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    Texto Especial 251 agosto 2004

    | Autor| Assunto| Nmeros|Textos especiais| Pgina principal| Vitruvius|

    Sociabilidades e usos contemporneos do patrimnio cultural (1)Jovanka Baracuhy C. Scocuglia

    Jovanka Baracuhy C. Scocuglia arquiteta e urbanista, docente epesquisadora do Departamento deArquitetura/Universidade Federal daParaba. Possui publicaes emrevistas nacionais especializadas elivros na rea de Sociologia Urbana:"Cidade, Habitus e CotidianoFamiliar" (2001); "Revitalizao urbanae (re) inveno do centro histrico deJoo Pessoa" (no prelo, Ed. UFPB,ul/2004) e "Cidadania e patrimniocultural" (no prelo, Ed. UFPB, jul/2004)

    Nas duas ltimas dcadas do sculo XX, em vrias cidades do mundo, foramdesencadeados processos de revitalizao (2) de reas urbanas degradadaspromovendo reutilizaes do patrimnio cultural, bem como dos recursosambientais e paisagsticos. Nestas experincias recorrem aos smbolosrepresentativos dos primrdios da formao das cidades ou de um saber fazer, deprticas ligadas tradio e memria coletiva. Destacam-se antigos trechos

    porturios, fbricas desativadas e centros histricos, bem como atuaes nosentido da terceirizao dos usos. Em geral, so processos que procuram atrairnovos usos dos espaos na tentativa de viabilizar o sistema econmico utilizandocomo recurso o dinamismo cultural e turstico destes stios histricos.

    So intervenes urbansticas que pressupem um processo no qual aesintegradas se desenvolvam mediante um planejamento estratgico entre poderpblico, iniciativa privada e usurios. A idia geral que os resultados positivosrealimentem o processo atraindo novos investidores, gerando outros projetos.Expressam, assim, um dilema central da cultura contempornea entre preservar econsumir e, alm disto, seus aspectos excludentes vm encontrando resistnciaorganizada da sociedade civil, em fruns e associaes no-governamentaiscomo, por exemplo, em So Paulo, do Frum Centro Vivo (2000) que renemovimentos populares urbanos, pastorais, universidades e entidades de defesa

    dos diretos humanos, educao e cultura. So espaos geradores de intensastrocas scio-culturais, de lugares pblicos de contestao e/ou reivindicao dedireitos sociais, mas tambm de segregao scio-espacial.

    Adotados em maior ou menor escala em diversas cidades, ganharam destaqueaps as experincias norte-americanas e europias bem sucedidas, a exemplodas pioneiras Baltimore, Londres, Barcelona, Lisboa e Cidade do Porto, entreoutras. Na Amrica Latina, destacam-se Puerto Maderoe o bairro de La Boca, emBuenos Aires. No Brasil, esse processo tem caracterizado diversos projetos comoa reurbanizao da Praa 15 de Novembro(Rio de Janeiro), o Projeto Cores daCidade(Curitiba, Rio de Janeiro e Recife) e as experincias no PelourinhodeSalvador, alm de iniciativas diversas em cidades como Fortaleza, So Lus, JooPessoa, entre outras.

    No Brasil, diante de um quadro de crise econmica e social, destacam-se, nasanlises sobre o fenmeno da revitalizao urbana, pelo menos, duas posiesque divergem quanto a esta forma de preservar e de, ao mesmo tempo, consumiros bens culturais. De um lado, uma abordagem que ressalta a necessidade dereestruturao dos centros urbanos devido caracterizao destas reas comolocais marginais, violentos e decadentes, associando tais polticas possibilidadede dinamizao da economia urbana e conseqente gerao de emprego erenda. Vem-nas como estratgias de desenvolvimento local (3), utilizadas em

    Sobrados art dco e art nouveau, reformados em 1998, na PraaAnthenor Navarro, Centro histrico de Joo Pessoa

    Sobrados art dco e art nouveau, reformados em 1998, na PraaAnthenor Navarro, Centro histrico de Joo Pessoa

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    funo do declnio da economia e das crises fiscal e financeira, marcantes desdea dcada de 1980 quando o governo central teria se desobrigado das polticaspblicas, exigindo mais responsabilidades de instncias municipais e estaduais.Teriam sido abalados os modelos de investimentos em infraestrutura urbana e asprefeituras impelidas a gerar recursos e procurar estratgias de desenvolvimentosustentvel. Nesta lgica, h um jogo de marketinge competio entre cidadespor investimentos produtivos no mundo globalizado, no qual os bens culturais e asespecificidades locais so elementos fundamentais por seus atributos ambientais,culturais e histricos.

    De outro lado, acentuam-se as anlises que compreendem tais experincias derevitalizao como prticas de gentrification(4), ou seja, como produo de uma

    cidade desigual, seja quando expulsam a populao de baixa renda de bairros etrechos urbanos revitalizados em prol de interesses econmicos das elites, sejaquando tomam as culturas apenas como elementos de captao deinvestimentos, mercadorias sobre as quais constri-se um consenso sobre osrumos da cidade, financiado pelo capital privado e internacional. Nesta segundaperspectiva, estar-se-ia mimetizando o Primeiro Mundo e colocando os problemase especificidades locais em segundo plano, muitas vezes atropelando questesambientais e culturais de cada sociedade.

    Estas anlises apontam para a necessidade de se questionar os resultados dosnovos processos de interveno urbana, do ponto de vista dos seus beneficirios,sobretudo quando se observa nos discursos em prol dos novos projetos umatendncia a apresentarem os interesses envolvidos como se fossem consensuais,interesses da cidade. Reifica-se uma realidade complexa, cuja marca a

    diversidade e a heterogeneidade, como j afirmavam os estudiosos da Escola deChicago, nas primeiras dcadas do sculo XX.

    Com efeito, no atual contexto da globalizao econmica, o que se observa aexacerbao das diferenas sociais na medida em que escasseiam os empregosno setor formal e aumenta a concentrao de renda (5). No Brasil e em paseschamados emergentes, polticas atreladas ao sistema financeiro internacionalagravaram a excluso social, o que se manifesta na maior visibilidade da pobrezanas reas urbanas (populao de rua, aumento do nmero de favelas) e noaumento dos indicadores de violncia, entre outras. Neste contexto, arevitalizao apresentada como instrumento para dinamizar a economia dascidades, gerando emprego e renda, bem como elemento propiciador darecuperao do espao pblico, em benefcio dos direitos de cidadania.

    Entretanto, a relao entre o acesso a esses direitos e a deteriorao ou mesmoeliminao de espaos abertos convivncia com a diversidade e a desigualdadetornou-se uma questo complexa nas cidades contemporneas. H evidncias deque a excluso social e a violncia so fatores que contribuem para a privatizaodas reas de convivncia coletiva, como mostrou Caldeira (6). Porm, h, ainda, apossibilidade de haver disjuno entre tal privatizao e o exerccio dos direitospolticos de cidadania.

    A questo torna-se mais complexa na medida em que, em muitas destas reas,evidenciam-se tambm formas de organizao em fruns e associaes civis paradefesa da manuteno dos antigos moradores e para discusses dos problemasligados s especificidades de cada localidade. Surgem novos usos e formas deapropriao do patrimnio e dos espaos pblicos nas cidades, merecedores dereflexes quanto s possibilidades de estarem sendo gerados espaosparticipativos e de sociabilidades pblicas. Alm disto, no se pode esquecer oforte apelo comunitrio que o patrimnio cultural apresenta quando associado identidade cultural das pessoas, aos direitos sociais e culturais estes ltimosreconhecidos pela Constituio de 1988 no Brasil, inseridos tambm no Estatutoda Cidade Lei n 10.257, de 10 de julho de 2001.

    No caso da cidade de Joo Pessoa (7), locusda investigao aqui desenvolvida,os anos 1980 evidenciaram a deteriorao do centro da cidade e um acentuadoprocesso de segregao espacial, pelo qual os pobres, cada vez mais, tenderama residir em periferias longnquas e precariamente equipadas ou nas franjas dasreas centrais. Enquanto os bairros da orla martima e adjacncias passaram aconcentrar moradias de classe mdia e alta, juntamente com comrcio e serviosmodernos. Estes, sobretudo na presente dcada, tendem a se concentrar emshopping centers, que passaram a se constituir, tambm, como centros de lazer.Novas centralidades urbanas proliferaram enquanto o antigo centro perdeu sua

    importncia comercial e residencial.

    Entretanto, um processo de revitalizao do centro histrico de Joo Pessoa foiiniciado em 1987 mediante Convnio Brasil/Espanha de CooperaoInternacional, mas apenas em finais dos anos 1990 ocorreu um movimento maisarticulado entre populao local, poder pblico e iniciativa privada no sentido darevalorizao do patrimnio cultural local (estes ltimos, sobretudo, a partir dos

    Largo de So F. P. Gonalves. Fonte: Catlogo publicado pelo Governdo Estado, 2002

    Casebres construdos s margens do rio Sanhau. V, ainda, osprdios da Antiga Alfndega e do Tesouro Provincial., armazns, bemcomo a igreja de So F. Pedro Gonalves onde se localiza o Largo demesmo nome. Fonte: Acervo da Comisso do Centro Histrico

    1 Feira de Cultura Popular de Joo Pessoa 2001/Apresentao dastribos indgenas na Praa Anthenor Navarro

    Festival de Arte Centro em Cena, em primeira verso na PraaAnthenor Navarro, 2000. Fonte: Acervo da Funjope / PMJP

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    recursos voltados para o turismo advindos de agentes financeiros internacionaiscomo o BID atravs do Prodetur/NE) (8). Este trabalho focalizou os novos usos eas sociabilidades nos espaos de lazer e de cultura que se estruturaram a partirdo perodo entre 1997-2002, marcado pelas obras, em especial, na PraaAnthenor Navarro e no Largo de So Frei Pedro Gonalves, pela dinamizaocultural destas reas pblicas e por um retorno das camadas mdias e da elitelocal (estudantes, profissionais liberais, artistas, etc.) ao antigo centro da cidade.

    Deste prisma, destacam-se sociabilidades diversificadas na formao de fruns,associaes e organizaes no-governamentais, bem como atividades culturaisnos espaos de lazer e diverso, festas populares, bares etc. como espaos nosquais se intensificaram as possibilidades de trocas, de aproximaes e de

    reconhecimento das diferenas. Trs associaes surgiram vinculadas aoprocesso de revitalizao e representam formas de ao social organizada nosentido de uma maior participao da populao local nos projetos: a) aAssociao Centro Histrico Vivo (Acehrvo), reunindo antigos e novoscomerciantes, moradores, jornalistas e artistas locais, representantes demovimentos sociais, pastorais, universidade e entidades ligadas aos direitoshumanos, cultura e educao no estado da Paraba; b) a Associao Oficina-Escola de Revitalizao do Patrimnio Cultural de Joo Pessoaque trabalha com

    jovens de baixa renda em canteiros de obras de restaurao baseados no objetivoe na filosofia de aprender fazendo em ofcios de carpinteiro, pedreiro, jardineiro,marceneiro e serralheiro e, por ltimo, c) a Associao Folia de Rua com oProjetoFolia Cidad. Este ltimo, centrado na perspectiva de alcanar e defender umacidadania para crianas e adolescentes residentes na favela Porto do Capimmediante um trabalho educativo e artstico ligado tradio do carnaval de rua.Estas, alm de novas instncias de debate sobre o tema, representam aesconcretas da sociedade civil no sentido da insero social da populao pobreresidente no Centro histrico.

    A conscincia da existncia de um centro histrico na cidade de Joo Pessoaampliou-se neste contexto de finais do sculo XX aliada s estratgias demarketingturstico do poder pblico, seguindo o modelo do Recife Antigoetentando construir uma nova imagem da cidade.

    Sociabilidade e cultura urbana inspiraes terico-conceituais

    A anlise da relao entre sociabilidadese consumo culturalrealizada nesteartigo inspira-se em Simmel (9) e nas contribuies tericas de Featherstone (10),Canclini (11), Certeau (12), Zukin (13), Arantes (14) e Leite (15), dentre outras,

    voltadas para as formas de produo e recepo das prticas culturais nacontemporaneidade e, em especial, aquelas relativas revitalizao urbana e dinamizao cultural nos antigos centros urbanos ou reas degradadas.

    As anlises de Canclini e de Featherstone possibilitaram-nos refletir sobre apoltica de proteo do patrimnio histrico administrada pelo Estado, buscandona arte e na cultura um tipo de crdito simblico (ao aparecer comorepresentantes da histria nacional) e as empresas que investem (e queremretorno econmico) na cultura de ponta, renovadora da imagem no interessadade sua expanso econmica. Alm de averiguar se apesar de ser essa a dinmicada expanso e segmentao do mercado, os diversos agentes sociais e culturais

    usurios, produtores de cultura e moradores das reas cujo patrimnio culturalpassou por revalorizao nos ltimos anos redimensionam suas prticas e seusrelatos ante tais contradies ou como imaginam que poderiam faz-lo.

    Entretanto, autores como Harvey (16), nos anos 1970, j haviam identificadoestas mudanas nas polticas culturais, associando-as com a crise de produocapitalista e com o consumo de massa. Analisando suas conseqncias emtermos de uma crise discursiva e de identidade, consideraram que essesreferenciais passaram a ser associados possibilidade de consumo e os bensculturais a representarem um poder e um statusdiretamente ligado ao mercado.Identificava-se um processo de insero dos bens culturais no circuito das novasformas miditicas e no consumo de massa.

    Contudo, as prticas da revitalizao urbana tambm apareceram associadas aosmovimentos de busca de identidade, de valorizao da memria urbana e dacidadania (17). nestes termos que so revistas a noo de pblico, de uso e deconsumo nas anlises contempornea (18). Essas anlises envolvem a dimensoda cultura urbana sob outro ngulo ao enfatizarem a importncia de incorporaremas operaes dos usurios supostamente entregues passividade e disciplina (19).

    Nesse sentido, a anlise das interaes sociais nos espaos revitalizadosrepresenta uma possibilidade de se entender como se estruturam associabilidades pblicas marcadas por diferenasscio-espaciaisconsubstanciadas nas diversas formas de consumir e de usar cotidianamente os

    Festival de Arte Centro em Cena, em segunda verso, em frente aoTeatro Santa Rosa, na Praa Pedro Amrico, 2001. Destacam-se ospalcos e teles montados na Praa Pedro Amrico. Fonte: Acervo daFunjope / PMJP

    Alunos da Oficina-escola em sala de aula e executando trabalhosespecializados de restaurao, esculpindo e reconstituindo antigaspeas cermicas, etc. Fonte: Catlogo comemorativo dos 10 anos deOficina-Escola de Joo Pessoa, 2001

    Aluno da Oficina-escola. Fonte: Catlogo comemorativo dos 10 anos dOficina-Escola de Joo Pessoa, 2001

    Projeto Folia Cidad Oficinas de Arte. Fotos Acervo do Projeto FoliaCidad

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    bens culturais. O consumo cultural estaria produzindo mais do que processos deapropriao de signos ao procurar afirmar singularidades, formas deentretenimento, criando rugosidades sobre as utopias lisasda cidade moderna(20). Nas palavras de Certeau,

    Os produtos que saem da restaurao esto portanto comprometidos.Isso j muito. As velhas pedras renovadas se tornam lugares detrnsito entre os fantasmas do passado e os imperativos do presente.So passagens sobre mltiplas fronteiras que separam as pocas, osgrupos e as prticas. maneira das praas pblicas para onde afluemdiferentes ruas, as construes restauradas constituem, de formahistrica e no mais geogrfica, permutadores entre memrias estranhas

    (...) o certo que as construes restauradas, j libertam a cidade de suapriso numa univocidade imperialista. Mantm a (...) heterodoxias dopassado. Salvaguardam um essencial da cidade, sua multiplicidade (21).

    2. Nova imagem e usos do patrimnio cultural na cidade de Joo Pessoa(1997-2002)

    Quatro anos depois de iniciadas as experincias de maior repercusso nacional a Operao Pelourinho, em Salvador, e a do Recife Antigo , o Jornal Correio daParaba, de 08 de maro de 1997) destacava A vez de Joo Pessoa e afirmavaque o poder municipal queria repetir a mesma faanha de Recife, cujo centrohistrico foi inteiramente revitalizado para o desfrute e convvio cultural dacomunidade pernambucana e dos milhares de turistas que se maravilham com atransformao l operada. Intensificavam-se as notcias nos principais jornais da

    cidade sobre a revitalizao do centro histrico. Tal fato demonstrava interessecrescente dos intelectuais, do Estado, da opinio pblica e da mdia sobre o tema.

    Repetia-se em Joo Pessoa no s a idia de pintar as fachadas com coresfortes, mas tambm as parcerias entre rgos pblicos e empresas privadas,incluindo-se os pequenos empresrios instalados na Praa Anthenor Navarro, jque as edificaes no foram desapropriadas, mas apenas negociados osaluguis. O sistema de parcerias foi o primeiro passo para a operacionalizao doProjeto de Revitalizao da Praa Anthenor Navarro marcado tambm pelatentativa de recriao da imagem do patrimnio histrico da cidade de JooPessoa.

    Firmou-se, assim, durante o perodo de 1997-2002, nova imagem e novos usosno centro histrico. Em todas as notcias dos jornais locais, recorria-se imagem

    da origem da cidade e idia de que o patrimnio cultural passaria deabandonado e em runas para algo dinmico, vivo, com cores e efervescnciacultural (22). Esta seria a forma que possibil itaria transformar aquele patrimnioem mercadoria nova e explor-lo para consumo cultural e turstico.

    Uma reportagem do Jornal A Unio, de 02 de novembro de 1997 destacava:

    O centro histrico pessoense est passando por uma grande cirurgiaplstica para voltar a ter a cara de quando a cidade estava comeando acrescer. Antigos prdios transformados em runas esto sendorecuperados para dar lugar a novas formas de explorao da chamadaCidade Antiga. (...) As runas que hoje fazem parte da paisagem urbanada Cidade Velha daro espao a barzinhos, centros culturais e praasque, apesar do aspecto de novo que passaro a ter, tero de volta umpouco da arquitetura que Joo Pessoa j teve h sculos. Mas o Projetovai alm da recuperao dos prdios antigos e passa pela revitalizaoda rea (...)

    Antevia-se a valorizao das potencialidades da rea como um centro cultural elanterninha da rota turstica do estado (Jornal O Norte, 30/03/1997). Antesmesmo de concludas as obras da Praa Anthenor Navarro e do Largo de SoPedro Gonalves, a Prefeitura Municipal de Joo Pessoa, atravs da Fundaode Cultura de Joo Pessoa Funjope, realizara o Baile dos Artistase as prviascarnavalescas com, aproximadamente, duas mil e quinhentas pessoas no Adro daIgreja de So Frei Pedro Gonalves. A Paixo de Cristo segundo o Anjo daAnunciao foi encenada em frente ao Adro da Igreja de So Francisco e oArraial do Varadouro, com o concurso de quadrilhas juninas, no Largo de So FreiPedro Gonalves.

    As festas juninas, as prvias carnavalescas, os lanamentos de livros, shows,festivais de cultura popular, o Auto de Deus, entre outras, delinearam formas deusos desses lugares. O casario reformado da Praa Anthenor Navarrotransformou-a num agitado ponto de encontro e diverso por onde circulavampolticos, escritores, intelectuais, artistas, estudantes, em principal, numa praailuminada e ao som de um burburinho de vozes e msica (jazz, MPB, msicainstrumental). Reforava-se a impresso cenogrfica da revitalizao, cujo

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    impacto passou a ser um enorme contraste social com a letargia do resto dobairro do Varadouro.

    Paralelamente a essa maior visibilidade, implantou-se um processo de publicidadedo centro histrico, incentivado at mesmo pela intensificao do ato de circular ede conhecer, vivenciar as qualidades, mas tambm os problemas daquela rea eda populao moradora. Tornava-se pblico ainda o descaso das autoridadeslocais com a poluio do rio Sanhau, agravada com a presena do Lixo doRger (23) e com as precrias condies do ambiente natural e da qualidade devida das pessoas residentes na comunidade Porto do Capim.

    Desse modo expressaram-se, desde o incio das intervenes mais recentes nocentro histrico de Joo Pessoa, as ambigidades especficas de uma experinciaque transformou em lugar de consumo uma praa abandonada e degradada, masno conseguiu revitalizar o patrimnio urbano no sentido de que no foitotalmente eliminada a imagem que a caracterizava. A imagem cenogrfica teriapouca durao, o palco sobre a praa seria desmontado, gradativamente, apsos dois primeiros anos de inaugurao da Praa Anthenor Navarro.

    Contudo, os smbolos da nova vida no centro histrico no estavam presentesapenas nos bares e eventos culturais diversificados no final dos anos 1990, mastambm nas formas de interaes sociais e, em especial, nas aes criadas porassociaes civis sem fins lucrativos, vinculando patrimnio cultural, arte eeducao.

    O saber-fazer e a memria do patrimnio a Oficina-escola de Joo Pessoa

    A Associao Oficina-Escola de Revitalizao do Patrimnio Cultural de JooPessoa foi criada em 1991 como suporte legal para o funcionamento da Escuela-Tallerde Joo Pessoa, num convnio entre a Agncia Espanhola de CooperaoInternacional AECI, o Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional IPHAN, o Governo do Estado da Paraba e a Prefeitura Municipal de JooPessoa. Foi implantada como parte do Projeto de Revitalizao do CentroHistrico de Joo Pessoa (1987) e, atualmente, j faz parte da histria doPrograma de Escuelas-Taller(24) em nvel internacional. Conforme a diretora doPrograma de Preservao do Patrimnio Cultural da Ibero-merica, los lazosestabelecidos van mucho ms all de los de carcter institucional, aprentndosede manera decidida y ya difcil de desatar a lo largo de estos aos de trabajoconjunto (25).

    Os trabalhos centrados no objetivo e na fi losofia de aprender fazendo e ensinarfazendo, ou ainda, trabalhar aprendendo utilizam a prtica cotidiana e o saber-fazer como fios que tecem a experincia educacional, pessoal e social dos

    jovens, professores e instrutores da Oficina-Escola. Em 1995, a Oficina-Escola deJoo Pessoa ganhou sede prpria no prdio da antiga Fbrica de Vinhos TitoSilva. A restaurao e o uso da fbrica Tito Silva (tombada pelo patrimnionacional na dcada de 1980) um exemplo do saber-fazer e da criatividade ediversidade regionais, da cultura material e imaterial.

    Nesse perodo, o extinto Pr-Memria (atual IPHAN) havia demitido osprofissionais que atuavam na execuo das obras de restaurao (pedreiros,marceneiros, carpinteiros etc), j que o rgo passara a exercer apenas funesde fiscalizao. A equipe recm-formada da Oficina-Escola incorporou, no projeto,quatro desses profissionais (serralheiro, marceneiro, carpinteiro e pedreiro) paraexercerem funes de professores instrutores nos ofcios ligados diretamente construo civil, ancorados no entendimento e conscientizao preservacionista.Passaram, assim, a ser parte importante do Projeto de Revitalizao einstrumento de formao de mo-de-obra especializada para suprir asnecessidades operacionais do processo de revitalizao, at ento executadaspor empresas privadas, num ritmo muitas vezes incompatvel com as exignciasda preservao. A partir de meados da dcada de 1990, foram entregues asprincipais obras restauradas pelos alunos das primeiras turmas da Oficina-Escola.Tiveram, assim, papel importante na intensificao do interesse despertado pelopatrimnio na cidade de Joo Pessoa, desde ento.

    Deste modo, a Oficina-Escola continua a atuar na capacitao de jovens de baixarenda para intervir fisicamente nos monumentos e reas urbanas do centrohistrico de Joo Pessoa, visando sua absoro pelo mercado da construo

    civil. Inicialmente, trabalhava-se com jovens de 16 a 24 anos, mas, na seqnciada experincia, esse critrio foi alterado, passando-se a selecionar maiores de 18anos (por questes de ordem trabalhista e de segurana do trabalho). Alm debolsas de estudo (correspondentes a um salrio mnimo), os alunos da Oficina-Escola de Joo Pessoa tm acesso educao, alimentao, fardamento, vale-transporte, assistncia mdica e psicolgica, orientao profissional e recebemestmulos auto-estima a partir da segurana adquirida por ofcios milenares.

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    Para manter estas atividades, a coordenao, os professores e alunosdesenvolvem tticas frente realidade social de pobreza na Paraba, bem comofrente s presses das instituies financiadoras. As interaes sociais e osconhecimentos adquiridos na experincia cotidiana de trabalho e convivnciaentre os membros da Oficina-Escola e com o patrimnio histrico, alm do cartercoletivo e participativo dessa forma de aprender trabalhando, representamtentativas de incluso social baseadas na relao entre patrimnio cultural ecidadania.

    Outras formas participativas: a Acehrvo e o Projeto Folia Cidad

    Em 2000, aps a concluso das obras da Praa e do Largo e ante um certoretraimento da Prefeitura Municipal e do Governo do Estado com relao s obrasde revitalizao e dinamizao cultural, formou-se o Frum para oDesenvolvimento Sustentvel do Centro Histrico de Joo Pessoa. Dele resultoua Associao Centro Histrico Vivo Acehrvo e o Workshop Construindo oFuturo, reunindo intelectuais, comerciantes, moradores, alguns polticos locais.Instituiu-se uma reunio pblica semanal no antigo Hotel Globo, onde se travaramas principais discusses e decises relativas ao tema. Iniciava-se a constituiode um espao de reivindicao da populao aos poderes pblicos locais.Cobrava-se vontade poltica, interesse pelos problemas da rea e continuidade nadinamizao cultural.

    O Projeto Folia Cidad, por sua vez, surgiu em 2001, como parte da AssociaoFolia de Rua uma associao criada a partir do movimento de artistas emoradores do bairro de Miramar no sentido de fazerem um resgate do carnaval de

    rua na cidade (26). O Folia Cidad voltou-se para a populao de crianas eadolescentes pobres da comunidade Porto do Capim, trabalhando a relao arte eeducao por meio de oficinas de percusso criativa, tcnica vocal, artesplsticas/cnicas, oficina de fabricao e reciclagem de papel, alm do curso deAnfitrio Mirim(27). Todas as aes da entidade tm como eixo central a tradiocultural do carnaval de rua (28).

    Este projeto representava, assim, uma ao dos prprios consumidores eusurios diante da situao precria de vida das crianas, no sentido de incentivara permanncia da populao pobre do centro histrico/Porto do Capim e odesenvolvimento de aes voltadas para a melhoria de vida. Iniciava-se, em tornodo centro histrico, uma politizao do debate acerca das reivindicaes sobrediretos culturais e pertencimento cidade. A Acehrvo e, depois, a AssociaoFolia de Rua/Projeto Folia Cidad, no apenas se tornaram as principais

    interlocutoras dos anseios da populao do bairro, como tambm passaram a serreconhecidas como indcios de que a populao organizada poderia influenciarpara garantir a continuidade e abrangncia do processo de revitalizao.

    Com efeito, as aes da Acehrvo e do Projeto Folia Cidad, como tambm asfestas, shows, festivais etc, atividades culturais promovidas pela Prefeitura e peloGoverno do Estado da Paraba nas reas revitalizadas se traduziram em esforosno sentido de transformar o Varadouro em um local onde se pode ter contato coma cultura popular paraibana. Mais do que isso, o vnculo entre patrimnio edificadoe as expresses imateriais da cultura configuraram uma tentativa de relocalizaoe de afirmao de uma tradio atravs da qual se buscava reinventar acentralidade de um espao da cidade.

    Apesar do discurso de incluso dos moradores da favela no processo de

    revitalizao em curso no bairro do Varadouro, por parte dos agentes culturais,associaes e poder pblico, percebia-se a forma como operavam as categoriasconflituosas de interao, onde as faces invisveis da excluso ganhavam forma.Deste modo, durante o dia, as aes do Projeto Folia Cidad significavam umatentativa de incluso dessa populao pobre no processo de revitalizao com umtrabalho desenvolvido com as crianas e adolescentes do Porto do Capim.Durante a noite, as caladas iluminadas e enobrecidas, e at mesmo o gostomusical dos freqentadores, demarcavam fronteiras e usos segregados da PraaAnthenor Navarro e do Largo de So Frei Pedro Gonalves. As representaesque os usurios faziam de si e dos outros estavam fortemente marcadas pelaspossibilidades de acesso a padres culturais de consumo, cujos limites sedefiniam a partir da transformao do patrimnio em mercadoria cultural.Enobrecidas as antigas edificaes, estas pareciam ficar mais distantes docotidiano dos moradores do bairro.

    J as prvias carnavalescas e a festa do So Joo, com o concurso dequadrilhas, passaram a contar com a participao de uma populao maisdiversificada da cidade como um todo. Nesses grandes eventos, milhares depessoas circulavam pelo bairro, em seus becos, ladeiras, praas e largos, demaneira indiscriminada. E at mesmo os moradores do Porto do Capimcomearam a ocupar os espaos da praa Anthenor Navarro com comrcioambulante, configurando-se como um exemplo de insurreio pelo uso dos

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    moradores pobres do bairro do Varadouro e imediaes.

    Contudo, a revitalizao do Centro histrico da cidade de Joo Pessoa noexpulsou sua populao moradora, talvez at mesmo pela forma lenta e gradualcom que as intervenes vm sendo conduzidas, se compararmos aos exemplosde Recife e Salvador, muito embora a gentrificationj tenha sido identificada namaneira como aconteceram as reformas e nos usos posteriores, especificamente,da Praa Anthenor Navarro e do Largo de So Frei Pedro Gonalves, cujadinamizao cultural gerou uma imagem distante da realidade da populaomoradora do bairro, privilegiando consumidores de segmentos da elite local. Asparcerias entre iniciativa privada e pblica tambm se tornaram elementos detransferncia de investimentos do primeiro para o segundo.

    Atualmente, as atividades de diverso na Praa Anthenor Navarro esto em fasede declnio, aps o fechamento da principal casa noturna do Centro histrico emabril de 2003. No entanto, no cotidiano do bairro continuam a circulartrabalhadores, moradores, consumidores e os alunos da Oficina-Escola de JooPessoa, como tambm, do Projeto Folia Cidad. Estes ltimos, representam parteimportante das novas sociabilidades no centro histrico aliadas quelas geradasnas noites, nos bares, boates e eventos artstico-culturais.

    Neste sentido, no centro histrico de Joo Pessoa, com a revitalizao de seupatrimnio cultural, passou-se a reinventar a centralidade de um lugar, a lanarpontes (29), que permitissem a continuidade das interaes sociais criadas apartir da arte e do consumo cultural.

    Notas

    1Elaborado a partir da tese de doutorado em Sociologia Urbana, Sociabilidade, espao pblico e cultura:usos contemporneos do patrimnio na cidade de Joo Pessoa, fev. de 2003, Universidade Federal dePernambuco.

    2Termo utilizado neste texto em razo do prprio nome do projeto original no Convnio Brasil/Espanha:Projeto de Revitalizao do Centro Histrico de Joo Pessoa (1987). Foi, tambm, utilizado nos planos eestratgias de interveno posteriores que complementaram as propostas gerais apresentadas em 1987.Atualmente, a expresso continua sendo usada nos documentos e referncias oficiais e no-oficiais.Contudo, consideramos a idia de dar nova vida inadequada, uma vez que est rea nunca estevemorta e, sim, abandonada em termos dos servios pblicos municipais e estaduais.

    3ZANCHETI, Silvio. Conservao Integrada e Novas Estratgias de Gesto, 4 Encontro do SeminrioInternacional sobre a Revitalizao de Centros Histricos de Cidades da Amrica Latina e do Caribe SIRCHAL, Salvador, 2000.

    4Este termo foi traduzido no Brasil por enobrecimento, mas alguns autores mantm o original em inglsgentrification, como os tradutores de Sharon Zukin, Featherstone, entre outros.

    5SASSEN, Saskia. As cidades na econmica mundial. So Paulo, Studio Nobel, 1994

    6CALDEIRA, Teresa Pires do Rio. Cidade de muros: crime, segregao e cidadania em So Paulo. SoPaulo: Editora 34, 2000.

    7Capital do estado da Paraba, foi fundada em 1585 como Cidade de Nossa Senhora das Neves. Chamou-se Filipia, quando da Unio das Coroas Portuguesa e Espanhola, e Fredericadurante a ocupaoholandesa. Aps a expulsam dos holandeses,Parahyba e, a partir de 1930, Joo Pessoa. Seu centrohistrico est situado s margens do rio Sanhau, numa plancie flvio-marinha da bacia hidrogrfica dorio Paraba que margeia o centro urbano e atinge a foz na cidade porturia de Cabedelo, extremo orientedo Nordeste brasileiro. Possui exemplares da arquitetura militar, civil e religiosa que remontam aosprimrdios das vilas e cidades brasileiras. Entretanto, as reas alvos das intervenes da dcada de 1990foram a Praa Anthenor Navarro e o Largo de So Frei Pedro Gonalves, cujo entorno marcado porconjuntos urbanos eclticos do incio do sculo XX e por influncias europias art nouveau e o art dco.

    8O Prodetur-NE Programa de Ao para o Desenvolvimento do Turismo no Nordeste Brasileiro foiimplantado em 1992 por iniciativa federal, junto aos governos estaduais, visando financiamento do BancoInteramericano de Desenvolvimento BID. Para isto foi obtido um crdito especial do governo federal, noBNDES, para a iniciativa privada que quisesse investir no setor. A estratgia do Prodetur se fundamenta,pelos menos no discurso, no trip: iniciativa privada, governo e populao. Esta poltica de turismo comofator de desenvolvimento teve incio no Brasil com a implantao do Plantur Plano Nacional de Turismo(1992), cujo fundamento a diversificao geogrfica da infra-estrutura concentrada no Sul e no Sudeste.A redistribuio se daria atravs de plos de desenvolvimento integrados, em novas reas, associadas expanso de infra-estrutura, estradas, aeroportos, etc.

    9SIMMEL, Georg. 1) A Metrpole e a Vida Mental. In: Velho, Otvio G. O Fenmeno Urbano. Rio de

    janeiro, Zahar, 1973, p. 11-25; 2) As Runas. In: Souza, J. & Olze, B. Simmel e a modernidade.Braslia, UnB, 1998, p. 79-108; 3) Bridge and Door. In: Frisby, David & Featherstone, Mike. Simmel onCulture-Selected Wrigings, London, Thousand Oaks, New Delhi, Sage Public, 2000, p. 170-174.

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    10FEATHERSTONE, Mike. 1) Cultura de consumo e ps-modernismo. So Paulo, Studio Nobel, 1995; 2) ODesmanche da Cultura Globalizao, ps-modernismo e identidade. So Paulo, Studio Nobel/SESC,1997.

    11CANCLINI, Nestor. 1) Culturas Hbridas: Estrategias para Entrar y Salir de la Modernidad. Mxico, D.F.:Grijalbo, 1989; 2), O patrimnio cultural e a construo imaginria do nacional. Revista do IPHAN, N23, 1994, p. 94-115. 3), Consumidores e cidados: conflitos multiculturais da globalizao. Rio de Janeiro,Editora da UFRJ, 1995.

    12CERTEAU, Michel de. 1), A inveno do cotidiano: artes do fazer. Petrpolis, Vozes, 1994; 2) Andandona Cidade. Traduo: Anna Olga de Barros Barreto. Revista do IPHAN Cidades, n 23, 1994, p. 21-31;

    3) CERTEAU, Michel, GIARD, L. e Mayol, P. A Inveno do Cotidiano 2. Morar, Cozinhar. Petrpolis,Vozes, 1998.

    13ZUKIN, Sharon. Paisagens urbanas ps-modernas: mapeando cultura e poder. Revista do IPHAN, N24, IPHAN, 1996. p. 205-219.

    14ARANTES, Antonio A. 1) Cultura e Cidadania. In: Arantes, Antonio (org). Revista do IPHAN Cidadania,n 24, 1996, p. 9-13; 2) ARANTES, Antonio A. (org.). O Espao da Diferena.Campinas, Papirus, 2000.ARANTES, Otlia. Uma estratgia fatal: a cultura nas novas gestes urbanas. In: ARANTES et alli. Acidade do pensamento nico; desmanchando consensos. Petrpolis: Vozes, 2000, p. 11-74.

    15LEITE, Rogrio Proena de Sousa. Espao pblico e poltica dos lugares: usos do patrimnio cultural nareinveno contempornea do Recife Antigo. Campinas, SP. Tese de Doutorado, Departamento deAntropologia/ IFCH/UNICAMP, 2001.

    16HARVEY, David. Condio ps-moderna. Traduo: Adail Ubirajara Sobral e Maria Stela Gonalves. SoPaulo, Loyola, 1992.

    17Prefeitura Municipal de So Paulo, Secretaria Municipal de Cultura, DPH. O direito memria: patrimniohistrico e cidadania, 1992. Em especial, textos de Bosi, Chau, Paoli, Rolnik e Menezes.

    18Cf. Antonio Augusto Arantes, Rogrio Proena de Sousa Leite, Nestor Canclini e Michel de Certeau, emobras citadas.

    19CERTEAU, Michel de Certeau.A inveno do cotidiano: artes do fazer(op. cit.).

    20CERTEAU, Michel, GIARD, L. e Mayol, P. A Inveno do Cotidiano 2. Morar, Cozinhar (op. cit.), p. 190.

    21Idem, ibidem, p. 194-195.

    22Dentro do programa de atrao de novas atividades econmicas, aps as obras de revitalizao, foramimplantados na Praa Anthenor Navarro, nos seus antigos imveis, bares (Parahyba Caf e Engenho doChopp), lojas de artesanato e design (Mixtura Filipia), galerias de arte e atelier de artistas plsticos, aFunjope, a Secretaria de Turismo do Municpio e o Memorial da Justia do Trabalho. No Largo foramimplantados: antiqurio (Dodge Antiguidades), uma associao cultural (Associao Folia de Rua), umescritrio de consultoria, uma editora, um escritrio do Programa Empreendedor Cultural do SEBRAE,produtora de vdeos e boate (Intoca).

    23Depsito de lixo da cidade localizado h 40 anos nas margens do rio Sanhau e que s aps adinamizao cultural do centro histrico, em fins dos anos 1990, aliada as presses dos grupos que alicirculam, foi transferido para um aterro sanitrio e em seu lugar construdo um parque ecolgico.

    24O programa de Escuelas-Tallervinha sendo desenvolvido na Espanha pelo Ministrio do Trabalho desde1986, voltado para adolescentes e jovens que apresentavam situaes de risco pessoal e social. Em1990 havia vrias escolas desse tipo s na Espanha, ensinando os ofcios da restaurao e preservaodo patrimnio histrico natural e construdo. Foi quando se firmou um convnio de colaborao entre oInstituto Nacional de Empleo INEM e a Agncia Espanhola de Cooperao Internacional AECI paraexpanso desse programa de Escuelas-Tallerem pases da Ibero-mrica. A Oficina-Escola de JooPessoa foi a segunda mais antiga do Programa de Preservao do Patrimnio Cultural da Ibero-mricae a primeira no Brasil, seguida em 1996 pela criao da Oficina-Escola de Salvador.

    25GMEZ-PALLETE, Amparo; MAZO, Miguel del. "Um orgulho". In: GOVERNO DO ESTADO DAPARABA. Paraba-Brasil. Oficina Escola de Joo Pessoa Dez anos reconstruindo o futuro. JooPessoa, Textoarte, 2001. p. 10.

    26Atualmente, as Muriocas do Miramar arrastam mais de 200.000 pessoas na quarta-feira que antecedea semana de Carnaval.

    27Esse projeto representou uma parceria da Associao Folia de Rua/Projeto Folia Cidad com a

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    Secretaria de Turismo de Joo Pessoa, que se realizou entre outubro e dezembro de 2001, atendendo avinte adolescentes numa programao que contou com aulas sobre histria da Paraba, conduta turstica,informaes tursticas e monumentos histricos. Aps essa primeira etapa, quinze adolescentes ficaramaguardando providncias por parte da Prefeitura Municipal de Joo Pessoa/Setur, no sentido depassarem segunda etapa do curso, ou seja, parte prtica. Com isso, poderiam atuar nos principaispontos tursticos do centro histrico, recebendo uma bolsa de incentivo, da ordem de 60% do valor dosalrio mnimo. Isso poderia ter sido uma oportunidade para, atravs da memria inscrita no patrimniocultural, desenvolver a responsabilidade da conservao naqueles que habitam o centro. Entretanto, oprojeto foi abandonado.

    28O Projeto Folia Cidad obteve o apoio do Ministrio da Cultura, atravs da Lei Rouanet (Lei n 8.313/91),com vistas captao de recursos junto s empresas privadas. Entretanto, a parceria mais importante foifirmada com o Instituto Ayrton Senna, trazendo maior reconhecimento nacional. O Instituto Ayrton Sennaaprovou este entre os dezesseis projetos nacionais escolhidos no Brasil para fazerem parte de uma

    experincia intitulada Cidado 21 Arte. Os objetivos desse ltimo foram inspirados no contedo do art 68do Estatuto da Criana e do Adolescente (Lei n 8.691/90), cuja nfase volta-se para a formaocontinuada de crianas e de adolescentes.

    29SIMMEL, Georg. Bridge and Door. In: Frisby, David & Featherstone, Mike. Simmel on Culture-SelectedWrigings(op. cit.).

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