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Renata Pereira Prates Mestranda em Geografia da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UNESP, campus de
Presidente Prudente-SP. E-mail: [email protected]
Renata dos Santos Cardoso
Mestranda em Geografia da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UNESP, campus de Presidente Prudente-SP.
E-mail: [email protected]
VARIABILIDADE SAZONAL DO NDVI NO MUNICÍPIO DE PRESIDENTE
PRUDENTE ATRAVÉS DE IMAGENS DO LANDSAT 8
1 INTRODUÇÃO
A vegetação constitui um importante indicador de qualidade ambiental e pode
desempenhar o papel de sombreamento, filtragem e dispersão da poluição atmosférica,
controle de ruídos, proteção solar das edificações, além de atuar na redução das
temperaturas através do processo de evapotranspiração e retenção de umidade do solo e
do ar. Dada sua relevância, tão importante se faz também o seu mapeamento e
monitoramento com relação às respostas aos fatores climáticos, que já é possível através
de imagens de satélites e técnicas de sensoriamento remoto.
O sensoriamento remoto utilizado principalmente nas ciências aplicadas se
refere à obtenção de dados a respeito de um objeto ou alvo que esteja localizado sobre a
superfície terrestre, sem que tenha tido contato com o mesmo. Florenzano (2008)
destaca que o sensoriamento remoto é a tecnologia de aquisição, à distância, de dados
da superfície terrestre, por meio de sensores instalados em plataformas terrestres, aéreas
ou orbitais (satélites).
O avanço das técnicas de sensoriamento remoto tem contribuído para uma
geração significativa de dados e informações obtidos pelos sensores orbitais. Logo, a
comunidade científica se deparou com a necessidade de elaborar métodos para
transformar a informações contidas nas imagens de satélites e derivar parâmetros
relacionados à vegetação (AFFONSO et. al., 2009).
Nesse sentido, diversos índices foram elaborados, como os índices de vegetação
ortogonais: o índice de vegetação verde (GVI - green vegetation index); o índice de
brilho do solo (SBI - soil brightness index) (KAUTH; THOMAS, 1976) e o índice
perpendicular (PVI - perpendicular vegetation index) (RICHARDSON; WIEGAND,
1977), sendo que o mais comumente usado é o Índice de Vegetação por Diferença
Normalizada (NDVI).
O princípio do NDVI (Normalized Difference Vegetation Index) está
relacionado à absorção da radiação na região espectral do vermelho, pelas clorofilas
presentes nas células vegetais e ao espalhamento ou reflectância pelas folhas da
radiação na região do infravermelho próximo. Conforme suas condições biofísicas, a
vegetação pode apresentar diferentes comportamentos espectrais, o que pode levar uma
determinada espécie a responder diferentemente à absorção de radiação vermelha ou a
reflectância do infravermelho próximo em razão de um déficit hídrico, nutricional ou à
idade da planta (SARTORI et. al., 2009).
Dessa forma, o presente trabalho objetivou calcular o NDVI no município de
Presidente Prudente-SP através de imagens do satélite Landsat 8 referentes aos meses de
maio, agosto e novembro de 2013. Também foram utilizados os dados de pluviosidade
do mesmo período para relacionar a variação do comportamento da vegetação de acordo
com as características climáticas sazonais da área de estudo.
2 ÁREA DE ESTUDO
O uso que a sociedade atual faz da terra e as diversas formas de apropriação da
natureza, tem colaborado para processos de degradação ambiental cada vez mais
acelerados. O desenvolvimento econômico, o aumento da população, a diversificação, o
consumo, o crescimento das cidades, as atividades industriais e agricultura, tem
contribuído para o aumento do desmatamento de florestas e a progressiva diminuição de
áreas verdes.
Desse modo, a configuração territorial de Presidente Prudente se relaciona ao
processo histórico de ocupação de todo o oeste do estado de São Paulo, com índice de
desmatamento significativo e processo de degradação tanto dos corpos de águas como
dos solos.
Durante o processo de ocupação do oeste paulista a região era rota de mineiros e
se destacava ainda pela da marcha do café e pela expansão da Estrada de Ferro
Sorocabana. O que demonstra como esta região passou por processos de retirada na
mata e sucessivas apropriações de terras por grilos, culminado em extensas áreas
destinadas à pastagem e até mesmo na exposição dos solos ao regime de chuvas.
Atualmente observam-se apenas alguns relictos de matas preservadas, como o
Parque Estadual do Morro do Diabo e alguns fragmentos de matas em lugares isolados.
A figura 1 mostra o processo de evolução da retirada da mata na região oeste do estado
num período de 50 anos (1920-1970) compilado de Cavalli, Guillaumon JR e Serra
Filho (1974) apud Boin (2000).
Figura 1 - Evolução da retirada da mata na região Oeste do Estado de São Paulo. Fonte: Extraído de BOIN (2000, p. 9).
Presidente Prudente está situada no extremo oeste do estado de São Paulo, na
latitude 22°7’S e longitude 51°22’ W, com cerca de 560 km de distância da capital
paulista. Localizada no planalto ocidental e altitude média de 480m acima do nível do
mar, constituí-se essencialmente por rochas do grupo Bauru, sendo o seu relevo
formado basicamente por colinas médias, amplas, morrotes alongados e espigões.
No que diz respeito aos aspectos do clima, a sazonalidade climática da cidade
pode ser resumida a um período quente e chuvoso entre outubro e março e, outro mais
ameno e seco, entre abril e setembro, quando as temperaturas caem com a entrada das
massas polares (BARRIOS; SANT’ANNA NETO, 1996).
Presidente Prudente apresenta um clima tropical, com duas estações definidas, um período de verão/outono, mais quente (temperaturas médias das máximas entre os 27 °C e 29°C) e muito chuvoso (entre 150 e 200 mm mensais) e invernos amenos (com temperaturas médias das mínimas entre os 16°C e 18°C) e menos úmidos (chuvas mensais entre os 20 e 50 mm) (AMORIM; MONTEIRO, 2011, p. 5).
Com área urbana de aproximadamente 60 km² e população estimada de 218.960
habitantes (IBGE, 2013), a cidade foi formada a partir da ocupação dos espigões
alongados (divisores das águas) onde ocorreu a implementação da Estrada de Ferro
Sorocabana.
Segundo Ikuta (2003), a partir da década de 1990 observou-se uma ocupação de
áreas de manancial e fundos de vale, sendo o poder público, com os programas sociais
de moradia, um dos agentes provedores destas ocupações. Assim, tanto as formas de
expansão e ocupação urbana quanto os usos da terra no ambiente rural se relacionam
aos processos de degradação ambiental, como a retirada da vegetação nativa da região
de Presidente Prudente e a falta de manejo adequado da terra.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para esse trabalho foram selecionadas as imagens do satélite Landsat 8 de 1 de
maio, 21 de agosto e 9 de novembro de 2013 (órbita/ponto 222/075), mais
especificamente as bandas 4 (0,64 - 0,67µm) e 5 (0,85 - 0,88µm), com resolução
espacial de 30 metros.
A combinação entre essas bandas foi utilizada devido ao comportamento da
vegetação em comprimentos de onda visíveis e no infravermelho próximo. Na luz
visível as áreas vegetadas aparecem muito escuras, enquanto superfícies descobertas
ficam claras. Por outro lado, em comprimentos de onda do infravermelho próximo a
vegetação é mais brilhante, e ao comparar a luz visível e infravermelha, é possível
estimar a quantidade relativa de vegetação (WEIER; HERRING, 2000).
Desse modo, o NDVI foi calculado através da ferramenta “Raster Calculator” no
software ArcGIS com a seguinte equação:
NDVI = (pIVP - pV) / (pIVP + pV)
onde: pIVP é a reflectância no infravermelho próximo e pV é a reflectância no
vermelho.
De acordo com Weier e Herring (2000), os cálculos do NDVI para um
determinado pixel sempre resultam em valores que variam de -1 para +1. Geralmente,
folhas não verde aparecem com um valor próximo de zero, valores perto de +1 (0,8-0,9)
indicam a maior densidade possível de folhas verdes e zero significa que não há
vegetação.
Todavia essa relação numérica pode sofrer alterações conforme a espécie vegetal
e, inclusive, quando a vegetação está em condições de estresse hídrico, pois tende a
absorver menos radiação solar, o que aumenta sua reflectância no espectro visível e a
maior absorção no infravermelho próximo (POELKING et al., 2007).
Posteriormente, os produtos cartográficos elaborados foram analisados de acordo
com os dados de pluviosidade registrados na Estação Meteorológica da FCT/UNESP,
campus de Presidente Prudente, a fim de identificar alterações na cobertura vegetal
entre os meses de maio, agosto e novembro.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O NDVI é amplamente aplicado em diversos estudos. Para analisá-lo é
importante considerar as relações entre a vegetação e a radiação do espectro
eletromagnético. Assim, o índice de vegetação pode ser utilizado na análise de eventuais
perturbações no ciclo sazonal da vegetação, no monitoramento de secas, na detecção de
desmatamentos, entre outras aplicações.
Os valores resultantes da operação apresentaram variação entre -0,25 e +0,65,
nos meses de maio, agosto e novembro de 2013 (Figura 3). Estes corresponderam,
respectivamente, à presença de vegetação com características de estresse hídrico e de
uma vegetação mais robusta, sendo que os valores negativos também foram
relacionados às áreas construídas do município, presença de solo exposto e corpos
d’água. Já os de valores intermediários entre 0,23 e 0,36 podem ser associados à
vegetação predominantemente rasteira.
Figura 2 - Variação do índice NDVI no município de Presidente Prudente através das imagens do
Landsat 8 de maio, agosto e novembro de 2013.
Elaboração: Cardoso e Prates (2014).
A figura 2 mostra os mapas de NDVI referente aos meses de maio, agosto e
novembro de 2013. No mês de maio a imagem foi tomada no dia 1º, sendo que os 107
mm de precipitação foram registrados a partir do dia 24. No entanto, no mês de abril
também se registrou alto total pluviométrico (195 mm), o que pode ter garantido
umidade suficiente para a vegetação não entrar em estado de estresse hídrico.
Dessa forma, os valores de NDVI em maio variaram de -0,25 a 0,57, dentre os
quais a malha urbana da cidade de Presidente Prudente apresentou valores de -0,14 a -
0,08. Os corpos d’água, com valores de até -0,25 apresentaram coloração vermelha na
figura 3, o que ocorre em virtude da água apresentar reflectância na banda do visível
maior do que na do infravermelho próximo, resultando em valores negativos
(POELKING et al., 2007).
De modo geral, os valores predominantes na área rural durante esse mês foram
de 0,13 a 0,24, com algumas parcelas da superfície com vegetação arbórea densa de até
0,57. Já na porção norte do município foram identificadas áreas com coloração laranja e
valores entre -0,08 e -0,03, que indicam ausência de cobertura vegetal e podem estar
relacionadas a solo exposto.
Com relação ao NDVI de agosto, os valores obtidos foram mais baixos em
relação ao mês de maio, e variaram de -0,27 a 0,53. A área rural do município
apresentou colocação predominantemente mais clara, associadas a valores entre 0,04 e
0,15, sendo perceptível o aumento de superfícies com tons laranja ao norte da imagem,
nas quais os valores chegaram a -0,11.
Essa configuração pode ser explicada devido o baixo total pluviométrico em
agosto, que foi de apenas 4 mm, característica típica para um mês de inverno na região.
Sob essa condição climática, a área rural do município coberta principalmente por
gramíneas encontra-se seca em decorrência do estresse hídrico. Além disso, a cobertura
vegetal rasteira nesse estado também deixa o solo descoberto, cuja reflectância será
identificada no NDVI como valores abaixo de zero.
Por sua vez, o NDVI para o mês de novembro apresentou um aumento do
intervalo nos valores calculados, tanto para os números negativos quanto para os
positivos (-0,31 a 0,65). Durante esse mês foram registrados 109 mm de precipitação, o
que pode ter influenciado a predominância de valores acima de 0,39 nas parcelas da
superfície com vegetação arbórea densa, que indicam vegetação com folhas saudáveis.
Entretanto, se por um lado houve o aumento do NDVI em relação ao mês de
agosto, na porção norte do município foi verificado também o aumento de áreas
desprovidas de cobertura vegetal, com valores entre -0,18 e -0,05. A menor densidade
de vegetação apresentada pode estar relacionada às áreas de cultivos temporários, que
dependendo da época do ano podem apresentar valores negativos, já que o solo está
sendo preparado para o próximo plantio.
Como foi observado na figura 3, o mapa de NDVI referente ao mês de maio
apresentou maior densidade de vegetação quando comparado aos demais meses, que
indicaram o aumento de áreas com decréscimo de vegetação. Todavia, no NDVI de
novembro foi verificado o aumento de valores positivos que remetem à maior presença
de vegetação em algumas áreas.
Sendo assim, para analisar a variação sazonal do índice de vegetação e verificar
possíveis mudanças ocorridas entre os meses selecionados, realizou-se uma operação
matemática de subtração entre os mapas de novembro e maio. O resultado dessa
operação (Figura 4) é representado por um mapa no qual os valores positivos significam
maior ganho de NDVI e, inversamente, valores negativos indicam decréscimo no índice.
Consequentemente, as áreas com valores próximos a zero não apresentaram mudanças
significativas na refletância dos alvos na paisagem.
Figura 3 - Diferença do índice NDVI no município de Presidente Prudente entre maio e novembro de 2013. Elaboração: Cardoso e Prates (2014).
Através desse mapa foi possível observar com maior precisão os locais que
sofreram decréscimo significativo de NDVI (valores próximos a -0,27), principalmente
ao norte do município, bem como as áreas nas quais a vegetação apresentou um
aumento na sua reflectância, sobretudo em algumas parcelas também ao norte, mas
também no entorno da malha urbana da cidade de Presidente Prudente.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados apresentados nesse trabalho correspondem a um estudo de caso
realizado na disciplina “Sensoriamento Remoto e Meio Ambiente: Potencialidades das
Imagens de Satélites Para o Monitoramento e a Gestão Ambiental”, do curso de Pós-
Graduação em Geografia.
A análise dos NDVIs, juntamente com os dados de pluviosidade, foi possível
identificar que houve significativa diminuição da atividade fotossintética da vegetação
no mês de agosto, decorrente também do tipo de cobertura vegetal predominante no
município (pastagens), proveniente do processo de uso e ocupação da terra na região,
desprovido de preocupação ambiental.
Em síntese, o cálculo do índice de vegetação contribuiu como um indicador de
mudanças sazonais e na atividade da vegetação, facilitando seu monitoramento. Além
disso, constitui uma ferramenta não só para o mapeamento da vegetação, mas também
para classificar os tipos, a quantidade, a condição da cobertura vegetal e sua resposta
espectral de acordo com as características climáticas e hidrológicas em um determinado
recorte geográfico.
REFERÊNCIAS
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