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UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE LETRAS
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
O MOSQUITO VECTOR DA MALRIA ANOPHELES ATROPARVUS, VAN THIEL, 1927:
ADEQUABILIDADE DE HABITAT EM PORTUGAL CONTINENTAL E POTENCIAIS
ALTERAES FUTURAS DO SEU ESPAO CLIMTICO
Csar Dinis Santos Capinha
Mestrado em Sistemas de Informao Geogrfica e Modelao Territorial Aplicados ao
Ordenamento
2009
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UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE LETRAS
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
O MOSQUITO VECTOR DA MALRIA ANOPHELES ATROPARVUS, VAN THIEL, 1927:
ADEQUABILIDADE DE HABITAT EM PORTUGAL CONTINENTAL E POTENCIAIS
ALTERAES FUTURAS DO SEU ESPAO CLIMTICO
Csar Dinis Santos Capinha
Mestrado em Sistemas de Informao Geogrfica e Modelao Territorial Aplicados ao
Ordenamento
Dissertao orientada pelo Prof. Doutor Eusbio Reis
2009
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iii
Este trabalho integra-se no projecto: EDEN-Emerging Diseases in an European Changing
Environment (EU grant GOCE-2003-010284 EDEN); (ii) Arbovirus dos mosquitos de Portugal
(POCTI/35775/ESP/2000).
Os contedos desta publicao so da responsabilidade do autor e no reflectem necessariamente a
viso da Comisso Europeia.
Este trabalho utiliza dados fornecidos pelo Community Climate System Model project
(http://www.ccsm.ucar.edu), suportado pelo Directorate for Geosciences of the National Science
Foundation e Office of Biological and Environmental Research of U.S. Department of Energy. A
iniciativa NCAR GIS fornece dados CCSM em formato SIG atravs do portal GIS Climate Change
Scenarios portal (http://www.gisclimatechange.org).
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iv
A todos os que perseguiram os seus sonhos
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v
Resumo
A malria constituiu-se como um dos principais problemas de sade na primeira metade do sc. XX
em Portugal. Actualmente, pese embora no se registem casos endmicos, a ocorrncia constante de
casos importados associados uma possvel capacidade de transmisso dos seus agentes infecciosos
por Anopheles atroparvus, mantm presente a possibilidade de futuras infeces endmicas. Neste
sentido procedeu-se obteno de modelos de distribuio potencial desta espcie vectora para
Portugal Continental. Com base em vrios levantamentos de campo referentes presena de
espcies do complexo Anopheles maculipennis e diversos factores ambientais considerados
influentes na sua distribuio, foram utilizados trs mtodos correlativos distintos. A distribuio
obtida identificou uma elevada adequabilidade da maioria do pas a esta espcie, especialmente nas
reas meridionais e de interior. Identificou-se tambm uma constncia entre a forma de distribuio
da espcie aquando da endemicidade da doena e a sua distribuio actual.
Tambm a influncia das alteraes climticas tida como responsvel por alteraes na forma de
distribuio de espcies vectoras de malria. Com base neste pressuposto uma segunda parte deste
trabalho remeteu-se anlise de eventuais influncias destas alteraes na rea de distribuio de
Anopheles atroparvus, correspondente na sua generalidade ao continente Europeu. Para isso foi
efectuada a calibrao de dois modelos com a distribuio actual da espcie tendo-se aplicado os
parmetros obtidos a variveis representativas de cenrios climticos futuros. Os modelos
alcanados permitiram identificar a chegada de conjugaes climticas distintas das verificadas no
actual nicho da espcie em diversas reas da sua distribuio actual, nomeadamente na Pennsula
Ibrica. Verificou-se ainda, para a totalidade dos cenrios climticos futuros uma subida em latitude
das reas de maior adequabilidade. Estas duas situaes podem implicar futuras alteraes na forma
de distribuio e abundncia da espcie, assim como de outras, suas competidoras, ou sujeitas
alteraes no seu prprio espao climtico.
Palavras-chave: adequabilidade de habitat; Anopheles atroparvus; malria; SIG; modelao
espacial
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vi
Abstract
Malaria was one of the main health problems in the first half of the 20th Century in Mainland
Portugal. Nowadays, although the disease is no longer endemic, the continuous occurrence of
imported cases and the possibility of its transmission by Anopheles atroparvus, presently maintain
the risk of future endemic infections. In this sense habitat suitability models for this species were
made for Mainland Portugal. Using presence-absence data regarding Anopheles maculipennis
species complex and various environmental factors considered influential in their distribution, three
distinct correlative models were calibrated. The achieved distribution identified high suitability
values for the majority of the country, especially southern and interior areas. It was also identified
that habitat suitability for Anopheles atroparvus in the country remains very similar to the one
existing about seven decades ago when malaria was endemic.
Also the influence of climate change is regarded as responsible for changes in the distribution of
disease vectors. Based on this assumption a second part of this work referred to the analysis of
possible influences of these changes in the global distribution of Anopheles artoparvus which
corresponds coarsely to the European continent. To do so two correlative models were calibrated
with the species actual distribution, the achieved parameters were then applied to a set of climate
variables representing several future climate scenarios obtained from a General Circulation Model.
The obtained results showed that several areas of the species current distribution, namely parts of
the Iberian Peninsula, will present climate conditions distinct from the ones found nowadays in its
realized niche. These results also showed a shift of suitability to northern areas. These two
situations may imply future changes in the distribution and abundance of Anopheles atroparvus, as
well as other species, due to changes in their biotic interactions, or in their own climate envelop.
Keywords: habitat suitability; Anopheles atroparvus; malaria; GIS; spatial modeling
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vii
NDICE GERAL
Resumo ........................................................................................................................................... v
Abstract ........................................................................................................................................ vi
ndice geral ................................................................................................................................... vii
ndice de quadros ......................................................................................................................... viii
ndice de figuras............................................................................................................................. ix
Lista de abreviaturas ....................................................................................................................... x
Agradecimentos ............................................................................................................................. xi
CAPTULO 1 O MOSQUITO ANOPHELES ATROPARVUS NA TRANSMISSO DE MALRIA E
OUTROS ARBOVIRUS ................................................................................................................. 1
1.1. Consideraes gerais............................................................................................................ 2
1.2. Os mosquitos do gnero Anopheles e a transmisso da malria ............................................ 4
1.3. Vectores da malria no Continente Europeu ......................................................................... 4
1.4. Vectores da malria em Portugal .......................................................................................... 6
1.5. Anopheles atroparvus como vector de outras doenas .......................................................... 7
CAPTULO 2 A ADEQUABILIDADE DE HABITAT PARA ANOPHELES ATROPARVUS EM
PORTUGAL CONTINENTAL ....................................................................................................... 8
2.1. Introduo ........................................................................................................................... 9
2.2. Breve referncia modelao da distribuio de espcies .................................................. 10
2.3. Dados e mtodos ................................................................................................................ 11
2.3.1. Dados de abundncia e distribuio da espcie em Portugal Continental ..................... 11
2.3.2. Factores ambientais .................................................................................................... 13
a) As variveis independentes na modelao da distribuio de espcies .......................... 13
b) Preferncias e condicionantes ecolgicas de Anopheles atroparvus ............................. 14
c) Seleco das variveis independentes .......................................................................... 15
Temperaturas extremas mdias ................................................................................... 16
Precipitao anual mdia ............................................................................................ 16
ndice de disponibilidade e adequabilidade de zonas hmidas ..................................... 17
ndice de disponibilidade e adequabilidade de uso de solo agrcola ............................. 18
d) Anlise das relaes entre variveis independentes ...................................................... 18
2.3.3. Mtodos estatsticos de integrao da informao ....................................................... 19
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viii
a) Distncia de Mahalanobis ........................................................................................... 20
b) Regresso logstica binria .......................................................................................... 21
c) Redes neuronais artificiais ........................................................................................... 22
2.3.4. Calibrao dos modelos preditivos ............................................................................. 24
a) Modelao com recurso distncia de Mahalanobis .................................................... 25
b) Modelao com recurso regresso logstica binria ................................................... 26
c) Modelao com recurso a rede neuronal artificial ........................................................ 27
2.3.5. Validao de resultados .............................................................................................. 30
2.4. Discusso de resultados e concluses ................................................................................. 32
CAPTULO 3 ESPAO CLIMTICO DE ANOPHELES ATROPARVUS E POTENCIAIS
ALTERAES EM CENRIOS CLIMTICOS FUTUROS NO CONTINENTE EUROPEU .... 38
3.1. Introduo ......................................................................................................................... 39
3.2. Breve referncia modelao de espaos climticos futuros .............................................. 40
3.3. Dados e mtodos ................................................................................................................ 41
3.3.1. Registos de distribuio da espcie ............................................................................. 41
3.3.2. Informao climtica e variveis independentes. ........................................................ 43
3.3.3. Mtodos estatsticos para calibrao ........................................................................... 46
a) Calibrao com recurso regresso logstica binria.................................................... 46
b) Calibrao com recurso a redes neuronais artificiais .................................................... 47
3.3.4. Validao de resultados .............................................................................................. 48
3.4. Discusso de resultados e concluses ................................................................................. 52
CAPTULO 4 CONSIDERAES FINAIS .............................................................................. 59
Referncias bibliogrficas..................................................................................................................62
NDICE DE QUADROS
Quadro I Matriz de coeficientes de correlaes de Pearson das variveis independentes. ............ 19
Quadro II Estatsticas descritivas simples dos modelos da distncia de Mahalanobis. ................. 26
Quadro III Testes de Hosmer-Lemeshow e percentagem de classificaes correctas para os
modelos de regresso logstica. ..................................................................................................... 27
Quadro IV Mnimos erros quadrticos mdios e percentagem de classificaes correctas para os
modelos de redes neuronais artificiais. .......................................................................................... 29
Quadro V Valor de ndice kappa para cada limite de adequabilidade, por mtodo de modelao. 32
Quadro VI Parmetros obtidos pelo modelo da regresso logstica binria. ................................. 34
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ix
Quadro VII Valores de kappa entre a anterior distribuio de malria e modelos de adequabilidade
de habitat actual. ........................................................................................................................... 37
Quadro VIII Sntese do contexto socio-econmico subjacente a cada cenrio climtico para o sc.
XXI do modelo CCSM-3. ............................................................................................................. 44
Quadro IX Testes de Hosmer-Lemeshow e percentagem de classificaes correctas para os
modelos de regresso logstica. ..................................................................................................... 47
Quadro X Mnimo erro quadrtico mdio alcanado e percentagem de classificaes correctas
para os modelos de redes neuronais artificiais. .............................................................................. 48
Quadro XI Resultados de significncia estatstica do teste binomial unilateral para classificaes
correctas........................................................................................................................................ 52
Quadro XII Parmetros estatsticos e atributos espaciais bsicos dos modelos de adequabilidade.57
NDICE DE FIGURAS
Figura 1 Presenas e ausncias de Anopheles atroparvus em Portugal Continental ..................... 13
Figura 2 Expresso grfica generalizada da funo logstica ....................................................... 22
Figura 3 Modelo genrico do tipo perceptro mltipla camada ................................................... 23
Figura 4 Adequabilidade de habitat para Anopheles atroparvus com base na distncia de
Mahalanobis.................................................................................................................................. 25
Figura 5 Adequabilidade de habitat para Anopheles atroparvus com base na regresso logstica
binria ........................................................................................................................................... 27
Figura 6 Adequabilidade de habitat para Anopheles atroparvus com base em redes neuronais
artificiais ....................................................................................................................................... 29
Figura 7 Combinao de modelos binrios de adequabilidade ................................................... 36
Figura 8 Registos de Anopheles atroparvus considerados para modelao .................................. 42
Figura 9 Estimativas de anomalia de temperatura global superfcie, para cada um dos cenrios
futuros do modelo CCSM-3 .......................................................................................................... 44
Figura 10 Relao do desempenho por rea para o modelo de regresso logstica binria ........... 50
Figura 11 Relao do desempenho por rea para o modelo derivado de rede neuronal artificial .. 50
Figura 12 Modelo de espao climtico actual para Anopheles atroparvus ................................... 53
Figura 13 Espaos climticos de Anopheles atroparvus com base em cenrios climticos futuros
para o perodo 2040 - 2070 ............................................................................................................ 56
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x
Lista de abreviaturas
AMAM rea Mnima de Adequabilidade Mxima
CCC Climate Change Commitment CCSM-3 Community Climate System Model 3
D2 Distncia de Mahalanobis
DDT Dicloro-Difenil-Tricloroetano D.P. Desvio padro
EDEN Emerging Diseases in a changing European eNvironment
EQM Erro quadrtico mdio
GEE Gases de efeito de estufa H-L Hosmer-Lemeshow
IHMT Instituto de Higiene e Medicina Tropical
IPCC International Panel for Climate Change ndice kappa L Limite de adequabilidade
NCAR The National Centre for Atmospheric Research
PIB Produto Interno Bruto Q1 Quartil 1
Q3 Quartil 3
r Coeficiente de correlao de Pearson RAD Relao rea por Desempenho
RLB Regresso Logstica Binria
RNA Rede Neuronal Artificial
SIG Sistemas de Informao Geogrfica WHO World Health Organization
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xi
Agradecimentos
Gostaria de agradecer a todos que colaboraram directa ou indirectamente neste trabalho,
nomeadamente:
ao meu orientador Professor Dr. Eusbio Reis pela disponibilidade em me conduzir
nesta tarefa. A sua orientao e enorme rigor cientfico contriburam em muito para a
elevao da qualidade deste trabalho.
ao Dr. Jorge Rocha pela sua incomum prontido em ajudar. Agradeo ainda a sua
crtica cientfica, debate de ideias e sobretudo a grande amizade.
ao Dr. Eduardo Jonas Gomes pelas vrias semanas a debater ideias em volta deste
projecto, na enorme ajuda na preparao dos dados e pelas mltiplas e valiosas
sugestes que deu.
Dra Carla Sousa e ao Dr. Paulo Almeida do Instituto de Higiene e Medicina
Tropical pela sua enorme prestabilidade ao longo do todo o percurso deste trabalho.
Sem toda a informao que disponibilizaram e pronta disponibilidade no
esclarecimento de dvidas, este trabalho no teria sido possvel realizar. Agradeo
ainda particularmente Dra. Carla Sousa a sua valiosa reviso a este documento.
minha famlia e amigos pelo pouco tempo que lhes reservei durante esta fase.
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CAPTULO 1 O MOSQUITO ANOPHELES ATROPARVUS NA
TRANSMISSO DE MALRIA E OUTROS ARBOVIRUS
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1.1. Consideraes gerais
A malria, tambm conhecida em Portugal como paludismo ou sezonismo, um dos principais
problemas globais de sade, sendo responsvel por um a trs milhes de mortes todos os anos
(Muturi et al., 2008). A infeco com malria corresponde entrada no organismo humano de um
protozorio do gnero Plasmodium. Esta entrada veiculada por insectos designados como vectores
da doena e que correspondem a algumas espcies de mosquitos.
Portugal conheceu elevadas taxas de incidncia da doena at aos finais da primeira metade do sc.
XX. Porm nas dcadas recentes o nmero de casos endmicos tem sido nulo, tendo o ltimo
ocorrido em 1975 (Antunes et al., 1987). Para este territrio so actualmente conhecidas cinco
espcies potenciais transmissoras da doena. No entanto, no perodo em que a malria era
endmica, apenas uma espcie de mosquito foi indicada como vectora: Anopheles atroparvus Van
Theil, 1927 (Diptera, Culicidae) (Cambournac, 1942). Esta apresenta uma distribuio europeia,
constituindo-se ainda hoje como uma das espcies de mosquito mais comum e abundante em
Portugal (Ribeiro et al., 1988). A ocorrncia constante de casos de malria importada, nas ltimas
dcadas em Portugal, associada possvel capacidade de transmisso dos seus agentes infecciosos
por Anopheles atroparvus (Sousa, 2008), mantm presente a possibilidade de ocorrncia de futuras
infeces endmicas.
A distribuio de Anopheles atropavus em Portugal tem sido alvo de vrios estudos. No entanto,
no ainda conhecida para este uma representao espacialmente contnua da sua distribuio. Esta
informao pode constituir-se como uma mais-valia na luta contra a doena, uma vez que o controlo
de vectores tem sido utilizado comummente como estratgia de controlo da malria (Muturi et al.,
2008). Estes modelos podem, assim, funcionar como base de avaliao da probabilidade de infeco
do vector, na elaborao de cartas de risco para as populaes humanas em caso de futuros surtos
(Moffett et al., 2007), na investigao de dinmicas espcio-temporais de An. atroparvus, ou no
aprofundamento do estudo das relaes que esta espcie estabelece com o meio.
Tambm as previstas alteraes climticas futuras (IPCC, 2007) so tidas como influentes na
distribuio da doena, actuando a vrios nveis. Destes destacam-se as potenciais alteraes na
forma de distribuio e abundncia dos seus vectores (Martens et al., 1999), como os mais
relacionados com a temtica deste trabalho. A inexistncia de vectores da doena tem uma relao
directa com a sua ausncia, sendo que, para locais onde estes ocorrem, os seus valores de
abundncia podem constituir-se como um importante factor a influir na capacidade vectorial destes.
Estudos recentes referem a chegada de malria em locais onde esta tem estado ausente, como
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3
resultado de redistribuies de vectores associados s alteraes climticas (e.g. Patz e Olson,
2006). Embora a relao da malria com o clima seja bastante mais complexa do que a que diz
respeito unicamente distribuio dos seus vectores, esta sem dvida uma varivel importante no
processo e altamente relacionada com variaes neste (Kuhn et al., 2002). Aspectos comummente
referidos, como a subida das espcies em latitude para fazer frente s alteraes climticas
(Martinez-Meyer, 2005), podem implicar situaes como a adequabilidade do Continente Europeu a
espcies tipicamente norte-africanas. Compreende-se desta forma a importncia da realizao de
estudos relativos forma como alteraes climticas futuras podero influir na distribuio de
populaes de vectores de malria. Embora a modelao de espaos climticos futuros constitua
apenas uma primeira abordagem a esta problemtica, , no entanto, das melhores possibilidades at
agora disponveis para este tipo de investigaes (Pearson e Dawson, 2003).
Esta dissertao composta por dois trabalhos de investigao relativos distribuio da espcie
An. atroparvus. A primeira parte incide na obteno de um modelo de distribuio potencial desta
espcie para Portugal Continental, com base em levantamentos de distribuio j efectuados. Esta
informao integrada com um conjunto de factores ambientais considerados influentes na
distribuio da espcie, com recurso a trs modelos correlativos distintos: a distncia de
Mahalanobis, a regresso logstica binria e as redes neuronais artificiais. Os resultados de cada um
so explorados e validados, sendo posteriormente efectuada a caracterizao da distribuio
potencial de An. atroparvus para Portugal continental, com base no modelo de melhor desempenho
preditivo, e na sua conjugao com os restantes. Por fim estes modelos so comparados com a
distribuio espacial da malria aquando da sua endemicidade.
A segunda parte remete-se explorao dos efeitos que potenciais alteraes climticas futuras
colocam na distribuio de An. atroparvus atravs da modelao de espaos climticos. A elevada
incerteza associada a este tipo de trabalhos, conjuntamente com o reduzido detalhe espacial da
informao climtica referente a cenrios climticos futuros, levou adopo da totalidade da rea
de distribuio conhecida para a espcie. Esta, que corresponde na sua generalidade ao Continente
Europeu, permite assim incluir todo o espectro de variao climtica conhecida para a espcie,
diminuindo a incerteza dos resultados obtidos.
utilizada informao climtica de um Modelo de Circulao Global, referente ao perodo de
2040-2070, sendo utilizados aqui dois modelos correlativos para a integrao da informao, a
regresso logstica binria e as redes neuronais artificiais. Para a validao dos modelos resultantes
apenas de dados de presena, proposto um novo mtodo, que relaciona a rea compreendida no
modelo com o desempenho preditivo, por limite de adequabilidade. Os resultados obtidos so
posteriormente explorados e analisados luz das limitaes inerentes a este tipo de modelos.
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1.2. Os mosquitos do gnero Anopheles e a transmisso da malria
A malria humana causada por quatro espcies de protozorios do gnero Plasmodium:
Plasmodium falciparum Welch, 1897, que apresenta a maior taxa de mortalidade; Plasmodium
vivax Grassi & Feletti, 1890; Plasmodium malariae Laveran, 1881 e Plasmodium ovale Stephens,
1922. A entrada destes parasitas no corpo humano efectuada atravs da picada das fmeas de
alguns mosquitos do gnero Anopheles estando os parasitas inteiramente dependentes destes dois
hospedeiros. O ciclo de vida das quatro espcies referidas semelhante. Este constitudo por uma
fase sexual exgena que ocorre nos mosquitos (esporogonia) e uma fase assexual endgena
(esquizgonia) que decorre no Homem. Ao penetrarem no corpo humano sob a forma de
esporozotos, estas formas infectantes para o Homem entram na circulao sangunea acabando por
se alojar nas clulas parenquimatosas do fgado onde iniciaro o seu desenvolvimento e
multiplicao (esquizgonia heptica). Segue-se a esquizgonia eritrcitria durante a qual ocorre a
infeco de clulas sanguneas e sua consequente destruio. Quando uma fmea de anofelneo
efectua uma refeio sangunea durante este perodo de infeco activa inicia-se o ciclo
esporognico durante o qual ocorre, j no interior do mosquito, a diferenciao das clulas sexuadas
e a fecundao com subsequente formao do zigoto. Este zigoto, por meiose, inicia as fases
haploides com a formao do oocineto e posteriormente do oocisto. no interior deste que, por
mitoses sucessivas, ocorre a formao dos esporozotos. Aps o rebentamento do oocisto, os
esporozotos migram atravs do hemoclio do mosquito at atingirem as glndulas salivares.
Aquando de uma nova refeio sangunea, estes esporozotos so inoculados juntamente com a
saliva num novo hospedeiro humano, reiniciando assim ciclo de vida do parasita.
De cerca de 300 a 500 milhes de casos anuais de malria, 1 a 3 milhes acabam por levar morte,
sendo a maior taxa de mortalidade registada em crianas at cinco anos. Quarenta e um por cento da
populao mundial habita em locais onde a doena endmica, sendo na frica Subsariana a regio
onde se regista o maior nmero de casos. Alm desta, a doena apresenta ainda um elevado nmero
de casos em partes da sia, Mdio-Oriente, Amricas Central e do Sul e Ocenia (Muturi et al.,
2008).
1.3. Vectores da malria no Continente Europeu
At cerca da terceira dcada do sc. XX, diversas espcies de Anopheles actualmente reconhecidas
como tal, eram consideradas uma s, Anopheles maculipennis Meigen, 1818. Neste perodo, o papel
destes mosquitos na transmisso da malria era j conhecido, no entanto, os seus padres de
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5
presena e abundncia nem sempre eram concordantes com a ocorrncia da doena. A existncia de
Anophelismo sem malria para vrios locais, levou ao estudo aprofundado destes mosquitos. Em
resultado destes, so reconhecidas actualmente vrias espcies morfologicamente muito
semelhantes entre si, mas com diferentes implicaes na transmisso de protozorios da malria
para os humanos. No seu conjunto, estas espcies so designadas como o complexo de espcies
gmeas Anopheles maculipennis.
Quase todos os principais vectores de malria para a Europa so membros deste complexo de
espcies, nomeadamente: An. labranchiae Falleroni, 1926, An. sacharovi Favre, 1903 e An.
atroparvus. De acordo com Bruce Chwatt e Zulueta (1980 fide Sousa, 2008), durante o Wrm, e
relacionando o conhecimento biogeogrfico acerca deste perodo, as espcies deste complexo
apresentariam uma distribuio europeia mais meridional que a actual. Espcies como An.
labranchiae e An. sacharovi estariam mesmo ausentes devido a inadequabilidade climtica,
encontrando-se confinados ao Norte de frica e sia Ocidental respectivamente (Zulueta, 1973 fide
Sousa, 2008). Com o fim deste ltimo perodo glacirio e incio do Holoceno, as espcies do
complexo comearam a subir em latitude, at ocuparem as distribuies actualmente conhecidas
(Bruce Chwatt e Zulueta, 1980, fide Sousa, 2008).
As primeiras referncias escritas de doenas semelhantes a malria na Europa, surgem nos textos
gregos Corpus Hippocraticum, remontando aos Sculos IV e V a.C. No incio da Era Comum, a
doena tinha j sido propagada por grande parte do Continente Europeu, acompanhando a expanso
do Imprio Romano (Sallares et al., 2004). Embora se desconhea grande parte dos efeitos
quantitativos que a doena teve sobre as populaes (Sallares et al., 2004), durante os Sculos XVII
e XVIII esta era comum no Sul da Europa e em diversas reas a norte como Holanda, costa da
Alemanha, Sucia e Finlndia (Bruce Chwatt e Zulueta, 1980 fide Sousa, 2008).
O declnio da malria na Europa teve incio com o desenvolvimento socioeconmico,
nomeadamente a modernizao das prticas agrcolas e pecurias, assim como aplicao de
quinino no seu tratamento (Lieshout et al., 2004).
Pese embora o seu declnio, no Sculo XX o endemismo da doena era ainda patente em vastas
reas do Sul e Este da Europa (Sousa, 2008). Este sculo, contudo, conheceu diversas novas formas
de combate doena. O desenvolvimento de novos medicamentos como a cloroquina, a
pulverizao com Dicloro-Difenil-Tricloroetano (DDT) como medida de controlo de vectores e a
existncia de diversos programas nacionais de erradicao, deram um enorme contributo para o fim
da sua endemicidade na Europa (Sousa, 2008), que ocorreu em 1975 (WHO, 2006).
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1.4. Vectores da malria em Portugal
Para Portugal Continental so conhecidas trs espcies pertencentes ao complexo An. maculipennis:
An. maculipennis, Anopheles melanoon Hacket, 1934 e An. atroparvus. Esta ltima, a espcie
mais comum, abundante e amplamente distribuda pelo territrio nacional, assim como foi a espcie
que propagou o parasita da malria durante o perodo em que a doena era endmica no Pas
(Ribeiro et al., 1988). Trs outras espcies com registos espordicos no territrio tm sido
associadas transmisso da doena: Anopheles claviger Meigen, 1804; e Anopheles plumbeus
Theobald, 1901 (Ribeiro et al., 1988).
Grande parte do conhecimento acerca da malria em Portugal provm de trabalhos realizados na
primeira metade do sc. XX. Cambournac (1942), identificou para esse perodo seis regies
malariolgicas no pas, associando-as aos seus principais rios: Douro; Mondego; Tejo Superior;
Tejo Inferior; Guadiana e Sado. Para estas classificou a sua endemicidade como leve a moderada
para as regies do Douro, Guadiana e Tejo Superior, severa para o Mondego e Baixo Tejo e
hiperendmica para a Regio do Sado. A caracterizao destes locais, assim como das
caractersticas ambientais associadas transmisso da malria em Portugal, estiveram na base das
primeiras aces de combate doena no Pas (Sousa, 2008) entre as quais diversas medidas de
controlo do seu vector. Destas referem-se a introduo do peixe predador, Gambusia sp., regulao
da irrigao de campos de arroz (Borges, 2001 fide Sousa, 2008), melhorias das instalaes dos
trabalhadores na cultura de arroz, pulverizao com DDT, adopo de redes para camas e
proteces nas janelas e portas (Bruce-Chawatt e Zuleta, 1980 fide Sousa, 2008). A adopo destas
medidas juntamente com o tratamento de casos sintomticos levou a uma reduo muito acentuada
de casos de malria, verificando-se apenas quatro casos endmicos em 1958 (Bruce-Chawatt e
Zuleta, 1980 fide Sousa, 2008). Em 1973 a doena dada como erradicada do Pas, ocorrendo aps
esta data um nico registo endmico, em 1975 (Antunes et al., 1987).
A ocorrncia de malria em Portugal, desde ento, tem sido devida a casos importados. Estes
conheceram os seus valores mais elevados com o fim da Guerra Colonial. Para o perodo mais
recente de 1993 a 2002, Castro et al. (2004) referem a ocorrncia de entre 50 a 85 casos anuais,
verificando-se uma certa constncia destes ao longo do perodo referido.
Estudos recentes, como o de Sousa (2008), concluem que An. atroparvus ainda pode apresentar as
caractersticas necessrias para transmisso de estripes tropicais de protozorios, nomeadamente de
P. falciparum. Esta possibilidade, conjuntamente com a ocorrncia constante de hospedeiros
humanos infectados, mantm presente a possibilidade de virem a ocorrer infeces endmicas.
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1.5. Anopheles atroparvus como vector de outras doenas
Pese embora o papel conhecido que o mosquito Anopheles atroparvus representa na disseminao
da malria, o seu papel de vector no se esgota nos agentes infecciosos. Para esta espcie tambm
conhecida a capacidade de transmisso de diversos outros arbovirus, detentores de reconhecidos
riscos para a sade pblica. Exemplo disso o vrus do Nilo Ocidental, tendo-se identificado a
presena deste vrus por vrias ocasies nesta espcie de mosquito (Filipe et al., 1972; Fernandes et
al., 1998). Este vrus apresenta uma ampla distribuio, conhecendo-se diversas ocorrncias para o
territrio portugus, algumas das quais bastante recentes (Almeida et al., 2008). conhecida ainda
a capacidade vectorial de Anopheles atroparvus para o vrus Calovo (tambm conhecido como
Batai) (WHO, 2004), pese embora este seja tido como de reduzido risco para a sade humana
(Lundstrom, 1999).
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8
CAPTULO 2 A ADEQUABILIDADE DE HABITAT PARA ANOPHELES
ATROPARVUS EM PORTUGAL CONTINENTAL
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2.1. Introduo
Pese embora a existncia de diversos trabalhos acerca da distribuio de espcies de mosquitos em
Portugal (e.g. Ribeiro et al., 1988; Almeida et al., 2008), no so conhecidas representaes
espaciais contnuas e detalhadas acerca de como estas se distribuem ao longo do territrio,
nomeadamente para Anopheles atroparvus. Esta ausncia deriva certamente das mltiplas
dificuldades inerentes realizao de levantamentos com o elevado detalhe espacial exigido para
esse fim.
A modelao da distribuio de espcies tem sido desenvolvida sobretudo no campo da
biogeografia e da biologia da conservao. Esta tem como base a quantificao de relaes da
espcie com o meio envolvente (Guisan e Thuiller, 2005). Estas quantificaes correspondem
anlise das relaes entre dados de campo acerca da distribuio de espcies ou comunidades em
estudo e variveis consideradas representativas das suas exigncias ecolgicas. Tais quantificaes
baseiam-se na generalidade em duas abordagens: o conhecimento terico de especialistas acerca dos
organismos em estudo, ou a utilizao de modelos correlativos (Guisan e Zimmerman, 2000). As
relaes obtidas desta anlise so posteriormente aplicadas informao espacial com recurso a
mdulos de lgebra de mapas, presentes na generalidade das aplicaes de Sistemas de Informao
Geogrfica (SIG).
Esta abordagem diminui a necessidade de levantamentos com elevado detalhe espacial, podendo-se
constituir actualmente como a melhor forma de alcanar uma representao contnua da distribuio
destas espcies, ou de como o territrio se adequa sua existncia. Os exemplos de modelao de
distribuies para espcies consideradas nocivas para a sade humana so j vrios, ocorrendo
mesmo trabalhos aplicados a espcies do gnero Anopheles (e.g. Moffett et al., 2007).
Este trabalho pretende obter o primeiro modelo espacialmente contnuo da forma como An.
atroparvus se distribui pelo territrio de Portugal Continental. Tal informao apresenta diversas
potencialidades (Levine et al., 2004), sendo no presente contexto a avaliao de risco de infeco
do vector, atravs de processos de anlise espacial, uma das suas aplicaes mais teis. Na possvel
ocorrncia de futuros surtos da doena, esta informao pode-se ainda constituir como uma
ferramenta til na elaborao de cartas de risco de transmisso (e.g. Moffett et al., 2007). A prpria
anlise dos parmetros e resultados dos modelos correlativos utilizados no processo de modelao
permite obter informao acerca das relaes que a espcie estabelece com as variveis ambientais
consideradas, permitindo aprofundar o conhecimento ecolgico da espcie. A informao espacial
obtida, assim como os procedimentos metodolgicos de realizao podem ainda ser adaptados ao
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estudo de dinmicas da espcie quer espaciais quer temporais, relacionando variaes dos atributos
espaciais de diversos factores ambientais com tendncias de propagao ou valores abundncia.
2.2. Breve referncia modelao da distribuio de espcies
A modelao da distribuio de espcies corresponde obteno de modelos empricos com
traduo espacial, que relacionam vrios tipos de dados de campo relativos s espcies com factores
ambientais, atravs de uma integrao estatstica ou terica (Guisan e Zimmermann, 2000). Este
tipo de modelos encontra-se particularmente desenvolvido no campo da biogeografia e da biologia
da conservao, sendo o seu sustentamento terico derivado essencialmente do conceito de nicho
ecolgico definido por Hutchinson, (1957). Segundo a definio deste autor, o nicho fundamental
de uma espcie, entendido como um conjunto de condies ambientais dentro das quais esta pode
sobreviver e persistir. A sua representao pode assumir a forma de um hipervolume n-dimensional
resultante da conjugao das variveis que actuam sobre a espcie. A modelao geogrfica da
distribuio de uma espcie corresponde a uma aproximao da representao desse hipervolume
sobre um territrio, devendo ser interpretada como uma distribuio potencial. Esta, obtida pela
integrao de dados espacialmente explcitos representantes da presena da espcie (presenas,
presenas e ausncias ou densidades) com trs tipos possveis de variveis independentes: factores
limitativos; factores de perturbao ambiental e recursos (Guisan e Thuiller, 2005). Estes trs tipos
de variveis independentes so comummente designados apenas por factores ambientais, sendo esse
o termo adoptado neste trabalho.
Um conceito importante a considerar neste tipo de modelos o de equilbrio ecolgico. Nestes
assume-se que os dados relativos distribuio das espcies de estudo a incluir, traduzem uma
situao de equilbrio, ou prximo dele, com o ecossistema. Apenas quando esta situao se verifica
possvel assumir que os resultados dos modelos de distribuio de espcies traduzem uma
aproximao espacializada dos seus nichos. A verificao desta condio ainda fortalecida pelo
facto de, muitas vezes, as prprias espcies no ocuparem a totalidade do seu nicho fundamental
devido a processos de competio (Hutchinson, 1957), ou por todo um conjunto de outras
interaces biticas (parasitismo, predao, simbiose e competio) e barreiras fsicas ou histricas
(Pearson, 2007), ocupando apenas o que se designa por nicho realizado.
A forma de integrao dos modelos de distribuio de espcies, como referido anteriormente, pode
ser de cariz terico (tambm designado de mecanicista), ou correlativo. Os primeiros assentam no
conhecimento aprofundado da fisiologia das espcies, sendo por isso de uso restrito a especialistas
em determinados taxons. Os modelos correlativos (aplicados neste trabalho) baseiam-se na
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associao entre registos da distribuio da espcie e um conjunto de variveis que se julga serem
responsveis pela sua distribuio. Esta associao levada a cabo por um ou vrios modelos
estatsticos, sendo os seus resultados posteriormente traduzidos espacialmente com recurso a SIG.
Guisan e Zimmerman (2000), referem algumas categorias de algoritmos estatsticos possveis de
utilizar, nomeadamente: regresses lineares e no lineares, paramtricas e no paramtricas;
mtodos de classificao; modelos de medio de similaridade; tcnicas de ordenao; modelos de
probabilidade de Bayes e redes neuronais artificiais. A anlise destes e de outros mtodos
correlativos de integrao de informao aprofundada no ponto 2.3.3.
Os resultados destes modelos tm tido vrias aplicaes, nomeadamente na seleco de reas de
conservao para espcies (e.g. Ferrier et al., 2002), na predio espacial de invases biolgicas
(e.g. Benedict et al., 2007), ou na modelao da distribuio de espcies que comportam risco para
a sade humana (e.g. Levine et al., 2004). Estes permitem assim alargar a vrios nveis o
conhecimento acerca das espcies de estudo, constituindo-se muitas vezes como base de suporte a
processos decisrios.
2.3. Dados e mtodos
2.3.1. Dados de abundncia e distribuio da espcie em Portugal Continental No mbito dos Projectos EDEN e Arbovirus dos mosquitos de Portugal foram realizadas diversas
iniciativas relativas ao estudo de An. atroparvus. Uma destas teve como principal objectivo estimar
a abundncia de An. atroparvus em fase adulta durante perodos de uma hora em instalaes
propcias sua existncia, como estbulos e pecurias. Estes levantamentos foram realizados por
especialistas do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT), em vrias localidades
distribudas ao longo de Portugal Continental, entre 2001 e 2003. Os resultados obtidos encontram-
se, no entanto, condicionados para uma utilizao directa no contexto deste trabalho. A enorme
variabilidade nas condies intrnsecas aos locais prospectados, como o tipo de hospedeiro
vertebrado presente, a implementao de medidas antiparasitrias, ou o grau de isolamento ao
exterior dos espaos visitados, levou existncia de uma grande irregularidade de valores de
abundncia mesmo para locais bastante prximos. Neste contexto, no possvel considerar os
valores de abundncia por si mesmo, nem os locais com baixas abundncias como detentores de
condies ambientais envolventes pouco favorveis para a espcie. O contrrio, no entanto, pode
ser afirmado, ou seja, os locais onde se registaram elevadas abundncias indicam, partida, a
existncia de adequabilidade ecolgica do meio envolvente para a espcie de estudo. Outro aspecto
a considerar, o facto de estes valores de abundncias compreendem no apenas a espcie de
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estudo, mas a totalidade das espcies pertencentes ao complexo An. maculipennis. Este, como j
referido, define-se como um grupo de espcies bastante semelhantes entre si, nas quais se inclui a
espcie em estudo. Para que se possa proceder extraco dos valores de abundncias mais
elevadas da espcie An. atroparvus, necessrio realizar uma ponderao dos valores de
abundncia por espcie.
Considerando vrios trabalhos realizados de caracterizao da distribuio das espcies de
mosquitos para Portugal Continental, possvel estabelecer razes de abundncia para as espcies
pertencentes ao complexo An. maculipennis, em funo do seu local de ocorrncia. Ramos et al.
(1978) identificaram An. atroparvus como a nica espcie deste complexo existente no Algarve, tal
como acontece para o Alentejo (Pires et al., 1982). No entanto, a norte do sistema montanhoso
Montejunto-Estrela, o complexo passa a ser representado tambm pela espcie An. maculipennis,
conhecendo-se ainda alguns registos em quantidades negligenciveis de indivduos das outras
espcies (Ribeiro et al., 1988). A simpatria destas duas espcies mais abundantes torna ento
necessrio que, a norte deste alinhamento montanhoso, se proceda a uma quantificao da
frequncia relativa de cada uma nos valores de abundncia registados. Ribeiro et al. (1992) referem,
num estudo para a Regio Centro, a existncia de uma razo de abundncia de nove An. atroparvus
por cada An. maculipennis. Especificamente para o Parque Natural da Serra da Estrela, Ribeiro et
al. (1999a) apresentaram um valor menor: seis An. atroparvus por cada An. maculipennis. Mais
para norte, os estudos existentes no referem propores directas entre as espcies, mas todos
referem uma abundncia substancialmente maior de An. atroparvus (Ribeiro et al., 1999b; Ribeiro
et al., 2002). Tendo em conta estas indicaes e os valores conhecidos de propores aplicou-se um
valor considerado adequado: oito An. atroparvus para um An. maculipennis. Esta ponderao foi
aplicada aos registos enquadrados nas reas montanhosas que constituem a ligao Montejunto-
Estrela, e a norte desta.
Dos valores resultantes do processo, foram extrados os situados acima do sexto decil. Estes foram
ento considerados como os indicadores de maior adequabilidade espcie, totalizando 76 registos.
Tendo em conta a existncia de possveis enviesamentos dos valores de abundncia devido
variabilidade das condies dos locais amostrados, como referido anteriormente, estes registos so
doravante considerados como de presena apenas, desconsiderando-se o seu valor de abundncia
efectiva.
Alm dos registos referentes a presenas, foram ainda considerados registos de ausncias. Estes,
definem-se, regra geral, como locais amostrados onde as espcies em estudo no so encontradas.
Para esta investigao, incluram-se apenas os locais onde a frequncia de espcies do complexo
apresentou valores extremamente reduzidos comparativamente frequncia de outras espcies. Este
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tipo de registos atesta uma reduzida adequabilidade espcie de interesse, indicando ainda que o
local no se encontrava condicionado presena de mosquitos. Assim, e considerando este
pressuposto foi definido como limite mximo de frequncia de espcies do complexo, o valor
arbitrrio de 2%. Desta operao resultaram um total de 16 locais. A prevalncia de 83%,
transmitida por estes registos, aponta j para uma elevada disperso desta espcie ao longo de
territrio.
A figura 1 apresenta a distribuio da totalidade de registos de presenas e ausncias disponveis.
Figura 1 Presenas e ausncias de Anopheles atroparvus em Portugal Continental
2.3.2. Factores ambientais
a) As variveis independentes na modelao da distribuio de espcies
A obteno de variveis com maior potencial preditivo baseadas no conhecimento existente acerca
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dos factores que interferem na distribuio das espcies em questo, tida como um dos grandes
passos a dar na modelao de habitats potenciais (Arajo e Guisan, 2006; Tsoar et al., 2007). Neste
sentido crucial efectuar uma reviso adequada do conhecimento existente acerca dos factores
ecolgicos considerados como influentes na distribuio da espcie objecto de estudo. Este ir
permitir guiar de uma forma mais segura a escolha das variveis independentes passveis de integrar
os modelos estatsticos preditivos.
Esta escolha , ainda assim, muitas vezes condicionada pela disponibilidade de dados ou pela sua
impossibilidade de traduo espacial. Esta ltima condicionante est particularmente relacionada
com processos de interaco bitica. Estes, pela sua complexidade, dinmica temporal e espacial ou
simplesmente por desconhecimento da sua existncia, so muitas vezes ignorados no contexto
destes modelos, no sendo este trabalho excepo. No sentido de se proceder obteno de
variveis com elevado poder preditivo, as relaes ecolgicas da espcie com o meio foram
analisadas, constando no ponto seguinte.
b) Preferncias e condicionantes ecolgicas de Anopheles atroparvus
O ciclo de vida dos mosquitos Anopheles, assim como dos outros gneros compreende quatro fases:
ovo, larva, pupa e adulto. Destes, os trs primeiros so exclusivamente aquticos e o ltimo
terrestre. Esta dicotomia torna importante, no contexto deste trabalho, o conhecimento das relaes
ecolgicas com o meio, para todas as fases do seu ciclo de vida e no apenas para aquela em que
atinge capacidade vectorial.
Os trs primeiros estdios so referidos por Becker et al. (2003) como tendo lugar geralmente em
massas de guas estagnadas permanentes ou semipermanentes, tanto salobras como doces, mas com
ligeira preferncia para estas ltimas e dispondo na maioria dos casos de boa exposio solar com
alguma vegetao. Pires et al. (1982) atribuem uma especial importncia aos charcos temporrios
em leitos de rios. Assim as reas preferenciais nestas fases referem-se sobretudo a guas interiores
dulciaqucolas pouco profundas, tais como: charcos, pntanos, campos de arroz, leitos de rios e
ribeiras com estiagem, canais de rega, tanques artificiais, lagoas e alguns lagos menos profundos.
Outras reas tambm se devem considerar, embora partida com uma adequabilidade menor, como
o caso das lagoas costeiras, margens de rios de guas calmas e pouco profundas, margens de
albufeiras, lagos profundos e esturios.
Cambournac e Hill (1938) referem que, uma vez atingida a fase adulta (cerca de 30 dias aps a
oviposio), estes mosquitos tendem a procurar abrigo em estbulos, pocilgas, coelheiras ou outros
tipos de instalaes animais, necessitando de se alimentar de sangue para viabilizar as suas posturas.
Este autor refere ainda que apesar de uma elevada resistncia a temperaturas elevadas, o seu
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comportamento bastante sensvel a variaes neste factor, sendo determinante em aspectos como a
realizao e/ou durao do perodo de hibernao, tipo de abrigo escolhido ou estimulo
alimentao. Deve-se ainda destacar o papel das baixas temperaturas na capacidade de resistncia
dos adultos durante o perodo de hibernao.
Paaijmans et al. (2007) referem a elevada importncia que os eventos de precipitao desempenham
na mortalidade da espcie Anopheles gambiae s.l., aquando da sua fase aqutica. Estes autores
identificam a existncia de elevados quantitativos deste factor como uma das principais causas de
diminuio de produtividade de criadouros destes mosquitos. Considerando a sua proximidade
filogentica e o desconhecimento acerca da existncia de estudos que analisem esta relao para An.
atroparvus, o efeito da precipitao sobre a espcie de estudo apresenta-se tambm como
potencialmente importante.
Na literatura consultada no foram encontradas referncias relativas a interaces biticas
susceptveis de alterar a sua distribuio na rea de estudo. Nestas deve-se, no entanto, considerar as
que compreendem os seus hbitos alimentares zooflicos, e que partida implicam uma influncia
escala local nas preferncias de habitat da espcie. A ampla distribuio europeia desta espcie
(Ramsdale e Snow, 2000) e em Portugal (Ribeiro et al., 1988), sugere que as barreiras naturais no
se apresentem tambm como uma condicionante importante na sua disperso e abundncia para a
rea de estudo.
c) Seleco das variveis independentes
De acordo com o conhecimento existente acerca dos factores ambientais que determinam as
condies de adequabilidade para a espcie, torna-se necessrio que estes sejam traduzidos
espacialmente, de forma permitir a sua integrao no processo de modelao espacial.
Aps a conjugao do conhecimento acerca da ecologia da espcie com os dados disponveis e
tendo em conta a possibilidade de ocorrncia de sobre-ajustamento dos modelos preditivos aquando
da utilizao de um nmero demasiado elevado de variveis independentes com registos amostrais
reduzidos (Heikkinen et al., 2006), consideraram-se cinco variveis independentes: temperatura
mxima mdia do trimestre mais quente, temperatura mnima mdia do trimestre mais frio,
precipitao total anual mdia, disponibilidade e adequabilidade de zonas hmidas e disponibilidade
e adequabilidade de uso de solo agrcola.
Seria ainda eventualmente interessante incluir outros factores susceptveis de influenciar a
distribuio de espcies, como possveis interaces biticas ou eventuais barreiras biogeogrficas,
no entanto, a falta de conhecimento acerca destas, aliada indisponibilidade de informao
espacial, impossibilita a sua incluso.
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Temperaturas extremas mdias
A incluso de modelos representativos da variao espacial da temperatura foi considerada tendo
em conta a influncia que esta tem, quer de forma directa sobre o comportamento e fisiologia da
espcie, como j descrito anteriormente, quer de forma indirecta, atravs da sua influncia sobre
outros factores ecolgicos como a variao dos valores de profundidade e disponibilidade de guas
paradas. Para isso foram consideradas duas variveis: a temperatura mxima mdia do trimestre
mais quente e a temperatura mnima mdia do trimestre mais frio, para o perodo 1950-2000. A
opo de utilizao destas duas variveis, em simultneo, para representar um nico factor
ecolgico prende-se com uma melhor representao dos seus contrastes espcio-temporais, algo que
no seria possvel de obter com a utilizao de um modelo anual mdio.
A informao espacial respeitante a estas variveis foi obtida directamente em estrutura de dados
matricial, derivadas do projecto Worldclim. Este projecto tem por objectivo fornecer informao
bioclimtica mundial gratuita, num detalhe considerado elevado ( 1km2), de forma a permitir a sua
integrao em processos de modelao espacial (Hijmans et al., 2005). So encontrados vrios
exemplos de utilizao desta informao em modelao biogeogrfica (e.g. Giriraj et al., 2008).
Hijmans et al. (2005) efectuaram estes modelos atravs de processos de interpolao espacial de
informao proveniente de vrias fontes e referentes ao perodo 1950-2000, sobre as quais foi
aplicado um algoritmo constante na aplicao informtica Anusplin v. 4.3. Os modelos resultantes
foram comparados com outros existentes, ainda que de menor resoluo espacial, tendo-se
reconhecido a existncia de algumas discrepncias. Estas, no entanto, dizem respeito sobretudo a
locais onde se regista uma reduzida densidade de dados de base, ou em grandes reas montanhosas.
de referir ainda, em favor da fiabilidade desta informao, que data da sua realizao os
modelos Worldclim constituam-se como os que incorporavam maior quantidade de informao de
base (Hijmans et al., 2005). A representao cartogrfica destes modelos visvel nas figuras 1a e
2a em anexo.
Precipitao anual mdia
A utilizao de valores de precipitao foi considerada devido potencial aco directa que
desempenha sobre a capacidade produtiva dos criadouros, como verificado para outras espcies
(Paaijmans et al., 2007), assim como sobre a disponibilidade e caractersticas de habitat dos trs
primeiros estdios de vida de An. atroparvus, nomeadamente nos regimes dos cursos de gua,
profundidade de massas de gua e disponibilidade de charcos temporrios.
A informao espacial contnua deste factor para Portugal Continental foi tambm obtida atravs da
base de informao do projecto Worldclim, para o perodo 1950-2000, sendo a sua metodologia de
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realizao semelhante dos modelos de temperatura referidos anteriormente (Hijmans et al., 2005).
A representao cartogrfica do modelo visvel na figura 3a em anexo.
ndice de disponibilidade e adequabilidade de zonas hmidas
A incluso de informao relativa proximidade e abundncia de zonas hmidas, depreende-se
como de elevada importncia para a espcie considerando a sua relao directa com a
disponibilidade de habitat para os trs primeiros estdios do seu ciclo de vida.
Parte da informao desta varivel foi adquirida recorrendo informao Corine Land Cover 2000.
Desta foram consideradas todas as reas pertencentes s classes indicadas no quadro Ia em anexo.
O facto de um modelo correspondente aos limites espaciais destas reas de interesse ser
espacialmente descontnuo, leva a que, no contexto deste trabalho, seja necessria a sua
transformao para uma superfcie contnua. A forma utilizada para estabelecer esta continuidade
foi atravs do clculo da sua densidade espacial. Esta densidade calculada de forma simples,
correspondendo ao nmero de clulas que contm determinada tipologia de zona hmida num raio
de 10 km. O valor de 10 km foi um valor definido subjectivamente, mas que se considera permitir
caracterizar toda a envolvncia do local do registo referente disponibilidade deste tipo de reas.
Alm disso foi ainda considerada a atribuio de diferentes ponderaes a cada uma das reas, de
acordo com a adequabilidade indicada na sua caracterizao ecolgica e em conjugao com o
conhecimento de especialistas. Para isso foram definidas trs classes: uma, considerada como a que
oferece menores condies como criadouro de An. atroparvus; outra, com as condies
consideradas intermdias; e uma terceira onde se incluem as tipologias consideradas possuidoras de
condies ptimas. A tipologia de reas hmidas agrupadas em cada uma destas classes visvel no
quadro IIa em anexo.
Para cada uma destas classes foi calculada a sua densidade, sendo os trs modelos posteriormente
agregados com uma ponderao definida linearmente por cada uma das trs aptides consideradas,
como consta na equao seguinte:
sendo M o modelo final, m1 o modelo de menor aptido, m2 o de aptido intermdia e m3 o de maior
aptido. Este modelo foi posteriormente relativizado para um intervalo de 0 a 100 como consta na
equao seguinte:
em que, x corresponde ao valor de cada uma das clulas constituinte do modelo, e max(M) ao valor
Mr = ( x max (M ) ) 100
M = m1 + m2 2 + m3
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mximo encontrado no modelo M. O modelo resultante visvel na figura 4a em anexo.
ndice de disponibilidade e adequabilidade de uso de solo agrcola
A utilizao de um modelo de densidade de uso de solo agrcola pretende actuar como indicador da
aptido existncia de exploraes animais, ao ar livre, ou dentro de instalaes. Esta aproximao
parte do pressuposto, ainda que generalista, de que as reas com maior intensidade agrcola
apresentam maior apetncia a possuir exploraes de animais, quer como actividade econmica,
quer para consumo domstico. Para mais, este indicador no necessita de entrar em conta com as
preferncias alimentares de An. antroparvus, visto que este aparentemente no possui apetncia por
nenhuma espcie em particular (Ribeiro et al., 1992).
A realizao deste modelo baseou-se na informao Corine Land Cover 2000, tendo-se desta
extrado os usos de solo com utilizao agrcola. semelhana do modelo relativo s zonas
hmidas procedeu-se, com recurso a conhecimento de especialistas, ponderao das classes de uso
por apetncia existncia de animais. Alm das classes de uso agrcola, inclui-se uma classe de uso
respeitante a todas as reas no agrcolas. Estas classes e ponderaes atribudas encontram-se no
quadro IIIa em anexo. Foi tambm utilizado um raio de 10km para o clculo do valor de densidade,
tendo-se procedido posteriormente ponderao e relativizao do modelo como efectuado para a
varivel anterior. O modelo resultante visvel na figura 5a em anexo.
d) Anlise das relaes entre variveis independentes
A escolha e utilizao de variveis independentes para integrao com modelos correlativos para
modelao da distribuio de espcies deve ter em considerao a sua possvel multicolinearidade
(Guisan e Thuiller, 2005). A multicolinearidade pode ser entendida como a existncia de duas ou
mais variveis independentes numa anlise de regresso mltipla (binria ou no) que se encontram
altamente correlacionadas. Esta situao pode causar instabilidade nos coeficientes dos modelos
dificultando a sua interpretao (Christensen, 1997), ainda que no afecte os seus resultados
preditivos.
De forma a prevenir a ocorrncia de multicolinearidade entre variveis foi calculada uma matriz de
coeficientes de correlao de Pearson entre as variveis independentes. A opo por este mtodo
baseia-se no princpio referido por Berry e Felman (1985), de que variveis com correlaes com
valores de r >-0,7 ou r
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matriz resultante visvel no quadro I.
Quadro I Matriz de coeficientes de correlaes de Pearson das variveis independentes.
Precipitao
reas agrcolas 1 - - - -Precipitao -0,51 1 - - -
Trimestre frio 0,2 -0,64 1 - -Trimestre quente 0,44 -0,69 0,63 1 -Zonas hmidas 0,19 -0,25 0,48 0,29 1
reas agrcolas
Trimestre frio
Trimestre quente
Zonas hmidas
Com a anlise do quadro I possvel verificar a inexistncia de correlaes superiores aos limites
de -0,85 e 0,85. possvel assim integrar quaisquer destes na totalidade dos modelos estatsticos de
integrao considerados para o presente trabalho.
2.3.3. Mtodos estatsticos de integrao da informao
O nmero de modelos de integrao estatstica passvel de ser utilizado na modelao correlativa da
distribuio de espcies elevado e diverso (Guisan e Zimermann, 2000). O seu papel o de obter
valores de resposta que traduzam a adequabilidade do habitat atravs da conjugao dos valores das
variveis independentes respeitantes distribuio conhecida da espcie.
Possivelmente a caracterstica mais importante e que tem sido alvo de vrios estudos prende-se com
a comparao dos seus desempenhos preditivos (e.g. Brotons et al., 2004; Segurado e Arajo, 2004;
Tsoar et al., 2007), mas ainda assim estes modelos diferem em vrias outras caractersticas, que
muitas vezes condicionam ou potenciam a sua utilizao na modelao da distribuio de espcies.
Uma das principais distines, assim como condicionantes na sua escolha, prende-se com o tipo de
dados possveis de integrar. Estes so considerados tanto ao nvel da varivel de resposta, que pode
ser contnua (e.g. abundncias), dicotmica (presenas-ausncias) ou de presena apenas, como nas
variveis independentes, que podem ser contnuas ou categricas. Os modelos que requerem
variveis resposta do tipo contnuo, compreendem alguns dos mtodos mais comuns em estatstica
preditiva, como as regresses lineares mltiplas (e.g. Caldwell, et al., 2004). Os que integram
registos de presenas e ausncias (ou pseudo-ausncias), baseiam-se no contraste entre os valores
referentes a estes dois tipos para obter o valor de resposta. Nestes incluem-se mtodos como as
regresses logsticas binrias, modelos aditivos generalizados, redes neuronais artificiais ou rvores
de classificao e regresso (e.g. Thuiller, 2003). Os modelos que utilizam apenas registos de
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presena podem ainda ser desagregados em duas tipologias: os que requerem ou geram dados
representativos da variabilidade existente na rea de estudo e os que utilizam unicamente
informao relativa aos locais onde foi encontrada a espcie. Dentro do primeiro grupo encontram-
se algoritmos mais complexos como Maxent (Philips et al., 2006) ou DesktopGarp (Stockwell e
Peters, 1999); no segundo encontram-se sobretudo tcnicas de medio de similaridade como as
mtricas de Gower e de Mahalanobis (e.g. Tsoar et al., 2007).
Os modelos diferem ainda em algumas outras caractersticas de relevo, como o tipo de resposta
obtido ser do tipo contnuo ou categrico, na possibilidade de anlise interpretativa do contributo
das variveis independentes ou no grau de integrao com informao espacial. Esta ltima, por
vezes ignorada, apresenta-se muitas vezes difcil de superar pela complexidade inerente ao processo
de espacializao dos resultados obtidos. De modo a ultrapassar esta barreira, existem vrias
aplicaes que integram directamente a informao em formatos de dados tpicos de programas SIG
(e.g. Maxent; DesktopGarp, OpenModeler...). No entanto, a larga maioria e sobretudo os modelos
mais recentes na rea necessitam que se proceda posteriormente espacializao dos seus
resultados (e.g. rvores de classificao ou regresses de modelos aditivos generalizados).
Tendo em conta esta elevada variabilidade, a escolha de um nico mtodo implica a perda de vrias
potencialidades presentes noutros. Alm disso, a explorao de vrios mtodos em simultneo
sugerida na modelao da distribuio de espcies, como forma de diminuir a incerteza do processo
(Pearson et al., 2006). Considerando estas prerrogativas e o potencial ganho tanto informativo como
de desempenho preditivo dos resultados, optou-se pela utilizao de trs modelos distintos na
integrao de dados: distncia de Mahalanobis, regresso logstica binria e redes neuronais
artificiais.
a) Distncia de Mahalanobis
A distncia de Mahalanobis (D2) corresponde a uma medida de afastamento n-dimensional a um
valor mdio de um conjunto de dados. Esta medida, quando aplicada modelao da distribuio de
espcies, como o caso, calcula a similaridade existente entre o valor multidimensional mdio do
conjunto de registos de presenas da espcie e cada um dos locais da rea de estudo considerada.
A sua forma de clculo dada pela equao seguinte:
D2 = (x - m)T C-1 (x - m)
correspondendo x ao vector de valores das variveis independentes, m ao vector de valores mdios
de x, T indica a transposio de vector, C-1 corresponde matriz invertida da covarincia das
variveis independentes. Os resultados correspondem a unidades padronizadas de distncia, sendo
que as isolinhas dos seus valores em torno do centro mdio formam espaos multidimensionais,
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correspondendo estes a uma elipse aquando da utilizao de apenas duas variveis ou um elipside
quando o seu nmero superior.
Este mtodo caracteriza-se por necessitar apenas de registos de presena, permitindo desta forma
reduzir a influncia de eventuais erros ou enviesamentos existentes no conjunto de registos de
ausncias. A menor avidez de dados relativos distribuio das espcies e maior simplicidade, que
caracteriza a maioria dos mtodos com apenas registos de presenas, faz, no entanto, com que estes
apresentem geralmente desempenhos preditivos inferiores aos que integram os dois tipos de registos
(Austin e Meyers, 1996). A distncia de Mahalanobis, ainda assim, caracteriza-se por ser um dos
mtodos com desempenhos mais elevados dentro deste grupo (Tsoar et al., 2007). Alm disso, os
seus resultados so de fcil interpretao e no so afectados pela existncia de diferentes escalas de
medida nas variveis, nem por possveis correlaes entre estas. Esta conjugao de factores
associada incerteza que muitas vezes caracteriza a identificao segura de ausncias (ou baixas
densidades) (Brotons et al., 2004), fez com que fosse um dos mtodos escolhidos para incluso
neste trabalho.
b) Regresso logstica binria
A regresso logstica binria corresponde a um modelo estatstico pertencente classe dos modelos
lineares generalizados. De um modo simples, esta calcula a probabilidade de determinado tipo de
resposta da varivel dicotmica em funo do valor das variveis independentes. Este modelo
apresenta-se particularmente bem adaptado ao tipo de estudo a que aqui se aplica, uma vez que
utiliza uma varivel dependente dicotmica (e.g. presena/ausncia), no assumindo a sua
distribuio normal (lvarez-Arbes e Felicsimo, 2002). Os valores resultantes expressam-se num
intervalo entre 0 e 1 e so entendidos como a probabilidade de adequao do habitat espcie.
Caracteriza-se tambm por ser um modelo de fcil integrao com dados SIG matriciais atravs da
aplicao directa da sua equao sobre os dados representativos das diversas variveis. Para se
entender o seu modelo multivariado, necessrio inicialmente ter em considerao a curva logstica
traduzida pela seguinte expresso:
P 1
1 e (a bX )
em que P corresponde probabilidade de uma resposta do tipo presena, e a base do logaritmo
natural, e a e b aos parmetros do modelo. O valor de a corresponde probabilidade de P quando a
varivel X igual a zero e b a um valor que faz o ajustamento da probabilidade com a variao do
valor de X. Esta funo comummente visvel sob a forma grfica como consta na figura 2.
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Figura 2 Expresso grfica generalizada da funo logstica (Fonte: http://www.123exp-math.com/)
A estimao dos parmetros da equao obtida por uma funo de mxima verosimilhana. Para
isso os parmetros so testados de forma iterativa (aleatoriamente ou por aprendizagem) sendo
escolhidos os que apresentarem a mxima verosimilhana (probabilidade condicional dos dados por
determinada estimao de parmetros) com os dados da amostra. A sua forma multivariada dada
por:
P e(0 1X1 2X2... nXn)
1 e(0 1X1 2X2... nXn)
em que P corresponde probabilidade de adequao espcie, e base do logaritmo natural, 0 um
valor constante, 1 a n aos coeficientes da regresso e X1 a Xn a cada uma das variveis
independentes.
Este modelo tem como mais-valia o facto de permitir a interpretao da relao entre as variveis
independentes e a dependente, atravs dos valores de parmetros obtidos. Esta conjugao de
caractersticas tem tornado a regresso logstica binria como um dos modelos estatsticos mais
usados e divulgados em processos de modelao da distribuio de espcies (Guisan et al., 2006),
tendo por isso sido escolhido para integrar este trabalho.
c) Redes neuronais artificiais
As redes neuronais artificiais podem ser entendidas como modelos estatsticos adaptativos,
baseados na estrutura de funcionamento do crebro. Dizem-se adaptativos porque conseguem
aprender a estimar os parmetros de uma populao, utilizando um pequeno nmero de exemplares
desta (Abdi, 2003). A sua estrutura constituda por unidades simples, designadas de neurnios, por
analogia com as unidades cerebrais e por arcos que podem efectuar vrios tipos de ligao entre os
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neurnios.
Estes modelos estruturam comummente as suas unidades em vrias camadas, em que a primeira
geralmente designada de camada de entrada, e a ltima, a de sada. As camadas intermdias, quando
existentes, so designadas de camadas ocultas. Seguindo esta estrutura para um modelo preditivo, a
informao a ser analisada pela rede d entrada pelos neurnios da camada de entrada e propagada
atravs dos arcos (ligaes entre camadas) para a camada seguinte. Posteriormente, o resultado
deste processamento propagado para os neurnios da prxima camada, e assim por diante at que
seja atingida a camada de sada. Este fluxo tem como objectivo apreender as associaes existentes
entre os padres das variveis consideradas no dependentes (de entrada) e as dependentes (de
sada). O processo de aprendizagem realizado atravs da alterao dos valores de ponderao (por
atenuao ou amplificao), atribudos aos arcos que ligam cada neurnio, em funo do
desempenho obtido, ou seja a diferena entre valores modelados e valores obtidos (erro resultante).
Em termos de modelao preditiva, pode-se considerar as redes neuronais como sendo a tentativa
contnua de optimizao de um nmero de parmetros no lineares de forma a melhor traduzir a
relao existente entre um conjunto de valores de entrada com um conjunto de valores de sada.
Figura 3 Modelo genrico do tipo perceptro mltipla camada (adaptado de: Sarip, 2005, p. 4)
O modelo utilizado para efectuar esta investigao apresenta uma estrutura perceptro mltipla
camada. Esta estrutura, sendo uma das mais populares, constituda por uma camada de entrada,
uma ou mais camadas ocultas e uma camada de sada (figura 3).
Tendo em conta a sua natureza no paramtrica, a utilizao de redes neuronais indicada,
sobretudo, nos casos em que as relaes existentes entre dados de entrada e dados de sada no so
conhecidas com exactido, ou quando so de extrema complexidade e no lineares, como
frequentemente o caso das relaes ecolgicas (Lek e Gugan, 1999). Deve-se ainda referir que este
um dos algoritmos que tem obtido resultados preditivos com desempenho mais elevado neste tipo
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de aplicaes (Thuiller, 2003; Segurado e Arajo, 2004).
2.3.4. Calibrao dos modelos preditivos
Anteriormente implementao dos mtodos preditivos considerados, necessrio proceder
preparao da informao dependente sob a forma de dados de calibrao e dados de validao. Os
dados de calibrao correspondem a registos que iro integrar o modelo preditivo, ou seja, valores
nos quais este se ir basear para efectuar a estimao. Os registos de validao correspondem a
registos que so utilizados para averiguao do desempenho preditivo de cada um dos modelos
obtidos, na sua forma mais comum, atravs da comparao do seu valor com os valores estimados.
Considerando a existncia de um nmero total relativamente reduzido de registos (n=92), foi
considerada a utilizao de um mtodo de validao cruzada com separao de registos por
conjuntos (k-fold). Este mtodo consiste na obteno de vrios conjuntos de registos de validao
independentes, sendo o modelo calibrado com os restantes registos, tantas vezes quanto o nmero
de conjuntos. Cada um destes modelos ento validado pelos respectivos registos de cada conjunto.
A utilizao deste mtodo evita uma excessiva utilizao de registos de validao como acontece
aquando da utilizao de um conjunto nico, permitindo assim avaliar modelos em que o nmero de
registos reduzido (Hirzel et al., 2006). Assim, foram considerados trs conjuntos, cada um dos
quais com 13 registos, 2 de ausncias e 11 de presenas, num total de 39 registos de validao. Este
valor corresponde extraco de cerca de 15% do nmero total de cada tipo de registos por
conjunto. A utilizao de valores de percentagem idnticos para as duas classes permite que a
prevalncia da espcie (proporo entre registos de ausncia e presena da espcie), transmitida
pelos registos calibrao, permanea inalterada. A sua escolha foi efectuada de forma inteiramente
aleatria.
A informao respeitante s variveis independentes foi tambm compatibilizada, tendo sido
convertida para estruturas matriciais com resoluo espacial de 1km2 (clula quadrada de 1000m).
Este valor foi considerado ideal, tendo em conta vrios factores: a posio geogrfica dos
levantamentos ser referente localidade onde foi efectuado, estimando-se aqui a existncia de um
erro posicional no superior a 500 metros; ser um valor que no implica uma elevada capacidade de
processamento informtico considerando a extenso da rea de estudo; e, por fim, por corresponder
ao nvel mximo de detalhe espacial obtido para algumas das variveis independentes (temperatura
e precipitao).
Para cada um dos mtodos foi realizada a incluso simultnea das cinco variveis independentes
anteriormente referidas. Uma seleco destas a priori propicia uma maior uniformizao nos
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resultados obtidos pelos diferentes mtodos, permitindo uma melhor avaliao comparativa
posterior. Os prprios procedimentos de seleco automtica de variveis so sensveis a pequenas
alteraes nas variveis dependentes, podendo levar a uma escolha substancialmente diferente de
variveis independentes (Guisan et al., 2002). Estes podem ainda originar modelos biologicamente
implausveis ou integrantes de variveis irrelevantes ou com rudo (Pearce e Ferrier, 2000). Esta
escolha reforada ainda pelo facto do conjunto de variveis considerado derivar de uma reviso
bibliogrfica relativamente exaustiva acerca dos factores ambientais influentes na distribuio da
espcie em estudo.
a) Modelao com recurso distncia de Mahalanobis
A calibrao do modelo da distncia de Mahalanobis foi efectuada directamente sobre a informao
espacial com recurso ao mdulo Mahalanobis Distances (Jenness, 2003), para o programa SIG
ArcView. Este mdulo utiliza os registos de presena para gerar valores mdios das variveis
independentes e uma matriz de covarincias. Posteriormente efectua a inverso da matriz de
covarincias e aplica a equao que traduz a medida de distncia a toda a extenso da rea de
estudo. Devido separao dos dados em trs conjuntos para efeitos de validao houve
necessidade de se efectuar trs modelos com base em cada um dos conjuntos de registos de
presenas. O modelo final (figura 4), foi obtido atravs da mdia dos resultados desses trs
modelos. O quadro II apresenta alguns valores estatsticos de cada um dos modelos obtidos.
Figura 4 Adequabilidade de habitat para Anopheles atroparvus com base na distncia de Mahalanobis
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Quadro II Estatsticas descritivas simples dos modelos da distncia de Mahalanobis.
Q1 Q3
8,35 9,01 0,05 3,13 5,74 11,32 158,2
8,42 8,77 0,06 3,27 5,75 11,18 152,48
8,17 8,61 0,03 3,14 5,55 10,87 156,41
Mdia D.P. Mnimo Mediana Mximo
1 Conjunto de calibrao
2 Conjunto de calibrao
3 Conjunto de calibrao
Com a anlise do quadro II possvel verificar que a amplitude de valores obtidos para este mtodo
relativamente elevada, sendo o seu valor mais baixo (que neste modelo representativo de uma
maior adequabilidade espcie) correspondente a 0,03 unidades padronizadas, tendo o local mais
distinto da mdia multidimensional que caracteriza a presena da espcie um valor de 158,2. Ainda
assim, a anlise dos seus quartis evidencia uma concentrao de valores junto do incio da sua
distribuio, correspondendo o valor mximo registado para o 3. Quartil, a somente 11,32
unidades. Deste modo evidencia uma tendncia deste modelo para a criao de reas de elevada
adequabilidade, considerando uma variao linear da adequabilidade entre os seus valores mximo
e mnimo.
b) Modelao com recurso regresso logstica binria
A realizao da regresso logstica binria foi efectuada no programa de tratamento estatstico
Minitab 14. O grau de ajustamento de cada modelo foi verificado atravs do teste de Hosmer-
Lemeshow. Este teste efectua a diviso das probabilidades obtidas, calculando posteriormente um
teste de qui-quadrado entre as frequncias observadas e as esperadas. Posteriormente, este teste
realiza um clculo do valor de probabilidade do qui-quadrado, com 8 graus de liberdade sobre o
ajustamento da regresso. Se o seu valor for superior a 0,05 considera-se a no existncia de uma
diferena significativa entre os valores modelados e os valores efectivamente observados, como
idealmente pretendido. Foi ainda verificada a quantidade de classificaes correctas de registos de
calibrao dos modelos para um limiar de probabilidade de 0,5. A espacializao dos resultados foi
obtida pela aplicao da equao da regresso, com os parmetros obtidos por cada modelo, no
interpretador de lgebra de mapas do SIG Ilwis 3.4 Open. O quadro III apresenta a percentagem de
classificaes correctas para este limite e os resultados dos testes de Hosmer-Lemeshow para cada
um dos trs modelos realizados, constando na figura 5 o modelo final, resultante da sua mdia.
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Quadro III Testes de Hosmer-Lemeshow e percentagem de classificaes correctas para os modelos de
regresso logstica.
H-L (p)
1 Conjunto de calibrao 0,527 96,9 64,3
2 Conjunto de calibrao 0,962 96,9 57,1
3 Conjunto de calibrao 0,942 96,9 71,4
% presenas correctas (L=0,5)
% ausncias correctas (L=0,5)
Figura 5 Adequabilidade de habitat para Anopheles atroparvus com base na regresso logstica binria
Pode-se verificar atravs da anlise do quadro III, que a totalidade dos modelos apresentou valores
no significativos para o teste de Hosmer-Lemeshow, indicando uma elevada proximidade entre os
valores modelados e os valores efectivamente observados. Relativamente aos valores de
classificaes correctas verifica-se uma tendncia geral para melhores classificaes correctas para
as presenas, com um valor uniforme de 96,9%. Esta situao pode dever-se ao facto da razo de
prevalncia da espcie apresentar um peso muito superior deste tipo de registos, incutindo ao
modelo uma tendncia para sobre-estimao de probabilidade de presena.
c) Modelao com recurso a rede neuronal artificial
Para a implementao deste modelo de estimao utilizou-se a aplicao informtica Tiberius Data
Mining. A camada de entrada da sua estrutura perceptro mltipla camada integra as diversas
variveis independentes, correspondendo a camada de sada ao conjunto de valores de presena (1),
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ou ausncia (0) da espcie. Foi ainda considerada unicamente uma camada oculta, com um nmero
de neurnios idntico aos constantes na camada de entrada (5). A opo por este valor prende-se
com a possibilidade de ocorrncia de um sobre-ajustamento aos dados, derivado de um nmero
demasiado elevado de parmetros em mtodos de estimao no paramtricos, como as redes
neuronais (Liu et al., 2007).
Aps a configurao da rede, indicado o tipo de aprendizagem que esta vai efectuar. O sistema
Tiberius utiliza a retropropagao do erro, correspondendo este processo a um mtodo de
aprendizagem por correco contnua do mesmo. Esta realiza-se em duas fases: inicialmente
emitido um valor de teste, no sentido directo (da camada de entrada para a de sada), em que as
ligaes das camadas apresentam um valor fixo. Posteriormente, ao atingir a camada de sada,
gerado um sinal de erro obtido atravs da diferena entre valores estimados com os constituintes da
camada de sada. Este sinal de erro obtido posteriormente propagado de volta atravs dos mesmos
neurnios, sendo os pesos das ligaes reajustados de forma a aproximar, o mais possvel, os
valores obtidos com os da camada de sada. Como medida de erro neste processo de aprendizagem
foi definido o erro quadrtico mdio (EQM). Como perodo de treino para cada estimao foram
consideradas 400 000 pocas (ciclo de aprendizagem em que a informao percorre a totalidade das
camadas) e que corresponde a aproximadamente duas horas de processamento num computador
AMD Turion 2.2 Ghz, com 1Gb de memria RAM.
A natureza heurstica das redes neuronais artificiais, leva a que diferentes episdios de modelao
apresentem resultados preditivos distintos. De forma a lidar com esta variabilidade, um mtodo
comummente adoptado corresponde gerao de um conjunto de modelos por cada conjunto de
dados, procedendo-se posteriormente ao clculo de um modelo mdio (e.g. Segurado e Arajo,
2004). Neste sentido foram realizados trs modelos por cada conjunto de dados de calibrao, sendo
o modelo final para aquele conjunto correspondente sua mdia aritmtica simples. O modelo final
(figura 6) deste mtodo de integrao corresponder, por sua vez, mdia destes trs modelos
mdios.
A espacializao dos resultados foi obtida pela aplicao das equaes que traduzem as relaes
encontradas pela rede neuronal artificial sobre os modelos matriciais das variveis independentes.
Estas equaes so fornecidas pelo programa informtico em formato directamente transponvel
para o interpretador de lgebra de mapas do Ilwis 3.4 Open.
Para averiguao preliminar dos resultados de cada modelo foram calculadas as percentagens de
registos de calibrao correctamente identificados, para um limite de adequabilidade de 0,5. O
quadro IV apresenta os valores obtidos e respectivos EQM mnimos alcanados ao longo de todo o
processo de aprendizagem.
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Figura 6 Adequabilidade de habitat para Anopheles atroparvus com base em redes neuronais artificiais
Quadro IV Mnimos erros quadrticos mdios e percentagem de classificaes correctas para os modelos
de redes neuronais artificiais.
Modelo EQM mnimo
1 Conjunto de calibrao
1 0,38 86,2 85,7
2 0,34 92,3 61,5
3 0,35 90,1 68,5
2 Conjunto de calibrao
1 0,33 95,4 15,4
2 0,38 86,2 47,3
3 0,38 82,5 78,3
3 Conjunto de calibrao
1 0,36 95,4 31,4
2 0,37 88,5 54,2
3 0,35 90,8 31,4
% presenas correctas (L=0,5)
% ausncias correctas (L=0,5)
Atravs da anlise do quadro IV, verifica-se a existncia de valores de EQM mnimo bastante
semelhantes para a generalidade dos modelos. Ainda assim, os modelos apresentam uma elevada
variabilidade no seu comportamento preditivo, considerando um limite de adequabilidade de 0,5.
Verifica-se, tal como para o modelo anterior da regresso logstica, uma tendncia para sobre-
estimao de valores de presena em contraste com as ausncias, com pior desempenho preditivo.
Esta situao encontra-se representada com particular evidncia no modelo que apresentou o valor
de EQM mais reduzido (1. modelo do 2. conjunto de calibrao), sendo tambm este a apresentar
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o valor mais baixo de ausncias correctas para o limite designado. Esta variabilidade, inerente
natureza heurstica deste tipo de mtodos de estimao, evidencia a necessidade de se gerar
mltiplos modelos a partir de um mesmo conjunto de dados, como foi efectuado.
2.3.5. Validao de resultados
Anteriormente interpretao e utilizao dos modelos obtidos torna-se necessrio proceder
avaliao do desempenho preditivo de cada um. Este procedimento constitui-se como uma etapa
fundamental no processo de modelao da distribuio de espcies. S com esta informao
possvel avaliar a validade e aplicabilidade dos modelos obtidos (Arajo e Guisan, 2006). No
contexto do presente trabalho, a avaliao preditiva permite ainda hierarquizar os diferentes
modelos obtidos, possibilitando a escolha do mais adequado para a representao da distribuio da
espcie em estudo. Muitas vezes a informao utilizada para a validao dos resultados obtidos
apresenta problemas de dependncia espacial e temporal com os registos de calibrao, red