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Mestrado em Desenvolvimento Sustentável/ Política e Gestão de Ciência e Tecnologia O AMBIENTE INSTITUCIONAL DA BIOTECNOLOGIA VOLTADA PARA A SAÚDE HUMANA NO BRASIL Cleila Guimarães Pimenta Dissertação de Mestrado Brasília –DF, abril/2008 Universidade de Brasília Centro de Desenvolvimento Sustentável

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  • Mestrado em Desenvolvimento Sustentvel/ Poltica e Gesto de Cincia e Tecnologia

    O AMBIENTE INSTITUCIONAL DA

    BIOTECNOLOGIA VOLTADA PARA A SADE

    HUMANA NO BRASIL

    Cleila Guimares Pimenta Dissertao de Mestrado

    Braslia DF, abril/2008

    Universidade de Braslia Centro de Desenvolvimento Sustentvel

  • UNIVERSIDADE DE BRASLIA

    CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL

    O AMBIENTE INSTITUCIONAL DA BIOTECNOLOGIA VOLTADA PARA A SADE

    HUMANA NO BRASIL

    Cleila Guimares Pimenta

    Orientador: Isabel Teresa Gama Alves

    Dissertao de Mestrado

    Braslia D.F., abril/2008

  • UNIVERSIDADE DE BRASLIA CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL

    O AMBIENTE INSTITUCIONAL DA

    BIOTECNOLOGIA VOLTADA PARA A

    SADE HUMANA NO BRASIL

    Cleila Guimares Pimenta

    Dissertao de Mestrado submetida ao Centro de Desenvolvimento Sustentvel da Universidade de Braslia, como parte dos requisitos necessrios para a obteno do Grau de Mestre em Desenvolvimento Sustentvel, rea de concentrao em Poltica e Gesto de Cincia e Tecnologia, opo profissionalizante. Aprovado por: Isabel Teresa Gama Alves, Doutora em Science de L Entreprise (cole Doctorale, Toulose, Frana) (Orientador) Arthur Oscar Guimares, Doutor em Sociologia, na rea de C&T e Sociedade, (Departamento de Sociologia/UNB) (Examinador Interno) Erasmo Jos Gomes, Doutor em Poltica Cientfica e Tecnolgica. (Universidade Estadual de Campinas/UNICAMP) (Examinador Externo) Braslia-DF, 14 de abril de 2008.

  • profundidade da riqueza, da sabedoria e do conhecimento de Deus!

    Quo insondveis so seus juzos e inescrutveis os seus caminhos!

    ...Pois Dele, por Ele e para Ele so todas as coisas!

    A Ele seja a glria para sempre! Amm!(ROMANOS 11:33-36)

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo minha me, pelo suporte emocional, por acreditar em mim e por sempre me apoiar nos meus desafios.

    Ao meu pai, aos meus irmos Sheila, Charley e Shirley, e aos meus queridos sobrinhos Gabriela, Marcela, Juninho e Samuel pela compreenso quanto aos momentos em que me ausentei e me dediquei aos estudos.

    professora Isabel, que aceitou este desafio de construirmos esta dissertao. Adriana Badar, Camila, Priscila, Ana Paula e Antonio. Muito obrigada pela pacincia e dedicao!

    Aos professores Arthur Oscar, Eduardo Viotti e Frderic Mertens pelos proveitosos e inspiradores ensinamentos.

    s minhas amigas, Zaida Peixoto, Graziela Martins, Flvia Cardoso, Adriana Diafria, Ana Paula Reche, Andrea Santos que em tantos momentos me apoiaram e exortaram para que eu mantivesse o nimo na realizao deste trabalho.

    Aos meus superiores da ABDI, Reginaldo Arcuri, Evando Mirra, Mario Salerno, Luis Paulo Bresciani, e Roberto Alvarez que permitiram que eu dedicasse parte de meu tempo para a realizao do meu curso de Mestrado.

    Aos colegas Neyara Vieira, Erasmo Gomes, Rogrio Arajo que tantas vezes me apoiaram, toleraram meus momentos de irritao, leram e corrigiram meus textos, deram-me sugestes... Valeu! Muito obrigada!

  • RESUMO

    Na rea da sade, a biotecnologia moderna tem transformado os processos de obteno

    de medicamentos, vacinas, kits de diagnsticos e prteses; revolucionado as terapias do

    cncer, da Sndrome da Imunodeficincia Adquirida (Sida), dentre outras doenas; podendo,

    ainda, gerar divisas e empregos por meio da agregao de valor s indstrias e servios

    relacionados sade. Diante disso, ela passou a ser um tema discutido na formulao de

    polticas industriais, tecnolgicas e de sade. Para que houvesse a manuteno da

    competitividade do setor produtivo frente biotecnologia moderna fez-se necessria uma

    reestruturao do ambiente institucional. Assim sendo, uma gama de instrumentos

    governamentais, foram criados com o objetivo de incentivar o desenvolvimento da

    biotecnologia e sua introduo no setor produtivo e na economia. Considerando o carter

    estratgico inerente biotecnologia moderna, este trabalho trata do processo de

    institucionalizao dessa tecnologia no Sistema de Cincia e Tecnologia brasileiro e do

    mapeamento dos entraves existentes no ambiente institucional brasileiro, que dificultam a

    implantao de instrumentos governamentais voltados para o desenvolvimento da

    biotecnologia aplicada sade humana. Para a realizao desta dissertao analisou-se

    publicaes de rgos e instituies relacionadas ao tema, alm disso, foram feitas pesquisas

    em sites institucionais, em banco de dados e de teses, bem como entrevistas com gestores de

    algumas instituies que fazem parte do sistema. O estudo realizado permitiu concluir que a

    absoro de novos conhecimentos para a gerao de inovaes demanda tempo e a

    metodologia de avaliao dos instrumentos governamentais federais de C&T voltados para o

    desenvolvimento da biotecnologia deve ser considerada em longo prazo. Somando-se a isso,

    esses instrumentos ainda no adquiriram estabilidade, pois os mesmos so vulnerveis s

    mudanas polticas e econmicas, o que causa muitas vezes a descontinuidade deles.

    Palavras Chaves: Biotecnologia; Institucionalizao; Sistema de C&T.

  • Abstract

    The modern biotechnology has transformed the process of obtaining medicines,

    vaccines, diagnostic kits, and prostheses; revolutionized the therapy of cancer, Acquired

    Immunodeficiency Syndrome (AIDS), among other diseases; besides, generate foreign

    currency and jobs through the aggregation of value to the industries and services related

    to health. In this way, it became a topic discussed in the formulation of policies to the

    development industrial, technological and to the public health. Thus, in order to

    maintain the competitiveness of the productive sector in the face of modern

    biotechnology, the institutional environment needs to be restructured. A range of

    government instruments have been created aiming at encouraging the development of

    biotechnology and its introduction in production and economy. Considering the

    strategic character inherent in biotechnology, this work addresses the institutionalization

    of biotechnology in the Brazilian science and technology system. We try to identify the

    barriers existing in the Brazilian institutional environment that hamper the

    implementation of government instruments focused on the development of

    biotechnology applied to human health. We have investigated publications about the

    subject, in addition to performing database research and interviews with managers of

    some institutions. We observe that the absorption of new knowledge to generate

    innovations takes time and the evaluation method of the governmental instruments

    should be considered in long term. Moreover, government instruments focused on the

    development of biotechnology are vulnerable to changes in economic policies, which

    often causes discontinuity.

    Keywords: biotechnology; institutionalization; science and technology system.

  • LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 1- Multidisciplinaridade da Biotecnologia ....................................................................8

    Figura 2 - A percepo dos gestores do governo sobre a PDB..............................................102

    Figura 3 A percepo dos gestores do setor produtivo sobre a PDB..................................103

    Figura 4 - Gestores do Governo Prioridades.......................................................................103

    Figura 5 - Gestores do Setor Produtivo Prioridades...........................................................104

    Figura 6 - Gestores do governo e os entraves....111

    Figura 7 - Gestores do setor produtivo e os entraves.............................................................112

  • LISTA DAS TABELAS

    Tabela 1 - Representatividade dos biomedicamentos em vendas (U$S).................................25

    Tabela 2 Indicadores da Biotecnologia Norte-Americana X Biotecnologia

    Brasileira...................................................................................................................................29

    Tabela 3 - Importao de biomedicamentos no Brasil em 2004..............................................30

    Tabela 4 - Distribuio Regional dos Projetos e Recursos Contratados pelo PADCT II........71

    Tabela 5 Recurso financeiro orado para o SBio em relao ao total..................................74

    Tabela 6 Resultados Cientficos do PADCT.........................................................................74

    Tabela 7 Resultados Tecnolgicos do PADCT.....................................................................75

    Tabela 8 - Distribuio dos Recursos do PADCT ao longo de 5 anos....................................76

    Tabela 9 - Execuo financeira por aes do Fundo Setorial de Biotecnologia: 2001 2006

    (em R$ milhes)........................................................................................................................82

    Tabela 10 - Execuo financeira por aes do Fundo Setorial de Sade: 2001 2006 (em

    milhes de R$)..........................................................................................................................83

    Tabela 11 - Parcerias dos Grupos de P&D..............................................................................97

  • LISTA DAS ABREVIATURAS SIGLAS

    ABIFINA Associao das Indstrias de Qumica Fina e Biotecnologia

    ABIFISA - Associao Brasileira das Empresas do Setor Fitoterpico, Suplemento Alimentar e de Promoo da Sade.

    ABQUIM Associao Brasileira da Indstria Qumica

    ABRABI Associao Brasileira da Empresas de Biotecnologia

    ABDI Agncia Brasileira de Desenvolvimento Industrial

    ABIMO Associao dos Fabricantes de Produtos Mdicos e Odontolgicos

    ADN - cido Desoxirribonucleico

    ARN cido Ribonuclico

    ALANAC Associao dos Laboratrios Nacionais

    ANPROTEC - Associao Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores.

    ANVISA Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria

    BNDES Banco Nacional do Desenvolvimento Econmico e Social

    BIRD - Banco Internacional para a Reconstruo e o Desenvolvimento

    CAPES Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior

    CAT - Centro de Toxicologia Aplicada

    CAMED Cmara Setorial de Medicamentos

    CBA Centro de Biotecnologia da Amaznia

    CDB Conveno da Diversidade Biolgica

    CF Constituio Federal

    CGEE - Centro de Gesto e Estudos Estratgicos

    CBDL Cmara Brasileira de Diagnstico Laboratorial

    CIDE - Contribuio de Interveno no Domnio Econmico

    CGEN - Conselho de Gesto do Patrimnio Gentico

    CNB Comit Nacional de Biotecnologia

    CNDI - Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial

    COINFAR Consrcio Farmacutico Nacional

    CONEP - Comisso Nacional de tica em Pesquisa

    CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico

    CT&I Cincia, Tecnologia e Inovao

    COP8 8 Conference of the Parties

    CTNBIO - Comisso Tcnica Nacional de Biossegurana

    Decit - Departamento de Cincia e Tecnologia

    EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria

    FAPs Fundaes de Amparo Pesquisa

  • FDA Food Drug Administration

    FEBRAFARMA Federao Brasileira da Indstria Farmacutica

    FINEP Financiadora de Estudos e Pesquisa

    FIOCRUZ Fundao Oswaldo Cruz

    FIPASE Fundao Instituto Plo Avanado de Sade de Ribeiro Preto

    FUNTEC Fundo Tecnolgico

    FUB - Fundao Universidade de Braslia

    FNDCT - Fundo Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico

    INPI Instituto Nacional de Propriedade Industrial

    INMETRO Instituto Nacional de Metrologia, Normalizao e Qualidade Industrial

    INTERFARMA Associao da Indstria Farmacutica de Pesquisa

    LNCC Laboratrio Nacional de Computao Cientfica

    MAPA Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento

    MCT Ministrio da Cincia e Tecnologia

    MDA Ministrio do Desenvolvimento da Agricultura

    MDIC Ministrio do Desenvolvimento da Indstria e do Comrcio Exterior.

    MEC Ministrio da Educao

    MF Ministrio da Fazenda

    MJ Ministrio da Justia

    MMA Ministrio do Meio Ambiente

    MP Medida Provisria

    MS Ministrio da Sade

    MOP8 Meeting of the Parties

    MP Medida Provisria

    NEBs - Novas Empresas de Biotecnologia

    ONG Organizao No Governamental

    OGMs Organismos Geneticamente Modificados

    OMS Organizao Mundial da Sade

    PAC Plano de Acelerao do Crescimento

    PADCT - Programa para o Apoio ao Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico

    PB&RG - Programa de Biotecnologia e Recursos Genticos

    PITCE - Poltica Industrial, Tecnolgica e de Comrcio Exterior

    PDB - Poltica de Desenvolvimento da Biotecnologia

    PD&I Pesquisa, Desenvolvimento e Inovao

    PIDE - Programa de Doenas Endmicas

    PIGE - Programa Integrado de Gentica

    PGU - Procuradoria Geral da Unio

  • PPSUS - Programa Pesquisa para o SUS

    PRONAB - Programa Nacional de Biotecnologia

    PSUR/ICH - Periodic Safety Update Report/International Conference of Harmonization

    PROFARMA - Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Cadeia Produtiva Farmacutica

    RENORBIO - Rede Nordeste de Biotecnologia

    SBIO - Subprograma de Biotecnologia

    SCTIE - Secretaria de Cincia, Tecnologia e Insumos Estratgicos

    SUS Sistema nico de Sade

    STF Supremo Tribunal Federal

    TECPAR Instituto de Tecnologia do Paran

    TRIPS - Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights

    UnB Universidade de Braslia

    UNICAMP Universidade Estadual de Campinas

    USP Universidade de So Paulo

  • SUMRIO

    LISTA DE ILUSTRAES

    LISTA DE TABELAS

    LISTA DE QUADROS

    LISTA DAS ABREVIATURAS E SIGLAS

    INTRODUO 14

    1. NOES BSICAS DE BIOTECNOLOGIA 19

    1.1 CONCEITOS, CLASSIFICAES E SEGMENTOS DA BIOTECNOLOGIA 19

    1.2 DA GNESE CONFORMAO DA INDSTRIA DE BIOTECNOLOGIA 21

    1.3 DINMICA DA BIOTECNOLOGIA 24

    1.3.1 Dinmica Internacional 25

    1.3.2 Dinmica Nacional 28

    1.3.2.1 Laboratrios pblicos de produo 31

    2 O AMBIENTE INSTITUCIONAL BRASILEIRO PARA BIOTECNOLOGIA 37

    2.1 A INSTITUCIONALIZAO DA BIOTECNOLOGIA NO SISTEMA DE CT&I BRASILEIRO 38 2.2 ARCABOUO JURDICO 43

    2.2.1 O papel do Estado no desenvolvimento cientfico e tecnolgico 44 2.2.2 Sade dos cidados brasileiros como um dever do Estado 44

    2.2.2.1 Legislao Sanitria 48

    2.2.2.2 Controle Sanitrio de Biomedicamentos 49 2.2.3 Biossegurana 55

    2.2.4 Propriedade intelectual 58

  • 2.3 POLTICAS PBLICAS 61

    2.3.1 Poltica Industrial Tecnolgica e de Comrcio Exterior (PITCE) 61 2.3.2 Construo participativa no Frum de Competitividade de Biotecnologia 63 2.3.3 Poltica de Desenvolvimento da Biotecnologia (PDB) 64 2.3.4 A natureza complexa do Comit Nacional de Biotecnologia (CNB) 67

    2.4 PROGRAMAS PBLICOS 69

    2.4.1 Programa para o Apoio ao Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (PADCT) 69

    2.4.2 Programa de Biotecnologia e Recursos Genticos (PB&RG) 76

    2.5 FUNDOS SETORIAIS 80

    2.5.1 Fundo Setorial de Biotecnologia 81 2.5.2 Fundo Setorial de Sade 82 2.5.3 Gesto dos Fundos Setoriais 85 3 REFLEXES SOBRE O PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAO DA BIOTECNOLOGIA NO SISTEMA DE C&T BRASILEIRO 89

    3.1 PRINCIPAIS ENTRAVES 91

    3.2 A PERCEPO DOS GESTORES 100

    CONCLUSO 114

    REFERNCIAS 117

    ANEXOS

  • 14

    INTRODUO

    Os primeiros registros da aplicao da biotecnologia datam de 8000 a.C, nas sociedades

    egpcias e babilnicas, na produo de vinhos por meio da fermentao alcolica.

    Com a evoluo do conhecimento cientfico e tecnolgico, a biotecnologia passou a ser

    utilizada em escala industrial nas tecnologias de fermentao para a produo de cido ltico,

    etanol, vinagre, glicerol, antibiticos, dentre outros produtos. As descobertas da clula, da

    bactria, da estrutura de cido Desoxirribonucleico (ADN) e o desenvolvimento da engenharia

    gentica agregaram-se s tecnologias das fermentaes e propiciou o surgimento de um novo

    paradigma tcnico-econmico1, a biotecnologia moderna.

    Para a manuteno da competitividade do setor produtivo frente a esse novo paradigma, a

    biotecnologia moderna, fez-se necessria uma reestruturao do ambiente institucional. Assim

    sendo, nos ltimos anos polticas, programas, fundos, enfim, uma gama de instrumentos

    governamentais, foram criados com o objetivo de incentivar o desenvolvimento da biotecnologia

    e sua introduo no setor produtivo e na economia.

    No perodo de reestruturao e transio tecnolgica vivido atualmente, a probabilidade dos

    pases emergentes alcanarem os pases lderes e inclusive super-los maior devido,

    principalmente, ao comprometimento destes ltimos com o antigo paradigma (petrleo e ao) e

    ao fato de que nesses perodos os novos e antigos conhecimentos necessrios para impulsionar o

    desenvolvimento tecnolgico estariam mais acessveis. Os pases emergentes, por sua vez, se

    bem preparados, podem absorver novas tecnologias com maior agilidade. Essa probabilidade

    desenvolvimento para os pases emergentes denominada por Prez (1989) como janelas de

    oportunidades, as quais podem ser perdidas se no forem criadas instituies capazes de

    aproveit-las.

    Para Prez (1989) a inrcia no rearranjo institucional dos pases lderes frente ao novo

    paradigma se deve aos altos investimentos e a experincia acumulada nas atividades das

    1 Neste caso, considera-se novo paradigma como uma nova lgica que inclui gradualmente todas as atividades produtivas, ou pelo menos aquelas que vo aos mercados mundiais. (PREZ, 1989, p.14)

  • 15

    instituies voltadas para a manuteno do velho paradigma. Tal inrcia possibilita que os pases

    emergentes e mais geis alcancem os lderes na fronteira da tecnologia.

    No Brasil, especificamente na dcada de 1980, houve um despertar para as oportunidades

    da biotecnologia, sendo a mesma apontada como prioridade no Programa para o Apoio ao

    Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (PADCT), cujo objetivo foi de capacitar recursos

    humanos e estabelecer infra-estrutura em setores considerados prioritrios para a economia

    brasileira. A partir de ento, foram criados e aperfeioados, principalmente a partir de 1999,

    vrios instrumentos governamentais voltados para a expanso e consolidao dessa tecnologia.

    A biotecnologia permeia tanto o setor industrial quanto o setor de servios, podendo

    impactar nos seguintes segmentos: a) sade humana; b) agronegcios c) materiais2 e d) meio

    ambiente. Na rea da sade, a biotecnologia tem transformado os processos de obteno de

    medicamentos, vacinas, kits de diagnsticos e prteses; revolucionado as terapias do cncer, da

    Sndrome da Imunodeficincia Adquirida (Sida), dentre outras doenas; podendo, ainda, gerar

    divisas e empregos por meio da agregao de valor ao complexo produtivo da sade, tema que

    passou a ser discutido na formulao de polticas industriais, tecnolgicas e de sade.

    Dado o carter estratgico da biotecnologia moderna3, voltada para a sade humana e para

    o desenvolvimento tcnico e econmico do Brasil, este trabalho tem como objetivo geral analisar,

    no mbito do Sistema de Cincia e Tecnologia (C&T), o processo de institucionalizao da

    biotecnologia como fator de competitividade.

    Os objetivos especficos so: a) realizar um levantamento histrico e analisar os

    instrumentos governamentais federais de C&T voltados para a biotecnologia; b) analisar o

    mecanismo de implementao e avaliao destes instrumentos; e c) identificar alguns dos

    entraves existentes na implementao dos mesmos.

    Como foco prioritrio foi escolhida a biotecnologia moderna aplicada ao segmento de

    sade humana, pois se pressupe que esse segmento, juntamente com a agropecuria, foi o

    2 O segmento de materiais, tambm chamado de industrial, vinculado produo de biopolmeros e plstico biodegradvel.

  • 16

    principal beneficiado com os instrumentos federais para o desenvolvimento da biotecnologia ao

    longo da histria recente4.

    Neste trabalho considera-se institucionalizao como: Um processo pelo qual uma prtica ou organizao se torna bem estabelecida e amplamente conhecida. Os atores desenvolvem expectativas, orientaes e comportamentos baseados na premissa de que essa prtica ou organizao prevalecer no futuro previsvel como um processo pelo qual organizaes e procedimentos adquirem valor e estabilidade. (HUNTINGTON, p. 12, 1968 apud MAINWARING & TORCAL, p. 251, 2005).

    PROCEDIMENTOS METODOLGICOS

    Para analisar o processo de institucionalizao da biotecnologia no Sistema de C&T, como

    fator de competitividade, foram realizadas:

    a) reviso bibliogrfica aps as buscas realizadas sobre publicaes de rgos e instituies

    relacionadas com o tema, tais como: Banco de Dados Bireme, Banco de Teses da Fundao

    Oswaldo Cruz (Fiocruz), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade de

    Braslia (UnB), Base de Dados Literatura Latino Americana e do Caribe em Cincia da Sade

    (Lilacs).

    b) anlises de documentos institucionais;

    c) observao da interao interinstitucional por meio de participao em reunies;

    d) entrevistas com gestores de instituies-chave.

    So consideradas instituies-chave aquelas que possuem liderana no processo de

    interao com outros agentes em um determinado ambiente. As entrevistas com os gestores

    dessas instituies foram utilizadas para cotejar as evidncias obtidas com esse estudo.

    Este trabalho parte, ainda, do pressuposto da existncia de um sistema institucional

    complexo que gravita em torno da biotecnologia no Brasil e caracteriza-se pela

    multidisciplinaridade, transetorialidade, interdependncia e hierarquia. Esta hierarquia, por sua

    vez, est organizada nos seguintes nveis:

    3 O conceito de biotecnologia moderna ser apresentado no prximo capitulo. 4 Embora seja reconhecida a importncia do segmento agropecurio para a economia brasileira, o mesmo ser tratado de maneira genrica.

  • 17

    nvel micro: as secretarias municipais e estaduais de sade, de agricultura e de cincia e

    tecnologia, alm de agncias estaduais de fomento cincia e tecnologia (Fundaes de Amparo

    Pesquisa-FAP's) e empresas etc.;

    nvel macro: instituies federais, tais como, ministrios, agncias reguladoras e de fomento.

    Apesar da reconhecida importncia do nvel micro, neste trabalho procura-se a analisar o

    nvel macro, destacando o marco regulatrio e legal, bem como o financiamento pblico de C&T.

    Dessa forma, durante a reviso bibliogrfica e anlise dos documentos institucionais, buscou-se

    informaes sobre o marco regulatrio e legal (Constituio Federal, Leis e outros regulamentos)

    assim como os instrumentos de financiamento, considerando para tanto o volume de recursos

    alocados e os resultados cientficos e tecnolgicos obtidos.

    Quatro captulos constituem este trabalho. O Captulo 1 conceitua biotecnologia, expondo

    as classificaes e os segmentos do setor produtivo que a utilizam. Nesse Captulo, buscou-se

    descrever tambm alguns fatos histricos e descobertas que consolidaram as aplicaes da

    biotecnologia no setor produtivo e, conseqentemente, na economia mundial. Foi traado, ainda,

    um panorama resumido dos arranjos e interaes do setor produtivo norte-americano e do setor

    produtivo brasileiro voltado para biomedicamentos5, considerando que tais arranjos podem

    orientar ou serem orientados pelos instrumentos de apoio governamental.

    No Captulo 2 foi realizado o levantamento dos principais instrumentos governamentais

    voltados para a biotecnologia no Brasil. Nele buscou-se descrever o processo de

    institucionalizao da biotecnologia no Sistema de C&T, identificando o contexto histrico, os

    objetivos propostos, as estratgias adotadas, as reas priorizadas, os recursos financeiros

    disponibilizados, os aspectos regulatrios, os projetos financiados e os resultados obtidos

    (produtos cientficos e tecnolgicos). Esse captulo dar o suporte para as discusses do Captulo

    3 por meio das percepes de especialistas em polticas pblicas. Para construir o Captulo 3

    optou-se, tambm, por considerar as percepes dos gestores de instituies-chave do governo

    5 Os biomedicamentos so substncias aplicadas terapia ou diagnstico de doenas. Sendo derivados de processos biotecnolgicos, obtidos de um sistema vivo (animal, planta ou de clulas eucariticas ou procariticas), cuja composio e estrutura so complexas. (DAYAN, 1995)

  • 18

    federal e do setor produtivo.

    Por fim, foram traadas algumas consideraes sobre o processo de institucionalizao da

    biotecnologia no Sistema de C&T e sobre os entraves existentes na implementao de

    instrumentos governamentais federais de C&T voltados para a biotecnologia.

  • 19

    1 NOES BSICAS DE BIOTECNOLOGIA

    Este captulo apresenta as definies e as aplicaes da biotecnologia no setor produtivo, o

    histrico geral e a discusso da dinmica nacional e internacional da mesma.

    A dinmica internacional descreve os padres de interao das empresas de base

    biotecnolgica e as grandes empresas pblicas farmacuticas dos Estados Unidos. Este pas foi

    escolhido como foco um deste estudo por ser considerado um dos maiores produtores de

    biomedicamentos do mundo.

    Para o entendimento da dinmica nacional cabe analisar a conformao do setor produtivo

    brasileiro que utiliza a biotecnologia. Este primeiro captulo tambm aponta os motivos pelos

    quais a biotecnologia aplicada sade humana tornou-se estratgica para a economia e,

    conseqentemente, necessitou da criao de instrumentos governamentais para o seu

    desenvolvimento. A partir desses dados tm-se subsdios para a discusso sobre a adequao do

    atual ambiente institucional brasileiro que gravita em torno da biotecnologia voltada para a sade

    humana.

    1.1 CONCEITOS, CLASSIFICAES E SEGMENTOS DA BIOTECNOLOGIA

    A biotecnologia integra diversas reas da cincia, tais como a microbiologia, a engenharia

    gentica, a bioqumica, a informtica, entre outras, o que torna o seu desenvolvimento fortemente

    associado cincia bsica e dependente da integrao de mltiplas reas do conhecimento. A

    figura 1 explicita esse carter multidisciplinar da biotecnologia.

    Figura 1- Multidisciplinaridade da Biotecnologia Fonte: Villen (2004), Biotecnologia Histrico e Tendncias.

  • 20

    Devido amplitude de aplicaes, bem como a etimologia da palavra, existem dificuldades

    em definir o que biotecnologia, que j foi conceituada em vrios documentos oficiais e por

    diferentes estudiosos. No artigo 2 do Decreto n 2.519/1998, que Promulga a Conveno sobre

    Diversidade Biolgica, o termo biotecnologia significa:

    [...] qualquer aplicao tecnolgica que utilize sistemas biolgicos, organismos vivos, ou seus derivados, para fabricar ou modificar produtos ou processos para utilizao especfica. (BRASIL, 1998b).

    Convergindo com essa definio, Silveira, Dal Poz e Assad (p. 18, 2004) acrescentam que a

    biotecnologia pode tambm ser utilizada para a produo de servios e consideram, ainda, que:

    O termo biotecnologia se refere a um conjunto amplo de tecnologias utilizadas em diversos setores da economia e que tm em comum o uso de organismos vivos (ou partes deles, como clulas e molculas) para a produo de bens e servios.

    A definio presente no Decreto n. 6.041 de 08/02/2007, que institui a Poltica de

    Desenvolvimento da Biotecnologia (PDB) e cria o Comit Nacional de Biotecnologia (CNB),

    incorpora esses dois ltimos conceitos. Assim, biotecnologia definida como:

    Um conjunto de tecnologias que utilizam sistemas biolgicos, organismos vivos ou seus derivados para a produo ou modificao de produtos e processos para uso especfico, bem como para gerar novos servios de alto impacto em diversos segmentos industriais. (BRASIL, 2007).

    Por sua atualidade e presena em um documento oficial de ampla difuso nacional, a

    definio acima descrita ser a utilizada para o desenvolvimento deste trabalho. Ao adotar tal

    conceito inapropriado, portanto, caracterizar um conjunto de empresas que utilizam processos

    biotecnolgicos como um setor, pois essa tecnologia perpassa diversos setores econmicos, o que

    impacta em vrios segmentos industriais.

    Os processos biotecnolgicos utilizados em escala industrial so: a) a recombinao

    gentica, b) a fermentao e c) a purificao de protenas para a gerao de produtos, tais como,

    medicamentos, alimentos, enzimas. (ERNST & YOUNG, 2000 apud FUNDAO BIOMINAS,

    2001).

  • 21

    Considerando o nvel tecnolgico das aplicaes da biotecnologia, ela pode ser classificada

    em trs grupos:

    Biotecnologia clssica ou tradicional ou ainda de baixa complexidade: envolve

    basicamente fermentao de microorganismos, com ou sem modificao, por melhoramento

    gentico. Exemplos disso so as produes de biogs, de protenas microbiolgicas e as

    fermentaes mistas ou naturais, que exigem baixos investimentos e controle operacional

    simples, o que incorre na obteno de produtos de baixo valor agregado. (SILVEIRA; DAL POZ;

    ASSAD, 2004).

    Biotecnologia intermediria: utiliza tecnologias pouco complexas como, por exemplo,

    tcnicas de fermentao, preparados enzimticos, culturas de tecidos, dentre outras; exigindo

    investimentos moderados, embora o controle operacional possa ser sofisticado. Produtos gerados

    por este conjunto de tecnologia so de valor agregado intermedirio. (ANDRADE JNIOR,

    2001).

    Biotecnologia moderna: utiliza a tecnologia do ADN recombinante para a produo de

    substncias como, por exemplo, hormnios, anticorpos monoclonais, vacinas, biomedicamentos.

    (SILVEIRA, DAL POZ, ASSAD, 2004). Os produtos gerados por esta tecnologia so de alto

    valor agregado.

    A biotecnologia moderna iniciou-se na dcada de 1970 com o desenvolvimento da

    manipulao gentica, marcando o comeo de um novo paradigma tecnolgico. A biotecnologia

    clssica vem, cada vez mais, abrindo espao para os campos da biotecnologia moderna, na qual, a

    rea de maior destaque a engenharia gentica aplicada em animais, vegetais e seres humanos.

    (PIASCIK, 1991).

    1.2 DA GNESE CONFORMAO DA INDSTRIA DE BIOTECNOLOGIA

    As indstrias de bebidas, tais como as cervejarias, foram as pioneiras na utilizao da

    tecnologia de fermentao, que no final do sculo IX foi incrementada e difundida tanto nas

    indstrias de alimentos como na qumica. As aplicaes iniciais da biotecnologia na indstria

    qumica foram as produes de etanol e de amilase (enzima utilizada no tratamento txtil). Com a

  • 22

    I Guerra Mundial houve um aumento da demanda por solventes, tais como a acetona (utilizada na

    produo de explosivos), que impulsionou as pesquisas relacionadas tecnologia de fermentao.

    J no final da II Guerra Mundial a indstria farmacutica passou a utilizar tal tecnologia para a

    produo de antibiticos, sendo a descoberta da penicilina (1928) um fato marcante desse

    perodo. (ANCIES, CASSIOLATO, 1985).

    Segundo Santana (2004), entre o final da II Guerra Mundial e o incio dos anos 1970, houve

    uma queda nos investimentos voltados para a pesquisa de processos industriais biotecnolgicos.

    Isso se deve ao modelo energtico adotado no ps II Guerra Mundial baseado na utilizao de

    petrleo como combustvel e como fonte primria de outros produtos qumicos.

    Com a crise do petrleo na dcada de 1970, a biotecnologia foi considerada uma das

    alternativas para amenizar a dependncia da energia fssil e de derivados do petrleo, levando o

    setor produtivo a utiliz-la para a obteno de combustvel, principalmente o lcool. Martine e

    Castro (1985) afirmam, ainda, que a biotecnologia uma conseqncia da Revoluo Verde, pois

    a crise do petrleo daquele perodo afetou, tambm, a produo de fertilizantes, herbicidas e

    outros produtos qumicos utilizados na agricultura. Nesse contexto, com as manipulaes de

    material gentico e a criao de organismos geneticamente modificados, surgiu a biotecnologia

    moderna. (SANTANA, 2004).

    Nos Estados Unidos, concomitantemente ao incremento das tcnicas de engenharia

    gentica, surgiram as Novas Empresas de Biotecnologia (NEBs) que deram uma nova

    conformao e dinmica ao ambiente relacionado pesquisa em biotecnologia. Essas empresas

    so derivadas do modelo de arranjo institucional que surgiu h aproximadamente 50 anos, na

    regio do Vale do Silcio e da Rota 128.

    O modelo de arranjo institucional do Vale do Silcio foi tambm replicado com algumas

    adaptaes em outros pases, tais como, a Frana, a Gr Bretanha e a Alemanha como uma

    alternativa para promover um maior dinamismo econmico e tecnolgico. (GOMES, 2001).

    As NEBs possuem caractersticas marcantes, tais como o pequeno porte e alto grau de

    especializao. A maioria delas foi fundada por professores e pesquisadores que amadurecem o

  • 23

    conhecimento gerado nas universidades e o transformam em tecnologias e produtos transferveis

    para as grandes empresas. As NEBs se constituem, portanto, em uma importante conexo entre

    as empresas e o meio acadmico. (VALLE, 2005).

    A interao entre as NEBs e as grandes empresas configura uma estratgia inovadora no

    desenvolvimento da biotecnologia, que consiste na busca por novas tecnologias por meio do

    investimento dessas ltimas (grandes empresas) nas primeiras (NEBs). Aparentemente tal

    interao vantajosa para ambas, pois as NEBs alm de obter recursos financeiros adquirem

    condies mais favorveis de insero no mercado por meio das grandes empresas, facilitando,

    assim, o escoamento do fluxo de conhecimento gerado nos centros de pesquisa e universidades.

    Apesar de no visarem produo e comercializao de produtos em grande escala, as NEBs

    tm um foco comercial baseado na transferncia de novas tecnologias. As grandes empresas, por

    sua vez, aproveitam as competncias tcnico-cientficas altamente qualificadas das NEBs e

    transpem algumas etapas que poderiam ser dispendiosas no desenvolvimento de produtos

    inovadores. (VALLE, 2005).

    Observa-se, ento, a consolidao de uma estrutura de desenvolvimento de produtos

    baseada numa rede de relaes na qual se destacam: a) as pequenas e mdias empresas (NEBs);

    b) as grandes empresas do setor qumico e farmacutico, que absorvem novas tecnologias e s

    levam at o consumidor final; e c) a comunidade cientfica, que fundamental para a formao

    de recursos humanos e gerao de conhecimento bsico para obteno das inovaes.

    (SANTANA, 2004).

    No Quadro 1, pode ser observado o processo cumulativo das descobertas que propiciaram a

    evoluo da biotecnologia.

    Perodo Descobertas

    8000 a 6000 a.C Bebidas alcolicas (cervejas e vinhos) so produzidas por meio da fermentao de cereais, no Egito e na Babilnia. 1665 d.C Descoberta da existncia da clula por Robert Hooke (Inglaterra). 1675 Descoberta da bactria por Anton van Leewenhoek (Holanda). 1857 Os Princpios da fermentao microbiolgica so descritos por Pasteur.

    1833 a 1838 Primeira enzima isolada por Anselme Payen (Frana, 1833). Descoberta da protena por Jacob Berzelius (Sucia, 1838).

  • 24

    Perodo Descobertas 1865 Proclamada a Lei da Hereditariedade por Gregor Mendel (ustria). 1869 Descoberta do ADN por Friedrich Meischer (Alemanha). 1880 a 1910 Surgimento da fermentao industrial (cido lctico, etanol, vinagre).

    1910 a 1940 Sntese de glicerol, acetona e cido ctrico. 1940 a 1950 Antibiticos so produzidos em larga escala por processos fermentativos.

    1953 Descrio da estrutura helicoidal do ADN por James Watson e Francis Crick (Inglaterra).

    1970 a 1980

    Produo dos primeiros anticorpos monoclonais. Os genes de levedura so expressos na bactria E. coli. Primeira expresso do gene humano em bactrias. Patente relacionada clonagem de gene concedida a Cohen e Bayer. Surgimento das NEBs.

    1985 a 1989

    Produo da vacina recombinante contra hepatite C. Produo do Interferon (utilizado contra Cncer). Uso de microorganismos para a limpeza de derramamento de leo: tecnologia de biorremediao.

    1982 Insulina humana produzida em bactria geneticamente modificada aprovada pelo FDA (Eli Lilly e Genetech).

    1986 O Projeto Genoma Humano anunciado na Inglaterra. 1993 A somatotrofina aprovada para o aumento da produo de leite em vacas.

    1996 Nascimento da ovelha Dolly, criada por Ian Wilmut a partir de clulas de uma ovelha adulta.

    1997 Multiplicao em laboratrio de clulas-tronco embrionrias humanas obtidas de embries descartados por clnicas de fertilizao assistida.

    2001

    Concluso do seqenciamento do Genoma Humano, pelo Projeto Genoma e pela Celera. Seqenciamento do Genoma da Xylella fastidiosa e da Xanthomonas citri (Brasil). Nascimento da bezerra Vitria, clone animal desenvolvido pela EMBRAPA (Brasil).

    Quadro 1 - Principais descobertas que propiciaram o desenvolvimento da Biotecnologia. Fontes: Elaborado pela autora a partir dos dados de ANCIES e CASSIOLATO (1985), SANTANA (2004), VILLEN (2007), MARQUES (2007).

    1.3 DINMICA DA BIOTECNOLOGIA

    A anlise da dinmica internacional refora o carter estratgico da biotecnologia e d

    alguns indicativos de como poderiam ser os investimentos governamentais para essa rea. A

    caracterizao do mercado nacional descreve como as empresas esto se desenvolvendo e

    revelam possveis lacunas nas quais o governo poderia atuar.

  • 25

    Assim, nos prximos subitens, sero feitas algumas consideraes sobre a dinmica

    internacional e nacional da biotecnologia.

    1.3.1. Dinmica Internacional

    A biotecnologia vem se consolidando no mercado internacional e crescendo rapidamente,

    sendo que de 1993 para 1999 mais que dobrou de tamanho. As receitas da indstria

    biotecnolgica passaram nesse perodo de US$ 8 bilhes, para US$ 20 bilhes. J o volume total

    de negcios gerados no ano de 2000 foi de aproximadamente US$ 47 bilhes. (ERNST &

    YOUNG, 2000 apud SANTANA, 2004).

    O mercado farmacutico internacional dispe de aproximadamente 370 biomedicamentos,

    175 destes so voltadas para o tratamento de cncer e os demais se distribuem entre os

    biomedicamentos voltados para o tratamento de doenas infecciosas, auto-imune, Human

    Immunodeficiency Virus (HIV), dentre outras aplicaes. Na tabela 1, podem ser observadas as

    principais classes de biomedicamentos (excluindo as vacinas), alm da representatividade dos

    produtos em relao s vendas de 2006. (MARQUES, 2007).

    Tabela 1 - Representatividade dos biomedicamentos em vendas (U$S)

    Classe de produtos Vendas em

    2006 (bilhes US$)

    Produtos

    Eritropoetina 11,94 Aranesp, Procrit, Eprex, Epogen, Neo-Rermon, ESPO

    Principais anticorpos contra

    cncer 10,62 Rituxan/Mabthera, Herceptin, Avastin, Erbitux, Vectibix

    Anticorpos anti-TNF 10,28 Enbrel, Remicade, Humira

    Insulinas e anlogos de

    insulinas 8,97

    Humalog, Humulin, Lantus, Levemir, Novorapid,

    Actrapid, Novolin

    Fatores recombinantes de

    coagulao 4,71

    Novoseven, Kogenate, Helixate, Refacto, Advate,

    Benefix

    Interferon beta 4,40 Rebif, Avonex, Betaseron

    Filgrastina 4,36 Neulasta, Neupogen, Neutrogin, GRAN

  • 26

    Classe de produtos Vendas em

    2006 (bilhes US$)

    Produtos

    Hormnio de crescimento 2,47 Genotropin, Norditropin, Humatrope, Nutropin, Saizen,

    Serostim

    Interferon alfa 2,26 Pegasys, Peg-Intron, Intron A

    Enzima repositora 1,71 Cerezyme, Febrazyme, Aldurazyme, Myozyme,

    Replagal, Neglazyme, Elaprase

    Anticorpo antiviral 1,1 Synagis

    Hormnios estimulantes de

    folculos 1,04 Gonal-F, Puregon

    Total 63,86

    Fonte: La Merie Busness Intelligence (2007) apud Marques (2007).

    As vendas de 2006 demonstram que o mercado de biomedicamentos apresenta-se

    promissor. Numa anlise realizada por Pisano (2006) observa-se que no perodo compreendido

    entre 1975 e 2004 a receita bruta declarada pelas empresas de biotecnologia cresceu

    exponencialmente (como esperado, considerando o padro das indstrias emergentes).

    Outro fator que favorece a indstria de biomedicamentos a crise que vem sendo

    enfrentada pela indstria farmacutica baseada nos farmoqumicos. Pisano (2006), ao descrever a

    crise de produtividade da indstria farmacutica, afirma que os investimentos em P&D dessas

    empresas tm aumentado nos ltimos quinze anos, mas a taxa de inovao dos farmoqumico tem

    cado, o que sugere que as grandes empresas farmacuticas, ao longo dos ltimos anos, esto

    gastando mais e recebendo um retorno menor sobre o que foi investido. Diante disso, alguns

    observadores do mercado concluem que a biotecnologia seria um caminho alternativo. Esses

    mesmos observadores afirmam, ainda, que as grandes empresas farmacuticas deveriam se

    focalizar no marketing e terceirizar seus investimentos em P&D junto s pequenas empresas de

    biotecnologia.

    Mowery e Rosemberg, por sua vez, afirmam que na indstria, de uma forma geral, os

    contratos para a terceirizao de P&D diminuram nos Estados Unidos durante a primeira metade

    do sculo XX. Alm disso, as empresas no deixaram de ter P&D interno, sendo que esse e o

  • 27

    contratado so complementares.

    A razo para tal diminuio pode ser explicada por Freeman e Soete (1997) que observa

    que at mesmo a separao no organograma das empresas em departamentos especializados

    voltados para P&D, para produo e para o marketing pode dar origem a grandes problemas de

    coordenao. Ento, pressupe-se a que a separao da P&D e do marketing das empresas

    demandaria muito mais esforo para a integrao das atividades realizadas na busca por

    inovaes.

    Pisano (2006) alerta que a produtividade entre as grandes empresas farmacuticas que

    utilizam a rota farmoqumica e aquelas que utilizam a rota biotecnolgica praticamente a

    mesma. Para alguns, isso significa que o boom de produtividade esperado pelas empresas de

    biotecnologia no havia chegado. Mesmo assim, as empresas de biotecnologia tm atrado novos

    investimentos. Outro fator a ser considerado em uma anlise mais aprofundada sobre a

    produtividade dessas empresas o grau de experincia em pesquisa, adquirido ao longo dos anos,

    utilizando a rota farmoqumica, em relao s recentes experincias com a biotecnologia.

    Uma das estratgias adotad as pelas grandes indstrias farmacuticas para potencializar a

    rentabilidade e o poder de investimentos em P&D foram as fuses e as aquisies de empresas.

    Tal estratgia tambm utilizada para a expanso e dominao do mercado. O movimento das

    fuses e aquisies de empresas iniciou-se em 1980 e uma tendncia mundial.

    As principais fuses e aquisies entre empresas de grande porte ocorridas, no setor

    farmacutico, nos anos de 2004 e 2005, esto descritas no quadro 2.

    Empresas Origem do Capital

    Operao Origem do Capital

    Abbot/EAS EUA Abbot adquiriu a EAS. EUA

    Abbot/TheraSense EUA Abbot concluiu a aquisio da TheraSense. EUA

    AGT Biosciences/ChemGenex Therapeutics

    Austrlia/EUA A fuso gerou uma nova empresa: a ChemGenex Pharmaceuticals.

    Austrlia/EUA

    Amgen/Tularik EUA Amgen adquiriu a Tularik. EUA Aventis/Sanofi-Synthelabo Frana/Alemanha

    A fuso gerou uma nova empresa: a Sanofi-Aventis. Frana/Alemanha

  • 28

    Empresas Origem do Capital

    Operao Origem do Capital

    Lilly/Applied Molecular Evolution EUA

    Lilly adquiriu a Applied Molecular Evolution. EUA

    Merck &Co/Aton Pharma EUA Merck adquiriu a Aton. EUA

    Bristol Myers Squibb/Acordis EUA

    Bristol Myers Squibb adquiriu a Acordis. EUA

    Mitsubishi Pharma/Green Cross Guangzhou

    Japo/China

    Mitsubishi Pharma adquiriu o controle total de sua joint venture com a Green Cross Guangzhou.

    Japo

    Fujisawa/Yamanouchi Japo A fuso gerou uma nova empresa: Astellas Pharma. Japo

    Ach/Biosinttica Brasil Ach adquiriu a Biosinttica. Brasil Biolab/Sintefina Brasil Biolab adquiriu a Sintefina. Brasil Libbs/Mayne Pharma do Brasil Brasil/Austrlia Libbs adquiriu a Mayne. Brasil

    Quadro 2 Casos de Fuses e Aquisies da Indstria Farmacutica Mundial e Brasileira 2004 e 2005.

    Fonte: Capanema, 2006, p. 197.

    Diante do que foi apresentado infere-se que a biotecnologia vem ganhando espao no

    mercado internacional farmacutico, mesmo que essa tecnologia no tenha dado o salto de

    produtividade esperado pelos investidores. No setor farmacutico, a ela vem sendo considerada

    como uma alternativa, apesar de ainda no haver consenso sobre o melhor arranjo de P&D das

    empresas (interno ou terceirizado) para a obteno de inovaes. A observao emprica indica

    que as fuses so uma tendncia e isso tem mudado o cenrio do mercado farmacutico mundial.

    1.3.2. Dinmica Nacional

    Comparando os indicadores da biotecnologia norte-americana com a brasileira observa-se

    que a biotecnologia brasileira ainda pouco representativa em termos econmicos.

    Tabela 2 Indicadores da Biotecnologia Norte-Americana X Biotecnologia Brasileira.

    Indicador EUA Brasil

    Nmero de empresas 1.457 304*

    Faturamento (US$) 28,5 bilhes 3,9 bilhes

  • 29

    Indicador EUA Brasil

    Nmero de empregos 191.000 27.825

    Investimento em P&D (US$) 15,7 bilhes N/D

    Investimento de Capital de

    Risco 31% das empresas 3% das empresas

    Fonte: Elaborado a partir das informaes da BIO, Editor's and Report's Guide apud FUNDAO BIOMINAS, 2001. *Este nmero inclui todas as empresas da cadeia produtiva da biotecnologia voltada para a sade humana, materiais, agropecuria e meio ambiente.

    Outro aspecto peculiar do Brasil so os gastos executados pelo MS para suprir o programa

    de assistncia farmacutica, sendo que em 2005 eles somaram um montante de R$ 1,8 bilhes,

    em 2005, e R$ 3 bilhes, em 2007. No que se refere s importaes de medicamentos, vacinas e

    hemoderivados, o dficit da balana comercial desses produtos chegou a US$ 2,04 bilhes, em

    2005. Especificamente sobre biomedicamentos o mercado brasileiro praticamente dominado

    por multinacionais. A tabela 3 apresenta o valor das importaes dos dez biomedicamentos mais

    consumidos no Brasil no ano de 2004.

    Tabela 3- Importao de biomedicamentos no Brasil em 2004.

    Produto US$ FOB (2004) Vacina contra rubola, sarampo e caxumba 55.540.434,00

    Interferon Alfa 42.872.083,33

    Vacina contra gripe 33.889.454,00

    Fator VIII 28.722.028,85

    Interferon Beta 17.179.937,06

    Mabthera 16.697.212,00

    Herceptin 12.396.064,78

    Total 207.297.214,02

    Fonte: Dados adaptados de Antunes (2006), p.15.

    A patente de alguns desses medicamentos, tais como o inteferon alfa e o interferon beta,

    caiu no domnio pblico. Isso significa que o Brasil poderia estar nacionalizando a produo

    desses medicamentos, o que contribuiria para a absoro de tecnologia, capacitao de recursos

    humanos e diminuio do dficit da balana comercial.

  • 30

    A dependncia do Brasil na importao dos biomedicamentos acima mencionados deixa o

    sistema de sade vulnervel frente s mudanas do mercado internacional, principalmente no que

    se refere aos preos praticados pelas multinacionais.

    O Brasil dependente no apenas de produtos biotecnolgicos finais, mas tambm de

    reagentes e toxinas necessrias para o desenvolvimento da biotecnologia. Isso revela um elo fraco

    da cadeia produtiva de biomedicamentos, alm de caracterizar a ausncia de complementaridade

    das atividades de biotecnologia no pas. (SILVEIRA, FONSECA, DAL POZ, 2004). O quadro 3

    apresenta os insumos consumidos por Bio-Manguinhos para a realizao de atividades de P&D

    em biotecnologia so originados principalmente dos Estados Unidos e Europa.

    Origem dos insumos Estados Unidos Europa e Estados Unidos

    - Enzimas modificadas - Enzimas de DNA-Ligase - Protenas Recombinantes - Oligo-nucleotdeos

    - Anticorpos Monoclonais - Plasmdeos - sistemas de expresso - Interleucinas - Antibiticos e meios de cultura

    - Resinas cromatogrficas para purificao

    - Corantes e reagentes qumicos diversos. Quadro 3 Bio-Maguinhos: Origem dos Insumos Fonte: Bio - Manguinhos apud SILVEIRA, FONSECA, DAL POZ, 2004, p. 138.

    Conforme apresentado anteriormente, existe um mercado brasileiro demandante de insumos e

    de produtos biotecnolgicos. Assim, para a elaborao de uma efetiva estratgia de

    desenvolvimento da biotecnologia brasileira deveria levar em considerao as vantagens e

    desvantagens para o Sistema nico de Sade (SUS) em continuar importando tais produtos. Seria

    importante uma definio sobre os produtos que o pas pretende continuar importando, ou

    produzir internamente como resultado do uso de tecnologia endgena; ou ainda produzir

    internamente com transferncia de tecnologia.

    1.3.2.1. Laboratrios pblicos de produo

    Para Silveira, Fonseca e Dal Poz (2004), outro fator marcante do mercado brasileiro de

    biotecnologia a presena de laboratrios produtores pblicos. O Sistema nico de Sade (SUS)

  • 31

    integra uma rede de 18 laboratrios farmacuticos pblicos, os chamados Laboratrios

    Oficiais, entretanto, somente trs laboratrios da rede pblica comercializam biomedicamentos.

    Sendo eles o Bio - Manguinhos, o Instituto Butantan e o Instituto de Tecnologia do Paran

    (Tecpar). Esses laboratrios esto iniciando o processo de transferncia de tecnologia para a

    produo de alguns biomedicamentos obtidos a partir da biotecnologia moderna. Sendo que

    outros biomedicamentos so apenas importados e envasados e ainda h o caso de vacinas cujas

    etapas de produo so praticamente 100% nacionais.

    Bio - Manguinhos

    Bio - Manguinhos o maior fabricante brasileiro de vacinas, responsvel por mais de 40%

    da produo nacional de doses de vacinas. Sendo que de acordo com o seu Relatrio de

    Atividades6, em 2006, esse laboratrio forneceu aproximadamente 70.500 mil doses de vacinas

    para o SUS. O restante do mercado nacional (quase 60%) abastecido por vacinas importadas.

    Com a pr-qualificao do sistema de produo pela Organizao Mundial de Sade

    (OMS), Bio Manguinhos passou tambm a fornecer a vacina contra febre amarela para mais de

    60 pases. Esse laboratrio tem capacidade para produzir aproximadamente 300 milhes de doses

    de vacinas por ano. Alm de contar com uma infra-estrutura para o desenvolvimento de projetos

    de P&D. (INSTITUTO DE TECNOLOGIA EM IMUNOBIOLGICOS - BIO

    MANGUINHOS, 2007).

    Instituto Butantan

    Soros, vacinas, surfactantes e anatoxinas so os principais produtos do Instituto Butantan.

    No foram encontrados, dados atualizados sobre a produo desse instituto, entretanto, sabe-se

    que a capacidade produtiva para a vacina recombinante contra a Hepatite Tipo B, por exemplo,

    pode chegar a aproximadamente 50 milhes de doses por ano.7

    6 Bio-Manguinhos: Relatrio de Atividades, 2006. Disponvel em: Acesso em: 20 mar. 2008. 7 Fonte: Site do Butantan. Disponvel em: Acesso em: 20 mar.2008.

  • 32

    Segundo informaes presentes no site do Butatan, aquele instituto possui um Centro de

    Biotecnologia que realiza pesquisas com recursos provenientes da comercializao de produtos.

    Atualmente, esse centro possui linhas de pesquisas voltadas para a obteno de eritropoetina

    humana recombinante8 e anticorpos monoclonais9.

    Tecpar

    Apesar da especialidade do Tecpar ser a produo de vacinas animais, esse laboratrio

    tambm produz vacinas para o consumo humano. Com o Instituto Butantan o Tecpar produz a

    vacina trplice, uma parceria que propicia a capacitao de ambos os laboratrios sendo o Tecpar

    responsvel por parte da fase de produo e o Butantan pelo desenvolvimento (o Butantan

    encaminha o produto semi-elaborado para a instituio paranaense que realiza o envase).

    (SILVEIRA, FONSECA, DAL POZ, 2004)

    Na literatura e bancos de dados consultados, no foram encontrados dados atuais sobre a

    produo de biomedicamentos do Tecpar.

    Incubadoras de empresas de base biotecnolgica10

    Oliveira (2003) afirma que as incubadoras de empresas brasileiras so oriundas do modelo

    8 Eritropoetina humana: um hormnio natural glicoprotico sintetizado principalmente em clulas epiteliais especficas que revestem os capilares peritubulares renais. No Brasil, a protena utilizada como medicamento denominada alfaepoetina, de acordo com a Denominao Comum Brasileira (DCB). A alfaepoetina contm 165 aminocidos e obtida por tecnologia de DNA recombinante. A eritropoetina o principal regulador da eritropoese, que o processo de formao das hemcias ou clulas vermelhas do sangue. Ela age estimulando a mitose e a diferenciao celular das clulas progenitoras das hemcias, conhecidas como eritrides. A produo das hemcias estimulada por hipxia (baixo nvel de oxignio nas clulas). Fonte: Site de Bio-Manguinhos. Disponvel em Acesso em 20mar.2008. 9 Anticorpos monoclonais: so protenas produzidas para detectar ou combater antgenos especficos no organismo. So utilizados no Brasil, principalmente, como reagentes para diagnstico, mas, no mundo, seu uso em terapia est se difundindo promissoramente. Os anticorpos monoclonais podem ser usados em inmeros processos tecnolgicos como, por exemplo, vacinas, purificao de antgenos, terapia anti-cncer, artrites reumatides e como componentes em kits para diagnstico de inmeras doenas. Fonte: Site de Bio-Manguinhos. Disponvel em Acesso em 20mar.2008. 10 Incubadora de empresas de base tecnolgica aquela que abriga empresas cujos produtos, processos ou servios resultam de pesquisa cientfica, para os quais a tecnologia representa valor agregado. Abriga empreendimentos nas reas de informtica, biotecnologia, qumica fina, mecnica de preciso e novos materiais. Distingue-se da Incubadora de Negcios por abrigar exclusivamente empreendimentos oriundos de pesquisa cientfica. Fonte: Site do MCT. Disponvel em: < http://www.venturecapital.gov.br/vcn/f_CR.asp> Acesso em: 21 mar. 2008.

  • 33

    linear de inovao tecnolgica11, no qual a pesquisa bsica impulsionaria a pesquisa aplicada e

    conseqentemente o desenvolvimento, a produo e a inovao tanto de processos como de

    produtos.

    Tendo esse modelo como referncia, foram implantadas, na dcada de 1980, no Brasil, as

    incubadoras de empresas que contaram com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento

    Cientfico e Tecnolgico (CNPq) e da agncia Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP).

    Posteriormente, foi criada a Associao Nacional de Entidades Promotora de Empreendimentos

    de Tecnologia Avanada (ANPROTEC) para propiciar a articulao com o governo e buscando o

    desenvolvimento de Incubadoras e Parques Tecnolgicos. (OLIVEIRA, 2003)

    No Brasil, h uma concentrao maior de incubadoras voltadas para o desenvolvimento da

    biotecnologia nas Regies Sul e Sudeste. Vale destacar pelo menos as principais incubadoras

    voltadas para a biotecnologia que so: a Fundao Biominas, a Fundao BioRio e a Fundao

    Instituto Plo Avanado de Sade de Ribeiro Preto (Fipase). Algumas destas incubadoras so

    organizaes de carter pblico/privado com o gerenciamento privado e sem fins lucrativos,

    outras so instituies pblicas gerenciadas por universidades. (SANTANA, 2004).

    Segundo estudo da Fundao Biominas (2007) a maioria das empresas brasileiras de base

    biotecnolgica relativamente jovem, o que sugere o crescimento do setor: 1/4 foi fundada a

    partir de 2005, 1/2 foi fundada a partir de 2002 e 3/4 do total da amostra tem no mximo 10 anos

    de idade. Do total de empresas, 75% so de micro e pequenas, apresentando um faturamento

    anual de no mximo R$ 1 milho por ano. A maior parte da empresas se concentra na regio

    Sudeste sendo que em Minas Gerais encontram-se 29,6% e So Paulo 42,3%.

    Aproximadamente 41,67% do total das empresas incubadas analisadas, no estudo acima

    mencionado, realizam atividades relacionadas biotecnologia voltada para a sade humana,

    11 Em 1944, Franklin D. Roosevelt solicitou a Vanner Bush, seu diretor do Office Scientific Research an Development (OSRD), que prevesse o papel da cincia em tempo de paz. Ento Bush apresentou o relatrio, Science, the Endless Frontier, instituindo uma viso da cincia bsica e de sua relao com a inovao tecnolgica. Esta viso tornou-se o alicerce da poltica cientfica americana nas dcadas posteriores guerra e elas consistem na premissa de que a pesquisa bsica realizada sem se pensar em fins prticos e precursora do desenvolvimento tecnolgico. (STOKES, p. 17, 2005)

  • 34

    sendo que 33,3% delas possuem at 2 anos de idade e somente 8,3 possuem mais de 15 anos.

    (FUNDAO BIOMINAS, 2007).

    Segundo Silveira, Fonseca e Dal Poz (2004) um pequeno nmero de empresas incubadas

    realiza atividades relacionadas biotecnologia moderna voltada para a sade humana. Outro fator

    a ser ressaltado refere-se disperso das empresas incubadas em relao ao setor produtivo e ao

    Sistema de C&T. Sintomas disso so a integrao e a complementaridade na realizao de

    atividades de P&D ainda incipiente, conforme descrito no item a seguir.

    As interaes e as estratgias do setor produtivo

    Uma possvel explicao para a pouca interao das indstrias farmacuticas privadas

    nacionais, de mdio e grande porte, com as empresas incubadas, seria o fato das primeiras

    realizarem somente a fase final da produo biotecnolgica, o chamado envase. Aparentemente, a

    interao existente entre as empresas incubadas e as grandes empresas brasileiras nem sempre

    visam o desenvolvimento tecnolgico, mas sim a assistncia tcnica especializada ou a anlise

    voltada para a melhoria de produtos e processos. Isso poderia diferenciar o cenrio brasileiro do

    modelo norte americano que utiliza da sinergia gerada com as atividades industriais e de pesquisa

    para a atrao de investimentos e a obteno de inovaes.

    Por outro lado, nos ltimos quatro anos observa-se um aumento significativo do nmero de

    contratos de aquisio e transferncia de tecnologia firmado entre empresas nacionais e

    estrangeiras para a produo biotecnolgica na rea farmacutica. Dentre essas empresas

    destacam-se a Eurofarma, a Cristlia, a Blausegl, a Ach e a Farmasa. As empresas pblicas

    tambm tm optado por essa estratgia de transferncia de tecnologia, conforme pode ser

    observado no Quadro 4.

    Produtos Empresas receptora/ Empresa transferidora Insulina Humana Farmanguinhos/Novo Nordisk

    Interferon Alfa Bio - Manguinhos/Centro de Imunologia Molecular e Centro de Engenharia Gentica e Biotecnologia

    Vacina Contra Haemophilius Influenza Tipo B Bio Manguinhos/Glaxo Smithkline

  • 35

    Produtos Empresas receptora/ Empresa transferidora

    Vacina contra Rubola, Sarampo e Caxumba Bio Manguinhos/Glaxo Smithkline

    Vacina contra Hepatite B Butantan/Glaxo Smithkline Quadro 4 Transferncia de Tecnologias para a produo de biomedicamentos, vacinas e hemoderivados, no Brasil. Fonte: Elaborado a partir das informaes de Buss (2005) e Antunes (2006).

    Esses contratos de transferncia de tecnologia so vias estratgicas para a aquisio de

    novas tecnologias desenvolvidas externamente, evitando assim as dificuldades e os riscos

    inerentes ao processo de desenvolvimento de produtos inovadores.

    Baseado no que foi descrito acima, pode-se inferir que o Brasil fortemente dependente da

    importao de biomedicamentos, o que tem impactado na balana comercial do pas. Entretanto,

    as indstrias nacionais privadas tm despertado o interesse para o investimento em biotecnologia.

    Esse interesse evidenciado pelo nmero de contratos de transferncia de tecnologia, o que

    caracteriza uma estratgia oportunista da indstria nacional que tem buscado iniciar a produo

    de biomedicamentos com tecnologias presentes no mercado. Os laboratrios pblicos tambm

    tm avanado na rea de biotecnologia, destacando-se, principalmente, a atuao do Bio -

    Manguinhos, do Butantan e do Tecpar.

    Embora haja a expectativa de que as empresas incubadas desenvolvam tecnologias para o

    processo de inovao em biotecnologia, elas parecem estar dispersas. Na literatura consultada

    no foram encontrados dados sobre contratos de transferncia de tecnologia firmados entre

    empresas de base biotecnolgica nacional e as indstrias farmacuticas de grande e mdio porte.

    possvel inferir que com a consolidao da Rede Nacional de Biotecnologia pelo menos seja

    minimizada a disperso das empresas incubadas com a disponibilizao de informaes

    sistematizadas sobre a oferta de seus servios.

    As empresas de biotecnologia so recentes e seus arranjos ainda no esto consolidados, o

    que representa uma janela de oportunidades para o Brasil. O aproveitamento dessas

    possibilidades depende em parte do capital privado e de instrumentos governamentais que

    favoream o desenvolvimento da biotecnologia, que demanda um alto investimento em longo

  • 36

    prazo e por sua vez requer o estmulo criao de fundos de capital de risco12.

    O movimento das fuses tambm tem influenciado o mercado brasileiro e o governo est

    financiando as fuses de empresas nacionais. Isso porque muitas fuses internacionais podero

    dificultar a entrada do Brasil no mercado internacional de biomedicamentos nos prximos anos.

    Diante disso e visando o fortalecimento e a competitividade da indstria farmacutica nacional, o

    Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES) financiou a Ach na

    aquisio do Laboratrio Biosinttica, ambas so empresas de grande porte. Os recursos para a

    realizao de fuses e aquisies de empresas provm do Programa ao Desenvolvimento da

    Indstria Farmacutica (Profarma) que operacionalizado por meio de emprstimos. Segundo

    Capanema (2006), do total das operaes financiadas pelo Profarma, entre 2004 e 2005,

    aproximadamente R$ 334 milhes foram destinados s fuses e aquisies de empresas

    nacionais.

    Os dados sobre o mercado brasileiro de biotecnologia so pouco acessveis. Entretanto,

    essas informaes so importantes para a criao e a avaliao dos instrumentos governamentais

    que impulsionam o desenvolvimento da biotecnologia no Brasil.

    12 Fundo de capital de risco - Alternativa de investimento financeiro em empresas nascentes com alto potencial de crescimento e em empresas de risco. Fonte: Site do MCT. Disponvel em: < http://www.venturecapital.gov.br/vcn/f_CR.asp> Acesso em: 21 mar. 2008.

  • 37

    2 O AMBIENTE INSTITUCIONAL BRASILEIRO PARA BIOTECNOLOGIA 13

    Analisando a histria, Prez (1989) afirma que nos perodos de transio tecnolgica existe

    uma maior probabilidade para os pases emergentes alcanarem os pases lderes e at mesmo

    super-los. Os casos da Alemanha e dos Estados Unidos frente supremacia da Gr-Bretanha, no

    incio do sculo passado, ilustram essa afirmativa, pois eles assimilaram de forma mais rpida e

    direta as novas tecnologias em siderurgia, qumica e eletricidade. Isso foi combinado com uma

    srie de inovaes que mudaram a organizao das empresas, do sistema financeiro e creditcio,

    bem como a capacitao dos recursos humanos. A autora tambm cita o caso do Japo que

    ganhou competitividade por meio de um plano nacional que articulava a ao de instituies

    impulsionadoras ao desenvolvimento tecnolgico.

    Ainda segundo Prez (1989), os pases lderes, normalmente, tm um maior

    comprometimento com o antigo paradigma tecnolgico, o que provoca certa inrcia no rearranjo

    institucional para a adequao frente s novas tecnologias, ao passo que os pases emergentes, se

    bem preparados, absorvem essas novas tecnologias com maior agilidade. Alm disso, nesses

    perodos os novos e antigos conhecimentos necessrios para impulsionar o desenvolvimento

    tecnolgico esto mais acessveis.

    Essa possibilidade de desenvolvimento para os pases emergentes denominada por Perez

    (1989) como janelas de oportunidades, que podem ser perdidas se no forem criadas

    instituies capazes de aproveit-las. Segundo essa mesma autora, para o aproveitamento das

    janelas de oportunidades abertas para os pases emergentes com os novos paradigmas tcnico-

    econmicos, tais como a microeletrnica e a biotecnologia, preciso uma reestruturao

    competitiva do ambiente institucional.

    Nessa perspectiva, observa-se que desde a dcada de 1980 at os dias atuais, vem

    ocorrendo uma mobilizao das empresas, do meio acadmico e dos gestores pblicos para a

    promoo do desenvolvimento da biotecnologia por meio de instrumentos governamentais. As

    13 Para este trabalho, entende-se como ambiente institucional a interao que ocorre entre as instituies que gravitam em torno da biotecnologia.

  • 38

    aes de incentivo s atividades cientficas e tecnolgicas no campo da biotecnologia, so

    evidenciadas no passado recente pelo Programa para o Apoio ao Desenvolvimento Cientfico e

    Tecnolgico (PADCT), e mais recentemente pelo Programa de Biotecnologia e Recursos

    Genticos (PB&RG) do Ministrio da Cincia e Tecnologia (MCT), Fundos Setoriais, Poltica

    Industrial Tecnolgica e de Comrcio Exterior (PITCE) e Poltica de Desenvolvimento da

    Biotecnologia (PDB).

    Assim, com o objetivo de observar a dinmica institucional que gravita em torno da

    biotecnologia, este captulo discute o processo de institucionalizao da biotecnologia no Sistema

    de C&T. Considera-se que tal anlise possibilita a compreenso do atual contexto institucional,

    destacando as questes relacionadas ao marco regulatrio, s polticas, aos programas

    governamentais e aos fundos setoriais que so determinantes no desenvolvimento da

    biotecnologia.

    2.1 A INSTITUCIONALIZAO DA BIOTECNOLOGIA NO SISTEMA DE C&T BRASILEIRO

    A biotecnologia inseriu-se no Sistema de C&T na dcada de 1970. Neste perodo, as

    polticas e programas de C&T, que pretendiam induzir o desenvolvimento da biotecnologia, eram

    voltados para a capacitao de recursos humanos e a infra-estrutura, com a instalao de

    institutos pblicos de pesquisa, especificamente, para os segmentos de agropecuria e sade

    humana. (BRASIL, 1998).

    Auclio e Pret de Santana (2006), apontam que o Programa de Doenas Endmicas

    (PIDE) e o Programa Integrado de Gentica (PIGE) foram os pioneiros na introduo da

    biotecnologia na agenda do governo. Sendo que o PIDE visava capacitao de recursos

    humanos em reas bsicas, tais com, bioqumica, biologia molecular, entre outras. O PIGE

    buscava ampliar e fortalecer a base de conhecimentos em gentica. Os documentos bsicos, bem

    como outros dados sobre os resultados desses programas no foram encontrados na literatura

    consultada.

    Nas dcadas de 1980 e 1990 a interveno pblica para o desenvolvimento de C&T

    voltados para a biotecnologia ocorreu na forma de apoio financeiro a projetos, num contexto de

  • 39

    alta inflao. A situao econmica do pas provocou um distanciamento entre os investimentos

    governamentais em C&T e a utilizao dos mesmos pelo setor privado. Contrariando a

    expectativa que se tinha, o progresso cientfico no foi traduzido em inovaes, nem mesmo em

    aumento do nmero de solicitaes de patentes brasileiras. (BRASIL, 1998).

    O Programa Nacional de Biotecnologia Pronab foi formulado nesse perodo e foi

    conduzido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq) e pela

    Financiadora de Estudo e Projetos FINEP. Esse programa consistia, basicamente, em

    investimentos pblicos para o apoio a grupos universitrios de pesquisa em reas biolgicas.

    Uma das aes apoiadas por esse programa foi o Prolcool. (ANCIES; CASSIOLATO, 1985).

    Nesse perodo, foram tambm criados o Programa de Apoio Cientfico e Tecnolgico (PADCT),

    o Programa de Capacitao de Recursos Humanos para Atividades Estratgicas (RHAE).

    A Constituio Federal (CF) de 1988 foi um marco determinante que se desdobrou na

    definio do marco jurdico que hoje impacta no desenvolvimento da biotecnologia. Nesse

    perodo, com o impulso da Eco 92, surgiram tambm as primeiras legislaes voltadas para a

    regulamentao das atividades relacionadas biotecnologia no Brasil.

    Na dcada de 1990 destaca-se a criao da Comisso Tcnica Nacional de Biossegurana

    (CTNBio), que tem como atribuies a implementao da Poltica Nacional de Biossegurana e o

    Cdigo de tica de Manipulaes Genticas. A CTNBio tambm responsvel por classificar os

    organismos geneticamente modificados considerando o grau de risco, analisar projetos

    relacionados a transgnicos e emitir pareceres tcnicos, bem como fiscalizar o desenvolvimento

    desses projetos. Essa comisso foi criada em 1995 e composta por titulares e suplentes

    representando os ministrios relacionados ao tema e por especialistas de notrio saber cientfico e

    tcnico.

    De 2000 a 2007 houve uma intensificao das aes governamentais voltadas para a

    biotecnologia com a criao do Programa de Biotecnologia e de Recursos Genticos, dos Fundos

    Setoriais de Biotecnologia e de Sade, o lanamento, em 2004, da Poltica Industrial Tecnolgica

    e de Comrcio Exterior (PITCE); do Frum de Competitividade em Biotecnologia, em 2004; da

    Rede Nordeste de Biotecnologia (RENORBIO), em 2006; da Poltica de Desenvolvimento da

  • 40

    Biotecnologia (2007); e do Comit Nacional de Biotecnologia, em 2007.

    Considerando que a institucionalizao da biotecnologia se deu principalmente por meio do

    marco regulatrio, das polticas, dos programas pblicos e dos fundos setoriais, estes temas sero

    detalhados e discutidos nos prximos itens deste Captulo, buscando tambm identificar os

    principais gargalos na implementao dos mesmos.

    O Quadro 5 apresenta um panorama resumido dos principais marcos da institucionalizao

    da biotecnologia no Sistema de C&T brasileiro.

    Dcada 70

    Contexto poltico e econmico:

    Regime Militar.

    Crescimento econmico.

    Clima de desconfiana entre governo e comunidade cientfica devido ao regime militar.

    Esforo intensivo do Estado para o desenvolvimento de C&T.

    Polticas e programas voltados para a formao de RH e estabelecimento de infra-estrutura, principalmente para as reas de sade e agropecuria.

    Crise do petrleo.

    Instrumentos governamentais federais:

    Programa de Doenas Endmicas PIDE.

    Programa Integrado de Gentica PIGE.

    Pr-lcool (1975).

    Lei n 6.360, de 23/09/1976, que dispe sobre a vigilncia sanitria a que ficam sujeitos os medicamentos, as drogas, os insumos farmacuticos e correlatos, cosmticos, saneantes e outros produtos.

    Dcada 80

    Contexto poltico e econmico:

    Transio entre o regime militar e a Nova Repblica (1985-1990).

    Na Constituio de 1988 os diretos a sade, ao meio ambiente ecologicamente equilibrado foram garantidos.

    Alta inflao e instabilidade poltica.

    Distanciamento entre os investimentos em C&T governamentais e as demandas do setor privado.

    Abertura da economia e competio tecnolgica dos produtos nacionais com produtos

  • 41

    Dcada 80 importados.

    A interveno pblica para o desenvolvimento de C&T voltados para a biotecnologia ocorreu na forma de projetos que visam participao do setor produtivo.

    Definio de setores priorizados.

    Regulamentao em Biossegurana.

    Instrumentos governamentais federais:

    PRONAB (1981).

    PADCT (1984).

    CTNBio (1995).

    RHAE (1987).

    Fatos marcantes:

    Criao do Ministrio da Cincia e Tecnologia (1985).

    Criao da Associao Brasileira da Empresas de Biotecnologia - ABRABI (1986). Criao da Fundao Bio-Rio (1988).

    Direcionamentos dos investimentos para P&D a setores prioritrios.

    Dcada de 90

    Contexto poltico e econmico:

    Predominncia do pensamento neoliberal.

    Planejamento das aes governamentais por meio do Plano Plurianual (PPA).

    Intensificao das exigncias para fabricao e comercializao de produtos.

    Instrumentos governamentais federais:

    PRONEX (1996).

    Institutos do Milnio.

    Fundos Setoriais (1999).

    Lei de Propriedade Industrial.

    Medida Provisria sobre Acesso ao Patrimnio Gentico e Repartio de Benefcios (2001).

    Lei de Propriedade Industrial (Lei n 9.279 de 14/05/1996).

    Legislaes sanitrias sobre hemoderivados, imunobiolgicos e biomedicamentos.

    Fatos marcantes:

    Criao da Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (1999).

    Publicao do Cdigo de Defesa do Consumidor.

    Criao da Fundao Biominas (1990);

  • 42

    Dcada de 90

    Conferncia sobre Meio Ambiente Eco 92.

    Conveno sobre Biodiversidade Biolgica (1998).

    De 2000 - 2007

    Contexto poltico e econmico:

    Estabelecimento de uma poltica industrial contrria ao pensamento de no interveno do governo anterior.

    Juros altos.

    Contingenciamento dos investimentos em C&T.

    Descontinuidade de programas de C&T.

    Dificuldade de mobilizao do setor empresarial.

    Instrumentos governamentais federais

    Lei de Propriedade Industrial (Lei n 10.196, de 14/02/2001).

    Programa de Biotecnologia e Recursos Genticos PB&RG (2002). Poltica Industrial Tecnolgica e de Comrcio Exterior - PITCE (2004).

    Criao da Agncia Brasileira de Desenvolvimento Industrial - ABDI (2004).

    Constituio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial - CNDI (2004).

    Frum de Competitividade em Biotecnologia (2004).

    Lei da Inovao (2004).

    Lei do Bem (2005). Programa Rede Nordeste de Biotecnologia - RENORBIO (2006). Poltica de Desenvolvimento da Biotecnologia (2007).

    Comit Nacional de Biotecnologia (2007).

    Fatos marcantes

    Criao do Centro de Biotecnologia da Amaznia (CBA).

    Quadro 5 - A Institucionalizao da Biotecnologia no Brasil. Elaborado pela autora deste trabalho.

    2.2 ARCABOUO JURDICO

    Admitindo a existncia das imperfeies do mercado, bem como incapacidade dele de se

    auto-regular, alm da necessidade da defesa dos direitos individuais e coletivos, desde a dcada

  • 43

    de 1990, vem sendo criadas agncias com a finalidade de constituir o marco regulatrio14 para

    exerccio do controle social de atividades e de servios, no Brasil.

    As agncias reguladoras possuem autonomia poltica, financeira, normativa e de gesto,

    com poderes de mediao, arbitragem para traar diretrizes e normas. A princpio elas no

    estariam sujeitas s intempries polticas para que seus atos sejam primordialmente tcnicos.

    As agncias reguladoras institucionalizam a biotecnologia na medida em que estabelece

    regras e orienta as atividades relacionadas a essa tecnologia. O marco fundamental dessas regras

    a Constituio Federal promulgada em 1988 que criou o aparato legal vigente e impacta no

    ambiente institucional relacionado biotecnologia. Isso porque, a CF de 1988 norteia a criao e

    a operacionalizao do SUS, bem como as polticas de sade; institucionaliza o apoio do governo

    C&T; ampara o Cdigo de Defesa do Consumidor; alm de tratar dos temas relacionados

    biossegurana e propriedade intelectual.

    Assim, para compreender o marco regulatrio e a sua interferncia sobre o ambiente

    institucional no qual a biotecnologia se insere, foram analisados alguns artigos da CF nos itens a

    seguir.

    As principais legislaes que regulamentam as atividades relacionadas biotecnologia

    voltada para a sade humana esto representadas no ANEXO I.

    2.2.1 O papel do Estado no desenvolvimento cientfico e tecnolgico

    Na CF percebe-se uma diferenciao do papel do Estado quanto aos incentivos pesquisa

    bsica e tecnolgica.

    Segundo o artigo 218 da CF de 1988, o Estado promover e incentivar o

    desenvolvimento cientfico, a pesquisa e a capacitao tecnolgicas. Sendo que a pesquisa

    14 Marco regulatrio: o conjunto de regras, orientaes, medidas de controle e valorao que possibilitam o exerccio do controle social de atividades de servios pblicos, gerido por um ente regulador que deve poder operar todas as medidas e indicaes necessrias ao ordenamento do mercado e gesto eficiente do servio pblico concedido, mantendo, entretanto, um grau significativo de flexibilidade que permita a adequao s diferente circunstncias que se configuram. (CARVALHO, p. 2, 2001)

  • 44

    cientfica bsica estabelecida como uma prioridade do Estado. A concepo da pesquisa

    cientfica bsica considerada como um bem pblico foge um pouco do conceito tradicional, no

    qual a pesquisa bsica totalmente desinteressada de aplicao. Nesse caso, as pesquisas

    patrocinadas pelo Estado devero buscar resultados que promovam o bem pblico. Assim,

    Tavares (p.57, 2006) interpreta que:

    [...] a pesquisa cientfica bsica desenvolvida pelo Estado apresenta, em alguma medida, contornos de pesquisa cientfica aplicada, pelos comandos constitucionais analisados. (TAVARES, 2006 p. 57).

    Ainda segundo o artigo 218, necessrio que a pesquisa tecnolgica vise soluo de

    problemas de desenvolvimento do sistema produtivo nacional para que o Estado a apie.

    Contudo, dentro daquilo que se entende como problema brasileiro (ex.: pobreza, desigualdade

    social), o estabelecimento de prioridades cabe aos governantes ficando sujeito s mais diversas

    compreenses.

    Percebe-se, ento, a tendncia do Estado em investir com uma maior nfase na pesquisa

    bsica. O desenvolvimento tecnolgico, entretanto, no considerado uma prioridade. Apesar

    disso, com a publicao da Lei de Inovao (Lei n 10.973 de 02/12/2004) e da Lei do Bem (Lei

    n 11.196/2005) espera-se que essa realidade mude, pois ambas tratam de diferentes mecanismos

    para incentivar a inovao e a pesquisa cientfica e tecnolgica no ambiente produtivo.

    A Lei da Inovao procura intensificar as relaes entre centros de pesquisa, universidades

    e empresas por meio de instrumentos de subveno econmica, propiciando, assim, o

    desenvolvimento tecnolgico. Essa Lei possibilita contratao de pesquisadores pelas empresas e

    estimula os pesquisadores a constiturem empresas para o desenvolvimento de atividades

    relacionadas Pesquisa, Desenvolvimento e Inovao (PD&I), dentre outras medidas.

    (SALERNO e DAHER, 2006).

    A Lei do Bem tambm possui instrumentos que minimizam os custos e os riscos da

    inovao por meio da concesso de incentivos fiscais. Essa Lei beneficia apenas as empresas

    optantes pelo Sistema de Lucro Real, o que se torna um dos seus limitantes, pois a maioria das

    micro e pequenas empresas so optantes pelo sistema simples. (SALERNO e DAHER, 2006).

  • 45

    No artigo 218, ficou tambm estabelecido que facultado aos Estados e ao Distrito

    Federal vincular parcela de sua receita oramentria a entidades pblicas de fomento ao ensino e

    pesquisa cientfica e tecnolgica. As formas nas quais o Estado incentivar C&T so

    regulamentadas por legislaes especficas. Um dos mecanismos de incentivo ao

    desenvolvimento cientfico e tecnolgico previstos na constituio o fomento da formao de

    recursos humanos nas reas de cincia, pesquisa e tecnologia.

    O artigo da CF discutido acima, apesar de alguns contra-sensos, positivo no sentido de

    dar um direcionamento do Estado quanto ao desenvolvimento de C&T e de auxiliar no controle

    da atuao estatal na rea.

    2.2.2 Sade dos cidados brasileiros como um dever do Estado

    No artigo 196 da CF de 1988 a sade instituda como um direito social garantido, sendo

    que:

    A sade direito de todos e dever do Estado, garantido mediante polticas sociais e econmicas que visem reduo do risco de doena e de outros agravos e ao acesso universal e igualitrio s aes e servios para sua promoo, proteo e recuperao. (BRASIL, 1988).

    Visando ao cumprimento desse artigo o Ministrio da Sade (MS) elabora e implanta uma

    srie de polticas pblicas, dentre elas destaca-se a Poltica Nacional de Medicamentos, que pode

    induzir o desenvolvimento da biotecnologia no Brasil devido ao seu potencial para estimular a

    produo de biomedicamentos15, tanto no setor produtivo privado nacional como no setor

    pblico.

    A Poltica Nacional de Medicamentos define a lista dos produtos a serem distribudos pelo

    SUS. Um dos biomedicamentos presentes nessa lista a insulina humana, cujo fornecimento de

    mais de 90% do consumido no Brasil feito pelo SUS. Para o ano de 2008, sero liberados

    aproximadamente R$ 125 milhes para a compra de insulina16.

    15 Os biomedicamentos so substncias aplicadas terapia ou diagnstico de doenas. Sendo derivados de processos biotecnolgicos, obtidos de um sistema vivo (animal, planta ou de clulas eucariticas ou procariticas), cuja composio e estrutura so complexas. (DAYAN, 1995) 16 Site do Ministrio da Sade. Disponvel em:

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    O Brasil j foi um produtor de insulina humana recombinante, entretanto, devido s

    limitaes do uso do poder de compra do governo regidas pela Lei n 8.666 de 21/06/1993, que

    institui as normas para licitaes e contratos da Administrao Pblica, o Brasil passou de

    produtor a importador de insulina. Isto porque, as compras de medicamentos para o suprimento

    do SUS devem ser balizadas pelo menor preo e o produtor nacional de insulina, a extinta

    BIOBRAS, no possua um preo competitivo com o das multinacionais.

    O Brasil tambm fortemente dependente da importao de outros biomedicamentos que

    so comprados e distribudos pelo SUS. O Quadro 6 apresenta os biomedicamentos denominados

    medicamentos excepcionais17 distribudos gratuitamente pelo SUS.

    Medicamentos Indicao Teraputica

    Eritropoetina Humana Recombinante

    Insuficincia Renal Crnica; Doena isqumica crnica do corao. Transplante de medula ssea e pncreas.

    Imuglucerase Distrbios do metabolismo e de depsito de lipdeos; Doenas de Fabry; de Gaucher; e de Krabe.

    Infliximab Doena de Crohn; Artrite reumatide. Interferon Alfa 2a ou 2b Hepatite viral crnica B e C. Interferon Alfa Peguilado Hepatite viral crnica C. Interferon Beta 1a e 1b Esclerose Mltipla. Somatotropina Recombinante Humana Hipopituarismo, Sindrome de Turner.

    Quadro 6 Relao dos biomedicamentos distribudos pelo SUS. Fonte: Elaborado a partir dos dados da Portaria GM n 3.237 de 24/12/ 2007.

    Os gastos do MS para o suprimento do SUS com os medicamentos excepcionais so

    crescentes. Verifica-se que a lista desses medicamentos existe desde 1993, mas naquele perodo

    poucos deles estavam disponveis. J no perodo compreendido entre 1997 e 2001 o nmero de

    unidades distribudas aumentou em 511%, e o de pacientes em 384%. (BRASIL, MS, 2002). Em

    2007, o nmero de pacientes atendidos foi de aproximadamente 480 mil, sendo que s para o

    Acesso em 20 mar.2008. 17 Medicamentos Excepcionais: So aqueles de valor elevado e administrados por perodos longos, como os destinados a doenas neurolgicas, osteoporose, hepatite e transplantes. A aquisio e distribuio desses medicamentos so de responsabilidade dos estados, sendo financiada com recursos do Ministrio da Sade. (Fonte: Portaria GM n 3.237 de 24/12/2007).

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    tratamento de 430 pacientes com a Doena de Gaucher foram gastos US$ 125 milhes de dlares.

    (BARBANO, 2007).

    A Constituio Federal reconhece, tambm, como atribuio do SUS a produo pblica e

    controle de medicamentos, conforme descrito no art. 200 a seguir:

    Controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substncias de interesse para a sade e participar da produo de medicamentos, equipamentos, imunobiolgicos, hemoderivados e outros insumos. (BRASIL, 1988).

    Para o cumprimento dessa atribuio de produo e controle de medicamentos, so

    integrados ao SUS uma rede de 18 laboratrios farmacuticos pblicos, os chamados

    Laboratrios Oficiais, cuja gesto realizada pelos governos dos estados, ou pelas

    universidades ou ainda pelas foras armadas. Apesar das dificuldades que esses laboratrios tm

    enfrentado devido ao seu frgil sistema de gesto e desenvolvimento tecnolgico, eles tm

    exercido dupla finalidade para o sistema, a de fornecer os medicamentos bsicos distribudos pelo

    SUS e a de contribuir para a reduo dos preos apresentando concorrncia ao setor produtivo

    privado. (BRASIL, MS, 2002).

    Outro aspecto presente no artigo 200 da CF de 1988 que afeta o desenvolvimento de

    biomedicamentos a atribuio do SUS de incrementar o desenvolvimento cientfico e

    tecnolgico. Atualmente, o SUS financia esse desenvolvimento por meio das aes da Secretaria

    de Cincia, Tecnologia e Insumos Estratgicos do Departamento de Cincia e Tecnologia

    (SCTIE/Decit). O financiamento de pesquisa em sade tem sido operacionalizado,

    principalmente, por editais lanados pelo Fundo Setorial de Sade somando aos recursos

    financeiros do Ministrio da Cincia e da Tecnologia (MCT), conforme discutido no subitem 2.5.

    Outro instrumento voltado para o desenvolvimento cientfico e tecnolgico o Programa

    Pesquisa para o SUS (PPSUS) que repassa recursos financeiros para as Fundaes Estaduais de

    Amparo Pesquisa (FAPs) ou para as secretarias estaduais de sade. Por ser implantado no nvel

    estadual (micro), o PPSUS no ser alvo de anlise neste trabalho.

    2.2.2.1 Legislao Sanitria

    Segundo Costa e Rosenfeld (2000), desde os tempos do Brasil-Colnia so realizadas

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    prticas