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São Paulo, dezembro de 2005 R R E E L L A A T T Ó Ó R R I I O O F F I I N N A A L L Salvamento Arqueológico do Sítio Arqueológico RPO-1, São Mateus, ES.

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São Paulo, dezembro de 2005

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São Paulo, dezembro de 2005

___________________________________________________________________

RELATÓRIO FINAL: Salvamento Arqueológico do Sítio Arqueológico RPO-1, São Mateus, ES.

Portaria IPHAN nº 182 de 02.08.2004

Processo administrativo nº 01500.000405/2004

Execução:

Scientia Consultoria Científica S/C Ltda. Rua Henrique Botticini, 150 05587-020 - São Paulo (SP) Tel: 11 3726-3006 - Tel/fax: 11 3726-2389 Responsável: Dra. Solange B. Caldarelli E-mail: [email protected]

Empreendedor:

Petróleo Brasileiro S/A – PETROBRÁS Unidade de Negócio Espírito Santo – UN-ES Gerente Geral - Márcio Félix Carvalho Bezerra Av. Fernando Ferrari, s/nº - Goiabeiras Caixa Postal 019010 - Campus Universitário 29060-973 - Vitória - ES Gerência de Contato – UN-ES/SMS Tel: (27) 3771-4542 - Fax: 27 3771-4293 Gerente: Sérgio Guillermo Hormozábal Rodrigues

Apoio Institucional:

Instituto de Pesquisas em Arqueologia – IPARQ Universidade Católica de Santos - UNISANTOS Rua Conselheiro Nébias, 300 – Cj. 230 11015-002 – Santos (SP) Tel: (13) 3205-5555 – Ramal 1372 Coordenadora Responsável: Dra. Eliete Pythagoras Britto Maximino Email: [email protected] ___________________________________________________________________

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Salvamento do Sítio Arqueológico RPO-1. São Paulo, Scientia, 2005. I

Sumário

Apresentação...........................................................................................................................III

PARTE 1: HISTÓRICO DA PESQUISA ...................................................................................1

1 Localização e caracterização do Sítio Arqueológico RPO-1 ........................................1

1.1 Localização .............................................................................................................. 1

1.2 Contexto ambiental .................................................................................................. 3

2 Contexto arqueológico e histórico regional.................................................................13

2.1 Contexto arqueológico ........................................................................................... 13

2.2 Contexto etnohistórico ........................................................................................... 16

PARTE 2: ATIVIDADES DE CAMPO .....................................................................................20

3 Atividades desenvolvidas............................................................................................20

3.1 Atividades de escavação ....................................................................................... 20

3.2 Atividades complementares................................................................................... 38

Parte III - Atividades em laboratório 43

4. Problema e problemática do sítio ...............................................................................43

5. Contexto arqueológico: relação entre a Tradição Tupiguarani e Aratu ......................47

5.1. O Estado do Goiás................................................................................................. 47

5.2. O Estado de Minas Gerais..................................................................................... 48

5.3. O Estado da Bahia................................................................................................. 51

5.4. O Estado do Espirito Santo.................................................................................... 52

6. O modo de produção cerâmico e suas potencialidades .............................................53

6.1. A olaria como técnica e sua produção................................................................... 53

6.2. A olaria como produto............................................................................................ 55

7. Características de Formação do Registro no sítio RPO - 1........................................59

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Salvamento do Sítio Arqueológico RPO-1. São Paulo, Scientia, 2005. II

8. Metodologia de Análise e Objetivos dos procedimentos quantitativos .......................61

8.1. Atributos Observados ............................................................................................ 61

8.2. Desdobramentos estatísticos................................................................................. 66

9. Resultados dos procedimentos quantitativos .............................................................67

9.1. As freqüências de cacos........................................................................................ 67

9.2. Relação entre as freqüências .............................................................................. 101

9.3. Distribuição do material: variabilidade espacial ................................................... 106

9.4. Conclusão parcial ................................................................................................ 113

10. Metodologia e objetivos dos procedimentos qualitativos..........................................115

10.1. As formas e os gestos ......................................................................................... 115

10.2. Conseqüências experimentais............................................................................. 117

11. Resultados Qualitativos ............................................................................................118

11.1. Os potes produzidos: variabilidade formal ........................................................... 118

11.2. Outros objetos cerâmicos .................................................................................... 121

11.3. Análise da gestualidade decorativa ..................................................................... 124

11.4. Distribuição dos potes no espaço da aldeia: áreas de atividades ....................... 130

12. Análise integrada dos dados.....................................................................................132

13. CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................135

14. Referências bibliográficas.........................................................................................138

15. Equipe técnica ..........................................................................................................145

ANEXOS...............................................................................................................................146

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Salvamento Arqueológico do Sítio Arqueológico RPO-1. São Paulo, Scientia, 2005. III

APRESENTAÇÃO

Este relatório apresenta os resultados finais dos trabalhos de salvamento arqueológico realizados no Sítio Arqueológico Rio Preto Oeste – 1 (RPO-1), situado no litoral norte do estado do Espírito Santo, na área do Ativo de Produção Norte Capixaba, da Petrobrás.

O salvamento arqueológico do Sítio RPO-1 foi licitado pela Petrobrás-ES, através de Carta Convite emitida em 15/03/04, tendo a Scientia Consultoria Científica sido declarada vencedora.

O Projeto de Salvamento encaminhado ao IPHAN (processo administrativo nº 01500.000405/2004) recebeu permissão de pesquisa em 02.08.04 (Portaria IPHAN nº 182 de 02.08.2004, em anexo), com coordenação da Dra. Solange Bezerra Caldarelli e apoio institucional do Instituto de Pesquisas em Arqueologia - IPARQ da Universidade Católica de Santos - UNISANTOS.

O Sítio Arqueológico RPO-1 localiza-se no município de São Mateus (ES), e está compreendido entre as seguintes coordenadas UTM 24K (Datum Aratu):

Ponto E N

1 0411310 7919250

2 0410350 7919250

3 0410350 7918410

4 0411310 7918410

O quadrilátero definido pelas coordenadas acima totaliza aproximadamente 800.000m² e abrange três poços de petróleo em fase de licenciamento ambiental junto ao órgão estadual (IEMA-ES), a saber: LOC 1, LOC 2 e LOC 3 (cf. Figura 1 a seguir).

As atividades de salvamento desenvolvidas na área do Sítio Arqueológico RPO-1, entre 02 e 24.09.2004, foram apresentadas ao IPHAN em forma de Relatório Parcial (Scientia 2004), sendo o mesmo acatado na data de 20.12.04, Ofício 21ªSR/IPHAN/096/2004.

No projeto encaminhado ao IPHAN, foram definidos os seguintes objetivos:

1. Promover o resgate dos vestígios culturais remanescentes do Sítio Arqueológico RPO-1, para evitar que a instalação das bases dos poços aumente os danos já sofridos pelo sítio pelo cultivo sistemático de eucalipto.

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Salvamento Arqueológico do Sítio Arqueológico RPO-1. São Paulo, Scientia, 2005. IV

2. Entender a implantação do sítio arqueológico, a partir do estudo das variáveis ambientais que possam ter influído na escolha do local como assentamento pela população indígena que o ocupou no período pré-colonial.

3. Realizar escavações sistemáticas com intensidade de intervenção compatível com o nível de significância do sítio, de modo a obter informações sobre a estruturação espacial intra-sítio (micro e semi-micro níveis de análise espacial de Clarke, 1977).

4. Reconstituir a cronologia desta ocupação pré-colonial, a partir de amostras datáveis, preferencialmente por métodos que utilizem o Carbono 14.

5. Verificar as relações entre a cultura material da ocupação pré- colonial do Sítio RPO-1 e a cultura material dos sítios arqueológicos similares encontrados na região.

6. Ampliar o conhecimento existente sobre as populações horticultoras que ocuparam a região.

No documento a seguir serão apresentadas as atividades desenvolvidas no salvamento do Sítio Arqueológico RPO-1 na seguinte seqüência:

Na primeira parte serão apresentados a caracterização do Sítio RPO-1 e do ambiente em que está inserido, além do contexto arqueológico regional.

Na segunda parte serão descritas as atividades desenvolvidas em campo, incluindo as atividades de resgate propriamente ditas e as atividades complementares desenvolvidas pela equipe por ocasião dos trabalhos de campo em São Mateus.

Na terceira parte, serão apresentadas as atividades de laboratório e os resultados obtidos. Inicialmente será apresentada a problemática das Tradições Arqueológicas envolvidas, os pressupostos teóricos sobre a produção oleira pretérita, a análise quantitativa e qualitativa do material coletado e, por fim , a análise integrada dos dados.

O relatório encerra com breves considerações finais, onde se avalia o cumprimento dos objetivos propostos no projeto apresentado ao IPHAN.

No final do documento estão as referências bibliográficas e a equipe envolvida nos trabalhos.

Em anexo, serão apresentados: ficha de sítio modelo IPHAN, material de divulgação em mídia interna, base da apresentação feita na sede Petrobras /UN-ES/São Mateus, tabelas de sondagem, diagramas de densidade, perfis das unidades de escavação, repertório de formas, fichas de análise gestual e resumos das apresentações feitas no 13º Congresso da Sociedade de Arqueologia Brasileira, Campo Grande, MS.

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Salvamento Arqueológico do Sítio Arqueológico RPO-1. São Paulo, Scientia, 2005. 1

PARTE 1: HISTÓRICO DA PESQUISA

1 LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO RPO-1

1.1 Localização

O Sítio Arqueológico RPO-1 situa-se no município de São Mateus, litoral norte do estado do Espírito Santo, no âmbito da bacia do baixo Rio Cricaré ou São Mateus, micro-bacias do córrego Águas Claras e do Rio Preto (cf. Mapa 1, no final deste capítulo).

Este sítio foi localizado durante o levantamento arqueológico realizado na área do Programa Levantamento Sísmico 3D - São Jorge Sul, que abrangeu uma área de 15km², coordenado por Teixeira, em 20001. Segundo o autor (2002:59), o levantamento arqueológico desenvolvido no norte do Espírito Santo, entre 1999 e 2002, na área dos programas sísmicos 3D da Petrobrás e áreas adjacentes, identificou 389 evidências arqueológicas, incluindo sítios pré-coloniais (122) e sítios históricos (169), ocorrências isoladas (80) e doações (18). No que se refere aos sítios pré-coloniais, foram identificados 88 sítios cerâmicos, 18 sambaquis, 15 acampamentos conchíferos e 01 sítio lítico.

O sítio arqueológico RPO-1 está localizado em terreno de propriedade da Florestas Rio Doce (atualmente Consórcio Aracruz Celulose e Bahia Sul Celulose), na planície dos tabuleiros, em amplo terraço arenoso. Encontra-se entre duas nascentes de um pequeno afluente do córrego Águas Claras e cerca de 700m da margem direita do Rio Preto. A área do sítio já está, há algum tempo (mais ou menos 10 anos), sendo ocupada por eucalipto e seis poços de exploração de petróleo.

O quadrilátero definido inicialmente como área do sítio arqueológico RPO-1 totalizava 806.400 m², e foi objeto dos procedimentos de pesquisa descritos no capítulo 3 deste relatório. Entretanto, os trabalhos de delimitação re-definiram a área do Sítio RPO-1, reduzindo-a para aproximadamente 170.667 m² (Figura 1.1).

1 Ambiental Norte, Relatório Final, 2001.

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1.2 Contexto ambiental Rafael Pedott

1.2.1 Regional

O fator geográfico físico mais característico é a passagem entre o litoral nordestino, em geral baixo e com tabuleiros, e o litoral sul, escarpado, devido à proximidade da escarpa do Planalto Brasileiro que mergulha no oceano.

Na extensa planície litorânea no norte do estado do Espírito Santo, encontramos 7 bacias hidrográficas, a saber, (de sul para norte): Piraquê-Açú, Riacho, Doce, Barra Seca, São Mateus e Itaúnas, e Mucuri (sul da Bahia).

O trecho litorâneo onde se desenvolvem as atividades da Petrobrás insere-se nas regiões hidrográficas do rio São Mateus. Tendo como formadores os rios São Mateus Braço Norte e São Mateus Braço Sul, sendo que a jusante da confluência, entre os afluentes da margem direita estão localizados o rio Preto do Sul e o rio Mariricu.

O rio Mariricu recebe o córrego Águas Claras, onde se localiza o Sítio Arqueológico RPO-1. O rio Mariricu flui na direção norte-sul, em região úmida, podendo mover-se em dois sentidos, para a foz do rio São Mateus ou para Barra Nova. Sendo assim, o trecho litorâneo pode ser considerado inserido tanto na região hidrográfica do São Mateus, como na do Doce. (Scientia, 2004)

O Estado do Espírito Santo pode ser dividido em duas grandes porções geológicas. Uma a oeste, ocupando a maior parte de seu estado, composta por rochas cristalinas gnáissicas e graníticas e a leste, uma porção menor formadas por rochas sedimentares da Bacia do Espírito Santo, sendo sobrepostas pelos sedimentos da Formação Barreiras e das planícies litorâneas.

A região onde foi encontrado o Sítio Arqueológico RPO-1, no norte do Estado do Espírito Santo, acompanha a morfologia do litoral nordestino, e revela duas unidades geomorfológicas, que correspondem ao platô terciário e a planície quaternária (Teixeira & C. Perota, 1999).

A primeira unidade, também denominada “Tabuleiros Costeiros”, com altitude máxima próxima de 30m, localiza-se no oeste da área e caracteriza-se pelas feições aplainadas dos tabuleiros. Em seu limite leste, ela transiciona suavemente para a planície. Caracterizam-se por amplos interflúvios tabulares, separados por vales aluviais de grandes dimensões, formados por acumulação fluvial no Quaternário, onde os rios trabalham na formação de seus meandros

Na área continental da porção sedimentar aflora a Formação Barreiras, constituída por camadas descontínuas de arenitos, arenitos argilosos, conglomerados e argilitos, com níveis

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laterizados, inconsolidados ou pouco consolidados. Esses sedimentos são de idade terciária e quaternária e recobrem rochas sedimentares da bacia do Espírito Santo, a leste, e o embasamento cristalino, a oeste.

As outras unidades sedimentares encontram-se na planície quaternária, onde foram individualizadas duas gerações de depósitos arenosos marinhos, uma pleistocênica e outra holocênica, além de depósitos lagunares, paludais e fluviais. (Scientia, 2004)

O litoral capixaba, movimentado pelas possantes redes hidrográficas dos rios, forma uma extensa planície litorânea. O platô terciário é separado do mar por uma faixa arenosa de largura irregular, superfície baixa pouco ondulada, modelado por escarpas do lado do mar e interior constituído por terrenos mais elevados que antecedem as elevações montanhosas da encosta do Planalto Brasileiro. Diversos cursos d’água desembocam no oceano por largos vales de fundo chato, e muitas vezes por amplas planícies aluviais (Figura 1.2).

Caindo mais para o interior, próximo às encostas cristalinas do Planalto Brasileiro, encontramos um relevo mais elevado que varia de 6m a 40m, erodido pela água, com formas alongadas e largura variada, de topografia plana, separados por amplos vales de fundo aplainado. Ao norte do Rio Doce os tabuleiros passam a ter uma presença mais efetiva na paisagem. Segundo LAMEGO, os Tabuleiros teriam sido formados no pleistocênico, período das glaciações. Nessa época teríamos uma maré mais baixa e uma forte erosão causada pelos rios, formando os tabuleiros e os seus vales. No fim do pleistoceno temos uma transgressão de 40 m do mar, afogando os referidos vales. (IBGE, 1958)

Os solos dos tabuleiros são do tipo podzólicos vermelho-amarelo e latossolo amarelo, constituídos de argila e areia, em geral são solos pouco férteis, com grande quantidade de areia, formando solos bastante permeáveis.

“São solos minerais cauliníticos com horizonte B textural e horizonte A moderado, raramente proeminente, com texturas variando de argilosa a areno-argilosa e arenosa média (Salgado & Castro 1983; Zangrande, Resende & Resende, 1987)”.

O limite entre os tabuleiros e a Planície Quaternária se dá através de um aclive no terreno, produzida pelos agentes erosivos. Formando uma pequena escarpa, as antigas falésias esculpidas na Formação Barreiras, definindo assim a área costeira.

Foto 1.1 – Panorâmica da área de inserção do Sítio Arqueológico RPO-1, com planície litorânea (primeiro plano e a direita) e planície de tabuleiros, em segundo plano.

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Figura 1.2 - Porções Geológicasdo Litoral Norte do Espirito Santo.

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nov/2005

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Entre essa faixa e o litoral estende-se a Planície Quaternária, constituída por terraços arenosos alongados no sentido norte-sul e de largura irregular; compostos por depósitos arenosos argilosos e fluviais, sedimentos litorâneos arenosos marinhos e por uma zona baixa superficialmente turfosa; além de um número elevado de lagoas.

Muitas dessas lagoas possuem formas alongadas e perpendiculares. As com formas perpendiculares são antigas embocaduras de rios interceptados pelo entulhamento arenosos e os lagos alongados são de água salgada e estão ligadas ao aparecimento de cordões litorâneos, (detritos carregados pelo mar depositados ao longo da costa).

Esse Modelado de Acumulação Marinha compõe-se dos cordões arenosos de idade recente, formando feixes de restingas ressaltadas por diques, intercaladas por sulcos paralelos temporariamente inundáveis. Eventualmente, constituem-se de um único cordão barrando a desembocadura dos rios, forçando-os a correr paralelos à costa, como pode ser observado nos rios Itaúnas, São Mateus, Mariricu, Ipiranga, Monsarás e rio Doce.

Durante o período de chuvas, toda essa área lagunar-paludal e as partes mais baixas dos terraços marinhos holocênicos estão sujeitas a inundações. (Scientia, 2004)

O clima, principalmente o regime das chuvas, interfere no relevo encontrado na baixada litorânea que se alarga de Vitória para o norte e se afasta pouco a pouco para o interior do estado. Os ventos úmidos do oceano não encontram a barreira natural das serras, penetrando pelo vale e indo muito mais para o interior, o que leva a estender o clima do litoral mesmo além da baixada litorânea.

No baixo vale do Rio Doce, temos uma zona de precipitações mais fraca em toda a faixa litorânea, da ordem de 863,3 mm anuais. Ultrapassando o vale do rio Doce, as chuvas tendem novamente a aumentar. A cidade de Conceição da Barra registra um total superior a 1.400 mm anuais. Configurando-se como área de transição que gradativamente torna-se uma zona mais úmida.

Na medida em que se dirige para o norte (direção do litoral sul da Bahia) percebe-se uma mudança no regime das chuvas, desaparece a estação relativamente seca do outono e inverno, que ocorre também no vale do rio Doce, mas não tão acentuado. Como descreve Simões ao IBGE, em

“A estação seca que caracteriza o regime das chuvas nas regiões tropicais (abril a setembro) mostra-se atenuada no litoral. As frentes frias que se formam nesse período, com os avanços de massas frias vindas do sul, acarretam a formação de chuvas embora menos abundantes nesse período, principalmente no mês de outono. Na classificação de Koppen a região se enquadra no tipo Aw (quente e úmido com chuvas de verão e estação seca de outono a inverno), embora não apresenta as características típicas a que Koppen denominou clima de savanas. Estas são

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encontradas no planalto, nas regiões onde a seca de outono-inverno é bem acentuada e cerca de 80 a 90% das chuvas são registradas nos meses de outubro a março, estação de verão (Características Gerais – Clima da região litorânea e da Grande Região Leste, Ruth Mattos de Almeida Simões)

Em Conceição da Barra, o total elevado compensa a ocorrência de um período mais seco entre maio e setembro. O mês mais seco é o de agosto, com pluviosidade superior a 50 mm, o que não ocorre nas regiões em que as chuvas diminuem sensivelmente em abril a setembro, como na foz do rio Doce, onde o mês mais seco é setembro com índice de apenas 37,1 mm.

O mês mais chuvoso é dezembro tanto na foz do rio Doce com em Conceição da Barra, porque mesmo nesta ultima estação, as chuvas predominam no período de outubro a março. Corresponde a clima Am, transição para o clima Af do litoral sul da Bahia, este sem estação seca. Pois o Litoral sul da Bahia se mantém constantemente úmida. Não há estação seca, pois as chuvas são abundantes durante o ano todo.”

As temperaturas se mantêm elevadas o ano todo, há uma variação do mês mais quente, podendo ser janeiro, fevereiro ou mesmo março, enquanto, que o mais frio parece ser mesmo o mês de julho. Mas durante todo ano a variação entre as temperaturas, dos meses correspondentes, se tornam pequenas. As médias anuais são superiores a 23°C, decrescendo na direção sul.

“A existência, nesse trecho do litoral da Região Leste, de um clima quente e úmido com chuvas abundantes regularmente distribuídas durante o ano todo, conseqüência, ao mesmo tempo, de sua latitude e da combinação de vários regimes pluviométricos, principalmente o de chuvas de outono-inverno e o de chuvas de verão, condiciona, de modo geral, o aparecimento de uma vegetação de tipo predominantemente florestal.” (IBGE,1958)”

Por um lado, falta neste contexto o anteparo montanhoso capaz de reter a umidade trazida pelos ventos que sopram do oceano, pois a escarpa do planalto foi recuada pela ação erosiva do ambiente. Mas a existência desse regime pluviométrico, de caráter tipicamente marinho é o suficiente para sustentar a floresta perene e tropical úmida.

As diferenças climáticas e as tais mudanças do regime de chuvas, implicam na mudança da fitofisionomia. Por exemplo, podemos encontrar uma grande porcentagem de espécies decíduas, no interior, no sul da Bahia e no norte do litoral Capixaba. Pois temos nestes lugares chuvas de verão regulares e a tendência para uma estação mais seca e pouco acentuada durante o ano.

Um outro fator que contribui para modificações na cobertura vegetal é o solo. Estes são provenientes das rochas cristalinas ricas em feldspatos, ocorrendo na vasta área do litoral,

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proveniente dos depósitos terciários dos tabuleiros. Além dos de natureza silicosa, encontrados nas praias onde também encontramos os depósitos argilosos do fundo das baías e outras reentrâncias da costa.

Devido a sua composição, estrutura e grau de salinidade apresentam a vegetação típica da orla litorânea constituída por uma variedade de formações vegetais encontrados na Mata Atlântica (Petrobras, 2001).

Na área dos terrenos do terciário, observa-se uma mata Atlântica do tipo Tabuleiros, onde a floresta tropical úmida é subdividida em: floresta alta, floresta de mussunga, floresta de nativo e floresta de várzea.

Nos terraços marinhos encontramos vegetações típicas do manguezal, restinga, alguns lugares com matas paludosas, pântanos ou brejos.

Hoje temos pequenas áreas, verdadeiras ilhas, com vegetação de espécies nativas comuns na região. No norte do estado do Espírito Santo, existem duas reservas – A Reserva Florestal de Linhares e a Reserva Biológica de Sooretama, contendo amostras significativas da fauna e da flora, encontrados nos ecossistemas e caracterizado por espécies da região neotropical. (Teixeira & C. Perota, 1999)

1.2.2 Local

O Sítio Arqueológico RPO-1 situa-se na zona norte do Estado do Espírito Santo, no município de São Mateus, que se limita ao norte com Conceição da Barra e Mucuriri, a oeste com Nova Venécia, ao sul com Colatina e Linhares e a leste com o Oceano Atlântico. O sítio arqueológico está implantado na bacia do baixo Rio Cricaré ou São Mateus, micro bacia do Córrego Águas Claras e do Rio Preto, em propriedade da Floresta Rio Doce, (atualmente Consórcio Aracruz Celulose e Bahia Sul Celulose), área utilizada pela Petrobras para exploração de petróleo. (Figura 1.3)

O sítio está sobre a unidade da planície de tabuleiros, um amplo terraço arenoso, composto por sedimentos continentais da Formação Barreiras, (camadas descontínuas de arenitos, arenitos argilosos, conglomerados e argilitos, com níveis laterizados, inconsolidados ou pouco consolidados).

O solo é do tipo Podzólico, encontrado geralmente nos terrenos de litologia do Grupo Barreiras que na sua maioria é constituído por solos Podzólicos Vermelho Amarelo e Latossolo Amarelo. Este solo apresenta horizonte “B” textural (Bt), com a diminuição nos teores de areia total, com diferenciação textural abrupta por volta de 25 a 35 cm de profundidade. Esta mudança pode ser explicada por dois processos (Zangrande, 1987).

Primeiro: Remoções diferenciais das partículas por erosão - Em ambientes onde acumulam águas superficiais, aliados a baixos teores de agentes cimentantes, a argila

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tende a entrar em suspensão e ser arrastada por água de deflúvio, enquanto que as frações mais grosseiras se acumulam.

Segundo: Destruição das partículas de argilas pela ferrolísis – Em ambientes redutores, o ferro se transforma em Fe +2 e é removido do complexo sortivo do solo, sendo substituído, para o balanceamento de carga, pelo hidrogênio, provocando oscilação das argilas, que se tornam instáveis. (Petrobras, 1997)

Este fenômeno é recorrente nas áreas de declive do tabuleiro com o curso das águas e na separação dos tabuleiros da região quaternária, caso da área do sítio arqueológico RPO-1.

Fotos 1.2 e 1.3 - o solo é do tipo Podzólico, encontrado geralmente nos terrenos de litologia do Grupo Barreiras que na sua maioria é constituído por solos Podzólicos Vermelho Amarelo e Latossolo Amarelo. Á esquerda, vasilhame parcialmente evidenciado na unidade de escavação R-560, nível 0,80m. À direita, peneiramento de sedimentos da unidade de escavação D-80.

Nos terrenos arenosos podemos encontrar vários tipos de cultivo, dentre os quais se destacam: o eucalipto, a cana, café, mandioca e áreas de pastagens, são lugares próprios para o cultivo de ciclos curtos (cf. Mapa 1 ao final deste capítulo).

Na área do RPO – 1 encontra-se três tipos de cobertura vegetal: cultivo sistemático de eucalipto; mata secundária ciliar, típico da Mata Atlântica, protegendo os recursos hídricos; e áreas de pastagens.

Foto 1.4 – contato entre a área de reflorestamento de eucalipto e vegetação ciliar na área do Sítio Arqueológico RPO-1.

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Foto 1.5 - transição entre eucaliptos (primeiro plano) e vegetação ciliar no alinhamento de sondagens (Linha 760).

Foto 1.6 - área de pastagem no limite da área de reflorestamento, limite SW do quadrilátero definido como Sítio Arqueológico RPO-1.

Foto 1.7 – aspecto do reflorestamento de eucalipto em estágio médio de desenvolvimento no Setor 2 do Sítio RPO-1.

Foto 1.8 – aspecto da vegetação na mancha de mata secundária existente na porção NW do Sítio RPO-1.

O relevo do local onde se situa o Sítio Arqueológico RPO-1 é esculpido por afluentes do Córrego Águas Claras, que cortam no sentido NW-SE a área do sítio arqueológico e estão cerca de 700 metros da margem direita do Rio Preto e delimitado por dois pequenos lagos, um ao norte e outro ao Sul.

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Figura 1.3 - Hidrografia doNordeste do Espirito Santo.

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nov/2005

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2 CONTEXTO ARQUEOLÓGICO E HISTÓRICO REGIONAL

2.1 Contexto arqueológico

A região em que se insere a área de estudo foi objeto de levantamento arqueológico sistemático apenas em função dos empreendimentos da Petrobrás, a partir do final da década de 90.

Anteriormente a isto, foram publicados dados arqueológicos sobre patologias de populações de sambaquis situados na Baía de Vitória (Meyer, 1936; Cunha, 1952, 1967, 1968,1970, apud Teixeira, 2002). A partir da década de 70, com os trabalhos desenvolvidos para o PRONAPA por Celso Perota, na região central do litoral do Estado do Espírito Santo, foram estabelecidas duas etapas para o período pré-cerâmico: uma com datação a partir de 4.500 anos AP e outra, pertencente à Tradição Itaipu/Fase Potiri, com datação de 515 a.D. No norte capixaba, os sambaquis estão datados entre 4.400 AP e 2.970 AP.

Os estudos do PRONAPA definiram três tradições ceramistas para o território capixaba: Tupiguarani (a.D. 895), Una (a.D. 810) e Aratu (a.D. 838).

A Tradição Tupiguarani é representada pelas fases Cricaré (a.D. 895) e Tucum (a.D. 1390 ± 70) da Sub-tradição Pintada, estendendo-se por todo o litoral e interior do Espírito Santo, sendo a fase Tucum bem recente, com alguns sítios apresentando material de contato. Também há referência a sítios desta tradição no baixo rio Barra Seca e no rio Itaúnas (apud Teixeira, 2002).

A Tradição Una é representada pela fase Tanguá (a.D. 810), com praticamente todos os seus sítios localizados no sul do Estado, numa área de topografia bastante acidentada, apresentando enterramentos em abrigos sob rocha.

A Tradição Aratu está representada no Estado por duas fases: Jacareípe, cujos sítios estão localizados nas proximidades das zonas alagadas ou de mangues, com datações entre a.D. 838 e a.D. 1.183, e Itaúnas, cujos sítios estão localizados na região litorânea, em locais secos e elevados, com estratigrafia formada de conchas, ossos de peixe e de animais misturados com grande quantidade de terra, datados entre a.D. 1.730 e a.D. 1870. A existência de grandes urnas piriformes e o uso da grafita como antiplástico e como elemento de tratamento de superfície e decoração são elementos diagnósticos desta última fase.

O levantamento arqueológico sistemático desenvolvido no norte do Espírito Santo por Teixeira, entre 1999 e 2002, na área dos programas sísmicos 3D da Petrobrás e áreas adjacentes, identificou 389 evidências arqueológicas, incluindo sítios pré-coloniais (122) e sítios históricos (169), ocorrências isoladas (80) e doações (18). No que se refere aos sítios pré-coloniais, foram identificados 88 sítios cerâmicos, 18 sambaquis, 15 acampamentos conchíferos, e 01 sítio lítico (Teixeira, 2002:59).

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Segundo o mesmo autor (2002), estas diferentes “classes” de sítios pré-coloniais não implicam necessariamente tratar-se de sistemas de assentamento distintos, existindo, entretanto, uma coerência entre a distribuição espacial e a implantação dos sítios na paisagem, no âmbito de cada uma destas “classes”:

� sítios cerâmicos – encontram-se preferencialmente na zona de transição fisiográfica e ambiental, implantados sobre terraços de tabuleiros e junto às áreas de influência direta das lagoas formadas pela barragem dos cursos fluviais por sedimentos do pleistoceno marinho, ou seja, nos trechos em que estes cursos d’água se mostravam navegáveis (caso do Sítio Arqueológico RPO-1), ou estão implantados sobre terraços holocênicos e próximos à praia, na margem de grandes cursos d’água ou de canais abandonados;

� sambaquis – ocorrem nas áreas de paleolagunas, sobre terraços e ilhas arenosas, especificamente concentrados em uma determinada área da planície costeira, isto é, no Vale da Suruaca;

� acampamentos conchíferos – ocupam a mesma região dos sambaquis, mas concentram-se nos cordões arenosos mais externos, distribuídos ao longo de toda a margem externa da grande paleolaguna e próximos aos rios que correm paralelos à linha de praia;

� sítio lítico – o único sítio identificado estaria relacionado a um sítio cerâmico existente nas proximidades, pois, segundo o autor, não existem na área fontes de matéria-prima suficientes sustentar um sistema cultural com predomínio deste tipo de cultura material (op.cit: 87-89).

Quanto aos sítios históricos, representativos do processo histórico de ocupação da região desde o período colonial, estão geralmente localizados às margens dos maiores cursos d’água, em vertentes suaves, possuindo pequenas dimensões (entre 1.125 e 1.750m²), encontrando-se em geral a cerca de 25m dos cursos d’água.

A seguir, serão assinaladas as características dos sítios cerâmicos detectados na área de estudo por Teixeira (2000:82-83), objeto específico de interesse neste projeto de salvamento arqueológico.

Os 88 sítios cerâmicos identificados apresentam características morfológicas, estratigráficas e de implantação semelhantes, assim como algumas características tecno-tipológicas. Segundo o autor, as diferenças estão nas dimensões (horizontal e vertical), na distribuição dos sítios pela área de estudo e na freqüência dos vestígios.

Os sítios cerâmicos, todos a céu aberto, distribuem-se majoritariamente na zona de transição, no entorno das lagoas formadas no baixo curso das principais micro-bacias,

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localizados sobre os terraços de tabuleiros ou ainda, em menor número, sobre terraços marinhos do pleistoceno e patamar de baixa vertente, situados a aproximadamente 100m do curso d’água principal ou de um de seus afluentes.

Estes sítios apresentam dimensões entre 4,0ha e 80,0ha, sendo um principal, com maiores dimensões, e os demais, menores, distantes no máximo 1,5km entre si, e situados no máximo a 3km do principal. Contêm principalmente material cerâmico, blocos de laterita, manchas de “terra-preta”, pequena quantidade de lítico lascado e polido, sendo que alguns apresentam restos de fogueiras, sepultamentos e pequenos montículos de conchas de bivalves. Os vestígios afloram em superfície sendo que a camada arqueológica varia entre 0,20 e 0,80m de profundidade.

Se comparados aos sítios situados nos tabuleiros, aqueles localizados sobre terraços marinhos do Holoceno, possuem dimensões bem menores (2ha) e apresentam maior proximidade na sua distribuição (1,5km a 2,5km). Exceção é feita para os sítios situados na área de influência do rio São Mateus (ou Cricaré), cujas dimensões equivalem-se aos sítios de menores dimensões presentes nos tabuleiros.

A localização predominante dos sítios cerâmicos na faixa dos baixos tabuleiros (zona de transição) poderia estar, segundo Teixeira, relacionada ao tipo de solo existente nesta faixa que, apesar de apresentar baixa fertilidade, é apropriado para o cultivos de espécies de ciclo curto (como mandioca, milho, feijão, entre outras). Some-se a isto, a navegabilidade no baixo curso das micro-bacias, permitindo a movimentação entre os distintos nichos ecológicos, o que faz da zona de transição uma área estratégica para ocupação humana, com possibilidade de exploração de recursos durante todo o ano.

Os sítios cerâmicos (menores e em menor número) existentes sobre terraços arenosos do quaternário holocênico (próximos à praia) são interpretados, por Teixeira, como acampamentos sazonais dos grupos que habitavam os tabuleiros, pois a baixa fertilidade e elevada acidez dos solos nestes locais não permitiria que fosse desenvolvida atividade agrícola que sustentasse grupos com demografia elevada.

Recentemente, em junho de 2005, foram achadas no Bairro Pedra D’Água, em São Mateus, oito urnas funerárias, sendo uma delas com 1,5m de altura contendo esqueleto completo (Jornal A Gazeta, 06.07.2005). As urnas estariam dispostas de forma eqüidistante, sendo que a maior continha, além do esqueleto, artefatos de pedra e de madeira, e as menores continham apenas ossos de crânio. As peças foram doadas ao Museu de São Mateus pelo Sr. Paulo Sergio Neves, proprietário do imóvel onde as urnas foram encontradas durante uma obra.

Estes achados fortuitos, dentre outros já relatados na área de São Mateus, corroboram a informação de que esta área era densamente povoada na chegada do europeu.

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Foto 3.1 – foto publicada no jornal A Gazeta (06.07.05)

2.2 Contexto etnohistórico

Ao esboçar o panorama etnohistórico de sua área de estudo, Teixeira observa que2, “ao serem cruzados os dados arqueológicos, etnográficos e lingüísticos; as alianças políticas estabelecidas entre os vários grupos; e o tipo de relacionamento estabelecido com os colonizadores, conclui-se que, na verdade, não existia grande diversidade étnica. As informações indicam que havia seis grandes grupos vivendo na região denominada de “sertões do leste”: os Tupinikin, os Kamakã-Mongoió, os Aimorés/Gren/Botocudos, os Puri, os Pataxó e os demais grupos compondo a etnia genericamente conhecida como maxakali.

“Com relação ao termo Aimorés, ou ainda Ambaré, Guaimuré ou Embaré, Paraíso (1998, p. 70) deduz que essa era a denominação atribuída aos índios do interior pelos Tupi, e que foi amplamente utilizada no século XVI. A partir do século XVII, foi substituída por Guerén, Gren ou Kren, que seria a autodenominação do grupo. A partir do século XIX, foi substituída

2 Teixeira, 2002:34-49.

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pela denominação de Botocudos, numa alusão aos botoques labiais e auriculares que usavam como adorno, e aos índios que ofereciam resistência à conquista de seus territórios. A partir da segunda metade do século XIX, passam a ser referidos pelos nomes dos seus vários grupos e subgrupos, que ao que tudo indica, eram derivados dos nomes dos seus líderes ou das características geográficas em que viviam.

“No que diz respeito ao termo Maxakali, Paraíso (1994, p. 185) indica que é possível que os índios dessa região fossem dos vários grupos ou sub-grupos aliados, componentes de uma confederação de tribos que ficou assim conhecida. Esse ponto de vista é confirmado por Nimuendaju (1954, v.6. p. 53-61) que atestou em 1937:

...desconheço a origem da palavra Maxacali. Ela não pertence ao Tupi, nem à língua própria da tribo. Poucos entre os índios a conhecem. Hoje é como designação neobrasileira (...) para toda aquela parte da tribo que habitava...

“De um modo geral, a distribuição desses grupos na região definida como “sertões do leste” pode ser assim colocada:

� Tupi/ Tupinikin / Tupinambá em todo o litoral. � Os Botocudos / Gren / Aymorés nos rios Contas, Cachoeira, Pardo, Jequitinhonha,

Jucurucu, Itanhém, Peruípe, Mucuri, Cricaré e Doce. � Os Kamakã-Mongoió entre as cabneceiras dos rios Contas e Pardo. As informações

sobre pequenos grupos desses índios em vilas litorâneas dos rios Peruípe, Itanhém e Mucuri (Nova Viçosa, Caravelas e São José de Porto Alegre, esta última atual cidade de Mucuri), onde eram conhecidos por Menian e Canarins, indicam que teriam sido deslocados para essas áreas para combaterem os grupos do sertão.

� Os Pataxó/Patachó habitavam o curso médio dos rios de Contas, do Pardo, Jucurucu, Jequitinhonha, Mucuri, Cricaré e Itaúnas.

� Os Kumanaxó / Comanaxó / Cumanachó habitavam o médio curso dos rios Jequitinhonha, Mucuri e Cricaré.

� Os Kutaxó / Cotoxó ocupavam a área entre os rios Pardo, Jequitinhonha e Doce. � Os Monoxó / Manaxó / Mapoxó / Momaxó / Makaxó / Maxakan situados no baixo curso

dos rios Jequitinhonha, Mucuri e no Doce. � Os Kopoxó / Copoxó / Gotochós entre os rios de Contas, Jequitinhonha, Mucuri e

Doce.� Os Kutatoi no vale das cabeceiras do Jucurucu. � Os Maxakali / machacalizes / Machacaria / Macachacalizes / Malakaxi / Malakaxeta

nos rios Jequitinhonha, Itanhém, Jucurucu, Mucuri e Doce. � Os Malali / Malalizes no médio curso dos rios Jequitinhonha, Mucuri, Cricaré e Doce. � Os Panhame / Bonito / Bonito nos rios Jequitinhonha, Mucuri e Doce. � Os Makoni / Maconés / Macunis / Makuinins / Maquaris / Bakoani / Maconcugi nas

bacias do Jequitinhonha, Mucuri, Cricaré e Doce. � Os Puri nos afluentes da margem direita do rio Doce.

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A presença de índios do tronco lingüístico tupi ao sul do Rio Doce, registrada pelos cronistas do século XVI, como Léry (1972), assim como a presença de Botocudo, Puri e Pataxó ao norte do mesmo rio, registrada pelos cronistas do século XIX (Neuwied, 1940; Rugendas, 1981 e Saint-Hilaire, 1974), foi reproduzida graficamente por Nimuendaju (1980), conforme Figura 2.1, a seguir.

Figura 2.1 – Recorte do Mapa de Nimuendaju, com foco no Estado do Espírito Santo.

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Diz Teixeira que, “Em se tratando especificamente da planície litorânea, região onde está situada a área foco de interesse deste estudo, as informações etno-históricas apresentadas revelam um mosaico cultural bastante complexo, com uma multiplicidade de grupos indí-genas habitando a floresta tropical, alguns sem contato ainda no século XIX. No entanto, percebe-se claramente o domínio dos Tupi (Tupinikin–Tupinambá) durante os dois primeiros séculos de colonização dessa área, tendo os demais grupos ocupado parte dela somente nos séculos seguintes de devassamento e ocupação das terras do interior” (Teixeira, 2002:48).

De acordo com Leite (1965), no século XVI, os Tupiniquim ocupavam uma faixa de terra situada entre Camamu, na Bahia, e o rio São Mateus (ou Cricaré), no Espírito Santo.

Segundo Medeiros (s/d), a chegada do conquistador europeu no território do atual Estado do Espírito Santo ocorreu em 1535, quando ali aportou Vasco Fernandes Coutinho, ao qual foi concedido um quinhão de 50 léguas de terra. Pertencia-lhe também qualquer ilha até dez léguas do litoral. Desde o início enfrentaram a oposição de indígenas, motivo do escasso e lento povoamento da capitania, em contraste com o progresso verificado na capitania limítrofe da Bahia.

Para o povoamento do território, privilegiou-se o plantio da cana-de-açúcar, a exemplo do que se fazia em outras capitanias. Os engenhos se tornaram, logo em meados do século XVI, as unidades demográficas e sociais da colonização e da vida brasileira, e não só, ou exclusivamente, da organização econômica, segundo Diegues Júnior (apud Medeiros, s/d), que menciona que, na terra capixaba, as canas se deram muito bem, tendo sido seu progresso emperrado pela resistência dos indígenas (goitacazes e tamoios, principalmente) à conquista. Como conseqüência, o número de engenhos já havia caído na segunda metade do século XVI, fato reforçado também pela atração exercida pelas notícias de ocorrência de minas no interior. No final do século XVI, o número de engenhos voltou a apresentar um pequeno crescimento, sendo quatro ou cinco, segundo Anchieta, em 1584, ou seis, de acordo com Fernão Cardim.

Com o interesse voltado para a aproximação das regiões de mineração, ampliou-se o povoamento nas imediações de Vitória e começaram a ser ocupadas as cabeceiras do Rio Jucu. Por todo o século XVIII foi sendo alargada a área de ocupação humana do Espírito Santo. Em 1716, começou a ser povoado o extremo Norte, na bacia do São Mateus. O aumento do povoamento acompanhou o vale dos rios. O vale do Rio Doce, por exemplo, teve seu povoamento intensificado pela criação do quartel de Linhares.

Vestígios da ocupação colonial da região, assim como de períodos mais recentes, são freqüentes na área de estudo, segundo Teixeira. “Estas evidências reúnem estruturas do tempo da implantação das capitanias gerais, desde o século XVI, passando por assentamentos coloniais (fazendas), aldeamentos indígenas, quilombos, até os remanescentes mais recentes das comunidades rurais tradicionais representantes dos diferentes ciclos econômicos que marcaram ocupação regional” (Teixeira, 2002:48).

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PARTE 2: ATIVIDADES DE CAMPO Maria do Carmo Mattos Monteiro dos Santos

3 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

As atividades desenvolvidas em campo no salvamento do Sítio Arqueológico RPO-1 incluíram as atividades de escavação propriamente ditas e algumas atividades complementares, tais como: palestras para funcionários da Petrobrás, visando a sensibilização para a questão do patrimônio arqueológico; entrevista com uma artesã residente no município de São Mateus, que confecciona cerâmica tradicional; e visita ao Museu Municipal, para registro do acervo arqueológico.

3.1 Atividades de escavação

Procedimentos

Na definição dos procedimentos de escavação adotados, foram consideradas inicialmente as características do Sítio RPO-1, relatadas em relatório fornecido pelo empreendedor, a saber: extensão de aproximadamente 80ha; espessura do depósito arqueológico entre 0 e 0,60m; densidade média de material; integridade do depósito arqueológico: parcialmente alterado por processos de cultivo sistemático de eucalipto.

Além destas, considerou-se o tipo de intervenção a ser desenvolvida na área pelo empreen-dedor, isto é, instalação de bases de produção (área 60mx90m) no campo Rio Preto Oeste da Petrobrás/UN-ES. Três destas bases estão inseridas, completa ou parcialmente, na área delimitada como sendo de ocorrência de material arqueológico por Teixeira (2001).

A proposta inicial foi a realização de resgate amostral em toda a área do sítio, com escavação de cortes-teste de 1,00m² (quadras ou unidades amostrais de escavação), em malha de 40m x 40m.

Figura 3.1 - Croquis da distribuição das unidades de escavação no espaço do sítio

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Aplicações bem sucedidas deste método, no que se refere à análise espacial intra-sítio, foram feitas por Viana (1996); Melo (1999) e, mais recentemente, nos sítios arqueológicos resgatados ao longo da LT Tucuruí-Presidente Dutra, PA/MA (Scientia, 2002).

A idéia por trás desse procedimento metodológico é trazer subsídios sobre a cultura material distribuída por todo o espaço do sítio, de forma amostral sistemática, de modo a tentar conseguir “informações sobre a natureza e o grau da variação da cultura material em assentamentos como um todo” (Wüst & Carvalho, 1996: 48). Concorda-se aqui, com as autoras, que a análise espacial intra-sítio constituiu um instrumental analítico altamente potente.

Os procedimentos de pesquisa intra-sítio visam, portanto, ainda que de forma amostral, trabalhar o sítio na perspectiva da denominada household archaeology (Blankholm, 1991; Flannery & Winter, 1976; Hietala, 1984; Kent, 1987; Kroll & Price, 1991).

À estratégia de coleta estratigráfica amostral foram somados, em laboratório, tratamentos estatísticos, buscando investigar diferenças e semelhanças na cultura material presente no sítio, em áreas residenciais, espaços públicos e locais de atividades específicas, conforme sugerido por Wüst (2000). A idéia foi mapear o material das unidades escavadas usando programas como ArcGIS e SURFER.

Atividades

Em função da grande extensão da área (80 ha) definida inicialmente como “área do Sítio RPO-1” (Teixeira, 2001), e da impossibilidade de confirmar esta informação pela observação de vestígios aflorados em superfície, em função da cobertura vegetal que impedia a visualização do solo, as unidades de escavação foram reduzidas para 0,25 m² com o objetivo principal de delimitar a área real de ocorrência de vestígios arqueológicos.

Foto 3.1 - aspecto do reflorestamento de eucalipto que predomina na área do Sítio Arqueológico RPO-1, onde a visualização da superfície do solo é impedida pela presença de serapilheira.

Foto 3.2 - aspecto da área com vegetação secundária na área do Sítio Arqueológico RPO-1, onde a visualização da superfície do solo é impedida pela presença de serapilheira.

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Como a cobertura vegetal impossibilitou a visualização da superfície do solo na totalidade da área do sítio, não foi realizada coleta seletiva mapeada (de elementos diagnósticos), como proposto inicialmente no projeto.

Foto 3.3 - remoção da serapilheira para visualização da superfície e identificação de vestígios aflorados.

Foto 3.4 - detalhe da serapilheira recobrindo a superfície do solo, que impede a identificação de vestígios aflorados em superfície.

Foram plotadas unidades de escavação com malha de 40 metros sobre todo o quadrilátero definido como área do Sítio RPO-1(área total de 800.000 m²), com auxílio de Estação Total.

Fotos 3.5 e 3.6 – delimitação da área do Sítio Arqueológico RPO-1 (Setor 2/vértice 4) e locação de unidades de escavação em área de reflorestamento com auxílio de Estação Total.

Na área do sítio recoberta por vegetação secundária, foi necessária a abertura de picadas para a locação das unidades de escavação.

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Foto 3.7 - aspecto da vegetação secundária que cobre parte da área do Sítio Arqueológico RPO-1, onde foi necessária a abertura de picadas.

Foto 3.8 - abertura de picada em área de vegetação secundária para locação de unidades de escavação.

Foto 3.9 - locação de unidades de escavação com auxílio de Estação Total em área de vegetação secundária.

Foto 3.10 – tomada de medida com trena para plotagem de unidade de escavação a cada 40 metros, em área de vegetação secundária.

Inicialmente, foram locadas as unidades de escavação (0,50 x 0,50m) e, após a limpeza da cobertura vegetal, feita a coleta do material aflorante na superfície destas quadrículas. As escavações nas unidades foram realizadas com níveis artificiais de 0,10m, aprofundadas até pelo menos 0,40m ou dez centímetros abaixo do último vestígio arqueológico identificado. Em seguida, foi executada uma tradagem central por mais 0,40m (no mínimo) de profundidade, para assegurar a inexistência de vestígios enterrados em estratos mais profundos. Todo o solo retirado das unidades de escavação foi peneirado.

Fotos 3.11 a 3.13 - seqüência de ações após locação da unidade de escavação com Estação Total: remoção da serapilheira no entorno da estaca (esq e centro), marcação da unidade de 0,50x0,50m.

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Foto 3.14 – marcação da unidade de escavação (0,50x0,50m) e coleta do material aflorado em superfície (Q-400).

Foto 3.15 - detalhe de escavação por níveis artificiais de 10cm da unidade de escavação D-200.

Foto 3.16 - escavação, tomada de medida no perfil e peneiramento do solo retirado.

Foto 3.17 – retirada do solo escavado para peneiramento em área de mata ciliar (S-760).

Foto 3.18 – retirada de solo e peneiramento da unidade de escavação M-880.

Foto 3.19 - Abertura da unidade de escavação D-80 e peneiramento do solo retirado.

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Foto 3.20 - abertura de tradagem no centro da unidade de escavação e verificação do solo.

Foto 3.21 - aspecto do final da escavação da sondagem (S-760) com tradagem central.

As unidades de escavação realizadas foram nomeadas de forma alfa (sentido S-N) - numérica (sentido W-E), e encontram-se na Tabela em anexo, com tipo de material, nível de ocorrência e quantidade.

Das 550 unidades de escavação inicialmente projetadas, foram realizadas efetivamente 440 (80% do total), não sendo executadas apenas aquelas que estavam locadas em áreas brejosas ou sobre as drenagens que recortam a área (Figura 3.2), ou, ainda, em local onde já havia sido feita movimentação de solo, caso das bases dos poços já existentes e dos acessos internos não pavimentados do Campo de Produção Rio Preto Oeste.

Foto 3.22 – uma das bases de poço do Campo de Produção Rio Preto Oeste (Petrobrás), onde não foram realizadas unidades de escavação em função da movimentação de solo já ocorrida.

Foto 3.23 – um dos acessos internos do Campo de Produção Rio Preto Oeste, da Petrobrás, onde não foram realizadas unidades de escavação dado o grau de alteração do solo.

Este método de escavação, com distribuição sistemática de unidades de escavação sobre toda a área do quadrilátero definido anteriormente como sítio arqueológico, permitiu não somente a definição das áreas de ocorrência de material arqueológico (área do sítio), como também uma primeira abordagem das áreas com maior concentração de vestígios (Figura3.3).

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Constatou-se que a área de concentração de vestígios é bastante reduzida se comparada à área definida inicialmente (80 ha), situando-se entre as duas cabeceiras de drenagem (Córrego Águas Claras), na porção NE do quadrilátero pesquisado, onde o material aparece mais concentrado sobre área de 17 ha.

Algumas unidades de escavação foram selecionadas para ampliação em função da maior densidade de material (quadras O-280 e Q-440 / 1x1m) e/ou da presença de material estruturado (quadras H-440 / 2x2m e R-560 / 1x1m). Estas quadras foram ampliadas a partir da unidade de escavação original, divididas em quadrículas (0,50x0,50m), nomeadas de B a D, no sentido horário, conforme croquis a seguir.

Quadra O-280

Sond. O280 B

D C

Foto 3.24 – quadra O-280, ampliada para 1m², em função da maior densidade de material (2456 fragmentos, média: 610 fragmentos por 0,50m²).

Foto 3.25 – quadra Q440, ampliada para 1m², em função da maior densidade de material (1242 fragmentos, média: 310 fragmentos por 0,50m²)

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Fotos 3.26 e 3.27 – quadra H-440, ampliada (4m²), em função de estrutura cerâmica e presença de cachimbo, carvão e material lítico (seixos).

Foto 3.28 – quadra H-440, ampliada, detalhe de cachimbo, seixo e carvão evidenciados.

Foto 3.29 – quadra H-440, ampliada, detalhe de vasilhame estruturado.

Foto 3.30 – quadra H-440, ampliada, verificação e descrição de perfil.

Foto 3.31 – quadra H-440, aspecto final da escavação, com divisão de quadrantes (1m²) e quadrículas (0,50m²).

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Fotos 3.32 a 3.36 – quadra R-560, ampliada, em função da presença de estrutura cerâmica (urna).

O vasilhame encontrava-se emborcado, sendo que a base encontrava-se no nível 0,30-0,40m (acima e meio) e os fragmentos da porção superior do vasilhame e a borda, no nível (abaixo) entre 0,50 e 0,60m.

A decapagem dos blocos coletados, realizada em laboratório, evidenciou material ósseo.

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Do total de quadras escavadas (440 unidades de escavação), 35% apresentaram material arqueológico em um ou mais níveis (154 do total).

O material arqueológico predominante é a cerâmica, que se encontra bastante fragmentada e erodida devido às sistemáticas ações desenvolvidas para o cultivo de eucalipto na área. Os objetos líticos restringiram-se a seixos de quartzo, dois deles associados à estrutura cerâmica evidenciada na Quadra H-440. Também foram identificados blocos de laterita em superfície, distribuídos aleatoriamente na área de maior concentração de material cerâmico, que não apresentavam nenhuma alteração por uso.

Foto 3.37 - detalhe dos fragmentos cerâmicos presentes em superfície entre os 4 pontos que limitam a unidade de escavação

Foto 3.38 – fragmentos cerâmicos coletados em superfície na unidade de escavação Q-400

A camada arqueológica raramente ultrapassa 0,40m, encontrando-se predominantemente entre 0 e 0,30m de profundidade (85% das unidades escavadas, representando 94,1% do total de fragmentos coletados), como se pode ver no gráfico a seguir.

Do total de unidades de escavação que apresentaram material (154 unidades), temos:

� Superfície - 16% das unidades apresentaram material em superfície, representando 17,9% do total de fragmentos coletados;

� Nível 0-10cm - 26% das unidades apresentaram no 1º nível, representando 36,7% do total de fragmentos coletados;

� Nível 10-20cm - 25% das unidades apresentaram material no 2º nível, representando 26,7% do total de fragmentos coletados;

� Nível 20-30cm - 18% das unidades apresentaram material no 3º nível, representando 12,9% do total de fragmentos coletados;

� Abaixo de 30cm – 15% das unidades apresentaram material abaixo de 30cm, representando 5,8% do total de fragmentos coletados

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Gráfico 3.1 Presença de material por nível (unidades de escavação)

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Foto 3.39 – decapagem de estrutura cerâmica (nível 0,20-0,30m), cachimbo e seixos (nível 0,10-0,20m) na quadra H-440, ampliada (1x1m).

Foto 3.40 - detalhe de fragmento no perfil, a 0,10m de profundidade, na unidade D-200.

Foto 3.41 - detalhe de estrutura cerâmica na unidade de escavação H-440 (trena em 0,20m).

Foto 3.42 – fragmentos cerâmicos no perfil (0,20m) da unidade de escavação K-480.

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Foram, também, coletadas amostras de carvão para datação radiocarbônica, cujos resultados serão apresentados na Parte 3 deste relatório.

Foto 3.43 - estrutura de combustão (J10-530), onde houve coleta de carvão para datação.

Foto 3.44 - quadra H-440 (1x1m), onde foi feita coleta de carvão para datação radiocarbônica.

Complementarmente às unidades de escavação executadas sobre a malha de 40 metros, foi realizado um trabalho de escavação mais detalhado, com malha de 10 metros, nas áreas de implantação das bases de produção LOC-2-RPO e LOC-3-RPO.

A base de produção denominada LOC-1-RPO (UTM SAD69 411.119E / 7.918.354N ponto central) não foi objeto de escavação arqueológica detalhada, pois a malha de escavação de 40 metros não havia identificado vestígios arqueológicos nesta área (60mx90m).

Foto 3.45 – aspecto do local do LOC-1-RPO, onde não foram identificados vestígios arqueológicos.

A base projetada denominada LOC-2-RPO (UTM SAD69 410.720E / 7.918.386N ponto central) possui área de 60mx90m, situando-se em área periférica do sítio arqueológico. Nesta área, apenas uma unidade de escavação (B-240) havia apresentado material cerâmico, em baixa densidade, durante a execução da malha de 40 metros.

Para assegurar que as obras de instalação desta base não colocariam em risco bens arqueológicos, foram realizadas sondagens com cavadeira manual com 0,30m de diâmetro

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e 1,00m de profundidade, sobre malha de 10m, totalizando 60 sondagens. Nenhum vestígio arqueológico foi identificado com esta estratégia, sugerindo tratar-se de uma área periférica do sítio ou mesmo em uma ocorrência isolada.

Foto 3.46 - Trabalhos de escavação com espaçamento de 10 metros na área da base projetada LOC-2-RPO. Não foram identificados vestígios nas sondagens da malha de 10m.

Notar a camada de folhas fazendo a cobertura do solo, impedindo a visualização da superfície.

A base projetada denominada LOC-3-RPO (UTM SAD69 411.012E / 7.918.719N ponto central) também possui área de 60mx90m. No entanto, esta base está inserida no interior da área do Sítio Arqueológico RPO-1. Por isso, foi realizada malha de unidades de escavação com as mesmas dimensões daquelas realizadas na malha de 40 metros, isto é, (0,50mx0,50m), com espaçamento de 10 metros.

Foto 3.47 – local do LOC-3-RPO / coordenada UTM SAD69 24 K 0411.050 /7.918.662, onde foi realizada malha de 10 metros.

Assim, na área do LOC-3-RPO, foram realizadas 105 novas unidades de escavação, que somadas às 12 unidades da malha de 40 metros totalizam 117 unidades (Figura 3.4). Do total de unidades do LOC-3-RPO, apenas 6% não apresentaram material cerâmico.

Apesar de esta base estar inserida na área do sítio arqueológico, avalia-se que foi coletada uma amostra significativa da cultura material desta área, uma vez que uma amostra maior apenas teria reflexos quantitativos e não qualitativos para produção de conhecimentos sobre o sítio.

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Os trabalhos de escavação de unidades sobre malha de 10 metros na área do LOC-3-RPO, indicaram características semelhantes àquelas já apontadas pela escavação amostral sobre malha de 40 metros.

A camada arqueológica no LOC-3-RPO raramente ultrapassa 0,40m (4% das unidades escavadas), encontrando-se predominantemente entre 0 e 0,30m de profundidade (86,8% das unidades escavadas, representando 87,8% do total de fragmentos coletados), como se pode ver no gráfico a seguir.

Gráfico 3.2 Presença de material por nível (unidades de escavação)

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Do total de unidades de escavação do LOC-3-RPO que apresentaram material (93 unidades), temos:

� Superfície - 8% das unidades apresentaram material em superfície, representando 7,5% do total de fragmentos coletados;

� Nível 0-10cm - 31% das unidades apresentaram no 1º nível, representando 35,7% do total de fragmentos coletados;

� Nível 10-20cm - 29% das unidades apresentaram material no 2º nível, representando 29% do total de fragmentos coletados;

� Nível 20-30cm - 19% das unidades apresentaram material no 3º nível, representando 15,5% do total de fragmentos coletados;

� Abaixo de 30cm –12% das unidades apresentaram material abaixo de 30cm, representando 10,2% do total de fragmentos coletados

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Considerações sobre as escavações

Os trabalhos de campo realizados para o salvamento do Sítio Arqueológico RPO-1 possibilitaram a coleta de dados suficientes para a compreensão deste assentamento pré-colonial.

Os trabalhos de escavação sistemática do Sítio RPO-1 indicaram que:

� A área real do sítio é menor do que a área inicialmente dimensionada e efetivamente pesquisada (quadrilátero de 80 ha). Os resultados de campo indicaram uma área elíptica para o sítio arqueológico, limitada pelas cabeceiras do Córrego Águas Claras, com aproximadamente 170.667m² (17 ha). Outros sítios arqueológicos registrados na área possivelmente também tenham tido suas dimensões super estimadas, o que só pode ser constatado a partir de avaliações in loco.

� O estado de conservação do sítio é ruim, sendo que o material encontra-se muito fragmentado e erodido e a estratigrafia está bastante alterada pelas atividades de plantio de eucalipto (que cobre a maior parte do sítio). Entretanto, apesar de a estratigrafia estar bastante comprometida, existem diferenças no grau de intervenção/alteração da área, o que foi demonstrado pelo vasilhame evidenciado na unidade R-560, que ainda apresentava fragmentos grandes, indicando a possibilidade ocorrência de material mais íntegro.

� Certamente ainda existe material arqueológico significativo no LOC 3-RPO, mas toda escavação arqueológica tem de se propor limites, uma vez que é impossível resgatar todos os indícios materiais de ocupações humanas pretéritas e o benefício desse resgate total é muito duvidoso em termos qualitativos, a não ser no caso de sítios únicos, o que não ocorre na área de estudo, onde o sítio RPO-1 é apenas um elemento de um conjunto de sítios que precisa ser cientificamente compreendido. Afinal, o sítio arqueológico não é nada mais nada menos que o remanescente de uma antiga aldeia, que se inter-relacionava com outras aldeias. A compreensão do sistema comunitário é mais importante cientificamente do que o conhecimento de um sítio isoladamente.

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3.2 Atividades complementares

Durante os trabalhos de campo foram realizadas algumas atividades não relacionadas diretamente com as escavações, tais como: palestras para funcionários da Petrobrás, entrevista com uma artesã que confecciona cerâmica tradicional, e visita ao Museu Municipal, para registro do acervo arqueológico.

3.2.1 Palestras

Foram realizadas três palestras para funcionários da Petrobrás, sendo duas na Sede, em São Mateus, e uma na Base SM-8, visando a sensibilização para a questão do patrimônio arqueológico.

A primeira delas, para algumas gerências, objetivou esclarecer aspectos da legislação de proteção do patrimônio arqueológico e da pesquisa arqueológica ligada ao licenciamento ambiental. Duas outras palestras objetivaram divulgar especificamente os trabalhos de salvamento arqueológico do Sítio RPO-1, sendo uma delas para as gerências e outra para os funcionários de operação de SM8 (Anexo 1).

Durante os trabalhos de campo foi elaborada uma matéria sobre o salvamento arqueológico do sítio RPO-1, publicada em veículo de informação interno da Petrobrás (Anexo 2).

3.2.2 Entrevista

Foi realizada entrevista com artesã local que confecciona cerâmica tradicional, Sra. Antonia Alves Santos, 84 anos, natural de Jequié, BA, que mora no município de São Mateus desde 1963 (Rodovia Otovarino Duarte Santos, Km 4, Bairro Pedra D’Água).

Sra. Antonia relatou que confecciona cerâmica desde criança, tendo aprendido com a mãe (Maria da Conceição Justina, nascida no final do século XIX). Durante a entrevista descreveu o processo de fabricação dos vasilhames e confeccionou alguns para que a e equipe de arqueólogos pudesse observar e registrar (em filme e fotos) os detalhes do processo, que será descrito a seguir.

A matéria-prima é adquirida de terceiros, de procedência variada, mas sempre da área do município de São Mateus.

Os processos de confecção do vasilhame cerâmico

Preparação da argila

O primeiro passo é pisar o barro, ou seja, colocar a argila seca dentro do pilão e, utilizando a mão de pilão, triturar o barro até virar pó. Em seguida, a argila é umedecida com água e vai sendo amassada com a mão para que as impurezas que ficaram na massa sejam retiradas.

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Foto 3.48 - Argila armazenada (no solo) para ser apiloada.

Processos da preparação do vasilhame

Sra. Antonia utiliza uma quantidade de massa de argila suficiente para o preparo da peça, vai modelando com mão dando o formato do vasilhame. Depois de modelado o vasilhame, passa uma espátula de cabaça (paeta) com um pouco de água dentro da peça para alisar e tirar alguma impureza que tenha restado na argila.

Na borda da peça passa uma espátula fina de madeira umedecida. Logo em seguida passa uma tira de couro molhado na boca do vasilhame deixando liso e acertado. Deixa secar um ou dois dias, à sombra.

Foto 3.49 e 3.50 - Sra. Antonia A. Santos, em seu atelier. Os vasilhames recém confeccionados são colocados para secar por 1 ou 2 dias, à sombra.

Com a peça seca, a ceramista passa mais uma vez a espátula de cabaça umedecida na parte interna da vasilha, sendo que na parte externa do vasilhame, próximo à borda, utiliza um sabugo de milho. Em seguida utiliza um pedaço de madeira na borda cortando os excessos de argila. Utiliza uma tira de couro umedecido na borda deixando alisados.

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Foto 3.51 - modelagem do vasilhame. À direita da foto, instrumentos utilizado no processo (cabaça e pedaços de cabaça de várias formas, tira de couro, sabugo de milho, seixo).

Foto 3.52 - utilização de sabugo de milho para alisamento da face externa do vasilhame.

Para terminar utiliza um pedaço de espuma seca e passa dentro do vasilhame, retirando o excesso de água, e finalizando o alisamento. Após esta etapa, as peças ficam mais um ou dois dias para secar, à sombra.

Depois de um tempo de secagem (1 ou dois dias) a ceramista passa um seixo em toda parte externa da peça (para brunir), retirando todos nódulos e dando um brilho ao vasilhame.

Para finalizar, coloca a peça para queimar no forno que, na ocasião da entrevista, precisava de uma reforma e não estava sendo utilizado. A ceramista possuía muitas peças armazenadas em seu atelier, aguardando para ser queimadas.

Fotos 3.53 - vasilhames cerâmicos armazenados para queima /setembro de 2004

Fotos 3.54 –. forno utilizado pela neta da ceramista (Sra. Antonia A. Santos).

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O que se pode verificar é que a técnica utilizada pela ceramista é a modelagem, sem utilização de roletes (esta última é a técnica utilizada na produção dos vasilhames cerâmicos coletados no Sítio RPO-1), podendo estar associada à influência africana, já sua técnica foi aprendida com a mãe, na Bahia, no início do século XX.

3.2.3 Visita ao Museu Municipal

Foi realizada visita ao Museu Municipal de São Mateus, para registro da coleção de peças arqueológicas coletadas no município de São Mateus. O curador do Museu é o historiador Eliezer Nardoto, que não se encontrava no município por ocasião da visita da equipe.

O Museu está sediado em edifício datado de 1765, antiga Sede do Conselho Municipal e até a década de 80, Sede da Prefeitura Municipal de São Mateus. Hoje abriga também a Secretaria Municipal de Educação.

Em seu acervo possui material arqueológico proveniente de doações e de escavações arqueológicas emergenciais realizadas no município em função de obras ou achados fortuitos. Possui também material histórico, como vasilhames cerâmicos, louça, equipamentos e mobiliário.

Fotos 5.55 e 5.56 – Museu Municipal de São Mateus: fragmentos cerâmicos com decoração pintada (detalhe à direita)

Foto 5.57 - Museu Municipal de São Mateus: lâminas de machado polido e fragmentos cerâmicos (exposição permanente).

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Foto 5.58 - Museu Municipal de São Mateus: vasilhame cerâmico coletado em escavação emergencial no município de São Mateus.

Fotos 5.59 e 5.60 - Museu Municipal de São Mateus: material antropológico exumado de urna funerária (exposição permanente).

Fotos 5.61 e 5.62 - Museu Municipal de São Mateus: material histórico (vasilhames cerâmicos – esq / equipamentos - dir).

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PARTE III - ATIVIDADES EM LABORATÓRIO

Lílian Panachuk

Nesta parte será apresentado todo o procedimento arqueológico executado em laboratório. Isto inclui tanto o tratamento técnico do material e sua análise, quanto a reflexão arqueológica sobre os dados anteriormente produzidos e sua relação com o material em questão.

Para tanto, o relatório foi organizado de forma a primeiro pontuar o problema em questão (item 4), para posteriormente apresentar a bibliografia arqueológica brasileira disponível sobre o tema (item 5).

Isto feito, será apresentada uma pequena discussão teórica, na qual as diretrizes e concepções que guiam este estudo poderão ser melhor compreendidas (item 6).

Depois deste estofo, serão apresentadas as características que marcaram o processo de formação do material arqueológico identificado no Sítio Rio Preto Oeste-1 (item 7). Depois de conhecidas as marcas de construção do registro, serão apresentadas tanto a metodologia de análise quantitativa (item 8) como os resultados deste procedimento (item 9). Posteriormente, a metodologia e o resultado oriundos da abordagem qualitativa (itens 10 e 11, respectivamente).

Com isto, será possível propor a seqüência operatória utilizada por esta sociedade ceramista específica (item 12). Por fim, será apresentada a análise integrada destes dados propondo uma interpretação sobre o material ora analisado (item 13).

4. PROBLEMA E PROBLEMÁTICA DO SÍTIO

O material cerâmico deste sítio foi inicialmente entendido como pertencente à tradição Tupiguarani (Teixeira, 2002; Scientia, 2004). Com o processamento inicial dos dados em laboratório, foi possível identificar outros traços no material, atribuíveis à tradição Aratu, levantando a questão sobre a classificação arqueológica destes vestígios (Carvalho & Panachuk, 2005).

Esta aparente divergência entre classificações é causada pelo próprio material cerâmico que, ao reunir uma mescla de traços da Tradição Aratu e Tupiguarani, possibilita leituras em várias vias.

Para que se possa entender esta mistura de traços em um mesmo horizonte arqueológico, é necessário ter clareza sobre ambos os conjuntos e suas definições, para assim poder delimitar e definir o material analisado.

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A Tradição Tupiguarani foi definida arqueologicamente a partir da década de 50 (Menghin, Emperaire, Meggers e Evans) através de sua cerâmica, caracterizada por uma decoração policrômica (vermelho, branco e preto) mais recente que as cerâmicas locais que compõem hoje outras tradições de expressão regional. Atualmente, esta tradição conta com mais de 1.000 sítios localizados no sul e em toda costa do Brasil, estando presente nos países vizinhos. As datações disponíveis estão entre 500 e 1800 AD, havendo poucas mais recuadas, 60BC e 280 AD, que no mais das vezes não são bem aceitas (Brochado, 1973, Prous, 1992).

A cerâmica se constitui como elemento diagnóstico da dita Tradição Tupiguarani e se caracteriza por ser a única a apresentar, fora da bacia Amazônica, padrões decorados em seus vasilhames. Os padrões decorativos plásticos mais freqüentes são o corrugado, o ungulado com grande variedade de intensidade e ritmo, e o escovado; em menor freqüência aparece o ponteado, serrungulado, inciso, borda entalhada, acanalado, canelado, digitado, digitungulado, marcado com corda, marcado com tecido, marcado com malha, nodulado, pinçado e roletado (Chymz, 1976, La Salvia & Brochado, 1989). A decoração plástica é normalmente aplicada na face externa, podendo estender-se do bojo inferior, próximo à base, ao lábio. A decoração pintada inclui uma composição que mais freqüentemente tem (i)formas lineares filiformes e/ou pequenos pontos vermelhos/pretos sob engobo branco/amarelo; (ii)linhas pretas sob engobo branco (iii)engobo, principalmente branco e bem mais raro o vermelho; são, no entanto, raras as composições com (iv)faixas vermelha/preta aplicadas diretamente sob a cerâmica sem engobo (Brochado, 1973:8). Esta técnica decorativa aparece tanto na face interna e/ou externa. Brochado afirma ser rara a associação de decoração pintada e plástica em uma mesma vasilha.

São freqüentes entre os materiais cerâmicos os recipientes, além dos discos de fusos e dos 'calibradores/afiadores', e, mais raros, outros instrumentos como cachimbos, adornos, estatuetas, dentre outros.

Há uma grande variedade morfológica de vasilhames atribuídos à Tradição Tupiguarani; tal diferença pode estar relacionada à distinção funcional. São típicos os potes carenados com ombros, tinas / assadeiras ovais ou quadrangulares, potes de base cônica ou arredondada e borda reforçada externamente. O conjunto destes artefactos e suas morfologias estão associados, segundo Brochado, a uma base alimentar voltada à dieta de mandioca e milho.

Os antiplásticos mais utilizados são o quartzo e o caco moído - este último definido como elemento diagnóstico do grupo por Brochado. A compactação e dureza variam, estando em torno de 3 na escala Mohs; e a oxidação é incompleta, o que denunciaria a técnica de queima em fogueira (Stacamacchia, 1990; Prous, 1992:390). Segundo Brochado (1973) a técnica de manufatura mais utilizada seria o acordelamento (coiled).

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O material lítico é ainda pouco estudado em relação à cerâmica, havendo no mais das vezes pequenas descrições rápidas. Aparecem pequenas lascas, afiadores, nuclei, seixos e tembetás, sendo mais raros os machados e mãos de pilão.

As aldeias apresentam área entre 5 e 10.000 m², em geral, em áreas aplainadas próximas a rios navegáveis, com solo passível de utilização pela agricultura. A forma geral da aldeia varia enormemente havendo na bibliografia manchas de terra preta como anel (Meggers & Maranca, 1980), semi-círculo (Chymz, 1976), em elipse (Panachuk, 2004) e mesmo sem ordem aparente (Prous, 1992).

A Tradição Aratu foi definida já no decênio de 1970, quando a metodologia proposta por Meggers & Evans (1971) era utilizada em larga escala na América do Sul. No Brasil era necessário compreender as grandes urnas funerárias sem decoração, encontradas no interior brasileiro, que não podiam ser atribuídas à tradição tupiguarani. As pesquisas de Calderón na Bahia e Dias em Minas Gerais, e os estudos goianos coordenados por Pe. Schmitz guiaram as primeiras definições desta cultura das grandes aldeias com material cerâmico sem relação com antigas aldeias da Tradição Una (Prous, 1992). O trabalho separado fez nascer tradições diferentes (respectivamente, Aratu, Sapucaí e Uru) para um conjunto material com pouca variação. Por esta razão, será tratado como um grande universo similar que, pelas próprias dimensões que abrange, apresenta variabilidade regional. Os sítios desta tradição estendem-se desde São Paulo até Mato Grosso, chegando ao Rio Grande do Norte, e desde o litoral baiano até o interior de Goiás (Prous, 1992). As datações disponíveis estão entre 400 e 1800 AD.

A cerâmica Aratu em geral não é decorada; quando há decoração, limita-se ao uso de engobo, corrugado e incisões (Calderón, 1974, Dias, 1971, Perota, 1971, 1974, Prous, 1992). O tratamento de superfície, no entanto, apresenta grande variedade e fino acabamento, como no caso do banho de grafita (Calderón, 1974). A morfologia dos potes inclui grandes urnas periformes, tigelas geminadas, potes com gargalo, além de bordas onduladas. Os pesquisadores apostam no maior consumo do milho para estas populações pretéritas.

Além de recipientes cerâmicos, foram observados também tortual de fuso, cachimbos, carimbos decorativos.

O antiplástico mais utilizado inclui quartzo e areia, havendo, eventualmente, outros elementos como a grafita (observado por Calderón no material da Bahia) e cariapé (notado em Goiás, por Schmitz e Wust), que podem ter relação com uma variação geográfica.

O material lítico inclui uma diversidade e variedade de objetos polidos como os machados (em especial o semi-lunar), mãos de pilão e de mó, além de material lascado.

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As aldeias, quando foram percebidas pelos pesquisadores, apresentam um padrão mais homogêneo, estando em geral formando anéis (por vezes vários anéis concêntricos) ou em semicírculo (Prous, 1992)

Este horizonte arqueológico, marcado por algum tipo de relação entre estas tradições específicas, foi notado anteriormente, mas ainda não prendeu a devida atenção dos pesquisadores (Wüst, 2001). Aparecem descrições de sítios para o atual estado de Goiás (Schmitz & Barbosa, s/d, Schmitz, 1982, Jobim & Viana, 1996, Wüst, 2001), Minas Gerais (Dias, 1974; Chymz, 1995), Bahia (Caderón, 1974) e Espírito Santo (Perota, 1971, 1974); além de estar presente no Mato Grosso e Ceará, para onde não há análises detalhadas (Prous, 1992).

O problema deste conjunto material mora na pequena quantidade de estudos e descrições sobre o material deste horizonte, associado a uma grande dispersão do material no espaço (ao menos desde o litoral do Espírito Santo e Bahia até o interior do Goiás), com suas variações regionais. Associadas a esses fatores, somam-se as raras datações para os vestígios. Neste sentido, o trabalho aqui apresentado tem valor para a arqueologia brasileira, por tentar avançar esta discussão; e para o contexto regional, que conta com poucos estudos monográficos sobre sítios arqueológicos.

A condensação de aspectos de dois conjuntos culturais que são transformados em um terceiro, como neste estudo, toca em uma questão muito debatida nas ciências humanas e sociais: tradição e inovação social (Mauss, 1927). Em distintas áreas do conhecimento, como a psicologia, antropologia, sociologia, biologia, bioantropologia, política, dentre outras, os pesquisadores vêm refletindo sobre a origem e a natureza das escolhas sociais, que por sua vez criam as tradições. Diversos fatores sociais auxiliam na manutenção e na socialização destas regras sociais eleitas (Durkheim). No entanto, outros fenômenos, também sociais e históricos (relações comerciais, matrimoniais, guerreiras, sociais, rituais, políticas, prestígio individual, dentre outros), possibilitam o contato entre pessoas, idéias e objetos. Esses momentos circunstancias abrem a possibilidade das inovações, de modificar as escolhas sociais anteriormente definidas, que mesmo quando é uma atividade individual, é, nestas sociedades ameríndias pretéritas, eminentemente coletiva. Nesse grande debate teórico, o material analisado parece ser relevante para que se possa entender as sociedades pretéritas e suas relações sociais em determinado momento histórico, suas opções e sua estrutura social.

A problemática decorre da imprecisão da classificação arqueológica para este conjunto material específico, que ora é classificado como pertencente à Tradição Tupiguarani ora como Aratu. Pretende-se, portanto, traçar um caminho metodológico no qual seja possível delimitar as características de uma e outra tradição arqueológica, baseando na cerâmica como elemento diagnóstico, por ser o vestígio mais abundante no sítio, e na bibliografia científica correlata.

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5. CONTEXTO ARQUEOLÓGICO: RELAÇÃO ENTRE A TRADIÇÃO TUPIGUARANI E ARATU

Os estudos que podem ser compilados na bibliografia arqueológica sobre o tema apresentam níveis desiguais de dados sobre o material: inclui raras monografias de sítios, algumas publicações detalhadas sobre o conjunto de artefatos e mesmo análises preliminares. No entanto, em sua maioria, seguiram uma mesma proposta metodológica, o que possibilita a homogeneização dos dados.

Neste item será apresentado o dado concreto, compilando-o dos autores, visando traçar o cenário geral com o qual se assemelha este conjunto material. Cabe lembrar que não é uma compilação exaustiva, pois, como mostra o trabalho de Najjar & Almeida (2001), há uma grande discrepância entre o cadastro de sítios organizados e o número real de sítios conhecidos nos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo, mas pode-se estender este fato para outras regiões do Brasil, onde ocorre o mesmo.

5.1. O Estado do Goiás

As pesquisas executadas no atual Estado de Goiás tiveram início em 1972, coordenadas por Pedro Inácio Schmitz (1982), juntamente com outros arqueólogos que atuavam no estado.

A produção cientifica acerca deste tema inclui a fase Iporã, que foi atribuída à Tradição Tupiguarani (Schmitz & Barbosa, s/d). Os dez sítios desta fase estão localizados na bacia do Araguaia e do Paranaíba, e aparecem também em abrigos em Serranópolis. Os sítios estão situados próximos aos rios navegáveis, sejam grandes ou pequenos fluxos, e em torno de sítios de outras tradições (Aratu e Uru). Os autores apontam para a grande dimensão das aldeias, que seriam compostas por casas comunais, não sendo possível, no entanto, estabelecer o tamanho real da área ocupada. A cerâmica apresentaria o tempero diagnóstico (Brochado, 1973; La Salvia & Brochado, 1989) da Tradição Tupiguarani, o caco moído, com acréscimo de cariapé. A decoração predominante seria pintada, com menor expressão das decorações plásticas. O material lítico incluía machado, mão de mó, quebra-coco, polidores, percutores, bifaces lascados e lascas de quartzo. Os autores interpretam este material como fruto de uma aculturação da Tradição Tupiguarani, devido à sua relação com a Tradição Aratu ou com a Uru. Nota-se, neste caso, a proeminência dos traços característicos do primeiro conjunto material, Tupiguarani, especificamente da Subtradição Pintada (pela maior freqüência de potes assim produzidos). A datação relativa desta fase seria em torno do século 1300 - 1500 AD.

A fase Itaberaí foi inicialmente definida através de 2 sítios (Schmitz, 1982, Schmitz & alli, 1974) que apresentavam características materiais de fusão entre a Tradição Tupiguarani e a

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fase Mossâmedes da Tradição Aratu. Posteriormente outros pesquisadores (Jobim & Viana, 1996) reconheceram outros sítios com as mesmas características desta fase. O material cerâmico deste conjunto apresenta uma variação do padrão morfológico (com a presença de potes do tipo igaçaba) e expressões decorativas (o que incluí decoração pintada e plástica) que marcam o conjunto Tupiguarani. O padrão de assentamento privilegiado se dá em locais altos, nas proximidade à nascentes (Jobim & Viana, 1996); o que pode ter relação com momentos de instabilidade política.

A cerâmica raramente apresenta padrões decorativos, como o engobo laranja em todo o corpo do pote; e o corrugado presente na porção inferior da borda, interpretado como reforço externo de borda (Schmitz, 1982; Jobim & Viana, 1996).

Pelas ilustrações (Schmitz, 1982), nota-se que a base é confeccionada preferencialmente por tempero mineral e a borda tem tempero de caco moído (associado a cariape e areia). O material lítico conta com breves descrições, onde aparecem objetos como o tembetá e afiadores em canaleta.

Os sítios deste conjunto foram interpretados como uma expressão mais recente da fase Mossâmedes, que teria emergido por contato com a tradição Tupiguarani (Schmitz), ou mesmo em decorrência de prática da exogamia, comum entre os Tupi (Jobim & Viana, 1996).

Cabe por fim notar que a fase Mossâmedes, atribuída à Tradição Aratu (Schimtz) e bastante estudada, sendo conhecidos mais de 70 sítios (Wust), é importante neste contexto. Em geral, os sítios ocupam os locais ao longo de drenagens de pequeno e médio porte (Jobim e Viana, 1996:255) e apresentam características da Tradição Aratu tanto para o material cerâmico, quanto lítico. No entanto, em alguns poucos sítios desta fase aparece um objeto polido, o tembetá (Schmitz, 1982, Prous, 1992), que está associado ao contexto tupiguarani. Este objeto pode ter flagrado o início do processo de contato entre essas sociedades ceramistas.

5.2. O Estado de Minas Gerais

A região sul do estado de Minas Gerais foi estudada, entre 1969/1970, pela equipe do Instituto de Arqueologia Brasileira, sob coordenação do arqueólogo Ondemar Dias. Os diversos sítios localizados na região encontram-se, em geral, próximos de afluentes do rio Grande e seus tributários, na proximidade da Represa de Furnas.

O material cerâmico encontrado foi classificado como pertencente a duas diferentes tradições arqueológicas, Tupiguarani e Sapucaí. A primeira se expressa em sua manifestação regional na dita fase Belvedere. A segunda é importante em três expressões

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regionais descritas - fases Ibiraci, Itaci e Sapucaí - devido à possibilidade, aventada por Dias, Cheuiche & Carvalho (1975), de aculturação pela Tradição Tupiguarani. Esta 'tupinização' seria marcada pela grande presença de padrões decorativos, além de padrões morfológicos típicos da Tradição Tupiguarani.

A fase Belvedere foi definida através da análise de fragmentos cerâmicos encontrados em quatro sítios arqueológicos de ocupação superficial (pacote arqueológico tendo, em geral, 30 cm de profundidade, e no máximo 80 cm, em enterramentos). A extensão dos sítios varia entre 5.000 e 10.000m² e estando eles localizados em elevações suaves próximas (normalmente entre 100 e 250m de distância), às margens do Rio Sapucaí e dos seus afluentes, rios São Tomé e Cabo Verde.

Os 1.233 fragmentos analisados apresentam tempero de quartzo (>1mm) raramente associado a feldspato; em menor freqüência, fragmentos com acréscimo de quartzo (<1mm) associado a outros minerais (óxido de ferro, feldspato e mica) e mais raros são os cacos temperados exclusivamente por argila. Os fragmentos decorados somam 415 cacos, sendo mais freqüentes o banho vermelho, corrugado, ungulado, seguidos do escovado e pintado bicrômico e do inciso. Mais raros são os fragmentos com padrões digitado, entalhado, polido-estriado, ponteado, raspado, roletado e marcado com cesto.

A tendência cronológica observada na seriação é de um aumento do tempero de quartzo grosso, ao mesmo tempo em que há uma diminuição do tipo argiloso, nos momentos mais recentes; o tempero de quartzo fino se mantém constante. Entre os fragmentos com decoração, o corrugado é o único a apresentar uma curva de popularidade que atinge o auge no meio do gráfico e tende a diminuir nas extremidades. Este fato, somado ao aumento do escovado na extremidade mais recente da seqüência, permitiu, dentro do contexto dos anos 70, atribuir a fase à Subtradição Corrugada. Os demais fragmentos com decoração não apresentam tendência observável.

Além desse material cerâmico, dois sepultamentos secundários, em urna carenada corrugada-espatulada, foram exumados nos municípios de Santa Rita do Sacupaí e Alfenas-MG e atribuídos à fase Belvedere. Um deles sem acompanhamento e com ossos completamente deteriorados, outro contendo fragmentos ósseos de criança com cerca de 7 anos. Este último traz algumas particularidades: a urna estava quebrada e havia fragmentos de outro pote que "preenchiam" o vazio da quebra e protegiam seu interior; apresentava uma tigela com decoração pintada emborcada na boca da urna, servindo como tampa (1975:9-10).

Para a Tradição Sapucaí nesta região, é interessante a hipótese de Dias (1971) sobre uma influência da fase Belvedere da Tradição Tupiguarani nas fases Itaci e Sapucaí, reconhecidas depois da análise de 16 sítios. Segundo o autor, a variação dos padrões morfológicos (tanto na forma propriamente dos vasilhames como no acréscimo de alça, e no aparecimento de utensílios como apoio para pote) e a diversidade dos padrões decorativos

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(engobo vermelho, inciso, estriado, escovado, acanalado, engobo branco, ungulado, digitado, entalhado, corrugado simples e corrugado-espatulado) atestariam o contato entre as fases destes dois grupos ceramistas. Os poucos sítios da fase Belvedere (Tradição Tupiguarani) da região estão cercados por vestígios materiais atribuídos à Tradição Sapucaí.

Scatamacchia (1990) salienta que, embora haja semelhança entre a fase Belvedere e a fase Sapucaí, no que toca o padrão de assentamento, de sepultamento e os tipos de artefatos li-ticos, não houve perdas da particularidade da Tradição Tupiguarani neste conjunto material.

No extremo Oeste de Minas Gerais (Triângulo mineiro), foram identificados sete sítios atribuídos à Tradição Tupiguarani (Junqueira, 1995, Chmyz, 1995), localizados durante o processo de licenciamento ambiental da UHE Nova Ponte.

Os cinco sítios abordados por Junqueira apresentam localização topográfica e características técnicas semelhante aos demais anteriormente descritos. Há, no entanto, dois fatores distintivos entre o material, um de cunho técnico e outro estilístico.

O aspecto técnico diferencial apontado por Junqueira está no uso de barbotina, que descreve como uma “cobertura por uma pasta de barro diferente da argila constituinte da cerâmica” (Junqueira, 1995: 71). A característica estilística deste material inclui, entre os fragmentos decorados, a predominância absoluta das variações do tipo corrugado, seguido do pintado e do ungulado. Outras modalidades de decoração plástica também ocorrem como o escovado, borda incisa, inciso e outros menos expressivos.

Os dois sítios localizados por Chmyz estão situados em meia encosta de colina suave, próximos ao Rio Quebra Anzol, e ocupam uma área de 10.000 e de 20.000m². Em geral apresentam como técnica principal o acordelado, havendo casos de apliques modelados como alças nos vasilhames e numerosas modelagens.

O material cerâmico conta com 2.444 cacos, dentre os quais 54% não apresentam decoração, e as variedades de decorações plásticas e pintadas aparecem com exatos 23% cada. Entre os cacos sem decoração, o tempero é composto por quartzo fino (<1mm) e por grãos grossos de quartzo (>1mm). Entre os fragmentos decorados (1.140 cacos), o tipo pintado é expressivo, seguido do tipo corrugado em suas diversas variações e mais raros são os cacos ungulados. Menos representativos ainda são os fragmentos com decoração entalhada, ponteada, acanalada, nodulada, serrungulada, digitungulada, pinçada e marcada com tecido. Vale notar que há fragmentos com decoração mista, conjugando corrugado e engobo vermelho, corrugado e ungulado, corrugado e escovado, corrugado e lábio entalhado.

Chmyz (1995) salienta a diferença de tempero e padrões decorativos aplicados. Em um dos sítios, o tempero utilizado em primazia é o tipo fino, que tende a aumentar nos níveis

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superiores. Enquanto no outro sítio a maioria é do tipo grosso, que tende a aumentar na medida em que o tempero fino diminui. Os fragmentos com engobo vermelho e aqueles com pintura são populares e apresentam a mesma tendência em ambos os sítios, diminuindo no topo do gráfico. O corrugado apresenta uma tendência a aumentar no topo do gráfico; ao mesmo tempo, há uma diminuição dos tipos ungulados em um dos sítios (Macaúba). No outro sítio (Andorinha), há uma tendência do corrugado em diminuir no topo do gráfico, enquanto o ungulado se mantém estável. Os demais tipos decorados são pouco expressivos e, como aponta Chmyz (1995:291), mantiveram-se regulares em ambas as coleções.

Chmyz e Junqueira enfatizam a presença de material intrusivo da Tradição Aratu-Sapucaí nos pacotes ocupacionais superiores. Neste sentido, também nesta região parece ter havido contato entre estas diferentes populações ceramistas, seja na escolha do espaço a ser ocupado, seja no contato quotidiano com algum tipo de relação social (política, matrimonial, comercial ou mesmo guerreira). No entanto, a ausência de datações e as perturbações estratigráficas decorrentes do plantio limitam o valor dessas suposições.

5.3. O Estado da Bahia

Para o estado da Bahia, Calderón (1974, 1976) define a fase Itanhém, pertencente à Tradição Aratu, na qual há caracteres da Tradição Tupiguarani na cerâmica. Aparece no extremo sul da Bahia, na divisa com o Estado do Espirito Santo. O padrão de assentamento apresenta manchas de terra preta distantes entre 10 e 15 metros do eixo maior, podendo instalar-se em linhas ou em círculos.

A cerâmica apresenta tempero com areia e grafita. A decoração plástica é exclusiva, não havendo elementos de decoração pintada. Os padrões de decoração plástica incluem modelado, corrugado ondulado, grafitado, roletado, corrugado simples e complicado. O autor indica a semelhança desta fase com outra, Itaúnas, definida por Perota (1971) para o estado do Espírito Santo (será apresentada no próximo item).

Os sepultamentos ocorrem, em geral, em urna piriforme com decoração corrugada ondulada, em torno da borda do vasilhame.

A fase Coribe, também atribuída à Tradição Aratu (Calderón, 1971), também apresenta controvérsias quando se observam as definições postas anteriormente. A julgar pela presença de decoração e pelo tempero (uso de caco moído), apresenta traços Tupiguarani. No entanto os padrões morfológicos têm claros aspectos Aratu-Sapucaí.

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5.4. O Estado do Espirito Santo

Para o estado do Espirito Santo, as fases Guarabu, Itaúnas e Jacareípe, da Tradição Aratu, são imprescindíveis pela marcada semelhança da sua cerâmica com a Tradição Tupiguarani.

Para a fase Guarabu, Perota aponta, como expressão dessa similaridade, a morfologia dos vasilhames com a presença de potes infletidos (Perota, 1971). O autor observa que a escassez de padrões decorativos, por outro lado, afasta as semelhanças com a tradição Tupiguarani, pois aparecem poucos fragmentos pintados, exclusivamente com engobo vermelho (comuns na Tradição Aratu-Sapucaí). No entanto, o tempero utilizado nesta fase incluí caco moído triturado, elemento diagnóstico da Tradição Tupiguarani, segundo Brochado (1973) e La Salvia & Brochado (1989).

Na fase Itaúnas (Aratu), a variedade dos padrões decorativos e de tipos morfológicos específicos aproxima este material daqueles atribuídos à Tradição Tupiguarani. Foram definidos doze tipos cerâmicos decorados, incluindo fragmentos com engobo vermelho, engobo vermelho e linhas vermelhas sobrepostas, corrugado simples, corrugado-ungulado, polido-estriado, grafitado, roletado, ungulado, inciso, ponteado, escovado e entalhado, e dois tipos sem decoração (Perota, 1971). A morfologia dos vasilhames conta com potes piriformes e potes globulares com gargalo, outros utensílios como fusos; modelagens antropomorfas e cachimbos completam os vestígios cerâmicos encontrados.

A fase Jacareípe (Perota, 1974) foi definida a partir de dois sítios-habitações localizados a 1 km da costa na chapada Carapina. Os sítios apresentam grande extensão (cerca de 100.000 m²) e profundidade até 25 cm. A cerâmica descrita apresenta como tempero quartzo, hematita e caco moído (como foi frisado, elemento diagnóstico para a cerâmica Tupiguarani). A decoração plástica é a mais freqüente nos fragmentos cerâmicos, aparecendo somente em pequena faixa próximo à borda. Os padrões decorados incluem em especial o corrugado-ungulado, sendo menos freqüente o corrugado simples, ponteado, roletado e ungulado. A decoração pintada é mais rara e ocupa todo o corpo do vasilhames como engobo vermelho.

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6. O MODO DE PRODUÇÃO CERÂMICO E SUAS POTENCIALIDADES

A tecnologia cerâmica envolve um apurado conhecimento sobre a localização das jazidas de argila que podem ser utilizadas para olaria, coleta de argila específica para manufatura dos objetos idealizados, preparação da argila (secar-moer-peneirar-hidratar-acrescentar material antiplástico, etc), manufatura do objeto, decoração (caso se trate de vasilhames decorados), secagem do objeto e queima. Seguindo esta seqüência, obtém-se como produto final objetos de cerâmica.

Depois de manufaturado, o produto é distribuído (seja através de uma rede de solidariedade, ou por comércio, dentre outros), utilizado (seja para cozinhar, conter líquido, receber algum alimento especial, servir bebidas e comidas, etc), descartado (seja por quebra, dano, ou impossibilidade de uso por algum motivo) e eventualmente transformado para um novo uso (por exemplo, reaproveitamento de cacos como tortual de fuso).

Todo este modo de produção e consumo material é movido por homens que mantém suas tradições técnicas e transformam seu conhecimento através de redes de ensino e aprendizagem, como em todas as sociedades.

Assim entendidos, os objetos materiais da cultura assumem um papel ativo nas relações dos homens entre si, com o meio natural e com o mundo sobrenatural (Lemonier, 1992). É através da cultura material que os homens constroem sua alteridade e expressam suas mensagens sobre seu modo de compreender o mundo e de viver, tratando-se, portanto, "de exteriorização material de idéias e conceitos que podem ser decodificados, ou melhor, interpretados segundo o contexto cultural em que se inserem" (Ribeiro, 1987:15)

6.1. A olaria como técnica e sua produção

Mauss (1974) inaugura o estudo sobre a técnica e a entende como um ato tradicional e eficaz, que se difunde pela transmissão oral dos conhecimentos.

Neste caminho, a técnica (de produção) foi definida como uma cadeia operatória (Leroi-Gourhan, 1964, 1973), uma série seqüente de operações/ações, necessárias e lógicas, que visam transformar a matéria-prima em estado natural para o estado manufaturado.

Na formulação de Lemonier (1992), esta cadeia operatória é traduzida pela imagem de uma engrenagem, inclui matérias-primas, energias/agentes e instrumentos; acionados e manipulados por gestos e conhecimentos específicos executados e ensinados durante o processo de aprendizagem técnica e simbólica.

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Três peças do conceito maquínico de Lemonier nos interessa em particular: as matérias-primas, os instrumentos e os gestos.

Para a produção cerâmica, a argila é, sem dúvida, a matéria-prima primordial, mas não é a única. São comumente utilizados outros produtos: como tempero (elementos vegetais ou minerais acrescentados à argila), além de resinas (para acabamento da superfície cerâmica, usada atualmente por diferentes grupos, como os Kadiweu, Assuriní e Waiwai); pigmentos e mordentes (minerais ou vegetais, ambos utilizados em larga escala, contemporaneamente), e também combustíveis (para aumentar e manter o calor, na queima de objeto de cerâmica).

Alguns instrumentos são importantes para as diferentes etapas do processo produtivo da cerâmica. A cestaria é largamente utilizada, por diversos grupos ameríndios contemporâneos, para o transporte, acondicionamento e processamento da argila. Não raro algum instrumento plano é usado como plataforma para movimentar a peça ainda plástica, mas formatada. Outros instrumentos e materiais diversos (como espátula, seixos, sementes, pincéis, cabaças, pentes, pigmentos, aglutinantes, dentre outros) são imprescindíveis para regularizar, pigmentar ou alterar superfícies cerâmicas.

Os instrumentos e materiais citados, em sua maioria, não persistem no tempo e não aparecem no registro arqueológico como objeto, mas como marcas. Os vasilhames e fragmentos cerâmicos guardam as marcas de vários objetos utilizados e registrados indelevelmente na massa mole. Assim, impressões de cestaria e outros objetos (como seixos, cabaça, sabugo de milho, palha, usados para dar acabamento à superfície do pote; ou espátula, unhas, pincéis, feixes, mandíbulas de animais, dentre outros usados contemporaneamente para os processos decorativos, sejam pintados ou plásticos) são deixados no pote.

Os gestos nos interessam em especial, e serão entendidos, para fins didáticos, como técnicos, operacionais e sub-operacionais (Lemonier).

Os gestos técnicos seriam as etapas seqüentes necessárias para a produção de um objeto, o conhecimento imprescindível para a produção do que se deseja. Requer a escolha e o domínio cultural sobre materiais distintos, que têm restrições físico-químicas. Como qualquer modo produtivo prescinde da idealização e explicitação do produto de referência. Os gestos operacionais seriam as maneiras de operacionalizar as escolhas técnicas: a postura da artesã, a localização dos implementos utilizados na produção, a mão que se utiliza, a maneira de tocar, alterar e manipular o objeto- o habitus social. Os gestos sub-operacionais podem ser entendidos como a escolha e a expressão individual dos gestos operacionais. É aqui que podemos perceber o tremor das mãos iniciantes, o retoque do erro, a velocidade do traço, a intensidade da força, o maneirismo, a habilidade, o capricho: a pessoa.

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Os gestos técnicos utilizados são sempre observados pelos arqueólogos, são mais óbvios e necessários para responder uma questão básica em arqueologia: como se produz este artefato.

Os gestos operacionais e sub-operacionais são tênues, e, na maioria das vezes, são tidos como registro inexistente; mas estão presentes em todas as etapas de produção de um objeto. São descartados como dado, antes mesmo de se observar seu potencial informativo a ser construído. Movimentos e ações podem ser vistos através do acúmulo de argila nas terminações de um elemento gráfico (em decorações plásticas); no traço de tinta com maior carga pictórica em um ponto inicial que vai desfalecendo à medida em que ocorre o movimento (em decorações pintadas). No acabamento de superfície, as estrias podem revelar diferentes objetos que podem ser identificados pela morfologia característica das marcas que produz. Pelo acúmulo lateral de argila pode-se, ainda, vislumbrar a intensidade da força aplicada para romper a resistência da argila, e, a direção do movimento gestual empreendido.

Para que se possam ler tais marcas (de objetos ou gestos), é preciso lançar mão das experimentações, conhecendo empiricamente a caligrafia, a assinatura dos materiais distintos que entram na produção cerâmica. Experimentar a possibilidade e performance da matéria-prima, entendendo os limites técnicos e individuais desta atividade, é o primeiro passo para multiplicar perguntas e caminhos a serem trilhados, desvendando novos rumos e passos.

Em resumo, a técnica da olaria será aqui entendida como uma série de operações seqüentes e lógicas que compõem um conhecimento tradicional que é expresso/comunicado pelo gesto e pela palavra, sedimentando-se no corpo social e individual. Este corpo cultural é construído por homens totais que classificam e ordenam o mundo através de expressões coletivas - uma ação essencialmente simbólica (Mauss)- que pode ou não ter sido materializada.

Toda e qualquer técnica é um fato social total criado, transformado e atualizado por um homem total; portanto, envolve, ao mesmo tempo e a cada instante, operações técnicas e simbólicas. A técnica implica na compreensão dos modos materiais e intelectuais de socialização da natureza (Descola, 1996).

6.2. A olaria como produto

Além de uma série de operações técnicas e simbólicas, um artefato inclui também uma rede de relação, uma história de vida. Neste sentido, nos interessa entender no contexto etnográfico, não somente as operações necessárias para a realização de dado objeto, mas também sua utilização depois de pronto. Isto incluirá seu uso imediato e as marcas deste

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uso (vasilhames que vão ao fogo, produção de resina, estocagem, contenção de líquido) e suas utilizações posteriores (manutenção - como parece ocorrer com objetos de prestígio, uso secundário- como ocorre com uma vasilha quebrada mas utilizável, reciclagem - no caso de uso de cacos cerâmico como antiplástico de outros vasilhames)

Para movimentar essa cadeia tecnológica, é necessário entender seus componentes, as engrenagens envolvidas neste fenômeno social. Lemonnier (1992) e Creswell (1996) apresentam estes componentes, enquanto Schiffer (1972) e Leroi-Gourhan (1964) apresentam o fluxo do artefato, que pensamos poder condensar como segue (Quadro 1). Reunimos as reflexões desses diferentes autores, em um fluxograma, a fim de ter um quadro geral, uma regra geral do caminho percorrido entre o barro na fonte, sua produção, uso, reuso, sistema de relações que ele gera, até seu abandono final. Este tipo de abordagem somente é possível na etnografia e na etno-arqueologia, pois leva o outro vivo para a relação e pode trazer para a reflexão arqueológica dados como as marcas de uso (cada vez mais importantes em um mundo das ciências químicas) e os reflexos dos gestos na produção e manutenção de um artefato, que se transformam em marcas observáveis, quando se tornam legíveis, no registro material. Para tanto, somos de opinião que tentar cercar o comportamento com a matéria-prima possa auxiliar na compreensão do comportamento humano.

Quadro 1: Fluxograma de produção do artefato

Neste quadro, estamos tentando estabelecer a relação salientada por Lemonier entre as três engrenagens que estão na base de toda transformação: matéria-prima, agente/energia e instrumentos. Para uma atividade determinada, são necessárias várias matérias-primas-

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agente/energia-instrumentos. Esta engrenagem move e é movida pela transmissão oral de um conhecimento específico, através de um processo de ensino-aprendizagem. Neste processo, de forma inconsciente mas corporalmente material, estão presentes os gestos e a lógica do processo técnico tradicional, suas implicações prático-simbólicas.

Completando todas as etapas de produção, temos o produto, carregado que já está de toda esta bagagem tecno-produtiva acionada por seu produtor. O artesão imprime suas marcas, e usando do pensamento estrutural, podemos dizer que a oleira seria uma artesã ciumenta por demais para não ter o domínio de sua própria produção, chegando a se confundir com ela. É uma destas conexões aparentemente desconectadas que o pensamento selvagem insiste em ressaltar.

Aqui então vemos que nosso artefato pode ser utilizado por quem o produziu, ou pode ter entrado para a rede relacional que é acionada pela troca de dádivas. Na prática teríamos, na arqueologia, uma amostra deslocada de seu contexto primário, mas que revelaria, se fosse legível, as relações estabelecidas.

O produto tem um uso socialmente definido e formalmente determinado. Já que implica em determinações prático-simbólicas, deve exercer sua lógica no plano das idéias, indo de encontro com as escolhas das possibilidades práticas (no caso da cerâmica: ir ao fogo, estocagem de líquido, alimentos pastosos ou grãos, servir bebidas e comidas, beber e comer, além de outros usos possíveis com este artefato). Usos determinados geram marcas padronizadas que podem ser reconhecidas quando aprendemos a ler este mapa. Este seria, como dizem várias correntes arqueológicas contemporâneas, um dos ganhos com a etno-arqueologia, quando caminha junto com a experimentação cerâmica. Estas marcas podem ser reconhecidas pela traceologia das marcas, pois movimentos e comportamentos do corpo perante o objeto geram marcas padronizadas, uma vez que acionam reações físico-químicas.

Os sistemas tecnológicos podem ser analisados em três diferentes níveis, segundo Lemmonier: através da própria técnica, em relação às demais técnicas ou em relação a outros fenômenos sociais.

No que toca a tecnologia cerâmica, pensada como uma técnica em si, devemos levar em consideração todas as matérias-primas envolvidas (argilas, pigmentos, resinas), suas técnicas de produção (manufatura, tratamentos de superfície, acabamento de superfície, decoração) e a história de vida do artefato (suas marcas de uso, reciclagem, curadoria, uso secundário) até se transformar em refugo, em material descartado do processo produtivo. Ao mesmo tempo, sabemos que toda produção material somente ocorre dentro de um quadro de relações sociais, sendo possível separá-las somente por um exercício metodológico.

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Quando se tem um projeto tecnológico em mente (a produção de um vasilhame cerâmico), recorre-se às escolhas técnicas, socialmente construídas, e escolhas não técnicas, que se relacionam, no mais das vezes, às escolhas individuais, à leitura do indivíduo a este mecanismo coletivo. Neste sentido, mesmo em um contexto cultural compartilhado, em uma estabilidade tecnológica, é possível traçar as diferenças, a variabilidade do material estudado. No caso da produção cerâmica, isto se dá em relação à preferência de argila, ao instrumental utilizado, ao significado das ações e ao movimento gestual empregado em sua confecção.

Em sociedades ameríndias, como na maioria das culturas tradicionais, as escolhas sociais são privilegiadas em relação às escolhas individuais. Mas, mesmo assim, é possível traçar sua variabilidade. Mesmo porque inevitavelmente entramos no segundo nível da análise tecnológica de Lemonnier, na medida em que toda produção técnica envolve outras tecnologias; no caso do material cerâmico envolve, por exemplo, os procedimentos tecnológicos gastronômicos, que são em si uma tecnologia, além deste procedimento incluir, por vezes, outras técnicas como a cestaria, um recipiente de transformação do alimento como a própria cerâmica.

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7. CARACTERÍSTICAS DE FORMAÇÃO DO REGISTRO NO SÍTIO RPO - 1

Entender os processos e fatores de alteração do material é de extrema importância para que o arqueólogo possa melhor avaliar os objetos que analisa. Assim, pode entender e calibrar as influências contemporâneas pelas quais o material passou, bem como as marcas de alteração presentes no material mas produzidas depois de seu abandono pelas populações pretéritas.

Este sítio passou, nos últimos 10 anos, por processos pós-deposicionais culturais e naturais que coexistem ainda. Como sempre, as imposições e modificações do homem à natureza são as mais danosas e profundas.

Em relação aos processos culturais pós-deposicionais, ocorreu o plantio de eucalipto, a construção de sete poços de petróleo e a escavação arqueológica do sítio para implantação de outro desses poços petrolíferos.

O plantio com covas manuais e seu manejo provoca a quebra de objetos (em geral, e cerâmicos, em específico), com o revolver do solo em uma profundidade aproximada de 0,50 cm e 0,30 cm, além da mistura do pacote ocupacional e dos vestígios arqueológicos. Assim, os cacos têm marcas de instrumentos metálicos pesados (chibancas, cavadeiras, etc) e foi possível remontar os fragmentos entre os níveis.

O segundo, os poços de petróleo já existentes, auxiliaram na maior fragmentação do material arqueológico, bem como no deslocamento lateral e longitudinal de partes importantes do sítio arqueológico. Ao mesmo tempo, sua construção pode ter criado áreas ilusórias de concentração de material pretérito. Cabe ainda ressaltar que a implantação deste sistema exige o uso de explosivo, que pode comprometer seriamente as datações do material próximo a suas zonas de influência.

O terceiro impacto pós-deposicional mais recente, qual seja, a construção de poços de petróleo e a escavação arqueológica, estão intimamente conectados. O empreendimento desencadeou o resgate deste sítio, realizado em setembro de 2004. Com isto, houve uma minimização do impacto ao sítio, na medida em que profissionais qualificados puderam intervir no sítio através de escavações sistemáticas, que são danosas e irreversíveis, como qualquer modificação do solo. No entanto, somente com intervenções arqueológicas é possível estudar estes bens culturais, que auxiliam no entendimento da história de populações pretéritas. Escavações sistemáticas podem desencadear processos de erosão e desgaste danosos ao material arqueológico; por isso, a metodologia de trabalho deve obedecer a normas rígidas. Qualquer impacto no subsolo brasileiro, por menor que pareça, gera inimaginável perda para a construção do panorama arqueológico.

Três processos naturais pós-deposicionais foram notados.

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Um deles foi causado pela presença de drenagem em meio a um sedimento de consistência arenosa, o que causou o desgaste das arestas da fragmentação do caco, tornando-o por vezes completamente arredondado.

Outro processo natural foi o próprio crescimento da vegetação que, ao seguir seu ciclo de vida, empurra os vestígios, provocando eventuais quebras de potes e o deslocamento dos fragmentos. A presença de manchas de terra preta e pontos de vegetação de mata ainda presentes permitem sugerir que a vegetação tendeu a se estabelecer neste local, provocando este tipo de alteração desde o abandono do sítio.

Por fim, as bio-perfurações feitas por pequenos animais auxiliaram no deslocamento do material arqueológico mais leve para níveis mais profundos.

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8. METODOLOGIA DE ANÁLISE E OBJETIVOS DOS PROCEDIMENTOS QUANTITATIVOS

Em laboratório, cada um dos vestígios foi lavado e separado por tipo de artefato, entre cerâmico e lítico. Sendo o primeiro mais abundante e rico em informações foi utilizado para analise e diagnóstico do sítio arqueológico.

Ainda durante a lavagem do material, investiu-se na identificação de cacos cerâmicos remontáveis em um mesmo nível arbitrário. Posteriormente, foram triados e separados os cacos que seriam analisados daqueles não analisados. Nesta categoria, incluíram-se os cacos sem uma das faces ou cujo tamanho fosse inferior a 2 cm, que representa 23% da amostra.

Os cacos a serem analisados foram numerados, e pouco mais de somam 7 mil fragmentos. Foram criadas duas seqüências diferentes, uma para a malha de 40 x 40 m e outra para o material exumado das escavações em malha de 10 x 10 m. Durante todo este processo de marcação, insistiu-se ainda na remontagem dos fragmentos, agora entre os níveis arbitrários, também com resultados mais animadores do que as expectativas iniciais. A remontagem dos cacos entre os níveis arbitrários poderia denunciar uma única ocupação em profundidade em cada sondagem escavada.

A arqueologia, como várias outras ciências humanas, prescinde do auxílio de métodos estatísticos para auxiliar na percepção do padrão e da diferença, possibilitando reunir grupos e tipos que possam ser descritos e classificar os vestígios materiais. Este ponto é essencial, já que o arqueólogo lida o tempo todo com uma quantidade grandiosa de fragmentos da cultura material, tornando impossível à compreensão mental de miríades de dados recorrer às ciências duras para assim inferir comportamentos humanos, sociais.

Se as quantificações parecem apreensões de um real existentes, deve-se lembrar que as variáveis são escolhidas por pesquisadores e podem alterar a percepção e o entendimento do conjunto material. Assim, é de extrema necessidade explicitar cada um dos atributos e os objetivos de sua eleição.

8.1. Atributos Observados

Para a análise do material, foram enumeradas distintas variáveis, tentando delimitar os traços de uma ou outra tradição arqueológica flagrada no material (Anexo 1).

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8.1.1. Dados de identificação

Cada caco foi assinalado com um sistema numérico para sua localização e foi classificado quanto à forma geral.

Primeiro o número do fragmento, que o identifica em uma seqüência numérica crescente e contínua para áreas escavadas com os mesmos princípios.

Segundo a quadra, identificada por uma composição alfa-numérica, que localiza o artefato ou o fragmento em uma sondagem específica do sítio.

Terceiro o nível arbitrário, no qual foi exumado o fragmento. Pode estar em superfície até 100 cm de profundidade.

Por fim, a categoria do fragmento, que seria a sua posição no artefato cerâmico, o pote ou mesmo sua definição como outro instrumento da tralha cerâmica. Quando se referem aos potes os fragmentos podem ser definidos como lábio, borda, gargalo, bojo superior, bojo mesial, bojo inferior, carena, inflexão, base, entre outros (vide ficha anexa). Quando se referem aos demais instrumentos cerâmicos podem ser cachimbos, tortual de fuso, adorno, bola de argila, e outros mais. Esta separação permite vislumbrar tipos de potes e a localização das partes de potes no registro arqueológico.

8.1.2. Dados métricos

Cada fragmento foi quantificado em relação a espessura, diâmetro (quando possível) e peso.

A espessura do fragmento foi medida, com paquímetro, para se entender a grossura do corpo do pote cerâmico. Não se investiu em coletar a maior e a menor espessura visto que a variação em cada caco é mínima ou mesmo nula.

O diâmetro foi medido, através do ábaco, sempre que possível, para os todos os cacos. Alguns fragmentos permitem melhor estimar esta medida, como as borda e as bases.

Cada um dos fragmentos teve seu peso anotado, pois esta é uma variável que auxilia na estimativa da quantidade de matéria-prima deslocada para suprir as necessidades pretéritas. Esta variável, embora não seja contemplada por muitos autores, pode ser vista em Myazaki & Aitay (1974), bem como em Balfet, Fauvet & Monzon (1983).

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8.1.3. Dados tecnológicos

Esses dados pretendem conter os diversos procedimentos utilizados na produção de artefatos cerâmicos.

A técnica de manufatura é importante para se conhecer as possibilidades de produção que estão sendo utilizadas e para qual tipo de artefato; neste sentido, a técnica mais comum é o acordelado, estando também presente o modelado.

O tempero foi observado em vários níveis. Interessou-se pelo tipo do elemento e o diâmetro dos grãos agregados à pasta. Para tanto, foi criada uma lista de possibilidades que eram notadas em ordem crescente de aparecimento na pasta. O tipo e o tamanho dos elementos podem auxiliar na compreensão de características de performance e escolhas sociais adotadas em sociedades pretéritas, pois criam possibilidades físico-químicas que são determinantes e fixas (Shiffer & Skibo, 1997).

A proporção de tempero na pasta auxilia na compreensão sobre a plasticidade da argila (Shiffer & Skibo), bem como sobre o tratamento de superfície (Balfet, Fauvet & Monzon, 1983; Orton, Tyers & Vince, 1993).

A distribuição do tempero na pasta, se homogênea ou não, pode auxiliar o entendimento sobre o processo de tratamento da pasta (relação entre a argila e os elementos agregados, sejam ou não incluídos conscientemente). Auxilia na caracterização da pasta quanto à fineza, compactação, e repartição dos elementos não plásticos (Balfet, Fauvet & Monzon, 1983).

Sendo o quartzo um elemento presente em toda a amostra, foi observada a morfologia de suas arestas, identificando o aspecto do quartzo que pode auxiliar na identificação de intencionalidade ou não da inclusão deste mineral. Em geral, pretende-se que aspectos angulares tenham relação com o incremento do mineral, tendo sido pois intencionalmente modificado (quebrado em pequenos fragmentos), para ser adicionado à pasta. Ou, se arredondado, poderia ter relação com sua presença na fonte de argila. Para inferências mais acertadas, é necessário fazer inúmeros testes para comparar cerâmicas arqueológicas e jazidas de argila da região.

O tratamento de superfície é importante para se entender características de performance secundárias que, devem ser coletadas sempre que possível, pois auxiliam na compreensão das escolhas sociais (Shiffer & Skibo, 1997).

Coletaram-se informações sobre o tipo de tratamento de superfície tanto da face interna quanto da face externa.

Ainda sobre este item, recorreu-se, em uma amostra do conjunto material, na coleta da cor da superfície, tanto interna quanto externa, utilizando para tanto o Code des Couleurs

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(Cailleux, 1973), para auxiliar na caracterização da pasta, pois pode indicar a presença de determinados minerais (Balfet, Fauvet & Monzon, 1983).

Por fim, acabou-se por incluir a textura da superfície do fragmento, que permite inferir uma característica de performance sensorial, o tato, que pode auxiliar no entendimento das preferências e regras de acabamento de superfície do pote (Shiffer & Skibo, 1997). Mesmo com a erosão de alguns trechos do sitio, existem áreas onde o material se encontra em bom estado de conservação.

A queima dos instrumentos também foi objeto de preocupação e foi classificada quanto ao tipo de queima em relação ao resultado; se de atmosfera redutora, oxidante, dentre outras. Pretende-se com este dado entender a atmosfera de queima, sabendo que a história de vida do objeto e mesmo eventos pós-deposicionais podem alterar e muito o aspecto geral da queima (Orton, Tyers & Vince, 1993).

Foi calculado, quando possível, por regra de três, a porcentagem da área reduzida, a porção mais escura do fragmento cerâmico, para melhor controlar a escala desta mudança e driblar a diferença de espessura entre os cacos.

A cor da região oxidada e da região reduzida também foi coletada, através do Code des Couleurs (Cailleux, 1973), para auxiliar na caracterização da pasta, de uma amostra limitada contando com cerca de 300 cacos.

8.1.4. Dados de marcas de uso e estado de conservação

Podem auxiliar na determinação dos usos pretéritos, incluindo a produção do objeto e a maneira pela qual este se insere na rede relacional e como perfaz sua função. Neste mesmo tom, é necessário conhecer suas marcas pretéritas, sendo realistas em relação às marcas contemporâneas, o que incluí seu estado geral de erosão. Algumas dessas marcas são salientadas na bibliografia, tanto para estudos de grupos ceramistas específicos (Shiffer & Skibo, 1997, Longacre & Skibo, 1994), quanto em compilações extensas, em manuais específicos (Rice, 1987; Rye, 1981, , Tyers & Vince, 1993). Mas, como salientam estes autores, ainda faltam experimentações para se refletir sobre o material que se analisa, pois os problemas e as escolhas sociais feitas por sociedades pretéritas são sempre particulares.

Algumas marcas pretéritas foram enumeradas, contemplando as marcas de produção e uso do artefato.

Durante a produção, pode-se utilizar alguns instrumentos como a resina (para impermeabilizar a superfície), folha ou cestaria (para alisar ou apoiar o objeto). Um objeto pode ainda apresentar marcas de dedos (para movimentar a peça) ou furo (de suspensão ou de apoio). Além de fuligem de queima (Rye, 1981).

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Durante o uso de um pote no fogo (portanto, um pote para cozinhar), cria-se uma série constante de marcas que podem ser observadas. Na face externa, ocorre uma oxidação na região que recebeu diretamente o fogo, além de uma faixa em toda a circunferência do pote, na região que recebeu a fuligem produzida durante o processo. Na face interna haverá um depósito carbônico enegrecido, fruto do contacto da comida com o fundo do pote (Longacre & Skibo, 1994; Shiffer & Skibo, 1997). Marcas também ocorrem em potes para conter água, que deixa a salinização depositada ao longo do corpo do pote, com maior ênfase para os locais nos quais a água se deposita por maior tempo, possibilitando a lenta evaporação. Potes para conter bebidas alcoólicas entram em estado de erosão na face interna, pois o líquido é acido o bastante para, com o tempo, corroer sua superfície (Rice, 1987).

Por fim, foram anotadas as alterações de superfície causadas por processos pós-deposicionais naturais ou antrópicos, tais como raízes e fungos; e marcas de fuligem e crostas depositadas por todo o caco, mesmo na quebra. Foram ainda determinados o grau de erosão e desgaste geral para auxiliar na ponderação dos dados.

8.1.5. Dados morfológicos

São imprescindíveis para que se possa entender a morfologia das diferentes partes do pote, que foram classificadas de acordo com a nomenclatura arqueológica (Chmyz, 1966; La Salvia & Brochado, 1989). Foram analisados segundo estes critérios os fragmentos do tipo borda, lábio e base.

Nesse momento, foram definidos, pelos dados obtidos com cada caco, quais fragmentos seriam desenhados para a reconstituição da morfologia. Em termos práticos, observaram-se a estabilidade da borda, a possibilidade de sua projeção e sua reconstituição, seguindo as bases de Brochado & Monticelli (1992).

8.1.6. Dados decorativos

São essenciais pois foram alvo de observações de pesquisas anteriores (como na metodologia definida pelo Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas), contando portanto com ampla bibliografia brasileira para discussão. Além dos dados decorativos serem eminentemente estéticos e estilísticos, como é apresentado pelo PRONAPA (Meggers & Evans, 1971), podem ter relação com estruturas eminentemente simbólicas, dizer de escolhas sociais sobre o belo, sobre organização política, ou mesmo uma instituição de oleiras.

Há também outras implicações físico-químicas que uma decoração pode causar, que têm relação com as características de performance secundária (Shiffer & Skibo, 1997).

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Por exemplo, uma panela inteiramente decorada com elementos corrugados terá maior capacidade em acumular calor, pois sua superfície de contacto é maior do que um pote de mesma morfologia e tamanho, mas sem tal atributo decorativo.

Neste mesmo sentido, uma vasilha com pintura poderá não ser indicada como pote para cozinhar, pois toda a tinta tende a sumir com a utilização.

Por tais motivos definiu-se, no banco de dados, o tipo de decoração para cada uma das possibilidades registradas, seja plástico ou pintado. Além da localização da decoração no pote, se na face interna ou externa, e ainda no bojo ou na borda, dentre outras possibilidades.

8.2. Desdobramentos estatísticos

As estatísticas funcionam, para a arqueologia, como a quantificação do concreto. Assim, auxiliam a entender a estabilidade e a variabilidade do material. Com este concreto quantitativo, é possível não somente estabelecer as freqüências, mas também cruzar variáveis, o que auxilia na criação de tipos e classes de artefatos.

As quantidades se prestam, portanto, ao entendimento da variabilidade quantitativa, podendo ter relações com a variabilidade espacial, o que permite testar as variabilidades relacionais de dado conjunto artefatual (Shiffer & Skibo, 1997).

Com as variáveis estabelecidas, pretende-se esboçar as características dos traços da tradição Aratu e da Tupiguarani, definindo os limites de cada uma dessas expressões culturais no material ora analisado.

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9. RESULTADOS DOS PROCEDIMENTOS QUANTITATIVOS

Como foi apresentado anteriormente, criou-se uma grande malha (40 x 40m) para cobrir toda a área inicialmente delimitada como sítio (Teixeira, 2001), tendo 800 mil m², para melhor compreender seus limites.

Devido à construção de um poço de petróleo, uma malha mais fina (10 x 10m) para maior detalhamento desta área foi executada, perfazendo uma área de 9.600m². Durante a análise do material, notou-se que este pertencia ao mesmo sítio.

Os dados estatísticos referentes ao material coletado no Loc 3 não serão discutidos porque não apresentaram significância arqueológica, por se tratar de material situado na periferia do sítio e encontrar-se extremamente erodido. Pode-se verificar pelas estatísticas gerais que não há dessemelhança tecnológica nem mesmo estilística que impusesse uma separação na análise. Assim, elas foram calculadas separadamente, devido ao tamanho da malha, mas não foram detalhadas, o que foi feito para o núcleo central do sítio (Anexo 2).

9.1. As freqüências de cacos

O material analisado referente à malha de 40 x 40m conta com 6.070 cacos, que pesam 82,5kg de matéria-prima. Esses fragmentos de potes foram analisados segundo os critérios acima colocados, para que daí fosse possível criar tipos que expressassem os caracteres do material cerâmico.

Para facilitar o entendimento, serão apresentadas primeiramente as freqüências gerais, para posteriormente estabelecer relação entre elas.

9.1.1. Categoria

A contabilização da natureza do caco (Gráfico 9.1) mostra uma significativa quantidade de bordas (quase 10%, do total de material), bojo superior e inferior (somam pouco mais de 10%) e base (pouco mais de 5%). A grande maioria do material cerâmico (cerca de 73%) é composta por fragmentos de bojo mesial, a parede do vasilhame, que constitui a maior porção de um pote. Outros objetos mais raros (juntos não perfazem 1%); como tortual de fuso, modelagem zoomorfa, adornos, asas de potes e cachimbos, também aparecem na tralha de objetos cerâmicos deste sítio.

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Gráfico 9.1 - Frequencia de categoria/RPO-1

9,3%

6,3%

73,9%

4,4%

5,1%

0,9%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Borda

Bojo Superior

Bojo

Bojo Inferior

Base

Outros

Em outro sítio cerâmico, Florestal II, também na bacia do Rio Doce (Panachuk, 2004; Panachuk & alli, 2005- no prelo), a freqüência das categorias se comportou de maneira semelhante. A grande diferença entre eles está no estado de conservação do material. No exemplo citado, foi possível remontar cerca de 200 potes. Número bastante inferior foi alcançado com o presente estudo, onde menos de 20 potes foram parcialmente remontados.

Talvez essa constância numérica tenha relação com a média de cada tipo de fragmento dentro do conjunto de vasilhames de dada sociedade. Sempre há potes abertos e fechados, que variam em tamanho e na forma. No entanto, independentemente desses dois fatores, pode-se dizer que, em termos proporcionais, haverá necessariamente uma área maior de borda e base nos potes abertos, e menor nos fechados. Essa porcentagem de área varia com a morfologia do pote e seu tamanho, mas pode ser estabelecida, em geral, entre 30 a 20% nos potes abertos e de até 15% em potes fechados.

Neste sentido, talvez seja possível sugerir que as freqüências medidas apontam para uma média de categorias e com a presença do material in situ, mesmo que bastante fragmentado.

9.1.2. Manufatura e espessura

A técnica de manufatura (Gráfico 9.2) mais utilizada, recorrente entre diversos grupos ameríndios pretéritos, é o acordelado (97,7%), usado na produção dos recipientes. Alguns poucos exemplares de fragmentos modelados (0,5%) foram identificados: poucas bases e asas de potes, além de outros objetos com função própria (como cachimbo, tortual de fuso e adorno). No restante do material, não foi possível reconhecer a técnica de produção.

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Gráfico 9.2 - Frequencia de técnica de manufatura/RPO-1

1,8%

0,5%

0,0%

97,7%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Desconhecido

Modelado

Moldado

Acordelado

Gráfico 9.3 - Frequencia de espessura/RPO-1

21,7%

55,1%

21,5%1,6%

2-7 mm

8-11 mm

12-15 mm

> que 15mm

As classes de espessura foram criadas por cálculo do intervalo estatístico, gerando quatro categorias (Gráfico 9.3). Nota-se que uma quantidade expressiva dos cacos (22%) tem até 7 mm de espessura, sendo considerados muito finos. Mais da metade (55%) tem entre 8 e 11 mm de espessura, sendo considerados finos. Também é relevante (21%) a quantidade de cacos considerados médios, tendo entre 12 e 15 mm. No entanto, poucos fragmentos (2%) podem ser considerados grossos, com espessura entre 15 e 20 mm.

Os potes com espessura menor que 10 mm exigem grande destreza; as miniaturas são de difícil reprodução, pois são muito frágeis e delicadas. Os potes muito grandes e grossos, por seu turno, demandam controle de grande quantidade de matéria-prima, além de habilidade e conhecimento sobre as características da argila e dos contornos do pote.

No presente estudo, houve maior investimento na produção de potes muito finos a finos, revelando uma escolha social. A simetria e manutenção da espessura, em um mesmo pote, podem indicar graus diferenciados de destreza e habilidade entre as oleiras. A recorrência de fragmentos menores que 1 cm de espessura (77% do total da amostra) parece apontar para um traço social desta produção, uma escolha social mantida com rigor.

9.1.3. Tempero

Foram analisados, dentro desta categoria, 6060 fragmentos, segundo o tipo de elemento agregado à pasta, granulometria desses elementos, porcentagem de elemento agregado, bem como o aspecto do quartzo.

Quanto ao tipo de elemento agregado à argila, sendo intencional ou não, foi possível determinar a presença, em escala crescente, de elementos minerais: quarzto, mica, argila, areia e óxido de ferro, elementos vegetais: matéria orgânica carbonizada, e um elemento cultural: caco moído. Além de outros corpos menos significativos. Esses elementos aparecem de forma combinada, formando tipos. Vale notar que a mica, além de permitir a extração de lâminas de espessura insignificante, flexível e elástica, tem propriedades como

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má condutibilidade calorífica e elétrica, resistência a altas temperaturas e mudanças súbitas. (Guerra & Guerra, 2003)

Em geral dois elementos, o quartzo e a mica, aparecem em quase todos os cacos analisados (97% do total), podendo ou não estar associados a outros elementos. O quartzo, de fato, está presente na totalidade da amostra (desconsiderando-se os dois cacos nos quais não aparece). A mica está ausente em uma pequena quantidade de cacos (menos de 3%) (Gráfico 9.4).

Gráfico 9.4- Elementos principais minerais/RPO-1

97,10%

2,70% 0,03% 0,16%0%

20%

40%

60%

80%

100%

Quartzo e mica Quartzo Sem quartzoou mica

Semidentif icação

A ausência de mica em parte da amostra e sua presença na maioria dos fragmentos pode indicar o uso de ao menos duas fontes de argila (uma com mica e outra sem), já que é improvável a retirada sistemática deste mineral, dada sua consistência foliácea. Mas sua irrisória freqüência pode sugerir, no máximo, um teste de outra fonte de argila, nada mais.

Dentre os elementos citados, foram encontrados 37 tipos de associações (Gráfico 9.5). Portanto, foi contabilizado cada elemento agregado de forma específica, por caco, para depois estabelecer tipos que são dados construídos pelo pesquisador. Optou-se por criar tipos depois de estabelecida a recorrência das variáveis. Como se sabe, o tempero é um dado tecnológico importante para a arqueologia, mas é de difícil constatação. Isso porque as fontes de argila são muito variadas, podendo conter a quase totalidade dos elementos citados (menos caco moído, que marca a intencionalidade por excelência, sendo atualmente usado pela indústria cerâmica moderna, o chamote), sendo, portanto, tendencioso estabelecer os tipos a priori. Cada elemento presente na pasta foi anotado em forma crescente de aparecimento, descrevendo-se ainda seu aspecto geral e sua granulometria.

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Gráfico 9.5- Composições identificadas/RPO-1

37,28%

0,08%

2,89%

0,05%

8,48%

0,43%

40,13%

0,61%

0,13%

4,37%

0,94%

0,03%

0,02%

0,21%

1,40%

0,03%

0,03%

0,13%

0,45%

0,02%

0,07%

0,02%

0,96%

0,03%

0,02%

0,15%

0,02%

0,07%

0,07%

0,07%

0,50%

0,03%

0,08%

0,10%

0,08%

0,02%

0,02%

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45%

Quartzo e mica

Quartzo M ica e caco moido

Quartzo M ica e Óxido de ferro

Quartzo M ica Oxido de ferro e caco moido

Quartzo M ica e areia

Quartzo M ica areia e óxido de ferro

Quartzo mica e argila

Quartzo M ica areia e argila

Quartzo M ica Caco moido e argila

Quartzo mica óxido de ferro e argila

Quartzo M ica e matéria organica

Quartzo M ica areia e matéria orgânica

Quartzo M ica caco moido e matéria orgânica

Quartzo M ica óxido de ferro e matéria orgânica

Quartzo M ica argila e matéria organica

Quartzo M ica argila e outros

Quartzo M ica areia argila e matéria organica

Quartzo M ica óxido de ferro argila e matéria orgânica

Quartzo

Quartzo e caco moido

Quartzo e Óxido de ferro

Quartzo e Óxido de ferro e caco moido

Quartzo e areia

Quartzo e areia e caco moido

Quartzo e areia e óxido de ferro

Quartzo e argila

Quartzo e matéria orgânica

Quartzo e matéria orgânica e óxido de ferro

Quartzo e caco moido e argila

'Quartzo e caco moido e óxido de ferro e argila

'Quartzo e óxido de ferro e argila

Quartzo argila e matéria orgânica

Quartzo e caco moido e argila e matéria orgânica

Quartzo e caco moido e óxido de ferro e argila e matériaorgânica

Quartzo argila e areia

Argila e mica

Argila mica e areia

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Isto posto, foram estabelecidos seis tipos, pela relativa freqüência e recorrência de aparecimento (Gráfico 9.6). Existem duas associações mais freqüentes: tanto quartzo, mica e argila (40% do total), quanto quartzo e mica (37% do material analisado). Outros três tipos são recorrentes (tendo entre 3 e 8%), por ordem crescente de aparecimento: quartzo, mica e areia; quartzo, mica e óxido de ferro; presença de matéria orgânica (associada a qualquer destes elementos).

Gráfico 9.6 - Tipos de tempero

40,02%

37,37%

8,47%

7,20%

3,23%

3,71%

Quartzo, mica e argila

Quartzo e mica

Quartzo, mica e areia

Quartzo, mica e óxidode ferro

Contem Matériaorgânica

Outros

Se são eleitos dois tipos, tem-se como resultado que quase metade da amostra apresenta um corpo argiloso agregado à pasta (48% do total), enquanto a outra metade (52% do total) não apresenta argila (Gráfico 9.7).

Gráfico 9.7- Tipo de argila em relação à presença e ausência de tempero argiloso

48%52%

Argila

Sem Argila

Algumas comunidades ceramistas tradicionais usam este mineral como tempero: uma argila. Na compilação dos dados arqueológicos, foi possível avaliar a presença deste tipo de tempero.

No material em questão, somente em termos qualitativos a argila foi diferenciada. Observou-se a presença de três tipos de argila: duas mais gordas que a pasta, mais plástica; aparecem tanto com coloração esbranquiçada quanto enegrecida, ambas oleosas e friáveis

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ao toque, com grãos menores que 1 mm de diâmetro. A outra argila agregada, majoritária, é mais magra, menos plástica, avermelhada, seca e com elementos minerais silicosos agregados; cada grão pode chegar a ter mais de 2 mm. Em geral, aparecem sozinhas nos cacos, havendo, por vezes, associação entre a argila branca e a vermelha. Há portanto uma parte que é posta para dar mais plasticidade à pasta e outra para retirar esta plasticidade, funcionando como a definição de tempero por Balfet, Fauvet & Monzon (1983).

Na maioria dos casos (55%), o diâmetro dos grãos é médio (entre 0,5 e 2mm), estando equilibrado entre finos (entre 0,5 e 1mm) e grossos (entre 0,5 e mais de 2 mm)- respectivamente 26% e 19% (Gráfico 4.5).

Gráfico 9.8 - Granulometria dos grãos agregados à pasta/RPO-1

26%

55%

19%0%

0,5-1mm

0,5-2mm

0,5-3mm

Outro

A pasta apresenta uma proporção de elementos bastante homogênea no conjunto da amostra (Gráfico 9.9). Há uma proporção inferior a 10% de elementos agregados em mais da metade do material estudado (61% do total). Uma quantidade significativa de fragmentos (35% dos cacos) contém uma maior proporção de corpos agregados ao barro, de até 20%. Uma pequena parcela apresenta uma proporção de elementos que chega a 30% (3%), quando passa a ser considerado um forte acréscimo ao corpo argiloso (Balfet, Fauvet & Monzon, 1983). Há uma tendência ao fraco acréscimo de elementos à pasta. Isto poderia tanto ter relação com o tratamento de superfície (Balfet, Fauvet & Monzon, 1983), quanto ser uma característica de performance (Schiffer & Skibo, 1997).

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Gráfico 9.9 - Proporção de elementos agregados à pasta

14%

48%

35%

3%0%

5%

10%

20%

30%

Outro

A distribuição dos elementos na pasta pode auxiliar em tornar mensurável o investimento na preparação da argila (Gráfico 9.10). Na imensa maioria dos cacos (83%), os elementos estão distribuídos de forma homogênea na pasta de argila. Em 8% dos cacos, a distribuição é heterogênea, estando mal espalhada no corpo argiloso. Em pouco mais de 8% da amostra, há uma concentração de elementos na face interna e/ou na face externa; esta distribuição assim feita não tem relação com uma má distribuição dos elementos mas com uma intencionalidade particular, o banho de mica, que será apresentado no próximo item. Nota-se aqui a rigidez dos dados concretos, com a quase totalidade dos cacos incluídos em um só tipo.

Gráfico 9.10 - Distribuição dos elementos na pasta

0,082701812

0,023558484

0,028665568

0,002306425

0,027841845

0,000164745

0,83476112Homogênea

Heterogênea

Intenso FE

Intenso FI

Intenso no núcleo

Ambas as faces

Desconhecido

O aspecto do quartzo foi observado, pois, estando presente em toda a amostra, foi necessário caracterizá-lo melhor (Gráfico 9.11). A maior parte tem aspecto angular (quase 70%) e o restante tende ao redondo (cerca de 30%). Essa variabilidade pode indicar diferença entre quartzo preparado para ser utilizado como antipástico de objetos cerâmicos. O quartzo anguloso poderia advir, por exemplo, de refugo de lascamento, mas essa hipótese torna-se muito duvidosa quando se observa que no sítio foram encontradas apenas

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quatro lascas de quartzo. Caso as oleiras aproveitassem refugo de lascamento, esse teria de ser buscado em algum lugar particular, em que a debitagem fosse realizada especificamente, local esse que não foi identificado na pesquisa. O quartzo com arestas arredondadas provavelmente origina-se de material presente na argila, refletindo a própria fonte de matéria-prima utilizada.

Gráfico 9.11 - Aspecto do quartzo/RPO-1

0,09324547

0,340527183

0,244481054

0,250411862

0,069686985

0,001317957

0,000164745

0,000164745

Muito angular

Angular

Subangular

Subarredondo

Redondo

Muito redondo

Sem informação

Desconhecido

9.1.4. Tratamento de superfície

O tratamento de superfície foi subdivido em três grandes grupos (alisamento fino, médio e grosso) que, em alguns casos, devido à erosão, podem ter sido maquiados e alterados por processos pós-deposicionais. Em geral, notou-se a predominância de alisamento médio com estrias (65% do total) e menos expressivo é o fino (23%) ou grosso (12%). Outros tratamentos descritos na bibliografia arqueológica como polimento e brunidura aparecem de forma menos significativa.

Notou-se, em particular, a presença de dois tipos de tratamento de superfície que são raros na bibliografia.

O primeiro, nomeado de banho de mica, é mais expressivo (12%) e aparece relacionado ao alisamento fino. De fato, ainda não se tem certezas sobre a forma de produção desse tratamento de aspecto grafitado, mas deve tratar-se de uma argila em suspensão, à qual se adiciona o mineral mica em pó. O efeito que gera é espetacular, reflete a luz criando o brilho.

O segundo foi nomeado de calda de argila. Trata-se do acréscimo, no pote, de uma argila super hidratada, da qual se retiraram as maiores partículas minerais. Não nos parece, neste momento, tratar-se de argila em suspensão, pois não há variação granulométrica. A calda de argila (dita barbotina por La Salvia & Brochado, 1989) pode ter espessura entre 1 e 3 mm; pode-se notá-la com clareza na quebra sempre lisa da superfície de ruptura. Este

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tratamento está associado ao alisamento médio, talvez no intuito de torná-lo justamente mais fino.

Gráfico 9.12 - Grau de Alisamento da face interna

23%

65%

12% 0%Alisado Fino

Alisado Médio

Alisado Grosso

Outros

Gráfico 9.13 -Outros tratamentos na face interna

7%

86%

1% 5%0%

0%

1%

Banho de micaBruniduraCalda de argilaCalda de argila,Banho de micaDesconhecidoPolidoPolido,Banho de mica

Na face interna do caco (Gráfico 9.12), o padrão se mantém para o grau de alisamento.

Aparecem representados outros tipos de tratamentos superficiais (Gráfico 9.13), que são menos expressivos, o que inclui banho de mica, polimento associado ao banho de mica, e uma parcela menos expressiva de calda de argila, polimento e associação entre calda de argila e banho de mica. A maior parte refere-se a fragmentos com superfície alterada por desgaste para os quais não foi possível identificar o tipo de tratamento.

Ao relacionar os graus de alisamento e outros tipos de tratamentos específicos e raros na bibliografia (banho de mica e calda de argila), pode-se notar que há uma tendência de associação entre o tratamento fino (com ou sem estrias) e o banho de mica (Gráfico 9.14).

Gráfico 9.14 - Alisamento fino e suas associações

60%13%

25%

2%0%0%

Fino com estrias

Fino sem estrias

Fino com banho de mica

Fino com calda de argila

Fino com calda de argila e banho de mica

Fino com brunidura

Gráfico 9.15 - Alisamento médio e suas associações

42%

54%

0%2%2%

Médio com estrias

Médio sem estrias

Médio com banho de mica

Médio com calda de argila

Médio com calda de argila e banho de mica

O alisamento médio apresenta uma constância pouco expressiva em relação à associação com a calda de argila.

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O alisamento grosso não apresenta nenhuma relação com os tipos mais raros. Mesmo aqui, deve-se notar que há uma preocupação em minimizar as marcas de estria produzidas por instrumentos diversos no momento deste procedimento técnico.

Gráfico 9.16 - Alisamento grosso e suas assoações

37%

63%

0% Grosso com estrias

Grosso sem estrias

Grosso com banhode mica

Na face externa do vasilhame, o grau do alisamento ocorre em concordância com o padrão, ou seja, apresenta maioria de cacos com alisamento médio (66%), seguido do fino (23%) e mais raro o alisamento grosso (8%), sendo ainda menos expressiva a quantidade de cacos com outros tipos de tratamento (Gráfico 9.17). Esta pequena parcela de tratamento diferenciado corresponde a três tipos principais: banho de mica (19%), calda de argila e polimento associado a banho de mica (Gráfico 9.18).

Gráfico 9.17 - Grau de alisamento da face externa

23%

66%

8% 3%

Alisado fino

Alisado Médio

Alisado Grosso

Outros

Gráfico 9.18 - Outros alisamentos da face externa

19%

3%

74%

0%4%Banho de mica

Calda de argila

Desconhecido

Polido

Polido,Banho demica

As associações entre graus de alisamento e outros tratamento é semelhante também na face externa, sendo que a ocorrência de banho de mica e alisamento fino decresce (Gráfico 9.19)

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Gráfico 9.19 - Alisamento fino e suas associações

68%12%

18%2%

0%0%

Fino com estrias

Fino sem estrias

Fino com banho de mica

Fino com calda de argila

Fino com brunidura

Fino com calda de argila e banho demica

O alisamento médio (Gráfico 9.20) apresenta poucas relações com outros tratamentos, que culmina na ausência de relação com o alisamento grosso (Gráfico 9.21).

Gráfico 9.20- Alisamento médio e suas associações

43%

53%

2%2%0%0%

Médio com estrias

Médio sem estrias

Médio com banho de mica

Médio com calda de argila

Médio com brunidura

Médio com calda de argila e banho de mica

Gráfico 9.21 - Alisamento grosso e suas associações

41%

59%

0%0%

Grosso com estrias

Grosso sem estrias

Grosso com banho de mica

Grosso com calda de argila

Ao cruzar o tratamento da face interna com a face externa (Gráfico 9.22), nota-se que em geral são coincidentes, comportando cerca de 60% da amostra.

No entanto, acontece de haver um alisamento mais fino na face externa do que na face interna; isso pode não ter relação somente com processos de erosão, mas poderiam ter relação com vestígios de utilização. Usado como recipiente, o pote apresentará, em geral, maior desgaste na face interna (Gráfico 9.23).

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Gráfico 9.22 - Grau de alisamento para face interna e face externa

22%

71%

7%

Alisado f ino emambas as f aces

Alisado médio emambas as f aces

Alisado grosso emambas as f aces

Gráfico 9.23 - Alisamento diferenciado entre a face interna e

externa

11%

80%

9%Alisado Fino FEGrosso FI

Alisado Fino FEMédio FI

Alisado Fino FEOutro FI

A cor não apresentou nenhuma informação relevante, embora tenha sido medida em pouco mais de 300 fragmentos.

Peça nº 4865: Borda com banho de mica Peça nº 4865: Borda com banho de mica

Peça nº 996: Base com banho de mica Peça nº 996: Base com banho de mica

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9.1.5. Queima

A queima apresenta, em sua maioria, um resultado como uma redução ampliada (76%), sendo as demais pouco expressivas (Gráfico 9.24).

A queima redutora tem como conseqüência um aumento da porosidade dos vasilhames (Maranca, 1974); no entanto, a cerâmica se torna menos resistente ao choque térmico e mecânico (Schiffer & Skibo, 1997). Com certeza, isso torna o material mais propício à quebra, principalmente quando utilizado para cozinhar. O cálculo da porcentagem reduzida permite relativizar a espessura dos vasilhames em questão, possibilitando a inferência de uma queima em fogueira à baixa temperatura (entre 700 e 900° C), mesmo sem dados físicos-químicos para precisar essa questão.

Gráfico 9.24 - Gradação de queima

4,38%

0,31% 0,74%1,82%

3,12%

5,27% 5,63%

8,51%

15,16%

23,09%

20,38%

11,58%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

0. 1-10. 11-20. 21-30 31-40 41-50 51-60 61-70 71-80 81-90 91-99 100a

9.1.6. Decoração

Os cacos decorados correspondem a pouco mais de 11% do total, entre decoração plástica, pintada e mista (pintada e plástica); enquanto os fragmentos sem decoração somam os esmagadores 89% restantes (Gráfico 9.25).

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Gráfico 9.25 - Ausência e presença de decoração

0,8%

88,6%

0,2%

10,4%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

DecoraçãoPlástica + P intada

DecoraçãoPintada

DecoraçãoPlástica

Sem Decoração

Dentre o material decorado, a quase totalidade corresponde aos fragmentos com decoração plástica, sendo mais raros os cacos com decoração pintada e ainda menos expressiva a presença de cacos com ambas as decorações.

Os fragmentos com decoração plástica respondem por pouco menos de 700 cacos, que apresentam uma certa estabilidade em seu padrão (Gráfico 9.26). Tomou-se por base a nomenclatura proposta por La Salvia & Brochado (1989), sem perder de vista aquela construída anteriormente por Chymz (1976). No entanto, preferiu-se pontuar cada ato decorativo em separado, para assim tentar notar a gradação do facto dentro de uma certa tendência geral (Leroi-Gourhan).

Gráfico 9.26 - Tipo de decoração plástica

34,9%

23,8%

17,2%

9,6%

6,4%

4,6%

3,3%

0,1%

0% 10% 20% 30% 40%

Corrugada,Inciso,Ungulada

Ungulada

Corrugada,Ungulada

Falso ro letada

Inciso

Corrugada

Falso ro letada, Ungulada

outra

Nota-se a alta freqüência de fragmentos com três movimentos decorativos: corrugar, incisar e ungular (quase 35% do total), seguida por fragmentos com um só elemento: ungulações (24%) e com dois elementos (17%). Menos expressivos são os fragmentos com uma só expressão decorativa, sejam falso-roletados, incisos ou corrugados. Ainda menos significativos são os cacos com decoração que conjuga o falso-roletado e ungulado.

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Pouco mais de 50 cacos (Gráfico 9.27) apresenta decoração pintada, sendo mais comum o uso de engobo (amarelo, branco e vermelho) e bastante raro o uso de linhas sobre engobo (vermelho sobreposto ao branco).

Gráfico 9.27 - Tipos de decoração pintada

47,2%

20,8%

13,2%

3,8%

15,1%

0% 10% 20% 30% 40% 50%

Engobo Amarelo

Engobo Branco

Engobo Vermelho

Pintura vermelha sobre engobobranco

outra

Em geral, a tinta aparece de forma vestigial, fugidia e friável; talvez isso não se deva inteiramente à erosão (eficaz no material analisado), mas decorra do próprio procedimento pictórico feito depois da queima dos objetos. Uma tinta, quando aplicada sobre o suporte cerâmico rígido (pós queima da argila), se torna frágil, produzindo craquelés no momento mesmo de sua execução. O que não ocorre quando esta mesma tinta é aplicada na plasticidade absorvente de corpos argilosos, momento em que é absorvida, tornando-se parte aderente do pote e, portanto, mais resistente.

Quase metade (47% do total) do material registra a presença da cor amarela e cerca de 20% da branca. Essas diferenças de coloração podem tanto ser fruto de erosão (o amarelo estando coberto por uma pátina, por exemplo, decorrente da oxidação), quanto de um procedimento diferenciado na produção da tinta. A ausência de testes químicos impossibilita uma assertiva. Mas é provável, levando-se em consideração as análises pigmentares feitas com material arqueológico (Stênio & alii, 2003, Souza, Panachuk & Rocha, 2003), que se tenha feito uso do caulim para a tonalidade branca e da goetita para o amarelo.

Pouco menos de 15% do material apresenta engobo vermelho, talvez produzido com óxido de ferro, como ocorre na parca bibliografia sobre este tema. Esta matéria-prima é de fácil aquisição, estando presente em toda a área do sítio, agregada à laterita.

Mais rara (menos de 5%) é a presença de cacos com engobo branco e linhas vermelhas, estando os fragmentos bastante erodidos.

As demais decorações (15% do material) incluem cacos com mescla de dois processos decorativos: plástico e pintado (são eles: ungulado e pintura vermelha sobre engobo branco,

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corrugado-inciso-ungulado e engobo não definido, engobo amarelo e branco, falso roletado e engobo vermelho, corrugado-ungulado e pintura não definida), além de outros cacos com pintura não determinada de forma precisa, devido ao processo de erosão que sofreram.

Em geral, a decoração plástica se encontra na face externa, em metade dos casos na borda (43%) e na outra metade no bojo superior (48%) (Gráfico 9.28).

Gráfico 9.28 - Localização da decoração plástica

43%

1%

48%

8% 0%0%0%1% 0%

Lábio

Borda

Borda,Bojo Superior

Bojo Superior

Bojo

Bojo Inferior

Base

Aplique

Outros

No caso da decoração pintada, a presença ocorre exclusivamente na face interna. Se é maior no bojo (pois é a maior porção do pote), aparece também em outros locais, desde a borda até a base (Gráfico 9.29).

Gráfico 9.29 - Localização da decoração pintada

17%

19%

48%

4%4%2% 6% Borda

Bojo Superior

Bojo

Bojo Inferior

Base

Aplique

Outros

Quando se quantificam somente as bordas, onde em geral estão localizadas as distintas decorações plásticas, percebe-se entre as 538 bordas que a maioria absoluta (60% do total) apresenta este tipo de expressão gráfica (Gráfico 9.30), menos da metade (39%) não apresenta nenhum tipo de decoração, enquanto uma pequena parcela apresenta decoração pintada (1%). Neste sentido, pode-se esperar que tenha existido na sociedade pretérita uma maioria de potes, a supor pelas bordas, com decoração. Esta recorrência, por assim dizer, de potes decorados, parece remeter mais diretamente a uma influência Tupiguarani.

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Gráfico 9.30 - Presença e ausência decorativa nas bordas

60%

1%

39% PlásticaPinturaSem Decoração

As expressões decorativas seguem aquelas apresentadas para as decorações em geral (Gráfico 9.31). '

Gráfico 9.31 - Tipos decorativos na borda

3%

39%

14%8%

4%

8%

2%0%

22% Corrugada

Corrugada,Inciso,Ungulada

Corrugada,Ungulada

Falso roletada

Falso roletada, Ungulada

Inciso

roletada

roletada,Ungulada

Ungulada

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Peça nº. 576: Borda com decoração corrugada, incisa e ungulada

Peça nº. Loc3-118: Borda com decoração roletada

Peça nº. 399 Borda com decoração corruga e ungulada

Peça nº. 515: Borda com decoração corrugada e ungulada.

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Salvamento do Sítio Arqueológico RPO-1. São Paulo, Scientia, 2005. 86

Peça nº. Loc3-661: Borda com decoração corrugada e ungulada

Peça nº. 615a: Borda com decoração corrugada, incisa e ungulada

Peça nº. 863: Borda com decoração corrugada e ungulada

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Salvamento do Sítio Arqueológico RPO-1. São Paulo, Scientia, 2005. 87

Peça nº. Loc3-993: Borda com decoração ungulada

Peça nº. 1508: Borda com decoração falso roletada

Peça nº. 3961: Borda com decoraçãocorrugada e ungulada

Peça nº. 1665: Borda com decoração corrugada, incisa e ungulada

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Salvamento do Sítio Arqueológico RPO-1. São Paulo, Scientia, 2005. 88

Peça nº. 2531: Borda com decoração corrugada e ungulada

Peça nº. 2600: Borda com decoração corrugada e ungulada.

Peça nº. 3096: Borda com decoração ungulada Peça nº. 3219: Borda com decoração ungulada

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Salvamento do Sítio Arqueológico RPO-1. São Paulo, Scientia, 2005. 89

Peça nº. 3403: Borda com decoração incisa

Peça nº. 3411: Borda com decoração ungulada

Peça nº. 3739: Borda com decoração ungulada

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Salvamento do Sítio Arqueológico RPO-1. São Paulo, Scientia, 2005. 90

Peça nº. 5615: Borda com decoração corrugada e ungulada

Peça nº. 4164: Borda com decoração corruga e ungulada

Peça nº. 4165: Borda com decoração corrugada, roletada e ungulada.

Peça nº. 4168: Borda com decoração corruga e ungulada

Peça nº. 4364: Borda com decoração corrugada, incisa e ungulada

Peça nº. 4549-4584: Borda com decoração corruga, incisa e ungulada

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Salvamento do Sítio Arqueológico RPO-1. São Paulo, Scientia, 2005. 91

Peça nº. 4365: Borda com decoração corrugada e ungulada

Peça nº. 4567: Borda com decoração corrugada e ungulada

Peça nº. 4902: Borda com decoração ungulada Peça nº. 5185: Borda com decoração corrugada

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Salvamento do Sítio Arqueológico RPO-1. São Paulo, Scientia, 2005. 92

Peça nº. 5184: Borda com decoração corrugada e ungulada

Peça nº. 5268: Borda com decoração corrugada e ungulada

Peça nº. 5270: Borda com decoração corrugada e ungulada

Peça nº. 5445 Borda com decoração corrugada, roletada e ungulada

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Salvamento do Sítio Arqueológico RPO-1. São Paulo, Scientia, 2005. 93

Peça nº. 5670: Borda com decoração corrugada, roletada e ungulada

Peça nº. 5945 Borda com decoração corrugada, incisa e ungulada

Peça nº. 6050: Borda com decoração corrugada incisa e ungulada

Peça nº. 6052ª: Borda com decoração ungulada Peça nº. 6150: Borda com decoração falso roletada.

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Peça nº. 6178: Borda com decoração corrugada incisa e ungulada Peça nº. 6439: Borda com decoração incisa

Peça nº. 6746-6756: Borda com decoração corrugada, incisa e ungulada

9.1.7. Morfologia

Foram analisados, segundo esta categoria, os fragmentos de lábio, borda e base, segundo a classificação de Chymz (1976).

Em 540 fragmentos de bordas foi possível classificar o lábio (Gráfico 9.32). Tem primazia o arredondado (75% da amostra); menos freqüentes são os tipos apontado (14%), plano e plano-arredondado (somam 9%), e ainda mais raro é o biselado, havendo outros não identificados (somam 2%).

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Gráfico 9.32 Morfologia do lábio

14%

75%

4% 5%1%

1% Apontado

Arredondado

Biselado

Desconhecido

Plano

Plano-Arredondado

Foram reconhecidas 538 bordas, dentre as quais pouco mais de 20% não foram identificadas (Gráfico 9.33).

Gráfico 9.33 -Tipos de bordas

19,7%

8,6%10,4%

33,3%

4,3%0,7%

23,0%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

Direta Extro vert id a Inclinad aexternamente

inclinad ainternamente

Intro vert ida Refo rçad a Desconhecida

A maioria é composta por bordas de potes fechados com inclinação interna (33%); segue-se a borda vertical (quase 20%), inclinada externamente e extrovertida apresentam proporção semelhante. Em menor quantidade, a borda introvertida e com reforço. Poucos exemplares de bordas onduladas foram identificadas.

O tamanho da borda foi medido com o ábaco (Gráfico 9.34) para permitir vislumbrar os tamanhos médios de potes com os quais se está lidando. Em geral, percebem-se quatro tamanhos para os recipientes. As vasilhas com menos de 10 cm de boca, que implicam em potes pequenos e miniaturas (cerca de 15% do material), potes entre 12 e 16 cm de boca aparecem em quase metade do material (cerca de 40%), acompanhado de perto por potes com boca entre 18 e 24 cm (30%). Por fim, os potes maiores que 26 cm de boca representam uma quantidade semelhante aos potes pequenos (15%).

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Gráfico 9.34 - Diâmetro de borda

2,14%

0,80%

4,29%

0,27%

6,43%

13,40%

14,48%

12,87%

7,77%

8,04%

6,97%

7,24%

4,29%

3,22%

2,41%

1,34%

2,68%

0,80%

0,54%

ø 4

ø 6

ø 8

ø 9

ø 10

ø 12

ø 14

ø 16

ø 18

ø 20

ø 22

ø 24

ø 26

ø 28

ø 30

ø 32

ø 34

ø 36

ø 40

Foram identificadas 261 fragmentos de base, dentre os quais 5% não foram especificadas quanto à morfologia (Gráfico 9.35). Reconhece-se um padrão mais homogêneo, sendo que a quase totalidade composta por base côncava (85%). A outra forma reconhecida com certa expressividade é a base plana ou plano-côncava (juntas perfazem 9%). As demais categorias são menos expressivas, como bases cônicas, comuns em potes periformes, e em pedestal, que se pode identificar.

Gráfico 9.35 - Tipos de base

85%

0%5%1%8% 1%

CôncavaCônicaDesconhecidoEm pedestalPlanaPlano-Côncava

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O diâmetro da base apresenta uma maior estabilidade entre 4 e 12 cm, sendo que se destaca, com a recorrência de 1/3 da amostra, o diâmetro de 6 cm. Este gráfico aponta para uma mesma dimensão de bases de potes de tamanhos diferenciados.

Gráfico 9.36 - Diâmetro da base

3,66%

1,22%

9,76%

28,05%

13,41%

13,41%

14,63%

7,32%

6,10%

1,22%

1,22%

ø 2

ø 3

ø 4

ø 6

ø 8

ø 10

ø 12

ø 14

ø 16

ø 18

ø 22

9.1.8. Marcas pretéritas, pós-deposicionais e estado de conservação

Pouco mais de 10% do total de material apresentou alguma marca passível de ser definida como pretérita (seja por uso ou durante a produção) ou pós-deposicional (seja natural ou antrópica).

506 cacos apresentam marcas de uso pretérito (Gráfico 9.37). A quase totalidade das marcas (98%) refere-se aos potes que vão ao fogo, provavelmente porque seu vestígio é de fácil reconhecimento: conjuga depósito carbônico e porção reduzida na face interna do fragmento (em contacto com o alimento) e oxidação na face externa (que esteve em contacto com o fogo). E os poucos fragmentos restantes (exatos 10 cacos do total) apresentam uma desagregação na face interna qual uma erosão por ácido, como uma bebida fermentada causaria. Trata-se de uma erosão circular que corroeu a superfície da peça pela acidez do alimento ali contido (Longacre & Skibo, 1994; Skibo, 2004). Este processo é mais eficaz conforme o grau de acidez do alimento que se utiliza.

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Gráfico 9.37 - Marcas de uso Pretérito

31%

35%

32%

2%

0% 10% 20% 30% 40%

FermentaçãoReduçãoOxidaçãoDepósito Carbônico

Os cacos nos quais foi possível perceber marcas de gestos e produção contam com 270 exemplares (Gráfico 9.38). Na maior parte (quase 74%), foi possível identificar marcas circulares de redução presentes exclusivamente na face externa dos fragmentos. A recorrência das marcas permite supor o uso de apoio como trempes ou troncos para amparar o pote já seco, mas ainda frágil. As marcas de dedos na argila ainda mole puderam ser percebidas em uma parte da amostra, e mesmo sulcos, formados por dedos ou outro instrumento, de forma mais incisiva (entorno de 10% cada). O restante (menos de 6%) inclui marcas possíveis de colher, cestaria, resina, além de dois fragmentos que apresentam furo de suspensão.

Gráfico 9.38 - Gesto e modo de produção

1,00%1,10%1,50%1,90%

10,10%11,10%

73,70%

0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 70,00% 80,00%

Furo Resina Cestria Colher Dedos Sulco Fuligem de queima

Encontraram-se marcas pós-deposicionais em 586 fragmentos (Gráfico 9.39), sendo cerca de 60% decorrente de queimadas e o restante (40%) apresenta resíduos de sedimento e vegetação.

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Gráfico 9.39 - Marcas prós-deposicionais

60%

32%

8%

0% 20% 40% 60% 80%

Mancha VegetalCrosta de sedimentoFuligem antrópica

Os cacos, neste ponto, foram analisados segundo suas marcas físicas, entre presença e ausência de craquelés na superfície e erosão natural.

Em mais da metade dos cacos, observaram-se craquelés (Gráfico 9.40). Se em parte eles se relacionam com processos erosivos contemporâneos, podem ser conseqüência do tratamento de superfície que, no material analisado, pode apresentar uma superfície com grau médio a fino. Este investimento na regularização da superfície gera uma orientação de partículas na superfície do pote (Rice, 1987), criando uma tensão superficial, o craquelé (Sinopoli, 1991).

Chamou a atenção a quantidade de cacos sem nenhuma marca de alteração (30% quase). Mas pode-se verificar que este é um comportamento do núcleo central do sítio, que não pode ser generalizado para todo o material.

Gráfico 9.40 - Estado de conservação dos cacos

51,9%

6,6%11,6%

29,9%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

Craquele Erosão Craquele e erosão Ausente

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Peça nº. 4011: Base com depósito carbônico Peça nº. 6322: Base com depósito carbônico

Peça nº. 2832: Base com depósito carbônico Peça nº. 540: Base com fuligem de queima pós-deposicional

Peça nº. 762: Base com craquele em ambas as faces.

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9.2. Relação entre as freqüências

A relação entre a categoria do fragmento e a decoração mostra que a decoração pintada, menos expressiva, aparece por todo o pote, preferencialmente no bojo. Ao contrário, a decoração plástica, mesmo que mais abundante, aparece localizada na borda e bojo superior. Isso gera uma diferença entre a área decorada dos potes, por tipo de decoração. Nesse sentido, pode-se afirmar que a decoração pintada, por ter maior área de implantação no pote e ainda assim menor recorrência, era marginal nessa sociedade. O mesmo não ocorre com a decoração plástica que, mesmo tendo um campo de atuação no pote bastante limitado, aparece na proximidade da borda, e uma baixa quantidade geral entre os cacos (somam 10% do material total); apresenta de fato mais da metade das bordas decoradas.

A mesma categoria apresenta leituras distintas quando o foco da análise é o caco ou o pote. No primeiro dado geral, dentre a totalidade dos cacos do sítio, o material encaixa na definição proposta para a Tradição Aratu-Sapucai. Quando se focaliza o instrumento pote e se depara com uma maioria de potes decorado,s pode-se apontar para um traço da Tradição Tupiguarani.

A espessura dos cacos gira em torno de 1 cm, reunindo pouco mais de 4 500 de um total de 6070 fragmentos. Claro que um pote tem necessariamente espessuras diferentes para suas distintas porções (Gráfico 9.41). No entanto, a alta freqüência de cacos muitos finos indica uma escolha social, um estímulo à produção oleira assim executada. Este aspecto aponta um traço da Tradição Aratu, na medida em que seus potes costumam primar pela simetria e exatidão da espessura e do contorno do pote, havendo nitidamente um investimento neste aspecto tecnológico.

50,00% 0,00% 50,00% 0,00%0,00%0,00%0,00%

5,15%1,03% 23,71% 9,28% 55,67% 4,12%1,03%

4,00%2,08% 71,98% 7,70% 13,55%0,31%0,38%

6,95%5,64% 80,46% 3,96%2,28%0,30%0,42%

20,73% 12,65% 63,10% 2,10%0,22%0,37%0,82%

0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 70,00% 80,00% 90,00% 100,00%

2-8 mm

8-12mm

12-15 mm

Mais que 15mm

Desconhecido

Gráfico 9.41 - Espessura X categoria

Borda

Bojo superior

Bojo

Bojo inferior

Base

Outros

Desconhecidos

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A espessura é interessante realmente quando é cruzada com a variável decoração plástica (Gráfico 9.42).

4,08% 18,18% 2,19% 33,23% 21,94% 3,13% 11,29% 5,96%

5,19% 11,69% 2,27% 37,01% 25,97% 1,62% 11,04% 5,19%

10,81% 16,22% 10,81% 32,43% 21,62% 0,00%5,41%2,70%

0,00% 33,33% 0,00% 33,33% 33,33% 0,00%0,00%0,00%

0,00% 20,00% 40,00% 60,00% 80,00% 100,00%

2-8 mm

8-12mm

12-15 mm

Mais que 15mm

Gráfico 9.42 - Espessura x decoração plástica

Corrugado Corrugado, Ungulado Corrugado, inciso Corrugado, inciso, ungulado

Ungulado Falso roletado, ungulado Inciso Falso Roletado, inciso, ungulado

A decoração corrugada e corrugada-incisa se comportam da mesma forma no gráfico: são mais freqüentes em potes mais espessos. Por seu turno, a decoração falso roletado-ungulado e incisa (que neste gráfico incluía decoração de falso rolete pois têm a mesma concepção) têm comportamento inverso: vão ficando mais freqüentes em potes mais finos. As demais decorações são bastante estáveis.

Nota-se também que a maior diversidade decorativa, que sugere maior domínio de repertório estilístico, está no topo do gráfico, entre as menores espessuras de potes. Isto sem dúvida aponta para o investimento em potes finos, uma escolha Aratu, como posto anteriormente.

Para o tempero, notaram-se outras relações. Retomando, foram estabelecidos seis tipos de tempero, sendo que quatro apresentam grande presença (Gráfico 9.43).

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26,53% 56,12% 17,35%

15,60% 58,65% 25,75%

14,81% 37,04% 48,15%

18,97% 43,10% 37,93%

22,22% 44,44% 33,33%

36,44% 49,49% 14,07%

11,48% 62,26% 26,26%

22,82% 57,62% 19,56%

5,41% 59,46% 35,14%

0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 70,00% 80,00% 90,00% 100,00%

Matéria orgânica

outros

Quartzo

Quartzo e areia

Quartzo e argila

Quartzo e mica

Quartzo, mica e areia

Quartzo, mica e argila

Quartzo, mica, areia e argila

Gráfico 9.43 - Tipo de tempero x porcentagem de inclusão

0,5 a 1mm 0,5 a 2mm 0,5 a 3mm

Nota-se uma tendência nos tipos quartzo e mica e presença de matéria orgânica em apresentar as maiores taxas de grãos finos, sendo menor a taxa de grãos grossos. O contrário ocorre com os outros dois tipos, que apresentam uma grande quantidade de grãos com maior diâmetro. Os elementos de grãos médios (como mostrou também a tendência geral do sítio) são os mais utilizados, estabelecendo-se como escolha.

Quando se analisa o tipo de tempero em relação à porcentagem de elementos não-plásticos na pasta (Gráfico 9.44), percebe-se uma tendência mais clara que a recorrência geral, já vista anteriormente, de pouco acréscimo de elementos agregados, de antiplástico.

A presença de matéria orgânica na pasta se faz, predominantemente, com muito baixa inclusão de grãos (quase 45%), sendo rara sua presença em pastas com alta inclusão de tempero (menos de 3%). A pasta composta por quartzo, mica e areia, por sua vez, apresenta um comportamento contrário, ao comportar mais da metade dos cacos com inclusão de tempero média (52% do total). Os demais tipos comportam-se como estabelecido para a média de freqüência do sítio.

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44,39% 32,65% 20,41% 2,55%

31,34% 37,15% 29,75% 1,76%

14,81% 14,81% 59,26% 11,11%

0,00% 36,21% 41,38% 22,41%

5,00%1,00%3,00% 91,00%

9,97% 52,55% 37,44% 0,05%

2,72% 41,83% 52,14% 3,31%

14,46% 50,99% 32,13% 2,43%

0,00% 20,00% 40,00% 60,00% 80,00% 100,00%

Matéria orgânica

Outros

Quartzo

Quartzo e areia

Quartzo e argila

Quartzo e mica

Quartzo, mica e areia

Quartzo, mica e argila

Gráfico 9.44 - Tipo de tempero por porcentagem de elementos

5% 10% 20% 30%

Investiu-se ainda em saber se havia alguma relação entre a proporção de tempero incluído na pasta com as categorias de fragmentos. A exemplo do estudo etno-arqueológico desenvolvido por Deboer & Lathrap (1979) entre os Shinibo-Conibo, que mostra haver uma diferença na proporção de tempero adicionado variando com a porção do pote a ser produzido. No entanto, não foi possível estabelecer nenhuma conexão entre tais variáveis.

O investimento em uma argila mais plástica que necessite de pouco acréscimo de finos grãos de tempero, postos em pequenas proporção e distribuídos de forma homogênea na pasta, é um traço da Tradição Aratu. A Tradição Tupiguarani investe pouco nesse item da produção, tendo em geral uma pasta mais arenosa (Scatamacchia, 1990).

Quanto à decoração, nota-se (Gráfico 9.45) que o tratamento de superfície pode ainda revelar pontos interessantes; foi priorizada a face externa, já que é onde há representantes de expressão pintada, plástica e mista.

Em geral, a superfície com decoração pintada é mais irregular e rugosa que a superfície preparada para receber a decoração plástica. Dentre as decorações plásticas assinaladas, a falso roletada ungulada apresenta uma superfície mais fina, enquanto a falso roletada inclui a superfície mais grossa. Tanto a corrugada quanto a ungulada apresentam uma quantidade expressiva de cacos com outro tratamento, como o banho de mica e a calda de argila. Sendo um tratamento tão escasso na amostra, está presente, no entanto, em todos os tipos de decoração.

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Gráfico 9.45 - Decoração plastica e tratamento de superfície

22,58%

31,00%

24,56%

19,35%

27,27%

13,95%

22,93%

41,94%

54,15%

60,53%

61,29%

63,64%

65,12%

47,13%

9,68%

0,44%

0,88%

11,29%

4,55%

0,00%

4,46%

25,81%

14,41%

14,04%

8,06%

4,55%

20,93%

25,48%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Corrugada

Corrugada,Inciso,Ungulada

Corrugada,Ungulada

Falso roletada

Falso roletada, Ungulada

Inciso

Ungulada

fino médio grosso outro

Quando se isola a decoração pintada (Gráfico 9.46), nota-se que a superfície é mais irregular, a não ser pelo engobo vermelho, com grande expressão de cacos com grau médio de alisamento.

Outro ponto que chama a atenção é a presença de outros tipos de tratamento de superfície, quando associados à decoração mista, envolvendo, portanto, as expressões plásticas.

Em geral, parece que o maior investimento está na decoração plástica, tanto em sua expressiva freqüência como no preparo necessário e investimento no tratamento de superfície. Mesmo porque, cabe dizer, o banho de mica não poderia ser tão vistoso em uma superfície pigmentada.

Gráfico 9.46 - Decoração pintada e tratamento de superfície

8,70%

30,00%

60,00%

11,11%

0,00%

82,61%

70,00%

20,00%

66,67%

100,00%

8,70%

0,00%

20,00%

0,00%

0,00%

0,00%

0,00%

0,00%

22,22%

0,00%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Engobo Amarelo

Engobo Branco

Engobo Vermelho

Decoração mista

Outra pintura

fino médio grosso outros

Aqui duas características Aratu podem ser assinaladas: o investimento na decoração plástica e em tratamentos de superfície finos. A Tradição Tupiguarani, mesmo quando investe em expressões plásticas (como nas sub-tradições corrugada e escovada) não apresentam as decorações vistas para este material. Ainda assim, o tratamento de

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superfície finamente acabado e mesmo o uso de outros tratamentos para regularizar a superfície também não têm caracteres Tupiguarani.

Em geral estas são os traços definidores do material analisado, que tende em alguns poucos aspectos para a Tradição Tupiguarani e apresenta traços da Tradição Aratu. Neste sentido é possível atribuí-la ao horizonte arqueológico de relação entre ambas as tradições.

9.3. Distribuição do material: variabilidade espacial

Levando-se em consideração as duas malhas escavadas, foram exumados, entre cacos analisados e não analisados, cerca de 13 mil cacos, que somam 100 kg de cerâmica, de dispersão máxima de 800 mil m² (Teixeira, 2001). No entanto, como visto na apresentação dos dados de campo, o material está concentrado, de fato, em uma área menor, de cerca de 170 mil m².

Dentre o material de fato analisado (quase 9 mil cacos), cerca de 80% do material cerâmico, ou 85 kg, estão concentrados em uma área ainda menor, com quase 70 mil m² (Anexo 10).

Inicialmente, verificou-se onde estaria localizado, na malha de 40 x 40m, o maior número de cacos e seu respectivo peso. Primeiro, em ordenação norte e sul da área (Gráfico 9.47). A distribuição do material desde o extremo sul até o norte mostra duas áreas de concentração de material, estando o restante da área rarefeito de material.

Gráfico 9.47 - Distribuição Sul-Norte: caco x peso

0

5000

10000

15000

20000

25000

A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U

Quantidade Peso(g)

A menor concentração, entre as linhas G e H, executa uma pequena parábola que não alcança 5 kg de material. Cabe notar que nesta região foram construídos poços de petróleo, havendo grande deslocamento do sítio (lateral e em profundidade), podendo ter produzido

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uma falsa concentração no momento da obra. Assim, essa porção do sítio parece bastante alterada por processos pós-deposicionais e será descartada na análise espacial.

O maior agrupamento de vestígios ocorre entre as linhas L e S, tendo de fato dois picos. Entre M e O situa-se a maior porção do material cerâmico, tanto na quantidade quanto no peso dos cacos. Entre Q e R há também uma quantidade significativa de material. Essas concentrações apresentam mais que 5 kg de cerâmica em cada linha. Nesse sentido, propõe-se que a maior dimensão do sítio seja de 280 m em sentido norte sul, exatamente entre L e S, onde de fato aparece 80% do material do sítio.

Depois, em ordenação leste a oeste (Gráfico 9.48), obteve-se uma grande concentração entre o alinhamento 240 e 480. Pode-se perceber, também aqui, dois picos: um deles entre 240 e 320 e entre 360 e 440. No entanto, a diferença quantitativa é ainda muito pequena. Neste sentido, leste-oeste, há uma extensão máxima de 240 m, onde se concentra mais de 90% do total do sítio.

Gráfico 9.48 - Distribuição Leste-Oeste: caco x peso

0

5000

10000

15000

20000

25000

30000

40. 80. 120. 160. 200. 240. 280. 320. 360. 400. 440. 480. 520. 560. 600. 640. 680. 720. 800. 840. 880. 920.

Quantidade (nº de cacos) Peso (g)

Outro fator importante para a discussão da distribuição espacial é a espessura do pacote ocupacional do sítio (Gráfico 9.49).

Gráfico 9.49 - Número de cacos x nível artificial

17,87%

36,72%

26,67%

12,86%

5,89%

0,35%

Superfície

0-10 cm

10-20 cm

20-30 cm

30cm ou +

outros

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Como foi dito anteriormente, o material remonta entre os níveis artificiais escavados, o que sugere uma mesma ocupação. Ainda para corroborar esta hipótese, nota-se que cerca de 92% do material se encontra até 30 cm de profundidade, o que reforça essa possibilidade. Uma pequena parte, 8% do total, ocorre em maior profundidade e inclui objetos enterrados (seja intencionalmente, como a urna funerária, ou casualmente, como os pequenos fragmentos que podem ter penetrado mais fundo por pequenas perfurações naturais). Quando se toma o número de cacos total e o peso (Gráfico 9.50) em cada nível, observa-se a mesma tendência, a não ser pela categoria outros, que conta com material de coleta de superfície do entorno de algumas sondagens.

Gráfico 9.50 - Distribuição em profundidade: caco x peso

0

500

1000

1500

2000

2500

Superfície 0-10 cm 10-20 cm 20-30 cm 30cm ou + outros0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

14000

16000

18000

Quantidade de caco Peso (g)

Será apresentada a organização espacial quantitativa para esta grande área de distribuição do material exumado dentro do quadrilátero, cujo vértice é formado pelas sondagens L-240, L-480 (a sul), S- 240 e S-480 (a norte), que corresponde a um total de 67.200m². Nesta área, onde foram executadas 53 sondagens (16,5 m²), estão concentrados mais de 5.500 cacos, cujo peso soma mais de 82,5 kg. Esta região foi mais preservada pela ausência de trânsito de maquinários, por isso será o alvo central da análise espacial, pois permite o entendimento do comportamento da variabilidade no espaço.

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9.3.1. O núcleo vestigial

Quando se observa o tempero sobre dois grandes tipos estabelecidos antes, quais sejam, pasta com argila e sem argila (Gráfico 9.51); pode-se vislumbra uma expressiva quantidade de um dos tipos em O, ao contrário das demais linhas. No entanto,.não há oposição muito marcada entre estes tipos. Cabe dizer ainda que outro tipos de tempero comentado, pasta sem mica, está localizado majoritariamente na sondagem M-280.

Gráfico 9.51 - Distribuição dos tipos de tempero: Presença e ausência de argila

0% 20% 40% 60% 80% 100%

L

M

N

O

P

Q

R

S

Tempero com argila Tempero sem argila

Sobre a decoração, notaram-se algumas tendências. Primeiro, cabe dizer que há diferença entre a quantidade de cacos em cada linha (Gráfico 9.52), sendo mais expressiva em O e Q. Nota-se também que a quantidade de cacos decorados varia entre 50 e 200 cacos por sondagem, sendo em sua maioria composta por algum tipo de expressão plástica.

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000

Quantidade de cacos

L

M

N

O

P

Q

R

S

Linh

as (s

ul -

norte

)

Gráfico 9.52 - Distribuição espacial: Tipo de fragmento (ausência e presença decorativa)

Sem decoração Decoração Plastica Decoração Pintada Decoração Plástica e Pintada

Quando se isola a decoração por tipo geral, entre plástica, pintada e mista (Gráfico 9.53), nota-se uma leve tendência no material pintado de aparecer em duas seqüências naviformes, apresentando maior quantidade em L, M (no extremo sul) e R (na porção norte),

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de onde então começa a declinar. A decoração mista está presente em L, P e S, mesmo que de forma pouco expressiva.

86,84% 10,53% 2,63%

78,33% 20,00% 1,67%

94,67% 4,00% 1,33%

98,48% 1,52% 0,00%

91,84% 4,08% 4,08%

94,59% 4,05% 1,35%

85,71% 12,70% 1,59%

94,87% 2,56% 2,56%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

L

M

N

O

P

Q

R

S

Gráfico 9.53- Distribuição espacial: Tipo de decoração

Decoração Plástica Decoração Pintada Decoração Plástica e Pintada

Quando se considera somente a decoração plástica (Gráfico 9.54), não se percebe ocorrer nenhuma associação óbvia, a não ser pela franca expressão da decoração incisa concentrada em O. Nota-se, em geral, uma repartição similar na expressão dos tipos decorados. Ainda se percebe uma expressiva presença do falso roletado e falso roletado-ungulado na linha M; sendo o corrugado o único a se destacar ligeiramente em P.

0,00% 26,47% 47,06% 0,00%8,82% 17,65% 0,00%0,00%

6,38% 10,64% 2,13%0,00% 25,53% 31,91% 23,40% 0,00%

4,23% 15,49% 43,66% 0,00% 19,72% 9,86% 7,04%0,00%

3,72% 27,66% 5,32% 22,34% 37,77% 2,66%0,53%0,00%

8,89% 6,67% 55,56% 0,00%11,11% 15,56% 2,22%0,00%

5,00% 11,43% 48,57% 0,00% 22,86% 8,57% 2,86%0,71%

3,70%5,56% 70,37% 0,00% 12,96% 7,41%0,00%0,00%

2,94% 14,71% 61,76% 2,94% 17,65% 0,00%0,00%0,00%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

L

M

N

O

P

Q

R

S

Gráfico 9.54- Distribuição espacial: tipo de decoração plástica

Corrugada Corrugada, ungulada Corrugada Incisa, unguladaIncisa Ungulada Falso roletadaFalso roletada, ungulada Outra

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As marcas de uso foram verificadas no espaço para que se pudesse apontar alguma diferença entre grandes áreas. Notou-se que marcas de fermentação, raras, são mais expressivas em O e Q, sondagens bem populosas dentro do sítio. Marcas de colheres, também raras, aparecem na porção central do sítio, exclusivamente. As marcas que indicam uso de vasilha no fogo (conjugação de depósito carbônico, oxidação e redução) são comuns em toda a extensão do sítio, mas parecem mais intensas em O (na porção central do sítio) e em M (periferia sul da área). A marca de fuligem de queima ocorre por toda a área, o que mostra um padrão tecnológico compartilhado.

0% 20% 40% 60% 80% 100%

L

M

N

O

P

Q

R

S

Gráfico 9.55 - Uso no espaço

Depósito carbônicoColherFermentaçãoFuligem de QueimaOxidaçãoRedução

Quando se observam os poucos fragmentos com marcas do modo produtivo, como impressão de cestaria, resina, furo, dedos e sulcos (Gráfico 9.56), nota-se certa tendência similar eem R e P; bem como em Q e N. A cestaria está presente em três pontos na porção centro-sul (núcleo central do sítio), sendo realmente expressiva em L. Por fim os poucos exemplos de furos estão na porção central da concentração maior. A resina aparece registrada no extremo sul e extremo norte. Os demais vestígios gestuais e intrumentais são comuns e majoritários: os dedos e os sulcos.

0% 20% 40% 60% 80% 100%

L

M

N

O

P

Q

R

S

Gráfico 9.56 - Gestos no espaço

Cestaria Dedos Furo Resina Sulco

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As marcas pós-deposicionais (Gráfico 9.57) evidenciam queimadas no material, além de reforçar a presença de mata na porção norte do sítio.

0% 20% 40% 60% 80% 100%

L

M

N

O

P

Q

R

S

Gráfico 9.57- Marcas pós-deposicionais no espaço

Crosta Fuligem Mancha

Por fim, o estado de conservação (Gráfico 9.58) mostra uma alta freqüência de craquelés, que atinge, em menor ou maior grau, todos os cacos. A erosão é maior ao sul do sítio, enquanto a combinação entre os dois aspectos não apresenta tendência observável. A área de maior preservação está no centro do sítio (linha O), onde se encontra a maior porção dos cacos, no extremo oeste da área em questão. A região a leste refletiu mais o impacto dos processos pós-deposicionais antrópicos.

60,80% 7,60% 18,00% 0,00%13,60%

67,52% 6,37% 11,46%0,00%14,65%

53,89% 6,74% 12,57%0,15% 26,65%

27,71% 13,36% 2,97%0,05% 55,91%

51,84% 1,10%12,50%0,00% 34,56%

73,74% 1,02%13,90%0,00%11,34%

55,50% 0,75% 35,00% 0,00%8,75%

67,65% 0,00% 16,01% 0,00% 16,34%

0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 70,00% 80,00% 90,00% 100,00%

L

M

N

O

P

Q

R

S

Gráfico 9.58 - Estado de conservação no espaço

Craquele Erodido Craquele+Erodido Desconhecido Ausente

Em geral, os dados apresentados apresentam leve tendência de comportamento; quando avaliados em termos quantitativos, apresentam uma certa tendência de divisão norte e sul.

No entanto, quando se joga essa variabilidade no espaço do sítio, observa-se melhor o delineamento do sítio e da área analisada, quantitativamente, neste item: a região entre os

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vértices do quadrilátero formado pelas sondagens L-280, L-480, S-280 e S-480. Como visto durante os trabalhos de campo, o material está distribuído em uma área menor que 200 mil m², e seu núcleo central de ocorrência de vestígios está concentrado numa área de cerca de 70 mil m².

A dizer pela quantidade total de material exumado do sítio (Anexo 11A, B. C), tem-se manchas arredondadas que aparecem ordenadas em círculo ou semicírculo, cuja área central não apresenta uma quantidade significativa de material.

Quando se olha o material analisado o gráfico de freqüência não muda suas feições anteriores, tornando-se, ao contrário, mais nítido.

Tanto a quantidade quanto o peso do material corrobora este mesmo desenho espacial (Anexo 12 A, B. C). Um anel de cerca de 40 metros de espessura, diâmetro menor (sentido leste-oeste) com 200 m (o que reduz a malha para as sondagens entre as linhas 240 e 440) e diâmetro maior (norte-sul) de cerca de 320m (o que aumenta a malha para as sondagens executadas entre as linhas L e T).

A espessura do anel é bastante extensa; então, para melhor entender esta ordenação, foi necessário reduzir a amostra, utilizando-se para tanto os fragmentos com decoração como guia espacial. Este procedimento revelou-se muito frutífero. Nota-se na porção interna do anel uma tendência em haver maior freqüência de dois tipos de decoração: corrugada-incisa-ungulada (comum em todo o sítio) e ungulada, que eventualmente aparece em primazia. Na porção externa, por seu turno, aparece outra associação, desta vez entre o padrão (corrugado-inciso-ungulado) e o falso-roletado. Ainda se nota que a quase totalidade do material pintado aparece na porção norte (Q-320, 400 e R-400) e sul (M-360).

A área em questão é a mesma onde ocorre solo escuro antropogênico, mais comum e intenso entre as sondagens O-440 e Q-240, L-320 e P-320.

9.4. Conclusão parcial

Como visto pontualmente na análise quantitativa, o material apresenta traços de relação entre a Tradição Tupiguarani e Aratu.

Algumas variáveis estabelecidas como: a técnica de manufatura, o tipo de queima, a cor da superfície e da queima, a categoria geral, tipo de tempero e marcas de produção não são úteis para delimitar esses dúbios traços. Isso porque há grande semelhança entre esses fazeres, sendo saberes compartilhados de uma forma mais geral. A produção do pote é geralmente por acordelamento, a dureza está entre 3 e 4 na escala Mohs, o tempero varia com a região, as marcas serão as mesmas se o procedimento alimentar também o for.

No entanto, outras variáveis se prestam mais a esse cargo de delimitar traços culturais característicos.

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O traço Tupiguarani do material reside nos aspectos decorativos. Sobre a decoração, cumpre reforçar que, nos exemplares inteiros ou semi-inteiros desta coleção, existe somente uma pequena área usada realmente, com alteração de textura, que cria a decoração. Enquanto há um total de 10% de cacos em geral com decoração plástica, ao se olhar para as bordas vê-se que esta porcentagem aumenta mais de 6 vezes. Assim, como apontado antes, um pote com pequena área decorada irá gerar uma maior quantidade de cacos sem decoração. Claro que isso varia com a morfologia e tamanho do pote, mas pode-se afirmar que, quantitativamente, tem-se mais cacos sem decoração. No entanto, pelas bordas, pode-se inferir que a maioria dos potes deste sítio apresentava decoração. Esta foi interpretada como uma característica associável à Tradição Tupiguarani. A decoração utilizada neste sítio é, pode-se dizer, repetitiva (falso-roletado, falso-roletado/ungulado, corrugado, corrugado/(inciso)/ungulado), pouco variável. Acredita-se, hipoteticamente, que esses distintos procedimentos tenham relação com o processo de aprendizagem (ver Panachuk & Carvalho, 2005). Outros vestígios presentes na tralha cerâmica deste sítio, uma modelagem zoomorfa e dois cachimbos angulares, parecem mais comuns entre os ceramistas Tupiguarani.

Os traços Aratu são mais expressivos. Neste sentido, o investimento no tratamento de superfície, sendo mais regular e fino pode ser identificado com a Tradição Aratu. A rigidez milimétrica da espessura dos potes, que pouco varia, é outra característica Aratu. As bordas com gargalo e as onduladas apresentam traços dos oleiros Aratu. A decoração mais padronizada e a eqüidistância entre os elementos gráficos decorados, a rigidez do padrão, por vezes mostra uma monotonia oriunda de fortes regras de execução. Esta leitura da estética e tal ordenação podem ser vistos como traços eminentemente não-tupiguarani. O tamanho do núcleo central (70 mil m²), aparentemente ordenado em semicírculo com o vazio central de uma praça, aponta para os sítios-habitação Aratu.

Assim, resumindo, tem-se uma constância tecnológica e estilística entre o material cerâmico analisado, sendo que estes vestígios remontam entre os níveis arbitrários, que atingem, em média, até 30 cm de profundidade. Além da semelhança definiram-se as diferenças entre as variáveis, formando tipos que, no mais das vezes, foram explicados por sua organização espacial. Tais tipos foram necessários para se definir os traços culturais deste conjunto material.

Ao debruçar sobre a distribuição do material, notou-se que a área de ocorrência de material, tanto em números absolutos quanto por peso, é coincidente. Encontrou-se sete sub-concentrações circulares com diâmetro de cerca de 40 m, formando um anel. O centro do anel não apresenta material.

O escurecimento do solo está associado à área de maior ocorrência de material cerâmico, por isto será entendido como mancha de terra preta antropogênica.

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Com esses dados, inclina-se em direção a ter havido somente uma ocupação, mesmo que prolongada. Ou seja, o registro arqueológico não revela períodos de abandono e reocupação do sítio.

10. METODOLOGIA E OBJETIVOS DOS PROCEDIMENTOS QUALITATIVOS

Objetos distintos fornecem diferentes qualidades de informações; então, os fragmentos são separados e analisados novamente, segundo outros critérios. Estão sendo considerados, nesta categoria, principalmente os poucos potes quase inteiros (somam menos de 20), além de outras bordas e mesmo bases, que puderam ser inferidas com confiança (somam mais de 100 fragmentos).

10.1. As formas e os gestos

O estudo da morfologia dos potes é um trabalho nem sempre observado na arqueologia brasileira, embora tenha sido cada vez mais importante, a contar da publicação de Brochado & Monticelli (1992), embora outro trabalho, também muito interessante, aponte alguns problemas práticos de reconstituições (Jobim, 2001). Isto permite o benefício da dúvida para os fragmentos muito pequenos ou que estabilizam em algumas morfologias. A dúvida impulsionou a redução da amostra das reconstituições, procedendo às projeções quando e somente quando se pudesse ter garantia sobre a forma geral do vasilhame. Somente aqui há a preocupação de tomar outras medidas da borda, como (confirmar o) diâmetro, inclinação e ângulo; do pote: altura, profundidade e volume, além do ângulo da base.

Foram reconstituídas 120 bordas, das quais 67 foram analisadas segundo o estudo do gesto decorativo e de produção. O estudo do gesto tem repercussão limitada na análise arqueológica (Aytai, 1992; Hill, 1997, Panachuk & Carvalho, 2004, Jácome, Carvalho & Panachuk, 2004 - no prelo), embora seja relevante para se compreender o pormenor da produção.

Os atributos direcionados aos gestos de produção ainda não são inteiramente claros pois estão sendo seguidos por caminhos ainda não marcados como avenidas, mas como trilhas que nos confundem a visão. Nesse sentido, desenvolveram-se algumas regras mínimas de procedimentos, utilizados para capturar em números e desenhos os gestos de produção da decoração plástica, em especifico, e da produção do vasilhame, de forma bastante geral.

Cada fragmento é posto em uma ficha que inclui os indispensáveis dados de localização do caco (número, quadra, nível).

Altura da decoração: medida perpendicular à borda, com o tamanho da extensão decorada, desde o inicio até o fim, em centímetros.

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Área decorada: Calcular a área decorada, mesmo sabendo do erro matemático produzido. Área= Pi x diâmetro x altura (=da decoração)

Área total: Nestes mesmos moldes grosseiros matemáticos, temos:

Área= Pi x diâmetro máximo do pote x altura total do pote

Porcentagem da área decorada: Com os dados acima podemos calcular, por regra de três simples, a porcentagem decorada em relação à totalidade do pote. Isto nos auxilia na estimativa de fragmentos não decorados que podem ter sido produzidos pela quebra de potes decorados em uma pequena porção.

Gestos Operacionais: A idéia é pontuar cada um dos tipos decorativos utilizados na bibliografia como ações, verbos, ações-motoras escolhidas. Associando esta informação com o sentido e o movimento de execução da decoração. Expressar por setas estes gestos nos desenhos. Descrever com pequenos símbolos estes movimentos, se da esquerda para a direita, se de baixo para cima.

Freqüência: Contando-se os elementos visíveis no espaço do caco, e através de uma regra de três simples, pode-se calcular a quantidade de elementos executados em todo o corpo do pote. Isto pode auxiliar na estimativa do tempo de execução da decoração, auxiliando na mensuração do cansaço e desgaste motor.

Assim: Número de elementos reais: comprimento que ocupa (em centímetros)

Número de elementos potenciais: comprimento total (Circunferência=diâmetro x Pi)

Ritmo: medir a distância entre os elementos eleitos para a análise, tomando a média e a moda. Este atributo pode auxiliar a perceber a falta de treino ou habilidade, pode flagrar os processos de ensino e aprendizado.

Instrumento potencial: Anotamos sugestões advindas da experimentação.

Dimensões do elemento: A média da largura x comprimento x profundidade (em milímetro) do elemento eleito. Ângulo médio no qual o elemento foi executado, isto pode dizer da inclinação da mão do artesão que imprime a decoração.

Morfologia das marcas: Corte transversal e longitudinal do elemento analisado, observado em lupa binocular e desenhado sem escala.

Por fim observações gerais, de âmbito livre.

O desenho que acompanha esta ficha deve conter todas as informações, com detalhes ampliados, além de desenho com cálculo do ângulo quando o fragmento contiver desvios e erros.

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10.2. Conseqüências experimentais

Utilizou-se a experimentação de um padrão decorativo plástico bastante freqüente no conjunto artefatual deste sítio: corrugado-inciso-ungulado. Esta metodologia, embora pontual e específica, teve duas causas: a ausência de argila local disponível e a falta de tempo. Assim, testaram-se as possibilidades instrumentais e gestuais para apresentar as modas e os processos de ensino-aprendizagem.

Este caminho permite aproximar o estudo sobre tecnologia pretérita de uma análise do comportamento de sociedades que escolhem uma tecnologia e uma produção específicas. Experimentar a matéria-prima auxilia na compreensão das limitações físico-químicas de um produto. Prepara o pesquisador para reconhecer soluções e habitus.

Assim, mesmo de forma pontual, lançou-se mão da arqueologia experimental para melhor definir o material.

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11. RESULTADOS QUALITATIVOS

O objeto principal deste item é o pote como instrumento (Schifer & Skibo, 1997). Neste sentido, buscou-se delimitar o repertório de formas de potes, bem como sua gestualidade e técnica. Serão também apresentados os demais objetos que compõem a tralha cerâmica desta sociedade. Para, por fim, apresentar esses utensílios no espaço, finalizando a organização espacial.

11.1. Os potes produzidos: variabilidade formal

A produção de um vasilhame é uma tecnologia que envolve uma função prática grandiosa na vida quotidiana de uma sociedade, independente do valor êmico que tal saber-fazer implique de fato. Isto porque é eminentemente através da olaria que se pode incluir na culinária os caldos e mingaus, impossíveis com outros implementos de transformação do cru no cozido.

A cerâmica, como qualquer outra tecnologia, tem conexão com outras técnicas que se coordenam e são coordenadas em um sistema de estruturas estruturantes (Bourdieu). Elas não existem por si mesmas, mas compõem o quadro de escolhas coletivas que são confirmadas ou atualizadas a todo instante.

O vaso tem, portanto, uma forma que se liga a uma função, pois atende as necessidades de uso prático de um objeto, faz parte da razão prática de uma sociedade que deve satisfazer seus desejos e preceitos, que são eminentemente simbólicos. É justamente nesta concatenação entre razão prática e simbólica (Sahlins) que por vezes há dribles das limitações materiais em favor de uma criatividade de uso. Estando em uso, um objeto pode desempenhar um uso determinado, primário, que é a forma pela qual ele foi concebido para ser utilizado; ou secundário, função que o objeto passa a desempenhar durante sua história de vida. Observou-se, no material analisado, ambos os usos dentre os potes.

Foram definidos 10 tipos de potes, baseando-se para tanto no contorno geral do corpo; assim, serão apresentadas as classificações éticas. Posteriormente, serão ordenados os tipos, a fim de propor a classificação êmica. Este jogo entre o ético e o êmico esta na base de qualquer classificação arqueológica; assim, irá se tratar o assunto de forma explicita, formulando uma proposição tipológica que atenda os anseios arqueológicos, a qual será contrastada com uma proposta de tipologia baseada em hipóteses etno-arqueológicas e etnográficas.

Encontraram-se 10 tipos arqueológicos:

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Tipo 1: Pote aberto, com borda inclinada externamente, direta, sendo comum reforço (interno ou externo) e ondulação na borda. O contorno do corpo é em segmento de calota e a base é côncava. Em geral, aparece decoração corrugada-incisa-ungulada. A pasta desta morfologia é bastante plástica, com baixa inclusão de tempero. O diâmetro da boca está entre 18 e 30 cm, sendo que a altura é sempre menor que 10 cm.

Tipo 2 : Pote aberto, com borda vertical, direta, com eventual reforço na face externa. O contorno é em meia-calota e a base é côncava. Em geral, aparece decoração corrugada-incisa-ungulada e falso-roletado. Em vários exemplares, notou-se a presença de banho de mica. A pasta é bastante plástica, com inclusão de baixa porcentagem de elementos não-plásticos. O diâmetro da boca entre 20 e 28 cm. e altura entorno de 15 cm.

Tipo 3: Pote semi-aberto, borda extrovertida formando gargalo. O contorno geral do corpo é em meia calota e a base é côncava. Pode ou não apresentar decoração corrugada-incisa-ungulada. O diâmetro da boca varia entre 22 e 32 cm, e a altura ocorre em torno de 20 cm.

Tipo 4: Pote semi-aberto, com borda direta com pequena área extrovertida. O contorno geral do corpo é elíptico, com base plana. Apresenta, em geral, decoração corrugado-inciso-ungulado, falso-roletado ou ungulado. O diâmetro da boca é de 28 a 40 cm e a altura entre 20 e 30 cm.

Tipo 5: Pote semi-fechado, com borda direta, levemente inclinada internamente. O contorno do corpo é elíptico, com base plana. Pode ou não apresentar decoração, em geral corrugada-inciso-ungulada. O diâmetro é sempre maior que 30 cm e a altura é pouco maior.

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Tipo 6 - Pote semi-fechado, com borda direta, levemente inclinada para o interior. O contorno geral é cônico, o que inclui a base. Em geral não apresenta decoração. A boca é sempre maior que 30 cm e a altura também.

Tipo 7 - Pote fechado, com borda direta inclinada internamente. O contorno do pote é elipsoidal e a base é plana. Pode ou não apresentar decoração; além da corrugada-incisa-ungulada, comum em toda a amostra, ocorre também falso-roletado e ungulado. O diâmetro da boca é entre 18 e 24 cm, a altura está sempre entorno de 20 cm.

Tipo 8 - Pote fechado com borda inclinada externamente, sendo direta ou extrovertida. O contorno geral do corpo é globular e a base é côncava. Pode ou não apresentar decoração, sendo as mais expressivas a corrugada-incisa-ungulada, falso-roletada, ungulada, além de outras de menor expressão. A boca tem cerca de 18 a 22 cm e a altura é de 20 a 25 cm.

Tipo 9 - Pote fechado, com borda inclinada internamente. O contorno geral é globular e a base tende ao plano. Em geral não apresenta decoração. A boca tem entre 18 e 20 cm e a altura entorno de 30 cm

Tipo 10 - Pote fechado, com borda inclinada internamente, formando uma forte mudança de ângulo com a parede o bojo. O corpo tem contorno periforme e a base é cônica. A decoração é majoritária, tende a apresentar corrugado-inciso-ungulado, mas comporta outras decorações como o falso-roletado e o ungulado. A boca é entre 18 e 30 cm e a altura é em torno de 30 cm.

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A decoração não apresenta grandes contrastes em relação às diferentes formas de potes. A forma de cada um, por sua vez, forma uma classe individual que, pela forma de expressão, pode ser assim separado e tipologizado.

A forma, o contorno dos potes é, sem dúvida, passível de ser atribuído à Tradição Aratu. A presença de gargalos e alças é marcadamente um elemento Aratu, bem como as bordas onduladas. Cabe dizer também que o reforço na borda é, por sua vez, um traço da Tradição Tupiguarani.

Diferentes morfologias e tamanhos de alças

11.2. Outros objetos cerâmicos

Foram exumados outros objetos cerâmicos que são raros na bibliografia correlata, todos produzidos com a técnica da modelagem.

Encontrou-se um cachimbo angular com marcas intensas de depósito carbônico da câmara, de onde se obteve uma das datações absolutas para o sítio. O fornilho de um outro cachimbo de semelhante morfologia também foi evidenciado e apresentava quebra transversal à borda do fornilho, o que pode sugerir uso intenso.

Cachimbo de onde se coletou amostra de sedimento para datação

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Fornilho fragmentado por uso

Um pingente de forma cônica com furo de suspensão também foi evidenciado. Um fragmento menor parece indicar outro pingente ou adorno. A superfície da pasta é bastante alisada, havendo estrias de regularização visíveis.

Adorno de forma cônica com furo de suspensão

Adorno fragmentado com furo de suspensão

Cerca de uma dezena de bolas amassadas de argila não queimada, ou mesmo mal queimada, aparece em alguns pontos do sítio. Estes objetos de função não definida podem ter até 5 cm de diâmetro e apresentam invariavelmente marcas de dedos. Pode-se levantar

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a hipótese de que seu uso tenha relação, como entre os Kadiuéw (Darcy, 1952), com teste de performance da argila. No entanto, não há vestígios que endossem esta sugestão, para o caso do material do sítio Rio Preto Oeste-1.

Bola de argila queimada

Um último objeto, surpreendente e inesperado: uma representação zoomorfa feita pela modelagem. A figura apresenta aspectos anatômicos que sugerem um quotidiano aquático; no entanto, a representação é bastante esquemática para ser possível inferir alguma interpretação.

Diferentes perfis da peça zoomorfa.

As modelagens descritas podem ser associadas ao universo cerâmico tupiguarani. Isso porque o cachimbo angular tende a ser um artefato tupiguarani, enquanto o tubular seria o representante aratu. Isso vale também para a modelagem figurativa (Panachuk & Carvalho,

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2004 - no prelo). Entretanto, a raridade destes artefatos limita bastante o valor destas suposições.

11.3. Análise da gestualidade decorativa

Analisaram-se, para este estudo, 67 fragmentos de bordas com decoração plástica, através da metodologia explicitada acima. Privilegiou-se a decoração, que inclui o corrugado-inciso-ungulado em uma mesma expressão.

Cada um destes cacos foram postos em fichas individuais, cada um revelando ou confirmando o comportamento motor, ou seja, a cadeia gestual. Utilizaram-se também experimentações pontuais para testar hipóteses sobre a gestualidade, neste sentido privilegiando a decoração plástica.

O interesse é alcançar o pote como instrumento (Skibo), e o gesto como técnica corporal (Mauss). Partindo do caco, o concreto, pode-se atingir o pote, o abstrato reconstituído, no qual está marcado, indelevelmente, o movimento mais delicado e o gesto mais brusco.

11.3.1. Gestos técnicos, escolhas culturais

Existem alguns procedimentos técnicos possíveis para alterar a superfície cerâmica, de forma a criar uma pequena protuberância regular, paralela à borda, onde se imprime marcas em forma de segmento de círculo, encaixadas linearmente em simetria rotacional. Pode-se acrescentar ou remover matéria argilosa para obter o alto relevo. O baixo relevo pode ser feito afundando ou cortando a superfície.

A arqueologia vem apontando o resultado das ações e os instrumentos usados para alterar a textura dos potes, que são, de fato, limitados e recorrentes. Os processos técnicos, neste caso específico, seriam conhecidos como corrugado, ungulado, ponteado e inciso.

Primeiro o relevo:

O ato de corrugar implica em remover a superfície argilosa, arrastando-a (com dedo ou qualquer outro instrumento) (Chmyz, 1976) de forma a criar uma crista, que é o acúmulo da própria argila arrastada (La Salvia e Brochado, 1989:35). A morfologia desta crista denuncia o instrumento usado para formatá-la, pode ser arredondada (resultado que a polpa do dedo pode causar), ou reta (como a porção lateral da unha, ou qualquer outro instrumento chato, aplainado e rígido).

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A protuberância formada ao se deslocar a argila indica a porção terminal do movimento, enquanto o sulco revela seu início - temos a direção de execução do gesto, geralmente de curta extensão e necessariamente firme para romper a superfície e alterar a textura da argila. O resultado deste movimento pode integrar o procedimento técnico produtivo (para juntar os roletes) ou decorativo (criando textura). Em ambos os casos, criam um aumento da superfície do pote; aumenta também a capacidade deste corpo de conter calor e diminui a capacidade de absorver calor. No entanto, não sabemos se, de fato, este aumento é real, alterando realmente a experiência - estamos encaminhando experimentações neste sentido. Parece-nos que este procedimento técnico (produtivo ou decorativo) tem, sem sombra de dúvida, apelo estético.

No material que analisamos o movimento de corrugar é transversal aos roletes e de cima para baixo (da menor à maior proximidade da borda). Este gesto é, em geral, bastante curto, tendo entre 5 x 2 x < 1 mm e 10 x 5 x < 1 mm - isso ocorre em fragmentos de potes de diversas morfologias e tamanhos.

Nota-se ainda, em alguns casos, que o sentido do gesto foi da esquerda para direita. Pôde-se perceber isto nos elementos resultante destes curtos movimentos transversais: estão sobrepostos, delatando a anterioridade de um sob o outro. O resultado, nestes casos, é uma superfície mais plana e uma protuberância mais regular; numa sucessão de meios-elementos. Em outros casos, o ato de corrugar teria elementos postos lado a lado, sem sobreposição. Nestes casos, parece, por nossas experimentações, que o sentido do próximo movimento será denunciado pela maior concentração de argila, neste material, exclusivamente à direita, conforme a localização de inicio do próximo elemento a ser executado. Como resultado, a superfície removida terá ondas, criadas pelo deslocamento da argila, e cada elemento será mais nítido- pois será visto por inteiro. Este último caso é recorrente na proximidade com o lábio, na face externa, onde forma uma "renda" - alinhamento de terminações arredondadas.

Nos dois casos, flagrou-se o uso da mão direita na produção. Pode-se explicar este fenômeno concreto, pelo ponto de vista adotado neste texto, que assim se ensinava, moldando o corpo à técnica - adaptando desta forma específica, com estes movimentos concretos, regras de procedimentos para o corpo em relação à maneira correta de executar uma atividade (Mauss, 1974).

Depois a marca:

Para se marcar, na superfície cerâmica, um elemento em baixo relevo que tenha forma de segmento de círculo, é necessário afundar ou cortar esta superfície.

No caso de afundamento, o movimento executado deve ser pontual, com instrumento entre perpendicular e oblíquo em relação à superfície cerâmica, de maneira a empurrar a argila, tocando-a em um só ponto. Pode-se utilizar, para tanto, a porção frontal da unha (definido

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como ungulado por Chmyz, 1976 e La Salvia & Brochado, 1989) ou outro instrumento que tenha esta terminação (neste caso, entendido, como ponteado, por estes autores). Para marcar semelhanças e diferenças, será utilizado o termo pseudo-ungular para o ato de aplicar de maneira pontual, sobre a superfície cerâmica, um instrumento (que não o próprio corpo) com terminação em segmento de círculo, imprimindo assim um elemento gráfico assemelhado à unha, mas não ela própria (Jácome, Carvalho, A. & Panachuk, 2005- no prelo). O termo ungulado (stricto senso) será reservado para os elementos marcados com a unha. Esta ação, independente do objeto (o corpo-unha ou outro instrumento), gera, no elemento impresso, um acúmulo lateral de argila que é uniforme. A ação motora, note bem, é a mesma nos dois casos.

No caso de corte da superfície, o movimento ocorrerá por duas ações contínuas: inicia de forma pontual e arrasta a argila, criando o elemento que se deseja; ter-se-ia a incisão. O acúmulo de argila será desequilibrado, ocorrendo de maneira mais nítida na porção mesial e terminal (proximal) do movimento- onde se acumula a argila deslocada, quase ausente na porção inicial (distal), onde a argila é afundada.

No material analisado nota-se, nos elementos gráficos, ungulações (stricto senso), pseudo-ungulações, e incisões. Para separar tais procedimentos, cada um dos elementos dentre os cacos analisados foi medido, verificada a morfologia e a curvatura de sua marca.

As ungulações geram maior variedade entre os elementos, têm certa curvatura - realmente um segmento de círculo - e em geral apresentam afundamento em seu entorno causado pela pressão da polpa do dedo na superfície do pote. De facto, para evitar a "polpa do dedo" é necessário ou que a argila esteja mais seca, ou que a unha esteja suficientemente crescida (>2mm). Em reflexões correlatas, tem-se visto, entre os Caribe 'atuais' (recuados para mais de dois séculos), que as unhas são mantidas rentes. O que parece ser coerente com o envolvimento cotidiano e ordinário em trabalhos manuais.

As pseudo-ungulações geram marcas que obedecem a uma medida-padrão, podem ser divididas, no material analisado, em pequenas (5 mm de comprimento x 1 mm de largura x <1 mm de profundidade) e grandes (entre 10 x 1 x 1 mm). Este último ponto parece indicar, de forma mais nítida, o investimento instrumental que ronda a órbita da produção cerâmica. Não há, neste caso, afundamento do entorno do elemento (provocado por uma eventual polpa do dedo) e o elemento tende ao plano, distanciando, de forma cabal, do instrumento-unha. Uma seção de bambu ou uma espátula resolveriam com perfeição a questão.

Para a executar as incisões, é possível utilizar material expedito, qualquer graveto cumpriria com destreza esta ação, desde que manipulado por uma mão hábil. Os raros casos em que aparece, no material, os elementos são pequenos e apresentam uma angulosidade na porção superior, tornando-os mais assemelhados a uma vírgula que a um segmento de círculo.

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Temos notado, sobretudo por nossas experimentações, que o uso do instrumento-corpo (a unha) para ungular uma superfície trará como resultado uma variabilidade enorme entre as marcas, pois o menor movimento na inclinação da unha altera sua impressão. Cada vasilha terá elementos específicos, únicos, já que tamanho e forma de unha variam enormemente, por dedo e por pessoa. Se utilizar instrumentos tende a conter a variabilidade, já que instrumentos manufaturados pelo homem têm um padrão formal, e é mais fácil manter o mesmo posicionamento do instrumento. Pode-se aventar a idéia de que instrumentos são, por vezes, a extensão do próprio corpo, sendo tratados com esmero e cuidado. No caso da incisão, haverá enorme variabilidade entre cada um dos elementos marcados em um mesmo pote, se a mão não for suficientemente hábil.

Por vezes regularizar:

Cada um dos procedimentos em separado (seja criar relevo ou marca) foi, geralmente, finalizado com alisamento, de forma a acertar e conformar sua superfície retirando excessos e minimizando faltas.

Nota-se que, ao alisar a superfície cerâmica, as estrias de alisamento seguem um movimento com sentido específico (da esquerda para direita) e mesma direção (inicialmente transversal e distante da borda, torna-se oblíqua e próxima a ela, no fim do movimento). Na porção distal, cria um afundamento (apoio do instrumento no local no qual se inicia o movimento), e, na porção proximal, um acúmulo de matéria, mesmo que discreto.

Algumas idéias sobre os instrumentos potencialmente utilizados para executar estes gestos impressos na argila se colocam, mas, não tendo experimentado o suficiente este ponto específico, decidiu-se não discutí-lo.

Entretanto, um ponto deve ser notado. Em alguns casos, percebemos que, para regular o corrugado e deixá-lo realmente paralelo à borda, utilizou-se de um instrumento com ponta aplainada e corpo chato, que corta a base e torna reta a crista do elemento gráfico, cria uma incisão e uma regulagem.

Em alguns exemplos, os elementos em baixo relevo foram regularizados com a alisamento ou afundamento do acúmulo lateral de argila.

Regras de execução:

A seqüência ordenada dessas três ações motoras cria o que chamaremos de módulo decorativo. Em uma vasilha pode haver de um a cinco módulos. Sempre há sobreposição entre o alto relevo do módulo superior (mais próximo à borda e mais "recente"), que cobre o baixo relevo do módulo inferior (mais distante e "antigo"). Isso indica que o início da decoração se dava na maior distância da borda, aproximando-se dela. Há mudança na umidade da pasta, na medida em que se executa os sucessivos módulos.

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11.3.2. Gestos Operacionais, habitus do corpo coletivo

Para imprimir um ou mais desses módulos na superfície, notam-se três táticas distintas, que têm relação com tratamento de superfície e certa tendência na morfologia dos potes e tamanho. No entanto, este aspecto não é definidor do procedimento a ser executado.

Uma das estratégias consiste em utilizar o corrugado para juntar os roletes e, nesta protuberância, imprimir o baixo relevo. O corrugado seria realizado para cumprir uma necessidade de manufatura e, ao mesmo tempo, um gosto estético, a protuberância, coincide com cada um dos roletes utilizados. Em geral se relaciona à superfície mais grosseira, com alta proporção de elementos minerais agregados e maior espessura (maior que 10 mm). Para as marcas em baixo relevo foram utilizados, em geral, os instrumentos grandes (10mm de comprimento) e, mais raro, os pequenos (5mm)- de forma a pontear a superfície com pseudo-ungulações. Em todo caso, os cacos analisados reproduzem o tema padrão, de forma rígida. Estão mais relacionados aos potes piriformes.

A segunda tática prescinde da anterior junção entre os roletes, estando o pote com superfície regular, que é alterada. Os graus de alisamento podem variar, mas o que importa é que a protuberância não coincide com os roletes, sendo o corrugado, neste caso, um procedimento eminentemente decorativo, posterior à junção dos roletes (que pode ter sido feita pela mesma ação motora: o corrugado) e seu alisamento. O suporte apresenta, em geral, não só maior regularidade, como menor quantidade de elementos minerais. As marcas em baixo relevo foram feitas tanto por instrumentos (pequenos e grandes) ponteados na superfície, como por incisões. Apresentam maior liberdade temática, indo além do padrão. Os elementos entre os módulos podem criar jogos com simples alterações no ritmo (espaçamento entre eles) e na disposição e simetria dos elementos. Aparecem em potes com variadas morfologias.

A última forma de proceder revela verdadeiro refinamento e primor, sendo necessária certa habilidade para sua perfeita execução. Em alguns potes de pequena espessura (entorno de 5 mm), alisamento fino superficial, executado numa pasta também fina, aparece um tratamento de superfície bastante particular. Consiste, aparentemente, no resultado de argila em suspensão acrescida de mica em pó. Esta calda de argila tem menor granulometria, fraturas com linha de ruptura plana, e aparece exclusivamente aderida à face (externa e/ou interna) do fragmento e não em sua porção central. Esta calda de argila, parece, foi aderida à superfície do pote ainda úmido, pela tensão contínua de um instrumento de terminação arredondada (como um seixo ou uma semente- como a 'olho de boi', Ormosia arborea- usada pelos Mbyá-Guarani). Isso orientaria as partículas e reforçaria o brilho deste mineral, que tem a propriedade de conter calor (motivo de seu uso no ferro de passar roupa atual).

Sob a superfície assim apresentada, foi posta uma placa de argila- na qual se aplicou a decoração. Em geral, a decoração tem uma altura total de 1 cm, composta de dois módulos decorativos de 0,5 cm. São necessários movimentos muito curtos e precisos para minimizar

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o risco de acidente, pois a peça ainda se encontra úmida e é muito fina. O tema padrão é intensificado, havendo entre os elementos em baixo relevo uma distância mínima somente para que não se sobreponham (distam entre si em torno de 1 mm). Este procedimento está associado às pequenas tigelas.

11.3.3. Gestos sub-operacionais, idiossincrasias individuais

A julgar pelos cacos e por quatro potes parcialmente remontados que analisamos (um deles, o mais inteiro, provém de um sepultamento), estamos diante de uma sociedade de exímias oleiras. A construção do corpo do pote e sua decoração têm rigor, por vezes, milimétrico.

Nota-se que o pote parece ganhar harmonia e atingir o padrão de exigência antes da decoração. Isso porque a fina parede tem aumento paulatino da borda à base, controlado com primoroso rigor milimétrico, enquanto a decoração ainda apresenta dissimetrias e irregularidades. Em geral a superfície é bastante alisada, o que acredita-se, tenha auxiliado na erosão superficial.

Primeiro, então, domina-se o corpo dos potes, de parede pouco espessas, para depois aplicar corretos procedimentos decorativos.

Parece que os potes grandes e médios apresentam diversos graus de simetria, equidistância, habilidade. Enquanto os potes pequenos, por outra parte, parecem tipos ideais (a la Weber), executados somente pelos detentores do conhecimento técnico e proficiência.

Percebem-se raros casos de reordenação do elemento por rotação do instrumento, para as marcas em baixo relevo. E falta de controle na aplicação da força no ato de corrugar, e mesmo de alisar/regularizar a protuberância do corrugado, diminuindo a distância entre os módulos decorativos.

Ao se analisar uma decoração plástica, deve-se levar em consideração a possibilidade da oleira de corrigir algum erro ou dissimetria. No entanto, no material analisado, embora raros, há alguns "erros" e dissimetrias. Usando da explicação de Aytai (1991), para se manter a simetria e a eqüidistância entre traços lineares feitos em um corpo cônico, é necessário que se altere, a todo instante, a posição dos elementos.

Nota-se reorientação dos elementos em baixo relevo saindo do eixo apropriado. E no corrugado, em geral se nota certa dificuldade em manter o alinhamento de forma realmente paralela à borda. Por vezes, a protuberância mais se assemelha a uma renda disforme, outras são uma sucessão milimétrica de "u", como um babado.

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Somente nos potes grandes e médios notam-se diferenças de habilidade, enquanto os potes pequenos apresentam sempre o mesmo padrão, tendo sido feitos sempre por pessoa com grande conhecimento técnico e habilidade.

Há poucos casos de variação do padrão- micro-temas, conseguidos à custa de pequena rotação do elemento em baixo relevo entre os módulos, jogando com a simetria e a disposição - elementos contrariados, desencontrados, espelhados; ou alterando o ritmo entre os elementos, em um mesmo módulo.

11.4. Distribuição dos potes no espaço da aldeia: áreas de atividades

A morfologia dos potes pode auxiliar na inferência sobre áreas de atividade. Notou-se em algumas áreas (sempre periféricas) a diversidade morfológica de potes (como em H-440, N-240 e O-280) e noutras uma constância de uma ou duas formas específicas (como em L-280 e P-400), (porção central do sítio).

O outro ponto em que vale tocar é sobre a distribuição de artefatos cerâmicos modelados (cachimbos, tortual, adorno e aplique) e uma urna funerária.

Os únicos dois cachimbos existentes estão diametralmente opostos, em sentido noroeste-sudeste, nas extremidades do sítio (O-280 e H-440). Os dois adornos (um inteiro e outro fragmentado) estão ambos na periferia Nordeste do sítio (Q-440). A modelagem zoomorfa também se encontra na periferia nordeste do sítio (R-520), próxima à urna funerária (R-560) escavada inicialmente em campo, mas levada com sedimento interno para laboratório. Remontou-se o pote periforme em sua quase totalidade. Neste momento, observou-se tratar de um pote reaproveitado, pois há uma quebra bastante antiga que garante sua quebra pretérita; um reuso, portanto, uso secundário.

Dentre a totalidade do sítio, notou-se que nove sondagens (R-440, Q-440, P-440, N-400, L-320, N-240, O-280, P-240 e R-240) comportam a quase totalidade dos potes mais inteiros. Este resultado é coincidente com a mancha de material apresentada acima. No entanto, a grande distância entre as sondagens dificulta bastante a interpretação. Entende-se que as sondagens com maior número de potes podem sugerir unidades de habitação, ou mesmo cozinhas, que em geral são separadas da casa. Não é possível definir essas distintas áreas de atividades.

Outro problema está na ausência de áreas de lixeira, imprescindíveis em uma ocupação humana, independente da época de sua implantação. No entanto, não foi encontrada nenhuma área específica com um grau de fragmentação muito baixo. Assim, não foi possível delimitar essa área de atividade.

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Outro ponto importante é a escassez de material lítico no sítio. Encontraram-se diversos fragmentos de laterita por toda a extensão do sítio, mas este material pode ser encontrado com facilidade na região. Algumas dezenas de seixos existentes no sítio também não mostraram nenhuma tendência em sua ocorrência no sítio. Por fim, notou-se a presença de 5 lascas, estando localizadas em N-40 e Q-440. No entanto, a raridade do vestígio impossibilita qualquer inferência.

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12. ANÁLISE INTEGRADA DOS DADOS

O homem é, para Mauss, o homem total, ao mesmo tempo e a cada instante biológico, psicológico e sociológico. E estas facetas se misturam e somente podem ser entendidas em sua totalidade e inter-relação. Nas palavras de Mauss, quando se dedica às humanidades

"(...) encontramos o homem, a consciência humana, - em nossas estatísticas, em nossas considerações de história social ou de história comparada, em nossos estudos de psicologia ou de morfologia coletivas -, deparamos não somente com tal ou tal faculdade da alma, ou com tal função do corpo, mas com homens totais compostos de um corpo, de uma consciência individual, e desta parte da consciência que provém da consciência coletiva ou, se quisermos, que corresponde à existência da coletividade. O que encontramos é um homem que vive em carne e em espírito num ponto determinado do tempo, do espaço, numa sociedade determinada..." ( Mauss, 1921:334 - grifo nosso)

É como se esse homem total impregnasse a materialidade, marcasse culturalmente a matéria, impregnasse o artefato com os padrões e escolhas culturais, habitus que são coletivos e com as particularidades e virtuosidades individuais. É como se esse vivo, o hau - espírito das coisas- se mantivesse nos vestígios materiais de toda espécie e através de sua conjugação com outros fatores; como se fosse possível aproximar-se deste indivíduo que está presente, constituindo e sendo constituído na sua relação coletiva.

Juntando o ponto de vista tecnológico com aquele estilístico entra-se em um viés técnico-estilístico do objeto (no caso um bem material cerâmico). Esta metodologia de análise pode ser entendida como a conjunção da esfera eminentemente prática e aquela simbólica, pois diz não somente sobre a forma de proceder, na prática, para a produção de um artefato, mas, ao dizer sobre o belo e o bom, diz sobre a ordenação simbólica. A arte da olaria talvez seja um campo privilegiado para uma análise prático-simbólica. Entendendo técnico/prático como coordenações de gestos e estético/simbólico como sentimentos coletivos.

Esta matéria-prima amorfa - o barro, é formatada pela manufatura e fixado pela queima numa forma imutável. Nesta transformação físico-química, o principal agente é o homem, que impõe mudanças à matéria-prima - a argila, que depois é congelada pela cozedura. Com isso permanecem capturados pela argila os gestos e instrumentos utilizados pelo homem; o habitus adere à matéria.

Nas classificações arqueológicas se usa, mesmo que de forma escamoteada, as tradições e fases como correlatos de famílias e troncos lingüísticos. Assim o fazem também os antropólogos com as áreas culturais, e os lingüistas para os falantes de dado código. Nos três casos há problemas de classificação; mas nenhum motivo de assombro. Isso é o homem, que ao manter a tradição também a modifica, pois está seguindo uma experiência histórica, estruturada sob uma estrutura estruturante.

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No material analisado tem-se uma sensação de desconforto classificatório, o que não decorre da competência ou não das classificações usadas, mas mostra com clareza a dificuldade em conter o homem em termos estanques. Neste sentido, pode-se mesmo constatar uma zona de fronteira, na qual as delimitações de uma ou outra coisa se misturam, mas podem ser separadas. Marcam o fluído e tenso território entre tradição x inovação. As contingências históricas (casamento, comércio, guerra,...) levam a todo instante a atualizações no arcabouço prático-teórico da sociedade.

Neste sentido, o horizonte arqueológico é marcado neste conjunto artefatual pela confluência de um corpo tradicional Aratu, pontuado de pinceladas Tupiguarani.

Neste sítio, entendemos que três opções tecnológicas são convergente com aquelas estabelecidas para o material cerâmico da Tradição Tupiguarani.

Há certo uso de tempero de caco moído, apontado como elemento diagnóstico da Tradição Tupiguarani (La Salvia & Brochado, 1989). Mas Perota (1974) já havia notado o uso deste procedimento em material Aratu (fase Jacareípe) localizado no atual estado do Espirito Santo.

Dentre o material analisado, cerca de 70% das bordas apresentam decoração, que recobre uma pequena área de cada vasilha. Quando quebra, este pote produz uma enorme quantidade de fragmentos sem decoração e alguns poucos cacos decorados. Em cálculos grosseiros, constatou-se que no máximo 20% da área total do pote seria decorada. Esta alta freqüência de potes decorados poderia ser considerada uma característica Tupiguarani.

Chamou também a atenção a presença de uma modelagem zoomorfa e dois cachimbos de morfologia angular; objetos mais recorrentes dentre a tralha cerâmica associada à Tradição Tupiguarani.

Na produção do corpo do pote, tanto a morfologia quanto o tratamento de superfície são coerentes com os traços gerais da Tradição Aratu-Sapucaí. Todo o corpo do pote apresenta variação milimétrica da espessura da parede do pote.

A baixa percentagem dos tipos decorados também pode ser uma aproximação com material Aratu, que se resume à decoração plástica. Pois a quantidade de material cerâmico com decoração pintada é irrisória (<1%), o que afasta suas semelhanças com a tradição Tupiguarani. A exatidão da decoração feita com um rigor matemático, em sua grande maioria, também sugere traços Aratu.

A urna periforme do sepultamento também indica na direção Aratu, pelo contorno e pela decoração. A morfologia geral dos potes do sítio: com presença de vasilhas com gargalo, e periformes, além da presença de potes com borda ondulada, suporte de apreensão e furos de suspensão; também tem traços Aratu.

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Ao mesmo tempo, o sítio ocupa uma extensa área, também compatível com as aldeias desta tradição. O tamanho da aldeia e sua disposição em anel com praça central pode indicar uma ordenação espacial das aldeias Aratu (Wust, Calderón, dentre outros citados na compilação dos dados bibliográficos), mesmo que este fenômeno possa ser também encontrado em sítios tupiguarani (como no sítio Queimada Nova, Meggers & Maranca, 1981), embora seja um fenômeno raro, ainda não explicado. Acredita-se em uma mesma ocupação, mesmo que as datas não endossem esta hipótese, devido à tendência de ocorrência do material, que se dá em círculos com cerca de 40 m, distantes entre si cerca de 20 metros. Recorrendo aos estudos de sítios-habitações Aratu, percebe-se uma grande possibilidade de haver dois ou mais anéis concêntricos. Mostrou-se ainda sobre o espaço a maior frequencia de cacos ungulados na porção central do anel, e a maior frequencia de falso-roletado na porção externa do anel. Os tipos corrugado-inciso-ungulado e corrugado-ungulado ocorrem de forma expressiva e estável em todos os locais do sítio.

Claro que este fato numérico permite algumas hipóteses. Uma delas é a presença de dois anéis concêntricos de unidades habitacionais, tendo então a variabilidade decorativa como expressão das diferenças entre grupo de fora x grupo de dentro. Outra possibilidade é a diferença de funcionalidade dos espaços, sendo que dentro seria a unidade habitacional (o que em parte explicaria a grande população de cacos em O-280) e fora seria a cozinha (isso porque a bibliografia etnográfica traz inúmeros exemplos deste comportamento, independente da etnia). Com o material disponível e com o atual estado de conhecimento, é difícil escolher e demonstrar qualquer uma dessas hipóteses.

Ao tocar na influência (seja por qual motivo for: festa, guerra, comércio de bens, de mulheres -ou de oleiras...), toca-se na contemporaneidade entre estes grupos portadores da cerâmica Aratu e Tupiguarani, o que é confirmado pela bibliografia. No entanto, estes grupos teriam ocupado, em geral, ambientes diferentes.

As datações absolutas disponíveis são muito escassas, sendo difícil discutir com confiança. Para este sítio, dispõe-se de três datações (560+-50AD, 740+-40AD e 1000+-60 AD). Isso representa uma continuidade temporal de 500 anos, que parece não conferir com o pacote ocupacional do sítio.

Os limites temporais das demais datas disponíveis são de 800 AD, para a fase Guarabu, e 1780 AD, para a fase Itaúnas (Perota, 1976), ambas no Espírito Santo. Para o Sul da Bahia, Calderón (1969; 1974) apresenta as datas de 1.400 e 1.600 AD. Se se levar em consideração a veracidade das datas, ter-se-ia, com o estudo deste material, recuado a presença da Tradição Aratu no Espírito Santo. Além de ter sido possível enriquecer o estudo dos sítios Aratu com particularidades do sítio em análise, ressaltando-se, nessas particularidades, um esclarecimento do grau de influência da tradição Tupiguarani sobre essa sociedade Aratu.

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13. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Solange Bezerra Caldarelli

Para finalizar este relatório, gostaríamos apenas de avaliar se o trabalho conseguiu atingir os objetivos colocados no projeto apresentado ao IPHAN, abaixo retomados.

Objetivo 1: Promover o resgate dos vestígios culturais remanescentes do Sítio Arqueológico RPO-1, para evitar que a instalação das bases dos poços aumente os danos já sofridos pelo sítio pelo cultivo sistemático de eucalipto.

Avaliação: atingido, conforme se depreende da parte 2 do relatório, onde são descritos os trabalhos de campo realizados no sítio, e da parte 3, onde se apresenta o tratamento dado à cultura material exumada e trazida para laboratório.

Objetivo 2: Entender a implantação do sítio arqueológico, a partir do estudo das variáveis ambientais que possam ter influído na escolha do local como assentamento pela população indígena que o ocupou no período pré-colonial.

Avaliação: esse aspecto não foi muito explorado, por isso é retomado aqui. Conforme consta da Parte 1 deste Relatório, o sítio se encontra implantado em um amplo terraço arenoso, a cerca de 700m da margem direita do Rio Preto do Sul, sendo cortado por duas nascentes de afluentes do córrego Águas Claras. Sua localização, portanto, é favorável à implantação de aldeias de ocupação prolongada, o que confere com os resultados da pesquisa arqueológica.

Objetivo 3: Realizar escavações sistemáticas com intensidade de intervenção compatível com o nível de significância do sítio, de modo a obter informações sobre a estruturação espacial intra-sítio.

Avaliação: as escavações foram um pouco prejudicadas pela dificuldade de se delimitar a área realmente ocupada do sítio, devido ao fato de as atividades antrópicas no local terem dispersado material, superdimensionando a área do sítio. Esse fato resultou em muito trabalho adicional em campo, em setores de menor significância, o que só pôde ser percebido à medida que as escavações eram feitas e, posteriormente, com as análises estatístico-espaciais feitas em laboratório. Caso as dimensões reais do sítio fossem conhecidas de antemão (como o trabalho se fez a partir de dados informados por outro pesquisador, era impossível saber de antemão que a área ocupada estava mal dimensionada), teria sido possível, no mesmo tempo dispendido em campo, intensificar as escavações na área efetivamente ocupada do sítio.

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Objetivo 4. Reconstituir a cronologia desta ocupação pré-colonial, a partir de amostras datáveis, preferencialmente por métodos que utilizem o Carbono 14.

Avaliação: as datações por Carbono 14 foram feitas nas amostras de carvão que se conseguiu obter no sítio. Algumas dúvidas surgiram quanto ao tempo de ocupação da aldeia, pois as datas sugeriram um período prolongado, que só se explicaria por uma permanência extremamente estável no mesmo espaço ou por sucessivas reocupações. Entretanto, as análises feitas em laboratório não corroboram nenhuma dessas duas hipóteses. Mesmo em se tratando de uma ocupação de longo prazo, o pacote arqueológico com certeza não aponta 300 anos ininterruptos de permanência no local e nem apresenta indícios de reocupações sucessivas, ao longo desse espaço de tempo. Essas constatações indicam possível contaminação de algumas das amostras datadas, discutida na parte 3 do relatório. Comparando-se com outras datações existentes para esse tipo de sítio, a data mais coerente com o que se conhece (que ainda é muito pouco para a tradição Aratu) é a mais recente, que colocaria a população Aratu no local no século XIV de nossa era, o que condiz com a influência Tupiguarani reconhecida no material arqueológico. Esse período coincidiria com o que dizem as pesquisas etno-históricas sobre as sociedades Tupi, as quais consideram que, no século XIV, elas estariam em plena expansão sobre a zona litorânea. Nesse momento, ambas as sociedades, uma muito provavelmente de língua Jê ou Macro-Jê (Aratu) e a outra de língua Tupi (Tupiguarani), estariam se inter-relacionando.

Objetivo 5: Verificar as relações entre a cultura material da ocupação pré-colonial do Sítio RPO-1 e a cultura material dos sítios arqueológicos similares encontrados na região.

Avaliação: objetivo plenamente atingido, conforme se pode verificar na parte 3 do relatório.

Objetivo 6: Ampliar o conhecimento existente sobre as populações horticultoras que ocuparam a região.

Avaliação: objetivo atingido, uma vez que flagrou inclusive os contatos inter-étnicos e culturais entre duas populações ceramistas, ambas com subsistência baseada na agricultura, as quais coexistiram na mesma região ao menos no século XIV de nossa era.

Além dos objetivos propostos, os estudos avançaram e aprofundaram em vários aspectos os parcos conhecimentos existentes sobre a ocupação pré-colonial do norte do Espírito Santo. Primeiro, demonstraram que o sítio não era da Tradição Tupiguarani, conforme afirmado pelas pesquisas que nos antecederam e que nos levaram a iniciar o trabalho

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baseados numa falsa premissa. Segundo, comprovaram, como dito acima, o contato inter-étnico e as trocas culturais entre duas sociedades indígenas de filiação lingüística distinta, com argumentos fortes sobre os aspectos da cultura material onde essas trocas se fizeram sentir com mais força. Terceiro, resultaram num estudo profundo das técnicas, gestos e escolhas estéticas envolvidas na produção do mais importante produto artesanal da sociedade indígena cujos remanescentes formaram o Sítio RPO 1: a cerâmica.

A respeito da conclusão de tratar-se de um sítio de Tradição Aratu, é interessante relembrar, aqui, as notícias veiculadas pela imprensa regional (Gazeta do Espírito Santo), divulgando o achado oito urnas funerárias de Tradição Aratu (conforme mencionado na Parte 1 deste Relatório). Trata-se de mais uma comprovação de que o norte do Espírito Santo foi palco de uma extensa ocupação de sociedades indígenas da Tradição Aratu, com as quais as sociedades de Tradição Tupiguarani estabeleceram relações, quando chegaram à região.

Finalmente, cumpre ressaltar a importante análise sobre os fatores pós-deposicionais que afetaram a conformação do sítio arqueológico (partes 2 e 3), objeto de reflexões, em campo e laboratório, que permitiram delimitar a área efetivamente ocupada do sítio com alto grau de probabilidade (pode-se mesmo dizer, de certeza).

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15. EQUIPE TÉCNICA

Coordenação geral: Dra. Solange Bezerra Caldarelli

Coordenação de campo: Ms. Maria do Carmo Mattos Monteiro dos Santos

Ms. Rodrigo Lavina (UNESC)

Equipe envolvida nos trabalhos de campo:

Maria Alexandrina Melo (pesquisadora) Wesley Charles Oliveira (pesquisador) Sérgio da Silveira (técnico) José Eduardo Abrahão (estagiário) Rafael Pedott (estagiário) Ricardo Monma (estagiário)

Auxiliares: GEORGIA Engenharia Ltda.

Equipe envolvida nos trabalhos de laboratório

Responsável Lílian Panachuk Vanessa de Carvalho Benedito Lorena Luana Wanessa Gomes Garcia

Elaboração do relatório: Maria do Carmo Mattos Monteiro dos Santos Lílian Panachuk Rafael Pedott

Sistematização de dados Keylla Valença

Arte final e mapas Sergio da Silveira

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ANEXOS

Anexo 1: Ficha de Sítio modelo IPHAN

Anexo 2: Divulgação dos trabalhos de salvamento do Sítio Arqueológico RPO-1 em mídia interna da Petrobras

Anexo 3: Base da apresentação feita na sede da Petrobras UM/ES em São Mateus

Anexo 4: Ficha de análise

Anexo 5: Convenção da ficha de análise Rio Preto Oeste-1 / São Mateus-ES

Anexo 6: Porcentagem e tamanho dos grãos de elementos não plásticos

Anexo 7: Aspecto do resultado de queima

Anexo 8: Perfil da borda

Anexo 9: Perfil da base

Anexo 10: Resumo dos vestígios arqueológicos resgatados

Anexo 11.A: Gráfico de freqüência por quantidade de material coletado

Anexo 11.B: Gráfico de freqüência por peso do material coletado

Anexo 11.C: Gráfico de freqüência por peso médio do material coletado

Anexo 12.A: Gráfico de freqüência por quantidade de material analisado

Anexo 12.B: Gráfico de freqüência por peso de material analisado

Anexo 12.C: Gráfico de freqüência por peso médio de material analisado

Anexo 13: Resumos das apresentações feitas no 13º Congresso da SAB

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Cadastro Nacional deSítios Arqueológicos*

- CNSA - Depto. de Identificação e Documentação - DIDSist. Nac. de Informações Culturais - SNIC

Nome do sítio Sítio Rio Preto Oeste - 1

Outras designações e sigla RPO1

Município São Mateus UF: ES

Localidade Situado no litoral norte do estado do Espírito Santo, na área do Ativo de Produção Norte Capixaba, da Petrobrás.

Outras designações da localidadDescrição sumária do sítio O sítio está localizado na bacia do rio São Mateus Sub-bacias Córrego Aguas Claras e Rio

Preto Sul. Na ponta do compartimento de tabuleiros, norte do estado do Espirito Santo.

Nome do proprietário do terrenEndereço Propriedade da Floresta Rio Doce (atualmente Consórcio Aracruz Celulose e Bahia Sul Celulose), na área do

Ativo de Produção Norte Capixaba, da Petrobrás.CEP Cidade: São Mateus UF: ES

E-mail Fone/FaxOcupante atual

Comprimento 600 Largura: 440 Altura máxima:Área: 170667 Medição: Estimada Passo Mapa Instrumento

Acesso ao sítio

Nome e sigla do documento cartográfic base cartografica digital conpativel com a escala 1: 000000, editada pelo IBGE.

IBGE DSG OutroAno de edição: 1:1.000.000

Zona: E: N:N:7919210Zona: 23 E:410430

Zona: 23 E:410870 N:7919210N:7918610Zona: 23 E:410870N:7918610Zona: 23 E:410430

GPSEm mapa

DATUM: Sad 69Margem de erro:

PlanícieTopo

Altitude: 25

Água mais próxima Rio Preto do SulDistância: 700Rio: Córrego Águas ClarasBacia: Rio São Mateus

Outras referências de localizaçã Bacia do baixo Rio Cricaré ou São Mateus, micro-bacias do córrego Águas Claras e do Rio Preto

Vegetação atual: Uso atual do terreno

Ponto central:Perímetro:

Floresta ombrófil

Delimitação da área / Coordenadas UTM

m

Floresta estacionaCampinarana

Savana (cerradoSavana-estépica(caatinga)

m mmm²

Estepe

Outra: Floresta do tipo Atlântica, pasto e eucalipto.

Atividade urbanaVia públicaEstrutura de fazenda

PastoPlantioÁrea não utilizada

Outro: Cultivo de eucalipto e extração de petróleo

Área pública Área privada Área militar Área indígenaOutra:Unid. de conservação ambiental

Municipal Estadual Federal Patrim. da humanidade

Categoria

UnicomponencialMulticomponencial

Pré-colonialDe contatoHistórico

Sítio Habitação (duração indeterminada)

Circular com anel

Tipo de solo Podzólico

Estratigrafia • Superfície - 16% das unidades apresentaram material em superfície

Exposição Céu aberto Abrigo sob rocha Gruta SubmersoOutra:

Contexto de deposição Em superfície Em profundidade

Escala

Unidade geomorfológicCompartimento topográfico

Tipo de sítio

Forma:

(com relação ao nível do mar)m

m

(a partir do nível do solo)

Em área tombada

CNSA:

Órgão:

Propriedade da terra

Proteção legal

Sítios relacionados:

Capoeir

100006* Em atendimento ao determinado na Lei nº 3.924 de 26 de julho de 1961, que dispõe sobre os monumentos arqueológicos e pré-históricos.

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- CNSA - Depto. de Identificação e Documentação - DIDSist. Nac. de Informações Culturais - SNIC

Estruturas Artefatos:

Áreas de refugoDe LascamentDe Combustão

FuneráriasVestígios de edificaçãoVestígios de mineraçãoAlinhamento de pedrasManchas pretas

Canais tipo trincheiras, valetasCírculos de pedraEstacas, buracos deFossasMuros de terra, linhas de argilaPalafitasPaliçadas

Outras:Concentrações cerâmica Quantidade: 13.000 cacos

Lítico lascadoLítico polidoSobre material orgânic

CerâmicoSobre concha

Outros vestígios líticos:

Material históricoOutros vestígios orgânicos: Carvão e ossos.Outros vestígios inorgânicos

(fogueira, forno, fogão)

Números de catálogo

Instituto de Pesquisas em Arqueologia – IPARQUniversidade Católica de Santos - UNISANTOS

Acervo / Instituições:

Arte rupestre: Pintura Gravura Ausente

TradiçõesFases:ComplementosOutras atribuiçõesTradições Aratu

Fases: Itaúna - Itanhém

ComplementosOutras atribuiçõesTradiçõesEstilosComplementosOutras atribuições

Datações absolutas 1-BP 720 to 6502-BP 650 to 5103- BP 1000 to 780

Datações relativasmais de 75% entre 25 e 75% menos de 25%Erosão eólica Erosão fluvialErosão pluvial Atividades agrícolasConstrução de estrada Construção de moradias

Vandalism

Outros fatores naturaisOutros fatores antrópicos Construção de poço petrolíferoPossibilidades de destruição Atividades no subsolo da área do sítio, qualquer atividade que revolva o solo.Medidas para preservação

Relevância do sítio Alta Média Baixa

RegistroColeta de superfície

Sondagem ou Corte estratigráfico

Fatores de destruição

Escavação de grande superfícieLevantamento de grafismos rupestre

Grau de integridade

Nome do responsável pelo registro: Rafael PedottEndereço Rua Antonio Boz MarfilCEP 05396-020 Cidade: São Paulo UF: SP

FILIAÇÃO CULTURAL:Artefatos líticos:

Artefatos cerâmicos:

Arte rupestre:

Atividades desenvolvidas no local:

200006* Em atendimento ao determinado na Lei nº 3.924 de 26 de julho de 1961, que dispõe sobre os monumentos arqueológicos e pré-históricos.

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Bibliografia

Documentação produzida (quantidade

(para quando a data completa não puder ser informada)Fone/Fax: 37120549E-mail [email protected]

Data do registro 20/12/2005 Ano do registro: 2005

Nome do projeto RELATÓRIO FINAL: Salvamento Arqueológico do Sítio Arqueológico RPO-1, São Mateus, ES.Nome da instituição Scientia Consultoria Científica S/C Ltda.Endereço Rua Henrique Botticini, 150

CEP 05587-020 Cidade: São Paulo UF: SPFone/Fax 11 3726-3006E-mail [email protected]

Mapa com sítio plotado: 7Croqui:

Planta baixa do sítio: 1Planta baixa dos locais afetados:

Planta baixa de estruturas:Perfil estratigráfico:

Perfil topográfico:Foto aérea: 1

Foto colorida: 200

Foto preto e branco:Reprografia de imagem:

Imagem de satélite: 1Cópia total de arte rupestre:

Cópia parcial de arte rupestre:Ilustração do material:Caderneta de campo: 6

Vídeo / filme: 1Outra:

SCIENTIA Consultoria Científica Projeto: Salvamento Arqueológico do Sítio Arqueológico RPO-1, São Mateus, ES. São Paulo, maio/2004. Portaria IPHAN nº 182 de 02.08.2004. Processo administrativo nº 01500.000405/2004.

SCIENTIA Consultoria Científica Relatório Parcial: Salvamento Arqueológico do Sítio Arqueológico RPO-1, São Mateus, ES. São Paulo, outubro/2004.

SCIENTIA Consultoria Científica Relatório Final: Salvamento Arqueológico do Sítio Arqueológico RPO-1, São Mateus, ES. São Paulo, dezembro/2005.

TEIXEIRA, João L. da Cunha Levantamento Arqueológico na área do “Programa Sísmico 3D Norte” – ES. Relatório Final, Linhares, Ambiental Norte, 2001.

Observações

Data: 20/12/2005Rafael Pedott

Localização dos dados ScientiaAtualizações

Responsável pelo preenchimento da ficha

Data: _____/_____/_________ Assinatura: ________________________________________

Scientia

Foto

– Panorâmica da área de inserção do Sítio Arqueológico RPO-1, com planície litorânea (primeiro plano e a direita) e planície de tabuleiros, em segundo plano.

300006* Em atendimento ao determinado na Lei nº 3.924 de 26 de julho de 1961, que dispõe sobre os monumentos arqueológicos e pré-históricos.

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Scientia

Foto

Aspecto do reflorestamento de eucalipto em estágio médio de desenvolvimento no Setor 2 do Sítio RPO-1.

Scientia

Foto

Aspecto da vegetação na mancha de mata secundária existente na porção NW do Sítio RPO-1.

400006* Em atendimento ao determinado na Lei nº 3.924 de 26 de julho de 1961, que dispõe sobre os monumentos arqueológicos e pré-históricos.

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Scientia

foto

Quadra H-440, ampliada (4m²), em função de estrutura cerâmica e presença de cachimbo, carvão e material lítico (seixos).

Scientia

foto

Quadra H-440, ampliada, detalhe de cachimbo, seixo e carvão evidenciados.

500006* Em atendimento ao determinado na Lei nº 3.924 de 26 de julho de 1961, que dispõe sobre os monumentos arqueológicos e pré-históricos.

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Scientia

Foto

Quadra R-560, ampliada, em função da presença de estrutura cerâmica (urna).

Scientia

Foto

Quadra R-560, ampliada, em função da presença de estrutura cerâmica (urna).

600006* Em atendimento ao determinado na Lei nº 3.924 de 26 de julho de 1961, que dispõe sobre os monumentos arqueológicos e pré-históricos.

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Salvamento Arqueológico do Sítio Arqueológico RPO-1. São Paulo, Scientia, 2005.

APRESENTAÇÃO REALIZADA NA SEDE DA UN/ES/SÃO MATEUS (PP.1/2)

PESQUISA ARQUEOLÓGICA LIGADA AO LICENCIAMENTO AMBIENTAL

Scientia Consultoria CientScientia Consultoria Cientííficafica20042004

Brasil: bens arqueológicos = bens da UniãoConstituição Federal Art. XX

Protegidos por legislação específica: �Lei 3.924/61: obriga estudo antes de qualquer obra

que possa vir a danificá-los

Protegidos pela legislação ambiental: �Resolução CONAMA 001/86, art.6, c: recomenda

verificar se empreendimentos que impliquem em alteração do uso do solo podem colocar em risco sítios arqueológicos ainda não identificados

Pesquisa arqueológica ligada ao licenciamento ambiental

Brasil é signatário de cartas internacionais:�UNESCO/Recomendação de Paris,1968:

medidas preventivas e corretivas para assegurar a preservação ou salvamento dos bens culturais ameaçados por obras públicas ou privadas

� ICOMOS/ICAHM/Carta de Lausanne,1990: é dever de todos os países assegurar que recursos financeiros estejam disponíveis para a proteção do patrimônio arqueológico (testemunho essencial sobre as atividades humanas do passado/recurso cultural não renovável)

Pesquisa arqueológica ligada ao licenciamento ambiental

Gestão dos recursos arqueológicos

�perspectiva conservacionistaadministrar e conservar os recursos

�atuação preventivaavaliação do potencial arqueológico

visando interferir no planejamento das ações de desenvolvimento

Pesquisa arqueológica ligada ao licenciamento ambiental

Particularidades do empreendimento (linear/territorialmente amplo)

+fase do licenciamento

=definição da área de pesquisa e da

estratégia de investigação a ser utilizada

Pesquisa arqueológica ligada ao licenciamento ambiental

�Licença Prévia

�Diagnóstico do patrimônio

arqueológico

�Avaliação de impactos

�Proposição de Programas

Pesquisa arqueológica ligada ao licenciamento ambiental

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Salvamento Arqueológico do Sítio Arqueológico RPO-1. São Paulo, Scientia, 2005.

APRESENTAÇÃO REALIZADA NA SEDE DA UN/ES/SÃO MATEUS (PP.2/2)

�Licença de Instalação

Execução de Programas: �prospecção intensiva

�elaboração de programa de resgate

arqueológico

Pesquisa arqueológica ligada ao licenciamento ambiental

Programa de resgate arqueológico

�escavações (salvamento arqueológico)�análises de laboratório�elaboração de relatórios�divulgação dos resultados científicos

Pesquisa arqueológica ligada ao licenciamento ambiental

Pesquisa arqueológica ligada ao licenciamento ambiental Pesquisa arqueológica ligada ao licenciamento ambiental

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O-1

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Ane

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e an

ális

e 1-Quadra

2 -Nº caco

3- Nível

4-Categoria

5-Espessura

6-Diâmetro

7-Peso

8- Tempero

9-% Tempero

10- Distribuição tempero

11-Aspecto do tempero

12- Queima

13-% queima

14- Cor da queima

15-Conservação

16-Manufatura

17-Tratamento superficie

18- Cor da superfície

19- Textura

20-Vestigio uso e gestos

21- Morfologia lábio

22- Morfologia Borda

23- Morfologia Base

24-Tipo dec Plastica

25-Tipo dec Pintada

26- Local decoração FI

27- Local decoração FE

A

B

FI

FE

FI

FE

FI

FE

N

otas

:

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Salvamento do Sítio Arqueológico RPO-1. São Paulo, Scientia, 2005.

Anexo 5: Convenção da ficha de análise Rio Preto Oeste-1 / São Mateus-ES

Identificação 1 Quadra 2 Número do Fragmento 3 Nível artificial 1- superfície 5- 30-40 cm 9- 70-80 cm 99- Desconhecido 2- 0-10cm 6- 40-50 cm 10- 80-90 cm 100- Não se aplica 3- 10-20 cm 7- 50-60 cm 11- 90-100 cm

4- 20-30 cm 8- 60-70 cm 12- outros 4 Categoria do fragmento: 1- Lábio 7- Bojo mesial 13- Tortual de fuso 2- Borda 8- Bojo Inferior 14- Suporte de tampa 3- Gargalo 9- Base 15- Bolota de argila 4-Inflexão 10- Asa 16- Base de trempe 19- Outros (definir) 5- Parede 11-Alça 17- Cachimbo 99-desconhecido 6- Bojo Superior 12-Aplique 18-Adorno 100- Não se aplica

Medidas 5 Espessura do fragmento em milímetros 6 Diâmentro do fragmento (BORDA, BASE, INFLEXÃO) 1-Caso seja possível calcular o diâmetro utilize o ábaco 99 - Desconhecido 100 - Não se aplica 7 Peso do fragmento, em gramas

Dados Técnicos 8 Tempero, sendo observada a convenção por ordem crescente de antiplástico A- Quartzo anguloso < 2mm M - Óxido de ferro anguloso < 2mm B- Quartzo anguloso 3-4 mm N - Óxido de ferro anguloso 3 -4mm C- Quartzo rolado < 2mm O - Óxido de ferro rolado < 2 mm D- Quartzo rolado 3-4mm P- Óxido de ferro rolado 3 -4 mm E- Mica anguloso < 2mm Q - Areia angulosa < 2mm F - Mica anguloso 3-4mm R - Areia angulosa 3-4mm G- Mica rolado <2mm S - Areia rolada < 2 mm H- Mica rolado 3-4mm T - Areia rolada 3-4 mm I - Caco moído anguloso < 2 mm U- Argila J-Caco moído anguloso 3-4 mm V- Materia organica K - Caco moído rolado < 2 mm X- Outros L-Caco moído rolado 3-4 mm 9 Porcentagem de tempero Vide Orton, Tyrs & Vince (1993:238)

10 Distribuição do tempero na pasta 1- Homogênea 3- Intenso FI 5-Intenso no núcleo 100- Não se aplica 2-Heterogênea 4- Intenso FE 99-Desconhecido

11 Aspecto do antiplástico (Orton, Tyrs, Vince, 1993:239) 1- Muito angular 4-Subarredondado 99-Desconhecido 2-Angular 5-Arredondado 100- Não se aplica 3- Subangular 6-Muito arredondado

12 Queima. 1- Oxidante (100% oxidada) 3- Oxidante interna e Redutora externa 2- Redutora ( 100% reduzida) 4- Redutora interna e Oxidante externa 5- Redutora central

13 Porcentagem de queima Deve-se calcular a porcentagem por 'Regra de três simples ' Espessura total : 100% :: Espessura reduzida : x %

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Salvamento do Sítio Arqueológico RPO-1. São Paulo, Scientia, 2005.

14 Cor da queima Usar o Code des Colleurs A= Porção oxidada B= Porção reduzida

15 Estado de conservação 99- Desconhecido 2- Erodido FE 4-Craquele FI 6- Craquele AF 1- Erodido FI 3- Erodido AF 5- Craquele FE 7- Ausente

16 Manufatura 1 - Modelado 3 - Moldado 100 - Não se aplica 2 - Roletado 99 - Desconhecido

17 Tratamento dado à superfície do fragmento A= Face Interna B= Face Externa 1- Alisado Fino / 2 - Médio / 3 - Grosso 9- Calda de argila (Barbotina) 4 - Alisado com estrias Fino / 5 - Médio / 6 - Grosso 99- Desconhecido 7 - Polido 100- Não se aplica 8 - Brunidura

18 Cor da superfície Usar o Code des Colleurs A= Face Interna B= Face Externa

19 Textura 1- Subconchoidal 5- Grosso 99-Desconhecido 2-liso 6- Laminar 100-Não se aplica 3-Fino 4- Irregular

20 Vestígio de utilização e marcas de gestos A= Face Interna B= Face Externa 1 - Fuligem 7- Folha 13- Redução 2 - Resina 8- Furo 14- Oxidação 3 - Colher 9-Cestaria 4 - Bolhas d'água 10-Dedos 99 - Desconhecido 5- Fermentação 11-Outros 100 - Não se aplica 6- Depósito Carbônico 12- Crosta

Morfologia 21 Morfologia de LÁBIO segundo Chymz (1976) 1 -Arredondado 3 - Plano-arredondado 99 - Desconhecido 2 -Plano 4- Biselado 100- Não se aplica

22 Morfolgia da BORDA segundo Chymz (1976) 1 - Direta 6 - Cambada 2 - Extrovertida 7-Vazada 99- Desconhecido 3 - Introvertida 100- Não se aplica 4 - Reforçada internamente 5 - Reforçada externamente

23 Morfologia da BASE, segundo Chymz (1976) 1 -Côncava 4-Anelar 99 - Desconhecido 2- Convexa 5-Em pedestal 100 - Não se aplica 3 - Plana 6-Outra

Decoração Decoração Plástica

24 Indicar o tipo de decoração PLÀSTICA 1 - Ungulada 3 - Digitada 6 - Espatulada 99 - Desconhecido 2 - Corrugada 4 - Acanalada 7-Roletado 100 - Não se plica 3 - Ponteada 5 - Incisa 8-Outro

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Salvamento do Sítio Arqueológico RPO-1. São Paulo, Scientia, 2005.

Decoração Pintada 25 1_pintura vermelha 7- pintura branca sobre engobo branco 2- pintura branca 8- pintura preta e vermelha 3-pintura preta 9-pintura vermelha e branca 4-vermelho e preto sobre engobo branco 10- pintura preta e branca 5- pintura vermelho sobre engobo branco 11- pintura amarela 6- pintura preta sobre engobo branco 12-outra (definir)

Local da decoração/FI 26 1- Lábio 4-Inflexão 7- Bojo mesial 10- Asa 2- Borda 5- Parede 8- Bojo Inferior 11- Aplique 3- Gargalo 6- Bojo Superior 9- Base 12- Outros

Local da decoração/FE 27 1- Lábio 7- Bojo mesial 2- Borda 8- Bojo Inferior 3- Gargalo 9- Base 4-Inflexão 10- Asa 5- Parede 11- Aplique 6- Bojo Superior 12- Outros

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Anexo 6: Porcentagem e tamanho dos grãos de elementos não plásticos

Fonte: Orton, Tuers, Vince (1999:238-239)

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Anexo 7: Aspecto do resultado de queima

Fonte: (Rye 1981:104)

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Anexo 8: Perfil da borda

Fonte: Chymz (1976:24)

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Salvamento do Sítio Arqueológico RPO-1. São Paulo, Scientia, 2005.

Anexo 9: Perfil da base

Fonte: Chymz (1976:09)

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Quadra Nível Quat Peso (g) Nº cacos n Peso (gr) Nº lítico Peso (gr)A40 0-10 cm 1 46 0 0 0 0B240 10-20 cm 0 0 2 8 0 0B40 30cm ou + 1 22 0 0 0 0B720 Superfície 2 10 1 4 0 0B720 0-10 cm 1 4 1 18 0 0B720 10-20 cm 2 36 1 8 0 0B720 30cm ou + 1 16 2 4 0 0C440 10-20 cm 1 22 0 0 0 0D200 10-20 cm 2 16 0 0 0 0D280 30cm ou + 4 64 0 0 0 0D400 20-30 cm 0 0 1 2 0 0E120 0-10 cm 1 10 0 0 0 0E400 0-10 cm 1 20 0 0 0 0E920 30cm ou + 0 0 2 4 0 0F440 10-20 cm 1 2 0 0 0 0F440 20-30 cm 1 2 0 0 0 0F440 30cm ou + 1 6 0 0 0 0F920 Superfície 1 10 0 0 0 0G280 20-30 cm 1 82 0 0 0 0G320 0-10 cm 1 0,4 0 0 0 0G360 Superfície 12 474 2 2 0 0G360 0-10 cm 2 38 4 8 0 0G360 10-20 cm 2 24 1 4 0 0G400 Superfície 8 142 0 0 0 0G400 0-10 cm 10 76 8 18 0 0G400 10-20 cm 13 74 10 32 0 0G400 20-30 cm 4 26 5 14 0 0G440 Superfície 5 32 0 0 0 0G440 0-10 cm 7 132 1 2 0 0G440 10-20 cm 10 134 4 6 0 0G440 20-30 cm 3 26 3 4 0 0G880 10-20 cm 7 38 0 0 0 0G920 10-20 cm 6 96 5 8 0 0H200 20-30 cm 4 52 2 6 0 0H320 Superfície 1 18 0 0 0 0H320 0-10 cm 4 26 1 2 0 0H320 20-30 cm 1 8 1 4 0 0H360 Superfície 2 24 0 0 0 0H360 0-10 cm 3 30 0 0 0 0H360 10-20 cm 2 16 0 0 0 0H400 Superfície 4 40 0 0 0 0H400 0-10 cm 4 34 2 2 2 62H400 10-20 cm 5 68 4 6 0 0H400 20-30 cm 2 12 0 0 0 0H400 30cm ou + 3 16 1 2 0 0H440 Superfície 3 48 0 0 0 0H440 0-10 cm 27 378 1 2 0 0H440 10-20 cm 35 304 1 2 1 10H440 20-30 cm 8 82 0 0 0 0H440 30cm ou + 9 226 6 14 2 68H440Q1A 20-30 cm 5 234 7 22 0 0H440Q2A 0-10 cm 3 14 5 10 0 0H440Q2A 10-20 cm 5 56 2 6 1 22H440Q2A 20-30 cm 1 10 0 0 0 0H440Q2A 30cm ou + 1 18 0 0 0 0H440Q2B 0-10 cm 6 26 3 22 0 0H440Q2B 10-20 cm 1 46 11 26 0 0H440Q2C 0-10 cm 1 20 4 36 0 0

Material não analisadoMaterial analisadoLocalizaçãoAnexo 10: Resumo dos vestígios arqueológicos resgatados

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H440Q2C 10-20 cm 1 10 6 34 0 0H440Q2C 20-30 cm 1 12 1 2 0 0H440Q2D 0-10 cm 1 46 10 36 1 8H440Q3A 0-10 cm 4 22 28 28 1 30H440Q3A 10-20 cm 3 122 5 20 0 0H440Q3B 0-10 cm 3 40 8 34 0 0H440Q3B 10-20 cm 2 30 11 40 0 0H440Q3C 0-10 cm 1 26 1 16 0 0H440Q3C 10-20 cm 4 112 12 92 1 12H440Q3C 30cm ou + 3 20 3 8 0 0H440 q3d 0-10 cm 0 0 9 31 0 0H440 q3d 20-30 cm 0 0 1 4 0 0H440Q3D 30cm ou + 5 28 0 0 0 0H440Q4A 0-10 cm 2 36 2 2 0 0H440Q4B 0-10 cm 6 34 9 24 0 0H440Q4B 10-20 cm 2 24 2 18 0 0H440Q4B 20-30 cm 1 4 1 4 1 2H440Q4C 0-10 cm 2 28 11 32 0 0H440Q4C 10-20 cm 3 28 0 0 0 0H440Q4D 0-10 cm 3 20 2 6 0 0H440Q4D 10-20 cm 2 6 0 0 0 0H440A 0-10 cm 0 0 1 2 0 0H440L 10-20 cm 0 0 4 8 0 0H440L 0-10 cm 0 0 1 4 0 0H440N 10-20 cm 0 0 3 10 0 0H440N 20-30 cm 0 0 1 4 2 52H440N 0-10 cm 0 0 6 12 0 0H440NE 10-20 cm 0 0 3 8 0 0H840 30cm ou + 1 10 0 0 0 0H880 10-20 cm 5 20 0 0 0 0I280 0-10 cm 2 12 0 0 0 0I280 10-20 cm 1 8 2 2 0 0I280 30cm ou + 1 22 0 0 3 2I320 0-10 cm 2 30 3 14 0 0I320 10-20 cm 4 28 1 2 0 0I360 0-10 cm 2 20 0 0 0 0I360 10-20 cm 0 0 2 2 0 0I440 Superfície 3 18 0 0 2 60I440 0-10 cm 4 30 4 10 0 0I440 10-20 cm 5 48 1 1 0 0I440 20-30 cm 4 400 8 0 0I440 30cm ou + 6 40 12 50 0 0I480 Superfície 5 52 0 0 0 0I480 0-10 cm 2 28 4 10 1 16I480 10-20 cm 0 0 2 2 0 0I480 20-30 cm 3 32 0 0 0 0I520 10-20 cm 2 18 0 0 0 0I520 20-30 cm 2 20 0 0 0 0I560 0-10 cm 1 8 0 0 0 0I920 10-20 cm 1 2 1 2 0 0J80 20-30 cm 0 0 2 4 0 0J120 10-20 cm 2 12 1 2 0 0J200 10-20 cm 4 54 1 8 0 0J320 0-10 cm 0 0 4 16 0 0J320 20-30 cm 2 12 6 10 0 0J360 10-20 cm 1 18 5 14 0 0J360 20-30 cm 0 0 1 2 0 0J440 20-30 cm 5 40 0 0 0 0J480 Superfície 2 16 0 0 0 0J480 0-10 cm 3 82 0 0 0 0J480 10-20 cm 6 66 3 26 3 74

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J520 0-10 cm 1 12 0 0 0 0J520 30cm ou + 0 0 1 12 0 0J560 10-20 cm 0 0 4 6 0 0J560 30cm ou + 1 6 0 0 0 0J920 0-10 cm 0 0 1 6 0 0J920 20-30 cm 4 38 0 0 0 0K200 0-10 cm 0 0 3 10 0 0K240 0-10 cm 5 34 0 0 0 0K280 Superfície 1 40 0 0 0 0K280 0-10 cm 2 24 0 0 1 2K280 10-20 cm 1 6 1 2 0 0K280 20-30 cm 3 60 1 4 2 12K320 10-20 cm 3 28 0 0 0 0K360 Superfície 0 0 1 4 0 0K360 0-10 cm 2 10 0 0 0 0K360 10-20 cm 4 58 3 6 0 0K360 20-30 cm 4 50 3 6 0 0K400 Superfície 2 40 2 8 0 0K400 0-10 cm 4 102 0 0 0 0K400 10-20 cm 21 242 22 42 0 0K400 20-30 cm 3 38 3 6 0 0K440 Superfície 6 110 6 46 0 0K440 0-10 cm 6 92 4 10 0 0K480 Superfície 19 468 0 0 0 0K480 0-10 cm 15 188 17 64 1 30K480 10-20 cm 16 334 5 8 2 26K480 20-30 cm 12 149 36 100 1 26K480 30cm ou + 13 106 7 18 1 6K520 0-10 cm 1 12 0 0 0 0K520 20-30 cm 1 6 0 0 0 0K560 20-30 cm 2 42 1 4 0 0K600 20-30 cm 1 16 0 0 0 0K720 0-10 cm 0 0 1 2 0 0K720 10-20 cm 1 36 8 14 0 0L80 10-20 cm 1 10 0 0 0 0L80 20-30 cm 0 0 3 8 0 0L120 10-20 cm 1 6 0 0 0 0L200 Superfície 0 0 4 20 0 0L200 0-10 cm 1 12 0 0 0 0L200 30cm ou + 0 0 2 2 0 0L240 Superfície 1 34 0 0 0 0L240 0-10 cm 7 190 20 72 0 0L240 10-20 cm 3 60 4 10 0 0L280 Superfície 0 0 4 38 0 0L280 0-10 cm 3 36 0 0 0 0L280 10-20 cm 27 446 91 510 0 0L280 30cm ou + 1 14 0 0 0 0L320 Superfície 19 406 0 0 0 0L320 0-10 cm 77 1214 220 536 3 18L320 10-20 cm 53 754 5 18 0 0L320 20-30 cm 32 334 35 166 0 0L320 30cm ou + 2 26 0 0 0 0L360 0-10 cm 2 32 0 0 0 0L360 10-20 cm 5 36 19 52 0 0L360 20-30 cm 6 114 9 32 0 0L400 Superfície 0 0 12 44 1 2L400 10-20 cm 5 102 0 0 0 0L440 Superfície 7 78 0 0 0 0L440 0-10 cm 3 64 6 28 0 0L440 10-20 cm 7 90 8 36 1 6L440 30cm ou + 1 20 1 2 0 0

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L480 Superfície 1 8 0 0 0 0L480 0-10 cm 7 114 5 20 1 6L480 10-20 cm 6 76 2 8 0 0L480 20-30 cm 1 6 2 8 1 12L520 0-10 cm 1 4 3 8 0 0L520 10-20 cm 1 18 2 16 0 0L560 0-10 cm 2 52 0 0 0 0L560 10-20 cm 1 14 2 4 0 0L560 20-30 cm 1 12 0 0 0 0L680 10-20 cm 1 28 0 0 0 0L720 10-20 cm 1 42 0 0 0 0M160 Superfície 0 0 3 12 0 0M160 20-30 cm 8 66 0 0 0 0M200 Superfície 2 20 4 32 0 0M200 0-10 cm 3 40 3 10 0 0M200 10-20 cm 8 98 2 4 0 0M240 Superfície 4 86 20 110 0 0M240 0-10 cm 5 64 12 44 0 0M240 10-20 cm 7 114 13 42 1 10M240 20-30 cm 5 36 2 4 0 0M280 Superfície 66 809 6 22 0 0M280 0-10 cm 18 234 55 154 0 0M280 10-20 cm 17 174 24 78 0 0M280 20-30 cm 2 4 1 4 0 0M320 Superfície 16 142 9 88 0 0M320 0-10 cm 71 572 126 182 0 0M320 10-20 cm 5 42 13 16 0 0M320 20-30 cm 22 206 33 52 0 0M360 Superfície 49 814 2 26 0 0M360 0-10 cm 17 238 22 64 0 0M360 10-20 cm 13 110 13 58 0 0M360 20-30 cm 21 308 57 396 0 0M400 Superfície 16 316 0 0 0 0M400 0-10 cm 41 498 20 76 0 0M400 10-20 cm 18 202 6 24 0 0M400 20-30 cm 3 74 0 0 0 0M400 30cm ou + 1 16 0 0 0 0M440 20-30 cm 0 0 1 2 0 0M440 30cm ou + 15 102 16 33 0 0M480 Superfície 2 28 0 0 0 0M480 0-10 cm 2 26 5 36 0 0M480 10-20 cm 2 30 11 62 0 0M480 20-30 cm 1 6 5 14 0 0M480 30cm ou + 0 0 2 4 0 0M520 20-30 cm 1 16 12 64 0 0M560 0-10 cm 0 0 1 2 0 0M560 20-30 cm 4 84 0 0 0 0M560 30cm ou + 3 18 37 62 2 2M640 0-10 cm 2 36 0 0 0 0M640 10-20 cm 0 0 2 6 0 0M680 0-10 cm 0 0 5 44 0 0M680 10-20 cm 2 14 0 0 0 0N40 20-30 cm 0 0 1 6 0 0N160 Superfície 0 0 4 30 0 0N160 0-10 cm 4 12 0 0 0 0N240 Superfície 0 0 6 38 0 0N240 0-10 cm 162 1826 137 304 0 0N240 10-20 cm 45 454 87 178 2 2N240 20-30 cm 19 196 19 74 0 0N280 Superfície 9 78 4 36 0 0N280 0-10 cm 26 302 40 108 0 0

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N280 10-20 cm 17 154 0 0 0 0N320 Superfície 8 84 0 0 0 0N320 0-10 cm 26 220 27 124 0 0N320 10-20 cm 17 200 34 74 2 42N320 20-30 cm 45 768 34 62 0 0N320 30cm ou + 52 330 57 80 1 2N400 Superfície 4 60 0 0 0 0N400 0-10 cm 33 360 13 76 0 0N400 10-20 cm 78 1048 6 18 3 528N400 20-30 cm 56 796 11 34 1 82N400 30cm ou + 8 84 6 10 0 0N440 Superfície 6 68 1 2 0 0N440 0-10 cm 9 64 8 22 0 0N440 10-20 cm 14 156 4 10 0 0N440 20-30 cm 2 16 3 6 0 0N440 30cm ou + 1 4 0 0 0 0N480 Superfície 3 136 0 0 0 0N480 0-10 cm 7 114 0 0 0 0N480 10-20 cm 2 30 2 12 0 0N520 10-20 cm 9 120 0 0 0 0N520 20-30 cm 6 92 1 2 0 0N520 30cm ou + 4 20 1 4 0 0N600 30cm ou + 1 8 0 0 0 0N640 0-10 cm 4 30 0 0 0 0N640 10-20 cm 1 4 0 0 0 0N720 Superfície 1 16 0 0 0 0N720 0-10 cm 1 4 0 0 0 0N720 10-20 cm 1 10 7 66 0 0O160 0-10 cm 0 0 7 54 0 0O160 10-20 cm 12 256 0 0 0 0O160 20-30 cm 6 54 2 6 0 0O200 0-10 cm 40 688 2 16 0 0O200 10-20 cm 17 202 2 6 0 0O200 20-30 cm 4 20 4 14 0 0O240 Superfície 0 0 22 308 0 0O240 0-10 cm 30 376 12 32 0 0O240 10-20 cm 40 630 2 10 0 0O280 Superfície 56 880 0 0 0 0O280 0-10 cm 689 8500 464 1526 0 0O280 10-20 cm 385 4487 390 1396 0 0O280 20-30 cm 281 3764 126 516 0 0O280 30cm ou + 121 1817 3 4 0 0O280 * 0 0 0 1 316O280/Qte B0-10 cm 0 0 202 792 4 36O280/Qte DSuperfície 0 0 14 94 0 0O280/Qte D10-20 cm 0 0 66 284 0 0O280/Qte D20-30 cm 0 0 67 238 1 4O280/Qte D30cm ou + 0 0 5 8 0 0O320 Superfície 21 366 0 0 0 0O320 0-10 cm 14 150 15 80 0 0O320 10-20 cm 0 0 10 18 0 0O360 Superfície 0 0 2 8 1 24O360 10-20 cm 6 48 0 0 0 0O400 Superfície 6 104 1 4 0 0O400 0-10 cm 0 0 5 36 0 0O400 10-20 cm 0 0 1 8 0 0O400 30cm ou + 12 208 7 34 0 0O400 outros 21 350 0 0 0 0O440 Superfície 7 100 6 24 0 0O440 0-10 cm 7 60 5 8 0 0O440 10-20 cm 4 50 3 18 1 2

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O440 20-30 cm 3 36 0 0 0 0O480 Superfície 9 186 21 90 0 0O480 0-10 cm 4 72 4 18 0 0O480 10-20 cm 5 40 6 50 0 0O560 Superfície 5 90 0 0 0 0O560 0-10 cm 3 18 14 52 0 0O560 10-20 cm 1 10 0 0 0 0O560 20-30 cm 8 136 25 118 0 0O560 30cm ou + 0 0 2 8 0 0O600 0-10 cm 3 38 0 0 0 0O600 10-20 cm 0 0 5 16 0 0O600 20-30 cm 0 0 1 8 0 0O640 0-10 cm 0 0 1 8 0 0O680 10-20 cm 0 0 1 6 0 0O680 20-30 cm 0 0 1 6 0 0P120 10-20 cm 0 0 1 8 0 0P120 20-30 cm 1 2 0 0 0 0P160 0-10 cm 0 0 41 76 0 0P160 10-20 cm 3 56 0 0 0 0P200 0-10 cm 2 16 0 0 0 0P200 10-20 cm 20 260 76 326 9 78P200 20-30 cm 5 24 14 56 2 26P200 30cm ou + 2 12 1 4 0 0P240 0-10 cm 2 44 3 10 0 0P240 10-20 cm 33 740 38 170 1 4P240 20-30 cm 6 96 2 12 2 24P240 30cm ou + 1 8 1 2 0 0P280 0-10 cm 2 22 8 20 0 0P280 10-20 cm 29 572 22 164 0 0P280 20-30 cm 6 142 3 12 0 0P280 30cm ou + 1 12 9 36 0 0P320 Superfície 0 0 3 14 0 0P320 10-20 cm 1 18 5 36 0 0P360 Superfície 5 72 13 80 0 0P360 0-10 cm 8 46 3 14 2 32P360 10-20 cm 8 72 38 92 5 10P360 20-30 cm 4 26 22 66 3 14P360 30cm ou + 1 2 2 2 0 0P400 Superfície 8 208 9 42 0 0P400 0-10 cm 9 114 5 44 0 0P400 10-20 cm 7 108 9 52 0 0P400 30cm ou + 1 28 1 4 0 0P440 Superfície 18 292P440 0-10 cm 25 200 22 144 0 0P440 10-20 cm 53 744 72 208 0 0P440 20-30 cm 14 108 42 82 0 0P440 30cm ou + 2 14 1 2 0 0Q160 0-10 cm 0 0 1 8 0 0Q160 10-20 cm 2 24 0 0 0 0Q160 20-30 cm 3 50 3 16 0 0Q200 Superfície 0 0 3 12 1 76Q200 0-10 cm 1 6 0 0 0 0Q200 10-20 cm 0 0 1 4 0 0Q240 Superfície 6 74 0 0 0 0Q240 0-10 cm 45 574 49 168 3 56Q240 10-20 cm 44 596 64 160 4 718Q240 30cm ou + 2 24 2 4 0 0Q280 Superfície 3 108 19 104 0 0Q280 0-10 cm 20 364 18 116 0 0Q280 10-20 cm 14 368 19 122 1 12Q280 20-30 cm 3 24 6 26 0 0

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Q320 Superfície 18 206 0 0 0 0Q320 0-10 cm 33 552 144 774 1 28Q320 10-20 cm 12 150 36 104 0 0Q320 20-30 cm 0 0 1 2 0 0Q320L Superfície 0 0 6 42 0 0Q320L 0-10 cm 17 244 0 0 0 0Q320L 10-20 cm 24 270 57 246 0 0Q320L 20-30 cm 7 242 4 26 0 0Q360 Superfície 16 392 108 690 0 0Q360 0-10 cm 5 52 9 42 0 0Q360 30cm ou + 3 14 5 8 0 0Q400 Superfície 124 2600 5 94 0 0Q400 0-10 cm 86 1222 162 518 2 90Q400 10-20 cm 14 152 25 40 2 4Q400 20-30 cm 5 42 6 38 0 0Q400 30cm ou + 1 4 4 4 1 2Q400A Superfície 12 210 0 0 2 1762Q440 Superfície 69 922 143 626 0 0Q440 0-10 cm 0 0 93 326 0 0Q440 20-30 cm 30 370 72 156 3 4Q440 30cm ou + 3 34 7 24 0 0Q440A Superfície 175 2273 43 124 0 0Q440QA 0-10 cm 113 1124 16 84 0 0Q440QA 10-20 cm 25 258 24 80 1 1580Q440QA 20-30 cm 4 34 12 36 0 0Q440QA 30cm ou + 3 28 0 0 0 0Q440/Qte BSuperfície 0 0 14 80 1 2Q440QB 0-10 cm 16 236 0 0 0 0Q440QB 10-20 cm 66 682 57 192 1 154Q440QB 20-30 cm 3 8 ? 142 1 2Q440QC Superfície 21 282 71 392 0 0Q440QC 0-10 cm 38 618 137 366 0 0Q440QC 10-20 cm 28 328 111 278 0 0Q440QC 20-30 cm 16 392 13 48 0 0Q440QC 30cm ou + 2 42 3 12 0 0Q440/? Superfície 0 0 5 50 0 0Q480 Superfície 1 16 0 0 0 0Q480 0-10 cm 4 70 8 46 0 0Q480 10-20 cm 8 140 7 42 1 62Q480 20-30 cm 0 0 6 16 0 0Q480 30cm ou + 0 0 11 70 0 0Q520 10-20 cm 0 0 2 20 0 0Q520 0-10 cm 0 0 2 8 0 0Q600 Superfície 0 0 24 124 0 0R120 20-30 cm 1 8 0 0 0 0R120 30cm ou + 1 22 10 28 1 2R160 0-10 cm 0 0 18 106 0 0R200 Superfície 0 0 2 2 0 0R200 0-10 cm 24 448 0 0 0 0R200 10-20 cm 24 328 18 60 0 0R240 Superfície 2 32 0 0 0 0R240 0-10 cm 18 318 16 70 0 0R240 10-20 cm 14 250 36 130 2 36R240 20-30 cm 15 156 18 44 0 0R240 30cm ou + 2 26 6 18 0 0R280 0-10 cm 3 36 42 176 0 0R280 10-20 cm 5 48 7 20 0 0R280 20-30 cm 2 58 0 0 0 0R280 30cm ou + 3 32 5 12 0 0R320 Superfície 0 0 8 62 0 0R320 0-10 cm 39 850 0 0 0 0

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R320 10-20 cm 31 810 80 270 1 18R360 Superfície 11 234 22 214 0 0R360 0-10 cm 15 154 27 78 0 0R360 10-20 cm 1 6 34 54 0 0R360 20-30 cm 1 8 2 6 0 0R360 30cm ou + 2 6 3 6 0 0R400 Superfície 22 572 3 14 0 0R400 0-10 cm 24 250 24 118 2 18R400 10-20 cm 5 22 3 10 0 0R400 30cm ou + 1 2 0 0 0 0R440 Superfície 16 348 20 162 0 0R440 0-10 cm 33 788 10 52 0 0R440 10-20 cm 15 250 12 118 0 0R440 20-30 cm 5 134 10 42 0 0R480 Superfície 7 80 0 0 0 0R480 0-10 cm 20 218 23 90 4 44R480 10-20 cm 14 364 18 78 0 0R480 30cm ou + 1 10 0 0 0 0R520 0-10 cm 1 4 3 4 0 0R520 10-20 cm 3 50 2 14 0 0R520 20-30 cm 2 34 0 0 0 0R560 0-10 cm 2 16 3 16 0 0R560 10-20 cm 1 8 9 6 0 0R560 30cm ou + 3 72 7 36 0 0R560/Q2 10-20 cm 0 0 0 0 2 54R560/Q3 10-20 cm 0 0 3 14 0 0R560/Q3 20-30 cm 0 0 2 10 0 0R560/Q3 30cm ou + 0 0 2 10 0 0R560/Q3 0-10 cm 0 0 1 16 0 0R560/4 0-10 cm 0 0 1 2 0 0R560/Q4 20-30 cm 5 40 1 2 0 0R560/Q4 30cm ou + 2 76 3 16 0 0R600 0-10 cm 1 2 1 4 0 0R600 10-20 cm 1 10 0 0 0 0R640 0-10 cm 1 4 0 0 0 0R800 0-10 cm 0 0 2 4 0 0R800 10-20 cm 1 46 0 0 0 0S200 0-10 cm 2 18 6 30 1 46S240 0-10 cm 4 42 0 0 0 0S240 10-20 cm 20 224 47 122 1 2S240 30cm ou + 37 274 66 226 1 2S320 Superfície 6 190 0 0 0 0S320 0-10 cm 12 142 18 74 0 0S320 10-20 cm 2 18 13 18 0 0S320 20-30 cm 1 8 2 10 0 0S320 30cm ou + 3 24 0 0 0 0S360 Superfície 42 1000 6 34 0 0S360 0-10 cm 67 664 92 328 5 30S360 10-20 cm 11 96 31 66 0 0S360 20-30 cm 3 20 5 12 0 0S360 30cm ou + 1 4 1 2 0 0S400 Superfície 16 184 2 12 3 0S400 0-10 cm 11 126 42 212 2 6S400 10-20 cm 7 64 10 24 1 22S400 20-30 cm 10 168 30 88 2 36S400 30cm ou + 1 4 2 2 0 0S440 Superfície 13 190 0 0 0 0S440 0-10 cm 5 110 12 30 1 2S440 10-20 cm 13 222 6 56 1 8S440 20-30 cm 1 2 3 12 0 0S440 30cm ou + 2 8 0 0 1 6

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S480 Superfície 6 78 0 0 0 0S480 0-10 cm 1 4 5 16 0 0S480 10-20 cm 9 36 12 40 1 2S480 20-30 cm 0 0 6 34 0 0S560 20-30 cm 0 0 1 16 0 0S600 10-20 cm 0 0 1 6 0 0T160 0-10 cm 0 0 1 24 0 0T200 0-10 cm 0 0 4 10 0 0T280 0-10 cm 6 78 7 32 1 50T320 Superfície 0 0 1 4 0 0T320 0-10 cm 9 106 0 0 0 0T320 10-20 cm 7 62 7 22 5 62T320 20-30 cm 1 6 1 8 0 0T360 Superfície 8 100 7 40 0 0T360 0-10 cm 2 46 0 0 0 0T360 10-20 cm 8 112 6 10 0 0T360 20-30 cm 1 6 1 2 0 0T400 Superfície 8 112 5 48 0 0T400 0-10 cm 9 64 15 42 0 0T400 10-20 cm 2 12 2 16 0 0T400 20-30 cm 1 2 5 6 0 0T440 Superfície 17 326 2 8 0 0T440 0-10 cm 9 94 10 30 1 4T440 10-20 cm 3 32 2 6 0 0T440 20-30 cm 4 58 13 10 0 0T480 Superfície 4 60 0 0 0 0T480 0-10 cm 4 20 4 12 0 0T560 0-10 cm 1 22 1 22 0 0T560 20-30 cm 1 10 1 2 0 0T560 30cm ou + 3 76 6 12 0 0T640 10-20 cm 0 0 3 24 0 0T640 20-30 cm 1 12 0 0 0 0U320 Superfície 0 0 1 12 0 0U360 0-10 cm 0 0 8 88 0 0U360 30cm ou + 0 0 0 0 4 4U360 Superfície 0 0 2 24 0 0U400 Superfície 2 58 0 0 0 0U400 0-10 cm 0 0 9 36 0 0U400 10-20 cm 1 22 1 6 0 0U400 20-30 cm 0 0 1 12 0 0U440 Superfície 1 18 8 1 0 0U480 Superfície 1 28 0 0 0 0U480 0-10 cm 1 8 1 6 0 0U480 10-20 cm 0 0 1 16 0 0U560 30cm ou + 0 0 0 0 1 2U640 0-10 cm 1 20 1 16 0 0

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01 - 4041 - 8081 - 120121 - 160161 - 200201 - 240241 - 280281 - 320321 - 360361 - 400401 - 440441 - 480481 - 520521 - 560561 - 600601 - 640641 ao fim

AB

CD

EF

GH

IJ

KL

MN

OP

QR

ST

UV

40 80 120 160 200 240 280 320 360 400 440 480 520 560 600 640 680 720 760 800 840 880 920 960 1000

Anexo11-A: Gráfico de freqüência por quantidade de material coletado

quantidade de material por quadra

4080

120160

200240

280320

360400

440480

520560

600640

680720

760800

840880

920960 1000

AB

CD

EF

GH

IJ

KL

MN

OP

QR

ST

UV

0

400

600

200

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AB

CD

EF

GH

IJ

KL

MN

OP

QR

ST

UV

40 80 120 160 200 240 280 320 360 400 440 480 520 560 600 640 680 720 760 800 840 880 920 960 1000

Anexo11-B: Gráfico de freqüência por peso do material coletado

Peso de material por quadra (gramas)

4080

120160

200240

280320

360400

440480

520560

600640

680720

760800

840880

920960 1000

AB

CD

EF

GH

IJ

KL

MN

OP

QR

ST

UV

4000

2000

0

1 - 400

401 - 800

801- 1200

1201- 1600

1601- 2000

2001- 2400

2401- 2800

2801- 3200

3201- 3600

3601- 4000

4001- 4400

4401- 4800

4801- 5200

5201- 5600

5601 ao fim

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0

1 - 5

6 - 10

11 - 15

16 - 20

21 - 25

26 - 30

31 - 35

36 - 40

41 - 45

46 - 50

51 - 55

56 - 60

61 - 65

66 - 70

71 ao fim

Peso/Ocorrência(grama/quantidade)

Anexo11-C: Gráfico de freqüência por peso médio do material coletado

4080

120160

200240

280320

360400

440480

520560

600640

680720

760800

840880

920960 1000

AB

CD

EF

GH

IJ

KL

MN

OP

QR

ST

UV

0

60

40

20

AB

CD

EF

GH

IJ

KL

MN

OP

QR

ST

UV

40 80 120 160 200 240 280 320 360 400 440 480 520 560 600 640 680 720 760 800 840 880 920 960 1000

Peso/Ocorrência(grama/quantidade)

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AB

CD

EF

GH

IJ

KL

MN

OP

QR

ST

UV

40 80 120 160 200 240 280 320 360 400 440 480 520 560 600 640 680 720 760 800 840 880 920 960 1000

Anexo12-A: Gráfico de freqüência por quantidade de material analisado

01 - 2021 - 4041 - 6061 - 8081 - 100101 - 120121 - 140141 - 160161 - 180181 - 200201 - 220221 - 240241 - 260261 - 280281 - 300301 - 320321 - 340341 - 360361 - 380381 ao fim

Quantidade de material por quadra

4080

120160

200240

280320

360400

440480

520560

600640

680720

760800

840880

920960 1000

AB

CD

EF

GH

IJ

KL

MN

OP

QR

ST

UV

0

200

300

100

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AB

CD

EF

GH

IJ

KL

MN

OP

QR

ST

UV

40 80 120 160 200 240 280 320 360 400 440 480 520 560 600 640 680 720 760 800 840 880 920 960 1000

Anexo12-B: Gráfico de freqüência por peso do material analisado

Peso de material por quadra (gramas)

01 - 200201 - 400401 - 600601 - 800801 - 10001001 - 12001201 - 14001401 - 16001601 - 18001801 - 20002001 - 22002201 - 24002401 - 26002601 - 28002801 - 30003001 - 32003201 - 34003401 - 36003601 - 38003801 - 40004001 - 42004201 - 44004401 ao fim

4080

120160

200240

280320

360400

440480

520560

600640

680720

760800

840880

920960 1000

AB

CD

EF

GH

IJ

KL

MN

OP

QR

ST

UV

0

4000

2000

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Anexo12-C: Gráfico de freqüência por peso médio do material analisado

4080

120160

200240

280320

360400

440480

520560

600640

680720

760800

840880

920960 1000

AB

CD

EF

GH

IJ

KL

MN

OP

QR

ST

UV

0

60

40

20

AB

CD

EF

GH

IJ

KL

MN

OP

QR

ST

UV

40 80 120 160 200 240 280 320 360 400 440 480 520 560 600 640 680 720 760 800 840 880 920 960 1000

0

1 - 5

6 - 10

11 - 15

16 - 20

21 - 25

26 - 30

31 - 35

36 - 40

41 - 45

46 - 50

51 - 55

56 - 60

61 - 65

66 - 70

71 ao fim

Peso/Ocorrência(grama/quantidade)

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Salvamento do Sítio Arqueológico RPO-1. São Paulo, Scientia, 2005.

Tradição Aratu-Sapucaí ou Tupiguarani?

uma difícil escolha de classificação para o material cerâmico do Sítio Rio Preto Oeste-1/São Mateus-ES1

Resumo

Vanessa Carvalho2 Lílian Panachuk3

Este sítio, localizado na Bacia do Rio Doce, foi escavado em 2004, e tem cerca de 14 mil m².

A importância deste sítio está em seu material cerâmico apresentar características consideradas marcos da tradição Aratu-Sapucaí e da tradição Tupiguarani. Para entendermos esse complexo emaranhado de traços estandartes, estamos analisando o material em sua totalidade para que tenhamos uma amostragem mais confiável. Envolvemos análise quantitativa e qualitativa a fim de tentarmos resolver esta questão.

Além disto estamos tentando a remontagem dos cacos cerâmicos bem como a reconstituição gráfica dos potes através das bordas.

1 Trabalho financiado por contrato entre a Petrobrás/Unidade ES e a Scientia Consultoria Científica

2 Estagiária da Scientia Consultoria Científica, aluna de graduação em História da PUC/SP e do MAE/USP.

[email protected]

3 Colaboradora do Museu de História Natural/UFMG, e da Scientia Consultoria Científica, aluna de mestrado em

Arqueologia Brasileira do MAE/USP. [email protected]

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Salvamento do Sítio Arqueológico RPO-1. São Paulo, Scientia, 2005.

Variablidade dentro do padrão:

análise gestual de fragmentos com decoração plástica (Sítio Rio Preto Oeste-1/ São Mateus-ES4)

Resumo

Lílian Panachuk5 Vanessa Carvalho6

As marcas de gestos impressos na manufatura de vasilhames cerâmicos têm-se tornado um aliado na compreensão da coordenação motora e individual destas artesãs.

Desde Mauss (1974) a antropologia notou a importância cultural na regulação dos movimentos ensinados coletivamente e registrados no indivíduo. Aytai (1991) inaugurou este tipo de análise em fragmentos cerâmico arqueológicos e, mais recentemente vemos o retorno desta abordagem (Jácome, Carvalho & Panachuk, 2005: no prelo). Neste trabalho pretendemos mostrar, através de um mesmo tipo decorativo, os gestos coletivos e aqueles individuais, o padrão cultural e as idiossincrasias individuais: os gestos sub-operacionais (Lemonier, 1992), que flagram o aspecto individual na cultura material.

4 Trabalho financiado por contrato entre a Petrobrás/Unidade ES e a Scientia Consultoria Científica

5 Colaboradora do Museu de História Natural/UFMG, e da Scientia Consultoria Científica, aluna de mestrado em

Arqueologia Brasileira do MAE/USP. [email protected]

6 Estagiária da Scientia Consultoria Científica, aluna de graduação em História da PUC/SP e do MAE/USP.

[email protected]