20- pg rcc resíduos da construção civil aliados a produção mais limpa

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA CIVIL

RESDUOS DA CONSTRUO CIVIL ALIADOS A PRODUO MAIS LIMPA (P+L)

DISSERTAO DE MESTRADO

NEIDI KUNKEL

SANTA MARIA, RS, BRASIL 2009

RESDUOS DA CONSTRUO CIVIL ALIADOS A PRODUO MAIS LIMPA (P+L)

por

Neidi Kunkel

Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil, rea de Construo Civil e Preservao Ambiental, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), como requisito parcial para obteno do grau de Mestre em Engenharia Civil Construo civil

Orientador: Prof. Dr. Eduardo Rizzatti

Santa Maria, RS, Brasil 2009

Universidade Federal de Santa Maria Centro de Tecnologia Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil

A Comisso Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertao de Mestrado

RESDUOS DA CONSTRUO CIVIL ALIADOS A PRODUO MAIS LIMPA (P+L)

elaborada por Neidi Kunkel como requisito parcial para obteno do grau de Mestre em Engenharia CivilComisso Examinadora:

__________________________________________ Eduardo Rizzatti, Dr. (Presidente/Orientador)

__________________________________________ Janis Elisa Ruppenthal, Dr. (UFSM)

__________________________________________ Jorge Orlando Cullar Noguera, Dr. (UFSM)

Santa Maria, 27 de maro de 2009.

AGRADECIMENTOSAo programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil da Universidade Federal de Santa Maria, pelo acolhimento e oportunidade de realizar o meu aperfeioamento profissional. Ao professor Eduardo Rizzatti pela oportunidade em realizar este trabalho, alm da amizade, orientao, compreenso e incentivo ao longo deste. Ao professor Jorge Orlando Cullar Noguera, pelo incentivo e motivao nas horas difceis. A construtora visitada e aos funcionrios, por permitirem a obteno dos dados necessrios e dedicarem parte de seu tempo para contribuir com o preenchimento das fichas aplicadas. A todos os profissionais que entenderam os objetivos deste trabalho e tiveram o desprendimento em colaborar com suas experincias, apresentando suas pesquisas, tecnologias adotadas e tambm problemas ocorridos em suas obras, oportunizando o andamento deste trabalho que tem como objetivo maior a reduo de resduos nos canteiros de obra. Aos meus familiares e amigos que acompanharam esta importante etapa da minha vida, pela compreenso demonstrada nos momentos em que estive ausente, pela convivncia e pelas palavras de incentivo constantes. A Deus por mais esta conquista.

RESUMO Dissertao de Mestrado Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil Universidade Federal de Santa Maria, RS, Brasil. RESDUOS DA CONSTRUO CIVIL ALIADOS P+L AUTORA: NEIDI KUNKEL ORIENTADOR: EDUARDO RIZZATTI Data e Local da Defesa: Santa Maria, 27 de maro de 2009.Este trabalho discorre sobre os resduos de construo e demolio gerados pelo setor de construo civil. Dando nfase a importncia do reaproveitamento do mesmo, pois o acmulo destes materiais alm de causar problemas ambientais representa um acrscimo no custo da obra. Apresenta os pontos fracos do processo e oportunidades de melhorias, assim como busca dar algum respaldo quanto aos aspectos normativos e econmicos relacionados ao desperdcio. Finalmente, sugere caminhos a serem seguidos pelas empresas do setor, visando a melhoria de seu processo e maturidade ecolgica. O objetivo deste trabalho mostrar as variveis que esto relacionadas aos resduos, apresentando os problemas e mostrando algumas solues para evitar a gerao de resduos na construo civil, atravs de um programa de Produo Mais Limpa. A metodologia adotada foi a coleta de informaes e o conhecimento terico e prtico relacionado ao assunto.

Palavras-chave: resduos, construo, demolio, produo mais limpa

ABSTRACTDissertao de Mestrado

Programa de Ps-Graduao em Engenharia CivilUniversidade Federal de Santa Maria, RS, Brazil

RESIDUES OF THE BUILDING SITE ALLIED P+LAUTHOR: NEIDI KUNKEL

ADVISER: EDUARDO RIZZATTI Date and local of examination: Santa Maria, March 27th, 2009.This work discourses about the construction residues and demolition generated by the building site section. The work of the emphasis in the importance of the reaproveitament of the same, because the accumulation of these materials besides causing environmental problems represents an increment in the cost of the work. Presents the weak points of the process and opportunities of improvements, as well as search to give some back-up with relationship to the normative and economical aspects related to the waste. Finally, suggests roads they be her followed for the companies of the section, seeking the improvement of your process and ecological maturity. The objective of this work is to show the variables that are related to the residues, presenting the problems and showing some solutions to avoid the generation of residues in the building site, through a program of Cleaner Production. The adopted methodology was the collection of information and the theoretical and practical knowledge related to the subject.

Words-key: residues, construction, demolition, cleaner production

LISTA DE ILUSTRAESFIGURA 1 Disposio inadequada dos RCC Junho/2008 ........................................... 17 FIGURA 2 Acmulo e mistura de resduos, depsito indevido. Junho/2008 ................... 17 FIGURA 3 Aterro clandestino. Fevereiro/2002 ............................................................. 18 QUADRO1 Materiais perigosos presentes no fluxo de RCD ......................................... 26 FIGURA 4 Fluxograma para caracterizao da disposio final dos resduos resultados da pesquisa de campo ...................................................................................... 27 FIGURA 5 Dimenses da ACV (CHEHEBE, 1998 apud PASQUALI, 2005, p. 7) ........ 33 QUADRO 2 Normas ISO srie 14000 (Normas provveis) ........................................... 34 QUADRO 3 Responsabilidade pelo gerenciamento do resduo ...................................... 36 FIGURA 6 Mapa de Localizao da empresa GR2 ........................................................ 45 FIGURA 7 Amostras de transporte realizado por container. Maio/2007 ..................... 52 FIGURA 8 Transporte sendo feito com a utilizao de caminho-caamba. Maio/ 2007 ................................................................................................................................. 53 FIGURA 9 Quantidade de resduos gerados na obra A Jan a set/07 ......................... 58 FIGURA 10 Quantidade de resduos gerados na obra B Abr a out/07 ...................... 59 FIGURA 11 Quantidade de resduos gerados na obra C Mar a jun/07 ..................... 59 FIGURA 12 Quantidade em m de resduos Classe A gerados nas obras Jan a out/07 ..................................................................................................................... 60 FIGURA 13 Quantidade em m de resduos gerados nas obras, Classe B Jan a out/07 ...................................................................................................................... 60 FIGURA 14 Quantidade em m de resduos gerados nas obras, Classe C Jan a out/07 ...................................................................................................................... 61 FIGURA 15 Quantidade em litros, de resduos de tinta gerados nas obras, Classe D Jan a out/07 ............................................................................................................ 61 FIGURA 16 Proporo do total de resduos gerados nas trs obras. Jan a out/07 ........ 62 FIGURA 17 Ausncia de identificao volumtrica e cobertura. Junho/2008 ................ 64 FIGURA 18 Mistura de resduos, contendo entulho, madeira, poda, entre outros. Maro/2008 ..................................................................................................................... 64 FIGURA 19 Caso de disposio incorreta dos RCC no municpio. Junho/2008 ............. 65

FIGURA 20 Mistura de materiais na caamba (entulho, lmpadas, lixo domstico, roupas, papel, papelo) Maro/2006 ................................................................................. 65 FIGURA 21 Funcionrios da empresa GR2, fazendo a separao de resduos. Maio/2007 ....................................................................................................................... 66 FIGURA 22 Passos para implantao de um programa de P+L ..................................... 74 FIGURA 23 Elementos essenciais da estratgia de P+L ................................................ 79 FIGURA 24 Diagrama de Ishikawa ............................................................................... 85

LISTA DE TABELASTABELA 01 Demonstrao de custos para recolhimento e disposio final dos RCC .... 67 TABELA 02 Proporo dos RCC no municpio de Santa Maria em 2007 ....................... 67 TABELA 3 Percentual de RCD em relao ao RSU de algumas cidades brasileiras (Modificado de VIEIRA, 2003) ........................................................................................ 68

LISTA DE APNDICES E ANEXOSAPNDICE A Formulrio utilizado na Pesquisa para verificao do Controle de Resduos gerados na Construo ...................................................................................... 93 APNDICE B Cartilha de Resduos .............................................................................. 96 ANEXO A Formulrio para cadastramento das empresas coletoras de RCD, na SMPA ......................................................................................................................... 98 ANEXO B Controle de transporte de resduos CTR ................................................... 99 ANEXO C Resolues do CONAMA ........................................................................... 100

LISTA DE ABREVIATURASABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas ACV Anlise do Ciclo de Vida ATT rea de Transbordo e Triagem CEF Caixa Econmica Federal CONSEMA Conselho Estadual do Meio Ambiente CNTL Centro Nacional de Tecnologia Limpas CTR Controle de Transporte de Resduos ECOPROFIT Ecological Project for Integrated Technologies FEPAM Fundao Estadual de Proteo Ambiental GUT Gravidade Urgncia e Tendncia IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica ISO International Organization for Standardization LO Licena de Operao PBQP-H Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat P+L Produo mais Limpa PIGRCC Plano Integrado de Gerenciamento de Resduos da Construo Civil de Santa Maria RCC Resduo de Construo Civil RCD Resduos da Construo e Demolio RSU Resduos Slidos Urbanos SENAI Servio Nacional de Aprendizagem Industrial SIAC Sistema de Avaliao de Conformidade de Empresas e Servios e Obras da Construo SINDUSCON Sindicato dos Construtores SGQ Sistema de Gesto de Qualidade SMPA Secretaria de Municpio de Proteo Ambiental SMOV Secretaria Municipal de Obras e Viaes SMTTSM Secretaria Municipal de Trnsito, Transporte e Mobilidade Urbana de Santa Maria UNEP/UNIDO United Nations Environmental Program/United Nations Industrial Development Organization

SUMRIORESUMO ....................................................................................................................... ABSTRACT .................................................................................................................. LISTA DE ILUSTRAES .......................................................................................... LISTA DE TABELAS .................................................................................................... LISTA DE APNDICES E ANEXOS ........................................................................... 4 5 6 8 9

LISTA DE ABREVIATURAS ....................................................................................... 10 1. INTRODUO .......................................................................................................... 14 1.1 Consideraes gerais ................................................................................................ 16 1.2 Tema e formulao do problema ............................................................................. 17 1.3 Objetivos ................................................................................................................... 19 1.3.1 Objetivo geral .......................................................................................................... 19 1.3.2 Objetivos especficos ............................................................................................... 19 1.4 Justificativa da pesquisa .......................................................................................... 19 1.4.1 Aplicaes dos agregados reciclados ....................................................................... 20 1.4.2 Aspectos econmicos .............................................................................................. 21 1.5 Estrutura do trabalho .............................................................................................. 23 2. GESTO DOS RESDUOS DA CONSTRUO CIVIL ....................................... 24 2.1 Responsveis pela correta destinao dos resduos.................................................. 24 2.2 Fluxo dos RCC ......................................................................................................... 24 2.3 Definio dos RCD ................................................................................................... 25 2.4 Classificao dos RCD ............................................................................................. 25 2.5 Composio dos RCD ............................................................................................... 26 2.6 Caracterizao dos RCD .......................................................................................... 26 2.7 Impactos causados pelos RCD ................................................................................. 27 2.8 Sade pblica e ambiental x coleta, transporte e destino dos RCD ....................... 28 2.9 Formas de gesto dos RCD ...................................................................................... 31 2.9.1 Produo mais Limpa .............................................................................................. 31 2.8.2 ACV e ISO14000 .................................................................................................... 32 2.9.2.1 ACV como ferramenta na gesto dos resduos ...................................................... 32 2.9.3 PBQP-H e ISO9000 ................................................................................................ 34

2.10 Legislao e Normas Tcnicas ............................................................................... 35 2.10.1 Normas gerais Legislao Estadual ..................................................................... 37 2.10.2 Normas gerais Legislao Federal ...................................................................... 37 2.10.3 Normas Tcnicas ................................................................................................... 38 3. PLANO INTEGRADO DE GERENCIAMENTO DE RESDUOS DA CONSTRUO CIVIL DO MUNICPIO DE SANTA MARIA (PIGRCC) ............. 43 3.1 Diretrizes gerais ........................................................................................................ 43 3.2 Programa Municipal de gerenciamento de Resduos da Construo Civil ............. 44 3.2.1 Diretrizes tcnicas e procedimentos ......................................................................... 44 3.2.2 Projetos de gerenciamento de Resduos da Construo Civil .................................... 45 3.2.2.1 Diretrizes tcnicas e procedimentos ...................................................................... 45 3.2.2.2 Empreendimentos sem necessidade de licenciamento ambiental ........................... 45 3.2.3 Etapas mnimas obrigatrias nos Projetos de Gerenciamento de Resduos da Construo Civil .............................................................................................................. 46 3.2.4 reas de recebimento de Resduos da Construo Civil .......................................... 47 3.3 Regramento da atividade de transporte de Resduos da Construo Civil ............ 48 3.3.1 Licenciamento da atividade de transporte ................................................................ 49 3.3.2 Fiscalizao da atividade de transporte .................................................................... 50 3.3.3 Transporte realizado por container ...................................................................... 51 3.3.4 Transporte realizado por caminho-caamba ........................................................... 52 3.4 Aes educativas ....................................................................................................... 54 3. 4.1 Educao ambiental ................................................................................................ 54 3.4.2 Aes de orientao, fiscalizao e de controle dos agentes envolvidos ................... 55 4. METODOLOGIA ...................................................................................................... 56 4.1 Descrio do objeto de estudo .................................................................................. 57 4.2 Materiais utilizados .................................................................................................. 63 4.3 Consideraes Gerais ............................................................................................... 63 4.3.1 Atual situao da gesto dos RCC em Santa Maria RS ......................................... 63 5. PRODUO MAIS LIMPA ..................................................................................... 68 5.1 Meio ambiente e o setor ........................................................................................... 68 5.2 Consideraes ........................................................................................................... 70 5.2.1 Nvel 1 Redues na fonte .................................................................................... 70 5.2.2 Nvel 2 Reciclagem interna ................................................................................... 71 5.2.3 Nvel 3 Reciclagem externa .................................................................................. 71

5.3 Histria da Produo mais Limpa ........................................................................... 72 5.4 Porque investir em Produo mais Limpa? ........................................................... 72 5.5 Implementao de um programa de Produo mais Limpa .................................. 74 5.6 Aplicao da metodologia de P+L no setor de construo civil .............................. 75 5.7 Identificao de oportunidades de P+L ................................................................... 75 5.8 Solues: Priorizar oportunidades (GUT) .............................................................. 76 5.9 Oportunidades e/ou problemas Plano de ao, estratgias ou Opes Barreiras e necessidades ................................................................................................ 77 5.10 Benefcios que a produo mais limpa pode trazer p/ a construo civil ............. 79 6. SOLUES ............................................................................................................... 81 7. CONCLUSO ............................................................................................................ 84 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .......................................................................... 87 APNDICES .................................................................................................................. 93 ANEXOS ........................................................................................................................ 98

Captulo 11 INTRODUO

Dos diversos setores industriais, o setor da construo civil um dos maiores geradores de resduos slidos, pois desperdia grande quantidade de materiais e matriaprima utilizada em seus processos. O desperdcio um dos principais indicadores de custo, representando a no-qualidade e a falta de controle da empresa, o mesmo pode ser percebido de diversas formas: devido a erros no processo, a retrabalhos, tempos ociosos de mo-de-obra e uso de equipamentos, por falta de planejamento, falta de uma poltica administrativa e gerencial, problemas com a qualidade do material, programas de contratao e treinamentos inadequados, patologias construtivas com altos custos de reparao e manuteno entre outros. Para a Caixa Econmica Federal CEF (apud ARAUJO, 2002, p.68), entre os fatores que contribuem para a gerao de resduos no setor, esto: Definio e detalhamento insuficientes, em projetos de arquitetura, estrutura, formas, instalaes, entre outros; Qualidade inferior dos materiais e componentes de construo disponveis no mercado; Mo-de-obra desqualificada; Ausncia de procedimentos operacionais e mecanismos de controle de execuo e inspeo. Nas etapas de processo executivo, a construo civil apresenta grandes impactos ambientais, desde a extrao da matria-prima para produzir um insumo, at a prpria construo, uso e a posterior demolio. Alm do grande consumo de materiais pela construo civil, o maior problema que eles apresentam um significativo contedo energtico (ao, alumnio, plstico, cobre, entre outros) gerando srios problemas ambientais, seno tratados. Segundo Furtado (2005 apud ARAUJO, 2002, p.68), uma anlise de dados levantados nos Estados Unidos, considerados vlidos para a construo civil nos demais pases industrializados, aponta para os seguintes indicadores: utilizao de 30% das matrias primas, 42% do consumo de energia, 25% para o de gua e 16% para o de terra. O segmento

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contribui com 40% da emisso atmosfrica, 20% dos efluentes lquidos, 25% dos slidos e 13% de outras liberaes. Esses nmeros demonstram a relevncia do tema e a necessidade da busca por aes voltadas para a reduo do impacto ambiental na construo civil. Angulo, Zordan e John (2001) citam que, a reciclagem de Resduos de Construo e Demolio RCD, como material de construo civil, iniciada na Europa aps a segunda guerra mundial, encontra-se no Brasil muito atrasada, apesar da escassez de agregados e rea de aterros nas grandes regies metropolitanas, especialmente se comparada com pases europeus, onde a frao reciclada pode atingir cerca de 90% recentemente, como o caso da Holanda, que j discute a certificao do produto. A variao da porcentagem da reciclagem dos RCD em muitos pases funo da disponibilidade de recursos naturais, distncia de transporte entre reciclados e materiais naturais, situao econmica e tecnolgica do pas e densidade populacional. A quantidade de RCD gerada significativa: na Unio Europia, so gerados em torno de 300 milhes de toneladas/ano; no Brasil, somente na cidade de So Paulo, so gerados 6 milhes de toneladas/ano. Em funo do constante aumento do volume de novas construes, e da pequena vida til de boa parte dessas, a quantidade de resduos gerados pelo setor tem crescido, substancialmente, o que justifica a necessidade de se buscar alternativas para reduzir a gerao e o acmulo desses resduos. A criao de polticas voltadas para o gerenciamento dos RCC, recentemente demandada aos municpios em funo da regulamentao da resoluo do Conselho Nacional do Meio Ambiente CONAMA n 307, exigindo que as empresas de construo, elaborem estratgias para minimizao e destinao dos resduos gerados durante o processo. As organizaes esto vivenciando importantes transformaes. Percebem que cada vez mais a sua participao na sociedade a varivel que determina o seu sucesso ou fracasso. O ambiente social no qual as organizaes esto inseridas est se tornando exigente quanto ao impacto destas na sociedade, exigindo responsabilidade poltica e social. Seja por razes ticas ou puramente mercadolgicas, as empresas devem se adequar a essa nova realidade de mercado, buscando evidenciar sociedade, sua preocupao com o ambiente que a compe. Este trabalho tem como objetivo, mostrar as variveis que esto relacionadas aos resduos da construo, tais como: coleta, seleo e destino, reaproveitamento, reciclagem e custo. Apresenta ainda, os problemas causados pelo excesso de resduos, maneiras de se evitar ou pelo menos minimizar a gerao de resduos, normas e resoluo pertinentes que tratam do

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assunto. Bem como, sugerir alternativas que visem a reduo de resduos produzidos na origem, utilizando a ferramenta de gesto aplicada ao processo produtivo, chamada de Produo mais Limpa (P+L). A unidade de anlise escolhida para este estudo uma construtora de mdio porte, localizada na cidade de Santa Maria, RS. Este trabalho focou-se em estudar 03 edifcios dentre eles, residenciais e educacionais, de alvenaria estrutural e convencional, entre 05 a 11 pavimentos, para analisar os servios que geram a maior quantidade de entulho, e em que fase do processo. Mais ainda, concentrou-se em analisar a possibilidade de se minimizar os resduos derivados da construo civil na fonte geradora. A escolha da unidade de estudo, deu-se devido a construtora ser a maior empresa de Santa Maria no setor da construo civil, possuindo aproximadamente 300 funcionrios.

1.1 Consideraes gerais

A indstria da Construo Civil ainda , sem dvida, uma das mais importantes atividades para o desenvolvimento econmico e social de nosso pas. Sua cadeia produtiva exerce um peso considervel na macroeconomia internacional, sendo responsvel por cerca de 40% da formao bruta de capital e empregando uma enorme massa de trabalhadores. Alm disso, consome algo entre 20% e 50% do total dos recursos naturais consumidos pela sociedade (SJSTRM, 1996). Em maro de 1988, perodo no qual o ndice de Emprego do SINDUSCON-RS Sindicato dos Construtores do Rio Grande do Sul comeou a ser apurado, havia 130.576 trabalhadores empregados formalmente no setor. Em julho de 2006, passados mais de 18 anos, esse nmero caiu drasticamente para 53.496 empregados formais. Ainda assim, o setor representa a grande gerao de empregos formais da indstria da construo. Quanto aos resduos, estima-se que os gastos variam entre R$ 1 milho e R$ 1,5 milho, com recolhimento de entulho disposto irregularmente, em municpios acima de 1 milho de habitantes, segundo dados do IBGE (2003). A construo civil um dos segmentos que mais gera resduos devido ao grande volume e diversidade de materiais utilizados em seu processo produtivo. O desenvolvimento de um plano de Produo mais Limpa P+L, de forma a amenizar os impactos causados ao meio ambiente, bem como as perdas econmicas, beneficia tanto a sociedade quanto as

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empresas desse ramo. Com a correta destinao, reutilizao e economia de matria-prima, as empresas que adotam essas prticas colaboram para o uso sustentvel de nossos recursos naturais, bem como asseguram a melhoria de seu desempenho e competitividade.

1.2 Tema e formulao do problema

Devido a falta de um plano de gerenciamento, os resduos (Figuras 1 e 2) esto sendo um dos principais problemas das construtoras. Alm do resduo ser, inicialmente, um material de consumo, a empresa tem um custo muito alto, pelo material pago, pela nova mo-de-obra para refazer o servio, pelo custo em dispor esse material na obra, alm dos gastos com transporte e destino final desse material gerado nos canteiros de obra.

Figura 1 Disposio inadequada dos RCC Junho/2008

Figura 2 Acmulo e mistura de resduos, depsito indevido. Junho/2008

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Como pode-se perceber, nas Figuras 1 e 2, so muitos os problemas relacionados ausncia de qualidade e falta de organizao da atividade destinadas as empresas coletoras de entulho. As aes de coleta e transporte mostraram-se altamente desregradas e prejudiciais qualidade scio-ambiente urbana, mas os locais de descarte dos RCD que deveriam ser depsitos temporrios so em todos os casos encontrados, locais de disposio final, lixes. Esta ao a mais problemtica, pois poluente do modo como est sendo realizada no municpio de Santa Maria, e difcil de solucionar, pois envolve fortes interesses contraditrios, onde o ltimo item a se preocupar o ambiente natural, quando esse deveria ser o primeiro. A atividade de destinao dos RCD apresentou, em Santa Maria/RS, os seguintes problemas: 1 - Locais inadequados como arroios, matas, encostas de estradas, terrenos urbanos, entre outros. Nesses locais as empresas descartam os resduos das caambas at que o terreno esteja saturado, quando h o abandono da rea (sem qualquer tratamento ou mitigao). Nesse caso o empreendimento passa a depositar em outro local, to ou mais inadequado que o primeiro, formando assim uma cadeia de aterros clandestinos (Figura 3).

Figura 3 Aterro clandestino. Fevereiro/2002

2 - reas sem proteo atraem todo tipo de lixo: os locais de descarte utilizados para destinao final dos RCD so locais sem delimitao, sem cerca, permitindo a entrada e a utilizao deste por qualquer pessoa que assim o quiser. Dessa forma, a

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populao utiliza esses locais como pequenos lixes, onde depositam todos os tipos de resduos.

1.3 Objetivos

1.3.1 Objetivo geral

Propor uma metodologia de trabalho, aliada a P+L, visando a reduo de resduos nos canteiros de obra.

1.3.2 Objetivos especficos

Incentivar as empresas construtoras a realizarem a gesto de resduos, de forma a reduzir a sua gerao e os custos com a remoo e disposio final, respeitando as normas tcnicas vigentes. Demonstrar a representatividade da gerao dos RCD. Reunir elementos que permitam a sensibilizao dos empresrios da construo civil para o desenvolvimento com responsabilidade social e sustentvel do setor. Apresentar os problemas causados pelo excesso de resduos, algumas maneiras de se evitar ou pelo menos minimizar a gerao de resduos, normas e resoluo pertinentes que tratam do assunto.

1.4 Justificativa da pesquisa

A maioria dos estudos concentra-se em propor tcnicas de reciclagem para os resduos gerados nos processos construtivos, com destaque especial para o entulho. Nesse sentido, verifica-se que, geralmente, procura-se agir aps a ocorrncia do problema, medida essa caracterizada como corretiva. Este trabalho especificamente pretende apresentar uma metodologia que usa da ferramenta gerencial P+L, para atingir as razes do problema, e no simplesmente o efeito.

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Atualmente, a humanidade vem enfrentando problemas ambientais extremamente complexos, cuja soluo est na aplicao de uma estratgia ambiental preventiva, ao invs de aes corretivas. Sendo assim, verifica-se a importncia de se utilizar mtodos ligados a gesto ambiental. Isto conduz as empresas do setor de construo civil a otimizarem seus processos produtivos, demonstrando a possibilidade de se obter lucro com aes voltadas para o meio ambiente.

1.4.1 Aplicaes dos agregados reciclados

Segundo Lima (1999), a reciclagem de agregados no Brasil feita pela separao de resduos e pelo teor de impurezas o que, no entanto, poderia ser realizado pela separao do tipo predominante de componente do resduo, isso implicaria em uma maior discriminao pelo tipo de agregado e qualidade dos mesmos. Com a urbanizao crescente, ocorre a migrao da indstria de agregados, que fornece matria prima composta em sua maioria de materiais ptreos, para longe dos grandes centros urbanos o que, com freqncia, ocasiona o aumento de custos com transporte e armazenamento para as construtoras. O advento da reciclagem do RCD vem reduzir esse custo, j que o mesmo pode ser reutilizado onde gerado, reduzindo os distrbios ambientais, prolongando a vida e garantindo a sustentabilidade dos recursos naturais. A aplicao do material reciclado vai depender de suas caractersticas e propriedades. De forma geral, tm-se observado aplicaes de sucesso do agregado reciclado em determinados produtos, como apresentados pelos autores Angulo (2000) e Costa (2003), como por exemplo, o concreto de baixo consumo no armado, argamassa de assentamento, argamassa de revestimento, fabricao de pr-moldados de concreto, camadas de base e subbase de pavimentao, camadas drenantes, cobertura de aterros, gabio, blocos, briquetes, meios-fios. Os RCD contm uma grande quantidade de resduos ptreos, que, ao atenderem especificaes relacionadas granulometria, resistncia dos gros, teor de impurezas, e outros, tornam-se similares aos agregados de fontes naturais, substituindo-os com sucesso e menor custo.

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1.4.2 Aspectos econmicos

O RCD pode ser entendido como uma oportunidade de negcios, atravs da sua reciclagem, que pode trazer benefcios financeiros a ser utilizada como instrumento de marketing pela empresa. A principal forma de reciclagem de RCD consiste na moagem do resduo e sua posterior utilizao na confeco de concretos, argamassas ou na execuo de bases de pavimentao. Um dos principais exemplos de reciclagem de RCD, no Brasil, o de Belo Horizonte, onde o material reciclado usado para a construo de bases para pavimentao. Segundo dados do municpio, o custo da produo de pavimentao asfltica com uso de agregado proveniente de RCD cerca de 20% inferior ao convencional. Alm disso, antes da instalao das usinas de reciclagem, o custo anual de remoo de entulho resultante de deposies clandestinas estava na ordem de um milho de dlares. A escolha da melhor forma de utilizao para o agregado de RCD depende de uma anlise conjunta de caractersticas tcnicas, ambientais e financeiras. fundamental ressaltar que a reciclagem do RCD deve ser precedida e acompanhada de um estudo tecnolgico adequado, que garanta as propriedades do material no qual o RCD est sendo incorporado. As empresas de construo civil apresentam muitas particularidades que as diferenciam dos outros setores industriais, Costa (2003, p.31) relaciona suas principais caractersticas: produtos nicos e no seriados; uso de elevado nmero de insumos, materiais e componentes; alta contratao e mo-de-obra no qualificada; em sua maioria, composta de pequenas empresas; alta rotatividade de mo-de-obra; condies de trabalho precrias; grande nmero de acidentes de trabalho e de doenas ocupacionais; um setor muito tradicional, com grande inrcia nas alteraes; o grau de preciso com que trabalha este setor em geral muito menor do que em outras indstrias, qualquer que seja o parmetro que se contemple (oramento, prazo ou resistncia mecnica); as responsabilidades so dispersas e pouco definidas. Alm desses fatores, o setor de construo civil apesar de apresentar um grau de

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desenvolvimento tecnolgico inferior frente a outros setores como o industrial e automotivo, vem buscando se equiparar com a adoo de mudanas em processos tecnolgicos, na qualidade e na formao dos trabalhadores, na segurana e na sade do trabalho. Um exemplo tpico de acmulo de resduos na construo civil o processo de execuo de alvenaria de vedao. Que, devido a problemas de dimensionamento ou especificaes de projeto, prumo, alinhamento, esquadro, definio de tubulao embutida, acaba gerando grandes quantidades de entulho. O fator decisivo quanto gesto dos RCD a pouca qualificao e alta rotatividade dos funcionrios que, devido grande oferta de mo-de-obra no mercado para tarefas que requerem pouca qualificao, no so treinados adequadamente pelas empresas e, quando isto ocorre, de forma rpida. O pouco, ou nenhum treinamento dos funcionrios leva a perda na produo, ou seja, recurso gasto para executar determinada tarefa que no agrega valor mesma. As perdas podem ser de tais naturezas: superposio, substituio, espera transporte, no processamento em si, em estoques, na movimentao, elaborao de produtos defeituosos, roubos, vandalismos, acidentes e outros. Segundo Souza (2005 apud ARAUJO, 2002, p.61), perda toda a quantidade de material realmente necessria (QMR) alm da quantidade de material teoricamente necessria (QMT), que aquela indicada no projeto e seus memoriais, ou demais prescries do executor, para o produto sendo executado, podendo ser determinado conforme a Equao 01:

(1)

No estudo das perdas do setor de construo civil e sua relao com o meio ambiente, verifica-se que, alm de consumir recursos indevidamente, tem como subproduto um efeito indesejvel, o entulho, cujo manuseio, tratamento e disposio incorreta trazem nus para as empresas e para a administrao municipal. Geralmente o desperdcio na construo civil manifesta-se atravs de falhas ao longo do processo da produo, como a perda de materiais que podem sair da obra atravs do entulho ou acumulados no canteiro de obras diminuindo assim a rea til de trabalho; falta de planejamento da obra; ineficincia no processo de compra de materiais; deficincia nos sistemas de informao e comunicao da empresa; perdas financeiras por falhas contratuais e atraso de obra.

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Como gastos para as empresas, observa-se a m utilizao de recursos, ou seja, alm do especificado, e os custos de transporte e disposio do resduo. Para a administrao municipal, o entulho gera custos associados limpeza, desobstruo de vias e outros problemas causados pela sua disposio incorreta.

1.5 Estrutura do trabalho

Este trabalho est disposto em 7 captulos, sendo o Captulo 1 dedicado a apresentar as caractersticas principais do trabalho, como o tema escolhido, os objetivos e a justificativa. O Captulo 2 constitui a reviso bibliogrfica dos temas relativos Produo mais Limpa e a Construo Civil. O Captulo 3 apresenta a minuta do Plano Integrado de Gerenciamento de Resduos da Construo Civil do Municpio de Santa Maria (PIGRCC). O Captulo 4 apresenta a metodologia utilizada neste estudo, no qual se caracteriza a pesquisa, delimita-se o assunto e estabelece-se a forma de coleta e interpretao dos dados obtidos. O Captulo 5 apresenta uma forma de implantao da metodologia de P+L na construo civil, enfatizando os benefcios sociais, ambientais e econmicos resultantes. O Captulo 6 enfatiza solues que podem ser adotadas pelas empresas para minimizar a gerao de resduos no canteiro de obras, bem como, minimiz-lo. O Captulo 7 apresenta a concluso do trabalho, as consideraes finais, e sugestes para os trabalhos futuros.

Captulo 22 GESTO DOS RESDUOS DA CONSTRUO CIVIL

2.1 Responsveis pela correta destinao dos resduos

Pessoas fsicas ou jurdicas que gerarem resduos so responsveis pelo transporte e destinao final em rea ambientalmente licenciada para esse recebimento. O transporte dever ser feito por transportadores licenciados, e, somente podero ser colocados nas caambas dos transportadores, os resduos descritos na Classe A do CONAMA (cascote, cascalho, tijolo, cermica, concreto) e madeira (Classe B). Os demais resduos da Classe B podero ser entregues a Associaes de catadores devidamente cadastrados juntamente a prefeitura, que faro a devida reciclagem do material. J as Classes C e D (latas de tinta e gesso), que ainda no possuem uma forma apropriada de destino final, devero ser reenviados aos fornecedores (fabricantes) para que os mesmos dem o seu devido tratamento e disposio final. Em Santa Maria, os rgos responsveis pela fiscalizao do transporte e destino dos RCC, so a Polcia Ambiental, IBAMA, FEPAM, Ministrio Pblico Estadual e Secretaria Municipal de Proteo Ambiental.

2.2 Fluxo dos RCC

Gerador Pessoas fsicas ou jurdicas responsveis por atividades que gerem resduos em obras, reformas, demolies e em outras atividades da construo civil. Transportador Empresas licenciadas encarregadas da coleta e do transporte dos resduos entre as fontes geradoras e a rea de destinao. CTR Controle de Transporte dos Resduos o documento que legaliza o transporte desses resduos do local da obra at a rea de destinao final. (Anexo B). Destino Final rea especializada no gerenciamento dos RCC, onde os mesmos so separados, tratados e depositados at que possam ser reutilizados.

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2.3 Definio dos RCD

Resduos da Construo Civil (RCC) - so os provenientes de construes, reformas, reparos e demolies de obras de construo civil, e os resultantes da preparao e da escavao de terrenos, tais como: tijolos, blocos de cermicos, concreto em geral, solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e compensados, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfltico, vidros, plsticos, tubulaes, fiao eltrica etc., comumente chamados de entulhos de obras ou calia.

2.4 Classificao dos RCD

Segundo a Resoluo do CONAMA 348, de 16 de agosto de 2004, os resduos so classificados conforme suas caractersticas de reuso e reciclabilidade, distinguindo os resduos ptreos dos outros tipos de resduo que circulam junto, bem como dos resduos perigosos. Tais resduos so classificados em quatro classes distintas: Classe A: resduos reutilizveis ou reciclveis como agregados, tais como: de construo, demolio, reformas e reparos de pavimentao, e de outras obras de infra-estrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem; de construo, demolio, reformas e reparos de edificaes: componentes cermicos (tijolos, blocos, telhas, placas de revestimento etc.), argamassa e concreto; de processo de fabricao ou demolio de peas pr-moldadas em concreto (blocos, tubos, meios-fios etc.) produzidas nos canteiros de obras; Classe B: resduos reciclveis para outras destinaes, tais como: plsticos, papel/papelo, metais, vidros, madeiras e outros; Classe C: resduos para os quais no foram desenvolvidas tecnologias ou aplicaes economicamente viveis que permitam a sua reciclagem ou recuperao, tais como os produtos oriundos do gesso; Classe D: so resduos perigosos oriundos do processo de construo, tais como tintas, solventes, leos e outros ou aqueles contaminados ou prejudiciais sade

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oriundos de demolies, reformas e reparos de clnicas radiolgicas, instalaes industriais e outros bem como telhas e demais objetos e materiais que contenham amianto ou outros produtos nocivos sade.

2.5 Composio dos RCD

Os RCD, em sua maioria, so considerados inertes e, portanto, recebem pouca ateno quanto as suas prticas de gerenciamento. Entretanto, estudos indicam que os mesmos apresentam em sua composio materiais perigosos ou potencialmente txicos para a sade e o ecossistema. Estudos realizados fornecem informaes sobre os tipos de resduos perigosos que podem estar presentes no fluxo de resduos, como mostrado no Quadro 1.

Categorias de resduos perigosos Sobras de materiais utilizados construo e recipientes vazios

Exemplos em Adesivos, latas de pintura, solventes, tanques de combustveis. Lubrificantes, leos, graxa.

Lubrificante de maquinrio e combustvel

Outros itens encontrados de forma discreta Baterias, bulbo fluorescente e aparelhos. Constituintes volumosos inseparveis de itens Formaldedo presente no carpete, sulfato em paredes de gesso. Pinturas, preservativos, adesivos resinas, aditivos qumicos. e

Contaminantes encontrados na madeiraFonte: ICF (apud COSTA, 2003)

Quadro1 Materiais perigosos presentes no fluxo de RCD

2.6 Caracterizao dos RCD Quanto origem dos resduos de construo e demolio, so provenientes de obras de Engenharia Civil. Esses resduos so muito heterogneos, mas alm de serem slidos e inertes, devem estar no grupo dos resduos secos (quanto caracterstica fsica) e inorgnicos (quanto composio qumica). O fluxograma na Figura 4 auxilia na classificao dos resduos para o encaminhamento correto dos mesmos destinao final ou reaproveitamento.

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Resduos Encontrados nas Caambas

RCDTriagem

Outros Resduos

Classe A

Classe B

Classe C

Resduos Domsticos Classe D resinas colas tintas solventes leos amianto resduos raCORRETA

Limpeza e Poda

tijolos cermica concreto solos argamassa rochas asfalto telhas tubulaes outros

plsticos metais madeiras forros vidros papel papelo fiao outros

gesso e outros sem reutilizao

alimento fraldas/ absorvente plantas trapos/ roupas sapatos outros

Galhos troncos mveis varrio cadver de animais

DESTINAO

Triagem

Reaproveitamento

Reciclagem

Aterro de Resduos Industriais

Aterro Sanitrio

Compostagem

Figura 4 Fluxograma para caracterizao da disposio final dos resduos resultados da pesquisa de campo

2.7 Impactos causados pelos RCD

gal A maioria dos resduos que compem os RCD possui um tempo de decomposio muito elevado o que acaba sobrecarregando os locais de depsito em um curto espao de tempo, quando no h um programa de reaproveitamento dos mesmos. Mesmo sem mencionar o concreto, tijolos e madeiras que ocupam a grande parte do entulho, esses dados nos permitem observar outro aspecto importante: que a maioria dos resduos composta de materiais que podem ser reduzidos isto , ter sua produo reduzida atravs de um gerenciamento ambiental direto na obra, para restringir o desperdcio com a

Lim tro P m

var cad de ani

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quebra e excesso de material preparado e utilizado reutilizados ou reciclados, diminuindo o volume que vai ser depositado na natureza, e ainda, reintegrados (os 4Rs), transformando novamente em recurso natural, no caso da gua. Mas para isso fundamental conhecer e quantificar os resduos que so recolhidos pelas empresas coletoras de entulho.

2.8 Sade pblica e ambiental x coleta, transporte e destino dos RCD

Estudos realizados com as empresas coletoras em So Paulo apontam que um grande risco a sade das pessoas so as caambas metlicas, que mesmo tentando seguir as leis, em muitos lugares falta tampa, sinalizao adequada e outros. Arajo (2000), que realizou essa pesquisa, nos conta que:A falta de tampo de proteo nas caambas metlicas; o derramamento de resduos na via pblica; a presena de produtos perigosos na caamba; a presena de material orgnico e de embalagens vazias que podem reter gua, favorecendo a proliferao de vetores de doenas; o extravasamento de pontas perfurantes cortantes para a parte externa; o mau estado de conservao e a falta de visibilidade da caamba na via pblica; e a presena de pessoas manuseando os resduos da caamba para aproveit-los, foram identificados como os principais riscos sade pblica e ambiental. (ARAJO, 2000, )

A legislao de trnsito exige alguns cuidados com veculo de transporte de carga como, por exemplo, em relao visibilidade das mesmas. A Resoluo n128, de agosto de 2001, trata desse assunto e diz o seguinte:Uma sinalizao eficiente nos veculos contribui de forma significativa para a reduo de acidentes, principalmente noite e em condies climticas adversas; (...) estudos indicam que veculos de carga so geralmente vistos muito tarde, ou no vistos pelos motoristas, e que o delineamento dos contornos desses veculos com material retrorefletido pode prevenir significativo nmero de acidentes, conforme demonstra a experincia de pases que possuem legislao similar. (CONAMA, 2001)

Os mesmos problemas ocorrem, certamente, com as caambas que ficam estacionadas na via de rolamento sem nenhuma sinalizao refletiva, mas no existe Lei Federal ou Estadual especfica, para tratar da qualidade, conservao ou visibilidade das caambas

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coletoras de entulho. Essa legislao pode ocorrer a nvel municipal, e entre vrios municpios estudados, Curitiba/PR apresenta uma das melhores legislaes municipais sobre o assunto, como sua Lei Municipal n 9380/98, que normatiza todo transporte de resduos no Municpio, como em relao ao tipo de material que pode ser coletado, a qualidade das caambas, entre outros, como relatam os seguintes Artigos:Art. 5. Cabe ao transportador a responsabilidade pela proteo adequada da carga, sendo que no trajeto, os resduos no podem ficar expostos, poluir as vias pblicas, ocasionar transtornos populao e ao trfego. Art. 6. Os resduos de que trata esta lei devero ser de caracterstica inerte, resultantes de servios de construo civil (calia e entulhos) ou de escavaes (terra), no sendo permitida a colocao de lixo domstico. Art. 10. Todas as caambas devero apresentar-se identificadas com o nome da empresa proprietria, nmero do telefone, nmero da caamba, devendo ser pintadas em cores vivas, estar em bom estado de conservao, possuir sinalizao em todos os seus lados, ser dotadas de dispositivos de sinalizao refletiva nas suas extremidades superiores, de acordo com o modelo fornecido pelo IPPUC, contendo, em tamanho legvel, nas faces externas de maior dimenso, a inscrio PROIBIDO LIXO DOMSTICO. 1. As caambas devero, obrigatoriamente, ser dotadas de cobertura que permita a proteo da carga durante o transporte. 2. Quando em manobra de deposio ou recebimento de caambas, os caminhes devero estar visivelmente sinalizados com uso de cones refletivos, dispostos sobre a pista de rolamento e lanternas tipo pisca-alerta ligadas nas partes frontal, traseira e laterais do caminho. Art. 21. Cabe ao responsvel pela prestao do servio de transporte reparar eventuais danos ocasionados a bens pblicos e particulares durante a coleta e no trajeto com os resduos. Art. 22. O despejo total ou parcial de carga durante o percurso, sobre vias pblicas, so passveis de autuao da empresa de transporte (...).(CURITIBA, 1998)

Percebe-se a necessidade e o valor das legislaes municipais, por constituir norma mais de acordo com a realidade local quando a Federal ou Estadual no atenderem as necessidades e particularidades do municpio para regrar atividades de impacto negativo sobre a qualidade de vida da populao e o meio ambiente. Se a legislao em relao coleta e ao transporte de resduos, deve ser rigorosa, muito mais severa deve ser, a que legisla sobre a destinao deles. O Art.3, da Lei Estadual 9.921/93, diz que: Par. 1- Fica vedada a descarga ou depsito de forma indiscriminada de resduos slidos sobre o solo e corpos dgua. E, Par. 2 - A acumulao temporria de resduos slidos de qualquer natureza somente ser tolerada, caso no oferea riscos de poluio ambiental.

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Mesmo seguindo as especificaes da lei anterior e normas que impem cuidados especficos para evitar dano ambiental e a sade pblica (como por exemplo, a norma NBR 11174), s ser permitida a deposio de resduos em rea que receba licena ambiental, expedida por rgo competente. No caso de um aterro final de resduos slidos, no Estado do Rio Grande do Sul, compete a FEPAM (Fundao Estadual de Proteo Ambiental Henrique Luiz Roessler/RS), enquanto rgo estadual, o licenciamento do mesmo; assim como, segundo o anexo nico da Resoluo CONSEMA 05/98, compete ao rgo ambiental do municpio no caso de Santa Maria a Secretaria de Municpio de Proteo Ambiental (SMPA) licenciar a classificao/seleo, o armazenamento, comrcio e destinao final de resduos slidos industriais classe III1, a classificao/seleo de resduos slidos urbanos e o depsito de produtos perigosos. A atuao do municpio em licenciamento ambiental fica firmada a partir da Resoluo CONAMA 237/97 (que antecede as especificaes da Resoluo CONSEMA 05/98, citadas acima), a qual, em seu Art.6, resolve que: compete ao rgo ambiental municipal, ouvidos os rgos competentes da Unio, dos Estados e do Distrito Federal, quando couber, o licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades de impacto ambiental local e daquelas que lhe forem delegadas pelo Estado por instrumento legal ou convnio. E, entre outras definies, especifica, em seu Art. 8, as licenas ambientais que compem o processo de licenciamento ambiental envolve a expedio das seguintes:I- Licena Prvia (LP) - concedida na fase preliminar do planejamento do empreendimento ou atividade aprovando sua localizao e concepo, atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos bsicos e condicionantes a serem atendidos nas prximas fases de sua implementao; II- Licena de Instalao (LI) autoriza a instalao do empreendimento ou atividade de acordo com as especificaes constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e demais condicionantes, da qual constituem motivo determinado; III- Licena de Operao (LO) autoriza a operao da atividade ou empreendimento, aps a verificao do efetivo cumprimento do que consta das licenas anteriores, com as medidas de controle ambiental e condicionantes determinados para a operao. (CONAMA, 1997)

Essas licenas, conforme o pargrafo nico do referido artigo, podero ser expedidas isolada ou sucessivamente, de acordo com a natureza, caractersticas e fase do empreendimento ou atividade.

1

Classificaes conforme a norma da ABNT 10004.

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2.9 Formas de gesto dos RCD 2.9.1 Produo mais Limpa

A dcada de 1980 foi um perodo de grande desenvolvimento econmico e tcnico. O bem estar material voltou a ser relevante, independentemente dos prejuzos natureza que sua produo pudesse provocar. Entretanto, somente no final dos anos 80, no processo preparatrio da Conferncia das Naes Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano, a Rio 92, foi aprofundada a questo do Desenvolvimento Sustentvel, de que era possvel desenvolvimento sem a destruio do meio ambiente. O documento resultante da RIO 92, a "Agenda 21", implicou em um despertar sobre a conscincia ambiental e sobre a importncia da conservao da natureza para o bem estar e sobrevivncia das espcies, inclusive a humana. O documento propunha que a sociedade assumisse uma atitude tica que mediasse a conservao ambiental e o desenvolvimento. Denunciava a forma perdulria com que at ento eram tratados os recursos naturais e propunha uma sociedade justa e economicamente responsvel, produtora e produto do desenvolvimento sustentvel. A ineficincia produtiva resulta em prejuzos ambientais e econmicos, os quais afetam diretamente a competitividade das organizaes e a qualidade de vida da humanidade. Para o setor de construo civil, em especial, delineia-se uma nova realidade, ou seja, a busca pela sobrevivncia num mercado cada vez mais competitivo e exigente, onde a reduo de custos atravs de uma maior eficincia do processo representa um importante diferencial de mercado. Conforme Valle (1995, p. 69), com a adoo de tecnologias limpas, os processos produtivos utilizados na empresa devem passar por uma reavaliao e podem sofrer modificaes que resultem em: 1 - eliminao do uso de matrias-primas e de insumos que contenham substncias perigosas; 2 - otimizao das reaes qumicas, tendo como resultado a minimizao do uso de matrias-primas e reduo, no possvel, da gerao de resduos;

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3 - segregao, na origem, dos resduos perigosos e no perigosos; 4 - eliminao de vazamentos e perdas no processo; 5 - promoo e estmulo ao reaproveitamento e reciclagem interna; 6 - integrao do processo produtivo em um ciclo que tambm inclua as alternativas para a destruio dos resduos e a maximizao futura do reaproveitamento dos produtos.

2.9.2 ACV e ISO 14000

2.9.2.1 ACV como Ferramenta na Gesto de Resduos

Uma ferramenta que se mostra cada vez mais eficaz no auxlio na tomada de decises no mbito ambiental a Anlise do Ciclo de Vida ACV. A anlise do ciclo de vida uma tcnica para avaliao dos aspectos ambientais e dos impactos potenciais associados a um produto (CHEHEBE, 1998). A anlise construda atravs de etapas que vo desde a retirada das matrias-primas que fazem parte do sistema (bero), at seu destino final (tmulo) ou seu retorno, atravs da reciclagem, a ser novamente matria-prima (novamente ao bero) (CULLAR, 2002). Os primeiros estudos envolvendo ainda uma forma embrionria do que hoje chamamos de Anlise do Ciclo de Vida de Produtos tiveram incio durante a primeira crise do petrleo, o que despertou o mundo para a necessidade de melhor utilizao de seus recursos naturais (CHEHEBE, 1998). Chehebe (1998), ainda nos diz que importante delimitar o trabalho conforme os objetivos, pois a medida que adicionamos detalhes do estudo e subsistemas, adicionamos complexidade, despesas e utilidade reduzida. Por essa razo, deve-se determinar os limites do sistema e quais unidades de processo so relevantes para serem includas, tornando o estudo gerencivel, prtico, econmico, mas sem descuidar da confiabilidade do modelo. Nesse sentido, optou-se por trabalhar com as etapas de coleta, transporte e destino dos RCD, sem envolver a produo nem a reciclagem desses materiais. A Figura 5 mostra as dimenses da ACV segundo o pensamento de Chehebe (1998), pode-se perceber que ao pensar na largura (nmero de subsistemas), extenso (incio e fim do

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estudo) e profundidade (nvel de detalhes), se forma uma rea delimitada (limites do sistema), pela qual deve-se ter o cuidado de no ultrapassar para que o estudo se torne realmente gerencivel, prtico, econmico e confivel. Tendo as dimenses do sistema bem definidas, a tcnica de ACV se torna uma ferramenta adequada e eficiente para desenvolver estudos como este (que envolvem problemas difceis, mas devem ter aes imediatas), pois proporciona um sistema de trabalho que pode ser aplicado a cada etapa cumprida, permitindo a correo de entraves em cada etapa, sem ser necessria a espera da concluso de todos os passos do projeto.

Figura 5 Dimenses da ACV (CHEHEBE, 1998 apud PASQUALI, 2005, p. 7)

A Anlise do Ciclo de Vida de um produto uma ferramenta de trabalho proposta pela srie ISO 14000, que um conjunto de normas internacionais que estabelece um padro de sistemas de gesto ambiental visando contribuir para a melhoria contnua da qualidade do ambiente, diminuindo as fontes de poluio e integrando o setor produtivo na otimizao do uso dos recursos naturais. Percebe-se a consistncia que essas normas propiciam a aplicao do estudo de ACV. A ISO 14000 possui vrias normas sendo quatro delas destinadas ao estudo de ACV, cada uma dessas quatro normas descreve uma etapa do sistema da Anlise do Ciclo de Vida, como podemos ver no Quadro 2.

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14001 14004 14010 14011-1 14012 14020 1421 14022 14023 14031 14032 14040 14041 14042 14043 14050 14060 14070

SGA - Especificaes para implantao e guia (DIS) Sistema de Gesto Ambiental (SGA) - Diretrizes Gerais (DIS) Guia para auditoria ambiental Diretrizes gerais DIS Diretrizes para auditoria ambiental e procedimentos para auditoria Parte 1: Princpios gerais para auditoria dos SGAs (DIS) Diretrizes para auditoria ambiental Critrios de qualificao de auditores (DIS) Rotulagem Ambiental Princpios Bsicos Rotulagem Ambiental Termos e definies para aplicao especifica Rotulagem Ambiental Simbologia para os rtulos Rotulagem Ambiental Testes e metodologias de verificao Avaliao da performance ambiental do sistema de gerenciamento Avaliao da performance ambiental dos sistemas de operao Analise de Ciclo de Vida Princpios gerais e prtica Analise de Ciclo de Vida Inventario Analise de Ciclo de Vida Anlise dos impactos Analise de Ciclo de Vida Mitigao dos impactos Termos e Definies Guia de Incluso dos aspectos ambientais nas normas de produto Diretrizes para o estabelecimento de impostos ambientais Quadro 2 Normas ISO srie 14000 (Normas provveis)

Fonte: MAIMON, 1996.

2.9.3 PBQP-H e ISO 9000:2000

O Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat PBQP-H um referencial do Sistema de Avaliao de Conformidade de Empresas de Servios e Obras da Construo Civil (SIAC), que aplica-se a toda empresa construtora que pretenda melhorar sua eficcia tcnica e econmica, por meio da implementao de um Sistema de Gesto da Qualidade. Visa, antes de tudo, aumentar a satisfao dos clientes no que diz respeito ao atendimento de suas exigncias. Um dos pontos marcantes da abordagem de processo o da implementao do ciclo de Deming ou da metodologia conhecida como PDCA (do ingls Plan, Do, Check e Act): planejar, executar, controlar e agir. Para implementar o Sistema de Gesto da Qualidade, a empresa construtora deve atender em seu planejamento de implementao do SGQ os seguintes requisitos:

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a) Realizar um diagnstico da situao da empresa; b) Definir claramente os subsetores e tipos de obra abrangidos pelo Sistema de Gesto da Qualidade; c) Estabelecer lista de servios de execuo e materiais controlados; d) Identificar e gerenciar os processos necessrios para o Sistema de Gesto da Qualidade e sua aplicao por toda a empresa construtora; e) Determinar a seqncia e interao destes processos; f) Estabelecer um planejamento para desenvolvimento e implementao do Sistema, estabelecendo responsveis e prazos para atendimento de cada requisito e obteno dos diferentes nveis de certificao; g) Determinar critrios e mtodos necessrios para assegurar que a operao e o controle desses processos sejam eficazes; h) Assegurar a disponibilidade de recursos e informaes necessrias para apoiar a operao e monitoramento desses processos; i) Monitorar, medir e analisar esses processos; j) Implementar aes necessrias para atingir os resultados planejados e a melhoria contnua desses processos. Dentro do programa, existe um item referente ao planejamento da obra, que trata especificamente dos resduos da construo. Salienta que a empresa construtora deve definir o destino adequado dado aos resduos slidos e lquidos produzidos pela obra (entulhos, esgotos, guas servidas), que respeitem o meio ambiente. Para isso, estabelece como diretriz, a Resoluo do CONAMA 307, que trata da separao e armazenamento dos resduos de acordo com 04 classes: A, B, C, D, vistas anteriormente.

2.10 Legislao e normas tcnicas

A Resoluo n. 307, de 05 de julho de 2002, aprovada pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) define responsabilidades e deveres, para tornar obrigatria em todos os municpios do pas, a implantao de Planos Integrados de Gerenciamento dos Resduos da Construo Civil, como forma de eliminar os impactos ambientais provenientes do descontrole das atividades relacionadas gerao, transporte e destinao desses

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materiais. Tambm determina para os geradores de resduos, a adoo de medidas que minimizem a prpria gerao e a reutilizao ou reciclagem. A mesma visa possibilitar a destinao correta dos materiais por parte dos pequenos geradores e outra rede destinada aos grandes volumes, desta forma, um diagnstico deve ser previamente elaborado seguindo os itens que seguem: a. Identificar os agentes envolvidos na gerao, transporte e recepo de resduos da construo e demolio; b. Estimar a quantidade de resduos da construo e demolio gerada no municpio; O objetivo facilitar o descarte dos Resduos de Construo e Demolio RCD, sob condies e em locais adequados; e o incentivo minimizao da gerao e reciclagem, a partir da triagem obrigatria dos resduos recolhidos. Segundo a Resoluo n. 307 (2002), os resduos de construo civil so aqueles provenientes de construes, reformas, reparos e demolies de obras de construo civil, e os resultantes da preparao e da escavao de terrenos, tais como: tijolos, blocos cermicos, concreto em geral, solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e compensados, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfltico, vidros, plsticos, tubulaes, fiao eltrica etc., comumente chamados de entulhos de obras, calias ou metralha. Conforme a legislao, a coleta, o transporte e a disposio desses resduos so de responsabilidade do gerador, embora em algumas cidades os servios da prefeitura responsabilizam-se pela coleta de at 50 kg dele. A seguir, o Quadro 3 mostra a responsabilidade pelo gerenciamento dos diferentes tipos de resduos slidos, dentre eles os RCD.

Tipo de lixo Domiciliar Comercial Pblico Servios de sade Industrial Portos, aeroportos e terminais ferrovirios e rodovirios. Agrcola EntulhoFonte: Jardim (apud COSTA, 2003)

Responsvel Prefeitura Prefeitura Prefeitura Gerador (hospitais etc.) Gerador (indstrias) Gerador (portos etc.) Gerador (agricultor) Gerador

Quadro 3 Responsabilidade pelo gerenciamento do resduo.

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H um conjunto de leis e polticas pblicas, alm de normas tcnicas fundamentais na gesto dos resduos da construo civil, contribuindo para minimizar os impactos ambientais. Algumas delas sero citadas a seguir.

2.10.1 Normas gerais - Legislao Estadual

- Lei N 7.488, de 14/01/1981, publicada no DOE 14/01/1981 - Dispe sobre a Proteo do Meio Ambiente e o controle da poluio e d outras providncias. - Lei N 7.877, de 28/12/1983, publicada no DOE 28/12/1983 - Dispe sobre o Transporte de Cargas Perigosas no Estado do Rio Grande do Sul e d outras providncias. - Lei N 11.520 - Cdigo Estadual do meio Ambiente, de 03/08/2000 - Institui o Cdigo Estadual do meio Ambiente do Estado do Rio grande do Sul e d outras providncias. - Lei N 9.921, de 27/07/1993, publicada no DOE 27/07/1993 - Dispe sobre a gesto dos resduos slidos, nos termos do artigo 247, pargrafo 3 da Constituio do Estado e d outras providncias. - Decreto N 38.356, de 01/04/1998, publicada no DOE 02/04/1998 - Aprova o Regulamento da Lei N 9.921, de 27 de julho de 1993, que dispe sobre a gesto dos resduos slidos no Estado do Rio Grande do Sul. Existem ainda vrias resolues do CONSEMA - Conselho Estadual do Meio Ambiente e da FEPAM - Fundao Estadual do Meio Ambiente, alm de Instrues e Portarias Estaduais aplicveis na rea ambiental, mas que aqui no sero citadas.

2.10.2 Normas gerais - Legislao Federal

- Constituio Federal 1988, publicada no DOU N 191-A, de 05/10/1988. - Lei Federal 6.938/81 - PNMA - Dispe sobre a poltica nacional do meio ambiente, seus fins e mecanismos de formulao e aplicao, e d outras providncias. - Lei N 10.257 de 10/07/2001, publicada no DOU 11/07/2001 - Estatuto da Cidade

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- Regulamenta os arts.182 e 183 da Constituio Federal, estabelece diretrizes gerais da poltica urbana e d outras providncias.

2.10.3 Normas Tcnicas

- NBR 10004: 1987 - Resduos slidos - Classificao - NBR 10005:1987 - Lixiviao de resduos - Procedimento - NBR 10006:1987 - Solubilizao de resduos - Procedimento - NBR 10007:1987- Amostragem de resduos - Procedimento - NBR 12235:1987 - Armazenamento de resduos slidos perigosos - Procedimento - NBR 11174:1989 - Armazenamento de resduos classes II e III - Procedimento - NBR 11175:1990 - Incinerao de resduos slidos perigosos - Padres de desempenho - Procedimento - NBR 13463:1995 - Coleta de resduos slidos Classificao Normas Tcnicas relativas CONAMA N 307 - NBR 15112: 2004 - Resduos da construo civil e resduos volumosos - reas de transbordo e triagem - Diretrizes para projeto, implantao e operao. - NBR 15113:2004 - Resduos slidos da construo civil e resduos inertes - Aterros - Diretrizes para projeto, implantao e operao. - NBR 15114:2004 - Resduos slidos da construo civil - reas de reciclagem Diretrizes para projeto, implantao e operao. - NBR 15115:2004 - Agregados reciclados de resduos slidos da construo civil Execuo de camadas de pavimentao - Procedimentos. - NBR 15116:2004 - Agregados reciclados de resduos slidos da construo civil Utilizao em pavimentao e preparo de concreto sem funo estrutural Requisitos. Resoluo CONAMA N 307

Os principais aspectos dessa Resoluo so os seguintes:

A - Princpios: Os geradores devero ter como objetivo prioritrio a no gerao de resduos e, secundariamente, a reduo, a reutilizao, a reciclagem e a destinao final.

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Os resduos da construo civil no podero ser dispostos em aterros de resduos domiciliares, em reas de "bota fora", em encostas, corpos d'gua, lotes vagos e em reas protegidas por Lei.

B - Definies: Resduo da Construo Civil: so provenientes de construo, reformas, reparos e demolies de obras de construo civil, e os resultantes da preparao e da escavao de terrenos, tais como: tijolos, blocos cermicos, concreto em geral, solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e compensados, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfltico, vidros, plstico, tubulaes, fiao eltrica, etc., comumente chamados de entulho de obra, calia ou metralha; Geradores: so pessoas, fsicas ou jurdicas, pblicas ou privadas, responsveis por atividades ou empreendimentos que gerem os resduos definidos nesta Resoluo; Transportadores: so as pessoas, fsicas ou jurdicas, encarregadas da coleta e do transporte dos resduos entre as fontes geradoras e as reas de destinao; Agregado reciclado: o material granular proveniente do beneficiamento de resduos de construo que apresentem caractersticas tcnicas para a aplicao em obras de edificao, de infra-estrutura, em aterros sanitrios ou outras obras de engenharia; Gerenciamento de Resduos: o sistema de gesto que visa reduzir, reutilizar ou reciclar resduos, incluindo planejamento, responsabilidades, prticas,

procedimentos e recursos para desenvolver e implementar as aes necessrias ao cumprimento das etapas previstas em programas e planos; Reutilizao: o processo de reaplicao de um resduo, sem transformao do mesmo; Reciclagem: o processo de reaproveitamento de um resduo, aps ter sido submetido transformao; Beneficiamento: o ato de submeter um resduo a operaes e/ou processos que tenham por objetivo dot-los de condies que permitam ser utilizados como matria prima ou produto; Aterro de Resduos da construo civil: a rea onde sero empregadas tcnicas de disposio de resduos da construo civil Classe "A" no solo, visando a preservao de materiais segregados de forma a possibilitar seu uso futuro e/ ou

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futura utilizao da rea, empregando princpios de engenharia para confin-los ao menor volume possvel, sem causar danos sade pblica e ao meio ambiente; reas de Destinao de Resduos: so reas destinadas ao beneficiamento ou disposio final de resduos.

C - Classificao e Destinao: Classe A: so os resduos reutilizveis ou reciclveis como agregados, tais como: a) De construo, demolio, reformas e reparos de pavimentao e de outras obras de infra-estrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem; b) De construo, demolio, reforma e reparos de edificaes: componentes cermicos (tijolos, blocos, telhas, placas de revestimento, etc.), argamassa e concreto; c) De processo de fabricao e/ou demolio de peas pr-moldadas em concreto (blocos, tubos, meios-fios, etc.) produzidas nos canteiros de obras. Destino: devero ser reutilizados ou reciclados na forma de agregados, ou encaminhados a reas de aterro de resduos da construo civil, sendo dispostos de modo a permitir a sua utilizao ou reciclagem futura. Classe B: so os resduos reciclveis para outras destinaes tais como: plsticos, papel/papelo, metais, vidros, madeiras e outros. Destino: devero ser reutilizados, reciclados ou encaminhados a reas de armazenamento temporrio, sendo dispostos de modo a permitir a sua utilizao ou reciclagem futura. Classe C: so os resduos para os quais no foram desenvolvidas tecnologias ou aplicaes economicamente viveis que permitam a sua reciclagem/recuperao, tais como produtos oriundos do gesso. Destino: devero ser armazenados, transportados e destinados em conformidade com as normas tcnicas especficas. Classe D: so os resduos perigosos oriundos do processo de construo, tais como: tintas, solventes, leos e outros, ou aqueles contaminados oriundos de demolies, reformas e reparos de clnicas radiolgicas, instalaes industriais e outros, bem como telhas e demais objetos e materiais que contenham amianto ou outros produtos nocivos sade.

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Destino: devero ser armazenados, transportados, reutilizados e destinados em conformidade com as normas tcnicas especficas. D - Responsabilidades: Municpios: devero elaborar o Plano Integrado de Gerenciamento de Resduos Slidos da Construo Civil, que dever incorporar: - O Programa Municipal de Gerenciamento de Resduos da Construo Civil que dever estabelecer diretrizes tcnicas e procedimentos para o exerccio das responsabilidades dos pequenos geradores; - Projetos de Gerenciamento de Resduos da Construo Civil para aprovao dos empreendimentos dos geradores de grandes volumes. Grandes Geradores: devero elaborar e implementar Projetos de Gerenciamento de Resduos da Construo Civil que tero como objetivo estabelecer os procedimentos para o manejo e destinao ambientalmente adequados dos resduos. E - Projetos de Gerenciamento de Resduos da Construo Civil: Os Projetos devero contemplar as seguintes etapas: - Caracterizao: o gerador dever identificar e quantificar os resduos; - Triagem: dever ser realizada, preferencialmente, pelo gerador na origem, ou ser realizada em reas de destinao licenciadas para essa finalidade, respeitadas as classes de resduos estabelecidas na Resoluo; - Acondicionamento: o gerador deve garantir o confinamento dos resduos aps a gerao at a etapa de transporte, assegurando, em todos os casos em que seja possvel, as condies de reutilizao e de reciclagem; - Transporte: dever ser realizado em conformidade com as etapas anteriores e de acordo com as normas tcnicas vigentes para o transporte de resduos; - Destinao: dever ser prevista de acordo com o estabelecido na Resoluo. F - Prazos: Planos Integrados de Gerenciamento de Resduos da Construo Civil, contemplando os Programas Municipais de Gerenciamento de Resduos de Construo Civil devem ser elaborados pelos municpios at janeiro de 2004 e implementados at julho de 2004. Projetos de Gerenciamento de Resduos Slidos da Construo Civil devem ser apresentados e implementados pelos grandes geradores a partir de janeiro de 2005.

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A partir de julho de 2004 os municpios devero cessar a disposio de resduos de construo civil em aterros de resduos domiciliares e em reas de "bota fora". NOTA: Cabe salientar, que todos os prazos previstos j foram vencidos e no foram prorrogados.

Captulo 33 PLANO INTEGRADO DE GERENCIAMENTO DE RESDUOS DA CONSTRUO CIVIL NO MUNICPIO DE SANTA MARIA (PIGRCC) instrumento para a implementao da gesto dos resduos da construo civil o Plano Integrado de Gerenciamento de Resduos da Construo Civil, a ser elaborado pelos Municpios, o qual dever incorporar: a) Programa Municipal de Gerenciamento de Resduos da Construo Civil; b) Projetos de Gerenciamento de Resduos da Construo Civil; c) reas para recebimento de RCC; d) Regramento da Atividade de Transporte de Resduos da Construo Civil; e) Educao Ambiental.

3.1 Diretrizes gerais

Gerador responsvel pelo gerenciamento dos seus resduos, segregando na origem, utilizando transporte licenciado e adequado e realizando a disposio final em locais devidamente licenciados pelo municpio, exceto o pequeno gerador, abrangidos pelo Programa Municipal de Gerenciamento de Resduos da Construo Civil, que tero facultados a segregao dos resduos na origem e facultados o transporte em veculos prprios ou alternativos, no licenciados. O transportador de resduos da construo civil diretamente responsvel pela correta operao, obrigando-se ao licenciamento de sua atividade. Os operadores, pblicos ou privados, das reas de recebimentos de resduos da construo civil, so responsveis pela utilizao e disposio dos mesmos nas reas licenciadas, assim, como, pelos danos ambientais que por ventura derem causa. O Municpio responsvel pelo recebimento dos resduos do pequeno gerador.

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3.2 Programa municipal de gerenciamento de Resduos da Construo Civil

So integrantes do Programa Municipal de Gerenciamento de Resduos da Construo Civil aqueles que descartam uma nica vez a quantidade mxima de 1 m3 de resduos da construo civil Classe A, B, C e D por dia, denominados como pequenos geradores de resduos e, cujo recebimento e destinao final ser de responsabilidade do Municpio. A segregao, coleta e transporte sero de responsabilidade do pequeno gerador.

3.2.1 Diretrizes tcnicas e procedimentos

Pequeno gerador de resduos da construo civil dever, preferencialmente, segregar os mesmos segundo as Classes A, B, C ou D, segundo a Resoluo, e destin-los aos MicroCentros. A coleta e o transporte so de responsabilidade do gerador, devero ser executadas preferencialmente de forma diferenciada. O Municpio efetuar o cadastramento de reas pblicas ou privadas, aptas para recebimento, triagem e armazenamento temporrio de pequenos volumes, as quais devero ser licenciadas pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente. O Municpio disponibilizar, para proprietrios de reas que necessitem de elevao de cota dentro de projetos pr-concebidos e licenciados, a possibilidade de operar central de recebimento de resduos da construo civil Classe A. O Municpio publicar Edital para o cadastramento de reas pblicas ou privadas, aptas para o recebimento de resduos da construo civil Classe A, acima de 100.000 m, as quais devero ser licenciadas pela SMPA, conforme critrios de licenciamento da SMPA ou rgos ambientais competentes. Na Figura 6 observa-se a localizao da empresa GR2.

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Figura 6 - Mapa de Localizao da empresa GR2

3.2.2 Projetos de gerenciamento de Resduos da Construo Civil

Obras que necessitem de Licena Ambiental, os empreendedores devero apresentar o Projeto de Gerenciamento de Resduos da Construo Civil, o qual dever ser aprovado por ocasio da obteno do licenciamento ambiental. Demais empreendimentos ficam isentos da apresentao do Projeto de Gerenciamento de Resduos da Construo Civil, mas obrigados ao preenchimento de formulrio especifico ou declarao que utilizar exclusivamente o sistema licenciado de transporte e destinao final de resduos. Empreendimentos enquadrados conforme legislao ficam isentos da apresentao do Projeto de Gerenciamento de Resduos da Construo Civil.

3.2.2.1 Diretrizes tcnicas e procedimentos

Empreendimentos que necessitem de Licena Ambiental devero apresentar ao rgo licenciador, alm dos documentos pertinentes, o projeto de gerenciamento de resduos da construo civil, no momento da solicitao de licenciamento de construo.

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Geradores, em cujos empreendimentos no necessitem de licenciamento ambiental devero anexar formulrio preenchido especfico, referente aos resduos gerados, junto ao rgo competente para a sua aprovao.

3.2.2.2 Empreendimentos sem necessidade de licenciamento ambiental

Ao iniciar a obra, o empreendedor dever preencher formulrio especfico, no site da SMPA, contendo informaes sobre a segregao, previses de volume, transporte e destino dos resduos da construo civil, para obteno do alvar de construo, reforma, ampliao e demolio, bem como, a cincia da sua responsabilidade pela gesto destes resduos. Ao preencher esse formulrio o gerador receber um comprovante de que forneceu essas informaes. Ao trmino da obra o gerador dever, novamente, preencher o formulrio, agora com as informaes reais e no mais as previses. Ele informar os volumes de cada classe de resduo, as transportadoras licenciadas que ele utilizou e o destino que foi dado aos seus resduos. Da mesma forma, aps o preenchimento ele receber um comprovante de que forneceu essas informaes. Esse documento dever ser acrescentado aos demais comprovantes dessas operaes, assim como aos outros documentos necessrios para solicitar o habite-se da obra junto a Secretaria Municipal de Obras e Viaes (SMOV) ao escritrio da Cidade.

Ver recomendao em nota de rodap.

3.2.3 Etapas mnimas obrigatrias nos Projetos de Gerenciamento de Resduos da Construo Civil

a) caracterizao: nesta etapa o gerador dever identificar e quantificar os resduos; b) triagem: dever ser realizada, preferencialmente, pelo gerador na origem, ou ser realizada nas reas de destinao licenciadas para essa finalidade, respeitadas as classes de resduos estabelecidas no art. 3 da Resoluo n 307/02 do CONAMA;

Recomendao: O rgo licenciador avaliar, sob ponto de vista tcnico e jurdico, a possibilidade de treinamento e credenciamento de escritrios, para dinamizar e padronizar os processos.

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c) acondicionamento: o gerador deve garantir o confinamento dos resduos aps a gerao at a etapa de transporte, assegurando em todos os casos em que seja possvel, a condio de reutilizao e de reciclagem; d) transporte: dever ser realizado em conformidade com as etapas anteriores e de acordo com as normas tcnicas vigentes para o transporte de resduos; e) destinao: dever ser prevista de acordo com o previsto neste programa.

3.2.4 reas de recebimento de Resduos da Construo Civil

As reas para o recebimento dos resduos da construo civil estaro dividas em trs grupos distintos, e conseqentemente, com procedimentos distintos para os seus licenciamentos. A critrio do empreendedor, poder ser criado uma rea fsica com a caracterstica de duas ou mais reas abaixo definidas. So elas: a) reas para adequao de cotas: esta rea receber resduos da construo civil, exclusivamente Classe A, oriundos de obras e reformas, j segregados. As caractersticas desta rea so as que seguem: necessariamente so reas integrantes de um empreendimento de utilizao futura; a rea de recebimento de resduos da construo civil Classe A, a ser obrigatoriamente submetida, por parte do proprietrio, ao Licenciamento junto a SMPA; a critrio do empreendedor, poder ser submetido a licenciamento,

primeiramente e isoladamente como atividade aterro de RCC para elevao de cota, independente do licenciamento ordinrio do empreendimento futuro; quando do recebimento, as cargas devero estar acompanhadas de Manifesto de Transporte de Resduos, que devero ser mantidos arquivados por um perodo de 3 anos, por todos os participantes dessa transao;

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b) Centros de beneficiamento, reciclagem e disposio final de RCC: esta rea receber resduos da construo civil, oriundos de obras e reformas. As caractersticas desta rea so as que seguem: a rea que vai receber esse resduo possui a figura urbanstica previamente definida, pela SMPA, como Centros de Beneficiamento; projeto assim como a rea, devero ser licenciados e aprovados pela SMPA, conforme critrios especficos; estas reas no sero locais de destino final e sim locais para recebimento do RCC de forma temporria; projeto ser especfico, com a finalidade especfica de receber resduos da construo e fazer a disposio de forma adequada, seja segregando para beneficiamento, reuso ou reciclagem, seja para dispor adequadamente em um aterro; poder ser operado pela iniciativa pblica ou privada, mas dever ser fiscalizado pela SMPA; a operadora poder cobrar para receber os resduos, e poder vender os resduos segregados para o beneficiamento, reuso ou reciclagem dos mesmos; esta rea fornecer o comprovante de recebimento de carga no Manifesto de Transporte de Resduo.

3.3 Regramento da atividade de transporte de Resduos da Construo Civil

A atividade de transporte de Resduos da Construo Civil (RCC) dever passar por processo de licenciamento ambiental, junto a SMPA, com objetivo de obteno da Licena de Operao (LO). Este licenciamento ser obrigatrio, independente da obteno de outras licenas legais. Acerca da Licena de Operao devero ser observados os seguintes itens: a) contrato social e CGC; b) o Alvar de funcionamento da empresa, expedido pelo municpio onde a empresa est registrada; cabe salientar que a LO s ser expedida se a empresa estiver com o alvar em dia;

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c) Licenas de Operao expedidas em outros municpios, e apresentadas por empresas de outros municpios, sero aceitas em POA, porm a empresa dever operar de acordo com os condicionantes de POA e de qualquer forma dever fazer parte do cadastro de registro de LO da SMPA. Quando a empresa solicitar a SMPA para fazer parte do cadastro ela dever mostrar a sua LO e ser informada dos condicionantes para operar no municpio de POA. Alguns dos condicionantes seriam os seguintes itens relativos ao container: identificao; pintura de acordo com a classe do resduo; nmero para informaes / reclamaes; disponibilizar tampa com cadeado ou algo para o fechamento; itens de segurana; e outros; d) endereo da sede e de possveis locais usados como depsitos ou garagens; e) informaes sobre os caminhes que realizaro essa atividade; f) informaes sobre os containers.

3.3.1 Licenciamento da atividade de transporte

a) Licena de Operao (LO) dever ser solicitada pelo Transportador que for executar a atividade de transporte de RCC no municpio de Santa Maria, podendo ela estar ou no sediada em Santa Maria. A SMPA dever solicitar das empresas que desejem obter essa Licena as informaes pertinentes e necessrios para o licenciamento dessa atividade; b) a SMPA dever criar e manter atualizado cadastro dos Transportadores de RCC que possuem a LO. Esse cadastro dever ser pblico e disponvel para fiscalizao, atualizao e consultas por parte da populao, de usurios da atividade, por outros rgos da Administrao, etc.; c) os equipamentos de transporte de RCC, independentemente do tipo, devero apresentar a inscrio da LO do Transportador responsvel, em conformidade com formatao a ser definida pela SMPA; d) em caso de emprendimento em que o Gerador tambm for executar o transporte dos RCC, est atividade dever ser prevista e descrita no respectivo Projeto de Gerenciamento de Resduos e ser considerado como a LO da atividade de transporte a LO do empreendimento; e) a Licena de Operao dever ter validade de 04 (quatro) anos.

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3.3.2 Fiscalizao da atividade de transporte

a) se verificado ocorrncia de incorreo nos dados informados pelo Transportador por ocasio da solicitao da LO a mesma ser suspensa, no podendo ser renovada enquanto as pendncias no forem atendidas; b) se houver descumprimento de qualquer item da LO durante o exerccio da atividade de transporte de RCC a mesma ser suspensa, no podendo ser renovada enquanto as providncias determinadas e notificaes aplicadas no forem atendidas; c) a SMPA promover treinamentos peridicos e obrigatrios para a liberao da LO, tanto para os motoristas dos caminhes quanto para o proprietrio das empresas de transporte. Aps o trmino desse treinamento a empresa receber a sua LO e o motorista um certificado tcnico que o qualifica para o servio. Esses treinamentos podero ser feitos em parcerias ou convnios com sindicatos e demais instituies interessadas; d) o municpio dever criar um instrumento legal para que a SMTTSM possa de fato fiscalizar as empresas proprietrias dos containers; e) poder a SMTTSM, quando verificar algum descumprimento na correta utilizao dos containers, notificar e/ou autuar a empresa proprietria do container. A SMTTSM imediatamente informar ao cadastro de registro de LO, mantido pela SMPA, o ocorrido. Nesse caso a empresa no poder renovar a sua LO a no ser que pague a multa e passe a exercer a atividade de forma adequada; f) fiscalizar o container, verificando as exigncias que j constam nas leis da SMTTSM, e, alm disso, a existncia e as condies no container do nmero de cadastro de registro de LO da empresa, a presena e utilizao adequada da cobertura, e demais condicionantes; g) quando no recolhimento do container, em caso de irregularidade, a SMTTSM dever levar o mesmo diretamente para o aterro indicado pela SMPA, de tal forma que o resduo que estava sendo colocado ali, seja disposto adequadamente; h) no caso de irregularidade a SMPA poder autuar a empresa e o gerador e informar imediatamente ao cadastro de registro de LO, da SMPA, o ocorrido. Nesse caso a

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empresa no poder renovar a sua LO a no ser que pague a multa e passe a exercer a atividade de forma adequada; i) o municpio dever promover aes educativas e informativas para a populao no que diz respeito aos resduos e sua correta disposio; j) a partir da oficializao deste regramento, os Transportadores de RCC tero um ano de prazo para adequao s novas exigncias podendo, neste caso, ser solicitada Licena de Operao (LO) provisria pela SMPA. Para emisso da LO provisria, alm de outras informaes, poder a SMPA solicitar a apresentao de cronograma de execuo das adequaes necessrias.

3.3.3 Transporte realizado por container

a) todos os containers devero estar identificadas com o nome da empresa proprietria, nmero do telefone e o nmero da LO, bem como estar em bom estado de conservao. Devero possuir sinalizao em todos os seus lados, como extremidades superiores, contendo em tamanho legvel, nas faces externas de maior dimenso e inscrio PROIBIDO LIXO DOMSTICO; b) todas as caambas estacionadas em via ou passeio pblico, devero

necessariamente serem providas de algum sistema de fechamento, para que possa ser utilizado apenas pelo requisitante do servio de transporte; c) quando em manobra de deposio ou recebimento de caambas, os caminhes devero estar visivelmente sinalizados com uso de cones reflexivos, dispostos sobre a pista de rolamento, e lanternas tipo pisca-alerta ligadas, nas partes frontal, traseira e laterais do caminho; d) a capacidade mxima das caambas a serem utilizadas para o transporte de resduos da construo civil no poder ultrapassar 5 m, no podendo os resduos ultrapassar a borda superior da caamba; e) a utilizao de caambas de capacidade superior 5 m, implicar em multa sobre a empresa transportadora; f) a colocao de resduos acima da borda da caamba implicar em multa ao contratante;

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g) a segregao do material ser de responsabilidade do contratante da empresa transportadora (gerador); h) proibido colocar resduo domstico junto aos resduos da construo civil, o no cumprimento desta disposio implicar em multa ao contratante da empresa transportadora (gerador); i) as empresas transportadoras somente podero depositar os resduos coletados em locais previamente licenciados pela SMPA, observados os aspectos ambientais, as posturas municipais e a preservao de fundos de vales ou sistema naturais de drenagem; j) o transporte dos resduos da construo dever ser acompanhado por um Controle de Transporte de Resduos CTR (modelo em anexo), expedido pela empresa que executa o transporte, o qual dever conter no mnimo as seguintes informaes: razo social da empresa, endereo da sede, telefone, CGC, nmero do CTR, data da remoo do resduo, endereo de origem do resduo, descrio do resduo, nmero da caamba se for o caso, placa do caminho, endereo da destinao do resduo, nmero da licena da rea expedida pela SMPA; k) as notas fiscais de contratao de servios devero conter os nmero dos CTRs correspondentes ao servio prestado. A Figura 7 ilustra o trans