20042007268

Upload: lucas-zarpelon

Post on 14-Jan-2016

16 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

estudo

TRANSCRIPT

  • CONDIES DE TRABALHO E SADE DOS

    PROFISSIONAIS DA REDE BSICA DE SADE DE

    BOTUCATU - SP

    Autora: Ludmila Candida de Braga

    Orientadora: Prof.Dra. Maria Ceclia Pereira Binder

    Curso de Ps-graduao em Sade Coletiva

    Faculdade de Medicina de Botucatu UNESP

    Botucatu, 2007

  • Ludmila Candida de Braga

    CONDIES DE TRABALHO E SADE DOS

    PROFISSIONAIS DA REDE BSICA DE SADE DE

    BOTUCATU - SP

    Dissertao apresentada Faculdade de Medicina de Botucatu

    Universidade Estadual Paulista Jlio de

    Mesquita Filho para obteno do ttulo de

    Mestre em Sade Coletiva

    Orientadora: Prof. Dra. Maria Ceclia Pereira Binder

    Botucatu

    2007

  • FICHA CATALOGRFICA ELABORADA PELA SEO TCNICA DE AQUISIO E TRATAMENTO DA INFORMAO

    DIVISO TCNICA DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAO - CAMPUS DE BOTUCATU - UNESP BIBLIOTECRIA RESPONSVEL: Selma Maria de Jesus

    Braga, Ludmila Candida de. Condies de trabalho e sade dos profissionais da rede bsica de sade de Botucatu - SP / Ludmila Candida de Braga. Botucatu : [s.n.], 2007 Dissertao (mestrado) Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Medicina de Botucatu, 2007. Orientadora: Maria Ceclia Pereira Binder Assunto CAPES: 40600009

    1. Sade e trabalho 2. Sade do trabalhador 3. Sade ocupacional

    CDD 616.9803

    Palavras-chave: Ateno primria sade; Modelo demanda-controle; Satisfao no emprego; Sade do trabalhador; Transtornos mentais

  • A meus pais, Alberto e Alexandrina, pelo amor incondicional, pela infinita generosidade, por me mostrarem o caminho do bem e por me transportarem sempre pelas nuvens do entusiasmo e da

    paixo pela vida.

    A meus irmos, Ingrid e Grson, companheiros de viagem, por nunca me deixarem conhecer a solido e por nossa unio

    indestrutvel que permite que nossos coraes se comuniquem a universos de distncia.

    Ao meu amado, Rogrio, pela oportunidade de descobrir e viver o amor verdadeiro diariamente, por iluminar o meu corao...

    e pelos sonhos que ainda vamos realizar.

  • AGRADECIMENTOS

    minha querida professora Maria Ceclia Pereira Binder, por ter me acolhido to prontamente, pela firmeza de carter, pela grande generosidade, pela sabedoria e pacincia em me conduzir no processo de amadurecimento e resgate da minha fora interior e por no ter, em nenhum momento, desistido de mim, meu carinho, admirao e eterna gratido.

    Ao professor Pierpaolo Boccalon que, gentilmente, cedeu o questionrio aplicado no Hospital Universitrio da Universit degli Studi di Firenze, utilizado em parte neste estudo.

    Ao professor Ildeberto Muniz de Almeida pelo exemplo inspirador como batalhador da rea de Sade do Trabalhador.

    doce Ana Maria Marchi, pela inestimvel contribuio na coleta de dados e pelas palavras amigas.

    professora Ana Teresa de Abreu Ramos Cerqueira pela disponibilidade, apoio e incentivo manifestados desde o incio da elaborao desta dissertao.

    professora Ldia Raquel de Carvalho pela valiosa orientao no tratamento estatstico dos dados.

    Ao professor Antnio Pithon Cyrino e professora Elen Rose Lodeiro Castanheira, diretores do Centro de Sade Escola, que tanto apoiaram a execuo deste trabalho.

    Aos companheiros do CSE, especialmente da rea administrativa, da sade do adulto e do programa de hansenase, que com sua competncia e amizade, permitiram que me dedicasse mais livremente concluso deste trabalho.

    minha irm Ingrid Candida de Braga pela inestimvel colaborao no manejo do EXCEL.

    Ao Marcos Rogrio Ballestero, pela ajuda com o EPI-INFO e pelo incentivo nos momentos de desespero.

    Mnica Aparecida Silveira Kron pela ajuda com o EPI-INFO.

    s bibliotecrias Luciana Pizzani e Selma Maria de Jesus pela reviso bibliogrfica e pela ficha catalogrfica.

  • Ao Rogrio Ramos Ais, que com seu amor, cuidado, pacincia, incentivo trouxe paz ao meu corao e alegria aos meus dias, me permitindo chegar ao fim deste trabalho... e pela reviso final.

    s minhas amigas-irms, Beatriz Franco Curcio, Fernanda Bono Fukushima, Maria Eunice Carreiro Lima e Tarcila de Almeida Santos Machado, por iluminarem meus dias e aquecerem meu corao. Vocs so minha fora vital!

    Aos meus tios, por transformarem nossa famlia em uma deliciosa brincadeira, pela confiana e apoio durante toda a minha vida, em especial: tia Miriam e tio Fiza, tio Flvio e tia Valria, tia Arany e tio Nascimento, tia Cilinha e tio Antnio e tia Mirinha e tio Mrio.

    Aos meus primos, com muitas saudades, especialmente Cristina, Gilberto, Carlos Alberto e Maria Lcia.

    Aos meus sogros, Linda e lvaro, pelo carinho.

    Ao Gabriel Ais, por tornar as cores da minha vida mais vibrantes.

    Vera por cuidar to bem de ns.

    s professoras Luana Carandina e Elen Rose Lodeiro Castanheira, pelos exemplos de sanitaristas e professoras comprometidas no somente com a formao profissional de seus alunos, mas sobretudo com sua felicidade.

    Ao professor Antnio Luiz Caldas Junior por sempre me fazer ver alm.

    professora Marli Teresinha Cassamassimo Duarte pela oportunidade de compartilharmos os mesmos ideais.

    Nomia Macedo pela sensibilidade nas relaes humanas, pela grande competncia tcnica e por transformar o nosso trabalho em alegria e fonte de satisfao.

    A Liliana Donatelli pelo carinho e companheirismo desde o momento em que nos conhecemos.

    Dra. Renata Lemnica pela competncia, seriedade, delicadeza e disponibilidade no cuidado a seus pacientes, aliviando seu sofrimento e, sobretudo, ajudando-os a trilhar o caminho do desenvolvimento humano.

  • AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

    Aos trabalhadores do Centro de Sade Escola pela inspirao deste trabalho, pela fora e pela habilidade de vencer desafios, a

    minha humilde homenagem.

    A todos os trabalhadores da rede bsica de sade de Botucatu cuja colaborao possibilitou a realizao deste estudo.

    Aos trabalhadores do SUS pela coragem, garra, perseverana e pelas colossais batalhas enfrentadas a cada dia na busca de um

    pas melhor para todos.

  • A coleta de dados desta dissertao foi realizada com

    suporte financeiro do convnio Ministrio da Sade /

    UNESP / Faculdade de Medicina de Botucatu /

    N 3677/2004.

  • Partir, andar, eis que chega

    Essa velha hora to sonhada

    Nas noites de velas acesas

    No clarear da madrugada

    S uma estrela anunciando o fim

    Sobre o mar sobre a calada

    E nada mais te prende aqui

    Dinheiros, grades ou palavras

    Partir, andar, eis que chega

    No h como deter a alvorada

    Pra dizer, um bilhete sobre a mesa

    Para se mandar, o p na estrada (...)

    (...)S uma estrela anunciando o fim

    Sobre o mar sobre a calada

    E nada mais te prende aqui

    Agora j no falta nada...

    No falta nada...

    (Zlia Duncan e Herbert Vianna)

  • No d mais para continuar escamoteando a verdade dos fatos. A

    principal responsvel pela situao de insolvncia vivenciada pelos servios

    pblicos em geral [...] o iderio neoliberal que, de novo, no tem nada.

    Desde Tatcher e Reagan, na dcada de oitenta, os conservadores do

    mundo todo, incluindo o Brasil, retomaram idias liberalizantes das relaes

    econmicas e sociais fundadoras da sociedade capitalista, no sculo XVIII,

    animados pela queda do muro e pelo que se passou a chamar de fim do

    socialismo real. Aos pases da Amrica Latina destinou-se o que se conhece

    como Consenso de Washington, formulado na sede do governo dos EUA revelia

    dos interesses nacionais e populares dos povos latino-americanos.

    Grande parte das polticas econmicas e sociais que se implantaram no

    Brasil, a partir do incio dos anos noventa, fundamentou-se nas recomendaes

    daquele consenso: economia regida pelas leis de mercado, controlada apenas

    pelos donos dos meios de produo, circulao e troca de bens, sem a

    interferncia do Estado e do interesse pblico; privatizao de empresas estatais,

    de preferncia as mais eficientes e ligadas a setores estratgicos de transportes,

    energia e finanas; Estado mnimo; desmonte da administrao pblica e

    constrangimento dos servios pblicos essenciais de seguridade social e

    educao, destacando o ensino superior, abrindo espao para explorao do

    capital especulativo; responsabilidade fiscal, supervit primrio e pagamento, sem

    atraso, da dvida externa, dentre outros aspectos, todos motivo de humilhao do

    povo brasileiro, pela indignidade da subservincia, sobretudo, aos interesses do

    capital financeiro internacional.

    Deu no que deu!

    Prof Dr. Luiz Roberto de Oliveira

    O Prisma - 2006 Jornal de Associao dos Docentes da UNESP de Botucatu

  • RESUMO

    BRAGA, L. C. Condies de trabalho e sade dos profissionais da rede bsica de sade de Botucatu SP. 143p. Dissertao de Mestrado, Programa de Ps-graduao em Sade Coletiva da Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista UNESP. Botucatu SP, 2007

    Vrios estudos revelam que os transtornos mentais comuns (TMC) apresentam elevada

    prevalncia em populaes comuns e de trabalhadores, dentre os quais, os profissionais de

    sade. Trata-se de transtornos com conseqncias individuais e sociais importantes. Os

    objetivos deste estudo consistiram em estimar a prevalncia de TMC em trabalhadores da

    sade e investigar possveis associaes com variveis scio-demogrficas, satisfao no

    trabalho e situao demanda / controle / suporte. Trata-se de estudo transversal, descritivo,

    efetuado junto populao de servidores da rede bsica de sade de Botucatu SP. A

    coleta de informaes, executada de abril a outubro de 2006, foi efetuada por meio de

    questionrio auto-aplicvel, no identificado, composto por 92 questes. Dentre estas, havia

    sub-conjuntos de perguntas, com destaque para itens abordando satisfao no trabalho,

    demanda / controle / suporte e presena de sintomas de transtorno mental comum (Self

    Reporting Questionnaire, SRQ-20). As informaes foram inseridas em banco de dados

    construdo com o programa Excel / Office XP 2003 e as anlises estatsticas foram

    efetuadas por meio do pacote estatstico SAS. Constatou-se que 42,6% dos servidores

    apresentavam transtorno mental comum. Encontrou-se associao entre TMC e: (a)

    atividade profissional com escolaridade mdia e com escolaridade superior; (b) unidades a

    que pertenciam os servidores; (c) situao relativa demanda / controle; (d) as pontuaes

    relativas s demandas psicolgicas no trabalho discriminaram melhor a ocorrncia de TMC

    (mtodo da rvore de classificao e de regresso para anlise de relaes entre variveis).

    No tocante satisfao no trabalho, 71,2% dos servidores tiveram pontuaes que os

    enquadraram em muito satisfeitos e satisfeitos com o trabalho. Observou-se associao

    entre estar satisfeito com o trabalho e considerar: (a) o trabalho o perodo mais importante

    do dia, (b) ser possvel continuar exercendo o mesmo trabalho nos prximos anos, (c) grau

    de interferncia do trabalho na vida pessoal e familiar. Falta de respeito e agresses

    verbais, falta de compreenso por pacientes / usurios dos servios e no conseguir

    resolver o problema de pacientes foram os trs aspectos referidos pelos servidores como os

    que mais os perturbavam. Os resultados obtidos evidenciam que, na ateno primria, o

    cuidar da sade est adoecendo os trabalhadores, sendo necessrias a identificao e,

    sobretudo, a adoo de estratgias visando superar esta contradio.

    Palavras-chave: ateno primria sade, modelo demanda-controle, satisfao no emprego, sade do trabalhador, transtornos mentais

  • ABSTRACT

    BRAGA, L. C. Work and health conditions of Primary Health Care workers from Botucatu SP. 143 p. Master degree, Post graduation Programme of Collective Health of Faculty of Medicine of Botucatu, Universidade Estadual Paulista UNESP. Botucatu SP, 2007

    Many studies have shown that common mental disorders (CMD) have high prevalence

    among general population and workers, especially health care workers. These are mental

    disorders which have important individual and social consequences. The objectives of the

    present study were estimate the prevalence of CMD among primary health care workers, and

    investigate possible associations with social-demographic variables, job satisfaction, and

    demand / control / support situation. This transversal and descriptive study was carried out

    on Primary Care workers of Botucatu SP. The data were collected, from April to October of

    2006, using one anonymous autoaplicable questionnaire composed of 92 questions. Among

    these questions there were a sub-group of questions related to job satisfaction, demand /

    control / support situation, and presence of CMD symptoms (Self Reporting Questionnaire,

    SRQ-20). The data were stored using the software Excel / Office XP 2003, and the statistical

    analyses were performed in SAS system. It was observed that 42,6% of the health care

    workers presented CMD symptoms. It was also noticed an association among CMD and: (a)

    activities of secondary and graduation; (b) Heath care unit of work; (c) Demand / control

    situation; (d) Psychological requirements at work Date-related points best discriminated the

    occurrence of CMD (classification and regression tree method to analyze the relationship

    among the variables). For job satisfaction 71,2% of the workers considered to be content or

    very content with their work. Job satisfaction was related to: (a) the work period is the most

    important period of the day; (b) possibility to continue working with the same job during next

    years; (c) degree of work interference with personal and family life. The lack of respect and

    verbal aggressions, lack of comprehension from patients/users of the Service, and inability to

    solve problems of patients were the three referred aspects that most disturb the heath care

    workers. Our results emphasize that, in primary health care, the patient care is sickening the

    workers, therefore it is necessary to identify the CMD and adopt strategies to overcome this

    contradiction.

    Key-words: primary health care, demand-control model, job satisfaction, occupational health, mental disorders.

  • SUMRIO

    1. Prembulo 16

    2. Introduo 19

    2.1. O mundo do trabalho 20

    2.2. Ateno primria sade no Brasil 25

    2.3. Trabalho e sade 29

    2.4. Trabalho e sade mental 31

    Satisfao no trabalho 32

    Cargas, exigncias e demandas no trabalho 34

    2.5. Transtorno mental comum 37

    2.6. Burnout em profissionais de sade 40

    2.7. Trabalho e sade mental dos trabalhadores da sade no Brasil 41

    3. Justificativa 46

    4. Objetivos 48

    4.1. Gerais 49

    4.2. Especficos 49

    5. Casustica e mtodos 50

    5.1. Casustica 51

    5.2. Mtodos 55

    5.2.1. Instrumentos 55

    5.2.2. Procedimentos 59

    5.2.3. Anlise dos dados 61

    6. Resultados e discusso 63

    6.1. Os trabalhadores e o trabalho 65

    6.1.1. Descrio geral da casustica 65

    6.1.2. Descrio geral do trabalho 67

    6.1.3. Opinio dos servidores sobre o prprio trabalho 72

    6.2. Satisfao com o trabalho 84

    6.2.1. Evoluo da satisfao com o trabalho 84

    6.2.2. Grau de satisfao com o trabalho 89

    6.3. Demanda / controle / suporte 93

    6.4. Transtornos mentais comuns 96

    7. Concluses e recomendaes 115

    8. Referncias 119

    9. Anexos 130

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Distribuio dos servidores da rede bsica de sade de Botucatu, segundo atributos scio-demogrficos.

    66

    Tabela 2 Distribuio dos servidores da rede bsica de sade de Botucatu, categoria profissional. 67

    Tabela 3 Distribuio dos servidores da rede bsica de sade de Botucatu, segundo a principal atividade exercida.

    68

    Tabela 4 Distribuio dos servidores da rede bsica de sade de Botucatu, segundo tempo de trabalho na atividade atual.

    69

    Tabela 5 Distribuio dos servidores da rede bsica de sade de Botucatu, segundo aspectos sobre a locomoo para o trabalho.

    69

    Tabela 6 Distribuio dos servidores da rede bsica de sade de Botucatu, segundo realizao e retribuio de hora-extra e gozo de frias.

    71

    Tabela 7 Distribuio dos servidores da rede bsica de sade de Botucatu, segundo opinio sobre horrio de trabalho conforme categoria profissional.

    72

    Tabela 8 Distribuio dos servidores da rede bsica de sade de Botucatu, segundo qualidade essencial para o trabalho por categoria profissional.

    76

    Tabela 9 Distribuio dos servidores da rede bsica de sade de Botucatu, segundo qualidade essencial para o trabalho por tipo de atividade exercida.

    77

    Tabela 10 Distribuio dos servidores da rede bsica de sade de Botucatu, segundo valorizao das qualidades profissionais conforme categoria profissional.

    79

    Tabela 11 Distribuio dos servidores da rede bsica de sade de Botucatu, segundo possibilidade de informar a chefia e tratamento dado s informaes sobre o andamento do trabalho.

    80

    Tabela 12 Distribuio dos servidores da rede bsica de sade de Botucatu, segundo tratamento dado pela chefia s informaes e valorizao das qualidades profissionais.

    81

    Tabela 13 Distribuio dos servidores da rede bsica de sade de Botucatu, segundo possibilidade de ascender na carreira por categoria profissional.

    82

    Tabela 14 Distribuio dos servidores da rede bsica de sade de Botucatu, segundo aspectos que modificariam no trabalho.

    83

    Tabela 15 Distribuio dos servidores da rede bsica de sade de Botucatu, com profisses de escolaridade superior, segundo evoluo da satisfao no trabalho e categoria profissional.

    85

    Tabela 16 Distribuio dos servidores da rede bsica de sade de Botucatu, com profisses de escolaridade mdia, segundo evoluo da satisfao no trabalho e categoria profissional.

    86

    Tabela 17 Distribuio dos servidores da rede bsica de sade de Botucatu, segundo evoluo da satisfao e tipo de atividade exercida.

    86

    Tabela 18 Distribuio dos servidores da rede bsica de sade de Botucatu, segundo evoluo da satisfao e valorizao das qualidades profissionais no trabalho.

    87

    Tabela 19 Distribuio dos servidores da rede bsica de sade de Botucatu, segundo evoluo da satisfao no trabalho e possibilidade de ascenso na carreira.

    88

    Tabela 20 Distribuio dos servidores da rede bsica de sade de Botucatu, evoluo da satisfao no trabalho e tratamento dado pela chefia s informaes.

    88

    Tabela 21 Distribuio dos servidores da rede bsica de sade de Botucatu, segundo grau de satisfao atual no trabalho.

    89

    Tabela 22 Distribuio dos servidores da rede bsica de sade de Botucatu, segundo grau de satisfao no trabalho por unidade bsica de sade.

    90

    Tabela 23 Distribuio dos servidores da rede bsica de sade de Botucatu, segundo importncia dada ao perodo laboral e grau de satisfao no trabalho.

    91

    Tabela 24 Distribuio dos servidores da rede bsica de sade de Botucatu, segundo grau de satisfao no trabalho e perspectiva de continuar trabalhando nas mesmas condies.

    92

    Tabela 25 Distribuio dos servidores da rede bsica de sade de Botucatu, segundo grau de satisfao no trabalho e interferncia negativa do trabalho na vida familiar.

    93

  • Tabela 26 Distribuio dos servidores da rede bsica de sade de Botucatu, segundo sexo e presena de transtornos mentais comuns.

    96

    Tabela 27 Distribuio dos servidores da rede bsica de sade de Botucatu, segundo grupo etrio e presena de transtornos mentais comuns.

    98

    Tabela 28 Distribuio dos servidores da rede bsica de sade de Botucatu, segundo situao conjugal e presena de transtornos mentais comuns.

    99

    Tabela 29 Distribuio dos servidores da rede bsica de sade de Botucatu, segundo categoria profissional e presena de transtornos mentais comuns.

    100

    Tabela 30 Distribuio dos servidores da rede bsica de sade de Botucatu, segundo principal atividade exercida e presena de transtornos mentais comuns.

    102

    Tabela 31 Distribuio dos servidores da rede bsica de sade de Botucatu, segundo tempo de exerccio da atividade atual e presena de transtornos mentais comuns.

    103

    Tabela 32 Distribuio dos servidores da rede bsica de sade de Botucatu, segundo presena de transtornos mentais comuns por unidade bsica de sade.

    104

    Tabela 33 Distribuio dos servidores da rede bsica de sade de Botucatu, segundo intensidade da associao entre trabalho e sintomas assinalados no SRQ-20 entre portadores e no portadores de TMC

    105

    Tabela 34 Distribuio dos servidores da rede bsica de sade de Botucatu, segundo grau de satisfao no trabalho e presena de transtornos mentais comuns.

    106

    Tabela 35 Distribuio dos servidores da rede bsica de sade de Botucatu, segundo situao em relao s exigncias e ao controle no trabalho e presena de transtornos mentais comuns.

    108

    Tabela 36 Distribuio dos servidores da rede bsica de sade de Botucatu, segundo demanda / controle / suporte social no trabalho e presena de transtorno mental comum.

    108

    LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 Opinies dos servidores da rede bsica quanto colaborao interpessoal no trabalho. 78

    Grfico 2 Opinies dos servidores da rede bsica para a falta de colaborao interpessoal no trabalho 78

    Grfico 3 Distribuio dos servidores da rede bsica de sade de Botucatu, segundo evoluo da satisfao com o trabalho ao longo da vida laboral.

    84

    Grfico 4 Distribuio dos servidores da rede bsica de sade de Botucatu, segundo demanda / controle / suporte

    95

    Grfico 5 Distribuio dos servidores da rede bsica de sade de Botucatu, portadores de transtorno mental comum, segundo unidade bsica de sade a que pertencem.

    104

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Esquema demanda / controle segundo Karasek. 36

    Figura 2 Mapa das reas de abrangncia das unidades bsicas de sade de Botucatu. 54

    Figura 3 Distribuio dos trabalhadores segundo as pontuaes nas questes demanda / controle. 94

    Figura 4 Distribuio dos servidores das 17 unidades bsicas de sade segundo as pontuaes nas questes demanda / controle.

    95

    Figura 5 Distribuio dos servidores segundo situao em relao a demanda-controle e prevalncia de transtorno mental comum

    107

    Figura 6 rvore de classificao e regresso para anlise das relaes entre demanda / controle / suporte e transtorno mental comum em servidores da rede bsica de sade.

    110

    Figura 7 Distribuio de transtornos mentais comuns, segundo suporte e demanda (partio dos elementos com elevada demanda).

    111

    Figura 8 Distribuio de transtornos mentais comuns, segundo controle e demanda (partio dos elementos com baixa demanda).

    112

    Figura 9 Dendograma de similaridade entre unidades de sade, segundo demanda / controle/ suporte, satisfao no trabalho, escore no SRQ-20.

    112

  • 1. PREMBULO

  • Prembulo

    17

    Em 2003, no segundo ano de residncia em Medicina Preventiva e

    Social do Departamento de Sade Pblica, permaneci no Centro de Sade Escola

    Achilles Luciano Dellevedove (CSE), servio de Ateno Primria Sade da

    Faculdade de Medicina de Botucatu - UNESP.

    Minha tarefa era participar da equipe, acompanhando a rea tcnica de

    Ateno Sade do Adulto e o gerenciamento da unidade. Passei a realizar

    atividades assistenciais como clnica geral e a integrar os espaos de reunio do

    servio, o que me propiciou vivenciar o cotidiano da unidade, particularmente o

    gerencial.

    Ao longo do tempo, sensibilizaram-me as agresses aos trabalhadores

    especialmente aos de nvel mdio pelos usurios do servio, o alto nmero de

    doenas do trabalho e de afastamentos - por doena comum ou do trabalho. Temas

    como estresse no trabalho e demanda excessiva eram o mote central das

    reunies da rea de Ateno Sade do Adulto, das quais participei. Essa a maior

    rea do servio em nmero de profissionais e volume de atendimentos.

    E por que, se submetidos s mesmas condies de trabalho, alguns

    trabalhadores adoeciam mais, outros menos e outros permaneciam saudveis?

    Passei a me perguntar o que havia naquele ambiente de trabalho, ou com aqueles

    servidores, que os levava ao adoecimento e como poderia colaborar para a melhoria

    das condies de trabalho e de sade daquelas pessoas.

    Sofrendo as tenses e conflitos da atividade gerencial, recebendo

    apelos de colegas beira de um ataque de nervos e reivindicaes, por parte da

    equipe do CSE, de mudanas na organizao do trabalho, que primassem pelo

    cuidado sade dos trabalhadores, no sa ilesa ao final da residncia: tais presses

    continuavam a me atormentar.

    O longo tempo de permanncia no servio possibilitou que

    acompanhasse a histria de alguns servidores. O que teria provocado a

    transformao daqueles trabalhadores, antes criativos e incansveis, em pessoas

    irritadas, insatisfeitas, exauridas, infelizes? Tal sofrimento relacionava-se ao trabalho?

    Tratar-se-a de fenmeno exclusivo desse servio / desse tipo de servio? Haveria

    influncia da organizao do SUS? As mudanas do mundo do trabalho

    influenciariam tal quadro?

    O desejo de encontrar respostas, mesmo que parciais, para essas

    perguntas motivou a realizao deste estudo.

  • 2. INTRODUO

  • Introduo

    20

    2.1. O mundo do trabalho

    Borges & Yamamoto (2004) chamam a ateno para o fato da

    palavra trabalho ter origem em termos latinos associados tortura. Assinalam

    tambm a ambigidade de significados condenao, sacrifcio, castigo. Para

    esses autores necessrio tambm considerar-se que o trabalho pode ser

    abordado sob diversos ngulos - relaes de poder, natureza (profisses /

    ocupaes), existncia ou no de contrato, forma de contrato, complexidade das

    tarefas, tipo de esforo exigido, tipo e qualidade da remunerao, formas de

    pagamento, etc. Assim, a palavra trabalho pode referir-se a diferentes objetos,

    correspondendo a diferentes constructos para a Psicologia Organizacional e do

    Trabalho: motivao, comprometimento, satisfao, socializao, estresse,

    qualidade de vida.

    Para Borges & Yamamoto (2004)

    ... o trabalho e a forma de pensar sobre ele seguir as

    condies scio-histricas em que cada pessoa vive

    e, nesse sentido, relaciona-se estreitamente com o acesso

    ... tecnologia, aos recursos naturais e ao saber fazer; com a

    posio na estrutura social, das condies em que executa suas

    tarefas; do controle que tem sobre seu trabalho, das idias e da

    cultura de seu tempo, dos exemplos de outros trabalhadores...

    Para estes autores, o trabalho pode ser abordado em, pelo menos, cinco

    dimenses distintas:

    concreta relacionada tecnologia e s condies materiais em que

    exercido;

    gerencial relacionada maneira como planejado, organizado, dirigido e

    controlado;

    scio-econmica referente estrutura social em seus nveis econmico e

    jurdico-poltico;

    ideolgica - referente ao valores associados ao trabalho que predominam

    na sociedade;

    simblica referente aos aspectos subjetivos de cada indivduo.

  • Introduo

    21

    O homem, vivendo em sociedade, apresenta uma srie de

    necessidades. Algumas so individuais, outras coletivas. Algumas, de satisfao

    indispensvel vida, outras, estreitamente relacionadas cultura dessa

    sociedade. E no trabalho que os homens obtm meios de suprir suas

    necessidades. O trecho a seguir, extrado de Malvezzi (2004) resume de maneira

    clara o conceito de trabalho que, pela natureza deste estudo, merece ser

    explicitado nestes pargrafos iniciais.

    O trabalho uma prtica transformadora da realidade que viabiliza a

    sobrevivncia e a realizao do ser humano. Por meio do ato e do

    produto de seu trabalho o ser humano percebe sua vida como um

    projeto, reconhece sua condio ontolgica, materializa e expressa sua

    dependncia e poder sobre a natureza, produzindo os recursos

    materiais, culturais e institucionais que constituem seu ambiente, e

    desenvolve seu padro de qualidade de vida. Do ponto de vista

    emprico, o trabalho consiste na aplicao de conhecimentos e

    habilidades ao desenho de processos de produo dentro de uma

    sintaxe constituda por condies econmicas, tecnolgicas, sociais,

    culturais e polticas. Essa aplicao de recursos pessoais no ocorre no

    vcuo, mas balizada por valores, relaes de poder, significados e

    conhecimentos que constituem a base de sua institucionalizao.

    No desenvolvimento do trabalho, alm de modificar a natureza, o

    homem modifica-se a si prprio, na medida em que o trabalho propicia - ou

    cerceia - o desenvolvimento de suas potencialidades latentes. Leplat (1980),

    analisando o papel do trabalho no desenvolvimento humano afirma que

    ... o trabalho pode contribuir para o desenvolvimento de numerosas

    potencialidades humanas, mas pode tambm ser um freio a este

    desenvolvimento e, mesmo, em alguns casos, conduzir a uma restrio

    irreversvel dessas potencialidades.

    Esse autor enfatiza a importncia da natureza do trabalho e das

    condies em que exercido no desenvolvimento das capacidades dos

    trabalhadores. No tocante s habilidades requeridas pelos diferentes trabalhos, o

    autor assinala que, quanto mais rgidas e especficas as tarefas, mais tendero a

  • Introduo

    22

    tornar-se automticas e menos propiciadoras do desenvolvimento das

    capacidades dos trabalhadores. Ao contrrio, quanto mais gerais e orientadas

    para maior nmero de situaes, maior a tendncia para aumentar a capacitao

    dos trabalhadores, no s em relao ao trabalho, mas tambm em relao

    vida.

    Em princpio, o trabalho deveria ser fonte de prazer, j que, atravs

    dele, o homem se constitui sujeito e reconhece sua importncia para a

    sobrevivncia de outros seres humanos. A Carta de Ottawa (OPAS, 1986),

    elaborada em 1986, na cidade canadense de mesmo nome, durante a Primeira

    Conferncia Internacional sobre Promoo da Sade reconhece que

    mudar os modos de vida, de trabalho e de lazer tem um significativo

    impacto sobre a sade. Trabalho e lazer deveriam ser fontes de sade

    para as pessoas. A organizao social do trabalho deveria contribuir

    para a constituio de uma sociedade mais saudvel. A promoo da

    sade gera condies de vida e trabalho seguras, estimulantes,

    satisfatrias e agradveis.

    Entretanto, ao longo da Histria, o trabalho, para a maioria da

    humanidade, tem representado dor, sofrimento, adoecimento e morte, fruto das

    diferentes formas de explorao a que os homens tm sido submetidos ao longo

    dos sculos. E, nos primrdios do sculo XXI tem-se assistido a formas de

    explorao com caractersticas que merecem ser abordadas, ainda que de forma

    breve, neste estudo.

    Para filsofos clssicos, como Plato, o trabalho que envolvia

    esforo fsico era considerado inferior, degradante, apropriado aos escravos. Com

    o advento do Capitalismo, do ponto de vista ideolgico ocorrem mudanas, tanto

    na concepo de trabalho, que passa a ser valorizado, como em relao ao lucro,

    que passa a ser considerado legtimo, propiciando a acumulao necessria ao

    desenvolvimento desse modo de produo. Para Weber (2004), a tica

    protestante exerceu papel importante no desenvolvimento do Capitalismo,

    contrapondo-se tica do catolicismo, que condenava o lucro e os juros.

    Segundo a tica do protestantismo, o trabalho rduo e o sucesso econmico dele

  • Introduo

    23

    advindo, ou seja, a riqueza, eram sinais de merecimento divino, legitimando a

    acumulao. Tal concepo legitima tambm a explorao dos trabalhadores.

    J na viso marxista, o trabalho, tratado como mercadoria no

    Capitalismo, contribui para a degradao do homem, em virtude de alienar,

    explorar, inibir o desenvolvimento e diminuir a auto-estima dos trabalhadores,

    dentre tantos outros efeitos. E nas crises peridicas desse modo de produo, a

    taxa de explorao dos trabalhadores tende a aumentar.

    Praticamente em todos os pases do mundo, vm ocorrendo

    profundas transformaes no mundo do trabalho que, por um lado, guardam

    estreitas relaes com a crise do capitalismo iniciada nos anos setenta e, por

    outro lado, com as notveis inovaes tecnolgicas, particularmente nos campos

    da informtica, da automao e das comunicaes, a ponto de ser denominada

    terceira revoluo industrial (ANTUNES, 1995).

    A mais recente crise do capitalismo tornou-se evidente quando os

    pases capitalistas centrais comeam a ser atingidos por prolongada queda nas

    taxas de acumulao, o que levou o capital a buscar alternativas para retomar os

    nveis precedentes de acumulao, processo que vem sendo conhecido como

    acumulao flexvel (ANTUNES, 1995). Referindo-se aos anos 1980, esse autor

    assinala:

    o grande salto tecnolgico, a automao, a robtica e a

    microeletrnica invadiram o universo fabril, inserindo-se e

    desenvolvendo-se nas relaes de trabalho e de produo do capital.

    [...] O toyotismo penetra, mescla-se ou mesmo substitui o padro

    fordista dominante em vrias partes do capitalismo globalizado.

    Vivem-se formas transitrias de produo, cujos desdobramentos so

    tambm agudos, no que diz respeito aos direitos do trabalho. Estes

    so desregulamentados, so flexibilizados de modo a dotar o capital

    do instrumental necessrio para adequar-se sua nova fase. Direitos

    e conquistas histricas dos trabalhadores so substitudos e

    eliminados do mundo da produo. Diminui-se ou mescla-se,

    dependendo da intensidade, o despotismo taylorista pela participao

    dentro da ordem e do universo da empresa (ANTUNES, 1995).

  • Introduo

    24

    A acumulao flexvel tem significado aumento das taxas de

    explorao da classe-que-vive-do-trabalho, com srias conseqncias para a

    qualidade de vida e para a sade e segurana dos trabalhadores (ANTUNES,

    1995).

    Para Kurz (2005), a explorao da fora de trabalho pelo capital

    visando elevar as taxas de acumulao, no que o autor denomina crise da terceira

    revoluo industrial, caracteriza-se pela crise da mais valia relativa:

    A mais valia relativa torna-se insignificante. A prova prtica disso

    que o capital retorna predominncia da mais valia absoluta. O que

    parece inteiramente absurdo a qualquer saudvel entendimento

    humano, a "razo" da lgica capitalista: a acumulao deve ser

    salva, custa do prolongamento da jornada de trabalho para a mo de

    obra remanescente, de um crescente aumento da intensidade e

    drstica reduo da proteo do trabalho. [...] Com o regresso do

    domnio da mais-valia absoluta, o capital mostra a carantonha

    destapada da barbrie, fazendo desaparecer, assim, a aparncia de

    potencial civilizatrio.

    Com alguns anos de defasagem, essas mudanas no mundo do

    trabalho comearam a chegar ao Brasil, com efeitos mais dramticos, uma vez

    que o estado de bem-estar social, atingido pelos pases desenvolvidos, no caso

    brasileiro estava longe de ser conquistado. E, alm disso, o pas estava

    mergulhado, h dcadas, em crise econmica crnica.

    Segundo Pochmann (2001), no contexto da concorrncia

    internacional no regulamentada, a concentrao da inovao tecnolgica nas

    grandes corporaes agravou a excluso de muitos pases do espao econmico.

    Para esse autor

    Atualmente, o comrcio intrafirmas, mais precisamente entre matriz e

    filiais das corporaes transnacionais supera as trocas realizadas entre

    naes.

    O corolrio disto tem sido o aumento do desemprego e o predomnio

    da criao de empregos precrios, com baixos salrios, acarretando retrocesso

    produtivo e social para o pas.

  • Introduo

    25

    De 1986 para 1998, o Brasil passou do 13 para 4 lugar no ranking

    mundial de desemprego, com aprofundamento das incertezas e difuso da cultura

    do medo entre os trabalhadores, criando condies para intensificao do

    trabalho e para imposio do aumento do nmero de horas-extras pelas

    empresas (POCHMANN, 1999).

    Nas ltimas dcadas, tem-se observado aumento do nmero de

    trabalhadores sem proteo social: empregos precrios, organizao de falsas

    cooperativas, admisso em falsos estgios, exerccio de atividades como falsos

    autnomos ou em situao de falsas terceirizaes (POCHMANN, 2001, 2004).

    Esse quadro de aumento da explorao da fora de trabalho e de

    empobrecimento da populao vem acarretando diminuio do grau de sade dos

    trabalhadores e de suas famlias, o que contribui para crescimento da demanda

    aos servios de sade. E as famlias pertencentes a estratos de renda mdia ou

    menor passam a depender cada vez mais de servios pblicos de sade, de sorte

    que, atualmente, 75% da populao brasileira quase inteiramente dependente

    desses servios (BODSTEIN, 2002).

    2.2. Ateno primria sade no Brasil

    Avano inquestionvel, o direito universal sade no Brasil, produto

    e, simultaneamente, engrenagem da Reforma Sanitria, trouxe a necessidade de

    se organizar um sistema de sade capaz de garantir esse direito o Sistema

    nico de Sade (SUS) -, inserido no captulo Dos Direitos Sociais da Constituio

    Federal (BRASIL, 1988) e regulamentado pelas leis 8.080 (BRASIL, 1990a) e

    8.142 (BRASIL, 1990b).

    Com base nos princpios da hierarquizao e descentralizao do

    SUS iniciou-se a reorganizao deste sistema, que culminou com a

    municipalizao da sade, ou seja, com a transformao da esfera municipal em

    principal gestora da maior parte dos servios e aes de sade. Um dos eixos

    estruturantes desse processo foi a reorganizao da ateno bsica sade que,

    segundo o Ministrio da Sade (BRASIL, 2006), constitui

    o primeiro nvel de ateno sade no SUS, compreendendo um

    conjunto de aes de carter individual e coletivo, que englobam a

  • Introduo

    26

    promoo da sade, a preveno de agravos, o tratamento, a

    reabilitao e manuteno da sade.

    Segundo documento do Conselho Nacional de Secretrios de Sade

    (BRASIL, 2004):

    a Ateno Primria um conjunto de intervenes de sade no

    mbito individual e coletivo que envolve: promoo, preveno,

    diagnstico, tratamento e reabilitao. desenvolvida por meio do

    exerccio de prticas gerenciais e sanitrias, democrticas e

    participativas, sob a forma de trabalho em equipe, dirigidas a

    populaes de territrios (territrio-processo) bem delimitados, das

    quais assumem responsabilidade. Utiliza tecnologias de elevada

    complexidade e baixa densidade, que devem resolver os problemas

    de sade de maior freqncia e relevncia das populaes. o

    contato preferencial dos usurios com o sistema de sade. Orienta-se

    pelos princpios da universalidade, acessibilidade (ao sistema),

    continuidade, integralidade, responsabilizao, humanizao, vnculo,

    eqidade e participao social. A Ateno Primria deve considerar o

    sujeito em sua singularidade, complexidade, integralidade e insero

    scio-cultural e buscar a promoo de sua sade, a preveno e

    tratamento de doenas e a reduo de danos ou de sofrimentos que

    possam estar comprometendo suas possibilidades de viver de modo

    saudvel.

    Dentre seus objetivos destacam-se a extenso do acesso s aes

    de sade, a busca da integralidade, a resoluo de grande parte dos problemas

    de sade dos indivduos e das populaes e a contraposio ao modelo

    assistencial vigente anteriormente ao SUS, baseado na excluso, na

    produtividade, na assistncia mdica, hospitalar e individual e no predomnio de

    aes curativas.

    Alguns instrumentos foram utilizados para incentivar a reorganizao

    da ateno bsica: a regulamentao das Normas Operacionais Bsicas e

    Normas Operacionais de Assistncia Sade, a criao de novas instncias

    colegiadas decisrias (Comisso Intergestores Bipartite e Comisso Intergestores

    Tripartite), a introduo do Piso de Ateno Bsica, o surgimento dos Conselhos

  • Introduo

    27

    de Sade e o incentivo especfico implantao de determinadas estratgias,

    como por exemplo, o Programa de Agentes Comunitrios de Sade e o Programa

    de Sade da Famlia (BODSTEIN, 2002).

    A estruturao da rede bsica de sade permanece como desafio

    aos municpios brasileiros, em que pese a existncia de instrumentos que

    possibilitaram os avanos ocorridos (elaborao de normas gerais, mudana no

    modo de financiamento do setor, criao de espaos de pactuao entre os

    diversos atores, participao popular de forma organizada e desenvolvimento de

    estratgias especficas). E, mesmo os municpios que evoluram na estruturao,

    enfrentam dificuldades para oferecer bom nvel de assistncia sade s suas

    comunidades.

    A pergunta-chave aqui em que medida a poltica de reorganizao

    da ateno bsica e a pequena mudana na alocao de recursos

    advinda da implementao da descentralizao no setor tem sido

    suficiente para modificar o padro de desigualdade no acesso aos

    bens e servios de sade, dado pela prpria heterogeneidade e

    desigualdade social existente no pas. Questes determinantes como

    o aumento dos custos e o declnio da qualidade dos servios,

    caractersticas gerais (e globais) do setor sade, remetem diretamente

    centralidade da discusso para a prioridade nos investimentos em

    programas de promoo e de ateno bsica, tendo em vista a

    necessidade de universalizao da ateno primria em sade. No

    caso do Brasil, devemos ficar atentos nossa realidade: enormes

    desigualdades sociais, intenso processo de urbanizao a partir das

    ltimas dcadas e a limitao de recursos, onde necessidades e

    demandas crescem e se tornam bastante complexas rapidamente,

    tendendo ao que parece ultrapassar a capacidade de resposta das

    polticas pblicas e dos sistemas de sade (BODSTEIN, 2002),

    A sensao de que a capacidade de resposta do sistema pode ter

    sido ultrapassada ou que, pelo menos, cresce em velocidade inferior do

    surgimento dos problemas enfrentados, provavelmente atinge os trabalhadores da

    sade. Estes vivenciam situaes de trabalho em servios que constituem portas

  • Introduo

    28

    de entrada de um sistema de sade universal, que lida com problemas

    extremamente complexos e com grandes desigualdades sociais. Esse

    trabalhador, freqentemente tem que mergulhar nas entranhas do processo

    sade-doena e do sofrimento humano.

    Os profissionais de rede bsica defrontam-se com problemas

    complexos, muitos dos quais escapam capacidade de interveno no nvel

    primrio de ateno sade e, mesmo, do setor sade.

    Por sua vez, avanos como diversificao das aes de sade,

    melhorias da qualidade do servio e do acesso da clientela, quase sempre

    significam surgimento de novas demandas.

    A poltica de fortalecimento da ateno bsica tem-se mostrado

    insuficiente, fazendo com que haja necessidade freqente de se lidar com

    restries da estrutura fsica, de acesso a meios de trabalho, de recursos

    humanos, de acesso a especialistas, tornando a vivncia dos trabalhadores da

    rede bsica de sade ainda mais dolorosa, na medida em que se somam a

    tenses inerentes organizao do trabalho em ateno primria:

    trabalho em equipe, exerccio da integralidade, constituio da

    unidade bsica como espao privilegiado para a integrao do

    subjetivo s prticas de sade, a incessante necessidade de se

    afastar da viso ideolgica que reduz a ateno primria a um

    conjunto de aes simplificadas, entre outros (SCHRAIBER &

    MENDES-GONALVES, 2000);

    condies de vida e desigualdades sociais no Brasil e seus reflexos

    no estado de sade da populao e no consumo de servios de

    sade (SZWARCWALD et al. 2005);

    reconhecimento da sade como um direito do cidado nos marcos

    da Constituio Federal (BRASIL, 1988) e as implicaes que este

    traz para a reorganizao do sistema de sade,

    problemas na estruturao da ateno bsica no pas (BODSTEIN,

    2002);

    insuficincias dos outros nveis de ateno do SUS;

    distores na produo de necessidades e no consumo de servios

    de sade, considerando-se como pressuposto que as demandas em

  • Introduo

    29

    sade so socialmente construdas e relacionadas e o grande

    esforo que se coloca para as equipes no processo de inverso

    dessas distores (FRANCO & MERHY, 2005);

    A esses fatores cabe acrescentar a falta de discusso sobre planos

    de cargos e salrios para os trabalhadores do SUS, abordada apenas em 2005, e

    o arrocho salarial, fatos objetivos que trazem subjacentes o no reconhecimento

    profissional.

    No tocante ao financiamento, a regulamentao da Emenda

    Constitucional n 29, (BRASIL, 2000a) que define os percentuais de recursos a

    serem aplicados no setor sade pelas diferentes esferas de governo, ainda est

    em discusso, mantendo restries oramentrias indesejveis. Por outro lado, a

    Lei de Responsabilidade Fiscal (BRASIL, 2000b), que impe amarras a um setor

    em que desempenho dos profissionais crucial, tem criado situaes que

    configuram precarizao dos contratos de trabalho dos profissionais da sade. E,

    muitas vezes, serve de subterfgio para alguns administradores justificarem a no

    destinao, ou destinao insuficiente, de recursos financeiros para o setor.

    Avanos tecnolgicos no compensam recursos humanos, lembra

    OPAS a manchete do informativo sobre o Dia Mundial da Sade do site da

    Organizao Panamericana da Sade (OPAS, 2006). Em 2006, esta organizao

    homenageou os trabalhadores da sade com o tema Gente que faz sade,

    deixando patente a importncia dos trabalhadores desse setor e a necessidade

    de busca urgente de melhores condies de trabalho, de polticas de recursos

    humanos e de injeo de recursos financeiros na Sade Pblica.

    2.3. Trabalho e sade

    As influncias do trabalho sobre a sade dos trabalhadores so

    conhecidas desde a antiguidade, existindo papiros egpcios que relatam doenas

    ocasionadas pelo trabalho, muito antes de Hipcrates. O Pai da Medicina

    tambm registrou a ocorrncia de vrias doenas ocupacionais nos sculos IV e

    V a.C. Mas, foi no sculo XVIII, que o italiano Ramazzini, considerado Pai da

    Medicina do Trabalho, registrou de forma sistematizada no primeiro tratado de

    doenas do trabalho De morbis artificum diatriba os conhecimentos acerca

    das conseqncias do trabalho para a sade dos trabalhadores.

  • Introduo

    30

    Nos mais de trs sculos decorridos desde a morte de Ramazzini,

    cresceu progressivamente a compreenso das relaes entre trabalho e processo

    sade-doena. Avanos em vrios campos do conhecimento tm contribudo para

    isto, particularmente os da Epidemiologia, da Psicologia Social, da Ergonomia,

    dentre outras.

    O mtodo epidemiolgico tem possibilitado identificar relaes entre

    aspectos do trabalho com a ocorrncia de numerosas doenas, com destaque

    para as doenas crnico-degenerativas, como as neoplasias e as doenas

    cardiovasculares (grupo II de Schilling), bem como para as doenas mentais

    (grupo III de Schilling). Assim, ultrapassaram-se os limites das doenas

    profissionais ou do grupo I de Schilling, para as quais necessria a presena de

    determinados agentes no ambiente de trabalho, como, por exemplo, o

    saturnismo (BRASIL, 2001).

    No tocante s relaes entre trabalho e doena mental, Jacques &

    Codo (2002) assinalam que as grandes dificuldades existentes esto

    estreitamente ligadas ao fato do trabalho constituir o modo de ser do homem

    invadindo e permeando todos os nveis de sua atividade, de seus afetos, de sua

    conscincia....

    Esses autores chamam tambm a ateno para o fato de muitos

    estudos envolverem concepes antagnicas acerca da constituio do

    psiquismo, de sorte que pesquisas sobre sade / doena mental e trabalho

    podem no ser conciliveis entre si.

    Elo (1995) afirma que as demandas e as caractersticas do trabalho

    tm sido analisadas basicamente de dois diferentes ngulos exigncias em

    termos de treinamento e de remunerao, e em termos de satisfao pessoal e

    de bem estar. No tocante s dimenses psquicas, alguns mtodos de anlise do

    trabalho privilegiam aspectos como responsabilidade, poder de deciso, preciso,

    manuteno da ateno, variedade, autonomia, exigncias de desempenho e

    contatos sociais. Outros mtodos aliam investigao da percepo dos

    trabalhadores acerca de aspectos do trabalho com a observao de sua

    realizao, como ocorre em estudos ergonmicos.

    No tocante s pesquisas sob estresse e trabalho, Elo (1995)

    assinala que numerosos estudos tm sido efetuados por meio de questionrios

  • Introduo

    31

    que abordam os denominados fatores psicossociais ou fatores mentais de

    estresse no trabalho. Alguns dos estudos restringem-se s interaes homem-

    mquina, enquanto outros, mais abrangentes, envolvem o contexto social.

    2.4. Trabalho e sade mental

    Existem vrias abordagens acerca dos componentes e dos

    processos envolvidos na sade mental. Estar mentalmente saudvel pode ser

    entendido como um estado no qual o indviduo sente prazer, satisfao, conforto,

    isto , encontra-se em situao positiva em relao ao humor e afetividade.

    Sade mental pode tambm ser entendida como um processo no qual o indivduo

    enfrenta aspectos chaves como independncia e autonomia. E, ainda, como o

    resultado de um processo, ou seja, o resultado de confrontao aguda, caso da

    sndrome do estresse ps-traumtico, ou de confrontao crnica com

    estressores, caso do esgotamento profissional no trabalho ou burnout, da

    depresso, e de outros transtornos mentais (HOUTMAN & KOMPIER, 2005).

    Um conceito importante na abordagem de sade mental e trabalho

    o de estresse. Em 1984, Lazarus & Folkman, apud Bruchon-Schweitzer (1994)

    apresentaram concepo segundo a qual o estresse pode ser considerado como

    uma verdadeira transao indivduo e ambiente, atravs da qual o primeiro avalia

    a situao de ameaa (estressora) como ultrapassando seus recursos e pondo

    em risco seu bem estar.

    Quintard (1994) ilustra bem a diferenciao entre estresse objetivo e

    percebido, por meio da estria de uma velha senhora que, consternada por perder

    seu gato, hospitalizada em virtude de queda do estado geral de sade.

    A percepo de perigo ou de ameaa ativa diversos mecanismos

    psico-fisiolgicos. Entretanto, um mesmo evento estressor no ser igualmente

    avaliado por diferentes indivduos, interessando como as pessoas o percebem.

    Diante de uma ameaa (evento estressor), inicialmente o indivduo avalia sua

    natureza, gravidade, urgncia e, a seguir, estima os recursos e capacidades de

    que dispe para control-la, ou no. Estas percepes determinam as estratgias

    de enfrentamento (coping) adotadas. Trata-se de processos que variam, no

    apenas de acordo com a situao, mas tambm com o momento. E mais, a

    natureza perceptiva / cognitiva, afetiva, comportamental, psicossocial e

  • Introduo

    32

    psicobiolgica - desses processos tambm varia. (BRUCHON-SCHWEITZER,

    1994).

    O sucesso das estratgias de enfrentamento influenciado por

    fatores como durao e gravidade da ameaa ao bem estar, cabendo salientar

    que a percepo de suporte ou apoio social constitui fator de proteo em relao

    aos agravos sade. Quando o suporte ou apoio social frgil, ou quando

    percebido como frgil, a vulnerabilidade aos fatores de estresse aumenta.

    Satisfao no trabalho

    Um dos aspectos estreitamente relacionados ao grau de sade a

    satisfao obtida no exerccio do trabalho. Trata-se de conceito que comeou a

    ser estudado e desenvolvido nos anos 30 do sculo passado. Um dos estudos

    pioneiros abordava as influncias de aspectos do ambiente fsico e a

    produtividade dos trabalhadores em empresa de eletricidade da cidade de

    Chicago. Desde ento, foram efetuados numerosos estudos focalizando a

    satisfao dos trabalhadores em relao a variados aspectos de seu trabalho.

    Ter satisfao no trabalho significa ter prazer com o que se faz. E

    este prazer est relacionado tanto com caractersticas das atividades executadas,

    como com o perfil psicolgico e com as expectativas dos trabalhadores.

    Satisfao no trabalho pode ser tambm entendida como o sentimento que as

    pessoas tm a respeito de seu trabalho.

    A satisfao no trabalho tem sido abordada por disciplinas como

    psicologia, sociologia, medicina do trabalho, ergonomia, economia e

    administrao, dentre outras. Isto relaciona-se, por um lado, com o papel do

    trabalho na vida das pessoas e as influncias que exerce sobre as condies e a

    qualidade de vida e, conseqentemente, sobre o grau de sade. E, por outro lado,

    pelas influncias que exerce sobre o desempenho e a produtividade dos

    trabalhadores, aspecto que interessa sobretudo s empresas.

    Pode-se dizer que as pessoas avaliam e reavaliam aspectos de sua

    vida, conferindo se suas necessidades materiais, cognitivas e afetivas esto

    sendo atendidas. E, na medida da importncia dada ao trabalho, a avaliao

    quanto a tais aspectos pode adquirir grande relevncia. Assim, sucesso

    profissional, remunerao, prestgio entre os colegas, evoluo na carreira, so

    aspectos, dentre outros, que as pessoas que trabalham colocam na balana para

  • Introduo

    33

    conferir se esto recebendo ou no o que julgam merecer em funo do trabalho

    que executam. Se o que avaliam estar recebendo corresponde s expectativas, a

    pessoa tende a considerar-se satisfeita. A satisfao depende portanto do sujeito

    e no apenas de aspectos ou caractersticas do trabalho. E o resultado desta

    avaliao depende do que o sujeito mais valoriza ou valoriza menos.

    Para Diaz-Serrano & Vieira (2005), a satisfao no trabalho

    representa importante fator preditivo do grau de bem estar dos indivduos,

    interferindo tambm com a deciso de permanecer ou deixar o emprego, assim

    como com a qualidade do trabalho efetuado.

    Dados de quinze pases da Europa (EU 15) revelam que, de 1995

    para 2000, em nove deles, houve diminuio do grau de satisfao no trabalho,

    enquanto em seis (Reino Unido, Dinamarca, Finlndia, ustria, Alemanha e

    Grcia), houve discreto aumento. Considerando-se a avaliao realizada no ano

    de 2000, Portugal, Espanha, Grcia e Itlia, foram os pases que registraram

    menor satisfao no trabalho.

    No Brasil, Martinez & Paraguay (2003), abordando aspectos

    conceituais e metodolgicos da satisfao no trabalho, assinalam que apesar dos

    estudos sistematizados sobre satisfao no trabalho terem se iniciado na dcada

    de 30, ainda no existe consenso sobre teorias e modelos tericos acerca do

    tema. As autoras fazem referncia aos vrios conceitos: satisfao como

    sinnimo de motivao, como atitude, como oposio insatisfao e como

    estado emocional.

    Um dos modelos desenvolvidos para anlise da satisfao no

    trabalho o modelo de Locke (LOCKE, 1976 apud MARTINEZ & PARAGUAY,

    2003) que considera satisfao como resposta emocional oriunda da diferena

    entre o que a pessoa percebe receber e o que deseja obter, o que implica

    julgamento de valor. Este enfoque pressupe a existncia de relao entre grau

    de emoo e importncia que a pessoa atribui ao que almeja conseguir.

    Referindo-se aos trabalhos de Locke, Martinez & Paraguay (2003) assinalam:

    A satisfao no trabalho seria, ento, um estado emocional

    prazeroso, resultante da avaliao do trabalho em relao aos

    valores do indivduo, relacionados ao trabalho. Insatisfao no

    trabalho seria um estado emocional no prazeroso, resultante da

  • Introduo

    34

    avaliao do trabalho como ignorando, frustrando ou negando os

    valores do indivduo, relacionados ao trabalho. Assim, a satisfao e

    insatisfao no trabalho no so fenmenos distintos, mas situaes

    opostas de um mesmo fenmeno, ou seja, um estado emocional que

    se manifesta na forma de alegria (satisfao) ou sofrimento

    (insatisfao) (LOCKE, 1969, 1976, 1984 apud MARTINEZ &

    PARAGUAY, 2003).

    Este enfoque terico implica considerar o trabalho como

    ... uma interao complexa de tarefas, papis, responsabilidades,

    relaes, incentivos e recompensas em determinado contexto fsico

    e social. E, por isso, o entendimento da satisfao no trabalho

    requer que o trabalho seja analisado em termos de seus elementos

    constituintes, e onde satisfao no trabalho global o resultado da

    satisfao com diversos elementos do trabalho" (LOCKE, 1969,

    1976, apud MARTINEZ & PARAGUAY, 2003).

    A satisfao est estreitamente relacionada valorizao social do

    trabalho exercido, s possibilidades de ascenso na carreira, ao reconhecimento,

    remunerao (que tambm constitui uma forma de reconhecimento) e ao clima

    social (relaes com colegas, chefias, formas de organizao). Ainda influem, o

    contedo e as condies fsicas do ambiente em que o trabalho realizado.

    Pesquisando as relaes entre satisfao no trabalho e doena,

    Martinez & Paraguay (2004) constataram associao entre satisfao e distrbios

    mentais. As autoras, que tambm pesquisaram a existncia de relaes entre

    satisfao no trabalho e aspectos da sade fsica, no observaram associao.

    Cargas, exigncias e demandas no trabalho

    Hacker (2005), abordando as cargas mentais no trabalho, sustenta

    que a anlise das atividades executadas deva considerar:

    autonomia do trabalhador, ou seja, a liberdade quanto aos

    procedimentos a adotar e quanto aos que antecipar ou postergar;

    quantidade e a diversidade de tarefas secundrias (preparao,

    organizao e verificao dos resultados) e o quanto estas etapas

    esto ou no fragmentadas;

  • Introduo

    35

    variao dos processos (rotineiros, baseados em conhecimentos ou

    experincias pregressas, necessidade de resolver problemas):

    grau de cooperao necessrio;

    exigncias de aprendizagem a longo prazo,

    propondo procedimentos de anlise que vo da verificao de documentos

    observao do trabalho.

    Segundo o mesmo autor (HACKER, 2005), na literatura, a carga

    mental de trabalho analisada sob dois enfoques principais:

    o que considera as exigncias da tarefa independentemente dos

    trabalhadores que as executam;

    o que considera as interaes das exigncias da tarefa com as

    capacidades ou recursos dos trabalhadores.

    Trata-se de enfoques que no se excluem, mas se completam. Em

    relao s capacidades dos trabalhadores, de modo geral, as cargas mentais de

    trabalho podem ser classificadas como:

    inferiores s capacidades, quando so potencialmente geradoras de

    tdio, aborrecimento e monotonia, alm de desestimulantes;

    adequadas s capacidades;

    superiores s capacidades, quando podem gerar ansiedade, fadiga e

    frustrao.

    Nessa linha situa-se a abordagem desenvolvida na dcada de 70

    por Karasek, o denominado Modelo Demanda-Controle ou Modelo de Karasek.

    Em relao ao trabalho, o foco deste modelo o das relaes sociais no trabalho

    e como estas funcionam como geradoras de estresse.

    Segundo Karasek (2005), as demandas so as presses

    psicolgicas a que os trabalhadores so submetidos no trabalho. Podem originar-

    se da quantidade de trabalho a executar na unidade de tempo - no jargo da

    sade do trabalhador, conhecida como presso de tempo -, no caso, de carter

    quantitativo. Pode tambm originar-se no descompasso entre as capacidades do

    trabalhador e o trabalho a executar, assumindo, ento, carter qualitativo.

    Quanto ao controle, trata-se do grau de autonomia ou espao de

    manobra que o trabalhador possui. Consiste na possibilidade que ele tem de

    governar o seu trabalho, a partir de suas habilidades e conhecimentos. Por

  • Introduo

    36

    exemplo, se pode escolher a maneira de executar o trabalho, ou o que pode

    antecipar ou postergar. Trata-se de aspectos estreitamente relacionados

    organizao do trabalho.

    TRABALHO PASSIVO

    DESGASTE ELEVADO (job strain)

    DESGASTE BAIXO

    TRABALHO ATIVO

    DEMANDA PSICOLGICA

    C O N T R O L E

    FIGURA 1 - ESQUEMA DEMANDA-CONTROLE SEGUNDO KARASEK (1998, 2005) E BAKER & KARASEK (1994).

    O Modelo Demanda-Controle foi representado por Karasek como

    figura quadrangular (Figura 1), composta por quatro quadrantes, cada um

    representando as quatro associaes possveis entre os nveis das demandas e

    os graus de controle (baixo / elevado), ou seja:

    demandas psicolgicas elevadas e baixo controle do trabalho situao

    que Karasek (2005) denominou de job strain, que pode ser entendida como

    situao geradora de desgaste psicolgico elevado para o trabalhador;

    demandas psicolgicas elevadas acompanhadas de grau de controle sobre

    o trabalho tambm elevado situao que Karasek considera como

    potencialmente desafiadora e, nesse sentido, propiciadora de condies

    para o desenvolvimento e crescimento do trabalhador (trabalho ativo);

    baixas demandas psicolgicas acompanhadas de baixo controle que, para

    Karasek configuram situaes desestimulantes, geradoras de tdio e de

    desinteresse, e que Leplat (1980) considera emburrecedoras (trabalho

    passivo);

    baixas demandas psicolgicas e grau de controle elevado situao em

    que haveria pouco desgaste para o trabalhador, uma vez que ele tem as

    melhores condies para planejar e para executar seu trabalho.

  • Introduo

    37

    A esse modelo bidimensional de Karasek, formulado nos anos 70,

    Johnson (1988) acrescentou uma terceira dimenso, a de suporte social.

    O questionrio desenvolvido por Karasek compe-se de quarenta e

    nove questes que avaliam as dimenses demanda, controle e suporte. Theorell

    (1988) reduziu as questes de quarenta e nove para dezessete.

    Arajo et al. (2003) utilizaram o questionrio de Karasek, composto

    por quarenta e nove questes, para avaliar as condies de sade e trabalho de

    professores da Universidade Estadual de Feira de Santana e de dentistas em 21

    municpios da regio de Alagoinhas, na Bahia. Os autores salientam tratar-se de

    investigao preliminar e no descrevem como foi realizada a traduo /

    adaptao do questionrio, que no foi submetido validao para emprego no

    Brasil.

    Alves et al (2004) traduziram e validaram o questionrio

    desenvolvido por Theorell composto por dezessete questes.

    2.5. Transtorno mental comum - TMC

    Segundo a OMS (2002), transtornos mentais e do comportamento

    so

    condies clinicamente significativas caracterizadas por alteraes

    do modo de pensar e do humor (emoes) ou por comportamentos

    associados com angstia pessoal e / ou deteriorao do

    funcionamento,

    e compreendem:

    transtornos mentais orgnicos,

    transtornos mentais e do comportamento devidos ao abuso de substncia

    psicoativa,

    esquizofrenia, transtornos esquizotpicos e transtornos delirantes,

    transtornos neurticos, transtornos relacionados ao estresse e transtornos

    somatoformes,

    sndromes comportamentais associadas a disfunes fisiolgicas e fatores

    fsicos,

    transtornos da personalidade e do comportamento do adulto,

    atraso mental

  • Introduo

    38

    transtornos do desenvolvimento psicolgico

    transtornos do comportamento e transtornos emocionais que aparecem

    habitualmente na infncia e na adolescncia

    transtorno mental no especificado

    A distribuio desses transtornos universal, ocorrendo em todo o

    mundo, entre homens e mulheres, ricos e pobres e em todas as faixas etrias.

    Estima-se que 10 % dos adultos esto acometidos por tais desordens e que uma

    em cada quatro pessoas apresenta pelo menos um transtorno mental ao longo da

    vida. Entre os usurios dos servios de ateno primria sade, 24 % apresenta

    algum transtorno mental. Em estudo realizado em 14 pases do mundo, pela

    Organizao Mundial de Sade, verificou-se que as prevalncias gerais de

    transtornos mentais, de depresso, ansiedade e dependncia de lcool

    apresentaram variao entre os pases e o Brasil foi o segundo pas com maior

    prevalncia (35,5%) de transtornos mentais entre usurios de servios de ateno

    primria sade (OMS, 2002).

    Os efeitos dos transtornos mentais so bastante deletrios e

    atingem o indivduo, sua famlia, sua comunidade, havendo perdas relativas s

    relaes humanas, problemas financeiros das famlias, aumento do gasto social

    com o cuidado a essas pessoas, perda da produtividade do pas, aumento da

    criminalidade, maior taxa de morte prematura e maiores taxas de baixa qualidade

    de vida dos doentes e familiares (OMS, 2002).

    Alguns sintomas no preenchem critrios para sua caracterizao

    como transtornos mentais especficos, porm no deixam de ser condies de

    sofrimento psquico de carter incapacitante (LIMA, 1999). Transtorno mental

    comum (TMC) foi uma expresso criada por Goldberg & Huxley (1992) apud Lima

    (2004) para designar tais sintomas: insnia, fadiga, irritabilidade, esquecimento,

    dificuldade de concentrao e queixas somticas.

    No Brasil, vrios estudos tm revelado alta prevalncia desses

    transtornos mentais comuns nas populaes. (LUDERMIR, 2000; COSTA et al.,

    2002; LIMA, 2004; ARAJO et al., 2005; COSTA & LUDERMIR, 2005). As

    conseqncias individuais e o impacto social desses transtornos reforam a

    necessidade de identificao precoce dessas condies para interveno de

    carter individual e coletivo (LIMA, 1999; OMS, 2002).

  • Introduo

    39

    Em vrios estudos, numerosos fatores tm sido associados

    prevalncia de transtorno mental comum, dentre os quais:

    atributos do indivduo

    sexo feminino (LUDERMIR, 2000; COSTA et al, 2002);

    idade (COSTA et al, 2002);

    raa negra ou parda, no caso das mulheres (ARAJO, 2005);

    baixa escolaridade (LUDERMIR & MELO FILHO, 2002);

    aspectos sociais e familiares

    insuficincia / ausncia de apoio social (COSTA & LUDERMIR, 2005);

    ter sido vtima de violncia - agresso fsica / assalto / roubo (LOPES et

    al., 2003);

    ter filhos, no caso das mulheres (ARAJO, 2005);

    presena de pessoa doente na famlia (LIMA, 2004);

    rompimento de relao amorosa (LOPES et al. 2003);

    ser divorciado ou separado (LIMA et al., 1999) ou vivo (ARAJO,

    2005);

    residir em rea urbana (LIMA et al., 1999);

    mudana forada de moradia (LOPES et al., 2003);

    bem estar espiritual como fator de proteo (VOLCAN et al., 2003)

    internao hospitalar e doena grave (LOPES et al., 2003)

    problemas financeiros graves (LOPES et al., 2003)

    no dedicar tempo semanal ao lazer, no caso das mulheres (ARAJO,

    2005)

    aspectos do trabalho

    baixa renda (COSTA et al, 2002; LUDERMIR & MELO FILHO, 2002);

    excluso do mercado formal de trabalho (LUDERMIR, 2000;

    LUDERMIR & MELO FILHO, 2002);

    desemprego (LIMA et al., 1999);

    trabalhadores com altas demandas psicolgicas no trabalho e baixo

    controle sobre o trabalho (ARAJO et al, 2003);

    ambiente fsico desfavorvel, ocupao, caractersticas da organizao

    do trabalho, como alterao de escala de trabalho (SOUZA & SILVA,

    1998);

  • Introduo

    40

    Harding et al. (1980), com incentivo da Organizao Mundial da

    Sade, desenvolveu instrumento Self Reporting Questionnaire - com objetivo de

    indicar a presena de transtornos mentais comuns em usurios dos servios de

    Ateno Primria e na comunidade em geral. A validao do instrumento se deu

    em vrios pases do mundo e tambm no Brasil (MARI & WILLIANS, 1986). A

    verso mais utilizada inclusive em estudos de base populacional no Brasil e no

    municpio de Botucatu - possui 20 questes - SRQ-20 (LUDERMIR & MELO

    FILHO, 2002; LIMA, 2004; ARAJO et al., 2005; COSTA & LUDERMIR, 2005).

    2.6. Burnout em profissionais de sade

    Um dos agravos que atinge trabalhadores que se ocupam do

    cuidado a outras pessoas, como professores, bombeiros, policiais e profissionais

    de sade a sndrome do esgotamento profissional, ou burnout. Este termo, em

    ingls popular se refere quilo que deixou de funcionar por absoluta falta de

    energia (BENEVIDES-PEREIRA, 2002), possivelmente, significando o

    trabalhador que chegou ao limite.

    Trata-se de sndrome descrita em meados da dcada de 70

    (BENEVIDES-PEREIRA, 2002) e definida como resposta a estressores

    emocionais e interpessoais crnicos no trabalho, e que apresenta trs

    componentes: exausto emocional, despersonalizao e realizao profissional

    reduzida (MASLACH & JACKSON, 1998, MASLACH & LEITER, 1999;

    FREUDENBERGER, 2005; MASLACH, 2005).

    A exausto emocional significa o esgotamento fsico e mental, a

    sensao de estar acabado. A despersonalizao corresponde s mudanas de

    personalidade do indivduo, fazendo-o comportar-se de forma cnica, irnica com

    usurios dos servios nos quais atua. Finalmente, o terceiro componente da

    sndrome, a realizao profissional reduzida, caracteriza-se por insatisfao com

    atividades no trabalho, sensao de fracasso profissional e desmotivao.

    A maioria dos autores acredita que qualquer profissional pode

    desenvolver burnout e que sua incidncia maior em indivduos que possuem

    ocupaes que implicam prestao de algum tipo de assistncia, como mdicos,

    enfermeiros, professores, assistentes sociais, advogados, dentistas, policiais,

    agentes penitencirios, bombeiros, psiclogos.

  • Introduo

    41

    Para Maslach & Leiter (1999), entre os trabalhadores com riscos de

    desenvolver burnout, o processo de trabalho se caracteriza pelo papel central das

    relaes entre provedores e receptores. Alm disso, a realizao de cuidados

    constitui experincia com elevada carga emocional, particularmente porque os

    problemas dos receptores muitas vezes so de difcil soluo, o que pode

    acarretar frustrao e sensao de ambigidade para o cuidador, gerando risco

    de desenvolvimento de burnout. Assim, as ocupaes que implicam assistncia

    tm sido consideradas como especialmente afetadas por essa sndrome.

    O portador de burnout costuma apresentar sintomas:

    fsicos: fadiga constante e progressiva, distrbios do sono,

    imunodeficincias, transtornos cardiovasculares, alteraes menstruais,

    etc;

    psquicos: falta de ateno, lentificao do pensamento, impacincia,

    labilidade emocional, desnimo, depresso, baixa auto-estima, etc;

    comportamentais: negligncia, excesso de escrpulos, irritabilidade, perda

    de iniciativa, uso de drogas, etc;

    defensivos: isolamento, absentesmo, ironia, cinismo, etc.

    Entre os prejuzos para o servio no qual est inserido, dentre

    outros, destaca-se diminuio da qualidade, predisposio a acidentes, abandono

    do emprego, absentesmo, rotatividade de profissionais e baixa produtividade.

    Cabe assinalar que existem vrios instrumentos para identificar e

    mensurar a sndrome de burnout. Dentre eles, o mais difundido o Maslach

    Burnout Inventory (MBI), questionrio auto-aplicvel, criado pelas psiclogas

    sociais Christina Maslach e Susan Jackson, e que avalia as trs dimenses da

    doena - exausto emocional, despersonalizao e realizao profissional

    reduzida, traduzido e validado para utilizao no Brasil (LAUTERT, 1997;

    BORGES et al., 2002; CARLOTTO & CMARA, 2004).

    2.7. Trabalho e sade mental dos trabalhadores da sade no Brasil

    A associao de transtornos psquicos s profisses de sade tem

    sido estabelecida por uma srie de estudos que, at o momento, tm privilegiado

    mdicos e enfermeiros e atividades hospitalares, particularmente de urgncia /

  • Introduo

    42

    emergncia e centros de terapia intensiva. (BENEVIDES-PEREIRA, 2002;

    SELIGMANN-SILVA, 2003).

    Trata-se de estudos que mostram que, entre mdicos:

    h maior consumo de lcool e drogas do que em outros grupos

    profissionais;

    o uso nocivo e a dependncia de opiides e benzodiazepnicos

    aproximadamente cinco vezes maior do que na populao geral;

    h maior incidncia de depresso e alto nmero de suicdios.

    Sobrinho et al. (2006), em estudo de corte transversal realizado com

    amostra de 350 mdicos da Bahia, investigaram a associao das condies de

    trabalho desses profissionais (demanda-controle) e a presena de distrbios

    psquicos menores (Self Reporting Questionnaire - 20). Esses autores

    identificaram alta sobrecarga de trabalho na categoria, prevalncia de distrbios

    psquicos menores em 26% dos mdicos. Dentre os mdicos classificados com

    base no questionrio demanda controle como submetidos a altas demandas

    psicolgicas acompanhadas de baixo controle sobre o trabalho, essa

    porcentagem foi de 42,9%.

    Em consonncia com os dados encontrados em outros estudos,

    Sobrinho et al. (2006) verificaram que prevalncia de distrbios psquicos

    menores estava associada, entre outros fatores, ao sexo feminino, idade menor

    que 45 anos, a no praticar atividade fsica, ao fato de no trabalhar em

    consultrio tpico (prestao de servios, regime de planto).

    Arajo et al. (2003) conduziram estudo de corte transversal para

    avaliar associao de distrbios psquicos menores (Self Reporting Questionnaire

    - 20) e classificao da situao de trabalho segundo o modelo de Karasek, em

    502 trabalhadoras de enfermagem de um hospital pblico de Salvador, Bahia. A

    prevalncia de distrbios psquicos menores foi de 33,3%, sendo de 20% para as

    enfermeiras e 36,4% para as auxiliares de enfermagem. Novamente, houve

    associao da presena de distrbios psquicos menores com alta demanda

    psicolgica e baixo controle sobre o trabalho. Alm disso, verificou-se a

    associao a sobrecarga domstica, baixa escolaridade, situao conjugal

    divorciada, separada, viva tempo de lazer, valorizao no trabalho e suporte

    social.

  • Introduo

    43

    Em estudo qualitativo realizado entre enfermeiros da cidade de

    Braslia por Stacciarinni & Trccoli (2001), com o objetivo de compreender o

    estresse nas diferentes ocupaes do enfermeiro, verificou-se que entre os

    grupos pesquisados (assistencial, administrativo e docente), no houve

    sinalizao de que alguma das atividades pudesse gerar mais sofrimento que

    outra. Os autores constataram que os trs grupos apontaram elementos

    estressores dentro da atividade especfica e alguns deles foram comuns s trs

    categorias.

    Giglio et al. (2006), em estudo que investigou a freqncia da

    sndrome de burnout entre mdicos cancerologistas filiados Sociedade

    Brasileira de Cancerologia, observaram que, segundo critrios de Grunfeld et al.

    (2000) apud Giglio (2006), 52,3% dos 136 indivduos que aderiram pesquisa

    (21%) apresentavam burnout. Houve associao positiva entre exausto

    emocional e pouca prtica de atividade fsica e no trabalhar somente em

    servios pblicos. Os profissionais apontaram como meios de reduzir o estresse

    no trabalho a diminuio da burocracia e o limite do nmero de pacientes

    atendidos.

    Feliciano et al. (2005), em pesquisa qualitativa, realizada em Recife,

    acerca dos sentimentos dos profissionais de pronto-socorro infantil sobre o

    trabalho com foco nos componentes do burnout, identificam a tendncia

    exausto emocional.

    Estudo de Facundes & Ludermir (2005) sobre a prevalncia de

    transtornos mentais comuns entre estudantes de graduao de Educao Fsica,

    Enfermagem, Odontologia e Medicina da Universidade de Pernambuco, revelou

    que houve diferenas estatisticamente significantes nas prevalncias de

    transtornos mentais comuns nos diversos cursos, em ordem decrescente:

    Medicina, Odontologia, Enfermagem e Educao Fsica.

    Lautert (1997), em estudo que investigou o burnout em enfermeiras

    de dois hospitais universitrios de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, encontrou

    nveis moderados de desgaste emocional entre essas profissionais. A autora

    afirma, com base nos resultados, que o burnout foi especfico da atividade laboral

    da enfermeira. Os setores de emergncia, unidade de internao clnica e

  • Introduo

    44

    cirrgica e unidade de terapia intensiva apresentaram as maiores mdias de

    desgaste emocional.

    Batista & Bianchi (2006) realizaram investigao para determinar o

    nvel de estresse dos enfermeiros de unidades de emergncia de hospitais

    pblicos e privados de So Paulo. Utilizaram instrumento com 57 questes

    agrupadas em grupos de estressores, com escala do tipo Likert. Obtiveram

    escore para cada enfermeiro e classificaram o nvel de estresse em baixo, mdio,

    alerta para alto e alto. As categorias de estressores que tiveram os escores mais

    altos foram: condies de trabalho para o desempenho das atividades de

    enfermeiro e atividades relacionadas administrao de pessoal.

    Em estudo de corte transversal, Schmidt & Dantas (2006), avaliaram

    a qualidade de vida no trabalho sob a tica da satisfao de 105 profissionais de

    enfermagem de unidades cirrgicas de quatro hospitais de Londrina. Identificaram

    que os profissionais, em geral, esto insatisfeitos com os aspectos do trabalho

    avaliados, especialmente com requisitos do trabalho, normas organizacionais e

    remunerao.

    Elias & Navarro (2006) em estudo qualitativo investigaram as

    relaes entre trabalho, sade e condies de vida de dez profissionais de

    enfermagem do sexo feminino, do Hospital de Clnicas da Universidade Federal

    de Uberlndia, Minas Gerais, observando existncia de sobrecarga de trabalho.

    As entrevistadas negaram problemas de sade, porm, durante as entrevistas

    relataram inmeras queixas fsicas e psquicas, fato que sugere a existncia do

    fenmeno da negao como estratgia de defesa. O estudo traz tona o conflito

    entre o ideal da profisso e a realidade do trabalho, o tempo de descanso

    insuficiente, a insatisfao no trabalho relacionada, sobretudo, no valorizao

    profissional. Alm disso, os autores observaram que as trabalhadoras no

    cuidavam da prpria sade regularmente.

    Nota-se a escassez de estudos envolvendo outras categorias

    profissionais, especialmente profissionais no universitrios, sobretudo no tocante

    ateno primria sade. Verifica-se, tambm, que a maior parte dos estudos

    tem como objetivo a determinao da prevalncia de agravos, sem abordar

    aspectos do trabalho. Foram encontrados poucos estudo relativos interveno

  • Introduo

    45

    no processo de adoecimento (PEREIRA & BUENO, 1997; MURTA & TRCCOLI,

    2004).

  • 3. JUSTIFICATIVA

  • Justificativa

    47

    Este estudo justifica-se face: ao que se conhece sobre a ocorrncia de transtornos mentais relacionados

    ao trabalho em profissionais do setor sade;

    potencial gravidade das repercusses individuais, institucionais e sociais

    desses agravos.

    em virtude da maioria dos estudos enfocar trabalhadores hospitalares (no

    foi encontrado nenhum estudo que abordasse trabalhadores do setor

    primrio de ateno sade).

  • 4. OBJETIVOS

  • Objetivos

    49

    4.1. Objetivo Geral

    Estimar a prevalncia de transtornos mentais comuns em servidores da

    rede bsica de sade de Botucatu SP e estudar a associao entre estes

    transtornos e condies gerais de trabalho.

    4.2. Objetivos Especficos

    Descrever os servidores segundo variveis scio-demogrficas:

    idade naturalidade

    sexo escolaridade

    situao conjugal existncia de dependentes

    Descrever os servidores segundo variveis relacionadas ao trabalho:

    ocupao

    tipo de vnculo empregatcio

    atividade exercida

    tempo de trabalho na atividade

    trabalho pregresso exercido

    tempo de locomoo casa trabalho

    meio de locomoo

    caractersticas da jornada de trabalho

    cursos de capacitao realizados

    Avaliar a satisfao dos servidores com o trabalho.

    Avaliar demandas psicolgicas, grau de controle sobre o prprio trabalho

    e presena de suporte social no trabalho.

    Verificar existncia de associao entre diagnstico de transtornos

    mentais comuns e:

    variveis scio-demogrficas

    variveis relacionadas ao trabalho

    satisfao com o trabalho

    situao quanto demanda/controle/suporte

  • 5. CASUSTICA E MTODOS

  • Casustica e Mtodos

    51

    Trata-se de estudo de corte transversal descritivo, em populao de

    servidores da rede bsica de sade de Botucatu SP, cuja coleta de informaes

    foi efetuada de abril a outubro de 2006.

    O estudo foi autorizado pela Secretaria Municipal de Sade (Anexo

    1) e pela Direo do Centro de Sade Escola (Anexo 2) e aprovado pelo Comit

    de tica em Pesquisa da Faculdade de Medicina de Botucatu UNESP (Anexo 3)

    5.1. Casustica

    Composta por profissionais que trabalham na rede bsica de sade

    de Botucatu - SP e que, esclarecidos sobre os objetivos desse estudo,

    concordaram em dele participar. Foram considerados como rede bsica os

    seguintes conjuntos de servios: unidades bsicas de sade (centros de sade),

    unidades de sade da famlia, unidades do Centro de Sade Escola, Centro de

    Especialidades Odontolgicas e Centro de Referncia em Sade do Trabalhador.

    Foram excludos do estudo profissionais vinculados a outras instituies e que

    exerciam atividades pontuais nesses servios.

    Caracterizao de Botucatu e de sua rede de sade

    Fundada em 23 de dezembro de 1843, Botucatu - Ibytu-katu, que em

    tupi significa "bons ares" - uma cidade paulista de 121 274 habitantes (IBGE,

    2006) localizada a 224,8 km da capital.

    Segundo o Sistema de Anlise de Dados (SEADE, 2006), a

    distribuio da populao indica predominncia de populao urbana (96,39%) e

    feminina (razo de sexos = 95,62%). A taxa de crescimento populacional para o

    perodo de 2000 a 2005 foi de 1,64% a.a. O ndice de envelhecimento em 2005,

    estava em 50,69%, porcentagem muito acima do conjunto do Estado de So

    Paulo (39,17%).

    Segundo a SABESP, 100% dos domiclios possuem gua tratada e

    96% rede coletora de esgotos. O perfil de atividade econmica do municpio

    caracteriza-se por participao nos setores de prestao de servios e industrial

    (SEADE, 2006).

    O ndice de desenvolvimento humano em 2000 estava em 0,822,

    superior ao do Estado de So Paulo (0,814). Para o perodo de 2000 a 2004, o

    coeficiente de mortalidade infantil foi de 12,8 bitos de menores de 1 ano por

  • Casustica e Mtodos

    52

    1000 nascidos vivos e as principais causas de morte, segundo captulos da

    dcima Classificao Internacional de Doenas, foram, em ordem decrescente,

    doenas do aparelho circulatrio, neoplasias e causas externas. Evidencia-se

    grande heterogeneidade dos indicadores de morbimortalidade nas diferentes

    reas da cidade (CARANDINA, 2005).

    O sistema municipal de sade composto por:

    16 unidades bsicas de sade (oito unidades de sade da famlia, seis

    centros de sade, dois centros de sade sob gerncia da Faculdade de

    Medicina de Botucatu UNESP)

    Centro de Especialidades Odontolgicas de Botucatu

    Centro de Referncia em Sade do Trabalhador (referncia para parte de

    Direo Regional de Sade XI DIR XI)

    Ambulatrio Regional de Especialidades da DIR XI

    Centro de Ateno Psicossocial (CAPS II)

    Centro de Ateno Psicossocial (CAPS AD)

    Residncias Teraputicas e Lares Abrigados

    Hospital da Associao Beneficente dos Hospitais Sorocabana

    Hospital Psiquitrico Professor Cantdio de Moura Campos

    Hospital Misericrdia Botucatuense (no conveniado com o SUS)

    Laboratrio Regional da DIR-XI

    Hospital de Clnicas da Faculdade de Medicina de Botucatu UNESP.

    A rede bsica de Botucatu tem histria particular, mas que no foge

    do contexto geral da Sade Pblica no Estado de So Paulo. Em 1972, a cidade

    contava com duas unidades de sade: o Centro de Sade I e o recm inaugurado

    Centro de Sade Escola da FMB UNESP. O primeiro fazia parte do conjunto de

    centros de sade do Estado de So Paulo, servios com organizao vertical que

    desenvolviam aes dirigidas ao combate de doenas especficas (tuberculose e

    hansenase) e algumas outras relacionadas sade materno-infantil (NEMES,

    1993). O segundo nasceu de um convnio entre a FMB UNESP, na poca

    Faculdade de Cincias Mdicas e Biolgicas de Botucatu (FCMBB), e a

    Secretaria Estadual de Sade de So Paulo (SES).

    A FCMBB era uma escola mdica nova, na qual muito se discutia

    sobre a necessidade de mudanas no ensino e na formao mdica. Influenciada

  • Casustica e Mtodos

    53

    pelos movimentos das Medicinas - Integral, Preventiva e Comunitria -, desejava

    reorientar suas prticas para campos de ensino extramuros (CYRINO, 2002).

    Nessa mesma poca, a Secretaria de Estado da Sade (SES), dava

    andamento a uma reforma administrativa e tinha interesse em criar servios que

    pudessem ampliar e diversificar as aes de sade, articular aspectos individuais

    e coletivos e formar sanitaristas (CYRINO, 2002).

    Assim, foi firmado um convnio entre a UNESP e a Secretaria de

    Estado da Sade de So Paulo criando o Centro de Sade Escola, CSE, na Vila

    dos Lavradores. Em 1982, foi criada uma segunda unidade, na Vila Ferroviria.

    Em 1986, ainda antes do incio da implantao do SUS, teve incio a

    expanso da rede bsica de sade, criando-se as primeiras unidades sob

    gerncia direta do municpio. Embalada pela criao do SUS, pelos mecanismos

    indutores da reorganizao da ateno bsica no Brasil e pelos movimentos

    s