20081120 acao artigo_10_c_a_construcoes_civis

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Ministério Público do Estado de Pernambuco Promotoria de Justiça de Defesa da Cidadania da Capital Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da Vara da Fazenda Pública da Capital. Ministério Público do Estado de Pernambuco, representado pelos Promotores de Justiça que a presente subscrevem, no uso de suas atribuições legais em defesa dos interesses difusos, coletivos e individuais indisponíveis, notadamente do patrimônio público, diante do que consta das peças de informação em anexo (Inquérito Civil Conjunto nº 04/2007), na forma e com fundamento nos artigos 37, 127 e 129, III, da Constituição da República combinados com os artigos 1º, inciso IV e 5º da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985 (Lei da Ação Civil Pública); 1º e 25, inciso IV, alínea a da Lei nº 8.625, de 12 de fevereiro de 1993 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público); 1º e 4º, inciso IV, alínea a da Lei Complementar nº 12, de 27 de dezembro de 1994 (Lei Orgânica do Ministério Público do Estado de Pernambuco) e nos dispositivos legais adiante invocados, vem à presença de Vossa Excelência propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA pelas razões de fato e de direito adiante aduzidas contra Maria Luiza Martins Aléssio, Secretária de Educação, Esporte e Lazer do Município do Recife, casada, inscrita no CPF/MF sob o número 074.706.494-68; Edna Maria Garcia da Rocha Pessoa, Assessora Executiva da Secretaria de Educação, Esporte e Lazer do Município do Recife, casada, inscrita no CPF/MF sob o número 166.336.444-34; Marília Lucinda Santana de Siqueira Bezerra, ex-Diretora Administrativa e Financeira da Secretaria de Educação, Esporte e Lazer do Município do Recife, casada, inscrita no CPF/MF sob o número 024.918.314-57; Gustavo Luiz Leite, ex-Gerente de Engenharia e Obras da Secretaria de Educação, Esporte e Lazer do Município do Recife, casado, inscrito no CPF/MF sob o número 931.997.084-04; e C A Construções Civis Ltda, inscrita no CNPJ/MF sob o número 08.207.284/0001-01; Rua 1º de Março nº 100 – Santo Antonio – Recife/PE – CEP: 50010-070 – Fone (81) 3419-7195 1 de 13

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Ministério Público do Estado de PernambucoPromotoria de Justiça de Defesa da Cidadania da Capital

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da Vara da Fazenda Pública da Capital.

Ministério Público do Estado de Pernambuco, representado pelos Promotores deJustiça que a presente subscrevem, no uso de suas atribuições legais em defesa dosinteresses difusos, coletivos e individuais indisponíveis, notadamente do patrimôniopúblico, diante do que consta das peças de informação em anexo (Inquérito CivilConjunto nº 04/2007), na forma e com fundamento nos artigos 37, 127 e 129, III, daConstituição da República combinados com os artigos 1º, inciso IV e 5º da Lei nº 7.347,de 24 de julho de 1985 (Lei da Ação Civil Pública); 1º e 25, inciso IV, alínea a da Leinº 8.625, de 12 de fevereiro de 1993 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público); 1ºe 4º, inciso IV, alínea a da Lei Complementar nº 12, de 27 de dezembro de 1994 (LeiOrgânica do Ministério Público do Estado de Pernambuco) e nos dispositivos legaisadiante invocados, vem à presença de Vossa Excelência propor a presente AÇÃOCIVIL PÚBLICA pelas razões de fato e de direito adiante aduzidas contra

Maria Luiza Martins Aléssio, Secretária de Educação, Esporte e Lazer do Municípiodo Recife, casada, inscrita no CPF/MF sob o número 074.706.494-68;

Edna Maria Garcia da Rocha Pessoa, Assessora Executiva da Secretaria deEducação, Esporte e Lazer do Município do Recife, casada, inscrita no CPF/MF sob onúmero 166.336.444-34;

Marília Lucinda Santana de Siqueira Bezerra, ex-Diretora Administrativa eFinanceira da Secretaria de Educação, Esporte e Lazer do Município do Recife, casada,inscrita no CPF/MF sob o número 024.918.314-57;

Gustavo Luiz Leite, ex-Gerente de Engenharia e Obras da Secretaria de Educação,Esporte e Lazer do Município do Recife, casado, inscrito no CPF/MF sob o número931.997.084-04; e

C A Construções Civis Ltda, inscrita no CNPJ/MF sob o número 08.207.284/0001-01;

Rua 1º de Março nº 100 – Santo Antonio – Recife/PE – CEP: 50010-070 – Fone (81) 3419-7195 1 de 13

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1. DOS FATOS

Em face de representação formulada pelo Sindicato dos Professores da Rede Municipaldo Recife - Simpere, a Promotoria de Justiça de Defesa da Cidadania – Defesa eProteção do Patrimônio Público e Promoção e Defesa do Direito Humano à Educação –instaurou o Inquérito Civil Conjunto nº 04/2007 para apurar as condições em que seencontravam a estrutura física (conservação e adequação) dos prédios onde funcionamas escolas e creches da rede pública municipal de ensino; a superlotação das salas deaula (m2 por aluno); o fornecimento e a qualidade da merenda oferecida aos alunos darede pública municipal de ensino.

Na instrução do citado procedimento, foram requisitadas à Secretaria de Educação,Esportes e Lazer do Município do Recife informações sobre os processos de reformade escolas e creches municipais, bem como foram ouvidos os engenheiros Alexandre ElDeir e Gustavo Luiz Leite, além das gestoras Maria Luiza Martins Aléssio e MaríliaLucinda Santana de Siqueira Bezerra.

De igual modo, foram solicitados documentos constantes da Auditoria Especial nº0602025-2 (Relatório Preliminar de Auditoria - DOC. 01), ora em tramitação noTribunal de Contas do Estado, a qual tem por objeto a contratação direta de empresas deengenharia para serviços de reformas das escolas e creches municipais no exercíciofinanceiro de 2006. Tal solicitação foi atendida através do Processo de Destaque nº0704182-2 (Decisão TC nº 1402/07- DOC. 02).

Do conjunto probatório verifica-se que, no exercício financeiro de 2006, a Secretaria deEducação emitiu 239 Notas de Empenho em favor de 92 empresas para a reforma de195 unidades educacionais, no valor total de R$ 2.010.921,14 (dois milhões, dez mil,novecentos e vinte e um reais e catorze centavos), conforme relação de notas deempenho emitidas no referido exercício financeiro para contratação direta de serviços eobras de engenharia com fundamento no art. 24, inciso I, da Lei nº 8.666/93 (DOC. 03).

O Relatório da Auditoria Especial nº 0602025-2 tem a seguinte conclusão:

Diante da existência das irregularidades relatadas ao longo deste relatório e tendo emvista o que dispõe o art. 7º da Lei 8.429/92 (Lei de Improbidade Administrativa), osautos deste processo deverão ser encaminhados ao Ministério Público. Além disso, asirregularidades relatadas, independente da devolução, são passíveis de aplicação demulta prevista no artigo 73, da Lei Orgânica do TCE/PE nº 12.600/2004, alterada pelaLei nº 12.640/2004.

4. Quadro de detalhamento de débitos

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Item Irregularidade Legislação Infringida Valor passível dedevolução (R$)

3.1

Estabelecimentos queapresentaram osserviços liquidados epagos, mas nãoexecutados.

3.2

Estabelecimentos queapresentaram osserviços liquidados epagos, mas executadosparcialmente.

CF, a Lei 10.172/01 que aprova o PlanoNacional de Educação, a Lei de Diretriz eBases da Educação Nacional, os Princípiosda Administração Pública e a Lei 4.320/64.

145.360,67

41.214,40

3.3 Outrasirregularidades

3.4

Contratação deempresas semcomprovação daRegularidade Fiscal

Lei nº 9.012/95 e o art. 195, § 3º da CF/88.

Total 186.575,07

Entre tais contratações, em 25 de setembro de 2006, através da NEOP 2006NE09011(DOC. 04), foi realizada a contratação da empresa C A Construções Civis Ltda para arealização dos seguintes serviços de engenharia na Escola Municipal CompositorLevino Ferreira:

Quantidade Descrição Valor Unitário

3 colocacao de fechadura 29,19

1 fornecimento e colocacao de ferrolho 14,90

1.861 remocao de pintura antiga a cal 1,03

400 caiacao branca em paredes internas e externas dois pavimentos 2,23

861 pintura latex em paredes internas inclusive selador e sem massacorrida

7,40

600 pintura a base de emulsao acrilica 7,64

32 pintura a oleo em esquadria de madeira 9,18

12 pintura com esmalte sintetico em esquadria 8,01

A execução de tais serviços foi atestada pelo Engenheiro Gustavo Leite e, em razãodisto, ocorreu a liquidação e pagamento da despesa em 04 de outubro de 2006.

Contudo, conforme consta do Relatório Preliminar de Auditoria elaborado pelosAuditores do Tribunal de Contas do Estado nos autos da Auditoria Especial nº0602025-2, tais serviços, embora pagos, não foram executados.

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No item 3.1 do referido Relatório consta o seguinte:

Escola Municipal Compositor Levino Ferreira – Bomba do Hemetério (fls. 202 a216) (Nota de Empenho: 2006.09011; Valor: 14.254,05; Empresa: C.A. ConstruçõesCivis Ltda.; Data da Liquidação: 04/10/2006; Data da Visita: 07/12/2006)

Os serviços discriminados na nota de empenho não foram executados. Portanto ovalor de R$ 14.254,05 (catorze mil, duzentos e cinquenta e quatro reais e cincocentavos) é passível de devolução aos cofres públicos.

Uma parte da escola foi pintada este ano, porém com recursos de suprimentoindividual.

Ou seja: quando da visita dos auditores à referida unidade de ensino (dois meses após aliquidação da despesa), os serviços não haviam sido realizados pela empresa C AConstruções Civis Ltda (Termo de Inspeção nº 17/06 - DOC. 05).

Outro ponto indicado pelo Relatório da Auditoria Especial do Tribunal de Contas doEstado diz respeito à contratação de empresas sem comprovação de RegularidadeFiscal.

Consta do citado Relatório:

Durante a análise da prestação de contas das despesas realizadas com as reformas dosestabelecimentos objeto dessa auditoria, constatou-se que estavam ausentes entre osdocumentos de liquidação das despesas as Certidões Negativas de Débitos e osCertificados de Regularidade Fiscal das empresas contratadas.

A equipe de auditoria verificou, através dos sites da Receita Federal e da Dataprev,que a maioria destas empresas não possuía a Certidão Conjunta de Débitos Relativosa Tributos Federais (DOC. 06) e a Certidão Negativa de Débito da Previdência Social:

Estabelecimento Empresa contratada CNPJ

CertidãoConjunta(ReceitaFederal)

CertidãoNegativa(Previdência)

EM CompositorLevino Ferreira

C A Construções CivisLtda. 82072840001-01 não possui (fls.

215) possui

Notadamente em relação à medição fictícia ocorrida é importante ressaltar oconhecimento e a aprovação das mesmas pelas demandadas.

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Maria Luiza Martins Aléssio1 (DOC. 07) afirmou que o que de fato ocorreu foi aexecução de serviços de engenharia em outras unidades escolares conforme Quadro 1constante da sua defesa junto ao TCE.

Marília Lucinda Santana de Siqueira Bezerra2(DOC. 08), por seu turno, informouperante esta Promotoria de Justiça que [ela depoente] em conjunto com a SecretáriaMaria Luiza Martins Aléssio e Edna Garcia autorizaram o procedimento acimareferido.

Relevante também a motivação de tais atos: Fugir ao controle interno exercido pelaSecretaria Municipal de Finanças3 ou contornar a realização de carta convite para talserviço de engenharia4 5.

Como conseqüência, restou o absoluto descontrole sobre o que, quanto, onde e quandofoi feito em termos de manutenção física das unidades de ensino municipais. Estecontrole, se houve, por certo não constou da liquidação da despesa – resumindo-se adeclaração das empresas de que fizeram o serviço e, ainda, declaração dos engenheiros

1 Depoimento prestado por Maria Luiza Martins Aléssio: que reitera neste momento os termosapresentados na defesa apresentada junto ao TCE, no sentido de que de fato embora constasse nanota de empenho como se o serviço de engenharia tivesse sido executado nas escolas referidas, o quede fato ocorreu foi a execução de serviços de engenharia em outras unidades escolares conformeQuadro 1 constante da sua defesa junto ao TCE (...) Que a tomada de decisão em relação à substituição de escolas era da depoente a partir doslevantamentos realizados pela gerência de engenharia e encaminhada pela Diretoria Financeira,professora Marília.

2 Depoimento prestado por Marília Lucinda Santana de Siqueira: que embora constando o atestodos engenheiros Alexandre El Deir e Gustavo Leite nas notas fiscais relativas aos empenhosdestacados pelo TCE o serviço não foi executado naquelas unidades referidas na nota deempenho; que o procedimento acima adotado fora guiado pela emergência na restauração dasunidades elencadas (...) Que em face desta motivação a depoente em conjunto com a Secretária Maria Luiza Martins Aléssioe Edna Garcia autorizaram o procedimento acima referido.

3 Depoimento prestado por Maria Luiza Martins Aléssio: que em razão disto houve a opção de sedeterminar a realização do serviço e não a anulação de empenho e elaboração de novo empenhopara seu atendimento; que acrescenta que o tempo médio de empenhamento junto à Secretaria deFinanças é de aproximadamente 15 dias e, na hipótese de cancelamento, quando se faz necessário aapresentação de justificativa junto à Secretaria de Finanças este tempo tende a aumentarsignificativamente.

4 Depoimento prestado pelo engenheiro Gustavo Luiz Leite (DOC. 09): que acrescenta ainda odepoente que não foram emitidas notas fiscais e empenhos em relação a estas últimas unidadesporque somando-se os serviços já executados em tais unidades com os serviços pagos mediante asnotas de empenho acima referidas ultrapassariam o valor de R$ 15.000,00; que para assimproceder seria necessário carta convite e não seria possível a contratação direta.

5 Depoimento prestado pelo engenheiro Alexandre El Deir (DOC. 10): que o depoente afirma que asescolas onde os serviços foram efetivamente executados provavelmente já tinham atingido a cotade R$ 15.000,00 (quinze mil reais) relativos à contratação direta de obra e serviços de engenhariasem a necessidade de carta convite.

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no sentido de que o atesto originalmente dado nos documentos fiscais não sãoverdadeiros e que os serviços teriam ocorrido em outra unidade de ensino.

Tais fatos são reconhecidos inclusive nos próprios depoimentos prestados por MariaLuiza Martins Aléssio6 e Marília Lucinda Santana de Siqueira Bezerra7 peranteesta Promotoria de Justiça.

2. DO DIREITO

6 Depoimento prestado por Maria Luiza Martins Aléssio: que a depoente não recorda se junto com adefesa do TCE consta cópia de ofício de diretores das unidades escolares referidas no Quadro 1solicitando reparos de engenharia nos respectivos prédios.

7 Depoimento prestado por Marília Lucinda Santana de Siqueira: que a depoente não recorda setais relatórios de engenharia foram anexados à Auditoria Especial do TC quando da apresentaçãoda sua defesa (...) Que em relação às medições relativas aos serviços elencados na Auditoria Especial do TC acimareferida, a depoente esclarece que os controles provavelmente se davam de maneira interna do Setorde Engenharia, não acompanhando os documentos de liquidação de despesas; que não sabeinformar como se dava exatamente o ajuste entre o valor constante nas notas de empenho e o valordo serviço efetivamente executado nas outras escolas.

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A realização de despesas públicas é regida pela Lei nº 4.320/648, a qual determina asetapas de prévio empenho9, liquidação10, ordem de pagamento11 e o pagamentopropriamente dito12.

Segundo Kiyoshi Harada, a realização de despesas, além de observar os princípiosconstitucionais pertinentes, deve ser presidida pelo princípio da legalidade. [...] Aprimeira providência para efetuar uma despesa é seu prévio empenho, que significa oato emanado de autoridade competente que cria para o Estado obrigação depagamento pendente de implemento de condição (art. 58). O empenho visa garantir osdiferentes credores do Estado, na medida em que representa reserva de recursos narespectiva dotação inicial ou no saldo existente. É importante lembrar que o empenho,por si só, não cria obrigação de pagar, podendo ser cancelado ou anuladounilateralmente. O empenho limita-se a diminuir do determinado item orçamentário aquantia necessária ao pagamento do débito, o que permitirá à unidade orçamentária(agrupamento de serviços com dotações próprias) o acompanhamento constante daexecução orçamentária, não só evitando as anulações por falta de verba, como tambémpossibilitando o reforço oportuno de determinada dotação, antes do vencimento dadívida13.

8 Art. 58. O empenho de despesa é o ato emanado de autoridade competente que cria para o Estadoobrigação de pagamento pendente ou não de implemento de condição.

9 Art. 60. É vedada a realização de despesa sem prévio empenho. § 1º Em casos especiais previstos na legislação específica será dispensada a emissão da nota deempenho. § 2º Será feito por estimativa o empenho da despesa cujo montante não se possa determinar. § 3º É permitido o empenho global de despesas contratuais e outras, sujeitas a parcelamento.

10 Art. 62. O pagamento da despesa só será efetuado quando ordenado após sua regular liquidação.

Art. 63. A liquidação da despesa consiste na verificação do direito adquirido pelo credor tendo porbase os títulos e documentos comprobatórios do respectivo crédito. § 1° Essa verificação tem por fim apurar: I - a origem e o objeto do que se deve pagar; II - a importância exata a pagar; III - a quem se deve pagar a importância, para extinguir a obrigação. § 2º A liquidação da despesa por fornecimentos feitos ou serviços prestados terá por base: I - o contrato, ajuste ou acordo respectivo; II - a nota de empenho; III - os comprovantes da entrega de material ou da prestação efetiva do serviço.

11 Art. 64. A ordem de pagamento é o despacho exarado por autoridade competente, determinando que adespesa seja paga. Parágrafo único. A ordem de pagamento só poderá ser exarada em documentos processados pelosserviços de contabilidade

12 Art. 65. O pagamento da despesa será efetuado por tesouraria ou pagadoria regularmente instituídospor estabelecimentos bancários credenciados e, em casos excepcionais, por meio de adiantamento.

13 Kiyoshi Harada, in Direito Financeiro e Tributário, Editora Atlas, 16ª Edição, página 56-57

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No caso concreto, a Secretaria de Educação do Município desconsiderou por completoa Lei nº 4.320/64.

Segundo o servidor Alexandre El Deir, em alguns casos as empresas iniciavam osserviços de reparos mesmo antes da elaboração da nota de empenho; que afirma odepoente ter conhecimento de que tal procedimento não corresponde à sistemáticaestabelecida pela legislação para a execução de despesa orçamentária (empenhamentoprévio, realização do serviço e liquidação da despesa), contudo, as urgênciasenfrentadas na gestão dos imóveis relativos às unidades de ensino municipais impeliamos gestores municipais, mesmo conscientes do não cumprimento do disposto nalegislação pertinente, a executar a despesa de tal forma.

Ainda de acordo com os depoimentos colhidos, observa-se que, em decorrência daausência de planejamento para obras de engenharia, era comum autorizar-se a execuçãode serviços para uma Escola A e, por critérios não muito claros de urgência, optar-sepela realização de serviços em uma Escola B.

Nestes casos, ao invés de anular a Nota de Empenho dos serviços de engenharia naEscola A e confeccionar uma nova Nota de Empenho para execução dos serviços deengenharia na Escola B, ocorria a “opção” por realizar os (outros e diferentes) serviçosde engenharia na Escola B, para tal fazendo uso do Laudo, Orçamento e Nota deEmpenho confeccionados para Escola A.

Tal agir, assumidamente, tinha o escopo de burlar a necessidade de justificar, perante aSecretaria de Finanças, a alteração das Escolas destinatárias dos serviços de engenharia,procedendo à anulação da primeira Nota de Empenho e a emissão de uma segunda Notade Empenho.

Ora, a correta liquidação das despesas públicas não é uma alternativa a ser seguida ounão pelo Administrador Público.

É dever, munus, obrigação daquele que administra recursos públicos seguir os ditamesda Lei nº 4320/64, por força do princípio da legalidade previsto no artigo 37 daConstituição da República.

A ausência de planejamento acerca dos serviços de engenharia e a ausência de critériosclaros para o atendimento das unidades de ensino, em conjunto com a promiscuidadeescancarada na escolha das empresas (materializada nas propostas de preço inidôneas egrosseiras, apresentadas pela firmas e aceitas sem cerimônia pelos gestores), além doabsoluto descontrole na medição dos serviços e na execução orçamentário-financeirarevelou-se terreno fértil para o malbaratamento de recursos públicos no montante de R$186.575,07 (cento e oitenta e seis mil, quinhentos e setenta e cinco reais e setecentavos), conforme verificado na Auditoria Especial nº 0602025-2 do Tribunal deContas do Estado.

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Afinal é conseqüência lógica que, utilizando-se planilha de serviços de uma escola paraproceder à medição e pagamento de serviços (supostos e diversos) realizados em outraunidade de ensino, paga-se pelo que não foi feito em nítido prejuízo ao erário público.

Da Improbidade Administrativa

O artigo 37, da Constituição Federal dispõe que a administração pública direta,indireta ou fundacional de qualquer dos poderes da União, dos Estados e dosMunicípios obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade,publicidade e (...) § 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão asuspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dosbens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízoda ação penal cabível.

Regulamentando citado dispositivo constitucional, foi promulgada em 02 de junho de1992, a Lei nº 8.429/92, que, em seu artigo 10, afirma que constitui ato de improbidadeadministrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ouculposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento oudilapidação dos bens e haveres das entidades referidas no artigo 1º desta Lei, enotadamente:

XI – liberar verba pública sem a estrita observância das normas pertinentes ou influirde qualquer forma para a sua aplicação irregular;

XII – permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriqueça ilicitamente.

Emerson Garcia, com maestria, sustenta que não raras vezes se constatará que aregularidade formal do procedimento licitatório e do contrato administrativo que osucedeu rivaliza com a inexistência do objeto contratado, apresentado-se como merosadminículos para encobrir a prática de um ato simulado. Tal ocorrerá quando o objetodo contrato já tiver sido executado pelo Poder Público ou mesmo por terceiro,destinando-se o segundo contrato unicamente a conferir ares de legitimidade aorepasse de receitas públicas ao contratado, simulando-se o pagamento de uma obra oude um serviço que nunca foi executado.

Adiante, conclui que, com isto, a empresa se locupleta às custas do Poder Público14.

À vista do relatado, a liquidação sem a efetiva prestação dos serviços de engenhariacontratados mediante a Nota de Empenho 2006NE09011, configura ato de improbidadeadministrativa, previsto nos artigos 10, incisos XI e XII, da Lei 8.429/92.

A punição para aqueles que cometem atos de improbidade administrativa como osmencionados acima está definida no artigo 12, inciso II, da Lei nº 8.429/92:

14 Emerson Garcia, in Improbidade Administrativa, Lumem Juris, página 376

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Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas, previstas nalegislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintescominações:

II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda dos bens ou valoresacrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda dafunção pública, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos, pagamento demulta civil de até duas vezes o valor do dano e proibição de contratar com o PoderPúblico ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ouindiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sóciomajoritário, pelo prazo de cinco anos;

Da Responsabilidade dos Réus

Os quatro primeiros demandados, na qualidade de servidores públicos, respondem portodos os atos de improbidades administrativas praticados por força dos artigos 1º e 2º daLei nº 8.429/92.

Pelo apurado, os demandados são responsáveis por todas as ilegalidades cometidas, asquais redundaram em prejuízo da ordem de R$ 14.254,05 (catorze mil, duzentos ecinquenta e quatro reais e cinco centavos).

As demandadas Maria Luiza Martins Aléssio, Edna Maria Garcia da Rocha Pessoae Marília Lucinda Santana de Siqueira Bezerra, na qualidade de ordenadoras dedespesas determinaram e autorizaram a liquidação da despesa sem a execução dosserviços.

O demandado Gustavo Luiz Leite, por seu turno, atestou como executados serviços deengenharia não realizados.

A empresa C A Construções Civis Ltda também responde por ato de improbidadeadministrativa ex vi o disposto no artigo 3º da Lei nº 8.429/9215, vez que foi beneficiadadiretamente através do pagamento da NEOPssem a realização do serviço de engenhariaou antes da sua execução.

3. DOS PEDIDOS

1. Do Pedido de Mérito

Ante todo o exposto, depois de autuada e recebida a presente petição inicial com osdocumentos que a instruem (arts. 282/283 do Código de Processo Civil), requer oMinistério Público a Vossa Excelência seja julgado procedente o pedido:

i. Nos termos do art. 12, inciso II, da Lei n. 8.429/92, para condenar: 15 Art. 3º. As disposições desta Lei são aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmo não sendo agente

público, induza ou concorra para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquerforma direta ou indireta.

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1. Os demandados Maria Luiza Martins Aléssio e Edna Maria Garcia daRocha Pessoa na perda da função pública, suspensão dos direitos políticosde cinco a oito anos, pagamento de multa civil equivalente a duas vezes ovalor do dano e proibição de contratar com o Poder Público ou receberbenefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente,ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário,pelo prazo de cinco anos;

2. Os demandados Marília Lucinda Santana de Siqueira Bezerra eGustavo Luiz Leite na suspensão dos direitos políticos de cinco a oitoanos, pagamento de multa civil equivalente a duas vezes o valor do dano eproibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ouincentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que porintermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo decinco anos;

3. a empresa C A Construções Civis Ltda., no pagamento de multa civilequivalente a duas vezes o valor do dano e proibição de contratar com oPoder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios,direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qualseja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos;

4. todos os demandados, solidariamente, ao ressarcimento integral do dano novalor de R$ 14.254,05 (catorze mi6l, duzentos e cinquenta e quatro reaise cinco centavos).

ii. Sejam os valores relativos às multas civis destinados aos cofres da Fazenda doMunicípio do Recife

2. Dos Requerimentos Finais

Como medida de ordem processual, requer a notificação e posterior citação para que,querendo, apresentem respostas, no prazo legal, sob pena de presumirem-se verdadeirosos fatos ora alegados (art. 17 da Lei n. 8.429/1992) dos demandados:

Maria Luiza Martins Aléssio, com endereço na Estrada de Aldeia, Km 6, LoteamentoChã de Peroba, Granja Maturi, s/nº, Aldeia, Camaragibe, PE;

Edna Maria Garcia da Rocha Pessoa, com endereço na Rua Teles Júnior, nº 1558,apartamento 201, Rosarinho, Recife;

Marília Lucinda Santana de Siqueira Bezerra, com endereço na Rua Casa Forte, 65,apartamento 801, Casa Forte, Recife;

Gustavo Luiz Leite, com endereço na Rua Francisco da Cunha, 359, apartamento 504,Boa Viagem, Recife;

Rua 1º de Março nº 100 – Santo Antonio – Recife/PE – CEP: 50010-070 – Fone (81) 3419-7195 11 de 13

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C A Construções Civis Ltda, na pessoa do seu Sócio-Administrador Carlos AugustoBezerra de Lima, inscrito no CPF/MF sob o número 105.929.974-72, com endereço naRua Humaitá, 73, Jardim Lola, São Gonçalo do Amarante, RN e na Avenida BoaViagem 4530 apto 1901, Boa Viagem, Recife, PE;

A intimação do Município do Recife, com sede no Cais do Apolo, 925, Bairro doRecife, nesta cidade, na pessoa do seu Procurador-Chefe, para que, querendo,intervenha nos autos no pólo ativo ou passivo desta ação;

Requer, por derradeiro:

1. O recebimento da presente ação sob o rito ordinário;

2. Isenção de custas, emolumentos, honorários e outras despesas na conformidadedo que dispõe o artigo 18 da LACP;

3. Condenação dos Réus no pagamento das custas processuais, honoráriosadvocatícios, estes calculados à base de 20% (vinte por cento) sobre o valor totalda condenação e demais cominações de direito decorrentes da sucumbência;

4. A produção de todos os meios de prova em direito permitidos.

Dá à causa o valor de R$ 14.254,05 (catorze mi6l, duzentos e cinquenta e quatroreais e cinco centavos).

Nestes Termos P. Deferimento

Recife, 15 de dezembro de 2008

Charles Hamilton Santos Lima26º Promotor de Justiça de Defesa da Cidadaniada Capital

Lucila Varejão Dias Martins15ª Promotora de Justiça de Defesa da Cidadania daCapital

Eleonora Marise Silva Rodrigues28ª Promotora de Justiça de Defesa daCidadania da Capital

Katarina Morais de Gusmão29ª Promotora de Justiça de Defesa da Cidadania daCapital com exercício cumulativo no cargo de 22º

Rua 1º de Março nº 100 – Santo Antonio – Recife/PE – CEP: 50010-070 – Fone (81) 3419-7195 12 de 13

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