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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE MÚSICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA ANGELITA MARIA VANDER BROOCK A ABORDAGEM PONTES NA MUSICALIZAÇÃO PARA CRIANÇAS ENTRE 0 E 2 ANOS DE IDADE Salvador 2009

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Page 1: (2009) BROOCK, A M V A Abordagem PONTES na musicalização para crianças de 0 a 2 anos de idade DISSERTAÇÃO DE MESTRADO - UFBA

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE MÚSICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA

ANGELITA MARIA VANDER BROOCK

A ABORDAGEM PONTES NA MUSICALIZAÇÃO PARA CRIANÇAS ENTRE 0 E 2 ANOS DE IDADE

Salvador

2009

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ANGELITA MARIA VANDER BROOCK

A ABORDAGEM PONTES NA MUSICALIZAÇÃO PARA CRIANÇAS ENTRE 0 E 2 ANOS DE IDADE

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Música, Escola de Música, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Música. Área de concentração: Educação Musical Orientadora: Profa. Dra. Alda Oliveira

Salvador

2009

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Dedico este trabalho ao meu querido esposo Alexandre Schultz,

que com sua compreensão, carinho e companheirismo sempre

apoiou as minhas decisões, me dando força e coragem para

superar obstáculos.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por ter me dado força e sabedoria para concluir este

trabalho e para exercer esta profissão fascinante de professora de música para bebês. Também

agradeço a Ele por ter colocado em minha vida pessoas tão especiais, que foram e são

essenciais para minha prática docente e acadêmica. Agradeço então:

Ao meu marido, Alexandre Schultz, por ter me apoiado sempre e por ter filmado todas

as aulas necessárias para a conclusão deste trabalho.

À minha querida orientadora, Alda Oliveira, por todos os momentos de conversa e

reflexão e por ter acreditado na minha capacidade. Também agradeço por todo o carinho e

acolhimento demonstrado durante estes dois anos de trabalho.

À “pró” Leila Dias, que aceitou e coordenou o curso de musicalização para bebês na

UFBA, sendo ela a responsável pelo início da minha história em Salvador com o Alexandre.

A ela um agradecimento especial por todas as conversas, risadas, reflexões e pelo acolhimento

caloroso, fazendo com que nos sentíssemos parte de sua família.

Aos amigos Amélia Dias e Jean Joubert, pela amizade, companheirismo e carinho

apresentados durante este tempo, na certeza de que uma amizade foi construída por tempo

indeterminado.

À minha querida e eterna professora Beatriz Ilari, que foi meu primeiro exemplo e que

sempre confiou no meu potencial, sempre me motivando e me lançando para conquistas.

À professora Cristina Tourinho, que além de ter sido minha professora durante o

mestrado e contribuído para a minha formação, também foi uma das responsáveis por eu estar

em Salvador, sendo ela a mediadora entre eu e a “Pró” Leila no início da minha estada nesta

cidade.

Aos professores Diana Santiago, Luiz César Magalhães e Manuel Veiga, por

participarem do meu processo de formação, acrescentando na minha prática novos

aprendizados que levarei como fruto desta realização.

Às mães e aos pais das crianças que participaram desta pesquisa, em especial à mamãe

Zuleide por ter colaborado de forma tão aberta e significativa para este trabalho, sendo sua

filha Isabelle o principal exemplo deste estudo de caso.

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vi 

 

À Marineide Costa, pelo carinho e pela confiança em meu trabalho, sendo ela a pessoa

que me deu a chance de coordenar o projeto de Musicalização Infantil da UFBA.

Aos coordenadores e secretárias do PPGMUS-UFBA, pela paciência e dedicação aos

alunos, sendo eles os responsáveis pelas burocracias de nossas vidas acadêmicas.

Aos meus pais Angela e Enoir, e aos meus sogros Cecília e José pela credibilidade e

pelas orações e vibrações positivas enviadas de Curitiba durante este trabalho.

Enfim, a todos os amigos e familiares que de forma direta ou indireta colaboraram

para a realização deste trabalho.

A todos vocês, muito obrigada!

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Hoje eu quero que os poetas dancem pela rua Pra escrever a música sem pretensão

Eu quero que as buzinas toquem flauta-doce E que triunfe a força da imaginação

Oswaldo Montenegro

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RESUMO

Diante das diversas possibilidades de comunicação presentes no mundo contemporâneo, e dos mais recentes estudos da área, a educação musical está cada vez mais sendo iniciada nos primeiros anos de vida do ser humano. No entanto, existem poucos estudos sistemáticos sobre a inserção da música no ensino Infantil, e especialmente, que estudem a utilização de abordagens e técnicas que influenciam o desenvolvimento do nível de aprendizagem musical significativa e de atitudes nos alunos. Portanto, esta pesquisa focalizou a identificação e análise de ações do professor em aulas de musicalização para bebês que pudessem ser relacionadas com as características da Abordagem PONTES (OLIVEIRA, 2001). Sendo assim, o propósito deste estudo foi verificar como a utilização da abordagem PONTES pode influenciar o surgimento de articulações pedagógicas significativas entre os atores do processo educativo-musical que contribuam para o desenvolvimento do nível de aprendizagem musical e de atitudes nos alunos participantes do projeto de musicalização para bebês da UFBA. O principal objetivo desta pesquisa foi identificar, descrever e analisar situações específicas de articulações pedagógicas significativas coletadas nas aulas de musicalização para bebês da UFBA, verificando o nível de aprendizagem e de respostas dos atores envolvidos no processo educativo-musical. Para tal, nas aulas, quatro grupos com 10 crianças foram filmados durante o segundo semestre de 2007, sendo que de um dos grupos uma criança foi selecionada e observada. A partir destas observações foram selecionados episódios em vídeo que pudessem exemplificar as articulações pedagógicas utilizadas durante um semestre. Ou seja, a partir destes exemplos foi possível observar, registrar e analisar o caso de uma criança, estudando as articulações pedagógicas realizadas nas aulas, que de alguma forma contribuíram para o seu desenvolvimento e aprendizado.

Palavras-chave: Educação Musical, Musicalização para Bebês e Abordagem PONTES

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ABSTRACT

The development of the communication and social interactions of the contemporary world and the most recent studies in the field of music education indicate that the education in music tends to be initiated in the early years of human life. However, only a few systematic studies exist which include the study of music in childhood education, especially those that study the more adequate approaches and techniques that may be used to influence the development of significant musical learning and pupils’ attitudes. Therefore, the focus of this research was the identification and analysis of teachers’ actions in their music education encounters for babies that could be related with the characteristics of PONTES Approach (OLIVEIRA, 2001). This study verified in which ways the use of PONTES Approach influenced the creation of significant pedagogical connections between the actors of the educational process that could contribute for the development of significant learning / attitudes among the babies who participated in the music initiation project at the Federal University of Bahia, Brazil. A one case study method was used. At first, four groups with 10 children each one were recorded in video, during the second semester of 2007. Among these 4 groups one child was chosen to be documented and analyzed. Some episodes in video were selected according to selected research criteria. The more elucidative examples of pedagogical connections were selected to be analyzed. Results showed that it was not only possible to register the significant musical learning/attitudes of that particular child, a little girl, but also to document the contributions of the pedagogical approach under study, which contributed for her development.

Keywords: Music Education; Music for Babies and PONTES Approach.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Tecido utilizado durante as aulas................................................................ 42

Figura 2 Ovinhos utilizados durante as aulas............................................................ 42

Figura 3 Canção de boas-vindas................................................................................ 45

Figura 4 Canção com movimento............................................................................. 45

Figura 5 Relaxamento............................................................................................... 47

Figura 6 Isabelle........................................................................................................ 77

Figura 7 Interação através do pandeiro..................................................................... 87

Figura 8 Interação com ovinho.................................................................................. 89

Figura 9 Mágica com o tule....................................................................................... 91

Figura 10 Puxão de cabelo.......................................................................................... 94

Figura 11 Sapinho pulando......................................................................................... 97

Figura 12 Devolvendo o ovinho.................................................................................. 99

Figura 13 Devolvendo o pandeiro............................................................................... 101

Figura 14 Trocando o ovinho...................................................................................... 103

Figura 15 Permanecendo no colo................................................................................ 104

Figura 16 Imitando a professora.................................................................................. 106

Figura 17 Sentada na roda........................................................................................... 107

Figura 18 Tocando ovinho no lugar............................................................................ 109

Figura 19 Tocando pandeiro no lugar......................................................................... 110

Figura 20 Interagindo com a professora através do ovinho........................................ 111

Figura 21 Fazendo tudo corretamente......................................................................... 113

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xi 

 

Figura 22 Barriga, barriga........................................................................................... 114

Figura 23 Brincando com as bolinhas......................................................................... 116

Figura 24 Atividade na roda........................................................................................ 117

Figura 25 Tocando o caxixi......................................................................................... 119

Figura 26 Bom dia com a mamãe................................................................................ 120

Figura 27 Toque toque................................................................................................ 121

Figura 28 Mão, mão, mão........................................................................................... 123

Figura 29 De mãos dadas com a professora................................................................ 124

Figura 30 Brincando com o sapo................................................................................. 126

Figura 31 Cafuné na professora.................................................................................. 127

Figura 32 Dando voltinha............................................................................................ 129

Figura 33 Dem dém com a mamãe.............................................................................. 130

Figura 34 Enrola-enrola com a professora.................................................................. 131

Figura 35 Brincando de professora............................................................................. 133

Figura 36 Bate o pé..................................................................................................... 134

Figura 37 Cafuné na mamãe........................................................................................ 135

Figura 38 Brincando de “Indiozinhos”........................................................................ 136

Figura 39 Brincando de enrolar................................................................................... 137

Figura 40 Escravos de Jó............................................................................................. 148

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 Tempo em que as mães ouvem música por dia.......................................... 63

Gráfico 2 Tempo em que as pais ouvem música por dia............................................ 64

Gráfico 3 Meios de comunicação onde as músicas são ouvidas................................. 64

Gráfico 4 Estilos musicais que as mães ouvem.......................................................... 65

Gráfico 5 Estilos musicais que os pais ouvem............................................................ 66

Gráfico 6 Tempo diário em que as mães ficam com seus filhos................................. 67

Gráfico 7 Tempo diário em que os pais ficam com seus filhos.................................. 67

Gráfico 8 Quem cuida da criança................................................................................ 68

Gráfico 9 De que forma a música é utilizada pelos que cuidam da criança............... 69

Gráfico 10 Aquisição de materiais musicais................................................................. 70

Gráfico 11 Atividades em que a música é utilizada...................................................... 70

Gráfico 12 Mães que cantam para seus filhos............................................................... 71

Gráfico 13 Pais que cantam para seus filhos................................................................. 71

Gráfico 14 Repertório utilizado pelos pais................................................................... 72

Gráfico 15 Casais que aprenderam músicas novas para cantar para seus filhos........... 73

Gráfico 16 Interesse em aprender músicas novas dentro do casal................................ 73

Gráfico 17 Mudanças no comportamento das crianças após o início do curso............ 75

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LISTA DE ANEXOS

Anexo A Formulário de Consentimento ................................................................... 160

Anexo B Questionário aos Familiares ....................................................................... 161

Anexo C Autorização Para Uso de Imagem ............................................................. 165

Anexo D DVD com filmagens das aulas ................................................................... 166

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xiv 

 

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................................... 16

CAPÍTULO 1 – MÚSICA E BEBÊS.................................................................................. 21

1.1. O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA DE 0 A 2 ANOS...................... 21

1.2. DESENVOLVIMENTO MUSICAL INFANTIL.......................................... 26

1.2.1. Feto.................................................................................................... 26

1.2.2. De recém nascidos até 2 anos de idade.............................................. 27

1.2.3. O canto e a fala dirigidos ao bebê...................................................... 30

1.3. MUSICALIZAÇÃO PARA BEBÊS.............................................................. 32

1.4. PROJETO MUSICALIZAÇÃO PARA BEBÊS DA UFBA......................... 35

CAPÍTULO 2 – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS............................................. 39

2.1. ESTUDO DE CASO...................................................................................... 39

2.2. PROCEDIMENTOS...................................................................................... 40

2.3. CONTEXTO E PARTICIPANTES............................................................... 41

2.4. METODOLOGIA DE ENSINO.................................................................... 41

2.4.1 Materiais didáticos.............................................................................. 42

2.4.2 Repertório........................................................................................... 43

2.4.3 Estrutura das aulas.............................................................................. 44

2.4.4 Conceitos trabalhados......................................................................... 48

2.4.5 Algumas considerações importantes................................................... 48

2.4.6 Participação dos alunos e dos pais...................................................... 48

2.5. INSTRUMENTOS PARA COLETA DE DADOS....................................... 49

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xv 

 

2.5.1 Questionário........................................................................................ 49

2.5.2 Filmagens............................................................................................ 50

2.5.3 Processo para análise dos dados......................................................... 51

2.6. REFERENCIAL TEÓRICO: ABORDAGEM PONTES.............................. 52

CAPÍTULO 3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................. 59

3.1. ANÁLISE DOS QUESTIONÁRIOS - PERFIL DOS ALUNOS................. 61

3.2. PERFIL DAS TURMAS................................................................................ 75

3.3. PERFIL DA CRIANÇA SELECIONADA - ISABELLE............................ 77

3.3.1 Informações pessoais e familiares...................................................... 78

3.3.2 Comportamento nas aulas durante a coleta de dados (2007.2)........... 79

3.3.3 Episódios marcantes........................................................................... 80

3.3.4 Análise do questionário...................................................................... 80

3.3.5 Desenvolvimento da faixa etária da criança selecionada – revisão

da literatura................................................................................................ 83

3.4. DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS EPISÓDIOS............................................. 84

CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................. 144

REFERÊNCIAS.................................................................................................................. 153

ANEXOS............................................................................................................................. 159

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16 

 

INTRODUÇÃO

Este trabalho é fruto do meu crescente interesse em compreender o universo infantil,

principalmente os dois primeiros anos de vida. Minha primeira motivação para este tema foi o

nascimento da minha afilhada em abril de 2002, quando eu cursava o segundo ano da

graduação em Educação Musical na Universidade Federal do Paraná. Embora houvesse

interesse em proporcionar música para minha querida Emili, ainda não havia uma pessoa que

pudesse me ajudar neste sentido. No entanto, em 2003, os alunos da UFPR tiveram a honra de

contar com a Professora Doutora Beatriz Ilari no quadro de professores.

Em setembro de 2003, Bia (como é carinhosamente chamada pelos seus alunos)

implantou um projeto de extensão universitária de Musicalização Infantil no Departamento de

Artes, para que nós, professores em formação, tivéssemos a oportunidade de colocar em

prática o que era nos ensinado em sala de aula. Inicialmente, o projeto incluía o ensino

musical para crianças com idades entre 0 e 9 anos. Logicamente, preferi começar minha

prática com o grupo que pudesse incluir minha afilhada, sendo assim, o grupo de 0 a 2 anos.

A paixão pelos bebês foi certa!

As aulas eram sempre dadas em duplas e tive a sorte de fazer dupla com minha

companheira de todas as horas Kamile Levek. Lembro-me bem da primeira aula, em que eu e

a Kamile preparamos várias atividades e calculamos o tempo da aula. Porém, para a nossa

surpresa, as atividades levaram a metade do tempo previsto. Quando nos vimos nesta situação

houve um pequeno momento de desespero, mas Bia nos “salvou” e cantou uma canção

chilena com boca chiusa – Hace Guagua – para que os pais embalassem seus filhos, canção

que canto até hoje com meus alunos. Ufa! No final tudo deu certo. Emili estava lá com sua

mamãe, minha prima, Elisângela.

A partir deste momento eu e minha parceira percebemos que precisaríamos de mais

atividades para as aulas, e que isso nos exigiria muitos momentos de reflexão e criatividade.

Preparar aula com a Kamile sempre foi muito interessante, pois temos uma afinidade muito

grande e nossas idéias sempre se completam. Tenho certeza que este fato foi muito motivador

para minha prática atual.

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O projeto de Musicalização da UFPR aos poucos foi se ampliando. Tive a

oportunidade de trabalhar com várias pessoas, algumas com menos experiência que eu, outras

com mais. Aos poucos fomos conquistando autonomia e elaborando formas diferentes de dar

aulas, testando novas atividades e formas de trabalhar, além de materiais novos e

diversificados.

Concluímos a graduação no final do ano de 2004, porém, eu e a Kamile continuamos

no projeto de Musicalização, desta vez auxiliando os professores-alunos não tão experientes.

Continuei no projeto até o primeiro semestre de 2006, momento em que desejei fazer meu

mestrado em Salvador, na UFBA.

Eu tinha certeza de que meu projeto de mestrado seria sobre Musicalização para bebês,

no entanto, em Salvador não havia um projeto de extensão como o da UFPR. Havia um

projeto de Musicalização Infantil, porém, para crianças a partir de 5 anos. Então, decidi lançar

uma proposta para a extensão da UFBA, com um curso de Musicalização para bebês, que

incluísse crianças de 0 a 4 anos e assim ampliasse o projeto já existente. Nesta etapa eu estava

mantendo contato com a Professora Doutora Ana Cristina Tourinho, professora da UFBA,

que havia mostrado afinidade com a proposta, embora seu foco de trabalho caminhasse para

outra direção. Para me ajudar, Cristina encaminhou o projeto para a Profa Leila Dias, que era

quem coordenava o projeto das crianças de 5 anos. A recepção de Leila foi fantástica e muito

acolhedora e logo começamos a combinar como seria este curso.

Este foi um momento muito importante na minha vida, pois eu estava saindo da casa

dos meus pais, deixando a minha família, os meus amigos e os meus trabalhos para começar

uma nova etapa da minha caminhada. Teria sido muito difícil se meu querido namorado,

agora esposo, Alexandre não tivesse deixado tudo pra trás e vindo comigo, me dando apoio,

incentivo e segurança.

Chegamos em Salvador em agosto de 2006 e o curso para bebês na UFBA começou

em setembro. Leila nos acolheu como parte da família (pelo menos nos sentíamos assim) e

seu apoio foi fundamental para nos sentirmos bem em uma terra desconhecida, com pessoas

estranhas e costumes diferentes.

O curso para bebês teve uma aceitação quase instantânea na comunidade

soteropolitana. No início teríamos somente 2 turmas, mas tivemos que ampliar para 5 turmas

antes do início das aulas, dada a tamanha procura pelo projeto.

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18 

 

Em dezembro deste mesmo ano, fiz a prova para ingressar no curso de mestrado e com

muita alegria fui aprovada. Neste momento, outra pessoa muito especial entrou em minha

vida, minha orientadora Alda Oliveira, que me fez refletir sobre as práticas do professor de

música e sobre a importância de um ensino eficaz que considere o aluno e as ações

pedagógicas e não somente o conteúdo.

Leila foi fazer seu doutorado em Porto Alegre e deixou Marineide Costa com a

coordenação do projeto de extensão. Mari, com sua vasta experiência em Educação Infantil

me mostrou outras possibilidades e contribuiu para a ampliação do meu repertório de

atividades. No ano seguinte (2008), Mari, confiando na minha capacidade, deixou a

coordenação do Projeto de Musicalização Infantil sob a minha responsabilidade. Desta forma,

a partir de 2008, assumi a coordenação do Curso incluindo as crianças de 0 a 6 anos. Desde

então assumi responsabilidades que vão além da sala de aula, que vem contribuindo muito

para o meu crescimento profissional.

Agora que o leitor já sabe um pouco sobre a minha vida e sobre como cheguei até

aqui, posso falar um pouco sobre minhas inquietações sobre o tema e propriamente sobre as

razões desta pesquisa.

***

Atualmente, em especial no contexto brasileiro, a formação do professor de música

precisa acontecer de forma ampla e eficaz, contemplando não somente o planejamento

curricular e a sua formação musical, mas também com informações que considerem as

relações e articulações entre pais, bebês, professor, contexto e atores presentes em todo

processo da formação musical e, ainda, que realizem articulações pedagógicas considerando o

planejamento/prática de ensino, o nível de desenvolvimento dos alunos, as características e

expectativas dos pais, as características do contexto sociocultural e dos momentos didáticos, a

instituição que oferece o curso e o repertório musical selecionado.

Diante das diversas possibilidades de comunicação presentes no mundo contemporâneo,

e dos mais recentes estudos da área, a educação musical está cada vez mais sendo iniciada nos

primeiros anos de vida do ser humano. No entanto, existem poucos estudos sistemáticos

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19 

 

sobre a inserção da música no ensino Infantil, e especialmente, que estudem a utilização de

abordagens e técnicas que influenciam o desenvolvimento do nível de aprendizagem musical

significativa e de atitudes nos alunos. Portanto, urge a testagem e o desenvolvimento de

abordagens de ensino de música para os primeiros anos de vida, que articulem conhecimentos

e saberes dos contextos escolares e não-escolares brasileiros.

Esta pesquisa focalizou a identificação e análise de ações do professor em aulas de

musicalização para bebês que pudessem ser relacionadas com as características da

Abordagem PONTES (OLIVEIRA, 2001). Sendo assim, o propósito deste estudo foi

verificar como a utilização da Abordagem PONTES pode influenciar o surgimento de

articulações pedagógicas significativas entre os atores do processo educativo-musical, que

contribuam para o desenvolvimento do nível de aprendizagem musical e de atitudes nos

alunos participantes do projeto de musicalização para bebês da UFBA.

O Curso de Musicalização para bebês na UFBA surgiu para ampliar o quadro de

cursos de extensão da Instituição, onde as crianças podiam iniciar sua educação musical

apenas aos 5 anos de idade. Atualmente, o projeto foi agregado ao Curso de Iniciação

Musical. Desta forma, o curso de Musicalização Infantil passou a agregar crianças de 0 a 6

anos, num trabalho conectado entre professores e estagiários.

O grupo escolhido para ser pesquisado neste trabalho foi o das crianças de 0 a 2 anos,

que fazem as aulas acompanhadas por seus responsáveis. No período de coleta de dados desta

pesquisa tínhamos 4 turmas de crianças desta idade, sendo que as aulas de todas as turmas

foram registradas durante todo o semestre.

Visando abordar a seguinte questão de pesquisa, “Como a utilização da Abordagem

PONTES influencia o nível de aprendizagem musical e de respostas nas aulas de

musicalização para bebês?”, este estudo foi desenvolvido, usando-se uma metodologia

qualitativa, mais especificamente a técnica de estudo de caso.

O principal objetivo desta pesquisa foi identificar, descrever e analisar situações

específicas de articulações pedagógicas significativas1 coletadas nas aulas de musicalização

para bebês da UFBA, verificando o nível de aprendizagem e de respostas dos atores

envolvidos no processo educativo-musical. Para tal, uma criança foi selecionada e observada,

                                                            1 Este termo aparece por diversas vezes durante o trabalho e entende-se que articulações pedagógicas significativas são aquelas que relacionam os novos conhecimentos com os conhecimentos prévios do aluno.

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sendo que a partir destas observações foram selecionados episódios em vídeo que pudessem

exemplificar as articulações pedagógicas utilizadas durante um semestre. A partir destes

exemplos foi possível observar a aprendizagem musical desta criança e as articulações

pedagógicas que de alguma forma contribuíram para o seu desenvolvimento.

Espera-se que os resultados deste trabalho possam auxiliar professores em formação

que tenham interesse em musicalização para bebês, e que guiados pela Abordagem PONTES

possam refletir sobre suas ações docentes, aprimorando assim suas práticas em sala de aula.

Também espera-se que pais de crianças de 0 a 2 anos possam compreender a didática musical

para esta faixa etária, compreendendo também algumas ações realizadas pela professora.

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21 

 

CAPÍTULO 1

MÚSICA E BEBÊS

O primeiro capítulo se destina a colaborar com uma revisão da literatura produzida

sobre o assunto abordado nesta dissertação, ou seja, o ensino de música para bebês. Portanto,

abordará primeiramente, o desenvolvimento da criança de 0 a 2 anos de idade, apresentando

em linhas gerais, os principais teóricos que estudaram o assunto. Em seguida, será

apresentada uma perspectiva histórica sobre alguns cursos de Musicalização para bebês que

estão sendo desenvolvidos no Brasil. Para finalizar o capítulo, será apresentado um relato

sobre as principais características das aulas que têm sido realizadas no curso de Musicalização

para Bebês da UFBA, que é o foco central deste trabalho.

1.1 O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA DE 0 A 2 ANOS

Quando se fala sobre desenvolvimento infantil alguns autores tem notável destaque,

como Piaget e Vigotsky, por exemplo. Jordan-Decarbo e Nelson (2002), afirmam que a

cognição tende a se desenvolver como uma função de maturidade biológica na interação com

a experiência. Segundo os autores as interações resultam nas transformações de estruturas

mentais que possibilitam a construção de novos conhecimentos e novos tipos de interações

com o ambiente físico e social. O ambiente social e as relações interpessoais modificam as

respostas dos indivíduos à determinados estímulos, e estas respostas podem modificar a

estrutura mental que constitui o desenvolvimento. Entende-se por desenvolvimento “certas

mudanças que ocorrem no seres humanos (ou animais) entre a concepção e a morte. (...)

aquelas que aparecem de maneira ordenada e que se mantém por um período longo de tempo

razoavelmente longo” (WOOLFOLK, 2000, pág 36).

De acordo com Piaget e sua Teoria de Desenvolvimento Cognitivo a criança de 0 a 2

anos encontra-se em um primeiro estágio, o Sensório-motor. As realizações dos bebês

consistem em grande parte na coordenação de suas percepções sensoriais e em

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comportamentos motores simples, sendo que seu conhecimento é adquirido através da ação.

Quando se movem através de seis subestágios deste período, os bebês passam a reconhecer a

existência de um mundo externo a eles e começam a interagir com ele de maneiras

deliberadas (COLE e COLE, 2004). O bebê começa a fazer uso de imitação e a reconhecer

que os objetos não deixam de existir quando estão ocultos. Passa das ações reflexas para a

atividade voltada para um objetivo (WOOLFOLK, 2000).

O primeiro subestágio (0 – 1 mês) é caracterizado pelo uso dos reflexos, e é marcado

pela conexão inicial entre os bebês e seus ambientes. Segundo Piaget (LÓPEZ, 1974),

minutos após o nascimento o bebê é capaz de mostrar o esquema de sucção no momento em

que um estímulo externo entra em contato com a sua boca. Este reflexo torna-se contínuo e a

criança o assimila como alimento (do seio ou da mamadeira) e se, porventura, lhe oferecem

algo que não seja esses elementos, ela chora. Esses reflexos permitem que a criança

sobreviva, aprenda e se adapte ao mundo em que vive, constituindo uma das bases para as

atividades inteligentes posteriores.

Outro reflexo comum é a preensão. Embora não haja intencionalidade na ação, a

criança agarra um objeto somente por agarrar. Segundo o autor, a criança ainda não é capaz

de representar mentalmente, portanto, só concebe aquilo que assimila e é capaz de reconhecer

o que já conhece. Não faz distinção sobre o que é parte do seu corpo e o que é meio exterior

(DOLLE, 1995, pág 60).

Não há muitos indícios de imitação neste período. Algo que se pode considerar é que

quando o recém nascido ouve o choro de outro bebê, ele pode começar a chorar também. O

choro também é utilizado como forma de comunicação para alertar a fome ou algum mal estar

(DELDIME e VERMEULEN, 2004).

No segundo subestágio (1 – 4 meses), a criança está mais centrada nela mesma e com

pouca ação sobre o exterior. É chamada de egocêntrica (LÓPEZ, 1974). Nesta fase os bebês

repetem as ações agradáveis pelo simples fato de serem agradáveis, como colocar o polegar

acidentalmente na boca e em seguida levá-lo à boca novamente para chupá-lo mais um pouco

(COLE e COLE, 2004). A criança fixa o olhar no objeto, porém, só o agarra se tocar nele por

acaso (DOLLE, 1995).

Vários esquemas são importantes: sucção, visual, preensão, vocalização e audição. Os

esquemas se enriquecem e o objeto vai apresentando outros aspectos. A mamadeira, por

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exemplo, no início serve somente como alimento e esquema de sucção e posteriormente

também como esquema visual e de preensão (LÓPEZ, 1974, pág 53). Nesta fase ainda é clara

a ausência de noção de objeto, pois se algo sai da vista da criança ela ainda não consegue ter a

noção de que o objeto se deslocou, para ela este quadro simplesmente não existe mais. Nesta

fase é mais nítida a imitação do choro de outro bebê.

O terceiro subestágio (4 – 8 meses) é caracterizado pela intencionalidade nas ações da

criança. A criança tenta fazer com que os “espetáculos interessantes durem” e “faz algo com o

fim de obter algo” (LÓPEZ, 1974, pág. 41). Neste momento o bebê começa a interagir com o

meio externo e não se contenta em somente agarrar o objeto e sim explorar suas cenas e sons.

O interesse se encontra no resultado da ação e não somente na atividade em si. Nesta fase já

pode existir o jogo, quando a criança agita o móbile do berço, por exemplo, somente pelo

prazer de ver o objeto ir e vir. A criança já estabelece suas primeiras referências, como a voz e

o rosto da mãe, do pai, etc. (DELDIME e VERMEULEN, 2004).

O quarto subestágio (8-12 meses) é caracterizado pela superação de obstáculos. A

criança é capaz de superar alguns obstáculos para chegar a um fim, como afastar algo para

pegar um objeto, por exemplo. Desta forma, pode-se dizer que há uma antecipação do objeto,

pois a criança ao vencer o obstáculo já tem em mente o que está por vir e onde quer chegar

com a ação. Piaget chama isso de “antecipação de eventos” (LÓPEZ, 1974, pág. 43), e certos

sinais provocam certas expectativas: quando uma porta abre, por exemplo, a criança olha e

espera aparecer alguém.

Em relação a objetos desconhecidos, a criança tem maior curiosidade e há uma maior

exploração de objetos estranhos através de observações mais longas, como se quisesse

compreender o objeto. No entanto, a criança faz o mesmo tipo de experimentação para todos

os objetos, esfregando-os na parede para explorar o som, por exemplo.

No que diz respeito à imitação, a criança já consegue reproduzir os mesmos

movimentos anteriormente produzidos pelos adultos. Porém esta imitação não é imediata,

visto que o bebê faz algumas experimentações até chegar ao movimento em si, como se

estivesse buscando o melhor “caminho”.

O quinto subestágio (12 – 18 meses) é uma fase de muita exploração (DELDIME e

VERMEULEN, 2004). Nesta fase a exploração de objetos se dá por eles mesmos, ou seja, a

criança explora um objeto e observa suas reações. É “experimentar para ver” (LÓPEZ, 1974,

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pág. 44). A contínua exploração leva a criança a designar novos usos para o objeto, num

“estágio da elaboração do objeto”.

Através do “descobrimento de novos meios através de experimentação ativa”

(LÓPEZ, 1974, pág. 45) a criança relaciona os meios com os fins e é capaz de utilizar ações

facilitadoras para obter o fim com maior êxito. Nesta fase o objeto permanece como si próprio

independente de seus deslocamentos. A criança é capaz de encontrá-lo em um ou outro lugar.

A imitação se torna muito mais precisa do que nos estágios anteriores. O jogo se manifesta

como na fase anterior, porém há uma repetição compulsiva, o que Piaget chama de

Ritualização (como jogar objetos no chão para que um adulto junte, por exemplo).

No sexto e último subestágio do período sensório-motor (dos 18 meses em diante), há

os primeiros indícios de imagem interior e representação mental do objeto exterior. A criança

começa a inventar novas soluções através de um trabalho mental de uma exploração interna.

Há uma representação da ação através de imitação. É um período de representação e

invenção, em que novas ações são surpreendentes. A criança já estabelece um conceito

interno de sua imagem corporal.

Nesta fase a imitação não se dá somente na presença do modelo, e sim pode ocorrer na

sua ausência após intervalos longos ou curtos. “A imitação leva à formação da imagem

interior (e não o contrário) e a transmissão progressiva desses processos vai desde a formação

de conceitos até a complexidade da linguagem interna” (LÓPEZ, 1974, pág. 70). O jogo se

torna “símbolo lúdico”, devido à capacidade de representação mental. A criança é capaz de

imitar ações do seu cotidiano como fingir dormir, fingir comer algo gostoso.

Sloboda (2008) acredita que os estágios sugeridos por Piaget surgem das

‘acomodações’ que ocorrem na medida em que outras habilidades são aprendidas pela criança

e que em dado momento estes ajustes agregam a outras áreas de conhecimentos em que o

indivíduo domina. Segundo o autor:

Se olharmos o desenvolvimento musical com olhos piagetianos, precisaremos estar atentos à possibilidade de descobrirmos seqüências invariáveis de desenvolvimento musical, possivelmente relacionadas a mudanças gerais em outros domínios cognitivos. Tais seqüências dariam conta não dos aspectos precisos do comportamento musical encontrado – isso dependeria de cultura, motivação e oportunidade – mas dos tipos de

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atividades musicais encontrados a cada idade, em virtude das capacidades cognitivas gerais que estes tipos de atividades requerem. (pág. 258)

Em virtude da autora do presente trabalho estar há anos desenvolvendo trabalhos com

música para bebês, e também estar em contato com alguns professores e estudiosos no

assunto, sua visão pessoal é de que, embora os estudos de Piaget sejam precursores e de

extrema importância para o conhecimento sobre Desenvolvimento Cognitivo, eles não

precisam ser tomados como única fonte de referência, visto que cada criança se desenvolve a

seu tempo e que existem outros fatores que podem contribuir para a aquisição de

conhecimentos e habilidades. De acordo com Hargreaves e Zimmerman (ILARI, 2006),

vários teóricos sugeriram que a consistência funcional dos estágios não é tão evidente

conforme sugere Piaget, e que “as evidências empíricas de que os estágios consistem em

conjuntos logicamente correlacionados de operações não são convincentes.” (pag. 235).

Sendo assim, outro estudioso de grande importância, Vigotsky, afirma que o ser humano se

desenvolve a partir da relação com outro, e que a influência cultural pode moldar o

funcionamento psicológico do homem. (TAILLE, OLIVEIRA E DANTAS, 1992). Segundo

Vigotsky a compreensão sobre o funcionamento do cérebro humano fundamenta-se em sua

idéia de que as funções psicológicas superiores são construídas através da história social do

homem, e na sua relação com o mundo (TAILLE, OLIVEIRA E DANTAS, 1992).

Este estudioso construiu uma teoria que relacionou a linha que emerge de dentro para

fora combinada com a linha sócio-histórica que influencia a criança de fora para dentro.

Sendo assim, focalizou seu trabalho na influência da cultura na criança, afirmando que as

pessoas criam ferramentas psicológicas para aprender a lidar com o seu próprio

comportamento (CRAIN, 1992).

Pensando nisso, este autor criou a chamada “Zona de desenvolvimento proximal”. De

acordo com Woolfolk (2000), a “Zona de desenvolvimento proximal” de Vigotsky é a área

em que a criança não consegue resolver um problema sozinha, mas pode vir a conseguir se

tiver a colaboração de um adulto ou colega mais avançado.

É extremamente importante que pais e educadores tenham conhecimento sobre o que a

literatura diz sobre o desenvolvimento dos pequenos, para que isso possa facilitar o estímulo

das mais diversas competências, incluindo as musicais.

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1.2 DESENVOLVIMENTO MUSICAL INFANTIL

A habilidade musical é adquirida através da interação com um meio musical. Consiste na execução de alguma ação cultural específica em relação aos sons musicais. Entretanto a habilidade musical é construída sobre uma base de competências e tendências inatas. Todo desenvolvimento humano envolve alguma forma de construção a partir daquilo que já é presente. Como todos os cérebros humanos são parecidos, e como alguns aspectos da experiência são comuns a todos os seres humanos (por exemplo, a experiência do mundo físico e de suas propriedades), tem sido possível identificar certos aspectos da aquisição de habilidades no início da vida, que parecem ser compartilhados por todos os seres humanos. (SLOBODA, 2008, pág. 257)

Este mesmo autor afirma que a influência cultural, chamada por ele de enculturação, pode

colaborar para o desenvolvimento cognitivo das pessoas. Ele diz que inicialmente o ser

humano se encontra com um conjunto de capacidades primitivas, presentes no nascimento ou

logo após. Em contrapartida, existe um conjunto compartilhado de experiências

proporcionado pela cultura às crianças, à medida que crescem. Ao mesmo tempo, existe um

impacto de um sistema cognitivo geral que muda rapidamente, quando muitas outras

habilidades baseadas na cultura são aprendidas. Esses elementos combinados entre si podem

resultar em uma seqüência de realizações parecidas entre a maioria das crianças de uma

mesma cultura. Desta forma, podemos notar a importância da cultura para o desenvolvimento

musical infantil (SLOBODA, 2008)

1.2.1 Feto

A música é uma das múltiplas formas de comunicação entre a mãe e o bebê e, muitas

vezes, é usada antes mesmo do nascimento. “O feto é capaz de reagir ao som aos cinco ou

seis meses após a sua concepção” (COLE e COLE, 2004, pág. 111). Durante muito tempo

acreditou-se que os ruídos provenientes do corpo da mãe eram tão intensos que podiam

mascarar a maioria dos sons externos. No entanto, recentemente descobriu-se que os fetos

podem discriminar estes sons. Porém, ao ouvir os sons externos, estes passam através do

abdômen da mãe e do líquido amniótico, desta forma, soam diferentes no útero do que fora

dele (COLE e COLE, 2004). Estudos sobre a percepção musical do feto revelam que alguns

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sons, como ataques das notas musicais, por exemplo, se perdem no fundo acústico, mas que o

balanço entre agudos, médios e graves e o caráter da música sofrem pequenas alterações

(ILARI, 2002). “Sons internos e externos transformam o útero em um ambiente acústico

estimulante para o feto.” (ILARI, 2006, pág. 274)

Uma forma de investigar a audição fetal é através das mudanças de batimentos

cardíacos na criança ainda na vida intra-uterina. Uma pesquisa realizada por Olds em 1986

(citada em ILARI, 2006, pag. 274) sugeriu que os batimentos cardíacos do feto sofreram

alterações quando expostos a dois tipos de músicas: musica lenta e calma resultou em

batimentos cardíacos lentos, enquanto música rápida acelerou os batimentos do feto. Os

resultados deste estudo indicam que a audição musical se inicia desde o útero materno.

De todos os sons, a voz materna é o que melhor se ouve durante a gestação, devido às

vibrações transmitidas através de seu corpo. Pesquisas mostram que quando a mãe fala frases

curtas em voz alta, é possível detectar mudanças na freqüência cardíaca do feto (COLE e

COLE, 2004). Algumas experiências utilizando o registro da voz natural da mãe e sua voz

filtrada para se assemelhar ao que o feto ouvia quando estava dentro do útero, revelam que os

recém nascidos preferem a última (COLE e COLE, 2004).

O aparelho auditivo dos bebês já está em pleno funcionamento a partir do sexto mês

de gravidez, quando o feto já escuta relativamente bem e responde a estímulos sonoros, ainda

no útero (ILARI, 2002). Segundo Lévy (1993), desde a vida intra-uterina o bebê ouve os sons

emitidos e percebe as vozes da mãe e do pai, bem como as palavras que lhe são dirigidas. É

papel fundamental da família estimular os sentidos da criança, para que esta tenha acesso a

uma expressão sonora que seja “sua expressão própria, prelúdio da linguagem e abertura para

a música” (LÉVY, 1993). A criança que for estimulada desde cedo terá maiores condições e

vontade de falar do que a criança pouco estimulada.

1.2.2 De recém nascidos até 2 anos de idade

Os primeiros contatos físicos e emotivos, bem como os estímulos auditivos, são muito

importantes para o desenvolvimento do bebê. Portanto, é certo que há uma comunicação

muito forte entre o bebê e sua mãe e esta relação deve ser trabalhada e bem estruturada. Trata-

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se de uma comunicação que é inicialmente intuitiva, conforme sugerem Trevarthen &

Malloch (2002).

Um bebê de até 3 minutos de vida pode ficar em estado de alerta e até mesmo chorar

quando exposto a um ruído alto. Também poderá inclinar sua cabeça para a direção da fonte

sonora, o que indica sua percepção ao som no espaço (COLE e COLE, 2004). Ao nascer, os

bebês já demonstram sensibilidade a diversas propriedades do som, como altura e intensidade,

por exemplo (ILARI, 2006). Do terceiro trimestre de gestação aos três meses de vida pós-

natal, os bebês discriminam melhor os sons graves do que os agudos, provavelmente devido

aos fluidos presentes em seu ouvido, que são absorvidos e expelidos durante os primeiros

meses de vida (ILARI, 2006). Por volta dos seis meses os bebês passam a ouvir melhor os

sons agudos do que os graves. Somente por volta dos dois anos de idade é que a audição da

criança se torna mais equilibrada e, lentamente, até os 10 anos, se assemelha ao nível de um

adulto (COLE e COLE, 2004). Sabe-se que entre o nascimento e os 10 anos de vida, as

distinções entre alturas, timbres e intensidades se desenvolvem e se tornam mais refinadas

(ILARI, 2005).

Com apenas três dias de vida os bebês mostram preferência, ou seja, atenção

diferenciada, e reconhecem a voz materna à de outra mulher, além de reconhecer histórias e

canções ouvidas durante o último trimestre de gravidez. Estudos revelam que quando um bebê

ouve a mesma música que ouvia durante a gestação, exibe mudanças nos batimentos

cardíacos e movimentos corporais (ILARI, 2002).

Os bebês também conseguem identificar frases musicais. Alguns estudos foram feitos

medindo a preferência musical, isto é, a atenção diferenciada, dos bebês a minuetos de Mozart

com pausas naturais (no final de cada frase) – onde mostraram preferência – ou pausas

artificiais (no meio das frases). Os bebês se mostraram mais atentos às frases com pausas

naturais, o que sugere a existência de uma noção, ainda que elementar, de forma musical (ver

ILARI, 2002).

Um estudo realizado por Chang e Trehub em 1977 (citado em SLOBODA, 2008, pág.

263) sugeriu que bebês de apenas 5 meses já são sensíveis à estruturas seqüenciais, no

entanto, ainda não conseguem perceber pequenas mudanças de alturas. Para medir a

percepção dos bebês foram observadas as mudanças nos batimentos cardíacos das crianças,

sendo este um indicador confiável de medição. À medida que os bebês se acostumavam com

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determinado estímulo, seus batimentos cardíacos se estabilizavam. Sendo assim, quando os

bebês se habituavam a uma melodia, eram expostos a uma segunda melodia, com um

contorno diferente. Notou-se que os batimentos cardíacos se alteraram quando os bebês foram

expostos à segunda melodia. No entanto, quando a primeira melodia foi apresentada em outra

tonalidade, os batimentos permaneceram estáveis. Portanto, este estudo sugeriu que os bebês

perceberam mudanças nos contornos melódicos, no entanto, não perceberam mudanças de

alturas.

De acordo com Sloboda (2008) até os seis meses de idade os bebês raramente

demonstram algum comportamento que possa ser chamado de musical. No entanto, há de se

tomar cuidado com o que é considerado musical para um adulto e o que é conscientemente

musical para uma criança. Um comportamento comum que pode ser relevante musicalmente é

a habilidade de os bebês imitarem os contornos da entonação vocal, conhecida como balbucio.

O balbucio melódico é composto por glissandos e microtons, movimentos suaves em uma

gama de alturas. Gardner (1981, citado em SLOBODA, 2008) comenta que as crianças não

utilizam intervalos discretos de altura até por volta dos 18 meses.

Num estudo, Moog (1976, citado em SLOBODA 2008) expôs vários bebês a testes

musicais e verificou que quase todos reagiram com algum movimento corporal,

principalmente quando expostos a canções e músicas instrumentais, no entanto, estes

movimentos não estavam ritmicamente coordenados com as músicas. O pesquisador

descobriu que por volta dos nove meses de idade os bebês começam a fazer vocalizações

particulares em relação à música ouvida, o que ele chama de ‘balbucio cantado’, uma vez que

as vocalizações variam em altura, mas não apresentam variedade de fonemas. Entretanto o

balbucio cantado não apresentava relação com o ritmo e altura da canção tocada e parecia ser

apenas uma manifestação de prazer diante dos sons.

Aos 18 meses há evidências de canto espontâneo, que é diferente do balbucio cantado,

pois apresenta o uso de alturas discretas estáveis, sendo que no balbucio cantado utilizava

glissandos microtonais (SLOBODA, 2008). Moog (1976, in SLOBODA, 2008) observou que

por mais que normalmente nesta idade a criança já tenha começado a falar, as palavras não

são usadas no canto espontâneo. No entanto podem ocorrer palavras soltas ou pedaços de

palavras, que vão sendo exploradas na tentativa de imitar canções ouvidas.

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De acordo com McDonalds e Simons (1989), dos 6 aos 12 meses de idade a criança

realiza o balbucio musical. Dos 12 a 18 meses, as vocalizações dos bebês provém de

experimentações vocais, sendo que padrões rítmicos e melódicos começam a aparecer nas

vocalizações dos 19 aos 24 meses, quando também surgem pequenas canções espontâneas,

consistindo de pequenos intervalos melódicos com padrões rítmicos flexíveis. A partir dos 24

meses é possível perceber que a criança adquire habilidade para cantar partes de canções, bem

como canções espontâneas utilizando padrões melódicos aprendidos. Em relação ao

desenvolvimento rítmico os autores relatam que com seis meses a criança realiza movimentos

corporais generalizados ainda não completamente sincronizados com a música, sendo que sua

resposta aos sons é generalizada. Com dois anos a criança adquire movimentos de braços e

pernas com sincronização temporária e pulso. Vale ressaltar que estes estudos foram

realizados com crianças européias e norte-americanas e que o resultado com crianças

brasileiras pode ser diferente, considerando a influência sócio-cultural.

1.2.3 O canto e a fala dirigidos ao bebê

Os bebês conseguem distinguir os sons da fala humana de outros sons, e parecem

preferi-los. Pesquisas na área da aquisição da linguagem mostram que as mães exercem um

tipo de fala específica quando se dirigem aos seus bebês (BRÁZ e SALOMÃO, 2002). Este

tipo de fala é diferente da fala normal, dirigida aos adultos. A mãe, intuitivamente, muda o

registro de sua voz, que normalmente apresenta uma altura elevada, lenta e com pronúncia

exagerada, conhecida como “fala do bebê” (COLE e COLE, 2004) ou “motherese” (BRÁS E

SALOMÃO, 2002). Isso traz certo conforto para o bebê, de forma que ele sabe quando estão

se dirigindo a ele.

Assim como a fala, o canto direcionado ao bebê também possui suas particularidades,

como o uso do registro agudo, diminuição do andamento e uma qualidade expressiva (ILARI,

2006), que pode ser chamado de canto direcionado ao bebê (infant-directed singing). As

canções das mães normalmente são atraentes e há uma expressividade facial acentuada, o que

propicia uma maior fixação e atenção. Vale considerar que normalmente as mães favorecem

um ambiente musical misturado com necessidades emocionais e de interesses das crianças, o

que fornece um “andaime” para a aquisição de conhecimentos futuros (TREHUB, 2001).

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Normalmente os pais são os primeiros cantores de seus filhos, e a música pode se fazer

presente em pelo menos duas finalidades: relaxamento e entretenimento.

Alguns estudos mostram que dentre as funções do canto dirigido ao bebê está a de

regular as emoções entre pais e filhos, porque através deste canto, as mães expressam emoção

e afeto (ILARI, 2006). Vale ressaltar que os bebês estão atentos à expressividade vocal

presente no canto dirigido, pois são capazes de diferenciar versões dirigidas das não dirigidas,

ou seja, canções que foram gravadas sem a presença de crianças. Isso se deve ao fato de os

pais mudarem a forma de cantar e trazerem as emoções à tona quando seu filho está por perto.

(TREHUB, 2001).

O canto e a fala dirigidos ao bebê podem influenciar na comunicação e na interação

com seus responsáveis. Os contornos melódicos (da fala e da música) são aspectos

importantes que constituem a base da percepção musical no início da vida. O bebê pode não

entender as palavras que estão sendo ditas, mas sabe, instintivamente, que estão sendo

dirigidas a ele quando há um exagero no contorno melódico, uso do registro vocal agudo,

andamentos lentos e expressividade acentuada (ILARI, 2002 e 2006). Contornos descendentes

são geralmente utilizados para acalmar, enquanto os contornos ascendentes para chamar a

atenção da criança (FERNALD, 1989, citado em ILARI, 2002).

Já vimos que os pais manifestam uma maneira particular ao cantar para os seus filhos.

Mas o que eles cantam? Em quais atividades os pais utilizam música com seus filhos? Num

estudo, Trehub e colegas (1997, citado em ILARI, 2006) compararam o canto direcionado ao

bebê por pais e mães canadenses. Os resultados sugeriram que, enquanto as mães costumavam

cantar as canções esteriotipadas, simples e normalmente conhecidas e cantavam com certa

regularidade. Já os pais cantavam músicas mais complexas, inventadas e nem sempre infantis,

e não havia regularidade. Contudo, os pesquisadores notaram o mesmo tipo de envolvimento,

afetividade e expressividade nos cantos maternos e paternos.

Uma pesquisa realizada em Curitiba com 25 mães de bebês com idades entre 0 a 18

meses (BROOCK, 2004), revelou que 100% das mães tinham o costume de cantar para seus

bebês, sendo que 52% cantavam somente músicas dita infantis e as demais cantavam também

músicas lentas, religiosas e as que ouviam no rádio. Nota-se que, como na pesquisa de

Trehub, as mães também tinham o hábito de cantar músicas esteriotipadas. Dentre as

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finalidades, 48% utilizavam a música para a criança dormir e brincar, 44% somente para

dormir e 4% somente para brincar.

Através das afirmativas acima é possível notar a importância do canto dirigido à

criança. Portanto, isso deve ser considerado nas aulas de musicalização para bebês,

principalmente por considerar que os pais geralmente estão presentes nas aulas. É função do

professor de música incentivar os pais a cantar para suas crianças. As aulas de musicalização

podem ajudar os pais neste sentido, ampliando seu repertório de músicas e atividades que

podem ser utilizadas em casa com suas crianças.

1.3 MUSICALIZAÇÃO PARA BEBÊS

Em diversas culturas do mundo, as mães utilizam a música para acalmar seus bebês,

embalando-os com uma canção de ninar. A música nesse período do desenvolvimento do

bebê é importante, pois além de servir de estímulo ao sono ainda serve para o seu

entretenimento (ILARI, 2002). Além disso, algumas mães cantam de maneiras muito

particulares aos seus bebês, geralmente com a finalidade de demonstrar amor e afeto. Segundo

Ilari (2005), o desenvolvimento cognitivo-musical normalmente está associado a diversas

funções psico-sociais como comunicação, inclusive de emoção, entre crianças e adultos.

Existem canções de ninar e de brincar em diversas culturas e um dos fatores que

diferenciam uma da outra é o andamento. Canções de brincar são geralmente mais rápidas,

pois servem para estimular brincadeiras, contendo em suas letras jogos de palavras e

sugestões de movimentos, auxiliando a percepção auditiva, a coordenação motora, a

sociabilidade, a linguagem e a musicalidade do bebê. Já as canções de ninar são geralmente

mais lentas, pois servem exclusivamente para acalmar o bebê e estimular o sono (ILARI,

2002). Considerando a relevância destes momentos, é necessário que as aulas de

musicalização possam incluir momentos de brincadeiras e momentos de relaxamento.

Como já foi dito, o bebê interage aos sons até mesmo antes do nascimento e muitas

pesquisas apontam seus resultados para as preferências dos bebês. Sendo assim, fica claro que

os bebês são ouvintes competentes e que a música é importante para o seu desenvolvimento e

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estas competências musicais infantis começam a ser exploradas nos programas de ensino de

música para bebês. Segundo Feres (1998), as aulas de musicalização têm vários objetivos,

tanto musicais quanto de socialização, estímulo à fala, ligação afetiva entre as crianças e seus

responsáveis, entre outros. Segundo Brito (2003), o processo de musicalização começa

espontaneamente e de forma intuitiva por meio de contatos com sons cotidianos, incluindo

sons musicais.

Alguns estudos sugerem que as práticas musicais das crianças e dos adultos auxiliam

tanto no desenvolvimento das habilidades perceptivo-musicais quanto no desenvolvimento

auditivo, motor, cognitivo, social, da atenção, da memória, sistemas de ordenação seqüencial

e espacial, além de ajudar a fortalecer a relação afetiva entre as pessoas (ILARI, 2005). Além

disso, segundo Beyer e Braga (2006), experiências sonoras podem auxiliar o desenvolvimento

da fala e do canto. Alguns estudos sobre aquisição da linguagem revelam que brincadeiras,

como parlendas, por exemplo, quando os pais interagem com a criança no colo num

movimento de ir e vir, podem desempenhar funções que vão muito além do afeto e do mimo,

sendo que o ritmo e o jogo corporal destacam as palavras, identificam unidades melódicas e

enfatizam alguns fragmentos por meio da rima e da repetição (BELINTANE, 2006).

Estudos da neurociência apontam a primeira infância como um dos períodos mais

propícios para o desenvolvimento do cérebro e de todas as atividades humanas. A educação

musical para crianças com idades entre 0 e 2 anos deve ser tratada com muita competência,

pois as aulas de musicalização podem direcionar a vida musical dos pequenos e, como já

visto, estimular a fala (SUZIGAN e SUZIGAN, 1996). Por esta razão é necessário que

programas de musicalização infantil sejam direcionados e que os professores estejam

preparados para encarar variadas situações e para considerar alguns dos vários fatores que

acabam sendo inerentes ao ensino da música, como a inserção de outras habilidades, visando

uma educação multidisciplinar capaz de facilitar o processo de ensino-aprendizagem,

trabalhando competências diferenciadas, utilizando a música não somente como fim, mas

também como meio, capaz de contribuir na formação de cidadãos e lidar com a diversidade

social e artística (OLIVEIRA, 2006).

A importância da Educação Musical Infantil vem crescendo gradativamente e sendo

cada vez mais reconhecida por pais e educadores. No entanto, ainda existem poucos

programas de Musicalização Infantil para Bebês no Brasil.

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34 

 

De acordo com Ricardo Freire (2008) o trabalho de educação musical infantil teve seu

provável início no Brasil por volta da década de 70, com iniciativas de Josette Feres em

Jundiaí, SP. Segundo o autor, os trabalhos pioneiros nas universidades brasileiras com a

implementação de cursos de extensão que atendessem às crianças da comunidade são de

autoria de Esther Beyer na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e de Ilza Joly, na

Universidade Federal de São Carlos. Motivado por estas iniciativas, o autor criou em 2002 um

curso semelhante de musicalização Infantil na Universidade de Brasília. Em 2003, a Profa.

Dra. Beatriz Ilari iniciou um curso de extensão de Musicalização Infantil na UFPR, no qual a

autora da presente pesquisa pôde iniciar sua prática com bebês, além de ter oportunidade de

estar ligada à pesquisas nesta área.

Os objetivos dos cursos de musicalização para bebês citados são muito parecidos e,

considerando que a maioria faz parte de projetos de extensão universitária, têm-se uma

preocupação com a formação de professores e integração da universidade com a comunidade.

Sendo assim, os objetivos consistem em (ILARI, 2004, FERES, 1998):

- Proporcionar oportunidades guiadas de ensino de musicalização infantil aos alunos dos

cursos de licenciatura em música;

- Despertar e desenvolver a percepção e a produção musical (rítmica, melódica, harmônica e

timbrística) das crianças da comunidade;

- Promover integração entre alunos e professores das universidades com as comunidades;

- Transmitir o conhecimento musical através do canto, movimento, criação e improvisação e

execução musical para crianças da comunidade e suas famílias;

- Desenvolver a percepção musical das crianças;

- Desenvolver habilidades pedagógicas de alunos dos cursos de licenciatura através de

experiências práticas reais;

- Contribuir para o relacionamento afetivo entre os pais e filhos participantes dos projetos;

- Fornecer repertório para os pais utilizarem em casa;

- Estimular competências como o canto e a fala, além de desenvolver a musicalidade,

sensibilidade, percepção auditiva, psicomotricidade, senso rítmico e socialização.

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35 

 

Através das afirmativas acima é possível perceber a importância de projetos assim,

que visem atingir a comunidade e colaborar com a formação de novos professores. O curso de

musicalização para bebês da UFBA surgiu inspirado nestas idéias e preocupações.

1.4 PROJETO DE MUSICALIZAÇÃO PARA BEBÊS DA UFBA

O Curso de Musicalização para bebês na UFBA deu-se início em setembro de 2006 e

surgiu para ampliar o quadro de cursos de extensão da Instituição, onde as crianças podiam

iniciar sua educação musical apenas aos 5 anos de idade. Desta forma, inicialmente este

projeto contemplava crianças de 0 a 4 anos. Atualmente, o projeto está agregado ao Curso de

Iniciação Musical, e portanto agrega crianças de 0 a 6 anos, num trabalho conectado entre

professores e estagiários.

A proposta de implantar um curso de Musicalização para bebês na UFBA foi de

autoria desta professora e pesquisadora, baseada na sua experiência e motivação adquiridas na

UFPR, quando fazia parte do projeto de lá. Inicialmente o curso seria somente para os bebês,

ou seja, crianças de 0 a 2 anos. No entanto, como já havia um curso de Musicalização Infantil

para crianças de 5 e 6 anos na instituição, a proposta inicial se ampliou para contemplar

crianças de 0 a 4 anos, e assim completar a faixa etária da Educação Infantil.

Inicialmente, em setembro de 2006, o projeto teria somente 2 turmas, uma de 0 a 2

anos e outra de 3 a 4 anos. No entanto, dada a tamanha procura, logo no início já teve 5

turmas para crianças de 0 a 4 anos, todas acompanhadas por seus pais ou responsáveis durante

as aulas. As aulas aconteciam aos sábados e às segundas-feiras no período da manhã, sendo

duas turmas na segunda e três turmas no sábado. Obteve-se uma média de 10 alunos por

turma, totalizando 50 alunos.

Considerando que não havia iniciativas como esta em Salvador que fossem do

conhecimento da pesquisadora, a procura pelo curso foi aumentando gradativamente e houve

a necessidade de aumentar a quantidade de turmas. Sendo assim, em 2007 havia sete turmas

de crianças entre 0 e 4 anos, sendo esta pesquisadora a professora de todas estas turmas.

Como já foi dito anteriormente, em 2008 o curso se conectou ao projeto de musicalização já

existente da UFBA. Por isso, neste ano o curso passou a ter treze turmas para crianças entre 0

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e 6 anos e a contemplar aproximadamente 130 crianças. Neste caso, a pesquisadora continuou

com as turmas de 0 a 4 anos, sendo que as turmas de 5 e 6 anos eram ensinadas pelos

estagiários do projeto.

Com todas essas transformações foi necessário esta pesquisadora ir se adequando às

diferentes situações em relação ao ensino e à cultura. Por isso, a cada final de semestre o pais

respondiam (e respondem) um questionário de avaliação. Neste questionário eles podem

comentar sobre os seus filhos, sobre a didática aplicada e as posturas docentes, bem como

sobre os materiais e estruturas da EMUS/UFBA. Através destas respostas muitas medidas já

foram tomadas, como o cuidado da escola no que diz respeito à limpeza das salas, aquisição

de novos materiais, reflexões sobre as ações docentes e inserção de novas músicas para o

repertório, entre outros.

Considerando que a primeira atuação desta pesquisadora com musicalização para

bebês foi na UFPR, seus objetivos e o curso da UFBA em si, são reflexos de sua primeira

referência. Desta forma os objetivos deste projeto resumem-se em:

- Proporcionar aos alunos do curso de graduação em Licenciatura em Música

oportunidades guiadas de ensino de musicalização infantil, onde eles pudessem

aprender através da prática;

- Despertar e desenvolver a percepção e a produção musical das crianças da

comunidade;

- Promover uma maior interação entre a comunidade e a Universidade;

- Transmitir o conhecimento musical através do canto, jogos musicais, movimentos,

improvisação e execução musical;

- Desenvolver a percepção musical das crianças, bem como instigar a criação

espontânea;

- Auxiliar na relação afetiva entre os pais e seus filhos;

- Estimular competências e habilidades através de atividades musicais;

- Proporcionar aos pais elementos que possam ser trabalhados facilmente em casa, com

o intuito de reforçar os conteúdos aprendidos em aula e propiciar um elemento a mais

na relação entre pais e filhos.

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37 

 

Pode-se constatar que a participação dos alunos da graduação começou efetivamente

no ano de 2008, sendo que inicialmente ela se dava de forma indireta, através de observações

e algumas vezes como auxiliares da professora, através da execução de instrumentos

harmônicos variados, com o intuito de acompanhar as músicas utilizadas em aula. Em 2008,

quando esta professora assumiu a coordenação do projeto, pôde contribuir para a formação de

estagiários, principalmente para as turmas dos bebês. Esta contribuição se deu através da

inserção de alunos permanentes ajudando a professora, no caso, lecionando juntos nas

mesmas turmas, e através de reuniões periódicas para trocar materiais e atividades, bem como

discutir as questões metodológicas do projeto.

As aulas de musicalização consistem na sensibilização musical através de atividades

práticas envolvendo canto, movimento, improvisação, execução musical, jogos e brincadeiras,

resgatando o nosso patrimônio cultural através de rimas, lendas, parlendas, cantigas

folclóricas, canções de ninar e de várias partes do mundo, obras de música erudita e canções

inventadas, respeitando sempre o quadro de desenvolvimento físico, motor e cognitivo-

musical das crianças em questão. As aulas seguem, sempre que possível, um mesmo roteiro, e

sempre são marcadas por uma canção inicial e uma canção de despedida. Além de atividades

direcionadas, as aulas contêm alguns momentos livres, para que os pais possam brincar e

interagir com seus filhos. Ao final sempre há um momento de relaxamento. Descrições mais

detalhadas sobre a metodologia, estrutura das aulas, repertório, materiais utilizados, conceitos

trabalhados serão abordadas no capítulo de metodologia deste trabalho.

Desde sua criação pode-se dizer que as aulas de musicalização interferiram (e vem

interferindo) na conduta dos seus participantes. De acordo com um questionário aplicado aos

pais participantes do projeto em 2006 (BROOCK, 2007), pode-se constatar que as crianças,

de um modo geral, demonstraram grandes transformações no seu comportamento após o

ingresso nas aulas de música. Segundo os pais, as crianças passaram a cantar e dançar mais no

ambiente familiar, alguns tiveram uma melhora significativa na atenção, socialização,

coordenação motora, autonomia, iniciativa, expressão corporal, improvisação, ritmo, vontade

de tocar instrumentos para acompanhar o que estão cantando, curiosidade, melhora na

aquisição da linguagem e do vocabulário e, principalmente e de um modo geral, as crianças se

mostraram mais felizes. Em vários relatos informais, os pais disseram que ficaram admirados

com a diferença do comportamento da criança durante a aula de música e em casa, local em

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que se mostram muito mais à vontade e reproduzem tudo o que foi aprendido na aula, local

onde nem sempre as crianças participam ativamente (BROOCK, 2007).

É interessante considerar que dentre os alunos do curso, estiveram algumas crianças

com Síndrome de Down e Paralisia Cerebral. Os pais relataram que o interesse surgiu da

necessidade de inseri-las em alguma atividade que pudesse desenvolver a coordenação motora

e a socialização das crianças, e, segundo relatos posteriores, tanto dos pais das crianças quanto

de outros pais participantes, as crianças foram aos poucos se mostrando muito mais

independentes e muito mais felizes. Segundo Alvin (citado em JOLY, 2003), a música pode

contribuir para que a criança com necessidades educacionais especiais amplie seus limites

físicos ou mentais, despertando sua consciência perceptiva, seu desenvolvimento da audição e

do controle motor. Todos estes fatores, sendo desenvolvidos, favorecerão a integração social e

emocional da criança. Além disso, outros fatores também podem ser ampliados, como a

memória e a atenção, por exemplo. Contudo, pode-se dizer que o ensino da música contribuiu

de alguma forma para a qualidade de vida das crianças em questão, auxiliando a coordenação

motora e a socialização através do contato com outras crianças.

Contudo, nota-se a importância deste projeto na UFBA, considerando que seus

resultados têm atingido não somente os professores em formação, mas também uma

comunidade com mais de 130 pessoas, levando em conta que em muitas turmas as aulas

reúnem pais e filhos.

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39 

 

CAPÍTULO 2

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Considerando o crescente interesse da pesquisadora em Musicalização para bebês, os

grupos pesquisados foram os das crianças de 0 a 2 anos, que fazem as aulas acompanhadas

por algum responsável.

Visando abordar a seguinte questão de pesquisa, “Como a utilização da Abordagem

PONTES pode influenciar o surgimento de articulações pedagógicas significativas entre os

atores do processo educativo-musical que contribuam para o desenvolvimento do nível de

aprendizagem musical e de atitudes nos alunos nas aulas de musicalização para bebês?”, este

estudo foi desenvolvido, usando-se uma metodologia qualitativa, por meio da técnica de

estudo de caso.

2.1 ESTUDO DE CASO

Entende-se por pesquisa qualitativa “a tentativa de uma compreensão detalhada dos

significados e características situacionais apresentadas pelos entrevistados, em lugar da

produção de medidas quantitativas de características ou comportamentos” (RICHARDSON,

1999).

O estudo de caso é considerado como uma técnica de pesquisa completa, pois

considera a unidade social como um todo, com o objetivo de compreendê-los em seus

próprios termos (GOLDENBERG, 2007). No estudo de caso as diferenças de comportamento

da “média” aparecem e não ficam escondidos atrás da homogeneidade.

De acordo com Schramm (1971) citado em Yin (2005, pág. 31) “a essência de um

estudo de caso, a principal tendência em todos os tipos de estudos de caso, é que ela tenta

esclarecer uma decisão ou conjunto de decisões: o motivo pelo qual foram tomadas, como

foram implementadas e quais resultados”. Sendo assim, entende-se que esta foi a técnica que

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melhor se adequava ao presente estudo, uma vez que está sendo observada as ações da

professora e as reações da aluna, e vice-e-versa.

De acordo com Yin (2005) “O estudo de caso como estratégia de pesquisa

compreende um método que abrange tudo – tratando da lógica de planejamento, das técnicas

de coleta de dados e das abordagens específicas à analise dos mesmos”(p. 33). Sendo assim,

percebe-se a importância de um referencial teórico para analisar os dados recolhidos, a fim de

embasar e fundamentar as ações realizadas.

2.2 PROCEDIMENTOS

Com o intuito de alcançar os objetivos desta pesquisa, foram estruturados os seguintes

procedimentos:

a) Escolha dos sujeitos da pesquisa, ou seja, crianças de 0 a 2 anos regularmente

matriculadas no curso de extensão Musicalização infantil da Escola de Música da

UFBA. Para esta pesquisa, todas as turmas com crianças desta idade foram

observadas;

b) Realização das aulas com três turmas, sendo que no meio do semestre houve a

necessidade da abertura de mais uma turma, desta forma totalizando 4 turmas, dentro

do prédio da Escola de Música da UFBA, nas condições habituais em que são

geralmente organizadas;

c) Registro de todas as aulas do semestre em vídeo, filmadas por uma pessoa voluntária;

d) Aplicação de um questionário aos pais, com o intuito de verificar o uso da música fora

do ambiente da escola, bem como uma avaliação sobre a criança e o curso;

e) Recolha de autorizações e formulários de consentimento da pesquisa com a assinatura

dos pais que aceitaram colaborar com a pesquisa;

f) Análise dos questionários;

g) Seleção de uma criança para ser observada nos vídeos;

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h) Seleção de trechos das filmagens, buscando exemplos de situações didáticas onde

pudessem ser identificadas situações de ensino e aprendizagem significativas e

articuladas, e as características consideradas importantes e relevantes descritas pela

Abordagem PONTES;

i) Categorização dos exemplos de PONTES coletadas;

j) Análise dos dados coletados;

k) Resultados, conclusões, implicações e recomendações.

2.3 CONTEXTO E PARTICIPANTES

As crianças pesquisadas estavam regularmente matriculadas no curso Musicalização

para bebês da UFBA. Para esta pesquisa considerou-se 4 turmas, com aproximadamente 10

alunos por grupo, de crianças com idades entre 0 e 2 anos. Dentre estas, uma criança foi

selecionada para que seu comportamento fosse observado ao longo de 15 aulas através dos

vídeos. Os critérios para a seleção desta criança serão descritos posteriormente.

2.4 METODOLOGIA DE ENSINO

As aulas são2 realizadas na Escola de Música da UFBA, em uma sala espaçosa onde

há um piano, alguns armários onde são guardados os materiais e uma mesa para trocar fraldas

em um espaço reservado da sala. As aulas acontecem semanalmente e possuem a duração de

45 minutos. As turmas são divididas por idades, que podem variar entre 3 meses e 2 anos.

Cada turma possui cerca de dez alunos, cada um acompanhado de um adulto exercendo o

papel de cuidador, podendo ser a mãe, o pai, a babá, etc. O número de pessoas pode variar

conforme o dia, pois é muito comum os pais levarem algum convidado para participar da aula

ou alunos fazerem aulas experimentais para conhecer o curso para uma possível matrícula

posterior.

                                                            2 Utilizamos o presente, pois as aulas ainda acontecem desta forma.

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Sempre que possível, as aulas seguem um roteiro padrão, que será descrito

posteriormente, e são marcadas por uma canção inicial e uma canção de despedida. Além de

atividades direcionadas, as aulas propiciam alguns momentos livres, para que os pais possam

brincar e interagir com seus filhos, além de socializá-los. Ao final há um momento de

relaxamento. Todos os participantes assistem às aulas sentados em colchonetes, dispostos em

roda.

2.4.1 Materiais didáticos

Os materiais utilizados pelas crianças são basicamente instrumentos de percussão,

como caxixis, ovinhos de plástico, pandeirinhos, metalofones, maracas, entre outros, além de

materiais alternativos, como bolas coloridas de vários tamanhos, bambolês, tecidos coloridos,

baldes, bolinhas de sabão e latas. Além disso, são utilizados aparelho de som e CDs, bonecos

de pelúcia, fantoches e objetos do gênero. Devido à flexibilidade sugerida para o professor,

outros materiais podem ser utilizados, de acordo com a necessidade e aquisição dos mesmos.

De acordo com Feres (1998), é necessário pensar sempre na segurança da criança ao escolher

os materiais a serem utilizados.

Figuras 1 e 2: Tecido e ovinhos utilizados durante as aulas.

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2.4.2 Repertório

O repertório utilizado nas aulas varia entre músicas que sugerem movimentos através

de suas letras, cantigas de roda, canções de ninar, rimas, parlendas, brincos, cantigas

folclóricas, bem como músicas instrumentais, obras de música erudita e de várias partes do

mundo. As músicas são selecionadas de acordo com o objetivo de cada atividade e há uma

preocupação muito grande em proporcionar uma apreciação musical de forma ativa.

De acordo com o “Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil”

(Conhecimento de mundo) publicado em 1998 pelo Ministério da Educação, na página 64, o

repertório utilizado para a Educação Infantil deve contemplar obras de música erudita, da

música popular, do cancioneiro infantil, da música regional, etc., além da escuta de obras

musicais de diversos gêneros, estilos, épocas e culturas, da produção musical brasileira e de

outros povos e países.

Após a coleta de dados desta pesquisa, no ano de 2008, as aulas passaram a ter uma

nova dinâmica e o repertório se direcionou a temas semestrais. No primeiro semestre de 2008

utilizamos a obra da compositora Alda Oliveira “Passeio no zoológico”, publicada em 2003

pela Editora Solisluna. No segundo semestre do mesmo ano utilizamos a obra “O Circo” da

mesma autora, ainda não publicada, e gravamos um CD com as músicas da obra durante este

tempo. A escolha por temas proporcionou um direcionamento para as aulas, pois, além de os

alunos poderem vivenciar estes temas, puderam explorar as músicas que não eram conhecidas

por eles, ampliando assim seus repertórios.

Considerando que o primeiro semestre de 2008 teve como tema central o zoológico, a

professora explorou este tema nas aulas utilizando também músicas de outros autores. Desta

forma, todos os objetivos musicais foram trabalhados de formas lúdica e direcionada. No final

do semestre houve uma apresentação em um teatro de Salvador, onde as crianças puderam se

apresentar e interagir com as outras turmas que estavam se apresentando, visto que todos

conheciam todas as músicas que estavam sendo mostradas. Vale dizer que nesta apresentação

havia aproximadamente 100 crianças de 0 a 6 anos, divididas em 11 turmas. O encerramento

do semestre foi um piquenique no zoológico de Salvador, e os alunos puderam cantar as

músicas aprendidas durante o semestre diante dos animais.

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Como já foi dito, o tema do segundo semestre deste ano foi “O Circo”. Desta forma, os

alunos puderam vivenciar elementos circenses durante todo este tempo. Vale considerar que a

participação dos pais foi ativa em relação ao tema e que estes se esforçaram para levar seus

filhos em outros tipos de eventos, sendo musicais, teatrais, exposições, etc. No final do

semestre também houve uma apresentação envolvendo todos os alunos do projeto

(aproximadamente 130, divididos em 13 turmas, de 0 a 6 anos). Esta apresentação ainda

contou com a participação de alunos do circo Picolino, que interagiram com as crianças e

abrilhantaram o espetáculo. Vale considerar que os alunos do projeto Musicalização puderam

visitar o circo Picolino, além de fazer um ensaio geral no espaço. Com certeza isso contribuiu

para a aproximação das crianças com o mundo do circo.

Estes exemplos de 2008 servem para ilustrar de forma sintética a continuidade do

projeto após as coletas de dados para esta pesquisa, bem como a diversidade de repertório

usado no programa.

2.4.3 Estrutura das aulas

Algumas educadoras musicais (BEYER, 2000; JOLY, 2003, FERES, 1998) colocam a

rotina como algo importante e necessário para a educação musical dos bebês. Sendo assim, as

aulas seguem, sempre que possível, um roteiro padrão, para que não haja estranhamento por

parte deles. A seqüência de atividades do roteiro padrão pode variar de acordo com cada

programa e professor. A seguir está disposta a seqüência de atividades utilizada no curso da

UFBA, porém, vale considerar que este roteiro sofre alterações sempre que necessário:

No momento da chegada, os alunos tiram os sapatos e sentam-se nos colchonetes que

estão dispostos em roda;

1) Canção de boas vindas;

Seguindo a ordem da roda, normalmente em sentido anti-horário, canta-se uma canção

de “Bom Dia” para cada aluno, utilizando o nome de cada criança, para que elas se sintam

presentes e para marcar o início da aula. É utilizada a mesma música durante todo o semestre.

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Figura 3: Canção de boas-vindas.

2) Canção ou atividade em Roda (com cantigas de roda ou audição de músicas popular

ou erudita);

Todos ficam de pé em roda, e executam uma cantiga de roda com movimentos e regras

ou, então, a professora sugere alguns movimentos para alguma música erudita ou popular

tocada através de CDs, mudando os movimentos juntamente com as partes da música,

enfatizando assim a forma musical. Normalmente os movimentos são simples utilizando

mãos, pés, palmas, giros, levantar, abaixar, etc.

3) Canções livres e com movimentos;

Todos cantam músicas que sugerem movimentos através de suas letras, normalmente

explorando partes do corpo ou psicomotricidade. Às vezes utilizam-se brincos ou parlendas

neste momento da aula, onde os pais interagem diretamente com seus filhos.

Figura 4: Canção com movimento

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4) Audição de música erudita com o uso de instrumento: ovinhos ;

Audição de música erudita ou instrumental para que os alunos acompanhem com o uso

de um ovinho de percussão. Normalmente as músicas escolhidas possuem uma pulsação bem

definida, para que os alunos vivenciem este conceito.

5) Canção, ainda com o uso dos ovinhos;

Neste momento, é cantada uma canção que seja conhecida pela maioria dos pais, para

que o foco da atividade seja ainda o uso dos ovinhos de percussão. Às vezes utilizam-se

parlendas neste momento.

6) Canções com movimentos, com ou sem locomoção;

Este é um momento “sessão cantoria”, quando utilizam-se outras músicas que sugerem

movimentos em suas letras, assim como na terceira parte da aula. Normalmente cantam-se

pelo menos duas músicas diferentes, podendo os alunos estar sentados no chão ou de pé em

roda. Isso varia a cada aula.

7) Músicas com o uso de instrumentos diversos, como: caxixis, pandeirinhos, xequerês,

etc.

Utilização de outros instrumentos, com o uso de músicas apropriadas para o momento,

cantadas ou tocadas através de CDs. Vale dizer que a cada aula apenas um instrumento é

escolhido.

8) Momento livre, com o uso de bolinhas, tules, bolas grandes, bambolês, tecido grande

com peixinhos de E.V.A., etc;

Este momento é de socialização, para que todos possam brincar e interagir. Esta

atividade pode ser com direcionamento ou totalmente livre, e a música normalmente é

utilizada para marcar o tempo da brincadeira e animar a turma. Utilizam-se materiais

alternativos com propostas que visam estimular o manuseio dos materiais e a troca dos

mesmos com os outros colegas.

9) Canção pra embalar;

Neste momento todos os pais ficam de pé com seus filhos no colo, canta-se uma

canção de ninar e as crianças são embaladas. É um momento íntimo entre os pais e os filhos, e

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a música é cantada pelos participantes. Este momento serve para acalmar as crianças e

preparar para o relaxamento.

10) Relaxamento;

Todos se deitam no chão e uma música é tocada através de CD. É um momento para

relaxar, e pode ser direcionado com uma indicação para massagem, por exemplo, ou pode ser

totalmente livre. Este momento também é considerado a “hora do carinho”.

Figura 5: Relaxamento

11) Canção de despedida;

Todos voltam à posição inicial da aula e cantam uma música de despedida, utilizando

os nomes das crianças. Desta forma as crianças entendem que a aula terminou.

É importante observar que em todas as atividades cantadas, a professora sugere

mudanças de andamento e intensidade, “brinca” com alturas, som e silêncio, entre outros

conceitos musicais.

Também é válido dizer que os alunos são educados a guardar os materiais após o uso,

sendo este procedimento muito difícil nas primeiras aulas. Mas, à medida que vão sendo

habituadas com a rotina de atividades, as crianças aprendem a devolver os materiais com

naturalidade, na expectativa de receber outro material para a atividade seguinte.

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2.4.4 Conceitos trabalhados

Em relação aos conceitos musicais, as crianças vivenciam elementos como: pulsação,

andamento, intensidade, alturas, som, silêncio, timbre, forma musical, exploração de sons

através da execução de instrumentos e do próprio corpo, além de apreciação. Todos estes

conceitos são trabalhados de forma intuitiva e lúdica. As crianças também trabalham:

socialização, respeito, regras, reconhecimentos das partes do corpo, coordenação motora,

entre outras coisas.

2.4.5 Algumas considerações importantes

O trabalho de musicalização para bebês visa uma continuidade no âmbito familiar.

Portanto, é necessário que o professor incentive os pais ou cuidadores a realizarem as

atividades em casa. Para isto, durante as aulas, o educador musical deve estimular os pais a

cantarem e interagirem com seus filhos. Se isso for realizado com sucesso, é quase certo que o

trabalho musical terá continuidade em casa, e que os conceitos trabalhados serão enfatizados e

melhor aprendidos pelas crianças, além do que, a música poderá se tornar um forte elemento

na relação entre pais e filhos. Estudos mostram (ILARI, 2002 e 2006) que o canto dirigido ao

bebê possui particularidades muito especiais e os contornos melódicos (tanto da fala quanto

da música) são aspectos importantes que constituem a base da percepção musical no início da

vida. O bebê pode até não entender as palavras que estão sendo ditas, mas sabe,

instintivamente, que estão sendo dirigidas a ele quando há um exagero no contorno melódico,

uso do registro vocal agudo, andamentos lentos e expressividade acentuada (ILARI, 2002 e

2006). Sendo assim, nota-se a importância do canto e da fala direcionados aos pequenos.

2.4.6 Participação dos alunos e dos pais

Normalmente a participação dos pais ou cuidadores é muito ativa, no entanto, sempre

há algumas exceções. Cabe ao professor estar sempre buscando alternativas para proporcionar

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o bom entrosamento entre pais e alunos no momento da aula. A participação das crianças

também nem sempre se dá de forma ativa. É muito comum existir alunos que se mostram

tímidos, que não participam da aula, ou ainda, que ficam correndo pela sala. No entanto,

segundo relatos dos pais, estes mesmos alunos reproduzem em casa tudo o que foi

apresentado durante a aula, o que sugere que eles estão aprendendo e se desenvolvendo.

Também existem alunos que se mostram tímidos nas primeiras aulas, e com o tempo vão se

“soltando” e realizando as atividades, bem como aqueles que participam ativamente desde a

primeira aula.

2.5 INSTRUMENTOS PARA COLETA DE DADOS

Os dados desta pesquisa foram coletados durante o segundo semestre de 2007.

2.5.1 Questionário

Para entender como é feito o uso da música com as crianças que fazem parte do Projeto

Musicalização Infantil da UFBA, foi elaborado um questionário com 32 perguntas

direcionadas tanto aos pais quanto às mães, onde obtivemos respostas de 29 participantes,

tendo por base os seguintes temas:

1) Informações gerais sobre a criança e seus pais (idades, nacionalidade, etc.);

2) Experiência musical dos que convivem com a criança;

3) Cultura Musical (se a criança está exposta à música de outros grupos socioculturais);

4) Preferência musical (dos pais e da criança);

5) Criança (como é feito o uso da música em casa);

6) Os pais e a música (memória musical dos pais, de quando eram crianças);

7) Curso de musicalização da UFBA (mudanças no comportamento da criança após o

início das aulas, bem como a opinião dos pais sobre o funcionamento do curso).

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50 

 

Para elaborar o questionário foram consideradas as vantagens e desvantagens acerca

das abertas e fechadas (HILL E HILL, 2005), sendo que a pesquisadora tentou ao máximo

elaborar questões fechadas, ou seja, questões em que “o respondente tem de escolher entre

respostas alternativas fornecidas pelo autor” (HILL e HILL, 2005, pág. 93), sendo isso quase

impraticável em alguns aspectos. Considerou-se vantagem para as questões fechadas a

facilidade para analisar as respostas, no entanto, sabe-se que muitas vezes as questões

fechadas contribuem com respostas simples demais. Desta forma, algumas questões foram

elaboradas de forma aberta, considerando ser vantagem o fato de apresentarem respostas mais

detalhadas e por vezes inesperadas e ser desvantagem o fato de o pesquisador ter muitas vezes

que “interpretar” o que estava escrito além de precisar de mais tempo para codificar as

respostas.

Considera-se, contudo, que questionários podem colocar em dúvida a veracidade das

respostas, visto que os indivíduos podem revelar e ocultar o que desejarem, bem como

projetar a idéia que quiser sobre si mesmo, ou no caso, sobre a criança. (GOLDENBERG,

2007). Desta forma, consideramos as vantagens e desvantagens deste instrumento para coletar

dados. Consideramos vantagens o fato de exigir menor habilidade para aplicação, de garantir

maior uniformidade para a mensuração e de ter menor pressão para uma resposta imediata,

visto que o pesquisado pode pensar e responder com calma. As desvantagens consistem em

ter um índice menor de respostas e exigir habilidade para ler e escrever e disponibilidade para

responder.

2.5.2 Filmagens

Para recolher os exemplos desta pesquisa realizou-se a coleta de dados através de

vídeo, sendo que todas as aulas do segundo semestre de 2007 foram gravadas, incluindo as

quatro turmas.

Assim como outros instrumentos de coletas de dados, as filmagens têm suas vantagens

e desvantagens. Considera-se vantagem que a transcrição através dos vídeos possa estimular a

reflexão do pesquisador, visto que possibilita uma reconstituição ativa do material gravado,

forçando-o a melhorar sua capacidade de perceber (DESSEN, 1995). No entanto, pode-se

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51 

 

considerar uma desvantagem o fato de o pesquisador obter através das gravações apenas um

aspecto da realidade, visto que o uso de uma câmera apresenta limitações como o seu “campo

de alcance” que pode não abranger todos os comportamentos significativos para a

compreensão do fenômeno estudado (DESSEN, 1995). Além disso, uma informação

tridimensional acaba sendo reduzida para apenas duas dimensões (BAUER E GASKELL,

2002).

2.5.3 Processo para análise dos dados

Para analisar os dados do questionário a pesquisadora elaborou gráficos e os relatou de

forma descritiva. Este questionário permitiu que a professora e pesquisadora pudesse

conhecer um pouco mais sobre a realidade musical dos seus alunos. As respostas dos

questionários tiveram ligação direta com a preparação das aulas posteriores à análise dos

mesmos.

Para a seleção dos vídeos utilizou-se os seguintes critérios:

1) Uma criança foi escolhida para ser estudada, considerando sua assiduidade e

disponibilidade do responsável através das respostas dos questionários e conversas

informais sobre a criança. Vale considerar que a criança escolhida não teve nenhuma

falta durante todo o semestre e que seus responsáveis aceitaram participar da pesquisa;

2) Foram escolhidas 34 cenas da mesma criança ao longo das 15 aulas, com caráter

longitudinal observando as características da Abordagem PONTES que pudessem

responder à questão desta pesquisa: “Como a utilização da Abordagem PONTES pode

influenciar o surgimento de articulações pedagógicas significativas entre os atores do

processo educativo-musical que contribuam para o desenvolvimento do nível de

aprendizagem musical e de atitudes nos alunos nas aulas de musicalização para

bebês?”.

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52 

 

2.6 REFERENCIAL TEÓRICO - ABORDAGEM PONTES

Considerando que a análise de dados carece de abordagens específicas (YIN, 2005),

escolheu-se a Abordagem PONTES para analisar os dados desta pesquisa. De acordo com

Oliveira (2001, 2005, 2006 e 2008) a Abordagem PONTES é uma proposta teórica da

educação musical que pode ser aplicada para todas as fases do ensino de música, em especial

para a educação que lida com processos de educação contextualizada. A missão do professor

de música é facilitar a educação do estudante e desenvolver encontros personalizados ou

customizados entre a música e os indivíduos, explorando, desenvolvendo e fortalecendo o

potencial de cada realidade de ensino encontrada. Isto também se aplica ao ensino de música

para bebês, mesmo considerando que neste caso há mais um ator presente no processo de

ensino, no caso, os responsáveis pela criança durante a aula.

A Abordagem PONTES é uma proposta de reflexão teórica centrada na racionalidade

prática, que visa contribuir para a formação de professores de música através de reflexões

sobre uma atitude docente interativa e colaboradora, através de articulações pedagógicas

significativas no processo de ensino e aprendizagem. Os professores refletem sobre como

podem estar articulados a conteúdos, atitudes, valores, hábitos, habilidades, interesses,

talentos e experiências anteriores dos estudantes, assim como interagir com o contexto

sociocultural, focalizando especialmente nas transições pedagógicas tão necessárias no ensino

em geral, e mais especialmente na área artística. Esta atitude de ensino customizado pode

permear tanto as aulas individuais como as aulas feitas em grupos, pois é uma questão de estar

atento às necessidades dos participantes e de observar o desenvolvimento de cada participante

dentro do grupo. Nesta abordagem, o educador torna-se um produtor de conhecimento, um

agente ativo, prático-reflexivo.

De acordo com Oliveira (2006), a Abordagem PONTES pode estimular, guiar e

estruturar as ações dos professores de música de forma criativa, considerando os diferentes

aspectos que acompanham o processo de ensino e aprendizagem, principalmente as vivências

culturais, as características pessoais dos alunos, a essência do contexto sociocultural e as

experiências prévias dos alunos. Paralelamente, algumas pesquisas sugerem que os bebês

reconhecem músicas ouvidas durante a gestação, as reconhecendo com um ano de vida pós-

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natal (ILARI, 2006), o que pode indicar que até mesmo os bebês trazem consigo experiências

musicais prévias.

A Abordagem PONTES sugere que o professor considere o que o aluno já sabe, para

assim poder traçar o que ele precisa ou quer aprender, o que nos indica que uma mesma

didática de ensino não funciona com todos os grupos, pois cada um traz uma experiência

única. Um estudo de Taebel e Coker (1980) citado por Bengt Olsson (ver HARGREAVES,

1997, pág. 296) fornece evidências de que a competência correlacionada mais

significativamente com as aprendizagens e mudanças de atitudes dos alunos é aquela

competência que relaciona os objetivos da ação docente aos interesses e necessidades dos

educandos. Sendo assim o professor deve desenvolver habilidades de adaptação e liderança

em qualquer grupo, desenvolvendo flexibilidade pedagógica. É necessário que o professor

tenha consciência de um planejamento e do que ele espera como resultado, ressaltando a

relação entre o espontâneo e o consciente, entre o planejado e o improvisado. Através de

observações e relatos de professores de musicalização para bebês, pode-se dizer que as ações

espontâneas e improvisadas acontecem o tempo todo, pois os pequenos têm sempre reações

muito diferenciadas, e é comum uma mudança no plano da aula para aproveitar situações de

descoberta das crianças, visando um maior prazer por parte delas e dos pais, que normalmente

fazem as aulas juntos com os filhos. Oliveira chama estas mudanças de articulações

pedagógicas, “costuras” ou “pontes em ação”.

As principais características da Abordagem PONTES foram fundamentais para as

observações das aulas. São elas (OLIVEIRA, 2001; OLIVEIRA et al, 2007):

- Positividade na relação educacional e pessoal entre o professor e o educando, entre o

professor e a turma; perseverança, poder de articulação e habilidade de manter a motivação do

aluno acreditando no seu potencial para aprender e se desenvolver.

- Observação cuidadosa do desenvolvimento do educando e do contexto, das situações do

cotidiano, os repertórios e as representações.

- Naturalidade nas ações educativas e musicais; simplicidade nas relações com o aluno, com

o conteúdo curricular e com a vida, com as instituições, contexto e participantes, tentando

compreender o que o aluno expressa ou quer saber e aprender.

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- Técnica pedagógica adequada (e não mecânica), ao ensino e aprendizagem em cada situação

específica; habilidade para desenhar, desenvolver e criar novas estruturas de ensino e

aprendizagem (de diferentes dimensões); habilidade de usar estratégias didáticas, modos de

usar os diversos materiais (incluindo a voz) e instrumentos musicais para refinamento das

ações e expressões dos alunos, visando a comunicação das idéias, conteúdos e significados de

forma artística, musical e expressiva; técnica usada como elemento facilitador da expressão

humana.

- Expressividade musical e criatividade artística; esperança e fé na capacidade de

desenvolvimento da expressividade e aprendizagem do aluno.

- Sensibilidade às diversas manifestações musicais e artísticas das culturas do mundo, do

contexto sociocultural e do educando; a sensibilidade se refere à capacidade docente para

potencializar os talentos de cada aluno, de burilar artisticamente e encaminhar as aptidões

humanas.

Todas essas características podem ser consideradas no ensino de música para bebês,

pois, é valorizando as vivências culturais prévias dos alunos em questão que poderemos

organizar currículos específicos, respeitando as particularidades e as diferenças individuais

referentes ao desenvolvimento de cada criança.

Conforme sugere Oliveira (2006), é necessário que o professor de música considere

vários fatores que acabam sendo inerentes ao ensino da música, como: a) inserção de outras

habilidades, visando uma educação multidisciplinar capaz de facilitar o processo de ensino-

aprendizagem, trabalhando competências diferenciadas não só nos alunos, mas também nos

professores envolvidos; b) uso da música não somente como fim, mas também como meio

capaz de contribuir para a formação de cidadãos; c) lidar com a diversidade cultural, social e

artística, entre muitas outras coisas. A autora também considera muito importante a formação

de professores “com base filosófica, pedagógica, musical e multidisciplinar, articuladora e

investigativa”, ou seja, professores que saibam lidar com diversas situações, assumindo o

papel de educador e não somente de alguém que capaz de “injetar” conteúdos nos alunos.

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55 

 

Todos os dados coletados foram descritos e analisados, no intuito de verificar a

aplicabilidade da Abordagem, como já ocorreu em outras diversas situações, segundo algumas

pesquisas do grupo de pesquisas MeMuBa3, coordenado pela Profa. Dra. Alda de Oliveira.

Para dar maior credibilidade à análise dos dados também foi considerada a proposta de

sistema de análise de contrastação para ações docentes articuladas, que está sendo

desenvolvida pela Dra Alda Oliveira (2008, no prelo). Para este sistema, a autora se embasou

nas idéias de Max Weber, e desenvolveu um sistema de análise de ações que consiste na

formulação e definição de quatro tipos ideais de fenômenos, para que possam ser usados

pelos pesquisadores como base ou norma de comparação com os fenômenos reais que podem

ser encontrados na sociedade.

Baseando-se na proposta do autor Max Weber, Alda Oliveira (2008, no prelo)

desenvolveu os tipos ideais de fenômenos pedagógicos, visando o seu uso em análises das

PONTES (articulações pedagógicas) coletadas na praxis educacional em música (Alda

Oliveira, 2001). A autora sugere que os exemplos de articulações pedagógicas coletados

pelos pesquisadores poderão ser comparados com os tipos ideais ou tipos idealizados por ela

(descritos abaixo), destacando-se na análise, as diferenças e as semelhanças entre os exemplos

encontrados e os tipos ideais (norma). Este sistema de análise de contrastação entre tipos

ideais e tipos reais de ações pedagógicas na educação musical pode ser considerado adequado

para a área artística e pedagógica, desde quando oferece uma norma ou um padrão “ideal” e

inexistente na prática que pode ser usado apenas como elemento de contrastação para as

pesquisas e que não envolve a exigência ou uso de uma hipótese para ser refutada ou aceita.

Note-se que Max Weber organiza os tipos de fenômenos segundo critério de

aproximação ou distanciamento com a racionalidade. Os seus quatro tipos de ações são

delineados indicando uma ordem ascendente em termos de racionalidade. Oliveira

desenvolve os tipos ideais de ações combinando não somente a conceituação em ordem

ascendente em termos do elemento racionalidade, mas também envolvendo o uso dos

elementos relevantes para a área musical, que requerem processos mentais específicos

relacionados ao processo de conscientização e expressividade (criatividade musical, artística e

                                                            3 Alda Oliveira. “Mestres de Música da Bahia” (2003-2006) e “Mestres de Música da Bahia: o efeito da aplicação do modelo PONTES na formação continuada de professores de música” (2007-2010) pesquisas apoiadas pelo CNPq; Alda Oliveira, Jean Joubert Mendes e Flávia Candusso. “MeMuBa on-line” – sub-projeto de pesquisa apoiada pelo CNPq (2005)

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56 

 

pedagógica - idiossincrática) referente ao planejamento, as ações e à reflexão nas diversas

direções pedagógicas e musicais, assim como referente ao contexto sociocultural de atuação

do professor.

Desta forma, Oliveira (2008) sugeriu os seguintes tipos (ou modos) de ações docentes:

a) Em termos de objetivos pedagógicos a serem alcançados:

1) Ação docente tradicional (professores atuam como eles atuam sempre, porque aquela é a

forma que eles sempre atuaram, ou seja, a ação do professor segue um padrão que ele

aprendeu a desenvolver na sua prática e que já se tornou um hábito);

2) Ação docente afetiva (onde a ênfase do professor está na ação moldada através da

emoção daquele momento didático, não como resultante de um planejamento racional ou

de técnicas pedagógicas aprendidas, planejadas e pré-analisadas);

3) Ação docente orientada por valores pessoais ou institucionais (onde a ação é motivada

pelo desejo de realizar algum valor, seja moral, político, religioso ou estético);

4) Ação orientada pelo objetivo a ser alcançado nas diversas situações que se apresentam

nos contextos socioculturais (tipo de ação docente governada por regras formais de

eficiência instrumental. Como tal, esta ação é dominada pela razão (racionalização) e

pelo conhecimento sistemático (teorias) gerado pela área de conhecimento ou pelo

próprio indivíduo).

b) Em termos das relações com os materiais musicais (sonoros, notação, organização de

arranjos ou de composição e estruturação musical):

1) Ação sensorial e direcionada pelos tipos de materiais oferecidos no

ambiente. Aproximação ao universo sonoro e estrutural musical e artístico, meramente

pelo acaso;

2) Ação tradicional ou que repete os padrões emitidos no ambiente sociocultural (gravações

ouvidas, músicos que tocam e cantam no ambiente, músicas tocadas pela mídia em rádio,

televisão, filmes e DVDs);

3) Ação direcionada pelo o que as emoções levam o indivíduo a fazer com os instrumentos,

com a voz, com o corpo, com a música em si mesma;

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4) Ação direcionada por valores e regras desenvolvidas pela área da música, ou por padrões

estéticos e artísticos estabelecidos;

5) Ação orientada pelo objetivo de produção musical e artística e pelo tipo de expressão de

idéias traçadas pelo indivíduo (professor ou aluno) para as diversas situações que se

apresentem na realidade sociocultural. 

c) Em termos de ação docente para trabalhar a criatividade (expressão) dos alunos:

1) Empatia ou repetição do que o aluno faz, pretende ou imagina fazer. O professor

demonstra compreender a intenção do aluno e o ajuda a realizar;

2) Desenvolvimento do que o aluno faz ou imagina fazer, de forma a tornar a ação viável e

bem sucedida;

3) Estimulação para que o aluno faça alguma ação e expresse o que pode fazer com os

materiais disponíveis no ambiente. O professor imagina ações que possam tirar o aluno

do marasmo, que fortaleçam seus pontos fortes, seus talentos especiais e aptidões. O

professor percebe o que o aluno deseja realizar e o estimula para ações nas quais o aluno

terá de participar com vontade e motivação;

4) Reflexão sobre as ações do aluno, ajudando-o a tornar-se consciente do que conseguiu

realizar, do que conseguiu elaborar e imaginar, e a re-elaborar em torno da sua realização,

visando outras ações expressivas trabalhadas em maior grau de complexidade e de

qualidade.

d) Em termos de ação docente para trabalhar formas e tipos de produções musicais:

1) Imitação de sons do ambiente (natural: terra, água, pedra, luz, ar, fogo); de produtos

gerados pelo homem no seu contexto sociocultural: instrumentos musicais, outros

produtos industrializados, artesanatos, etc; de sons dos animais e dos seres humanos;

2) Imitação e reprodução de sons do ambiente e de músicas, com um quase perfeito grau de

fidelidade aos modelos originais;

3) Imitação e reprodução fiel aos modelos musicais e sonoros originais;

4) Desenvolvimento de ações sonoras e musicais que partem da imitação e da reprodução de

sons do ambiente e de modelos de músicas conhecidas, mas que também apresentam

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contribuições pessoais, com predominância dos padrões normativos da cultura próxima

ao indivíduo;

5) Desenvolvimento de ações sonoras e musicais que partem da imitação e da reprodução de

sons do ambiente e de modelos de músicas conhecidas, mas que apresentam

contribuições pessoais, com predominância de motivos e idéias musicais idiossincráticas

e expressas pelo próprio indivíduo;

6) Uso de formas e produções musicais / artísticas que atendem as necessidades básicas do

contexto e da realidade que se apresenta no momento;

7) Uso de formas e produções musicais / artísticas que além de atender as necessidades

básicas do contexto e da realidade, elas inovam e superam as expectativas desse contexto,

apresentando surpresas e novidades (idiossincráticas) que comunicam as idéias com

clareza (mesmo fugindo aos padrões estabelecidos), mas também abrindo possibilildades

para outras interpretações por parte dos ouvintes.

Portanto, neste estudo, investiga-se a Abordagem PONTES como um instrumento de

reflexão sobre a prática de ensino, com foco não somente nas ações da professora, mas

também nos seus reflexos sobre o desenvolvimento e na aprendizagem da aluna em foco

nesse estudo de caso. Através da atenção concentrada e foco educacional sobre a atitude

docente interativa e colaboradora, ressaltada na pesquisa sobre as articulações pedagógicas

significativas que ocorreram no processo de ensino e aprendizagem com os bebês, este estudo

documenta e analisa estas articulações usando o referencial como ferramenta, visando

contribuir não somente para validar a concepção desta abordagem teórica, mas

principalmente, para contribuir para o seu desenvolvimento, complementação e análise crítica

e reflexiva. Através do uso e da análise reflexiva da referida abordagem, poderemos no futuro

ajudar a outros professores na ação e na reflexão sobre como podem estar articulados a

conteúdos, atitudes, valores, hábitos e habilidades, interesses, talentos e experiências

anteriores dos estudantes, assim como podem interagir com as características do contexto

sociocultural dos alunos.

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59 

 

CAPÍTULO 3

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Neste capítulo serão apresentados os dados coletados no estudo referente às aulas de

musicalização para bebês em quatro turmas de aproximadamente 10 alunos, no período de

quatro meses letivos, de agosto a dezembro de 2007.

Inicialmente será apresentada a análise dos dados obtidos através de um questionário

aplicado aos pais, com o objetivo de compreender o universo musical dos alunos e entender

como é feito o uso da música com os pequenos fora do ambiente da escola de música. Para tal

foi desenvolvido um questionário com 32 perguntas.

Em seguida será apresentado o perfil de cada turma sob o ponto de vista da

pesquisadora, através das observações dos vídeos e anotações diárias. Finalizando, será

apresentado o perfil da criança selecionada para este estudo seguindo-se os episódios mais

significativos selecionados para explicar como a utilização da Abordagem PONTES

influenciou o surgimento de articulações pedagógicas entre os atores do processo educativo-

musical que contribuíram para o desenvolvimento do nível da aprendizagem musical e de

atitudes nos alunos nas aulas de musicalização para bebês. Os critérios para a escolha desta

criança foram os seguintes:

- havia registros visuais suficientes para a análise;

- tratava-se de uma criança assídua, que participou das 15 aulas dadas durante o semestre;

- a criança apresentou uma grande mudança de comportamento e desenvolvimento musical

durante as aulas;

- sua mãe respondeu ao questionário e mostrou-se aberta e colaborativa com a pesquisa.

Vale considerar que outras crianças também apresentaram mudanças significativas no

desenvolvimento musical e atitudes nas aulas, no entanto não tiveram a mesma assiduidade e

algumas vezes os pais não se mostraram tão abertos e participativos.

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60 

 

Considerando a grande quantidade de gravações em vídeo obtidas nesta investigação,

foram selecionados 34 episódios que ocorreram durante as aulas com a criança, seguindo-se

os seguintes critérios de seleção:

1. Os momentos significativos que pudessem servir de exemplos para explicar a questão

central da pesquisa: “Como a utilização da Abordagem PONTES pode influenciar o

surgimento de articulações pedagógicas significativas entre os atores do processo

educativo-musical que contribuam para o desenvolvimento do nível de aprendizagem

musical e de atitudes nos alunos nas aulas de musicalização para bebês?”

2. Os exemplos que estivessem documentados em vídeo, considerando que houve

ocasiões em que a professora pôde observar outros momentos significativos que não

foram documentados.

Entende-se por episódio um “pequeno evento, com uma estrutura narrativa que pode

ser parte de uma narrativa, ou de uma história maior” (BAUER e GASKELL, 2002, pág.

498). De acordo com Strube, 1989:13, (BAUER e GASKELL, 2002): “Conhecimento

episódico é a parte do conhecimento do mundo, cuja outra parte – correspondendo à memória

semântica – é o conhecimento geral(...)”

Esclarece-se aqui, que a Abordagem PONTES foi usada como guia para o

desenvolvimento dos procedimentos metodológicos usados nas aulas, visando o foco da

pesquisa, porém em termos do curso de musicalização, a professora responsável utilizou todos

os conhecimentos e habilidades pedagógicas de que dispunha a partir da sua experiência como

educadora musical nos últimos quatro anos de trabalho. Portanto, os episódios selecionados

para serem descritos e analisados foram aqueles que puderam ilustrar o conteúdo do

referencial teórico escolhido neste estudo. Além de servir de base para outras ponderações

sobre o assunto, a Abordagem PONTES, como menciona Oliveira (2008), contém no seu

pressuposto, a valorização do conhecimento e das habilidades já adquiridas pelo professor de

música ao longo de sua vida, e visa, portanto, enfatizar e fortalecer esses conhecimentos,

dando um embasamento para que o professor possa sentir-se mais confiante em articular essas

mesmas vivências com os conhecimentos dos seus alunos e do contexto onde atua. A ênfase

neste estudo se situa na descrição e interpretação dos episódios que mais espelham às

situações de ensino e de aprendizagem que mostram com clareza as características mais

marcantes da Abordagem PONTES que podem servir de fundamentos para a formação de

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61 

 

futuros professores de música neste mesmo nível de atuação, ou seja, de musicalização para

bebês.

3.1. ANÁLISE DOS QUESTIONÁRIOS – PERFIL DOS ALUNOS

Para entender o universo dos alunos do projeto Musicalização Infantil,

especificamente os que fazem parte deste trabalho, e saber como é feito o uso da música em

casa com estes pequenos, foi elaborado um questionário com 32 perguntas direcionadas tanto

aos pais quanto às mães. Dos 39 alunos que freqüentavam as aulas durante o segundo

semestre de 2007 com seus responsáveis, apenas 29 responderam o questionário, sendo 17

meninas e 12 meninos. Sendo assim, através das respostas foi possível perceber como é a vida

musical da maioria das crianças envolvidas com o projeto de musicalização da UFBA, a partir

do relato de seus pais.

1) Informações gerais sobre a criança e seus pais (idades, nacionalidade, etc.);

• Idades dos participantes:

A média de idade das mães era de 35 anos (sendo a mais nova com 28 e mais velha 45); A

média de idade dos pais era 37 anos (sendo o mais novo com 27 e o mais velho com 55); A

média de idade das crianças era de 21 meses (estando o mais novo com 7 meses e o mais

velho com 36 meses).

• Nacionalidade:

Brasileiro (a) Estrangeiro (a)

Mães 27 2 (uma italiana e uma argentina)

Pais 25 4 (dois argentinos, um italiano e um da Costa do Marfim)

Crianças 26 3 (duas italianas e uma argentina)

Não houve casos em que a mãe e o pai da mesma criança fossem estrangeiros.

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62 

 

• Profissão dos pais:

Pudemos notar que todas as mães e pais que responderam esta questão possuíam

formação acadêmica de nível superior, o que pode indicar um forte indício de classe social de

nível médio. Dentre as profissões das mães obtivemos as seguintes respostas: Professora: 7

(uma de música), Psicóloga: 3, Psicóloga e professora: 1, Pedagoga: 2, Médica: 2, Advogada:

2, Administradora: 2, Musicista: 1, Auxiliar administrativa: 1, Estudante: 1, Nutricionista: 1,

Dentista: 1, Bancária: 1, Secretária: 1, Designer: 1, Turismóloga: 1, Mãe e do lar (com

formação em Belas Artes): 1.

Dentre as profissões dos pais encontramos: Engenharias (Civil, eletricista, químico e

mecânico): 6, Professor: 3, Músico: 2, Músico e professor: 1, Médico: 2, Médico e professor:

1, Funcionário público: 2 (sendo um administrador), Advogado: 1, Publicitário: 1, Químico:

1, Comerciário: 1, Gastrônomo: 1, Analista de sistema: 1, Sociólogo: 1, Técnico de

laboratório: 1, Dentista: 1, Petroleiro: 1, Analista de suporte: 1. Um pai não respondeu esta

questão.

2) Experiência musical dos que convivem com a criança;

Sobre a experiência musical das mães, constatou-se que das 29, apenas 7 tocavam

algum instrumento e, destas, apenas uma tocava profissionalmente. Entre os pais, constatamos

que dos 29, 10 tocavam algum instrumento, sendo que, destes, 3 tocavam profissionalmente.

Quisemos saber se havia algum outro músico na família, e constatamos 15 casos, sendo 11

tios e 4 avós. Cinqüenta e um por cento das crianças que possuem músicos na família, ainda

que não profissionais, ouviam essas pessoas tocarem em momentos de estudo, ou seja,

estavam em contato direto com instrumentistas.

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63 

 

3) Cultura Musical (se a criança está exposta à música de outros contextos

socioculturais);

Vinte e sete por cento das crianças convivem com alguém de outra cultura

(cidade/estado/ país), sendo que destas apenas uma pessoa disse não cantar músicas de sua

cultura para a criança.

Das 29 crianças, apenas 7 participavam de algum grupo religioso com seus pais,

sendo 3 da Igreja Católica, uma da Igreja Batista, uma da Igreja Adventista do Sétimo Dia,

uma do Candomblé e uma Espírita.

4) Preferência musical (dos pais e da criança);

Sobre o tempo diário em que os pais ouviam música, foi possível notar que 72% das

mães ouviam de uma a duas horas de música por dia, 14% ouviam de 3 a 4 horas, 10%

ouviam 5 horas ou mais e 4% não responderam. Em relação ao tempo de música ouvido pelos

pais, pôde-se notar que 52% ouviam de uma a duas horas, 24% ouviam de 3 a 4 horas, 10 %

ouviam 5 horas ou mais e 14% não responderam. Portanto, pode-se dizer que a maioria dos

pais estão expostos à música.

Gráfico 01: Tempo em que as mães ouvem música por dia

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64 

 

.

Gráfico 02: Tempo em que as pais ouvem música por dia

Dentre os meios de comunicação através dos quais as músicas são ouvidas, 69% dos

participantes afirmaram ouvir músicas através do rádio, sendo que 83% afirmaram ser através

de CDs, 52% através de DVDs, 31% através da TV e 24% se enquadrou na categoria

“Outros”, sendo que foi citado ensaios musicais, concertos, espetáculos, grupos eruditos e

MP3 player. Vale ressaltar que os participantes poderiam escolher mais de uma resposta para

esta questão.

Gráfico 03: Meios de comunicação onde as músicas são ouvidas

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• Estilo musical que os pais ouvem

Dentre os estilos musicais ouvidos pelas mães e pais pôde-se notar uma presença

muito forte da MPB, o que pode sugerir um forte indício de classe social. Considerando que

esta era uma questão aberta, os estilos musicais apontados a seguir foram citados pelos pais.

Nota-se que uma mesma pessoa pode ter citado vários estilos. Entre os estilos citados pelas

mães os que apareceram em maior freqüência foram MPB (55%) e Erudito e Clássico (24%),

no entanto outros estilos também foram citados como: sertanejo, lentas, variados (ou seja,

vários estilos), pop rock e rock, músicas de outras culturas (ou seja, outras cidades, estados ou

países), instrumental, jazz, samba, bossa nova, infantil, reggae, axé e blues. Entre os estilos

citados pelos pais houve maior significância nos gêneros MPB (55%) e Pop Rock e Rock

(31%), no entanto outros estilos também foram citados, como: variados, erudito e clássico,

outras culturas, instrumental, jazz, samba, bossa nova, infantil, reggae, axé, blues, pagode,

forró e músicas do candomblé. Pode-se perceber que tanto as mães quanto os pais mostraram

uma preferência por MPB, sendo que as mães também mostraram ter preferência por erudito e

clássico e os pais por pop rock e rock.

Gráfico 04: Estilos musicais que as mães ouvem

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Gráfico 05: Estilos musicais que os pais ouvem

Quisemos saber quanto tempo os pais passam com a criança por dia e as respostas

foram as seguintes: apenas 21% das mães ficam o dia todo com a criança , 24% passam

metade do dia com seus filhos, 3% passa somente parte da manhã com seu pequeno, 28%

ficam com a criança somente parte da noite, 21% ficam parte da manhã e parte da noite e 3%

não responderam esta questão. Nota-se portanto que poucas mães tinham disponibilidade de

ficar o dia todo com seus filhos, sendo que a maioria podia ficar somente parte da noite ou do

dia. Este dado pode confirmar que a maioria das mães era profissional liberal.

Apenas 11% dos pais disseram ficar o dia todo com a criança, enquanto 10% ficavam

metade do dia, 7% ficavam parte da manhã, 48% ficavam somente a noite com suas crianças,

10% ficavam parte da manhã e parte da noite e 14% ficavam com seus filhos eventualmente,

incluindo finais de semana. Nota-se que a maioria dos pais só podia ficar com seus filhos

durante a noite.

Diante das respostas é possível perceber que a minoria das crianças ficava o tempo

todo com suas mães ou pais. Desta forma, reforça-se a importância da aula de música como

um elemento a mais na relação afetiva entre os pais e os filhos.

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Gráfico 06: Tempo diário em que as mães ficam com seus filhos

Gráfico 07: Tempo diário em que os pais ficam com seus filhos

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• Quem cuida da criança

Através das respostas do questionário foi possível observar que a maioria das crianças

é cuidada por babás (69%) ou pelas mães (62%), sendo que 41% também têm os pais à

disposição. Nota-se que as respostas podem estar combinadas entre si, ou seja, o respondente

poderia marcar mais de uma resposta e considera-se que, na maioria das vezes, mais de uma

pessoa cuida da criança. Interessante notar que bem mais da metade dos alunos tinha babá, o

que sugere que as mães se dedicam também à outras atividades. Por isso novamente se reforça

a importância da aula de música como uma elemento a mais na relação afetiva entre os pais e

os filhos.

Gráfico 08: Quem cuida da criança

• As pessoas que cuidam das crianças utilizam música? De que forma?

Através das respostas foi possível constatar que 93% das pessoas que cuidam dos

alunos do projeto utilizavam música com os pequenos, da seguinte maneira: cantando (83%),

através de CDs (69%), através do rádio (17%) e através de DVDs (72%). Isso sugere que as

crianças participantes do projeto estão expostas à música no ambiente familiar.

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Gráfico 09: De que forma a música é utilizada pelos que cuidam da criança

5) Criança (como é feito o uso da música em casa);

• Materiais musicais

O estímulo musical pode partir de materiais musicais, como CD’s, DVD’s,

brinquedos sonoros e até mesmo instrumentos musicais. Em relação à aquisição destes

materiais pôde-se notar que dos 29 alunos, 28 possuíam artigos musicais, como CDs diversos,

incluindo Palavra Cantada, Bebê Einstein, Cantigas de Rodas, etc. (86%), DVDs diversos,

incluindo Cocoricó, Bebê Mais e Xuxa (83%), brinquedos sonoros diversos (83%), e

instrumentos musicais (79%). Destes instrumentos pudemos notar a presença de instrumentos

de teclas (piano, teclado e xilofone), chocalhos (chocalhos, caxixis, maracas), percussivos

(bateria, pandeiro, tambor, djembê), cordas (violões e guitarras), flauta doce, gaita e xequerê.

Este resultado é muito significativo do ponto de vista sócio-econômico.

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Gráfico 10: Aquisição de materiais musicais

No que diz respeito ao uso da música em casa com os pequenos, 100% dos pais

disseram fazê-lo, em atividades diversas, como: na hora de dormir (69%), ao acordar (38%),

comer (38%), tomar banho (55%), brincar (93%) e outros (13%). Nota-se que as atividades

dormir e brincar foram as mais citadas, ou seja, as funções relaxamento e entretenimento

estiveram fortemente presentes no dia a dia dessas crianças.

Gráfico 11: Atividades em que a música é utilizada

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Quando se perguntou se os pais tinham o costume de cantar para seus filhos

obtivemos as seguintes respostas: 28 mães disseram ter este hábito, enquanto apenas uma mãe

disse não ter; 22 pais disseram cantar para seus bebês, enquanto um disse não cantar e os 6

restantes não responderam. Estes resultados sugerem que as mulheres envolvidas com o

projeto de musicalização cantam com mais regularidade que os homens.

Gráfico 12: Mães que cantam para seus filhos

Gráfico 13: Pais que cantam para seus filhos

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Dentre os estilos das músicas cantadas, pôde-se notar uma presença muito forte das

músicas infantis estereotipadas, ou seja, músicas simples e normalmente conhecidas (86%).

Dentro desta categoria incluímos o que os pais chamaram de “músicas infantis”, “Cantigas de

roda” e ainda quando citaram nomes de músicas que facilmente se encaixam neste grupo.

Curiosamente o termo “Canções folclóricas” não foi citado pelos pais. Com menores

proporções, também se encontraram canções de ninar (13%), MPB (13%), canções inventadas

(13%) e religiosas (13%). É muito interessante notar que algumas mães disseram inventar

músicas, inclusive colocando o nome do filho na “brincadeira”. Segundo Trehub (2001) é

muito comum aspectos improvisados serem incluídos nas letras das músicas cantadas pelos

pais. Esta variação se dá de acordo com a finalidade de cada atividade, seja para brincar ou

acalmar.

Gráfico 14: Repertório utilizado pelos pais

Quisemos saber as razões que levam os pais a escolherem este repertório para usarem

com seus filhos. Dentre as respostas, alguns falaram sobre questões de afetividade e

relacionamento que a música proporciona (17%), por acreditarem ser a música mais adequada

(13%), por transmitir alegria e felicidade (13%), porque tanto os pais quanto os filhos se

identificam com as músicas (24%), porque acreditam que estas músicas estimulam o

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desenvolvimento (20%), porque fazem parte do dia a dia naturalmente (6%), porque são

músicas fáceis (6%), ou próprias para a execução de tarefas (6%).

No que diz respeito ao interesse dos pais em aprender músicas novas para cantar para

seus filhos, 23 casais disseram ter essa preocupação, enquanto 6 não mostraram interesse

algum. É interessante perceber que dos 23 casais todas as mães mostraram tal interesse,

enquanto somente 12 pais o fizeram. Entre o repertório citado por eles pudemos extrair as

músicas do curso de Musicalização, Cantigas de Roda, infantis de forma geral, e ainda,

músicas de grupos como Palavra Cantada, Patati Patatá, Balão Mágico, Xuxa, além de

músicas espanholas e canções da compositora Alda Oliveira.

Gráfico 15: Casais que aprenderam músicas novas para cantar para seus filhos

Gráfico 16: Interesse em aprender músicas novas dentro do casal

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6) Os pais e a música (memória musical dos pais, de quando eram crianças);

Quinze mães disseram lembrar-se de músicas que seus responsáveis cantavam quando

estas eram pequenas, sendo que destas, 13 tinham o hábito de cantar as mesmas músicas para

suas crianças. Sobre os pais, apenas 8 disseram lembrar destas músicas, sendo que destes, 7

cantavam essas músicas para seus filhos.

7) Curso de musicalização da UFBA (Mudanças no comportamento da criança após o

início das aulas, bem como a opinião dos pais sobre o funcionamento do curso).

Os pais mostraram interesse em inserir seus filhos no projeto por acreditarem que as

aulas de música podem estimular seus filhos tanto para o desenvolvimento psicomotor quanto

para o desenvolvimento cognitivo, mas principalmente, na tentativa de socializá-los e

despertá-los para o interesse musical.

• Possíveis mudanças no comportamento das crianças após o início do curso

Conforme relatos informais, muitos pais já disseram que seus filhos passaram a

apresentar diferentes tipos de comportamento no ambiente familiar após o início das aulas de

musicalização. Tomando como base as respostas de um questionário aplicado em 2006, esta

questão foi formulada de forma fechada, e suas alternativas foram advindas deste

questionário, considerando as competências citadas pelos pais do projeto naquele ano.

Nota-se, portanto que, segundo os relatos dos pais, todos os alunos apresentaram

mudanças nos seus comportamentos após o início das aulas, principalmente no que diz

respeito è sensibilidade musical (93%), expressão corporal (76%), socialização (72%), ritmo e

canto (66%), coordenação motora (59%), atenção (52%), estímulo à fala e reconhecimento do

corpo (48%) e afetividade (41%). Desta forma entende-se que os objetivos das aulas foram

alcançados.

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Gráfico 17: Mudanças no comportamento das crianças após o início do curso, segundo os

relatos dos pais

3.2. PERFIL DAS TURMAS

TURMA 1

Em geral, as crianças desta turma eram muito agitadas. Os alunos costumavam ficar

em pé ao invés de sentados com os pais na roda. Em relação às outras turmas, esta era a que

dava mais trabalho para a professora, pois os pais participavam pouco das atividades e eram

um pouco indisciplinados, ou seja, conversavam entre si durante as atividades e muitas vezes

não realizavam o que a professora solicitava. Por diversas vezes a professora teve que chamar

a atenção dos pais para alguns aspectos, como cantar, participar da atividade, não conversar

com outros pais durante a atividade, etc. Acredita-se que a agitação das crianças desta turma,

em parte, devia-se à pouca participação de alguns pais durante as atividades.

Entretanto, apesar de serem agitadas, as crianças interagiam bem às atividades e de

uma forma geral, foi possível perceber o desenvolvimento geral da turma. A criança

selecionada para este trabalho freqüentava às aulas nesta turma. Interessante relatar que

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inicialmente esta pesquisadora não acreditava que esta turma pudesse servir para exemplificar

exemplos de articulações pedagógicas significativas, visto que os resultados de aprendizagem

pareciam ser “inferiores” às outras turmas. No entanto, os exemplos mais significativos

surgiram exatamente nesta turma. Sendo assim vale reforçar que o professor deve acreditar no

potencial dos seus alunos, sem rotular e generalizar comportamentos.

TURMA 2

De forma geral, esta era uma turma tranqüila e os resultados eram satisfatórios. As

crianças eram sossegadas e normalmente sentavam em roda juntamente com seus

responsáveis. Era uma turma que fazia “pouco barulho”, mas que era também muito

participativa. As crianças respondiam bem às atividades propostas.

Os pais também realizavam todas as atividades, porém, era necessário que a professora

sempre solicitasse a participação. Quando isso ocorria, as atividades aconteciam com sucesso.

As crianças se relacionavam bem com a professora. Porém, entre a professora e os pais

aconteciam alguns momentos de frieza, como se os pais não fossem receptivos a tudo o que

era proposto. No entanto, isso nunca prejudicou o rendimento da aula.

TURMA 3

Esta era uma turma muito participativa e fácil de trabalhar. As crianças eram, em

geral, calmas, participativas e atenciosas. Normalmente ficavam sentadas em roda junto com

seus pais e atendiam bem aos pedidos da professora. Os pais também eram muito

participativos e realizavam todas as atividades com disposição e criatividade.

A relação entre a professora e os alunos (pais e crianças) era muito natural e a

comunicação entre eles era muito fácil. Sempre houve uma grande aceitação das propostas de

atividades.

No início do semestre esta turma estava com um número excessivo de crianças.

Sugere-se que tenham 10 alunos por turma e esta turma estava com 15 alunos. No início isso

prejudicava um pouco o rendimento da aula, pois em muitos momentos faltava material e o

tempo entre uma atividade e outra acabava sendo maior do que o previsto. A solução

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encontrada foi dividir esta turma em dois grupos. Sendo assim, a partir da sexta aula uma

nova turma foi criada. Esta atitude foi muito positiva, pois o aproveitamento dos alunos

aumentou significativamente.

TURMA 4

Tendo em vista que esta turma era uma divisão da turma anterior, seu perfil era muito

parecido. Tanto as crianças quanto os pais eram participativos e as aulas aconteciam com

naturalidade.

Considerando que esta turma tinha um número reduzido de alunos (sendo que o

número máximo de crianças numa mesma aula foi 7), criou-se uma maior intimidade entre a

professora e os alunos (pais e crianças) em relação às outras turmas do projeto.

3.3. PERFIL DA CRIANÇA SELECIONADA - ISABELLE

Figura 6: Isabelle

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3.3.1 Informações pessoais e familiares

Pedimos para que a mãe de Isabelle fizesse a descrição da sua filha, relatando onde a

criança vivia, o que gostava de fazer, quais eram suas atividades, enfim, como era o seu dia-a-

dia. Essas informações contribuíram para que conhecêssemos um pouco mais sobre a vida da

criança estudada. No entanto, essas informações nos foram fornecidas apenas em dezembro

de 2008, ou seja, um ano após a coleta de dados desta pesquisa.

De acordo com a mãe: “Isabelle é uma criança maravilhosa, carinhosa e inteligente.

Ela é filha de Jonhson e Zuleide, analista de suporte e professora, respectivamente. Isabelle

vive comigo (mãe) e sua babá em um agradável apartamento na Federação, Salvador, Bahia.

No prédio em que moramos, há apenas mais dois meninos, cerca de 6 e 9 anos. Não há

muitas crianças na família, apenas um primo de 04 anos. Durante a semana sua rotina é

assim: ao acordar, durante o café da manhã e almoço eu estou sempre com ela. Nos demais

horários, ela fica com Eliene, a babá. Elas brincam bastante juntas, assistem vídeos e contam

historinhas. Isabelle curte fazer tarefas domésticas e ajudar em casa. No final da tarde

descem para brincar um pouco no play. Não é comum sairmos durante os dias da semana,

mas às vezes visitamos a vovó e vovô, ou vamos ao médico, ao supermercado ou ao shopping

fazer comprinhas rápidas. Estas saídas ajudam no processo de socialização e educação em

geral. Nos finais de semana, procuramos incluir atividades lúdicas, recreativas: vamos aos

parques, ao cinema, ao teatro, à praia, ao circo. Visitamos amigos e parentes. Raras vezes

ficamos em casa. Quando estamos juntas, procuramos brincar bastante com joguinhos,

bonecas e bichinhos. Isabelle adora desenhar e sempre pede que desenhemos inúmeras

coisas e pessoas. Materiais como tesoura, tinta guache, lápis cera, cola colorida e papel

estão sempre por perto para fazermos muitas coisinhas juntas. Somos verdadeiras artistas!

De vez em quando recebemos alguns poucos amigos. Atualmente, estamos aprendendo a

andar de bicicleta. Isabelle começará a freqüentar a Escola Infantil no próximo ano, logo

depois de completar três anos. Conto com esta atividade, assim como com a Oficina de

Musicalização, para auxiliar-me na educação e socialização de Isabelle. Entendo a

importância destas atividades que, tanto quanto nós aqui em casa, apresentam limites

externos, a fim de que seja possível o estabelecimento de seus limites internos”.

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Segundo o relato da mãe podemos perceber que Isabelle leva uma vida tranqüila e

agradável, rodeada de pessoas que se preocupam com o seu desenvolvimento e que procuram

artifícios que possam contribuir para a qualidade de vida da criança.

3.3.2 Comportamento nas aulas durante a coleta de dados (2007.2)

A Isabelle mostrou-se muito agressiva no início do semestre, embora, ainda que do seu

modo, sempre realizasse as atividades. Não ficava parada na roda e ficava agitada. A aluna

preferia ficar andando pela sala a ficar sentada no colo do cuidador, como era de costume com

as outras crianças. Normalmente ela realizava todas as atividades, porém as realizava fora da

roda. Era muito comum a aluna correr em direção à porta. Quando fatos como este ocorriam,

seu cuidador levantava-se e corria atrás dela. Em muitos vídeos notou-se a presença de algum

adulto correndo atrás da criança e insistindo para que ela ficasse sentada junto dele e

realizasse as atividades da mesma forma que as outras crianças ou professora.

No início do semestre a Isabelle tinha o hábito de pegar os materiais das mãos da

professora ou de outra criança. Sua expressão era agressiva e, muitas vezes, reagia com tapas

ou puxão de cabelos. Normalmente diante destas situações, a pessoa que estava assumindo o

papel de cuidador interferia na relação, muitas vezes repreendendo a criança.

A mãe da Isabelle nem sempre podia acompanhar sua filha nas aulas. Quem

normalmente a acompanhava era a babá. A criança sempre apresentou o mesmo tipo de

comportamento, independentemente do acompanhante. A própria mãe relatou estar assustada

diante das reações da sua filha em relação às outras pessoas, principalmente no que diz

respeito à agressividade. Este fato a fez refletir que sua filha mostrava um comportamento

que deveria ser observado e trabalhado. Desta forma, tentou modificar a sua relação com a

filha e dedicou mais tempo de diálogo com a criança para tentar solucionar o problema. É

possível dizer que após esta atitude da mãe houve uma mudança gradativa no comportamento

da criança que, aos poucos, foi se tornando mais integrada às atividades musicais.

Em termos de aprendizagem musical, pode-se dizer que a Isabelle desde o início

demonstrou ser uma criança interessada pelo conteúdo musical, porém de forma introspectiva

e observadora, sendo que, inicialmente, durante as aulas seu rendimento era pequeno, ou seja,

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sua participação não era ativa. Conforme sua agressividade foi diminuindo, seu

aproveitamento durante as aulas passou a aumentar e ela passou muitas vezes a ser exemplo

para as demais crianças. A criança permaneceu no projeto após a coleta de dados desta

pesquisa, e pôde-se notar sua grande satisfação em estar nas aulas. Ela passou a querer ser a

“ajudante” da professora tanto na parte de organização da aula quanto na parte de didática

musical. Isabelle, em geral, tinha prazer em ficar entregando e recolhendo materiais, além de

ficar interagindo com as outras crianças, imitando a forma de atuação da professora.

Isabelle ainda demonstrava prazer em ouvir e cantar as canções apresentadas nas

aulas, reagindo corporalmente aos movimentos suscitados pelas mesmas. No início, o

comportamento agressivo parecia ser um empecilho para que esta criança tivesse um

relacionamento mais próximo e espontâneo às músicas trabalhadas. Com a continuidade,

houve mais contato entre a criança e as canções.

3.3.3 Episódios marcantes

Houve dois episódios marcantes que contribuíram para a escolha desta criança para o

estudo. O primeiro aconteceu na segunda aula, quando a professora buscou interagir com a

criança no momento do relaxamento e foi surpreendida por um puxão de cabelos. A partir

deste episódio, a professora passou a buscar de forma intensiva e discreta uma maneira

diferente de se relacionar com esta criança em relação às outras. O segundo episódio

aconteceu na décima segunda aula, quando todos estavam no momento do relaxamento e esta

mesma criança, demonstrando uma grande transformação, acariciava os cabelos da

professora, em vez de puxar, como o fez no início dos trabalhos.

3.3.4 Análise do questionário

De acordo com o questionário respondido por sua mãe em 2007, a criança iniciou o

segundo semestre de 2007 com um ano e oito meses de idade (Nascimento: 26/12/2005),

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sendo que tanto a mãe quanto o pai tinham 30 anos de idade neste período. A criança tinha um

irmão mais velho que não morava com ela.

Sua mãe tem formação como pedagoga e seu pai é analista de suporte, sendo que

ambos não possuiam experiência musical sistematizada. Entretanto, esta criança possuía tios e

primos músicos, embora não ficasse perto deles em momentos de estudo ou os ouvisse tocar

com freqüência. A criança não convivia com ninguém de outra cultura e seu grupo religioso

era Centro Espírita, no qual não havia música.

Seu pai ouvia em média 3h a 4h de música por dia e sua mãe ouvia de 1h a 2h, através

de rádio, CDs e DVDs. O estilo musical mais ouvido pelos pais era MPB (categoria citada por

eles). O repertório musical que os pais ouviam era diferente da música ouvida pela criança.

Seus pais ouviam grupos como: Roupa Nova, Milton Nascimento, Emerson Nogueira, Jorge

Versilo, etc.

Quem cuidava da criança era a babá e a mãe, sendo que esta ficava com a criança

somente durante parte da manhã e o pai convivia com a criança somente nos finais de semana.

Entretanto, todas estas pessoas utilizavam música com Isabelle através de canto, CDs e

DVDs. A criança possuía materiais musicais próprios como CD’s: Palavra Cantada; DVD’s:

Cocoricó e Xuxa; brinquedos sonoros: pianinho e chocalhos e instrumentos musicais: gaita.

Seus responsáveis utilizavam música com a criança nas seguintes atividades diárias:

dormir, acordar, tomar banho e brincar. Tanto o pai quanto a mãe costumavam cantar para a

sua filha nas atividades citadas. O repertório utilizado era “Músicas infantis dos DVD’s e

CD’s. Muitas vezes inventamos músicas cujos “personagens” são pessoas conhecidas

(inclusive a própria Isabelle). Sempre cantamos também as musiquinhas das aulas dos

sábados” (relato da mãe de Isabelle). Suas justificativas para a escolha deste repertório

foram: “A nossa opção é por músicas que divirtam mas também ensinem, eduquem, orientem

e ajudem-nos a nos relacionarmos melhor.”

Seus responsáveis mostraram interesse em aprender músicas para utilizar com sua

criança: “Conhecemos o pessoal que fez o DVD Palavra cantada (Sandra e Paulo) e turma

do Júlio (Cocoricó) para cantar com Isabelle. E, claro, também os 6 DVD’s de Xuxa e Hello

Kitty.”

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A criança mostrava reações diferenciadas por determinadas músicas: “Isabelle sempre

gostou de música, sons, ritmos... o primeiro presente dela (com 10 semanas de gestação) foi

um CD para fazer massagens de Shantala. Enquanto íamos dirigindo, o CD não parava de

tocar. Sempre cantamos para ela e nos tornamos “compositores” de música para dormir,

acordar, trocar fralda, pegar elevador, andar de carro, tomar banho, vestir roupa, tirar

roupa... Ela adora as músicas que inventamos e muitas outras; torna-se mais atenta e calma

com elas.”

A mãe e o pai relataram lembrar-se de músicas que seus pais cantavam enquanto estes

eram crianças e costumavam utilizar estas mesmas músicas com a criança: “Nós cantamos

muitas musiquinhas que já são “do nosso tempo” (Cai cai balão / lagarta pintada / fui morar

numa casinha)”

Quando estava grávida, sua mãe costumava ouvir músicas com seu bebê e costumava

cantar “Musiquinhas que eram compostas para ela. Também ouvia sempre o CD de

Shantala”

Sua mãe relatou que teve interesse em procurar o curso de musicalização

“Principalmente pela socialização e desenvolvimento da oralidade” da sua criança. Também

relatou que a criança mostrou mudanças no seu comportamento após o início das aulas no que

diz respeito à: socialização, coordenação motora, sensibilidade musical, estímulo à fala,

atenção, expressão corporal, ritmo, canto, reconhecimento das partes do corpo, afetividade, e

ainda: “Concentração, seguimento de rotinas, integração, controle da impulsividade,

orientação espacial.”

A mãe relatou concordar com o currículo desenvolvido nas aulas: “Há

compatibilidade entre as atividades propostas e o estágio de desenvolvimento das crianças.”

Ainda fez os seguintes comentários: Notamos muitos avanços no desenvolvimento psico

social durante o último semestre (período em que ela freqüentava o grupo de musicalização).

Seu comportamento vem nos surpreendendo a cada dia que passa e ficamos curiosos a

respeito das próximas novidades. Às vezes Isabelle não faz atividades em classe, mas as

reproduz em casa quando brincamos juntas com outras crianças e até mesmo com as suas

bonecas.

Pelo depoimento da mãe pudemos deduzir que Isabelle, mesmo no momento em que

não estava realizando as atividades musicais e corporais, estava prestando atenção e

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aprendendo, pois ela reproduzia as brincadeiras em casa com as bonecas e com os adultos.

Através das considerações acima é possível notar que a criança estudada era estimulada

musicalmente em casa e que as aulas contribuíram de certa forma para o seu desenvolvimento

musical e de outras habilidades, inclusive para a relação afetiva entre a criança e seus

cuidadores.

3.3.5 Desenvolvimento da faixa etária da criança selecionada – revisão da

literatura

Considerando que a criança selecionada iniciou o semestre de coletas de dados desta

pesquisa com um ano e oito meses (20 meses), vale a pena relembrarmos as considerações

sobre o desenvolvimento nesta fase. De acordo com a teoria de Piaget, a criança selecionada

para este estudo se encontrava no sexto e último subestágio do período sensório-motor (18

meses em diante). Como já foi visto, nesta fase há os primeiros indícios de imagem interior e

representação mental do objeto exterior. A criança começa a inventar novas soluções através

de um trabalho mental de uma exploração interna. Há uma representação da ação através de

imitação. Trata-se de um período de representação e invenção, em que novas ações são

surpreendentes e a criança já estabelece um conceito interno de sua imagem corporal.

Nesta fase a imitação não se dá somente na presença do modelo, e sim pode ocorrer na

sua ausência após intervalos longos ou curtos. “A imitação leva à formação da imagem

interior (e não o contrário) e a transmissão progressiva desses processos vai desde a formação

de conceitos até à complexidade da linguagem interna” (LÓPEZ, 1974, pág 70). O jogo se

torna “símbolo lúdico”, devido à capacidade de representação mental. A criança é capaz de

imitar ações do seu cotidiano como fingir dormir, fingir comer algo gostoso.

Em relação ao desenvolvimento do canto pode-se afirmar que aos 18 meses há

evidências de canto espontâneo, que é diferente do balbucio cantado, pois apresenta o uso de

alturas discretas estáveis, sendo que no balbucio cantado utilizava glissandos microtonais

(SLOBODA, 2008). Moog (1976, in SLOBODA) observou que por mais que normalmente

nesta idade a criança já tenha começado a falar, as palavras não são usadas no canto

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espontâneo. No entanto podem ocorrer palavras soltas ou pedaços de palavras, que vão sendo

exploradas na tentativa de imitar canções ouvidas.

De acordo com McDonalds e Simons (1989), padrões rítmicos e melódicos começam

a aparecer nas vocalizações dos 19 aos 24 meses, quando também surgem pequenas canções

espontâneas, consistindo de pequenos intervalos melódicos com padrões rítmicos flexíveis. A

partir dos 24 meses é possível perceber que a criança adquire habilidade para cantar partes de

canções, bem como canções espontâneas utilizando padrões melódicos aprendidos. Em

relação ao desenvolvimento rítmico os autores relatam que com seis meses a criança realiza

movimentos corporais generalizados ainda não completamente sincronizados com a música,

sendo que sua resposta aos sons é generalizada. Com dois anos a criança adquire movimentos

de braços e pernas com sincronização temporária e pulso.

3.4. DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS EPISÓDIOS

A seguir, serão descritos e analisados os 34 episódios recolhidos durante o segundo

semestre de 2007 da criança estudada, com o objetivo de responder à questão central desta

pesquisa: “Como a utilização da Abordagem PONTES pode influenciar o surgimento de

articulações pedagógicas significativas entre os atores do processo educativo-musical que

contribuam para o desenvolvimento do nível de aprendizagem musical e de atitudes nos

alunos nas aulas de musicalização para bebês?”.

A sistematização utilizada para o reconhecimento dos episódios é seqüencial e segue

os seguintes parâmetros de identificação: Episódio [número do episódio] Aula – aula em que

aconteceu a cena (identificação da cena durante a aula) – título do episódio. Após a

descrição e análise de cada episódio há uma foto da cena apresentada. A criança estudada está

sendo apontada por uma flecha, no intuito de facilitar seu reconhecimento.

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Episódio [1] Aula 1 (1) – Pandeiro e trem das onze

Este episódio aconteceu na primeira aula do semestre, realizada no dia 11 de agosto de

2007. Isabelle estava acompanhada por sua mãe. Todos estavam sentados em roda tocando

pandeiro. Estava tocando um trecho da música “Trem das onze” por Demônios da Garoa

através de CD. Cada criança possuía um pandeiro para que seus pais tocassem junto no

mesmo instrumento. Não havia instrumento para todas as pessoas, por isso é que cada duo

(criança e responsável) recebeu somente um pandeiro. O objetivo da atividade era estimular

as crianças a reagirem à pulsação da música tocada no pandeiro com a mão aberta na sua

superfície, além de conhecer o instrumento trazido à aula, que não era conhecido por todos, e

reconhecê-lo pelo nome.

No início do episódio um aluno levantou-se e foi em direção à professora, querendo

pegar seu instrumento. A professora pacientemente tentou trocar de instrumento com a

criança, que não aceitou a sugestão. Então a professora ficou tocando mesmo com esta criança

segurando seu pandeiro. Nota-se que esta criança ficou insistindo para levar o pandeiro da

professora. No mesmo momento em que este menino levantou-se para ir até a professora,

Isabelle também se levantou e foi à mesma direção, se posicionando muito perto do que

estava acontecendo e observando a outra criança. A professora percebeu esta aproximação

através da observação e reagiu com naturalidade interagindo com a menina tocando no seu

pandeiro, indicando como ela deveria fazer nesta atividade. A reação desta criança foi andar

para trás e jogar seu pandeiro no chão, e em seguida pegá-lo novamente. Neste momento

olhou para a professora e voltou-se pra seu instrumento, enquanto sua mãe foi buscá-la para

voltar para a roda. Enquanto a professora interagia com Isabelle deixou de dar atenção à

primeira criança que havia chegado demonstrando sensibilidade à relevância daquele

momento pedagógico. No momento em que Isabelle andou para trás, nota-se que a professora

tentou ir até ela, porém voltou a dar atenção ao primeiro menino. A mãe foi atrás da criança e

por esta razão a professora desistiu de ir, delegando à mãe a autoridade de trazê-la de volta à

rodinha da aula, onde estava a maioria dos alunos. Neste momento a professora utilizou uma

técnica pedagógica adequada à situação, pois com agilidade, reconheceu e delegou a

autoridade para direcionar a criança, e também não deixou de dar atenção devida à outra

criança que demandava atenção.

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Destaca-se neste episódio o momento em que Isabelle rejeitou a sugestão da

professora. A aluna não somente não repetiu o ritmo feito com as mãos no pandeiro como

também andou para trás e agressivamente jogou o instrumento no chão. Houve uma tentativa

por parte da professora de interagir com a criança e estimulá-la a realizar a atividade com

sabedoria e técnica pedagógica administrada com sensibilidade, por admitir que a reação da

criança era sincera e que poderia ser trabalhada no futuro. Uma reação comum a ser realizada

por alguns professores seria talvez de repreensão da criança por ter jogado o instrumento no

chão, porém não foi isto que aconteceu. A professora teve uma atitude positiva em acreditar

que a aluna poderia se agregar ao grupo mais tarde. No entanto, nota-se que a aluna não

reagiu conforme a expectativa da professora, sendo que o tipo idealizado de reação ao desafio

pedagógico era de que a criança tocasse no seu pandeiro conforme o modelo apresentado pela

professora. Tomando-se como referência uma proposta de sistema de análise de contrastação

para ações docentes articuladas (OLIVERA, 2008), pode-se relacionar a ação docente em

termos de objetivos pedagógicos a serem alcançados, como uma ação docente de caráter

afetivo, “onde a ênfase do professor está na ação moldada através da emoção daquele

momento didático, não como resultante de um planejamento racional ou de técnicas

pedagógicas aprendidas, planejadas e pré-analisadas.” Embora a professora na época, ainda

não tivesse informações detalhadas sobre a Abordagem PONTES, ela demonstrava nas suas

ações, reações pedagógicas conscientes sobre a relevância de estar em sintonia com cada

criança vista nos seus diferentes perfis, fossem eles comportados, agressivos, afetivos,

colaboradores, “musicais” ou quaisquer outros.

Em termos da relação com o material, ou seja, o pandeiro, a ação foi também

direcionada pelo que a emoção do momento levou a professora e a aluna a fazerem,

considerando que a professora tentou aproveitar uma situação de aproximação com a criança

através do instrumento. Através da ação docente, a professora buscou que a criança imitasse o

modelo dado com algum grau de fidelidade ao modelo original no momento em que a

professora tocou no pandeiro da criança, indicando como ela deveria fazer naquela atividade.

Embora a ação docente não tenha objetivado o desenvolvimento da criatividade ou da

expressividade por parte da criança, pode-se constatar através do vídeo e da surpresa da

professora, que a reação da criança pode ser interpretada como uma reação expressiva e

criativa, pois foi diferente do esperado: ela deu alguns passos para trás e ainda jogou o

instrumento no chão. Depois ela olhou de forma desafiadora para a professora, pegou

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novamente o seu instrumento e em seguida foi explorar o instrumento sozinha. Então, a sua

mãe a foi buscá-la para trazê-la novamente para a roda.

O comportamento apresentado pela criança, de forma agressiva e expressiva, a

princípio pode ser interpertado de forma destrutiva, ou como forma de “acabar com a

brincadeira”. Porém, pode-se também interpretá-lo como um comportamento criativo que

chamou a atenção da professora para ela. Um comportamento forte que desafiou a capacidade

articulatória da profissional no sentido de buscar formas de pontes de contato próprias à

criança, mas que também pudessem demonstrar que a professora estava em total controle da

situação e aberta ao diálogo. Esse controle da professora pode ser visto como um controle

consciente, porém, não autoritário, ou seja, o controle consciente visava manter os limites

entre criança e adulto, organização e desordem, bagunça e liberdade de ação, etc. Portanto, no

decorrer do texto apresentado nos episódios o leitor irá perceber que através desta reação

agressiva a criança pôde tornar-se conhecida, pesquisada e observada ao longo do trabalho de

ensino e pesquisa.

Figura 7: Interação através do pandeiro

Episódio [2] Aula 2 (1) – Ovinhos e música para flauta

A aula em que ocorreu este episódio aconteceu no dia 18 de agosto de 2007 e a criança

estudada estava acompanhada por sua babá. Todos estavam sentados em roda tocando ovinho

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de percussão4. O objetivo desta atividade, assim como no episódio 1, era marcar a pulsação da

música que estava sendo tocada através de CD. Desta vez a música era instrumental e tocada

por um grupo de flautas doces chamado Compassolivre. Neste momento da aula, a professora

tinha o costume de interagir com cada criança individualmente, se posicionando na frente de

cada uma na roda e indicando como ela deveria tocar o seu ovinho de percussão, seguindo a

pulsação da música que estava sendo tocada.

Quando a música iniciou, Isabelle era a única criança que se encontrava em pé no

meio da roda enquanto as outras crianças estavam sentadas com seus responsáveis nos

colchonetes. No início a professora, ao observar que a criança estava em pé e na tentativa de

fazê-la participar, logo tentou interagir com Isabelle através do olhar e expressão facial

exagerada. Este primeiro contato durou alguns segundos e logo a professora começou a

interagir com as outras crianças. No vídeo podemos ver a expressão da professora interagindo

com as outras crianças, no entanto não conseguimos ver os alunos. Isabelle ficou parada

observando a ação docente. Quando a professora percebeu que a criança a estava observando,

agiu com naturalidade e simplicidade na sua relação com a aluna e se aproximou da menina

novamente, buscando outro contato visual com expressão facial exagerada e tocando o seu

instrumento, indicando como a menina “deveria” fazer. Neste momento a reação da criança

foi andar para trás e ameaçar dar um tapa na professora. Quando Isabelle andou para trás, ela

quase caiu em cima de outra colega. Diante disso a reação da professora e dos pais da outra

colega foi tentar socorrer Isabelle para que ela não caísse. No entanto quem a socorreu foi a

babá, que a segurou pelo braço para que a menina se sentasse junto dela. A professora

demonstrou ignorá-la e continuou interagindo com os outros alunos, como vinha fazendo

anteriormente.

Destaca-se neste episódio os momentos em que a professora buscou relação com a

criança, acreditando no seu potencial para aprender e se desenvolver e buscando utilizar uma

técnica pedagógica adequada (e não mecânica), ao ensino e aprendizagem desta situação.

Desta forma pode-se perceber que a professora buscou uma nova estratégia didática

diversificando sua forma de utilizar os materiais de que dispunha, neste caso o ovinho de

percussão, para estimular a expressão dos seus alunos. Entretanto, nota-se que a reação da

criança não coincidiu às expectativas da professora.

                                                            4 chocalho em formato de ovo, pequeno com som agradável

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De acordo com o sistema de análise de contrastação para ações docentes articuladas

(OLIVEIRA, 2008), em termos de objetivos pedagógicos a serem alcançados, pode-se

relacionar esta atuação como uma ação docente de caráter afetivo, onde, como no exemplo

anterior, novamente “a ênfase do professor está na ação moldada através da emoção daquele

momento didático, não como resultante de um planejamento racional ou de técnicas

pedagógicas aprendidas, planejadas e pré-analisadas.”

A situação apresentada neste episódio é muito semelhante à situação do episódio

anterior, sendo que tanto a ação da professora quanto a reação da aluna foram as mesmas. No

entanto, o contexto era diferente, sendo que havia menos crianças na sala naquele momento e

que o material que estava sendo utilizado era outro. Contudo, nota-se que neste período das

primeiras aulas a criança estudada aparentemente tinha certa dificuldade para se relacionar

com as pessoas, principalmente quando havia algum tipo de material específico envolvido

com a situação. Isso se torna mais nítido no próximo episódio.

Figura 8: Interação com ovinho

Episódio [3] Aula 2 (2) – Mágica do tule

Este episódio também ocorreu na segunda aula, quando a criança estava acompanhada

por sua babá. Durante esta atividade, todos os pais estavam sentados nas suas posições na

roda, e havia muitas crianças em pé. O objetivo da atividade era desenvolver a atenção das

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crianças, bem como estimular as vocalizações. A professora chamava esta atividade de

“mágica”, porque o objeto “desaparecia e aparecia” repentinamente. O procedimento deste

jogo era esconder um tule colorido entre as mãos produzindo uma vocalização ascendente.

Quando o tule estivesse totalmente escondido, fazia-se silêncio. Este silêncio era interrompido

por uma vocalização descendente no momento em que as mãos se abriam e o tule caía no

chão. Este jogo sempre teve muito efeito com as crianças pequenas, que normalmente ficavam

ansiosas aguardando que o tule aparecesse novamente. Sendo assim, a professora podia deixar

soar o silêncio por muito tempo, e as crianças permaneciam ansiosas esperando o momento da

“aparição” do tule.5

De maneira geral todos estavam envolvidos com a atividade e a realizavam com

sucesso. Isabelle também estava em pé no meio da roda, porém, diferentemente dos outros

alunos, não demonstrava interesse em realizar esta atividade. A atitude da criança foi a de

ficar andando e observando as outras crianças com uma expressão séria. Em um dado

momento Isabelle se aproximou de outra criança e tentou agredi-la com seu tule. A outra

criança estava tão envolvida com a atividade que fez pouco caso da atitude da Isabelle. A

atividade continuou e Isabelle ficou observando as outras crianças até que, de repente,

caminhou em direção à professora e pegou seu tule. A reação da professora foi levantar as

mãos com as palmas para cima e perguntar à criança: “E agora?”. Neste momento Isabelle

olhou firmemente para a professora e depois lhe deu as costas, tentando pegar também o tule

da sua colega no momento em que andava para frente. O pai da outra criança sugeriu que esta

entregasse seu tule à professora para que a atividade continuasse. Por sua vez, a professora

pegou outro tule que estava guardado e disse “AH! Achou!”. A criança que estava envolvida

com a atividade repetiu o que a professora disse, alguns pais riram e Isabelle foi novamente

em direção à professora tentando novamente pegar seu tule. A professora seguiu a atividade,

escondeu o tule em suas mãos e no momento em que Isabelle chegou para tomar seu tule, ele

sumiu nas mãos da professora. A criança se virou e quando o tule apareceu novamente,

Isabelle tentou pegá-lo outra vez.

Neste episódio destacam-se os momentos em que a criança quis se apropriar de

materiais que não eram seus, além da sua expressão agressiva, e do modo como a professora

lidou com a situação. Pode-se dizer que a professora agiu com naturalidade, se relacionando

                                                            5 Esta atividade foi aprendida pela professora numa vivência realizada na UFPR com a professora norte americana Beth Bolton.

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com a criança de forma simples e objetiva, sem perder o controle da situação. A professora

soube observar cuidadosamente a ação da criança não insistindo para que ela devolvesse o

material que havia pegado. Esta ação da professora causou surpresa na criança, que

aparentemente esperava que a brincadeira acabasse. Ao invés disso a professora, que no caso

era a “dona” da brincadeira (pois era quem estava liderando o jogo), pegou outro tule que

havia dentro saco e prosseguiu a atividade. Quando a criança percebeu que sua estratégia não

havia funcionado, a menina foi tentar pegar o novo material da professora, sendo que desta

vez a professora não cedeu e tentou contornar a situação brincando e despistando a atenção da

pequena. Pode-se destacar que a professora utilizou uma técnica pedagógica adequada para a

situação, modificando sua forma de lidar com o material disponível, no caso o lencinho.

Neste caso a ação mais comum (norma) seria a professora parar a atividade para

repreender Isabelle, ou demonstrar através de qualquer ação vigorosa a sua reprovação sobre

o ato acontecido. Em vez de fazer uso de uma ação reprovadora, a ação da professora foi a de

transformação do ato indesejado, numa ação de jogo e de humor, em que a criança tinha que

perceber rapidamente o que tinha acontecido com o lenço. A professora usou a imaginação

criadora fazendo a criança pensar que o lenço desaparecera num passe de mágica.

Figura 9: Mágica com o tule

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Episódio [4] Aula 2 (3) – Puxão de cabelo

Ainda na segunda aula do semestre, todos estavam deitados para o relaxamento do dia.

O objetivo deste momento era que os responsáveis pudessem relaxar e massagear suas

crianças. A música que estava tocando era “Balé” do grupo Palavra Cantada. Embora a

professora tivesse solicitado que todos os cuidadores deitassem com seus pequenos nos

colchonetes, muitos preferiram ficar sentados e deitar somente a criança. Nota-se que alguns

pais ou cuidadores estavam massageando suas crianças, enquanto outros não. Como a

atividade anterior a essa tinha sido a mágica do tule, as crianças ainda estavam com o material

nas mãos. A professora havia sugerido que o tule se transformasse num travesseiro macio para

os alunos deitarem em cima.

Este episódio se iniciou quando a babá de Isabelle estava carregando-a para deitar no

colchonete. A professora, percebendo a agitação da criança, deitou-se no chão tentando

mostrar como a aluna deveria fazer, utilizando seu tule como “travesseiro”. Enquanto a

professora estava deitada olhando para Isabelle, a babá tentou forçar a criança a se deitar

também. A criança gritou: “Não!” e se forçou para se levantar. Então, foi com as mãos em

direção à orelha da professora e arrancou seu brinco. Depois deste fato, aparecem na

filmagem os outros pais se relacionando com suas crianças. Alguns estavam massageando

suas crianças de forma carinhosa, afetuosa e atenciosa, outros estavam massageando seus

pequenos, porém prestando atenção no todo, enquanto outro pai interagia com sua filha

soprando o tule para cima enquanto sua criança demonstrava alegria com o momento.

Novamente a câmera filmou a professora, que permanecia no mesmo lugar. Percebe-se que a

babá ainda insistia para que Isabelle ficasse deitada no colchonete, e tentava massageá-la. No

entanto a criança ainda reagia de forma a tentar sair dali. A professora novamente tentou

mostrar como a aluna deveria fazer e mencionou deitar em cima do tule. A reação da criança

foi puxar os cabelos da professora, que rapidamente segurou a mão da pequena fazendo com

que ela soltasse seu cabelo. A babá reagiu como a professora e também tentou retirar as mãos

de Isabelle dos cabelos da professora.

Destacam-se neste episódio as tentativas de aproximação criadas pela professora,

mesmo quando a criança mostrava-se contra este comportamento. Pode-se dizer que a

professora agiu com positividade ao tentar interagir tantas vezes com a criança, acreditando

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no seu potencial para aprender e se desenvolver, embora a criança não tenha atendido às

expectativas da professora naquela aula. A professora apresentava uma noção muito clara e

consciente do objetivo daquela atividade, que consistia no relaxamento do dia, ou seja, uma

atividade tranqüila e prazerosa para as crianças. Por isso, pode-se dizer que sua ação foi

orientada pelo objetivo a ser alcançado naquela situação, buscando uma forma de atuação

docente dominada pelo conhecimento sistemático de ações pedagógicas que pudessem levar à

articulação com a criança e com a atividade. A professora já havia percebido que a criança

insistia em não querer realizar o que havia sido proposto, mas finalmente, conseguiu atrair a

atenção da aluna para a sua ação. Porém, surpreendentemente, a reação da criança não

correspondeu à expectativa da professora que esperava que esta se moldasse ao

comportamento geral da turma, que era deitar e relaxar. Isabelle reagiu de forma totalmente

oposta: agressivamente, ou pode-se talvez dizer, criativamente, uma vez que não se moldou

ao comportamento geral da turma. Ao tentar arrancar os cabelos da professora a aluna marcou

a sua presença como indivíduo diferenciado e suscitou a curiosidade de vencer um desafio

através da observação sistemática do desenvolvimento deste indivíduo através da pesquisa. A

partir deste momento dramático e cheio de tensão pedagógica pôde-se determinar o

direcionamento do interesse acadêmico em torno de questões sobre as diversas possibilidades

articulatórias que precisam ser buscadas para superação dos desafios. A intensidade deste

desafio pode ser qualificada pela relação de contraste que se pode estabelecer entre uma

sensação de leveza, de carinho expressa num toque no cabelo e um “puxão” forte,

determinado, prolongado e doloroso que para ser finalizado, teve que ser ajudado pela

habilidade de livrar-se através de uma ação leve de reflexo de controle da mão da criança.

A professora demonstrou habilidade de observação não só do educando mas também

da situação criada naquele contexto, e encarou o evento como uma representação de

aproximação por parte da criança. Pode-se dizer que as ações da professora foram expressivas

e que ela acreditou na capacidade de desenvolvimento da expressividade e aprendizagem da

aluna ao estimulá-la a realizar o relaxamento. Em termos de técnica pedagógica, a ação de

mostrar com o corpo como a criança deveria deitar no colchonete durante a atividade,

acredita-se que houve pertinência e adequação à situação, pois a maioria das crianças da sala

reagiu da forma esperada, ou seja, deitavam-se e interagiam com seus responsáveis de forma

calma e tranquila. Somente com Isabelle, esta técnica não surtiu o efeito esperado, porém,

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serviu para desencadear uma série de ações articuladas em torno da solução do problema, que

pode ser vista nas análises dos episódios.

No decorrer das descrições dos episódios serão mostrados outros exemplos que

sugerem que a professora passou a buscar intensivamente atitudes que contribuíssem para o

desenvolvimento musical da criança, inclusive no que diz respeito ao uso de materiais, ou

seja, a atitude da criança motivou a professora a tentar reverter o comportamento encontrado

naquela criança, através de reações que pudessem chamar sua atenção. Assim foram criadas

sucessivamente ao longo do trabalho conexões, articulações e pontes que tinham sabor de

ludicidade, de musicalidade, de expressividade corporal, de dramaticidade, que serviram para

despertar a atenção contínua da criança para a professora. É necessário reforçar que outros

fatores podem ter contribuído para a melhora gradativa da criança, como por exemplo, o

diálogo com a sua mãe, entre outras coisas que não estão sendo documentadas neste trabalho.

Figura 10: Puxão de cabelo

Episódio [5] Aula 3 (1) - O sapo pulando nas cabecinhas

Esta aula aconteceu no dia 25 de agosto, e Isabelle estava acompanhada por sua mãe.

As crianças estavam sentadas no chão em roda juntamente com seus responsáveis. A

professora estava fazendo uma atividade utilizando um sapo de pelúcia, e marcava a pulsação

da música utilizada passando o sapo levemente sobre as cabeças das crianças, como se ele

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estivesse pulando de uma cabeça à outra.6. Sugeriu-se que as pessoas envolvidas com a

atividade representassem a ação indicada pela letra da música. Sempre que a música acabava,

o sapo interagia com a criança que estava na vez.

A professora estava envolvida com toda a turma, e sempre passava o sapo uma vez na

cabeça de cada criança respeitando a ordem da roda. A atividade durou cerca de 3 minutos e

meio. Quando a professora começou a cantar a música pela sexta vez, aproximadamente aos 3

minutos de atividade, Isabelle, que se encontrava fora da sua posição na roda, tentou pegar o

sapo da mão da professora. Diante desta situação inesperada da criança de tentar tirar o sapo

da sua mão, a professora sentiu a relevância desse momento pedagógico, tentando fazer algo

diferente para chamar a atenção da criança e de certa forma agradá-la, satisfazê-la, dando-lhe

um pouco mais de atenção. Assim, a professora mudou a estrutura do jogo impregnando a

atividade com uma atitude mais atenciosa em relação a esta criança. Ao invés de passar o sapo

somente uma vez sobre sua cabeça, passou 4 vezes, intercalando com outras crianças que

estavam perto. Após esta atitude a aluna ficou observando a professora, séria, porém

disciplinada, mas sem tentar novamente “pirraçar” a professora. Logo após o fato, a criança

voltou para o seu lugar na roda, junto com sua mãe, como todas as demais crianças estavam.

De acordo com Winnicott (2002) quando o bebê nasce, a mãe já está totalmente

preparada, e já conhece, de forma intuitiva, todas as necessidades do seu bebê. Porém pode-

se questionar um pouco essa afirmativa. Os primeiros contatos físicos e emotivos, bem como

os estímulos auditivos, são muito importantes para o desenvolvimento do bebê. Portanto,

acredita-se que diante de um episódio como o que foi descrito acima, a relação que estava

sendo construída entre a professora e a criança de um ano e meio era bem mais forte naquele

momento do que a comunicação entre o bebê e sua mãe. Esta tentou chamar a filha, porém a

criança não obedeceu. Diante do conhecimento anterior de que esta relação humana deve ser

trabalhada e bem estruturada, a professora organizou o seu processo mental para a nova ação,

que foi inicialmente intuitiva.

Sabe-se que o canto e a fala dirigidos ao bebê influenciam a comunicação e interação

com seus familiares. Os contornos melódicos (da fala e da música) são aspectos importantes

que constituem a base da percepção musical no início da vida. O bebê pode não entender as

                                                            6 A música utilizada para a atividade é de autoria de Kamile Levek e sua letra era: “O sapo gosta de pular/ele pula, pula, pula, pula sem parar/ o sapo gosta de pular/mas ele também gosta muito de... (abraçar, beijar, conversar, espirrar, cochilar, acordar, etc. Utilizam-se verbos que terminem com a sílaba “ar”)”.

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palavras que estão sendo ditas, mas sabe, instintivamente, que estão sendo dirigidas a ele

quando há um exagero no contorno melódico, uso do registro vocal agudo, andamentos lentos

e expressividade acentuada (ILARI, 2002 e 2006). Em relação ao episódio acima, pode-se

constatar que a professora usou, além de uma forma musical adequada de comunicação,

outros meios de expressão como exagero facial para interpretar as palavras da canção, e

movimentos corporais bem definidos, porém suaves, dentro da dinâmica que representava um

sapo que gosta de pular e de fazer outras ações relacionadas ao mundo infantil.

Através do exemplo acima, pode-se notar que a reação da criança de tentar retirar o

sapo das mãos da professora foi um momento de tensão pedagógica entre a professora e seus

alunos, pois caso a professora não tivesse passado o sapo um número maior de vezes na

cabeça da criança que estava tentando rebelar-se, as demais crianças poderiam seguir o

modelo daquela criança que estava tentando desafiar a professora. A qualidade do ensino de

música, especialmente na faixa etária infantil, pode estar mais relacionada à adequação das

ações de ligação e articulações humanas e didáticas entre professor e alunos, do que às

próprias escolhas e qualidade das atividades musicais.

Pode-se talvez afirmar que a técnica utilizada pela professora para musicalizar bebês,

baseada nas suas vivências anteriores e nas recomendações da Abordagem PONTES

(OLIVEIRA, 2001, 2005, 2006, 2007, 2008) influenciou o surgimento de uma articulação

pedagógica significativa entre a criança desafiadora e a professora no processo educativo-

musical. Percebe-se que a atitude da professora contribuiu para uma mudança de atitude na

aluna dentro da atividade desenvolvida na aula de musicalização para bebês.

Em relação aos itens ressaltados por Oliveira na Abordagem PONTES, pode-se notar

que a professora demonstrou habilidade em resgatar a motivação da criança de um ano e meio

de idade usando um artifício adequado tecnicamente àquela faixa etária. Ela conseguiu

transformar a atitude da criança porque anteriormente usou a sua capacidade de observar todo

o contexto atentamente durante o desenrolar das aulas. A professora também observou aquela

criança dentro das situações e representações dos demais alunos, demonstrando muita

naturalidade e simplicidade na criação daquela micro-estrutura de ensino, visando facilitar a

re-integração da criança dentro do grupo e da atividade. Talvez o resultado positivo da

inovação da professora tenha sido causado pela sua capacidade de transformar uma sensação

negativa de agressividade em uma solução criativo-musical, de representação, que gerou

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surpresa por parte da criança, que talvez esperasse uma reação mais normal, que seria uma

repreensão ou outra forma qualquer de controle da situação. Ficou também aparente a

confiança no resultado da nova ação, que pode também estar relacionada à fé da professora na

capacidade de desenvolvimento e mudança da aluna.

Figura 11: Sapinho pulando

Episódio [6] Aula 4 (1) – professora explicando que também precisa do ovinho

Esta aula aconteceu no dia 08 de setembro e Isabelle estava acompanhada pela mãe e

pela babá. O momento da aula era de execução instrumental utilizando os ovinhos de

percussão. O objetivo da atividade era marcar a pulsação da música instrumental ouvida, neste

caso, a Polanaise da Suíte nº 2 para flauta e orquestra de J. S. Bach.

A organização dos alunos era como de costume, isto é, todos sentados nos colchonetes

em roda. No entanto, neste momento havia muitas crianças em pé. De certa forma todas as

crianças estavam interagindo com a música. Algumas estavam realizando a atividade tocando

seu instrumento, enquanto outras estavam “dançando”. Neste momento da aula era usual a

professora passar de criança em criança tocando seu ovinho, e era isso que estava sendo feito.

Enquanto a professora interagia com outro aluno, Isabelle foi até ela, e demonstrou querer seu

ovinho. A professora, através de expressão facial e corporal, sugeriu trocar de ovinho com

Isabelle. A criança pegou o ovinho da professora e foi sentar no colo de sua mãe, sem fazer a

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troca. Desta forma, a professora ficou sem instrumento. Então, foi até a criança para pedir seu

instrumento de volta. A mãe da criança interferiu na relação e entregou o instrumento à

professora. Por sua vez, a professora agradeceu Isabelle pelo gesto e voltou a interagir com as

outras crianças. A mãe da aluna deu continuidade à atividade, tocando com sua criança.

Reforça-se neste episódio a tentativa de conscientizar a criança de que a professora

também precisava utilizar o material. A partir desta aula a professora passou a demonstrar

maior autoridade em relação a isso e a tentar, através de diálogos e ações e juntamente com os

responsáveis desta criança, fazer com que ela compreendesse a importância do modelo da

professora com os materiais.

Em relação à Abordagem PONTES (OLIVEIRA, 2001, 2005, 2006, 2007, 2008)

pode-se dizer que a professora soube observar cuidadosamente a atitude da criança e agiu com

naturalidade, utilizando simplicidade nesta relação, demonstrando com expressões faciais e

corporais, especialmente com o contato visual intenso, que também precisava do instrumento.

Também pode-se afirmar que a professora utilizou uma técnica pedagógica adequada através

de um tipo especializado de comunicação para crianças com esta faixa etária, isto é, com

expressões corporais e faciais exageradas, sendo que desta mesma forma foram desenvolvidos

vários eventos muitos curtos, porém significativos de interação com Isabelle. A professora

demonstrou positividade na sua ação ao agradecer Isabelle pelo gesto, demonstrando ter

ficado feliz com a atitude da criança e com a habilidade de manter a sua motivação,

acreditando no seu potencial para aprender e se desenvolver. Juntamente com a ajuda da mãe,

a professora pôde também estabelecer laços colaborativos que serviram para aprimorar a ação

e expressão da aluna. Todo este conjunto de possibilidades articulatórias demonstra que a

professora acreditou na capacidade de desenvolvimento da expressividade e aprendizagem da

aluna.

Tomando como referência a proposta de sistema de análise de contrastação para ações

docentes articuladas (OLIVEIRA, 2008), em termos de objetivos pedagógicos a serem

alcançados pode-se dizer que a ação da professora foi orientada por valores pessoais “onde a

ação é motivada pelo desejo de realizar algum valor, seja moral, político, religioso ou

estético”. Neste caso, a ação foi orientada por um valor moral, na tentativa de que a criança

compreendesse que cada pessoa possuía um instrumento musical e cada um precisava do seu

para desenvolver o que estava sendo solicitado durante a atividade, ou seja, o valor do

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respeito ao espaço e material do outro. Aqui reforça-se a atitude da mãe, que salientou a ação

da professora. Desta forma é possível dizer que o resultado foi satisfatório, ou seja, a criança

cumpriu o que havia sido pedido, porque a ação docente foi conjunta com a ação da mãe.

Figura 12: Devolvendo o ovinho

Episódio [7] Aula 5 (1) – professora explicando que também precisa do pandeiro

A aula em que ocorreu este episódio aconteceu no dia 15 de setembro e quem estava

acompanhando a criança era a babá e o avô. As crianças estavam sentadas na posição

habitual, ou seja, em roda nos colchonetes com seus pais. Cada criança possuía um pandeiro.

Neste momento a professora estava introduzindo a atividade que viria na seqüência, com a

utilização deste instrumento. O objetivo deste momento era tocar livremente no instrumento,

porém, a professora estava traçando um modelo.

A professora estava tocando o pandeiro na sua superfície com a mão aberta, marcando

uma pulsação. Marineide, que naquele ano era coordenadora do projeto, estava ao piano

improvisando uma música na mesma pulsação. Nota-se que alguns responsáveis estavam

tentando tocar com a criança da mesma forma que a professora, enquanto outras crianças

estavam somente segurando o instrumento, sem produzir som. De repente, Isabelle foi

andando até a professora com seu braço esticado para frente, mencionando querer o

instrumento da professora. A professora falou à menina que aquele era o seu instrumento e

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continuou tocando, mesmo com a criança o segurando. A professora sugeriu que a criança

sentasse ao seu lado, indicando o lugar com sua mão. Então, a babá, que estava do outro lado

da sala, foi sentar-se ao lado da professora trazendo o pandeiro de Isabelle. A professora se

aproveitou da situação para falar à criança que o pandeiro que estava na mão da babá é que

era o da criança, enquanto o que estava sua na mão pertencia à professora. Em seguida a

menina começou a tocar como a professora estava tocando, ainda no mesmo pandeiro, o da

professora. Enquanto isso a professora continuou explicando que aquele era o seu pandeiro e

que o que estava na mão da babá era o da criança. Isabelle passou a tocar no seu pandeiro por

alguns instantes e a professora continuou tocando como anteriormente. De repente, a menina

desistiu de tocar e foi em direção ao pandeiro de outra criança, retirando o instrumento da

mão do outro aluno e em seguida o jogando no chão, enquanto a babá foi buscá-la para voltar

à roda.

Neste episódio novamente se reforça a tentativa da professora em mostrar para a

criança que também precisava do material. Neste caso, embora a babá da criança tenha se

aproximado trazendo o seu pandeiro, a professora não teve a ajuda dela para convencer a

criança de que precisava do material. Nesta situação pode-se dizer que a professora agiu com

positividade, acreditando no potencial da sua aluna. No entanto, a atitude resultante desta ação

pedagógica não ocorreu conforme o esperado pela professora, pois, embora a criança tenha

tocado no seu pandeiro por alguns instantes, logo ela desistiu e foi tentar pegar outro

pandeiro, no caso o de seu coleguinha. Mas de certa forma pode-se dizer que a professora

cumpriu o objetivo da ação, que era que a criança entendesse que aquele era o seu pandeiro.

No que diz respeito ao sistema de análise de contrastação para ações docentes

articuladas em termos de objetivos pedagógicos a serem alcançados pode-se dizer que

novamente a ação foi orientada por valores pessoais, no sentido de que a criança pudesse

compreender que cada um possuía um material para ser usado na aula.

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Figura 13: Devolvendo o pandeiro

Episódio [8] Aula 6 (1) – professora trocando de ovinho com a criança (presença do pai)

A aula referente a este episódio aconteceu no dia 22 de setembro, e quem

acompanhava Isabelle na aula era a babá e o pai. Foi a única aula do semestre em que a

criança foi acompanhada pelo pai. Como em outros episódios citados anteriormente, o

momento da aula deste evento era o de execução instrumental com o uso de ovinhos de

percussão. O objetivo era marcar a pulsação da música ouvida com o instrumento citado. A

música que estava tocando era “O pato” do CD Arca de Noé, com as composições de Vinícius

de Moraes, sendo esta música executada pelo grupo MPB-4.

Todos os responsáveis estavam sentados nas suas posições habituais e, como era de

costume neste grupo, havia muitas crianças em pé andando pela sala enquanto a música

tocava. Neste vídeo podemos perceber uma aluna chegando atrasada na aula, enquanto alguns

pais tocavam junto com seus filhos e a professora ia passando de um em um tocando o

instrumento. De repente a professora parou na frente de Isabelle, que estava sentada no colo

de seu pai. Assim que a professora estava chegando, a aluna esticou seu braço indicando que

queria o instrumento da professora. Por sua vez, a professora disse à menina apontando para o

ovinho que estava em sua mão: “Este é o da pró! O da Isa é este aqui!” apontando para o que

estava na mão da criança e continuando a tocar. A menina se levantou do colo do pai e ficou

em pé na frente da professora, tentando novamente pegar seu instrumento. O pai da criança

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sugeriu que esta trocasse de instrumento com a professora. A professora, então, mostrou sua

mão vazia esperando que a criança fizesse o que o pai sugeriu. Isabelle entregou o ovinho e a

professora fez a troca sorrindo e demonstrando um gesto de carinho, colocando sua mão na

cabeça da criança. Isabelle passou a tocar seu ovinho da mesma forma que a professora estava

fazendo por alguns instantes e depois foi correndo em direção a outro colega.

Neste episódio destaca-se o momento em que a professora tentou explicar verbalmente

para a criança que cada uma tinha um instrumento e em seguida tentou trocar de instrumento

com a criança, uma vez que esta demonstrou querer o que a professora estava usando.

Percebe-se com este exemplo que, ao longo de algumas aulas, houve uma busca intensiva da

professora para estabelecer para a criança a necessidade de cada um ter um instrumento para

prosseguir a atividade. Relaciona-se, portanto, esta ação docente em termos de objetivos

pedagógicos a serem alcançados como uma ação orientada por valores pessoais, no sentido da

criança poder perceber o espaço e material do outro. Contudo, sabe-se que no estágio

sensório-motor proposto por Piaget (COLE e COLE, 2004), fase em que Isabelle se

encontrava no período de coletas de dados desta pesquisa, as crianças estão centradas nelas

mesmas, ou seja, são ainda egocêntricas e não compreendem com exatidão a ação do outro.

Porém, percebe-se que a professora e os pais estimulavam Isabelle em diversos momentos,

chamando atenção para esta questão.

De acordo com a Abordagem PONTES (OLIVEIRA, 2001, 2005, 2006, 2007, 2008)

pode-se dizer que a ação da professora foi positiva quando demonstrou habilidade para manter

a motivação do aluno, neste caso, se relacionando com a criança através do o material musical

e reforçando as atitudes da pequena quando esta trocou de material com a professora,

realizando a atividade proposta logo em seguida. A professora mostrou sensibilidade ao

potencializar o talento da criança, quando, juntamente com o pai, conseguiu com que a

criança compreendesse a necessidade da utilização do material para a execução da atividade,

sendo que a criança realizou o que havia sido solicitado. A comunicação docente foi natural e

a professora buscou compreender a expressão da sua aluna.

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Figura 14: Trocando o ovinho

Episódio [9] Aula 6 (2) – pai insistindo pra criança ficar em seu colo

Este episódio também aconteceu na sexta aula, quando a criança estava com seu pai,

logo após o episódio citado anteriormente e durante a transição de uma atividade para a outra.

As crianças ainda estavam com o ovinho de percussão e estávamos cantando a música “Do ré

mi fá fá fá”7. O objetivo desta atividade era que os pais cantassem a música, que era

conhecida pela maioria, e as crianças continuassem marcando a pulsação da música. A

professora já havia cantado a música algumas vezes, variando intensidade e andamento. No

momento em que este episódio iniciou-se, todos estavam cantando a música com intensidade

fraca. A atividade que sucedeu esta foi a denominada pela professora como V-I, em que todos

cantavam uma nota mais aguda exercendo o papel de Dominante (dó, por exemplo) em

relação à segunda nota, que exercia o papel de tônica (fá, neste caso). Quando cantava a

dominante, a professora tocava o ovinho com as mãos erguidas e quando cantava a tônica

tocava o ovinho com as mãos em baixo.8

Os pais estavam sentados na roda, mas havia muitas crianças em pé. Nota-se que

poucas pessoas acompanhavam a professora no canto e que algumas pessoas estavam

                                                            7 cuja letra era: “ Eu vi uma barata na careca do vovô / Assim que ela me viu, bateu asas e voou / Dó ré mi fá fá fá / Dó ré, dó ré ré ré / Dó sol fá mi mi mi / Dó ré mi fá fá fá.” 8 Esta atividade também foi aprendida pela professora numa vivência realizada na UFPR com a professora norte americana Beth Bolton.

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dispersas. O pai de Isabelle estava tentando “forçar” a criança a ficar sentada. Esta, porém,

gritava e esperneava para tentar ficar de pé. No momento em que o pai desistiu de segurar a

criança, ela passou a reagir à atividade de maneira satisfatória, realizando o que era esperado

pela professora.

Neste episódio destaca-se a atitude do pai em relação ä criança. Nota-se que o pai

esperava que a criança ficasse sentada junto dele para realizar a atividade de uma forma

“comportada”, ou seja, um comportamento que seria considerado como norma ou regra diante

da situação. No entanto, a criança mostrou independência e determinação ao rejeitar esta

imposição e ao interagir com a atividade quando se viu livre do problema. A professora estava

interagindo com toda a turma, sem dar atenção individualizada para ninguém.

Diante deste episódio nota-se que a presença do responsável na aula exerce forte

influência sobre o comportamento das crianças, pois em todo momento existe algum tipo de

interferência na relação entre a professora e as crianças. Sendo assim, pode-se observar a

atitude do pai como uma ação docente, visto que ele demonstrava ter um objetivo com sua

ação, no caso, que a criança realizasse a atividade sentada no seu colo. De acordo com a

análise de constratação em termos de objetivos pedagógicos a serem alcançados, pode-se

dizer que o pai da criança agiu de forma tradicional, quando demonstrou acreditar que aquela

seria a forma mais adequada de comportamento para sua filha, ou seja, sentada e realizando a

atividade como um ‘adulto miniatura’. Embora o sistema de análise de contrastação seja

indicado para refletir sobre a ação docente, considera-se que, neste caso, o pai exerceu essa

função.

Figura 15: Permanecendo no colo

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Episódio [10] Aula 7 (1) – V – I , criança observando a professora

A aula deste episódio aconteceu no dia 29 de setembro e quem acompanhava a criança

neste dia era a babá. A atividade que estava sendo realizada era a mesma descrita no episódio

9 denominada V-I, com o uso de ovinhos de percussão.

A maioria das crianças estava sentada, no entanto Isabelle e outra menina estavam em

pé no meio da roda. Isabelle seguiu o modelo da professora por alguns momentos, realizando

a atividade com sucesso e em seguida ficou observando a professora e os outros colegas. Ela

ficou no meio da roda até o final da atividade, parada no mesmo lugar observando o que

acontecia à sua volta. Quando a atividade acabou, a professora colocou seu ovinho no chão e

pegou o saquinho para as crianças guardarem seus materiais. Neste momento, Isabelle correu,

pegou o ovinho que estava no chão e correu para fora da roda. Enquanto as outras crianças

guardavam o material, a babá de Isabelle foi a sua direção, apontando para o saquinho. No

vídeo não podemos perceber o momento em que a criança guarda o material.

Neste episódio destaca-se a atitude da criança ao imitar a ação docente, realizando o

que havia sido proposto. É interessante notar que, com olhares piagetianos ocorreu uma

representação da ação através de imitação, sendo que a criança não repetiu a ação da

professora com total fidelidade (LÓPEZ, 1974). Nota-se também o fato de que a criança,

ainda que estivesse fora da roda (posição que seria considerada padrão) interagiu à atividade,

realizando o que havia sido proposto. Pode-se considerar que o resultado musical ocorreu

conforme o esperado, mesmo que a aluna não tenha a realizado até o final de forma ativa.

Talvez seja possível considerar que quando a criança parou para observar, ela estava

concentrada, percebendo e representando a sua ação mentalmente.

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Figura 16: Imitando a professora

Episódio [11] Aula 7 (2) – mágica do tule, criança sentada no seu lugar da roda

Este episódio também aconteceu na sétima aula, no dia 29 de setembro. A atividade

que estava sendo realizada também já foi descrita anteriormente, no episódio 3 e foi

denominada pela professora como “Mágica do tule”.

No vídeo podemos notar que todas as crianças estavam participando da atividade.

Havia uma menina interagindo com a professora e outras crianças estavam interagindo com

seus responsáveis. Isabelle estava sentada no seu lugar da roda, juntamente com sua babá e

interagia bem com a atividade. Nota-se que ela ficava esperando o momento em que o tule

apareceria e o jogava para cima. Em um determinado momento ela jogou o tule antes da

professora, mas foi possível notar que ela estava inteiramente conectada ao que estava sendo

realizado e que havia compreendido o que deveria ser feito. Sua babá também estava

realizando a atividade com sucesso e entusiasmo.

Neste episódio Isabelle demonstrou que além de estar imitando o que a professora

estava fazendo de forma disciplinada, ela explorava seu material de forma idiossincrática e

criativa. Isabelle demonstrou nesta etapa, características do último subestágio do período

sensório-motor proposto por Piaget (LÓPEZ, 1974), quando surgem os primeiros indícios de

imagem interior e representação mental do objeto exterior. Neste período, Isabelle já

inventava novas soluções, parecendo estas ocorrerem através de um trabalho mental de

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exploração interna. Em termos musicais Isabelle começou a apresentar indícios de

representação da ação através de imitação em um período de representação e invenção, onde

novas ações são surpreendentes. Esta aula representou um marco para o desenvolvimento

musical de Isabelle, pois a partir deste dia ela começou a interagir melhor às atividades, e

passou a não querer mais o material dos colegas ou da professora. Sua expressão facial

também pareceu mais leve e relaxada. A partir desta aula iniciou-se uma nova relação entre a

professora e a aluna.

Figura 17: Sentada na roda

Episódio [12] Aula 8 (1) – criança tocando ovinho sentada no seu lugar

A oitava aula do semestre, quando aconteceu o décimo segundo episódio, ocorreu no

dia 6 de outubro. Quem estava acompanhando Isabelle era sua babá. Estávamos no momento

da execução instrumental com a utilização dos ovinhos de percussão, cujo objetivo era marcar

a pulsação da música ouvida. Neste caso, estávamos ouvindo através de CD a Country Dance

da Suíte Aquática de G. F. Haendel.

A maioria das crianças estava sentada e todos estavam envolvidos com a atividade.

Havia uma menina em pé no meio da roda, que estava reagindo à atividade tocando seu

ovinho e dançando. A professora deu atenção a esta criança através do olhar e expressões

corporal e facial exageradas. Isabelle estava sentada ao lado da professora com sua babá. No

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início do episódio, nota-se que ela estava observando a professora, enquanto sua babá tocava

seu ovinho de forma alegre e expressiva. Em um dado momento Isabelle passou a olhar para

seus colegas e a tocar da mesma forma que a professora e a babá tocavam. A professora

tentou dar atenção a todos os alunos ao mesmo tempo. De repente, buscou uma aproximação

maior com Isabelle, que estava tocando enquanto olhava para seus colegas. A professora

exagerou nos movimentos para que Isabelle prestasse atenção nela. A criança olhou para a

professora e continuou tocando seu ovinho, voltando seu olhar para outras crianças também.

A seguir a professora buscou contato com a outra criança que estava no meio da roda,

exagerando nos movimentos e esperando resultado sonoro desta pequena.

Destaca-se neste episódio a reação de Isabelle ao observar os colegas e em seguida

tocar o seu instrumento. Nota-se que a professora, ao mesmo tempo em que tentava dar

atenção a todos, conseguiu dar uma atenção individualizada a Isabelle, mesmo considerando

que a criança já estava tocando seu instrumento. Também é possível perceber que a professora

deu atenção à criança que estava em pé no meio da roda. Isabelle demonstrou através de sua

ação que havia compreendido o que havia sido solicitado pela professora e soube respeitar o

espaço e material do outro. No entanto, a professora sentiu a necessidade de aproximação e

interação com a criança, para reforçar o que esta vinha fazendo, na tentativa de manter a sua

motivação e acreditando no seu desenvolvimento musical. Através da expressão corporal,

facial e musical, nota-se que a professora agiu com simplicidade e naturalidade na

comunicação com esta criança.

De acordo coma análise de contrastação, pode-se dizer que, em termos de materiais

musicais, a ação docente foi orientada pelo objetivo de produção musical e artística dos seus

alunos através da imitação.

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Figura 18: Tocando ovinho no lugar

Episódio [13] Aula 8 (2) – criança tocando pandeiro sentada no seu lugar

Ainda na oitava aula, todos estavam com um pandeiro. O objetivo da atividade era

tocar livremente o instrumento enquanto uma música era tocada através de CD. A música que

estava sendo tocada era Maracangalha, do CD Samba para as crianças. A professora dava o

exemplo tocando no seu pandeiro a pulsação da música.

Só havia uma criança fora da roda e em pé, enquanto as demais estavam sentadas nos

seus lugares e envolvidas com a atividade. Como era de costume, a professora estava dando

atenção individualizada para cada criança, andando no sentido da roda e tocando na pulsação

da música. Como Isabelle estava ao seu lado, ela foi a primeira a receber a atenção da

professora. A babá da criança é que estava com o pandeiro, e Isabelle estava no seu colo.

Quando a professora se aproximou da dupla, quem tocou no pandeiro foi a babá, enquanto

Isabelle ficou observando. A professora seguiu adiante, interagindo com as outras crianças e

pode-se perceber que Isabelle começou a tocar o seu pandeiro após ter observado.

Neste episódio destaca-se o momento em que a criança começou a tocar no seu

instrumento. Pode-se perceber através do vídeo que Isabelle explorou outras formas de tocar

em seu instrumento. Enquanto a professora, que exercia o papel de modelo, tocava com a mão

aberta na superfície do instrumento segurando-o com a outra mão, Isabelle havia colocado seu

pandeiro em cima das suas pernas, tocando-o com as duas mãos. Em seguida, nota-se que a

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criança virou o pandeiro e começou a tocar na parte de baixo. Neste exemplo torna-se

evidente que a criança estava explorando seu objeto e observando suas reações, sendo esta

uma ação típica do estágio sensório-motor proposto por Piaget (COLE e COLE, 2004).

Figura 19: Tocando pandeiro no lugar

Episódio [14] Aula 9 (1) – criança tocando ovinho sentada no seu lugar

O décimo quarto episódio aconteceu na nona aula do semestre, no dia 20 de outubro.

Quem acompanhava Isabelle era sua babá. O momento da aula era o de execução instrumental

através de ovinhos de percussão, com o objetivo de marcar a pulsação da música. A música

que estava tocando através de CD era o primeiro movimento do Concerto para Violino da

Primavera de Vivaldi.

No início do vídeo, percebe-se que todas as crianças estavam sentadas com seus

responsáveis realizando a atividade. No entanto, havia certa dispersão por conta de um aluno

que estava chegando naquele momento. Nota-se que a atenção de alguns estava voltada para a

porta, inclusive a atenção de Isabelle e que a professora estava tentando interagir com as

crianças, como normalmente fazia. De repente apareceu um menino que correu e jogou seu

ovinho no chão, enquanto sua mãe corria atrás e sentava na roda, ao lado de Isabelle. Neste

momento a professora buscou contato com Isabelle e tocou com ela, exagerando nos seus

movimentos. Isabelle esticou seu braço indicando que queria o instrumento da professora. Por

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sua vez, a professora fixou o olhar na menina e indicou com as mãos que era para a criança

ouvir a música e tocar junto. A babá da criança reforçou a ação da professora e a menina

passou a tocar, enquanto a professora já buscava contato com o próximo aluno.

Destaca-se neste episódio a ação docente ao indicar para a criança que esta deveria

ouvir a música e tocar junto. Nota-se que, no que diz respeito às relações com os materiais

musicais proposto por Oliveira (2008), a ação da professora foi orientada pelo objetivo de

produção musical e artística através do instrumento, quando sugeriu que a criança ouvisse a

música e tocasse junto, estabelecendo assim uma norma a ser seguida naquele momento.

Pode-se dizer que a professora utilizou uma técnica pedagógica adequada, demonstrando

habilidade de usar o instrumento musical e a expressão corporal para o refinamento das ações

e expressões da aluna.

Figura 20: Interagindo com a professora através do ovinho

Episódio [15] Aula 9 (2) – A Lili com o ovinho, criança fazendo a atividade certinho

Este episódio também aconteceu no dia 20 de outubro. Todas as crianças ainda

estavam utilizando o ovinho de percussão e a música que estava sendo cantada era a Lili. Esta

música já havia sido cantada naquela aula, e os pais e as crianças já a haviam representado

corporalmente. Neste caso, os pais levantavam suas crianças, seguindo o que a letra da música

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dizia.9 Voltando ao episódio, as crianças estavam cantando a música e imaginando que a Lili

era o ovinho de percussão. Por isso, elas deveriam fazer o ovinho “subir”, “escorregar”,

“subir” e “pular”.

O episódio começou com a professora cantando o final da música e demonstrando o

que seria feito com o ovinho. Em seguida, a professora levantou e ligou o som, com uma

gravação desta música. Nota-se que a maioria das crianças estava em pé no meio da roda, mas

que todos estavam interagindo à atividade, cada um à sua forma. Isabelle também estava no

meio da roda. Podemos perceber a criança indo para o meio da roda quando a professora ligou

o som e a música começou. É interessante notar que a criança foi para o meio da roda

andando de joelhos, da mesma forma que a professora fazia ao interagir com as crianças.

Isabelle estava realizando a atividade conforme a sugestão da professora, tocando o ovinho e

o jogando para cima. No entanto, nota-se que a criança realizava a atividade no seu tempo e a

seu modo.

Neste episódio destaca-se o momento em que a criança realizou a atividade conforme

o que era esperado pela professora, considerando que suas ações não foram idênticas às da

professora e a criança realizou todos movimentos solicitados. No entanto, pode-se dizer que a

criança representou mentalmente a ação através da imitação, inventando novas ações para a

atividade proposta. Através deste episódio pode-se sugerir que a criança passou a aceitar

como modelo as ações da professora, pois pode-se perceber a aluna imitando a professora na

sua forma de atuar, no caso, andando de joelhos no meio da roda. Este comportamento se

tornará mais nítido na aula 13, episódio 29. Considerando que Isabelle continuou no projeto

após o término da coleta destes dados, pode-se constatar que este comportamento de imitar a

professora se tornou mais freqüente e nítido no ano seguinte.

                                                            9 A letra desta música é a seguinte: “A Lili gosta de brincar / Ela vai subir e escorregar / Mas depois ela vai mudar / Ela vai subir e pular.” Esta música foi aprendida pela pesquisadora em Curitiba, no entanto, não sabia quem era a autora. Tempos mais tarde descobriu que a autora era Carmen Mettig, professora de música de Salvador.

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Figura 21: Fazendo tudo corretamente

Episódio [16] Aula 9 (3) – barriga barriga, criança no meio da roda realizando a atividade

Este episódio também ocorreu na nona aula. A música que estava sendo cantada era

um trecho de uma música de Thelma Chan10. O objetivo desta atividade era que as crianças

reconhecessem suas barrigas enquanto cantavam a música.

Todos os pais estavam sentados nos seus colchonetes, enquanto a maioria das crianças

estava em pé no meio da roda. O episódio começa com a professora perguntando às crianças

onde estava a barriga. Alguns pais reforçavam, fazendo a mesma pergunta aos seus filhos.

Nota-se que muitas crianças estavam colocando suas mãos sobre suas barrigas. A professora

começou a cantar a música e as crianças a imitaram batendo levemente nas suas barrigas.

Isabelle estava no meio da roda realizando a atividade conforme a sugestão da professora. De

repente, a professora interrompeu a atividade para chamar a atenção de um aluno que havia

tirado o som da tomada. Enquanto a professora falava com este aluno, a mãe deste menino

seguiu andando até ele e reforçou a atitude da professora. Neste momento um pai chamou sua

filha para tirar uma foto no meio da atividade. A professora prosseguiu, cantando novamente

a mesma música. Isabelle, que havia voltado para o seu lugar na roda no momento em que a

atividade foi interrompida, voltou para o meio da roda andando novamente de joelhos. A

professora cantou a música mais duas vezes. Na primeira vez, Isabelle só observou e na

                                                            10 Cuja letra era: “Barriga, barriga / Eu gosto de você / Mas vou ficar zangada / Se você crescer”

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segunda ela também fez a atividade. Nota-se que a professora interagiu com os alunos que se

aproximaram dela, e que algumas crianças levantavam suas roupas para mostrar suas barrigas.

Quando parou a atividade para repreender o aluno, Isabelle foi se sentar no seu colchonete e

quando a professora voltou a cantar a música, a menina foi andando para o meio da roda de

joelhos, como a professora fazia em outros momentos da aula.

Neste episódio destaca-se a participação ativa da criança estudada. Percebe-se que a

criança estava com sua atenção voltada para a atividade, respeitando as regras e realizando o

que era solicitado. Em termos de desenvolvimento cognitivo, de acordo com Piaget (LÓPEZ,

1974; WOLLFOLK, 2000; DOLLE, 1995; COLE e COLE, 2004; GINSBURG e OPPER,

1969; TAILLE, OLIVEIRA E DANTAS, 1992; MONTANGERO e MAURICE-NAVILE,

1998), percebe-se que Isabelle executou a representação da sua ação através da imitação,

sendo que a criança se encontrava no período de representação e invenção, onde novas ações

são surpreendentes. Ficou nítido que a criança já estabelecia um conceito interno de sua

imagem corporal, visto que soube reconhecer a parte do corpo solicitada pela letra da música.

Percebe-se também que a professora estava tentando dar atenção a todas as crianças,

interagindo com as crianças que se aproximaram dela. Pode-se dizer que a professora atingiu

seus objetivos com esta atividade, pois todos estavam de alguma forma participando dela e

realizando o que havia sido proposto.

Figura 22: Barriga, barriga

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115 

 

Episódio [17] Aula 9 (4) – interação professora e aluna com o uso das bolinhas de plástico

no momento livre

Este episódio também aconteceu na nona aula do semestre. Estávamos no momento

livre da aula, cujo objetivo era que as crianças se socializem e se expressem livremente.

Estávamos usando bolinhas de plástico, sendo que havia inúmeras delas espalhadas pela sala

para que os alunos se expressassem como quisessem. Havia uma música de fundo, “Sopa” do

grupo Palavra Cantada. A letra da música é sobre “o que que tem na sopa do neném”, e

sugerindo-se vários elementos. Há um momento da música que tem uma pausa e uma

contagem de 1 até 3. Então, sempre que a música falava “é 1, é 2, é 3” a professora parava de

jogar as bolinhas no chão e contava em voz alta, representando os números com os dedos e o

braço levantados.

Todos os alunos estavam de certa forma envolvidos com a atividade. O episódio

começou com a contagem de 1 até 3. A professora estava interagindo com os alunos pegando

as bolinhas e jogando no chão. Isabelle apareceu pegando algumas bolinhas do chão e

dançando, movimentando as suas bolinhas e posteriormente as jogando no chão. Quando

chegou a hora da contagem de 1 até 3, a professora novamente contou em voz alta e ergueu o

braço. Neste momento, Isabelle também levantou seus braços durante a contagem. A

professora percebeu a ação da criança e terminou a contagem interagindo com a criança. Em

seguida, pegou as bolinhas do chão e começou a entregar para a menina, para que ela também

as jogasse no chão. Assim como a professora, a menina segurou uma bolinha em cada mão. A

professora jogou suas bolinhas no chão e a menina fez o mesmo. A professora disse em voz

alta: “Isso!” e bateu palmas para a ação da criança. A criança continuou a brincadeira

interagindo com outras crianças.

Ressalta-se neste episódio a interação entre a professora e a criança. Nota-se que a

criança estava realizando a atividade através da imitação da professora. Em relação às

principais características da Abordagem PONTES (OLIVEIRA, 2001, 2005, 2006, 2007,

2008) podemos identificar que a professora agiu positivamente quando manteve a motivação

da criança, enfatizando o que ela tinha feito quando disse “Isso!”. A professora soube

observar atenciosamente o desenvolvimento de Isabelle, utilizando naturalidade na sua

comunicação e interação com a criança. Através da técnica adequada à situação ao interagir

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com a criança a professora pôde estimulá-la criativamente, acreditando na sua capacidade de

desenvolvimento de criatividade e aprendizagem, potencializando seu talento.

Considerando o sistema de análise de contrastação para ações docentes articuladas em

termos de objetivos pedagógicos a serem alcançados (OLIVEIRA, 2008), pode-se relacionar a

ação da professora como afetiva, em que a ênfase da ação realizada pelo professor está

moldada através da emoção daquele momento didático, não como resultante de um

planejamento racional ou de técnicas pedagógicas aprendidas, planejadas e pré analisadas.

Figura 23: Brincando com as bolinhas

Episódio [18] Aula 10 (1) – atividade em roda, criança realizando atividade com sucesso

Este episódio ocorreu na décima aula do semestre, no dia 27 de outubro. Isabelle

estava acompanhada pela babá. Era a primeira atividade da aula após o “Bom dia”, e

estávamos fazendo uma roda com a música Carnaval de Arequipa (Peru). O objetivo desta

atividade era realizar uma apreciação musical de forma ativa, sendo que para cada parte da

música era sugerido um movimento, como andar pelo espaço respeitando o sentido da roda,

rodar no próprio lugar (movimento normalmente chamado de “voltinha”), bater palmas e

bater pés. Sempre que a frase musical mudava, o movimento também mudava. Todos os

movimentos eram sugeridos pela professora.

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Todos os alunos estavam participando da atividade, exceto uma criança que preferiu

ficar sentada no seu colchonete somente observando. A babá de Isabelle fez a atividade toda e

a criança a acompanhou. Ambas realizaram todos os movimentos sugeridos. Notam-se alguns

momentos em que Isabelle ficou somente observando, porém, percebe-se que ela participou

da atividade toda. Este vídeo tem 3 minutos e 17 segundos e as reações da criança se repetem

durante todo este tempo.

Este episódio foi escolhido por demonstrar a concentração da criança estudada. Nota-

se que a babá ficou o tempo todo incentivando a criança a fazer a atividade e ainda que sua

atuação impedisse que a criança se expressasse naturalmente, visto que ela ficou o tempo todo

puxando-a, a criança realizou a atividade com naturalidade. É interessante notar que em

episódios anteriores Isabelle não permitia tal ação, sendo que sempre se mostrava “contra” e

reagia de forma agressiva. No entanto, neste episódio, além de a criança permitir esta ação,

ela realizou os movimentos solicitados pela professora, prestando atenção em tudo o que

estava acontecendo. Nota-se com este exemplo que Isabelle estava conectada ao que estava

acontecendo. Isso demonstra claramente o desenvolvimento da sua atenção e concentração.

Figura 24: Atividade na roda

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Episódio [19] Aula 10 (2) – trem e caxixi

Este episódio também ocorreu na décima aula. A atividade que estava sendo realizada

era a execução instrumental com a utilização de caxixis. A música que estava sendo tocada

através de CD e cantada era “O trem” de autoria de Bia Bedran. O objetivo desta atividade era

que as crianças “imitassem” o trem utilizando o caxixi e que, andando em roda, pudessem

variar o andamento sugerido pela música.

Todos os responsáveis estavam na roda, no entanto, a maioria das crianças realizava a

atividade do seu lugar, ou seja, no lugar onde estivessem. Havia somente uma criança sentada

no seu colchonete observando, a mesma do episódio anterior, que ficou na mesma posição o

episódio inteiro. Os pais estavam andando no sentido da roda conforme a professora havia

solicitado e tentavam chamar suas crianças para andarem também. Todas as crianças estavam

envolvidas com a atividade. Isabelle apareceu neste vídeo aos 40 segundos. A criança não se

integrou à roda, mas inicialmente participou tocando o seu caxixi e dançando com sua babá.

Aproximadamente aos 53 segundos deste vídeo, a professora passou pela criança e interagiu

com ela através do olhar e tocando seu caxixi exageradamente. Nota-se que a criança reagiu à

interação e participou ativamente de toda a atividade. No momento em que a música acelerou

a professora disse que o trem ficou muito rápido e todos passaram a correr tocando seus

caxixis. Neste momento Isabelle parou por aproximadamente 23 segundos para observar, até

que de repente, se integrou à roda e começou a correr. A música ficou lenta e todos

diminuíram o andamento. Quando Isabelle percebeu, ela também passou a andar mais

devagar. O episódio termina com a babá da criança levando-a para sentar.

Salienta-se neste exemplo a concentração e interação da criança com a atividade.

Mesmo não realizando todos os movimentos solicitados pela professora, a criança

demonstrava estar conectada ao que estava acontecendo, ou seja, pôde-se perceber o seu

engajamento com o aprendizado, ainda que inicialmente de forma observadora. Quando a

professora estava andando no sentido da roda e passou por Isabelle, ela buscou interagir com

a criança tocando exageradamente o seu caxixi e olhando para ela. Percebe-se que a criança

reagiu à atitude da professora, tocando também o seu caxixi. Esta atitude da professora pode

ser relacionada com uma ação docente afetiva, em que a ação do professor está moldada

através da emoção daquele momento didático e não como resultante de um planejamento

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racional ou de técnicas pedagógicas aprendidas, planejadas e pré analisadas. Pode-se dizer

que a professora agiu positivamente, acreditando no potencial da sua aluna e a convidando de

forma natural a se integrar à roda e realizar o que estava sendo pedido. A resposta à atitude da

professora ocorreu conforme o esperado, pois a criança se integrou à roda.

Figura 25: Tocando o caxixi

Episódio [20] Aula 11 (1) – bom dia com a mamãe

A aula deste episódio aconteceu no dia 03 de novembro. Como o dia 02 foi feriado, as

crianças das turmas do dia anterior estavam assistindo aula na mesma turma. Nesta aula,

Isabelle estava com sua mamãe. A atividade deste episódio era a canção de “Bom dia”, em

que se cantava o nome de cada criança sugerindo alguns movimentos.11 O objetivo deste

momento era marcar o início da aula e desejar boas vindas à cada criança, além de realizar os

movimentos sugeridos pela letra da canção.

Considerando ser esta a primeira atividade da aula, podemos notar que alguns duos

(responsável e criança) já estavam sentados nos seus lugares, enquanto outros ainda estavam

chegando e se posicionando. Isabelle estava sentada ao lado de sua mãe. Enquanto a música

estava sendo cantada, a criança realizava os movimentos sugeridos. A mãe de Isabelle

                                                            11 . A letra da música utilizada durante todo o semestre foi: “Bom dia [nome da criança] / Levante as suas mãos / Abra um sorriso / E cante esta canção pa rá pa rá pa rá pa rá”.

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também realizava os movimentos, com certo exagero, enfatizando os movimentos da criança.

Quando seu nome foi cantado, seu avô repetiu o seu nome e tirou uma foto. Esta atitude não

interferiu nos movimentos corporais da criança.

Reforça-se neste episódio o contato da criança com a mãe e suas ações ao realizar o

que estava sendo solicitado pela música. Nota-se que a mãe agiu com positividade ao

estimular a criança a realizar os movimentos, reforçando suas atitudes. Nesta cena o foco está

na relação da criança com a mãe e não com a professora. Considera-se que o acompanhante

da criança exerce forte influência sobre o seu comportamento. Desta forma, acredita-se que a

participação da mãe foi de grande importância para o desenvolvimento da criança. Porém,

vale considerar que nesta fase Isabelle já demonstrava mais interesse em realizar o que era

proposto, de forma atenciosa e observadora.

Figura 26: Bom dia com a mamãe

Episódio [21] Aula 11 (2) - toque toque com a mamãe

Este episódio também aconteceu na décima primeira aula. Todos cantavam o brinco

brasileiro “Toque pra São Roque” 12. Nesta atividade sugeriu-se que os responsáveis

permanecessem sentados em seus colchonetes com as pernas esticadas e que suas crianças

                                                            12 Cuja letra era: “Toque, toque, toque / Vamos pra São Roque / Ver o menininho que vem vindo no galope”

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sentassem próximo ao joelho dos seus pais. Em seguida, os adultos deveriam erguer e abaixar

as pernas como se as crianças estivessem galopando num cavalo. As crianças estavam todas

direcionadas para o centro da roda, mas nesta atividade também é possível que as crianças

sentem olhando para seus pais.

Todas as crianças estavam sentadas com seus responsáveis realizando a atividade. No

meio da atividade houve uma interferência de uma pessoa entrando na sala para pegar algo

que havia esquecido na aula anterior. Esta interferência dispersou um pouco a atenção de

Isabelle. Porém, nota-se que a criança interagiu bem com a atividade, realizando o que havia

sido proposto.

Neste episódio novamente é possível reforçar a relação da criança com a mãe,

observando que ambas estavam participando da atividade de forma ativa. Nota-se que a mãe

estava estimulando sua criança a participar da atividade e que Isabelle, embora tenha se

dispersado momentaneamente com a pessoa que havia entrado na sala, estava concentrada e

realizando a atividade com sucesso. Nota-se também a atividade era própria para colaborar

com a relação afetiva entre pais e filhos, e que o objetivo da atividade foi alcançado, pois

todas as crianças estavam interagindo com seus responsáveis. Reforça-se também que a

atitude da mãe contribuiu significativamente para que o objetivo musical fosse alcançado, ou

seja, marcar a pulsação da música fingindo estar galopando.

Figura 27: Toque toque

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Episódio [22] Aula 11 (3) – mão, mão, mão

Este episódio aconteceu ainda na décima primeira aula. A atividade que estava sendo

realizada era um brinquedo falado de autoria de Carmen Mettig13. O objetivo desta atividade

era que as crianças reconhecessem a parte do corpo indicada e realizassem com movimentos

corporais o que estava sendo representado pela brincadeira. Neste caso, sempre que se falava

a palavra “mão”, as pessoas tinham que mostrar suas mãos. A professora aproveitou esta

brincadeira para trabalhar outros conceitos, como intensidade e andamento, variando a forma

de falar. Neste vídeo podemos perceber a professora variando intensidade.

Todos os alunos estavam envolvidos com a atividade e a maioria estava sentada com

seus pais, salvo aqueles que tinham o hábito de participar da atividade no centro da roda.

Nota-se que todos os pais estavam interagindo com suas crianças, realizando a atividade. No

início do vídeo, Isabelle estava no seu lugar andando de joelhos (como era o hábito da

professora). A menina estava realizando a atividade, porém, à sua maneira. No momento de

bater as mãos no chão, Isabelle realizou o movimento deitada no chão com a barriga para

baixo.

Neste episódio destaca-se a participação criativa de Isabelle, que não imitou o modelo

sugerido pela professora com fidelidade, mas sim, inventou novas formas de realizar o que

estava sendo proposto. Pode-se dizer assim que a criança atingiu o objetivo proposto pela

professora de forma criativa e espontânea. De acordo com Piaget (LÓPEZ, 1974) e as

características do Estágio Sensório-motor, a criança inventou novas soluções, provavelmente

através de um trabalho mental de uma exploração interna, realizando uma representação da

ação através de imitação. Neste período, normalmente as crianças realizam a representação e a

invenção e suas novas ações são surpreendentes.

Também é possível destacar que a criança estava concentrada durante todo o episódio

e que novamente (como em episódios anteriores) imitou a professora ao andar de joelhos pela

sala. No final, pode-se observar que Isabelle se aproximou da professora, buscando interagir

com ela durante a atividade. A professora reagiu positivamente e de forma natural à atitude da

criança e a imitou, reforçando sua atitude e acreditando no seu potencial para aprender e se

desenvolver.                                                             13 Sua letra era: “Mão, mão, mão / Mão, mão, mão / Vou batendo palmas e depois bato no chão”.

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Figura 28: Mão, mão, mão

Episódio [23] Aula 12 (1) – bambu tirabu, criança de mãos dadas com a professora

O vigésimo terceiro episódio aconteceu na aula do dia 10 de novembro. A criança

estava acompanhada pela babá. A atividade que estava sendo realizada era “Bambu”, um

brinquedo cantado tradicional14. Sugeriu-se que todos ficassem em pé dispostos em roda, de

mãos dadas e caminhando enquanto cantavam a música. Cada vez que o nome da criança

fosse pronunciado, o duo citado deveria dar meia-volta e continuar caminhando com as costas

viradas para o centro da roda.

Todos os pais estavam na roda com suas crianças, porém, percebe-se que poucos

estavam cantando e que as crianças tinham certa dificuldade de dar as mãos para outra pessoa

que não os cuidadores. Devido a isso houve alguns momentos em que a roda se desfez. É

interessante notar que, embora algumas crianças tenham saído da roda, todos os pais seguiram

a atividade normalmente. Isabelle estava de mãos dadas com a professora e interagiu à

atividade do começo ao fim. Em nenhum momento a criança soltou a mão da professora e em

vários momentos percebe-se a criança observando a professora e dançando, interagindo com a

música.

                                                            14 A letra deste brinquedo é: “Bambu, Tirabu / Aroeira, mantegueira / Tirará o [nome da pessoa] para ser bambu”.

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Neste episódio destaca-se a concentração e a participação ativa da criança estudada

durante a atividade, bem como sua criatividade ao realizar o que havia sido proposto. Nota-se

que a criança realizou a atividade do começo ao fim. Comparando este comportamento com

os primeiros episódios, pode-se dizer que Isabelle se desenvolveu significativamente,

principalmente no que diz respeito à relação interpessoal, e que isso contribuiu para que a

criança pudesse se expressar de forma natural e criativa. Neste episódio, a professora não

buscou estimular especificamente a criança estudada e sim direcionou sua atenção a todos.

Figura 29: De mãos dadas com a professora

Episódio [24] Aula 12 (2) – sapo pulando nas cabecinhas e criança realizando a atividade

Este episódio aconteceu na mesma aula do episódio anterior, sendo a atividade

seguinte à primeira. A atividade que estava sendo realizada era a mesma do episódio 5,

utilizando um sapo de pelúcia e cantando a música do Sapo.

No início deste episódio, todos os responsáveis estavam sentados nos seus lugares,

porém nem todos estavam envolvidos com a atividade. Podemos notar alguns pais

conversando entre si. Isabelle estava sentada no colo de sua babá. Algumas crianças estavam

em pé no meio da roda, como era de costume nesta turma. Quando a professora terminou de

cantar a música pela primeira vez, podemos notar alguns pais levantando para pegar seus

filhos. Em seguida, Isabelle levantou-se e começou a pular, conforme dizia a letra da música.

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Quando acabou a música pela segunda vez, o sapo “interagiu” com a criança e a ação sugerida

foi abraçar. A professora pediu para Isabelle abraçar o sapo, falando e abraçando a si mesma.

A criança ficou olhando para o bicho por alguns instantes e o abraçou. Em seguida devolveu o

sapo à professora, que agradeceu e continuou a atividade. Esta atitude da criança pode ser

contrastada com a atitude apresentada no episódio 5, quando a mesma criança mostrou que

queria pegar o sapo para “pirraçar” a professora, ou chamar a atenção. No entanto, 9 aulas

após este fato, Isabelle demonstrou respeitar a sugestão da professora e devolveu o sapo com

naturalidade. Pode-se dizer a professora agiu com positividade, pois acreditou que,

diferentemente do episódio 5, a criança devolveria o material e “cumpriria a tarefa” solicitada

com sucesso. Sendo assim, a professora acreditou no potencial da sua aluna em aprender, se

desenvolver e se relacionar com o material, estabelecendo uma relação de confiança mútua

entre a professora e a aluna.

Quando a professora cantou a música novamente, a criança ficou em seu lugar,

dançando e pulando. A professora buscou a interação com outra criança e Isabelle começou a

andar de joelhos para o meio da roda, imitando o que a professora estava fazendo. Este

processo imitativo pode ser interpretado não somente como a imitação consciente de um

modelo que a criança admirava, mas também como uma demonstração aberta de afetividade,

colaboração e representação de liderança ao imitar publicamente junto aos colegas tudo o que

a professora estava fazendo.

Então a professora levantou-se para cantar a música e “passar os sapos nas cabeças das

crianças” e a menina logo levantou e passou a se expressar corporalmente. Mais uma vez a

professora cantou a música e Isabelle começou a andar atrás dela, seguindo seus passos e a

imitando. Quando a professora cantou novamente a música, a criança ficou se expressando

corporalmente pelo espaço e em seguida voltou a seguir a professora. Num certo momento, a

criança tentou interagir com o sapo, mas a professora não percebeu esta tentativa, pois estava

preocupada para que o sapo interagisse com todas as crianças e estava tentando perceber

quem ainda não o havia feito. Considera-se que neste momento a professora poderia ter criado

uma ponte na relação, no entanto isso não aconteceu, pois a criança se aproximou e a

professora não deu atenção a ela. Entretanto, a reação da criança foi natural e ela não

demonstrou ter se abalado com a atitude da professora, continuando a se expressar

naturalmente pelo espaço. A professora concluiu a atividade e a criança ficou observando.

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Ressalta-se neste episódio a concentração e a participação da criança do início ao final

da atividade, bem como sua expressão corporal, que aconteceu de forma natural, expressiva e

criativa. Suas reações demonstraram que durante toda a atividade a criança estava elaborando

novas soluções para o ‘problema’ dado (LÓPEZ, 1974; WOLLFOLK, 2000; DOLLE, 1995;

COLE e COLE, 2004; GINSBURG e OPPER, 1969; TAILLE, OLIVEIRA E DANTAS,

1992; MONTANGERO e MAURICE-NAVILE, 1998), provavelmente através de um

trabalho mental de uma exploração interna, realizando uma representação da ação através de

imitação e transformando a ação de forma criativa.

Figura 30: Brincando com o sapo

Episódio [25] Aula 12 (3) – relaxamento e cafuné na professora

Este episódio aconteceu no final da décima segunda aula. Era o momento do

relaxamento, cujo objetivo era que as crianças pudessem se acalmar e interagir com seus

responsáveis. O episódio se inicia com a finalização da canção para embalar, quando estava

sendo cantada a música “Carneirinho, carneirão”. Esta atividade havia sido começada em pé,

mas ao final dela os alunos já estavam deitados. A música utilizada para o relaxamento foi

“Palhaço”, do CD MPBaby volume 3, tocada ao violão.

Conforme já foi dito, o episódio começou com a professora finalizando a canção para

embalar. Assim que a música terminou, os alunos deitaram nos colchonetes e a professora

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ligou o som. Pode-se notar que a turma estava um pouquinho agitada, mas todos os

responsáveis deitaram e chamaram suas crianças. Isabelle insistiu em não querer ficar deitada.

Podemos ver no vídeo a babá insistindo para a criança deitar, sendo que esta demonstrou

claramente que não queria. A babá a soltou a criança e esta se sentou, observando as outras

crianças e em seguida se levantou. Neste momento ela desapareceu do vídeo e o filmador

passou por todas as crianças, mostrando a interação entre cada criança e adulto. Então,

podemos perceber Isabelle andando pela sala. Depois que o vídeo mostra todas as crianças é

possível ver a professora deitada e Isabelle junto dela, conversando, acariciando sua cabeça e

mostrando a roupa que a professora estava usando. A professora interagiu com a criança

conversando e em seguida concluiu a atividade desligando o som.

Esta demonstração carinhosa pode ser contrastada com o episódio 4, quando a mesma

aluna tentou agredir a professora no mesmo momento da aula. Nota-se que após 10 aulas o

comportamento da criança foi totalmente oposto ao que era anteriormente. Este episódio

representou um marco muito grande nas atitudes da criança. Foi possível perceber ao longo

dos episódios uma busca intensiva de aproximação entre a professora e a criança, e a

construção desta relação. Este episódio demonstra que esta aproximação foi conquistada e

sugere-se que esta conquista de alguma forma contribuiu para o desenvolvimento da criança.

Figura 31: Cafuné na professora

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Episódio [26] Aula 13 (1) – atividade em roda, criança imitando a professora

A aula deste episódio aconteceu no dia 17 de novembro. Esta foi a aula em que houve

um maior número de episódios analisados em relação às outras. Neste dia Isabelle estava

acompanhada por sua mãe. A atividade do primeiro episódio da décima terceira aula

aconteceu no momento da roda e a música que estava sendo tocada através de CD era de

Carmen Mettig, chamada “Dancinha”. O objetivo era estimular o desenvolvimento de

localização espacial além de reconhecer as partes da música através de movimentos corporais,

uma vez que a cada frase musical que mudava, mudava também o movimento corporal. Todos

os movimentos foram sugeridos pela professora.

No início da cena, pode-se perceber que Isabelle estava fazendo tudo o que era pedido

e realizado pela professora. Os movimentos utilizados foram: andar, levantar os braços

dizendo “em cima, embaixo” e dar uma volta no lugar (”voltinha”). A criança estava

caminhando logo atrás da professora junto com sua mãe. Às vezes ela saía da posição da roda,

mas ficou concentrada na atividade do começo ao fim. Houve um pequeno momento em que

ela parou para observar seus colegas, mas logo continuou a fazer os movimentos sugeridos

pela professora.

Este episódio foi escolhido por demonstrar a atenção e participação da criança durante

toda a atividade. Pode-se dizer que a criança alcançou o objetivo proposto pela atividade e

que suas ações foram imitativas e criativas. Nota-se que a professorou realiza os movimentos

exageradamente e que a criança a observou. A professora não buscou nenhum contato direto

com a criança, sendo que sua atenção estava voltada para o grupo. No entanto, sua expressão

exagerada chamava a atenção da criança estudada. Em relação à proposta de análise de

constrastação para ações docentes em termos de formas e tipos de produções musicais, pode-

se relacionar a ação como imitação e reprodução musical com quase perfeito grau de

fidelidade ao modelo original, no caso a professora. Nota-se que a criança imitou o modelo

apresentado realizando certas modificações, ou seja, incorporando novas ações ao que havia

sido proposto, sendo esta uma ação típica do seu estágio de desenvolvimento sensório-motor

(LÓPEZ, 1974; WOLLFOLK, 2000; DOLLE, 1995; COLE e COLE, 2004; GINSBURG e

OPPER, 1969; TAILLE, OLIVEIRA E DANTAS, 1992; MONTANGERO e MAURICE-

NAVILE, 1998).

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Figura 32: Dando voltinha

Episódio [27] Aula 13 (2) – dem dém, criança com a mamãe

O segundo episódio desta aula aconteceu durante uma atividade em que estava sendo

utilizado um brinco brasileiro chamado “Dem dem”, sendo esta a atividade seguinte à do

episódio anterior. Sugeriu-se que os duos ficassem sentados de frente um para o outro,

segurassem as mãos e cantassem o brinco fazendo movimentos de “ir e vir” com o corpo15. A

professora sugeria mudanças de andamento e intensidade nesta atividade.

Nota-se que todos os duos estavam envolvidos com a atividade e que todos estavam

sentados em seus lugares. Isabelle estava de mãos dadas com sua mãe. Pode-se notar que ela

fez tudo o que foi pedido com sucesso. As ações da criança podem ser percebidas no início e

no final da cena, sendo que no meio pode-se perceber a relação entre os outros duos da turma.

Este episódio foi escolhido por demonstrar a relação da criança com a mãe, bem como

a participação da criança durante toda a atividade. Nota-se que os conceitos musicais

intensidade e andamento foram expressos através do corpo e que a criança pôde vivenciá-los

através do estímulo dado pela mãe.

                                                            15 A letra dessa música era: “Dem dem / Seu bispo vem / Pato, marreco / Peru também.”

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Figura 33: Dem dém com a mamãe

Episódio [28] Aula 13 (3) – enrola, enrola, criança imita a professora

O terceiro episódio da aula aconteceu durante a atividade seguinte à anterior. A música

que estava sendo utilizada era “Enrola, enrola”. Esta música foi ensinada à professora por

uma colega, sendo que foi composta por alunos dela16. Normalmente a professora sugeria para

esta atividade movimentos com as mãos realizando as ações indicadas pela letra, e no final,

todos caíam para trás levantando as pernas. Neste dia, a professora sugeriu que as crianças

colocassem suas mãos em determinada parte do corpo ao final da música, ao invés de se jogar

para trás.

Todos os adultos estavam sentados em seus colchonetes, no entanto, como era de

costume nesta turma, havia alguns alunos em pé no meio da roda. Nota-se que todos os alunos

estavam envolvidos com a atividade. O episódio começa com a professora perguntando aos

alunos onde era o joelho. Nota-se que Isabelle colocou suas mãos sobre seus joelhos,

reconhecendo esta parte do seu corpo. A professora cantou a música, Isabelle se aproximou e

a professora realizou a atividade interagindo com a menina, realizando os movimentos

olhando para ela. Nota-se que a criança fez os movimentos sugeridos pela professora, no

entanto, não podemos ver no vídeo a criança colocando suas mãos na parte do corpo sugerida,

no caso, o pé, pois aparecem as outras crianças neste momento. A atividade prosseguiu e aos

                                                            16 A letra da brincadeira era: “Enrola, enrola / Enrola, enrola / E puxa e puxa e puxa / E 1, 2, 3”.

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poucos Isabelle apareceu novamente, realizando os movimentos e colocando a mão sobre a

cabeça conforme a sugestão da professora. Para encerrar esta atividade a professora sugeriu

realizar a música conforme fazia anteriormente, ou seja, caindo para trás ao final da música.

Isso se repetiu por duas vezes e a criança realizou os movimentos indicados.

Reforça-se neste episódio a relação da criança com a professora, pois a aluna se

aproximou da professora no momento em que a música diz “enrola, enrola” e realizou os

movimentos olhando para ela. A professora agiu com naturalidade e simplicidade na relação

com a aluna, observando seu desenvolvimento e suas representações. A aluna realizou a

atividade do começo ao fim.

Figura 34: Enrola-enrola com a professora

Episódio [29] Aula 13 (4) – Escala, criança exercendo papel de professora

O quarto episódio deste dia o correu durante a atividade de execução instrumental com

ovinhos de percussão cantando a escala de dó maior. O objetivo desta atividade era tocar o

instrumento levantando os braços quando a escala era ascendente e abaixando os braços

quando era descendente. Quando cantavam a nota mais aguda a professora enfatizava que era

para as crianças levantarem as mãos para cima e quando cantavam a nota mais grave a

professora enfatizava que era para as crianças estarem com as mãos para baixo.

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Os participantes estavam nas suas posições habituais, ou seja, todos os adultos

sentados nos seus lugares e algumas crianças em pé no meio da roda. No início do episódio

podemos perceber Isabelle na frente de uma colega. Isabelle estava em pé e sua colega estava

sentada no colo de sua mãe. Ela tocou seu ovinho de frente para a criança, como era de

costume a professora fazer no momento de tocar instrumentos. Neste caso, a professora havia

realizado esta ação na atividade anterior. A ação de Isabelle durou pouco tempo, e logo ela

saiu andando para o meio da roda. De repente apareceu outro aluno correndo, e jogou seu

instrumento no chão. Isabelle pegou o instrumento do colega e, ao invés de devolvê-lo, saiu

correndo. Por sua vez, o menino saiu correndo e nem mostrou preocupação ao fato. Neste

momento, a mãe de Isabelle a repreendeu de forma discreta e apontou para a criança que

estava sem o instrumento, indicando que Isabelle devia devolvê-lo. Isabelle obedeceu a sua

mãe e devolveu o instrumento ao garoto. No início o menino nem percebeu que Isabelle

queria devolvê-lo, mas a menina insistiu e ele pegou seu material.

Este episódio apresenta dois momentos distintos. O primeiro foi marcado pela ação da

menina em imitar a professora, tocando o ovinho na frente da sua colega, demonstrando ser o

exemplo que deveria ser seguido. Nota-se que Isabelle estava realizando a atividade conforme

sugerido pela professora, e que naquele momento estava assumindo o papel de líder. O

segundo momento foi marcado pela relação com o material, pois quando o colega jogou seu

instrumento no chão, Isabelle rapidamente o pegou e saiu correndo, atitude “sapeca” muito

comum durante as aulas. Entretanto, quando sua mãe indicou que ela deveria devolver o

material ao colega, ela prontamente o fez, andando em direção ao colega e insistindo para ele

pegar o material. Esta reação pode ser contrastada com as reações apresentadas nas primeiras

aulas, quando a criança apresentava dificuldade em perceber que cada pessoa precisava do seu

instrumento para dar continuidade à atividade, ou seja, quando a criança parecia não

compreender o espaço e material do outro. No entanto, na décima terceira aula a criança

apresentou claramente uma mudança no seu comportamento em relação aos materiais ou

instrumentos utilizados nas aulas.

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Figura 35: Brincando de professora

Episódio [30] Aula 13 (5) – bate o pé, criança realizando a atividade

O quinto episódio desta aula aconteceu durante uma atividade de movimento corporal.

O objetivo desta atividade era realizar com o corpo as ações sugeridas pela letra da música, e

perceber as variações de intensidade e andamento indicadas pela professora, sendo que as

variações não aparecem neste vídeo. O nome da música utilizada era “Bate o pé”, composta

por Kamile Levek17.

Este episódio se inicia com todos em pé batendo os pés no chão. Antes de iniciar a

música, a professora tinha o hábito de realizar todos os movimentos que iriam fazer enquanto

estivessem cantando ou apreciando as músicas das atividades. Os pais estavam em roda, mas

a maioria das crianças estava no centro. É possível perceber que todas as pessoas estavam

realizando os movimentos e algumas também cantando, uma vez que esta música já havia

sido trabalhada em outras aulas. Neste vídeo a música foi cantada duas vezes. Na primeira vez

Isabelle faz quase todos os movimentos, sendo que durante uma frase ela parou para observar.

Na segunda vez ela observou durante mais tempo, mas terminou a atividade conforme todos

estavam fazendo.

                                                            17 Sua letra era: “Bate o pé, bate o pé / Palma, palma, palma / Bate o pé, bate o pé / Roda, roda, roda / Levanta as mãos / Escorrega até o chão / Levanta as mãos / Escorrega até o chão”.

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Neste episódio podemos perceber que Isabelle mostrou-se concentrada durante toda a

atividade e que realizou todos os movimentos sugeridos pela música, seguindo o exemplo da

professora e dos outros pais. Segundo Piaget (LÓPEZ, 1974; WOLLFOLK, 2000; DOLLE,

1995; COLE e COLE, 2004; GINSBURG e OPPER, 1969; TAILLE, OLIVEIRA E

DANTAS, 1992; MONTANGERO e MAURICE-NAVILE, 1998), na fase em que a criança

se encontrava a imitação não se dá somente na presença do modelo, e sim pode ocorrer na sua

ausência após intervalos longos ou curtos. No caso, a imitação estava sendo realizada com a

presença do modelo, no entanto, segundo relatos da mãe a criança reproduzia as atividades da

aula em casa. A imitação leva à formação da imagem interior, ou seja, há uma representação

da ação através de imitação.

Figura 36: Bate o pé

Episódio [31] Aula 13 (6) – relaxamento, criança fazendo cafuné na mamãe

O último episódio desta aula aconteceu durante o momento do relaxamento, cujo

objetivo era que as crianças pudessem se acalmar e interagir com seus responsáveis. A música

que estava tocando através de cd era “A casa” de Vinícius de Moraes do cd MPBaby volume

3, tocada ao violão.

Este episódio tem somente 14 segundos e foi escolhido por mostrar a relação afetuosa

entre Isabelle e sua mamãe, considerando que as aulas de musicalização também têm como

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objetivo auxiliar na relação afetiva entre os pais e os filhos. Nota-se, portanto que o duo

estava se relacionando afetuosamente no momento apropriado para isso durante a aula.

Figura 37: Cafuné na mamãe

Episódio [32] Aula 14 (1) – indiozinhos, criança tocando no seu lugar

Este episódio aconteceu no penúltimo dia de aula do semestre, isto é, no dia 24 de

novembro de 2007. A atividade que estava sendo realizada era uma canção com o uso dos

ovinhos de percussão. A música que estava sendo utilizada era “1, 2, 3 indiozinhos”18. Esta

música era conhecida pela maioria das pessoas. O objetivo desta atividade era acompanhar a

música com o instrumento marcando a pulsação.

Os responsáveis estavam sentados em seus lugares. Nota-se que a professora iniciou a

música cantando sozinha, mas que em seguida alguns pais começaram a acompanhar. Neste

dia Isabelle havia se atrasado, e chegado momentos antes desta atividade começar. Pode-se

até perceber que sua mãe sentou-se após o início da música. Isabelle estava sentada em seu

lugar, tocando o seu instrumento e observando as outras crianças.

                                                            18 cuja letra era: “1, 2, 3 indiozinhos / 4, 5, 6, indiozinhos / 7, 8, 9 indiozinhos / 10 num pequeno bote / Vinham navegando pelo rio abaixo / Quando um jacaré se aproximou / E o pequeno bote dos indiozinhos / Quase, quase virou”

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Este episódio se destaca por demonstrar a concentração da criança, pois, mesmo tendo

chegado atrasada, ela sentou-se e realizou a atividade conforme sugerido pela professora. No

entanto, pode-se perceber que no final da atividade a criança ficou somente observando, sem

realizar o movimento corporal mostrado pela professora.

Figura 38: Brincando de “Indiozinhos”

Episódio [33] Aula 15 (1) – enrola, enrola, criança realizando a atividade no seu lugar

Este foi o primeiro episódio da última aula, que aconteceu no dia 01 de dezembro. A

atividade que estava sendo realizada era movimentação corporal com a música “Enrola

enrola”, citada no episódio 28. Ao final da música todos deveriam cair para trás com as pernas

para o alto.

Todos os pais estavam sentados em seus lugares e envolvidos com a atividade. Isabelle

estava com sua babá, e ambas estavam realizando os movimentos conforme sugerido. Sendo

assim, este episódio foi escolhido por demonstrar a concentração da criança durante a

atividade e a sua relação com a babá. Pode-se dizer que neste exemplo a babá estava

assumindo o papel de mediadora entre a professora e a criança, sendo que suas ações podem

ser consideradas docentes. Nota-se que a babá estava exercendo o papel de modelo e estava

estimulando a criança a realizar os movimentos sugeridos pela música, de forma afetuosa e

positiva, acreditando no potencial da sua criança.

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Figura 39: Brincando de enrolar

Episódio [34] Aula 15 (2) – escravos de Jó, criança na roda realizando a atividade

Este episódio foi o segundo do mesmo dia. A atividade realizada foi uma roda com a

música “Escravos de Jó” utilizando movimentos corporais19. O objetivo da atividade era que

os alunos pudessem cantar a música e realizar alguns movimentos que foram sugeridos

lentamente durante a atividade. Um novo movimento era inserido a cada vez que a música era

repetida.

Neste dia havia bastantes alunos, e a roda estava bem grande. Pode-se perceber no

vídeo o “passo a passo” desta atividade. Inicialmente a professora cantou a música somente

andando. Todos estavam o tempo todo de mãos dadas. Na segunda vez, ela inseriu

movimentos corporais com gestos em determinadas palavras: “Tira” os alunos deveriam

erguer os braços, “Bota” abaixar os braços e “Deixa o Zabelê ficar” ficar parados apontando

para baixo. Na terceira vez inseriu movimentos nas palavras “zigue zigue zá”, em que os

alunos deveriam alternar os pés batendo no chão. Pode-se perceber que todos estavam

envolvidos com a atividade e realizando tudo o que era solicitado pela professora. Como

todos estavam em pé e a roda estava grande, não foi possível ver Isabelle a atividade toda.

                                                            19 A letra da versão que estava sendo utilizada era: “Escravos de Jó / Jogavam caxangá / Tira, bota / Deixa o Zabelê ficar / Guerreiros com guerreiros fazem zigue zigue zá / Guerreiros com guerreiros fazem zigue zigue zá”.

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Porém, nos momentos em que ela aparece, pode-se notar que ela está concentrada e

realizando os movimentos sugeridos.

Isabelle mostrou-se concentrada durante todo o episódio e seguiu com fidelidade o

modelo apresentado pela professora. Nota-se que nesta atividade a professora não deu atenção

individualizada a ninguém e sim atenção geral ao grupo, e que optou em realizar a atividade

toda com as crianças e pais de mãos dadas, para que a maioria pudesse permanecer no

formato da roda. As crianças aceitaram bem a sugestão e somente em pequenos momentos

largaram a mão de seus responsáveis.

Figura 40: Escravos de Jó

***

Como já foi mencionado durante o texto, Isabelle continuou no projeto após a coleta

de dados desta pesquisa. Tivemos a oportunidade de filmar algumas de suas ações musicais

um ano depois. Através destas filmagens foi possível perceber principalmente a habilidade de

cantar e falar. De acordo com os estudos Piagetianos20 sobre o desenvolvimento intelectual,

especificamente sobre o desenvolvimento da linguagem, que talvez se possa relacionar com o

desenvolvimento musical, são destacadas cinco propriedades da linguagem da criança                                                             20 In summary, the preceding five properties of the young child’s speech – the faulty use of pronouns and demonstrative adjectives, the incorrect ordering of events, the poor expression of causality, the tendency to omit important features, and finally, juxtaposition – all are concrete manifestations of the child’s egocentrism; that is, his inability to take the other person´s point of view. With development these egocentric manifestations decrease and speech becomes more communicative. (Ginsburg e Opper, 1969, pp. 92-93)

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pequena. Destacam-se o uso inadequado de pronomes e adjetivos demonstrativos, incorreções

na ordem de eventos, dificuldades de expressar causalidade, tendência de omitir

características relevantes e justaposição, todas são características da fase egocêntrica da

criança. Nesta etapa ela não tem ainda a capacidade de compreender o ponto de vista dos

outros, coisa que vai acontecer mais tarde, tornando a fala mais comunicativa. Em termos

musicais, os teóricos (MCDONALDS e SIMONS, 1989) afirmam que a partir dos 24 meses é

possível perceber que a criança adquire habilidade para cantar partes de canções, bem como

canções espontâneas utilizando padrões melódicos aprendidos. Ou seja, pode-se talvez

afirmar que quando a criança está em contato com canções e outras atividades musicais em

grupo, acontecem estimulações que além de ajudar no próprio desenvolvimento musical,

também servem para estimular o desenvolvimento da linguagem e da coordenação sensório-

motora.

Para reconhecer algumas habilidades, foram selecionadas seis cenas21 que demonstram

o seu desenvolvimento musical através de canto, movimentos corporais, execução

instrumental e imitação. Foi possível perceber sua criatividade, reconhecimento de conceitos

como os de intensidade, por exemplo, sua capacidade para cantar e tocar. Também podemos

perceber claramente o seu domínio da linguagem e comunicação.

A primeira cena aconteceu durante a penúltima aula do segundo semestre de 2008.

Todos os alunos estavam tocando coco, batendo o instrumento no chão. A professora

começou a cantar a música O Cavalo, da obra “Passeio no Zoológico” de Alda Oliveira.

Todos os alunos conheciam a música, pois esta fazia parte do tema trabalhado no semestre

anterior. A professora sugeriu que os alunos cantassem tocando o coco, o batendo no chão.

Porém, Isabelle, muito criativa, preferiu cantar a música andando pelo espaço. Nota-se que a

criança estava “galopando” explorando o espaço da sala. Esta ação supõe que a criança já

havia adquirido a habilidade de orientação espacial, além da capacidade de cantar.

A segunda cena ocorreu no mesmo dia da primeira. Todos os alunos tinham ido

embora e a professora passou uns momentos interagindo com a criança e sua mãe. A

professora permitiu que a criança escolhesse os instrumentos que mais gostava e ela escolheu

vários, como os ovinhos, pandeiros, cocos e metalofones. Todos estavam espalhados pelo

chão. Inicialmente a criança escolheu tocar o metalofone. O exemplo desta cena evidencia a                                                             21 Utilizaremos o termo “cena” para que possamos diferenciar dos episódios coletados durante o ano de 2007. Ou seja, o termo “cena” será utilizado somente para os dados coletados em 2008.

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noção de conceitos, pois a professora pediu para a criança tocar forte e ela tocou. Em seguida

a professora pediu que ela tocasse fraco, e ela concretizou a tarefa. Esta ação pode ser vista

como evidência de que a criança já podia compreender alguns conceitos musicais. Mesmo não

tendo exemplos em vídeo do reconhecimento de outros conceitos, a professora pode afirmar

que a criança já podia compreender diferenças de timbres, nomes de instrumentos, alturas e

andamento.

A terceira cena mostra a criança ainda com o metalofone. A professora sugeriu cantar

a escala de dó maior, ascendente e descendente. A criança tocou no seu instrumento e cantou

junto. Este exemplo demonstra a habilidade da criança em cantar e tocar o seu instrumento,

bem como perceber as diferentes alturas.

A quarta cena aconteceu ainda nesta intervenção com a criança, mas o que estava

sendo explorado era a movimentação corporal. A criança sugeriu que todos (professora, mãe e

babá) dançassem a música da Bailarina, da obra O Circo de Alda Oliveira. Esta música foi

aprendida durante o segundo semestre de 2008, e foi um dos temas da apresentação de final

do semestre. Isabelle havia dançado esta música na apresentação e sua mãe relatou que ela

tinha grande interesse por bailarinas. No vídeo pode-se perceber Isabelle liderando a

atividade, mostrando o que todas teriam que fazer. No meio da cena ela se distraiu com uma

bala que estava em seu bolso, mas em seguida voltou e terminou a “brincadeira”. Nesta cena

pode-se ouvir a criança cantando. Esta cena demonstra a habilidade da criança em se

movimentar pelo espaço e em cantar partes de canções acompanhadas por um modelo, visto

que durante a atividade a música estava tocando através de CD.

A quinta cena aconteceu no dia seguinte, na casa criança. A professora foi até lá para

conhecer o ambiente da criança e interagir com ela no seu espaço. Este exemplo demonstra a

habilidade da criança em reproduzir e imitar padrões rítmicos. A criança estava deitada numa

rede e a professora sentada no chão. A professora estava interagindo com a criança

executando uma frase rítmica e batendo levemente na cabeça da criança. Isabelle estava

imitando a professora e executando fielmente o exemplo. A professora também estava

variando alturas. Então, alguns segundos depois a criança sugeriu mudar o modelo da

professora, demonstrando sua criatividade.

A sexta e última cena durou mais de sete minutos. A professora estava com a criança

em seu quarto interagindo com seus brinquedos. A professora sugeriu cantar a escala de dó

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maior tocando com as mãos nas 8 peças de um jogo de montar (jogos que estimulam a

psicomotricidade da criança). Nesta “brincadeira” a professora cantava e pedia para a aluna

imitar. Neste jogo também havia a presença de uma boneca, chamada pela criança de Paty. A

professora sugeriu que a boneca também executasse o jogo. Sendo assim, ora a professora

manipulava a boneca, ora Isabelle. O jogo consistia basicamente em cantar a escala com o

nome das notas, ascendente e descendentemente. Nota-se a habilidade criativa da criança,

bem como sua perfeita compreensão de alturas, ainda que não imitasse o modelo com total

fidelidade.

De acordo com Swanwick a criança pesquisada encontrava-se nos níveis 1 e 2 da

dimensão dos Materiais, de acordo com as camadas cumulativas (2003, pág 92) referentes ao

desenvolvimento musical. Assim, nota-se que a criança:

- reconhece (explora) sonoridades, por exemplo, níveis de intensidade, grandes diferenças de altura, trocas bem definidas de colorido sonoro e textura.

- identifica (controla) sons vocais e instrumentais específicos – como tipos de instrumentos, timbres ou textura.

A criança nesta idade é capaz de reconhecer efeitos sonoros, diferenças de intensidade,

timbre e textura de forma intuitiva, inconsciente e espontânea. Nota-se que nesta fase a

criança é guiada pelo modelo do professor. De acordo com Lyle Davidson & Larry Scripp (in

Hargreaves, ed 1989, pág. 66)

A criança de 2 anos de idade começa a aprender uma canção inicialmente focalizando na única dimensão das palavras. A performance musical neste nível permanece largamente indiferenciada com os gestos melódicos e rítmicos baseados na fala. (Tradução nossa).22

                                                            22 The 2 year old begins to learn a song by initially focusing on the single dimension of words. The musical performance at this level remains largely undifferentiated with rhythm and melodic gestures rooted in speech.

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3.5 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O DESENVOLVIMENTO DE

ISABELLE

Através da análise dos episódios foi possível perceber o desenvolvimento de Isabelle,

tanto musical quanto de outras competências, como atenção, socialização, coordenação

motora, entre outros. Considera-se que vários fatores contribuíram para o seu

desenvolvimento, no entanto, só consideramos as atitudes apresentadas nas aulas e ainda, as

que tivessem exemplos em vídeo. Pode-se afirmar que existiram outros momentos em que seu

desenvolvimento ficou nítido, no entanto, muitas vezes estes momentos não foram

documentados, por isso não puderam ser aproveitados para esta pesquisa.

Quanto ao desenvolvimento musical desta criança, pudemos notar sua crescente

percepção aos sons e movimentos, sua sensibilidade rítmica, reconhecimento de timbres,

reconhecimentos de conceitos de intensidade, alturas, andamento e, nos vídeos mais recentes,

pode-se perceber claramente o desenvolvimento do canto e da fala. Em relação à outras

habilidades foi possível perceber melhoras na socialização, coordenação motora, fala,

atenção, expressão corporal, reconhecimentos das partes do corpo e afetividade.

Em relação às ações docentes utilizadas, pode-se dizer que de alguma forma elas

interferiram no desenvolvimento da criança, pois a professora sempre demonstrou acreditar

no potencial da aluna, agindo com naturalidade e simplicidade na sua relação com a criança,

observando seu desenvolvimento e representações. Também pode-se dizer que a professora

buscou utilizar técnicas adequadas às situações e agir com bom senso em momentos de

tensões pedagógicas.

Para finalizar as considerações, segue um relato escrito pela mãe, em dezembro de

2008: “Estou muito feliz ao observar o desenvolvimento de Isabelle. Acredito que a sua

participação no Projeto Musicalização Infantil foi fundamental para sua socialização. Hoje,

minha filha se relaciona melhor com as outras crianças. Também noto progressos quanto a

sua forma de comunicação: ela se expressa de maneira bastante criativa. Sua personalidade

forte foi respeitada, mas foi orientada. Sua natureza independente vem sendo trabalhada

para que esta característica seja aproveitada de forma positiva. Em casa, estimulamos sua

autonomia e responsabilidade. Mostramos, porém a importância dos limites e do respeito ao

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próximo. Em classe, ela vivencia tudo isso através das aulas, das músicas, das brincadeiras,

da participação nos eventos. É muito gratificante perceber que uma linda flor vem

desabrochando, fruto do trabalho conjunto que vem sendo realizado!”

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A musicalização para bebês exige do professor habilidades de comunicação, através de

diversos artifícios, que não somente a voz falada. Considerando que as crianças pequenas

ainda não compreendem tudo o que é dito, é necessário que o professor utilize alguns

artifícios como se expressar facialmente, corporalmente e utilizar contornos melódicos

exagerados na fala e no canto. De acordo com a literatura vimos que assim como a fala, o

canto direcionado ao bebê também possui suas particularidades, como o uso do registro

agudo, diminuição do andamento e uma qualidade expressiva (ILARI, 2006). Esta afirmativa

deve ser considerada durante as aulas.

Com crianças pequenas, naturalmente o professor sugere atividades que permitem a

estimulação dos bebês, utilizando os artifícios citados, como exagero nas expressões faciais e

corporais, por exemplo, para conseguir esses contatos e respostas. Estes artifícios (criativos

ou não) têm em geral a função de tornar a aula interessante, bem sucedida e levar as crianças a

se desenvolverem musicalmente. É importante que o professor esteja sempre atento às

expressões da criança, e que perceba que a resposta dada em aula nem sempre corresponde à

aprendizagem da criança, visto que mesmo quando ela não reproduz as atividades na aula,

muitas vezes a reproduz em casa no contexto familiar. Também é importante considerar que

as respostas das crianças são particulares e que mesmo que o professor execute um modelo

que deve ser seguido, suas respostas e ações corresponderão à sua vontade, humor,

criatividade e expressão. Além disso, estes artifícios de comunicação permitem que o

professor possa atingir os objetivos planejados para a aula e realizar de forma satisfatória o

seu trabalho.

Ao utilizar o referencial da Abordagem PONTES (OLIVEIRA, 2001, 2005, 2006,

2007, 2008) como elemento de conscientização da importância das conexões entre criança,

música, contexto sociocultural, o professor passa a prestar mais atenção aos momentos e

situações que vão se desenrolando nas aulas e nos encontros/desencontros que acontecem

naquela realidade educacional. Essas situações são analisadas e refletidas criticamente, para

que possam ser aproveitados todos os aspectos que deram ou não certo, visando construir

outros procedimentos similares e que possam servir de base para outros caminhos em

situações semelhantes. A partir dessa conscientização reflexiva sobre esses momentos e

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situações de transição entre planejamento e realidade, entre teoria e prática, entre idealizado e

concretude, o professor vai aprendendo a aproveitar os momentos de flexibilidade na sua

profissão, adquirindo sabedoria pedagógica com o máximo de sabor possível.

Um fator importantíssimo que deve ser refletido nas aulas de musicalização para bebês

é a presença dos pais ou responsáveis pelas crianças. O professor precisa estar atento à sua

articulação em termos de autoridade dentro da sala de aula com essas pessoas, que pouco ou

quase nada entendem do assunto. É preciso ter flexibilidade, controle e estrutura psicológica

para lidar com eventuais críticas feitas por eles, sendo estas construtivas ou não. De acordo

com a experiência ao longo de cinco anos desta pesquisadora como professora de

musicalização para bebês, é possível afirmar que o professor deve estar muito seguro com o

planejamento e com o que ele espera de resultado, estando atento à capacidade cognitiva dos

seus alunos através de estudos sobre o assunto. Isso permite que o professor saiba defender os

seus pontos de vista e argumentar suas idéias e ações, transformando as análises dos pais

construtivamente. Percebe-se desta forma, que o professor de musicalização para bebês está

em constante avaliação, e que isso pode ser considerado bom, pois permite que este reflita

sobre suas ações pedagógicas. Desta forma, vê-se a importância de abordagens que possam

guiar e fundamentar estas reflexões.

Respondendo à questão central desta pesquisa para explicar “como a utilização da

Abordagem PONTES influenciou o surgimento de articulações pedagógicas entre os atores do

processo educativo-musical que contribuíram para o desenvolvimento do nível da

aprendizagem musical e de atitudes nos alunos nas aulas de musicalização para bebês”

considera-se que a utilização da Abordagem PONTES foi influenciando, pouco a pouco, o

surgimento e desenvolvimento aprimorado de uma consciência reflexiva docente sobre a

necessidade do desenvolvimento de pontes articulatórias nas aulas de musicalização para

bebês, que puderam ter reflexos no desenvolvimento da aprendizagem musical e nas atitudes

da criança estudada nesta pesquisa. Embora a professora e pesquisadora não tivesse ainda um

pleno conhecimento sobre a referida abordagem no início do processo músico-educacional, já

existiam indícios da existência de técnicas pedagógicas que estavam em perfeita sintonia com

os pressupostos da abordagem pesquisada. Isso pode talvez demonstrar que em qualquer

ensino eficiente e significativo de professores (as), podem ser registrados sinais e episódios de

articulações pedagógicas significativas que influenciam a qualidade da educação musical

sendo desenvolvida. Essa é uma afirmativa que tem sido bastante reforçada no

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desenvolvimento da Abordagem PONTES por Oliveira, e que está sendo complementada ao

longo dos trabalhos do grupo de pesquisa sobre o tema.

Visando responder a questão da pesquisa com maior grau de pertinência, serão

destacados os principais elementos que servem de indícios para a confirmação da pertinência

da concepção da abordagem estudada nesta investigação.

O processo de desenvolvimento da Isabelle passou por algumas fases. Inicialmente a

criança mostrou-se desconfiada e observadora, sendo que ela demonstrava grande

preocupação em relação aos materiais que estavam sendo utilizados, por exemplo, indicando

que queria o material do outro, sendo os colegas ou a professora. Sua expressão nesta fase era

agressiva e suas ações eram determinadas e independentes. No início a professora permitia

que a criança pegasse seu material, mas aos poucos foi percebendo que a criança teria que ter

algum limite neste sentido. As primeiras ações da professora em relação a isso foram tentar

despistar a criança. Em seguida, começou-se um trabalho de conscientização através das

atitudes da professora e ajuda dos responsáveis. Sua mãe também mostrou-se preocupada em

relação a este comportamento e relatou que houve um trabalho intensivo com a criança no

ambiente familiar. Desta forma, a criança foi aos poucos entendendo a importância de

respeitar o espaço e material do outro.

Começou-se então uma nova fase, marcada pela observação e atenção da criança.

Isabelle sempre se mostrou muito independente nas aulas e sempre se expressou de forma

particular, sem obedecer à regra, isto é, ao comportamento considerado o mais freqüente entre

as crianças. No geral, a turma que Isabelle freqüentava tinha este perfil de independência e a

maioria preferia ficar em pé no meio da roda a ficar sentada no colo dos seus responsáveis

(em outras turmas as atitudes mais freqüentes eram as crianças ficarem sentadas com seus

responsáveis). Portanto, mesmo com este perfil, pode-se notar que a criança passou a

permanecer mais tempo sentada no seu lugar na roda, levantando eventualmente e sempre

realizando as atividades propostas, intercaladas por momento de observação e atenção ao que

estava acontecendo. Nesta fase nota-se que a professora buscava contatos com a criança, a fim

de estimulá-la musicalmente e enfatizava as atitudes da criança, através de sorrisos,

agradecimentos e “vibração” com palmas.

Outro momento do desenvolvimento de Isabelle foi a imitação do modelo, no caso, a

professora. Isso se tornou mais nítido nos últimos vídeos. No entanto, este comportamento

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147 

 

ficou mais evidente e pôde ser observado no semestre seguinte à coleta de dados desta

pesquisa. Nos momentos em que a professora interagia com os alunos, Isabelle a imitava,

andando de joelhos (como a professora fazia) e tocando seu instrumento fixando o olhar nos

colegas, ou seja, a criança exercia o papel de modelo.

Um ano após a coleta dos dados desta pesquisa foi possível notar que a criança

estudada foi estimulada tanto musicalmente quanto em outras competências. No que diz

respeito a habilidades musicais, tornou-se nítido o reconhecimento de conceitos, como os de

intensidade, andamento e alturas, a capacidade para cantar partes de canções e canções

espontâneas, reconhecimento de timbres e nomes de determinados instrumentos,

desenvolvimento rítmico através da execução de pequenas frases e sensibilidade à pulsação,

além de percepção auditiva e a capacidade de expressar corporalmente músicas ouvidas e

cantadas por ela.

Em relação a outras habilidades pôde-se notar claramente a capacidade de

socialização, atenção, reconhecimento do corpo, coordenação motora, desenvolvimento da

fala e da afetividade. Todas as habilidades citadas foram identificadas e considera-se que as

aulas de música colaboraram para estas aquisições, no entanto, com toda certeza, estas não

foram as únicas razões que contribuíram para o desenvolvimento da criança. Apesar da

relevância que as atividades musicais tiveram para o desenvolvimento da criança focalizada

no estudo, e apesar de reconhecer a importância da conscientização sobre as conexões

pedagógicas (pontes) realizadas entre professora, aluna e responsáveis, a pesquisadora

reconhece que podem ter havido outras variáveis que tenham influenciado a criança. Como o

estudo apenas pretendeu documentar e analisar as articulações pedagógicas e explicá-las

através da referida Abordagem PONTES, considera-se ter conseguido demonstrar através do

caso ocorrido com a criança Isabelle, que a consciência da professora sobre a importância dos

momentos de transição entre os diversos momentos e situações de ensino que ocorrem nas

aulas de música com crianças é muito relevante para acentuar a qualidade dos resultados do

ensino na prática de sala de aula.

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Discussão, recomendações e sugestões para investigações futuras

De acordo com a publicação “Referenciais para a formação de professores” (Secretaria

de Educação Fundamental, 1998), assume-se a importância das discussões sobre a formação

de educadores, considerando que esta tem deixado a desejar em alguns aspectos. Afirma-se

que a formação não tem contribuído para que os professores suscitem que seus alunos se

desenvolvam enquanto pessoas, tenham sucesso nas aprendizagens escolares e possam

participar como cidadãos de pleno direito num mundo mais exigente sob todos os aspectos.

Este documento coloca em discussão a concepção de educação, bem como as funções da

escola e a relação entre conhecimento escolar e a vida social e cultural. Segundo esse texto, há

uma enorme distância entre o conhecimento e a atuação da maioria dos professores em

exercício, especialmente no que se refere à faixa etária focalizada neste estudo.

Estes Referenciais foram publicados em 1998. Já se passaram dez anos e a situação

ainda é a mesma ou parecida. A formação oferecida hoje nas instituições de nível superior

ainda não incorpora mudanças para que os futuros professores possam construir pontes “entre

a realidade de seu trabalho e o que se tem como meta” (idem, p. 16). Portanto, torna-se

relevante e urgente a realização de estudos sistemáticos que possam inserir elementos de

ajuda metodológica para o trabalho com a realidade brasileira, que de acordo com os

Referenciais é “complexa e heterogênea” (p. 16) Além das diferenças regionais culturais,

existem as diferenças socioeconômicas, sendo que nos mesmos Referenciais, afirma-se que

“É preciso não confundir diferença cultural (a ser valorizada) com desigualdade

socioeconômica e de acesso aos patamares necessários a uma boa formação (a ser superada):

seguindo o princípio da eqüidade, fazer justiça é buscar no atendimento à diferença, a

igualdade de direitos” (idem, p. 17). Dentre os pressupostos para a formação de professores

para a educação infantil, estão mencionadas várias recomendações relevantes, e dentre estas a

sugestão da criação de sistemas de formação “nos quais se articulem os processos de

formação inicial e continuada de professores” (idem, p. 18) , assim como também enfatiza que

“O trabalho do professor visa o desenvolvimento dos alunos como pessoas, nas suas múltiplas

capacidades, e não apenas a transmissão de conhecimentos. Isso implica uma atuação

profissional não meramente técnica, mas também intelectual e política” (idem, p. 19). Outro

relevante aspecto ressaltado pelos Referenciais é a recomendação de que “O desenvolvimento

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de competências profissionais, exige metodologias pautadas na articulação teoria-prática, na

resolução de situações-problema e na reflexão sobre a atuação profissional” (idem, p. 19).

Principalmente, os referenciais colocam como pressuposto importante que

A atuação do professor tem como dimensão principal a docência, mas não se restringe a ela: inclui também a participação no projeto educativo e curricular da escola, a produção de conhecimento pedagógico e a participação na comunidade educacional. Portanto, todas elas devem fazer parte da sua formação (idem, p. 18-19)

Após 5 anos trabalhando com musicalização para bebês, foi possível reavaliar a

prática docente desta pesquisadora e reconhecer a relevância deste estudo para o seu

desenvolvimento geral teórico e prático através de reflexões sobre sua atuação docente.

Anteriormente a este trabalho, a atuação desta autora era guiada pela sua experiência em sala

de aula, bem como por pesquisas sobre metodologias de ensino para esta faixa etária. No

entanto, este estudo contribuiu para que ela pudesse perceber a importância das ações

docentes para o desenvolvimento do aluno, principalmente através das reflexões relacionadas

à Abordagem PONTES. Como já foi mencionado durante o trabalho, mesmo sem a

pesquisadora conhecer previamente a abordagem, foi possível perceber com mais nitidez e

consciência os diversos tipos de articulações e conexões que são em geral feitas ou realizadas

na atuação de docentes e hoje, após ter tido filmado, descrito, selecionado, analisado a sua

própria atuação pode-se observar o quanto este processo pôde contribuir para o refinamento

da percepção em termos de ensino, visando uma prática significativa e qualificada. Hoje

pode-se confirmar através do processo de desenvolvimento deste estudo que o pressuposto

citado nos “Referenciais para a formação de professores” (p. 18) é bastante pertinente e deve

ser buscado nos cursos superiores de formação de professores, em especial para educação

infantil. O professor precisa articular-se com o projeto educativo e curricular da escola, com a

produção científica relacionada à pedagogia e com a comunidade educacional dentro do

contexto sócio cultural onde atua. Além do mencionado nos Referenciais, considera-se muito

relevante que o professor também se desenvolva pessoalmente e artisticamente, bem como o

desenvolvimento da sua capacidade de se articular com as experiências socioculturais das

famílias, dos grupos artísticos da comunidade, dos mestres da cultura popular, assim como da

produção das orquestras, bandas, e outras manifestações culturais.

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De acordo com os “Referenciais”, a educação deve garantir aos alunos a possibilidade

de transitar por “diferentes campos do saber, aprendendo procedimentos, valores e atitudes

imprescindíveis para o desenvolvimento de suas diferentes capacidades” (idem, p. 24). O

conhecimento e os bens culturais devem ser valorizados e acessíveis aos alunos. Também

salienta-se a importância de o aluno adquirir confiança na própria capacidade de pensar e

encontrar soluções, exercitando seu pensamento crítico e reflexivo. Portanto, para colaborar

com o desenvolvimento de diferentes capacidades destes alunos, “as propostas pedagógicas

devem sempre resultar do cruzamento de duas variáveis essenciais: os objetivos definidos e as

possibilidades de aprendizagens dos alunos” (idem, p. 25). Essa recomendação se aproxima

bastante do que é ressaltado pela Abordagem PONTES (OLIVEIRA, 2001, 2005, 2006, 2007,

2008), ou seja, trabalhando-se as conexões a serem feitas pelos professores, estes poderão

desenvolver com mais consciência as habilidades e transições entre os objetivos definidos e as

possibilidades de aprendizagem dos alunos.

Através deste estudo foi possível refletir sobre a importância de estudos nesta área e

em especial, sobre a formação de professores competentes que possam construir pontes entre

a realidade de seu trabalho e as suas metas, desenvolvendo competências profissionais com

metodologias pautadas na articulação teoria-prática, na resolução de situações-problema e na

reflexão sobre a atuação profissional. Também foi possível perceber a importância de

abordagens que possam estar relacionadas ao tema, auxiliando principalmente na reflexão da

atuação docente e conclusão de trabalhos assim.

Considerando o crescimento da área de música para a educação infantil e o interesse

de futuros professores em musicalização para bebês, bem como os resultados desta pesquisa,

pode-se sugerir para pesquisas futuras os seguintes temas: a) o efeito de articulações

pedagógicas no desenvolvimento musical de crianças em suas várias faixas etárias; b)

verificar os diferentes tipos de pontes / transições / conexões que são realizadas por

professores de diferentes tipos de personalidade, formação educacional, e de diferentes

especialidades, culturas e faixas etárias; c) descrever o efeito das articulações realizadas pelo

professor para o desenvolvimento de determinadas capacidades – cognitivas, afetivas, físicas,

éticas, estéticas, de inserção social e de relação interpessoal em diversas faixas etárias e em

especial, na educação infantil; d) verificar como a Abordagem PONTES pode ser trabalhada

na educação infantil para desenvolver a curiosidade e a expressão das crianças; e) verificar

como a utilização da Abordagem PONTES pode possibilitar as articulações pedagógicas no

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curso de musicalização para Bebês no processo de formação de futuros professores de música

do curso de Licenciatura em Música.

Tendo este estudo sido de natureza longitudinal e um estudo de caso específico, ele

pode ser considerado relevante para a educação infantil porque têm existido pouquíssimos

dados a respeito da aprendizagem e do desenvolvimento dos alunos nesta etapa no Brasil.

Considera-se que o estudo em foco contribui não somente para elucidar o desenvolvimento de

uma criança de 0 a 2 anos em aula de música, mas também para contribuir para a formação de

professores, que é considerado pelos “Referenciais” como um “tema crucial e uma das mais

importantes dentre as políticas públicas para a educação” (p. 26). Em termos de estudos

sistemáticos relacionados a esta faixa etária, este é o segundo estudo realizado em Salvador 23

e é o primeiro na Pós-graduação em Música da UFBA a investigar evidências do efeito de

articulações pedagógicas no desenvolvimento infantil, embora já se tenha realizado na

instiuição cursos de extensão nesta área. Em sendo um estudo pioneiro, evidentemente muitos

desafios foram encontrados, trabalhados, superados, assim como outros ainda persistem.

Espera-se que para o futuro muitas aprendizagens possam advir como vias de acesso ao

conhecimento para o desenvolvimento da educação musical infantil. Pode-se dizer que os

pilares que sustentam o conhecimento consistem em “aprender a conhecer” o indivíduo nas

suas diversas expressões, “aprender a fazer” com que o conhecimento se transforme e se

                                                            23 Aulas para bebês foram introduzidas na Escola de Música da UFBA como parte da disciplina Educação Musical Especial ministrada pela Profa. Diana Santiago nos anos de 1991, 1992 e 1996 no então curso de Mestrado em Música da UFBA. Foram ministradas pelos alunos da disciplina durante a segunda parte de cada um dos semestres letivos em que a disciplina foi oferecida, pelo período de 8 semanas em várias turmas e consistiam num encontro semanal dos professores, das crianças e seus pais. (A primeira parte dos semestres consistia em aulas teóricas sobre Educação Musical para a Primeira Infância). O formato das aulas foi baseado no MUSICTIME criado pela Profa. Dra. Donna Brink-Fox na Eastman School of Music (New York, USA) na década de 1980, com quem Diana Santiago estudou enquanto realizou seu Mestrado nos EUA. As aulas – em várias turmas – consistiam em 15 minutos de atividades lúdicas espontâneas, para as quais eram disponibilizados brinquedos musicais e instrumentos de percussão leves e seguros para serem manuseados pelas crianças, e cerca de 30 minutos de atividades conduzidas pelo (a) aluno (a) de mestrado que atuava como professor (a) da turma. Essas atividades incluíam atividades musicais para entrosamento, canções, lengas-lengas, atividades rítmicas e atividades musicais para imitação e locomoção. As aulas aconteceram na sede da EMUS.

Além das atividades desenvolvidas com os alunos da pós-graduação, alunos da graduação (concluintes de curso e bolsistas de iniciação científica) também trabalharam com bebês, tendo sido treinados no método. Aulas para bebês, supervisionadas por Diana Santiago, foram por eles ministradas durante os anos de 1994 a 1997, na Organização de Auxílio Fraterno (OAF, entidade que atende a crianças carentes), na Creche da UFBA e na Escola Dorilândia, como parte dos projetos de pesquisa Padrões do desenvolvimento psicomotor e comportamentos musicais de resposta em crianças de classe social menos favorecida (1994-1995) e Atividades rítmicas e melódicas apropriadas à 1ª infância (1995-1997), bem como dos estágios de conclusão de curso das licenciandas em música Lara Morelli e Ilma Nascimento. (texto concedido por email pela Professora Doutora Diana Santiago). 

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adeque às necessidades dos educandos, “aprender a viver junto” se relacionando de maneira

natural e “aprender a ser” cidadão.

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159 

 

ANEXOS

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160

ANEXO A

A ABORDAGEM PONTES NA MUSICALIZAÇÃO PARA CRIANÇAS ENTRE 0 E 2

ANOS DE IDADE

FORMULÁRIO DE CONSENTIMENTO

Pesquisadora:

Angelita Maria Vander Broock

Professora orientadora:

Dra. Alda Oliveira

É do meu conhecimento que:

A minha participação na pesquisa é voluntária;

• Todos os dados contidos nesta pesquisa são confidenciais e a identidade dos participantes

será mantida. Ninguém terá acesso às informações adquiridas a não ser os pesquisadores;

• Tenho o direito de não responder à perguntas que não queira e posso descontinuar a minha

participação a qualquer momento, sem nenhum prejuízo.

Nome: ____________________________________________

Salvador, ______ de _____________de 2007

Assinatura: _________________________________________

Caso queira receber o resultado desta pesquisa, preencha os campos abaixo.

E-mail __________________________________________________________________________

Telefones________________________________________________________________________

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA MESTRADO EM EDUCAÇÃO MUSICAL

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161

ANEXO B

A ABORDAGEM PONTES NA MUSICALIZAÇÃO PARA CRIANÇAS ENTRE 0 E 2

ANOS DE IDADE

Prezados familiares, O objetivo deste questionário é mapear o perfil dos participantes do projeto e saber como é a

visão da família sobre o mesmo. Através de perguntas objetivas, pretende-se conhecer a “cultura musical” dos pais, o uso da música em casa com os pequenos, a importância do projeto para os pais e como o projeto contribuiu para alguma mudança no comportamento das crianças.

Por favor, leia e assine o termo de consentimento em anexo, caso concorde em fornecer as informações.

Agradeço a sua colaboração para o projeto de pesquisa que estou desenvolvendo durante o meu curso de Pós-Graduação na UFBA (Mestrado), sob a orientação da Profa. Dra. Alda Oliveira.

Atenciosamente, Angelita Broock INFORMAÇÕES GERAIS

Nome da criança:__________________________________________________________________

1) Idade da mãe: ________ do pai_________ do bebê:______________

2) Nacionalidade da mãe: ( ) brasileira ( ) outro. Qual? ________________________________

do pai: ( ) brasileiro ( ) outro. Qual? _____________________________________________

do bebê:( ) brasileiro(a) ( ) outro. Qual? __________________________________________

3) Profissão da mãe: ______________________________________________________________

4) Profissão do pai: _______________________________________________________________

5) Quantas pessoas moram na mesma casa?_____ Quantas pessoas trabalham?______

Onde?___________________________________________________________________________

EXPERIÊNCIA MUSICAL DOS QUE CONVIVEM COM A CRIANÇA

6) A mãe: Toca algum instrumento? ( ) sim ( ) não

Qual(is)?_______________________________________________Há quanto tempo?________

Faz parte de algum grupo musical? ( ) sim ( ) não Que tipo?_______________________

7) O pai: Toca algum instrumento? ( ) sim ( ) não

Qual(is)?______________________________________Há quanto tempo?__________

Faz parte de algum grupo musical? ( ) sim ( ) não Que tipo?_______________________

8) Tem algum (outro) músico na família? ( ) sim ( ) não Quem? ______________________

9) A criança fica perto em momentos de estudo ou ouve algumas dessas pessoas tocarem?

( ) sim ( ) não

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA MESTRADO EM EDUCAÇÃO MUSICAL

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CULTURA MUSICAL

10) Existe alguém de outro lugar (cultura/ estado/ país) que convive com a criança? ( ) sim ( ) não

Quem? _______________________________________________________________________

11) Essa pessoa ensina canções da cultura dela para a criança? ( ) sim ( ) não

Cite: ________________________________________________________________________

12) Você e/ou a criança freqüentam grupos religiosos regularmente? ( ) sim ( ) não

Qual?______________________Existe música? ( ) sim ( ) não. Que tipo?____________________

PREFERÊNCIA MUSICAL

13) Em média, quanto tempo de música você escuta por dia?

Pai: ( ) 1h a 2h ( ) 3h a 4h ( ) 5h ou mais

Mãe: ( ) 1h a 2h ( ) 3h a 4h ( ) 5h ou mais

Em que meios? ( ) rádio ( ) CD’s ( ) DVD’s ( ) TV ( ) Outros Especifique:_____________

14) Qual estilo musical você mais ouve?

Mãe: ________________________________________________________________________

Pai: _________________________________________________________________________

15) O repertório musical que os pais ouvem

( ) é diferente da música que o bebê ouve?

( ) é igual ao repertório que o bebê ouve?

( ) é repertório misto.

Cite algumas músicas ou grupos que você escuta _____________________________________

________________________________________________________________________________

16) Quanto tempo, em média, você fica com a criança por dia?

Mãe: ( ) o dia todo ( ) metade do dia ( ) parte da manhã ( ) parte da noite ( ) Outros_________

Pai: ( ) o dia todo ( ) metade do dia ( ) parte da manhã ( ) parte da noite ( ) Outros__________

17) Quem cuida da criança?

( ) mãe ( ) pai ( ) babá ( ) avô ( ) avó ( ) tia ( ) tio ( ) creche ( ) Outros_____________

18) Essa(s) pessoa(s) utiliza(m) música com ela? ( ) sim ( ) não

De que forma?

( ) cantando ( ) cd ( ) rádio ( ) DVD ( ) Outros___________________________________

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CRIANÇA

19) Seu bebê possui artigos musicais próprios? ( ) sim ( ) não

Quais?

( ) CD’s ( ) DVD’s ( ) brinquedos sonoros ( ) instrumentos musicais.

Quais?_________________________( ) outros. Especifique______________________________

20) Vocês utilizam música com o seu bebê? ( ) sim ( ) não

Em quais atividades?

( ) dormir ( ) acordar ( ) comer ( ) tomar banho ( ) brincar ( ) outros_________________

21) Vocês costumam cantar para seu bebê?

Mãe: ( ) sim ( ) não Pai: ( ) sim ( ) não

Que músicas? _________________________________________________________________

Em quais atividades?

( ) dormir ( ) acordar ( ) comer ( ) tomar banho ( ) brincar ( ) outros_________________

22) Por que vocês escolhem esse repertório musical para utilizar com o pequeno?

________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________

23) Você procurou aprender músicas para cantar para o seu filho? ( ) sim ( ) não

Quais você aprendeu?

Pai: ____________________________________________________________________________

Mãe: ___________________________________________________________________________

24) Por favor, descreva alguma reação diferenciada do bebê por determinada(a) música(a).

Nome da música: _________________________________________________________________

Como ele se comporta? ____________________________________________________________

________________________________________________________________________________

(se houver outros exemplos, por favor descreva-os no verso do papel)

OS PAIS E A MÚSICA

25) Você lembra de alguma música que seus pais ou responsáveis cantavam para vocês?

Mãe: ( ) sim ( ) não ; Pai: ( ) sim ( ) não

Qual(is)? Mãe:____________________________________________________________________

Pai:_____________________________________________________________________________

Vocês cantam essa (s) música (s) para o seu filho? Mãe: ( ) sim ( ) não ; Pai: ( ) sim ( ) não

E quando a mãe estava grávida, cantava? ( ) sim ( ) não. O quê?____________________________

26) O bebê tem irmãos? ( ) sim ( ) não .

Se sim, é diferente o uso da música entre eles? ( ) sim ( ) não ______________________________

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CURSO DE MUSICALIZAÇÃO DA UFBA

27) Por que você procurou este curso?

________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________

28) Você notou mudanças no comportamento da criança após o início do curso de musicalização

para bebês da UFBA? ( ) sim ( ) não

Se sim, quais? (você pode marcar quantas questões quiser)

( ) socialização________________________________________________________________

( ) coordenação motora__________________________________________________________

( ) sensibilidade musical_________________________________________________________

( ) estímulo à fala______________________________________________________________

( ) atenção____________________________________________________________________

( ) expressão corporal___________________________________________________________

( ) ritmo_____________________________________________________________________

( ) canto______________________________________________________________________

( ) reconhecimento das partes do corpo_____________________________________________

( ) afetividade_________________________________________________________________

( ) Outros (por favor, cite)_______________________________________________________

_____________________________________________________________________________

29) Qual a sua opinião sobre o ambiente onde as aulas são realizadas?

________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________

30) Você acha o currículo desenvolvido adequado para o seu filho?

( ) sim ( ) não. Por favor, justifique.__________________________________________________

________________________________________________________________________________

31) Sobre a professora:

- pontos positivos_________________________________________________________________

________________________________________________________________________________

- pontos negativos + sugestões_______________________________________________________

________________________________________________________________________________

32) Tem alguma informação a acrescentar sobre o uso da música com seu filho?

________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________

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ANEXO C

A ABORDAGEM PONTES NA MUSICALIZAÇÃO PARA CRIANÇAS ENTRE

0 E 2 ANOS DE IDADE

AUTORIZAÇÃO PARA USO DE IMAGEM

Eu,_____________________________________________________________,

portador(a) de cédula de identidade nº ______________________, responsável legal

pelo(a) menor _______________________________________________, autorizo a

gravação em vídeo da imagem do(a) menor supracitado(a), bem como a veiculação de

sua imagem em qualquer meio de comunicação para fins didáticos, de pesquisa e

divulgação de conhecimento científico sem quaisquer ônus e restrições.

Fica ainda autorizada, de livre e espontânea vontade, para os mesmos fins, a

cessão de direitos da veiculação das imagens do(a) menor supracitado(a), não recebendo

para tanto qualquer tipo de remuneração.

Salvador, _____ de _______________ de 2007.

Assinatura do(a) responsável legal.___________________________________.

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ANEXO D

DVD com filmagens das aulas