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TEXTO 04 PENAS E ISENÇÕES PENAIS: CAUSAS DIRIMENTES E CAUSAS JUSTIFICATIVAS 1.GENERALIDADES Ao estudarmos as infrações penais, vimos que, para existir crime, o fato tem que ser típico e antijurídico e para que haja a aplicação da pena há, necessidade de que o fato seja culpável. O sujeito ativo só não será penalizado por causas justificativas ou causas dirimentes. São causas diferentes; vejamos cada uma delas. 2.CAUSAS DIRIMENTES São aquelas que atuam exclusivamente sobre o elemento moral das infrações penais, eliminando por completo este elemento moral. O crime existe; entretanto, o agente não será punido por ser inimputável (por não entender o caráter ilícito do fato no momento da ação ou por não ter condições de determinar-se de acordo com o entendimento). O agente, sendo também irresponsável (não ser mentalmente sadio ou mentalmente desenvolvido), será também isento de pena, por eliminar a vontade inteligente e livre do agente. O CPM nos artigos 36, 38 - alíneas a, b, 48, 49 e 50, mostra-nos que o autor é isento de pena, apesar do crime existir (fato típico e antijurídico). Os artigos acima citados são exemplos de causas dirimentes. O CPM exclui, expressamente, a paixão e a emoção das causas dirimentes. 3.CAUSAS JUSTIFICATIVAS (Art42 do CPM) São aquelas que, atuando diretamente sobre o elemento material ou objetivo das infrações penais, retiram dele o caráter de antijuridicidade. Se não é antijurídico, não é ilícito, isto é, não há crime, como nos afirma o Art 42 do CPM. As causas justificativas são: a. em estado de necessidade b. em legítima defesa

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Page 1: (2) Apostila de Direito Penal Militar II

TEXTO 04

PENAS E ISENÇÕES PENAIS: CAUSAS DIRIMENTES E CAUSAS JUSTIFICATIVAS

1.GENERALIDADESAo estudarmos as infrações penais, vimos que, para existir crime, o fato tem que ser

típico e antijurídico e para que haja a aplicação da pena há, necessidade de que o fato seja culpável. O sujeito ativo só não será penalizado por causas justificativas ou causas dirimentes. São causas diferentes; vejamos cada uma delas.

2.CAUSAS DIRIMENTESSão aquelas que atuam exclusivamente sobre o elemento moral das infrações penais,

eliminando por completo este elemento moral. O crime existe; entretanto, o agente não será punido por ser inimputável (por não entender o caráter ilícito do fato no momento da ação ou por não ter condições de determinar-se de acordo com o entendimento). O agente, sendo também irresponsável (não ser mentalmente sadio ou mentalmente desenvolvido), será também isento de pena, por eliminar a vontade inteligente e livre do agente.

O CPM nos artigos 36, 38 - alíneas a, b, 48, 49 e 50, mostra-nos que o autor é isento de pena, apesar do crime existir (fato típico e antijurídico). Os artigos acima citados são exemplos de causas dirimentes.

O CPM exclui, expressamente, a paixão e a emoção das causas dirimentes.

3.CAUSAS JUSTIFICATIVAS (Art42 do CPM)São aquelas que, atuando diretamente sobre o elemento material ou objetivo das

infrações penais, retiram dele o caráter de antijuridicidade. Se não é antijurídico, não é ilícito, isto é, não há crime, como nos afirma o Art 42 do CPM.

As causas justificativas são:a. em estado de necessidadeb. em legítima defesac. em estrito cumprimento do dever legald. em exercício regular de direitoParágrafo único: “ não há igualmente crime quando o comandante de navio , aeronave

ou praça de guerra, na iminência de perigo ou grave calamidade, compele os subalternos, por meios violentos, a executar serviços e manobras urgentes para salvar a unidade ou vidas, evitar o desânimo, o terror, a desordem, a rendição, a revolta ou o saque.

a. Estado de Necessidade (Art 43 CPM)No estado de necessidade, há o conflito de interesses lícitos, sendo que cada um deles

só pode ser conservado a custa do outro.

Os seus requisitos são:

1) um perigo atual e certo para direito próprio ou alheio;2) que não tenha sido voluntariamente provocado;3) que não tenha sido possível evitá-lo;

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4) que, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se do agente o sacrifício do seu direito;

5) ser consideravelmente inferior ao mal evitado.

Exemplos:1) Estando dois náufragos agarrados a uma mesma tábua, que era insuficiente para

suportar o peso de ambos, ocorre de um matar o outro, para se salvar.2) Danificação do jardim alheio para impedir incêndio de grandes proporções na

própria residência e salvar pessoas.3) Dois alpinistas percebem que a corda que os sustenta está prestes a romper-se. Para

salvar-se, “A” atira “B” no precipício.

Conclui-se que o estado de necessidade tem como fundamento um estado de perigo para certo interesse jurídico, que somente pode ser resguardado mediante a lesão de outro. Se há dois bens em perigo de lesão, o Estado permite que seja sacrificado um deles, pois, diante do caso concreto e tutela penal, não pode salvaguardar a ambos.

Entretanto, não se pode alegar o estado de necessidade quem tem o dever legal de enfrentar o perigo. Exemplo é o do capitão de um navio que, durante o naufrágio, se salvasse sem ter procurado socorrer os passageiros.

b.Legítima Defesa (Art 44 do CPM)Há legítima defesa quando existe o conflito entre interesses lícitos de um lado e ato

ilícito do outro.Os seus requisitos são:

1) agressão injusta atual ou iminente;2) repulsa com meios necessários;3) uso moderado de tais meios;4) em direito próprio ou de outrem

A agressão é a conduta humana que ataca ou coloca em perigo um bem jurídico. Esta agressão é injusta quando é contrária ao ordenamento jurídico, isto é, ilícita. Se a agressão é lícita, a defesa não pode ser legítima. A agressão atual é a presente, a que está acontecendo, e a iminente é a que está preste a ocorrer.

Somente ocorre a causa de justificação quando a conduta de defesa é necessária para repelir a agressão. Não deve acontecer os excessos; os meios têm que ser necessários e moderados. É exemplo de excesso um sujeito que mata uma criança que se encontra furtando mangas em seu pomar.

Existe a legítima defesa em direito próprio ou de outrem. São duas as formas: legítima defesa própria e legítima defesa de terceiro ou de outrem.

Havendo excesso, responde o indivíduo por dolo ou culpa, se quis o excesso ou se não o previu (conforme o Art 45 do CPM). Entretanto, conforme o Art 45, parágrafo único do CPM, não é punível o excesso que resultar de escusável surpresa ou perturbação de ânimo em face da situação.

Em referência ao assunto em questão, verificamos no Art 46 do CPM que o juiz pode atenuar a pena, quando punível o fato por excesso doloso. Os artigos 45 e 46 do CPM nos mostram que o Estado repudia agressão injusta. O direito de legítima defesa, o indivíduo os

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exerce por delegação da sociedade ou do poder público. Como o Estado não pode defender a pessoa naquele momento, ele transfere o seu direito à própria pessoa.

c.Estrito Cumprimento do Dever Legal (Art 42, III do CPM)Não há crime quando o sujeito pratica o fato em estrito cumprimento do dever legal. É

também causa de exclusão de antijuridicidade. Quem cumpre regularmente um dever não pode, ao mesmo tempo, praticar ilícito penal, uma vez que a lei não contém contradições.

Exemplos:1) Policiais que empregam força física para cumprir o dever evitando a fuga,

impedindo a ação da pessoa armada que está praticando um ato ilícito, controlando a perturbação da ordem pública.

2) Fuzilamento do condenado pelo executor.3) Morte do inimigo no campo de batalha.4) A sentinela que emprega a violência para impedir a entrada proibida no quartel.

d. Exercício Regular de Direito (Art 42, IV do CPM)Qualquer pessoa pode exercer um direito subjetivo ou faculdade prevista na lei. É

disposição constitucional que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei (Art 153, § 2º da CF/ 88), excluindo-se a antijuridicidade nas hipóteses em que o sujeito está autorizado a esse comportamento.

Exemplos:1) Correção dos filhos pelos pais.2) Prisão em flagrante por particular.3)Violência esportiva, desde que haja obediência irrestrita às regras do jogo; os seus

autores não respondem por crime acobertado pelo exercício regular do direito.

e. Compelir Subalternos por Meios Violentos (Art 42, parágrafo único)É o dever de quem comanda empregar todos os meios necessários para salvação das

pessoas e bens entregues à sua responsabilidade. Cabe ao comandante enfrentar os perigos, evitar a qualquer custo a derrota e buscar sempre a vitória. Vale por um estado de necessidade e justifica-se a violência, pois ela vai em proveito dos próprios comandados e da Nação.

PENAS

1. DEFINIÇÃOPena é a sanção aplicada pelo Estado àquele que, por ação ou omissão, infringiu o

preceito da lei penal.

2.CARACTERES DE LEGITIMIDADE DA PENAA pena só será legítima quando for:a. Legal: a sua aplicação é disciplinada por lei. Só esta pode determinar a existência da

pena (não há pena sem lei anterior que a defina). Só é legalmente aplicada a pena quando o for pelos órgãos competentes do poder.

b. Justa: a pena deve ser aplicável a todos que incidem na sanção penal.c. Necessária: a pena é necessária quando for o meio indispensável para a prevenção e

a repressão da criminalidade.

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d. Proporcional: a pena deve ser aplicada de acordo com o delito e nunca excessivamente.

e. Divisível: a pena deve guardar a relação necessária entre a gravidade do crime e a repressão.

f.Individual: na aplicação da pena, o juiz deve ter amplo arbítrio, entre o mínimo e o máximo, em vista de certas circunstâncias, quer referentes ao agente, quer ao fato criminoso.

g.Pessoal: a pena é personalíssima, só atingindo o autor do crime (Art 5º, XLV da CF/88).

h.Reparável: Como a justiça humana não é infalível e está sujeita a erros, a pena, sempre que injustamente aplicada, deve ser reparada.

3.ESPÉCIESAs penas são:

a.Principais (Art 55 do CPM)b.Acessórias (Art 98 do CPM)

a.Penas Principais:

1) Morte2) Reclusão 3) Detenção 4) Prisão5) Impedimento6) Suspensão do Exercício do Posto, Graduação Cargo ou Função7) Reforma.

Penas Privativas da Liberdade são a reclusão, a detenção e a prisão.b.Penas Acessórias:

1) Perda de Posto e Patente2) Indignidade para o Oficialato3) Incompatibilidade com o Oficialato4) Exclusão das Forças Armadas5) Perda da Função Pública, ainda que eletiva1) Inabilitação para o Exercício da Função Pública2) Suspensão do Pátrio Poder, Tutela ou Curatela8) Suspensão dos Direitos Políticos

4.APLICAÇÃO DAS PENAS (Art 69 CPM)Na aplicação da pena, o CPM dá uma grande liberdade ao juiz. Graduará este entre o

limite do máximo e do mínimo estabelecido, de acordo com a personalidade e os antecedentes do criminoso, os motivos determinantes e as conseqüências do crime. O juiz transforma-se num pesquisador analista de todos os elementos do crime.

A individualização da pena tornou-se assim a meta a ser atingida em cada caso; razão

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porque, ainda, pode o juiz, em determinados casos, escolher entre penas alternativamente cominadas ou aplicar cumulativamente penas cominadas (art 69, e seus parágrafos, do CPM).

5.EFEITOS DA PENADoutrinariamente, a pena não tem por efeito CASTIGAR o delinqüente (o que foi de

encontro a uma norma penal) e sim “PREVENIR A CRIMINALIDADE E EMENDAR O DELINQÜENTE”.

Legalmente, os efeitos das penas confundem—se com as penas acessórias.

a.Efeito Preventivo da Pena

A prevenção pode ser:1) Geral2) Especial

É gera1 pela ameaça; o fim intimidativo da pena dirige-se a todos os destinatários da norma penal, visando impedir que os membros da sociedade pratiquem crimes. É especial quando visa impedir que o criminoso torne a delinqüir. A pena visa o autor do delito, retirando-o do meio social, impedindo-o de delinqüir e procurando corrigi-lo.

6.CONVERSÃO DAS PENASAs penas privativas da liberdade, para o nosso Código, são temporárias. Não temos a

prisão perpétua. Para o CPM as penas privativas da liberdade são: reclusão, detenção e prisão.

O nosso sistema penitenciário segue o sistema progressivo (inglês ou irlandês), que leva em conta o comportamento e o aproveitamento do preso.

Baseado neste sistema é que a pena de reclusão comporta quatro períodos:a. o inicial, denominado isolamento celular absoluto, não excedendo 03 meses; nele,o

condenado é submetido a isolamento diurno e noturno;b.em seguida, ele passa a trabalhar em comum e a receber ensino durante o dia, sendo

recolhido à noite (isolamento noturno);c.chamado de semi-liberdade, onde o condenado trabalha fora do presídio e é

recolhido à noite ou pode ser transferido para colônias penais ou estabelecimento similar;d.finalmente, o último período é o livramento condicional (arts 89 a 97 do CPM).

A execução da pena privativa de liberdade, reclusão e detenção, não superior a 2 (dois) anos, pode ser suspensa, por 2 (dois) a 6 (seis) anos (SURSIS), conforme o art 84 CPM.

Pena de prisão: o sujeito ativo de crime militar não é condenado a pena de prisão; esta só existe para CONVERSÃO obrigatória das penas privativas da liberdade por até 2 (dois) anos. A pena de prisão ocorre para preservar as prerrogativas dos militares que retornarão às Forças Armadas. Com isto, a Instituição evita que o militar não saia do seu meio e não se sinta humilhado, sem força moral para impor a disciplina e tampouco entre em contato com presos periculosos, o que acarretaria para o militar perdas lamentáveis dos princípios básicos da caserna, tais como: a disciplina, a hierarquia, a honra, a lealdade, a verdade e tantos outros. A pena de prisão só ocorre por conversão, conforme prevê o art 59 do CPM e será cumprida pelo oficial em recinto de estabelecimento militar e pela praça em estabelecimento penal militar, onde ficará separado de presos que estejam cumprindo pena disciplinar ou pena

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privativa de liberdade por tempo superior a dois anos. (Art 59, I e II do CPM).

7.EXECUÇÃO DA PENA

a.Pena de morteEsta só é cominada para os crimes cometidos em tempo de guerra declarada, conforme

a Constituição Federal de 1988, artigo 5º, inciso XLVII.A execução dar-se por fuzilamento, de acordo com o artigo 56 do CPM. O ritual da

execução está previsto no CPPM, no artigo 707 caput e §§1º, 2º e 3º e artigo 708. O militar sairá da prisão com uniforme comum e sem insígnias, tendo os olhos vendados, salvo se o recusar no momento de receber a descarga; o civil será executado da mesma forma, estando decentemente trajado. Os comandos serão dados por sinais. Será permitido ao condenado receber socorro espiritual.

A pena de morte só será executada sete dias após a comunicação ao Presidente da República ,salvo se imposta em zona de operações de guerra e o exigir o interesse da ordem e da disciplina.

O CPM prevê a comutação da pena de morte pela pena de reclusão de 30 anos. A comunicação feita ao Presidente da República tem em vista o RECURSO DA GRAÇA, comutando a pena de morte, conforme previsto no artigo 84, XII da CF/88.

b.Pena de rec1usão e de detençãoSão penas privativas de liberdade. Doutrinariamente , a reclusão se diferencia da

detenção pela espécie de regime em que a pena deve ser cumprida (fechado, semi-abreto ou aberto) e também em relação ao estabelecimento penal de execução (de segurança máxima, média e mínima). A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto e a pena de detenção deve ser cumprida em regime semi-aberto ou aberto, sa1vo a necessidade de transferência para o regime fechado.

O mínimo da pena de reclusão é de um ano e o máximo de trinta anos; o mínimo da pena de detenção é de trinta dias e o máximo de dez anos.

c.Pena de impedimento (artigo 63 do CPM).É uma espécie de pena criada pelo CPM de1969 e sujeita o condenado a permanecer no

recinto da unidade, sem prejuízo da instrução militar. Aplica-se , especialmente ao crime de insubmissão.

d. Pena de suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou funçãoConsiste na agregação, no afastamento, no licenciamento ou na disponibilidade do

condenado pelo tempo fixado na sentença, sem prejuízo do seu comparecimento regular à sede do serviço, não contando como tempo de serviço o do cumprimento da pena (Art 64 CPM).

1) Agregação é o afastamento temporário do militar do serviço ativo, ficando adido ao corpo ou repartição a que pertence.

2) Afastamento e a retirada do condenado de car go ou função.3)Licenciamento pode importar em dispensa definitiva do cargo ou função exercida

pelo militar.

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4) Disponibilidade é o desemprego temporário na expectativa de reintegração, ao mesmo ou em outro cargo de igual categoria

No artigo 64, parágrafo único do CPM, encontramos a conversão da pena de suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou função em detenção de 3 (três) meses a um ano se o condenado, quando proferida a sentença, já estiver na reserva, reformado ou aposentado.

e.Pena de reforma (art 65 do CPM).Sujeita o condenado à situação de inatividade com direito a percepção de 1/25 avos do

soldo de tempo de serviço, não podendo, entretanto, receber importância superior à do soldo.

f.Penas acessórias (art 98 CPM)Estas penas estão na dependência das principais.

1) Perda de posto e patenteConforme o artigo 42, parágrafos 7º e 8º da CF/88:

- O oficial das Forças Armadas só perderá o posto e a patente se for julgado indigno do oficialato ou com ele incompatível, por decisão do Superior Tribunal especial, em tempo de guerra. (Parágrafo 7º do Art 42 da CF/88).

- O oficial condenado na justiça comum ou militar à pena privativa de liberdade superior a 2 (dois) anos, por sentença transitada em julgado, será submetido ao julgamento previsto no parágrafo 7º do art 42 (Parágrafo 8º do art 42 da CF/88).

1) Indignidade para o Oficialato (art 100 CPM) Fica sujeito à declaração de indignidade para o oficialato o militar condenado a

qualquer que seja a pena, nos crimes de traição, espionagem ou covardia, ou em qualquer dos definidos nos artigos do CPM, abaixo descritas:

a)161:desrespeito a símbolo nacional;b)235:pederastia ou outro ato de libidinagem;c)240:furto simples/qualificado;d)242:roubo;e)243: extorsão;f) 244:extorsão mediante seqüestro;g) 245: chantagem;h) 251:estelionato;i) 252:abuso de pessoa;j) 303:peculato:1) 304:peculato mediante aproveitamento do erro de outrem;m) 311: falsificação de documento;n) 312: falsidade ideológica.

Indignidade é a injúria afrontosa, é o demérito para as nossas Forças Armadas.

3)Incompatibilidade com o OficialatoFicam sujeitos os oficiais que forem condenados nos crimes do art 101 do CPM:

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a)art 141: entendimento para gerar conflito ou divergência com o Brasil;b)art 142: tentativa contra a soberania do Brasil.

Incompatibilidade é o ato repulsivo, é o ato contraditório.

4)Exclusão das Forças Armadasa) Praças: aplica-se a exclusão para as praças condenadas a mais de 02 (dois) anos de

pena privativa de liberdade (reclusão ou detenção).b) Oficiais: Conforme o art 42, parágrafos 7º e 8º da CF/88, já citados nesta unidade

didática. O oficial somente será excluído se for julgado indigno ou incompatível pelo Superior Tribunal Militar (STM).

5)Perda da função pública: art 103 caput, incisos I e II e parágrafo único do CPM.É aplicada ao civil, ao militar da reserva ou reformado (se estiver no exercício de

função pública de qualquer natureza), em conseqüência de condenação a mais de 02 anos de pena privativa de liberdade ou quando importa por crime de abuso de poder ou violação de dever inerente à função pública.

6)Inabilitação para o exercício da função públi ca (art 104 do CPM)Incorre na inabilitação para o exercício de função pública, pelo prazo de 02 (dois) até

20 (vinte) anos, o condenado à reclusão por mais de 04 (quatro) anos, em virtude de crime praticado com abuso de poder ou violação do dever militar ou inerente à função pública. O prazo da inabilitação para o exercício de função pública começa ao término da execução da pena privativa de liberdade ou da medida de segurança imposta em substituição, ou da data em que se extingue a referida pena.

7) Suspensão do pátrio poder, tutela ou curatela (art 105 do CPM)O condenado à pena privativa de liberdade por mais de 02 (dois) anos, seja qual for o

crime praticado, fica suspenso do exercício do pátrio poder, tutela ou curatela, enquanto durar a execução da pena ou da medida de segurança imposta em substituição.

8) Suspensão dos direitos políticos (art. 106 CPM)Durante a execução da pena privativa de liberdade ou da medida de segurança imposta

em substituição, ou enquanto perdura a inabilitação para função pública, o condenado não pode votar, nem ser votado.

ELEMENTOS ACIDENTAIS DO CRIME EXTINÇAO DA PUNIBILIDADE

1.ELEMENTOS ACIDENTAIS DO CRIMEConforme vimos no assunto “Infrações Penais”, os Elementos do crime são:

elementos essenciais e elementos acidentais. Estes são o nosso objetivo de estudo desta unidade didática.

a.Definição

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Elementos acidentais do crime são os que podem deixar de existir; porém, quando surgem, modificam os elementos essenciais, “atenuando ou agravando” a penalidade. Eles modificam a responsabilidade do agente (agravando ou atenuando a pena).

b.Circunstâncias agravantes (arts 70 e 71 do CPM)Encontramos no art 70 “que as circunstâncias agravantes SEMPRE agravam a pena,

quando NÃO INTEGRANTES OU QUALIFICATIVAS do crime”. Façamos a interpretação deste artigo: inicialmente, encontramos o advérbio “sempre”, em face do que as agravantes são em regra de aplicação OBRIGATÓRIA. Em seguida , devemos entender que esta obrigatoriedade só acontecerá quando não integrantes ou qualificativas do crime. As integrantes ou elementares do crime correspondem aos seus elementos específicos . As qualificadoras são circunstâncias legais especiais do crime, previstas na parte especial do Código Penal Militar.

Vejamos alguns exemplos para um melhor entendimento da doutrina: 1) Art 268 do CPM: “Causar INCÊNDIO”..., esta palavra incêndio é integrante ou

elementar deste crime, isto é, se tirarmos esta palavra do art 268 do CPM, deixa de existir o crime “causar incêndio”. Se enquadrarmos uma pessoa neste artigo, não se pode agravar a pena conforme o art 70, II “e”, como nos afirma o art 70. caput do CPM.

2) Art 205, parágrafo 2º, inciso I: se o sujeito pratica homicídio por “MOTIVO FÚTIL”, não incide a agravante do art. 70, II, “a”: ter sido o crime cometido por motivo fútil, pois a circunstância genérica funciona como “qualificadora” do homicídio (qualifica o delito).

Quando uma das circunstâncias agravantes funciona como elementar ou como circunstância qualificadora, “NÃO se aplica a agravação do art 70 do CPM. De outra forma, haveria “bis in idem”, isto é, o sujeito teria a pena aumenta da duas vezes em face do mesmo fato ou motivo.

Dentre todas as circunstâncias agravantes, a mais grave é a reincidência (art 70, I e art 71 do CPM), porque o agente revela periculosidade, uma confirmação da tendência criminosa. Reincidência, deriva de “recidere”, que significa recair, repetir o ato. Reincidência, acontece quando o agente pratica novo crime, depois de transitar em julgado a sentença que, no país ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior (art 71 caput). Chama-se reincidência específica a prática de novo crime da mesma natureza, isto é, a violação de mesmo artigo, como também de artigos diversos, desde, porém, que apresentem caracteres fundamentais comuns. Exemplo: ‘A’, depois de condenado pelo crime de furto, torna a furtar. ‘A’, depois de condenado por furto, pratica um roubo.

Chama-se reincidência genérica a prática de novo crime de natureza diversa. Ex: ‘A’, condenado por homicídio, posteriormente, furta.

O Código atual, no entanto, não distingue mais a reincidência específica da genérica, como também não julga de maior gravidade a específica. O CPM no art 71, parágrafo primeiro, cria uma temporariedade da reincidência, segundo a qual não se toma em conta a condenação anterior “se, entre a data do cumprimento ou extinção da pena e o crime posterior, ocorreu período de tempo superior a cinco anos”. Por exemplo: ‘A’, indultado (uma das causas de extinção da punibilidade, art 123, II do CPM), não será reincidente se voltar a delinqüir um dia depois dos cinco anos que se seguiram ao ato governamental que o indultara.

Das outras agravantes previstas no inciso II, do artigo 70, do CPM , salientamos:1) ter o agente cometido o crime por motivo fútil ou torpe (art 70, II, “a”). Motivo fútil

ou frívolo é o de nenhum valor, revelando perversidade do agente; é a desproporção entre o

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motivo e a prática do crime. Ex: agredir a esposa porque deixou queimar o alimento. Já o motivo torpe é o repugnante, que contrasta com a moral média. É o motivo condenado pela moral e pelo direito. Ex: matar alguém por dinheiro que um terceiro promete.

2)ter o agente cometido o crime: depois de embriagar-se, SALVO se a embriaguez decorre de caso fortuito, engano ou força maior (art 70, II, “c”). Cabe ressaltar que a embriaguez é mais grave no CPM do que no Código Penal Comum. Neste, só a embriaguez pré-ordenada, isto é, quando o agente se embriaga para praticar o crime (com intenção de), é agravante. Entretanto, para nós, militares, a situação é diferente; vejamos cada caso de embriaguez:

a) se completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, é inimputável o agente (art 49, Caput do CPM);

b) se é voluntária ou culposa, não exclui a responsabilidade; é irrelevante;c) se é pré-ordenada, constitui agravante;d) se ocorre em serviço ou para este se apresenta o militar embriagado, trata-se de

crime (art 202 do CPM);e) finalmente, se a embriaguez se dá fora do serviço, é transgressão disciplinar.

c. Circunstâncias atenuantes (art 72 do CPM)São circunstâncias que SEMPRE atenuam a pena.O quantum da atenuação fica a critério do juiz. Há caso em que as circunstâncias

atenuantes não têm incidência: quando a pena-base for fixada no mínimo legal. Elas não podem atenuar a pena aquém do mínimo abstrato.

Dentre elas, salientamos:1) “ser o agente menor de 21 (vinte e um) anos ou maior de 70 (setenta anos)”: é

irrelevante que tenha havido emancipação ou seja casado. Mesmo emancipado, ou casado, o menor deve ser beneficiado pela atenuante. O benefício começa no dia em que o agente completa os 18 anos e vai até o dia anterior àquele em que faz 21 anos. Diz respeito ao tempo da prática do crime. Assim, o agente deve ser beneficiado mesmo se, ao tempo da sentença, já completara os 21 anos.

Para o sujeito ativo maior de 70 anos, ele será beneficiado pela atenuante se, ao tempo da sentença, possuir idade superior a 70 anos.

2) “ter sido o crime cometido por motivo de relevante valor social ou moral”:a) motivo de relevante valor social: ocorre quando a causa do delito diz respeito a um

interesse coletivo. Ex: o agente pratica violação de domicílio contra o traidor da pátria;b) motivo de relevante valor moral: diz respeito a um interesse particular. Ex: o sujeito

pratica seqüestro contra o estuprador de sua filha.

2.EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADEAs causas de extinção da punibilidade extinguem a pena aplicável. São causas

exteriores ao crime e também, em regra, posteriores ao mesmo. Estas causas estão no artigo 123 do CPM e são:

a. pela morte do agente;b. pela anistia ou indulto;

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c. pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso;d. pela prescrição;e. pela reabilitação;f. pelo ressarcimento do dano, no peculato culposo.

Vejamos cada uma delas:

a.Morte do agenteA morte dissolve tudo. O juiz, à vista da certidão de óbito, ouvido o Ministério

Público, declarará extinta a punibilidade. Sendo personalíssima a responsabilidade penal, a morte do agente faz com que o Estado perca o “jus puniendi”.

b.Anistia ou indultoAnistia é o esquecimento completo de tudo quanto diz respeito ao crime e ao

criminoso. É o esquecimento jurídico de uma ou mais infrações penais. Deve ser concedida em casos excepcionais, para apaziguar os ânimos, acalmar as paixões sociais. Aplica-se, em regra, a crimes políticos (anistia especial), nada obstando que incida sobre delitos comuns (anistia comum). Não é aplicável, porém, aos delitos referentes à prática da tortura, ao tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, ao terrorismo e aos definidos como crimes hediondos (Constituição Federal de 1988, art. 5º, XLIII). A anistia pode ser concedida pelo Congresso Nacional, conforme art. 48. VIII da CF/88. É imnportante ressaltar que a anistia, após ser concedida, não pode ser revogada (art. 5º, incisos XXXVI e XL da CF/88).

A anistia tem como efeitos: apagar o crime, extinguir a punibilidade e demais conseqüências de natureza penal. Não abrange os efeitos civis.

O indulto exclui apenas a punibilidade e não o crime. Pressupõe, em regra, condenação com trânsito em julgado. Compete ao Presidente da República (art 84, XII da CF/88) que poderá delegar esta atribuição de conceder o indulto aos Ministros de Estado, ao Procurador Geral da República ou ao Advogado-Geral da União (art 84, parágrafo único da CF/88). É importante ressaltar os efeitos do indulto:

Somente extinguem a punibilidade, subsistindo o crime, a condenação irrecorrível e seus efeitos secundários (diferenciado da anistia, que apaga o crime e seus efeitos). Assim, vindo o sujeito indultado a cometer novo crime, ele será considerado reincidente, diferenciando-se do sujeito anistiado que, conforme o art 71, parágrafo 2º do CPM, não será reincidente.

Apesar do CPM não fazer referência, falaremos a respeito da “graça” em sentido estrito, que é o mesmo que o indulto individual. Isto é: a graça é individual e o indulto é coletivo. A anistia e o indulto têm o caráter de generalidade, incidindo sobre fatos e abrangendo uma generalidade de pessoas; enquanto que a graça é individual, pois só atinge determinado criminoso.

A anistia, a graça e o indulto são formas de dispensa de aplicação da lei penal. A graça, em sentido amplo, abrange a anistia, a graça em sentido estrito e o indulto.

c.Pela retroatividade da lei que não mais considera o fato como criminosoÉ o “abolitio criminis”. O crime é excluído , se lei posterior deixa de considerar o fato

como tal. É retroativa a lei que não mais considera o fato como criminoso.d. Pela prescrição (artigos 124 a 133 do CPM)A prescrição extingue a punibilidade, baseando-se na fluência do tempo. Se a pena não

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é imposta ou executada dentro de determinado prazo, cessa o interesse da lei pela punição, passando a prevalecer o interesse pelo esquecimento e pela pacificação social. Prescrição é a extinção do direito de punir do Estado pelo decurso do tempo. Pode ela ocorrer antes do trânsito em julgado da sentença e, conseqüentemente, o direito de exercer a ação (prescrição da ação penal) ou, posteriormente a esse fato, quando põe fim ao direito de aplicar a pena, impedindo a execução do título executório (prescrição da execução da pena).

Vejamos alguns exemplos:1) Suponha-se que um sujeito cometa um crime de lesão corporal leve, art 209, caput

do CPM, onde a pena cominada é de detenção, de três meses a um ano, não se descobrindo a autoria. Se o Estado, dentro de 04 (quatro) anos (ver o art 125, VI do CPM), não exercer o “jus persequendi”, opera-se a extinção da punibilidade pela prescrição da ação.

2) Suponha-se que o agente “A” tenha sido condenado irrecorrivelmente a 03 (três) meses de detenção pela prática de lesão corporal leve, não merecendo “SURSIS”. Se o Estado não iniciar a execução da pena dentro de 02 (dois) anos (ver o art 125, VII do CPM), opera-se a extinção da punibilidade pela prescrição da execução da pena.

A prescrição é de ordem pública, devendo ser decretada de ofício ou a requerimento do interessado.

O CPM, no art 125, trata dos prazos de prescrição.É importante ressaltar os artigos 127 do CPM (prescrição no caso de reforma ou suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou função); 129 do CPM (redução da prescrição, quando o criminoso era, ao tempo do crime, menor de 21 anos ou maior de 70 anos); 131 do CPM (prescrição, no caso de insubmissão); 132 do CPM (prescrição, no caso de deserção).

A C.F./88 estabeleceu que são imprescritíveis os crimes de racismo (art 5º, XLII), bem como os praticados pela ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado democrático (art 5º, XLIV).

e.Pela reabilitação (artigos 134 a 135 do CPM)Reabilitação é a reintegração do condenado no exercício dos direitos atingidos pela

sentença. É a restituição de qualidades ou atributos que se haviam perdido. É, portanto, a restituição da capacidade, em virtude do que a pessoa está novamente habilitada a agir, segundo os direitos que lhe são assegurados por lei. No conceito penal, é entendida como a cessação dos efeitos da condenação, notadamente no que concerne às incapacidades e restrições conseqüentes da penalidade imposta. Estimula-se o condenado à completa regeneração, possibilitando-lhe plenas condições de voltar ao convívio da sociedade sem nenhuma restrição ao exercício de seus direitos.

f. Pelo ressarcimento do dano, no peculato culposo (artigo 303, parágrafos 3ºe 4º do C.P.M.):

Art 303, parágrafo 3º: “é peculato culposo quando o funcionário ou militar contribui culposamente para que outrem subtraia ou desvie o dinheiro, valor ou bem e dele se aproprie.

Art 303, parágrafo 4º: “no caso do parágrafo 3º, a REPARAÇÃO DO DANO se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta”.

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