19513-75244-1-pb

13
112 CÓDIGO DE CONDUTA COMO INSTRUMENTO PARA EDUCAÇÃO EM VALORES DE JOVENS UNIVERSITÁRIOS: UM ESTUDO COMPARATIVO * Thereza Carolina Gonçalves VIEIRA Maria Alzira de Almeida PIMENTA Resumo: Pode o ambiente de ensino, influenciar a formação em valores? Tendo como ponto de partida, não somente a existência, mas, principalmente, a persistência de um dos maiores problemas da atualidade, na área da educação o comportamento antissocial dos estudantes universitários o presente estudo investigou se a existência e manutenção de um código de conduta nas universidades poderia figurar como uma nova forma de tratar a questão da educação em valores, como um instrumento educativo que proporcione a vivência cotidiana e rotineira dos valores. Dessa forma, o estudo consistiu num levantamento, descrição e análise comparativa de duas instituições de ensino superior que já utilizam, em seu cotidiano escolar, um código de ética: a Universidade de São Paulo (USP) e o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Como referencial teórico, foram eleitos os filósofos e autores cujos pensamentos possuem convergência entre ética, disciplina e educação como, Savater (2002), Moretto (2007), Araújo (2007), Puig (2007), Schulz (2008), Bombino (2009) e Dalarosa (2009). Palavras-chave: Formação em Valores; Comportamento; Código de conduta; Ética; Educação CODE OF CONDUCT AS AN INSTRUMENT FOR EDUCATION IN VALUES OF YOUNG UNIVERSITY: A COMPARATIVE STUDY Abstract: Can the teaching environment influence the values formation? Taking as the starting- point, not only the existence, but mainly the persistence of one of the biggest problems of our time in education the antisocial behavior of college students the present study investigated if the existence and maintenance of a code of conduct at universities could figure as a new way to address the question of values education as an educational tool that delivers the daily life and routine of values. Thus, the study consisted of a survey, description and comparative analysis of two universities that already use in their everyday school life, a code of ethics: the University of São Paulo (USP) and the Aeronautics Technological Institute (ITA). As theoretical reference were elected philosophers and authors whose thoughts have convergence between ethics, discipline and education as, Savater (2002), Moretto (2007), Araújo (2007), Puig (2007), Schulz (2008), Bombino (2009) e Dalarosa (2009). * Esse artigo é um resumo de uma pesquisa maior realizada para a dissertação do Mestrado em Educação da Universidade de Uberaba (8ª Turma/2012). Mestranda do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade de Uberaba (UNIUBE). Email: [email protected] Professora Doutora, do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Uberaba (UNIUBE). Email: [email protected]

Upload: leal-gilberto-leal

Post on 09-Nov-2015

3 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

codigo de conduta

TRANSCRIPT

  • 112

    CDIGO DE CONDUTA COMO INSTRUMENTO PARA EDUCAO EM VALORES DE

    JOVENS UNIVERSITRIOS: UM ESTUDO COMPARATIVO*

    Thereza Carolina Gonalves VIEIRA

    Maria Alzira de Almeida PIMENTA

    Resumo: Pode o ambiente de ensino, influenciar a formao em valores? Tendo como ponto de

    partida, no somente a existncia, mas, principalmente, a persistncia de um dos maiores problemas

    da atualidade, na rea da educao o comportamento antissocial dos estudantes universitrios o presente estudo investigou se a existncia e manuteno de um cdigo de conduta nas universidades

    poderia figurar como uma nova forma de tratar a questo da educao em valores, como um

    instrumento educativo que proporcione a vivncia cotidiana e rotineira dos valores. Dessa forma, o

    estudo consistiu num levantamento, descrio e anlise comparativa de duas instituies de ensino

    superior que j utilizam, em seu cotidiano escolar, um cdigo de tica: a Universidade de So Paulo

    (USP) e o Instituto Tecnolgico de Aeronutica (ITA). Como referencial terico, foram eleitos os

    filsofos e autores cujos pensamentos possuem convergncia entre tica, disciplina e educao

    como, Savater (2002), Moretto (2007), Arajo (2007), Puig (2007), Schulz (2008), Bombino (2009)

    e Dalarosa (2009).

    Palavras-chave: Formao em Valores; Comportamento; Cdigo de conduta; tica; Educao

    CODE OF CONDUCT AS AN INSTRUMENT FOR EDUCATION IN VALUES OF YOUNG

    UNIVERSITY: A COMPARATIVE STUDY

    Abstract: Can the teaching environment influence the values formation? Taking as the starting-

    point, not only the existence, but mainly the persistence of one of the biggest problems of our time

    in education the antisocial behavior of college students the present study investigated if the existence and maintenance of a code of conduct at universities could figure as a new way to address

    the question of values education as an educational tool that delivers the daily life and routine of

    values. Thus, the study consisted of a survey, description and comparative analysis of two

    universities that already use in their everyday school life, a code of ethics: the University of So

    Paulo (USP) and the Aeronautics Technological Institute (ITA). As theoretical reference were

    elected philosophers and authors whose thoughts have convergence between ethics, discipline and

    education as, Savater (2002), Moretto (2007), Arajo (2007), Puig (2007), Schulz (2008), Bombino

    (2009) e Dalarosa (2009).

    * Esse artigo um resumo de uma pesquisa maior realizada para a dissertao do Mestrado em Educao da

    Universidade de Uberaba (8 Turma/2012). Mestranda do Programa de Ps-graduao em Educao da Universidade de Uberaba (UNIUBE). Email:

    [email protected] Professora Doutora, do Programa de Ps-Graduao em Educao da Universidade de Uberaba (UNIUBE). Email:

    [email protected]

  • 113

    Keywords: Values Formation; Behavior; Code of conduct; Ethics; Education

    Introduo

    A presente pesquisa teve como ponto de partida, no somente a existncia, mas,

    principalmente, a persistncia de um dos maiores problemas da atualidade, na rea da educao: o

    comportamento antissocial dos estudantes universitrios.

    Por comportamento antissocial, em Gouveia (2009) encontramos diversos outros autores que

    tambm j investigaram sobre esse tipo de comportamento e a dificuldade encontrada por eles para

    a definio do termo, tanto que, a falta de uma definio clara e universalmente aceita constitui-se

    atualmente um problema para os pesquisadores ligados ao estudo dos comportamentos desviantes

    (LUENGO et al., 1999 apud GOUVEIA, 2009). Dentre os termos e seus aspectos investigados,

    nesse estudo de Gouveia (2009) encontramos que, delinquncia juvenil*, comportamento

    delinquente, comportamento anti-social

    e comportamento disruptivo

    so utilizados algumas

    vezes como sinnimos e, em outras, com significados completamente distintos. Tambm em

    Pimentel, Gouveia e Vasconcelos (2005) temos que, o comportamento anti-social pode ser

    entendido como qualquer comportamento que fere as normas grupais (anti-social, no sentido estrito)

    e as normas jurdicas (delitivo).

    Sendo assim, para fazer referncia aos comportamentos que ferem as normas estabelecidas

    para o convvio em sociedade e dificultam a criao e manuteno de um ambiente de

    aprendizagem, optou-se, na presente pesquisa, por utilizar a expresso comportamento antissocial.

    Ao observar-se o cotidiano de uma universidade e, tambm, com base no que as notcias e

    pesquisas da rea mostram hoje, o que verifica-se que os jovens, mesmo os que cursam uma

    universidade, apresentam um comportamento cada vez mais delitivo e antissocial, comportamento

    esse que vai contra a vocao de uma universidade que, alm de promover as pesquisas e a

    expanso do conhecimento, tem tambm, como dever, estar comprometida com a construo de

    uma sociedade mais justa e igualitria.

    * (Tate, Reppucci, & Mulvey, 1995 apud GOUVEIA, 2009).

    (Davalos, Chavez, & Guardiola, 2005 apud GOUVEIA, 2009).

    (Romero, Sobral, Luengo, & Marzoa, 2001 apud GOUVEIA, 2009).

    (American Psychiatric Association, 1994 e Loeber, Burke, Lahey, Winters, & Zera, 2000, ambos citados por

    GOUVEIA, 2009).

  • 114

    Em funo disso, surgiu o seguinte questionamento: pode o ambiente de ensino influenciar a

    formao em valores dos estudantes universitrios? A partir dessa reflexo, decidimos por

    investigar se a existncia e manuteno de um cdigo de conduta poderia figurar como uma nova

    forma de tratar a questo da educao em valores, como um instrumento educativo que proporcione

    essa vivncia cotidiana e rotineira dos valores, pelos estudantes universitrios, de forma a promover

    as relaes existentes no ambiente acadmico, alcanando, dessa forma, a formao do estudante

    em todas as suas facetas: profissional e humana.

    Assim, as razes que motivaram a presente pesquisa foram, de ordem aplicada, com o

    objetivo de refletir sobre a importncia, no s do ensino, mas, principalmente da vivncia de

    valores como a tica, a cidadania, democracia e justia no espao acadmico de uma instituio de

    ensino superior.

    Como objetivo geral, investigou-se de que maneira a existncia de um cdigo de conduta

    poderia contribuir para a formao tica, moral, formao de valores e princpios em jovens

    universitrios, transformado-os em hbito.

    Para tanto, os objetivos previstos foram de: levantar a produo bibliogrfica e documental

    existente, relacionada ao tema e problema da pesquisa; identificar e examinar os fundamentos e

    pressupostos nos quais foram embasados os cdigos de conduta universitrios j existentes,

    analisar como alguns valores como a tica, a moral, cidadania, justia, respeito e responsabilidade

    foram abordados e tratados nesses documentos e, por fim, analisar a quem se destina tais

    documentos.

    A relevncia da pesquisa diz respeito ao fato que, segundo Andr (2009), em relao ao

    mundo da educao e seus personagens educandos e educadores muitos estudos foram

    produzidos nos ltimos anos sobre os professores da educao infantil, da educao bsica ou

    mesmo da educao superior, suas opinies, representaes de seus saberes e prticas, com o

    objetivo de conhecer de perto quem esse professor e o cotidiano de seu trabalho de forma a pensar

    as melhores formas de atuao na busca de uma educao de qualidade para todos. No obstante,

    pouco se tem produzido ou mesmo discutido acerca de outro tema tambm de igual valor e

    relevncia nesse meio: a questo do cotidiano, do ambiente da educao superior nas universidades

    com foco no comportamento de seus alunos.

  • 115

    O tema da pesquisa

    necessrio questionar se a natureza da universidade no deva trazer a questo da tica,

    necessariamente e inerentemente, no apenas como tema da ementa de determinadas disciplinas do

    campo filosfico, mas, tambm, imbricada em suas aes e ambiente escolar. Ora, reflitamos: se a

    universidade tem por misso formar homens de cultura, profissionais e tcnicos com competncia,

    viso crtica e perspectiva humanstica, a tica envolve toda essa concepo (WANDERLEY,

    2006, p.62). Dessa forma, a tica deve fazer parte de todas as relaes dos membros que fazem

    parte da universidade, mesmo porque

    Nas comunidades acadmicas, todas as relaes entre os membros dos diferentes

    segmentos docentes, discentes e funcionrios exigem uma base tica. Todas as instncias acadmicas e administrativas devem ser efetivamente democrticas e

    orientadas pela tica (WANDERLEY, 2006, p. 62).

    Contrariando essa misso de formao humana das universidades, as notcias dos jornais

    mostram uma grande quantidade de jovens universitrios envolvidos com o mundo do crime. Como

    recentemente**

    noticiado, sobre a priso de sete jovens, entre 18 e 21 anos, que, alm de estudarem

    em faculdades e universidades de renome, em uma das maiores cidades do pas (So Paulo),

    tambm faziam estgio em escritrios de grandes empresas. Na poca dessa reportagem, outros

    nove jovens ainda estavam sendo procurados pela polcia, acusados de igualmente fazerem parte

    dessa mesma quadrilha. Descontando a linguagem jornalstica, observa-se no texto do Jornal O

    Estado de S. Paulo, que esses jovens pareciam ter uma vida tpica de estudantes, pois que,

    De dia, eram vistos como universitrios estudiosos, faziam estgio em escritrios

    de grandes empresas e mantinham uma vida acima de qualquer suspeita. noite,

    praticavam sequestros relmpagos no Brooklin

    , na zona sul da capital paulista.

    Esse o perfil de uma quadrilha que a polcia prendeu, acusada de praticar mais de

    40 sequestros naquela regio neste ano (HADDAD, 2012).

    Nessa mesma reportagem, o jornal trouxe tambm uma entrevista com um especialista do

    Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clnicas da Universidade de So Paulo (USP), Dr. Ivan

    **

    Fato ocorrido em julho de 2012.

    O Brooklin um bairro nobre da cidade de So Paulo. Atualmente conhecido por ser um dos bairros mais

    valorizados da cidade, com grandes conjuntos empresariais e uma agitada vida noturna.

  • 116

    Mario Braun, cuja opinio que a ao de jovens de classe mdia no mundo do crime deve ser

    tratada como uma questo social, no psicolgica, apontando a distoro dos valores sociais como

    o grande culpado pela proliferao desse tipo de comportamento observado atualmente nos jovens,

    muitos deles, de classe mdia alta e estudantes universitrios. O especialista afirma ainda, que, de

    modo geral

    [...] podemos dizer que essas quadrilhas de classe mdia existem por causa de

    certos valores sociais, que mudaram muito de um tempo para c. Os valores da

    sociedade esto direcionados para o dinheiro. [...] preciso avaliar quais foram os valores

    nos quais esses jovens foram educados, quais foram as questes psicolgicas,

    sociais, familiares. Esse tipo de situao tem mais uma causa sociolgica do que

    psiquitrica (BRAUN, 2012 apud NUNES, 2012).

    E referente questo de se avaliar quais foram os valores nos quais esses jovens criminosos

    foram educados, como nos asseveram Pimenta e Pimenta (2011), mesmo concordando que a

    formao moral acontece, prioritariamente, na infncia e adolescncia, a educao superior tambm

    pode, contribuir ou, em alguns casos, ainda defini-la.

    Transformar essa discusso sobre educao em valores, em aes concretas no cotidiano de

    uma instituio de ensino superior no tarefa fcil, mesmo porque demanda um grande esforo de

    cada um dos envolvidos nesse ambiente alunos, professores e funcionrios. Assim, questionamos

    se no seria melhor que a comunidade acadmica em sua completude educadores, coordenadores,

    funcionrios, diretores e alunos tivesse um cdigo de conduta que servisse como guia das aes

    cotidianas auxiliando a promover o resgate do ambiente dessa convivncia. O cdigo de conduta

    poderia figurar como um dos trs tipos de aes necessrias para a criao de um ambiente tico na

    escola, apontadas em um dos estudos de Arajo (2007, p. 61), sendo a introduo de sistemticas

    que visam a melhoria e democratizao das relaes interpessoais no dia-a-dia da escola.

    Dessa forma, a vivncia da tica cotidianamente pelos estudantes universitrios por meio de

    um cdigo de conduta, teria o objetivo final de promover as relaes existentes no mbito de uma

    universidade, dos alunos com seus pares e dos alunos com os demais membros da escola,

    alcanando com isso, que tal prtica transforme-se em hbito, costume, e, finalmente, a fazer parte

    da formao do indivduo.

  • 117

    Alguns objetivos intermedirios tambm seriam alcanados ao tratarmos de tica, moral e

    valores com os estudantes por meio de um cdigo de conduta: provocar reflexes sobre seu

    comportamento na vida pessoal extensiva sua futura vida profissional, de forma a contribuir para a

    formao integral do ser humano e seu importante papel como cidado; desvelar, em nossa

    sociedade, o conceito de tica; desenvolver nos estudantes o senso crtico sobre a consequncia de

    suas prprias atitudes e, tambm, das atitudes de cada um; discutir com os estudantes as

    implicaes da falta de tica no dia-a-dia da escola, da cidade, do pas e do mundo; confrontar os

    estudantes com dilemas para praticar a tomada de deciso tica e, instigar uma reflexo nos

    estudantes, sobre o futuro deles como profissional e como cidado compromissado com a

    construo de uma sociedade mais justa e tica.

    Metodologia

    Essa pesquisa teve uma abordagem qualitativa de carter exploratrio tendo como

    instrumento o levantamento de dados em documentos disponibilizados estritamente no meio virtual

    (online).

    Inicialmente foi realizada uma reviso de literatura, a fim de situar em que ponto estavam as

    discusses (e se elas existiam), referente formao tica no cotidiano de uma instituio de

    educao superior.

    Referente ao mtodo utilizado, trabalhou-se com a anlise comparativa de duas instituies

    de ensino superior que utilizam, em seu cotidiano escolar, um cdigo de tica: a Universidade de

    So Paulo (USP) e o Instituto Tecnolgico de Aeronutica (ITA).

    O presente estudo partiu de algumas questes que a investigao pretendeu responder: como

    os valores como a tica, a moral, cidadania, justia, respeito e responsabilidade foram tratados em

    tais cdigos? Quais foram os fundamentos e os pressupostos nos quais foram embasados esses

    documentos? Em que contexto tais cdigos foram criados? Como feita a divulgao da existncia

    do cdigo na comunidade acadmica?

    Pesquisas foram realizadas tendo como indicadores de busca algumas palavras-chaves

    como: cdigo, cdigo de tica, cdigo de conduta, comportamento, educao superior, educao em

    valores, ambiente acadmico, conduta, tica, moral e valores. As fontes privilegiadas foram artigos

    em peridicos, textos apresentados em eventos cientficos, dissertaes e teses j defendidas, e

  • 118

    instituies de ensino superior, considerando a no somente as Universidades, mas, tambm, os

    Centros de Ensino Tcnico, e as Faculdades.

    Alguns bancos de dados online como o Scientific Electronic Library Online (SCIELO), a

    Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES), a Biblioteca Digital

    Banco de Teses e Dissertaes da USP foram utilizados nessa busca inicial.

    Referente s pesquisas sobre o tema, existncia e aplicao de cdigos de conduta (ou tica)

    em instituies de ensino superior, ao utilizar-se a palavra-chave cdigo, isolada e, tambm

    associada conduta ou tica, essas buscas nos trouxeram as seguintes informaes:

    - um dos mais antigos cdigos de conduta j escritos pelo homem data de 1700 a.C. Trata-se

    do Cdigo de Hamurabi

    . Este um dos exemplos mais bem preservados deste tipo de documento.

    um monumento talhado em rocha o qual dispe sobre regras e punies para eventos da vida

    cotidiana (O CDIGO, 2007);

    - o resultado mais encontrado foram os cdigos de tica das classes profissionais. exemplo

    temos: Cdigo de tica do Advogado, do Mdico, do Engenheiro, dentre outros;

    - poucas so as instituies de ensino superior que utilizam uma espcie de regulamento

    interno como Cdigo de tica ou de Conduta. As encontradas foram: Universidade de So Paulo

    (USP), Instituto Tecnolgico de Aeronutica (ITA), Centros Federais de Educao Tecnolgica

    (CEFETs), Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), Universidade do Grande Rio

    Professor Jos de Souza Herdy (UNIGRANRIO), Universidade de Braslia (UnB), Massachusetts

    Institute of Technology (MIT)

    , Universidade da Madeira***

    , Universidade Tcnica de Lisboa,

    dentre outras.

    Ressalta-se que, nos sites pesquisados (banco de dados online), no foi encontrada nenhuma

    pesquisa, estudo ou mesmo artigo escrito que abordasse a temtica do presente estudo: cdigo de

    conduta como instrumento para educao em valores na educao superior.

    O Cdigo de Hamurabi um conjunto de leis (282 no total) criadas na Mesopotmia, por volta do sculo XVIII a.C,

    pelo rei Hamurabi da primeira dinastia babilnica. Suas leis foram talhadas numa rocha de diorito e dispem sobre

    regras e punies para eventos da vida cotidiana. Tinha como objetivo principal unificar o reino atravs de um cdigo

    de leis comuns. Para isso, Hamurabi mandou espalhar cpias deste cdigo em vrias regies do reino. As leis

    apresentam punies para o no cumprimento das regras estabelecidas em vrias reas como, por exemplo, relaes

    familiares, comrcio, construo civil, agricultura, pecuria, etc (O CDIGO, 2007).

    O Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) um centro universitrio de educao e pesquisa privado

    localizado em Cambridge, Massachusetts, nos Estados Unidos). ***

    Portugal.

  • 119

    Sobre o carter dessa pesquisa (exploratria) a mesma teve como objetivo maior

    proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torn-lo mais explcito ou a

    constituir hipteses (GIL, 2009). E o fato de no ter sido encontrado nenhum estudo anterior, que

    abordasse o cdigo de conduta como instrumento para educao em valores na educao superior,

    justifica seu carter exploratrio.

    Os motivos da escolha das duas instituies (a USP e o ITA) para essa pesquisa, se deram

    pelo carter diverso tanto da natureza e origem dessas escolas quanto dos documentos encontrados

    nessas duas instituies.

    A USP a maior universidade pblica brasileira, bem como uma das universidades mais

    prestigiadas do pas. uma das maiores instituies de ensino superior na Amrica Latina, com

    aproximadamente 89.000 alunos matriculados, a USP oferece um total de 615 cursos em todas as

    reas do conhecimento (entre graduao e ps-graduao)

    .

    Redigido em 2001, o Cdigo de tica da USP, alm de estabelecer princpios gerais e criar

    normas especficas em relao aos diferentes membros da universidade (servidores, servidores

    docentes, servidores no-docentes e corpo discente) tambm cita normas de conduta em relao s

    Fundaes, aos Convnios, pesquisa, s publicaes, ao uso do nome da universidade e ao registro

    de dados e informtica.

    Quanto ao ITA, apesar de tambm ser uma instituio pblica de ensino superior, devido ao

    fato de ser ligada ao Comando da Aeronutica, uma instituio de carter militar onde estudam

    cerca de 2.500 alunos (3% do total de estudantes da USP). Criado em 1950, o ITA foi concebido

    nos moldes das universidades norte-americanas. Possui apenas seis cursos de graduao e quatro

    programas de ps-graduao em reas ligadas unicamente engenharia, principalmente no setor

    Aeroespacial, sendo considerado o mais renomado centro de referncia no ensino de engenharia do

    pas, com elevado prestgio, reputao e notoriedade no somente por seus cursos, mas, tambm,

    por seu carter disciplinar. Seu Cdigo de tica, ou de Honra, como inicialmente concebido,

    conhecido pelo nome Disciplina Consciente o qual, apesar de ser comparvel a um cdigo de

    tica dos estudantes, suas normas no se encontram escritas ou mesmo relacionadas em nenhum

    documento. Elas so entendidas de forma subjetiva como um dos valores da Instituio. Consiste,

    ento, mais do que uma lista de princpios ou de regras, mas, antes, na adoo de um postura, que se

    pretende tica, no processo de formao profissional no ITA (DIVISO, [200-?]).

    Dados: MANUAL (2012).

  • 120

    Dessa forma, o presente estudo consistiu num levantamento, descrio e anlise dos

    documentos encontrados que tratam da normatizao do comportamento dos discentes no mbito

    das duas instituies de ensino superior pesquisadas.

    Quanto ao referencial terico, muitos foram os autores e filsofos estudados. Os eleitos

    foram os autores cujos pensamentos possuem convergncia entre tica, disciplina e educao como

    Charlot (2000), Savater (2002), Kohlberg (2006), Moretto (2007), Arajo (2007), Puig (2007),

    Schulz (2008), Bombino (2009) e Dalarosa (2009). Em Aristteles, Rousseau (1995), Kant (1996) e

    Vazquez (2001) buscamos auxlio quanto s definies dos conceitos como tica e moral,

    apresentados e defendidos em nosso trabalho.

    O que a anlise revelou

    Consideramos que as duas propostas, o Cdigo de tica da USP e a Disciplina Consciente

    do ITA, diferem pela forma e funo. Enquanto o primeiro, um documento em que encontramos,

    de forma expressa, as normas disciplinares e de conduta, o segundo, no se trata de um documento,

    mas, de um sistema, um modo de vida dos estudantes. Sendo assim, o Cdigo de tica da USP

    prev o que fazer em caso de aes ilcitas acontecerem no mbito da universidade, funcionando

    como um documento para consulta em caso de necessidade de um respaldo legal para se aplicar

    certas penalidades previstas., Na Disciplina Consciente do ITA, o que se objetiva que os

    estudantes visualizem e incorporem uma conduta adequada ao ambiente acadmico, propiciando,

    dessa forma, a socializao, favorecendo a aprendizagem. Como respaldo, seu Regime Disciplinar

    prev os encaminhamentos para os problemas de comportamento.

    Dessa forma, temos na prtica da Disciplina Consciente, a moral autnoma de Piaget, pois

    que, consiste em "fazer o certo" por se acreditar que essa a melhor forma de se viver em

    comunidade. A moral autnoma a noo do Bem, de um ideal, de um valor desejvel dos quais

    so derivados os deveres (PIAGET, 1932, apud LA TAILLE, 2008). Entendemos que a DC

    educa, enquanto o Cdigo de tica apenas corrige, pune. Sutil, mas, valorosssima diferena!

    A anlise dos documentos mostrou ainda que, a vivncia diria de valores, cria um esprito,

    uma atitude frente vida acadmica e, tambm, vida pessoal dos estudantes, estabelecendo, dessa

    forma: uma relao de confiana recproca, do estudante para o professor e vice-versa; estabelece

    Disciplina Consciente

  • 121

    declaradamente um padro de honestidade, responsabilidade e postura crtica acadmicas; faz com

    que os casos de improbidade escolar, nas suas variadas formas, diminuam consideravelmente;

    referente aos contratos pedaggicos, esses, podem at ser objetos de negociao, mas a partir do

    momento que so definidos, so honrados colaborando inclusive, para que a avaliao seja baseada

    no mrito; cria um ambiente saudvel de honestidade e responsabilidade compartilhada e, por fim,

    torna-se um marco de excelncia acadmica (ADADE FILHO, 2010).

    Dessa forma, podemos observar que a utilizao de um cdigo de conduta como instrumento

    educativo pode, sim, proporcionar essa vivncia cotidiana e rotineira dos valores. Pois, para a

    criao de um ambiente tico na escola, faz-se necessrio a consolidao de formas, sistemas com o

    objetivo de melhorar a democratizao das relaes entre as pessoas no cotidiano da escola

    (ARAJO, 2007).

    Vale ressaltar que preciso ter cuidado para que o cdigo no seja tratado como simples

    palavrrio moral, repetindo conceitos e definies j gastas pelas disciplinas filosficas, quando a

    norma que impera no ambiente acadmico o tratamento desrespeitoso entre as pessoas. H que se

    cultivar a coerncia entre a teoria, os princpios que se elege e a prtica diria.

    Consideramos que dois aspectos emergem, ainda, da anlise suscitada pela pesquisa. O

    primeiro diz respeito a nomenclatura usada para esse, que acreditamos ser um instrumento de

    formao em valores: o cdigo de conduta. E, ao apresent-lo, defendemos a forma como referi-lo.

    Essa opo reporta-se premissa de que a tica, sendo a reflexo sobre a moral (VAZQUEZ, 2012),

    abstrata o que demanda a objetivao (definio) de valores e de comportamentos necessrios e

    desejveis. A objetivao aconteceria se a partir da reflexo (tica) se definir condutas a serem

    construdas. Portanto, defendemos que o instrumento a ser criado, nas IES, seja tratado, nomeado de

    Cdigo de Conduta.

    O segundo aspecto, relacionado ao anterior, defendermos que ele funcione, a exemplo da

    DC do ITA, como um sistema articulado e incorporado a todas as dimenses da vida acadmica.

    Para tanto, sua articulao e incorporao vida acadmica precisa ocorrer a partir da compreenso

    de que h comportamentos que nos convm e outros no (SAVATER, 2002, p. 76).

  • 122

    Consideraes Finais

    Nesse contexto, considera-se que, mais educativo do que se ter uma lista de princpios ou de

    regras expressas em algum documento para ser consultado quando necessrio, indispensvel a

    adoo de uma postura tica no processo de formao do estudante de forma com que, todos os

    integrantes da comunidade acadmica sejam responsveis pela harmonia e integridade acadmica

    do ambiente. E justamente na ordem que no imposta, mas, antes, que aceita de livre e

    espontnea vontade, por consentimento, que consiste uma educao em valores.

    Consideramos ento, que, para um cdigo de conduta estimular mudanas de

    comportamentos ticos, so necessrias as seguintes providncias:

    - a universidade deve comunicar, participar e trabalhar cotidianamente os princpios de seu

    cdigo de conduta, a todos membros da sua comunidade fazendo com que se torne vivo e atuante e,

    - cobrar, continuamente e sistematicamente comportamentos ticos de seus membros,

    fazendo assim, com que o comportamento adotado no ambiente acadmico, torne-se costume e

    hbito.

    Assim temos que, se as normas e regras expressas em um cdigo moral (de tica ou de

    conduta) no forem praticadas e vivenciadas cotidiana e rotineiramente, o cdigo torna-se letra

    morta, no passando de um texto, um documento o qual deve ser apenas consultado quando

    problemas de convivncia surgirem. A no vivncia de suas normas, faz, tambm, com que no seja

    debatido tornando-o esttico e apenas mais um documento pro forma.

    Sendo uma das finalidades da educao a formao do ser humano, seguir algumas normas e

    princpios bsicos para a boa convivncia na micro-sociedade que uma universidade no

    importando se essas estejam relacionadas em algum cdigo de tica ou que sejam entendidas e

    cultivadas de forma subjetiva pela comunidade acadmica faz-se necessrio e at obrigatrio.

    Cabe refletir que, na vivncia diria e cotidiana de normas, regras, valores e princpios

    talvez resida a verdadeira chave para se conseguir alcanar um ambiente de boa convivncia social

    como algo habitual, costumeiro e normal para o estudante.

    Entendemos que a educao acontece em vrios ambientes e tempos, de muitas formas e

    conduzida por vrias pessoas. E, por isso, possvel pensar que nas IES tambm ocorra a educao

    em valores. Assim, a vivncia diria de valores expressos em um cdigo de conduta, auxiliaria, e

  • 123

    muito, na fixao desses, at que o agir de forma refletiva e com base em valores socialmente

    desejveis, se torne um costume ou mesmo um hbito para os estudantes contribuindo dessa forma,

    para a formao de cidados ticos, conscientes e responsveis de seus atos.

    Referncias

    ADADE FILHO, A. Disciplina Consciente. So Jos dos Campos: ITA, 2010. 47 diapositivos,

    color. Disponvel em: < http://www.pro-

    grad.ita.br/textos_e_apresentacoes/Disciplina_Consciente_-_2010.pdf>. Acesso em: 18 jan. 2012.

    ANDR, M. E. D. A. A produo acadmica sobre formao de professores: um estudo

    comparativo das dissertaes e teses defendidas nos anos 1990 e 2000. Formao Docente. Revista

    Brasileira de Pesquisa sobre Formao de Professores. v. 01 , n. 01, ago/dez. 2009. Disponvel

    em: . Acesso em: 23 jun. 2011.

    ARAJO, U. F. A Construo Social e Psicolgica dos Valores. In: ARANTES, V. A. (Org.).

    Educao e Valores. So Paulo: Summus, 2007. p. 17 64.

    BOMBINO, L. R. L. Una reflexin sobre moralidad y valores. In: BOMBINO, L. R. L.;

    VSQUEZ, A. de A.; PORTO, M. E. Por uma Nueva tica. La Habana: Flix Varela, 2009. p.189

    228.

    DALAROSA, A. . tica, Educao e Cidadania: Qual educao? Para qual cidadania? 2009.

    Disponvel em: . Acesso em:

    05 jul. 2011.

    DIVISO de Alunos. [Desenvolvida pelo Instituto Tecnolgico de Aeronutica], [200-?].

    Disponibiliza informaes sobre a Diviso de Alunos do ITA. Disponvel em:

    . Acesso em: 18 maio. 2012.

    GIL, A. C. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4. ed. 12. Impresso. So Paulo: Atlas, 2009,

    176p.

    GOUVEIA, V. V. et al. Questionrio de comportamentos anti-sociais e delitivos: evidncias

    psicomtricas de uma verso reduzida. Psicologia: Reflexo e Crtica. Porto Alegre, v. 22, p. 20-

    28, 2009. Disponvel em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-

    79722009000100004>. Acesso em: 23 jun. 2011.

    HADDAD, C. Universitrios de classe mdia so presos por sequestros relmpagos no Brooklin. O

    Estado de S. Paulo, So Paulo, 31 jul. 2012. Cidades. Disponvel em:

    . Acesso em: 13 ago. 2012.

    LA TAILLE, Y. de. A questo da indisciplina: tica, virtudes e educao. In: DEMO, P.; LA

    TAILLE, Y. de; HOFFMANN, J. Grandes Pensadores em Educao: O desafio da aprendizagem,

    da formao moral e da avaliao. 4ed. Porto Alegre: Mediao, 2008. p. 67 98.

  • 124

    MANUAL do Calouro 2012. 23. ed. So Paulo: Coordenadoria de Comunicao Social da USP,

    fev. 2012. 126 p. Disponvel em: . Acesso

    em: 02 abr. 2012.

    MORETTO, P. V. Avaliao da Aprendizagem: uma relao tica. Encontro Temtico

    Regionalizado 2007. [S.l.]: Exponte, 2007. Disponvel em:

    . Acesso em: 12 jul. 2011.

    NUNES, F. Especialista culpa falta de valores sociais por crime. O Estado de S. Paulo, So Paulo, 31 jul. 2012. Cidades. Disponvel em: <

    http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,especialista-culpa-falta-de-valores-sociais-por-crime-

    ,908312,0.htm>. Acesso em: 13 ago. 2012.

    O CDIGO de Hamurabi. Revista Histria Viva, Rio de Janeiro, n. 50, dez. 2007.

    PIMENTA, M. A. de A.; PIMENTA, S. Fraude em Avaliaes de aprendizagens: Estudo

    Comparativo entre o Nordeste e o Sudeste do Brasil. Anais do IV Congreso Nacional y III

    Encuentro Internacional de Estudios Comparados en Educacin. Buenos Aires, 2011.

    Disponvel em: . Acesso em: 04 jan. 2012.

    PIMENTEL, C. E.; GOUVEIA, V. V.; VASCONCELOS, T. C. Preferncia musical, atitudes e

    comportamentos anti-sociais entre estudantes adolescentes: um estudo correlacional. Estudos de

    Psicologia. Campinas, [online]. 2005, v. 22, n. 4, p. 403-413. ISSN 0103-166X.a

    PUIG, J. M. Aprender a Viver. In: ARANTES, V. A. (Org.). Educao e Valores. So Paulo:

    Summus, 2007. p. 65 106.

    SAVATER, F. tica para meu filho. Traduo de Monica Stahel. 2 ed. So Paulo: Martins Fontes,

    2002. 176p.

    SCHULZ, A. tica e Gesto Educacional. Campinas: Alnea, 2008. 127p.

    VAZQUEZ, A. S. tica. Traduo de Joo Dell Anna. 33 ed. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2012. 304p.

    WANDERLEY, L. E. W. tica e Universidade. PUCVIVA, So Paulo, ano 7, n. 27, p. 62-66,

    jul/set. 2006. Disponvel em: . Acesso em: 22

    maio 2012.