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3 | Rio Pesquisa - nº 5 - Ano IIAno II - nº 5 - Rio Pesquisa | 2 SUMÁRIO

EXPEDIENTE

Governo do Estado do Rio de JaneiroGovernador | Sérgio Cabral

Secretaria de Estado de Ciência eTecnologiaSecretário | Alexandre Cardoso

Fundação Carlos Chagas Fi lho deAmparo à Pesquisa do Estado do Riode Janeiro – FAPERJDiretor-presidente | Ruy Garcia MarquesDiretor Científico | Jerson Lima SilvaDiretor de Tecnologia | Rex Nazaré AlvesDiretor de Administração e Finanças | CláudioFernando Mahler

3 | INOVAÇÃOMicroempresa desenvolve tecnologiapara extração de água a partir deenergia eólica. Ela adapta a geraçãode energia limpa às necessidades dapopulação que vive na zona rural

6 | MÚSICAAs artes e, em especial, a música,ganham mais espaço nos programasde fomento à pesquisa

9 | SAÚDEA hipertensão já é considerada umproblema de saúde pública. Principalfator de risco para doençascardiovasculares, ela já responde porcerca de 35% das mortes no Ocidente

11 | PERFILLeopoldo de Meis dedica parte de seutempo à promoção de projetos quevisam facilitar o acesso de jovens debaixa renda à universidade e aomercado de trabalho

16 | ARTIGOPresidente da SBPC, Marco AntonioRaupp aborda os desafios dodesenvolvimento da ciência e datecnologia no País

18 | TERCEIRA IDADEA Universidade Aberta da Terceira Idade,UnATI, na Uerj, completa 15 anos detrabalho voltado para a assistência e aintegração à sociedade da populaçãoidosa

21 | REPORTAGEM DE CAPADurante o 4º Ano Polar Internacional,realizada a cada 50 anos, expediçãobrasileira leva pesquisadoresfluminenses à Antártica

26 | PREMIAÇÃOLista de contemplados nos prêmiosL’Oréal e Scopus evidenciadesempenho de cientistas mulheres napesquisa fluminense

30 | PALEONTOLOGIAReconstituição do esqueleto do maiordinossauro já descoberto no País atraiua atenção da mídia e de curiosos àCasa da Ciência (UFRJ). O réptilpesava entre 12 e 16 toneladas

32 | COMEMORAÇÃOA Coordenação de Pós-graduação ePesquisa em Engenharia, Coppe, daUFRJ, comemora 45 anos no topo dapesquisa brasileira

36 | ENTREVISTAAlexandre Cardoso, secretárioestadual de Ciência e Tecnologia, fazum balanço dos dois primeiros anosde sua gestão e fala dos projetospara o futuro

40 | LITERATURANo centenário da morte de Machadode Assis, a obra do escritor efundador da Academia Brasileira deLetras ganha novos estudos

42 | VETERINÁRIAHospital da Universidade Estadual doNorte Fluminense (Uenf) é o único daAmérica Latina a realizarprocedimentos cirúrgicos em animaiscom uso de circulação extracorpórea

47 | FAPERJIANASEm iniciativa inédita, Fundaçãoinaugura série de reuniões compesquisadores para debater rumo deprogramas de fomento

48 | EDITORAÇÃOConfira algumas das obrasfinanciadas pelo programa de apoioà editoração

Rio Pesquisa. Ano II. Número 5

Coordenação editorial | Paul Jürgens

Redação | Débora Motta, Paul Jürgens, VilmaHomero, Vinicius Zepeda e Rosilene Ricardo(estagiária)

Colaboraram para esta edição | FúlviaD’Alessandri, Flávia Machado e Terezinha Costa

Diagramação | Adrianne Mirabeau e MirianDias

Capas | Adrianne Mirabeau e Mirian Dias

Mala direta e distribuição | Élcio Novis eViviane Lacerda

Foto da capa| Guillaume Dargaud<www.gdargaud.net/>

Revisão | Ana Bittencourt

Gráfica | Grafitto Gráfica e Editora Ltda.

Tiragem |12 mil exemplares

Periodicidade |Trimestral

Distribuição gratuita |Proibida a venda

Avenida Erasmo Braga 118/6° andar,Centro, Rio de Janeiro, RJ - CEP 20020-000Tel.: 3231-2929 | Fax: 2533-2944

[email protected]

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5 | Rio Pesquisa - nº 5 - Ano IIAno II - nº 5 - Rio Pesquisa | 4EDITORIAL

O ano de 2008 será lembradoprincipalmente pela crise nosmercados financeiros, que lan-çou dúvidas sobre o crescimen-to mundial em 2009, e pelas chu-vas torrenciais que deixarammilhares de desabrigados emSanta Catarina e em pelo me-nos outros dois estados – inclu-indo o Rio de Janeiro. Nemtudo, no entanto, parece assimtão cinza no horizonte.

Na economia, analistas aqui e lá fora apontaram oBrasil entre os menos vulneráveis à crise na lista depaíses emergentes. O ‘tsunami’ financeiro, que co-meçou a se desenhar ainda no primeiro semestre,não impediu de levar adiante projetos de monta noplano dos investimentos em ciência e tecnologia.Na área federal, o CNPq, agência de fomento doMinistério da Ciência e Tecnologia, em parceria comalgumas das principais FAPs – as fundações esta-duais de amparo à pesquisa, entre elas a FAPERJ –,lançou edital com o maior volume de recursos járeunidos na história do País, o programa InstitutosNacionais de Ciência e Tecnologia (INCT). A inici-ativa, que contempla a criação de 16 novos centrosde pesquisa no estado, prevê um total de R$ 550milhões em investimentos. Mas o saldo positivo de2008 não termina aí no campo da C&T: no âmbi-to estadual, a Fundação voltou a repetir o bomdesempenho de 2007, com a previsão de encerraro ano com um orçamento recorde de cerca de R$250 milhões, repassados à FAPERJ pelo governodo estado.São recursos que refletem outra marca histórica natrajetória da FAPERJ: o lançamento de 29 editaisao longo do ano – contra 17 em 2007 –, estabele-

Turbulência na economia e no clima nãoimpede aumento no fomento à pesquisa

Aenergia eólica produzida no País deixoude ser, ao longo dos últimos anos, apenasum traço nas estatísticas da matriz

energética brasileira para se transformar numaopção cada vez mais atraente para os investimen-tos do setor privado. Mas, se por um lado, a ex-pansão do setor acompanha a tendência mundialde destinar recursos cada vez maiores a essa fontede energia limpa, por outro lado, há ainda um lon-go caminho a trilhar do ponto de vista tecnológicoaté que se possa torná-la realmente competitiva.Na localidade de Tribobó, no município de SãoGonçalo, Região Metropolitana do Rio, umamicroempresa fluminense, Enersud Indústria eSoluções Energéticas Ltda., vem trabalhando emprojeto para adaptar a geração de energia eólica àsnecessidades da população que vive na zona rural.

O objetivo principal dos empresários é ofereceruma alternativa àqueles que não dispõem de ener-gia elétrica e precisam alimentar motores e máqui-nas destinados à extração de água subterrânea, uti-lizada tanto para irrigar a lavoura e alimentar ogado como para uso doméstico. Como no interi-or o avanço da eletrificação ainda deve demorarpara alcançar as regiões mais isoladas, a empresapretende disponibilizar, a partir da energia produ-zida por aerogeradores – turbinas na forma decataventos ou moinhos –, um sistema que oferecealgumas vantagens sobre os demais produtos exis-tentes no mercado nesse mesmo segmento.

Bons ventos queajudam a mover águas

Microempresafluminensedesenvolve tecnologiaalternativa paraextração de água apartir de energiaeólica

Paul Jürgens

INOVAÇÃO

cendo um novo patamar para o apoio à pesquisaem todas as áreas do conhecimento no estado doRio de Janeiro. Um aumento que permitiu a exe-cução de inéditas propostas de estímulo à ciênciafluminense, com o anúncio, dentre outras, de cha-madas voltadas para o apoio a grupos emergentesde pesquisa e a incubadoras de empresas de basetecnológica; para a aquisição de equipamentos degrande porte; para o estímulo às áreas de humani-dades e engenharias; e para o fomento da inova-ção tecnológica em micro e pequenas empresas.

Realizações, portanto, que espelham a variedade deassuntos que traz esta quinta edição da revista RioPesquisa, que inaugura o Ano II da publicação. Nela,os leitores estão convidados a viajar à Antártica,em nossa reportagem de capa, na companhia de pes-quisadores fluminenses que integram diferentes pro-gramas de pesquisa sobre a evolução do planeta eas mudanças climáticas. O entrevistado, desta vez,é o secretário de Ciência e Tecnologia, AlexandreCardoso, que completa dois anos no cargo. A anun-ciada retração na economia prevista para 2009 pa-rece não abalar o ânimo do titular da pasta de C&Tno estado. Ele aposta que o governo e a comuni-dade científica saberão usar, se preciso for, acriatividade para driblar uma eventual queda naarrecadação dos recursos na economia fluminense.

Entre os demais assuntos abordados, estão a ener-gia eólica, a hipertensão arterial e uma mais quejusta homenagem ao centenário de morte de nos-so maior escritor, Machado de Assis. A contribui-ção das mulheres à ciência também ganhou espaçoem nossas páginas com o trabalho realizado porpesquisadoras que atuam em instituições de ensinoe pesquisa do Rio, contempladas em duas diferen-tes premiações ao longo do ano. Boa leitura e umbom final de ano a todos.

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“Alimentado por energia eólica, oaerogerador é uma alternativa viá-vel e terá, certamente, um custocompetitivo, se comparado às de-mais opções já existentes”, garanteLuiz Cezar Sampaio Pereira, enge-nheiro mecânico. Pausadamente, noritmo pouco apressado das gran-des turbinas eólicas, ele lembra que,para os que vivem longe da redeelétrica, o meio mais utilizado paraa retirada de água de poços semi-artesianos ou a transposição da águade rios e córregos são os motoresà combustão – que poluem e exi-gem manutenção freqüente elogística para suprir as necessidadesde combustível.

Os aerogeradores são a evolução na-tural dos cata-ventos, muito popula-res nas salinas da região litorânea doNorte Fluminense, mas que apresen-tam limitações quando o assunto é aextração de água a grandes profundi-dades. “A necessidade de comunica-ção mecânica entre a superfície e a águaque está lá embaixo impõe limitaçõesa esse tipo de tecnologia. Os cata-ven-tos precisam, inclusive, estar exatamen-te acima do local da extração, o quenão acontece com o aerogerador”,explica o engenheiro.

No caso das turbinas movidas a ven-to, instaladas em torres de até 25metros de altura, elas podem ficar auma distância de 500 metros a 1quilômetro do local da extração daágua, já que a transmissão da energia éfeita de forma elétrica e não mecani-camente. Isso facilita o posicionamentodas turbinas em colinas e promon-tórios que tendem a receber maiorquantidade de vento. O novo siste-ma pode ainda retirar água do soloa profundidades que podem alcan-çar de 60 a 100 metros – tarefa difí-cil para os cata-ventos mecânicos.

O projeto da Enersud prevê a pro-dução de aerogeradores com 5quilowatts (5.000 watts) de potên-cia, capazes de garantir um bombea-

mento de 2,5 quilowatts, mesmo emcondições climáticas pouco favorá-veis, com ventos de baixa intensida-de. Os engenheiros da empresa que-rem garantir um elevado rendimen-to na conversão mecânico-elétrica doequipamento, que permitiria, dessaforma, oferecer novas possibilida-des para um segmento da popula-ção que não está sendo atendido poroutras modalidades, como o diesele a energia solar. “A potência que vocêconsegue, em face de variabilidadedo vento, é da ordem de entre umquarto e um meio da potência damáquina que está gerando”, infor-ma o engenheiro. “Na Região dosLagos, onde venta bastante, nós nãoteríamos esse problema. Mas nossoprojeto não se destina a atender essaregião e sim a locais mais ermos, nointerior, onde, muitas vezes, é preci-so trazer a água de locais distantes eos ventos são irregulares.”De acordo com Luiz Cezar, “as tur-binas eólicas podem ter uma vidaútil de 20 anos sem manutenção,passando apenas por inspeções pe-riódicas”, garante. Ao longo dos úl-timos anos, a Enersud espalhou pelopaís – do Rio Grande do Sul aoPará – cerca de 200 turbinas desti-nadas à geração de energia para uso

doméstico. “O know-how utilizadonos geradores de energia eólica jáestá bastante disseminado, ao con-trário da tecnologia destinada aoaerobombeamento, onde as variá-veis são muitas e as opções dispo-níveis no mercado são importadase caras”, diz Bruno BressanDeCnop, responsável pela adminis-tração do projeto.

Parceria com a Uenfpermitirá realizar testesem laboratório

Ao longo das últimas décadas, umaexpressiva porção da populaçãofluminense se acostumou a enfren-tar crises de escassez de água, princi-palmente à época do verão. As ra-zões para as dificuldades no abaste-cimento vão desde o modelo ado-tado na gestão dos recursos hídricosaté as variações climáticas e a difi-culdades de aprovisionamento de-vido à topografia acidentada de cer-tas regiões. “O aproveitamento daenergia eólica para acionar bombasde sucção instaladas em poços sãouma opção importante para dimi-nuir o déficit hídrico, com vantagensreais para as regiões de agricultura epecuária no interior do estado, e, tam-

bém, para as populações de regiõesmais afastadas, onde a energia conven-cional é escassa”, defende Bruno.

De acordo com o estudo realizadopela Enersud, um levantamento preli-minar apontou que há extensas áreasfavoráveis ao uso de aerogeradoresno estado do Rio, como as regiõeslitorâneas do Norte Fluminense etambém algumas áreas da região ser-rana. Ele destaca que outro aspectorelevante do projeto é a possibilida-de de expansão da fronteira agríco-la, onde, muitas vezes, há terras quepossuem uma fertilidade potencial,mas que necessitam de água. “As ta-rifas de energia rural são muito sub-sidiadas. E numa localidade ondenão há rede elétrica, quase semprehá outras prioridades na hora de in-vestir”, avalia Luiz Cezar.

Se em 2007 a Enersud já possuíaequipamentos capazes de acionarmotores por indução elétrica, aindafalta um estudo detalhado das prin-cipais possibilidades de utilização doconjunto motor/bomba elétrica e osaerogeradores. A partir de 2009, aequipe de profissionais da empresacontará com o apoio de um espaçode testes instalado no Laboratóriode Engenharia e Exploração de Pe-tróleo (Lenep) da Universidade Es-tadual do Norte Fluminense (Uenf),em Macaé.

Ali, sob a supervisão do pesquisa-dor Valdo da Silva Marques, chefedo Laboratório de Meteorologia(Lamet), serão realizados testes comaerogeradores acoplados a sistemasde extração de água subterrânea, quepermitirão, entre outros, realizar oscálculos necessários à construção detabelas relacionadas às principais ne-cessidades de bombeamento deágua, tais como altura, vazão, dis-

tância e profundidade. A instalaçãodo laboratório só foi possível gra-ças ao apoio da FAPERJ, por meiodo programa Rio Inovação.

“Estamos fazendo a contratação daparte civil do projeto, que inclui a casade controle e o poço, que ficarão den-tro do Lamet”, diz Luiz Cezar.

Com o projeto da turbina pronto, aequipe espera realizar a simulação dascondições de bombeamento subter-râneo e de irrigação, fazendo a trans-posição de água de um poço paraum tanque e, daí, para outro tanque– simulando as condições de sucçãoem poços e também na transposi-ção de água de rios, lagos etc.

“Entre 2003 e 2004, estivemos in-cubados no Inmetro, embora já es-tivéssemos instalados aqui emTribobó”, explica o empreendedor.De acordo com Luiz Cezar, a pos-sibilidade de uso dos laboratórios eda pista de testes do próprio Inmetroe, mais tarde, do Distrito Industrialde Xerém, foi importante durante aprimeira fase de experimentos comos aerogeradores. “O túnel de ven-to é, sem dúvida, melhor do queuma pista, quando se trata de testesrelacionados com energia eólica.Mas sem o túnel, a pista é o melhor

local de testes desse tipo, com a tur-bina acoplada a um caminhão”, diz.

Instalada à beira da rodovia AmaralPeixoto, em Tribobó – a 10 Km docentro de Niterói –, a equipe daEnersud se prepara para um saltomaior em 2009. Paralelamente ao iní-cio dos testes no laboratório daUenf, a equipe do Enersud trocaráos 180 m2 de espaço de que dispõeatualmente por um novo galpão de450 m2, em fase de construção, nodistrito de Inoã, no município deMaricá. As perspectivas de realiza-ção de bons negócios no horizontee a mudança para um local maisamplo deixam Luiz Cezar otimista,mas sem abandonar a cautela: “Se-remos eternamente pequenos se nãohouver apoio ao nosso empreendi-mento. É preciso que o País criemecanismos de estímulo e condiçõespara o desenvolvimento de empre-sas inovadoras, assim como vem fa-zendo a FAPERJ em seus inúmerosprogramas, para que essas possamapostar numa escala possível paraseus negócios”, afirma.

Pesquisador: Luiz Cezar SampaioPereiraEmpresa: Enersud Indústria eSoluções Energéticas Ltda.

As turbinas podem ficar de 500m a 1km do local da extração da água, já que a transmissão daenergia é feita de forma elétrica e não mecanicamente, como no caso dos cata-ventos

Luiz Cezar (à dir.) e Bruno no galpão daempresa em Tribobó: aerogerador é opção de

energia limpa para o interior fluminense

Fotos: Divulgação Enersud

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Um jeito musical de fazer ciênciaFundação investe em projetos de difusão epreservação da memória da música brasileira

Um casarão aos pés do Morro da Urca queabriga um acervo musical de mais de 30mil peças – entre discos de vinil raros da

música popular brasileira, de 8, 10 e 12 polegadas,2 mil fitas sonoras em rolo, 700 fitas magnéticasem cassete e cerca de mil CDs. Esse verdadeiropatrimônio cultural, disponível para o público noInstituto Cultural Cravo Albin (ICCA), testemu-nha que os investimentos da FAPERJ já ultrapas-sam as fronteiras da ciência para se adaptar ao con-ceito da interdisciplinaridade, num novo diálogoentre a cultura e a pesquisa de caráter científico. Aolongo dos últimos anos, as artes, em especial a mú-sica, vêm ganhando cada vez mais espaço nos pro-gramas de auxílio da Fundação que, além de apoi-ar o ICCA, contempla projetos voltados para amemória e a difusão cultural em outras instituições,como a Universidade Federal do Estado do Riode Janeiro (UniRio) e o Conservatório Brasileirode Música (CBM).

Ricardo Cravo Albin, presidente do ICCA, temuma bela história para contar. Apaixonado pela

instituto, não apenas aplicando recur-sos para a preservação e melhoria doacervo, mas para outros projetos,como o Dicionário Cravo Albin da Músi-ca Popular Brasileira e o Música Popularnas Escolas”, destaca Ricardo.

O dicionário, disponível nas versõeson-line e impressa, traz 5.322 verbe-tes, listando autores, intérpretes e es-tilos musicais brasileiros urbanos. Aobra apresenta o repertório concisode 1.500 compositores e a discografiade 1.953 grandes nomes e grupos daMPB. O banco de dados virtual, lan-çado em 2001, é constantemente atu-alizado. “O dicionário está em cons-trução permanente, já que a MPB édinâmica. A versão virtual é atualiza-da semanalmente, em um trabalhoapostolar, quase canônico, de pesqui-sa”, diz Cravo Albin, que ressalta aimportância de difundir a vasta pro-dução musical do país sem custos,por meio da Internet. A versão im-pressa, que também contou com oapoio da FAPERJ, foi lançada cincoanos após a disponibilização da ver-são para a web. “Daqui a dois anosdeve sair uma nova edição”, prevê.

Projetos levam música àsescolas públicasEm outra iniciativa do instituto fun-dado por esse guardião da MPB queé Cravo Albin, o Música Popular nasEscolas é voltado para a educaçãomusical de alunos da rede pública domunicípio do Rio. “A proposta édespertar o interesse dos estudantespara a evolução e os diferentes gê-neros da nossa música. Mais do queensinar um instrumento, os alunos quevisitam o ICCA pelo projeto apren-dem a importância da MPB para aformação da identidade cultural bra-sileira”, destaca Ricardo, lembrandoque tramita atualmente no Congres-so o projeto de Lei Federal n.º2.732/08, que torna obrigatório oensino de música na educação básicade todo o País.

Sempre envolvido em novos proje-tos, ele planeja fazer um levantamen-to, inédito no Brasil, dos túmulos degrandes nomes da MPB. “Vamosmapear os túmulos das personalida-des ligadas à MPB e à música eruditanos cemitérios cariocas e reunir as in-formações num livro. Dessa forma,o público saberá onde estão os jazi-gos de grandes nomes, como Villa-Lobos, Francisco Mignone, CarmenMiranda e Francisco Alves. Isso é im-portante para preservar a identidadeafetiva com os artistas e evitar a es-peculação por maus herdeiros”, re-vela o musicólogo, que ainda não fe-chou apoio para o projeto, inspira-do nos livros sobre cemitérios, co-muns em Paris e Veneza.Outra instituição que conta com oapoio da Fundação é o Conservató-rio Brasileiro de Música – Centro Uni-versitário (CBM). O projeto Músicaem Tela: uma Nova Ferramenta para aMusicalização na Escola foi contempla-do neste ano de 2008, dentro do pro-grama Apoio à Produção e Divulgação dasArtes no Estado do Rio de Janeiro, pri-meiro edital totalmente voltado às ar-tes lançado pela FAPERJ. Com vas-ta tradição de ensino musical, o CBM– responsável pelo primeiro curso deiniciação musical para crianças, em1937 – propõe um processo deatualização profissional paraprofessores de música das es-colas ligadas à Secretaria de Es-tado de Educação. “A idéiasurgiu da necessidade da inclu-são da música no currículo do ensi-no básico e de uma formação maiscompleta para os professores”, diz adiretora do Conservatório, CecíliaConde.A musicista conta que o plano de tra-balho prevê a produção de um ma-terial pedagógico-musical, a ser dis-tribuído aos professores. “Três milcópias de um DVD em educaçãomusical serão produzidas. A meta édiscutir temas como princípios e con-

Débora Motta música brasileira e pelo Rio de Janeiro, resolveutransformar o casarão de 3 mil metros quadrados,herdado da família, na sede de uma sociedade civilsem fins lucrativos, visando à pesquisa, divulgação,defesa e conservação do patrimônio histórico eartístico da música brasileira. O amplo acervo estáem permanente processo de atualização. “Tudo co-meçou com minha coleção particular, doada à épo-ca da criação do instituto, em 2001. Mas o acervojá triplicou de tamanho devido às diversas doa-ções generosas”, explica o historiador e musicólogo.

Além do acervo fonográfico, o casarão expõe peçasda indumentária de personalidades da MPB – taiscomo os chapéus de Pixinguinha, Tom Jobim eMoreira da Silva –, troféus, medalhas, mobiliário deépoca, artesanato, gravuras, esculturas e quadros a óleode diversos artistas. São relíquias que precisam de cui-dados constantes. “Desenvolvemos um projeto deatualização contínua do acervo, permitindo que oselepês possam ser restaurados, já que ele é dinâmicoe recebe doações a cada mês”, diz. A preservação daDiscoteca Cravo Albin é apenas uma linha de fo-mento da FAPERJ no ICCA. “Parceira desde 2001,a Fundação está sempre atenta às necessidades do

ceitos da música, uso da voz, ritmos,instrumentos e cultura brasileira”, dizCecília, acrescentando que dois en-contros de educadores serão orga-nizados para a divulgação do mate-rial. E prossegue: “Até o fim do pro-jeto, em setembro de 2009, vamosencaminhar essa produção para cer-ca de 1.700 escolas da rede estaduale divulgar o material nas Faculdadesde Música do Rio e em escolas depedagogia, além de o adotarmos noConservatório”.Filha da cantora Amália FernandezConde e sobrinha do compositorOscar Lorenzo Fernandez, fundado-res do CBM, Cecília tem longa traje-tória de dedicação ao ensino e à pes-quisa da música no Conservatório.“Antes de nascer, na barriga da mi-nha mãe, já participava das reuniõesno CBM”, brinca a professora, res-ponsável pela criação do primeirocurso de graduação em musicoterapiado Brasil, em 1972, ali mesmo noConservatório. “Na década de 1960,influenciados pelo movimento deeducação pela arte, aceitávamos nocurso de iniciação musical alunos comsíndrome de Down, problemas decomportamento ou outras necessi-dades especiais”, lembra.

Ricardo Cravo Albin diante do casarão da família, na Urca, transformado em centro cultural: patrimônio artístico da música brasileira resguardado

MÚSICA

Foto: Reprodução

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A receita para levar uma vidasaudável parece simples: teruma dieta equilibrada, fazer

exercícios físicos regularmente e nãoabusar do álcool nem do cigarro. Pa-rece simples, mas não é. A correriadas grandes cidades, a falta de tem-po para a pausa do almoço e a cres-cente oferta de fast foods e alimentosgordurosos nos centros urbanos fazcom que a qualidade da alimentação

da maior parte da população fiquecomprometida. E quem paga essaconta é a Saúde Pública, registrandoum número cada vez maior de ca-sos de obesidade, hipertensão e dia-betes. São doenças que, há até pou-co tempo, atingiam uma pequenaparcela da população. Uma delas –a hipertensão – com sintomas aindapouco conhecidos e que carrega aalcunha de “assassina silenciosa”, poragir na surdina e não dar o menorsinal de alerta.

Hipertensão Um mal silencioso

Flávia Machado

SAÚDE

De acordo com o diretor científicoda Sociedade de Hipertensão doEstado do Rio e professor do De-partamento de Ciências Médicas daUniversidade do Estado do Rio deJaneiro (Uerj), o médico AntônioFelipe Sanjuliani, a estimativa atual éque cerca de 25 milhões de brasilei-ros sejam portadores de hipertensãoarterial. E destes, poucos sabem dis-so, já que uma de suas principais ca-racterísticas é a de ser uma doençasilenciosa. A estimativa futura tam-bém não é nada animadora: a pro-jeção para daqui a 17 anos, em 2025,é que cerca de 1,5 bilhão de pessoasem todo o mundo sejam hipertensas.Discutida recentemente no XVICongresso Brasileiro de Hipertensão,a doença já é considerada um pro-blema de saúde pública, uma vez queé o principal fator de risco para doen-

Estatística alarmante: controle dapressão arterial é feita em menosde um terço das consultasmédicas realizadas no País

O convívio com a médica Nise daSilveira, pioneira no desenvolvimentode métodos alternativos de tratamen-to psiquiátrico apoiados em ativida-des artísticas, foi fundamental. “Tra-balhei com Nise na Casa das Pal-meiras. Presenciar esse momento derenovação me deu base para pensare planejar a estrutura do curso demusicoterapia”, avalia a pesquisado-ra que, junto com José Maria Ne-ves, criou o primeiro mestrado emmúsica credenciado no Rio, em1983. A FAPERJ apoiou a realiza-ção do VIII Encontro Nacional dePesquisa em Musicoterapia, realiza-do em setembro de 2008, na capitalfluminense. “O encontro comemo-rou os 40 anos da Associação deMusicoterapia do estado [AMT-RJ]e os 30 anos do reconhecimento dagraduação de Musicoterapia noRio”, diz Cecília, que presidiu osimpósio.

Consórcio depesquisadoresproduz banco dedados virtual

Já na UniRio, um projeto quepromete ser uma ferramentarelevante para preservar a me-mória da cultura brasileira é oCema – Repositório de PatrimônioArtístico e Científico em Música eTeatro, que recebeu auxílio daFundação por meio do mes-mo edital voltado para as ar-tes. A musicóloga Martha Tupi-nambá coordena um consór-cio de pesquisadores empenha-dos em produzir um banco dedados virtual, que vai reunirtoda a produção acadêmica emmúsica e teatro da universida-de. “Vamos construir uma bi-blioteca digital para armaze-namento e divulgação do ma-terial artístico gerado pelos nú-

cleos de música e teatro da UniRio.Ele servirá como centro de docu-mentação das pesquisas realizadasnos laboratórios”, adianta.

O Cema vai democratizar os estudosda arte, antes restritos à academia, atodos os usuários da Internet. Para isso,requer a implantação de uma infra-es-trutura tecnológica. “Os laboratóriosserão reequipados com computado-res e material de captação de áudio evídeo, para permitir a geração doconteúdo on-line”, diz a professora,que também é membro titular doConselho Superior da FAPERJ. Omaterial – que inclui resultados de pes-quisa e documentos textuais, sonorose visuais desenvolvidos no âmbitodos programas de pós-graduaçãoem música e teatro da UniRio – seráum alicerce para outras pesquisas.“São fontes primárias ricas, que in-cluem trechos de obras musicais,catálogos de depoimentos de artis-tas, vídeos com registro de espetá-culos e fotografias”, enumera.

Entre o conteúdo a ser digitalizadoestão pesquisas sobre temas diversos,tais como o teatro musical carioca, amúsica sacra dos séculos XVIII eXIX – incluindo obras do padre JoséMaurício Nunes Garcia –, músicaantiga, projetos cenográficos, ma-quetes de espaços teatrais e o teatrocômico. Martha vai acrescentar a essematerial as conclusões que tirou aolongo das pesquisas A Música Popu-lar Gravada – Modinhas e Lundus e Ma-trizes Musicais e Matrizes Culturais daMúsica Brasileira. “Vou compartilharna web notícias de jornais e arquivossonoros com trechos de partiturasdo século XIX e do início do séculoXX, além de textos que revelam asorigens e a evolução da música bra-sileira”, diz a pesquisadora, que tam-bém pretende disponibilizar softwaresmusicais de uso livre.

Ela acredita que o acervo do bancode dados virtual terá alcance consi-derável. “Mais de mil arquivos deáudio poderão ser acessados pelarede mundial de computadores”,estima, não descartando a possibili-dade de fechar parcerias para umintercâmbio de arquivos virtuais comoutras instituições. Martha reconhe-ce a iniciativa da FAPERJ: “Esseapoio é enriquecedor para a culturacarioca. Hoje, se já temos uma di-versidade de programas voltados aofomento da pesquisa em artes, épreciso estimular ainda mais essas ini-ciativas, pois as universidades do Riotêm uma grande produção artísticae de pesquisa em artes que precisaser incentivada e divulgada”.

No alto: Martha Tupinambá, musicóloga da UniRio.Acima: Cecília Conde, diretora do ConservatórioBrasileiro de Música

Pesquisadores: Cecília Conde,Ricardo Cravo Albin e MarthaTupinambáInstituições: Conservatório Brasileirode Música – Centro Universitário(CBM), UniRio e Instituto CulturalCravo Albin

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ças cardiovasculares, responsáveis poraproximadamente 35% de todas asmortes no mundo ocidental.

E por que esses números vêm au-mentando rapidamente, Sanjuliani,coordenador da disciplina deFisiopatologia Clínica e Experimen-tal (Clinex) da Uerj, acredita que oestilo de vida da população, princi-palmente a que vive nas grandes ci-dades, contribua para esse aumento,já que os principais fatores ligados àelevação da pressão arterial são oconsumo excessivo de sal, a obesi-dade, o sedentarismo, o tabagismoe, também, a idade. A ingestão cres-cente de produtos industrializados,como enlatados, embutidos, salga-dinhos, ketchup e hambúrgueres, en-tre outros, faz com que as pessoasconsumam sal em excesso, o que estáintimamente ligado à elevação dapressão arterial. “Hoje, consumimostrês vezes mais sal por dia do que orecomendado. A dose diária idealgira em torno de 4 a 6 gramas pordia, e estamos consumindo cerca de15 gramas”, alerta.

Se, por um lado, um indivíduohipertenso não apresenta necessaria-

mente excesso de peso, essa com-binação é quase inevitável, já que ahipertensão está associada a um esti-lo de vida sedentário, com altaingestão de gordura e sal, hábitosalimentares inadequados, além dofator genético. Um estudo da Orga-nização Mundial de Saúde (OMS)apontou, já no ano de 1997, que oíndice de “gordura” populacionalvem aumentando em ritmo acelera-do. No Brasil, cerca de 40% da po-pulação adulta tem sobrepeso ouobesidade. Nos Estados Unidos, esseíndice sobe para 65%. E a incidênciada doença não afeta só adultos. Estu-do recente realizado no estado do Riopor pesquisadores da Uerj avaliouem torno de 7 mil crianças e adoles-centes em idade escolar e apontouuma prevalência de aproximadamen-te 5% de casos de hipertensão.

A hipertensão arterial, se não trata-da, eleva substancialmente as chancesde morte prematura, sendo consi-derada o principal fator de risco paradoenças cardiovasculares, quefreqüentemente leva à morte porinfartos, anginas e insuficiência car-díaca. É ainda causa – em cerca de80% dos casos – de mortalidade por

doenças do sistema nervoso central,como acidente vascular encefálico(mais conhecido como “derrame”).Também provoca a morte por insu-ficiência renal. Daí a importância docontrole da hipertensão, prevenindolesões nos chamados “órgãos-alvo”.

Na Universidade Federal do Rio deJaneiro (UFRJ), o médico e coorde-nador do Programa de Hipertensãodo Hospital Universitário Clemen-tino Fraga Filho, Armando da Ro-cha Nogueira, estuda um tipo de hi-pertensão considerado ainda maisgrave, a chamada hipertensão resis-tente, ou seja, aquela que mesmoquando tratada com até três fár-macos, em doses e associações cor-retas, não controla o nível da pres-são arterial. De acordo com ele, nãose sabe ao certo qual a prevalênciada hipertensão resistente no Brasil.“No hospital, em média, 30% dospacientes que procuram tratamentotêm hipertensão arterial resistente.Mas se trata de um hospital univer-sitário, o que acaba atraindo casosmais graves”, explica.

Sem sinal de alertaSem sinais alarmantes, os demais sin-tomas da hipertensão também sãocaracterísticos em outras doenças,como a cefaléia, o cansaço e o mal-estar, dificultando seu diagnóstico.Por isso, o desconhecimento da do-ença é muito comum. No Brasil, so-mente em 29% das consultas médi-cas se faz a medição da pressão ar-terial. Mas, uma vez diagnosticada,o tratamento é simples. Como ex-plica Sanjuliani, por meio do con-trole, as chances de uma pessoa teruma insuficiência cardíaca, porexemplo, são reduzidas à metade.“O importante é o tratamento con-tinuado, mesmo que a pressão tenhasido controlada, a medicação nãodeve ser interrompida”, alerta omédico. Modificações no estilo devida são a principal recomendação

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Atendimento a hipertensos: prática médica e pesquisa se complementam na Uerj

para o controle da hipertensão. Di-minuição do peso, mesmo uma re-dução modesta, também é impor-tante para a melhoria do quadro dopaciente. Ao contrário do que muitagente pensa, exercícios físicos são ex-tremamente recomendados, desde quetenham uma avaliação médica prévia.

Professor de Fisiologia e coordena-dor de Pós-graduação em CiênciasCardiovasculares da UniversidadeFederal Fluminense (UFF), o médi-co Antônio Cláudio Lucas da Nó-brega estuda o impacto do exercíciofísico sobre a função cardíaca evascular, mais especificamente, sobrea função endotelial. Como ele deta-lha, o endotélio – revestimento in-terno dos vasos sangüíneos – tempapel fundamental para regular afunção do vaso sangüíneo e, assim,torná-lo mais ativo metabolicamente.Sua pesquisa mostra que o exercíciofísico estimula a produção de óxidonítrico pelo endotélio, avaliando tam-bém o comportamento da pressãoarterial, antes, durante e após os exer-cícios físicos. “Em alguns casos, a

redução da pressão permanece poraté 24 horas após os exercícios. É oque chamamos de hipotensão pós-esforço”, avalia.O poder dos alimentos que a natu-reza oferece também não deve serdesprezado por quem procura há-bitos alimentares mais saudáveis. Hádez anos pesquisando os aspectosfarmacológicos dos extratos dasplantas cultivadas no Brasil, o pro-fessor do Departamento de Farma-cologia da Uerj, Roberto Soares deMoura, depositou recentemente noInstituto Nacional de PropriedadeIndustrial (INPI) uma patente sobreo processo de obtenção do extratodo açaí e de suas propriedadesfarmacológicas. De acordo com seusestudos, o extrato desse fruto da re-gião amazônica – amplamente con-sumido e, por isso mesmo, poucoprovável de ser tóxico – possui açãoantioxidante, vasodilatadora e anti-hipertensiva, já comprovada em tes-tes realizados com animais. Tais efei-tos se devem ao fato de o extratoinduzir a liberação de óxido nítrico

das células endoteliais. Ou seja, aingestão do extrato tem um efeitorelaxador dos vasos, possibilitandouma melhora na circulação sanguí-nea. De acordo com o professor,que é membro do Conselho Supe-rior da FAPERJ, tomar açaí na lan-chonete ajuda, mas o extrato é mui-to mais concentrado, além de nãoser calórico. Agora, ele busca apoioda indústria farmacêutica para de-senvolver medicamentos com o ex-trato do açaí.

Atualmente, já existem estudos queapontam para a possibilidade de ummelhor controle da pressão e daobesidade, sem a utilização de dro-gas específicas. “Na disciplina deFisiopatologia Clínica e Experimen-tal (Clinex), os efeitos do cacau (cho-colate) e do magnésio são objetosde estudos”, enfatiza Sanjuliani.

Pesquisadores: Antônio FelipeSanjuliani, Antônio Cláudio Lucas daNóbrega, Armando da RochaNogueira e Roberto Soares de MouraInstituições: Uerj, UFRJ e UFF

O Programa de Pós-graduação em Fisiopatologia Clínica e Experimental (Fisclinex) nas-

ceu na Clínica de Hipertensão do La-boratório de Fisiopatologia Clínicae Experimental (Clinex) da Univer-sidade do Estado do Rio de Janeiro(Uerj). Idealizado pelo médico e pro-fessor Emílio Francischetti (foto), como apoio de um grupo de docentesda Faculdade de Ciências Médicas edo Instituto de Biologia RobertoAlcântara Gomes (Ibrag), o cursopossui seu diferencial de qualidadena convergência de pesquisadores dediferentes áreas da saúde, comoMedicina, Nutrição, Biologia, Odon-tologia, Fisioterapia e Educação Fí-sica, no estudo da Fisiopatologia.

Fundado em 1997 e atualmente com24 professores e cerca de 90 alunos,o curso hoje possui nível 6 de exce-lência, de acordo com avaliação daCoordenação de Aperfeiçoamentode Pessoal de Nível Superior (Ca-pes) do Ministério da Educação. AClinex, por sua vez, criada para aten-der pacientes hipertensos e obesos,visa oferecer um diagnóstico precocedessas e de outras doenças e suas con-seqüências cardiovasculares. A clíni-ca conta, igualmente, com especia-listas e pesquisadores em diversasáreas, o que acaba permitindo queas duas iniciativas se complementem,por meio da troca de informaçõesenvolvendo a prática médica e a pes-quisa sobre o tema.

Clinex – Fisclinex: prática médica e pesquisa

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Ensinando ciência

Projetos sociais de pesquisadorajudam a despertar a vocaçãopara a ciência em jovens

Leopoldo de Meis costuma dizer que dedica 85% do seu tempoà ciência e 15% ao ensino em educação. Aos 70 anos, o fun-dador do Instituto de Bioquímica Médica da Universidade

Federal do Rio de Janeiro (IBqM/UFRJ) e especialista embioenergética mantém um ritmo de trabalho intenso à frente dainstituição, onde pesquisa temas como os mecanismos de transduçãode energia em sistemas biológicos, o transporte ativo de íons e asíntese e hidrólise de ATP (adenosina trifosfato). Mas se enganaquem pensa que o cientista de peso, autor de centenas de artigospublicados e com diversos prêmios, livros e títulos estampados nocurrículo, é uma figura sisuda. Longe do estereótipo do pesquisa-dor que vive isolado atrás da bancada de trabalho, ele é, acima detudo, uma pessoa cativante e solidária. Pensando em popularizar a ci-ência, Leopoldo criou projetos de inclusão social para facilitar o acessode jovens de baixa renda à universidade e ao mercado de trabalho.

Uma das contribuições do mestre nesse sentido são os “Cursos deFérias”, oferecidos há mais de 20 anos no IBqM/UFRJ para estu-dantes do ensino médio e professores das redes pública e privadade ensino. “O grande salto foi quando passamos a trazer meninosde baixa renda para a academia. Formamos a primeira turma em1985. Hoje, mais de 23 universidades adotam o projeto, multipli-cando o modelo em todo o país”, comemora o pesquisador, querecebeu em outubro o título de professor emérito da UFRJ. A idéiaé despertar a vocação científica em jovens que não tiveram a opor-tunidade de freqüentar boas escolas, com aulas que fogem da es-trutura vertical entre mestre e aprendiz. “Os alunos fazem experi-mentos nos laboratórios da universidade e interagem com os pro-fessores, que não se portam como os detentores do conhecimento.No último dia do curso, os alunos apresentam os resultados daexperiência em um seminário”, completa.

Outro projeto social desenvolvido por Leopoldo de Meis é o “Jo-vens Talentosos”, que oferece acompanhamento escolar e bolsasde estudo para alunos carentes do ensino médio. “Os jovens rece-bem uma bolsa para aprender nos laboratórios da universidade.Cada aluno ganha um orientador, que acompanha periodicamente

o rendimento escolar. Se ele diz queo menino precisa de cursos pré-ves-tibular, de línguas, de informática, delivros ou de recursos para ir a umcongresso, o projeto paga”, explica.Os resultados, na sua avaliação, sãorecompensadores. “Todos crescemcom a experiência. Trabalhando commeninos mais pobres, os orien-tadores aprendem a ver o outro ladoda vida, aquele das dificuldades comas quais não estão acostumados. Jáos meninos têm uma oportunidadeúnica de aprendizado e ascensão so-cial”, atesta o professor, acrescentan-do que mais da metade dos ex-alu-nos do projeto consegue entrar paraa universidade e muitos já concluí-ram até a pós-graduação.

Essa sensibilidade de Leopoldo deMeis para as questões sociais talvezesteja ligada à sua própria trajetória.Filho de italianos nascido no Egito,ele superou as dificuldades que en-frentou durante a infância, quandovivia em Nápoles, Itália, logo depoisda Segunda Guerra Mundial. “Meuspais eram músicos e estavam tocan-do no Egito quando eu nasci, maslogo depois voltamos para Nápo-les, onde vivi até os 9 anos. Veio aincerteza da guerra e a miséria totaldo pós-guerra. Meu pai, Ésio, queera violoncelista, e minha mãe, Ma-ria, pianista, não tinham oportunida-de no mercado de trabalho”, conta.Em busca de uma vida melhor, afamília decidiu migrar para o Brasil.

O pai veio na frente, inicialmente parao Recife. Em 1947, Leopoldo e suamãe o reencontraram no Rio deJaneiro. “Quando chegamos comoimigrantes, era uma pobreza horrível.O primeiro apartamento que tive-mos foi um quarto e sala na Rua doRiachuelo”. Apesar das vacas magras,a educação de Leopoldo e de suairmã eram prioridade. “O sonhodele é que nos tornássemos músicos.Com o primeiro dinheiro que meupai conseguiu acumular, não com-

prou a mobília necessária para oapartamento, mas um piano Gabeaude meia cauda, que ocupava quasetoda a sala. Minha mãe ficou zanga-da”, lembra.

Leopoldo até se esforçou paraaprender um instrumento musical,mas não tinha muita paciência paraos exercícios diários. “Meu pai meobrigava a estudar uma ou duas ho-ras de piano por dia. Aos sábados,ele dormia depois do almoço, masficava ouvindo do quarto minha exe-cução ao piano. Se eu tocasse umanota errada, gritava lá de dentro, emitaliano: ‘imbecille’. Fora isso, ele era

encantador”, ri. Aos 18 anos, o fu-turo médico teve que escolher entreser italiano ou brasileiro. “Me natu-ralizei brasileiro e nunca me arrependidisso. Tinha mais afinidades com aterra adotada por minha família.Gostava de bloco de carnaval, dejogar bola na rua, dessas coisas quesó existem no Brasil.”

A ciência brasileira só teria a lucrarcom essa decisão. A despeito da edu-cação e do ambiente cultural em quecresceu, convivendo com artistas doporte de Cláudio Santoro e IberêCamargo, do círculo de amizades dopai – que a essa altura já fazia parteda Orquestra Sinfônica do TheatroMunicipal do Rio –, o jovem des-cobriu que o seu caminho seria aMedicina. “Teve um momento emque fiquei na dúvida entre a ciência ea arte. Cheguei a pintar quadros tam-bém. Mas a ciência sempre foi mi-nha grande motivação”. No mesmo

ano, Leopoldo ingressou na Facul-dade de Medicina da então Univer-sidade do Brasil, atual UFRJ.

A primeira oportunidade que tevefoi com um dos mais eminentes pes-quisadores brasileiros, WalterOswaldo Cruz, que atuava emManguinhos. “Oswaldo foi convida-do para dar uma palestra sobre oque era a ciência, no campus da UFRJna Praia Vermelha. No fim da pa-lestra, falou as palavras mágicas: ti-nha três bolsas de estudo e quemquisesse podia se inscrever. Me ins-crevi! Eu só não, toda a torcida doFlamengo”, brinca. Aflito com suainexperiência, começou a estudartudo sobre sangue para a seleção. “Aprimeira prova foi uma entrevista nacasa do próprio Oswaldo, que pe-diu para interpretar ilustrações deuma revista que possuía um senso dehumor sofisticado. A segunda foi prá-tica, no laboratório. Pediu para dizero que eram alguns equipamentos quepara mim, ainda calouro, pareciamcomplicadíssimos. Ele pedia para euadivinhar e eu chutava: ‘É uma má-quina para respirar’? Fui para casaachando que havia me ferrado, masdepois de um mês me chamaram.”

Da seleção para ser monitor deOswaldo Cruz, de Meis tirou suaprimeira lição sobre o que é ciência.“Depois, entendi por que ele fez essetipo de avaliação, tão solta. Na ver-dade, ciência tem a ver com sensode humor e intuição”, avalia. “O queos cientistas mais desenvolvem é aintuição. Tem hora que dá um estaloque você não sabe de onde vem. Osprincipiantes seguem apenas a lógi-ca e o método, mas depois que evo-luem, passam a acreditar na impor-tância de palavras como ‘universo’ e‘natureza’, porque valorizam mais aintuição. A lógica que aparece no tra-balho experimental é de uma elegân-cia deslumbrante. Deve existir umaforça por trás muito grande paraexplicar”, completa Leopoldo, que

PERFIL: Leopoldo de Meis

Débora Motta

Filho de italianosnascido no Egito,ele se naturalizoubrasileiro aocompletar 18 anos

com arteFotos: Vinicius Zepeda

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foi católico, budista e espírita, e hojenão segue nenhuma religião.Foi por causa de Oswaldo Cruz, res-ponsável pela criação da primeiraeditoria de ciência do Jornal doCommercio, que o estudante Leopoldoexperimentou o ofício de repórter.“Foi o primeiro jornal a ter umaeditoria de ciência. Eu e um colega,o então acadêmico de Medicina daUniversidade do Estado do Rio deJaneiro (Uerj), Carl Peter von Dietrich,que viria a ser um dos maiores cien-tistas brasileiros, éramos os editores.Tínhamos uma distância enormecom o chefe da redação, que só que-ria notícias com forte apelo popu-lar. Toda semana tínhamos que pu-blicar uma página inteira”, diz odoutor Honoris Causa das universi-dades de Buenos Aires e Católica deLouvain (Bélgica), além de fundadorda Academia de Ciências da Améri-ca Latina (Acal).Com a certeza de que se tornaria umpesquisador, já que “a pesquisa era aúnica coisa em medicina que não lhedava sono” – ao contrário da Cirur-gia –, Leopoldo deu mais um passo.Conseguiu uma bolsa nos EstadosUnidos, por intermédio do seuorientador em Manguinhos, logodepois de concluir a graduação, em1961. “Naquela época, não haviamestrado nem doutorado. Meses de-pois de acabar a faculdade, fui paraos Estados Unidos para trabalharcom hematologia. Fiquei durante umano e meio no Instituto Nacional daSaúde, em Bethesta, perto da capi-tal, Washington. Foi muito importantepara mim, não tanto pelo laboratório,porque quem realmente me ensinouciência foi Walter Oswaldo Cruz, maspela experiência”, reconhece.Lá, no turbilhão dos “anos rebeldes”,teve contato com a questão racial, quemuito o instigava. “Sempre achei oracismo horroroso. Não havia ne-gros no laboratório. Já que eu tinhaum mês de férias do laboratório,

decidi participar dessa questão efer-vescente na época. Viajei pelo Sul dosEstados Unidos com o StudentNonviolent Coordinating Committee (mo-vimento criado por estudantes uni-versitários negros que contou como apoio de Martin Luther King).

Precisavam de estudantes brancosque simpatizassem com a causa empequenas cidades, onde nenhumbranco costumava apoiar um negro,como nos estados da Geórgia e doMississipi”, conta, recordando queficava escondido na cidade até omomento das passeatas. “Foi curio-so porque, durante os atos, algunsse aproximavam xingando coisas debaixíssimo nível, mas outros ficavam

surpresos com a nossa coragem.Aprendi demais sobre comporta-mento humano.”

Leopoldo escolheu um momentopolítico complicado para voltar aoBrasil. Em abril de 1964, mês dogolpe militar, desembarcou no Rio.Em pouco tempo, viu-se obrigadoa deixar a Fundação Oswaldo Cruz(Fiocruz), devido à repressão da di-tadura. “Entrou na direção deManguinhos um sujeito chamadoRocha Lagoa. Fui chamado peloCenimar [Centro de Informações daMarinha]. O oficial puxou a minhaficha e perguntou se havia reuniõesde células comunistas no meu traba-lho. Disse que não, o que tínhamosera um seminário científico por se-mana. Mas estavam interrogandotodas as pessoas que trabalhavamcom o Walter.”

Para Leopoldo, a gota d’água caiuquando estabeleceram em Man-guinhos que ele teria que ministrar

cursos sobre guerra química paraoficiais. “Pedi demissão na hora.”Desempregado, o pesquisador tevede novo a sorte de ser acolhido porgrandes mestres, dessa vez no La-boratório de Biofísica, que funcio-nava na Praia Vermelha, onde tra-balhavam os médicos e pesquisado-res Carlos Chagas Filho e AntônioPaes de Carvalho. “Do laboratóriode Paes, saiu meu primeiro grandetrabalho em publicações internacio-nais: primeiro, no American Journal ofPhysiology, sobre contração muscular;e, em seguida, no Journal of BiologicalChemistry. Na época, isso era consi-derado um feito excepcional paraum cientista brasileiro.”

No fim da década de 1970, ele as-sumiu o cargo de professor de bio-química da UFRJ e ingressou no en-tão Departamento de BioquímicaMédica, que integrava o Instituto deCiências Biomédicas. Mais tarde, teveimportante papel no processo de

transformação que resultou na fun-dação do Instituto de BioquímicaMédica, em 2004. “Quando chegueiao departamento de bioquímica, nin-guém fazia pesquisa. Em pouco tem-po, tudo mudou, com um departa-mento ativo, publicações sistemáti-cas e jovens maravilhosos. Daí pas-sou a Instituto”, diz Leopoldo, res-saltando que os projetos que desen-volve no IBqM não são uma formatradicional de fazer política. “O tra-balho social que faço não é política.Chama-se dignidade.”

A experiência que Leopoldo reuniuno campo social, aliada à formaçãoartística que recebeu de sua família eà atividade de redator no jornal, nãofoi em vão. Leopoldo coloca suasmúltiplas habilidades a serviço daciência. “A escrita é indispensável paraa ciência porque se o pesquisador nãoescrever bem, os seus trabalhosmorrem. Mas na ciência, a escrita élimitada, porque a linguagem cientí-fica não admite desperdício de pa-lavras”, avalia. Fugindo da rigidez dalinguagem acadêmica, ele lançou di-versos livros que proporcionam umareflexão sobre a produção científi-ca. “Baseado nisso, escrevi O outrolado da ciência, no qual propus a pes-quisadores que escrevessem contos.

Uns ficaram ótimos, outros nem tan-to, mas todos sentiram a liberdade deescrever sem as regras restritas da lin-guagem dos artigos científicos.”Boa parte da produção literária deLeopoldo de Meis está ligada aodesejo de tornar mais didático e in-teressante o ensino da ciência. Entreas obras, estão O Método Científico –como o Saber Mudou a Vida do Homem

(peça de teatro); Uma Breve Históriado Conhecimento – a Explosão do Saber;Ciência, Educação e o Conflito Humano-tecnológico e Perfil da Ciência Brasileira.Além disso, o autor se envolve dire-tamente na confecção de materiaisespecíficos para os projetos de edu-cação para os jovens, entre gibis, li-vros e DVDs. Essa produção é re-sultado de um trabalho em conjun-to que nasceu há 13 anos, quandoLeopoldo começou a reunir um gru-po de monitores bolsistas dedicadosà computação gráfica e ao desenho,que se tornou hoje o núcleo de ciên-cia e arte do IBqM. O núcleo, queteve início com o artista gráficoDiucênio Rangel, conta atualmentecom sete pessoas, incluindo mestrese doutores, como Alexandro Ma-chado, Luis Dourado e Bruno Ma-tos, e outros graduandos ou já napós-graduação.

Temas à primeira vista complicados,como a concepção da vida huma-na, a mitocôndria, a primeira lei datermodinâmica e o método científi-co, tornam-se mais fáceis. O mate-rial é distribuído gratuitamente emescolas públicas. Tudo passa pelocrivo de Leopoldo, desde a trilhasonora dos DVDs até a concepçãodas animações. “A idéia é tentarmostrar o lado bonito da ciência etrazer o lado emocional para a pes-quisa. Quando me canso do traba-lho experimental, vou para as artes”,diz o professor, que teve o empe-nho como educador reconhecidopela Coordenação de Aperfeiçoa-mento de Pessoal de Nível Superior(Capes), que lhe atribuiu, em 2006,o Prêmio Anísio Teixeira de Educa-ção. Passando a limpo sua carreira,ele diz que tudo valeu a pena. “Oque mais gostei de fazer foi ter tra-balhado na UFRJ, o que me deu li-berdade e condições de realizar meusprojetos. A arte torna a compreensãoda ciência mais humana”, conclui.

“A arte torna acompreensão daciência maishumana”

Na época darepressão, médicoviu-se obrigado adeixar o trabalho

De Meis: preocupação social reconhecida pelos pares e entidades ligadas à educação

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Nos últimos 50-60 anos, a atividade organizadade produção de conhecimento científico es-tabeleceu-se no país. No centro desse pro-

cesso estiveram a reforma universitária, institu-cionalizando a pós-graduação, e a estruturação de umsistema de apoio e financiamento à pesquisa e aos pes-quisadores nas universidades e nos centros de pesqui-sa governamentais.

O CNPq, a Capes, a Finep e as fundações de amparoà pesquisa (FAPs) foram e são agentes executores di-nâmicos do processo. A Sociedade Brasileira para oProgresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileirade Ciências (ABC) desempenharam papel fundamen-tal no convencimento e na mobilização das mentes edos esforços para que o processo se estabelecesse ese desenvolvesse.

Como indicador sinalizando efetivos resultados dessesistema, temos hoje a taxa de 2% de participação daprodução nacional de trabalhos científicos na produ-ção mundial – resultado bastante significativo, pois mos-tra que o nosso sistema básico de produção de ciênciaestá do “tamanho econômico do país”, já que esse ín-dice é basicamente o mesmo da participação do PIBbrasileiro no mundial.

Notável também no período foi a constituição de ca-sos específicos de sucesso no que se refere às ciênciasaplicadas e à pesquisa tecnológica. São exemplosemblemáticos desses casos o sistema Embrapa nas ati-vidades agropecuárias; a rede Petrobras, capitaneadapelo Cenpes e com destaque para a Coppe/UFRJ, naindústria petrolífera; a tradicional Fiocruz no Sistemade Saúde Pública; o Centro Técnico Aeroespacial(CTA) e a Embraer na indústria aeronáutica; o Inpena produção de previsões de tempo e articulando umarede industrial de construção de satélites artificiais; e osistema Cnen – Eletronuclear na tecnologia nuclear.

Estabelecida uma plataforma básica importante, a res-ponsabilidade de ampliação com qualidade e atençãoàs demandas e necessidades da sociedade e do desen-volvimento do País, pelo seu bom e pleno funciona-mento, é grande. Implica o enfrentamento de desafios

que merecerão dedicação e esforçosiguais ou maiores que aqueles já dedi-cados à construção do sistema básico.

Lanço aqui vários deles, cuja superaçãoé crucial para saúde e bom funciona-mento do próprio sistema, para o re-conhecimento de sua utilidade pelasociedade e para que as atividades doscientistas contribuam também para oequilíbrio social e regional no País.

O primeiro deles é a deficiente educa-ção básica e média. Requer o enga-jamento da comunidade científica paraa sua superação, além da cidadania,obviamente. Não podemos nos furtarà participação, especialmente na ques-tão do ensino das Ciências e das Ma-temáticas. As nossas melhores univer-sidades devem priorizar a formaçãode bons professores, e em boa quanti-dade. Isso não vem ocorrendo. Pelocontrário, a formação de professoresestá cada vez mais sendo relegada àque-las mais destituídas de condições e qua-lidades. A expectativa positiva é que anova Capes estimule esse movimento.Educação de qualidade é o mais impor-tante requisito para a inclusão social.

A ampliação de vagas nas universida-des públicas, sem perder a qualidade,é outro grande desafio. A vaga em ins-tituição pública é a que de fato estáaberta para os filhos da nova classemédia, e o atendimento da demandapor profissionais de ensino superior etécnico é condição sine qua non para odesenvolvimento do País. Basta com-parar o número de engenheiros queformamos com aquele da China paraque entremos em “estado de choque”.Os dez mil doutores que o nosso siste-ma de pós-graduação forma anualmen-te certamente nos darão condições degarantir essa expansão, especialmentena esfera das universidades tecnológicase escolas técnicas, tão necessárias.

A ciência brasileira está 60% localiza-da na Região Sudeste. Por razões es-tratégicas e de justiça federativa, é umasituação que não pode perdurar,constituindo-se num desafio para oplanejamento estratégico e a políticade ciência e tecnologia (C&T). Temos

que redirecionar investimentos fede-rais e estimular as FAPs locais. Isso,de fato, já vem ocorrendo em esta-dos como Amazonas, Pará e Bahia,mas em outros com alguma tradiçãohouve retrocesso.

Em regiões como a Amazônia, osemi-árido e a Plataforma Continen-tal Marinha, o conhecimento científicoé absolutamente necessário para umaintervenção econômica sustentável –ambientalmente e socialmente –, pre-servando o patrimônio do País. É im-perativa a atuação do Sistema de Ciên-cia e Tecnologia nessas áreas, e suaexpansão, contemplando essa atuação,é vital, até para justificar os investi-mentos da sociedade nas nossas ativi-dades. O aspecto estratégico impõe odesafio de melhor distribuirmos asatividades de C,T&I no País, contri-buindo para a superação das desigual-dades regionais.

Outro importante desafio a ser en-frentado reside na separação existen-te tradicionalmente entre o sistemauniversitário e as atividades de pes-quisa e desenvolvimento (P&D) nasempresas. Existem honrosas exceçõesde colaboração e temos avançadobastante na aproximação, mas muitoainda resta a fazer para que o fluxode transformação do conhecimentoem riqueza seja otimizado, desde oaspecto cultural, passando pelooperacional, até o marco legal.

Além do estímulo à participação even-tual de pesquisadores em projetos deinteresse da empresa, mecanismoscomo incubadoras de empresas nas-centes nas universidades, parquestecnológicos congregando universida-des, centros de pesquisas e empresascom interesse em tecnologia e inova-ção, e mestrados profissionais, podemser estimulados por políticas públicaspara criar pontes de cooperação, embenefício da economia do País. O sis-tema universitário de pesquisa terá,certamente, o reconhecimento da so-ciedade por essa postura.

Finalmente, menciono o desafio desuperar um gargalo que decorre do

fato de a C&T ser atividade recenteem nosso País, e que é transversal atodas as outras, sua superação sendoimportante para a boa fluência de to-das as outras superações. Tal é a ques-tão no marco legal para o exercíciodessas atividades.

Legislações desenvolvidas em outrasépocas e situações, voltadas para ou-tros propósitos, são confrontadas e/ou questionadas sistematicamente pe-las atividades demandadas pelo desen-volvimento científico e tecnológico doPaís. São exemplos a coleta de mate-rial biológico de nossa biodiversidade,o uso de animais em experimentos ci-entíficos, a coleta e o uso de células-tronco embrionárias, as improprieda-des legais na cooperação entre enti-dades científicas públicas e empresasprivadas, o regime “ultra-rápido” nasimportações de insumos científicos, emuitos outros.

Alguns avanços estão ocorrendo,como a nova lei que regulamenta ouso de animais em pesquisa, a deci-são do Supremo Tribunal Federal(STF) sobre células-tronco, a Lei deInovação e a Lei do Bem. Mas enten-demos que uma revisão geral paraidentificação de gargalos, incluindo aíum estudo sobre o status institucionaldas organizações de pesquisa, o regi-me de contratação de pessoal, entreoutros, torna-se necessário.

Os desafios dodesenvolvimento da ciência

e da tecnologia no país

Marco Antonio Raupp é matemático,doutor pela Universidade de Chicago(EUA) e presidente da SociedadeBrasileira para o Progresso daCiência (SBPC)

Marco Antonio Raupp

ARTIGO

Foto: Divulgação/SBPC

Foto: Reprodução

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Quando me aposentei, acre-ditava que estaria livre deresponsabilidades. Mas

meu filho teve uma depressão, suaesposa não agüentou a situação, e elesse separaram. Sozinho e cada vezmais deprimido, ele voltou a morarcomigo. Angustiada, também entreiem depressão. Foram seis anos vi-vendo à base de calmantes até reen-contrar novamente meu caminho, aoconhecer a Universidade Aberta daTerceira Idade (UnATI)”. O teste-munho é de Odelita Ramos Vascon-celos, 74 anos, para quem a sua exis-tência tomou outro rumo depois quepassou a freqüentar os cursos daUnATI. Ela conta que já freqüentoumais de 20 deles, entre biodança,música coral e informática. “A ener-gia que sinto aqui, convivendo comgente da minha faixa etária e todasessas atividades ajudaram a afastar adepressão”, diz, animada. Históriascomo a dela são bastante comunsentre os idosos que freqüentam auniversidade. No mês de agosto, aorganização completou 15 anos commuitas festividades.

Para celebrar a data, a UnATI pro-moveu uma série de atividades coma presença maciça de seus alunos. Sóem 2007, 1.802 pessoas passarampelos cursos desse centro de convi-vência que integra a Universidade doEstado do Rio de Janeiro (Uerj).Inicialmente criado como um pro-grama vinculado ao Instituto deMedicina Social da Uerj, a UnATIatualmente é um dos mais avança-

dos centros voltados para a terceiraidade. “Hoje, ela está estruturadacomo um centro de estudos, ensino,debates, pesquisas e assistência vol-tados para questões inerentes ao en-velhecimento”, explica o seu diretor,Renato Veras.Foi graças ao pioneirismo do médi-co geriatra Américo Piquet Carnei-ro, que antecipou a necessidade deum conjunto de política públicas

voltadas para os idosos, que o pro-jeto da UnATI ganhou corpo no anode 1993. De fato, a acentuada que-da da taxa de natalidade registradano País ao longo das três últimas dé-cadas, aliada ao aumento da espe-rança de vida dos brasileiros, vemprojetando um País cujo perfil dapopulação deverá sofrer uma pro-funda transformação até meados doséculo XXI. Até lá, o Brasil ganhará

completa 15 anos devalorização da terceira idade

UnATI

Rosilene Ricardo

munitários. Em 2009, a organizaçãodeve estender essas atividades e suaexpertise em direção à Zona Sul, nobairro da Gávea, com a abertura deum centro de treinamento e qualifi-cação no atendimento ao idoso. Oprojeto, em parceria com a Secreta-ria Estadual de Saúde, prevê, entreoutras iniciativas, a formação decuidadores e o treinamento de por-teiros e motoristas de ônibus que li-dam diariamente com pessoas daterceira idade. Nesse local, haverá as-sistência, mas o eixo do serviço seráa pesquisa e o treinamento dos pro-fissionais da Secretaria de Saúde.“Esse é um projeto inovador quedeverá oferecer novas perspectivasno relacionamento da sociedadecom os idosos, abrindo um vastocampo para a pesquisa acadêmica, quecertamente muito poderá contribuirpara a melhoria e o desenvolvimentode novos mecanismos destinados aessa faixa etária”, avalia Veras.

Paralelamente às atividades que hojesão desenvolvidas no campus daUerj, a organização assessora órgãosgovernamentais na formulação depolíticas específicas. O centro tam-bém capacita profissionais de váriasáreas de conhecimento a lidar comos problemas da população idosa,promovendo análises comparativasentre os estudos sobre a terceira ida-de realizados no Brasil e nos dife-rentes países.

“Atualmente, além de mais de 70cursos nas áreas de educação para asaúde, arte e cultura, conhecimentosgerais, línguas estrangeiras, e conhe-cimentos específicos sobre envelhe-cimento, fazemos cerca de 800 aten-dimentos ao mês em dois ambula-tórios´, um deles implantado na pró-pria UnATI, e o outro na PoliclínicaPiquet Carneiro, no bairro de São

TERCEIRA IDADE

um significativo contingente de pes-soas idosas.Ao longo dos anos, a UnATI, alémde promover estudos, debates, pes-quisas e cursos voltados para a as-sistência e a integração à sociedadecontemporânea da população ido-sa, tem prestado ainda assistênciamédica, jurídica e física a essa popu-lação, por meio de uma unidade deexcelência voltada para serviços co-

Francisco Xavier, também da Uerj”,relata Veras, também professor doInstituto de Medicina Social da Uerj.“Temos também um convênio como Centro Latino-Americano e doCaribe de Informação em Ciênciasda Saúde [Bireme], em que nos res-ponsabilizamos por gerar informa-ções sobre envelhecimento para a bi-blioteca, ligada à Organização Pan-Americana da Saúde [Opas]”.

Um exemplo de iniciativas que con-tribuem para a proteção do idosonas grandes cidades foi o lançamen-to, no fim de outubro, da Cartilhade Procedimentos Bancários para aPessoa Idosa, que faz parte do pro-grama de recursos comunitários daUnATI. O conteúdo traz esclareci-mentos importantes sobre procedi-mentos bancários destinados a evi-tar que idosos sejam vítimas de gol-pes que hoje rondam as agências. Acartilha aborda assuntos como a ade-são a contratos, produtos e serviços;a utilização de caixa eletrônico, car-tão magnético, cédulas, cheques, eInternet; os golpes do recadastramentobancário, do conto do cartão magné-tico e o da “saidinha”; e como o ido-so deve recorrer à defensoria pública,em caso de necessidade.

Baile comemorativo pela passagem do aniversário de 15 anos: a terceira idade em alta

Renato Veras, o diretor: centro capacitaprofissionais de várias áreas do conhecimentoa lidar com os problemas da população idosa

Fotos: Mariano Coelho/Paralaxe

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Localizada no extremo sul doplaneta, a Antártica é forma-da de uma porção continen-

tal e algumas ilhas, ambas compos-tas de gelo sobre rocha. Nessa re-gião de difícil acesso, onde podemser observados fenômenos terrestrese cósmicos de grande intensidade –como a passagem das estações doano –, especialistas acreditam que olocal oferece a chave para importan-tes informações sobre a evolução ter-restre. O interesse pelo continentetem crescido rapidamente ao longoda última década, com um númerorecorde de expedições à região nosúltimos meses. Isso levou o gover-no brasileiro – desde 1984, o Paísmantém em funcionamento a Esta-ção Comandante Ferraz, na Baía doAlmirantado –, a adquirir, recente-mente, mais um navio para a pes-

quisa na Antártica, com capacidadepara acomodar 35 pesquisadores.

Da lista crescente de pesquisadoresenvolvidos no trabalho de exploraçãodessa inóspita região do globo, estãodiversos representantes fluminenses.Um deles é Lúcia de Siqueira Cam-pos, professora e pesquisadora daUniversidade Federal do Rio de Ja-neiro (UFRJ). “A Antártica atua no sis-tema terrestre como um órgão frio,sendo o principal responsável pelocontrole das correntes atmosféricas eoceânicas da Terra e pela formaçãodas águas do fundo dos oceanos”,explica a bióloga, que gosta de se re-ferir à região como o ‘coração da Ter-ra’. “Isso acaba influenciando o climado planeta e, conseqüentemente, a for-ma como os organismos são distri-buídos, tanto local como globalmen-te”, diz. Ela lembra que, no inverno,o gelo marinho antártico faz a re-gião praticamente dobrar de tama-

nho em relação ao verão. “Estapulsação faz as correntes maríti-mas se deslocarem e influencia atemperatura global”.

No início de 2007, Lúcia assumiua coordenação de estudo que in-tegra o 4.º Ano Polar Internacio-nal, organizado pelo Conselho In-ternacional de União Científica,em conjunto com a OrganizaçãoMeteorológica Mundial (WMO).Realizado a cada 50 anos, é con-siderado o maior evento científi-co mundial dos pólos Sul e Nor-te, e conta com a participação demais de 60 países. O estudo co-ordenado por Lúcia, assim comomuitos dos que fazem parte do4.º Ano Polar Internacional, pre-visto para terminar em março de2009, procura investigar o papel daAntártica no clima global e nabiodiversidade mundial. Intitula-do “Vida Marinha Antártica:

Pesquisadores fluminensesdesbravam a Antártica

Vinicius Zepeda

Meses recentes marcaramnúmero recorde de expediçõesao continente gelado

Para alunos como Odelita – a do testemunho queabre esta reportagem –, a UnATI representa o des-pertar de novos interesses e, com eles, um redescobertoprazer pela vida. “Freqüento a UnATI desde a suafundação, quando uma amiga me chamou para co-nhecer as atividades. Se relutei nas primeiras visitas,achando que não tinha mais idade para estudar, de-pois me entusiasmei com o que vi. O primeiro cursoque fiz, de biodança, ajudou-me a sair da depressão.Foi tudo tão marcante que estou aqui até hoje”, recor-da Odelita, enfatizando o aspecto social da convivên-cia com outras pessoas de sua faixa etária igualmenteinteressadas em descobrir novos horizontes. Comoela, Regina dos Santos Lopes também não hesita emdesfiar longos elogios ao centro. “Sou da época deGetúlio Vargas, mas só pude conhecer o Palácio doCatete quando participei da oficina de Som e Ima-gem. Hoje, constato que, em plena terceira idade, es-tou me descobrindo”, diz. Aos 74 anos, a aposentadafaz parte do grupo de voluntários que, depois de orien-tados pela instituição, repassam o que aprenderam aosidosos de asilos.

Segundo o psicólogo Wallace Hetmanek dos Santos,professor do curso Reflexão e Envelhecimento Humano naUnATI, uma das queixas mais freqüentes dos alunosestá ligada ao relacionamento com a família, que mui-tas vezes impõe aos idosos o que eles podem ou nãofazer. “Isso aparece nos relatos que muitos deles tra-zem durante os debates em nossa oficina. É interes-sante observar como, depois do início dos encontros,alguns deles começam a se soltar, a demonstrar maiorinteresse no que acontece ao seu redor. Tudo isso nosfaz refletir sobre os efeitos, na prática, da socializaçãona vida desses idosos”, diz. “É preciso ter em menteque, há 50 anos, ser idoso era completamente dife-rente do que significa atualmente. Hoje, não se esperaque ele tenha uma atitude passiva diante da vida.”

As inscrições para os cursos da UnATI em 2009 esta-rão abertas na primeira quinzena de dezembro e asvagas serão preenchidas por sorteio. Para tratamentonos ambulatórios, é preciso ter o encaminhamento daUnATI ou do Hospital Universitário Pedro Ernesto,da Uerj. Mais informações podem ser obtidas pelo tele-fone (21) 2587-7100 ou no site <www.unati.uerj.br>

Pesquisador: Renato VerasInstituição: UnATI/Uerj

Além de promover cursos, estudos, debates e pesquisas voltadospara a assistência e a integração à sociedade, a UnATI prestaassistência médica, jurídica e física à população idosa

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REPORTAGEM DE CAPA

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Biodiversidade em Relação àHeterogeneidade Ambiental da Baíado Almirantado, Ilha Rei George eáreas adjacentes (Mabireh)”, o tra-balho tem o objetivo de reunir da-dos sobre o passado e o presenteda fauna e flora marinha, a fim deantecipar que espécies poderão vi-ver no futuro nessas regiões, em fun-ção das mudanças ambientais queocorrem no momento. “O Mabirehé transdisciplinar. Ele se divide em12 subprojetos e reúne mais de 30pesquisadores que estão coletandomaterial ao longo de várias viagens,durante um período de dois anos”,explica Lúcia.

Os subprojetos do Mabireh prevê-em a criação de material educativo,como vídeos, pôsteres, semináriose publicações voltadas para a apre-sentação à sociedade dos resultadosde pesquisas e estudos, que incluema utilização de tecnologia de ponta.Um exemplo é o uso do rôbo sub-marino Luma, desenvolvido e tes-tado em janeiro por pesquisadoresda Coppe (Instituto Alberto LuizCoimbra de Pesquisa e Pós-gradua-ção em Engenharia), da UFRJ, e quedeverá ser utilizado em viagemmarcada para o início de 2009. “Amáquina, equipada com tecnologia

nacional inédita no País, permitirárealizar filmagens, em alta resoluçãoe em cores, do fundo do oceano.Além disso, outros equipamentosserão utilizados para o estudo daspropriedades físico-químicas daságuas, sedimentos e microorga-nismos no fundo do mar, e será fei-to um levantamento detalhado dacirculação das águas na Baía do Al-mirantado, localizada no Nordesteda Península Antártica”, enumeraLúcia. Segundo a bióloga, os orga-nismos marinhos podem ser obser-vados como indicadores das condi-ções físicas do ambiente.

Pesquisa já permitiudescrição de novasespécies de crustáceos

“Compreender por que o sanguedos peixes não congela nas tempe-raturas frias daquela região pode nosorientar em estudos voltados para aárea médica. Será que existe algumprincípio ativo que possa facilitar otransporte de órgãos para transplan-te, por exemplo?”. O local de estu-do também possui uma concentra-ção consideravelmente elevada demetais e animais invertebrados que,apesar disso, sobrevivem.

O desenvolvimento da pesquisa jápermitiu a descrição de novas espé-cies de crustáceos, especialmente naPenínsula Antártica, localizada aonoroeste da porção continental e aárea mais afetada pelo degelo cau-sado pelo aquecimento global. “Nes-ta região, ao longo de uma costa depraias rochosas, existem animais quevivem na zona entre-marés, tambémembaixo das rochas mais superfici-ais, e desejamos entender como to-leram as variações de temperatura,salinidade e por quanto tempo su-portariam essas alterações”, adiantaa pesquisadora.

Pesquisadores de diversas instituiçõesde ensino e pesquisa participam doestudo coordenado por Lúcia Cam-pos, que também conta com o apoiode estudantes universitários. Renan daSilva Ribeiro, 21 anos, atualmenteterminando o 6.º período de Biolo-gia na Universidade Veiga deAlmeida (UVA), é um deles. Com oapoio de uma bolsa de IniciaçãoCientífica da FAPERJ, ele vem reali-zando trabalho de catalogação deorganismos bentônicos – especial-mente animais que vivem em super-fícies marinhas, como moluscos,crustáceos e estrelas-do-mar – não-catalogados, mas encontrados em

expedições ao continente geladocoordenadas por Lúcia Campos, empesquisa anterior ao Mabireh. “Paradesenvolver este estudo, procurei mefamiliarizar com a literatura científi-ca sobre o assunto e aprender as téc-nicas de conservação e organizaçãode coleções, a fim de poder realizaro armazenamento dos animais en-contrados. Como não sou especia-lista, faço um pré-processamentodas amostras, envio para um especia-lista que define a espécie e, em se-guida, ele as reenvia para mim. Apartir daí, faço um banco de dados,agregando também os dados ambi-entais, o que me permitirá catalogarcada espécie encontrada numa de-terminada região e investigar outrosaspectos de sua ecologia”, explica.

Pelas contas do aluno, o estudo jápermitiu catalogar algumas centenasde espécies marinhas de moluscos,estrelas-do-mar, anelídeos, nema-tóides e outros animais mais exóti-cos. Ao final do processo, Renan in-cluirá seus dados no Mabireh, alémde começar a catalogar as novas es-pécies encontradas nesse ambiciosoprojeto. Até março de 2009, mês deencerramento do 4.º Ano Polar In-ternacional, equipes coordenadaspor Lúcia realizarão mais quatro ex-

cursões à Ilha Rei George. A possi-bilidade de o futuro biólogo parti-cipar de uma dessas próximas via-gens deixa o estudante mais que ani-mado: “Participar de uma das equi-pes, além de me dar a chance deconhecer novos pesquisadores, re-presentaria uma experiência única. Senão puder estar presente em umadestas quatro viagens, espero poderparticipar das próximas expediçõesque a equipe do Geamb [Grupo deEstudos Ambientais em Bentos]fará”, afirma, esperançoso.

Brasileiros fazemprimeira expedição aocentro do continente

O físico Heitor Evangelista da Silvae o biólogo Márcio Cataldo Gomesda Silva, ambos pesquisadores daUniversidade do Estado do Rio deJaneiro (Uerj), estão, desde o dia 20de novembro, participando de umaempreitada pioneira na ciência bra-sileira: a primeira expedição 100%nacional ao interior do continenteantártico. Sob a coordenação doglaciólogo – estudioso da história daTerra por meio de análises de gelo– Jefferson Simões, da Universida-de Federal do Rio Grande do Sul

4º Ano PolarInternacional:

realizado a cada50 anos, é

considerado omaior evento

científico mundialdos pólos Sul e

Norte, e conta coma participação demais de 60 países

Fotos: Núcleo de Pesquisas Antárticas e Climáticas/UFRGS

Pesquisadores brasileiros fazem a primeira expedição nacional ao interior do continente Antártico: grupo deverá... ...permanecer em torno de 40 dias, coletando amostras de gelo a até 150 metros de profundidade, de neve superficial e de ar polar

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(UFRGS), os cientistas da Uerj sejuntarão a mais quatro colegas daUFRGS, os geógrafos Ulisses FranzBremer, Luiz Fernando MagalhãesReis, Francisco Aquino e RosemaryVieira, além do chileno MarceloArevalo, engenheiro e montanhista,pesquisador da Universidad deMagallanes, em Punta Arenas, Chile,e único estrangeiro da equipe. Elesdeverão permanecer em torno de 40dias na Antártica, coletando amos-tras de gelo a até 150 metros de pro-fundidade, de neve superficial e dear polar. O material servirá para in-vestigar temas relacionados ao ‘aque-cimento global’ – o aumento datemperatura média da Terra em umperíodo relativamente curto, já cons-tatado por cientistas de diferentespaíses, e que vem ocorrendo devi-do ao acúmulo de gases de efeitoestufa na atmosfera do planeta de-correntes da atividade industrial.

Os pesquisadores ficarão acampa-dos numa região a cerca de doisquilômetros da Estação Comandan-te Ferraz. Segundo Evangelista, queé também coordenador e pesquisa-dor do Laboratório de Radio-ecologia e Mudanças Globais(Laramg) do Instituto de BiologiaRoberto Alcântara Gomes (Uerj), foimuito importante o apoio daFAPERJ para o trabalho de coletade testemunhos de gelo – amostrascilíndricas de gelo retirado de gran-des profundidades. “Os recursosdisponibilizados permitiram adqui-rir equipamentos científicos para aanálise e conservação do material.”

O físico destaca, ainda, o trabalhopioneiro desenvolvido pela equipedo Laramg. “Há cerca de três anos,fomos o primeiro – e o único até omomento – grupo do Brasil e daAmérica Latina a isolar bactérias en-contradas no gelo da Antártica. Es-tes microorganismos podem servirpara a composição de produtos

biotecnológicos, como a FosfataseAntártica – enzima de emprego co-mercial que auxilia no armazena-mento de material biológico a baixatemperatura”, explica. Evangelistalembra que, no começo de 2008, elee os colegas já haviam integradouma expedição internacional à An-tártica em que também coletaramtestemunhos de gelo, neve e ar po-lar. “Porém, na ocasião, ficamos naborda continental, numa área degrande altitude, diferente do que fa-remos agora, quando viajaremos aointerior do continente”, acrescenta.

Financiada pelo Conselho Nacionalde Desenvolvimento Científico eTecnológico (CNPq), órgão de fo-mento à pesquisa do Ministério daCiência e Tecnologia (MCT), e pelaPetrobras, a expedição brasileira ser-virá também para analisar e avaliaro impacto das queimadas no Brasile na América Latina, incluindo as

suas conseqüências para a Antártica.“Nas amostras de gelo, encontramoscompostos químicos gerados pelaqueima de florestas, como o blackcarbon – aerossol produzido pelaqueima de petróleo e pelas queima-das – e o levoglucosano, açúcar pro-veniente da decomposição da celu-lose. Parte desses materiais chega atéa Antártica por meio da circulaçãoatmosférica”, afirma Evangelista. Se-gundo o pesquisador, esses são ele-mentos que indicam que as queima-das no Brasil e na América do Sultêm um impacto global, e não ape-nas regional.

A inédita empreitada dos brasileirosdeve durar todo o mês de dezem-bro, incluindo os feriados de Natal eAno Novo. A expectativa é de queos pesquisadores regressem ao Bra-sil na primeira quinzena de janeiro de2009. Durante o período em que fi-carão acampados, os pesquisadores

deverão encontrar condições climá-ticas adversas, com ventos de até 100quilômetros por hora, tempestadesde neve, e temperatura média emtorno de 35 graus negativos. Para en-frentar as baixas temperaturas docontinente antártico, usarão roupaspolares especiais, capazes de isolaro corpo a temperaturas de até 50graus abaixo de zero, rádios, motosde neve e aviões equipados com es-qui. Mas nada disso amedronta ogrupo, que vê na ocasião uma exce-lente oportunidade de contribuirpara a pesquisa brasileira em dife-rentes campos: “Estamos muito oti-mistas com a possibilidade de reu-nir dados suficientes para avaliarigualmente os processos de deser-tificação, o impacto do aumento in-dustrial e das queimadas no registrodas variações climáticas mundiais, e,por último, aprimorar os estudos bra-sileiros na área de previsão do cli-ma”, conclui Heitor Evangelista.

Nem sempre é possível prevercom precisão o que virá doscéus, como as chuvas tor-

renciais que este ano mostraram suaface mais sombria – principalmenteem Santa Catarina. Os avanços nocampo da meteorologia, contudo,têm se mostrado de grande impor-tância para antecipar e prevenir even-tuais catástrofes climáticas. Historica-mente, um dos mais castigados pe-las chuvas de verão, o estado do Riode Janeiro acaba de ganhar equipa-mentos que prometem oferecer no-vos recursos ao serviço meteo-rológico disponibilizado a pesquisa-dores fluminenses na Universidadedo estado do Rio de Janeiro (Uerj) etambém na Universidade Estadualdo Norte Fluminense (Uenf).

No campus de São Gonçalo daUerj, o geólogo Luiz Carlos Berto-lino e a geógrafa Ana Valéria

Bertolino se preparam para instalaruma terceira estação meteorológicano município, que permitirá montaruma rede de monitoramento do cli-ma. “Até recentemente, só os dadosdas estações de Niterói e Rio de Ja-neiro eram disponibilizados e nãohavia dados primários dos municí-pios da Baixada”, diz Luiz. Segundomunicípio mais populoso do estado,São Gonçalo sofre com graves pro-blemas ligados ao clima, que fazemvítimas fatais todos os anos em en-chentes e deslizamentos.

“Nosso objetivo é montar uma redede estações, ajudando a monitorar eminorar essas tragédias”, explica Ana.A primeira estação foi instalada em2002. Quatro anos mais tarde, veio asegunda, com capacidade para arma-zenar os dados a cada dez minutos etransmiti-los por GSM (por telemetria).A instalação da terceira torre permitirá

o monitoramento completo da regiãoleste de São Gonçalo.Em Macaé, no Norte Fluminense, ochefe do Laboratório de Meteo-rologia (Lamet) da Uenf, Valdo daSilva Marques, passará a contar, embreve, com uma segunda estação,equipada com uma torre de 25metros, que ajudará a determinar opotencial eólico na região.Desde 2003, o laboratório já contacom uma estação, capaz de medir avelocidade e a direção do vento, ra-diação solar, temperatura, umidade,pressão atmosférica e precipitaçãopluviométrica, além de medidasmicrometeorológicas. “A energiaeólica vai ser privilegiada por contada parceria com a Enersud (veja re-portagem à pág. 3)”, explica Valdo.“Vamos ter medidas do vento eumidade em cinco diferentes níveisde altitude”, adianta. Os dados

coletados servirão para complemen-tar as informações recolhidas pelatorre de 50 metros da estação docampus da Uenf, em Campos.“O monitoramento será feito a dis-tância, por computador, e os dadosserão utilizados para auxiliar a pre-visão de tempo, ficando armazena-dos num banco de dados que po-

O crescente interesse pelo estudo das alterações climáticas levouas Fundações de Amparo à

Pesquisa de Rio e São Paulo –FAPERJ e FAPESP – a trabalha-rem em um Termo de Cooperação parao lançamento de editais conjuntos visan-do à seleção de projetos de pesquisa e aointercâmbio de pesquisadores e de estu-dantes fluminenses e paulistas que se de-dicam ao tema das "mudanças climáti-cas globais". A minuta do acordo listaos assuntos que ganharão prioridade du-rante a seleção de projetos: as conseqüên-cias das mudanças climáticas globais nofuncionamento dos ecossistemas, com ên-fase em biodiversidade e nos ciclos de água,carbono e nitrogênio; balanço de radia-ção na atmosfera, aerossóis, gases-traço emudanças dos usos da terra; mudançasclimáticas globais e agricultura e pecuá-ria; energia e gases de efeito estufa – emis-

Em clima de cooperação

Universidades estaduais: de olho no céu

derá servir para estudos futuros”, re-lata o chefe do Lamet. O laborató-rio mantém uma estreita colaboraçãocom o Sistema de Meteorologia doEstado do Rio de Janeiro (Simerj) e aprefeitura de Macaé. Segundo Valdo,a próspera indústria local do petró-leo já mostrou interesse em se asso-ciar ao projeto (Paul Jürgens).

sões e mitigação; mudanças climáticas eefeitos na saúde humana; dimensões hu-manas das mudanças climáticas globais– impactos, vulnerabilidades e respostaseconômicas e sociais, incluindo adaptaçãoàs mudanças climáticas. Cada propostadeverá envolver pesquisadores e institui-ções de ensino e pesquisa fluminenses epaulistas, criar conhecimento científico, for-mar competências e alianças estratégicasdentro dos temas já relacionados e contri-buir para o desenvolvimento científico etecnológico dos estados de São Paulo e doRio de Janeiro. Espera-se, também, queos projetos de pesquisa incentivem a difu-são do conhecimento e a implementação deprojetos inovadores de pesquisa científica outecnológica, envolvendo estudantes do ensinosuperior, e que seus resultados gerem publi-cações de artigos científicos e propriedade in-telectual. O anúncio oficial dos editais estáprevisto para o primeiro trimestre de 2009.

Estação meteorológica do campus de São Gonçalo da Uerj: rede para monitorar clima

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A contribuição das mulheresà pesquisa científica no Paísainda precisa crescer para

alcançar a fatia hoje reservada aoshomens. Os avanços recentes, con-tudo, mostram uma redução no fos-

so que separa os sexos nas bancadasde laboratórios e nos cursos de mai-or prestígio ao longo da última dé-cada. Contribuem para isso a proje-ção alcançada por pesquisadorascomo Suzana Herculano-Houzel,professora da Universidade Federaldo Rio de Janeiro (UFRJ). Desde

novembro, a neurocientista cariocaapresenta um quadro num dos pro-gramas mais populares da televisãobrasileira. Outros exemplos de pes-quisadoras de sucesso que ajudam apromover a presença feminina naciência são a geneticista da Universi-dade de São Paulo (USP) Mayana

Zatz, uma das principais autorida-des em células-tronco do País ecolunista da revista Veja, a astrônomaBeatriz Barbuy, também da USP, afísica Belita Koiller e a bióloga LuciaMendonça Previato, ambas profes-soras da UFRJ. Todas, com exceçãode Suzana, já foram contempladascom o prêmio internacionalL´Oréal/Unesco for Women in Science(FWIS). Desde seu lançamento em2001, o prêmio, reservado às mu-lheres, conquistou a adesão do meiocientífico por seu rigoroso processoseletivo. Em 2008, quatro pesquisa-doras do Rio ganharam destaque aoconquistar prêmios em duas seleçõesdisputadas nacionalmente.

Se, em número, a presença das mu-lheres matriculadas nas universidadesbrasileiras já supera a dos homens, aparticipação feminina como docen-tes e na produção do conhecimentono País, em algumas áreas e institui-ções, ainda aparece distante da doshomens. “O cenário que temos hojeno Brasil não é nada diferente da-quele de países em desenvolvimen-to em termos de estatísticas. Mes-mo em países de grande tradição emciência, as mulheres ainda são mino-ria nas áreas mais tecnológicas”, re-lata a pesquisadora Jacqueline Leta,do Instituto de Bioquímica Médicada UFRJ. Em 2002, Jacqueline re-solveu investigar o papel das mulhe-res brasileiras na ciência. O resulta-do da pesquisa, feita em colabora-ção com o britânico Grant Lewison,da City University, de Londres, ga-nhou o título de A Contribuição dasMulheres na Ciência Brasileira: um Estu-do de Caso em Astronomia, Imunologia eOceanografia e foi publicado na revistaeuropéia Scientometrics, no início de 2003.

Ao longo do trabalho, no entanto,Jacqueline constatou a presença pou-co expressiva de pesquisadoras emcargos de chefia e naqueles cargosque garantem maior reconhecimen-to de seus pares. “Na academia, são

poucos os cargos hierarquicamentealtos e de maior prestígio – e remu-neração também – ocupados pelasmulheres, como no caso dos cargosde professor titular, em cargos ad-ministrativos, nos comitês científicos,e entre os membros titulares das aca-demias de ciências”, diz. Em 2008,ela voltou ao tema, assinando, ao lado

do mestrando da UFRJ FlávioMartins, o trabalho Docentes Pesquisa-dores na UFRJ: o Capital Científico deMulheres e Homens, publicado peloInstituto Nacional de Estudos e Pes-quisas Educacionais (Inep/MEC),em Brasília.“A universidade pública, que abrigaa maior parte dos cientistas do País,é também a instituição responsávelpor mais de 80% da produção denovos conhecimentos geradosanualmente”, diz Jacqueline. “É jus-tamente ali, onde a concorrênciapelas vagas de professor é mais acir-

rada, onde as mulheres têm mais di-ficuldade de conquistar seu espaço,em igualdade de condições com oshomens”. Para a pesquisadora, aparticipação feminina nos progra-mas de pós-graduação, em grandeparte responsáveis pela geração deconhecimento, ainda aponta parauma realidade desigual: “Em umuniverso de quase 2 mil docentes,verificamos que a presença das mu-lheres é inversamente proporcionalao peso do programa, em que, quan-to maior o prestígio do curso, me-nores são as chances de elas ocupa-rem esses espaços”.

Sobre a iniciativa de oferecer um prê-mio para as mulheres cientistas,Jacqueline a considera válida: “É im-portante que a população tenha co-nhecimento da nossa participação naprodução científica do País”, argu-menta. “Mas espero que eles não se-jam eternos, pois isso, de alguma for-ma, reforçaria o papel das mulherescomo coadjuvantes nesse processo.”A professora do Programa de Edu-cação, Gestão e Difusão em Biociên-cias da UFRJ defende, contudo, a re-alização de ações voltadas para a po-pulação que visem “contribuir paraminimizar o estereótipo que existeem torno da figura do cientista”.Mulheres conquistam

espaço na ciênciaPrêmios L’Oréal e Scopus destacamparticipação feminina na pesquisa fluminense

PREMIAÇÃO

Paul Jürgens

Seis das sete pesquisadoras contempladas na terceira edição do Prêmio L’Oréal: cresce a contribuição das mulheres à pesquisa científica no País

Euzenir Sarno (esq.) e Sandra Amato: pesquisa fluminense em destaque no Prêmio Scopus

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Prêmios contribuempara divulgar apresença femininanas pesquisas

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A carioca Maria Augusta Arruda,pela Universidade do Estado do Riode Janeiro (Uerj) e FundaçãoOswaldo Cruz (Fiocruz), e a nite-roiense Carolina Bhering de Araújo,pelo Instituto Nacional de Matemá-tica Pura e Aplicada (Impa), foramduas das sete contempladas na ter-ceira edição do Prêmio L’Oréal/Unesco/Academia Brasileira de Ciências(ABC) para Mulheres na Ciência – ver-são nacional da mesma iniciativa ci-tada na abertura da reportagem. Assete cientistas selecionadas, que re-ceberam bolsas-auxílio grant no va-lor equivalente a 20 mil dólares cada,disputaram o prêmio com outras286 concorrentes. Maria Augusta,pesquisadora visitante do Departa-mento de Farmacologia da Uerj, foiagraciada pelos resultados obtidosem sua pesquisa sobre a atividadeda enzima NADPH-oxidase, res-ponsável pela geração de radicais li-vres em diferentes situações patoló-gicas, como inflamações, doençasvasculares e câncer. Carolina, por sua

vez, doutora pela prestigiosa Uni-versidade de Princeton, em NovaJersey (EUA), foi selecionada pelaexcelência de seu projeto O EspaçoProjetivo e as Variedades de Fano. Ambastêm 32 anos

No Prêmio Scopus Brasil, patrocinadopela editora Elsevier, em parceriacom a Coordenação de Aperfeiço-amento de Pessoal de Nível Supe-rior (Capes/MEC), igualmente emsua terceira edição, as duas únicaspremiadas – ao lado de outros 14cientistas, todos homens – atuam noestado do Rio de Janeiro: EuzenirSarno e Sandra Amato. A primeirachefia o Laboratório de Hanseníasedo Instituto Oswaldo Cruz (IOC)da Fiocruz; já Sandra, pesquisadorado Instituto de Física da UFRJ e es-pecialista em física de partículas ex-perimental, participa do experimen-to LHCb – o grande colisor dehádrons – do Centro Europeu dePesquisa Nuclear (Cern), na Suíça.

Na Física, presençaexpressiva de mulheres

“No campo da Física, já somosmais numerosas do que nos Esta-dos Unidos e na Europa, com ex-ceção da Itália”, diz Sandra. Sobreas eventuais dificuldades em ascen-der na carreira, ela atribui parte doproblema às tarefas domésticas queainda são, majoritariamente, desem-penhadas pelas mulheres fora dotrabalho. “Para quem constitui fa-mília, o tempo de dedicação pro-fissional forçosamente diminui, im-pedindo a presença incondicionalno trabalho, essencial para o bomdesempenho em cargos de chefia,e a participação em eventos comocongressos e seminários”, opina.“De qualquer forma, nunca enfren-tei nenhum tipo de problema comcolegas ou alunos”, conclui.

Para Lucia Previato, que, em novem-bro, na Cidade do México, recebeu

nova premiação, desta vez atribuídapela Academia de Ciências para oMundo em Desenvolvimento(Twas), “talvez mais importante queuma premiação destinada unicamenteàs mulheres é o fato de que se tratade mais uma fonte de recursos paraa ciência e que contribui para impul-sionar a pesquisa em nosso País”. Elafoi a única mulher entre os 10 cien-tistas – três deles brasileiros – laurea-dos pela Twas em 2008. “Se antestínhamos um maior número demulheres na área de humanas, hojeesse quadro mudou e as mulherescientistas já se destacam em, pratica-mente, todas as grandes áreas doconhecimento”, diz a pesquisadora,pós-doutora pela Universidade daCalifórnia, em Berkeley (EUA), eque, em 2004, conquistou o prêmioL´Oréal/Unesco for Women in Sciencepor sua contribuição ao conhecimen-to do mecanismo de interação doprotozoário Tripanosoma cruzi (trans-missor do mal de Chagas) e as célu-las hospedeiras.

Para Lucia, a pesquisa fluminense deupassos importantes ao longo dosúltimos anos, com a consolidação deum calendário de editais e a conti-nuidade de uma política voltada parao setor: “É imprescindível o apoiogovernamental à ciência, e hoje po-demos afirmar que o estado do Riotem uma fundação, a FAPERJ, quefaz um ótimo trabalho, com editaisregulares, e uma política que privile-gia a continuidade na aplicação deverbas públicas, um dos principaismotores do desenvolvimento dapesquisa – seja ela feita por homensou mulheres”, opina.

Maria Augusta, doutora em Bio-ciências Nucleares e que durante aentrega do prêmio L’Oréal/Unesco/ABC, realizada no início de outubro,falou em nome das laureadas, de-fendeu a iniciativa da premiação: “Euposso dizer que, não só eu comotodas as que receberam o prêmio,

enxergamos essa oportunidade mui-to mais como uma chance de con-tribuir para o desenvolvimento dapesquisa do que para defender umamaior presença feminina na ciência”.Para ela, o prêmio é coerente com afilosofia da empresa, que combina apreocupação com a saúde da mu-lher, seu público-alvo, e a questão darepresentação da mulher na ciênciaao longo dos últimos 50 anos. “Nãohá dúvida que esse programa ajudaa diminuir a desigualdade históricacom relação à participação das mu-lheres na produção do conhecimen-to”, defende. “De qualquer forma,e sem falsa modéstia, o nível de qua-lidade que eles exigem já atesta a ca-pacidade de trabalho e o talento daspremiadas”, completa.

Programas estimulamreingresso na carreira

Maria Augusta lembra que, em paí-ses desenvolvidos, já há programasque estimulam o reingresso das mu-lheres na ciência. “Enquanto algumasinstituições e entidades limitam oprazo para ingresso no pós-douto-rado, em alguns países, já há agênci-as que entendem que, muitas vezes,as mulheres são obrigadas a renun-ciar por um período à carreira cien-tífica por causa da família e, assim,oferecem regras mais flexíveis paraatraí-las de volta à pesquisa”, diz.

Na opinião de Elisa Baggio Saitovitch,que, em 2004, coordenou o encon-tro Mulheres Latino-Americanas nas Ci-ências Exatas e da Vida (Ciência Mu-lher) e, no ano seguinte, a 2ª Confe-rência Internacional Iupap de Mulheres naFísica, ambas realizadas na cidade doRio de Janeiro, é importante ressal-tar os benefícios que a incorpora-ção de mulheres pode trazer para aciência “evitando a perda de talen-tos e genialidades de metade da po-pulação”. A pesquisadora do Cen-tro Brasileiro de Pesquisas Físicas

(CBPF), instituição federal situadano bairro carioca da Urca e ligadaao Ministério da Ciência e Tecno-logia, relata que existem diversas pro-postas para mudar esse quadro emenciona, como exemplo, as reso-luções que se encontram na página‘Ciência Mulher’ <www.cbpf.br/~mulher/>, do próprio CBPF. “Jácomeçam a ser esboçadas políticaspúblicas dessa natureza para a Amé-rica Latina. No Chile, por exemplo,foi instituída uma licença-maternida-de para estudantes de doutorado,evitando seu afastamento da ativida-de de pesquisa nesse período”, diz.

Ela, que considera o sistema de pós-graduação no país muito bem-estruturado, avalia que a participaçãodas mulheres na ciência brasileira ébastante expressiva. “Essa participa-ção vem aumentado progressiva-mente, mas consideramos essencialmelhorar a qualificação dessa parti-cipação”, diz. “A tendência recentede premiar mulheres que se desta-cam na carreira científica é extrema-mente importante, pois, além de re-conhecer esses talentos, contribuipara mudar os estereótipos dos ci-entistas, criando modelos para asjovens, particularmente na faixa dos15-17 anos, quando decidem quecarreira seguir.” Elisa acredita queseria oportuna a criação, por empre-sas brasileiras que atuam no setor de

cosméticos, de outros prêmios ins-pirados na iniciativa da L’Oréal.

A constelação de pesquisadoras deponta no País ganhou brilho extranos últimos meses com a premiaçãode Beatriz Barbuy. A professora doInstituto de Astronomia, Geofísicae Ciências Atmosféricas da USP, foicontemplada em 2008 com o Prê-mio Trieste, oferecido pela Twas.Fundada por 41 cientistas em 1983,a Twas conta hoje com 870 associ-ados, a maioria deles representan-tes de países em desenvolvimento,mas também 16 ganhadores doprêmio Nobel. Barbuy foi agracia-da por seu trabalho sobre a vidadas estrelas, desde o nascimento doUniverso até o tempo atual. Alémde pertencer aos quadros da ABC– ao lado de Previato, Koiller eZatz –, ela também integra a Aca-demia Francesa de Ciências.

Mulheres cientistasjá se destacam em,praticamente, todasas grandes áreasdo conhecimento

Maria Augusta Arruda, doutora emBiociências Nucleares: contempladana terceira edição do Prêmio L’Oréal

Fotos: Divulgação

Jacqueline Leta: trabalho constatou presençapouco expressiva de pesquisadoras em cargos

hierarquicamente altos e de maior prestígio

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Oartigo científico foi publi-cado antes do previsto e ainformação acabou vazan-

do para a imprensa. Mesmo assim,o mistério e o fascínio pelo Uberabatitanribeiroi não diminuíram. O maiordinossauro já descoberto no Brasilganhou destaque nos meios de comu-

A apresentação pública da recons-tituição do esqueleto – realizada como apoio da FAPERJ –, contou coma presença de Ismar de Souza Car-valho, professor do Departamentode Geologia da UFRJ e um dos res-ponsáveis pela descoberta. Depoisde permanecer em exposição no Rioaté o fim de outubro, o esqueletoseguiu para o Museu dos Dinos-sauros de Uberaba (MG), uma dasinstituições parceiras no projeto dereconstituição do réptil, ao lado daUniversidad Nacional del Comahue,da Argentina, representada pelopaleontólogo Leonardo Salgado.

O trabalho de campo que resultouna montagem do esqueleto do U.ribeiroi reflete o tamanho do achado.A escavação encontrou 298 frag-mentos ósseos, dos quais 198 foramidentificados. Ao todo, foram reti-radas 300 toneladas de rochas emtrês anos de árduo trabalho manual– de 2004 a 2006 – feito por 10 téc-nicos do Centro Paleontológico Pricee do Museu dos Dinossauros. “Foia maior escavação para a retirada deum dinossauro já realizada no País.Dos fragmentos ósseos identifica-dos, 37 serviram para a identifica-ção da nova espécie”, esclarece IsmarCarvalho. Apesar do tamanho, o bi-cho cultivava hábitos herbívoros, ali-mentando-se de plantas e da folha-gem da copa das árvores.

A escavação foi realizada num trechoda BR-050, localizado a 30 quilôme-tros de Uberaba, num local conheci-do como Serra da Galga. “O estadode conservação dos achados, as infor-mações colhidas das vértebras do pes-coço e o local da descoberta nos de-ram pistas muito importantes dos há-bitos e habitats de espécies animais jáextintas, do meio ambiente e do climada época”, diz o paleontólogo.

A reconstituição do esqueleto foi re-alizada em dois anos e envolveu téc-nicas de modelagem digital e de ré-

plicas dos fósseis originais feitos comsilicone. O trabalho reuniu uma equi-pe de 10 paleoartistas. “O nomeUberabatitan significa “gigante deUberaba” e o sobrenome ribeiroi éuma homenagem a Luiz CarlosBorges Ribeiro, responsável peloCentro Paleontológico Price e peloMuseu dos Dinossauros”, explicaIsmar. A descoberta, que teve reper-cussão internacional, foi anunciadaoficialmente em artigo científico pu-blicado numa das mais importantespublicações científicas da área –Palaeontology [Salgado L, Carvalho IS.Uberabatitan ribeiroi, a new titanosaurfrom the Marília formation (Baurougroup, upper Cretaceous), MinasGerais, Brazil. Palaentology 2008;51(4):881-901].

Vinicius Zepeda

No alto: Carvalho e o esqueleto do réptil. Acima: a escavação na região de Uberaba (MG)

Pesquisador: Ismar de SouzaCarvalhoInstituição: Departamento deGeologia/UFRJ

Foto: Divulgação

PALEONTOLOGIA

O gigante brasileiroque viveu em Minas

O Uberabatitan ribeiroi em seu habitat natural: maior escavação já realizada no País para a retirada de um dinossauro durou três anos

nicação no mês de setembro, depoisque paleontólogos apresentaram naCasa da Ciência – Centro Cultural deCiência e Tecnologia da Universida-de Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),situado no bairro de Botafogo, ZonaSul do Rio – uma réplica do esquele-to desse gigante, encontrado na re-gião do Triângulo Mineiro. Compeso estimado em cerca de 12 a 16

toneladas, com 15 a 20 metros decomprimento, e 3,5 metros de altu-ra, o animal teria habitado a Terrahá 65 milhões de anos. De pescoçoe cauda longos, crânio pequeno, qua-tro patas semelhantes às de um ele-fante, o dino pertenceu ao grupo dostitanossauros, que habitaram todosos continentes do planeta, com exce-ção da Antártica.

Foto: Vinicius Zepeda

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Criada em 1963 para oferecercursos de pós-graduação emengenharia na Universidade

Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), aCoppe chega a seu 45º aniversáriocomo um importante ativo no esta-do do Rio. Na última avaliação daCoordenação de Aperfeiçoamentode Pessoal de Nível Superior (Capes/MEC), oito de seus 12 cursos obti-veram os conceitos 6 e 7, os maisaltos do sistema, atribuídos a cursoscom desempenho equivalente aosdos mais importantes centros de en-sino e pesquisa do mundo. Dispostaa ser um sopro de renovação na uni-versidade brasileira, quando de suafundação, foi batizada de Coorde-nação de Pós-graduação e Pesquisaem Engenharia, que deu origem àsigla Coppe, e hoje se chama Institu-

to Alberto Luiz Coimbra de Pós-gra-duação e Pesquisa em Engenharia –em homenagem ao engenheiro quí-mico que a idealizou.

Hoje, a agenda da Coppe está cadavez mais afinada com a do estado.Em 2007, durante a visita do gover-nador Sérgio Cabral à instituição,acompanhado do secretário de Ciên-cia e Tecnologia, Alexandre Cardo-so, e de outros secretários, foram dis-cutidos com pesquisadores 11 pro-jetos em desenvolvimento na Coppeque são de interesse direto do estadodo Rio. Entre esses projetos, queabrangem uma ampla gama de te-mas, há desde a construção de umausina de energia a partir do lixo à ela-boração de um plano diretor para oPorto de Itaguaí, passando por umaincubadora de empresas de petróleoe gás, destinada a atrair para o Rio

empreendimentos de alto conteúdotecnológico. Uma das iniciativas con-templa a criação de um consórciode pesquisa em tecnologia da infor-mação e comunicação voltado paraintegrar melhor os diversos núcleosde competência que já elencam o Riocomo o mais importante centro naci-onal de pós-graduação na área.

Por sua significativa participação navanguarda da ciência do País, aCoppe tem sido mencionada de for-ma recorrente na grande imprensa.Em novembro, por exemplo, o gru-po de pesquisa liderado pelo biólo-go Stevens Rehen anunciou a desco-berta de um método que permitirámultiplicar células-tronco embrioná-rias e, assim, obter bilhões de célulaspara uso em terapia. O biorreatorfluminense onde o experimento foirealizado fica nas dependências dessa

Terezinha Costa* coordenação de pesquisa em enge-nharia. A notícia ganhou destaque depágina inteira nos jornais.

Olhar inovador sobre osproblemas do estado

A tradição da Coppe de combinar apesquisa tecnológica de ponta com asnecessidades mais imediatas da socie-dade aparece em diversos projetos deinteresse de cariocas e fluminenses,sempre com alto conteúdo de inova-ção. Um deles é o Maglev Cobra, umtrem magnético de baixa velocidadepara uso em área urbana.

A tecnologia dos trens que flutuam– dispensando trilhos e rodas – é hojedominada por Alemanha e Japão. Osveículos que esses países produzemalcançam velocidades de 500 km porhora e são adequados para percor-

rer longas distâncias. A grande novi-dade do projeto da Coppe é a apli-cação para baixa velocidade, quepermite utilizá-lo em áreas urbanas,como explica o pesquisador RichardStephan. Batizado de Cobra porqueserpenteia silenciosamente (é conce-bido em módulos que funcionamcomo vértebras), o veículo corre a70 km por hora, faz curvas fecha-das e sobe rampas mais facilmenteque os trens convencionais. É, por-tanto, ideal para vencer a topografiamontanhosa do Rio, sem abrir tú-neis. Seu custo de construção – R$30 milhões por quilômetro – é a ter-ça parte do custo do metrô.

Com o apoio financeiro da FAPERJpara a construção do protótipo,Stephan planeja testar o veículo naIlha do Fundão, numa linha de 100metros e ampliá-la gradativamente,

até ligar o Fundão ao Aeroporto doGaleão e à Rodoviária Novo Rio,em 2010. Mas o professor jávisualiza o Cobra reduzindo paraalguns minutos o trajeto entre os ae-roportos do Galeão e SantosDumont e até flutuando sobre aPonte Rio-Niterói para atingir outrospontos da Região Metropolitana.

No Laboratório de Hidrogênio daCoppe, a equipe liderada pelo pro-fessor Paulo Emílio Valadão deMiranda trabalha num outro tipo deveículo, o ônibus elétrico híbrido aálcool. Vale dizer, um ônibus movi-do por motor elétrico, cuja energiaprovém de um grupo gerador a ál-cool que produz eletricidade para umbanco de baterias – as quais tambémpodem ser recarregadas na rede elé-trica convencional. O veículo com-bina as vantagens ambientais e de

45 anos no topo dapesquisa brasileira

Número significativo de projetosdesenvolvidos pelos cursos depós-graduação da Coppe são deinteresse direto do estado

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Maglev Cobra, trem magnético de baixa velocidade para uso em área urbana: ideal para vencer a topografia montanhosa do Rio

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eficiência energética que o álcool e omotor elétrico têm sobre o diesel esobre o motor de combustão inter-na dos ônibus convencionais.

Paulo Emílio vê no desenvolvimen-to do ônibus híbrido a álcool umaexcelente oportunidade para o Riode Janeiro conquistar posição de li-derança nacional, e até internacional,como fornecedor de tecnologia paraempresas montadoras de ônibus.Ao mesmo tempo em que miram aprodução de novas tecnologias, ospesquisadores da Coppe buscamtorná-las acessíveis a parcelas maisamplas da população. É o caso doprojeto Orla Digital, que ofereceacesso à Internet em banda larga acéu aberto, conhecido como sistemawi-fi. Maior projeto da América La-tina em extensão, irá cobrir toda aorla do Rio, do Leme ao Recreio.Concebido como um mecanismode inclusão digital do governo do es-tado, o projeto coordenado pelaCoppe e inaugurado neste ano de2008, permite a navegação gratuita naInternet, com qualidade e rapidez, aqualquer pessoa munida de um laptopou alguns tipos de aparelhos de tele-fone celular na orla de Copacabana.

A proposta é oferecer aplicativos quepossam disponibilizar conteúdo de

Diferentemente de seus antecessores,o Projeto Iguaçu aborda o proble-ma das enchentes a partir da obser-vação integrada da realidade física,ambiental e social da região; e pro-jeta intervenções que, tanto quantopossível, caminhem junto com essasrealidades e não contra elas, comoexplica o coordenador do Labora-tório de Hidrologia da Coppe, Pau-lo Canedo. O projeto prevê a for-mação de áreas verdes, com quadrasde esporte e equipamentos de lazer,ao longo das margens dos rios. Es-pera-se que essas áreas, batizadas deParques de Orla Fluvial, ajudem amanter casas, barracos e lixo longedo curso dos rios. No caso da Fle-cha do Arco, um dique sobre o rioSarapuí, a estrutura já será dimen-sionada para que, no futuro, seja uti-lizado também como parte de umaestrada. Além de combater cheias, acriativa solução permitirá retirar dacongestionada Avenida Brasil o trá-fego de caminhões que, vindos daVia Dutra, demandam a RodoviaWashington Luiz.

Embora não tenha sido formuladocom essa intenção, o Projeto Iguaçujá está direcionado para um dosmais graves problemas que podemafetar o Rio de Janeiro no futuro: osefeitos das mudanças climáticas sobre

a Baixada Fluminense. Se as proje-ções de elevação do nível do mar seconfirmarem, a Baixada ficará ain-da mais vulnerável a inundações doque é hoje.

Incluído no Programa de Acelera-ção do Crescimento (PAC) do go-verno federal, que destinou R$ 270milhões para a execução de sua pri-meira etapa, o Projeto Iguaçu foiapontado como o melhor projetoapresentado ao PAC até agora.

Há mais de 12 anos ajudando a for-mar cooperativas no estado do Riode Janeiro, a Incubadora Tecnológicade Cooperativas Populares (ITCP),da Coppe, já criou milhares de pos-tos de trabalho e se tornou referên-cia para iniciativas em outros esta-dos do País. Desde 1995, já foramformadas cerca de 80 cooperativasque exercem atividades como cos-tura e confecção, artesanato, constru-ção civil, turismo ecológico, limpezahospitalar, alimentação, eletricidade,reciclagem de lixo e prestação deserviços em geral. Por meio da cria-ção de cooperativas de trabalho emcomunidades carentes e cursos deaperfeiçoamento a cooperados, ainiciativa vem integrando a parcelada população que se encontra forado mercado de trabalho formal.

qualidade para o usuário, seja deâmbito cultural, educacional e deentretenimento. O projeto prevê ain-da o acesso a tecnologias inovado-ras, como o sistema de vídeointerativo sob demanda, desenvol-vido no Laboratório de Computa-ção Paralela da Coppe e já patentea-do pela instituição. O projeto, quecomeçou na orla, será expandidopara outras áreas, onde tambémviabilizará aplicações como educa-ção a distância, telemedicina e aces-so a conteúdos culturais em geral.

Soluções tecnológicaspara problemas sociais

Graças a uma cooperação entre ogoverno estadual e a Coppe, uma for-ma inteiramente nova de enfrentar asenchentes na Baixada Fluminense co-meça a ser posta em prática. Trata-sedo ambicioso e inovador ProjetoIguaçu, uma coleção de obras e me-didas de disciplinamento de uso dosolo que visa controlar inundações efazer a recuperação ambiental das ba-cias dos rios Iguaçu, Botas e Sarapuí.Abrange diversos bairros do Rio emunicípios da região da Baixada,totalizando uma área de 726 quilôme-tros quadrados, onde vivem cerca de3,5 milhões de pessoas.

A Coosturart, por exemplo, uma co-operativa de costura artesanal criadaem 2002, é formada, em sua maioria,por mulheres moradoras da ZonaOeste do Rio. Todas as peças são con-feccionadas com a utilização de técni-cas de costura artesanal, garantindo aoriginalidade de seus produtos. Osprodutos são vendidos para estilistas,lojas de grife e apresentados com des-taque em desfiles e eventos promovi-dos pelo setor de moda.

A incubadora também vem atuandono setor de turismo. Em 2006, foi se-lecionada pelo Ministério do Turismopara assessorar moradores da regiãodos Lençóis Maranhenses e da Serrada Capivara, no Piauí. A incubadoraficou responsável pela capacitação dapopulação para a formação de guiasturísticos, organização de cooperati-vas de taxistas e de artesanato, entreoutras iniciativas. Um projeto com asmesmas características foi implantan-do no Parque Nacional de Jericoa-coara, no Ceará. Para dar continuida-de às atividades nesses três estados, aITCP estabeleceu neste ano de 2008parceria com o Instituto AmbientalBrasil Sustentável (IABS) e vem asses-sorando 31 grupos populares no for-talecimento econômico, articulaçãoregional e formação de novas parce-rias com os setores público e privado.

Com todos esses ativos, a Coppe terá,certamente, o que festejar, com pom-pa e amplo reconhecimento por seustrabalhos prestados à ciência brasileira,a chegada, dentro de mais cinco anos,a meio século de atividades. * Com participação da equipe da Assessoria deComunicação da Coppe/UFRJ

Incubadora de Cooperativas Populares da Coppe: apoio a projetos de formação profissional em atividades como costura... ...artesanato e alimentação. À direita, ônibus elétrico híbrido a álcool desenvolvido no Laboratório de Hidrogênio

Construção civil: ajuda à criação de cooperativas detrabalho em unidades carentes

Foto: João Roberto Ripper

Fotos: Felipe Varanda Foto: Felipe Varanda Foto: Divulgação/Coppe-UFRJ

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Dois anos depois de assumir aSecretaria de Estado de Ciênciae Tecnologia (Sect), o deputado

licenciado da Câmara dos Deputados e mé-dico de formação Alexandre Cardoso lis-ta, em entrevista à Rio Pesquisa, as iniciati-vas que apontam para a meta traçada emjaneiro de 2007: “Aumentamos de formaconsiderável os recursos para financiar a pes-quisa em ciência e tecnologia no estado; as-sociamos o ensino profissionalizante aosarranjos produtivos locais; cobrimos todoo estado com ensino superior a distância einvestimos na melhoria das instituições ci-entíficas e tecnológicas aqui sediadas”.Para o titular da Sect, no entanto, o de-semprego ainda é o maior desafio a servencido, sendo necessário trabalhar paraqualificar a população do Rio de Janeiro,por meio da formação técnica profis-sionalizante e da ampliação dos CentroVocacionais Tecnológicos(CVTs), umaparceria com o Ministério de Ciência eTecnologia (MCT). A expansão das uni-versidades e dos projetos de apoio à ino-vação tecnológica nas empresas tambémestão na lista de prioridades de sua pasta.Cardoso aposta na continuidade de umapolítica, cujos resultados deverão ser co-lhidos “dentro de três ou quatro anos”.Em entrevista à revista Rio Pesquisa, eleafirma que se hoje o estado do Rio deJaneiro responde por quase 20% da pro-dução científica nacional, o objetivo do go-verno do estado é elevar esse índice para30% no prazo de cinco anos.

Confira a seguir a íntegra da entrevista:Ao tomar posse no cargo, o senhor dis-se que uma das metas de sua gestãoseria o de assegurar que o desenvolvi-

mento científico e tecnológico alcanças-se todos os segmentos da populaçãofluminense e, em particular, os menosfavorecidos. De que forma a pesquisacientífica e tecnológica pode ajudar amelhorar o bem-estar daqueles quemais precisam do estado?

Em diversos níveis, a Sect tem atuadopara melhorar a qualidade de vida da po-pulação fluminense, em especial daquelesem condições menos favoráveis. O go-verno aumentou os recursos da FAPERJpara financiar ciência e tecnologia; asso-ciou o ensino profissionalizante aos ar-ranjos produtivos locais; cobriu todo oestado com ensino superior a distância; einvestiu na melhoria das instituições ci-entíficas e tecnológicas aqui sediadas. Issointegra projetos e serviços para o desen-volvimento socioeconômico. Não existenenhum projeto isolado, mas umainteração planejada sempre presente. Embreve, os diversos projetos de pesquisafinanciados pela FAPERJ estarão geran-do resultados que reduzirão sérios pro-blemas que afligem nossa população. Naárea da saúde, editais como o de doençasnegligenciadas e reemergentes estão finan-ciando pesquisas para resolver os proble-mas de doenças tais como a dengue, atuberculose e a lepra, dentre outras. Osprojetos financiados no edital de apoioao estudo de direitos à cidadania das pes-soas com deficiência procuram melhorara qualidade de vida de cadeirantes, defici-entes visuais, deficientes auditivos e ou-tros. Recursos financeiros substanciais fo-ram colocados à disposição da pesquisaclínica realizada nos hospitais universitá-rios. Diversos projetos na área tecnológica,como o apoio às incubadoras de empre-sas, o desenvolvimento da tecnologia deinformação e o Rio Inovação, junto como apoio ao desenvolvimento científico e

tecnológico regional do estado do Rio deJaneiro estão promovendo a interiorizaçãodo conhecimento para as populações decidades fora da área metropolitana. Osprojetos apoiados para a melhoria do en-sino público, tanto em 2007 como agoraem 2008, terão, com certeza, impacto naqualidade do ensino público, cujos prin-cipais clientes são justamente as popula-ções mais carentes em recursos. É impor-tante que a população tenha consciênciaque o desenvolvimento científico etecnológico pode melhorar as suas vidas.Nem sempre essa noção é intuitivamenteaceita. Os projetos de difusão e popu-larização da ciência e tecnologia têm umpapel importante nessa conscientização,estimulando um pensamento crítico, re-duzindo tensões decorrentes de umanticientificismo e, inclusive, despertan-do vocações para a pesquisa científica etecnológica. Por outro lado, a Faetec [Fun-dação de Apoio à Escola Técnica] tem tidoum papel exemplar na expansão do ensi-no técnico profissionalizante em todo oestado do Rio de Janeiro, bem como noestímulo à inclusão digital. A implanta-ção de muitos Centros VocacionaisTecnológicos [CVTs], em diversas locali-dades do estado, tem levado à formaçãode profissionais para muitas áreas caren-tes, preferencialmente, dentro de seu es-paço geográfico de moradia. O Cecierj[Fundação Centro de Ciências e EducaçãoSuperior a Distância] tem desempenha-do um papel importante na difusão epopularização da C&T e, por meio doCederj, tem levado o ensino superior alocalidades afastadas, com o ensino a dis-tância, em parceria com diversas universi-dades do Rio de Janeiro. A Lei de Inova-ção do Estado do Rio de Janeiro, ora em

tramitação na Assembléia Legislativa, alémde permitir uma maior interação entreempresas e instituições de ciência etecnologia, também contempla o apoio ainovações de inclusão social que tenhamo objetivo de melhorar a qualidade de vidada população. Ou seja, todas essas açõestrabalham em um mesmo sentido, e osresultados já começam a surgir, mas cer-tamente se tornarão mais patentes nospróximos anos.Em 2007, o governo do estado passoua destinar 2% de sua receita tributárialíquida para a FAPERJ, permitindo queo seu orçamento chegasse a R$ 200 mi-lhões, inteiramente disponibilizadospara a pesquisa científica e tecnológicaem instituições de ensino e pesquisa, eem empresas sediadas no estado. Nocorrente ano, o orçamento da Funda-ção deve atingir R$ 250 milhões. Comoo senhor vê esse incremento substanci-al para a C&T fluminense?

Sem esse incremento nos recursos, a Ciên-cia do Rio, apesar da qualidade de seuscientistas, continuaria distante de realizaro seu potencial. Graças à sensibilidade dogovernador Sérgio Cabral, ainda nos pri-meiros meses de sua gestão, quando ogoverno atravessava um momento degrande dificuldade nas contas públicas, aoentender que o fomento à C&T é essencialpara o desenvolvimento de um estado,tomou essa importante decisão que veiobeneficiar toda a comunidade científica etecnológica do estado. A partir de junhode 2007, 2% da arrecadação tributária lí-quida do Rio de Janeiro passaram a serdestinados à FAPERJ, possibilitando umincremento real e muito substancial doseu orçamento. Assim, a Fundação pôdepassar de uma média de R$ 90 milhões,computados os valores efetivamente pa-gos de 2000 a 2006, para cerca de R$ 190milhões em 2007 (os R$ 10 milhões res-tantes foram pagos nos primeiros mesesde 2008), e que deverá chegar a R$ 250milhões em 2008, somente com os recur-sos oriundos do Tesouro do estado. En-tretanto, o que pode ser consideradoainda mais relevante foi a decisão do go-vernador de, efetivamente, garantir a re-gularidade no pagamento dos recursoscontratados. Hoje, após a emissão dasPDs [programações de desembolso], osprojetos contemplados pela FAPERJ sãopagos dentro de, no máximo, 30 dias.Essa atitude foi fundamental para recu-perar a credibilidade da Fundação frente à

comunidade científica e tecnológicafluminense. Se computadas também asparcerias da FAPERJ com órgãos fede-rais, como os ministérios da Saúde e daCiência e Tecnologia, CNPq [ConselhoNacional de Desenvolvimento Científicoe Tecnológico], Capes [Coordenação deAperfeiçoamento de Pessoal de NívelSuperior] e Finep [Financiadora de Estu-dos e Projetos], em 2007 e 2008, o mon-tante aplicado pela Fundação na C&Tfluminense passa de meio bilhão de reais,o que se constitui em um valor totalmen-te impensado até há poucos anos. Acredibilidade readquirida pela Fundaçãotem permitido o estabelecimento de im-portantes novas parcerias com órgãosfederais e estaduais de C&T, em progra-mas interinstitucionais que devem trazermais de R$ 150 milhões para a pesquisafluminense nos próximos três anos.Muito desse montante vem sendo apli-cado na recuperação da infra-estrutura parapesquisa em nossas instituições. Acredi-to que essa recuperação da infra-estruturaainda mereça uma especial atenção daFAPERJ, ao menos para os próximos trêsa cinco anos. Sem esse incremento nosrecursos, a C&T do Rio, apesar da quali-dade indiscutível de seus cientistas e em-preendedores, continuaria distante de re-alizar o seu potencial. O estado do Rio deJaneiro hoje responde por cerca de 20%da produção científica nacional. Com osesforços que vimos empreendendo na fi-xação e formação de recursos humanos,na divulgação e popularização da C&T ena recuperação do parque científico etecnológico das instituições sediadas noRJ, e mantendo-se esse ritmo crescentede investimento, nossa meta é que, empouco mais de cinco anos, atinjamos 30%da produção nacional. É nesse sentidoque vimos trabalhando para que essa metaseja alcançada.Depois de disponibilizar a Internet SemFio na Orla de Copacabana, o governodo estado planeja expandir essa inova-ção para a Baixada Fluminense e a ou-tros bairros da cidade do Rio de Janeiro.Existem planos para tornar o estado to-talmente coberto pelo sistema Wi-Fi?

Com nossos projetos de acesso gratuitopor banda larga, queremos popularizar ouso da Internet e não vulgarizá-lo, mos-trando que isso não é só lazer, também éaprendizado. A disponibilização daInternet a céu aberto na Orla de

Copacabana e na Baixada Fluminense é opasso inicial da implantação do Progra-ma Estado Digital, que objetiva dar co-bertura a todo o estado do Rio de Ja-neiro. O projeto é desenvolvido com asparcerias da Coppe/UFRJ e UFF [Uni-versidade Federal Fluminense], sendo dis-tintas as estratégias para a sua progressivaimplantação, haja vista que as topografiasda capital e do interior são diferenciadas.Na capital, a implantação se dará, prio-ritariamente, pela orla (com extensão pre-vista para a orla de Ipanema e Leblon jáno início de 2009) e nas regiões abrangidaspelo PAC [Programa de Aceleração doCrescimento], enquanto para o interiorfoi definida uma estratégia de corredoresdigitais que percorrerão 15 regiões do es-tado. A expectativa é que, ainda nesta ges-tão do governador Sérgio Cabral, tenha-mos alcançado praticamente todo o terri-tório do estado. Esse sistema de redes,de natureza tipicamente inclusiva, estará aserviço do cidadão, das funções essenciaisde governo (saúde, educação e segurança)e dos micro e pequenos empresários.Elaborado sob a coordenação da Se-cretaria de Estado de Ciência e Tec-nologia, o anteprojeto da Lei de Inova-ção Tecnológica do estado, debatido naAssembléia Legislativa em outubro, temcomo eixo central estimular a integraçãoda produção acadêmica do setor cien-tífico-tecnológico com a iniciativa pri-vada. Que outros pontos o senhor des-tacaria nesse anteprojeto? Ele podealavancar a produção no estado?

Acho que essa lei contribuirá significati-vamente para as vocações do Rio de Ja-neiro. O segmento de prestação de servi-ços e da indústria petrolífera tem forteimpacto na economia fluminense. A in-dústria de manufatura do Rio, entretan-to, perdeu espaço valioso no cenário eco-nômico brasileiro para São Paulo, MinasGerais e outras unidades da federação, ape-sar da boa recuperação nos últimos anos.São esses segmentos que a Lei de Inova-ção vai alavancar, permitindo que se agre-gue valor aos produtos desenvolvidos nonosso estado, com a integração do conhe-cimento gerado pela comunidade cientí-fica ao setor produtivo. A FAPERJ traba-lhou intensamente no anteprojeto, nota-damente o seu diretor de Tecnologia, RexNazaré, e Alfredo Coutinho, assessor dePlanejamento e Gestão da Presidência, econtou com as preciosas e decisivas parti-cipações de diversas instituições, tais como

Alexandre Cardoso: “É preciso trabalhar para qualificar a população, pormeio da formação técnica profissionalizante, a fim de vencermos o desemprego”

Paul Jürgens

ENTREVISTA

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Sebrae, Firjan, universidades e AcademiaBrasileira de Ciências [ABC]. O anteproje-to da Lei Estadual de InovaçãoTecnológica já passou por discussões en-tre as organizações que integram o FórumPermanente de Desenvolvimento Estra-tégico do Estado do Rio – Alerj [Assem-bléia Legislativa do Estado do Rio de Ja-neiro] e está, agora, sendo divulgado paradebate com o restante da sociedade. Oprojeto, por si, é muito bom, porém ain-da pode ser mais aperfeiçoado pelos par-lamentares, quando no processo legislativona Alerj. Tomou-se todo o cuidado coma elaboração do texto proposto, com oobjetivo de evitar interpretações, pelo Po-der Judiciário ou pelo Tribunal de Contasdo estado, que engessem os processos deinovação, como tem ocorrido na União eem outros estados que já possuem as suasleis de inovação. O debate em torno da leilegitimará os mecanismos que possibili-tarão ao estado e às agências de fomento,como a FAPERJ, o apoio à formação dealianças e o desenvolvimento de projetosde cooperação entre empresas, instituiçõescientíficas e tecnológicas e organizaçõessem fins lucrativos. Ela promoverá, entreoutros benefícios, o apoio ao processo deinovação nas empresas, com a criação deincubadoras, parques tecnológicos e cen-tros de pesquisa e desenvolvimento; oincentivo a ambientes especializados e co-operativos de inovação; e o estímulo àparticipação do inventor independente noprocesso de inovação. Pelo anteprojeto,criam-se mecanismos e incentivos para queempreendedores tenham financiamentode agências do estado (como a própriaFAPERJ) para desenvolver processos ouprodutos inovadores, de acordo com asoportunidades e necessidades identi-ficadas no setor. A idéia é que, desta for-ma, os projetos executados estejam emsintonia com o mercado e com o contex-to econômico. Também permite o incen-tivo à inovação na administração pública:órgãos estatais poderão contratar empre-sas e centros de pesquisa para desenvolverprodutos, novos processos ou encamparprojetos que envolvam risco tecnológico.Reconhece-se, portanto, que as atividadesde inovação incluem certo risco, e por issoa lei inclui mecanismos de salvaguardaspara casos em que os resultados obtidossejam diferentes dos inicialmente espera-dos. Dessa forma, espera-se que o conhe-

cimento e a cultura existente no Rio deJaneiro possam, efetivamente, se integrar,gerando, de fato, benefícios para a popu-lação fluminense.No início de sua gestão na secretaria, osenhor disse que trabalharia para con-solidar as universidades estaduais – Uerje Uenf (e também a Uezo, caminhan-do para a sua autonomia) – como refe-rência do pensamento do estado noBrasil. Como avalia o progresso que foifeito nesse período?

Em nenhum período, a Uerj e a Uenfreceberam mais recursos financeiros daFAPERJ do que nestes últimos doisanos. Esses recursos foram alcançados pormeio de projetos elaborados por pesqui-sadores dessas duas instituições. Apesarde mais recente, a Uezo, ainda ligada àFaetec, mas em processo de estruturaçãopara a sua autonomia, também soubeobter recursos junto à FAPERJ, por meiode seus diversos editais, em especial aque-les direcionados para a recuperação da

infra-estrutura para pesquisa. Além dis-so, apoiamos fortemente as pós-gradua-ções da Uerj e Uenf, com aumento donúmero de bolsas de mestrado e douto-rado e disponibilização de auxílios para odesenvolvimento de pesquisas. O reajus-te das bolsas de pesquisa, por exemplo,principalmente no prazo curto como foiobtido, foi uma grande conquista. Foramreajustadas as bolsas de graduação, queestavam há muitos anos com os mes-mos valores, resultando em considerávelganho para os nossos alunos. Têm sidorealizadas importantes obras de recupe-ração da infra-estrutura, restaurantes uni-versitários estão sendo construídos, tudopara recuperar a condição de líderes, den-tre as maiores universidades do País. Te-nho certeza que as universidades estaduaissaberão responder a esse relevante apoio,possibilitando a formação de recursoshumanos de qualidade e a geração de re-sultados importantes para solucionarproblemas crônicos do estado do Rio deJaneiro. Continuamos a implementar oPlano de Cargos e Salários dos servidores

técnico-administrativos da Uerj e acaba-mos de aprovar na Alerj o plano de carrei-ra para os seus docentes. O Hospital Uni-versitário Pedro Ernesto da Uerj vem re-cebendo recursos financeiros substanci-ais para implementação da sua capacidadede atendimento e de pesquisa clínica. NaUenf, foram quitadas despesas de exercí-cios anteriores, desde 2002, com os seusservidores. Do ponto de vista científico,tem se empreendido uma retomada con-siderável na capacidade científica da uni-versidade, face ao modelo FAPERJ definanciamento dos projetos e do paga-mento em espaço de tempo muito me-nor do que estávamos vivenciando nosúltimos anos. Do ponto de vista acadê-mico, a colocação da Uerj e da Uenf noranking do MEC, entre as 20 melhoresuniversidades brasileiras, demonstra queestamos avançando num modelo demodernização e conscientização,priorizando o ensino, a pesquisa e a ex-tensão. Enfim, mudanças levam tempopara serem realizadas, mas reafirmo o fir-me propósito do governador SérgioCabral em priorizar a recuperação de nos-sas universidades.Um dos programas-símbolo desenvol-vidos por esta gestão é a implantaçãodos CVTs [Centros Vocacionais Tec-nológicos], em parceria com o Ministé-rio de Ciência e Tecnologia, por meiodo Programa de Popularização e Difu-são da C&T. Na sua avaliação, comoesta ação poderá contribuir para a ade-são de jovens à ciência e ao desenvol-vimento econômico do estado do Riode Janeiro?

Os CVTs possuem perfis adequados àvocação produtiva da região em que sãoimplantados. A sua proposta de ensinoprevê cursos técnicos e formação inicial econtinuada de trabalhadores. Eles fazemparte do programa de qualificação de mão-de-obra do estado, foram adaptados àrealidade do Rio de Janeiro e vêm sendoprojetados e administrados pela Faetec.O trabalho da Sect é identificar as voca-ções tecnológicas nas comunidades emque os CVTs serão instalados. Essa voca-ção tem a ver com a demanda existenteno local, principalmente relacionada à vo-cação econômica da região, e à sua carênciade mão-de-obra qualificada. Temos tam-bém que prever a formação de pessoalqualificado, antes mesmo que as indústri-as potenciais sejam implantadas na região.Assim, o trabalho do CVT é focado na

população jovem que terá algum tempode formação, antes de ser absorvida pelomercado de trabalho, e essa qualificaçãocausará uma ascensão social desses jovens.Os jovens que saíam da cidade para ou-tros lugares em busca de cursosprofissionalizantes, nas diversas áreas deatuação, hoje não precisam mais fazê-lo.Os CVTs têm essa característica de fixar ohomem no lugar de origem, oferecendoensino gratuito e profissional de qualida-de. O CVT no estado é um modelo novo,inclusive na parte física. Por exemplo: osnossos CVTs podem, a qualquer mo-mento, mudar de foco em função da de-manda de mão-de-obra da região em queforam instalados. Esta é uma nova for-ma de escola técnica, com salas de aulacom quadro interativo e ar-condicionado,videoconferência e laboratórios específi-cos a cada área de atuação e de informática.Quando atingida a demanda de mão-de-obra do mercado na região, podemossubstituir os laboratórios de design, cons-trução civil ou moda íntima por outros.Os laboratórios-mãe, no entanto, comoInformática, continuam na sede do CVT,pois servem a qualquer modalidade deensino profissionalizante. Nós associa-mos C&T ao projeto de desenvolvimen-to do estado do governador Sérgio Cabral.Queremos qualificar a mão-de-obra for-mada no CVT como uma ação social.Além de aumentar a empregabilidade edifundir tecnologia em todo o estado, osCVTs oferecerão diversos serviços à po-pulação fluminense. Vamos formalizarconvênios com as prefeituras para que ostrabalhadores qualificados coloquem emprática aquilo que aprenderam em labora-tórios e salas de aula, exercitando e apli-cando os seus conhecimentos em comu-nidades carentes. Queremos também queempresas privadas participem desse mo-

delo, fornecendo, por exemplo, o mate-rial, enquanto nós fornecemos mão-de-obra, numa parceria para aumentar, aindamais, a atuação desse novo modelo deformação. Até o final de 2008, 14 unida-des estarão em funcionamento, capacitan-do profissionais para suprir a demandade mão-de-obra nas empresas de sua re-gião e, até 2010, 40 CVTs estarão qualifi-cando cerca de 100 mil trabalhadores porano no estado.

Além de secretário de Estado, desdemarço de 2007, o senhor ocupa a pre-sidência do Conselho Nacional de Se-cretários Estaduais para Assuntos deC,T&I [Consecti]. O que pode ser feitopara fomentar a cooperação entre osdiversos setores de C&T no âmbito es-tadual e que vantagens podem daí de-correr?

A consolidação do Sistema Estadual deCiência, Tecnologia e Inovação, por meiodo fortalecimento das instituições, é fun-damental para o incremento do SistemaNacional e para o intercâmbio de infor-mações. As reuniões do Fórum são opor-tunidades únicas para a definição de polí-ticas e de estratégias que configuram aPolítica Nacional de Ciência e Tecnologia,por meio do MCT. O relacionamentoinstitucional com as demais pastas dogoverno federal também é fundamentalpara o complemento das estratégias deciência e tecnologia nos estados, por issoos ministérios da Educação, do Desen-volvimento, Indústria e Comércio e daSaúde são parceiros que se configuram emprojetos de pesquisa e desenvolvimentoindustrial sustentável. Assim, posso des-tacar as seguintes ações: maior relaciona-mento com o Poder Legislativo, por meioda Comissão de Ciência, Tecnologia eInformática da Câmara dos Deputados;lançamento de seminários técnicos comos estados; inserção do Consecti no Con-

selho de Ciência e Tecnologia; lançamen-to da Revista Gestor de CT&I doConsecti; parceria com a RNP [Rede Nacio-nal de Ensino e Pesquisa] para inserção devídeoconferência nas secretarias de estado;parceria com a Anatel [Agência Nacional deTelecomunicações] para os programas deinclusão digital; e parceria com o governofrancês para seminários técnicos e troca depesquisadores, dentre muitos outros.Atingidos quase dois anos à frente daSecretaria de Estado de C&T, que ba-lanço o senhor faria de suas ações?Quais são os planos para os próximosdois anos desta gestão?

A Sect tem um papel importante na re-dução do desemprego, qualificando apopulação do Rio de Janeiro para a ativi-dade laborativa. Isso tem sido feito pelaformação técnica profissionalizante, pormeio das inúmeras escolas da rede Faetec;pelo ensino técnico a distância nos 31 pó-los do Cecierj, que contam com 24 milalunos matriculados; pela ampliação dosCVTs, conforme citado anteriormente;pelo crescimento e fortalecimento das uni-versidades – Uerj, Uenf e Uezo e dos pro-jetos de apoio à inovação tecnológica paraempresas. Outro destaque nestes doisanos de governo é o enorme sucesso doprograma de Internet banda larga gratui-ta a céu aberto, o Orla Digital, que cobretoda a orla de Copacabana e que já está seexpandindo para as orlas de Ipanema eLeblon e para a Baixada Fluminense. Orepasse de 2% da receita líquida do orça-mento do estado para a FAPERJ foi deci-sivo para o relevante aumento de investi-mentos em C&T. Essa, sem dúvida, foiuma atitude corajosa do governador, e eutenho certeza que a comunidade científicae tecnológica fluminense saberá respon-der perfeitamente ao nosso grande desa-fio de crescimento. Essas atitudes estãoentrelaçadas e, juntas, vêm permitindo ofortalecimento da C&T no Rio de Janei-ro. Em síntese, nos próximos dois anos,nossa intenção é continuar trabalhandono mesmo sentido, visando permitir oacesso à tecnologia da informação e dacomunicação a toda a comunidadefluminense, possibilitar a formação téc-nica profissionalizante, seja de formapresencial ou a distância, e capacitar as nos-sas instituições científicas e tecnológicascom a infra-estrutura de que necessitampara o desempenho de suas funções.

Universidadespúblicas do estadoreceberam volumerecorde de recursos

Cardoso: investimento em infra-estrutura trará resultados “em 3 ou 4 anos”

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Machado de Assis emmúltiplas facetasNo ano do centenário da morte do escritor,sua obra é analisada sob diferentes enfoques

Um escritor, antigo ou moderno, não é verdadeiramente respeitável enquanto

não tiver sua obra coada pelos fil-tros da crítica textual.” Pela ótica deIvo de Castro, da Universidade deLisboa, o brasileiro Machado deAssis (1839-1908) vai bem além do“respeitável”. No ano em que secomemora o centenário de sua mor-te, multiplicam-se os trabalhos queexaminam os diferentes aspectos desua obra, vários deles com apoio daFAPERJ. Desde a participação em

congressos e seminários no exterior– que mostram o quanto o escritorque nunca saiu do País é reverencia-do por críticos estrangeiros – a no-vas edições comentadas e coletâne-as, tudo o que escreveu o autor deMemórias póstumas de Brás Cubas vemsendo extensamente analisado pelosespecialistas.

São diferentes enfoques que analisamas mudanças em seu texto ao longodas dezenas de reedições sucessivas,dissecam o perfil desse autor cario-ca – Joaquim Maria Machado deAssis – que registrou, de formaperspicaz e irônica, a vida carioca no

fim do Império e começo da Repú-blica, ou fazem emergir um escritorobcecado por certos temas recor-rentes. Foram essas “obsessões”, porsinal, que levaram o professor deLiteratura Brasileira da Universida-de do Estado do Rio de Janeiro(Uerj), João Cezar de Castro Rocha,a propor a reedição dos contosmachadianos agrupados cronológi-ca e tematicamente.Como resultado, a editora Recordestá publicando uma coleção de seisvolumes, um sobre cada uma destastemáticas: Música e Literatura; Adulté-rio e Ciúme, um dos assuntos que maisinteressaram o autor; Filosofia, mos-trando sua complexa visão de mun-do; Dissimulação e Vaidade, o próprioespelho da condição humana; Políti-ca e Escravidão, mostrando como oautor enfrenta a circunstância histó-rica e social de sua época; e Desrazão,que ata as pontas de toda a produ-ção machadiana.“Fazemos surgir um novo Machado,tanto no desenvolvimento do estiloque o imortalizou como na visão demundo que o tornou célebre. Ele nemsempre foi cáustico, tampouco seutexto foi sempre corrosivo. Entre osprimeiros textos e os contos mais fa-mosos, muitas vezes, abre-se um abis-mo. Explorar a sua dimensão e avali-ar a sua profundidade é a tarefa doleitor dessa coleção”, explica João

Vilma Homero

Cezar. Para ele, nos quase 80 contospublicados antes de 1880, há um la-boratório de idéias e de procedi-mentos em que o autor de QuincasBorba usa as narrativas curtas comoum autêntico “campo de provas”,mais tarde aperfeiçoadas em roman-ces. “Nessa coleção, os contos abremnovos horizontes para a compreen-são do percurso total do escritor. Afi-nal, não é verdade que Machado con-taminou os seus romances com téc-nicas do conto e mesmo da crôni-ca? E seus capítulos curtos não po-dem ser vistos como uma formahíbrida, entre romance, conto, crô-nica e critica?”, pondera.

Adultério e ciúme, como se sabe, te-mas caros a Machado, aparecem des-de seus primeiros escritos, aos 19anos. “No conto de estréia, Três tesou-ros perdidos, lançado no periódico Amarmota, em 1858, e nunca publicadoem livro, percebe-se o estilo bem-comportado com que Machadoabordava tópicos sensíveis ao leitoroitocentista. O relato é breve e con-vencional. Mas o conto inclui ainda afigura de um ‘louco varrido’ que setransforma num ‘doido com juízo’,oxímoro que delineia o cruzamentode insanidade com lucidez, uma daschaves do olhar machadiano, cujoponto máximo de inflexão se encon-tra em O alienista”, fala.

Mesmo como fruto de um mal-en-tendido, o adultério também apare-ce em A mulher de preto, enquanto emConfissões de uma viúva moça, é umaocorrência “espiritual”: uma mulhercasada permite a corte de um sedu-tor barato. Como a intenção émoralizante, a punição chega a galo-pe. Após a morte do marido, o galãabandona a viúva, pois não quercomprometer-se seriamente comninguém, mas comprometer a serie-dade de muitas. “Machado voltouao assunto em Ressurreição, elaboran-do-o de forma magistral em Dom

Casmurro, um dos mais poderososelogios à força da ficção, à idéia daliteratura como uma máquina deproduzir perguntas inovadoras”, dizJoão Cezar. E acrescenta: “Os olhosde ressaca devem ser os do malicio-so leitor. Por isso, não há como sa-ber se Capitu traiu: reside aí a supe-rioridade da literatura machadiana e,nessa impossibilidade, reside a sub-versão maior de seu texto, pois elasupõe, exige um novo ato de leitura,com base num inovador diálogo en-tre narrador e leitor”, complementaJoão Cezar.A abordagem de Thomaz Pereira deAmorim Neto, doutor em Literatu-

ra Comparada, também da Uerj, éum pouco diferente. Como pontoinicial de sua pesquisa, ele se debru-ça sobre o livro Contos Fluminenses,decidido a decifrar Machado como“leitor de si mesmo”. Para desen-volver o projeto Do Tinteiro à Bro-chura: um estudo sobre o processo de seleçãoe escritura do contista, Thomaz consta-tou que Machado fazia questão deser o organizador de seus próprioslivros de contos, algo comum entreos escritores de seu tempo. “Ele foieditor-leitor de seus livros, publica-dos à época pela Livraria Garnier.Estou tentando delinear a hipóteseque norteia essa escolha, analisar por

Raro registro de Machado feito pelo fotógrafo e pintor português Joaquim Insley Pacheco

Foto: Divulgação ABL

Foto: Divulgação ABL

Retrato do escritor quando jovem: obra reconhecida por críticos estrangeiros

LITERATURA Ano I - nº 5 - Rio Pesquisa | 42

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que selecionou alguns escritos, dei-xando outros de lado. É curioso tam-bém observar o texto de abertura dolivro, em que fala como seria o leitorideal ou, pelo menos, o tipo de leitorcomum no século XIX.”

Em Contos Fluminenses, Machado reu-niu seis dos 32 contos publicados emdiversos periódicos, principalmenteno Jornal das Famílias, entre 1858 e1869, a maioria com títulos de no-mes femininos. “Mas escreveu ou-tro inédito especialmente para com-pletar o volume”, diz Thomaz. Ne-les, em vez da habitual superiorida-de moral feminina que costumamostrar em seus escritos, a situaçãose inverte: trata de mulheres fracas,que não conseguem atingir seus ob-jetivos. “Em O Segredo de Augusta,a protagonista não quer que a filhacresça e se torne moça, mas terminase resignando diante da perspectiva deum bom casamento”, exemplifica.

Do ponto de vista temático, o livro évariado, em seus assuntos costumei-ros: religião, filosofia, traição, a escala-da social por meio do casamento, asreferências aos clássicos da literatura eda arte em geral. “Explora-se o coti-diano de uma certa classe que convivecom a Corte, que não precisa traba-lhar, que flana pela Rua do Ouvidor.Em seu estilo indireto, ele insere diálo-gos com o leitor, que permitem cer-

tas leituras e críticas sutis à sociedadeda época”, diz.

“Texto também é patrimônio cultu-ral, embora seja, às vezes, modifica-do ao longo do tempo”, fala a pro-fessora do Laboratório de Ecdóticada Universidade Federal Fluminense(Labec-UFF) Ceila Ferreira Martins(Ecdótica é sinônimo de crítica tex-tual; a interpretação, o cotejo de tex-tos originais e suas sucessivas edições).Por isso mesmo, ela está realizando,junto com um grupo de alunos, oque chama de “última intenção ma-terializada” de Machado, do livroPapéis Avulsos.

A escolha de Papéis Avulsos se deveuao fato de ter sido um dos dois li-vros de Machado que, por motivosignorados, não entrou no grande tra-balho de recuperar o texto originaldo autor, realizado por uma comis-são de filólogos notáveis, entre elesAntonio Houaiss, nos fins dos anos50 do século XX. “Papéis Avulsos foium marco na carreira de Machado,por mostrar a guinada do escritornaquele momento de sua trajetória.Corresponde, no terreno dos contos,ao que foi Memórias Póstumas de BrásCubas no romance”, explica Ceila.

No cotejamento das atuais ediçõesde Papéis Avulsos com o original pu-blicado em 1882, de acordo com asintenções do autor, ela tem encon-

trado curiosidades. “Vimos queMachado de Assis trabalha seus tex-tos em estágios diferentes da língua.Há contos, como O Alienista que abreo livro, em que há referências históri-cas ao século XVIII, como o períododo grande terror da Revolução Fran-cesa. Ou no conto O Segredo do Bonzo,em que usa expressões da língua por-tuguesa do século XVI para criar cer-ta atmosfera na narrativa”.

Além de respeitar a grafia de pala-vras estrangeiras e as referênciasfônicas do século XIX, em palavrascomo “cousa” (coisa), “doudo”(doido) ou “idea” (idéia), Ceila tam-bém comenta as alterações sofridasao longo do tempo e o contexto daépoca em notas de rodapé. O resul-tado serão duas novas edições dolivro, com informações relevantesem termos de língua portuguesa ede literatura. Uma será o texto críti-co, uma edição de divulgação comgrafia atualizada; outra será a ediçãocrítica e comentada, com a grafiaconservadora. “Esta última trará naintrodução um estudo aprofundado,falando da história do texto, comcomentários explicativos e expondoos critérios de edição.”

Já o trabalho da professora Martade Senna, da Casa de Rui Barbosa,segue linha bem diferente. Ao con-cluir a base de dados disponibilizada

em site de busca na Internet<www.machadodeassis.net>, elateve a idéia de desenvolver, comapoio do Programa de Auxílio Bá-sico à Pesquisa da FAPERJ (APQ 1),a edição dos nove romances do au-tor de Dom Casmurro e de seus con-tos como hipertexto. “É uma for-ma de usar o material que não pôdeser inicialmente aproveitado no site.Muitas informações que não foramincluídas no banco de dados entra-rão nos balões explicativos dohipertexto. Isso permitirá incontáveisdesdobramentos”, explica.

Marta vem encontrando aspectoscuriosos. Apesar de ser declara-damente um homem cético, Macha-do faz em sua obra numerosas cita-ções à Bíblia, que são, de longe, asalusões mais freqüentes. O autormais citado em seus romances é odramaturgo e poeta inglês WilliamShakespeare, com 131 citações, se-guido por Homero, Luiz deCamões e Dante Alighieri, nesta or-dem. “Filho de um liberto e de umalavadeira (ou costureira, segundo al-guns) portuguesa, percebe-se que suacapacidade de assimilar conhecimen-tos é excepcional”, comenta a pes-quisadora. Sua origem pobre e ofato de que Machado teve os seusprimeiros escritos publicados aos 15anos sempre intrigaram os estudio-sos, que muito especulam a respeito.

Pistas sobre a sua vida ajudam a co-nhecer a sua obra e vice-versa. ParaMarta, com base no que se conhecesobre Machado, pode-se imaginarque o seu domínio da literatura indi-ca que, apesar da origem, a sua fa-mília tinha acesso a livros. “Só o fatode seus pais serem alfabetizados jáos coloca numa certa elite, já que boaparte da população, fossem escra-vos, fossem brancos livres, não sa-bia ler”, fala. Outra hipótese é que asua madrinha – proprietária da chá-cara do Livramento, onde os pais

eram agregados, e viúva de um se-nador do império –, provavelmen-te, identificou nele um talento pre-coce e é possível que lhe tenha per-mitido acesso a sua biblioteca”, fala.

Talvez a sua ajuda tenha ido um pou-co além. O domínio dos idiomasfrancês e inglês, que Machado de-monstra desde cedo e que lhe pos-sibilitou tornar-se um bom tradutorde obras de Charles Dickens, VitorHugo e Edgar Allan Poe, tambémindica que a sua madrinha pode terlhe proporcionado aulas e livros. Afavor dessa hipótese, Marta cita apassagem que aparece em Casa Ve-lha, que os seus biógrafos dizem tersido inspirada na casa da madrinha.No livro, uma cena que acontece nabiblioteca pode sinalizar para umabiblioteca com a qual Machado teriatido contato desde criança. “Talvez otemperamento reservado e orgulho-so de Machado o tenha impedido derevelar o quanto foi beneficiário daestrutura do ‘favor’, que vigorava à suaépoca”, acredita Marta.

A pesquisadora especula ainda que,à medida que ganha maturidadecomo escritor, os seus livros tam-bém ganham um sotaque cada vezmais lusitano. “Memorial de Aires é oromance em que esse sotaque é maisforte. O fato de ter tido uma mãeportuguesa talvez contribuísse paraessa pureza no idioma.” Todas essashipóteses são formuladas a partir docruzamento das informações que vêmsendo minuciosamente coletadas e ana-lisadas pela pesquisadora para o ban-co de dados e incluídas no hipertexto.“Esse é um trabalho que não terminanunca”, resume Marta.

Pesquisadores: Cezar de CastroRocha, Thomaz Pereira de AmorimNeto, Ceila Ferreira Martins e Martade SennaInstituições: Uerj, UFF e Casa de RuiBarbosa

Machado de Assis em documento daAcademia Brasileira de Letras, queajudou a fundar

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Foto: Divulgação ABL

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Referência

Hospital Veterinário da Uenf é o único da AméricaLatina a realizar procedimentos cirúrgicos emanimais com o uso de circulação extracorpórea

em

Mesmo realizando apenasparte dos procedimentospara os quais foi projeta-

do e necessitando de adequações naparte física do prédio onde funciona,o Hospital Veterinário da Universi-dade Estadual do Norte Fluminense(Uenf), inaugurado em julho de2006, em Campos dos Goytacazes,já é referência em áreas importantesda medicina animal. É no prédio de7,3 mil metros quadrados, projeta-do por Oscar Niemeyer, que são re-alizados os únicos procedimentos ci-rúrgicos veterinários em toda a Amé-rica Latina com o uso de circulaçãoextracorpórea, tais como cirurgiasintracardíacas, transplantes e cirurgiade válvula.Foi no hospital que tiveram início aspesquisas que permitiram ao Brasilrealizar, em 2007, a primeira Cirur-gia por Orifícios Naturais (NaturalOrifice Transluminal Endoscopic Surgery– Notes). Coube aos pesquisadoresda Uenf, junto com o médicoRicardo Zorron, da Faculdade deMedicina de Teresópolis, o desenvol-vimento de um equipamento apropri-ado para esse tipo de procedimento.

“Acreditamos que em 10 anos estatecnologia será aperfeiçoada pela in-dústria de equipamentos médicos ese tornará mais popularizada. A No-

tes constitui um grande avanço emrelação à videocirurgia, lançada nadécada de 1980. Ao utilizar os orifí-cios naturais do paciente, como boca,vagina e cólon, evita os cortes e per-mite que ele se recupere mais rapi-damente”, explica o diretor do hos-pital, André Lacerda.

Mas o sucesso nessas áreas escondeproblemas que ainda precisam sersolucionados até que a instituiçãopossa funcionar de forma plena.Segundo Lacerda, o hospital vemrealizando apenas 20% dos proce-dimentos para os quais foi projetado.Os principais problemas são a ca-rência de pessoal qualificado e emnúmero insuficiente, bem como anecessidade de adequações na partefísica do prédio. Ainda funciona deforma precária, por exemplo, o Se-tor de Grandes Animais, que neces-sita de mais técnicos e professores.No Setor de Pequenos Animais, fal-tam técnicos de Nível Superior paradar apoio durante os procedimen-tos cirúrgicos. Um dos mais impor-tantes, o Setor de Radiologia, aindanão está funcionando porque pre-cisa ser adaptado às normas debiossegurança exigidas.

“Quando o hospital foi inaugurado,um levantamento apontou a neces-sidade de contratação de 70 servi-dores, entre técnicos e professores.Até hoje, essa demanda não foi su-

cardiologia veterinária”, entre outros.Paralelamente ao Simpósio, será rea-lizada a I Mostra Latino-Americanade Produção Científica emCardiologia Veterinária.

Ensino, pesquisa eextensão

A importância do tripé ensino/pesqui-sa/extensão ganha contornos bastan-te nítidos quando se percorre os cor-redores do Hospital Veterinário daUenf. O local, onde os alunosvivenciam o que aprendem em sala deaula, é também uma via de mão duplaentre os pesquisadores e a comunida-de. Ao mesmo tempo em que esta temacesso à tecnologia e ao conhecimen-to produzidos na universidade, tam-bém ajuda a nortear as pesquisas quesão desenvolvidas no local.

Estrutura obrigatória em toda insti-tuição de formação médica, o Hos-pital Veterinário é considerado ummarco na história do NorteFluminense por Eulógio CarlosQueiroz de Carvalho, professor epesquisador do Laboratório de Sa-nidade Animal (LSA). Ele observaque as ações dos pesquisadores daUenf estão voltadas, basicamente,para a resolução de problemas queafligem os criadores regionais. “Da-mos uma resposta técnica, às vezesdefinitiva, à comunidade de criado-res e proprietários, tanto os de gran-des animais como aqueles de estima-ção. Esse tipo de assistência nuncaexistiu na região”, diz.

O professor Cláudio Baptista deCarvalho, que também atua no LSA,lembra que o número de clínicas ve-terinárias em Campos pulou de trêspara 15 desde 1997. A maioria dasnovas clínicas funciona com profis-sionais que passaram pela Uenf. O

prida”, lembra o diretor, informan-do que estão lotados no Hospital 28professores e 10 técnicos. A institui-ção conta com a colaboração de téc-nicos lotados dentro dos laborató-rios, bem como de alunos de gra-duação e pós-graduação.

Segundo Lacerda, em 2008, até o mêsde novembro, foram realizadas cercade 300 procedimentos cirúrgicos – amaioria em pequenos animais, comocães e gatos –, 1.500 atendimentos clí-nicos, 2 mil exames de patologia clí-nica e 1 mil exames de anatomia pa-tológica. Dois laboratórios da Uenfocupam as dependências do hospital:o Laboratório de Sanidade Animal(LSA) e parte do Laboratório de Re-produção e Melhoramento GenéticoAnimal (LRMGA).

O hospital também sedia, todo fimde ano, um evento na área decardiologia veterinária. Neste ano de2008, será realizado, durante a pri-meira quinzena de dezembro, o ISimpósio Latino-Americano deCardiologia Veterinária, promovidoem parceria com o Jornal Brasileiro deCiência Animal (JBCA). O simpósioterá palestras, mesas-redondas e de-bates sobre temas como “O eco-cardiograma em Medicina Veteriná-ria”, “Emergência em Cardiologia”,“Transplante cardíaco”, “Anestesiaem cirurgia cardíaca”, “Perspectivasda terapia com células-tronco na

saúde animal

Fúlvia D’Alessandri

VETERINÁRIA

Foto: Felipe Moussallem

Linhas curvas de Oscar Niemeyer: o nomemais conhecido da arquitetura brasileiraassina o projeto do Hospital Veterinário

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que ainda falta, na sua opinião, é aaquisição de equipamentos que per-mitam a realização de exames maisespecializados, bem como a diversi-ficação de especialidades, comoCardiologia, Oftalmologia, Derma-tologia, Endocrinologia, Oncologia,entre outras. “O Hospital Veteriná-rio propiciou um avanço tecnológiconotável para a região. Há 10 anos,quando os primeiros formandos co-meçavam a ganhar o mundo pro-fissional, a área apresentava-se de

uma maneira completamente dife-rente do que é hoje. Enfim, no hos-pital ratifica-se o valor da união en-tre extensão, pesquisa e ensino”, dizo professor Antônio PeixotoAlbernaz, do mesmo laboratório.

Combate aosStaphylococcusO estudo de doenças que acome-tem os animais pode, muitas vezes,redundar em benefícios para o serhumano. Um exemplo é o projetode pesquisa coordenado por OlneyVieira da Motta, um dos pesquisa-dores do hospital que trabalha emestudo sobre a patogenicidade dasbactérias Staphylococcus encontradasem animais domésticos e silvestresno Norte Fluminense. O projeto re-cebeu apoio da FAPERJ, por meiodo Edital de Apoio ao Desenvolvi-mento Tecnológico Regional.

Segundo Olney, os animais domés-ticos e silvestres podem atuar comodispersores dessas bactérias no am-biente, constituindo-se, portanto, em

potenciais transmissores de doençaspara os seres humanos. As bactériasdo gênero Staphylococcus podem pro-vocar doenças graves, tais comoosteomielite, endocardite, choquetóxico, entre outras. Neste fim dedécada, elas vêm sendo considera-das, cada vez mais, um problema desaúde pública na região, haja vista aresistência a medicamentos conven-cionais. “Acredita-se que um dos fa-tores para a presença de bactériasresistentes no ambiente é o usoindiscriminado de drogas para o tra-tamento de animais domésticos, bemcomo o uso excessivo, e mesmoindevido, de medicamentos entre aspessoas”, afirma o professor.

Os pesquisadores também preten-dem investigar a resistência dessasbactérias por meio do uso de técni-cas de rotina microbiológica conven-cionais e moleculares, com o objeti-vo de estabelecer uma possível rela-ção entre os animais estudados e oambiente em que vivem.

A pesquisa envolve, ainda, os pro-fessores Enrique Medina-Acosta eVictor Martin Quintan Flores, am-bos do Laboratório de Biotecnologia(LBT), além de Milton MasahikoKanashiro, pesquisador do Labora-tório de Biologia do Reconhecer(LBR) da Uenf, e técnicos e pós-graduandos. À medida que os resul-tados forem alcançados, as informa-ções serão repassadas aos setoresresponsáveis pela saúde coletiva daregião e aos veterinários proprietá-rios de clínicas.

Pesquisadores: André Lacerda eOlney Vieira da MotaInstituição: Universidade Estadual doNorte Fluminense (Uenf)

No alto: o diretor André Lacerda. À esq.: otécnico Ricardo Benjamin examina um animal

Fotos: Nériton Toledo

Lei de Inovação édebatida na Alerj

A Assembléia Legislativa do Estadodo Rio de Janeiro (Alerj) abriu suasportas, em 14 de outubro, para umaaudiência pública sobre o anteproje-to da Lei de Inovação Tecnológicado Estado do Rio de Janeiro, elabo-rado pela Secretaria de Estado deCiência e Tecnologia (Sect) e pelaFAPERJ. O evento, organizado peloFórum Permanente de Desenvolvi-mento Estratégico, reuniu no plená-rio da Alerj uma platéia de políticos,empresários, acadêmicos e represen-

tantes de diversas entidades da soci-edade civil. Na Alerj, o titular da pas-ta, Alexandre Cardoso, elogiou a ini-ciativa do debate e defendeu a am-pliação da participação da FAPERJem fundos públicos ou privados quevisem à aplicação de recursos emnovas empresas inovadoras. O pro-jeto de lei será, agora, submetido àAlerj, para votação. A Lei de Inova-ção, que já existe em diversos esta-dos, destina-se a integrar empresas,centros de pesquisa e agências defomento, promovendo, entre outrosbenefícios, o apoio ao processo deinovação em empresas.

Orla Digital ofereceaulas de internet

A tenda do programa Orla Digital,armada no calçadão do Posto Seis,em Copacabana, inicialmente comencerramento previsto para outubro,permanecerá em funcionamento atéfinal de dezembro, para atender àssolicitações de pescadores da colô-nia local, de aposentados e da co-munidade do bairro. Os computa-dores ali instalados continuam à dis-posição dos interessados, gratuita-mente, com monitores para ajudá-los a aprender os fundamentos dainformática. Segundo o secretário deCiência e Tecnologia, Alexandre Car-doso, diariamente, cerca de 270 pes-soas têm utilizado as instalações. “Oprograma Orla Digital – Copacabanafoi desenvolvido por pesquisadoresda Coppe/UFRJ, com recursos fi-nanceiros da FAPERJ, e transfor-mou a Avenida Atlântica na primei-ra pista do Brasil a ter banda larga acéu aberto. É possível todo tipo deacesso. É um sucesso que o Rio deJaneiro está exportando.”

Fundação superarecorde com 29 editais

Após um primeiro ano de gestão emque foram lançados 17 editais, a di-retoria da Fundação encerrará 2008com uma nova marca recorde de 29chamadas, contemplando todas asáreas do conhecimento. Entre os no-vos programas, estão o apoio a gru-pos emergentes de pesquisa; à aquisi-ção de equipamentos de grande por-te; à recuperação da infra-estrutura dehospitais universitários; o estímulo àsáreas de humanidades, engenharias eartes; o incentivo às incubadoras deempresas de base tecnológica; e o es-tudo de soluções para os problemasrelativos ao meio ambiente.

FAPERJIANAS

Pesquisadores debatem projetos na Fundação

Com a presença de cinco contem-plados na modalidade “auxíliobásico” (APQ1), foi realizada emsetembro, na sede da Fundação, aprimeira de uma série de reuniõescom pesquisadores que recebemapoio da FAPERJ para suas pes-quisas e que deverão se tornar re-gulares a partir de 2009. A idéiaé acompanhar de perto o desen-

volvimento dos projetos. “Só as-sim, saberemos se estamos tri-lhando o caminho certo”, disse opresidente Ruy Marques na oca-sião. As reuniões devem atingir to-das as modalidades de apoio, comdestaque para aquelas em que ademanda foi induzida peloseditais lançados desde o início doano de 2007.

Alcílio Vieira, da Pesagro, apresenta os resultados de seu projeto de pesquisa

Foto: Vinicius Zepeda

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Programa que vem merecen-do especial atenção na atualgestão da FAPERJ, o auxílio

“Apoio à Editoração (APQ 3)” vol-tou a apresentar uma demanda cres-cente ao longo de 2008. Com a pro-ximidade do encerramento de maisum ano de atividades, os coordena-

Programa tem ano produtivo em títulos

Poética das árvores urbanasEsta publicação trata sobre o imaginário queenvolve a presença das árvores na cidade. Se-guindo o caminho traçado pela Poética daImaginação de Gaston Bachelard, o livro trazo foco para os significados que as árvores ur-banas têm para os habitantes da cidade, as-sim como para os criadores de paisagens.

Autor: Ivete FarahEditora: Mauad XNúmero de páginas: 236

Juventude, desafiliação eviolênciaEste livro decorre da promoção de açõesque visam a subsidiar a formação de profis-sionais para o trabalho com a juventudedesafiliada e contribuir para a superação doquadro de violência hoje enfrentado noBrasil, bem como se destina a divulgar re-

sultados de pesquisas e estudos nas áreas de Saúde Mental,Psicologia, Justiça, Serviço Social, História e Políticas Públicas.Organização: Ligia Costa Leite, Maria Esther Delgado Leite,Adriana Pedreira BotelhoEditor: Contra CapaNúmero de páginas: 256Organizadores: Américo Freire e Lúcia Lippi OliveiraEditora: FGVNúmero de páginas: 312

Vida sob cercoViolência e rotina nas favelas doRio de Janeiro

Este livro tem por tema geral uma descriçãodos efeitos da violência criminal – real ou es-perada – sobre a sociabilidade ns favelas doRio de Janeiro atual. Seu ponto de partidafoi a dimensão espacial das relações sociais,

pondo em relevo a natureza e os efeitos dos dispositivos queconstituem a segregação territorial.Organizador: Luiz Antonio Machado da SilvaEditora: Nova FronteiraNúmero de páginas: 316

EDITORAÇÃO

dores desse programa já comemo-ram, no início de dezembro, os re-sultados de um balanço parcial donúmero de títulos publicados, indi-cando que o ano, mais uma vez, ter-minará como um dos mais produ-tivos nesse setor para a Fundação.Na primeira semana de dezembro,

o setor contabilizava o lançamentode 79 títulos. O APQ 3 é destinado aapoiar não só a impressão de livros,manuais, números especiais de revis-tas e coletâneas científicas, mas tam-bém de CDs e DVDs. Confira, aseguir, alguns dos títulos publicadosao longo do último semestre.

História, ciências, saúdeManguinhos

A presente edição é a primeira dedicada in-tegralmente a gênero, mulheres e ciências.Com ela, pretende-se conquistar mais inte-ressados no assunto, particularmente entrehistoriadores das ciências, que muito po-dem contribuir para a renovação teórico-

metodológica desse campo no Brasil ao adotarem a perspecti-va de gênero, uma perspectiva que eleva nossa crítica das for-mas de ser e de interpretar o passado.Autores: diversosEditora: GaramondNúmero de páginas: 301

As Memórias da ViscondessaFamília e poder no Brasil Império

O livro reconstrói o dia-a-dia de uma abas-tada família fluminense na segunda metadedo século XIX. Proprietários de fazendasno Vale do Paraíba, o visconde e aviscondessa de Ubá são os personagensprincipais desta narrativa, que revela a for-

ma como boa parte da classe senhorial absorveu, na época doImpério, os hábitos difundidos pela burguesia em ascensãona Europa.Autora: Mariana MuazeEditora: ZAHARNúmero de páginas: 243

Geopolítica e gestão ambientaldo petróleoEste livro deriva de estudos empreendidosdurante os últimos três anos em duas dis-ciplinas de doutorado em petróleo, do Pro-grama de Planejamento Energético daCoppe/UFRJ, a saber: Mercado Internacio-nal de Petróleo e sua Geopolítica e Gestão

Ambiental na Indústria do Petróleo.Organização: Alexandre Salem SzkloEditora: InterciênciaApoio: Faperj / CoppeNúmero de páginas: 424

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CIÊNCIA & TECNOLOGIA