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Dom Walmor recebe medalha do Ministério Público

O grão-chanceler da PUC Minas e arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, foi agra-ciado com a Medalha do Mérito do Ministério Público de Minas

Gerais – Promotor de Justiça Francisco José Lins do Rêgo Santos, na categoria Medalha de Honra. Tal distinção é concedida a pesso-as que tenham prestado relevantes serviços ao Ministério Público brasileiro e à cultura jurídica do País. A comenda, subdividida em três graus – Grande Colar, Medalha de Honra e Comenda –, foi entregue na manhã do dia 17 de setembro, na sede do órgão.

17.09.2010

PUC MINAS - 0N lINe - 20 A 26.09.2010

Por Sergio KiernanFoi enorme, cansativo, sólida, com momentos de tensão,

apenas um corte profundo e prático do que o habitual. A reu-nião, primeira gestão do património arquitectónico e urbano “Save Buenos Aires” que organizou a fundação da cidade e é suficiente para demolir não tinha nada a ver com a rotina de seminários, reuniões e simpósios. Foram dois dias de apresen-tações e aulas eminentemente práticas, com foco na gestão, nas leis de clareza política, o que foi dito de fundos, regu-lamentos, inspeções e até mesmo enviar os prisioneiros que demolir património. Houve momentos muito impressionante e dolorosa para os moradores, como quando falou a represen-tante do Rosario, que parecia mais próximo de outro planeta, eo promotor de Minas Gerais, que é dedicado ao combate ao crime e detenção de contrabandistas cultural multado arte fe-rozmente para para demolir. Havia muitas qualidade técnica e abertura deprimente é criado por alguns políticos, que eram da inane ao constrangimento. Finalmente, um evento que marcou uma viragem original altamente louvável Fundação Cidade de acção e uma mudança de nível é suficiente para demolir.

É difícil resumir tudo o que aconteceu esta semana, des-de a abertura da reunião de segunda-feira a última sessão na quarta-feira, terminou às nove da noite. Havia uma dúzia de painéis à tarde, em reuniões públicas na Aliança Francesa, além de oficinas mais técnicas na parte da manhã na Embai-xada do Brasil. ONGs foram, desde o recepcionista para pro-teger Barracks, através SOS Caballito, a Sociedad de Fomento de Belgrano R e World Monuments Fund. Foi o vice-Provedor de Justiça Gerardo Gomez Coronado, o arquiteto José María Peña, homenageado por sua vida inteira dedicada ao tema “, alguns especialistas sobre o lado legal, o presidente da pode-rosa francesa Fondation du Patrimoine, o professor Norber-to Chaves, que fez um pedido cômico de sanidade e de bom gosto “, o presidente de uma associação original imóveis de interesse histórico e inesperado fiscal Chile brasileiro Marcos Paulo de Souza Miranda.

Os painéis começou na tarde de terça-feira, com um “sta-tus quo” em nossa cidade. Vice-Gomez defensor Coronado disse os casos mais notáveis em que interveio intervém, como o Bairro San Telmo e da Colônia Sola, explicando o que pode eo que não pode fazer um ombudsman. Ele tinha uma frase memorável: a preocupação dos bens é uma forma de constru-ção da cidadania, uma apropriação da cidade e do ambiente para os moradores.

Hugo e Maria Carmen Cortinez Usandivaras, ambos ad-vogados e os membros da Basta demolir, explicou certos con-

ceitos de justiça que deve ser nas mentes oficial: que a herança não é um problema, mas um direito constitucional tão claro que a verificação é cumprimento dos deveres de funcionário público. Ambos fizeram parte da história jurídica da ONG, tendo constatado que as proteções que foram uma forma rápi-da de conseguir travar o aumento de casos específicos, graças à Justiça reagiu. Mas ainda vemos o problema fundamental, a de um quadro jurídico estável.

Rodolfo Diringuer do SOS Caballito, seguiu na mesma linha, acrescentando que o maior problema é que o governo da cidade, admite a violar a lei “descaradamente”. Basicamente, Diringuer disse, o problema é que eles concordam com a cida-de para ser “matéria-prima para se fazer negócios.” Amuchas-tegui Silvia contou a história de sua ONG, que tem um nome muito clássico da Sociedad de Fomento. Esta, a R Belgrano, foi fundada em 1981 pela demolição de uma casa na Aveni-da Melian para fazer um edifício muito alto, um dos muitos “exceções”. Os vizinhos geridos ao longo dos anos para parar estas atrocidades e agora tem duas APH na área.

Norma Barbacci, representante da World Monuments Fund e seu diretor de projetos na América Latina, Espanha e Portugal, disse que o Fundo é também uma ONG, sonhava com nada menos que um ex-soldado que queria salvar Veneza. O Fundo tem crescido e já fez cerca de 400 projectos em 80 países através de fundos e assistência técnica, inclusive na Ar-gentina incluem as de San Ignacio Mini, a prisão de Ushuaia, as missões de Guarani e Brener Sinagoga. Barbacci explicou como alavanca formidável acusação e atenção é a lista que se realiza a cada dois anos em situação de risco e são escolhidos para a sua viabilidade de ser resgatados a tempo.

O arquiteto Marcelo Magadan, um dos principais espe-cialistas em restauração do país, por exemplo, dirigiu o traba-lho em San Ignácio Mini, seguidos sobre o tema com o espíri-to feroz que o caracteriza. O contexto de situação, explicou, é que em Buenos Aires só serve a lógica econômica, com uma explosão de edifícios licenciados de forma indiscriminada, lobbies e CAAP notável que, mesmo que um tipo é pensado para tornar-se extintas, como o chorizo casas, ou respeita e ensembles. Magadan disse que a CAAP tem vizinhos ou es-pecialistas em restauro ou historiadores, que carece de trans-parência e quase não tem sequer arquitetos com experiência na área.

O pior foi o fato de que ele Magadan: CAAP, que autoriza a demolição de dez horas cada caso concordam em se sub-meter ao Legislativo, não pensa em zonas-tampão em torno da APH e aceitar como dogma de que os caminhos são para

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Um encontro com os dentes“Salvar Buenos Aires”, foi uma maratona de idéias focado em leis, políticas e acções,

longe da placidez usual. E era um sinal de que o sujeito ativo está agora em outro registro.

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construir torres. Na verdade, ele gasta 3-5 minutos em cada caso, porque o ministro aceitou o truque Daniel e seu compa-nheiro Hector Cadeia Lostri considerando todos os blocos de construção em vez da ordem.

Em um contraste enorme, em seguida, falou Marcos Paulo Miranda de Souza, coordenador da promotoria de defesa do patrimônio de Minas Gerais, um homem bom e gentil que era implacável. De Souza disse que sua tarefa é coordenar e casos de herança cultural dos gabinetes dos 296 procuradores em seu estado, que investiu forte no assunto, porque tem a maior concentração de bens culturais no Brasil e 35 mil edifícios classificados. Como aqui, a Constituição tam-bém protege o património, mas os brasileiros levam a sério, e Minas Gerais, que são muito graves, ainda mais com o que as sanções são muito fortes. O procurador deixou secar com inveja argentinos têm uma demolição ilegal pode punir com multas de até meio milhão de cruzados, ou 250.000 dólares ao longo de um a três anos de prisão e multas civis para a recons-trução do imóvel e pagar “ dano moral coletivo “causado à sociedade. Em um silêncio de morte, De Souza mostrou fotos de uma casa em 1896, que foi queimado por seus proprietários para ver se zafaban e poderá ser demolido. O caso terminou com a casa desapropriada por um preço justo, menos que o custo para restaurá-lo, que era três quartos do preço acordado. Os proprietários não disse um pio, porque as alternativas eram ainda piores ...

Verde este ano Argentina provou não ser a transferência de Minas Gerais TOF, multas por danos morais de até vinte milhões de pesos, uma oficina de restauro é gratuito para os residentes que não podem pagar um arquiteto e definições de sabedoria como “patrimônio tem um valor em si ea lei só re-conhece esse valor, não acredito nisso. “ De Souza foi aplau-dido.

A chilena Cecilia García Huidobro participou por tele-conferência, explicando sua peculiar Associação dos Proprie-tários de Casas Históricas e Parques do Canadá, um modelo que está sendo exportado para outras nações e em breve terá o seu primeiro congresso mundial. García Huidobro tem um mestrado e um membro do Conselho Nacional para Cultura e Artes em seu país, e muito de sua apresentação focada em contar os infortúnios causados pelo terremoto recente, mais problemas do inventado por especialistas. Por exemplo, há 25 anos foram proibidos de construir com adobe, um material amplamente utilizado pelos chilenos, de modo que hoje exis-tem muito poucas pessoas que podem lidar com isso. E este ano o terremoto devastou áreas apenas edifícios património do adobe ...

O peruano José Correa Obregoso, a comissão de patri-mônio do Colégio de Arquitetos do país, falou de Lima, uma cidade imensa, campo de bitola europeia do património. Mos-trando a evolução da Cidade dos Reis, com suas paredes, ele explicou como ele tornou-se um plano para lidar com Lima, que terminou no pressuposto de que a cidade cresceu em anéis e colocar limites para a brutalidade do “progresso” como a parede de cortina entre os palácios latino-americanos. Lima O

problema é que, como o México, centro da fuga de idade, que favela e tem apenas 200.000 habitantes.

Teresa de Anchorena para a história da sua comissão de capital e salientou a relutância total do governo para fazer cumprir a lei. A falta de punição, definida, é uma cumplicida-de activa com os empresários “e necessária tarefa é a de” revi-ver “o candidato do potencial da cultura e do património. Sua utopia é que finalmente temos um prefeito sensível à questão, a prestação de consultoria e imitar os bons modelos, como Minas Gerais e Rosario.

O gabinete de advogados e gestores de private-Hicke-thier Diego, Anahí Ré, Susana Cabezas Bencich, Inés Mén-dez e Enrique Ezcurra Sylvester, foi deprimente uma lista de obstáculos burocráticos, ninguneo, as armadilhas, os planos de desaparecer e os funcionários se reuniram com vizinhos empregadores para tratar não incomodar os vizinhos mais. O arquiteto Peña, um homem com um otimismo insuperável le-vantado nossos espíritos recordando a sua luta início da dita-dura militar, enquanto Maria Fernandez, falando em nome da Secretaria de Planejamento do Rosario, arrefecido a cabeça mostrou como uma simples questão de gestão tornar as coisas melhores. Frederic Néraud explicou o curioso instituição de cabeça, a Heritage Foundation, que não é privado, mas opera independentemente do poder político, a gestão dos fundos e as iniciativas de trabalhar para ajudar a suportar os tesouros de França.

A queda foi a dos políticos. Para falar de Colombo foram convidados Aníbal Ibarra, Jorge Telerman e Mauricio Macri, os três chefes de governo que realizou as obras recentemen-te concluídas. Telerman era “confuso” e saiu mais cedo e fui cortito falou. Macri enviou uma carta de circunstâncias, a fim de saudação “com a minha mais elevada consideração.” Ibar-ra foi simplesmente escandaloso, falando como se ele nun-ca tinha sido chefe de governo, tentando se passar por seus próprios anterior Bares esforço-como-notáveis, com destaque para os projectos que ainda nem sequer começou e que aponta como um sinal de seu compromisso com o património ter sido nomeado para Fajre Silvia! Teresa de Anchorena ficou indig-nado e respondeu, com o que acabou gritou por Alvaro Arrese, uma carreira que certamente irá se arrepender de não ser capaz de fazer um tribunal de honra.

O fechamento do último dia foi de Norberto Chaves, que leciona em Buenos Aires e consultora em Barcelona, com um senso de humor que é apreciado. Chaves mostrou ima-gens simplesmente ridículo intervenções econômicas que só são explicados através da compreensão da arquitetura “, como entretenimento, algo para a foto da capa, grandes gestos e de-cadente em uma cultura que não se aplicam mais ou códigos ou leis.”

Apesar da maratona, todos os aposentados como cheio de idéias e energia. A reunião da fundação da cidade e é sufi-ciente para demolir completou para demonstrar a centralidade da política e do direito em questão, que era a antítese do se-minário usual inócuo, como funcionários ler um deslize e, em seguida, publicar o livro . Ela tinha dentes.

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Gustavo Werneck Quando janeiro vier, o governador eleito de Minas terá,

sobre a mesa, uma questão polêmica. Desta vez, o assunto remete a mais de 200 anos da história de Minas e evidencia a obra de Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1730-1814), considerado o maior gênio do estilo barroco da Amé-rica Latina. O engenheiro civil paulista Renato de Almeida Whitaker, de 69 anos, maior colecionador, no país, de ima-gens atribuídas ao artista mineiro, quer vender ao estado o seu acervo de 48 santos e santas. Duas imagens do conjunto, que se encontram com pendências judiciais – as de Nossa Senhora do Rosário, que pertenceria à capela de Quinta do Sumidouro, em Pedro Leopoldo, na Grande BH, e o Cristo da Paciência, da Matriz de Nossa Senhora da Piedade, de Rio Espera, na Zona da Mata –, seriam doadas. “Isso encer-raria esse episódio”, diz Whitaker. A proposta é que um gru-po de empresas compre o tesouro para exibi-lo em museu, por sistema de comodato com o estado.

A ideia não agrada aos responsáveis pela campanha iniciada há sete anos, em Minas, para recuperar bens desa-parecidos de igrejas, capelas, mosteiros e prédios públicos. “É preciso cautela”, alerta o superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Leonardo Barreto de Oliveira. Já para o coordenador das Promoto-rias de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural e Tu-rístico, Marcos Paulo de Souza Miranda, “falar em doar à comunidade uma peça, a exemplo da de Nossa Senhora do Rosário, comprovadamente do patrimônio coletivo minei-ro e arrancada de forma criminosa do local de origem, soa como afronta e desrespeito”. lUtA SeM FIM

Enquanto nada se concretiza, associações e moradores mantêm a luta de fé e esperança para reaver o patrimônio cultural e religioso. Ano que vem faz três décadas que a co-munidade de Quinta do Sumidouro chora a perda da imagem da sua padroeira. Mas ela mantém o firme propósito de rea-vê-la e, para isso, confia na Justiça. Foi numa noite chuvosa de triste memória, em 1981, que ladrões arrombaram a cape-la e carregaram a santa, com as esculturas de Santo Antônio, São Sebastião, Nossa Senhora das Dores, Santa Efigênia, do anjo Gabriel e Madona, além de cálices, pratarias e coroas. “Por ser muito pesado, o Senhor dos Passos foi deixado no adro, debaixo d’água”, recorda-se Joaquim Lélis Sobrinho, de 80 anos, que era zelador do templo. Com lágrima nos olhos, ele diz que traz até hoje essa dor no peito. O senti-mento só diminuiu um pouco há seis anos, quando a Nossa

Senhora dos Martírios foi devolvida por uma colecionadora. “Precisamos muito da nossa padroeira”, comenta.

Moradores de Rio Espera também lamentam o sumiço do Cristo da Paciência, que seria a auto-imagem do artista, que viveu na Fazenda Boa Esperança e foi levado pelos pa-dres para fazer esculturas de igrejas de Ouro Preto. “Gos-taria muito que o Cristo voltasse para Rio Espera”, afirma Maria Felipe Moreira, de 88 anos, cujos antepassados foram donos da propriedade

Arte SACrA

Imagem nas lembranças de infânciaA história da família de Maria Felipe Moreira, de 88

anos, conhecida como “Maria de Zé Capela” em sua ter-ra natal, Rio Espera, na Zona da Mata, está muito ligada à vida e obra de Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. Foi na Fazenda Boa Esperança, a “uma légua e meia (nove quilômetros) do Centro da cidade”, de propriedade dos seus antepassados, inclusive dos pais dela, que o mestre do bar-roco teria vivido durante longo tempo e esculpido obras que encantam o mundo – em especial a imagem do Cristo da Paciência e da padroeira do município. Conforme antigos moradores, diz Maria Felipe, o artista teria feito o Cristo a partir do seu próprio rosto.

Com uma vitalidade invejável e memória prodigiosa, Maria Felipe, moradora há 55 anos do Bairro Padre Eustá-quio, na Região Noroeste de Belo Horizonte, revela que o motivo da presença de Aleijadinho em Rio Espera estava na grande quantidade de cedro, madeira usada pelos santeiros nos tempos coloniais. Com muitos recortes de jornais, retra-tos e velhos papéis, ela mostra, enquanto serve um delicioso cafezinho, que tem as suas mãos do plantio ao preparo, uma pesquisa feita pela tia e conterrânea Jovelina Liberato de Oliveira, a dona Jove, nascida em 1908.

Com simpatia, ela lê um trecho: “A Fazenda Boa Espe-rança era uma construção muito grande, com pinturas enor-mes de santos nas paredes da sala, sala de jantar e varanda. Existia uma ermida com altar, segundo contavam os mais antigos, feito por Aleijadinho, que ali tinha passado alguns anos de sua vida, levado pelos padres para construir altares para as igrejas de Ouro Preto”. Com orgulho, diz que a pro-priedade, pertencente por último ao seu pai, José Eduardo Moreira (1895-1981), tinha extensas lavouras de arroz, fei-jão, milho, café, inhame, criação de suínos e fabricação de queijo.

A imagem do Cristo da Paciência fala de maneira es-

Minas luta para reaver relíquiasMP acha uma afronta proposta de colecionador de doar peças sacras do patrimônio mineiro

GUERRA SANTAProposta de colecionador paulista de vender ao

estado 48 imagens sacras esculpidas por Aleijadi-nho gera críticas de especialistas e representantes do MP. Duas das peças, com pendência judiciais, se-

riam doadas. Uma delas é a Nossa Senhora do Ro-sário. Com uma réplica nas mãos, Jovelina Ferreira Xavier e outros fiéis rezam para ter a original de volta à capeta da Quinta do Sumidouro, em Pedro Leopoldo.

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pecial às lembranças de Maria Felipe, viúva e mãe de oito filhos: “Ele ficava num altar da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, demolida há mais de 50 anos. Recordo-me muito dessa imagem, pois tinha medo dela. Sempre saía correndo da igreja, cheia de morcegos, principalmente quando ouvia a voz do zelador.” Refletindo, Maria Felipe acredita que o medo vinha da posição do santo, com a mão no rosto, en-quanto os demais tinham os braços abertos, as mãos postas etc.

“Levaram muitas peças da igreja, até o Divino Espírito Santo”, conta a senhora de espírito empreendedor e voz cal-ma. “Gostaria muito que o Cristo da Paciência retornasse. Se foi vendido, desejaria que quem está com ele apresentasse o recibo”, diz, ao ver a foto da peça publicada na edição do EM de terça-feira. A peça está em poder de colecionador de São Paulo, o engenheiro civil Renato de Almeida Whitaker, que já o estampou na capa de uma catálogo de exposição. Conforme levantamentos, o objeto sacro esteve primeiro em poder do empresário Arthur Valle Mendes, conhecido como Tuca Mendes, falecido em 1997, que depois o vendeu a Whitaker.

Por determinação da Justiça Federal, o colecionador paulista terá de entregar a escultura até 30 de outubro ao Ins-tituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para perícia, em ação movida pelos ministérios públicos Fe-deral (MPE) e Estadual (MPE). Vão participar do serviço especialistas do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha/MG) e do Centro de Conservação e Res-tauração de Bens Culturais Móveis (Cecor), da Escola de Belas Artes/UFMG. Já os herdeiros de Tuca Mendes terão que entregar ao mesmo órgão um total de 27 peças, entre elas várias atribuídas a Aleijadinho. O conjunto, conforme investigações, pertenceria a igrejas, capelas, mosteiros e ou-tras instituições religiosas do estado. Somente a partir de um laudo é que serão tomadas as providências cabíveis.

Arte SACrA

Comunidades rezam e clamam por justiça

Para ter de volta imagem da capela de nossa senhora do rosário, que estaria em poder de engenheiro

paulista, moradores de Fidalgo, em Pedro Leopoldo, na Grande BH, não se cansam de fazer promessas

Gustavo Werneck Paciência, esperança e um sonho sem fim. Para manter

vivo o desejo de que a imagem de Nossa Senhora do Rosá-rio retorne à sua capela, a comunidade católica de Quinta do Sumidouro, no distrito de Fidalgo, em Pedro Leopoldo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, não se cansa de rezar, fazer promessas e clamar por justiça. Na manhã de quinta-feira, depois das periódicas reuniões comanda-das pela associação comunitária local, um grupo formado por paroquianos e alunos e professores da Escola Estadual

Quinta do Sumidouro saiu pelas ruas levando a imagem de gesso que ficou no altar no lugar da original. O andor eram os braços da zeladora Jovelina Maria Ferreira Xavier, de 68 anos, que, a exemplo dos demais, sabe que a primitiva escul-tura guarda muito da história do lugar, surgido no tempo das bandeiras. Um dos marcos está na Casa de Fernão Dias Paes (1608-1681), o bandeirante paulista que passou nos sertões sete anos, quatro e meio dos quais no arraial do Sumidouro.

Mesmo quem tem menos de 30 anos se indigna com o desaparecimento, o destino das imagens e até com a pro-posta de doação pelo colecionador. “É um absurdo, jamais poderemos permitir qualquer negociação para ter de novo um patrimônio da comunidade. Não podemos aceitar nem como doação, pois ela é nossa. Temos que pensar nas outras cidades que perderam as suas peças sacras e não têm a chan-ce de recuperá-las”, diz, taxativo, o porteiro João Ferreira Silva Júnior, de 23. O auxiliar de fábrica Carlos Henrique de Almeida, de 22, é da mesma opinião e diz que ninguém vai desistir do seu intento.

Trazendo uma foto em preto e branco, feita na década de 1970, quando as imagens ainda estavam no altar, a diretora da escola, Nilza Divina Costa Ferreira, de 60, espera justiça e lembra que, para ludibriar as autoridades dos órgãos de de-fesa do patrimônio, a imagem teria sido alterada. “Fizeram uma limpa aqui nesta igreja, tão ligada às nossas vidas pela fé, batismo, crisma, missas e cerimônias de casamento.” Se-gundo o integrante da associação comunitária Rogério Ta-vares de Oliveira, a capela, restaurada recentemente, conta hoje com sistema de alarme e câmera de vigilância. “Ela terá que voltar via devolução, pois esse ato valorizará o patrimô-nio de Minas”, afirma Rogério.

Sentadas no banco da capela, Zélia Pereira Soares, do conselho paroquial, Conceição Eugênia Pereira Silva, Éri-ca Aparecida de Oliveira, Dilcéia Madalena de Almeida e Maria Lúcia Gonçalves não se cansam de pedir providên-cias – divina e humana. Conceição está certa de que o valor espiritual estará sempre acima do poder financeiro e Zélia, que se lembra bem da antiga imagem, diz que o retorno se-ria motivo de alegria geral. Emocionado, o zelador Joaquim Lélis bate no peito e pede o retorno da padroeira. “Ela nos faz muita falta.” NA JUStIÇA

O promotor de Justiça Marcos Paulo diz não haver dú-vida de que a imagem em poder do colecionador Whitaker pertence à Capela de Nossa Senhora do Rosário, integrante do Conjunto Histórico da Quinta do Sumidouro, sob tom-bamento do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha/MG) desde 1976, portanto cinco anos an-tes do furto. “Nós a identificamos na coleção de Renato de Almeida Whitaker, o que levou a Justiça mineira a determi-nar a busca e apreensão em 29 de março de 2004, em ação civil pública proposta pelo Ministério Público Estadual. Tentamos apreendê-la em São Paulo (SP), mas sem êxito”, explica.

Na sequência, “o colecionador entrou em contato comi-go, por telefone, e prometeu devolvê-la em Belo Horizonte

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no dia seguinte, mas não cumpriu o acordo. Além disso, ele declarou à imprensa que se a comunidade de Fidalgo quises-se, poderia ‘emprestar’ a peça por ocasião das festas religio-sas. E passou a dificultar o trâmite do processo judicial”. O promotor de Justiça afirma que Whitaker não tem a menor noção do sofrimento que provocou no povo de Fidalgo, Su-midouro e região, ao privá-lo de sua padroeira. “Perdi a conta de quantas pessoas de lá já me procuraram com lágrimas nos olhos perguntando quando a Nossa Senhora retornaria”.

A segunda ação tramita nos tribunais paulistas e foi mo-vida pelo colecionador, que objetiva o reconhecimento de propriedade e a propriedade por usucapião. No momento, o processo aguarda definição de uma data para perícia final, sendo que já houve inclusive nomeação do perito.

Arte SACrA

Proposta de colecionador gera polêmica

A proposta de Whitaker promete render muita polêmica e discussão. Afinal, sua coleção, acumulada ao longo de 30 anos, remete a grande parte da história mineira e joga mais luz sobre a obra de Aleijadinho, o mestre do barroco. “A obra de Aleijadinho é genuinamente mineira, pois, conforme todos os estudos, ele nunca saiu daqui”, informa a professo-ra de história da arquitetura da PUC Minas e especialista em arte colonial Selma Melo Miranda.

Whitaker diz que fez um contato anterior com o gover-no mineiro, mas, com o período eleitoral, o assunto esfriou. “Nenhum valor foi estipulado. A ideia inicial era que uma empresa comprasse as obras para depois oferecê-las ao go-verno num sistema de comodato. Esse conjunto representa uma fonte de estudos, tenho peças tombadas em meu nome”, conta, por telefone, de São Paulo (SP), onde mora. Ele re-vela que, em 1988, comprou o Cristo da Paciência, de 85cm de altura, que pertenceu à antiga Matriz de Nossa Senhora da Piedade – anteriormente, segundo moradores, ela ficava na Igreja do Rosário, já demolida – do empresário Arthur Valle Mendes. O empresário, por sua vez, a teria adquirido na década de 1970, com autorização do então bispo da Ar-quidiocese de Mariana, à qual Rio Espera está vinculada. “Esta imagem não é tombada”, afirma.

Quanto à imagem de Nossa Senhora do Rosário, do distrito de Fidalgo, teria sido comprada, em 1988, de um colecionador. “O meu acervo foi adquirido de maneira lícita e nunca fiz alteração ou mandei restaurar peças. Não mexi em nada”, explica. Sobre a imagem de Nossa Senhora do Rosário, ele diz que não foi registrada ocorrência policial na época. “Estou certo, pois a imagem não tem prova de furto e não foi lavrada ocorrência, muito menos inscrita no livro de tombo”, afirma.

Essas explicações, no entanto, encontram contradições, já que, para o Iepha, a igreja faz parte de um conjunto tom-bado em 1976. O antigo zelador da capela Joaquim Lélis So-brinho se recorda que, na época, houve investigação policial, “com detetives indo até São Paulo para fazer buscas”. Outro ponto polêmico ronda a imagem de Nossa Senhora do Rosá-rio, que teria sido alterada e sofrido mudanças na posição de um dos braços do Menino Jesus e de um dedo indicador da mão direita dela. Conforme levantamento do Iepha, em abril de 2009, mediante análise pericial de radiografias, o Labo-ratório da UFMG/Lacicor atestou que os detalhes que dife-renciariam as peças seriam de material diferente, indicando intervenção posterior. Foi determinado, então, que fosse fei-ta uma perícia oficial. O profissional já foi nomeado, mas a data do serviço ainda não está marcada.

CAUTELA O superintendente do Iphan em Minas, Le-onardo Barreto de Oliveira, vê na palavra “cautela” a melhor para tratar desse assunto. “O colecionador tentou fazer a ne-gociação, mas é preciso saber a procedência de cada peça, conferir a autenticidade, se houve algo de ilícito na compra e outras questões jurídicas”. O presidente do Iepha, Carlos Noronha, não tem conhecimento de proposta formalizada ao governo de Minas “quanto à doação ou venda de objetos in-tegrantes do acervo do colecionador. Deve-se ressaltar que, em caso de aquisição ou recebimento de bens de interesse cultural, é necessário que se faça uma avaliação técnica de identificação de sua procedência”.

O ex-secretário de Estado de Cultura Paulo Brant recor-da-se da proposta feita, no ano passado, mas diz que, na épo-ca, tudo ficou só na informalidade, na conversa. “Não sei se depois houve andamento”, observa. Já o atual secretário da pasta, Washington Mello, desconhece qualquer negociação e garante, de antemão, “que uma operação desse tipo não tem apoio do estado.”

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UNIVERSIDADE FUMEC

O Conselho de Curadores da Fumec vai con-tratar uma auditoria externa para averiguar supostas irregularidades na administração da instituição de ensino. Entre as empresas candidatas a fazer o tra-balho, estão a BDO Brasil, Deloitte, PriceWaterhou-

seCoopers e KPMG. Segunda-feira, o conselho se reúne com a Promotoria de Justiça de Tutela de Fundações do Ministério Público, quando deve sair um acordo. A mais nova polêmica, que contra-ria a posição dos alunos, foi a suspensão temporária do professor Luiz de Lacerda Junior da direção da Faculdade de Engenharia e Arquitetura enquanto o processo administrativo, instaurado contra ele pela fundação, estivesse em andamento. O vice-presi-dente da Fumec, Eduardo Mesquita, também foi afastado da vice-presidência da fundação.

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ANDRÉA CASTELLO BRANCOUma reunião realizada na tarde de ontem no Ministério

Público Estadual (MPE) parece ser o início de um acordo entre o conselho curador da Fundação Mineira de Educação e Cultura (Fumec), os professores da Faculdade de Enge-nharia e Arquitetura (Fea) e os alunos, que há uma semana estão sem aulas. O afastamento do diretor da Fea e de dois conselheiros gerou a paralisação das aulas.

Segundo os professores Eduardo Georges Mesquita e Estevam Quintino Gomes, os conselheiros afastados, alguns compromissos foram firmados e deverão ser oficializados em uma reunião marcada para a próxima segunda-feira.

“Após essa reunião, o professor Luiz Lacerda (diretor) será reintegrado em suas funções administrativas e acadê-micas. Também ficou definida uma mudança no estatuto da Fumec, elevando de seis para 12 os membros efetivos, sendo que seis desses representantes serão escolhidos entre entida-des da sociedade civil”, explica Estevam Quintino.

De acordo com ele, os atuais conselheiros também fir-maram um compromisso de renúncia para que, em outubro, após a aprovação do novo estatuto, seja realizada uma elei-ção para a compor o conselho curador da Fumec. “Houve um acirramento tão grande que o diálogo acabou. O melhor é eleger um novo conselho”, diz Eduardo Mesquita.

O Ministério Público também sugeriu que, após a pos-se do novo conselho, seja contratada uma auditoria externa, indicada pelo próprio MPE, para investigar as denúncias de professores e estudantes. O presidente do conselho cura-dor da Fumec, Air Rabelo, considerou a reunião positiva.

“Sempre utilizamos o Ministério Público como um órgão de apoio. Nossa intenção é entrar num acordo. Só a Fumec que perdeu com toda essa confusão”, diz Rabelo.

Segundo ele, o novo estatuto já está nas mãos do MPE e, até a próxima sexta-feira, os promotores deverão apresen-tar as “possíveis ressalvas”. Eduardo Mesquita conta que os conselheiros da Fea apresentaram ao MPE 14 pontos de di-vergência em relação ao novo estatuto. “Alguns coincidem com as ressalvas do MPE”.]

Alunos pedem auditoria na universidade

Na última quinta-feira, os alunos da Fumec entregaram ao Ministério Público Estadual um abaixo-assinado com 4.220 assinaturas. Os estudantes pedem uma auditoria exter-na de gestão em todas as unidades da universidade, reitoria e fundação.

O promotor Marcelo Oliveira Costa, que recebeu o documento, afirmou que as denúncias já haviam sido apre-sentadas por conselheiros e que “entende recomendável que os procedimentos administrativos sejam conduzidos por agentes externos à instituição”. (ACB)

Volta às aulas. Em assembleias distintas, realizadas na noite de ontem, alunos e professores da Universidade Fumec deliberaram pela volta às aulas na próxima segunda-feira.

FlashNa segunda-feira, às 16h, uma nova reunião será reali-

zada no Ministério Público Estadual para oficializar o acor-do entre os membros do conselho curador da Fumec.

o teMPo – P. - 38 - 18.09.2010 Negociação. Encontro definiu que fundação deverá ter estatuto reformulado

Após reunião no MPE, Fumec retoma aulas na segunda-feiraMinistério Público indicará consultoria para investigar as denúncias

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RAPHAEL RAMOS Enviado EspecialEm posições opostas no mapa geográfico, dois

conjuntos de rodovias que ligam Minas Gerais aos Estados da Bahia e de São Paulo também encon-tram-se em situações bem divergentes quando o as-sunto é a qualidade de suas estradas. A constatação é da Pesquisa CNT Rodovias 2010, realizada pela Confederação Nacional dos Transportes.

De um lado está o grupo de vias entre Ubera-ba, no Triângulo Mineiro, e a capital paulista. Do outro, o caminho entre Curvelo, na região Central do Estado, e a cidade de Ibotirama (BA). Enquanto o primeiro aparece entre os cinco melhores do Bra-sil, o segundo figura apenas na 100ª colocação do ranking que classificou, por ordem de qualidade, as 109 ligações rodoviárias do país.

Ao percorrer os 562 km das BRs 135 e 122 até a divisa com a Bahia, a reportagem de O TEM-PO constatou os problemas que colocam o trecho numa das piores colocações da lista. E as dificulda-des não são exclusividade dos motoristas que pas-sam pelas duas estradas. Elas são compartilhadas pelos moradores das cidades cortadas pelas vias, pessoas que se veem permanentemente expostas ao risco de acidentes e à perda de tempo e, até, de dinheiro.

Na BR-135, a boa pavimentação não ameni-za a total falta de placas de sinalização e faixas de orientação, por exemplo, ao longo dos cerca de 25 km que ligam as cidades de Joaquim Felício e Bue-nópolis. No mesmo trecho, há sete pontos de reten-ção, seis deles causados por reformas em pontes.

Perigo. Ao passar pela cidade de Montes Claros e entrar na BR-122, já na região Norte do Estado, os problemas persistem e alguns outros se somam ao triste quadro. Os acostamentos são praticamente inexistentes ao longo da estrada e as placas, bas-tante raras. Além disso, as poucas encontradas es-tão, muitas vezes, escondidas pela vegetação, que chega a invadir a pista.

Próximo ao município de Janaúba, a reporta-gem flagrou a dificuldade vivida pelo policial mi-litar Rogério Oliveira, 45, para estacionar o carro quebrado em um local seguro, encontrado 5 km depois. “Prefiro correr o risco de piorar o estrago do que parar no meio da pista e correr o risco de

morrer num acidente”, declarou.Pouco à frente, as irmãs Cléia Márcia Nunes,

23, e Neiliane Nunes, 16, se arriscavam andando pela pista sem acostamento. Elas moram na Vila Colonização e andam, diariamente, cerca de 1 km até o ponto do ônibus que as leva até o centro da cidade. “Os carros passam muito perto, só que não tem outro jeito”, lamenta Cléia.

Pesquisa. Para elaborar o ranking nacional, a CNT avaliou três critérios: sinalização, pavimen-tação das vias e geometria (pista dupla ou simples, acostamentos e faixas adicionais, entre outros).

Triângulo comemora avanços trazidos pelo asfalto duplicado

“A estrada está muito boa. Toda duplicada e bem sinalizada. Passo pela BR-050 de três a quatro vezes por semana e raramente vejo um acidente”, conta o empresário José Renato Grama. Morador de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, ele faz parte de uma minoria que trafega pela única rodovia ci-tada entre as melhores ligações rodoviárias do país, dentre as que cortam Minas Gerais, pela Pesquisa CNT Rodovias 2010.

A BR-050 liga Minas aos Estados vizinhos de São Paulo e Goiás e o trecho entre os km 133 e 207, que liga as cidades de Uberaba a Igarapava (SP), faz parte do conjunto classificado como o quinto melhor do Brasil.

A duplicação e a boa conservação da estrada, administrada pelo Departamento de Infraestrutura e Transporte (Dnit), explicam a boa colocação. Se-gundo o supervisor da sub-unidade do órgão em Uberaba, Elias Barbosa, 136 dos 207 km da rodo-via em Minas têm pistas duplas e acostamentos. A duplicação do restante será concluída em 2012. (Tâmara Teixeira)

Ligações rodoviáriasO que são? Trechos regionais de estradas, com

duas ou mais rodovias, que interligam territórios de um ou mais Estados. Essas extensões têm relevante importância socioeconômica e um fluxo significa-tivo de veículos de cargas e/ou passageiros.

o teMPo - P. 22 e 23 - 20.09.2010Vergonha. Ligação entre Curvelo e a Bahia aparece entre as dez últimas colocadas no ranking nacional da CNT

A pior estrada de MinasReportagem de O TEMPO viajou pelo trecho e comprovou as falhas apontadas

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Raphael RamosEnviado especialTrês dias de viagem. Esse seria o tempo estimado para o

percurso de 1.400 km realizado pelo caminhoneiro Eudinei da Silva, 26, entre Cristópolis, no Oeste da Bahia, e Sete La-goas, na região Central de Minas. No entanto, ele precisou de mais 24 horas de prazo para entregar as 18 t de carvão que transportava, após seu caminhão passar por um buraco na BR–122 e ter dois dos pneus furados.

Para seguir viagem, ele foi obrigado a pagar por uma corrida de 90 km num táxi até Montes Claros, onde conse-guiu novos estepes. “Sem essa parada, eu já estaria quase chegado ao destino”, reclama.

Situações como essa têm sido uma constante para os cerca de 5.000 motoristas que trafegam diariamente pela ro-dovia, principal ligação entre a região Oeste da Bahia e os Estados de Minas Gerais, São Paulo e Paraná. Sem opção, eles acabam se tornando vítimas das péssimas condições da estrada, fiscalizada e gerida pela Polícia Militar Rodoviária (PMRv).

Segundo Vander Francisco Costa, conselheiro da Con-federação Nacional de Transportes (CNT) e presidente da Federação das Empresas de Transportes de Carga de Minas Gerais (Fetcemg), um caminhoneiro gasta, em média, R$ 2</CS> por quilômetro percorrido. Esse valor, porém, au-menta em cerca de 30% nos percursos em mau estado de conservação.

A princípio, o investimento pode parecer pequeno. Mas, segundo estimativa da Fetcemg, um caminhoneiro roda cer-ca de 9.000 km por mês em Minas. “Os principais prejuízos são com combustível e manutenção de peças, além de pneus, que se desgastam mais rapidamente”, explica Costa.

Carlos da Silva Santos, 32, costuma fazer duas viagens por semana entre a Bahia e Minas. Ele acredita, porém, que, se a BR–122 estivesse em melhores condições, poderia re-alizar o mesmo trajeto três vezes, aumentando em 50% a renda de R$ 1.200 mensais.

Segurança. Além dos problemas mecânicos, os cami-nhoneiros se queixam de outra armadilha decorrente da falta de estrutura nas rodovias. Como precisam viajar em veloci-dade reduzida para evitar os buracos, o risco de serem sur-preendidos pelos assaltantes é ainda maior.

É por isso que muitos deles têm andado em grupos. Mesmo quando partem de cidades diferentes, os motoristas tentam se encontrar na estrada e seguir em comboio, estra-tégia que tem sido bastante utilizada por quem passa pela

BR–122.

Com uma experiência de 16 anos pelas estradas do país, José da Silva Nogueira Neto, 46, não dispensa a “proteção” feita pelos colegas. “É uma maneira de um ajudar o outro. Não temos muita alternativa”, declara o caminhoneiro, que já foi assaltado duas vezes. “Não quero repetir essa experi-ência”, desabafa.

Mais de 90% das rodovias têm pista simplesEm todos os seus 259 km de extensão, a BR–122 é

composta por uma pista única, com faixas nos dois senti-dos. A rodovia segue uma perigosa tendência das estradas pavimentadas em Minas Gerais: segundo a Pesquisa CNT Rodovias 2010, 91,5 % dos 13.931 km avaliados no Estado possuem pista simples.

De acordo com o subtenente Joel Freitas, comandante do 1º Pelotão da Polícia Militar Rodoviária (PMRv) de Montes Claros, no Norte de Minas, esta situação deixa vulneráveis aos acidentes os motoristas que trafegam pela estrada.

“O ideal é que a rodovia tenha pista dupla e seja di-vidida por um canteiro central. Isso dá mais segurança nas ultrapassagens e evita colisões frontais”, explica.

Apesar da constatação, dados da PMRv apontam re-dução no número de acidentes e vítimas na BR–122. Entre janeiro e agosto deste ano, aconteceram 39 acidentes, que deixaram 63 feridos e seis mortos. No mesmo período do ano passado, foram 56 batidas, com 239 feridos e 13 mortos. (RR)

Sem opção

Armadilhas na BR–122Trechos cheios de percalços geram prejuízos e facilitam ação de assaltantes

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QUEILA ARIADNEMinas Gerais tem 465,26 mil hectares

(ha) de áreas preservadas, na forma de 35 parques estaduais. Deste total, metade não tem regularização fundiária, ou seja, ainda existem pendências, na maioria das vezes referentes a desapropriações não concluí-das e não indenizadas. Apenas sete parques (um quinto) estão 100% regularizados.

Para o pró-reitor da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Gumercindo Souza Lima, 50% não é um bom índice. “Não adianta falar que o Estado tem 465 mil ha protegidos pois, se metade não está regularizada, na prática essas terras ficam mais vulneráveis, pois viram ‘terra de nin-guém’, já que ainda não são do governo e os proprietários, enquanto não recebem a indenização pela desapropriação, não têm mais interesse de cuidar”, avalia Lima, que em 2006 elaborou um estudo feito pelo de-partamento de engenharia florestal da UFV, sobre a efetividade do manejo das unidades de conservação.

De acordo com o consultor jurídico da Unesco para a regularização fundiária de unidades de conservação do Estado, Char-les Alessandro Mendes de Castro, o índi-ce de 50% é considerado acima da média nacional. “O ideal é que 100% seja regu-larizado, mas este índice é bom, a média global no Brasil está entre 35% e 40% de regularização”, afirma o consultor, que cita como base um levantamento do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade.

O levantamento da UFV, que usa como base dados de 2003, revela que 60% das unidades podem ser consideradas “par-ques de papel” - que ainda têm pendências como desapropriações e criação de conse-lhos. “Acredito que de lá para cá essa situ-ação não mudou muito, pois muitos outros parques foram criados e ainda enfrentam esses problemas”, afirma o professor Lima. Segundo dados do Instituto Estadual de Florestas (IEF), dos 35 parques, 13 foram abertos depois de 2003.

O consultor jurídico Charles de Cas-tro, que presta serviços para o IEF, expli-ca que o grande problema para efetuar as regularizações fundiárias não é a falta de dinheiro para indenizar os proprietários das terras desapropriadas, mas o passivo deixado por parques mais antigos, como pendências judiciais e falta de pagamento de impostos por parte dos donos. Segundo ele, a situação melhorou muito após a cria-

ção da compensação ambiental, em 2007. “Antes não existia dotação orçamentária para a regularização, depois os empreendi-mentos que geram impacto ambiental pas-saram a ter que investir em ações de prote-ção do meio ambiente e começamos a ter recursos específicos para a regularização fundiária”.

Em 2007 e 2008, o investimento em regularização fundiária foi de R$ 95 mi-lhões. De 2005 até 2010, mais de 180 mil hectares foram regularizados. “A meta anu-al de regularização de 30 mil hectares/ano a partir de 2007, com recursos previstos no orçamento do Estado, tem sido superada nos últimos anos”, destaca Castro.

Para visitaçãoProjeto. Dos 35 parques, 28 ainda não

são abertos à visitação por falta de infra-estrutura. Segundo o IEF, o Parque Lapa Grande (Montes Claros) deve ser aberto ainda este ano e o do Sumidouro (Lagoa Santa), em 2011.

triângulo

Pau Furado tem 82% para

regularizarPara compensar o impacto da implan-

tação do complexo energético Amador Aguiar, em Uberlândia e Araguari, o Con-sórcio Capim Branco de Energia (CCBE) assumiu o compromisso de investir em uma unidade de conservação e doá-la para o Estado administrar. Em 2007, o Parque Estadual Pau Furado foi criado, mas até hoje o CCBE não conseguiu regularizar as terras. Segundo a assessoria de imprensa do grupo, das 17 áreas negociadas, apenas sete já fecharam acordos amigavelmente para transferir a posse, totalizando 398 ha. Isso significa que, dos 2.185 ha do parque, apenas 18% está em dia com a regulariza-ção fundiária.

Enquanto todas as terras desapropria-das não estiverem indenizadas, o consórcio não pode transferir para o Instituto Estadu-al de Florestas (IEF). Neste caso, o maior problema envolve uma área de 593 ha (um quarto do parque), que parte de um espólio de nove herdeiros, mas nem todos foram encontrados. (QA)

Indenização

Coletividade se sobrepõe ao individual

Na avaliação do pró-reitor da Uni-versidade de Viçosa (UFV), Gumercindo Souza Lima, se o governo provisionasse recursos para pagar as indenizações assim que os decretos de criação dos parques fos-sem publicados, o problema da regulariza-ção fundiária seria resolvido. O consultor jurídico do Instituto Estadual de Florestas (IEF), Charles Mendes de Castro, afirma que o Estado tem cinco anos para efetuar as indenizações e destaca que a prioridade é preservar a área. “O direito coletivo, de preservar o meio ambiente, se sobrepõe ao direito individual”, destaca. (QA)

o teMPo - P. 8 - 20.09.2010Minas Gerais. Principais pendências são relativas a processos de desapropriações não indenizadas

Metade dos parques estaduais não tem regularização fundiáriaIEF alega que índice de 50% não é ideal, mas diz que é acima da média nacional

desvalorização

Donos discordam de preços pagosMesmo quem recebeu as inde-

nizações, reclama da morosidade do Estado. Raul Souto Barbosa teve sua fazenda, de 200 ha, desapropriada em 2006, logo que saiu o decreto de cria-ção do Parque Estadual Lapa Grande, em Montes Claros, Norte de Minas Gerais. “Eu só recebi este ano e me pagaram R$ 1,2 milhão, mas minha terra vale o dobro, só que foi tanta dor de cabeça que eu preferi receber pou-co do que nada”, conta.

Além das terras, Barbosa, que criava gado na fazenda, teve um pre-juízo estimado em aproximadamente R$ 1 milhão, com a produção de leite que teve que parar.

De acordo com o pró-reitor Uni-versidade Federal de Viçosa (UFV), Gumercindo Souza Lima, como o dono fica com muitas restrições, ele deixa de produzir. “Então prefere vender a terra a preço de banana e re-começar em outro lugar, isso quando as pessoas não adoecem de tristeza”. Segundo Barbosa, foi o que aconteceu com sua avô. “Ela entrou em depres-são, tem 94 anos e nasceu lá; até hoje, quando falarmos na fazenda, ela cho-ra”. (QA)

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Queila AriadneEm 2007, a professora aposentada Maria do Rosário Damásio, 55,

tinha um criadouro de porcos em uma terra de 200 hectares em Montes Claros, que o pai dela trocou por lotes em 1960. A atividade lhe rendia cerca de R$ 1.000 por mês. Em 2008, ela recebeu um comunicado do Instituto Estadual de Florestas (IEF), informando que sua terra seria desa-propriada e incluída no Parque Estadual Lapa Grande. “Eles começaram a pagar os donos, mas eu não recebi nenhum tostão até hoje, pois o IEF alega que eu vendi parte da minha fazenda para outras pessoas, só que isso nunca aconteceu e eu posso provar”, acusa a professora.

Rosário conta que a alegação do IEF é fundamentada em recibos que ela deu a pessoas que doaram dinheiro para a reforma de uma igreja. “É isso que consta no processo, recibos no valor de R$ 1.000, outros no valor de R$ 2.000, que eu dei para essas doações, posso provar com a ata de reunião que essas pessoas assinaram se comprometendo a doar, eu nunca vendi nada para ninguém”, atesta.

O consultor jurídico da Unesco para regularização fundiária, que presta serviços para o IEF, Charles Alessandro Mendes Castro, afirma que Rosário ainda não recebeu porque a terra está em um espólio, no nome do pai dela, que já faleceu. Mas informa que o dinheiro, cerca de R$ 400 mil, segundo ele, está depositado em juízo. “Há ambiguidade de posse dessas terras, mas isso quem vai decidir é a Justiça, o IEF não pode emitir juízo de valor, é uma questão à parte, que será julgada pela Justiça”, esclarece Castro.

Rosário alega que o espólio não é um impedimento para ela receber a indenização porque, dos nove irmãos, todos já assinaram concordando com posse da terra. “Sobre o fato de outras pessoas alegarem que a terra é delas, ninguém vai conseguir provar e, mesmo se eu devesse alguma coisa a alguém, o IEF não teria o direito de pegar uma parte da minha terra para pagar, e é isso que ele está fazendo ao colocar pessoas para receber indenizações que elas não têm direito”, reclama.

“É a mesma coisa de eu pegar um empréstimo para comprar uma casa e o banco concordar em dar um quarto para pagar uma pessoa que eu supostamente deva, é um absurdo”, acrescenta Rosário.

Castro explica que, pela lei, enquanto a indenização não é paga, o proprietário tem o direito de continuar no local, desde que não faça am-pliações ou desmatamentos. Entretanto, Rosário já não tem mais ânimo de ir à pequena fazenda. “Eu não posso nem limpar uma área que sou multa-da, só tenho despesa, pois ainda tenho que pagar luz, caseiro e ainda tive um prejuízo, pois entraram lá e roubaram equipamentos”, lamenta.

Lapa GrandeO que éA unidade de conservação é administrada pelo Instituto Estadual de

Florestas (IEF) com grande relevância ambiental para o Norte de MinasSituação fundiáriaDa área total, de 7.000 ha, 88,14% estão regularizadosInvestimentos Foram investidos R$ 17,5 milhões na regularização fundiária do

parqueIndenização

Grandes recebem antes dos pequenosA revolta de Maria do Rosário Damásio aumenta ao ver que vá-

rias outras pessoas que tiveram suas terras desapropriadas para inclusão no Parque Estadual Lapa Grande já receberam. “E os grandes receberam primeiro, tem uma terra que era de um empresário de um banco que foi a primeira a ser indenizada, é onde fica hoje a sede do parque”.

Para a diretora-executiva da Associação Mineira de Defesa do Meio Ambiente (Amda), Maria Dalce Ricas, o melhor seria pagar primeiro os pequenos proprietários. “Todo mundo tem direito de receber num mesmo tempo, mas os mais ricos têm mais condições de esperar a indenização”, afirma.

Segundo o pró-reitor da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Gu-mercindo Souza Lima, o ideal seria mesmo que houvesse uma prioridade para os pequenos. “Mas na prática os grandes são indenizados primeiro, pois são donos das maiores áreas e isso é ótimo para relatórios, pois dá para falar que já tem , por exemplo, 40% da área regularizada”, critica. (QA)

Imbróglio

Aposentada perdeu sua terra, sua renda e não foi indenizadaDinheiro estaria depositado em juízo por conta de espólio; professora questiona

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Quanto vale a natureza?

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A natureza não tem preço

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RAFAEL ROCHAUma moça jovem e ingê-

nua, deslumbrada com uma vida de festas e vítima de uma série de fatalidades que culminaram na morte do namorado. Essa é a imagem que a defesa de Maura Gracielle Martins, 27, pretende construir em sua defesa durante o julgamento, na próxima quinta-feira. Ela confessou que matou o então namorado, Weberson Ama-ral Resende, em 2003, na época com 36 anos. E, mesmo com de-talhes que mostram crueldade e premeditação, seu advogado ale-ga que a morte foi acidental e re-sultado de uma briga provocada por investidas sexuais dele.

A estratégia é tentar desqua-lificar a denúncia para conseguir reduzir ao máximo a pena da acusada. Ela pode pegar pena de 12 a 30 anos de prisão caso seja condenada pelos crimes de homi-cídio qualificado cometido por motivo banal e com emprego de meio cruel, ocultação de cadáver, dano material e corrupção de me-nor.

O crime aconteceu em mar-ço de 2003, quando Maura tinha 20 anos. O casal fazia um pique-nique na lagoa Várzea das Flores, em Contagem, na região metro-politana da capital. Weberson foi morto com pedradas na cabeça. Em seguida, Maura teria passado duas vezes com o carro sobre o corpo dele, ocultado o cadáver e colocado fogo no veículo.

Procurada, ela se recusa a fa-lar sobre o assunto. Maura nunca foi presa e chegou a ficar foragi-da por oito meses. Seu advogado, Lúcio Adolfo da Silva, argumen-ta que o crime foi cometido “em defesa de valores morais”. Isso porque a discussão entre os dois teria começado, na versão da ré, quando ela se recusou a fazer

sexo anal com o namorado. Já para o Ministério Público

Estadual (MPE), o crime foi pla-nejado porque Maura tinha medo de que o namorado revelasse à família dela o envolvimento com drogas. Segundo o MPE, o rapaz queria que ela largasse o vício e por isso foi morto.

Arrependimento. O advoga-do afirma que foi Weberson, tam-bém conhecido como Bola, quem levou a jovem ao mundo das dro-gas. Ainda segundo ele, Maura era evangélica e teria largado o dia a dia pacato de Betim, onde vendia sanduíches em um trailer, para frequentar festas, bares e bo-ates a convite do namorado. Eles se conheceram em uma oficina esportiva em que Bola prestava monitoria. “Ela se maravilhou com esse ambiente e ficou co-nhecendo as drogas. Acabou se deixando contaminar”.

Hoje, ainda conforme o de-fensor, Maura mantém distância das drogas, “ficou obediente”, está arrependida e sofrendo. “Ela sabe que vai ser condenada. Teve que recomeçar sua vida”, disse.

BabáNova Lima. Maura mudou

duas vezes de cidade e reside atualmente em Nova Lima. Ela é dona de casa e trabalha como babá. Sua prisão chegou a ser decretada - ela ficou oito meses foragida -, mas seu advogado conseguiu a revogação.

Minientrevista“Ele a tirou de berço esplên-

dido”Lúcio Adolfo da Silva Advo-

gado de mauraJá que sua cliente confessou,

qual a estratégia da defesa? Vou usar a tese de homicídio privile-giado, quando o crime ocorre em defesa de relevante valor moral.

Mas justifica matar por di-

vergência de valores morais? O namorado dela queria fazer sexo anal, algo que ela não queria. Dessa negativa surgiu um de-sentendimento e eles começaram uma briga, foi um descompasso.

Descompasso que acabou com a vida de um homem de 36 anos. A relação já estava con-turbada. Ela queria romper e ele não aceitava. Ele a tirou de berço esplêndido e a apresentou a um mundo de festas, bares e boates que a deixou maravilhada. No dia do crime, ela fez uso de drogas e ele ingeriu álcool, estava bêba-do.

Mas a acusação é de que sua cliente tenha assassinado o par-ceiro de forma fria e planejada. Nada disso, tanto que ela tentou socorrê-lo.

Há informações de que ela passou com o carro duas vezes por cima dele. Ela não sabia di-rigir e aconteceu um acidente. Ia usar o veículo para socorrer o namorado, mas acabou passando sem querer por cima dele.

Então, por que ela não acio-nou a polícia? Ela ficou assus-tada. Um bandido frio assume o crime, mas não foi o caso dela.

Mas no dia anterior ela con-fessou ao vizinho que precisava “eliminar o mala”. Isso foi força de expressão, da mesma forma que uma mãe fala que vai matar o filho, por exemplo. A frase sol-ta fica fora de contexto.

Mesmo ingênua, ela contou versões contraditórias à polícia. Incriminou pessoas inocentes e ainda ficou meses foragida. Eu que a orientei a dar um tempo, pois não tinha sentido pedirem a prisão dela, pois é réu primá-ria, tem bons antecedentes, resi-dência fixa e não atrapalhou as investigações. Tanto que o STJ revogou a prisão.

o teMPo – P. 36 - 18.09.2010Estratégia. Jovem matou namorado, passou com carro em cima dele e ocultou corpo; julgamento é na quinta

Advogado alega “defesa moral”Defesa afirma que Maura mudou de vida, sofre muito e se arrepende do crime

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BRUNO TRINDADEEm duas operações de com-

bate ao tráfico, 21 pessoas foram presas e diversas armas e entor-pecentes, apreendidos, ontem, em várias cidades da região metropo-litana da capital. Em um dos casos, o acusado de chefiar um ponto de distribuição de drogas é um bom-beiro reformado.

O cabo Jorge Silva, 64, e o neto dele, George da Silva Santos, 20, foram detidos com drogas e ar-mas no bairro Morro das Pedras, na região Oeste de Belo Horizonte. Segundo a Polícia Militar (PM), o bombeiro era o “patrão” e Santos gerenciava as vendas.

De acordo com a soldado Lau-ra Nicole, do 22º Batalhão, a polí-cia foi acionada por meio de de-núncia anônima. Na residência do militar, localizada em um beco, a PM prendeu os suspeitos e encon-trou drogas enterradas no quintal.

No local, foram apreendidas cinco armas de fogo e munições de diversos calibres, três tabletes de maconha e um de pasta base,

além de uma grande quantidade de crack e cocaína armazenada em sacolas e papelotes. Foram encon-tradas também duas balanças de precisão, um colete à prova de ba-las e uma touca ninja.

O bombeiro já cumpriu pena por tráfico de drogas e comanda-va a venda de entorpecentes na re-gião, onde reside há 16 anos.

À polícia, o neto dele disse ser dono de todos os materiais apre-endidos. O militar reformado de-clarou que não sabia da existência dos entorpecentes e das armas. Ele declarou ainda que ficou surpreso com o caso.

A ocorrência, encaminhada para a Delegacia Especializada Anti-drogas, não havia sido fi-nalizada até o fechamento desta edição. O bombeiro reformado e o neto dele devem responder por tráfico de drogas e porte ilegal de arma.

Santa Luzia. Na outra ação de-flagrada ontem, foi desmantelada uma quadrilha de 19 integrantes que atuava em cinco municípios.

O grupo estava sendo investigado há seis meses e era formado, entre outros, por três membros de uma mesma família. Um outro suspei-to participava da quadrilha junta-mente com a mulher.

O grupo criminoso atuava na região do bairro Palmital, em San-ta Luzia, e possuía ramificações em Sete Lagoas, Sabará, Matozi-nhos e Belo Horizonte.

Segundo o delegado Wagner Silva, foram cumpridos 20 manda-dos de busca e apreensão e outros 20 de prisão. A polícia investiga o envolvimento de outras pessoas na quadrilha e acredita que, apesar da pequena quantidade de drogas en-contradas - cerca de 1,5 kg - o vo-lume de entorpecentes movimen-tados por eles era muito maior.

Foram apreendidos ainda R$ 500 e uma espada de samurai, além de celulares, cartões de crédi-to, talões de cheque, uma balança de precisão, e documentos. Cerca de 90 agentes e 30 viaturas foram envolvidos na operação

TÂMARA TEIXEIRA As audiências de instrução no

processo que julga as mortes dos empresários Rayder Santos e Fa-biano Moura, em abril deste ano, no bairro Sion, região Centro-Sul da capital, serão retomadas na se-gunda-feira, às 8h. Nesta quarta audiência, a juíza do 2º Tribunal do Júri, Maria Luiza de Andrade Ran-gel Pires, irá tomar novos depoi-mentos de testemunhas de defesa.

A expectativa é de que os acu-sados de participarem do crime que

estão presos - Frederico Flores, o estudante de direito Arlindo So-ares, os PMs André Luis Bartolo-meu e Renato Mozer, e o ex-sogro de Rayder, Adrian Gricorcea - tam-bém falem nesta segunda.

Na última audiência ficou de-cidido, em um acordo entre os ad-vogados, a juíza e a promotoria, que as audiências de instrução se-rão desmembradas e os réus presos responderão separadamente dos soltos. Isso por causa do grande número de testemunhas ainda a se-

rem ouvidas e do cumprimento de prazos.

Segundo o promotor Francis-co Santiago, até agora, as testemu-nhas que já deram seu depoimento reforçam a tese de que Flores, che-fe da quadrilha acusada de come-ter os homicídios, agiu de forma premeditada. O promotor avalia a possibilidade de pedir a prisão dos acusados que estão soltos: a médi-ca Gabriela Costa, o pastor Sidney Benjamim e o advogado Luiz As-tolfo.

o teMPo – P. 39 - 18.09.2010Tráfico. Investigação de seis meses culminou na prisão de 19 suspeitos

Militar reformado chefiava distribuição de drogasBombeiro, que já cumpriu pena, negou participação e se disse “surpreso”

o teMPo – P. 37 - 18.09.2010 Caso Sion

Acusados presos podem ser ouvidos em audiência na segunda-feira

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Bruna Cavalcanti e Adriana Nicacio Todo domingo a família do metalúrgico aposenta-

do João Cardoso de Moraes, 54 anos, se reúne para o almoço. Em torno da mesa, seu João, sua mulher, Seni, os filhos Tatiana, Sarah, Thiago e João conversam de forma descontraída. Um assunto, porém, é evitado: os quase três anos que ele passou no Centro de Detenção Provisória 3 de Pinheiros, em São Paulo. “Todos nós tentamos esquecer”, afirma seu João. Sem antecedentes criminais, ele foi acusado em 2004 de ser o mandante de dois assassinatos e de uma tentativa de homicídio na cidade onde mora, Mauá, na região metropolitana de São Paulo. Preso em dezembro de 2006, seu João conta que os primeiros meses foram os piores: “Foi como se o teto de uma casa tivesse caído em cima da minha ca-beça. Bateu um desespero”, lembra, chorando. O infor-túnio de seu João durou 1.065 dias. Só acabou três me-ses depois de ele enviar um pedido de habeas corpus, escrito à mão, ao Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília. Não se trata de um caso isolado. Dos pedidos de liberdade feitos ao mais alto tribunal do País, 23% chegam por meio de correspondência redigida pelos próprios presos, a maior parte deles cumprindo pena ou esperando julgamento em estabelecimentos prisionais dos Estados de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul.

Cartas provenientes de presídios sempre chega-ram ao STF. Na maioria das vezes, eram simplesmen-te desconsideradas. Em outras, ficavam esquecidas, tomando poeira em armários do tribunal. Em maio de 2008, porém, essa situação mudou, com a criação de um canal direto com o Supremo, a Central do Cidadão. “Começamos a verificar o conteúdo de todas as cartas que recebíamos e observamos que o tratamento dado à maioria delas era muito pobre”, lembra o secretário-adjunto Marcos Alegre Silva, um dos coordenadores do serviço, rebatizado recentemente de Atendimento STF. Atualmente, uma equipe de 14 pessoas faz a triagem e dá encaminhamento à correspondência, que soma uma média de 1,5 mil cartas por mês, 27% delas de presos. “Quando demos início a este serviço, o volume de car-tas que recebíamos não era tão grande quanto o que temos hoje”, afirma Marisa Alonso, coordenadora do Atendimento STF

Seu João decidiu escrever ao Supremo depois de passar mais de dois anos e meio na cadeia, aguardan-do julgamento. Sem entender absolutamente nada de leis, ele dedicou o tempo ocioso que tinha na prisão aos livros de direito que caíam em suas mãos. “Lá, o

que mais o preso tem é tempo para pensar. Por isso, corri atrás e fui estudar”, diz ele, que concluiu apenas o ensino fundamental. “Em pouco tempo, aprendi como redigir um pedido de liberdade e a quem deveria en-caminhar o meu recurso.” Seu João contou ainda com a ajuda de um colega de cela, já acostumado a escre-ver cartas e petições para outros presos. Como ocorre com frequência em presídios brasileiros, por causa da carência de defensores públicos, há presos que se es-pecializam na atividade. “Alguns escrevem muito bem e viram os escribas da cadeia”, comenta o secretário-adjunto do Atendimento STF. Há até aqueles que trans-formam a atividade em fonte de renda. Não foi o caso do companheiro de cela de seu João. Depois de vender bens, contrair dívidas e investir cerca de R$ 100 mil em honorários de advogados, ele gastou menos de R$ 30 para despachar sua correspondência para o STF.

Um dos trechos da carta de seu João reflete o dra-ma vivido atrás das grades, sem julgamento. “O tempo permanecido no cárcere enquanto aguarda a morosi-dade do Judiciário paulista, mesmo sendo absolvido posteriormente, ficará como uma mácula insculpida na sociedade como ‘ex-presidiário’, não havendo indeni-zação que poderá sanar este mal”, escreveu. A inicia-tiva de seu João emocionou sua mulher, que sempre acreditou na inocência do marido, mas já havia perdido a esperança na Justiça. “Ele era a coluna da casa. Quan-do ele foi preso, fiquei sem chão. Sobrevivemos graças ao artesanato que ele fazia na cadeia e que eu vendia aqui fora. Só confiava mesmo na lei de Deus”, relata Seni, cujo filho mais novo tem hoje 10 anos. Menos de três meses após o pedido chegar ao Supremo, o habeas corpus de seu João foi concedido e ele foi solto. “Não acreditei quando mandaram me soltar. Não conseguia calçar o sapato, vestir a roupa nem pensar em nada. A ficha não caía. As pessoas me chamavam de louco, mas eu sabia que conseguiria”, diz.

Dos 4.700 habeas corpus concedidos pelo Supremo no ano passado, 1.200 tiveram como ponto de parti-da a correspondência de presos. Nem todas as medidas determinadas pelo tribunal, porém, estão vinculadas a pedidos de liberdade. Da mesma forma, nem todas as cartas envolvem clamor por liberdade ou reclamações quanto à morosidade no andamento dos processos. Há muita denúncia de maus-tratos nos presídios, requisi-ção de transferência de presídio, pedido de defesa por defensor público e até elogios à atuação de ministros do Supremo. “Recebemos muito material interessante, inclusive agradecimentos”, diz um dos responsáveis

ISto É - oN lINe - 22.09.2010 Cartas da liberdadeVindas de todo o País, mensagens escritas pelos próprios presos representam

23% dos pedidos de habeas corpus concedidos pelo Supremo Tribunal Federal

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pelo serviço do STF. “Uma vez um preso escreveu que ficou tão emo-cionado quando recebeu uma res-posta nossa que chorou, pois não acreditava que seria ouvido.”

Embora acreditasse que um dia conseguiria sair da cadeia, seu João às vezes duvidava que seu pe-dido de habeas corpus, julgado pela Segunda Turma do Supremo, fosse culminar numa mensagem do mi-nistro Celso de Mello ao Tribunal de Justiça de São Paulo, determi-nando que aguardasse “em liberda-de o trânsito em julgado de even-tual sentença condenatória”. Além dessa vitória, hoje João também é considerado um homem inocente. O julgamento, pelo qual aguardou durante quase três anos na cadeia, aconteceu em junho deste ano. A maioria do júri o absolveu das acu-sações de duplo homicídio qualifi-cado e da tentativa de homicídio. Agora o que ele e sua família mais querem é esquecer o tempo perdi-do e tocar a vida. “Depois que vol-tei para casa, passei um mês sem comer e sem dormir direito. O meu filho menor, Joãozinho, ficou trau-matizado com tudo o que aconte-ceu. Nenhum dinheiro vai trazer de volta os dias que perdi ou reverter o dano psicológico que ficou”, diz. Mesmo tentando deixar o passado para trás, seu João sente na pele o preconceito da sociedade e o estig-ma de ser um ex-presidiário. De-pois que ganhou a liberdade, ele começou a trabalhar com compra e venda de automóveis. “No co-meço, as pessoas me evitavam e foi muito difícil. Agora, as coisas estão se acalmando, embora sinta que muita gente me rejeita”, ad-mite. “Às vezes eu finjo para mim mesmo que durante todo esse tem-po que estive fora eu estava na fa-culdade. E, realmente estava. Era a faculdade da vida.”

CoNt... ISto É - oN lINe - 22.09.2010

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Carlos Calaes - Repórter - 19/09/2010 - 18:02

O goleiro Bruno Fernandes e Luiz Henrique Romão, o “Macarrão”, presos desde 26 de agos-to passado na Penitenciária Bangu 2, no Rio de Janeiro, deverão ser transferidos, ainda nesta se-mana, para a Penitenciária Nelson Hungria, em Nova Contagem (RMBH).

Bruno e Macarrão respondem processo junto à Justiça do Rio de Janeiro por lesão corporal e sequestro contra Eliza Samudio, ocorridos em ou-tubro do ano passado. Na última sexta-feira, após audiência, o juiz da 1ª Vara Criminal de Jacare-paguá, na zona oeste do Rio de Janeiro, Marco José Mattos Couto, determinou a voltar de Bruno e Macarrão para Minas.

A transferência deverá ocorrer assim que o cartório do Fórum de Jacarepaguá entregar ofí-cio autorizando a movimentação dos presos para as Secretarias de Administração Penitenciária do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. Neste domin-go (19), a Secretaria de Estado da Defesa Social (Seds) de Minas informou que ainda não recebeu nenhuma comunicação oficial, mas que a transfe-rência deverá ocorrer ainda nesta semana.

Ainda segundo a Seds, como Bruno e Macar-rão foram levados para o Rio de Janeiro pela po-lícia mineira, agora será aplicado o princípio da reciprocidade e a transferência da dupla de Bangu 2 até a Nelson Hungria ficará sob responsabilida-de da polícia carioca. Em Minas, eles respondem pelo sumiço e morte de Eliza Samudio.

hoJe eM dIA - 20.09.2010

Bruno e Macarrão devem ser transferidos para MGAinda nesta semana, acusados devem chegar à Penitenciária Nelson Hungria, em Nova Contagem (RMBH)

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Na noite de sexta-feira, retornou aos Estados Unidos a adolescente de 15 anos que entrou no Brasil com passaporte falsificado. Em 29 de agosto, ela foi apreendida pela Polícia Federal no Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, região metropolitana de Belo Horizonte. Ela foi conduzida - juntamente com seu namorado brasileiro, também menor de idade - à delegacia da Polícia Civil em Vespasiano, região me-tropolitana da capital.

Enquanto aguardava no Brasil, sua custódia foi concedida a um tio do namorado. De acordo com informações da Polícia Federal, a decisão do retorno da adolescente foi tomada pela Justiça, que determinou tam-bém que as autoridades norte-americanas no Brasil providenciassem o

embarque de volta da adolescente, o que aconteceu na sexta com o acom-panhamento de dois cônsules norte-americanos. A jovem embarcou em um voo com destino a Miami, onde mora com o pai.

Namoro. A adolescente conheceu o namorado brasileiro por meio de um site de relacionamento há cerca de um ano. Agora responde por delito de ato infracional por uso de passaporte falso.

Antes de retornar ao país de origem, a garota cedeu entrevista à CNN por telefone e demonstrou que não queria ficar longe do namorado. “Eu prefiro pular de uma ponte com tubarões e piranhas na água, com carne amarrada em meu pescoço, do que voltar para lá”, disse. (RRo)

o teMPo - P. 29 - 19.09.2010

Flagrante

CNH vale R$ 2 mil na praça Sete

Aeroporto de Confins

Menor apreendida com passaporte falso volta para EUA

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Márcio Fagundes

Usos e abusos os

parques de MG

Araxá é uma cida-de do Alto Paranaíba com população esti-mada em 95 mil habi-tantes, que poderá ser confirmada pelo atual senso do IBGE. Estão registrados no muni-cípio cerca de 65 mil eleitores. Os especia-listas em eleições na estância hidromineral afirmam que em tor-no de 56 mil eleitores devem comparecer às urnas. Se as eleições fossem de prefeitos e vereadores o compa-recimento poderia ser um pouco maior já que o voto ainda é obriga-tório no país. O jeito é esperar os resultados para verificar o quanto os especialistas conti-nuam competentes em suas análises. O que mais se vê e se ouve nas ruas da cidade são carros de som no volume bem alto fa-zendo propaganda de candidatos locais e de cidades da região, que também tentam pescar seus votos em campos alheios. Enquanto isso, o Ministério Pú-blico segue quietinho diante de tanta polui-ção sonora e visual no meio ambiente.

hoJe eM dIA - P. 32 17.09.2010MINAS eM dIA

hoJe eM dIA - P. 3 - 18.09.2010

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Pesquisa aponta empate em Minas

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JOÃO CARLOS MAGALHÃESENVIADO ESPECIAL A MACAPÁ (AP)Investigações da Polícia Federal indicam que o suposto me-

gaesquema de desvios de recursos públicos no Amapá pode incluir até o Judiciário. Ao menos três desembargadores do Tribunal de Justiça local são citados no inquérito por membros da “quadrilha”, como diz a PF.

Os nomes aparecem durante conversas de suspeitos. Segundo o inquérito policial, um dos desembargadores, Gilberto Pinheiro, tinha o aluguel da casa de uma suposta “amante” (o termo é da PF) pago pela Secretaria Estadual da Saúde.

Essa secretaria era o habitat dos pivôs do esquema, como o hoje governador Pedro Paulo Dias (PP), titular da pasta até este ano. Além dele, tinham tráfego livre ali Livia Gato, assessora apontada pela PF como amante de Dias, e Alexandre Albuquerque, dono da Amapá VIP, empresa de vigilância privada com contratos supostamente irregulares no governo.

As conversas -entre Dias, Livia e um outro assessor- sobre o pagamento do aluguel à mulher ligada a Pinheiro são do fim de 2009.

O nome da mulher é Ana Paula Batifá. Seu aluguel estava atrasado e foi quitado.

Em dezembro, Dias ligou para a amante e perguntou se o pagamento do “aluguel daquela pessoa ligada lá ao tribunal” foi “resolvido”. Seria o “negócio da Ana Paula”.AtÉ o INterINo

Pinheiro é o presidente em exercício do TJ, no lugar de Dôglas Evangelista, que, com a prisão de Dias, assumiu interinamente o Estado.

Dôglas é citado em grampo no qual um homem diz que “ain-da hoje” faria “o serviço de Dôglas do tribunal”, que o “Paulo havia pedido”. Para a PF, “Paulo” é Paulo Melém, suposto “testa de ferro” do prefeito de Macapá e primo de Waldez Góes, Roberto Góes.

O terceiro citado é o juiz Edinardo Souza. Pouco depois da menção, permitiu que Adauto Bitencourt, o titular da Educação suspeito de desvio de R$ 200 milhões, ficasse no cargo. O Minis-tério Público pedira sua saída.

Os juízes não falaram à Folha.

FolhA de SP - P. A10 - 19.09.2010Ao menos três desembargadores podem ter participado de esquema de desvio de recursos públicos, segundo a PF

Corrupção no AP envolve até JudiciárioInquérito aponta que Secretaria Estadual da Saúde pagava aluguel de suposta amante do presidente do TJ

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No Brasil, muito pouco ainda se escreveu sobre o di-reito à alimentação. Para muitos, o tema se insere em uma perspectiva econômica de produção e qualidade de bens de consumo. Para outros, direito à alimentação deve ser objeti-vo de políticas públicas assistencialistas, de promoção aos vulneráveis. Esses extremos, porém, não parecem traduzir a melhor abordagem.

O direito à alimentação se insere em uma dimensão muito mais ampla e essencial. Trata-se de emanação da per-sonalidade humana. Essa não é composta somente por va-lores constitutivos, dos quais a vida é bem essencial entre os essenciais, mas também por funções e por estados. O ser humano é um todo, insuprível e infungível, que deve coexis-tir com seu semelhante em significativa dimensão relacional da personalidade. Nesses mais diversificados encontros e desencontros com o mundo, o eu e o outro são realidades de significativo valor moral e jurídico.

O ser humano não subsiste sem alimento. Se o corpo é o refúgio da alma, o alimento é fonte de toda a vida humana. Se a pessoa humana, no dizer de São Tomás de Aquino, é a impressão da ciência de Deus, o seu alimento é muito mais que matéria de valor econômico.

Desde a vida inaugural com a concepção, o alimento é essencial. A vida é o valor da existência, é algo que se insere na natureza pela própria obra da criação, é o bem originá-rio. E a ecologia generativa do planeta depende do acesso ao alimento, bem primário, intransmissível, irrenunciável de natureza extrapatrimonial.

Nessa esteira, afigura-se relevante a contribuição do Ministério Público, promovendo a efetividade da dignidade da pessoa humana, fundamento da República Federativa do Brasil, a teor do artigo 1º, III, da Constituição da República. O direito humano à alimentação perpassa por iniciativas go-vernamentais e não governamentais.

No plano das ações governamentais, sobressai a atua-ção ministerial, em síntese, na fiscalização da regular apli-cação dos recursos públicos previstos pelos mais diversos programas sociais. As iniciativas não governamentais, de igual modo, devem ser ajustar ao ordenamento jurídico. As ações do denominado terceiro setor, na esteira da política de compartilhamento e interação, também são objeto da ação do MP. Contudo, a ação ministerial na política de seguran-ça alimentar e nutricional não se cinge a regular execução dos programas sociais. A efetiva realização do direito funda-mental à alimentação compreende todas as fases do proces-so econômico: produção, circulação e distribuição de bens e serviços.

O ordenamento jurídico brasileiro, a teor do artigo 170, caput, da Constituição da República, assegura a ordem eco-

eStAdo de MINAS - P. 01 - dIreIto e JUStIÇA - 20.09.2010

Marcelo de Oliveira Milagres - Promo-tor de Justiça, professor na Faculdade de Direito Milton Campos

Direito aos alimentos

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nômica fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tendo por fim assegurar a todos existência digna, observados princípios como a função social da pro-priedade, livre concorrência, defesa do consumidor e defesa do meio ambiente.

Vivemos sob a égide de um sistema capitalista, de eco-nomia de troca, mas socialmente controlado. No plano de todas essas ideias, pudemos contribuir com o anteprojeto que resultou na Lei Orgânica do Estado de Minas Gerais que dispõe sobre a política de segurança alimentar e nutricional sustentável (Lei 15.982/06).

Em seu artigo 3º, definiu-se que o direito à alimentação é absoluto, intransmissível, indisponível, irrenunciável, im-prescritível e de natureza extrapatrimonial. Sendo dever do poder público, em todos os níveis, da família e da sociedade em geral respeitar, proteger e garantir a realização desse di-reito existencial.

A legislação estadual buscou consolidar todas as expe-riências e trabalhos nacionais e internacionais a propósito do tema. Sobrelevando notar o Pacto Internacional dos Direi-tos Econômicos, Sociais e Culturais de 1966, ratificado pelo Brasil, e o Comentário Geral 12 do Comitê de Direitos Eco-nômicos, Sociais e Culturais do Alto Comissariado de Di-reitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU). No plano estrutural, houve a preocupação em definir o bem jurídico tutelado, precisar mecanismos de implementação do direito à alimentação, estabelecer diretrizes da política estadual de segurança alimentar e nutricional sustentável, aprimorar a articulação entre orçamento e gestão, sobres-saindo preocupação em fixar o instrumento do planejamento integral e intersetorial como marco fundamental.

Tudo está pronto e acabado? Evidentemente que não. A sentida incompreensão do tema exigiu também um marco constitucional. Assim como o direito à moradia, o direito à alimentação mereceu assento no catálogo dos direitos de que cuida o artigo 6º da Constituição, com a Emenda 64/10.

Na ordem da execução, outros desafios se apresentam. É preciso melhor compreender a característica ou o princípio da intersetorialidade. Se as políticas públicas tangenciam a problemática do acesso ao alimento, nem tudo é direito à alimentação. De outro norte, a acessibilidade a alimentos de qualidade e com diversidade ultrapassa fronteiras conhe-cidas da gestão pública. Como fazê-lo? Como incentivar a participação da iniciativa privada nos termos do § 3º do ar-tigo 4º da citada lei orgânica estadual?

Já se disse que as leis, por si só, não alteram ou mo-dificam a realidade. O personalismo ético de Kant coloca em destaque o homem universal, atribuindo-lhe, por ser ele pessoa em sentido ético, uma dignidade. De igual forma, o seu direito à alimentação deve ser reconhecido a partir dessa dimensão. No Brasil, a valiosa vivência teórica dos direitos e garantias fundamentais ainda não alcançou a prática. Os desafios ainda persistem. O cuidar do alimento da vida é problemática transdisciplinar que alcança a sensibilidade de todos indistintamente.