19-dois veículos, uma quinta

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Quinta da Confusão – O nascimento de um império 137 da Quinta da Confusão encontraram um marco que delimitava a fronteira entre os distritos de Vila Real e Bragança. Os animais sabiam que estavam no distrito de Bragança, pelo que tinham noção de que estavam a entrar no distrito de Vila Real. Quem saberia se esse distrito teria alguma mina de ferro inexplorada, para ser ocupada pela Quinta da Confusão. Os animais seguiram em frente, sempre observando o terreno à sua volta em busca de alguma gruta ou buraco. A 2,5 km da quinta de origem os animais encontraram por fim aquilo que procuravam: uma mina de ferro. Mas não da forma que esperavam. Quando os animais se deram conta, estavam perante uma larga abertura no chão, com uma rampa de terra que descia para o seu interior (os mineiros da Mina de Ferro da Quinta da Confusão usavam uma corda para entrarem e saírem da mina, porque a entrada era vertical). Ao pé da abertura haviam troncos onde estavam presos cavalos atrelados a carroças, possivelmente os dos mineiros. Uma placa ao pé da entrada da mina, escrita através de instrumentos pontiagudos, dizia «Mina de Ferro da Quinta da Perfeição». Sulcos e marcas de cascos na neve iam da mina até a uma quinta que se via muito ao fundo, a uma distância que os animais calcularam ser de 500 metros. Na quinta, quase imperceptíveis de tão longe que estavam, estavam três edifícios, um deles a deitar fumo do tecto. Era a Quinta da Perfeição, a quinta descoberta pelos 5 animais. Os animais não sabiam como reagiriam os habitantes da Quinta da Perfeição se fossem descobertos, pelo que preferiram não dar a entender as suas origens. Amarraram as rédeas dos cavalos aos troncos que estavam a entrada da mina e entraram lá dentro. Candeeiros de ferro e de um material que os animais perceberam ser vidro, aquilo que havia nas janelas dos donos, iluminavam o interior da mina, onde vários mineiros trabalhavam escavando a terra com as patas. A entrada da mina era um átrio quadrado com alguns metros de lado, por onde saíam 5 túneis com alguns metros de comprimento. Um ia para a frente, 2 para os lados e os restantes dois para trás, descendo de nível. Em toda a mina havia animais a trabalhar, escavando a terra com as patas. No átrio troncos escoravam o tecto para não abater, sendo que a superfície não estava a mais de 2,5 metros do chão do átrio, metade da profundidade da Mina de Ferro da Quinta da Confusão. A mina não era em nada semelhante à da Quinta da Confusão, que consistia num único túnel largo iluminado por tochas e pelos altos-fornos (naquela mina não se via nem um) que trabalhavam sem parar. Tentando não provocar desconfianças, os 5 animais andaram de túnel em túnel, constatando que todos eles não tinham mais de 10 a 15 metros de comprimento. Escolheram um dos túneis que desciam de nível para trabalhar. Entraram nesse túnel, desceram a rampa que os levava aos 5 metros de profundidade e fixaram-se num local do túnel para escavar. Mas a sua verdadeira intenção era ouvir as conversas dos mineiros, para ouvirem alguma coisa que os informasse sobre a Quinta da Perfeição. Pelo

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Páginas 137 a 144

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Quinta da Confusão – O nascimento de um império

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da Quinta da Confusão encontraram um marco que delimitava a fronteira entre os distritos de Vila Real e Bragança. Os animais sabiam que estavam no distrito de Bragança, pelo que tinham noção de que estavam a entrar no distrito de Vila Real. Quem saberia se esse distrito teria alguma mina de ferro inexplorada, para ser ocupada pela Quinta da Confusão. Os animais seguiram em frente, sempre observando o terreno à sua volta em busca de alguma gruta ou buraco. A 2,5 km da quinta de origem os animais encontraram por fim aquilo que procuravam: uma mina de ferro. Mas não da forma que esperavam. Quando os animais se deram conta, estavam perante uma larga abertura no chão, com uma rampa de terra que descia para o seu interior (os mineiros da Mina de Ferro da Quinta da Confusão usavam uma corda para entrarem e saírem da mina, porque a entrada era vertical). Ao pé da abertura haviam troncos onde estavam presos cavalos atrelados a carroças, possivelmente os dos mineiros. Uma placa ao pé da entrada da mina, escrita através de instrumentos pontiagudos, dizia «Mina de Ferro da Quinta da Perfeição». Sulcos e marcas de cascos na neve iam da mina até a uma quinta que se via muito ao fundo, a uma distância que os animais calcularam ser de 500 metros. Na quinta, quase imperceptíveis de tão longe que estavam, estavam três edifícios, um deles a deitar fumo do tecto. Era a Quinta da Perfeição, a quinta descoberta pelos 5 animais.

Os animais não sabiam como reagiriam os habitantes da Quinta da Perfeição se fossem descobertos, pelo que preferiram não dar a entender as suas origens. Amarraram as rédeas dos cavalos aos troncos que estavam a entrada da mina e entraram lá dentro. Candeeiros de ferro e de um material que os animais perceberam ser vidro, aquilo que havia nas janelas dos donos, iluminavam o interior da mina, onde vários mineiros trabalhavam escavando a terra com as patas. A entrada da mina era um átrio quadrado com alguns metros de lado, por onde saíam 5 túneis com alguns metros de comprimento. Um ia para a frente, 2 para os lados e os restantes dois para trás, descendo de nível. Em toda a mina havia animais a trabalhar, escavando a terra com as patas. No átrio troncos escoravam o tecto para não abater, sendo que a superfície não estava a mais de 2,5 metros do chão do átrio, metade da profundidade da Mina de Ferro da Quinta da Confusão. A mina não era em nada semelhante à da Quinta da Confusão, que consistia num único túnel largo iluminado por tochas e pelos altos-fornos (naquela mina não se via nem um) que trabalhavam sem parar. Tentando não provocar desconfianças, os 5 animais andaram de túnel em túnel, constatando que todos eles não tinham mais de 10 a 15 metros de comprimento. Escolheram um dos túneis que desciam de nível para trabalhar. Entraram nesse túnel, desceram a rampa que os levava aos 5 metros de profundidade e fixaram-se num local do túnel para escavar. Mas a sua verdadeira intenção era ouvir as conversas dos mineiros, para ouvirem alguma coisa que os informasse sobre a Quinta da Perfeição. Pelo

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que ouviram, a Quinta da Perfeição tinha um presidente, o porco 56, que fora eleito presidente pelos animais da quinta no Dia 4 após ter financiado a construção da primeira indústria da Quinta da Perfeição, a da madeira. Os animais não sabiam, até aí, o que era uma indústria, mas pelo que perceberam era um local onde se produzia um determinado produto em larga escala. A Quinta da Perfeição tinha três indústrias: a da madeira, a das armas e a dos minérios. Aquela mina pertencia à indústria dos minérios, e todos os mineiros que lá estavam eram trabalhadores da empresa. Os animais também ouviram que todas as 3 indústrias tinham máquinas a vapor, mas eles ficaram sem saber o que era isso.

Quando os 5 animais acharam que já tinham obtido informações suficientes sobre a Quinta da Perfeição, tentaram sair da mina sem despertar suspeitas. Um a um, regressaram ao exterior, pegaram nos cavalos e regressaram à Quinta da Confusão. Mas houve um mineiro que desconfiara deles desde tinham chegado ao túnel onde fingiram trabalhar. Os 5 animais pareciam demasiado atentos às conversas dos outros mineiros, e conversavam entre si num tom baixo sem dirigirem a palavra a mais ninguém como se partilhassem segredos. Depois, tinham-se ido embora pouco depois de aparecerem e sem uma única pedra de minério de ferro. O mineiro esperou algum tempo antes de também sair da mina, para ver onde estariam os 5 animais. Quando o fez, chegou ao exterior a tempo de ver os animais a afastarem-se a galope, na direcção oposta à da Quinta da Perfeição e da indústria dos minérios. As marcas dos cascos na neve demonstraram ao mineiro que eles tinham chegado até ali pelo caminho que seguiam agora, prova de que eles eram habitantes de outra quinta que não a Quinta da Perfeição. O mineiro não sabia se os animais tinham chegado ali por acaso ou se tinham ido espiar ao serviço do seu presidente (o mineiro não sabia que a Quinta da Confusão não tinha presidente), pelo que decidiu ir informar o presidente da Quinta da Perfeição, o porco 56, da situação. Ao contrário dos animais da Quinta da Confusão e da Quinta da Perfeição, o presidente dessa última quinta tinha uma casa fixa. A feira da Quinta da Perfeição funcionava no rés-do-chão do celeiro, e a casa do presidente era no andar de cima dessa construção. O celeiro estava no centro da quinta, pelo que o presidente podia abrir a janela da sua casa e observar a quinta que governava a 5 metros do chão. O mineiro foi então ao celeiro falar com o presidente, e explicou-lhe o que vira. O animal não duvidou do que o mineiro disse, pois sempre achara que algures haveriam outras quintas com animais racionais. Então, pagou ao mineiro para, ao seu serviço, seguir as marcas dos cavalos dos 5 animais que descobriram a Quinta da Perfeição e encontrar a sua quinta de origem. O animal aceitou, e partiu a galope para este. Ao fim de 3 km deparou-se com a Quinta da Confusão, e voltou para trás para informar o porco 56. Essa espionagem era

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só a primeira de outras que a Quinta da Confusão sofreria nessa tarde, pois ele interessou-se pela quinta e foi-lhe enviando mais espiões.

Um animal encontrou, a sul da Quinta da Confusão, uma porção de areia junto à ribeira e decidiu ir recolhê-la. Usou uma escada para saltar a cerca, e recolheu alguma areia com um balde. Mas ele não sabia o que fazer com a areia, e então entregou-a a um cientista fabricante de instrumentos para a analisar. O cientista não conseguiu encontrar nada de interessante ao observar a areia, então despejou o balde no seu alto-forno, encheu-o de lenha e acendeu-o. Ao fim de algum tempo, a areia fundiu-se e escorreu para um molde de argila posto na outra ponta do forno. Quando a areia solidificou, o cientista viu que se transformara numa substância transparente, o vidro. Inventava-se assim o vidro, o material que os donos tinham nas suas janelas. Com o modo de fabrico do vidro descoberto o cientista pôde criar janelas, que também eram uma nova invenção, fazendo novos moldes e despejando o vidro derretido lá para dentro. Quando o vidro arrefecia era só tirá-lo do molde e pô-lo no caixilho da janela. A feira e a Casa da Moeda compraram janelas para pôr nos espaços das paredes que faziam de janelas, à frente das portadas de madeira. A feira encarregou-se também de comprar e instalar as janelas para o abrigo nocturno. Mas, fora isso, não havia nenhuma aplicação para as janelas. Foi então que o cientista se lembrou de criar um novo tipo de veículo, sem semelhança com as carroças, que incluísse janelas. Projectou o veículo e, com a ajuda do animal que encontrara a areia, que era madeireiro, construiu a primeira carruagem da Quinta da Confusão.

Índice de Tecnologia:

Militar -1 (escudos de árvore) Transportes-5 (Aéreos-0) (Marítimos -2) (barco a remos de Modelo 1 e de Modelo 2) (Terrestres-3) (carroça de 2 rodas, carroça de 4 rodas, carruagem) Civil -16 (arado, foice, madeira, caixa de madeira, ferro, pregos, balde, escada, botijas de ar, machado, banheira, canalizações, corda, argola de couro, vidro, janela) Construções-5 (estufas, abrigo nocturno, Casa da Moeda, feira, altos-fornos)

A carruagem era um veículo com 4 rodas de raios, rodeadas por ferro para prevenir o desgaste e eventuais danos, o que por si só já era uma inovação (as rodas das carroças eram pedaços maciços de madeira). A carroçaria era um paralelepípedo de madeira fechado, com 2 janelas e 1 porta de cada lado. Tinha uma pequena plataforma à frente para o condutor

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e um acompanhante guiarem os cavalos, que deveriam ser 4. Dentro da carruagem havia duas tábuas de madeira suficientemente largas para servirem de banco, forradas a couro cozido com tiras finas também de couro e com mais couro no interior para tornar os assentos mais confortáveis. A carruagem tinha espaço para ao todo 8 animais: 2 na plataforma do condutor e mais 6 dentro do veículo. Outra inovação do veículo era ter uma suspensão de tiras de couro, que tornavam mais confortáveis as viagens. Vazia, a carruagem podia atingir 60 km\h se os cavalos fossem a todo o galope, mas com mais carga a velocidade máxima era menor tal como nas carroças.

Ilustração 17 – Carruagem usada pelos serviços postais dos Estados Unidos no século

XIX, parecida com a carruagem inventada na Quinta da Confusão

Mas a verdadeira intenção do cientista ao criar a carruagem foi criar também um local onde os animais pudessem guardar as suas coisas e dormir sem os apertos do abrigo nocturno, e ainda assim resguardados dentro da carroçaria da carruagem. Como seria de esperar, a Quinta da Confusão recebeu muito bem o veículo. Vários animais acorreram para comprar o veículo que também servia de casa móvel. Outros, no entanto, acharam que não valia a pena gastarem dinheiro (a carruagem era, de todos os veículos da Quinta da Confusão, o mais caro de todos eles) a comprar a carruagem, porque o número de coisas que tinham não o justificava. Além disso, o abrigo nocturno iria estar tão vazio nessa noite que não haveria qualquer aperto no seu interior. Alguns dos animais que compraram a

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carruagem decidiram vender a sua carroça, outros acharam que a carroça era um veículo mais prático para transportar quantidades normais de mercadorias e mantiveram-na. De qualquer forma, a carruagem teve sucesso na feira.

17:00

Duas horas e meia após a partida do Grupo de Oposição ao Touro, os animais do norte da Quinta da Confusão viram chegar uma carroça à quinta, com 5 animais a bordo. Tratava-se desse grupo, que regressava após supostamente ter ido a Bragança e entregue o touro ao mercado ou ao matadouro. Mas como teriam ido à cidade e regressado de carroça em menos de 3 horas, se a cidade ficava tão longe (os animais não tinham a noção exacta da distância, mas na realidade eram cerca de 105 km. Logo, a carroça teria que ir a 84 km\h para ir da Quinta da Confusão a Bragança e voltar em 2 horas e meia)? Os animais do Grupo de Oposição ao Touro explicaram tudo quando chegaram à Quinta da Confusão:

«Cerca de 1 hora depois de partirmos daqui alcançámos Carrazeda de Ansiães. A partir daí não sabíamos para onde seguir, teríamos que nos guiar pela sinalização das estradas. Encontrámos uma seta a dizer «Bragança», então seguimos pela rua que a seta apontava. Nessa rua fomos abordados por um polícia que nos pediu que o seguíssemos até à esquadra. O que teríamos feito para termos que ir à esquadra da polícia? Explicaram-nos a razão dentro do edifício. O touro, o que capturámos ao fim de 4 horas de árdua luta, era a causa de nos terem mandado ir à esquadra. Questionámos os polícias acerca de como o touro tinha aparecido nesta quinta, pois nunca apareceu por cá tal animal. E eles disseram-nos tudo o que queríamos saber. Resume-se no seguinte: hoje estava previsto haver uma corrida de touros no Porto. Não nos disseram o que era isso, apenas que era um desporto que envolvia touros. Os touros que entrariam nesse evento viriam de várias ganadarias, que são locais dedicados à criação desses animais. Houve uma ganadaria ao pé de Bragança que se ofereceu para entregar o seu melhor touro ao evento. A participação desse touro seria considerada o ponto alto do evento: ele era o maior, o mais forte e o mais bravo de todos os touros que iriam participar no evento. Esse touro foi o que entrou na Quinta da Confusão ontem.

Como é que ele veio cá ter se estava em Bragança, tão longe daqui? Para levar o touro ao Porto a ganadaria tinha um motorista. Era um motorista que estava ali há pouco tempo, ainda não tinha muita experiência. O antigo reformara-se, pelo que tiveram que contratar o actual. O touro foi posto num atrelado preso a um carro, e o motorista levou-o para o Porto. No entanto, o carro tinha pouco combustível e o motorista saiu da estrada

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principal em busca de alguma bomba de gasolina. Acabou por encontrá-la, mas quando tentou voltar para trás perdeu-se. O motorista recorda-se de ter entrado em Carrazeda de Ansiães e depois seguido para este por alguns km, até ter encostado para ver onde estava com a ajuda de um mapa. Voltou para trás, mas quando entrou em Carrazeda de Ansiães foi mandado parar pela polícia para lhe dizerem que tinha o atrelado aberto. Pelo que o motorista calculou, o touro tinha fugido possivelmente quando tinha encostado porque o atrelado não estava bem fechado. Aliás, o motorista confessou só ter fechado metade das coisas que trancavam a porta do atrelado porque já estava atrasado, e achou serem suficientes para manter o touro no atrelado. Não o foram, e o touro deve ter vagueado perdido pelos campos até chegar à Quinta da Confusão. O resto fomos nós a dizer aos polícias. Mas a história ainda não acabou. Os polícias acharam que nós devíamos ir ao veterinário para tratarmos dos golpes, e quando fomos à clínica veterinária ele pôs-nos nas feridas produtos que nunca chegámos a saber o que eram. Segundo o veterinário, daqui a alguns dias estaremos bons. O dono da ganadaria apareceu entretanto para levar o seu touro, juntamente com o motorista que causara toda esta situação. Ouvimos o patrão do motorista a ralhar-se pelos seus actos, que classificou como «irresponsáveis», a partir das janelas da clínica veterinária. Devido a este incidente a corrida de touros foi adiada para 8 de Janeiro, daqui a 2 dias, e como o veterinário disse que o touro devia descansar nos dias seguintes o dono da ganadaria decidiu enviar outros dois touros que tinha para a corrida de touros. Não ouvimos mais nada, porque o veterinário deixou-nos sair e decidimos regressar à Quinta da Confusão. O touro já tinha sido posto no atrelado, pelo que pudemos subir para a carroça e deixar Carrazeda de Ansiães».

Com o touro entregue à ganadaria proprietária do animal, o Grupo de Oposição ao Touro dissolveu-se e os seus membros foram trabalhar. Terminava assim a III Guerra dos Animais, a guerra mais longa até ao momento da Quinta da Confusão, sem qualquer vítima.

III Guerra dos Animais – 1 dia e 3 horas (0 vítimas)

Importa dizer que o dono da ganadaria e do touro que provocara a III Guerra dos Animais compensara os animais pelos estragos que o seu animal fizera. Antes de o Grupo de Oposição ao Touro partir de Carrazeda de Ansiães, o dono da ganadaria pagara aos 5 animais 50.000 euros para serem distribuídos pelos animais da Quinta da Confusão afectados. Incluindo eles os 5 o total era de 50 animais, pelo que cada um recebeu 1.000 euros. Assim tudo ficou bem, e os animais regressaram então para os seus trabalhos.

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Um cientista achou que a evolução dos veículos na Quinta da Confusão estava a criá-los cada vez maiores, mais pesados e menos práticos para uso habitual, e decidiu contrariar essa tendência. O animal, quando os donos abriam a porta da garagem, via lá dentro veículos que pareciam exactamente aquilo que procurava nesse momento. O problema foi que os donos tinham trancado todas as portas e janelas da casa quando se foram embora, e não se via maneira de lá entrar. Parecia, no entanto, haver uma entrada: a chaminé da lareira. O cientista, quando se deparou com a chaminé, nem pensou duas vezes. Arranjou uma escada, subiu ao telhado e entrou na chaminé, que era grande o suficiente para o animal lá entrar. Apoiando as 4 patas nas paredes o animal conseguiu descer até à lareira, e deu consigo na sala dos donos coberto de fuligem. Nos 55 anos de história da Quinta da Confusão poucos animais tinham entrado na casa dos Gomes, e para o cientista aquela era a primeira vez que ali estava. No entanto, conseguiu orientar-se e alcançou a garagem, onde viu o que queria: as duas velhas bicicletas dos donos, enferrujadas de tanto tempo que estiveram sem uso (a Sociedade de Caça de Carrazeda de Ansiães tinha as suas próprias bicicletas, e eram essas que os donos usavam nas actividades do grupo). O animal trazia consigo um machado e uma tábua de madeira para desenhar a bicicleta, e foi isso que fez. Depois saiu da mesma maneira com que entrou na casa dos donos, e com o desenho da bicicleta conseguiu fabricar uma.

Índice de Tecnologia:

Militar -1 (escudos de árvore) Transportes-6 (Aéreos-0) (Marítimos -2) (barco a remos de Modelo 1 e de Modelo 2) (Terrestres-4) (carroça de 2 rodas, carroça de 4 rodas, carruagem, bicicleta) Civil -16 (arado, foice, madeira, caixa de madeira, ferro, pregos, balde, escada, botijas de ar, machado, banheira, canalizações, corda, argola de couro, vidro, janela) Construções-5 (estufas, abrigo nocturno, Casa da Moeda, feira, altos-fornos)

A bicicleta do cientista era semelhante às dos donos: tinha rodas de raios rodeadas de ferro para prevenir o desgaste e possíveis danos; uma corrente e pedais em ferro; um selim forrado a couro da mesma forma do que os bancos das carruagens e o resto da estrutura em madeira. Não precisava de cavalos para andar, e se o ciclista fosse bom e desse o seu máximo podia andar tão depressa como um cavalo a galope e com só um animal em cima, cerca de 60 km\h. Tinha dois inconvenientes: não levava carga e não se podia atrelar a carroças ou carruagens. Apesar disso, a

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bicicleta era boa como veículo para simples deslocações, tal como o cavalo. Tal como os outros veículos inventados nesse dia, houve animais que compraram bicicletas e outros que não as compraram. Mas o cavalo seria sempre preciso para puxar carroças e carruagens, pelo que pelo menos por enquanto não desapareceria da Quinta da Confusão.

Não era a primeira vez que o director da Casa da Moeda, a partir do 1º andar da sede da empresa, via animais surgirem do limite oeste da Quinta da Confusão. A notícia da descoberta da Quinta da Perfeição tinha-se espalhado desde que os seus 5 descobridores regressaram da mina de ferro da quinta, e quando esta chegara à Casa da Moeda os empregados do 1º andar viram um animal surgir no limite oeste da Quinta da Confusão. Isso podia não ser considerado suspeito, e o cão que em conjunto com o director da feira liderara a Fuga do Mercado não deu importância ao assunto. Mas o animal foi visto a regressar por onde tinha vindo, e depois apareceu um grupo de 3 animais a cavalo vindos da mesma direcção. Algum tempo depois apareceu outro, e depois de esse se ter ido embora veio outro ainda maior. Agora, às 17 horas, o director da Casa da Moeda via um outro grupo de 5 animais surgir do limite oeste da Quinta da Confusão e dispersar-se no seu interior, sendo a 5ª vez que observava isso. Tanto ele como os empregados não duvidavam de que eram animais da Quinta da Perfeição, e que a atitude deles era demasiado suspeita para serem simples visitantes. Um desses espiões viera até à Casa da Moeda, andando à sua volta e observando-a antes de seguir viagem. Era óbvio que a Quinta da Perfeição estava a preparar algo que envolvia a Quinta da Confusão, e os animais da Casa da Moeda sabiam que podia estar iminente uma invasão. Em vez de serem funcionários a atacar eram animais de uma outra quinta. Por isso, todos estavam preparados para rapidamente fechar a Casa da Moeda, embarcar as coisas da empresa nas carroças à entrada do túnel de fuga e fugir em poucos minutos. Enquanto os invasores tentariam entrar no edifício os empregados da Casa da Moeda atravessariam o túnel que ia para a outra margem da ribeira e fugiriam para a segurança até tudo acalmar. E era exactamente uma invasão que a Quinta da Perfeição estava a preparar. O grupo de 5 espiões que os empregados da Casa da Moeda viram estavam a obter as últimas informações de que a Quinta da Perfeição precisava para invadir e conquistar com segurança a Quinta da Confusão. Tanto quanto sabiam os seus animais sabiam, a quinta tinha armas inferiores às suas e os seus habitantes não desconfiavam de uma invasão (os empregados da Casa da Moeda não tinham sido vistos a observar os espiões). Mas a Casa da Moeda não se calou, e quando os 5 espiões se foram embora os seus empregados espalharam a mensagem da iminência de uma invasão. O que se sucederia a seguir?