2006_tese_rdaraujo

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO DOUTORADO EM EDUCAÇÃO NÚCLEO TRABALHO E EDUCAÇÃO O MOVIMENTO ESTUDANTIL NOS TEMPOS DA BARBÁRIE: A LUTA DOS ESTUDANTES DA UECE EM DEFESA DA UNIVERSIDADE PÚBLICA Raquel Dias Araujo Fortaleza, setembro de 2006

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Tese de doutorado - Filosofia medeval

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAO DOUTORADO EM EDUCAO NCLEO TRABALHO E EDUCAO O MOVIMENTO ESTUDANTIL NOS TEMPOS DA BARBRIE:A LUTA DOS ESTUDANTES DA UECE EM DEFESA DA UNIVERSIDADE PBLICA Raquel Dias Araujo Fortaleza, setembro de 2006 UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAO DOUTORADO EM EDUCAO NCLEO TRABALHO E EDUCAO O MOVIMENTO ESTUDANTIL NOS TEMPOS DA BARBRIE:A LUTA DOS ESTUDANTES DA UECE EM DEFESA DA UNIVERSIDADE PBLICA TesedeDoutoradoapresentadaao ProgramadePs-Graduaoem EducaodaUniversidadeFederaldo Cear,comorequisitoparcialparaa obtenodottulodedoutora,soba orientaodaprofessoraPhD.Susana Vasconcelos Jimenez, e co-orientao do professorDoutorManoelFernandesde Sousa Neto. Fortaleza, setembro de 2006 O MOVIMENTO ESTUDANTIL NOS TEMPOS DA BARBRIE:A LUTA DOS ESTUDANTES DA UECE EM DEFESA DA UNIVERSIDADE PBLICA Tese de Doutorado apresentada porRAQUEL DIAS ARAUJO BANCA EXAMINADORA _________________________________________________ Professora Susana Vasconcelos Jimenez, PhD. Orientadora __________________________________________________ Professor Manoel Fernandes de Sousa Neto, Dr. Co-orientador ___________________________________________________ Professora Bernadete de Souza Porto, Dra. __________________________________________________ Professor Paulo Srgio Tumolo, Dr. _____________________________________________________ Professor Lus Tvora Furtado Ribeiro, Dr. Fortaleza, setembro de 2006 Aosmeusfilhinhos,GabrieleAlessa, quechegaramduranteopercurso dessetrabalho,preenchendominha vida de alegria [e de sufoco!] e tornando aminhaexistnciamaisplenade sentido. Aosjovensecorajososlutadores,em especial, aqueles que fizeram ahistria do movimento estudantil da UECE, com osquaiscompartilheiecompartilhoa defesadeumaeducaopblicae gratuita para os trabalhadores. AgradeoprofessoraSusana Jimenez,minhamestra,maisqueuma orientadora,umaamigaeconselheira, uma guerreira.AgradeoaoprofessorManoel Fernandes,antesdetudo,um companheirodeluta,comoqual partilhei,nomovimentoestudantil,a defesadaUniversidadePblicae Gratuita. AgradeoaoIMO,espaoprivilegiado dediscussoereflexosobreos problemasqueafligemhojea Universidade Pblica. Agradeo a todos que contriburam para a feitura desse trabalho. SUMRIO INTRODUO .............................................................................................. 07 I - GNESE E TRAJETRIA DO MOVIMENTO ESTUDANTIL ...................24 1.1.OMOVIMENTOESTUDANTILCOMOOBJETODEESTUDO:UMABREVE REVISO DA LITERATURA ......................................................................... 241.2.CONTEXTUALIZAOHISTRICADASLUTASDOSESTUDANTES BRASILEIROS .............................................................................................. 37 1.3. ALGUMAS NOTAS SOBRE A HISTRIA DO MOVIMENTO ESTUDANTIL NO CEAR .........................................................................................................73 IIASLUTAS DOS UNIVERSITRIOS CONTRA A DESTRUIO DO ENSINO SUPERIOR PBLICO .................................................................................. 87 2.1.OPROCESSODEMERCANTILIZAODAUNIVERSIDADEBRASILEIRA NOS ANOS 1990 .......................................................................................... 87 2.2.LIMITESEPOSSIBILIDADESDOMOVIMENTOESTUDANTILNO CONTEXTO DA LUTA DE CLASSES..........................................................121 III-OMOVIMENTOESTUDANTILNOCOISADOPASSADO:OS ESTUDANTES DA UECE E A DEFESA DA UNIVERSIDADE PBLICA .... 128 3.1.AUECEEAPOLTICADOENSINOSUPERIORDOGOVERNODAS MUDANAS .................................................................................................. 128 3.2.APARTICIPAODOSESTUDANTESDAUECENAGREVEGERALDE 2005 ..............................................................................................................1 33 3.3.OMOVIMENTOESTUDANTILDAUECE:BREVERESGATEHISTRICO ........................................................................................................................1483.4.OCENTROACADMICODEPEDAGOGIAEADEFESADA UNIVERSIDADEPBLICANOCONTEXTODOMOVIMENTOESTUDANTILDA UECE .............................................................................................................. 176 CONSIDERAES FINAIS ........................................................................... 235 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .............................................................. 244 DOCUMENTOS CONSULTADOS ................................................................. ANEXOS ......................................................................................................... 270 LISTA DE SIGLAS AI Ato Institucional AJR Aliana da Juventude Revolucionria ANDES-SNAssociaoNacionaldosdocentesdoEnsinoSuperiorSindicato NacionalANDIFESAssociaoNacionaldeDirigentesdasInstituiesFederaisde Ensino Superior AP Ao Popular APROMICE Associao dos Professores dos Municpios do Interior do Cear BP CHOQUE Batalho de Choque da Polcia Militar CA Centro Acadmico CACB Centro Acadmico Clvis Bevilqua CALOL Centro Acadmico Lauro de Oliveira Lima CAPES Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel SuperiorCBDU Confederao Brasileira dos Desportos Universitrios CD Conselho Diretor CEB Casa do Estudante do Brasil CEC Centro Estudantal Cearense CECITEC Centro de Cincias e Tecnologia do Cear CEFET Centro Federal de Educao Tecnolgica CEPE Conselho de Ensino, Pesquisa e Extenso CES/CNE Cmara do Ensino Superior do Conselho Nacional de Educao CESA/UECE Centro de Estudos Sociais Aplicados da Universidade Estadual do CearCESC Centro de Estudantes Secundrios do Estado do Cear CEU Clube dos Estudantes Universitrios CGH/UNAMConselhoGeraldeGrevedaUniversidadeNacionalAutnomado MxicoCGT Central Geral dos Trabalhadores CH/UECE Centro de Humanidade da Universidade Estadual do Cear CLEC Centro Liceal de Educao e Cultura CLT Consolidao das Leis Trabalhistas CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico CONEB Conselho Nacional de Entidades de Base CONLUTE Coordenao Nacional de Lutas Estudantis CONLUTAS Coordenao Nacional de Lutas CONSU/CONSUNI Conselho Universitrio CONUNE Congresso da Unio Nacional dos Estudantes CORETUR Conselho de Representantes de Turma COTAM Comando Ttico MotorizadoCPB Confederao dos Professores do BrasilCPC Centro de Cultura Popular CREDUC Crdito Educativo CRUB Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras CS Convergncia Socialista CUT Central nica dos Trabalhadores DCE Diretrio Central dos Estudantes DECON Programa Estadual de Proteo e Defesa do Consumidor DOI-CODI Destacamento de Operaes de Informaes Centro de Operaes de Defesa Interna DOPS Departamento de Ordem Poltica e Social DS Democracia Socialista DUE Diretrio Universitrio dos Estudantes EEEPE Encontro Estadual dos Estudantes de Pedagogia ENEM Exame Nacional do Ensino Mdio ENEPE Encontro Nacional dos Estudantes de Pedagogia ENOEPE Encontro Nordestino dos Estudantes de Pedagogia EREPE Encontro Regional dos Estudantes de Pedagogia FACED/UFC Faculdade de Educao da Universidade Federal do CearFACEDI Faculdade de Educao de Itapipoca FAEC Faculdade de Educao de Crates FAFIDAM Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos FASUBRAFederaodeSindicatosdosTrabalhadoresdasUniversidades Brasileiras FAT Fundo de Amparo ao Trabalhador FECLESC Faculdade de Educao, Cincias e Letras do Serto Central FECLI Faculdade de Educao, Cincias e Letras de Iguatu FFPP Faculdade de Formao de Professores de Petrolina FIES Financiamento Estudantil FMI Fundo Monetrio Internacional FNFI Faculdade Nacional de FilosofiaFUNCAP Fundao Cearense de Apoio Pesquisa FUNDEFFundodeDesenvolvimentoemanutenodoEnsinoFundamentale Valorizao do Magistrio FUNECE Fundao Universidade Estadual do CearFUNEDUCE Fundao Educacional do Estado do CearGAP Grupo de Ao Popular GATE Grupo de Aes Tticas EspeciaisGED Gratificao de Estmulo Docncia GIS Grupo de Independentes SocialistasGTI Grupo de Trabalho Interministerial IEPRO Instituto de Estudos, Pesquisas e Projetos da UECE IES Instituio de Ensino Superior IFES Instituio Federal de Ensino Superior INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas EducacionaisIMO/UECEInstitutodeEstudosePesquisasdoMovimentoOperrioda Universidade Estadual do Cear JEC Juventude Estudantil Catlica JIP Jornal Independente da Pedagogia JUC Juventude Universitria Catlica LBI Liga Bolchevique Internacionalista LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional LSN Lei de Segurana Nacional MARE Ministrio da Administrao Federal e Reforma do Estado ME Movimento Estudantil MEC Ministrio da Educao e Cultura MP Medida Provisria NEPP Ncleo de Estudos Poltico e Pedaggicos PCB Partido Comunista Brasileiro PCBR Partido Comunista Brasileiro RevolucionrioPCdoB Partido Comunista do Brasil PDS Partido Democrata Social PEDI Pacto de Educao pelo Desenvolvimento Inclusivo PFL Partido da Frente LiberalPIBIC Programa Institucional de Bolsas de Iniciao CientficaPLP Partido da Libertao Proletria PNE Plano Nacional de Educao PPP Parceria Pblico-Privado PRONEX Programa de Apoio a Ncleos de ExcelnciaPROUNI Programa Universidade para Todos PSD Partido Social Democrtico PSTU Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado PT Partido dos Trabalhadores RU Restaurante UniversitrioSENAI Servio Nacional de Aprendizagem da Indstria SENAC Servio Nacional de Aprendizagem do ComrcioSESI Servio Social da Indstria SINAES Sistema Nacional de Avaliao do Ensino Superior SINDIUTE Sindicato nico dos Trabalhadores em Educao do Cear SINDUECE Sindicato dos Docentes da Universidade Estadual do CearSINTECE Sindicato Unificado dos Trabalhadores em Educao do CearSUS Sistema nico de Sade TPOR Tendncia por um Partido Operrio Revolucionrio UBES Unio Brasileira dos Estudantes SecundaristasUCES Unio Cearense dos Estudantes Secundrios UDE Unio Democrtica Cearense UECE Universidade Estadual do Cear UEE Unio Estadual dos Estudantes UEVA Universidade Estadual Vale do Acara UFAL Universidade Federal de Alagoas UFC Universidade Federal do CearUFIR Unidade Fiscal de RefernciaUFMG Universidade Federal de Minas Gerais UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro UJS Unio da Juventude Comunista UNAM Universidade Nacional Autnoma do Mxico UNB Universidade de Braslia UNE Unio Nacional dos EstudantesUNESP Universidade Estadual de So Paulo UNICAMP Universidade de Campinas UNIFOR Universidade de Fortaleza UNIP Universidade Paulista USAID United States Agency for International DevelopmentUSP Universidade de So Paulo RESUMO Apesquisainsere-senoNcleoTrabalhoeEducaodoProgramade Ps-GraduaoemEducaodaUniversidadeFederaldoCearenoGrupode PesquisaTrabalho,EducaoeLutadeClassesdoInstitutodeEstudose PesquisadoMovimentoOperriodaUniversidadeEstadualdoCear IMO/UECE.Assumiucomoobjetivocentralinvestigaropapelhistrico desempenhadopelomovimentoestudantilquantodefesadauniversidade pblica, explicitando os principais determinantes econmicos e poltico-ideolgicos doprocessodeprivatizao/mercantilizaodaeducaosuperior,nasduas ltimasdcadas,eseusrebatimentossobreaorganizaoealutados estudantes. Nesse sentido, elegeu como objeto especfico de anlise o movimento estudantil da UECE, pondo em foco o lugar ocupado pelo Centro Acadmico CA dePedagogia,nessecontexto.Buscou-se,nessetrabalho,empreenderuma anlisecrtica,luzdoreferencialmaterialistahistricodialtico,acercada problemticadaUniversidadePblicanoquadrodamaisprofundacrisedo sistemadocapital,edopapeldomovimentoestudantilnocontextodalutade classes.Paratanto,utilizou-sedeumaamplarevisodaliteratura,mediante pesquisabibliogrfica;deanlisedeumexpressivoconjuntodedocumentos, incluindo-se,fotografias;edeentrevistasabertasesemi-estruturadasjuntoa ldereseex-lderesestudantis.Apesquisaresgataatrajetriahistricado movimentoestudantildaUECE,destacandoaslutasdesempenhadasemdefesa docarterpblicodauniversidade,tantonoquesereferequelasencampadas peloDiretrioCentraldosEstudantesDCE,aolongodesuasquinzegestes, quantoquelasimplementadaspeloCAdePedagogia,nodecorrerdassuas dezenovegestes,reafirmando,combase,nosdadoslevantados,queo movimentoestudantilnocoisadopassado,hajavistaoseuressurgimento apsquasedezanosderefluxo,atravsdadeflagraodeumagrevegeral inditanahistriadaUECE,em2005,queuniumovimentoestudantilesindical em prol da universidade pblica. ABSTRACT The research was developed within the Work and Education Section of the GraduatePrograminEducationofFederalUniversityofCear(UFC),being, furthermore,associatedtotheinvestigativeprogramoftheWork,Educationand ClassStruggleResearchGroupoftheLaborMovementStudiesandResearch InstituteofCearStateUniversity(IMO/UECE).Itintendedtoinvestigatethe historicalroleperformedbythestudentmovementindefenseofthepublic university,attempting,atthesametime,topointoutthemainfactorswhich accountfortheprivatizationandcommercializationofhighereducationinthelast two decades, as well as the responses given by the student movement in general tosuchproblem.ThespecificlocusoftheresearchwasCearStateUniversity (UECE),andmoreparticularly,itsPedagogyCourse.Thestudywasbasedupon theMarxisttheoreticalandmethodologicalperspective,thus,attemptingto establishtherelationshipsbetweenthepublicuniversitytragedyandthedeep, structuralcrisisofcapital;aswellas,toanalyzethestudentmovementinthe contextofclassstruggle.Athoroughreviewofliterature;ananalysisofa consistentamountofdocuments;andopenor/andsemi-structuredinterviews applied to a number of current and former student leaders were the data collection procedures.ThestudydrewanhistoricaloverviewofUECEstudentmovement, withgreateremphasisputupontheactionsundertakenindefenseofpublic university,undertheleadershipoftheStudentsCentralOrganization(DCE), throughoutitsfifteenadministrativeturns,andthoseputintoeffectbythe PedagogicAcademicCenter(CA),inthecourseofitsnineteenturns.Theresults of the study indicate that the student movement is not a thing of the past.In fact, it was brought back to life, in 2005, after nearly ten years of reflux, through a general strike,whichwasyettotakeplaceatUECE,andwasabletounitestudentsand labor unions in favor of the continued existence of public university. INTRODUO: a trajetria da pesquisadora em busca de seu objeto Ao companheiro de riscos, ao da vitria, devo uma cano decantonovo,umabandeiracomumquevoecoma histria.Devoumacanoaoimpossvel,mulher,`a estrela,aosonhoquenoslana.Devoumacanoao indescritvel,comoumavelainflamadaemventosde esperana...Slvio Rodriguez O movimento estudantil no coisa do passado! oquepodemosconstatarcomaocorrnciadeumagrevegeralna Universidade Estadual do Cear UECE, entre os dias 11 de maio e 07 de julho de2005.Essecasodeseressaltar,considerando-seseucarterinditona histriadaInstituio:pelaprimeiravezeporumperodolongocercadedois meses,estudanteseprofessoresdaCapitaledasfaculdadesdoInteriorse mobilizaram em defesa da universidade pblica, na forma de uma greve. Segundo constam nos documentos produzidos pelo Comando de Greve e conformeodepoimentodosmembrosqueocomps,entrevistadosporns,o movimento grevista teria sido motivado pelas pssimas condies de trabalho, de ensino, de pesquisa e de extenso e pela carncia de professores, principalmente nasunidadesdoInterior,revelandoumasituaodetotaldestruioda Universidade. Tomamoscomopontodepartidadeanliseparaacompreensodas transformaesqueseoperam,hoje,nocampoeducacional,edasexigncias postaspeloprocessodereestruturaodocapitaleducaodos trabalhadores, oentendimentodequeocapitalismoenfrenta,noatualmomento,umacrisede reproduo do sistema, ou conforme Coggiola (1996), uma crise institucional ou crisedeordemmundial,decarterdestrutivo,quesemanifestanaarticulao entreoespetaculardesenvolvimentocientfico-tecnolgicoea destruio/exploraocadavezmaiordaforadetrabalho,quesetraduzno aumentododesemprego,dosubempregoedaprecarizaodotrabalho.Nas palavrasdeMszros(2003),estaramosvivendoemtempodebarbrie,que, paraauniversidadesignificaoavanodoprojetodeprivatizaoedetodasas suas mazelas. Nessesentido,aprivatizaodaeducaosuperiorpblica acompanhada,comamesmaintensidade,efacilitadapelamercantilizao, medianteacriaodeInstituiesdeEnsinoSuperiorIESprivadas.Oxito dessapropostadecunhoabertamenteneoliberaldepende,emcertamedida,da imobilizao dos setores organizados da comunidade universitria que lutam para manterocarterpblicodauniversidade,emespecial, o movimento estudantil, o qual tem se constitudo, ao longo de sua histria, num dos maiores questionadores da estrutura burocrtica e elitista da universidade brasileira. nesse contexto de crise do capital, marcado pela reduo de custos com aspolticassociais,medianteadescentralizao(desresponsabilizao),a privatizaoeafocalizao,dentreoutrasreformasquesoimplementadascom o intuito de reconstituir a taxa de lucros perdida com a crise, portanto, que se situa a crise educacional e, particularmente, da educao superior. Aintenocentraldapesquisainvestigaropapelhistrico desempenhadopelomovimentoestudantilquantodefesadauniversidade pblica, explicitando os principais determinantes econmicos e poltico-ideolgicos doprocessodeprivatizao/mercantilizaodaeducaosuperior,nasduas ltimasdcadas,eseusrebatimentossobreaorganizaoealutados estudantes. Nessesentido,elegemoscomoobjetoespecfico de anlise o movimento estudantilMEdaUECE,trazendotonaelementosfundamentaisparaa discusso,sem,noentanto,apretensodeesgot-los.Paratanto,assumimos como objetivos especficos da pesquisa: expor os elementos fundamentais quanto ao papel historicamente desempenhado pelo movimento estudantil, no contexto da lutadeclasses,quantodefesadauniversidadepblica;explicitarosprincipais determinanteseconmicosepoltico-ideolgicosdoprocessode privatizao/mercantilizaodaeducaosuperiornasduasltimasdcadase seusrebatimentossobreaorganizaoestudantilqueseexpressamno movimentodeascensoerefluxodaslutasdosestudantes;historicizaro movimentoestudantildaUECE,destacandoasprincipais lutas empreendidas em defesadauniversidadepblica,bemcomo,oseixospoltico-ideolgicos orientadores da ao; situar historicamente o CA de Pedagogia, no contexto geral doMEdaUECE,avaliandoolugarqueesteocupaequalificandoasposies assumidas e as lutas encampadas em defesa da universidade pblica. Buscamos analisar o problema luz do referencial marxista, o qual funda-senarelaorecprocaentresingularidadeetotalidade,sendo,assim,ometro crticoparaavaliararealidadeeosignificadodacadafenmenosingular; colocando-osnomximonveldeconscincia,comonicoobjetivodepoder captar todo o ente na plena concreticidade da forma de ser que lhe prpria, que especfica precisamente dele (LUKCS, 1979, p. 27). Comobemexplicitanossoautorhngaro(1979,p.24)arespeitodo mtodo de Marx,Aeconomiamarxianaestpenetradaporumespritocientficoque jamais renuncia a essa conscincia e viso crtica em sentido ontolgico; aocontrrio,naverificaodetodofato,detodaconexo,emprega-as como metro crtico permanentemente operante ... trata-se aqui, portanto, deumacientificidadequenoperdejamaisaligaocomaatitude ontologicamenteespontneadavidacotidiana;aocontrrio,oquefaz depur-laedesenvolv-lacontinuamenteanvelcrtico,elaborando conscientementeasdeterminaesontolgicasqueesto necessariamente na base de qualquer cincia. Assim,oreferencialconcreto-ntico/materialistahistricodialticose apresenta como possibilidade de construo do conhecimento e de interveno na realidade, como instrumento da prxis social, isto , unidade de teoria e prtica na busca da transformao. Nessesentido,asuaescolha,dentretantasalternativas,justifica-sepelo seucarterdecriticidade,radicalidadeedetotalidade,permitindo-nosuma apreensoradicaldarealidadenasuamaterialidadeehistoricidade, possibilitando-nosidentificarasinfinitasinterconexesexistentesentrea particularidade do nosso objeto de estudo o movimento estudantil da UECE - e o contexto no qual se insere. Essainvestigaovisadarcontinuidadelinhadepesquisainiciadano MestradoemEducaodoProgramadePs-GraduaodaFaculdadede Educao da Universidade Federal do Cear - FACED/UFC eque tem como eixo adiscussosobreaorganizaoealutacoletivadostrabalhadores.No Mestrado,analisamosomovimentosindicale,nestetrabalho,enfocamoso movimentoestudantilnassuasarticulaescomalutaorganizadadaclasse trabalhadora. DesenvolvemosnoMestrado,sobaorientaodaProfessoraSusana Jimenez,umapesquisaquetevecomoobjetodeestudooSindicatonicodos TrabalhadoresemEducaodoCear-SINDIUTE,buscandocompreendero papelqueestetemcumpridoaolongodesuahistrianaorganizaoelutada categoria,avaliando,ainda,oslimiteseaspossibilidadesdefirmar-seenquanto oposioconcretaorientaopolticadominantenoseiodaCentralnicados Trabalhadores - CUT/Ce. Nesse sentido, a escolha do SINDIUTE como estudo de casodeveu-se,particularmente,aofatodeestecongregartrabalhadoresem educao e, especialmente, por apresentar-se como um dos focos de oposio estratgiadeparticipao,deparceria,degestocompartilhada,deapostana propaladaconquistadacidadania,hegemnicahojenomeiosindical,apostando em contrrio, no caminho do enfrentamento, da luta, da mobilizao.1

1Vale registrar que os resultados de nosso estudo indicaram que, se, por um lado, o Sindiute, na suacurtahistria,realizouaesdecombate,deenfrentamentodiretocomoEstadoburgus, baseadanomodelodosindicalismocombativo,emdefesadaeducaopblicaedosdireitose conquistasdostrabalhadoresemeducao,poroutro,noquesereferesconcepesque orientamaprticacotidianadalutasindical,esseSindicatovemincorporando,emsuasanlises sobreacrisedocapitalismoedosocialismo,sobreofimdotrabalho,dentreoutrasquestes, posies, a nosso ver, particularmente problemticas e contraditrias. (ARAUJO, 2000). Noprocessodapesquisa,aproximamo-nosdoInstitutodeEstudose PesquisasdoMovimentoOperrio-IMO,oqualtem,atravsdogrupode pesquisa Trabalho, Educao e Luta de Classes, vinculado ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico CNPq, desenvolvido uma srie de trabalhos investigativos no campo da organizao e formao sindical cutista, sob a coordenao da Professora Susana Jimenez. Dessaaproximao,resultouaparticipaoemdiversasatividades promovidase/oucoordenadaspeloIMO,taiscomo:pesquisas,cursosde formao poltica e sindical, grupos de estudo etc. Nessesentido,ocursodemestrado,assimcomoaexperinciade investigao,deestudocoletivoedeformaonoreferidoInstituto,possibilitou-noscompreenderoselementosessenciaisdaunidadeentreoconhecimento acadmicoealutaorganizadadostrabalhadoreseestudantes,indicando,ainda, ohorizontedenossosestudosdedoutoramento,atravsdoqualampliamosa incurso no universo multifacetado das relaes entre trabalho, educao e a luta organizada da classe trabalhadora. Estacompreensoassociadapreocupaoeaodescontentamento, comosujeitoshistricospartcipesdoprocessodetransformaosocial,comos rumosquetmtomadoosmovimentosorganizadosdaclassetrabalhadoraeda juventude,instigou-nosadiscutirumaproblemticaquenosincomodaenos angustiahmuitotempo:opapeldomovimentoestudantilfrente destruio/privatizao da universidade pblica. Antes de mais nada, importa esclarecer que a escolha do referido objeto omovimentoestudantilnosignificaqueestamosatribuindoaeleuma primazianoconfrontodalutadeclasses,mas,sim,oreconhecimentodesua importncia e de seu papel nesse contexto, uma vez que ele tambm se expressa em funo do antagonismo principal que medeia as relaes sociais no mbito da sociabilidade capitalista o conflito entre capital e trabalho. Almdomais,vale enfatizar que, na perspectiva histrico-dialtica, como bemexplicouEngels(1997,p.18)referindo-segrandeleidamarchada histria descoberta por Marx, ...todasaslutashistricas,querseprocessemnodomniopoltico, religioso, filosfico ouqualquer outro campo ideolgico, so na realidade apenas a expresso mais ou menosclara de lutas entre classes sociais, equeaexistncia,eportantotambmosconflitosentreessasclasses so, por seuturno, condicionados pelo desenvolvimento de sua situao econmica,peloseumododeproduoepeloseumododetroca,este determinado pelo precedente ...Avinculaocomtaltemticaaindaestrelacionadanossahistriade efetivoengajamentonomovimentoestudantil,noperodode1989a1995,na UniversidadeEstadualdoCear-UECEfrentedoCentroAcadmicode PedagogiaCAdePedagogia,dasExecutivasEstadualeNacionaldos EstudantesdePedagogiaedoDiretrioCentral dos Estudantes DCE. (ANEXO 1). Em janeiro de 1995, conclumos o curso de pedagogia, encerrando, dessa maneira, nossa trajetria de militncia estudantil.Destarte,ointeresseinvestigativosobreessatemticaresultadode desdobramentosdanossatrajetriapessoal-profissionalepolitico-partidria.E, comotal,decorredodesejodecontribuirtericaepraticamentecomalutaem defesadaeducaopblicaegratuitaaserviodaclassetrabalhadora,no horizonte do projeto de emancipao humana do domnio do capital. Oestudosobreatemticadomovimentoestudantiledalutaemdefesa dauniversidadepblicajustifica-seporalgumasrazesparticulares,asaber,a escassezdefontesbibliogrficasarespeitodoassunto;aausnciaderegistro acercadahistriadomovimentoestudantil,apsadcadade1980,noBrasil,e ps-dcadade1960,nocasodoCear;comparticulardestaqueparaoquase absolutodescasohistricoacercadomovimentoestudantildaUECE.Almdo que,aimportnciadesecontarahistriadosprocessosderesistncia,em especial,contradestruiodauniversidadepblicaegratuita,anossover,j justificaria a realizao da pesquisa. importanteesclarecer,portanto,queahistriadomovimentoestudantil noBrasilatmeadosdadcadade1980,ouseja,coincidindocomofimdo regime militar, constitui objeto de estudo de vrios pesquisadores, que a contam a partir de diversos aspectos, da resistncia ditadura, da atuao poltica da Unio NacionaldosEstudantesUNE,daproduoculturaldomovimentoetc., revelandoumperododegrandeascensodomovimentoestudantil,oqual comparecenocenriopolticobrasileirocomoummovimentodevanguarda,um dos principais focos de oposio aos governos militares. Apartirdadcadade1980,essahistriavaideixandodesercontada sistematicamente.Esseapagamentodasuahistria,ps-ditadura,leva-nosa refletir a respeito dos seus significados. Por que a histria do movimento deixa de sercontada,apsadcadade1980,ouseja,depoisdosseusanosgloriosos? Por que os pesquisadores abandonam esse objeto de estudo? At que ponto essa ausnciadehistoriografiaescritasearticulariacomorecuodoMEque,apsa dcada de 1980, cede lugar aos chamados novos movimentos sociais?2

Aps a dcada de 1980, a histria do ME brasileiro marcada por fluxos e refluxos,comlutasmaisoumenosisoladas,no-sistemticas,comopudemos constatarnasrarasrefernciasdocumentaislocalizadas.Nasdcadasde1990e 2000,oME,tampoucoseexpressousignificativamente,revelandoseupotencial demobilizaoemalgunsmomentosespecficosdahistriadopas,como,por exemplo, nas manifestaes pelo Fora Collor, em 1992.

2DeacordocomGonalves(2006),baseadaemGohn(1997,pp.121-28),osNMSsurgiramna Europa,nosanos1960,visandoaafastarteoriasbaseadasnalgicaracionalquetratavamde movimentossociaiscomonegcios,clculosestratgicosetc.Autores,comoTouraine,Offe, Laclan,Mouffe,Melluci,dentreoutros,passam,entoadestacaremseusestudoscategorias, como:cultura,ideologia,lutassociaiscotidianas,solidariedadeentreaspessoasdeumgrupoou movimentosocialeoprocessodeidentidadecriado.Omarxismonovisto,poressesautores, como uma teoria capaz de dar conta da explicao da ao dos indivduos e, por conseguinte, da ao coletiva da sociedade contempornea. EmsetratandodahistriadomovimentoestudantilnoBrasil,podemos dizer que ela contada oficialmente at o final da ditadura militar, conforme indica aliteraturarevisadaporns.Apartirda,omovimentoestudantilsaidecena, como um protagonista das lutas, e a sua histria esquecida, sendo registrada de forma descontnua pelos seus dirigentes e entidades, nos documentos produzidos pelo prprio movimento, isto , nos panfletos, jornais, teses, programa de chapas etc.Sonessesdocumentosquenosreferenciamosparairmospreenchendoas lacunas na sua histria, tomando como foco de anlise, como j mencionamos, o ME da UECE. EmrelaoaostrabalhosrevisadosqueversamsobreoMEnoCear,a saber, o de Ramalho (2002), Foi assim! O movimento estudantil no Cear de 1928 a 1968; e o de Freitas (2001), Ns, os estudantes: breve histria dos universitrios cearenses na dcada de 60, vale destacar dois aspectos importantes que marcam essasobrasequeestorelacionadoscomoquevimosdizendoataqui.Em primeirolugar,ambosenfocam,dopontodevistadaslutasrealizadasna universidade,apenasaquelasquesedesenvolveramnombitodaUFC,no tratandodoMEdaUECE,nossoobjetoespecficodeestudo;emsegundo, enquantootrabalhodeRamalhorelataatrajetriadoMEcearensenoperodo compreendidoentre1928e1968,odeFreitasenfoca,exclusivamente,adcada de1960,oqueexplicaa no referncia ao ME da UECE, uma vez que esta fora fundadasomenteem1975.Portanto,humaausnciaabsolutadebibliografia quecompreendaahistriadoMEnoCearapsesseperodo,dadcadade 1970emdiante,restando-nos,napresenteinvestigao,lanarmodomesmo recurso utilizado para a recomposio da histria do ME no Brasil. Valesalientar,outrossim,queotrabalhodeSantos(2002),OCentro AcadmicodePedagogiadaUECEnalutaemdefesadaeducaopblica,a nicareferncialocalizadasobreoMEnaUECE.Emsetratandodeuma pesquisasobreoCAdePedagogia,gestadonogrupodepesquisaTrabalho, EducaoeLutadeClasses,abrigadonoIMO,asuamonografiaguarda semelhanascomonossoestudo.importantelembrar,tambm,que,por ocasiodesuaelaborao,tivemosaoportunidadedecolaborarcomalgumas sugestesa respeito dos possveis caminhos e procedimentos a serem utilizados na coleta de dados. Essa colaborao nos oportunizou uma primeira aproximao comosdadosdenossaprpriapesquisa.Assim,tomamosoreferidotrabalho comopontodepartidadenossolevantamentoemprico,cabendo-nos,ainda, aprofundaroestudodatemticaemquesto,medianterigorosapesquisa bibliogrficaedocumental,bemcomoatravsdeentrevistasslideranas estudantis.importanteregistrar,ainda,que,apsarealizaodarevisoda literatura constante nesse trabalho, tomamos conhecimento da existncia de uma monografiadegraduao,cujottuloaproxima-sedonossoestudo,asaber, Movimento estudantil e a luta pela universidade pblica: conformismo e resistncia naprticapolticadosestudantes,deautoriadePonte(2005),naqual,aautora faz uma breve referncia ao movimento estudantil da UECE. Emsetratandodoconjuntodasobrasrevisadassobreatemticado movimentoestudantil,valeressaltar,observamosqueosautoresnoassumem como preocupao, ou no se trata do objetivo da obra em questo, o tratamento da tenso existente entre a luta em defesa da democracia versus a luta em defesa dosocialismo,tomadacomoprojetosocietrio,associadolutaemdefesada educao/universidadepblicaegratuita.Compreendemosqueessabandeira histricadoMEedomovimentooperrioesindicaladefesadaeducao pblicaegratuitaspoderserconquistadaplenamentenosmarcosdeuma sociabilidadeparaalmdocapital.Issonosignifica,importantedeixarmos claro,anegaodaimportnciaedolugardalutademocrticanoseiodos movimentos dos trabalhadores, mas o reconhecimento de seus limites.3

3Arespeitodadiscussoemtornodoslimitesedaspossibilidadesdalutademocrtica,Tonet (1997,p.39)nosofereceumaimportantecontribuioparaoentendimentodessacategoria democracia na sua relao com a luta pelo socialismo. A ttulo de ilustrao, vale a pena citar um pequenotrechodaobrasugerida,naqualoautorexplicaquealiberdade,sobaforma democrtica,pormaisampliadaqueseja,sempreterumlimiteinultrapassvel,constitudopor algo que procedeu do homem, mas se tornou estranho a ele, o capital. Nessesentido,anossapesquisaserevestedegrandeimportncia, considerando-se,porumlado,aausnciaquasecompletadeproduessobreo MEdaUECE,bemcomoabrangendooperodoposteriordcadade1970,no casodoCear,noqualaUniversidadeEstadualconsolida-secomoimportante instituiosuperiordonossoEstadoe,poroutro,ainsuficinciadeteorizaoa respeitodopapeldoMEnocontextodalutadeclasses,apartirdadiscusso sobreoseixospoltico-ideolgicosorientadoresdalutaassumidosporeste,ao longo de sua histria.Tudoissonosfazcrerqueessetrabalhopoderseconstituirnuma contribuiovalorosaaoME,nosentidodepontuaralgunselementos fundamentaisqueconstituemasparticularidadesdessemovimentoedetrazer tona,demodomaisparticular,oregistrodalutadosestudantesdaUECEem defesa da universidade pblica. Alm disso, acreditamos que retomar a histria da luta contrao processo de privatizao implica, at certo ponto, em contribuir para a luta contra a destruio da universidade pblica.Perseguindoosobjetivosdapesquisa,optamospelarealizaode pesquisabibliogrfica,deentrevistasedepesquisadocumental,como procedimentosmetodolgicosdecoletadedados.Recorremos,ainda,as fotografias, considerando-se a sua importncia como um recurso de registro visual queampliaoconhecimentodoobjeto,oqualpossibilitaarecuperaodeum momento ou situao vivenciada que jamais se repetir. Como diz Barthes (1984, p.13),OqueaFotografiareproduzaoinfinitosocorreuumavez:elarepete mecanicamente o que nunca mais poder repetir-se existencialmente. Asfotografiasqueilustramessetrabalhoretratamapenasos acontecimentosdomovimentogrevistade2005eforamproduzidas,emparte, pela prpria autora, e, em parte, pelo ex-diretor do CA de Pedagogia, gesto 2004 - 2005, Thiago Alves Moreira Nascimento.Emfacedoobjetoespecficodenossainvestigao,apesquisa bibliogrficaincidiusobreasobrasquetratamdalutaestudantil,noBrasileno Cear, bem como, do atual processo de privatizao/mercantilizao da educao superior, na tentativa de explicitar os seus determinantes.Portanto,iniciamosanossaempreitadapelolevantamentodaliteratura sobre o assunto em questo. Em relao historicizao do movimento estudantil, localizamos duas obras que versam a respeito do movimento estudantil no Cear, anteriormente mencionadas, a saber: Foi Assim! O Movimento Estudantil no Cear de1928a1968,deautoriadeRamalho(2002);eNs,osestudantes:breve histriadavidadosestudantesuniversitrioscearensesnadcadade60,de autoriadeFreitas(2001).EmrelaoaomovimentoestudantilnoBrasil, importantedestacarumaobraderefernciasobreatemtica,deautoriade Poerner(1995),intituladaOPoderJovem:histriadaparticipaopolticados estudantesbrasileiros,publicadapelaprimeiravezem1968.importante esclarecer, tambm, que este livro foi um dos primeiros vinte a serem oficialmente proibidosnoBrasil,apsaediodoAI-5.Destacam-se,tambm,ostrabalhos deFvero(1995),intituladoUNEemtemposdeconservadorismo,e de Sanfelice (1968),comottuloMovimentoEstudantil:aUNEnaresistnciaaogolpede64. Estesltimos,diferentementedotrabalhodePoerner,versam,especificamente, sobreaatuaodaUNE,tantonoaspectopolticoquantonocultural.Sobreo movimento estudantil da UECE merecem destaque a monografia de graduao de Maia(2002),OCentroAcadmicodePedagogiadaUECEnalutaemdefesada educao pblica, que conta a histria dessa entidade, tambm objeto de anlise denossapesquisa,eamonografiadegraduaodePonte(2005),Movimento estudantil e a luta pela universidade pblica: conformismo e resistncia na prtica poltica dos estudantes, a qual, como j assinalamos, faz breve referncia ao ME da UECE, destacando, em particular, as mobilizaes estudantis no mbito dessa IES contrrias atual reforma universitria do governo Lula.Almdessas,localizamoserevisamos,ainda,asobrasdeAlbuquerque (1977), intitulado Movimento estudantil e conscincia social na Amrica Latina; de Coimbra(1981),comottuloEstudanteseideologianoBrasil;edeDirceue Palmeira(1998),denominadoAbaixoaditadura:omovimentode68contadopor seuslderes.importanteregistrar,tambm,aobraorganizadaporGarciae Vieira(1999),intituladaRebeldesecontestadores:1968Brasil,Franae Alemanha.Estaltimarefernciabibliogrfica,emboranoponhaemfocoo movimento estudantil, oferece ao leitor elementos tericos para anlise acerca dos acontecimentos que marcaram o ano de 1968 nos pases referidos no ttulo e que, sem sombra de dvida, tiveram reflexos importantes sobre o movimento estudantil no Brasil e no mundo.importanteesclarecerque,emfacedanaturezaedoobjetodeestudo dessas obras, no nos foi possvel incorporar em nosso trabalho as reflexes e as informaes produzidas por seus autores.Emsetratandodaproblemticadamercantilizao/privatizaoda educaosuperiornocenriodacriseestruturaldocapital,valedestacaras contribuiesdeMszros(2003),emSculoXXI:socialismooubarbrie?,de Antunes (1995a, 1999), em Adeus ao trabalho? e em Os sentidos do trabalho; de Coggiola(1996),emNeoliberalismooucrisedocapital?;edeTeixeira(1994, 1995),emMarxeastransformaesnomundodotrabalhoeemPensandocom Marx , para a explicitao da natureza da crise atual e dos seus desdobramentos sobretodasasesferasdavidasocial;deNeves(2002,2004),expressasnas obrasOempresariamentodaeducao,paraoentendimentodosdispositivos legaisqueviabilizamesseprocessodedestruiodauniversidadepblica,e ReformauniversitriadogovernoLula:reflexesparaodebate,paraa compreensoacercadosignificadodareformauniversitriaimplementadapelo referidogoverno;deLeher(2001,2003),emProjetosemodelosdeautonomiae privatizaodasuniversidadespblicaseemReformauniversitria:retornodo protagonismodoBancoMundial,paradesnudaroprocessodereformada educaosuperiornoBrasil,pondoemevidncia,particularmente,as intencionalidades do Banco Mundial em relao a esse nvel de ensino. De suma importnciaparasecompreenderasdevidasrelaesentreacrisemundialdo capitaleacrisedauniversidadepblica,revisamosasobrasUniversidadee cincianacriseglobaleGovernoLula:daesperanarealidade,ambasde Coggiola(2001,2004a).Porfim,destacamosasreflexesdesenvolvidaspor Jimenez(2003)emtornodamercantilizaodaeducaoexpressanaseguinte produo: Sociedade sem universidades.Consultamos,ainda,comofontecomplementardedados,alguns sites da internet, os quais so referidos na bibliografia do trabalho.Em setratando da pesquisa documental, vale informar que os documentos analisadossodecincoordens:1)documentosoficiaisdoMEdaUECE,isto, aqueles produzidos pelas entidades estudantis Centros Acadmicos e DCE, que incluemboletins,jornais,tesesdecongressos,convocatriaseatasdereunio e eleio,cartazes,foldersepanfletosdiversos;2)documentosproduzidospelas correntespolticascominseronoMEdaUECE,queincluemasteses apresentadasaosCongressosdosEstudantesdaUECEeosprogramasdas chapas que pleitearam a direo do DCE e do CA de Pedagogia, ao longo da sua histria;3)documentosproduzidosporentidadesestudantisexternasaoMEda UECE,nacionaiselocais,taiscomo,UNE,CoordenaoNacionaldeLutas Estudantis CONLUTE e DCE da UFC; 4) documentos produzidos por entidades sindicais,nacionaiselocais,taiscomo,CoordenaonacionaldeLutas CONLUTAS, CUT/CE, Sindicatos dos Docentes da UECE SINDUECE; 5) jornais escritos,decirculaonacionalelocal.Noprimeirocaso,consultamos, eventualmente, o Jornal Opinio Socialista; no segundo, consultamos os jornais O PovoeDiriodoNordeste,noquesereferesnotciasproduzidassobreas manifestaesestudantisocorridasnaUECEnoanode2003esobreagreve geral de 2005 na UECE. Os documentos analisados, exceo dos jornais referidos no item cinco edaquelesreferentesgrevegeralde2005,foramresgatadosdosarquivosde documentos do CA de Pedagogia e do CA de Servio Social da UECE. AdecisodeiniciaroestudoexploratriopeloarquivodoCAde Pedagogia deveu-se a trs fatores: primeiramente, porque, tendo feito parte dessa entidade,conhecemosmuitosdessesdocumentos,algunsdosquaisforam, mesmo, produzidos por ns, pois, conforme j foi salientado, estivemos a frente do CAportrsgestes.Emsegundolugar,porqueessaentidadedispe,embora desorganizadamente,deumnmeroconsiderveldedocumentosproduzidos tantopelodoMEdePedagogia,comopeloMEemgeral(DCEeoutras entidades);emterceiro,porqueadotamoscomoobjetivoespecficodenosso trabalho,destacaraslutasencampadasporestaentidadeemdefesada universidadepblica,asquais,quasesempre,soregistradasnosrgos informativos do CA. Encerrada a pesquisa exploratria junto ao CA de Pedagogia, recorremos ao arquivo do CA de Servio Social, que dispe de um rico acervo de documentos que datam desde as origens do movimento estudantil da UECE.Objetivamos resgatar, em ambos os arquivos, documentos que se referiam histriadaentidadegerale,maisespecificamente,aquelesqueregistravamas lutas implementadas pelo movimento estudantil em geral e pelo CA de Pedagogia em favor da universidade pblica. Asentrevistas,porsuavez,foramrealizadasbuscandoalcanardois objetivos:1)buscarinformaesjuntoslideranasestudantisque militaram/militamnoMEdaUECE,nosentidodepreencherlacunasnahistria dessa entidade, com nfase nas lutas em defesa da universidade pblica; e 2)e, numcasomaisespecfico,explicitarasrazeseosmotivos,bemcomo,os resultados da greve geral de 2005. (ANEXO 2). Visandoaalcanaroprimeiroobjetivo,realizamosentrevistaabertajunto a cinco ex-lderes estudantis que compuseram a diretoria e Comisso Gestora do DCE,emdiferentesmomentos,asaber,JosGerardoVasconcelos,ex-diretor doDCE,naprimeiragesto,noperodode1983-4;JosMrioSobrinho Coelho,ex-diretordoDCE,nagesto1999-00;AdrianaSousaAlmeida,ex-diretoradoDCE,nagesto1997-8;AiltonClacioLopesDantas,ex-diretordo DCE,noperodode1999-01;ReinaldFonteneleMapurunga,ex-membroda Comisso Gestora do DCE, no perodo de 1991-2; e a duas ex-lderes estudantis queestiveramafrentedeentidadesdebase,asaber,FernandadaSilva Guimares,ex-diretoradoCAdeHistria,noperodode1995a1998, compreendendo trs gestes;e de Rebeca Baia Sindeaux, ex-diretora do CA de Pedagogia, na gesto 2004 05. Aescolhadessessujeitosdeveu-se,nocasodoscincoprimeiros(ex-diretores e ex-membro da Comisso Gestora do DCE), ao fato de estarem a frente doDCEemperodososquaisnodispnhamosdedadosacercadahistriada entidade,ouseja,oinciodadcadade1980,quandosurgeoDiretrioeofinal dadcadade1990,quandojnomaismilitvamosnoMEdaUECE.Emse tratando especificamente da ex-diretora do CA de Histria, a escolha deveu-se ao fato de este ter constitudo o Comando de Greve do movimento grevista de 1996, sobreoqualnolocalizamosqualquerrefernciadocumental.Porfim,aescolha doltimosujeitojustifica-sepelasuaparticipaodedestaquefrenteCAde Pedagogiaduranteoperododarealizaodanossapesquisaepelocontato constante que mantnhamos no interior do IMO.Noquetangeaosegundoobjetivo,realizamosentrevistassemi-estruturadasjuntoaseterepresentantesdoComandodeGrevedomovimento grevistade2005,sendoseisestudantes,asaber,RebecaBaiaSindeaux,ex-diretoradoCAdePedagogia,gesto20042005;NatliaNaleAlmeidaBrito, diretora do CA de Pedagogia, atual gesto; Roberta Menezes Sousa, diretora do CAdeServioSocial,atualgestoeex-diretoradoDCE,gesto20032004; Thiago Silva Alves, estudante do curso de geografia e militante do PSTU; Joyce NunesdeSousa,estudantedocursodepedagogia;eumaprofessora,Regina CoeliQueirozFraga,daFaculdadedeEducaodeCrates,argindo, especificamente,arespeitodosmotivos,dosensinamentosedasconquistasda referida mobilizao.Ossujeitosqueparticiparamdessamodalidadedeentrevistaforam escolhidosaleatoriamente,observando-seapenasavinculaocomoComando deGreveeadisponibilidadeparaserentrevistadonaquelemomento,durantea realizaodaassemblia geral, realizada no dia 05 de julho de 2005, que definiu pelo fim da greve. Vale explicar que os sete entrevistados referidos acima, dentre vrios que foram abordados,no apresentaram nenhum tipo de resistncia diante da nossa abordagem. Osentrevistados,emambososcasos,forneceram-nosinformaes acerca de acontecimentos especficos que marcaram a histria do ME da UECE e dos quais foram protagonistas. O trabalho est organizado em trs captulos. Osdoisprimeiroscaptulosrepresentamumesforodereconstituioda histriadoME,utilizando-se,portanto,umaformamaisdescritiva.Nocaptulo primeiro, Gnese e trajetria do movimento estudantil, apresentamos, no tpico 1.1.,umabreveapreciaosobrealiteraturarevisadaemtornodoobjetode estudo, destacando as obras, os respectivos autores e as suas contribuies para umamaiorcompreensoacercadatemticaemfoco.Nostpicos1.2.e1.3., respectivamente, expomos os elementos de contextualizao da histria do ME no BrasilenoCear.Nocaptulosegundo,Aslutasdosuniversitrioscontraa destruio do ensino superior pblico, discutimos, no item 2.1., o fenmeno da mercantilizaodauniversidadebrasileira,apartirdosanos1990,situando-ono contextodecriseestruturaldocapital,e,noitem2.2.,versamossobreopapel historicamente desempenhado pelo ME em defesa da educao pblica, refletindo sobre os limites e possibilidades desse movimento no contexto das lutas sociais. Oterceirocaptulo,Omovimentoestudantilnocoisadopassado: osestudantesdaUECEeadefesadauniversidadepblica,constituiofulcro dotrabalho,estandoorganizadodemodoacentraraexposionatesedeque, nostemposdebarbrie,omovimentoestudantilcontinuavivo.Notpico3.1., empreendemosumaanliseacercadapolticadoensinosuperiordoGoverno dasMudanaseseusrebatimentossobreoprocessodemercantilizao/ privatizaodaUECE.Noponto3.2.,pomosemevidncia,particularmente,a grevegeraldaUECE,ocorridaem2005,chamandoaatenoparaosmotivos queadesencadearam,bemcomo,paraosseusensinamentoseresultados.No tpico3.3.,resgatamosatrajetriahistricadoMEdaUECE,desdeoprocesso de criao do DCE, iniciado no comeo da dcada de 1980 at os dias atuais. Por fim, no item 3.4., situamos o CA de Pedagogia no contexto geral do ME da UECE, analisandoolugarqueestetemocupadoeopapelquetemdesempenhadona luta em defesa da universidade pblica. 1 GNESE E TRAJETRIA DO MOVIMENTO ESTUDANTIL1.1. O MOVIMENTO ESTUDANTIL COMO OBJETO DE ESTUDO: UMA BREVE REVISO DA LITERATURA Essetpicodotrabalhotrazumaapresentaosucintadocontedode seisproduesacercadatemticadomovimentoestudantil.Aprimeira,deArtur JosPoerner(1995),OPoderJovem:histriadaparticipaopolticados estudantesbrasileiros,amaiscompleta,abordaatrajetriadoMEnoBrasil,dos temposcoloniaissmobilizaespeloForaCollor,nadcadade1990;a segunda, de Maria de Lourdes de A. Fvero (1995), intitulado UNE em tempos de conservadorismo,versa,especificamente,sobreaatuaodaUNEduranteo perodo ditatorial; a terceira, de Jos Luis Sanfelice (1986), com o ttulo Movimento Estudantil:aUNEnaresistnciaaogolpede64,fazumexamerigorosoda produotericadaUNE,duranteadcadade1960,destacandoasuaatuao perante o golpe de 1964; a quarta, de autoria de Bralio Eduardo Pessoa Ramalho (2002),FoiAssim!OmovimentoestudantilnoCear(1928-1968),tratadaluta dosestudantescearenses, no perodo que compreende os anos de 1928 a1968; a quinta, de Mariano Freitas (2001), Ns, os estudantes: breve histria da vida dos universitrioscearensesnadcadade60,relataalgunsfatoshistricos importantes,nosquaisseenvolveramosuniversitrioscearenses,nadcadade 1960;asexta,deLauraKarineMaiadosSantos(2002),OCentroAcadmicode PedagogiadaUECEnalutaemdefesadaeducaopblica,resgataahistria dessa entidade estudantil, de sua fundao ao ano de 2002, destacando-se a luta em defesa da universidade pblica.EmrelaoaomovimentoestudantilnoBrasil,conformejindicamos, destaca-seaobradeArturJosPoerner(1995),publicadapelaprimeiravezem 1968,e,atualmente,esgotada.Essetrabalho podeser considerado, sem sombra dedvida,umaobraderefernciasobreahistriadomovimentoestudantil brasileirodacolniaaosnossosterrveisdias.Arelevnciadaobraexplica-se, nas palavras de Houaiss (1995, p. 25-6), na sua apresentao de 1968, ...precisamenteporqueumbalanodahistria-queaindanofora escritaemsuainteiridadedomovimentoestudantilbrasileiro...Essa histriaeraanedoticamentereferidaaquiealinopassado,masno pensadaaindaemseusestgiossucessivos,emsuassucessivas estruturaes, em correlao com a histria geral do pas.Otrabalhoestdivididoemduaspartes.Naprimeiraparte,denominada AntesdaUNE,oautorapresentaumbalanodomovimentoestudantilbrasileiro daColniaSegundaRepblica,distribudoemcincocaptulos.Nasegunda parte, intitulada A Partir da UNE, compreendendo nove captulos, Poerner traaa trajetriadaentidade,desdeafundao(1937)suareconstruo(1979), destacando a realizao dos seus congressos (1 ao 31 CONUNE), bem como as suasprincipaislutas.Enfatiza,tambm,arepressodesencadeadacontrao movimentoestudantilpeloregimemilitarearesistnciaestudantilditadura. Finaliza,pondoemevidnciaamobilizaopeladestituiodoPresidente Fernando Collor de Mello. O livro traz em anexo um documentrio, contendo sete textos,asaber:APrimaveradeSangue;MocidadedoBrasiledas Amricas;Carta-RespostadaAssociaoMundialdosEstudantesMensagem daUNEemProldaPazedaNeutralidade;GaleriadosBatalhadoresdaUNE; AcordoMEC-USAIDparaoPlanejamentodoEnsinoSuperiornoBrasil; ConvnioMEC-USAIDdeAssessoriaaoPlanejamentodoEnsinoSuperior; Carta-AbertaPopulao.Almdabibliografia,constam,ainda,dolivro,16 pginas com fotografias relacionadas ao movimento estudantil. NocaptuloI,OestudantenoBrasilColnia,destacam-seduas importantes lutas estudantis: em 1710, a luta contra a invaso francesa ao Rio de Janeiro, comandada por Jean Franois Duclerc, esta, segundo Poerner, a primeira manifestao estudantil registrada pela histria brasileira; em 1789, a participao dosestudantesnaInconfidnciaMineira.NocaptuloII,OestudantenoBrasil Imprio,peemrelevoasseguintesmanifestaesestudantis:oengajamento dosestudantesuniversitriosnaCampanhaAbolicionistaenaProclamaoda Repblica;participaesmenosexpressivasnaRevoluoFarroupilha,em1935, noRioGrandedoSulenaSabinada,em1837,naBahia;participaodos estudantes na Revolta do Vintm. O autor chama a ateno para o surgimento de umapoesiaengajada,nesseperodo,comdestaqueparaFagundesVarela, CastroAlves,lvaresdeAzevedo,dentreoutros;nocaptuloIII,Arebelioda juventude militar, o autor destaca as lutas que envolveram a juventude militar na PrimeiraRepblica,principalmente,osprotestoscontraasatrocidadescometidas contra Canudos e a Revolta do Forte de Copacabana, em 1922; no captulo IV, O estudantenaPrimeiraRepblica,mereceramaatenodoautoraCampanha Civilista,tendofrenteRui Barbosa, com o apoio dos estudantes e a Campanha Nacionalista, liderada por Olavo Bilac; finalizando a primeira parte, o captulo V, O estudantenaSegundaRepblica,abordaaparticipaodosestudantesno MovimentoConstitucionalistadeSoPaulo,em1932eoapoiocandidaturade Jos Amrico presidncia da repblica, em 1937.O capitulo VI, A fundao, instalao e consolidao da UNE, abrindo a segundapartedolivro,comooprpriottulosugere,destacaonascimentoda entidade, em 11 de agostode 1937, no 1 Conselho Nacional de Estudantes, no Rio de Janeiro, seu reconhecimento oficial e formal, em 22 de dezembro de 1938, no 2 Conselho Nacional de Estudantes e o processo de consolidao, que vai de 1937a1942,segundoPoerner,a1fasedaUNE;nocaptuloVII,AUNEno combateaoeixoeaoEstadoNovo,enfatizaa2fasedahistriadaentidade, de1942a1945,destacandoaquelaqueseriaumadasprimeirasgrandes passeatasestudantis,04dejulhode1942,decombateaoeixo,aocupao,em agostode1942,doClubeGermnia,oqualviriaaserasededaUNE,as manifestaescontraoEstadoNovo,queculminaramnamortedoestudante DemcritodeSouzaFilho,em05demarode1945;ocaptuloVIII,AUNEna Quarta Repblica,trata da 3 fase da UNE, compreendendo os anos de 1947 a 1949,denominadaporPoernerdefasedehegemoniadoPartidoSocialista, destacando-seaCampanhaOPetrleoNosso,em1947;da4fase-ado domnio direitista - que vai de 1950 a 1956; da 5 fase - a da recuperao poltica daentidade-abrangendoosanosde1956a1960;da6fase-adaascenso catlica no movimento estudantil - de 1961 a 1964, com nfase para os 1, 2 e 3 SeminriosNacionaisdeReformaUniversitria,respectivamente,em1961 (Salvador),1962(Curitiba)e1963(BeloHorizonte)eparaagrevede1/3,em 1962; no captulo IX, FNFI, escalo avanado dos estudantes, o autor trata das mobilizaes estudantis na Faculdade Nacional de Filosofia, considerada por este umaespciedeescaloavanadodomovimentoestudantilcomoumtodo;o captuloX,Oregimecontraosestudantes,dedicadohistriadarepresso ao movimento estudantil, no perodo que sucedeu o golpe de 1964, enfatizando-se a invaso da Universidade de Braslia, em 1964, as conseqncias da Lei Suplicy de Lacerda (n. 4.464/64) sobre o ME e os acordos MEC-USAID; ocaptulo XI, A rebeliodosjovenscontraaditadura,porsuavez,destacaalutados estudantescontraaditadura,sobaintervenodoPresidente-DitadorMarechal HumbertoCasteloBranco,noperodode1964a1967;ocaptuloXII,A radicalizaodoprocessonoGovernoCostaeSilva,peemdiscussoa realizaodo29CONUNE,emmeioaoterrorrepressivo,em1967,eo assassinatodoestudantesecundaristaEdsonLuisdeLimaSouto,quesetornou smbolo da luta contra a represso, em 1968; no captulo XIII, O poder jovem em armas,enfocaasmanifestaesestudantisocorridasnoanode1968, considerado um ano profcuo intelectual e culturalmente, o terror instaurado com oAI-5eaparticipaodosestudantesnalutaarmada,sobaformadeguerrilha urbana; para finalizar, no captulo XIV, A reconstituio da UNE, o autor trata do processo de reconstruo da UNE, culminado em 1979, bem como do movimento pelo destituio do Presidente Fernando Collor de Melo, em 1992. AobradeMariadeLourdesdeA.Fvero(1995,p.12)assumecomo objetivoresgatarummomentohistoricamentesituadoedatado...[que]diz respeitorelaodosestudantescomareformadauniversidade, implantadaoficialmenteapartirde1968,...aformaouformascomoos estudantespretenderamdelaparticipar,etambmamaneiracomoos estudantes foram coagidos e postos margem das decises pertinentes a seus prprios destinos. Perseguindo o objetivo proposto, a autora divide o livro em seis partes. A primeira,Ahistriadosprotestos,resgataasrazesdomovimentoestudantil anteriora1958,destacando,numprimeiromomento,sinteticamente,as manifestaes estudantis ocorridas entre 1700 e 1937, as quais, observa a autora, processam-sedeformadispersaeocasional.Numsegundomomento,destacao processo de criao da UNE, entre os anos de 1937 e 1938, chamando a ateno paraocarterdaslutasestudantisapsasuafundao,queindicavaoesforo deintegraodosestudantes,atravsdasuaentidade,slutastrabalhistase nacionalistas.Asegunda,Aslutaspelareforma,retrataasinterferncias estudantis no processo da reforma universitria, decorridas, nas dcadas de 1950 e 1960, materializadas, principalmente, na Campanha pela escola pblica, no final dos anos 1950, na realizao do 1Seminrio de Reforma de Ensino, em 1957 e do1SeminrioLatino-AmericanodeReformaeDemocratizaodoEnsino Superior,em1960.Aterceira,AUNEeosSeminriosNacionaisdeReforma Universitria,analisaaefetivaparticipaoestudantilnoprocessodereforma universitria,consubstanciadanarealizaopelaUNEdetrsseminrios nacionaisparadiscutireelaborarteoricamentesobreaproblemticada universidadeeapresentaralternativas.Aquarta,Oautoritarismops-64ea radicalizaodoprocesso,focalizaarepressoaomovimentoestudantil, iniciadalogoapsainstauraodogolpemilitarde1964,tendocomoprimeira medidaainvasoeadestruiodasededaUNE.Aautoraelencaalgumas amostras da represso policial contra os estudantes, no dia 01 de abril de 1964, a saber:doisestudantesmortospeloExrcitonoRecife;soldadosdaPolcia entrandoemchoquecomestudantes,resultandoemseteferidoseummorto,no RiodeJaneiro;umapasseatadissolvidaportropasdoExrcito,emBraslia, dentre outros exemplos. H destaque, ainda nesse captulo, para o assassinato do estudante secundarista Edson Luis de Lima Souto, em 28 de maro de 1968, bem comoparaoMassacredaPraiaVermelha,em20dejunhodomesmoano, quandodarealizaodeumaassembliageraldosestudantesdaUniversidade FederaldoRiodeJaneiro,noprdiodaPraiaVermelha.Nessaocasio,contaa autora,osestudantessoencurralados,espancadoseefetuam-secentenasde prises(1995,p.56).Naquintaparte,Enfrentamentos:LeiSuplicyeacordos MEC-USAID,revela-se,naspalavrasdaautora(1995,p.13),onvelde represso atingido pelo governo, ao tentar anular qualquer interferncia estranha e contrriaaoseuprojetodesociedadedependentecapitalista.Nessecaptulo,a autora discute, particularmente, como o sugere o ttulo, os reflexos da Lei Suplicy sobrea(des)organizaoestudantil,asinterfernciasdosorganismos internacionaisnapolticaeducacionalbrasileira,evidenciadasnosacordos estabelecidosentreoMECeaUSAID,bemcomoosenfrentamentosdos estudantes ao processo repressivo, tais como, a realizao de uma greve e de um plebiscito contra a Lei Suplicy, em 1965. No sexto captulo, Chegando ao termo, aautoraretomamomentosimportantesdoMEbrasileiroefinalizareafirmandoo intuitodoestudo,qualsejainterpretarosmovimentohegemnicosecontra-hegemnicosnombitodomundoacadmico,oquesignifica,tambm,aseu ver, um processo de interpretao e de reconstruo (1995, p. 75).A obra de Jos Luis Sanfelice (1986) examina a produo terica da UNE, duranteadcadade1960,atentandoprincipalmenteparaaatuaodaentidade perante o golpe de 1964.Conforme esclarece o autor a respeito dos objetivos do trabalho, o que se quisrevelarfoiocarterdelideranaqueaentidadenecessariamente desempenhou, face conjuntura poltica, no movimento estudantil mais combativo da poca (1986, p. 12).Olivrodivide-seemtrspartes.Aprimeira,compostaporapenasum captulo A Une do pr-64 destaca a participao da UNE nos acontecimentos polticosquemarcaramoperodoqueantecedeuogolpe,destacando-seoapoio manifestadoaoempossamentodogovernoJooGoulart,apsarennciade JnioQuadrosdapresidnciadarepblica;arealizaodostrsSeminriosde Reforma Universitria,em 1960, 1961 e 1963, respectivamente, e a greve de 1/3, que consistiu na defesa da participao dos estudantes nos rgos colegiados, na proporo de 1/3, ou seja, participao paritria. Asegundapartecompe-sedequatrocaptulos(captulos2,3,4e5do livro).Ocaptulodois,denominadoConsolidaodomovimentode64,d ateno especial invaso por tropas militares Universidade de Braslia UnB, em09deabrilde1964,queresultounaprisodedozeprofessoresena interdiodeseusgabinetes,aesestasseguidasdaintervenodogoverno federalnaquelaUniversidade,nodia13deabrildomesmoano;reunio extraordinriadoConselhoNacionaldosEstudantes,realizadanosdias24e25 de junho de 1964, que elegeu uma diretoria provisria para a UNE, que teria, entre outros objetivos, derrubar, atravs do Congresso, o projeto Suplicy (1986, p. 73); aos reflexos da Lei Suplicy de Lacerda sobre o movimento estudantil; ao Simpsio sobreaReformadaEducao,organizadopeloInstituto de Pesquisas eEstudos SociaisIPES-GB,instituioenvolvidanogolpede1964;aosprimeirospassos domovimentoestudantilapsogolpe,destacandoasmobilizaescontrrias LeiSuplicy,dentreelas,arealizaodeumplebiscitonacional,agrevegeral estudantildeflagradanaUnB,emoutubrode1965,agrevedosestudantesda USPcontraoaumentodopreodasrefeiesnorestaurantedoConjunto ResidencialdaUSP,arealizaodo27CongressodaUNE,emjulhode1965. No terceiro captulo, Reaes e resistncias ao movimento de 64, destacam-se as mobilizaes ocorridas no ano de 1966, em particular, aquelas contrrias Lei SuplicyeaoacordoMEC-USAID,queseespalharamportodoopas,assim como,contraarepressopolicialaomovimentoestudantil,emespecial,agreve geral de setembro de 1966, e o Dia Nacional de Luta contra a Ditadura, no dia 22 do mesmo ms. Alm das mobilizaes, o autor pe em relevo a realizao do 28 CongressodaUNE,em28dejulhode1966,que,emboraproibidoereprimido, constituiuumimportantemomentonarearticulaodalutadosestudantes.No captulo quatro, O movimento de 64 e o movimento estudantil radicalizados, o autorpeemevidnciaacontribuiodaRevistaRevisopublicadapelo GrmiodeFilosofiadaUSPparaaformaopolticadomovimentoestudantil. Destacam-seduasediesdaRevista,ademaroeademaiode1967.A primeira,destinadaaoscalourosdaFaculdadedeFilosofia,CinciaseLetrasda USP, faz esclarecimentos acerca do movimento estudantil universitrio; a segunda contmumapublicaodaUNE,intituladaSeminriodaUnioNacionaldos Estudantes sobre a infiltrao imperialista no ensino brasileiro, na qual a entidade ofereceaoleitorumavisoabrangentesobreasituaodauniversidadeedo papel do ME face ditadura militar, reafirmando a luta pela gratuidade do ensino, comoumadassuasbandeirashistricas.Aindanessecaptulo,oautorfaz referncia ao 29 Congresso da UNE, ocorrido em agosto de 1967, em Valinhos. O captulocinco,Anode1968:opicedoconfronto,dedicadoaos acontecimentos que marcaram o referido ano, tais como: a manifestao de 1 de abril,consideradoomaiormovimentodeprotestocontraoregimerealizadoat aquelapoca,emdecorrnciadoassassinatodoestudanteEdsonLusdeLima Souto;asPasseatasdosCemMil,ocorridasemvriaspartesdopas;a resistnciaterceirainvasoportropasmilitaresUnB,dentreoutras.Deoutro lado,orecrudescimentodarepresso,expressonoAI-5,causandoa desarticulao da UNE e o recuo do ME, a partir de 1969. Porfim,naConcluso:oconfrontoentregovernosdomovimentode 64eaUNE,apesardetudo,erasecundrio,oautorreafirmaqueogolpede 1964visavaaoalcancedoplenofuncionamentodaeconomiaassociadaao capital externo (1986, p. 161), e, para isso, seria necessrio atingir duramente os sindicatos trabalhistas e as Ligas Camponesas. Nesse contexto, as universidades e o movimento estudantil que delas emergiam constituam-se em entraves para a ditadura executar o seu projeto. Por isso, constata o autor, o movimento estudantil, lideradopelaUNE,nalgicadogovernomilitar,estavaamerecererecebera represso (1986, p. 164). AobradeBrulioEduardoPessoaRamalho(2002)aborda,com exclusividade, a histria do movimento estudantil cearense, no perodo referido no seu ttulo.Trata-sedeumapesquisamaisdescritivadoqueanaltica,visando reconstituiodahistriadoMEcearense,noperodode1928a1968, destacandoagnese,aevoluoeaslutasdasdiversasentidadesestudantis existentes nesse nterim.Olivroestdivididoemquatrocaptulos.Noprimeiro,Formaoe consolidaodomovimentoestudantil(ME)noCear,oautorapresentaa gnese, a evoluo e as lutas do movimento estudantil cearense, decorridas entre ofinaldosanos1920eofinaldosanos1950.Destacam-se,nesseperodo,o aparecimentodasprimeirasentidadesestudantiscearenses,secundaristase universitrias,como,porexemplo,osgrmios,oCentroEstudantalCearense- CEC, a Unio Cearense dos Estudantes Secundrios - UCES, o Centro Liceal de EducaoeCultura-CLEC,aUnioEstadualdosEstudantes-UEE,oCentro AcadmicoClvisBevilquadaFaculdadedeDireito-CACB,oDiretrioCentral dosEstudantes-DCEdaUFC,dentreoutras.Nosegundo,OMEnafase anterior ao golpe, aborda a dcada de 1960 em sua fase anterior ao golpe militar, descrevendoaatuaoeopapeldesempenhadonoMEpeloPartidoComunista BrasileiroepelaAoCatlicaBrasileira,emespecial,nassuasvertentes estudantis:aJuventudeEstudantilCatlicaJECeaJuventudeUniversitria Catlica JUC. enfocada, ainda, a proposta poltica e cultural do Centro Popular de Cultura da UNE, alm da luta nacional e local dos universitrios, pela Reforma Universitria;noterceiro,OMEnafaseposterioraogolpe,enfocaarepresso desencadeada, nos dois primeiros anos da ditadura militar, sobre o ME, indicando, ainda,aemergnciadastendnciaspolticasdeesquerdanoMEcearense;o quartocaptulo,Questesfundamentais,porsuavez,discutetrsquestes, apontadas, pelo autor, como sendo aquelas que despontaram como fundamentais noperodode1964-68,nointeriordoME,asaber,amoral,aculturalea hegemonia.Porfim,oautorapresentasuasconsideraesfinais,chamandoa ateno,especialmente,paraaimportnciadosurgimentodoPartidoComunista doBrasilPCdoBnoMEcearense,destacando-seasuaatuaoeoseu processodehegemonizao.Constam,tambm,dolivrotrsdocumentos,os quaisencontram-seemanexo:Diriodomovimentoestudantilcearense-do golpeaoAI-5(1964-1968);1968-DaschamasdoMajesticescuridodoAI-5; Entrevistas. Alm da bibliografia, o autor acrescentou 112 pginas de iconografia. O trabalho de Mariano Freitas (2001) oferece um conjunto de historietas querelatamfatosacercadavidadosestudantescearenses,nadcadade1960. Noseconstitui,portanto,numtrabalhodepesquisadecartercientfico-acadmico,revelando...apenasrelmpagosdamemria(2001,p.06),nas palavras do prprio autor. Olivrocompostode62pequenashistrias,dasquaisoprprioautor protagonistaouparticipante/coadjuvante.Dentreas62,hdestaqueparao movimentodosexcedentesdocursodemedicinadaUFC(estudantesqueforam aprovados no vestibular, mas que no conseguiram ingressar na universidade por insuficincia de vagas), em 1964, dirigido pela UEE; para a greve nacional de 1/3, encampadapelaUNE,emdefesadaparticipaode1/3dosestudantesnos rgosdecisriosdauniversidade,em1962;paraocongressoclandestinoda UNE,em1967,emValinhos/SPeode1968,Ibina/SP,oqualforaduramente reprimido;paraaMarchadosCemMil,em1968,noRiodeJaneiro,contraa ditadura militar, destacando as suas repercusses no ME em Fortaleza, com uma mobilizao que reuniu cerca de 20.000 estudantes.Oautorpeemrelevo,tambm,suamilitncianaAoPopularAP, chamandoaatenoparaopapeldomovimentoestudantilnalutapela transformaodasociedade.Sobreessaquesto,oFreitas(2001,p.49)afirma que a AP...entendiaeincentivavaqueaparcelaconscientizadadasociedade tinhaaobrigaodeimiscuir-seeparticipardaslutasdascamadas sociaismaisexploradas,conscientiz-lasparaassumirseupapel revolucionrio...Omovimentoestudantileraapenasainiciao, funcionava como um estgio para o militante se temperar na luta ... SobottuloAoPopularsemobiliza,oautordestacaopapeldessa organizao na reestruturao da UEE no estado do Cear, o que significou uma tomadadeflegodomovimentoestudantil,oqualconseguiuserearticular... comonicaforavivadeoposioditadura(2001,p.59),capaz,tambm,de ...denunciar[o]entreguismoeconmicoeculturaldogovernobrasileiro(2001,p. 60). A monografia de graduao do curso de pedagogia, de Laura Karine Maia dos Santos (2002) versa sobre a histria da luta da referida entidade em defesa da educao pblica, ao longo dos seus 20 anos de existncia (1982-2002).Trata-sedeumapesquisaexploratrio-descritiva,vinculadaaogrupode pesquisaTrabalho,EducaoeLutadeClasses,doInstitutodeEstudose PesquisasdoMovimentoOperrio-IMO,doqualaautorafoibolsistado Programa Institucional de Bolsas de Iniciao Cientfica PIBIC/CNPq.importantedestacarqueoenvolvimentodaautoracomotemadecorre doseuengajamentonalutaestudantil,comodiretoradoCA,noperodo2001-2002 - gesto Por Um Ser Humano. Otrabalhodivide-seemtrspartes.Naprimeira,Elementosparaa contextualizaodoobjetodeestudo,aautoratraaumaanlisedas transformaespelasquaistempassadoomundodotrabalho,nasltimas dcadas, as implicaes sobre a educao e, em particular, sobre a educao de nvelsuperior, chamando a ateno para o papel desempenhado pelo movimento estudantil, em particular, na luta pela Reforma Universitria, na poca da ditadura militar.Santostomacomorefernciadeanliseparatratardaproblemticada universidade,inseridanocontextoscio-ecnomicoepolticomaisamplo,as reflexesdesenvolvidasporAntunes(1995a,1999),Coggiola(2001),Chaui (2001)eJimenezeRocha(2001);sobreaUECE,especificamente,consulta Morais(2000);e,particularmente,parasituarhistoricamenteoME,apia-se,por excelncia,emSanfelice(1986).Nasegunda,AhistriadoCentroAcadmico dePedagogiadaUECE1982a2002,relataahistriadaentidadedesdeo processodefundao(1982)aoanoderealizaodapesquisa,contabilizando nesses20anos,18gestes,comdestaqueparaasprincipaisatividades realizadasemcadagesto,emespecial,aSemanadeEducao.Aautora organizouatrajetriadoCAdePedagogia,dividindo-aemtrsfases:aprimeira, correspondendo aos quatro primeiros anos da entidade (1982 a 1986); a segunda, compreendendo o perodo de dez anos (1987 a 1997); a terceira, datando do final de1998,comareaberturadoCA,depoisdeumanodeportasfechadas,at 2002.Naterceiraparte,aautoraretomaoobjetivodapesquisa,qualseja, investigaropapelqueomovimentoestudantildePedagogiadaUECE desempenhou,aolongodeseus20anosdehistria(1981/82-2002),emdefesa daeducaopblicaegratuita(2002,p.82),e,guisadeconcluso,nas Consideraes finais, destaca os principais eixos que marcaram a histria do CA dePedagogia,asaber:adefesadauniversidadepblicaegratuita;ono pagamento das taxas; a gratuidade do RU; autonomia e democracia universitria; eleies diretas e paritrias para reitor; monitorias para as disciplinas do curso de pedagogia; concurso para professores (2002, p. 83). Acrescenta, logo em seguida, que a defesa daeducao pblica atravessou toda a histria do CA, sendo mais evidentenoperodoquecorrespondeaosanosde1987a1997(2002,p.83).A autorafinaliza,levantandoalgunsquestionamentos,dentreosquais,destaca-se aquelequedizemrespeitospossibilidadesdoMEdePedagogiaultrapassar atual fase, segundo a autora, marcada por uma caracterstica menos combativa. Parafinalizar,importanteefetuarmos,brevemente,algumas consideraescrticasquantoaoalcanceeaoslimitesdaproduotericados autores revisados que tratam da temtica do ME no Brasil. AobradePoerner(1995)ademaiorreferncianocampoda historiografiadoMEbrasileiro,apresenta,anossover,algunsproblemasnoque se refere aos recortes histricos. Em primeiro lugar, a trajetria histrica do ME no Brasiltraada,peloautor,apartirdahistoriografiaoficialperodocolonial, imperialerepublicano,situada,portanto,linearmente.Nessesentido,oautor desconsideraosaspectospeculiareshistriadoprprioME,osquais,porsua vez,vinculam-sesmudanasnabaseeconmica,socialepolticadopas.Em segundolugar,oautorpeanfasenosurgimentodaUNEcomomarcoda histria do ME, dividindo-a, inclusive, em dois momentos - antes e depois da UNE, masnoorelaciona,explicitamente,comosurgimentodasuniversidadesno Brasil.Outrossim,consideramosessefatoresponsvel,emboamedida,pelo reconhecimentoporpartedosestudantesdanecessidadedecriaodeuma entidadedembitonacionalqueassumisseatarefadecentralizao/unificao das lutas. As obras de Fvero (1994) e Sanfelice (1986), da mesma maneira, contam a histria do ME no Brasil, durante a vigncia do regime militar, a partir da atuao daUNE,aqual,portanto,tomadacomomarcohistricoerefernciada resistnciaestudantilnesseperodo.Ambasasobrassebalizam,sobremaneira, na trajetria traada por Poerner (1995). Em se tratando do conjunto das obras, identificamos que estas no tratam comexaustodosdocumentosproduzidospeloprprioME,desconsiderando aspectosimportantes/relevantesdessahistria,taiscomo,ostemasdos congressos, o nmero de participantes, o nome dos participantes e organizadores, as decises e os encaminhamentos tomados etc.Consideramoslcitoressaltar,ainda,arespeitodoprocessode reconstruodaUNE,cujaculminnciasedeunoCongressodaEntidade,em 1979, na cidade de Salvador,que os autores negligenciaram a discusso sobre o papel fundamental que as Executivas de Curso desempenharam nesse processo, as quais procuraram ocupar o vazio poltico que se formou aps a desestruturao daUNE.Faceaocarterdosdebatesquepermeavamosencontrosde rea/curso,que,paraoregimemilitar,pareciamsermeramenteacadmicos, tornou-sepossvelsExecutivasassumiremumafunopolticadedestaqueno queserefereorganizaoelutaestudantildurante o fase de clandestinidade da UNE. 1.2.CONTEXTUALIZAOHISTRICADASLUTASDOSESTUDANTES BRASILEIROS Poerner(1995),emsuaobraOPoderJovem:histriadaparticipao polticadosestudantesbrasileiros,divideahistriadomovimentoestudantil brasileiroemdoismomentos:antesdaUNEedepoisdaUNE.Oprimeiro, caracterizadopelafragmentao,isolamentoedescontinuidadedaslutas, compreende o perodo que vai desde os tempos coloniais at a fundao da UNE, em1937.Osegundo,porsua vez, inicia-se com a criao da referidaentidade e perduraatosdiasatuais.ConformeesclarecePoerner,essesegundomomento marcadopelacentralizaodaslutasestudantis.Nassuaspalavras(1995,p. 51),O movimento estudantil brasileiro a forma mais adiantada e organizada que a rebelio da juventude assume no Brasil. Tal como o entendemos e conhecemos hoje, esse movimento existe somente a partir da criao da UnioNacionaldosEstudantes,em1937,quandoalcanaaquiloqueo movimentooperriobrasileirosobteve-aindaassimdemaneiramuito precria - durante um curto perodo do governo Joo Goulart, com o CGT (Comando Geral dos Trabalhadores), a centralizao.Anossover,aslutasestudantisquemarcaramoperodoreferidono constituempropriamenteummovimento,hajavistaadescontinuidadedetais lutaseaausnciadeumeixobemdefinidoemtornodoqualosestudantes pudessem unificar e centralizar as suas aes. Isto est relacionado, em parte, ao atraso,emrelaosnaesdesenvolvidas,noprocessodefundaodas primeiras Instituies de Ensino Superior (IES), no Brasil, que data do sculo XIX, primeiramente,comoinstituiesisoladas.Asuniversidades,fundadasnotrip ensino-pesquisa-extenso, surgiram apenas a partir da dcada de 1920 do sculo XXocasodaUniversidadedoRiodeJaneiro(1920),daUniversidadede MinasGerais(1927)edaUniversidadedeSoPaulo(1934),porexemplo.Por outrolado,explica-sepelodefatodeoprocessodeindustrializaoeinsero, subordinada,dopasnosistemamundialdocapital,ter-seiniciadoapenaspor volta da dcada de 1930. Nodeseestranhar,pois,queaUNEtenhasidocriadasomenteem 1937,umavezque,atento,asuniversidadespraticamenteinexistiameo modeloeconmicobaseadonaagropecurianodemandavaformaoescolar nem de nvel bsico, quanto mais de nvel superior.RetomandoopercursohistricotraadoporPoerner,observa-seque,no perodocolonialdahistriadoBrasil,destacaram-selutasdecartermaisgeral, nohavendo,portanto,registrodelutasqueenvolvessem,especificamente,a defesadaeducaopblica.Oautorpeemevidnciaduasimportanteslutas estudantis,asaber,aprimeira,em1710,contraainvasofrancesaaoRiode Janeiro,comandadaporJeanFranoisDuclerc.Deacordocomomesmoautor, esta teria sido a primeira manifestao estudantil registrada pela histria brasileira; asegunda,em1789,envolveuaparticipaodosestudantesnaInconfidncia Mineira.Merecedestaque,noperodoimperial,osurgimentodasprimeiras faculdades brasileiras, em Olinda e em So Paulo. De acordo com Poerner (1995), essefatocontribuiuparaoengajamentodosfilhosdaoligarquiapaulistaedo latifndioaucareiropernambucanonascampanhasestudantisemfavorda AboliodaEscravaturaedaProclamaodaRepblica.Segundoele(1995,p. 61),...sojustamenteessascampanhasquedoincioaumatentativade sistematizao do movimento estudantil brasileiro. Almdessasmanifestaes,registra-se,tambm,oenvolvimento estudantil,emmenorescala,naRevoluoFarroupilha, em 1935, no Rio Grande doSulenaSabinada,em1837,naBahia.Aslutasestudantis,decarter nacionalista e constitucionalista, segundo caracterizao de Poerner (1995, p. 61), ... se dirigiam, de incio, contra o lusitanismo e absolutismo do Imperador Pedro I, at que este abdicasse do trono, em 7 de abril de 1831.Noperodoquecompreendeosanosde1840a1860,asmanifestaes estudantiscedemlugar s manifestaes literrias e artsticas, as quais reuniram Fagundes Varela, Castro Alves e lvares de Azevedo, dentre outros, na faculdade paulista.Comaretiradatemporriadapolticadomovimentoestudantil,a poesia passou a ser o centro das atenes dos estudantes. Com o crescimento do idealabolicionista, a poesia vai mudando o seu contedo e torna-se socialmente participante,tendoafrenteCastroAlveseTobiasBarreto.SegundoPoerner (1995,p.63),A poesia social devolveu, numa seqncia lgica, os estudantes poltica,naqualpassaria,daemdiante,aassumirposiescadavezmais divergentes das que defendia o governo [D. Pedro II]. Nofinaldoperodoimperial,aindadestaca-seaparticipaodos estudantesnumdosprimeirosmovimentosdemassadoBrasil,aRevoltado Vintm, deflagrado contra o Imperador, depois que este aumentou um vintm nos preos das passagens dos bondes. NaPrimeiraRepblica,mereceramaatenodePoernerosprotestos estudantiscontraasatrocidadescometidascontraCanudoseasmanifestaes contra a Light (Empresa de distribuio de energia eltrica); a Campanha Civilista, comandada por Rui Barbosa e a Campanha Nacionalista, liderada por Olavo Bilac.EmrelaoindignaodosacadmicosdeDireitodaBahiacomo desfecho do episdio de Canudos, vale destacar que as manifestaes tomaram a formadedocumentoescritodirigidopopulaobrasileira,oqual,segundo informaPoerner(1995,p.72),teriasido um dos primeiros manifestos estudantis danossahistria.Vejamosalgunstrechos,attulodeilustrao,doreferido manifesto: Os signatrios da presente publicao, alunos da Faculdade de Direito da Bahia, tendo at agora esperado embalde que alguma voz se levantasse paravingarodireito,aleieofuturodaRepblica,conculcadose comprometidosno cruel massacre que ... foi exercido sobre prisioneiros indefesosemanietadosemCanudoseatemQueimadas...-vm declararperanteosseuscompatriotas-queconsideramumcrimea jugulaodosmserosconselheiristasaprisionados,efrancamenteo reprovam e ocondenam, como umaaberrao monstruosa ... seria uma vergonhasintomticademaioresaviltamentosparaofuturo,sea conscincianacional,acobardada,emudecessediantedosresponsveis pelostrucidamentosdeCanudoseQueimadas...(POMBOapud POERNER, 1995, p. 73). SobreasmanifestaesestudantiscontraaLight,contaPoerner(1995) queestaserampraticamenterotineiras,notrazendoelementosdenovidade, ocorrendoemvriaspocasnoBrasil,principalmentenoRiodeJaneiro,So PauloeRecife.Destaca,noentanto,aparticipaodosestudantesnoprotesto popular contra o aumento dos preos das passagens dos bondes, nos dias 17, 18 e 19 de junho de 1901, sendo reprimidos pela polcia. importante frisar que os primeiros anos da repblica foram marcados por umaprofundacalmariaestudantil,seguidosdeumaparticipaotmidados estudantes nos assuntos polticos do pas. Na avaliao de Poerner (1995, p. 79), adebilidadedalutaestudantil,desseperodo,caracterizadapeladisperso, deveu-se...faltadeumorganismoqueacoordenasseeaausnciade plataformas de luta que a motivasse .... Essa pasmaceira geral fora interrompida por uma tragdia que teve como resultado a morte de dois estudantes, em 22 de setembro de 1909. Poerner(1995)relataque,emsetembrode1909,osestudantes realizaramumapasseatacomemorativaaoinciodaprimavera,aqualfora duramentereprimidapelaBrigadaPolicial.Paraprotestarcontraosabusos cometidos pela polcia, os estudantes se dirigiram ao General SouzaAguiar, que serecusouareceb-los,gerandoumprotestoestudantil,marcadopeloenterro simblico do comandante da Brigada. O resultado do protesto foi muito pior do que arepressoqueomotivou:doisestudantesmortosenumerososferidos.Este trgico episdio ficou conhecido como a primavera de sangue. Aprimaveradesangue,segundoPoerner(1995),precedeuafasemais intensadaCampanhaCivilista,quesedesenvolveude03deoutubrode1909a 01demarode1910.Deacordocomessemesmoautor(1995,p.92),apartir dessemomento,...ajuventudeuniversitriasecongrega,numcrescendode empolgao,emtornodohomemqueencarnavaalutadofuturo[RuiBarbosa], nolhepoupandomanifestaesdecarinhoeentusiasmo....Noentanto, conformeesclarecePoerner(1995,p.93),aparticipaodosestudantesna CampanhaCivilistarepresentou apenas uma sacudidana pasmaceira de ento, umavezque...nohavia,ainda,umaorganizaoquedesseumcarterde permanncia militncia poltica dos estudantes. Sanfelice(1986,p.11)registraaocorrncia,nessapoca,do1 Congresso Nacional dos Estudantes, em 1910, do qual se tem publicado, segundo informa, uma Polyanthea Comemorativa. Em1917,surgiuaLigaNacionalista,fundada,entreoutros,pelopoeta Olavo Bilac. Segundo nos informa Poerner (1995), a campanha pelo servio militar obrigatrio,tendofrenteoreferidopoeta,contribuiuparaodespertarda juventude,queseencontravaadormecida.Dentreasatividadesrealizadaspela Liga,destacam-seaparticipaonapolticaacadmica;oengajamentona melhoriadonveldeinstruopopular;acampanhaeleitoralde1918parao preenchimentodavagadeixadaporCarlosdeCamposnoSenadoEstadual paulista,aqualintroduziu,noBrasil,ascaravanaspolticaseaspasseatas urbanas; a luta contra a gripe espanhola, em outubro de 1918; a participao na campanhaeleitoralpresidencial,apoiandoacandidatura de RuiBarbosa contra o candidato governista, Epitcio Pessoa. ComavitriadeEpitcioPessoaparaapresidnciadarepblica,a atuaopolticaestudantilentrouemrefluxo, no obstante, a revolta dos cadetes deRealengo,emapoioaosrebeladosdoFortedeCopacabana,em1922.No quadriniodeArturBernardes,omovimentoestudantilsofreviolentodeclive, caracterizado pelo silncio total da juventude (1995, p. 103) que, na avaliao de Poerner, parecia esperar o final da Repblica Velha. NaSegundaRepblica,Poerner(1995)enfatizaaparticipaodos estudantesnoMovimentoConstitucionalistadeSoPaulo,em1932,eoapoio candidatura de Jos Amrico presidncia da repblica, em 1937.Arespeitodo Movimento Constitucionalista, Poerner (1995) assevera que esteteriaacentuadoadissociaooperrio-estudantiljverificadaporocasio das greves de julho de 1917 deflagradas pelos trabalhadores paulistas, nas quais osestudantesassumiramposioderesistnciaslutasoperrias,chegando ao pontodeseofereceremparasubstituirosmotorneirosgrevistas,quandoda paralisaode70miltrabalhadores.Poroutrolado,ostrabalhadoresno participaramdoMovimentoConstitucionalista,consideradoreacionriopela opinio pblica. Em1937,surgeaFrenteDemocrticadaMocidade,entidadedecarter antifascista que, na anlise de Poerner (1995, p. 119), ... no deixa de se revestir deumacertaimportncianahistriadaparticipaopolticaestudantil....Esta entidadetevevidaefmera,destinada,especificamente,aorganizaroapoiodos estudantes candidatura de Jos Amrico presidncia da repblica. O golpe de 10denovembrode1937,queinaugurouoEstadoNovo,cancelouaseleiese ps fim entidade. Valedestacar,ainda,ofatomaisimportante,naavaliaodePoerner (1995),quemarcouofinaldaSegundaRepblica:onascimentodaUnio NacionaldosEstudantes,em11deagosto de 1937, no 1 Conselho Nacional de Estudantes,noRiodeJaneiro,contandocomaparticipaoderepresentantes oriundosdosestadosdeSoPaulo,Cear,Bahia,Paran,Pernambuco,Minas Geraisedoestadosededoevento,segundoinformaFvero(1995,p.17). ImportainformarqueFvero(1995)nofaznenhumarefernciaquepudesse identificar tais representantes. Seu reconhecimento oficial e formal ocorreu em 22 de dezembro de 1938, no2Conselho(Congresso)NacionaldeEstudantes,doqualparticiparamcerca de80associaesuniversitriasesecundrias.DeacordocomFvero(1995,p. 18),o2Conselho,diferentemente,doqueoantecedeu,foimarcadoporseu carter poltico, demonstrado na preocupao por parte dos estudantes presentes emrelaoaosproblemasnacionais,taiscomo:aquestodoanalfabetismo,do ensino rural e da implantao da siderrgica nacional. Os temas referidos revelam, ainda,asquestesemtornodasquaissecentravaaatenodasociedade naquele momento. Ainda segundo a autora (1995, p. 18), esse Congresso constitui um marco histrico para o movimento estudantil brasileiro, pois neleficademonstradaa necessidadeeaurgnciadesercriadaoficialmenteumaentidadenacional, congregando os estudantes universitrios.OprocessodeconsolidaodaUNEseestendeuat1942,jempleno EstadoNovo,encerrandooquePoerner(1995)denominadeprimeirafaseda UNE. Asentidadesestudantisuniversitriasqueexistiramantesdacriaoda UNEcaracterizavam-sepelatransitoriedadeeregionalidade,vciosque,na avaliaodePoerner(1995,p.124),...minaramtodasastentativasdedar organicidade ao movimento estudantil .... Nesse sentido, a criao da UNE, a seu ver,...representa,semsombradedvida,omaisimportantemarcodivisor daquela participao ao longo da nossa histria ... (POERNER, 1995, p. 123). Conforme anunciamos acima, a criao da UNE est estreitamente ligada aosurgimentodasprimeirasuniversidadesnoBrasil,oque,porsuavez, relaciona-seaoprocessodeindustrializao,deformaodeumanovaelite urbanaedemodeobraqualificadademandadospelosistemacapitalista brasileiro em vias de consolidao.Levando-seemcontaessarelao,podemosasseverar que a histria do MEbrasileirotomando-seacriaodaUNEcomomarco,poderiaserdividido emdoisgrandesmomentos:1)donascimentodaUNEdcadade1960-70 perodo,este,caracterizadopelaexistnciadeumcapitalismoaindaincipiente, queseconstituasobabasedeumasociedadeagrrio-latifundiria,coma presenadeumaclassetrabalhadoramarcadamentecampesinata.Sendoassim, explica-seporque,duranteesseperodo,aUNEeoMElideradoporesta, estiverammaisprximosdomovimentocampesinato,comoporexemplo,das LigasCamponesas,bemcomo,opapeldevanguardaqueestaassumiu;2)da dcada de 1970-80 em diante marcado pela existncia de um sistema capitalista consolidadoedeumaclassetrabalhadoradebaseoperria-industrial,que comeavaseorganizar,deformamaisautnomae independente, emsindicatos. Datamdessapoca,porexemplo,acriaodaCUTedoPartidodos Trabalhadores PT, como veremos a seguir. Nesse segundo momento, a UNE e oMEsobsualiderana,aproximam-semaisdaslutasdomovimentooperrio-sindical,perdendo,paraestes,opapeldevanguardaeassumindo,porsuavez, uma funo secundria no processo mais amplo de transformao da sociedade. RetornandohistriadaUNE,Poerner(1995)peemdestaqueas principais realizaes da primeira diretoria da entidade, que teve como presidente ogachoValdirRamosBorges.Dentreelas,podemsercitadas,oapoio campanha dosestudantes do Paran contra o aumento das taxas e matrculas; a campanha pela reforma da Portaria 142, que exigia o sigilo das notas no decorrer doanoletivo;eacampanhapelaNacionalizaodoEnsino.partedessas realizaes,omaiorproblemaqueacompanhouaprimeiragestoconsistiuno agravamentodacriseentreaUNEeaCasadoEstudantedoBrasil-CEB, motivada pela disputa em torno da hegemonia no ME, culminando com o violento despejo da UNE das dependncias da CEB. importantefrisarqueaUNEunificara,nosseusprimeirosanosde existncia,omovimentoestudantilbrasileiro.Em1940,jcontavacom114 organizaes representativas oficiais, 44 culturais e 13 assistenciais, alm de sete FederaesEsportivas,quatroUniesFemininas,seisCentrosEstudantiseas Unies Estaduais recm-criadas (POERNER, 1995, pp. 145-6). AindaduranteoEstadoNovo,aUNEvaisedestacar,juntamentecomo DiretrioCentraldosEstudantesdaUniversidadedoBrasil(UFRJ),atual UniversidadeFederaldoRiodeJaneiroUFRJ,aConfederaoBrasileirados DesportosUniversitrios-CBDU,osdiretrioseoscentrosacadmicosdas faculdades,pelarealizaodaquelaqueseriaumadasprimeirasgrandes passeatas estudantis, em 04 de julho de 1942, no Rio de Janeiro, reunindo cerca de mil estudantes, no sentido de pressionar o governo a tomar a deciso de fazer oBrasilingressarnaSegundaGuerraaoladodosAliados,dandoincio campanhacontraoEixo,quesedesenvolveude1942a1945.Comessa mobilizao,...osestudantesassumiam,publicamente,aposiode vanguardeirosdasmanifestaesderuaedosmovimentosdemassa antifascistas...,cabendo,portanto,aeles,...omritodeteremdeflagrado, corajosamente,aslutascontraasforasaliengenasinfiltradasnopas, denunciando-as,publicamente,econseguindocont-lascomseuclamor... (POERNER,1995,pp.152-3).importantelembrarque,naSegundaGuerra,se por um lado, os Aliados assumiam uma posio antifascista, por outro, constituam forasabertamente pr-imperialistas. Outra importante luta encampada pela UNE, nesse perodo, foi a luta pela conquista de uma sede permanente para a entidade.Em agosto de 1942, com o fechamentodoClubeGermnia,dentreoutrosclubeseagremiaesdeorigemalem, italiana e japonesa, por deciso das autoridades brasileiras, a UNE, o DCE daUniversidadedoBrasileaCBDUsolicitaramaoPresidenteGetlioVargasa cesso da sede do referido clube para instalarem, ali, as respectivas entidades. A petiofoilevadadiretamenteaochefedogovernopelosrepresentantesdas entidadesmencionadas,merecendodaqueleumdespacho favorvel. Noentanto, o ento Ministro da Educao, Gustavo Capanema, que havia ficado responsvel pelaregularizaodaentregadoprdio,expressoudvidasquantoviabilidade dessaconcesso,oquemotivouaocupao,nodia18deagostode1942,da sededoClubeporpartedosestudantes,osquaisselimitaramacomunicarao ministroadecisodepermaneceremnoprdio,anteodespachopresidencial. Assim, a UNE passa a ter uma sede definitiva, no prdio da Praia do Flamengo. AsmanifestaescontraoEstadoNovoculminaramnamortedo estudante Demcrito de Souza Filho, primeiro-secretrio da Unio dos Estudantes dePernambuco,em05demarode1945,quandodarealizaodeumcomcio pr-candidaturadoBrigadeiroEduardoGomesecontraaintervenofederalem Pernambuco,comanomeaodeEtelvinoLins,naPraadaLiberdade,no Recife. A morte do estudante levantou milhares de vozes em todo o pas contra o EstadoNovo.Nodia08demarodomesmoano,aUNErealizouumnovo comcio,este,abertamentedeoposioaoEstadoNovo,nasescadariasdo TeatroMunicipaldoRiodeJaneiro.Ocomcioreuniuestudantes,polticose trabalhadores. Encerra-se, aqui, de acordo com Poerner (1995, p. 147), a segunda fase da UNE, considerada por muitos como os melhores tempos da UNE. Em1947,deacordocomPoerner(1995),iniciar-se-iaaterceirafaseda UNE,compreendendoosanosde1947a1949,denominadaporeledefasede hegemoniadoPartidoSocialista,destacando-seaCampanhaOPetrleo Nosso,em1947,umdosmaioresmovimentosdeopiniopblicajregistrados nahistriadoBrasil;earealizaodo12CongressodaUNECONUNE,em 1949, um dos mais famosos da histria da entidade. Conta Poerner (1995) que os estudantesreacionrioscompareceramaocongressodispostosavenc-lo, mesmo que para isso fosse necessrio usar a fora. No entanto, mais uma vez foi eleito um socialista para a presidncia da UNE, Rog Ferreira, o qual renunciou ao cargoantesdotrminodeseumandato,assumindo,assim,emseulugarJos Frejat.importantedestacarqueasresoluesdo12CONUNEconstituram, durantemuitosanos,oprogramafundamentaldaUNE,constandodele, inclusive,umadasmaioresconquistasdafasedehegemoniasocialista:a gratuidade do ensino universitrio. Terminadaessafase,inicia-seadodomniodireitista,naclassificao de Poerner (1995), sob a hegemonia da Unio Democrtica Nacional UDN, que vaide1950a1956.Poerner(1995)observaqueaascensodadireitadaUNE coincidiucomoinciodainfiltraonorte-americananomovimentoestudantil brasileiro.Essafasemarcadapelodecrscimonaparticipaopoltica estudantil, acompanhado pelo surgimento do peleguismo universitrio. Esse perodo foi intercalado por uma gesto progressista, sob a liderana deCunhaNeto,naqualrealizou-se,emmarode1955,oMsdeReafirmao Democrtica,alusivo ao transcurso de uma dcada do assassinato do estudante pernambucano Demcrito de Souza Filho. No congresso da UNE de 1955, o setor reacionrio, com o apoio governista (Presidente Caf Filho), mediante a cesso de aviesdaForaAreaBrasileiraparaodeslocamentodosdelegadosao congresso,logrou,novamente,vitria,elegendoPauloEgydioparaapresidncia da entidade. Em julho de 1956, a ala progressista retoma a direo da UNE, aps terconquistadoenormeprestgiojuntoaoestudantadodevidoacampanha,que paralisou o Rio, nos dias 30 e 31 de maio de 1956, contra o aumento, de um para dois cruzeiros, no preo da passagem dos bondes. Termina, assim, a fase policial da UNE, nas palavras de Poerner (1995, p. 172). Operodode1956a1960,denominadoporPoerner(1995)defaseda recuperaopolticadaentidade-UNE,seriaasua5fase.SegundoPoerner (1995), da greve contra o aumento da passagem dos bondes que rendeu ao grupo progressista a presidncia da UNE, a maior experincia colhida foi a solidariedade dossindicatosoperriosemrelaoUNE,comoaparecimentodaUnio Operria-EstudantilContraaCarestia.ConformerelataPoerner(1995,p.173), JosBatistadeOliveiraJnior,comopresidentedaUNE(1956-1957)... promoveuumamplomovimentodepolitizaoestudantil,abalando,assim,o controlequeoMinistriodaEducaoeCulturaexercia,noquedizrespeitoa esse aspecto ....Corroborandocomessaanlise,Sanfelice(1986,p.17)afirmaqueesse perodoreflete...umapolitizaomaiordomovimentoestudantil...comuma atuao mais intensa nos acontecimentos da vida nacional .... Dentre as atividades desenvolvidas pela UNE, neste perodo, destacam-se arealizaodo1SeminrioLatino-Americano de Reforma e Democratizao do EnsinoSuperior,emSalvador,emmaiode1960,etambmoengajamentoda entidade na Campanha em Defesa da Escola Pblica, motivado pelas discusses acerca da elaborao e aprovao da nossa primeira Lei de diretrizes e Bases da Educao Nacional LDB (SANFELICE, 1986, p. 17).Em1961,comavitriadoestudanteAldoArantesparaapresidnciada UNE,seguidapelasgestesdeVinciusCaldeiraBrandteJosSerra,ecomo crescente predomnio daAo Popular no movimento estudantil, inicia-se a sexta fasedaentidade,naclassificaodePoerner,adaascensocatlicano movimentoestudantilqueperduraat1964.DeacordocomLima&Arantes (apud SANFELICE, 1986, p.61), a UNE, a partir dessa gesto e em decorrncia dosacontecimentospolticosquesedelinearamnopas,...passouaser chamada de entidade comunista, clula vermelha ou de organizao subjugada. A acusao partia de setor