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101 ARTIGO DE REVISÃO Resumo: O diagnóstico radiográfico implica a utilização de radiação electromagnética ionizante (radiação X). Da interac- ção do feixe primário de raio X com o animal surge a radiação secundária com energia suficiente para sair do animal e ser dispersa na sala de raios X. A radiação ionizante tem efeitos bio- lógicos adversos, sendo considerada um perigo ambiental e ocu- pacional. Como tal existe, em Portugal, legislação específica de segurança para as instalações e actividade de radiodiagnóstico. O risco do pessoal envolvido no diagnóstico radiográfico vete- rinário é pequeno, mas não deve ser subestimado. Os níveis de radiação a que os trabalhadores são profissionalmente expostos devem ser tão baixos quanto possível, para obter o diagnóstico radiográfico pretendido. Summary: Radiological diagnosis involves the use of electro- magnetic ionizing radiation. In the interaction of the primary X-ray beam with the patient’s body, scatter radiation results, which may have enough energy to exit from the patient and be dispersed in the X-ray room. Ionizing radiations have adverse biologic effects and are considered an environmental or occu- pational hazard. In Portugal, there are specific regulations for X-ray workers and rooms. The risks to the personnel involved in veterinary radiographic procedures, although modest, should not be underestimated. Levels of radiation to workers should be kept to as low a level as practicable, but still allowing the achie- vement of the diagnostic radiographs required. Introdução A população humana está continuamente exposta a radiação ionizante e não ionizante, de origem natural (rochas, solos, cósmica, etc.) e artificial (procedimen- tos médicos, centrais nucleares, etc.). A radiação ioni- zante é desde há muito tempo considerada um perigo ambiental e ocupacional. Os seus efeitos biológicos adversos são perfeitamente conhecidos. Paradoxal- mente, ao avanço do conhecimento humano acerca dos efeitos indesejáveis da radiação, tem-se verificado um aumento do nível de exposição à radiação artificial, especialmente para fins médicos. A utilização de radia- ção ionizante na medicina (radiografia, fluoroscopia, tomografia computorizada, cintigrafia, radioterapia, etc.) é perfeitamente justificada, porque os benefícios clínicos que proporciona compensam largamente os riscos, desde que seja usada de forma criteriosa. O radiodiagnóstico veterinário é um procedimento médico que utiliza para a obtenção da imagem radio- gráfica radiação electromagnética ionizante, deno- minada raios X. Os raios X foram descobertos por Wilhelm Konrad von Röntgen, em 1895, e há relatos da sua utilização em medicina veterinária desde 1896 (Carter, 1995; Lavin, 1994). O diagnóstico radiográ- fico resulta da sensibilização diferencial das diferen- tes áreas da película radiográfica, após a passagem dos fotões do feixe primário de raios X pelo animal. No percurso dos fotões, através dos tecidos orgâni- cos verificam-se interacções e absorções diferenciais selectivas, fundamentais para a formação da imagem radiográfica. Os fotões da radiação X podem ultrapassar toda a espessura dos tecidos sem qualquer tipo de altera- ção na sua energia ou percurso, ou podem surgir três formas de interacção: a) os fotões interagem com os átomos e mudam de direcção, sem perda de energia (radiação secundária clássica); b) os fotões atingem os átomos, ionizam-nos e perdem toda a sua energia (absorção foto-eléctrica), sendo o espaço vazio na órbita ocupado por outro electrão de uma órbita mais externa e é produzido um novo fotão, com direcção aleatória, e energia equivalente à diferença de ener- gia entre as duas órbitas; c) os fotões podem perder parte da sua energia na interacção e continuarem com energia suficiente para prosseguir o seu percurso numa nova direcção (fenómeno de Compton). A constituição molecular e densidade dos tecidos são factores deter- minantes na permeabilidade orgânica à radiação X, bem como do tipo de interacções preferenciais que se verificam. Dependendo da energia dos fotões da radiação secundária, estes podem ser posteriormente absorvi- dos pelos tecidos do animal ou sair para o exterior. Na segunda situação, podem sensibilizar a película, prejudicando a qualidade radiográfica, ou serem dis- persos na sala de raios X, possuindo as mesmas pro- priedades biológicas indesejáveis dos fotões do feixe primário de raio X, embora sejam menos energéticos e por isso com menor poder de penetração. É este tipo de radiação (secundária), a que o médico veterinário deverá dedicar maior atenção, utilizando uma série de técnicas para limitar ao máximo a sua ocorrência e para se proteger a si e aos seus ajudantes no decurso Efeitos biológicos da radiação X e radioprotecção em medicina veterinária Biologic effects of X-radiation and radiation safety in veterinary medicine M.M.D. Ginja 1 e A.J.A. Ferreira 2 1 Departamento de Patologia e Clínicas Veterinárias, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, 5000 –911, Vila Real, Portugal. E-mail: [email protected] 2 Secção de Cirurgia, Departamento de Morfologia e Clínica-CIISA, Faculdade de Medicina Veterinária, Polo Universitário da Ajuda, 1300-477, Lisboa, Portugal. REVISTA PORTUGUESA DE CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

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    ARTIGO DE REVISO

    Resumo: O diagnstico radiogrfico implica a utilizao de radiao electromagntica ionizante (radiao X). Da interac-o do feixe primrio de raio X com o animal surge a radiao secundria com energia suficiente para sair do animal e ser dispersa na sala de raios X. A radiao ionizante tem efeitos bio-lgicos adversos, sendo considerada um perigo ambiental e ocu-pacional. Como tal existe, em Portugal, legislao especfica de segurana para as instalaes e actividade de radiodiagnstico. O risco do pessoal envolvido no diagnstico radiogrfico vete-rinrio pequeno, mas no deve ser subestimado. Os nveis de radiao a que os trabalhadores so profissionalmente expostos devem ser to baixos quanto possvel, para obter o diagnstico radiogrfico pretendido.

    Summary: Radiological diagnosis involves the use of electro-magnetic ionizing radiation. In the interaction of the primary X-ray beam with the patients body, scatter radiation results, which may have enough energy to exit from the patient and be dispersed in the X-ray room. Ionizing radiations have adverse biologic effects and are considered an environmental or occu-pational hazard. In Portugal, there are specific regulations for X-ray workers and rooms. The risks to the personnel involved in veterinary radiographic procedures, although modest, should not be underestimated. Levels of radiation to workers should be kept to as low a level as practicable, but still allowing the achie-vement of the diagnostic radiographs required.

    Introduo

    A populao humana est continuamente exposta a radiao ionizante e no ionizante, de origem natural (rochas, solos, csmica, etc.) e artificial (procedimen-tos mdicos, centrais nucleares, etc.). A radiao ioni-zante desde h muito tempo considerada um perigo ambiental e ocupacional. Os seus efeitos biolgicos adversos so perfeitamente conhecidos. Paradoxal-mente, ao avano do conhecimento humano acerca dos efeitos indesejveis da radiao, tem-se verificado um aumento do nvel de exposio radiao artificial, especialmente para fins mdicos. A utilizao de radia-o ionizante na medicina (radiografia, fluoroscopia, tomografia computorizada, cintigrafia, radioterapia, etc.) perfeitamente justificada, porque os benefcios clnicos que proporciona compensam largamente os riscos, desde que seja usada de forma criteriosa.

    O radiodiagnstico veterinrio um procedimento

    mdico que utiliza para a obteno da imagem radio-grfica radiao electromagntica ionizante, deno-minada raios X. Os raios X foram descobertos por Wilhelm Konrad von Rntgen, em 1895, e h relatos da sua utilizao em medicina veterinria desde 1896 (Carter, 1995; Lavin, 1994). O diagnstico radiogr-fico resulta da sensibilizao diferencial das diferen-tes reas da pelcula radiogrfica, aps a passagem dos fotes do feixe primrio de raios X pelo animal. No percurso dos fotes, atravs dos tecidos orgni-cos verificam-se interaces e absores diferenciais selectivas, fundamentais para a formao da imagem radiogrfica.

    Os fotes da radiao X podem ultrapassar toda a espessura dos tecidos sem qualquer tipo de altera-o na sua energia ou percurso, ou podem surgir trs formas de interaco: a) os fotes interagem com os tomos e mudam de direco, sem perda de energia (radiao secundria clssica); b) os fotes atingem os tomos, ionizam-nos e perdem toda a sua energia (absoro foto-elctrica), sendo o espao vazio na rbita ocupado por outro electro de uma rbita mais externa e produzido um novo foto, com direco aleatria, e energia equivalente diferena de ener-gia entre as duas rbitas; c) os fotes podem perder parte da sua energia na interaco e continuarem com energia suficiente para prosseguir o seu percurso numa nova direco (fenmeno de Compton). A constituio molecular e densidade dos tecidos so factores deter-minantes na permeabilidade orgnica radiao X, bem como do tipo de interaces preferenciais que se verificam.

    Dependendo da energia dos fotes da radiao secundria, estes podem ser posteriormente absorvi-dos pelos tecidos do animal ou sair para o exterior. Na segunda situao, podem sensibilizar a pelcula, prejudicando a qualidade radiogrfica, ou serem dis-persos na sala de raios X, possuindo as mesmas pro-priedades biolgicas indesejveis dos fotes do feixe primrio de raio X, embora sejam menos energticos e por isso com menor poder de penetrao. este tipo de radiao (secundria), a que o mdico veterinrio dever dedicar maior ateno, utilizando uma srie de tcnicas para limitar ao mximo a sua ocorrncia e para se proteger a si e aos seus ajudantes no decurso

    Efeitos biolgicos da radiao X e radioproteco em medicina veterinria

    Biologic effects of X-radiation and radiation safety in veterinary medicine

    M.M.D. Ginja 1 e A.J.A. Ferreira 2

    1 Departamento de Patologia e Clnicas Veterinrias, Universidade de Trs-os-Montes e Alto Douro, 5000 911, Vila Real, Portugal. E-mail: [email protected]

    2 Seco de Cirurgia, Departamento de Morfologia e Clnica-CIISA, Faculdade de Medicina Veterinria, Polo Universitrio da Ajuda, 1300-477, Lisboa, Portugal.

    R E V I S T A P O R T U G U E S ADE

    CINCIAS VETERINRIAS

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    RPCV (2002) 97 (543) 101-109Ginja, M.M.D. e Ferreira, A.J.A.

    dos exames radiogrficos (Figura 1).Este trabalho de reviso tem como principais objec-

    tivos: a) alertar para os efeitos biolgicos da radiao ionizante; b) chamar ateno para tcnicas que dimi-nuem a radiao secundria; c) alertar para formas de reduzir o nvel de exposio no procedimento radiogr-fico e assim reduzir os riscos; d) divulgar a legislao nacional relativa tcnica de radiodiagnstico.

    Efeitos biolgicos da radiao X e resduos do processamento radiogrfico

    Na exposio dos tecidos vivos radiao ionizante h absoro da energia dos fotes pelas clulas. A transferncia de energia resulta na ionizao e excita-o de tomos e molculas celulares. Nas interaces fotes/clulas so produzidas molculas estveis ou instveis e radicais livres, os quais podem reagir com molculas adjacentes e directa ou indirectamente, exercer uma grande variedade de efeitos indesejveis nas clulas irradiadas (Webbon, 1995). Os efeitos bio-lgicos secundrios advm da perda de funo celular, mutaes genticas ou morte celular (Dobson, 1995; Webbon, 1995). Os efeitos biolgicos indesejveis dos raios X sobre os seres vivos so conhecidos desde o incio do sculo passado. Logo aps a descoberta dos raios X comearam a surgir suspeitas, rapidamente confirmadas, dos efeitos secundrios da radiao nos trabalhadores profissionalmente expostos radiao X, eritemas, perda da sensao, infeces, descamao, dor e morte prematura (Davies, 1995; Rojas, 1988; Webbon, 1995).

    Os efeitos biolgicos da radiao ionizante sobre os seres vivos, so classicamente conhecidos como efeitos estocsticos ou no estocsticos (Dowsett et al., 1998; Orden e Gonzalo-Orden, 1994).

    No primeiro grupo enquadram-se a carcinognese e os defeitos genticos transmitidos descendncia, secundrios a danos no DNA. A probabilidade destes efeitos ocorrerem aumenta com a dose de radiao recebida, no existindo para os efeitos estocsticos uma dose mnima de segurana (Webbon, 1995). Na dcada de 40 foi observada nos radiologistas uma elevada incidncia de leucemia (Strickland e Kensler, 1995). Trabalhos experimentais em animais e dados epidemiolgicos humanos demonstraram a relao entre o aumento da exposio radiao e o aumento da incidncia de neoplasias (Rauth, 1991). O aumento da incidncia de neoplasias s evidente a partir de

    nveis de radiao relativamente elevados e s pode ser detectado atravs de estudos em populaes numerosas (Dowsett et al., 1998). H incerteza sobre o potencial risco carcinognico da exposio a baixas doses de radiao (Kane e Kumar, 1999). Os valores dos riscos da exposio a baixas doses de radiao so extrapola-dos, a partir dos dados recolhidos nos estudos dos efei-tos de elevadas doses de radiao, utilizando-se vrios modelos matemticos de anlise, por vezes controver-sos (Quadro 1) (Cho e Glatstein, 1998; Dowsett et al., 1998). Normalmente decorre um perodo de latncia de 10 a 20 anos at surgir a evidncia clnica das neo-plasias (Kane e Kumar, 1999).

    So exemplos de efeitos no estocsticos as catara-tas e as lceras cutneas (Webbon, 1995). A gravidade deste tipo de efeitos biolgicos da radiao depende da dose absorvida pelos tecidos, sendo s evidentes quando ultrapassado o limiar de segurana. Para os efeitos no estocsticos o limiar de segurana de cada rgo conhecido, estando perfeitamente estabelecido (Quadro 2) (Dowsett et al., 1998; Webbon, 1995). Os tecidos com uma elevada taxa de renovao celular (medula ssea, gnadas, intestinos, etc.) so mais radiosensveis (Morgan, 1993; Rauth, 1991), devido aco da radiao no DNA (Dobson, 1995; Kane e Kumar, 1999). Este tipo de efeitos da radiao ioni-zante sobre os tecidos vivos no so aparentes ime-diatamente, podendo surgir semanas, meses ou anos depois (Dernall e Wheaton, 1995) e foram os primeiros a ser conhecidos e descritos (Davies, 1995). A extenso dos danos depende da dose de radiao, fonte de radia-o, intensidade e durao da exposio (Dernell e Wheaton, 1995). Actualmente, este tipo de efeitos no estocsticos, resultantes dos danos de tecidos normais em procedimentos mdicos s so evidentes nos trata-mentos de radioterapia (Dernell e Wheaton, 1995). Os equipamentos de radiodiagnstico comercializados e homologados so seguros e desde que sejam cumpridas as normas de radioproteco no procedimento radio-grfico, a exposio radiao ionizante do radiolo-gista e pessoal auxiliar mnima (Dowsett et al., 1998).

    Quadro 1 Comparao de riscos fatais. Adaptado de Dowsett et al. (1998).Evento Risco Razo do riscoCondutor de automvel(16 000 Quilmetros) 200 x 10-6 1 : 5000Idade de 55 anos 10 000 x 10-6 1 : 1001 mSv exposio 10 x 10-6 1 : 100 00050 mSv exposio 1,5 x 10-3 1 : 700

    Quadro 2 Limiares estimados de efeitos no estocsticos em Sv para a exposio aguda e crnica de todo o corpo segundo ICPR60. Adaptado de Dowsett et al. (1998).Tecido/efeito Dose de Dose anual de exposio aguda exposio crnicaGnadas masculinas: Esterilidade temporria 0,15 0,4 Esterilidade permanente 3,5 6,0 2.0Gnadas femininas: Esterilidade >2,5 >0,2Cristalino: Opacidades 2 10 >0,1 Cataratas >2.0 >0,15Medula ssea Anemia >0,5 >0,4

    Figura 1 Radiao dispersa na sala de raio X. 1) ampola de raios x; 2) colimador; 3) feixe de raios X primrio; 4) animal; 5) radiao secundria dispersa.

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    Em radiologia veterinria so especialmente preocu-pantes os efeitos estocsticos, uma vez que uma dimi-nuio da exposio radiao ionizante simplesmente reduz a probabilidade de ocorrerem, mas nunca a sua importncia. Os efeitos no estocsticos em Medicina Veterinria no assumem tanta importncia, desde que sejam cumpridas as normas bsicas de segurana. No decurso do radiodiagnstico, a dose de segurana destes efeitos, para qualquer rgo, dificilmente ser atingida (Quadro 3).

    Quadro 3 Segundo Webbon 1981 ou Wrigley e BoraK 1983, citados por Webbon (1995) a exposio radiogrfica registada numa radiografia de rotina para avaliao de displasia da anca num co de 17 kg, com exposio de 60 kVp e 32 mAsDose registada entrada da pele 1,5 mSvDose junto do feixe de raios X primrio 0,04 mSvDose a 25 cm de distncia do feixe de raios X primrio 0,008 mSvDose a 35 cm de distncia do feixe de raios X primrio debaixo do avental de 0,25 mm de chumbo 0,00004 mSv

    O Decreto-Lei n348/89 de 12 de Outubro e o Decreto Regulamentar n9/90 de 19 de Abril, estabele-cem os princpios e as normas de segurana destinados proteco sanitria da populao e dos trabalhadores contra os perigos resultantes das radiaes ionizantes. No Decreto Regulamentar n9/90 de 19 de Abril so referidos os limites de dose para pessoas profissional-mente expostas, limites especiais e limites de dose para membros do pblico (Quadro 4).

    Quadro 4 Limites de dose. Adaptado do Anexo IV do Decreto Regulamentar n 9/90 de 19 de AbrilPessoas/Tecidos DosePessoas Profissionalmente expostas (PPE): Todo o corpo 50 mSv/anoCristalino 150 mSv/anoPele, mos, antebraos, ps e tornozelos 500 mSv/anoOutros rgos ou tecidos 500 mSv/anoLimites especiais: Idades entre os 16 e 18 anos 1/10 das PPEMulheres em idade de gestao no abdmen 13 mSv/trimestreDose no feto na gravidez < 10 mSvLimites de dose para membros do pblico 1/10 das PPE

    O processamento das pelculas na cmara escura, atravs da utilizao de solues de revelao e fixao, produz resduos perigosos para o ambiente, quando so libertados na natureza sem tratamento prvio. O produtor responsvel pelo destino final dos resduos e as normas nacionais para a sua gesto adequada encontram-se no Decreto-Lei n239/97 de 9 de Setembro. Em Portugal, segundo a Listagem de empresas de tratamento de resduos legalizadas (http://www.inresiduos.pt), a TRIALAG (Agncia de Intercmbio Comercial, Parque Industrial da Quimigal, Rua 46 A, n 8, 2831-904 Barreiro, tel. 212074958 / fax: 212074989) a nica empresa legalizada, espe-cializada na reciclagem da prata a partir dos banhos da fixao, pelculas radiogrficas e na eliminao dos banhos de revelao. Uma gesto adequada dos res-duos implica a sua armazenagem em contentores ade-quados, fornecidos pela empresa e a recolha peridica.

    RPCV (2002) 97 (543) 101-109Ginja, M.M.D. e Ferreira, A.J.A.

    Os encargos econmicos que advm do tratamento so reduzidos, pois a prata reciclada valorizada.

    Tcnicas de limitao da radiao secundria

    H diversos factores que influenciam de forma directa, o tipo/quantidade de radiao X utilizada no procedimento radiogrfico normal e indirectamente a quantidade de radiao secundria dispersa na sala de raios X: delimitao do feixe primrio de raios X; tipo de feixe primrio de raios X; filtros; ecrs intensifica-dores; pelculas radiogrficas; grelhas; compresso dos tecidos; distncia da fonte de radiao; proteco das cassetes por chumbo na face inferior/posterior; repeti-o de radiografias; radiografias desnecessrias.

    O feixe de raios X primrio deve ser delimitado regio a examinar, sendo apenas irradiada a regio anatmica que se pretende radiografar. Este procedi-mento reduz a exposio radiao do animal e evita a exposio, radiao do feixe de raios X primrio, de quem est a fazer a conteno. Por outro lado, ao reduzir-se a rea irradiada diminui-se a quantidade de radiao secundria dispersa na sala e a que vai atingir a pelcula (melhorando a qualidade radiogrfica). A quantidade de radiao secundria produzida, quando o tipo de feixe primrio se mantm, est directamente dependente da rea irradiada (Douglas et al., 1987; Lavin, 1994; Morgan, 1993). Ao longo dos anos tm sido utilizados diversos dispositivos no equipamento radiogrfico com esta finalidade: aberturas diafragm-ticas por lminas de chumbo ajustveis, cones e cilin-dros de chumbo. Os primeiros dispositivos so con-siderados mais eficazes, prticos e funcionais, sendo normalmente conhecidos por colimadores. Este tipo de delimitadores do feixe tm incorporada uma luz indi-cadora que permite a visualizao da rea irradiada. A manipulao das lminas internas de chumbo (aproxi-mao ou afastamento), atravs de manpulos externos, possibilita o ajustamento das dimenses da rea irra-diada, regio anatmica que se pretende radiografar (Figura 2) (Morgan, 1993).

    Figura 2 Esquema do interior de um colimador. a) lminas de chumbo; b) espelho; c) fonte de luz; d) manpulos externos de controlo dos movi-mentos das lminas; e) fonte de raios X.

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    Para a formao da imagem radiogrfica impres-cindvel utilizar um feixe primrio de radiao X, com fotes suficientemente energticos, para uma adequada quantidade de radiao ultrapassar os tecidos e estar disponvel para sensibilizar a pelcula e contribuir para a formao da imagem radiogrfica. Na prtica clnica, uma radiografia com a adequada densidade para o diagnstico pode conseguir-se utilizando elevadas ou baixas kVp (Kilovolt peak: diferena de potencial mxima utilizada na realizao dos exames radiogr-ficos, vulgarmente designada de quilovoltagem), desde que se faam as devidas compensaes dos mAs. Uma radiografia torcica de um candeo com densidade equivalente pode obter-se utilizando 40 kVp e 40 mAs ou 100 kVp e 1,5 mAs. Na segunda situao, a utiliza-o de elevados kVp, permite uma reduo drstica da intensidade do feixe de raios X primrio, diminuindo consequentemente o nvel de exposio radiao a que sujeito o animal, sendo neste aspecto prefervel relativamente utilizao de feixes com kVp reduzi-das (Morgan, 1993).

    Os filtros so placas de alumnio ou cobre com diferentes espessuras que so ajustados sada da ampola, no trajecto do feixe de raios X primrio. Estes dispositivos eliminam do feixe os fotes menos energticos, que no contribuem para a formao da imagem radiogrfica, e uma pequena quantidade dos mais energticos. Os filtros permitem um endureci-mento do feixe, ou seja a seleco dos fotes mais energticos (fundamentais para a formao da imagem radiogrfica) e reduzem drasticamente o nvel de expo-sio radiao dos animais. Por outro lado, os filtros tambm tm influncia na quantidade de radiao secundria produzida e no contraste e densidade final da radiografia. As alteraes da densidade radiogrfica verificadas com a sua utilizao implicam ajustamen-tos de compensao no feixe primrio de raios X, em mAs. A quantidade final de filtrao mais adequada determinada essencialmente pelas kVp que se utilizam no disparo (Morgan, 1993).

    Menos de 1% dos fotes que atingem a pelcula interagem com ela e assim contribuem para a forma-o da imagem latente. Devido a esta ineficincia no aproveitamento da radiao, podem ser usados na tc-nica radiogrfica, desde 1897, os ecrs intensificadores (Morgan, 1993). Estes acessrios radiogrficos so incorporados nas cassetes e tm substncias fluores-centes. A camada fluorescente tem uma maior eficcia de interaco com os fotes X e grande capacidade de absorver a energia dos fotes X e convert-la em fotes de luz visvel (menos energticos e em maior quantidade) que vo sensibilizar a pelcula. A inten-sidade do feixe primrio de raios X requerida, pode ser consideravelmente mais reduzida. Esta reduo tem influncia directa na quantidade de radiao a que o animal est sujeito e na radiao secundria que dispersa na sala de radiodiagnstico (Douglas et al., 1987; Lavin, 1994; Morgan, 1993;). Existem no mercado vrios tipos de ecrs intensificadores incorporados nas cassetes com diferentes capacida-des de interaco e converso da energia da radia-o primria. Estas caractersticas so normalmente conhecidas como factor de intensificao. O factor de

    intensificao do ecr intensificador (exposio sem ecr/exposio com ecr) determinado pela quali-dade da substncia fluorescente (tungstato de clcio, terras raras, etc.), espessura, dimenses e concentrao dos cristais, temperatura da sala e kVp utilizada (Tor-torici, 1992). Os ecrs intensificadores de terras raras so considerados mais rpidos, uma vez que estas substncias tm uma grande capacidade de interaco e de converso da energia dos fotes X, conseguindo-se elevados factores de intensificao.

    As pelculas radiogrficas comercializadas tm diferentes velocidades. A velocidade da pelcula determinada pela exposio requerida para a formao da imagem radiogrfica com a densidade adequada. A utilizao de pelculas rpidas permite obter radiogra-fias com o uso de feixes de raios X primrio de menor intensidade. Para uma maior eficincia das pelculas no aproveitamento da radiao utilizada para a forma-o da imagem radiogrfica, a sua sensibilidade deve estar de acordo com o tipo de luz visvel emitida pelos ecrs intensificadores (Lavin, 1994; Morgan, 1993).

    As grelhas so utilizadas na tcnica radiogrfica para eliminar a radiao secundria que vai atingir a pelcula, responsvel por prejudicar a qualidade da imagem radiogrfica. O uso de grelhas permite obter radiografias com melhor contraste, estando a sua uti-lizao recomendada quando a espessura dos tecidos a radiografar ultrapassa os 10/12 cm. As grelhas, colo-cam-se entre o animal e a pelcula, e eliminam uma grande percentagem dos fotes de radiao secund-ria que iriam sensibilizar a pelcula e alguns fotes do feixe de raios X primrio. A quantidade de fotes disponveis para sensibilizar a pelcula drasticamente reduzida, pelo que para manter a densidade radiogr-fica de diagnstico fundamental compensar adequa-damente a intensidade do feixe de raios X utilizado. A compensao implica um aumento da radiao sobre o animal e consequentemente tambm vai ser respons-vel pelo aumento da radiao secundria dispersa na sala de raios X (Morgan, 1993; Douglas et al., 1987). A alterao na tcnica radiogrfica, para compen-sar a reduo da exposio da pelcula pelo uso das grelhas, tambm conhecida como Factor de Bucky. Este factor de compensao est dependente de carac-tersticas da grelha e da energia dos fotes (Quadro5) (Morgan, 1993).

    Quadro 5 Factor de Bucky para compensar a reduo de exposio devido ao uso de grelhas. Adaptado de Morgan (1993). Razo da < 70 kVp < 95 kVp < 120 kVp grelha*/energia dos fotes Sem grelha 1 1 1 5:1 3 3 3 8:1 3,5 3,75 4 12:1 4 4,25 5 16:1 4,5 5 6*Razo da grelha: relao entre a altura das lminas de chumbo e a dis-tncia entre as lminas.

    Devido caracterstica disperso rectilnea da radia-o X, normalmente utiliza-se na quantificao da exposio a lei inversa do quadrado. Isto significa que,

    RPCV (2002) 97 (543) 101-109Ginja, M.M.D. e Ferreira, A.J.A.

  • ao duplicar-se a distncia da fonte de radiao prim-ria, o nvel de radiao recebido reduzido a 1/4, uma vez que a mesma quantidade de fotes vai irradiar o quadruplo da rea (Figura 3) (Morgan, 1993; Tortorici, 1992).

    nados na mesa correctamente, de preferncia sedados ou anestesiados (obtm-se melhor qualidade e evita-se a conteno) e as solues de processamento das pel-culas no devem encontrar-se deterioradas (Morgan, 1993).

    O exame radiogrfico deve ser sempre precedido de um exame clnico completo e rigoroso. Os animais e as regies anatmicas a radiografar devem ser criterio-samente seleccionados, pois s as vantagens clnicas justificam os riscos (Morgan, 1993).

    Controlo da exposio radiao X

    Unidades de dose de radiao

    Os efeitos biolgicos das radiaes ionizantes esto em certa medida dependentes da quantidade recebida. Para podermos quantificar a radiao utilizam-se trs tipos de medida: exposio, a dose absorvida, a dose equivalente.

    A exposio representa o poder de ionizao da radiao no ar e pode ser medida graas a uma cmara de ionizao. A exposio utilizada para descrever, por exemplo: a radiao de uma ampola radiogrfica a uma determinada distncia. A unidade de exposio no sistema Internacional (S.I.) o Coulomb por quilo-grama (C/kg). O Roentgen (R) uma unidade utilizada anteriormente mas que ainda aparece com frequncia referenciada em muitos documentos. 1 R= 2,58 x 10-4 C/kg.

    A dose absorvida utilizada para descrever a quan-tidade de radiao absorvida por um objecto ou um organismo vivo no decurso de um disparo radiogrfico. a medida utilizada, por exemplo, para descrever a dose recebida ou prescrita em radioterapia. Pode ser definida pela energia, medida em Joules (J) , deposta por unidade de massa (kg) no decurso da exposio. A unidade do S.I. o Gray (Gy) (1 Gy= 1J/kg). Ante-riormente a unidade utilizada era o rad. 1 Gy=100 rad.

    A dose equivalente uma medida que foi introdu-zida para reflectir os efeitos biolgicos diferentes de uma mesma dose em funo da natureza da radiao. Aos diferentes tipos de radiao foi atribudo um factor de qualidade (Q) reflectindo o seu poder patognico. Este factor de qualidade de 1 para a radiao X, e , de 10 nos neutres e 20 para as partculas alfa. Esta medida utilizada em radioproteco e as doses mxi-mas autorizadas so expressas na legislao na unidade denominada Sievert (Sv) (Dowsett et al., 1998). O Sv = 1Gy x Q. Anteriormente a unidade utilizada era o rem (1 Sv= 100 rem) (Lavin, 1994). No sistema de limitao de doses definidos na legislao e na dosi-metria realizada nas instalaes de radiodiagnstico, so as unidades de dose equivalente que so utilizadas. O Sv uma unidade que corresponde a uma elevado nvel de exposio no radiodiagnstico veterinrio. Normalmente as quantidades de radiao em radiolo-gia veterinria so muito inferiores ao Sv, pelo que comum a utilizao do milisievert (mSv) ou mesmo do microsievert (Sv).

    Uma vez que a susceptibilidade dos tecidos radia-o no igual a Comisso Internacional de Proteco Radiolgica introduziu uma nova categoria de medida

    Figura 3 Esquema da lei inversa do quadrado. Ao duplicar-se a distncia (d) do local de origem da radiao, a rea irradiada quadriplica, a intensidade de radiao reduzida a um quarto, sendo conse-quentemente o nvel de exposio tambm redu-zido a um quarto.

    A Compresso dos tecidos com a utilizao de objectos radiotransparentes (colheres de pau, bandas de pano, etc.), pode estar recomendada, por exemplo, na projeco lateral do abdmen caudal para a melhor visualizao radiogrfica do tero canino, uma vez que so reduzidas as sobreposies de outros rgos com densidades equivalentes (Feeney e Johnston, 1986). Por outro lado, a compresso ao diminuir a espessura dos tecidos, permite a reduo dos factores de exposi-o e a consequente diminuio da radiao secundria dispersa (Morgan, 1993). Esta tcnica tem como des-vantagens a alterao da anatomia radiogrfica normal das vsceras e por vezes podem surgir artefactos.

    H todo o interesse na utilizao de cassetes com proteco por chumbo da face inferior/posterior, uma vez que mesmo com a utilizao de ecrs intensifi-cadores, h uma grande quantidade de fotes X que ultrapassam estas estruturas. Quando existe o chumbo na face posterior/inferior das cassetes, estes fotes des-perdiados so absorvidos, caso contrrio podem irra-diar directamente partes do organismo de quem est a fazer a conteno que se encontrem por baixo da mesa (p.e. ps) ou contribuir para o aumento da radiao secundria dispersa na sala (Morgan, 1993; Douglas et al., 1987).

    A repetio de radiografias sempre indesejada e deve ser evitada, uma vez que vai exigir a utilizao de nova radiao. H todo o interesse em ter nas instala-es de radiodiagnstico tabelas prprias de exposio radiogrfica, para utilizao nas diferentes projeces, espcies, raas, tamanhos, etc. Actualmente, tambm comercializado equipamento radiogrfico com pro-gramao anatmica e exposimetria automtica, que neste aspecto pode ser vantajoso. O exame radiogr-fico tambm deve ser preparado, os animais posicio-

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    da radiao, a dose efectiva. Com a utilizao desta grandeza possvel comparar o risco que advm da radiao no uniforme e uniforme do corpo. A dose efectiva a soma ponderada das dose equivalentes em diversos rgos (Orden e Gonzalo-Orden, 1994). Os valores de ponderao para cada rgo esto definidos (DR n 9/90) tendo em conta o risco da radiao no rgo em causa. A unidade de dose efectiva tambm o Sv.

    Dosmetros de radiao pessoais

    Detectores de baixos nveis de radiao so utiliza-dos nas clnicas veterinrias, para monitorizar a quanti-dade de exposio individual, acumulada num determi-nado perodo de tempo (Morgan, 1993). No mercado existem diferentes tipos de detectores de radiao acei-tveis para monitorizao individual e ambiental.

    Os detectores de radiao fotogrficos consistem numa pelcula de filme inserida num suporte de pls-tico o qual pode ser preso no vesturio (Morgan, 1993). O mtodo fotogrfico foi o primeiro a ser utilizado na deteco da radiao (Dowsett et al., 1998; Orden e Gonzalo-Orden, 1994). A exposio do dosmetro radiao ionizante sensibiliza o filme, escurecendo-se quando revelado. A quantidade de escurecimento do filme avaliada com um densitometro e proporcional dose de radiao recebida (Morgan, 1993). O suporte de plstico contm diferentes filtros que permitem esti-mar a energia da radiao recebida (Figura 4) (Mar-tnez Hernndez e San Andrs Larrea, 1992a; Rojas, 1992). A leitura feita por entidades oficiais e cuida-

    e o Servio de Radiodiagnstico (SR): 1 - envio de pelculas novas pelo DPRSN; 2 - envio das pelculas usadas pelo SR; 3- envio das leituras de cada dosme-tro em Sv (dose no perodo e acumulada). Os impres-sos do DPRSN com as leituras de cada trabalhador profissionalmente exposto devem ser cuidadosamente arquivados no SR. Os custos da dosimetria encontram-se definidos no Despacho n 17018/2000 (Quadro 6).

    Outro tipo de detectores de radiao so os dosme-tros termoluminescentes, baseiam-se nas alteraes produzidas pela radiao em certos cristais de sulfato de clcio e fluoreto de ltio. Quando estas molculas so expostas radiao ionizante, absorvem a sua energia (Martnez Hernndez e San Andrs Larrea, 1992a; Morgan, 1993). Actualmente esto a comear a substituir os dosmetros fotogrficos (Orden e Gon-zalo-Orden, 1994). As molculas mantm o estado excitado at serem aquecidas a altas temperaturas. Para a leitura so aquecidas, voltando ao seu estado normal e emitindo luz. A luz emitida proporcional quantidade de energia ionizante recebida, sendo a quantidade de luz emitida usada para extrapolao da dose de radiao de exposio (Morgan, 1993; Orden e Gonzalo-Orden, 1994).

    As cmaras de ionizao so outro tipo de detectores de radiao, que permitem a deteco electrnica e lei-tura directa da dose de radiao recebida (Dowsett et al., 1998; Orden e Gonzalo-Orden, 1994). A exposio da cmara radiao ionizante resulta numa perda de carga proporcional quantidade de exposio. Este tipo de detectores tm grande sensibilidade, a leitura pode ser em microsieverts, num visor. Como desvan-tagens, salienta-se o elevado preo, preciso no total-mente fivel e este tipo de detectores no possibilita um registo permanente da radiao recebida (Morgan, 1993).

    Quadro 6 Custos da prestao de servios do controlo por dosimetria fotogrfica Servio Custos Iniciao do controlo por trabalhador 120 Controlo peridico por perodo de controlo e por trabalhador 5,40 Extravio ou danificao de um dosmetro 60

    Instalaes de Radiodiagnstico

    A radiao ionizante considerada um perigo ambiental e ocupacional (Morgan, 1993). As instala-es de radiodiagnstico veterinrio so abrangidas pela legislao nacional existente para actividades mdicas que envolvem a produo de radiao ioni-zante. O Despacho n 7191/97 de 5 de Setembro, nos seus anexos estabelece os critrios para aceita-bilidade das instalaes de radiodiagnstico, entre os quais destacamos: os requisitos tcnicos a que devem obedecer as instalaes e a necessidade do pedido de licenciamento e de um regulamento de funciona-mento aprovado pela Direco Geral da Sade (DGS, Alameda D. Afonso Henriques, 45, 1049-005 Lisboa, tel.: 218430500, fax: 218430530). O pedido de licen-ciamento deve ser feito pelo responsvel da instalao DGS, utilizando impressos prprios.

    No decurso do processo de licenciamento das ins-talaes de radiodiagnstico efectuado o estudo de

    dosamente registada e arquivada (Morgan, 1993).Em Portugal, o controlo dosimtrico nas instalaes

    de radiodiagnstico feito atravs de dosmetros foto-grficos, pelo Departamento de Proteco Radiolgica e Segurana Nuclear (DPRSN, estrada nacional n 10, apartado 21, 2686-953 Sacavm, tel.: 219946000, fax: 219941995). A utilizao de dosimetria nas instalaes de radiodiagnstico deve ser solicitada ao DPRSN, em impressos prprios. Com base na quantidade de servio radiogrfico realizado nas instalaes calen-darizada a periodicidade de envio de pelculas e de leitura da exposio. Em cada perodo de controlo h troca de correspondncia, via correio, entre o DPRSN

    Figura 4 Interior do dosmetro fotogrfico. reas sem filtro (seta cinzenta) e com filtro de alumnio e de cobre (seta preta). No centro est a pelcula individual, utilizada para leitura (seta branca).

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    segurana radiolgica, pelo DPRSN, a pedido da DGS. Para o licenciamento exigido equipamento com certi-ficados de homologao, adequada radioproteco das portas e paredes, bem como uma eficaz sinalizao da sala de exames, com uma luz vermelha e avisos indica-dores de perigo de radiao ionizante de acordo com a Norma Portuguesa N 442 de 1966 (Figura 5).

    ausncia de repeties e de radiografias desnecessrias; d) no aumento da distncia da fonte de radiao secun-dria; e) proteco adequada do organismo utilizando material radioprotector (luvas, aventais e protectores da tiride de chumbo, culos com lentes radiopacas, etc.) (Morgan, 1993; Perry, 1993).

    O conceito ALARA pressupe o cumprimento estrito de todas as medidas de radioproteco no decurso dos exames (Quadro 7). Desta forma, previnem-se os efei-tos no estocsticos e reduz-se, para nveis aceitveis, a probabilidade dos efeitos estocsticos ocorrerem (Dowsett et al., 1998). Quando a exposio mnima os potenciais perigos da radiao so considerados negligenciveis relativamente aos benefcios clnicos (Webbon, 1995).

    A dosimetria individual fotogrfica, utilizada em Portugal, no pode ser considerada ideal, tem algumas limitaes, entre as quais destacamos a reduzida sen-sibilidade dos dosmetros (0,2 mSv). Normalmente, na radiologia veterinria, este tipo de dosimetria individual resulta em leituras de valor zero. No pre-tendemos no entanto desencorajar a utilizao desta dosimetria individual, perfeitamente justificada por funcionar como alerta em eventuais anomalias de funcionamento do equipamento e indispensvel para cumprimento da legislao em vigor.

    O mdico veterinrio no deve satisfazer-se por, no controlo dosimtrico individual, no ultrapassar os limites de dose fixados por lei. Teoricamente, os limites de dose referidos na legislao, no permitem reduzir a zero os riscos da exposio humana radia-o ionizante e em Medicina Veterinria estes limites dificilmente sero atingidos. O trabalho mais seguro, com menores riscos, ser sempre aquele que respeita o conceito ALARA, uma vez que permite obter a qua-lidade diagnstica desejvel, com nveis reduzidos de exposio humana radiao ionizante.

    Quadro 7 Regras bsicas de segurana para o diagnstico radiogrfico. Adaptado de Morgan (1993), Perry (1993) e Webbon (1997). O exame radiogrfico deve ser justificado pelas vantagens clnicas que proporciona. No permitir a permanncia de menores nem de mulheres grvidas na sala de exames Rodar o pessoal que permanece na sala para a conteno dos animais. Utilizar a tranquilizao dos animais sempre que possvel. No expor nenhuma parte do corpo ao feixe primrio de raios X. Utilizar sempre vesturio radioprotector adequado (aventais, luvas, protectores da tiride, etc.). Fazer uma adequada limitao do feixe primrio de raios X e afastar-se o mximo possvel da fonte de radiao secundria, durante a conteno dos animais. Usar combinaes, de ecrs intensificadores e pelculas, rpidas de forma a reduzir ao mximo os factores de exposio. Realizar o processamento das pelculas de forma correcta (temperaturas e qualidade das solues adequadas). Utilizar dosmetros de radiao. Planear o exame radiogrfico para evitar repeties desnecessrias. Utilizar tabelas de exposio radiogrfica para assegurar a qualidade diagnstico e evitar repeties.

    Figura 5 Smbolo de perigo de radiao ionizante NP-442. Triflio preto sob fundo amarelo com indica-es adicionais a preto.

    Na radioproteco das instalaes as portas so nor-malmente revestidas com folhas de chumbo (2 mm), nas paredes utilizada argamassa com barita (3/5 de barita, 1/5 de areia e 1/5 de cimento) com espessura de 3 cm, em 3 camadas de 1 cm, e nos visores vidro de compsito chumbneo, materiais que oferecem uma radioproteco equivalente a 2 mm de chumbo (Philips Portuguesa, 1999). As instalaes de radiodiagnstico, excepo das de medicina dentria, quando esto integradas em reas de habitao ou servios devem situar-se a nvel do solo ou subsolo. Os requisitos de radioproteco das salas so definidos no Despacho n 7191/97 e esto dependentes de vrios parmetros, nomeadamente: energia da radiao; carga semanal de funcionamento; direco do feixe til de radiao; tipo de ocupao das reas a proteger.

    Radioproteco

    Como a dose segura de radiao ainda desconhe-cida, considera-se prudente evitar ao mximo a expo-sio rotineira radiao ionizante (Cho e Glatstein, 1998). O risco do pessoal envolvido no procedimento radiogrfico veterinrio, embora pequeno, no deve ser subestimado (Webbon, 1995). Qualquer actividade que implique a exposio a radiao ionizante deve ser pre-viamente justificada pelas vantagens que proporciona. Deve evitar-se sempre a exposio desnecessria, e o nvel de exposio ser mantido o mais baixo possvel e nunca ultrapassar os limites fixados por lei (DR N 9/90).

    No diagnstico radiogrfico, em Medicina Veterin-ria, recomenda-se para controlo do nvel de exposio humana radiao, o conceito ALARA as low as reasonable achievable, ou seja, a exposio radiao deve ser sempre s a indispensvel (Morgan, 1993; Lavin, 1994).

    A eficcia da radioproteco em Medicina Veterin-ria assenta essencialmente na: a) limitao do tempo de exposio; b) sedao ou anestesia dos animais para facilitar o posicionamento e evitar a conteno; c)

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    Radiao ionizante natural e artificial

    A radiao um componente inevitvel do nosso meio ambiente (Darby, 1999). Os seres vivos, que habitam a superfcie terrestre esto sujeitos a radiao ionizante natural e frequentemente a radiao para fins mdicos (Quadro 8 e 9).

    A radiao natural qual estamos expostos depende de diversos factores (altura, geologia, etc.). A inten-sidade de radiao a 4000 metros de altura 4 vezes superior do que ao nvel do mar (Martnez Hernndez e San Andrs Larrea, 1992b) e uma viagem de avio a 9 000 metros de altura expe o indivduo a 5 Sv/hora (Cho e Glatstein, 1998). Em algumas reas do globo terrestre, os nveis de radiao natural so especial-mente elevados, 100 mSv por ano no Kerala, ndia e certas regies do Brasil. Estes locais so utilizados como modelos em estudos dos efeitos biolgicos da exposio a baixas doses de radiao ionizante (Dow-sett et al., 1998).

    Quadro 8 Propores tpicas de radiao ionizante natural e artificial na Europa (dose para todo o corpo). Adaptado de Dowsett et al. (1998).Fonte Dose (Sv) %Radiao natural Radiao csmica(actividade solar) 310 13Radiao gama terrestre(solos, rochas e gua) 380 16Decrscimo radioactivo do gs rdon(casas e rea de trabalho) 800 33Radiao interna(40K, 14C, etc.) 370 15Total 1860 78% Radiao artificial Procedimentos mdicos 500 21Disparo de armas de fogo 10 0,4Descargas nucleares 3 0,15Ocupacional 9 0,36Viagens de avio 8 0,34Total 530 22% Total da radiao mdia de exposio do corpo humano 2390 100%

    Quadro 9 Dose equivalente em exames de Medicina Humana. Adaptado de Rehani e Berri (2000).Tipo de exame Dose equivalenteExame tomogrfico tpico do trax 8 mSvExame radiogrfico do trax 0,02 mSv

    A maior parte da exposio da populao em geral radiao ionizante de origem natural. O gs rdon radioactivo que se acumula dentro das habitaes tem grande importncia (Darby, 1999; Strickland e Kens-ler, 1995). O gs rdon um produto que resulta do decrscimo radioactivo do urnio, um componente natural de muitos solos e rochas duras como o caso do granito (Dowsett et al., 1998).

    De acordo com um estudo realizado em habitaes no norte de Portugal pelo Instituto Tecnolgico e Nuclear (Teste Sade n 34, de Novembro/Dezembro de 2001), existem em alguns destes locais, nveis de radioactividade quatro vezes acima do recomendado

    pela Comisso Europeia. Em cada 100 pessoas expos-tas diariamente ao nvel mximo de radioactividade recomendado pela Comisso Europeia, seis morrem vtimas de cancro do pulmo (o Instituto Tecnolgico e Nuclear, http//:www.itn.pt, tel.: 219946000, efectua medies das concentraes de gs rdon por cerca de 50 Euros).

    O mdico veterinrio radiologista deve conhecer a realidade da sua exposio contnua a este campo de radiao natural e artificial e ter presente o conceito de que a radiao ionizante, a que o seu organismo est sujeito no servio normal de radiodiagnstico dos animais, uma radiao adicional. Esta constitui uma parcela da radiao a que est exposto que pode volun-tria e facilmente reduzir.

    Agradecimentos

    Dra. Dlia Gazzo da Direco Geral da Sade pela reviso do texto e por todas as preciosas ajudas e disponibilidade que tem demonstrado sempre que solicitada.

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