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www.hermanubis.com.br 1 145 anos de nascimento de Papus 1865 - 2010 Dr. GÉRARD ANACLET VINCENT ENCAUSSE Papus

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    145 anos de nascim ento de Papus

    1865 - 2010

    Dr. GRARD ANACLET VINCENT ENCAUSSE

    Papus

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    No ano em que se comemora o 145 ano de nascimento de Papus, o Grupo Hermanubis dedica neste equinscio de primavera de 2010, uma atualizao especial, uma homenagem ao criador e primeiro Gro Mestre da Ordem Martinista.

    Foi graas a Papus, em especial, que a nossa fraternidade foi munida de organizao administrativa e se desdobrou pelo ultimo sculo em dezenas de Ordens e fraternidades. Neste nico arquivo reproduzimos em mais de 700 pginas, os mais importantes livros, artigos e material de leitura e estudo sobre Ocultismo e esoterismo nas lnguas portuguesa e espanhola. Foram omitidos desta obra os livros protegidos por direitos autorais, mesmo assim, sem duvida nenhuma o mais completo conjunto reunido em um s volume e arquivo da obra de GRARD ANACLET VINCENT ENCAUSSE, o mdico que tornou-se famoso no meio ocultista sob o pseudnimo de PAPUS, nasceu no dia 13 de julho de 1865, em Corun-Espanha, as sete horas da manh, sendo filho de pai francs, o qumico Louis Encausse, e me espanhola, de origem cigana, a senhora Irene Perez. O jovem Grard criou-se, assim, em um ambiente favorvel a um futuro estudante de Alquimia e de Tarot.

    Em 1869 a famlia Encausse veio estabelecer-se em Paris, no bairro Montmartre, onde Papus iniciou seus estudos, primeiro no Colgio Rollin, depois aos 17 anos, na Faculdade de Medicina de Paris. Ainda jovem, dedicou-se nas horas vagas ao Ocultismo; enquanto seus colegas preocupavam-se com os problemas polticos da Europa e em percorrer todos os autores da Cincia Oficial, Papus passava suas tardes na Biblioteca nacional de Paris ou na Biblioteca do Arsenal estudando os autores clssicos da Alquimia e da Cabala, tomando notas dos principais manuscritos to zelosamente guardados h sculos nessas preciosas biblio-tecas. Papus teria sido iniciado por Henri Delaage em 1882, segundo ele mesmo nos diz, na Sociedade dos Filsofos Desconhecidos, ordem que teria sido fundada por Louis Claude de Saint-Martin no sculo XVIII, na Frana. Com 17 anos de idade, o jovem Papus passou a destacar-se no seio do Grupo que passou a integrar, pela seriedade com que procu-rava as chaves da Iniciao.

    Em 1887, aos 22 anos, escreveu sua primeira obra, denominada O Ocultismo Contemporneo. Seu Tratado Elementar da Cincia Oculta(1), no ano seguinte, alcanou grande sucesso em vrios pases e proporcionou a seu autor grande liderana no meio ocultista parisiense. Fundou, em 1889, o Grupo Independente de Estudos Esotricos (Gldee), transfor-mado mais tarde em Escola Hermtica, destinada a divulgar a espiritualidade e a combater o materialismo, igualmente, as revistas A Iniciao e Vu de Isis, rgos de divulgao do Ocul-tismo, planetas que giravam em torno do centro irradiante de dinamismo, que era o Iniciador Papus. Trabalhou como externo nos hospitais de Paris e no abandonou o exerccio da medicina. Em 1894 defendeu sua tese de medicina, intitulada A Anatomia Filosfica e Suas Divises, recebendo o ttulo de Doutor em Medicina, com elogios. Sua obra posterior, Com-pndio de Fisiologia Sinttica, foi igualmente muito elogiada nos meios acadmicos.

    Ao defender sua tese, Papus confessou-se um iniciante na arte de curar, pois vislumbrava as possibilidades do Ocultismo. Como Paracelso, percorreu vrios pases da Eu-ropa, estudando todas as medicinas, a oficial, a dos curandeiros, a homeopatia, aprendendo uma srie de procedimentos desconhecidos dos mdicos tradicionais.

    Praticou a alopatia, a homeopatia e a hipnose, realizando curas consideradas extraordinrias por seus bigrafos. o caso da senhora ricamente vestida, conta-nos Phaneg, que entrou em seu consultrio com ares de descrena. Papus sem que ela falasse e aps ter chamado sua ateno pela falta de f no mdico em presena, diagnosticou seu mal e falou de sua precria situao financeira. A senhora ficou maravilhada pelas revelaes que ouvia e pela nevralgia subitamente desaparecida. Papus no lhe cobrou a consulta, porque aquela era seu ltimo "Louis".(2)

    Muitas vezes Papus, para efetuar o diagnstico, observa em primeiro lugar o astral do doente, depois o curava misteriosamente, apelando fora vital-me, fonte de equil-brio. Ele classificava, assim as doenas, como sendo do Corpo, do Astral e do Esprito. As doenas do Corpo (como febres, traumatismos) podem, segundo Papus, ser curadas pela me-dicina dos contrrios; as doenas do Astral (como tuberculose e o cncer) podem ser tratadas pela homeopatia e o

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    magnetismo; e as doenas do Esprito (como epilepsia, histeria e loucura) podem ser tratadas pela orao e pela magia, desde que o mal no seja Crmico (dvida espiri-tual a ser paga pelo doente). Assim, Papus praticava seguidamente a Medicina Oculta, curando distncia, agindo sobre a urina, o sangue e o cabelo do paciente. Contam que Papus realizava diagnsticos inslitos, agindo pelos dons de clarividncia e de clariaudincia.

    No Umbral do Mistrio, Stanislas de Guaita escreve que Papus, "jovem mdico dos mais eruditos e fecundos, converteu-se em dupla personalidade: conquistou a notoriedade sob dois nomes diferentes. Suas obras de anatomia e de fisiologia receberam apenas a subscri-o de Grard Encausse. Seus Tratados de magia arvoram um outro nome".

    "Cabea enciclopdia e pena infatigvel, saudemos este jovem iniciado que dis-fara ou, diramos, que desfigura o lastimvel pseudnimo de Papus. mister, seguramente, que os seus livros testemunhem uma superioridade assaz transcendente, para que se possa per-doar sua etiqueta! Fato que os amadores de teosofia pronunciam o nome de Papus sem esbo-ar qualquer sorriso mas, isto sim, com admirao e apreo. Passando pelas brochuras j em nmero considervel, que tm vigorosamente contribudo para a difuso das cincias esotri-cas, mencionaremos to-somente as obras Ocultismo Contemporneo (Carr, 1887, in 8), O Sepher Yetsirah (Carr, 1888, in-8) e a Pedra Filosofal (Carr, 1889, in-12, frontispcio)".

    "Convm lembrar que Papus publicava, desde 1888, o seu Tratado Elementar de Cincia Oculta(Carr, in-12, com figuras). Trata-se da primeira obra metdica em que se acham resumidos com clareza, agrupados e sintetizados com maestria todos os dados primor-diais do Esoterismo. Este livro excelente, que enfoca a aplicao dos mtodos experimentais de nossas cincias ao estudo dos fenmenos mgicos, e ademais, uma ao boa e meritria: os prprios estudantes adiantados podem recorrer a ela com segurana, como ao mais sbios dos gramticos. Mas, Papus acaba de firmar para sempre a sua reputao de adepto atravs da apario de uma monumental obra atinente ao Tarot (3). Em nosso entender, no exageramos ao asseverar que este livro, em que se acha revelada, at s profundezas, a lei ondulatria do ternrio universal, constitui, no sentido mais alto do termo, uma Chave absoluta das Cincias Ocultas".

    Seu pseudnimo Papus foi retirado do Nuctameron de Apolnio de Tiana e significa o "mdico da primeira hora", aquele que no mede sacrifcios para atender seus seme-lhantes.

    Papus consagrou-se ao estudo da Luz Astral e de sua influncia sobre as doen-as e sobre sua teraputica, tal como ensinava Paracelso um dos pais da Medicina. O papel da mente e suas relaes com o Plano Astral e o Homem. Durante longos anos dirigiu suas pes-quisas sobre os fenmenos hipnticos, espritas, parapsicolgicos, exteriorizao da sensibili-dade e do magnetismo. Fundou a Escola de Magnetismo de Lyon, tendo o Mestre Philippe como seu Diretor.

    Seus estudos dos Corpo Astral e do Plano Astral no tinham como objetivo apenas a cura do Corpo, mas, principalmente, a cura da Alma, isto , sua terapia pela iniciao. Fez da famosa divisa do Templo de Delfos "Conhece-te a ti mesmo que conhecers o Universo e os Deuses" o seu lema de trabalho inicitico e profissional. Estudou profundamente a Anti-gidade egpcia e os mistrios gregos e romanos, concluindo que entre eles a Cincia e a Inici-ao estavam intimamente associadas.

    A Escola Hermtica, que tinha como professores famosos ocultistas da poca, tais como Stanislas de Guaita, Sedir, Barlet, Peladan, Chamuel, Marc Haven, Maurice Barrs (academia francesa) Victor-Emile Michelet, entre outros, tinha como objetivo recrutar mem-bros para as sociedades iniciticas dirigidas por Papus e por Stanislas de Guaita (que ainda existem hoje em pleno vigor), atravs de cursos, conferncias, pesquisas ocultistas e publica-es. Ensinavam o Hebraico, a Cabala, o Tarot, a Astrologia, a Histria Oculta, a Magia, a Medicina Oculta, focalizando principalmente seu aspecto menos velado e mais cientfico. Pa-pus tido como o divulgador do Ocultismo Cientfico de Louis Lucas, que se baseia na Ana-logia, mtodo que procura explicar o Invisvel por inferncia, a partir do Visvel.

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    Papus teve como Mestre Intelectual o Marqus Joseph Alexandre Saint-Yves dAlveydre e como Mestre Espiritual, como ele prprio afirmava, o "Mestre Philippe de Lyon", a partir de 1887 e 1897, respectivamente. Teve no seu companheiro Stanislas de Guaita um incentivador de primeira grandeza, discpulo pstumos todos os dois de Eliphas Levi, Fabre dOlivet, Saint Martin e Jacob Boehme, cujas obras sabiam praticamente de cor.

    Praticava a Cabala Prtica(4), juntamente com seus principais companheiros, com a qual procurava o aperfeioamento espiritual at chegar ao conhecimento da Divindade. O adepto deve conhecer toda a teoria da Magia, dizia Papus, os materiais usados pelos magos, os perigos da Magia que enfrentam os praticantes temerrios, a chave da magia negra, as cila-das do inimigo invisvel, o controle das paixes, a eliminao dos vcios, se o Iniciado desejar, sinceramente, tornar-se um Mestre e obter a Salvao.

    Sua vida foi uma ao constante em todos os planos, lutando contra o materia-lismo e o atesmo e divulgando a espiritualidade. A lembrana do duelo com Jules Blois, que tinha desacatado fortemente a Stanislas de Guaita, ficou gravado na memria de todos os ini-migos de Papus. Quando Jules Blois dirigia-se em um fiacre para o local designado para o combate, os cavalos assustaram-se com a apario sbita de um vulto e empinaram-se, derru-bando por terra Jules Blois e sua comitiva. Assim, Jules Blois chegou presena de Papus com dor de cabea e cambaleante. O duelo comeou, sem muito entusiasmo, Papus procurando, dizem seus bigrafos, no ferir gravemente seu opositor. Este recebeu um pequeno ferimento no ombro e a luta teve fim. Papus cumpriu sua obrigao de mdico, socorrendo seu advers-rio e a inimizade terminou.

    Papus visitou a Rssia Trs vezes, sendo recebido pelo imperador. Em 1914 foi a Guerra como capito-mdico, onde contraiu tuberculose. Faleceu em 25 de outubro de 1916, aos 51 anos de idade. Seu corpo repousa no cemitrio de Pre Lachaise, em Paris, na diviso 93. "Imitemos esse Iniciador, disse-nos Sedir, que desejou no ser mais do que um amigo para ns e que foi bastante forte ao ponto de nos esconder suas dores e seus desgostos sob um perptuo sorriso. Enxuguemos nossas lgrimas; elas o reteriam nas sombras; regozi-jemo-nos, como ele prprio h trs dias o fez, por rever finalmente face face o Todo Pode-roso Terapeuta, o autntico Pastor das Almas, o Amigo Eterno, o Bem Amado de quem ele foi Eterno, o Bem Amado de quem ele foi o fiel servidor".

    "Digamos, juntos a Grard Encausse, um at logo vibrante; demos a ele, por nossas boas vontades doravante indefectveis, a nica recompensa digna de to longas penas que ele suportou por ns"(5).

    Papus foi sem dvida alguma um grande Mestre ocultista, destacando-se por sua realizao: escreveu mais de 160 ttulos entre livros, artigos, conferncias, abordando tanto a medicina como o ocultismo. Os livros principais foram publicados em sua juventude, como o Tratado Elementar de Cincias Oculta (23 anos), o Tarot dos Bomios (24 anos), o Tratado Metdico de Cincia Oculta (26 anos), a Cabala (27 anos), o Tratado Elementar de Magia Prtica (28 anos).

    Para seus companheiros de adeptado, suas obras principais foram o Tarot dos Bomios, o Tratado Metdico de Cincia Oculta e o Tratado Elementar de Magia Prtica. So Trs "dos mais belos livros e dos mais fundamentais para o estudo do Ocultismo aparecidos aps os de Eliphas Levi, Louis Lucas e Saint-Yves dAlveydre" (Stanislas de Guaita em No Umbral do Mistrio (4).

    Como ilustrao de sua obra literria, apresentamos a seguir a lista alfabtica de suas principais publicaes ocultistas:

    01 - ABC Illustr DOccultisme, Dorbon, 1922 (6 ed.)

    02 - lAlmanach de la Chance por 1905 (id.,at 1910).

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    03 - LAlmanach du Magiste, de 1895 a 1899.

    04 - Revista LInitiation (artigos, de 1891 a 1914).

    05 - Revista Le Voile dIsis (artigos, de 1891 a 1909).

    06 - Les Arts Divinatoires. Chamuel, 1895.

    07 - La Cabbale, Chacornac, 1903 (3 ed.)

    08 - Ce que deviennent nos morts. La Sirene, 1918.

    09 - Ce que doit savoir un maitre Maon. Ficher, 1910.

    10 - Comment on lit dans les mains. Ollendorff, 1902 (2 ed.)

    11 - La Magie et lHypnose. Chamuel,1897.

    12LOccultisme contemporain. Carr, 1901. 13 - Premiers Elments de Lecture de la Langue Hbraique. Dorbon 1913

    14 - Quest-ce que lOccultisme? Chamuel, 1892.

    15 - La Rincarnation. Dorbon, 1912.

    16 - La Science des Mages. Chamuel,1892.

    17 - La Science des Nombres. Chacornac, 1934.

    18 - Le Tarot des Bohmiens. Carr, 1889.

    19 - Le Tarot Divinatoire. Libr. Hermetique, 1909.

    20 - Trait Elmentaire de Magie Pratique. Chamuel, 1893.

    21 - Trait Elmentaire dOccultisme et dAstrologie. Dangles, 1936.

    22 - Trait Elementaire de Science Occulte. Carr, 1888.

    23 - Trait Mthodique de Magie Pratique. Chacornac, 1924.

    24 - Trait Mthodique de Science Occulte. Carr, 1891.

    Observaes:

    1- Publicado em portugus, sob o ttulo Tratado de Cincias Ocultas, pela Ed. Trs, Coleo Planeta n 8 e 9, So Paulo, 1973.

    2- Antiga moeda francesa, de ouro valendo 20 francos.

    3- Papus. Le Tarot des Bohmiens. Paris Ed. Dangles, s/d ("Papus, continua Guaita, publicou, aps a 2 edio do Umbral do Mistrio em 1890, dois grandes volumes, onde a mais alta doutrina

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    formula-se numa linguagem luminosa e precisa: Trait Mthodique de Science Oculta (l891) e Trait Elmentaire de Magie Pratique (1894)". "O Tar dos Boe

    4- Guaita, Stanislas. No Umbral do Mistrio. Porto Alegre, Grafosul, 1979 (uma segunda edio dessa obra est sendo executada pela Sociedade das Cincias Antigas SCA, que obteve os direitos da traduo brasileira).

    5- Discurso de Paul Sdir junto ao tmulo de Papus, na ocasio de seu enterro.

    6- A presente traduo baseia-se na edio de 1903 (3 edio), revista e ampli-ada por Papus, contendo trabalhos dos cabalistas Stanislas de Guaita (falecido em 1897). Eli-phas Levi, Lenain, Marc Haven, Sedir, Jacob, Sair e uma traduo completa do Sepher Yetzi-rah seguida de uma reimpresso parcial de um tratado cabalstico do Cav. Drach.

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    Leitura em Portugues aproximao da morte do livro A reencarnao

    Dr Gerard Encausse ( Papus)

    provvel que, parte certos pontos gerais, aproximao da morte, cada qual tenha conscincia em relao consigo mesmo.

    Eis os meus com as circunstncias que o rodeavam. Empreendi em fevereiro de 1904 uma longa viagem de conferncias com o colega Girault; tinha escolhido para ttulo Tomada de posse. e Girault: Para a cidade melhor as duas conferncias se completavam mutuamente.

    Podamos faze-Ias cem vezes sem que fossem da mesma maneira, pois que a tomada de posse da terra pela humanidade comea no meio das runas do velho mundo atravs das quais cresce o novo germinal. nesses escombros que os povos procuram orientar-se para uma existncia melhor, mais consciente e mais. elevada.

    A viagem devia compreender trinta cidades da Frana, Crsega e Algria. Calais, Roubaix, Tourcoing e Liancourt tiveram as primeiras conferncias, pois vinha da Inglaterra.

    Uma tormenta de neve nos tendo rodeado em Liancourt, comecei a lutar contra uma gripe, ora vencida, ora mais forte.

    Em Troyes, onde passava alguns dias, o mdico e os amigos opondo-se a que fosse fazer a conferncia de Chaumont, no quis, resistindo, fazer que se ocupassem de mim, mas sentia que minha vontade seria menos poderosa; a vontade se dobra como o ao duma espada: parecia-me que indo a Chaumont ficaria curada; foi em Chaumont que fiz meus estudos e Chaumont e Paris eram as nicas cidades que tinha visto antes da minha viagem da Calednia.

    Quando fui conferncia de Toulon, julguei que esta vez tinha vencido o mal e era desta convico que falava no fim do meu discurso. Mas, uma vez no hotel Trminus, onde devia ter um ou dois dias de descanso, era eu que estava vencida; a gripe tinha-se mudado em congesto pulmonar.

    Desci rapidamente a tal estado que pensava nesta expresso que representa o aniquilamento de todas as foras do corpo: o trapo humano; parecia-me efetivamente que meu corpo arrastava-se como um farrapo; o pensamento, tendo-se exteriorizado, olhava-o como a qualquer outra coisa.

    aproximao da morte tudo se torna sensao; primeiramente, nas condies comparveis da agulha duma bssola procurando o Norte durante os ciclones, os sentidos podem ser empregados uns pelos outros: depois parece ser um s deles que rene a todos.

    Parecia-me ler atravs dos meus dedos cartas que minha amiga Carlota tinha em suas mos.

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    A agonia se compe de perturbao antes que de dor; a gente sente-se escorregar nos elementos com duas impresses, uma que leva como ao fio d'gua, a outra que dissemina no espao o ente cujas molculas se desagregam, como um aroma se espalha no ar ou uma matria corante num lquido. Esta sensao no sem prazer: parece que poderia durar muito tempo assim.

    O pensamento se materializa em smbolos, em quadros, e sob esta forma mais intenso e mais elevado.

    As lembranas se compem das impresses recebidas outrora, que se renovam mais fortes. assim que recebia sensaes da mesma ordem que as que tinha presentes com mais fora pela prpria situao.

    Na Calednia, durante um ciclone, o cu, a terra, o oceano sendo uma s noite na qual rugiam os elementos desencadeados, ao passo que torrentes de gua vertiam nas ondas que subiam precipitadas, procurando escalar as praias com suas garras brancas de escuma; segurava-me nos rochedos para resistir aos urros dos abismos que me atraiam ao fundo; pensando que em tempos remotos tnhamos vivido nos elementos, tinha esta mesma impresso deslizando no infinito com a certeza que a morte uma volta aos elementos.

    Lembrava-me duma impresso do infinito, porm de outra ordem; um dos nossos amigos, o Sr. Huot, tocava em seu violo um trecho composto por um nihilista que no deixou seu nome ao morrer; sentia a sensao de outrora, ainda a de um abismo, em cujas estreitas e midas paredes teria, na escurido, batido com os braos; a, ainda eram os elementos que se ouviam como durante os ciclones, porm que cantavam.

    Quando tornou-se difcil falar, a voz no sendo mais que um sopro, que apenas pode evocar uma vibrao na garganta onde a sede desapareceu, quando os membros esto pesados como o mrmore, uma grande calma se faz; as coisas parecem naturais; a gente se olha de cima com o pensamento; com o corpo estendido diante dele, a gente no pergunta se vai viver ou morrer: olha e tudo.

    Olha-se a e alhures, em todo o mundo que parece ter-se tomado menor, muito menor para que. a raa humana no seja mais que um povo.

    Olha-se perto e longe os mortos e os vivos e como ao redor duma pedra jogada n'gua esto ao redor de vs crculos concntricos, estas ondas, sem dvida, de eletricidade, vo-se embora longe, muito longe.

    O tempo pesa como um rochedo, o passado parece existir ainda, o futuro j, a personalidade desapareceu e olha-se sempre: a gente mesma um olhar.

    Diante dos olhos uma nebulosa estendeu-se semelhante aos grandes nevoeiros; no quarto s distinguia ainda as pessoas pela forma, a estatura, como se elas fossem grandes sombras chinesas.

    Ao longe. o pensamento sempre se materializa por imagens. A guerra aparece como uma imensa mancha de sangue com mortos, moribundos, cavalos sem cavaleiros e com as crinas ao vento; mais longe, o grande desastre chegando ao cmulo: as mes, as criancinhas, os velhos abandonados; o incndio alumiando as runas; a fome, a peste, como outrora, e todavia, a humanidade chegada primeira juventude da raa, o velho covil pouco a pouco penetrado pela luz, a cincia, a verdade, como as cavernas cheias de amarelo foram, depois da descoberta do fogo, invadidas pelas famlias humanas, com a tocha mo.

    Como voltei da, no o sei; uma dor real e cruel quando as molculas dispersadas ou prximas a se-lo se unem e a gente sobe corrente da vida, e a voz extinta passa de novo atravs dos lbios j imveis.

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    Ser porventura a corrente simptica, que de toda parte se dirigia para mim, que veio ajudar os cuidados de Carlota e do sbio doutor Bertholet? Principalmente uma coisa chamou minha ateno: que devo me esforar em merecer esta simpatia muito grande para um s ente, ao passo que tantos outros caem esquecidos por todos.

    Em meu estudo sobre mim mesma, enganei-me na avaliao do tempo. Apesar das peripcias da doena, pareceu-me mais curto. Quando comecei a achar-me melhor, avaliei em oito dias a agonia que durara quase quatro semanas; pensei ento nestes contos em que o sono que durou cem ou mais anos parece ser de algumas horas.

    E, durante este tempo, no Oriente a questo se desembaraou a golpes de machado; o arroz da Manchria germinaria no sangue para lucro dos financeiros russos e dos financeiros Japoneses, para a maior glria do. Czar, se os estudantes e os mujiks deixassem passar a. hora do 89 ou do 93 do Norte.

    A fraternidade entre os povos se cimenta por tanto sangue derramado, que nenhum assalto dos dspotas ou dos seus inconscientes rebanhos poder mais desagregar dela uma s partcula. . .

    A respeito da guerra e dos desastres, se as lies dadas raa humana por todos os grandes carniceiros de homens no fossem enfim compreendidas, seria para se considerar os homens mais estpidos que os animais. Ao passo que com a juventude do XX sculo, uma era nova se prepara, toda de cincia e de paz, na qual cada um e todo empregaro, para sua felicidade e a dos outros, as cincias, as artes, as descobertas que faro mais largos os crebros e maiores os coraes. Seja o que for, podemos resumir, conforme as experincias iniciticas e conforme as narraes dos que voltaram, o estado do ente humano imediatamente aps a morte.

    A sensao da morte no dolorosa na evoluo normal, exceto no suicdio. Esta sensao anloga que se sente num bote que desliza sobre a gua; da a barca de Isis, a barca de Charonte, e todas as idias mitolgicas que traduzem para o povo na Antigidade as sensaes do plano astral. Para os modernos, a sensao anloga duma viagem de estrada de ferro, sem abalo. O ente no cr que sofreu o que chamamos morte; parece-lhe estar dormindo e sonhar.

    Ao mesmo tempo, como a morte um verdadeiro nascimento para os planos que aqui chamamos invisveis, o ente encontra ao redor de si todos os seus parentes, todos os que julgava perdidos e que celebram sua chegada com transportes de entusiasmo, enquanto os pobres abandonados da terra se lamentam e crem numa partida definitiva.

    Durante trs dias, diz a tradio inicitica, o esprito, acompanhado por seu guia, pode visitar todos os pontos da terra que lhe seriam agradveis de ver. Pode aparecer, quer em sonho, quer diretamente (fantasma dos vivos) aos entes caros que deixou na terra; pode at - e isto muitas vezes acontece - seguir seu enterro no estado astral; depois chega o sono.

    preciso que os novos rgos astrais se habituem ao plano nos quais doravante vo evoluir ti, como a natureza no d saltos, esta nova adaptao Sp faz lentamente, conforme a evoluo anterior do esprito. Para os iniciados, para aqueles que j foram ao plano astral, esta evoluo suprimida e a passagem das portas zodiacais se faz com a maior facilidade. Para os no-iniciados e os profanos, os que no passaram neste plano, que indicado no grau Rosa-Cruz pelo esqueleto colocado na entrada e na sada da cmara vermelha, para esses a evoluo mais lenta e o despertamento pode esperar de um ms a um ano de tempo terrestre.

    Ainda uma vez aqui tudo individual. Os Hindus estudaram perfeitamente estas diferenas do tempo, e nos mostram que um ano do plano divino equivalente a 365 anos do plano terrestre.

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    Por isso, os Espritos tm muita dificuldade, quando so evocados, em fixar o tempo terrestre cuja noo perderam.

    claro que no podemos entrar em detalhes a respeito da ocupao do esprito no plano divino porque tambm este um caso de evoluo individual: uns participaro da marcha dos entes astrais, - era este o ideal dos Egpcios: participar da vida de R; - outros, mais modestamente, participaro da evoluo de um mineral e outros das criaes das invenes terrestres ou marcianas. Era preciso escrever volumes para estudar detalhadamente estes assuntos, cuja existncia apenas podemos esboar aqui.

    Uma vez realizado o despertamento, o esprito utiliza seus rgos astrais, primeiramente para ajudar a evoluo geral, depois para constituir seus futuros aposentos terrestres. ..

    Dizemos terrestres, porque falamos na terra; porm a reencarnao pode fazer-se em qualquer outro planeta .de qualquer sistema, supondo que o sistema astronmico ensinado pelos sbios contemporneos seja exato, o que s saberemos depois da morte.

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    O Microcosmo Ou O Homem

    Dr Gerard Encausse ( Papus)

    Nada parece mais complicado primeira vista do que o ser humano. Como analisar todos os pormenores da constituio anatmica e fisiolgica deste ser, mesmo sem mencionar sua constituio psicolgica?

    O esoterismo procura sempre a sntese, e deixa o estudo dos detalhes aos esforos poderosos das cincias analticas. Vejamos se possvel determinar sinteticamente os princpios que constituem o ser humano.

    . Geralmente, todos os rgos que constituem o ser humano nos aparecem em pleno perodo de ao. Tudo funciona, se movimenta e se manifesta sob mil aspectos, e somente com muita dificuldade podemos determinar as causas pouco numerosas no meio da multiplicidade dos efeitos.

    Quando a noite chega, no entanto, os membros relaxam, os olhos se fecham, o mundo exterior no atua mais sobre o ser humano, e tambm ele deixa de atuar sobre o mundo exterior: ele dorme. Aproveitemos esse sono para iniciar nosso estudo.

    O homem dorme mas suas artrias pulsam, seu corao funciona e o sangue circula em suas veias; seus rgos digestivos continuam ,seu trabalho, e seus pulmes aspiram e expiram ritmicamente o ar vivificante. Durante esse sono, o que chamamos homem no capaz de movimento, nem de sensao, nem de pensamento; no pode amar, nem odiar, nem ser feliz, nem sofrer; seus membros repousam inertes, seu rosto est imvel, mas seu organismo funciona como se nada de novo houvesse acontecido .

    O fenmeno do sonho perturba vagamente esse repouso e lembra a existncia do princpio superior.

    Somos por isso levados a considerar no homem:

    1 - Uma parte mecnica que continua sua ao tanto durante o sono quanto no estado de viglia; o organismo propriamente dito. 2 - Uma outra parte, essa intelectual, que aparece somente no estado de viglia; o que denominamos conscincia, esprito.

    Aparentemente, o domnio do organismo to precioso quanto o esprito . Mas o que se passa realmente no organismo?

    Tudo o que depende do esprito, os membros, o rosto e seus rgos, a voz, a sensibilidade geral, tudo isso repousa durante o sono. Mas tudo isso apenas envolve o ser humano, tudo isso perifrico. no interior do tronco, nos trs segmentos que o constituem: ventre, peito ou cabea, que se passam os fenmenos produtores do funcionamento automtico da mquina humana.

    Como toda mquina, o organismo humano possui rgos movidos, uma fora motora e um centro de conservao e de renovao da fora motora.

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    Assim, se considerarmos, tomando um exemplo bem material, uma locomotiva, encontraremos nela certos rgos de ao movidos pelo vapor, e a renovao desse vapor mantida por uma emisso contnua de calor.

    Tambm no organismo humano encontramos rgos de constituio particular (rgos de tecido liso), artrias, veias, rgos digestivos etc., que so movidos pela fora nervosa comunicada pelas terminaes do grande simptico. Essa fora, bem como a vida particular de cada uma das clulas que constituem os rgos, mantida pela corrente sangunea arterial. Assim: rgos, centros de ao das diversas foras, fora motora nervosa e fora animadora sangunea so os princpios essenciais que constituem a mquina humana em ao.

    Mas o homem acorda. Um novo elemento vem se acrescentar aos anteriores. Os membros, que descansavam, movimentam-se; o rosto se anima e os olhos se abrem; o indivduo que estava deitado levanta e fala. Uma nova vida principia, enquanto a vida orgnica prossegue mecanicamente em sua ao.

    O princpio que acabou de aparecer difere essencialmente dos princpios precedentes: ele possui seus rgos de ao particulares no corpo (rgos de fibras estriadas); ele tem um sistema nervoso especial, ele se serve do corpo como um operrio utiliza uma ferramenta, como o maquinista dirige a locomotiva; ele governa todos os centros e todos os rgos perifricos que estavam repousando. Denominamos esse princpio esprito consciente.

    Resumindo o que dissemos, encontramos no homem trs princpios: o que suporta tudo o corpo fsico; o que anima e move tudo, formando os dois plos de um mesmo princpio, a alma; por ltimo, o que governa o ser inteiro, o esprito. O corpo fsico, a alma ou mediador plstico duplamente polarizado e o esprito so os trs princpios gerais que constituem o ser humano.

    Se considerarmos que o mediador plstico duplo, podemos dizer que o homem composto de trs princpios orgnicos: o que suporta, o que anima, o que move o corpo, o corpo astral e o ser psquico, sintetizados e levados unidade de ao, e o ser psquico, sintetizados e levados unidade de ao por um princpio consciente: o que governa, o esprito.

    Este um exemplo do que se chama a trindade na unidade ou a tri-unidade no ocultismo.

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    JESUS DE NAZAR (Tratado de Cincias Ocultas livro II)

    Dr Gerard Encausse ( Papus)

    H certos assuntos que podemos abordar sem muita reflexo e mediante o auxlio de uma erudio mediana . H outros , no entanto , que despertam um verdadeiro temor de conduzir as inteligncias ao erro. Quando atravessamos a fase da evoluo intelectual em que o materialismo parece ser a verdade integral , comentamos com a mesma leviandade a existncia do Cristo e a de Zoroastro . Sentimo-nos muito orgulhosos de nosso conhecimento e, entretanto, possumos tanto menos a verdade quanto mais julgamos conserv-la Mais tarde , percebemos um canto da cincia viva , folheamos uma quantidade de livros , acumulamos montanhas de informaes sobre todas as Tradies religiosas, supersticiosas , literrias ou cientificas que podemos assimilar . Criamos idias que julgamos originais ao reunir os mais diversos documentos. Reunimos a poeira das sepulturas para construir uma casinha de bonecas. Alimentamo-nos com as idias dos outros e no vivemos por ns mesmos. Neste momento da evoluo , escrever uma obra sobre o Cristo parece algo coberto de mil dificuldades para no repetir o que j foi feito centenas de vezes. medida que a evoluo prossegue , tomamos conscincia da vida em diferentes planos , conscincia essa que no mais unicamente intelectual, mas experimental. Abandonamos a metafsica e suas classificaes estreis , deixamos a poeira das sepulturas para respirar o prncipio mesmo que, outrora, animou os ossos do deserto , e ao mesmo tempo ,tomamos conscincia de um fator at ento desconhecido : a responsabilidade efetiva de todo escritor em relao interpretao dos leitores ; a responsabilidade terrvel de quem se julga um mestre e que responsvel pela evoluo dos espritos daqueles que escolheu para discpulos. Aproveitarei essa ocasio para expor minhas idias pessoais sobre a questo do Cristo , primeiro em sua defesa , como um pobre soldado , perdido num canto da batalha , para defender sua bandeira , e depois para explicar de uma vez por todas a meus leitores como podemos ser um soldado do Cristo , sem ser clerical nem beato , e porque os verdadeiros Rosa-Cruzes e os Martinistas defendem sempre a identidade absoluta do Verbo Eterno, do logos , e do indivduo no qual o verbo se encarnou na pessoa de Jesus de Nazar , Deus vindo na carne. Essa afirmao, em nossa poca , requer como corolrio os seguintes estudos : 1- A personalidade de Jesus existiu na Terra? 2- Jesus um Homem evoludo ou verbo encarnado? 3- Jesus tem uma existncia metafsica ou um princpio vivo que age atualmente em relao a nossas aes terrestres e histria dos povos? 4- O que significa a vida esotrica de Jesus e o que podemos dizer sobre sua vida no- pblica? 1) A personalidade de Jesus existiu na Terra? Suponhamos que nos dirigimos a profanos que exigem provas fsicas porque impossvel a um iniciado digno desse nome negar o que ilumina o plano divino , assim como impossvel a uma pessoa normal negar a luz do sol. Para afirmar a existncia da personalidade do Cristo vamos eliminar enquanto crticos : Os evangelhos que deixaremos de lado no que diz respeito ao ponto de vista crtico desse assunto , enquanto os consideramos como a luz viva no referente devoo ; Os telogos e os padres da Igreja com todos os seus argumentos metafsicos; As obras dos gnsticos e de todos os cristos interessados em afirmar a existncia terrestre do Verbo . O que nos sobra ento? Nos sobra as obras dos autores pagos e dos inimigos do Cristo: os Judeus . Apoiando-se em Josefo , Tcito e Suetnio, alguns autores afirmam a existncia terrestre do Cristo - o que nos alegra sobremaneira . Tratam de argumentos srios ; mas no devemos esquecer que alguns

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    crticos de m f afirmaram que essas passagens eram interpoladas ! Por conseguinte , menciono um texto pouco conhecido que no pode ser considerado interpolado , uma vez que s se encontra nas obras dos inimigos de Jesus : os Talmudistas . Por outro lado , esse texto se refere unicamente a uma questo de jurisprudncia . Ei-lo : "Talmude de Babilnia ( Simedrim pag 67 ) e Talmude de Jerusalm ( Sanedrim , VII, XVI, pag 25 ) , abordam esse tipo de testemunho nos processos criminais e, apresentando-os como lei tradicional , citam unicamente o processo de Jesus no qual foi posto em uso " ( Graetz , Sinai et Golgotha , pag 338 , citado por Hippolyte Rodrigues Le Roi des Juifs , pag 245 ). Esse testo possui uma importncia capital, porquanto prova definitivamente a existncia do indivduo que foi objeto dessa jurisprudncia especial . Alem, deste documento , existe um outro , trata-se de um livro escrito pelos rabinos da sinagoga contra o Cristo e que se intitula o Livro do Impostor , Sepher Toldos Jeschouah. um livro inteiramente farisaico e anticristo . Todas as histrias abjetas e as calunias dirigidas contra Jesus e sua famlia so colhidas nessa obra . Mas por pior que seja , ela afirma, pelo testemunho dos inimigos mesmo do Cristo , dois fatos importantes. 1- A existncia do Cristo enquanto indivduo . 2- A realidade de seus milagres . Em suma , se abandonamos aos crticos os Evangelhos , os telogos , os padres da Igreja e os gnsticos , bem como todos os cristos , resta-nos ainda a prova absoluta da existncia histrica de Jesus fornecida: 1-Pelos pagos 2- Pelos rabinos contemporneos; 3- Pelo Talmude . E isso nos Basta ! Em todas as escolas mais ou menos ligadas tradio oriental e , por conseguinte , no crist , bem como em muitos centros pitagricos , os mestres dizem aos nefitos o seguinte: "Todo homem possui em si uma centelha divina proveniente do Logos ou verbo divino . Basta desenvolver essa centelha para se tornar Cristo . Jesus fez isso e um homem evoludo mxima potncia."Segundo essa tradio , Jesus foi procurar no Oriente um centro capaz de desenvolver sua centelha divina . Ao Meu Ver, e segundo todos os ensinamentos dos verdadeiros Rosa-Cruzes e das fraternidades ocidentais , essa afirmao errnea . Para os hermetistas iluminados, bem como para Jacob Boehm , Swedenborg e Saint Martin , Jesus o prncipio-verbo , isto , vindo na carne e no uma carne humana divinizada. A opinio deles , alm do resultado das vises diretas no invisvel a respeito das quais nos calamos por principio , baseia-se no fato de que Jesus foi o nico de todos os reveladores vindos Terra que passou pela morte e voltou no mesmo corpo que suportou a morte terrestre, demonstrando assim a futilidade dos terrores humanos referentes passagem de um plano a outro. Nem Buda , nem Moiss , nem nenhum daqueles que foram postos em paralelo com o reparador e que eram homens evoludos , nenhum desses atravessou a porta dos mortos e voltou no mesmo invlucro carnal . Pela reencarnao , pela substituio dos corpos , possvel continuar uma vida fsica como faz o Dalai-Lama; mas somente o principio da existncia pode animar de novo um corpo ferido e torturado , porque no se trata nesse caso de uma letargia voluntria, como insinuaram os crticos desorientados por essa ressurreio . J que mencionamos o fato , necessrio falar da objeo que o absoluto no pode se particularizar e que o verbo no pode se encarnar num ponto do espao e num ciclo do tempo . O verbo pode manifestar seu principio num ponto do espao sem cessar de estar no absoluto , uma vez que esse ponto particular se confunde em todos os momentos com ele mesmo . Saint Martin consagrou muitas pginas a demonstrar que o homem de carne materializado pela queda de Ado Cadmon no podia ser "reparado em sua essncia seno por um principio no-humano que se unisse a sua natureza ". E , por essa unio , o principio aceita todas as condies da existncia terrestre , inclusive o esquecimento do plano divino e a angstia do abandono do Pai . Jesus tem uma existncia metafsica ou um principio vivo e atualmente atuante em relao a nossas aes terrestres e histria dos povos ?

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    Muitas pessoas imaginam o verbo como um principio colocado acima das nuvens , a quem se fala muito raramente de joelhos dizendo palavras que se recita de cabea sem pensar no significado delas e sem verificar se eles correspondem exatamente a nossos pensamentos. Outros freqentemente assduos das igrejas , pensam que ele delegou , desde a sua vinda Terra , todos os seus poderes aos sacerdotes de diferentes cultos , e que desobedecer a esses o mesmo que desobedecer a Deus . Por ultimo , os espritos mais esclarecidos admitem uma ao do plano divino sobre as boas aes e os bons pensamentos , mas no vo mais longe. Lacuria , nas Harmonias do Ser Expressas Pelos Nmeros , fornece alguns esclarecimentos muito importantes em seu captulo da personalidade de Jesus . Ele observou especialmente que o verbo criador um principio intimamente ligado a todas as manifestaes vivas da natureza e que nada recebe da vida sem um sacrifcio permanente feito ao Pai , nada recebe a faculdade de ao e de reflexo criadora sem um sacrifcio permanente do verbo , e nada recebe a luz da sensibilidade e da inteligncia sem uma ao constante do esprito divino. E como tudo vivo , nossas aes assim como nossos pensamentos e nossos desejos nossas aes e nossos pensamentos e desejos sero reflexos de nossas atitudes. Porque o principio que se encarnou em Jesus no abandonou o plano fsico , seja ele terrestre ou no , e est sempre presente para curar a todos que conscientes de sua insignificncia , aproxima-se dele para lhe tocar na veste . Quando a Terra foi criada e se tornou adequada para ser povoada pela humanidade , cada raa recebeu a promessa de uma libertao de suas correntes e de seus vus de carne pela interveno do princpio criador. Saint Martin expressou misticamente esse fato pela figura na qual o 1 representa Deus , 4 o homem e 0(zero) a matria . Antes da queda tudo era separado 1,4,0 . Depois da queda e antes da redeno tnhamos: 1

    depois da vinda do redentor temos:

    No invisvel o nome do principio reparador est escrito desde a formao de nosso planeta , e o arquemetro de Saint Yves D' Alveydre determina exatamente que esse nome , em todas as civilizaes , o de Jesus. Somente o ciclo de Jesus pessoal ; nenhum outro revelador veio ao mesmo tempo nas outras raas . Quando o rei vem em pessoa , a multiplicidade dos embaixadores se torna intil. Aqueles que tem olhos e ouvidos , olhem e escutem no invisvel e compreendero. A luz gerada por Jesus na " aura do universo material" foi to grande , sua ao de abrir um caminho aos espritos nas barreiras zodiacais foi to evidente para todo iluminado , que cada raa procurou apoderar-se de uma parte dessa ao , como se fosse proveniente dela. Ao terminar esse estudo , desejamos declarar que as idias que expomos nos so pessoais e que assumimos toda responsabilidade por elas , fora de toda sociedade ou fraternidade . As Ordens Martinistas procuram fazer cavaleiros do Cristo: no so uma ordem dogmtica e cada qual desenvolve livremente sua conscincia e seu corao. Mas todos devem compreender que seus membros no teriam razo de existir se no procurassem com todas as suas foras prestar ao reparador , ao condutor da humanidade em direo ao Pai , ao Cristo de Glria , a honra e o mrito que lhe so devidos em todos os planos. Ao realizar isso , cumprimos apenas com uma parte de nosso dever , porque no temos o direito de julgar nem de condenar os negadores ; tudo que podemos conduzi-los ao plano da Luz , e o cu far o resto.

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    O MARTINISMO CONTEMPORNEO E SEUS CRTICOS Dr Gerard Encausse ( Papus)

    Derivando diretamente do Iluminismo Cristo, o Martinismo acabou adotando seus prprios princpios. Eis porque a Hierarquia em geral, nas Organizaes formais feitas de cima para baixo: O Gro Mestre ou Presidente da Ordem nomeia os membros do Comit Diretor ou Grandes oficiais, estes designam os membros do Supremo Conselho, os Delegados Gerais.

    Os Delegados Gerais nomeiam os Presidentes das Lojas ou Heptadas, os quais designam seus oficiais e so oficiantes de suas estruturas, tendo funes administrativas e ritualsticas. Todas as funes so inspecionadas diretamente pelo Supremo Conselho, atravs de seus inspetores ou Mestres Distritais e Provinciais

    Eis a sntese de uma organizao que pde, sem dinheiro, adquirir considervel extenso e resistir at o presente todas as tentativas de desmoralizao, lanadas sucessivamente por diversas confisses e, sobretudo, pelas intrigas .

    O Martinismo sobreviveu a tudo, mesmo s calnias lanadas contra seus membros, quem a at algum tempo atrs eram considerados subordinados ao Inferno ou magos negros, mesmo sendo reconhecidos como Cristos e tendo como Mestres do Passado grandes Telogos e Teurgos. O sucesso das diversas Ordem vem confirmar a alta origem das instrues recebidas. atravs dos membros dos Supremos Conselhos que o Martinismo liga-se ao Iluminismo Cristo. As diferentes Ordens em seu conjunto antes de tudo uma escola de cavalaria moral, que se esfora em desenvolver a espiritualidade de seus membros, pelo estudo do Mundo Invisvel e de suas Leis, pelo exerccio do devotamento e da assistncia intelectual e pela criao em cada esprito de uma f cada vez mais slida, baseada na observao e na cincia.

    O Martinismo constitui uma cavalaria de Altrusmo, oposta liga egosta dos apetites materiais, uma escola onde se aprende a dar ao dinheiro o seu justo valor, no o considerando como influxo Divino; , finalmente, um centro onde se aprende a permanecer impassvel diante dos turbilhes positivos ou negativos que subvertem a Sociedade. Formando o ncleo real desta universalidade viva, que far um dia o casamento da Cincia sem diviso com a F sem atributos, o Martinismo esfora-se em tornar-se digno de seu nome, criando escolas superiores de cincias metafsicas e fisiognicas, desdenhosamente separadas do ensino clssico, sob pretexto de serem ocultas. Os exames institudos nessas escolas abrangem: o simbolismo de todas as tradies e de todas as iniciaes; as chaves hebraicas e os primeiros elementos da lngua snscrita, permitindo aos Martinistas aprovados nos exames explicar sua tradio e mostrar que os descendentes dos Iluminados permaneceram dignos de sua origem.

    Tal o carter do Martinismo. Compreende-se que impossvel encontr-lo integralmente em cada um dos membros da Ordem, pois cada iniciado representa uma adaptao particular dos objetivos gerais. Mas esta poca de ceticismo, de adorao da fortuna material e do atesmo tem grande necessidade de uma reao francamente Crist, ligada sobretudo cincia e independente de todos os cleros.

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    Em todos os pases onde se estabeleceu o Martinismo salvou da dvida, do desespero e do suicdio muitas almas; trouxe compreenso do Cristo muitos espritos que as manipulaes equivocadas e seu objetivo de baixo interesse material, isto , de adorao de Csar, tinham distanciado de toda f. Aps ter feito isso, no importa se caluniem, difamem o Martinismo ou seus Filsofos Desconhecidos . A Luz atravessa os vidros mesmo imundos e ilumina todas as trevas fsicas, morais e intelectuais.

    OS ADVERSRIOS DO MARTINISMO E SUAS OBJEES Apesar dos fracos recursos materiais, os progressos das vrias Ordens Martinistas e grupos independentes foram rpidos e considerveis. Mas seu sucesso originou trs tipos de adversrios:

    1 - Os materialistas ateus

    2 - Alguns clrigos mal intencionados ou mal informados;

    3 - As sociedades e indivduos que combatem o Cristo e procuram diminuir sua obra, aberta ou ocultamente.

    OS MATERIALISTAS ATEUS Os Materialistas, aps terem acusado os Martinistas de alienados, -" sonhadores de outra era que nada podem fazer no sculo da luz e da razo" - ficaram admirados pelo rpido progresso dessa Ordem e procuraram copiar a organizao dos "Grupos Martinistas" sem bons resultados; imaginaram formar "grupos de jovens ateus" Foi ento que se ativeram ao problema financeiro.

    OS CLRIGOS Os ataques dos clrigos so mais desleais e mais diretos. Abandonando toda questo material, atem-se aos esprito. Apesar de todas as afirmaes e evidncias contrrias, lhes impossvel admitir que os ocultistas (e ns em particular) no consagrem ao diabo algum culto secreto. Por conseguinte, os Martinistas devem ocultar seu objeto; todos aqueles que ousam defender o Cristo. muito difcil convencer escritores clericais que o clero e Deus possam agir independentemente um do outro; que podemos perfeitamente admitir a bondade de Deus e a cobia material, sem confundir-lhes um instante. Segundo eles, atacar um inquisidor atacar a Deus.

    Os Martinistas querem ser Cristos, livres de toda dependncia; as acusaes de satanismo lhes faro balanar os ombros, pedindo perdo ao Cu para aqueles que os caluniam injustamente. OS ADVERSRIOS DO CRISTO Os Clrigos acusam, pois, os Martinistas de evocar Sat ou algum outro demnio em suas reunies secretas, que jamais existiram a no ser em sua imaginao. Outras sociedades que pretendem estudar o Ocultismo e desenvolver as faculdades latentes no homem, sem crer, de resto, na existncia do diabo, hipocritamente fazem circular cartas acusando os Martinistas de praticar Magia Negra.

    Ora, a prtica da Magia Negra consiste em fazer o mal consciente e covardemente; nada mais distanciado do objetivo e dos processos essencialmente Cristos do Martinismo de todos os tempos. Os Martinistas no praticam magia, nem a branca, e muito menos a negra. Estudam, oram e perdoam as injrias da melhor maneira possvel.

    Os Martinistas, como os Rosa-Cruzes, sempre defenderam a verdade, agindo sem subterfgios, publicando seus atos e suas decises. Pelo contrrio, aqueles que difamam na sombra, ocultando-se quando se vem descobertos, escrevendo circulares hipcritas e caluniando sorrateiramente os Martinistas, temendo sua lealdade, no merecem seno a piedade e o perdo.

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    Vendo as faculdades latentes manifestadas atravs desses processos, somos levados a mostrar a esses homens que a Magia Negra comea pela difamao annima, to geradora de larvas no plano mental quanto a baixa feitiaria do campons iletrado no plano astral.

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    OS DOZE APSTOLOS Dr Gerard Encausse ( Papus)

    Assim como a alma do Cristo e de Maria, as almas dos 12 apstolos no vm do mundo dos arcontes, mas antes do plano celeste, como afirmam as seguintes passagens:

    "Alegrai-vos pois, jubilai, porque quando vim ao mundo desde o in~io -trouxe comigo 12 potncias, assim como vos disse desde o princpio; recebi-as das mos dos 12 salvadores do tesouro da luz, segundo a ordem do primeiro mistrio, e atirei essas potncias no seio de vossas mes desde meu advento nesse mundo e so essas potncias que esto agora em vossos corpos.

    E as 12 virtudes dos 12 salvadores do tesouro da luz que recebi das mos dos 12 decanos do meio, eu as atirei na esfera dos arcontes e os decanos dos arcontes com seus liturgos pensavam que eram almas dos arcontes, e os liturgos levaram-nas consigo; eu as prendi no corpo de vossas mes e, quando vosso tempo chegou, fostes gerados sem possuir dentro de vs as almas dos arcontes".

    A FUNO DOS APOSTOLOS

    "Em verdade, em verdade eu vos digo: eu vos tomarei perfeitos em todos os pleromas, desde os mistrios do interior at os mistrios do exterior, eu vos inundarei do esprito, e por isso sereis chamados sopros perfeitos de todos os pleromas; e em verdade, em verdade eu vos digo, eu vos darei todos os mistrios de todos os cus de meu Pai e de todos os lugares dos primeiros mistrios, e aquele que introduzirdes na Terra ser introduzido na luz do alto, e aquele que rejeitardes na Terra ser rejeitado no reino de meu Pai que est nos Cus."

    Valentin, pois, o doutor gnstico, autor do Pistis Sophia, formal.

    Todas as manifestaes terrestres que precederam o nascimento do cristianismo so pessoas do plano celeste. Foi por uma sublime invocao divina que a evoluo das almas se tornou possvel.

    Eis portanto o carter elevado e particular do cristianismo, a origem dos seus mistrios mais profundos. Cada raa humana pode ser objeto de um messianismo especial; mas em cada novo messianismo a nova raa se apresenta num plano mais elevado da espiral evolutiva. A raa branca foi aquela que invocou a ltima manifestao divina; no justo ento, segundo as leis da evoluo no tempo e no espao, que essa manifestao tenha sido mais elevada do que as precedentes e que ela tenha, em vista disso, necessitado uma involuo de uma ordem igualmente mais elevada? Deixamos essas idias meditao dos que sabem realmente o que significa o mtodo analgico e conhecem as leis misteriosas que ele traduz.

    Jesus ( Yeschou) vinha de um plano demasiado elevado para se abaixar aos meios vis empregados pelos homens para firmar seu poder, e Fabre D'Olivet enunciou com muita sabedoria essa reflexo:

    "Devemos observar que se Jesus desejasse seguir o caminho das conquistas que se abriu diante dele quando os povos da Galilia lhe ofereceram a coroa, e que se houvesse tomado a liderana dos judeus que aguardavam um messias conquistador, teria certamente conquistado a sia inteira;

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    mas a Europa teria resistido a sua fora, e como era na Europa que deveria exercer principalmente sua influncia, ele preferiu optar por uma vitria bem menos brilhante a princpio, mas muito mais poderosa no futuro - e decidiu superar a fatalidade do destino em vez de se servir dele" .

    Entretanto, o grande mestre segue a tal ponto o mtodo histrico e crtico que chega a desconhecer as foras secretas que se manifestaram por meio dos apstolos.

    "Os 12 apstolos que Jesus Cristo escolheu no tinham a energia necessria para realizar o apostolado. Foi em So Paulo que o cristianismo encontrou sua fora dogmtica e sua doutrina espiritual. Mais tarde, recebeu seus ritos sagrados e suas formas de um tesofo da escola de Alexandria, chamado Ammonius" .

    Sim, tudo isso verdade deste lado da cortina, mas o que deve interessar ao iniciado justamente o outro lado. So as foras invisveis em ao, os motivos sutis graas aos quais o gigante cientfico filosfico e religioso, que era o politesmo em seu princpio, vai sucumbir em alguns anos, sob o impulso desses homens de pequeno saber mas de f ardente que foram os primeiros cristos.

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    O ARQUTIPO

    Dr Gerard Encausse ( Papus)

    Quando queremos figurar o homem, sempre a imagem de seu corpo fsico que se apresenta primeiramente em nosso esprito. Porm, este corpo fsico no faz seno suportar e manifestar o homem verdadeiro, o esprito que o governa. Pode-se retirar milhes de clulas deste corpo fsico, cortando um membro, por exemplo e a conscincia no sofre danos. O homem-mente que ns somos inteiramente independente dos orgos, os quais no so mais que suportes e meios de comunicao.

    Homem e Deus

    O conjunto dos seres e das coisas revela a existncia de Deus, como o corpo fsico do homem revela e determina a realidade de seu esprito. As relaes do esprito humano com o corpo humano so anlogas s relaes entre Deus e a Natureza. Deus, embora se manifeste na Humanidade e em todas as coisas da Natureza no se confunde com estes seus aspectos infinitos; antes, possui uma existncia metafsica independente de toda a Criao. ...Deus , de fato, o conjunto de tudo o que existe assim como o homem o conjunto de todos os orgos e de todas as faculdades que possui. O homem verdadeiro, porm, o Esprito (ou a Mnada) distinto do corpo fsico, do corpo astral e do ser psquico (a personalidade efmera) ...Da mesma forma, Deus-em-Unidade distinto da Natureza e da Humanidade. Em termos vulgares, a Natureza o corpo de Deus e a humanidade sua vida em mais alto grau de autoconscincia. No homem, o organismo o corpo material denso do homem e o corpo astral e o ser psquico so seus princpios vitais.p 115

    O Universo concebido como um todo animado composto de trs princpios: a Natureza, o Homem e Deus ou, empregando a linguagem dos hermetistas: o Macrocosmo, o Microcosmo e o Arqutipo. O homem chamado Microcosmo, o pequeno Mundo, porque ele contm analogicamente em si as leis que regem o Universo. ...O homem influindo sobre a Natureza pela ao, sobre os outros homens pela palavra e elevando-se at Deus pela prece e pelo xtase, constitui o elo que une a Criao ao Criador. ...Os fatos so do domnio da Natureza; as Leis, do domnio dos Homens e os Princpios, so o domnio de Deus. p 120

    Reaes do Ser Impulsivo

    O exerccio da Vontade no fcil. Cada afirmao do poder da vontade precedida e seguida de uma reao em sentido contrrio. O ser impulsivo pode se tornar muito enrgico instaurando desnimo e lassido quando o indivduo estava aparentemente firme em sua disposio para um trabalho. Com efeito, o trabalho intelectual s se pode obter custa da submisso absoluta do Homem Impulsivo ao Homem de Vontade. Um treino especial necessrio e o fracasso significa completa impotncia para realizar operaes mgicas ou mesmo tarefas ordinrias. Suponhamos que aps uma crise de preguia e de pessimismo, venceste estes sentimentos e vos entregais ao trabalho. Nem bem comea a escrever ou desenhar e surge um forte desejo de sair, de andar. Se no estiveres prevenido para resistir, abandonareis neste momento seu objetivo e em um instante estars na calada. O que sucede que o Ser Instintivo, cujo modo de ao habitual

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    o exerccio de andar, vos engana e zomba de vossa vigilncia. Porm, vs resistis, empenha-se no trabalho, vence a primeira tentao e logo uma enorme sede manifesta-se em vs. uma outra astcia do centro instintivo, pois cada gole de lquido absorvido rouba uma parte da fora nervosa e com isso a disposio necessria realizao projetada. Mais uma vez, dominas o mecanismo de fuga e que ests mesmo j completamente empenhado em sua proposta. Eis ento a terceira tentao: emoes que se manifestam. Imagens de fatos passados, afeies, ambies. A mente tomada por devaneios que colocam a perder toda a concentrao. As reaes so muito pessoais mas todos os magistas experimentam tais obstculos. Contra esta tendncia de disperso somente a disciplina da resistncia pode surtir efeito. Para resistir, o conhecimento das reaes do Ser Impulsivo indispensvel. A pacincia e a perseverana opostas a este Ser Impulsivo permitem atingir rpida e seguramente um objetivo, o qual no se deve perder de vista nem por um instante. Lembrai-vos da lenda das sereias. p 165

    O espelho Os espelhos mgicos, usados em exerccios de educao do olhar, so instrumentos de condensao da luz astral; por isso, o carvo, o cristal, o vidro e os metais so empregados no artesanato, na confeco dos espelhos mgicos. O mais simples dos espelhos mgicos um copo de cristal cheio de gua pura. Ele deve ser colocado sobre um guardanapo branco com uma luz colocada por trs. Outro tipo, consiste em um simples quadrado de papel granulado (papel para desenho) enegrecido com carvo ou com fusain (carvo vegetal empregado em desenho). Experimentamos tambm um espelho mgico trazido da ndia: era uma bola de cristal posicionada de maneira a refletir luz. Todos estes espelhos so objetos que possuem em comum a propriedade de concentar em um ponto uma parcela de luz astral estabelecendo uma conexo entre o Ser individualizado em cada um de ns com a vida universal que abriga todas as formas. O exerccio com o espelho mgico simples porm no fcil. A maior dificuldade reside em manter o olhar fixo, sem piscar, completamente entregue contemplao da luz refletida. No comeo do exerccio, o estudante se posiciona confortavelmente e olha fixamente para o espelho. Logo sentir picadas nos olhos, agonia, ressecamento que convida a baixar as plpebras um instante. Ceder a esse impulso anular qualquer esforo feito at ento. A tendncia a pestanejar apenas um hbito do ser impulsivo, reflexo. Para manter os olhos abertos preciso desenvolver uma tenso de vontade. Obtido esse resultado, vencido o desconforto da imobilidade dos olhos, opera-se em simultneo a saturao do sentido da viso em nvel fsico. O resultado a abertura do canal de viso metafsica: o espelho comea a apresentar colorao diferente. Sero vislumbrados eflvios vermelhos e azulados semelhantes aos eflvios eltricos e, lentamente, as formas aparecero, ou seja, vises de pessoas, entidades, mundos ou acontecimentos que esto registrados ou contidos na luz astral, onde grandezas como espao e tempo no existem. Alm de proporcionar experincias de vidncia, o exerccio com o espelho mgico desenvolve a capacidade de PROJEO DA VONTADE por meio do olhar. O olhar fixo canaliza, direciona um pensamento, uma vontade, do operador em relao a um receptor. Trata-se de um fenmeno denominado FASCINAO. Na fascinao, o olho do fascinado o espelho e olhar-pensamento do fascinador a LUZ. O fascinado RECEBE impulsos emanados do olho do fascinador. A utilizao dos olhos-olhar como instrumentos de fascinao so parte de um processo mais amplo: a magnetizao ou gerencia de fluxos magnticos. Pode=se imantar algo ou a si mesmo, situao de absoro, condensao e concentrao de energia; ou pode ser o caro de irradiar, transmitir, enviar energia. O magnetizador um acumulador de prana ou ENERGIA VITAL, fora transutilitria pois serve a diferentes operaes. Destas, destacam-se as curas de enfermidades, a

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    repulso metafsica de inimigos, a reverso de situaes negativas. Em espanhol, querer quer dizer, ao mesmo tempo, amar e desejar. Esse o segredo do magismo curativo. Um pensamento firme, intenso, dirigido fundamental para a realizao das operaes magnticas (concentrar-irradiar) porm preciso aprender sobre fazer um pensamento ser firme e constante sem necessariamente estar presente, todo o tempo, na mente consciente que realiza suas pequenas tarefas do dia-a-dia. Por isso os magos advertem que preciso aprender a querer.

    Cadeia Mgica

    A prtica constante da Prece cria, em torno do magista, uma estrutura metafsica denominada Cadeia Mgica. uma aura de proteo capaz de deter todos os esforos de indivduos invejosos ou devotados ao dio. Esta Cadeia Mgica se constitui pela influncia energtica de seres simpticos. Por isso recomenda-se chamar evocar os mestres que so caros a cada magista. Deve-se escolher entre os mestres falecidos, antigos ou modernos, um guia preferido, cuja doutrina ou obras toquem mais de perto o esprito do praticante. Durante a prece, ou logo depois de evocar os mestres, deve-se estabelecer a assistncia de que se necessita, seja para o sucesso em estudos e trabalhos, pelo bem estar de pessoas ou pela defesa contra ataques de foras invisveis. Em caso de perigo ou no momento de executar um ato importante, suficiente chamar em voz baixa, e por trs vezes, o mestre da Cadeia e ento, sentir-se- sua influncia manifestar-se imediatamente. O silncio sobre estas operaes pessoais a primeira condio imposta ao magista, ou seja, no vale a pena alardear entre leigos as virtudes da orao, sobretudo em nosso tempo, quando proliferam seitas crists e os assuntos religiosos so explorados pelos midia (meios de comunicao de massa) com tanta intensidade que tornam-se apenas mais um produto cujas virtudes so saturadas pelo abuso, pela prtica leviana. A Cadeia Mgica bem como o Crculo Mgico so a manifestao material, objetiva, de uma rede que vos protege e vos guarda no invisvel. Este um dos maiores segredos da Cabala prtica.

    A Prece e o Nome de Cristo A prece a guarda soberana contra todos os malefcios.se tens inimigos capazes de utilizarem foras astrais, preciso orar por eles e pedir ao cu que os ilumine e os reconduza ao caminho do bem. Se no so conhecidos os autores dos malefcios, preciso, ainda assim, pedir para eles a proteo invisvel, em vez de os oprimir com dio e maldies, processo de feiticeiros vulgares e mal sucedidos. O salmo 31 de uma eficcia extraordinria contra todas as aes astrais. Em uma luta contra uma ao astral, necessrio evitar dizer mal dos ausentes e procurar, tanto quanto possvel, afastar de si pensamentos e palavras maledicentes.A prtica da caridade indispensvel, o tipo de caridade que faz algum adiarseus prprios interesses para socorrer algum que sofre com verdadeira urgncia de auxlio. O fato que, foras astrais, sem exceo, se prosternam diante do nome de Cristo, mesmo quando este nome pronunciado por um pecador ou esprito mau. Invocar o auxlio do Cristo dissipa as ms foras como o sol dissipa nuvens ligeiras. Recorra-se portanto prece pois nada pode resistir sua ao.

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    Martinesismo, Willermosismo, Martinismo e Franco-Maonaria

    Dr Gerard Encausse ( Papus)

    Contendo um resumo da histria da Franco-Maonaria at 1899 e uma anlise nova de todos os graus do Escocismo, ilustrado com inmeros quadros sintticos. Os profanos no vos lero, quer sejais claro ou obscuro, prolixo ou sinttico. Somente os HOMENS DE DESEJO iro ler os vossos escritos e aproveitaro vossa luz. Dai-lhes essa luz to pura e revelada quanto possvel.

    Louis Claude de Saint-Martin

    INTRODUO

    Muitos erros foram cometidos em relao ao Movimento Martinista; muitas calnias foram proferidas contra seus fundadores e suas doutrinas, o que torna necessrio elucidar alguns pontos de sua histria, esclarecendo os objetivos deste movimento, estabelecendo a diferena entre ele e os propsitos das diversas sociedades que se ligam a um simbolismo qualquer.

    Para que todo membro da Ordem e todo pesquisador consciencioso possa destruir definitivamente tais calnias, iremos expor de modo imparcial os diferentes aspectos que o Movimento Martinista conheceu, e que podem enquadrar-se em quatro grandes perodos: a-) O Martinesismo de Martinez de Pasqually; b-) O Willermosismo de Jean-Baptiste Willermoz; c-) O Martinismo de Louis Claude de Saint-Martin; d-) O Martinismo contemporneo (fim do sculo XIX).

    CAPTULO 1

    OS ILUMINADOS, SWEDENBORG,

    MARTINEZ E WILLERMOZ

    1. OS ILUMINADOS CRISTOS

    1.1 A ROSA-CRUZ

    impossvel compreender a essncia do Martinismo de todas as pocas, se antes no estabelecermos a diferena fundamental existente entre uma Sociedade de Iluminados e a Maonaria. Uma Sociedade de Iluminados liga-se ao Invisvel por um ou por vrios de seus chefes. Seu princpio de existncia tem sua origem em um plano supra-humano; toda sua organizao administrativa se faz de cima para baixo. Os membros da fraternidade obedecem a seus chefes, obrigao que se torna ainda mais importante medida que os membros entram no crculo interior. A Maonaria no est ligada ao Invisvel por nenhum vnculo. Seu princpio de existncia tem sua origem em seus membros e em nada mais. Toda sua organizao administrativa se faz de baixo para cima, com selees sucessivas por eleio. Infere-se disso que esta ltima forma de fraternidade nada pode produzir para fortificar sua existncia a no ser cartas constitutivas e papis administrativos, comuns a toda sociedade profana; enquanto as Ordens de Iluminados baseiam-se, sempre, no Princpio do Invisvel que as dirige. A vida privada, as obras pblicas e o carter dos chefes da maioria das fraternidades de Iluminados demonstram que esse Princpio Invisvel pertence ao plano Divino, sem relao alguma com Sat ou com outros demnios, como insinuam os clrigos, assustados com o progresso dessas sociedades. A Fraternidade de Iluminados mais conhecida, anterior a Swedenborg, a nica da qual se pode falar no mundo profano, a dos Irmos Iluminados da Rosa-Cruz, cuja constituio e

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    chave sero dadas dentro de alguns anos. Foram os membros dessa fraternidade que decidiram criar sociedades simblicas, encarregadas de conservar os rudimentos da Iniciao Hermtica, dando nascimento aos diversos ritos da Franco-Maonaria. No se pode estabelecer nenhuma confuso entre o Iluminismo, centro superior de estudos Hermticos, com a Maonaria, centro inferior de conservao, reservado aos debutantes. Somente entrando nas Fraternidades de Iluminados, podem os Franco-Maons obter o conhecimento prtico desta Luz, quando ento sobem de grau em grau.

    1.2 SWEDENBORG

    Atravs dos esforos constantes dos Irmos Iluminados da Rosa-Cruz, o Invisvel concedeu um impulso considervel Humanidade, atravs da iluminao de Swedenborg, o clebre sbio sueco. A misso de realizao de Swedenborg consistiu basicamente na constituio de uma cavalaria laica do Cristo, encarregada de defender a idia crist, dentro de sua pureza primitiva, e de atenuar, no Invisvel, os deplorveis efeitos das corrupes, das especulaes de fortuna e de todos os processos caros ao Prncipe deste Mundo, realizados pelos Jesutas, sob as cores do Cristianismo. Swedenborg dividiu sua obra de realizao em trs sees:

    Seo de ensinamento, constituda por seus livros e pelo relato de suas vises;

    Seo religiosa, constituda pela aplicao ritualstica de seus ensinamentos;

    Seo encarregada da tradio simblica e da prtica, constituda pelos graus iniciticos do Rito Swedenborgeano.

    Esta ltima seo nos interessa mais particularmente no momento. Ela foi dividida em trs sees secundrias: a primeira era elementar e manica; a segunda preparava o recipiendrio para o Iluminismo; a terceira era ativa.

    A primeira seo compreendia os graus de Aprendiz, Companheiro, Mestre e Mestre Eleito; na segunda tnhamos os graus de Aprendiz Cohen (ou Mestre Eleito Iluminado), Companheiro Cohen e Mestre Cohen; na terceira, os graus de Mestre Cohen (destinado realizao elementar, ou Aprendiz Rosa-Cruz), Cavaleiro Rosa-Cruz Comendador, Rosa-Cruz Iluminado ou Kadosh (Mestre Grande Arquiteto). Observa-se que os escritores manicos, entre outros Ragon, no tiveram sobre o Iluminismo seno informaes de segunda mo e no puderam fornecer os dados que hoje apresentamos, nem ver a chave da passagem de uma seo outra, pelo desdobramento do grau superior de cada seo.

    Observa-se, alm disso, que o nico verdadeiro criador dos altos graus foi Swedenborg, que esses graus ligam-se exclusivamente ao Iluminismo e foram diretamente hierarquizados e constitudos por Seres Invisveis. Mais tarde, falsos maons procuraram apropriar-se dos graus do Iluminismo e no conseguiram seno expor sua ignorncia.

    Com efeito, posse do grau de Irmo Iluminado da Rosa-Cruz no consiste na propriedade de um pergaminho ou de uma faixa sobre o peito; prova-se somente pela aquisio de poderes espirituais ativos, que o pergaminho e a faixa apenas podem indicar.

    Ora, entre os iniciados de Swedenborg, houve um a quem o Invisvel prestou assistncia particular e incessante, um homem dotado de grandes faculdades de realizao em todos os planos. Esse homem, Martinez de Pasqually, recebeu a iniciao do Mestre em Londres, sendo encarregado de difundi-la na Frana.

    2. OS ILUMINADOS

    2.1 O MARTINESISMO

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    Foi graas s cartas de Martinez de Pasqually que pudemos fixar a ortografia exata de seu nome, estropiado at ento pelos crticos (1); foi ainda graas aos arquivos que possumos e ao apoio constante do Invisvel, que logramos demonstrar que Martinez no teve jamais a idia de transportar a Maonaria aos princpios essenciais, que sempre desprezou, como bom Iluminado que foi. Martinez passou metade de sua vida combatendo os nefastos efeitos da propaganda sem f desses pedantes de lojas, desses pseudo-venerveis que, abandonando o caminho a eles fixado pelos Superiores Incgnitos, quiseram tornar-se plos no Universo e substituir a ao do Cristo pelas suas e os conselhos do Invisvel pelos resultados dos escrutnios emanados da multido. Em que consistia o Martinesismo? Na aquisio pela pureza corporal, anmica e espiritual, dos poderes que permitem ao homem entrar em relao com os Seres Invisveis, denominados anjos pela Igreja, chegando no somente a sua reintegrao pessoal, mas tambm reintegrao de todos os discpulos de vontade. Martinez fazia vir sala de reunies todos os que lhe pediam a luz. Traava os crculos ritualsticos, escrevia as palavras sagradas, recitava suas oraes com humildade e fervor, agindo sempre em nome do Cristo, como testemunharam todos aqueles que assistiram s suas operaes, como testemunham ainda todos os seus escritos. Ento, os seres invisveis apareciam, resplandecentes de luz. Agiam e falavam, ministravam ensinamentos elevados e instigavam orao e ao recolhimento; tudo isso ocorria sem mdiuns adormecidos, sem xtase, sem alucinaes doentias. Quando a operao terminava, os Seres Invisveis tendo sido embora, Martinez dava as seus discpulos os modo de chegarem por si mesmos produo dos mesmos resultados. Somente quando os discpulos obtinham sozinhos a assistncia real do Invisvel que Martinez lhes outorgava o grau de Rosa-Cruz, como mostram suas cartas, com evidncia. A iniciao de Willermoz, que durou mais de dez anos, a de Louis Claude de Saint-Martin e da de outros, mostram-nos que o Martinesismo foi consagrado a outros objetivos, alm da prtica da Maonaria Simblica. Basta no ser admitido no prtico de um centro real de Iluminismo, para confundir os discursos dos venerveis com os trabalhos ativos dos Rosa-Cruzes Martinistas. Martinez quis inovar to pouco que conservou integralmente os nomes dados aos graus pelos Invisveis e transmitidos por Swedenborg. Seria justo, ento, utilizarmos a denominao de Swedenborgismo adaptado em vez do Martinesismo (2). Martinez considerava a Franco-Maonaria uma escola de instruo elementar e inferior, como prova se Mestre Cohen que diz: Fui recebido Mestre Cohen, passando do tringulo aos crculos. Isto quer dizer, traduzindo os smbolos: Fui recebido Mestre Iluminado, passando da Franco-Maonaria prtica do Iluminismo. Perguntase igualmente ao Aprendiz Cohen: Quais so as diferentes palavras, sinais e toques convencionais dos Eleitos Maons Apcrifos? E ele responde: Para o Aprendiz, Jakin, a palavra de passe Tubalcain; para o Companheiro, Booz, a palavra Schiboleth; para o Mestre, Macbenac, a palavra Giblin. Era necessrio possuir pelo menos sete dos graus da Maonaria ordinria para tornarse Cohen. A leitura mesmo superficial dos catecismos clara a esse respeito. Martinez procurava desenvolver cada um dos membros de sua ordem pelo trabalho pessoal, deixando-lhes toda a liberdade e toda a responsabilidade por seus atos. Ele selecionava com o maior cuidado seus iniciados, conferindo os graus somente a uma real aristocracia da inteligncia. Os iniciados, uma vez recrutados, reuniam-se para trabalhar em conjunto; essas reunies eram feitas em pocas astrolgicas determinadas. Assim se constituiu uma cavalaria de Cristo, cavalaria laica, tolerante e que se afastava das prticas habituais dos diversos cleros. Procura individual da reintegrao pelo Cristo, trabalho em grupo, unio de esforos espirituais para ajudar os principiantes: tal foi, em resumo, o papel do Martinesismo. Essa Ordem recrutava seus discpulos diretamente junto aos profanos, como foi o caso de Saint-Martin, ou, mais habitualmente, entre os homens j titulares de altos graus manicos.

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    Em 1574, Martinez encontrava-se em presena: 1 da Franco-Maonaria oriunda da Inglaterra, constituindo a Grande Loja Inglesa da Frana (aps 1743), que deveria, em breve, tornar-se a Grande Loja da Frana (1756), dando lugar s intrigas do mestre de dana Lacorne. Essa maonaria era absolutamente elementar e constituda apenas dos trs graus azuis (Aprendiz, Companheiro e Mestre); era sem pretenses e formava um excelente centro de seleo. 2 Paralelamente a essa Loja Inglesa, existia sob o nome de Captulo de Clermont um grupo praticando o sistema templrio, que Ramsay acrescentou em 1728 Maonaria, com os graus designados Escocs, Novio, Cavaleiro do Templo, etc. Uma curta explicao aqui necessria: um dos representantes mais ativos da iniciao templria foi Fenelon. Em seus estudos sobre Cabala, entrou em relaes com vrios Cabalistas e Hermetistas. Aps sua luta com Bosuet (3), Fenelon foi forado a fugir do mundo e a exilar-se quando preparou, com o maior cuidado, um plano de ao que deveria mais tarde proporcionar-lhe a revanche. O cavaleiro de Ramsay foi cuidadosamente iniciado por Fenelon e encarregado de executar esse plano com o apoio dos Templrios, que obteriam ao mesmo tempo sua vingana. O cavaleiro de Beneville estabeleceu em 1754 o Captulo de Clermont, com seus graus templrios. Ele perseguia um objetivo poltico e uma revoluo sangrenta que Martinez no podia aprovar, como nenhum outro cavaleiro do Cristo aprovaria. Assim como Martinez, todos os discpulos de sua ordem entre os quais Saint-Martin e Willermoz, combateram energicamente esse rito templrio, que alcanou parte de seus fins em 1789 e em 1793, quando mandou guilhotinar a maioria dos chefes Martinistas. Mas no nos antecipemos. 3 Alm dessas duas correntes, havia outros representantes do Iluminismo na Frana. Citemos, em primeiro lugar, Dom Pernety, tradutor da obra O Cu e o Inferno de Swedenborg, fundador do sistema dos Iluminados de Avignon (1766) e importante personagem na constituio dos Filaletes (1773). necessrio ligar ao mesmo centro a obra de Benedict de Chastenier, que lanou em Londres em 1767 as bases de seu rito Iluminados Tesofos, que brilhou particularmente a partir de 1783. O Iluminismo criou vrios grupos interligados por objetivos comuns e por Mestres Invisveis oriundos da mesma fonte, que se reuniram posteriormente no plano fsico. De Martinez de Pasqually vem a obra mais fecunda nesse sentido, pois foi a ele que o cu deu poderes ativos, lembrados por seus discpulos com admirao e respeito. Do ponto de vista administrativo, o Martinesismo seguir exatamente os graus de Swedenborg, como podemos constatar pela simples leitura da carta de Martinez de 16 de junho de 1760. Com efeito, o grau de Mestre Grande Arquiteto resume os trs graus da terceira seo. Sob a autoridade de um Tribunal Soberano constituram-se Lojas e Grupos no interior da Frana, cujo nascimento e evoluo poderemos constatar pela leitura das cartas de Martinez, por ns publicadas.

    2.2 O WILLERMOSISMO

    Dos discpulos de Pasqually, dois merecem particularmente nossa ateno pelas obras que realizaram: Jean Baptiste Willermoz, de Lyon, e Louis Claude de Saint-Martin. Inicialmente iremos nos ocupar do primeiro. Willermoz, negociante Lions, era maom quando comeou sua correspondncia inicitica com Martinez de Pasqually. Habituado hierarquia manica, aos grupos e s Lojas, concentrou sua obra de realizao no sentido do trabalho em grupo. Tendeu, pois, a constituir Lojas de Iluminados; enquanto Saint-Martin dirigiu seus esforos para o trabalho individual. A obra capital de Willermoz foi a organizao de congressos manicos, os Conventos, permitindo aos Martinistas desmascarar previamente a obra fatal dos Templrios e apresentar o Martinismo sob seu real aspecto de universalismo integral e imparcial da Cincia Hermtica.

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    Quando foi iniciado por Martinez, Willermoz era venervel da loja A Perfeita Amizade de Lyon, cargo que ocupou entre 1752 e 1763. Essa loja filiava-se Grande Loja da Frana. Em 1760, uma primeira seleo foi realizada e todos os membros portadores do grau de Mestre constituram uma grande Loja de Mestres de Lyon tendo Willermoz como Gro-Mestre. Em 1765, nova seleo foi realizada atravs da criao do Captulo de Cavaleiros da guia Negra, colocados sob a direo do Dr. Jacques Willermoz, irmo mais moo de Jean-Baptiste. Ao mesmo tempo, este abandonou a presidncia da Loja ordinria e da loja de Mestres, em favor do Ir... Sellonf, para colocar-se na chefia da Loja dos Elus Cohens, formada com os melhores elementos do Captulo. Sellonf, Jacques Willermoz e Jean Baptiste formaram um Conselho Secreto, tendo os irmos de Lyon sob tutela. Abordemos agora a natureza dos trabalhos realizados na Loja dos Cohens, falando mais tarde dos conventos realizados. Constata-se nos documentos depositados no Supremo Conselho da Ordem Martinista, vindos diretamente de Willermoz, que as reunies, reservadas aos membros portadores do ttulo de Iluminado, eram consagradas orao coletiva e s operaes, permitindo a comunicao direta com o Invisvel. Possumos todos os detalhes relativos maneira de fazer essa comunicao; mas esses rituais devem ficar reservados exclusivamente ao Comit Diretor do Supremo Conselho. Podemos revelar, contudo, lanando grandes luzes sobre muitos pontos, que os iniciados davam o nome de Filsofo Desconhecido ao ser invisvel com o qual se comunicavam. Foi ele quem ditou, em parte, o livro Dos Erros e da Verdade de Saint-Martin, que somente adotou esse pseudnimo mais tarde, por ordem superior. Provamos essa afirmao em nosso volume consagrado a Saint-Martin. A mais alta espiritualidade, a mais intensa submisso s vontades do Cu, as mais ardentes oraes a Nosso Senhor Jesus Cristo jamais deixaram de preceder, de acompanhar e de encerrar as reunies presididas por Willermoz (4). Apesar disso, se os clrigos ainda desejam ver um diabo peludo e cornudo em toda influncia invisvel e se esto dispostos a confundir tudo o que for supra-terrestre com influncias inferiores, s poderemos lamentar uma posio desse tipo, que possibilita toda espcie de mistificao e de zombaria. O Willermosismo, assim como o Martinesismo e o Martinismo, sempre foi cristo e jamais clerical. Ele d a Csar o que de Csar e ao Cristo o que de Cristo; jamais vende o Cristo a Csar. O Agente ou Filsofo Desconhecido ditou 166 cadernos de instruo, possibilitando a Saint-Martin copiar os principais. Dentre esses manuscritos, cerca de 80 foram destrudos nos primeiros meses de 1790 pelo prprio Agente, para evitar que cassem em mos de enviados de Robespierre, que se esforou para obt-los.

    2.3 OS CONVENTOS

    Em 12 de agosto de 1778, Willermoz anunciou o Convento de Gaules, realizado em Lyon entre 25 e 27 de dezembro do mesmo ano. Esse convento tinha como objetivo apurar o sistema escocs e destruir todos os maus germens introduzidos no sistema pelos Templrios. Sob a influncia dos Iluminados de todo o Pas, saiu dessa reunio a primeira condenao do plano de vingana sangrenta, preparado em silncio dentro de certas lojas. O resultado dos trabalhos desse convento est contido no Novo Cdigo das Lojas Retificadas da Frana, mantido em nossos arquivos e publicado em 1779. Para se compreender o grande esforo realizado no sentido da unio dos maons, necessrio lembrar que o mundo manico estava em plena anarquia. O Grande Oriente da Frana fora fundado em 1772 graas usurpao da Grande Loja por Lacorne e seus seguidores, dirigidos ocultamente pelos Templrios. Estes, aps terem estabelecido o Captulo de Clermont, foram transformados em 1760 em Conselho dos Imperadores do Oriente e do Ocidente; em 1762, em Cavaleiros do Oriente, entrando, finalmente, no Grande Oriente atravs de Lacorne. Graas sua

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    influncia, o sistema de lojas foi profundamente modificado; em todos os lugares o regime parlamentar, realizando eleies de seus oficiais, substituiu a antiga unidade e autoridade hierrquica. Com a desordem causada em todas as partes por essa revoluo, os Martinistas intervieram para trazer a todos a reconciliao. Eis a razo desse primeiro convento de 1778 e de seus esforos para impedir as dilapidaes financeiras que se faziam em toda a parte. Encorajado por esse primeiro sucesso, Willermoz convocou, a partir do dia 9 de setembro de 1780, todas as grandes lojas escocesas da Europa ao Convento de Wilhemsbad, perto de Hanau (5). O Convento de Wilhemsbad foi aberto em uma terafeira, no dia 16 de julho de 1782, sob a presidncia de Ferdinand de Brunswick, um dos chefes do Iluminismo Internacional. Desse convento saiu a Ordem dos Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa de Jerusalm e uma nova condenao do sistema Templrio. Como se observa, o Willermosismo tendeu sempre ao agrupamento de fraternidades iniciticas, constituio de coletividades de iniciados dirigidas por centros ativos religados ao Iluminismo. No tem razo quem pensa que Willermoz tenha abandonado as idias de seus mestres; pensar isso conhecer mal seu carter elevado. Sempre at a morte, quis estabelecer a Maonaria sobre bases slidas, dando como objetivo a seus membros a prtica da virtude e da caridade; mas sempre procurou fazer das lojas e dos captulos centros de seleo para os grupos de Iluminados. A primeira parte de sua obra era clara, a segunda oculta; por isso que as pessoas mal informadas podem no ver Willermoz sob sua verdadeira personalidade. Aps a tormenta revolucionria, tendo seu irmo Jacques Willermoz sido guilhotinado, com todos os seus iniciados, havendo ele prprio escapado por milagre da mesma sorte, foi ainda ele quem reconstituiu na Frana a Franco-Maonaria espiritualista, graas aos rituais que pde salvar do desastre. Tal foi a obra deste Martinista, a quem consagraremos um volume, to logo quanto possvel, se Deus o permitir.

    CAPTULO II

    SAINT-MARTIN, MARTINISMO E

    FRANCO-MAONARIA

    1. LOUIS CLAUDE DE SAINT-MARTIN E O MARTINISMO

    Embora no se conhecesse a ortografia correta do nome de Martinez de Pasqually e a profundidade da obra real de Willermoz, antes da publicao das cartas de Pasqually, muito se escreveu sobre Saint-Martin; muitas inexatides foram publicadas em relao sua obra. As crticas, as anlises, as suposies e tambm as calnias feitas sua obra baseiamse to somente nos livros e nas cartas esotricas do Filsofo Desconhecido. Sua correspondncia de Iniciado, endereada a seu colega Willermoz, mostra os inmeros erros cometidos pelos crticos e, em particular, por Matter. verdade que no se pode obter muita informao com base nos documentos atualmente conhecidos, sobretudo quando no se tem nenhuma luz sobre as chaves que d o Iluminismo a esse respeito. Antes de publicar essas cartas, esperaremos que novas imprecises sejam produzidas em relao ao grande realizador Martinista, para destruir de uma s vez todas as ingenuidades e todas as lendas. Willermoz foi encarregado do agrupamento de elementos Martinistas e de ao na Frana; Saint-Martin recebeu a misso de criar a iniciao individual e de exercer sua ao to longe quanto possvel. A esse respeito, permitiram-lhe estudar integralmente os ensinamentos do Agente Desconhecido. Possumos nos arquivos da Ordem muitos cadernos copiados e anotados pelo punho de Saint-Martin. Como dissemos h pouco, o livro Dos Erros e da Verdade originou-se, em grande parte, do Invisvel. Por esse motivo, provocou grande emoo no centros iniciticos desde seu aparecimento, fato que os crticos procuram com muita

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    dificuldade explicar. Esse aspecto, assim como outros, sero esclarecidos quando necessrio. Alm dos estudos ligados ao Iluminismo, comeados junto a Martinez e desenvolvidos com Willermoz, Louis Claude de Saint-Martin ocupou-se ativamente da Alquimia. Ele possua em Lyon um laboratrio organizado para esse fim. Mas deixemos esses detalhes que pretendemos aprofundar mais tarde; ocupemo-nos to somente do aspecto de sua obra que nos interessa aqui. Tendo estendido seu raio de ao, Saint-Martin foi obrigado a fazer certas reformas dentro do Martinesismo. Os autores clssicos de Maonaria deram o nome do grande realizador sua adaptao e designaram sob o nome de Martinismo o movimento proveniente de Louis Claude de Saint-Martin. muito divertido ver certos crticos, que nos abstemos de qualificar, esforarem-se em fazer acreditar que Saint-Martin jamais fundou qualquer ordem. necessrio realmente considerar os leitores bastante mal informados para ousar sustentar ingenuamente tal absurdo. A Ordem de Saint-Martin foi introduzida na Rssia sob o reino da Grande Catarina, sendo to difundida ao ponto de ser mencionada em uma pea de teatro encenada na corte. Ordem de Saint-Martin que se ligam as iniciaes individuais, referidas nas memrias da baronesa de Oberkierch. O autor clssico da Franco-Maonaria, o positivista Ragon, que no simpatizava com os ritos dos Iluminados, descreve nas pginas 167 e 168 de sua Ortodoxia Manica as mudanas operadas por Saint-Martin para constituir o Martinismo (6). Sabemos que esses crticos no merecem ser levados a srio, principalmente por Saint-Martin ter desprezado a Franco-Maonaria positivista, fato que nunca perdoaram. O mesmo fez Martinez, que relegou a Maonaria a seu verdadeiro papel de escola elementar e de centro de instruo simblica inferior. Em suma, quando desejam negar fatos histricos, ridicularizam. Aquele que os crticos universitrios denominavam Tesofo de Amboise foi um realizador bastante prtico, sob uma aparncia mstica. Empregou assim como Weishaupt (7), a iniciao individual. Foi graas a esse procedimento que a Ordem obteve facilidade de adaptao e de extenso, que muitos ritos manicos invejam. Saint-Martin foi to dedicado difuso da Cavalaria Crist de Martinez que violentos ataques foram endereados contra sua obra, sua personalidade e sua vida. Seria necessrio um volume inteiro para rebater essas crticas; limitar-nos-emos dentro deste curto estudo a indicar a verdadeira essncia do Martinismo da poca de Saint-Martin, servindo-nos documentos j impressos (8).

    1.1 LIGAO DE SAINT-MARTIN COM OS ENSINAMENTOS DE

    MARTINES DE PASQUALLY

    Meu primeiro mestre, a quem eu fazia perguntas semelhantes em minha juventude,

    respondia-me que se aos sessenta anos eu tivesse atingido o termo, no deveria

    lamentar. Ora, tenho apenas cinqenta anos! Procurai ver que as melhores coisas aprendem-se e no se ensinam, e sabereis mais que os doutores.

    Nossa primeira escola tem coisas preciosas. Eu mesmo fui levado a acreditar que Pasqually, de quem me falais (o qual, necessrio vos dizer, era nosso mestre) tinha a chave ativa de tudo aquilo que nosso caro B...(9) expe em suas teorias, mas no nos considerava aptos para receber verdades to elevadas. Ele possua, tambm os pontos que nosso amigo B... no conheceu ou no quis mostrar, tais como a resipiscncia do ser perverso, para a qual o primeiro homem teria sido encarregado de trabalhar; idia que me parece ainda ser digna do plano universal, mas sobre o qual, entretanto, ainda no tenho nenhuma demonstrao positiva, exceto pela inteligncia. Quanto Sofia e ao Rei do mundo, ele nada nos revelou; deixou-nos nas noes elementares do mundo e do demnio. Mas no afirmarei que ele no tenha tido conhecimento de tudo isso; estou persuadido que acabaramos por chegar a esse conhecimento, se o tivssemos conservado por mais tempo.

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    Resulta de tudo isso que h um excelente casamento a se fazer entre a doutrina de nossa primeira escola e a de nosso amigo B... sobre isso que trabalho; confesso-vos francamente que cons