2 conduta humana

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  • 8/18/2019 2 Conduta Humana

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    § 2º — A conduta humana como primeiro elemento do crime no

    Código Penal

    I. — Acções e não-acções

    Caso nº    A e B, na companhia dum terceiro, andaram a beber, até que entraram na adega dum deles paratomarem mais uns copos. Quando A se encontrava agachado para tirar vinho duma pipa, comas pernas afastadas, de costas para  B, este agarrou-lhe, por detrás, com força, por los genitales.

     Nesse momento, o  A, contorcendo-se com dores, girou bruscamente o corpo, batendo com ocotovelo no  B, que perdeu o equilíbrio e caiu, dando com a cabeça no cho de cimento.  B ficou

     por algum tempo inconsciente e depois, muito abalado, pediu que o levassem a casa, recusando-se a ir a um hospital. !eio a morrer cerca de uma hora depois, apresentando contuso fronto-

     parietal produ"ida na queda. #esumo dos factos apreciados pelo aresto de $% de &etembro de1'(% do )ribunal &upremo de *spanha.

    +unibilidade de  A +rocura-se saber se o comportamento de  A  transpe o limiar darelevncia como comportamento punível. )ratando-se, no caso, dum comportamentoreflexo, qual o alcance deste entendimento

    /oi instintivo o movimento corporal que provocou a queda do  B, reconheceu o tribunal nasentença que absolveu o A. 0 reacço foi devida a um estímulo fisiolgico ou corporal, semintervenço da consci2ncia, por acto reflexo ou em curto circuito. 0ctos refle3os consistemem movimentos corporais que surgem de um estímulo sensorial a uma acço motora, 4margem do sistema nervoso central. 0 morte do B resultou afinal dum simples acidente 5 4actuaço do A no se poderá atribuir o significado de acção normativamente controlável. 617

    8 pouco normal que casos destes cheguem a 9ulgamento, parece até forçado acusar alguémque desde início se sabia que tinha actuado instintivamente.

    &endo claro que é a vontade que separa a acço humana do simples facto causal,compreende-se que a responsabilidade penal no deva incidir em acontecimentos ligados aactos refle3os ou a comportamentos inconscientes. 6$7

    * noutros casos, como os automatismos 5a soluço deverá ser id2ntica

    :s automatismos so produto da aprendi"agem, por e3., o andar, ou o e3ercício continuadoda conduço automvel; meter as mudanças, dar gás, guinar a direcço para a esquerda ou

     para a direita, fa"er sinais de lu"es, meter o pé ao travo.

    0 controvérsia em torno do conceito de acço foi sem d e ?> do século passado, mas perdeuentretanto muito dessa sua importncia. !o"es autori"adas levantaram-se contra a sua@hipervalori"aço no sistemaA, adscrevendo-lhe apenas uma funço de filtro, puramentedelimitativa 6@negativaA7, servindo para @e3cluir da tipicidade comportamentos ab initio

    1 Bf. o comentário a esta deciso em &ilva &ánche", @Ca funcin negativa del concepto de accin. 0lgunossupuestos problemáticos 6movimientos refle9os, actos en cortocircuito, reacciones automáticas7A,  ADPCP ,1'(?, p. '>= e segs.$ 0 fi3aço consciente do ob9ectivo, a selecço consciente dos meios e a reali"aço levada a efeito medianteum acto de direcço consciente  representam o tipo ideal  de uma acço, o qual, todavia, no esgota a

    variedade dos comportamentos humanos.

    D. Digue" Earcia, O risco de comer uma sopa e outros casos de Direito Penal , Elementos da Parte Geral  6F $G A conduta humana7,$>>H

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    $

     9uridico-penalmente irrelevantes 5 enquanto a prima"ia há-de ser conferida, sem rebuços,ao conceito de reali"aço típica do ilícito e 4 funço por ele desempenhada na construçoteleolgica do crimeA. 6%7

    0 doutrina actual, mesmo quando se inclina para a no acço nos actos refle3os, afirma-a

    em geral ao nível dos automatismos, que se desenvolvem sem a intervenço da consci2nciaactiva.

    Ieve contudo notar-se que, em certas ocasies, podem surgir d>H

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    %

    Bomo se viu, alguns acontecimentos participam de processos causais vinculados amovimentos corporais de uma pessoa, como certos actos reflexos, que so causados por uma e3citaço de carácter fisiolgico, um acesso de tosse, um vmito repentino, que

     praticamente impossibilitam o controlo dos movimentos. 8 de acto refle3o a conhecida

    imagem da medicina, em que o médico bate com o martelinho no 9oelho do paciente e oindu" a pro9ectar o pé para a frente, de forma descontrolada. :utros e3emplos so ascontracçes derivadas do contacto com uma corrente eléctrica ou da entrada dolorosa deum insecto num olho. Ninguém sustentará em tais casos a relevncia penal docomportamento. Das como melhor se 9ustificará a seguir, houve ainda acço quando umacondutora perdeu o domínio do carro, provocando um acidente, por se ter inclinado paratrás, defendendo-se dum insecto que subitamente lhe entrou num olho 6 =7. +or outro lado,se um automobilista, que circula de noite a '> quilmetros por hora, ao ver aparecer subitamente na estrada um animal do tamanho duma lebre, a uma distncia de 1>-1= metros,dirige o carro para a esquerda e embate no separador central, provocando a morte de quemo acompanha 5 a reacço de desviar o carro, di" #o3in, A#, p. $>=, a propsito deste caso

     9ulgado pelos tribunais alemes, é uma actividade automati"ada, em que o condutor actuano seguimento de uma longa prática, a qual se transforma, eventualmente sem uma refle3oconsciente, em movimentos. :s movimentos que se repetem constantemente esto, via deregra, em grande parte automati"ados no homem. 8 o que acontece com o andar e aconduço automvel. *sta automati"aço de alguns comportamentos é dum modo geralfavorável, por permitir acelerar a reacço em situaçes que no consentem qualquer refle3o, por nisso se perder demasiado tempo. 0inda assim, a automati"aço podecondu"ir, em certos casos, a reacçes erradas, que se produ"em de maneira to poucoconsciente como as formas correctas de condu"ir. Das também os automatismos soacçes. Ie acordo com #o3in,  A#, p. 1==, as disposiçes para agir que so fruto daaprendi"agem 6erlehrnte $andlungsdispositionen7 pertencem ao con9unto da personalidade,

    so, por isso mesmo, afirmaçes da personalidade, independentemente das consequ2ncias,nocivas ou no, a que condu"am. :s automatismos e as reacçes espontneas, como asderivadas de estados de %iolenta excita&'o emocional   e de embriague( profundaconstituem acçes. )odos eles representam respostas do aparelho anímico ao mundoe3terior, so ainda @e3teriori"açes da personalidadeA, e portanto e3presso da parteanímico-espiritual do ser humano. 6?7

     No caso da condutora, *ser R SurThardt apreciam assim a punibilidade de A) a conduço deum automvel com a 9anela aberta e sem que o condutor se concentre suficientemente demodo a evitar automatismos perigosos fa"em da conduço um comportamento no

     permitido e perigoso 5trata-se, portanto, de um comportamento ob9ectivamente típico.*ste comportamento típico produ"iu leses corporais noutras pessoas. 0 produço do

    resultado típico é também a reali"aço do risco no permitido por parte de  A. Iaí que otipo ob9ectivo do Uartigo 1L(GV se encontre preenchido. /altará analisar também em sede de

    = *ser R SurThardt, caso nG %.? @0 acço penalmente relevante e3ige 6mesmo que automática7 pelo menos uma possibilidade efectiva desubstituir o comportamento automático por um comportamento conscientemente dirigido, imediatamenteantes ou durante a e3ecuço do agente. &e o agente para se defender duma mosca ou de uma abelha tirarepentinamente as mos do volante e dei3a o carro guinar para a fai3a contrária 6provocando um acidente7

     parece ser possível afirmar que poderia ultrapassar conscientemente a ced2ncia a uma reacço defensivae3cessiva e incontrolada, se tivesse a possibilidade de prever que outros veículos via9avam na fai3a contrária6limiar sub9ectivo da neglig2ncia inconsciente7.A Bf. +rofW /ernanda +alma, referindo aTobs,  A# , p. ?' e ss.e *ser R SurThardt, Derecho Penal , p. 1LL.

    D. Digue" Earcia, O risco de comer uma sopa e outros casos de Direito Penal , Elementos da Parte Geral  6F $G A conduta humana7,$>>H

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    ilícito se  A  actuou negligentemente e se a resposta for afirmativa ento passamos 4apreciaço das possíveis causas de 9ustificaço e, eventualmente, das causas de e3cluso daculpa.

    II. — A actio li"era in causa

    Caso nº #   A, que mora em Sraga, vem de há muito congeminando o plano de assaltar uma ourivesaria em/aro, onde estivera a passar férias. Bom esse ob9ectivo, meteu-se no comboio para o 0lgarve eaproveitou o XbarX para ir bebendo, sabendo, embora, que, finda a viagem, estariacompletamente embriagado. * fe" tudo isso, conscientemente, para ganhar coragem, pois temiaser descoberto pela polícia. Bhegado a /aro, arrombou a porta da ourivesaria e apoderou-se devárias 9ias, tudo com o valor superior a % mil contos. /e" tudo, de resto, como tinha planeado.:s peritos concluíram que no momento da prática do assalto,  A  se encontrava incapa" deavaliar a ilicitude do facto, sendo-lhe esta inteiramente indiferente.  A estava em situaço deinimputabilidade 6artigo $>G, nG 1, do Bdigo +enal7.

    : artigo $>G, nG 1, dispe que é inimputável quem, por força de uma anomalia psíquica, for 

    incapa", no momento da pr*tica do facto, de avaliar a ilicitude deste ou de se determinar deacordo com essa avaliaço. : Bdigo, no artigo $>G, nG L, consagra a doutrina daimputabilidade livre na causa; a imputabilidade no é e3cluída quando a anomalia psíquicativer sido provocada pelo agente com intenço de praticar o facto. )rata-se, nesta G, nG 17 pratica um facto anti9urídico 6actio7, depois de ter produ"ido na sua

     pessoa de maneira censurável aquele estado de inimputabilidade, sabendo ou pelo menos podendo saber 6causa libera7 que depois de perder a sua capacidade de culpa cometeria precisamente esse facto. 6$7 Num desses processos podemos assim detectar dois arcos detempo. : primeiro acto, anterior no tempo 6produço da anomalia, actio praecedens,causa7, tem uma relaço relevante, no que toca 4 culpa, com o segundo acto, posterior notempo 6facto cometido com anomalia psíquica, actio subse+uens7.

    0 alic s e3iste onde a inimputabilidade é provocada, com o dolo intencional   6queabrangerá o dolo directo e o dolo necessário7, no propsito de cometer o facto. 0 questoestá mais e3actamente no modo de fundamentar a cone3o entre os diversos momentosreelvantes, no havendo unanimidade 6longe disso7 entre os autores quanto a esse ponto,como veremos mais 4 frente. Ie qualquer forma, está em causa apenas a actio libera in

    causa dolosa, melhor di"endo,  preordenada. +ara os restantes casos valerá o artigo $'=G6embriague" e into3icaço7, se a anomalia psíquica se tradu"ir em embriague" ou outroestado t3ico no preordenado. 6(7

    H 0lbin *ser R S. SurThardt, trafrecht  M, p. (?.( Bf. /igueiredo Iias, @+ressupostosA, -ornadas, p. H= DP R PG M, $>>L, p. =L% de modo diferente, DP R PG M,

    $>>H, p. =(( e ss.

    D. Digue" Earcia, O risco de comer uma sopa e outros casos de Direito Penal , Elementos da Parte Geral  6F $G A conduta humana7,$>>H

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    =

    III. — %a an&lise do crime' o tipo de il"cito constitui o ponto de partida dosistema

     Na parte especial 6+*7 dos cdigos, a descriço típica construiu-se na base da conduta

    humana, o que significa que a lei e3ige um comportamento humano na forma de uma acçoou de uma omisso como requisito do crime; o artigo 1%1G contém essa e3ig2ncia enquantose refere a @quem matar outra pessoaA.

    0lguns autores, no entanto, constroem a doutrina do crime prescindindo de um conceito deacço, tal elemento no seria preciso, especialmente porque nada acrescenta de valioso oude imprescindível edificam a teoria do crime a partir do tipo de il(cito, que assim constituio ponto de partida do sistema, integrando-se a conduta humana 6como acço ou omisso7nesse elemento. 6'7

    :utras perspectivas, mais chegadas aos )inalistas 5que estiveram especialmente em voga nos anos => e ?>do século passado5, sustentam que para podermos determinar se a embriague" plena, os actos refle3os ouos chamados automatismos devem ser considerados como acçes ou no-acçes necessitamos de mane9ar 

    critérios que s podem ser proporcionados pela teoria da acço.

    I*. — +,olução histórico-dogm&tica do conceito de acção causalismo e)inalismo na teoria do crime — "re,e apontamento

    : que atrás se disse encontra-se de algum modo ligado 4s teorias que historicamente seforam desenvolvendo em torno de alguns aspectos do conceito de acço.

    0 teoria causal da acção  é o sistema de v. Cis"t e Seling 6desenvolvido com outros pormenores por #adbruch7 5 identifica-se com o chamado  sistema cl*ssico,  que sedesenvolveu nos finais do séc. YMY. 61>7

    : traço mais relevante da teoria causal da acço consiste em se abstrair do conceito devontade, considerando como critério

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    ?

    volitivamente, actuou ou permaneceu inactivo, o conteW ed., p. 1HH.

    0cço

    M. )ipicidade

    1. )ipicidade da acço; nos crimes de resultado, o resultado previsto no tipo e a correspondentecone3o entre acço e resultado, a causalidade.

    $. *lementos sub9ectivos do ilícito.

    MM. Mlicitude. 0us2ncia de causas de 9ustificaço.

    MMM. Bulpa

    1. Bapacidade de culpa.

    $. 5olo.

    %. 0us2ncia de causas de desculpaço.

    M!. :utros pressupostos de punibilidade 6e3cepcionalmente7.

    :  sistema cl*ssico  caracteri"ava-se ainda por uma concep&'o psicolgica  da culpa,concebida como um simples ne3o psíquico entre e facto e o seu autor, que tanto podiarevestir a forma dolosa como a negligente 5 dolo e neglig2ncia constituem as duas formasde manifestaço da culpa e s se distinguiam entre si pela intensidade da relaço

     psicolgica.0s dificuldades que a viso psicolgica da culpa enfrentava 6pense-se na neglig2nciainconsciente7 vieram a ser corrigidas pela chamada teoria normati%a da culpa.

    /oi /ranT quem, referindo-se 4 insufici2ncia da relaço psicolgica para a culpa, utili"ou o termocensurabilidade  para a definir e ampliar os seus contornos 6cf. [el"el, p. 1%'7. 0 culpa no se esgota numasimples relaço psíquica entre a vontade e o evento fi3ada na lei. Na verdade, a culpa fundamenta a censura

     pessoal contra o agente, 9á que este no omitiu a conduta ilícita, embora a pudesse ter omitido. : su9eito éculpado se pudermos censurá-lo, dependendo esta possibilidade no s do dolo ou da neglig2ncia, mesmo sinconsciente, como ainda da capacidade de culpa, ou se9a, da imputabilidade.  

    0 teoria normati%a da culpa  teve um grande significado na evoluço destes conceitos, permitindo que o dolo se separasse da culpa, passando para o mbito da ilicitude, de acordo

    com a teoria finalista; @a quintess2ncia desta teoria reside na afirmaço de que o dolo como

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     factor caracteri(ador da ac&'o seria um elemento essencial do ilícitoA. 6 117 +or outro lado,@e3traindo este ob9ecto da valoraço da categoria da culpa e situando-o na do ilícito, estavacumprida a condiço necessária para @redu"irA 6@purificarA7 a culpa 4quilo queverdadeiramente ela deve ser; um @puro 9uí"o de 6des7valorA, um aut2ntico  /u"(o de

    censuraA. 61$

    7 Md2ntico papel no desenvolvimento de uma nova sistemática na estrutura decrime coube a outros elementos sub9ectivos do ilícito.

    [el"el afirmava que a finalidade é @videnteA, a causalidade @cegaA. /oi este autor quemespecialmente desenvolveu a teoria )inalista da acção como corrente contrária 4 teoriacausal, o seu ponto de enlace com o direito penal foi, como e3plica #o3in, a luta contra oconceito causal de acço. 0 base do finalismo encontra-se na acço; o que define a acçohumana é a finalidade. : homem, graças ao seu saber causal, pode prever, dentro de certoslimites, as consequ2ncias possíveis da sua actividade futura, propor-se ob9ectivos diversos, edirigir aquela actividade, de acordo com um plano, 4 consecuço de um fim. 6 1%7 0 acçohumana é, portanto, um acontecer @finalA e no somente @causalA. 0 acço é baseada nadirecço do comportamento do autor a um fim previamente fi3ado por este 5é assim o

    e3ercício de actividade final 6conceito ontolgico, da realidade7 e e3iste antes da valoraço 9urídica 6conceito pré-9urídico7.

    \ma das concluses mais relevantes da dogmática finalista é a de que o dolo como factor caracteri"ador da acço seria um elemento do ilícito. 6 1L7 : dolo, constituindo um elemento

     básico da acço, pertence imediatamente ao tipo de ilícito. 0quilo que e3prime o sentido deuma acço é a finalidade do autor, é a conduço do acontecimento pelo su9eito, de formaque, para os finalistas 5 e ao contrário do que acontecia com os causalistas 5 a espinhadorsal da acço é a vontade consciente do fim, reitora do acontecer causal. Ievendo o tipodescrever também a estrutura final da acço, isso supunha uma deslocaço do dolo e daneglig2ncia 5 até ento entendidos como formas de culpa 5 para o mbito da ilicitude,

    que, como se sabe, é a primeira área de valoraço na estrutura do crime. : dolo e aneglig2ncia no so elementos da culpa mas formas de infringir uma norma e, por conseguinte, so formas de ilicitude o dolo constitui um elemento sub9ectivo do tipo deilícito doloso e a infracço do dever de cuidado di" respeito ao tipo de ilícito negligente, deforma que, nesta concepço, devero tomar-se em consideraço elementos pertencentes 4

     pessoa que reali"a a acço; a direcço da acço ao resultado nos crimes dolosos e a

    11 Bf. *ser R SurThardt, p. %? e [el"el, especialmente p. ?11$  /igueiredo IiasRBosta 0ndrade,  Direito Penal. 0uest1es fundamentais. A doutrina geral do crime . B,1''?, p. %$'.1% [el"el, p. %%.1L  : lugar sistemático do dolo é o ponto culminante da teoria da acço final, caracteri"ando-a ecaracteri"ando também o correspondente sistema 6*b. &chmidh]user7. Na concepço finalista, o tipoengloba, 9untamente com a sua parte ob9ectiva 6que tradicionalmente aparecia como sendo a sua ess2ncia7,uma parte sub9ectiva, formada pelo dolo e pelos restantes elementos sub9ectivos específicos do ilícito 6cf.[el"el, especialmente, p. =(; @nos delitos dolosos, o tipo contém uma descriço precisa dos elementosob9ectivos e sub9ectivos da acço, incluindo o resultadoA7. : tipo ob9ectivo corresponde 4 ob9ectivaço davontade integrante do dolo, compreendendo portanto as características do produ"ir e3terno do autor. : dolo,elemento fundamental da parte sub9ectiva, é constituído pela finalidade dirigida 4 reali"aço do tipoob9ectivo. &e a finalidade pertence 4 estrutura da acço, como pensam os finalistas, e o tipo configuraacçes, compreende-se perfeitamente que se inclua o dolo, no na culpa, mas no tipo. )odavia, o dolo no seesgota na finalidade dirigida ao tipo ob9ectivo; como a ilicitude no é um elemento do tipo, no deveráestender-se 4 ilicitude o conhecimento e a vontade prprios do dolo. Ieste modo, o erro do tipo e3cluirá odolo, e portanto a tipicidade. &e o erro se referir 4 ilicitude, dei3ará intacta a tipicidade da conduta. 6Bf.

    [el"el, p. ?$ e ss. *b. &chmidh]user, p. 1%(7.

    D. Digue" Earcia, O risco de comer uma sopa e outros casos de Direito Penal , Elementos da Parte Geral  6F $G A conduta humana7,$>>H

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    (

    infracço do dever de cuidado nos crimes negligentes. &e na tentativa o dolo pertence aotipo e no s 4 culpa, tem que conservar a mesma funço quando se passa ao estádio daconsumaço.

    odelo estrutural 3)inal4

    Bf. SaumannR[eberRDitsch, trafrecht , A# , 1>W ed., p. 1HH.

    0cço.

    M. )ipicidade

      1. )ipo ob9ectivo; nos crimes de resultado, resultado e causalidade.

      $. )ipo sub9ectivo.

      a7 5olo

      b7 *lementos sub9ectivos do ilícito.

    MM. Mlicitude. 0us2ncia de causas de 9ustificaço.

    MMM. Bulpa.

      1. Bapacidade de culpa.

      $. 0us2ncia de causas de desculpaço.

    M!. :utros pressupostos de punibilidade 6e3cepcionalmente7.

    *. — 5esen,ol,imentos posteriores.

    Ie certo modo, o critério de [el"el é o inverso da doutrina tradicional. Nesta

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    '

    alguns 61H7 resta-lhe, como forma de culpa, enquanto modo de formaço da vontade quecondu" ao facto, o ser portador da atitude pessoal contrária ao direito 5 resta-lhe, nestaárea, o que alguns apelidam de resquício do antigo dolus malus do sistema clássico, i. e,uma atitude contrária ou no mínimo indiferente em face do bem 9urídico ameaçado. Iolo e

    neglig2ncia so ambos formas de infringir uma norma. Jo9e, na neglig2ncia, leva-se emconta um dever de cuidado ob9ectivo situado ao nível da ilicitude, ainda que se considereum dever sub9ectivo situado ao nível da culpa 6cf. o artigo 1=G do Bdigo +enal7./inalmente, tem-se por adquirido que, no ilícito, ao lado dum des%alor do resultadoconcorre um des%alor da ac&'o. * esta distinço pertence, indiscutivelmente, aos finalistas-

     5 é deles o mérito de terem assinalado que a ilicitude no depende apenas da causaço deum resultado mas também de uma determinada modalidade de actuar, quer di"er, o in9usto éin9usto de resultado e in9usto de acço. 0 causaço do resultado 5a leso do bem 9urídico

     5 no esgota o ilícito. 8 legítimo até concluir que o desvalor do resultado poderá faltar num determinado caso concreto sem que desapareça o desvalor da acço, v. gr., na tentativainidnea 6artigo $%G, nG %7. 61(7

    0s teorias sociais da acção manifestam-se em diversas posturas 6eschecT, [essels7. &o teorias surgidascom o intuito de superar os conflitos entre a teoria causal e os pontos de vista finalistas e que t2m emcomum o facto de na determinaço do conceito de acço recorrerem, pelo menos, aos critérios de rele%5ncia

     social  e de dom"nio  6dirigibilidade, evitabilidade, intencionalidade e similares7. 0 acço define-se como a produço arbitrária de consequ2ncias ob9ectivamente intencionáveis e de relevncia social ou como ocomportamento de relevncia social dominado ou dominável pela vontade. 0  perspecti%a social   é umdenominador comum capa" de aglutinar comportamentos que tanto podem integrar crimes dolosos, como osnegligentes e as omisses.

    )endem igualmente a impor-se ra"es e argumentos  funcionalistas, que visam atribuir novos conte

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    1>

    *I. — 6utras indicações de leitura

    0lbin *ser R S. SurThardt, &trafrecht M. &ch_erpunTt, LW ed., 1''$, p. (? e ss. Já traduço espanhola;

    Ierecho +enal, Buestiones fundamentales de la )eoría de Ielito sobre la base de casos de sentencias, *d.

    Bole3, 1''=.

    0lfonso &errano Daíllo, *nsa^o sobre el Ierecho +enal como ciencia. 0cerca de su construccin. Dadrid,

    1'''.

    Seatri" de Ca Eándara !alle9o, 0lgunas consideraciones acerca de los fundamentos tericos del sistema de

    la teoría del delito de aTobs, 0I+B+, vol. C, 1''H.

    SocTelmannR!olT, &trafrecht. 0llgemeiner )eil, LW ed., 1'(H.

    Bavaleiro de /erreira, 0 tipicidade na técnica do direito penal, Cisboa, 1'%=.

    Blaus #o3in, XBontribuiço para a critica da teoria finalista da acçoX,  Problemas fundamentais de direito

     penal , p. '1 e ss.

    Blaus #o3in, &trafrecht, 0llgemeiner )eil, Sd. 1. Erundlagen, der 0ufbau der !erbrechenslehre, $W ed.,

    1''L. Já traduço espanhola.

    Blaus #o3in, X)eoria da infracçoX, #extos de apoio de Direito Penal , tomo M, 00/I, Cisboa, 1'(%R(L.

    *b. &chmidt, )eoria da infracço social, in )e3tos de apoio de Iireito +enal, tomo MM, 00/I, Cisboa,

    1'(%R(L.

    *berhard &chmidh]user, &trafrecht, 0llgemeiner )eil, 1'H>.

    *dmund De"ger, Ierecho +enal. +arte Eeneral. Cibro de estudio. )raduço da ?W ed. alem, Suenos 0ires,

    1'=(.

    *nrique Sacigalupo, +rincípios de derecho penal, parte general, $W ed, 1''>.

    /. Jaft, &trafrecht, 0llgemeiner )eil, ?W ed., 1''L.

    /aria Bosta, : +erigo em Iireito +enal, especialmente, p. LH1 e ss. e p. =L$ e ss.

    E. aTobs, *studios de derecho penal, 1''H.

    E. aTobs, &trafrecht, 0llgemeiner )eil, $W ed., 1''%. Já traduço espanhola.

    E`nter &traten_erth, Ierecho +enal, +arte general, M, *l hecho punible, 1'($, p. 1>H e ss.

    J.-J. eschecT, Erundfragen der IogmatiT und ZriminalpolitiT im &piegel der eitschrift f`r die gesamte

    &trafrechts_issenschaft, in &t[ '% 61'(17, p. 1.

    J.-J. eschecT, Cehrbuch des &trafrechts; 0llg. )eil, LW ed., 1'((, de que há traduço espanhola.

    Jans [el"el, das Ieutsche &trafrecht, 11W ed., 1'?'. Já traduço parcial para o espanhol com o título

    Ierecho +enal 0leman, +arte general R 11W edicion, LW edicion castellana, *ditorial uridica de Bhile,

    1''H.

    ohannes [essels, &trafrecht, 0)-1, 1HW ed., 1''%; há traduçes para portugu2s e para castelhano a partir de

    ediçes anteriores.

    orge de /igueiredo Iias, &obre a construço da doutrina do crime 6do facto punível7, in )emas básicos da

    doutrina penal, Boimbra *ditora, $>>1.

    D. Digue" Earcia, O risco de comer uma sopa e outros casos de Direito Penal , Elementos da Parte Geral  6F $G A conduta humana7,$>>H

  • 8/18/2019 2 Conduta Humana

    11/11

    11

    orge de /igueiredo Iias, &obre o estado actual da doutrina do crime, 1W parte, #evista +ortuguesa de

    Bi2ncia Briminal, ano 1G 61''17.

    orge dos #eis Sravo, Britérios de imputaço 9urídico-penal de entes colectivos, #+BB 1% 6$>>%7, p. $>H.

    osé Bere"o Dir, Burso de derecho penal espaol, parte general, MM. )eoría 9urídica del delitoRM, =W ed., 1''H.osé Bere"o Dir, *l concepto de la accin finalista como fundamento del sistema del Ierecho penal, in

    +roblemas fundamentales del derecho penal, 1'($.

    osé de &ousa e Srito, &entido e valor da análise do crime, Iireito e ustiça, volume M! 1'(' R 1''>.

    uan Sustos #amíre", Danual de derecho penal espaol. +arte general, 1'(L, p. 1H>.

    uan Bordoba #oda, \na nueva concepcion del delito - la doctrina finalista, Sarcelona, 1'?%.

    Zristian Z`hl, &trafrecht, 0), 1''L.

    CencTner, in & R &, &trafgeset"buch, Zommentar, $=W ed., p. 1L$ e s.

    Danuel aén !alle9o, *l concepto de accin en la dogmática penal, Bole3, 1''L.

    Daria /ernanda +alma, 0 teoria do crime como teoria da deciso penal 6#efle3o sobre o método e o ensino

    do Iireito +enal7, in #+BB ' 61'''7, p. =$% e ss.

    Daria /ernanda +alma, Questes centrais da teoria da imputaço e critérios de distinço com que opera a

    deciso 9udicial sobre os fundamentos e limites da responsabilidade penal, in Basos e Dateriais de

    Iireito +enal, Boimbra, $>>>, p. =%.

    Da3 [eber, Bonceitos sociolgicos fundamentais, traduço por 0rtur Doro do 1G capítulo de [irtschaft

    und Eesellschaft, *diçes H>, 1''H.

    +aulo de &ousa Dendes, O torto intrinsecamente culposo como condi&'o necess*ria da imputa&'o da pena ,Boimbra, $>>H, p. %1'.

    +aulo osé da Bosta r., Bomentários ao Bdigo +enal, ?W ed. actuali"ada, &araiva, $>>>.

    #udolphi, in #udolphi R Jorn R &amson R &chreiber, &^stematischer Zommentar "um &trafgeset"buch. Sand

    M. 0llgemeiner )eil, $W ed., 1'HH.

    #ui" 0ntn, Ca accin como elemento del delito ^ la teoría de los actos de habla; cometer delitos con

     palabras, 0I+B+, vol. CM, 1''(.

    [. Jassemer, *inf`hrung in die Erundlagen des &trafrechts, $W ed., 1''>.

    [infried Jassemer, &trafrechts_issenschaft in der SundesrepubliT Ieutschland, in #echts_issenschaft in

    der Sonner #epubliT, &uhrTamp, 1''L, p. $($ e ss. encontra-se tradu"ido para portugu2s com o título

    Jistria das ideias penais na 0lemanha do ps-guerra, e publicado pela 00/IC, 1''=. Já também

    traduço espanhola, com o título Ca ciencia 9urídico penal en la #ep