20053991 iluminura medieval

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  • ANEXO 1 O Livro de como se fazem as cores, um tratado portugus da arte da iluminura

    medieval.

    ANEXO 2 Glossrio e Bestirio.

    ANEXO 3 Pele e Pergaminho Textos de Adlia Alarco.

    ANEXO 4 Reproduo de iluminuras do Livro das Aves e do Apocalipse do Lorvo.

    ANEXO 5 Texto e Imagem

    ANEXO 6 Contactos de fornecedores

    anex

    os

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    trat

    ados

    O hbito de reunir vrios tratados numa obra para registo futuro j acontecia na Idade Mdia.

    So conhecidos alguns tratados que nos descrevem, de forma muito prtica mas ao mesmo

    tempo com grande rigor, receitas de corantes, tintas para pintar e escrever, preparao ligantes

    e pergaminhos, formas de temperar cores, etc. Um dos mais importantes e, at hoje, nico

    exemplar portugus conhecido do perodo medieval, O Livro de como se fazem as cores, da

    autoria de Abrao B. Judah Ibn Hayyim. Regras e tcnicas para produzir a cor so descritas neste

    manuscrito, como o caso da sntese do verdigris, do vermelho ou da precipitao da laca de

    pau Brasil que aqui apresentamos, prontas a usar.

    Sntese do verdigris, a partir de uma receita d O Livro de como se

    fazem as cores, Captulo XI

    Mergulhar uma folha de cobre em vinagre forte e bem quente durante

    alguns minutos. Coloc-la dentro de um pote de barro, sem escorrer

    totalmente o vinagre, e tap-lo com uma tampa de barro, untando o bordo

    da mesma com mel (funcionar como agente selante). Enterrar o pote em

    estrume de cavalo durante cerca de 30 dias. Terminado o tempo, desenterrar

    o pote, retirar com todo o cuidado a folha de cobre, que se encontrar coberta

    de verdigris. Este dever ser raspado, e guardado num local fresco e seco. (nota: h

    formas mais simples de obter verdete, basta colocar uma placa de cobre em contacto

    com vapores de vinagre!)

    Sntese do vermelho, a partir de uma receita d O Livro de como se fazem as cores,

    Captulo XV

    Para cerca de 1,74 g de vermelho, pesar 1,5 g de mercrio e 0,24 g de enxofre. Moer muito

    bem o mercrio com o enxofre, at obter um composto preto homogneo. Esta operao

    poder levar bastante tempo, devendo-se ter especial ateno para o facto

    de o mercrio ter tendncia a aglomerar-se em pequenas bolhas

    escorregadias.

    Colocar o metacinbrio na base da olha, formando um filme

    fino. Tapar a olha, e sel-la com pasta cermica. Colocar a

    olha sobre a grelha do fogareiro durante cerca de 2 h. O lume

    dever estar vivo, mas as labaredas devero ser totalmente

    controladas. Aps terminado o tempo de reaco, retirar a olha,

    deixar arrefecer temperatura ambiente, e s depois abri-la.

    Precipitao da laca de Pau Brasil, a partir de uma receita d O

    Livro de como se fazem as cores, Capitulo VIII

    Aquecer 500 ml de soluo alcalina KAl(SO4)

    2 a pH=9 num copo at ficar

    morna. Adicionar 5 g de pau Brasil e agitar. Logo de seguida, adicionar 1,25 g

    de carbonato de clcio. Colocar 2,5g de almen (KAl(SO4)

    2) e agitar at se

    dissolver totalmente e formar um pouco de espuma. Deixar 3 a 4 dias (quanto mais

    tempo ficar, mais escuro fica). Envolver um pau de giz num tecido e colocar dentro da soluo.

    Deixar secar. Retira-se a laca do pano com a ajuda de uma esptula.

    cade

    rno

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    Abade Etimologicamente, a palavra hebraica (abba) e significa pai; o superior

    dos monges de um mosteiro a quem se confere o poder paternal de formar o monge

    e orientar a vida na comunidade religiosa; por ter frente o abade, o mosteiro (lugar

    de residncia dos monges) toma o nome de abadia.

    Agnus Dei Expresso latina que significa Cordeiro de Deus; foi utilizado por Joo

    Baptista para designar a Cristo quando este se aproximava dele para o Baptismo no

    Jordo; exprimiu depois o Cordeiro imolado na Ceia Pascal e Cordeiro glorificado

    no Apocalipse. Ver tambm Cordeiro Mstico.

    Aljava bolsa, denominada tambm coldre, onde o arqueiro ou o besteiro guardavam

    as suas setas.

    Anjo termo grego, na sua origem, designa mensageiro, enviado. Geralmente

    representado como uma figura humana, com asas e de aspecto jovem, surge na Bblia,

    e depois, nas representaes da religio crist como servidor directo de Deus e seu

    mensageiro junto do homem.

    Anticristo personagem que se ope a Cristo e representa as foras do Mal. Na

    representao iconogrfica medieval surge quer como uma figura demonaca quer

    como uma personagem sedutora que se faz passar por Cristo ou lhe faz oposio.

    No Apocalipse assume vrias formas, todas hbridas, e no-humanas (besta). Cristo,

    no seu combate escatolgico contra o mal, enfrenta o Anticristo, a quem destruir no

    fim dos tempos, na segunda vinda (Parsia).

    Antigo Testamento conjunto de livros bblicos da tradio judaica, por

    contraposio ao Novo Testamento (que se inicia com a vinda de Cristo e se cerra com

    a morte do ltimo Apstolo S. Joo); de vria natureza o contedo desses livros:

    histrico, proftico, moral

    Apocalptico gnero literrio caracterizado por revelaes dirigidas a revelar os

    acontecimentos dos ltimos tempos do mundo; em estilo pico e visionrio apresenta

    um conjunto de vises (ou sonhos); largamente difundido pela religio judaica a partir

    do sculo II a.C. at ao sculo II d.C., tem no Apocalipse de So Joo, ltimo livro do

    Novo Testamento, o mais conhecido representante.

    Arco arma neurobalstica de arremesso, porttil, servindo para atirar flechas que eram

    colocadas no arco esticado e impulsionadas pela elasticidade do arco. Contrariamente

    besta era fcil de recarregar. Na simbologia bblica e crist, significa fora e a destreza

    dadas por Deus aos seus eleitos para vencerem os inimigos.

    Arco da Aliana Arco-ris tomado na narrativa de No como smbolo de proteco

    de Deus ao Homem (Gen 9, 12-17). A expresso portuguesa arco da velha deve

    entender-se como referncia Velha Aliana, firmada entre Deus e No.

    Arco de volta inteira na arquitectura, arco de curvatura semicircular.

    glos

    srio

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    Arco ultrapassado tambm denominado arco em ferradura o arco cujo centro ultrapassa

    a altura da imposta.

    Armrio em latim armarium: mvel ou resguardo na parede do claustro onde eram

    guardados os cdices que serviam nas comunidades monsticas.

    Arte romnica movimento artstico que se desenvolve na Europa crist durante o sculo XI

    e XII, podendo estender-se, em alguns pases, at ao sculo XIII. considerada por vrios autores

    como a primeira arte europeia.

    rvore da vida a rvore smbolo da fecundidade, pois representa a superao da natureza,

    ao extrair da terra a vitalidade que a projecta para o cu; no texto bblico, tem um duplo

    significado: no Livro do Gnesis, simboliza a felicidade original no meio de uma natureza

    que tudo d ao homem este, porm, pode fixar-se nela e esquecer o Criador, sendo por

    isso ponto de tentao e de desvio (pecado); no Livro do Apocalipse, simboliza o regresso

    felicidade total, no novo Paraso; no dilogo de Cristo com Nicodemos, a Cruz apontada por

    Cristo como nova rvore da Vida. No Gnesis, est colocada no meio do Jardim do den

    (Paraso); o centro de renovao csmica e sinal de harmonia / aliana entre as diversas foras

    intervenientes no mundo.

    sia zona do grande continente, abrangia em referncia bblica, a sia Menor e o Mdio

    Oriente, foi o lugar onde se difundiu primeiramente o Cristianismo. As sete igrejas desse

    territrio so as destinatrias das cartas que no incio do Apocalipse so reveladas a Joo.

    Babilnia tambm designada por Babel, significa porta de Deus. No texto bblico do

    Apocalipse, surge em oposio a Jerusalm Celeste, pois simboliza o Mal e a cidade onde se

    concentram todos os vcios e perverses, lugar por excelncia do Anticristo. Entre os diversos

    smbolos que a caracterizam est o de prostituta, em oposio esposa fiel Aliana do

    Homem com Deus.

    Beato de Libana monge do Mosteiro de S. Turbio, na regio de Libana, nas Astrias

    (Picos da Europa), que, em finais do sculo VIII (776), escreveu um comentrio ao Apocalipse

    de So Joo que adquiriu grande importncia nos sculos imediatos em razo da conotaes

    escatolgicas (relativas ao fim do Mundo que se considerava vir a ocorrer no ano 800, data

    depois transferida para o ano Mil).

    Beatos designao dada s cpias do comentrio ao Apocalipse feito por Beato de Libana

    (so conhecidos 34 manuscritos); o original era j dotado de imagens, mas elas foram ganhando

    maior relevo nas sucessivas cpias, destacando-se por uma iluminura exuberante que lhe d

    particular significado no conjunto da iconografia hispnica nos sculos X-XII.

    Beneditino monge pertencente Ordem fundada por So Bento de Nrcia, no Monte

    Cassino, em 529. A Regra faz a sntese de anteriores formas de vida comunitria (desde Santo

    Anto, S. Baslio e outros) e combinando harmoniosamente tempos de orao (contemplao),

    estudo (formao intelectual) e trabalho (no campo ou no interior do mosteiro). A frmula

    habitual com que conhecida essa forma de vida ora et labora (reza e trabalha); sintetiza o

    modo de vida, mas no pertence ao texto da Regra do fundador. No seguimento das reformas

    glos

    srio

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    introduzidas por Bento de Aniane, em perodo carolngio e por proteco do imperador,

    os monges beneditinos exercem influncia grande na uniformizao da vida monstica; a

    influncia maior faz-se a partir do mosteiro de Cluni, no sculo XI, em modalidade que privilegia

    a celebrao do Ofcio divino e constitui dependncias de aconselhamento retribudas com

    favores temporais. Coube-lhe papel importante na organizao da liturgia latina e na difuso da

    arte romnica.

    Besta 1 arma neurobalstica de arremesso, porttil, composta de arco, corda, coronha, noz e

    gatilho, com a qual se arremessavam setas curvas, denominadas virotes. Extremamente potente

    era, no entanto, difcil de armar.

    Besta 2 no Apocalipse um animal fantasmagrico que simboliza o poder do Mal que

    procura eliminar o Bem, representado pela comunidade dos cristos, a Igreja; identificado com

    o poder imperial que persegue os cristos, tem 7 cabeas correspondentes a sete imperadores,

    10 chifres equivalentes a outros tantos reinos que eram vassalos de Roma, cabe-lhe o nmero de

    666, que transposto para valores das letras do alfabeto grego ou hebraico leva a designar Csar-

    Nero ou Csar-Deus representa as perseguies aos cristos iniciadas pelo imperador Nero, no

    ano 69.

    Bestirio texto que circulou durante a Idade Mdia caracterizado pela associao de um

    animal (real ou fantasiado) a um significado moral, alegrico ou espiritual relacionado com

    uma caracterstica do animal. O prottipo est numa obra grega do sc. II, o Fisilogo, traduzida

    para latim no sc. IV. O texto apresenta habitualmente uma iconografia abundante e serve o

    imaginrio medieval particularmente na arte (escultura e iluminura).

    Bblia conjunto de livros que formam o Antigo e o Novo Testamento originalmente escritos

    em hebraico e grego e traduzida para latim no sc. II; esta traduo foi revista por S. Jernimo

    (sc. IV) e constituiu a verso adoptada no Ocidente ( esta conhecida como Vulgata, nome

    que, no entanto, apenas aparece j no sc. XIII).

    Biblioteca designa habitualmente o local onde se guardam os livros; note-se, todavia, que

    durante a Idade Mdia (nomeadamente em Isidoro de Sevilha) o termo serviu para designar a

    Bblia (dado que era composta de um conjunto de livros).

    Caderno estrutura de base do cdice; formado por um conjunto de biflios associados

    entre si por um fio de costura que passa numa mesma direco.

    Cisterciense ordem religiosa fundada em Cister (na zona de Troyes, Frana), em 1098; os

    fundadores propunham-se estabelecer uma reforma na prtica beneditina, com o intuito de a

    restituir pureza primitiva, tomando como princpio voltar a uma equilibrada distribuio de

    tempos entre orao, trabalho e leitura contemplao, pobreza, dedicao Palavra divina.

    Foram seus promotores iniciais Roberto de Molesmes, Alberico e Estvo Harding. Assenta

    na uniformidade de observncia regular, na vigilncia mtua da caridade, na relao entre

    mosteiros e na celebrao do Captulo Geral anual. O impulso fundamental da sua irradiao

    dado por Bernardo, Abade de Claraval (abadia por ele fundada); da partiram os monges para as

    fundaes cistercienses em territrio portugus em meados do sc. XII (Alcobaa, entre outras).

    glos

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    Claustro do latim claustrum. Elemento central num mosteiro, pois em torno dele se organiza

    a vida da comunidade surge, normalmente, adossado a um dos lados da igreja; a sua construo

    de planta rectangular em torno de um espao central aberto e em cada um dos lados

    desenvolvem-se, em oposio e complementaridade, as diversas dependncias do mosteiro:

    igreja vs refeitrio, sala do captulo vs lugares dos conversos.

    Cdice livro manuscrito (em suporte de papel ou pergaminho), organizado em cadernos,

    cosidos e encadernados. Sendo todo ele confeccionado mo, requeria competncias que s

    uma comunidade podia preservar e transmitir. Depois de Cassiodoro, em Vivarium, foram os

    mosteiros que garantiram a continuidade da tcnica do livro e da transmisso dos textos; s a

    partir do sc. XIII, com o aparecimento das Universidades, a tcnica passou a ser conhecida e

    transmitida por outras entidades.

    Codicologia cincia que estuda os aspectos materiais, a tcnica de fabrico, a estrutura e a

    funcionalidade, a difuso e o uso do livro manuscrito (cdice).

    Clofon (o mesmo que colofo) clusula textual, no final do manuscrito, que contm

    informaes respeitantes s circunstncias em que foi elaborado o cdice, a se encontrando

    por vezes a identificao do copista e / ou do iluminador bem como o lugar e a data da sua

    execuo.

    Converso do latim conversus. Designa o monge que, entrado em religio (entendido como

    converso pelo abandono do mundo), no emite os votos de professo, mas observa a

    Regra monstica; fazendo parte da comunidade monstica, s em parte obrigado ao coro

    (canto dos ofcios divinos) e, tendo o tempo mais disponvel para o trabalho, desempenha

    habitualmente tarefas de carcter material, nos campos; tal no significa que no tenha cultura

    intelectual (assim acontece com homens de grande craveira intelectual, como Alain de Lille,

    que, por humildade, se mantiveram sem emitir votos de professo).

    Copista indivduo que tem por funo realizar a cpia de manuscritos. At ao sculo XII,

    essa tarefa predominantemente executada no interior dos mosteiros (sendo habitualmente

    monges os seus executantes). A partir do sculo XIII esta tarefa passa a ser igualmente

    desempenhada por outros, muitas vezes, ligados aos meios universitrios e s escolas de corte.

    Cordeiro de Deus traduo do latim Agnus Dei. Remete para o Cordeiro Pascal, imolado

    como smbolo da libertao do povo de Israel da escravido do Egipto; Cristo designado por

    Joo Baptista por essa expresso, para indic-lo como Salvador da Humanidade. No Apocalipse,

    o Cordeiro, smbolo de Cristo, representado com o estandarte vitorioso encimado pela cruz e

    com o livro onde est encerrada a Palavra da Vida s a ele concedido quebrar os sete selos

    que mantm o livro fechado revelar o contedo desse livro. Na tradio bblica, o cordeiro,

    animal dcil, simboliza a entrega confiante a Deus por parte do israelita que tudo espera dEle;

    Cristo designa-se a si mesmo, nos Evangelhos, como o Bom Pastor (aqueles que o seguem so

    ovelhas); mas assume-se tambm como o Cordeiro imolado na noite de Pscoa como sinal

    e realizao da Nova Aliana dos homens com Deus (refazendo a Antiga Aliana, em que o

    Cordeiro era a vtima imolada por Abrao e pelos Israelitas na sada do Egipto).

    glos

    srio

  • descobertA dA IlumInurA medIevAl | A

    feso cidade do litoral oeste da sia Menor, desde o sculo 133 a.C., capital da provncia

    romana da sia.

    Empaginao operao que organiza a superfcie do flio, delimitando o corpo do texto e as

    suas margens atravs de linhas horizontais e verticais; o processo varia ao longo do tempo: so

    traadas primeiro a ponta seca, depois a plumbagina (ou lpis de chumbo) e mais tarde a tinta.

    Encadernao operao destinada a aglutinar os cadernos mediante costura e aposio de

    planos ou tbuas de proteco exterior, cobertas por couro ou forro. A histria e a evoluo

    da encadernao esto estreitamente ligadas forma de cdice (enquanto rolo, o livro era

    guardado num estojo cilndrico).

    Entrelaados (entranados) ornamentos compostos por linhas que se entrelaam muitas

    vezes caules de plantas que formam conjuntos complexos que se repetem regularmente.

    Escriba ver Copista.

    Escrita gtica modo de escrita, originria do norte de Frana, desenhada com uma pena

    larga. Razes de ordem econmica esto na origem da rpida expanso e utilizao desta

    escrita que, contrariamente carolina (de mdulo quadrado), apresenta um mdulo similar

    do estilo gtico (com altura maior que a largura) e tem uma figura que apresenta traos

    predominantemente quebrados nos ngulos.

    Espada arma de combate de proximidade, composta pela lmina, guarda, espiga e pomo.

    A guarda tinha como funo proteger a mo de quem manuseava a espada. O pomo,

    preenchido com chumbo ou outra matria, constitua uma pea fundamental permitindo o

    equilbrio da arma ao contrapor-se ao centro de gravidade desta situado no extremo da lmina.

    Inicialmente circulares, os pomos assumem uma forma discoidal que, em Portugal, predominar

    at ao sculo XV. No Apocalipse a espada o smbolo da Justia que a Palavra de Cristo instaura

    (por isso duas espadas convergem para a sua boca).

    Espora composta pelos braos e pelo espeto, faz parte do equipamento do prprio cavaleiro

    sendo utilizada por este para facilitar a impulso do cavalo. colocada na bota, altura do

    calcanhar.

    Estribo elemento preso sela e que serve de apoio ao p do cavaleiro para este dar o impulso

    para montar o cavalo.

    Flio elemento individual na sucesso no interior de um caderno; a no confundir com folha,

    pois esta o elemento que criado pelo fabricante do suporte do livro (pergaminho ou papel);

    o flio compe-se de duas faces, recto e verso (estas, em poca tardia, designadas por pginas).

    Hades nome de origem grega para designar a morada ou regio dos mortos. Na Bblia,

    corresponde-lhe a designao de geena, ou inferno.

    Iconografia cincia que descreve a representao duma imagem; a sua interpretao

    pertence, mais propriamente, iconologia.

    glos

    srio

  • A10 | descobertA dA IlumInurA medIevAl

    Inferno significa abismo mas tambm lugar inferior; tenha-se em conta que, segundo a

    representao csmica dos antigos, o mundo se apresentava com trs planos: cu, terra, espao

    inferior (a cada um cabendo um classe de seres Deus e os Anjos bons, Homem, Demnios).

    Iluminador artista (podia ou no ser o copista) que iluminava (pintava) os manuscritos

    desde a concepo do desenho at aplicao da cor. Dada a complexidade da ornamentao

    de uma inicial havia iluminadores especializados que se limitavam a executar esta tarefa.

    Iluminura - termo derivado do verbo illuminare, por sua vez derivado de lumen luz; reporta-

    se s propriedades luminosas do ouro e da prata assim como ao carcter de clarificao que

    assume face ao texto.

    Inicial letra de maiores dimenses que a letra do corpo do texto. utilizada sobretudo para

    marcar a estrutura do texto (dividindo captulos e pargrafos como sectores distintos muitas

    vezes introduzidos por rubricas). Tambm designada por Letrina.

    Inicial ornada letra que acompanha a abertura de um texto e que contm elementos

    ornamentais, vegetalistas, fitomrficos, geomtricos ou zoomrficos.

    Inicial figurada letra que acompanha a abertura de um texto e cuja figura formada por um

    desenho identificvel com um determinado corpo.

    Inicial historiada letra que acompanha a abertura de um texto e que contm no seu interior

    a representao de uma figura ou cena figurativa (que remete para uma histria).

    Jerusalm cidade central da Bblia, situada na Palestina (actualmente dividida entre o Estado

    de Israel e a Autoridade Palestiniana). No texto bblico, a capital do povo de Israel e lugar do

    culto divino, onde o Templo simboliza a Aliana de Deus com o Povo. Torna-se smbolo do

    Juzo de Deus no Final dos Tempos, Juzo esse que a transforma em Cidade Celeste, de onde so

    arredados os maus. No Apocalipse tem uma planta quadrada, as pedras das suas construes

    so preciosas, os Apstolos acolhem a cada uma das suas portas os Eleitos.

    Lana pertence ao grupo das armas brancas sendo considerada uma das armas mais antigas

    uma vez que ela surge documentada na arte rupestre. constituda por uma vara e uma ponta

    afiada. Associada esponja , na arte, smbolo da Paixo de Cristo.

    Manuscrito etimologicamente significa livro escrito mo, segundo tcnicas convencionais

    para servir de suporte escrita e disponibilizar o texto para leitura (no se identifica com cdice,

    mas inclui-o; engloba tambm o rolo ou volumen).

    Margem zona exterior superfcie ocupada pelo corpo do texto; elemento secundrio, so,

    no manuscrito, muitas vezes ocupadas por dados complementares e auxiliares do texto cotas

    de contedo (sintetizam esse contedo e revelam a progresso da exposio), ornamentao

    (os elementos ocupam esse espao com maior ou menor profuso e variedade, de acordo com

    a solenidade do livro), marca de uso (para chamar a ateno de determinado passo).

    Mrtir etimologicamente (grego) significa testemunho; porque o maior testemunho dado

    em favor de uma verdade a aceitao da morte para no trair a fidelidade a essa verdade ou

    glos

    srio

  • descobertA dA IlumInurA medIevAl | A11

    promessa de fidelidade a Cristo, o nome foi dado queles que preferiam testemunhar essa

    fidelidade e no renegar a f crist.

    Microfilme suporte utilizado para criar uma imagem de substituio de um original; com

    ele pretende-se responder a interesse de uso de documentos ou livros em mau estado de

    conservao, sem correr o risco de os deteriorar devido ao manuseamento. A microfilmagem

    consiste num processo de fotografia executado em pelcula transparente e montada sobre um

    filme em banda s podendo ser lido num aparelho ptico em que um elemento de luz projecta

    a imagem criada.

    Miniatura deriva do latim minium, palavra que designa a cor do sulfureto de mercrio,

    tambm conhecido por cinbrio ou vermelho, utilizado para destacar as iniciais dos

    manuscritos ou as figuras e pequenas cenas executadas no interior destas. O termo foi tambm

    utilizado em Frana, a partir de finais do sculo XVI, para designar uma pintura de pequenas

    dimenses.

    Monge por etimologia (grego mnachos, de mnos) algum que vive isolado, em

    recolhimento; distingue-se do eremita, pois este procura um lugar ermo, onde vive sozinho;

    o monge habitualmente vive em comunidade (cenobita) num espao fechado (o mosteiro);

    dedica-se orao e contemplao (meditao); procura ser autnomo e viver pobremente,

    e para isso se entrega ao trabalho manual de que o sustento e o necessrio para as diversas

    necessidades corporais; vive sob a dependncia de um abade que orienta a vida de grupo,

    explica a Regra e preside aos actos principais da vida comum.

    Montar brida forma de montar em que o cavaleiro, de pernas esticadas, se apoia nos

    estribos permitindo um maior equilbrio enquanto cavalga e dispara a sua arma (arco ou besta).

    Mosteiro conjunto arquitectnico destinado vida dos monges; constitudo por igreja

    e claustro, em torno do qual se organizam as dependncias correspondentes a uma vida

    comunitria organizada e estruturada para assegurar a vida de orao, de leitura, de trabalho e

    de repouso (as dependncias principais formam entre si uma tenso complementar de corpo /

    esprito: igreja vs refeitrio; sala capitular vs residncia dos conversos); o permetro do mosteiro

    constitui um espao de clausura inteiramente reservada aos monges, pois apenas uma parte da

    igreja era aberta aos fiis; em seu torno h a cerca para explorao dos meios de subsistncia.

    Novo Testamento livros bblicos constitudos pelos Evangelhos (So Mateus, So Joo, So

    Marcos e So Lucas), pelos Actos dos Apstolos, pelas Epstolas (de So Paulo e de outros

    Apstolos), e pelo Apocalipse. Testamento, no caso, significa o mesmo que Aliana (entre Deus

    e o Homem), estabelecida por Jesus Cristo e testemunhada pelos testos dos seus primitivos

    testemunhos (cristianismo).

    Ordem monstica comunidade de monges canonicamente aprovada e com votos solenes;

    obedece a uma Regra (conjunto de ordenaes que orientam a vida em comunidade) e

    fica sujeita autoridade de um Superior / Abade, que tem jurisdio sobre os membros da

    comunidade e pode delegar no Prior. As primeiras Regras tiveram origem no Egipto; a mais

    divulgada no Ocidente a Regra de S. Bento; antes dela teve lugar a de Santo Agostinho (em

    glos

    srio

  • A1 | descobertA dA IlumInurA medIevAl

    Hipona, no Norte de frica) que serviu de inspirao para os Cnegos Regrantes e para os

    Dominicanos.

    Papiro suporte material que serve para escrita fabricado a partir de lamelas extradas e

    recortadas no caule de uma planta conhecida cientificamente como cyperus papyrus; a seiva

    dessa planta era suficiente para unir as lamelas que eram colocadas em forma de grade (umas

    sobre as outras) e deixadas secar, depois de mergulhadas, durante oito dias, em gua renovada

    cada dia; originariamente abundante no delta do Nilo, foi suporte de escrita utilizada no Egipto

    desde o 3 milnio a.C., tendo-se o seu uso expandido pelo mundo grego e romano, onde

    sobreviveu at ao sculo XII d.C., em razo do seu baixo custo.

    Parsia Termo grego, significa vinda e presena de uma autoridade; era o termo

    formalmente usado para designar a vinda solene de um rei. Em teologia significa o regresso

    de Cristo glorioso, no Final dos Tempos, para estabelecer definitivamente o Reino de Deus.

    A palavra tem utilizao sobretudo em S. Paulo; equivale a epifania que outros escritos do

    Novo Testamento preferem.

    Pena (pena da ave) instrumento utilizado na Idade Mdia para escrever com tinta tal como o

    clamo (feita a partir de cana); s tardiamente (com a revoluo industrial) aparecem as penas

    de bico metlico.

    Pergaminho pele de animais (herbvoros), sujeita a tratamento (descarnagem e depilao,

    adelgaamento e branqueamento) de modo a estar preparada para receber a escrita; substitui o

    papiro sobretudo a partir do momento em que o formato de cdice foi adoptado para o livro

    (sc. I, em Roma); as vantagens deste suporte so vrias: resistente, flexvel (pode dobrar-se e

    formar unidades que se associam em cadernos), presta-se a ser escrito de ambas as faces (o que

    problemtico no papiro); admite mais facilmente que o papiro tanto a escrita como a iluminura.

    Porta na antiguidade as cidades eram normalmente cercadas por muralhas e o acesso a estas

    feito por portas onde todas as entradas e sadas podiam ser controladas. A porta representava

    assim a segurana que protegia a cidade de agresses exteriores. No evangelho de S. Joo

    (Jo 10, 7) Cristo compara-se porta por onde entram as ovelhas no redil (celeste). A porta

    d acesso ao interior da casa e serve de comunicao para a vida familiar; separa e une dois

    mundos distintos, um exterior e o outro interior.

    Regra conjunto de orientaes ascticas ou regulamentares que presidem formao e

    prtica dos monges que vivem numa mesma comunidade.

    Regramento esquema de linhas traadas nos flios para servirem escrita de um texto.

    Revelao manifestao do sentido dos acontecimentos feita por Deus a um Profeta ou

    directamente ou atravs de um mensageiro (anjo); no texto do Apocalipse, Joo quem

    recebe a mensagem, em forma de vises; o sentido enigmtico, pois o simbolismo utilizado

    no exprime imediatamente a realidade referida, mas entendido como correspondente a

    perspectiva de salvao entende-se que se refere ao reino de Cristo contrariado pelo inimigo

    (o Anticristo).

    glos

    srio

  • descobertA dA IlumInurA medIevAl | A1

    Rubrica elemento textual escrito a minium, vermelho, com que se destacava, cabea de

    determinado sector do texto, o ttulo ou informao de contedo desse mesmo texto.

    Rubricador aquele que executava, a cor, os ttulos e as iniciais. Esta funo podia ser exercida

    tanto pelo copista como pelo iluminador.

    Scriptorium designao do local onde, na Idade Mdia, se produziam os manuscritos;

    desde os primeiros sculos, aps a queda do Imprio Romano, e at ao sc. XIII, apenas as

    comunidades religiosas (nos mosteiros ou nos cabidos de igrejas catedrais) possuam um

    scriptorium.

    Trombeta instrumento de sopro metlico, de forma curva ou recta, com tubo ligeiramente

    cnico e geralmente sem furos em que o som produzido atravs do bocal no qual o

    instrumentista apoia os lbios. No Apocalipse, o instrumento mais solene do anncio da vinda

    de Cristo para o Juzo Final.

    Turbulo vaso para queimar incenso (thus em latim, a partir do grego); transportado

    na mo, sustentado por correntes e agitado para manter vivo lume; era fechado por uma

    tampa denominada oprculo. Era geralmente executado em matrias preciosas (prata, mais

    habitualmente). O incenso simboliza o acto de adorao prestado a Deus (e por alargamento s

    pessoas e s coisas que se integram no culto litrgico).

    Vinda de Cristo ver Parsia.

    BIBLIOGRAFIA

    AIRES DE NASCIMENTO, Augusto , MIRANDA, Maria Adelaide (coord.) A Iluminura em Portugal. Identidade e

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    glos

    srio

  • A1 | descobertA dA IlumInurA medIevAl

    MIRANDA, Maria Adelaide A iluminura Romnica em Portugal, sep. de A iluminura em Portugal.

    Identidade e influncias, catlogo da exposio de 26 de Abril a 30 de Junho de 1999, Lisboa: Ministrio da

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    http://www.bibliacatolica.com.br/dicionario/l.php

    glos

    srio

  • descobertA dA IlumInurA medIevAl | A1

    fl.153v (O drago das 7 cabeas)

    O demnio aqui representado na figura de um drago de sete cabeas, descrito no texto como a antiga serpente, chamada Diabo ou Satans. Expele fogo da sua boca e arrasta com a cauda uma estrela.

    fl.158r (A besta do mar)

    A Besta do mar representa os males que atingem a Igreja. Segundo o texto ela possui corpo de leopardo, patas de urso e garganta de leo com sete cabeas e chifres.

    fl.161r figura hbrida (A besta da Terra)

    A Besta da terra, com chifres de carneiro, identificada com os falsos profetas por possuir o dom da palavra e o poder de convencer os outros. O iluminador acrescentou--lhe um corpo e cabea de leo e garras de ave de rapina.

    fl.181v (O quinto anjo derrama a sua taa sobre o trono da besta)

    A Besta, representada como um animal hbrido, surge com dez cabeas, chifres e lngua viperina. Sobre a sua cabea o anjo derrama o lquido da taa.

    da b

    esta

    as fa

    ces

  • A1 | descobertA dA IlumInurA medIevAl

    fl.186v (A mulher corrupta sobre a besta que simboliza Babilnia)

    A Besta com sete cabeas, chifres, corpo de leo, patas e garras de ave de rapina montada pela mulher (representao do Mal) que transporta, na sua mo esquerda, uma taa que contem simbolicamente todos os males do mundo.

    fl.200 (A batalha e o triunfo sobre a besta)

    A Besta apresenta-se aprisionada com o falso profeta. Ambos so lanados para um lago de fogo e de enxofre ardente, simbolizado pelo fundo amarelo.

    fl.203v (Satans sai da priso)

    A Besta de sete cabeas expele fogo e transporta no seu dorso quatro cabeas humanas, numa atitude triunfal. Segundo o texto, aps mil anos, Satans ser libertado da sua priso.

    fl.206r (O diabo e o falso profeta no fogo)

    Neste pormenor a Besta, aqui com uma s cabea e sem chifres, est prisioneira no lago de fogo e de enxofre, representado pelo fundo amarelo. O texto relata-nos que Satans ser lanado num lago de fogo e de enxofre, onde sofrer eternamente.

    as fa

    ces d

    a be

    sta

  • descobertA dA IlumInurA medIevAl | A1

    pel

    e e

    perg

    amin

    hoO texto que de seguida se transcreve data de 1986 e da autoria da Dra. Adlia Alarco.

    A informao precisa e detalhada mantm-se actual, e como tal julgamos do interesse

    do leitor poder inclui-lo no descoberta da Iluminura medieval portuguesa.

    PELES DE ANIMAIS E SEUS DERIVADOS

    CABEDAL

    Natureza e caractersticas

    As peles utilizadas desde a antiguidade na preparao de couros, cabedais e camuras so as do

    boi, da vaca, do bfalo, da cabra, do carneiro, do suno e do cavalo. Peles

    de veado, leo, leopardo, camelo e canguru podem tambm encontrar-se com relativa

    frequncia entre materiais etnogrficos e arqueolgicos enquanto as peles de rpteis e de

    animais marinhos so muito raras.

    A qualidade dos produtos manufacturados depende no s do tratamento das peles como

    de uma srie de factores relacionados com a espcie animal, o sexo, a idade, a alimentao e o

    clima, a zona a que pertencia determinada poro da pele.

    Em regra, as peles de animais adultos ou velhos sofreram maior alterao da qumica dos

    tecidos e da estrutura e adquiriram mais irregularidades que dos animais jovens; as peles das

    fmeas so menos espessas, mais elsticas e com melhor gro que as dos machos. As peles dos

    animais selvagens so mais finas e uniformes que

    as dos animais domsticos. A alimentao rica em

    cereais e gorduras e o excesso de comida tendem

    a provocar cordes de gordura e a enfraquecer o

    tecido fibroso.

    Os langeros fornecem peles mais fracas e irregulares

    do que os animais com plo. Pode dizer-se que

    quanto melhor for a l de um animal pior a sua

    pele, pois a energia dispendida pelo organismo

    para criar resistncia ao frio atravs das estruturas

    epidrmicas, faz falta produo de um tecido

    drmico bastante espesso e forte. Esta a razo

    porque as melhores peles de carneiro tanto para

    serem usadas do lado do gro (ou flor) como para

    serem tratadas como camuras so as de animais

    criados em pases quentes.

    Junto do nvel da carne, as fibras drmicas dispem-

    se em camadas paralelas e so envolvidas em gordura o que torna a pele esponjosa e fraca. Da

    que as peles de carneiro (carneiras) sejam pouco resistentes e sobretudo aplicadas para luvas,

    forras, encadernaes de livros. Adiante se ver, porm, que estas caractersticas fazem da pele

    de carneiro uma boa matria prima para o fabrico de pergaminho.

    cade

    rno

  • A1 | descobertA dA IlumInurA medIevAl

    Os caprinos oferecem peles com uma estrutura drmica mais forte e espessa, menos gordurosa,

    a qual permite obter cabedais de extrema resistncia, leveza e durao; com estas peles que se

    produz o genuno morocco.

    A identificao das peles baseia-se em diversas caractersticas a principal das quais a textura

    proveniente dos folculos em que se inseriam os pelos; a profundidade e a orientao desses

    folculos so determinantes, embora no cheguem, muitas vezes, para distinguir entre a pele de

    carneiro e a de certas variedades de cabra. A este propsito, convm lembrar que frequente

    encontrar peles de caneiro que receberam uma textura artificial.

    A identificao de uma pele fundamental para um bom trabalho de conservao e/ou

    restauro de cabedais e pergaminhos dado que as diferenas de poder de absoro, de

    flexibilidade, de orientao das fibras so factores essenciais para o sucesso ou insucesso do

    processo utilizado.

    PERGAMINHO

    Natureza e caractersticas

    O pergaminho surgido pela primeira vez em Prgamo, datado do sc. II a.C., obtido atravs

    de preparao especialmente dada a peles de carneiro, cabra e vitelo seleccionadas de acordo

    com a qualidade e as caractersticas requeridas: espessura, gro, cor, macieza da superfcie,

    transparncia ou opacidade, resistncia, flexibilidade.

    A brancura de um pergaminho s possvel se o plo do animal for branco, pois no caso de

    plo escuro, aparecero manchas acastanhadas; pergaminhos finos e muito macios exigem

    animais novos, alimentados s a leite; a transparncia mais fcil de obter com peles cuja

    estrutura fibrosa seja muito forte como a da cabra dificultando a sua completa distenso.

    A idade do animal e a estao do ano em que morto contam para a quantidade de gordura

    presente na pele e para a sua distribuio. Quando a gordura excessiva formam-se cordes

    que levam muito tempo a remover e que so inaceitveis num pergaminho para escrita ou

    pintura.

    Em termos absolutos no se pode dizer que uma espcie d origem a melhores produtos que

    outra mas tendo em conta algumas caractersticas, h animais mais recomendveis que outros.

    A pele de vitelo ou de veado pode dar origem ao pergaminho de maiores dimenses e

    simultaneamente mais fino e resistente. Os romanos chamavam-lhe vellum, mas com o tempo

    o vocbulo passou a designar qualquer pergaminho. 1

    Por pergamena virginea ou pergamena vitulina entendia-se na antiguidade os pergaminhos

    feitos da pele de fetos de vitelo e cordeiro, notveis pela sua extrema finura.

    Muito fino, macio, branco e flexvel , no entanto, o pergaminho feito de pele de cabrito com 4

    a 6 semanas, caracterizada por escassa gordura, o que faz preferi-la do borrego.

    pele

    e p

    erga

    min

    ho

  • descobertA dA IlumInurA medIevAl | A1

    O pergaminho de pele de cabra tem um gro forte e decorativo, acompanhado de uma

    tonalidade cinzenta, que facilmente permite distingui-lo do pergaminho de ovelha cujo lado

    da pele sempre amarelado; do lado interno, o da cabra mesmo branco, enquanto o de

    ovelha branco acinzentado. Por sua vez, o pergaminho de borrego amarelado em ambas as

    superfcies.

    Apesar da sua gordura ser por vezes excessiva para o efeito, a pele de ovelha foi sempre a mais

    utilizada na Europa para o fabrico do pergaminho. Por vezes, encontram-se capas de livros feitas

    de pergaminhos bastante espessos e porosos, com uma estrutura fibrosa pobre, proveniente de

    animais velhos de 4 a 8 anos; s para manuscritos de pouca importncia seria permitido usar tal

    qualidade de pergaminho.

    A utilizao de peles de animais mortos muito tempo antes e iniciado o processo e lavagem,

    conduz ao fabrico de pergaminhos marmoreados, dada a reteno do sangue na rede capilar.

    Estes veios podem, pela sua cor, identificar o animal: castanho claro para os vitelos ou bezerros;

    verde para a cabra e seus filhos; castanho escuro para os ovdeos.

    O gosto por estes efeitos decorativos levou os homens a procurar algumas fantasias mais; assim,

    os veios negros de alguns pergaminhos obtinham-se batendo com um pau no corpo que

    acabava de expirar.

    Uma forma muito especial de pergaminho era obtida a partir do cego (caecum) intestinal dos

    bovdeos. Nem todos os animais possuem cegos teis para o efeito, pois quando h muita

    gordura presente torna-se muito difcil desligar o tecido conjuntivo da estrutura que o suporta.

    Depois e tratado, este tecido extraordinariamente fino, resistente e transparente, o que o

    tornou durante sculos aprecivel para o restauro de pergaminhos.

    Outra fonte de matria prima para tal finalidade foi encontrada nas bexigas de bacalhau,

    merlcio, badejo e esturjo.

    comum dizer-se que a principal diferena entre pergaminhos e cabedais reside no facto

    daqueles no serem curtidos. Segundo alguns especialistas, entre os quais R. Reed, a verdadeira

    diferena reside no facto da complexa e flexvel estrutura fibrosa da derme se manter quase

    inalterada nos cabedais (formando uma malha larga e irregular) e ser completamente

    reorganizada durante o fabrico do pergaminho numa estrutura laminar, fixa.

    Desta diferena estrutural resulta que o pergaminho facilmente rasga s tiras, em finas lminas,

    enquanto que para obter idntico efeito com cabedal ou mesmo carneira, preciso utilizar uma

    lmina.

    Compreende-se melhor estas distines comparando as fases de fabrico que as determinam:

    Depois de limpa e depilada, uma pele pode ser convertida em pergaminho pelo simples acto de

    deix-la secar temperatura ambiente, sob tenso. Aps o tratamento necessrio depilao, as

    fibras envolvidas num lquido viscoso (matriz) formado por gua, mucopolissacaridas, protenas,

    lpidos e ies inorgnicos combinados de modo complexo, dilatam e tornam-se muito mais

    elsticas.

    pele

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  • A0 | descobertA dA IlumInurA medIevAl

    Ao secar, sob forte tenso, a pele desidratada e as fibras retesam, fixando-se paralelamente

    umas s outras enquanto a matriz toma a consistncia de uma cola endurecida. A fixao deste

    estado de tenso permanece inaltervel durante sculos, se o pergaminho no for molhado. Na

    realidade, a reabsoro de gua vai provocar o relaxamento da estrutura e com ele toda uma

    srie de consequncias desastrosas.

    Quando uma pele curtida seca, o fenmeno totalmente diferente. Os produtos qumicos

    aplicados reagem com a matriz formando numerosos cross-links que mantm as fibras nas

    suas posies originais. Dada a irreversibilidade destas reaces qumicas, a estrutura drmica

    mantm-se flexvel e resistente. A sua capacidade de reabsoro de gua muito menos que a

    do pergaminho e resiste mais ao calor.

    Fabricao

    O processo de fabricao comea como vimos atrs no acto da seleco da pele, pois das

    caractersticas delas dependem factores essenciais para a finalidade requerida do pergaminho.

    Ao contrrio do que sucede com as peles destinadas ao fabrico de cabedais, as peles utilizadas

    no fabrico de pergaminhos devem provir de animais acabados de expirar e cuidadosamente

    sangrados se no, o produto final apresentar-se- atravessado por veios coloridos.

    A lavagem exige gua muito fria, de preferncia corrente e aco mecnica sobre as peles

    para evitar contacto com substncias capazes de manch-las e impedir a formao de micro-

    organismos que, atacando uma ou outra fibra, enfraqueceriam a estrutura.

    A depilao uma operao morosa e de grande responsabilidade, pois como recomendavam

    os textos medievais, a aco da cal deve ser muito controlada de modo a no deteriorar a pele.

    Calcem non recentem, especfica Theophilus, ser misturada com gua num grande banho

    onde se metem as peles durante 8 dias no Vero e 16 dias no Inverno, mexendo-as trs vezes

    dirias.

    Uma reaco lenta e prolongada menos prejudicial do que contraria; no entanto,

    modernamente, usa-se acelerar a reaco do hidrxido de sdio agitando-a constantemente.

    Segue-se uma lavagem intensa e depois coloca-se a pele a secar, regularmente esticada num

    caixilho de madeira que alguns autores recomendaram de forma circular, embora o rectngulo

    fosse igualmente comum.

    Assim esticada, a pele pode ser desbastada faca pelo reverso e amaciada pelo verso com p

    de pmice e um pouco de gua. E o mesmo Theophilus insiste em que aps estas operaes,

    e enquanto hmida, a pele devia ser novamente reajustada no caixilho para secar bem firme

    de modo a que a folha se torne permanente no havendo ento mais nada a fazer salvo o

    emprego de CaSO4 , CaCO

    3 ou CaO, em p, para controlo do tempo de secagem.

    Convm, no entanto, lembrar que na antiguidade clssica e medieval o pergaminho recebia

    muitas vezes um tratamento base de taninos quer na fase final, enquanto secava, quer

    durante a fase de depilao.

    pele

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    min

    ho

  • descobertA dA IlumInurA medIevAl | A1

    Com efeito, o uso da cal para tal fim, embora mencionado em textos muito antigos, egpcios

    e mesopotmicos, parece no ter sido praticado por gregos e romanos, pois os seus autores,

    incluindo os do perodo alexandrino, citam apenas as infuses de substncias vegetais como

    elemento fundamental do banho depilatrio.

    O primeiro texto medieval a recomendar hidrxido de clcio de Lucca (sc. VIII) e pensa-

    se que tal prtica se deve influncia dos rabes, os quais tero redescoberto a sua funo

    depilatria durante a investigao que fizeram dos (al)calis, i., as cinzas de vegetais e material

    inorgnico contendo xidos e carbonatos metlicos.

    De qualquer modo, est provado que o curtimento das peles utilizadas no fabrico de

    pergaminhos se revela sempre irregular e pouco profundo.

    Actualmente, alguns fabricantes usam fazer um ligeiro curtimento com formaldedo em soluo

    aquosa fraca. Este qumico funciona no s como bactericida, mas tambm como branqueador

    da pele. Quando houver receio de que algum resduo possa vir a prejudicar a resistncia das

    fibras, utilizar-se- cloreto de amnio como neutralizador.

    Quando um pergaminho se destinava a manuscrito em rolo, era o lado do plo que se utilizava

    para escrever; quando se tratava de um livro, ambos os lados eram escritos para o que se polia o

    reverso com carbonato de clcio espelhado com a palma da mo na pele ainda hmida.

    No sc. XV, em Inglaterra, desenvolveu-se um tipo especial de pergaminho Stanchgrain

    preparado com uma pasta de xido de clcio, farinha de trigo, leite e clara de ovo.

    A possibilidade de transparncia do pergaminho era uma caracterstica muito apreciada para fabrico de

    lentes de aumento, de um substituto do vidro de janela e de um suporte para decalques de desenhos.

    A cor do pergaminho e o grau de destruio do arranjo estrutural das fibras so muito

    importantes. Assim, um pergaminho branco sempre menos transparente do que um

    amarelado e quando o esforo de tenso que sujeitou as fibras partiu muitas delas e

    completamente reorganizou o conjunto numa forma laminar, a opacidade completa. Assim

    se explica que sendo a estrutura drmica da cabra muito forte, o pergaminho naturalmente

    resultante no seja opaco.

    Para obter uma boa transparncia, recomendam algumas receitas medievais um tratamento

    final da pele (bastante fina) ainda hmida, com clara de ovo, goma arbica ou cola animal

    misturada com mel de abelha.

    Tratamentos alternativos consistem em:

    1 Espalhar azeite ou leo de cedro em ambas as faces;

    2 Mergulhar a pele em gua muito quente antes de estic-la no caixilho;

    3 Mergulhar a pele numa soluo fraca de carbonado de potssio e sec-la presso entre placas

    de madeira apertadas numa prensa (patente registada em 1785 por Edwards of Halifax Yorkshire)

    pele

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    erga

    min

    ho

    (1) De vellum deriva a palavra velino que designa um papel muito fino e resistente, parecido com o pergaminho, e que no apresenta, transparncia, a marca de gua.

  • A | descobertA dA IlumInurA medIevAl

    pele

    e p

    erga

    min

    ho

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  • descobertA dA IlumInurA medIevAl | A

    imag

    ens d

    imen

    so

    real para execuo da Folha de Actividades #1Livro das Aves: Flio 4 A Pomba e o Falco Iluminura em tamanho real (127x112 mm):

  • A | descobertA dA IlumInurA medIevAl

    imag

    ens d

    imen

    so

    real

  • descobertA dA IlumInurA medIevAl | A

    imag

    ens d

    imen

    so

    real para execuo da Folha de Actividades #2

    Livro das Aves: Flio 5 Capitular D Iluminura com dimenso real (52 x 49 mm):

  • A | descobertA dA IlumInurA medIevAl

    imag

    ens d

    imen

    so

    real para execuo da Folha de Actividades #3

    Livro das Aves: Flio 25 Cedro do Lbano Iluminura com tamanho real (raio: 21mm):

  • descobertA dA IlumInurA medIevAl | A

    para execuo da Folha de Actividades #4Livro das AvesFlio 36v O GaloIluminura com tamanho real (raio: 66 mm):

    Reproduo com tamanho real:

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    ens d

    imen

    so

    real

  • A | descobertA dA IlumInurA medIevAl

    para execuo da Folha de Actividades #5Apocalipse do Lorvo: Flio 161 A Besta da Terra Iluminura com tamanho real (87 x 97 mm):

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    ens d

    imen

    so

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    Reproduo com tamanho real:

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    real para execuo da Folha de Actividades #6

    Apocalipse do Lorvo: Flio 136 O Primeiro Anjo tocou a trombetaIluminura com tamanho real (85 x 92 mm):

    Reproduo com tamanho real:

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  • descobertA dA IlumInurA medIevAl | A1

    Comea o prlogo de algum dirigido

    ao converso Rainrio

    Querendo, meu caro,

    satisfazer a instncia

    dos teus desejos, resolvi pintar a pom-

    ba cujas a-

    sas so prateadas, com lividez de ouro

    na parte posterior do dorso e edificar

    as mentes dos simples por meio

    da pintura: aquilo que o esprito dos simples dificilmente

    conseguiria alcanar com os olhos do entendimento, po-

    der, pelo menos, perceb-lo com os do corpo; e

    a vista perceber aquilo que o ouvido entenderia

    a custo. No quis apenas pintar a pomba

    dando-lhe forma, mas tambm descre-

    v-la por palavras, para elucidar a

    pintura por meio da escrita: que ao menos agrade a moralidade

    da escrita a quem no agradar a simplicidade da

    pintura. Para ti, pois, a quem foram dadas a-

    sas de pomba, que te afastaste, fugindo, para

    permaneceres e descansares na solido,

    text

    o im

    agemcade

    rno

  • A | descobertA dA IlumInurA medIevAl

    para ti que no buscas o adiamento da voz do cor-

    vo que repete cras, cras, mas a contrio no gemi-

    do da pomba, para ti digo que

    agora vou pintar no apenas a pomba, mas o

    falco. Eis que falco e pomba esto pousados no

    mesmo poleiro: eu vim da cleresia e

    tu da milcia para o claustro,

    a fim de ficarmos ambos na vida regular, como numa

    gaiola: tu, que costumavas apanhar

    aves domsticas, traz agora para o claustro as

    silvestres, isto , os seculares, com a

    fora da boa aco. Que gema, pois, que gema a pomba; e

    que o falco solte a voz da dor. A voz

    da pomba gemido, a do falco

    queixume. Dei primazia pomba no incio

    desta obra, porque a graa do esprito San-

    to est sempre preparada para qualquer penitente

    e s pela graa se alcana o perdo. De-

    pois da pomba, tratar-se- do falco,

    pelo qual se representam as pessoas da nobreza.

    Na verdade, quando algum nobre passa ao claustro

    text

    o im

    agem

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    o im

    agem

    apresenta-se aos pobres como exemplo de boa

    deciso. Tentarei, portanto, logo que

    possvel, falar bre-

    vemente de certas aves e de outros animais

    que a Sagrada Escritura relembra, pa-

    ra exemplo moral.

    C omo tenho de escrever para um iletrado, nose admire o zeloso leitor se, para edifi-

    cao daquele, eu disser coisas simples sobre

    assuntos subtis. E no atribua a frivolidade

  • A | descobertA dA IlumInurA medIevAl

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    o im

    agem

    eu pintar o falco e a pomba, quando j o justo

    Job e o profeta David nos deixaram

    este tipo de aves para doutrinar. Com

    efeito, o que a Escritura indica aos

    mais sabedores indicar a pintura aos simples: tal

    como o sabedor se deleita com a subtileza da escrita, tambm o

    esprito dos simples atrado pela simplicidade da pintu-

    ra. Quanto a mim, empenho-me mais em agradar aos simples

    do que em falar aos mais doutos,

    como se deitasse lquido numa vasilha cheia.

    De facto, quem ensina um homem sapiente por palavras

    como que deita lquido numa vasilha cheia.

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    o im

    agem

    Comea o livro de

    algum para o converso

    Rainrio, de nome Cora-

    o Benigno. Comea

    sobre as trs pombas

    E dormirdes entrequinhes do Senhor, sereis a-

    sas de pomba pra-

    teada, com lividez

    de ouro na parte posterior do dorso. Lendo,

    Irmo, a Sagrada Escritura, encontrei trs pombas,

    por meio das quais, se atenta-

    mente observadas, podero doutrinar-se

    as mentes dos simples para mudana de vida: a pomba

    de No, a pomba de David, a pomba de Jesus Cristo.

    No entende-se como repouso, David como valoroso, Jesus

    como Salvador. Ao pecador diz-se Pecas-

    te, repousa. Se, pois, queres ser No, repousa

    do pecado. Para poderes ser David, pratica obras valorosas.

    Se desejas ser salvo, pede salvao ao

    Salvador. Afasta-te, portanto, do mal, faz o bem,

  • A | descobertA dA IlumInurA medIevAl

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    o im

    agem

    busca a paz. Afasta-te para a arca de No.

    Luta com David as lutas do Senhor. Busca a

    paz com Jesus em Jerusalm. Afasta-te para a tranquilidade

    da mente, resiste s tentaes, espera

    pacientemente a graa da salvao. Diz-se da pomba de

    No: Voltou a pomba ao entardecer,

    trazendo no bico um ramo vioso de oliveira. A

    pomba volta arca de No, quando o

    esprito trazido das coisas exteriores para a tranquilidade

    da mente. Regressa ao entardecer, quando,

    faltando a luz da felicidade mundana,

    foge do fausto da vanglria, por temer cair na escurido

    da noite, isto , nas profundezas da condenao eterna. Traz

    oliveira, porque procura a misericrdia. Traz

    oliveira no bico, ao pedir, com preces,

    o perdo das suas faltas. Da pomba

    de David na verdade se diz: Com lividez de ouro na

    parte posterior do dorso. H ouro na parte

    posterior do dorso, porque se promete indulgncia no

    futuro a quem procede bem.

    De modo semelhante

    Textos retirados de: Gonalves, Maria Isabel Rebelo; Livro das Aves, Edies Colibri, 1999.

    Imagens: IANTT

  • descobertA dA IlumInurA medIevAl | A

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    gera

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    cont

    acto

    s de

    forn

    eced

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    MAtERIAL DE PINtURA

    Contactos nacionais:

    Casa Ferreira www.casaferreira.pt/contactos.asp (Lisboa)

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    Laborspirit www.laborspirit.com

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