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4 D E C E P C I O N A D O C O M D E U S

DECEPCIONADO COM DEUS

CATEGORIA: ESPIRITUALIDADE/VIDA CRISTÃ

Copyright © 1988, por Philip YanceyPublicado originalmente por Zondervan Publishing House (Grand Rapids, Michigan – USA)Todos os direitos reservados

Título original em inglês: Disappointment with God: Three Questions No One Asks Aloud

Tradução: Márcio Loureiro Redondo

Preparação de texto: Omar de Sousa

Revisão: Pedro Borges

Capa: Douglas Lucas

Impressão: Imprensa da Fé

Esta edição revisada foi publicada em maio de 2004, com uma tiragem de 5.000 exemplares.

Publicado no Brasil com a devida autorização e com todos os direitos reservados pela:

Associação Religiosa Editora Mundo CristãoRua Antonio Carlos Tacconi, 79 – CEP 04810-020 – São Paulo – SP – BrasilTelefone: (11) 5668-1700 – Home page: www.mundocristao.com.br

Editora associada a: • Associação Brasileira de Editores Cristãos• Câmara Brasileira do Livro• Evangelical Christian Publishers Association

Printed in Brazil18 17 16 15 14 13 12 11 04 05 06 07 08 09 10 11

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Yancey, PhilipDecepcionado com Deus : três perguntas que ninguém ousa fazer /

Philip Yancey ; traduzido por Márcio Loureiro Redondo. – 11. ed. –– São Paulo : Mundo Cristão, 2004.

Título original : Disappointment with God : three questions noone asks aloud

ISBN 85-7325-314-2

1. Deus – Conhecimento 2. Fé 3. Teodicéia I . Título.

04-2350 CDD - 231.7

Índice para catálogo sistemático1. Deus : Experiência Humana : Cristianismo 231.7

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS 07

PREFÁCIO 09

LIVRO 1 � D E U S N A S S O M B R A S

PRIMEIRA PARTE � OUVINDO O SILÊNCIO

CAPÍTULO 1 � Um Erro Fatal 19

CAPÍTULO 2 � A Dor da Traição 27

CAPÍTULO 3 � Três Perguntas que Ninguém Faz em Voz Alta 35

CAPÍTULO 4 � O Que Aconteceria Se... 43

CAPÍTULO 5 � A Fonte 51

SEGUNDA PARTE � ESTABELECENDO CONTATO: O PAI

CAPÍTULO 6 � Negócio Arriscado 57

CAPÍTULO 7 � O Genitor 63

CAPÍTULO 8 � A Plena Força da Luz do Sol 69

CAPÍTULO 9 � Um Instante de Resplendor 77

CAPÍTULO 10 � Fogo do Céu e a Palavra 83

CAPÍTULO 11 � Amante Ferido 89

CAPÍTULO 12 � Bom Demais para Ser Verdade 97

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TERCEIRA PARTE � APROXIMANDO-SE: O FILHO

CAPÍTULO 13 � A Descensão 103

CAPÍTULO 14 � Grandes Expectativas 107

CAPÍTULO 15 � Timidez Divina 113

CAPÍTULO 16 � O Milagre Adiado 121

CAPÍTULO 17 � Avanço 127

QUARTA PARTE � TRANSFERINDO-SE: O ESPÍRITO

CAPÍTULO 18 � Delegação 137

CAPÍTULO 19 � Mudanças 141

CAPÍTULO 20 � O Clímax 149

LIVRO 2 � E N X E R G A N D O N O E S C U R O

CAPÍTULO 21 � Uma Interrupção 161

CAPÍTULO 22 � O Único Problema 169

CAPÍTULO 23 � Um Papel no Cosmo 177

CAPÍTULO 24 � Deus É Injusto? 187

CAPÍTULO 25 � Por Que Deus Não Explica? 201

CAPÍTULO 26 � Deus Está Calado? 217

CAPÍTULO 27 � Por Que Deus Não Intervém? 231

CAPÍTULO 28 � Deus Está Escondido? 249

CAPÍTULO 29 � Por Que Jó Morreu Feliz? 259

CAPÍTULO 30 � Duas Apostas, Duas Parábolas 269

BIBLIOGRAFIA 279

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 283

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TALVEZ ALGUM DIA eu tenha de escrever um livro sem a ajuda deoutros, mas espero que essa época não chegue tão cedo, pois atualmen-te dependo imensamente das sugestões editoriais de outros leitores. Souprofundamente grato a meu amigo Tim Stafford, de quem dependi to-talmente para a leitura deste manuscrito em três rascunhos sucessivos.Esse foi um trabalho de amor: antes das oportunas sugestões de Timquanto aos cortes necessários, o manuscrito era cinqüenta por centomais longo.

Tive também a felicidade de participar de uma reunião de avaliaçãode manuscritos junto com quatro outros escritores � Steve Lawhead,Karen Mains, Luci Shaw e Walter Wangerin � que me ajudaram aestabelecer o estilo da versão final. Então em reuniões à parte, Walterme desvendou alguns dos mistérios de como narrar histórias. E estesoutros também leram e criticaram o manuscrito, dando-me conselhosvaliosos: Elsie Baker, Dr. John Boyle, Dr. Paul Brand, Harold Fickett,Hal Knight, Lee Phillips e Dr. Cornelius Planünga.

Depois de eu trabalhar com base no conselho de todo esse pessoal,Judith Markham, minha editora em três livros anteriores, preparou olivro em sua forma final. Judith proporciona uma rara combinação dediplomacia, sabedoria literária, bondade e, acima de tudo, a busca daqualidade. Ela é boa amiga, e ótima editora.

AGRADECIMENTOS

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Devo também mencionar Frederick Buechner, G. K. Chesterton,C. S. Lewis, Jürgen Moitmann, George MacDonald e Dorothy Sayers.São nomes com quem você já cruzou, pois aparecem ao longo de todo olivro. No sentido mais verdadeiro, eles são meus �pastores�. Em grandeparte, continuo a crer devido a eles.

Uma classe que lecionei na minha igreja (La Salle Street Church)garantiu que pelo menos durante cinco anos eu estudasse detalhada-mente o Antigo Testamento, e seus alunos contribuíram com muitospensamentos, bem como com muitas perguntas irrespondíveis.

Mencionei algumas vezes uma inspiradora visita às montanhas doColorado: sou grato às famílias Koneman e Brayton, que possibilita-ram esse período.

E quero agradecer ao Richard. Ele tem a coragem de ser honesto;aprendi muito com ele. Espero que ele nunca pare de fazer perguntas,que nunca abandone sua busca.

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APÓS O INÍCIO DESTE PROJETO, recebi alguns telefonemas de pes-soas de minha igreja, que ouviram falar a seu respeito. �É verdade quevocê está escrevendo um livro sobre pessoas decepcionadas com Deus?�,indagavam. �Nesse caso eu gostaria de dizer algo. Nunca falei sobre issocom ninguém, mas a minha vida cristã possui momentos de grandedesilusão!�

Entrevistei algumas dessas pessoas que me telefonaram, e suas histó-rias me ajudaram a estabelecer o rumo deste livro.

Descobri que para muitas pessoas existe um grande abismo entre oque esperam de sua fé cristã e o que de fato acontece. A partir de umverdadeiro mundo de livros, sermões e testemunhos, todos prometen-do vitória e sucesso, elas aprendem a esperar que Deus atue de modoimpressionante em suas vidas. Se não enxergam tais intervenções, sen-tem-se desapontadas, traídas e freqüentemente culpadas. Como disseuma mulher:

�Eu ficava pensando na frase �relacionamento pessoal com Jesus Cris-to�. Mas, para minha surpresa, descobri que isso é diferente de qualqueroutro relacionamento pessoal. Nunca vi a Deus, nunca o ouvi, nunca osenti, nunca experimentei os elementos mais básicos de um relaciona-mento. Ou existe alguma coisa errada com o que me ensinaram, ouexiste alguma coisa errada comigo.�

PREFÁCIO

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As entrevistas me convenceram de que essa desilusão depende emgrande parte daquilo que, em primeiro lugar, esperamos de Deus. Poressa razão, a primeira parte deste livro explora a Bíblia para vermos aqui-lo que realmente podemos esperar de Deus. Hesitei em começar por aí,pois sei que algumas pessoas, de modo especial as que estão decepciona-das, quase não procuram mais a Bíblia. Mas, qual a melhor maneira decomeçar, senão deixando Deus falar por si mesmo? Procurei me livrar depreconceitos e ler a Bíblia como uma história com um �enredo�. O quedescobri me surpreendeu grandemente. Era uma história bem diferentedaquela que haviam me ensinado durante quase toda a minha vida.

Certa vez, quando expliquei este projeto a um amigo, ele franziu assobrancelhas e balançou a cabeça. �Acho que nunca tentei �psicanali-sar� a Deus�, disse. Espero que não seja isso o que estou tentando! Masquero mesmo entender a Deus melhor, aprender por que ele algumasvezes age de maneira misteriosa � ou nem parece agir.

Na verdade tive o propósito de escrever dois livros diferentes; foi oque fiz. Mas terminei pondo os dois sob a mesma capa. O segundo livrose dirige a questões mais práticas e existenciais, e aplica as idéias quedesenvolvi a situações reais � situações que cultivam o desapontamen-to com Deus. Por fim, cheguei à conclusão de que os dois enfoquesdeveriam fazer parte do mesmo livro, pois, isoladamente, tanto umaquanto outra parte estaria incompleta.

Algumas palavras de advertência, entretanto. Este não é um livro deapologética, por isso não me darei ao trabalho de apontar para as pro-vas em favor da existência de Deus na natureza, nas profecias, em Jesus.Outros autores têm feito isso com sucesso, e, além do mais, estou lidan-do com dúvidas que são mais emocionais do que intelectuais. A decep-ção normalmente ocorre quando alguém querido não se porta comoesperamos.

Também não irei discutir a questão �será que Deus realiza milagres?�Para mim é evidente que ele possui poderes e que os emprega. Deuspode intervir. Então, por que não o faz com mais freqüência? Por quenão evidenciar-se aos céticos sinceros, que gostariam de crer caso ape-nas vissem um sinal? Por que permitir que a injustiça e o sofrimento seproliferem na Terra? Por que as intervenções divinas são raras?

Uma última advertência: de modo algum estou apresentando umponto de vista equilibrado acerca da fé cristã. Afinal, estou escrevendo

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para pessoas que, em algum momento, ouviram o silêncio de Deus.Olhar para Jó e Abraão como exemplos de fé é um pouco parecido comestudar a história da civilização examinando somente as guerras. Poroutro lado, há muitos livros cristãos que não fazem qualquer menção àsguerras e prometem somente vitórias. Este é, sim, um livro sobre a fé,mas vista pelos olhos daqueles que duvidam.

Finalmente, devo explicar o método que escolhi para lidar com asreferências bíblicas. Resisti à idéia de colocá-las em notas de rodapé ouem parênteses dentro do texto: isso cria uma dificuldade de leitura, algonão muito diferente de ouvir alguém gago. Em vez disso, estou indican-do as fontes de citações diretas no final de cada capítulo. Os detetivesde verdade devem ser capazes de identificar a passagem bíblica correta.

P R E F Á C I O

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DESPERTA! POR QUE DORMES. SENHOR?

DESPERTA, NÃO NOS REJEITES PARA SEMPRE.

POR QUE ESCONDES A TUA FACE?

SALMO 44.23-24

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DEUS NAS

SOMBRA S

L I V R O 1

VOCÊ NÃO PRECISA FICAR SENTADO

LÁ FORA NO ESCURO. SE, TODAVIA,

DESEJAR OLHAR PARA AS ESTRELAS,

DESCOBRIRÁ QUE SE REQUER

ESCURIDÃO. AS ESTRELAS NÃO A

REQUEREM NEM A EXIGEM.

ANNIE DILLARD

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P R I M E I R A P A R T E

OUVINDO

O SILÊNCIO

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DESDE QUE MEU LIVRO Onde Está Deus no Meu Sofrimento foi pu-blicado, venho recebendo cartas de pessoas decepcionadas com Deus.

Uma jovem mãe escreveu que sua alegria se tornou em amargura eprofunda tristeza quando deu à luz uma menina com espinha bífida,um defeito de nascimento que deixa exposta a medula vertebral. Páginaapós página de caligrafia minúscula e trabalhada, ela relatava como ascontas médicas exauriram as economias da família e como seu casamen-to ruiu quando seu marido passou a ficar ressentido com todo o tempoque ela devotava à filhinha enferma. À medida que sua vida se desinte-grava, ela começou a duvidar do que antes havia crido sobre um Deusamoroso. Tinha eu algum conselho?

Um homossexual me contou sua história gradualmente, numa su-cessão de cartas. Por mais de uma década buscara uma �cura� para suastendências sexuais, experimentando cultos de cura, grupos cristãos deapoio e tratamento químico. Ele até mesmo se submeteu a uma formaabsurda de terapia, em que psicólogos aplicavam choques elétricos emseus órgãos genitais, caso ele reagisse a fotografias eróticas de homens.

UM ERRO FATAL

C A P Í T U L O 1

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Nada funcionou. Finalmente ele se entregou a uma vida de promiscui-dade com outros homens. Ocasionalmente ainda me escreve. Insisteem que deseja seguir a Deus, mas sente-se sem condições devido à suamaldição pessoal.

Uma jovem escreveu, um tanto constrangida, sobre sua contínuadepressão. Segundo disse, ela não tem motivo para ficar deprimida.Tem boa saúde, ganha bem e possui uma sólida base familiar. Mas namaioria dos dias, quando acorda, não consegue imaginar uma únicarazão para continuar vivendo. Já não se importa com a vida ou comDeus. Quando ora, não sabe se alguém está de fato ouvindo.

Essas e outras cartas que tenho recebido ao longo dos anos condu-zem à mesma pergunta básica, expressa de diferentes maneiras: �Seulivro trata da dor física. Mas que dizer da minha dor? Onde Deus estáquando sinto dor emocional? O que a Bíblia diz a respeito?� Respondoàs cartas da melhor maneira que posso, pesaroso e consciente de que aspalavras no papel são insatisfatórias. Será que uma palavra, qualquerpalavra, pode chegar a curar uma ferida? E devo confessar que, após leresses relatos angustiados, faço exatamente as mesmas perguntas. OndeDeus está diante de nossa dor emocional? Por que, com tanta freqüên-cia, ele nos desaponta?

A desilusão com Deus nem sempre surge de uma forma tão marcante.Para mim, ela também aparece inesperadamente nos detalhes corriquei-ros da vida diária. Recordo-me de uma noite de inverno; uma noite deum frio gélido e inclemente em Chicago. O vento assobiava, e um mis-to de neve e chuva caía forte, cobrindo as ruas com uma camada escurae brilhante. Naquela noite o motor de meu carro parou num bairropouco seguro. Enquanto eu levantava o capô e me debruçava por cimado motor, com aquela chuva e neve açoitando minhas costas comominúsculos pedriscos, orei repetidas vezes: �Por favor, ajude-me a fazerfuncionar o motor do carro.�

Por mais agitado que eu estivesse, mexendo com fios, mangueiras ecabos, nada disso dava partida no motor. Passei uma hora numa velhalanchonete, aguardando um guincho. Sentado numa cadeira de plásti-co e com as roupas encharcadas formando uma poça d�água cada vez

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maior ao meu redor, fiquei imaginando o que Deus pensava do meuinfortúnio. Eu ia perder um encontro que fora marcado para aquelanoite e provavelmente ia desperdiçar muitas horas nos dias seguintestentando fazer com que alguma oficina especializada em se aproveitarde motoristas desamparados fizesse um serviço honesto e direito. Seráque Deus se importava com a minha frustração ou com as minhas ener-gias desperdiçadas ou com o dinheiro perdido?

À semelhança da mulher constrangida diante de sua depressão, sin-to vergonha até mesmo de mencionar uma oração assim que não foirespondida. Parece algo sem importância e egoísta, talvez até mesmotolo, orar para que o carro dê partida. Mas descobri que pequenos desa-pontamentos tendem a se acumular com o passar do tempo. Começo aimaginar se Deus de fato se importa com os detalhes da minha vida, ouse ele se importa comigo. Sou tentado a orar com menos freqüência,concluindo antecipadamente que não vai adiantar. Ou vai? Minhasemoções e minha fé oscilam. Quando essas dúvidas se instalam, estouainda menos preparado para épocas de grandes crises. Uma vizinhaestá morrendo de câncer; oro dili-gentemente por ela. Mas, mesmo en-quanto oro, fico pensando: pode-seconfiar em Deus? Se tantas oraçõespequenas ficam sem resposta, quedizer das grandes?

As lutas diárias da vida parecembem distantes das frases otimistas e triunfantes sobre o amor e o interes-se pessoal de Deus que ouço às vezes em igrejas evangélicas. Até mesmoa Bíblia parece confundir: contém tanto tragédias quanto triunfos. Oque podemos esperar de Deus, afinal?

Certa manhã, num quarto de hotel, liguei a televisão e o rosto gor-ducho e quadrado de um conhecido evangelista encheu a tela. �Estoucom raiva de Deus�, disse, com um olhar furioso. Parecia uma confissãosurpreendente vinda de um homem que fizera carreira em cima da idéiade �fé do tamanho da semente de mostarda�. Durante anos tinha pre-gado que Deus intervém diretamente em favor de seus seguidores. Mas,disse ele, Deus o tinha decepcionado, e ele passou a explicar: Deus lhedera ordens para que edificasse um grande ministério e, no entanto, oprojeto se revelou um desastre financeiro. Agora ele era obrigado a

U M E R R O F A T A L

O QUE PODEMOS ESPERAR

DE DEUS, AFINAL?

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vender propriedades a preço baixo e a reduzir programas. Ele tinhafeito sua parte do acordo, mas Deus não.

Algumas semanas depois vi novamente o evangelista na televisão.Dessa vez ele estava transpirando fé e confiança. Inclinou-se em direçãoà câmera, o rosto enrugado se abrindo num amplo sorriso, e apontou odedo para um milhão de espectadores.

� Algo bom vai acontecer com você nesta semana! � disse, estican-do ao máximo a palavra �bom�. Era como um bom vendedor, profun-damente convincente. Alguns dias depois, contudo, ouvi pelo noticiá-rio que seu filho havia se suicidado. Não pude deixar de imaginar o queo evangelista disse para Deus naquela semana fatídica.

Aconteceu com pessoas como o tele-evangelista, e com pessoas comoas que escreveram cartas, e acontece com cristãos comuns. Primeirosurge o desapontamento, então uma semente de dúvida, depois umareação confusa de ira ou a sensação de ser traído. Começamos a questi-onar se Deus é digno de confiança, se de fato podemos confiar a ele asnossas vidas.

Venho refletindo sobre essa questão da decepção com Deus há bastan-te tempo, mas hesitei em escrever a respeito por duas razões. Primeiro,eu sabia que teria de me defrontar com questões que não têm respostasfáceis � questões que, na verdade, podem não ter resposta alguma. E,em segundo lugar, eu não desejava escrever um livro que, por tratar daquestão do fracasso, desencorajasse a fé de quem quer que fosse.

Sei que alguns cristãos rejeitariam sem mais nem menos a expressão�decepção com Deus�. Tal idéia é inteiramente errada, dizem. Jesus pro-meteu que a fé do tamanho de uma semente de mostarda é capaz detransportar montanhas, que qualquer coisa pode acontecer se dois outrês se reunirem para orar. A vida cristã é uma vida de vitória e triunfo.Deus quer que sejamos felizes e prósperos e que tenhamos saúde; qual-quer outra condição revela falta de fé.

Foi durante uma visita a pessoas que crêem exatamente assim quefinalmente tomei a decisão de escrever este livro. Incumbido por umarevista, estava investigando a questão da cura divina, e a pesquisa melevou a uma grande igreja de triste fama na região rural de Indiana, um

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Estado norte-americano. Eu haviatomado conhecimento da igrejaatravés de uma série de artigos pu-blicados no jornal Chicago Tribu-ne e de uma reportagem especial nonoticiário �Nightline� da rede ABCde televisão.

Os membros dessa igreja criamque a fé pura podia curar qualquerdoença e que buscar ajuda em qual-quer outro lugar ou pessoa � porexemplo, de médicos � demonstra-va uma falta de fé em Deus. Os arti-gos do Chicago Tribune menciona-ram pais que, atônitos, observavamseus filhos travarem batalhas perdi-das contra a meningite, ou a pneu-monia, ou um vírus comum de gripe � enfermidades que facilmentepoderiam ser tratadas. Em um mapa dos Estados Unidos que mostravaonde as pessoas ligadas a essa igreja atualmente vivem, um artista dojornal desenhou pequenas lápides de túmulo para assinalar os locais ondepessoas haviam morrido depois de recusarem tratamento médico, emobediência ao ensino da igreja. Havia cinqüenta e duas lápides ao todo.

De acordo com as reportagens, mulheres grávidas que seguiam oensino da igreja morriam ao dar à luz numa proporção oito vezes maiordo que a média nacional, e a taxa de mortalidade infantil era três vezesmaior. Apesar disso, a igreja estava crescendo e tinha-se estabelecidoem dezenove Estados e em outros cinco países.

Visitei a igreja-mãe, no Estado de Indiana, num dia quente de agos-to. Ondas de calor se espalhavam por cima do asfalto das estradas, enos campos de milho os talos estavam murchando e ficando queimadospelo sol. O prédio da igreja jazia sem placa indicativa no meio de umdaqueles milharais, isolado, tal como um gigantesco celeiro comunitá-rio. As pessoas estavam apreensivas devido a toda publicidade, especi-almente desde que ex-membros haviam recentemente entrado com pro-cessos na Justiça. E no estacionamento tive de convencer dois guardasa me deixar passar.

PRIMEIRO SURGE ODESAPONTAMENTO, ENTÃO

UMA SEMENTE DE DÚVIDA,DEPOIS UMA REAÇÃO

CONFUSA DE IRA OU ASENSAÇÃO DE SER TRAÍDO.

COMEÇAMOS AQUESTIONAR SE DEUS É

DIGNO DE CONFIANÇA, SE

DE FATO PODEMOS

CONFIAR A ELE AS NOSSAS

VIDAS.

U M E R R O F A T A L

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Acho que eu estava esperando um sinal de fanatismo durante o cul-to: um sermão hipnótico que levasse pessoas ao desmaio, pregado poralguém do tipo Jim Jones. Não vi nada disso. Durante noventa minu-tos, setecentos de nós estávamos sentados num grande semicírculo, can-távamos hinos e estudávamos a Bíblia.

Eu estava entre pessoas simples. As mulheres não usavam calças,mas vestidos ou saias, e utilizavam pouca maquiagem. Os homens, decamisa e gravata, sentavam-se junto de suas famílias e ajudavam a man-ter as crianças comportadas.

Ali as crianças eram bem mais onipresentes do que na maioria dasigrejas; estavam em todo lugar. Ficar quieto durante noventa minutos éalgo que está além dos limites que uma criança pequena consegue su-portar, e observei os pais tentando contornar a situação. Livros paracolorir, havia aos montes. As mães faziam jogos com os dedos dos fi-lhos. Algumas traziam montes de brinquedos em bolsas enormes.

Se eu tivesse vindo à procura de sensacionalismo para o meu artigo,teria ido embora de mãos vazias. Eu tinha visto uma pequena amostrada velha cultura americana. A família tradicional estava passando bem,pelo menos nesse local. Ali os pais amavam seus filhos tanto quanto ofazem quaisquer outros pais na terra.

E, apesar disso (o mapa com as pequenas lápides saltava à mente),alguns deles estiveram sentados à beira do leito de seus filhinhos mor-rendo, e não fizeram nada. Um pai contou ao jornal Chicago Tribuneda sua vigília de oração enquanto observava seu filho de quinze mesesde idade lutar contra uma febre durante duas semanas. A doença inici-almente provocou surdez, depois cegueira. O pastor da igreja concla-mou a ainda mais fé e persuadiu o pai a não chamar um médico. No diaseguinte, o menino estava morto. A autópsia revelou que ele morrerade uma forma de meningite facilmente tratável.

No geral, os membros da igreja em Indiana não culpam a Deus peloque aconteceu, ou pelo menos não o admitem. Em vez disso, culpam-sea si mesmos por uma fé fraca. Enquanto isso, as lápides se multiplicam.

Saí daquele culto dominical com uma profunda convicção de queaquilo que pensamos a respeito de Deus e cremos a respeito de Deus éimportante � importantíssimo. Aquelas pessoas não são bichos-papõesnem assassinos de crianças, e assim mesmo algumas dezenas de seusfilhos morreram simplesmente devido a um erro (creio eu) de teologia.

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Por causa daquelas pessoas sinceras em Indiana, junto com as pesso-as questionadoras que me têm escrito, decidi enfrentar temas que estouprofundamente tentado a evitar. (Na realidade, o ensino da igreja emIndiana não é tão diferente daquele que ouço em muitas igrejas evangé-licas e em programas religiosos no rádio e na televisão; ela simplesmen-te aplica as extravagantes promessas de fé de uma forma mais coerente.)Dessa forma, este é um livro de teologia; com toda certeza, não é umlivro técnico, mas acerca da natureza de Deus e de por que ele age deformas que causam perplexidade e de por que, às vezes, ele não age.

Não ousamos restringir a teologia às cantinas dos seminários, ondeprofessores e alunos jogam uma espécie de tênis mental. A teologiaafeta todos nós. Algumas pessoas perdem a fé devido a uma profundasensação de decepção com Deus. Esperam que Deus aja de uma certamaneira, e as coisas acontecem de forma diferente. Outras, como as deIndiana, podem não perder sua fé, mas também experimentam umaforma de desapontamento. Acreditam que Deus intervirá, oram porum milagre, e suas orações voltam sem resposta. Pelo menos cinqüentae duas vezes aconteceu daquele modo na igreja de Indiana.

U M E R R O F A T A L