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LUIZ CARLOS BRASIL DE BRITO MELLO MODERNIZAÇÃO DAS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS DE CONSTRUÇÃO CIVIL: IMPACTOS DOS PROGRAMAS DE MELHORIA DE GESTÃO DA QUALIDADE. Tese apresentada ao Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Doutor em Engenharia Civil. Área de Concentração: Engenharia Civil Orientador: Prof. Sérgio Roberto Leusin de Amorim, D.Sc. Niterói 2007.

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MELHORIA DA QUALIDADE - PROCESSOS

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  • LUIZ CARLOS BRASIL DE BRITO MELLO

    MODERNIZAO DAS PEQUENAS E MDIAS EMPRESAS DE CONSTRUO CIVIL: IMPACTOS DOS PROGRAMAS DE MELHORIA DE GESTO DA

    QUALIDADE.

    Tese apresentada ao Programa de Ps Graduao em Engenharia Civil da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obteno do Grau de Doutor em Engenharia Civil. rea de Concentrao: Engenharia Civil

    Orientador: Prof. Srgio Roberto Leusin de Amorim, D.Sc.

    Niteri 2007.

  • Ficha Catalogrfica elaborada pela Biblioteca da Escola de Engenharia e Instituto de Computao da UFF

    M527 Mello, Luiz Carlos Brasil de Brito.

    Modernizao das pequenas e mdias empresas de construo civil : impactos dos programas de melhoria de gesto da qualidade / Luiz Carlos Brasil de Brito Mello. Niteri, RJ : [s.n.], 2007.

    261 f. Orientador: Srgio Roberto Leusin de Amorim. Tese (Doutorado

    em Engenharia Civil) - Universidade Federal Fluminense, 2007.

    1. Construo civil. 2. Gesto da qualidade total. 3. Pequenas e mdias empresas. I. Ttulo.

    CDD 690

  • LUIZ CARLOS BRASIL DE BRITO MELLO

    MODERNIZAO DAS PEQUENAS E MDIAS EMPRESAS DE CONSTRUO CIVIL: IMPACTOS DOS PROGRAMAS DE MELHORIA DE GESTO DA

    QUALIDADE.

    Tese apresentada ao Programa de Ps Graduao em Engenharia Civil da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obteno do Grau de Doutor em Engenharia Civil. rea de Concentrao: Engenharia Civil

    Aprovada em 30 de maro de 2007.

    Banca Examinadora:

    __________________________________________ Prof. Srgio Roberto Leusin de Amorim, D. Sc.

    Universidade Federal Fluminense-UFF

    _________________________________________________ Prof. Jos Rodrigues de Farias Filho, D. Sc.

    Universidade Federal Fluminense-UFF

    __________________________________________________ Prof. Carlos Alberto Pereira Soares, D. Sc.

    Universidade Federal Fluminense-UFF

    ___________________________________________________ Prof. Maria Aparecida Hippert Cintra, D. Sc. Universidade Federal de Juiz de Fora-UFJF

    ___________________________________________________ Prof. Eduardo Luis Isatto, D. Sc.

    Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS

    Niteri 2007

  • AGRADECIMENTOS

    Escrever uma tese requer dedicao e abdicao. Dedicao significa a troca do lazer junto

    aos familiares, por horas de pesquisa, leitura, compilao de dados e longas horas de trabalho

    junto ao computador.

    Abdicao no convvio com os familiares e no contato com os amigos. No se tem tempo para

    as pequenas e prazerosas coisas da vida e, muitas vezes, abdica-se da leitura diria do jornal.

    Entretanto, muito instigante se ver o que era apenas uma idia, tomar forma e transformar-se

    no resultado final.

    Muitas pessoas me auxiliaram no intenso trabalho desenvolvido nesta tese. Prefiro no citar

    nomes para evitar que magoe algum por esquecimento involuntrio.

    Uma pessoa que merece um agradecimento especial o meu orientador, Prof. Srgio Leusin,

    que me conduziu, animou e deu o sentido e norte presente tese.

    minha esposa Maria Clia, relegada nos ltimos anos por esta tese. Mas que soube,

    entender, aceitar e apoiar.

    Aos meus filhos Luiz Fernando, Renata e ao meu genro Adriano e minha nora Paula, prometo

    ter mais tempo para eles. E fica a minha torcida para que em breve estejam, tambm,

    terminando suas teses de doutorado (Renata e Adriano) e dissertao de mestrado (Paula).

    Para eles ser mais fcil, pois tm o vigor da juventude.

    Finalmente, meu obrigado aos professores e funcionrios do Programa de Ps Graduao em

    Engenharia Civil-PPGEC da Universidade Federal Fluminense, pelo apoio e ensinamentos

    recebidos. Levo saudades dos bancos escolares.

  • RESUMO

    A presente tese trata dos temas Sistemas de Gesto da Qualidade, Pequenas e Mdias Empresas, Construo Civil. Atravs de estudos de caso em pequenas e mdias empresas de construo civil, situadas no municpio do Rio de Janeiro, estuda-se a modernizao destas empresas e os impactos dos programas de melhoria de gesto da qualidade. Pela utilizao de um sistema de indicadores feita uma comparao entre os resultados de pequenas e mdias empresas certificadas e no certificadas analisando, atravs destes indicadores, se h diferenas no desempenho entre as organizaes que utilizam SGQ e as no adeptas de tal sistema. Verifica-se como a instabilidade do setor e do ambiente econmico brasileiro afetam a implantao de SGQs nas PMEs da construo civil. Pesquisa-se os fatores decisivos para uma perfeita implantao de SGQs em pequenas e mdias empresas de construo civil.

    Palavras-chave: Sistemas de Gesto da Qualidade, Pequenas e Mdias Empresas, Construo Civil.

  • ABSTRACT

    This work is about Quality Management Systems, Small and Medium Enterprises, Civil Construction. Using case studies in civil construction small and medium enterprises, located in the city of Rio de Janeiro, is studied how this type of enterprise has made efforts to modernize and what are the impacts of quality management systems in this process. Through a Key Performance Indicator System is developed a comparison between the results of certified enterprises and non certified ones. By these indicators is verified the results of companies that have Quality Management Systems and the ones that do not use them. It is, also, studied how the economical behavior affects the usage of Quality Management Systems in civil construction small and medium enterprises. Besides, it is verified what are the important factors that drive a good implementation of Quality Management Systems in these type of companies.

    Key words: Quality Management systems, Small and Medium Enterprises, Civil Construction.

  • SUMRIO

    AGRADECIMENTOS .............................................................................................................3

    RESUMO...................................................................................................................................4

    ABSTRACT ..............................................................................................................................5

    SUMRIO.................................................................................................................................6

    LISTA DE FIGURAS...............................................................................................................9

    LISTA DE TABELAS............................................................................................................10

    LISTA DE QUADROS...........................................................................................................11

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ...........................................................................12

    1 INTRODUO......................................................................................................14 1.1 CONTEXTO............................................................................................................14 1.2 SITUAO PROBLEMA ......................................................................................21 1.3 OBJETIVOS ............................................................................................................23 1.3.1 Gerais .......................................................................................................................23 1.3.2 Especficos ...............................................................................................................24 1.3.3 Hipteses e questes da pesquisa.............................................................................24 1.3.3.1 Hiptese 1 (H1)........................................................................................................24 1.3.3.1.1 Questes chave da Hiptese 1 ..............................................................................25 1.3.3.2 Hiptese 2 (H2)........................................................................................................25 1.3.3.2.1 Questes chave da Hiptese 2 ..............................................................................25 1.3.3.3 Hiptese 3 (H3)........................................................................................................25 1.3.3.3.1 Questes chave da Hiptese 3 .............................................................................26 1.4 JUSTIFICATIVA DO TRABALHO.......................................................................26 1.4.1 No Contexto Institucional ........................................................................................26 1.4.2 No contexto da sociedade e da empresa ..................................................................26 1.5 DELIMITAES DO TRABALHO ......................................................................27 1.6 METODOLOGIA:...................................................................................................27

  • 1.7 ESTRUTURA DA TESE.........................................................................................32

    2 QUALIDADE, INOVAO E CONHECIMENTO NA CONSTRUO CIVIL .................................................................................................................................34 2.1 CONCEITUAO DE INOVAO .....................................................................36 2.2 DIFUSO TECNOLGICA...................................................................................41 2.3 CONHECIMENTO E APRENDIZADO.................................................................44 2.4 POLTICAS DE INOVAO ................................................................................47 2.5 SISTEMAS DE GESTO DA QUALIDADE.......................................................53 2.5.1 Significao .............................................................................................................53 2.5.2 Sistemas de Gesto enquanto Inovao Tecnolgica ..............................................56 2.5.3 Capacitao Tecnolgica .........................................................................................60 2.5.4 Melhoria Contnua: modelos e capacidades necessrias .........................................62 2.5.5 Habilidades e Etapas Necessrias para Melhoria Contnua.....................................65 2.5.6 Razes da Importncia da Existncia de um Sistema de Gesto da Qualidade em Empresas de Construo Civil..................................................................................................67

    3 A EVOLUO ECONMICA DO BRASIL NO PERODO 1930- 2005 E A PARTICIPAO DA CONSTRUO CIVIL ..................................................................73 3.1 UM BREVE HISTRICO DA EVOLUO ECONMICA DO BRASIL NO PERODO 1930-2005: .............................................................................................................73 3.2 UM BREVE HISTRICO DA EVOLUO ECONMICA DO BRASIL NO PERODO 1930-2005: .............................................................................................................74 3.2 ALGUNS PROBLEMAS ECONMICOS BRASILEIROS: .................................79 3.3 OS PROBLEMAS ECONMICOS BRASILEIROS E A INDSTRIA DA CONSTRUO CIVIL ...........................................................................................................86 3.4 A INDSTRIA DA CONSTRUO CIVIL NA ECONOMIA BRASILEIRA...87

    4. A EVOLUO DA QUALIDADE NA INDSTRIA DA CONSTRUO CIVIL BRASILEIRA.............................................................................................................97 4.1 OS TRABALHADORES E A CONSTRUO CIVIL ........................................97 4.2 PRINCIPAIS CARACTERSTICAS DA INDSTRIA DA CONSTRUO CIVIL NO BRASIL ...............................................................................................................100 4.3 TENDNCIAS DA INDSTRIA DA CONSTRUO CIVIL ..........................102 4.4 A QUALIDADE NA INDSTRIA DA CONSTRUO CIVIL BRASILEIRA 103 4.5 FATORES ATUANTES NA QUALIDADE DA CADEIA PRODUTIVA DA CONSTRUO CIVIL, SEGMENTO IMOBILIRIO .......................................................108 4.6 A CERTIFICAO ISO 9000 NA INDSTRIA DA CONSTRUO CIVIL BRASILEIRA.........................................................................................................................111 4.7 OS PROGRAMAS DE QUALIDADE NA CONSTRUO CIVIL BRASILEIRA.........................................................................................................................114 4.7.1 Objetivos e Desenvolvimento dos Programas de Qualidade .................................114 4.7.2 Principais Programas de Qualidade da Indstria da Construo Civil Brasileira..115 4.7.3 Possveis Melhorias nos Programas Existentes: ....................................................120 4.7.4 A Experincia dos Sistemas de Gesto da Qualidade na Construo Civil em Outros Pases: .........................................................................................................................122

    5 INDICADORES NA CONSTRUO CIVIL ..................................................129

  • 5.1 INDICADORES: PROBLEMAS, NECESSIDADES E APLICABILIDADE NA INDSTRIA DA CONSTRUO CIVIL ............................................................................129 5.2 EVOLUO DA MEDIO DE DESEMPENHO:............................................132 5.3 CLASSIFICAO DE INDICADORES..............................................................132 5.4 IMPLANTAO DE INDICADORES................................................................135 5.5 ALGUNS MODELOS DE SISTEMAS DE INDICADORES..............................136 5.6 DESENVOLVIMENTO DA PROPOSTA DE INDICADORES .........................141 5.7 CONSIDERAES SOBRE OS SISTEMAS DE INDICADORES....................148

    6 METODOLOGIA DA PESQUISA:...................................................................150 6.1 PROCEDIMENTOS, ESTRATGIA E MTODO DE ANLISE: ....................150 6.2 DESCRIO DO MTODO................................................................................156 6.3. TAMANHO DA AMOSTRA:...............................................................................158 6.4 INSTRUMENTOS DE MEDIDA .........................................................................159 6.5 LIMITAES DO MTODO ..............................................................................160

    7 ANLISE DOS RESULTADOS ........................................................................161 7.1 INFORMAES GERAIS SOBRE AS EMPRESAS DO ESTUDO DE CASO 161 7.2 COMENTRIOS GERAIS. ..................................................................................164 7.3 RESULTADOS OBTIDOS ATRAVS DE TRATAMENTO ESTATSTICO ..176 7.4 DISCUSSO DOS RESULTADOS .....................................................................185 7.5 SUGESTES.........................................................................................................190

    8 CONCLUSES FINAIS E SUGESTES PARA FUTUROS TRABALHOS 200 8.1 COMENTRIOS FINAIS.....................................................................................200 8.2 SUGESTES PARA TRABALHOS FUTUROS.................................................204

    BIBLIOGRAFIA:.................................................................................................................206

    APNDICES .........................................................................................................................224 APNDICE A ........................................................................................................................224 APNDICE B.........................................................................................................................236 APNDICE C.........................................................................................................................237 APNDICE D ........................................................................................................................239 APNDICE E:........................................................................................................................259

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1- O Modelo da Inovao como Elo da Corrente .........................................................50 Figura 2- Relao entre as atividades de gerao de novas tecnologias ..................................57 Figura 3: O Conceito de Tecnologia ........................................................................................58 Figura 4 -Seis Fontes Chave de Vantagem Competitiva..........................................................64 Figura 5 - Estrutura da Cadeia Produtiva da Construo Civil ................................................89 Figura 6 - Diagrama de Fluxos .................................................................................................91 Figura 7- Situao das Pessoas Ocupadas na Construo Civil ...............................................98 Figura 8 - Desdobramento dos indicadores de resultado........................................................133 Figura 9- Percentual das Empresas No Certificadas Participantes .......................................162 Figura 10-Participao das empresas certificadas participantes.............................................163 Figura 11- Perfil respondentes empresas no certificadas......................................................164 Figura 12-Perfil respondentes empresas certificadas .............................................................165 Figura 13-Utilizao de Planejamento estratgico em PMEs no certificadas ......................168 Figura 14-Utilizao de Planejamento estratgico em PMEs certificadas ............................169 Figura 15- Situao das empresas no certificadas em relao implantao de SGQs .......170 Figura 16- Razes para No certificadas planejarem implantar SGQS..................................172 Figura 17-Principais razes para certificadas terem implantado SGQs .................................172 Figura 18- Percentual de PMEs certificadas pesquisadas com resultados dentro do esperado................................................................................................................................................176

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1- Histrico recente da indstria da construo civil no Brasil. ...................................16 Tabela 2- Classificao de empresas: construo civil ............................................................29 Tabela 3- Distribuio percentual das pessoas ocupadas por ramo de atividade na regio metropolitana do Rio de Janeiro...............................................................................................31 Tabela 4 - Habilidades bsicas e normas comportamentais .....................................................65 Tabela 5-Evoluo do Crescimento e da Inflao Brasileiras no Perodo 1948-2001 .............77 Tabela 6- Distribuio da populao ocupada por tempo de instruo....................................80 Tabela 7- Distribuio pessoal da renda do trabalho no Brasil de 1981 a 1995.......................85 Tabela 8- Produto Interno Bruto do Brasil e da Construo Civil 1991-2005.........................90 Tabela 9-Participao dos segmentos na comercializao de insumos....................................92 Tabela 10-Participao dos segmentos no mercado e volume de compras..............................92 Tabela 11- Tabela comparativa entre Regies Metropolitanas quanto a Mdia de Anos de Estudo e % de Analfabetismo 1998 /99 ...................................................................................99 Tabela 12- Condio de Migrao por Regies Metropolitanas- 1998/ 99..............................99 Tabela 13: Materiais e ndices de Conformidade...................................................................106 Tabela 14- Comparao entre os percentuais de empresas certificadas da construo civil e o percentual de empresas brasileiras certificadas por regio...................................................112 Tabela 15- Sistema inicial de indicadores ..............................................................................143 Tabela 16- Conhecimento das Ferramentas pelas PMEs No Certificadas............................166 Tabela 17- Conhecimento das Ferramentas pelas PMES certificadas ...................................167 Tabela 18-Dificuldades para implantar ferramentas de gesto e critrios de medio nas PMEs da construo civil ..................................................................................................................169 Tabela 19-Fatores que dificultam implantao de ferramentas de qualidade segundo PMES da construo civil.......................................................................................................................171 Tabela 20- Prazos estimados para implantao de SGQs em PMES no certificadas ...........171 Tabela 21-Peculiaridades da construo civil dificultando as PMEs implantarem SGQs .....173 Tabela 22-Fatores para vencer dificuldades inerentes ao setor segundo PMEs.....................174 Tabela 23-Importncia dos fatores econmicos para implantao de SGQs segundo PMEs 175 Tabela 24- Mdias dos indicadores para PMES certificadas e PMEs no certificadas..........177 Tabela 25- Comparao dos indicadores para PMES certificadas e PMEs no certificadas. 180 Tabela 26- Ordenao da verificao de dados a ser feita .....................................................181

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1- Indicadores para comparao entre as empresas..................................................147 Quadro 2- Construtos, Variveis, Fontes de Evidncia e Hipteses ......................................152 Quadro 3-Hipteses, questes-chave, conceitos e questes relacionadas ..............................153 Quadro 4- Hipteses da Tese, hipteses de teste e tipo de teste.............................................182

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    ADEMI Associao de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobilirio

    ANTAC Associao Nacional de Tecnologia do Ambiente Construdo

    BSC Balanced Scorecard

    CBIC Cmara Brasileira da Indstria da Construo

    CDHU Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de So Paulo

    CIDE Centro de Informaes de Dados do Rio de Janeiro

    CNI Confederao Nacional das Indstrias

    CTE Centro de Tecnologia de Edificaes

    DIEESE Departamento Intersindical de Estatstica e Estudos Intersindicais

    FGTS Fundo de Garantia de Tempo de Servio

    FIRJAN Federao das Indstrias do Estado do Rio de Janeiro

    FPNQ Fundao Prmio Nacional da Qualidade

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    INFOHAB Centro de Referncia e Informao em Habitao

    INMETRO Instituto Nacional de Metrologia

    ISO International Standardization Organization

    MDIC Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio

    OCDE Organizao para o Desenvolvimento e Cooperao Econmica

    P&D Pesquisa e Desenvolvimento

    PBQP-H Programa Brasileiro da Qualidade da Habitao

    PIB Produto Interno Bruto

    PME Pequena(s) e mdia(s) empresa(s)

    PNAD Programa Nacional por Amostragem Domiciliar

    PNQ Prmio Nacional da Qualidade

  • QUALIPRO Sistema de Acompanhamento da Qualidade e Produtividade da Construo

    RAIS Relatrio Anual de Informaes Sociais

    SEBRAE Servio Brasileiro de Apoio a Pequena e Mdia Empresa

    SENAI Servio Nacional de Aprendizagem Industrial

    SGQ Sistema de Gesto da Qualidade

    SINDUSCON Sindicato da Indstria da Construo

    SIAC Sistema de Qualificao das Construtoras

    USP Universidade de So Paulo

  • 1 INTRODUO

    1.1 CONTEXTO

    O setor da Construo Civil ocupa um papel importante no panorama econmico

    brasileiro, sendo responsvel por cerca de 5,6% do total de salrios pagos aos trabalhadores,

    19% do Produto Interno Bruto brasileiro e aproximadamente 9% do pessoal ocupado (Cmara

    Brasileira da Indstria da Construo-2005). Alm de sua participao direta no Produto

    Interno, a indstria da construo civil age sobre uma extensa cadeia produtiva de

    fornecedores, servios de comercializao e manuteno. Fabrcio (2002), baseado em um

    trabalho da Trevisan Consultores, considera a construo civil um setor locomotiva, j que

    demanda inmeros insumos e servios.

    O macro-complexo da construo civil est entre os dez setores que mais geram

    empregos por unidade monetria instalada. Para cada mil reais investidos na construo, so

    gerados R$ 561,54 de renda no prprio setor. Alm do valor adicionado internamente, so

    gerados outros R$ 219,50 no fornecimento de matrias primas, totalizando R$ 781,04 de

    renda direta e indireta relacionada ao investimento. A construo civil demanda, a cada ano,

    sessenta e oito bilhes de reais em insumos (minerais, metalrgicos, material eltrico,

    madeira) (Sinduscon- SP, 2003).

    Para manter sua importncia no cenrio econmico brasileiro a indstria da construo

    civil est passando por grandes mudanas. As empresas utilizam-se de vrias inovaes

    tecnolgicas, sendo que algumas procuram se consolidar com uma estratgia competitiva para

    as organizaes, conforme observado por Corra (2002). No entanto, Toledo et al (2000)

    ressaltam que, devido aos riscos e incertezas inerentes s inovaes tecnolgicas no serem

    aceitveis para boa parte do setor, apenas depois de consolidada que uma tecnologia passa a

    ser adotada por um nmero razovel de outras empresas. Estes mesmos autores destacam,

  • 15

    ainda, que a natureza multidisciplinar dos projetos e a dependncia do desenvolvimento de

    novos materiais e equipamentos para a produo, constituem outro tipo de obstculo para que

    inovaes sejam adotadas.

    O setor tem uma posio estratgica na gerao de empregos, j que implementa

    novos postos de trabalho, com reduzidos investimentos, quando comparado com setores mais

    intensivos em capital. Os insumos utilizados na construo civil so predominantemente

    produzidos internamente e, ao mesmo tempo, contribuem significativamente para o

    crescimento do pas com a gerao de infra-estrutura e de novas habitaes, alm da criao

    de postos de trabalho. Este fato levou Fabrcio (2002) a concluir que a construo civil no

    cria presses significativas na balana comercial do pas, tornando o setor estratgico para as

    polticas pblicas de gerao de riquezas e criao de empregos. As poucas excees so

    representadas por materiais derivados da indstria petroqumica, utilizados em tintas, PVC

    etc., materiais que tm seus preos determinados pela cotao internacional, da mesma forma

    que o ao.

    Apesar de sua importncia para o setor econmico brasileiro, a construo civil

    caracterizada como tradicional e conservadora conforme afirmam, Farah (1993), Picchi

    (1993), Santiago (2002), Ambrozewicz (2003), Secretaria de Tecnologia Industrial (2003).

    Todavia, Amorim (1995) ressalta que, embora lentas, as inovaes na construo civil esto

    presentes e considera esta postura como uma estratgia das empresas. O que advm da opo

    das empresas em dominarem um nmero restrito de solues para se contrapor enorme

    variao dos produtos. Preferem, cuidadosamente, incorporar inovaes baseadas em

    experincias anteriores.

    Embora tenha havido nas ltimas dcadas inmeros esforos, a construo civil ainda

    no conseguiu se igualar ao nvel de qualidade, produtividade e competitividade de outros

    setores da economia brasileira e est bastante distante dos ndices da indstria da construo

    civil americana. Dados de uma pesquisa realizada pela McKinsey (1998) no Brasil

    demonstram que a produtividade da construo de residncias de 35% da verificada nos

    Estados Unidos, a da construo comercial de 39% e a da construo pesada de 51%. Esta

    pesquisa faz referncia a diversos problemas quanto padronizao e ao cumprimento das

    normas tcnicas.

    Para uma perfeita compreenso do setor, necessrio que se entenda sua perspectiva

    histrica desde a dcada de cinqenta. Assim, reporta-se a Nascimento e Santos (2003) que

    apresentam o quadro da indstria de construo civil no pas, com as caractersticas de cada

  • 16

    fase. Estes autores atestam que, nos ltimos cinqenta anos, o pas passou por dois picos de

    desenvolvimento bem aproveitados pelo setor: na poca de Juscelino Kubitschek (50 anos

    em 5) e na dcada de setenta com o milagre econmico. A partir da dcada de oitenta, o

    setor entrou em grande recesso, perdurando at 2004, quando o pas, pela primeira vez,

    apresentou crescimento superior a cinco por cento.

    Tabela 1- Histrico recente da indstria da construo civil no Brasil.

    Dcada Nvel de Atividade Caractersticas

    Sessenta / Setenta Alto Crescimento do setor, obras de

    arte,investimentos do governo, construo de

    Braslia, milagre econmico.

    Oitenta Baixo Mercado recessivo, poucos investimentos

    governamentais, sem crescimento,

    racionalizao da produo, desenvolvimento

    tecnolgico.

    Noventa/ Inicio Dois mil Baixo Grande competitividade, desenvolvimento

    logstico, desenvolvimento das comunicaes,

    tecnologia das informaes, desenvolvimento

    sustentvel.

    Fonte: adaptado de NASCIMENTO e SANTOS, 2003

    Dados do Sub-comit da Indstria de Construo Civil no Programa Brasileiro de

    Qualidade e Produtividade (1997) mostram que a rea de recursos humanos no setor

    caracterizada pela insuficincia de programas de treinamento nas empresas, baixo

    investimento em formao profissional, declnio do grau de habilidade e qualificao dos

    trabalhadores de ofcio e elevada rotatividade. O resultado desta situao que os

    empreendimentos de construo civil no primam pela qualidade. Dados de pesquisa

    realizada pela USP (SOUZA, 2001) revelam que, em cada metro quadrado de obra, h cerca

    de duzentos e setenta quilos de material desperdiado, onerando o custo de 3% a 8%. No caso

    de placas cermicas, verificam-se perdas de 5 a 10%. Com concreto e ao, as perdas esto em

    mdia na faixa de 9% e 11%. E o acabamento em obras, mesmo de luxo, no satisfatrio.

    Observa-se, ento, na indstria da construo civil uma exigncia de mais qualidade e

  • 17

    produtividade, principalmente com a implantao de tcnicas gerenciais mais modernas.

    Assim, tornou-se importante incorporar novas filosofias de construo, gerenciamento de

    obras e buscar o comprometimento e o envolvimento dos trabalhadores. Para que se melhore a

    qualidade final do produto, imprescindvel que haja treinamento e capacitao da mo de

    obra.

    Diversas iniciativas para a implantao de sistemas de qualidade vm sendo

    impulsionadas pelo Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat (PBQP-H),

    que possui como fator crtico a participao dos trabalhadores para o sucesso desta

    implantao. O PBQP-H tem impulsionado tambm a procura de novas competncias, devido

    utilizao de novos procedimentos e tecnologias. J existe tambm no pas, no SENAI

    (Servio Nacional de Aprendizagem Industrial), um centro nacional de difuso de tecnologia

    e preparao de mo de obra que pode servir como multiplicador para a qualificao no setor.

    H diversos exemplos de empresas, tais como a Construtora RJZ, que desenvolve um

    programa de melhoria da qualidade, e a construtora gacha Teitelbaum, que estende suas

    prticas de gesto a trabalhadores terceirizados e fornecedores. A partir destas experincias,

    bem como das de outros setores da economia brasileira, pode-se indicar que para o avano do

    setor, necessrio que as empresas apresentem em suas estratgias os seguintes aspectos

    (LANTELME, 1999; ZANELATTO, YUKAREN e FABRIS, 2003):

    Produzir em conformidade com normas tcnicas. Para isto ser necessrio um esforo das indstrias e rgos de classe do setor para padronizao e elaborao de normas,

    devido insuficincia das existentes.

    Treinar e elevar a qualificao da mo de obra para aumento da produtividade;

    Modernizar a gesto empresarial e a gesto da qualidade atravs do emprego de tcnicas avanadas;

    Utilizar indicadores gerenciais e de competitividade.

    O setor caracteriza-se principalmente pela concentrao de microempresas. Conforme

    dados do Senai (2005), 76% das empresas de construo civil concentram-se na faixa de

    microempresas (at 9 empregados), seguido do grupo de pequenas e mdias empresas (entre

    10 e 99 empregados) com 22,5%. A mesma pesquisa acrescenta que o setor de edificaes

    responde por 66% do total de empresas e 98,2% do nmero de empregos da indstria de

    construo civil.

  • 18

    O Relatrio de Resultados do Frum de Competitividade da Cadeia Produtiva da

    Construo Civil (2002) aponta restries ao desenvolvimento e competitividade do setor,

    sobretudo em relao :

    1. Baixa eficincia produtiva;

    2. Qualidade e produtividade insuficientes;

    3. Insuficiente coeso da Cadeia Produtiva;

    4. Problemas de marco institucional e;

    5. Insuficincia de recursos.

    Segundo o IBGE (Diretoria de Pesquisas, Departamento de Contas Nacionais), o PIB

    da indstria da construo civil caiu 2,7% em 2001, 1,9% em 2002, 5,2% em 2003 e cresceu

    5,8% em 2004. As principais causas foram: racionamento de energia eltrica em 2001 que

    paralisou a atividade produtiva; a moratria argentina e os ataques terroristas em 2001 que

    afetaram a atividade econmica no Brasil; as dvidas sobre a sucesso presidencial em 2002

    com todos os efeitos sobre a taxa de cmbio e de inflao; e a forte poltica econmica

    restritiva em 2003 que aumentou a taxa de juros com a conseqente queda no crdito.

    Obviamente todos estes fatores drenaram recursos do setor de construo civil, inibindo os

    esforos de melhoria e produtividade das empresas.

    Segundo o CBIC (2005), atualmente, o governo procura desenvolver uma estratgia

    para alcanar os objetivos e metas de desenvolvimento da indstria de construo, baseando-

    se nas seguintes linhas de ao:

    1. Programa de qualidade e produtividade na indstria de construo;

    2. Programa de capacitao de recursos humanos;

    3. Programa nacional de combate a perdas e desperdcios;

    4. Programa nacional voltado para a preveno de acidentes na construo civil.

    O governo procura tambm incentivar o setor atravs de vrias medidas

    microeconmicas tais como: novos limites para financiamento de imveis usados com

    recursos do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Servio), maiores recursos para

    financiamento da habitao e saneamento, alm do crescimento econmico do pas que

  • 19

    comea a dar os primeiros sinais de retomada. sem, no entanto, haver garantias de um

    crescimento continuado.

    A construo civil tinha, segundo dados do Sinduscon-SP (2003), 289.796 empresas.

    Destas, 59% eram informais e 41% formais.1 Segundo esta mesma fonte, o segmento formal

    responsvel por 36,8% do valor adicionado ao Produto Interno Bruto do pas pelo setor da

    construo civil, correspondendo ao lado informal 63,2% do valor adicionado. O setor

    informal respondeu por 61% da receita total do setor (Sinduscon- SP, 2003). A construo

    civil adquiriu bens e servios de outros setores (consumo intermedirio) no valor de R$ 91,91

    bilhes de reais, sendo que o setor informal foi responsvel por 59% deste valor. O setor

    informal da construo civil foi responsvel por 66% do pessoal ocupado na construo civil,

    ficando o setor formal responsvel pelo restante (Sinduscon- SP, 2003). O Estudo Prospectivo

    da Cadeia Produtiva da Construo Civil (EPUSP,2002) aponta que R$ 52,69 bilhes de reais

    so gastos na produo de unidades habitacionais, sendo que a auto construo responsvel

    por R$ 11,21 bilhes de reais, ou aproximadamente 21,2% do fluxo de capital. O referido

    relatrio demonstra que 60% das unidades habitacionais comercializadas no pas so

    referentes autoconstruo. E este mercado tem como consumidor final o pblico de baixa

    renda (at 5 salrios mnimos) e mdia renda baixa (de 5 a 10 salrios mnimos).

    Da anlise destes dados, vem a constatao de que as pequenas e mdias empresas de

    construo civil tm pela frente um grande desafio. Existe um mercado potencial em que

    podem atuar, que o mercado da autoconstruo. No entanto, este mercado s ser disponvel

    para organizaes que se disponham a suplantar os benefcios das informais. No h dvidas

    de que o desafio enorme. As pequenas e mdias empresas esto em um momento em que

    necessrio a tomada de importantes decises. Ou optam por competir neste mercado hoje

    dominado pelas informais ou iro focar no mercado mais restrito de alta renda ou mdia alta

    renda, enfrentando o poder das grandes empresas do setor. Estas tm maiores recursos

    financeiros e facilidades de crdito para desenvolver Sistemas de Gesto da Qualidade,

    utilizar novas tecnologias, criar mecanismos de financiamento etc. Ou seja, tudo que falta s

    pequenas e mdias. No entanto, se as pequenas e mdias empresas decidirem competir no

    mercado de baixa renda e mdia renda baixa, elas tero que ser excepcionalmente produtivas.

    Iro competir com empresas informais que tm vantagens oriundas da prpria informalidade.

    1 No conceito empregado no trabalho citado do Sinduscon (2003), empresas informais so aquelas constitudas por autnomos sem registro ou com empregados no registrados, no possuindo na maioria das vezes constituio jurdica.

  • 20

    Ou seja, possuem custo baixo, conhecem o mercado consumidor, tm mecanismos

    informais de financiamento e, por estarem margem da lei, no pagam impostos e encargos,

    resultando em custos muito competitivos. Alm disto, podem se adequar capacidade de

    pagamento dos clientes, j que tm mais facilidades para ajustar o cronograma da execuo

    de servios ao investimento disponvel dos clientes. Isto pode ser comprovado em qualquer

    visita a bairros de populao de renda baixa, onde visualmente se constata a existncia de

    obras que se arrastam h anos. O consumidor de renda baixa constri em etapas

    condicionadas s suas disponibilidades financeiras e a informalidade se adapta a isto.

    A soluo para as pequenas e mdias empresas pode estar na aplicao de alguns

    princpios de inovao enumerados por Prahalad (2005) para os mercados de baixa renda:

    1) O foco deve estar na relao preo-desempenho dos produtos e servios, ou seja, as

    pequenas e mdias empresas de construo civil devem rever suas planilhas de custo

    buscando esta adequao ;

    2) As solues devem ser inovadoras, porm devem ser compatveis com a infra-

    estrutura existente, ou seja, as pequenas e mdias empresas devem considerar as

    necessidades destes consumidores de baixa renda: durabilidade e resistncia com baixo

    custo e adequao possibilidade de obras com conceito de expanso. As PMEs

    devem buscar novos mecanismos de atendimento a este tipo de consumidor;

    3) A reduo da intensidade de recursos deve ser um princpio crucial no

    desenvolvimento de produtos e servios. Talvez as pequenas e mdias empresas de

    construo civil tenham que considerar a utilizao do prprio consumidor de baixa

    renda como mo de obra, ou buscarem uma postura diferente como gestora de projetos,

    ou desenvolverem projetos para auto-construo, porm atendendo s normas de

    qualidade e segurana;

    4) Os produtos e servios devem considerar os nveis de qualificao, infra-estrutura

    deficiente e a dificuldade de acessar servios neste tipo de mercado.

    Desta forma, comprimidas entre as grandes empresas que dominam o mercado de alta

    renda e pelo setor informal que lhes rouba os consumidores de renda baixa e mdia renda

    baixa, s resta s pequenas e mdias empresas reverem seus processos e produtos, adequando-

    os aos princpios enunciados por Prahalad (2005). Algumas pequenas e mdias empresas da

  • 21

    construo civil entenderam que a implantao de um Sistema de Gesto da Qualidade pode

    qualific-las para um posicionamento mais eficaz para enfrentar os desafios existentes.

    No entanto, para se implantar um Sistema de Gesto de Qualidade h no s um custo

    inicial alto como tambm o custo de manuteno do Sistema. Tal fato, em muitos casos,

    proibitivo para as pequenas e mdias empresas. Problemas financeiros decorrentes dos

    aspectos citados como: juros altos, falta de acesso ao crdito, baixa produtividade, etc. j

    dificultam a continuidade destas empresas. Como, ento, investir em sistemas que podem

    melhorar o seu desempenho, se inicialmente os custos aumentam? Em diversos contatos

    mantidos pelo autor, com pequenos e mdios empresrios da construo civil, o aspecto custo

    sempre ressaltado quando se discutiu a implantao de SGQs. Logo, a motivao para este

    trabalho surgiu da curiosidade de se avaliar os resultados obtidos por PMEs da construo

    civil, que se utilizam SGQs, comparativamente quelas que no os utilizam. Alm disto, este

    assunto j vem sendo pesquisado h algum tempo pelo NITCON2. Baseados em trabalhos

    anteriores de Amorim (1995,1998), desenvolveram um sistema de indicadores que ser

    detalhado mais adiante nesta tese. Estes indicadores esto relacionados s seguintes

    dimenses: Finanas, Recursos Humanos, Mercado e Produo.

    Aps uma introduo da construo civil onde so apresentados alguns dados do setor,

    suas caractersticas e iniciada a discusso de como as pequenas e mdias empresas do setor

    esto posicionadas e quais os desafios para a implantao de Sistemas de Gesto da Qualidade

    neste tipo de organizao, passa-se a detalhar qual a situao problema.

    1.2 SITUAO PROBLEMA

    Em vista dos problemas apresentados na introduo, observa-se um movimento que

    visa a melhoria dos processos de gesto da qualidade na indstria de construo civil. De

    acordo com o PBQP-H (2006), no setor privado, a adeso de construtoras aos sistemas de

    qualidade do SiAC do PBQP-H est se consolidando como fator de diferenciao no mercado.

    J so quase 3000 construtoras envolvidas, sendo que mais de 1500 j foram auditadas

    por organismos certificadores do PBQP-H. Isso demonstra o alto grau de aceitao e a

    credibilidade que o Programa conquistou no segmento de obras e servios de construo.

    2 NITCON- Aplicaes de Novas Tecnologias de Informao no setor de Arquitetura, Engenharia e Construo. Grupo de Pesquisas do Programa de Ps Graduao em Engenharia Civil da Universidade Federal Fluminense.

  • 22

    Os recursos demandados para a implantao de um Sistema de Gesto da Qualidade

    so bastante dispendiosos3 e assim sendo, tal movimento em sua grande maioria constitudo

    por empresas de grande porte da indstria da construo civil. As pequenas e mdias

    empresas desta indstria apresentam enormes dificuldades de se engajarem neste movimento,

    principalmente pelo alto custo de tal implantao (SOUZA & SAMPAIO, 1993,1995). Alm

    disto, existem as dificuldades de capital resultantes da instabilidade do perodo econmico

    vivido nos ltimos anos. O empresrio tpico deste segmento tem diante de si um dilema.

    necessrio a melhoria de seus mtodos de gesto, a reviso de estratgias, a capacitao

    prpria e de seus funcionrios, a busca da melhoria da qualidade e de novas tecnologias.

    Porm, face instabilidade presente, no tem recursos nem incentivos para tal. Entretanto,

    algumas pequenas empresas aceitaram este desafio e buscaram programas formais de

    treinamento, processos padronizados, programas de qualidade e os resultados tm sido

    promissores. Pode ser citado, como exemplo, a Teitelbaum que em 2003 ganhou o Prmio

    Nacional da Qualidade, categoria Mdias Empresas (FPNQ, 2004).

    No entanto, outras empresas no tm primado pela tentativa de melhorar seus

    processos de gesto atravs da utilizao de programas formais de qualidade, programas de

    aprimoramento da mo de obra, utilizao de sistemas integrados de gesto etc. Seria

    necessrio que houvesse incentivo para que as empresas de construo civil investissem na

    melhoria da qualidade e na inovao. Tal incentivo poderia ser representado pela certeza de

    investimentos em obras e infra-estrutura por parte do governo. Porm, o governo federal com

    a necessidade de obter supervits primrios crescentes restringe o investimento em obras de

    infra-estrutura e saneamento. A Poltica Industrial, Tecnolgica e de Comrcio Exterior

    (PICTE), divulgada pelo governo federal em maro de 2004, coloca a inovao como um de

    seus pilares. No entanto, como a gesto econmica e financeira governamental resume-se

    obteno de supervits primrios, no observando planos de investimento ou polticas de

    incentivo inovao e desenvolvimento tecnolgico, o apoio governamental aos processos de

    inovao tmido. Para 2006 o investimento do governo federal para todos os setores ser de

    14,7 bilhes de reais, o que representa cerca de 0,7% do PIB brasileiro. E o setor da

    construo civil, constitudo em sua maior parte por pequenas e mdias empresas, no tem

    incentivos nem recursos para investir na implantao de Programas de Gesto da Qualidade. 3 Segundo dados obtidos com consultorias ( jan.2007) o custo estimado de implantao para uma empresa de construo civil fica no entorno de R$ 100.000,00 a R $150.000,00 compreendendo as etapas de preparao, identificao e avaliao das atividades, implementao dos sistemas de gesto interna, desenvolvimento de conscientizao, avaliao, preparao para certificao externa e certificao externa. O valor depender do tipo de atividade e do estgio de qualidade em que a empresa se encontra, segundo as fontes consultadas.

  • 23

    Situadas entre a ao do segmento informal, com todas as vantagens da informalidade, e as

    grandes empresas com seu poder financeiro e melhores mtodos de gesto, as pequenas e

    mdias empresas necessitam de uma tomada de posio iminente para que:

    a) Posicionem-se face ao desafio do mercado informal, reduzindo seu custo atravs

    do aumento da produtividade, eliminao de retrabalhos, aumento da qualidade.

    b) Organizem-se em grupos de presso junto aos poderes executivo e legislativo para

    que estes entendam a necessidade de financiamento para a implantao de SGQs.

    Mas ser que h diferenas significativas em relao ao sucesso das pequenas e mdias

    empresas que se capacitaram, utilizam Sistemas de Gesto da Qualidade e aquelas que nada

    fizeram? Assim, deve haver um fator diferenciador para as pequenas e mdias empresas da

    Indstria da Construo Civil que implementaram programas de melhoria de gesto. Isto o

    que se pretende estudar atravs dos resultados obtidos pelas empresas no perodo da pesquisa

    (2001-2005).

    Em seguida, so enunciados os objetivos geral e especficos da tese, as hipteses e

    questes especficas. Alm disto, estabelecem-se os pressupostos em que foram estabelecidos.

    1.3 OBJETIVOS

    Os objetivos deste estudo so os seguintes:

    1.3.1 Gerais

    Pesquisar as mdias e pequenas empresas de construo civil que utilizam Sistemas

    de Gesto da Qualidade e verificar, atravs do conjunto dos indicadores desenvolvidos para as

    dimenses definidas, se h diferenas no desempenho entre as organizaes que utilizam SGQ

    e as que no utilizam.

    Analisar se a instabilidade do setor e do ambiente econmico brasileiro afeta a

    implantao de SGQs nas PMEs da construo civil.

    Pesquisar quais os fatores decisivos para uma perfeita implantao de SGQs em

    pequenas e mdias empresas de construo civil.

  • 24

    1.3.2 Especficos

    Avaliar o desempenho das mdias e pequenas empresas de construo civil que utilizam SGQs em relao quelas que no utilizam, confrontando os resultados obtidos

    nas dimenses: Finanas, Recursos Humanos, Mercado e Produo ;

    Avaliar como as peculiaridades do setor escolhido para a pesquisa, influenciam na implantao de Sistemas de Gesto da Qualidade ;

    Avaliar quais as razes do fracasso ou sucesso na implantao de SGQs nas PMEs da construo civil;

    1.3.3 Hipteses e questes da pesquisa

    Para que os objetivos mencionados fossem alcanados, partiu-se do pressuposto de

    que a implantao de Sistemas de Gesto da Qualidade em pequenas e mdias empresas da

    Construo Civil traz benefcios para as empresas. As organizaes tornam-se menos

    suscetveis a imprevistos e, portanto, podem se organizar melhor e fazer um planejamento

    mais adequado. Atravs de medies conseguem verificar quais os pontos deficientes,

    permitindo que sejam feitos planos para a melhora contnua.

    Supe-se, tambm, que as pequenas e mdias organizaes que no utilizam Sistemas de

    Gesto da Qualidade tomam esta deciso devido inconstncia da economia brasileira ou s

    caractersticas intrnsecas da construo civil. Como no tm mecanismos de melhoria

    contnua, seus resultados devem ser piores que aquelas que tenham implantado Sistemas de

    Gesto da Qualidade.

    Dentro destas premissas as seguintes hipteses foram estabelecidas:

    1.3.3.1 Hiptese 1 (H1)

    As empresas de pequeno e mdio porte do ramo de construo civil, que utilizam

    Sistemas de Gesto da Qualidade, apresentam melhor desempenho do que aquelas que no os

    utilizam.

  • 25

    1.3.3.1.1 Questes chave da Hiptese 1

    1) Como feito o planejamento estratgico das empresas que implantaram Sistemas de

    Gesto da Qualidade? E naquelas em que no existe processo formal de planejamento, existe

    algum planejamento?

    2) Naquelas empresas onde existe planejamento estratgico, h critrios para a avaliao da

    performance?

    3) O conhecimento dos resultados da aplicao do SGQ chega a todos os nveis da

    organizao?

    1.3.3.2 Hiptese 2 (H2)

    As caractersticas do setor de construo civil tais como as citadas por Meseguer

    (1991): carter nmade, produtos nicos e no seriados, longo ciclo de aquisio-uso-

    reaquisio, mo de obra de baixa capacitao constituem obstculo para a implantao de

    SGQs nas pequenas e mdias empresas da construo civil.

    1.3.3.2.1 Questes chave da Hiptese 2

    1) A implantao e uso de SGQs sofre influncias das caractersticas do setor?

    2) Quais peculiaridades influenciam na implantao e uso de tais sistemas?

    3) Como as PMEs procedem para vencer as dificuldades impostas devido a estas

    peculiaridades?

    1.3.3.3 Hiptese 3 (H3)

    As incertezas do ambiente econmico de um pas em vias de desenvolvimento, como o

    Brasil, restringem a aplicao de SGQs em pequenas e mdias empresas de construo civil.

  • 26

    1.3.3.3.1 Questes chave da Hiptese 3

    1) Como as pequenas e mdias empresas de construo civil tm adequado a implantao de

    SGQs nos momentos de turbulncia econmica?

    2) Foram disponibilizados pela Alta Administrao os recursos necessrios para o

    desenvolvimento dos projetos de implantao?

    3) Existem medio dos custos de implantao e dos retornos esperados?

    1.4 JUSTIFICATIVA DO TRABALHO

    So as seguintes as justificativas da pesquisa:

    1.4.1 No Contexto Institucional

    Devido a fatores como:

    a) importncia da Indstria da Construo Civil na economia brasileira e sua facilidade em

    empregar grandes quantidades de mo de obra rapidamente, sem que os investimentos para

    isso gerem presses significativas na balana comercial (FABRCIO, 2002);

    b) insuficincia dos programas de treinamento e qualificao dos trabalhadores do setor

    (Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade, 1997);

    c) as lacunas a serem preenchidas em termos de produtividade e qualidade

    (McKINSEY,1998).

    importante que se busque entender o ambiente empresarial das micros e pequenas

    empresas, focando as necessidades de implantao de SGQs nestas empresas; sejam

    verificadas as dificuldades de implantao destes sistemas; como esto posicionadas as

    empresas que implantaram estes mtodos em relao quelas que no o fizeram.

    1.4.2 No contexto da sociedade e da empresa

    A realizao desta pesquisa permitir s pequenas e mdias empresas de construo

    civil inteirar-se sobre a situao do segmento em relao implantao de SGQs; determinar

    quais os fatores crticos para esta implantao, de maneira que as empresas se tornem mais

  • 27

    eficazes, com melhores produtos e servios; verificar o impacto da instabilidade do momento

    econmico no processo de aprimoramento da gesto das empresas que implantaram SGQs;

    verificar quais as razes do sucesso destas empresas, se constatado que houve benefcios na

    implantao ou do insucesso, caso se constate que no houve melhorias; verificar como, a

    nvel macroeconmico, as polticas de Estado e os nveis de relacionamento interferem no

    sucesso da implantao de SGQs.

    Em seguida, so explicadas as delimitaes da tese.

    1.5 DELIMITAES DO TRABALHO

    O presente estudo ficar restrito ao sub-grupo de pequenas e mdias empresas de

    construo civil, do ramo de edificaes, j que este ramo corresponde a 82% das empresas

    do setor de Construo Civil, com apenas 91 empresas com mais de 500 empregados (CBIC,

    2003; RAIS, 2003; IBGE, 2003) No se aspira a estudar outro ramo da cadeia da construo

    civil, nem que as constataes observadas sejam validadas para outros segmentos que no o

    de pequenas e mdias empresas , dedicadas construo imobiliria. O estudo ser restrito s

    empresas situadas no municpio do Rio de Janeiro, devido a limitaes de recursos e prazos.

    1.6 METODOLOGIA:

    Este trabalho engloba os seguintes campos do conhecimento:

    a) Qualidade (melhoria dos processos produtivos);

    b) Engenharia Civil (processos produtivos de construo civil);

    c) Estratgia (estratgia competitiva) e;

    d) Inovao (conhecimento tecnolgico e difuso do conhecimento).

    Embora envolva a Engenharia, uma rea no campo das cincias exatas, a presente tese

    est concentrada na atuao de pessoas e organizaes e, assim, utiliza procedimentos

    metodolgicos afetos ao campo da pesquisa social. Para Gil (1999) pesquisa social o

    processo que utilizando a metodologia cientfica, permite a obteno de novos conhecimentos

    no campo da realidade social, realidade que segundo o mesmo autor envolve todos os

    aspectos relativos ao homem em seus mltiplos relacionamentos com outros homens e

    instituies sociais.

  • 28

    De acordo com Gil (1999), a pesquisa bibliogrfica desenvolvida a partir de material

    j elaborado, constitudo principalmente de livros e artigos cientficos. Gil (1999) considera

    que (...) a principal vantagem da pesquisa bibliogrfica reside no fato de permitir ao

    investigador a cobertura de uma gama de fenmenos muito mais ampla do que aquela que

    poderia pesquisar diretamente (...).

    Cervo e Bervian (1983, apud AZEVEDO, 2002) afirmam que a pesquisa bibliogrfica

    objetiva:

    a) Evitar duplicidade de pesquisa;

    b) Evitar problemas ocorridos em trabalhos anteriores;

    c) Determinar a contribuio da pesquisa para a base do conhecimento e;

    d) Obter fundamentao terica para o desenvolvimento do trabalho.

    Gil (1999) conclui que as pesquisas exploratrias tm como principal finalidade o

    esclarecimento e a modificao de conceitos e idias, tendo em vista a formulao de

    problemas mais precisos ou hipteses pesquisveis para estudos posteriores. O mesmo autor

    afirma que

    (...) de todas as pesquisas, estas so as que apresentam menor rigidez no planejamento. Habitualmente envolvem levantamento de material bibliogrfico e documental, entrevistas no padronizadas e estudos de caso (...). Na verdade pesquisas exploratrias so desenvolvidas com o objetivo de proporcionar viso geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato (...).

    Lakatos (1990) sugere que as seguintes questes sejam respondidas: Como?, Com

    que?, Onde?, Quanto?. Estas perguntas sero respondidas atravs do estudo de caso. Sabe-se

    que os crticos olham o estudo de caso com descrena. Yin (1994) aponta os seguintes

    argumentos como os mais comuns contra a utilizao do estudo de casos:

    1. Falta de rigor;

    2. Influncia do investigador;

    3. Falsas evidncias;

    4. Vises viesadas;

    5. So muito extensos e necessitam de muito tempo para serem concludos e;

    6. Fornecem pouqussima base para generalizaes.

  • 29

    Tais afirmaes so veementemente refutadas por Yin (1994) ao salientar que um

    estudo de caso uma investigao emprica que investiga um fenmeno contemporneo

    dentro de seu contexto de vida real, especialmente quando os limites entre o fenmeno e o

    contexto no esto claramente definidos. Lopes Pinto (2002) afirma que o estudo de caso

    pode descrever um contexto de vida real no qual uma interveno ocorreu e avaliar uma

    interveno em curso e modific-la com base em um estudo de caso ilustrativo. Carmo-Neto

    (1996) diz que o estudo de caso utiliza casos concretos ao invs de casos hipotticos, com a

    finalidade de permitir que, atravs da maior convivncia com a sintomatologia dos problemas

    e dificuldades inerentes ao caso, o estudante aprenda a diagnosticar e prognosticar a situao

    e, sob orientao, indicar a terapia e os medicamentos que lhe parecem mais adequados.

    Diante do exposto, foi adotada para o presente trabalho uma abordagem bibliogrfico-

    exploratria, complementada pela utilizao do estudo de caso. Assim, os objetivos traados

    para este trabalho podero ser mais facilmente alcanados. O objeto para o estudo de caso

    sero as empresas construtoras certificadas comparativamente quelas no certificadas. Foram

    consideradas pequenas e mdias empresas do ramo imobilirio da Indstria da Construo

    Civil situadas no municpio do Rio de Janeiro. O critrio adotado para a classificao das

    empresas o sugerido pelo SEBRAE, que reproduzido a seguir.

    Tabela 2- Classificao de empresas: construo civil

    Construo Civil Porte Nmero de funcionrios

    microempresa At 19 pessoas ocupadas

    pequeno porte 20- 99 pessoas ocupadas

    mdio porte 100 -499 pessoas ocupadas

    grande porte acima de 500 pessoas ocupadas

    Fonte: SEBRAE, 2005

    O mercado imobilirio na cidade do Rio de Janeiro vem alternando anos de elevado

    nmeros de lanamento com outros de baixo nmero de lanamentos4. Em 1982, houve o

    lanamento de 14.320 unidades em 217 prdios. Porm, este ano foi atpico, uma vez que ao

    longo das dcadas de oitenta, noventa e incio do novo sculo, os lanamentos oscilaram entre

    trs mil e sete mil unidades (Instituto Pereira Passos, 2003). Os anos dois mil iniciam-se com

    um vis de baixa, diferentemente das dcadas anteriores, que apresentavam aps o primeiro

    ano resultados melhores.

    4 O nmero de lanamentos utilizado como indicador de atividade e no de produo.

  • 30

    Em 2000, o nmero de imveis residenciais cadastrados no municpio carioca era de

    1.283.427 unidades, correspondendo a uma rea construda de 100.047.499 metros quadrados.

    Deste total 53% correspondiam a apartamentos. Neste ano, o nmero de unidades de

    comrcio e servios era de 188.643 unidades com uma rea construda de 36.717.573 metros

    quadrados. As unidades industriais representavam 5.673 unidades com uma rea construda de

    7.100.055 metros quadrados (Instituto Pereira Passos, 2003).

    A tipologia predominante no mercado de lanamentos no Rio de Janeiro a de dois

    quartos, embora venha apresentando queda. Em seguida, segue-se a tipologia de trs quartos,

    que tem se mantido estvel nos ltimos anos. Um fato a ressaltar a expanso exagerada da

    tipologia de um quarto no ano 2000. Neste ano houve uma reviso na legislao que

    favoreceu a produo de unidades com servios (hotis residncia, flats etc.) (Instituto Pereira

    Passos, 2003). Pode ser que esta alterao seja a explicao para o lanamento atpico da

    tipologia de um quarto neste ano.

    A construo civil na cidade do Rio de Janeiro, no incio da dcada de noventa,

    absorvia 6% do total do pessoal ocupado, com cerca de 126.000 pessoas. Desde ento, h uma

    tendncia constante de baixa, chegando a 2002 com 100.850 postos de trabalho na construo

    civil, ou 4,2% do total de pessoal ocupado (Instituto Pereira Passos, 2003). Em paralelo

    reduo do percentual ocupado na construo civil na cidade do Rio de Janeiro, dados do

    Centro de Informaes de Dados do Rio de Janeiro (CIDE, 2004) evidenciam uma reduo

    gradativa do pessoal ocupado na indstria, mas uma variao bem menor no percentual de

    pessoal ocupado na construo civil. Isto refora o conceito de que a construo civil

    absorvedora de mo de obra. Isto pode ser observado na tabela 3 .

  • 31

    Tabela 3- Distribuio percentual das pessoas ocupadas por ramo de atividade na regio

    metropolitana do Rio de Janeiro

    Distribuio percentual das pessoas ocupadas por ramos de atividade Anos Total Indstria Construo Civil Comrcio Servios

    Outras atividades

    1990 100,00 17,31 7,98 13,75 52,15 8,871991 100,00 16,75 8,62 14,14 52,18 8,261992 100,00 14,95 8,09 14,03 54,62 9,111993 100,00 14,30 7,67 14,54 54,09 9,381994 100,00 13,40 6,67 14,84 55,68 9,381995 100,00 13,31 6,43 14,99 56,25 9,011996 100,00 12,88 6,77 14,48 56,62 9,201997 100,00 12,31 6,42 14,55 57,29 9,411998 100,00 11,48 6,48 14,59 58,02 9,421999 100,00 11,04 6,36 14,56 58,24 9,782000 100,00 10,90 9,93 11,47 57,51 10,162001 100,00 10,53 6,62 14,56 58,15 10,132002 100,00 10,14 6,00 14,43 59,00 10,422003 100,00 12,78 7,81 19,21 59,48 0,73

    Fonte: CIDE, 2004

    Existem cento e vinte e quatro pequenas e mdias empresas no estado do Rio de

    Janeiro, de acordo com o Cadastro Industrial do Estado do Rio de Janeiro 2003-2004

    (FIRJAN, 2003). Destas, sete organizaes esto classificadas com qualificao A no PBQP-

    H (abril/ 2006), situadas no municpio do Rio de Janeiro. Este grupo de empresas

    representar, como amostragem, aquelas que tm Sistemas de Gesto. A escolha deste grupo

    de empresas foi baseada no fato de que so organizaes que apresentam grau de qualificao

    atestado e com nvel de evoluo mxima, avaliadas por um organismo certificador

    acreditado. Constituem, tambm, um universo pequeno em relao ao nmero total de

    empresas do setor. Assim, torna-se mais fcil que um nmero representativo de pesquisas

    sejam feitas.

    Para as que representam empresas sem Sistemas de Gesto da Qualidade utilizou-se o

    Cadastro Industrial do Estado do Rio de Janeiro 2003-2004 (FIRJAN,2003) para selecionar as

    empresas, excluindo-se as pequenas e mdias empresas de construo civil que tem

    qualificao A, B, C ou D no PBQP-H (PBQP-H, abril/ 2006). Estas empresas foram

    excludas pela razo de apresentarem critrios de qualidade (empresas A, B e C) ou terem

    desejo de se qualificar (empresas D). Excluram-se, tambm, as pequenas e mdias empresas

    que no esto situadas no municpio do Rio de Janeiro. O critrio de seleo dos dois grupos

    ser apresentado mais adiante.

  • 32

    As empresas tero seu desempenho comparado em relao aos indicadores citados

    anteriormente (para as dimenses: Finanas, Recursos Humanos, Mercado, Produo), bem

    como sero feitas anlises em funo dos resultados obtidos da verificao de questionrios.

    Estes indicadores sero detalhados no captulo cinco desta tese. A descrio da metodologia

    da pesquisa ser feita, detalhadamente, em captulo posterior.

    Algumas caractersticas especiais da cultura empresarial existente nas pequenas e

    mdias empresas da indstria da construo civil ou peculiaridades do tipo de negcio podem

    limitar as generalizaes necessrias para o assunto em estudo. Porm, com a utilizao de

    tcnicas, planejamento e mtodos recomendados para o estudo de caso, pretende-se obter

    evidncias aceitveis para estas generalizaes. Alm do mais, pela comparao entre as

    experincias citadas pela literatura estudada e aquelas extradas dos questionrios, ser

    retirado o aprendizado necessrio para a validao das hipteses.

    apresentada no prximo item como a tese est estruturada, permitindo, assim, o

    entendimento do desenvolvimento dos captulos e da seqncia adotada.

    1.7 ESTRUTURA DA TESE

    No captulo um feita a contextualizao da indstria da construo civil no Brasil.

    Traa-se um histrico, os principais problemas, as caractersticas e as principais tendncias

    do setor. Mostram-se a situao problema e condies atuais da construo civil relativamente

    aos Sistemas de Gesto da Qualidade. Discutem-se as preocupaes do governo em relao a

    programas de aperfeioamento da gesto empresarial para o setor. Abordam-se os objetivos

    do estudo, delimitando quais pontos se pretende pesquisar. Isto bem entendido ao serem

    feitas as principais hipteses e questes chave. Listam-se tambm as justificativas da

    pesquisa.

    No captulo dois, definem-se conceitos como inovao, conhecimento tecnolgico e

    como se faz a difuso do conhecimento. debatido o conceito de que a implantao de

    Sistema de Gesto da Qualidade uma inovao tecnolgica.

    Em seguida, no captulo trs demonstrada a evoluo histrica econmica brasileira

    no perodo 1930-2005 e detalhado o ambiente econmico do pas. No captulo quatro

    mostrada a evoluo da qualidade na construo civil e no captulo cinco so feitas

    referncias ao sistema de medio que permitir estabelecer comparao entre empresas de

    construo.

  • 33

    No captulo seis feita a descrio sobre a metodologia da pesquisa. apresentado o

    universo da pesquisa e so explicados mtodos, procedimentos e estratgia de anlise,

    terminando com as limitaes do mtodo. No captulo sete explica-se o desenvolvimento da

    pesquisa, que tambm analisada neste captulo. As concluses finais e sugestes para

    prximos trabalhos so apresentadas no captulo oito.

    A seguir, feita a conceituao de inovao, difuso tecnolgica, conhecimento e

    aprendizado e discutem-se as polticas de inovao. Atravs destas polticas o Estado pode

    direcionar o desenvolvimento das PMEs. Procura-se concluir como estes fatores influem no

    desenvolvimento da qualidade, inovao e gesto do conhecimento das pequenas e mdias

    empresas da construo civil. abordado, tambm, o conceito de que a implantao de um

    Sistema de Gesto da Qualidade uma inovao tecnolgica.

  • 2 QUALIDADE, INOVAO E CONHECIMENTO NA CONSTRUO CIVIL

    A inovao e o desenvolvimento tecnolgico so essenciais para que haja crescimento

    do emprego e da produtividade, e a inovao ocorre em qualquer setor da economia, inclusive

    no setor pblico. Durante as ltimas dcadas do sculo vinte, houve um grande avano no

    nvel tcnico e no emprico, devido ao entendimento dos mecanismos que aceleram ou

    retardam o ato de inovar. Tal fato reconhecido pela OCDE (1997). No entanto, apesar de se

    viver uma importante revoluo tecnolgica, onde a economia mundial est sendo

    transformada pelas novas tecnologias da informao e por mudanas ocorridas na

    biotecnologia, materiais, informtica etc., estas alteraes tecnolgicas no se refletem em

    aumentos na produtividade do fator total e nas taxas de crescimento da produo. O

    documento da OCDE (1997), denominado Manual de Oslo, destaca tal fato.

    O entendimento do processo de inovao importante para se verificar como ele afeta

    a atividade econmica no Brasil e, em particular, a indstria da construo civil. O que ir

    facilitar a concordncia do Sistema de Gesto da Qualidade como inovao tecnolgica

    organizacional. Permitir, tambm, que as caractersticas deste processo nesta indstria sejam

    esclarecidas. No caso da construo civil no Brasil, observa-se que ela difere de outros setores

    econmicos, que se apresentam mais avanados em termos de qualidade e produtividade .

    A consultoria McKinsey (1998) elaborou um extenso relatrio sobre os principais

    segmentos econmicos brasileiros em relao aos nveis de qualidade e produtividade. Neste

    relatrio (McKINSEY, 1998), so apontadas diferenas significativas entre os nveis de

    qualidade e produtividade da construo civil brasileira e americana. Para a reduo destas

    diferenas, empresas e governo devero pagar pelos custos do desenvolvimento tecnolgico,

    implementando os necessrios investimentos. Se no houver uma conscientizao de que

    preciso investir na melhoria da qualidade e produtividade da construo civil, as diferenas

    em relao a outros pases nunca sero diminudas.

  • 35

    Um outro problema no atual estgio da indstria da construo civil a capacitao

    tcnica dos recursos humanos em toda a estrutura organizacional. Para uma economia baseada

    no conhecimento, a inovao desempenha um papel central. E para que as empresas de

    construo civil desenvolvam a inovao necessrio que possuam competncias estratgicas

    e organizacionais. Por competncias estratgicas a OCDE (1996) entende viso de longo

    prazo, capacidade de antever e antecipar tendncias de mercado, processar e assimilar

    informaes tecnolgicas. Competncias organizacionais so a disposio para o risco e

    capacidade de gerenci-lo, cooperao entre os diversos departamentos , pesquisas de pblico,

    clientes e fornecedores, envolvimento na mudana e investimento nos recursos humanos.

    Na construo civil, ainda no se observam as caractersticas ressaltadas pelo referido

    estudo da OCDE (1996). Muoz (2001) considera que o gerenciamento das empresas

    construtoras ainda caracterizado por uma baixa orientao para o futuro. As estratgias so

    escolhidas com o objetivo do curto prazo e de reagir s necessidades do mercado. No existe

    disposio para o risco, nem cooperao interna entre os departamentos.

    As caractersticas consideradas pela OCDE e as concluses de Muoz podem ser

    extrapoladas para as PMEs da construo civil. No h envolvimento das PMEs da construo

    civil no processo de gerenciamento do conhecimento. Pode ser concludo que parte desta

    falta de envolvimento devida baixa qualificao da mo de obra utilizada na construo

    civil. Amorim (1995) afirma que o operrio da construo civil desenvolve mais

    habilitao do que qualificao. Desta afirmao pode ser deduzido que as empresas no

    desenvolvem sistemas de gesto das melhores prticas nem processos de aprendizado e

    controle, utilizando-se do argumento da baixa qualificao dos funcionrios. Assim,

    necessrio que seja feito um esforo para sua melhor qualificao, permitindo que se tornem

    mais produtivos e que tenham um melhor entendimento da aplicao de normas e

    procedimentos.

    Neste ambiente da construo civil, com poucos recursos para investimento, baixa

    capacitao tcnica dos recursos humanos, deficincia de qualidade e produtividade,

    importante que se entenda a conceituao de inovao e gesto do conhecimento e como,

    atravs destes mecanismos, alcanar a qualidade e produtividade. Em seguida, passa-se a esta

    conceituao.

  • 36

    2.1 CONCEITUAO DE INOVAO

    Inovao compreende todos os passos cientficos, tecnolgicos, organizacionais,

    financeiros e comerciais, inclusive investimentos em novos conhecimentos que de fato levam

    ou pretendem levar implantao de produtos ou processos tecnologicamente aprimorados.

    Alguns podem ser inovadores por si mesmos, outros no so novos, mas so necessrios para

    a implantao. A inovao pode se dar atravs de mudanas organizacionais significativas,

    ou alteraes em produtos e processos. A inovao organizacional, segundo a OCDE (1997)

    composta de:

    a) introduo de estruturas organizacionais significativamente alteradas ;

    b) implantao de orientaes estratgicas novas ou substancialmente alteradas;

    c) implantao de tcnicas de gerenciamento avanado.

    De acordo com o entendimento da OCDE (1997) conclui-se que a implementao de

    um Sistema de Gesto da Qualidade caracteriza-se como uma inovao organizacional. Esta

    implementao permite que as estruturas organizacionais sejam alteradas, atravs da melhoria

    contnua, do estabelecimento de indicadores, da gesto dos recursos etc. Desta forma, novas

    orientaes estratgicas so implantadas. Este processo est em andamento na construo

    civil brasileira, atravs de iniciativas como o PBQP-H, PSQ- Qualihab e outros, dos quais se

    falar mais adiante.

    A implantao das estratgias segue diferentes alternativas, dependendo das

    caractersticas intrnsecas de cada setor. Desta forma, necessrio que se conhea como a

    implementao das estratgias age sobre estes setores. Dosi et al (1990) apresentam uma

    classificao setorial, considerando que as diferentes trajetrias tecnolgicas das indstrias

    podem ser explicadas pelas condies de cumulatividade, oportunidade e apropriao das

    tecnologias. Esta classificao, que foi desenvolvida baseada em observaes sobre os pases

    industrializados, classifica os setores em:

    Indstrias dominadas por fornecedores (supplier dominated) englobando os setores tradicionais na manufatura, agricultura, habitao, produo familiar informal e

    diversos servios profissionais, financeiros e comerciais. Geralmente, so indstrias

    compostas por firmas pequenas, com fraca capacitao em engenharia e realizao

    interna de pesquisa restrita. Tais caractersticas so observadas na construo civil,

    onde equipamentos (elevadores por exemplo) ou alguns materiais (como placas

  • 37

    cermicas) tm todo o desenvolvimento feito pelos fornecedores que lideram o

    processo, sendo as construtoras meras usurias.

    Setores intensivos em escala, incluem os fabricantes de materiais padronizados e de bens de

    consumo durveis e veculos. Fazem parte de um sistema de produo complexo, onde os

    riscos de falha, decorrentes de mudanas radicais, so altos. Assim, as tecnologias so

    desenvolvidas de maneira incremental, baseadas em experincias anteriores. Na construo

    civil podem servir como exemplos: revestimentos, estruturas metlicas etc;

    Fornecedores especializados (specialized supplier firms) so empresas de pequeno porte que fornecem insumos de alta performance na forma de softwares, mquinas,

    componentes ou instrumentos. A acumulao tecnolgica ocorre atravs do desenho,

    construo e utilizao dos insumos de produo. As empresas se beneficiam da

    experincia operacional de seus usurios atravs de informaes, tcnicas e

    identificao de possveis melhorias a serem realizadas, e, tambm, o fornecimento de

    instalaes de teste e recursos. Como contrapartida, estes fornecedores do a seus

    clientes o conhecimento especializado e a experincia que resultam do projeto e

    fabricao de equipamentos para diversos outros clientes. Na construo civil, pode-se

    considerar neste caso escritrios de arquitetura, pequenas empresas especializadas em

    controle de qualidade, fornecedores de esquadrias etc.;

    Fornecedores baseados em cincia (science based) que encampa as indstrias qumica e eletroeletrnica, onde a acumulao tecnolgica vem dos laboratrios das empresas.

    muito dependente dos conhecimentos e competncias gerados em universidades e

    institutos de pesquisa.

    Depois de demonstrada a classificao setorial das empresas segundo a trajetria

    tecnolgica, importante o conhecimento das caractersticas da inovao. Esta deve

    apresentar as seguintes caractersticas, segundo Schumpeter (1934):

    Introduo de um novo produto ou mudana qualitativa em produto existente;

    Inovao de processo que seja novidade para uma indstria;

    Abertura de um novo mercado;

    Desenvolvimento de novas fontes de suprimento de matria prima ou outros insumos

    Mudanas na organizao industrial.

    Uma empresa inovadora caracteriza-se pela implantao de produtos ou processos

    tecnologicamente novos ou com substancial melhoria tecnolgica. A criao dos primeiros

    microprocessadores pode ser exemplificada como um produto tecnologicamente novo,

  • 38

    enquanto a utilizao dos mtodos do Project Management Institute para gerenciamento de

    projetos uma inovao de processos tecnologicamente novos. Schumpeter (1934) v a

    inovao tecnolgica como a fora central do dinamismo do sistema capitalista. Sua

    abordagem terica considera a inovao tecnolgica um fator fundamental para explicar o

    desempenho econmico, alm de ser um elemento de diferenciao competitiva entre as

    empresas, tornando-se a pea principal da dinmica do capitalismo.

    A teoria schumpeteriana parte do modelo de fluxo circular do sistema econmico,

    segundo o qual uma economia estacionria se reproduz sem alteraes substanciais. O

    desenvolvimento ocorre ao se romper este fluxo circular, com o surgimento de grandes

    inovaes tecnolgicas que ocorrem descontinuamente ao longo do tempo. Tais inovaes

    podem ocorrer dentro das categorias abordadas anteriormente. Schumpeter (1934) acredita

    que o desenvolvimento no se d continuamente, e sim alternando perodos de recesso e

    crescimento. As fases prsperas relacionam-se com a difuso de inovaes importantes na

    produo. Os demais empresrios ao verem que aqueles, inovadores, capturam lucros

    monopolistas derivados da introduo de novos produtos e/ ou processos, decidem imit-los,

    surgindo uma onda de investimentos que estimula a economia. Posteriormente, Schumpeter

    (1961) ressaltou que as grandes empresas desempenham um papel muito importante como

    fulcro do crescimento econmico, atravs da acumulao de conhecimento no transfervel

    em determinados mercados tecnolgicos. Tal fato denomina-se acumulao criativa.

    Os autores neo-schumpeterianos, tais como: Dosi (1984), Nelson e Winter (1982),

    Possas (1988), etc. afirmam haver diferenas entre as duas abordagens de Schumpeter atravs

    da combinao de quatro fatores referentes aos regimes tecnolgicos:

    a) oportunidades tecnolgicas: referem-se probabilidade de ocorrer inovaes, dado um

    certo esforo para que isto ocorra, dependendo de como o setor vai aproveitar os avanos

    tecnolgicos de clientes e fornecedores e da interao com o progresso cientfico que acontece

    em centros de pesquisa e em universidades;

    b) as condies de apropriao tecnolgica: dizem respeito s possibilidades de absorver os

    lucros da inovao e a capacidade de proteo em relao aos imitadores. Inclui patentes,

    segredos, efeito das curvas de aprendizado, lideranas etc.;

    c) a natureza do conhecimento: refere-se a como o conhecimento pode ser aplicado

    universalmente, sua disponibilidade etc.;

    d) a cumulatividade tecnolgica: aborda a natureza do processo de aprendizado, no quanto o

    progresso tecnolgico decorrente do estoque tecnolgico existente.

  • 39

    Dosi et al (1990) acreditam no progresso tecnolgico como o motor central na

    promoo do desenvolvimento econmico. No entanto, ressaltam tambm a importncia das

    inovaes incrementais como fator de diferenciao entre as organizaes. Estas ocorrem com

    maior freqncia do que aquelas, provocando modificaes marginais no desempenho do

    sistema econmico. A construo civil se enquadra nos processos de inovao citados por

    Dosi, j que se utiliza de melhorias incrementais e da cumulatividade na formulao de

    inovaes (AMORIM,1995). As empresas de construo civil, talvez por lidarem com uma

    variabilidade grande de processos, preferem utilizar melhorias incrementais. Tambm, a baixa

    qualificao profissional e a insuficincia de recursos podem ser outras explicaes para esta

    postura. fato conhecido a inexistncia de setores de Pesquisa e Desenvolvimento nas

    empresas de construo civil, quanto mais nas PMEs deste setor. Mesmo no Brasil, de um

    modo geral, os investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento no so significativos quando

    comparados a outros pases. Nos pases desenvolvidos e em alguns pases asiticos de

    industrializao recente (em ingls conhecido como new industrialized countries, ou NICs),

    as empresas so as principais responsveis pela inovao tecnolgica. Segundo Matesco e

    Hasenclever (1996), a participao das despesas executadas por empresas pblicas e privadas

    dos Estados Unidos, Japo, Alemanha, Canad, Itlia e Espanha (dados dos anos noventa) em

    relao s despesas totais de Pesquisa e Desenvolvimento era superior a 50%, enquanto que

    no Brasil o percentual era de cerca de 25%.

    Muoz (2001) enfatiza que praticamente nenhuma empresa de construo civil possui

    setores de Pesquisa e Desenvolvimento voltados para a insero de sistemas e processos

    construtivos que busquem a racionalizao e a industrializao e que se orientem para a

    simplificao da execuo.

    Dentro da abordagem neo-schumpeteriana, diversos autores procuraram demonstrar a

    importncia da inovao tecnolgica como determinante chave da competitividade

    econmica. Freeman (1963, 1965, 1968) apud Tigre (2002), ao estudar a indstria de

    plsticos, concluiu que o progresso tcnico leva liderana na produo desta indstria, j

    que os segredos comerciais e patentes do proteo por certo perodo ao inovador. Quando

    comea a haver imitao do produto, fatores mais tradicionais de ajustamento e especializao

    passam a determinar os fluxos comerciais. O autor tambm verificou que o domnio do

    mercado mundial de bens de capital eletrnicos pelos Estados Unidos derivava de sua

    liderana tecnolgica no setor, assim como a liderana alem no setor qumico associava-se a

    elevados investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento. Destes estudos, Freeman conclui

  • 40

    que o hiato entre inovadores e imitadores est relacionado sustentao do fluxo de inovao

    e ausncia ou fragilidade das externalidades necessrias para inovar nos imitadores. Novas

    tecnologias concorrem com as tecnologias existentes e, se forem melhores, as substituem.

    Como o setor da construo civil pouco se utiliza da absoro de novas tecnologias, no

    comum a aplicao de novas tcnicas construtivas neste segmento. As novidades so

    direcionadas pelos fornecedores. A utilizao de inovaes restrita. Um exemplo da

    aplicao de novas tecnologias na construo civil a introduo de novas tcnicas para a

    construo de varandas em prdios antigos. O uso de estruturas de ao pr-fabricadas com

    tcnicas de montagem industrial, permitiu que algumas empresas tivessem vantagem na

    utilizao desta tecnologia, ocasionando a obteno de diversos contratos para adio de

    varandas em prdios antigos da zona sul do Rio de Janeiro. Outro exemplo a utilizao de

    divisrias de gesso acartonado para paredes internas em construes residenciais e

    comerciais, reduzindo custos de mo de obra, ganho de espao interno e permitindo a

    utilizao de estruturas mais esbeltas.

    Freeman (1979) salienta que um processo de inovao com chances de sucesso

    depende de uma combinao favorvel de oferta de tecnologia e demanda do mercado. O

    autor ressalta a importncia de que, do lado da oferta, haja: (i) conhecimento tecnolgico e

    cientfico; (ii) recursos humanos; (iii) informaes sobre o mercado desejoso daquela

    inovao; (iv) capacitao gerencial para garantir a pesquisa, desenvolvimento, produo e

    vendas; e (v) recursos financeiros disponveis. Pode-se afirmar que nenhuma destas condies

    se encontra disponvel nas pequenas e mdias empresas da construo civil. A bibliografia

    mostra uma fraca disponibilidade de conhecimento tecnolgico e cientfico, existncia de

    poucos recursos humanos qualificados, falta de informaes disponveis sobre o mercado e

    pouca disponibilidade de recursos financeiros. Como no h estoque tecnolgico disponvel,

    tampouco mo de obra qualificada, nem recursos financeiros disponveis, no resta s PMEs

    outra alternativa em relao ao desenvolvimento da inovao, seno inovar atravs da

    melhoria incremental.

    Para uma empresa inovar, ou seja, mudar capacidades, desempenho e ativos

    tecnolgicos, existem trs tipos de opes:

    a) Estratgicas, tais como decises sobre tipos de mercados em que iro atuar, que

    tipos de inovaes que neles tentaro introduzir.

    b) Pesquisa e Desenvolvimento, referente a decises relativas pesquisa bsica,

    pesquisa estratgica e conceitos de produtos.

  • 41

    c) No Pesquisa e Desenvolvimento, onde a empresa pode envolver-se em muitas

    atividades que no tm relao direta com P&D, embora desempenhem papel importante na

    inovao, tais como: identificar novos conceitos de tecnologia de produo, treinamento,

    reorganizao de processos etc.

    As empresas de construo civil no so fortes nas opes estratgicas ou de pesquisa

    e desenvolvimento, preferindo optar pela terceiro tipo de opo, ou seja a no pesquisa e

    desenvolvimento, como por exemplo os Sistemas de Gesto da Qualidade.

    A mudana organizacional considerada como uma inovao apenas se houver

    mudanas mensurveis nos resultados, tais como aumento de produtividade ou vendas.

    Empresas de construo civil que estejam certificadas pela ISO 9001:2000 ou estejam dentro

    dos critrios do PNQ atendem estas caractersticas. Estas empresas tm processos de

    orientaes estratgicas novas, implantam tcnicas de gerenciamento avanado e, atravs dos

    ndices de mensurao, podem comprovar as mudanas nos resultados. Esta argumentao

    fortalece a tese aqui considerada, e que ser vista em detalhes mais adiante, de que Sistemas

    de Gesto da Qualidade representam uma inovao tecnolgica.

    No faz sentido haver inovao tecnolgica se no houverem condies para sua

    difuso. Desta forma, em seguida, aps ter sido feita a conceituao de inovao, discute-se

    como a mesma difundida.

    2.2 DIFUSO TECNOLGICA

    O crescimento econmico depende no apenas do aparecimento de inovaes, mas

    tambm de condies que permitam sua difuso. A difuso tecnolgica , via de regra, de

    longa durao e envolve o aprimoramento incremental, tanto de novas tecnologias, como das

    j existentes. O assunto da difuso tecnolgica tem sido estudado por autores como Matesco

    (1993), Tigre (1997) e organizaes como a OCDE (1996).

    Dosi et al (1994) sustentam que a difuso da inovao no algo instantneo e

    esclarecem que esta pode ser atrasada por fatores como: a) falta de infra-estrutura adequada

    para que a assimilao ocorra; b) diferenas entre os agentes envolvidos; c) tempo necessrio

    para absoro e desenvolvimento de novas competncias necessrias. Todos estes fatores

    esto presentes na construo civil, dificultando, ento, o processo de difuso. No h, por

    parte das empresas de construo civil, uma infra-estrutura que permita a assim