2006__315_dezembro

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Jornal da ABI Órgão oficial da Associação Brasileira de Imprensa 315 A densa experiência de Meirelles Passos e Arnaldo César Jacob Correspondente nos EUA há 20 anos, Meirelles conhece 39 países. Arnaldo (foto) passou 15 anos na Abril. Páginas 7, 8, 9, 10, 18 e 19 DEZEMBRO 2006 COMO A IDÉIA E O FATO SE TORNAM MATÉRIAS A PAUTA NO JORNALISMO DA TELEVISÃO E COMO É CUMPRIDA. PÁGINAS 3, 4 E 5 UM JORNAL BRASILEIRO PARA BRASILEIROS NOS EUA A HISTÓRIA DO BRAZILIAN VOICE, QUE TIRA 55 MIL EXEMPLARES. PÁGINAS 28 E 29 OS PERSEGUIDOS APELAM AO NOVO GOVERNADOR ELES QUEREM RECEBER A REPARAÇÃO MORAL PELAS TORTURAS SOFRIDAS. PÁGINAS 26 E 27 ESPECIAL: A HISTÓRIA DA CENSURA EM LIVRO REFLEXÕES SOBRE O CHAMADO PROCESSO MIDIÁTICO AQUI E FORA. PÁGINA 25 Jaguar é personagem do desenho animado Santa de casa, baseado no conto Santinha Milagrosa, de Aldir Blanc. O filme foi dirigido pelo cartunista Allan Sieber, que, assim como Gutemberg e Adail, deu valioso depoimento no Estação ABI. Páginas 14 e 15 ABI pensa o humor AGÊNCIA GLOBO A ROTINA DAS FESTAS, POR MARCOS DE CASTRO PÁGINA 6 PASCHOAL CARLOS MAGNO, 100 ANOS A ABI reúne artistas e intelectuais para celebrar a contribuição dele ao teatro brasileiro. Página 11 Jornalismo engajado é que arrebata prêmios NO ESSO E NO EMBRATEL Nos dois certames, ganharam destaque especial as matérias que abordam temas sociais e dramas humanos. Páginas 20 e 21 Editorial na página 2

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Page 1: 2006__315_dezembro

Jornal da ABIÓrgão oficial da Associação Brasileira de Imprensa

315

A densa experiência de Meirelles Passos e Arnaldo César JacobCorrespondente nos EUA há 20 anos, Meirelles conhece 39 países. Arnaldo (foto) passou 15 anos na Abril. Páginas 7, 8, 9, 10, 18 e 19

DEZEMBRO2006

COMO A IDÉIA E O FATOSE TORNAM MATÉRIAS

A PAUTA NO JORNALISMO DA TELEVISÃO ECOMO É CUMPRIDA. PÁGINAS 3, 4 E 5

UM JORNAL BRASILEIROPARA BRASILEIROS NOS EUAA HISTÓRIA DO BRAZILIAN VOICE, QUE TIRA 55

MIL EXEMPLARES. PÁGINAS 28 E 29

OS PERSEGUIDOS APELAMAO NOVO GOVERNADOR

ELES QUEREM RECEBER A REPARAÇÃO MORALPELAS TORTURAS SOFRIDAS. PÁGINAS 26 E 27

ESPECIAL: A HISTÓRIADA CENSURA EM LIVRO

REFLEXÕES SOBRE O CHAMADO PROCESSOMIDIÁTICO AQUI E LÁ FORA. PÁGINA 25

Jaguar é personagemdo desenho animado

Santa de casa,baseado no conto

Santinha Milagrosa, deAldir Blanc. O filme foidirigido pelo cartunistaAllan Sieber, que, assim

como Gutemberg eAdail, deu valiosodepoimento no

Estação ABI.Páginas 14 e 15

ABI pensao humor

AG

ÊNC

IA G

LOB

O

A ROTINA DAS FESTAS,POR MARCOS DE CASTRO

PÁGINA 6

PASCHOAL CARLOS MAGNO, 100 ANOSA ABI reúne artistas e intelectuais para celebrar a contribuição dele ao teatro brasileiro. Página 11

Jornalismoengajado

é quearrebataprêmios

NO ESSO E NO EMBRATEL

Nos dois certames, ganharam destaqueespecial as matérias que abordamtemas sociais e dramas humanos.

Páginas 20 e 21Editorial na página 2

Page 2: 2006__315_dezembro

2 Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 315 Dezembro de 2006

E o fato vira notícia... 3A rotina das festas / Artigo de Marcos de Castro 6José Meirelles Passos: O repórter de muito fôlego 7Arnaldo César: É preciso agregar valor com credibilidade 18Amor possível ganha o Esso 20Embratel: O engajamento venceu 21Folha Dirigida muda para ficar mais fácil de consultar 22Um dvd sobre o AI-5, por Markun 22Libertários versus ortodoxos, por Iza Salles 23Refrigério e redenção em Viagem do existir 23Viveiros lança Da arte do Brasil 23O filme musical, visto por Bilharinho 23Niemeyer a caminho do centenário 24Janice, da poesia ao jornalismo 24Yes, nós temos Voz 28A mídia ignora estes direitos 32

SEÇÕESACONTECEU NA ABI Paschoal, 100 anos 11

Com humor, tudo é possível 14LIBERDADE DE IMPRENSA A história da censura no Brasil e no mundo 25DIREITOS HUMANOS Os perseguidos apelam ao novo governador 26VIDAS Domar Campos, Mozart Ferraz, Oliveiros Litrento, Paulo Perdigão 29

Jornal da ABI

Associação Brasileira de Imprensa

Rua Araújo Porto Alegre, 71, 7º andarTelefone: (21) 2220-3222/2282-1292 Cep: 22.030-012Rio de Janeiro - RJ ([email protected])Editores: Francisco Ucha, Joseti Marques e Maurício AzêdoProjeto gráfico, diagramaçãoe editoração eletrônica: Francisco UchaApoio à produção editorial: Ana Paula Aguiar,Fernando Luiz Baptista Martins, Guilherme Povill Vianna,José Ubiratan Solino, Maria Ilka Azêdo e Solange Noronha.Diretor responsável: Maurício AzêdoImpressão: Gráfica LanceRua Santa Maria, 47 - Cidade Nova - Rio de Janeiro, RJ.

As reportagens e artigos assinados não refletemnecessariamente a opinião do Jornal da ABI.

DIRETORIA – MANDATO 2004/2007Presidente: Maurício AzêdoVice-Presidente: Audálio DantasDiretor Administrativo: –Diretor Econômico-Financeiro: Domingos MeirellesDiretor de Cultura e Lazer: Jesus ChediakDiretor de Assistência Social: Paulo Jerônimo de Souza (Pajê)Diretora de Jornalismo: Joseti Marques

CONSELHO CONSULTIVOChico Caruso, Ferreira Gullar, José Aparecido de Oliveira,Miro Teixeira, Teixeira Heizer, Ziraldo e Zuenir Ventura

CONSELHO FISCALJesus Antunes, Presidente; Argemiro Lopes do Nascimento, Secretário;Adriano do Nascimento Barbosa, Arthur Auto Nery Cabral, GeraldoPereira dos Santos, Jorge Saldanha e Luiz Carlos de Oliveira Chester.

CONSELHO DELIBERATIVO (2006-2007)Presidente: Fernando Segismundo1º Secretário: Estanislau Alves de Oliveira2º Secretário: Maurílio Cândido Ferreira

Conselheiros efetivos (2006-2009)Antônio Roberto Salgado da Cunha, Arnaldo César Ricci Jacob,Arthur Cantalice, Aziz Ahmed, Cecília Costa, Domingos Augusto Xistoda Cunha, Domingos Meirelles, Fernando Segismundo, Glória SuelyAlvarez Campos, Heloneida Studart, Jorge Miranda Jordão,Lênin Novaes de Araújo, Márcia Guimarães, Nacif Elias Hidd Sobrinhoe Pery de Araújo Cotta.

Conselheiros efetivos (2005-2008)Alberto Dines, Amicucci Gallo, Ana Maria Costábile,Araquém Moura Rouliex, Arthur José Poerner, Audálio Dantas,Carlos Arthur Pitombeira, Conrado Pereira (in memoriam),Ely Moreira, Fernando Barbosa Lima, Joseti Marques, Mário Barata,Maurício Azêdo, Milton Coelho da Graça e Ricardo Kotscho

Conselheiros efetivos (2004-2007)Antonieta Vieira dos Santos, Arthur da Távola, Cid Benjamin,Flávio Tavares, Fritz Utzeri, Héris Arnt, Irene Cristina Gurgel do Amaral,Ivan Cavalcanti Proença, José Gomes Talarico, José Rezende,Marceu Vieira, Paulo Jerônimo, Roberto M. Moura (in memoriam),Sérgio Cabral e Teresinha Santos

Conselheiros suplentes (2006-2009)Antônio Avellar, Antônio Calegari, Antônio Carlos Austregésilode Athayde, Antônio Henrique Lago, Carlos Eduard Rzezak Ulup,Estanislau Alves de Oliveira, Hildeberto Lopes Aleluia, Jorge Freitas,Luiz Carlos Bittencourt, Marco Aurélio Barrandon Guimarães,Marcus Miranda, Mauro dos Santos Viana, Oséas de Carvalho,Rogério Marques Gomes e Yeda Octaviano de Souza.

Conselheiros suplentes (2005-2008)Anísio Félix dos Santos, Edgard Catoira, Francisco de Paula Freitas,Geraldo Lopes (in memoriam), Itamar Guerreiro, Jarbas Domingos Vaz,José Amaral Argolo, José Pereira da Silva, Lêda Acquarone, ManoloEpelbaum, Maria do Perpétuo Socorro Vitarelli, Pedro do Coutto,Sidney Rezende, Sílvio Paixão e Wilson S. J. Magalhães

Conselheiros suplentes (2004-2007)Adalberto Diniz, Aluísio Maranhão, Ancelmo Gois, André Louzeiro,Jesus Chediak, José Silvestre Gorgulho, José Louzeiro, Lílian Nabuco,Luarlindo Ernesto, Marcos de Castro, Mário Augusto Jakobskind,Marlene Custódio, Maurílio Cândido Ferreira e Yaci Nunes

COMISSÃO DE SINDICÂNCIAEly Moreira, Presidente, Jarbas Domingos Vaz, José Ernesto Vianna,Maria Ignez Duque Estrada Bastos e Maurílio Cândido Ferreira

COMISSÃO DE ÉTICA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃOAlberto Dines, Artur José Poerner, Cícero Sandroni, Ivan Alves Filhoe Paulo Totti

COMISSÃO DE LIBERDADE DE IMPRENSA E DIREITOS HUMANOSAudálio Dantas, Presidente; Arthur Cantalice, Secretário; Arthur NeryCabral, Daniel de Castro, Germando Oliveira Gonçalves, GilbertoMagalhães, Lucy Mary Carneiro, Maria Cecília Ribas Carneiro, MárioAugusto Jakobskind, Martha Arruda de Paiva, Orpheu Santos Salles,Wilson de Carvalho, Wilson S. J. Magalhães e Yaci Nunes

Secos e molhados, não

EditorialEditorial

Nesta EdiçãoNesta Edição

É É É É É CONHECIDACONHECIDACONHECIDACONHECIDACONHECIDA NOSNOSNOSNOSNOS MEIOSMEIOSMEIOSMEIOSMEIOS DEDEDEDEDE IMPRENSAIMPRENSAIMPRENSAIMPRENSAIMPRENSA UMAUMAUMAUMAUMA

irreverente e célebre definição do jornalistairreverente e célebre definição do jornalistairreverente e célebre definição do jornalistairreverente e célebre definição do jornalistairreverente e célebre definição do jornalistaMillôr Fernandes acerca da função da imprensaMillôr Fernandes acerca da função da imprensaMillôr Fernandes acerca da função da imprensaMillôr Fernandes acerca da função da imprensaMillôr Fernandes acerca da função da imprensano meio social, a qual com freqüência, comono meio social, a qual com freqüência, comono meio social, a qual com freqüência, comono meio social, a qual com freqüência, comono meio social, a qual com freqüência, comoacontece atualmente no Pacontece atualmente no Pacontece atualmente no Pacontece atualmente no Pacontece atualmente no País, é objeto deaís, é objeto deaís, é objeto deaís, é objeto deaís, é objeto deincompreensões, reparos, críticas, represáli-incompreensões, reparos, críticas, represáli-incompreensões, reparos, críticas, represáli-incompreensões, reparos, críticas, represáli-incompreensões, reparos, críticas, represáli-as e até mesmo agressões, sem contar a en-as e até mesmo agressões, sem contar a en-as e até mesmo agressões, sem contar a en-as e até mesmo agressões, sem contar a en-as e até mesmo agressões, sem contar a en-xúndia de processos judiciais em que se re-xúndia de processos judiciais em que se re-xúndia de processos judiciais em que se re-xúndia de processos judiciais em que se re-xúndia de processos judiciais em que se re-clama sanção penal de jornalistas e milioná-clama sanção penal de jornalistas e milioná-clama sanção penal de jornalistas e milioná-clama sanção penal de jornalistas e milioná-clama sanção penal de jornalistas e milioná-rias, exorbitantes e descabidas indenizaçõesrias, exorbitantes e descabidas indenizaçõesrias, exorbitantes e descabidas indenizaçõesrias, exorbitantes e descabidas indenizaçõesrias, exorbitantes e descabidas indenizaçõespor suposto dano moral. Crítico de costumespor suposto dano moral. Crítico de costumespor suposto dano moral. Crítico de costumespor suposto dano moral. Crítico de costumespor suposto dano moral. Crítico de costumese severo analista da vida nacional, Millôr feze severo analista da vida nacional, Millôr feze severo analista da vida nacional, Millôr feze severo analista da vida nacional, Millôr feze severo analista da vida nacional, Millôr fezuma definição preciosa, dizendo que “imprensauma definição preciosa, dizendo que “imprensauma definição preciosa, dizendo que “imprensauma definição preciosa, dizendo que “imprensauma definição preciosa, dizendo que “imprensaé oposição; o resto é aré oposição; o resto é aré oposição; o resto é aré oposição; o resto é aré oposição; o resto é armazém de secos e momazém de secos e momazém de secos e momazém de secos e momazém de secos e mo-----lhados”. Plhados”. Plhados”. Plhados”. Plhados”. Ponto final.onto final.onto final.onto final.onto final.TTTTTal como obseral como obseral como obseral como obseral como observamos na edição anterior dovamos na edição anterior dovamos na edição anterior dovamos na edição anterior dovamos na edição anterior do

JJJJJORNALORNALORNALORNALORNAL DADADADADA ABI ABI ABI ABI ABI ao assinalar a influência do ao assinalar a influência do ao assinalar a influência do ao assinalar a influência do ao assinalar a influência doPrêmio Vladimir Herzog de Direitos Huma-Prêmio Vladimir Herzog de Direitos Huma-Prêmio Vladimir Herzog de Direitos Huma-Prêmio Vladimir Herzog de Direitos Huma-Prêmio Vladimir Herzog de Direitos Huma-nos e Anistia na elaboração das pautas dosnos e Anistia na elaboração das pautas dosnos e Anistia na elaboração das pautas dosnos e Anistia na elaboração das pautas dosnos e Anistia na elaboração das pautas dosveículos de comunicação, acentuando o inte-veículos de comunicação, acentuando o inte-veículos de comunicação, acentuando o inte-veículos de comunicação, acentuando o inte-veículos de comunicação, acentuando o inte-resse do jornalismo pelos temas de caráterresse do jornalismo pelos temas de caráterresse do jornalismo pelos temas de caráterresse do jornalismo pelos temas de caráterresse do jornalismo pelos temas de carátersocial, pelas questões que dizem respeito àsocial, pelas questões que dizem respeito àsocial, pelas questões que dizem respeito àsocial, pelas questões que dizem respeito àsocial, pelas questões que dizem respeito àsituação da gente comum do povo e à grandesituação da gente comum do povo e à grandesituação da gente comum do povo e à grandesituação da gente comum do povo e à grandesituação da gente comum do povo e à grandemassa de deserdados do Pmassa de deserdados do Pmassa de deserdados do Pmassa de deserdados do Pmassa de deserdados do País, é estimulanteaís, é estimulanteaís, é estimulanteaís, é estimulanteaís, é estimulanteregistrar que o mesmo efeito é produzidoregistrar que o mesmo efeito é produzidoregistrar que o mesmo efeito é produzidoregistrar que o mesmo efeito é produzidoregistrar que o mesmo efeito é produzidopor dois outros certames jornalísticos, o Prêmiopor dois outros certames jornalísticos, o Prêmiopor dois outros certames jornalísticos, o Prêmiopor dois outros certames jornalísticos, o Prêmiopor dois outros certames jornalísticos, o PrêmioEsso e o Prêmio Embratel, cujos vencedoresEsso e o Prêmio Embratel, cujos vencedoresEsso e o Prêmio Embratel, cujos vencedoresEsso e o Prêmio Embratel, cujos vencedoresEsso e o Prêmio Embratel, cujos vencedoresforam definidos agora em dezembro. Em ambosforam definidos agora em dezembro. Em ambosforam definidos agora em dezembro. Em ambosforam definidos agora em dezembro. Em ambosforam definidos agora em dezembro. Em ambosrevelaram especial significação os trabalhosrevelaram especial significação os trabalhosrevelaram especial significação os trabalhosrevelaram especial significação os trabalhosrevelaram especial significação os trabalhosjornalísticos que têm como centro a pessoajornalísticos que têm como centro a pessoajornalísticos que têm como centro a pessoajornalísticos que têm como centro a pessoajornalísticos que têm como centro a pessoahumana, as coletividades humanas, com seushumana, as coletividades humanas, com seushumana, as coletividades humanas, com seushumana, as coletividades humanas, com seushumana, as coletividades humanas, com seusproblemas, suas dores, suas aspirações, suasproblemas, suas dores, suas aspirações, suasproblemas, suas dores, suas aspirações, suasproblemas, suas dores, suas aspirações, suasproblemas, suas dores, suas aspirações, suas

esperanças. É esse jornalismo de superioresperanças. É esse jornalismo de superioresperanças. É esse jornalismo de superioresperanças. É esse jornalismo de superioresperanças. É esse jornalismo de superiorqualidade ética, política e social que eleva osqualidade ética, política e social que eleva osqualidade ética, política e social que eleva osqualidade ética, política e social que eleva osqualidade ética, política e social que eleva osprofissionais e seus veículos a merecido des-profissionais e seus veículos a merecido des-profissionais e seus veículos a merecido des-profissionais e seus veículos a merecido des-profissionais e seus veículos a merecido des-taque na copiosa massa de informações quetaque na copiosa massa de informações quetaque na copiosa massa de informações quetaque na copiosa massa de informações quetaque na copiosa massa de informações quetodo santo dia se oferecem aos leitores,todo santo dia se oferecem aos leitores,todo santo dia se oferecem aos leitores,todo santo dia se oferecem aos leitores,todo santo dia se oferecem aos leitores,ouvintes e espectadores. Como se dizia an-ouvintes e espectadores. Como se dizia an-ouvintes e espectadores. Como se dizia an-ouvintes e espectadores. Como se dizia an-ouvintes e espectadores. Como se dizia an-tanho: é um jornalismo de escol.tanho: é um jornalismo de escol.tanho: é um jornalismo de escol.tanho: é um jornalismo de escol.tanho: é um jornalismo de escol.Apesar dos erros e equívocos que eventual-Apesar dos erros e equívocos que eventual-Apesar dos erros e equívocos que eventual-Apesar dos erros e equívocos que eventual-Apesar dos erros e equívocos que eventual-

mente cometem, os meios de comunicação emente cometem, os meios de comunicação emente cometem, os meios de comunicação emente cometem, os meios de comunicação emente cometem, os meios de comunicação eseus profissionais dotam o conjunto da soseus profissionais dotam o conjunto da soseus profissionais dotam o conjunto da soseus profissionais dotam o conjunto da soseus profissionais dotam o conjunto da so-----ciedade e os dirigentes da coisa pública e daciedade e os dirigentes da coisa pública e daciedade e os dirigentes da coisa pública e daciedade e os dirigentes da coisa pública e daciedade e os dirigentes da coisa pública e dainiciativa privada de informações e concei-iniciativa privada de informações e concei-iniciativa privada de informações e concei-iniciativa privada de informações e concei-iniciativa privada de informações e concei-tos que embasam decisões, desde as mais triviais,tos que embasam decisões, desde as mais triviais,tos que embasam decisões, desde as mais triviais,tos que embasam decisões, desde as mais triviais,tos que embasam decisões, desde as mais triviais,na rotina do dia-a-dia, às mais relevantes,na rotina do dia-a-dia, às mais relevantes,na rotina do dia-a-dia, às mais relevantes,na rotina do dia-a-dia, às mais relevantes,na rotina do dia-a-dia, às mais relevantes,que interferem no curso da gestão social eque interferem no curso da gestão social eque interferem no curso da gestão social eque interferem no curso da gestão social eque interferem no curso da gestão social ena condução dos negócios. O desempenho dosna condução dos negócios. O desempenho dosna condução dos negócios. O desempenho dosna condução dos negócios. O desempenho dosna condução dos negócios. O desempenho dosmeios de comunicação não pode, por isso, sermeios de comunicação não pode, por isso, sermeios de comunicação não pode, por isso, sermeios de comunicação não pode, por isso, sermeios de comunicação não pode, por isso, seralcançado por restrições que se manifestemalcançado por restrições que se manifestemalcançado por restrições que se manifestemalcançado por restrições que se manifestemalcançado por restrições que se manifestemdesde o plano mais imediato, no contato dosdesde o plano mais imediato, no contato dosdesde o plano mais imediato, no contato dosdesde o plano mais imediato, no contato dosdesde o plano mais imediato, no contato dosprofissionais com as fontes de informação,profissionais com as fontes de informação,profissionais com as fontes de informação,profissionais com as fontes de informação,profissionais com as fontes de informação,como ante-sala, cartão de visita da concep-como ante-sala, cartão de visita da concep-como ante-sala, cartão de visita da concep-como ante-sala, cartão de visita da concep-como ante-sala, cartão de visita da concep-ção de que é preciso gerar mecanismos ins-ção de que é preciso gerar mecanismos ins-ção de que é preciso gerar mecanismos ins-ção de que é preciso gerar mecanismos ins-ção de que é preciso gerar mecanismos ins-titucionais para condicionar a atuação datitucionais para condicionar a atuação datitucionais para condicionar a atuação datitucionais para condicionar a atuação datitucionais para condicionar a atuação daimprensa, que teria “liberdade demais”.imprensa, que teria “liberdade demais”.imprensa, que teria “liberdade demais”.imprensa, que teria “liberdade demais”.imprensa, que teria “liberdade demais”.Os jornalistas e suas entidades, assim comoOs jornalistas e suas entidades, assim comoOs jornalistas e suas entidades, assim comoOs jornalistas e suas entidades, assim comoOs jornalistas e suas entidades, assim como

outras instituições representativas da soci-outras instituições representativas da soci-outras instituições representativas da soci-outras instituições representativas da soci-outras instituições representativas da soci-edade civil, devem manter-se permanente-edade civil, devem manter-se permanente-edade civil, devem manter-se permanente-edade civil, devem manter-se permanente-edade civil, devem manter-se permanente-mente atentos, porque não tardará que al-mente atentos, porque não tardará que al-mente atentos, porque não tardará que al-mente atentos, porque não tardará que al-mente atentos, porque não tardará que al-gum dos muitos agentes liberticidas à soltagum dos muitos agentes liberticidas à soltagum dos muitos agentes liberticidas à soltagum dos muitos agentes liberticidas à soltagum dos muitos agentes liberticidas à soltacomece a falarcomece a falarcomece a falarcomece a falarcomece a falar, usando o jargão ter, usando o jargão ter, usando o jargão ter, usando o jargão ter, usando o jargão terminológi-minológi-minológi-minológi-minológi-co em voga, em “marco regulatório” para aco em voga, em “marco regulatório” para aco em voga, em “marco regulatório” para aco em voga, em “marco regulatório” para aco em voga, em “marco regulatório” para aimprensa. Aimprensa. Aimprensa. Aimprensa. Aimprensa. Acautelemocautelemocautelemocautelemocautelemo-nos, pois.-nos, pois.-nos, pois.-nos, pois.-nos, pois.

Personagemdo curta deanimação

Onde AndaráPetrucio

Felker?, deAllan Sieber

ERRATA - Na edição número 314, o entrevistador de Paulo Markun foi Rodrigo Caixeta, e não José Reinaldo Marques.

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3Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 315 Dezembro de 2006

PAUTA

ÃO É POR ACASO QUEUM PROGRAMA JORNA-

LÍSTICO DE TV VAI AO ARTODOS OS DIAS. O ESPECTADORLIGA A TV EM DETERMINADOHORÁRIO E ASSISTE A UM SHOWDE NOTÍCIAS OU A UMA ENTRE-

VISTA, SEM SE DAR CONTA DETUDO O QUE FOI FEITO PARAQUE AQUELE “PRODUTO” FOS-

SE VEICULADO. O espectador co-mum, ou mesmo o estudante de Comu-nicação, não tem noção de todo um pro-cesso que envolve a discussão de pautase a produção de conteúdo jornalístico, nosmais variados formatos: seja telejornal,entrevista ou programa de variedades.

Comparar a redação a uma fábricatalvez seja a melhor forma de demons-trar o processo industrial que começa coma matéria-prima (o fato ou informação)ainda bruta e seu tratamento até à obten-ção de um produto acabado, embalado epronto para consumo – a notícia.

Produzir significa executar idéias epensar todo o processo de criação de umprograma jornalístico. É um processo deextenso trabalho que começa com aapuração, a pauta, a discussão do trata-mento que a notícia terá no processo, aexecução da pauta, apuração, telefone-mas (uma boa agenda é o melhor amigodo produtor), pesquisa, externas, pré-produção, a confecção do espelho dojornal, a entrevista (bem como sua mar-cação), captação de imagens, iluminação,fitas, o tempo de cada uma das matérias,participações ao vivo etc.

Dia-a-dia Apresentadora do Sala de Notícias, que

está na grade de programação do CanalFutura desde a estréia da emissora, em 97,e em breve ganhará novo formato,Amanda Pinheiro diz que o objetivo doprograma sempre foi contextualizar

E o fato vira notícianotícianotícianotícianotícia...O sucesso dos noticiosos de televisão, não importa se telejornais,

programas de entrevistas ou de variedades, depende basicamente dapauta, desde a sugestão à aprovação e execução, dentro dos prazos e

com os recursos disponíveis em cada emissora.

POR JOSÉ REINALDO MARQUES

N

Amanda Pinheiro,apresentadora doinformativo Sala deNotícias, do CanalFutura, revela que apauta do jornal contacom a participaçãode toda a equipe.

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ULG

ÃO

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4 Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 315 Dezembro de 2006

PAUTA

notícias e levantar a discussão dos prin-cipais temas da atualidade. Para dar for-ma ao que vai ao ar de segunda a sexta,às 12h30min, com reprises às 17h30 e21h30, as reuniões de pauta são semanais,sempre às quartas-feiras.

— Nesses encontros, discutimos todosos aspectos dos temas escolhidos. Toda aequipe sugere pautas. Procuramos prio-rizar temas que tenham a ver com o dia-a-dia da população em geral e abordar osassuntos sob a perspectiva de quem nosassiste. Isso significa convidar para asconversas não só os chamados “especia-listas” (normalmente, acadêmicos), maspessoas que possam contribuir para odebate com relatosde experiência, vi-vência sobre o as-sunto discutido.

Na produção, dizAmanda, todos par-ticipam, pondo “amão na massa”,apurando e coorde-nando a finalizaçãodos vts nas ilhas deedição. O programaconta ainda comapoio das equipes depesquisa e dos arqui-vos de imagem doFutura e da RedeGlobo. Ela destacaque a preocupaçãocom os conteúdosformativos e informativos é constante,pelo fato de o canal ter como objetivo nãosó entreter, mas também incentivar aspessoas a pensar.

— Queremos que o que produzimosfaça sentido para as pessoas. O lema donosso jornalismo é informar para trans-formar. Modestamente, o que pretende-mos é contribuir para o entendimento,deixando aberto um espaço de debate deidéias a pessoas que tenham como con-tribuir. Assim como todos os programasda grade, o Sala de Notícias é ferramen-ta pedagógica: depois de veiculado, trans-forma-se em material didático. Cada umde nós que trabalha no Futura é parte dessaincrível engrenagem do conhecimento.Sob essa lógica, orientamos nossa reu-nião de pauta.

Correndo atrásDiretor de programas como Caldeirão

do Huck, de videoclipes e curta-metra-gens, o diretor artístico e de conteúdo docanal GNT, Jorge Espírito Santo, procu-ra ser didático ao apontar funções e res-ponsabilidades:

— O pauteiro é o responsável por su-gerir os assuntos que podem virar maté-ria. Cabe ao apurador correr atrás das in-formações e sacar se o assunto rende ma-téria. Estando tudo certo, o produtor vaiimaginar a matéria, marcar com os en-trevistados e a equipe técnica etc. O editorde texto vai pegar as informações apura-das e escrever a matéria. Cabe ao editorde vídeo cobrir o texto com as imagens.Daí, então, o editor responsável ou odiretor aprovam o material para ir ao ar.A tv é um trabalho de equipe. Não há outra

forma de se fazer a coisa. São muitaspessoas trabalhando juntas para que al-guém ponha a cara no vídeo. Quanto maisintegrada é essa equipe, melhor é o resul-tado final, ou seja, o programa.

Para estruturar a matéria, é importantesaber buscar nos fatos sua relevância e con-seqüência para as pessoas. Para JorgeEspírito Santo, a escolha de pauta depen-de do tipo de programa que se está pro-duzindo.

Programas ditos de variedade têm li-berdade um pouco maior na escolha dapauta, em comparação a programas jor-nalísticos. Ofertas de emprego, formaçãoprofissional, empreendedorismo, o mer-

cado e as novas pro-fissões são os temasprincipais do pro-grama Carreira e Su-cesso, exibido aos sá-bados, às 10h30 min,na TV Record. Comduas reuniões depauta semanais, àssegundas e quintas,e uma equipe enxu-ta, com coordena-dora, produtor, esta-giária e apresenta-dora, o programa,diz sua coordenado-ra e editora, AnnaCarolina Devay,tem como público-alvo os jovens em

busca do primeiro emprego, os desempre-gados e aqueles que querem ganhar di-nheiro por conta própria.

— Nossa apuração busca as assessori-as de imprensa das empresas empregado-ras e até o Ministério Público quando asquestões trabalhistas ou de regulamen-tação de determinada profissão estão empauta. O programa faz ainda a suíte deassuntos que renderam bons empregosou boas matérias:

— Certa vez, fizemos uma matériaacompanhando um candidato a empre-

go. Ele perambulou por diversas lojas embusca de trabalho extra na época do Natal.No desenrolar da matéria, um consultorde Recursos Humanos dava dicas sobreo que é certo e o que é errado na busca porum emprego, na entrevista, na dinâmi-ca, enfim, no passo a passo. No final damatéria, o candidato conseguiu o empre-go numa loja de um shopping center efoi efetivado. O programa cumpriu seupapel jornalístico e social.

DiversificaçãoCom uma programação que vai de pro-

gramas culturais e documentários àtransmissão ao vivo de suas sessões, umde seus principais objetivos, a TV Sena-do tem audiência qualificada entre asemissoras por assinatura. Como o canal(8, na Net) não tem sucursais ou repre-sentações em outros Estados, o DistritoFederal torna-se território preferencial

para a produção de seus programas.Diariamente, a emissora distribui suas

equipes e cobre as comissões permanen-tes da Casa, as comissões parlamentaresde inquérito, comissões especiais e comis-sões mistas, compostas de senadores edeputados, com imagens disponibiliza-das também para as emissoras comerci-ais, em tempo real, via satélite. Quandonão são exibidas ao vivo, as reuniões dascomissões são gravadas e veiculadas nosintervalos da programação no mesmo diaou nos dias seguintes.

A grade contempla programas comoEspaço Cultural, que mostra espetáculos,exposições e entrevistas com músicos eartistas convidados; o EcoSenado, comdiscussões principalmente sobre meioambiente e é gravado em externas peloPaís; e Conversa de Músico, voltado paraa música instrumental e apresentado porDora Rocha e pelo maestro e pianistaAndré Tribuzy, que entrevistam os con-vidados e explicam como funcionam osinstrumentos que eles tocam. O palco dasgravações de Conversa de músico são ossalões do Palácio do Itamarati, em exter-na que privilegia a arquitetura do prédioe as obras de arte que decoram a institui-ção. Uma das responsáveis pela produçãode programas culturais da emissora, May-ra Cunha ressalta, no entanto, que as pau-tas variam muito.

— A grade da TV Senado é bem diver-sificada. No caso do jornalismo, as pau-tas factuais são encaminhadas para aprodução do núcleo, que as avalia e tentaencaixar os temas no Jornal do Senado, quevai ao ar em duas edições diárias.

O diferencial de pauta dos programasda TV Senado, em relação às demais emis-soras, reside no interesse único pela in-formação — com a exibição das discus-sões das CPIs, por exemplo, sem preocu-pação com o crescimento de audiência quemove as demais. Ainda assim, a exibiçãodas sessões da Casa em torno das recen-tes discussões nacionais gerou grande in-teresse do público espectador.

Jorge EspíritoSanto, que dirigiuprogramas como

Caldeirão doHuck, consideraque quanto mais

integrada for aequipe que

planeja e produzmelhor será o

resultado dotrabalho: ou seja,

o próprioprograma.

Maria Paula põe em sinais para deficientesauditivos o texto que eles não ouvem.

Coordenadorae editora de

um programada TV Record

voltado para omercado de

trabalho,Carreiras e

Sucesso,Anna Carolina

Deway dizque essa

programaçãocumpre um

papel não sójornalístico,

mas tambémsocial.

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5Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 315 Dezembro de 2006

Equipe que trabalha unidaobtém melhores resultados

Troca de idéias e sugestões é essencial, desde a elaboração até à execução da pauta,para colocar no ar a melhor reportagem, com a melhor imagem e as informações exatas.

A jornalista Viviane Medeiros deixouo cargo de repórter local da TV Globo noRio de Janeiro, onde trabalhou dez anos,para ser repórter de rede em uma afili-ada, a de São Luís, no Maranhão. Em re-lação à rede, ela explica, a reunião de pautafunciona com a discussão sobre qual ma-téria será oferecida a cada um dos telejor-nais nacionais da Rede Globo. Diz Vivianeque as pautas podem partir dos produtores,dos repórteres ou dos editores... O proces-so é aberto a todos da Redação

— As pautas que vamos efetivamen-te sugerir para os jornais são escolhidaspor mim e pela produção com base no perfilde cada telejornal — Bom-dia, Brasil, Hoje,Jornal Nacional, Jornal da Globo, Fantás-tico, Globo Repórter, Globo Rural, MaisVocê, Globo Esporte, Esporte Espetacu-lar, Globonews Especial etc. Por causadisso, não temos um horário definido paraa reunião de pauta na TV Mirante. Sem-pre que temos uma idéia, uma sugestão,nos reunimos, eu e os produtores, paradiscuti-la. Quando a pauta é aprovada,damos início à produção.

Como também já exerceu a função deprodutora, ela gosta de participar doprocesso, de conversar com as pessoas pelotelefone antes de marcar a entrevistapessoalmente, para ter uma idéia do quevai encontrar na hora da gravação.

— Quando tenho mais tempo, gostode conhecer o entrevistado pessoalmen-

te, bater um papo com ele antes do dia dagravação, visitar o local onde esta será fei-ta... Assim, tenho idéia do tipo de imagemque vamos conseguir. É claro que, quan-do se trata de um factual, isso tudo nãoé possível. De qualquer maneira, é impor-tante estar aberto para as surpresas quepodem surgir durante a reportagem e terjogo de cintura para lidar com os impre-vistos, até porque nem sempre a produ-ção consegue viabilizar tudo o que a gentegostaria para o vt.

Para Viviane, a mistura dos diversospapéis e funções na redação é um fatonormal.

— É claro que cada profissional tem umtrabalho a fazer, mas hoje em dia achomeio ultrapassado falar de cada umadessas funções separadamente. Todosacabam fazendo um pouco de cada coi-sa. É claro que, na hora de editar a maté-ria, os editores de texto e de imagem vãopara a ilha de edição juntos. Na hora dedecidir para onde a equipe de reportagemdeverá ser deslocada, o Chefe de Repor-tagem toma a decisão depois de ouvir oapurador. Da mesma maneira, pauteirose produtores irão discutir, junto com oseditores do jornal e o Chefe de Reporta-gem, as sugestões de pauta e como elasserão viabilizadas. Achar que cada umdesses profissionais tem uma funçãoestanque me parece um equívoco natelevisão atual.

Único telejornal diário e nacional cri-ado especialmente com a proposta de le-var informação à comunidade dos por-tadores de deficiência auditiva, estima-da em 5 milhões de pessoas, o Jornal Visual,da TVE, existe e resiste há 18 anos. Comcinco minutos de duração, vai ao ar desegunda a sexta, às 12h25min, antes donoticiário local, e tem como editora-chefede texto e de vídeo, desde o início de 2006,a jornalista Maria Helena Falcão.

O programa conta ainda com doisprodutores, uma locutora, uma entrevis-tadora, uma equipe que faz externas so-bre matérias específicas e duas intérpre-tes de Libras — a linguagem brasileira desinais. Cláudia Jacob Belga, uma das in-térpretes, é pedagoga, gosta de jornalis-mo e cria a maioria das pautas, cuja esco-lha está sempre ligada às questões deinteresse dos portadores de deficiências

Os desafios de falara quem não pode ouvir

Além dos profissionais da redação,Viviane Medeiros destaca ainda os repór-teres-cinematográficos, operadores deluz e áudio, engenheiros e técnicos res-ponsáveis por manter o veículo no ar: —Todos têm, de fato, papel fundamentalno processo jornalístico de uma emisso-ra e, muitas vezes, esses papéis se combi-nam, se misturam.

No caso da equipe que vai para a ruafazer a reportagem, repórter, repórter-ci-nematográfico e operador têm responsa-bilidades equivalentes e devem trabalharafinados para conseguir o melhor mate-

rial. Muitas vezes, en-quanto o repórter apu-ra informação com oentrevistado, o cine-grafista está de olhoem um detalhe quepode render uma boaimagem. Da mesmamaneira, o operadordeve estar atento aoque acontece em vol-ta e que pode ser impor-tante para a matéria:

— Lembro-me deum episódio em quecobríamos uma visitaàs obras de expansãodo metrô em Copaca-bana. Na hora de gra-var a “passagem” (mo-mento em que o repór-ter fala diretamentepara a câmara), o cine-grafista me pergun-

tou o que eu pretendia dizer. Mostreiminha fala e ele pareceu meio contrari-ado. Meu texto não permitiria que elefizesse o movimento de câmara que es-tava imaginando. A idéia dele era muitomelhor que a minha e, claro, mudei o meutexto imediatamente para adequá-lo aoque o repórter-cinematográfico queriafazer. Nem é preciso dizer que o resulta-do ficou maravilhoso. Acho que históri-as como essa mostram a importância dosprofissionais de tv que não aparecem parao telespectador, mas que são fundamen-tais no exercício da reportagem.

(não apenas auditivas). A outra intérpre-te, Maria Paula Cunha, foi casada com umdeficiente auditivo e, assim como Cláu-dia, tem grande envolvimento com opúblico-alvo do telejornal.

Cada edição do Jornal Visual apresen-ta duas ou três matérias. Geralmente, sãotrês vts com “cabeças” (aberturas feitaspelo apresentador) enxutas. Uma voz emoff narra as notícias, tendo na tela umaintérprete de Libras — nem todos osdeficientes sabem o português — queaparece em chroma key (efeito que permitea superposição de imagens) numa jane-la no canto direito do vídeo. O programaé pré-gravado, o que permite que as in-térpretes assistam ao noticiário para sa-ber o assunto e imprimir maior veloci-dade à interpretação.

Para não conflitar com o telejornal queentra no ar em seguida, o Jornal Visual

não aborda o factual, o que não impede,por exemplo, que exiba os gols da rodadade uma forma toda especial, como expli-ca Maria Helena:

— Encontramos uma maneira deabordar o tema para este público. Passa-mos o lide, explicamos como foi a roda-da e como ficaram os times na tabela,falamos sobre determinado jogo e osautores dos gols e concluímos com aexpressão: “Veja o lance”. O espectadorassiste à jogada sem se preocupar emperceber sinais. Ele vê o gol sem qualquertipo de narração. Como o jornal é “visu-al”, ele vê. Quem não é surdo, ouve tam-bém o bg (ruído) da torcida.

Saúde, esporte e cultura são as pautasque mais interessam ao programa. Mas umassunto está fora de questão: música.

— Podemos falar sobre o lançamentode um livro, mas não de um cd, da mes-ma forma que não mostramos espetácu-los musicais. Este é um assunto que sópertence a quem tem a capacidade de ouvir— diz a editora.

O Jornal Visual aborda também per-

sonagens, como os portadores de defici-ência que se destacam nas mais diferen-tes áreas. A artista plástica e poetisa Vir-gínia Vendramini, o recordista de meda-lhas e nadador Clodoaldo Silva, o judocaAntônio Tenório da Silva, o corredor doRally dos Sertões 2006 Paulo Polido sãopersonalidades sempre presentes na pau-ta do programa, pela imagem vencedorae positiva que passam ao espectador.

De acordo com a editora-chefe, é muitoalto o retorno do telejornal, gravado eexibido por escolas de educação de defi-cientes auditivos em todo o País:

— Nosso trabalho é usado como ma-terial didático. Já aconteceu de fazermosprogramas com entrevistas e “passagens”em Libras. Ficou muito interessante.

— Além de exibir o Jornal Visual, a TVEé a emissora que mais utiliza o sistemade close caption, que o espectador podeacionar em casa para ler os textos dequalquer tipo de programa:

— Só não usamos esse recurso diretona tela porque causaria uma grande polui-ção na imagem — explica Maria Helena.

Todos os que atuam no jornalismo na tv, e não apenas os jornalistas,são importantes para o êxito da pauta, diz Viviane Medeiros.

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ARTIGO

POR MARCOS DE CASTRO

A rotina das festas

Marcos de Castro, jornalista, ganhador do PrêmioEsso de 1969, é sócio da ABI.

"Não faltará peixe na Semana Santa".O título, em geral manchete de página,aparecia em quase todos os jornais, reli-giosamente (e o advérbio é bom para oassunto de que tratamos), ano após ano,no período que antecedia o período maisimportante da liturgia católica. Ainda quea afirmação fosse sempre passível dedúvida — pois duvidosas eram as promes-sas dos peixeiros —, o título carrega emsi uma realidade concreta: eram precári-as as condições do mercado para garantira distribuição de peixe na Semana Santa,

quando a procura (as páginas de econo-mia diriam "demanda") por peixe aumen-ta muito.

Aumenta — não será despiciendo di-zer, pois os adeptos de uma sempre igno-ram quase tudo sobre a religião de outros— porque a tradição católica proíbe co-mer carne de boi ou de porco na SemanaSanta (hoje a proibição no período restrin-ge-se à Sexta-Feira Santa). Na outra pon-ta dessa proibição está, evidentemente,o aumento considerável por ela provocadona procura de peixe nos dias do período

que culmina com a Páscoa. Em resumo,estamos diante de uma situação cujascaracterísticas sempre repetidas, como emtoda data religiosa anual, acabavam pro-vocando ironias dentro das redações. Iro-nias, digamos logo, nunca contra a reli-gião em si, mas contra as situações cria-das, sempre iguais entra ano e sai ano,sempre um tanto insossas, por isso mes-mo, para a reportagem.

Os problemas de abastecimento seagravaram muito com a Segunda Guer-ra Mundial, daí a repetição anual damanchete no caso do peixe (os homensdo mercado da pesca gostavam de subs-tituir peixe por "pescado", palavrinha que

ninguém usa em casa: é um termo téc-nico da corporação comercial). Nos anosque se seguiram à guerra, os problemaspersistiram, daí a insistência na repetiçãoanual dos títulos de jornais, insistênciaque inevitavelmente levava à ironia. Hojenão há mais problema quanto ao abaste-cimento de peixe. Mas, e quanto às ou-tras festas que se repetem anualmente?

Não falemos no carnaval, que esse trazsempre novidades. Os novos enredos, osnovos sambas-enredos, a riqueza doscarros alegóricos, os destaques de cada ala,

as novidades nas baterias e, além dosdesfiles das escolas, as diversas festas car-navalescas pela cidade (antigamente haviao Banho de Mar a Fantasia, na Praia doFlamengo), as figuras que chegam doexterior, tudo muda todo ano. Notíciadiferente é coisa que não falta no carna-val. E quanto ao Natal? Surgiu há algunsanos a Árvore da Lagoa, pinta uma coi-sinha aqui, outra lá, mas, fora isso, o Natal,para os que trabalham nas redações, ésempre a mesma coisa. Porque a vida dacidade não muda nada, passa longe doMenino Jesus, de Maria e de José, afoga-dos os três no meio do compra-compra-compra que é o objetivo da publicidade

brutal do consumismo, a nos meter a todosnuma roda-viva.

Na verdade, os anúncios só falam em"presente", de certa forma um eufemis-mo para usar no lugar de "compras". Querdizer, de comércio. Quer dizer, de consu-mo. Machado de Assis, nosso genial ro-mancista e contista que também come-teu suas poesias, pergunta na chave deouro de um soneto célebre: "Mudaria oNatal ou mudei eu?" Terá mudado o poeta,hão de responder os jornalistas que dãoplantão nas redações nessa época do ano.

O Natal não muda nada, ao contrário daSemana Santa em que o peixe deixou deser problema.

Mudança de horárioRigorosamente, só mudou o horário

da Missa do Galo (e o bom leitor deMachado aqui há de voltar a ele e ao contoque leva esse título, discretamente sen-sual, em que o jovem agregado observacom sensualidade contida o "balanço docorpo" e o pisar "mansinho" de Concei-ção). Hoje, preocupados com a seguran-ça de seus fiéis, os párocos rebaixaram aMissa do Galo da meia-noite para o pro-saico horário das 20h, pouco mais, pou-co menos. Que fazer, senão adaptar-se àsem-gracice?

Resta o ano-bom. Neste, as mudançasforam consideráveis. Conheço um reda-tor que tirou muito plantão nessas fes-tas e tinha de fazer força para não dormir.Havia os diversos bailes da virada de anoem clubes e hotéis luxuosos. Mas bailerende pouca notícia para jornal, aindamais começando à meia-noite. E haviasempre uns grupos de umbanda que iamlevar flores para Iemanjá na Praia deCopacabana. Isso dava, sem falta, umtextinho para segundo clichê (denomi-nação imprópria, hoje devidamente al-terada para segunda edição) — e textinhopoético, uma vez que se tratava de mar,da Rainha do Mar, de flores e dos trajesbrancos da bela religião africana que nostrouxeram os negros.

Tudo isso foi crescendo e, hipertrofi-ada, a festa perdeu o seu lado ingênuo. Denotinha de segundo clichê, virou atraçãode tv com seu foguetório, luzes, cores,cascatas de fogos, milhões de pessoas(dizem que 2 milhões: nunca entendi bemcomo se faz essa contagem). É transmis-são ao vivo para o Brasil inteiro e para vá-rios países. Algumas de nossas cidadesgrandes buscaram marcar sua passagemde ano com festa semelhante, mas lhesfalta a graciosa curva de três quilômetrose meio da Praia de Copacabana, faltam-lhes os devotos de Iemanjá a jogar florespara a Rainha do Mar. Toda essa grandi-osidade, entretanto, acabou virando ro-tina também. Rotina majestosa, só que-brada quando acontece alguma tragédiacomo a do Bateau Mouche — ai de nós,repórteres, sempre em busca de uma coisadiferente!

Hoje pedimos a Deus que nos dê muitarotina, sem nada diferente nessas festasque se repetem ao infinito. E originali-dade para cobri-las sempre com um espí-rito novo — pois as pessoas são novas acada noite de 31 de dezembro, novo é oespírito que se respira a cada passagem deano, nova será sempre a esperança.

Tudo isso foi crescendo e, hipertrofiada, a festa perdeu o seu ladoingênuo. De notinha de segundo clichê, virou atração de tv com seu

foguetório, luzes, cores, cascatas de fogos, milhões de pessoas

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DEPOIMENTO JOSÉ MEIRELLES PASSOS

ENTREVISTA A JJJJJOSÉOSÉOSÉOSÉOSÉ R R R R REIEIEIEIEINALDONALDONALDONALDONALDO M M M M MARQUARQUARQUARQUARQUESESESESES

O repórter de muito fôlegoCorrespondente diz que jornalistadeve ouvir mais do que falar, estar

sempre atento e ter muita curiosidade.

Em janeiro de 2007, José Meirelles Passos completa 20 anoscomo correspondente internacional de O Globo, nos EstadosUnidos. O repórter mora em Washington e trabalha noescritório do jornal, a uma quadra da Casa Branca.

Por conta do jornalismo, Meirelles — que se formou emSantos-SP e já conheceu cerca de 39 países — fez sua estréiacomo correspondente viajando pela América Latina, quan-

do trabalhava na IstoÉ. Em seguida, foi convidado pela Vejapara ser correspondente em Buenos Aires. Nesse período, oúnico país que não visitou foi o Equador — “uma lacuna quedia desses, quem sabe, eu preencho”, diz. Aqui, ele contacomo começou o seu interesse pelo noticiário internacionale por que a reportagem é sua área preferida dentro do jor-nalismo, “seja qual for o assunto”.

Às vésperas de completar 20 anos como correspondente internacional nos Estados Unidos, Meirelles Passos conhece todos os paises latino-americanos, à exceção do Equador

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Jornal da ABI — Quando você decidiuque seria jornalista?

José Meirelles Passos — Cedo, ainda noginásio, talvez pelo gosto da leitura. Meupai tinha muitos livros, assinava jornais,era um bom contador de histórias. Issotudo certamente influenciou. Na esco-la primária, eu gostava das aulas de Re-dação. A professora dava um tema e a gentetinha de escrever a respeito. Eram coisasdo tipo “O último fim de semana”, “Oquintal de minha casa”. Quer dizer: naprática você tinha que escrever um rela-to informativo, uma espécie de reporta-gem. Às vezes acontecia uma coisa cha-mada de “Composição à vista de umagravura”. Ela colocava uma pintura oufotografia lá na frente da sala e tínhamosde escrever a respeito, entrar na cena,descrevê-la, contar uma história, tendoaquilo como pano de fundo.

Jornal da ABI — Você se sente gratifi-cado com a escolha?

Meirelles — Muito! É o que eu maisgosto de fazer. É um trabalho que me dáprazer, que me ensina algo todos os dias.Ele me dá chances de ver a História deperto, de registrá-la, de aprender a viver.A profissão me leva a conhecer o mun-do, algumas vezes do lado do avesso.

Jornal da ABI — Costuma haver umamatéria marcante no início da carreira dosrepórteres. Você tem alguma?

Meirelles — Ah, foram tantas... Ne-nhuma de grande destaque, mas muitaspequenas e interessantes histórias docotidiano.

Jornal da ABI — E o golpe militar naBolívia, em 81?

Meirelles — Foi uma experiênciamuito doida. Eu era correspondenteda IstoÉ e conheci um deputado bolivi-ano cassado, que vivia em São Paulo.Telefonei para ele e disse que numa sex-ta-feira estaria embarcando para SantaCruz de La Sierra, para apurar o envolvi-mento do Coverno Garcia Meza com o

de 1980. Passei a cobrir América Latina,residindo em São Paulo e viajando pelospaíses vizinhos.

Jornal da ABI — Em meados dos anos80, você também foi correspondente da Vejana Argentina.

Meirelles — Recebi convite da Veja paraser correspondente em Buenos Aires,onde cheguei em janeiro de 1984. Doisanos e meio depois, passei para O Globo,ainda na capital argentina. Seis meses maistarde o jornal me transferiu para Wa-shington, onde, em janeiro do ano quevem, vou completar 20 anos de trabalho.

Jornal da ABI — Teve algum problemade adaptação nos Estados Unidos?

Meirelles — Não há grandes diferen-ças, mas a questão das facilidades e difi-culdades, de acesso a fontes e, é claro, decomunicação. Transmitir uma matériaou fotografia, nos EUA, mesmo estandono interiorzão, é bem mais fácil do queno interior — às vezes até mesmo numacapital — da América Latina.

Joranl da ABI — Você costuma se auto-definir como um repórter que gosta dasmatérias que exigem fôlego e investigação.É sua principal característica profissional?

Meirelles — Acho que seria mais es-tar sempre atento, ser curioso, ouvir maisdo que falar e observar com determina-ção. As matérias de maior fôlego, semdúvida, são mais gratificantes. Exigem,sobretudo, pesquisa prévia, respeito e,depois, tenacidade. O rótulo “investiga-ção” me incomoda um pouco, no senti-do de que hoje isso parece ser encaradocomo uma especialidade desse ofícioquando, na verdade, todo jornalismo deveser investigativo por definição — comobem diz um dos mais notáveis repórte-res veteranos, Gabriel García Márquez.

Jornal da ABI — A reportagem semprefoi seu maior interesse?

Meirelles — Sem dúvida alguma, sejaqual for o assunto. É claro que há temasque apreciamos mais, em que trafegamosmelhor, mas estou aberto a tudo. Costu-mo dizer que leio com atenção até bula

de remédio, em busca de dicas, idéias,inspiração. Talvez seja um vício trabalhis-ta. É que sempre há algo que dá uma boamatéria, não é mesmo? Até uma fraseouvida no metrô, no botequim...

Jornal da ABI — Qual é a fase mais in-teressante da reportagem?

Meirelles — Não separo uma coisa daoutra. São três fases distintas: o chama-do “dever de casa”, que é a preparação paramergulhar num determinado assunto,seguido da apuração e, então, da elabora-ção do texto. Ouço com freqüência co-legas dizendo “agora chegou a pior par-te”, diante do teclado.

Há um costume que vem da época dasmáquinas de escrever, mas que perduramesmo na geração que iniciou a profis-são já nos computadores, e que de certaforma reflete isso: as pessoas dizem quevão “bater a matéria”. Costumo dizer quenão bato, mas escrevo matérias — e achoque nisso está uma diferença clara. Vejogente ligando o piloto automático na horade escrever, mas acho errado. Cada his-tória é uma história, por menor que seja,por mais desinteressante ou corriqueiroque seja o assunto. É preciso respeitar oleitor e o próprio ofício.

Jornal da ABI — O que ser correspondentesignificou em termos de oportunidades?

Meirelles — Aprender outros idiomas,viajar, penetrar em outros mundos, co-nhecer in loco outras culturas. Isso foi mefascinando aos poucos. Até aqui, já foram39 países percorridos a trabalho. Nota-seque faltam muitos mais, não é? No fun-do, a carreira de correspondente interna-cional cristalizou algo surgido no início,que era o papel de repórter-faz-tudo.Prefiro não me especializar. Gosto dodesafio de estar pronto para o que der evier. Exige muito esforço, leitura, aten-ção. E viver intensamente.

Jornal da ABI — Quantas viagens cos-tuma fazer por ano em busca de boas repor-tagens?

Meirelles — Menos do que eu gosta-ria. Os EUA são um país grande. Já fui amuitas partes aqui, mas falta muito por

DEPOIMENTO JOSÉ MEIRELLES PASSOS

tráfico de drogas. Ele pediuque eu fosse ao seu encon-tro e me contou que, nosábado, haveria um golpecomandado pelo GeneralNatush Bush, além de medar uma carta, dizendo queeu a apresentasse no quar-tel para ter passe livre.

Jornal da ABI — E fun-cionou?

Mirelles — Sim. Quan-do cheguei, mostrei os do-cumentos e os caras me de-ram um salvo-conduto.Disseram: “Amanhã, às 5h,vamos botar os tanques nasruas, dar uns tiros para o altoe ocupar o aeroporto.” E ga-rantiram que, com aqueledocumento, eu não teriaproblemas. Resultado: viesse golpe de dentro, pois passei um diano quartel. Os outros correspondentesnão tinham como sair de La Paz para SantaCruz de La Sierra, eu era o único jorna-lista estrangeiro na cidade. Para transmitiro telex com a matéria (na época não haviae-mail), tive que ir ao escritório de umaempresa norte-americana. Foi um barato.

Jornal da ABI — Antes de ingressar emO Globo, onde você trabalhou?

Meirelles — Iniciei a carreira no Cidadede Santos, jornal vinculado à Folha de S.Paulo. Depois, fui trabalhar na sucursalsantista do Estadão, passei a colaborarcom o Movimento e começaram a surgiruns frilas para a IstoÉ, nos seus bons tem-pos. Quando Mino Carta criou o Jornalda República, veio o convite para ir paraa capital paulista. O jornal durou sóquatro meses, mas sobrevivi. Mino meconvidou para ficar na IstoÉ, na qual fuirepórter de todas as áreas, o que me pre-parou ainda mais para a vida futura decorrespondente internacional — que,aliás, começou na revista, com a cober-tura de outro golpe na Bolívia, em julho

Meirelles fez reportagens em 39 países, cobrindo desde guerras e revoluções a assuntos culturais emundanos. Aqui ele tem como fundo o casario de Praga, a bela capital da extinta Tcheco-Eslováquia.

Muito jovem, Meirelles teve o privilégio de entrevistar um monstro sagrado da literatura: Jorge Luís Borges.

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conhecer. Ao mesmo tempo, não possoreclamar muito, porque Washingtonacabou servindo de trampolim para re-portagens, por exemplo, em Dubai, Ban-gkok, Berlim, Paris, Hong Kong, Taipei,Bagdá, Cairo, Bogotá, Caracas, IlhasCaiman, Teerã, Moscou, Havana.

Jornal da ABI — Alguma vez você foicriticado no exterior por causa de algumareportagem?

Meirelles — Criticado, não. Vigiado,sim. No Uruguai, na Argentina, no Chile,durante os anos negros das ditadurasmilitares, algumas vezes sofri pressões —digamos, morais — por algo que tinhaescrito e, pior, por algo que ainda não tinhaescrito — ou seja, tinha impedido o aces-so à informação. No Iraque, na época doSaddam Hussein, jornalista não podiacircular sem a companhia de um funci-onário do Ministério do Interior, um es-pião do Governo. No Irã é a mesma coisa.

Jornal da ABI — Das grandes persona-lidades mundiais que você entrevistou qualmais o impressionou?

Meirelles — Três escritores: Jorge LuisBorges, Julio Cortázar e Gabriel GarcíaMárquez, sendo que, com este último, nãohouve uma entrevista formal, coisa queele detesta, mas quatro conversas breves,em meio a eventos dos quais ele partici-pava, em quatro países distintos: Colôm-bia (Cartagena de Índias), EUA (Washing-ton), Cuba (Havana) e França (Paris).Outro bom papo foi com Woody Allen.

Jornal da ABI — Como se constrói umacarreira consistente como correspondenteinternacional?

Meirelles — Acho essencial ter umabase sólida sobre o seu próprio país. E nãoapenas uma base teórica, mas também deprática jornalística, de trabalho de rua.Tive a sorte de ter sido repórter de Polí-

cia, de Esportes, de Porto (lá em Santos erauma área específica, dentro da Economia),de Política (e isso na época da ditaduramilitar), de variedades... É preciso, ainda,ter uma boa idéia de como funciona omeio, ter noção de fechamento, de todoo processo, pois fazemos um trabalho emequipe e é crucial para o bom andamen-to das coisas estar sintonizado, saber asnecessidades e dificuldades de cada setor,para fazer a máquina andar bem azeita-da. Residir num país e escrever para ou-tro é um grande desafio.

Jornal da ABI — Como assim?Meirelles — É preciso não deixar rom-

per o cordão umbilical, tanto em termosde informação (coisas que estão aconte-cendo no seu país de origem) quanto emtermos de linguagem. Há coisas que dei-xam de ser interessantes para os leitoresdo seu país e outras que interessam e paravocê são corriqueiras, sem importância.

É importante estar ligado nisso e, sobre-tudo, conhecer o perfil do leitor, que é oseu verdadeiro patrão. Hoje todos os gran-des veículos têm uma boa idéia disso.

Jornal da ABI — O trabalho dos corres-pondentes brasileiros é bem utilizado pelamídia nacional?

Meirelles — É difícil generalizar, des-conhecendo os bastidores dos demais,embora conversemos entre nós. O quevejo, basicamente, levando em conta oinvestimento feito neles, é que muitasvezes os correspondentes são usados maiscomo redatores de luxo, cobrindo bura-cos na redação, por falta de pessoal. De-veríamos ter a chance de investir mais emmatérias próprias, sem concorrer com asagências de notícias. Os grandes jornaiscontam com o serviço de várias delas, alémde dispor do material de pelo menos doisgrandes jornais estrangeiros. Por que,

então, o correspondente tem de entrarnum assunto que já rola nesses meios?

Jornal da ABI — Qual seria a saída?Meirelles — Seria conveniente que os

correspondentes atuais pudessem traba-lhar como os de décadas atrás, quando não

existia internet e o acesso a outrosmeios era remoto: investir em his-tórias próprias, gastar sola de sapa-to. É claro que há fatos que devemser cobertos pelo profissional dacasa, mesmo havendo abundânciade informações de outras fontes,por uma questão de prestígio dopróprio jornal. Matérias, por exem-plo, sobre a morte ou eleição de umpapa, tragédias, eleições presiden-ciais. Sem contar que precisamoster sempre o “olhar brasileiro” so-bre os eventos.

Jornal da ABI — Gostaria quevocê falasse sobre A noite dos ge-nerais: os bastidores do terrormilitar na Argentina.

Meirelles — É um livro sobre ojulgamento, em 1985, das três jun-tas militares que governaram a Ar-gentina de 76 a 82. Passei oito mesesindo ao tribunal. Também tiveacesso à transcrição dos depoimen-tos dos militares acusados e repa-rei que as histórias se repetiam. Fizcontato com familiares, entrevis-tei várias pessoas. O livro é sobreesse lado que as reportagens não ti-nham como revelar, com os basti-

dores dos generais na prisão.

Jornal da ABI — Já pensou em escrevernovamente sobre episódios que não coube-ram em outras reportagens?

Meirelles — Às vezes me vem essa idéia,que acaba sendo abafada pela falta detempo. Como se costuma dizer, as notí-cias que interessam começam em Wa-shington ou passam por aqui. Estamossempre trabalhando — e com tantostemas que fica difícil pinçar um parainvestir a fundo, num livro. Seja comofor, ando pensando em reunir reporta-gens num volume, coisas já publicadas,mas com um toque a mais.

Jornal da ABI — Que toque a mais vocêdaria?

Meirelles — Explico: das coisas quemais me interessaram, sempre guardei asanotações. Em jornal, o espaço costuma

ser restrito, mesmo nas edições de domin-go. Gostaria, portanto, de revisitar algu-mas reportagens, ampliando-as. São te-mas, pessoas, histórias que não perdema atualidade. E que, no fundo, não foramexploradas — quero dizer, exibidas — emsua totalidade.

Jornal da ABI — Cite uma.Meirelles — Isso é como perguntar “de

qual das suas filhas você mais gosta”. Sóda cobertura nas guerras do Iraque (1991e 2003) há várias, sem os efeitos pirotéc-nicos, centradas no que, na profissão, noshabituamos a definir como “o lado hu-mano”. Uma cobertura que gostei mui-to de fazer foi a da morte de Kurt Cobain,do Nirvana. Passei uma semana em Se-attle e arredores, conversando com meiomundo: a mãe dele, colegas de escola, gar-çonetes de um boteco onde ele começa-ra a carreira, professores. Era uma radio-grafia da vida do roqueiro, com detalhesque de alguma forma explicavam o queo levou a um triste fim.

Jornal da ABI — Gostaria que vocêapontasse os erros e acertos da imprensa nospaíses em que trabalhou.

Meirelles — Caramba, isso é amplodemais. Fiquemos nos dois lugares deresidência: Argentina e Estados Unidos.Eu achava, e continuo achando, a impren-sa argentina meio provinciana. Na épo-ca em que morei lá (segunda metade dosanos 80), os dois principais jornais, LaNación e Clarín, tinham corresponden-tes apenas na Espanha, pois é a mãe pá-tria. Era como se o Brasil só tivesse cor-respondentes em Portugal. Hoje eles estãomais... moderninhos..

Outra coisa que acabou, até onde sei,é a profissionalização do ofício, se é quese pode dizer assim com referência aoaspecto que quero mencionar. Seguinte:jornais e revistas argentinos costumavampublicar fotos de seus repórteres entre-vistando ministros, artistas, jogadores defutebol, como se tivessem a necessidadede provar ao leitor que o jornalista de fatoconversou com o personagem. E isso, nofim, acabou virando um culto à imagemdos profissionais, como acontece hoje emgeral, em todos os países, em relação aoscolegas que aparecem na TV.

Jornal da ABI — Qual é a sua impres-são sobre as tentativas do Presidente Bushde controlar os meios de comunicação?

Meirelles — Um atraso, uma regres-são inacreditável. Entende-se perfeita-mente o motivo disso, mas é inaceitável.

Coleção de credenciais de Meirelles: umada antiga União Soviética, outra do Chile do

sanguinário ditador Pinochet, onde sofreupressões até pelo que ainda não escrevera.

Por falar em guerra: eis Meirelles Passos na destroçada Bagdá, onde ser repórter é correr risco de morte.

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10 Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 315 Dezembro de 2006

O pior é que muitos colegas e veículosamericanos acabam aceitando isso. Elestêm fama cinematográfica de liberdade,rebeldia, de paladinos da verdade, masabaixam muito a cabeça perante o Gover-no. Hoje, só o põem contra a parede quandoa situação está reconhecidamente ruimpara o país, como é o caso agora com acrescente “conscientização” de que osEUA deram com os burros n’água noIraque. Agora todo mundo (leia-se aimprensa americana em geral) chutacachorro morto. Basta reler os jornais erevistas da época pré-invasão para ver queraríssimas vozes se levantaram contra nosmeios de comunicação.

Jornal da ABI — Jornais como MiamiHerald e The New York Times tiveram, re-centemente, problemas com reportagensfraudulentas. Esses epi-sódios afetaram a cre-dibilidade da impren-sa americana?

Meirelles — Semdúvida. Hoje existeuma desconfiançamuito grande em rela-ção ao que é publicado.

Jornal da ABI — NaBolívia, o presidenteEvo Morales reclamaque os jornalistas locaislhe dão tratamento pre-conceituoso. A reclama-ção procede?

Meirelles — É cla-ro que há uma pontade preconceito nisso. Não precisamos iraos Andes para notar isso; vê-se algo dogênero também com relação ao Lula, noBrasil.

Jornal da ABI — Por sua vez, HugoChavez, da Venezuela, acusa a CNN dementir a seu respeito. Ele é discriminado pelaimprensa americana?

Meirelles — Não chega a ser discrimi-nado, mas é visto com enorme descon-fiança. O problema é que ele cada dia maisse auto-ridiculariza. O papelão que fezna Onu recentemente, chamando Bushde diabo, dizendo que ainda sentia o cheirode enxofre (Bush tinha estado no mes-mo pódio na véspera) e fazendo o sinalda cruz, foi no mínimo o desperdício deuma ótima oportunidade de dar um re-cado contundente, de expor idéias. Avitrine era dele e foi, simplesmente, porele destroçada.

Jornal da ABI — Quais são os temas demaior destaque sobre as sociedades sul-ame-ricanas na mídia estadunidense?

Meirelles — A imigração ilegal é ocarro-chefe, seguida do narcotráfico.

Jornal da ABI — Por que você veio ao Paíscobrir o primeiro turno das eleições?

Meirelles — Para recarregar as bateri-as, por assim dizer. Para retomar o con-tato direto com o Brasil, ajudar no gran-de esforço de cobertura feito por O Glo-bo e, eventualmente, contribuir com umaespécie de olhar estrangeiro sobre o País,

em geral, e a campanha no Rio, em par-ticular. Um olhar estrangeiro com raízeslegitimamente nacionais. E não podia tersido melhor. Tive a chance, entre outrascoisas, de entrar na favela da Rocinha, devisitar a Baixada Fluminense, de ir ao sertãode Alagoas... um banho de Brasil.

Jornal da ABI— A imprensa nacionalfez uma boa cobertura do processo eleitoral?

Meirelles — Muito boa. Não devemosnada a ninguém, do ponto de vista do exer-cício da profissão. Marcação em cima,exageros à parte. Determinação. Traba-lho duro. Dedicação. Redações com poucagente fazendo das tripas coração para apre-sentar um retrato verossímil do que es-tava acontecendo.

Jornal da ABI — Uma reportagem daCarta Capital indicaque houve conivência dejornalistas com um de-legado da Polícia Fede-ral no escândalo dodossiê. Você tem opiniãosobre o episódio?

Meirelles — Ape-nas li a respeito. Ficocom a impressão, emrelação a esse e outroscasos, de que sofre-mos (jornais e revis-tas) uma “síndromeda internet”. Ou seja:uma preocupação emcolocar logo nas ruasfatos que não chega-mos a averiguar ade-

quadamente. Aí surgem os desmentidos,comprovam-se falhas, surgem versõesmais fantasiosas, e acaba tudo virandoum tiroteio que, no fim das contas, é umaameaça à credibilidade da imprensa.

Jornal da ABI — Qual é a sua visão sobreo desempenho da mídia nos últimos 20 anos?

Meirelles — Referindo-me à mídia detodo o mundo, e não apenas à brasileira,creio que tem sido bom, ainda que nosúltimos tempos haja uma forte tendên-cia de transformar a notícia em entrete-nimento, ou dar mais espaço às notíciasdessa área. Tudo vira show. Também mepreocupa os jornalistas estarem se trans-formando em notícia, tendo mais noto-riedade do que a própria informação. Vejao caso específico dos blogs: eles estão vi-rando diários íntimos, com muito comen-tário, muito “eu-acho-que” e pouca in-formação.

Jornal da ABI — Se você tivesse que ele-ger um veículo e um profissional internaci-onais pela qualidade da produção jorna-lística, quais seriam?

Meirelles — Mais de um. Acho que oNew York Times é um produto de altaqualidade, entre os jornalões. Nas revis-tas semanais, The Economist bate todas dogênero e, num aspecto mais amplo, a NewYorker é um luxo. Quanto ao jornalista,também fico no plural: John Burns, atu-almente chefe da sucursal do New YorkTimes em Bagdá; e Jon Lee Anderson,repórter da New Yorker.

“Vejo gente ligandoo piloto automáticona hora de escrever,

mas acho errado.Cada história é umahistória, por menorque seja, por maisdesinteressante ou

corriqueiro queseja o assunto.”

DEPOIMENTO JOSÉ MEIRELLES PASSOS Aconteceu na ABIAconteceu na ABI

Imprensa do Brasilimpressiona angolanos

Angola mudará legislação para permitir o funcionamentode emissoras privadas de tv e anuncia intenção de

firmar convênio com a ABI para treinamento de profissionais.

POR CLAUDIO CARNEIRO

Eles atravessaram oAtlântico para conhecer co-mo fazemos jornalismo. ODiretor do Gabinete deAcompanhamento à Im-prensa Regional e Local doMinistério da Comunica-ção Social de Angola, Gui-lherme Simões, e o Diretordo Semanário Angolense,Graça Campos, acompa-nhados do representante doGoverno José António dosSantos, visitaram a ABI emantiveram conversaçõescom a Diretora de Jornalis-mo Joseti Marques. Com asdificuldades de um país queenfrentou uma dramáticaguerra civil, encerrada háquatro anos, Angola tenta reorganizarsuas comunicações e atualizar-se den-tro do novo cenário tecnológico que in-clui a digitalização dos veículos e tem ainternet como ferramenta fundamental.

Guilherme Simões destacou seu de-sejo de trocar informações sobre o fun-cionamento da imprensa brasileira e de-monstrar que Angola pretende fomen-tar sua imprensa, tanto pública quantoprivada, buscando formação profissio-nal da mão-de-obra existente em seu país.

— Nesse sentido, creio que a ABI, comsua centenária tradição e experiência,poderá contribuir para formar nossosjornalistas e demonstrar como funcio-nam aqui não somente as empresas decomunicação, mas também a legislação,os direitos dos profissionais de imprensae as questões éticas.

Simões informou que Angola temcursos médios de Jornalismo, uma ex-tensão na faculdade de Letras que pre-vê a formação em Comunicação Soci-al e ainda três instituições privadas queformam profissionais de imprensa. Eletambém manifestou entusiasmo ao sa-ber que os Cursos Livres de Jornalismoda ABI têm grande prestígio em todo oBrasil no que diz respeito à formaçãoprofissional e se disse disposto a promo-ver parcerias entre a ABI e o Governoangolano.

O desenvolvimento das técnicas epráticas jornalísticas, a recuperação dasinstalações de imprensa danificadas pe-la guerra e a aproximação dos veículoscom as novas tecnologias são os prin-cipais objetivos que o dirigente ango-lano busca levar do Brasil. Guilhermelembrou que o setor privado em seu paístem sete jornais e cinco emissoras derádio. Os canais de tv pública são doise não há empresas privadas de televisão.Ele ressaltou que, recentemente, o Go-verno criou uma nova legislação que

prevê a participação do setor privado nosegmento.

Joseti Marques disse aos visitantesque a ABI está aberta ao estabelecimen-to de parcerias que levem à formação pro-fissional dos colegas angolanos e, aces-sando o site ABI Online, mostrou a ex-periência bem-sucedida com os CursosLivres de Jornalismo da ABI. Pergunta-da sobre a possibilidade de levar estescursos aos profissionais angolanos, eladisse que a ABI espera ser “provocada” paraque isso ocorra em breve tempo:

— Gostaríamos imensamente deatender a esse desafio. Estes cursos sãocomplementares à formação universi-tária. Além disso, nossos professores, quesão profissionais formados e de notóriosaber, conhecem bem como está a emen-ta das universidades e acabam preenchen-do as falhas e lacunas deixadas por estasinstituições, oferecendo uma visão maiscrítica, politicamente mais densa e umolhar humanístico mais fundamenta-do para que estes profissionais possamfazer a diferença no mercado.

Joseti lembrou a importância histó-rica da ABI na vida política brasileira esua luta pela liberdade de expressão, pelademocracia e pelos direitos humanos.

O empresário Graça Campos, quevem com freqüência ao Brasil, tambémse disse interessado pelas coisas do Paíse afirmou que “a imprensa brasileira estánum patamar de desenvolvimento ex-traordinário”. Falando sobre o uso dainternet pela imprensa angolana, eledisse que seu país ainda está engatinhan-do no assunto.

— A grande rede ainda é um fenôme-no relativamente novo em Angola e nãoestá suficientemente massificada. Deforma que a comunicação social é pre-dominantemente encaminhada para ojornal impresso, o rádio e a televisão. Ainternet é uma área virgem ainda.

INTERCÂMBIO

Guilherme Simões (1º à esq.), do Ministério daComunicação Social de Angola, Graça Campos (ao centro),diretor de jornal, e José Antônio dos Santos, do Governo de

Angola: em busca de melhorias para a imprensa do país.

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11Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 315 Dezembro de 2006

POR CLAUDIO CARNEIRO

Desde Celso Furtado — que foi Minis-tro da Cultura de José Sarney — nenhu-ma outra autoridade do Governo tomoua iniciativa de promover a conservaçãoou reformas das instalações do CentroCultural da Aldeia de Arcozelo. Criadopor Paschoal Carlos Magno para abrigartodas as artes, o espaço acabou esquecidopelas administrações mais recentes do País.A denúncia, em tom de desabafo, foi deMartinho de Carvalho, biógrafo e ami-go de Paschoal Carlos Magno, durantesessão solene na ABI em homenagem aopoeta, produtor, jornalista, crítico, autor,diretor teatral e diplomata, que comple-taria 100 anos em 2006.

A sessão solene, reali-zada no dia 29 de dezem-bro na Sala Heitor Bel-trão, foi aberta pelo Pre-sidente da ABI, MaurícioAzêdo, e contou com aparticipação de diversosnomes ligados ao teatro,como as atrizes MariaPompeu e Tereza Rachel,o ator Edson Silva; o ex-Secretário Nacional deCultura Ipojuca Pontes;o Diretor do ServiçoNacional de Teatro, Or-lando Miranda; a Presi-dente do Conselho Mu-nicipal de PatrimônioCultural, Dona Zoé Cha-gas Freitas; o autor teatral Luiz Osvaldo,e o assessor de artes cênicas da Funarte, pes-quisador e ator Sérgio Fonta.

Martinho de Carvalho lembrou queo homenageado tinha uma personalida-de contagiante e botava todo mundo paratrabalhar: — Era um empreendedor queentrou para a carreira diplomática por-que era uma pessoa envolvente. Uma vez,no Recife, pôs 2 mil pessoas no teatro. Ogolpe de 64 acabou com esse ímpeto. Elenão foi cassado, mas esteve “congelado”pelos militares. Quando ameaçou incen-

PASCHOAL, 100 ANOSArtistas e intelectuais prestam homenagem na ABI ao criador do

Teatro do Estudante do Brasil, uma das muitas realizações de sua vida fecunda.

diar a Aldeia de Arcozelo, porque nãorecebia verbas para mantê-la, recebeucentenas de envelopes com dinheiro,enviados pelas crianças.

Também Maurício Azêdo destacou oespírito incansável do homenageado e co-mentou que o teatro foi, entre todas asartes do País, “a mais atingida pelo regi-me militar”: — Entendemos que, com esteato, que conta com a participação dainfluente lutadora Zoé Chagas Freitas,estamos fazendo justiça a este grandenome de nossa cultura.

CriaçãoPara Maria Pompeu, o Teatro Duse foi

uma das grandes criações de Paschoal Car-los Magno: — Era umaescola que formougrandes artistas. Tenhomuita saudade de Pas-choal.

Tereza Rachel, porsua vez, emocionou-seao lembrar que, aos 16anos, teve a sorte de fa-zer parte de um grupode novos artistas que —graças ao patrocínioque Paschoal conseguiucom Assis Chateaubri-and — excursionou pordiversos teatros da Eu-ropa:

— Ele era habilidosoe inteligente. Graças aele, o Vitor Berbara me

levou para a extinta TV Rio. Depois fuipara a Tupi, onde trabalhei com colegascomo Cyll Farney, Fábio Sabag e Maurí-cio Shermann. Posso dizer que lamentomuito que Paschoal não esteja vivo, poisainda hoje seria necessário e fundamen-tal para o nosso teatro.

Dona Zoé Chagas Freitas contou queconheceu Paschoal Carlos Magno na So-ciedade Pestalozzi, onde ele era professorde Teatro: — Nessa ocasião, em 39 e nadécada de 40, faziam parte do grupo a TôniaCarrero e a Maria Clara Machado. Eu era

aluna do Teatro de Bonecos. O Paschoalera um realizador, um homem admirá-vel. Considero muito oportuna e adequa-da esta homenagem da ABI.

ImponênciaNas palavras de Ipojuca Pontes, Pascho-

al era um homem imponente, “um per-sonagem de Fellini”: — Habilidoso e po-lítico, ele tinha um estilo pessoal, era umaforça da natureza, com grande atuaçãona diplomacia. O jornalista Paulo Fran-cis disse, uma vez, que ele era um rolo com-pressor. Quando o Paschoal morreu, oteatro não perdeu apenas um grandenome, mas perdeu também parte de suaessência e de seu romantismo.

Já o Diretor Cultural da ABI, JesusChediak, destacou que Paschoal CarlosMagno era um “fazedor” cultural comquem teve a honra de conviver e de quemse orgulha de ter ouvido a frase “você éo filho que me chegou atrasado”: — Erauma figura humana tão singular e tãoquerida que, quando ele morreu houve700 missas de sétimo dia por sua alma, umnúmero recorde, jamais registrado em ou-tra ocasião.

Orlando Miranda ressaltou o acerto dainstituição em encerrar o ano com a ho-menagem: — É um estímulo à nossacultura e aos novos talentos — comentou.

Ao lado do Presidente do InstitutoCultural Chiquinha Gonzaga, Raimun-

O jornalista, professor eConselheiro da ABI MárioBarata conta queconheceu Paschoal CarlosMagno no começo dasua vida pública, quandoatuava na Casa doEstudante do Brasil, e emseguida no Teatro doEstudante do Brasil, nosseus primórdios, em 1938.A aproximação se deu porintermédio do seu pai,jornalista Hamilton Barata,de quem o diretor teatralera admirador.— Nascido em 1906, CarlosMagno tinha 32 anosquando eu o conheci, em1938, e estava começandoa carreira dele no teatro.Ele era admirador do meupai, jornalista, que dirigiaum jornal hebdomadáriochamado O homem livre. Eum dia foi à nossa casa, nobairro do Grajaú, levar de

Lembrança da montagem pioneira de Shakespeare

presente um livro seu depoesia chamado Esplendor.Foi aí que eu passei aconhecê-lo.Mário Barata — que naCasa do Estudante passoua conviver mais de pertocom o empreendedorteatral — também foi atorde teatro na juventude eparticipou da primeiramontagem de Romeu eJulieta, de Shakespeare,dirigida por Carlos Magnono Teatro do Estudante. Apeça teve comoprotagonistas as atrizesItália Fausta e Sônia Oiticica,que fazia o papel de Julieta.Conta o professor quenaquela época a Casa doEstudante do Brasil nãotinha sede própria efuncionava num imóvelalugado no Largo daCarioca, no Centro, ondeaconteciam as reuniões do

pessoal que ia participardo início da companhia deteatro estudantil queCarlos Magno estavaformando. Fundada em1929, a Casa foi a primeiraentidade a congregar osestudantes em nosso País.— Paschoal freqüentoumuito o início da Casa doEstudante. Na época, eleera aluno da Faculdade deDireito e apoiava aadministração da Diretora-Presidente Ana Amélia deQueiroz Carneiro deMendonça, que erapoetisa e cunhada dojornalista Austregésilo deAthayde, que foiConselheiro da ABI ePresidente da AcademiaBrasileira de Letras. Eu iamuito à Casa do Estudanteque nessa época era umaforça iniciadora domovimento estudantil.

Mário Barata viu o Romeu e Julieta que Paschoaldirigiu em 1938 no Teatro do Estudante.

Ipojuca (1º à esq.) definiu Paschoal Carlos Magno como “um personagem de Fellini”. Chediak, Dona Zoé e Maria Pompeu(na mesa), Tereza Rachel e Edson Silva (à dir.) narraram episódios da fecunda aventura humana e cultural de Paschoal.

Martinho de Carvalho, amigoe biógrafo de Paschoal:

Arcozelo foi abandonada.

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12 Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 315 Dezembro de 2006

Aconteceu na ABIAconteceu na ABI

O jornalista Alexandre Pavan escolheua ABI para lançar seu livro Timoneiro, umperfil biográfico do poeta, compositor epesquisador da MPB Hermínio Bello deCarvalho. A noite de autógrafos, no dia14, no Auditório Oscar Guanabarino,transformou-se num grande espetácu-lo, com interpretações de nomes impor-tantes de nossa música, como Zé Rena-to, Zezé Gonzaga, Áurea Martins e oviolonista Maurício Carrilho, entreoutros. O Presidente da ABI, MaurícioAzêdo, compareceu para dar seu abraçono amigo e ex-colega de escola Hermí-nio. O show-evento começou com a exi-bição de um documentário que, revelouo homenageado, estava perdido na Fu-narte e foi resgatado por ele. O vídeocontém imagens raras de Pixinguinha,Clementina de Jesus, Araci de Almeidae Paulinho da Viola.

Alexandre Pavan contou que conhe-ceu Hermínio Bello de Carvalho em2001, quando foi entrevistá-lo para a re-vista Carta Capital. A amizade entre osdois surgiu de imediato: — Minha idéiade lançar este livro foi traçar cronolo-gicamente a carreira deste poeta que de-testa o rótulo de pesquisador da músi-ca brasileira.

No auditório onde se apresentou pro-fissionalmente pela primeira vez — doqual elogiou a acústica —, Hermínioparecia estar à vontade, atuando como

O timoneiro Hermínio ganha biografia

ficou completa quando outro estudio-so da MPB, o jornalista Sérgio Cabral, su-biu ao palco e declarou: — O Hermínioé um Sérgio Cabral que deu certo. Eupenso algumas coisas que não realizo. Elevai lá e faz, porque é um realizador. Vouler o livro com grande interesse e, citan-do Noel Rosa, quero dizer que este meuamigo é um ser humano que não restaa menor dúvida.

O livro Timoneiro foi editado pela Casada Palavra e inclui um cd encartado como Manuscrito Sonora, com trechos de gra-vações de entrevistas e 20 canções de Her-mínio com diversos parceiros, como Pau-linho da Viola, Baden Powell, MoacyrLuz, Joyce, Vital Lima e Luiz Ribeiro.

No alto, o jornalista Alexandre Pavan (E), autor do livro Timoneiro e seu biografado HermínioBello de Carvalho. Acima, Áurea Martins canta, acompanhada de Maurício Carrilho, Cobras eLagartos. À esquerda, Zezé Gonzaga, que foi aplaudida de pé, homenageia o compositor.

do Alberto, Sérgio Fonta, por sua vez,lembrou que a Funarte disponibiliza“informações sobre esse querido homemde teatro” na internet (www.funarte.gov.br/canalfunarte). E também contouuma história sobre Paschoal: — Eu escre-via sobre teatro. Um dia, nos encontra-mos e ele disse: “Leio você. Às vezesconcordo e às vezes discordo. Mas vocêé um homem de teatro.” Eu me senticomo se tivesse ganhado na loteria.

O EmpreendedorPaschoal Carlos Magno iniciou a car-

reira como ator, mas foi como crítico, pro-dutor, autor e diretor que se destacou. Aos23 anos, já escrevia críticas teatrais naimprensa carioca. Dois anos depois, comoautor, recebeu um prêmio da AcademiaBrasileira de Letras pela peça Pierrot.Fundou, em Santa Teresa, o Teatro Duse,o único teatro-laboratório do Brasil, hojebatizado Casa Funarte Paschoal CarlosMagno — que lançou atores, diretores,cenógrafos, figurinistas, técnicos e auto-res. Também introduziu no País a funçãode diretor teatral.

Aos 32 anos, dirigiu Romeu e Julieta, deWilliam Shakespeare. Em 1946, a críticalondrina aplaudiu a peça de Paschoal“Tomorow will be different”. Sua atuaçãona vida artística e intelectual brasileirao levou a responder pelo setor cultural euniversitário da Presidência da Repúbli-ca no Governo Kubitschek. Em 62, foi no-meado Secretário-Geral do Conselho Na-cional de Cultura. O golpe militar de 1964o afastou dos centros do poder e da car-reira diplomática, mas ele continuoutrabalhando pela classe artística. Morreuno Rio de Janeiro, em 1980.

A Aldeia de ArcozeloLocalizada em Paty de Alferes, Muni-

cípio do Estado do Rio de Janeiro, a Aldeiade Arcozelo foi criada por Paschoal Car-los Magno para abrigar todas as artes.Construída no século XVIII para servircomo área de plantio de café, foi trans-formada em centro cultural e artístico.O complexo tem 57 mil metros quadra-dos, sendo 10 mil metros quadrados deárea construída, com teatro ao ar livre(Itália Fausta), teatro fechado (RenatoViana), salas de exposição e de música,biblioteca e outros espaços para ativida-des diversas. Além dos espetáculos, aAldeia é cedida para eventos culturaisnacionais e internacionais. Os sucessivosGovernos não têm dedicado à Aldeia deArcozelo a atenção que merece comoexpressão do sonho e da criatividade dePaschoal Carlos Magano.

MÉRITO

um mestre de cerimônias, contando his-tórias e convidando os artistas para suasapresentações. Zé Renato, acompanha-do pelo virtuoso violão de MaurícioCarrilho — filho de Altamiro —, foi oprimeiro. Logo depois, o homenageadoelogiou o trabalho de pesquisa do autor:— O livro me deixa feliz e, ao mesmo tem-po, muito preocupado. Pois constatei, aos70 anos, que não sou um homem, masuma lápide.

O ponto alto da festa foi quando ÁureaMartins subiu ao palco para interpretarCobras e lagartos, que Hermínio compôscom Sueli Costa. Em seguida, Zezé Gon-zaga foi aplaudida de pé ao surpreendero compositor com um improviso. A noite

Jovem, Sérgio Fonta escrevia sobre teatro.Exultou ao saber que Paschoal era seu leitor

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13Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 315 Dezembro de 2006

A Sala Belisário de Souza, no 7º an-dar da ABI, transformou-se no dia 12de dezembro num tribunal, para ser-vir de locação para Meu nome não é John-ny, dirigido por Mauro Lima. O filmeconta a história — verídica — de JoãoGuilherme Estrella, o Johnny, um ra-paz de classe média que nos anos 80 setransformou num dos maiores trafi-cantes do Rio de Janeiro, conhecido co-mo "o barão da cocaína". No mesmo an-dar do edifício-sede da ABI, também aSala Heitor Beltrão foi ocupada por ato-res, figurantes e equipe de produção.

As filmagens compreenderam ce-nas protagonizadas por Selton Mello,que interpreta o traficante, e CássiaKiss, que faz o papel da Juíza que levao criminoso a julgamento. Tambémestão no elenco Cleo Pires — no papelde Sofia, namorada de Johnny —, JúliaLemmertz, Luís Miranda, André DeBiase e Eva Todor, entre outros. O fil-me é baseado no livro Meu nome nãoé Johnny — A viagem real de um filhoda burguesia à elite do tráfico, de Gui-lherme Fiúza.

O longa-metragem é produzidopela Atitude Produções e Empreendi-mentos e as filmagens estão previstaspara terminar ainda este ano. O títuloMeu nome não é Johnny é baseado na no-tícia da prisão do traficante publicadano Jornal do Brasil. O diário carioca es-creveu que Johnny era o apelido de JoãoGuilherme — o que não era verdade.

“Meu nomenão é Johnny”

filmado entre nós

CINEMA

Selton Mello na cena gravada na ABI: elevive o personagem citado no título do filme.

Alunos da última turma de 2006 dosCursos Livres de Jornalismo da ABI reu-niram-se na manhã do dia 27 de dezem-bro num encontro de confraternizaçãoque marcou o encerramento das aulas. Osestudantes foram recepcionados pela Di-retora de Jornalismo da Casa, Joseti Mar-ques, na Sala Heitor Beltrão, no 7º andarda sede da ABI.

Joseti Marques aproveitou a ocasião paraanunciar para os alunos a realização do 1ºFórum ABI sobre Ética na Imprensa Bra-sileira, que será realizado em março de 2007.

— Desde já eu estendo a vocês o convi-te para participar do Fórum, cujo prin-cipal objetivo é ampliar a discussão so-bre a ética no jornalismo, para que os de-bates não fiquem apenas no âmbito dosjornalistas e das empresas de comunica-ção, uma vez que é importante a parti-cipação de estudantes e da sociedade demaneira geral.

Os últimos Cursos Livres de Jornalis-mo de 2006 ofereceram capacitação nasseguintes modalidades: Realização deRoteiros para Reportagens Especiais (Do-mingos Meirelles, Diretor Financeiro daABI e apresentador do programa Linhadireta), Comunicação Empresarial (Mô-nica Albuquerque, da TV Globo), Jorna-lismo Internacional (Trajano de Mora-es, do jornal O Globo) e Texto Jornalísti-co para Diversas Mídias (Pery Cotta).

Conselheiro da ABI, Pery Cotta elo-giou a iniciativa e falou também da im-portância da continuidade do projeto: —Acho que a ABI está fazendo uma apro-ximação muito importante com os fu-turos profissionais e as pessoas interes-sadas em comunicação. Essa é uma pon-te que não existia e que só pode trazervantagens para ambos os lados. A entidadetem que dar continuidade a esse proces-so, abrindo outras perspectivas de aten-dimento à sociedade como um todo. Hojenão se vive sem informação, e torna-se

CURSOS

A hora da festaAlunos dos Cursos Livres da ABI reúnem-se para confraternização.

Realização de Roteirospara Reportagens Especiais

Professor: Domingos Meirelles

Camile Lima da FonsecaCarlos Eduardo de OliveiraChristine Adamo LagesCrislene MottaEliane Benício dos SantosElisa Gomes VeigaÉrika de Souza GonzagaGiovana de Almeida AssisHélio Lopes NetoJoice do Nascimento SantosJorge Antônio Barros da CostaJuliana de Abreu DuarteJuliana Vieira dos SantosLeonardo David Migliani FrançaLeonardo Fernandes de OliveiraMariana Gouveia de Carvalho Tobias GranjaNatália da Luz MartinsPedro Augusto Grunert SerraPedro Musso Gomes da Costa DurãoRosilene Miliotti da SilvaTamara Gonçalves FerreiraTeresa Cristina Fazolo FreireTeresinha Cunha PaulaViviane da Silva Stutz

Comunicação EmpresarialProfessora: Mônica Albuquerque

Bernardo Bastos Guimarães,Bianca Cavalcanti Frontin de OliveiraDaniel Alves da SilvaEduardo Borges MarquesFelipe Teixeira Lins da SilvaFlávia da Silva FontesJuliana Chaves ValentimManoela Mafra ViannaMarcela Costa Martins da CunhaMárcia Barbosa Couto Giraldes

importante saber como essa informaçãoé construída, inclusive sob o aspecto daética profissional.

César Drucker, engenheiro e respon-sável por uma publicação da Federaçãodos Servidores Estaduais do Rio de Janei-ro FASP-RJ, explicou por que se inscre-veu no curso Texto Jornalístico paraDiversas Mídias: — Ele aperfeiçoou aminha redação para a revista e a comu-nicação com os associados da Federação.Também me ensinou a analisar melhora qualidade das matérias que circulam na

mídia. Elogio a ABI pelo propósito detransmitir conhecimentos com profis-sionais de expressão.

Já o elogio de Daniel Alves — estudantedo 5º período de Jornalismo da Faculda-de Cândido Mendes (RJ) — foi para o cursode Comunicação Empresarial:

— As aulas foram bem dinâmicas e aMônica Albuquerque, com sua experiên-cia, conseguiu passar para nós como ascoisas acontecem na vida real. Para mim,futuro profissional, foi uma importan-te vivência na área que desejo seguir.

Maria Inez Tinoco MuradPaulo Victor Magalhães Franco SilvaRaquel Duarte de AlmeidaRenata Macedo PereiraSílvia Vilanova MagalhãesTamara Gonçalves FerreiraTatiana Salviano de FigueiredoWanessa Ramalho Torres

Jornalismo InternacionalProfessor: Trajano de Moraes

Ariane Moreira GomesCecília MarquesDaniel Moysés BarretoDanielle Penha LimaGiovana de Almeida AssisHelaine Souza BatistaHelen de Moraes CoutoJoão Ricardo Gonçalves da SilvaJosiel Ferreira da SilvaKelle Lima AncelmoLeonardo David Migliani FrançaLeonardo Fernandes de OliveiraLuiz Felipe de Andrade Rodrigues TorresNatália da Luz MartinsPatrícia Furtado SardinhaPedro Augusto Grunert SerraRafael Moura Pessoa FreireThiago Gouvêa Scot ArrudaVinícius Bastos Vieira

Texto Jornalístico para Diversas MídiasProfessor: Pery Cotta

Ana Cristina da Silva TavaresCésar DruckerDanielle Cristine da SilvaLívia Lamblet Costa e SousaMarcos ChermanPaula Damas Vieira

Pery Cotta (2º na fila de trás) e a Diretora de Jornalismo Joseti Marques (última à dir.) confraternizam com os alunos dos Cursos Livres da ABI.

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TALENTOS

É possível fazer graça com seriedade? É possível ter ética e unidade numaprofissão de muitos talentos e pouco espaço? É possível, em plena era daInformação, rejeitar a tecnologia no trabalho? Tudo isso é possível quandose faz humor de alta qualidade, como mostraram Adail, Sieber e Gute, osentrevistados deste mês pelo Diretor Cultural Jesus Chediak, dentro do ciclo

Com humor, tudo é possível

O desenho de humor ame-ricano não tem a mesma gra-ça que o brasileiro, porque nósfazemos graça com seriedade.A afirmação é do quadrinistae cartunista brasileiro Gutem-berg Monteiro, o Gute. Radi-cado há 41 anos nos EstadosUnidos, onde se assina Goott,ele, que tem 90 anos, esbanjouvitalidade, lucidez e bom hu-mor em seu depoimento naABI, levando entrevistador eassistência às gargalhadas.

Gute revelou que, além dodesenho, tem outra grandepaixão: o futebol, que praticoucom desenvoltura, desde osjuvenis do Flamengo na déca-da de 30 até os 80 anos de ida-de, quando levou uma entra-da dura de um zagueiro que des-locou sua rótula, ou patela,como se diz agora. A receitapara tanta saúde, diz ele, é nãofumar, não beber e acreditar em Deus.

Mineiro de Carangola, como Ziraldo,Gute encontrou o conterrâneo antes deembarcar para Nova York, com a expec-tativa de desenhar os mais importantespersonagens dos quadrinhos em todo omundo. E ouviu a frase que não lhe saiuda cabeça até hoje:

— Ele disse que eu não faria sucesso nosEstados Unidos, porque era humilhante-mente humilde. E sou mesmo. Isso foi hámais de 40 anos.

Gute deixou o País logo depois do golpemilitar de 64:

— O Jango tentou nacionalizar osnossos quadrinhos. Foi uma iniciativa be-líssima. Fui chamado para desenhar oTiradentes. Outro quadrinista, de nomeWashington, teve a honra de retratar oAleijadinho. Importantes fatos nacionais,como a Guerra dos Farrapos, viraramlindas histórias em quadrinhos. A revo-lução veio, destruiu esses heróis e pren-deu vários artistas,

Com a mesma desenvoltura com quedesenhou Gasparzinho para a HarveyComics, ele surpreendeu os chefões daHanna Barbera com um traço que o le-vou a fazer as capas e tiras da dupla Tome Jerry. Personagens como Batman, Su-per-Homem e Brasinha, um diabinho

Aconteceu na ABIAconteceu na ABI

ABI pensa o Humor, do projeto Estação ABI. Além desses três, participaramdo ciclo, agora encerrado, os cartunistas e chargistas Amorim, Aroeira, Bran-co, Chico Caruso, Guidacci, Ique, Lan, Leonardo , Nani e Ziraldo. Os depoi-mentos gravados serão usados para publicação em livro. O próximo cicloserá ABI pensa a Literatura, também do projeto Estação ABI.

A graça com seriedade de Gute

muito irritável, passaram pelas mãos aindamuito firmes de Gute.

— O americano não acredita muito noestrangeiro, muito menos no brasileiro,e nem sempre remunera da forma quemerecemos. Além disso, não sei cobrarbem para os padrões deles. Mas todos osbrasileiros que trabalham nos EstadosUnidos fazem grande sucesso.

Impedido de retornar aos EUA porcausa da crise que atingiu a Varig, Guteacabou tirando “férias forçadas” desdejunho. Durante esse tempo, teve a opor-tunidade de conhecer os trabalhos dosnovos colegas:

— Há desenhistas excelentes no Bra-sil. Temos nosso próprio estilo e criati-vidade. Estive na Sociedade dos Ilustra-dores Brasileiros e conheci jovens mui-to talentosos. Os americanos não influ-enciam nosso traço. Fiz sucesso lá porcausa disso.

Casado há 64 anos com Dona Ophe-lia, com quem tem três filhos, nove ne-tos e 16 bisnetos, Gutemberg é o únicodos irmãos ainda vivo. Os outros chama-vam-se Voltaire, Mirabeau, Danton, Mi-roclides, Ermignone e Naomi

— Eram sete os filhos dele com a minhamãe, mas papai ainda fez outros oito forado casamento.

Gutemberg cercado porsuas obras espetaculares ,que vão desde ilustraçõespara publicações didáticas

até revistas em quadrinhos.Abaixo à esquerda, uma

página da série Histórias danossa História, contando o

surgimento do jornal deHipólito José da Costa, o

Correio Braziliense.

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Entre as classes artísticas, a doscartunistas é a que demonstramais ética e unidade. Ao mesmotempo, é a que menos se saca-neia. A afirmação é do cartunis-ta e quadrinista Allan Sieber, re-presentante da nova geraçãodesses artistas Para o gaúchoSieber, existem no meio egosinflados e algumas pessoasmais acessíveis que outras, masde modo geral a classe é muitounida, tranqüila e joga limpa eabertamente: — São poucos oscartunistas que não são éticos. Nesse sen-tido, é uma sorte ter este trabalho.

Adepto do sarcasmo e do humor ne-gro em seus trabalhos, Sieber tem noportfolio o curta-metragem Deus é pai,que venceu a mostra competitiva decinema do Festival de Gramado, mas lherendeu, também, grande dissabor: du-rante sua exibição na MTV brasileira. Ofilme acabou censurado pela emissoradepois de protestos contundentes doCardeal Dom Eugênio Salles, por supos-tas ofensas aos católicos. Este foi o casoque mais marcou a carreira do artista atéhoje: —Eu tinha esquecido que o Brasilé a maior nação católica do planeta. Fazer

Assim como o cinema nãoacabou com o teatro, o desenhode humor feito com tinta epapel não vai deixar de existirpor causa das inovações ofe-recidas pelos programas decomputador. Foi o queafirmou o cartunistaAdail, reconhecendo-seum “analfaeletrônico”que, aos 76 anos, não seadaptou às novas tecnologias. Indepen-dentemente disso, o entrevistado — quefechou o ciclo “ABI pensa o humor” —acha que existe espaço no mercado paratodos os talentos, tanto os novos quantoos velhos.

Adail José de Paula não demonstraqualquer desprezo ou prevenção contrao computador. Reconhece que é ferra-menta inovadora que auxilia, e muito, osnovos talentos do desenho de humor.

— Eu até tenho uma página na inter-net, um presente dado pelo meu amigoe também cartunista Amorim. Não sa-ber mexer no computador me faz umagrande falta. Em compensação, tenhotalento para fazer caricaturas ao vivo emeventos de grandes empresas.

Paulista, nascido na cidade de Regis-tro, Adail se diz um corintiano que qua-se virou palmeirense, “mas se recuperoua tempo”. Foi em São Paulo que fez cur-sos de Desenho e Pintura e manteve o

Sarcasmo, a arma de Sieberpiada com religião é como pisarem ovos. É uma coisa muitocomplicada. Em nenhum paísdo mundo se acredita tanto naexistência de Deus como noBrasil. As pessoas levam issomuito a sério.

Profissional desde 92, AllanSieber tem críticas à grandeimprensa. Sua maior queixa éo pequeno espaço que os jor-nais e revistas brasileiros dedi-cam aos quadrinhos, cartunse até mesmo à ilustração.

— Acho um absurdo as revistas sema-nais não terem uma seção de quadrinhos.Não uma simples tira, mas o quadrinhomerecia uma página, quase como umacoluna. Esta é a minha mágoa.

Ao lado de Arnaldo Branco e Leonar-do, Allan Sieber editou e publicou três nú-meros da Revista F, de grande sucesso nocircuito alternativo. Entre suas criaçõesdestacam-se a tira Bifa land (publicada noEstadão em 96 e 97) e as atuais Vida de es-tagiário e Preto no branco, esta, dominical,na Folha de S. Paulo. Filho de desenhista,ele gosta de trabalhar ao som de jazz e,além dos desenhos de humor, faz ilustra-ções e capas de cds.

As caricaturas aovivo de Adail

primeiro contato com o óleo e a aquare-la. Também na capital paulista, fato quenarrou emocionado, ele se transformouem “surfista” de bonde e jogou papelpicado do alto do Edifício Martinelli paracomemorar o fim da Segunda GuerraMundial:

— Já quando o Jânio renunciou, foi umtremendo baixo astral.

Adail, que é sócio da ABI desde 1992,veio para o Rio de Janeiro em 55, quandoestava “tão duro que chamava mendigode Sua Excelência”. Logo, porém, conse-guiu trabalho, passando pelo Diário deNotícias, O Cruzeiro, Cartum JS (suple-mento humorístico do Jornal dos Sports),Correio da Manhã, O Pasquim e O Dia.Colaborou ainda no JB e O Globo.

O humor de Adailfoi publicado nos

mais importantesperiódicos

brasileiros, entre osquais, o jornal

Diário de Notícias ea revista O Cruzeiro,onde mantinha uma

página semanal(à direita)

Além decartunista, Allan

Sieber dirigiuvários desenhos

animados,entre os quais o

premiado Deus éPai (à direita),

que causouprotestos da Igreja

Católica, e Santade Casa, baseado

num conto deAldir Blanc.

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Paranaense de Ponta Grossa, ArArArArArnaldonaldonaldonaldonaldoCésarCésarCésarCésarCésar Ricci Jacob trabalha na imprensadesde os 16 anos. Começou como lino-tipista de um jornal daquela cidade, onderespirou o vapor de chumbo e aprendeua operar as máquinas. Depois, passou paraa Revisão. Com 18 anos, chegou ao Riode Janeiro, onde fez de tudo na carreira:além de repetir a experiência como lino-tipista e revisor, foi repórter, editor e atédirigiu carro da reportagem. Agora, assu-miu a direção-geral de Jornalismo da TVBandeirantes no Estado.

Jornal da ABIJornal da ABIJornal da ABIJornal da ABIJornal da ABI — O senhor passou porimportantes jornais e revistas do País. Comofoi essa trajetória?

Arnaldo César Ricci JacobArnaldo César Ricci JacobArnaldo César Ricci JacobArnaldo César Ricci JacobArnaldo César Ricci Jacob — Logoque cheguei de Ponta Grossa, fui fazer es-tágio no Correio da Manhã. Depois pas-sei pelo Diário de Notícias, O Jornal, TVGlobo, as revistas Manchete e Exame eo Jornal do Brasil. Enquanto estava no JB,fazia também o comentário econômicona Rádio Jornal do Brasil. Tive duasimportantes passagens pela Veja. Maistarde, vieram O Dia, a TV Alerj, e agoraeste novo desafio, na TV Bandeirantes.A maior parte da vida profissional passeina Editora Abril, onde fui diretor da su-cursal Rio da Exame e editor da Veja; emduas passagens, acumulei 15 anos. Aminha “baiana” é bastante rodada. Alémdisso — enfrentando, como todo jorna-lista, uma jornada dupla de trabalho —fui correspondente de uma agência in-ternacional chamada Interpress Service,que tem sede na Itália e da qual, hoje, apenasfaço parte do Conselho.

Jornal da ABIJornal da ABIJornal da ABIJornal da ABIJornal da ABI — Que mudanças ouinovações pensa em levar para a Band?

Arnaldo CésarArnaldo CésarArnaldo CésarArnaldo CésarArnaldo César — Cheguei há pou-co na Bandeirantes, onde fui convidadoa dirigir o Jornalismo no Rio. Esta é umaoperação infinitamente mais complexado que o trabalho na TV Alerj — que deixeirecentemente —, pois aqui, além dostelejornais de rede, temos jornal local, astrês emissoras de rádio e três de TV —sendo uma aberta e duas por assinatura—, além de um quarto canal de televisão,

em Barra Mansa, no Sul do Estado. Nomomento em que você está me entrevis-tando, ainda estou fazendo diagnósticos,observando rotinas, enfim, vendo as coisase corrigindo algumas que já percebo. Oprojeto maior virá depois.

Jornal da ABIJornal da ABIJornal da ABIJornal da ABIJornal da ABI — Como vê a empresaque vai dirigir?

Arnaldo CésarArnaldo CésarArnaldo CésarArnaldo CésarArnaldo César — A Band é, tradici-onalmente, uma empresa jornalística.Não só a rádio, mas também a TV tem essamarca de tradição jornalística muito forte.É uma empresa constituída por bonsjornalistas. O que vou tentar fazer, naverdade, será agregar valor. Temos umtelejornal local que precisa ser redireci-onado, na medida em que concorre comoutros telejornais, de outras redes, nomesmo horário. É preciso repensar ocaminho que ele vai tomar, para não fi-car igual aos demais, concorrendo comas mesmas informações e matérias rigo-rosamente iguais. Isso é complicado. Va-mos buscar um caminho para ele. Aquitemos também a Rádio Band News Flu-minense, que é uma rádio all news e estáem processo de consolidação. Este será,certamente, um lugar onde teremosmuito trabalho para fazer.

Jornal da ABIJornal da ABIJornal da ABIJornal da ABIJornal da ABI — Qual o maior de-safio?

Arnaldo CésarArnaldo CésarArnaldo CésarArnaldo CésarArnaldo César — O desafio agora nãoé só colocar no ar o factual, é se anteciparaos acontecimentos. E para isso necessi-tamos de matéria-prima muito importan-te: jornalistas com fontes e com experi-ência. Como o volume de informação émuito grande, o leitor, às vezes, temdificuldade de entender certos fatos. Cabeaos veículos — jornais, rádios e tvs —explicar aquela “maçaroca” toda de infor-mação, para que ele possa entender o queestá por trás do que está recebendo. Hoje,no jornalismo moderno, há uma con-corrência muito forte pela velocidade eexclusividade da informação, especial-mente depois que surgiram a internet eos sites de informação, muitos deles, aliás,ancorados em grandes Redações, comoas do Estado de S. Paulo, do Washington Post

DEPOIMENTO ARNALDO CÉSAR

ENTREVISTA A CLÁUDIO CARNEIRO

Diretor de Jornalismo diz que a TV Bandeirantes não se contentará com ofactual, procurando se antecipar aos acontecimentos e explicando o contexto

de cada informação. Para ele, exclusividade e fidelidade são essenciais.

É preciso agregarvalor com

credibilidade

Arnaldo César: É preciso explicar a maçaroca de informações para o público entender.

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e do New York Times. Isso criou um desa-fio novo para as rádios: a velocidadedeixou de ser privilégio delas.

Jornal da ABIJornal da ABIJornal da ABIJornal da ABIJornal da ABI — Como será isso naprática?

ArArArArArnaldo Césarnaldo Césarnaldo Césarnaldo Césarnaldo César — Veja agora, porexemplo: estamos no meio de uma guerrado tráfico, 23 pessoas morreram nos úl-timos dias, no Vidigal, no Juramento, noComplexo do Alemão, no Dona Marta.O leitor, ouvinte ou telespectador vairecebendo isso “picado”. Como é tudomuito rápido, às vezes o cara não enten-de por que se mata tanta gente no Rio deJaneiro. Em função dessa velocidade,nem os veículos se dão ao trabalho deexplicar que estas não são mortes isola-das, mas que estão num contexto daguerra do tráfico que assola o Estado. Láem São Paulo, já estamos em 180 e tantosatentados provocados pelo PCC. Estas sãoestatísticas claras de um país que está emguerra. Então, em algum momento, al-guém tem de chegar e explicar o que estáacontecendo. Esta é uma concepção quea gente pretende dar. As televisões estãocheias de comentaristas. Temos aqui oJoelmir Betting, que fica “entendendo”a economia para as pessoas.

Jornal da ABIJornal da ABIJornal da ABIJornal da ABIJornal da ABI — O comentarista terápapel importante?

Arnaldo CésarArnaldo CésarArnaldo CésarArnaldo CésarArnaldo César — O comentaristatem que explicar ao espectador como osfatos do dia-a-dia impactam a sua vida.É preciso ter esse cuidado. Afinal, essesfatos não estão desconectados da vida daspessoas. Elas precisam entender que cadafato tem a ver com suas vidas. E não é sóa questão da segurança; tem a economia,a política etc. Essa é a tendência.

Jornal da ABIJornal da ABIJornal da ABIJornal da ABIJornal da ABI — A questão é se conec-tar?

Arnaldo CésarArnaldo CésarArnaldo CésarArnaldo CésarArnaldo César — A questão é comovamos conviver ou como vamos concor-rer com a internet. E as respostas são ba-sicamente duas: o New York Times e oWashington Post, alguns jornais europeuse o japonês Asahi Shimbun acham queganham essa concorrência com a internetna exclusividade e na qualidade da infor-mação. Quanto mais histórias exclusivaseles contarem para seus leitores, maisfidelidade terão. Essa opção implica altocusto e qualificação cada vez maior doprofissional, uma vez que o jornalista temque estar cada vez mais bem preparado. Souum militante desta corrente

Outra corrente aposta que a informa-ção é uma commodity que deve ficar dis-ponível a qualquer momento, em todosos lugares, em todos os sites — e que o seuveículo tem como saber como tirar essasinformações das agências, da internet, daradioescuta e criar um produto em cimadisso para os leitores. Os que apostamnessa segunda opção acreditam no bai-xo custo para a produção de informação.

O grande segredo desta história todaé a credibilidade. Em 2004, estive numcongresso da International NewspaperMarketing Association (INMA) — umaentidade americana que congrega 480jornais. Lá, tive a oportunidade de con-versar com a então Vice-Presidente doNew York Times, Janet Robinson. Ela mecontou que, para o jornal se preparar paraesta nova realidade e agilizar sua distri-buição foram investidos US$ 1 bilhãoem infra-estrutura de cross media — queé o cruzamento destas mídias eletrôni-

“O jornalismo precisa de jornalistas quesaibam trabalhar com fontes de informação.

Em todo o processo na Redação, essapreocupação tem de existir.”

cas com as chamadas mídias impressas— e na formação de pessoal. No dia emque conversamos, discutia-se na Reda-ção o pedido de desculpas aos leitores pelacobertura feita da guerra do Iraque. Atensão era grande, porque estava emdiscussão a credibilidade do jornal. Elesconsideraram que cometeram muitoserros. E a redução dos erros só se faz atra-vés da qualificação do pessoal com quemse trabalha. Parte desse investimento deUS$ 1 bi também foi para treinamentose cursos na Redação — e treinamento alinão é ficar discutindo lead e sublead, essascoisas. É para formar o cara sobre a His-tória do Oriente Médio e outros temascom que ele vai lidar no dia-a-dia. Essetipo de treinamento passa pelos veícu-los eletrônicos.

JorJorJorJorJornal da ABInal da ABInal da ABInal da ABInal da ABI — Tudo isso requer sem-pre grandes investimentos?

ArArArArArnaldo Césarnaldo Césarnaldo Césarnaldo Césarnaldo César — Você sabe qual agrande vantagem da nossa profissão? Nóssomos que nem vinho. Nós nos tornamosprofissionais melhores quanto maisvelhos ficamos, ao contrário de outrasprofissões. Vamos acumulando experiên-cias. Se você quer uma matéria bem es-crita, se você quer uma informação comprofundidade, tem que fazê-la com umjornalista de cabelo branco. Se você en-trar na redação do Washington Post, aincidência de cabelos brancos é um ne-gócio fantástico.

Jornal da ABIJornal da ABIJornal da ABIJornal da ABIJornal da ABI — Nas Redações aquino Brasil não é o que se vê...

ArArArArArnaldo Césarnaldo Césarnaldo Césarnaldo Césarnaldo César — Aqui não. Temmuita gente jovem, mas eu acho que, àmedida que o leitor — ou o telespectador,ou o ouvinte — começar a demandar maisprofundidade, teremos de lançar mão deexperiências acumuladas. Isto é um sin-

toma animador, que vai gerar tambémum leitor mais bem informado.

Jornal da ABIJornal da ABIJornal da ABIJornal da ABIJornal da ABI — O senhor acha que,num momento em que a agilidade do noti-ciário é tão cobrada, haverá espaço paraacrescentar informações de aspecto históricoou cultural à notícia?

Arnaldo CésarArnaldo CésarArnaldo CésarArnaldo CésarArnaldo César — Sim. Ou você fazisso na pré-produção, no caso das rádiose tvs, transmitindo aos repórteres o pla-nejamento da matéria, ou você faz na apu-ração. Quanto mais bobinhas forem asmatérias, mais o jornalista deixou deexercer o papel de filtro, de criticar algunsconteúdos ou de imprimir seus própriosconhecimentos à informação final.Quanto melhor o filtro, melhor será o re-sultado. É nisso que devemos insistir. Nãosomos um mero suporte de microfone.A gente tem de interagir com o entrevis-tado, a gente pode questionar e criticar.Essas são funções clássicas do jornalistaque, diante da nova concorrência, ficammais aguçadas. Como você escolhe umarádio para ouvir ou um jornal para ler?O veículo tem de agregar algum valor aoseu conteúdo. Você compraria um jornalque conta tudo o que você já sabe?

Jornal da ABIJornal da ABIJornal da ABIJornal da ABIJornal da ABI — Leitor quer novidade...Arnaldo CésarArnaldo CésarArnaldo CésarArnaldo CésarArnaldo César — Ele precisa de his-

tórias novas. O jornalismo precisa de jor-nalistas que saibam trabalhar com fon-tes de informação. Em todo o processo naRedação, essa preocupação tem de exis-tir: Não é só o repórter que está ali naponta, mas todos precisam trabalhar nessesentido e com essa preocupação de bus-car a informação nova. Jornalista que tra-balha com fonte ainda é um conceito in-cipiente no jornalismo brasileiro. As pes-soas não têm essa formação. Meu patri-mônio nestes quase 40 anos de profissão

é a minha agenda com as minhas fontes,as pessoas que me conhecem, que gostamde mim, que confiam em mim, que merespeitam, que sabem que vão entregaruma informação e que ela não será usadade maneira leviana, pessoas que atendemum telefonema meu na hora — o que, aliás,é uma coisa que hoje em dia, com o realtime, é muito valorizado. Tudo isso é umpatrimônio que o jornalista forma.

Jornal da ABIJornal da ABIJornal da ABIJornal da ABIJornal da ABI — Mudando um pou-co de assunto, esta não é sua primeira ex-periência em tv.

Arnaldo CésarArnaldo CésarArnaldo CésarArnaldo CésarArnaldo César — Eu venho da ex-periência de um ano e meio na TV Alerj,onde tive, na verdade, o trabalho de re-montar um canal de televisão. Quandocheguei lá, não existia grade de progra-mação, telejornais, programas definidos,essa coisa toda. Então, fui organizar o canalnesta direção. Hoje, você sintoniza o canale sabe que em tal horário tem determi-nado programa. Fizemos lá três telejor-nais diários e uma revista semanal. Ecriamos conceitos de apuração, que cha-mávamos lá de “caminho de mão dupla”:buscávamos informações dentro da Alerj,a partir dos projetos de lei, dos eventosinternos, e as transformávamos em repor-tagem de tv, buscando aproximar os te-mas dos telespectadores e eleitores. Oobjetivo era mostrar que o que se decidiaali tinha a ver com a vida das pessoas.Também pegávamos os assuntos daquide fora e os repercutíamos lá dentro, comos deputados. A mágica disso era tentarfazer uma televisão que mostrasse aotelespectador que o que se faz lá — ape-sar de tudo o que se fala — é uma coisaimportante.

A TV Alerj é uma televisão legislati-va, mas tentamos imprimir ali o concei-to de televisão pública. Com base nisso,fizemos vários convênios com produto-res de conteúdos, inclusive com a PublicBroadcast Service (PBS), que é a maior redede televisão pública dos Estados Unidos.Este convênio abrangeu a troca de pro-gramas e treinamento e formação depessoal . Firmamos outros convênios: coma Multi-Rio — que é uma boa produtorade conteúdo da Prefeitura do Municípiodo Rio de Janeiro —, o STV — grandeprodutor público do Sesc e do Senac emSão Paulo —, o Sebrae, a Radiobrás, oscanais legislativos — TV Senado e TVCâmara — e algumas universidades,como a UFRJ e a Uff.

Jornal da ABIJornal da ABIJornal da ABIJornal da ABIJornal da ABI — E sua atuação, di-gamos, política, tanto em sindicatos quan-to na ABI?

Arnaldo CésarArnaldo CésarArnaldo CésarArnaldo CésarArnaldo César — Em 69, eu traba-lhava na TV Globo e resolvi assumir a di-reção do sindicato da categoria no Rio, queestava nas mãos de uns pelegos. Houveuma espécie de uma frente de jornalistas,em todas as Redações, que se juntaram,num grande esforço, para ganhar essaeleição. A partir daí, tive uma vida sindi-cal, convivi com as pessoas. Logo depoisda morte do Dr. Barbosa Lima Sobrinho— eu já estava no jornal O Dia — vi serepetir esse tipo de movimento de jorna-listas para assumir a ABI. Participei de umgrupo de jornalistas que concorreu e aca-bou redundando na ida do Maurício Azêdopara a presidência da Casa. Faço parte doConselho da ABI, mas confesso que souum conselheiro meio relapso, meio ausen-te, porque minha jornada de trabalho nun-ca é menor que 12 horas por dia.

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Quebrando uma tradição de meioséculo, em que matérias investigativase de denúncias saíram vencedoras dapremiação, este ano o amor, sob umângulo de plena cidadania, foi o temavencedor do Prêmio Esso de Jornalismo,que está em sua 51ª edição. A cerimônia,à qual compareceram cerca de 500 con-vidados, foi realizada no dia 12 de dezem-bro, no Copacabana Palace, no Rio deJaneiro.Ao todo, o Esso conferiu 15 pre-miações, 12 das quais a trabalhos da mídiaimpressa, além do Prêmio Especial deTelejornalismo e duas distinções deMelhor Contribuição à Imprensa.

A grande vencedora da noite foi a jor-nalista Conceição Freitas, do Correio Bra-ziliense, pela série Amores possíveis, publi-cada durante dez semanas na contracapado jornal do Distrito Federal. As reporta-gens de Conceição — que o blog de Ricar-do Noblat republica em janeiro — con-tam histórias de amor entre pessoas por-tadoras de deficiências, socialmente apar-tadas ou simplesmente incomuns, comocegos, surdos, mudos, pacientes de clíni-ca psiquiátrica, prisioneiros e mendigos.

— Eu não esperava essa premiação.Recebi a notícia com espanto e, apesar dos28 anos de jornalismo, demorei um pou-co a tomar consciência do que estava sepassando. Foi uma ousadia muito gran-de dos jurados escolher uma matéria quenão é de denúncia nem de investigação,que sempre foi a tendência histórica doEsso. Apesar de me considerar suspeita,achei meritória a minha indicação. Estouaté escrevendo uma carta ao júri.

Conceição, que esteve no Rio parareceber a premiação, contou que a pauta

18 vereadores, todos acusados de impro-bidade administrativa,

Na categoria Reportagem venceu ojornalista Eduardo Auler, do Extra, pelasérie intitulada Adeus, futuro. O repórterlevou quatro meses apurando, em maisde 50 escolas do Rio, dados sobre crian-ças que haviam abandonado os estudos,chegando à estimativa de que cerca de800 crianças diariamente deixam as sa-las de aula no estado.

O Prêmio Esso de Fotografia foi dadoa Marcelo Carnaval, de O Globo, pela fotoque mostra o desespero de uma mãe aotentar amparar no colo o filho morto atiros em uma rua do Rio.

Os vencedores foram escolhidos deuma lista de 38 finalistas selecionados deum total de 1.172 trabalhos inscritos, dosquais 572 reportagens, séries de reporta-gens ou artigos, 162 trabalhos fotográ-ficos; 217 trabalhos de criação gráfica emjornal, 63 trabalhos de criação gráfica emrevista, 89 primeiras páginas de jornal e63 trabalhos de telejornalismo.

Houve também seis inscrições aoPrêmio de Melhor Contribuição à Im-prensa em 2006, atribuído pela comis-são de seleção ao livro e site Políticos doBrasil, do jornalista Fernando Rodrigues,“por constituir uma importante contri-buição aos jornalistas que necessitam deinformações confiáveis sobre o patrimô-nio dos candidatos às últimas eleiçõesdo País”. Em segundo lugar ficou o pro-jeto Excelências, da Transparência Brasil,por permitir aos jornalistas e ao públicoum volume apreciável de informaçõessobre os candidatos que buscavam ree-leição em 2006.

da série surgiu na semana de comemo-rações do Dia dos Namorados.

— Estava na Redação, a data ia chegan-do e eu já não sabia mais o que pensar parauma matéria. Foi quando alguém mefalou de um casal de deficientes. Eu meencantei tão profundamente pela expe-riência que fui em busca de outras e,durante dez semanas, publiquei históri-as de amor entre surdos, cegos, prisionei-ros, quilombolas, mendigos, mostrandocomo este sentimento entre essas pesso-as pode ser possível de consumar.

DESTAQUESNa categoria Telejornalismo, o Prêmio

Especial foi conquistado por GiovaniGrizotti, Laura Nonohay, Jonas Campose Sérgio Pavanello, da Rede Brasil Sul deComunicação (RBS), pelo trabalho Afarra dos vereadores turistas. A matéria,produzida pela equipe da RBS, denunciou

PRÊMIOS

POR JOSÉ REINALDO MARQUES

Pauta nasce no Dia dos Namorados, para mostrar que pessoas especiais, qualquer que seja adeficiência, também amam, com a mesma intensidade dos considerados normais.

Amor possível ganha o Esso

OS VENCEDORESPrêmio Esso de JornalismoAmores possíveis, de Conceição Freitas, Correio Braziliense

Especial de TelejornalismoA farra dos vereadores turistas, de Giovani Grizotti, Laura Nonohay,Jonas Campos e Sérgio Pavanello, RBS

ReportagemAdeus, futuro, de Eduardo Auler, Extra

FotografiaEngenheiro é morto no Centro, de Marcelo Carnaval, O Globo

Informação EconômicaBolsa-família, empregos baratos, de Fernando Canzian, Folha de S. Paulo

Informação Científica, Tecnológica e EcológicaNordeste conectado, de Silvia Bessa, Diário de Pernambuco

Especial de Primeira PáginaEles são sem-terra, sem respeito, sem educação e sem vergonha, deLuiz Vieira Junior, Marlon Brum e Octávio Guedes, Extra

Criação Gráfica — Categoria JornalFim, de Antônio Nascimento, Télio Navega, Marcelo Monteiro eAlessandro Alvim, O Globo

Criação Gráfica — Categoria RevistaAfinal, qual é a nossa cara?, de Rita Palon, Airton Seligman e RobertoNegreiros, revista Porto Seguro

Especial InteriorSanguessugas, de Fábio Gallacci, Correio Popular

Regional 1Assassinatos na Aeronáutica, de Demitri Túlio e Cláudio Ribeiro,O Povo, Fortaleza

Regional 2O novo retrato do pampa, de Carlos Etchichury e Nilson Mariano,Zero Hora, Porto Alegre

Regional 3Venda de cadastros de aposentados, de Mônica Pereira e equipe, ODia, do Rio de Janeiro

um grupo de políticos do Rio Grande doSul que gastava com viagens e lazer a verbapública destinada a congressos, seminá-rios e cursos de qualificação.

Os jornalistas conseguiram infiltrar-se entre os políticos e mostrar que, alémdos gastos ilícitos, eles ainda consegui-ram obter certificados dos cursos sem fre-qüentá-los. A reportagem foi exibida emrede nacional e levou ao banco dos réus

MarceloCarnaval,

observado pelojurado Cláudio

Conceição:num caso depolícia, umafoto digna de

quadros daMadonna.

ConceiçãoFreitas, do

CorreioBraziliense.

quebrou atradição de

Prêmio Essode laurear asreportagens

com forteapelo social.

FOTOS DIVULGAÇÃO

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21Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 315 Dezembro de 2006

QUEM GANHOU O QUÊReportagem de jornal/revistaExército recupera armas após fazer acordocom facção de traficantes, de RaphaelGomide e Sérgio Torres, Folha de S. Paulo

Reportagem fotográficaOs meninos da luz vermelha, de MarcosFernandes, Diário do Comércio

Reportagem culturalVauthier — A história que a Françadesconhece e o Brasil esqueceu, de VandeckSantiago, Diário de Pernambuco

Reportagem investigativaA farra dos vereadores turistas, de GiovaniGrizotti, RBSTV

Reportagem de rádioNazistas sulinos, de Cid Martins,Rádio Gaúcha

Reportagem esportivaOs passos da paixão, de Lúcio de Castro, Sportv

Reportagem sobre responsabilidade socialBiblioteca T-Bone, de Solange Calmon,TV Senado

Reportagem de televisãoCélula-tronco, de Luiz Carlos Azenha e MariaCândida, TV Globo

Reportagem cinematográficaSão Paulo punguistas, de Wilson Araújo,TV Globo

Reportagem de correspondente estrangeiroGuardião das tribos da idade da pedra, deAndrew Ernest Downie, Daily TelegraphMagazine

Reportagem de telecomunicações veículos especializados

O futuro das telecomunicações, deAna Paula Oliveira e Ceila Santos,revista Computerworld

Reportagem detelecomunicaçõesveículos não especializadosNordeste conectado, de SilviaBessa, Diário de Pernambuco

Reportagem regional SulO retrato do Pampa, CarlosEtchichury e Nilson Mariano,Zero Hora

Regional Sudeste21 anos depois. As lições dosCieps, de Paulo Marqueiro, SelmaSchmidt e Ruben Berta, O Globo

Regional NordesteRetratos da infância, de JoãoValadares, Claudia Vasconcelos,Ciara Carvalho e VerônicaAlmeida, Jornal do Comércio

Regional NorteO delírio da morte, de Castelo

Branco e Orlando Faria, CorreioAmazonense

Regional Centro-OesteÓrfãos de guerra, de Ana Beatriz Magno,Correio Braziliense

A 8ª edição do Prêmio Imprensa Em-bratel festejou mais uma vez o jornalis-mo engajado nas questões sociais e polí-ticas: a reportagem As ambulâncias dafraude, do Correio Braziliense, que foi oestopim do escândalo conhecido como “amáfia dos sanguessugas”, conquistou, emcerimônia realizada no dia 6 de dezembro,no Rio de Janeiro, o Troféu Barbosa LimaSobrinho, a maior honraria concedida peloPrêmio Embratel.

A matéria, veiculada em dezembro de2005 e escrita pelos repórteres GustavoKrieger, Marcelo Rocha, Leonel Rocha,Luciene Soares, Ana Maria Campos e LúcioVaz, foi a primeira da série concluída emagosto sobre o esquema fraudulento decompra de ambulâncias em Rondônia. Oescândalo ganhou proporção nacionaldepois que se descobriu que a quadrilhaatuava em outros Estados, en-volvendo políticos devários partidos.

Embratel: O engajamento venceuReportagens investigativas foram os destaques do Prêmio Embratel de 2006, consolidando o

engajamento da imprensa nas grandes questões sociais e políticas, em todas as regiões do País.

POR CLAUDIO CARNEIRO

A cerimônia de entrega dos prêmios foirealizada no Canecão, na Zona Sul do Rio.Foram premiados 19 trabalhos jornalísti-cos. O documentário Falcão — meninos dotráfico, exibido em março de 2006, peloFantástico, na TV Globo, recebeu MençãoHonrosa, uma vez que não envolveu re-pórteres na sua apuração, embora tenhacontado com o trabalho de pesquisa, edi-ção, roteirização e finalização de mais de120 horas de filmagens, conduzido pelojornalista Frederico Neves e sua equipe.

O casal Sílvia Bessa e Wandeck Santi-ago protagonizou um dos momentos demaior emoção da premiação, na exposi-ção sumária de sua reportagem sobre o

Também no Prêmio Embratel a foto premiada foi de um flagrante da selva urbana, este Os meninos da luz vermelha, de Marcos Fernandes.

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francês Vauthier, que viveu em Pernam-buco entre 1840 e 1846

Um dos integrantes do júri foi o jorna-lista Maurício Menezes, também produ-tor de espetáculos teatrais que satirizam,principalmente, a imprensa. Durante aentrega de um dos prêmios, ele fez esque-te mostrando o trabalho dos colegas e ter-minou sua intervenção com uma paródiada música Ronda, de Paulo Vanzolini, emforma de crítica às chefias de Reportagem,com observação criativa e tom ferino quelevou o público às gargalhadas.

A turma do Correio Braziliense deita e rola na noite do Prêmio Embratel: MarceloRocha e Lúcio Vaz, da equipe que ganhou o Troféu Barbosa Lima Sobrinho, Ana

Beatriz Magno, que venceu o Regional Centro-Oeste, José Varela e Conceição Freitas.

Marcos Fernandes e a fotopremiada Os meninosda luz vermelha,publicada no

Diário doComércio,

de SãoPaulo.

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22 Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 315 Dezembro de 2006

A segunda e última fase do novo pro-jeto gráfico do jornal Folha Dirigida,iniciada em setembro pelo Caderno deEducação, foi implantada no dia 21 denovembro, para coincidir com a come-moração dos 21 anos do jornal, que cir-cula no Rio de Janeiro às terças e quin-tas-feiras. Trata-se da maior mudançavisual da publicação, especializada tam-bém em concursos e recursos humanos.

Entre as novidades está a introduçãode uma tira de humor com o personagemConcursino, criado pelo cartunista Otaespecialmente para a Folha Dirigida.Concursino passa a vida fazendo concur-sos públicos e promete ser o momentode descontração e, em alguns casos, atéde identificação para os leitores. Em suareforma gráfica – promovida pelo editorde Arte Francisco Ucha – o jornal estáainda reduzindo as fontes de letras, decinco para três. Além disso, as fotos pas-

saram a ser importante elemento gráfi-co, inclusive na primeira página.

Também editor gráfico do Jornal daABI, Ucha tranqüiliza os leitores:

– Trata-se de nova embalagem e mo-dernização, mas não é só alteração esté-tica. O objetivo, com resultado já com-provado no Caderno de Educação, é tor-nar o jornal mais leve e agradável, faci-litando a leitura e a busca de informações,sem descaracterizar o veículo. O conteú-do básico permanecerá o mesmo, mastambém haverá avanços nesse campo.

Para o Diretor de Redação da FolhaDirigida, Rogério Rangel, a reforma levaem conta a necessidade de manter o lei-tor identificado com a publicação a queestá habituado:

— Estamos integrando o veículo aosnovos conceitos do design, tornando-o mais leve e atual. Os leitores, certa-mente, gostarão do resultado.

Folha Dirigida muda paraficar mais fácil de consultar

Reforma destaca fotos e reduz famílias de letras comoelementos fortes de impacto visual, introduz tira de humor,

amplia e melhora o conteúdo, mas o foco ainda é a informação.

REFORMA

Um dvd sobre oAI-5, por MarkunO Jóquei Clube de São Paulo foi o ce-

nário de lançamento, em 11 de dezem-bro, do dvd AI-5 — O dia que não existiu,documentário dirigido pelo jornalistaPaulo Markun e parceria da TV CâmaraFederal, a Fundação Mário Covas e a TVCultura de São Paulo, que mostra um dosepisódios mais importantes da históriapolítica contemporânea do Brasil.

Já exibido pela TV Câmara e pela TVCultura, o documentário, de 56 minutos,chega agora ao público em dvd e traz comoacréscimo a íntegra das principais entre-vistas produzidas para a sua realização.A de Mário Covas, por exemplo, foi umadas últimas que ele concedeu com exclu-sividade antes de sua morte.

Em 12 de dezembro de 1968, defenden-do o Congresso e a democracia, o entãoDeputado federal Mário Covas fez um dosdiscursos mais marcantes do CongressoNacional, em que citou a liberdade comoo principal vínculo entre o homem e aeternidade. Meses antes, o Deputado e jor-nalista Márcio Moreira Alves conclamaraas jovens brasileiras a não namorar ofi-ciais do Exército. No dia seguinte, o re-gime militar baixou o Ato Institucionalnº 5, fechando o Congresso por quase umano e conferindo poderes absolutos aoregime militar.

AI-5 — O dia que não existiu tem noelenco Almir Martins (Mário Covas),Beatriz Gemal (Nysia Carone), JoãoVieitas (Geraldo Freire), Maurício Bran-co (Márcio Moreira Alves), Monique La-fond (Júlia Steinbruch) e Tonico Pereira(José Bonifácio). O diretor e roteiristaPaulo Markun destaca que a entrevista deCovas — incluída no dvd — traz a descri-ção inédita e detalhada de todo o proces-so: — Já o Marcio Moreira Alves revela amanobra de fuga, armada previamente.Jarbas Passarinho conta os bastidores dopoder. Geraldo Freire, o líder do Governo,admite que o discurso de Covas foi demo-lidor. E ainda há a íntegra do anúncio doAI-5, uma gravação histórica.

Markun acha que não há nenhumadúvida de que os militares na época esta-vam como o lobo diante do cordeiro. Elerevela que o que mais o surpreendeu emtodo o processo de produção do documen-tário foi a emoção do elenco: — Foimarcante a emoção dos atores ao recons-tituir aquela sessão que tinha ficado es-quecida na História. O Diário Oficialjamais havia publicado o que aconteceunaqueles dias.

Por motivos como este, diz Markun,o documentário tem o objetivo de escla-recer o que ocorreu num passado recen-te da História do Brasil: — Mostrarmomentos assim, muito falados e pou-co conhecidos, tem seu valor. Se não forpara evitar que o erro se repita, que sejapara que as pessoas conheçam mais sobreaqueles tempos.

HISTÓRIA

Para o Presidente do Grupo Folha Di-rigida, jornalista Adolfo Martins, a li-nha editorial, consolidada durante 21anos, permanece inalterada: – Junta-mente com a embalagem, estamos am-pliando e melhorando o conteúdo, masnão modificamos o escopo geral. Con-tinuaremos combativos como sem-pre, exigindo transparência e morali-dade no serviço público em geral. Con-tinuaremos sendo o jornal das boasoportunidades.

A reforma gráfica da Folha Dirigidaimprimirá grande mudança visual dojornal, que começou em uma sala de 24metros quadrados no Edifício Odeon,

no Centro do Rio. Hoje, a Folha estáinstalada em prédio próprio, o Edi-fício Barbosa Lima Sobrinho, quetem sete andares, incluindo parquegráfico, na Rua do Riachuelo.Da primeira edição, com 3 mil exem-

plares de oito páginas, até atingir amaioridade, o jornal deu salto gigantes-co: a tiragem, hoje, no Rio, é de cerca de70 mil exemplares, duas vezes por sema-na, fora as edições extras e as regionais,cobrindo todo o Brasil. O Caderno deEducação foi introduzido em 1998. Noano seguinte, estreou a edição eletrôni-ca, a Folha Dirigida Online, bicampeãdo iBest, em 2004 e 2005, na categoriaeducação, trabalho e cidadania.

Ao lado do diretor de Redação daFolha Dirigida, Rogério Rangel (de

camisa amarela), e do chefe dereportagem, Luiz Fernando Caldeira,

Ucha agradece o empenho dosfuncionários na implantação do novo

projeto gráfico, que passou a incluirdesenhos, mais fotos e a tira de humor

Concursino, desenvolvida pelo cartubista Ota.

Adolfo Martins: mudanças mantêmcombatividade do jornal

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23Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 315 Dezembro de 2006

Em ato no Salão Promocional da Federação das Indústrias de São Paulo–Fiesp, foi lançado no dia 18 de dezembro o livro Da arte do Brasil, 15ª obrado jornalista e escritor Ricardo Viveiros, membro do Conselho Consultivoda Representação da ABI em São Paulo. A obra traça um panorama da arteno País, retratando a vida de alguns dos principais artistas plásticos brasi-leiros, do Império aos dias atuais, e atraiu alguns dos retratados e herdeirosdos pintores já falecidos, além de autoridades políticas, empresários, líderessetoriais, dirigentes de organizações não-governamentais, membros da so-ciedade paulistana, jornalistas e intelectuais.

Da arte do Brasil, produzido pela Clemente & Gramani Editora em ediçãobilíngüe (português/inglês), é resultado da compilação de uma série de textospublicados pela revista Abigraf. São enfocados 22 artistas plásticos de diver-sas regiões do País e suas principais obras: Aldemir Martins, Aldir Mendesde Souza, Anita Malfatti, Antônio Gomide, Antônio Henrique Amaral,Cândido Portinari, Carybé, Djanira da Mota e Silva, Emiliano Di Cavalcân-ti, Fayga Ostrower, Flávio de Carvalho, Francisco Brennand, Fulvio Pen-nacchi, Iberê Camargo, Milton Dacosta, Pancetti, Raimundo Cela, Rugen-

das, Samson Flexor, Tikashi Fukushima, TomieOhtake e Vicente do Rego Monteiro.

Em apêndice especial, o livro traz um retrato deseis dos mais importantes museus brasileiros, des-crevendo a história, curiosidades e os acervos de cadaum: Museu Nacional de Belas-Artes (RJ), Pinaco-teca do Estado de São Paulo, Museu Lasar Segall,Museu de Arte Contemporânea da Universidadede São Paulo (Mac/Usp), Museu de Arte Moderna(Mam/RJ) e Museu de Arte de São Paulo (Masp).“Espero que este trabalho seja uma oportunidadepara o leitor conhecer boa parte do desenho e dapintura produzidos por este país de artistas. Meu

objetivo foi senão o de mostrar as trajetórias desses criadores, seus trabalhose, principalmente, dar a conhecer o melhor de suas obras”, diz Viveiros.

No prefácio do livro, diz o escritor e crítico de arte Jacob Klintowitz: “Ospersonagens de Ricardo Viveiros são obscuros heróis brasileiros paradoxal-mente famosos. E a saga do jornalista consiste em dar corpo e tornar pal-páveis estas luminosas sombras que se movimentam em pequenos e par-ticulares cenários e, no entanto, tornam visual a singularidade nacional.(...) Nesta panorâmica esclarecedora, Viveiros não aparece senão de manei-ra indireta, pois só sabemos dele pelo retrato que faz dos artistas e pelo conjuntode informações que nos enriquece. Uma raridade.”

O Instituto Triangulino deCultura, sediado em Uberaba, MinasGerais, lançou o livro O filme musical,de Guido Bilharinho, oitava obra dacoleção Ensaios de críticacinematográfica, publicada desde 1999.

O livro aborda alguns dos principaisfilmes musicais realizados no séculoXX — da primeira película falada, Ocantor de jazz, estrelado por Al Jolson,em 1927, até Dançando no escuro,vencedor da Palma de Ouro no Festivalde Cannes 2000 — e traz 50 críticasdistribuídas de acordo com o ano delançamento das obras comentadas.

Seguindo o padrão dos outrostítulos da coleção, O filme musicalcontém ilustrações coloridas, fichastécnicas dos filmes, índicesonomásticos, títulos originais eoutros dados importantes.

Quem quiser adquirir o livro deGuido Bilharinho ou outroslançamentos do Instituto Triangulinode Cultura, deve acessar o site dainstituição.

Com a dramática e inacabada histó-ria pessoal do tipógrafo e linotipista ni-teroiense Antônio Bernardo Canellas,o primeiro brasileiro a visitar a Rússia(em 1922) após a Revolução de Outu-bro, a jornalista Iza Salles – a Iza Freazada resistência à ditadura pelos jornaisOpinião e Pasquim – apresenta um pa-norama da chegada ao nosso país dasidéias socialistas e sindicalistas, no livroUm cadáver ao sol: a história do operáriobrasileiro que desafiou Moscou e o PCB(Ediouro).

A obra é centrada nas lutas, tantasvezes fratricidas, entre os pioneiros anar-co-sindicalistas, que dominaram a cenaproletária nas primeiras duas décadas doséculo passado, até as grandes greves queparalisaram o Rio e São Paulo em 1917 e

LIVROS

Viveiros lançaDa arte do Brasil

O filme musical,visto por

Bilharinho

Libertários versus ortodoxos, por Iza SallesPOR ARTHUR POERNER 1919, e os militantes que fundaram, em

1922, o Partido Comunista do Brasil. Osprimeiros, escudados nos ideais libertá-rios de Proudhon, Bakunin, Kropotkin eMalatesta, trazidos pelos imigrantes ita-lianos, espanhóis e portugueses; os segun-dos, em grande parte egressos do anarquis-mo, como Astrojildo Pereira, um dos novefundadores, estribados na legitimidadeconferida pela Internacional Comunis-ta (Komintern), a Terceira, e, a seguir, nocentralismo absolutista de Stalin.

Embora já se conheçam os resultadose as conseqüências, nacionais e interna-cionais, desses conflitos em que se engal-finharam as correntes libertária e auto-ritária do movimento socialista, a narra-tiva da Iza, baseada em pesquisa que lhecustou mais de 20 anos de trabalho, nosprende até a última linha. Como se ain-da fosse possível alterar o rumo dessatragédia política dos nossos tempos.

Repórter talentoso, dono de um textoirrepreensível, Luiz Carlos de Souzamilitou sempre com sucesso nas redaçõesdos principais jornais do Rio. Destacou-se, nos idos dos anos 70, com uma grandereportagem sobre a pesca da baleia no li-toral brasileiro. Para tanto, embarcoudurante vários dias num barco de pesca-dores, quando enfrentou as agruras edesventuras da vida dos homens do mar.Além da reportagem, publicou um livrosobre essa aventura, Maralto, que foi muitobem recebido pela crítica e pelo público.

Desde então até hoje, Luiz Carlos deSouza sempre exercitou, em paralelo àintensa faina jornalística, seu pendor paraas letras, e agora nos brinda com umacoletânea de alguns dos muitos poemasque ao longo dos anos sua inspiração criou.

Nós, seus leitores, sa-ímos no lucro: só te-mos a ganhar com a de-cisão de Luiz Carlos deenfim trazer a públicoas gemas que sua in-ventividade e seu talen-to egoisticamente es-condiam nas gavetas.

Viagem do existirrevela-nos uma sensibi-lidade aguçada, que seexprime em uma técni-ca sem arrojos formais,

mas com uma tessitura rítmica que por ve-zes é pura música. Sonhos e anseios, desa-lentos e desesperanças, mas ao mesmo tem-po o júbilo de viver a vida em sua plenitude— isto tudo num tom de sonata, cantile-na, não no fragor das sinfonias.

“Há tempos que me lapido/ neste gostoclandestino de escrever um poema”, dizLuiz Carlos em Poesia clandestina, paraem seguida completar: “O fermento dapoesia/ vem sempre da solidão/ de quemescreve o poema/... conversando com osventos e costurando ilusões”.

Uma apresentação primorosa do consa-grado escritor Moacir C. Lopes (quem nãose lembra de Maria de cada porto!) ressaltaa grandeza da poesia de Luiz Carlos. “So-nhos, por que não tê-los / ainda que durempouco”, diz ele no poema Poeira do tempo,resumindo a essência de sua lírica.

Viagem do existir é um espelho quenos fita, desvelando nossos sentimentosmais recônditos e espargindo à nossa voltasementes de fantasia. A imersão em suaspáginas é um refrigério que redime o leitordas agruras do mundo exterior e o recon-cilia consigo mesmo. É uma mensagemde vida que toca fundo os nossos corações.

Refrigério eredenção em

Viagem do existir

POR PAULO JERÔNIMO

Uma coletânea de poemasde Luiz Carlos de Souza.

Paulo Jerônimo (Pajê ) é Diretor deAssistência Social da ABI.

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24 Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 315 Dezembro de 2006

O arquiteto Oscar Niemeyer comple-tou 99 anos de idade no dia 15 de dezem-bro e foi saudado pela ABI, da qual éassociado desde 30 de julho de 1953,quando era diretor da revista Módulo, es-pecializada em arquitetura e por ele fun-dada e mantida. Por meio de telegrama,em nome de sua Diretoria e associados,a Casa se pronuncia, afirmando que os“companheiros e admiradores da ABIvibram com sua caminhada ao centená-rio”. Na mensagem, assinada pelo Presi-dente, Maurício Azêdo, a ABI destacatambém o arquiteto como “um exemplode dignidade, de coerência e de coragemna defesa dos ideais de progresso socialno Brasil e no mundo”.

Oscar Niemeyer nasceu no Rio deJaneiro, no bairro de Laranjeiras, em 1907.Em 1934, formou-se engenheiro arquitetoe, um ano depois, iniciou a vida profissi-onal no escritório dos arquitetos LúcioCosta e Carlos Leão. Membro do PartidoComunista Brasileiro, Niemeyer é conhe-cido não só por suas obras, mas tambémpor suas opiniões políticas, expressas, porexemplo, na seguinte declaração:

— Nunca me calei. Eu nunca escondiminha posição de comunista. Os maiscompreensíveis, que me convocam comoarquiteto, sabem da minha posição ide-ológica. Pensam que sou um equivoca-do, e eu penso a mesma coisa deles. Nãopermito que ideologia nenhuma inter-fira em minhas amizades.

Na semana de seu aniversário, noticiouo jornal Folha de S. Paulo, Niemeyer pre-senteou o Presidente cubano Fidel Cas-tro com uma escultura de 9,5 toneladas— representando um monstro com a bocaaberta e um cubano encarando-o — queserá instalada na Universidade das Ciên-cias Informáticas de Havana. Posterior-mente, a obra ficará em uma praça a serconstruída.

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Janice Caetano Barreto escreviapoesias e contos no ginásio. Seu profes-sor de Literatura gostava dos textos esugeriu que ela fizesse vestibular paraComunicação. O cargo de vendedorade fotos da Manchete Press foi o primei-ro emprego, no Departamento de Ser-viços Editoriais da Bloch Editores. Como salário, ela pagava o curso de Jorna-lismo na Facha. Depois de um ano,trocou a Bloch pela Gazeta Mercantil,em 81: — Mas só fui para a reportagemem 85, depois de formada. A Gazeta foiminha escola de vida e profissional.Fiquei lá por quase nove anos.

Depois vieram os trabalhos comorepórter de Economia do Jornal doBrasil, de 90 a 94, e na sucursal Rio doEstadão, de 94 a 95. Um convite paratrabalhar como coordenadora na InPress, em 95, despertou seu interessepelo jornalismo empresarial: — Fiqueilá quatro anos e, em seguida, tive umapassagem rápida, de três meses, pelaBase. Logo depois, assumi a Gerênciade Comunicação da Firjan (Federaçãodas Indústrias do Estado do Rio de Ja-neiro), entre 1998 e 2000. Em 2001, crieia Print Comunicação, especializada empublicações para empresas.

Na vida pessoal, casou-se com ofotógrafo Alaor Filho e tem três filhos.Com ideais políticos, mas sem passa-gem pela política sindical, ela viveuuma experiência inusitada: com pou-co mais de 30 anos, em 1998, foi Pre-sidente do Sindicato dos Jornalistas Pro-fissionais do Rio de Janeiro. Ali, teveatuação destacada na paralisação dosfuncionários do JB, por salários atrasa-dos, em 2001. O episódio resultou navenda do controle acionário do jornal.

Em outra ocasião, Janice bateu o pée não concedeu registro de jornalistaa Edir Macedo, que alegava ter registro

ABI agradece os votos de Boas–Festas

PERFIL

O professor no ginásio indicou-lhe o caminho da comunicação.

de "jornalista colaborador" do jornalFolha Universal, órgão oficial da Igre-ja Universal, que criou e dirige. O bis-po foi à Justiça e perdeu. Quando ojornalista Tim Lopes foi morto, elamanteve posição crítica contra as au-toridades do Estado que, segundo ela,permitiram que a cidade fosse sitiadapor criminosos.

Na vida profissional, Janice desta-ca uma matéria que escreveu para o JB:— A reportagem — sobre as transaçõesilegais de ações da CSN que, à época,estava em processo de privatização —foi manchete da edição de domingo eacabou levando à demissão do entãoPresidente da empresa, Rober-to Procópio Lima Neto.

Na Print, ela coman-da uma equipe de jor-nalistas. A empresade comunicaçãoempresarial é espe-cializada em publi-

cações, relação com a mídia, treinamen-tos, comunicação sócio-ambiental econsultoria: — Mas sempre sobra tem-po para outras coisas; eu me obrigo a isso.Faço atividades no Sindicato e, claro,cuido da família. Aliás, esta é a “ativi-dade” mais importante da minha vida:o maridão e meus três filhos, Fernan-da, Felipe e Igor.

Aos 43 anos, na hora de escrever, Ja-nice só tem tempo para o texto jornalís-tico. Não faz mais os contos e poesias quetanto impressionaram o antigo profes-sor. Para ler, prefere ficção baseada emfatos reais e livros sobre política social

e ambiental. E acha que a internet é umaferramenta muito útil:

— No meu caso, uso paracomunicação e pesqui-

sa. Ajuda demais. Paraos mais jovens, podeatrapalhar, mas éuma tecnologiaque veio para ficar.

Janice, da poesia ao jornalismo

A ABI retribui os votos de Boas-Festas recebidos dasseguintes instituições, empresas, parlamentares e pessoascomuns: Antônio FigueirôaAntônio FigueirôaAntônio FigueirôaAntônio FigueirôaAntônio Figueirôa, Deputado Estadual, Recife,PE; Aristides Barreto;Aristides Barreto;Aristides Barreto;Aristides Barreto;Aristides Barreto; Armando Monteiro Neto,Armando Monteiro Neto,Armando Monteiro Neto,Armando Monteiro Neto,Armando Monteiro Neto,Presidente do CNI, Brasília, DF; Associação dos AgentesAssociação dos AgentesAssociação dos AgentesAssociação dos AgentesAssociação dos Agentesde Fornecedores de Equipamentos e Insumos para ade Fornecedores de Equipamentos e Insumos para ade Fornecedores de Equipamentos e Insumos para ade Fornecedores de Equipamentos e Insumos para ade Fornecedores de Equipamentos e Insumos para aIndústria Gráfica–AfeigIndústria Gráfica–AfeigIndústria Gráfica–AfeigIndústria Gráfica–AfeigIndústria Gráfica–Afeigraf; Araf; Araf; Araf; Araf; Ayryryryryrton Rodrigues deton Rodrigues deton Rodrigues deton Rodrigues deton Rodrigues deAlmeida,Almeida,Almeida,Almeida,Almeida, Federação Nacional dos EmpregadosVendedores e Viajantes do Comércio, Propagandistas,Propagandistas-Vendedores e Vendedores de ProdutosFarmacêuticos–Fenavenpro, Rio de Janeiro, RJ; BrizolaBrizolaBrizolaBrizolaBrizolaNetoNetoNetoNetoNeto, Deputado Federal, Rio de Janeiro, RJ; Casa SãoCasa SãoCasa SãoCasa SãoCasa SãoLuizLuizLuizLuizLuiz, Rio de Janeiro, RJ; Denise Frossard,Denise Frossard,Denise Frossard,Denise Frossard,Denise Frossard, DeputadaFederal, Brasília, DF; Dimas Fabiano,Dimas Fabiano,Dimas Fabiano,Dimas Fabiano,Dimas Fabiano, Deputado Estadual,Belo Horizonte, MG; Editora Mensagens,Editora Mensagens,Editora Mensagens,Editora Mensagens,Editora Mensagens, Atibaia, SP;Empresa Municipal de Multimeios–Multirio,Empresa Municipal de Multimeios–Multirio,Empresa Municipal de Multimeios–Multirio,Empresa Municipal de Multimeios–Multirio,Empresa Municipal de Multimeios–Multirio, Rio de

Janeiro, RJ; Faculdade Moraes JúniorFaculdade Moraes JúniorFaculdade Moraes JúniorFaculdade Moraes JúniorFaculdade Moraes Júnior; Federação dosFederação dosFederação dosFederação dosFederação dosConferentes de Carga e Descarga, VConferentes de Carga e Descarga, VConferentes de Carga e Descarga, VConferentes de Carga e Descarga, VConferentes de Carga e Descarga, Vigigigigigias Pias Pias Pias Pias Pororororortuários,tuários,tuários,tuários,tuários,ConserConserConserConserConsertadores e Ttadores e Ttadores e Ttadores e Ttadores e Trabalhadores de Bloco,rabalhadores de Bloco,rabalhadores de Bloco,rabalhadores de Bloco,rabalhadores de Bloco, Brasília, DF;João Elísio Ferraz de Campos,João Elísio Ferraz de Campos,João Elísio Ferraz de Campos,João Elísio Ferraz de Campos,João Elísio Ferraz de Campos, Presidente da FederaçãoNacional da Empresas de Seguros Privados eCapitalização–Fenaseg, Rio de Janeiro, RJ; Senador JoséJoséJoséJoséJoséAgAgAgAgAgripino e Anita Maria;ripino e Anita Maria;ripino e Anita Maria;ripino e Anita Maria;ripino e Anita Maria; José de PJosé de PJosé de PJosé de PJosé de Paiva Neto,aiva Neto,aiva Neto,aiva Neto,aiva Neto, Diretor-Presidente da Legião da Boa Vontade–LBV, Bom Retiro, SP;Laudemiro Ribeiro de Souza,Laudemiro Ribeiro de Souza,Laudemiro Ribeiro de Souza,Laudemiro Ribeiro de Souza,Laudemiro Ribeiro de Souza, Agente TelecomunicaçõesPolicial, Mogi das Cruzes, SP; Mônica Albuquerque, Mônica Albuquerque, Mônica Albuquerque, Mônica Albuquerque, Mônica Albuquerque, TVGlobo, Rio de Janeiro, RJ; Nereu Nunes Pereira,Nereu Nunes Pereira,Nereu Nunes Pereira,Nereu Nunes Pereira,Nereu Nunes Pereira, PrefeitoMunicipal de Periquito, MG; Pablo Lopez Blanco,Pablo Lopez Blanco,Pablo Lopez Blanco,Pablo Lopez Blanco,Pablo Lopez Blanco,Conselheiro da Embaixada da Espanha, Brasília, DF;Simone Barreto,Simone Barreto,Simone Barreto,Simone Barreto,Simone Barreto, Departamento de Relações Fraternais daLBV, Bom Retiro, SP; Sindicato Nacional dos Aeronautas;Sindicato Nacional dos Aeronautas;Sindicato Nacional dos Aeronautas;Sindicato Nacional dos Aeronautas;Sindicato Nacional dos Aeronautas;Sindicato Nacional dos Editores de Livros.Sindicato Nacional dos Editores de Livros.Sindicato Nacional dos Editores de Livros.Sindicato Nacional dos Editores de Livros.Sindicato Nacional dos Editores de Livros.

Janice Caetano:No currículo de

repórter, umadenúncia que

provocou aderrubada dopresidente deuma empresaentão estatal.

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25Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 315 Dezembro de 2006

rofessor, pesquisador, orientador, jor-nalista, poeta, homem de múltiplasatividades e capacidade de trabalho,

Sérgio Augusto Soares Mattos brinda maisuma vez a comunidade acadêmica comuma obra densa, séria e esclarecedora sobreos processos comunicacionais: Mídia con-trolada: a história da censura no Brasil eno mundo. Desta vez centra-se na relaçãoEstado e mídia, cuja importância tem sidopreterida em grande parte das abordagensacerca dos fenômenos da comunicação,como se a não unidirecionabilidade daprodução de sentido resolvesse toda aquestão, inclusive eliminando o proble-ma das distorções quanto ao acesso à pro-dução e consumo de bens simbólicos.

Além do mais, é sabido como a ação doEstado, bem como dos agentes econômi-cos e, de modo menos expressivo, dosmovimentos sociais, imprimem signifi-cado às dinâmicas e produtos. É por issoque, na verdade, de uma ou de outra formaesta relação do ente estatal com a mídiatem estado presente nas reflexões deMattos, considerando o papel condicio-nador dos organismos públicos diretos eindiretos, em qualquer encontro (regu-lamentador ou não) com a mídia.

É necessário destacar que, com estelivro, a Editora Paulus prossegue comêxito o desenvolvimento de sua ColeçãoComunicação, o que a qualifica comouma das mais importantes da área. Nes-te livro, o autor, doutor em Comunica-ção pela Universidade do Texas, nos Es-tados Unidos (1982), vai além do título,discutindo as conexões entre Estado eindústrias culturais em geral.

Atenta-se para a relevância dos anexosdisponibilizados, inclusive para cotejar oque são os conteúdos midiáticos e o que oscódigos propõem que sejam, havendo en-tre ambos uma notória diferença, particu-larmente maior num país como o Brasil,onde os textos legais não raro têm grandedificuldade de serem cumpridos ou mes-mo considerados no processo decisório,frente uma tradição de resolução dos pro-blemas a partir de relações de compadrio.

No caso da comunicação, essas relaçõessão demarcadas por privilégios, corone-lismos e outras aproximações, além dasabida identificação de classe que demarcaas atividades empresariais no capitalismo,tudo isso pela capacidade da cultura deagir sobre o simbólico, o que é reconhe-cido por todos os agentes participantesdesses processos de domínio e sedução.

A história da censurano Brasil e no mundo

É preciso impedir que o direito de informar seja prejudicado, mas é necessário tambémque esse direito se incorpore aos processos midiáticos, através da cidadania.

POR VALÉRIO CRUZ BRITTOS

Professor da Universidade Federal daBahia (UFBA) e da Unidade Baiana deEnsino, Pesquisa e Extensão (Unibahia),Sérgio Mattos resgata neste livro seutrabalho histórico de pesquisador, cons-truindo um texto claro e reflexivo, quedenota sua maturidade, especialmentepela qualidade das conclusões que apre-senta, pontos de reflexão para geraçõesque viveram sob censura, aquelas que nãopassaram por períodos com esta difícilconfiguração e todas que reconhecemcomo o Estado, em pleno momento devigência das políticas neoliberais e suaproposta de abstenção dos agentes públi-cos, característica do capitalismo infor-macional, continua sendo um ator fun-damental no jogo globalizado.

Nesse sentido, sua influência sobre aconformação dos mercados está semprepresente, manifestando-se positivamente(fazer) ou negativamente (não fazer); emqualquer dessas circunstâncias, os agen-tes mobilizam-se em torno do Estado, bus-cando obter vantagens mais particulares(para os capitais individuais) ou gerais (emprol da sociedade e sua diversidade).

Bem constituída também relativa-mente à reconstituição histórica do fe-nômeno, a obra acaba traçando um im-portante panorama do próprio País deontem e de hoje, ante isso projetando o

problema, condicionado por interesseseconômicos que se sobrepõem às deman-das sociais. O mais interessante é que aquestão é mostrada também no berço doliberalismo, os EUA, o que corrói visõesque vêem no funcionamento desregra-do do mercado a melhor saída, já que aausência de limites aos atos de midiati-zação pode também ser a falta do neces-sário interesse público nas estratégias dascompanhias de comunicação.

Por trás disso esconde-se uma perguntaque reiteradamente é feita, dividindoposições e merecendo visões distintas eaté antagônicas: a falta de controle esta-tal é a vigência da liberdade total (para opúblico em geral também, além dasempresas de mídia) ou necessariamenteo triunfo do controle privado? Uma vi-são realista do problema sinaliza a resposta,já conhecida por todos, embora a plura-lidade de proposições e interpretaçõessobre o tema só venha a acrescentar emsua reflexão e discussão ampla.

Este livro de Sérgio Mattos contribuicom muita pertinência para a discussãoda liberdade de expressão. Mais do que isso,deve ser inserido no atualíssimo debatesobre o direito à comunicação, o que requercanais de expressão capazes de represen-tar a pluralidade e, eventualmente, con-trariar interesses, o que não existe sob qual-quer forma de censura.

Especialmente num país marcado pordescontinuidades da democracia represen-tativa, a análise crítica da trajetória do cer-

ceamento à possibilidade de in-tercâmbio de informaçõesserve como um alerta para a ne-cessidade de mobilização emtorno de avanços desse sistema,não só impedindo que o direi-to de informar seja prejudica-do, mas também lutando paraque o direito a informar seja in-corporado nos processos midi-áticos, a partir da atuação con-seqüente da cidadania.

No âmbito dessa discussão, ainda quea internet permita novos canais de mani-festação flexíveis (com todos os problemasdesse ambiente, como a distorção no acessoentre países ricos e pobres, o que se repeteno âmbito interno), o mundo sofre novosataques ao direito à comunicação, após,como observa o autor, o episódio terroris-ta de 11 de setembro de 2001, que destruiuas Torres Gêmeas de Nova York, nos Esta-dos Unidos da América.

que se pode esperar, pelo menos no curtoe no médio prazos, de toda a complexi-dade que gira em torno dos temas na cir-cular ação do Estado sobre a mídia. Acres-centa-se que, assim como Estado não agesó censurando e nem incidência estatalsobre as indústrias culturaisseja nociva, os atos censóriosnão vem só do Estado, mas dosaparatos de poder em geral.

Desta forma, e não obstan-te o condicionamento hege-mônico de uma classe, nestarelação Estado, mercado e so-ciedade há brechas, o que abreespaço para pressão social porpolíticas públicas democráti-cas de comunicação, em favordos interesses do conjunto social. O mes-mo Estado que censura e, por isso, tem suaintervenção condenada pelo empresaria-do de comunicação é o que paga a mídiacom publicidade, inserções, financiamen-tos e apoios, participação neste caso aplau-dida, como o próprio Sérgio Mattos mos-tra, sempre com qualidade textual, alémde riqueza de dados ilustrativos.

Mídia controlada: a história da censu-ra no Brasil e no mundo aborda tambéma conivência com a censura e a autocen-sura, por parte dos empresários, nessecaminho expondo a complexidade do

Valério Cruz Brittos é jornalista e professorda Universidade Federal da Bahia.

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Liberdade de imprensaLiberdade de imprensa

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26 Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 315 Dezembro de 2006

Direitos humanosDireitos humanos

Os perseguidos apelamao novo governador

Instituições de defesa dos direitos humanos e das liberdades civis pedem ao Governador eleito Sérgio Cabral queapresente nos quatro primeiros meses de sua gestão um cronograma de pagamento da reparação moral instituída pela

Lei n° 3.744, de 2001, em favor das vítimas de prisão e torturas em dependências do Estado

Em petição que dirigiram em 13 dedezembro ao Governador eleito SérgioCabral, instituições de defesa dos direi-tos humanos e das liberdades civis doEstado do Rio pediram que ele apresentenos quatro primeiros meses de sua ges-tão um cronograma de pagamento dasindenizações de reparação moral institu-ída pela Lei n° 3.744, de 21 de dezembrode 2001, em favor das vítimas de prisãoe torturas em dependências do Estadoentre a data do golpe militar de 1964 ea anistia de 1979. Desde a regulamenta-ção da Lei, em 10 de outubro de 2002,foram pagas apenas 140 (12%) das inde-nizações aprovadas.

No documento, o Fórum de Repara-ção do Estado do Rio de Janeiro, consti-tuído por essas entidades, lembra que umrepresentante do Governador eleito fir-mou em 13 de setembro, durante a cam-panha eleitoral, em ato realizado na ABI,o compromisso de cumprir integralmen-te a Lei n° 3.744/2001, a qual só foi total-mente respeitada até agora numa dispo-sição restritiva: a que limitava a 180 diasapós a sua regulamentação o prazo deapresentação de requerimentos de pos-tulação da reparação moral.

O apelo dirigido ao Governador, quecontém cinco reivindicações tem o se-guinte teor:

SITUAÇÃO DOS REQUERIMENTOS ENVIADOS ÀCOMISSÃO ESTADUAL DE REPARAÇÃO DO

ESTADO DO RIO DE JANEIRODEZEMBRO 2006

“Exmo. Senhor Governador eleito peloEstado do RJ Sérgio Cabral,

Em 13 de setembro último realizamos,com o apoio da ABI-Associação Brasilei-ra de Imprensa e do GTNM RJ-GrupoTortura Nunca Mais do Rio de Janeiro,o ‘Dia do Compromisso com os Direitos

Humanos’ na própria ABI. Nós –– doFórum de Reparação do Estado do Rio deJaneiro, movimento que reúne atingidospela tortura e violência praticadas poragentes do Estado durante a ditaduramilitar –– e mais algumas dezenas deentidades e movimentos sociais.

Na ocasião compareceram candidatosà Alerj, à Câmara e ao Senado, que ouvi-ram, leram e assinaram várias pautas dereivindicações. O Sr. candidato ao Gover-no do Estado Sérgio Cabral enviou repre-sentante, que assinou nossa pauta dereivindicações demonstrando, desta for-ma, que se preocupa com as questões aliexplicitadas.

Neste dia 13 de dezembro – data que,há 38 anos, marcou gravemente o nossoPaís com a assinatura do Ato Institucio-nal n° 5 – estamos lembrando ao futuroGovernador Sérgio Cabral de seu com-promisso, firmado por seus representan-tes no dia 13 de setembro, de zelar pelocumprimento da Lei n° 3.744/01 e decre-to, que dispõem sobre as reparações sim-bólicas às pessoas que tenham seus pro-cessos deferidos pela Comissão Especialde Reparação do Rio de Janeiro.

Vários Estados brasileiros incorpora-ram leis que garantiram aos ex-presos po-líticos e seus familiares tão-somentereparações pecuniárias, reduzindo aquestão da reparação. Não houve emnosso País a plena abertura dos arquivosda ditadura, condição necessária ao pro-cesso de resgate da memória histórica,sequer a criação de uma Comissão daVerdade –– a despeito do envolvimentode centenas de agentes que agiram emnome do Estado brasileiro e que foramdenunciados como torturantes. Aindanão se efetivou, apesar das reivindicaçõesdos movimentos de direitos humanos, oprocesso de esclarecimento das circuns-tâncias das mortes e desaparecimentos ea punição dos responsáveis, a exemplo doque acontece com os nossos vizinhoslatino-americanos: a Argentina, o Chi-le, o Uruguai e Paraguai.

De qualquer forma, em 1996, foi apre-sentado à Assembléia Legislativa o Pro-jeto de Lei que deu origem, após cinco anosde tramitação, à Lei n° 3.744/01, que estáem vigor desde 21 de dezembro de 2001.A Comissão deveria ter sido regulamen-tada 30 dias após, o que veio a ocorrer em10 de outubro de 2002, com cerca de dezmeses de atraso. A Comissão Especial deReparação foi instalada a 18 de setembrode 2003, com 32 meses de atraso.

O artigo da lei (e do decreto) que limi-tou o prazo de 180 dias para a apresenta-ção dos requerimentos de reparação foio único na íntegra, ou seja, várias pessoasforam prejudicadas pelos atrasos supra-

FONTE: FÓRUM DE REPARAÇÃO ERJ

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passivo deindenizações dereparação moralé cobrado pelas

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27Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 315 Dezembro de 2006

Em sua reunião de dezembro,realizada no dia 19, o ConselhoDeliberativo da ABI aprovou moçãodo Conselheiro Mário AugustoJakobskind, membro da Comissãode Defesa da Liberdade de Imprensae Direitos Humanos, cobrando dasautoridades da Argentina que seesclareça o desaparecimento deJorge Julio López, às vésperas detestemunhar contra um torturadordaquele país. A íntegra da moção:

“Jorge Julio López, testemunha-chave no julgamento, por crimescontra a humanidade, do torturadorargentino Miguel Etchecolatz, estádesaparecido há três meses. Odesaparecimento de López, de 77anos, ocorreu 24 horas antes de queele testemunhasse no Tribunal.

Vale lembrar que Lópeztestemunhou o seqüestro detrabalhadores pela repressão argentinaem uma operação sob o comando deMiguel Etchecolatz, responsáveltambém por outros crimes eviolações dos direitos humanos.

O Conselho Deliberativo da ABIsolicita que as autoridades argentinasesclareçam as circunstâncias emque se deu o desaparecimento deJorge Julio López e que possa trazê-lo de volta ao convívio dosfamiliares e da sociedade.

Julgar responsáveis pela violaçãodos direitos humanos é umaexigência não apenas dosargentinos, como de todos oscidadãos do mundo que prezem orespeito a esses direitos. A ABI sesoma aos argentinos nesse justopleito e também exige dasautoridades que o caso sejaimediatamente esclarecido.”

Foram aprovados os pedidos dereparação moral de:Cleto Ferreira de Souza (falecido)Dilma Vana RousseffDorma Teresa de Oliveira BarbosaEdson AntônioIones Nunes da SilvaJosé Hugo Arruda de PaulaLucas Pamplona AmorimLuiz Arnaldo Dias CamposLuiz Sérgio DiasMarcos Antônio Costa de Medeiros (falecido)Maria Irany Rezende Cardoso (falecida)Maria Irony Bezerra CardosoMaria Teresa Porciúncula de MoraesMilton Lopes da CostaPaulo César de CastroSérgio Luiz Tomaz da SilvaSérgio Mureb SimõesWilson Pinto BuenoZamir Silva

Os processos indeferidos foram os de:André Teixeira MoreiraCarlos Alberto Viana MontarroyosClaúdio Jorge CâmaraEdmilson Jorge de OliveiraEspedito de FreitasExpedito Gonçalves (falecido)Flavio Novoa EstevesFrancisco Gomes de AssunçãoFrancisco Monte Vianna FilhoInês Corrêa PadrediIzaias Ferreira de Lima (falecido)Jarbas Gomes Machado (falecido)João Eduardo Osório RodriguesJomar Gomes da SilvaJorge Manoel de Oliveira e SilvaJosé Paulo de OliveiraJosé Pio X Martins (falecido)Juvenal de AndradeLuiz Fernando Torres FurtadoManoel Assumpção de CastroMaria de Lourdes SiqueiraMaria Ruth JeremiasNicolau Zarvos NetoNorma Teixeira da SilvaOsmar de Jesus Mendes BarbosaRegina Coeli Ferreira da CruzStalin Dias da CostaValeska Peres Pinto

Foi retirado de pauta o processo de VeraLúcia Carneiro Vital Brasil.

Reparação moral para aguerrilheira Dilma Rousseff

Votação apertada aprova indenização à atual Chefe do Gabinete Civilda Presidência da República por torturas sofridas nos anos 70.

Por quatro votos a três, após prolonga-das discussões, a Comissão Especial deReparação da Secretaria de Direitos Hu-manos do Estado do Rio aprovou no dia14 de dezembro a concessão de reparaçãomoral à ex-guerrilheira Dilma Vana Rous-seff, atualmente Ministra Chefe do Ga-binete Civil da Presidência da República,que foi presa e torturada pelos órgãos derepressão da ditadura militar nos anos 70.

Para a manifestação da Comissão foidecisivo o depoimento prestado no ple-nário por uma companheira de DilmaRousseff, Vânia Amoretty Abrantes, querelatou que foi transferida com ela, nomesmo camburão, de uma prisão em SãoPaulo para o Centro de Operações de DefesaInterna-Comando de Defesa Interna(Doi-Codi), sediado no quartel da PolíciaEspecial do Exército na Rua Barão deMesquita. Vânia Amoretty é diretora doGrupo Tortura Nunca Mais, para o qualacompanha os trabalhos da ComissãoEspecial de Reparação.

Em sua última reunião de 2006, a Co-missão apreciou 48 pedidos de reparaçãode militantes políticos que estiverampresos em dependências de órgãos doGoverno do Estado do Rio de Janeiro entrea data do golpe militar, 1° abril de 1964, ea anistia,em 1979. A Comissão deferiu 19processos, indeferiu 28, por falta de docu-mentação cobrada dos requerentes e porestes não fornecida, e retirou um de pauta.

Entre os processos deferidos, tambémapós longo debate, figura o da hoje cine-asta Tetê Moraes (Maria Teresa Porciún-cula de Moraes), que era Oficial de Chan-celaria do Itamarati e foi presa e tortura-da sob a alegação de difundir pela maladiplomática informações e relatos sobretorturas no Brasil, o que, dizia o regime,afetava a imagem do País no exterior. TetêMoraes foi também demitida do Itama-rati por decreto firmado pelo ditador

CONSELHO

Argentina:sumiram comtestemunhade torturas

citados, porém não houve sensibilidadepor parte do Poder Executivo para ampliaro prazo para a apresentação dos pedidos,apesar de haver dezenas de pessoas impe-didas por este prazo.

Verifica-se, hoje, então, a seguintesituação:

• em números aproximados, foramapresentados 1.114 requerimentos à Co-missão Especial de Reparação, dos quais738 foram deferidos, mas apenas 140 fo-ram pagos. Assim, 598 dos deferidos (88%)aguardam pagamento; entre eles váriosdoentes e/ou em idade avançada aguar-dam, no mínimo, uma previsão de paga-mento das suas reparações;

• o terceiro e último pagamento foiefetivado em agosto de 2005, mesmohavendo programa de trabalho na lei

Emílio Garrastazu Médici.A reunião foi presidida pelo Coordena-

dor da Comissão, Gelson Campos, e con-tou com a participação dos representan-tes da ABI, Maurício Azêdo; do GrupoTortura Nunca Mais, Elizabeth Silveira;da Ordem dos Advogados do Brasil/Seçãodo Estado do Rio de Janeiro, Marcos Ci-los; do Conselho Regional de Medicina doEstado do Rio de Janeiro-Cremerj, SidneiFerreira; da Secretaria de Estado de AçãoSocial, Rodrigo Pereira; e da Secretaria deEstado de Justiça, Francisco Campelo. AProcuradora Leonor Paiva não pôde com-parecer à reunião, mas enviou 14 proces-sos por ela relatados, os quais foram apre-sentados ao plenário pelo representantedo Cremerj. Entre seus processos estavao da Ministra Dilma Rousseff, no qual elaopinara pelo indeferimento, propostarejeitada pelo plenário.

orçamentária com alocação de recursosespecíficos para esta finalidade;

• 215 requerimentos ainda aguardamanálise e parecer da Comissão;

• o Poder Executivo descumpriu a leiquanto aos prazos, porém foi rígido emdelimitar e cumprir o curto prazo paraa apresentação dos requerimentos.

Sendo assim, ao assumir o Governo doEstado, o futuro Governador comprome-teu-se a incorporar, nas realizações doGoverno, o seguinte:

1. apresentar, nos primeiros quatromeses de governo, um cronograma de-talhado dos pagamentos pendentes;

2. efetivar imediatamente todos ospagamentos dos requerimentos deferidos;

3. enviar mensagem à AssembléiaLegislativa para abertura de prazo extra-

ordinário para apresentação de novosrequerimentos;

4. estender para 36 meses o prazo da-queles requerentes que ainda não tenhamconseguido cumprir as exigências porfalta de documentação, em especial, fa-miliares de desaparecidos políticos, já quenão existe pleno acesso a importante partedos arquivos da época da ditadura.

5. criar um mecanismo eficaz de fis-calização com participação de entida-des da sociedade civil para impedir aprática de tortura e maus-tratos, atu-almente utilizada de forma generaliza-da e sistemática por agentes do Estadodo Rio de Janeiro.

Certos de sua compreensão e sensibi-lidade quanto ao tema, aguardamos. (a)Fórum de Reparação do Estado do RJ.”

Processos apreciados

Entidades de direitos humanos da Argentinaexigem o aparecimento de López: com vida.

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Dilma: Quando jovem, trazida de camburãode São Paulo para torturas no Doi-Codi.

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28 Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 315 Dezembro de 2006

eiculado obrigatoriamente pornossas emissoras de rádio AM, onoticiário A voz do Brasil tem opapel fundamental de levar as

principais notícias oficiais do País aosquatro cantos de uma nação que, apesarde suas dimensões continentais, estáunida por um só idioma, o que muitosconsideram o verdadeiro milagre brasi-leiro. Atravessando a fronteira, rumo aoNorte, encontraremos nos Estados Uni-dos o Brazilian Voice, outro “milagre”: éum jornal feito para os brasileiros quevivem naquele país e que têm o nossoidioma como sua principal identidade.

A história do Brazilian Voice se con-funde com a história de 1,5 milhão decompatriotas que vivem nos EstadosUnidos — a estimativa é do BV, pois nemo Consulado Brasileiro sabe precisar onúmero. O semanário, que sai às quar-tas-feiras, com 55 mil exemplares, ser-ve também como elo entre os brasilei-ros espalhados por seis Estados da CostaLeste dos EUA.

Além de ser fonte de informação, oBrazilian Voice tornou-se referência e umaespécie de central informal de atendimen-to ao imigrante. Os leitores telefonampara o jornal por um sem-número demotivos, desde a busca do telefone dapizzaria do bairro até a data da próximamissão itinerante do Consulado. Muitasvezes, quando necessitam de uma orien-tação ou um atendimento, os leitoresligam para o jornal antes de telefonar paraa polícia, por exemplo.

O BV foi criado pelo mineiro RobertoLima em 88, quatro anos depois de suaconfusa chegada aos Estados Unidos.Assim que desembarcou, em abril de 1984,ele foi preso pelo Serviço de Imigraçãoainda no Aeroporto JFK.

— Consegui um defensor público queconvenceu o juiz de que eu não viajaraaos Estados Unidos para trabalhar. Trêsdias depois eu estava em liberdade. Foi umdespertar um tanto rude, mas que mepreparou para a peleja que vive todoimigrante ilegal neste país — contaRoberto, por e-mail.

O que o juiz não sabia era que esteaçucenense, nascido no distrito de PedraCorrida, ia mesmo trabalhar, e muito.Lavou pratos, foi garçom, servente depedreiro e encarregado de um depósitode muambas eletrônicas vindas da Ásia.Uma tarde, bebendo com amigos brasi-

DESBRAVADORES

Yes, nós temos VozBrazilian Voice, semanário em português com 55 mil exemplares, é distribuído à

comunidade brasileira de seis Estados americanos e vai muito além da informação: éconsultado até sobre a localização de pizzarias e missões itinerantes do consulado.

POR CLAUDIO CARNEIRO

leiros, alguém comentou o fato de quemuitos ali só haviam sabido da morte deTancredo Neves muitos dias depois do 21de abril de 85. Entre uma cerveja e outra,Roberto Lima anunciou que fundaria umjornal para evitar esses atrasos de infor-mação. Ia se chamar Brazilian Voice, a “vozdos brasileiros”, afirmava.

No dia seguinte, um dos amigos, acaminho do trabalho, encontrou umamáquina de escrever numa lata de lixoem Nova York. De volta a Newark, noEstado de Nova Jersey, no fim do dia, levoua engenhoca até o apartamento de Robertocom um ultimato: “Aí está! Pode come-çar o seu jornal.”

— Eu não poderia decepcioná-lo.Nascia ali o Brazilian Voice — lembraRoberto.

Tudo ou nadaO primeiro número saiu em agosto de

88. Como se diz no Brasil, Roberto “jo-gava nas onze”. Escrevia o jornal inteiro,corria atrás de clientes e fazia a distribui-ção, percorrendo de carro as colôniasbrasileiras de quatro Estados americanos:

— Quando eu retornava a Newark,tinha que começar tudo de novo. Feliz-mente, a dificuldade é do mesmo tama-nho da facilidade. Os primeiros núme-ros foram mensais. Depois, passamos seis

meses com edições quinzenais. Só entãofui para o “tudo ou nada” das publicaçõessemanais. Sobrevivemos, o jornal, eu e odiagramador que se encarregava damontagem e da confecção dos anúncios.

No ano seguinte, o BV já era conside-rado o maior veículo de comunicação emlíngua portuguesa das comunidadesresidentes nos Estados Unidos e umareferência para os brasileiros, a maioriadeles vivendo na clandestinidade. O jor-nal, distribuído gratuitamente, temcobertura nos diversos pontos de comérciobrasileiro em seis Estados americanos —Nova Jersey, Nova York, Massachusetts,Filadélfia, Connecticut e Delaware. Sóem Nova Jersey há mais de 400 pontosde distribuição.

Existem outros veículos brasileiros nessaregião dos EUA. Roberto diz que nasceme morrem jornais quase todos os dias, massalienta a consistência e o profissionalismo,ao longo dos anos, do The Brasilians, de NovaYork, e do Brazilian Times, de Somerville,Massachusetts. Ele lembra ainda que cadacolônia estrangeira tem seus meios deinformação, geralmente na língua de ori-gem — os bilíngües são minoria:

Entre os maiores jornais, está o El Diario,jornal latino de Nova York, com tiragemdiária superior a 55 mil exemplares. EmNewark, existe também um jornal emlíngua portuguesa, o Luso-Americano,fundado em 1928. O Brazilian Voice surgiumirando-se nele. São dois bons exemplosa ser seguidos.

CredibilidadeO que é notícia no BV? Tudo o que en-

volver brasileiros em terras americanas:exposições, acidentes, shows, mortes,prisões... E, ainda, as notícias do Brasil en-volvendo famosos de lá ou de cá, comoa visita de Oprah Winfrey a Salvador, quemereceu destaque em recente edição. Noaspecto publicitário, Roberto ressalta quesomente agora as empresas em territóriobrasileiro começam a despertar para opotencial de mercado dos jornais volta-dos para as comunidades de emigrantes:

— Basicamente, criamos um merca-do novo, um pequeno Brasil em dólar eque dá muitíssimo certo. O jornal foicrescendo à medida que acompanhava atrajetória e o crescimento da colôniabrasileira. Temos anunciantes que nosprestigiam desde a primeira edição, háquase duas décadas. Muitas empresasnasceram e cresceram junto com o BV.Vejo o Brazilian Voice como um grandeveículo dentro desse universo. Trata-se

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Roberto Lima: Brazilian Voice surgiu quando se soube muito depois da morte de Tancredo.

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29Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 315 Dezembro de 2006

de um jornal respeitado. Temos credibi-lidade com o anunciante e, muito impor-tante, também com o leitor.

Sem um órgão regulador, os veículosdecidiram criar, este ano, a ABI-Inter, emcerimônia que contou com a presença doPresidente da ABI, Maurício Azêdo. A novaassociação é presidida por Roberto, que jáprepara o estatuto da entidade que, nofuturo, irá desempenhar papel importantepara todas as mídias brasileiras nos EUA.

Na redação do Brazilian Voice só se falaum idioma: o português. Afinal, seus 11funcionários são todos brasileiros. O jornalconta ainda com colaboradores como osmúsicos Kledir Ramil — da dupla Klei-ton e Kledir — e Gutemberg Guarabyra,além do neurolingüista Lair Ribeiro.

— Na verdade, foram eles que nosescolheram. O Guarabyra e o Kledir ini-ciaram suas trajetórias de escritores noBrazilian Voice. Temos ainda outro músicofazendo bonito entre nós: o Aquiles Reis,do MPB-4. Na canção ou nas letras, elesformam um time bem afinado. Já o LairRibeiro veio depois, e foi um presente queo leitor do BV ganhou. É a estrela dacompanhia.

O jornal tem também um site(www.brazilianvoice.com) bem estru-turado e sempre atualizado, que ofereceuma emissora de rádio online — a RádioBV — com programação dedicada à MPB,além de outros serviços, como classifica-dos e agenda.

RetraçãoOs atentados do 11 de Setembro, se-

gundo Roberto Lima, provocaram umagrande retração de mercado para os bra-sileiros nos Estados Unidos.

— A visão do americano foi mudandocom relação aos estrangeiros que estãoneste país. Vivíamos um momento degrande exuberância naquele período pós-Bill Clinton e o mercado se retraiu exces-sivamente com os atentados terroristas.Aliás, não apenas o mercado se retraiu, aspessoas também se fecharam. O Congres-so, que cogitava uma espécie de anistiapara os estrangeiros ilegais, teve queendurecer e mudar o discurso. O projetovirou pó, como as Torres Gêmeas. Feliz-mente, bons ventos começaram a soprarpara os imigrantes com a recente vitóriademocrata nas urnas. Muitos brasileirossem oportunidade no Brasil se fizerammilionários aqui. Não é o meu caso. Masesta é, sem sombra de dúvida, uma terraque recompensa o esforço, seja ele físicoou intelectual.

Roberto, que não é formado em Jor-nalismo, mostra-se mesmo satisfeito comas chances que teve — e soube aprovei-tar — no país das oportunidades:

— Sou um operário da notícia, felizcom a vida que o trabalho me proporci-ona. Enquanto existir brasileiro vivendonesta terra, haverá motivo para a existên-cia do BV. Se ser bem-sucedido na vida étrabalhar no que nos proporciona prazere ainda ser remunerado por isso, possoconsiderar minha história um sucesso.É o que chamam por aqui de ’sonhoamericano’, uma história que já nasceucom um final feliz.

VidasVidas

Jornalista e economista, DomarCampos, que morreu em 23 de dezem-bro, aos 90 anos, foi um ferrenho defen-sor da soberania nacional, causa queabordou com muita propriedade nosartigos que escreveu para jornais e quefoi o tema do livro Soberania, um fatorescasso, lançado em 12 de dezembro de2001 na sede da ABI, na qual ele ocupouos cargos de Diretor Administrativo,empossado em julho de 1993, 2º Sub-secretário do Conselho Deliberativo, dejaneiro de1997 a abril de1998, e Con-selheiro, eleito em abril de 1998. O li-vro fala dos 500 anos do Brasil, desta-cando o que o autor considerava osgrandes problemas nacionais, como afalta de auto-estima e o conformismodo povo brasileiro.

Domar Campos foi professor do Ins-tituto Superior de Estudos Brasileiros-Iseb, instituto de estudos de nível su-perior de caráter nacionalista fechadopelos militares após o golpe de 1º de abrilde 1964, e integrou o Conselho Edito-rial do jornal Inverta. Ele defendia a tesede que o modelo colonial implantadono País subjugou a maioria da massa tra-balhadora e que a mudança da menta-lidade da elite nacional só seria ultra-passada se houvesse pressão popular.Numa longa entrevista ao Inverta, de-clarou que a baixa auto-estima brasileiraé estrutural, mas que nos últimos anos

Um patriota inimigodo conformismo

Defensor da soberania nacional, ele lamentavao que considerava falta de auto-estima do povo.

acendia alguma esperança:— A classe dominante continua

como sócia menor dos países ricos e im-perialistas. Mas o quadro está mudan-do. O Brasil de hoje já é diferente. Suaforça econômica impõe algumas posi-ções de verdadeira independência.

Quando indagado sobre a responsa-bilidade da elite intelectual brasileirana formulação de propostas para o de-senvolvimento do Brasil, ele lamenta-va a falta de compromisso da classe do-minante com o destino do País e o fatode a população, apesar de estar mais cons-ciente, não se manifestar contra a ex-ploração do capital estrangeiro:

— A opinião popular está mais pre-sente, mas não possui uma organiza-ção satisfatória — dizia. — Os maiorese mais poderosos meios de comunica-ção apenas informam, mas não assu-mem posições em defesa dos interessesnacionais. Pode haver exceções, mas essaé a regra geral.

Economista provisionado, porquenão havia formação universitária em Eco-nomia na época em que começou a seespecializar na matéria, Domar era fun-cionário do Banco Central, criado a partirda antiga Superintendência da Moedae do Crédito-Sumoc, a que era vincula-do. Ele passou a se dedicar também aojornalismo em 1954, quando, a convitede Otávio Malta, principal redator da

Última Hora de SamuelWainer, foi convidado aintegrar os quadros do jor-nal, para dar aos fatos da vidaeconômica uma versão aoalcance do entendimentodas pessoas comuns, sob oângulo do interesse nacio-nal e da economia popular.Samuel Wainer festejava-o, dizia que Domar era o“doutrinador do naciona-lismo” e queria transfor-

má-lo num dos grandes nomes da im-prensa, uma estrela do jornalismo, atra-vés de intensa promoção de seu nomee de seu trabalho.Chegou a designaruma fotógrafa para tirar umas fotos es-peciais dele, que não sabia posar e nãose sentia à vontade para isso..”Foi umatourada, pois eu não levava jeito paraposar”, contou Domar quase 40 anosdepois, revelando que diante disso Sa-muel desistiu de fazer dele uma dasestrelas do jornal.

Um dos momentos destacados daatividade jornalística de Domar foi acriação em Última Hora da coluna Doponto de vista nacional, em que escrevi-am ele e “três grandes cientistas sociaisbrasileiros”: Jesus Soares Pereira, InácioRangel e Alberto Guerreiro Ramos. ‘Ojornal – contou – deu bastante destaqueà coluna, que chegou a ter muito sucessoe repercussão nacional.”

Domar trabalhou em Última Hora emtrês momentos alternados, a última vezapós o golpe militar de 1964, quando ojornal, alvo de perseguição e represáliada ditadura, entrou em declínio comoempresa. Ele foi então desligado numcorte por medida de economia: era umluxo para o jornal ter então um especi-alista da envergadura dele. Em relato nolivro A Última Hora de Samuel – Nostempos de Wainer, organizado pelo jor-nalista Anderson Campos e editado em1993 em colaboração pela ABI e pela hojeextinta Cooperativa dos Profissionaisde Imprensa do Rio de Janeiro-Coopim,Domar Campos relembrou sua vivên-cia no jornal:

“Momentos dos mais agradáveiseram as conversas com Otávio Malta.Ele escrevia muito sobre assuntos eco-nômicos e as lutas nacionalistas e eu oassessorava com prazer. Aprendi mui-to com ele e não apenas com o seumagnífico estilo, mas com o seu espí-rito elevado, sua cultura e sua mentelimpa. Samuel Wainer dizia que Otá-vio Malta era um Machado de Assisredivivo.”

Domar Campos integrava acorrente de economistasque lutavam por um Brasilindependente. Ele expôsessas idéias comojornalista na Última Horade Samuel Wainer.

DOMAR CAMPOS

ADALMIR CHÍXARO

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VidasVidas

Colaborador do Jornal do Commerciodo Rio de Janeiro, no qual assinava aos do-mingos um artigo que geralmente ver-sava um tema literário, Oliveiros LessaLitrento era um scholar de formaçãomilitar, tal qual um Nélson WerneckSodré, com uma diferença essencial, écerto: Werneck Sodré era marxista, mar-xista-leninista, enquanto Litrento era umconservador, se se ameniza a expressão re-acionário, como muitos o consideravam.Apesar disso, Litrento atravessou o lon-go período da ditadura militar sem se as-sociar às suas práticas repressivas e às suasdiscriminações. Embora a ABI fosse umadas principais instituições da sociedadecivil de resistência à ditadura, ele nãodeixou de colaborar com a entidade, naqual ingressou duas vezes: a primeira em1962, pela mão de Herbert Moses, e, apósum período de afastamento, em 1972, porproposta de Fernando Segismundo.

Como intelectual, Litrento era eclé-tico, um polígrafo, que exprimia sua cri-atividade e sensibilidade em poesias,reunidas no volume O escultor e o pássa-ro, editado no Brasil e também no exte-rior, exercitava sua erudição e sua disci-

Foi com 13 anos queMozart Ferraz da Silva,pernambucano do Recife,chegou ao Rio de Janeiro, em1959, para uma iniciaçãoprematura na imprensa: nadécada de 60, muito novinho,começou sua trajetória comojornalista, admitido que foina Luta Democrática, o jornaldo combativo DeputadoTenório Cavalcânti.

A partir daí percorreuredações de rádio, jornal etelevisão e assessorias deimprensa: onde houvessetrabalho ele se punha apostos, cavando asoportunidades de empregonum mercado sempreadverso, desde então.

Ele trabalhou na TV Rio,na revista TV Guia, na RádioNacional do Rio de Janeiro, naRevista do Rádio, no Diário deNotícias, na Rádio Tamoio, noJornal Metrô-car, de que foidiretor-superintendente, naGazeta de Notícias, na RádioMetropolitana, na RádioTropical, na Rádio Ubaense,de Ubá, Minas, de que foi

Como na imagem de Osório, a farda não abafou no peito a inclinação pelas letras,pelo Direito e pelo jornalismo desse pensador que chegou a coronel do Exército.

Poeta e intelectual formado na casernaOLIVEIROS LITRENTO

plina de pesquisador em estudos como Ca-nudos -Visões e Revisões, editado pela Bi-blioteca do Exército Editora, e pontifica-va com seu domínio da técnica e da ciên-cia do Direito em obras como Curso de Di-

reito Internacional Público e Curso de Fi-losofia do Direito, editadas pela Foren-se do Rio de Janeiro, Perspectivas Atu-ais do Direito, editada pela Academia

Brasileira de Ciências Morais e Políticas,e em estudos preparados para edições es-peciais, como a revista dedicada ao juris-

ta Pontes de Miranda, para a qual con-tribuiu com o estudo Pontes

de Miranda e os problemasgerais do Direito: a teoria

dos jetos, incorporan-do-se a um elenco de es-tudiosos que incluiuJosé Carlos MoreiraAlves, Lourival Vilano-va, Nelson Saldanha eTércio Sampaio FerrazJúnior, entre outros.

Membro da pionei-ra Sociedade Brasilei-ra de Direito Aeroespa-cial, Litrento foi Dire-

Mozart, repórtere assessor

tor da Biblioteca da ABI (BibliotecaBastos Tigre) na gestão 1998-2000. Di-retor Subtesoureiro de 2000 a 2002 emembro do Conselho Deliberativo noterço 1998-2001. Ele teve complicaçõescardiovasculares que o obrigaram a seinternar em 8 de novembro, quando foisubmetido à implantação de marca-passoe, posteriormente, de pontes de safena.Após as duas cirurgias sobreveio umenfarte, ao qual não resistiu. Ele faleceuna madrugada de 17 de dezembro. Me-nos de dois meses antes, em 26 de outu-bro, completara 83 anos.

Nos últimos anos Litrento foi alvo deuma campanha hostil do associado Ar-thur Cantalice, que nas assembléias-geraisda ABI questionava a legalidade de suavinculação à Casa, sob o fundamento deque ele não era jornalista. Mesmo quan-do presente à assembléia, Litrento evita-va confronto e bate-boca em torno doquestionamento, que a maioria dos só-cios presentes considerava impertinen-te e até deselegante. A exceção se deu naassembléia de 2003, quando ele pediu apalavra e respondeu a esse associado.(Maurício Azêdo)

diretor, na Rádio Carioca, naRádio Imprensa, na revistaVip’s Bus, na RádioContinental AM, na RádioCarioca, na Rádio ImprensaFM, na Rádio 1440 AM.Atuou também comoAssessor de Imprensa doSindicato dos Guardadores deAutomóveis do Rio deJaneiro, do Sindicato dosEmpregados em Edifícios, daGuarda Noturna do Rio deJaneiro, da Escola de SambaMocidade Independente dePadre Miguel e da Escola deSamba ImperatrizLeopoldinense. UltimamenteMozart era colunista políticodo Jornal de Hoje, de NovaIguaçu.

De temperamento ehábitos boêmios, Mozart erasolteiro e dizia que prezavaacima de tudo a liberdade,sem obrigações com afazeresdomésticos, exceto com amãe, Lenira Oliveira da Silva.Ele era irmão do tambémjornalista Ronaldo Ferraz daSilva. Faleceu no dia 9 dedezembro.

Militar, comoWerneck Sodré,e cultor doDireito,Litrento tinhacomo paixãomaior aliteratura, emque era mestre.

Mozart Ferraz trabalhou com o mesmo desembaraço em jornal, rádio, televisão e assessoria de imprensa.

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31Jornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABJornal da ABI I I I I 315 Dezembro de 2006

morte do jornalista Paulo Perdi-gão, ocorrida no último dia de2006, aos 67 anos de idade,deixauma lacuna na crítica cinema-tográfica e no elenco de perso-nalidades extraordinárias da vida

cultural do País.. Ele exerceu o ofício de crí-tico com maestria por mais de 30 anos, nosjornais Diário de Notícias, O Globo e JB enas revistas Manchete e Veja. Tambématuou como programador de filmes da RedeGlobo de Televisão, onde ingressou em1967, o que significa que viu e reviu inú-meras vezes milhares de filmes.

Foi editor da revista Guia de Filmes,publicação do antigo Instituto Nacionaldo Cinema-INC, precursor da Embrafil-me (Empresa Brasileira de Cinema), eentre o final da década de 1950 e a de 1960ajudou a organizar alguns dos mais im-portantes festivais internacionais decinema realizados no País. Foi tambémum dos idealizadores e organizadores docelebrado Festival JB de Curta-Metra-gem, que lançou inúmeros cineastas.

Perdigão era também um especialistaem Jean-Paul Sartre, de quem fez a pri-meira tradução em português de O ser eo nada, e escreveu Existência e liberdade— uma introdução à filosofia de Sartre,ensaio sobre o discurso filosófico sartre-ano. Agora em 2006, relançou Anatomiade uma derrota, de 1985, que, além de ser

O sartreano queadorava Shane

Amante e tradutor de Sartre, fã de Heidegger, ele viu o filme de George Stevens 82 vezes e, numa cópia, se inseriu nacena do duelo final, avisando o mocinho (Alan Ladd) que o bandido (Jack Palance) planejava matá-lo.

ne era tanta que ele viajou diversas vezesa Hollywood para visitar as locações dofilme, do qual tinha uma cópia, monta-da lá, em que se inseriu na cena do duelofinal, avisando ao mocinho vivido porAlan Ladd que o personagem de JackPalance planejava matá-lo. De Los Ange-les ele trouxe também pequenos peda-ços do cenário do filme, que guardavacomo preciosas relíquias.

Paulo Perdigão tinha admiração pelorádio, de que tratou em PRK-30, livro detítulo homônimo do programa de humordos radialistas Lauro Borges e CastroBarbosa,que, por mais de duas décadas, foiuma dos sucessos da Rádio Nacional doRio de Janeiro, alcançando mais de 50%de audiência.

Sempre bem humorado, ele era irre-verente e muito engraçado ao imaginare contar casos, como os de suas aventu-ras em Hollywood à procura de GeorgeStevens e de peças da cenarização de Shane,e sabia também ser trágico, como aonarrar, com riqueza de pormenores e depausas, com o necessário suspense nosmomentos de clímax, o drama do golei-ro Barbosa e da Seleção Brasileira deFutebol na malsinada tarde de 16 de julhode 1950, em que a Seleção Uruguaia deObdúlio Varela arrebatou o título decampeã mundial de futebol que o Brasilinteiro já considerava nosso.

PauloPerdigão

considerado pela crítica e a mídia espe-cializada como a obra definitiva sobre aderrota do Brasil na final da Copa doMundo de 1950,no Maracanã, inspirouo curta-metragem Barbosa, de JorgeFurtado e Anna Luiza Azevedo.

Em 2002, chegou às livrarias Westernclássico — Gênese e estrutura de Shane, sobreo filme de George Stevens, aqui batiza-do de Os brutos também amam --título queele abominava — e ao qual ele assistiu 82vezes. A adoração do jornalista por Sha-

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Na cena que acrescentou ao filme, Perdigão advertia Alan Ladd (foto), o mocinho: Cuidado, Shane!

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celebração do Dia Internacio-nal dos Direitos Humanos, em10 de dezembro (data da apro-vação da Declaração Universaldos Direitos Humanos, em

1948), reclama reflexão sobre o espaço queos principais veículos da mídia brasileiradedicam ao tema nos seus noticiários. Oassunto foi debatido em diversas redaçõesdo País, com base na pesquisa Mídia e direi-tos humanos, que foi realizada pela Agên-cia de Notícias dos Direitos da Infância-Andie mostra um panorama da atuação da im-prensa em relação à agenda dos direitos hu-manos no País e assuntos correlatos.

Para chegar ao resultado da pesquisa— que teve o apoio da Unesco e da Secre-taria Especial dos Direitos Humanos daPresidência da República —, a Andi ana-lisou 1.315 textos de 57 jornais de todos

os Estados, publicados ao longo do ano de2004. E concluiu que, embora 50,8% dasmatérias mencionem a expressão “direi-tos humanos” e 80% usem a palavra“direitos”, somente 0,5% do material éexplícito na conceituação do tema e 2,1%abordam a perspectiva histórica da De-claração Universal.

Textos que falam de denúncias deviolação de direitos representam 2,7% donoticiário e as matérias investigativas(2,6%) são menos freqüentes. Geralmen-te, as reportagens não relacionam direi-tos humanos com os processos de desen-volvimento social, fazendo com queoutros itens vinculados aos direitos in-dividuais e coletivos — questões ambi-entais, de gênero, etnia, expectativa devida, renda, sexualidade etc. — recebamtratamento editorial reduzido.

InteresseUm dos aspectos positivos do trabalho

da Andi foi o interesse demonstrado pelosjornalistas em aprofundar o debate sobrea presença da agenda dos direitos huma-nos no noticiário. Por isso foram realiza-das, em várias redações do País, oficinassobre valores conceituais, legislação eimportância histórica dos direitos huma-nos. Os encontros aconteceram entrejulho e setembro, com especialistas noassunto fazendo palestras para chefes deredação, editores, repórteres, redatores epauteiros dos seguintes veículos: TVGlobo (RJ), O Globo (RJ), Estadão, Folha,Grupo Verdes Mares (CE), Correio Bra-ziliense (DF), Sistema Radiobrás (DF),Grupo RBS, CBN, Grupo A Tarde (BA)e Organizações Rômulo Maiorana (PA).

O cientista político Guilherme Cane-la, Coordenador de Relações Acadêmicasda Andi e responsável pela pesquisa, ob-serva que nos últimos dez anos a cober-

tura da imprensa tem melhorado, prin-cipalmente por causa das iniciativas decolaboração com os jornalistas:

— A estratégia de colaboração com aimprensa tem dado resultados positivose por isso desde 1996 tem melhorado a co-bertura da agenda social brasileira. Nasvisitas que fizemos às Redações, perce-bemos como os jornalistas estão ávidospor informações. Não tivemos nenhumadificuldade para realizar os workshops,porque a imprensa está aberta a esse tipode diálogo.

Para ele, só o que pode atrapalhar esseprocesso de ampliação da pauta de direi-tos humanos é o enxugamento das equi-pes: — Mas em quase todas as empresasde comunicação houve adesão dos dire-tores de Jornalismo e uma grande preo-cupação das chefias de Reportagem emgarantir participação nos encontros.

Correlação No Rio, cerca de 70 jornalistas do jor-

nal O Globo participaram da palestra daProcuradora do Ministério Público doEstado de São Paulo Flávia Piovesan, quetambém é professora doutora da Puc-SPnas disciplinas Direito Constitucional eDireitos Humanos:

— O encontro foi relevante princi-palmente porque acho que a imprensafaz uma abordagem mais adequada dosdireitos humanos do que a tv e o rádio.Apesar disso, as matérias de jornais erevistas estão sempre mais vinculadasaos direitos civis e políticos, deixando defora os direitos econômicos e sociais eas políticas públicas, como se essas ques-tões não tivessem qualquer relação comas outras.

Revelou a Procuradora que boa partedos jornalistas demonstrou ter acúmu-lo de conhecimento histórico sobre os

direitos humanos, mas pouca informa-ção sobre alguns documentos elaboradospela Onu: — Percebi a existência de umalacuna conceitual sobre o que vem a serdireitos humanos e conhecimento inci-piente sobre os principais tópicos daDeclaração Universal de 1948. Mas arealização do workshop provou que po-demos avançar com o intercâmbio, poisos jornalistas demonstraram interesse nodiálogo construtivo e isso reforça o meupressentimento de que o jornal está àfrente da mídia televisiva.

As fontes, problemaNos textos pesquisados pela Andi, as

organizações da sociedade civil aparecemcomo fonte em apenas 8,9%, enquantoo Governo é citado em 54,1% das maté-rias. Porém, para Adriana Carranca, repór-ter do caderno Metrópole, do Estadão, issonão significa que as instituições não-governamentais não estão sendo ouvidaspela imprensa:

— Não acredito que elas estejam per-dendo espaço na mídia. Quando as or-ganizações têm informações consisten-tes, elas são ouvidas e ganham espaço,sim. O que acontece é que, muitas ve-zes, elas têm discurso vazio e sem em-basamento em fatos.

Adriana acha que o público que repre-senta os movimentos de defesa e promo-ção dos direitos humanos geralmente nãoestá preparado para falar com a impren-sa, que tem a missão de “questionar,duvidar e esclarecer”:

— Diferentemente do que acontece emLondres, onde as entidades investem emcomunicação para lidar com jornalistas,as organizações não-governamentais bra-sileiras geralmente não dispõem de infor-mações concretas, como dados numéri-cos e pesquisa. Isso provoca na imprensa

um certo preconceito, pois o jornalistavê nelas fontes menos qualificadas.

Sem surpresaPara Mário Augusto Jakobskind, Con-

selheiro da ABI e integrante da Comis-são de Defesa da Liberdade de Imprensae Direitos Humanos da Casa, os dadosmostrados na pesquisa não surpreendem,pois o tratamento do tema na imprensatem deixado a desejar:

— Nas áreas carentes, os moradores têmsido desrespeitados a todo instante em seusdireitos humanos, sob o pretexto do com-bate à criminalidade. E por que, na práti-ca, a mídia não denuncia como deveria estedesrespeito aos direitos humanos? A tor-tura, que na época da ditadura afetava oscombatentes pela liberdade, não existemais em termos de ocorrências políticas,mas continua sendo uma prática corriquei-ra nas delegacias policiais brasileiras. O quesignifica silenciar diante disso? Significaque a sociedade está conivente com atortura e o desrespeito aos direitos huma-nos, pois quem cala consente.

Para Jakobskind e muitos especialistasem direitos humanos — e a pesquisa de-monstra isso — os jornais abordam o temade maneira generalizante e com foco naviolência, ignorando o aspecto social: —A mídia é conservadora, tem uma visãopreconceituosa sobre direitos humanose sociais. Geralmente, os movimentos so-ciais são tratados de forma criminaliza-da, como nas recentes coberturas deeventos relacionados à reforma agrária— por sinal, atrasada em mais de 200 anosno Brasil. Que este Dia Internacional dosDireitos Humanos, que se comemora nodomingo, dia 10, sirva de reflexão para osjornalistas de modo geral. E que as bati-das policiais em áreas carentes sejamcobertas sem preconceito.

ATal como as pessoas

comuns, a mídia achanatural criança mendigar

na hora da escola.

A MÍDIA IGNORA ESTES DIREITOSPesquisa de Agência de Notícias dos Direitos da Criança revela que apenas 0,5% do material

coletado em 57 jornais é explícito na conceituação dos direitos humanos.

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