferiores. É importante no meio porque enxergar tudo como um sonho ou ilusão fará com que as duas acumulações sejam realizadas. É importante no final porque os dois corpos da forma serão atingidos aperfeiçoando o estado convencional. Todos os estágios são essenciais. Aqueles que não guardarem essa instrução em seus corações permanecerão apegados aos parentes, amigos e riquezas. Mesmo que realizem a natureza imutável da vacuidade não irão se beneficiar disto, e poderiam até mesmo ir para os reinos inferiores em vez dos superiores. Portanto, vocês devem se desapegar desta vida. Treinem-se na visão de todos os fenômenos como sonhos ou ilusões, treinem suas mentes em bondade amorosa, compaixão e bodicita. Se estas forem praticadas adequadamente, vocês renascerão nos reinos superiores e estarão afastados das existências inferiores.

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Esse ensinamento enfatizava a importância dos meios hábeis do método. Às vezes ele colocava a ênfase de outra forma:

Ao realizar a natureza imutável da vacuidade através da prática de tummo, o foco se encontra na sabedoria discriminativa. A prática de meditação na natureza imutável da vacuidade é o refúgio na esfera do Darma que tudo permeia. É a bodicita absoluta. São os votos não-aflitos. É a forma absoluta de manter o samaya. É a compaixão sem objetos e assim por diante. Todas as outras práticas do Darma estão incluídas nesta. Se você quiser alcançar uma realização pura e absoluta do Darma, então o Darma deve ser praticado de acordo com o Darma. A prática do Darma deveria seguir o caminho da iluminação e toda a confusão do caminho deve ser dissipada. Confusão e erro devem ser realizados como sabedoria. Ao contemplar a morte, todo o apego ao samsara é revertido. Ao contemplar as falhas do samsara e causa e efeito, haverá o afastamento de todas as ações não-virtuosas. Ao meditar na bondade amorosa, compaixão e bodicita a mente afasta-se do interesse na própria paz. Ao meditar na vacuidade que tudo permeia a mente se afasta das fixações aos conceitos e objetos como sendo reais.

Instruções sobre essas técnicas de meditação também eram ensinadas tanto através de meios hábeis quanto através da sabedoria discriminativa:

Mesmo que você realize sua mente como o Buda, não abandone o mestre vajra. Mesmo que você realize todas as aparências como mente, não interrompa a acumulação de virtudes. Mesmo que você não tenha medo de renascer no reino dos infernos, abstenha-se das não-virtudes. Mesmo quando a iluminação for alcançada, não difame ou abuse do Darma. Mesmo que você desenvolva grandes qualidades de absorção meditativa, não seja orgulhoso. Mesmo que você realize a natureza não-dual de samsara e nirvana, permaneça em um local solitário. Mesmo que você realize a natureza inseparável de você mesmo e dos outros, não abandone a prática da grande compaixão.

Essas instruções eram passadas para os discípulos bastante realizados. Todas essas instruções eram oferecidas sem distinções aos monges e leigos, homens e mulheres, velhos e jovens, estudiosos e analfabetos e outros. Conhecendo claramente as mentes dos praticantes, Gampopa apenas oferecia ensinamentos de acordo com as faculdades mentais, disposição, interesse e nível de experiência meditativa de cada indivíduo. Então, o Senhor Phagmo Drupa perguntou a Gampopa: “Quando é o momento de agir para beneficiar os seres?”7 Ele respondeu desta forma:

Quando se alcança o grande estágio do sabor único, então podem-se guiar discípulos. Até lá, não terá sido alcançada a clarividência. Sem clarividência não será possível saber o nível das mentes das pessoas ou se é a hora de oferecer um ensinamento ou não. Quando se possui a realização do estado não-meditativo, então, com grande compaixão, a mente operará espontaneamente para o benefício dos seres. Quando se está completamente livre do apego e preocupação por esta vida, a grande compaixão surge continuamente e os outros seres sencientes são beneficiados perfeitamente.

Em resumo, o Senhor do Darma possuía grande habilidade ao ensinar. Para aqueles que eram eruditos ele dava instruções com base na autoridade escritural. Para aqueles que não tinham estudado ele explicava as instruções diretamente através de exemplos. Qualquer tipo de método de ensino convencional, fosse uma sessão longa ou curta, acabava levando à iluminação pela combinação de método e sabedoria. A todos os praticantes sinceros e dedicados, ele dava o seguinte tipo de instrução para guiar seu comportamento: Grande ódio pelos inimigos,

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Grande apego aos parentes e amigos, E grande apego às riquezas – Estas são as preocupações mundanas dos praticantes do Darma. As três devem ser evitadas se desejarmos praticar o Darma de forma pura. As três devem ser evitadas se desejarmos praticar o Darma com o coração. Negociando do sul ao norte, Escravizando seus pés14, E destruindo formigueiros no campo15 – Estas são as preocupações mundanas dos praticantes do Darma. As três devem ser evitadas se desejarmos praticar o Darma de forma pura. As três devem ser evitadas se desejarmos praticar o Darma com o coração. Um velho Tonpa tornando-se chefe-de-família, Outro, desgostoso, acumulando fortuna, O estudo daquele com realização deteriorada – Estes três desgraçam os praticantes do Darma. Os três devem ser evitados se desejarmos praticar o Darma de forma pura. Os três devem ser evitados se desejarmos praticar o Darma com o coração. Vangloriar-se sobre o conhecimento de muitos temas, Vangloriar-se sobre permanecer em meditação em isolamento, E vangloriar-se pela vida ascética – Estes três quebram os praticantes do Darma. Os três devem ser evitados se desejarmos praticar o Darma de forma pura. Os três devem ser evitados se desejarmos praticar o Darma com o coração. A carne fatiada16, comida não-virtuosa, O álcool que leva ao embebedamento, E o corpo jovem enganoso – Estes são três venenos para os praticantes do Darma – Os três devem ser evitados se desejarmos praticar o Darma de forma pura. Os três devem ser evitados se desejarmos praticar o Darma com o coração. Prever aquilo que não foi visto, Curar a morte de um filho de pessoas comuns, E ser incapaz de cuidar de um doente – Estes três congelam os praticantes do Darma. Os três devem ser evitados se desejarmos praticar o Darma de forma pura. Os três devem ser evitados se desejarmos praticar o Darma com o coração. Samsara inexaurível, Trabalho sem fim para acumular riquezas, E infindável fala inútil – Estes três são contrários ao Darma. Eu deixei os três para trás. É bom que vocês os deixem também. Mestres sem qualificação, Discípulos sem devoção, E brigas e abusos com amigos do Darma – Estes três são contrários ao Darma. Eu deixei os três para trás. É bom que vocês os deixem também. A terra natal como a prisão de um demônio, Riqueza acumulada através de muitas dificuldades, E a concordância com os desejos insaciáveis dos outros –

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Estes três são contrários ao Darma. Eu deixei os três para trás. É bom que vocês os deixem também. O amor romântico por alguém sem valor, O inimigo – as crianças queridas, E vagar sem objetivo pelos lugares – Estes três são contrários ao Darma. Eu deixei os três para trás. É bom que vocês os deixem também. Desta forma, ele oferecia conselhos e instruções tanto em verso quanto prosa, de forma geral e específica. Ele disse:

Eu encontrei muitas dificuldades para experimentar a realização da prática de meditação. Para vocês, isso não será assim, pois estas instruções são um método grandioso e hábil. Além disso, esta linhagem Kagyu possui bênçãos magníficas como nenhuma outra. Se vocês forem capazes de passar por dificuldades e ganhar confiança, haverá muitos que poderão alcançar o caminho. Para fortalecer a prática de meditação, dissipar obstáculos, e fazer surgir a experiência dos ensinamentos, é bastante efetiva a prática da profunda Guru Ioga e das meditações de tummo e Mahamudra, recebendo as iniciações.

Desta forma, ele girou a ilimitada Roda do Darma para incontáveis discípulos. Apesar de ele já ter transcendido os conceitos de nascimento e morte, ele decidiu demonstrar a impermanência de todos os fenômenos, especialmente os temas de nascimento e morte, de forma a alertar aqueles que são preguiçosos. Próximo à morte, Gampopa passou seu trono ao Senhor do Darma Gomtsul, e disse àqueles que estavam reunidos: “Pode ser que eu não fique neste mundo por muito tempo mais. Se alguém tiver dúvidas ou questões, venham e perguntem. Aqueles que praticam sinceramente não precisam de muitas palavras, apenas guardem estas instruções em seus corações. Aqui está a essência de todas as instruções:” Corporificação de todos os budas dos três tempos, Permeando as dez direções com a luz da compaixão, Que dissipa a escuridão em meu coração. Prostro-me aos lamas dos três tempos. Fascinante! Aqueles que desejam sustentar a sabedoria primordial, Posicionem a consciência de forma natural, como uma bola de algodão. Mente sem base, libere todas as ações, Posicione a mente de forma livre, sem controle, Observe diretamente. Quando lassidão e excitação surgirem, olhe para a própria mente. Evite todas as atividades que prejudicam a mente. Esteja consciente de Mara quando surgirem expectativas. Posicionar a mente de forma não confusa é o Buda. A mente elaborada não é o estado búdico. Livre de todo movimento de dia e noite – A mente da talidade é acessada desta forma. Livre de fixações, clara como o espaço – Esta é a visão que não cai em nenhuma direção. A confiança surge naturalmente. Pura e imaculada como o cristal. Nesta mente, clara e livre de fixações, A continuidade incessante surge naturalmente.

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Descomplicada, como uma criança. É ação livre do apego. Sem rejeição ou aceitação, surgindo naturalmente. Causa e resultado surgem simultaneamente, como néctar. O autossurgimento espontaneamente estabelecido surge naturalmente. Assim, se não realizar a própria mente como o Buda, Você não encontrará o Buda em qualquer lugar lá fora, nas dez direções e nos três tempos. Portanto, habitue-se com a visão de sua própria mente. Assim ele disse através desta fala vajra. “Além do mais,” ele disse: “Eu também explico estas coisas para as gerações futuras. Quando eu entrar no elemento não-dual, que tudo permeia, vocês não devem pensar, ‘Agora o lama não existe mais.’ Minha mente é inseparável de todos os preciosos lamas e budas dos três tempos, permeando todos os tempos e lugares. Meditem, supliquem e pensem em mim , e minhas bênçãos estarão lá sem impedimentos.” “Aqueles que são praticantes avançados, por favor, pratiquem a meditação sobre a natureza inseparável da sabedoria e da compaixão, que corta os dois extremos. Pratiquem as seis profundas iogas de Naropa, que são as práticas de meditação mais profundas de todas. Qualquer realização que surja, vão adiante em busca de realizações maiores sem apego.” “Se surgirem dúvidas ou obstáculos em suas mentes, busquem os diferentes textos que explicam como dissipar obstáculos e que geram devoção pelos grandes lamas. Se você quiser alcançar paz e felicidade, pratique mais o contentamento e menos o desejo. Se você deseja alcançar a iluminação perfeita, permaneça em lugares solitários. Relembre repetidamente os sofrimentos do samsara e libere-se do apego a esta vida. O verdadeiro lama é a sua própria mente, não é necessário buscar por qualquer outro.” “Compreenda a natureza da originação interdependente com clareza, sem pensamentos conceituais. Quaisquer preces de aspiração ou dedicação que você fizer, elas se realizarão. Portanto, faça estas preces. Dedique de forma vasta e profunda para a iluminação dos outros seres.” “A base não-nascida é o darmakaya e o caminho incessante é o sambogakaya. O resultado manifestado sem esforços é o nirmanakaya. Isto sintetiza todos os meus ensinamentos, portanto compreendam desta forma.” “No futuro, aqueles que pensarem, ‘Ai de mim, eu não o conheci’, devem simplesmente estudar e praticar os textos que eu compus, A Preciosa Guirlanda de Joias do Caminho Supremo, O Ornamento da Preciosa Liberação – A Joia que Realiza Desejos dos Nobres Ensinamentos, e outros. Não há a menor diferença, é o mesmo que me encontrar. Aqueles que estão tendo dificuldades em estudar e praticar o Darma devem pensar em mim e suplicar com devoção. As bênçãos virão naturalmente.” “Muitas coisas ruins podem acontecer com os seres sencientes e é difícil beneficiá-los. Não se esforcem em construir tronos, imagens, estupas e assim por diante. Praticar o Darma corretamente, de acordo com os ensinamentos do Darma, é o verdadeiro trono e a liberação dos lamas. Assim, pratiquem o Darma sem contradições com os ensinamentos do Buda. De modo geral, o surgimento do lama é como um sonho. Mesmo que ele se dissolva as bênçãos magníficas não desaparecerão. É minha responsabilidade proteger aqueles que me seguem agora ou no futuro do sofrimento do samsara. Assim, não se esqueçam de desenvolver devoção e aspiração.” Desta forma, inconcebíveis ensinamentos e conselhos eram oferecidos livremente. No ano de 1155 D.C, aos setenta e cinco anos, durante o sexto mês lunar, no décimo quinto dia (lua cheia), vestindo os três mantos do Darma, sentado na posição de lótus completo com as costas eretas, seus olhos fitando o céu, absorto na clara luz livre de todo surgimento e cessação, o modo de permanência de todos os fenômenos, o Senhor do Darma Gampopa faleceu. Naquele momento, todo o espaço foi preenchido por luz e arco-íris. A música e os tambores dos deuses foram ouvidos em todos os lugares. A terra tremeu e soou o trovão. Todas as deusas fizeram oferendas, aparecendo fisicamente e assim por diante. Uma nuvem de oferendas dos seres humanos e dos deuses envolveu todos os lugares de uma forma inexprimível. Assim, o Senhor do Darma Gampopa, um dos maiores professores, uma manifestação do Buda, surgiu propositalmente no momento certo e no lugar certo para estabelecer a forma completa dos ensinamentos do Buda. Os ensinamentos do Buda já tinham sido introduzidos e floresciam no Tibete, mas foi ele quem os fez brilhar como o sol nascente. Devido a ele, todos os ensinamentos do sutra e do tantra podem ser praticados por uma mesma pessoa sem contradições. Muitas histórias sobre a vida do Senhor do Darma Gampopa foram escritas pelos grandes professores das grandes escolas. Isto é apenas uma gota da história de sua vida, vasta como o oceano.

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APÊNDICE B:

Histórias Citadas no Texto

A História de Sudhana No capítulo 3, seguir um mestre espiritual “por respeito” é descrito como fazer prostrações, levantar-se rapidamente, curvar-se, circum-ambular, expressar-se com um sentimento de proximidade no momento certo, olhar incansavelmente para seu rosto e assim por diante. O Senhor Gampopa dá esse exemplo de como Sudhana, o filho de um mercador, seguiu seus mestres espirituais. Essa é a sua história: Com as bênçãos do Buda, Manjushri fez uma viagem para o sul. Sariputra percebeu e pensou: “Eu devo seguir Manjushri.” Com isto em mente, pediu a permissão ao Buda e foi-lhe concedida. Assim, Sariputra seguiu Manjushri, acompanhado de sessenta outros monges. Ele explicou as ilimitadas qualidades positivas de Manjushri para os monges. Todos desenvolveram grande devoção por Manjushri, receberam diversos ensinamentos, e atingiram a iluminação. Manjushri e seu séquito seguiram para o sul, de lugar em lugar, e, em certo momento, chegaram a uma região ao leste chamada de “Fonte da Felicidade”, e alojaram-se em um lugar chamado “Floresta da Bandeira da Vitória da Criatividade Diversa.” Ali, ele deu ensinamentos para seus alunos. O povo de Fonte da Felicidade ouviu sobre isto, e 500 upasakas e 500 upasikas, incluindo o upasaka Grande Sabedoria (Tib. Genyen Sherab Chenmo), 500 garotos, incluindo Sudhana o filho de um mercador, e muitos outros, aproximaram-se de Manjushri e fizeram prostrações aos seus pés. Dentre estes, esta história se refere a Sudhana, o filho de um mercador. No momento em que foi concebido, sete tipos de árvores de joias cresceram ao redor da casa. O solo se abriu e revelou os sete tesouros do ouro, prata, turquesa, lápis lazúli e assim por diante. Quando a criança nasceu, dez meses depois, a terra se abriu e os tesouros surgiram acima do solo. Além disso, 500 potes cheios de manteiga, óleo, mel, ouro, prata, diamantes e outros manifestaram-se espontaneamente dentro da casa. Quando os pais, videntes, brâmanes e outros mestres espirituais viram tanta prosperidade surgindo no momento em que nascia, chamaram-no de Sudhana (Tib. Norzang), que significa Grande Fortuna. Em suas vidas anteriores este Sudhana, o filho de um mercador, serviu o Buda, desenvolveu a raiz de virtude, teve motivação pura e vasta, sua mente seguiu os mestres espirituais, teve grande perseverança ao seguir o caminho do bodisatva e assim por diante. Manjushri percebeu que ele possuía tais qualidades e deu-lhe muitos ensinamentos. Manjushri fez com que ele relembrasse suas muitas raízes de virtudes do passado e cultivasse a aspiração de atingir a iluminação insuperável, perfeita e completa. Manjushri também deu ensinamentos a muitos outros seres sencientes de acordo com suas disposições e aspirações. Após receber estes ensinamentos e bênçãos, partiram para suas casas. Sudhana ouviu de Manjushri sobre todas as qualidades positivas de um buda. Isso reforçou sua aspiração e perseverança em buscar a iluminação insuperável, e assim ele seguiu Manjushri. Sudhana rezou a Manjushri desta forma: Você que possui grande sabedoria discriminativa e atividades ilimitadas E poder para beneficiar os seres sencientes! Eu também sigo o caminho para a suprema iluminação. Por favor, conceda-me o que for necessário. ... e assim por diante. Sudhana o louvou amplamente e solicitou-lhe ensinamentos. Manjushri, com um olhar elegante, olhou para Sudhana e disse: “Filho de Nobre Família! Você cultivou bodicita para atingir a iluminação

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insuperável, perfeita e completa. Deseja seguir um mestre espiritual e treinar-se perfeitamente no caminho do bodisatva. Com esta mente, é correto que solicite o treinamento de um bodisatva. Seguir, servir e estar próximo a um mestre espiritual são as bases e causas positivas para realizar o estado onisciente. Portanto, Filho de Nobre Família, esforce-se incansavelmente. Preste serviços e respeite seu mestre espiritual.” Sudhana pediu a Manjushri para instruí-lo no treinamento de um bodisatva, como esforçar-se sinceramente, como completar o treinamento de um bodisatva e assim por diante. Manjushri respondeu desta forma: Grande Oceano de Mérito Virtuoso, Agora você se aproxima de mim Através da profunda compaixão. Com esta mente, busque a iluminação preciosa. E assim por diante, ele disse muitas coisas. Mais uma vez, Manjushri disse: Filho de Nobre Família! Você cultiva a bodicita da iluminação Insuperável, perfeita e completa. Ao contemplar e procurar o treinamento completo de um bodisatva Agiu corretamente. Filho de Nobre Família! Portanto, seja incansável na busca por mestres espirituais. Ao ver um mestre espiritual, não se dê por satisfeito. Quaisquer ensinamentos que ele oferecer, Siga-os e guarde-os em sua mente. Não se ressinta com os meios hábeis do mestre espiritual. Manjushri continuou: “Filho de Nobre Família! Nesta região meridional, em um país chamado Satisfação Excelente, existe uma montanha chamada Montanha do Pescoço Elegante (Tib. Gul Lekpa). Lá reside um monge cujo nome é Nuvem Gloriosa (Tib. Trin Gyi Pal). Vá encontrá-lo. Peça pelos ensinamentos detalhados do modo de vida do bodisatva, como praticar, e como realizar os ensinamentos do modo de vida do bodisatva Samantabadra. O mestre espiritual irá mostrar-lhe o treinamento dos nobres bodisatvas.” Sudhana ficou completamente exultante, satisfeito e feliz. Prostrou-se aos pés de Manjushri e circum-ambulou-o centenas e milhares de vezes. Ao partir, olhou para trás centenas e milhares de vezes, com seus olhos cheios de lágrimas pela intolerável separação de Manjushri. Assim, ele partiu. Como instruído, seguiu para o sul, encontrou o bodisatva monge Nuvem Gloriosa, recebeu ensinamentos detalhados e instruções. Então, ele orientou Sudhana a prosseguir para o sul até encontrar o bodisatva monge Oceano Glorioso (Tib. Gya Tso Trin), e para pedir-lhe maiores instruções sobre o treinamento dos bodisatvas. Sudhana prosseguiu naquela direção, superando todas as dificuldades. Encontrou o monge e recebeu todas as instruções. Ele inspirou Sudhana a procurar o bodisatva monge Supremamente Estável (Tib. Shin Tu Tenpa), que morava mais ao sul, e a pedir-lhe treinamentos adicionais sobre o modo de vida de um bodisatva. Ele encontrou o monge, recebeu ensinamentos e realizou tudo aquilo que foi ensinado. Desta forma, encontrou 110 mestres bodisatvas, até encontrar o bodisatva Maitreia. Durante este tempo, passou por muitas dificuldades – frio, calor, atravessando florestas e escalando montanhas. Ao encontrar estes bodisatvas, ele os serviu, respeitou e honrou. Fez oferendas e prostrações e circum-ambulou-os sem sentir-se exausto em corpo, fala ou mente. Eles o instruíram desta forma: “Não se dê por satisfeito ao encontrar mestres espirituais, pois os bodisatvas devem acumular uma raiz de virtudes ilimitada. Você não deveria sentir cansaço ao procurar mestres espirituais. Não deve se dar por contente quando encontrar mestres espirituais. Não deve se dar por satisfeito ao pedir por ensinamentos aos mestres espirituais. Não deve vacilar na sua vontade de ver os mestres espirituais. Não deve parar de servir e honrar os mestres espirituais. Não deveria ter visões errôneas sobre as instruções dos mestres espirituais. Não deve hesitar em atingir as qualidades dos mestres espirituais. Não deve se aborrecer ou se irritar com os meios hábeis dos mestres espirituais. E tudo isto porque os grandes bodisatvas mahasatvas e todos os treinamentos dos grandes bodisatvas dependem do mestre espiritual. Todos os benefícios são recebidos do mestre espiritual. Aquele que é guardado por um mestre espiritual não cairá nos reinos inferiores. Aquele que é guardado por um mestre espiritual não se

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afastará do caminho Mahayana.” “Ó Filho de Nobre Família! Os mestres espirituais são como mães que dão nascimento à família dos budas. Os mestres espirituais são como pais que oferecem grandes benefícios. Os mestres espirituais são como tutores que nos protegem das ações não-virtuosas. Os mestres espirituais são como o capitão de um navio que nos leva à terra das joias preciosas da sabedoria primordial e da onisciência.” “Portanto, você deveria seguir mestres espirituais incessantemente. Cultive uma mente capaz de carregar uma carga tão pesada quanto a terra, sem exaustão. Cultive uma mente que seja indivisível como um vajra. Cultive uma mente que seja como um súdito leal de um rei do Darma.” “Ó Filho de Nobre Família! Você deveria ver-se como um paciente, o mestre espiritual como um médico, todas as instruções como o remédio e a prática sincera como a cura. Compreenda todos os ensinamentos que o mestre espiritual ensinou sem perder nenhuma palavra. De outra forma você não conquistará as qualidades completas que permitirão o benefício dos seres sencientes.” Ao final destes ensinamentos, ele encontrou o bodisatva Maitreia em um vasto palácio decorado com joias, onde incontáveis discípulos humanos, deuses e nagas tinham se reunido. Quando Maitreia viu Sudhana chegando ao longe, louvou-o de muitas formas – seu modo de vida, sua estabilidade mental, seu treinamento no caminho do bodisatva e suas realizações. Contou a toda a assembleia que Sudhana tinha encontrado 110 mestres espirituais. Maitreia saudou-o e deu-lhe ensinamentos detalhados. Contou sua história para aqueles que estavam reunidos da seguinte forma: “Sudhana possui tal perseverança, tal interesse, tal compromisso com sua aspiração e tal pensamento altruísta estável. Ele possui a perseverança do não-retorno, e não se contenta com sua prática dos ensinamentos do Darma. Buscou os ensinamentos mesmo sob o risco da própria vida. Traz os mestres espirituais na coroa de sua cabeça e possui um desejo profundo de ver os mestres espirituais. Nunca ficou cansado ao buscar e seguir os mestres espirituais. Procurou-os, fez perguntas, honrou-os e respeitou-os. No início, Manjushri o enviou para o sul até que encontrasse 110 mestres espirituais, e agora ele chegou até aqui. Durante este tempo, centenas e milhares de seres sencientes foram estabelecidos no caminho dos bodisatvas.” Maitreia continuou desta forma: “Ó Filho de Nobre Família! A bodicita é a semente de todas as qualidades do Buda. É como um campo onde crescem todas as qualidades virtuosas para o benefício de todos os seres sencientes. É como um terreno estável para todos os seres. É como a água pura que limpa todos os obscurecimentos das emoções aflitivas. Como o vento, não reside em lugar algum. É como um grande fogo que queima até mesmo as raízes das visões errôneas. É como o sol que permite ver os seres sencientes em todos os lugares. É como a lua que cresce para preencher o círculo das qualidades. É como a luz que permite ver o Darma. É como os olhos que permitem ver o que é certo e o que é errado. É como o caminho que leva à cidadela da onisciência, e assim por diante.” Ele explicou todos os benefícios da bodicita em detalhes, através de comparações e exemplos. Finalmente, o bodisatva Maitreia disse a Sudhana: “Volte e procure Manjushri. Faça perguntas adicionais sobre o treinamento e o modo de vida dos bodisatvas.” Com um sentimento de alegria e com lágrimas em seus olhos, ele prostrou-se aos pés de Maitreia, circum-ambulou-o muitas vezes, e retornou, passando por todos os mestres espirituais enquanto mantinha a mente unifocada em Manjushri. Quando chegou diante de Manjushri, Manjushri colocou sua mão sobre a cabeça de Sudhana. Ele o abençoou e louvou como Sudhana havia passado por dificuldades. Sudhana atingiu a realização do grande dharani dos bodisatvas, confiança, absorção meditativa, força, poder, e alcançou uma realização da sabedoria primordial igual à do bodisatva Samantabhadra.

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A História de Sadaprarudita No capítulo 3, seguir um mestre espiritual através da prestação de serviços é descrito como oferecer-lhe comida condizente com o Darma, roupas, cama, trono, remédios, e todos os outros tipos de coisas necessárias, mesmo sob o risco do próprio corpo e da própria vida. O exemplo para isso é de como Sadaprarudita seguiu seus mestres espirituais. Essa é a sua história: Sendo um dos principais discípulos do Tatágata Drayangmizaypardrokpa, Sadaprarudita praticava o Darma sinceramente. Ele buscava os ensinamentos sobre a prajnaparamita sem preocupar-se com riquezas, honra e assim por diante, até mesmo colocando em risco seu corpo e sua vida. Certa vez, ele estava em um local solitário, e então ouviu um som, uma voz que vinha do espaço e dizia: “Ó Nobre Filho! Não tenha nenhum pensamento sobre cansaço, exaustão, dia e noite, direções cardeais ou direções colaterais. Prossiga na direção leste e receberá os ensinamentos da perfeição, a prajnaparamita.” Ouvindo isto, seguiu em direção ao leste. Após algum tempo percebeu que não tinha perguntado à voz qual distância deveria seguir. Assim, naquele lugar, parou e começou a chorar. Seu único pensamento era: “Se eu apenas pudesse ouvir os ensinamentos sobre a prajnaparamita, a perfeição!” Sadaprarudita permaneceu naquele lugar por sete dias sem gerar qualquer pensamento em sua mente, não pensando sobre exaustão ou cansaço, comida ou bebida e assim por diante. Enquanto estava sofrendo e lamentando, a forma de um buda surgiu diante dele e o louvou, dizendo: “Ó Filho de Nobre Família! Muito bem! Você tem se esforçado para ouvir os ensinamentos sobre a perfeição, a prajnaparamita, sem preocupar-se com seu corpo ou vida.” Ele continuou: “Ó Filho de Nobre Família! Cerca de 500 yojanas daqui encontra-se um lugar chamado Incenso Fragrante (Tib. Ponyay Den). Lá vive o grande bodisatva mahasatva Dharmodgata. Vá para lá e receberá os ensinamentos sobre a prajnaparamita. Dharmodgata foi seu professor espiritual em muitas outras vidas. Ele irá mostrar-lhe o caminho para a iluminação insuperável, perfeita e completa. Ó Filho de Nobre Família! Sem pensar sobre o dia ou a noite, apenas vá e em pouco tempo terá a oportunidade de ouvir os ensinamentos sobre a prajnaparamita.” Ao ouvir isso, o bodisatva Sadaprarudita ficou supremamente feliz e contente. Sua mente estava completamente ocupada com os pensamentos de “Como poderei ver esse mestre espiritual?” e “Quando ouvirei esses ensinamentos?” Ele não tinha outros pensamentos. Desta forma, alcançou muitas portas de absorção meditativa. Enquanto permanecia nessas absorções, incontáveis budas surgiram em sua meditação e ele recebeu inúmeras classes de ensinamentos. Por exemplo, ele ouviu este tipo de instrução:

Quando você enxergar a natureza da absorção e sua essência, não há equilíbrio meditativo. Não há nada a ser praticado. Não há nada a ser visto para alcançar a iluminação insuperável, perfeita e completa. Esta é a perfeição da prajnaparamita. Não há nada a que se apegar, nada a que se fixar. É permanecendo neste estado que alcançamos as qualidades do corpo dourado, as marcas maiores e menores, a força e o destemor. Portanto, você deve ter grande respeito e uma mente clara com o mestre espiritual. Um bodisatva que é guardado por um mestre espiritual alcançará rapidamente a iluminação insuperável, perfeita e completa.

Então, Sadaprarudita perguntou-lhes quem era seu mestre espiritual. Eles responderam: “O bodisatva mahasatva Dharmodgata foi seu mestre espiritual por muitas vidas. Você recebeu dele os ensinamentos sobre a prajnaparamita. Você praticou os meios hábeis e as outras qualidades de um buda, portanto, deveria ter o mestre espiritual como o ornamento da coroa de sua cabeça, deveria servi-lo, e prover suas necessidades por muitas centenas e milhares de kalpas. Faça uma oferenda de todas as formas, sons, cheiros, gostos e sensações físicas dos 3000 mundos. Mesmo se fizer esta oferenda, ela não retribuiria os grandes feitos que este mestre espiritual realizou por você. É pelo poder dele que você atingiu estas diversas absorções.” O bodisatva Sadaprarudita despertou de seu estado de absorção e sentiu que os budas tinham desaparecido. Pensou: “Irei encontrar o bodisatva Dharmodgata e perguntarei a ele de onde vieram esses budas e qual o significado de seu surgimento.” Mas, então, pensou: “Sou tão pobre que não tenha nada para oferecer ao mestre. Nem comida, roupas, ouro, prata, pérolas, corais e assim por diante. Além disso, não

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tenho como oferecer parasóis, bandeiras da vitória, dosséis, sinos e outros. Portanto, não é correto que eu vá encontrá-lo.” Com estes pensamentos ele prosseguiu e, finalmente, chegou à cidade. Então teve esta idéia: “Irei vender este corpo! Poderei usar o que conseguir com ele para fazer uma oferenda ao grande bodisatva Dharmodgata. Desde um tempo sem início, através de incontáveis vidas, meu corpo tem sido desperdiçado e não foi utilizado para os propósitos do Darma ou para honrar os grandes bodisatvas. Portanto, irei para o centro da cidade e venderei este corpo.” Lá, anunciou que se alguém estivesse precisando de um corpo, estava vendendo o seu. Gritava alto para que alguém ouvisse e comprasse seu corpo. Mas os Maras perceberam o que ele estava fazendo. “Se vender seu corpo e puder honrar o bodisatva ele alcançará a iluminação através desta ação. Se alcançar a iluminação, não seremos capazes de controlá-lo. Portanto, seria sábio impedirmos imediatamente a sua realização da iluminação.” Eles bloquearam o som para que os outros não o ouvissem. Por isso, mesmo gritando muito alto ninguém o ouvia. E assim, é claro, ninguém quis comprar seu corpo. Ele pensou que ninguém estava interessado em comprar seu corpo e foi para um canto e chorou. Enquanto estava chorando Indra o viu, e decidiu testar se ele realmente queria vender seu corpo e se sua coragem era indômita. Assim, Indra manifestou o corpo de um jovem brâmane que se dirigiu a Sadaprarudita e perguntou por que parecia tão mal e estava chorando tanto. Ele respondeu: “Quero vender meu corpo, mas ninguém está interessado.” Quanto o jovem perguntou o porquê, Sadaprarudita respondeu: “Sou tão pobre que não possuo coisa alguma. Irei usar o que quer que consiga vendendo este corpo para fazer uma oferenda ao grande bodisatva Dharmodgata, o grande mestre espiritual, para receber os ensinamentos da prajnaparamita, a perfeição da sabedoria. Mas, como ninguém está interessado neste corpo, estou sofrendo tanto.” O jovem disse: “Não preciso de um humano, mas para fazer um sacrifício preciso de um coração, sangue, ossos e medula. Se estiver interessado em vender estes itens, pagarei um bom preço.” Neste momento, o bodisatva Sadaprarudita ficou radiante com o pensamento de que teria alguma coisa para prestar respeito ao seu mestre espiritual. Ficou tão feliz que experimentou uma alegria inexprimível. Assim, pegou uma faca afiada e fez um corte em sua mão direita até sangrar. Depois de ter guardado todo o sangue cortou um pedaço de carne de sua coxa, e estava pronto para retirar a medula do osso. Então, a filha de um mercador que estava observando o que ele estava fazendo do alto de um prédio, imediatamente desceu e perguntou por que estava criando tamanho sofrimento para si mesmo. O bodisatva Sadaprarudita explicou que vendendo o sangue, a carne, a medula e outros a este jovem brâmane, teria alguma riqueza para fazer uma oferenda ao grande mestre espiritual, Dharmodgata, para receber os ensinamentos da prajnaparamita. A garota perguntou que resultado esperava obter ao fazer esta oferenda e honrar o mestre espiritual. Sadaprarudita disse: “Alcançarei rapidamente a iluminação insuperável, perfeita e completa.” A garota ficou tão surpresa e maravilhada ao ouvir isso, que disse: “Para que possa honrar, fazer oferendas e demonstrar respeito pelo seu mestre espiritual, irei provê-lo com o que precisar. Também estou interessada em ir com você para ver o grande bodisatva Dharmodgata e para receber os ensinamentos.” O jovem brâmane, que era uma manifestação de Indra, desapareceu neste momento, e surgiu novamente na forma de Indra, que disse: “Você agiu corretamente. Você tem um grande comprometimento e coragem indômita na busca do Darma. Além disso, todos os budas do passado realizaram este tipo de ação, sacrificando-se sem se preocupar com corpo ou vida, esforçando-se para receber os ensinamentos com muitas dificuldades. Este é o caminho que os levou a alcançar a iluminação.” Indra continuou: “Na verdade não preciso de carne humana, sangue, ossos etc. Apenas vim para testá-lo. Agora, irei conceder-lhe uma realização suprema. O que você deseja?” O bodisatva Sadaprarudita pediu a realização da iluminação insuperável, mas Indra disse: “Não posso oferecer isso. Não tenho esta capacidade.” O bodisatva Sadaprarudita disse, então: “Se todos os tatágatas previram que alcançarei o estado de não-retorno da iluminação, e se está ciente de meu pensamento altruísta inabalável, pelo poder desta verdade possa meu corpo ser saudável como era antes.” No momento em que disse isto, seu corpo foi curado, completamente livre de toda doença e sofrimento. Não tendo mais nada a dizer, Indra foi embora. A filha do mercador levou o bodisatva Sadaprarudita à sua casa e o apresentou aos seus pais. Ela pediu-lhes muitas riquezas, como ouro, prata, roupas, dosséis, bandeiras, parasóis e diferentes tipos de joias preciosas para oferecer ao bodisatva Sadaprarudita. Ela disse: “Todas estas riquezas são para você fazer uma oferenda ao bodisatva Dharmodgata, para receber os ensinamentos da prajnaparamita. Irei com você e receberei ensinamentos deste mestre espiritual também.”

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Então, pediu permissão aos pais para ir com o bodisatva Sadaprarudita e eles perguntaram quem era ele. Ela contou que o bodisatva Sadaprarudita iria vender seu corpo, sangue, carne, ossos etc, para honrar, prestar respeito e fazer oferendas ao grande bodisatva Dharmodgata, de forma a receber os ensinamentos. Quando disse isto, eles ficaram tão espantados que disseram: “Pegue o que quiser de nossas riquezas para fazer oferendas ao grande bodisatva Dharmodgata. Também iremos segui-los para receber ensinamentos deste grande mestre espiritual.” Diversos tipos de riquezas foram retirados de seu tesouro. Sadaprarudita, a filha e os dois pais seguiram em uma carruagem. Foram acompanhados por 500 carruagens com servos. Todos estavam muito bem vestidos, e assim, prosseguiam em sua jornada para o leste. Finalmente, chegaram à cidade do Incenso Fragrante, que era circundada por sete níveis de cercas de joias preciosas, que eram circundadas por uma vasta quantidade de águas com as oito qualidades1. O cheiro do incenso dominava o ambiente. Tudo isto possuía a natureza da joia preciosa. Dentro da cidade, o grande bodisatva Dharmodgata estava sentado sobre um trono de joias preciosas, circundado por incontáveis discípulos que estavam recebendo ensinamentos. No momento em que Sadaprarudita o viu, experimentou uma alegria inconcebível e desenvolveu grande devoção. Todas as 500 pessoas desmontaram de seus cavalos, e caminharam em direção ao grande bodisatva Dharmodgata levando as oferendas em suas mãos. Naquele momento, o grande bodisatva Dharmodgata estava construindo um altar para o texto da prajnaparamita com os sete diferentes tipos de joias preciosas, ornamentado com madeira de sândalo vermelho e uma guirlanda de pérolas. Assim, a oferenda excelente foi realizada diante do altar. Os textos da prajnaparamita eram escritos com ouro. Indra, acompanhado de muitos deuses e deusas, fazia oferendas dos diferentes tipos de flores do reino dos deuses e outras coisas. Isto foi presenciado pelo bodisatva Sadaprarudita e pelo séquito de 500 garotas, que também fizeram uma imensa oferenda. Então, o bodisatva Sadaprarudita e seu séquito com as ilimitadas oferendas se aproximaram do grande bodisatva Dharmodgata, prostraram-se aos seus pés e uniram suas mãos. Sadaprarudita falou assim: “Quando estava em um local solitário para receber a prajnaparamita, a perfeição da sabedoria, ouvi uma voz vinda do espaço que disse, ‘Vá para o leste’.” Assim, contou toda sua história. Ele contou sobre como a imagem do Buda tinha aparecido diante dele, como tinha alcançado as ilimitadas portas de absorção meditativa e meditado sobre elas, e como os incontáveis tatágatas tinham surgido diante dele, e depois desaparecido. Assim, tinha pensado em perguntar a Dharmodgata de onde os tatágatas tinham vindo e para onde haviam ido. O grande bodisatva Dharmodgata explicou a Sadaprarudita da seguinte forma:

Esses tatágatas não vieram de lugar algum, e não foram a lugar algum; eles não se moveram da talidade. Seja qual for a natureza da talidade, isto é o tatágata. Ó Filho de Nobre Família! Na natureza não-nascida, não há nada vindo e nada indo. A natureza do não-nascido é o tatágata. Ó Filho de Nobre Família! Na perfeição não há nada vindo e nada indo. Essa natureza perfeita é o tatágata. Ó Filho de Nobre Família! Na vacuidade que tudo permeia não há nada vindo e nada indo. Aquilo que é a vacuidade, isto é o tatágata. E assim por diante. Ó Filho de Nobre Família! Você deveria entender que essa é a natureza das vindas e idas do tatágata. Ó Filho de Nobre Família! A talidade de todos os fenômenos deveria ser compreendida e realizada desta forma. Ó Filho de Nobre Família! Deste momento em diante, os tatágatas, a natureza não-nascida de todos os darmas, incessante, deve ser entendida desta forma. Com esta natureza não-nascida de todos os darmas, incessante, você alcançará a iluminação insuperável, perfeita e completa; e alcançará a perfeição dos meios hábeis e a perfeição da prajnaparamita.

Desta forma, deu ensinamentos detalhados. Enquanto isso, a terra tremeu seis vezes, flores dos deuses caíram dos céus, e incontáveis seres sencientes cultivaram bodicita. Neste momento, Indra e outros louvaram Sadaprarudita, dizendo que ele tinha agido corretamente e assim por diante. O bodisatva Sadaprarudita lançou todas as flores ao grande bodisatva Dharmodgata, e juntando suas mãos disse: “De agora em diante, para seu serviço e sua honra, ofereço meu corpo.” As 500 garotas de seu séquito também disseram: “Nós fazemos uma oferenda a você, Sadaprarudita, de nossos corpos e riquezas.” Então, o bodisatva Sadaprarudita adornou as 500 garotas com ornamentos e as ofereceu junto com as 500 carruagens para a honra e serviço do grande bodisatva Dharmodgata. Então, do espaço, Indra e

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todos os deuses louvaram grandemente o bodisatva Sadaprarudita. Naquele momento, o grande bodisatva Dharmodgata aceitou as oferendas das 500 garotas e carruagens para completar a acumulação da raiz de virtude de Sadaprarudita. Mais tarde ele as devolveu. O grande bodisatva Dharmodgata retornou ao seu lugar e entrou no estado de absorção meditativa por sete anos. Sadaprarudita pensou: “Vim para cá para receber ensinamentos. Portanto, não é correto que eu sente ou durma. Assim, até que o grande bodisatva Dharmodgata venha e dê ensinamentos ficarei em pé ou caminharei.” Tendo feito esta aspiração, ficou em pé ou caminhou por sete anos, o tempo todo mantendo sua mente fixa no Darma. Então, um dia, os deuses declararam do espaço: “Em sete dias o grande bodisatva Dharmodgata sairá de seu estado de absorção e oferecerá ensinamentos do Darma no centro da cidade.” Ao ouvir isso, o bodisatva Sadaprarudita ficou tão feliz! Ele experimentou uma alegria inexprimível. Construiu um grande trono de joias preciosas no centro da cidade. Então, procurou por água para abaixar a poeira, mas devido à obstrução dos Maras, toda a água tinha desaparecido. Sadaprarudita pensou: “Não é correto que a poeira chegue ao corpo do grande bodisatva Dharmodgata. Como não consigo encontrar água em lugar algum, irei usar o sangue de meu corpo.” Assim, pegou uma faca afiada e cortou diferentes partes de seu corpo, deixando o sangue abaixar a poeira. Quando fez isto, as 500 garotas também fizeram. Os deuses estavam tão surpresos ao verem tal pensamento altruísta. Era maravilhoso ver o compromisso inabalável do bodisatva Sadaprarudita em alcançar a iluminação insuperável, perfeita e completa. Então, Indra abençoou todo o sangue e o transformou na madeira de sândalo dos deuses, num raio de 500 yojanas ao redor, e toda a poeira foi abaixada. Indra também ofereceu inúmeras flores variadas dos deuses que choveram sobre o solo como oferenda para o grande bodisatva Dharmodgata. Depois de sete dias, o grande bodisatva Dharmodgata saiu de seu estado de absorção, chegou circundado por seu incontável séquito, sentou no trono, e deu este ensinamento:

A natureza de igualdade de todos os darmas é a mesma natureza de igualdade da perfeição da sabedoria. A natureza não-existente de todos os fenômenos é a mesma natureza não-existente da perfeição da sabedoria. A natureza imóvel de todos os fenômenos é a mesma natureza imóvel da perfeição da sabedoria. A liberação da arrogância da natureza de todos os fenômenos é a mesma natureza da liberação da arrogância da natureza da perfeição da sabedoria.

E assim por diante. Ele ofereceu ensinamentos detalhados sobre a perfeição da sabedoria. Naquele momento, o bodisatva Sadaprarudita recebeu autorização para os estados de absorção das diversas portas de concentração meditativa sobre a natureza dos ensinamentos da prajnaparamita. Esta é a breve história de como Sadaprarudita seguiu seu grande mestre espiritual, Dharmodgata.

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A História do Rei Anala O capítulo 3 explica que deveríamos evitar as visões errôneas sobre os meios hábeis dos mestres espirituais. Ao invés disso, deveríamos tê-los em alta conta e respeitá-los, como se vê no exemplo do Rei Anala1. Essa é a sua história: O Mercador Vendedor de Incenso Lua Constante, um mestre espiritual do bodisatva Sudhana, disse-lhe que ele deveria encontrar o Rei Anala (Tib. Rei “Me”), que vivia na cidade de Vitória de Tala, ao sul. Tendo recebido este conselho, o bodisatva Sudhana viajou de vale em vale, cidade em cidade, chegando, finalmente, a Vitória de Tala. Lá, perguntou ao povo sobre o Rei Anala. Eles disseram que o rei julgava aqueles que deviam ser punidos, e reverenciava aqueles que mereciam ser honrados. Ele era como um juiz para aqueles que deviam ser julgados. O rei definia muitas situações que precisavam ser esclarecidas. Desta forma, governava o reino. Sudhana foi encontrar o Rei Anala. O rei estava sobre um trono de leão que tinha sido construído com um precioso e poderoso vajra e muitas joias preciosas. Sua luz irradiava em todas as direções. O próprio palácio tinha sido construído com diversas joias preciosas e estava ornamentado com joias, parasóis, bandeiras, dosséis, redes de joias preciosas, semirredes e assim por diante – todas as formas dos materiais ilimitados dos deuses. O próprio rei era jovem, digno e elegante, com o cabelo azulado. Ele usava ornamentos de joias inestimáveis – brincos, colares, braceletes e assim por diante. O rei estava circundado por 10.000 ministros que estavam alertas a cada desejo seu. Também estava circundado por guardiões irados como o Senhor da Morte, que pune os seres nos reinos dos infernos. Estes guardiões irados pareciam implacáveis. Todos tinham olhos avermelhados, um dente, e o rosto franzido coberto por rugas; seus membros eram feios e assustadores. De suas bocas vinham sons de: “Mate! Bata!”, como o som de um trovão. Em suas mãos tinham espadas, machados, flechas e outros. Quando alguém roubava, furtava, agia de forma separativa ou contava mentiras, o Rei Anala ordenava a esses guardiões para punirem as pessoas de diversas formas. Por exemplo, alguns tinham seus olhos arrancados; outros tinham as pernas e mãos cortadas, ou mesmo suas cabeças. De alguns as orelhas e narizes eram decepados. Alguns tinham seus corações arrancados, outros tinham os corpos queimados pelo fogo, e ainda outros tinham água fervente derramada dentro de seus corpos. Destas diversas formas a punição era aplicada às diferentes pessoas. As mãos, pernas, corações e rins que tinham sido decepados eram jogados em uma grande montanha. Um lago de sangue se estendia por milhas. Raposas, cães, abutres, corvos e outros seres se reuniam para comer a carne morta. O cheiro dos corpos pútridos invadia todo o local. Havia uma sensação arrepiante de medo no ar, como na terra do Senhor da Morte. Ao ver isto Sudhana pensou: “Vim até aqui para praticar e estudar as ações de um bodisatva. Eu vim na busca de um mestre espiritual, mas parece que esse Rei Anala não possui uma única virtude. Ele é amedrontador e irado, e apenas tira as vidas das pessoas. Como eu poderia receber dele o treinamento de um bodisatva? Seus súditos dignos de compaixão, todos esses seres que estão sofrendo – que tipo de carma negativo eles criaram para experimentar tanto sofrimento?” Enquanto pensava assim, ouviu uma voz do céu que disse: “Ó Filho de Nobre Família! Não hesite, o mestre espiritual não irá lhe mostrar um caminho errôneo. Aceite que os meios hábeis nascidos da sabedoria primordial de um bodisatva são inconcebíveis e não podem ser mensurados. Eles apresentam um grande poder e habilidade nos meios sábios de domar os seres sencientes. Apenas aproxime-se dele e peça pelo treinamento dos bodisatvas.” Isso foi o que ele ouviu. Assim, o bodisatva Sudhana aproximou-se do Rei Anala. Fez prostrações aos pés do rei e pediu pelo treinamento dos bodisatvas. O Rei Anala levantou-se de seu trono de leão, pegou a mão direita de Sudhana e disse: “Vamos para um outro lugar”, e tirou Sudhana dali. Esse outro palácio era vasto, circundado por sete níveis de cercas feitas das diversas joias preciosas. Havia centenas e milhares de palácios construídos com pedras preciosas e adornados com parasóis, bandeiras, dosséis e muitas outras joias preciosas. Em cada um destes palácios havia um trono de leão feito de joias preciosas que realizam desejos. Luz irradiava-se em todas as direções. Lá, o rei estava acompanhado por 10 milhões de rainhas, belas e dignas, hábeis nas artes da dança e outras. O Rei Anala sentou-se no trono e, olhando para Sudhana, disse: “Ó Filho de Nobre Família! Você já viu tais condições esplêndidas, corpos perfeitos, ambiente perfeito, séquito e palácios associados com aqueles que criaram carma negativo? Pode estar seguro de que eu manifesto todas as ações excelentes de um

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bodisatva.” “Para domar aqueles que matam ou roubam, assim como aqueles que têm conduta sexual imprópria ou que contam mentiras, criam separações, ou usam palavras agressivas – todos aqueles que seguem as ações não-virtuosas – de modo a guiá-los ao caminho perfeito, eu manifesto estes guardiões irados e estas pessoas que são mortas através de minha grande compaixão. Aqueles que são mortos são apenas manifestações minhas. Eu crio estas diferentes pessoas que geram vários carmas negativos e, então, aplico a punição de cortar seus membros, cabeças e corações, ou de esquartejar seus corpos em pequenos pedaços. Faço com que experimentem todos estes tipos de sofrimento. Ao fazer isto, as pessoas de meu reino não se engajam em qualquer uma destas ações não-virtuosas.” “É através deste método que encorajo as pessoas a não se envolverem com as dez não-virtudes, apresentando o caminho para as dez virtudes. Faço este esforço para acabar com o sofrimento das pessoas de meu país e para estabelecê-las no caminho para o estado onisciente. Não criei nem mesmo um único sofrimento para o menor inseto do reino animal, então como poderia criar tais sofrimentos para as pessoas de meu reino? Não faço isto nem em meus sonhos, como poderia fazer isto propositalmente? Eu alcancei o estado de paciência do Darma da exaustão e o estado não-nascido. Entendo todas as coisas do samsara como caminho e vejo os fenômenos do caminho como ilusão.” Assim, ele prosseguiu falando. Quando o Rei Anala disse essas coisas, Sudhana alcançou confiança naquele grande bodisatva do qual recebeu muitos ensinamentos elevados sobre as qualidades e ações de um bodisatva.

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A História de Maudgalyayana No capítulo 5, os infernos ocasionais são descritos como lugares onde os seres podem estar reunidos em grandes grupos, pequenos grupos ou individualmente, dependendo do carma de cada um. Existem muitos tipos destes infernos e suas localizações são indefinidas. Eles podem ser encontrados em rios, montanhas, desertos, sob a terra ou no reino humano, como se pode ver no exemplo do Venerável Maudgalyayana. Essa é a sua história: Certa vez, quando o Buda se encontrava em Rajagriha, havia um chefe de família chamado Palkye que tinha cem anos de idade. Ele ouviu sobre os efeitos benéficos de tornar-se um monge e, assim, falou com sua esposa e filhos que estava interessado em ser um monge. Como era muito velho, a família achava que não era mais muito útil em casa, e disseram: “Sim, pode ir.” Este chefe de família Palkye dirigiu-se ao Jardim da Luz e pediu para ver o Senhor Buda. Os monges disseram-lhe que o Buda tinha ido a outro lugar, então ele perguntou quem era o responsável dentre os monges do Buda. Disseram que era Sariputra. Palkye seguiu com seu cajado até Sariputra. Quando chegou, fez prostrações e pediu: “Por favor, aceite-me como monge.” Sariputra sabia que para tornar-se um monge eram necessárias as habilidades de estudar, de praticar meditação e de trabalhar no monastério. Mas este homem tão velho já estava ultrapassado. Assim, com esses pensamentos, Sariputra recusou-o. Então, este velho Palkye foi até os outros grandes discípulos do Buda, Mahakashyapa, Upali, Mangakpa e outros, perguntando a cada um se poderia tornar-se um monge. Todos perguntaram se ele já tinha falado com mais alguém. Ele respondeu a cada um que já tinha falado com Sariputra, mas que Sariputra não o havia aceitado. Ao ouvir isto, estes discípulos, Mahakashyapa e os outros, disseram: “Se Sariputra, que é tão realizado nas práticas e que tem uma sabedoria tão poderosa, não o aceitou, como eu poderia dar a permissão?” Assim, também o recusaram. O velho homem ficou tão perturbado com isto que saiu do Jardim da Luz, colocou sua cabeça na soleira da porta e chorou com muita tristeza e sofrimento. Quando o Buda retornou, soube da situação, e passou por lá para confortar o velho homem, perguntando por que estava chorando. Palkye contou tudo que tinha acontecido. Como o Buda falava com palavras tão gentis, doces e melodiosas, Palkye ficou muito feliz, ficou em pé e fez prostrações. Ele disse: “Apesar de muitos terem cometido grandes ações não-virtuosas, ainda assim podem se tornar monges. Eu tenho tamanha fé nos ensinamentos, por que não posso me tornar um monge? Fui posto de lado em minha casa. Minha família me acha inútil, e não vou voltar para eles. Irei morrer aqui; irei acabar com minha própria vida se não for aceito como monge.” Usando vários métodos e habilidades para aliviar sua tristeza, sofrimento e depressão, o Buda disse: “Siga-me e te darei a permissão para ser um monge.” Assim, Palkye seguiu o Buda. Quando o Buda chegou ao templo, percebeu que Maudgalyalyana tinha a habilidade de domar este velho homem, e disse: “Faça deste velho um monge.” Maudgalyayana pensou: “Este velho não é capaz nem mesmo de fazer orações ou meditar. Ele não pode realizar nenhum serviço para a comunidade de monges. Mas como o Buda deu a ordem, não posso rejeitá-lo.” Assim, Maudgalyayana ordenou-o monge. Palkye fez grandes esforços, dia e noite, lendo e praticando, e não muito tempo depois se tornou um especialista no estudo do Tripitaka. Mas, como era muito velho, não conseguia trabalhar, fazer prostrações e assim por diante. Os jovens monges que eram seus companheiros pensavam: “Ele sabe ler e meditar, e por isso é orgulhoso demais para trabalhar pela comunidade.” Pensando desta forma, provocavam-no, olhavam desdenhosamente para ele e sempre o prejudicavam ou faziam brincadeiras com ele. O velho monge pensou: “Quando estava em casa minha família me intimidava ou me prejudicava. Agora que estou no monastério, estes jovens monges me provocam e me olham como inferior. Em vez de passar por todo este sofrimento é melhor que eu morra.” Com este pensamento, aproximou-se de um rio, tirou todas as suas roupas, e pendurou-as no galho de uma árvore. Abaixou seus velhos joelhos ao solo e, com lágrimas nos olhos, disse:

“Não estou abandonando as Três Joias, o Buda, o Darma e a sanga. Estou apenas abandonando este corpo. Por quaisquer virtudes que eu tenha acumulado pela generosidade, ética moral e assim por diante, possa eu renascer em um corpo perfeito em minha próxima vida, com uma família próspera e riquezas. Possa eu

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não encontrar obstáculos ao me engajar em ações virtuosas. Possa eu ter a chance de encontrar as Três Joias – o Buda, o Darma e a sanga – e atingir o nirvana.

Tendo feito esta prece de aspiração, pulou no rio. Através de sua clarividência, Maudgalyayana viu-o jogar-se no rio e, neste exato momento, através de seu poder milagroso, tirou o velho monge de lá. “O que está fazendo, filho no Darma?” O velho monge ficou embaraçado, mas como não era correto mentir para seu mestre espiritual, falou a verdade e repetiu todos os sofrimentos pelos quais estava passando. Maudgalyayana pensou: “Se eu não demonstrar os perigos do nascimento e da morte corretamente, então não haveria sentido em ele ter-se tornado um monge.” Assim, disse a Palkye: “Segure firmemente o meu manto monástico. Não o solte!” Com isto, Maudgalyayana voou nos céus, e logo chegaram a um oceano. Enquanto caminhavam próximo ao oceano, viram o corpo de uma bela mulher que havia acabado de morrer. Uma cobra entrava em sua boca, saindo pelo nariz, entrando nos olhos e saindo por uma orelha. Maudgalyayana observou a situação e o monge Palkye perguntou: “O que é isto?” Maudgalyayana disse: “Direi quando chegar o momento.” Assim, eles prosseguiram. Mais adiante viram uma mulher derramando água em um grande caldeirão de cobre sob o qual havia colocado fogo. Quando a água fervia, ela tirava todas as suas roupas e saltava dentro do caldeirão. Quando toda sua carne estava cozida, os ossos pulavam para fora e se transformavam em uma pessoa que comia toda a carne. Isto apavorou o monge Palkye, que perguntou: “O que é isto?” Maudgalyayana disse: “Direi quando chegar o momento.” Prosseguiram e encontraram uma árvore gigantesca que estava completamente coberta por insetos. Não havia um único espaço livre e os insetos estavam comendo a árvore. De dentro da árvore vinha um lamento, um som de grande sofrimento. Isto também apavorou o monge Palkye, que perguntou: “O que é isto? Quem está fazendo este som?” O mestre Maudgalyayana disse: “Direi quando chegar o momento.” Prosseguiram pela estrada e viram um homem rodeado por muitos seres com corpos humanos e cabeças de animais, como tigres e outros, todos atirando flechas no homem. As pontas das flechas estavam em fogo, e assim o corpo dele era perfurado e pegava fogo em todas as direções. Mais uma vez, isto assustou o monge Palkye, que perguntou: “Que tipo de homem é este que sofre tanto e não tem como escapar? Quem é ele?” O mestre disse: “Direi quando chegar o momento.” Mais adiante, encontraram uma montanha coberta por espadas e facas, todas apontando para cima. Um homem no topo da montanha rolava até embaixo, passando sobre as pontas das armas. As armas perfuravam seu corpo e o cortavam em muitos pedaços. Depois subia a montanha, recolocando todas as armas apontadas para cima, e rolava novamente. Fazia isto muitas vezes por dia. O monge Palkye ficou atônito e perguntou: “Quem é esse homem que sofre de tal forma inconcebível?” Maudgalyayana disse: “Direi quando chegar o momento.” Assim, eles prosseguiram e chegaram ao topo de uma enorme montanha de ossos, 700 yojanas de altura, que chegava a bloquear o sol. Maudgalyayana subiu em uma costela daquela montanha de ossos, e ficou andando para frente e para trás. O monge Palkye disse: “O que é isto? Nunca vi este tipo de coisas antes. Por favor, diga-me o que está acontecendo.” Assim, Maudgalyayana decidiu que era o momento de relatar todas as histórias: “Na primeira vez, quando vimos a bela mulher morta, era a esposa de uma família de Rajagriha. Certa vez, ela e seu marido viajaram pelos oceanos com 500 mercadores para buscar joias. O navio foi destruído e todos a bordo morreram; o corpo foi carregado pelas ondas até à praia. Essa mulher era muito apegada à sua beleza, por isso, no momento em que morreu, renasceu como essa cobra, ainda apegada ao corpo anterior. Depois que a cobra morrer, ela renascerá no reino dos infernos e sofrerá de forma inconcebível.” “No segundo caso, da mulher que pulava em um caldeirão, cozinhava a si mesma e então comia a carne, era a serva de uma upasika de Shravasti. Certa vez, esta upasika convidou um monge puro para um retiro de três meses em um local solitário. Todo dia ela preparava uma refeição deliciosa e pedia à serva para ir oferecê-la. Mas, no caminho para o local solitário, a serva comia a refeição e oferecia ao monge os restos. À medida que o tempo passava, o rosto da serva ficou radiante, sua saúde melhorou, e ela ganhou peso. A upasika ficou um pouco desconfiada e perguntou: “Você está comendo a refeição do monge?” A garota disse: “Eu não comi nem um pequeno bocado. Seria melhor comer minha própria carne que comer a comida do monge!” Assim, devido a essa explosão, logo após sua morte ela renasceu neste inferno ocasional e passa por um sofrimento inconcebível.” “A terceira história, da grande árvore coberta por insetos que a comiam e do lamento desagradável

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que vem do seu interior: Havia um homem chamado Lita que prestava serviços a uma comunidade monástica. Ele sempre usava as coisas dos monges para si mesmo. Não apenas isto, dava a comida e a bebida dos monges para as pessoas comuns. Devido a este carma, renasceu neste reino dos infernos, experimentando um sofrimento do qual é muito difícil se livrar. Os insetos são as pessoas comuns que se aproveitaram da comida dos monges.” “O quarto caso foi o do homem cercado por muitos seres com cabeças de animais, que atiravam flechas flamejantes nele, transformando-o em uma grande fogueira. Anteriormente, este homem tinha sido um caçador que matou muitos animais selvagens. Assim, logo após sua morte, renasceu neste reino dos infernos, e experimenta repetidamente tal sofrimento inconcebível, do qual é muito difícil se livrar.” “O quinto exemplo foi o do homem que rolava montanha abaixo sobre as pontas de espadas, facas etc. Este foi o renascimento de um ministro poderoso e influente de um rei. Suas diversas atividades tinham sido como espadas e facas para muitas pessoas. Por isto, agora ele sofre de tal forma inconcebível. Após esta vida, renascerá em outro reino dos infernos onde sofrerá por um longo tempo.” Desta forma, Maudgalyayana explicou cada um dos sofrimentos em detalhes e revelou as ações negativas das vidas anteriores que os tinham causado. No final, Maudgalyayana disse: “Esta enorme montanha de ossos é o que sobrou de uma de suas vidas passadas.” Ao ouvir isto, o monge Palkye ficou terrivelmente apavorado, e pediu a Maudgalyayana para contar-lhe as causas e condições de sua vida anterior. Maudgalyayana respondeu assim: “Muito tempo atrás, havia um rei Aryasya Darma, que praticava generosidade e ética moral, e gostava de ouvir os ensinamentos. Era gentil e compassivo, nunca prejudicando a vida de outras pessoas. Reinava em seu país de acordo com o precioso Darma.” “Certa vez, o rei estava jogando, apostando com outras pessoas. Enquanto isso, seus ministros trouxeram-lhe um prisioneiro culpado, e perguntaram-lhe o que fazer com ele. O rei estava tão envolvido com as apostas que disse para cuidarem do caso de acordo com a lei. Assim, os ministros o executaram.” “Depois do jogo o rei perguntou: ‘Onde está aquele homem culpado?’ e ficou sabendo que tinha sido executado de acordo com a lei. Ao ouvir isto, uma grande compaixão surgiu na sua mente e ele desmaiou. Uma corrente de lágrimas fluiu de seus olhos, e ele disse, ‘Cometi uma não-virtude terrível! Renascerei no reino dos infernos imediatamente após a minha morte!’ Com isto, renunciou ao reino e viveu em retiro pelo resto da vida.” “Após sua morte, renasceu no oceano como um monstruoso crocodilo de 700 yojanas de altura. Em seu corpo, havia incontáveis insetos que o comiam. Este crocodilo dormia por 100 anos. Ao acordar, abria a boca por estar faminto e sedento. Certa vez, 500 mercadores estavam viajando pelo oceano para obter joias e seu navio passou pela boca aberta do monstro. Os mercadores aterrorizados começaram a dizer, ‘Tomamos refúgio no Buda.’ Assim que ouviu o nome do Buda, o crocodilo fechou sua boca, e morreu ali, de fome e de sede. Ele renasceu como um inseto em Rajagriha. O sol brilhou e chuvas caíram sobre aquele corpo do crocodilo até que toda sua carne desaparecesse e se tornasse esta montanha de ossos, que foi trazida à praia pelas ondas.” Maudgalyayana disse: “Você, monge Palkye, era aquele rei Aryasya Darma. Por ter matado um homem, renasceu como o crocodilo neste oceano.” Assim, Maudgalyayana contou toda a história em detalhes. O monge Palkye, neste momento, ficou tão apavorado com a natureza do samsara que renunciou a ele, completamente. Assim, meditou com a mente unifocada. Através do poder desta prática de meditação exauriu todas as emoções aflitivas e alcançou o estado de Arhat. Após tornar-se um Arhat, ele e Maudgalyayana voaram nos céus e retornaram ao Jardim da Luz. Então, muitas pessoas, incluindo monges, maravilharam-se com o velho chefe de família que não era capaz de fazer nada. Devido aos meios hábeis, compaixão e sabedoria do Buda ele tinha se tornado monge e agora tinha atingido o estado de Arhat! A história deste milagre se espalhou muito longe. Esta é a história da vida do monge Palkye.

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A História de Sangharakshita O capítulo 5 menciona um segundo exemplo de inferno ocasional, como foi presenciado por Sangharakshita em uma terra deserta e de sofrimento. Essa é a sua história: Em Shravasti havia um chefe de família muito rico chamado Buddharakshita, e sua mulher deu à luz uma bela criança. Seu nascimento foi celebrado de forma elaborada e deram-lhe o nome de Sangharakshita. Ao crescer, ele recebeu os votos monásticos completos de Sariputra. Pouco tempo depois, 500 mercadores se dirigiram ao Buda e disseram: “Queremos ir aos mares para procurar joias. Você daria a permissão para que o Arya Sangharakshita fosse conosco?” O Buda, é claro, deu a permissão. Assim, Sangharakshita e os 500 mercadores viajaram até o mar e navegaram em um navio por muitos meses. Em certo momento, o navio foi capturado pelos nagas. Os mercadores ficaram muito assustados e fizeram muitas orações. Enquanto rezavam, ouviram uma voz que vinha do mar e dizia: “Entreguem o venerável Sangharakshita para nós.” Sangharakshita estava pronto para saltar no oceano. Todos os mercadores pediram para ele não ir, mas ele seguiu em frente, e os nagas libertaram imediatamente o navio. Quando Sangharakshita chegou à cidade dos nagas, deu vastos ensinamentos. Quando todos os nagas tinham recebido os ensinamentos, eles o devolveram ao navio. Os mercadores ficaram muito felizes, pois agora podiam prosseguir com seu plano de buscar muitas joias diferentes. Assim cruzaram o oceano e chegaram a uma praia. Neste momento, todos estavam tão exaustos que imediatamente caíram em um bom sono. Mas o Venerável Sangharakshita olhava para o oceano e pensava: “Que maravilhoso ter estado aqui para ver este oceano e ter encontrado o Iluminado!” Ele passou muito tempo neste estado. Finalmente, no meio da noite, cansou e também caiu em um sono muito profundo. Na manhã seguinte os mercadores levantaram e partiram, uns após os outros, e assim ninguém percebeu que o Venerável Sangharakshita ainda estava dormindo. Depois de terem navegado uma longa distância, perguntaram-se sobre ele, mas ninguém o tinha visto. Todos ficaram muito preocupados. Enquanto isso, o Venerável Sangharakshita acordou muito tarde, e percebeu que nenhum dos mercadores estava lá. Levantou-se imediatamente e correu por muito tempo. Logo chegou a um palácio muito bonito adornado por muitas decorações. Era circundado por árvores e piscinas, e havia muitos pássaros – pavões, papagaios e outros – emitindo belos sons. Dentro, ele viu um templo. Assim, foi até lá e encontrou muitos monges pacíficos que usavam seus mantos adequadamente. Ele sentia fome e sede, e pediu comida e bebida a eles, que prontamente ofereceram. Os monges disseram: “Você deveria comer e beber antes de nós, pois está tão cansado. E não só por isso, mas mais tarde podem surgir alguns problemas...” Sangharakshita comeu e bebeu muito bem e, então, sentou-se em um canto do templo. Perto do meio-dia soou o gongo e todos os monges se reuniram, segurando suas tigelas em uma fila organizada. Mas, tão logo formaram a fila, o templo desapareceu! Todas as tigelas de mendicância que traziam em suas mãos transformaram-se em diferentes tipos de martelos de ferro. Até o final do período do almoço, eles atiraram os martelos nas cabeças uns dos outros. Suas cabeças foram esmagadas e seus miolos foram espalhados em todas as direções. Todos experimentaram um sofrimento inconcebível e soltaram grandes lamentos. Assim que o período do almoço passou, o templo reapareceu e os monges estavam como antes, pacíficos e calmos. O Venerável Sangharakshita ficou bastante surpreso ao ver isto e perguntou: “Devido a qual tipo de carma vocês renasceram aqui, para experimentar tal tipo de sofrimento?” Eles disseram: “Nós éramos monges do Buda Kashyapa. Naquela época costumávamos lutar uns com os outros ao meio-dia durante o período do almoço. Devido a este carma renascemos aqui neste inferno ocasional. Após esta vida, renasceremos nos infernos maiores. Por favor, conte aos monges do mundo as dificuldades que estamos experimentando.” Ele concordou em fazer isto. Então, o Venerável Sangharakshita foi a outro lugar. Lá, novamente, encontrou um belo templo onde muitos monges recitavam. Eles também ofereceram-lhe comida e bebida. Depois de desfrutar a comida e a bebida, sentou-se do lado de fora. Novamente, quando chegou o meio-dia, um gongo soou e todos os monges se reuniram em uma fila, segurando suas tigelas. Naquele momento, o templo desapareceu. Toda a comida e a bebida se transformaram em metal derretido. Até o final do período do almoço eles derramaram o metal derretido nos corpos uns dos outros, e ficaram terrivelmente queimados. Todos experimentaram um

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sofrimento inconcebível. Tão logo o período do almoço passou, o templo reapareceu e todos os monges estavam tão pacíficos e calmos como antes. O Venerável Sangharakshita perguntou: “Qual tipo de carma os trouxe aqui, a este tipo de sofrimento?” “Éramos monges do Buda Kashyapa. Naquela época, os patrocinadores fiéis nos davam comida e bebida, mas nós as desperdiçamos. Devido a este carma renascemos neste inferno ocasional. Após esta vida renasceremos nos grandes infernos. Por favor, passe esta informação para os monges que estão no mundo.” Mais uma vez, o Venerável Sangharakshita fez uma longa jornada. Chegou a um lugar onde havia um belo templo com muitos monges pacíficos, que lhe ofereceram uma deliciosa refeição e bebida. Ele se deliciou e sentou-se em um canto. Quando chegou o meio-dia, o templo foi completamente queimado. Todos os monges foram queimados naquele fogo e experimentaram um sofrimento inconcebível. Assim que o período do almoço passou, o templo e os monges reapareceram. Mais uma vez o Venerável Sangharakshita perguntou-lhes qual carma os fazia experimentar tal sofrimento. Eles disseram: “Nós éramos monges do Buda Kashyapa. Éramos monges que não mantinham a ética moral adequadamente, assim os monges que eram eticamente corretos nos expulsaram do monastério. Naquele momento ficamos com tanta raiva que colocamos fogo no monastério, queimando todos eles. Devido a este carma renascemos neste inferno ocasional. Após esta vida, renasceremos nos grandes infernos.” Então, o Venerável Sangharakshita viajou por um longo tempo. Ao longo da estrada encontrou seres sencientes que tinham a forma de paredes, colunas, árvores, flores, frutos, cordas, vassouras, tigelas, pilões, escovas de limpeza, seres com as costas presas apenas por ligamentos, e assim por diante. Prosseguiu ao longo do vale e chegou a um lugar onde havia 500 rishis em absorção meditativa. O Venerável Sangharakshita permaneceu lá e descansou. Durante sua permanência ofereceu diversos ensinamentos a esses rishis, que os fizeram desenvolver uma forte confiança no Buda. Eles quiseram ver o Buda e se tornar monges, e assim perguntaram se poderiam acompanhar Sangharakshita. Ele concordou, e continuou, acompanhado pelos 500 rishis. Pouco antes de chegar a Shravasti o Venerável Sangharakshita reencontrou os 500 mercadores na estrada, que também queriam se tornar monges budistas. Quando chegaram a Shravasti, todos foram ver o Buda e pediram-lhe para conceder-lhes os votos de um monge. O Buda aceitou, deu-lhes os votos e ensinamentos. No final todos alcançaram o estado de Arhats. O Venerável Sangharakshita contou ao Buda todas as diferentes coisas que tinha encontrado. Em especial, falou sobre os seres sencientes que tinha encontrado na estrada, alguns como paredes, colunas, árvores e assim por diante. Ele perguntou: “Que tipo de carma negativo estes seres sencientes acumularam para renascerem desta forma? Por favor, diga-me.” O Buda respondeu desta forma: “Esses seres também foram monges do Buda Kashyapa. Naquele tempo, sujaram as paredes do templo cuspindo saliva e jogando sujeira nas paredes. Assim, renasceram como paredes. Também jogaram saliva e muco nas colunas, e assim renasceram como colunas. Alguns dos monges utilizaram as árvores, folhas e frutos da comunidade monástica para seu próprio benefício, e assim renasceram como aqueles seres. Também usaram mal as cordas e vassouras da comunidade monástica, e assim renasceram daquela forma.” “Durante o tempo do Buda Kashyapa, alguns monges viajaram por um longo tempo até outro monastério e pediram água, pois estavam com muita sede. Por avareza, os monges desse monastério disseram que não tinham água para oferecer-lhes. Assim, renasceram desta forma.” “Também, naquele tempo, um Arhat shramanera foi designado como gerente da comunidade monástica. Alguns monges vieram até ele e pediram-lhe para produzir um pouco de óleo com um pilão e uma tigela. O shramanera disse: ‘Estou muito ocupado agora. Esperem que farei isso mais tarde.’ Os monges ficaram com muita raiva e disseram: ‘Se nós estivéssemos com esta tigela, iríamos te esmagar nela.’ Assim, devido a estas palavras agressivas, renasceram como tigelas.” “Enquanto alguns servos dos monges preparavam um remédio, discutiam e trocavam palavras desagradáveis. Os monges ficaram tão irritados que quebraram o recipiente do remédio. Assim, renasceram como recipientes onde são preparados remédios.” “O gerente dos monges, que distribuía as oferendas, não as utilizou no momento em que foram recebidas. O que era doado no verão era distribuído no inverno. E o que era doado no inverno era distribuído no verão. Devido a isto, renasceu com as costas quebradas.” Desta forma, o Buda explicou em detalhes as consequências do carma.

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A História de Nawa Chewari O capítulo 5 descreve os dois grupos de fantasmas famintos que possuem obscurecimentos gerais à comida e à bebida: os guirlandas de fogo e os comedores de imundícies. Os primeiros, ao comerem ou beberem têm seus estômagos queimados. O segundo grupo come excrementos, bebe urina, ou come sua própria carne, como foi testemunhado por Nawa Chewari em um deserto seco. Essa é a sua história: Certa vez, em Shravasti, havia uma família cujo chefe era chamado de Centro do Poder. Como nenhuma criança havia nascido nesta família, eles fizeram oferendas às deidades locais por muito tempo. Finalmente, durante o tempo da estrela Droshin, um belo menino nasceu. Na sua orelha havia um precioso ornamento de joia, que valia um milhão de onças de ouro. Foi assim que ele recebeu o nome de Nawa Chewari. Quando cresceu, certa vez estava trabalhando no teto da casa e pôde ver seu pai trabalhando duramente nos campos em um verão muito quente. Assim, quando seu pai voltou para casa, Nawa Chewari perguntou-lhe: “Por que você faz tantos esforços? Por que trabalha tão duro?” O pai respondeu que as riquezas que possuíam não surgiam de uma forma natural, sem esforços. Não, elas eram acumuladas com sacrifício e suportando muitas dificuldades como o calor e o frio. Dizendo isto, o pai mostrou ao filho os depósitos de suas riquezas. O filho pensou que o pai estava insinuando que ele deveria sair para conquistar riquezas. Acreditando nisto, disse: “Eu gostaria de sair para fazer negócios.” É claro que o pai protestou e pediu para não ir, mas Nawa Chewari não quis ouvir nada do que ele dizia. Nawa Chewari partiu com dois servos, Dienbu e Kyongwa, e dois asnos machos. Junto com muitos outros mercadores eles se dirigiram ao oceano. Cruzaram o oceano com sucesso e trouxeram muitas joias. Quando retornaram à praia, conversaram até a meia-noite sobre todas as valiosas joias que tinham reunido. À meia-noite, todos caíram em um sono muito profundo. Quando os mercadores estavam se preparando para partir, o servo Kyongwa pensou assim: “Meu mestre Nawa Chewari tem Dienbu, o outro servo, portanto vou partir sozinho.” Mas Dienbu também pensou: “Meu mestre tem o servo Kyongwa, portanto devo seguir sozinho.” Pensando desta forma, os dois partiram. Quando Nawa Chewari acordou ao nascer do sol, apenas os dois asnos estavam ali. Todos os outros tinham partido. Ele pulou em pé imediatamente e seguiu seus dois amigos com os asnos, seguindo suas pegadas na estrada. Mas, após algum tempo, uma grande tempestade veio e desmanchou suas pegadas. Os dois asnos estavam completamente perdidos e não sabiam em qual direção ir. Como Nawa Chewari estava chorando tanto, eles tentaram fazer o seu melhor. Logo chegaram a um local muito escuro, onde havia cinco casas metálicas. Na primeira casa metálica ele viu muitos yamas. Nawa Chewari estava com muita sede e também com fome, por isso perguntou: “Vocês podem me dar um pouco de comida e bebida?” Eles responderam: “Há muito tempo nós nem mesmo ouvimos as palavras ‘comida’ e ‘bebida’. Em nossas vidas anteriores morávamos na cidade de Dojok, na Índia. Pelo poder da avareza e por não praticar generosidade renascemos aqui como fantasmas famintos e sofremos inconcebivelmente. Você parece um ser afortunado que irá retornar para o reino humano. Nossos nomes são... (eles repetiram seus nomes). Diga aos nossos parentes em Dojok que escondemos ouro em pó no chão sob a casa. Diga-lhes para retirarem o ouro e para que o ofereçam ao Arya Katayana. Através desta oferenda em nossos nomes e de sua dedicação, seremos liberados do sofrimento do reino dos fantasmas famintos.” Então ele se dirigiu à segunda casa metálica. Como antes, havia muitos fantasmas famintos sofrendo pela falta de comida e bebida. Quando chegou à terceira casa metálica já era quase a hora do pôr do sol. Ali encontrou um palácio de joias preciosas no qual quatro deusas muito belas desfrutavam a vida com um homem. Mas, de manhã, assim que o dia despontou, as quatro deusas se transformaram em cães agressivos com presas metálicas que comiam a carne daquele homem. E assim se repetia indefinidamente – à noite eles desfrutavam a vida no palácio e, durante o dia, sofriam desta forma. Nawa Chewari perguntou qual era a razão para isso: “Qual é o carma que os faz experimentarem isto?” Ele respondeu: “Em minha vida anterior eu era um açougueiro na cidade de Dojok. O Arya Katayana me alertou para abandonar esta atividade. Eu disse: ‘Não posso abandonar esta atividade durante

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o dia, mas o farei à noite.’ Assim, renasci aqui. Quando você retornar à cidade, por favor diga aos meus parentes que, sob o solo, próximo à minha espada, há um pote de pó de ouro. Eles devem cavar até encontrá-lo e oferecê-lo ao Arya Katayana. Peça-lhe para dedicar isto à minha liberação deste sofrimento.” Nawa Chewari prosseguiu para a quarta casa metálica. Aqui havia um homem que era honrado, respeitado e servido por uma deusa durante o dia. Porém, à noite ela se transformava num cão que o devorava. Ao perguntar sobre a razão para isso o homem disse: “À noite eu me envolvia em má-conduta sexual com outras pessoas, por isso renasci assim. Durante o dia mantinha a ética moral. Devido a estas ações estou experimentando este tipo de resultados alternantes.” Finalmente, chegou à quinta casa metálica. Lá, em um palácio esplendoroso, estava uma bela dama possuidora de riquezas perfeitas e magníficas. Quando Nawa Chewari lhe pediu bebida e comida, ela o levou para dentro e ofereceu o suficiente para comer e beber. Ela sentou-se em um trono de joias preciosas, mas havia quatro homens atados, cada um, a um dos quatro lados do trono. Ela o advertiu: “Preciso sair por uns instantes. Se eles lhe pedirem qualquer coisa, não dê. Não lhes dê nada.” Obviamente, assim que ela saiu, os quatro homens estenderam suas mãos e imploraram por comida, bebida, qualquer coisa para comer. Nawa Chewari sentiu uma grande compaixão e ofereceu-lhes um pequeno bocado de comida. Tão logo ingeriram a comida, ela se transformou: em metal fervente, em poeira, em uma pedra, em brasas quentes. Quando a comida chegava aos seus estômagos, eles experimentavam um sofrimento inconcebível. Assim que ela retornou, viu seu sofrimento e disse: “Não pense que não tenho compaixão o bastante para alimentar estes seres. É devido a este sofrimento que não lhes ofereço comida ou bebida.” Nawa Chewari perguntou à mulher que tipo de ações negativas os tinha conduzido a este tipo de sofrimento. Ela explicou: “Em nossas vidas anteriores, éramos uma família de cinco pessoas, eu, meu marido e nossos três filhos. Certo dia o pai e os filhos estavam fora enquanto eu preparava uma deliciosa refeição e esperava por eles. Antes de voltarem, um venerável Arya passou por ali pedindo por comida. Como já tinha preparado a comida, ofereci a ele. Logo que ele partiu, comecei a preparar outra comida para meu marido e filhos. Eles chegaram enquanto a comida ainda não estava pronta. Estavam famintos e exigiram sua comida. Expliquei a razão do atraso e eles ficaram muito aborrecidos e irritados com o monge. Um deles disse, ‘Em vez de comer nossa deliciosa refeição, este monge deveria ter comido ferro derretido.’ Outro disse, ‘Ele deveria ter comido poeira.’ Outro disse, ‘Ele deveria ter comido uma pedra.’ E o último disse, ‘Ele deveria ter comido brasas em chamas.’” “Quando disseram estas coisas, em minha mente eu soube que, ao dizer tais palavras agressivas sobre uma oferenda a um nobre monge, em vez de se regozijarem com a ação virtuosa, eles experimentariam um sofrimento inconcebível. Então pensei, ‘Quando estiverem experimentando este sofrimento, que eu possa ver com meus próprios olhos.’ Assim, pelo poder desta aspiração, eu os encontro neste estado. Se não tivesse feito aquela aspiração, teria renascido no Reino dos Trinta e Três Deuses. Foi assim que renascemos aqui como fantasmas famintos.” Assim, Nawa Chewari passou doze anos no reino dos fantasmas famintos. Uma noite, a dama perguntou se gostaria de retornar à sua terra natal e ele respondeu que sim. “Neste caso, esta noite você deve dormir com a cabeça apontando para a direção de sua terra natal. Pense fixamente na sua terra natal.” Ele seguiu suas instruções e, no dia seguinte, acordou lá. Ao passar pelas cidades levou todas as mensagens aos parentes dos fantasmas famintos. É claro que não acreditaram nele, de início. Mas, quando cavaram o solo e encontraram o ouro, acreditaram em tudo que dizia. Ele retornou aos seus pais, e todos ficaram extremamente felizes ao se reverem. Mas, pouco tempo depois, seus pais faleceram. Então, Nawa Chewari dirigiu-se ao Arya Katayana e pediu para tornar-se um monge. Foi aceito e, em determinado momento, realizou a verdade de forma direta.

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A História do Velho ao Nascer O capítulo 5 menciona que uma criança normalmente permanece no útero por trinta e oito semanas. Algumas permanecem oito, nove ou dez meses. A permanência de outras é indefinida e algumas permanecem até mesmo sessenta anos. O Velho ao Nascer permaneceu no útero de sua mãe por sessenta anos. Essa é a sua história: Quando o Buda se encontrava em Bya Kalandaka, em Rajagriha, havia um rico mercador casado com uma mulher de sua própria casta. Certa vez ela ficou grávida de uma criança, mas antes desta criança nascer ela deu a luz a uma outra criança. No total teve dez crianças e o primeiro filho ainda se encontrava em seu útero. Após muitos anos ficou doente e disse ao marido: “Com certeza irei morrer devido a esta doença. Quando morrer, operem meu corpo e tirem este filho do meu lado direito.” Então ela faleceu. O marido convidou um grande médico e o corpo foi levado para o cemitério da floresta de sândalo. Milhares de pessoas, inclusive seis professores dos tirtikas foram para a área de Rajagriha para ver o que iria acontecer. O Buda disse a Ananda e a muitos outros monges que eles também deveriam ir ao cemitério para testemunhar o fato, de forma que ele pudesse explicar o carma daquela criança. Quando chegaram ao cemitério o grande médico operou o lado direito da mulher e retirou a criança. A criança já nasceu velha. Seu rosto e suas mãos estavam cheios de rugas e o cabelo era grisalho. A criança disse a todos aqueles que estavam reunidos: “Vejam! Não usem palavras agressivas com seus pais, abades, professores e outros. Devido a este tipo de carma eu experimentei o sofrimento no útero de minha mãe por sessenta anos.” O Buda, então, perguntou à criança: “Você está velho?” Ele respondeu: “Sim, estou.” Por isso recebeu o nome de Velho ao Nascer. O Buda, então, ofereceu ensinamentos vastos e profundos sobre este tipo de carma aos milhares de pessoas reunidas lá. Muitas pessoas sentiram repulsa e renunciaram ao samsara. O Velho ao Nascer permaneceu como chefe de família por dez anos, e quando completou setenta anos tornou-se um monge do Senhor Buda. Junto com vinte e cinco outros monges permaneceu no Pico dos Abutres durante o retiro de verão de três meses. Todos os monges, exceto ele, atingiram o estado de Arhats. Como ainda era uma pessoa comum, os Arhats o expulsaram durante a cerimônia Pravarana1, o que o deixou muito triste. Ele disse: “Agora esta vida não tem mais significado, nenhum benefício. É melhor morrer.” Quando estava prestes a se jogar sobre uma espada, o Buda percebeu imediatamente que era chegada a hora de domá-lo. Através de seu poder milagroso, o Buda se aproximou e o impediu de se matar. O Buda deu ensinamentos de acordo com as disposições mentais do Velho ao Nascer e, no final, ele alcançou o estado de Arhat. Esses acontecimentos surpreenderam e maravilharam os monges. Assim, eles perguntaram ao Buda que tipo de carma o Velho ao Nascer tinha gerado. “Por favor, conte-nos”, eles imploraram. O Buda explicou a todos os monges:

No passado, durante o tempo do Buda Kashyapa, o filho de um mercador tornou-se monge e estudava com um Arhat. Em certa ocasião haveria uma grande celebração na cidade deles, o jovem monge pediu permissão ao seu professor para ir até lá. Mas o professor disse: “É melhor ficar aqui e se esforçar no estudo e na prática.” Mesmo tendo feito o pedido três vezes o professor não consentiu. Então ele se encolerizou e disse essas palavras agressivas ao professor: “Você deveria ficar em um lugar escuro por sessenta anos. Eu vou ver o festival.” Aquele jovem monge é agora o Velho ao Nascer. Por ter usado estas palavras agressivas com seu professor passou sessenta anos no útero de sua mãe. Por ter usado mal sua sabedoria levou muito tempo para que sua mente amadurecesse. Mas ele estudou e se tornou um especialista nos cinco skandas, nos dezoito datus e nos doze elos interdependentes. Devido a estas causas e aos meus ensinamentos tornou-se um monge e alcançou o estado de Arhat.

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A História das Filhas do Rei Krika O capítulo 6 cita as sete filhas do rei Krika como exemplos de pessoas medíocres, que estão interessadas apenas em sua própria paz. Essa é a sua história: Na época do Buda Kashyapa, havia um rei Krika que era naturalmente bondoso. Ele possuía todas as qualidades excelentes e confiança inabalável no Buda. Esse rei tinha sete filhas com tantas qualidades que pareciam deusas. Devido à sua grande acumulação de virtudes em vidas anteriores, elas tinham realizado que todas as riquezas temporárias e a felicidade do samsara não têm essência, são apenas momentâneas e não estão além da natureza do samsara. Elas possuíam grande devoção e respeito por seus pais. Certo dia se aproximaram do rei, seu pai, e fizeram prostrações aos seus pés. “Por favor”, disseram: “conceda-nos a permissão para ir a um lugar solitário e realizar práticas ascéticas, de forma que possamos renunciar à natureza do samsara, que é sofrimento sem fim.” Devido à grande afeição pelas filhas, o rei-pai não conseguia compreender que elas quisessem ir a um lugar isolado e amedrontador e, então, recusou sua permissão. As filhas disseram: “Você, pai, sempre possui compaixão para o bem-estar e benefício de todos os seres sencientes. Por que não tem conosco também? Mesmo se ficarmos com você por enquanto, é certo que um dia teremos que nos separar, sem escolha. Portanto, para que possamos realizar o estado da paz absoluta, por favor, deixe-nos ir.” Devido ao grande amor e afeição pelas filhas, o pai ficou deprimido. Olhando para elas, disse: “Por que querem ir a um cemitério, um lugar terrível, e abandonar todos os confortos luxuosos do reino? Por que querem enfrentar dificuldades, abandonando seus amados e compassivos pais?” Todas as filhas disseram: “Estes pais amorosos e compassivos existem apenas no estado relativo. Não estão além do sofrimento do samsara. Por que deveríamos nos apegar à família, aos parentes e aos amigos? Todas as riquezas e confortos do samsara são como ilusões ou sonhos. Não os admiramos ou estamos apegadas a eles. Por favor, tente não quebrar nosso comprometimento em atingir a paz absoluta.” O pai disse: “Ainda não é a hora de ir para tais lugares. Primeiro desfrutem todos os confortos e riquezas do reino, mais tarde vocês poderão praticar de forma dura.” Com isto, ele as abençoou. As jovens filhas ficaram completamente infelizes. Apesar dele ter-lhes dito para desfrutar as riquezas, luxos e confortos do reino, elas viam tudo como veneno. Assim, novamente imploraram: “Se você possui grande amor e compaixão, por favor, dê-nos a permissão para alcançar a paz livre de medos, a paz absoluta. Por favor, permita-nos alcançar este estado.” Apesar de não ficar feliz com a posição de suas filhas, ele também achava que não era correto impedir sua confiança e devoção pelos ensinamentos do Buda. Finalmente, o pai deu a permissão e as filhas ficaram muito felizes. Elas tiraram todos seus ornamentos e guirlandas, fragrâncias e ornamentos de joia, todas as suas roupas luxuosas e vestiram apenas trapos. De forma pacífica, prosseguiram em sua jornada para um cemitério. Após uma longa viagem chegaram a um cemitério terrível, arrepiante. Havia corpos mortos em todas as direções, alguns secos, alguns frescos. Abutres e corvos estavam comendo os corpos, bicando os olhos, bocas e estômagos. Toda a imundície estava saindo de dentro dos corpos, que estavam cheios de vermes. Outros seres estavam comendo os intestinos, puxando-os para lá e para cá. Havia sangue em toda parte e o cheiro da imundície tomava conta. Havia centenas e milhares de corpos mortos. Diversos animais, como as corujas, faziam sons arrepiantes; cobras, sapos e lobos andavam ao redor. Era um lugar repleto de medo e perigos onde, normalmente, ninguém conseguiria ficar. Mas, quando as filhas chegaram, ficaram muito satisfeitas com o local. Indra ficou muito satisfeito em vê-las meditando, então apareceu diante delas dizendo: “Que maravilhoso que vocês, irmãs, tenham renunciado ao reino como se fosse um monte de grama e que estejam praticando meditação de forma ascética como os grandes mestres de outrora. Que maravilhoso! Por favor, digam-me se vocês precisam de quaisquer confortos ou luxos do reino dos deuses.” Todas as filhas disseram: “Nós não admiramos as riquezas do samsara. Estas coisas estão todas sujeitas à mudança e à dissolução. Elas possuem a natureza do samsara. Nós as abandonamos para atingir a paz absoluta, livre dos sofrimentos do nascimento, velhice, morte e de outros. Seguimos o caminho dos grandes praticantes do passado, perseverando de forma dura. Se você, Indra, pode nos conceder realizações,

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então nos dê a realização suprema que não pode ser destruída.” Indra estava muito impressionado. Os pelos de seu corpo ficaram em pé enquanto pensava: “Que maravilhoso e surpreendente! Elas não têm apego a tamanhas riquezas e conforto.” Ele prosseguiu da seguinte forma: “Não possuo a habilidade de conceder-lhes a realização suprema. Mas, se apenas disserem que coisas desejam, elas serão concedidas sem esforço.” As garotas não ficaram muito felizes com isto. “Você, que possui mil olhos, sua mente está presa ao desejo. Você e o que pode oferecer são duas coisas diferentes. Como pode dizer que concede realizações? Como poderia um homem levado pela forte corrente de um rio salvar aqueles que também são levados? Suas palavras são simplesmente ignorantes.” Disseram isso e muito mais. Com um sentimento de surpresa e espanto, Indra retornou ao Reino dos Deuses dos Trinta e Três. Como antes, as filhas continuaram meditando duramente, com a paz e a calma que surgem ao renunciar ao apego a todas as coisas do samsara. Devido ao seu esforço, confiança e desapego, finalmente liberaram-se do oceano do sofrimento do samsara.

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A História de Mahadatta O capítulo 7 se refere duas vezes ao brâmane Mahadata como um exemplo do desenvolvimento da bondade amorosa. Essa é a sua história: Incontáveis eras atrás, havia um monarca que governava 84.000 reinos. Na grande cidade de Bruta vivia o brâmane Nyagrodha. Sua riqueza era tão grande quanto a de Vaisravana, e sua erudição era tão perfeita que até mesmo o rei o tomou como professor. Todas as pessoas do reino respeitavam Nyagrodha tanto quanto respeitavam o rei, e eles seguiam o seu comando. Esse brâmane estava muito triste por não ter filhos, e por isso rezava e fazia oferendas a Brahma, Indra e outros deuses por doze anos. Finalmente, sua mulher deu à luz um belo filho e o brâmane ficou exultante. Ele patrocinou uma grande celebração para comemorar o nascimento do filho, e deu-lhe o nome de Mahadatta. À medida que o filho crescia, tornava-se insuperável nas diferentes habilidades, artes e conhecimento. Certo dia, com a permissão de seus pais, Mahadatta saiu para conhecer a cidade em um elefante ornamentado por joias preciosas, acompanhado por centenas e milhares de pessoas. Quando chegou aos subúrbios da cidade encontrou pessoas que eram muito pobres e que não tinham roupas ou comida. Encontrou mendigos e camponeses, e perguntou ao seu séquito por que aquelas pessoas sofriam tanto. “Quais são os tipos de sofrimento que existem?”, perguntou. Disseram-lhe que alguns sofrem por terem de se separar de seus pais, amigos e parentes; alguns sofrem por ficarem doentes por muito tempo; alguns sofrem por terem roubado a comida, roupas e outras coisas dos outros. Mahadatta ficou desconsolado e lágrimas caíram de seus olhos como um rio. Ele viajou ainda mais adiante. Lá, em um país diferente, encontrou açougueiros que estavam matando centenas de animais todos os dias e os esquartejavam. Em outro lugar, viu um caçador que matava animais selvagens e pássaros. Ao ver estas coisas, ficou arrepiado e desenvolveu enorme compaixão. Perguntou às pessoas por que estavam fazendo aquilo, e elas responderam: “Fazemos estas coisas porque nossos pais já as faziam, e é assim que vivemos nossas vidas.” Mahadatta achou muito difícil entender isso, assim voltou para casa e disse para seu pai: “Fui conhecer nosso país viajando para diferentes lugares, diferentes vilas e cidades. Percebi que as pessoas estão sofrendo devido a diferentes tipos de pobreza e estão criando não-virtudes que trarão ainda mais sofrimento para elas no futuro. Posso praticar generosidade utilizando seu grande depósito de tesouros?” Como seu filho lhe era tão caro, o pai não pôde negar. Mahadatta anunciou nas dez direções que iria praticar generosidade sem avareza. Convidou todos aqueles que não possuíam roupas para vestir ou comida, para se aproximarem. As pessoas viajaram milhares de milhas e se reuniram como uma nuvem ao redor da cidade. Por um longo tempo ele lhes ofereceu comida, roupas, ouro, prata, cavalos, elefantes e outras coisas – todas as necessidades foram satisfeitas completamente. Após algum tempo, um terço do total do tesouro tinha sido doado. O tesoureiro relatou isso a Nyagrodha, mas, devido ao seu respeito e amor pelo filho, ele disse: “Deixe Mahadatta continuar a praticar generosidade.” Mais adiante restava pouca coisa de sua fortuna. Quando o tesoureiro não podia mais tolerar a situação ele voltou a Nyagrodha e contou o que estava acontecendo. O pai disse: “Como já dei a permissão ao meu filho para fazer isso, não posso voltar atrás em minha decisão. Mas você deve tentar fazer algo de forma mais habilidosa.” Assim, naquele dia o tesoureiro trancou todas as portas e fingiu que precisava ir a outro lugar. Quando Mahadatta não pôde mais conseguir qualquer coisa para oferecer para os pobres, ele disse: “Isto deve ser coisa de meu pai! Mas sei também que não é correto exaurir seus tesouros. Portanto, devo fazer esforços por mim mesmo para adquirir riquezas e satisfazer os desejos dos pobres.” Foi a diversos lugares e buscou conselhos sobre como adquirir uma fortuna inexaurível. Alguns disseram para fazer negócios, alguns disseram que poderia ser fazendeiro, outros disseram para ir ao mar em busca de uma joia que realiza desejos. Mahadatta decidiu que iria ao mar, e que obter uma joia que realiza desejos era a forma mais efetiva para acumular riquezas suficientes para oferecer a todas as pessoas pobres. Pediu permissão aos seus pais, mas eles foram completamente contra sua ideia. E se seu corpo ou vida corressem perigo? Mahadatta disse: “Se não me derem permissão eu permanecerei aqui com a minha boca tocando o chão e não irei comer.” Apesar dos pais tentarem de tudo para dissuadi-lo, não tiveram sucesso, e ele permaneceu assim por seis dias. No final, os pais não ousaram presenciar a morte do filho

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desta forma. Então, no sétimo dia, deram-lhe a permissão. Mahadatta ficou muito feliz. Depois de se alimentar, saiu e anunciou que estaria se lançando ao mar, convidando quem quisesse acompanhá-lo. Reuniu cerca de 500 pessoas; eles fizeram as preparações e partiram para sua jornada pelos mares. Depois de muitos dias chegaram a um eremitério vazio. Infelizmente encontraram um grande macaco que roubou todos os seus pertences. Mesmo assim, prosseguiram. Em dado momento, chegaram à cidade onde o brâmane Kapili vivia. O brâmane Kapili possuía uma fortuna inigualável. Descansaram lá por muitos dias e conversaram sobre muitas coisas com o brâmane. Ele ofereceu a Mahadatta sua bela filha como esposa, e também o presenteou com as provisões necessárias e riquezas, incluindo 3000 onças de ouro. Mahadatta aceitou, mas disse que devido às dificuldades, obstáculos e perigos da viagem, deixaria a esposa para trás. Assim, carregaram as provisões e, novamente, seguiram para o mar. Na costa, carregaram o navio e puseram-se ao mar. Após sete dias chegaram a uma ilha preciosa, onde recolheram muitas joias maravilhosas. Carregaram o navio com materiais preciosos e se prepararam para retornar à sua terra. Neste momento, Mahadatta disse: “Meus amigos, vocês devem retornar para casa com estas joias. Eu devo prosseguir até o palácio naga para conseguir a joia que realiza desejos. Se obtiver essa jóia, serei capaz de oferecer aos pobres de meu país infinitamente, e pelo poder desse mérito alcançarei a iluminação. Portanto, vocês devem voltar. Farei orações para que vocês não encontrem obstáculos ou perigos até chegarem à nossa terra.” Ao ouvirem estas palavras, os mercadores ficaram muito tristes, lágrimas vieram aos seus olhos. Eles tentaram de todas as formas convencê-lo a postergar sua jornada, mas Mahadatta nem mesmo ouvia. Vagou pelos mares por um mês e, então, nadou por uma semana. Chegou a uma montanha e demorou sete dias para subi-la e mais sete dias para descer. Depois, continuou nadando no mar. Finalmente, encontrou um lótus surgindo do oceano, adornado com ouro, circundado por cobras venenosas. Ele achou que isso indicava a presença de um grande ser. Mahadatta contemplou que essas cobras venenosas haviam nascido assim devido ao carma do ódio e do ciúme em suas vidas anteriores. Com esse pensamento em mente, cultivou grande compaixão por elas, sentou-se na postura de equilíbrio, meditando na bondade amorosa com concentração unifocada, de forma que todos os seus pensamentos negativos e venenos fossem pacificados. Então, subiu no lótus e caminhou através das cobras por sete dias. Toda vez que encontrava um grupo de rakshas ele também meditava na bondade amorosa. Pelo poder deste estado mental, aqueles seres também foram pacificados. Na verdade, eles acharam que não era correto que Mahadatta fosse prejudicado, e assim, transportaram-no pelos céus por 400 yojanas. Depois, ele prosseguiu adiante. Pouco tempo depois, ele viu um palácio naga feito de prata. À medida que se aproximava, Mahadatta viu que havia sete níveis de cobras venenosas circundando o palácio. Novamente, meditou na bondade amorosa vendo que as cobras eram como se fossem seus próprios filhos. Por este poder os seus pensamentos de ódio foram completamente pacificados. Assim, passou pelas cobras e entrou no palácio. Lá dentro encontrava-se o rei dos nagas, sentado em um trono construído com os sete tipos de joias preciosas. No momento em que o rei naga viu Mahadatta ficou muito assustado! Quem poderia entrar no palácio sem ser atacado pelas cobras? Pensando que esta deveria ser uma pessoa muito poderosa, o rei naga ficou em pé e saudou-o, oferecendo o trono para ele sentar e comidas deliciosas. O rei perguntou a Mahadatta como e por que tinha vindo até ali. Mahadatta respondeu: “No mundo existem muitas pessoas sendo torturadas. Elas sofrem pela falta de comida, roupas, riquezas e, por isso, renascem nos três reinos inferiores. Ao ver a condição destas pessoas, surgiu uma compaixão intolerável em minha mente. Pensei: ‘Para beneficiar estes seres preciso conseguir uma joia que realize desejos, mesmo sob o risco de minha própria vida.’ Ao beneficiar estes seres sencientes irei acumular um mérito ilimitado, e através dele alcançarei a iluminação. Portanto, por favor conceda-me sua joia que realiza desejos.” O rei naga disse: “É muito difícil obter essa joia. Entretanto, irei entregá-la a você, grande ser, se ficar aqui por um mês, aceitando minhas oferendas e dando ensinamentos.” Assim, o bodisatva Mahadatta ficou lá por um mês, aceitando as refeições mais deliciosas e serviços, e ensinando os quatro tipos de atenção mental. Ao final do mês, o rei naga tirou a joia que realiza desejos de sua coroa e a entregou na mão de Mahadatta, dizendo: “Quando você alcançar a iluminação perfeita e completa que eu possa me tornar um de seus maiores e mais próximos discípulos.” Quando Mahadatta perguntou sobre o poder da joia, ele disse: “Esta joia tem o poder de realizar quaisquer desejos num raio de 2000 yojanas.” Mahadatta pensou que, mesmo esta joia possuindo tal poder, ela não poderia realizar todas as suas aspirações. Assim, prosseguiu

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pelo oceano. Finalmente, chegou a um palácio feito de joias de lápis lazúli. Como no outro, ele estava circundado por sete níveis de cobras venenosas. Novamente meditou na bondade amorosa com a mente unifocada e, através deste poder, ficou livre de todo o medo e continuou para entrar no palácio. Lá, o rei naga também levantou-se de seu trono e o saudou, dizendo para sentar-se no trono e perguntando sobre como tinha chegado até lá, qual era seu propósito, e assim por diante. Mahadatta respondeu da mesma forma que antes. O rei naga pediu-lhe para ficar por dois meses, aceitando as oferendas e dando ensinamentos, e depois ele lhe entregaria sua joia que realiza desejos. Mahadatta concordou, e por dois meses aceitou as oferendas e serviços, e deu ensinamentos sobre os quatro fundamentos dos poderes milagrosos. Ao final, o rei naga ofereceu a joia que realiza desejos retirada de sua coroa, e disse: “Grande Ser, você irá, definitivamente, alcançar a iluminação um dia. Quando isso acontecer, possa eu me tornar um de seus discípulos próximos.” Assim, fez essa prece de aspiração. Quando Mahadatta perguntou sobre o poder da joia, ele disse: “Essa joia tem o poder de realizar todos os desejos num raio de 4000 yojanas.” Mais uma vez, Mahadatta pensou que mesmo esse grande poder não poderia realizar completamente todos os seus desejos, e assim continuou procurando a grande joia que realiza desejos. Continuou viajando por muito tempo, e chegou a um palácio radiante de ouro. Aqui, novamente, superou cobras perigosas com o poder de sua meditação na bondade amorosa. Passou por elas e entrou naquele palácio de joias inestimáveis. O rei naga pensou: “Quem será esse grande ser que não é atingido por nenhum desses perigos?” Atemorizado e espantado ele levantou de seu trono e prostrou-se a Mahadatta, dizendo: “Grande Ser, que pôde chegar até aqui sem ser impedido por qualquer perigo ou obstáculos, qual é o motivo de sua vinda?” Mahadatta respondeu todas as suas razões, como antes. O rei naga pediu-lhe para ficar por quatro meses, aceitando as oferendas e dando ensinamentos, e depois ele lhe entregaria a joia que realiza desejos. Mahadatta permaneceu lá por quatro meses, aceitando todas as oferendas e serviços, e oferecendo diversos níveis de ensinamentos. Ao final, o rei naga ofereceu-lhe a joia que realiza desejos e fez a mesma prece de aspiração que os outros. Quando Mahadatta perguntou sobre a força da joia, ele respondeu: “Essa joia tem o poder de realizar desejos num raio de 8000 yojanas.” Agora Mahadatta estava muito satisfeito. “Esta Jambudvipa tem apenas 7000 yojanas de dimensão. Assim, esse poder é mais do que preciso para satisfazer os desejos de todos os seres. Agora posso retornar à minha pátria e realizar todos os meus desejos.” Os nagas e todo o seu séquito fizeram prostrações e deixaram Mahadatta partir para sua terra. Após ter percorrido uma certa distância, Mahadatta pensou: “Se essas são realmente joias que realizam desejos, que eu possa ter a capacidade de voar pelos céus.” Tão logo fez esta prece, pôde voar sobre o oceano sem dificuldades. No limite do oceano, parou e descansou por um tempo, caindo em um sono profundo. Enquanto estava dormindo, os nagas inferiores ficaram pensando sobre as suas joias preciosas, que estavam sendo levadas por um ser humano. “Isto nos deixará pobres. Devemos tomar nossas joias de volta!” Pensando assim, roubaram todas as joias. Assim que acordou e percebeu o que tinha acontecido, Mahadatta soube que os nagas tinham levado suas joias. Como não poderia retornar para casa com as mãos vazias, decidiu drenar todo o oceano e fazer com que a terra dos nagas ficasse sem água. Com este comprometimento, tomou o casco de uma grande tartaruga e começou a usá-lo como balde, tirando a água do oceano e jogando-a para o outro lado. O deus dos mares pensou: “Esse oceano tem 333 yojanas e apenas uma pessoa não será capaz de tirar toda essa água. Mesmo se todos os seres humanos de Jambudvipa viessem, não seriam capazes de acabar com a água.” Mahadatta continuou inabalável. Ele pensou: “Com perseverança não há nada que não possa ser realizado. O motivo de obter as joias era beneficiar e oferecer conforto para incontáveis seres sencientes. Pelo poder deste mérito alcançarei a iluminação, assim, não devo nunca deixar meu comprometimento fraquejar. Eu conseguirei secar este oceano.” Assim, continuou tirando a água do mar. Vishnu e inúmeros outros deuses vieram ajudá-lo. Os deuses lançavam suas roupas no oceano, ensopando-as, e lançavam a água para o outro lado do oceano. Fizeram isto três vezes, secando a água por quarenta yojanas cada vez. Quando 120 yojanas estavam secas, os nagas ficaram com medo que todo o oceano fosse drenado e todos eles morressem. Assim, devolveram as joias para Mahadatta, e disseram ao bodisatva: “Por favor, aceite nossas desculpas e as joias.” O deus dos oceanos ficou completamente espantado, e disse: “Um dia este bodisatva irá, definitivamente, alcançar a iluminação completa. Quando isto acontecer, que eu possa me tornar um de seus

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discípulos próximos.” Assim, fez esta prece de aspiração. Então, o bodisatva Mahadatta pegou todas as joias e voou para o palácio do brâmane Kapili. O brâmane ficou surpreso e maravilhado, e recebeu Mahadatta calorosamente. O brâmane ofereceu-lhe sua filha em casamento, e também 500 servas, 500 elefantes, e diferentes tipos de ornamentos de joia. Eles viajaram por muitos dias e, finalmente, chegaram à terra de Mahadatta. Achando que seu filho estava morto, seus dois pais tinham sofrido e lamentado muito. Tinham chorado tanto que estavam, os dois, cegos. Mas, Mahadatta conseguiu voltar para casa e segurar as mãos de seus pais! Contou-lhes sobre suas aventuras e sobre as joias que realizam desejos, e seus pais ficaram muito satisfeitos. Com o poder das joias, a visão deles se restabeleceu. Ele segurou a joia que realiza desejos em suas mãos e fez a seguinte prece de aspiração: “Que os depósitos de tesouros possam ficar completamente cheios de joias”, e assim aconteceu. Com isso, eles ficaram muito felizes e levaram uma vida luxuosa. O rei, então, declarou a todas as pessoas do reino que o Grande Ser Mahadatta tinha retornado de sua viagem ao oceano com todas as joias que realizam desejos. Ele anunciou que, em sete dias, comida, roupas, ouro, prata e outras coisas – o que quer que fosse desejado – choveria pelo poder das joias. O Grande Ser Mahadatta, bem vestido, colocou todas as joias em bandeiras, e fez a seguinte prece: “Pelo poder dessas joias, possam todos os seres de Jambudvipa ter seus desejos realizados. O que quer que lhes falte – alimento, bebida, riquezas – que tudo isso possa chover pelo poder das joias.” Tão logo disse isto, o vento soprou das quatro direções e limpou toda a poeira. Logo depois, uma bruma chuvosa caiu e deixou a terra úmida e suave. Então uma chuva de comidas deliciosas e bebidas com milhares de diferentes sabores caiu. Choveram os diferentes tipos de grãos, roupas, joias, ouro e prata. Assim, toda a terra foi coberta por riquezas. Neste momento, Mahadatta declarou a todo o povo: “As pessoas de Jambudvipa sentem falta de alimentos, roupas, e por isso se matam e roubam umas das outras, criando constantemente carma negativo. Devido a estas causas renascerão nos três reinos inferiores e experimentarão um sofrimento inconcebível e inexaurível. Ao ver isso, surgiu em minha mente uma compaixão incondicional e insuportável. Isto fez com que, mesmo sob o risco de minha vida e de meu corpo, eu reunisse essas joias para o benefício de todos vocês. Agora que têm tudo que precisam, aproveitem! Esforcem-se para não se engajar em quaisquer ações negativas! Devotem suas vidas às dez ações virtuosas!” Desta forma, abriu as portas para os ensinamentos ilimitados. Então, o Buda disse: “O brâmane Mahadatta, hoje, sou eu. O pai, o brâmane Nyagrodha, é o meu pai Vishodana, e sua esposa era minha mãe, Mayadevi. O rei naga do palácio de prata é Sariputra. O rei naga do palácio de lápiz lazúli é Maudgalyayana. O rei naga do palácio de ouro é Ananda. O rei do oceano é Mangakpa.” Assim termina essa história.

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A História do Rei Bala Maitreia O capítulo 7 menciona que o poder da prática da bondade amorosa também é bom para proteger os outros, como se conta na história do rei Bala Maitreia. Essa é a sua história: Certa vez, quando o Buda se encontrava em Shravasti, Ananda se questionou que tipo de raiz de virtude teria feito com que Kaundinya e os outros – os cinco primeiros discípulos do Buda – tivessem recebido os ensinamentos do Buda quando ele girou pela primeira vez a Roda do Darma, ficassem satisfeitos com aqueles ensinamentos, e através deles alcançassem o estado de Arhats. Com isto em mente, Ananda pediu ao Buda para explicar como isto tinha ocorrido. O Buda disse: “Não apenas nesta vida eu ajudei estes cinco discípulos, mas também dissipei sua fome e sede em uma vida anterior, oferecendo-lhes meu próprio sangue e carne. Assim, isto aconteceu através do poder da aspiração que tive então: ‘Quando alcançar a iluminação, possa eu estabelecê-los no estado da paz absoluta.’” Ananda pediu-lhe para relatar estes acontecimentos em maiores detalhes, e assim o Buda contou a seguinte história: Incontáveis kalpas atrás, nesta Jambudvipa, havia um rei Bala Maitreia, que governava 84.000 diferentes reinos. Sua natureza era amorosa e compassiva, ele praticava persistentemente os quatro pensamentos insuperáveis. Ele estabeleceu seus súditos na ética moral das dez virtudes tão bem que nem mesmo as palavras “inimigo” ou “ladrão” eram ditas naquele país. O povo sempre desfrutava a paz, a felicidade e, todos os tipos de riquezas gloriosas e colheitas abundantes. Como todos os corpos, mentes e a fala destas pessoas estavam estabelecidos firmemente na virtude, nenhuma doença ou mal-estar se manifestavam. Nesta época havia cinco yakshas que saboreavam e sobreviviam da carne e do sangue de outras pessoas. O prazer de suas vidas era disseminar diferentes pragas e doenças. Mas aqui, nenhum de seus desejos era realizado, e assim estavam famintos e sedentos, e sofriam por não poderem causar o mal aos outros. Aproximaram-se deste rei Bala Maitreia e explicaram: “Nós nos sustentamos comendo a carne e bebendo o sangue de seres humanos. Mas, devido ao poder de suas regras de virtude, que todas as pessoas seguem, não temos chance de atacar ninguém, nem suas vidas, nem seus corpos. Assim, agora estamos sofrendo de fome e sede e estamos próximos ao fim de nossas vidas. Você não tem compaixão por nós?” Uma compaixão ilimitada por esses seres surgiu na mente do rei. Dizendo: “Vocês podem beber o sangue de meu corpo”, ele cortou suas mãos, pernas e pescoço, e deixou os yakshas beberem o sangue de seus cinco pontos. Eles beberam o sangue até ficarem completamente satisfeitos. Depois, o rei disse: “Yakshas, de agora em diante, devem sempre se engajar em ações virtuosas”, e fez essa prece de aspiração: “Desta vez eu lhes dei o sangue de meu corpo para dissipar o sofrimento de sua fome e sede. Pelo poder deste mérito possa eu estabelecê-los na ética moral, concentração meditativa e sabedoria discriminativa quando alcançar a iluminação. Desta forma, possa seu sofrimento acabar, e que eles possam alcançar o estado insuperável do nirvana.” O Buda disse a Ananda: “Eu mesmo era este rei Bala Maitreia. Os cinco yakshas são agora meus cinco primeiros discípulos, Kaundinya e os outros. Pelo poder daquela prece de aspiração eles receberam meu primeiro ensinamento e tiveram a oportunidade de enxergar a verdade última recebendo apenas estes ensinamentos. Foi assim que a conexão se estabeleceu.”

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A História de Angulimala O capítulo 9 explica a purificação das ações negativas através do poder do remorso. Nos tempos antigos, Angulimala, o mal-feitor que matou 999 pessoas, alcançou o estado de Arhat ao purificar todas as suas ações negativas pelo poder do remorso. A “Carta a um Amigo” de Nagarjuna diz: Aquele que não possui discernimento, Mas que mais tarde desenvolve atenção mental, É como a lua radiante surgindo por detrás das nuvens. Por exemplo, Nanda, Angulimala, Ajatashatru e Udayana. Esta é a história de Angulimala: Quando o Buda residia em Shravasti, esta cidade era governada pelo rei Segyal. Ele tinha um ministro especial, que era especialista em todas as diferentes artes e conhecimento, e que era muito rico e poderoso. Sua esposa era um tanto agressiva, nem amigável nem gentil. Mas, tão logo eles conceberam uma criança, ela se tornou gentil, compassiva e amorosa. O grande intérprete de sinais disse que essa mudança tinha sido causada pelo poder da criança que estava em seu ventre. Assim, quando a criança nasceu, recebeu o nome de “Ahimsa” (não-violência). À medida que crescia, Ahimsa se mostrava naturalmente muito inteligente, com muitos talentos físicos, e era especialista em todas as diversas habilidades. Sua força era igual à de mil pessoas. Era tão rápido que era capaz de pegar um pássaro, saltando no ar. Naquela época havia um professor brâmane que tinha grandes conhecimentos de diversos temas, e que possuía cerca de 500 discípulos. O ministro levou seu filho àquele professor, para que lhe fossem ensinados todos esses temas. A inteligência de Ahimsa era tão poderosa que ele era capaz de estudar e entender em um dia o que levaria anos para outros aprenderem. Não levou muito tempo para que adquirisse grande conhecimento. Seu professor estava muito satisfeito e sempre o tinha com ele. A esposa do professor, infelizmente, sentia-se muito atraída pela beleza e pelo talento físico de Ahimsa, mas não encontrava uma oportunidade para conversar com ele ou estabelecer uma relação. Certa vez, um patrocinador pediu ao professor brâmane, para que viesse até sua casa e permanecesse lá por três meses com todos os seus discípulos. O professor disse à esposa: “Temos muitas coisas para fazer aqui em casa. Muito trabalho deve ser realizado. Quem deveria permanecer e ajudar-te enquanto eu estiver fora?” A esposa disse que deveria ser alguém com grande conhecimento e habilidades em diversas áreas, e ela sugeriu que Ahimsa seria a melhor escolha. Assim, o professor brâmane disse a Ahimsa: “Fique em minha casa e ajude minha esposa. Faça o que ela pedir para você fazer.” Assim, o brâmane e seus discípulos partiram. A esposa pensou: “Agora poderei realizar meus desejos.” Logo depois, ela falou com Ahimsa e sugeriu que ele deveria ter um caso com ela. Mas Ahimsa possuía grande reverência por seu professor. Ele pensou: “Esta é a mulher de meu professor. E não apenas isto, isto seria contra a tradição brâmane. Seria melhor morrer do que manter uma relação com ela”, assim, não aceitou sua proposta. Ela ficou muito embaraçada e completamente contrariada com isto. Quando o professor brâmane e seus discípulos retornaram, ela rasgou suas roupas, arranhou o próprio rosto com as unhas, e se jogou no chão, chorando. Quando o professor entrou em casa e a encontrou em tal estado, perguntou o que tinha acontecido. Ela disse: “Depois que você saiu, Ahimsa foi possuído por um terrível desejo. Quis ficar aqui e ter relações comigo. É claro que não aceitei sua proposta. Então, com sua força fez isso comigo.” O professor brâmane ficou muito zangado, e pensou: “Este Ahimsa é filho de um importante ministro. É muito educado e poderoso. Não só isto, pois eu não poderia desafiá-lo, uma vez que ele tem a força de mil homens. Mas vou tentar um método especial para me livrar dele.” Assim, foi até Ahimsa e conversou com ele de forma muito polida e agradável. Ele disse: “Você é um de meus discípulos mais próximos. Meu coração está com você e você é tão bondoso comigo. Tenho um ensinamento especial que não ofereci a ninguém mais, e quero mostrá-lo a você. Se puder praticá-lo adequadamente, então, sem dúvidas, renascerá como um deus do reino de Brahma.” Ahimsa ficou muito satisfeito ao ouvir essas palavras. Ajoelhou-se no chão, juntou suas mãos no coração, e pediu: “Mestre, por favor, dê-me esse ensinamento especial.”

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O professor respondeu: “Se, em uma semana, você conseguir cortar as cabeças de 1000 pessoas e pegar um dedo de cada uma delas, usando-os como as contas de um mala ao redor de seu pescoço, então, ainda nesta vida você verá a face de Brahma diretamente. Em seguida renascerá no reino de Brahma.” Ao ouvir esta instrução Ahimsa teve dúvidas. Ele respondeu ao mestre da seguinte forma: “Não é correto renascer no reino de Brahma tirando a vida das pessoas.” O mestre respondeu: “Você é meu discípulo. Se não ouvir e seguir minhas instruções, se não tem confiança em meus ensinamentos, então não é um discípulo adequado. Saia daqui!” Naquele momento o mestre fincou uma espada no chão e a mente de Ahimsa foi completamente tomada por grande raiva. O mestre colocou a espada, que tinha sido encantada por um mantra de magia negra, em sua mão. Ahimsa saiu e brandia a espada de forma tão raivosa que matou quem quer que encontrasse pelo caminho. De cada um ele cortava um dedo para usar como uma conta do mala que usava ao redor de seu pescoço. E assim, desde então, ficou conhecido como “Angulimala” (Guirlanda de Dedos). Correu para cá e para lá e, dentro de uma semana, já tinha matado 999 pessoas. Mas, como todos fugiram para se proteger, ele não conseguia encontrar uma última pessoa para chegar ao total de 1000. Durante esses sete dias ele não tinha comido ou bebido. Sua mãe estava tomada por compaixão por seu filho, que não tinha comido nada, e assim decidiu levar-lhe comida e bebida. Ele a viu chegando à distância e pensou: “Não há mais ninguém por aqui, acho que devo matar minha mãe.” E correu em sua direção. Ela disse: “Filho, você deveria servir e honrar sua mãe. Não é correto matar a própria mãe. É um crime hediondo que fará com que você renasça nos infernos. Não é verdade?” “Mas eu recebi instruções de meu mestre para matar 1000 pessoas em uma semana. Isto será a causa para eu renascer no reino de Brahma. Agora só me falta um dedo, e assim devo te matar.” A mãe respondeu: “Em vez de me matar, apenas corte um dedo, é possível?” Durante esta negociação, o Buda, onisciente, corporificação da compaixão, totalmente presente, viu que era a hora de ajudar aquela pessoa a se liberar. Imediatamente o Buda emanou um monge que caminhava próximo a Angulimala. Assim que Angulimala viu o monge, pensou: “Em vez de matar minha mãe vou matar este monge.” Então correu na direção do monge, que estava caminhando tranquilamente. Mesmo correndo muito rápido, Angulimala não conseguia alcançá-lo. Na verdade o monge estava cada vez mais distante. Percebendo isso, Angulimala disse: “Monge, por favor, espere por mim.” À distância, o monge disse: “Eu estive esperando por você, mas você continuou correndo.” Angulimala respondeu: “O que quer dizer com isso, que esperou e eu continuei correndo?” O monge respondeu: “Todos os meus órgãos sensoriais estão completamente permeados pela concentração meditativa. Eu sempre repouso em estados pacíficos. Devido às instruções maléficas de seu mestre sua mente está completamente confusa e enganada e, assim, não é estável. Dia e noite você está correndo para matar e criar não-virtudes inconcebíveis.” No momento em que Angulimala ouviu estas palavras, entendeu seu significado. Jogou a espada ao chão e fez prostrações à distância, dizendo: “Tomo refúgio em você.” O monge se aproximou e apareceu como o Buda, com todas as marcas magníficas, irradiando luz, cheio de dignidade. Assim Angulimala teve a chance de ver o Buda diretamente. Neste momento, desenvolveu tal confiança e devoção que se arrependeu de suas ações negativas do fundo do coração. Confessou todas as suas ações negativas. O Buda o levou para o templo e deu-lhe ensinamentos vastos e profundos, de acordo com sua capacidade mental. Angulimala alcançou o insight especial de todos estes ensinamentos e, ao conquistar confiança no Darma, pediu para tornar-se um monge. O Buda disse: “Sim, você é bem-vindo.” Angulimala cortou o cabelo, tornou-se um monge, e foi para Shravasti fazer um retiro. Tendo recebido tais ensinamentos e devido ao seu grande arrependimento e sua confiança no Buda e nos ensinamentos, purificou completamente todo o carma negativo que tinha criado ao matar 999 pessoas. E, no final, alcançou o estado de Arhat. Assim termina a história de Angulimala.

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A História de Udayana O capítulo 9 explica a purificação das ações negativas através do poder do antídoto. A prática da virtude, sendo o antídoto completo para as ações negativas, leva à exaustão das aflições. Em tempos antigos, Udayana, o mal-feitor que matou sua mãe, praticou o poder do antídoto completo, purificou esta ação, renasceu no reino dos deuses, e alcançou o fruto de entrar na corrente. Assim se diz: Aquele que não possui discernimento, Mas que mais tarde desenvolve atenção mental, É como a lua radiante saindo por detrás das nuvens. Por exemplo, Nanda, Angulimala, Ajatashatru e Udayana. Esta é a história de Udayana: Certa vez, em Shravasti, havia um chefe de família casado, cuja mulher deu à luz um filho. O marido viajou para acumular riquezas em outro lugar, mas a mãe criou o filho muito bem sozinha. Um dia o filho e um amigo encontraram uma jovem mulher que estava no teto de sua casa, e ela jogou-lhe ramalhetes de flores para chamar sua atenção. Seu amigo percebeu que eles estavam se comunicando de forma inadequada através de uma linguagem por sinais. Então, rapidamente, foi até a casa do amigo e contou para a mãe do rapaz o que estava acontecendo. Sua mãe e o amigo conversaram sobre a situação. Ele disse: “Se ele for até aquela casa para encontrar a jovem experimentará um grande sofrimento. Portanto, devemos protegê-lo. Irei protegê-lo durante o dia. Você, mãe, deve protegê-lo durante a noite.” A mãe construiu um quarto especial para o filho, com um banheiro confortável. Trancou a porta do quarto dele e dormiu ao lado da porta. À noite, o filho acordou e disse: “Mãe, posso sair para ir ao banheiro?” Ela respondeu: “Não, você não precisa sair, pois tem um banheiro em seu quarto.” Assim, ele ficou quieto por alguns instantes. Um tempo depois ele implorou: “Mãe, por favor, abra a porta que eu quero sair.” A mãe respondeu: “Não é apropriado sair à noite. Você tem uma cama confortável. Durma.” Logo depois, ele reclamou: “Mãe, posso sair? Por favor abra a porta!” A mãe respondeu: “Eu sei o que você está planejando. Irei dormir aqui na frente da porta, pois não quero que você saia.” De repente ele ficou muito furioso, tomou uma faca e cortou o pescoço da mãe. Quando chegou à casa da jovem mulher estava tremendo de medo, pensando na ação negativa que tinha cometido. Enganando-se sobre a causa de sua agitação, a jovem o confortou, dizendo: “Não tenha medo de nada. Só estamos nós neste quarto.” O rapaz explicou: “Por você acabei de matar minha mãe.” A garota pensou: “Ele deve ser uma pessoa muito má. Se ele se zangar no futuro poderá fazer o mesmo comigo.” Assim, ela disse: “Espere aqui um momento. Tenho que ir até a parte de cima da casa. Já volto.” Ela foi até a parte superior da casa e gritou: “Ladrão! Pega ladrão! Pega ladrão!” Neste momento, o rapaz correu de volta para sua casa. Deixou a faca ainda com sangue na soleira da porta, e correu ao redor dizendo que o ladrão tinha matado sua mãe. Este filho enfrentou, então, muito arrependimento e remorso. Buscou um método para purificar sua ação negativa. Viajou de lugar em lugar, país em país, floresta em floresta, perguntando a diferentes professores e ascetas se havia um método, mas nenhum deles conhecia. Finalmente, chegou a Jetavana, onde um monge estava cantando este verso: Aquele que cometeu ações negativas, E que as purificou pela virtude, Como o sol e a lua surgindo por detrás das nuvens, É um ser radiante neste mundo. Ao ouvir estas palavras desenvolveu a fé de que este monge saberia, com certeza, como purificar seu carma negativo. Dirigiu-se ao monge e pediu: “Nobre Ser, posso me tornar um monge?” O monge realizou a cerimônia de ordenação e ele tornou-se um bhikshu. Tendo se tornado um monge, perseverou e se especializou nos três pitakas e na recitação de orações. Vendo que fazia tamanho esforço, os outros monges vieram até ele e perguntaram por que perseverava daquela forma. Ele disse: “Não sou como vocês. Eu matei minha mãe, por isso sou uma pessoa má. Para purificar esta ação persevero desta forma.” Sua história chegou até o Buda. Quando o Buda recebeu esta

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notícia, disse a todos os monges que aqueles que tivessem matado a própria mãe não tinham como atingir o fruto no Vinaya1. Assim, o Buda pediu-lhe gentilmente que abandonasse a comunidade. Ele foi até um país vizinho onde um chefe de família tornou-se seu patrocinador. Ele desenvolveu tal fé em Udayana que construiu um templo para ele. Lá, monges de diferentes lugares se reuniram para ouvir seus ensinamentos. Muitos se tornaram Arhats. Após algum tempo, Udayana ficou doente. Percebendo que iria morrer, pediu que fossem construídas cabanas para monges como seu memorial. Pouco tempo depois que elas foram finalizadas, ele morreu e renasceu no reino dos infernos. No inferno, disse: “Estas cabanas são tão quentes.” Os guardiões do inferno disseram: “Ó infeliz! Isto não é a cabana de um monge, isto é um inferno.” Dizendo isto, bateram em sua cabeça com um martelo. Ele morreu naquele momento, e pela virtude criada construindo cabanas para monges e dando ensinamentos, purificou uma grande parte de seu carma negativo, e renasceu no reino dos deuses dos Quatro Reis Guardiões. Pouco tempo depois, este filho dos deuses desceu à terra para servir o Buda e receber ensinamentos. Aproximou-se do Buda e fez todos os tipos de oferendas de flores dos deuses, honrou o Buda e se prostrou aos seus pés. O Buda lhe deu vários níveis de ensinamentos. Ele fez um grande esforço no estudo e na prática, alcançou o fruto de entrar na corrente, e retornou ao reino dos deuses. Esta é a história de Udayana, o filho que matou sua mãe.

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A História de Nanda O capítulo 9 explica a purificação das ações negativas através do poder da resolução. Temendo o amadurecimento futuro da negatividade, as ações negativas são abandonadas. Em tempos passados, Nanda, o mal-feitor que era muito apegado a uma mulher, alcançou o fruto do estado de Arhat ao purificar suas ações negativas pelo poder da resolução. Assim se diz: Aquele que não possui discernimento, Mas que mais tarde desenvolve atenção mental, É como a lua radiante saindo por detrás das nuvens. Por exemplo, Nanda, Angulimala, Ajatashatru e Udayana. Esta é a história de Nanda: Enquanto o Buda se encontrava em Kapilavastu, seu sobrinho Nanda estava tão apegado à beleza e aos talentos de sua esposa Pundarika que não podiam se separar nem por um instante. Assim, suas vidas eram vividas plenas de prazer. O Buda, com sua grande lucidez, compaixão e precognição, percebeu que já era tempo de ajudar Nanda. Então, o Buda saiu com Ananda para mendigar o almoço. Ao chegar à porta, o Buda emanou uma luz brilhante para dentro da casa e todos se perguntaram o que significava esse sinal especial. Mandaram um servo verificar. Era o Buda, o servo retornou informando. Nanda imediatamente preparou-se para saudar o Buda. Neste momento, sua esposa Pundarika ficou com medo que ele pudesse se tornar um monge. Ela não queria que isto acontecesse, e assim agarrou-se às suas roupas e implorou para ele não ir. Nanda disse: “Apenas vou ver o Buda e fazer prostrações. Estarei de volta rapidamente.” Ela colocou uma gota de água sobre a sua cabeça e pediu-lhe para voltar antes que a gota secasse. Ele prometeu. Assim, Nanda foi encontrar o Buda e fez prostrações. Pegou a tigela de mendicância do Buda, levou-a para dentro da casa e encheu-a com as comidas mais deliciosas. Mas, quando voltou até a porta para fazer a oferenda ao Buda, ele estava indo embora tranquilamente. Devido ao poder, dignidade e esplendor do Buda ele não podia chamá-lo e dizer para vir pegar sua tigela. Ananda recusou-se a pegá-la, e ele não podia simplesmente colocar a tigela no chão. Assim, teve que seguir o Buda, levando a tigela nas mãos. Quando chegaram ao templo o Buda aceitou a tigela e pediu para Nanda sentar com ele. O Buda desfrutou a refeição e ofereceu os restos a Nanda, dizendo: “Por favor, coma.” Nanda comeu todo o resto. Então o Buda disse: “Você tem interesse em se tornar um monge?” Devido ao poder e à dignidade do Buda ele não conseguiu recusar. Apenas disse: “Sim”. O Buda disse a Ananda: “Por favor, leve Nanda para que cortem seu bigode e seus cabelos.” Assim, Ananda levou-o ao barbeiro. Mas, quando o barbeiro começou a cortar seus cabelos, Nanda disse para ele: “Barbeiro, em pouco tempo irei me tornar um grande monarca. Se você cortar meu cabelo, mandarei cortar as suas mãos.” O barbeiro ficou tão apavorado que fugiu. Ananda imediatamente avisou o Buda sobre o que acontecera. O Buda caminhou tranquilamente até Nanda e perguntou: “Você tem interesse em se tornar um monge?” Nanda disse: “Sim, eu quero me tornar um monge.” O Buda o levou a um lugar adequado e pediu a Ananda para trazer água. Ele mesmo lavou a cabeça de Nanda e cortou seus cabelos e bigode. Por um certo tempo, Nanda continuou servindo o Buda. Apesar de ter se tornado, fisicamente, um monge, ele pensava dia e noite apenas no seu desejo de voltar para casa. Certa noite estava se preparando para ir embora, mas o Buda manifestou um grande precipício, e ele não pôde ir. Nanda pensou: “Irei amanhã.” Ele sofria tanto ao pensar em sua esposa. Sabendo de seu estado mental, o Buda pediu a Ananda para dizer a Nanda que deveria ficar e limpar o templo enquanto ele e seus monges estivessem em Kapilavastu para o almoço. Assim, Nanda ficou para trás para limpar o templo. Quando o Buda e todos os seus monges partiram, Nanda ficou muito animado com o pensamento de que logo após terminar de limpar o templo poderia ir embora. Mas, por mais que limpasse o templo, toda a poeira retornava pelo poder da manifestação do Buda. Ele ficou muito cansado. Mesmo não tendo conseguido limpar tudo fechou a porta e partiu. Quando fechou a porta do templo ela se abriu sozinha. Fechou-a novamente e ela abriu. Ele pensou: “Não consigo fechar a porta. Se o templo for destruído ou cair poderei construí-lo novamente quando me tornar um rei.” Com este pensamento, começou a correr.

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Ele imaginou que andando pela estrada principal poderia encontrar o Buda e seus monges, e isso não seria bom. Assim, embrenhou-se por uma pequena trilha. Para o Buda, é claro, todas as coisas são muito óbvias, e assim ele veio por aquela trilha. Quando Nanda viu que o Buda estava vindo escondeu-se sob o galho de uma grande árvore, mas, quando o Buda se aproximou, a árvore suspendeu o galho, e lá estava ele. Nanda ficou muito envergonhado e com medo. O Buda disse: “Você gostaria de retornar ao templo?”, ele respondeu que sim. O Buda sabia que ele estava sofrendo muito pensando em sua mulher. Assim, certo dia o Buda perguntou-lhe: “Você já viu ou já esteve naquela montanha do outro lado – chamada de Montanha do Odor de Incenso?” Quando Nanda respondeu que nunca a tinha visto ou estado lá, o Buda sugeriu que fossem dar uma volta até lá. Nanda concordou. O Buda disse: “Agarre-se ao meu manto!”, através de seu poder milagroso, voaram pelo céu e foram até aquela montanha cheia de árvores. O Buda sentou e disse a Nanda para apenas observar uma macaca que tinha perdido um olho. O Buda perguntou-lhe: “Nanda, quem é mais bonita, sua esposa Pundarika ou esta macaca?” Ele respondeu: “Pundarika, minha mulher, é 100 vezes mais bonita que a macaca. A macaca não pode ser comparada com ela.” Então eles voltaram. No dia seguinte, o Buda perguntou a Nanda se estava interessado em conhecer o reino dos deuses. Nanda disse: “Sim, estou.” “Agarre-se ao meu manto.” Ele segurou o manto e, neste momento, o Buda o levou ao Reino dos Deuses dos Trinta e Três através de seu poder milagroso. O Buda sentou-se e disse a Nanda para ir ver o que ele pudesse. Ele foi até a cidade dos palácios dos deuses. Havia muitos, muitos palácios, cada um repleto de deuses e deusas que desfrutavam enorme luxo e prazeres. Ele continuou indo de um palácio a outro. Em um dos palácios havia um trono vazio – nenhum deus, apenas deusas. Nanda ficou curioso e perguntou às deusas: “Os outros palácios que vi tinham tanto deuses quanto deusas, mas aqui há apenas deusas, nenhum deus. Por quê?” Elas responderam: “Neste momento, na terra, o sobrinho do Buda, Nanda, tornou-se um monge. Devido a isto, após sua morte ele renascerá aqui. Assim, este lugar está sendo preparado para ele.” Ele ficou tão animado e sentiu-se tão feliz, que voltou rapidamente para o Buda e explicou tudo o que tinha visto. Neste momento, o Buda perguntou-lhe: “Quem é mais bonita, sua esposa Pundarika ou estas deusas?” Nanda respondeu: “Minha esposa Pundarika é como a macaca cega. Não há como comparar. As deusas são centenas e milhares de vezes mais belas.” O Buda disse: “Agora volte para praticar a vida celibatária de um monge, e desfrutará todos os prazeres do reino dos deuses.” Retornaram ao templo de Anatapindadasyarama. Para alcançar os prazeres do reino dos deuses Nanda esforçou-se por manter sua vida monástica. Entendendo o seu estado mental, o Buda instruiu Ananda que nenhum dos monges deveria conversar ou ficar junto a Nanda porque estava mantendo seus votos monásticos apenas para alcançar o reino dos deuses. Devido a esta orientação, todos os monges o abandonaram; não falavam mais com ele nem ficavam ao seu lado. Nanda ficou um pouco deprimido e foi até Ananda, pensando que como Ananda era seu sobrinho, talvez conversasse com ele. Mas Ananda também o abandonou. Nanda perguntou: “Por que você está fazendo isto? Os outros monges podem me abandonar, mas você é meu sobrinho. Como pode fazer isto?” Ananda reconheceu que o que ele estava dizendo era verdade, mas que seus caminhos eram diferentes. “Você está se esforçando para manter seus votos monásticos de celibato apenas para obter os prazeres do reino dos deuses. Nós estamos nos esforçando para alcançar o nirvana. Portanto, não é adequado compartilharmos a sua companhia.” Ao ouvir isto, Nanda ficou muito chateado e ainda mais deprimido. Sabendo de sua motivação, o Buda foi até ele e disse: “Nanda, você já viu o reino dos infernos?” Quando Nanda respondeu que não, o Buda disse: “Você gostaria de ir até lá? Sim”, disse Nanda. O Buda disse-lhe para se agarrar ao seu manto monástico e, em um instante, o Buda levou-o ao reino dos infernos. O Buda sentou-se e disse: “Vá olhar os diferentes lugares.” Enquanto estava caminhando Nanda viu muitos caldeirões de cobre gigantes, assentados sobre uma base em chamas e cheios de metal derretido. Havia pessoas sendo cozidas dentro destes caldeirões pelos guardiões do inferno, e elas sofriam inconcebivelmente. Ele foi de lugar em lugar, e em certo ponto, viu um caldeirão grande como os outros, mas não havia ninguém dentro. Assim, Nanda perguntou aos guardiões: “Todos os outros caldeirões com metal líquido fervente tinham alguém sendo cozido, mas aqui não há ninguém, apenas o líquido fervente. Por quê?” Os guardiões responderam: “Na Terra se encontra agora o sobrinho do Buda, Nanda. Ele está praticando o Darma tendo se tornado um monge, e está mantendo seus votos monásticos para renascer no reino dos deuses. Depois disto, ele será colocado neste caldeirão e cozido.” Apavorado que pudessem

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reconhecê-lo e jogá-lo no caldeirão, Nanda correu de volta para o Buda e contou tudo que tinha visto e ouvido. O Buda disse: “Se você tornar-se um monge com a aspiração de desfrutar os benefícios dos reinos dos humanos e dos deuses, este tipo de desvantagem também ocorre. Assim, deve manter seus votos para atingir o nirvana.” Com isto, o Buda e Nanda retornaram ao bosque Jetavana. O Buda disse aos monges e a Nanda que todos deveriam se esforçar para purificar as três falhas do desejo, raiva e ignorância. Daquele momento em diante, Nanda esforçou-se de coração, sem qualquer apego aos prazeres e confortos dos estados elevados temporários dos deuses e humanos. O Buda lhe deu ensinamentos de acordo com sua disposição mental e ele meditou profundamente nas práticas. Como resultado, alcançou o estado de Arhat, pouco tempo depois. Esta é a história de Nanda, que pelo poder de sua resolução alcançou o estado de Arhat.

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A História de Ajatashatru O capítulo 9 explica a purificação das ações negativas através do poder da confiança, que é a tomada de refúgio nas Três Joias e o cultivo da mente que busca a iluminação suprema. Em tempos antigos, Ajatashatru, o mal-feitor que matou o pai, purificou suas ações negativas e tornou-se um bodisatva ao praticar o poder da confiança. Assim se diz: Aquele que não possui discernimento, Mas que mais tarde desenvolve atenção mental, É como a lua radiante saindo por detrás das nuvens. Por exemplo, Nanda, Angulimala, Ajatashatru e Udayana. Esta é a história de Ajatashatru: Em Rajagriha havia o rei Bimbisara que era um grande patrocinador do Buda e de seus discípulos. Este rei teve um filho, que foi chamado de Tongden, que significa “Digno de Ser Visto” ou “Encontro Virtuoso”. Mas também era chamado de Ajatashatru, que significa “Inimigo Antes de Nascer”. Naquela época, o primo do Buda, Devadatta, estava constantemente competindo com o Buda e tinha intenções maldosas contra ele. Devadatta praticava meditação e se esforçava para alcançar as cinco clarividências para poder prejudicar o Buda. Logo após ter alcançado tais qualidades ele se apresentou ao príncipe Ajatashatru e expôs seus poderes milagrosos. Ajatashatru ficou muito impressionado e desenvolveu grande devoção por ele. Ele agradou Devadatta com todos os tipos de oferendas e prazeres. O príncipe disse a Devadatta: “Ó Nobre Ser, eu gostaria de ter uma flor de mantra.”1 Usando seus poderes milagrosos, Devadatta foi até o Céu dos Trinta e Três e pediu aos deuses para lhe darem uma flor. Mas, como não possuía bastante virtude, nenhum dos deuses concordou. Achando que não seria um erro muito grave, foi até um campo do reino dos deuses e colheu uma flor selvagem, que aparentemente não pertencia a ninguém. No momento em que pegou aquela flor perdeu todos os seus poderes. Era uma pessoa comum de Rajagriha, como antes. Ele ficou muito envergonhado por ter perdido todo seu prestígio. Naquele momento não pôde encarar o príncipe Ajatashatru. Devadatta pensou em reconquistar sua posição indo até o Buda e solicitando os seus monges. “Se ele me der seus seguidores eu darei ensinamentos a eles.”Assim, foi até o Buda e pediu: “Você me daria todos os seus monges e séquito? Eu quero dar ensinamentos a estes monges e domar suas mentes.” O Buda respondeu: “Tolo! Mesmo Sariputra que é tão brilhante e que possui tamanho insight especial e sabedoria que muitas pessoas desenvolveram devoção e respeito por ele – eu não dei meus seguidores nem mesmo a ele. Como poderia dá-los a você?” Então Devadatta ficou muito irritado. Ele disse a Gautama Buda: “Agora você pode estar muito bem e ser bem cuidado, mas isso acabará muito em breve.” Neste momento, a terra tremeu seis vezes e uma tempestade de areia caiu sobre Devadatta, deixando todo o seu corpo coberto de areia. Isto o deixou ainda mais raivoso que antes. Determinado a livrar-se de seu inimigo, foi imediatamente encontrar o príncipe, Ajatashatru. Ajatashatru percebeu que ele estava muito triste e que seu rosto estava empoeirado e infeliz. “Ó Nobre Ser, por que seu rosto está tão contrariado e sem luz? O que aconteceu?” Devadatta disse: “Você não percebeu que sempre estou com este humor?”Ajatashatru pediu-lhe para contar as causas e condições para tamanha lamentação. Devadatta falou desta forma: “Sou um de seus amigos mais próximos. Em todo o país as pessoas estão falando coisas desagradáveis sobre você, por isso minha mente está aborrecida assim.” “Que tipo de coisas desagradáveis as pessoas estão falando sobre mim?” Ajatashatru perguntou. Devadatta respondeu: “As pessoas estão lhe chamando de Inimigo Antes de Nascer. São estas palavras que estão usando.” Ajatashatru perguntou: “Quem me deu este nome, Inimigo Antes de Nascer?” Devadatta respondeu: “Antes de você nascer, enquanto ainda estava no ventre de sua mãe, um profeta predisse que você mataria seu pai. Portanto, todos dizem que você já era inimigo de seu pai antes de nascer. É claro que na corte todos o chamam de Virtuoso, apenas para alegrá-lo. Mas lá fora as pessoas estão falando desta forma. Como o profeta tinha dito isto sua mãe o jogou do telhado no momento em que nasceu para matá-lo. Você não morreu, mas perdeu um dedo. Assim, toda vez que ouço as pessoas chamando-lhe de Inimigo Antes de Nascer fico aborrecido, mas não ousei falar-lhe antes desta forma. Agora me parece que chegou o tempo de matar seu pai. Se puder matar seu pai, o rei, eu poderei tentar matar Gautama, o Buda.”

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Ao ouvir isto, Ajatashatru convocou dois ministros próximos e pediu-lhes para explicarem o significado de Ajatashatru. Eles confirmaram a explicação dada por Devadatta. Após uma discussão, o príncipe e os ministros colocaram seu pai, o rei Bimbisara, na prisão e puseram-no sob vigilância. A mãe-rainha quis ver o rei e correu até lá, mas os guardas a impediram. Os guardas informaram Ajatahsatru que a rainha queria ver o rei, e perguntaram se ele permitiria. Isto o deixou ainda mais raivoso que antes. Tomando uma espada em suas mãos se aproximou da mãe, e estava pronto para cortar sua cabeça quando o Grande Médico chegou e disse: “Não importa a gravidade do crime cometido, grandes reis não costumam punir uma mulher. Como você poderia matar sua mãe?” Assim, o príncipe soltou sua mãe. Então proibiu que todo remédio, comida, roupas e bebida chegassem até seu pai preso. Após sete dias, o rei Bimbisara morreu. Depois que o pai morreu, Ajatashatru sentiu grande remorso ao pensar no mal que tinha gerado. O Grande Médico veio até ele e disse: “Grande rei, por favor, compreenda isto. Com essa ação não-virtuosa você cometeu dois dos crimes hediondos – matar o próprio pai e matar alguém que entrou na corrente.”2 Além desta ação não-virtuosa, ele e Devadatta haviam ferido o Buda ao empurrarem uma pedra sobre seu pé. O carma de todas essas ações não-virtuosas amadureceu no corpo de Ajatashatru, e ele ficou doente, com bolhas cobrindo todo o corpo. As bolhas produziam pus, cujo cheiro era sentido em todo o reino. Vozes do céu diziam que ele morreria em breve e iria para o reino dos infernos. Ele consultou muitos médicos e outros professores, mas não encontrou alívio. O chefe dos médicos disse: “Devido ao pesado tipo de negatividade que você criou, ninguém além do Buda poderá ajudá-lo.” Ajatashatru gritou: “Se eu for até o Buda ele irá me aceitar? Ele iria me ajudar?” O médico disse: “É claro. Para o Buda não há diferença entre seu filho e seu pior inimigo. Sua grande compaixão e sabedoria, suas qualidades ilimitadas alcançam todos os seres sencientes – até mesmo você.” Assim, o médico e Ajatashatru foram em um elefante ver o Buda. O Buda estava sentado em um alto trono circundado por centenas e milhares de monges, grandes seres, deuses e seres humanos, e estava dando ensinamentos. Quando o Buda viu Ajatashatru aproximando-se à distância, disse: “Ó grande rei! Bem-vindo!” Ajatashatru pensou: “Deve existir algum outro monarca aqui, não pode ser comigo que ele está falando.” À medida que se aproximava, o Buda disse novamente: “Ó grande rei! Bem-vindo!” Ainda assim Ajatashatru achava que ele estava se referindo a outra pessoa. Então, pela terceira vez, o Buda disse: “Ó grande rei Ajatashatru! Bem-vindo!” Neste momento ele desmaiou. Água foi aspergida em seu rosto e, quando recobrou os sentidos, foi tomado por uma alegria inexprimível. Respeito, confiança e devoção surgiram em sua mente e fez muitas prostrações. O Buda disse: “Agora você deve purificar seu carma negativo.” Ajatashatru disse: “Irei purificar meu carma negativo e o de todos os seres sencientes.” O Buda disse: “Faz bem em purificar não apenas o seu carma negativo, mas também as ações negativas de todos os seres sencientes.” O Buda, então, deu-lhe muitos ensinamentos, mas em especial, o Mestre deu-lhe ensinamentos sobre bodicita e o voto dos bodisatvas. Ajatashatru praticou duramente com grande persistência e alcançou o que se chama de ‘o estado da paciência do não-nascimento’. Devido a estas causas, gerou confiança no Buda, no Darma, na sanga e na bodicita e purificou todo o seu carma negativo. Isto conclui a história de Ajatashatru e de como ele purificou suas ações negativas.

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APÊNDICE C

Estrutura do Texto PARTE 1 – A CAUSA PRIMÁRIA A causa primária é a essência do Bem-Aventurado Capítulo 1 – A Natureza Búdica I. A Família Desconectada II. A Família Indefinida

III. A Família dos Ouvintes IV. A Família dos Realizadores Solitários V. A Família Mahayana

A) Classificação B) Definição C) Sinônimos D) Razão de Sua Superioridade em Relação às Outras Famílias E) Características Causais F) Marcas

PARTE 2 – A BASE DE TRABALHO Como base de trabalho o corpo humano precioso é excelente Capítulo 2 – A Vida Humana Preciosa I. Liberdades

II. Vantagens ou Dotes A) Difícil de Obter B) Grande Benefício

III. Fé Confiante IV. Fé Esperançosa

V. Fé Clara PARTE 3 – A CAUSA CONTRIBUINTE A causa contribuinte é o mestre espiritual Capítulo 3 – O Mestre Espiritual I. Razão A) Escrituras B) Lógica C) Comparações II. Classificação III. Características de Cada Classificação A) Mestres Espirituais Nirmanakaya e Sambogakaya B) Mestres Espirituais Bodisatvas C) Mestres Espirituais Comuns IV. Método A) Respeito e Serviço B) Devoção e Reverência C) Prática e Persistência V. Benefícios

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PARTE 4 – O MÉTODO O método são as instruções do mestre espiritual Antídoto para o Apego a Esta Vida Capítulo 4 – Impermanência I. Classificação II. Método de Meditação A) Impermanência do Mundo Externo 1) Considere a Impermanência Grosseira do Mundo Externo 2) Impermanência Sutil do Mundo Externo B) Impermanência dos Seres Sencientes Internos 1) Impermanência dos Outros 2) Impermanência de Si Mesmo a) Investigando a própria impermanência (1) Eu irei, definitivamente, morrer (a) porque ninguém do passado está vivo (b) porque o corpo é composto (c) porque a vida se exaure a cada momento (2) O momento da morte é incerto (a) porque a duração da vida é incerta (b) porque o corpo não possui essência (c) porque existem muitas causas para a morte (3) Nada poderá me ajudar no momento da morte (a) não poderei ser ajudado por minhas posses

(b) não poderei ser ajudado por meus amigos ou parentes (c) não poderei ser ajudado por meu corpo b) Aplicando a impermanência dos outros a si mesmo III. Efeitos Benéficos Antídoto para o Apego aos Prazeres do Samsara Capítulo 5 – O Sofrimento do Samsara I . O Sofrimento que Tudo Permeia II. O Sofrimento da Mudança III. O Sofrimento do Sofrimento A) Reino dos Infernos 1. Infernos Quentes 2. Infernos Circundantes 3. Os Oitos Infernos Gelados 4. Infernos Ocasionais B) Reino dos Fantasmas Famintos C) Reino dos Animais D) Reino dos Humanos E) Reino dos Semideuses F) Reino dos Deuses Capítulo 6 – O Carma e Seu Resultado I. Classificação II. Características Primárias de Cada Classificação A) O Carma Não-Meritório e Seu Resultado 1. Matar a) Classificação b) Três Resultados c) Ação Distintiva

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2. Roubar a) Classificação b) Três Resultados c) Ação Distintiva 3. Conduta Sexual Imprópria a) Classificação b) Três Resultados c) Ação Distintiva 4. Mentir a) Classificação b) Três Resultados c) Ação Distintiva 5. Fala Separativa a) Classificação b) Três Resultados c) Ação Distintiva 6. Fala Agressiva a) Classificação b) Três Resultados c) Ação Distintiva 7. Fala Inútil a) Classificação b) Três Resultados c) Ação Distintiva 8. Cobiça a) Classificação b) Três Resultados c) Ação Distintiva 9. Pensamentos Negativos a) Classificação b) Três Resultados c) Ação Distintiva 10. Visões Errôneas a) Classificação b) Três Resultados c) Ação Distintiva B) O Carma Meritório e Seu Resultado 1. O Carma 2. Os Resultados C) Carma e Resultado da Concentração Meditativa Inabalável 1. O Carma 2. Os Resultados da Concentração Meditativa III. Atribuição IV. Resultado Definido V. Ampliação a Partir de Pequenas Ações VI. Inevitabilidade Antídoto para o Apego ao Prazer da Paz Capítulo 7 – Bondade Amorosa e Compaixão I. A Prática da Bondade Amorosa A) Classificação B) Objeto C) Característica Identificadora D) Método de Prática E) Medida da Prática

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F) Qualidades da Prática II. A Prática da Compaixão A) Classificação B) Objeto C) Característica Identificadora D) Método de Prática E) Medida da Prática F) Qualidades da Prática Antídoto para o Desconhecimento do Método para Alcançar a Iluminação Introdução ao Antídoto para o Desconhecimento do Método de Prática Capítulo 8 – Refúgio e Preceitos I. Fundação A) Família Mahayana B) Tomar Refúgio nas Três Joias 1. Classificação 2. Base de Trabalho 3. Objetos a) Explicação dos Objetos Comuns b) Os Objetos Especiais de Refúgio 4. Duração 5. Motivação 6. Cerimônia a) Cerimônia comum b) Cerimônia superior (1) Preparação (2) A Cerimônia (3) Conclusão 7. Atividades 8. Treinamento a) Os Três Treinamentos Gerais b) Os Três Treinamentos Especiais c) Os Três Treinamentos Comuns 9. Efeitos Benéficos C) Preceitos Pratimoksha 1. Analogia 2. Autoridade Escritural 3. Raciocínio Capítulo 9 – O Cultivo da Bodicita II. Essência III. Classificação A) Comparações B) Demarcação C) Características primárias IV. Objetivos V. Causa VI. De Quem a Recebemos VII. Método A) Tradição de Shantideva 1. Preparação a) Fazer Oferendas (1) Objetos (2) As Oferendas

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b) Purificar Não-Virtudes (1) O Poder do Remorso

a) Investigar a ausência de sentido das não-virtudes b) Investigar o medo de seus resultados i. Na proximidade da morte ii. Durante a morte iii. Após a morte

c) Investigar a necessidade de liberar-se delas rapidamente (2) O Poder do Antídoto (3) O Poder da Resolução (4) O Poder da Confiança c) Regozijar-se com as Virtudes d) Solicitar que a Roda do Darma Seja Girada e) Suplicar para Que os Budas Não Entrem no Parinirvana f) Dedicação da Raiz de Virtude 2. Cerimônia 3. Conclusão B) A Tradição de Dharmakirti 1. Cultivo da Bodicita de Aspiração a) Preparação (1) Súplica (2) Reunindo as Acumulações (3) Refúgio Especial b) Cerimônia 2. Sustentando o Voto da Bodicita de Ação a) Preparação b) Cerimônia c) Conclusão VII. Efeitos Benéficos A) Efeitos Mensuráveis 1. Efeitos Benéficos da Bodicita de Aspiração a) Ingressar no Mahayana b) Ela torna-se a base para todo o treinamento do bodisatva c) Todas as ações negativas serão desenraizadas d) A iluminação insuperável estará enraizada e) Serão obtidos méritos ilimitados f) Todos os budas ficarão satisfeitos g) Torna-se útil para todos os seres sencientes h) Será alcançada rapidamente a iluminação perfeita 2. Efeitos Benéficos do Cultivo da Bodicita de Ação a) O benefício próprio aumenta continuamente b) O benefício para os outros manifesta-se de diversas formas B) Efeitos Incomensuráveis IX. As Desvantagens de Perdê-la X. A Causa da Perda XI. O Método de Reparo Capítulo 10 – O Treinamento na Bodicita de Aspiração

XII. Treinamento A) Treinamento na Bodicita de Aspiração 1. Não abandonar os seres sencientes em seu coração 2. Relembrar os efeitos benéficos da bodicita 3. Reunir as duas acumulações 4. Praticar a mente iluminada

5. Rejeitar as quatro ações não-virtuosas e adotar as quatro ações virtuosas

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Capítulo 11 – O Treinamento na Bodicita de Ação B) Treinamento na Bodicita de Ação 1. Número definido 2. Ordem definida 3. Características 4. Definição 5. Divisão 6. Agrupamento Capítulo 12 – A Perfeição da Generosidade I. Reflexões sobre as Falhas e as Virtudes II. Definição III. Classificação IV. Características de Cada Classificação A) Oferecer Posses 1. Oferendas impuras a) Motivação impura b) Materiais impuros c) Receptores impuros d) Método impuro 2. Oferendas puras a) Materiais puros b) Receptores puros c) Método puro B) Oferecer Proteção C) Oferecer o Darma 1. Receptores 2. Motivação 3. Darma 4. Método para apresentar os ensinamentos do Darma V. Ampliação VI. Perfeição VII. Resultados Capítulo 13 – A Perfeição da Ética Moral I. Reflexões sobre as Falhas e as Virtudes II. Definição III. Classificação IV. Características de Cada Classificação A) Moralidade da restrição 1. Restrição moral comum 2. Restrição moral incomum B) Ética moral da acumulação de virtudes C) Ética moral de beneficiar os seres sencientes V. Ampliação VI. Perfeição VII. Resultados Capítulo 14 – A Perfeição da Paciência I. Reflexões sobre as Falhas e as Virtudes II. Definição III. Classificação IV. Características de Cada Classificação A) Paciência com aqueles que nos prejudicam 1. Investigar que aqueles que nos prejudicam não possuem liberdade

2. Investigar que a negatividade é falha de nosso próprio carma negativo

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3. Investigar que este mal é falha de nosso próprio corpo 4. Investigar que este mal é falha de nossa própria mente 5. Investigar que ambos estão errados 6. Investigar o benefício recebido 7. Investigar a gratidão 8. Investigar que todos os budas ficarão satisfeitos 9. Investigar os grandes efeitos benéficos B) A paciência de aceitar o sofrimento C) A paciência para compreender a natureza dos fenômenos V. Ampliação VI. Perfeição VII. Resultados Capítulo 15 – A Perfeição da Perseverança I. Reflexões sobre as Falhas e as Virtudes II. Definição A) Apatia B) Desconsideração C) Preguiça grosseira III. Classificação IV. Características de Cada Classificação A) Perseverança da armadura B) Perseverança da aplicação 1. Esforço diligente para evitar as emoções aflitivas 2. Esforço diligente para realizar a virtude 3. Esforço diligente para beneficiar os seres sencientes C) Perseverança insaciável V. Ampliação VI. Perfeição VII. Resultados Capítulo 16 – A Perfeição da Concentração Meditativa I. Reflexões sobre as Falhas e as Virtudes II. Definição A) Devem-se evitar as distrações 1. As características primárias da agitação 2. A causa da agitação 3. As falhas da agitação 4. A característica primária do isolamento 5. A causa do isolamento 6. As qualidades positivas do isolamento B) Isolando a mente dos pensamentos discursivos C) Através do isolamento da mente e do corpo as distrações não surgirão 1. Apego 2. Ódio 3. Ignorância a) A interdependência do samsara é explicada na ordem direta (1) interdependência interna com causas (2) interdependência interna apoiada por condições b) A interdependência do nirvana é explicada na ordem inversa 4. Ciúme 5. Orgulho 6. Emoções aflitivas de igual intensidade

III. Classificação IV. Características de Cada Classificação A) Permanência em bem-aventurança

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B) Acumulação de qualidades positivas C) Beneficiar os seres sencientes V. Ampliação VI. Perfeição VII. Resultados Capítulo 17 – A Perfeição da Sabedoria Discriminativa I. Reflexões sobre as Falhas e as Virtudes II. Definição III. Classificação IV. Características de Cada Classificação A) Sabedoria discriminativa mundana B) Sabedoria discriminativa supramundana inferior C) Sabedoria discriminativa supramundana superior V. O Que Deve Ser Compreendido: A Sabedoria Discriminativa A) Refutação da Fixação à Existência das Coisas 1. A não-existência da mente quando examinada temporalmente 2. A não-existência da mente visto que nunca foi vista por ninguém 3. Como não há objetos, a mente não existe B) Refutação da Fixação à Inexistência das Coisas C) A Falácia da Fixação à Inexistência D) A Falácia de Ambas as Fixações E) O Caminho que Leva à Liberação F) A Natureza da Liberação é a Natureza do Nirvana VI. O Que Deve Ser Praticado VII. Resultados Capítulo 18 – Os Aspectos dos Cinco Caminhos I. Caminho da Acumulação A) Os Quatro Tipos de Atenção Mental B) Os Quatro Tipos de Abandono Perfeitos C) Os Quatro Fundamentos dos Poderes Milagrosos II. Caminho da Aplicação A) Os Cinco Poderes B) As Cinco Forças III. Caminho do Insight IV. Caminho da Meditação A) Prática de Meditação Mundana B) Prática de Meditação Supramundana V. Caminho da Perfeição Capítulo 19 – Os Dez Bhumis dos Bodisatvas I. Definição II. Significado dos Bhumis III. Razão para Sua Classificação em Dez Níveis A. Primeiro Bhumi: Grande Alegria 1. Nome Característico 2. Significado Característico 3. Treinamento Característico 4. Prática Característica 5. Purificação Característica 6. Realização Característica 7. Abandono Característico 8. Nascimento Característico 9. Habilidades Características B. Segundo Bhumi: Imaculado

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1. Nome Característico 2. Significado Característico 3. Treinamento Característico 4. Prática Característica 5. Purificação Característica 6. Realização Característica 7. Abandono Característico 8. Nascimento Característico 9. Habilidades Características C. Terceiro Bhumi: Radiante 1. Nome Característico 2. Significado Característico 3. Treinamento Característico 4. Prática Característica 5. Purificação Característica 6. Realização Característica 7. Abandono Característico 8. Nascimento Característico 9. Habilidades Características D. Quarto Bhumi: Luminoso 1. Nome Característico 2. Significado Característico 3. Treinamento Característico 4. Prática Característica 5. Purificação Característica 6. Realização Característica 7. Abandono Característico 8. Nascimento Característico 9. Habilidades Características E. Quinto Bhumi: Muito Difícil de Treinar 1. Nome Característico 2. Significado Característico 3. Treinamento Característico 4. Prática Característica 5. Purificação Característica 6. Realização Característica 7. Abandono Característico 8. Nascimento Característico 9. Habilidades Características F. Sexto Bhumi: Obviamente Transcendente 1. Nome Característico 2. Significado Característico 3. Treinamento Característico 4. Prática Característica 5. Purificação Característica 6. Realização Característica 7. Abandono Característico 8. Nascimento Característico 9. Habilidades Características G. Sétimo Bhumi: Muito Distante 1. Nome Característico 2. Significado Característico 3. Treinamento Característico 4. Prática Característica 5. Purificação Característica 6. Realização Característica

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7. Abandono Característico 8. Nascimento Característico 9. Habilidades Características H. Oitavo Bhumi: Inabalável 1. Nome Característico 2. Significado Característico 3. Treinamento Característico 4. Prática Característica 5. Purificação Característica 6. Realização Característica 7. Abandono Característico 8. Nascimento Característico 9. Habilidades Características I. Nono Bhumi: Grande Sabedoria Discriminativa 1. Nome Característico 2. Significado Característico 3. Treinamento Característico 4. Prática Característica 5. Purificação Característica 6. Realização Característica 7. Abandono Característico 8. Nascimento Característico 9. Habilidades Características J. Décimo Bhumi: Nuvem do Darma 1. Nome Característico 2. Significado Característico 3. Treinamento Característico 4. Prática Característica 5. Purificação Característica 6. Realização Característica 7. Abandono Característico 8. Nascimento Característico 9. Habilidades Características K. Iluminação PARTE 5 – O RESULTADO O resultado é o corpo da perfeita iluminação Capítulo 20 – Iluminação Perfeita I. Natureza A) Purificação Perfeita B) Sabedoria Primordial Perfeita II. Significado do Nome III. Classificação IV. Definição A) Bênçãos Magníficas do Darmakaya B) A Projeção dos Praticantes C) Preces de Aspiração Devotadas Anteriores V. Razão Definitiva para a Existência de Três Kayas VI. Características dos Três Kayas A) Darmakaya 1. Igualdade 2. Profundidade 3. Permanência 4. Unicidade 5. Perfeição

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6. Pureza 7. Radiância 8. Relação com o desfrutar B) Sambogakaya 1. Séquito 2. Campo 3. Forma 4. Marcas 5. Darma 6. Atividades 7. Espontaneidade 8. Naturalmente não-existente C) Nirmanakaya 1. Base 2. Causa 3. Campo 4. Tempo 5. Natureza 6. Engajamento 7. Amadurecimento 8. Liberador III. Marcas Especiais A) Marca Especial da Igualdade B) Marca Especial da Permanência C) Marca Especial do Surgimento PARTE 6 – AS ATIVIDADES As atividades são o benefício dos seres sencientes sem manter pensamentos conceituais Capítulo 21 – As Atividades de um Buda I. Atividades do Corpo II. Atividades da Fala III. Atividades da Mente

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APÊNDICE D

Uma Breve Biografia do Tradutor A vila de Tsari e suas proximidades encontram-se entre os lugares mais sagrados do Tibete. Foi lá que o Khenpo Konchog Gyaltsen Rinpoche nasceu, na primavera de 1946, e foi lá que passou seus primeiros anos. Em 1959, devido à situação política do Tibete, Khenpo Rinpoche fugiu com sua família para a Índia. Eles se instalaram em Darjeeling, onde Rinpoche iniciou seus estudos. Mesmo quando jovem ele era um estudante excelente e dedicado, tendo sido capaz de completar o ensino médio num tempo menor que a média. Aproximadamente na mesma época foi aberta uma nova universidade em Varanasi, na Índia, o Instituto Central de Estudos Superiores Tibetanos. Determinado a ser um de seus primeiros alunos, Khenpo Rinpoche viajou para Varanasi em outubro de 1967 para solicitar sua admissão. Com isso iniciou um ciclo de estudos de nove anos que incluía Madhyamika, o Abhidarma, o Vinaya, o Abhisamayalankara e o Uttaratantra, bem como história, lógica e gramática tibetana. No início de 1968 teve a boa fortuna de receber os votos monásticos completos do grande Kalu Rinpoche e, logo após sua graduação pelo Instituto, recebeu ensinamentos do 16o Gyalwa Karmapa e as Canções dos Oito Tesouros do Mahamudra, dos mahasidas indianos. Mesmo tendo completado este árduo e longo programa de estudos, Khenpo Rinpoche desejava apenas aprofundar seu conhecimento e prática do Darma. Com a mesma intensidade devotada aos seus estudos anteriores, Rinpoche buscou e recebeu ensinamentos e instruções de grandes mestres budistas. Um deles foi o Venerável Khunu Lama Rinpoche, com quem estudou duas obras de Gampopa – O Ornamento da Preciosa Liberação e A Guirlanda Preciosa do Caminho Excelente. Os estudos do Rinpoche com o Venerável Khunu Lama também incluíram o Mahamudra e muitas das canções de Milarepa. Dentre todos os seus estudos, o Khenpo vê O Ornamento da Preciosa Liberação como um dos textos mais inspiradores. O Senhor Gampopa delineia os ensinamentos de uma forma clara e sistemática que é compreensível para os iniciantes. Ao mesmo tempo, esta obra possui tal profundidade que eruditos e praticantes podem estudá-la repetidamente e, ainda assim, não apreender completamente o seu significado. Khenpo Rinpoche afirmou, em diversas ocasiões: “Aqueles que conhecem bem o Ornamento da Preciosa Liberação podem dizer que realmente compreendem o budismo.” Mantendo um equilíbrio entre a compreensão teórica e a prática de meditação, Khenpo Rinpoche iniciou um retiro de três anos em 1978 sob a orientação do mestre iluminado Khyunga Rinpoche. Durante este período pôde aprofundar e aumentar sua compreensão do Caminho Quíntuplo do Mahamudra e do profundo texto Gong Chik do Senhor Jigten Sumgön. Recebeu, também, muitas outras transmissões. Em 1982, a força do carma e os pedidos de muitos praticantes trouxeram Khenpo Rinpoche aos Estados Unidos, onde estabeleceu o Centro Tibetano de Meditação. Desejando que os ensinamentos do Darma chegassem a tantas pessoas quanto possível, Khenpo Rinpoche adaptou-se rapidamente às formas ocidentais de comunicação. Esteve muitas vezes na televisão, foi convidado em muitos programas de rádio, deu palestras extensivamente em colégios e universidades, e comunicou-se com o público através de inúmeros artigos para os jornais. Em 1985, Khenpo Rinpoche viajou para o local principal da linhagem Drikung Kagyu, Drikung Thil, no Tibete. Lá, recebeu bênçãos pessoais, assim como instruções e transmissões do Mahamudra e das Seis Yogas de Naropa, do iluminado mestre Venerável Pachung Rinpoche. De 1983 a 1990 Khenpo Rinpoche traduziu para o inglês práticas centrais da linhagem Drikung Kagyu, assim como orações e histórias. Os textos originais foram todos escritos por ele mesmo: Achi Chokyi Drolma, Amitaba, Bodicita, Chakrasamvara, Chod, o Ngondro completo, o Mahamudra Quíntuplo, a Guru Yoga em quatro sessões, Tara Verde, Lama Chopa e tsog, Mahakala, oferenda de mandala, Manjushri, Buda da

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Medicina, Guru Yoga de Milarepa, Nyung Ne, Guru Padmasambava pacífico, Phowa, Refúgio, Chenrezig, Vajrapani, Vajrasatva, Vajrayogini e Tara Branca. Os ensinamentos sobre o corpo ilusório, Súplica a Tara, Tesouro do Benefício e Felicidade, Digno de Contemplação, muitas outras orações, e três de seus quatro livros foram traduzidos e publicados nesta época. Este trabalho inestimável compôs a base essencial através da qual o Darma pôde ser ensinado e praticado. Recentemente, Khenpo Rinpoche tem passado uma boa parte de seu tempo viajando para dar ensinamentos e conduzir retiros. Ele estabeleceu centros nos Estados Unidos e no Chile, e visita frequentemente a Europa, especialmente a Alemanha e a Áustria, assim como o Sudeste Asiático. Em 1996 ensinou o Gong Chik aos monges e monjas do Instituto Drikung Kagyu em Dehra Dun, Índia. Com o apoio financeiro do Projeto de Textos do Centro Tibetano de Meditação, Rinpoche conseguiu que 1200 cópias do texto fossem impressas e distribuídas aos monges, monjas e monastérios na Índia, Nepal e Tibete. Lembrando das dificuldades dos seus primeiros anos, Khenpo Rinpoche inspira e apoia monges, monjas e leigos na sua prática do Darma e está sempre pronto para assisti-los no que quer que precisem. A todos oferece o que pode, livremente. Com seu coração e mente sintonizados firmemente no Darma, ele mostra compassiva e pacientemente o caminho. Rinpoche esforça-se constantemente para tornar os textos importantes disponíveis para o público, e oferece aos seus alunos um treinamento completo e sistemático do Darma. Um tradutor habilidoso e dedicado, publicou cinco livros antes deste: Bandeiras de Oração, A Guirlanda de Práticas do Mahamudra, Em Busca da Ambrosia Imaculada, Os Grandes Mestres Kagyu, e O Tesouro Precioso de Recomendações. Em todos os casos, Rinpoche tomou um enorme cuidado para tornar as traduções tão precisas quanto possível. Por ter sido tão tocado pelas palavras que vêm diretamente dos grandes mestres, acredita que é crucial que estas mesmas palavras sejam apresentadas sem alterações. Por exemplo, para traduzir este texto, ele e o editor repassaram o texto completo palavra por palavra quatro vezes, levando, algumas vezes, uma hora ou mais em uma única frase ou sentença. É sua esperança sincera que, através deste enorme esforço, muitas outras pessoas sejam tão inspiradas quanto ele foi por estes preciosos ensinamentos do Darma.

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Títulos de Obras Citadas no Texto Os Bhumis dos Bodisatvas Bodisattvabhumi Jang-chub sem-pai sa (Gang sa) Capítulo de um Sutra sobre o Corpo d’Aquele que Entrou na Talidade De-zhin sheg-pai ku-zuk kyi ley-wii Carta a um Amigo Suhrllekha She-pay tring-yik Carta de Treinamento Sisyalekha Lob-tring O Cesto dos Bodisatvas Bodhisattvapitaka Jang-chub sem-pai de-no A Coleção do Abhidarma Abhidharmasamuccaya Cho nun-pa kun-lay tii-pa A Coleção do Estabelecimento Pleno Nam-par tan-la pak-pa du-wa Coleção de Instruções Transcendentes Siksasamuccaya Lak-pa kun-ley dii-pa A Coleção do Pináculo Precioso Mahasannipataratnaketudharani Du-pa rin-po-che tog Comentário sobre a Cognição Válida Pramanavartikka Tse-ma nam-drel Comentário sobre o Tesouro do Abhidarma Abhidharmakoshatika Dzo-kyi tika O Dharani Denominado Joia Tripla Ratnolkanamadharani Kon-chog ta-lai zun O Dharani da Invocação Cundadharani Kul ye kyi zang Discriminando o Caminho do Meio dos Extremos Madhyantavibhaga

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U-tha nam-je Discurso a uma Assembleia Sambharaparikatha Tsok-kyi tam Discurso sobre a Disciplina Vinayagamottaravisesagamaprasnavrtti Dul-wa lung Engajando-se no Caminho do Meio Madyamakavatara U-ma juk-pa Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas Bodhicaryavatara Jang-chub sem-pai chod-pai la juk-pa Estabelecendo os Três Compromissos Primários Trisamayavyuharaja Dam-tsig sum kod-pai gyal-po Expressão da Realização de Chenrezig Chen-re-zig-kyi tok-pa jod-pa Expressão da Realização de Sukan Sukankavadana Phag-mo tok-pa jud-pa A Guirlanda de Joias Preciosas Ratnavali Rin-chen treng-wa Histórias das Vidas do Buda Jatakamala Kye-rab A Lâmpada para o Caminho da Iluminação Bodhipathapradipa Jang-chub lam-gyi dron-ma Louvor à Mãe por Rahula Prajnaparamitatotra Dra-chin dzin-gyi yum-la to-pa O Ornamento da Clara Realização Abhisamayalankara Nun-tok gyan O Ornamento dos Sutras Mahayana Mahayanasutralankara Do-de gyen Pequeno Sutra do Parinirvana Hinaparinirvanasutra Nya-nyen de chung-gi do

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Pequena Verdade sobre o Caminho do Meio U-ma den-chun A Perfeição da Sabedoria em 700 Linhas Saptasatika-prajnaparamita She-rab-kyi pha-rol-du chin-pa diin-gya-pa A Perfeição da Sabedoria em 8.000 Linhas Astasahasrika-prajnaparamita Phag-pa ged ton-pa A Perfeição da Sabedoria em 100.000 Linhas Satasahasrika-prajnaparamita Gyal-wai yum-gye-pa A Perfeição da Sabedoria Mãe dos Vitoriosos Ekaksarimatanamasarvatathagata-prajnaparamita Gyal-wai yum chen-mo she-rab kyi pha-rol chin-pa Pináculo Diamantino do Grande e Secreto Yogatantra Vajrasekhara-mahaguhyayogatantra Dor-je tse-mo Praticando a Talidade Chod-pai de kho-na nyid Realizando o Significado da Meditação Gom-don dru-pa Surgimento da Visão da Suprema Felicidade Mahasamvarodayatantraraja Dem-chog dom-pa jung-wa Sutra da Absorção Meditativa Vajra Vajrasamadhisutra Dor-je ting-nye zin-gyi do Sutra da Ampliação da Grande Realização Tok-pa chen-po gye-pai do Sutra da Apresentação dos Quatro Darmas Caturdharmanirdesa Cho zhi ten-pai do Sutra da Apresentação dos Segredos dos Tatágatas Tathagatacintyaguhyanirdesa De-zhin shek-pai sang-wai do Sutra de Aryavajradwaza Aryavajradwazasutra Phag-pa dor-je gyalt-shen gi do Sutra do Carma Completamente Puro Karmavaranivisuddhi Ley nam-par dag-pai do

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Sutra dos Dez Darmas Dasadharmakasutra Cho chu-pai do Sutra dos Dez Nobres Bhumis Dasabhumikasutra Phag-pa sa-chu do Sutra das Dez Rodas Dasachakrasutra Khor-lo chu-pai do Sutra do Diamante Vajracchedika Dor-je chod-pa Sutra do Encontro do Pai com o Filho Pitaputrasamagamanasutra Yab-se jal-wai do Sutra Ensinando a Talidade Tattvaprakasa De-khon-na tem-pai do Sutra do Éon Afortunado Bhadrakalpika Kal-pa zang-po do Sutra do Esclarecimento do Pensamento Sandhinirmocanasutra Gong-pa ne-par drel-wai do Sutra da Essência do Espaço Akasagarbhasutra Nam-kai nying-po do Sutra da Essência da Terra Hrdayabhumisutra Sa-ye nying-po do Sutra da Explicação sobre o Estabelecimento da Armadura Varmavyuhanirdesasutra Go-cha kod-pa teng-pai do Sutra do Grande Desenvolvimento da Mente Iluminada Sem-chyed chen-po do Sutra da Grande Liberação Thar-pa chen-po do Sutra do Grande Som do Leão Singhanadika Sen-ge dra-chen gyi do Sutra da Guirlanda de Budas Buddhavatamsakasutra

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Sang-gye phal-po che do Sutra do Imutável Darmadatu Dharmatasvabhavasunyatacalapratisarvalokasutra Cho-nyid mi-yo-wai do Sutra do Ingresso na Fé Sraddhabaladhanavataramudrasutra Da-pa la juk-pai do Sutra do Ingresso no Útero Gharbavakrantisutra Nyal-juk-gi do Sutra das Instruções do Rei Rajavavadakasutra Gyal-po-la dam-pai do Sutra das Instruções sobre a Não-Produção de Todos os Fenômenos Sarvadharmapravrttinirdesasutra Cho tam-che jung-wa me-par ten-pai do Sutra da Jornada a Lanka Lankavatarasutra Lan-kar shek-pai do Sutra da Lâmpada da Lua Candrapradipasutra Da-wa dron-mai do Sutra do Lótus Branco do Darma Sublime Saddharmapundarikasutra Dam-pai cho pad-ma kar-po do Sutra do Lótus Branco da Grande Compaixão Mahakarunapundarikasutra Nying-je pad-ma kar-po do Sutra da Luz Dourada Suvarnaprabhasottamasutra Ser-od dam-pai do Sutra do Monte de Flores Puspakutamanadharani Me-tog tsek-pai zun Sutra do Monte Gaya Gayasirsasutra Ga-ya go-ri do Sutra do Monte de Joias Ratnakutasutra Kon-chog tsek-pai do Sutra da Nobre Árvore Phag-pa jang-shin gi do

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Sutra da Nobre e Profunda Representação Lalitavistarasutra Phag-pa gya-che rol-pa do Sutra da Nuvem de Nobres Joias Ratnameghasutra Phag-pa kon-chog ting do Sutra do Ornamento da Sabedoria Emergente Ye-she nang-wa gyen-gi do Sutra da Perfeição da Sabedoria Condensado Prajnaparamita-samcayagatha She-chen du-pe do Sutra Plantando o Nobre Caule Gandavyuhasutra Phag-pa dun-po kod-pai do Sutra da Posse da Ética Moral Silasamyuktasutra Tsui-trim dang den-pai do Sutra da Prece de Aspiração pela Conduta Adequada Bhadracaryapranidhanamaharaja-paribandha Zang-po chod-pai mon-lam gyi do Sutra do Precioso Céu Nam-kha rin-po-che do Sutra da Protuberância da Grande Coroa Tsug-tor chen-po do Sutra da Realização do Darmadatu Dharmasangitisutra Cho ying dug-par du-pai do Sutra Rei da Absorção Meditativa Samadhirajasutra Ting-ne dzin-gyi gyal-po do Sutra da Representação da Manifestação de Manjushri Manjusrivikriditasutra Jam-pal nam-par rol-pai do Sutra Requisitado por Akshayamati Aksayamati-pariprcchasutra Phag-pa lo-dro mi zhu-pai do Sutra Requisitado pelo Brâmane Visesacinti Brahmavisesacinti-pariprcchasutra Tram-ze kyab-par sem-kyi zhu-pai do Sutra Requisitado pelo Chefe de Família Draksulchen Grhapatiugra-pariprcchasutra Chim-dag drak-shul chen-gyi zhu-pai do

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Sutra Requisitado pelo Chefe de Família Palgyin Viradattaghrapati-pariprcchasutra Chim-dag pal-gym gyi zhu-pai do Sutra Requisitado por Kashyapa Kasyapapanvartasutra Od-sung-kyi zhu-pai do Sutra Requisitado por Narayana Narayana-pariprcchasutra Se-me kyi-bu zhu-pai do Sutra Requisitado pelo Nobre Brahma Brahma-pariprcchasutra Phag-pa tram-ze zhu-pai do Sutra Requisitado pelo Filho dos Deuses Susthitamati Sustithamatidevaputra-pariprcchasutra Lha-ye-bu lo-dro rab-nay-kyi zhu-pai do Sutra Requisitado por Purna Purna-pariprcchasutra Gang-po zhu-pai do Sutra Requisitado por Ratnacuda Ratnacuda-pariprcchasutra Tsuk-na rin-chen-gyi zhu-pai do Sutra Requisitado pelo Rei Naga Anavatapta Anavataptanagaraja-pariprcchasutra Ma-dru pai zhi-pai do Sutra Requisitado pelo Rei Naga Sagara Sagaranagaraja-pariprcchasutra Lu-ye gyal-po gya-tso zhu-pai do Sutra Requisitado por Sagaramati Sagaramati-pariprcchasutra Lo-dro gyat-so zhu-pai do Sutra Requisitado por Subahu Subahu-pariprcchasutra Lag-zang kyi zhu-pai do Sutra Requisitado por Surata Surata-pariprcchasutra Ne-pay zhu-pai do Sutra Requisitado por Suvikrantivikrama Suvikrantivikrama-pariprcchasutra Rab-tsal-gyi nam-par niin-pay zhu-pai do Sutra Revelado por Vimalakirti Vimalakirtinirdesasutra Phag-pa tri-me me-par drak-pai tem-pai do

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Sutra do Samsara Sem Início Khor-wa thog-ma me-pai do Sutra da Semeadura do Arroz Salisthambasutra Sa-lu jan-pai do Sutra da Sustentação Completa do Darma Sagrado Saddharmapanghrasutra Dam-pai cho yon-su dzin-pai do Sutra da Vasta e Nobre Porta da Realização Anantamukhasadhakanamadharani Phag-pa go tha-ye drub-pai do Tantra da Completa Ausência de Fixações Rab-tu mi-nay-pai gyud Tratado Fundamental do Caminho do Meio Mulamadyamakakarika U-ma tsa-wai tsik le-wor je-pa Tantra Hevajra Hevajratantra Kye dor-je gyud Tantra Insuperável Uttaratantra Gyud lama Tantra Rei do Néctar Secreto Amrta guhyatantraraja San-wa du-tsi gyal-po gyud Tesouro do Abhidarma Abhidharmakosa Cho nun-pa dzo Tesouro D´Aquele que Assim se Foi Sarvatathagataguhyamahaguhyakosaksayanidhadipamahapratapasadhanatantrajnanasryadyuticakra De-zhin shig-pai do O Tipo Menor de Contemplação Íntima Dren-pa nyer-zhak chun-wa Tratado sobre a Essência da Interdependência Pratityasamutpadahridayakarika Ten-drel nying-po tsik le-wor jê-pa (Uma tem-jung) Uttaratantra da União dos Gloriosos e Grandiosos Budas com as Dakinis Perfeitas Srisarvabuddhasamayogadakinijalasamvaranamauttaratantra Pal-chen sang-gye nyam-gyur gi nyal-jor-gi khan-dro-ma la-na me-pay gyud Versos Proferidos Intencionalmente Udanavarga Che-du jud-pai tson

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Vinte Preceitos Samvaravimsakavrtti Dom-pa nyi-su-pa Vinte Versos Vimsakakarika Nyi shu-pai rab-tu che-pa

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Glossário Acharya (Tib. slob-dpon/lob-pon): Literalmente, “mestre”, geralmente utilizado com o significado de um título acadêmico. Ações hediondas (Tib. mtsam.me.lnga/tsam-me nga): Ações que impedem a iluminação na mesma vida em que foram cometidas. Como conseqüência de tê-las cometido o ser irá para o reino dos infernos após a morte sem passar pelo estado intermediário. Ananda: Primo e atendente pessoal do Buda Sakiamuni. É reconhecido por ter memorizado todos os ensinamentos do Buda com exatidão e por tê-los recitado no primeiro concílio. Antahkalpa: Um quarto de kalpa. Arhat (Tib. Dgra.bcom.pa/dra-chom-pa): Literalmente, “destruidor de inimigos”. O ápice do Hinayana, refere-se àquele que superou as manifestações externas das emoções aflitivas, mas que não desenraizou completamente suas marcas psíquicas. Apesar de estarem livres do samsara, os Arhats não estão iluminados. Arya Maitreia (Tib. Phags.pa byams.pa/Phag-pa jam-pa): Um dos oito grandes discípulos bodisatvas do Buda Sakiamuni. Ele será o próximo Buda (o quinto) deste kalpa afortunado no qual 1000 budas surgirão, e atualmente se manifesta no céu de Tushita. Arya Maudgalyayana (Tib. Phags.pa mo.gal.pu/Phag-pa mo-gal-pu): Um dos oito grandes discípulos do Buda Sakiamuni. Era especialmente renomado por seus poderes milagrosos. Ele, Sariputra e o Senhor Buda são, frequentemente, representados juntos. Asanga (Tib. Thogs.med/Thog.med) (4º século D.C.): Mestre indiano, renomado por ter recebido os cinco textos celebrados de Arya Maitreia (Abhisamayalankara, Uttaratantra, Mahayanasutralankara, Madhyantavibhaga e Dharmadharmatavibhaga), por ser professor e irmão de Vasubandhu, e por ter fundado a escola Yogacara. Ashvagosha (Tib. Slob.don ta.yang/Lob-pon ta-yang) (3º século D.C.): Grande mestre indiano, renomado pela sua erudição e poesia. Seus escritos incluem As Atividades do Buda (Buddhacarita). Também conhecido pelo nome de Aryasura. Atisha (Tib. Jowo Je – 982-1055 D.C.): Mestre indiano convidado pelo rei do Tibete para ajudar no restabelecimento do budismo. Foi o fundador da linhagem Kadampa, na qual o Senhor Gampopa treinou por muitos anos antes de encontrar Milarepa. Atisha foi o autor de A Lâmpada para o Caminho da Iluminação, no qual O Ornamento da Preciosa Liberação foi baseado. Ayatana (Tib. ske.mched/kay-chet): A base de todos os processos mentais, a esfera ou campo no qual eles operam, ou simplesmente seu ponto de referência. Bhikshu ou Bhikshuni (Tib. Dge.long/Ge-long ou dge.long.ma/Ge-long-ma): Monge ou monja completamente ordenados. Bhumi (Tib. Sa): Literalmente, “terra” ou “fundação”. Refere-se aos níveis progressivos do treinamento de um bodisatva, cada um dos quais proporciona, sucessivamente, a fundação para o próximo. Bodicita (Tib. byang.chub.kyi.sems/jang-chub kyi sem): Literalmente, “mente iluminada”. O desejo de alcançar a iluminação perfeita e completa para o benefício dos outros. Bodisatva (Tib. byang.chub sems.pa/jang-chub sem-pa): Literalmente, “ser iluminado”. Aquele que gerou bodicita. Brahma (Tib. tsangs.pa/tsangpa): De acordo com a crença budista, Brahma é o principal dentre os deuses do

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primeiro nível do reino da forma. Brâmane (Tib. dram.se): Na sociedade indiana tradicional este termo se refere à casta dos religiosos, cujos membros realizavam as cerimônias religiosas. Buda (Tib. sangs.rgyas/sang-gye): Alguém que atingiu a iluminação perfeita, completa e insuperável. Campo búdico (Sct. suddhaksetra – Tib. dag.pai. zhing.kams/dak-pay zhing kham): Planos de existência criados pelos budas onde as condições para alcançar a iluminação são perfeitas para seus habitantes. Muitos praticantes aspiram a renascer nestes estados porque o retorno aos estados inferiores é impossível. Também são chamados de terras puras. Chandragomin (7º século D.C.): Grande praticante leigo indiano que ensinou na Universidade de Nalanda. Dentre suas obras ainda existentes se encontra o comentário sobre a obra de Asanga, Os Bhumis dos Bodisatvas. Círculo cósmico de ar: Na cosmologia budista esta é a base elementar sobre a qual os universos estão localizados. Concentração meditativa (Sct. samadhi – Tib. ting.nge.dzin/ting-ne-zin): Profunda absorção mental na qual a mente repousa em um estado livre de pensamentos conceituais. Confiança no Darma não-nascido: Realização completa e familiarização com a natureza da vacuidade que tudo permeia. Darma (Tib. chos/chö): Este termo tem significados variados dependendo do contexto. Quando em maiúscula, neste texto, refere-se aos ensinamentos do Senhor Buda, categorizados em dois grupos: o Darma que é estudado e o Darma que é realizado. Quando em minúscula é uma referência geral a todos os fenômenos, ou seja, às coisas que possuem características que as identificam. Darmadatu (Tib. chos.dbyings/chö-ying): O modo descomplicado de permanência de todos os elementos dos fenômenos, tanto samsara quanto nirvana. Darmakaya (Tib. chos.ku/chö-ku): Um dos três corpos do Buda. Denota a natureza última da forma de sabedoria do Buda, que é não-conceitual e indefinível. Darmakirti (Tib. cho-drak) (7º século D.C.): Mestre indiano da Universidade de Nalanda que é associado à escola Yogacara. É mais conhecido por ter sido um lógico. Destruidor do inimigo: Ver Arhat. Devadatta (Tib. lha-jin): Primo do Buda Sakiamuni. Inicialmente monge do Senhor Buda, criou um cisma na sanga ao atrair 500 monges para um estilo de vida mais ascético. Planejou com Ajatashatru, cuja história é contada no Apêndice B, ferir fisicamente o Buda, mas não teve sucesso. Deva-kaya-mahamudra: Meditação sobre a forma da deidade. Emoções aflitivas (Sct. klesha - Tib. Nyon.mongs/nyon-mong): Em geral, qualquer obscurecimento ou veneno que impeça a clareza mental. Estupa (Tib. mchod.rten/chor-ten): Estruturas sagradas geralmente categorizadas como relicários, que são usadas universalmente pelos budistas como objetos de devoção e veneração. As estupas originais continham relíquias do Buda Sakiamuni, mas as estupas posteriores podem conter os restos de outros grandes mestres, textos, ou podem ser construídas para comemorar eventos especiais. Pequenas estupas são comuns em altares. De qualquer forma, entende-se que elas representam a presença da mente do Buda. Fluxo mental: Sucessão de momentos discretos de consciência prosseguindo infinitamente vida após vida.

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Garuda (Tib. khyung/kyung): Pássaro mitológico grande e poderoso frequentemente utilizado como símbolo da sabedoria primordial. Conhecido como subjugador dos nagas, que simbolizam a delusão, o garuda é representado carregando uma cobra em seu bico. Giro da roda: Referência metafórica à ação do Buda de ensinar o Darma, também chamado de “colocar a roda do Darma em movimento”. Iluminação (Sct. bodhi – Tib. byang.chub/jang-chub): A realização final do estado búdico. Indra (Tib. gya-jyin): De acordo com a crença budista, Indra é o principal deus no Reino dos Trinta e Três. Jambudvipa (Tib. dzam.bu.gling/zam-bu-ling): Na cosmologia budista este é o continente mais ao sul dos quatro continentes. Jowo Je: Ver Atisha. Kalpa (Tib. bskal-pa/kal-pa): De modo geral, um éon ou outra duração ilimitada de tempo. Na cosmologia budista tem o significado específico de representar um ciclo completo de um universo (um mahakalpa, ou grande kalpa), consistindo em quatro estágios: vacuidade, formação, manutenção e destruição. Cada um dos quatro estágios consiste em vinte kalpas intermediários (ou antahkalpas), cada um dos quais se eleva e declina. Kagyur: Cânone budista de sutras e tantras preservados no Tibete. Karma ( Tib. las/lay): Literalmente, ação. Ações físicas, mentais ou verbais que deixam tendências habituais na mente. Ao encontrar as condições favoráveis, estes hábitos amadurecem e se manifestam em eventos futuros. Kaya (Tib. lus/ku): Literalmente, “corpo”. As várias formas através das quais um buda se manifesta, geralmente classificadas como três - Nirmanakaya, Samboghakaya e Darmakaya – mas, às vezes, uma quarta classificação é citada, o Svabhavikakaya, ou corpo da natureza, para expressar a natureza inseparável dos três. O termo Rupakaya (corpo da forma) é utilizado para se referir ao Nirmanakaya e Sambhogakaya em conjunto. Kinnara (Tib. myi-yam-chi): Um ser similar aos humanos, mas não completamente humano. Lama (Sct. guru): Um professor autêntico autorizado a transmitir os ensinamentos budistas a alunos apropriados. Liberação (Sct. mukti – Tib. thar-pa): Liberação do sofrimento do samsara. Mahadeva (Tib. lha-chenpo): Ishwara ou Shiva. Mahasatva (Tib. sem-pa chen-po): Literalmente, Grande Ser. Um bodisatva que alcançou a realização da grande compaixão e sabedoria. Mahayana (Tib. theg.pa chen.po/thek-pa chen-po): Literalmente, Grande Veículo. A escola budista que propõe o ideal do bodisatva como prática mais elevada e ensina a aspiração de atingir a iluminação pelo benefício de todos os seres sencientes. Mandala (Tib. dyil.khor/kyil-kor): Literalmente, roda ou círculo. A conotação em tibetano é a de um círculo e sua circunferência, ou de um recipiente e o conteúdo. No contexto cerimonial mencionado no texto é uma oferenda simbólica de todo o universo, o recipiente e de tudo que ele contém. Manjushri (Tib. jam.dpal.dbyangs/jam-pal-yang): O grande bodisatva que é associado, especialmente, à qualidade da sabedoria. Ele é representado, normalmente, segurando uma espada em uma das mãos e uma

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flor de lótus sobre a qual se encontra o texto da Prajnaparamita na outra mão. Manjushrikirti (Tib. Jam-pal trak-pa) (9º século D.C.): Mestre budista indiano conhecido por ser um especialista nos grandes comentários. Seis de suas obras são preservadas no Tangyur, a coleção canônica tibetana dos comentários. Mantra (Tib. sngags/nga): Literalmente, proteção da mente. Fala sagrada que, no contexto das práticas Vajrayana, serve para purificar a fala comum e para identificá-la com a fala de uma deidade meditativa de sabedoria para alcançar a iluminação. Mara (Tib. bdud/düt): Quaisquer influências negativas que obstruam o desenvolvimento espiritual, frequentemente personificadas como seres demoníacos chamados de Mara. Marcas psíquicas: Tendências habituais sutis que permanecem gravadas no fluxo mental mesmo quando os sinais óbvios das aflições foram purificados. Marpa Lotsawa (1012 – 1097 D.C.): Praticante leigo tibetano conhecido especialmente por trazer muitos ensinamentos da Índia para o Tibete e por tê-los traduzido. Dentre eles estão os textos Mahamudra e as Seis Yogas de Naropa. Como discípulo de Naropa e professor principal de Milarepa, ele foi uma das figuras principais da linhagem Kagyu. Mérito (Sct. punya – Tib. bsod.nams/so-nam): Qualquer pensamento virtuoso ou atividade que tem por resultado a criação de tendências habituais positivas no fluxo mental. Migrantes: Uma referência alternativa para os seres sencientes, focando o seu atributo de migrar infinitamente ou vagar dentro dos seis reinos do samsara. Mila ou Milarepa (1052 – 1135 D.C.): Um dos grandes mestres da linhagem Kagyu, é frequentemente citado como exemplo de alguém que atingiu a iluminação em uma única vida. Suas canções vajra possuem grandes qualidades de cura. Foi o principal professor do Senhor do Darma Gampopa. Monte Meru (Tib. ri-gyal ou lhum-po): Na cosmologia budista é a montanha que constitui o centro do universo, circundado por oceanos e quatro continentes principais. Naga (Tib. klu/lu): Seres parecidos com cobras que podem ser benéficos ou maldosos, frequentemente associados com a guarda dos tesouros da terra. São considerados, geralmente, membros do reino dos animais. Nagarjuna (Tib. kLu.sgrub/lu-drub) (2º século D.C.): Mestre indiano de importância tão grande na propagação do Mahayana que é frequentemente chamado de segundo Buda. Fundou a escola filosófica Madhyamaka que sistematizou os ensinamentos da Prajnaparamita (perfeição da sabedoria), e compôs muitos textos que permanecem como referência até hoje. Natureza búdica (Sct. tathagathagarbha ou sugathagarbha – Tib. te.shin nying.po): O potencial essencial puro para alcançar a iluminação que é inerente a cada ser senciente. É obscurecido por graus variáveis de emoções aflitivas e obscuridades sutis, mas pode ser realizado através das práticas de ética moral, meditação e sabedoria. Nirmanakaya (Tib. sprul.ku/tul-ku): Literalmente, “corpo de emanação”. A forma física de um buda ou outro grande ser, que se manifesta intencionalmente para o benefício dos seres sencientes. Esta não é, necessariamente, uma forma humana; eles podem se manifestar sob qualquer forma que seja necessária. Nirvana (Tib. myang.das/nyang-de): O estado livre de confusões além do sofrimento; a transcendência do samsara. Obscurecimentos sutis: Marcas psíquicas que nos impedem de alcançar a iluminação.

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Paramita (Tib. phar.phyin/par-chin): Literalmente, “ido além”. O treinamento que, ao ser aperfeiçoado, levará o praticante para além do samsara até a iluminação. São normalmente enumeradas como seis ou dez. Parinirvana (Tib. yongs.su nya.ngan las.das/yong-du nya-ngen lay-de): O ato final de um buda completamente iluminado dentre os humanos, ou, em geral, a morte de qualquer ser iluminado. Perfeições (Sct. paramita – Tib. phar.phyin/par-chin): O treinamento a ser completado pelos bodisatvas, consistindo nas perfeições da generosidade, ética moral, paciência, perseverança, concentração meditativa, sabedoria discriminativa, meios hábeis, aspiração, força e sabedoria primordial. Pratimoksha (Tib. so.sor thar.pa/so-sor thar-pa): Literalmente, “liberação individual”. Regras de ética moral que nos protegem de cometer ações não-virtuosas, o método para a liberação. Projeção: Imputação mental de fenômenos concretos, independentes e externos. A mente projeta significados a produtos circunstanciais da interdependência e, então, se fixa a eles como se fossem reais. Ouvinte (Sct. sravaka – Tib. nyan.thos/nyan-thö): Um discípulo Hinayana que ouve as palavras do Buda e aspira a se tornar um Arhat para seu próprio benefício. Quatro Nobres Verdades (Sct. carvari aryasayani – Tib. phags.pa´i bden.pa bzhi/pak-pay den-pa zhi): A verdade do sofrimento, verdade das causas do sofrimento, verdade da cessação do sofrimento e o nobre caminho para a cessação do sofrimento. Quatro Reis Guardiões (Sct. caturmaharaja – Tib. rgyal.chen.bzhi/gyal-chen-zhi): O mais inferior dos reinos dos deuses, habitado por quatro reis guardiões que protegem, respectivamente, cada uma das quatro direções, Virudaka (leste), Virupaksha (oeste), Dhritarashtra (sul) e Vaishravana (norte). Raiz de virtude (Tib. ge-way tsa-wa): Raiz de virtude que se torna a causa para a liberação do samsara. Realizador solitário (Sct. pratyekabuda – Tib. rang.sangs.rgyas/rang sang-gye): Budas autoliberados, cuja realização é inferior à iluminação final. Apesar de receberem ensinamentos do Darma durante a época de um buda, não atingem a realização até que os ensinamentos do buda tenham desaparecido. Não possuindo bodicita, não ensinam como alcançar a iluminação, mas demonstram poderes milagrosos para inspirar devoção. Reino do desejo (Sct. kamadhatu – Tib. dod-khams/dö-kham): O mais inferior e maior dos três reinos do samsara, extendendo-se dos reinos dos infernos às seis classes de deuses do reino do desejo. É assim denominado porque os seres que o habitam são caracterizados por tirarem prazer de experiências sensoriais, tais como ver objetos, ouvir sons, etc. Reino dos deuses dos Trinta e Três: Um dos seis reinos dos deuses do desejo, este é o segundo. Reino da forma (Sct. rupadhatu – Tib. gzugs.khams/zuk-kham): O reino intermediário dos três reinos do samsara, experimentado exclusivamente no reino dos deuses. É assim denominado porque os seres que o habitam possuem corpos, mas seu prazer advém dos quatro estados meditativos estáveis, sem necessidade de projeções externas. Reino da não-forma (Sct. arupadhatu – Tib. gzugs.med.khams/zuk-me-kham): O mais elevado dos três reinos do samsara, experimentado exclusivamente no mais elevado reino dos deuses. É assim denominado porque os seres que o habitam não possuem corpos grosseiros, mas sim uma existência mental muito estável e sutil. Rishi (Tib. trang.song): Um vidente ou aquele que busca a verdade e que realizou a verdade absoluta. Roda preciosa do grande monarca (Tib. khor-lo rin-po-che): Um dos sete itens de um monarca universal. Sabedoria discriminativa (Sct. prajna – Tib. shes.rab/she-rab): Sabedoria que discrimina toda e qualquer

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causa e efeito distintamente e claramente. Sabedoria primordial (Sct. jnana – Tib. ye.shes/ye-she): Lucidez completa sobre a natureza não-fabricada dos fenômenos. Samaya (Tib. dam.tshig/dam-tsik): Um compromisso sagrado entre um discípulo e um professor ou os ensinamentos referentes à prática Vajrayana. Samsara (Tib. khor.ba/khor-wa): O ciclo sem início ou fim de renascimentos através dos seis reinos; o estado confuso de sofrimento do qual os budistas buscam a liberação. Sanga (Tib. dge.dun/ge-dun): De modo geral, toda a comunidade de praticantes. Em contextos diferentes, pode-se referir especificamente à comunidade monástica ou à assembleia de seres altamente realizados (Arhats ou bodisatvas no primeiro bhumi e acima). Sautrantika (Tib. rang.rgyud.pa/rang-gyud-pa): Uma escola Hinayana que sustenta que a autoconsciência e as entidades externas existem. Seres sencientes (Sct. bhuta – Tib. sems.can/sem-chen): Todas as criaturas conscientes que renascem nos seis reinos. Sessão: Um dia sendo dividido em seis partes, ou sessões, cada sessão é um período de quatro horas. Shantideva (Tib. zhi.ba.lha/zhi-wa-la) (7º ao 8º século D.C.): Mestre indiano da Universidade de Nalanda especialmente lembrado como autor de Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas, e da Coleção de Instruções Transcendentes. Até hoje, Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas é um dos mais reverenciados e estudados textos da literatura Mahayana. Shavari (Tib. Ritö Wang Shu). Shiksamana (Tib. Dge.slob.ma/ge-lob-ma): Monja em experiência, uma designação usada durante o período de testes anterior à ordenação como bhikshuni. Shramanera ou shramanerika (Tib. dge.tshul ou dge.tshul.ma/ge-tsul ou ge-tsul-ma): Monge ou monja noviços. Skanda (Tib. phung.po/pung-po): Literalmente, “agregado” ou “monte”. A coleção de características que constituem um ser senciente. Como um monte de grãos, um ser parece ser uma entidade única, mas quando examinado mais detalhadamente, compreende-se que é composto por muitas partes. Sugatagarba: Sugata é um epíteto para o Buda, garba significa essência. Ver Natureza búdica. Sutra (Tib. mdo/do): Os discursos escritos do Buda Sakiamuni, que constituem todos os ensinamentos. Talidade (Sct. tathata – Tib. de-zhin-nyi): A forma como as coisas são, a natureza real de todos os fenômenos, a essência pura da realidade. Tatagatagarba (Tib. de-shek nying-po): Tatagata é um epíteto para o Buda, garba significa essência. Ver Natureza búdica. Torma (Tib. balingta): Símbolos rituais, frequentemente construídos com farinha e manteiga, usados como oferendas ou para representar deidades. Três portas: Corpo, fala e mente. Tsatsa: Uma pequena imagem do Buda ou estupa, geralmente feita de argila.

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Upasaka ou upasika (Tib. dge.bsnyam.pha/ge-nyen-pa ou dge.bsnyam.ma/ge-nyen-ma): Um praticante homem ou mulher, ou chefe de família, que tomou um ou mais dos cinco preceitos de não matar, não roubar, não se engajar em conduta sexual imprópria, não mentir e não ingerir substâncias tóxicas. Upavasata (Tib. nyen-ney): Dia de lua cheia, ou outra ocasião especial, na qual praticantes leigos tomam oito preceitos por vinte e quatro horas de não matar, não roubar, não se engajar em conduta sexual imprópria, não mentir, não ingerir substâncias tóxicas, não comer após o meio-dia, não cantar, dançar ou se adornar, não usar camas ou assentos luxuosos. Uraka (Tib. to-che): Um tipo de ser não-humano. Vacuidade: A ausência de realidade inerente de um fenômeno ou ser. Vagisvara (Tib. Lobpon Nga Kyi Wangchuk): Possivelmente um contemporâneo de Nagarjuna na Universidade de Nalanda. Vaibhasika (Tib. bye.brag smra.ba/Che-drak ma-wa): Uma categoria das escolas dos Ouvintes que sustenta que os três tempos realmente existem, assim como os fenômenos não-compostos. Vaisravana (Tib. rnam.sras/nam-ra): Uma deidade da riqueza, frequentemente representado segurando um mangusto expelindo joias. Em outros contextos, Vaisravana é considerado uma deidade protetora, e também é um dos quatro reis guardiões. Vajra (Tib. rdo.rje/dor-je): Quando usado em conjunto com um sino (Sct. gantha – Tib. dril-bu) que simboliza a sabedoria, um vajra é um objeto ritual simbolizando a compaixão ou os meios hábeis. Quando usado sozinho, o termo implica o atributo de indestrutibilidade ou uma qualidade diamantina. Vasubandhu (Tib. dbyig.gnyen/yik-nyen) (4º século D.C.): Mestre indiano associado à escola Yogacara no final de sua vida. É mais conhecido por ter escrito o Abhidharmakosa, que permanece como um tratado definitivo sobre o Abhidarma mesmo nos dias atuais. Também foi aluno e irmão de Asanga. Veículo inferior (Sct. Hinayana – Tib. theg.pa dman.pa/theg-pa man-pa): Um dos dois ramos maiores da filosofia e prática budistas. É a escola budista que enfatiza a liberação individual e a prática das Quatro Nobres Verdades. Neste texto os representantes principais desta categoria são os Vaibhasika e os Sautrantika. Vidhyadara (Tib. rig-zin): De modo geral, um detentor do conhecimento. Aqui, significa um ser senciente específico que possui alguns poderes milagrosos. Vinaya (Tib. dul.ba/dul-wa): O código de disciplina para os praticantes budistas, especialmente para monges e monjas. Vishnu (Tib. khyab-juk): Um dos deuses hindus. Historicamente, ele teve dez encarnações. Yaksha (Tib. nö-gyin): Uma classe de seres não-humanos. Yama (Tib. gshin.rje/shin-je): Usado num sentido geral, significa as forças da morte. Pode significar a personificação da morte como Yama, o Senhor da Morte, ou seu séquito (yamas). Também é o nome de um reino dos deuses e do chefe dos fantasmas famintos. Yojana (Tib. pak-tse): Unidade de medida.

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Notas Introdução do Autor 1. Os textos Lam rim explicam os estágios progressivos (caminhos e níveis) do treinamento dos bodisatvas que buscam a iluminação. 2. O Senhor Jigten Sumgön, fundador da linhagem Drikung Kagyu no século XII, ensinou o Darma extensamente por quarenta anos. A coleção de seus ensinamentos, o Gong Chik, esclarecem os ensinamentos do Senhor do Darma Gampopa. Eles explicam o papel da causa e efeito, a base ou modo de permanência de todos os fenômenos, e a natureza e manifestação das não-virtudes e virtudes a partir das quais o samsara e o nirvana são constituídos. Introdução 1. Ao sonhar ficamos confusos e acreditamos que os sonhos são reais; ao acordarmos o erro é claramente visto. Da mesma forma, nossa confusão sobre a natureza da realidade pode ser claramente vista quando despertamos da ignorância. 2. Sct. sugatagarbha. Capítulo 1 – Natureza de Buda 1. Sct. tathagatagarbha. 2. A tradução literal é “Essência búdica”. 3. Sct. samadhi. 4. Isto é, de uma forma natural, descomplicada, sem a aplicação de esforço na prática. 5. Esta categoria se refere àqueles que podem desenvolver as qualidades búdicas através da prática. Capítulo 2 – A Vida Humana Preciosa 1. Os cinco reinos compreendem todo o samsara, categorizados como reino dos infernos, reino dos fantasmas famintos, reino dos animais, reino humano e reino dos deuses. A categoria dos semideuses que aparece na classificação em seis reinos está dividida aqui entre o reino dos animais e o reino dos deuses. 2. Exemplos de modos de vida corretos incluem curadores e professores. 3. Isto é, acreditar que o sofrimento é o resultado de alguma causa, colocado em termos de duas das Quatro Nobres Verdades. Capítulo 3 – O Mestre Espiritual 1. Traduzindo literalmente a frase seria “amigo espiritual”. Entretanto, “mestre” transmite com maior precisão a conotação da frase em tibetano. 2. Os mestres espirituais Nirmanakaya e Sambogakaya são citados em conjunto, sendo que ambos são budas. 3. Aqui, “as duas realidades” se referem à virtuosa e à não-virtuosa. 4. A história de Sudhana pode ser encontrada no apêndice B. 5. A história de Sadaprarudita pode ser encontrada no apêndice B. 6. A história de Naropa pode ser encontrada em The Great Kagyu Masters (Ithaca: Snow Lion Publications, 1990) pág. 55-89. 7. A história do Rei Anala pode ser encontrada no apêndice B. Capítulo 4 – Impermanência 1. Isto pode ser compreendido considerando a terra (o mundo externo) como um recipiente suportando os seres sencientes internos (mundo interno). 2. Existem três tópicos principais, cada um com três razões que os suportam. 3. Os cinco tipos de clarividências são: conhecer os pensamentos dos outros, clariaudiência, conhecimento das vidas passadas, conhecimento do futuro e poderes milagrosos. 4. O núcleo de uma árvore aquática é vazio, sem essência. 5. A duração da vida é de apenas dez anos no final degenerado de um kalpa, mas é ilimitada no início de um kalpa. 6. Os trinta e seis componentes impuros do corpo são: fezes, urina, sangue, carne, ouvido, nariz, olho, língua, ânus, órgãos femininos, pus, catarro, piolhos, bactérias digestivas, lêndias, gordura líquida, folículos dos pelos, cabelos, intestinos, icterícia, ossos, medula, fígado, pulmões, nervos, pele, coração, gordura, cera do

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ouvido, muco nasal, secreções dos olhos, cobertura da língua, secreções dos órgãos femininos, secreções anais, secreções dos órgãos masculinos e suor (do comentário ao Vimalapracha Kalachakratantra pelo pandita indiano Kalgina Shri Pundarika). Capítulo 5 – O Sofrimento do Samsara 1. Em cada caso o alimento representa o corpo, a base sem a qual não haveria sofrimento algum. 2. “Skanda” é uma palavra em sânscrito que significa “monte” ou “agregado”. Esta é uma referência aos cinco elementos que compõem um ser senciente: forma, sensação, percepção, formação mental e consciência. 3. Os Seres Nobres que estão além do samsara são aqueles que entraram na corrente, aqueles que retornarão mais uma vez, aqueles que não mais retornarão e os destruidores do inimigo. 4. As nove passagens são os dois olhos (1 e 2), as duas orelhas (3 e 4), as duas narinas (5 e 6), a boca (7), o ânus (8) e a uretra (9). 5. A história de Maudgalyayana pode ser encontrada no apêndice B. 6. A história de Sangharakshita pode ser encontrada no apêndice B. 7. A história de Nawa Chewari pode ser encontrada no apêndice B. 8. Os quatro tipos de nascimento são: de um útero, de um ovo, do calor e da umidade e o nascimento milagroso 9. Veja a história do Velho ao Nascer no apêndice B. 10. Com base na compreensão de que todos os fenômenos nada mais são do que projeções mentais, “projetar objetos” significa vê-los ou experimentá-los através dos sentidos. 11. Os seis reinos dos deuses que estão contidos no reino do desejo são (do inferior para o superior): Carturmaharajkayika (Quatro Reis Guardiões), Triyestrimsha (Céu dos Trinta e Três), Yama (Livre do Combate), Tushita (Reino da Alegria), Nirmanratia (Emanação Prazerosa) e Parinirmitvashavartin (Controlando as Emanações dos Outros). Capítulo 6 – O Carma e Seu Resultado 1. Neste contexto, “aflito” não significa necessariamente uma ação negativa, mas sim o termo implica todas as ações que são coloridas pela ignorância, sejam virtuosas ou não. 2. Isto é, todas suas características distintivas são atribuíveis ao carma. 3. A atividade puramente mental (‘carma da mente’) é compreendida como sendo uma causa de resultados, assim como as ações físicas que resultam do pensamento (‘carma do pensamento’). 4. Apesar de o texto original ter sido escrito para um público predominantemente masculino, a atividade correspondente realizada por mulheres também é classificada como ação sexual imprópria. 5. Isto é, quando alguém toma os oito preceitos: não matar, não roubar, não mentir, não se engajar em atos sexuais, não ingerir substâncias tóxicas, não usar camas ou tronos elevados, não comer no momento inadequado e não se entregar a prazeres (tais como usar joias, cantar ou dançar). 6. Por exemplo, fingir ter visões de deidades. 7. Isto é, objetos que não pertencem a ninguém. 8. Os cinco crimes hediondos são: matar o próprio pai, matar a própria mãe, matar um Arhat, causar divisões na sanga e ferir um buda. 9. Os dezessete reinos dos deuses da forma são (do inferior para o superior): Três alcançados a partir da primeira concentração meditativa 1. Brahmakayika (Variedade de Brahma) 2. Brahmapurohita (Séquito de Brahma) 3. Mahabramana (Grande Brahma) Três alcançados a partir da segunda concentração meditativa 4. Paritabha (Luz Menor) 5. Apramanabha (Luz Ilimitada) 6. Abhasvara (Luz Radiante) Três alcançados a partir da terceira concentração meditativa 7. Parithashubha (Virtude Menor) 8. Apramanashubha (Virtude Ilimitada) 9. Shupakirsana (Vasta Virtude) Três alcançados a partir da quarta concentração meditativa 10. Anabhraka (Sem Nuvens) 11. Punyaprasawa (Nascido do Mérito)

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12. Birhatphala (Grande Recompensa) Cinco conhecidos como “moradas puras” 13. Arvirha (Não Grande) 14. Atapa (Sem Dor) 15. Sudirsha (Aparência Excelente) 16. Sudarshana (Clara Percepção) 17. Akanishtha (Reino Mais Elevado) 10. Os quatro reinos dos deuses da não-forma são: Akashanantya (Ayatana do Espaço Infinito), Vijnananantya (Ayatana da Consciência Infinita), Akinshannya (Ayatana da Nulidade) e Nirsangyaasangya (Ayatana da Nem Percepção Nem Não-Percepção). 11. “Ejeção” se refere ao progresso de um nível para o outro – “lançar-se” para cima. 12. Convencionalmente, “ayatana” é a base da qual dependem os processos mentais, a esfera na qual eles operam, ou simplesmente seu ponto de referência. No caso destas concentrações mentais sutis, a atividade dos cinco sentidos é suspensa, assim o referencial exclusivamente mental é expresso como espaço infinito, nulidade, e assim por diante. 13. Isto é, não foca no espaço infinito como um objeto de meditação. 14. Isto é, durante o estágio de preparação estes objetos são trazidos à mente para a meditação. 15. A história das filhas do Rei Krika pode ser encontrada no apêndice B. Capítulo 7 – Bondade Amorosa e Compaixão 1. A confiança no darma não-nascido surge no caminho do insight, especialmente no oitavo bhumi (ver capítulo 18). 2. A história do brâmane Mahadatta pode ser encontrada no apêndice B. 3. A história do Rei Bala Maitreia pode ser encontrada no apêndice B. 4. As Quatro Nobres Verdades são: Verdade do Sofrimento, Verdade das Causas do Sofrimento, Verdade da Cessação do Sofrimento, e o Nobre Caminho Óctuplo. 5. Isto é, a realização da vacuidade. 6. A história do brâmane Mahadatta pode ser encontrada no apêndice B. Capítulo 8 – Refúgio e Preceitos 1. Comum no sentido de “compartilhado”, ao invés de “ordinário”. 2. Os doze aspectos do Darma são: conjuntos de discursos, discursos melódicos em verso, discursos proféticos, conjuntos de versos, discursos proferidos especificamente, discursos introdutórios, discursos sobre realizações, conjuntos de lendas, histórias das vidas anteriores do Buda, ensinamentos longos e detalhados, discursos maravilhosos, discursos de finalização. 3. Os quatro pares são: aqueles que entraram na corrente, aqueles que retornarão mais uma vez, aqueles que não mais retornarão e os Arhats. 4. Os oito indivíduos são: aqueles que entraram na corrente, aqueles que entraram na corrente com resultado, aqueles que retornarão mais uma vez, aqueles que retornarão mais uma vez com resultado, aqueles que não mais retornarão, aqueles que não mais retornarão com resultado, Arhats e Arhats com resultado. 5. Isto é, a sanga. 6. Isto é, os humanos. 7. As três esferas são: o sujeito (isto é, o doador), o objeto (isto é, o receptor) e a ação (o ato de oferecer). 8. Voto de um dia assumido pelos leigos. Capítulo 9 – O Cultivo da Bodicita 1. O “caminho especial de um bodisatva” se refere ao oitavo, nono e décimo bhumis. 2. Assim como uma nuvem se manifesta sem esforço no céu e derrama a chuva de “benefícios” dos quais depende a vida, também o darmakaya na forma do Buda se manifesta sem esforço saindo do céu de Tushita e assim por diante, trazendo aquilo que representa benefício absoluto para os seres sencientes. 3. “Livre de véus” significa que todos os obscurecimentos que impedem a iluminação foram eliminados. 4. “Duas causas diferentes” significa que cada um dos dois tipos de bodicita possui sua própria causa distinta. O restante da citação se refere às causas da bodicita relativa; as causas da bodicita absoluta são comentadas em um parágrafo posterior. 5. Por ser derivada, surgindo do esforço de outra pessoa, ela é instável. As outras surgem do próprio esforço

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e, assim, são estáveis. 6. Ver capítulo 6, nota 8. 7. As cinco ações próximas são: despir uma Arhat ordenada, matar um bodisatva propositalmente, matar um praticante, apropriar-se de propriedades da sanga e destruir uma estupa. 8. A história de Angulimala pode ser encontrada no apêndice B. 9. A história de Udayana pode ser encontrada no apêndice B. 10. A história de Nanda pode ser encontrada no apêndice B. 11. Um exemplo de refúgio. 12. Um exemplo de bodicita. 13. A história de Ajatashatru pode ser encontrada no apêndice B. 14. As dez direções são norte, sul, leste, oeste, nordeste, sudeste, sudoeste, noroeste, nadir e zênite. 15. As três moralidades ou disciplinas são: restrições, acumulação de virtudes e beneficiar os seres sencientes. 16. Os dois extremos são samsara e nirvana. 17. Explicado no capítulo 10. 18. Deve-se ser um juiz honesto das próprias ações. Capítulo 10 – O Treinamento na Bodicita de Aspiração 1. Um dia é dividido em seis sessões, cada uma durando quatro horas: manhã, tarde, crepúsculo, noite, meia-noite e pré-aurora. 2. Esta nota se encontra no texto em tibetano. Ela enfatiza o ponto de que a generosidade é considerada uma prática virtuosa tanto no Hinayana quanto no Mahayana. Em qualquer caso a virtude é destruída ao se arrepender do ato. Capítulo 11 – O Treinamento na Bodicita de Ação 1. Os três caminhos são os dos Ouvintes, Realizadores Solitários e Bodisatvas. 2. Uma pessoa disciplinada é caracterizada pelo frescor sereno, como a sombra de uma árvore em um dia quente, opondo-se às paixões acaloradas de uma pessoa indisciplinada. 3. Literalmente, “ir além”. Capítulo 12 – A Perfeição da Generosidade 1. Os seis tópicos serão abordados neste capítulo e nos próximos cinco. 2. Traduzido de forma livre, este mantra significa: “Igualmente, que sejam extintos! Afaste todos os inimigos do meu propósito! Quaisquer forças negativas que haja em mim, que sejam derrotadas! Faça isto, de forma que quando eu for vitorioso toda a radiância pura se derrame sobre mim, completamente purificado. Peguem toda esta comida e bebida pacificamente, desfrutem-nas, e fiquem satisfeitos para que todos os obstáculos possam ser destruídos. Sejam liberados de todos os obstáculos, todos os obstáculos em geral. Os maras são derrotados por este gesto do Buda. Ao recitar este mantra, possam todos os maras ser purificados. Como resultado, possam todos os maras ser derrotados.” 3. O “resultado” se refere à riqueza e felicidade temporárias. Capítulo 13 – A Perfeição da Ética Moral 1. Yama é o rei dos fantasmas famintos. 2. As falhas de 1 a 4 se aplicam tanto a reis quanto a ministros e, assim, são contadas duas vezes, totalizando 18. A falha 5 é cometida mais frequentemente por reis, a falha 6 por ministros e as falhas 7 a 14 se aplicam, normalmente, aos súditos. 3. Visto que os votos pratimoksha fazem parte do sistema Hinayana, algumas pessoas pensam, erroneamente, que os bodisatvas não devem observar uma das sete categorias de votos. A falha nove é mencionada para corrigir este erro. 4. Em outras palavras, proclamar falsamente que se possui a realização da vacuidade. 5. As quarenta e seis falhas secundárias são: 1. Não fazer oferendas às Três Joias. 2. Seguir o apego mental. 3. Não venerar os praticantes mais antigos. 4. Não responder às questões dos outros. 5. Não aceitar os convites dos outros.

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6. Não aceitar oferendas de ouro e outras. 7. Não oferecer o Darma àqueles que o desejam. 8. Olhar como inferiores e ignorar aqueles que renunciaram à ética moral. 9. Evitar estudos que poderiam inspirar a confiança de outros. 10. Fazer um esforço menor para o benefício dos outros, como os Ouvintes. 11. Por falta de compaixão, não agir de forma não-virtuosa quando necessário.

12. Adotar modos de vida incorretos (adulação, excitação, entretenimento, enganos). 13. Buscar prazer em atividades frívolas, como esportes. 14. Pensar que irá permanecer no samsara porque o nirvana não pode ser atingido. 15. Não corrigir os defeitos dos outros. 16. Não purificar as emoções aflitivas dos outros quando eles estão aflitos. 17. Não seguir os quatro treinamentos dos praticantes: a. Não repreender os outros, mesmo quando eles o repreenderem. b. Não se enraivecer quando provocado à raiva. c. Não revelar as falhas dos outros, mesmo quando revelarem as suas. d. Não agredir outra pessoa após ter sido agredido. 18. Negligenciar ou abandonar aqueles que têm raiva de você ao não ajudá-los. 19. Não aceitar as desculpas de alguém que se desculpa de acordo com o Darma. 20. Seguir pensamentos de raiva. 21. Reunir um séquito buscando fama e riquezas. 22. Não evitar a preguiça do sono e do prazer. 23. Espalhar o seu interesse por fofocas frívolas e fala inútil. 24. Não se esforçar para estabilizar a mente. 25. Não abandonar os cinco obscurecimentos à concentração meditativa: a. excitação e arrependimento b. pensamentos negativos c. sono e letargia d. desejo e. hesitação 26. Apegar-se ao êxtase, clareza e outras experiências da concentração meditativa. 27. Perder o respeito pelo veículo dos Ouvintes. 28. Esforçar-se no pitaka dos Ouvintes evitando o treinamento dos bodisatvas.

29. Esforçar-se nos ensinamentos dos Tirthikas deixando de se esforçar no estudo do Darma do Buda. 30. Fazer um esforço maior nos ensinamentos dos Tirthikas do que no estudo do Darma do Buda.

31. Difamar o veículo Mahayana. 32. Louvar a si mesmo e difamar os outros.

33. Devido a arrogância, preguiça e outros não procurar os preciosos ensinamentos do Darma. 34. Desdenhar o professor e confiar apenas nas palavras, em vez do significado. 35. Não ajudar aqueles que precisam. 36. Não cuidar dos doentes. 37. Não se esforçar para dissipar o sofrimento dos outros. 38. Não corrigir aqueles que são descuidados. 39. Não retribuir àqueles que são generosos com você. 40. Não dissipar o sofrimento daqueles que estão deprimidos.

41. Não oferecer o necessário àqueles que estão precisando quando você poderia fazê-lo. 42. Não cuidar das pessoas ao seu redor com ensinamentos e necessidades materiais.

43. Não se harmonizar e concordar com as ações virtuosas dos outros. 44. Não elogiar as qualidades positivas dos outros. 45. Não impedir aqueles que estão cometendo ações não-virtuosas. 46. Não domar os outros com poderes espirituais quando necessário. Se estas falhas forem cometidas por desrespeito ou preguiça, então elas são denominadas “falhas aflitas”. Portanto, devem ser purificadas diante daqueles que possuem o voto do bodisatva. Sejam elas aflitas ou não, cada um deve ser a testemunha de sua própria mente e purificar todas as ações não-virtuosas diante dos budas e bodisatvas. Quando elas são cometidas por esquecimento ou descuido etc, também são chamadas de falhas.

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Capítulo 15 – A Perfeição da Perseverança 1. A visão citada aqui é a de fixar-se a si mesmo como alguém permanente ou real. Por ser difícil abandoná-la, isto é comparado a cruzar ou escalar uma montanha. Capítulo 16 – A Perfeição da Concentração Meditativa 1. Os vinte defeitos da agitação mental, segundo o Sutra Requisitado com Extrema Sinceridade:

Ausência de restrição física, ausência de restrições na fala, ausência de restrições mentais, desejo grosseiro, aversão grosseira, ignorância grosseira, estar deludido pela fala mundana, deterioração completa além da fala mundana, nenhum respeito pelo Darma, a prática do Darma é abandonada, os Maras têm a oportunidade de triunfar, a vigilância não pode ser sustentada, pensamentos discursivos aumentam, o vasto conhecimento do Darma se deteriora, a permanência serena e o insight especial não podem ser alcançados, os preceitos Brahmacarya são facilmente quebrados ou transgredidos, a confiança no Buda é perdida, a confiança no Darma é perdida, a confiança na sanga é perdida. Maitreia, estes são os vinte tipos de defeitos devidos à agitação que surge do apego.

2. Idealmente, um monastério é um lugar isolado das cidades, que oferece proteção das distrações. Os cemitérios são mencionados aqui porque eles ficavam, tradicionalmente, distantes dos lugares habitados. 3. As oito preocupações mundanas são: ganhar e perder, prazer e dor, fama e desgraça, críticas e elogios. 4. Veja o capítulo 4, nota 6. 5. As oito liberações: 1. Emancipação das corporificações ao observar uma forma. 2. Emancipação da ausência de forma ao observar uma forma. 3. Emancipação através de belas formas. 4. Emancipação do espaço infinito.

5. Emancipação da consciência infinita. 6. Emancipação da nulidade. 7. Emancipação do pico da existência. 8. Emancipação da cessação.

(1 a 3 estão relacionadas ao mundo das formas, 4 a 8 se referem ao mundo da não-forma). 6. As oito concentrações de superação, nas quais o objetivo do iogue é ganhar controle sobre um objeto: 1. Imaginando-se possuindo uma forma, ele observa pequenas formas externas e as supera. 2. Imaginando-se possuindo uma forma, ele observa formas externas grandes e as supera. 3. Imaginando-se sem forma, ele observa pequenas formas externas e as supera. 4. Imaginando-se sem forma, ele observa formas externas grandes e as supera. 5. Simplesmente imaginando-se sem forma, ele observa formas externas azuis e as supera. 6. Simplesmente imaginando-se sem forma, ele observa formas externas amarelas e as supera. 7. Simplesmente imaginando-se sem forma, ele observa formas externas vermelhas e as supera. 8. Simplesmente imaginando-se sem forma, ele observa formas externas brancas e as supera. 7. As dez concentrações que tudo permeiam, cujo objetivo é desenvolver a onisciência ao treinar a percepção de um elemento como o fogo, ou de uma cor como o azul permeando todos os fenômenos: 1. O permear total pela terra 2. O permear total pela água 3. O permear total pelo fogo 4. O permear total pelo ar 5. O permear total pelo espaço 6. O permear total pelo azul 7. O permear total pelo amarelo 8. O permear total pelo vermelho 9. O permear total pelo branco 10. O permear total pela consciência ou mente 8. As quatro compreensões perfeitas: 1. A compreensão específica perfeita do Darma. 2. A compreensão específica perfeita do significado.

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3. A compreensão específica perfeita das palavras definitivas. 4. A compreensão específica perfeita da confiança. 9. Sct. shamata e vipashyana, respectivamente. Capítulo 17 – A Perfeição da Sabedoria Discriminativa 1. “Estes ramos” refere-se às cinco primeiras das seis paramitas. 2. Uma metáfora comum na literatura budista para algo que não existe. 3. “Mente” aqui se refere à mente convencional deludida, que sustenta as duas identidades como sendo reais. Uma pessoa possui tal mente que, em níveis diferentes, percebe estas duas identidades. 4. O carma inclui não-virtudes aflitas assim como ações virtuosas. Ambas resultam no sofrimento da mudança, no sofrimento do sofrimento e no sofrimento que tudo permeia, conforme explicado no capítulo 4. 5. Isto é, os objetos externos aos quais nos fixamos como sendo reais, e a mente que os percebe. 6. Em outras palavras, causa e resultado não são fenômenos separados. Na verdade, eles são interdependentes. 7. Um campo verde e uma cauda são exemplos de objetos que parecem ser uniformes ou sólidos, mas que na verdade são feitos de muitos pedaços pequenos. 8. “Surge desta forma” significa que a mente deludida continua a projetar objetos. Enquanto você sustentar o objeto projetado através da delusão, as aparências continuarão existindo. 9. O que é, ou seja, a realidade genuína, não é percebida desta forma; aquilo que aparece se deve simplesmente ao poder das condições. 10. “Alterações” se refere à percepção alterada devido ao poder das práticas de meditação. 11. Os seres dos seis reinos percebem os mesmos estímulos de forma bastante diferente. Por exemplo, o que vemos como água no reino humano e no reino dos animais é experimentado como metal derretido no reino dos infernos, como pus no reino dos fantasmas famintos e como ambrosia no reino dos deuses. 12. Fixar-se a um objeto e acreditar que ele existe verdadeiramente e de forma permanente, como os eternalistas, é ser tão ignorante quanto o gado. Por outro lado, negar a existência dos fenômenos através da análise intelectual e, com base nisto, acreditar que nada existe, como um niilista, é ainda pior. 13. Isto é, realizar que todos os fenômenos são não-nascidos desde o princípio. 14. Os dois extremos são o eternalismo e o niilismo. 15. Aqui, “mente” refere-se à verdadeira mente, ou à mente livre da delusão. 16. Alimento, bebida, roupas, riquezas e assim por diante. 17. Em outras palavras, quando a mente é mantida no estado de vacuidade, a prática das seis perfeições é realizada automaticamente. 18. Isto se refere a um chefe de família, um (a) praticante que não se tornou monge ou monja. Capítulo 18 – Os Aspectos dos Cinco Caminhos 1. “Calor” é uma metáfora. Quando a meditação começa, o “calor” da experiência surge, e se torna maior e maior à medida que a prática se desenvolve, como acontece com o fogo que começa morno e vai ficando mais quente com o tempo. 2. Cinco dos trinta e sete ramos do caminho para a iluminação. 3. Cinco dos trinta e sete ramos do caminho para a iluminação. 4. A Primeira Nobre Verdade, do Sofrimento, é colocada aqui como exemplo. O mesmo conjunto de quatro – duas aceitações pacientes e duas consciências – é aplicado às outras três Nobres Verdades da mesma forma, totalizando dezesseis. 5. Conhecido coletivamente como Caminho Óctuplo. Aqui, “perfeito” tem o mesmo significado de quando é traduzido por “correto”, que parece ser mais comum. 6. A realização da natureza da vacuidade. 7. A sabedoria da não-produção dos efeitos. 8. O Nobre Caminho Óctuplo mais dois, totalizando dez. Capítulo 19 – Os Dez Bhumis dos Bodisatvas 1. As dez recomendações são:

1. Motivação pura, livre de todos os pensamentos enganosos, em relação a todos os seres sencientes.

2. Praticar de forma pura para o benefício próprio e dos outros. 3. Uma atitude de equanimidade para com todos os seres.

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4. Oferecer completamente todos os seus pertences. 5. Sempre seguir adequadamente mestres espirituais. 6. Buscar os objetivos do Darma sagrado dos três veículos. 7. Ter sempre desgosto por ou renunciar à vida de chefe de família. 8. Sempre desejar atingir o darmakaya do Buda, a realização suprema. 9. Sempre ensinar o Darma sagrado. 10. Proteger os outros de todos os medos falando a verdade.

2. Os quatro métodos para reunir discípulos são: 1. Usar palavras agradáveis para desenvolver seu interesse. 2. Oferecer o que os discípulos precisam. 3. Falar de acordo com o Darma, com base na virtude e na não-virtude. 4. Agir pessoalmente de acordo com o Darma.

3. O número oitenta e dois não aparece em outros textos, e pode ser um erro de impressão muito antigo. De acordo com o Ornamento da Clara Realização existem oitenta e oito emoções aflitivas a serem abandonadas no caminho do insight, trinta e duas emoções no mundo do desejo, e vinte e oito emoções nos reinos da forma e da não-forma. As trinta e duas emoções que devem ser purificadas no mundo do desejo são:

1. Desejo 2. Raiva 3. Orgulho 4. Ignorância 5. Hesitação / dúvida 6. Visão dos agregados transitórios 7. Visões extremas 8. Visões errôneas 9. Sustentar ética e comportamento inferiores como se fossem superiores 10. Sustentar visões inferiores como superiores

Estas dez emoções estão relacionadas à Verdade do Sofrimento. Sete das dez (exceto a 6, a 9 e a 10), se relacionam, respectivamente, à Verdade da Causa e à Verdade da Cessação. Oito das dez (exceto a 6 e a 7) se relacionam à Verdade do Caminho Óctuplo. As emoções perturbadoras a serem purificadas nos reinos da forma e da não-forma são as mesmas, exceto pela raiva que é omitida de todas as categorias das Quatro Nobres Verdades. De acordo com a Coleção do Abhidarma 112 emoções aflitivas devem ser abandonadas no caminho do insight. Ali, as cinco emoções acima e as cinco visões se relacionam a cada uma das Quatro Nobres Verdades no mundo do desejo, totalizando quarenta para este mundo. Os mundos da forma e da não-forma possuem trinta e seis, cada um, com exceção da raiva, totalizando no final 112. 4. Isto é, um monge ou uma monja. 5. Os oito treinamentos são:

1. Manter a pureza das três éticas morais constantemente. 2. Retribuir a bondade dos outros. 3. Beneficiar os outros, mantendo-se paciente com seus erros. 4. Sem arrependimento, regozijar-se com as ações virtuosas, tais como beneficiar os outros etc. 5. Ser amoroso e compassivo com todos os seres sencientes. 6. Sempre honrar e respeitar os mestres espirituais e abades. 7. Manter adequadamente o treinamento que foi recebido deles. 8. Sempre treinar nas seis paramitas da generosidade e assim por diante.

6. As dezesseis emoções aflitivas que devem ser abandonadas no caminho da meditação são: A visão dos agregados transitórios a visão dos extremos desejo raiva orgulho e ignorância são abandonados no mundo do desejo. Nos reinos da forma e da não-forma existem cinco em cada um – as seis acima com exceção da raiva. Quando explicadas de forma detalhada existem 414. No mundo do desejo, cada uma das seis emoções aflitivas é classificada como forte-forte, média-forte, fraca-forte, forte-média, média-média, fraca-média, forte-fraca, média-fraca e fraca-fraca, totalizando 54. No reino da forma, cada uma das quatro concentrações

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meditativas tem cinco emoções aflitivas categorizadas nas mesmas nove classificações (forte-forte, etc), ou 45 para cada concentração meditativa, totalizando 180. O reino da não-forma é explicado da mesma forma, com 45 para cada um dos quatro estágios. 7. Continua com a mesma lista de doze habilidades mencionadas para o primeiro bhumi, exceto que cem é substituído por mil em cada caso. O número para cada uma das doze habilidades cresce dez vezes a cada bhumi. 8. Os cinco tópicos são:

1. Nunca se dar por satisfeito ao ouvir os profundos ensinamentos do Darma. 2. Ensinar o precioso Darma aos outros sem preocupar-se com riquezas ou honras. 3. Purificar o recipiente e o conteúdo do campo búdico onde irá atingir a iluminação. 4. Nunca se desencorajar ao ver a ingratidão daqueles que foram beneficiados. 5. Não ser arrogante, possuindo um sentido de vergonha e embaraço.

9. Os mesmos dezesseis abandonos que foram mencionados para o segundo bhumi são abandonados do terceiro ao décimo bhumis. 10. Os dez treinamentos são:

1. Permanecer isolado em uma floresta e assim por diante. 2. Não desejar riquezas que você não obteve. 3. Dar-se por contente ao obter comida muito simples. 4. Manter de forma pura os doze treinamentos dos ascetas. 5. Não abandonar o treinamento que recebeu, mesmo sob o risco da própria vida. 6. Desenvolver desgosto ao ver as falhas dos objetos sensuais. 7. Estabelecer os praticantes no nirvana. 8. Oferecer completamente todas as suas posses. 9. Nunca se desencorajar de realizar ações virtuosas, tais como beneficiar os outros. 10. Não se preocupar com o próprio benefício.

11. Um reino dos deuses do desejo. 12. As dez falhas que devem ser evitadas são:

1. Associar-se aos parentes, que são a base do apego. 2. Apego às casas de benfeitores devotos. 3. Residir em lugares agitados. 4. Louvar a si mesmo com apego. 5. Depreciar os outros. 6. As dez não-virtudes. 7. Presunção e arrogância. 8. As quatro percepções errôneas – pureza, felicidade, permanência e identidade (na verdade,

a natureza dos skandas aflitos é a da impureza, a natureza do samsara é o sofrimento, a natureza de todos os fenômenos compostos é a impermanência e os skandas aflitos não possuem uma identidade).

9. Conhecimento imoral das visões errôneas. 10. Paciência com os obscurecimentos das emoções aflitivas, tais como o apego e assim por

diante. 13. Um reino dos deuses do desejo. 14. Os doze treinamentos são:

1. Generosidade 2. Ética moral 3. Paciência 4. Perseverança 5. Concentração meditativa 6. Sabedoria discriminativa – levar à perfeição as seis paramitas. 7. Evitar ligações com os Ouvintes. 8. Evitar ligações com os Realizadores Solitários 9. Evitar o medo do significado da vacuidade profunda 10. No início, não se desencorajar ao dar as coisas que alguém pediu 11. Então, no meio, não ficar infeliz porque você ofereceu todas as suas posses 12. No final, mesmo que você tenha dado tudo, não abandonar os mendigos

15. Um reino dos deuses do desejo.

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16. Os vinte treinamentos são: A) Os vinte abandonos:

1. Fixação à identidade própria. 2. Fixação à percepção dos seres sencientes. 3. Fixação à própria força de vida. 4. Fixação às pessoas como “realizadores”, isto é, como entidades que realizam ações

reais. 5. Fixação à descontinuidade dos seres sencientes. 6. Fixação à permanência dos seres sencientes. 7. Fixação aos sinais de dualidade de todos os fenômenos. 8. Fixação às várias causas. 9. Fixação aos cinco agregados. 10. Fixação aos dezoito elementos (Sct. dhatus) 11. Fixação às doze fontes dos sentidos (Sct. Ayatanas). 12. Fixação aos três reinos como base. 13. Fixação às emoções aflitivas tais como o desejo e assim por diante. 14. Ficar completamente desencorajado com o caminho perfeito. 15. Fixar-se ao Buda como a fruição do nirvana. 16. Fixar-se ao Darma como a sua causa. 17. Fixar-se à sanga como a sua base. 18. Apegar-se completamente à visão da ética moral. 19. Controvérsia em relação à vacuidade profunda. 20. Fixar-se à ideia de que o convencional e a vacuidade são contraditórios.

B) Os vinte antídotos: 1. Conhecimento da vacuidade, a porta para a liberação, o antídoto para a fixação à

identidade pessoal. 2. Liberação da ausência de sinais, o antídoto para a fixação à percepção dos seres

sencientes. 3. Liberação da não-aspiração e fruto, o antídoto para a fixação à força da vida. 4. Purificação completa das três esferas, que é a não-projeção da meditação, do

meditante, e da ação de meditar, como antídoto para a fixação às pessoas. 5. Grande compaixão, como antídoto para a fixação à descontinuidade dos seres

sencientes. 6. Nenhuma arrogância devido à realização da vacuidade que tudo permeia, como

antídoto para a fixação à permanência dos seres sencientes. 7. Realização da natureza livre de identidades de todos os fenômenos, como antídoto

para a fixação aos sinais de dualidade de todos os fenômenos. 8. Realização do grande veículo, final, como antídoto para a fixação às várias causas. 9. Compreender a natureza não-nascida, como antídoto para a fixação aos cinco

agregados. 10. Entendimento da paciência com relação ao significado da profunda natureza não-

nascida como antídoto para a fixação aos dezoito elementos (Sct. dhatus). 11. Ensinar o fluxo único da não-dualidade de todos os fenômenos como antídoto para

a fixação às doze fontes dos sentidos (Scr. Ayatanas). 12. Cortar todos os pensamentos conceituais de projeções não-virtuosas, como antídoto

para a fixação aos três reinos como bases. 13. Não conceitualizar a fixação aos sinais e assim por diante, como antídoto para a

fixação às emoções aflitivas, tais como desejo e assim por diante. 14. Meditar na permanência serena definitiva como antídoto para o total

desencorajamento no caminho perfeito. 15. Ter grande habilidade na realização da sabedoria discriminativa do insight especial

da ausência de identidades como antídoto para a fixação ao Buda como fruição do nirvana.

16. Domar a mente através da meditação no modo de permanência como antídoto para a fixação ao Darma como sua causa.

17. Desenvolver a sabedoria primordial desobstruída da forma e assim por diante

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através do insight especial, como antídoto para a fixação à sanga como sua base. 18. Ter a habilidade da realização no nível de não-apego aos extremos, como antídoto

para o apego completo à visão da ética moral. 19. Liberdade de movimento para qualquer campo búdico de acordo com seu desejo,

como antídoto para controvérsias sobre a vacuidade profunda. 20. Demonstrar a manifestação do próprio corpo para todos os praticantes como

antídoto para a fixação à ideia de que o convencional e a vacuidade são contraditórios.

17. Um reino dos deuses do desejo. 18. Isto significa que o estado de meditação não pode ser perturbado por percepções. “Com sinais” e “sem sinais” referem-se à presença ou não de um objeto de meditação. 19. Os oito treinamentos são:

1. Compreender diretamente as ações das mentes de todos os seres sencientes. 2. Compaixão a partir da clarividência de poderes milagrosos em todos os mundos. 3. Estabelecer os bons e puros campos búdicos. 4. Por ter investigado completamente todos os fenômenos reunir grandes acumulações ao

seguir o Buda. 5. Amadurecer os seres sencientes através da compreensão direta das diferentes faculdades

dos praticantes. 6. Purificar completamente o campo búdico ao desenvolver maestria sobre os reinos puros. 7. Enxergar todos os fenômenos como ilusórios através da maestria sobre os pensamentos não-

conceituais. 8. Renascer voluntariamente no samsara ao desenvolver maestria sobre os nascimentos.

20. Conforme explicado no capítulo 3. 21. Um reino dos deuses da forma. 22. Os doze treinamentos são:

1. Aperfeiçoar as preces de aspiração infinitas para o benefício dos seres sencientes. 2. Compreender as linguagens dos deuses e outros. 3. Desenvolver maestria sobre o Darma, o significado, a sabedoria discriminativa e confiança

inexaurível, como o fluxo de um rio. 4. Ao renascer entrar apenas no útero de uma mulher respeitável. 5. Escolher uma família excelente, como a de um rei e assim por diante. 6. Escolher uma casta excelente. 7. Escolher parentes maternos excelentes e assim por diante. 8. Escolher ambientes excelentes. 9. Escolher renascer de uma forma excepcional, louvada por Indra e outros. 10. Renunciar ao lar pela inspiração do Buda e assim por diante. 11. Conquistar a iluminação sob a árvore Bodhi, que é como uma joia que realiza desejos. 12. Aperfeiçoar todas as qualidades que são a natureza de Buda.

23. Um reino dos deuses da forma. 24. Os dez treinamentos do Sutra dos Dez Nobres Bhumis são:

1. Discriminar completamente os fenômenos com a sabedoria da investigação infinita. 2. Aperfeiçoar todas as qualidades. 3. Reunir completamente todas as acumulações infinitas de mérito e sabedoria. 4. Vasta realização da grande compaixão. 5. Tornar-se um especialista em todos os diversos tipos de mundos. 6. Engajar-se em ações para beneficiar os seres sencientes que estão deludidos. 7. Desenvolver atenção mental de forma a ingressar nas ações de um buda. 8. Ingressar na projeção suprema da força. 9. Ingressar na projeção suprema do destemor. 10. Ingressar na projeção suprema de qualidades inigualáveis.

Isto é chamado de “atingir o Bhumi da realização da sabedoria primordial da onisciência”. 25. Um reino dos deuses da forma. Capítulo 20 – A Iluminação Perfeita

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1. Os Sutras da Perfeição da Sabedoria. 2. Os três obscurecimentos são as emoções aflitivas, os obscurecimentos sutis e os obscurecimentos à absorção meditativa. 3. As trinta e duas marcas maiores de um Buda são:

1. As palmas de suas mãos e as solas de seus pés estão marcadas com o símbolo de uma roda. 2. Seus pés ficam bem firmes sobre o solo como uma tartaruga. 3. Seus dedos dos pés e das mãos possuem membranas. 4. As palmas de suas mãos e as solas de seus pés são macios e tenros. 5. Seu corpo possui sete características proeminentes: calcanhares largos, mãos largas,

escápulas largas e pescoço largo. 6. Seus dedos são longos. 7. Seus calcanhares são macios. 8. Ele é alto e ereto. 9. Os ossos de seus tornozelos não se projetam. 10. Os pelos de seu corpo apontam para cima. 11. Seus tornozelos são como os de um antílope. 12. Suas mãos são longas e bonitas. 13. Seu órgão masculino é recolhido. 14. Seu corpo é dourado. 15. Sua pele é fina e macia. 16. Cada pelo de seu corpo gira para a direita. 17. Seu rosto é adornado por um pelo enrolado entre suas sobrancelhas. 18. A parte superior de seu corpo é como a de um leão. 19. Sua cabeça e ombros são perfeitamente arredondados. 20. Seus ombros são largos. 21. Ele possui um sentido excelente dos gostos, mesmo dos piores. 22. Seu corpo tem as proporções de uma figueira. 23. Ele tem uma protuberância no topo de sua cabeça. 24. Sua língua é longa e fina. 25. Sua voz é melíflua. 26. Suas bochechas são como as de um leão. 27. Seus dentes são brancos. 28. Não há espaços entre seus dentes. 29. Seus dentes estão posicionados de forma correta. 30. Ele possui um total de quarenta dentes. 31. Seus olhos são da cor da safira. 32. Seus cílios são como os de uma magnífica novilha.

4. As oitenta marcas menores de um Buda são: 1. Suas unhas são da cor de cobre. 2. Suas unhas são moderadamente brilhantes. 3. Suas unhas são levantadas. 4. Suas unhas são arredondadas. 5. Suas unhas são largas. 6. Suas unhas afinam gradualmente. 7. Suas veias não se projetam. 8. Suas veias não possuem nós. 9. Seus tornozelos não se projetam. 10. Seus pés não são diferentes. 11. Ele caminha com o passo de um leão. 12. Ele caminha com o passo de um elefante. 13. Ele caminha com o passo de um ganso. 14. Ele caminha com o passo de um touro. 15. Seu passo tende para a direita. 16. Seu passo é elegante. 17. Seu passo é firme.

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18. Seu corpo é bem coberto. 19. Seu corpo parece ter sido polido. 20. Seu corpo é bem proporcionado. 21. Seu corpo é limpo e puro. 22. Seu corpo é macio. 23. Seu corpo é perfeito. 24. Seus órgãos sexuais estão completamente desenvolvidos. 25. Sua postura física é excelente e digna. 26. Seus passos são iguais. 27. Seus olhos são perfeitos. 28. Ele é jovial. 29. Seu corpo não tem depressões. 30. Seu corpo é largo. 31. Seu corpo não é desleixado. 32. Seus membros são bem proporcionados. 33. Sua visão é clara e não é borrada. 34. Sua barriga é redonda. 35. Sua barriga é perfeitamente moderada. 36. Sua barriga não é grande. 37. Sua barriga não se projeta. 38. Seu umbigo é profundo. 39. Seu umbigo gira para a direita. 40. Ele é perfeitamente elegante. 41. Seus hábitos são limpos. 42. Seu corpo não possui pintas ou descolorações. 43. Suas mãos são macias como a lã de algodão. 44. As linhas de suas palmas são claras. 45. As linhas de suas palmas são profundas. 46. As linhas de suas palmas são longas. 47. Seu rosto não é muito comprido. 48. Seus lábios são vermelhos como o cobre. 49. Sua língua é flexível. 50. Sua língua é fina. 51. Sua língua é vermelha. 52. Sua voz é como o trovão. 53. Sua voz é doce e gentil. 54. Seus dentes são arredondados. 55. Seus dentes são afiados. 56. Seus dentes são brancos. 57. Seus dentes são iguais. 58. Seus dentes afinam gradualmente. 59. Seu nariz é proeminente. 60. Seu nariz é limpo. 61. Seus olhos são claros. 62. Seus cílios são espessos. 63. A parte escura e branca de seus olhos são bem definidas como as pétalas de um lótus. 64. Suas sobrancelhas são longas. 65. Suas sobrancelhas são macias. 66. Suas sobrancelhas são finas. 67. Suas sobrancelhas têm os pelos iguais. 68. Suas sobrancelhas são longas e extensas. 69. Suas orelhas são do mesmo tamanho. 70. Ele possui uma audição perfeita. 71. Sua testa é bem formada e bem definida. 72. Sua testa é larga. 73. Sua cabeça é bastante grande.

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74. Seu cabelo é negro como a cor de um zangão. 75. Seu cabelo é grosso. 76. Seu cabelo é leve. 77. Seu cabelo é desembaraçado. 78. Seu cabelo não é desarrumado. 79. Seu cabelo é fragrante. 80. Suas mãos e pés são marcados com emblemas auspiciosos.

Apêndice A: O Senhor do Darma Gampopa 1. Alguns textos dizem que o Senhor do Darma Gampopa recebeu os votos de ordenação monástica completos quando tinha trinta e dois anos. 2. Geralmente “tonpa” se refere a um professor monge que mantém uma disciplina adequada. 3. O rei de um pequeno reino no Tibete ocidental. 4. Outros textos dizem que um dos mendigos o guiou até bem próximo do eremitério de Milarepa. 5. As três portas são corpo, fala e mente. 6. A mandala de Vajrayogini. 7. A história completa deste momento pode ser encontrada em As Cem Mil Canções de Milarepa, tradução de Garma C. C. Chang (Boston, Shambhala, 1962) pág. 479-487. 8. As sete nobres joias são fé/devoção, ética moral, generosidade, conhecimento, preocupação com os outros, preocupação consigo mesmo e sabedoria. 9. Literalmente, o nome significa: “Monge completo, detentor do vajra, renomado em todo o mundo”. 10. Arura é uma planta medicinal. 11. Isto é, uma mente descomplicada. 12. As doze práticas ascéticas são: sobreviver de esmolas, comer a refeição de uma única vez, não aceitar comida após ter levantado de sua refeição, vestir os três mantos monásticos, vestir mantos feitos apenas de materiais não costurados, vestir mantos feitos de trapos, morar em um eremitério, morar ao pé de uma árvore, morar em um lugar aberto sem abrigo, morar em cemitérios, permanecer na postura sentada, dormir onde quer que esteja. 13. Um lugar próximo a um monastério, onde ele frequentemente ficava em retiro. 14. Ou seja, caminhando ou viajando intensamente. 15. Isto é, construindo edifícios. 16. “Carne em tiras” refere-se às tiras de gordura e carne encontradas em carnes como o bife. Apêndice B: Sadaprarudita 1. As oito qualidades da boa água são: deliciosa, fresca, macia, leve, pura, clara, não prejudicial à garganta, não prejudicial ao estômago. Apêndice B: Rei Anala 1. Esta é a história de um dos 110 mestres espirituais que o bodisatva Suddhana seguiu. Apêndice B: Velho ao Nascer 1. A cerimônia Pravarana marca a suspensão das restrições do retiro de verão. Apêndice B: Udayana 1. Aqueles que cometeram um ou todos os cinco crimes hediondos não têm a chance de alcançar o estado de Arhat em uma única vida. Apêndice B: Ajatashatru 1. Uma flor de mantra é um botão especial que só pode ser obtido nos reinos dos deuses. 2. Seu pai tinha atingido o estado daqueles que entraram na corrente.

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Bibliografia TRADUÇÕES PARA O INGLÊS DE OBRAS CITADAS PELO SENHOR DO DARMA GAMPOPA EM “O ORNAMENTO DA PRECIOSA LIBERAÇÃO” Os Bhumis dos Bodisatvas (Bodhisattvabhumi) - Willis, Janice Dean. On Knowing Reality. Nova Iorque: Columbia University Press, 1979 (tradução parcial). Carta a um Amigo (Suhrllekha) - Jampal, Lozang, Ngawang Samten Chophel e Peter Della Santina. Nagarjuna´s Letter to King Gautamaiputra. Delhi: Motilal Banarsidass, 1978. - Kawamura, Leslie. Golden Zephyr. Emeryville Dharma Publishing, 1975. - Tharchin, Geshe Lobsang e Artemus Engle. Nagarjuna´s Letter. Howell, NJ: Rashi Gempil Ling, First Kalmuk Buddhist Temple, 1977. O Cesto dos Bodisatvas (Bodhisattvapitaka) - Pagel, Ulrich. The Bodhisattvapitaka. Tring, UK: The Institute of Buddhist Studies, 1995 (tradução parcial). - Pederson, Priscilla. “O Capítulo sobre Dhyana do Sutra do Cesto dos Bodisatvas”, PhD. Nova Iorque: Columbia University, 1976. Coleção de Instruções Transcendentes (Siksasamuccaya) - Bendall, Cecil e W.H.D. House. Siksa Samuccaya. Delhi: Motilal Banarsidass Publishers, 1990 (reimpressão de Londres, 1922). Discriminando o Caminho do Meio dos Extremos (Madhyantavibhaga) - Kochumutton, Thomas A . A Buddhist Doctrine of Experience. Delhi: Motilal Banarsidass, 1989. - Stcherbatsky, Th. Discourse on Discrimination between Middle and Extremes. Delhi: Sri Satguru Publications, 1992. Engajando-se no Caminho do Meio (Madhyamakavatara) - Fenner, Peter. The Ontology of the Middle Way. Dordrecht, Boston: Khewar Academic Publishers, 1990. - Hopkins, Jeffrey. Compassion in Tibetan Buddhism. Ithaca: Snow Lion Publications, 1980 (tradução parcial). - Huntingdon, C.W e Geshe Namgyal Wangchen. Emptiness of Emptiness – An Introduction to Early Indian Madyamika. Honolulu: University of Hawaii Press, 1989. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas (Bodhicaryavatara) - Batchelor, Stephen. A Guide to the Bodhisattva´s Way of Life. Dharamsala: Library of Tibetan Works and Archives, 1979. - Crosby, Kate e Andrew Skilton. The Bodhicaryavatara. Oxford, Nova Iorque: Oxford University Press, 1996. - Matics, Marion L. Entering the Path to Enlightenment. Nova Iorque: Mac Millan, 1970. - Padmakara Translation Group. The Way of the Bodhisattva. Boston: Shambhala Publications, 1997. - Sharma, Parmananda. Shantideva´s Bodhicaryavatara. Nova Delhi: Aditya Prakashan, 1990. - Wallace, Vesna e B. Allan. A Guide to the Bodhisattva Way of Life. Ithaca: Snow Lion Publications, 1997. Grande Sutra do Parinirvana (Mahaparinirvanasutra) - Yamamoto, Kosho. The Mahayana Mahaparinirvanasutra. Ube, Japão: Karinbunko, 1973-1975 (3 volumes). A Guirlanda de Joias Preciosas (Ratnavali) - Hopkins, Jeffrey. Buddhist Advice for Living and Liberation. Ithaca: Snow Lion Publications, 1998. - Hopkins, Jeffrey e Lati Rinpoche. The Precious Garland and the Song of the Four Mindfulnesses. Nova Iorque: Harper & Row Publishers, Wisdom of Tibet Series #2, 1975. - Hopkins, Jeffrey e Lati Rinpoche. The Precious Garland of Advice for the King. Em The Buddhism of Tibet de S.S. Dalai Lama, traduzido e editado por Jeffrey Hopkins. Ithaca: Snow Lion Publications, 1987.

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Sutra do Lótus Branco do Sublime Darma (Saddharmapundarikasutra) - Hurvitz, Leon. Scripture of the Lotus Blossom of the Fine Dharma. Nova Iorque: Columbia University Press, 1976. - Kato, Bunno, Yoshiro Tamura e Kojiro Miyasaka. The Threefold Lotus Sutra. Nova Iorque: Weatherhill, 1975. - Kern, H. The Lotus of the True Law. Nova Iorque: Dover Publications, 1963. - Soothill, W. E The Lotus of the Wonderful Law. Oxford: The Clarendon Press, 1930 (reimpressão Londres: Curzon Press, 1975; Totowa, NJ: Rowman & Littlefield, 1975; San Francisco: Chinese Materials Center, 1977). - Tsugunari, Kubo e Yuyama Akira. The Lotus Sutra. Berkeley: Numata Center for Buddhist Translation and Research, 1993. - Watson, Burton. The Lotus Sutra. Nova Iorque: Columbia University Press, 1993. Sutra da Luz Dourada (Suvarna-prabha-sottama-sutra) - Emmerick, R.E. The Sutra of Golden Light. Londres: The Pali Text Society, 1970 (reimpressão revisada 1990). Sutra da Nobre e Profunda Representação (Lalitavistarasutra) - Bays, Gwendolyn. The Voice of the Buddha, The Beauty of Compassion. Berkeley Dharma Publishing, 1983. - Pope, Nicholas. 12 Deeds of Buddha, A Translation from Mongolian. Wiesbaden: Harrassowitz, 1967. Sutra da Perfeição da Sabedoria em 8000 Versos (Astasahasrika-prajnaparamita) - Conze, Edward. Astasahasrikaprajnaparamita. Calcutá: Asiatic Society Bibliotheca Indica Issue #1592, 1970. The Perfection of Wisdom in 8000 Lines and Its Verse Summary. Bolinas: Four Seasons Foundation, distribuído por Bookpeople, Berkeley, 1973. Sutra Plantando o Nobre Caule (Gandavyuhasutra) - Cleary, Thomas. The Flower Ornament Scripture. (pág. 1135-1518). Boston: Shambhala Publications, 1993. Sutra da Posse da Ética Moral (Silasmyuktasutra) - Kalzang, Thubten. Three Discourses of the Buddha. Dharamsala: LTWA, 1973. Sutra Rei da Absorção Meditativa (Samadhirajasutra) - Cuppers, Christoph. O IX Capítulo do Samadhirajasutra. Stuttgart: Franz Sterner Verlag Alt- und Neu-Indische Studien #41, 1990 (tradução parcial). - Gomez, Luis e Jonathan Silk. Studies in the Literature of the Great Vehicle. Ann Arbor University of Michigan, 1989 (tradução parcial). - Regemey, Konstanty. Philosophy in the Samadhirajasutra. Varsóvia: The Warsaw Society of Sciences and Letters, 1938 (reimpressão Delhi: Motilal Benarsidass, 1990, Talent, Oregon, Canon Publications, 1984) (tradução parcial). - Thrangu Rinpoche. King of Samadhi. Hong Kong, Boudhanath e Arhus Rangjung Publications, 1994 (tradução parcial – fragmentos). Sutra Requisitado por Aksayamati (Aksayamatipariprcchasutra) - Chang, Garma C.C. A Treasury of Mahayana Sutras, (pág. 415-424). Filadélfia: Pennsylvania State University, 1983. Sutra Requisitado pelo Filho dos Deuses Susthitamati (Sustithamatidevaputra-pariprcchasutra) - Chang, Garma C.C. A Treasury of Mahayana Sutras (pág. 41-72). Filadélfia: Pennsylvania State University, 1983. Sutra Requisitado por Kashyapa (Kashyapaparivartasutra) - Stael-Holstein, Alexander V e Friedrich Weller. The Kashyapaparivarta. Shanghai Commercial Press, 1926. Sutra Requisitado por Surata (Surata-pariprcchasutra) - Chang, Garma C.C. A Treasury of Mahayana Sutras (pág. 243-255). Filadélfia: Pennsylvania State University, 1983.

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Sutra Requisitado por Suvikrantivikrama (Suvikrantivikramapariprcchaprajnaparamitanirdesa) - Conze, Edward. Perfect Wisdom: The Short Prajnaparamita Texts. Londres: Luzac & Co., 1973 (reimpressão Totnes, UK: Buddhist Publishing Group, 1993). Sutra Revelado por Vimalakirti (Vimalakirtinirdesasutra) - Boin, Sara. The Teaching of Vimalakirti. Londres: The Path Text Society Sacred Books of the Buddhists #32, 1976. - Luk, Charles. The Vimalakirti Nirdesa Sutra. Berkeley: Shambhala, 1972 (reimpressão Boston: Shambhala, 1990). - Thurman, Robert A.F The Holy Teaching of Vimalakirti. University Park, Londres: The Pennsylvania State University Press, 1976. Sutra da Semeadura do Arroz (Salistambha) - Reat, N. Ross. The Salistambhasutra. Delhi: Motilal Banarsidass Publishers, 1993. Tantra Insuperável (Uttaratantra) - Holmes, Ken e Katia. The Changeless Nature. Eskdalemuir, Escócia: Karma Drubgyud Darjay Ling, 1985. - Obermiller, E. The Uttaratantra of Maitreya. Acta Orientalia, Vol IX, 1931 (reimpressão Delhi: Indian Books Centre Bibliotheca Indo-Buddhica Series #79, 1991. Talent, Oregon: Canon Publications, 1984). Tesouro do Abhidarma (Abhidarmakosa) - Jha, Subhadra. Abhidharmakosa of Vasubandhu. Patna: K. P. Jayaswal Research Institute, 1983 (apenas trecho em verso). - Poussin, Louis de la Valee (tradução francesa) – tradução inglesa por Leo M. Pruden. Abhidharmakosabashyam. Berkeley: Asian Humanities Press, 1991. Tratado Fundamental do Caminho do Meio (Mulamadhyamakakarika) - Garfield, Jay L. The Fundamental Wisdom of the Middle Way. Nova Iorque: Oxford University Press, 1995. - Inada, Kenneth K. Nagarjuna: A Translation of His Mulamadhyamakakarika. Tóquio: Hokuseido Press, 1970; Delhi: Indian Books Centre Bibliotheca Indo-Buddica Series #127, 1993. - Kalupahana, David J. Nagarjuna: The Philosophy of the Middle Way. Albany: State University of New York Press, 1986. Vinte Preceitos (Samvaravimsakavrtti) - Tatz, Mark. Chandragomin´s Twenty Verses on the Bodhisattva Vow. Dharamsala: LTWA, 1992. Vinte Versos (Vimsakakarika) - Kochumutton, Thomas A A Buddhist Doctrine of Experience. Delhi: Motilal Banarsiddas, 1989.

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LEITURA ADICIONAL SUGERIDA: Gampopa. The Precious Garland of the Sublime Path. Boudhanath, Hong Kong e Arhus: Rangjung Yeshe Publications, 1995. Gyaltsen, Khenpo Konchog. The Great Kagyu Masters. Ithaca: Snow Lion Publications, 1990.

− . In Search of the Stainless Ambrosia. Ithaca: Snow Lion Publications, 1988. − . Prayer Flags: The Life and Spiritual Teachings of Jigten Sumgon´s. Ithaca: Snow Lion Publications, 1988. − . The Jewel Treasury of Advice. Frederick: Vajra Publications, 1997. − . Transforming Suffering. Frederick: Vajra Publications, 1998.

Gyaltsen, Khenpo Konchog e Katherine Rogers. The Garland of Mahamudra Practices. Ithaca: Snow Lion Publications, 1986. Lhalungpa, Lobsang P. The Life of Milarepa. Boston e Londres: Shambhala, 1985. Nalanda Translation Committee. The Life of Marpa the Translator. Boston e Londres: Shambhala, 1986. Stewart, Jampa Mackenzie. The Life of Gampopa. Ithaca: Snow Lion Publications, 1995. TEXTOS DE REFERÊNCIA RECOMENDADOS Coleman, Graham. A Handbook of Tibetan Culture. Boston: Shambhala, 1994. Rigdzin, Tsepak. Tibetan-English Dictionary of Buddhist Terminology. Dharamsala: Library of Tibetan Works and Archives, 1986. Rikey, Thupten e Andrew Ruskin. A Manual of Key Buddhist Terms. Dharamsala: Library of Tibetan Works and Archives, 1992.