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2002DO_SuzanaCPeleteiro

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  • CONTRIBUIES MODELAGEM NUMRICA DE

    ALVENARIA ESTRUTURAL

    SUZANA CAMPANA PELETEIRO

    Tese apresentada Escola de Engenharia de So

    Carlos, da Universidade de So Paulo, como

    parte dos requisitos para a obteno de ttulo de

    Doutor em Engenharia de Estruturas.

    ORIENTADOR: Prof. Dr. Mrcio Roberto Silva Corra

    So Carlos2002

  • Aos meus pais -

    Alcibei e Maria Ozilia -,

    irmos -

    Ubiratan e Guilherme -

    e sobrinho -

    Guilherme.

  • AGRADECIMENTOS

    A Deus, por tudo.

    Ao Prof. Dr. Mrcio Roberto Silva Corra, muito mais do que pela

    orientao, mas pela amizade, empenho, dedicao, pacincia e incentivo,

    no s durante a realizao deste trabalho, mas por todos esses anos de

    convivncia.

    Ao amigo Rivelli da Silva Pinto, no s pela amizade, mas pelo

    incentivo e apoio imprescindveis para a realizao desse trabalho.

    Ao Prof. Dr. Marcio Antonio Ramalho, pela amizade e incentivo.

    Aos amigos da TECSOF Engenharia de Estruturas, em especial

    amiga Valria Perassoli, pelo apoio e amizade inestimveis.

    Aos amigos Fabiana Lopes e Edgard, pela amizade e constante

    incentivo desde o mestrado.

    A Kristiane, Osvaldo e Vanessa, que sempre estiveram presentes com

    sua amizade nos momentos que necessitei.

    Ao Valentim e Andra Juste, pelo auxlio e informaes concedidas

    durante a realizao do trabalho e pela amizade.

    Aos amigos que fiz durante o mestrado e o doutorado: Aline, Ana C.,

    Anamaria, Ana Rita, Andra, ngela, Crs, Cristina Vidigal, Daniel, Fabiana

    Mamede, Felcio, Joel, Juliana, Luciana, Mnica, Rejane, Richard, Tatiana

    Almeida, Tatiana Dumet.

    Aos professores, colegas e funcionrios do Departamento de

    Engenharia de Estruturas da Escola de Engenharia de So Carlos, pela

    colaborao. Especialmente a Rosi e a Nadir.

    Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico

    CNPq, pela bolsa concedida.

  • SUMRIO

    Lista de figuras..................................................................................... i

    Lista de tabelas..................................................................................... v

    Lista de abreviaturas e siglas................................................................ vi

    Lista de smbolos.................................................................................. vii

    Resumo................................................................................................ ix

    Abstract................................................................................................ x

    1 - Introduo................................................................................... 1

    1.1 - Consideraes preliminares................................................. 1

    1.2 - Objetivos e metodologia....................................................... 3

    1.3 - Justificativas....................................................................... 4

    1.4 - Resumo dos captulos......................................................... 5

    2 - Reviso dos critrios de resistncia utilizados na alvenaria

    estrutural..................................................................................... 7

    2.1 - Propriedades do material..................................................... 7

    2.1.1 - Micro e macro modelagem............................................... 7

    2.1.2 -Mecanismos de ruptura.................................................... 10

    2.2 - Estado da arte..................................................................... 14

    2.2.1 - Modelos discretos............................................................ 14

    2.2.2 - Modelos homogeneizados................................................ 25

    2.3 - Fechamento........................................................................ 37

    3 - Modelos no-lineares empregados.............................................. 39

    3.1 - Introduo.......................................................................... 39

    3.1.1 - Modelos para materiais frgeis (ANSYS)........................... 39

    3.1.2 - Modelo elastoplstico clssico (ABAQUS/Standard)......... 43

    3.1.3 - Modelo elastoplstico para o concreto

    (ABAQUS/Standard)...................................................................... 44

    3.1.4 Modelo para materiais frgeis (ABAQUS/Explicit)............ 47

  • 3.2 - Fechamento........................................................................ 52

    4 - Modelagem do volume padro de parede.................................... 53

    4.1 - Generalidades..................................................................... 53

    4.2 - Determinao das caractersticas elsticas da alvenaria..... 54

    4.3 - Estudo linear do material ortotrpico equivalente............... 58

    4.3.1 - Exemplo 1 - Fora horizontal uniformemente distribuda 58

    4.3.2 Exemplo 2 Fora vertical uniformemente distribuda.... 65

    4.4 - Fechamento........................................................................ 69

    5 - Aferio dos modelos no lineares para alvenaria submetida

    compresso.................................................................................. 70

    5.1 - Consideraes preliminares................................................. 70

    5.2 - Exemplo.............................................................................. 70

    5.3 - Fechamento........................................................................ 81

    6 - Estudo de interao de paredes.................................................. 82

    6.1 - Introduo.......................................................................... 82

    6.2 - Anlise de interao de paredes.......................................... 82

    6.2.1 - Anlise experimental e anlise numrica......................... 82

    6.2.2 - Deslocamentos verticais.................................................. 86

    6.2.3 - Tenses normais verticais............................................... 91

    6.2.4 Deformao.................................................................... 94

    6.3 - Fechamento........................................................................ 99

    7 - Modelagem de paredinhas comprimidas..................................... 100

    7.1 - Introduo.......................................................................... 100

    7.2 - Trabalho experimental........................................................ 101

    7.3 - Anlise numrica................................................................ 104

    7.4 - Comparao entre as anlises numricas e experimentais.. 108

    7.4.1 - Parede PAB1A2............................................................... 108

    7.4.2 - Parede PAB1A1............................................................... 113

  • 7.4.3 - Parede PAB2A1............................................................... 117

    7.4.4 - Parede PAB2A2............................................................... 122

    7.5 - Fechamento........................................................................ 126

    8 - Concluses................................................................................... 127

    Referncias Bibliogrficas.................................................................. 136

  • iLISTA DE FIGURAS

    Figura 2.1 Tcnicas de modelagem da alvenaria: (a) Exemplar da

    alvenaria; (b) Micromodelagem; (c) Micromodelagem

    simplificada; (d) Macromodelagem 08

    Figura 2.2 Mecanismos de ruptura: (a) Fissuras nas juntas;

    (b) Escorregamento; (c) Fissurao das unidades;

    (d) Fissura diagonal; (e) Fendilhamento 11

    Figura 2.3 Comportamento tpico de materiais frgeis submetidos

    carregamento uniaxial e definio da energia de fratura:

    (a) trao; (b) compresso. 13

    Figura 2.4 Homogeneizao em duas etapas 27

    Figura 2.5 Critrio de resistncia proposto. Diferentes valores de

    resistncia trao e compresso so adotados em cada

    um dos eixos dos materiais. 32

    Figura 3.1 Comportamento uniaxial do modelo 40

    Figura 3.2 Superfcie de ruptura em trs dimenses 41

    Figura 3.3 Superfcie de ruptura em duas dimenses 42

    Figura 3.4 Superfcie de ruptura no plano p - q 45

    Figura 3.5 Comportamento uniaxial do modelo 46

    Figura 3.6 Superfcie de ruptura no estado plano de tenses 47

    Figura 3.7 Critrio de Rankine no plano desviador 50

    Figura 3.8 Critrio de Rankine no plano p - q 51

    Figura 3.9 Critrio de Rankine no estado plano de tenses 51

    Figura 4.1 Clula tpica da alvenaria 54

    Figura 4.2 Discretizao da clula 55

    Figura 4.3 Grfico da relao Ex/Eb x Espessura da Argamassa 56

    Figura 4.4 Grfico da relao Ey/Eb x Espessura da Argamassa 57

    Figura 4.5 Grfico da relao Ex/Ey x Espessura da Argamassa 57

    Figura 4.6 Caso de Carregamento 1 59

    Figura 4.7 Deslocamentos: (a) micromodelo; (b) homogeneizao

    numrica; (c) homogeneizao PANDE et al. 60

    Figura 4.8 Tenses sx: (a) micromodelo; (b) homogeneizao

    numrica; (c) homogeneizao PANDE et al. 61

    Figura 4.9 Tenses sy: (a) micromodelo; (b) homogeneizao

    numrica;(c) homogeneizao PANDE et al. 62

  • ii

    Figura 4.10 Tenses txy: (a) micromodelo; (b) homogeneizao

    numrica; (c) homogeneizao PANDE et al. 62

    Figura 4.11 Tenso sy prxima ao ponto de aplicao da fora

    (micromodelo) 63

    Figura 4.12 Tenso Vertical na Parede (y=274) 64

    Figura 4.13 Tenso Vertical na Parede (y=305) 65

    Figura 4.14 Caso de Carregamento 2 65

    Figura 4.15 Deslocamentos: (a) micromodelo plano; (b) micromodelo

    slido; (c) homogeneizao numrica;

    (d) homogeneizao PANDE et al. 66

    Figura 4.16 Tenso Vertical na Parede (y=274) 67

    Figura 4.17 Tenso Vertical na Parede (y=305) 68

    Figura 4.18 Tenso de Cisalhamento na Parede (y=274) 68

    Figura 4.19 Tenso de Cisalhamento na Parede (y=305) 69

    Figura 5.1 Tenso x Deformao do artefato bloco 71

    Figura 5.2 Tenso x Deformao da argamassa 72

    Figura 5.3 Superfcie de ruptura 72

    Figura 5.4 Representao do amolecimento trao 73

    Figura 5.5 Prisma ensaiado 74

    Figura 5.6 Grfico Fora x Deformao 75

    Figura 5.7 Detalhe do grfico Fora x Deformao 76

    Figura 5.8 Parede ensaiada 77

    Figura 5.9 Grfico Fora de ruptura x rea carregada 77

    Figura 5.10 Tenses transversais em uma parede slida submetida a

    uma fora concentrada 78

    Figura 5.11 Padro de ruptura 79

    Figura 5.12 Grfico da tenso vertical (sy) ao longo da altura da

    parede

    80

    Figura 5.13 Grfico tenso transversal (sx) ao longo da altura da

    parede 80

    Figura 6.1 Esquema de amarrao das paredes 83

    Figura 6.2 Painel de alvenaria 83

    Figura 6.3 Instrumentao dos Painis 84

    Figura 6.4 Discretizao do painel 85

    Figura 6.5 Deslocamentos verticais na direo 2 (cm) 89

    Figura 6.6 Deslocamentos verticais ao longo da altura da parede

    (F = 280kN) 90

  • iii

    Figura 6.7 Deslocamentos verticais ao longo da altura da parede

    (F = 400kN) 90

    Figura 6.8 Deslocamentos verticais ao longo da altura da parede

    (F = 425kN) 91

    Figura 6.9 Tenses normais verticais - s22 (kN/cm2) 92

    Figura 6.10 Tenses normais verticais ao longo da altura da parede

    (F=280kN) 93

    Figura 6.11 Tenses normais verticais ao longo da altura da parede

    (F=400kN) 93

    Figura 6.12 Tenses normais verticais ao longo da altura da parede

    (F=425kN) 94

    Figura 6.13 Comportamento tpico do trecho inferior da alma 95

    Figura 6.14 Comportamento tpico do trecho inferior da flange 95

    Figura 6.15 Comportamento tpico do trecho superior da alma 96

    Figura 6.16 Comportamento tpico do trecho superior da flange 97

    Figura 6.17 Diagrama tenso x deformao tpico do trecho superior 97

    Figura 6.18 Diagrama tenso x deformao tpico do trecho inferior 98

    Figura 6.19 Deformaes plsticas verticais (ep22) 99

    Figura 7.1 Posio dos transdutores na paredinha (medidas em

    mm) 103

    Figura 7.2 Discretizao da paredinha 105

    Figura 7.3 Forma de ruptura tpica (PAB1A2) 109

    Figura 7.4 Tenso principal mxima (PAB1A2) 110

    Figura 7.5 Tenso normal horizontal s11 (PAB1A2) 110

    Figura 7.6 Tenso normal vertical s22 (PAB1A2) 111

    Figura 7.7 Tenso equivalente de von Mises (PAB1A2) 111

    Figura 7.8 Grfico Tenso x Deformao (PAB1A2) 112

    Figura 7.9 Forma de ruptura tpica (PAB1A1) 113

    Figura 7.10 Tenso principal mxima (PAB1A1) 114

    Figura 7.11 Tenso normal horizontal s11 (PAB1A1) 115

    Figura 7.12 Tenso normal vertical s22 (PAB1A1) 115

    Figura 7.13 Tenso equivalente de von Mises (PAB1A1) 116

    Figura 7.14 Grfico Tenso x Deformao (PAB1A1) 117

    Figura 7.15 Forma de ruptura tpica (PAB2A1) 118

    Figura 7.16 Tenso principal mxima (PAB2A1) 119

    Figura 7.17 Tenso normal horizontal s11 (PAB2A1) 119

    Figura 7.18 Tenso normal vertical s22 (PAB2A1) 120

  • iv

    Figura 7.19 Tenso equivalente de von Mises (PAB2A1) 120

    Figura 7.20 Grfico Tenso x Deformao (PAB2A1) 121

    Figura 7.21 Forma de ruptura tpica (PAB2A2) 122

    Figura 7.22 Tenso principal mxima (PAB2A2) 123

    Figura 7.23 Tenso normal horizontal s11 (PAB2A2) 123

    Figura 7.24 Tenso normal vertical s22 (PAB2A2) 124

    Figura 7.25 Tenso equivalente de von Mises (PAB2A2) 124

    Figura 7.26 Grfico Tenso x Deformao (PAB2A2) 125

  • vLISTA DE TABELAS

    Tabela 4.1 Propriedades Ortotrpicas 59

    Tabela 4.2 Porcentagem de erro em relao ao micro-modelo 63

    Tabela 5.1 Propriedades dos componentes dos materiais 71

    Tabela 6.1 Propriedades dos componentes 85

    Tabela 6.2 Deslocamentos relativos verticais numricos e

    experimentais (F=280 kN) 87

    Tabela 6.3 Deslocamentos relativos verticais numricos e

    experimentais (F=400 kN) 88

    Tabela 6.4 Deslocamentos relativos verticais numricos e

    experimentais (F=425 kN) 88

    Tabela 7.1 Valores mdios de resistncia compresso dos blocos 101

    Tabela 7.2 Valores mdios dos mdulos de elasticidade dos blocos 102

    Tabela 7.3 Valores mdios de resistncia compresso das

    argamassas 102

    Tabela 7.4 Valores dos mdulos de elasticidade das argamassas 103

    Tabela 7.5 Resistncia compresso das paredinhas 104

    Tabela 7.6 Propriedades dos componentes 107

    Tabela 7.7 Resistncia compresso parede PAB1A2 109

    Tabela 7.8 Resistncia compresso parede PAB1A1 113

    Tabela 7.9 Resistncia compresso parede PAB2A1 118

    Tabela 7.10 Resistncia compresso parede PAB2A2 122

  • vi

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    Ab rea bruta

    Al rea lquida

    A1 Argamassa com trao 1:0,5:4,5

    A2 Argamassa com trao 1:1:6

    ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    CP Corpo de prova

    BS British Standards Institution

    B1 Bloco de concreto com resistncia compresso nominal de

    4,5 MPa

    B2 Bloco de concreto com resistncia compresso nominal de

    12 MPa

    EPUSP Escola Politcnica da Universidade de So Paulo

    EESC Escola de Engenharia de So Carlos

    EF Ensaios finais

    NBR Norma Brasileira Registrada

    SET Departamento de Engenharia de Estruturas

    USP Universidade de So Paulo

    2D Bidimensional

    3D Tridimensional

  • vii

    LISTA DE SMBOLOS

    a0 Razo entre a resistncia compresso biaxial e a uniaxial

    cm Centmetros

    cm2 Centmetros quadrados

    E Mdulo de elasticidade

    Ea Mdulo de elasticidade da argamassa

    Eb Mdulo de elasticidade do bloco

    Ex Mdulo de elasticidade na direo x

    Ey Mdulo de elasticidade na direo y

    fa Resistncia compresso da argamassa

    fam Resistncia compresso mdia da argamassa

    fb Resistncia compresso do bloco

    fc Resistncia uniaxial ao esmagamento

    Fc Equao da superfcie de compresso do critrio (ABAQUS)

    fbm Resistncia mdia compresso do bloco

    fcpa Resistncia compresso d parede

    fpa Resistncia compresso da paredinha

    fpam Resistncia compresso mdia da paredinha

    Frup Fora de ruptura compresso

    ft Resistncia uniaxial trao

    Hb Altura do bloco

    J2 Segundo invariante da parte deviatrica do tensor de tenses

    kN Quilonewton

    Lb Largura do bloco

    m Metro

    m3 Metro cbico

    p Tenso mdia

    q Tenso equivalente de von Mises

    MPa Megapascal

    S Superfcie de ruptura

    na Coeficiente de Poisson da argamassa

    nb Coeficiente de Poisson da unidade

  • viii

    nxy Coeficiente de Poisson

    ecu Deformao ltima compresso

    ee Deformao elstica

    s1, s2, s3 Tenses principais

    s11 Tenso na direo 1*

    s22 Tenso na direo 2*

    s33 Tenso na direo 3*

    sc Tenso de resistncia compresso

    st Tenso de resistncia trao

    s Tenso

    sx Tenso na direo x

    sy Tenso na direo y

    sz Tenso na direo z

    tC Tenso de resistncia num estado de cisalhamento puro

    txy Tenso de cisalhamento no plano xy

    * Direes 1,2 e 3 no so necessariamente principais.

  • ix

    RESUMO

    PELETEIRO, SUZANA C. (2002). Contribuies modelagem numrica de

    alvenaria estrutural. So Carlos, 2002. 143p. Tese (Doutorado) Escola de

    Engenharia de So Carlos, Universidade de So Paulo.

    Uma das reas da engenharia civil que tm apresentado maior

    potencial de crescimento a execuo de edifcios em alvenaria estrutural.

    Usualmente so utilizados procedimentos puramente experimentais para o

    desenvolvimento dos processos construtivos e de projeto. Entretanto, a

    experimentao sem uma modelagem terica prvia pode ser muito

    dispendiosa. A modelagem numrica, desde que confivel, pode ser de

    grande ajuda na reduo do nmero de corpos-de-prova a serem ensaiados

    e do nmero de pontos a serem instrumentados, bem como o seu devido

    posicionamento. Isso significa diminuio de custos e maior eficincia na

    obteno de resultados.

    No presente trabalho apresentam-se as ferramentas computacionais

    mais adequadas para a anlise de alvenaria estrutural submetida a

    compresso, objetivando o suporte terico a pesquisas experimentais.

    Elabora-se um estudo comparativo sobre os vrios recursos de modelagem

    numrica, linear e no-linear, disponveis em softwares comerciais

    baseados no Mtodo dos Elementos Finitos.

    Inicialmente, aps a apresentao do estado da arte, investiga-se a

    modelagem numrica do volume elementar representativo da alvenaria.

    Modelos no-lineares so, ento, escolhidos, aferindo-os com resultados

    disponveis na literatura tcnica. So realizadas simulaes de casos

    especficos de paredes de alvenaria submetidas compresso, assim como

    a interao de paredes sujeitas a carregamentos verticais. Resultados

    experimentais so comparados com os produzidos por modelos lineares e

    no-lineares, focando a anlise na sua representatividade e no seu grau de

    preciso.

    Palavras-chave: Alvenaria estrutural, modelagem numrica,

    anlise no-linear, resistncia compresso.

  • xABSTRACT

    PELETEIRO, SUZANA C. (2002). Contributions to the numerical analysis of

    masonry. So Carlos, 2002. 143p. Tese (Doutorado) Escola de Engenharia

    de So Carlos, Universidade de So Paulo.

    The construction of structural masonry buildings has been one of the

    most increasing civil engineering areas. The development of building and

    design methods usually is based only on experiments. However, testing

    without previous numerical analysis can be very expensive. Numerical

    modeling, since reliable, can be greatly helpful for reducing the number of

    experimental tests and the number of instrumented points, including the

    improvement of their positions. That enables smaller costs and higher

    efficiency in obtaining the results.

    The present work deals with the most appropriate computational

    strategies for the analysis of masonry walls subjected to compression,

    focusing the theoretical support for experimental research programs. A

    comparative study is elaborated on the several capabilities of linear and

    nonlinear numerical models, which are available in commercial computer

    programs based on the Finite Element Method.

    Initially, after the presentation of the state-of-the-art, the numerical

    analysis of the representative volume masonry element is investigated.

    Nonlinear models are chosen and confronted with available results in the

    technical literature. Specific cases of masonry walls submitted to

    compression are numerical simulated, including the interaction of

    intersecting walls under vertical loads. Experimental results are compared

    to those produced by linear and nonlinear numerical modeling, emphasizing

    their effectiveness and precision.

    Keywords: Structural masonry, numerical analysis, nonlinear

    analysis, compressive strength.

  • INTRODUO

    1.1 Consideraes preliminares

    Desde a Antigidade a alvenaria tem sido utilizada largamente pelo

    ser humano em suas habitaes, monumentos e templos religiosos. Como

    exemplos famosos podem ser citados: a pirmide de Queps, em que foram

    utilizados mais de dois milhes de blocos de pedra, o farol de Alexandria,

    com altura prxima a 190 m e as grandes catedrais gticas, construdas na

    Idade Mdia, com vos expressivos e arquitetura belssima realizada com a

    utilizao de arcos e abbadas.

    Apesar do uso intenso da alvenaria, apenas no incio do sculo

    passado, por volta de 1920, passou-se a estud-la com base em princpios

    cientficos e experimentao laboratorial, segundo DICKEY &

    SCHNEIDER (1994). Esta postura possibilitou o desenvolvimento de teorias

    racionais que fundamentam a arte de se projetar alvenaria estrutural.

    A partir da, segundo OLIVEIRA JR. (1992), edifcios cujas paredes

    tinham espessuras exorbitantes (~1,80 m), como o Monadnock Building

    construdo em Chicago no final do sculo XIX, cederam lugar a edifcios

    com paredes mais esbeltas.

    Com a utilizao do concreto armado e do ao estrutural, que

    possibilitaram a construo de edifcios com peas de reduzidas dimenses,

    a utilizao da alvenaria dirigiu-se, prioritariamente, s edificaes de

    pequeno porte.

    1

  • Captulo 1 - Introduo 2

    Na dcada de 50, a utilizao da alvenaria ganhou novo impulso,

    aps a realizao de uma srie de experimentaes na Europa. Em 1951,

    Paul Haller dimensionou e construiu na Sua edifcio de 13 pavimentos em

    alvenaria no armada, com paredes internas de 15 cm de espessura e

    externas com 37,5 cm, conforme pode ser visto em AMRHEIN (1978).

    Muitos edifcios foram construdos na Inglaterra, Alemanha e Sua, e

    tambm nos Estados Unidos, em que a alvenaria estrutural passou a ser

    empregada mesmo em zonas sujeitas a abalos ssmicos, sendo neste caso

    utilizada a alvenaria armada.

    Segundo SABBATINI, no Brasil, aps a sua implantao em 1966,

    quando em So Paulo foram construdos alguns prdios de quatro

    pavimentos, o desenvolvimento da alvenaria estrutural tem se dado de

    maneira lenta e reservada. Isso tem ocorrido no obstante o seu carter

    econmico, especialmente associado ao fato de se utilizarem as paredes no

    apenas como elementos de vedao, mas, tambm, como elementos

    portantes. Por muitos anos a alvenaria estrutural foi pouco utilizada devido

    a muitos fatores tais como: preconceito, maior domnio da tecnologia do

    concreto armado por parte de construtores e projetistas e pouca divulgao

    do assunto nas universidades durante o processo de formao do

    profissional. Muitos projetistas so leigos no que diz respeito a este sistema

    construtivo e acabam, assim, optando pelo concreto armado. Isto tambm

    influenciado pelo reduzido nmero de publicaes sobre o assunto em

    portugus, pois a maior parte da bibliografia estrangeira e voltada para as

    peculiaridades do pas de origem.

    Se o projeto de edifcios de alvenaria no obteve um avano que

    possa ser comparado ao das estruturas de concreto armado, o mesmo pode-

    se dizer de itens isolados do processo construtivo. A verdade que ser

    necessrio um avano mais significativo, no s de procedimentos de

    projeto, mas tambm da prpria pesquisa bsica em alvenaria. Essa

    pesquisa de suma importncia inclusive para que se possam melhorar os

    procedimentos de projeto. Existem srias lacunas quando se fala do

    comportamento da alvenaria quanto a alguns aspectos que podem ser

    considerados bsicos, como por exemplo o cisalhamento dos painis.

    Usualmente so utilizados procedimentos puramente experimentais

    para o estudo desses tpicos. Entretanto, considera-se que a

  • Captulo 1 - Introduo 3

    experimentao, sem uma modelagem terica prvia, pode ser muito

    dispendiosa. A modelagem numrica, desde que confivel, pode ser de

    grande ajuda na reduo do nmero dos corpos-de-prova a serem

    ensaiados e no nmero de pontos a serem instrumentados. Isso significa

    reduo de custos e prazos e maior eficincia na obteno de resultados.

    No Brasil, a pesquisa sobre modelagem matemtica de painis de

    alvenaria muito incipiente, na verdade quase inexistente. Alguns poucos

    trabalhos como LA ROVERRE (1994), CORRA & RAMALHO (1994a) e

    CORRA & RAMALHO (1994b) representam uma breve introduo ao tema.

    Entretanto essa linha de pesquisa precisa ser muito desenvolvida, pois

    bsica para a experimentao que, por sua vez, fundamental para o

    desenvolvimento do processo construtivo como um todo.

    Com este trabalho, que constitui mais uma etapa de uma srie de

    pesquisas que vm se encadeando h alguns anos, procurar-se- contribuir

    para o aumento do acervo tcnico em alvenaria estrutural.

    1.2 Objetivos e metodologia

    O objetivo principal deste trabalho apresentar as ferramentas

    computacionais mais adequadas para a anlise de alvenaria estrutural a

    serem utilizadas no suporte terico a pesquisas experimentais

    desenvolvidas, de maneira a reduzir os custos e aumentar a eficincia nos

    ensaios. O trabalho ser desenvolvido elaborando-se um estudo sobre os

    vrios recursos de modelagem numrica, linear e no-linear, disponveis em

    softwares comerciais.

    A metodologia empregada para realizao do trabalho pode ser

    descrita como:

    a) Pesquisa bibliogrfica para verificar o estado da arte, com

    anlise dos critrios de resistncia mais adequados alvenaria.

    b) Modelagem numrica, em elementos finitos, do volume elementar

    representativo (VER) da alvenaria.

    c) Estudo da influncia de considerao de modelos utilizando-se

    elementos planos e tridimensionais.

  • Captulo 1 - Introduo 4

    d) Estudo da interao de paredes de alvenaria, anlise da

    amarrao direta, com utilizao de modelos lineares e no lineares.

    e) Modelagens de casos especficos de paredes de alvenaria

    submetidas compresso. Comparao dos resultados numricos com

    resultados obtidos experimentalmente, utilizando-se modelos lineares e no

    lineares.

    1.3 Justificativas

    Umas das reas da engenharia civil que tem apresentado maior

    potencial de crescimento , sem sombra de dvida, a execuo de edifcios

    em alvenaria estrutural. Isso se deve principalmente economia obtida por

    esse processo construtivo em relao ao concreto convencional, por

    propiciar uma maior racionalizao na execuo da obra, reduzindo-se o

    consumo e o desperdcio dos materiais. Essa economia pode chegar a 30%

    do valor da estrutura, em casos de edifcios em alvenaria no armada de at

    oito pavimentos. Dessa forma, as edificaes tornam-se mais baratas para o

    comprador final, havendo uma melhor penetrao no mercado, em especial

    junto s classes mdia e baixa. Portanto, evidente o grande benefcio

    social que pode advir do desenvolvimento desse processo construtivo.

    Deve-se considerar, entretanto, que conforme foi mencionado em

    item anterior, o projeto de edifcios de alvenaria estrutural ainda feito de

    uma maneira quase emprica, no se tendo verificado para esse campo o

    desenvolvimento que se observa para as estruturas convencionais em

    concreto armado. A prpria normalizao nacional pobre e um grande

    esforo precisa ser feito nessa direo para que se possa projetar e executar

    edifcios mais baratos e seguros. Esse esforo traduz-se em pesquisas

    voltadas para a realidade brasileira, sem o que se tornar praticamente

    impossvel desenvolver de forma satisfatria os procedimentos normativos

    nessa rea. importante ressaltar que, quanto s pesquisas mencionadas,

    uma dificuldade adicional deve ser considerada: na Europa e nos Estados

    Unidos, nossos tradicionais fornecedores de pesquisas em engenharia

    civil, os sistemas construtivos adotados so ligeiramente diferentes do ideal

  • Captulo 1 - Introduo 5

    para o Brasil. Na Europa praticamente s se constri com tijolos cermicos

    e nos Estados Unidos, devido ocorrncia de sismos, predomina

    amplamente a alvenaria armada. J no caso brasileiro, o sistema mais

    utilizado a alvenaria parcialmente armada de blocos de concreto ou

    cermicos.

    Assim sendo, imprescindvel e urgente que haja uma concentrao

    de esforos na direo de se implementar um conjunto de pesquisas que

    possam embasar a reformulao das normas nacionais, tornando-as mais

    adequadas elaborao de projetos cada vez mais econmicos e seguros.

    Exatamente por se encaixar nesse objetivo bastante amplo que se justifica

    a importncia da elaborao do presente trabalho. Ele ser, com certeza,

    uma contribuio importante nesse esforo de elucidao de detalhes

    significativos sobre um processo construtivo de grande viabilidade

    econmica e interesse social.

    1.4 Resumo dos captulos

    No captulo 2 apresenta-se um panorama geral sobre o

    comportamento do material alvenaria e sobre o estado da arte dos estudos

    cientficos realizados nessa rea.

    No captulo 3 analisam-se os modelos no lineares dos softwares

    comerciais ANSYS e ABAQUS utilizados no desenvolvimento do presente

    trabalho.

    No captulo 4 faz-se a modelagem do volume padro representativo

    do material alvenaria. Apresentando-se um material linear ortotrpico

    equivalente.

    No captulo 5 realiza-se a aferio dos modelos no lineares

    apresentados no captulo 3, comparando-se resultados tericos com

    experimentais encontrados na literatura.

    O captulo 6 apresenta a anlise de um painel H, ensaiado no

    laboratrio do Departamento de Engenharia de Estruturas da Escola de

    Engenharia de So Carlos (SET-EESC-USP), fazendo-se comparaes entre

  • Captulo 1 - Introduo 6

    os valores numricos, lineares e no-lineares, e os resultados

    experimentais.

    No captulo 7 apresenta-se a anlise numrica de paredinhas,

    submetidas compresso, tambm ensaiadas no SET-EESC-USP.

    No captulo 8 apresentam-se as concluses do trabalho.

  • REVISO DOSCRITRIOS DE RESISTNCIAUTILIZADOS NA ALVENARIA ESTRUTURAL

    2.1 Propriedades do material

    2.1.1 Micro e macro modelagem

    A alvenaria um material estrutural composto, formado de

    unidades (blocos ou tijolos) de concreto ou cermicos, e argamassa. Pode-se

    afirmar, ento, que se trata de um material heterogneo e anisotrpico que

    apresenta, por natureza, uma resistncia compresso elevada,

    dependente principalmente da resistncia da unidade. Por outro lado a

    resistncia trao baixa e est determinada principalmente pela adeso

    da unidade com a argamassa.

    Segundo GALLEGOS (1991) a alvenaria tem uma resistncia a

    compresso elevada, dependente principalmente da resistncia da prpria

    unidade, mas a resistncia a trao reduzida e definida principalmente

    pela adeso entre a argamassa e a unidade. Segundo o autor, nos casos em

    que a alvenaria construda com unidades de baixa resistncia, a adeso

    pode apresentar resistncia trao igual ou superior da prpria unidade.

    Para esses casos pode-se falar da homogeneidade e isotropia do material

    com alguma segurana, por outro lado a resistncia da alvenaria ser

    reduzida.

    2

  • Captulo 2 Reviso dos critrios de resistncia utilizados na alvenaria estrutural 8

    Os fatores que influenciam as propriedades da alvenaria so

    muitos, tais como: anisotropia e dimenso das unidades, espessura das

    juntas, propriedades das unidades e da argamassa, arranjo das juntas

    horizontais e verticais e qualidade da mo-de-obra. Devido a essa grande

    diversidade, a simulao numrica da alvenaria se torna extremamente

    trabalhosa. Apenas recentemente a pesquisa em alvenaria comeou a

    mostrar interesse em modelos mais refinados, tornando o clculo de

    estruturas em alvenaria menos emprico e mais sofisticado.

    Figura 2.1 Tcnicas de modelagem da alvenaria: (a) Exemplar da alvenaria;

    (b) Micromodelagem; (c) Micromodelagem simplificada; (d) Macromodelagem

    Adaptada de LOURENO (1996)

    Em geral, para se fazer uma modelagem numrica so utilizados

    dois modelos aproximados: a micromodelagem ou a macromodelagem. Na

    micromodelagem os seus componentes so discretizados individualmente,

    separando-se unidade e argamassa. A macromodelagem considera a

    alvenaria como um compsito. Segundo LOURENO (1996), dependendo do

    nvel de preciso e da simplicidade desejada, possvel utilizar as seguintes

    estratgias para a modelagem, conforme figura 2.1.

    - Micromodelagem detalhada (fig. 2.1b): as unidades e a

    argamassa so representadas por elementos contnuos, e a

    interface entre eles representada por elementos descontnuos;

  • Captulo 2 Reviso dos critrios de resistncia utilizados na alvenaria estrutural 9

    - Micromodelagem simplificada (fig. 2.1c): as unidades so

    representadas por elementos contnuos e suas dimenses so

    expandidas, enquanto o comportamento das juntas de

    argamassa e da interface considerado nos elementos

    descontnuos;

    - Macromodelagem (fig. 2.1d): unidade, argamassa e interface so

    consideradas dispersas no meio contnuo. Considera-se a

    alvenaria como um meio contnuo, com propriedades

    homogneas.

    Na primeira aproximao, o mdulo de elasticidade, o coeficiente de

    Poisson e, opcionalmente, as propriedades no-lineares da unidade e da

    argamassa so levadas em considerao. A interface da unidade com a

    argamassa representa um plano potencial de fissurao/deslizamento, com

    rigidez inicial pequena para evitar a interpenetrao do meio contnuo. Isto

    possibilita que se estude a ao combinada da unidade, da argamassa e da

    interface de forma mais minuciosa.

    Na segunda aproximao, cada junta simulada como uma

    interface mdia, e as unidades tm suas dimenses expandidas, com o

    intuito de manter inalteradas as caractersticas geomtricas da alvenaria.

    Essa alvenaria ento considerada como um conjunto de unidades

    elsticas unidas por linhas potenciais de fratura e deslizamento nas juntas.

    Perde-se preciso porque nesse tipo de modelagem o efeito de Poisson na

    argamassa desprezado.

    A terceira aproximao no faz distino entre a unidade e a

    argamassa, mas trata a alvenaria como um meio homogneo, contnuo e

    anisotrpico.

    No possvel afirmar qual das formas de modelagem mais

    vantajosa em relao s outras, porque cada uma delas apresenta

    vantagens e desvantagens para estudos especficos.

    A escolha deve ser feita de acordo com o objetivo a ser alcanado. O

    estudo da micromodelagem necessrio para fornecer um bom

    entendimento sobre o comportamento local das estruturas em alvenaria.

    Esta forma de modelagem apresenta-se muito importante para a anlise de

    detalhes estruturais. Por exemplo, anlise de distribuio e concentrao de

  • Captulo 2 Reviso dos critrios de resistncia utilizados na alvenaria estrutural 10

    tenses junto a vos de portas e janelas. A macromodelagem mais

    adequada para anlises mais gerais da estrutura, principalmente quando se

    est estudando paredes slidas com dimenses grandes o suficiente para

    garantir distribuies de tenses bastante uniformes. Claramente a

    macromodelagem mais prtica, apresenta um tempo de processamento

    reduzido, uma economia de memria dos computadores e uma gerao de

    rede mais simples. Este tipo de modelagem mais valiosa quando existe um

    compromisso entre preciso e eficincia.

    2.1.2 Mecanismos de ruptura

    A fissurao a causa mais freqente da ruptura no

    comportamento da alvenaria; impedi-la torna-se ento uma preocupao

    constante. Ela produzida por deformaes excessivas induzidas por

    esforos trao muito grandes. A deformao pode ser causada por foras

    aplicadas ou por restrio variao volumtrica do material. A aplicao

    do mtodo dos elementos finitos para a anlise de estruturas em alvenaria

    requer um modelo apropriado para o material.

    De acordo com LOURENO & ROTS (1997a) um modelo preciso

    para anlise de estruturas em alvenaria precisa incluir os mecanismos

    bsicos de ruptura que caracterizam o material, figura 2.2:

    a) Fissura nas juntas;

    b) Escorregamento ao longo de uma junta horizontal ou vertical

    com valores baixos de tenso normal;

    c) Fissurao das unidades de alvenaria na direo da trao;

    d) Fissura diagonal trao nas unidades de alvenaria com valores

    de tenso normal suficientes para desenvolver atrito nas juntas;

    e) Fendilhamento das unidades trao como resultado da

    dilatao da argamassa, com valores altos de tenso normal de

    compresso.

  • Captulo 2 Reviso dos critrios de resistncia utilizados na alvenaria estrutural 11

    (a)

    (b) (c)

    (d) (e)

    Figura 2.2 Mecanismos de ruptura: (a) Fissuras nas juntas; (b)

    Escorregamento; (c) Fissurao das unidades; (d) Fissura diagonal; (e)

    Fendilhamento

    Adaptada de LOURENO(1996)

    Pela descrio dos fenmenos torna-se claro que: (a,b) so

    mecanismos das juntas, (c) um mecanismo da unidade, e (d,e) so

    mecanismos combinados de ambos os materiais.

    O mecanismo de ruptura dos componentes submetidos a esforos

    de trao e compresso essencialmente o mesmo, ou seja, crescimento

    das fissuras a nvel micro do material. Neste caso, deformaes inelsticas

    resultam de um processo dissipativo, no qual a energia de fratura liberada

    durante a ocorrncia de fratura interna. O material composto apresenta, no

    entanto, outro tipo de ruptura: o escorregamento que resulta em um atrito

    seco entre os componentes, uma vez que o amolecimento completado. Se

    uma micromodelagem utilizada, todos esses fenmenos podem ser

    incorporados no modelo porque as juntas e as unidades so representadas

  • Captulo 2 Reviso dos critrios de resistncia utilizados na alvenaria estrutural 12

    separadamente. Numa macromodelagem, as juntas so dispersas num meio

    contnuo homogneo anisotrpico e a interao dos componentes no pode

    ser incorporada no modelo. Dessa forma, uma relao de tenses e

    deformaes mdias estabelecida.

    Independentemente do tipo de modelagem adotada, modelos

    precisos de alvenaria s podem ser usados se for realizada uma descrio

    completa dos materiais. Geralmente este no o caso, porque resultados

    experimentais adequados para a modelagem numrica so escassos,

    especialmente no regime de amolecimento. O amolecimento um

    decrscimo gradual da resistncia mecnica do material sob um acrscimo

    contnuo da deformao. uma caracterstica importante dos materiais

    semifrgeis, como blocos cermicos, argamassa, rocha e concreto, que

    rompem devido ao processo progressivo de crescimento interno de fissuras.

    Este comportamento mecnico comumente atribudo heterogeneidade

    do material, devido presena de fases diferentes e defeitos dos materiais,

    como fendas e vazios. Mesmo antes da aplicao das foras, a argamassa

    contm microfissuras devidas retrao durante a cura e presena de

    agregados. As tenses iniciais e as microfissuras, assim como a variao da

    rigidez e da resistncia, provoca o crescimento das fissuras quando o

    material submetido a uma deformao progressiva. Inicialmente as

    microfissuras so estveis, o que significa que elas crescem apenas quando

    as foras aplicadas aumentam. Em torno da carga de pico, ocorre uma

    acelerao na formao das fissuras e incio da formao de macrofissuras.

    As macrofissuras so instveis, o que significa que a carga tem que

    diminuir para evitar um crescimento incontrolvel.

    Num ensaio com deformao controlada, o crescimento das

    macrofissuras resulta no amolecimento e a concentrao das fissuras em

    uma zona pequena, enquanto o resto do espcime se descarrega. Para

    ruptura trao, este processo foi bem identificado, HORDIJK (1991) apud

    LOURENO (1996). Para ruptura por cisalhamento, um processo de

    amolecimento tambm observado, com degradao da coeso no modelo

    de Coulomb. Para ruptura compresso, o comportamento de

    amolecimento altamente dependente da condio de contorno nos ensaios

    e da dimenso do corpo ensaiado, van MIER (1984) e VONK (1992) apud

    LOURENO (1996). A figura 2.3 mostra caractersticas dos diagramas

  • Captulo 2 Reviso dos critrios de resistncia utilizados na alvenaria estrutural 13

    tenso/deformao para materiais frgeis submetidos trao e

    compresso uniaxial.

    Figura 2.3 Comportamento tpico de materiais frgeis submetidos

    carregamento uniaxial e definio da energia de fratura: (a) trao; (b)

    compresso.

    Adaptada de LOURENO (1996)

    A argamassa constituinte da alvenaria usualmente muito mais

    deformvel do que a unidade e geralmente comea a apresentar

    deformaes plsticas muito antes do que as unidades. A maior parte da

    deformao no-linear da alvenaria, at antes da ruptura, ocorre apenas

    nas juntas.

  • Captulo 2 Reviso dos critrios de resistncia utilizados na alvenaria estrutural 14

    2.2 Estado da arte

    O constante crescimento da utilizao da alvenaria em obras de

    construo civil proporciona um grande interesse na anlise mais detalhada

    do comportamento destas estruturas por parte da comunidade cientfica.

    Com o objetivo de suprir o meio tcnico com informaes mais precisas e

    confiveis, muitos pesquisadores se dedicam ao estudo da alvenaria,

    apresentando novos modelos e critrios para uma modelagem mais

    adequada do seu comportamento.

    Dois modelos diferentes, o modelo homogeneizado e o modelo

    discreto (ou micromodelo), tm sido utilizados para simular as respostas

    lineares e no-lineares da alvenaria. Conforme LUCIANO & SACCO (1997)

    um dos micromodelos mais utilizados o denominado material sem trao

    (no-tension). Neste tipo de modelagem a alvenaria considerada elstica na

    compresso e sem capacidade para suportar tenses de trao. O material

    sem trao foi proposto por HEYMAN (1966) que apresentou uma teoria

    para a anlise limite das estruturas em alvenaria. A principal hiptese o

    desprezo da resistncia trao da alvenaria, sendo que, com isso, o

    colapso geralmente ocorre devido s aberturas de fissuras nas regies

    tracionadas.

    2.2.1 Modelos Discretos

    Em 1978, PAGE publicou um estudo que trata da anlise de

    paredes de alvenaria cermica sujeitas a um carregamento no seu prprio

    plano, um problema comumente encontrado em projetos de estruturas de

    alvenaria. Ele apresentou um mtodo que considerava o comportamento

    no- da alvenaria. At ento a abordagem do estudo da alvenaria mais

    comum era a considerao de um material elstico linear isotrpico,

    ignorando-se a influncia das juntas de argamassa como planos de

    fraqueza (plane of weakness). De acordo com esse trabalho, hipteses

    dessa natureza apresentam resultados satisfatrios nos casos em que a

    estrutura analisada est submetida a nveis baixos de tenso, mas no so

  • Captulo 2 Reviso dos critrios de resistncia utilizados na alvenaria estrutural 15

    adequadas para casos em que as tenses aplicadas so altas e onde

    necessria uma anlise da redistribuio de tenses. A redistribuio

    acontece devido ao comportamento no-linear (predominante na argamassa)

    e ruptura localizada nas reas onde ocorre um descolamento entre a

    unidade e a argamassa. PAGE utilizou uma modelagem discreta,

    considerando a alvenaria como um material bifsico consistindo de

    unidades elsticas submersas numa matriz inelstica que seria a

    argamassa. A ruptura ocorre nas juntas, se o critrio de resistncia trao

    ou ao cisalhamento for violado. Estas caractersticas foram incorporadas

    em um programa de elementos finitos incremental que modela a

    propriedade no-linear das juntas e considera a sua ruptura progressiva.

    As propriedades do material, necessrias para definir o modelo, foram

    determinadas experimentalmente atravs de testes em painis de alvenaria

    e em unidades individuais. As juntas so modeladas com um elemento de

    ligao que limita: a tenso de trao; altas tenses de compresso (com

    caractersticas de deformaes no-lineares); e a tenso de resistncia ao

    cisalhamento, varivel dependente do valor da tenso de compresso

    apresentada.

    A utilizao do conceito de elemento de ligao possibilita uma

    modelagem bastante apropriada das propriedades no-lineares da

    alvenaria, com a vantagem de se conseguir caracterizar o material atravs

    de ensaios uniaxiais. Com isso elimina-se a necessidade da realizao de

    ensaios biaxiais, que so bem mais complexos. Para a anlise de um painel

    de alvenaria, a distribuio de tenses, obtida numericamente, apresentou

    uma razovel preciso quando comparada com a anlise experimental.

    Mesmo para altos nveis de carga, onde uma redistribuio de tenses

    bastante significativa j havia ocorrido, foram obtidos resultados bastante

    coerentes. A nfase do trabalho est na determinao da redistribuio das

    tenses na alvenaria, e no na obteno da fora de ruptura, que ocorre por

    ruptura progressiva ou deslizamento, ou ambos em um determinado

    nmero de elementos.

    ALI & PAGE (1987) apresentaram um programa em elementos

    finitos para analisar o comportamento no-linear da alvenaria de unidades

    slidas de concreto sujeita a foras concentradas. As juntas e as unidades

    so modeladas separadamente, com previso de caractersticas no-lineares

  • Captulo 2 Reviso dos critrios de resistncia utilizados na alvenaria estrutural 16

    de deformao dos materiais, ruptura da unidade e da argamassa, e

    ruptura da junta de argamassa. A fissurao e a conseqente perda da

    resistncia trao so as maiores causas da no-linearidade. As

    caractersticas de deformao e o critrio de ruptura dos materiais

    constituintes so determinados em ensaios individuais das unidades, de

    exemplares de argamassa e amostras de paredes de alvenaria. O

    comportamento no-linear da alvenaria causado principalmente por dois

    efeitos: ruptura progressiva e caractersticas no-lineares dos materiais

    constituintes. Para que o modelo do material represente adequadamente o

    comportamento da alvenaria, ambos os efeitos devem ser includos. A

    ruptura pode ocorrer por esmagamento ou fissurao dos materiais

    constituintes, ou por ruptura da junta na interface argamassa/unidade. O

    mtodo de anlise proposto uma ferramenta vlida e eficiente para a

    anlise no-linear de painis de alvenaria submetidos a carregamentos em

    seu prprio plano. A idealizao do material proposta capaz de

    representar o comportamento predominante nas estruturas de alvenaria

    submetidas a cargas monotonicamente crescentes. O mtodo capaz de

    predizer a carga inicial de fissurao, a carga ltima e o padro de ruptura

    com razovel preciso.

    ALI & PAGE (1988a) apresentaram um modelo em elementos finitos

    para a anlise de painis de alvenaria de unidades slidas de concreto com

    foras concentradas atuando em seu prprio plano. No estudo a alvenaria

    considerada no estado plano de tenses, uma hiptese razovel para a

    maioria dos casos de carregamento atuante no plano. O modelo proposto

    reproduz as caractersticas no-lineares da alvenaria causadas pela no-

    linearidade do material e falha local progressiva. As unidades e a argamassa

    so modeladas separadamente, considerando-se as caractersticas de

    deformao no-lineares dos dois materiais, assim como a ruptura da

    unidade, da argamassa ou da junta unidade/argamassa. Devido

    habilidade do modelo em considerar efeitos locais, o modelo capaz de

    reproduzir o comportamento das paredes de alvenaria nas quais altas

    tenses locais e altos gradientes de tenso esto presentes. As propriedades

    dos materiais para o modelo so determinadas a partir de ensaios em

    painis reduzidos e em seus materiais constituintes. Ensaios com cargas

    concentradas em paredes de alvenaria foram utilizados como base de

  • Captulo 2 Reviso dos critrios de resistncia utilizados na alvenaria estrutural 17

    comparao entre os valores tericos obtidos e os valores experimentais e

    apresentaram uma boa concordncia.

    Conforme ALI & PAGE (1989) a ruptura em paredes de alvenaria de

    unidades slidas de concreto submetidas a cargas concentradas

    usualmente ocorre como uma fissura, ou fissuras, que se propagam ao

    longo do painel logo abaixo do ponto de aplicao da carga. Os autores

    apresentaram um estudo que simula essa fissurao local, utilizando dois

    modelos de fissuras diferentes. Um dos modelos espalha o efeito da

    fissurao atravs do domnio do elemento (modelo de fissuras dispersas), e

    o outro desconecta progressivamente os ns apropriados de elementos

    adjacentes (modelo de fissuras discretas). Estas tcnicas de modelar a

    fissurao foram incorporadas em programa de elementos finitos para

    estados planos de tenses. Elementos quadrilaterais com quatro ns, com

    uma rede mais refinada prxima ao local de aplicao da carga, foram

    utilizados com sucesso para simular a fissurao progressiva que aparece

    prxima regio em que aplicada a fora concentrada.

    Nos modelos, as juntas e as unidades so consideradas

    separadamente com propriedades de deformao no-lineares dos materiais

    para caracterizar os diferentes modos de ruptura. As caractersticas

    necessrias para se definir os modelos no-lineares em elementos finitos

    foram determinadas a partir de ensaios em modelos reduzidos de paredes

    de alvenaria e seus componentes. O modelo dos materiais inclui

    caractersticas de deformao no-lineares para a unidade e a argamassa e

    critrios de ruptura para a unidade e a junta. A ruptura pode ocorrer por

    esmagamento ou fissurao dos materiais constituintes, ou por ruptura nas

    juntas da interface unidade-argamassa.

    Os autores escolheram os ensaios com foras concentradas em

    painis de alvenaria para averiguar a preciso e a diferena entre os dois

    modelos de fissuras adotados. A escolha foi feita em funo do estado de

    concentrao de tenses que aparece logo abaixo do ponto de aplicao das

    foras. Comparando-se os dois modelos de fissuras adotados, foram

    verificadas algumas diferenas na determinao da fora ltima e no padro

    de ruptura dos painis. No modelo de fissuras espalhadas, a fissura se

    propaga ao longo de um ou mais elementos como um todo. No modelo de

  • Captulo 2 Reviso dos critrios de resistncia utilizados na alvenaria estrutural 18

    fissuras discretas, a propagao acontece na forma de linhas retas ao longo

    da separao dos ns dos elementos. No primeiro caso, a fissura pode se

    propagar em qualquer direo, enquanto no segundo caso a fissura s pode

    se propagar em linhas horizontais e verticais.

    O critrio de resistncia proposto apresentou resultados coerentes

    com referncia propagao das fissuras, padro de fissurao e fora de

    ruptura. Os modelos so aplicveis a qualquer conjunto unidade-

    argamassa e qualquer padro de juntas. Verificou-se, porm, que o modelo

    de fissuras discretas mais apropriado na anlise do problema de cargas

    concentradas, apresentando a desvantagem de gerar um custo

    computacional quatro vezes maior do que o modelo de fissuras dispersas.

    PAGE & SHRIVE (1990) publicaram um artigo analisando a

    aplicao de foras concentradas em paredes de alvenaria e os seus

    mecanismos de ruptura. Segundo os autores, quando uma fora

    concentrada aplicada em uma parede de alvenaria, altas tenses locais

    so desenvolvidas na regio logo abaixo desta. Nessa regio um estado de

    compresso triaxial desenvolvido, enquanto um pouco mais abaixo o

    estado de tenses muda para uma compresso vertical e uma trao

    biaxial. Como a alvenaria resiste pouco trao, esta regio crtica, e as

    fissuras vo aparecer nesse ponto, se a fora se tornar excessiva. Ensaios

    realizados comprovaram que na regio logo abaixo do ponto de aplicao da

    carga, devido ao estado de compresso triaxial, a resistncia da parede de

    alvenaria aumenta.

    Os autores realizaram uma srie de ensaios experimentais,

    aplicando foras concentradas em paredes de blocos vazados de concreto e

    tijolos macios cermicos, com o intuito de avaliar a diferena de

    comportamento dos mesmos. Concluram que, no caso dos tijolos macios,

    a considerao do aumento de resistncia da parede, devido ao estado

    triaxial de tenses, bastante coerente e esse aumento de resistncia pode

    ser considerado. No caso dos blocos vazados o comportamento bastante

    diferente e novos estudos precisam ser realizados para que o mecanismo

    seja melhor compreendido e, ento, considerado.

    ROTS (1991a) apresentou uma breve avaliao de um projeto de

    pesquisa em mecnica computacional de alvenaria estrutural. Segundo o

    autor, dependendo do grau de preciso necessria e da simplicidade

  • Captulo 2 Reviso dos critrios de resistncia utilizados na alvenaria estrutural 19

    desejada, pode-se adotar diferentes modelos para a anlise da alvenaria.

    Em um primeiro caso, as juntas da alvenaria podem ser representadas por

    elementos contnuos, considerando-se ou no o comportamento no-linear.

    As juntas podem ser representadas por elementos descontnuos, sendo

    possvel considerar a alvenaria como um conjunto de unidades com

    comportamento elstico linear unidos por linhas potenciais de fratura nas

    juntas. Nesse caso h uma perda de preciso porque o efeito Poisson nas

    juntas desprezado. No terceiro caso as juntas so consideradas

    espalhadas na alvenaria, no havendo distino entre unidades e

    argamassa; a alvenaria considerada como um meio compsito

    anisotrpico. Esta aproximao mais adequada na anlise global de

    grandes estruturas em alvenaria.

    Uma aproximao detalhada que representa a alvenaria como um

    conjunto de unidades ligadas por elementos de interface no-lineares,

    mostrou-se capaz de simular a propagao da fratura ao longo das juntas

    horizontais e verticais e ao longo das unidades. Finalmente, com uma viso

    para a anlise global de alvenaria estrutural como um meio composto

    anisotrpico, foi demonstrado que um modelo de fissuras espalhadas

    baseado na decomposio da deformao (em duas partes: uma Dea da

    fissura e outra Dena do material slido entre fissuras) pode ser facilmente

    estendido para incluir os efeitos da ortotropia inicial e o ngulo de

    inclinao entre a fissura e a junta.

    ROTS (1991b) estudou as possibilidades de se utilizarem os

    modelos de fissuras espalhadas ou discretas para simular a fratura

    localizada em materiais com amolecimento. So feitas comparaes entre

    fissuras fixas, multidirecionais e fissuras espalhadas rotacionadas, onde a

    orientao das fissuras mantida constante, atualizada em um passo

    inteligente ou atualizada constantemente. Depois as aproximaes com

    fissuras espalhadas so comparadas com sistemas onde tem-se fissuras

    discretas potencialmente definidas.

    Quando se utilizou a aproximao de fissuras espalhadas, o

    conceito de fissura rotacionada (coaxial) e o conceito de fissura fixa com

    desconsiderao da reteno do cisalhamento obtiveram os melhores

    resultados. Fissuras fixas com significativa reteno do cisalhamento

  • Captulo 2 Reviso dos critrios de resistncia utilizados na alvenaria estrutural 20

    levaram a tenses muito grandes aps a fissurao e a uma resposta muito

    rgida. Uma deficincia da aproximao espalhada o perigo de aparecerem

    tenses de travamento. Isto devido ao fato de que as descontinuidades

    geomtricas so modeladas utilizando-se o conceito de deslocamentos

    contnuos. O conceito de fissuras discretas envolve uma descontinuidade e

    no sofre o risco de aparecerem tenses de travamento. O uso de elementos

    de interface como locais potenciais para o aparecimento de fissuras

    verstil para o caso onde o caminho provvel da fratura pode ser pr-

    definido, e em casos onde certos caminhos de fissurao prevalecem.

    LOFTI & SHING (1991) apresentaram um trabalho com o objetivo de

    avaliar a capacidade dos modelos de fissuras espalhadas em analisar a

    resistncia e os vrios mecanismos de ruptura para paredes de alvenaria de

    unidades de concreto sujeitas ao cisalhamento. Com esta finalidade foi

    desenvolvida uma formulao em elementos finitos com um modelo de

    fissuras espalhadas adotando o modelo da plasticidade J2 para a alvenaria

    ntegra e um modelo constitutivo no-linear ortotrpico para a alvenaria

    fissurada. O desempenho do modelo avaliado com resultados

    experimentais obtidos de painis de alvenaria. A objetividade dos resultados

    numricos com respeito dimenso da rede considerada. Apesar do

    modelo ter produzido excelentes resultados com respeito ao comportamento

    predominante de flexo, ele apresenta uma desvantagem principal em

    capturar o comportamento frgil ao cisalhamento de painis pouco

    armados. A capacidade da aproximao das fissuras espalhadas em

    capturar a resistncia e o mecanismo de ruptura para paredes de alvenaria

    armadas, sujeitas ao cisalhamento, examinada. Foi demonstrado que

    enquanto a resposta flexo do painel de alvenaria armada pode ser

    reproduzido com preciso utilizando-se o modelo de fissuras espalhadas, o

    comportamento frgil, quando o painel est submetido ao cisalhamento,

    caracterizado por fissuras diagonais, no pode ser determinado com

    preciso. Este fato devido inerente limitao da aproximao por

    fissuras espalhadas, na qual as fissuras abertas so modeladas adotando-

    se um campo de deslocamentos contnuos, o que leva a uma restrio

    cinemtica irreal da fissura aberta. Em virtude dessas limitaes, assim

    como de outros problemas tais como: dependncia da dimenso da malha e

    dificuldades de se calibrar o modelo, os modelos de fissuras espalhadas

  • Captulo 2 Reviso dos critrios de resistncia utilizados na alvenaria estrutural 21

    devem ser utilizados com muito cuidado, por usurios experientes e bem

    informados que estejam atentos s suas limitaes. Caso contrrio, poder

    conduzir a concluses errneas como foi demonstrado nos exemplos

    numricos apresentados pelos autores.

    ULM & PIAU (1993) apresentaram um trabalho onde aplicam a

    teoria de contato nas juntas da alvenaria para simular o comportamento

    no-linear. Baseado na hiptese de continuidade do campo de

    deslocamento e/ou deformao, um elemento finito plano deduzido para a

    anlise no-linear de estruturas de alvenaria sujeitas a cargas monotnicas,

    cclicas e carregamento dinmico, assim como para anlise de estados

    limites. O elemento possui seis graus de liberdade e considera um

    mecanismo de abertura e fechamento das juntas de alvenaria com ou sem

    material para simular a junta. O colapso de um templo devido a cargas

    ssmicas utilizada para ilustrar a eficincia do modelo aplicado para a

    anlise de estruturas, apresentando uma boa preciso.

    Segundo LOTFI & SHING (1994) a ruptura de estruturas de

    alvenaria de unidades de concreto no armadas sujeitas a um carregamento

    lateral horizontal predominantemente devida fissurao das juntas de

    argamassa, assim como da fissurao e esmagamento das unidades. Estes

    fenmenos podem ser simulados utilizando-se uma aproximao do mtodo

    dos elementos finitos no qual as juntas de argamassa so modeladas com

    elementos de interface e as unidades de alvenaria so modeladas com

    elementos planos com fissuras dispersas. No estudo apresentado, esta

    aproximao foi adotada para simular o comportamento e os mecanismos

    de ruptura do material alvenaria, baseados no comportamento de seus

    materiais constituintes. Para se efetuar essa simulao foi desenvolvido um

    modelo constitutivo de interface capaz de simular o incio e a propagao da

    fissura. A eficincia do modelo proposto em representar o comportamento

    das juntas de argamassa da alvenaria avaliada confrontando-se os

    resultados com valores experimentais. Os resultados das anlises

    demonstraram que o modelo numrico capaz no s de predizer a

    capacidade de carga da alvenaria, mas tambm fornecer informaes

    detalhadas do modo de ruptura, ductilidade e padro de fissurao.

  • Captulo 2 Reviso dos critrios de resistncia utilizados na alvenaria estrutural 22

    RIDDINGTON & NAOM (1994) apresentaram um programa em

    elementos finitos com o propsito de determinar a resistncia ltima

    compresso da alvenaria. O critrio de ruptura local includo no programa

    a resistncia trao da unidade, a resistncia trao da argamassa, a

    resistncia trao e ao cisalhamento na junta unidade/argamassa.

    Considera-se, tambm, o comportamento elstico no-linear da argamassa.

    O programa estruturado de forma que todos os critrios de ruptura e a

    no-linearidade da argamassa so considerados em cada uma das

    iteraes. O programa foi capaz de determinar a capacidade ltima de

    compresso da alvenaria com razovel preciso, comparando-se com

    paredes ensaiadas experimentalmente. Quando a no-linearidade fsica da

    argamassa no foi includa na anlise, a resistncia ltima compresso da

    alvenaria foi superestimada. O trabalho demonstrou que a capacidade de

    carga da alvenaria decresce com o aumento da espessura da argamassa.

    Observou-se, tambm, que um acrscimo na resistncia trao da

    unidade resulta em um acrscimo da resistncia compresso da parede.

    FUSCHI et al. (1995) apresentaram uma aproximao numrica

    para a anlise de paredes de alvenaria estrutural submetidas a um estado

    plano de tenses. Adota-se um modelo constitutivo para o material

    perfeitamente no resistente trao. As equaes so expressas na forma

    clssica incremental com lei de fluxo associativa para material

    elastoplstico. A eficincia do modelo proposto foi examinado e aprovado

    por uma anlise de preciso. Dois exemplos de painis de alvenaria, cujo

    comportamento assumido como descrito pelo modelo, foram analisados

    pelo mtodo dos elementos finitos. A grande desvantagem do modelo o

    fato da alvenaria ser admitida como indefinidamente linear na compresso.

    Os valores de deslocamento obtidos no colapso iminente podem ser maiores

    comparando-se com os valores que a estrutura real apresenta. Este fato

    pode estar violando a hiptese de pequenas deformaes. Essa desvantagem

    pode ser eliminada pela introduo de limites apropriados na tenso de

    compresso mxima admitida, de uma forma consistente com o modelo

    apresentado. Finalmente, comparaes dos resultados obtidos com dados

    da literatura disponveis parecem comprovar a eficincia do procedimento

    empregado, respeitando-se suas limitaes.

  • Captulo 2 Reviso dos critrios de resistncia utilizados na alvenaria estrutural 23

    SAYED-AHMED & SHRIVE (1996) apresentaram um modelo

    elastoplstico no-linear em elementos finitos para alvenaria de unidades

    vazadas de concreto utilizando-se elementos de casca isoparamtricos. O

    comportamento no-linear da alvenaria devido fissurao progressiva, e

    as no-linearidades fsica e geomtrica so consideradas no modelo. Foram

    realizadas anlises numricas de prismas com trs unidades de altura e os

    resultados em termos de tenso, deformao e deslocamento foram

    comparados com resultados experimentais. Os resultados apresentaram

    boa concordncia. Segundo os autores a ruptura das paredes de alvenaria

    de unidades vazadas se inicia pela fissurao dos septos verticais no plano

    da parede. Uma anlise 3D essencial para predizer o estgio inicial de

    ruptura. Anlises utilizando-se elementos tridimensionais (slidos), mesmo

    com uma rede bastante refinada, no pode oferecer uma soluo para o

    problema, porque no capaz de modelar o mecanismo de ruptura global.

    Utilizou-se um elemento de casca que incorpora os modelos de

    fendilhamento dos septos, comportamento no-linear da argamassa e o

    incio da instabilidade final da alvenaria fissurada. Assim o modelo tem

    condies de acompanhar o comportamento da alvenaria vazada, desde o

    aparecimento da primeira fissura at prximo ruptura total, incluindo

    comportamento no-linear fsico e geomtrico.

    De acordo com ANDREAUS (1996) a ruptura de painis de alvenaria

    submetidos a carregamentos em seu prprio plano pode ser atribuda a trs

    mecanismos bsicos: deslizamento das juntas de argamassa, fissurao das

    unidades e fendilhamento da junta de argamassa, e fissurao do plano

    mdio. No artigo, Andreaus emprega trs critrios de ruptura conhecidos

    para determinar os estados de tenso de colapso de painis de alvenaria sob

    carregamento no seu prprio plano. Estes critrios so expressos em termos

    de constantes elsticas e parmetros de resistncia, que so identificados

    atravs de dados experimentais da literatura. O modo de colapso que exibe

    o deslizamento das juntas de argamassa, o fendilhamento das juntas

    horizontais, e o deslizamento e fendilhamento das juntas horizontais, pode

    ser compreendido com suficiente preciso pelo modelo de Mohr-Coulomb,

    que tem uma modificao com o intuito de considerar a dependncia no-

    linear da tenso de cisalhamento com a tenso normal. O critrio da

  • Captulo 2 Reviso dos critrios de resistncia utilizados na alvenaria estrutural 24

    mxima deformao de trao (critrio de Saint-Venant) foi associado com o

    modo de colapso caracterizado pela fissurao das unidades e

    fendilhamento da argamassa, fissurao das unidades e juntas verticais,

    deslizamento das juntas horizontais e fendilhamento das juntas verticais,

    fendilhamento das juntas horizontais, fendilhamento e deslizamento das

    juntas e deformao biaxial. Por fim a fissurao do plano mdio pode ser

    avaliada quando o critrio de mxima tenso de compresso cumprido

    (Navier). Alguns resultados experimentais encontrados na literatura foram

    coletados com o intuito de definir aproximadamente, de uma forma

    adimensional, o intervalo de tenses onde os diferentes mecanismos

    ocorrem, o deslizamento, o fendilhamento e a fissurao. O critrio de

    ruptura proposto parece estar em boa concordncia com os resultados

    experimentais, com as seguintes limitaes: painis reduzidos, paredes

    simples, unidades slidas, juntas de argamassa regulares e carregamento

    em seu prprio plano.

    LOURENO, ROTS & BLAAUWENDRAAD (1997) publicaram um

    artigo onde apresentam possveis aplicaes de modelagens numricas de

    estruturas de alvenaria. Os exemplos apresentam os problemas de normas

    de projeto e sua relao com os modelos numricos, a anlise de estruturas

    complexas existentes sujeitas a novas condies de carregamento e a

    segurana de estruturas antigas. Os exemplos apresentam uma indicao,

    em trs diferentes categorias, de possveis regras para a anlise no-linear

    de estruturas de alvenaria. O primeiro exemplo trata de normas de projeto e

    como elas podem ser realadas e racionalizadas com o auxilio de modelos

    numricos. Com este propsito, as especificaes de juntas de dilatao em

    paredes de alvenaria so discutidas. O segundo exemplo trata da anlise de

    estruturas complexas existentes, sujeitas a novas condies de

    carregamento. Com este propsito, os modelos so utilizados para predizer

    a quantidade de dano, associado com a fissurao, para prdios em

    Amsterd, Holanda, devido aos recalques provocados pela abertura de

    tneis. O ltimo exemplo trata da segurana de estruturas antigas. Com

    este propsito, a resistncia residual de um prdio de 350 anos danificado

    por um terremoto, em Salvitelle, Itlia, calculada e comparada com

    resultados experimentais. Os exemplos demonstram o nvel de elaborao

    do modelo numrico para a alvenaria.

  • Captulo 2 Reviso dos critrios de resistncia utilizados na alvenaria estrutural 25

    2.2.2 Modelos Homogeneizados

    DHANASEKAR et al. (1985) apresentaram um trabalho que descreve

    o desenvolvimento de um critrio de ruptura, no estado plano, para paredes

    de alvenaria. O critrio pode ser programado utilizando-se o mtodo dos

    elementos finitos, e utilizado para se determinar a ruptura em regies

    localizadas de uma parede, permitindo assim uma anlise mais verossmil

    da alvenaria. Utilizando resultados experimentais, os autores determinaram

    uma superfcie de ruptura completa para a anlise de paredes de alvenaria.

    A superfcie de ruptura obtida fechada e pode ser representada pela

    interseco de trs cones elpticos. Os fatores que influenciam a superfcie

    de ruptura so discutidos e os ensaios mecnicos necessrios para se

    definir uma superfcie de ruptura conservativa so descritos. Uma srie de

    ensaios em painis de alvenaria publicados anteriormente foram analisados

    e novos ensaios foram realizados. Os ensaios biaxiais de compresso-

    compresso e compresso-trao foram realizados em painis quadrados

    com uma variao do ngulo formado entre as juntas horizontais e o lado

    carregado. Verificou-se que a carga e o padro de ruptura da alvenaria so

    fortemente influenciados pelas juntas de argamassa que atuam como

    planos de fraqueza. O artigo apresenta a superfcie de ruptura em dois

    sistemas de referncia: no sistema de tenses principais e sua orientao

    em relao junta horizontal (s1, s2, q); e em termos do sistema de tenses

    relacionados com a direo das juntas (sn, sp, t).

    PAGE et al. (1985) apresentaram um modelo em elementos finitos

    para paredes de alvenaria de tijolos cermicos slidos, que incorpora

    caractersticas realistas do material deduzidas de um grande nmero de

    ensaios em painis de alvenaria. Utiliza-se um modelo contnuo

    macroscpico para a relao tenso-deformao, consideram-se

    deformaes no-lineares e um critrio de ruptura progressiva que leva em

    considerao a orientao das juntas. A ruptura pode ocorrer apenas nas

    juntas ou em um modelo envolvendo a unidade e as juntas. O programa de

    elementos finitos, para estado plano de tenses, baseado em um elemento

    isoparamtrico de oito ns e utilizado para simular um carregamento

    incremental e a ruptura progressiva das paredes de alvenaria sujeitas a um

  • Captulo 2 Reviso dos critrios de resistncia utilizados na alvenaria estrutural 26

    carregamento no seu plano. A eficincia do programa demonstrada

    comparando-se o comportamento nos resultados numricos com os valores

    obtidos nos ensaios experimentais obtidos em cinco prticos de ao

    preenchidos com unidades de alvenaria. A grande vantagem do modelo

    apresentado que as propriedades mdias, que incluem a influncia tanto

    da unidade quanto das juntas, foram determinadas em ensaios de

    laboratrio. Isto significa que uma rede de elementos relativamente pobre

    pode ser utilizada, no havendo necessidade de se discretizar a unidade e a

    argamassa separadamente. Isto uma grande vantagem computacional na

    anlise de grandes painis de alvenaria, devido simplificao na gerao

    da rede e economia no tempo de processamento.

    Em 1989, PANDE et al. apresentaram um artigo onde utilizam um

    material aproximado equivalente para a determinao das propriedades

    elsticas da parede de alvenaria. introduzido um sistema composto de

    duas camadas paralelas de materiais, formado de bloco e argamassa, e

    determinam-se as propriedades mdias para este sistema. Estende-se,

    ento, a aplicao para a alvenaria, com dois conjuntos de juntas de

    argamassa (horizontal e vertical) que pode ser representado por um material

    equivalente elstico ortotrpico. O processo consiste em duas etapas: na

    primeira realizada uma homogeneizao horizontal, incluindo-se as

    unidades e as juntas verticais. Na segunda etapa, a homogeneizao

    vertical realizada, unindo-se o material homogeneizado anteriormente com

    as juntas horizontais (Figura 2.4). Expresses para as propriedades

    elsticas do material equivalente so determinadas em termos das

    propriedades elsticas da unidade e da argamassa, considerando-se a

    espessura relativa da argamassa.

  • Captulo 2 Reviso dos critrios de resistncia utilizados na alvenaria estrutural 27

    Figura 2.4 Homogeneizao em duas etapas

    Adaptada de LOURENO(1996)

    Os referidos autores concluem que o mdulo de elasticidade

    longitudinal (E) normal s juntas verticais do material equivalente menor

    do que aquele na direo paralela junta. Tambm foi determinado que a

    rigidez ao cisalhamento do material equivalente no plano paralelo s juntas

    horizontais , em geral, maior que a rigidez ao cisalhamento perpendicular

    s juntas horizontais. Verificou-se que para o caso mais comum, em que

    Ea

  • Captulo 2 Reviso dos critrios de resistncia utilizados na alvenaria estrutural 28

    programa para a anlise estrutural. Uma faixa de parede, de comprimento

    unitrio, tratada como uma viga-coluna em estado plano de deformaes.

    A relao tenso-deformao da alvenaria considerada no-linear na

    compresso e desprezada na trao. O comportamento e a resistncia das

    paredes so estudados utilizando-se o mtodo computacional desenvolvido.

    So consideradas apenas paredes submetidas a carregamento uniforme

    excntrico em relao ao plano mdio em ambas as extremidades. A

    capacidade de carregamento das paredes foi considerada muito sensvel a

    pequenas variaes do valor da excentricidade. Os tipos de colapso,

    instabilidade ou ruptura do material, so influenciados principalmente pela

    esbeltez e pelo valor da excentricidade. Uma pequena variao da fora axial

    acarreta uma grande mudana na capacidade portante da alvenaria.

    Em 1992, PIETRUSZCZAK & NIU apresentaram uma formulao

    matemtica para a descrio das propriedades mecnicas mdias da

    alvenaria estrutural de unidades de concreto. Um elemento tpico de

    alvenaria considerado como um meio composto para a qual as

    propriedades macroscpicas mdias podem ser unicamente identificadas.

    Assim, um volume elementar representativo do material considerado

    adotado como consistindo de um nmero de unidades interceptadas por

    duas famlias de juntas ortogonais entre si. O artigo escrito na seguinte

    seqncia: primeiro, uma formulao geral tridimensional fornecida. As

    relaes constitutivas mdias so formuladas utilizando-se a hiptese de

    que as juntas verticais representam um conjunto alinhado de incluso de

    planos de fraqueza e as juntas horizontais formam planos contnuos de

    fraqueza. A formulao , ento, aplicada para estabelecer as propriedades

    elsticas mdias do sistema. Depois, o fenmeno de ruptura progressiva da

    parede de alvenaria investigado. O mecanismo de ruptura consiste na

    formao de macro-fissuras nas unidades ou uma ruptura dctil/frgil nas

    juntas horizontais. O modo de ruptura efetivo funo da histria do

    carregamento imposto. As propriedades das juntas verticais tm um efeito

    muito limitado na ruptura macroscpica. Assim, para propsitos prticos,

    as juntas verticais podem ser admitidas como lineares elsticas isotrpicas.

    O artigo mostra que em anlise elstica a alvenaria pode ser considerada

    como um meio ortotrpico. Os valores das constantes elsticas so muito

    influenciadas pelas propriedades e espessura das juntas de argamassa.

  • Captulo 2 Reviso dos critrios de resistncia utilizados na alvenaria estrutural 29

    PAPA & NAPPI (1993) apresentaram um modelo de material baseado

    num procedimento de homogeneizao para a anlise de estruturas de

    alvenaria. A alvenaria considerada como um material composto e suas

    propriedades mecnicas globais so determinadas em funo das

    propriedades dos seus componentes: as unidades (admitidas como

    elsticas) e a argamassa (admitida como sujeita ao dano). O mtodo adotado

    consiste de duas etapas. Numa primeira etapa uma homogeneizao

    vertical realizada, incluindo as unidades e as juntas horizontais. Numa

    segunda etapa, a homogeneizao horizontal realizada, com os materiais

    previamente obtidos. Para avaliar a capacidade e as limitaes do modelo,

    ensaios experimentais em painis reduzidos de alvenaria foram executados,

    impondo-se diferentes combinaes de carregamento para estado plano de

    tenso. Considerando-se a usual disperso dos resultados experimentais

    encontrados com os painis de alvenaria, a ruptura predita pela

    aproximao terica parece estar em boa concordncia com as evidncias

    experimentais.

    Em 1995, ANTHOINE apresentou um trabalho onde aplica a teoria

    da homogeneizao para meios peridicos de uma forma mais rigorosa, com

    o intuito de determinar as caractersticas da alvenaria no estado plano. De

    acordo com o autor, procedimentos semelhantes tm sido utilizados por

    muitos pesquisadores, mas, em geral, com tcnicas aproximadas. Em

    particular, os processos de homogeneizao vm sendo aplicados atravs de

    passos sucessivos de homogeneizao, as juntas horizontais e verticais

    sendo introduzidas de forma sucessiva. Alm disso, usualmente a alvenaria

    considerada como um meio bidimensional sujeito a um estado plano de

    tenses, ou como um meio tridimensional muito espesso, assim sua

    espessura finita nunca levada em considerao. No artigo a teoria da

    homogeneizao para meios peridicos implementada em uma s etapa e

    considera-se a geometria real da alvenaria (o padro da argamassa e

    espessura da parede). Os resultados obtidos foram comparados com

    anlises baseadas em mtodos simplificados existentes e constituem uma

    base de referncia para avaliar a relevncia de algumas aproximaes

    geralmente utilizadas na literatura. Como resultado importante, as

    aplicaes numricas realizadas demonstraram que variando-se o padro

    das juntas, ignorando-se as juntas verticais ou assumindo-se estado plano

  • Captulo 2 Reviso dos critrios de resistncia utilizados na alvenaria estrutural 30

    de tenso, resultam em estimativas razoveis do comportamento elstico

    global da alvenaria. No entanto, um minucioso estudo das tenses elsticas

    desenvolvidas nos diferentes materiais constituintes (unidade e argamassa)

    antecipa que a situao pode resultar completamente diferente na anlise

    no-linear. Em particular, o estado plano de tenses assumido causa

    controvrsias, por ser uma aproximao do modelo real, que

    tridimensional.

    LEE et al., em 1996, introduziram uma tcnica de homogeneizao

    para investigar o comportamento elastofrgil de painis de alvenaria

    sujeitos a carregamento lateral horizontal. Para modelar o comportamento

    da alvenaria, so utilizados dois passos sucessivos de homogeneizao para

    obter as propriedades elsticas mdias. Na primeira etapa, as unidades so

    homogeneizadas com as juntas verticais, obtendo-se as propriedades

    elsticas equivalentes de um sistema em camadas. Numa segunda etapa o

    sistema em camadas ento homogeneizado com as juntas horizontais

    para obter as propriedades equivalentes do material alvenaria. A nica no-

    linearidade considerada est associada fissurao. O modelo constitutivo

    incorporado em um programa de elementos finitos, utilizando-se

    elementos tridimensionais. Dos exemplos analisados, os autores concluem

    que a homogeneizao proposta, em duas etapas, conveniente, prtica e

    pode ser utilizada para minimizar o custo computacional da anlise de

    painis de alvenaria sujeitos a carregamento lateral. A previso numrica da

    carga ltima e o padro de fissurao est em boa concordncia com os

    ensaios. Parmetros mais precisos dos materiais, assim como a resistncia

    trao e a resistncia trao da junta entre a unidade e a argamassa,

    podem fornecer um modelo mais preciso. Foram realizadas tambm

    anlises numricas de painis de alvenaria com diferentes condies de

    contorno e aberturas que apresentaram uma boa concordncia com

    resultados experimentais.

    Em 1997 PAPA & NAPPI propuseram um modelo para anlise da

    alvenaria estrutural baseado em noes de plasticidade e dano.

    considerado apenas o estado plano de tenses e uma superfcie de ruptura

    no plano introduzida. Incrementos de deformao inelstica so supostos

    apenas quando o estado de tenso ultrapassa os limites do critrio de

  • Captulo 2 Reviso dos critrios de resistncia utilizados na alvenaria estrutural 31

    escoamento. Os incrementos so considerados parcialmente irreversveis e

    so relacionados a um decrscimo gradual de rigidez. Seguindo conceitos

    bsicos da teoria da plasticidade, incrementos de deformao plstica so

    assumidos como normais superfcie de ruptura. Depois de implementar o

    modelo em um programa de elementos finitos, um procedimento adequado

    utilizado com o intuito de limitar o efeito de dependncia de malha. Com o

    objetivo de verificar os resultados numricos, foram considerados modelos

    experimentais reduzidos realizados pelos autores em 1993 em painis de

    alvenaria. Levando-se em considerao a grande disperso dos pontos de

    ruptura experimentais, foi encontrada uma boa concordncia entre esses

    pontos de ruptura obtidos e os resultados numricos. Verificou-se que as

    respostas numricas, em termos de deslocamentos, apresentaram uma

    rigidez levemente maior que a experimental. Apesar disso o modelo permite

    que se determine a fora de ruptura e a distribuio do dano com boa

    preciso.

    Em 1997, LOURENO, DE BORST & ROTS desenvolveram um

    modelo para estado plano de tenso de materiais ortotrpicos frgeis. A

    teoria da plasticidade, que adotada para descrever o comportamento no-

    linear, utiliza algoritmos modernos, incluindo uma tcnica implcita de

    integrao das tenses, o mtodo de Newton-Raphson e uma matriz de

    rigidez tangente consistente. O modelo capaz de predizer respostas

    independentes ao longo dos eixos do material. Ele possui caractersticas de

    energia de fratura trao e compresso, que so diferentes ao longo de

    cada eixo do material. O critrio de resistncia proposto no trabalho

    combina as vantagens dos conceitos da plasticidade moderna com uma

    poderosa representao anisotrpica do comportamento do material, que

    inclui diferentes caractersticas de encruamento/amolecimento ao longo de

    cada eixo do material. O critrio de resistncia composto adequado para

    modelar materiais anisotrpicos sob estado plano de tenso e consiste de

    uma extenso das formulaes tradicionais para materiais frgeis

    isotrpicos para descrever o comportamento ortotrpico. Critrios de

    resistncia individuais so considerados para trao e compresso,

    descrevendo diferentes mecanismos de ruptura. O primeiro critrio

    associado com um processo de fratura localizada, denominado fissura do

    material, e o segundo critrio associado com um processo de fratura mais

  • Captulo 2 Reviso dos critrios de resistncia utilizados na alvenaria estrutural 32

    distribudo, que usualmente denominado esmagamento do material. O

    critrio de resistncia apresentado representa um passo mais adiante do

    trabalho de FEENSTRA & DE BORST (1996), que utilizaram esta

    aproximao para o concreto com o critrio de Rankine associado ao critrio

    de Drucker-Prager. Com o intuito de modelar o comportamento do material

    ortotrpico, os autores propem um critrio tipo Hill para a compresso e

    um critrio tipo Rankine para a trao, conforme a figura 2.5. O dano

    interno devido aos mecanismos de ruptura pode ser representado por dois

    parmetros internos, Kt e Kc, um para o dano em trao e outro para o dano

    em compresso. O modelo formulado de forma que cada parmetro

    interno relacionado com duas energias de fraturamento independentes ao

    longo de cada eixo do material. Por essa razo, possvel reproduzir

    diferentes comportamentos no-lineares ao longo de duas direes

    ortogonais.

    Figura 2.5 Critrio de resistncia proposto. Diferentes valores de resistncia

    trao e compresso so adotados em cada um dos eixos dos materiais.

    Adaptada de LOURENO et al. (1997)

    Boa concordncia foi encontrada comparando-se resultados

    numricos com dados experimentais para paredes de alvenaria de tijolos

    cermicos submetidas ao cisalhamento, onde ambos os modos de ruptura

    (trao e compresso) esto presentes. Outra grande vantagem apresentada

    pelo modelo foi a sua capacidade de acompanhar a curva tenso-

    deformao at a total degradao da resistncia.

  • Captulo 2 Reviso dos critrios de resistncia utilizados na alvenaria estrutural 33

    LOURENO & ROTS (1997b) elaboraram um estudo minucioso

    avaliando o desempenho do processo de homogeneizao em duas etapas,

    que baseado na hiptese de materiais em duas camadas. Foram feitas

    anlises dos respectivos processos adotados por PANDE et al. (1989) e

    PAPA (1990). A eficincia das tcnicas de homogeneizao para a anlise de

    estruturas de alvenaria foi discutida. A maior vantagem apresentada pela

    homogeneizao que, uma vez completamente determinadas as

    propriedades dos materiais constituintes, o comportamento do material

    composto pode ser estimado sem a necessidade de ensaios adicionais. Isto

    significa que alteraes na geometria, por exemplo: dimenso das unidades

    e espessura das juntas ou arranjos geomtricos, podem ser manipulados

    exclusivamente de forma numrica. Foi demonstrado que a homogeneizao

    em duas etapas pode ser utilizada para a determinao das carac