15-a corrida ao fogo

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Quinta da Confusão – O nascimento de um império 102 Dia 5 O fogo, o progresso e o touro Época inicial 5 de Janeiro de 2009 Seg Ter Qua Qui Sex Sab Dom 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31

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Quinta da Confusão – O nascimento de um império

102

Dia 5

O fogo, o progresso e o

touro

Época inicial

5 de Janeiro de 2009

Seg Ter Qua Qui Sex Sab Dom

1 2 3 4

5 6 7 8 9 10 11

12 13 14 15 16 17 18

19 20 21 22 23 24 25

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6:30 Habitantes: 260

Nunca o abrigo nocturno estivera tão cheio: no seu interior acumulavam-se 260 animais, tão juntos que não havia espaço nem para um pequeno pássaro entre cada animal. O andar de cima, com menos gente, tinha um pouco mais de espaço livre, mas ainda assim mal havia espaço para se andar ali. Os animais não se importavam com isso, pois iam ali apenas para dormir. Dormiriam, como era costume, até por volta as 7, 8 horas da manhã… se não fosse uma súbdita tempestade de relâmpagos. Um clarão de luz iluminou a Quinta da Confusão, e imediatamente a seguir ouviu-se um enorme trovão, semelhante a um tiro de espingarda amplificado várias vezes. O trovão acordou toda a gente da quinta, animais e pessoas, e nessa manhã ninguém voltou a dormir, pois os relâmpagos e os trovões ruidosos ainda permaneceram por algum tempo. Ainda era noite escura, mas os relâmpagos iluminavam constantemente a quinta com luz roxa. Por fim, por volta das 6:40, os relâmpagos e os trovões deixaram de ser tão fortes, sinal de que se estavam a afastar. Mas, pouco antes de desaparecerem de vez, caiu um relâmpago tão próximo que incendiou uma árvore da quinta, junto ao seu limite oeste. Quando as chamas se tornaram visíveis do abrigo nocturno, a 750 metros dali (os animais tinham estado a observar os relâmpagos), alguns dos animais, curiosos, dispuseram-se a ir até à árvore a arder. Usaram os seus barcos e em alguns minutos alcançaram o fogo. Os animais ficaram maravilhados com a árvore a arder, porque pela primeira vez desde que se tinham tornado racionais tinham o fogo à sua disposição, aquilo que os donos tinham na sua lareira e que usavam para se aquecer. Tal como eles, os animais puseram-se a aquecer ao pé da árvore em chamas, devastada pelo relâmpago. Mas houve um animal que se lembrou de que ainda não sabiam produzir o fogo, pelo que era preciso inventar alguma forma de o fazer para não dependerem dessa árvore em chamas. Os restantes começaram então a procurar formas de produzir fogo sem depender de outra chama já acesa.

Nos minutos seguintes, e até por volta das 7:00, foram criados três métodos de fazer fogo. Por ordem de descoberta: a) Friccionar dois paus um no outro até estes começarem a arder; b) Rodar um pau em cima de uma tábua de madeira até esta pegar fogo; e c) Bater com uma pedra de minério de ferro noutra pedra comum ao pé de material inflamável para a faísca resultante da pancada incendiar o material, o método mais rápido de fazer fogo (no entanto, o último a ser descoberto). Os três métodos acabaram por se espalhar pela Quinta da Confusão, e rapidamente todos os animais queriam fazer fogo para terem como se aquecer e iluminar (ainda era noite). Mas logo a grande procura de fogo evoluiu para a queima de

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todo o tipo de objectos, desde simples pedras e tábuas de madeira a barcos e carroças. Os animais, instigados pela curiosidade, queimaram tudo o que podiam em fogueiras controladas para verem como o objecto reagia ao fogo, e aproveitavam para se aquecerem nessas fogueiras. A madeira naturalmente ardia até ficar em cinzas. A pedra dos arados e das foices ficava escura, e o minério de ferro permanecia intacto após alguns minutos a arder. Começara um pequeno episódio histórico ao qual se daria o nome, mais tarde, de «Corrida ao fogo», um nome de facto apropriado ao que se passava na Quinta da Confusão do início do Dia 5.

8:00

Um mineiro decidiu, à semelhança de outros animais da Quinta da Confusão, incendiar uma pedra de minério para ver como esta reagia ao fogo. Foi para o exterior da Mina de Ferro, juntou um molho de paus e pegou-os fogo. Depois, atirou a pedra de minério de ferro para o interior da fogueira e esperou. Esperou, esperou… A pedra de minério de ferro permanecia igual, tal como acontecera com os outros animais que tinham feito o mesmo. Mas o mineiro, em vez de simplesmente desistir, decidiu continuar até conseguir queimar de vez o minério. Achou que o calor daquela fogueira não chegava, pelo que juntou mais madeira ao fogo para alargar a fogueira e fazê-la mais quente. Ainda assim, nada aconteceu. O calor do fogo era de algumas centenas de graus, e o ferro apenas fundia aos 1.538 graus Celsius. O animal, no entanto, era inteligente. Chegou à conclusão de que se impedisse o calor do fogo de escapar para o ar poderia queimar a pedra de minério de ferro. Mas que material poderia ele usar para evitar que o calor escapasse, se o único material de construção da Quinta da Confusão, a madeira, ardia com facilidade? Decidiu fazer uma pequena construção de madeira forrada com terra, o único material de que se lembrou. Primeiro, fez um cilindro com 1 metro de diâmetro por 50 cm de altura, oco e fechado, cuja função seria suportar o resto da estrutura. Depois, fez o local onde poria a lenha e o minério de ferro: uma meia – esfera também com 1 metro de diâmetro e 50 cm de altura, com um buraco na lateral para se pôr a lenha e o minério de ferro e outro no alto para o fumo sair. Por fim, fez a chaminé, um cilindro oco com meio metro de altura por 20 cm de diâmetro (o diâmetro do buraco do alto da meia – esfera). Juntou tudo com a ajuda de pregos, forrou o exterior e o interior da estrutura com uma grossa camada de terra e, por fim, encheu a meia – esfera com lenha, pôs lá dentro a pedra de minério de ferro e acendeu o fogo. Se aquilo não resultasse, nada resultaria, pensou o animal.

À primeira vista, a construção estava a cumprir a sua função. O animal, que alimentava constantemente a fogueira com mais lenha, via que a

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camada de terra impedia o fogo de chegar à madeira da estrutura, pelo que concluiu que a sua estrutura não corria perigo de ser destruída pelo fogo que lavrava no seu interior. Ao fim de alguns minutos, para espanto do animal, a pedra de minério de ferro começou a mudar de cor. De castanho, a sua cor natural, passou para vermelho, depois para laranja, e terminou na cor branca10. Depois, o minério derreteu. Perdeu o seu volume, e para espanto do animal começou a escorrer num líquido branco viscoso em direcção à abertura lateral da estrutura, como se fosse água. A construção estava virada para a ribeira, para além de estar perto do curso de água. O ferro fundido escorreu para fora da estrutura, começando logo a arrefecer, e deslizou pela terra (o ferro estava tão quente que a neve derretia a mais de 1 metro de distância) em direcção à ribeira. Este mergulhou nas águas geladas, soltando imenso fumo, e quando o animal mergulhou também para ver o estado do ferro viu que este tinha solidificado. Mas estava completamente diferente da pedra de minério de ferro que o mineiro metera na sua estrutura. A forma era totalmente diferente, para além da cor que agora era cinzenta e não castanha. Já não era minério de ferro, mas sim ferro digno do nome. O animal tinha descoberto um método eficaz de fundir o ferro na forma que se quisesse, evitando quaisquer desperdícios de metal. Os colegas do mineiro estudaram a construção e criaram uma segunda versão mais aperfeiçoada, com uma chaminé mais alta e duas aberturas nas laterais, frente a frente. O chão estaria inclinado na direcção de uma delas, para que o ferro fundido escorresse para lá, e pela outra introduzir-se-ia a lenha e o minério de ferro em bruto. Era o primeiro alto-forno da Quinta da Confusão, a primeira construção da quinta onde se podia fundir o ferro.

Índice de Tecnologia:

Militar -1 (escudos de árvore) Transportes-2 (Aéreos-0) (Marítimos -1) (barco a remos de Modelo 1) (Terrestres-1) (carroça de 2 rodas) Civil -7 (arado, foice, madeira, caixa de madeira, ferro, pregos, balde) Construções-5 (estufas, abrigo nocturno, Casa da Moeda, feira, altos-fornos)

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O que o mineiro estava a observar era a emissão de radiação térmica vinda da pedra

de minério de ferro, radiação electromagnética emitida por um corpo devido à sua

temperatura. Quanto mais elevada a temperatura, maior a frequência da radiação. Aos

480 graus Celsius surge a luz vermelha, de menor frequência. Aos 930 a luz emitida fica

laranja brilhante e aos 1.400 graus torna-se branca, luz com maior frequência.

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Os altos-fornos serviram para facilitar o transporte do ferro logo quando foram criados. Um dos mineiros da Mina de Ferro criou um molde de madeira forrado com terra que, se se introduzisse ferro fundido lá dentro, este ao arrefecer tomaria a forma de uma barra de ferro de apenas meio kg, muito mais fácil de transportar do que as pedras de minério de ferro que podiam resvalar para fora da carroça ou do barco (já tinha havido casos desses). Então, construíram-se três altos-fornos dentro da Mina de Ferro, com os moldes já preparados, e até ao fim do dia estes praticamente não pararam. Enchiam-se os fornos com madeira e minério de ferro, e ao fim de alguns minutos (era necessário abastecer os fornos com mais lenha) a lenha estava reduzida a cinzas e o minério de ferro derretido transformado em ferro, mais resistente. Para arrefecer o metal mais rapidamente, os mineiros esperavam até o ferro solidificar no molde e então regavam-no com baldes de água gelada da ribeira. Eram precisos imensos, pelo que frequentemente os animais da Mina de Ferro saíam do seu local de trabalho e partiam para a ribeira com carroças carregadas de baldes. Regressavam com todos eles cheios, mas daí a algum tempo já tinham que voltar à ribeira porque entretanto toda a água tinha sido despejada no ferro quente. Tudo estaria bem, se não fosse a grande poluição provocada pela queima da madeira. Com apenas 1 metro de altura, as chaminés despejavam toda a fumarada para dentro da mina, e os mineiros em breve tiveram que reconhecer que as chaminés tinham de ser mais altas. Antes que sufocassem, extinguiram as fogueiras dos altos-fornos, tiraram-lhes as chaminés e começaram a montar outras mais altas, por secções de 1 metro de comprimento cada. Para que os mineiros pudessem chegar ao alto das chaminés, criaram escadas de madeira, e graças a elas conseguiram acabar as chaminés. Quando alcançaram o topo da mina, começaram a escavar com as patas até à superfície, e continuaram a montar as chaminés até chegarem aos 2,5 metros acima da superfície. Depois, forraram o seu exterior com terra (o interior fora forrado antes de as sessões serem unidas), e por fim restabeleceram o tecto da mina. Fizeram placas de ferro que fixaram ao tecto com a ajuda de pilares de madeira, para cobrirem as zonas que tinham sido escavadas. Depois, os mineiros do exterior lançaram terra para o chão em falta até ficar tudo como dantes. Agora, já se podia fundir ferro sem se sufocar com o fumo, pois este ia para o exterior e não para dentro da mina.

Índice de Tecnologia:

Militar -1 (escudos de árvore) Transportes-2 (Aéreos-0) (Marítimos -1) (barco a remos de Modelo 1) (Terrestres-1) (carroça de 2 rodas)

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Civil -8 (arado, foice, madeira, caixa de madeira, ferro, pregos, balde, escada) Construções-5 (estufas, abrigo nocturno, Casa da Moeda, feira, altos-fornos)

Ilustração 14 – Projecto da versão aperfeiçoada do alto-forno, inventado no início do

Dia 5, desenhado numa tábua de madeira com recurso a uma foice

O mineiro que na noite anterior afundara o seu barco, carregado com mais de 400 kg de minério de ferro, decidiu criar algo para poder suster a respiração mais tempo debaixo de água. Depois de pensar um pouco, criou um molde com a forma das peças que concebera: dois recipientes com a forma de cilindros, unidos, e com dois tubos que fossem dar à boca do mergulhador. Este só tinha que pôr a abertura dos tubos na boca e respirar normalmente. Para que o mergulhador pudesse ter as patas livres, sem ter que estar sempre a segurar os recipientes, o animal criou os moldes de duas tiras de ferro semelhantes às das mochilas, em arco, que depois seriam fixadas aos recipientes. O mergulhador só tinha que meter os braços por entre as tiras e ficava com os recipientes às costas, mantendo os movimentos livres. Quando a fundição ficou pronta, e o metal foi arrefecido, o mineiro uniu os tubos, os recipientes e as tiras e partiu para o local onde o seu barco naufragara. Pôs os tubos na boca e mergulhou. A sua invenção resultou, pois conseguiu manter-se submerso por mais de 5 minutos (o mais resistente dos animais não aguentava mais de 1 minuto e meio debaixo da água gelada). Surgiam assim as botijas de ar.

Índice de Tecnologia:

Militar -1 (escudos de árvore) Transportes-2 (Aéreos-0) (Marítimos -1) (barco a remos de Modelo 1) (Terrestres-1) (carroça de 2 rodas) Civil -9 (arado, foice, madeira, caixa de madeira, ferro, pregos, balde, escada, botijas de ar)

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Construções-5 (estufas, abrigo nocturno, Casa da Moeda, feira, altos-fornos)

Graças às botijas de ar, o mineiro conseguiu resgatar todas as pedras de minério de ferro, acumulando-as num monte junto à ribeira. Conseguiu inclusive retirar o que restava do seu barco da água e repará-lo. A história terminou bem, pois o animal fundiu todo o minério de ferro em barras e vendeu-as por milhares de euros na feira. Quanto à sua nova invenção, o mineiro tentou fabricar outras botijas de ar, mas ninguém as comprou porque ninguém queria mergulhar na água gelada da ribeira. Então, o mineiro deixou as coisas onde estavam e continuou a escavar na Mina de Ferro, em busca de novas pedras de minério para serem fundidas.

10:00

Duas horas depois da criação dos altos-fornos, os mineiros da Mina de Ferro receberam um aviso da feira a dizer que, como o armazém tinha imensas barras de ferro que não eram vendidas, o director da empresa decidira reduzir o seu preço para metade. Era algo básico da economia: com uma pequena procura e uma elevada oferta o preço do produto era baixo, e vice-versa. E não adiantava aos mineiros produzirem ainda mais ferro para compensarem a redução do seu preço, pois isso só faria cair ainda mais o preço do produto. Era a primeira vez que os animais da Quinta da Confusão lidavam com o problema da superprodução, pelo que eles não sabiam lidar com o assunto. Todavia, os mineiros rapidamente arranjaram uma solução para o problema. O ferro em bruto, sob a forma de barras de ferro, não tinha interesse para ninguém. Logo, a solução era transformá-lo em instrumentos que se pudessem usar. A primeira coisa que fizeram foi criar uma versão do arado e da foice melhorada, que substituísse as primitivas versões existentes. Criar a foice foi o mais fácil: bastou fazerem um molde com a mesma forma do instrumento, encherem-no com ferro fundido, arrefecerem-no e depois meterem madeira à volta do cabo. O problema veio com o arado. O instrumento existente consistia apenas numa pedra lascada enfiada num pau, que se puxava pelo terreno. Eram precisas várias passagens pelo mesmo sítio para que o local ficasse realmente lavrado, e os agricultores havia muito que desejavam um arado realmente eficaz. Esse arado nasceu na Mina de Ferro, quando os mineiros conseguiram fazer o primeiro instrumento desse tipo. Consistia numa lâmina de ferro com duas varas enfiadas na sua parte traseira e ligadas entre si por duas outras varas, que serviam para o agricultor empurrar o arado pelo terreno. Uma terceira vara estava fixada às duas primeiras e à lâmina, servindo para um segundo agricultor ajudar a puxar o instrumento. O

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conjunto era complementado com pregos. Surgia assim uma versão melhorada do arado, em nada semelhante à versão antecessora.

Ilustração 15 – Arado romano, semelhante ao criado pelos mineiros da Quinta da

Confusão no Dia 5

Quando já se tinham fabricado alguns instrumentos desses, os mineiros foram vendê-los à feira, e obtiveram a marca de 250 euros por cada um. Com o dinheiro, compraram muitas das barras de ferro da feira, diminuindo o desequilíbrio entre a oferta e a procura, e levaram-nas para a Mina de Ferro para as fundirem. Alguns minutos depois saíam novos arados e foices da mina, que iam de barco para o armazém da feira. Os agricultores e os madeireiros (eles usavam os arados e as foices para cortar árvores e criar tábuas de madeira) rapidamente tomaram conhecimento dos novos instrumentos, e compraram todos os que havia à venda. Escusado será dizer que não se vendeu mais nenhum arado ou foice antigo. Os animais trocavam os seus primitivos instrumentos pelas versões modernas, e em breve o director da feira percebeu que esses instrumentos se tinham tornado obsoletos. Sem saber o que fazer com tanto material que na prática não valia nada, pois ninguém o compraria mais, o animal fez uma fogueira ao lado da feira, e queimou todos os arados e foices primitivos. Chegava-se ao ponto de um agricultor vender o instrumento obsoleto ao balconista, e este ir pô-lo na fogueira assim que pagava ao agricultor, sem passar pelo armazém. Em breve, todo o stock desses instrumentos tinha desaparecido (tudo o que não se queimara era enterrado ou atirado à ribeira). A economia da Quinta da Confusão estaria de novo em ordem se não fossem os animais que ganhavam a vida a fabricar instrumentos. Alguns desses animais decidiram passar a fabricar também os arados e as foices de ferro. Montaram altos-fornos e moldes e rapidamente começaram a competir com a Mina de Ferro. O problema era que, ao contrário dos mineiros, esses animais usavam barras de ferro para fabricar os instrumentos, e não o minério em bruto. Como a mina tinha praticamente parado de as produzir,

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em breve começou a haver falta de barras de ferro no armazém, e o seu preço foi aumentando cada vez mais até chegar ao triplo do preço original. Perante tal situação, os fabricantes de instrumentos foram queixar-se aos mineiros, e entraram em acordo. Os mineiros produziriam barras de ferro, e os fabricantes fabricariam instrumentos com o ferro vindo da mina (até mesmo os pregos, que deixavam de ser cortados do minério e passavam a ser de ferro fundido). Assim, ficou tudo em ordem. Quem mais lucrou com a situação foi a feira, que enriqueceu ainda mais com o comércio do ferro. A Corrida ao Fogo estava a dar bons resultados.

12:30

Um cientista, ao ver um madeireiro a cortar uma árvore com uma foice (algo que levava muito tempo, pois nem os arados nem as foices eram instrumentos próprios para cortar árvores), pensou em criar um instrumento que cortasse árvores e depois a sua madeira mais depressa. Depois de fazer alguns esboços, acabou por criar o projecto de um machado. Para o fabricar, criou um molde com a forma da lâmina. Depois, usou o alto-forno de um amigo para a fabricar. Enfiou-lhe uma vara para servir de cabo, e criou assim o primeiro machado da Quinta da Confusão.

Índice de Tecnologia:

Militar -1 (escudos de árvore) Transportes-2 (Aéreos-0) (Marítimos -1) (barco a remos de Modelo 1) (Terrestres-1) (carroça de 2 rodas) Civil -10 (arado, foice, madeira, caixa de madeira, ferro, pregos, balde, escada, botijas de ar, machado) Construções-5 (estufas, abrigo nocturno, Casa da Moeda, feira, altos-fornos)

O machado, tal como o cientista previra, revelou-se o instrumento perfeito para os madeireiros. Numa questão de minutos o instrumento espalhou-se para toda a quinta, sendo fabricado pelos animais que faziam instrumentos e vendido aos madeireiros na feira. Rapidamente o arado e a foice passaram a ser instrumentos exclusivos da agricultura, pois os madeireiros já tinham outro instrumento próprio para o seu trabalho. As árvores da Quinta da Confusão passaram a desaparecer muito mais depressa do que antes. Havia gente que as semeava de novo, mas qualquer animal podia constatar que a quinta estava mais desflorestada do que antes.

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Um segundo cientista, que trabalhava na agricultura, notou que as ervas que colhera e que estava a encaixotar para vender na feira estavam sujas com terra na base. Era algo comum, e os que os agricultores faziam era lavarem as ervas na ribeira. O cientista, no entanto, achou que para os agricultores que trabalhavam longe da ribeira isso era demorado, porque o agricultor tinha que encaixotar as ervas, ir para a ribeira com a sua carroça, tirar as ervas das caixas, lavá-las, voltar a metê-las nas caixas e só depois podia seguir para a feira. O ideal seria ter um recipiente cheio de água na plantação onde se pudesse lavar as ervas, para se seguir directamente para a feira sem mais atrasos. O cientista ainda pensou nos baldes, mas depois achou que era preciso algo maior. Mas o quê, exactamente? Então, o animal lembrou-se de uma coisa que vira na casa dos donos. Numa vez em que estava a espreitar pela janela da casa dos donos vira Aníbal a sair da casa de banho, e antes de este apagar a luz do espaço o animal viu uma coisa que se parecia com um enorme recipiente dentro da casa de banho. Para observar melhor esse objecto, o cientista foi à casa dos donos, que tinham saído de manhã cedo para a sede da Sociedade de Caça de Carrazeda de Ansiães, e testou todas as portas e janelas até encontrar uma aberta. Entrou por aí e dirigiu-se de imediato para a casa de banho. Acendeu a luz que vira Aníbal apagar, da vez em que vira o objecto, e deparou-se logo com a banheira. Usando uma régua que trouxera mediu-a, e depois de anotar as medidas abandonou a casa pela mesma janela por onde entrara. Depois, criou um molde para o objecto e, usando o alto-forno de um amigo, criou a primeira banheira.

Índice de Tecnologia:

Militar -1 (escudos de árvore) Transportes-2 (Aéreos-0) (Marítimos -1) (barco a remos de Modelo 1) (Terrestres-1) (carroça de 2 rodas) Civil -11 (arado, foice, madeira, caixa de madeira, ferro, pregos, balde, escada, botijas de ar, machado, banheira) Construções-5 (estufas, abrigo nocturno, Casa da Moeda, feira, altos-fornos)

Ao contrário dos objectos inventados nas horas anteriores, a banheira não teve um sucesso tão fulminante, pois não era um objecto realmente necessário para os agricultores. Era útil, mas não era absolutamente necessário ao seu trabalho. Para além disso, era bastante demorado o processo de se encher a banheira com baldes (a banheira tinha 2 metros de comprimento por 75 cm de largura e 50 cm de profundidade, comportando 750 litros de água), pois eram precisas dezenas de viagens entre a ribeira e

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a banheira para a encher. O cientista percebeu que a sua invenção estava destinada ao fracasso se não fizesse nada, e tentou pensar noutra invenção que ajudasse a banheira a ter mais sucesso. Então, lembrou-se de um pormenor. Os donos conseguiam ter água em sua casa, mas ninguém os vira a tirá-la da ribeira com baldes. Então, como a obtinham sem a ir buscar a lado nenhum? O cientista voltou à casa dos donos para investigar, e não tardou a descobrir a razão: canalizações. O animal constatou que na casa dos donos se obtinha água simplesmente abrindo a torneira, e tentou copiar esse sistema. Passou as medidas dos canos para o papel, criou um molde para eles e fundiu as primeiras canalizações, usando o mesmo alto-forno que fundira a primeira banheira da quinta. Para os instalar, o animal escavou uma pequena vala que ia da sua plantação até à ribeira e depois foi metendo os canos lá dentro, unindo-os em seguida. Quando a canalização ficou pronta, tapou tudo com terra e abriu ligeiramente a torneira da sua banheira. A peça deixou de imediato escorrer um fio de água, provando que a nova invenção do cientista era um sucesso.

Índice de Tecnologia:

Militar -1 (escudos de árvore) Transportes-2 (Aéreos-0) (Marítimos -1) (barco a remos de Modelo 1) (Terrestres-1) (carroça de 2 rodas) Civil -12 (arado, foice, madeira, caixa de madeira, ferro, pregos, balde, escada, botijas de ar, machado, banheira, canalizações) Construções-5 (estufas, abrigo nocturno, Casa da Moeda, feira, altos-fornos)

A invenção dos canos não passou despercebida aos fabricantes de instrumentos da Quinta da Confusão, que passaram a usar os seus altos-fornos para os fabricar. As canalizações acabaram por ser uma invenção com mais sucesso do que as banheiras, visto que ao fim de pouco tempo já havia km de canalizações espalhadas pela quinta. Quer para irrigar as plantações de ervas, quer para encher banheiras ou simplesmente para beber água, os agricultores compravam canos e instalavam-nos nos seus terrenos, aumentando ainda mais os lucros da feira. Mas as canalizações também tiveram a função pretendida pelo cientista que os inventou: ajudar a banheira a ter mais sucesso. A banheira, agora que já podia ser cheia sem se fazer uma única viagem à ribeira, teve mais sucesso por parte dos agricultores. Mas o inventor da banheira percebeu que, apesar de o instrumento ser usado para lavar as colheitas de ervas, havia um novo uso que estava a ganhar sucesso: banhos quentes. Os agricultores usavam a banheira para poderem tomar banhos de água quente quando podiam

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descansar, atando dois paus em X com ervas enroladas, que formavam cordas mais ou menos resistentes. Formavam 4 desses X, e depois punham um pau em cima de cada par de X. Por fim, era só por a banheira em cima dos paus. As cordas improvisadas tinham que ter muitas ervas para não cederem sob o peso da banheira cheia de água e do ocupante. Depois de a banheira estar em cima da estrutura improvisada, o agricultor enchia-a com a água que queria, e depois acendia uma fogueira por debaixo da estrutura (a única razão para a sua construção era, de facto, para se poder acender uma fogueira por debaixo da banheira). Por fim, era só esperar que a água aquecesse e podia-se subir para dentro da banheira. O inventor do instrumento teve que concordar que os banhos eram, de facto, um excelente uso para a banheira, e rapidamente arranjou uma para também tomar um banho. O bizarro da situação era que nenhum animal da Quinta da Confusão sabia que a função das banheiras era precisamente servirem para se tomar banho, mas isso não os impediu de a usarem para se aquecerem no rigoroso Inverno transmontano.

14:00

A Corrida ao Fogo durara poucas horas, mas trouxera grande desenvolvimento para a Quinta da Confusão. Desencadeada pela descoberta de métodos para se fazer fogo, o episódio histórico trouxera o método de fundição do ferro, e com ele todos os instrumentos de ferro que se seguiram, como um novo tipo de arado e as canalizações. Os animais da Quinta da Confusão ganharam qualidade de vida, e a feira ganhou dinheiro, muito dinheiro. Todavia, essa pequena época de prosperidade terminou com a chegada de um novo animal à Quinta da Confusão: um touro. Um grande touro, de pêlo preto e chifres compridos, que subitamente apareceu no norte da Quinta da Confusão. Os animais dessa zona ficaram surpreendidos com tal animal, pois nunca tinham visto um touro, e rodearam-no para o observarem melhor. Mas o touro não reagiu bem à multidão de animais. Sentindo-se ameaçado, investiu para a frente e atirou o primeiro animal que alcançou 5 metros para o ar com os chifres. Aí, os outros animais perceberam que o touro era uma ameaça, e tentaram dominá-lo. Mas o touro defendia-se dando coices, investindo contra os animais ou empinando-se e saltando sempre que algum animal o conseguia montar. Rapidamente estes perceberam que não conseguiam dominar o touro, e não tiveram outra hipótese senão fugir para longe do seu alcance. Muitos animais, tal como se fizera durante a I e a II Guerras dos Animais, fugiram para a margem direita da ribeira na esperança de estarem a salvo do touro. Mas enganavam-se. O touro era capaz de nadar, tal como os animais da Quinta da Confusão, e por isso a ribeira não representava