2 lingua.portuguesa.concurso 2014

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5/25/2018 2Lingua.portuguesa.concurso2014-slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/2-linguaportuguesaconcurso-2014 1/104 Didatismo e Conhecimento  1 LÍNGUA PORTUGUESA 1. COMPREENSÃO E INTELECÇÃO DE TEXTOS. Interessa a todos saber que procedimento se deve adotar para tirar o maior rendimento possível da leitura de um texto. Mas não se pode responder a essa pergunta sem antes destacar que não existe para ela uma solução mágica, o que não quer dizer que não exista solução alguma. Genericamente, pode-se armar que uma leitura proveitosa pressupõe, além do conhecimento linguístico  propriamente dito, um repertório de informações exteriores ao texto, o que se costuma chamar de conhecimento de mundo. A compreensão do texto depende também do conhecimento de mundo, o que nos leva à conclusão de que o aprendizado da leitura depende muito das aulas de Português, mas também de todas as outras disciplinas sem exceção. Uma boa medida para avaliar se o texto foi bem compreendido é a resposta a três questões básicas: - Qual é a questão de que o texto está tratando? Ao tentar responder a essa pergunta, o leitor será obrigado a distinguir as questões secundárias da principal, isto é, aquela em torno da qual gira o texto inteiro. Quando o leitor não sabe dizer do que o texto está tratando, ou sabe apenas de maneira genérica e confusa, é sinal de que ele precisa ser lido com mais atenção ou de que o leitor não tem repertório suciente para compreender o que está diante de seus olhos. - Qual é a opinião do autor sobre a questão posta em discussão? Disseminados pelo texto, aparecem vários indicadores da opinião de quem escreve. Por isso, uma leitura competente não terá diculdade em identicá-la. Não saber dar resposta a essa questão é um sintoma de leitura desatenta e dispersiva. - Quais são os argumentos utilizados pelo autor para fundamentar a opinião dada? Deve-se entender por argumento todo tipo de recurso usado pelo autor para convencer o leitor de que ele está falando a verdade. Saber reconhecer os argumentos do autor é também um sintoma de leitura bem feita, um sinal claro de que o leitor acompanhou o desenvolvimento das ideias. Na verdade, entender um texto signica acompanhar com atenção o seu percurso argumentativo. O primeiro passo para interpretar um texto consiste em decompô-lo, após uma primeira leitura, em suas “ideias básicas ou ideias núcleo”, ou seja, um trabalho analítico buscando os conceitos denidores da opinião explicitada pelo autor. Esta operação fará com que o signicado do texto “salte aos olhos” do leitor. Ler é uma atividade muito mais complexa do que a simples interpretação dos símbolos grácos, de códigos, requer que o indivíduo seja capaz de interpretar o material lido, comparando-o e incorporando-o à sua bagagem pessoal, ou seja, requer que o indivíduo mantenha um comportamento ativo diante da leitura. Os diferentes níveis de leitura Para que isso aconteça, é necessário que haja maturidade para a compreensão do material lido, senão tudo cairá no esquecimento ou cará armazenado em nossa memória sem uso, até que tenhamos condições cognitivas para utilizar. De uma forma geral, passamos por diferentes níveis ou etapas até termos condições de aproveitar totalmente o assunto lido. Essas etapas ou níveis são cumulativas e vão sendo adquiridas pela vida, estando presente em praticamente toda a nossa leitura.  O Primeiro Nível é elementar e diz respeito ao período de alfabetização. Ler é uma capacidade cerebral muito sosticada e requer experiência: não basta apenas conhecermos os códigos, a gramática, a semântica, é preciso que tenhamos um bom domínio da língua. O Segundo Nível é a pré-leitura ou leitura inspecional. Tem duas funções especícas: primeiro, prevenir para que a leitura  posterior não nos surpreenda e, sendo, para que tenhamos chance de escolher qual material leremos, efetivamente. Trata-se, na verdade, de nossa primeira impressão sobre o texto. É a leitura que comumente desenvolvemos “nas livrarias”. Nela, por meio do salteio de partes, respondem basicamente às seguintes perguntas: - Por que ler este livro? - Será uma leitura útil? - Dentro de que contexto ele poderá se enquadrar?  Essas perguntas devem ser revistas durante as etapas que se seguem, procurando usar de imparcialidade quanto ao ponto de vista do autor, e o assunto, evitando preconceitos. Se você se propuser a ler um texto sem interesse, com olhar crítico, rejeitando-o antes de conhecê-lo, provavelmente o aproveitamento será muito baixo. Ler é armazenar informações; desenvolver; ampliar horizontes; compreender o mundo; comunicar-se melhor; escrever melhor; relacionar-se melhor com o outro. O Terceiro Nível é conhecido como analítico. Depois de vasculharmos bem o texto na pré-leitura, analisamos. Para isso, é imprescindível que saibamos em qual gênero o texto se enquadra: trata-se de um romance, um tratado, uma notícia de jornal, revista, entrevista, neste caso, existe apenas teoria ou são inseridas  práticas e exemplos. No caso de ser um texto teórico, que requeira memorização, procure criar imagens mentais sobre o assunto, ou seja, veja, realmente, o que está lendo, dando vida e muita criatividade ao assunto. Note bem: a leitura efetiva vai acontecer nesta fase, e a primeira coisa a fazer é ser capaz de resumir o assunto do texto em duas frases. Já temos algum conteúdo para isso, pois o encadeamento das ideias já é de nosso conhecimento. Procure, agora, ler bem o texto, do início ao m. Esta é a leitura efetiva, aproveite bem este momento. Fique atento! Aproveite todas as informações que a pré-leitura ofereceu. Não pare a leitura  para buscar signicados de palavras em dicionários ou sublinhar textos, isto será feito em outro momento.  O Quarto Nível de leitura é o denominado de controle. Trata-se de uma leitura com a qual vamos efetivamente acabar com qualquer dúvida que ainda persista. Normalmente, os termos desconhecidos de um texto são explicitados neste próprio texto, à medida que vamos adiantando a leitura. Um mecanismo psicológico fará com que quemos com aquela dúvida incomodando-nos até que tenhamos a resposta. Caso não haja explicação no texto, será na etapa do controle que lançaremos mão do dicionário. Veja bem: a esta altura já conhecemos bem o texto e o ato de interromper a leitura não vai fragmentar a compreensão do assunto como um todo.

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  • Didatismo e Conhecimento 1

    LNGUA PORTUGUESA

    1. COMPREENSO E INTELECO DE TEXTOS.

    Interessa a todos saber que procedimento se deve adotar para tirar o maior rendimento possvel da leitura de um texto. Mas no se pode responder a essa pergunta sem antes destacar que no existe para ela uma soluo mgica, o que no quer dizer que no exista soluo alguma. Genericamente, pode-se afirmar que uma leitura proveitosa pressupe, alm do conhecimento lingustico propriamente dito, um repertrio de informaes exteriores ao texto, o que se costuma chamar de conhecimento de mundo. A compreenso do texto depende tambm do conhecimento de mundo, o que nos leva concluso de que o aprendizado da leitura depende muito das aulas de Portugus, mas tambm de todas as outras disciplinas sem exceo.

    Uma boa medida para avaliar se o texto foi bem compreendido a resposta a

    trs questes bsicas: - Qual a questo de que o texto est tratando? Ao tentar

    responder a essa pergunta, o leitor ser obrigado a distinguir as questes secundrias da principal, isto , aquela em torno da qual gira o texto inteiro. Quando o leitor no sabe dizer do que o texto est tratando, ou sabe apenas de maneira genrica e confusa, sinal de que ele precisa ser lido com mais ateno ou de que o leitor no tem repertrio suficiente para compreender o que est diante de seus olhos.

    - Qual a opinio do autor sobre a questo posta em discusso? Disseminados pelo texto, aparecem vrios indicadores da opinio de quem escreve. Por isso, uma leitura competente no ter dificuldade em identific-la. No saber dar resposta a essa questo um sintoma de leitura desatenta e dispersiva.

    - Quais so os argumentos utilizados pelo autor para fundamentar a opinio dada? Deve-se entender por argumento todo tipo de recurso usado pelo autor para convencer o leitor de que ele est falando a verdade. Saber reconhecer os argumentos do autor tambm um sintoma de leitura bem feita, um sinal claro de que o leitor acompanhou o desenvolvimento das ideias. Na verdade, entender um texto significa acompanhar com ateno o seu percurso argumentativo.

    O primeiro passo para interpretar um texto consiste em decomp-lo, aps uma primeira leitura, em suas ideias bsicas ou ideias ncleo, ou seja, um trabalho analtico buscando os conceitos definidores da opinio explicitada pelo autor. Esta operao far com que o significado do texto salte aos olhos do leitor. Ler uma atividade muito mais complexa do que a simples interpretao dos smbolos grficos, de cdigos, requer que o indivduo seja capaz de interpretar o material lido, comparando-o e incorporando-o sua bagagem pessoal, ou seja, requer que o indivduo mantenha um comportamento ativo diante da leitura.

    Os diferentes nveis de leitura

    Para que isso acontea, necessrio que haja maturidade para a compreenso do material lido, seno tudo cair no esquecimento ou ficar armazenado em nossa memria sem uso, at que tenhamos condies cognitivas para utilizar.

    De uma forma geral, passamos por diferentes nveis ou etapas at termos condies de aproveitar totalmente o assunto lido. Essas etapas ou nveis so cumulativas e vo sendo adquiridas pela vida, estando presente em praticamente toda a nossa leitura.

    O Primeiro Nvel elementar e diz respeito ao perodo de

    alfabetizao. Ler uma capacidade cerebral muito sofisticada e requer experincia: no basta apenas conhecermos os cdigos, a gramtica, a semntica, preciso que tenhamos um bom domnio da lngua.

    O Segundo Nvel a pr-leitura ou leitura inspecional. Tem duas funes especficas: primeiro, prevenir para que a leitura posterior no nos surpreenda e, sendo, para que tenhamos chance de escolher qual material leremos, efetivamente. Trata-se, na verdade, de nossa primeira impresso sobre o texto. a leitura que comumente desenvolvemos nas livrarias. Nela, por meio do salteio de partes, respondem basicamente s seguintes perguntas:

    - Por que ler este livro?- Ser uma leitura til?- Dentro de que contexto ele poder se enquadrar? Essas perguntas devem ser revistas durante as etapas que

    se seguem, procurando usar de imparcialidade quanto ao ponto de vista do autor, e o assunto, evitando preconceitos. Se voc se propuser a ler um texto sem interesse, com olhar crtico, rejeitando-o antes de conhec-lo, provavelmente o aproveitamento ser muito baixo. Ler armazenar informaes; desenvolver; ampliar horizontes; compreender o mundo; comunicar-se melhor; escrever melhor; relacionar-se melhor com o outro.

    O Terceiro Nvel conhecido como analtico. Depois de vasculharmos bem o texto na pr-leitura, analisamos. Para isso, imprescindvel que saibamos em qual gnero o texto se enquadra: trata-se de um romance, um tratado, uma notcia de jornal, revista, entrevista, neste caso, existe apenas teoria ou so inseridas prticas e exemplos. No caso de ser um texto terico, que requeira memorizao, procure criar imagens mentais sobre o assunto, ou seja, veja, realmente, o que est lendo, dando vida e muita criatividade ao assunto. Note bem: a leitura efetiva vai acontecer nesta fase, e a primeira coisa a fazer ser capaz de resumir o assunto do texto em duas frases. J temos algum contedo para isso, pois o encadeamento das ideias j de nosso conhecimento. Procure, agora, ler bem o texto, do incio ao fim. Esta a leitura efetiva, aproveite bem este momento. Fique atento! Aproveite todas as informaes que a pr-leitura ofereceu. No pare a leitura para buscar significados de palavras em dicionrios ou sublinhar textos, isto ser feito em outro momento.

    O Quarto Nvel de leitura o denominado de controle. Trata-se

    de uma leitura com a qual vamos efetivamente acabar com qualquer dvida que ainda persista. Normalmente, os termos desconhecidos de um texto so explicitados neste prprio texto, medida que vamos adiantando a leitura. Um mecanismo psicolgico far com que fiquemos com aquela dvida incomodando-nos at que tenhamos a resposta. Caso no haja explicao no texto, ser na etapa do controle que lanaremos mo do dicionrio. Veja bem: a esta altura j conhecemos bem o texto e o ato de interromper a leitura no vai fragmentar a compreenso do assunto como um todo.

  • Didatismo e Conhecimento 2

    LNGUA PORTUGUESA

    Ser, tambm, nessa etapa que sublinharemos os tpicos importantes, se necessrio. Para ressaltar trechos importantes opte por um sinal discreto prximo a eles, visando principalmente a marcar o local do texto em que se encontra, obrigando-o a fixar a cronologia e a sequncia deste fato importante, situando-o. Aproveite bem esta etapa de leitura.

    Um Quinto Nvel pode ser opcional: a etapa da repetio

    aplicada. Quando lemos, assimilamos o contedo do texto, mas aprendizagem efetiva vai requerer que tenhamos prtica, ou seja, que tenhamos experincia do que foi lido na vida. Voc s pode compreender conceitos que tenha visto em seu cotidiano. Nada como unir a teoria prtica. Na leitura, quando no passamos pela etapa da repetio aplicada, ficamos muitas vezes sujeitos queles brancos quando queremos evocar o assunto. Observe agora os trechos sublinhados, trace um diagrama sobre o texto, esforce-se para traduzi-lo com suas prprias palavras. Procure associar o assunto lido com alguma experincia j vivida ou tente exemplific-lo com algo concreto, como se fosse um professor e o estivesse ensinando para uma turma de alunos interessados. importante lembrar que esquecemos mais nas prximas 8 horas do que nos 30 dias posteriores. Isto quer dizer que devemos fazer pausas durante a leitura e ao retornarmos ao texto, consultamos as anotaes. No pense que um exerccio montono. Ns somos capazes de realizar diariamente exerccios fsicos com o propsito de melhorar a aparncia e a sade. Pois bem, embora no tenhamos condies de ver com o que se apresenta nossa mente, somos capazes de senti-la quando melhoramos nossas aptides como o raciocnio, a prontido de informaes e, obviamente, nossos conhecimentos intelectuais. Vale a pena se esforar no incio e criar um mtodo de leitura eficiente e rpido.

    Ideias Ncleo

    O primeiro passo para interpretar um texto consiste em decomp-lo, aps uma primeira leitura, em suas ideias bsicas ou ideias ncleo, ou seja, um trabalho analtico buscando os conceitos definidores da opinio explicitada pelo autor. Esta operao far com que o significado do texto salte aos olhos do leitor. Exemplo:

    Incalculvel a contribuio do famoso neurologista austraco no tocante aos estudos sobre a formao da personalidade humana. Sigmund Freud (1859-1939) conseguiu acender luzes nas camadas mais profundas da psique humana: o inconsciente e subconsciente. Comeou estudando casos clnicos de comportamentos anmalos ou patolgicos, com a ajuda da hipnose e em colaborao com os colegas Joseph Breuer e Martin Charcot (Estudos sobre a histeria, 1895). Insatisfeito com os resultados obtidos pelo hipnotismo, inventou o mtodo que at hoje usado pela psicanlise: o das livres associaes de ideias e de sentimentos, estimuladas pela terapeuta por palavras dirigidas ao paciente com o fim de descobrir a fonte das perturbaes mentais. Para este caminho de regresso s origens de um trauma, Freud se utilizou especialmente da linguagem onrica dos pacientes, considerando os sonhos como compensao dos desejos insatisfeitos na fase de viglia.

    Mas a grande novidade de Freud, que escandalizou o mundo cultural da poca, foi a apresentao da tese de que toda neurose de origem sexual.

    (Salvatore DOnofrio)

    Primeiro Conceito do Texto: Incalculvel a contribuio do famoso neurologista austraco no tocante aos estudos sobre a formao da personalidade humana. Sigmund Freud (1859-1939) conseguiu acender luzes nas camadas mais profundas da psique humana: o inconsciente e subconsciente. O autor do texto afirma, inicialmente, que Sigmund Freud ajudou a cincia a compreender os nveis mais profundos da personalidade humana, o inconsciente e subconsciente.

    Segundo Conceito do Texto: Comeou estudando casos clnicos de comportamentos anmalos ou patolgicos, com a ajuda da hipnose e em colaborao com os colegas Joseph Breuer e Martin Charcot (Estudos sobre a histeria, 1895). Insatisfeito com os resultados obtidos pelo hipnotismo, inventou o mtodo que at hoje usado pela psicanlise: o das livres associaes de ideias e de sentimentos, estimuladas pela terapeuta por palavras dirigidas ao paciente com o fim de descobrir a fonte das perturbaes mentais. A segunda ideia ncleo mostra que Freud deu incio a sua pesquisa estudando os comportamentos humanos anormais ou doentios por meio da hipnose. Insatisfeito com esse mtodo, criou o das livres associaes de ideias e de sentimentos.

    Terceiro Conceito do Texto: Para este caminho de regresso s origens de um trauma, Freud se utilizou especialmente da linguagem onrica dos pacientes, considerando os sonhos como compensao dos desejos insatisfeitos na fase de viglia. Aqui, est explicitado que a descoberta das razes de um trauma se faz por meio da compreenso dos sonhos, que seriam uma linguagem metafrica dos desejos no realizados ao longo da vida do dia a dia.

    Quarto Conceito do Texto: Mas a grande novidade de Freud, que escandalizou o mundo cultural da poca, foi a apresentao da tese de que toda neurose de origem sexual. Por fim, o texto afirma que Freud escandalizou a sociedade de seu tempo, afirmando a novidade de que todo o trauma psicolgico de origem sexual.

    QUESTES(CESPE/UnB Analista do MPU Apoio Jurdico/2013)

    Se considerarmos o panorama internacional, perceberemos que o Ministrio Pblico brasileiro singular. Em nenhum outro pas, h um Ministrio Pblico que apresente perfil institucional semelhante ao nosso ou que ostente igual conjunto de atribuies.

    Do ponto de vista da localizao institucional, h grande diversidade de situaes no que se refere aos Ministrios Pblicos dos demais pases da Amrica Latina. Encontra-se, por exemplo, Ministrio Pblico dependente do Poder Judicirio na Costa Rica, na Colmbia e, no Paraguai, e ligado ao Poder Executivo, no Mxico e no Uruguai.

    Constata-se, entretanto, que, apesar da maior extenso de obrigaes do Ministrio Pblico brasileiro, a relao entre o nmero de integrantes da instituio e a populao uma das mais desfavorveis no quadro latino-americano. De fato, dados recentes indicam que, no Brasil, com 4,2 promotores para cada 100 mil habitantes, h uma situao de clara desvantagem no que diz respeito ao nmero relativo de integrantes. No Panam, por exemplo, o nmero de 15,3 promotores para cada cem mil habitantes; na Guatemala, de 6,9; no Paraguai, de 5,9; na Bolvia, de 4,5.

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    LNGUA PORTUGUESA

    Em situao semelhante ou ainda mais crtica do que o Brasil, esto, (l.11) por exemplo, o Peru, com 3,0; a Argentina, com 2,9; e, por fim, o Equador, com a mais baixa relao: 2,4. correto dizer que h naes (l.12) proporcionalmente com menos promotores que o Brasil. No entanto, as atribuies do Ministrio Pblico brasileiro so muito mais (l.13) extensas do que as dos Ministrios Pblicos desses pases.

    Maria Tereza Sadek. A construo de um novo Ministrio Pblico

    resolutivo. Internet: (com adaptaes).

    (l.11) linha 11 no texto original(l.12) linha 12 no texto original(l.13) linha 13 no texto original

    Julgue os itens seguintes com (C) quando a afirmativa estiver Correta e com (E) quando a afirmativa estiver Errada. Itens relativos s ideias e a aspectos lingusticos do texto acima.

    01. Os dados expostos no terceiro pargrafo indicam que os profissionais do Ministrio Pblico brasileiro so mais eficientes que os dos rgos equivalentes nos demais pases da Amrica do Sul.

    02. Com base nos dados apresentados no texto, correto concluir que a situao do Brasil, no que diz respeito ao nmero de promotores existentes no Ministrio Pblico por habitante, est pior que a da Guatemala, mas melhor que a do Peru.

    03. Seriam mantidas a coerncia e a correo gramatical do texto se, feitos os devidos ajustes nas iniciais maisculas e minsculas, o perodo correto (...) o Brasil (l.11-12) fosse iniciado com um vocbulo de valor conclusivo, como logo, por conseguinte, assim ou porquanto, seguido de vrgula.

    04. O objetivo do texto provar que o nmero total de promotores no Brasil menor que na maioria dos pases da Amrica Latina.

    05. No primeiro perodo do terceiro pargrafo, estabelecido contraste entre a maior extenso das obrigaes do Ministrio Pblico brasileiro, em comparao com as de rgos equivalentes em outros pases, e o nmero de promotores em relao populao do pas, o que evidencia situao oposta que se poderia esperar.

    06. No ltimo perodo do texto, a palavra atribuies est subentendida logo aps o vocbulo as (l.13), que poderia ser substitudo por aquelas, sem prejuzo para a correo do texto.

    07. Seriam mantidas a correo gramatical e a coerncia do texto se o primeiro pargrafo fosse assim reescrito: Quando se examina o contexto internacional, conclumos que no h situao como a do Brasil no que se refere a existncia e desempenho do Ministrio Pblico.

    (VUNESP TJ-SP 2013)

    Leia o texto para responder s questes de nmeros 08 a 10.

    A tica da fila

    SO PAULO Escritrios da avenida Faria Lima, em So Paulo, esto contratando flanelinhas para estacionar os carros de seus profissionais nas ruas das imediaes. O custo mensal fica bem abaixo do de um estacionamento regular. Imaginando que os guardadores no violem nenhuma lei nem regra de trnsito, utilizar seus servios seria o equivalente de pagar algum para ficar na fila em seu lugar. Isso tico?

    Como no resisto aos apelos do utilitarismo, no vejo grandes problemas nesse tipo de acerto. Ele no prejudica ningum e deixa pelo menos duas pessoas mais felizes (quem evitou a espera e o sujeito que recebeu para ficar parado). Mas claro que nem todo o mundo pensa assim.

    Michael Sandel, em O que o Dinheiro No Compra, levanta bons argumentos contra a prtica. Para o professor de Harvard, dubls de fila, ao forar que o critrio de distribuio de vagas deixe de ser a ordem de chegada para tornar-se monetrio, acabam corrompendo as instituies.

    Diferentes bens so repartidos segundo diferentes regras. Num leilo, o que vale o maior lance, mas no cinema prepondera a fila. Universidades tendem a oferecer vagas com base no mrito, j prontos-socorros ordenam tudo pela gravidade. O problema com o dinheiro que ele eficiente demais. Sempre que entra por alguma fresta, logo se sobrepe a critrios alternativos e o resultado final uma sociedade na qual as diferenas entre ricos e pobres se tornam cada vez mais acentuadas.

    No discordo do diagnstico, mas vejo dificuldades. Para comear, os argumentos de Sandel tambm recomendam a proibio da prostituio e da barriga de aluguel, por exemplo, que me parecem atividades legtimas. Mais importante, para opor-se destruio de valores ocasionada pela monetizao, em muitos casos preciso eleger um padro universal a ser preservado, o que exige a criao de uma espcie de moral oficial e isso para l de problemtico.

    (Hlio Schwartsman, A tica da fila. Folha de S.Paulo,

    08. Em sua argumentao, Hlio Schwartsman revela-se(A) perturbado com a situao das grandes cidades, onde se

    acabam criando situaes perversas maioria dos cidados.(B) favorvel aos guardadores de vagas nas filas, uma vez que

    o pacto entre as partes traduz-se em resultados que satisfazem a ambas.

    (C) preocupado com os profissionais dos escritrios da Faria Lima, que acabam sendo explorados pelos flanelinhas.

    (D) indignado com a explorao sofrida pelos flanelinhas, que fazem trabalho semelhante ao dos estacionamentos e recebem menos.

    (E) indiferente s necessidades dos guardadores de vagas nas filas, pois eles priorizam vantagens econmicas frente s necessidades alheias.

    09. Ao citar Michael Sandel, o autor reproduz desse professor uma ideia contrria

    (A) venda de uma vaga de uma pessoa a outra, sendo que aquela ficou na fila com inteno comercial. O autor do texto concorda com esse posicionamento de Sandel.

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    LNGUA PORTUGUESA

    (B) comercializao de uma prtica que consiste no pagamento a uma pessoa para que ela fique em seu lugar em uma fila. O autor do texto discorda desse posicionamento de Sandel.

    (C) criao de uma legislao que normatize a venda de vagas de uma fila de uma pessoa a outra. O autor do texto discorda desse posicionamento de Sandel.

    (D) falta de incentivo para que a pessoa fique em uma vaga e, posteriormente, comercialize-a com quem precise. O autor do texto discorda desse posicionamento de Sandel.

    (E) falta de legislao especfica no que se refere venda de uma vaga de uma pessoa que ficou em uma fila guardando lugar a outra. O autor do texto concorda com esse posicionamento de Sandel.

    10. Nas consideraes de Sandel, o dinheiro (A) cria caminhos alternativos para aes eficientes,

    minimizando as diferenas sociais e resguardando as instituies.(B) anda por diversos caminhos para ser eficiente, rechaando

    as diferenas sociais e preservando as instituies.(C) est na base dos caminhos eficientes, visando combater as

    diferenas sociais e a corrupo das instituies.(D) eficiente e abre caminhos, mas refora as desigualdades

    sociais e corrompe as instituies.(E) percorre vrios caminhos sem ser eficiente, pois deixa de

    lado as desigualdades sociais e a corrupo das instituies.

    Leia o texto para responder s questes de nmeros 11 e 12.

    O que ler?

    Comeo distraidamente a ler um livro. Contribuo com alguns pensamentos, julgo entender o que est escrito porque conheo a lngua e as coisas indicadas pelas palavras, assim como sei identificar as experincias ali relatadas. Escritor e leitor possuem o mesmo repertrio disponvel de palavras, coisas, fatos, experincias, depositados pela cultura instituda e sedimentados no mundo de ambos.

    De repente, porm, algumas palavras me pegam. Insensivelmente, o escritor as desviou de seu sentido comum e costumeiro e elas me arrastam, como num turbilho, para um sentido novo, que alcano apenas graas a elas. O escritor me invade, passo a pensar de dentro dele e no apenas com ele, ele se pensa em mim ao falar em mim com palavras cujo sentido ele fez mudar. O livro que eu parecia soberanamente dominar apossa-se de mim, interpela-me, arrasta-me para o que eu no sabia, para o novo. O escritor no convida quem o l a reencontrar o que j sabia, mas toca nas significaes existentes para torn-las destoantes, estranhas, e para conquistar, por virtude dessa estranheza, uma nova harmonia que se aposse do leitor.

    Ler, escreve Merleau-Ponty, fazer a experincia da retomada do pensamento de outrem atravs de sua palavra, uma reflexo em outrem, que enriquece nossos prprios pensamentos. Por isso, prossegue Merleau-Ponty, comeo a compreender uma filosofia deslizando para dentro dela, na maneira de existir de seu pensamento, isto , em seu discurso.

    (Marilena Chau, Prefcio. Em: Jairo Maral,Antologia de Textos Filosficos. Adaptado)

    11. Com base nas palavras de Marilena Chau, entende-se que ler

    (A) um ato de interao e de desalojamento de sentidos cristalizados.

    (B) uma atividade em que a contribuio pessoal est ausente.(C) uma reproduo automatizada de sentidos da ideologia

    dominante.(D) um processo prejudicado pela insensibilidade do escritor.(E) um produto em que o posicionamento do outro se neutraliza.

    12. Com a frase O escritor me invade, passo a pensar de dentro dele e no apenas com ele... (2. pargrafo), a autora revela que

    (A) sua viso de mundo destoa do pensamento do escritor.(B) seu mundo agora deixa de existir e vale o do escritor.(C) sua reflexo est integrada ao pensamento do escritor.(D) seu modo de pensar anula o pensamento do escritor.(E) seu pensamento suplanta a perspectiva do escritor.

    (FCC TRT-12Regio 2013)

    Para responder a questo de nmero 13, considere o texto abaixo.

    As certezas sensveis do cor e concretude ao presente vivido. Na verdade, porm, o presente vivido fruto de uma sofisticada mediao. O real tem um qu de ilusrio e virtual.

    Os rgos sensoriais que nos ligam ao mundo so altamente seletivos naquilo que acolhem e transmitem ao crebro. O olho humano, por exemplo, no capaz de captar todo o espectro de energia eletromagntica existente. Os raios ultravioleta, situados fora do espectro visvel do olho humano, so, no entanto, captados pelas abelhas.

    Seletividade anloga preside a operao dos demais sentidos: cada um atua dentro de sua faixa de registro, ainda que o grau de sensibilidade dos indivduos varie de acordo com idade, herana gentica, treino e educao. H mais coisas entre o cu e a terra do que nossos cinco sentidos e todos os aparelhos cientficos que lhes prestam servios so capazes de detectar.

    Aquilo de que o nosso aparelho perceptivo nos faz cientes no passa, portanto, de uma frao diminuta do que h. Mas o que aconteceria se tivssemos de passar a lidar subitamente com uma gama extra e uma carga torrencial de percepes sensoriais (visuais, auditivas, tteis etc.) com as quais no estamos habituados? Suponha que uma mutao gentica reduza drasticamente a seletividade natural dos nossos sentidos. O ganho de sensibilidade seria patente. Se as portas da percepo se depurassem, sugeria William Blake, tudo se revelaria ao homem tal qual , infinito.

    O grande problema saber se estaramos aptos a assimilar o formidvel acrscimo de informao sensvel que isso acarretaria. O mais provvel que essa sbita mutao a desobstruo das portas e rgos da percepo produzisse no a revelao mstica imaginada por Blake, mas um terrvel engarrafamento cerebral: uma sobrecarga de informaes acompanhada de um estado de aguda confuso e perplexidade do qual apenas lentamente conseguiramos nos recuperar. As informaes sensveis a que temos acesso, embora restritas, no comprometeram nossa sobrevivncia no laboratrio da vida. Longe disso.

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    LNGUA PORTUGUESA

    a brutal seletividade dos nossos sentidos que nos protege da infinita complexidade do Universo. Se o muro desaba, o caos impera.

    (Adaptado de: Eduardo Gianetti, O valor do amanh, SoPaulo, Cia. das Letras, 2010. p. 139-143)

    13. No texto, o autor(A) lamenta o fato de que nossos sentidos no sejam capazes

    de captar a imensa gama de informaes presentes no Universo.(B) aponta para a funo protetora dos rgos sensoriais, cuja

    seletividade, embora implique perdas, nos benfica.(C) constata que, com o uso da tecnologia, a percepo visual

    humana pode alcanar o nvel de percepo visual das abelhas, e vir a captar raios ultravioleta.

    (D) discorre sobre uma das mximas de William Blake, para quem a inquietao humana deriva do fato de no se franquearem as portas da percepo.

    (E) comprova que alteraes na percepo sensorial humana causariam danos irreparveis ao crebro.

    Para responder s questes de nmeros 14 e 15, considere o texto abaixo.

    bem no fundo

    no fundo, no fundo,bem l no fundo,a gente gostariade ver nossos problemasresolvidos por decretoa partir desta data,aquela mgoa sem remdio considerada nulae sobre ela silncio perptuoextinto por lei todo o remorsomaldito seja quem olhar pra trs,l pra trs no h nada,e nada maismas problemas no se resolvem,problemas tm famlia grande,e aos domingos saem todos passearo problema, sua senhorae outros pequenos probleminhas

    (Paulo Leminski, Toda Poesia, So Paulo,Cia. das Letras, 2013. p. 195)

    14. Atente para o que se afirma abaixo.I. Depreende-se do poema que preciso mais do que apenas

    nosso desejo para a resoluo de dificuldades.II. Segundo o texto, o remorso deve ser evitado, bastando, para

    tanto, que no se evoque o passado a todo o momento.III. Infere-se do texto que as mgoas podem desaparecer na

    medida em que no forem cultivadas.

    Est correto o que se afirma APENAS em:(A) I e III.(B) I e II.(C) II e III.(D) I.(E) II.

    15. a partir desta data, aquela mgoa sem remdio considerada nula e sobre ela silncio perptuo

    Uma redao alternativa em prosa para os versos acima, em que se mantm a correo, a lgica e, em linhas gerais, o sentido original, :

    (A) Um silncio perptuo, cairia sem remdio, sobre aquela mgoa, considerada nula a partir desta data.

    (B) Aquela mgoa sem remdio fora, considerada nula, a partir desta data, sobre ela restando um silncio perptuo.

    (C) Aquela mgoa sem remdio seria, a partir desta data, considerada nula e, sobre ela, cairia um silncio perptuo.

    (D) Considerando-se nula aquela mgoa a partir desta data, restando sobre ela, um silncio perptuo.

    (E) Aquela mgoa, sem remdio ser, a partir desta data, considerada nula, caindo-se sobre ela, um silncio perptuo.

    Respostas:

    01-E (Afirmativa Errada)No terceiro pargrafo constatamos que apesar da maior

    extenso de obrigaes do Ministrio Pblico brasileiro, a relao entre o nmero de integrantes da instituio e a populao uma das mais desfavorveis no quadro latino-americano. De fato, dados recentes indicam que, no Brasil, com 4,2 promotores para cada 100 mil habitantes, h uma situao de clara desvantagem no que diz respeito ao nmero relativo de integrantes. No Panam, por exemplo, o nmero de 15,3 promotores para cada cem mil habitantes; na Guatemala, de 6,9; no Paraguai, de 5,9; na Bolvia, de 4,5. Em situao semelhante ou ainda mais crtica do que o Brasil, esto, por exemplo, o Peru, com 3,0; a Argentina, com 2,9; e, por fim, o Equador, com a mais baixa relao: 2,4.

    02-C (Afirmativa Correta)No Brasil, com 4,2 promotores para cada 100 mil habitantes.Na Guatemala, com 6,9 promotores para cada 100 mil

    habitantes.No Peru, com 3,0 promotores para cada 100 mil habitantes.

    03-E (Afirmativa Errada)No podemos usar um vocbulo de concluso, pois ela se

    dar nas ltimas duas linhas do texto: ...apesar de haver naes proporcionalmente com menos promotores que o Brasil, as atribuies do Ministrio Pblico brasileiro so muito mais extensas do que as dos Ministrios Pblicos desses outros pases.

    04-E (Afirmativa Errada)Pois o texto afirma que h outros pases em situao semelhante

    ou ainda mais crtica do que o Brasil, esto, por exemplo, o Peru, com 3,0; a Argentina, com 2,9; e, por fim, o Equador, com a mais baixa relao: 2,4.

    05-C (Afirmativa Correta)Sim, as afirmaes esto explcitas e confirmam o item

    05: Constata-se, entretanto, que, apesar da maior extenso de obrigaes do Ministrio Pblico brasileiro, a relao entre o nmero de integrantes da instituio e a populao uma das mais desfavorveis no quadro latino-americano.

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    06-C (Afirmativa Correta)No entanto, as atribuies do Ministrio Pblico brasileiro

    so muito mais extensas do que as atribuies dos Ministrios Pblicos desses pases. (Sim, a palavra atribuies est subentendida aps as).

    No entanto, as atribuies do Ministrio Pblico brasileiro so muito mais extensas do que aquelas dos Ministrios Pblicos desses pases. (No houve prejuzo no entendimento do texto).

    07-E (Afirmativa Errada)

    Como est no texto: Se considerarmos o panorama internacional, perceberemos que o Ministrio Pblico brasileiro singular. Em nenhum outro pas, h um Ministrio Pblico que apresente perfil institucional semelhante ao nosso ou que ostente igual conjunto de atribuies.

    Como ficaria: Quando se examina o contexto internacional, conclumos que no h situao como a do Brasil no que se refere a existncia e desempenho do Ministrio Pblico.

    Errada porque o primeiro diz que em nenhum outro pas h um Ministrio Pblico semelhante ao nosso, que ostente a quantidade de atribuies. No segundo diz que em nenhum outro pas h um Ministrio Pblico semelhante ao nosso, na existncia e desempenho.

    08-BA confirmao da alternativa fica evidente no trecho: Como

    no resisto aos apelos do utilitarismo, no vejo grandes problemas nesse tipo de acerto. Ele no prejudica ningum e deixa pelo menos duas pessoas mais felizes (quem evitou a espera e o sujeito que recebeu para ficar parado). Mas claro que nem todo o mundo pensa assim.

    09-BMichael Sandel, reproduz uma ideia contrria comercializao

    de uma prtica que consiste no pagamento a uma pessoa para que ela fique em seu lugar em uma fila. Podemos verificar essa afirmao na passagem: Para o professor de Harvard, dubls de fila, ao forar que o critrio de distribuio de vagas deixe de ser a ordem de chegada para tornar-se monetrio, acabam corrompendo as instituies.

    10-DPodemos confirmar esta afirmativa no trecho: O problema

    com o dinheiro que ele eficiente demais. Sempre que entra por alguma fresta, logo se sobrepe a critrios alternativos e o resultado final uma sociedade na qual as diferenas entre ricos e pobres se tornam cada vez mais acentuadas.

    11-A(A) um ato de interao e de desalojamento de sentidos

    cristalizados. (Correta)(B) uma atividade em que a contribuio pessoal est ausente.Errada. Ler fazer a experincia da retomada do pensamento

    de outrem atravs de sua palavra, uma reflexo em outrem, que enriquece nossos prprios pensamentos.

    (C) uma reproduo automatizada de sentidos da ideologia dominante.

    Errada, no h ideologia dominante. Ler fazer a experincia da retomada do pensamento de outrem atravs de sua palavra, uma reflexo em outrem, que enriquece nossos prprios pensamentos.

    (D) um processo prejudicado pela insensibilidade do escritor.Errada. Ler ter muita sensibilidade, uma reflexo.(E) um produto em que o posicionamento do outro se

    neutraliza.Errada. Ler fazer a experincia da retomada do pensamento

    de outrem atravs de sua palavra, uma reflexo em outrem, que enriquece nossos prprios pensamentos.

    12-C(A) sua viso de mundo destoa do pensamento do escritor.Errada. No destoa, pois o escritor me invade, passo a

    pensar de dentro dele e no apenas com ele...(B) seu mundo agora deixa de existir e vale o do escritor.Errada. Seu mundo passa a existir junto com o mundo do autor.

    O escritor me invade, passo a pensar de dentro dele e no apenas com ele...

    (C) sua reflexo est integrada ao pensamento do escritor. (Correta)

    (D) seu modo de pensar anula o pensamento do escritor.Errada. Seu modo de pensar no anula a do autor, pois passa a

    pensar no apenas com ele, mas de dentro dele.(E) seu pensamento suplanta a perspectiva do escritor.Errada. Pois os dois pensam juntos.

    13-BA confirmao da alternativa B fica evidente nos pargrafos

    02 e 03: Os rgos sensoriais que nos ligam ao mundo so altamente seletivos naquilo que acolhem e transmitem ao crebro. O olho humano, por exemplo, no capaz de captar todo o espectro de energia eletromagntica existente. Os raios ultravioleta, situados fora do espectro visvel do olho humano, so, no entanto, captados pelas abelhas.

    Seletividade anloga preside a operao dos demais sentidos: cada um atua dentro de sua faixa de registro, ainda que o grau de sensibilidade dos indivduos varie de acordo com idade, herana gentica, treino e educao. H mais coisas entre o cu e a terra do que nossos cinco sentidos e todos os aparelhos cientficos que lhes prestam servios so capazes de detectar.

    E quando finaliza o texto: a brutal seletividade dos nossos sentidos que nos protege da infinita complexidade do Universo.

    14-DI. Depreende-se do poema que preciso mais do que apenas

    nosso desejo para a resoluo de dificuldades. (Correta)mas problemas no se resolvem,problemas tm famlia grande,e aos domingos saem todos passearo problema, sua senhorae outros pequenos probleminhas

    II. Segundo o texto, o remorso deve ser evitado, bastando, para tanto, que no se evoque o passado a todo o momento. (Incorreta)

    Pois, a gente gostariade ver nossos problemasresolvidos por decreto

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    a partir desta data,aquela mgoa sem remdio considerada nulae sobre ela silncio perptuoextinto por lei todo o remorsomaldito seja quem olhar pra trs,l pra trs no h nada,e nada mais

    III. Infere-se do texto que as mgoas podem desaparecer na medida em que no forem cultivadas. (Incorreta)

    a gente gostariade ver nossos problemasresolvidos por decretoa partir desta data,aquela mgoa sem remdio considerada nulae sobre ela silncio perptuoextinto por lei todo o remorsomaldito seja quem olhar pra trs,l pra trs no h nada,e nada mais

    15-CAquela mgoa sem remdio seria, a partir desta data,

    considerada nula e, sobre ela, cairia um silncio perptuo.

    2. TIPOLOGIA TEXTUAL.

    Texto Literrio: expressa a opinio pessoal do autor que tam-bm transmitida atravs de figuras, impregnado de subjetivismo. Ex: um romance, um conto, uma poesia... (Conotao, Figurado, Subjetivo, Pessoal).

    Texto No-Literrio: preocupa-se em transmitir uma mensa-gem da forma mais clara e objetiva possvel. Ex: uma notcia de jornal, uma bula de medicamento. (Denotao, Claro, Objetivo, Informativo).

    O objetivo do texto passar conhecimento para o leitor. Nesse tipo textual, no se faz a defesa de uma ideia. Exemplos de textos explicativos so os encontrados em manuais de instrues.

    Informativo: Tem a funo de informar o leitor a respeito de algo ou algum, o texto de uma notcia de jornal, de revista, folhetos informativos, propagandas. Uso da funo referencial da linguagem, 3 pessoa do singular.

    Descrio: Um texto em que se faz um retrato por escrito de um lugar, uma pessoa, um animal ou um objeto. A classe de pala-vras mais utilizada nessa produo o adjetivo, pela sua funo caracterizadora. Numa abordagem mais abstrata, pode-se at des-crever sensaes ou sentimentos. No h relao de anteriorida-de e posterioridade. Significa criar com palavras a imagem do objeto descrito. fazer uma descrio minuciosa do objeto ou da personagem a que o texto se refere.

    Narrao: Modalidade em que se conta um fato, fictcio ou no, que ocorreu num determinado tempo e lugar, envolvendo certos personagens. Refere-se a objetos do mundo real. H uma relao de anterioridade e posterioridade.

    O tempo verbal predominante o passado. Estamos cercados de narraes desde as que nos contam histrias infantis, como o Chapeuzinho Vermelho ou a Bela Adormecida, at as pican-tes piadas do cotidiano.

    Dissertao: Dissertar o mesmo que desenvolver ou expli-car um assunto, discorrer sobre ele. Assim, o texto dissertativo pertence ao grupo dos textos expositivos, juntamente com o texto de apresentao cientfica, o relatrio, o texto didtico, o artigo enciclopdico. Em princpio, o texto dissertativo no est preocu-pado com a persuaso e sim, com a transmisso de conhecimento, sendo, portanto, um texto informativo.

    Argumentativo: Os textos argumentativos, ao contrrio, tm por finalidade principal persuadir o leitor sobre o ponto de vista do autor a respeito do assunto. Quando o texto, alm de explicar, tambm persuade o interlocutor e modifica seu comportamento, temos um texto dissertativo-argumentativo.

    Exemplos: texto de opinio, carta do leitor, carta de solicita-o, deliberao informal, discurso de defesa e acusao (advo-cacia), resenha crtica, artigos de opinio ou assinados, editorial.

    Exposio: Apresenta informaes sobre assuntos, expe ideias; explica, avalia, reflete. (analisa ideias). Estrutura bsica; ideia principal; desenvolvimento; concluso. Uso de linguagem clara. Ex: ensaios, artigos cientficos, exposies,etc.

    Injuno: Indica como realizar uma ao. tambm utilizado para predizer acontecimentos e comportamentos. Utiliza lingua-gem objetiva e simples. Os verbos so, na sua maioria, emprega-dos no modo imperativo. H tambm o uso do futuro do presente. Ex: Receita de um bolo e manuais.

    Dilogo: uma conversao estabelecida entre duas ou mais pessoas. Pode conter marcas da linguagem oral, como pausas e retomadas.

    Entrevista: uma conversao entre duas ou mais pessoas (o entrevistador e o entrevistado), na qual perguntas so feitas pelo entrevistador para obter informao do entrevistado. Os reprteres entrevistam as suas fontes para obter declaraes que validem as informaes apuradas ou que relatem situaes vividas por per-sonagens. Antes de ir para a rua, o reprter recebe uma pauta que contm informaes que o ajudaro a construir a matria. Alm das informaes, a pauta sugere o enfoque a ser trabalhado assim como as fontes a serem entrevistadas. Antes da entrevista o repr-ter costuma reunir o mximo de informaes disponveis sobre o assunto a ser abordado e sobre a pessoa que ser entrevistada. Mu-nido deste material, ele formula perguntas que levem o entrevista-do a fornecer informaes novas e relevantes. O reprter tambm deve ser perspicaz para perceber se o entrevistado mente ou ma-nipula dados nas suas respostas, fato que costuma acontecer prin-cipalmente com as fontes oficiais do tema. Por exemplo, quando o reprter vai entrevistar o presidente de uma instituio pblica sobre um problema que est a afetar o fornecimento de servios populao, ele tende a evitar as perguntas e a querer reverter a resposta para o que considera positivo na instituio. importante que o reprter seja insistente. O entrevistador deve conquistar a confiana do entrevistado, mas no tentar domin-lo, nem ser por ele dominado. Caso contrrio, acabar induzindo as respostas ou perdendo a objetividade.

    As entrevistas apresentam com frequncia alguns sinais de pontuao como o ponto de interrogao, o travesso, aspas, re-ticncias, parntese e as vezes colchetes, que servem para dar ao leitor maior informaes que ele supostamente desconhece.

  • Didatismo e Conhecimento 8

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    O ttulo da entrevista um enunciado curto que chama a aten-o do leitor e resume a ideia bsica da entrevista. Pode estar todo em letra maiscula e recebe maior destaque da pgina. Na maio-ria dos casos, apenas as preposies ficam com a letra minscula. O subttulo introduz o objetivo principal da entrevista e no vem seguido de ponto final. um pequeno texto e vem em destaque tambm. A fotografia do entrevistado aparece normalmente na primeira pgina da entrevista e pode estar acompanhada por uma frase dita por ele. As frases importantes ditas pelo entrevistado e que aparecem em destaque nas outras pginas da entrevista so chamadas de olho.

    Crnica: Assim como a fbula e o enigma, a crnica um gnero narrativo. Como diz a origem da palavra (Cronos o deus grego do tempo), narra fatos histricos em ordem cronolgica, ou trata de temas da atualidade. Mas no s isso. Lendo esse texto, voc conhecer as principais caractersticas da crnica, tcnicas de sua redao e ter exemplos.

    Uma das mais famosas crnicas da histria da literatura lu-so-brasileira corresponde definio de crnica como narrao histrica. a Carta de Achamento do Brasil, de Pero Vaz de Caminha, na qual so narrados ao rei portugus, D. Manuel, o descobrimento do Brasil e como foram os primeiros dias que os marinheiros portugueses passaram aqui. Mas trataremos, sobretu-do, da crnica como gnero que comenta assuntos do dia a dia. Para comear, uma crnica sobre a crnica, de Machado de Assis:

    O nascimento da crnica

    H um meio certo de comear a crnica por uma trivialidade. dizer: Que calor! Que desenfreado calor! Diz-se isto, agitando as pontas do leno, bufando como um touro, ou simplesmente sa-cudindo a sobrecasaca. Resvala-se do calor aos fenmenos atmos-fricos, fazem-se algumas conjeturas acerca do sol e da lua, outras sobre a febre amarela, manda-se um suspiro a Petrpolis, e la glace est rompue est comeada a crnica. (...)

    (Machado de Assis. Crnicas Escolhidas. So Paulo: Editora tica, 1994)

    Publicada em jornal ou revista onde publicada, destina-se leitura diria ou semanal e trata de acontecimentos cotidianos. A crnica se diferencia no jornal por no buscar exatido da in-formao. Diferente da notcia, que procura relatar os fatos que acontecem, a crnica os analisa, d-lhes um colorido emocional, mostrando aos olhos do leitor uma situao comum, vista por ou-tro ngulo, singular.

    O leitor pressuposto da crnica urbano e, em princpio, um leitor de jornal ou de revista. A preocupao com esse leitor que faz com que, dentre os assuntos tratados, o cronista d maior aten-o aos problemas do modo de vida urbano, do mundo contem-porneo, dos pequenos acontecimentos do dia a dia comuns nas grandes cidades.

    Jornalismo e literatura: assim que podemos dizer que a cr-nica uma mistura de jornalismo e literatura. De um recebe a ob-servao atenta da realidade cotidiana e do outro, a construo da linguagem, o jogo verbal. Algumas crnicas so editadas em livro, para garantir sua durabilidade no tempo.

    Exerccios

    1. Sobre o texto narrativo, pode-se afirmar:

    a) A estrutura textual semelhante ao texto descritivob) A postura do autor de argumentadorc) H, exaustivamente, o uso de presente do indicativo.d) No apresenta clmax em sua estruturae) O enredo prioritrio

    2. O predomnio de adjetivaes comumente encontrado no texto:

    a) Narrativob) Informativoc) Descritivod) Dissertativoe) Epistolar3. Duas caractersticas so representativas do modo de

    organizao dissertativa, assinale-as:

    a) Introduo e clmaxb) Argumentao e sensaoc) Sequncia de fatos e de aspectosd) Verbos de ao e objetividadee) Convencimento e descrio

    4. O verbo estrear aparece conjugado no texto (estreou). Indique o modo e o tempo a que pertence este verbo.

    a) indicativo / presenteb) subjuntivo / pretrito imperfeitoc) indicativo / pretrito imperfeitod) indicativo / pretrito perfeitoe) imperativo / afirmativo

    5. O uso das aspas em alguns vocbulos do texto justificado por/pela:

    a) sempre se usa com os substantivos.b) participao de Viviane em novelas da TV Globo.c) no estar empregada em seu sentido originald) participar duas vezes de novelas dirigidas por Denise

    Saraceni.e) ser o nome da novela, por isso o uso das aspas.

    6. No segmento: Ela dever voltar a trabalhar.... O elemento sublinhado classificado morfologicamente por:

    a) artigob) preposioc) pronomed) advrbioe) substantivo

  • Didatismo e Conhecimento 9

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    7. Ela dever voltar a trabalhar com Denise... O segmento destacado classificado sintaticamente como:

    a) Adjunto adverbial de modob) Adjunto adverbial de companhiac) Adjunto adverbial de lugard) Adjunto adverbial de negaoe) Adjunto adverbial de pessoa

    8. (EV) Ela dever voltar.... A locuo verbal pode ser substituda, sem alterao semntica, por um verbo simples, assinale-o:

    a) voltab) voltariac) voltard) poder voltare) voltou

    Respostas:1. E / 2. C / 3. D / 4. D / 5. E / 6. B / 7. B / 8. C

    3. COESO E COERNCIA.

    Coeso

    Uma das propriedades que distinguem um texto de um amon-toado de frases a relao existente entre os elementos que os constituem. A coeso textual a ligao, a relao, a conexo entre palavras, expresses ou frases do texto. Ela manifesta-se por ele-mentos gramaticais, que servem para estabelecer vnculos entre os componentes do texto. Observe:

    O iraquiano leu sua declarao num bloquinho comum de anotaes, que segurava na mo.

    Nesse perodo, o pronome relativo que estabelece conexo entre as duas oraes. O iraquiano leu sua declarao num blo-quinho comum de anotaes e segurava na mo, retomando na segunda um dos termos da primeira: bloquinho. O pronome relati-vo um elemento coesivo, e a conexo entre as duas oraes, um fenmeno de coeso. Leia o texto que segue:

    Arroz-doce da infncia

    Ingredientes1 litro de leite desnatado150g de arroz cru lavado1 pitada de sal4 colheres (sopa) de acar1 colher (sobremesa) de canela em p

    PreparoEm uma panela ferva o leite, acrescente o arroz, a pitada de

    sal e mexa sem parar at cozinhar o arroz. Adicione o acar e deixe no fogo por mais 2 ou 3 minutos. Despeje em um recipiente, polvilhe a canela. Sirva.

    Cozinha Clssica Baixo Colesterol, n4.So Paulo, InCor, agosto de 1999, p. 42.

    Toda receita culinria tem duas partes: lista dos ingredientes e modo de preparar. As informaes apresentadas na primeira so retomadas na segunda. Nesta, os nomes mencionados pela primei-ra vez na lista de ingredientes vm precedidos de artigo definido, o qual exerce, entre outras funes, a de indicar que o termo deter-minado por ele se refere ao mesmo ser a que uma palavra idntica j fizera meno.

    No nosso texto, por exemplo, quando se diz que se adiciona o acar, o artigo citado na primeira parte. Se dissesse apenas adi-cione acar, deveria adicionar, pois se trataria de outro acar, diverso daquele citado no rol dos ingredientes.

    H dois tipos principais de mecanismos de coeso: retomada ou antecipao de palavras, expresses ou frases e encadeamento de segmentos.

    Retomada ou Antecipao por meio de uma palavra gramatical(pronome, verbos ou advrbios)

    No mercado de trabalho brasileiro, ainda hoje no h total igualdade entre homens e mulheres: estas ainda ganham menos do que aqueles em cargos equivalentes.

    Nesse perodo, o pronome demonstrativo estas retoma o termo mulheres, enquanto aqueles recupera a palavra homens.

    Os termos que servem para retomar outros so denominados anafricos; os que servem para anunciar, para antecipar outros so chamados catafricos. No exemplo a seguir, desta antecipa aban-donar a faculdade no ltimo ano:

    J viu uma loucura desta, abandonar a faculdade no ltimo ano?

    So anafricos ou catafricos os pronomes demonstrativos, os pronomes relativos, certos advrbios ou locues adverbiais (nes-se momento, ento, l), o verbo fazer, o artigo definido, os prono-mes pessoais de 3 pessoa (ele, o, a, os, as, lhe, lhes), os pronomes indefinidos. Exemplos:

    Ele era muito diferente de seu mestre, a quem sucedera na ctedra de Sociologia na Universidade de So Paulo.

    O pronome relativo quem retoma o substantivo mestre.

    As pessoas simplificam Machado de Assis; elas o veem como um pensador cn io e descrente do amor e da amizade.

    O pronome pessoal elas recupera o substantivo pessoas; o pronome pessoal o retoma o nome Machado de Assis.

    Os dois homens caminhavam pela calada, ambos trajando roupa escura.

  • Didatismo e Conhecimento 10

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    O numeral ambos retoma a expresso os dois homens.

    Fui ao cinema domingo e, chegando l, fiquei desanimado com a fila.

    O advrbio l recupera a expresso ao cinema.

    O governador vai pessoalmente inaugurar a creche dos fun-cionrios do palcio, e o far para demonstrar seu apreo aos servidores.

    A forma verbal far retoma a perfrase verbal vai inaugu-rar e seu complemento.

    - Em princpio, o termo a que o anafrico se refere deve estar presente no texto, seno a coeso fica comprometida, como neste exemplo:

    Andr meu grande amigo. Comeou a namor-la h vrios meses.

    A rigor, no se pode dizer que o pronome la seja um anaf-rico, pois no est retomando nenhuma das palavras citadas antes. Exatamente por isso, o sentido da frase fica totalmente prejudica-do: no h possibilidade de se depreender o sentido desse prono-me.

    Pode ocorrer, no entanto, que o anafrico no se refira a ne-nhuma palavra citada anteriormente no interior do texto, mas que possa ser inferida por certos pressupostos tpicos da cultura em que se inscreve o texto. o caso de um exemplo como este:

    O casamento teria sido s 20 horas. O noivo j estava de-sesperado, porque eram 21 horas e ela no havia comparecido.

    Por dados do contexto cultural, sabe-se que o pronome ela um anafrico que s pode estar-se referindo palavra noiva. Num casamento, estando presente o noivo, o desespero s pode ser pelo atraso da noiva (representada por ela no exemplo citado).

    - O artigo indefinido serve geralmente para introduzir infor-maes novas ao texto. Quando elas forem retomadas, devero ser precedidas do artigo definido, pois este que tem a funo de indi-car que o termo por ele determinado idntico, em termos de valor referencial, a um termo j mencionado.

    O encarregado da limpeza encontrou uma carteira na sala de espetculos. Curiosamente, a carteira tinha muito dinheiro dentro, mas nem um documento sequer.

    - Quando, em dado contexto, o anafrico pode referir-se a dois termos distintos, h uma ruptura de coeso, porque ocorre uma ambiguidade insolvel. preciso que o texto seja escrito de tal forma que o leitor possa determinar exatamente qual a palavra retomada pelo anafrico.

    Durante o ensaio, o ator principal brigou com o diretor por causa da sua arrogncia.

    O anafrico sua pode estar-se referindo tanto palavra ator quanto a diretor.

    Andr brigou com o ex-namorado de uma amiga, que traba-lha na mesma firma.

    No se sabe se o anafrico que est se referindo ao termo amiga ou a ex-namorado. Permutando o anafrico que por o qual ou a qual, essa ambiguidade seria desfeita.

    Retomada por palavra lexical(substantivo, adjetivo ou verbo)

    Uma palavra pode ser retomada, que por uma repetio, quer por uma substituio por sinnimo, hipernimo, hipnimo ou an-tonomsia.

    Sinnimo o nome que se d a uma palavra que possui o mesmo sentido que outra, ou sentido bastante aproximado: injria e afronta, alegre e contente.

    Hipernimo um termo que mantm com outro uma relao do tipo contm/est contido;

    Hipnimo uma palavra que mantm com outra uma relao do tipo est contido/contm. O significado do termo rosa est con-tido no de flor e o de flor contm o de rosa, pois toda rosa uma flor, mas nem toda flor uma rosa. Flor , pois, hipernimo de rosa, e esta palavra hipnimo daquela.

    Antonomsia a substituio de um nome prprio por um nome comum ou de um comum por um prprio. Ela ocorre, prin-cipalmente, quando uma pessoa clebre designada por uma ca-racterstica notria ou quando o nome prprio de uma personagem famosa usada para designar outras pessoas que possuam a mes-ma caracterstica que a distingue:

    O rei do futebol (=Pel) som podia ser um brasileiro.

    O heri de dois mundos (=Garibaldi) foi lembrado numa recente minissrie de tev.

    Referncia ao fato notrio de Giuseppe Garibaldi haver lutado pela liberdade na Europa e na Amrica.

    Ele um hrcules (=um homem muito forte).

    Referncia fora fsica que caracteriza o heri grego Hr-cules.

    Um presidente da Repblica tem uma agenda de trabalho extremamente carregada. Deve receber ministros, embaixadores, visitantes estrangeiros, parlamentares; precisa a todo momento tomar graves decises que afetam a vida de muitas pessoas; ne-cessita acompanhar tudo o que acontece no Brasil e no mundo. Um presidente deve comear a trabalhar ao raiar do dia e termi-nar sua jornada altas horas da noite.

    A repetio do termo presidente estabelece a coeso entre o ltimo perodo e o que vem antes dele.

    Observava as estrelas, os planetas, os satlites. Os astros sempre o atraram.

  • Didatismo e Conhecimento 11

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    Os dois perodos esto relacionados pelo hipernimo astros, que recupera os hipnimos estrelas, planetas, satlites.

    Eles (os alquimistas) acreditavam que o organismo do ho-mem era regido por humores (fluidos orgnicos) que percorriam, ou apenas existiam, em maior ou menor intensidade em nosso cor-po. Eram quatro os humores: o sangue, a fleuma (secreo pulmo-nar), a bile amarela e a bile negra. E eram tambm estes quatro fluidos ligados aos quatro elementos fundamentais: ao Ar (seco), gua (mido), ao Fogo (quente) e Terra (frio), respectivamente.

    Ziraldo. In: Revista Vozes, n3, abril de 1970, p.18.

    Nesse texto, a ligao entre o segundo e o primeiro perodos se faz pela repetio da palavra humores; entre o terceiro e o se-gundo se faz pela utilizao do sinnimo fluidos.

    preciso manejar com muito cuidado a repetio de palavras, pois, se ela no for usada para criar um efeito de sentido de inten-sificao, constituir uma falha de estilo. No trecho transcrito a seguir, por exemplo, fica claro o uso da repetio da palavra vice e outras parecidas (vicissitudes, vicejam, viciem), com a evidente inteno de ridicularizar a condio secundria que um provvel flamenguista atribui ao Vasco e ao seu Vice-presidente:

    Recebi por esses dias um e-mail com uma srie de piadas sobre o pouco simptico Eurico Miranda. Faltam-me provas, mas tudo leva a crer que o remetente seja um flamenguista.

    Segundo o texto, Eurico nasceu para ser vice: vice-presiden-te do clube, vice-campeo carioca e bi vice-campeo mundial. E isso sem falar do vice no Carioca de futsal, no Carioca de basquete, no Brasileiro de basquete e na Taa Guanabara. So vicissitudes que vicejam. Espero que no viciem.

    Jos Roberto Torero. In: Folha de S. Paulo, 08/03/2000, p. 4-7.

    A elipse o apagamento de um segmento de frase que pode ser facilmente recuperado pelo contexto. Tambm constitui um expediente de coeso, pois o apagamento de um termo que seria repetido, e o preenchimento do vazio deixado pelo termo apagado (=elptico) exige, necessariamente, que se faa correlao com ou-tros termos presentes no contexto, ou referidos na situao em que se desenrola a fala.

    Vejamos estes versos do poema Crculo vicioso, de Macha-do de Assis:

    (...)Mas a lua, fitando o sol, com azedume:

    Msera! Tivesse eu aquela enorme, aquelaClaridade imorta, que toda a luz resume!

    Obra completa. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1979, v.III, p. 151.

    Nesse caso, o verbo dizer, que seria enunciado antes daquilo que disse a lua, isto , antes das aspas, fica subentendido, omitido por ser facilmente presumvel.

    Qualquer segmento da frase pode sofrer elipse. Veja que, no exemplo abaixo, o sujeito meu pai que vem elidido (ou apagado) antes de sentiu e parou:

    Meu pai comeou a andar novamente, sentiu a pontada no peito e parou.

    Pode ocorrer tambm elipse por antecipao. No exemplo que segue, aquela promoo complemento tanto de querer quanto de desejar, no entanto aparece apenas depois do segundo verbo:

    Ficou muito deprimido com o fato de ter sido preferido. Afi-nal, queria muito, desejava ardentemente aquela promoo.

    Quando se faz essa elipse por antecipao com verbos que tm regncia diferente, a coeso rompida. Por exemplo, no se deve dizer Conheo e gosto deste livro, pois o verbo conhecer rege complemento no introduzido por preposio, e a elipse retoma o complemento inteiro, portanto teramos uma preposio inde-vida: Conheo (deste livro) e gosto deste livro. Em Implico e dispenso sem d os estranhos palpiteiros, diferentemente, no complemento em elipse faltaria a preposio com exigida pelo verbo implicar.

    Nesses casos, para assegurar a coeso, o recomendvel co-locar o complemento junto ao primeiro verbo, respeitando sua regncia, e retom-lo aps o segundo por um anafrico, acres-centando a preposio devida (Conheo este livro e gosto dele) ou eliminando a indevida (Implico com estranhos palpiteiros e os dispenso sem d).

    Coeso por Conexo

    H na lngua uma srie de palavras ou locues que so res-ponsveis pela concatenao ou relao entre segmentos do texto. Esses elementos denominam-se conectores ou operadores discur-sivos. Por exemplo: visto que, at, ora, no entanto, contudo, ou seja.

    Note-se que eles fazem mais do que ligar partes do texto: es-tabelecem entre elas relaes semnticas de diversos tipos, como contrariedade, causa, consequncia, condio, concluso, etc. Es-sas relaes exercem funo argumentativa no texto, por isso os operadores discursivos no podem ser usados indiscriminadamente.

    Na frase O time apresentou um bom futebol, mas no al-canou a vitria, por exemplo, o conector mas est adequa-damente usado, pois ele liga dois segmentos com orientao ar-gumentativa contrria. Se fosse utilizado, nesse caso, o conector portanto, o resultado seria um paradoxo semntico, pois esse operador discursivo liga dois segmentos com a mesma orientao argumentativa, sendo o segmento introduzido por ele a concluso do anterior.

    - Gradao: h operadores que marcam uma gradao numa srie de argumentos orientados para uma mesma concluso. Divi-dem-se eles, em dois subtipos: os que indicam o argumento mais forte de uma srie: at, mesmo, at mesmo, inclusive, e os que subentendem uma escala com argumentos mais fortes: ao menos, pelo menos, no mnimo, no mximo, quando muito.

    Ele um bom conferencista: tem uma voz bonita, bem arti-culado, conhece bem o assunto de que fala e at sedutor.

  • Didatismo e Conhecimento 12

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    Toda a srie de qualidades est orientada no sentido de com-provar que ele bom conferencista; dentro dessa srie, ser sedutor considerado o argumento mais forte.

    Ele ambicioso e tem grande capacidade de trabalho. Che-gar a ser pelo menos diretor da empresa.

    Pelo menos introduz um argumento orientado no mesmo sentido de ser ambicioso e ter grande capacidade de trabalho; por outro lado, subentende que h argumentos mais fortes para com-provar que ele tem as qualidades requeridas dos que vo longe (por exemplo, ser presidente da empresa) e que se est usando o menos forte; ao menos, pelo menos e no mnimo ligam argumentos de valor positivo.

    Ele no bom aluno. No mximo vai terminar o segundo grau.

    No mximo introduz um argumento orientado no mesmo sen-tido de ter muita dificuldade de aprender; supe que h uma escala argumentativa (por exemplo, fazer uma faculdade) e que se est usando o argumento menos forte da escala no sentido de provar a afirmao anterior; no mximo e quando muito estabelecem liga-o entre argumentos de valor depreciativo.

    - Conjuno Argumentativa: h operadores que assinalam uma conjuno argumentativa, ou seja, ligam um conjunto de ar-gumentos orientados em favor de uma dada concluso: e, tambm, ainda, nem, no s... mas tambm, tanto... como, alm de, a par de.

    Se algum pode tomar essa deciso voc. Voc o diretor da escola, muito respeitado pelos funcionrios e tambm muito querido pelos alunos.

    Arrolam-se trs argumentos em favor da tese que o interlo-cutor quem pode tomar uma dada deciso. O ltimo deles intro-duzido por e tambm, que indica um argumento final na mesma direo argumentativa dos precedentes.

    Esses operadores introduzem novos argumentos; no signifi-cam, em hiptese nenhuma, a repetio do que j foi dito. Ou seja, s podem ser ligados com conectores de conjuno segmentos que representam uma progresso discursiva. possvel dizer Dis-farou as lgrimas que o assaltaram e continuou seu discurso, porque o segundo segmento indica um desenvolvimento da expo-sio. No teria cabimento usar operadores desse tipo para ligar dois segmentos como Disfarou as lgrimas que o assaltaram e escondeu o choro que tomou conta dele.

    - Disjuno Argumentativa: h tambm operadores que in-dicam uma disjuno argumentativa, ou seja, fazem uma conexo entre segmentos que levam a concluses opostas, que tm orienta-o argumentativa diferente: ou, ou ento, quer... quer, seja... seja, caso contrrio, ao contrrio.

    No agredi esse imbecil. Ao contrrio, ajudei a separar a briga, para que ele no apanhasse.

    O argumento introduzido por ao contrrio diametralmente oposto quele de que o falante teria agredido algum.

    - Concluso: existem operadores que marcam uma concluso em relao ao que foi dito em dois ou mais enunciados anteriores (geralmente, uma das afirmaes de que decorre a concluso fica implcita, por manifestar uma voz geral, uma verdade universal-mente aceita): logo, portanto, por conseguinte, pois (o pois con-clusivo quando no encabea a orao).

    Essa guerra uma guerra de conquista, pois visa ao contro-le dos fluxos mundiais de petrleo. Por conseguinte, no moral-mente defensvel.

    Por conseguinte introduz uma concluso em relao afirma-o exposta no primeiro perodo.

    - Comparao: outros importantes operadores discursivos so os que estabelecem uma comparao de igualdade, superioridade ou inferioridade entre dois elementos, com vistas a uma concluso contrria ou favorvel a certa ideia: tanto... quanto, to... como, mais... (do) que.

    Os problemas de fuga de presos sero tanto mais graves quanto maior for a corrupo entre os agentes penitencirios.

    O comparativo de igualdade tem no texto uma funo argu-mentativa: mostrar que o problema da fuga de presos cresce me-dida que aumenta a corrupo entre os agentes penitencirios; por isso, os segmentos podem at ser permutveis do ponto de vista sinttico, mas no o so do ponto de vista argumentativo, pois no h igualdade argumentativa proposta, Tanto maior ser a cor-rupo entre os agentes penitencirios quanto mais grave for o problema da fuga de presos.

    Muitas vezes a permutao dos segmentos leva a concluses opostas: Imagine-se, por exemplo, o seguinte dilogo entre o dire-tor de um clube esportivo e o tcnico de futebol:

    __Precisamos promover atletas das divises de base para reforar nosso time.

    __Qualquer atleta das divises de base to bom quanto os do time principal.

    Nesse caso, o argumento do tcnico a favor da promoo, pois ele declara que qualquer atleta das divises de base tem, pelo menos, o mesmo nvel dos do time principal, o que significa que estes no primam exatamente pela excelncia em relao aos ou-tros.

    Suponhamos, agora, que o tcnico tivesse invertido os seg-mentos na sua fala:

    __Qualquer atleta do time principal to bom quanto os das divises de base.

    Nesse caso, seu argumento seria contra a necessidade da pro-moo, pois ele estaria declarando que os atletas do time principal so to bons quanto os das divises de base.

    - Explicao ou Justificativa: h operadores que introduzem uma explicao ou uma justificativa em relao ao que foi dito anteriormente: porque, j que, que, pois.

  • Didatismo e Conhecimento 13

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    J que os Estados Unidos invadiram o Iraque sem autori-zao da ONU, devem arcar sozinhos com os custos da guerra.

    J que inicia um argumento que d uma justificativa para a tese de que os Estados Unidos devam arcar sozinhos com o custo da guerra contra o Iraque.

    - Contrajuno: os operadores discursivos que assinalam uma relao de contrajuno, isto , que ligam enunciados com orientao argumentativa contrria, so as conjunes adversati-vas (mas, contudo, todavia, no entanto, entretanto, porm) e as concessivas (embora, apesar de, apesar de que, conquanto, ainda que, posto que, se bem que).

    Qual a diferena entre as adversativas e as concessivas, se tanto umas como outras ligam enunciados com orientao argu-mentativa contrria?

    Nas adversativas, prevalece a orientao do segmento intro-duzido pela conjuno.

    O atleta pode cair por causa do impacto, mas se levanta mais decidido a vencer.

    Nesse caso, a primeira orao conduz a uma concluso negati-va sobre um processo ocorrido com o atleta, enquanto a comeada pela conjuno mas leva a uma concluso positiva. Essa segun-da orientao a mais forte.

    Compare-se, por exemplo, Ela simptica, mas no boni-ta com Ela no bonita, mas simptica. No primeiro caso, o que se quer dizer que a simpatia suplantada pela falta de beleza; no segundo, que a falta de beleza perde relevncia diante da sim-patia. Quando se usam as conjunes adversativas, introduz-se um argumento com vistas a determinada concluso, para, em seguida, apresentar um argumento decisivo para uma concluso contrria.

    Com as conjunes concessivas, a orientao argumentativa que predomina a do segmento no introduzido pela conjuno.

    Embora haja conexo entre saber escrever e saber gramti-ca, trata-se de capacidades diferentes.

    A orao iniciada por embora apresenta uma orientao ar-gumentativa no sentido de que saber escrever e saber gramtica so duas coisas interligadas; a orao principal conduz direo argumentativa contrria.

    Quando se utilizam conjunes concessivas, a estratgia ar-gumentativa a de introduzir no texto um argumento que, embo-ra tido como verdadeiro, ser anulado por outro mais forte com orientao contrria.

    A diferena entre as adversativas e as concessivas, portanto, de estratgia argumentativa. Compare os seguintes perodos:

    Por mais que o exrcito tivesse planejado a operao (argu-mento mais fraco), a realidade mostrou-se mais complexa (argu-mento mais forte).

    O exrcito planejou minuciosamente a operao (argumen-to mais fraco), mas a realidade mostrou-se mais complexa (argu-mento mais forte).

    - Argumento Decisivo: h operadores discursivos que intro-duzem um argumento decisivo para derrubar a argumentao con-trria, mas apresentando-o como se fosse um acrscimo, como se fosse apenas algo mais numa srie argumentativa: alm do mais, alm de tudo, alm disso, ademais.

    Ele est num perodo muito bom da vida: comeou a namo-rar a mulher de seus sonhos, foi promovido na empresa, recebeu um prmio que ambicionava havia muito tempo e, alm disso, ga-nhou uma bolada na loteria.

    O operador discursivo introduz o que se considera a prova mais forte de que Ele est num perodo muito bom da vida; no entanto, essa prova apresentada como se fosse apenas mais uma.

    - Generalizao ou Amplificao: existem operadores que assinalam uma generalizao ou uma amplificao do que foi dito antes: de fato, realmente, como alis, tambm, verdade que.

    O problema da erradicao da pobreza passa pela gerao de empregos. De fato, s o crescimento econmico leva ao aumen-to de renda da populao.

    O conector introduz uma amplificao do que foi dito antes.

    Ele um tcnico retranqueiro, como alis o so todos os que atualmente militam no nosso futebol.

    O conector introduz uma generalizao ao que foi afirmado: no ele, mas todos os tcnicos do nosso futebol so retranquei-ros.

    - Especificao ou Exemplificao: tambm h operadores que marcam uma especificao ou uma exemplificao do que foi afirmado anteriormente: por exemplo, como.

    A violncia no um fenmeno que est disseminado apenas entre as camadas mais pobres da populao. Por exemplo, cres-cente o nmero de jovens da classe mdia que esto envolvidos em toda sorte de delitos, dos menos aos mais graves.

    Por exemplo assinala que o que vem a seguir especifica, exemplifica a afirmao de que a violncia no um fenmeno adstrito aos membros das camadas mais pobres da populao.

    - Retificao ou Correo: h ainda os que indicam uma re-tificao, uma correo do que foi afirmado antes: ou melhor, de fato, pelo contrrio, ao contrrio, isto , quer dizer, ou seja, em outras palavras. Exemplo:

    Vou-me casar neste final de semana. Ou melhor, vou passar a viver junto com minha namorada.

    O conector inicia um segmento que retifica o que foi dito an-tes.

    Esses operadores servem tambm para marcar um esclareci-mento, um desenvolvimento, uma redefinio do contedo enun-ciado anteriormente. Exemplo:

  • Didatismo e Conhecimento 14

    LNGUA PORTUGUESA

    A ltima tentativa de proibir a propaganda de cigarros nas corridas de Frmula 1 no vingou. De fato, os interesses dos fabri-cantes mais uma vez prevaleceram sobre os da sade.

    O conector introduz um esclarecimento sobre o que foi dito antes.

    Servem ainda para assinalar uma atenuao ou um reforo do contedo de verdade de um enunciado. Exemplo:

    Quando a atual oposio estava no comando do pas, no fez o que exige hoje que o governo faa. Ao contrrio, suas polti-cas iam na direo contrria do que prega atualmente.

    O conector introduz um argumento que refora o que foi dito antes.

    - Explicao: h operadores que desencadeiam uma explica-o, uma confirmao, uma ilustrao do que foi afirmado antes: assim, desse modo, dessa maneira.

    O exrcito inimigo no desejava a paz. Assim, enquanto se processavam as negociaes, atacou de surpresa.

    O operador introduz uma confirmao do que foi afirmado antes.

    Coeso por Justaposio

    a coeso que se estabelece com base na sequncia dos enun-ciados, marcada ou no com sequenciadores. Examinemos os prin-cipais sequenciadores.

    - Sequenciadores Temporais: so os indicadores de anterio-ridade, concomitncia ou posterioridade: dois meses depois, uma semana antes, um pouco mais tarde, etc. (so utilizados predomi-nantemente nas narraes).

    Uma semana antes de ser internado gravemente doente, ele esteve conosco. Estava alegre e cheio de planos para o futuro.

    - Sequenciadores Espaciais: so os indicadores de posio relativa no espao: esquerda, direita, junto de, etc. (so usados principalmente nas descries).

    A um lado, duas estatuetas de bronze dourado, represen-tando o amor e a castidade, sustentam uma cpula oval de forma ligeira, donde se desdobram at o pavimento bambolins de cassa finssima. (...) Do outro lado, h uma lareira, no de fogo, que o dispensa nosso ameno clima fluminense, ainda na maior fora do inverno.

    Jos de Alencar. Senhora.So Paulo, FTD, 1992, p. 77.

    - Sequenciadores de Ordem: so os que assinalam a ordem dos assuntos numa exposio: primeiramente, em segunda, a se-guir, finalmente, etc.

    Para mostrar os horrores da guerra, falarei, inicialmente, das agruras por que passam as populaes civis; em seguida, dis-correrei sobre a vida dos soldados na frente de batalha; finalmen-te, exporei suas consequncias para a economia mundial e, por-tanto, para a vida cotidiana de todos os habitantes do planeta.

    - Sequenciadores para Introduo: so os que, na conver-sao principalmente, servem para introduzir um tema ou mudar de assunto: a propsito, por falar nisso, mas voltando ao assunto, fazendo um parntese, etc.

    Joaquim viveu sempre cercado do carinho de muitas pes-soas. A propsito, era um homem que sabia agradar s mulheres.

    - Operadores discursivos no explicitados: se o texto for construdo sem marcadores de sequenciao, o leitor dever in-ferir, a partir da ordem dos enunciados, os operadores discursivos no explicitados na superfcie textual. Nesses casos, os lugares dos diferentes conectores estaro indicados, na escrita, pelos sinais de pontuao: ponto-final, vrgula, ponto-e-vrgula, dois-pontos.

    A reforma poltica indispensvel. Sem a existncia da fide-lidade partidria, cada parlamentar vota segundo seus interesses e no de acordo com um programa partidrio. Assim, no h ba-ses governamentais slidas.

    Esse texto contm trs perodos. O segundo indica a causa de a reforma poltica ser indispensvel. Portanto o ponto-final do primeiro perodo est no lugar de um porque.

    A lngua tem um grande nmero de conectores e sequencia-dores. Apresentamos os principais e explicamos sua funo. pre-ciso ficar atento aos fenmenos de coeso. Mostramos que o uso inadequado dos conectores e a utilizao inapropriada dos anaf-ricos ou catafricos geram rupturas na coeso, o que leva o texto a no ter sentido ou, pelo menos, a no ter o sentido desejado. Outra falha comum no que tange a coeso a falta de partes indispens-veis da orao ou do perodo. Analisemos este exemplo:

    As empresas que anunciaram que apoiariam a campanha de combate fome que foi lanada pelo governo federal.

    O perodo compe-se de:- As empresas- que anunciaram (orao subordinada adjetiva restritiva da

    primeira orao)- que apoiariam a campanha de combate fome (orao su-

    bordinada substantiva objetiva direta da segunda orao)- que foi lanada pelo governo federal (orao subordinada

    adjetiva restritiva da terceira orao).

    Observe-se que falta o predicado da primeira orao. Quem escreveu o perodo comeou a encadear oraes subordinadas e esqueceu-se de terminar a principal.

    Quebras de coeso desse tipo so mais comuns em perodos longos. No entanto, mesmo quando se elaboram perodos curtos preciso cuidar para que sejam sintaticamente completos e para que suas partes estejam bem conectadas entre si.

  • Didatismo e Conhecimento 15

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    Para que um conjunto de frases constitua um texto, no bas-ta que elas estejam coesas: se no tiverem unidade de sentido, mesmo que aparentemente organizadas, elas no passaro de um amontoado injustificado. Exemplo:

    Vivo h muitos anos em So Paulo. A cidade tem excelentes restaurantes. Ela tem bairros muito pobres. Tambm o Rio de Ja-neiro tem favelas.

    Todas as frases so coesas. O hipernimo cidade retoma o substantivo So Paulo, estabelecendo uma relao entre o segun-do e o primeiro perodos. O pronome ela recupera a palavra cidade, vinculando o terceiro ao segundo perodo. O operador tam-bm realiza uma conjuno argumentativa, relacionando o quar-to perodo ao terceiro. No entanto, esse conjunto no um texto, pois no apresenta unidade de sentido, isto , no tem coerncia. A coeso, portanto, condio necessria, mas no suficiente, para produzir um texto.

    Coerncia

    Infncia

    O camisoloO jarro

    O passarinhoO oceano

    A vista na casa que a gente sentava no sof

    Adolescncia

    Aquele amorNem me fale

    Maturidade

    O Sr. e a Sra. AmadeuParticipam a V. Exa.O feliz nascimento

    De sua filhaGilberta

    Velhice

    O netinho jogou os culosNa latrina

    Oswaldo de Andrade. Poesias reunidas.4 Ed. Rio de Janeiro

    Civilizao Brasileira, 1974, p. 160-161.

    Talvez o que mais chame a ateno nesse poema, ao menos primeira vista, seja a ausncia de elementos de coeso, quer reto-mando o que foi dito antes, quer encadeando segmentos textuais. No entanto, percebemos nele um sentido unitrio, sobretudo se soubermos que o seu ttulo As quatro gares, ou seja, as quatro estaes.

    Com essa informao, podemos imaginar que se trata de fla-shes de cada uma das quatro grandes fases da vida: a infncia, a adolescncia, a maturidade e a velhice. A primeira caracterizada pelas descobertas (o oceano), por aes (o jarro, que certamente a criana quebrara; o passarinho que ela caara) e por experincias marcantes (a visita que se percebia na sala apropriada e o cami-solo que se usava para dormir); a segunda caracterizada por amores perdidos, de que no se quer mais falar; a terceira, pela formalidade e pela responsabilidade indicadas pela participao formal do nascimento da filha; a ltima, pela condescendncia para com a traquinagem do neto (a quem cabe a vez de assumir a ao). A primeira parte uma sucesso de palavras; a segunda, uma frase em que falta um nexo sinttico; a terceira, a participao do nascimento de uma filha; e a quarta, uma orao completa, po-rm aparentemente desgarrada das demais.

    Como se explica que sejamos capazes de entender esse poema em seus mltiplos sentidos, apesar da falta de marcadores de coe-so entre as partes?

    A explicao est no fato de que ele tem uma qualidade indis-pensvel para a existncia de um texto: a coerncia.

    Que a unidade de sentido resultante da relao que se esta-belece entre as partes do texto. Uma ideia ajuda a compreender a outra, produzindo um sentido global, luz do qual cada uma das partes ganha sentido. No poema acima, os subttulos Infncia, Adolescncia, Maturidade e Velhice garantem essa unidade. Colocar a participao formal do nascimento da filha, por exem-plo, sob o ttulo Maturidade d a conotao da responsabilida-de habitualmente associada ao indivduo adulto e cria um sentido unitrio.

    Esse texto, como outros do mesmo tipo, comprova que um conjunto de enunciados pode formar um todo coerente mesmo sem a presena de elementos coesivos, isto , mesmo sem a presena explcita de marcadores de relao entre as diferentes unidades lingusticas. Em outros termos, a coeso funciona apenas como um mecanismo auxiliar na produo da unidade de sentido, pois esta depende, na verdade, das relaes subjacentes ao texto, da no-contradio entre as partes, da continuidade semntica, em sntese, da coerncia.

    A coerncia um fator de interpretabilidade do texto, pois possibilita que todas as suas partes sejam englobadas num nico significado que explique cada uma delas. Quando esse sentido no pode ser alcanado por faltar relao de sentido entre as partes, lemos um texto incoerente, como este:

    A todo ser humano foi dado o direito de opo entre a medio-cridade de uma vida que se acomoda e a grandeza de uma vida voltada para o aprimoramento intelectual.

    A adolescncia uma fase to difcil que todos enfrentam. De repente vejo que no sou mais uma criancinha dependente do papai. Chegou a hora de me decidir! Tenho que escolher uma profisso para me realizar e ser independente financeiramente.

    No pas em que vivemos, que predomina o capitalismo, o mais rico sempre quem vence!

    Apud: J. A. Durigan, M. B. M. Abaurre e Y. F. Vieira (orgs).A magia da mudana. Campinas, Unicamp, 1987, p. 53.

  • Didatismo e Conhecimento 16

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    Nesses pargrafos, vemos trs temas (direito de opo; adoles-cncia e escolha profissional; relaes sociais sob o capitalismo) que mantm relaes muito tnues entre si. Esse fato, prejudicando a continuidade semntica entre as partes, impede a apreenso do todo e, portanto, configura um texto incoerente.

    H no texto, vrios tipos de relao entre as partes que o com-pem, e, por isso, costuma-se falar em vrios nveis de coerncia.

    Coerncia Narrativa

    A coerncia narrativa consiste no respeito s implicaes l-gicas entre as partes do relato. Por exemplo, para que um sujeito realize uma ao, preciso que ele tenha competncia para tanto, ou seja, que saiba e possa efetu-la. Constitui, ento, incoern-cia narrativa o seguinte exemplo: o narrador conta que foi a uma festa onde todos fumavam e, por isso, a espessa fumaa impedia que se visse qualquer coisa; de repente, sem mencionar nenhuma mudana dessa situao, ele diz que se encostou a uma coluna e passou a observar as pessoas, que eram ruivas, loiras, morenas. Se o narrador diz que no podia enxergar nada, incoerente dizer que via as pessoas com tanta nitidez. Em outros termos, se nega a competncia para a realizao de um desempenho qualquer, esse desempenho no pode ocorrer. Isso por respeito s leis da coern-cia narrativa. Observe outro exemplo:

    Pior fez o quarto-zagueiro Edinho Baiano, do Paran Clu-be, entrevistado por um reprter da Rdio Cidade. O Paran tinha tomado um balaio de gols do Guarani de Campinas, alguns dias antes. O reprter queria saber o que tinha acontecido. Edinho no teve dvida sobre os motivos:

    __ Como a gente j esperava, fomos surpreendidos pelo ata-que do Guarani.

    Ernni Buchman. In: Folha de Londrina.

    A surpresa implica o inesperado. No se pode ser surpreendi-do com o que j se esperava que acontecesse.

    Coerncia Argumentativa

    A coerncia argumentativa diz respeito s relaes de im-plicao ou de adequao entre premissas e concluses ou entre afirmaes e consequncias. No possvel algum dizer que a favor da pena de morte porque contra tirar a vida de algum. Da mesma forma, incoerente defender o respeito lei e Constitui-o Brasileira e ser favorvel execuo de assaltantes no interior de prises.

    Muitas vezes, as concluses no so adequadas s premissas. No h coerncia, por exemplo, num raciocnio como este:

    H muitos servidores pblicos no Brasil que so verdadeiros marajs.

    O candidato a governador funcionrio pblico.Portanto o candidato um maraj.

    Segundo uma lei da lgica formal, no se pode concluir nada com certeza baseado em duas premissas particulares. Dizer que muitos servidores pblicos so marajs no permite concluir que qualquer um seja.

    A falta de relao entre o que se diz e o que foi dito anterior-mente tambm constitui incoerncia. o que se v neste dilogo:

    __ Vereador, o senhor a favor ou contra o pagamento de pedgio para circular no centro da cidade?

    __ preciso melhorar a vida dos habitantes das grandes ci-dades. A degradao urbana atinge a todos ns e, por conseguin-te, necessrio reabilitar as reas que contam com abundante oferta de servios pblicos.

    Coerncia Figurativa

    A coerncia figurativa refere-se compatibilidade das figuras que manifestam determinado tema. Para que o leitor possa per-ceber o tema que est sendo veiculado por uma srie de figuras encadeadas, estas precisam ser compatveis umas com as outras. Seria estranho (para dizer o mnimo) que algum, ao descrever um jantar oferecido no palcio do Itamarati a um governador estran-geiro, depois de falar de baixela de prata, porcelana finssima, flo-res, candelabros, toalhas de renda, inclusse no percurso figurativo guardanapos de papel.

    Coerncia Temporal

    Por coerncia temporal entende-se aquela que concerne su-cesso dos eventos e compatibilidade dos enunciados do ponto de vista de sua localizao no tempo. No se poderia, por exemplo, dizer: O assassino foi executado na cmara de gs e, depois, condenado morte.

    Coerncia Espacial

    A coerncia espacial diz respeito compatibilidade dos enun-ciados do ponto de vista da localizao no espao. Seria incoeren-te, por exemplo, o seguinte texto: O filme A Marvada Carne mostra a mudana sofrida por um homem que vivia l no interior e encanta-se com a agitao e a diversidade da vida na capital, pois aqui j no suportava mais a mesmice e o tdio. Dizendo l no interior, o enunciador d a entender que seu pronunciamento est sendo feito de algum lugar distante do interior; portanto ele no poderia usar o advrbio aqui para localizar a mesmice e o tdio que caracterizavam a vida interiorana da personagem. Em sntese, no coerente usar l e aqui para indicar o mesmo lugar.

    Coerncia do Nvel de Linguagem Utilizado

    A coerncia do nvel de linguagem utilizado aquela que con-cerne compatibilidade do lxico e das estruturas morfossintti-cas com a variante escolhida numa dada situao de comunicao. Ocorre incoerncia relacionada ao nvel de linguagem quando, por exemplo, o enunciador utiliza um termo chulo ou pertencente linguagem informal num texto caracterizado pela norma culta for-mal. Tanto sabemos que isso no permitido que, quando o faze-mos, acrescentamos uma ressalva: com perdo da palavra, se me permitem dizer. Observe um exemplo de incoerncia nesse nvel:

  • Didatismo e Conhecimento 17

    LNGUA PORTUGUESA

    Tendo recebido a notificao para pagamento da chama-da taxa do lixo, ouso dirigir-me a V. Ex, senhora prefeita, para expor-lhe minha inconformidade diante dessa medida, porque o IPTU foi aumentado, no governo anterior, de 0,6% para 1% do valor venal do imvel exatamente para cobrir as despesas da mu-nicipalidade com os gastos de coleta e destinao dos resduos s-lidos produzidos pelos moradores de nossa cidade. Francamente, achei uma sacanagem esta armao da Prefeitura: jogar mais um gasto nas costas da gente.

    Como se v, o lxico usado no ltimo perodo do texto destoa completamente do utilizado no perodo anterior.

    Ningum h de negar a incoerncia de um texto como este: Saltou para a rua, abriu a janela do 5 andar e deixou um bilhe-te no parapeito explicando a razo de seu suicdio, em que h evidente violao da lei sucessivamente dos eventos. Entretanto talvez nem todo mundo concorde que seja incoerente incluir guar-danapos de papel no jantar do Itamarati descrito no item sobre coerncia figurativa, algum poderia objetivar que preconceito consider-los inadequados. Ento, justifica-se perguntar: o que, afinal, determina se um texto ou no coerente?

    A natureza da coerncia est relacionada a dois conceitos b-sicos de verdade: adequao realidade e conformidade lgica entre os enunciados.

    Vimos que temos diferentes nveis de coerncia: narrativa, ar-gumentativa, figurativa, etc. Em cada nvel, temos duas espcies diversas de coerncia:

    - extratextual: aquela que diz respeito adequao entre o texto e uma realidade exterior a ele.

    - intratextual: aquela que diz respeito compatibilidade, adequao, no-contradio entre os enunciados do texto.

    A exterioridade a que o contedo do texto deve ajustar-se pode ser:

    - o conhecimento do mundo: o conjunto de dados referentes ao mundo fsico, cultura de um povo, ao contedo das cincias, etc. que constitui o repertrio com que se produzem e se entendem textos. O perodo O homem olhou atravs das paredes e viu onde os bandidos escondiam a vtima que havia sido sequestrada incoerente, pois nosso conhecimento do mundo diz que homens no vem atravs das paredes. Temos, ento, uma incoerncia fi-gurativa extratextual.

    - os mecanismos semnticos e gramaticais da lngua: o con-junto dos conhecimentos sobre o cdigo lingustico necessrio codificao de mensagens decodificveis por outros usurios da mesma lngua. O texto seguinte, por exemplo, est absolutamente sem sentido por inobservncia de mecanismos desse tipo:

    Conscientizar alunos pr-slidos ao ingresso de uma carrei-ra universitria informaes crticas a respeito da realidade pro-fissional a ser optada. Deve ser ciado novos mtodos criativos nos ensinos de primeiro e segundo grau: estimulando o aluno a forma-o crtica de suas ideias as quais, sero a praticidade cotidiana. Aptides pessoais sero associadas a testes vocacionais srios de maneira discursiva a analisar conceituaes fundamentais.

    Apud: J. A. Durigan et alii. Op. cit., p. 58.

    Fatores de Coerncia

    - O contexto: para uma dada unidade lingustica, funcio-na como contexto a unidade lingustica maior que ela: a slaba contexto para o fonema; a palavra, para a slaba; a orao, para a palavra; o perodo, para a orao; o texto, para o perodo, e assim por diante.

    Um chopps, dois pastel, o polpettone do Jardim de Napo-li, cruzar a Ipiranga com a avenida So Joo, o Parmera, o Curntia, todo mundo estar usando cinto de segurana.

    primeira vista, parece no haver nenhuma coerncia na enu-merao desses elementos. Quando ficamos sabendo, no entanto, que eles fazem parte de um texto intitulado 100 motivos para gostar de So Paulo, o que aparentemente era catico torna-se coerente:

    100 motivos para gostar de So Paulo

    1. Um chopps2. E dois pastel(...)5. O polpettone do Jardim de Napoli(...)30. Cruzar a Ipiranga com a av. So Joo(...)43. O Parmera(...)45. O Curntia(..)59. Todo mundo estar usando cinto de segurana(...)

    O texto apresenta os traos culturais da cidade, e todos con-vergem para um nico significado: a celebrao da capital do esta-do de So Paulo no seu aniversrio. Os dois primeiros itens de nos-so exemplo referem-se a marcas lingusticas do falar paulistano; o terceiro, a um prato que tornou conhecido o restaurante chamado Jardim de Napoli; o quarto, a um verso da msica Sampa, de Caetano Veloso; o sexto e o stimo, maneira como os dois times mais populares da cidade so denominados na variante lingustica popular; o ltimo obedincia a uma lei que na poca ainda no vigorava no resto do pas.

    - A situao de comunicao:

    __A telefnica.__Era hoje?

    Esse dilogo no seria compreendido fora da situao de in-terlocuo, porque deixa implcitos certos enunciados que, dentro dela, so perfeitamente compreendidos:

    __ O empregado da companhia telefnica que vinha conser-tar o telefone est a.

    __ Era hoje que ele viria?

  • Didatismo e Conhecimento 18

    LNGUA PORTUGUESA

    - O conhecimento de mundo:

    31 de maro / 1 de abrilDvida Revolucionria

    Ontem foi hoje?Ou hoje que foi ontem?

    Aparentemente, falta coerncia temporal a esse poema: o que significa ontem foi hoje ou hoje que foi ontem?. No entanto, as duas datas colocadas no incio do poema e o ttulo remetem a um episdio da Histria do Brasil, o golpe militar de 1964, chama-do Revoluo de 1964. Esse fato deve fazer parte de nosso conhe-cimento de mundo, assim como o detalhe de que ele ocorreu no dia 1 de abril, mas sua comemorao foi mudada para 31 de maro, para evitar relaes entre o evento e o dia da mentira.

    - As regras do gnero:

    O homem olhou atravs das paredes e viu onde os bandidos escondiam a vtima que havia sido sequestrada.

    Essa frase incoerente no discurso cotidiano, mas comple-tamente coerente no mundo criado pelas histrias de super-heris, em que o Super-Homem, por exemplo, tem fora praticamente ilimitada; pode voar no espao a uma velocidade igu