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FAMÍLIASEPULCRI

Da Itália para o Brasil

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Odílio Sepulcri4

Participação especial:

Eurides Sepulcri

Maria Luiza de Pinho Sepulcri

Maria Margarida Diniz Sepulcri

Miriam Sepulcri

Revisão:

Maria Luiza de Pinho Sepulcri

Sepulcri, Odílio.S479 Família Sepulcri: da Itália para o Brasil./ Odílio Sepulcri./

Curitiba, 2012.122p.

1. Família Sepulcri � Biografia. I. Título.

CDD 929.2 (22.ed.)CDU 929

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ODÍLIO SEPULCRI

FAMÍLIASEPULCRI

Da Itália para o Brasil

Curitiba

2012

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Com muito amor e carinho à minha famí-lia: esposa Maria Luiza, aos meus filhos Rodrigo eLeonardo, às minhas noras Anelise e Lais, aos meusnetos Ana Maria e João Paulo.

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Aos meus irmãos: Eurides, Maurilia,Dagmar, Geraldo Luiz, Maria Margarida,Roberto e Juarez pelos momentos lindosque juntos vivemos.

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AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

Agradecimentos especiais às pessoas que contribuíram significati-vamente para a realização desse livro, são elas:

Agenor Martim Demoner e Elza Gomes Demoner

Anastácia Rizzi Viganó e Leandro Viganó

Antônio José Viganó

Carlita Maria de Castro e Coelho

Dalvina Denardi Demoner

Délio Giostri

Élcio Luiz Guarnieri

Érlio Luiz Sepulcri e Eda De Bortoli Sepulcri

Estevão Covre e Filinha Chiabai Covre

Evilásio Taffner e Marlucia Souza Taffner

Geni De Martim Andrade

Gildo Muniz e Maria Paulina Demoner Muniz

Gumercindo e Alcides Demoner

Jair Mapeli

Joaquim Cancian

José Luiz Giostri

Luiz Helvécio Fiorotti

Luiz Pesente

Miriam Sepulcri

Olívia Cei de Araújo

Walter Covre

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APRESENTAÇÃO

Este livro foi escrito em homenagem ao casal Alexandre Sepulcri(1915-1983) e Fidélia Demoner Sepulcri (1915-1985). Eles sempre forammotivo de orgulho e exemplo para seus filhos. Trata-se da trajetória de suasvidas, começando desde a vinda dos primeiros imigrantes para o Brasil atéa nossa época. Não há pretensão de ser algo grandioso, mas um texto sim-ples, resgatando a história daqueles que tanto amamos.

Alexandre e Bela manifestaram todo o seu amor para com os filhose amigos. De acordo com o relato desses, seu amor era manifestado em todaa sua plenitude, em todas as dimensões: dignidade, solidariedade, servir epartilhar. Dignidade no sentido amplo de honestidade e ações corretas,baseadas na justiça e nos direitos humanos. Solidariedade nos momentosbons e ruins, especialmente na prática da justiça entre as pessoas. Servir aopróximo, preponderantemente nas dificuldades, quando as pessoas estavamdoentes ou desamparadas. Partilhar com o semelhante não só bens, ali-mentos, mas, acima de tudo, conhecimento, experiências para o crescimentoe a autonomia das pessoas, como observado no relato dos amigos. SegundoPadre Marcelo, �o amor é a coisa mais bela de todas, porque o amor éação�.

Alexandre e Bela dedicaram toda a sua vida à educação dos filhoscom sabedoria e foram felizes na escolha. É na educação dos filhos que serevelam as virtudes dos pais.

Além do legado educacional, dos princípios éticos e morais, Ale-xandre e Bela emanciparam todos os seus filhos do trabalho sofrido da roçapelo estudo.

Maria Luiza de Pinho Sepulcri

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 17

2 MOTIVOS PARA A MIGRAÇÃO ITALIANA.......................................... 19

3 FAMÍLIA SEPULCRI ................................................................................... 29

3.1 Miriam Sepulcri � Entrevistada em 19.05.2011...................................... 30

3.2 Pietro Sepulcri e Margarida Zanoni Sepulcri .......................................... 36

4 A ASCENDÊNCIA DE BELA � DEMONER E COSER ........................... 39

4.1 Árvore Genealógica ................................................................................ 43

5 A FAMÍLIA ALEXANDRE SEPULCRI E BELA ..................................... 49

5.1 O Casamento de Alexandre e Bela.......................................................... 50

5.2 O Carro de Bois....................................................................................... 54

5.3 O Trator................................................................................................... 55

5.4 O Ford Bigode......................................................................................... 57

5.5 O Moinho de Pedra e a Roda D�água...................................................... 58

5.6 Cinco Pontões.......................................................................................... 60

5.7 A Energia Elétrica ................................................................................... 61

5.8 O Plantio de Arroz .................................................................................. 62

5.9 A Charrete ............................................................................................... 63

5.10 A Criação de Abelhas.............................................................................. 66

5.11 Fidalgo, o Cão Amado ............................................................................ 66

5.12 O Plantio de Tomate................................................................................ 68

5.13 A Igreja de São Sebastião........................................................................ 72

5.14 A Televisão ............................................................................................. 73

5.15 A Organização da Família....................................................................... 74

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Odílio Sepulcri16

5.16 O Burro do Baiano ..................................................................................79

5.17 As Férias na Roça.................................................................................... 80

5.18 O Carnaval de Itarana.............................................................................. 81

5.19 As Bodas de Prata ................................................................................... 82

5.20 A Herança ............................................................................................... 83

5.21 O Legado de Alexandre e Bela................................................................ 83

6 A PALAVRA DOS AMIGOS........................................................................ 91

6.1 Luiz Helvécio Fiorotti � Entrevistado em 22.05.2011 ............................ 91

6.2 Estevão Covre � Entrevistado em 20.05.2011......................................... 92

6.3 Joaquim Cancian � Entrevistado em 21.05.2011 .................................... 93

6.4 Anastácia Rizzi Viganó � Entrevistada em 21.05.2011 .......................... 94

6.5 José Luis Giostri � Entrevistado em 05.09.2011.....................................94

6.6 Délio Giostri � Entrevistado em 23.05.2011 ........................................... 94

6.7 Walter Covre � Entrevistado em 05.09.2011 .......................................... 96

6.8 Antonio José Viganó � Entrevistado em 04.09.2011 .............................. 97

6.9 Élcio Luiz Guarnieri � Entrevistado em 21.05.2011 ............................... 98

6.10 Mariquinha e Gildo � Entrevistados em 20.05.2011 ............................... 99

6.11 Jair Mapeli � Entrevistado em 04.09.2011............................................ 100

6.12 Evilásio Taffner � Entrevistado em 21.05.2011 .................................... 100

6.13 Depoimento de Carlita Maria de Castro e Coelho................................. 101

7 RELATO SOBRE OS FILHOS DE ALEXANDRE E BELA .................. 107

7.1 Eurides Sepulcri .................................................................................... 107

7.2 Maurilia Sepulcri Gonçalves................................................................. 109

7.3 Dagmar Sepulcri.................................................................................... 110

7.4 Odílio Sepulcri ...................................................................................... 112

7.5 Geraldo Luiz Sepulcri ........................................................................... 114

7.6 Maria Margarida Sepulcri Diniz............................................................ 115

7.7 Roberto Sepulcri.................................................................................... 118

7.8 Juarez Sepulcri ...................................................................................... 119

REFERÊNCIAS.................................................................................................... 121

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1

INTRODUÇÃO

Os italianos começaram a imigrar em maior número para o Brasil apartir do ano de 1870. Foram impulsionados pelas transformações socioeco-nômicas ocorridas no norte da península itálica, que afetaram significativa-mente a propriedade da terra. Isto começou a ocorrer pouco após a unifica-ção da Itália.

No século XIX, ocorreu uma intensa explosão demográfica na Eu-ropa. O alto crescimento da população, ao lado da acelerada industrialização,afetou diretamente as oportunidades de emprego naquele continente. Estima-se que, entre 1870 e 1920, em torno de 28 milhões de italianos emigraram oque corrrespondia, aproximadamente, a metade da população da Itália. Entreos destinos principais estavam diversos países da Europa, América do Nortee América do Sul.

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Quadro 1: Emigração Italiana para o Brasil, 1876-1921

Regiões de procedência N. de imigrantesVêneto 365.710Campânia 166.080Calábria 113.155Lombardia 105.973

Abruzzi/Molizi 93.020

Toscana 81.056

Emília Romana 59.877Brasilicata 52.888

Sicília 44.390Piemonte 40.336

Puglia 34.833

Marche 25.074

Lázio 15.982Úmbria 11.818Ligúria 9.328Sardenha 6.113

Total 1.243.633

Fonte: Brasil 500 anos de povoamento. IBGE. Rio de Janeiro, 2000.

A maioria da imigração italiana para o Brasil se deu entre 1876-1920. Nesse período, emigraram para o Brasil 1,24 milhões de italianos. Amaior parte para o estado de São Paulo. Várias publicações e sites abordam agrande leva de imigração italiana ocorrida a partir de 1875 para as Américas.No Brasil, a imigração concentrou-se nesse período, conforme se pode ob-servar no quadro 1 (BRASIL 500 ANOS).

Afinal, quais as razões ou que fatores levaram a população italianaa migrar para diversas regiões do mundo e, em especial, para o Brasil?

1 Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/brasil500/italianos/razaoimigitaliana.html>. Acesso

em: 10 dez. 2010.

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2

MOTIVOS PARA A MIGRAÇÃO ITALIANA

Pouco antes do início da �grande imigração� (1870-1920), a Itáliapermanecia como um amontoado de pequenos Estados, alguns independen-tes, outros sob o domínio de outros países. Não havia, portanto, uma identifi-cação comum integrando a população desses vários Estados. Esse movi-mento só se completou em 1870, com a unificação e ressurreição do espíritoitaliano da Antiguidade e da Renascença. Concluída a unificação, entretanto,a Itália passou por um período de muitas dificuldades, tais como derrotas napolítica externa, problemas econômicos (desemprego, inflação), políticos(ausência de lideranças legislativas, radicalismos) e baixa credibilidade dogoverno. Nesse momento, surgiu Benito Mussolini que chegou ao poder nosanos 1920 e 1930 e implantou uma política de cunho nacionalista, restauran-do a credibilidade dos italianos no governo fascista

2.

A história mostra que a unificação da Itália foi uma das princi-pais razões para que este grande número de italianos aportassem na Amé-rica, especialmente no Brasil. Após a dissolução do Império Romano, em476 d.C., a Itália ficou fragmentada em várias regiões, formando unidadespolíticas independentes. Após o Congresso de Viena, em 1815, essas regiões

2 Fascismo é uma doutrina totalitária, orbitando a extrema-direita, desenvolvida por

Benito Mussolini na Itália, a partir de 1919 e durante seu governo (1922-1943 e 1943-1945). A palavra �fascismo� deriva de fascio, nome de grupos políticos ou demilitância que surgiram na Itália entre fins do século XIX e começo do século XX; mastambém de fasces, que nos tempos do Império Romano era um símbolo dosmagistrados: um machado cujo cabo era rodeado de varas, simbolizando o poder doEstado e a unidade do povo. Os fascistas italianos também ficaram conhecidos pelaexpressão �camisas negras�, em virtude do uniforme que utilizavam (WIKIPEDIA).Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/brasil500/italianos/razaoimigitaliana.html>.Acesso em: 10 dez. 2010.

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passaram a ser de domínio da Igreja Católica, Áustria e França. Os reinose ducados das regiões da Lombardia-Veneza, Toscana, Parma, Modena eRomagna estavam sob o domínio austríaco. O reino das duas Sicílias per-tencia à dinastia francesa dos Bourbon. O reino do Piemonte-Sardenha eraautônomo, governado por um monarca liberal e os estados da Igreja per-tenciam ao Papa.

Fruto da revolução industrial, no início do século XIX, o norte daItália passou por transformações sociais e econômicas, fazendo com quevárias cidades italianas dessa região crescessem e o comércio se intensifi-casse3.

A primeira tentativa de unificação da Itália iniciou-se em 1848,com a declaração de guerra à Áustria pelo Rei Carlos Alberto, do Reino doPiemonte-Sardenha. Vencido, o rei deixou o trono para seu filho Vítor Ema-nuel II, em cujo governo o movimento a favor da unificação da Itália foiliderado pelo seu primeiro-ministro, o Conde de Cavour. Após ter obtido oapoio da França, em 1859, Cavour deu início à guerra contra a dominaçãoaustríaca. Conseguiu anexar ao reino sardo-piemontês as regiões de Lombar-dia, Parma, Modena e Romagna. Outros grupos também lutavam pela unifi-cação, com o objetivo de transformar o país em uma República. Mazzini eGaribaldi foram os líderes mais conhecidos desta corrente. Em 1860, GiuseppeGaribaldi alia-se a Cavour e, liderando um exército de cerca de mil voluntá-rios, conhecidos como camisas vermelhas, ocupou o reino das Duas Sicílias,afastando do poder o representante da dinastia dos Bourbon, Francisco II.Em março de 1861, dominando quase todo o território italiano, Vítor EmanuelII foi proclamado Rei da Itália4.

A Unificação Italiana ocorreu poucos anos antes da grande emi-gração para as Américas, especialmente para o Brasil, e não foi causa úni-ca. A Unificação acontece em 1861, mas Veneza foi anexada em 1866 eRoma em 1870. A região de Trento só foi incorporada à Itália Unificadadepois da 1ª Guerra Mundial em 1919. Os Estados Pontifícios tiveram suasolução em 1929, com a assinatura do Tratado de Latrão5, no governo fas-

3 Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/brasil500/italianos/razaoimigitaliana.html>. Acesso

em: 10 dez. 2010.4 Disponível em: <http://cafehistoria.ning.com/group/histriadaimigraoitaliana>. Acesso em:

10 nov. 2010.5

O Tratado de Latrão, �tratado de Santa Sé�, �tratado de Roma-Santa Sé� é um dos pactosletaranenses de 1929 feito entre o Reino da Itália e a Santa Sé, ratificado em 07.06.1929,dando fim à �Fronteira Ferroviária�. Os pactos consistiam em três documentos: 1. Umtratado político reconhecendo a total soberania da Santa Sé no estado da Cidade doVaticano, doravante estabelecida. 2. Uma concordata regulando a posição da Igreja

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cista. Por isso, a capital do Reino da Itália de 1861-1866 foi Turim, depoisFlorença (1866-1870) e, só após esse período, Roma. Ainda nos anos 1860do século XIX, antes de concluída a unificação, a inibição das alfândegasregionais, a oferta de produtos industriais a baixos preços e o desenvolvi-mento das comunicações haviam impactado negativamente a produçãoartesanal. Isto atingiu os pequenos agricultores, que complementavam assuas rendas com o artesanato familiar ou o trabalho em indústrias artesa-nais no campo. A unificação alfandegária incutiu a toda Itália o sistemaalfandegário da Sardenha, que tinha as taxas mais reduzidas, e fez com queas economias regionais, que eram mais ou menos fechadas e equilibradas,sofressem uma acentuada queda. A evolução econômica do Norte, que seindustrializou mais cedo, e do sul, predominantemente agrícola, agravou oquadro econômico do país6.

O governo italiano imprimiu medidas impopulares, cuja finalidadeera obter recursos para a realização de obras públicas. Em decorrência, criouo imposto sobre a farinha, que atingia em cheio a classe mais pobre. Contu-do, a unificação política e aduaneira impulsionou a industrialização, intensi-ficada no período de 1880-1890. O Estado reservou a produção de ferro eaço para a indústria nacional, favorecendo a criação da siderurgia modernaque se concentrava ao norte e era protegida pelo Estado. Mas sua produçãonão era suficiente, o que passou a exigir importações. A indústria mecânicacresceu mais depressa, especialmente as de construção naval e ferroviária,máquinas têxteis e principalmente motores e turbinas. A partir de 1905, aindústria automobilística de Turim conseguiu excelentes resultados. O pro-blema mais grave estava na concentração do processo de crescimento nonorte, enquanto o sul permanecia agrário. Esta situação econômica fez comque houvesse uma crise na Itália durante o período final do século XIX. Como desenvolvimento da industrialização no norte, essa região foi a primeiraárea a ser atingida, deixando os agricultores que complementavam sua rendacom o trabalho artesanal sem emprego e sem ter mercado para seus produtos.Por esse motivo, o norte da Itália forneceria os primeiros grandes números deemigrantes e o sul só viveria esse processo mais tarde, principalmente a par-tir do início do século XX7.

Católica e a religião católica no Estado italiano. 3. Uma convenção financeira acordando aliquidação definitiva das reivindicações da Santa Sé por suas perdas territoriais e depropriedade (WIKIPEDIA).

6 Disponível em: <http://cafehistoria.ning.com/group/histriadaimigraoitaliana>. Acesso em:10 nov. 2010.

7Disponível em: <http://cafehistoria.ning.com/group/histriadaimigraoitaliana). Acesso em:10 nov. 2010.

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Figura 1: Mapa da Itália com o Número de Emigrantes para o Brasil, 1870-1920

Fonte: Brasil: 500 anos de povoamento. Rio de Janeiro. IBGE, 20008.

O modelo administrativo de Savóia também provocou, com o tem-po, o agravamento das diferenças já existentes entre as regiões da Itália, cri-ando as condições para um grande movimento migratório de classes ruraispara os países das duas Américas entre o fim do século XIX e o início doséculo XX, quando vários milhões de italianos emigraram. A emigração erauma das poucas saídas dos Italianos, na época, diante do desemprego e amiséria. As colônias agrícolas existentes no Brasil eram o grande atrativopara os italianos famintos, sem emprego, sem lar. A igreja incentivava seusfiéis a conhecerem a nova terra, a esperança. Em 1902, por meio do decreto

8

Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/brasil500/italianos/regorigem.html>. Acesso em:30 nov. 2010.

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Prinetti9, que refletia o debate provocado pela migração, foi proibida peloComissariado Geral da Emigração na Itália a emigração subvencionada parao Brasil10.

Um grande grupo de imigrantes italianos desembarcou nos EstadosUnidos, Argentina, Uruguai e especialmente no Brasil, cujos destinos seriamas fazendas de plantação de café no interior de São Paulo com o recebimentode lotes de terra e fundação de colônias no Sul, construção de ferrovias ecolônias agrícolas em outros estados, sem contar que entre os imigrantes, amaioria sem instrução, também havia artistas, engenheiros, arquitetos. Aimigração italiana é um capítulo da história rico em experiências sofridas, aomesmo tempo escasso em informações legadas aos descendentes. Os naviosque chegavam aos principais portos (Vitória, Rio de Janeiro, Santos e RioGrande do Sul), por exemplo, não forneciam em suas listagens as cidades deorigem. Para os italianos, não importava muito deixar isto registrado, comoum legado para gerações futuras. Eles estavam começando a construir umnovo Brasil, no processo de substituição do trabalho escravo dos negros pelotrabalho livre do europeu11.

Com a lei de terras12 de 1850, cessou a distribuição gratuita de lotespara os imigrantes, despertando interesse da iniciativa privada. Isso fez comque, ao lado das colônias imperiais e provinciais, surgissem colônias parti-culares, como as de Conde d� Eu e Dona Isabel, na região onde atualmenteestão localizados, os municípios de Garibaldi e Bento Gonçalves no RioGrande do Sul. Essas colônias foram criadas em 1870, antes da imigraçãoitaliana no estado e com o objetivo de que quarenta mil colonos italianosfossem contratados num prazo de dez anos para ali se estabelecerem e au-mentarem a produção agrícola da região. A prevenção generalizada contra oBrasil por parte da Europa, pois este era visto como um país onde imigrantes

9 Em 1902, o decreto Prinetti proibiu a emigração subvencionada para o Brasil, aprovado

pelo Comissariado Geral da Emigração na Itália (WIKIPEDIA).10

Disponível em: <http://cafehistoria.ning.com/group/histriadaimigraoitaliana>. Acesso em:10 nov. 2010.

11 Disponível em: <http://cafehistoria.ning.com/group/histriadaimigraoitaliana>. Acesso em:10 nov. 2010.

12 No Brasil, a Lei de Terras (Lei 601 de 18.09.1850) foi uma das primeiras leis brasileiras,após a independência do Brasil, a dispor sobre normas do direito agrário brasileiro. Trata--se de legislação específica para a questão fundiária. Esta lei estabelecia a compra como aúnica forma de acesso à terra e abolia, em definitivo, o regime de sesmarias. Junto com ocódigo comercial, é a lei mais antiga ainda em vigor no Brasil. A Lei de terras teve origemem um projeto de lei apresentado ao Conselho de Estado do Império Colonial, em 1843,por Bernardo Pereira de Vasconcelos. A lei de terras foi regulamentada, em 30.01.1854,pelo Decreto Imperial 1.318 (WIKIPEDIA).

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sofriam provações, bem como o custo do transporte dos imigrantes até ascolônias, fizeram com que apenas um número menor de colonos italianosfossem realmente assentados13.

Foi a partir de 1875, sob a administração da União, que chegaramos primeiros italianos para trabalhar para Conde D�Eu e Dona Isabel. Essesprimeiros italianos vieram das regiões do Piemonte e Lombardia e, depois,do Vêneto. Quando começou a emigração do Sul da Itália, em 1901, as terrasdisponíveis já estavam quase que totalmente ocupadas e, por isso, no RioGrande do Sul predominaram os italianos vindos do norte.

Os navios com imigrantes italianos atracavam no Rio de Janeiro,na Ilha das Flores, para que estes permanecessem de quarentena. A soberanaMaria Teresa Cristina de Bourbon, natural de Nápoles, esposa do ImperadorD. Pedro II, estimulou a vinda de imigrantes ligados ao comércio e às artes14.

Além de São Paulo e estados do sul do país, receberam imigrantesitalianos também Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e algumascidades do norte e nordeste. Os italianos contribuíram muito para o cresci-mento e engrandecimento do Brasil15.

Pela análise da história do Brasil durante o século XIX, é possívelcompreender a imigração italiana no Brasil. Na primeira metade deste sécu-lo, a Grã-Bretanha, pressionou nosso país para acabar com o tráfico negreiroque supria as necessidades de mão de obra com a importação de escravos daÁfrica. A Lei Eusébio de Queirós proibiu o tráfico negreiro em 1850 e, apartir deste momento, começou a falta de mão de obra nas regiões em que seexpandia a cultura cafeeira. Isso, em parte, foi resolvido com a transferênciade escravos da Região Nordeste. Um grupo de fazendeiros do Oeste Paulista,nesse período, pressionado pela falta de mão de obra escrava, defendeu o usoda mão de obra livre nas plantações de café, divergindo-se politicamente dosfazendeiros do Vale do Paraíba, donos de grandes grupos de escravos. OBrasil, nessa época, passou por um período de grande discussão de ideiasabolicionistas. Novas leis, como a Lei do Ventre Livre16 (1871) e a Lei dosSexagenários (1885), anunciavam o fim próximo da escravidão. Com o pas-

13

Disponível em: <http://cafehistoria.ning.com/group/histriadaimigraoitaliana>. Acesso em:10 nov. 2010.

14 Disponível em: <http://cafehistoria.ning.com/group/histriadaimigraoitaliana>. Acesso em:10 nov. 2010.

15Disponível em: <http://cafehistoria.ning.com/group/histriadaimigraoitaliana>. Acesso em:10 nov. 2010.

16 A Lei do Ventre Livre concedeu liberdade aos escravos nascidos no Brasil após a data depromulgação da mesma. Representou mais um passo na escalada ruma à libertação detodos os negros utilizados como mão de obra escrava no país (WIKIPEDIA).

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sar do tempo, a população escrava envelhecia sem que a reprodução naturalda população fosse suficiente para suprir a necessidade de mão de obra naslavouras que se expandiam ou para colonizar as terras ainda inexploradas nosul do Brasil.

O auxílio em dinheiro para a compra de passagens de imigrantes epara sua instalação inicial no país, servia para alojamento e facilitava a imi-gração. Isso foi aprovado em 1871, logo após a Lei do Ventre Livre e foi,inicialmente, uma iniciativa de fazendeiros. Com o tempo, entretanto, a par-ticipação destes foi sendo transferida, cada vez mais, para os governos, pro-vincial e imperial, até 1889, e, posteriormente, para o governo brasileiro. Aimigração subvencionada se estendeu de 1870-1930 e visava estimular avinda de imigrantes. Os imigrantes se comprometiam com contratos, não sódo local para onde se dirigiam, como também das condições de trabalho aque se submeteriam. Isso motivava a vinda de famílias, e não de indivíduosisolados. Chegavam famílias numerosas e integradas por homens, mulheres ecrianças de mais de uma geração.

As ideias do darwinismo social e a eugenia racial, no final do séculoXIX e início do século XX, tiveram grande prestígio no pensamento científicomundial. Com a divulgação e aceitação dessas ideias pela comunidade cientí-fica, a massa crítica social e política passou a considerar que os brasileiroseram incapazes de desenvolver o país por serem maioria de negros e mestiços.A imigração passou, por conseguinte, a ser planejada não apenas com o propó-sito de suprir a mão de obra necessária ou de colonizar territórios pouco ocu-pados, mas também para �branquear� a população brasileira. Com essa teoria,negros e mestiços iriam paulatinamente desaparecer da população brasileirapor meio da miscigenação com as populações de imigrantes europeus. Comisso, o imigrante italiano era considerado um dos melhores, pois além de serbranco, também era católico. Consequentemente, sua assimilação seria fácil nasociedade brasileira e ele colaboraria para o �branqueamento� da população.Não somente o Brasil, que implantou políticas de imigração que privilegiavamos grupos de imigrantes conforme as características racias ou religiosas dese-jadas, vários países do mundo preferiam até mesmo o imigrante do norte daEuropa em vez dos que vinham do sul17.

Para Grosselli, a Expedição de Pietro Tabachi foi o primeiro casode imigração em massa da região norte da Itália para o Brasil. A colônia,criada no Espírito Santo pelo Governo Brasileiro, chamava-se Nova Trento,sendo a primeira, de pelo menos três, fundadas pelos trentinos no Brasil.

17 Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Imigra%C3%A7%C3%A3o_italiana_no_

Brasil#A_influ.C3.AAncia_italiana_no_Brasil_e_seus_descendentes>. Acesso em: 08nov. 2010.

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Pode-se afirmar que Santa Cruz foi o berço da imigração italiana no Brasil,em 03 de janeiro de 1874. Na sequência, diversas expedições ocorreram.Atualmente o estado do Espírito Santo abriga uma das maiores populaçõesde descendentes italianos, não em número, mas em percentual da população.Em 20.07.1895, o Governo Italiano proibiu a emigração para o EspíritoSanto. Esta medida foi em consequência do relatório enviado pelo Cônsul daItália nesse Estado, apontando as dificuldades que o imigrante era obrigado asuportar, tais como: má alimentação, abusos da polícia e justiça incerta, in-salubridade do clima, deficiência de serviços médicos e escolares, demoraexcessiva na medição dos lotes e divisão de terras18.

Por volta de 1900, aparecem na imprensa italiana notícias de pés-simas condições de vida de emigrantes italianos que não podiam abandonaras fazendas de café onde trabalhavam, pois tinham dívidas, principalmenterelativas ao pagamento dos custos de suas viagens. Isto fez com que, em1902, o governo da Itália emitisse o decreto Prinetti proibindo a imigraçãosubsidiada de cidadãos italianos para o Brasil. O fluxo de imigrantes dimi-nuiu acentuadamente, uma vez que, a partir de então, cada cidadão italianoque quisesse emigrar para o Brasil deveria ter dinheiro para pagar a própriapassagem.

Foto 1: Memorial do Imigrante, Antiga Hospedaria dosImigrantes � São Paulo

Fonte: <http://pt.wikipedia.org/wiki/ficheiro: Memorial_do_imigrante.jpg>.Acesso em: 08 nov. 2010.

18

Disponível em: <http://spazioinwind.libero.it/coradellofamilies/storia/emigraz2.html>.Acesso em: 28 dez. 2010.

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A língua italiana foi proibida no Brasil na década de 1930 pelo pre-sidente Getúlio Vargas, após declarar guerra contra a Itália. Qualquer mani-festação da cultura italiana no Brasil era crime. Isso contribuiu bastante paraque o idioma italiano fosse pouco desenvolvido entre os seus descendentes19.

A imigração italiana para o Brasil foi um dos maiores fenômenosimigratórios já ocorridos. À medida que o número de imigrantes e seus des-cendentes ia crescendo, o Brasil modificava os seus costumes, assim comoos imigrantes se modificavam. Verifica-se que a influência italiana no Brasilnão ocorreu de forma uniforme. No Sul e Sudeste do País a comunidadeitaliana era forte e, em certas localidades, chegou a representar a maioria dapopulação; noutras regiões do país, a presença italiana foi quase nula. Dasinúmeras contribuições dos italianos para o Brasil e sua cultura, destacam-se:

� Introdução de elementos tipicamente italianos no catolicismo dealgumas regiões do Brasil (festas, santos de devoção, práticasreligiosas).

� Vários pratos que foram incorporados à alimentação brasileira,como o hábito de comer panetone no Natal e comer pizza eespaguete frequentemente (principalmente no Sudeste), além dapopular polenta frita.

� A infuência no sotaque dos brasileiros (principalmente na cida-de de São Paulo, o sotaque paulistano), na serra gaúcha, no sulcatarinense e no interior do Espírito Santo.

� Novas técnicas agrícolas foram introduzidas (Minas Gerais, SãoPaulo e no Sul).

� A criação do time de futebol Palestra Itália em 1914, paraaproximar e unificar os imigrantes italianos da cidade de SãoPaulo. Durante a segunda guerra mundial, o time foi forçado amudar o nome para Sociedade Esportiva Palmeiras sob amea-ça do clube perder o seu patrimônio físico. Isso ocorreu porimposição da ditadura Vargas após declarar guerra contra aItália, sendo criminalizada no Brasil qualquer manifestaçãocultural italiana20.

A população de novos imigrantes italianos no Brasil atualmente émínima. A maior parte são idosos, visto que as últimas concentrações deimigrantes chegaram nos anos de 1950. O número de italianos residentes no

19

Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/ficheiro>. Acesso em: 08 nov. 2010.20

Disponível em: <http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20070610114047AA2bIGo>.Acesso em: 03 mar. 2012.

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Brasil ultrapassava meio milhão de pessoas em 1920, caindo para apenaspouco mais de 40 mil em 2000. Em 2003, segundo a Aire (l�Anagrafi degliitaliani residenti all�estero) havia no Brasil 162.225 cidadãos italianos e,segundo os Anagrafi consolari del Ministero degli Esteri, há 284.136 cida-dãos italianos no país. A maioria destes são cidadãos ítalo-brasileiros, vistoque a Itália garante a cidadania italiana para os descendentes. De acordo comas leis italianas, não há diferença jurídica entre um italiano nascido na Itáliaou no estrangeiro. Em São Paulo, estão inscritos no Consulado 154.546cidadãos italianos, no Rio de Janeiro 38.736, em Porto Alegre 37.278, emCuritiba 30.987 e em Belo Horizonte 13.76921.

O Brasil possui a maior população italiana fora da Itália. Não setem o número exato, uma vez que os censos nacionais não questionam aancestralidade do povo brasileiro. Entretanto, as estimativas oscilam entre 23a 25 milhões os brasileiros com algum grau de ascendência italiana, repre-sentando cerca de 15% da população brasileira22.

Os italianos estão integrados e sedimentados dentro da sociedadebrasileira. Seus descendentes figuram nos mais diversos setores da sociedadebrasileira. Conforme pesquisa de 2001, das 10.641 empresas industriais doRio Grande do Sul, 42% estavam nas mãos de brasileiros de origem italiana.Certas localidades do Brasil meridional e do Sudeste têm uma clara maioriade brasileiros de origem italiana. Este fato é mais evidente em localidadesrurais do Sul do Brasil, tomando por exemplo municípios como Nova Veneza,onde os de origem italiana somam 95% da população local. Mesmo nasgrandes metrópoles a presença da coletividade italiana é enorme: São Paulopossui 60% da população com ascendência italiana e, Belo Horizonte com2,5 milhões de moradores tem 30% de descendentes23.

Nas eleições italianas de 2006, os italianos residentes no estrangei-ro puderam participar. No Brasil, 62.599 cidadãos italianos votaram24.

21 Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/imigra%>. Acesso em: 08 nov. 2010.22 Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/imigra%>. Acesso em: 08 nov. 2010.23 Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/viki/imigra%>. Acesso em: 08 nov. 2010.24 Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/viki/imigra%>. Acesso em: 08 nov. 2010.

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3

FAMÍLIA SEPULCRI

Antônio Sepulcri e Constantina Perusini viveram em Bagnária Arsa,região nordeste da Itália. É uma comuna Italiana da região do Friuli-VeneziaGiulia, província de Udine, com cerca de 3.470 habitantes. Estende-se por umaárea de 19 km², tendo uma densidade populacional de 183 hab/km². Faz fron-teira com Aiello del Friuli, Cervignano del Friuli, Gonars, Palmanova,Torviscosa, Visco (WIKIPÉDIA). Lá, Antônio e Constantina tiveram cincofilhos: Luigi (1871-1921), Pietro (1874-1960), Leonardo, Henrico e Remígio.Dos cinco filhos, três vieram para o Brasil: Luigi, Pietro e Remígio.

Observe, a seguir, o relato de Miriam Sepulcri, filha de Érlio Luiz eEda, neta de Amaro, bisneta de Luigi e tataraneta de Antônio Sepulcri.

Foto 2: Antônio Sepulcri

Fonte: Foto do acervo da família.

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3.1 MIRIAM SEPULCRI � ENTREVISTADA EM 19.05.2011

A primeira referência que Miriam teve de ligação com a famíliaSepulcri na Itália foi em 1987, através de Walter Sepulcri, filho de Leonardo,em Roma. Sabia falar poucas palavras em Italiano, o que dificultou um pou-co a comunicação.

Miriam fez uma ligação telefônica do hotel para a casa de Walter efalou com o seu filho Roberto. Ela nem sabia que ele tinha filho, disse que sechamava Miriam Sepulcri, do Brasil, sobrinha da Iolanda, que estava emRoma e gostaria de vê-lo. Percebendo que ele não havia entendido direito, nooutro dia pediu para a guia de turismo, que já havia morado no Brasil e quefalava bem as duas línguas, para ligar para o Walter e fornecer o endereço dohotel. Imediatamente, ele foi ao hotel onde estavam hospedados, sendo esseo primeiro contato.

Foto 3: 1º Encontro de Miriam com Walter � Roma, 1987

Fonte: Foto do acervo da família.

Walter e Miriam foram para Campolonghetto, pequena vila. Nocaminho pararam para almoçar e pegaram um mapa rodoviário da Itália,que presenteou a Odílio. Próximo a esta vila está a pequena cidade deMonfalconi, onde se encontra o estaleiro com o mesmo nome desta e onde

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trabalharam até se aposentarem os filhos de Nello, irmão de Walter, NelloGianfranco e Ivano. Por sua vez, Nello e Walter eram os filhos de Leonar-do. Nello também tinha uma filha chamada Daniela. Os dois filhos homensainda moram lá.

Foto 4: Em pé: Loreta, Daniela, Ivano, Nara e WalterSentados: Alexia, Nello, Federica, Lina e Miriam � 1987

Fonte: Foto do acervo da família.

Posteriormente, em 1988, Walter, juntamente com sua filha Stefa-nia, esteve em Vitória, na casa de Miriam e visitaram alguns parentes. Foipromovido um encontro de confraternização com todos os descendentes deAntônio Sepulcri.

Quando Miriam voltou dessa viagem, foi para Itarana com o intuitode falar com os mais velhos, para resgatar a história da família. Sentou comsua tia Iolanda Sepulcri e pegou algumas informações, o mesmo fez com o Sr.Chiquinho de Martim, no Triunfo. Aí, ficou atrás de informações, procurandoos mais velhos de Itarana e que conheceram seu avô Amaro (Mário) e bisavôLuigi, que haviam vindo da Itália. Érlio (Élvio), seu pai, contou alguma coisade Luigi. Foi anotando tudo e fez um pequeno rascunho no caderno das fa-mílias Sepulcri, Rabi, De Bortoli e Pesente que foram os seus quatro avós.

Assim, há algumas informações com relação à família Sepulcri quesão mais do lado de Luigi. Vieram da Itália Luigi, Pietro e Remígio. Remígio

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ficou pouco tempo no Brasil. Trabalhou um pouco e retornou à Itália. Lá secasou e não teve filhos, porém adotou dois.

Foto 5: Luigi e Luiza

Fonte: Foto do acervo da família.

Os parentes Sepulcri entraram no Brasil por Minas Gerais, e nãopor Vitória. Luigi nasceu em 11.09.1871 em Campolonghetto, Udine, Itália,e faleceu em 11.09.1921, em Itarana, na época, denominada Figueira deSanta Joana. Eram filhos de Antonio Sepulcri e Constantina Perusini.

Luigi se casou em Udine, Campolonghetto. Em 1895, chegando aoBrasil, seguiu para Três Corações, perto de Juiz de Fora, MG, porque nãotinha destino certo. Lá nasceu o filho Amaro, em 16.07.1896. Ele trabalhavadurante o dia nos cafezais e, à noite, costurava em uma pequena máquina decostura manual que havia trazido da Itália.

Foto 6: Eva e Amaro

Fonte: Foto do acervo da família.

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Depois mudaram para o Espírito Santo, no Limoeiro, perto deFigueira de Santa Joana, para a fazenda do Sr. Davi Frizeira, porque soube-ram que nessa região já havia uma colônia italiana. No Limoeiro nasceramos filhos Antônio, mais conhecido como Alci, Irene e Iolanda. O trabalho erano mesmo sistema anterior, cafezal durante o dia e, à noite, costura. Mais oumenos em 1906, foram para Figueira de Santa Joana � Itarana, porque láhavia mais condições para a sua profissão de alfaiate e abriu uma alfaiataria.Foram morar na casa da família Colnago, na Rua de Baixo. Foi o primeiroalfaiate da cidade, ajudado pelos filhos, pela mulher Luiza que costurava ascalças para os homens. Fez o uniforme da primeira Banda de Música, orga-nizada por ele.

Foto 7: Homenagem dos Parentes a Walter Sepulcri � 1988(Em pé: Doralice, Guerino, Iolanda, Walter, Luiz, Edae Eurides Colnago. Abaixados: Hélio, Eurides, Hérlio,Margarida, Stefania, Mariazinha, Neném e Aida)

Fonte: Foto do acervo da família.

Em 1910, retornou para a Itália com toda a família. Antes, ele jáhavia ido sozinho e achou que as condições de vida lá haviam melhorado. NaItália, foi morar na mesma cidade de onde veio e foi trabalhar junto com opai como alfaiate. Os filhos Amaro e Antônio ajudavam fazendo a entregadas costuras de bicicleta. Lá moraram por cerca de dois anos. Em 1913 volta-ram para o Brasil por causa da guerra. Saíram, inclusive, meio fugidos pelaÁustria. Ficaram cerca de quarenta dias no mar devido a muitos problemasno navio, segundo Iolanda. Voltou para Itarana e novamente foi morar nacasa dos Colnago, próximo de onde mora atualmente Vito Piasentini. Ali eraum casarão só. Após o retorno continuou com a alfaiataria e, em 1914-1915,

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tinha a tarefa de apagar e acender os lampiões da rua que existiam na épocapara iluminar a cidade. Foi, também, subdelegado de Itarana e tomou contados correios.

Alugou por um tempo um casarão grande da família De Martim eorganizou um hotel. Ele sentia necessidade de estar no meio de gente, daspessoas, porque o convívio na Itália era outro. A casa tinha quatorze quartos,duas salas grandes, cozinha e local para banho. Depois mandou construiruma casa grande para a sua família que hoje é da família do João Bento. Alifuncionavam a alfaiataria e pensão, com refeições para viajantes e hóspedes.O padre Paulo de Afonso Cláudio e outros moraram lá com ele. Morreu depneumonia dupla sonhando em voltar para a Itália definitivamente.

Foto 8: Érlio, Walter, Eda e Doralice

Fonte: Foto do acervo da família.

Quando Luigi morreu, Amaro (1896-1967), por ser o filho maisvelho e sua mãe ainda estar viva, continuou morando com ela e levando osnegócios adiante.

Em 29.09.1917, Amaro Sepulcri casou-se com Eva Pesente. Tive-ram os filhos: Celina, Leandro, Doralice, Olga, Érlio Luiz e Aluízio.

Luiza faleceu em 06.01.1960 e Amaro em 05.05.1967. Amaro erapedreiro e construiu o Ginásio de Itarana. Foi Presidente da Campanha Nacio-nal de Educandários Gratuitos (CNEG), onde Colnago era secretário eWagner Araújo diretor. Amaro ajudou a construir a Igreja Matriz de Itarana,onde colocou o para-raios e o anjo. Em Itarana e entorno existem mais decinquenta casas e prédios que foram construídos por ele.

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Foto 9: Odílio e Maria Luiza � Roma, 2005

Fonte: Foto do acervo da família.

Em 2004 e 2009, Odílio e Maria Luiza Sepulcri estiveram emRoma e visitaram Walter e Úrsula, sua segunda esposa. Conheceram tambémos filhos de Walter: Roberto e Stefania. Passaram o dia juntos e foram almo-çar no restaurante onde Úrsula e Walter se encontraram pela primeira vez. Ànoite visitaram os filhos e os netos deles. Walter faleceu em 20 de maio de2010, em Roma.

Foto 10: Maria Luiza, Walter e Odílio � Roma, 2009

Fonte: Foto do acervo da família.

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3.2 PIETRO SEPULCRI E MARGARIDA ZANONI SEPULCRI

Pietro Sepulcri nasceu em Bagnária Arsa, Região de Friuli, Provín-cia de Udine, na Itália, em 08.05.1874. Veio para o Brasil em 1886, com12 anos e depois em 1921 visitou a Itália e, lá, viu a morte de sua mãe,Constantina Perusini, segundo Iolanda Sepulcri.

Pietro se casou com Margarida Zanoni em 23 de outubro de 1900.Tiveram nove filhos: Guerino, Remígio, Luiz, Frederica, Alexandre, Henrique,Tereza, Antônio e Maria (Neném).

Pietro e Margarida, após o casamento, foram morar na propriedadede Joanim Scárdua, no Limoeiro, próximo à Figueira de Santa Joana. Tra-balhava na lavoura de café; também havia dois moinhos de fubá e cultivavamelancia e amendoim. Nos finais de semana sua casa ficava cheia de paren-tes e amigos que lá iam para desfrutar dessas delícias, conta Érlio.

Segundo Érlio Sepulcri, Pietro mudou-se com a família de Limoei-ro para Triunfo, município de Itaguaçu, na propriedade de Quintino Marreco.Continuou seu trabalho na lavoura de café e também produzia milho, feijão,melão e mamão. No Triunfo, terminou de criar os seus filhos. Depois, mu-dou-se para Itarana, onde comprou um terreno situado na Rua do Triunfo,onde faleceu sua esposa Margarida em 10.02.1945, aos sessenta anos. Cató-lico, muito devoto e, segundo Oliva Cei de Araújo, aos domingos, quandohavia procissão, ele era o responsável por conduzir a Cruz à frente da mesmae não dava moleza para a criançada, era disciplinador.

Foto 11: Pietro Sepulcri e Margarida

Fonte: Foto do acervo da família.

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Depois da morte de Margarida, continuou morando por algum tem-po no mesmo local e, posteriormente, foi morar juntamente com o seu filhoRemígio no Bom Destino. Miriam relata que, do Bom Destino, lembra-se doterreiro de secar café, da roda d�água, do moinho de pedra e do engenho demoer cana-de-açúcar.

No Bom Destino, para angariar alguns trocados, Pietro fazia arte-sanato de madeira, pequenos serviços de marcenaria e ajudava Remígio eAlexandre na manutenção do moinho de pedra.

Quando Pietro ia visitar a família de Alexandre e Bela, já bem ve-lhinho, aos domingos, não tinha paciência de esperar os demais para ir paraItarana de charrete. Ele levantava cedo e ia a pé para a casa de Amaro Sepul-cri, seu sobrinho. Alexandre, para não deixá-lo ir sozinho, pedia para Odílioacompanhá-lo. Após ir à missa, passava o domingo na casa de Amaro e deIolanda, irmã de Amaro.

Foto 12: Guerino, Walter e Luiz Sepulcri

Fonte: Foto do acervo da família.

Pietro faleceu em 22 de maio de 1960, aos 86 anos. No momentode seu falecimento estavam presentes, além da família de Remígio, Alexan-dre, Bela e Odílio. Alexandre imediatamente encarregou Odílio de ir atéItarana, de charrete, para avisar a seus sobrinhos Amaro e Iolanda e solicitarpara tocar o sino da Igreja Matriz em anúncio de sua morte. Pietro e Marga-rida encontram-se sepultados no Cemitério de Itarana.

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A ASCENDÊNCIA DE BELA � DEMONER E COSER

Giovanni Luigi De Muner e Maria Teresa Dal Piva, nascidos naItália, eram pais de Ágata, Domenica, Moisé Natale, Amabile, Fiorinda,Guerino e Maria Catarina.

Eugênio Coser e Fortunata Friz eram pais de Maria Coser. Marianasceu em Trento � Itália e veio para o Brasil com nove anos de idade. Gue-rino Demoner e Maria Coser se casaram em 10 de junho de 1908, em BomDestino. Lá, constituíram a sua família e tiveram quatorze filhos, a saber:Henrique Antônio, Sabina, Geraldo, Darcisa, Fidélia (Bela), Hermínia (Ar-leta), Varcelino (Nego), Antenor, Geraldino, Gumercindo, Agenor, MariaPaulina (Mariquinha), Claudina e José Maria.

Foto 13: Giovanni Luigi de Muner e Maria Teresa dal Piva

Guerino, além de agricultor, tocava bandoneón (concertina) e seufilho caçula, José Maria, aprendeu com ele.

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Foto 14: Guerino Demoner e Maria

Fonte: Foto do acervo da família.

Conforme o relato de Dalvina, Guerino fumava cachimbo e gostavade uns goles. Quando ia para a cidade de Itarana, montado em uma mula quefazia as paradas nos botecos, pois já estava acostumada com o caminho, qua-se sempre voltava embriagado e, às vezes, era até um pouco agressivo. To-dos os dias, após o almoço, comia um prato de polenta com leite semprepreparado por Dalvina, sua nora.

Dalvina afirma que Maria era muito religiosa, estava em constanteoração. Cantava uma música religiosa em italiano para agradar os netos.Gostava de ler, o que fazia diariamente. Ganhou até um catecismo de D.Luiz Scortegagna, bispo de Vitória, quando da visita a Itarana, no ano de1950. Todas as tardes, ela fazia brolhas25, usando sacos de trigo e açúcar.Semanalmente visitava sua parente e grande amiga, Graciosa e Pedro Zam-piere, acompanhada de uma sombrinha para se proteger do sol. Era compa-nheira, conselheira e ajudante nas tarefas da casa e educação dos netos, fi-lhos de Antenor e Dalvina.

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Brolhas � tipo de renda de algodão ou seda feita com um emaranhado de nós sem o uso deagulhas, nas barras de toalhas, colchas e outros. Acredita-se que essa técnica é de origemárabe e tenha chegado ao Brasil com os portugueses. Nos anos 1930, era comum decorarenxovais de noivas com essa arte.

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Foto 15: Bela na Adolescência

Fonte: Foto do acervo da família.

Como muitos dos descendentes de italianos, na fazenda de Guerinotambém havia um moinho de pedra. Além de fubá, produzia café, milho,feijão, arroz e muitas frutas, especialmente manga, goiaba, laranja e criavasuínos e bovinos.

Foto 16: Bela e suas Irmãs (Claudina, Mariquinha, Arleta, Bela eDarcisa)

Fonte: Foto do acervo da família.

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A fazenda era cortada por um riacho, onde a filharada gostava defazer pescaria. Guerino e Maria tinham uma boa situação econômica efinanceira, possuíam vastas áreas de terras que, mais tarde, dividiram comos seus filhos.

Segundo Alexandre Sepulcri, seu genro, quando os filhos de Gue-rino e Maria eram jovens, sua casa vivia cheia de gente e era uma famíliamuito alegre.

Foto 17: Gumercindo e Alcides Demoner, Maria Luiza, Odílio,José Gomes e Eurides � Bom Destino, 2011

Fonte: Foto do acervo da família.

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Foto 18: José Maria, Agenor e Gumercindo Demoner

Foto 19: Agenor e Elza Gomes Demoner

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Foto 20: Dalvina, Ana, Alcides, Gumercindo, Elza, Agenor,Claudina, Gildo e Mariquinha

Foto 21: Darcisa e Geny � 100 anos de Darcisa

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Foto 22: Mariazinha, Claudina, Bela, Roberto, Eurides e Guerino(na janela)

Foto 23: Mariquinha, Claudina, Guerino e Maria

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Foto 24: José Maria, Agenor, Gumercindo, Geraldino, Antenor,Varcelino e Henrique

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5

A FAMÍLIA ALEXANDRE SEPULCRI E BELA

Na partilha e nas decisões políticas entre Itarana e Itaguaçu, aprimeira ficou com a Paróquia e a segunda com a Comarca Municipal(VENTORIM, 1990).

A construção da Igreja Matriz Nossa Senhora Auxiliadora de Itara-na foi iniciada em 1918 e consagrada em 1951.

Na construção da Igreja, por volta de 1938 e 1939, quando aindaera solteiro, Alexandre trabalhava para arrecadar dinheiro para o casamentocom Bela. Participou ativamente como servente de pedreiro e também notransporte da terra escavada. A terra era colocada em cima de um couro epuxada por uma junta de bois até o local, onde seria transportada por cami-nhões para o destino final.

Foto 25: Igreja Matriz de Itarana, Iniciada em 1918 e Consagradaem 15.07.1951

Fonte: Foto do acervo da família.

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A igreja foi construída na encosta do morro, conforme se verificana foto, e toda a escavação foi feita manualmente com o auxílio de enxadão epicareta.

Nessa construção, Amaro Sepulcri, primo de Alexandre, foi um dosprincipais pedreiros construtores.

5.1 O CASAMENTO DE ALEXANDRE E BELA

Alexandre nasceu em 28 de março de 1915. Era filho de Pietro Se-pulcri e Margarida Zanoni Sepulcri. Conheceu Bela em um baile no Bom Des-tino. Logo se encantou por ela: foi amor à primeira vista, levando-o a terminaro noivado com Laura. Namoraram pouco tempo e logo se casaram em Itarana,na Igreja matriz de Nossa Senhora Auxiliadora, em 26 de outubro de 1940.Bela era também filha de italianos, Guerino Demoner e Maria Coser Demoner.

No dia do casamento, o transporte dos noivos foi feito a cavalo, doBom Destino até Itarana e dali até o Triunfo, comunidade onde foi a primeiraresidência do casal. Moraram em uma casa de madeira, durante os quatro pri-meiros anos conjugais, trabalhando como meeiros da família Quintino Marreco.A casa possuía muitas frestas e Bela tapava-as, para proteger-se do frio, compapel trazido pelo seu cunhado Luiz Sepulcri, que trabalhava na Souza Cruz.Bela, de filha de fazendeiro bem de vida, mudou radicalmente para essa condi-ção, mas, contagiada pelo amor, jamais reclamou dessa mudança tão marcante.O sonho de construir um lar, ter filhos e criar uma família era mais forte.

Foto 26: Alexandre e Bela

Fonte: Foto do acervo da família.

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Alexandre trabalhava na agricultura e Bela cuidava da casa, dahorta doméstica e dos filhos que encheram a casa rapidamente. Em apenasdoze anos de casados, já eram oito filhos. No Triunfo nasceram as suas trêsprimeiras filhas: Eurides, Maurilia e Dagmar. Eurides, mesmo com três ani-nhos, era fujona. Certo dia, sua mãe, Bela, notou o seu desaparecimento edesesperada foi à sua procura e a encontrou cerca de um quilômetro de casa,em cima de uma pinguela (pequena ponte de tronco de árvore), correndo orisco de cair dentro do rio e morrer afogada.

Foto 27: Eurides com Dez Meses de Idade

Fonte: Foto do acervo da família.

Nesse período, Alexandre conseguiu economizar algum dinheirocom o seu trabalho na agricultura e na extração de fibra de guaxuma, plantada família Malvácea, nativa da região, o que lhe possibilitou comprar a suaprimeira propriedade, de quatro alqueires, de Pedro Guarnieri, na comunida-de de Santa Helena, que muitos chamavam de Córrego da Barriguda, devidoa uma árvore existente na comunidade, situada a seis quilômetros de Itarana.A mudança da família para Santa Helena ocorreu em 1945, foi transportadado Triunfo em carro de boi e lombo de mula.

A guaxuma era colhida e amarrada em feixes de mais ou menosoitenta centímetros de diâmetro e colocada submersa na água por vários dias.

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Após amolecida a casca, era extraída a fibra, lavada, colocada para secar emvarais e depois era recolhida, enfardada e comercializada.

Essa propriedade possuía uma grande várzea alagada e habitadapor jacarés de papo amarelo. A primeira tarefa de Alexandre foi drenar avárzea para torná-la apta para o cultivo de arroz e de inhame. Todo esse tra-balho foi feito manualmente e durou vários meses. Era uma área coberta commuitas plantas que continham espinhos (acúleos), denominadas de coquinhodo brejo. Para realizar a drenagem, o deslocamento dentro da várzea, erafeito em cima de varas para não atolar. Vez ou outra, Alexandre se desequi-librava e caía dentro do alagado e, como consequência, atolava-se no barro eenchia-se de espinhos por todo o corpo e, durante a noite, Bela levava algumtempo para extraí-los.

Foto 28: Casa de Alexandre e Bela, em Santa Helena, ondeCriaram Todos os Filhos

Fonte: Foto do acervo da família.

Nessa propriedade também nasceram os demais filhos, na seguinteordem: Odílio, Geraldo Luiz, Maria Margarida, Roberto e Juarez, comple-tando oito filhos, quatro mulheres e quatro homens. Com tantos filhos nasci-dos a cada dois anos, sendo que as três primeiras filhas tiveram um intervalode um ano, Bela tinha muito trabalho.

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O nascimento de Odílio foi presenciado pela sobrinha Geni DeMartim Andrade, conforme seu relato, filha de Darcisa, irmã de Bela, quelecionava numa escola primária de primeira a quarta série para as crianças dacomunidade. A escola era localizada na propriedade do vizinho, AroneTaffner. Essa escola, posteriormente, passou a ser na propriedade de SebastiãoTaffner, filho de Arone, onde permaneceu por muitos anos e na qual Eurides,Maurilia, Dagmar e Odílio tiveram os seus primeiros ensinamentos.

Nessa época, conta Geni, Alexandre adquiriu a sua primeira vacade leite para alimentar as crianças que já eram quatro. Foi o início de umgrande rebanho. Ele usava os bovinos como caderneta de poupança. Quandoa situação financeira apertava, precisava de dinheiro para custear os estudosdos filhos, vendia algumas cabeças. Ele tinha um carinho especial com orebanho.

Foto 29: Alexandre, Roberto e Juarez

Fonte: Foto do acervo da família.

Alexandre era determinado, inteligente, muito trabalhador e objeti-vo, às vezes intolerante, tinha foco e sempre conseguia o que estabeleciacomo meta. Era um bom empreendedor. Teve muitos amigos, mas destes,dois, foram os maiores: Augusto Covre e Sebastião Taffner, com quem Ale-xandre confidenciava seus acertos, erros e momentos de dificuldade.

Alexandre e Bela tinham apenas a segunda série primária, mal sa-biam ler e escrever, mas isso não os impediu de dedicar todos os seus objeti-vos na educação dos filhos.

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Foto 30: Adultos � Darcisa, Virgínia, Bela, Ivete, Eurides e Irma.Crianças � Vandinha, Marli, Maria Margarida, Roberto,Juarez e Dagmar � 1954

Fonte: Foto do acervo da família.

5.2 O CARRO DE BOIS

Em Santa Helena, Alexandre continuou com a exploração de gua-xuma, cultivando a lavoura e adquiriu a sua primeira junta ou parelha debois, com os nomes de Laranja e Inhapim. Posteriormente, vieram outrasjuntas tais como: Navio e Pintado, Jagunço e Mimoso, Retrato e Piabanha. Oseu primeiro carro de bois foi construído pelo seu pai, Pietro Sepulcri, que,sendo agricultor, também era um bom carpinteiro. Foi o primeiro carro debois de Itarana com rodas de pneus, inclusive com freio de lona, usando paraisso um eixo dianteiro de um velho caminhão. Na comunidade, todos oscarros de bois eram construídos de madeira, inclusive as rodas, que no seumovimento ao serem puxadas pelos bois faziam um �cantado� (ruído) ca-racterístico. Pelo som desse ruído era possível identificar o seu dono.

Juntamente com a extração de fibra e o cultivo da lavoura, Alexan-dre iniciou uma nova atividade no transporte de café em coco para a FazendaToniato, que o beneficiava e comercializava. Transportava o café de toda avizinhança, fazia uma viagem por dia e, em cada viagem, levava cerca de 40sacas. Devido ao calor, Santa Helena é uma região com clima tropical, osbois não suportavam o trabalho durante as horas quentes do dia. Por isso,Alexandre trabalhava de madrugada, saía sempre às duas horas da manhã e

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lá pelas dez horas já estava de volta e dava descanso para os bois e só retor-nava essa atividade na madrugada do dia seguinte.

Foto 31: Carro de Bois Semelhante ao Usado por AlexandreSepulcri

No inicio do transporte do café, era auxiliado pelo empregado JoséBonéis, depois veio Délio Giostri e, mais tarde, por Maurilia, sua filha,quando já estava mais crescida.

Para conseguir algum dinheiro, Alexandre cortava lenha e vendiano mercado local de Itarana, atendendo vários de seus amigos com esse co-mércio.

Nessa atividade, Alexandre conseguiu capitalizar um pouco, o queo levou a adquirir um trator e mudar de atividade.

5.3 O TRATOR

Em 1956, Alexandre adquiriu um trator Ford equipado com arado egrade, beneficiando-se de um financiamento do Banco do Brasil e incentivo doGoverno Brasileiro, importando-o dos Estados Unidos da América. O carro deboi existente foi adaptado como carreta para o trator e utilizado para o trans-porte dos implementos (arado e grade) e para o transporte dos produtos dapropriedade, tais como: arroz, café, milho, lenha, tomate e vários outros.

Com o trator iniciou-se uma nova atividade. Além de usá-lo parapreparar o solo de suas terras, especialmente para o plantio do arroz irrigado,Alexandre prestava serviço de aração e gradagem para os vizinhos e comu-

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nidades adjacentes, entre elas: Sossego, Bom Destino, Lajinha, Triunfo, Cin-co Pontões, Santa Rosa e outras.

Foto 32: Alexandre em seu Trator, nos Anos 1950, Arando aTerra para o Plantio de Arroz

Fonte: Foto do acervo da família.

Na época de preparo de solo e de plantio, Alexandre passava váriosdias consecutivos fora de casa prestando esse serviço. Ele gostava muito detirar uma soneca após o almoço, enquanto isso, Odílio, seu filho mais velho,ainda adolescente, para a máquina não ficar parada nesse intervalo, pegava otrator e fazia o trabalho de gradagem, enquanto seu pai fazia a aração, queera um trabalho mais pesado.

Alexandre e Bela eram católicos praticantes, sempre tiveram muitafé. Nos períodos de Semana Santa e de outras festividades, Alexandre colo-cava bancos especiais na carreta do trator e transportava toda a vizinhançapara as festividades tradicionais, com a cobrança de um pequeno valor decada um. Durante todas as noites da semana havia comemorações específicase lá iam eles. Era um período de muita alegria e comemorações.

Alexandre também teve o seu lado político. No final dos anos 1950foi candidato a vereador e ficou como primeiro suplente da Câmara Munici-pal de Itaguaçu.

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5.4 O FORD BIGODE

O Ford bigode foi adquirido, principalmente, para dar conforto àfamília, ir à missa aos domingos, passear e visitar os amigos.

Foto 33: Ford Bigode, Semelhante ao de Alexandre

Na época, era o único veículo da comunidade, então passou a ser�pau para toda obra�. Além de atender à família, servia para o transporte dosvizinhos para os mais diversos motivos, especialmente quando havia neces-sidade de rapidez no deslocamento, principalmente no caso de acidentes e dedoenças.

Alexandre também o utilizava para os deslocamentos quando iaprestar serviços com o trator em distâncias maiores. Deixava o trator no localde serviço e se deslocava com a caminhonete. Odílio ajudava-o nessa tarefa:enquanto ele ia de Ford, Odílio levava o trator.

Foto 34: Volkswagem Brasília

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Após o Ford bigode, Alexandre teve duas VW Brasília. Uma delasadquiriu em Curitiba, quando, juntamente com Bela, foi visitar a família doOdílio e Maria Luíza Sepulcri e participar do casamento de seu filho Juarez,que se casou com Andyara.

5.5 O MOINHO DE PEDRA E A RODA D�ÁGUA

Na casa dos pais de Alexandre, quando moravam no Limoeiro, nafazenda de Joanim Scárdua, existiam dois moinhos de pedra para moagem demilho, transformando-o em fubá ou canjica, conforme a necessidade de cadafamília.

Alexandre, após ter drenado as suas várzeas, vislumbrou a possibi-lidade de também construir o seu moinho de pedra movido à roda d�água.Quando comentou essa possibilidade com os amigos e vizinhos, todos acha-ram uma �missão impossível�. Alexandre não desistiu da ideia. Contratouum agrimensor para calcular o desnível do riacho. Do local de onde preten-dia instalar o moinho até à divisa de sua propriedade, o desnível foi de cercade um metro e meio, não dando, portanto, queda suficiente para implementaro seu objetivo.

Foto 35: Roda D�água

Alexandre não desanimou, negociou com seu vizinho, amigo ecompadre Sebastião Taffner para avançar em sua propriedade cerca de seis-centos metros acima para captar a água, conseguindo, assim, o desnível ne-cessário para mover o moinho. A partir daí, foi construído um canal na en-costa do morro para levar a água até o local desejado. Com esse dispositivo,conseguiu-se instalar o moinho de milho. Frente a essa cortesia, Alexandreretribuiu ao Sebastião e a sua família a moagem gratuita do milho enquantoexistisse o moinho e assim o fez.

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Foto 36: Moinho de Pedra Transformando o Milho em Fubá

No moinho de pedra, para que se processe a moagem de milho,existem duas pedras redondas sendo uma fixa e a outra que gira sobre a fixa,impulsionada pela força da água. De tempo em tempo, há necessidade de sefazer a manutenção nas mesmas, através da operação denominada �picar apedra�, pois, com o tempo, elas ficam lisas e perdem a eficiência na moa-gem. Essa operação consistia em remover a pedra que girava e fazer peque-nas ranhuras nas superfícies de ambas. Existe uma técnica toda especial paraesse fim, com a utilização de talhadeira e marreta. Pietro Sepulcri era espe-cialista nessa arte e, sempre que Alexandre necessitava fazer a manutençãodo moinho, contava com a ajuda e a técnica de seu pai.

Foto 37: Pedra de Moinho em Posição para ser Picada

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Uma vez implantado o moinho, Alexandre iniciou a moagem demilho para toda a vizinhança e comunidades contíguas, a fim de fabricarem afamosa polenta italiana. Fazia esse serviço por meio da cobrança de um por-centual do fubá beneficiado. O moinho girava dia e noite, sem interrupção, àserviço da comunidade. Alexandre também produzia fubá para vender nocomércio de Itarana, a fim de conseguir algum dinheiro.

Periodicamente, para que o moinho de milho funcionasse bem, ha-via a necessidade de fazer a limpeza do canal de cerca de 800 metros quefornecia água para mover a roda d�água. Esse canal sempre era limpo com aajuda dos vizinhos.

5.6 CINCO PONTÕES

Alexandre já cultivava café em regime de meação, nas propriedadesde Sebastião Taffner e Ângelo Viganó, quando adquiriu a propriedade de CincoPontões, município de Afonso Cláudio, com dinheiro emprestado pelo seuCompadre José Perim, sem juros e sem prazo para pagamento. Cinco Pontõesera uma região de altitude elevada e com clima propício para a produção decafé arábica de boa qualidade. Alexandre iniciou, nessas terras, o plantio decafé em parceria com Doro Moral e Efigênio. Para isso, Alexandre pagavacerto valor por pé de café plantado pelos parceiros até iniciar a produção.

Foto 38: Planta de Café Arábica com Grãos Maduros, no Pontode Colheita

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Em poucos anos havia milhares de pés de café em produção. Erauma região de água abundante e lá, também, Alexandre construiu um moi-nho e uma máquina de beneficiamento de café. O café, durante muito tempo,foi a principal fonte de renda de sua família.

Quando o café diminuiu a produtividade e os preços passaram anão ser compensadores, Alexandre vendeu essa propriedade e aplicou o di-nheiro, em Santa Helena, adquirindo as terras dos Irmãos Taffner: Martinho,Calisto e Francisco (Alemão). Com isso, possibilitou ampliar a área de plan-tio e de pastagens, aumentando o rebanho bovino.

Foto 39: Pedra de Cinco Pontas que Deu Origem ao Nome doLocal

Fonte: Foto do acervo da família.

5.7 A ENERGIA ELÉTRICA

A primeira usina hidrelétrica, que gerava energia para todo o muni-cípio de Itaguaçu foi instalada em Jatibocas, atualmente distrito de Itarana.

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A linha de transmissão de energia que se dirigia ao Toniato passavacerca de um quilômetro da residência de Alexandre e, aproximadamente, atrês quilômetros do último vizinho da comunidade.

Em 1954, Alexandre liderou, juntamente com Sebastião Taffnere demais vizinhos, o movimento para ter acesso à energia elétrica. Istoimplicou em conseguir os recursos com a comunidade para custear a ins-talação da linha de transmissão, dos transformadores e demais equipa-mentos. A energia atendeu toda a comunidade de Santa Helena, propician-do todos os benefícios e confortos típicos desse serviço. O primeiro delesfoi a iluminação e o rádio, depois veio a água encanada bombeada pelabomba elétrica, banheiro interno (antes o banho era na bacia) geladeira,eletrodomésticos e por último, na década de 1960, a televisão. Quandocaía raio na fiação e queimava o transformador era um problema, a comu-nidade assumia o prejuízo, e nem sempre estava preparada para arcar comesses custos. Com o tempo, a prefeitura municipal incorporou essa linhade transmissão e assumiu tais custos.

Alexandre sempre teve espírito inovador e empreendedor.

5.8 O PLANTIO DE ARROZ

Antes de possuir o trator, Alexandre plantava pequenas áreas comarroz e, para isso, preparava o solo com o arado tracionado pela junta debois. O baixo rendimento desse trabalho não permitia o plantio de grandesáreas. Com a aquisição do trator, ampliou sua capacidade de trabalho e pas-sou a preparar todas as suas áreas de várzea para o plantio de arroz. Feitoisso, Alexandre dividiu o plantio de arroz em parceria com os seus vizinhosenvolvendo as famílias Viganó, Cancian, Mapelli, Guarnieri, Covre, Fiorotti,Rizzi e outras. Alexandre dava a terra preparada, os insumos e a irrigação.Os vizinhos entravam com a mão de obra, pois todo o restante da lavoura eracultivado manualmente. A partir daí, Alexandre passou a colher grandequantidade de arroz e ter uma nova fonte de renda. Todo esse arroz era seca-do ao sol, com a utilização de lonas de caminhões. Espalhava-se a lona noterreiro e, sobre ela, colocava-se o arroz. Quando vinha chuva era uma corre-ria danada para não deixar o arroz molhar. Era uma tarefa dura e todos dafamília participavam.

Alexandre também foi pioneiro na irrigação do arroz. Represava oriacho para proceder a irrigação. No período de irrigação, passava os dias nomeio do arrozal distribuindo a água. Ele adorava fazer esse trabalho.

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Foto 40: Cultivo de Arroz

Fonte: Foto do acervo da família.

Houve uma época que desconhecidos começaram a fazer sabota-gem, soltando a represa de água durante a noite. Alexandre arranjou um jeitode montar uma armadilha, somente com pólvora. Cercou toda a represa comum arame fino e conectou em uma armadilha. No escuro, as pessoas quepretendiam fazer a sabotagem, embaraçavam-se no arame, a armadilha dis-parava e explodia. De vez em quando, durante a noite, ouvia-se um estampi-do e a represa d�água nunca mais foi arrombada, mas também não foramdescobertos os sabotadores.

Alexandre armazenava toda a sua parte de arroz com casca e, àmedida que necessitava de dinheiro, beneficiava uma parte e vendia no co-mércio de Itararana.

5.9 A CHARRETE

A primeira charrete de Itarana foi a de Alexandre, construída peloseu pai Pietro Sepulcri. Pietro usou para sua construção, como poderá serobservado na foto, um eixo dianteiro de uma velha caminhonete e, sobre esseeixo, idealizou e construiu a charrete. Isso a diferenciava das demais charretes.

Nessa época, Délio acompanhava Dona Bela e as crianças, de char-rete, pois todos ainda eram muito pequenos, nas visitas a seus pais Guerino eMaria Coser Demoner e a seus irmãos, no Bom Destino.

A charrete foi o primeiro e mais importante veículo de transporteda família. Servia para ir à missa aos domingos, levar as crianças à escola edepois ao ginásio, visitar os amigos, transportar doentes, fazer as compras

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das mercadorias, principalmente aves (frangos) e ovos que Alexandre reven-dia em Vitória, juntamente com os legumes, verduras e frutas, tomate, prin-cipalmente, pimentão repolho e mamão, produzidas em sua propriedade.

Foto 41: Charrete da Família Sepulcri. Maurilia Acompanhada desuas Amigas

Fonte: Foto do acervo da família.

O transporte dos filhos para o colégio primário e ginasial em Itara-na foi feito de charrete, a princípio, em parceria com o vizinho SebastiãoTaffner, em semanas alternadas. Utilizava-se uma só charrete para o trans-porte dos alunos de ambas as famílias. Numa ocasião, Moacir Taffner guiavaa charrete e, próximo à casa de Alexandre, esta se desgovernou e bateu noesteio da porteira, quebrando os dois varais que a prendiam ao cavalo, derru-bando todos. O cavalo saiu em disparada, só parou na porteira seguinte. Fe-lizmente ninguém se machucou gravemente, apenas pequenos arranhões.

Numa das viagens para Itaguaçu, cidade vizinha a Itarana, estavamjuntos Bela, Odílio e Maria Margarida. Já chegando próximo ao destino, ocavalo Baio (seu nome) tropeçou e caiu e todos caíram juntos sobre o leitopedregoso. Bela bateu com os joelhos e os cotovelos sobre essas pedras,ferindo-se profundamente. Ao cair, Bela ficou com a cabeça atrás da roda. Ocavalo, ao tentar se levantar, movimentou a charrete para trás, prensando acabeça de Bela entre o solo e o pneu. Maria Margarida, ao ver essa cena,chorava e empurrava a roda da charrete para frente a fim de proteger suamãe. Esse fato foi extremamente emocionante. Depois, foram socorridos por

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Maria do Sereno que era amiga da família e fez a limpeza e os primeiroscurativos em Bela até que chegassem ao médico em Itaguaçu.

O estudo ginasial da quinta à oitava série era no período da noite,das dezenove às vinte e três horas. No primeiro ano, Odílio estudava sozinhoe fazia o trajeto de seis quilômetros da residência ao Ginásio em Itarana a pé.Dormia na cidade, na casa da tia Mariquinha, que tanto o ajudou nesse pe-ríodo, e retornava pela manhã do dia seguinte. Durante o dia trabalhava naroça e retornava à noite para a aula e, às vezes, dormia pelo cansaço. Certodia, Maurilia, ao lavar sua camisa de uniforme, encontrou em seu bolso umbilhete com os seguintes dizeres �lugar de burro é no pasto, mande esse bur-ro pro pasto�. Isto serviu de estímulo a Odílio, e ele disse: �vou mostrar aquem escreveu esse bilhete que serei um vencedor�.

A partir do segundo ano, iniciaram os estudos Eurides, GeraldoLuiz e, posteriormente, Maria Margarida, e a charrete entrou em ação. A idae o retorno era no mesmo dia, chegando em casa, todos os dias, em torno dameia noite. Odílio e Geraldo Luiz revezavam-se, uma semana para cada um,na tarefa de pegar o animal, arriá-lo, colocá-lo na charrete e prepará-lo paraas viagens diárias. O vizinho e amigo da família, Vanderlei, pegava caronadiariamente nesse trajeto.

Vanderlei era muito medroso. Ao descer da charrete, todas as noi-tes percorria alguns metros até entrar em sua casa, passando por algumasárvores de eucalipto que continham muitas folhas soltas ao chão. GeraldoLuiz ao perceber o seu medo, sem ele perceber, pegou uma pedra arredonda-da de cerca de uns dois quilos e colocou na charrete e, quando ele desceu,despediu-se e dirigiu-se à sua casa. Geraldo Luiz jogou-a, deslizando nasfolhas secas, fazendo um barulho característico. Vanderlei assustou-se e saiucorrendo atrás da charrete gritando socorro. Seus pais acordaram assustados.Teve-se que parar a charrete, socorrê-lo e ainda aguentar o sermão de seuspais, que não gostaram nada da brincadeira.

Acidente � era período de provas parciais (antigamente existia isso).Tinham levantado de madrugada para estudar, e lá foram eles, de charrete,para fazer as provas. Na estrada, encontraram o pai deles, Alexandre, quevinha de Vitória onde foi comercializar a sua mercadoria. Alguns quilôme-tros depois, no morro do sabão, o cavalo assustou-se com umas folhas decoqueiro que estavam estendidas no barranco da estrada. Odílio, que estavaguiando o animal, não conseguiu contê-lo, e o cavalo saiu em disparada,subiu no barranco lateral do outro lado da estrada e, com o solavanco dacharrete, jogou ao chão Odílio, Geraldo Luiz e Vanderlei. As duas meninas,Eurides e Maria Margarida, permaneceram em cima da charrete gritando e

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fazendo as suas preces. O cavalo foi parar cerca de um quilômetro adiante.Odílio, ao cair, bateu com a cabeça no chão e perdeu a memória por algunsminutos, não sabendo o que ia fazer, e Geraldo Luiz ficou cheio de hemato-mas. Com Vanderlei nada aconteceu. Em seguida, passou um amigo pelolocal e levou o recado do acidente a Alexandre, que veio imediatamente elevou seus filhos ao médico na cidade de Itaguaçu. Eurides, Maria Margaridae Vanderlei fizeram as provas normalmente e Odílio e Geraldo Luiz tiveramque fazer prova de segunda chamada.

5.10 A CRIAÇÃO DE ABELHAS

Nas imediações de seu quintal, Alexandre possuía uma criação deabelhas europeias com cerca de vinte colmeias. Na época da florada dasplantas e de produção de mel, Alexandre juntava a filharada para colher mel.Todos organizavam suas máscaras para se protegerem das picadas das abe-lhas e lá iam para a tarefa. Os favos de mel eram desoperculados, centrifuga-dos e o mel era embalado em litros ou em latas com a capacidade de vintelitros e depois vendido no comércio local.

Na época de safra de mel, as colmeias estavam bem povoadas comabelhas. Havia muitos pássaros que se alimentavam das abelhas, especial-mente o bem-te-vi. Próximo das colmeias existia uma árvore denominada degarapa, onde os pássaros capturavam as abelhas e pousavam para descanso epreparar novo ataque. Alexandre, com o intuito de proteger suas colmeias,posicionava-se, escondendo-se debaixo da árvore com uma espingarda namão e atirava nos pássaros. Havia tardes que chegava a abater vinte deles.Délio Giostri é que fazia a festa com uma bela fritada de passarinho ao mo-lho com polenta.

5.11 FIDALGO, O CÃO AMADO

Na casa de Alexandre e Bela sempre existiram muitos cães, como oRex, Guarani, Chatinho, Lobo, Fidalgo e tantos outros. Esses cães tinham opapel de vigiar a propriedade e na lida do rebanho bovino.

Fidalgo, cão da raça Pastor Alemão, foi doado a Odílio pela direto-ra do Grupo Escolar Luiza Grimaldi, Senhora Dagmar Borges (Dona Diná),quando ainda pequeno. Cresceu junto com a família. Era de uma inteligênciarara, obediente. Entendia tudo o que se falava com ele, era admirado por todaa vizinhança. Muitos faziam oferta para comprá-lo.

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Estava sempre junto no trabalho da família, seja na carreta do tratorou na carroceria do caminhão, prestando sua solidariedade, sempre atento,pronto para agir.

No manejo do gado bovino era imbatível. Santa Helena, onde,moravam, era uma região de relevo muito acentuado, cheia de morros e,muitas vezes, os bovinos estavam nas pastagens sobre esses morros a maisde um quilômetro de distância. Era só chamar Fidalgo, mostrar onde esta-vam os bovinos e, ao vê-los, ele se dirigia ao rebanho e mordia a perna deum, o rabo de outro, em poucos minutos a boiada estava reunida em tornodo curral.

Foto 42: Cão da Raça Pastor Alemão Semelhante ao Fidalgo

Fonte: <http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://marcelolauriano.hd1.com.br/caes/img/pastor_ale_03.jpg>. Acesso em: 04 fev. 2012.

Na frente da casa de Alexandre e Bela havia um poste com umalâmpada que permanecia acesa todas as noites para iluminar os arredores dacasa. Em torno da casa havia uma cerca de madeira, denominada gradilho,que separava os animais da residência, inclusive os cães.

Certa noite, muito escura, a lâmpada da frente da casa estava quei-mada. De repente, iniciou-se uma briga de cachorros. Salvador, empregadoda família, saiu de revólver em punho para verificar o que estava ocorrendo.No escuro, Fidalgo, ao vê-lo, veio a seu encontro para agradá-lo e Salvadorse assustou e atirou no cachorro. A bala atravessou o seu coração, levando-oà morte. Foi muito triste, todos choraram, foi como se perdessem um com-ponente da família.

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5.12 O PLANTIO DE TOMATE

Segundo Luiz Helvécio Fiorotti, Alexandre foi pioneiro no plantiode tomate em Itarana e em desvendar o mercado de Vitória e Colatina comos seus produtos, especialmente o tomate.

O café tem característica bianual, ou seja, praticamente geravarenda a cada dois anos. Com a decadência do café, e tendo vendido a pro-priedade de Cinco Pontões, Alexandre começou a pensar em novas alter-nativas de renda, com fluxo de entrada de receitas com mais frequêncianos meses do ano e que lhe desse mais segurança nos estudos dos filhos ena manutenção e qualidade de vida da família. Foi quando surgiu a ideiado plantio de tomate. Mas, como plantar essa cultura, se nada sabia de suatecnologia e das características de seu mercado? Teve notícias que emItaguaçu, cidade vizinha a Itarana, havia uma unidade da Associação deCrédito e Assistência Rural do Espírito Santo (ACARES), cuja finalidadeera dar assistência técnica aos agricultores, especialmente aos interessadosem atividades inovadoras. Alexandre entrou em contato com o EngenheiroAgrônomo, Dr. Hélio, responsável por esse trabalho, e convidou-o paravisitar sua propriedade em Santa Helena. Chegando lá, Alexandre expli-cou os seus planos ao agrônomo que, imediatamente, prontificou-se a en-sinar todos os procedimentos para o plantio do tomate. Iniciaram naquelemesmo dia, com a escolha do terreno, do local mais apropriado para acultura, a melhor época do ano para o plantio, uma vez que Itarana possuium clima quente, o tomate deve ser sempre cultivado no inverno, em fun-ção das características dessa cultura. Orientou na aquisição de insumostais como sementes, fertilizantes, matéria orgânica (esterco de gado curti-do) e outros.

Combinaram que a cada fase importante da cultura Dr. Hélio deve-ria estar presente. A primeira visita foi para fazer a semeadura do tomate,incluindo o preparo do canteiro, semeadura e tratos culturais iniciais.

A segunda visita de Dr. Hélio foi para fazer o transplante das mu-dinhas da sementeira para um canteiro maior, colocando-se uma muda dis-tante da outra, em cerca de dez centímetros e permaneceram ali até alcança-rem cerca de vinte centímetros de altura. Essa tarefa era denominada de repi-cagem das mudas. Orientou, também, o controle de insetos e de fungos, co-muns nessa hortaliça.

Na terceira visita, orientou a preparar o local definitivo de plantio,incluindo o coveamento, adubação, sistema de irrigação e efetuar o plantiodas primeiras mudas nesse local.

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Foto 43: Plantio de Tomate Tutorado com Estacas de Bambu

A quarta visita foi para orientar o tutoramento do tomateiro, quan-do as plantas atingiram cerca de quarenta a cinquenta centímetros de altura.Esse procedimento era feito com estacas de bambu com cerca de dois metrosde comprimento, apoiadas em um fio de arame fixado em mourões e esten-dido ao centro, a cada duas fileiras. Orientou como eliminar as brotações emexcesso e como conduzir as plantas em cada tutor, amarrando-as com fibrade guaxuma e, posteriormente, com fibras de bananeira, especialmente pre-paradas para esse fim. Ensinou a preparar a calda para combater os fungos,caso viessem a ocorrer na plantação e como manusear o pulverizador, de-monstrando como fazer uma pulverização correta.

A quinta visita de Dr. Hélio foi quando apareceram os primeirosfrutos maduros, para orientar a primeira colheita, a embalagem, a classifica-ção e como prepará-los para o comércio.

O tomate, depois de colhido, era colocado sobre uma lona esten-dida ao chão, onde era classificado por tamanho e embalado, em caixas�K� de madeira, com a capacidade aproximada de vinte e dois quilos. Ha-via classificações: boca oito, seis ou dez; isso significava que cada fileira,

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dentro da caixa continha esse número de tomates e servia de referênciapara serem estabelecidos os preços pelos compradores no mercado deVitória e de Colatina.

Foto 44: Primeiro Caminhão � Chevrolet, 1952 Adquirido em1958 para o Transporte de Tomate

Fonte: Foto do acervo da família. Maria Margarida e Marli Demoner.

A partir daí, Alexandre partiu para o mercado. Primeiramente,contratou transporte para os seus produtos mas, em seguida, adquiriu o seuprimeiro caminhão.

Dr. Hélio continuou as visitas à propriedade de Alexandre, só quede maneira mais espaçada, até concluir o ciclo do tomate. Concluído o ciclodesse primeiro plantio, Alexandre já se considerava apto a enfrentar sozinhoos segredos da cultura de tomate, nos próximos cultivos e passou a dividir osseus conhecimentos com os vizinhos que iniciavam essa atividade. Itarana,em pouco tempo, tornou-se um grande pólo de produção de tomate. Alexan-dre continuou o plantio de tomate e outras espécies, tais como quiabo, pepi-no, pimentão, repolho e mamão.

Alexandre fazia uma a duas viagens a Vitória, semanalmente, paralevar a sua mercadoria. Além das verduras comercializava, também, aves eovos, milho, feijão, carne e banha de porco e, algumas vezes, pimenta doreino, a qual levava no meio da mercadoria para não pagar imposto.

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Foto 45: Os Oito Filhos de Alexandre e Bela (em pé: MariaMargarida, Dagmar, Maurilia e Eurides. Abaixados:Juarez, Roberto, Odílio e Geraldo Luiz) � 1972

Fonte: Foto do acervo da família.

Guerra de tomate � quando Alexandre viajava às segundas feiras, otomate era colhido, selecionado e embalado no domingo. Isso era motivo paratoda a vizinhança se reunir para fazer um mutirão na colheita. Após o término,sobravam muitos tomates que não serviam para o comércio e iniciava-se aguerra de tomate entre os participantes. Era a parte mais divertida do dia. Mui-tos contribuíam com a colheita para poder participar dessa brincadeira.

À medida que os vizinhos iniciavam o plantio de tomate, Alexandrecomeçou a transportar suas mercadorias e, para isso, teve que comprar um novocaminhão, um Chevrolet vermelho, 1970. Nas viagens, saía sempre de madru-gada para chegar ao mercado da Vila Rubim, em Vitória, ao amanhecer. Leva-va os vizinhos com ele para que eles mesmos realizassem o comércio de seusprodutos e passassem a dominar a arte do mercado. Alexandre gostava muitodo que fazia, era uma pessoa alegre, comunicativa, tinha sempre a última piadana ponta da língua, era uma pessoa que transmitia felicidade.

Em 1973, Alexandre acidentou-se na Serra do Fundão com o cami-nhão carregado de tomate. Esse relato é feito por Antônio José Viganó, que oacompanhava nesse momento. Alexandre, para não deixar os clientes sem otransporte, foi na agência Chevrolet em Colatina, vendeu o caminhão acidenta-do e adquiriu outro, de cor amarela, mesmo tendo um prejuízo considerável. Asua paixão, porém, era mesmo o Chevrolet de cor vermelha, o acidentado.

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5.13 A IGREJA DE SÃO SEBASTIÃO

Alexandre sempre foi muito devoto de São Sebastião. Acreditavaque o Santo protegia o seu rebanho de possíveis doenças. Todos os anos, nacomemoração do santo, no dia 20 de janeiro, doava um novilho para as festi-vidades.

Essa devoção fez com que Alexandre, juntamente com um grupo deamigos, liderasse a construção da igreja de São Sebastião de Itarana. No localhavia uma pequena capela que foi demolida para a construção da nova igreja.Para arrecadar recursos para a sua construção, foi organizado um sistema deleilões na Igreja Matriz, durante vários dias e a cada dia de leilão, uma famíliaera indicada como leiloeira e promovia o leilão de uma noite, depois de terpercorrido toda a sua comunidade arrecadando prendas de seus vizinhos.

Para Luiz Helvécio Fiorotti, Alexandre, pela sua fé, além de ser umdos líderes desse processo, era o encarregado de contatar os amigos e pesso-as conhecidas para solicitar e fazer pedidos extras para a doação em benefí-cio da construção da igreja. Assim, conseguiram realizar o objetivo final coma inauguração da Igreja. Anualmente, no dia 20 de janeiro, ocorriam as festasem homenagem a São Sebastião.

Foto 46: Igreja de São Sebastião � Itarana

Fonte: Foto do acervo da família.

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Segundo Luiz Pesente, Alexandre, seu compadre, transportou comele, em seu trator, toda a areia necessária para construção da igreja. Luizretirava a areia do Rio Santa Joana, tracionada pelos bois e a colocava onde otrator poderia chegar para o seu transporte até o local da construção.

Alexandre transportou a madeira (varões) para fazer os andaimesda Igreja. Para isso, engatava duas carretas no trator, uma atrás da outra, parapoder transportá-las em função de seu comprimento.

Quando o Vaticano publicou a relação de Santos que eram conside-rados Santos, mas que não foram canonizados, São Sebastião fazia parte dessalista. Em função disso, o vigário da paróquia de Itarana, Padre Álvaro Regazziquis demolir a igreja, ignorando a fé, a história e a cultura do povo. Essa atitu-de provocou uma grande indignação em todos aqueles que se mobilizarampara a sua construção. Alexandre liderou o movimento contra a demolição e,depois de muita �encrenca�, de idas e vindas, o movimento conseguiu mantera igreja intacta, perdendo apenas um lote de terras que fazia parte se seu pátio,reduzindo assim o espaço disponível para as festividades.

5.14 A TELEVISÃO

Em Itarana havia um técnico em eletrônica, José Vieira Malta, quecolocava todo o seu conhecimento em benefício da comunidade. Por volta de1930, surgiram em Figueira de Santa Joana, posteriormente Itarana, os pri-meiros aparelhos de rádio. Entre 1945 e 1946, por sua iniciativa, foi instaladaa primeira rádio de Itarana, denominada �Rádio Difusora de Itarana�, 1500KC (VENTORIM, 1990).

No início dos anos 60, mais precisamente em 1962, com a difusãoda televisão brasileira, José Vieira Malta iniciou suas ações nesse campo.Para que Itarana e comunidades adjacentes tivessem acesso ao sinal de tele-visão, ele fez um estudo e decidiu implantar uma antena de TV no alto daPedra da Onça26.

O empreendimento foi um sucesso. Logo depois de implantada areferida antena, todos tiveram, gratuitamente, o acesso ao sinal de TV, desdeque tivessem o aparelho com os seus devidos equipamentos, que o próprioJosé Vieira Malta se encarregava de instalar.

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Em 1942, Figueira de Santa Joana passou a ser denominada de Itarana. Em tupi-guarani:Pedra da Onça, referência a um monumento natural e paisagístico do mesmo nome,localizado nas cercanias da cidade. Nesta época, foi descoberta uma jazida de água-mari-nha no local, o que contribuiu para o desenvolvimento da região (VENTORIN, 1990).

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Foto 47: Pedra da Onça

Fonte: Foto do acervo da família.

Alexandre e Bela foram dos primeiros a se beneficiar desse con-forto. Alexandre, imediatamente, foi a Vitória e retornou com o aparelho deTV que, em poucos dias, estava instalado. Alexandre e Bela não saíam dafrente da televisão e viraram fanáticos por novelas. Quando havia algumproblema no sinal de TV, Alexandre pegava o carro e saía para Itarana, de-sesperado atrás do José Vieira Malta para resolvê-lo. Naquela época nãoexistia telefone no meio rural e, para se ter acesso à informação, só indo atrásdela. O meio de comunicação usual era mandar recado para as pessoas ou iraté elas.

Pela curiosidade que a televisão despertava, durante as noites e nosfinais de semana, a casa de Alexandre e Bela se enchia de vizinhos para co-nhecerem a novidade.

José Vieira Malta foi Prefeito de Itarana no período de 31.01.1971a 31.01.1977.

5.15 A ORGANIZAÇÃO DA FAMÍLIA

Em uma família descendente de italianos, a palavra de ordem eratrabalho e mais trabalho. Todos os filhos tinham que contribuir de algumaforma, dentro de suas possibilidades. Na cultura local era comum as mulhe-res ajudarem os maridos no trabalho da roça. Alexandre nunca admitiu essetipo de atitude e jamais Bela saiu de dentro de sua casa, de seus afazeres

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domésticos para o trabalho na lavoura. Alexandre, quando não dava conta dotrabalho com os filhos, pagava para que terceiros realizassem o serviço.

Assim que os filhos cresceram, cada um teve a sua função. Euridese Dagmar cuidavam da casa e da comida. Maurilia era a responsável pelaordenha das vacas, diariamente, e prender os bezerros nos finais da tarde e,também, ajudava na roça, quando necessário. Bela, além de administrar o larem todas as suas dimensões, era uma excelente costureira. Costurava a roupade toda a família, também respondia pela fabricação de queijo que consumiamcom polenta. Odílio alimentava os suínos diariamente e, logo que completoudoze anos, passou a ajudar seu pai na lida com o trator. Juntamente comGeraldo Luiz, de charrete, faziam as compras das mercadorias, principal-mente aves e ovos, que seu pai comercializava em Vitória em suas viagenssemanais quando ia vender tomate e outras verduras.

A tarefa mais odiada por Odílio era preparar o milho para o moinhode pedra. Consistia em descascar, debulhar, peneirar e ensacar o milho. Tudoera feito manualmente, um trabalho escravizante. Mesmo no período de chu-va, iam para o paiol para essa tarefa. O moinho trabalhava vinte e quatrohoras por dia, era um devorador de milho. Quando não havia milho dos vizi-nhos para moer, utilizava-se milho próprio.

Foto 48: Alexandre e Bela com os Filhos e NetosEm pé: Bela, Alexandre, Geraldo Luiz, Roberto, Juarez eDjalma. Abaixados: Maisa, Maria Margarida, Dagmar,Elizabeti, Gizeli, Maurilia e Eurides

Fonte: Foto do acervo da família.

Eurides, logo após terminar a quarta série primária, foi convidadapara lecionar em Bom Destino, município de Itarana, por um período de seis

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meses, em substituição à professora titular, Ana Herzog Demoner, sua tia,que estava grávida.

Terminada essa substituição, voltou para casa e, em seguida, foiconvidada para substituir Odilia Demoner de Carvalho, também em períodode gravidez, em Cinco Pontões, município de Afonso Cláudio, na mesmafunção de professora. Retornando à sua casa, iniciou o curso ginasial emItarana, juntamente com seus irmãos. Concomitantemente, substituiu Lour-des Toniato Rocha, na Escola de Sossego, por ocasião de sua �Licença Prê-mio�. Como ela demonstrava ter dom para a profissão, Alexandre conseguiu,junto aos responsáveis pela educação do Município na época, que ela lecio-nasse na Escola Baixo Sossego, também no Município de Itarana. Essa ativi-dade durou dois anos letivos.

Depois, foi para Itaguaçu, onde fez o curso médio de professora e,posteriormente, formou-se Pedagoga em Colatina e, quando atuava na Se-cretaria de Estado da Educação, fez pós-graduação. Daí, continuou sua car-reira profissional de professora, assumindo várias funções no Estado do Es-pírito Santo. Eurides é casada com Gessy Amaral.

Foto 49: Gessy, Eurides, Maria Luiza e Odílio � 2011

Fonte: Foto do acervo da família.

Maurilia, após concluir a quinta série do primeiro grau, continuou,junto com os pais, ajudando Bela quando dispunha de tempo. Além de seutrabalho diário de ordenha das vacas, ajudou muito a família no trabalho como trator e com o caminhão. Cada vaca tinha um nome: Açucena, Fonte Nova,Morena, Branquinha, Pintada e tantos outros. Todas atendiam pelo nome.Quando por algum motivo o bezerro perdia a mãe, era criado por Maurilia namamadeira, como se verifica na foto a seguir.

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Foto 50: Maurilia Alimentando o Bezerro na Mamadeira

Fonte: Foto do acervo da família.

Seu pai gostava muito de sua disposição. Para ela não havia temporuim. Todos os irmãos reconhecem que Maurilia, junto com os pais, foiquem mais contribuiu para seus estudos. Nessa época, contou com grandecontribuição de Alemão Taffner, que trabalhou vários anos para a família.Maurilia casou-se com José de Souza Gonçalves em 30 de março de 1975.

Dagmar, após concluir a quinta série, continuou o seu trabalho nacozinha. Era a �chefe de cozinha�. Para Dagmar não era tarefa fácil prepararrefeições quatro vezes por dia para doze pessoas, os pais, oito irmãos e maisdois empregados. No início o almoço era pela manhã, em torno das novehoras. Posteriormente, passou para o meio-dia. Claro que Dagmar tinha ocomando de Bela e o apoio das demais irmãs. Odílio afirma que era umacomida muito saborosa e não se repetia o cardápio durante a semana. O des-jejum era leite com polenta e pão caseiro feito por Bela. A comida que elemais gostava era queijo frito e polenta frita. Lembra que, em todas as férias,quando voltava dos estudos, sua mãe o esperava com sua comida preferida.Dagmar é divorciada de Djalma Venturini e casada com Arnildo Bernardes.

Odílio, quando concluiu o Ginásio em Itarana, queria continuar osestudos. Numa conversa de família, Alexandre disse: �Odílio, por ser o maisvelho, poderia ficar me ajudando na propriedade�. Bela retrucou: �Nadadisso, ele deverá continuar os estudos, gostaria que ele tivesse uma vidamelhor do que essa que temos aqui na roça�. Esse objetivo foi mantido paratodos os filhos.

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Tomada a decisão, Odílio foi procurar um colégio gratuito, tendoem vista que a família era numerosa e praticamente impossível pagar colégiopara todos. O primeiro alvo foi o Colégio Agrícola de Santa Tereza, masnão havia vaga. Então, Odílio soube que José Carlos Fardim, residente emItarana, cujos pais eram amigos de seus pais, estudava em um ColégioAgrícola situado em Campos, no Estado do Rio de Janeiro. Odílio o procu-rou e propôs pagar as suas despesas para que ele fosse a Campos verificarse havia vaga. José Carlos voltou com a vaga. Em consequência, Odílio, apartir de 1962, foi cursar o nível médio profissionalizante no Colégio Agrí-cola de Campos. Terminado o curso, em 1965, conseguiu vaga através daAssociação Brasileira de Crédito e Assistência Rural (ABCAR) para tra-balhar como Técnico Agrícola na Associação de Crédito e Assistência Ru-ral do Paraná (ACARPA).

Para a viagem até Curitiba, Odílio precisava de algum dinheiro eseu pai, Alexandre, estava sem disponibilidade na época. Alexandre pediua Odílio que fosse até o seu compadre, Arlindo Covre, solicitar dinheiroemprestado. Arlindo prontamente emprestou cem mil cruzeiros (moeda daépoca), o que viabilizou a sua viagem. Na despedida, Alexandre disse aOdílio: �Meu filho você sabe que o dinheiro aqui na roça é difícil de ga-nhar, faça economia em tudo que puder, porém jamais faça economia parase alimentar�. Odílio trabalhou na Acarpa por quatro anos, indo depoiscursar Engenharia Agronômica no Rio Grande do Sul, na UniversidadeFederal de Pelotas, no período de 1970-1973. Seu curso foi custeado pelaAcarpa, por meio de bolsa empréstimo de um salário mínimo e meio men-sal, por um período de quarenta e oito meses. Depois de formado, retornouà Acarpa e reembolsou esses valores na mesma proporção. Casou-se comMaria Luíza em 15.12.1973.

Com a ida de Odílio para o colégio agrícola, Geraldo Luiz o subs-tituiu em suas atividades na propriedade, até concluir o ginásio. Em 1966,seguiu para o mesmo Colégio Agrícola em que estudou Odílio que, ao sair,já havia negociado com a direção do mesmo a sua vaga. Concluído o Cursoem 1968, foi cursar Medicina Veterinária na Universidade Federal Rural doRio de Janeiro, sendo diplomado em 1973.

Maria Margarida, Roberto e Juarez tiveram uma rotina mais tran-quila na família, uma vez que o caminho já havia sido desbravado pelos maisvelhos. Porém, com a saída deles para os estudos, passaram a substituí-los noque eles faziam.

Maria Margarida recebeu esse nome como homenagem de seuspais às avós. Enquanto ela terminava o ginásio em Itarana, continuava a aju-dar Bela nos afazeres da casa. Após concluir o ginásio, foi fazer o curso

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Magistério em Itaguaçu, tendo concluído em Itarana no ano de 1969. Inicioua carreira de professora no mesmo município, em Baixo Sossego (1970) eSanta Helena (1971). No ano de 1972 prestou concurso público e foi traba-lhar em Nova Venecia, no norte do Estado, ficando por lá dois anos.

Posteriormente, fez o curso Superior de Pedagogia na Faculdade deCiências e Letras de Colatina (1974-1977). Após alguns anos de trabalho, fezpós-graduação em Supervisão Escolar, encerrando sua carreira na Superin-tendência de Educação em Santa Teresa, em 2001. Casou-se com CarlosJorge Diniz em 27/12/1975.

Roberto foi quem teve a vida mais mansa. Quando pequeno, diziaque queria seguir a vida religiosa, talvez por desejo e influência dos pais.Quando solicitado, imitava o vigário celebrando a missa. Então, a família ocolocou no Seminário Marista em Marilândia-ES. Terminado o ginásio de-sistiu da vocação e foi cursar o nível médio em Vitória. Posteriormente con-cluiu o curso de Ciências Contábeis. Em consequência de todas essas mu-danças, escapou da roça.

Juarez, o mais novo da turma, aguentou o rojão do dia a dia da pro-priedade, pois no seu tempo estavam lá Alexandre e Bela, Maurilia e ele. Osdemais estavam estudando. Juarez concluiu o ginásio em Itarana e tomou omesmo rumo de Odílio e Geraldo Luiz no Colégio Agrícola de Campos.Depois de formado foi trabalhar no Paraná e se casou com Andyara Tatarém,em 1980.

5.16 O BURRO DO BAIANO

Maurilia sempre teve um espírito brincalhão. O burro (muar) doBaiano, vizinho da propriedade, seguidamente dava uma fugida e frequen-tava os pastos de Alexandre juntamente com o seu rebanho. Determinadodia, Maurilia prendeu-o no curral e amarrou em seu rabo, com muito capri-cho, uma lata vazia de querosene com capacidade de cerca de vinte litros.Ao soltá-lo, o burro saiu em disparada, a lata batia em suas pernas e o ani-mal ficou desesperado. Dava pulos, coices, rabixada, fazia de tudo e a latanão soltava. Foi parar a quilômetros de distância, até que, depois de ficaresgotado de cansaço, um vizinho pegou-o e retirou a lata. Isto foi causa demuita bronca do Baiano, inclusive creditava a Maurilia de ter estragado oseu burro. Segundo ele, após esse episódio, o animal, que era utilizado paramontaria, nunca mais foi o mesmo, pois se assustava com qualquer coisa equem estivesse na montaria corria o risco de ser derrubado, se não estives-se atento.

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5.17 AS FÉRIAS NA ROÇA

No período letivo, todos os filhos estavam estudando em diversaslocalidades. Nas férias de julho e de final de ano, todos se reuniam na casados pais. Era uma festa total. A casa ficava cheia de colegas de estudo, ami-gos, vizinhos e de candidatos a genro e nora.

Alexandre e Bela, apesar de pouco estudo, foram evoluindo juntocom os filhos e ficavam muito felizes quando todos estavam em casa e rece-biam muito bem seus colegas e amigos. Alexandre era muito alegre e comu-nicativo, tinha assunto para qualquer pessoa em todos os níveis.

Cristina Demoner Muniz e Marcelo Colnago sempre passavam su-as férias na casa de Alexandre e Bela.

Foto 51: Maria Luiza, Dagmar, Gildomar, Gizeli, Elizabeti,Maurilia, Maria Margarida e Maisa � 1972

Fonte: Foto do acervo da família.

Em Santa Helena havia muitas frutas e várias opções para diversão:andava-se a cavalo, de charrete, de trator, de Ford bigode, jogavam-se cartas,além das brincadeiras tradicionais da cultura local.

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Alexandre fez alguns tanques e caixas d�água para a irrigação detomate e que, nos fins de semana, eram utilizados como piscina. Reuniam-semuitos jovens e amigos em torno da �piscina� e se divertiam a valer.

A família Sepulcri, ora com Taffner, ora com Covre eram insepa-ráveis, estavam sempre juntas. Uma das coisas mais divertidas no meio ruraleram os bailes nos finais de semana e as festas juninas. O forró era realizadoem casas de famílias das comunidades, muitas vezes sem existir salões espe-ciais. Os irmãos Joaquim e José Luiz Cancian também eram companheirospara essas ocasiões. Francisco Taffner (Alemão) era o gaiteiro, tocava a noitetoda, fazia tudo isso por amor e prazer, sem ganhar nada em troca.

5.18 O CARNAVAL DE ITARANA

O carnaval de Itarana sempre foi muito animado. Constam dos re-latos de Luciano Ventorim (1990) �que nos anos de 1932-1934, a cidadepossuía dois blocos carnavalescos, as famílias participavam com entusiasmoe desfilavam até em Itaguaçu�.

Nas férias escolares, lá iam, todos mascarados, participar dos blo-cos de rua e depois dos bailes noturnos no Clube de Regatas do Flamengo deItarana.

No carnaval de 1970, Odílio estava de cabeça raspada, pois haviapassado no vestibular de Engenharia Agronômica. Reuniram-se a famíliaTaffner e Sepulcri: Evilásio, Eraldo, Solimar, Maria Helena, Eurides, Maurilia,Maria Margarida, Geraldo Luiz, Odílio e os amigos e primos, como MariaCristina, que estavam passando férias na casa de Alexandre e Bela, e forampara a primeira noite de carnaval num sábado. Durante o baile transcorreu tudobem. Já no final �quebrou o pau�: a turma de Itarana contra o grupo deles (defamília). Foi pontapé para lá, soco para cá, um tentando proteger o outro.Geraldo Luiz e Evilásio deram soco até no vento. A confusão foi se desenro-lando em direção à porta de saída do clube. De repente, era toda a cidade con-tra eles. Saíram correndo, pegaram o caminhão, antes conferiram se todosestavam presentes, e fugiram em disparada. Ao contar o ocorrido para Alexan-dre, ele ficou muito preocupado e disse �se foi assim no primeiro dia, comoserá nos demais�. No dia seguinte, encarregou-se de ir a Itarana e selar a pazcom todos os envolvidos. Falou com os pais, com os envolvidos, com a políciae a segurança, enfim, negociou para que todos se divertissem civilizadamente.Nas noites seguintes, eles também reforçaram o grupo deles com a famíliaCover e organizaram estratégias para enfrentar uma possível briga mas, feliz-mente, tudo transcorreu normalmente.

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5.19 AS BODAS DE PRATA

Alexandre e Bela casaram em 1940 e, em 26.10.1965, completaramos seus vinte e cinco anos de casados � as Bodas de Prata.

Já se relatou, em outra parte desse livro, o casamento humilde queAlexandre e Bela tiveram. Ao aproximarem-se as Bodas de Prata, Alexandree Bela, com os filhos já encaminhados nos estudos e a situação econômica efinanceira estabilizada, decidiram fazer a festa de seus sonhos nessa data.

Organizaram uma grande festa em uma noite na residência ondemoravam, com uma mesa farta, regada a bebidas, com a participação espe-cial da Banda de Música �Lira Zeferino Xisto Toniato�, de Itarana. Para isso,foi necessário um mutirão de mulheres e homens para fazer todos os prepa-rativos que antecederam o evento.

Para a festa, foram convidados parentes, vizinhos e amigos da ci-dade de Itarana. Estima-se que compareceram cerca de 500 pessoas. Seuirmão Luiz Sepulcri, que residia em Belo Horizonte, também estava presen-te. Alexandre e Bela ficaram muito felizes por esse momento de alegria quepuderam proporcionar e compartilhar com seus amigos.

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5.20 A HERANÇA

O sogro de Alexandre, Guerino Demoner, era fazendeiro bem su-cedido que, além de muitos filhos, possuía muitas terras e um considerávelrebanho bovino e suíno.

Alexandre, embora tenha tido sucesso em seus empreendimentos,construindo um razoável patrimônio, formado e educado uma bela família,certamente alimentava a esperança de receber parte da herança de seusogro.

Guerino, seguindo a tradição italiana, doou todo o seu patrimônioem terras para os filhos homens. Cada filho que se casava recebia uma colô-nia. Para as filhas doou dez mil cruzeiros para cada uma. Alexandre nunca seconformou com esse fato, achava que todos os filhos deveriam ter direitosiguais. Seguidamente, recordava isso com a família, batendo na mesma teclada igualdade.

Certo dia, Odílio, sensibilizado pelos argumentos de seu pai, pro-meteu que doaria a parte da herança que lhe tocasse a suas irmãs, talvez,inconscientemente, querendo resgatar a justiça preconizada pelo seu pai.

Quando Alexandre e Bela faleceram, os oito filhos se reuniram edistribuíram a herança entre si. Odílio cumpriu o prometido e fez a doação asuas irmãs. Nessa partilha, embora estivessem envolvidos oito irmãos, todosconcordaram com os critérios de divisão e não houve reclamações, todoschegaram a um consenso.

Para Maurilia, por concordância de todos, foi dado um lote de ter-ras a mais, localizado em Vila Velha, como reconhecimento do seu trabalhojunto a Bela e Alexandre, pois ela permaneceu lá na roça ajudando-os en-quanto os demais estudavam em outras cidades. Não se tratou de pagamento,mas sim, de reconhecimento.

5.21 O LEGADO DE ALEXANDRE E BELA

Alexandre não admitia injustiça com as pessoas. Tinha sede dejustiça. Vez por outra ia ao Juiz de Direito, na Comarca Municipal de Itagua-çu, para denunciar atos de injustiça ou sair em defesa de amigos. Por váriasvezes, Alexandre, por achar injusto e o prejudicado não ter condições finan-ceiras para tal, custeou despesas de advogados para que a justiça se fizesse.

Alexandre e Bela, além dos princípios de honestidade, ética, justi-ça, eram solidários, acolhedores e humanos.

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Foto 52: Alexandre e Bela

Fonte: Foto do acervo da família.

Alexandre e Bela dedicaram toda a sua vida à educação dos filhos eforam felizes na escolha. Dos oito filhos, cinco concluíram o nível superior,sendo dois Pedagogos, um Engenheiro Agrônomo, um Médico Veterinário,um formado em Ciências Contábeis, um Técnico Agrícola e dois completa-ram a quinta série. Os estudos encaminharam os filhos para outras profissõesque não a da roça.

Além do legado educacional, os princípios éticos e morais podemser observados no comportamento dos filhos na divisão da herança relatadanesse texto.

Então, Alexandre e Bela eram santos? Não eram santos; tiveramseus momentos de acerto e erros como qualquer outro ser humano, mas sou-beram decidir, tiveram foco e persistência nesses objetivos e conseguiramtransferir os valores culturais e morais a seus filhos.

Em 1979, Alexandre e Bela venderam a propriedade em Santa He-lena e mudaram-se para Itarana. Ambos ficaram doentes. Alexandre teveuma depressão profunda e, nesse período, foi acolhido por Wenilton Dalmo-nico e esposa a quem a família deve muita gratidão. Alexandre faleceu em18 de janeiro de 1983, com sessenta e sete anos. Após a sua morte, Bela foimorar com Maria Margarida e Carlos, que dedicaram muito amor e carinho aela nos seus momentos finais de vida. Bela, como retribuição, doou a Brasí-lia amarela para eles. Bela faleceu em 29 de setembro de 1985, com sessentae nove anos. Ambos estão sepultados no Cemitério Municipal de Itarana.

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Foto 53: Maria Margarida, Odílio, Maria Luiza, Eurides e Gessy �2011

Fonte: Foto do acervo da família.

Foto 54: Odílio, Carlos, Maria Margarida, Roberta, Maria Luiza,Izequiel, Gessy, Eurides � 2011

Fonte: Foto do acervo da família.

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Foto 55: Odílio e Maria Luiza � 2011

Fonte: Foto do acervo da família.

Foto 56: Em pé: Odílio, Maria Cristina, Maria Luíza e Geni.Sentados: Eurides e Maria Paulina � 2011

Fonte: Foto do acervo da família.

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Foto 57: Geni, Gerusa, Maria Cristina, Maria Luiza, Odílio, Gessye Maria Paulina � 2011

Fonte: Foto do acervo da família.

Foto 58: Leila, Geni, Gerusa, Maria Cristina, Eurides, Maisa,Anna Beatriz, Maria Luiza e Odílio � 2011

Fonte: Foto do acervo da família.

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Foto 59: Eurides, Maurilia, Odílio e Maria Margarida � 2011

Fonte: Foto do acervo da família.

Foto 60: Gessy, Eurides, Maurilia, Odílio, Maria Luiza, MariaMargarida e Carlos � 2011

Fonte: Foto do acervo da família.

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Foto 61: Gildo, Maria Luiza, Odílio, Maria Paulina, Eurides eGessy � 2011

Fonte: Foto do acervo da família.

Foto 62: Gerusa, Gildo, Gizeli, Odílio, Maria Paulina, Eurides eGessy � 2011

Fonte: Foto do acervo da família.

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Foto 63: Maria Margarida, Odílio, Maria Luiza e Carlos � 2009

Fonte: Foto do acervo da família.

Foto 64: Odílio, Roberto, Juarez, Dagmar, Eurides, Maurilia,Maria Margarida e Geraldo Luiz � 1985

Fonte: Foto do acervo da família.

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A PALAVRA DOS AMIGOS

A seguir o relato de alguns amigos que conviveram com Alexandree Bela.

6.1 LUIZ HELVÉCIO FIOROTTI � ENTREVISTADO EM22.05.2011

Segundo ele, Alexandre foi pioneiro no plantio de tomate em Itara-na e em desvendar o mercado da capital, Vitória, com os seus produtos.

Seu pai, José Fiorotti (Bepi) era muito amigo de Alexandre. Foi eleque construiu sua casa, aproximadamente em 1951, o curral para os bovinos,as caixas d�água para irrigação de tomate, entre outros. Todo o serviço depedreiro da propriedade de Alexandre era feito com o apoio do pedreiro econstrutor Bepi. Os materiais de construção utilizados na casa, tais comotelhas, tijolos, areia, cimento, madeira, foram transportados com o carro deboi de Alexandre.

Nessa época, Bepi interessou-se por uma novilha que Alexandre ti-nha no pasto e quis comprá-la. Alexandre, de casa nova, necessitava de umabomba d�água para colocar água em sua residência, então, disse a Bepi:�leve a novilha e me dê uma bomba�, não interessando o valor do negócio esim valorizando a amizade de longos anos de ambos.

Na construção da Igreja Matriz de Itarana, na década de 1940, Ale-xandre, que ainda era solteiro, participou no transporte da terra escavada paraa sua construção. A terra era colocada em cima de um couro de boi e puxadapelos bois até o local onde seria colocada sobre caminhões para o destinofinal.

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Alexandre liderou, com um grupo de amigos, a construção da igrejade São Sebastião de Itarana. Para arrecadar recursos para a sua construção foiorganizado um sistema de leilões na Igreja Matriz durante vários dias.

Cada pedreiro existente em Itarana, inclusive Bepi, trabalhou umasemana gratuitamente na construção da igreja.

Alexandre era o encarregado de contatar com os amigos e pessoasconhecidas para fazer pedidos extras para a doação em benefício da igreja.Assim, conseguiram realizar o objetivo final com a inauguração da Igreja.

Certa época o vigário da paróquia de Itarana quis demolir a igreja,Essa atitude provocou uma grande indignação em Alexandre. Ele liderou omovimento contra a demolição e depois de muita �encrenca�, o movimentoconseguiu manter a igreja intacta, perdendo apenas um lote de terras quefazia parte de seu pátio.

6.2 ESTEVÃO COVRE � ENTREVISTADO EM 20.05.2011

Quando ele voltou da Itália, onde participou da Segunda GuerraMundial, em 1945, conheceu Alexandre Sepulcri que já era amigo de Au-gusto Covre, seu irmão. Foi um dos maiores amigos de seu irmão.

Em 1948, Alexandre teve a oportunidade de comprar uma proprie-dade rural em Cinco Pontões, município de Afonso Cláudio. Não tinha todoo dinheiro disponível, então pediu dinheiro emprestado a seu sogro GuerinoDemoner que era fazendeiro e não o emprestou. Conseguiu o dinheiro comseu amigo e compadre José Perim, sem juros e sem prazo fixo para paga-mento. Nessa propriedade, Alexandre formou um grande cafezal e ganhoumuito dinheiro.

No início de sua vida, quando ia se casar, Alexandre ajudou Este-vão a construir a sua primeira casa em Itarana. Estava com casamento mar-cado, mas depois não deu certo. Depois, algumas vezes, Alexandre o levou àcasa de seu sogro para conhecer as irmãs solteiras de Bela, para ver se davanamoro, mas não deu certo.

Alexandre era muito trabalhador, honesto, exigente e um excelentevizinho. Quando iniciou o transporte de café com carro de boi para a Empre-sa Toniato, seu irmão, Augusto, emprestou-lhe a primeira junta de bois. Ale-xandre puxava o café de madrugada e, por essa razão, nunca cobrou o fretedo transporte de Augusto.

Na década de 1950, instalou um sistema de aquecimento de águaatravés da adaptação de serpentina no fogão a lenha.

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Foi pioneiro no plantio de tomate e iniciou a comercialização deseus produtos nos mercados de Colatina e Vitória.

Por duas vezes, Alexandre tentou vender a sua propriedade e eleinterviu, aconselhando-o a não vender. Em 1978, Alexandre vendeu e searrependeu, concluiu Estevão.

6.3 JOAQUIM CANCIAN � ENTREVISTADO EM 21.05.2011

Joaquim, amigo e vizinho da família, filho de José Cancian eFemínea Viganó, era a quem Alexandre recorria para fazer companhia àfamília que tinha medo de ficar só em suas viagens frequentes, que dura-vam normalmente quinze dias, quando ia a trabalho à propriedade de CincoPontões. Joaquim cresceu junto com a família e se tornou grande amigo ecompanheiro. Nos finais de ano, era sempre convidado para passar o nataljunto com a família.

Joaquim relata que, logo que Alexandre se mudou para lá, puxavacafé de carro de boi dos vizinhos para o Toniato. No transporte do café, Ale-xandre trabalhava sempre de madrugada.

Nesse período, Alexandre administrou, via processo de meação,duas lavouras de café, sendo uma das lavouras de Ângelo Viganó e outra deSebastião Taffner.

Em 1954, Alexandre adquiriu um trator, equipado passando a prestarserviço de preparo de solo (aração e gradagem) para os vizinhos e, também, apreparar o solo de suas várzeas para o plantio de arroz. Essa área era compar-tilhada com os vizinhos num trabalho de parceria na produção de arroz.

Quando Alexandre era mais jovem, jogou futebol no time do Toni-ato, juntamente com Hilário e Zeferino Toniato (Tatinha), Luiz Pesente eSebastião Taffner.

Alexandre, no seu moinho, moía milho, transformando-o em fubápara toda a comunidade, à base de troca. Para cada duas quartas de milho(vinte litros), devolvia duas quartas e meia de fubá. Tinha um apiário deabelhas europeias, produzia mel e fornecia para a vizinhança.

Posteriormente, por volta de 1957, Alexandre mudou de atividade,iniciou o plantio de tomate e abriu esse comércio com os mercados de Cola-tina e Vitória. Vários vizinhos foram influenciados por ele e iniciaram, tam-bém, essa nova atividade na propriedade.

Alexandre era muito prestativo e, quando necessário, levava os vi-zinhos doentes ao médico. Certa vez, Joaquim tinha uma dívida junto ao

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Banco do Brasil, em função de haver financiado sua lavoura e houve frustra-ção de safra. Não tinha alternativa para quitar o Banco, senão vender a pro-priedade. Alexandre, sabendo disso, fez uma proposta a Joaquim, para plan-tar uma lavoura de tomate em parceria. Ele forneceria o preparo do solo,todos os insumos e a irrigação, Joaquim participaria com a mão de obra.Quando terminou de colher a safra de tomate, havia pagado toda a dívida eainda sobrou dinheiro em caixa.

6.4 ANASTÁCIA RIZZI VIGANÓ � ENTREVISTADA EM21.05.2011

Anastácia lembrou de parte da trajetória de Alexandre na parceriado plantio de arroz e na construção da Igreja, onde cada família doava umasaca de café. Falou da charrete, do transporte dos vizinhos doentes para ohospital e das festividades da Semana Santa na carreta do trator. Todos essesfatos já foram relatados detalhadamente nesse livro.

Anastácia relatou que a sua família perdeu a propriedade onde mo-rava pela execução de uma dívida junto ao banco. Ao falarem com Alexan-dre sobre o assunto, imediatamente ele os tranquilizou e disse que não fica-riam desamparados. Cedeu um pedaço de terra para construírem a sua mora-dia, onde residem até hoje.

6.5 JOSÉ LUIS GIOSTRI � ENTREVISTADO EM 05.09.2011

Informou que ele, sua mãe e mais três irmãos mudaram-se para asterras de Alexandre quando bem pequenos. Aos treze anos, ele começou atrabalhar na roça e sua mãe Dona Mariquinha lavava roupa para a família.Ele aprendeu a dirigir o trator com Alexandre e, a partir daí, ajudou bastantena aração e gradagem das terras.

Além disso, ele também tomava conta do gado junto com Maurilia.Havia vacas muito bravas. Quando nasciam os bezerros ele os carregava eMaurilia vigiava as vacas para não atacá-lo.

Antes de possuir o trator, o Sr. Alexandre tinha o carro de bois,cortava lenha e levava para vender na cidade de Itarana.

6.6 DÉLIO GIOSTRI � ENTREVISTADO EM 23.05.2011

Seu pai, Gino Giostri, havia se separado de sua mãe Maria Giostri(Mariquinha) e a deixou com quatro filhos, José, Irma, Délio e Iria. Passa-

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vam por sérias restrições financeiras e até alimentares. Alexandre, ao serinformado, foi buscá-los e alojou-os em uma pequena casa em sua proprie-dade em Santa Helena. Nessa época, Délio estava com sete anos. Alexandreofereceu local para morarem e, principalmente, para plantarem arroz, man-dioca, banana e milho. Arranjou trabalho para Mariquinha e José e forneciafarinha de milho (fubá) para fazer polenta.

Nessa época, Alexandre levantava de madrugada e ele, quandomais crescido, acompanhava-o para transportar café com o carro de boi doÂngelo Viganó até Itarana, para a máquina de beneficiamento da Maria doGalera. Na volta, passavam na comunidade de Ferrugem e traziam cana-de--açúcar para alimentar o gado, no período de seca, quando os pastos estavamdebilitados.

Alexandre era honesto, trabalhador e muito sistemático. Não admi-tia que os animais dos vizinhos invadissem sua propriedade, especialmenteos suínos que devoravam as lavouras de inhame. Avisou e reclamou comos vizinhos por várias vezes, mas nunca apareciam os donos dos animais.Depois de ter ajustado com o Juiz de Paz de Itarana, Sr. Carlito Aguiar,Alexandre decidiu prender os suínos que invadiam sua plantação e nãomais soltá-los, mesmo que lhe implorassem. Aí, começaram a aparecer osdonos dos animais. Dessa forma, Alexandre cevou vários suínos. Certo dia,Alexandre prendeu um porco de Arone Taffner. Ao ser procurado pelosseus filhos, Alexandre (Baiano) e Francisco (Alemão), para soltar o animal,Alexandre foi inflexível, mantendo-o preso. Certa manhã, Baiano e Alemãoapareceram armados com espingarda e deram uns tiros para cima, assus-tando toda a família, soltaram e levaram o porco sem o consentimento deAlexandre.

A primeira charrete de Itarana foi de Alexandre, construída peloseu pai Pietro Sepulcri. Nessa época Délio acompanhava Dona Bela e ascrianças de charrete nas visitas a seus pais, Guerino e Maria Demoner e aseus irmãos, no Bom Destino. O Senhor Pietro Sepulcri, já bem velhinho,fazia artesanato de madeira para que ele vendesse para as comunidades vizi-nhas, onde obtinha alguma renda.

De tempos em tempos, para que o moinho de milho funcionassebem, havia a necessidade de fazer a limpeza do canal, de cerca de oitocentosmetros, que fornecia água para a roda d�água mover o moinho. Esse canalsempre era limpo pelos vizinhos. Certa vez, as famílias Viganó, Cancian,Mapelli e Guarnieri estavam fazendo a limpeza e havia muitos peixes (bagre,lambari, traíra e outros) e, à medida que faziam a limpeza do canal, iamcapturando os peixes e colocando-os em pequenos cercados com água limpa.Numa dessas ocasiões, Délio e Odílio, sem que os outros soubessem, coleta-

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ram todos os peixes e prepararam uma bela moqueca. Quando foram procu-rar os peixes, nada encontraram.

Alexandre gostava de jogar bisca (jogo de cartas da cultura italia-na) e Délio era o seu parceiro preferido, sempre jogavam juntos. Quandohavia jogo na casa de Alexandre, o lanche era certo, Ficava torcendo paraque esse dia logo chegasse. Nas festas de final de ano, ele sempre o convida-va para a ceia do Natal que era bastante farta. Numa dessas festas, nas véspe-ras do Natal, Délio passou mal do intestino e teve que fazer regime, logo seprivando dos comes e bebes, o que foi, segundo ele, uma de suas maiorestristezas.

Na propriedade de Alexandre, Délio e família moraram por cercade oito anos.

6.7 WALTER COVRE � ENTREVISTADO EM 05.09.2011

Walter Covre informou que Alexandre Sepulcri e seu pai,

Augusto Covre, eram muito amigos e estavam juntos todas as se-manas. O início da vida do Sr. Alexandre foi com carro de bois. Esse carroera diferenciado dos outros, porque as rodas eram de pneus de borracha en-quanto os demais eram de madeira. O carro de bois era utilizado para puxarcafé para a máquina de beneficiamento que era da família Toniato.

Após a compra do trator, Alexandre arava terra para todos da re-dondeza. Um fato lembrado por Walter foi que, por ocasião de um trabalhofeito com trator na propriedade de seu pai, ficou uma parte sem ser lavrada eWalter foi completar com a enxada. Quando o Sr. Alexandre viu, falou paraele. �Quer ver que, com apenas uma passada com a grade, eu capino issotudo� e assim o fez.

Walter se lembra dos dois caminhões, sendo um amarelo que eradirigido pelo Senhor Alexandre e um verde dirigido pelo Ernesto Blanck(Ernesto trabalhou uns seis meses). Ambos transportavam verduras para omercado de Vila Rubim em Vitória. Certa vez, em plena Vila Rubim, um doscaminhões empinou, dando um enorme susto, pois a mercadoria de maiorpeso estava toda na parte traseira da carroceria, o que provocou esse fato.

Nem todos sabiam, mas o Sr. Alexandre não olhava no retrovisorpara dar marcha ré no caminhão e, quando o fazia, já esperava a batida noque estivesse atrás e até fazia pose.

O Sr. Alexandre sempre foi muito caprichoso e se preocupava como próximo. Toda vez que ele ia à casa deles, reclamava que tinha que passar

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pelo curral e dizia para seu pai que ele deveria fazer um calçamento naquelaentrada, pois era inadmissível ter que passar por estrumes de gado para che-gar à residência. Conta, ainda, que ele e seus irmãos gostavam muito de suasvisitas, pois ele levava os filhos, especialmente Odílio e Geraldo Luis e brin-cavam muito.

Havia a charrete que era utilizada para levar os filhos do Sr. Ale-xandre (Eurides, Maria Margarida, Odílio e Geraldo Luis) para estudar emItarana e ele e Nicolau, seu irmão, iam juntos. Muitas vezes, dormiam nacasa da família Sepulcri e, no dia seguinte, voltavam para casa, atravessandoo morro que havia entre as duas residências.

O Sr. Alexandre, além de franco, era muito brincalhão. Contouque, certa vez, comeu muita jabuticaba e ficou com prisão de ventre. Foinecessário recorrer ao médico, Dr. Demócrates, que aplicou nele um suposi-tório e que ele falou para o médico: �O senhor faz isso com os pacientes efica aí bem tranquilo, não é doutor?�

Além de todo o trabalho que realizava ainda sobrava tempo parapescarem, à noite, no rio que ficava próximo a sua casa. Ele e D. Bela iam detrator e pescavam muitos bagres. Eles pescavam de cima da ponte da estradaque liga Afonso Cláudio a Itarana.

6.8 ANTONIO JOSÉ VIGANÓ � ENTREVISTADO EM04.09.2011

Antônio José Viganó informou que estava com Alexandre Sepulcriquando tombou o caminhão de frete. Saíram de madrugada para chegar aoamanhecer no mercado. Alexandre havia carregado o caminhão na tardeanterior. Além dele e Alexandre, estavam na cabine do Chevrolet JaimeMuller e José Martinelli. Só ele se machucou, ficando desacordado. Alexandre,desesperado achando que ele havia morrido, pegou-o nas costas e saiu embusca de socorro. Nesse momento, passou pelo local o ex-prefeito de Itarana,Antônio de Martim, que os encaminhou ao hospital da cidade de Fundão.Antônio se recuperou em seguida, foi apenas o susto. O caminhão perdeu osfreios e saiu desgovernado serra a baixo e Alexandre o jogou contra o bar-ranco.

O caminhão subiu até certa altura e capotou sobre o asfalto, despe-jando toda a carga de tomate. A pista ficou toda vermelha de tomate. Foi umtremendo susto. Antônio afirma que Alexandre, ao perceber que o veículonão tinha freios e aumentava a velocidade serra abaixo, gritava por todos osSantos. Ele crê que foi a fé que os salvou desse acidente.

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Junto, na cabine, havia dois garrafões de pinga e não quebraram. Acarga total era de 400 caixas de tomate que formavam sete pilhas de altura,sendo 190 só dele. Toda a carga foi perdida e o Sr. Alexandre propôs pagaros prejuízos, mas os donos das verduras não aceitaram, pois ninguém tinhaculpa do acontecido. Somente Pirola quis receber.

Alexandre era uma pessoa muito honesta e trabalhadora. Com-prou suas terras com muito sacrifício, primeiro de Pedro Guarnieri e, de-pois, foi comprando dos vizinhos, ampliando assim o seu território e adqui-rindo bens. Com o primeiro carro (caminhonete verde), levava verduraspara Colatina.

Por ocasião dos festejos na Igreja de Itarana, ele transportava os vi-zinhos de carro de boi e cobrava uma pequena quantia.

Os dois primeiros bois chamavam-se Laranja e Inhapim (um ver-melho e outro amarelo) e os outros dois, Jagunço e Mimoso. Esses bois leva-vam 40 sacas de café a frete em cada viagem.

Alexandre trabalhou muito na construção da Igreja Matriz de Itara-na com a junta de bois, tirando terra arrastada sobre um couro de boi (esca-vação atrás da Igreja).

Alexandre comprou uma mula do Padre José, então Vigário de Itara-na, para levar café em coco do morro, próximo à casa de Ângelo Viganó, seupai. Alexandre colhia o café no alto do morro e transportava um saco nas costase dois sacos no lombo da mula. No pé do morro, a cerca de 500 metros de ondehavia colhido, lavava-o para tirar a terra e demais impurezas, secava-o ao sol,no terreiro e colocava no carro de bois e daí para a máquina de beneficiamento.

6.9 ÉLCIO LUIZ GUARNIERI � ENTREVISTADO EM21.05.2011

Élcio recordou toda a trajetória da família de Alexandre, iniciandocom o transporte de mercadoria com o carro de boi, posteriormente a aquisi-ção do trator Ford, passando pela prestação de serviço de aração e gradeaçãopara toda a vizinhança e comunidades do seu entorno. Na lida com o gado,Maurilia era a responsável por ordenhar as vacas diariamente. Citou o plan-tio de arroz compartilhado com a vizinhança. A aquisição da camionete Ford1929 que, além de transportar a sua família para a cidade de Itarana, davacarona aos vizinhos, quando esses iam assistir à missa na cidade e atendia asemergências médicas da comunidade, transportando os doentes aos médicose hospitais. Alexandre estava sempre pronto para servir aos vizinhos no queprecisassem.

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Fez referência da amizade de seu pai com Alexandre, inclusive eraseu pai quem cortava o cabelo de toda a família.

Alexandre esteve no Guarataia, comunidade onde moravam, paraconvidar seu pai a trabalhar no plantio de verduras, especialmente tomate, napropriedade de Lilia Demoner, em Bom Destino. Essa propriedade era admi-nistrada por Alexandre e lá permaneceram durante oito anos. Esse convitefoi muito importante, pois melhoraram sua situação econômica e financeira eadquiriram a propriedade onde residem até hoje.

6.10 MARIQUINHA E GILDO � ENTREVISTADOS EM 20.05.2011

Mariquinha e Gildo tiveram um papel de destaque no apoio aosestudos dos filhos de Alexandre e Bela. Quando Odílio iniciou os estudos noGinásio de Itarana, eles o abrigaram em sua casa. Por serem as aulas no perí-odo noturno, das dezenove às vinte e três horas, Odílio ia aos finais de tardee retornava na manhã seguinte, pernoitando na casa de Mariquinha e Gildo.Como não tinha espaço no interior de sua casa, Mariquinha colocou umacama para Odílio em seu atelier de costura. O coração de Mariquinha era tãobondoso que ela não se importava com aquela cama, tirando toda a estéticade seu local de trabalho e deixando quase sem espaço para as suas clientes.

Quando mudaram para Vitória, sua casa foi passagem obrigatóriade Odílio, Geraldo Luiz e Juarez para refeições, banhos e pernoites, que,por estudarem em outros estados, tinham que fazer conexão rodoviária emVitória.

Além disso, eles estavam sempre disponíveis para acolher e abrigarcom todo amor e carinho em sua residência, sempre que a família de Ale-xandre e Bela precisassem por algum motivo de saúde, pois, em Vitória,havia mais recursos médicos.

Por tudo isso, têm uma gratidão imensa por essa família que apoioua família Sepulcri nos momentos necessários. Se tiveram êxito na sua cami-nhada, grande parte devem creditar a Mariqunha e Gildo.

Mariquinha e Gildo relatam que:

Na sala de jantar da casa de seus pais, Guerino e Maria, existia umagrande mesa para abrigar todos os familiares que eram quatorze irmãos.Foi num desses momentos de muita alegria, na hora do jantar, que foianunciado o casamento de Bela e Alexandre.

No início do casamento, quando foram morar no Triunfo, tiveram muita di-ficuldade pois, segundo Gildo, possuíam um só cobertor. Lá, conseguiram

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algum dinheiro e, após quatro anos, foram morar em Santa Helena, com astrês filhas nascidas no Triunfo. Gildo afirma que conheceu Alexandre em1948, ele gostava de jogar bocha, era muito querido e divertido.

Quando mudaram para Vitória, moravam em uma casa com pouco espaço.Sempre que Bela tinha problema de saúde, Alexandre, mesmo tendo condi-ções de hospedá-la em outro local, fazia questão de deixá-la na casa deMariquinha, pois sabia que seria tratada com amor e carinho e poderiaretornar com tranquilidade para a sua casa e cuidar dos negócios.

Quase todas as férias, Maria Cristina, sua filha, passava na casa de Alexan-dre e Bela. Numa dessas passagens ela foi infectada com esquistossomose,pois as águas dos rios que banhavam a comunidade eram contaminadas.

Alexandre e Bela tiveram um grande mérito nos estudos e na formaçãodos filhos.

6.11 JAIR MAPELI � ENTREVISTADO EM 04.09.2011

Jair, quando ainda adolescente, foi trabalhar com a família de Ale-xandre na lida com a cultura do tomate e outros legumes e verduras. Apesarde sua juventude, era trabalhador e para ele não havia tarefa difícil. Pela suaidade, próxima à de Odílio e Geraldo Luiz, era tratado com membro da fa-mília e participava das refeições juntamente com todos os componentes dacasa.

Jair era muito econômico, tinha uma boa noção de finanças pessoais,guardava cada centavo que ganhava, talvez a principal razão de seu sucessoapós deixar os Sepulcri. Adorava chamar o Odílio de �moleirão� que era oseu apelido na família.

Jair disse que aprendeu a trabalhar em serviço braçal com Alexandre.Recebia semanalmente e tudo era anotado em um caderno.

Ele se lembra do trator, da charrete e da camionete. O Sr. Alexandre eramuito positivo, segundo ele, só apoiava as coisas certas, não tolerava in-justiças.

6.12 EVILÁSIO TAFFNER � ENTREVISTADO EM 21.05.2011

Evilásio é afilhado de Alexandre e Bela. Cresceu juntamente comseus filhos, pois possui praticamente a mesma idade de Odílio. Da infância àjuventude, juntamente com seus irmãos, foram companheiros para todas asjornadas, no jogo de bola, na escola, nas brincadeiras de crianças, compa-nheiro de namoro, dos bailes de carnaval, entre outros.

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Quando estavam de férias, após visitar os pais, a primeira casa queiam era a de Sebastião e D. Helena, para compartilhar seus momentos dealegria, contar as novidades e colocar a conversa em dia, depois de longoperíodo distantes uns dos outros. Evilásio e irmãos tiveram pais maravilho-sos, era a sua segunda casa. Não foi por acaso que Sebastião foi um dos maio-res amigos de Alexandre.

Evilásio comenta: nós fomos criados juntos, compartilhamos quasetudo, as mesmas histórias e fatos, portanto teria pouco a acrescentar nesserelato.

6.13 DEPOIMENTO DE CARLITA MARIA DE CASTRO ECOELHO

Em 10.11.2009 às 20:52 horas, �Carlita Castro� <[email protected]> escreveu:

Senhor Odílio,

Com minhas respeitosas desculpas, ouso me dirigir ao senhor. Hámuito venho tentando um contato com sua família. Hoje, graças a Deus,consegui.

Pesquisei no Google o nome de seu pai e o encontrei na dedicatóriade sua tese de mestrado.

Sou professora, moro no município de São Tiago, MG, casada, te-nho quatro filhos, participo de movimentos e pastorais católicas.

Conheci seus pais em Itarana, mais precisamente em Santa Helena.Era janeiro de 1976. D. Bela, assim a chamava, era uma santa mulher. Muitocaridosa, me acolheu em sua casa, sem nenhuma referência. Morei lá mais deum mês. Depois arranjaram para mim uma outra casa, próxima à propriedadedo Sr. Alexandre Taffner e D. Amorilda. Todos os dias ia à sua casa buscar olitro de leite que sua mãe me dava.

Seu pai, o senhor Alexandre Sepulcri, era muito alegre, jovial. Tra-balhava com um caminhão amarelo no transporte da SBE, companhia queconstruía linhas de eletrificação.

Na �Santa Helena� morava também o Renildo, que auxiliava D.Bela nos afazeres da fazenda e, assim como eu, era quase da família. Conhe-ci alguns de seus irmãos que foram passear na fazenda por esse tempo, nãome lembro seus nomes, nem do senhor. Lembro-me que um era veterinário,um advogado e outro engenheiro. Ou estavam estudando. Havia uma irmãsua que morava em Itarana e tinha três meninas lindas, cujos nomes também

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não me lembro. Todos eram o orgulho de D. Bela e Sr. Alexandre. Esseamor fez com que eu vencesse a barreira da exclusão social e, corajosamen-te, acolhesse a filha que estava esperando, sozinha. Não é por coincidênciaque ela se chama Helena e, assim como D. Bela, hoje eu também me orgulhomuito dela.

Belos tempos! Fui feliz. Experimentei a acolhida e o carinho deuma família completamente estranha num dos momentos mais difíceis daminha vida. Sua mãe foi para mim, gratuitamente, o porto seguro, a conse-lheira, a �mãe�.

Pensei nesses anos todos, dizer-lhes � a D. Fidélia e ao senhorAlexandre � pessoalmente, tudo isso. Infelizmente, li ontem na citada dedi-catória, que eles já não estão entre nós. Com certeza já receberam o prêmiopor essa e tantas outras caridades que fizeram.

Foi por isso que, num impulso de gratidão, tomei a iniciativa deescrever-lhe.

Mais uma vez, desculpe-me.

Cordialmente.

Carlita Maria de Castro e Coelho.

---------- Mensagem encaminhada ----------

Remetente: �Odílio Sepulcri� <odí[email protected]>Data: 19.11.2009 16:40Assunto: Re: GRATIDÃO!Para: �Carlita Castro� <[email protected]>Carlita Maria, boa tarde!

É muito agradável e confortante ter boas informações de nossosantepassados.

Tenho o hábito de deletar os �e-mail� de pessoas que não conheço.Quando vi a palavra gratidão, despertou-me a curiosidade e fiquei muitofeliz com suas informações.

Gostei de sua iniciativa.

Um grande abraço

Odílio

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De: Carlita Castro [mailto: [email protected]]

Enviada em: segunda-feira, 14 de dezembro de 2009 22:27

Para: odí[email protected]

Assunto: MAIS HISTÓRIAS.

Uma história de amor:

Sempre fui uma garota muito mimada. Tenho mais dois irmãos,homens. Sou a filha mais velha e única mulher. Meu pai tinha verdadeiraadoração por mim. Nunca me faltou nada. Tínhamos um sítio em São Tiagoe meus pais trabalhavam muito. Minha mãe procurava me enfeitar com omaior bom gosto. Sonhavam para mim uma carreira brilhante de professoraprimária. Apesar de ter um defeito visual bem aparente � um não, dois: mio-pia e estrabismo � sempre dei conta de tudo na escola. Era o orgulho de mi-nha família, materna e paterna.

Quando tinha 14 anos � 1967 � meu pai faleceu, com 38 anos, deproblemas cardíacos incontroláveis e incuráveis para a época. Senti-me per-dida. O mundo acabou. Pensei em matar-me. Senti-me rejeitada pela família.Mas minha mãe superou tudo e venceu aquele momento.

Eu não sabia o que fazer com o amor que sentia por meu pai. Tinhauma carência enorme de ser amada. Passei a procurar desesperadamente um�príncipe encantado� que pudesse substituir meu pai. Em todos os sentidos.Conheci muitos, mas logo se transformavam em �sapos�.

Estudei o Curso Normal. Formei-me com 18 anos. Fui professoranuma comunidade rural, em 1971. No ano seguinte trabalhei em Belo Hori-zonte, quando encontrei um �Grande Sapo�. Voltei para São Tiago. Cinde-rela esfarrapada.

Continuei trabalhando em São Tiago, na escola estadual. Em 1975prestei vestibular para o curso de Letras na Faculdade D. Bosco de São JoãoDel-Rei. Estudei até setembro. Encontrei o Príncipe Encantado.

Era mais velho que eu oito anos, bonito, simpático, carismático,educado, carinhoso, dançava muito bem, vinha do Rio Grande do Sul e fala-va �gauchês�. Era encarregado da SBE (Companhia de Eletrificação queconstruía torres de transmissão para Furnas). Ganhava muito bem e tinha umTL azul novinho. Precisava mais?

Deixei faculdade, escola estadual, colégio particular � onde estavalecionando Educação Artística e Educação Moral e Cívica � família, amigos,alunos, raízes. Acompanhei-o quando ele foi transferido para Barroso/MG.

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Minha mãe e meus irmãos quase morreram. Ficaram envergonha-dos. Mudaram-se de São Tiago para Oliveira/MG e não quiseram nem saberde mim. Muitos amigos também me abandonaram.

Moramos dois meses em Barroso. Voltamos para São Tiago e sóuma tia nos acolheu. Ele trabalhou mais dois meses e, em janeiro de 1976,foi transferido para ITARANA/ES.

Fiquei alguns dias organizando algumas coisas e, no final do mês,viajei sozinha para o Espírito Santo. Já estava grávida e �me achando�. Paramim, não existiam barreiras nem obstáculos.

Fiz uma viagem muito cansativa. À noite. São Tiago - São JoãoDel-Rei-Belo Horizonte-Vitória-Itarana. Gastei 36 horas! Sem dinheiro.Aflita para chegar e ser recebida em minha nova casa.

Às 13 horas, num domingo cheio de sol, cheguei a Itarana. Não ha-via ninguém na praça onde o ônibus parou. Desci e sentei-me num banco.Meia hora depois o Príncipe chegou. Cheirando álcool. Abraçamos. Ele mechamando de �Tampinha de Coca-cola�, disse estar muito cansado e convi-dou-me a sentar no gramado. Deitou-se no meu colo e dormiu. Fingi dormirtambém. Ouvia quando pessoas passavam e faziam comentários, penalizadas.Diziam que ele aprontava nas noites itaranenses. Claro que eu não acreditei.

Por volta das 16 horas, acordou. Chorando. �Pobre Tampinha!Deve estar com fome! Vou levá-la para conhecer um amigo�.

O amigo era um motorista contratado pela SBE. Jovial, moderno,compreensivo. Dizia ter uma esposa muito carinhosa, também compreensivae moderna, �bacana� mesmo. Moravam numa fazenda que ele ainda nãoconhecia.

Acreditei e aceitei o convite.

Não estava enganado. Chegamos à casa do Sr. ALEXANDRE SE-PULCRI E D. BELA. Fomos recebidos com todas as honrarias. (Depois vimsaber que eles não estavam preparados para aquela visita!).

No início fiquei constrangida. Mas o carinho e atenção de D. Belalogo me deixaram à vontade. Ela percebeu que eu estava com muita fome egrávida. Levou-me para a cozinha e preparou-nos UM ALMOOOOOÇO.

Logo escureceu. O Príncipe desculpou-se que já era tarde. Precisavatrabalhar cedo no dia seguinte. Deixou transparecer que não tinha para ondeme levar. D. Bela e Sr. Alexandre insistiram para que eu ficasse. Fiquei.

No dia seguinte, Sr. Alexandre saiu cedo. Ficava a semana inteirana cidade. No sábado vinha para casa. D. Bela e eu, ansiosas, esperávamos

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os dois. Preparamo-nos. Ela fez quitandas, bebidas e comidas que seu maridogostava. A casa estava �nos trinques�. Sr. Alexandre chegou no caminhãoamarelo. Sozinho. Não me trouxe nem uma bala. Abraços ele disse que tra-zia. Desculpas também. Assim aconteceu durante três finais de semana.

Fiquei muito decepcionada. Ouvia e Renildo contava que Sr. Ale-xandre estava muito bravo com o amigo.

Numa tarde de sábado o Príncipe veio. No TL azul, já não tãonovo. Tinha batido. Sem mais, nem menos, me levou a morar na casa que afamília tinha próximo à propriedade do Sr. Alexandre Taffner. Não deixoudinheiro, nem comida. Só lenha para que eu cozinhasse mamão verde quecolhia na horta e ferver o leite que buscava todos os dias na casa de D. Bela.Nessas idas e vindas, quase sempre almoçava com ela.

Que comida gostosa! Até hoje me lembro bem.

Dia nove de abril de 1976, outro domingo, sem nenhum sol, fui ar-rancada violentamente de lá. Deixada na rodoviária de Belo Horizonte, no 6°mês de gravidez, com uma nota de cem cruzeiros e uma passagem para Oli-veira/MG nas mãos, nunca mais tive notícias de Itarana, nem dos amigos quelá deixei � os Sepulcri, Taffner, Fiorotti, Chiabai, Demoner � muito menosdo PRÍNCIPE-SAPO.

UFA! Quase escrevi o livro que tenho nos meus sonhos.

Foi você quem pediu.

Mais abraços.

Carlita Maria Castro Coelho

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7

RELATO SOBRE OS FILHOS DE

ALEXANDRE E BELA

A seguir um breve relato da trajetória dos filhos de Alexandre eBela, após o casamento de cada um.

Foto 65: Juarez, Roberto, Geraldo Luiz, Odílio, Maria Margarida,Dagmar, Maurilia e Eurides � 1985

Fonte: Foto do acervo da família.

7.1 EURIDES SEPULCRI

Eurides e Gessy nasceram e viveram em Itarana-ES, até a juventu-de. Porém, o maior contato entre eles foi quando Eurides cursava o antigo

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Ginásio. Muito embora a diferença de idade entre eles seja pequena, Gessyfoi professor da Eurides no Ginásio Itarana (Geografia e OSPB), assim comode outros de seus irmãos. Nessa época ele era bancário e havia feito um Cur-so de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário, para dar aulas noEstado do Rio de Janeiro.

No ano de 1984, quando Eurides e uma colega regressavam de umtrabalho realizado no Norte do Estado, precisamente da cidade de Fundão,embarcou no mesmo ônibus um velho conhecido, ex-professor e contempo-râneo, Gessy Amaral. Por coincidência essa colega é parente do mesmo.Durante a conversa, Gessy informou que havia terminado o seu casamento.

A partir desse dia começaram os telefonemas de Gessy com o ob-jetivo de falar com a sua colega e aproveitava para dar umas palavrinhas coma Eurides e �jogar charme�. Nessas conversas ficou-se sabendo que ambosgostavam de jogar baralho. Um belo dia, ele foi convidado para ir à casa deEurides em Laranjeiras, isto é, em 28 de outubro de 1984. A partir dessa datainiciou-se um relacionamento, faziam rodadas de jogos de baralho em finaisde semana ou à noite quase sempre com o irmão Roberto, a cunhada MariaJosé que residiam próximo, além de outras colegas da Eurides. Havia tam-bém jogos de Canastra e Buraco com os vizinhos, Luiz Dalfine e sua esposaConceta, os quais eram muito queridos da família.

Gessy, por ter um espírito �brincalhão�, diz que Eurides, na épocaem que era estudante, ficava encantada por ele. Ele sempre se lembra douniforme que ela usava (saia pregueada) e com isso facilitava o seu rebolado.

A mãe de Eurides, bem como as irmãs que residiam em Itarana,demonstraram interesse em rever Gessy, pois o mesmo ficou por longa tem-porada ausente, residindo em outras cidades.

O relacionamento frutificou. Era desejo de ambos viver juntos,principalmente por incentivo de parentes e amigos. Os anos foram passandoe atualmente têm 27 anos de convivência. Residiram em Laranjeiras porvinte e seis anos. Gessy foi sempre um grande companheiro, apoiando Euri-des na melhoria da residência e acolhendo as sobrinhas dela para residiremem sua casa a fim de estudar. Quem ficou mais tempo em sua casa foi Karla,por nove anos.

Atualmente residem em Jardim da Penha, Vitória-ES e a sobrinhaGizeli mora com eles.

Como estão aposentados, o hobby deles, hoje em dia, são as via-gens. Frequentemente, viajam pelo Brasil e recentemente foram à Europa,ocasião em que visitaram Portugal, Espanha, França e Itália.

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Foto 66: Eurides e Gessy � Paris, 2011

Fonte: Foto do acervo da família.

7.2 MAURILIA SEPULCRI GONÇALVES

Maurilia casou-se com José de Souza Gonçalves em 30 de Março de1975, na Igreja de São Pedro, no município de Afonso Cláudio � ES, em ceri-mônia realizada pelo mesmo padre que casou Alexandre e Bela � Padre Paulo.

Por causa de uma mudança de emprego de José, em 1976, mudaram-se para Governador Valadares � MG, onde nasceu Alessandra Sepulcre Gon-çalves, primeira filha do casal, em 27 de Outubro de 1977.

Após o nascimento de Alessandra, Maurilia e José mudaram-se no-vamente para o Espírito Santo, vivendo por um tempo em Itarana e depois semudando para uma casa em Vila Velha, comprada por Alexandre.

A vida seguiu e, em 11.03.1980, Maurilia deu à luz seu segundo filho,Alexandre Sepulcre Gonçalves, que recebeu esse nome em homenagem ao avô.

Mesmo morando em Vila Velha por mais de vinte anos, Maurilia efamília sempre foram muito próximos a Alexandre e Bela, indo constantementea Itarana, proporcionando aos filhos um convívio muito próximo com os avós.

Após os falecimentos de Alexandre e Bela, Itarana continuou sendoo lugar de paz e boas risadas. Os amigos, as lembranças, as raízes sempreforam muito presentes na vida de Maurilia e sua família.

Em 2005, Maurilia e José voltaram definitivamente para Itarana,onde moram até hoje.

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Foto 67: Hilda Márcia, José, Alessandra, Maurilia, Alexandre ePedro � 2011

Fonte: Foto do acervo da família.

Alessandra é instrutora de idiomas, formada em Letras-Inglês ePortuguês e mora com os pais.

Alexandre é Tecnólogo em Perfuração de Petróleo e Gás, área naqual trabalha em Macaé � RJ. Em 2011, ele casou-se com Hilda Márcia daMota Amaral Gonçalves. Eles têm um filho, Pedro, hoje com dois anos.

7.3 DAGMAR SEPULCRI

Dagmar foi a que se casou mais cedo, com Djalma Venturini, em1963. Após o casamento foi morar em Jatibocas, município de Itarana, junta-mente com seus sogros Sabina e João Venturini, que trabalhavam na UsinaHidrelétrica que fornecia energia para vários municípios. Lá nasceram as filhasMaisa, em 1965, e Elizabeth, em 1966. Gizeli nasceu em Itaguaçu-ES, em 1968.

Além de cuidar das filhas e dos afazeres domésticos, tambémplantava, colhia e vendia mandioca para complementar a renda e o sustentoda família. Após três anos, foram morar no sítio dos sogros em Guarataia,município de Itarana. Lá permaneceram com muita dificuldade, pois nãohavia água encanada e, quando precisava lavar as roupas da casa, levava asfilhas com ela, pois não tinha com quem deixá-las.

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Em 1972 foram residir em Itarana e continuaram a morar com ossogros. Logo após o falecimento do sogro, em 1984, divorciou-se de Djalma.Então, para continuar cuidando das filhas e lhes proporcionar estudo, Dag-mar conseguiu um emprego nas Instituições Educacionais do Município deItarana, onde se aposentou.

Em 08.12.2001, conheceu Arnildo Bernardes através de uma amigacomum. Ele morava em São Paulo, namoraram durante quatro meses, casa-ram-se em 08.12.2001 e residem em Itarana até hoje. Viajam constantemen-te, pelo menos três vezes ao ano, para Cubatão-SP, onde moram os filhos,netos e bisnetos de Arnildo.

Maisa, sua primeira filha, formou-se em Comunicação Social pelafaculdade FAESA-ES e atua há vinte anos como bancária. Do relaciona-mento com Antônio Marco Valloni teve uma filha, Anna Beatriz VenturiniValloni, que nasceu em 30.10.2001.

Elizabeth formou-se em Habilitação para o Magistério e CiênciasContábeis na Escola de 1º e 2º Graus Professora Aleyde Cosme, em Itarana.Atualmente, trabalha na Secretaria Escolar. Casou-se com Ivan José Gonçal-ves Bastos, que atua no ramo da agricultura e dessa união, nasceu GuilhermeVenturini Gonçalves Bastos, em 02.09.2000.

Gizeli formou-se em Comércio Exterior, em 1997, na Faculdade �FAESA-ES e trabalha há dezenove como Secretária Sênior e reside emVitória-ES.

Foto 68: Gizeli, Maisa, Arnildo, Anna Beatriz, Dagmar, Ivan,Elizabeth e Guilherme � 2011

Fonte: Foto do acervo da família.

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7.4 ODÍLIO SEPULCRI

Ao concluir o curso de Técnico Agrícola no ano de 1965, foi embusca de emprego no Paraná, na Associação de Crédito e Assistência Ruraldo Paraná (Acarpa). Por determinação e coordenação da Acarpa seguiu paraFlorianópolis junto à Associação de Crédito e Assistência Rural de SantaCatarina � Acaresc, para fazer o curso de pré-serviço de Extensão Rural. Aoconcluí-lo, foi designado para trabalhar no escritório da Acarpa no municípiode Piên-PR, permanecendo lá de 1966 a 1969, prestando assistência técnicaaos agricultores daquele município.

No final de 1969, prestou vestibular para o curso de EngenhariaAgronômica na Universidade Federal de Pelotas (Faculdade de AgronomiaEliseu Maciel). Concluiu o curso em dezembro de 1973. Durante a faculdadeconheceu Maria Luiza, formada em Letras (Licenciatura Plena), professorade Inglês e Português, poliglota, com quem se casou em 15.12.1973. Noinício de 1974, retornou à Acarpa em Curitiba.

A Acarpa perdurou até 1988, sendo sucedida pela Emater � Paranáe, a partir de 2005, transformou-se em Instituto Emater. Na Emater, exerceutodas as funções de extensionista a nível municipal regional e estadual. Nes-se período, executou vários projetos, publicou diversos trabalhos e ministrouinúmeros cursos e palestras em todo o Paraná. Juntamente com Maria Luizavisitou mais de trinta e cinco países.

Em 2000 concluiu o curso de especialização em Gestão da Quali-dade na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e em 2005 obteve o títulode Mestre em Desenvolvimento Econômico também pela UFPR. Permaneceno trabalho até o presente.

Com Maria Luiza tem dois filhos Rodrigo, nascido em 1976 e Leo-nardo, nascido em 1978. Rodrigo é formado em Medicina, na UFPR, em2000. É Psiquiatra, especialista em Dependência Química e Mestre em Me-dicina pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), casadocom Anelise Maria Klass Sepulcri, também médica pela UFPR, Ginecolo-gista e Obstetra. Rodrigo e Anelise têm dois filhos Ana Maria, nascida em2004 e João Paulo, nascido em 2007 e residem em Cascavel � PR

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Foto 69: Odílio, Lais e Leonardo (Noivos), Maria Luiza, Rodrigo,Anelise, João Paulo (Colo) e Ana Maria � 2009

Fonte: Foto do acervo da família.

Leonardo é formado em Engenharia Industrial Elétrica com ênfaseem Eletrônica pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFP-PR),em 2000. Fez especialização em Gestão de Tecnologia da Informação naFAE, em 2003, e obteve o título de mestre em Engenharia da Produção naPUCPR, em 2008. É empresário do ramo de informática. Casou-se em 2009com Lais de Souza Aliski Sepulcri, Engenheira Civil e moram em Curitiba.

Odílio, juntamente com seus filhos, é empresário da construção civil.

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Foto 70: Maria Luiza e os Netos João Paulo e Ana Maria � 2010

Fonte: Foto do acervo da família.

7.5 GERALDO LUIZ SEPULCRI

Depois de formado em Medicina Veterinária na Universidade Fe-deral Rural do Rio de Janeiro, foi trabalhar na Emater-Goiás por cerca dedois anos. Posteriormente ingressou na Emater-Paraná, prestando serviço nosmunicípios de Lobato, Medianeira e Santa Cruz de Monte Castelo.

Em Medianeira, de um relacionamento com Sueli Ragazzi, temuma filha, Lidiane Ragazzi Sepulcri, nascida em 1986, atualmente casada eresidente em Mato Grosso.

Na Emater, Geraldo Luiz se aposentou. Quando trabalhava emSanta Cruz de Monte Castelo e municípios vizinhos, conheceu LidinalvaMeira Garcia, com quem se casou. Atualmente reside em sua fazenda emTrês Lagoas, Mato Grosso do Sul.

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Geraldo Luiz dedica-se à pecuária de leite e, juntamente com a suamulher Lidinalva, produz queijos, tendo como referência a produção artesa-nal de derivados do leite, que são vendidos na região.

Foto 71: Geraldo Luiz e Lidinalva

Fonte: Foto do acervo da família.

7.6 MARIA MARGARIDA SEPULCRI DINIZ

Margarida e Carlos conhecem-se desde crianças, pois Carlos veiopara Itarana aos seis anos de idade, filho de mãe Itaranense fixou residên-

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cia na cidade. Sempre foram amigos até que, uma noite, Carlos se decla-rou, o que Margarida achou muito engraçado, em virtude da amizade quetinham, porém não resistiu aos galanteios recebidos. No princípio, o na-moro foi bem tumultuado devido a não aceitação de seu pai, Alexandre,que via Carlos como um �molecão de rua�, mas com o tempo Carlos mos-trou o contrário e adquiriu a amizade e confiança do sogro. Casaram-se nodia 27.12.1975 em uma cerimônia religiosa bem simples na Igreja MatrizNossa Senhora Auxiliadora. Bela sempre viu Carlos com olhos diferentesde Alexandre, dizia que seria um bom marido, pois era de família distinta,tanto que, quando Alexandre faleceu, ela escolheu a casa de Margarida eCarlos para continuar sua vida e ficou até o seu falecimento. O casal temtrês filhos biológicos, Felipe nascido em 30.03.1979, Roberta em29.06.1980 e Karla em 20.04.1984 e um adotivo, Adriano José dos Santosnascido em 09.12.1978.

A adoção de Adriano começou quando Felipe passou a frequentar oJardim de Infância. Na escola ele se apegou muito a um coleguinha e levou-opara casa. Localizaram seus pais e solicitaram sua guarda na justiça. Adria-no, casado com Mônica Rizzi Telles, morou com eles até o nascimento desuas filhas gêmeas: Maria Antonia e Maria Eduarda em 15.11.1999. Adrianoé Técnico Agrícola formado na Escola Agrotécnica Federal de Colatina emora e trabalha em Itarana.

Os filhos do casal cresceram na pequena Itarana onde desfruta-ram das brincadeiras de rua, banhos de chuva, quintais dos amigos e vizi-nhos, campo de futebol e outros. Nas férias faziam pequenos passeios aVitória na casa de tia Eurides, tia Maurilia e tio Heriberto, irmão de Carlos,o que eles aguardavam com ansiedade. Estudaram na mesma escola públicacomo as demais crianças da cidade. Ao término da oitava série, todos mi-graram para outras cidades a fim de continuarem os estudos. Foi um tempodifícil manter quatro filhos fora de casa, mas com determinação e colabo-ração da tia Eurides e tio Heriberto conseguiram atingir o objetivo: todosformados.

Mesmo com a separação dos irmãos, tão cedo, mais ou menos com13 anos, motivada pelo estudo, eles sempre foram muito unidos e, até hoje,não perdem a oportunidade de estar juntos sempre que possível; e relembramos tempos de férias quando se juntavam em casa. Era uma alegria geral, acasa estava sempre cheia também com a presença dos primos; as históriasengraçadas não se esgotaram. Eles lembram com saudades da infância debrincadeiras. Havia uma pequena piscina no quintal que foi o motivo dosencontros familiares, era aquela diversão.

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Foto 72: Izequiel, Roberta, Adriano, Mônica, Felipe, Karla, MariaAntônia, Carlos, Maria Eduarda, Yara

Fonte: Foto do acervo da família.

Como a família era grande, havia certa disciplina: divisão de tare-fas e horários pra tudo, o que era cumprido rigorosamente. Às sextas-feiras,era dia de reunião de avaliação da semana onde todos ouviam e falavam.Adriano sempre tranquilo, Felipe era o mais levado, estava sempre preocu-pado com o que poderia ouvir e a Karla sempre reclamando que Robertanunca tinha nenhuma advertência.

Felipe é casado com Yara Zocatelli, residente em Linhares � ES.Trabalha na agricultura da região norte, pois é Engenheiro Agrônomo for-mado pela Universidade Federal do Espírito Santo. Roberta é Psicóloga for-mada pela Universidade Vale do Rio Doce � MG, casada com Izequiel Bal-dotto são pais de Lucas Diniz Baldotto nascido em 10.05.2011. Reside emItarana e trabalha em Santa Teresa e Itarana. Karla, residente em Santa Mariade Jetibá onde trabalha, é Fisioterapeuta formada pela Faculdade Salesianade Vitória � ES. Atualmente, Margarida e Carlos estão aposentados e mo-

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rando em Itarana, curtindo os três netos, viajando e participando de trabalhosvoluntários na comunidade (igreja e Pestalozzi).

Foto 73: Roberta, Lucas e Izequiel

Fonte: Foto do acervo da família.

7.7 ROBERTO SEPULCRI

Roberto é formado em Ciências Contábeis em Colatina-ES. Casou--se com Maria José Morandi em 18.02.1984 e fixou residência em Serra-ES.Logo após a formatura foi trabalhar em Vitória, primeiramente como empre-gado e depois como empresário no ramo do comércio de frutas, legumes everduras, por último, no transporte de mercadorias.

Roberto e Maria José têm três filhos: Roberto Sepulcri Junior, for-mado em Direito; Renata Morandi Sepulcri, com graduação em Farmácia eRafaela Morandi Sepulcri que está cursando Engenharia Civil. Renata casou-se no dia 31.03.2012, com Bruno Borges de Farias e passou a residir emBelo Horizonte � MG, onde seu marido é empresário.

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Roberto e Maria José divorciaram-se em 1999. AtualmenteRoberto reside nos Estados Unidos da América.

Foto 74: Roberto Jr., Maria José, Renata e Rafaela

Fonte: Foto do acervo da família.

7.8 JUAREZ SEPULCRI

Depois de formado, Juarez foi trabalhar no Paraná, primeiramentena cidade de Pato Branco na Ruralplan e, em seguida, em Guarapuava, ondeconheceu Andyara Tataren, com quem se casou em 1980. O casal se mudoupara Curitiba, Juarez tornou-se bancário e empresário do ramo de combustí-veis. Têm dois filhos, Nayara, nascida em 1986, e Bruno, nascido em 1990.Bruno se mudou, em 2008, para São Paulo, realizando o sonho de cursarAdministração de Empresas na Universidade de São Paulo. Nayara, formada

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em Direito e já trabalhando na área jurídica, é noiva de Rodolfo de CamargoPinto Filho, com quem namora desde 2004.

Foto 75: Juarez, Nayara, Andyara e Bruno

Fonte: Foto do acervo da família.

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REFERÊNCIAS

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