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Novembro/Dezembro de 2005 • Número 303 Jornal da ABI Órgão oficial da Associação Brasileira de Imprensa HONRA NÃO TEM PREÇO Mário de Moraes: o primeirão do Prêmio Esso Páginas 7 e 8 As mulheres lideram os prêmios de jornalismo Elas estão liderando mesmo: Re- nata Lo Prete, da Folha de S. Pau- lo, e Délis Ortiz, da TV Globo, abocanharam os principais prê- mios de jornalismo em 2005, o Esso cinqüentão e o Embratel. Páginas 10 e 11. Esporte, uma cobertura que dá vertigem Quem diz é o mestre da grande área, o maior dos cronistas espor- tivos, Armando Nogueira: a co- bertura esportiva é uma ativida- de trepidante e vertiginosa. Página 13 O P O P O P O P O Presidente do Superior T residente do Superior T residente do Superior T residente do Superior T residente do Superior Tribunal de Justiça, Ministro Edson V ribunal de Justiça, Ministro Edson V ribunal de Justiça, Ministro Edson V ribunal de Justiça, Ministro Edson V ribunal de Justiça, Ministro Edson Vidigal, idigal, idigal, idigal, idigal, desfere duro golpe na chamada “indústria do dano moral”, ao sus- desfere duro golpe na chamada “indústria do dano moral”, ao sus- desfere duro golpe na chamada “indústria do dano moral”, ao sus- desfere duro golpe na chamada “indústria do dano moral”, ao sus- desfere duro golpe na chamada “indústria do dano moral”, ao sus- tentar que a honra não pode ser tabelada, como fez a L tentar que a honra não pode ser tabelada, como fez a L tentar que a honra não pode ser tabelada, como fez a L tentar que a honra não pode ser tabelada, como fez a L tentar que a honra não pode ser tabelada, como fez a Lei de Impren- ei de Impren- ei de Impren- ei de Impren- ei de Impren- sa, nem ser sa, nem ser sa, nem ser sa, nem ser sa, nem servir para enriquecer os que propõem esse tipo de ação. vir para enriquecer os que propõem esse tipo de ação. vir para enriquecer os que propõem esse tipo de ação. vir para enriquecer os que propõem esse tipo de ação. vir para enriquecer os que propõem esse tipo de ação. Página 16 Edifício-sede da ABI, uma atração para os europeus Renata: com duas entrevistas, detonou uma crise que, como 1968, não terminou. A dureza de fazer caderno infantil Há quem pense que não, mas dá um bruta trabalho fazer jornal para os baixinhos, produzir os suplementos infantis, como reve- lam os profissionais que os bo- lam e editam. Páginas 3, 4 e 5. As homenagens da ABI a Vladimir Herzog SUPLEMENTO ESPECIAL Estudantes portuguesas e ar- quitetos holandeses deslum- bram-se ao percorrer o Edifício Herbert Moses, sede da ABI. Página 24 Volta a censura, por via judicial A TV digital, tema em debate A Comissão de Defesa da Liber- dade de Imprensa da ABI de- nuncia a volta da censura, res- suscitada por decisões judiciais. Página 20 Declaração debatida no Conse- lho Deliberativo da ABI questi- ona a visão puramente técnica da decisão sobre a TV digital. Página 20 RODRIGO LOPES - DIVULGAÇÃO ESSO JORGE CAMPOS-ACS-STJ

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Novembro/Dezembro de 2005 • Número 303

Jornal da ABIÓrgão oficial da Associação Brasileira de Imprensa

HONRA NÃOTEM PREÇO

Mário de Moraes: o primeirão do Prêmio EssoPáginas 7 e 8

As mulhereslideram osprêmios dejornalismoElas estão liderando mesmo: Re-nata Lo Prete, da Folha de S. Pau-lo, e Délis Ortiz, da TV Globo,abocanharam os principais prê-mios de jornalismo em 2005, oEsso cinqüentãoe o Embratel.Páginas 10 e 11.

Esporte, umacobertura quedá vertigemQuem diz é o mestre da grandeárea, o maior dos cronistas espor-tivos, Armando Nogueira: a co-bertura esportiva é uma ativida-de trepidante e vertiginosa.

Página 13

O PO PO PO PO Presidente do Superior Tresidente do Superior Tresidente do Superior Tresidente do Superior Tresidente do Superior Tribunal de Justiça, Ministro Edson Vribunal de Justiça, Ministro Edson Vribunal de Justiça, Ministro Edson Vribunal de Justiça, Ministro Edson Vribunal de Justiça, Ministro Edson Vidigal,idigal,idigal,idigal,idigal,desfere duro golpe na chamada “indústria do dano moral”, ao sus-desfere duro golpe na chamada “indústria do dano moral”, ao sus-desfere duro golpe na chamada “indústria do dano moral”, ao sus-desfere duro golpe na chamada “indústria do dano moral”, ao sus-desfere duro golpe na chamada “indústria do dano moral”, ao sus-tentar que a honra não pode ser tabelada, como fez a Ltentar que a honra não pode ser tabelada, como fez a Ltentar que a honra não pode ser tabelada, como fez a Ltentar que a honra não pode ser tabelada, como fez a Ltentar que a honra não pode ser tabelada, como fez a Lei de Impren-ei de Impren-ei de Impren-ei de Impren-ei de Impren-sa, nem sersa, nem sersa, nem sersa, nem sersa, nem servir para enriquecer os que propõem esse tipo de ação.vir para enriquecer os que propõem esse tipo de ação.vir para enriquecer os que propõem esse tipo de ação.vir para enriquecer os que propõem esse tipo de ação.vir para enriquecer os que propõem esse tipo de ação.

Página 16

Edifício-sede daABI, uma atraçãopara os europeus

Renata:com duas

entrevistas,detonou uma

crise que,como 1968,

não terminou.

A durezade fazercadernoinfantilHá quem pense que não, mas dáum bruta trabalho fazer jornalpara os baixinhos, produzir ossuplementos infantis, como reve-lam os profissionais que os bo-lam e editam.

Páginas 3, 4 e 5.

As homenagens da ABI a Vladimir HerzogSU PLE M ENTO ES PEC IAL

Estudantes portuguesas e ar-quitetos holandeses deslum-bram-se ao percorrer o EdifícioHerbert Moses, sede da ABI.

Página 24

Volta a censura,por via judicial

A TV digital,tema em debate

A Comissão de Defesa da Liber-dade de Imprensa da ABI de-nuncia a volta da censura, res-suscitada por decisões judiciais.

Página 20

Declaração debatida no Conse-lho Deliberativo da ABI questi-ona a visão puramente técnicada decisão sobre a TV digital.

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Jornal da ABI

2 Novembro/Dezembro de 2005

NESTA EDIÇÃO

Jornal da ABI

Associação Brasileira de Imprensa

EDITORIAL

Rua Araújo Porto Alegre, 71, 7º andarTelefone: (21) 2220-3222/2282-1292 Cep: 22.030-012Rio de Janeiro - RJ ([email protected])

Editores: Francisco Ucha, Joseti Marques e Maurício AzêdoProjeto gráfico, diagramação eeditoração eletrônica: Francisco UchaDiretor responsável: Maurício AzêdoImpressão: Gráfica LanceRua Santa Maria, 47 - Cidade Nova - Rio de Janeiro, RJ.

As reportagens e artigos assinados não refletemnecessariamente a opinião do Jornal da ABI.

DIRETORIA – MANDATO 2004/2007Presidente: Maurício AzêdoVice-Presidente: Audálio DantasDiretora Administrativa: Ana Maria Costábile SoibelmanDiretor Econômico-Financeiro: Domingos MeirellesDiretor de Cultura e Lazer: Jesus ChediakDiretor de Assistência Social: Paulo Jerônimo de Souza (Pajê)Diretora de Jornalismo: Joseti Marques

CONSELHO CONSULTIVOChico Caruso, Ferreira Gullar, José Aparecido de Oliveira,Miro Teixeira, Teixeira Heizer, Ziraldo e Zuenir Ventura

CONSELHO FISCALJesus Antunes – Presidente, Miro Lopes – Secretário,Adriano Barbosa, Hélio Mathias, Henrique João Cordeiro Filho,Jorge Saldanha e Luiz Carlos Oliveira Chester

CONSELHO DELIBERATIVO (2004-2005)Presidente: Ivan Cavalcanti Proença1º Secretário: Carlos Arthur Pitombeira2º Secretário: Domingos Xisto da Cunha

Conselheiros efetivos (2005-2008)Alberto Dines, Amicucci Gallo, Ana Maria Costábile, AraquémMoura Rouliex, Arthur José Poerner, Audálio Dantas, CarlosArthur Pitombeira, Conrado Pereira, Ely Moreira, FernandoBarbosa Lima, Joseti Marques, Mário Barata, Maurício Azêdo,Milton Coelho da Graça e Ricardo Kotscho

Conselheiros efetivos (2004-2007)Antonieta Vieira dos Santos, Arthur da Távola, Cid Benjamin,Flávio Tavares, Fritz Utzeri, Héris Arnt, Irene Cristina Gurgel doAmaral, Ivan Cavalcanti Proença, José Gomes Talarico, JoséRezende, Marceu Vieira, Paulo Jerônimo, Roberto M. Moura,Sérgio Cabral e Teresinha Santos

Conselheiros efetivos (2003-2006)Antonio Roberto da Cunha, Aristélio Travassos de Andrade,Arnaldo César Ricci Jacob, Carlos Alberto Caó Oliveira dosSantos, Domingos João Meirelles, Fichel Davit Chargel, GlóriaSueli Alvarez Campos, João Máximo, Jorge Roberto Martins,Lênin Novaes de Araújo, Moacir Andrade, Nilo Marques Braga,Octávio Costa, Vitor Iorio e Yolanda Stein

Conselheiros suplentes (2005-2008)Anísio Félix dos Santos, Edgard Catoira, Francisco de PaulaFreitas, Geraldo Lopes, Itamar Guerreiro, Jarbas Domingos Vaz,José Amaral Argolo, José Pereira da Silva, Lêda Acquarone,Manolo Epelbaum, Maria do Perpétuo Socorro Vitarelli, Pedrodo Coutto, Sidney Rezende, Sílvio Paixão e Wilson S. J.Magalhães

Conselheiros suplentes (2004-2007)Adalberto Diniz, Aluísio Maranhão, Ancelmo Gois,André Louzeiro, Jesus Chediak, José Silvestre Gorgulho,José Louzeiro, Lílian Nabuco, Luarlindo Ernesto,Marcos de Castro, Mário Augusto Jakobskind,Marlene Custódio, Maurílio Ferreira e Yaci Nunes

Conselheiros suplentes (2003-2006)Antônio Avellar C. Albuquerque, Antônio Calegari, AntônioHenrique Lago, Antonio Roberto Salgado da Cunha, DomingosAugusto G. Xisto da Cunha, Hildeberto Lopes Aleluia, JoséCarlos Rego, Lorimar Macedo Ferreira, Luiz Carlos de Souza,Marco Aurélio B. Guimarães, Marcus Antônio M. de Miranda,Mauro dos Santos Vianna, Pery de Araújo Cotta, RogérioMarques Gomes, Rosângela Soares de Oliveira e RubemMauro Machado

COMISSÃO DE SINDICÂNCIAEly Moreira – Presidente, Jarbas Domingos Vaz, José ErnestoVianna, Maria Ignez Duque Estrada Bastos e Maurílio CândidoFerreira

COMISSÃO DE ÉTICA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃOAlberto Dines, Artur José Poerner, Cícero Sandroni, Ivan AlvesFilho e Paulo Totti

COMISSÃO DE LIBERDADE DE IMPRENSA E DIREITOS HUMANOSArthur Cantalice, Arthur Nery Cabral, Daniel de Castro,Germando Oliveira Gonçalves, Gilberto Magalhães, Lucy MaryCarneiro, Maria Cecília Ribas Carneiro, Mário AugustoJakobskind, Martha Arruda de Paiva, Orpheu Santos Salles,Wilson de Carvalho, Wilson S. J. Magalhães e Yaci Nunes

Dá grande trabalho fazer jornal para os baixinhos 3A imprensa detrás das grades 5Artigo: Não Matarás 6Artigo: Natal e paz ecumênica 6O nº 1 do Esso 7Deputado protesta na Câmara contra sufoco do Poder à ABI 9Adroaldo propõe dotações para atividades culturais da ABI 9As mulheres lideram os Prêmios Esso e Embratel 10Uma vida em DVD: Tancredo 11Artigo: O golpe da legalidade 12“Uma atividade trepidante e vertiginosa” 13Fala Edison Vidigal: A honra é “intabelável” 16Turismo premia quem o promove 17ABI denuncia caso de agressão 18BB retém o que deve a Nequete 18Mário Alves: enfim, uma reparação moral 19Mutirão em defesa de Lúcio Flávio Pinto 19A ABI condena a ressurreição da censura por decisão judicial 20“A TV digital não é uma questão técnica” 20Prefeito de Cataguases persegue jornalista 21Prefeitura de Niterói acusada por jornais 21Em debate a classificação indicativa da TV 22Faz 70 anos a Casa fundada por Érico 23Um retrato da mulher no mundo em 2005 23Sede da ABI visitada por portuguesas e holandeses 24Livros: Um longo olhar sobre a Revolução de 30 25Mãos limpas na Biblioteca 26Apenas sussurros contra a desigualdade social 26Vidas: Alaor, Bahia, Flores, Jacinto, Rogério 27E por falar em Zumbi 28

A entrevista do Presidente do Superior Tribunal de Justiça, Minis-tro Edson Vidigal, que o Jornal da ABI publica nesta edição contem-pla uma questão crucial para o exercício da liberdade de imprensa noPaís, qual seja a leviandade com que têm sido ajuizadas ações de danomoral contra jornalistas e a ligeireza com que estas têm sido decidi-das no Poder Judiciário, especialmente na primeira instância, na qualmagistrados despreparados têm proferido sentenças que constituemverdadeiras aberrações.Com a autoridade do Presidente da principal instância judiciária do

País, abaixo apenas do Supremo Tribunal Federal, ao qual se reserva opapel de suprema corte constitucional, o Ministro Edson Vidigal põe odedo na ferida de abusos que o STJ tem corrigido, ao fixar o entendimen-to de que a indenização por dano moral “não pode ser fator de enriqueci-mento e deve guardar uma proporcionalidade com a suposta calúnia,injúria ou difamação”. Ele repele também a idéia de que seja adequadoinstituir faixas e limites para a fixação de indenização por dano moral,como previsto em projeto de lei em tramitação no Congresso, porqueisto seria tabelar a honra, bem insuscetível de avaliações pecuniárias.Estimativas ainda que carentes de rigor, pela impossibilidade de le-

vantamento de todos os casos de ações por dano moral em curso noPaís, indicam que há algo em torno de mais de 2 mil feitos desse gêne-ro, em que os autores postulam indenizações não apenas com olhogrosso e pidão na possível indenização a ser fixada, mas sobretudocom o objetivo de inibir a liberdade de informação, como quem adverteos jornalistas e os meios de comunicação sobre o risco que correm, emtermos monetários, na busca da verdade e sua divulgação.Esse é o principal dano causado ao Estado Democrático de Direito

por essas ações e pelas sentenças delas derivadas: o de restringir oucondicionar o exercício da liberdade de informação, pela dissemina-ção, nas redações dos jornais e dos meios eletrônicos de comunica-ção, do medo de que a divulgação de determinados textos e ilustra-ções possa gerar ações de conseqüências expropriatórias, como já temocorrido e é lembrado pelo Ministro Edson Vidigal.O Estado Democrático de Direito não permite tais demasias, tantas

agressões à liberdade. É hora de o próprio Poder Judiciário lhes oporum basta.

Uma “indústria” imoral

3Novembro/Dezembro de 2005

Jornal da ABI

Geralmente publicados noformato tablóide e encar-tados nos grandes jornaisnos finais de semana, os ca-

dernos infantis estimulam cada diamais a interação com seu público.Muitas vezes, a participação das crian-ças é tão intensa que elas acabam atésugerindo as matérias de capa – comoé o caso do Globinho, no Rio de Janeiro.

Nem sempre, porém, eles são edi-tados com formato e linha editorialbem definidos. Esta, ao menos, foi aconclusão a que chegou a pesquisa Es-queceram de Mim, realizada em 2002pela Agência de Notícias dos Direitosda Infância (Andi): em quase 35% das

mento e participação dos leitores. Estefoi um dos temas debatidos no primei-ro seminário Suplementos Infantis: Jor-nalismo & Educação, realizado em SãoPaulo, há três anos. Promovido pelaAndi, com apoio do Unicef, o encon-tro reuniu jornalistas de todo o País,que criaram um documento relacio-nando alguns tópicos fundamentaispara o enriquecimento da produçãodedicada ao público infantil.

O documento ressalta que as pau-tas devem abordar temas do cotidia-no, adequando-os ao universo infan-til, pois “um produto jornalístico paracrianças significa traduzir os assuntos,estimulando conversas com os pais,

ESPECIALIZAÇÃO

Dá grande trabalhofazer jornal para

Além da competência técnica, os suplementos infantisexigem especial sensibilidade dos que os produzem.

����� por José Reinaldo Marques

OS BAIXINHOS

Eles são consideradosos “caderninhos”, emcomparação aos cadernosdedicados ao leitor adulto.Mas o fato de serempequenos não os tornamenos trabalhosos que osprodutos das outras editorias nadefinição de pautas,reportagens efechamento. Para

138 edições analisadas, não foi possí-vel identificar o público a que elas sedirigiam.

– Não conheço essa pesquisa, masconcordo em que muitos suplemen-tos para crianças deixam a desejar.Acabam entrando no consumismo, nomodismo puro e simples, sem a res-ponsabilidade didática e pedagógicaque, a meu ver, é primordial em qual-quer veículo destinado à garotada. Porquestões éticas, no entanto, não pos-so entrar em detalhes – diz Jorge San-tos, editor de suplementos do Estadode Minas, entre os quais se inclui ocaderno infantil Gurilândia. Para ele,os departamentos comerciais e de mar-

keting dos jornais ainda subestimam opúblico infanto-juvenil, ao contrário doque acontece na televisão, nas grava-doras e nas editoras de livros.

Marcos Nogueira de Sá, Diretor Co-mercial de O Estado de S. Paulo, que pu-blica o Estadinho, pensa diferente e achaque os jornais investem sim nos suple-mentos infantis, produtos que formamleitores: – Este é também o ponto devista da Associação Nacional dos Jor-nais. O objetivo é desenvolver público,pois o Brasil tem um número de leito-res abaixo da média mundial.

De acordo com as regras do jornalis-mo para crianças, os cadernos devemter informação, educação, entreteni-

“falar” com a criançada,os suplementos

infantis exigem dosjornalistas, além da

habitual competênciatécnica, uma sensibilidade

a mais para atrair econquistar aqueles que

formarão opúblico do jornal

no futuro.

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Jornal da ABI

4 Novembro/Dezembro de 2005

professores e colegas”. Mas é em rela-ção à linguagem que começam a sur-gir os maiores desafios. A dificuldadeestá no fato de não ser possível defi-nir a linguagem e a linha editorial combase em uma generalização de leitormédio, como acontece com os outroscadernos, já que a faixa etária do pú-blico dos suplementos infantis vai doscinco aos 12 anos, quando os interes-ses são muito diferentes.

Ainda segundo o documento, acomplexidade do suplemento infantilé ignorada especialmente pelos demaisjornalistas da redação, que o conside-ram “um trabalho menor e fácil de fa-zer”, não levando em consideração ofato de que crianças são extremamen-te detalhistas e não se satisfazem comqualquer coisa.

– Hoje, no Estado de Minas, colegasde outras editorias colaboram comprazer com o Gurilândia – diz JorgeSantos. – A criança é o nosso leitor deamanhã e o caderno tem a intenção deformá-la, através de jogos, brincadei-ras, humor e estímulo à leitura e às ar-tes, com linguagem simples, objetiva esempre correta. E muitas vezes nossosleitores ajudam a elaborar as pautas.

A redação do Gurilândia recebemuitas cartas e e-mails de crianças,que enviam poemas, desenhos e su-

gestões de matérias. Estudantes tam-bém costumam visitar o Estado deMinas, como parte do projeto “EMvai às aulas”.

Ao contrário do Gurilândia, queconta com o envolvimento dos profis-sionais das outras editorias, o Diarinho,do Diário de Pernambuco, é produzidoapenas pela jornalista Lúcia Guima-

rães, com a ajuda de um estagiário.– Sei que em muitos casos o suple-

mento infantil brasileiro enfrenta pro-blemas de enfoque e conteúdo queacabam confundindo os pequenos lei-tores. Eu procuro enfocar temas maissérios, que possam ser aproveitadosem sala de aula. Temos ainda o progra-ma Leitor do Futuro dos AssociadosPernambuco, que também atua nessafrente nas escolas – diz Lúcia, que con-sidera que fazer suplemento infantilé um permanente aprendizado.

– Sempre me pergunto se estouabordando um assunto para elas oupara pais e mestres, porque isso sem-pre se confunde, merece zelo mesmo.Não subestimamos a inteligência, olado crítico e o poder de observação dascrianças com assuntos sem importân-cia que não irão despertar o seu inte-resse. Prezo muito isso e também te-nho o cuidado de buscar personagensde universos distintos, pobres, ricos, ne-gros, brancos, gordos, magros e porta-dores de necessidades especiais.

Lúcia revela que as crianças parti-cipam ativamente da edição do suple-mento, por meio de cartas, e-mails edesenhos, que são publicados na co-luna “Eu que fiz!”. Matérias sobre as-

suntos como ciências, sexualidade,religião e História geralmente contamcom a consultoria de especialistas paraassegurar a qualidade da informação.

Em Brasília, apenas o Correio Brazi-liense publica suplemento infantil. Éo caderno Super!, editado por Ana Sá.

– Nossa linha editorial – diz AnaSá – tem pretensão didática no trata-mento dos textos e busca informarseus leitores sobre diversos temas li-gados ao mundo infanto-juvenil, des-de a literatura aos achados de áreascomo ciência, esporte, ecologia, TV, ci-nema e teatro, com o objetivo de con-tribuir para a cidadania e a formaçãopessoal e educacional da criança.

A equipe do Super! é pequena, for-mada apenas pela editora e dois esta-giários. Mas Ana conta que, especial-mente na hora da elaboração das pau-tas, vários colegas de redação colabo-ram com o caderno, desenvolvido combase nas orientações de consultoresque participaram da pesquisa da Andi:

– Nosso principal objetivo é formarnovos leitores, estimular o interessepela leitura. Estamos tentando viabi-lizar um conselho editorial mirim, masainda não temos uma pesquisa paraconfirmar a aceitação entre os peque-nos brasilienses. Já tivemos a experi-ência de uma leitora de dez anos que,acompanhada de uma repórter, apu-rou e escreveu uma matéria sobre oDia das Crianças.

Os mais destacados suplementos infanto-juvenis: Estadinho; diarinho, do Diário de Pernambuco; Gurilândia, do Estado de Minas, todos feitos com extremada sensibilidade.

A equipe do Super!, suplemento do Correio Braziliense, editado por Ana Sáe do qual participam jornalistas de outras editorias.

Jorge Santos (de pé), Editor de Gurilândia e colegas de outras editorias:eles sabem que a criança é o leitor de amanhã.

5Novembro/Dezembro de 2005

Jornal da ABI

No Rio de Janeiro, o Globinho, dojornal O Globo, foi lançado em 1938 eé um dos mais antigos suplementosdo jornal e conta com uma equipecompleta: a editora-chefe é AdrianaBarsotti, que trabalha com duas edi-toras-assistentes e dois repórteres, amesma equipe do caderno Megazine.

– No Globinho, texto, imagem e dia-gramação obedecem a um critério es-pecial de edição. As matérias são escri-tas em português simples e com mui-tas explicações, visando a facilitar suacompreensão. Até o corpo das letras eo espaço entre as linhas é maior do queo padrão do jornal.

As crianças participam ativamenteda escolha dos assuntos que irão virarnotícia, por meio de votação semanalno site do jornal:

– São sempre duas opções para elasescolherem qual querem ver na capa –diz Adriana, ressaltando que o Globinhonão tem a intenção de ser pedagógico:

– Decidimos as pautas levando emconta somente o critério jornalístico.É claro que muitas vezes um se cruzacom o outro, como na matéria de capaque publicamos em março sobre o DiaInternacional da Mulher, cuja dataconsta do programa das escolas mu-nicipais.

Antes de assumir o suplemento,Adriana passou pelas editorias de Po-lítica e Nacional e pela revista IstoÉGente. Para ela, fazer jornalismo paracrianças é uma experiência única: – Porum lado, é um desafio enorme, já queestá em nossas mãos tentar formarnovos leitores num momento em quea circulação de jornais entre os jovensestá caindo no mundo todo. Por ou-tro, é muito prazeroso. Queremos in-formar, mas também divertir.

O diarinho do Diário de Pernambucoé editado por Lúcia Guimarães com

muito carinho e pouca gente:apenas um estagiário.

O recém-lançado boletim Protesta!já chegou à sua terceira edição. O pe-riódico foi criado por grupos e organi-zações anarquistas e sua produção éde responsabilidade doColetivo Anarquista Ter-ra Livre, da FederaçãoAnarquista do Rio de Ja-neiro-Farj e do ColetivoLibertário Ativista Volun-tariado de Estudos-Clave.

O primeiro número doProtesta! circulou em for-mato cartilha em agostopassado, com preço de capade R$ 4,00. Segundo o edi-torial, o objetivo da publi-cação é “discutir algumas questões con-temporâneas do universo libertário”.

Os temas principais selecionados

Iniciativas de mídia alternativa vêmsendo desenvolvidas dentro do Siste-ma Penitenciário do Estado do Rio deJaneiro. Uma delas foi a criação de umjornal de título simples e sugestivo: SóIsso!, lançado há um ano e meio poriniciativa de um grupo de internas daPenitenciária Talavera Bruce. Sua in-tenção? Falar de suas angústias e limi-tações e da vida longe da família.

A outra experiência é mais antiga:o jornal Metamorfose circula há noveanos no Hospital de Custódia e Tra-tamento Henrique Roxo, em Niterói.A idéia do veículo foi da psicólogaÂngela Conrado, que é a responsávelpela publicação.

“A semente do Só Isso! foi de muitaimportância e de grande valor. Nósantes nunca tivemos o direito de fa-lar, e com o surgimento deste jornalestamos conquistando um espaço,abrindo portas e com isto entendemosque estamos conquistando respeito,independentemente de estarmos pre-sas”, escreveu num editorial LilaMirtha, que, além de fundadora dojornal do Talavera Bruce, hoje é tam-bém sua editora.

Só isso! circulou pela primeira vezem 24 de julho de 2004, com uma ti-ragem de 500 exemplares — atual-mente sai com 2,5 mil. À frente do em-preendimento estavam a bolivianaLila Mirtha, a alemã Sabrina Hagel,uma finlandesa chamada Lotta e a bra-sileira Marilene Gouvêa Cançanção.

O jornal foi um sucesso entre asinternas e teve repercussão internacio-nal. Isto porque, um mês depois dolançamento, criou o concurso GarotaTB, vencido pela portuguesa ElizabethSardinha. Para sorte das internas, o re-sultado do evento foi mostrado pelainternet e atraiu para o Talavera Brucejornalistas de várias nacionalidades, oque fez com que o Só isso! circulassetambém em todas as unidades do Sis-tema Penitenciário do Rio e de outrosEstados, como Minas Gerais, São Pau-lo e Paraná.

O Só Isso! também é distribuído emvários órgãos públicos, especialmentedo Poder Judiciário, e na BibliotecaMunicipal, onde está registrado. Se-gundo a editora e redatora Lila Mirtha,a redação recebe muitas visitas de es-tudantes de Direito e de Jornalismointeressados em conhecer o projeto.Sua equipe é formada ainda pelas in-ternas Giovana Pereira (digitadora),Ana Paula Medeiros (ilustradora) eLuciane Stefan (colaboradora). Nocaso de uma delas conquistar a liber-dade, outra interna é imediatamente

VEÍCULOS

“Protesta!”,um jornalanarquista

A imprensaA imprensaA imprensaA imprensaA imprensa detrás das detrás das detrás das detrás das detrás das gradesgradesgradesgradesgradesJornais editados porpresidiários, uma formade mitigar a solidão

treinada para ocupar o lugar vago.Quem dá o treinamento às inter-

nas em texto, reportagem, edição ediagramação é jornalista e um dos pa-trocinadores do jornal, mas preferenão ter o nome divulgado.

O Metamorfose faz parte de um pro-jeto de ressocialização de presos queÂngela Conrado vem desenvolvendoatravés da Superintendência e da Co-ordenação de Saúde do sistema prisio-nal fluminense. O veículo é usado co-mo instrumento terapêutico e paraisso mantém um canal de comunica-ção com os internos e ex-presidiários,via correspondência:

— O objetivo é que essas pessoasmantenham suas mentes ocupadascom atividades produtivas que as pre-parem para o retorno ao convívio so-cial e familiar — diz a psicóloga.

O jornal é mensal e circula com 16páginas em preto e branco, no forma-

to A3, e tem cerca de oito colunas fi-xas. Além de Ângela Conrado, a equi-pe do jornal conta com a colaboraçãode uma estagiária de Psicologia e a aju-da dos internos.

As matérias são feitas com base nacorrespondência enviada ao jornal pe-los presidiários e variam de pedidos deconselhos para um tratamento de saú-de e informação sobre as atividadesprofissionais desenvolvidas nas unida-des prisionais a uma coluna, Reivindi-cações, em que a equipe faz pedidos dedoação de equipamentos e materialque possa ser usado em dinâmicas te-rapêuticas com os internos.

O Metamorfose vem sendo elogiadopor autoridades de todo o País, comopromotores de Justiça, defensores pú-blicos e parlamentares. Na edição desetembro, ganhou um cumprimentodo Presidente da República, Luiz Iná-cio Lula da Silva, que manifestou seuincentivo ao jornal por meio do seuGabinete Pessoal.

para a primeira edição foram: “A crisepolítica do País”, uma reflexão sobreanarquismo e organização, e as expe-riências do Colóquio InternacionalLibertário – História do MovimentoOperário Revolucionário, realizado em2004 pela Farj, a editora Imaginário eo Coletivo Anarquista Terra Livre.

O número mais recente do Protesta!,já em formato revista, traz artigos so-bre a posição crítica dos anarquistas emrelação aos processos políticos e eco-nômicos contemporâneos “responsá-

veis pela alienação e a ex-ploração a que somos dia-riamente submetidos”. Ou-tro artigo propõe alterna-tivas para o País a partir deações classificadas como“diretas”, como as ocupa-ções urbanas e a campanhapelo voto nulo.

No expediente do bole-tim, que circula com 25 pá-ginas no Rio e em São Pau-lo, impresso em preto e

branco e papel cuchê, não consta o no-me de um jornalista responsável pelapublicação.

Jornal da ABI

6 Novembro/Dezembro de 2005

O golpe na sociedade que chegoucom a carnificina no ônibus 350 meembrulhou como a onda que nospega de “caixote”, o corpo tenso, nosjoga no fundo, a gente bate na areia,dói, é empurrado para a beira e le-vanta às tontas. Mas foi muito pior.O que bateu no fundo não foi o meucorpo. Foi minha cabeça, foram mi-nhas crenças, valores e sonhos. Du-rante um bom tempo o que ficoufoi medo. Explico.

Foi perceber, de repente, aenormidade que havia por de-trás da morte da criança que malcomeçava a andar. A selvagemcrueldade que reduziu a cinzaspassageiros do ônibus incendiadopor traficantes apresentou um viésde desafio, de embrutecimento edo mais absoluto desprezo pelavida humana. Não me refiro ape-nas às leis, às normas da Carta Mag-na, do Código Civil ou às Tábuas daLei. Refiro-me a um outro código,cujo princípio foi ali quebrado.

A presença do Natal no mundo depredominância cristã, que levou pormotivos de alterações em calendári-os à comemoração do dia de Ano-Novo no oitavo dia a seguir da datanatalina, conduziu crescentemente auma ampliação espiritual de caráterecumênico, que propaga um senti-mento de alegria nos seres humanos.Isso tudo é marcado pela afirmação,nos últimos dois séculos, da idéia daconfraternização universal, que con-solidou os valores de civilização nahumanidade. Confraternização uni-versal é exatamente uma síntese dastendências ao ecumenismo e à buscada paz entre os homens e obviamen-te as nações.

Não podemos perder as conquis-tas desses duzentos anos de marchapara uma solidariedade ecumênica,que evite os fundamentalismos reli-giosos e agressões motivadas por in-teresses econômicos e impulsos bé-licos doentios e destruidores. Com oecumenismo e o respeito recíprocoàs religiões dos outros vinham desa-parecendo muito motivos de confli-tos familiares e de guerras sociais.Grande parte dos cinco continentesse unia no sentimento de paz e decomunicação fraternal, apoiado pelaOnu, pelas religiões pacíficas e porentidades não-governamentais atu-ando também no combate à miséria

Nota –Nota –Nota –Nota –Nota – A edição deste artigo saiu no Jornal da ABI de novembro-dezembro de 2001. Oseu tema se estabilizou e justifica a repetição. A defesa da paz continua a ser feita apesar dalastimável transgressão que ocorreu em 2003, com a invasão do Iraque pelos Estados Uni-dos, com destruições e apropriações e até agora mais de 30.000 mortos iraquenhos e qua-se 2.000 norte-americanos, além de outras vítimas estrangeiras, incluindo funcionários daOnu, dentre eles um diplomata brasileiro, e jornalistas.

A idéia inovadora de publicarmos em nova edição o artigo reafirma a necessidade deapoio à paz ecumênica e destaca o valor do Unicef. Essa entidade tem-se renovado e a de-fesa da infância e adolescência sublinha ainda mais os campos da proteção e da igualdade.Entre os livros publicados por ela recentemente figuram o Excluídos e Invisíveis, na sérieSituação Mundial da Infância/2006. No setor brasileiro publicou-se Educação na Bahia.

Na produção de cartões e outros impressos houve novo salto de gosto nas cores einclusive uma volta específica aos valores da História da Arte, com a edição em cartõesnatalinos de boas reproduções de cinco das iluminuras do século XV francês, feitas para umbreviário de Francisco, Duque de Guise, conservado no Museu de Chantilly, França.

VIOLÊNCIA ����� por Luiza Mariani

Não matarásEste outro código não está regis-

trado nos livros, na Carta Magna, noCódigo Civil ou nas Tábuas da Lei.Sequer está escrito. Corre de boca emboca. Circula nos morros cariocas.Impõe limites à ação de bandidos, dapolícia não sei. Não protege ninguémde balas perdidas. Mas tem um prin-cípio que fundamenta a convivência

da comunidade no morro.Este princípio interliga bandi-

dos e não-bandidos. É um tem-po instituído na realidade dodia-a-dia do morro. Funciona. Érespeitado. Ou seria? O caso doônibus 350 estilhaçou uma basede convivência. Falamos aqui dorespeito às crianças. No morrotodos sabem: em criança nin-guém mexe. Ninguém toca.Não pode, e ponto.

Elas são a melhor proteçãopara quem quiser visitar ummorro. Cercam o visitante

(aquele que é bem-vindo, naturalmen-te). Seguem brincando e cantando. As

����� por Mário Barata

crianças do morro são alegres no mor-ro (porque no asfalto este comporta-mento flutua; os códigos são outros).Depois de um tiroteio elas são capa-zes de fazer um desenho com o céuazul e flores desabrochadas.

A decisão do bandido que mandouincendiar o ônibus 350, mesmo depois

de ouvir os gritos de apelo, “Tem cri-ança aqui”, foi brutal. Incendiou umacriança pequena e queimou junto umprincípio do código de convivênciadas comunidades do morro. Queimoulimites. Abriu as fronteiras para o caosde uma forma que os moradores doasfalto mal puderam se dar conta.

REEDIÇÃO

Natal e paz ecumênica

e à doença que afetam muitos paí-ses. Não se pode esquecer que o júrido Prêmio Nobel da Paz de 2001 oconcedeu, dividido em duas partes,à Onu e o seu Secretário-Geral. OUnicef é um setor da Onu e ele cedopercebeu os valores ecumênicos dacelebração conjunta do Natal cristãocom o seu Ano-Novo. Sendo a cele-bração aludida um ato generoso detransmissão de alegria e de paz en-tre os homens, ela caminhava aospoucos para adotar no plano geralcertas cerimônias simbólico-repre-sentativas em cada área de civiliza-ção para comprovar, na devida pro-porção, o seu respeito pelo surgimen-to de cada grupo religioso básico.

Um fato estatístico e impressio-nante neste terreno. Em 2001 o gru-po de cartões vendidos no Rio de Ja-neiro pelo Unicef com a Pomba daPaz foi o mais comprado e o primei-ro a se esgotar em edição inicial. Issoé de certa maneira um protesto con-tra as guerras de qualquer tipo.

No caso do Unicef não são somen-

te as saudações que traduzem um au-mento de civilização e de alegriacorrelata. Ele e a Onu em geral com-preenderam que a miséria e a fomedevem ser erradicadas do planeta.Primordialmente o auxílio à infânciadesamparada constitui o ponto departida para uma nova humanidade,realmente ecumênica e em paz. Des-taque-se aqui que o Unicef publicouem Brasília, recentemente os livros

Situação Mundial da Infância 2001:Desenvolvimento Infantil e SituaçãoMundial da Infância 2002: Lideran-ça, com artigos e estatísticas relati-vos a diferentes países dos cincocontinentes e com fotografias quedesta vez ilustram a beleza e o pro-gresso das crianças, que às vezes sãoo alvo das situações destruidorasque empanam o surto civilizatórioinclusive do mundo ocidental. Re-lembre-se ainda, em um pormenor,que os cartões de saudação natalinae de Ano-Novo vendidos pelo Unicefdão um lucro em dinheiro aplicadoem soluções graduais de problemas.A ABI e os jornalistas se solidarizamcom essas buscas de melhoria paraa humanidade.

Não podemos perder as conquistasdesses duzentos anos de marcha parauma solidariedade ecumênica, queevite os fundamentalismos religiosos.

A brutalidade que marcou o episódio do ônibus 350, em novembro, quebrou um código não-escrito das comunidades populares: em criança não se mexe, ninguém toca.

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7Novembro/Dezembro de 2005

Jornal da ABI

Jornal da ABI — Conte a história dasua primeira publicação.Mário de Moraes – Mário de Moraes – Mário de Moraes – Mário de Moraes – Mário de Moraes – Criei uma revistahumorística chamada O Coringa,mas só durou cinco números, por-que não tinha propaganda. Então,em 1950, fui para O Cruzeiro edeslanchei na carreira, porque a re-vista era, na época, o maior veículode comunicação brasileiro. Para seter uma idéia, na morte de GetúlioVargas, chegou a vender quase 800mil exemplares, quando no Rio deJaneiro havia 2 milhões de habitan-tes. Hoje, comparativamente, nema Veja alcança essa tiragem.

O que o senhor fazia?MárioMárioMárioMárioMário – – – – – De tudo! Era uma espécie derepórter da Geral, se aquilo fosse umjornal. Fiz também muito Esporte,porque adoro futebol. Cobri todas asCopas de 50 a 66 e as Olimpíadas deTóquio, em 1964. Mas minhasgrandes matérias foram interna-cionais. Fui o único repórter domundo a entrevistar o JacquesMonard, assassino de Trotsky.

Como aconteceu?Mário – Mário – Mário – Mário – Mário – Tinha ido ao México,onde ele estava preso, paracobrir o Campeonato Pan-Americano de Futebol e, nu-ma série de malandragens,consegui penetrar no presídio.Fomos apresentados sem queo Jacques Monard soubesseque eu era repórter, pois eleera violentíssimo e costuma-va agredir os jornalistas.Consegui cativar sua simpa-

tia — porque sabemos que para umaentrevista a simpatia é importantís-sima. Ele me falou muita coisa e, aofinal, eu revelei que era repórter.

Qual a reação dele?Mário – Mário – Mário – Mário – Mário – Ficou bravo, mas eu contor-nei a situação e disse que precisavade uma fotografia, porque, senão,como comprovaria que havia estadocom Jacques Monard? Ele deixou edisse que havia matado o Trotskyporque havia se desiludido com ocomunismo que pregava, mas todomundo sabe que não foi nada disso.Stálin foi o mandante do crime.

O senhor também conseguiu umaentrevista com Luís Carlos Prestes,quando toda a imprensa e a Políciao caçavam.Mário – Mário – Mário – Mário – Mário – Eu o entrevistei aqui no Rio.Ele estava desaparecido há muitos

máquinas: uma Rolleyflex 120 e uma35mm que não era Leika ainda. Fi-quei escondido atrás de uma das co-lunas, abri a lente ao máximo e as fo-tos ficaram ótimas. Eu sabia que aque-le encontro aconteceria. Ele ficoumuito emocionado ao encontrar a fi-lha. Depois me telefonaram, dizendoque eu os havia enganado. Mas eu nãopodia perder aquele momento.

Houve algum problema?Mário – Mário – Mário – Mário – Mário – Não, nenhum. Mas aviseique na manhã seguinte retornaria àcasa. Eles duvidaram, mas peguei ocarro de O Cruzeiro, orientei o mo-torista e chegamos lá.

O senhor também foi corresponden-te de guerra.Mário – Mário – Mário – Mário – Mário – Cobri a guerra de Angola nalinha de frente, vendo gente morrerao meu lado. Pouca gente sabe que arevista O Cruzeiro tinha duas edições,uma em português e uma em espa-nhol, para toda a América Latina —e que, na minha opinião, era a me-lhor. Consegui me encaixar comorepórter dessa edição espanhola. Ochefe de reportagem tinha me man-dado para a América Central paraproduzir uma série de matérias. Eleme dava uma semana para ficar emcada país e enviar, no mínimo, trêsboas histórias de cada um. Quandoestava na Costa Rica, recebi um te-legrama do O Cruzeiro, com três pa-lavras: “Siga Angola, Amádio” — esteera o nome do chefe de Redação, JoséAmádio Eu nem sabia de guerra, nemnada. Fui à Embaixada do Brasil naCosta Rica e me informaram que es-

DEPOIMENTO ����� por Rodrigo Caixeta

Mário de Moraes ganhou o primeiro Prêmio Esso de Reportagem, em 1955.Cinqüenta e um anos depois, continua na ativa.

Ele tem muito a contar, Carioca de Vila

Isabel, nascido em 15 de julho de 1925,

Mário de MoraesMário de MoraesMário de MoraesMário de MoraesMário de Moraes contabiliza vários

grandes feitos em sua carreira de repórter

e fotógrafo, entre eles a única entrevista

concedida pelo assassino de Trotsky e o

único close de Getúlio Vargas morto.

Cobriu diversas Copas do Mundo,

trabalhou em veículos importantes,

escreveu dez livros — o primeiro foi uma

coletânea, Luz de vela — e até hoje atua

como freelancer — escrevendo para vários

jornais, como o Terceiro Tempo, do Rio, e

alguns outros espalhados pelo País —,

depois de ganhar o primeiro Prêmio Esso

de Reportagem concedido no Brasil, em

1955, e receber outro mais tarde, pela

criação da Revista de Comunicação.

anos. Dizia-se até que tinha morrido.A filha dele veio de Moscou para oBrasil, mas não disse que era para en-contrar o pai e sim para conhecer oPaís. Consegui cativá-la e a AnitaLeocádia disse que me daria uma en-trevista exclusiva, mas eu deveria irescondido até onde ela estava. Entãome telefonaram, desci da minha casa,no Engenho Novo, vendaram meusolhos e me botaram no banco trasei-ro de um carro. Mas bobearam e con-segui olhar para cima e reconheceras palmeiras do Jardim Botânico. Co-mecei a contá-las. Quando deu umnúmero “x”, o carro dobrou à direi-ta. Comecei a contar de novo. Subi-mos numa garagem e chegamos àcasa. Ficamos esperando a chegadade Prestes e eu disse à Anita que sóqueria fotografá-lo depois que ele aencontrasse e autorizasse — quan-do, na verdade, não podia esperar

isso. Era uma sala imen-sa, cheia de co-lunas gregas, eeu tinha duas

O Cruzeiro de22 de outubrode 1955 publicoua históricareportagem deMário e Ubiratande Lemos:Uma tragédiabrasileira, primeiroPrêmio Esso.

ROD

RIG

O C

AIXETA

Jornal da ABI

8 Novembro/Dezembro de 2005

tava havendo uma guerra violenta noNorte de Angola. Mandei um tele-grama de volta ao Brasil, pedindo queenviassem dólares para o Hotel Pre-sidente, em Portugal, onde costuma-va me hospedar. A revista naquelaépoca tinha um dinheirão. Nós ga-nhávamos três vezes mais que qual-quer repórter de jornal. No entanto,quando o dinheiro chegou, o Gover-no português havia proibido os jor-nalistas de irem para Angola, em fun-ção do assassinato de um repórterfrancês por terroristas que teve gran-de repercussão.

E no que deu?Mário – Mário – Mário – Mário – Mário – Fui lá, enchi a paciência doMinistro das Relações Exteriores e eleacabou me despachando para a capi-tal de Angola, que me surpreendeupor ser uma cidade bonita demais —e também porque em Luanda nãoacontecia nada, o conflito era todo noNorte. Aí surgiu outro problema: ne-nhum repórter podia ir para a guerra.Fui preso, depois me vigiavam o tem-po todo, até que eu soube que esta-vam chegando aviões trazendo os fe-ridos e fui para o aeroporto,alegando que ia fotografá-los. Quando um avião che-gou e o piloto foi ao bar to-mar uma cerveja, me apre-sentei como um repórterbrasileiro que deveria cobriro combate. Ele insistiu quenão podia me levar e eu per-guntei se a porta do avião es-tava aberta. Ele confirmou eperguntei: “E se eu entrar?”.Ele disse que não saberia denada, o problema seria meu.Então entrei e voamos atéum campo improvisado. Par-ticipei de vários combates equase morri. Os angolanostinham uma arma chamadacanhangulo, feita à mão, quedava um só tiro. Os soldados se posi-cionavam em cima das árvores e de láatiravam contra os portugueses, masos que vinham logo atrás os derruba-vam com uma rajada de metralhado-ra. Foi uma matéria difícil.

Houve alguma outra matéria arris-cada assim?Mário – Mário – Mário – Mário – Mário – Corri risco de vida em “San-gue no Paraná”, quando o então go-vernador daquele Estado, MoisésLupion, depois de dividir em lotesuma área imensa em Capanema evender, resolveu tomar tudo de vol-ta e mandou seus capangas, matado-res profissionais, expulsarem os cam-poneses que já haviam preparado aterra. Fiz uma matéria genial, mas foiuma carnificina.

O que o senhor considera essencialpara que o repórter saiba identifi-car o que é notícia?Mário – Mário – Mário – Mário – Mário – Eu tenho uma definição pró-pria: é pelo cheiro, pelo tato e pelos

olhos que você imagina o que a his-tória pode dar. Sempre tive muitasorte para pegar notícias boas. Comoquando o Trujillo foi assassinado eeu estava no Panamá. Consegui umaentrevista com o filho do ditador, di-zendo que era para elogiá-lo. Mas euprecisava de uma foto do assassino,de quem sabia o nome, e todas havi-am sido recolhidas pelos militares.

Na véspera de voltar, encontrei umlivro sobre a República Dominicanaem que havia uma foto de uma para-da militar. Pois lá estava num palan-que o tal general que havia sido man-dante do assassinato. Arranquei apágina e guardei no meio das minhasroupas. Foi um furo de reportagem.

Fale sobre o seu Prêmio Esso de Re-portagem, o primeiro concedido noBrasil.Mário – Mário – Mário – Mário – Mário – O Ubiratan de Lemos era umrepórter espetacular com quem euainda não tinha trabalhado. Bolei amatéria “Os paus-de-arara constróemo Rio”, numa época de um desenvol-vimento imobiliário monstruoso nacidade em que quase 100% do pesso-al que trabalhava nas construções eranordestino. Combinamos que eu fo-tografaria e ele escreveria. Quandoum dos trabalhadores me disse queminhas fotos não iam mostrar nadaperto do que era a viagem num pau-de-arara, apresentamos a idéia no

O Cruzeiro. Saímos daqui disfarça-dos, num caminhão, e, após 11 diasde uma viagem em que vimos mui-tos desastres e tragédias, chegamosa Campina Grande, onde o Ubiratanencontrou um locutor que era seuamigo. O bestalhão contou para ele oque estávamos fazendo e o cara anun-ciou na rádio a nossa presença. Re-sultado: os agenciadores de pau-de-arara contrataram matadores paraacabar com a gente, antes que denun-ciássemos aquele comércio. Tivemosque fugir para Salgueiro, em Pernam-buco, acompanhando um caixeiro-viajante. Para completar, peguei tifona viagem. O Ubiratan inscreveunossa reportagem no Prêmio Essosem eu saber de nada. Foi um júri fa-buloso, que tinha, entre outros, Her-bert Moses, Antônio Callado e OttoLara Resende. Concorreram 200 ma-térias e fomos os vencedores. Estavano barbeiro, em Vila Isabel, quandopeguei O Jornal e vi na primeira pági-na que dois repórteres do Cruzeiro ti-nham ganhado o Prêmio Esso. Quan-do vi nossos nomes, desmaiei. Fui le-vado para casa, onde já estavam oUbiratan e uma equipe da revista. Foiuma grande festa.

O segundo Prêmio Esso veio quando?MárioMárioMárioMárioMário – – – – – Em 1986, quando criei a Re-vista de Comunicação, voltada para osalunos dessa área, com o AlfredoBelmont Pessôa. Ganhamos o prêmiode Melhor Contribuição à Imprensa.

Mas a revista, mesmo premiada, pa-rou de circular.Mário – Mário – Mário – Mário – Mário – Por estupidez. Era uma re-vista que tinha um prestígio muitogrande, mas o patrocinador não quismais bancar. Os maiores e melhoresjornalistas escreveram para ela e,quando completou 15 anos, não ti-vemos mais patrocínio.

O senhor também teve passagenspela TV e rádio. Quais foram seusmaiores trabalhos nesses veículos?Mário – Mário – Mário – Mário – Mário – Fui assistente do MaurícioShermann, chefe de núcleo da RedeGlobo, mas trabalhei mais tempo naTV Tupi, como produtor de progra-

mas, estando nas revistas O Cruzeiroe A Cigarra ao mesmo tempo. Eu mevirava de todo jeito. Fui chefe de re-portagem da TV Sílvio Santos aquino Rio, trabalhei na Record, escrevihistórias teatralizadas para o “Fan-tástico” e para o programa policial“45ª DP”, da Rádio Tupi...

Os salários não eram suficientes pa-ra o seu sustento ou o senhor eraum workaholic?Mário – Mário – Mário – Mário – Mário – Até hoje eu sou pé-de-boi,nunca perdi uma reportagem. O Cru-zeiro fazia todos os anos um rankingdas reportagens produzidas por cadajornalista e eu só perdi uma únicavez, para o Ubiratan de Lemos. Namorte do Getúlio Vargas, fui o únicorepórter-fotográfico a fazer uma fotodele morto, que O Cruzeiro deu emuma página inteira.

O senhor também já publicou vá-rios livros, o primeiro em 1965.Mário – Mário – Mário – Mário – Mário – Pois é, Luz de vela. Hoje eu mearrependo do título, mas a idéia veiode um artigo que o David Nasser es-creveu para O Cruzeiro — “O cartazde um repórter dura apenas enquantoa cera não se acaba” — justamente naépoca em que eu estava morrendo detifo. No prefácio do livro, que dediqueia todos os repórteres do mundo, trans-crevi: “Nada mais fugaz nem tão leveque o interesse de um leitor de notí-cias. Um rápido passar de olhos sobreo título e, às vezes, a graça de uma lei-tura apressada do tempo no texto com-pensa muitas, muitas, muitas vezes,dias, semanas, meses de esforços, ris-cos e ansiedade, toda a vigília de umrepórter. Este é o seu prêmio. Um co-mentário, uma frase de elogio, o tele-fonema de um amigo. Na manhã se-guinte ele troca Perón por um mestrede gafieira, e vai gastando a sua alma,as suas emoções, a sua sensibilidade, oseu fígado, a sua alegria. Vai se desi-dratando, vai secando o seu espírito,vai depenando a imaginação, vai cor-tando as asas de veludo de sua fanta-sia, para ser apenas um relator de fa-tos, um contador de histórias queacontecem. O repórter é um anatomis-ta. A notícia é o cadáver.”

Mário diante daTower Bridge, sobre

o Rio Tâmisa, emLondres: ele passou

a fotografar parapoder viajar.

Acabou viajandopelo mundo inteiro.

Mário (à esq.) entrevista Jacques Monard (sentado), omatador de Trotsky: foi um furo mundial.

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9Novembro/Dezembro de 2005

Jornal da ABI

Como o senhor vê o jornalismohoje?Mário – Mário – Mário – Mário – Mário – Todo mundo diz que estámuito bom, mas não concordo. Achoque há pouca pesquisa e está-se fa-zendo um jornalismo apressado — enão é culpa do repórter. Hoje voupouco às redações; quando vou, vejotodo mundo isolado no computador,não há mais aquele coleguismo. Fi-quei amigo de todos os meus repór-teres, alguns fabulosos, como umagarotada de esquerda do jornal O Sol,que o Governo mandou fechar. Con-tratei todos eles e deram um showno O Cruzeiro. Saíamos todos juntose isso muitas vezes ajudava na pro-dução de outras reportagens, porquediscutíamos idéias. Além disso, o re-dator-chefe — ou o chefe de reporta-gem — conversava muito com o re-pórter. Hoje não se conversa maisnada e o repórter tem pouco tempode fazer uma boa reportagem porcausa do fechamento. O Globo dedomingo sai aos sábados. O foca che-ga à Redação e bate o texto de qual-quer jeito — é só observar o númerode desmentidos nos jornais. Vejomuitos erros também na televisão.Não se está apurando os fatos direi-to, por pura falta de tempo.

Mas o senhor acha que os repórte-res saem bem-preparados das uni-versidades?Mário – Mário – Mário – Mário – Mário – Também há falhas na for-mação. Conheço professores de Jor-nalismo que nunca foram bons pro-fissionais; alguns são até semi-anal-fabetos. Já fui convidado para daraulas, mas não aceitei, porque nãome considerava capaz. Quando façopalestras, eu bato um papo, pois nãome julgo um palestrante. Depois abropara perguntas, porque assim é umaforma de eles me testarem. Mas, emgeral, as perguntas são fracas.

O senhor disse que O Cruzeiro ti-nha uma tiragem proporcionalmen-te maior que a Veja hoje. A que atri-bui isso?Mário – Mário – Mário – Mário – Mário – Nós dizíamos que, devido aonúmero de analfabetos que havia noPaís, muita gente só devia estar ven-do as fotografias. Com aquela garo-tada de O Sol, elevei a tiragem do OCruzeiro de 300 mil para 500 mil.

Desde o início o senhor se dedicouao texto e à fotografia?Mário – Mário – Mário – Mário – Mário – Passei a fotografar pelo de-sejo de viajar; queria ir para a Euro-pa, os Estados Unidos... Em 54, pro-curei o José Amádio e ele me disseque, se eu aprendesse a fotografar,não só viajaria mais como a revistaeconomizaria, porque eu faria asduas coisas. Ele cumpriu a palavra:viajei praticamente o mundo todo.Na maior parte das minhas matéri-as, escrevi e fotografei. Parei de foto-grafar nem sei por quê, pois conti-nuo gostando dessa atividade.

Em pronunciamento na CâmaraFederal em 9 de novembro, o Deputa-do Vanderlei Assis (PP-SP) protestoucontra o cancelamento do registro deentidade beneficente de assistênciasocial da ABI, que fez a Casa perder aisenção da contribuição previdenciá-ria patronal e lhe impõe uma dívidaequivalente a R$ 2,5 milhões.

O Deputado lembrou que o títulode utilidade pública da ABI foi conce-dido por decreto do Congresso Nacio-nal, sancionado em 1917 pelo entãoPresidente da República VenceslauBrás, e que “desde aquela época vinhasendo reconhecido por todos os go-vernos, inclusive os da ditadura mili-tar, até o recente e equivocado cance-lamento”.

Vanderlei Assis disse ainda que “nãoé possível aceitar a pura e simples su-pressão desse direito quase centenário,sob pena de se estar inviabilizando ofuncionamento de uma das institui-ções mais importantes do País”.

A seguir, a íntegra do discurso doDeputado:

“Ocupo esta tribuna para protes-tar contra o cancelamento do regis-tro de entidade beneficente de assis-tência social a que a Associação Bra-sileira de Imprensa fazia jus há cercade nove décadas.

Sem esse registro, já cancelado hácinco anos, a ABI perdeu a isenção dopagamento da contribuição previden-ciária patronal e, por isso, acumulavano início deste ano, em tese, um débi-to equivalente a R$ 2,5 milhões. Digo‘em tese’, pois acredito que toda essasituação deva ser revista.

Quando, em um gesto de solidarie-dade, visitei a Associação, fui informa-

A ABI enviou ofício ao DeputadoAdroaldo Peixoto Garani (PMDB), mem-bro da Assembléia Legislativa do Esta-do do Rio, em agradecimento à sua ini-ciativa de apresentar cinco emendas aoprojeto de lei orçamentária estadual, emapoio a importantes projetos culturaisda Casa. Na mensagem, a ABI destacaa iniciativa do deputado, ressaltando:— Ele foi o parlamentar que mais am-pla acolhida deu à nossa solicitação dedestinação de recursos em apoio às ati-vidades da Casa do Jornalista.

Nas justificativas de suas emendas,que totalizam R$ 990 mil, o Deputa-

REAÇÃO

Deputado protesta na Câmaracontra sufoco do Poder à ABI

Até a ditadura militar reconhecia o direito da Casa,agora cassado, diz o Deputado Vanderlei Assis.

do pelo seu atual Presidente, MaurícioAzêdo, que o título de utilidade públi-ca havia sido concedido por decreto doCongresso Nacional, sancionado peloentão Presidente da República, Vences-lau Brás, em 1917. E, desde aquela épo-ca, vinha sendo reconhecido por todosos governos, inclusive os do períododa ditadura militar, até o recente eequivocado cancelamento.

Não é possível aceitar, portanto, apura e simples supressão desse direi-to quase centenário, sob pena de seestar inviabilizando o funcionamen-to de uma das instituições mais im-portantes do País, responsável por tra-balho inigualável em prol da liberda-de de imprensa e da democracia.

Nem é possível aceitar, pelas mes-mas razões, que a ABI continue sen-do alvo de pressões e constrangimen-tos, provocados pelo Conselho Nacio-nal de Assistência Social e pelo Insti-

tuto Nacional do Seguro So-cial, com a finalidade de for-çar o pagamento do supostodébito. Se não houver provi-dências tempestivas, tal débi-to, embora presumido, podeservir de pretexto para o INSSrequerer a penhora do princi-pal patrimônio da Associação:o Edifício Herbert Moses,construído pelo esforço dequatro gerações de jornalistas.

Apelo, então, ao Ministrodo Desenvolvimento Social eCombate à Fome, Patrus Ana-nias, para que interceda jun-to ao Conselho Nacional deAssistência Social, com vistaa rever esse cancelamento doregistro e do correspondente

certificado de entidade beneficentede assistência social, conseqüente-mente permitindo à ABI desfrutar daisenção de contribuição previden-ciária patronal de que sempre foi me-recedora.

Trata-se de fazer justiça ao papel defundamental relevância desempenha-do por essa Associação na história bra-sileira, desde sua criação em 1908.

Ainda nesse contexto, aproveitopara informar que encaminhei reque-rimento de Indicação ao Poder Exe-cutivo, sugerindo ao Ministério doPlanejamento, por meio da Secreta-ria de Patrimônio da União, ceder umterreno onde a Associação Brasileirade Imprensa possa construir sua sedede Brasília e, assim, exercer presençamais efetiva na capital da República.

Tenho certeza de que, atendidosesses meus pleitos, a democracia noBrasil será a grande beneficiária.”

Adroaldo Garani propõe dotaçõespara atividades culturais da ABI

Adroaldo Peixoto Garani defende ain-da que se liberem recursos para que aABI recupere o acervo documental empapel, iconográfico e sonoro do Centrode Memória do Jornalismo. Por fim, oDeputado propõe dotação orçamentá-ria para que a ABI reforme o AuditórioOscar Guanabarino, que foi “cenário dememoráveis campanhas cívicas” e paraa recuperação física e modernização doedificio-sede da instituição, que é tom-bado pelo Instituto do Patrimônio His-tórico e Artístico Nacional-Iphan comomarco da arquitetura contemporâneabrasileira.

do Adrolado Garani faz questão de ci-tar a representatividade da ABI e apóiaa destinação de recursos para que a en-tidade possa recuperar seus equipa-mentos de projeção cinematográfica e,assim, retomar as atividades do Cine-clube Macunaíma, através do qual “aABI ofereceu, nos anos 70 e 80, rele-vante contribuição à formação de pú-blico para o cinema brasileiro”.

Nas emendas seguintes, o parlamen-tar pede apoio para as comemoraçõesdo centenário da ABI, em 2008, e paraeventos de celebração do bicentenáriode criação da imprensa brasileira.

É inaceitável a cassação de um direito quase centenárioda ABI – disse o Deputado Vanderlei Assis em discurso

proferido na Câmara Federal.

ORÇAMENTO

ANA PAU

LA AGU

IAR

Jornal da ABI

10 Novembro/Dezembro de 2005

A partir de entrevista que fez com oentão Deputado Roberto Jefferson, querevelou um esquema de compra de vo-tos na Câmara Fe-deral para garantira aprovação deprojetos do Go-verno, a jornalistaRenata Lo Prete(foto ao lado) aci-onou o detona-dor de uma criseque se estende atéagora.

A entrevista de-flagrou uma sériede investigaçõesque provocaram o afastamento de mi-nistros e de pessoas de influência noGoverno do Presidente Luiz Inácio Lulada Silva, resultando na cassação do De-putado José Dirceu, seu ex-Chefe daCasa Civil. Os demais vencedores doPrêmio Esso de 2005, que receberamseus prêmios no dia 13 de dezembro, es-tão no quadro ao lado.

CATEGORIA AUTOR TÍTULO DA OBRA VEÍCULO PREMIAÇÃO

PRÊMIO ESSO ESPECIAL Paulo Marqueiro VIDA SEVERINA O GLOBO Diploma50 ANOS e Selma Schmidt

PRÊMIO ESSO ESPECIAL Leandro Cipoloni, Antonio IMBROGLIONE - REDE RECORD R$ 20.000,00DE TELEJORNALISMO Chastinet, Steve Ribeiro, Luiz O CIDADÃO FANTASMA + Diploma

Mendes e Paulo Nicolau

PRÊMIO ESSO Fábio Gusmão JANELA INDISCRETA EXTRA R$ 10.000,00DE REPORTAGEM + Diploma

PRÊMIO ESSO Evandro Monteiro GUERRA NO CENTRO DIÁRIO DO R$ 10.000,00DE FOTOGRAFIA COMÉRCIO (SP) + Diploma

PRÊMIO ESSO DE Bernardino Furtado A VERDADE SOBRE A ESTADO DE MINAS R$ 5.000,00INFORMAÇÃO ECONÔMICA TRANSPOSIÇÃO DO SÃO FRANCISCO + Diploma

PRÊMIO ESSO DE Paulo Marqueiro e NATUREZA À DERIVA O GLOBO R$ 5.000,00INFORMAÇÃO CIENTÍFICA, Tulio Brandão + DiplomaTECNOLÓGICA E ECOLÓGICA

PRÊMIO ESSO ESPECIAL João Bosco A. de Almeida, MAIS QUATRO ANOS... CORREIO BRAZILIENSE R$ 5.000,00DE PRIMEIRA PÁGINA Carlos Marcelo, Cristine Gentil, + Diploma

Alexandre Botão e Luis Tajes

PRÊMIO ESSO DE CRIAÇÃO Andrea Araújo e Gil Dicelli AMÉM - KAROL WOJTYLA O POVO (Fortaleza) R$ 5.000,00GRÁFICA - CATEGORIA JORNAL + Diploma

PRÊMIO ESSO DE CRIAÇÃO Paola Giavina-Bianchi DESCRIMINE JÁ TPM R$ 5.000,00GRÁFICA - CATEGORIA REVISTA e Sérgio Cury + Diploma

PRÊMIO ESSO Roberto Alexandre A ROTA DAS MULAS FOLHA DA REGIÃO R$ 5.000,00ESPECIAL INTERIOR e Valdivo Pereira (Araçatuba-SP) + Diploma

PRÊMIO ESSO Jaqueline Almeida ESCRAVAS NO SURINAME O LIBERAL (Belém) R$ 3.000,00REGIONAL NORTE + Diploma

PRÊMIO ESSO Cláudio Ribeiro, Demitri Túlio, ASSALTO AO BANCO CENTRAL O POVO (Fortaleza) R$ 3.000,00REGIONAL NORDESTE Luiz Henrique Campos, + Diploma

Flávio Pinto e Equipe

PRÊMIO ESSO Lucas Figueiredo e Equipe OURO DE MINAS - ESTADO DE MINAS R$ 3.000,00REGIONAL CENTRO-OESTE 300 ANOS DE HISTÓRIA + Diploma

PRÊMIO ESSO Pedro Landim, Fábio Varsano, CHACINA O DIA R$ 3.000,00REGIONAL SUDESTE Sérgio Ramalho, Aluizio Freire + Diploma

e Equipe

PRÊMIO ESSO REGIONAL SUL Renato Bertuol Barros, PAIXÃO PELO FUTEBOL ZERO HORA R$ 3.000,00Júlio Cordeiro e Equipe + Diploma

PRÊMIO ESSO DE MELHOR Alberto Luchetti A Comissão de Seleção do Prêmio de ALL TV DiplomaCONTRIBUIÇÃO AO Telejornalismo distingüiu “o ineditismoTELEJORNALISMO do modelo de jornalismo eletrônico da

All TV”, com a participação efetiva doespectador “como co-gestor e parceiroda produção editorial.”

As mulheres lideramForam elas as vencedoras

das principais categorias

dos mais destacados

prêmios de jornalismo do

País, o Esso, atribuído a

Renata Lo Prete, da

Folha, e o Embratel,

conquistado por Délis

Ortiz e três colegas da

Rede Globo de Televisão

PRÊMIOS

O trabalho deRenata Lo Prete,detonador da crise

COMISSÃO DE PREMIAÇÃO (JORNALISMO)Carlos Lemos, José Márcio Mendonça, Luís Nassif, Maurício Azedo, Muniz Sodré

COMISSÃO DE SELEÇÃO (JORNALISMO)Alexandre Freeland (O Dia), Ana Dubeux (Correio Braziliense) Arlen Medina Néri (O Povo - CE), AscânioSeleme (O Globo), Baptista Chagas Almeida (Estado de Minas), Cristiano Romero (Valor Econômico),Décio Navarro (Editora Abril), Flávio Rodrigues (Photosynthesis), Francisco Camargo (Gazeta do Povo),Ildefonso Rodrigues (Diário do Nordeste), Ivanildo Sampaio (Jornal do Commercio - PE), Jorge Okubaro(Jornal da Tarde), José Eduardo Gonçalves (Gazeta Mercantil), José Márcio Mendonça (Rádio Eldorado),Luiz André Alzer (Extra), Marcelo Rech (Zero Hora), Marco Damiani (IstoÉ Dinheiro), Mário Marinho (RádioEldorado), Ricardo Melo (A Crítica), Rodrigo Almeida (Jornal do Brasil), Rogério Reis (Agência Tyba), VeraOgando (Diário de Pernambuco), Vitor Hugo Soares (A Tarde), Tales Faria (IstoÉ), Walmir Botelho d’Oliveira(O Liberal)

INTEGRANTES DAS COMISSÕES DE SELEÇÃO E PREMIAÇÃO (TELEJORNALISMO)Ana Maria Costabile, Gilnei Rampazzo, José Márcio Mendonça, Leila Reis, Mary-Andy Seixas, RicardoAlvarez, Ricardo Carvalho

COMISSÃO DE PREMIAÇÃO (FOTOGRAFIA)Alberto Jacob Filho (Arfoc-RJ), Alcides Freire Melo (O Povo - Fortaleza), Alcyr Cavalcanti (Paparazzi-Rio),Alexandre Sassaki (O Globo), Álvaro Duarte (Estado de Minas), Amilton Vieira (Sindicato dos Jornalistas-SP), Beatriz Bissio (Cadernos do III Mundo), Bio Barreira (IstoÉ Dinheiro), Carlo Cirenza (Paparazzi-SP),Carlos Dreher (Revista Fhox), Carlos Moraes (O Dia - vencedor do PEF 2004), David de Barros (Diário deS. Paulo), Eduardo Ribeiro (Jornalistas & CIA.), Eduardo Soares Queiroz (Diário do Nordeste), ElizabethSlamek (Trip), Eurico Dantas (Extra), Fernando Lemos (Caras), Flávio Rodrigues (Photosyntesis), FranciscoGuedes (A Gazeta - Vitória), Hélio Campos Melo (IstoÉ), Jair Motta (Jornal dos Sports), João Bittar (Época),João Luiz de Albuquerque, João Primo (IstoÉ), Leonel Kaz (Alumbramento), Luiz Morier (Jornaldo Brasil -Vencedor dos PEF de 1983 e 1993), Luiz Tajes (Correio Braziliense), Marcelo Prates (Hoje em Dia), MarcoTerranova (Vencedor do PEF 1999), Mário de Moraes (Vencedor do PEJ 1956), Masao Goto (Diário doComércio), Mônica Maia (Agência Estado), Nacif Elias (Sindicato dos Jornalistas-RJ), Noris Martinelli(Cláudia), Olga Vlahou (Carta Capital), Oriana Panicali (O Tempo), Paulo Marcos de Mendonça Lima(Lance!), Paulo Rodrigues (UERJ), Ricardo Chaves (Zero Hora), Rodrigo Torres Costa (Fotographos),Rogério Reis (Agência Tyba), Rubens Chiri (Arfoc-SP), Sérgio Branco (Fotografe Melhor), Silas Botelho Filho(Valor Econômico), Silvio Cioffi (Folha de S. Paulo), Tão Gomes Pinto, Wânia Corredo (Extra - VencedoraPEF 2002), Wilson Pedrosa (O Estado de S.Paulo), Zevi Ghivelder, Flávio Grieger (Agora São Paulo) -Absteve-se

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AÇÃO

ESSO

Nos 50 anos do Prêmio Esso, JoséHamilton Ribeiro (acima) agradece ahomenagem especial pelos 50 anos

de carreira. A placa que recebeu,alusiva às duas datas, destaca seu

“exemplo de dignidade, dedicação etalento no exercício da profissão”. Á

esquerda, em cima, Paulo Marqueiroe Selma Schmidt agradecem o

Prêmio Especial por Vida Severina(também agraciado com o Prêmio

Embratel) e, ao lado, o presidente daABI, Maurício Azêdo entrega o

Prêmio Esso Especial de PrimeiraPágina a João Bosco de Almeida.

11Novembro/Dezembro de 2005

Jornal da ABI

A reportagem Abuso SexualInfantil, produzida por DélisOrtiz, Denise Sobrinho, Den-nys Leutz e Maurício Maia, doGlobo Repórter, foi a grandevencedora do Prêmio Impren-sa Embratel de 2005, ao con-quistar o Grande Prêmio Bar-bosa Lima Sobrinho. Veiculadaem 10 de setembro de 2004, amatéria investigou casos deabusos e exploração sexual co-metidos contra crianças e ado-lescentes brasileiros. A equipede reportagem procurou mos-trar mais do que a tragédia vi-vida por frágeis vítimas, vol-tando-se para a incapacidadedo Estado de punir agressorese pôr fim às variadas formas deinjustiça.

A cerimônia de entrega dosprêmios foi realizada em 8 dedezembro, na casa de espetá-culos Canecão, no Rio de Janei-ro, quando foram agraciados19 trabalhos jornalísticos. AComissão Organizadora pres-tou uma homenagem a quatroveteranos repórteres-fotográfi-cos que há várias décadas vêmregistrando momentos impor-tantes da história do Brasil edo mundo, contribuindo parao crescimento, desenvolvimen-to e valorização da profissão.Os homenageados foram AlaorBarreto, recentemente faleci-do, Luís Pinto, Alberto Jacob eSebastião Marinho.

O Prêmio Imprensa Embratelé considerado a mais importan-te homenagem ao jornalista quedesempenha a atividade de re-pórter no Brasil e contou em2005 com o patrocínio das Leisde Incentivo à Cultura, do Mi-nistério da Cultura e da Secre-taria de Cultura do Estado doRio de Janeiro.

Os vencedores em todas ascategorias estão listados noquadro ao lado.

REPORTAGEM INVESTIGATIVA (Troféu Tim Lopes)ÓrÓrÓrÓrÓrfãos da violênciafãos da violênciafãos da violênciafãos da violênciafãos da violência (O Globo), de Paulo Marqueiro eElenilce Bottari, publicada em julho de 2004.

REPORTAGENS REGIONAISRegião Sul:Região Sul:Região Sul:Região Sul:Região Sul: Adrianópolis sob o peso do passadoAdrianópolis sob o peso do passadoAdrianópolis sob o peso do passadoAdrianópolis sob o peso do passadoAdrianópolis sob o peso do passado(Gazeta do Povo - PR), de Mauri König, publicada emjaneiro de 2005.

Região Sudeste:Região Sudeste:Região Sudeste:Região Sudeste:Região Sudeste: VVVVVida Severina: da miséria do serida Severina: da miséria do serida Severina: da miséria do serida Severina: da miséria do serida Severina: da miséria do sertãotãotãotãotãoà realidade da favelaà realidade da favelaà realidade da favelaà realidade da favelaà realidade da favela (O Globo), de Paulo Marqueiro eSelma Schmidt, publicada em maio de 2005.

Região Nordeste:Região Nordeste:Região Nordeste:Região Nordeste:Região Nordeste: TTTTTrabalho infantilrabalho infantilrabalho infantilrabalho infantilrabalho infantil (TV GloboNordeste), de Beatriz Castro

Região Norte:Região Norte:Região Norte:Região Norte:Região Norte: Sudam: TSudam: TSudam: TSudam: TSudam: Todos ricos, todos soltos!odos ricos, todos soltos!odos ricos, todos soltos!odos ricos, todos soltos!odos ricos, todos soltos!(O Liberal), de Ronaldo Brasiliense, publicada emfevereiro de 2005.

Região Centro-Região Centro-Região Centro-Região Centro-Região Centro-Oeste:Oeste:Oeste:Oeste:Oeste: Filhos da mãeFilhos da mãeFilhos da mãeFilhos da mãeFilhos da mãe (CorreioBraziliense), de Ana Beatriz Magno, publicada emagosto de 2005.

REPORTAGEM DE JORNAL/REVISTA (Tema Livre)Janela indiscretaJanela indiscretaJanela indiscretaJanela indiscretaJanela indiscreta (Extra-RJ), de Fábio Gusmão e equipe,publicada em agosto de 2005.

REPORTAGEM FOTOGRÁFICAExecução no Morro da ProvidênciaExecução no Morro da ProvidênciaExecução no Morro da ProvidênciaExecução no Morro da ProvidênciaExecução no Morro da Providência (O Dia), de CarlosMoraes, publicada em setembro de 2004.

REPORTAGEM CULTURALNesta categoria houve empate técnico entre as duasmatérias- Josué de Castro - o gênio silenciadoJosué de Castro - o gênio silenciadoJosué de Castro - o gênio silenciadoJosué de Castro - o gênio silenciadoJosué de Castro - o gênio silenciado (Diário dePernambuco), de Vandeck Santiago, caderno especialpublicada em setembro de 2004; e- Ouro de Minas-3Ouro de Minas-3Ouro de Minas-3Ouro de Minas-3Ouro de Minas-300 anos de História00 anos de História00 anos de História00 anos de História00 anos de História (Estado deMinas), de Gustavo Werneck, Lucas Figueiredo e IsabellaSouto, publicadas em maio e junho de 2005.

REPORTAGEM DE RÁDIOCidade Baixa - um território sem lei Cidade Baixa - um território sem lei Cidade Baixa - um território sem lei Cidade Baixa - um território sem lei Cidade Baixa - um território sem lei (Rádio Gaúcha),de Cid Martins, veiculada em abril de 2005.

REPORTAGEM ESPORTIVAProgProgProgProgProgramas Brasil futebol cluberamas Brasil futebol cluberamas Brasil futebol cluberamas Brasil futebol cluberamas Brasil futebol clube (ESPM Brasil), deRoberto Salim e Ronaldo Kotscho, veiculados entrefevereiro e agosto de 2005.

REPORTAGEM SOBRE RESPONSABILIDADE SOCIALOito objetivos do milênioOito objetivos do milênioOito objetivos do milênioOito objetivos do milênioOito objetivos do milênio (Folha de São Paulo), dePatrícia Trudes e Renato Essenfelder, publicada emmarço de 2005.

REPORTAGEM DE TELEVISÃOImbroglioneImbroglioneImbroglioneImbroglioneImbroglione (TV Record), de Leandro Cipoloni e PauloNicolau, veiculada em março de 2005.

REPORTAGEM CINEMATOGRÁFICAAgAgAgAgAgressãoressãoressãoressãoressão (TV Record), de Eusébio Gomes, veiculadaem março de 2005.

REPORTAGEM DE CORRESPONDENTE ESTRANGEIROWWWWWolke von geheimnissenolke von geheimnissenolke von geheimnissenolke von geheimnissenolke von geheimnissen (Nuvem de suspeita - RevistaDer Spiegel), de Jens Glusing, publicada em abril de 2005.

REPORTAGEM DE TELECOMUNICAÇÕES(veículos especializados)

TTTTTempos modernosempos modernosempos modernosempos modernosempos modernos (Frecuencia Latinoamérica), de AnaPaula Lobo e Graça Sermoud, publicada em março de 2005.

REPORTAGEM DE TELECOMUNICAÇÕES(veículos não especializados)

A nova geração conectadaA nova geração conectadaA nova geração conectadaA nova geração conectadaA nova geração conectada (Época), de AlexandreMansur, Luciana Vicária e Henrique Fruet, publicada emagosto de 2005.

Associados da ABI e convidadosassistiram em 9 de novembro, no Au-ditório Oscar Guanabarino, ao DVDTancredo Neves — Mensageiro da liber-dade, produzido pelo jornalista Fer-nando Barbosa Lima, membro doConselho Deliberativo da ABI. Oevento reuniu grande nú-mero de espectadores na-quela que foi a única apre-sentação pública da obrano Rio de Janeiro.

Fernando Barbosa Limadisse que o objetivo do do-cumentário é fazer comque as pessoas conheçama História do Brasil, nummomento de transição daditadura militar para a de-mocracia: — Há detalhesinteressantes no filme, contados atra-vés de depoimentos de pessoas impor-tantes que conviviam de Tancredo.Quem assistir jamais vai esquecer.

A produção deste DVD, diz ele, fazparte da série Os grandes brasileiros,que pretende resgatar a memória doPaís: — Começamos com a vida deBarbosa Lima Sobrinho, em seguidacontamos a vida de Brizola e agora fa-lamos de Tancredo. Esta série vai fi-car disponível em bibliotecas e cen-tros culturais, mas o ponto de parti-da de exibição será sempre a ABI.

O Presidente da ABI abriu a sessãolembrando que Tancredo sempre de-monstrou coragem cívica e competên-cia política. Em seguida, convidouMauro Salles, que foi coordenador dacampanha presidencial de Tancredo ecom ele criou laços fraternos, a fazera apresentação do filme.

— Sempre gostei de política e depolíticos inteligentes. Quando traba-lhava no Globo, fui convidado porTancredo para ser seu secretário e mo-rei dez meses em sua residência emBrasília — contou Mauro Salles, querecordou também que, apesar de elee Tancredo pertencerem a partidos di-ferentes, ainda assim articulou suacampanha à Presidência da Repúbli-ca: — Iniciamos em Goiânia, embala-dos pela mobilização das Diretas Já.Sabia que se fizéssemos isso no eixoRio—São Paulo não conseguiríamosreunir tantas pessoas. Pensei em Goiáse foi um sucesso, com mais de 250 milpessoas.

Mauro Salles chamou atenção paraas inovações técnicas adotadas no fil-me, que faz o relato de um períodoemocionante. Na abertura, Antônio

MEMÓRIA

UMA VIDA EMDVD: TANCREDOA ABI exibe o DVDproduzido por FernandoBarbosa Lima, uma obrafeita de verdade, emoçãoe, diz Mauro Salles,inovações técnicas.

Britto, que foi assessor de Tancredo,é quem apresenta o documentário, re-cordando que a intenção do Presiden-te era promover mudanças políticas,econômicas e sociais.

O documentário conta com depoi-mentos de Fernando Henrique Cardo-so, José Sarney, Waldir Pires, AntônioCarlos Magalhães, Aécio Neves, Mau-ro Salles, José Augusto Ribeiro, An-tônio Britto, Almino Afonso, Tancre-do Augusto, filho do falecido Presiden-te, entre outros. FHC diz que Tancre-do conhecia os problemas do País e domundo e por isso era um dos grandespersonagens da História. Já TancredoAugusto faz o relato familiar, lem-brando momentos da infância do Pre-

sidente, de seu sonho de irpara a Marinha de Guer-ra, da formação em Direi-to e do trabalho como jor-nalista no Estado de Minas.

Os netos Andréa Nevesda Cunha e Aécio Nevesremontam à trajetória po-lítica de Tancredo, da Pre-feitura de São João del Reià Presidência da Repúbli-ca. Andréa diz que a con-vivência de seu avô com

Getúlio Vargas o fez carregar parasempre as lembranças de sua morte.Aécio, por sua vez, reforça a caracte-rística de grande conciliador de Tan-credo.

Um dos ricos detalhes contados nodocumentário é apresentado quandooutro assessor, José Augusto Ribeiro,fala sobre o tempo em que os EstadosUnidos tinham uma base militar noarquipélago de Fernando de Noronhapara estudos espaciais:

— Os norte-americanos queriamrenovar a licença para permanência nailha. No entanto, Tancredo dizia quenão podia decidi-lo sem consultar asForças Armadas. Passado algum tem-po, quando eles perceberam que nãoconseguiriam revalidar seu contrato,desistiram e Tancredo manteve-se emsilêncio, pois ainda era a época daGuerra Fria e aquilo seria um grandefracasso para os Estados Unidos, jáque a União Soviética se destacava nosexperimentos espaciais.

O filme também mostra com rique-za de informações a comemoração davitória de Tancredo na primeira elei-ção livre desde 1960 e suas viagens aoredor do mundo, nas quais foi recebi-do por autoridades de cada um dospaíses visitados. Os momentos emque começa a sentir as dores abdomi-nais que o levaram ao Hospital de Basede Brasília também são contados emostram que o Presidente se recusa-va inicialmente a fazer qualquer inter-venção cirúrgica, pois o General Fi-gueiredo não deixaria que Sarney as-sumisse em seu lugar. A emociona-da mobilização do País com a mortede Tancredo finaliza a história, emba-lada pelo Hino Nacional.

Délis Ortizconquistao TroféuBarbosa Lima

Os jornalistas de OEstado de Minas,

Gustavo Werneck,Isabella Souto (acima) e

Lucas Figueiredo,venceram o Prêmio

Imprensa Embratel nacategoria Reportagem

Cultural e o Esso nacategoria Regional

Centro-Oeste com amatéria Ouro de Minas -

300 anos de história.

Autora da pauta da reportagempremiada, Délis Ortiz (E) não

conseguia falar, de tanta emoção.

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Jornal da ABI

12 Novembro/Dezembro de 2005

Onze de novembro de 1955. Aindatraumatizado pelo desfecho sangren-to da crise de agosto de 1954 — quan-do o Presidente Getúlio Vargas, ao ati-rar contra o próprio peito, abortou umgolpe de Estado que pretendia arrancá-lo do poder —, o povo brasileiro assis-tiu, atônito, a mais um episódio típi-co de uma nação onde democracia cus-tava a cristalizar-se. O General Hen-rique Teixeira Lott, que até a vésperaera o Ministro da Guerra, assume o co-mando das tropas do Exército, cercabases aéreas e quartéis da Marinha edepõe Carlos Luz, empossado três diasantes na Presidência da República. Luzsucedera a Café Filho, afastado pordoença. No dia seguinte, o SenadorNereu Ramos é o novo Presidente doBrasil com as bênçãos de Lott, queimpede a volta de Café. Estava, assim,consumado o “Golpe da Legalidade”,que garantiria a posse de JuscelinoKubitschek na Presidência da Repúbli-ca a 31 de janeiro de 1956.

Para que se possa entender melhoresse episódio digno de republiqueta debananas, é fundamental retroceder a1950. Naquele ano, Getúlio Vargas,após quatro anos de “exílio”, volta aopoder nos braços do povo e do PartidoTrabalhista Brasileiro (PTB). O dita-dor de 1930-1945 agora é Presidenteconstitucional, eleito para governar oPaís entre 1951 e 1955.

dos atacam Lacerda, mas erram o alvoe matam o Major Rubens Vaz, da Ae-ronáutica, que lhe fazia a segurança.

A UDN acusa Vargas de mandan-te. A Aeronáutica persegue e prendeos assassinos. Lacerda, pela Tribuna,abre fogo cerrado contra o Presidente,secundado por inúmeros jornais deoposição. Boa parte dos militares exi-ge a renúncia. O Vice-Presidente CaféFilho e o Ministro da Guerra, Gene-ral Zenóbio da Costa, estão na cons-piração. Acuado, Getúlio Vargas sesuicida.

O Governo Vargas defen-de o monopólio estatal dopetróleo e a industrializaçãodo País, fato que contraria in-teresses de grupos empresa-riais multinacionais, repre-sentados pela União Demo-crática Nacional (UDN), par-tido que tem como um deseus líderes o incendiário jor-nalista Carlos Lacerda, donoda Tribuna da Imprensa (RJ),principal jornal de oposiçãoao getulismo.

Já os militares se dividiamem dois grupos. De um lado,estão os nacionalistas, queapóiam a política de Vargas;do outro, os que são sim-páticos aos Estados Unidose que pregam a atração de ca-pital estrangeiro para “alavancar a eco-nomia”. Eram tempos de choques ide-ológicos claros e abertos, espelhandoa guerra fria travada entre capitalistase socialistas que dividia o mundo emdois blocos antagônicos.

Em 1954, Lacerda, através de seujornal, faz ataques virulentos ao Pre-sidente. Gregório Fortunato, assessormais próximo de Vargas, assume as do-res do chefe e, sem o seu conhecimen-to, resolve eliminar o “Corvo”, apelidopelo qual o jornalista era conhecido.Em 5 de agosto, pistoleiros assalaria-

MEMÓRIA ����� por João Marcos de Carvalho

O golpe da legalidadeO historiador e jornalista João Marcos Carvalho envia, de Maceió,

artigo sobre a manobra que garantiu a posse de Juscelino Kubitschek.

Um país à beira do caosCafé Filho, Vice-presidente de Getú-

lio, assume a Presidência no mesmo diaem que o corpo do velho caudilho dospampas era velado no Palácio do Catetepor multidões em pranto. Os inimigosdo getulismo haviam chegado ao Po-der, mas a comoção provocada pelamorte traumática do Presidente inibemaiores demonstrações de euforia.

A bala com que Getúlio tirou a pró-pria vida para entrar na História acer-tara as costas dos golpistas de plan-tão. Prova disso foi a vitória de Jusce-lino Kubitschek, apoiado pelo getu-lismo, nas eleições presidenciais de 3de outubro de 1955. Inconformada, aUDN conspirava em todas as esqui-nas para impedir a posse do eleito,marcada para 31 de janeiro de 1956, enão media conseqüências para alcan-çar seu intento, pregando, inclusive, ogolpe militar puro e simples.

No dia 3 de novembro, Café Filhosofre um distúrbio cardíaco e é inter-nado. Carlos Luz, Presidente da Câma-ra dos Deputados, afinado com aUDN, assume a Presidência no dia 8 erecusa-se a punir militares que, publi-camente, se manifestam pelo impedi-mento da posse de Juscelino. Vendosua autoridade ruir, o General TeixeiraLott, legalista e disciplinador, pede de-missão do Ministério da Guerra.

Decisão radicalQuando ainda comemoravam a

queda de Lott, último obstáculo parasuas pretensões golpistas, os udenistasforam surpreendidos pela decisão ra-dical do General em favor da legalida-de. Na madrugada do dia 11, contan-do com o apoio de oficiais nacionalis-tas, Lott sai às ruas comandando asprincipais unidades do Exército. Numaação fulminante, e sem dar um tiro,domina os focos golpistas na Aeronáu-

tica e na Marinha dissemina-dos em todo o País. Deposto,Carlos Luz embarca no cru-zador Tamandaré rumo a San-tos para organizar a resistên-cia. Sem apoio, retorna ao Rioe capitula. Nereu Ramos, Pre-sidente do Senado, é empos-sado na Presidência da Repú-blica ainda no dia 11.

Estava, assim, pavimenta-do o caminho para a posseconstitucional de JK em1956, que manteve Lott noMinistério da Guerra. Por sualuta em favor da legalidade,Teixeira Lott, que, em 1960,era marechal, foi lançado can-didato à Presidência da Repú-blica pelas forças progressis-tas. Perdeu para Jânio Qua-

dros, que renunciaria com sete mesesde Governo, logo depois de tentar umgolpe tresloucado que tinha por obje-tivo torná-lo ditador.

Quatro anos mais tarde, o MarechalHenrique Batista Duffles Teixeira Lott,mineiro de Antonio Carlos, seria pre-so por se opor ao golpe militar de 1964,que levaria ao poder a ala radical dadireita militar. Durante a ditadura,Lott foi vigiado e impedido de partici-par da vida pública. Faleceu em 1984,aos 90 anos, quando o Brasil estavaagitado pela campanha das Diretas Já.

Henrique Teixeira Lott (E) observa Nereu Ramos tomar posse na Presidência da República. Na foto abaixo, Lott e o presidente, depois da posse.

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13Novembro/Dezembro de 2005

Jornal da ABI

Dia 8 de dezembro é a data con-sagrada ao Cronista Esportivo.No final dos anos 60, o jorna-

lista Milton Pedrosa publicou uma im-portante antologia sobre a crônica es-portiva brasileira, na qual afirma queesta é uma criação do século XX, quesurgiu “meio que marginalizada na im-prensa, quando o futebol ainda enga-tinhava. Um João do Rio precisava sedisfarçar para fazer reportagem noFluminense”.

O esporte que deu notoriedade àcrônica esportiva foi o futebol, quenem sempre foi a modalidade esporti-va a desfrutar de tanta popularidade.Conforme observa Milton Pedrosa, nosprimeiros anos dos 1900 eram o turfee o remo que figuravam como as gran-des vedetes esportivas. Só quando dei-xou de ser um esporte praticado exclu-sivamente pela elite é que o futebolganhou o status de paixão nacional.

“Foi por volta de 1895, com o surgi-mento de vários clubes de remo no Rio,entre os quais Botafogo, Flamengo eVasco, e a crescente popularidade de talmodalidade que os jornais começarama abrir mais espaços para o esporte. An-tes, na prática, os periódicos se limita-vam a publicar matérias e resultadosdas corridas de cavalo. Há quem defen-da a tese de que turfe não é esporte —a exemplo de outra corrente que diz omesmo do automobilismo. Daí existiruma certa polêmica em torno de quan-do exatamente a imprensa passou aabordar o assunto.”

Quem faz as afirmações acima é ojornalista, cronista e pesquisadorRoberto Assaf, autor de vários livros

sobre futebol. Segundo ele, pode-seconsiderar que foi a partir de meadosdo século XIX que o esporte, mais es-pecificamente o turfe, ganhou algumespaço nos jornais. O futebol passoua ser jogado regularmente em 1905,mas sua popularidade aconteceu de1914 em diante:

— Então, o futebol já não podiamais ser ignorado pelos jornais e re-vistas — o rádio só chegou ao Brasilem 1922 e a TV, em 1950. Logo o es-porte tomou o lugar do turfe e do pró-prio remo, passando a ocupar duas,três páginas por edição. Assim, algu-mas publicações especializadas foramsurgindo e talvez a mais notória tenhasido a revista Vida Sportiva.

JS, o marcoDiz Assaf que na década de 20 já é

possível encontrar crônicas assinadassobre partidas de futebol, um hábitodo extinto O Imparcial (1911-1942).Mesmo assim, é quase impossível des-cobrir quem foi o primeiro cronista es-portivo brasileiro.

— Já revirei milhares de páginas dejornais do começo do século passado,de O Imparcial, O Paiz, Correio da Ma-nhã, Gazeta de Notícias, enfim, de vá-rias publicações há muito extintas,mas não sou capaz de apontar o pio-neiro. Existem muitas crônicas de au-tores desconhecidos, algumas até comalgum estilo, levando-se em conta alinguagem da época, é claro.

Para ele, é a criação do Jornal dosSports, em 1931, que faz o esporte cres-cer em importância na mídia, espe-cialmente depois que passou a ser con-

trolado por Mário Filho: — Ele logomostrou que é possível redigir textossobre o assunto sem cair no lugar co-mum e não tardou a fazer escola. JoséLins do Rego escreveu por longo tem-po no JS, e sua presença nas páginasdo jornal foi importante para o públi-co entender que um escritor consagra-do também pode falar de futebol.

VertigemResponsável pela coluna Na grande

área — publicada no Lance! e em di-versos outros jornais brasileiros — eapontado como um dos maiores cro-nistas brasileiros, Armando Nogueiraconsidera o jornalismo esportivo noBrasil “uma atividade trepidante e ver-tiginosa” e acha que a crônica esporti-va está bem servida:

— Há gente como o Tostão, o JucaKfouri, o José Geraldo do Couto e o Fer-nando Calazans, que são caracteriza-damente cronistas, pois se permitemlicenças poéticas, líricas.

Armando passou a atuar na crônicaesportiva depois de, como gosta de di-zer, “viver as longas experiências queum profissional pode ter na editoria deEsportes”: — Fui apurador, repórter,redator, comentarista... Considero quecheguei à etapa de cronista quando co-mecei a assinar colunas no Jornal doBrasil e, depois, no Estado de S. Paulo.Digo isso porque vejo diferença nasfunções. O repórter lida com a fonteda informação e a notícia; o comenta-rista, com a análise e, eventualmente,com a opinião; e o cronista trata dosfatos com liberdade. Por exemplo, umjogo de futebol nem sempre merecerá

de mim uma análise tática ou técnica.Na crônica, posso viajar tanto num te-ma quanto num personagem.

Caminhos do lirismoColegas e leitores costumam dizer

que as crônicas de Armando Nogueirasoam como poesia — e ele diz que ofutebol é o esporte que mais contribuipara um cronista se expressar dessamaneira:

— O futebol é um esporte lúdico e,ao mesmo tempo, poético, lírico e paté-tico. Reúne todos os sentimentos comos quais o cronista trabalha a sua sensi-bilidade. O futebol é um arrebatamen-to e, como ele lida com sonhos e fanta-sias, é um estímulo a mais para vocêenveredar pelos caminhos do lirismo.

Para Armando, o período mais fértilda crônica esportiva no Brasil deu-secom Mario Filho e Nelson Rodrigues:— Os irmãos foram responsáveis pormuita criatividade nessa área, princi-palmente o Nelson, que, pela qualida-de do texto metafórico, hiperbólico earrebatado, representa sem dúvida omomento culminante, o esplendor dojornalismo esportivo no Brasil.

Jeito do RioJosé Antônio Gerheim, que assina

a coluna Show de bola no Jornal dosSports, diz que a crônica esportiva temsotaque carioca:

— Deixando de lado o bairrismo,acho que a crônica esportiva, em nos-so País, tem muito do jeito carioca deser. Por ter sido a Corte e a capital daRepública e o local onde o futebol sedesenvolveu, o Rio de Janeiro criou umestilo. A maioria dos cronistas consa-grados, como Nelson Rodrigues, San-dro Moreyra e Roberto Porto, está noRio — apesar de o Armando No-gueira, do Acre, e o João Saldanha, deGoiás, não terem nascido cariocas.

Gerheim acha que, por ter produzi-do cronistas como Machado de Assis,João do Rio e Lima Barreto — que nãogostava de futebol, esporte praticado so-mente pela elite em sua época —, o Riodesenvolveu um estilo de escrever queestá muito ligado à história da cidade.

Roberto Assaf, por sua vez, diz queo que houve de mais interessante dosanos 60 para cá na crônica esportivafoi a adoção de uma linguagem maisinformal: — Quando examinamos aspublicações, ou ouvimos narrações ecomentários da época, notamos umjeito de escrever ou de falar mais em-polado, próximo do professoral. Exis-tiam exceções, como Nelson Rodriguesou João Saldanha, mas, no geral, eraum tédio só. Em meados dos anos 70,descobriu-se que era possível abordaro esporte sem que fosse necessário secomportar como um orador de igreja.

Em contrapartida, ressalta, a mu-dança levou a alguns exageros: — Che-gamos a uma informalidade absurda,às vezes barata, às vezes pálida, de umlugar comum impressionante. Issoocorreu porque há muita gente exces-sivamente jovem falando e escreven-do. Falta-lhes sobretudo o conheci-mento da matéria e experiência de vidapara contar casos e explicar situações.Os grandes cronistas brasileiros sãoaqueles que evitam, de todo jeito, po-sar de donos da verdade.

COMEMORAÇÃO ����� por José Reinaldo Marques

Armando Nogueira, o mestre da grande área, define assim a coberturade esportes, que festeja em 8 de dezembro o Dia do Cronista Esportivo.

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Jornal da ABI

16 Novembro/Dezembro de 2005

Ricardo Pedreira - Como o senhor vê achamada “indústria do dano moral”, essaprofusão de ações e condenações de jor-nais e jornalistas por supostos crimescontra a moral alheia e que resulta empenas pecuniárias altíssimas?Edson Vidigal - Primeiro, acho que éimportante a gente contextualizar essaquestão, lembrar como surgiu o concei-to do dano moral, num sentido amplo,não apenas restrito aos meios de comu-nicação. Ele já existia antes da Consti-tuição de 88, em disposição do CódigoCivil. De forma bem abrangente, o Có-digo determinava que aquele que, pornegligência, imprudência ou imperícia,causasse danos a outros, seria obrigadoa reparar o dano. No regime militar, veioa Lei de Imprensa, com a figura da in-denização por delito de imprensa, equi-valente a até 200 salários-mínimos. Fi-cou então estabelecido, de forma abso-lutamente equivocada em minha opi-nião, “a honra tabelada”. Ou seja, a hon-ra de alguém podia variar de um a 200salários-mínimos. A honra mais into-cada era aquela de 200 salários-míni-mos... Mas, depois, a Constituição de88 definiu, no seu artigo 5º, que caberiaindenização pelo dano moral decorren-te da violação da honra das pessoas, semestabelecer limites. A partir daí, quemse julgava caluniado ou ofendido nahonra por matérias jornalísticas passoua se valer desse preceito constitucionale não da Lei de Imprensa. E juízes deinstâncias inferiores, erradamente nomeu ponto de vista, passaram a definirpenas altíssimas, desproporcionais aosuposto delito cometido.

E como resolver essa distorção?Edson Vidigal - De uns dois anos paracá, nós do STJ temos buscado corrigiressa situação, definindo, quando é ocaso, penas proporcionais aos delitoseventualmente cometidos. Nossa juris-prudência tem sido no sentido de repe-lir os exageros em relação ao dano mo-ral nessas ações. O entendimento é ode que a indenização por dano moralnão pode ser fator de enriquecimento edeve guardar uma proporcionalidadecom a suposta calúnia, injúria ou difa-mação. Tivemos casos de decisões deinstâncias inferiores em que o dono dejornal não poderia pagar a indenizaçãonem que vendesse todo o patrimônio daempresa. No STJ, buscamos corrigir si-tuações como essas.

Mas tudo isso depende de recurso deuma instância judiciária para outra, deuma profunda mudança de cultura, dementalidade dos juízes. No Congressoexiste um projeto de lei sobre danosmorais que estabelece faixas e limites.Não seria o caso de adotá-lo?Edson Vidigal - Eu sou contra isso,porque é tabelar a honra. A honra é“intabelável”, se é que existe essa expres-são. Isso permite que aquele que tenharecursos para tal possa ofender e calu-niar os outros. Em minha opinião, a sa-

A honra é “intabelável”

O Presidente do Superior Tribunal de Justiça,Ministro Edson VMinistro Edson VMinistro Edson VMinistro Edson VMinistro Edson Vidigalidigalidigalidigalidigal, repele a idéia de que a

honra pode ser objeto de tabelamento, como vêmfazendo inúmeros juízes em ações da chamada

“indústria do dano moral”. Vidigal considera queessas ações não podem ser fator de enriquecimento.

LEGISLAÇÃO ����� entrevista a Ricardo Pedreira

EEEEEm entrevista ao jornalista Ricardo Pedreira, de Brasília, e publicada ori-ginalmente no Jornal da ANJ (Associação Nacional de Jornais), o Presi-dente do Superior Tribunal de Justiça, Ministro Edson Vidigal, anali-sou extensamente as questões relacionadas com a chamada “indústria

do dano moral”, que inunda o Poder Judiciário, em diferentes instâncias, comuma enxurrada de ações que ensejam a emissão de decisões que não guardamproporcionalidade com o agravo cometido. Vidigal considera que a honra éinsuscetível de tabelamento, como o feito pela a Lei de Imprensa, em 1967, aoadmitir indenizações de até 200 salários-mínimos, valor da “honra mais intocada”.– A honra é “intabelável”, se é que existe essa expressão. Isso permite queaquele que tenha recursos para tal possa ofender e caluniar os outros – diz oMinistro, que acredita que esse quadro só será alterado com uma mudança dacultura e da mentalidade jurídicas, a qual a seu ver já se encontra em curso.– É um processo que demanda tempo – diz –, mas é natural que seja assim.A ABI contou com a colaboração do jornalista Luiz Adolfo Pinheiro, Diretorda Assessoria de Comunicação Social do STJ, para a reprodução dessa impor-tante manifestação. A seguir o diálogo entre Pedreira e o Ministro.

JORG

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S-STJída nesses casos é mesmo uma mudan-ça gradual da cultura e da mentalidadejurídicas, coisa que já está acontecen-do. É um processo que demanda tem-po, mas é natural que seja assim.

Então, com a atual legislação, como de-vem ser as penas para jornais ou jorna-listas que tenham, por decisão da Justi-ça, causado algum tipo de dano moral?Edson Vidigal - Nesses casos, o cami-nho é penalizar o grande patrimônio doprofissional ou do órgão ao qual ele ser-ve. E qual é o grande patrimônio de umjornal ou de um jornalista? É a sua credi-bilidade. Antes de tudo, a eventual con-denação deve resultar numa pena pecu-niária razoável, proporcional ao danomoral cometido, mas seus resultadosnão devem ir para o bolso de quem sejulgou caluniado, ofendido e injuriado.Exatamente para não dar margem à cha-mada “indústria do dano moral”. Osvalores razoáveis estabelecidos pela Jus-tiça devem ir, por exemplo, para umainstituição de caridade. Outra formapode ser a destinação dos recursosoriundos da pena pecuniária para umfundo, um fundo de defesa de direitoshumanos, de pesquisa jornalística, etc.Outra forma, ainda, é que o espaço ho-je usado gratuitamente para divulgar asentença condenatória seja pago a par-tir de descontos em parcelas do saláriodo profissional que causou o dano mo-ral. Que penalização maior pode ter umjornalista do que o jornal publicar sen-tença condenatória onde explicitamen-te esteja dito que aquele espaço é pagopor ele mesmo, pela falta cometida? Aquestão fundamental, no meu ponto devista, é dar conhecimento à opinião pú-blica do erro cometido pelo profissio-nal. Isso o atinge no que é mais impor-tante, que é a credibilidade.

Mas parece que há o entendimento deque a parte mais sensível do corpo hu-mano é o bolso...Edson Vidigal - Eu penso que não. En-tendo que a parte mais sensível do cor-po humano, especialmente em se tra-tando de quem exerce o jornalismo, é adignidade, é a credibilidade. Nosso desa-fio, no STJ, é criar essa mentalidade en-tre os juízes e os meios de comunicação.

Qual seria o resultado dessa mudançade mentalidade?Edson Vidigal - Tenho certeza de queacabaria funcionando de forma preven-tiva. Haveria uma redução gradativadessas ações por dano moral. Só quemse julgasse de fato ofendido, caluniadoou injuriado entraria na Justiça para rei-vindicar reparação por dano moral. Nãohaveria mais sentido em buscar o enri-quecimento. Por outro lado, tambémjornais e jornalistas tenderiam a sermais cuidadosos na apuração daquiloque publicam. Entendo que muitas ve-zes o jornal ou o jornalista não age pordolo ao veicular uma determinada in-formação que será considerada

17Novembro/Dezembro de 2005

Jornal da ABI

Em cerimônia realizada na noite de 23 de novembro, no Golden Roomdo Hotel Copacabana Palace, seguida de coquetel e jantar, o jornal Folhado Turismo fez a entrega do Prêmio Personalidade do Turismo 2005. Oevento é uma promoção do Grupo Folha Dirigida e conta com o apoio daAssociação Brasileira de Imprensa.

Os premiados foram Alberto Vidigal, Presidente da Associação Brasilei-ra de Locadoras de Automóveis; Álvaro Bezerra de Melo, Presidente doConselho do Grupo Othon e Vice-Presidente da Associação Brasileira daIndústria de Hotéis do Rio de Janeiro; Chieko Aoki, Presidente da BlueTree Hotels; Eduardo Sanovicz, Presidente da Embratur; Eraldo Alves, Pre-sidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis; Goiaci Guimarães,proprietário da Rextur Operadora de Turismo S.A.; Guilherme Paulus, donoda CVC Viagens; Marco Antônio Bologna, Vice-Pesidente da TAM; RuyGaspar, do Grupo Ocean Palace Hotel & Resort; Valter Patriani, Vice-Presi-dente da CVC Turismo; e Walfrido dos Mares Guia, Ministro do Turismo.

A sessão de entrega do prêmio foi aberta pelo Presidente do GrupoFolha Dirigida, Adolfo Martins, que apresentou um relato sobre a evolu-ção do empreendimento jornalístico que dirige, iniciado em 1985 com aFolha Dirigida, com tiragem de 300 mil exemplares. Vinte anos depois, ojornal registra uma circulação mensal de cerca de 2 milhões de exempla-res, contabilizando-se a edição tradicional, que circula no Rio e em SãoPaulo, e as edições regionais por todo o País.

A ABI foi representada por seu Presidente, que sau-dou os distinguidos com o título de Personalidade Tu-rística 2005 — escolhidos através de votação em cu-pom distribuído pela Folha do Turismo — e exaltou “a

competência jornalística e o descortino empresarial deAdolfo Martins, que ao criar a Folha do Turismo teve

a premonição de que atividades turísticas podemter grande importância econômica no País”.Maurício Azêdo citou, a esse respeito, a estatís-tica divulgada naquela semana no caderno Vi-agem do jornal O Estado de S. Paulo, a qual re-vela que os negócios nessa área correspondemhoje a 8% do PIB e a 10% da massa de traba-lhadores empregados em Portugal.

Encerrando a cerimônia, o MinistroWalfrido dos Mares Guia fez um pronun-ciamento de cerca de 40 minutos a respei-to de um estudo sobre o mercado turísti-

co no Brasil, que estima que em 2005 alcan-ce a marca de 5,6 milhões de turistas estrangei-

ros e a receita de US$ 3,2 bilhões, com entrada no Banco Central.O Ministro informou que em relação ao ano anterior houve em 2005

um crescimento de 300% em aplicações e que o plano orçamentário para2006 prevê um crescimento com o mesmo percentual. De janeiro a se-tembro de 2005, informou o Ministro, os desembarques internacionaisno Brasil somaram 5,07 milhões de passageiros, o que representou umaalta de 14,2% em relação a 2004. Só em setembro os desembarques inter-nacionais foram de 521.268 passageiros e os gastos de turistas estrangei-ros chegaram a US$ 319 milhões.

Mares Guia acentuou especialmente a importância das aplicações fei-tas na promoção da imagem turística do Brasil no exterior, no valor de100 milhões de dólares, o que assegurou crescimento significativo donúmero de turistas estrangeiros no País.

PERSONALIDADES

TTTTTurismo premiaurismo premiaurismo premiaurismo premiaurismo premiaquemquemquemquemquem o pr o pr o pr o pr o promoveomoveomoveomoveomove

Em mensagem firmada por seu Presidente, jornalista AdolfoMartins, o Grupo Folha Dirigida agradeceu a saudação da ABI ao20º aniversário da fundação do jornal, que “tem encontrado umgratificante reconhecimento da comunidade, como esse de ago-ra, trazendo a chancela e o prestígio de uma instituição com opeso da ABI.” Diz o ofício enviado à Casa por Adolfo Martins:

“Acusamos o recebimento da comunicação na qual Vossa Se-nhoria nos dá a grata notícia sobre a decisão da Associação Brasi-leira de Imprensa de saudar o transcurso dos 20 anos da FolhaDirigida, prestando uma homenagem simbólica ao nosso jornal.

Desejamos expressar os nossos mais profundos agradeci-mentos por essa iniciativa que muito nos sensibiliza, sobretudo

ADOLFO AGRADECEpelo que ela traduz e pelo perfil dos que a referendam.

Nesses 20 anos de trajetória da Folha Dirigida, nossos es-forços têm se concentrado no foco da Educação, do Trabalhoe da Cidadania e essa diretriz editorial do jornal tem encontra-do um gratificante reconhecimento da comunidade, como essede agora, trazendo a chancela e o prestígio de uma instituiçãocom o peso da ABI.

Renovamos nossos agradecimentos e encarecemos a VossaSenhoria que os estenda a todos os ilustres membros dessaDiretoria, acompanhados de nossos mais elevados protestosde estima e consideração. Cordialmente, Adolfo Martins de Oli-veira, Presidente.”

Adolfo Martins, Presidente do Grupo Folha Dirigida,saúda os vencedores do Prêmio Personalidades do

Turismo, escolhidos pelo voto de quem atua no setor.

José Zuquim, Presidente da Braztoa, entrega a placaa Eduardo Sanowicz, Presidente da Embratur. Ao lado,o Ministro Walfrido dos Mares Guia, outro agraciado.

Caio Luiz de Carvalho, Presidente da São PauloTurismo, entrega a placa a Chieko Aoki, da Blue Tree

Hotels, uma das premiadas na hotelaria.

irresponsável. É que a cultura predomi-nante no meio e a competição acirradís-sima muitos vezes levam a isso.

Como jornalista e juiz também, qual suavisão dessa cultura do furo, da corridacontra o tempo para publicar ou divul-gar determinada informação?Edson Vidigal - Acho que isso faz par-te da essência do jornalismo, mas é pre-ciso ter muito cuidado. Às vezes um jor-nalista, pensando em chegar na frentedo “coleguinha”, exagera no trato da in-formação.É um erro, por exemplo, acre-ditar demais em fontes que se escondemno anonimato, de policiais, de represen-tantes do Ministério Público, como é tãocomum hoje em dia. A informação deveser produto de uma apuração. Não é poroutra razão que o termo “repórter” seorigina, na imprensa norte-americana,do ato de investigar. Todo repórter deveser um investigador. Por isso, acho umaredundância falar em repórter investi-gativo. Mas como chamar de investiga-ção determinada reportagem feita emmenos de 24 horas simplesmente por-que alguém do Ministério Público ou de-terminado policial me soprou uma in-formação, me entregou um dossiê, mepassou a degravação de uma fita quemuitas vezes pode ter sido editada?

E sobre a Lei de Imprensa? Há uma emvigor e um projeto tramitando no Con-gresso. O senhor considera necessáriauma Lei de Imprensa?Edson Vidigal - Eu sustento que a Leide Imprensa é dispensável no EstadoDemocrático de Direito. Tudo o que aatual Lei de Imprensa trata está previs-to em outras legislações. A Lei de Im-prensa, por exemplo, trata do registrodas empresas jornalísticas. O DireitoComercial trata do registro de todo tipode empresa. A empresa jornalística nãoé diferente de qualquer outra empresa.A Lei de Imprensa é fruto da ditadura,quando se buscou cercear e tutelar ofuncionamento dos meios de comuni-cação. A atual Lei de Imprensa prevêapreensão de jornais, coisa que é incon-cebível num regime verdadeiramentedemocrático, conforme reza nossaConstituição. Acho mesmo que, se hou-ver uma iniciativa junto ao Supremo,essa Lei de Imprensa seria declaradainconstitucional.

Mas muitos juízes, combinando a Cons-tituição com o Código Civil, têm exer-cido na prática a censura prévia, o que éexpressamente proibido pela Consti-tuição.Edson Vidigal - O que está acontecen-do no caso dessas decisões judiciais é umexemplo do descompasso com que sefazem as leis no Brasil. O Código Civil,embora promulgado há pouco tempo,vinha sendo feito há mais de 20 anos. AConstituição de 88 ultrapassou o Códi-go, que visivelmente está inconstitu-cional em muitos pontos, como é o casodo seu artigo 20, que tem permitido es-sas decisões que resultam, na prática,em censura prévia. Trata-se de erro la-mentável, que, tenho certeza, será cor-rigido com o tempo, à medida que es-sas decisões chegarem às instâncias su-periores. A saída do regime autoritáriopara uma verdadeira democracia de-manda mais tempo do que se imagina,pois é necessário mudar as mentalida-des. No Brasil ainda não completamosisso ainda. Mas vamos chegar lá.

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Jornal da ABI

18 Novembro/Dezembro de 2005

No texto lido no ConselhoEstadual de Cultura, intitulado VelhaTeima de Velho, diz o jornalista eteatrólogo Edson Nequete:

“Sou um ansião.Mas, por favor, não confundam.Atenção, revisão: ansião com “s”

e não com “c”.Sou ansião, porque ainda tenho

ânsia de viver.Viver é hábito que me agrada

cultivar.Sou ansião, por acordar, hoje,

amanhã e depois, cheio deansiedades e de fomes derealizações.

Mal o sol bate em minha cama,despertam-me desejos de estudarmais e mais; de aprofundar-me noconhecimento da alma humana, ede traduzir-me nas artes da poesia edo teatro.

Um ansião, portanto, que serecusa à marginalização, apesar dediscriminado, ofendido, machucadopor predadores, que se utilizam detodas as armas para impedir que oVELHO tenha o direito de sonhar.

Mas, senhores, eu sonho. E meempenho em concretizar meussonhos e sonhos de outros.

Um dia desses, ao ser recebidono Conselho Estadual de Cultura,numa gentileza do órgão presididopelo eminente pesquisador RicardoCravo Albin, hauri inspiração em

DIREITOS HUMANOS

BB retém o queBB retém o queBB retém o queBB retém o queBB retém o quedeve a Nequetedeve a Nequetedeve a Nequetedeve a Nequetedeve a Nequete

Em discurso lido no Conselho Es-tadual de Cultura e enviado à ABI, daqual é associado, o jornalista EdisonCurie Nequete lamentou o descaso daAgência Primeiro de Março do Bancodo Brasil, onde se acidentou na portagiratória, mas não teve qualquer as-sistência, e da direção do Banco, quevem fazendo chicana para não pagara indenização que Nequete ganhou naprimeira instância do Judiciário.

Nequete, 79 anos, diz que foi “víti-ma de acidente, aparentemente insig-nificante, mas de conseqüências fatais”.Enquanto atravessava a porta de en-trada da agência, de duas lâminas devidro, ela se fechou involuntariamente,provocando sua queda. No entanto,ninguém do banco o socorreu.

A situação se agravou porqueNequete usa próteses nas duas pernas.

Os casos de agressão física e psicoló-gica sofrida por servidores da FundaçãoNacional da Saúde-Funasa, comunica-dos à ABI pela Confederação dos Tra-balhadores no Serviço Público Federal-Condsef, serão denunciados ao Conse-lho de Defesa dos Direitos da PessoaHumana em Brasília, cujo plenário éintegrado pela ABI, que vai pedir aoMinistério da Justiça que instaure pro-cedimentos investigativos e que sejamtomadas as medidas cabíveis contra osautores dos atos de violência.

Em seu comunicado, a Condsef in-forma a agressão, no dia 17 de outu-bro, na Bahia, aos trabalhadoresWalmir Ferreira de Souza, AntônioBispo de Arcanjo, Carlos Geraldo Sil-va Maia, Sebastião Avelino da Costae Ailton Virgínio Ramos. Os quatroestavam em Santa Maria de Vitória,no cumprimento de suas funções nocombate à doença de Chagas, a cami-nho de Favelândia, na zona rural doMunicípio, quando, sob a alegação de

A ABI vai fazer uma representa-ção formal ao Conselho de Defesados Direitos da Pessoa Humanapara apuração das denúncias de aci-dentes de trabalho ocorridos comfuncionários e pessoal terceirizadoda Companhia Energética de MinasGerais-Cemig. A base para o docu-mento é um relatório que a ABI re-cebeu do Sindicato Intermunicipaldos Trabalhadores na IndústriaEnergética de Minas Gerais e queenvolve um dos direitos humanosfundamentais: o direito à vida.

De acordo com o relatório, de1999 até 2005 foram registrados 46acidentes fatais, sendo 15 com fun-cionários da própria Cemig e 31com terceirizados. Os casos mais re-centes em 2005 foram os que viti-maram Márcio Amaro Sobrinho,

ABI DENUNCIACASO DE AGRESSÃO

Na Cemiga vida nãoé direito

que seriam os culpados por um incên-dio que estava ocorrendo numa fazen-da da localidade, foram interpeladospor Walter Marques de Oliveira.

Os servidores, que fazem rotinei-ramente trabalho de campo para aFunasa, foram abordados pelo fazen-deiro e seus filhos e um grupo de ho-mens identificados apenas como fun-cionários da fazenda. Sob a mira dearmas de fogo, foram conduzidos emseu próprio veículo de trabalho de vol-ta à fazenda e ameaçados de morte.Com as armas apontadas em sua di-reção, tiveram que apagar o fogo, ou-vindo xingamentos como “negros sa-fados, sem-vergonha”, “macacos” e“todos os funcionários públicos sãoladrões”. Walmir Ferreira de Souza foitambém chutado pelos agressores.

O Secretário-Geral da Condsef,Josemilton Maurício da Costa, infor-mou à ABI que, após submeter os ser-vidores a torturas e humilhações, ofazendeiro ligou para a Polícia e parao escritório da Funasa em Bom Jesusda Lapa. Quatro horas depois, chega-ram ao local alguns colegas de traba-lho das vítimas e um carro policial, quelevou os agredidos e o fazendeiro àdelegacia local, onde prestaram quei-xa e o caso foi registrado.

funcionário da empreiteira Ecel, eLuiz Cláudio dos Santos, técnico demontagem elétrica de transmissãoda Cemig havia 14 anos.

Márcio Amaro Sobrinho foi as-sassinado em 24 de outubro, quan-do viajava entre os Municípios deManga e Montalvânia, Norte deMinas, para executar um trabalhode corte de energia por falta de pa-gamento, tarefa que, segundo oSindicato, “a empresa reconhececomo atividade-fim”.

Em 29 de outubro, Luiz Cláudiodos Santos sofreu um choque elé-trico quando realizava ensaios emum transformador na subestaçãoda Usina de Irapé, no Alto Jequiti-nhonha. As dificuldades operacio-nais desta obra já provocaram vá-rias autuações da Delegacia Regio-nal de Trabalho.

A denúncia da ABI terá o acom-panhamento do jornalista SilvestreGorgulho, seu representante noConselho de Defesa dos Direitos daPessoa Humana, em Brasília. Deacordo com o Sindicato dos Traba-lhadores na Indústria Energética deMinas, a Cemig é a empresa com omaior número de acidentes fataisdo setor elétrico.

Fiscais da Funasasão seqüestradose humilhados emfazenda na Bahia

Em decorrência do tombo, não pôdemais se movimentar e seus intestinose rins paralisaram. Ele conta que pordiversas vezes tentou acordos com aAgência, mas em vão. Teve, então, derecorrer à Justiça, que lhe deu ganhode causa, mas, devido a um recursoimpetrado pelos advogados do banco,ainda não pôde receber a indenização.

Nequete, que agradece às pessoasque o levaram para ser operado em Por-to Alegre como responsáveis por sal-varem sua vida, diz que espera receberainda em vida a quantia estipulada peloJuiz, pois tem planos a cumprir. Entreeles, o mais importante é organizar sua“vasta contribuição à cultura do País.”

Em determinado trecho do discur-so, ele diz: “Sou um ansião (...) com‘s’, porque ainda tenho ânsia de viver.(...) Um ansião, portanto, que se re-cusa a ser marginalizado, discrimina-do, ofendido, vitimado por predado-res que se utilizam de todas as armaspara impedir que o velho tenha o di-reito de sonhar. Mas, senhores, eu so-nho. E me empenho em concretizarmeus sonhos.”

A morte tornou-serotina na empresa

Ferido em agênciado banco, sócio daABI de 79 anosé vítima de chicana

“O velho tem o direito de sonhar”Nelson Cavaquinho: Me dêem asflores em vida!

Sim, eu quero flores. Agora.Quando eu me chamar saudade, deque me valerá, querido Noel, umafita amarela?

A verdade, como diz o samba, éque, se um dia, eu passo bem, doisou três, passo mal. Será que isso énatural?

Não. Não é. É muito injusto.Aí vai um exemplo:Acabei de ganhar causa contra

determinada instituição. Bem quetenho urgência de receber a módicaindenização estipulada pelo ínclitojuiz. Mas a ré, impiedosamente,impetrou recurso, não levando emconsideração minha já elevadaidade: 79 anos!

Gostaria, é claro, que me restassetempo e que não me faltassemrecursos para aguardar, comtranqüilidade, a solução doproblema.

Mesmo assim, favoreça-me ou nãoa inexorabilidade das horas, eu,ansião, não abdico de ser grato à vida.

E repito, alto e bom som o que jádisse um poeta: Obrigado, coração,pelos tombos, pelas quedas, etambém porque me enredas na vitalobrigação de viver do coração.

Meu coração é igual àquele quePixinguinha cantou: bate feliz semsaber por quê!”

19Novembro/Dezembro de 2005

Jornal da ABI

DIREITOS HUMANOS

A Rede Brasileira de Jornalistas lan-çou no final de novembro uma cybera-ção no site www.riosvivos.org.br emdefesa de Lúcio Flávio Pinto e protes-to contra a situação vivida pelo jorna-lista. A ação conta com o apoio de en-tidades da classe, entre elas a organi-zação Repórteres Sem Fronteiras. Deacordo com o manifesto do grupo, Lú-cio Flávio sofre “injustiças em repre-sália à sua determinação de buscar averdade no cumprimento dos precei-tos universais do jornalismo”.

A iniciativa partiu de jornalistasque atuam na área de meio ambiente.Lúcio Flávio tem sido alvo de amea-ças, ataques e ações cíveis e penais soba alegação de difamação, por ter noti-ciado no seu Jornal Pessoal denúnciassobre tráfico de drogas, devastaçãoambiental e corrupção política e em-presarial no Norte do País. Segundoele, os 18 processos — em andamentosimultaneamente — derivam de ma-térias envolvendo assuntos de interes-se público e baseiam-se na Lei de Im-prensa, que é de 1967 e prevê penas

LIBERDADE DE IMPRENSA

Mutirão em defesa de Lúcio Flávio PintoCyberação é lançadapara ajudá-lo nos18 processos a queresponde por fazer umjornalismo-coragem.

severas, incluindo prisão.— As ações contra mim começaram

quando a Diretora-Administrativa dasOrganizações Rômulo Maiorana, Ro-sângela Maiorana, entrou com cincoqueixas-crime, quatro penais e umacível — que pretendia me impedir defalar no nome deles. Acontece que essaação cautelar exigia uma ação princi-pal, que nunca houve.

De 1992 até hoje, Lúcio conta quejá foram 32 as ações contra ele, sendonove relacionadas a denúncias de gri-lagem de terra e extração de madeira.No entanto, nenhum dos autores exer-ceu seus direitos de resposta, entran-do diretamente na Justiça: — Um mês

depois da agressão que sofri deRonaldo Maiorana, no início desteano, seus irmãos entraram com oitoações penais. Há ainda três açõescíveis, nas quais eles pedem R$ 360 milpor danos morais e materiais, mas to-das elas estão em fase de instrução.

Lúcio Flávio foi condenado em umaúnica ação de grilagem de terras noXingu, empreendida por Cecílio doRego Almeida — dono da Construto-ra CR Almeida e, segundo o jornalis-ta, “autor da maior grilagem na região”— e na qual deve pagar R$ 8 mil maisos acréscimos de 2000 até hoje:

— Isso deve somar cerca de R$ 30mil. A sentença foi dada quando o Juiztitular da 1ª Vara, Amílcar Roberto Be-zerra Guimarães, substituiu, num úni-co dia, a Juíza titular da 4ª Vara, Luziados Santos, num processo que soma-va mais de 400 páginas.

O jornalista paraense considerauma grande conquista o fato de suahistória ter chegado ao editorial do Wa-shington Post, no dia em que receberiaum prêmio em Nova York. O texto di-zia que, se ele se ausentasse do País,poderia perder uma audiência — o queserviria como desculpa para prendê-lo.

Lúcio Flávio é ainda considerado réuprimário, o que permite a suspensão desua prisão em uma primeira condena-ção. No entanto, se outra condenaçãofor confirmada, a sentença seguinte po-de levá-lo à prisão por até três anos.

AS AÇÕESLúcio Flávio Pinto enfrentou duas

ações penais e uma cível, impetradaspor Cecílio do Rego Almeida, deriva-das de uma série de artigos publica-dos no Jornal Pessoal em 1999 e 2000.As matérias denunciavam a apropria-ção de terras ricas em madeira na Flo-resta Amazônica por companhiascontroladas pelo autor das ações,dono da Construtora CR Almeida, eseus filhos.

Foi também processado pelo desem-bargador aposentado do Tribunal deJustiça do Estado do Pará João AlbertoPaiva, que entrou com uma ação cívele duas penais contra ele por dois arti-gos publicados em 2000. Nos textos,Lúcio Flávio criticava o desembargadorpor conceder uma liminar que resta-beleceu o controle temporário de ter-ra disputada pelas autoridades brasi-leiras para uma companhia controla-da por Cecílio do Rego Almeida.

Há ainda dez ações cíveis e penaispor difamação apresentadas contra ojornalista por membros da famíliaMaiorana, proprietária do diário O Li-beral e da TV Liberal, afiliada da RedeGlobo. Lúcio Flávio escreveu artigossobre a família e a história das Orga-nizações Rômulo Maiorana, em quedenunciava o uso de influência parapressionar empresas e políticos a com-prar espaço publicitário nas empresasde mídia do grupo.

O site riosvivos faz campanha por LúcioFlávio, perseguido pelos poderosos.

Em sua reunião de novembro, rea-lizada no dia 30, a Comissão Especialde Reparação da Secretaria de Direi-tos Humanos do Estado do Rio defe-riu mais 40 processos de indenizaçãoa título de reparação moral a vítimasde prisão e tortura durante o regimemilitar, sete das quais já falecidas, en-tre as quais o jornalista Mário Alves(Mário Alves de Souza Vieira), mem-bro do Comitê Central do Partido Co-munista Brasileiro-PCB e, após diver-gir deste, fundador do PCBR, queacrescentou o adjetivo Revolucionárioà sigla PCB.

O livro Brasil: Nunca mais registraque “Mário Alves foi trucidado numaseqüência de torturas que incluíram araspagem de sua pele com uma esco-va de aço e o suplício medieval do em-palamento, sem que até hoje o Regi-me Militar tenha admitido essa mor-te, ocorrida no quartel da Polícia doExército, na Rua Barão de Mesquita,no Rio, em janeiro de 1970”. (Petró-polis, Editora Vozes, 1985, página 96).

Mário Alves: enfim, uma reparação moralMário Alves: enfim, uma reparação moralMário Alves: enfim, uma reparação moralMário Alves: enfim, uma reparação moralMário Alves: enfim, uma reparação moralMorto há 35 anos, ele recebe do Estado do Rio o reconhecimento que a União lhe nega.

DEDEDEDEDEFFFFFEEEEERRRRRIIIIIDDDDDOOOOOSSSSSAdauto Dourado de Carvalho

Alcides dos Santos SouzaAna de Miranda BatistaAntonio Edilberto Veras

Antônio Garcia Filho (falecido)Arlindenor Pedro de Souza

Arnaldo Galeno Torricelli FilhoArydio Xavier da Cunha (falecido)

Benício Medeiros de CarvalhoCecília Maria Bouças Coimbra

Ceres Castor CaparelliDelacy de Alcântara

Eliane Salgado SeldinEnio Gama Moreira

Eurípedes Palazzo da SilvaEvaldo Lopes Gonçalves da Silva

Felipe dos SantosGeraldo Azevedo de Amorim

Inimá Leite FloresJoão Nunes da Silva

José Alberto Bandeira RamosJosé Carlos de Oliveira

Laerte RibeiroLaudelino da Silva Guedes

Entre os demais processos aprecia-dos e deferidos figura o de CecíliaCoimbra (Cecília Maria Bouças Coim-bra), uma das fundadoras e dirigentesdo Grupo Tortura Nunca Mais do Riode Janeiro.

Do total de processos apreciados,40 foram deferidos.

Lenin Vallim JacobinaLídia Maria Vargas de Queiroz

Manoel Gomes FilhoMarco Antonio Maranhão Costa

Maria Dalva Leite de Castro de BonetMaria do Carmo Gomes MacielMaria Luiza Araujo de Santana

Mário Alves de Souza Vieira (falecido)Mário Gorgonha (falecido)

Nauro GuimarãesNelson Mendes (falecido)

Oswaldo Roberto GuimarãesPaulo Rubens de Campos

Sebastião Bastos Batista (falecido)Solange Maria Santana

Vera Sílvia Magalhães Albuquerque Maranhão

INININININDDDDDEEEEEFFFFFEEEEERRRRRIIIIIDDDDDOOOOOSSSSSAdilson Lima (falecido)Antonio Pinto Teixeira

João Zeferino da Silva (recurso)José Eduardo Feliciano Filho

Luiz José Marques de AlmeidaRoberto de Souza MelloSantos Cardoso da Rosa

Mário Alves: durante a tortura, sofreuraspagem da pele com uma escova.

REPROD

ÃO

Jornal da ABI

20 Novembro/Dezembro de 2005

Em sua reunião de dezembro, a Co-missão de Defesa da Liberdade de Im-prensa e Direitos Humanos da ABIaprovou moção de solidariedade à Fo-lha de S. Paulo e à Rede Gazeta do Espí-rito Santo, alcançadas por decisões querestabeleceram a censura à imprensa.Na mesma reunião foi aprovada outramoção, em apoio à democratização daTV digital.

O primeiro caso referia-se à decisãodo Juiz Sílvio Luiz Ferreira da Rocha,da 5ª Vara Federal Criminal de São Pau-lo, que determinou que a Folha Onlinenão reproduzisse o noticiário do jornalimpresso do mesmo grupo sobre o pro-cesso criminal nº 2004.61.81.001452-5,que apura um caso de espionagem nacontratação da empresa Kroll pela Bra-sil Telecom, para investigar a concorren-te Telecom Itália.

A Folha de S. Paulo noticiou o assun-to pela primeira vez em julho de 2004,e o processo, que está tramitando sobsigilo, aponta como réus o empresá-

“Uma importante questão que dizrespeito a toda a cidadania e à sobera-nia nacional deveria estar sendo deba-tida nos mais diversos foros, mas, in-felizmente, ainda não ocupou o espa-ço necessário para um tema de tama-nha envergadura. Estamos falando daTV digital, um tema da mais alta re-levância em termos de democratiza-ção da mídia. E o futuro da TV digitaldefinirá se o principal meio de comu-nicação no Brasil abrirá espaço para asentidades de representação da socie-dade ou manterá as emissoras de tele-visão sob o controle de uma minoria,como acontece hoje.

Este momento, portanto, é umaoportunidade para se conseguir final-mente a democratização do setor. Epara lembrar um conceito do pensa-dor italiano que dispensa apresenta-ção, Umberto Eco: um país é demo-crático quando todos os setores soci-ais têm vez e voz (na mídia) em pé deigualdade. Nesse sentido, se os brasi-leiros conseguirem agora que o Poder

LIBERDADE DE IMPRENSA

A ABI condena a ressurreiçãoda censura por decisão judicialComissão de Defesa da Liberdade de Imprensa reage a atos de juízes que agridem a Constituição

“A TV digital não é uma questão técnica”O texto da moçãoque prega ademocratizaçãoda televisão

rio Daniel Dantas e mais 15 denunci-ados. No dia 21 de novembro último,por meio de ofício enviado à redaçãoda Folha Online, Margarete Morales Si-mão Martinez Sacristan, Juíza substi-tuta da 5ª Vara, informou que Ferreirada Rocha acolheu a solicitação de umdos envolvidos no caso.

Para censurar o noticiário, o Juiz de-terminou que “cesse imediatamentequalquer forma de divulgação de da-dos pertinentes aos fatos e às pessoasenvolvidas no processo em questão,seja por intermédio de notícia jorna-lística, televisiva, rádio ou qualqueroutro veículo de divulgação, inclusivepor meio de página da rede mundialinternet, mantida por essa empresa,sob pena de infração ao artigo 10 daLei nº 9.296/96 e art. 153 do CódigoPenal, pois trata-se de processo no qualfoi decretada a tramitação sigilosa”.

Ao se manifestar sobre a decisão, oPresidente da ABI, Maurício Azêdo,emitiu a seguinte opinião: “É uma de-

masia que levou o juiz a cometer umato inconstitucional. O artigo 220 daConstituição garante a plenitude daliberdade de expressão. A decisão deleinstituiu novamente a censura prévia,que foi abolida no País há mais de 20anos.”

A decisão da Justiça também estásendo criticada duramente pela Asso-ciação Nacional dos Jornais-ANJ e pelaFederação Nacional dos Jornalistas-Fenaj, que prometeu levar ao Conse-lho Nacional de Justiça (CNJ) um dos-siê com os principais casos de censuraprévia à imprensa, com a intenção deinibir interferências indevidas do Judi-ciário nos veículos de comunicação.

A outra medida judicial condenadana reunião da Comissão de Defesa daLiberdade de Imprensa e Direitos Hu-manos foi a autorização da 4ª Vara Cri-minal de Vila Velha, ES, prorrogada peloDesembargador Pedro Valls Feu Rosa,do Tribunal de Justiça do Espírito San-to. Feu Rosa autorizou a Polícia Civil

capixaba a fazer escuta de conversas te-lefônicas de jornalistas e funcionáriosda Rede Gazeta de Comunicações, àqual estão associados a Rádio CBN noEstado, o jornal A Gazeta e a TV Gaze-ta, afiliada da TV Globo. As gravaçõesforam realizadas durante a investiga-ção do assassinato do Juiz AlexandreMartins, em março de 2003.

Após a reunião, citando o episódioque resultou na morte de cinco pes-soas (três adolescentes, um jovem euma criança de 11 anos), durante umaação da Polícia Militar do Estado doRio de Janeiro no Morro do Estado,em Niterói, o Vice-Presidente da ABI,Audálio Dantas, que também presidea Comissão de Liberdade de Imprensae Direitos Humanos, comentou: — AABI está começando um processo deampliação das suas ações de defesados direitos humanos, que deverãoser estendidas aos casos em que as po-pulações carentes têm os seus direi-tos violados.

Público defina regras em relação aosistema brasileiro de TV digital am-pliando o número de canais a seremdisponibilizados na TV aberta e alter-nando radicalmente o atual cenário deconcentração dos meios de comunica-ção, o País estará dando um passo de-cisivo para que o conceito de UmbertoEco inscreva o Brasil entre as naçõesverdadeiramente democráticas.

Democracia nos tempos atuais, como aprimoramento da tecnologia do se-tor de comunicação, é fazer com quetodos os setores sociais não só tenhamacesso aos espaços midiáticos, comotambém tenham o direito de realizaras suas produções e divulgá-las. Ouseja, dependendo do futuro do sistemabrasileiro de TV digital, sindicatos, as-sociações, movimentos sociais e emis-soras públicas poderão ter seus canais.Ou isso, ou então, vale sempre repetir,o controle por uns poucos.

Como pode se observar, a discus-são dessa matéria não é uma questãotécnica, como querem alguns, mas simmatéria eminentemente política. Seráa democratização da mídia e o acessoaos canais de TV por mais amplos se-tores, uma conquista da sociedade bra-sileira. Querer remeter essa relevantequestão para o terreno exclusivamen-te técnico é na verdade, para usar uma

expressão popular que muito bem seaplica nesse contexto, tapar o sol coma peneira. Precisamos que os debatessobre a questão se estendam para osmais amplos setores da sociedade. ATV nos dias atuais, vale sempre enfati-zar, não pode ficar sob o controle deuns poucos, isto é, com poucas emisso-ras exercendo a sua liberdade de ex-pressão, enquanto a maioria das pes-soas é excluída do processo de produ-ção de informação.

A Associação Brasileira de Impren-sa não pode deixar de se posicionarnessa matéria. A ABI tem como umade suas principais bandeiras, que er-gue há quase cem anos, a democrati-zação da informação. Hoje, mais doque nunca, estamos em um momen-to de definição. Precisamos erguer anossa voz e apoiar com toda força essedesafio de tornar o Brasil mais demo-crático. Temos uma chance histórica.Queremos e exigimos a ampliação donúmero de canais a serem disponibi-lizados através da TV aberta. Não po-demos aceitar que as emissoras de te-levisão fiquem sob o controle de umaminoria.

Nas discussões desta relevante ma-téria não se pode também deixar dese conhecer as diferenças entre as ne-cessidades de países menos desenvol-

vidos. Um debate desta natureza nãopode ser feito apressadamente.

É o caso, por exemplo, de se colo-car na mesa de discussões a possibili-dade de se fazer em âmbito de Merco-sul um sistema digital integrado, quepoderia ser criado através de um acor-do conjunto com a China, ou seja TVdigital China-Mercosul.

Um sistema de TV digital para to-dos e não apenas para uns poucos é,sem dúvida, uma exigência de todosos cidadãos brasileiros que queremver o seu país inscrito no rol das na-ções democráticas na pura acepção dapalavra. Nada de monopólios e con-centração dos veículos de comunica-ção nas mãos de poucos, como acon-tece hoje.

Queremos, e exigimos, que sejamodificada a legislação atual que nãopermite o funcionamento das TVs co-munitárias em rede e em sinal aberto.Por que permitir isso apenas para osgrupos midiáticos poderosos, os mes-mos que hoje detêm privilégios e con-tam com a proteção de autoridades dosetor, ainda não convencidas de quesem uma mídia democratizada não háverdadeiramente democracia?

Esta é uma luta de todos os associ-ados da ABI e de toda a sociedade bra-sileira.”

21Novembro/Dezembro de 2005

Jornal da ABI

• • • • • FILIPINASGeorge Benaojan, 27 anos,apresentador de rádio e colunistade jornal, foi morto a tiros em Cebu,no centro das Filipinas, elevando paradez o número de jornalistas mortosno país em 2005. Os últimosprogramas e colunas de Benaojanserão analisados pela polícia local,para avaliar se a morte foi umaespécie de ajuste de contas devidoa opiniões expressadas pelo jornalista.

• COCOCOCOCONNNNNGGGGGOOOOOColaboradores e dirigentes doJournaliste en Danger (JED) — grupoque defende a liberdade de imprensana África — foram ameaçados demorte um dia após a divulgação deum relatório que denunciava abusoscontra jornalistas na República doCongo. As ameaças foram feitas porcelular a Donat Mbaya Tshimanga,Presidente da entidade, TshivisTshivuadi, Secretário-geral, e maisdois membros. Nas ligações, foiexigido o encerramento das atividadesda associação em no máximo dez dias.

• CCCCCHHHHHIIIIINANANANANAPelo sétimo ano consecutivo, a China éo país que mais tem jornalistas presosno mundo inteiro, com 32 detidos. Deacordo com dados do Comitê para aProteção dos Jornalistas (CPJ), Cubasegue logo atrás, com 24. Juntos, osdois países agrupam 45% dos editores,redatores e repórteres-fotográficospresos em todo o mundo. Os governoschinês e cubano acusam os jornalistasde cometer delitos contra o Estado,como subversão e divulgação desegredos oficiais. A relação de presosestá disponível no site www.cpj.org/attacks05/pages05/imprison_05.html.

• • • • • GUATEMALACom o objetivo de defender odireito de liberdade de expressãona Guatemala, decanos e diretoresde faculdades de Comunicaçãoguatemaltecas criaram a RedeInteruniversitária pela Defesa daLiberdade do Pensamento. O objetivoé estabelecer uma coordenação entreas universidades para defender aliberdade de expressão e estimularpesquisas sobre violações dosdireitos humanos. Outras informaçõespodem ser obtidas através do [email protected]

Em comunicado enviado à ABI, ojornalista Jourdan Amora, dono do Jor-nal de Icaraí e A Tribuna, denunciouuma medida adotada pela Prefeiturade Niterói, acusada por ele e pelo Sin-dicato das Empresas Proprietárias deJornais e Revistas do Estado do Rio deJaneiro-Sindjore de querer controlar aimprensa.

Amora revelou o teor de mensagemeletrônica enviada aos jornais pelaagência de publicidade Quê, que de-tém as verbas de publicidade da Pre-feitura. No texto, é exigido que os ve-ículos aceitem subordinar-se a uma fis-calização dentro de uma semana, sobpena de serem punidos com a suspen-são da programação publicitária emandamento, cujo prazo terminaria nodia 31 de dezembro. Dizia a mensa-gem enviada aos jornais:

“Prezados senhores, por exigênciastécnicas, a partir do mês de novem-bro, estaremos realizando acompanha-mento de tiragem e distribuição detodos os veículos nos quais a Prefeitu-ra de Niterói vem anunciando. Nestesentido, solicitamos que V.Sas encami-

LIBERDADE DE IMPRENSA

LÁ FORA: MORTE,AMEAÇAS, CENSURA,RESISTÊNCIA

Sob o pretexto deverificar tiragensela quer controlá-los.

O Prefeito de Cataguases, TarcísioHenriques, está perseguindo servido-res que colaboraram com a adminis-tração de sua antecessora, a ex-Pre-feita Maria Lúcia Soares de Mendon-ça, e se revela especialmente rancoro-so contra o jornalista Jorge Fábio doNascimento, que foi por ele demiti-do do cargo de editor do jornal ofi-cial do Município, o periódico Cata-guases, o que era compreensível, porse tratar de cargo de confiança, e tam-bém do cargo obtido por concurso pú-blico de Fiscal do Meio Ambiente, oque é inconstitucional.

Além de demitido, Jorge Fábio, queé sócio da ABI, passou, estranhamente,a receber ameaças de morte e foi inti-mado a comparecer para depoimento àDelegacia de Polícia, depois que o Pre-feito Henriques o acusou de autor deboletins que denunciam atos da Prefei-tura. Em mensagens enviadas por e-mail à ABI nos dias 14 e 16 de dezem-bro, Jorge Fábio revelou sua preocupa-ção diante das ameaças que recebeu.

Prefeito de Cataguasespersegue jornalista

“Quem lhe escreve – disse ele na pri-meira mensagem – é seu companhei-ro Jorge Fábio do Nascimento, ex-edi-tor do jornal Cataguases, que após otérmino do governo da Prefeita Ma-ria Lúcia Soares de Mendonça foi de-mitido do cargo de editor do órgãooficial do Município e do cargo con-cursado de Fiscal do Meio Ambientepelo atual Prefeito, Dr. Tarcísio Henri-ques, homem perseguidor, ditatorial,que está numa das listas divulgadasdo Marcos Valério.

Por minha oposição aos seus méto-dos senis de governar, fui intimado acomparecer hoje às 10 horas da ma-nhã à Delegacia de Polícia de Catagua-ses como um dos acusados pelo Prefei-to de fazer boletins anônimos que fun-cionários da Prefeitura, revoltados comos desmandos cometidos pela atual ad-ministração, divulgam na cidade semassinatura, amedrontados pelas amea-ças e atos do Prefeito, que já suspen-deu vários funcionários e pôs em dis-ponibilidade outros por não aceitaremsua prepotência.

Não sei o que me pode acontecermas peço a ajuda da ABI. No interioros desmandos são ocultos, mas são tãograndes ou maiores que os das capi-tais. (a) Jorge Fábio do Nascimento.”

Uma caça às bruxasatinge partidáriosda antiga situação.

Prefeitura de Niteróiacusada por jornais

nhem o dia da semana e o horário querecebem os exemplares, bem como odia, horário e mapa da distribuição,para que possamos encaminhar a ve-rificação de circulação. Solicitamosque tais informações nos sejam pas-sadas no prazo de sete dias, sob penade suspensão das veiculações.”

O Sindjore, que representa 120 jor-nais e revistas fluminenses, enviou pro-testo ao Prefeito Godofredo Saturninoda Silva Pinto, destacando o compro-misso da entidade com a liberdade deimprensa, ao “expressar a posição fir-mada de reação a toda e qualquer ten-tativa de coagir empresas jornalísticas,notadamente quando ela é agravadapor ameaças de boicote econômico,através da suspensão de programaçõespublicitárias”.

Jourdan Amora revelou que diver-sas vezes o Jornal de Icaraí teve de mu-dar as rotas e horários de distribui-ção dos seus exemplares: — Amigosde um ex-Prefeito acompanhavamnossas equipes de entrega, fazendo orecolhimento dos exemplares paraque as críticas à sua administraçãonão chegassem aos eleitores. O parti-do do então Prefeito chegou a lançarum jornal concorrente, tentando co-piar a nossa logística operacional e,até mesmo, contar com uma tiragemmais elevada.

INFÂNCIA

Mais de 6 mil crianças indígenas comacesso à água potável, mais de 7 milmeninas e meninos participando de prá-ticas esportivas, mais de 1.600 projetosde ação complementar à atividade es-colar, milhares de crianças retiradas dotrabalho infantil. Esses são números ali-nhados pela Representante no Brasil doFundo das Nações Unidas para a Infân-cia-Unicef, Marie-Pierre Poirier, na men-sagem de agradecimento que dirigiu nofim de 2005 a quantos apoiaram os pro-gramas da instituição no País. Na men-sagem, endossada por dirigentes doUnicef no Brasil, entre os quais o Coor-denador de Marketing e Vendas doUnicef-Rio, Henrique Câmara, diz a Re-presentante Marie-Pierre Poirier:

“Queridas parceiras e queridos par-ceiros,

Em 2005, seu apoio foi fundamen-tal para que o Unicef ajudasse a reti-rar crianças do trabalho infantil, a ga-rantir água potável a mais de seis milcrianças indígenas, a dar acesso a maisde 7 mil meninas e meninos ao espor-te, a mobilizar mais de 1,6 mil proje-tos de ação complementar à escola emtodo o País, a tornar visível a ameaçaque o HIV/Aids representa para cri-anças e adolescentes, a melhorar a vidade dezenas de milhares de crianças doSemi-árido brasileiro.

Muito obrigada:Em 2006, contamos novamente com

sua aliança para promover o direito decada criança e adolescente brasileiro asaúde, educação, igualdade e proteção.”

Unicefagradeceapoio

MERCADO

A circulação de jornais no Brasil re-gistrou nos primeiros oito meses de2005 um crescimento de 4,7%, reve-lou a Associação Nacional de Jornais,informando que a participação dosjornais na receita publicitária se situouem 24%. Os estudos feitos pela ANJapontam também efeitos positivos daleitura dos jornais sobre o grau deconsciência política e social dos cida-dãos e também nas oportunidades decolocação profissional.

A ANJ informou que o processo deaumento da circulação dos jornais co-meçou em maio de 2004 e se consoli-dou em 2005, quando o indicador acu-sou uma circulação global de 6,5 mi-lhões de exemplares diários. Em pes-quisa patrocinada pela ANJ os jornaismantiveram, com 74% dos votos, aposição de meio de comunicação demaior credibilidade no País. O rádioapareceu com 64% nessa pesquisa, re-alizada em maio pelo Ibope sob o tí-tulo Confiança nas Instituições.

Jornais venderammais 4,7% em 2005

Jornal da ABI

22 Novembro/Dezembro de 2005

PROGRAMAÇÃO

Em reunião na sede do MinistérioPúblico do Estado do Rio de Janeiro,no dia 11 de novembro, o Ministérioda Justiça promoveu a sexta consultapública sobre a Nova ClassificaçãoIndicativa da TV, que vem sendo de-batida com autoridades governamen-tais e da Justiça, parlamentares, asso-ciações de classe e membros da socie-dade civil. O debate foi coordenadopor Cláudia Chagas, Secretária Nacio-nal de Justiça, e José Eduardo EliasRomão, Diretor do Departamento deJustiça, Classificação, Títulos e Quali-ficação da Secretaria Nacional de Justi-ça. Participaram também membros doMP do Rio, professores universitáriose da rede pública de ensino e represen-tantes da ABI, da TV Educativa, daMultiRio e da Associação Brasileira deProprietários da TV por Assinatura,entre outros. Os encontros anterioresocorreram em Brasília, Rio Branco, Be-lo Horizonte e São Paulo. A sétima eúltima consulta pública foi realizadana semana seguinte, no Recife.

Promovidos pelo Ministério da Jus-tiça, os debates visam a regulamentare padronizar a classificação indicativada programação de TV, na tentativade assegurar que as emissoras abertasou pagas tenham uniformidade na lin-

Em debate a classificação indicativa da TVMinistério da Justiça ouve a sociedade para editar ato que disporá sobre a matéria

guagem informativa, para facilitarpais, responsáveis e educadores na es-colha dos programas adequados paracrianças e adolescentes. Segundo JoséEduardo Romão, isso ajudará a apri-morar o trabalho de análise que o Mi-nistério Público já realiza.

— O objetivo principal do Minis-tério é instituir uma nova regulamen-tação de classificação indicativa, a serestabelecida em ato do Poder Executi-vo. Num primeiro momento, nossaação é caracterizar essa regulamenta-ção como instrumento pedagógico,que seja utilizado por pais e educado-res. Queremos que se produza umacompreensão crítica sobre os progra-mas que são exibidos na TV. Outroobjetivo é promover uma pesquisa queajude a descrever, com mais facilida-de, o universo da criança e do adoles-cente e suas reações diante de imagensviolentas que são mostradas na tela.

Para fazer o trabalho de análise equalificação da programação da TV,o Ministério da Justiça tem uma equi-pe própria de 20 pessoas e conta coma colaboração de 40 voluntários, con-vocados eventualmente. Disse Ro-mão que em relação aos programaspara a faixa entre 16 e 18 anos o Mi-nistério vem buscando ampliar o diá-

logo com a sociedade e Ministériosafins, como o das Comunicações, ten-tando fixar uma metodologia paraapreciar melhor os indicadores de ina-dequação, que podem ser classifica-dos por cenas de violência e sexo ex-plícito, consumo de drogas ilícitas eestupro com cenas explícitas, entreoutras: — O Ministério da Justiçanão faz análise prévia sobre o que de-ve ou não ser exibido na televisão.Apenas analisamos o conteúdo e nosmanifestamos sobre ele.

A publicidade também é uma pre-ocupação do Ministério da Justiça, quetem dificuldade de lidar com a defini-ção de qualificação para as criançasentre 3 e 6 anos, que, de acordo compesquisa recente, passam, geralmen-te sozinhas, de quatro a dez horas di-ante da televisão: — É difícil compre-ender o impacto das imagens da vio-lência nas diversas faixas etárias. AFiocruz faz pesquisa nessa área e porisso o Ministério da Justiça pretendeformalizar uma parceria com a insti-tuição para lidar com o assunto.

Em relação aos programas detelejornalismo, Romão explicou: — APortaria 796, no capítulo sobre progra-mas ao vivo, diz que, se um telejornalexplorar indevidamente imagens de

violência explícita, poderá ser classifi-cado como inadequado. Mas não cabeao MJ dizer se o programa jornalísti-co é bom ou mau. Quando passamosa discutir a proposta da classificaçãoindicativa, verificamos que não esta-mos autorizados a classificar a progra-mação jornalística, isso só poderia serfeito por iniciativa do MP, por ação ju-dicial.

O Ministério da Justiça sugere queas emissoras criem ouvidorias para re-ceber as reclamações do público, pois,diz Romão, não tem poder de sanção:— Se uma emissora desrespeita a clas-sificação indicativa, ela é advertida esua programação, reclassificada. Se in-sistir em não cumprir a recomenda-ção, informamos ao Ministério dasComunicações e ao Ministério Públi-co Federal, que é o órgão que tem po-der de adotar procedimentos que le-vem a sanções contra a emissora.

José Eduardo Romão disse aindaque o objetivo principal dos debatespúblicos sobre a Nova ClassificaçãoIndicativa da TV é a edição de umdecreto de regulamentação: — Elepoderá surgir desse esforço de diálo-go com toda a sociedade e irá conju-gar as iniciativas desse processo de ade-quação da programação da TV.

O Presidente da ABI, MaurícioAzêdo, foi um dos agraciados em 8 dedezembro, Dia da Justiça, com o Co-lar do Mérito Judiciário, conferido peloTribunal de Justiça do Estado do Riode Janeiro a personalidades que, dire-ta ou indiretamente, hajam prestadorelevantes serviços à cultura jurídicae ao Poder Judiciário fluminense. Tam-bém foi agraciado o Diretor-Presiden-te do Jornal do Commercio do Rio, jor-nalista Maurício de Castilho Dinepi.

Em cerimônia sob a presidência doDesembargador Sérgio Cavalieri Filho,Presidente do Tribunal de Justiça doEstado, foram condecoradas 24 perso-nalidades, às quais se somaria o Vice-Presidente da República, José Alencar,que não pôde comparecer em razão de,na hora do ato, ter de assumir a Presi-dência da República em substituição

Presidente daABI recebeColar doJudiciário

ao Presidente Luiz Inácio Lula da Sil-va, que viajava para o exterior. Emmensagem ao Tribunal, Alencar pediuque seja remarcado o ato de entregado Colar, em cerimônia discreta.

Os agraciadosAlém de Maurício Azêdo, Maurício

Dinepi e do Vice-Presidente JoséAlencar, foram condecorados o Minis-tro Rafael de Barros Monteiro Filho,do Superior Tribunal de Justiça; o Al-mirante-de-Esquadra Euclides DuncanJanot de Matos; o General-de-Exérci-to Domingos Carlos Campos Curado;o Vice-Almirante José Antônio de Cas-tro Leal; o Major-Brigadeiro PauloHortênsio Albuquerque e Silva; o Pro-curador-Geral de Justiça do Estado,Marfan Martins Vieira; o Presidenteda Academia Brasileira de Letras, IvanJunqueira; o Coronel Hudson deAguiar Miranda, Comandante-Geralda Polícia Militar do Estado do Rio; oDesembargador Carlos Augusto Gui-marães e Souza Júnior, do Tribunal deJustiça do Estado de São Paulo.

Também receberam a comenda oadvogado Carlos Alberto Pires de Car-valho e Albuquerque Júnior; o econo-

mista Carlos Ivan Simonsen Leal, Pre-sidente da Fundação Getúlio Vargas;o leiloeiro Acir Joaquim da Costa, quefoi serventuário da Justiça por maisde 20 anos; o médico Edson de AguiarGodoy, Presidente da Amil; o advoga-do José Ribamar Sabóia de Azevedo;os Desembargadores Antônio CarlosNascimento Amado, Roberto RochaFerreira, José Carlos Paes e MarcusHenrique Pinto Basílio, do Tribunal deJustiça do Estado do Rio; o Juiz Sér-gio Ricardo de Arruda Fernandes; osadvogados Guilherme Rodrigues Diase Dagoberto Pinheiro das Chagas; e oserventuário da Justiça Jorge Antôniode Souza Rocha, criador do sistema deinformática do Tribunal.

O sucinto currículo do Presidente daABI, lido pela mestre-de-cerimôniaLeilane Neubarth, registra que ele écarioca nascido em Laranjeiras e cria-do em Catumbi, se formou em Direitopela Turma Roberto Lira de 1960 daFaculdade de Direito do Catete e pre-teriu a advocacia em favor do jornalis-mo, no qual se iniciara no terceiro anodo curso acadêmico. Maurício Azêdotrabalhou nos principais jornais e revis-tas do Rio e São Paulo e a partir de 1982

militou na política institucional. Eleitovereador à Câmara Municipal do Rio deJaneiro nesse ano, exerceu o mandatopor três Legislaturas (1983-1988, 1989-1992, 1993-1996), foi Prefeito em exer-cício do Rio (15-23 de março de 1983),Presidente da Câmara no biênio 1983-85, Secretário Municipal de Desenvol-vimento Social (1986-1987) e Conse-lheiro do Tribunal de Contas do Muni-cípio (1999-2004), no qual se aposentoupor limite de idade em setembro do anopassado. Em maio de 2004 assumiu aPresidência da ABI, de cujo ConselhoDeliberativo participa desde 1972.

O Colar do Mérito Judiciário foi ins-tituído pelo Tribunal de Justiça do Es-tado do Rio em dezembro de 1974,tem grau único e é constituído por umamedalha tipo comenda, em metal dou-rado, esmaltada em azul e branco, ten-do ao centro a insígnia do Estado doRio de Janeiro com a inscrição “Tribu-nal de Justiça”, e a ser usada com fitaazul e branco.

A outorga do Colar é decidida peloÓrgão Especial do Tribunal de Justiça,constituído pelos 25 desembargadoresmais antigos, para entrega em soleni-dade no Dia da Justiça.

CONDECORAÇÃO

23Novembro/Dezembro de 2005

Jornal da ABI

RELATÓRIO

A ABI recebeu do Population ReferenceBureau, de Washington, conhecido pelasigla PRB, o quadro As mulheres de nossomundo 2005, com dados atualizados so-bre o status da mulher e seu progressoem saúde reprodutiva, educação, traba-lho e vida pública.

A iniciativa do PRB faz parte do com-promisso assumido por governos e ativis-tas que participaram da Quarta Confe-rência Mundial sobre a Mulher, realiza-da em Pequim em 1995, para defender oavanço feminino. Segundo informaçõesde Rachel A. Nugent, Diretora do PRB,os dados são essenciais para observar aigualdade entre os sexos e as metas desaúde dos Objetivos de Desenvolvimen-to para o Milênio, estabelecido pelas Na-ções Unidas em 2000.

No relatório Avaliação dos avanços con-seguidos pela mulher de 2005, o PRB relataque as mulheres têm registrado melhorassensíveis em alguns campos: o número demeninas matriculadas nas escolas aumen-tou, bem como a participação femininano mercado de trabalho não-agrícola, maiscasais estão usando métodos contracep-tivos modernos e as mulheres têm opta-do por gerar menos filhos.

Mesmo assim, de acordo com o rela-tório, as mulheres de todo o mundo, es-pecialmente dos países mais pobres, con-tinuam sujeitas a desvantagens econô-

Ela experimentou avanços,mas as áreas mais pobresmantém as desigualdades.

Um retrato da mulher no mundo em 2005micas e sociais em comparação aos ho-mens, como na África Subsaariana e naÁsia Meridional, onde as meninas regis-tram índices de alfabetização e escolari-dade muito inferiores aos dos meninos.Uma das soluções apresentadas é a de quese aumente a participação de mulheresnas lideranças políticas — sua represen-tação mundial nos parlamentos é de me-nos de 20% atualmente.

Ainda segundo o relatório, as mulhe-res representam quase metade dos infec-tados pelo HIV em todo o mundo e asautoridades estão acompanhando a pan-demia de aids na Ásia e na Europa Ori-ental, onde os índices de transmissão dadoença via relações sexuais têm aumen-tado rapidamente.

Foi também enviado à ABI o informa-tivo Igualdad entre los sexos: nuevas opor-tunidades de cara al futuro, resumo de polí-ticas para se levar adiante a agenda dePequim, a promoção de igualdade entreos sexos e a valorização da mulher, inte-gradas à implementação dos Objetivosde Desenvolvimento para o Milênio. Aodivulgar estes dados, o objetivo do PRBé mostrar a situação das mulheres, de-monstrando que a discriminação contraelas é comum e merece atenção.

O trabalho do PRB foi financiado pelaAgência dos Estados Unidos para o Desen-volvimento Internacional-Usaid no âmbi-to do Projeto Bridge-Bringing Informationto Decisionmakers for Global Effectiveness(Trazendo Informação para Responsáveispor Decisões em Questões Globais).

Para mais informações e gráficos:www.prb.org/espanol/2005women.

Profissionais de jornal, rádio e tele-visão do Rio Grande do Sul festejaramno dia 19 de dezembro o 70° aniversá-rio da Associação Rio-Grandense deImprensa, a celebrada ARI, criada poruma geração que escolheu para primei-ro presidente e patrono uma figura ex-ponencial da cultura do Estado e doPaís: o escritor Érico Veríssimo.

A trajetória da ARI foi realçada emseus pontos culminantes por um dosseus sócios mais eminentes, o jornalis-ta e Vice-Governador do Estado An-tônio Hohlfeldt, que publicou em ho-menagem à Casa de Érico Veríssimo,no Jornal Regional, do Município deSalvador do Sul, um texto que celebrao mais destacado dirigente da entida-de, o jornalista Alberto André, que ho-je dá nome ao edifício-sede da ARI. Aseguir, o artigo de Hohlfeldt.

“Desde meus tempos de adolescen-te, estudante do segundo grau do Colé-gio Estadual Júlio de Castilhos, quandopensava, ainda, em ser jornalista, estou

FAZ 70 ANOS A CASAFUNDADA POR ÉRICOOs jornalistas gaúchos engalanaram-se para festejar oaniversário da Associação Rio-Grandense de Imprensa-ARI

integrado à Associação Rio-Grandensede Imprensa, a ARI. Depois de profissio-nalizado, filiei-me formalmente à enti-dade. Integro seu Conselho há muitosanos, para enorme honra minha.

A ARI, fundada em 1935, não porum acaso teve como seu primeiro pre-sidente e patrono, ainda hoje, o escri-tor Érico Veríssimo. Não há no RioGrande nenhum intelectual com umacoerência em defesa do humanismo,da liberdade e da democracia comoÉrico. Por conseqüência, na medida emque a ARI permanece vinculada à me-mória de Érico, permanece ligada a umdeterminado compromisso. Não pos-so falar do período do Estado Novo,mas acompanhei de muito perto o pe-ríodo pós-1964, e especialmente apóso AI-5 de 1968. Liderada por AlbertoAndré, mas ainda com o acompanha-mento de Érico Veríssimo, a ARI sem-pre esteve lutando em defesa dos di-reitos de todos os cidadãos e, muitoespecialmente, da liberdade de im-

prensa, no senti-do da liberdade edo direito que to-dos os cidadãostêm de ser bem-informados.

É importante, neste sentido, que aARI é uma entidade de classe, mas nãoé nem sindicalista, embora já tenhacumprido tal papel, nem é sectária: re-úne profissionais de imprensa, de rá-dio e de televisão. Aproxima trabalha-dores e empresários. Faz o chamadomeio de campo entre todos e tem com-prado algumas belas brigas. Por exem-plo: a indicação do Correio Braziliensecomo jornal referencial da criação daimprensa brasileira, na medida em que,embora impresso em Londres, foi o pri-meiro periódico a defender a liberdadee a independência do País, ao contrárioda Gazeta do Rio de Janeiro, vinculadaao Governo da regência.

Mais recentemente, vinculou-se aodebate intenso sobre o futuro da hu-

manidade e do globo terrestre, tendoem vista a questão das águas, realizan-do seminários memoráveis. Tenho or-gulho e me sinto responsável ao parti-cipar e por integrar a ARI. Há uma his-

tória que deve orgulhar todos nós.Há uma coerência que, gestãoapós gestão, ao longo das dé-cadas, tem marcado a histó-ria de nossa Associação. Acompletude de seus 70 anosde vida deve ampliar nossaresponsabilidade peranteela. Não pode haver profis-sional da área de comuni-cação, mesmo aqueles vin-culados às atividades de re-lações públicas ou propa-ganda e publicidade, que

possa se manter distante da nossa ARI.Ela é o vínculo de nossa identidade.

Hoje em dia, em pleno processo de-mocrático, são outros os desafios que aARI enfrenta. Perduram, claro, os deba-tes ideológicos. Colocam-se novos de-safios à instituição. Mas a ARI se-gue firme, com excelentes debates in-ternos, às vezes até muito tensos, mascom a garantia de que se guarda ínte-gra, sempre em defesa da liberdade deimprensa e responsável por um espaçoaberto e democrático para o debate deidéias e de práticas políticas.

Tenho enorme orgulho de perten-cer à ARI. E espero que os colegas quea integram continuem a respeitar suascaracterísticas. Perdê-las seria cavar ofosso de nossa própria dissolução.”

COMEMORAÇÃO

REPROD

ÃO

Jornal da ABI

24 Novembro/Dezembro de 2005

Adísia, pioneira

Mais dez livros de edição recente foram incorporados ao acervo da Bibliotecada ABI (Biblioteca Bastos Tigre), entre os quais dois dedicados à exposição eanálise da atual crise política — Memorial do escândalo, de Gerson Camaroti eBernardo de La Peña, repórteres da sucursal de O Globo em Brasília, que acompa-nham a crise desde o seu início, e Por dentro do Governo Lula, da cientista políticaLucia Hippolito, que classifica sua obra de “diário de bordo”, porque inclui fatose conclusões publicados na época em que ocorreram.

As obras estão à disposição dos sócios da ABI para empréstimo, que poderáestender-se por 15 dias, prorrogável por outro tanto, se não houver pedido deempréstimo do volume por outro associado.

O livro Adísia Sá, uma biografia, dajornalista e biógrafa Luiza HelenaAmorim, lançado na Sala de Convivên-cia da Universidade Federaldo Ceará, resgata a trajetó-ria marcada pelo pioneiris-mo da primeira mulher aatuar na imprensa cearensee a conquistar um registrosindical. Depois dela, passa-ram-se 15 anos até que ou-tra mulher conseguisse in-gressar no Sindicato dos Jor-nalistas do Estado do Ceará.

Aos 76 anos de idade e 50 deprofissão festejados em agosto, Adísiamantém-se atuante no rádio, na tele-visão e no jornalismo impresso. Em1999, escreveu o livro O jornalista bra-

As futuras arquitetas por-tuguesas Vanessa Fernandes,Liliana Viana, Anabela Olivei-ra e Sônia Bastos visitaram em19 de dezembro o edifício-se-de da ABI, ao qual foram atra-ídas por causa de sua citação,nas aulas da faculdade, comoum projeto revolucionário daarquitetura brasileira.

– É muito comum nas au-las das universidades de Ar-quitetura de Portugal ouvirfalar do brise-soleil (quebra-solatravés de persianas de con-creto na fachada) do prédio daABI – disse Vanessa, que, as-sim como Liliana, estuda naFaculdade de Arquitetura daUniversidade do Porto.

As estudantes percorre-ram todas as dependências da ABI, visi-taram a exposição Caderno de notas –Vlado, 30 anos – que ficaria até o dia se-guinte no hall do 9º andar do prédio – eforam recebidas pelo Presidente da ABI,que lhes falou sobre a história do Edifí-cio Herbert Moses, um projeto dos ar-quitetos Marcelo e Milton Roberto cons-truído entre 1936 e 1939.

Antes de visitar a ABI, as estudantesportuguesas conheceram a Casa das Ca-noas, o MAM e o Palácio Gustavo Capane-ma. Todas cursam o último ano de Arqui-tetura e vieram ao Brasil no âmbito de umintercâmbio firmado entre universidadesde Portugal com a Federal do Rio de Ja-neiro (UFRJ) e a Federal da Bahia (UFBA).

Sônia e Anabela, da Faculdade de Ar-quitetura da Universidade do Minho evinculadas ao convênio com a UFRJ, afir-maram estar adorando o Brasil, sua di-

Sede da ABI visitada porportuguesas e holandeses

sileiro, que se tornou obra de referên-cia sobre a fundação da FederaçãoNacional dos Jornalistas-Fenaj.

A obra de Luiza Helena Amorim –sua estréia como escritora, premiada na12ª Expocom no Rio de Janeiro, na ca-tegoria livro-reportagem – apresenta

um perfil intimista da per-sonagem e recupera a vidade Adísia desde a infância,das lembranças estudantis edos planos para o futuro.

Para compor o livro,Luiza Helena pesquisou jor-nais e gravou muitas horasde entrevistas com Adísia: –Escrevê-lo era uma forma dehomena-geá-la, ainda mais

quando percebi que não exis-tia nenhuma obra que contasse a his-tória da professora. Aceitei o desafiojá me dando conta da imensa respon-sabilidade que assumiria.

LIVROS

SERVIÇO

Obras novas na Biblioteca da ABINo acervo, títulos acerca da crise do mensalão

CCCCCAMAROAMAROAMAROAMAROAMAROTI, Gerson, e LTI, Gerson, e LTI, Gerson, e LTI, Gerson, e LTI, Gerson, e LA PA PA PA PA PEÑA, BernardoEÑA, BernardoEÑA, BernardoEÑA, BernardoEÑA, Bernardo. Memorial doescândalo — Os bastidores da crise e da corrupção no GovernoLula. Prefácio de Helena Chagas. São Paulo: Geração Editorial,2005. 271 p. Il.

FFFFFERERERERERRRRRRARARARARARI, PI, PI, PI, PI, Polyanaolyanaolyanaolyanaolyana. Jornalismo digital. São Paulo: Contexto,2004. 120 p. Il.

FOER, FFOER, FFOER, FFOER, FFOER, Franklinranklinranklinranklinranklin. Como o futebol explica o mundo — Um olharinesperado sobre globalização. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,2005. 233 p.

HHHHHIIIIIPPPPPPOLITPOLITPOLITPOLITPOLITO, LuciaO, LuciaO, LuciaO, LuciaO, Lucia. Por dentro do Governo Lula — Anotaçõesnum diário de bordo. São Paulo: Futura, 2005. 2ª ed. 304 p.

KARAM, Francisco José Castilhos. A ética jornalística e ointeresse público. São Paulo: Summus, 2004. 275 p.

MOLICMOLICMOLICMOLICMOLICA, FA, FA, FA, FA, Fernandoernandoernandoernandoernando (org.) 10 reportagens que abalaram aditadura. Rio de Janeiro: Record, 2005. 319 p.

RODRRODRRODRRODRRODRIGUIGUIGUIGUIGUES, ErnestoES, ErnestoES, ErnestoES, ErnestoES, Ernesto (org.) No próximo bloco ... — Ojornalismo brasileiro na TV e na Internet. Rio de Janeiro: Ed.PUC-RJ; São Paulo; Loyola, 2005. 285 p.

SAROLDI, Luiz Carlos, e MORSAROLDI, Luiz Carlos, e MORSAROLDI, Luiz Carlos, e MORSAROLDI, Luiz Carlos, e MORSAROLDI, Luiz Carlos, e MOREIEIEIEIEIRRRRRA,A,A,A,A,Sonia VSonia VSonia VSonia VSonia Virgíniairgíniairgíniairgíniairgínia. Rádio Nacional — OBrasil em sintonia. Rio de Janeiro:Jorge Zahar Ed., 2005. 3ª ed. 221 p Il.

SSSSSOUZOUZOUZOUZOUZA, Manoel deA, Manoel deA, Manoel deA, Manoel deA, Manoel de. Loucuras dosseriados da TV — 287 histórias reais ...e absurdas. São Paulo: Editora Panda,2004. 117 p. Il.

ZZZZZOBAROBAROBAROBAROBARAN, SérgAN, SérgAN, SérgAN, SérgAN, Sérgioioioioio. Evento é assimmesmo! — Do conceito ao brinde. Riode Janeiro: Editora Senac Rio, 2004.

Os livros agora disponíveis são estes:

Antes dela o Cearábarrava as mulheres.

As portuguesas Vanessa, Liliana, Anabela e Sônia queriamconhecer o brise-soleil do Edifício Herbert Moses.

ATRAÇÃO

Os holandeses Albert, Arie, Sabine e Nols, deslumbrados com a sede da ABI.

Na tarde de 10 de novembro, quatroarquitetos holandeses visitaram o Edi-fício Herbert Moses para fazer uma pes-quisa sobre a arquitetura brasileira. Elestrabalham no escritório Hudn Architec-ten, de Amsterdã, que costuma enviarseus profissionais para fazer estudos emoutros países.

Albert Herder, Arie van dar Neut, Sa-bine Herne e Nols van Ipenburg chega-ram ao Brasil num fim de semana, visi-taram São Paulo e Brasília e fizeram noRio sua última escala. Durante a visitaa ABI, eles ficaram fascinados com apreservação das características originaisdo edifício.

– Os últimos andares são os mais bo-nitos – disse Sabine.

Revelou Albert Herder que havia ao

versidade cultural e seus marcos arquite-tônicos, em que se destacam as obras deOscar Niemeyer.

– Considero a arquitetura brasileiramuito plástica, diferente da arquiteturaportuguesa, que, em função das caracte-rísticas climáticas da Europa, é mais aus-tera. Estamos muito impressionadastambém com a riqueza cultural do Bra-sil – disse Anabela.

As quatro chegaram há quatro meses– Anabela e Sonia vieram para o Rio eLiliana e Vanessa foram para Salvador –e devem ficar no País até julho, quandoacaba o convênio. Até lá, querem conhe-cer outras cidades brasileiras.

– Além dos lugares e prédios que já ti-vemos a oportunidade de conhecer no Rioe na Bahia, também me impressionoumuito a arquitetura da parte histórica deSão Luís, no Maranhão – disse Liliana.

“Este edifício é lindo” todo 14 arquitetos do Hudn Architectenno Rio, mas o grupo se dividiu para darconta de todas as construções a seremvisitadas. O roteiro, no entanto, não sebaseia em algum projeto em andamentoem seu país: – Viemos para conhecer oque vemos nos livros. Em alguns prédi-os, porém, não nos deixaram entrar. Ain-da bem que aqui podemos conhecer esteedifício lindo. Com base na obra arquite-tônica brasileira, podemos nos inspirarpara achar soluções em futuros trabalhos.

Os holandeses ficaram admiradoscom o que viram na ABI e se surpreen-deram principalmente com o fato de oprédio ter sido construído para reunirjornalistas e defender seus direitos. Paracumprir a agenda corrida, os quatro la-mentaram ter que sair tão rapidamen-te, pois queriam saber mais detalhes econhecer a história da instituição.

ROD

RIG

O C

AIXETA

JOSÉ REIN

ALDO

MARQ

UES

25Novembro/Dezembro de 2005

Jornal da ABI

Os amigos formaram uma grandefila para cumprimentar o jornalistaDomingos Meirelles na noite de au-tógrafos do livro 1930: Os órfãos da Re-volução (Record), lançado em 7 de de-zembro, no Salão de Exposições Tem-porárias do Forte de Copacabana.Meirelles, que apresenta o programaLinha direta, da TV Globo, é tambémDiretor Econômico-Financeiro da ABIe foi muito festejado pelos colegas daentidade: Audálio Dantas (Vice-Presi-dente), Joseti Marques (Diretora deJornalismo), Ana Maria Costábile (Di-retora Administrativa), AraquémMoura, Glória Alvarez, DomingosXisto e Amicucci Gallo (Conselheiros).

Audálio Dantas comentou que Do-mingos Meirelles “como escritor é umgrande jornalista”, por ser um profis-sional que trabalha fundamentado napesquisa e na apuração profunda dosfatos: — Ele sempre foi um repórtermeticuloso, desde o tempo em que fuiseu editor na revista Realidade.

Joseti Marques concorda: — ODomingos tem o espírito do repórterquestionador, que vai buscar o fato. Aimpressão que dá é que ele é um re-pórter com alma de historiador e umhistoriador com alma de repórter.

Mário Augusto Jakobskind, mem-bro do Conselho Deliberativo da ABI,lançou seu nono livro: A América quenão está na mídia. Editada pela Adia(Associação para o Desenvolvimentoda Imprensa Alternativa), a obra reú-ne uma série de artigos sobre fatosque, diz o autor, “foram omitidos pelamídia conservadora ou editados de for-ma deturpada”.

A idéia do livro — que tem prefá-cio de João Pedro Stédile, Coordena-dor do MST — surgiu de um curso li-vre ministrado por Jakobskind na ABI:“A América Latina que não está namídia”. Uma vez por semana, duran-te três meses e meio, o jornalista discu-tia com os alunos os principais acon-tecimentos da América Latina “a par-tir de um enfoque contextualizado, di-ficilmente encontrado nas coberturas

Ex-Presidente do Sindicato dosJornalistas de Minas Gerais, VirgílioHorácio de Castro Veado lançou olivro Nação ultrajada — Constituinte ourevolução, pela Editora Labor. “Movidopor sentimentos de cidadania e poruma indignação cívica”, ele escreveua obra em menos de dez dias, no augeda crise política que atinge o País.

Em formato de bolso, com 63páginas, o livro é vendido a R$ 6,00em bancas de jornal. De acordo cominformações da editora, o texto éconstruído sob a forma de perguntase respostas, com o objetivo detransformar o repórter em entrevistadoe esclarecer as circunstâncias que hojeenvolvem a classe política, os partidose o Presidente da República.

O autor não faz relatos dos fatos dodia-a-dia da crise; formula conceitos eanálises dos acontecimentos que levaramà grave situação institucional vivida noBrasil. A reforma política, a estratégia do

LIVROS

Um longo olhar sobre a Revolução de 30Após dez anos depesquisas, DomingosMeirelles lança 1930: Osórfãos da Revolução, quedá seqüência à históriada Coluna Prestes

Jakobskind coloca no papel a América ignorada na mídia

O ex-Governador Marcello Alencartambém foi prestigiar o jornalista.Sobre o que espera encontrar nas pá-ginas do livro, disse: — Ainda não co-nheço o conteúdo desse novo livro,mas li o anterior (As noites das grandesfogueiras) e, por isso, estou em condi-ções de analisar os escritos dele. Te-nho certeza de que não vou ter nenhu-ma decepção, pois o Domingos é umgrande contador de histórias e já estáconsagrado como autor.

O diretor de televisão Fernando Bar-bosa Lima, também Conselheiro daABI, disse que o que mais aprecia nacarreira de Domingos Meirelles é que,“antes de tudo, ele é um grande jor-nalista, um repórter cujo trabalho éuma referência no campo da pesqui-sa”: “Acho que o Domingos está fazen-do um trabalho inédito, pois (referin-

do-se ao tema do livro anterior) nin-guém contou a história dos 18 do For-te como ele”.

Amigo do autor desde a Últi-ma Hora, o jornalista DílsonBherendt afirma que o trabalhode Domingos esclarece o leitor so-bre a História contemporânea doPaís: — Valorizo muito seu traba-lho, pois conheço sua dedicação esei quantos caminhos ele percor-reu para escrever esta obra, quetem grande importância histórica. Foilendo As noites das grandes fogueiras, seuprimeiro livro, que passei a simpatizarcom a figura do Luís Carlos Prestese ea Coluna Prestes, que eu desconhecia.

Ao final da noite, Domingos estavacansado, mas satisfeito: — Confessoque não esperava o comparecimento detanta gente. Mas fiquei feliz, porque

Virgílio propõe uma ConstituintePresidente e a delação premiada sãoalguns temas tratados no livro.

Como solução para o problema,Virgílio sugere que se proponha aconvocação, pelo Presidente daRepública, de uma Assembléia NacionalConstituinte Exclusiva, como resultadode um grande movimento de uniãonacional. Para o autor, esta é “a melhoralternativa dentro dos parâmetros dademocracia representativa, diante docolapso das instituições políticas”.

Com a convocação da ConstituinteExclusiva, diz, o Presidente Lula “teriauma boa oportunidade de redimir-seperante a nação ultrajada, conclamandoa sociedade a um grande esforço dereconstrução das instituiçõesrepublicanas”.

Virgílio Horácio de Castro Veadotem 55 anos de jornalismo e étambém advogado e autor de livros,teses e ensaios sobre Sociologia Políticae Ciência da Comunicação.

e análises da imprensa diária”.Jakobskind diz que seu principal ob-

jetivo é “levar à reflexão sobre a reali-dade latino-americana através de con-ceitos diferenciados dos que são divul-gados em tempo de globalização”.

— A contradição encontrada no dia-a-dia da mídia entre o desenvolvimen-to da “aldeia global”, em função da re-volução tecnológica na área de comu-nicação, e o fato de a mídia, de modogeral, ter reduzido seu espaço para onoticiário internacional serve tambémcomo tema de reflexão. Neste contex-to, a América Latina se encontra com-pletamente reduzida e apresentada deforma tergiversada. Espero que meu li-vro sirva como ferramenta para anularesses bloqueios produzidos pelo esque-ma do pensamento único, tão em vogana mídia conservadora.

O livro (R$ 25) está em algumas li-vrarias do Rio e também pode ser en-comendado pelos telefones 2232-1004e 2339-0939 (ramal 232) ou pelo [email protected], com desconto.

escrever é uma doação e essa grandepresença dos amigos é um coroamento

desse ato de renúncia.O novo livro, que consu-

miu dez anos de pesquisasde Domingos Meirelles, éum registro da trajetória dostenentes da Coluna Prestesdesde o exílio, em 1927, atéo retorno clandestino ao Bra-

sil para deflagrar o movimentoque depôs Washington Luís. A obra éuma continuação da história da Co-luna Prestes, que ele começou a con-tar em As noites das grandes fogueiras.1930: Os órfãos da revolução devassarelatórios confidenciais do Itamarati,informes da Polícia Política do Rio deJaneiro e correspondência diplomáti-ca do então Embaixador dos EstadosUnidos no Brasil, Edwin Morgan.

A obra desenvolvequestões expostas emcurso dado na ABI.

Dois momentosda noite deautógrafos deMeirelles: com oex-GovernadorMarcelo Alencare com GlóriaAlvarez,Conselheirada ABI.

JOSÉ REIN

ALDO

MARQ

UES

Jornal da ABI

26 Novembro/Dezembro de 2005

MUDANÇA

O professor e jornalista MunizSodré foi empossado em 24 de novem-bro no cargo de Presidente da Bibliote-ca Nacional, em cerimônia que contoucom a presença do Ministro da Cultu-ra, Gilberto Gil. Ele assumiu a vagadeixada pelo bibliófilo e marchandPedro Corrêa do Lago, que foi exone-rado do cargo em outubro, depois deuma campanha dos funcionários, comapoio da ABI, contra os desmandos queele cometeu à frente da instituição.

Muniz Sodré admitiu que a sua ges-tão será por um tempo curto, porque oGoverno só tem pouco mais de um anode mandato: — Nesse período, porém,vou me esmerar para que o patrimônioda Biblioteca Nacional seja preservado.Primeiro, vou cuidar da segurança, e esseproblema já está encaminhado, tenhouma promessa de que a BN terá umasupersegurança. Em seguida, vou ata-car o problema das infiltrações no pré-dio. Considero que a tarefa de preser-vação das instalações e do acervo não épuramente administrativa nem buro-crática. Preservar o tesouro que a BNabriga, como as obras raras, os jornais eas partituras de música, é uma missãoque considero política.

Ele reafirmou que pretende adminis-trar a Biblioteca Nacional ouvindo osfuncionários, “uma das jóias da insti-tuição”. — Acho que não é possívelpresidir a Biblioteca Nacional sem quehaja diálogo com os funcionários, poiseles são a prata da casa. A tarefa de pre-servação da BN implica interlocuçãocom os funcionários, e para isso vouter que apaziguar o clima de guerra quehavia na Biblioteca há três meses.

Mais leituraDisse Muniz Sodré que também se-

rão prioritários a implantação do Sis-tema Nacional de Bibliotecas e o estí-

MÃOS LIMPAS NA BIBLIOTECAApós a derrubada de Correia do Lago, Muniz Sodré

assume a direção da Biblioteca Nacional com disposiçãode defender o acervo pilhado na gestão anterior

mulo à leitura: — Cabe à BN, junta-mente com o Ministério da Cultura,articular a questão da leitura no País epromover a leitura implica contatoscom editores e parceria com editoras.A BN não é nem deve ser editora, nãoé sua função como órgão público com-petir nesse mercado. Sua tarefa é pu-blicar o que a lei manda que ela publi-que, como a revista que lhe pertence.

Muniz Sodré demonstrou estarbem-informado sobre os problemasque a instituição vem enfrentando, co-mo a transferência de parte do acervode periódicos para um prédio na zonaportuária que, segundo funcionários,não tem condições de abrigá-lo.

— Esse material que está sendotransferido já foi microfilmado. A sededa BN, na Avenida Rio Branco, já nãotem condições de abrigar o acervo in-

teiro. Fui informado pelaatual diretora que a transfe-rência está sendo feita regu-larmente e com cuidado,em boas condições de segu-rança e de preservação. Masisso ainda vou verificar. Dequalquer forma, já comeceia procurar imóveis do Go-verno Federal no Centro doRio, bem perto da sede daBN, para que possamos nosexpandir. Agora mesmo ini-ciei negociações para poderocupar um prédio na Ave-nida Graça Aranha.

Mais bibliotecasUma das medidas im-

portantes da sua gestão, dizMuniz Sodré, será a insta-lação de “pelo menos 400bibliotecas em vários Mu-nicípios do País”.

— O Governo FernandoHenrique criou mil, o Presidente Lula,até agora, 180. Meu plano é de que emum mês eu possa triplicar esse núme-ro. Já tenho, inclusive, o dinheiro. Sãocerca de R$ 29 milhões, recursos dopróprio Governo, provenientes deemendas parlamentares.

Entre os planos de Muniz Sodré estáa instalação da Câmara Brasileira doLivro, Leitura e Literatura: — Ela terárepresentantes das cinco regiões doPaís, com membros da iniciativa pri-vada — como Osvaldo Siciliano, Presi-dente da Câmara Brasileira do Livro, ePaulo Rocco, Presidente do SindicatoNacional dos Editores —, representan-tes do Movimento de Literatura Emer-gente de Jovens Escritores, dois repre-sentantes da Biblioteca Nacional e trêsdo Ministério da Cultura.

A Câmara Brasileira do Livro terá ao

Apenas sussurros contraa desigualdade social

A edição brasileira do mais recente relatório doObservatório da Cidadania foi lançada no Rio deJaneiro em novembro, com um informe anual dasociedade civil sobre os avanços para erradicar a po-breza e alcançar a eqüidade étnica e de gênero noBrasil e no mundo. O trabalho foi organizado peloSocial Watch Brasil, movimento de articulação in-ternacional de entidades da sociedade civil, que con-ta com o apoio do Instituto Brasileiro de AnálisesSociais e Econômicas, o Ibase criado pelo sociólogoHerbert de Souza, o Betinho.

Relatório do Observatório daCidadania mostra que ojaponês Naidoo tinha razão.

todo 26 membros. Sua missão seráimplementar uma boa política para olivro, visando a estimular a leitura eajudar na expansão da BN. DisseMuniz Sodré que o Ministério da Cul-tura conseguiu junto ao Ministério daFazenda a desoneração da cadeia pro-dutiva do livro, que permite que os edi-tores paguem menos impostos.

— Com essa medida, o preço do li-vro já deveria ter baixado, é pena queainda não baixou. Mas espero que, amédio prazo, essa iniciativa venha a terconseqüências positivas para a produ-ção do livro no País, favorecendo o pe-queno editor. A política do livro é vitalpara o Plano Nacional de Cultura quevem sendo articulado pelo Ministérioda Cultura.

Mais recursosCom a intenção de popularizar a

BN, Muniz Sodré pensa em reativarum antigo programa do órgão, o Proler,que funcionava na Rua Pereira da Sil-va, onde hoje é a Casa da Leitura.

— Gostaria também de criar um ser-viço de visitas guiadas que beneficiasseas escolas públicas e abrir o auditórioda BN para concertos de música clássi-ca e popular, com entrada franca, orga-nizando semanas de apresentação daobra de grandes compositores. São coi-sas que posso fazer em curto prazo.

A verba para financiar os projetos, elegarante, não será problema, pois, alémdo Ministério da Cultura, conta com apossibilidade de apoio de estatais:

— Uma delas é a Petrobras, que jáfinancia bolsas de pesquisas na biblio-teca no valor de R$ 2,8 milhões. As ver-bas serão usadas na segurança e na re-cuperação de livros. Além disso, oBNDES tem uma linha de financia-mento que pode ser usada para a res-tauração de obras raras.

Na sua 10ª edição, o relatório do Observatório daCidadania ganhou o título Rugidos e sussurros — Maispromessas que ações, numa referência à observação “opovo rugiu, mas o G8 apenas sussurrou”, feita pelojaponês Kumi Naidoo, Presidente da Chamada Glo-bal para a Ação contra a Pobreza (Gcap, na sigla eminglês), ao expressar sua decepção com o resultadoda reunião dos dirigentes políticos das oito naçõesmais poderosas do mundo, em julho, na Escócia.

O Relatório 2005 dedica cinco capítulos ao Bra-sil. No primeiro artigo sobre o panorama brasileiro,o economista Fernando J. Cardim de Carvalho, pro-fessor titular do Instituto de Economia da Univer-sidade Federal do Rio de Janeiro, diz que, passadosdez anos da Conferência das Nações Unidas sobreDesenvolvimento Social, não houve mudanças norelacionamento entre a política econômica e a ques-tão social no País. Para ele, “o atual Governo man-tém as perversas estratégias de distribuição de ren-da herdadas do anterior”.

Em seu artigo, o economista Adhemar S. Mineiro,

do Departamento Intersindical de Estatísticas e Es-tudos Sociais-Dieese, com base nas discussões sobrecomércio exterior, critica a falta de definição sobreas estratégias de desenvolvimento do País, envolven-do a expansão das exportações e o seu impacto social.

A pobreza, a desigualdade social e os efeitos da3ª Conferência Mundial contra o Racismo, realiza-da em Durban, África do Sul, em 2001, nas ações depromoção da igualdade racial no Brasil também es-tão contemplados na publicação. Encerrando os ca-pítulos sobre o panorama brasileiro há um texto dasocióloga Márcia Pereira Leite, professora da Uni-versidade do Estado do Rio de Janeiro, sobre inse-gurança e cidadania, a partir da análise da violênciaassociada ao tráfico de drogas, que vem ocorrendonas grandes cidades.

O Social Watch foi criado em 1995, por iniciativade ongs que participaram da Conferência das NaçõesUnidas sobre Desenvolvimento Social, com o objeti-vo de apresentar relatórios sobre os compromissosassumidos pelos governos presentes àquela reunião.

O Ministro Gil deu a maior força a Muniz Sodré: veio deBrasília especialmente para empossá-lo.

CLAU

DIO

CARVALH

O XAVIER, FB

N/D

IVULG

AÇÃO

27Novembro/Dezembro de 2005

Jornal da ABI

A ficha de associa-do de Luiz AlbertoBahia na ABI temaparente imprecisão:a data de seu ingres-so na Casa é dada co-mo 6 de novembrode 1938, quando elecontava apenas 15anos, pois nasceraem 14 de fevereiro de1923. O proponentedo seu pedido de fi-liação foi o jornalis-ta M. Paulo Filho(Manoel Paulo Fi-lho), Diretor do Cor-reio da Manhã e quemais tarde seria Vice-Presidente da ABI.

Há aí uma contra-dição que jamais seráesclarecida, porqueBahia morreu na ma-drugada de 28 de novembro e não po-derá indicar onde está o erro no pre-enchimento da proposta. O certo, po-rém, é que ele cumpriu uma trajetóriafecunda, desde que se iniciou no jor-nalismo, em 1945, aos 22 anos, comocolaborador do jornal Vanguarda Socia-lista, semanário de orientação trotskis-ta fundado e dirigido pelo crítico deartes Mário Pedrosa, e deixou umaobra sólida, constituída por três livrosque refletem as mudanças de seu iti-nerário político e intelectual: A Dimen-são Injusta – Bases para a RevoluçãoIgualitária, editado pela Zahar em1968; Soberania, Guerra e Paz, de 1978,também da Zahar e prefaciado por An-tônio Calado, e O Fenômeno Divino eOutras Convicções, editado em Dublin,Irlanda, em 1999.

Nesse mesmo ano de 1945 Bahia foiadmitido no Correio da Manhã por seuproprietário, Paulo Bitencourt, e deuinício a uma longa carreira profissio-nal nos principais jornais do País, co-mo o próprio Correio, Jornal do Brasil,OGlobo e Folha de S. Paulo, nos quais foiredator-chefe (Correio), editorialista(JB, O Globo), articulista (Folha, revis-

Embora com formação erudita, lei-tor que era de Nietzsche e Schopen-hauer, Jacinto Figueira Júnior escolheuo caminho dos programas policiais epopulares para fazer carreira e criar re-nome na televisão, na qual marcou suapresença e sua imagem como “O ho-mem dos sapatos brancos”, fazendoum jornalismo de denúncia e de en-trevistas com pessoas comuns. Comotal, foi pioneiro, pois começou a fazerprogramas do gênero em 1966, em di-ferentes emissoras.

Jacinto deixou a atividade na tele-visão em 1997 quando um derrame oinabilitou para o trabalho. Passou aviver de uma aposentadoria de apenasR$ 700,00 até padecer de falência múl-tipla dos órgãos, em 27 de dezembro,no Hospital Beneficência Portuguesa,no qual se internara mais de um mêsantes com problemas pulmonares. Eleestava com 78 anos.

Ao explicar a razão dos sapatosbrancos, que eram mostrados em closerepetidas vezes em seus programas,dizia Jacinto que pessoas que usamcalçados dessa cor estão preocupadasem ajudar o próximo.

“É com muita tristeza que comu-nico a Vossa Senhoria o falecimentodo meu esposo e sócio militante des-sa Associação João Batista de AlmeidaFlores, ocorrido aos quatro dias denovembro de 2005 em Santo Ânge-lo”, dizia a comunicação enviada àABI por sua viúva, Leonor FonsecaFlores, que resolveu escrever à Casaao receber correspondência dirigida aesse sócio.

João Batista, que completara 72anos em 19 de outubro, poucos diasantes de seu passamento, era o últimoremanescente de um clã de jornalis-tas, os Flores, que tinha como patriar-ca Osmar de Almeida Flores, durantemuitos anos Diretor de Redação daGazeta de Notícias, e era integrado tam-bém por Aluízio de Almeida Flores,que trabalhou nos principais jornaisdo Rio e na revista Manchete como re-pórter, redator e editor. Foi pela mãode Osmar Flores que João Batista in-gressou na ABI em 31 de agosto de1982, como correspondente da Gaze-ta no Rio Grande do Sul. Embora dis-tante do Rio, ele fazia questão de man-ter em dia a sua contribuição à Casa,pagando a anuidade sempre no come-ço de cada exercício.

Na mensagem de condolências quedirigiu à sua viúva, a ABI pediu queela remetesse informações sobre o cur-rículo profissional de João Batista, paraincorporação ao Currículo-Geral dosJornalistas Brasileiros/Séculos XX eXXI que a Casa começou a organizar.

Com a morte do jornalista RogérioCoelho Neto a imprensa brasileira per-de um de seus principais repórterespolíticos. Bartolomeu Brito, do jornalO Dia, disse lamentar a morte do an-tigo companheiro e amigo, com o qualtrabalhou por mais de 15 anos no Jor-nal do Brasil, nos anos 80: — Ele eraum grande jornalista e profundo co-nhecedor da política e cultivava fon-tes inesgotáveis nos três Poderes.

Nascido em 1936, em Niterói, ondeiniciou a sua carreira como repórterdo jornal Diário do Comércio na dé-

ta Visão) e membrodo Conselho Edito-rial (Folha). Entre1970 e 1971, foi pro-fessor convidado doCentro para EstudosInternacionais daUniversidade de Har-vard, Estados Uni-dos; em 1975 e 1976,foi membro do Con-selho de Estudos La-tino-Americanos daUniversidade de Cam-brigde, Grã-Breta-nha. Ele não era umjornalista comum, esim um intelectualde grande peso, umpensador.

Bahia desempe-nhou também rele-vantes encargos deEstado: foi consultor

político do Ministério da Fazenda;membro do Conselho Administrativodo antigo BNDE; Chefe da Casa Civilno Governo Negrão de Lima, cargo deque se afastou em 13 de dezembro de1968 com a decretação do Ato Institu-cional nº 5; membro desde a sua fun-dação do Tribunal de Contas do Mu-nicípio do Rio de Janeiro, cargo emque se aposentou em 1993, sem dei-xar de se dedicar ao exame e estudode questões da vida institucional doPaís, sobre as quais se manifestava comextremada competência.

Bahia trabalhou no Correio da Ma-nhã com a nata dos jornalistas-inte-lectuais, como Otto Maria Carpeaux,Álvaro Lins, Antônio Calado, Franklinde Oliveira e Carlos Heitor Cony, queo admiravam por fazer do Correio “umjornal de combate”, que seguia “a fór-mula de sucesso de um grande jornalburguês”: “conservador em economia,liberal em política e revolucionário emcultura”.

Ele morreu de falência múltipla dosórgãos no Hospital Samaritano, ondese internara havia um mês. Estava com82 anos.

cada de 50, Rogério Coelho Neto tra-balhou muitos anos no JB, onde foisubeditor e editor, e ocupou o cargode Secretário de Assistência Social ede Comunicação Social em dois Go-vernos do Estado do Rio de Janeiro.Foi ainda Coordenador de Imprensado Senado e Superintendente de Co-municação da Petrobras. Casado e paide três filhos, estava chefiando o Ga-binete da Presidência da Câmara deVereadores de Niterói e era redator daAssembléia Legislativa do Estado doRio de Janeiro.

Bahia, jornalista ehomem de Estado

Jacinto, o pioneirode sapato branco

Rogério, um repórter de e na política

João Batista,o último doclã dos Flores

VIDAS

No Correio da Manhã, Bahia dirigiuuma equipe que incluía uma

nata de jornalistas-intelectuais.

Com sua voz pausada e, como sediz, uma memória de elefante, AlaorBarreto, ou Francisco Alaor Barreto deVasconcelos, tinha muitas históriaspara contar, algumas narradas comforte acento dramático, como sua par-ticipação no chamado Exército da Bor-racha, no qual ele e milhares de cea-renses ingressaram no começo dosanos 40, para ajudar o País no esforçode guerra. Ele foi dos poucos que con-seguiram voltar da cruel aventura nosseringais da Amazônia, onde conhe-ceu o inferno em terra.

Estudante do turno da noite no an-tigo Colégio da Associação Cristã deMoços-ACM e funcionário adminis-trativo do laboratório Parke Davis,então instalado na Gávea, Alaor apli-cava o tempo disponível na militânciaestudantil e na União da JuventudeComunista-UJC. Eleito Presidente daAssociação Metropolitana dos Estu-dantes Secundários-Ames, presidiu em1951 um dos congressos mais tumul-tuados da entidade: agredidos a ta-pas, socos, pontapés e golpes de sarra-fo por militantes da direita estudan-til, os congressistas acabaram por sehomiziar no Parque da Cidade, ondeencerraram o congresso. Antes de pas-sar o cargo a seu sucessor, Alaor des-maiou de estafa e de tensão.

Encerrada essa etapa da sua forma-ção, a que ele não deu seqüência comum curso superior, Alaor passou a tra-balhar como fotógrafo da Imprensa Po-pular, diário do Partido ComunistaBrasileiro-PCB, iniciando uma carrei-ra jornalística marcada pela ativida-de em outros jornais, como o DiárioCarioca, a Última Hora e o Correio daManhã. Como repórter fotográficocobriu acontecimentos históricos,como a inauguração de Brasília, em21 de abril de 1960, e o chamado“Massacre da Praia Vermelha”, nosanos 60, quando as forças de repres-são invadiram a antiga Faculdade Na-cional de Medicina e espancaram eprenderam centenas de estudantes.Era também professor de Fotografiada Faculdade de Arquitetura e Urba-nismo da Universidade Federal do Riode Janeiro, na qual trabalhou duran-te oito anos.

Pai do jornalista Alaor Filho, Editorde Fotografia da Sucursal Rio de O Es-tado de S. Paulo, Alaor morreu na noi-te de 8 de novembro, aos 82 anos, noHospital São Camilo, onde se inter-nara havia 15 dias. Seu corpo foi cre-mado na manhã seguinte no Memo-rial do Carmo, onde sua filha Márcialeu um poema em que ele era mencio-nado como o que sempre foi: um“guerreiro revolucionário”.

Alaor, doseringal àfotografia

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Jornal da ABI

28 Novembro/Dezembro de 2005

Odia da morte do líder Zumbidos Palmares, 20 de novembro,é uma data de reflexões sobre

a desigualdade racial no Brasil. A pri-meira iniciativa nesse sentido partiudo Grupo Palmares, de Porto Alegre,que criou, em 1973, o Dia do Negro.Cinco anos depois, em São Paulo, oMovimento Negro Unificado lançouo Dia Nacional da Consciência Negra.

Zumbi dos Palmares foi o líder damaior resistência negra à escravidãono País. Os historiadores ainda têmdúvida se ele teria sido trazido daÁfrica como escravo ou se era nasci-do no Brasil. O certo é que Zumbi,com fama de grande guerreiro, lide-rou o Quilombo dos Palmares de 1678a 1695, ano de sua morte, e o trans-formou no maior reduto de escravosfugidos e seus descendentes da nossaHistória. O lugar, na região Sul da en-tão capitania de Pernambuco, hoje Es-tado de Alagoas, chegou a reunir cer-ca de 30 mil escravos.

A vida de Zumbi, dedicada à liber-tação de seu povo da tirania dos pode-rosos da época, inspirou futuras bata-lhas de busca de identidade e direito àcidadania, tendo como princípio a exi-gência de que o Estado crie e implemen-te políticas de ação afirmativa e de re-paração, que ajude os negros a se liber-tarem do que José do Patrocínio cha-mou de a “obra da escravidão”.

Com base no espírito democráticodos palmarinos, as gerações de descen-dentes de africanos cobram da socie-dade um tratamento igualitário, inclu-sive nos veículos de comunicação. Osestereótipos raciais que estimulam opreconceito e a discriminação étnicaviraram objeto de estudos acadêmicose ganharam lugar de destaque na pau-ta dos debates.

Na análise que fez sobre o discursoda grande mídia, a coleção Comunica-ção para um mundo novo: perspectivasbrasileiras, editada por José Marques deO. Melo, fez uma avaliação das maté-

tura numa época hostil e de poucasoportunidades.

Essa foi a rota do grande escritorMachado de Assis e de seu contempo-râneo Francisco de Paula Brito, um dosprimeiros negros a se destacar nas fun-ções de tipógrafo e jornalista. Foi elequem editou os primeiros romancesbrasileiros, revelando gente talentosa,como Casemiro de Abreu e o próprioautor de Dom Casmurro.

Paula Brito (1809-1861) trocou o interior doRio de Janeiro pela capi-tal em 1824, para traba-lhar na Imprensa Oficial.Mais tarde, transferiu-separa as oficinas Ognes eSeignot-Plancher, que, em1827, lançou o Jornal doCommercio. Em 1831, fun-dou a Tipografia Flumi-nense de Brito & Cia eEmpresa Tipográfica Doisde Dezembro, que funcio-nava na Praça Tiradentes,Centro da Cidade. Tam-bém foi fundador e editorde O Homem de Cor (1833),depois denominado OMulato, primeiro jornal decombate à discriminaçãoracial no Brasil.

Outros negros tiveramatuação expressiva na im-prensa brasileira a partirdo início do século XIX,como Ferreira de Mene-zes, fundador dos jornaisO Ipiranga e a Gazeta da Tarde. Quan-do ele morreu, em 1881, José do Patro-cínio assumiu a Gazeta, em que ficoumais seis anos, até lançar A Cidade doRio de Janeiro, em cujas páginas deu anotícia da promulgação da Lei Áurea.

De 1915 — ano de lançamento deO Melenick — a 1963, a chamada im-prensa negra paulista editou cerca de32 jornais, entre os quais se destaca-vam o Clarim da Alvorada e A Voz daRaça. Este tornou-se o porta-voz daFrente Negra Brasileira, fundada em1931, uma das mais importantes or-ganizações da população negra do País,e influenciou a criação de novos veí-culos em outros Estados, como A Raça,em Minas Gerais (1935); Alvorada, noParaná (1936); e União, no Rio Gran-de do Sul (1943).

No fim da década de 70, ainda du-rante a ditadura militar, os negros ma-nifestaram sua reorganização político-cultural, segundo o jornalista e pesqui-sador Togo Yoruba: — Isso se proces-sou através dos jornais Sinba, no Rio,e Jornegro, em São Paulo, e na revistaTição, no Rio Grande do Sul.

Nos anos 80, surgiram publicaçõescomo Ébano (SP), Akomabu (MA), Fren-te Negra, Coisa de Krioulo, Afro-Reggae,Maioria Falante (RJ) e Nêgo (BA). Em91, foi lançada no Rio a revista Nós,we around the world e, cinco anos de-pois, em São Paulo, a Raça Brasil, atu-almente na 91ª edição.

Mesmo enfrentando as com-plexas engrenagens de umsistema que ainda hoje os

observa como cidadãos de segundaclasse e sabendo que a concorrênciano mercado editorial é muito grande,os negros continuam achando neces-sário investir numa mídia própria,querendo atingir os patamares de seusirmãos do Norte. Fortes na comuni-cação — são donos de jornais, emisso-ras de rádio e TV, editoras e empre-sas de entretenimento e publicidade—, os afro-americanos desenvolve-ram com resultados mais expressivosa chamada consciência negra.

É importante destacarque essa visibilidade po-sitiva só ocorreu nos Es-tados Unidos porque, daliteratura à internet, ostemas abordados por au-tores negros sempre sedestacam pela promoçãoda auto-estima.

Sem abrir mão de severem retratados pelagrande imprensa com asmesmas referências po-sitivas com que são tra-tados os brancos, os ne-

gros brasileiros tam-bém querem utilizar amídia como uma ferra-menta cujo impactosignifique muito maisque uma “imprensa ét-nica”. O principal obje-tivo é fazer um modelode jornalismo que, naopinião do crítico literá-rio e mestre em Comu-nicação Nathan Scott,não deve ajudar apenasoutros negros, no sentidode uma compreensão

mais profunda de si mesmos: — A mí-dia afro-descendente deve ser um veí-culo que também os ajude a ser osagentes do autodescobrimento da na-ção como um todo.

REFLEXÕES ����� por José Reinaldo Marques

Consideraçõesa propósito do

20 de Novembro,Dia da

ConsciênciaNegra e de

evocação dolíder do

Quilombo dosPalmares

rias publicadas em jornais do Rio e deSão Paulo sobre a Copa do Mundo de1990, na Itália, e constatou que os jo-gadores dos times africanos, diferente-mente dos brancos, foram tratadoscomo “primitivos, ingênuos e danosos”.

O assunto também foi debatido noseminário Ética, estética e publicidade— o negro, o índio e a cultura da mídia,patrocinado pela Fundação CulturalPalmares, órgão do Ministério da Cul-tura. Sobre ele, o jornalista afro-ameri-cano Ellis Cose, editor da edição lati-

no-americana da revistaNewsweek, disse ser umproblema pelo qual se de-ve continuar lutando embusca de uma solução,porque essas imagens afe-tam a vida real — “influ-enciando como as pesso-as são percebidas, a mídiainfluencia como elas sãotratadas e, de fato, influ-enciam o que elas podemvir a se tornar”.

Em reação a esse ti- po de comporta- mento dos veícu-los de comunicação, sur-giram as primeiras expe-riências de uma impren-sa produzida por negros.Ainda no período colo-nial, os primeiros passosnesse sentido foram da-dos nas tipografias, ondeos negros começavamcomo auxiliares, passa-vam para a composiçãoe seguiam para a revisão— função que, através doacesso à leitura diária,lhes proporcionava a cul-

A Revista Ilustrada, de Ângelo Agostini, em uma exaltação aPatrocínio: negro, jornalista e tribuno.

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