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COMENTÁRIO DA PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA A seleção de textos, como não poderia deixar de ser, priorizou a Política como eixo temático. Afinal, 2014 não apenas foi ano de eleição presidencial, como também viu inúmeras manifestações e referências aos 50 anos do golpe militar de 1964. Quanto às fontes, a prova deste ano apresenta uma novidade: contra apenas Ruy Castro, da Folha de S. Paulo, vários colunistas - e não apenas cartunistas, como costumava acontecer - são da Gazeta do Povo (Luis Fernando Verissimo, Cristóvão Tezza, além do nosso professor Daniel de Medeiros). Dentre as questões de Língua, elogie-se a de número 26, que funde Gramática e Literatura contemplando a pontuação nada convencional do único escritor lusófono premiado com o Nobel de Literatura. A temática da linguagem em si foi muito bem abordada, ainda, nas questões sobre a crônica de Cristóvão Tezza. Completando a diversidade de gêneros e temática, um simpático texto explorando a linguagem publicitária. E, como sempre e mais uma vez, lamentamos o pequeno número de questões que realmente analisem fenômenos linguísticos. Entre doze questões, nove delas trabalham leitura e compreensão de textos contra apenas três questões que trazem fenômenos linguísticos (vocabulário, pontuação e adjetivo). Ainda que o ano de 2014 torne difícil que a segunda fase fuja de temas políticos no plano do conteúdo – e entendemos que eles devam mesmo prevalecer -, chamamos a atenção para a possibilidade de ampliação de diversidade de gêneros entre os não contemplados nesta primeira fase (charge, tira, infográficos etc.). 1 PORTUGUÊS

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Page 1: 19 A 30 - PORTUGUES_UFPR_2014.pdf

COMENTÁRIO DA PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA

A seleção de textos, como não poderia deixar de ser, priorizou a Política como eixo temático. Afinal, 2014 nãoapenas foi ano de eleição presidencial, como também viu inúmeras manifestações e referências aos 50 anos do golpemilitar de 1964.

Quanto às fontes, a prova deste ano apresenta uma novidade: contra apenas Ruy Castro, da Folha de S. Paulo,vários colunistas - e não apenas cartunistas, como costumava acontecer - são da Gazeta do Povo (Luis FernandoVerissimo, Cristóvão Tezza, além do nosso professor Daniel de Medeiros).

Dentre as questões de Língua, elogie-se a de número 26, que funde Gramática e Literatura contemplando apontuação nada convencional do único escritor lusófono premiado com o Nobel de Literatura. A temática da linguagem emsi foi muito bem abordada, ainda, nas questões sobre a crônica de Cristóvão Tezza.

Completando a diversidade de gêneros e temática, um simpático texto explorando a linguagem publicitária.

E, como sempre e mais uma vez, lamentamos o pequeno número de questões que realmente analisem fenômenoslinguísticos. Entre doze questões, nove delas trabalham leitura e compreensão de textos contra apenas três questões quetrazem fenômenos linguísticos (vocabulário, pontuação e adjetivo).

Ainda que o ano de 2014 torne difícil que a segunda fase fuja de temas políticos no plano do conteúdo – eentendemos que eles devam mesmo prevalecer -, chamamos a atenção para a possibilidade de ampliação de diversidadede gêneros entre os não contemplados nesta primeira fase (charge, tira, infográficos etc.).

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Resolução:

Item 1: correto – O segundo parágrafo explicita incoerências e falhas da democracia, em um processo que se autodepura.

Item 2: correto – No final do texto, diz-se, literalmente, “...onde, com o poder econômico mandando e desmandando, a ativi-dade política termine parecendo apenas uma pantomima.”

Item 3: errado – No início, afirma-se que as várias alternativas à democracia são “uma pior do que a outra”. O desenvolvi-mento e exemplos deixarão claro, portanto, que não há alternativa melhor à democracia, com todas as singularidades e pro-blemas que a caracterizam.

Item 4: correto – Também no último parágrafo do texto se confirma a correção. Basta ler a passagem “A democracia émelhor. Mesmo que, como no caso do Brasil das alianças esquisitas, os partidos coligados em disputa lembrem uma saladamista, e ninguém saiba ao certo quem representa o quê.”

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Resolução:

O elogio ao colégio eleitoral com apenas um eleitor – o presidente militar que escolhia seu sucessor – é a única passagemque pode ser entendida como marcada por sarcasmo (“zombaria”, “escárnio”, para denotar uma ideia contrária ao que defato levamos em consideração).

Resolução:

“Ascético” significa “austero”, “rígido”, “severo”.“Certeiro” poderia ser equivalente a “objetivo”, “direto”.

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Resolução:

Sem dúvida, o autor, o cronista e biógrafo Ruy Castro, enfatiza “o anacronismo da proposta”, o que pode ser percebido pelotom irônico que tem todo o texto. Além disso, ao listar “itens e pessoas a serem incorporados às reivindicações dos manifes-tantes”, o autor divide esses itens e pessoas em dois grupos, em dois parágrafos, e termina os dois parágrafos de maneirabastante semelhante. O terceiro parágrafo se encerra com “Tudo isso era 1964.” e o quarto parágrafo finda com “Tudo issotambém era 1964.”. O autor age como quem afirma que os tempos eram outros. Com essa repetição ele reitera oanacronismo da proposta.

A alternativa que traz “contemporaneidade da proposta” é naturalmente explicada e invalidada pelo comentário anterior. Asopções que atribuem “sobriedade” e “pertinência” à proposta também são facilmente eliminadas mais uma vez pela ironiapresente em todo o texto. Quanto à atribuição de “insignificância” à proposta, trata-se de inferência falsa visto que o autornão faz uma avaliação valorativa da proposta. Não há a afirmação de que a proposta seja importante ou não.

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Resolução:

1) – A afirmação é perceptivelmente falsa pois não se pode afirmar que as reivindicações de 2014 mobilizam a população.Ainda que se vejam certas semelhanças entre as reivindicações da manifestação de 2014 e as de 1964, não se temnotícia de que um grande segmento da população esteja mobilizado.

2) – Dada a ironia com a qual o autor trata a manifestação denominada “Marcha da família com Deus”, fica patente que oautor não dá importância ao feito e muito menos declara, em qualquer momento, no texto, que essa pauta é importanteem qualquer momento histórico. Para ele, como já foi analisado, a reivindicação é absolutamente anacrônica. Afirma-ção, portanto, falsa.

3) – Ao dizer que “É difícil imaginar um “golpe comunista” em que os aliados são Sarney, Collor, Maluf, Renan Calheiros eoutros. Mas, quando se trata dessa turma, tudo é possível.”, fica claro que a avaliação do autor a respeito desses políti-cos é negativa. Se essa gente é capaz de tudo, esse pessoal não é probo, essa laia não é honesta, essa turma nãopresta. Assim sendo, a afirmação é verdadeira.

4) – A repetição comentada na questão 22 dá conta de que os tempos eram outros - 1964 - e, assim, a manifestação agora éretrocesso. Além disso, o fecho do texto, em que o autor diz não recomendar os militares patenteia o quanto isso é real-mente um retrocesso. O esgarçamento da família, o fim da liberdade e a retirada, de fininho, até de Deus, realmentenão recomendam a manifestação, que é um retrocesso. A afirmação é, portanto, verdadeira.

Resolução:

Realmente essa questão dispensa quaisquer comentários. O tom geral do texto é de ironia. Todas as outras alternativas sãoinconcebíveis.

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Resolução:

O item 2 é claramente equivocado, uma vez que todo o texto se constrói em um percurso que visa a ironizar o modo como adecisão do Congresso foi recebida, segundo diversas perspectivas, interesses e propósitos.

Trata-se, evidentemente, de uma crítica ao teatro criado em torno de uma medida que terá pouco alcance concreto.

A anáfora da expressão “e então” realmente procura criar o efeito progressivo a partir da decisão do Congresso.

A metáfora da cegueira reforça a ideia de alienação e cinismo quanto aos reais problemas da educação brasileira.

O segundo parágrafo é a indicação clara de que o Congresso teria trabalhado segundo os interesses de determinados gru-pos, daí, a necessidade de ter agido de forma diferente, de modo a não deixar brechas na proposta.

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Resolução:

– Por que foi que cegamos?

– Não sei... talvez um dia se chegue a conhecer a razão.

– Queres que te diga o que penso?

– Diz.

– Penso que não cegamos. Penso que estamos cegos. Cegos que veem! Cegos que, vendo, não veem.

Resolução:

1) – “Copacabana Palace” é substantivo pois esse é o verdadeiro nome do estabelecimento hoteleiro e, se nomeia, é subs-tantivo. Por outro lado, pode-se, por exemplo, afirmar que a “Confeitaria Colombo é o Copacabana Palace das confeita-rias” e, assim, “Copacabana Palace” é adjetivo, qualifica a confeitaria. Ou: “O Ritz é o Copacabana Palace de Paris.”:mais uma vez, “Copacabana Palace” funciona como qualificador, é adjetivo. Alternativa, então, verdadeira.

2) – Se se podem contar nos dedos os hotéis no mundo comparáveis ao Copacabana Palace (no máximo 10), claro que existempoucos hotéis no mundo comparáveis ao grande hotel carioca. A afirmação em questão é verdadeira.

3) – Imaginar que o segmento “um Copacabana Palace de Buenos Aires” queira dizer que o Copa abriu filial na capitalargentina seria muito pouco ou nulo poder de leitura. A afirmação é, obviamente, falsa.

4) – “A” Copa (o texto dá o gênero feminino ao Copacabana Palace) acaba de completar 90 anos, mas, segundo o texto,não é uma “old lady”. O hotel tem 90 anos, mas após as reformas está longe de ser uma instituição decrépita e continuamoderno. É naturalmente verdadeira a afirmação.

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Resolução:

Os exemplos todos são de substantivos funcionando como adjetivos, exceto o caso de “paternal” – trata-se de um adjetivorelacionado ao núcleo “ar”.

Resolução:

“Priorizar” e “disponibilizar” não são formas antigas, do tempo de Camões. Com efeito, de acordo com o texto, elasnão terão (o uso do futuro demonstra certa imprecisão temporal - mais ou menos vinte anos) “mais de vinte anos”.

Nada assegura que, na opinião do articulista, a forma analítica seja melhor que a sintética, pois o linguista deixa claroque, nessa evolução natural, já houve a aceitação da forma sintética por parte do falante e até dos dicionaristas.

Sim, “priorizar” é uma forma sintética que substitui a forma analítica “dar prioridade”, assim como “disponibilizar” éuma forma sintética que substitui a forma analítica “tornar disponível”.

Claro que palavras com cerca de vinte anos de idade não são consideradas arcaicas.

Em momento algum, o autor afirma que palavras como “priorizar” ou “disponibilizar” estejam prestes a desaparecer,tenham um fim iminente. Pelo contrário, o linguista Cristóvão Tezza afirma que já estão dicionarizadas.

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Resolução:

1) – Com efeito, a língua sofre alterações com o correr do tempo, mas isso não quer dizer que ela perca expressividade ourecursos. Diz o texto que “A língua não para,...” e, assim, “Piorou a língua? De modo algum. A língua continua inculta ebela, como sempre, como queria o poeta. Ela segue adiante...” A afirmação é, dessa forma, verdadeira.

2) – Segundo o texto, “emprestar do fulano” já faz parte da língua pois o autor diz que “a nova forma já foi para o Houaiss.”. Omesmo aconteceu com “priorizar” e “disponibilizar”, que, embora tenham uma aura tecnocrática, “também já estão noHouaiss.”. Verdadeira a afirmação.

3) – Não, conforme o autor, “Emprestei dinheiro à minha mãe” não é uma construção nova ou inovadora.

4) – Com o trecho “A língua não para, mas seus movimentos nunca são claramente visíveis, assim como jamais consegui-remos ver a grama crescer - súbito, parece que ela já foi trocada por outra.”, Cristóvão Tezza quer dizer que só se per-cebem os novos contornos da língua com um tempo significativo e não de um dia para o outro. Verdadeira a afirmação.

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