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Órgão oficial da Associação Brasileira de Imprensa 349 DEZEMBRO 2009

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Órgão oficial da Associação Brasileira de Imprensa

349DEZEMBRO

2009

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2 Jornal da ABI 349 Dezembro de 2009

DIRETORIA – MANDATO 2007/2010Presidente: Maurício AzêdoVice-Presidente: Tarcísio HolandaDiretor Administrativo: Estanislau Alves de OliveiraDiretor Econômico-Financeiro: Domingos MeirellesDiretor de Cultura e Lazer: Jesus ChediakDiretor de Assistência Social: Paulo Jerônimo de Sousa (Pajê)Diretor de Jornalismo: Benício Medeiros

CONSELHO CONSULTIVO 2007-2010Chico Caruso, Ferreira Gullar, José Aparecido de Oliveira (in memoriam), Miro Teixeira,Teixeira Heizer, Ziraldo e Zuenir Ventura.

CONSELHO FISCAL 2009-2010Geraldo Pereira dos Santos, Presidente, Adail José de Paula, Adriano Barbosa doNascimento, Jorge Saldanha de Araújo, Luiz Carlos de Oliveira Chesther, ManoloEpelbaum e Romildo Guerrante.

MESA DO CONSELHO DELIBERATIVO 2009-2010Presidente: Pery Cotta1º Secretário: Lênin Novaes de Araújo2º Secretário: Zilmar Borges Basílio

Conselheiros efetivos 2009-2012Adolfo Martins, Afonso Faria, Aziz Ahmed, Cecília Costa, Domingos Meirelles, FernandoSegismundo, Glória Suely Álvarez Campos, Jorge Miranda Jordão, José Ângelo da SilvaFernandes, Lênin Novaes de Araújo, Luís Erlanger, Márcia Guimarães, Nacif Elias HiddSobrinho, Pery de Araújo Cotta e Wilson Fadul Filho.

Conselheiros efetivos 2008-2011Alberto Dines, Antônio Carlos Austregesylo de Athayde, Arthur José Poerner, Carlos ArthurPitombeira, Dácio Malta, Ely Moreira, Fernando Barbosa Lima (in memoriam), LedaAcquarone, Maurício Azêdo, Mílton Coelho da Graça, Pinheiro Júnior, Ricardo Kotscho,Rodolfo Konder, Tarcísio Holanda e Villas-Bôas Corrêa.

Conselheiros efetivos 2007-2010Artur da Távola (in memoriam), Carlos Rodrigues, Estanislau Alves de Oliveira, FernandoFoch, Flávio Tavares, Fritz Utzeri, Jesus Chediak, José Gomes Talarico, José Rezende Neto,Marcelo Tognozzi, Mário Augusto Jakobskind, Orpheu Santos Salles, Paulo Jerônimo deSousa (Pajê), Sérgio Cabral e Terezinha Santos.

Conselheiros suplentes 2009-2012Antônio Calegari, Antônio Henrique Lago, Argemiro Lopes do Nascimento (Miro Lopes),Arnaldo César Ricci Jacob, Ernesto Vianna, Hildeberto Lopes Aleluia, Jordan Amora,Jorge Nunes de Freitas, Lima de Amorim, Luiz Carlos Bittencourt, Marcus AntônioMendes de Miranda, Mário Jorge Guimarães, Múcio Aguiar Neto, Raimundo CoelhoNeto e Rogério Marques Gomes.

Conselheiros suplentes 2008-2011Alcyr Cavalcânti, Edgar Catoira, Francisco Paula Freitas, Francisco Pedro do Coutto,Itamar Guerreiro, Jarbas Domingos Vaz, José Pereira da Silva (Pereirinha), Maria doPerpétuo Socorro Vitarelli, Ponce de Leon, Ruy Bello, Salete Lisboa, SidneyRezende,Sílvia Moretzsohn, Sílvio Paixão e Wilson S. J. de Magalhães.

Conselheiros suplentes 2007-2010Adalberto Diniz, Aluízio Maranhão, Ancelmo Góes, André Moreau Louzeiro, ArcírioGouvêa Neto, Benício Medeiros, Germando de Oliveira Gonçalves, Ilma Martins da Silva,José Silvestre Gorgulho, Luarlindo Ernesto, Luiz Sérgio Caldieri, Marceu Vieira, MaurílioCândido Ferreira, Yacy Nunes e Zilmar Borges Basílio.

COMISSÃO DE SINDICÂNCIAJarbas Domingos Vaz, Presidente, Carlos Di Paola, José Carlos Machado, Luiz Sérgio Caldieri,Marcus Antônio Mendes de Miranda, Maria Ignez Duque Estrada Bastos e Toni Marins.

COMISSÃO DE ÉTICA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃOAlberto Dines, Arthur José Poerner, Cícero Sandroni, Ivan Alves Filho e Paulo Totti.

COMISSÃO DE LIBERDADE DE IMPRENSA E DIREITOS HUMANOSOrpheu Santos Salles, Presidente; Wilson de Carvalho, Secretário; Arcírio Gouvêa Neto,Daniel de Castro, Germando de Oliveira Gonçalves, Gilberto Magalhães, Lucy MaryCarneiro, Maria Cecília Ribas Carneiro, Mário Augusto Jakobskind, Martha Arruda dePaiva e Yacy Nunes.

COMISSÃO DIRETORA DE ASSISTÊNCIA SOCIALPaulo Jerônimo de Sousa, Presidente, Ilma Martins da Silva, Jorge Nunes de Freitas, JoséRezende Neto, Maria do Perpétuo Socorro Vitarelli e Moacyr Lacerda.

REPRESENTAÇÃO DE SÃO PAULOConselho Consultivo: Rodolfo Konder (Diretor), Fausto Camunha, George Benigno JatahyDuque Estrada, James Akel, Luthero Maynard, Pedro Venceslau e Reginaldo Dutra.

Jornal da ABINúmero 349 - Dezembro de 2009

Editores: Maurício Azêdo e Francisco UchaProjeto gráfico e diagramação: Francisco UchaEdição de textos: Maurício Azêdo e Paulo Chico

Apoio à produção editorial: Alice Barbosa Diniz,André Gil, Conceição Ferreira, Diogo Collor Jobimda Silveira, Fernando Luiz Baptista Martins,Guilherme Povill Vianna, Maria Ilka Azêdo, Mário Luizde Freitas Borges.

Publicidade e Marketing: Francisco Paula Freitas(Coordenador), Queli Cristina Delgado da Silva,Paulo Roberto de Paula Freitas.

Diretor Responsável: Maurício Azêdo

Associação Brasileira de ImprensaRua Araújo Porto Alegre, 71 - Rio de Janeiro, RJ -Cep 20.030-012Telefone (21) 2240-8669/2282-1292e-mail: [email protected]

Representação de São PauloDiretor: Rodolfo KonderRua Dr. Franco da Rocha, 137, conjunto 51Perdizes - Cep 05015-O4OTelefones (11) 3869.2324 e 3675.0960e-mail: [email protected]

Impressão: Taiga Gráfica Editora Ltda.Avenida Dr. Alberto Jackson Byington, 1.808Osasco, SP

Nesta EdiçãoNesta Edição

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TEXTOS DE PAULO CHICO

O fotojornalismo não acabouPOR ALCYR CAVALCANTI

AlcyrCavalcanti

6

SalvadorScofano

40

AlexandreCassiano

10

André Dusek

14Arnaldo

Carvalho

19

DanielRamalho

25

Daniela Xu

30

Eny Miranda

34MarcoTerranova

37

4

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3Jornal da ABI 349 Dezembro de 2009

O CONJUNTO DE TRABALHOS REUNIDOS nesta edição especial do Jornalda ABI permite uma avaliação fundamentada em riqueza de exemplosda procedência da assertiva de um dos profissionais cuja produção jor-nalística é aqui exibida, o repórter-fotográfico e professor Alcyr Caval-canti, que questiona a ligeireza com que apressados teóricos prenun-ciam ou atestam o fim do fotojornalismo, em razão das prodigiosas ino-vações tecnológicas a que assistimos em nossos tempos.

ACONTECIMENTOS RECENTES APARENTEMENTE dariam razão aos subs-critores desse prévio atestado de óbito do fotojornalismo, como as ma-nifestações e confrontos que se sucedem no Irã desde a eleição que man-teve no poder o atual presidente do país. Com os meios de comunicaçãobloqueados por uma censura rigorosa e por impiedosa repressão policiale militar, os oposicionistas iranianos não poderiam dar aomundo uma idéia da dimensão de seu inconformismo nãofora a existência de câmeras acopladas a celulares que mos-traram além das fronteiras do Irã o que então ocorria e aindaocorre. No dizer desses candidatos a coveiros do fotojorna-lismo, bastariam esses episódios, assim como outros quepoderiam ser arrolados para sustentar a tese, como provavigorosa de que, como diz a linguagem popular, o fotojor-nalismo já era.

OS QUE BRANDEM ESSE EXEMPLO omitem proposital-mente que coberturas como essas que relatam os confli-tos no Irã têm um forte travo de excepcionalidade, dadoo grau de violência presente nessas manifestações e so-bretudo na repressão com que o Governo do Irã buscoue busca reprimi-las. O uso de câmeras dessa caraterística,

Desmentindo os que dãopor morto o fotojornalismo

EDITORIAL

ali, resulta da adversidade, da impossibilidade do emprego regular, abertoe ostensivo de equipamento fotográfico, mas não tem o caráter de fo-tojornalismo, de reportagem fotográfica. Esta tem uma abrangência eum teor de presença que não podem ser substituídos pelo amadorismo,pelo desprendimento da adesão idealista a uma causa. Pode-se fazer nessecaso, e se faz, uma denúncia e um registro histórico, repassado de cargadramática, mas não uma reportagem fotográfica.

EM SUA SUSTENTAÇÃO, dissociada de qualquer preocupação corpora-tiva, Alcyr Cavalcanti observa que a fotografia jornalística tem uma lin-guagem própria, obedece a regras originárias da pintura, e é o respeitoou não a essas normas que confere maior ou menor qualificação ao trabalhojornalístico executado por esses profissionais especializados.

ESTA EDIÇÃO ESPECIAL OFERECE, portanto, uma ex-cepcional massa de trabalhos produzidos no dia-a-diade sua atividade por profissionais que dominam as téc-nicas de manuseio dos equipamentos de que dispõem,captam a sensibilidade da notícia, sabem da importânciaque o registro ou complemento gráfico têm para avalorização do texto jornalístico e contam, sobretudo,com a paixão de fazer jornalismo sob o ângulo espe-cífico que lhes cabe. Esse é o diferencial que, dissentin-do do que assoalham aves de mau agouro, comprovaque o fotojornalismo não morreu. Ao contrário: exibevitalidade, como a encontrada nestas páginas.

A foto de Cássia Eller amamentando seu filho Chicão na Praia de Ipanema foi capa da revista Domingo, do Jornal do Brasil. O autor, Marco Terranova, é um dos profissionaisfocados nesta edição especial, que também apresenta o trabalho de duas fotógrafas: Daniela Xu, que clicou a agricultora Elsomina Fantin reaproveitando a água depois de um

período de seca em São Marcos, RS, e Eny Miranda, que participa de um projeto junto às comunidades ribeirinhas da Amazônia, onde fez o registro da menina brincando.

MAURÍCIO AZÊDOPRESIDENTE DA ABI

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4 Jornal da ABI 349 Dezembro de 2009

O fotojornalismo acabou. O fotojor-nalismo está morto. São sentenças quechegam diariamente aos nossos olhose ouvidos e de tanto serem repetidas seassemelham a uma verdade definitiva.Orquestrada e repetida maciçamentetorna-se um simulacro de verdade,deixando uma dúvida no ar: “A queminteressa a morte do fotojornalismo”?.

O fotojornalismo não é uma entidadeabstrata. É um segmento da fotografiainserido no jornalismo, que está inseridono campo da cultura, que, segundo Pi-erre Bourdieu, é um espaço de relaçõesentre grupos com distintos posiciona-mentos sociais, sendo também um es-paço de disputas e jogo de poder.

A cultura está sendo colocada em de-suso, estando imersa na crise geral docapital, que tem afetado todos os paí-ses, num efeito perverso da globaliza-ção. Os jornais estão perfeitamente in-seridos na economia capitalista e aospoucos vão se transformando em “fábri-cas de notícias” visando somente o lu-cro. A informação não é um discursoque vise a informar no pleno sentidoda palavra; tem um sentido meramentecomercial e passa a funcionar dentro darelação custo-benefício”;transforma-se no aparatoideológico da globalização,repetindo no noticiárioum modelo a ser seguido.

A informação para terlucro máximo precisa tra-balhar em ritmo ultra-ace-lerado, fazendo um jorna-lismo de imediatismo, ondea melhor notícia é a quechega primeiro, contribu-indo para isso a omissãodos editores que confun-dem informação, um bemcultural, com indústria, nãose importando se a fonte éconfiável ou não.

A fotografia jornalísticacomo toda fotografia temuma linguagem própria,obedece às regras oriundasda pintura que são freqüen-temente ignoradas, passa aexigir avanços tecnológicosna transmissão de dados,podendo levar a meras ilus-trações visuais, acessóriasda matéria a ser publicada.

Qualquer um se julga fotógrafo, po-rém se esquecendo de que nem todospodem ser fotojornalistas, ou seja, jor-nalistas 24 horas por dia, lutando e vi-sando informar, sabendo que a imagempublicada poderá vir a ser um docu-mento para a História, daí a sua impor-tância mas sobretudo a sua responsa-bilidade como um formador de opinião.

Alcyr Cavalcanti, repórter-fotográfico e professoruniversitário, é membro do Conselho Deliberativo daABI e Secretário-Geral da Associação dos Repórteres-Fotográficos e Cinegrafistas do Rio de Janeiro-Arfoc.

REFLEXÕES

O fotojornalismo não acabouPOR ALCYR CAVALCANTI

EM UM UNIVERSO DE FOTOS E IMAGENS MUDAS QUE NADA REPRESENTAM, NÓS

LUTAMOS POR IMAGENS QUE FALAM POR SI MESMAS, QUE NOS CONTAM NOSSA

HISTÓRIA, NOSSO MUNDO TAL QUAL ELE É, SEM FILTRO. Christian Gauffre

Para Jean François-Le Roy, diretor domais importante festival de fotojorna-lismo do mundo, realizado há vinteanos em Perpignan, na França, o VisaPour L’Image afirma:

“Há vinte anos a imprensa era diri-gida por jornalistas, agora os jornais sãodirigidos por banqueiros, que só falamem lucro, e na relação custo-benefício”.

De qualquer forma para nós fotojorna-listas, os verdadeiros “caçadores de ima-gens”, o fotojornalismo está mais vivo doque nunca. Continuaremos “correndoatrás da notícia” procurando a verdadepor detrás das aparências, apesar de malremunerados, indesejados pelos gover-nantes, pelo aparato repressivo de Es-tado e pela bandidagem que corre à soltapela outrora Cidade Maravilhosa.

A confiabilidade nem sempre é um fa-tor decisivo, e a tecnologia digital per-mite manipulação de dados que po-dem não corresponder à situação so-cial que foi enfocada. Aí reside o peri-go. Há dez anos a NPPA (National PressPhotographers Association), que con-grega os principais fotojornalistas nor-te-americanos, publicou documento,

adotado pela Arfoc, estabelecendo re-gras visando à não manipulação deimagens, principalmente em noticiá-rio (“hot news”).

Nessa relação de forças a fotografiacomo notícia perde espaço para a co-bertura de celebridades e de sua vidaíntima, daí a proliferação dos paparazzie de publicações especializadas.

Nestas fotos, a marca de Alcyr Cavalcanti:“A mão com a arma e a grande manchade sangue misturada com sujeira meimpressionou muito. Faz lembrar petróleo,tal a densidade do sangue coagulado. Éuma das minhas fotos mais publicadas efaz parte da sequência premiada pelaKodak/Fenaj em 1988. Também no finalda década de 80 fiz a foto ao lado para aTribuna da Imprensa. Graças a algunscontatos consegui entrar no Complexo daFrei Caneca e registrei a comemoraçãoda “eleição” de Gregório Gordo parapresidente do Comando Vermelho”.

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Da tela dos cinemas para alente das máquinas. Esse foi ocaminho percorrido por AlcyrCavalcanti, repórter fotográ-fico desde 1971, ano de sua es-tréia em O Fluminense. “Eu eraapaixonado por cinema. Fizcurso de direção cinematográ-fica no Mam, o Museu de ArteModerna, onde também era le-cionada fotografia. Aprendi afotografar e logo optei pelo fo-tojornalismo”, recorda ele, que,aos 68 anos e quase há quatrodécadas de câmeras em punho,passou por diversos veículos,como Correio da Manhã, Últi-ma Hora, Diário de Notícias,Editora Vecchi, O Globo, IstoÉ,Tribuna da Imprensa, Jornal doBrasil, O Dia, Estadão, Folha deS.Paulo, Lance e Placar.

Quase tão vasta quanto onúmero de locais em que traba-lhou é a sua formação acadêmi-ca. Alcyr é formado em Filoso-fia pela Uerj (na época, chama-da Universidade do Estado daGuanabara) e mestre em An-tropologia pela Uff (Universi-dade Federal Fluminense). Éprofessor do Instituto de Hu-manidades da Cândido Men-des e mantém seus laços coma fotografia atuando como fre-elancer. Na ditadura militar,emprestou seu talento a títulos

da imprensa alternativa, com linha con-testadora, como O Pasquim. Atuou emO Repórter e no Jornal Inverta, semaná-rio marxista-leninista, em sintoniacom sua formação política.

E é justamente por este viés, o polí-tico, que ele analisa as característicasde cotidiano dos fotojornalistas ao lon-go dos últimos 40 anos.

“Comecei na época da ditadura,quando havia censura e tudo era proi-bido. Havia muita cobrança e explora-ção quanto ao horário, com hora mar-cada para entrar e não para sair, numarotina diária mínima de dez horas.Hoje, temos muita concorrência, devi-do a um desemprego estrutural, o de-safio de adaptação às novas tecnologiase um descrédito generalizado entretodos nós, motivado pelo péssimoexemplo dos chefes da nação. Vide sóBrasília, nossa ‘Ilha da Fantasia’ e dacorrupção”, aponta Alcyr.

Uma produção de qualidade, no casodo fotojornalismo, procura mostrarcom clareza a situação social, sem sub-terfúgios e sem falsear a realidade com

ALCYR CAVALCANTI

“O repórter-fotográfico éum formador de opinião”

REMOÇÃO DE FAVELADOS

31 DE DEZEMBRO

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7Jornal da ABI 349 Dezembro de 2009

AS FOTOS

critérios pseudo-artísticos. É a partirdessa definição própria que ele acon-selha aos jovens que pensam em seguira profissão.

“Fotografem muito, sejam dedica-dos ao seu ofício e mantenham-se sem-pre nos princípios da ética. Tenham emmente a responsabilidade da imagem,pois o repórter fotográfico é um forma-

dor de opinião, faz retratos da realida-de. A sorte é fator essencial em tudo.Mas é preciso saber aproveitá-la, domi-nando bem a ferramenta que as fábri-cas modificam a cada seis meses, estan-do sempre aptos a ‘clicar’ no momen-to exato”, ensina.

Se, por um lado, vivemos na era daimagem, por outro, nem sempre elas,

e seus autores, são devidamente reco-nhecidos nos grandes jornais.

“De uns anos para cá, talvez a par-tir de década de 1980, as fotos passa-ram a ganhar mais espaço na mídiaimpressa. Muitas vezes, ocupam apágina inteira. Em contrapartida, qual-quer um se julga fotojornalista e oseditores preenchem as páginas com

qualquer subproduto, devido ao deadli-ne, que de fato é uma linha mortal. Énecessário, a qualquer custo, fecharnaquele horário determinado, pois asRedações se transformaram em fábri-cas de notícias”, lamenta.

Provocado a escolher alguns entretantos filhos já registrados, Alcyr apon-ta imagens que marcaram sua carrei-

REMOÇÃO DE FAVELADOSFeita em 1982 para o jornal O Globo, esta foto faz partede uma seqüência de quatro imagens publicada peloeditor Pinheiro Júnior. Enviei as fotos para um concursoem Havana, Cuba, pela Casa de las Americas. A seqüênciafoi premiada.

31 DE DEZEMBROA solidão de um final de ano em Copacabana às 10 horasda manhã.

A QUEDA NO MARACANÃTrabalhava no JB na final do Campeonato Brasileiroem 1992. Foi um instante decisivo, muito rápido. Sóeu e Hipólito Pereira registramos esse momento trágicoembora mais de oitenta fotógrafos estivessem emcampo cobrindo o jogo. A grade cedeu e centenasde torcedores caíram devido à superlotação daarquibancada, com um saldo de dezenas de feridose 4 ou 5 mortes.

A QUEDA NO MUNICIPALAconteceu em um dos aniversários do Teatro Municipal:a bela jovem rolou pela escadaria, mas não perdeu aelegância. O Globo publicou duas fotos e o acompanhanteda jovem foi até o jornal, não para reclamar, mas paracomprar as fotos para guardar como lembrança. Elesficaram felizes pelos segundos de fama!

A QUEDA NO MARACANÃ

A QUEDA NO MUNICIPAL

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8 Jornal da ABI 349 Dezembro de 2009

ra. A Queda no Maracanã (1992), aextensa Reportagem na Rocinha(“onde fiquei por dez dias, em 1988”),a Greve Geral (em 1989), a seqüênciade mendigos (“que me rendeu um pro-cesso na Polícia Federal”), e a Campa-nha das Diretas (1984). Vale destacarainda os atos de vandalismo e quebra-quebras feitos pelo tráfico (em 2002),a Operação Rio (de 1995) e o Baile doTeatro Municipal do Rio (em 1975),que acabou em pancadaria, às 5 damanhã”, enumera.

Alcyr é jurado em concursos (Esso eEmbratel) e recebeu prêmios como oKodak-Fenaj, em 1988, com Ensaio So-bre Violência Urbana. Em 1982 destacou-se no Casa de las Americas, em Hava-na, Cuba. Em 1993, foi eleito Melhor Fo-tógrafo pela Associação de CronistasEsportivos do Rio de Janeiro-Acerj. Teveatuação elogiada à frente da AssociaçãoProfissional dos Repórteres Fotográfi-cos e Cinematográficos-Arfoc. O reco-nhecimento a seu talento é até previsí-vel. A surpresa surge mesmo é na últi-ma pergunta da entrevista.

‘Se não fosse fotógrafo, você seriao que?’

Ao que ele responde.“Guitarrista de uma banda de rock

em Londres, de preferência, ou dj deboate da moda. Ou, talvez, seguindosábio conselho do Silvio Tendler, di-retor de filmes ‘B’ nos Estados Uni-dos”, dispara, em mais uma dentre asmilhares de revelações feitas ao lon-go da carreira.

ALCYR CAVALCANTI

ANO VELHO ANO NOVO

VIA ÁPIA NA ROCINHA

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9Jornal da ABI 349 Dezembro de 2009

AS FOTOS

ANO VELHO, ANO-NOVOFui a Salvador fotografar as festasde Santa Bárbara e Conceição daPraia em dezembro de 1971 pelojornal O Fluminense e registrei essaimagem em uma das igrejas dacapital baiana.

VIA ÁPIA NA ROCINHAFui indicado para reforçar a equipedo JB para registrar as escaramuçasna Rocinha após o assassinato deuma líder comunitária emnovembro de 1987. A equipe doJB era excepcional, formada porfotógrafos de primeiríssima linha.Figuei ligado e fui fotografandotudo o que via pela frente. Oeditor de fotografia AlbertoFerreira, talvez o melhor que oBrasil já teve, publicou essa fotocom destaque na capa do recém-criado caderno Cidade. Naquelaépoca eu já era um fotógrafoexperiente, mas me sentia umnovato frente aos colegas do JB.

CRIANÇAS NO VALÃOA sedução pelas armas,verdadeiros fetiches para ascrianças das favelas. Estavaciceroneando jornalistasholandeses em 1988 quando vi acena, que foi muito rápida, efotografei instantâneamente.

RUA UM, FAVELA DA ROCINHAFoi no primeiro dia de umatemporada na Rocinha onde orepórter Jorge Barros e euresidimos por dez dias paraverificar in loco a guerra entre onarcotráfico e o jogo do bicho. Afoto foi feita em 20 de janeiro de1988 e o JB a publicou nummemorável Caderno B com otítulo Rocinha S.A. A foto faz partede uma seqüência premiada noPrêmio Kodak-Fenaj em 1988.

EXÉRCITO INVADE ROCINHAA foto foi feita em 2008 numa dasinúmeras incursões do Exécito nasfavelas do Rio de Janeiro.

EXÉRCITO INVADE ROCINHA

CRIANÇAS NO VALÃO

RUA UM, FAVELA DA ROCINHA

Jornal da ABI 349 Dezembro de 2009

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O processo de apuração dos perfisdos fotojornalistas aqui retratados nãodeixa dúvidas. Para todos eles, uma boaimagem vale mais do que mil palavras.De alguns, aliás, obter algumas poucaspalavras é uma tarefa e tanto. Foi umpouco assim com Alexandre Cassiano.As respostas sucintas às perguntas en-viadas no primeiro e-mail não deixa-ram escapatória. Houve a necessidadede questões complementares para darcorpo à matéria, solicitação pronta-mente atendida pelo fotógrafo de OGlobo. Nada de má vontade, longe deser preguiça. Economizar nas palavras,neste caso, é comportamento colateralnatural de quem está acostumado a secomunicar por meio das imagens.

“Eu sempre gostei de imagens. Quan-do tinha uns 17 anos um primo meume chamou pra fazer o curso do Senac,mas logo descobrimos que não tínha-mos dinheiro para comprar a câmeranecessária para a inscrição. Em 1993,um colega de trabalho tinha umamáquina semiprofissional e me falounovamente do curso. Depois de demi-tido, não tive dúvidas e após algunsmeses de curso apareceu a oportuni-dade de fazer uma espécie de estágiono O Povo, onde fiquei por um ano emeio. Já com o registro profissionalnas mãos fui fazer um frila apenas defim de semana no O Dia, e lá fiquei porsete anos”, conta Alexandre, 39 anos,15 de profissão.

Os flagrantes esportivos são mesmoo ponto forte do trabalho do repórter

ALEXANDRE CASSIANO

fotográfico. Um nicho que coincidiucom seu gosto pessoal.

“Sou apaixonado por esportes. E, decerta forma, atuar nesta área foi esco-lha minha. E muito por incentivo deuma pessoa que faço questão de citar

o nome, o Eurico Dantas, na época deO Dia. Ele era chefe por lá quando ini-ciava minha carreira. Como fotógrafode esportes, sempre me dava boas di-cas e me escalava para pautas dessetipo, para que eu treinasse mais. Fui

gostando e melhorando tecnicamente.No primeiro jogo que cobri no Mara-canã, um Flamengo x Vasco, publiqueiseqüência de quatro fotos de um dosgols do Edmundo. Depois, passei a serescalado em outros jogos e para via-

VITÓRIA RUBRO-NEGRA

VITÓRIA NO TURFE

Quando a imagem falamais que mil palavras

Quando a imagem falamais que mil palavras

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VITÓRIA RUBRO-NEGRANa final do Campeonato Estadual deFutebol do Rio de Janeiro deste ano,o goleiro Bruno comemora a defesade um pênalti que deu a vitória aoFlamengo.

VITÓRIA NO TURFENo Grande Prêmio Brasil de Turfede 2007, o jóquei Vagner Lealcomemora ao vencer a corridamontando L'Amico Steve.

BASQUETE DE RUAJogo embaixo do viaduto Negrão deLima, em Madureira, Rio de Janeiro.

CORRIDA DE OBSTÁCULOSTroféu Brasil de Atletismo 2009 noEngenhão, Rio de Janeiro. Prova dos3.000 m com obstáculos.

PARAATLETATreino de paraatletas no Engenhão,durante o ParaPan 2007.

gens, sendo a primeira um Corinthiansx Flamengo, no Morumbi. Conhecipraticamente todo o Brasil, vários pa-íses da América do Sul e Europa, alémda Antártica”, conta.

Há peculiaridades no fotojornalismoesportivo? Essas fotos exigem maioracuidade por parte do profissional, alémde melhores equipamentos?

“Elas exigem mais concentração,pois tudo acontece em um tempo de-terminado, que é o de duração da pro-va ou do jogo. Em alguns esportes issosignifica alguns segundos; se você osperde, dança... Exigem o conhecimentodas regras de cada esporte, para quevocê saiba o melhor posicionamentopara a foto que deseja. Mas acho queo maior grau de dificuldade está nautilização de lentes específicas, comoas teleobjetivas, e operar, em algumassituações, mais de uma câmera aomesmo tempo, além de lidar com apressão de não poder perder nenhumlance. E do desafio de conseguir a boafoto de um ângulo novo, que é o maisdifícil”, responde Alexandre Cassiano.

Não por acaso as coberturas espor-tivas são as favoritas dele.

“Eu destacaria a Copa de 98, reali-zada na França, e as Olimpíadas de Pe-quim. Mas como melhor clique achodifícil destacar um. Depois de publi-cado um trabalho, você só pensa napróxima melhor foto. E é complicadodefini-la. Cada foto tem sua peculia-ridade. Mas, falando do aspecto téc-nico, a boa foto pode ser aquela quereúne elementos básicos, como umbom enquadramento, foco adequado,luz correta. É justamente a busca porisso que me move. É conseguir a me-lhor foto todos os dias. Considero issoo maior estímulo da profissão, e é oque a torna fascinante”.

Como dica aos novatos, que pensamem seguir a profissão, Alexandre des-taca alguns procedimentos.

“É preciso ter comprometimento ededicação ao que se faz, para se man-

AS FOTOS

BASQUETE DE RUA

PARAATLETA

CORRIDA DE OBSTÁCULOS

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ter atualizado e preparado para qual-quer trabalho. E, principalmente, nun-ca desistir, pois a próxima pode ser amelhor foto da sua vida”, aconselha ele,que ainda faz uma crítica ao mercado.

“O fotógrafo hoje está mais valoriza-

do. Até porque o perfil desses profissio-nais mudou bastante nos últimos anos.Mas sinto falta de um olhar voltado paraos cliques de esportes. Praticamente nãoexistem concursos ou premiações parafotos desta editoria”, reclama.

DERROTA BRASILEIRA

ROMÁRIO NA SELEÇÃO

PÉ TORTO

CAMPEÃO

ALEXANDRE CASSIANO

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13Jornal da ABI 349 Dezembro de 2009

AS FOTOS

DERROTA BRASILEIRAContraste entre alegria dos jogadoresfranceses e a tristeza de Ronaldo na finalda Copa de 98, em Paris.

ROMÁRIO NA SELEÇÃOAmistoso entre Alemanha e Brasil nacidade de Stuttgart, na Alemanha.

CAMPEÃOFinal da Taça Guanabara de 2006 entreBotafogo e América, Dodô segura a taça.

PÉ TORTOO jogador Luciano Almeida com o pétorto após dividida no jogo doCampeonato Brasileiro de 2007 entreBotafogo e Sport no Engenhão.

TREINO DA SELEÇÃOCena de riqueza plástica: treino daseleção olímpica brasileira na cidade deQinhuangdao, China

CORUJAS NO AUTÓDROMOCena inusitada: uma família de corujas nocomplexo esportivo do autódromo duranteas obras para o Pan-Americano do Rio.

VÔLEI NA CABEÇATorcedor num jogo de vôlei feminino noMaracanãzinho no Pan 2007.

SINCRONIZADOAinda no Pan do Rio, Seleção americanade nado sincronizado se apresenta noParque Aquático Maria Lenk.

TREINO DA SELEÇÃO

VÔLEI NA CABEÇA

CORUJAS NO AUTÓDROMO

SINCRONIZADO

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Uma questão de família. Assim afotografia está associada à trajetória deAndré Dusek. “O meu avô materno,húngaro radicado no Brasil, era arqui-teto e gostava de música e de fotos. Eunão o conheci, ele morreu um ano an-tes de eu nascer. Mas tenho fotografi-as dele tocando violoncelo e tambémum auto-retrato feito num espelhosegurando uma câmera Voigthlanderde chapa da década de 20. Essa câme-ra eu tenho até hoje. E ela ainda funci-ona com um ‘back’ para filmes 120.Meu pai, checo naturalizado brasilei-ro, é pintor, escultor e gravador e sem-pre fez fotografias como amador. Eleampliava suas fotos num velho labo-ratório em casa. Eu o acompanhava naluz vermelha da sala escura e achavaum barato ver a imagem aparecendoimersa na banheira”, recorda.

A influência da família não paroupor aí. Por sinal, está bem conservada,com artigos do passado presentes atéos dias de hoje.

“Meu pai nos fotografou, a mim e ameus irmãos, quando éramos crianças,e guarda esses negativos até hoje. Omeu tio, irmão de meu pai, era fotógra-fo e cinegrafista. Eu cresci cercado dequadros e fotos por todos os lados evendo os álbuns de família. Tenho ál-buns desde o século XIX. Minha pri-meira câmera foi uma Tuka de plásti-co de filmes 127. Só aprendi fotogra-fia seriamente com o meu pai já emBrasília, em 1975, no mesmo laborató-rio montado em casa”, conta Dusek,numa referência ao primeiro professor.

“A fotografia é uma forma de expres-são popular. É relativamente fácil foto-grafar e todo mundo tem, por pior queseja, uma câmera ou um celular para re-gistrar sua família, seus amigos e a vida.

ANDRÉ DUSEK

A arte da fotografiacomo herança de família

AS FOTOS

SEM JEITOO então Presidente José Sarneyparece um estranho no ninho nestafoto entre os seus ministrosmilitares, numa cerimônia no qg doEstado-Maior das Forças Armadas.

CACIQUESO Deputado Ulisses Guimarães e ocacique Raoni em Brasília durante aAssembléia Nacional Constituinteem 1988.

SERRA PELADAA imensidão de Serra Peladaimpressiona. Fui o primeiro fotógrafoda imprensa brasileira a registrar odrama daqueles garimpeiros. Vimuita miséria e loucura no garimpo.

CACIQUES

SEM JEITO

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SERRA PELADA

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Além disso, é uma forma de expressão uni-versal, pois todos a entendem, não é pre-ciso ter tradução. Se a pessoa é analfabe-ta, não lê o texto, mas vê as fotos e de certaforma recebe a mensagem”, acredita.

Por isso mesmo, diz Dusek, uma boafotografia, antes de ser esteticamenteboa, precisa informar, contar uma his-tória. Servir à matéria jornalística. Depreferência, sem depender da legenda.

A formação acadêmica ocorreu na gra-duação em Comunicação da Universida-de de Brasília, onde ingressou em 1976.

“Na época, não havia professor de fo-tografia e fui me aperfeiçoando com oslaboratoristas do departamento. Faziafotos e escrevia textos para jornais delaboratório. Comecei a fotografar em1975, e meu primeiro trabalho profis-sional, antes de me formar, foi para umjornal do MDB, chamado Campanha,em Catalão, Goiás, em 1978. Logo depoisfui trabalhar quase de graça na sucursalBrasília da Bloch, para as revistas Man-chete e Fatos & Fotos. Durante um tem-po, fazia textos e fotos. Fazia tudo. Quan-do resolveram me contratar me pergun-taram se queria ser repórter de texto oufotográfico. Embora goste de escreveraté hoje, optei pela fotografia”, diz.

A partir de então, muitos foram osveículos que contaram com o trabalhodeste carioca, nascido em 1956.

“Fui fotógrafo do Correio Braziliensede 1980 a 1982, presidente da União dosFotógrafos de Brasília, e membro daagência Agil Fotojornalismo, de 1982 a1989. Trabalhei na Agência Estado e nojornal O Estado de S. Paulo, de 1988 a1994. De 1994 até 2006, fui repórterfotográfico da IstoÉ, sucursal de Brasí-lia. Em 2006, voltei a integrar a equi-pe de fotógrafos do Estadão em Brasí-lia”, lista ele, que recebeu o título de ‘Jor-nalista Amigo da Criança e do Adoles-cente’, concedido pela Agência de No-tícias dos Direitos da Infância-Andi.

“Tenho vários momentos marcantes.Fui o primeiro fotógrafo a fazer uma re-portagem no garimpo de Serra Pelada,no seu auge, em 1980. Tive a oportuni-dade de acompanhar o Major Curió eacabei fazendo uma grande matéria querendeu duas primeiras páginas no Cor-reio Braziliense. Mas a minha melhorfoto foi feita em 1989. Fui com a repór-ter Eliana Lucena, pelo Estadão, acom-panhar uma equipe de saúde da Funainuma missão no Rio Cuminapanema,Norte do Pará. Lá existia uma aldeia deíndios isolados, os Zoés, que estavamdoentes após contato com missionári-os brancos. Um dia, eu e o cinegrafistaGustavo Hadba, de uma tv alemã, segui-mos um índio que saiu pra caçar. Elelevava um arco e duas flechas. No mo-mento em que foi atirar a primeira de-las, como estava nu, não tinha aonde co-locar a segunda, e a posicionou entre aspróprias pernas. Fiz várias fotos. Alémde plasticamente bonita, ficou engraça-da, pois a primeira impressão que setem é que a flecha está ‘enfiada’ e nãoapenas colocada entre as pernas. É umafoto polêmica e que desperta a curiosi-dade de todos os que a vêem”, conta.

IMPLOSÃO

CHEGA DE CORRUPÇÃO!

ANDARILHOS

ANDRÉ DUSEK

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AS FOTOS

IMPLOSÃORegistro da implosão do esqueleto de um prédio de 12andares na beira do Lago Paranoá em 2007, cuja obra estavainterditada há 19 anos. Ao fundo, o Congresso Nacional.

CHEGA DE CORRUPÇÃO!Manifestação de estudantes e sindicalistas em 2005 contra acorrupção e contra o Governo Lula no lago em frente aoCongresso Nacional.

ANDARILHOSQuatro cegos andam juntos em Gaza, na Palestina, em1982.

ABANDONOEm 1990, a foto dos meninos Crenacarore, uma das tribos doParque Nacional do Xingu, revela o drama de miséria eabandono em que vivem as populações indígenas brasileiras.

CLUBE DA LUTAUma cena lamentável protagonizada por parlamentares em1984: Agnaldo Timóteo, à época deputado federal, envolvidonuma briga no Comitê de Imprensa da Câmara dos Deputados.

PEDALANDODurante a greve de peões de 1980, em Taguatinga Sul,Brasília, a imagem do ciclista cercado pela força policial.

O CAÇADORA foto mais comentada e que desperta a curiosidade de todos:o índio da tribo Zoé caça com duas flechas.

ABANDONO

CLUBE DA LUTA

O CAÇADOR

PEDALANDO

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AS FOTOS

O ÚLTIMO DISCURSOFidel Castro, em sua últimaaparição pública antes de ficardoente, discursa naUniversidade de Córdoba,Argentina, em 2006.

CARROÇAUm carroceiro catador de lixo epapel passa no fundo doPalácio do Planalto, perto daDivisão de Transportes daPresidência, em Brasília.

O ELEITOA satisfação de Tancredo Nevese seus correligionários noCongresso Nacional no dia emque foi eleito, pelo ColégioEleitoral, Presidente do País.

GUARDA-CHUVAA difícil tarefa de sair doônibus escolar durante umaenxurrada na rua principal daCidade Satélite do Itapoã, emBrasília, no ano passado.

HERÓIS DO PENTAA Seleção Brasileira de Futebol,pentacampeã mundial em2002, é recebida com festa naPraça dos Três Poderes emBrasília.

CARROÇA

O ÚLTIMO DISCURSO

O ELEITO

GUARDA-CHUVA

HERÓIS DO PENTA

ANDRÉ DUSEK

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Bastaria um único e recente motivopara justificar a presença de ArnaldoCarvalho nesta seleção de fotojornalis-tas. O Editor-Assistente de Fotografiado Jornal do Comércio do Recife, PE, ondecomeçou como estagiário em 1997, re-cebeu o Prêmio Esso de 2009, em sole-nidade realizada na noite de 8 de dezem-bro, no Hotel Copacabana Palace, noRio. O trabalho premiado, Exilados naFome, foi realizado em reportagem fei-ta ao longo de 15 dias, com passagenspelos locais mais pobres do Nordeste.

“É muito gratificante ganhar umprêmio como esse, ainda mais porqueé o primeiro jornal de Pernambuco avencer essa categoria. É importantedestacar, porém, que esse trabalho é detoda a equipe do JC Imagem, que cum-pre a função social importante demostrar a realidade aos leitores”, dis-se Carvalho na solenidade de premia-ção. “Prêmios são importantes, pois são

ARNALDO CARVALHO

Num clique, arevelação das

mazelas sociaisreconhecimento. O Esso tem a mesmaimportância, para jornalistas brasilei-ros, que o Pulitzer para nossos colegasnorte-americanos. Mas temos que man-ter os pés no chão, tocar o trabalho emfrente. Só estamos cumprindo a nossafunção. O verdadeiro prêmio é ajudaras pessoas com nosso trabalho”, concluio fotógrafo, de 37 anos.

Denunciar a dura realidade social doBrasil pode render a satisfação do devercumprido, como bem ressaltou o pro-fissional do JC, que em sua carreira re-cebeu também o Prêmio Cristina Tava-res 2008 e o Prêmio Sinduscon 1999. Mastambém tira o sono e provoca revolta.

AS FOTOSDuas fotos para matéria especial sobrea fome no Nordeste: família da zonarural de Guaribas, cidade símbolo doFome Zero no sertão do Piauí, egaroto desnutrido morador de Ouricuri.

FOME ZERO

DESNUTRIÇÃO

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“Sem sombra de dúvidas, essa imagemque ganhou o Esso foi a mais impactan-te da minha trajetória. Fiquei com elabombardeando a cabeça durante sema-nas... Deitava para dormir, fechava osolhos e ela vinha na mente. A coberturasobre a fome foi a mais desgastante quejá fiz, tanto fisicamente quanto psicolo-gicamente. É impossível passar incólumepor isso tudo; isto é, sua vida não mudarapós realizar uma pauta com essa profun-didade”, emociona-se.

Desde o início, fazer de sua câmera uminstrumento feroz de crítica social foi aproposta de Arnaldo Carvalho.

“O que me atraiu na fotografia foi apossibilidade de comunicar, através daimagem e da utilização da mesma. Fazerdisso uma poderosa ferramenta para de-nunciar as questões sociais. Ao ingressarna faculdade de Jornalismo, antes de pa-gar a cadeira de Fotojornalismo, já sabiaque queria mesmo seguir por este cami-nho”, resume.

Mas o que faz um bom fotógrafo?Quais elementos são de fato decisivospara compor uma carreira de sucesso?

“A sorte é fundamental, mas não adi-anta ter sorte se você não estiver prepa-rado para registrar o fato quando a ‘jane-la’ se abrir pra você. Do mesmo jeito queexistem crimes premeditados, existemfotos premeditadas. Você fica olhandopelo visor da câmera e mentalizando quedeterminada coisa ou ação vai acontecer,e pimba, acontece mesmo. Comigo mes-mo já aconteceu várias vezes”, conta.

Para os novatos, a dica é só uma. “Vejamuita foto e pratique muito, sem medode errar. O medo de errar, às vezes, nosimpede de acertar”.

E o que é acertar, em termos de foto-jornalismo?

“Só dá pra definir uma boa foto vendo-a, descrever em palavras é difícil. Para

ARNALDO CARVALHO

LUZES DA ESCURIDÃO

LIGHT PAINTING

REVERÊNCIA

VAQUEIROS

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mim, uma boa foto tem de transmitiremoção e informação. Nós somos os olhosdos nossos leitores, testemunhas ocula-res dos acontecimentos. Estamos ajudan-do a contar e a registrar a história do nos-so tempo. Daí a importância e responsa-bilidade desse trabalho”, aponta.

Uma atividade profissional que não ra-ramente sofre com diversos percalços co-tidianos.

“A maior dificuldade é a quantidade depautas que muitas vezes temos de fazerdurante o dia. Às vezes, não temos tem-po de trabalhar bem uma foto. Já sofri atéuma agressão por ocasião da primeiracassação de um deputado estadual, aquide Pernambuco. Ao sair da AssembléiaLegislativa, pela porta dos fundos, osseguranças dele me agrediram, pois euestava só. Os companheiros dos outrosveículos apostaram na porta da frente eeu corri para a outra, apostando que elesairia por lá. Apanhei, quebraram o flashda máquina... Mas no outro dia só nósdemos a foto grande na capa do deputa-do com a mão no rosto. E, em letras gar-rafais, a sentença: cassado.”

LIGHT PAINTINGUma potente lanterna ilumina umacasa sem energia elétrica nointerior de Pernambuco.

LUZES DA ESCURIDÃOMais uma foto para o especialsobre a fome retrata a extremapobreza de uma família de Ipubi,no sertão de Pernambuco.

REVERÊNCIAO Presidente Fernando HenriqueCardoso gesticula durante acerimônia do Projeto Alvorada, noPalácio do Campo das Princesas,em Recife, em 2001.

VAQUEIROSMissa do vaqueiro em Serrita,interior de Pernambuco.

LAMENTOO olhar sofrido de uma moradora daSerra dos Cafundó, sertão do Ceará.

CHORO DO BEBÊExilados na Fome: foto vencedorado Prêmio Esso 2009.

TRAGÉDIA NO CIRCOA imagem de um dos cinco leõesdo Circo Vostok que atacaram edevoraram um menino de 6 anosno Recife em abril de 2000.

AS FOTOS

LAMENTO

CHORO DO BEBÊ

TRAGÉDIA NO CIRCO

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ARNALDO CARVALHO

AS FOTOS

LUZES OLÍMPICASCerimônia de encerramentodo Pan-Americano do Rio deJaneiro, em 2007.

TRAVESSIACiclista na ponte MarechalHermes, Minas Gerais, 2005.

CABEÇADALance da partida entre SantaCruz e Náutico no Estádio doArruda, em Recife. Fotovencedora do Prêmio Arfoc-PEde 1999.

CRIANÇAS NA PRAIAMeus filhos brincando numfinal de tarde, em agostodeste ano, na praia deJaparatinga, Alagoas. LUZES OLÍMPICAS

CABEÇADATRAVESSIA

CRIANÇAS NA PRAIA

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“Você fotografa o que vê. E o que você vê tem tudo a ver com quemvocê é”.

A frase, do fotojornalista mineiro Juvenal Pereira, é citada porDaniel Ramalho como definição sobre o próprio trabalho. Em pou-cas palavras, as imagens feitas pelo jovem de 30 anos revelam muitodo seu perfil. Cronista dedicado. Observador ao extremo, daquelesque avaliam as coisas, pessoas e situações sob todos os ângulos pos-síveis, talvez em busca do enquadramento mais original.

“A foto eficiente cumpre o fim a que se destina. Um 3x4 pode ser umafoto excelente. Entendo que a boa foto jornalística deve responder aomáximo sobre o lide da matéria e ser flagrante do instante decisivo, ondeas coisas se organizam para dar sentido ao fato. O repórter-fotográfi-co é testemunha da tormentosa vida humana e da esperança a brotardas cinzas. Representa os olhos de milhares de pessoas”, diz ele.

As máquinas sempre estiveram presentes nos projetos de Daniel Ra-malho, embora nem sempre tenham sido fotográficas. A graduação emEngenharia Mecânica, abandonada em 2002, ainda no meio do percurso,cedeu caminho à formação técnica em Fotografia pelo Centro de Co-municação e Artes do Senac, culminandona pós em Fotografia como Instrumentode Pesquisa nas Ciências Sociais, feita naUniversidade Candido Mendes. Ao lon-go dessa trajetória, ainda garoto, traba-lhou como freelancer para diversos sindi-catos. Desde 2005 é repórter fotográficodo Jornal do Brasil. Observador, como jádescrito aqui, recorda em detalhes o iní-cio da sua profissionalização.

“No final de 1999, por exigência docurso técnico, procurei estágio na área defotografia. Atraído por um anúncio dejornal, me dirigi à Rua Riachuelo, 114, na

DANIEL RAMALHO

Em pauta,o que a foto

revela dofotógrafo

AS FOTOS

CARTÃO POSTALFila para compra deingressos para o clássicoentre Fluminense eBotafogo na inauguraçãodo Estádio do Engenhão,em 2007, Rio de Janeiro.

FÉ CEGAMenino cheira cola entreestátuas na Cinelândia,Rio de Janeiro, 2006.FÉ CEGA

CARTÃO POSTAL

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Lapa. Na época, tinha acabado de dei-xar o trabalho em uma empresa engar-rafadora de botijões de gás. Ao ver aque-la Redação fiquei encantado com amovimentação das pessoas, a descon-tração, o falatório e o barulho de digi-tação, tudo bem diferente da frieza dasmáquinas industriais. Era o jornal FolhaDirigida. Fiz provas escrita e prática eacabei aprovado. Depois, na oficializa-ção, a empresa que realiza os contratosde estágio se recusou a fazer o meu, poismeu curso era técnico e a faculdade queeu cursava não era de ComunicaçãoSocial. Mas fiquei na empresa graças aosaudoso Waldemar Cardozo, Vice-Pre-sidente na época. Ele, acho, foi comminha cara e assinou a minha carteirano cargo de assistente de fotografia”.

Uma vez dada a largada, era horade acelerar.

“Posso dizer que tive na prática daFolha Dirigida a minha ‘formação uni-versitária’ e que a jornalista MariaCristina Siqueira, que faleceu este ano,foi a minha ‘professora orientadora’.

AS FOTOS

PRESENÇALula fotografa os fotógrafos na inauguração do centro devigilância dos Jogos Pan-Americanos do Rio, em 2007.

AUSÊNCIAPrimeiro debate da Tv Globo nas eleições presidenciaisde 2006. O candidato Lula não compareceu e a disputaacabou indo para o segundo turno.

CASAL 20Visita do presidente da França Nikolas Sarkozy e daPrimeira-Dama Carla Bruni ao Brasil, em 2008

PARA INGLÊS VERNeste ano o Príncipe Charles fez uma visita à Favela daMaré, no Rio de Janeiro.

DANIEL RAMALHO

AUSÊNCIA

PRESENÇA

PARA INGLÊS VER

CASAL 20

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No Jornal do Brasil, acredito ter des-frutado de uma espécie de master-class, com feras como Evandro Tei-xeira, Luiz Morier, Fernando Rabe-lo e Paulo Nicolella”.

No aprendizado do mercado, noentanto, surgiram lições pouco agra-dáveis.

“O campo de trabalho é reduzidoe é difícil valorar a nossa produção.Além disso, há excessiva glamouri-zação da profissão do fotógrafo.Basta reparar na quantidade de per-sonagens fotógrafos nas novelas eminisséries de televisão”, diz.

Em carreira não muito longa, Da-niel Ramalho já seleciona sua cober-tura inesquecível.

“As Olimpíadas de Pequim foramum momento especial. A equipe doJB era formada por mim e o repórter

Luciano Cordeiro Ribeiro. O fuso de 12horas complicava tudo. Dois dias an-tes de começar a competição houveuma tremenda festa, mas fomos cobriro treino da dupla do vôlei de praia, La-rissa e Juliana. Chegamos lá e só haviamais uma jornalista. A Larissa treina-va com a comentarista Virna e a Julia-na estava no banco, com cara de cho-ro. Fiz várias fotos e provoquei o Luci-ano: ‘tem coisa aí’. Ao fim do treino, porvolta das 23 horas em Beijing, o Luci-ano indagou a Virna o motivo de ela tertreinado no lugar da Juliana. Aí, logodepois, a própria atleta confirmaria queestava fora dos Jogos. Ainda era demanhã no Brasil. Tínhamos um furo!Isso nos deu tranqüilidade para traba-lhar e, com sorte, conseguimos estarpresentes nas três medalhas de ouro doBrasil”, conta.

Seguro de que ainda tem muito oque fotografar, é como num flash queDaniel responde à última pergunta.

“Qual a minha grande foto? É a queeu vou fazer amanhã”, sentencia.

A julgar pelo que já produziu atéaqui, alguém aí duvida?

AS FOTOS

SAMBA NAMANGUEIRASamba na quadra daEstação Primeira, em2005.

A FORÇA NO RIONo dia 16 de janeirode 2007 a ForçaNacional de Segurançase apresenta no Riode Janeiro...

GUERRA NAMANGUEIRA...enquanto isso,traficantes do Morro daMangueira incendiavamdois ônibus nasimediações do morro.

A FORÇA NO RIO

SAMBA NA MANGUEIRA

GUERRA NA MANGUEIRA

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AS FOTOS

DANIEL RAMALHO

É O AMORA girafa Zagallo chega ao Zoológico do Rio em 2008 para"namorar" a girafa Beija-céu.

CRUELBailarinas da Companhia de Dança Débora Colker emensaio do espetáculo Cruel, no Rio de Janeiro, em 2007.

PONTO ALTOA Seleção Feminina de Vôlei comemora a conquista damedalha de ouro nas Olimpíadas de Pequim, em 2008,jogando a levantadora Fofão para o alto.

IMPACTO FULMINANTETorcedor agride o jogador Diguinho em treino doFluminense. Foto finalista do Prêmio Embratel 2009.

RESGATEIncêndio em Copacabana neste ano. Bombeiro resgata aaposentada Elza Hidal, 80 anos por meio de rapel. (Essa foiprimeirinha no JB, no Globo, Extra e em O Dia).

CIELO NO CÉUO campeão olímpico César Cielo é atacado por fãs chinesesna visita ao Templo do Céu, durante as Olimpíadas de Pequim.

FASHION RIOGisele Bundchen defila para Colcci em 2008.

A PRIMEIRÍSSIMAMaureen Maggi no pódio, primeira medalha de ouro doatletismo brasileiro. Pequim, 2008.

É O AMOR

CRUEL

PONTO ALTO

IMPACTO FULMINANTE

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CIELO NO CÉU

RESGATE

FASHION RIO

A PRIMEIRÍSSIMA

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O cotidiano é cada vez mais corrido.O trânsito das grandes cidades, cadavez mais lento, quando não parado. Nomeio disso tudo, de um lado para ooutro, estão os profissionais que cor-rem atrás da informação, que enfren-tam hoje outra espécie de concorrên-cia: os próprios leitores, telespectado-res ou ouvintes. Sinal dos tempos.

“A nossa maior dificuldade é a gran-de quantidade de pautas dos jornais di-ários. São muitos repórteres em ação,para poucos fotógrafos. Com a explo-são das câmeras digitais, o nosso ‘lei-tor-repórter’ chega aos locais primei-ro que a gente. Até por isso, temos queestar nos aperfeiçoando sempre. Temosque apostar no diferencial do bom pro-fissional da imagem. Os sites, por exem-plo, têm investido na publicação des-ses registros”, afirma Daniela Xu, 35anos, natural de Pelotas,RS, e fotojor-nalista há 12.

Desde 2004 no jornal Pioneiro, emCaxias do Sul, no interior do Estado,Daniela tem passagens por vários veí-culos da região.

“Comecei como aprendiz do fotó-grafo Nauro Jr., da sucursal da ZeroHora em Pelotas, onde passei a fazer

DANIELA XU

Flagrantes de uma constantecorrida contra o tempo

DESOLADO

NO ÂNGULO

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freelancer. Trabalhei por dois anos noDiário Popular (1997 a 1999). Em 2000,trabalhei na sucursal da Zero Hora emRio Grande. Em 2001, fiz um cadernode verão para o Diário Catarinense.Nesse mesmo ano entrei para a equi-pe de fotógrafos do Jornal de SantaCatarina, em Blumenau. De lá voltei aoRio Grande do Sul para trabalhar naZero Hora em Santa Cruz do Sul, no RioGrande, conta Daniela, que, em 2005recebeu uma menção honrosa no Prê-mio Abraciclo. Nada mais justo emrelação ao trabalho de uma profissio-nal cuja beleza plástica das fotos bei-ra o encantamento.

O fascínio pela fotografia aconteceumeio que por acaso. “Fazia estágio naFederal FM, e cobríamos a Feira do Li-vro de 1996, ao vivo, da Praça CoronelPedro Osório. E recebi, duas semanasdepois, um exemplar da Zero Hora comuma foto do Nauro Jr. em que eu apa-recia lendo durante o evento. Fiqueiencantada em receber o jornal das mãosdo autor daquela foto. E bateu aquelasensação bacana de que eu tinha encon-trado a minha paixão no jornalismo, nafotografia. Percebi que queria fazer aqui-lo. Eu incomodava o Nauro Jr. todos osdias, querendo saber mais, orientaçãosobre qual câmera devia comprar... So-

AS FOTOS

DESOLADOEm 2007 um vendaval atingiu a cidade de Vacaria,RS, matando todas as aves desse aviário.

NO ÂNGULOOnde dorme a coruja! Foto tirada durante umtreino do Juventude em março de 2008

LEITE MATERNOFoto feita em uma Unidade Básica de Saúde.

SUPERLOTAÇÃOPresídio industrial de Caxias do Sul, RS, em 2008.

FOGOIncêndio em uma vila atrás do aeroporto de Caxiasdo Sul, em 2006.

PERIGO NO ARAvião que transportava empresários de São Paulocai no interior de Santa Cruz do Sul, RS, em 2002.

LEITE MATERNO

SUPERLOTAÇÃO

FOGO

PERIGO NO AR

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mos amigos e irmãos até hoje. E guar-do comigo a página e a foto que muda-ram minha vida. O fotojornalismo foio que me atraiu na área da fotografia.Aqui no Rio Grande temos o hábito deler jornais. Isso vem da infância, essegosto pelo impresso. Levantar cedo nodomingo e correr às bancas”, diz.

Mas o pedido para destacar algunsde seus cliques, em detrimento de ou-tros, é algo que parece desagradar Da-niela Xu.

“Sou como um médico clínico-geral.Faço de tudo. Gosto de fazer fotos quetragam informação e, se possível, umpouco de encantamento. Não tenhouma que eu ache mais marcante do queas outras. Eu gosto de assuntos varia-dos: geral, esporte, cultura, segurança...Cada foto tem uma história, eu parti-cipei delas. Isso é muito bom. Em umjornal diário, posso estar cobrindo umatendimento em uma Unidade Básicade Saúde e daqui a uma hora estar numtreino de futebol. Não gosto de rotina”,diz Daniela, que, no entanto, não sefurta a descrever as características bá-sicas de um bom registro fotográfico.

“Para mim, a boa foto é aquela quecausa, ao menos, uma dessas reações:encantamento, curiosidade, admiraçãoda simetria, polêmica ou a percepção deperpetuação de um momento único”.

Para chegar a esse ideal, diz Danie-la, um foco fundamental é a interaçãoentre repórter e fotógrafo, em todas asfases de produção da reportagem:

“Sem informação não há solução,né? Quanto melhor a pauta for produ-zida, no caso de não ser uma factual, éclaro que isso ajuda no resultado final.E quanto mais o repórter e o fotógra-fo se falarem, trocarem idéias, melhorvai ser a produção. Qual é o assunto?Quanto espaço teremos? O que o en-trevistado falou? Acompanhar a entre-vista te dá mais dados sobre a cobertu-ra. E estar por dentro dos assuntos dacidade, do Estado, do mundo... Tudoisso faz o trabalho fluir melhor.”

AS FOTOS

CAVALGANDO NA CIDADEGaroto cavalga durante as comemorações da SemanaFarroupilha em Caxias do Sul, RS, nos pavilhões daFesta da Uva, local onde os gaúchos tradicionalistasfazem shows, acampamentos e apresentações culturais.

CHUVA EM VERMELHOO inverno é sempre chuvoso em Caxias do Sul, RS.Vi esse plástico que cobria um estacionamento e fiqueiesperando por volta de uns 40 minutos para que alguémpassasse por ali.

A ONDA E A CHUVAO clima sempre é notícia nesses tempos deaquecimento global: mais uma pauta de chuva.

AGRICULTURANa página seguinte: registro da colheita de fumo emSanta Cruz do Sul, RS, em 2002.

CRIME E CASTIGOEm fevereiro de 2007, um foragido trocou tiros com apolícia e acabou alvejado e morto no bairro Reolon,em Caxias do Sul.

CAVALGANDO NA CIDADE

CHUVA EM VERMELHO

A ONDA E A CHUVA

DANIELA XU

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CARETASenador Pedro Simon em 2005, numa reunião com integrantesdo PMDB em Caxias do Sul.

IMENSIDÃO VERDECanions do Itaimbezinho, em Cambará do Sul, RS.

RETRATOAdolfo Lona, enólogo argentino radicado em Garibaldi, RS,proprietário de uma produtora de vinhos, em 2006.

AS FOTOS

AGRICULTURA

CRIME E CASTIGOCARETA

IMENSIDÃO VERDE

RETRATO

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É natural que, com duas décadas deprofissão, e com passagens por inúme-ras Redações, como as do Diário da Tar-de, Estado de Minas, O Globo, O Dia, OEstado de S. Paulo, e revistas Caras e Ego,Eny Miranda sinta o peso da profissão.E, neste caso, não em sentido figurado.“Acho que a maior dificuldade encontra-da no cotidiano de repórter fotográficaé o peso do equipamento para o corpo”,conta ela, que, por isso mesmo, talvezcomo uma ação preventiva, dá uma dicainusitada aos que pensam em seguir acarreira. “Façam academia e muscula-ção. E vão em frente, pois este trabalhovale muito a pena. É mágico. É único”.

Nascida em Belo Horizonte, em 26de junho do macabro ano de 1964 –poucos meses após o golpe militar –Eny teve na figura do pai a principalinspiração profissional. “Ele era jorna-lista do Estado de Minas e, muitas ve-zes, eu ia à Redação do jornal, onde fi-cava, por horas a fio, nas mesas, ven-do as fotos dentro das caixas”, recorda-se. A opção por andar por aí, máquinaem punho, foi exatamente para estarmais próxima dos fatos. “E o que dife-rencia a produção de um bom fotógrafoé exatamente a capacidade de ver o queninguém enxerga. Meu trabalho é algoque ainda está acontecendo e me revelao mundo”, sentencia.

Nem só nas Redações foi moldadoo perfil de Eny. Ela também trabalhouna Imprensa Oficial, foi chefe de Foto-grafia do Governo do Estado do Rio eesteve mergulhada em campanhas po-líticas. Editou um livro, Retratos do Tem-po, e participou de exposições como 100anos de Belo Horizonte; A caminho daFolia; Londres, Paris e Roma;Abrigo Cristo Redentor e Carna-val Através de João do Rio. Atu-almente, é sócia da AgênciaCia. da Foto. “Estou fora dosjornais. Acredito que a fotogra-fia digital, no geral, desvalori-zou um pouco o trabalho dos

O fotojornalismo comoexercício diário

ENY MIRANDA

PAUTA MUSICALPássaros no sertão do Brasil, em 2001.

MADRUGADA EM BOTAFOGOCapa do cd da cantora Mart’nália em 2008.

AS FOTOS

PAUTA MUSICAL

MADRUGADA EM BOTAFOGO

FOTO

S: ENY M

IRAN

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fotógrafos. Hoje, os jornais fazem pou-cas matérias especiais, viaja-se muitopouco... Então, resolvi andar com as mi-nhas próprias pernas.”

Nesse caminho, e em busca de no-vos ares e desafios, Eny Miranda vol-tou seu foco para projetos na área so-cial. Atua hoje, e pelos próximos doisanos, no projeto Amigos do Planeta naLeitura, cuja proposta básica é distri-buir livros e estimular este hábito emcomunidades ribeirinhas da AmazôniaLegal brasileira. Locais isolados, com di-ficuldades imensas de acesso ao conhe-cimento. “É mesmo uma alegria ver agarotada com os olhos brilhando, len-do seus livros”, descreve ela, lembran-do que o projeto é fruto de parceriaentre o Programa Socioambiental dasCasas Bahia, chamado Amigos do Pla-neta, com a organização não-governa-mental Vaga Lume.

Eny Miranda diz não ter um cliquemais marcante. “Gosto de sentir o meutrabalho como um todo”, justifica. Mastem a lembrança de uma bela história.“Fotografei uma menina cega para acampanha do Banco do Brasil que, aosentir a forte luz do flash direcionadapara o seu rosto, quando eu apertei obotão, me disse: ‘Senti a sua foto na pontado meu nariz!’ Aquilo foi emocionan-te...”, conta ela, que destaca, dentre ascoberturas já feitas, a chacina de Vigá-

AS FOTOS

AMIGOS DO PLANETA NA LEITURATrês fotos feitas através do projeto que distribuilivros e estimula o hábito da leitura emcomunidades ribeirinhas da Amazônia brasileira.

SEM SAÍDAÔnibus superlotado devido a uma greve de tremno Rio de Janeiro em 1993.

SEM SAÍDA

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rio Geral, no Rio de Janeiro, em 1992.“Até hoje, de vez em quando, lembrodaquelas imagens. E isso me dói”.

A violência, cada vez mais estampa-da nas páginas dos jornais de todo oPaís, faz parte do exercício profissionaldos repórteres fotográficos. “Eu já sentimedo várias vezes, como quando tiveuma arma de fogo apontada para a mi-nha cabeça e quando colocaram umafaca no meu pescoço dentro de um pre-sídio. Mas, isso faz parte do dia-a-dia.É quase impossível não correr riscos nanossa profissão”.

Segundo Eny, o fotojornalismo brasi-leiro vive um estágio especial da sua his-tória. “A primeira fase foi no seu surgi-mento. A segunda, quando adotou a cor.Agora, tudo mudou com a tecnologiadigital. Mas precisamos estar atentos emrelação à qualidade, pois, com a entradano mercado de alguns fotógrafos semcondições técnicas, o fotojornalismo ficaameaçado e pode até perder o rumo”.

E o que é uma boa foto? “É aquela quenão precisa do photoshop. A que con-segue transmitir claramente para osleitores a idéia da pauta ou da cena lo-cal”, resume.

AS FOTOS

ANJINHOSFesta religiosa durante aSemana Santa em OuroPreto, MG.

A CAMINHO DA FOLIANo Carnaval de 1996, oregistro de Laura de Vison nometrô do Rio de Janeiro.

CAMINHO TORTUOSODurante a campanha eleitoralde 1994, Marcello Alencar,teve que vencer muitosobstáculos para ser eleito.

DEVOÇÃONossa Senhora do Bom Parto,MG, em 2007

ANJINHOS

A CAMINHO DA FOLIA

CAMINHO TORTUOSO

DEVOÇÃO

ENY MIRANDA

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“ Voltar a pensar por mim mesmo eraalgo que eu precisava reconquistar... Eisso só era possível pedindo demissão evoltando ao mundo da insegurança. Im-pressionante o que faz com a sua criati-vidade a necessidade de sobreviver semter um salário garantido no final do mês”.

O depoimento de Marco Terranovachama a atenção pela coragem e since-ridade, bem como pelo quanto é reve-lador de sua relação visceral com o pró-prio ofício.

“Eu sempre fui autônomo e, atual-mente, voltei às minhas origens. Meuúnico emprego de carteira assinada, forao de office-boy da empresa do meu pai,aos 14 anos, foi no Jornal do Brasil, ondeconsegui realizar um velho sonho de cri-ança: trabalhar em um grande jornal”,recorda Marco, hoje com 45.

A fotografia, de fato, foi transforma-dora na vida daquele garoto que, aindaaos 12 anos, começou a explorar o uni-verso das máquinas, mas que somenteao 15 passou a ganhar algum trocadocom os seus cliques de peças de teatro,crianças e reproduções de obras de arte.

“Com a fotografia pude conhecer ummundo totalmente diferente do que fuicriado, burguês e superprotetor. Apren-di a ver a realidade com meus própriosolhos e a escolher de que maneira deve-ria mostrar o que estava vendo. As es-colhas que fiz na adolescência pratica-mente estão comigo até hoje. Não es-tou falando dos temas fotografados,mas da maneira como devemos trataro que fotografamos”, explica.

Ao longo destes últimos dez anos,desde que saiu do JB, Marco dirigiu do-cumentários, videoclipes, projetos delivros e, é claro, fez fotos. Muitas fo-tos. O mais importante, diz ele, é per-ceber que houve mudanças no setor.

“O digital veio para ficar e com elesurgiram dúvidas sobre sua qualidade.Eu acredito que quem controla o equi-pamento somos nós, por isso, seja como digital, ou com as analógicas, sempreseremos o reflexo daquilo que somose pensamos. Sinto saudades das velhastiras de negativos. O processo de terque passar pelo crivo de alguém, de umeditor, fazia que nossa produção fossecuidadosa, e a edição do material, maisrigorosa. Por outro lado, esta fartura de

MARCO TERRANOVA

Em busca de novos epróprios caminhos

espaço nos cartões, hoje, faz que eu mesinta num parque de diversões. Passeigrande parte da minha vida como fre-elancer. E quantos filmes paguei domeu bolso...”, lembra.

É com certa dose de orgulho queTerranova define a profissão.

“O repórter-fotográfico é um mara-vilhoso cronista de sua época. Para con-tarmos uma história é preciso um óti-mo relacionamento com a equipe notrabalho. Do motorista ao repórter, isto

é fundamental, ou podemos colocartudo a perder. Ser cronista, antes demais nada, é um estado de espírito.Algo que podemos fazer estando emum grande jornal ou saindo com a câ-mera nas mãos, pela rua. Adoro fazerisso... Mesmo nos lugares mais perigo-sos em que fui, ou nas maiores saias-justas pelas quais passei, eu sempreconsegui ser visto não como um intru-so, querendo somente capturar umaimagem e ir embora”.

AS FOTOS

CORAÇÃO DA LAGOAFoto aérea da Lagoa Rodrigo deFreitas publicada em 1998 na revistaPrograma, do Jornal do Brasil.

ISTO É FERNANDACapa da revista Domingo, do Jornaldo Brasil, de 1998, com a foto daatriz Fernanda Torres, que estrelava ofilme O Que é Isso, Companheiro?

CORAÇÃO DA LAGOA

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Um desses exemplos de situações derisco é a Comunidade Santa Marta, naZona Sul do Rio, atualmente pacificada.

“Hoje podemos realizar o direitodemocrático de ir e vir, mas não foi sem-pre assim. A câmera, em algumas situ-ações, pode ser vista de maneira maisameaçadora do que fuzis ou qualquerarma de fogo. Uma coisa eu pude apren-der: nunca mentir para bandidos. Acapacidade que eles têm de farejar men-tiras supera a de cães bem treinados.Pode até acontecer o pior, mas não po-demos ser levianos com as nossas pró-prias vidas. Então, nunca minta em umasituação de confronto, pois isso podedeixar de ser uma mera experiênciaexcitante para se tornar um pesadeloperigoso”.

O sentido de agradecimento é mar-ca presente neste depoimento. A come-çar por Rogério Reis, Editor de Fotogra-fia da JB, responsável pela ida de Mar-co para o jornal, passando pelo colegaPedro Marinho Rego e pelos mestresAlaor Filho, Luiz Morier, Evandro Tei-xeira, Carlos Magno, Felipe Varanda,Dilmar Cavalier, AntônioLacerda, Marcelo Sayão,Carlo Wrede, João Cerquei-ra, André Arruda, NelsonPerez e Samuel Martins,este já falecido.

“Gostaria de finalizar fa-zendo uma homenagem atodos os fotógrafos, amigosou não, que de alguma ma-neira estenderam as mãospara me ajudar em situa-ções nas quais me faltavamfilmes, pilhas, carona, co-mida ou forças. A maior li-ção que posso tirar da mi-nha vivência num grandejornal é que existe espaçopara competir. E um espa-ço maior ainda para se fazeramizades verdadeiras.”

AS FOTOS

DOMINGO DE PAVORPublicada no JB, essa foto recebeu oPrêmio Esso de Fotojornalismo de 1999.

MERGULHO NO CLÁSSICOMais uma capa da revista Programa, 1996.

MENINO DE RUAFoto para a revista da Associação doMinistério Público-AMPERJ, em 2008.

TRAVESTIS PERFORMÁTICOSShow na Comunidade João XXIII, SantaCruz, em 1995.

ENSAIO EM BRANCO E PRETOMoradora da Comunidade Santa Marta.

BALÉ AQUÁTICOGolfinhos na Baía da Ilha Grande.

PARAÍSOIlhas Botinas em Angra dos Reis.

MULHERES MAIORES DE 40Foto feita no formato 6x6, analógico.

TRÊS PICOS EM FRIBURGONoturna em longa exposição.

MARCO TERRANOVA

DOMINGO DE PAVOR

MENINO DE RUA

TRAVESTIS PERFORMÁTICOS

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ENSAIO EM BRANCO E PRETO

BALÉ AQUÁTICO

PARAÍSOMULHERES MAIORES DE 40

TRÊS PICOS EM FRIBURGO

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“Não sei. Talvez trabalhasse com História dasArtes ou Turismo. Não nasci para trabalharpreso a um escritório, tendo hora de almoço ecartão de ponto”.

Essa resposta de José Salvador Scofano, 45anos, à pergunta sobre o que faria caso não fos-se fotógrafo é um retrato da sua personalidade.Quem o conhece, ou com ele já dividiu umapauta, sabe que a rua é seu habitat natural.

“Trabalho para registrar e mostrar todas as sor-tes, belezas e aventuras de uma profissão sem fron-teiras. Não tenho regra para o fotojornalismo. Soucurioso com a máquina na mão. E calmo por espe-rar o momento exato da explosão que faz o equi-pamento ser a extensão do meu corpo”, filosofa.

Com 22 anos de profissão, Salvador, como éconhecido, já trabalhou na Última Hora, no Diá-rio do Pará, em O Dia, na Folha Dirigida e no Info-globo. Sua trajetória inclui ainda assessorias decomunicação, e as agências Futura Press e O Glo-bo. Com três exposições individuais, e diversasoutras coletivas, no currículo, foi vencedor dosPrêmios Riotur e Finep de Fotojornalismo, alémde finalista do Prêmio Imprensa Embratel.

“Boa foto não precisa de texto, fala por si só.O fato de o repórter fotográfico ver a foto an-tes mesmo de ela existir já é o diferencial para

SALVADOR SCOFANO

Uma câmera na mão,muita curiosidade na cabeça

BOAS VINDAS

JOGOS INDÍGENAS NO TOCANTINS

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uma foto ser especial. Enxergamos tudo, sem vernada”, explica Scofano.

Ele resume o início de sua trajetória.“Estudei Turismo e Museologia. Nas aulas

práticas eu sempre levava a minha máquina eregistrava todo o trabalho para depois estudarvendo as fotos. Isso despertou a vontade de apren-der, e me matriculei no curso do Jorge Peter. Naépoca, falavam que este era o melhor curso defotografia do Rio. Ele era fotógrafo de O Globo,um sujeito sempre calmo, mascando chicletes.Aprendi fotografia com uma leitura jornalística,pois Peter, além de ensinar o básico de como ope-rar uma máquina e a conhecer os filmes, trans-mitia o prazer de ser um repórter-fotográfico.Falava sempre do desafio que sentia todas as vezesem que saía para realizar uma pauta”.

Daí para a profissionalização foi um pulo. Oumelhor, alguns cliques.

“Ao fim do curso, comecei a visitar as Reda-ções à procura de estágio. Na Gazeta de Notíci-as tive a primeira oportunidade. O editor eraRufino Nogueira Borba, que disse que não po-dia pagar um salário, mas me daria a oportuni-dade de aprender a revelar e copiar. Em troca,poderia copiar fotos de meus serviços particu-lares. Trabalhei seis meses lá, até surgir umachance na Última Hora. Ali, sim, estava come-çando minha carreira. Tive o prazer de trabalhar

com Osvanildo Dias,Severino Silva, Uan-derson Fernandes, Car-los Magno, Alaor Filho,Luiz Nicolella. Na rua,sempre colava na gale-ra mais experiente, co-mo Jorge Marinho, Fer-reirinha, Jorge Peter, Eu-rico Dantas, EvandroTeixeira. Estava apren-dendo na prática e gos-tando mais e mais decada pauta realizada”,conta Salvador.

O lado nostálgico –evidente em citaçõescomo ‘a magia de vera foto aparecer dentrode uma banheira numpedaço de papel’ – sóperde espaço quandoo repórter-fotográficofala do mercado e dascondições de trabalhodos profissionais.

AS FOTOS

BOAS VINDASO Exército nas ruas do Rio em 2007.

JOGOS INDÍGENAS NO TOCANTINSAs mulheres têm que dar duas voltas na arenacarregando um tronco que pesa em torno de60 quilos e pode ser revezado com ascompanheiras da mesma tribo.

DEU TRINTA NA CABEÇAJoãozinho Trinta acena como campeão dodesfile das escolas de samba em 2006, pelaUnidos de Vila Isabel.

A SOMBRA DO TENISTAFoto numa escola de tênis em Camboinhas, RJ.

CÍRIO DE NAZARÉNo segundo domingo de outubro Belémrecebe milhões de pessoas para a maior festareligiosa regional do Brasil. Há oito anosparticipo desse evento.

A POLINÉSIA É AQUITodos os anos acontece no Rio de Janeiro, oCampeonato Mundial de Canoagem da Polinésia.O circuito vai da Praia Vermelha ao Leblon.

DEU TRINTA NA CABEÇA A SOMBRA DO TENISTA

CÍRIO DE NAZARÉ

A POLINÉSIA É AQUI

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“A maior dificuldade hoje é a desva-lorização do profissional pelo emprega-dor, que por vezes trata profissionais co-mo amadores. As empresas acham quecom a chegada da câmera digital todosse tornaram fotógrafos. Ok, todo mun-do tem máquina fotográfica, mas pou-cos têm sensibilidade e, ao mesmo tem-po, a velocidade para captar o momen-

to. Pensar antes que o fato aconteça estáalém das máquinas amadoras. E longe depessoas que não sejam gabaritadas”.

Para encerrar, um pouco de humor. “Continuo fazendo as coberturas de

forma emocionada. Por exemplo, soufã do B.B. King. Pude fotografá-lo noBrasil e, ao final do show, pedi um au-tógrafo. Paguei, ali, o mico que jurava

nunca pagar: pedir para fazer fotos comum entrevistado”, brinca.

Mas o melhor relato fica por contada passagem de Shimon Peres pelo Rio,em novembro deste ano.

“Para fazer uma foto com exclusivi-dade do Presidente de Israel, no Copa-cabana Palace, tive que ficar só de cu-ecas, para ser revistado, antes de entrar

na sala. Foi a primeira vez que isso meaconteceu”, conta ele, autor de fotoscomo o beijo na boca entre Caetano Ve-loso e Gilberto Gil, vencedora do Prê-mio Finep, e da prisão de Adriana, acu-sada de mandar matar o marido nochamado Caso da Mega Sena, feita comexclusividade e grande repercussãopara o Extra.

SALVADOR SCOFANO

A VOZ

A ÚLTIMA DO REI

SORRISO

ALEGRIA, ALEGRIA

UM BRASILEIRO

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AS FOTOS

A ÚLTIMA DO REIDepois desse show no Rio,B.B. King declarou que era asua última apresentação forados EUA.

A VOZUm dos últimos shows deCássia Eller, no Canecão.

ALEGRIA, ALEGRIADepois de meses internado, oPalhaço Carequinha decidiuvoltar para casa: queria voltara alegrar as crianças.

SORRISOCriança da etnia Kayapodurante os III Jogos Indígenasem Conceição do Araguaia.

UM BRASILEIROÍndio da tribo Gorotire.

ERA RADICALBob Burnquist no CampeonatoMundial de Skate na LagoaRodrigo de Freitas.

VELAS CRUZADASDuelo na Baía da Guanabara.

DOIS BARCOSDevido ao calor, remadorestreinam de madrugada emBelém do Pará.

NA MARQUÊS DE SAPUCAÍA criança consegue dormirdurante o desfile das escolasde samba, no Rio. Esta fotofoi premiada no concurso daRiotur. Trabalhava em O Dia.

RIACHO DOCERibeirinhos se banham emSão Domingos do Capim.

VELAS CRUZADAS

ERA RADICAL

NA MARQUES DE SAPUCAÍ

DOIS BARCOS

RIACHO DOCE

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