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    Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil

    PLANO DEPASTORAL DE

    CONJUNTO1966 1970

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    Apresentao da Edio de 2004

    Em 1962, ainda antes do incio do Conclio Vaticano II, a CNBB lanava o Plano deEmergncia para preparar a Igreja para uma profunda renovao. Teve seu foco na parquia e no

    exerccio do ministrio sacerdotal, mas tambm estava orientado para as escolas catlicas e para arealidade scio-econmica. A fora motivadora desta primeira tentativa de pastoral de conjuntofoi muito grande.

    Para colocar em prtica as ricas orientaes do Conclio Vaticano II, a CNBB lanou, em1966, o Plano de Pastoral de Conjunto 1966-1970. Foi elaborado durante a VII AssembliaGeral Extraordinria da Conferncia, ainda em Roma, durante os trs meses da ltima sessoconciliar. A proposta deste Plano era que a Igreja no Brasil se ajustasse rpida e plenamente imagem da Igreja do Conclio Vaticano II.

    De fato, as diretrizes do primeiro Plano de Pastoral de Conjunto foram inspiradas pelosgrandes Documentos do Conclio, dando origem s seis grandes linhas de trabalho da Igreja: 1)

    Unidade visvel da Igreja Catlica (Lumen Gentium, Christus Dominus, PresbyterorumOrdinis, Optatam Totius, Perfectae Caritatis, Apostolicam Actuositatem); 2) Ao Missionria(Lumen Gentium, Ad Gentes); 3) Ao Catequtica, aprofundamento doutrinal, reflexoteolgica (Dei Verbum); 4) Ao Litrgica (Sacrosanctum Concilium); 5) Ao Ecumnica(Unitatis Redintegratio); 6) Ao da Igreja no mundo (Gaudium et Spes, Dignitatis Humanae,Nostra Aetate, Gravissimum Educationis, Inter Mirifica).

    Alm de Diretrizes Fundamentais da Ao Pastoral, foram elaboradas tambm LinhasFundamentais de Trabalho, segundo cada uma das seis linhas acima citadas. Foi sempre dadaespecial nfase ao conhecimento da realidade e reflexo pastoral sobre ela, formao deagentes e organizao de assessorias. Foi um Plano muito bem articulado e com uma clareza

    impressionante de metas e propostas. Tudo isso era fruto da participao dos seus autores noConclio e do desejo de traduzir logo no Brasil, na organizao e na prtica da vida eclesial, aslies colhidas no Conclio Vaticano II.

    Este Plano de Pastoral de Conjunto marcou profundamente, durante as dcadassucessivas, o caminho pastoral da Igreja no Brasil e a prpria organizao e atuao da CNBB. Aorganizao das atividades da Conferncia segundo as seis linhas durou at 1995, quando asDiretrizes quadrienais passaram a se chamar Diretrizes da Ao Evangelizadora, destacandomais fortemente o carter evangelizador e missionrio da atuao da Igreja. A partir da, asDiretrizes passaram a ser orientadas segundo as quatro exigncias da evangelizao: servio,dilogo, anncio e testemunho de comunho. Mesmo assim, as dez Comisses EpiscopaisPastorais aprovadas na Assemblia Geral de 2003, e que do a estrutura de referncia da

    organizao pastoral da Conferncia, ainda esto claramente relacionadas com as seis linhaspastorais do primeiro Plano de Pastoral de Conjunto da CNBB.

    O Plano de Pastoral de Conjunto 1966-1970 continua despertando interesse, sendocitado com freqncia, por causa da importncia histrica que tem para o caminho pastoral daIgreja no Brasil. Por isso, o Secretariado Geral da CNBB decidiu public-lo novamente, na srieazul dos Documentos da CNBB, para facilitar o seu acesso na atualidade. Seu conhecimentoainda poder trazer frutos para a ao evangelizadora e pastoral dos nossos dias.

    Braslia, 30 de maio de 2004, Solenidade de Pentecostes.

    Dom Odilo Pedro Scherer

    Bispo Auxiliar de So PauloSecretrio-Geral da CNBB

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    NDICE

    Apresentao .......................................................................................................................Exortao de Paulo VI ao Episcopado latino-americano .......................................................

    Apresentao-sntese ............................................................................................................

    Primeira parteIntroduo geral

    I. A Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil .................................................................1. Finalidade e membros .............................................................................................2. Histria ...................................................................................................................3. rgos constitutivos ................................................................................................4. Eleio dos membros e manuteno dos servios ....................................................

    II. O Plano de Pastoral de Conjunto ...................................................................................1. Plano de Emergncia, Conclio, Plano de Pastoral de Conjunto ..............................2. Objetivos do Plano de Pastoral de Conjunto ...........................................................3. Diretrizes fundamentais de ao: objetivo geral e objetivos especficos de ao da

    Igreja .......................................................................................................................

    Segunda parteDiretrizes fundamentais de ao pastoral

    I. Justificativa geral............................................................................................................1. Em que sentido podemos planejar a ao da Igreja .................................................2. Tomada de conscincia da situao da Igreja no Brasil ...........................................

    a) Necessidades e exigncias .................................................................................b) Possibilidades da Igreja no Brasil ......................................................................

    3. Objetivo geral e objetivos especficos de ao da Igreja ...........................................II. Linhas fundamentais de trabalho ...................................................................................

    Linha de trabalho n 1 - Promover uma sempre mais plena unidade visvel no seio daIgreja Catlica ................................................................................................................

    Linha de trabalho n 2 - Promover a ao missionria ...................................................

    Linha de trabalho n 3 - Promover a ao catequtica, o aprofundamento doutrinal e areflexo teolgica ...........................................................................................................

    Linha de trabalho n 4 - Promover a ao Litrgica .......................................................

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    Linha de trabalho n 5 - Promover a ao ecumnica ....................................................

    Linha de trabalho n 6 - Promover a melhor insero do povo de Deus como fermento naconstruo de um mundo segundo os desgnios de Deus ...............................................

    III. Aplicao das diretrizes aos planos nacional e regional...................................................1. Aplicao ao plano nacional ....................................................................................

    1.1.Atividades permanentes ....................................................................................1.2.Ampliao dos servios existentes .....................................................................1.3.Atividades especiais e montagens de novos servios .........................................

    2. Aplicao aos planos regionais ................................................................................2.1.Responsabilidade do plano regional ..................................................................2.2.As diretrizes do plano regional ..........................................................................2.3.As atividades do plano regional.........................................................................

    IV.Aplicao das diretrizes ao plano diocesano ...................................................................1. A diocese como unidade fundamental de ao pastoral ..........................................2. Sentido e funo do planejamento diocesano ..........................................................3. Requisitos bsicos de renovao diocesana .............................................................4. Como elaborar o plano diocesano ...........................................................................

    4.1.Passos principais na elaborao do plano diocesano .........................................4.2.Programas e projetos a serem desenvolvidos ....................................................4.3.Estruturao e coordenao diocesanas ............................................................

    Terceira partePlano nacional de atividades da CNBB

    Indicaes gerais ..................................................................................................................

    Programa n 1 - Levantamentos e pesquisas ..................................................................

    Programa n 2 - Reflexo e elaborao teolgico-pastoral .............................................

    Programa n 3 - Formao de pessoal ...........................................................................Programa n 4 - Montagem de novos servios de assessoria ..........................................

    Quadros resumo ...................................................................................................................

    Dados estatsticos sobre a Igreja no Brasil .............................................................................

    Estatutos da CNBB...............................................................................................................

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    Apresentao

    Ao Povo de Deus, em nossa ptria brasileira, apresentamos, em nome e com aautoridade de todo o episcopado nacional, o Plano de Pastoral de Conjunto para o prximo

    qinqnio.

    Este Plano foi elaborado por especialistas, e exaustivamente discutido, emendado eaprovado pelos bispos do Brasil, na VII Assemblia Geral Extraordinria da CNBB, reunida

    em Roma durante os trs meses da ltima sesso conciliar.

    No h dvida de que a graa de Deus transcende os clculos humanos e o Esprito

    Santo atua independente dos condicionamentos naturais: Spiritus ubi vult spirat (Jo 3,8). Mas certo tambm que imprescindvel a cooperao do homem com a graa. Ora, oplanejamento pastoral um esforo dessa cooperao indispensvel. Ele visa exatamente a

    criar condies favorveis atuao da graa.

    Acresce que o planejamento foi requerido pelo Chefe visvel da Igreja e querepresenta o Chefe invisvel, Nosso Senhor.

    O saudoso Papa Joo XXIII, j no seu primeiro ano de pontificado, pediu uma

    coordenao orgnica da atividade pastoral entre ns. Em 1961 foi alm do pedido: ordenouo planejamento.

    Ouamos ainda a voz do nosso Pontfice Paulo VI, no discurso proferido ante os

    bispos da Amrica Latina, na audincia de 24 de novembro de 1965:

    ... a atividade pastoral no pode processar-se s cegas. O apstolo no correno encalo do incerto e bate no ar (I Cor, 9,26). Hoje foge acomodao e ao perigo

    do empirismo. Um sbio planejamento pode oferecer tambm Igreja um meio eficaze um incentivo de trabalho.

    Sabemos que em alguns de vossos pases foram elaborados planos depastoral de conjunto, em resposta encarecida recomendao de nosso predecessor Joo XXIII, de feliz memria, na Carta Apostlica Ad dilectos Americae Latinae

    populos, de 8 de dezembro de 1961. O exemplo poder ser seguido tambm pelos

    demais episcopados.

    E o Santo Padre continua a dissertar difusamente sobre o assunto. Outrossim, naalocuo de 23 de fevereiro de 1965, aos participantes da Comisso Italiana de Superiores

    Maiores dos Institutos Religiosos, trata Sua Santidade da integrao dos Religiosos naindispensvel planificao pastoral de conjunto.

    Estribados, assim, na autoridade dos legtimos Pastores, vem promulgado o novo

    Plano, fase de um processo de planejamento, que comeou com o Plano de Emergnciaaprovado pela V Assemblia Geral da CNBB em abril de 1962 e que dever prosseguir

    fecundado pelas bnos divinas. Ele envolve todas as foras vivas da Igreja no Brasil e

    empenha cada membro do Povo de Deus. Que ningum se furte a tomar a parte que lhecouber, na sua execuo.

    Rio de Janeiro, janeiro de 1966.

    + D. Agnelo cardeal RossiPresidente da CNBB

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    + D. Jos Gonalves da

    CostaSecretrio Geral da CNBB

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    Exortao de Paulo VI ao episcopado latino-americano(24-11-65, X aniversrio do CELAM)

    A ao pastoral na Amrica Latina

    Condies do trabalho pastoral da Igreja1

    O continente latino-americano considerado catlico: a sua glria e a sua fortuna. Estecatolicismo, que tem notvel peso numrico no seio da comunidade catlica do mundo,revela, porm e o dizemos com solcito afeto de pai aspectos negativos que denotamdebilidade e falta de homens e de meios. Poder-se-ia falar de um estado de debilidadeorgnica, que manifesta urgente necessidade de revigorar e reanimar a vida catlica, a fim detorn-la mais substanciosa nos princpios doutrinais e mais slida na prtica. Dir-se-ia que a f

    do povo latino-americano deve realizar ainda uma plena maturidade de desenvolvimento.Qual , com efeito, a solidez, a conscincia de si, a capacidade de resistncia da vidacatlica? Em que camadas sociais se concretiza? Qual o seu grau de cultura? Que estatsticasexistem a respeito da observncia religiosa, da moralidade familiar e das vocaeseclesisticas? Vs, que conheceis os ndices da freqncia mdia aos sacramentos e Missadominical e os gravssimos danos causados famlia pela lei do divrcio introduzida emmuitos pases, achareis justificadas nossas apreenses.

    Outro elemento que pesa na situao religiosa da Amrica Latina a falta de homens nocampo apostlico, especialmente de sacerdotes. Sempre se insistiu, e com razo, noangustioso problema da grave carncia de clero: o fato por demais evidente para que sepossa menosprezar o seu alcance. Ser prefervel reexaminar os critrios seguidos, at opresente momento, na utilizao mais profcua das foras que se tm disposio, eperguntar-se, entre outras coisas, se sempre se cuidou da melhor distribuio do clero a fim deeliminar as despropores que, em no poucos casos, existem entre o nmero de sacerdotesempenhados nas grandes cidades e o daqueles encaminhados para o interior, e se sempre seobservou um cauteloso emprego do clero em atividades estritamente apostlicas.

    A questo pode aplicar-se tambm aos religiosos, os quais devem representar sempreforas verdadeiramente vivas no apostolado, mediante os centros exemplares e importantesde vida espiritual que criaram e sabero criar.

    Intimamente ligado falta de homens o grau de eficincia das estruturas pastorais emrelao s grandes exigncias de hoje: deve-se, portanto, estudar atentamente se estas so

    adequadas e suficientes nas cidades e nos meios rurais e o que se pode fazer para polarizarnovamente a vida nos modernos centros urbanos em torno da Igreja.

    Chamamos a ateno, enfim, para a falta de meios, estes tambm necessrios Igreja,mesmo sem constiturem a principal preocupao do Pastor, o qual pe a sua confiana naProvidncia. Aqui o caso de ver se a Igreja colocou os seus bens a servio da comunidade ese no se deixou sobrecarregar em algum lugar com o peso de bens temporais improdutivos,especialmente de terras, que j no possuam hoje a funo de outros tempos e aos quais oportuno dar inteligentemente um melhor emprego. necessrio recordar a este respeito e agradvel atest-lo de pblico que alguns episcopados da Amrica Latina, encorajados eautorizados por esta S Apostlica, j puseram disposio dos mais necessitados de seus fiis

    1 Apresentamos o trecho do discurso que se refere s condies do trabalho pastoral e aos critrios de ao.

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    grandes propriedades de terras da Igreja para uma racional produo, empreendendo-se aseguir o processo de transformao agrria.

    No diagnstico, que se vem delineando, confortador, por outro lado, discernir osdiversos elementos de relevante valor que tornam mais otimista a viso de conjunto econstituem motivo de segura esperana para o Pastor.

    O povo bom e profundamente religioso por natureza: recebe com prontido e tima

    disposio a mensagem evanglica, batizado na Igreja Catlica, nela quer viver e sente-seorgulhoso de a ela pertencer. No conjunto, a Igreja vive em um clima de liberdade e de pazpropcio a um profcuo trabalho; representa a maior fora capaz de salvar o continente, com oprestgio social e moral que possui. A Igreja existe e possui estruturas seculares slidas erespeitveis: se ela se movimenta ainda amplamente seguida; se fala, sua voz aindaamplamente ouvida. Ela deve, pois, manifestar a sua vitalidade, e explorar ao mximo suasgrandes possibilidades de ao, com uma pastoral dinmica, adequada ao ritmo dastransformaes em curso. Deste modo, a Igreja jamais se encontrar alheia e separada da vidada sociedade na qual, por mandato divino, chamada a atuar. Ela deve testemunhar, comfatos, que no s foi parte integrante no processo de formao de cada pas da Amrica

    Latina, mas que quer ser hoje tambm um raio de luz e de salvao no processo das atuaistransformaes.Para uma atividade desta natureza, seria prejudicial cair num estado de timidez, de

    medo e de falta de confiana, que desarma e constrange, mesmo nos melhores homens, ompeto requerido para um difcil trabalho construtivo. A Igreja deve ter confiana em si mesmae saber infundir coragem e confiana nos seus filhos, ministros de Deus e fiis, recordando-lhes que as armas de nossa luta no so carnais, mas nos vm de Deus todo poderoso (2Cor. 10,4). O momento propcio: o Conclio Ecumnico suscitou um forte despertar deenergias, que necessrio saber alimentar e pr em prtica; produziu uma ardente expectativano pblico, que no pode ser decepcionado.

    O Pastor, portanto, ter sempre olhos abertos sobre o mundo porque a observncia e avigilncia evanglica devem continuar, pois o mundo muda e necessrio saber satisfazer sacrescidas exigncias e interpretar as novas situaes. Ele saber servir-se do auxlio dosespecialistas, telogos e socilogos, para preparar dirigentes capazes, quer no clero, quer nolaicato; promover freqentes cursos de renovao pastoral, convidando, em esprito defraterna compreenso, sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos, aos quais ter o cuidado deensinar os slidos princpios da genuna espiritualidade pastoral, que tm na f suas razes dedesenvolvimento. Para o exato conhecimento da situao e da urgncia do trabalho, o Pastorfar um amplo e inteligente uso dos dados sociolgicos recolhidos e elaborados a respeito dascondies religiosas do pas.

    Critrios de ao

    Carter extraordinrio

    A considerao de eventuais deficincias do passado no trabalho pastoral e aidentificao dos pontos nevrlgicos sobre os quais ocorre concentrar o esforo deevangelizao, devem levar o Pastor a dirigir a atividade apostlica sobre algumas linhasfundamentais.

    Em primeiro lugar, ser conferido ao trabalho pastoral um carter extraordinrio: pelo

    empenho srio e profundo que lhe ser dispensado, pelas formas de ao decididas e rpidas

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    que se colocaro em movimento para tornar mais difundido o anncio do Evangelho, eextraordinrio tambm pelo emprego dos homens aos quais se recorrer.

    Unitrio

    Mas como os problemas de hoje so gerais, requerem solues de conjunto. Ningum os

    pode resolver sozinho. Daqui se segue o carter unitrio que deve revestir a ao pastoral dehoje: o que comporta um entendimento, permanente quanto aos critrios e peridicos nocontrole a ser exercido, em base nacional atravs das Conferncias Episcopais e em basecontinental atravs do Conselho Episcopal Latino-Americano. A unio ntima e o esforoconcorde dos bispos no diminuem a liberdade e a responsabilidade pessoal de cada um, maseliminam os efeitos prejudiciais provocados pelas divises internas.

    Planificado

    Em terceiro lugar, na obra pastoral no se pode andar s cegas: o apstolo no algum

    que corre incerto ou se bate contra o ar (1 Cor 9, 26); evita hoje a acomodao e o perigo doempirismo. Uma sbia planificao, portanto, pode oferecer tambm Igreja um meio eficaz eincentivo para o trabalho. Sabemos que em alguns de vossos pases, em resposta ao insistenteapelo que o Nosso Predecessor Joo XXIII, de venervel memria, dirigiu com a CartaApostlica Ad dilectos Americae latinae populos, de 8 de dezembro de 1961 (AAS 54, 1962,28-31), foram elaborados planos de pastoral de conjunto pelas Conferncias Episcopais. Oexemplo pode ser seguido tambm pelos outros episcopados. Diremos ainda mais: sob certosaspectos e para alguns assuntos, poder ser tambm til e oportuno estudar um plano de nvelcontinental atravs do vosso Conselho Episcopal, na sua funo de rgo de contato e decolaborao entre as Conferncias Episcopais da Amrica Latina.

    A planificao impe opes e comporta renncias mesmo do que, s vezes, seria omelhor; e a concentrao de esforos intensiva e extensiva nos objetivos essenciais obriga adeixar realizaes que, embora belas, sejam limitadas ou suprfluas. O plano de pastoral deve,alm disso, estabelecer claramente as metas a que se dirige, fixar os critrios de escolha eprioridade entre as mltiplas necessidades apostlicas e levar em conta elementos disponveisem pessoal e meios. O Plano de Pastoral ter maior concretizao se for determinado tambmno seu tempo de aplicao e se for articulado numa pastoral de tipo missionrio, que no selimita a conservar intactas ou a aperfeioar posies adquiridas, mas se estende expanso e conquista.

    Para garantir a execuo dos planos de pastoral ser conveniente instituir, como j se fezem algumas naes, um Secretariado de Coordenao do apostolado dependendo dasConferncias Episcopais, com suas respectivas ramificaes ou ligaes em cada uma dasdioceses, que lhe assegurem um funcionamento eficiente.

    Evitando o dano dos extremismos, recordamos ainda uma vez que indispensvelproceder conjuntamente: aqui a uniformidade fora e vir a ser costume.

    Segundo a doutrina da Igreja

    Enfim, o Pastor sempre age segundo a doutrina da Igreja que, com admirvelcontinuidade e na hora precisa, sempre soube estar altura de todo momento histrico difcil,

    suscitando, por virtude do Esprito de Deus que a acompanha, formas e instituies semprenovas para satisfazer as novas necessidades e exigncias.

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    Apresentao sntese

    A Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), criada em outubro de 1952, tem

    sido, durante estes 13 anos de existncia, um instrumento privilegiado, atravs do qual oepiscopado de nosso pas vem exercendo sua co-responsabilidade pastoral.

    A pedido do Papa Joo XXIII e consciente da situao muito especial e decisiva em quese encontra a Igreja no Brasil, a CNBB empreendeu, sobretudo nos ltimos 3 anos, umesforo intenso de renovao pastoral, baseado no que se convencionou chamar o Plano deEmergncia.

    Este Plano proporcionou Igreja novo dinamismo, novas estruturas, novaspossibilidades de ao, e preparou terreno propcio para uma ampla renovao na linha doConclio Vaticano II.

    Em continuidade a todo este esforo e no intuito de uma aplicao ao Brasil das grandes

    decises conciliares, a CNBB acaba de elaborar e aprovar o seu Plano de Pastoral de Conjunto(1966-1970).Este Plano visa a criar meios e condies para que a Igreja no Brasil se ajuste, o mais

    rpida e plenamente possvel, imagem de Igreja do Vaticano II.Para realizar este objetivo a CNBB elaborou diretrizes e planejou atividades.

    1. As diretrizes contm os objetivos, princpios e opes fundamentais que devem orientar aao da Igreja no Brasil, nos prximos 5 anos. Estas diretrizes prevem seis grandes linhas detrabalho:

    - Promover uma sempre mais plena unidade visvel no seio da Igreja Catlica.- Promover a ao missionria.- Promover a ao catequtica, o aprofundamento doutrinal e a reflexo teolgica.- Promover a ao litrgica.- Promover a ao ecumnica.- Promover a melhor insero do povo de Deus como fermento na construo de um

    mundo segundo os desgnios de Deus.

    Em cada linha de trabalho so definidas as atividades mais importantes que devem serdesenvolvidas para sua realizao.

    Todos os cristos catlicos e organismos de Igreja, cada um dentro de suaresponsabilidade e iniciativa e de acordo com sua vocao especfica, so convidados a

    empreender e organizar sua ao segundo estas diretrizes, para que haja um melhoraproveitamento de esforos, e a ao da Igreja adquira eficincia e unidade em vista dosobjetivos comuns.

    2. Alm dessas diretrizes, a CNBB elaborou um plano de atividades, que executardiretamente ou atravs de servios a ela ligados. Este plano prev:

    - atividades permanentes;- ampliao de alguns servios;- atividades especiais e montagem de novos servios.As atividades permanentes so desenvolvidas pelos diversos secretariados nacionais daCNBB e organismos a ela ligados. Consistem em assessoria ao episcopado, elaborao de

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    diretrizes a serem submetidas ao juzo e sano do episcopado, coordenao de organismose movimentos a ela ligados, fornecimento de subsdios ao pastoral da Igreja, assessoria atodos os organismos de Igreja que a solicitarem, entrosamento com as entidades e organismoseclesisticos ou civis para questes referentes ao da Igreja.

    A CNBB, para dar sua ao o dinamismo dela exigido, necessita, imediatamente,ampliar tambm alguns de seus servios.

    As atividades especiais e a montagem de novos servios esto planejadas em quatrodiferentes programas, assim discriminados:

    - Programa de pesquisas e levantamentos, com 19 diferentes projetos.- Programa de reflexo e elaborao ideolgico-pastoral, com 19 diferentes projetos.- Programa de formao de pessoal, com 12 diferentes projetos.- Programa para montagem de assessorias aos secretariados regionais, s dioceses e a

    outros organismos de Igreja, com 6 diferentes projetos.

    *

    O Plano apresentado em trs partes: I. Introduo geral do Plano. II. Diretrizes fundamentais da ao pastoral. III. Plano nacional de atividades da CNBB.

    Nestas trs partes apresentamos o mais concreta e sucintamente possvel:- as mais importantes opes pastorais da Igreja e sua justificativa luz da teologia e

    das situaes, necessidades e possibilidades prticas;

    -

    a definio das atividades que a CNBB visa a realizar, em nvel nacional, de janeirode 1966 a dezembro de 1970, a fim de concretizar estas opes;- as responsabilidades, prazos, sistemas e custos de cada uma destas atividades e de todo

    o conjunto.

    A primeiraparte corresponde Introduo geral do Plano, e apresenta dados geraissobre a CNBB, sua histria e suas finalidades, assim como o objetivo geral deste Plano, sualigao com o Plano de Emergncia, e os princpios bsicos que orientaram a formulao dasdiretrizes.

    A segunda parte corresponde ao pano de fundo de toda a formulao do Plano e de seudesenvolvimento. A partir dos objetivos de ao da Igreja, traa as diretrizes que formulam asopes feitas e fundamentam as decises a serem tomadas no seu detalhamento edesdobramento; estabelece igualmente os princpios gerais de aplicao destas diretrizes aosplanos nacional, regionais e diocesanos.

    A terceira parte contm o Plano nacional de atividades da CNBB, e define os objetivosde trabalho, a sistemtica adotada, os responsveis pela execuo, as tarefas, datas e prazos.

    Os diversos planos regionais fazem parte integrante deste Plano de Pastoral de Conjunto,complementam-no e com ele esto ntima e organicamente ligados. Todo esse trabalho, porsua vez, orienta-se em grande parte no sentido de um servio s dioceses, para que elasrealizem, o mais rpida e plenamente possvel, a imagem de Igreja do Vaticano II, entrandonum esforo de ao planejada e renovadora.

    Este Plano visa, pois, ser o esforo coordenado e conjunto para que a Igreja no Brasilpossa realizar, o mais plenamente possvel, o que Deus dela espera nos prximos cinco anos.

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    Regionais da CNBB

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    primeira parte

    Introduo geral

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    I

    A Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil

    1. Finalidade e membros A Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) a organizao instituda pela

    Hierarquia eclesistica do Brasil e aprovada pela Santa S, tendo como finalidade:a) estudar problemas de interesse da Igreja, particularmente no Brasil;b) apresentar normas, aprovar e coordenar medidas, que facilitem e promovam a

    unidade de orientao e a conveniente atualizao da pastoral (Art. 1 dosEstatutos).

    Desta maneira, como afirma a Lumen gentium, ela pode hoje contribuir com mltipla

    e fecunda fora, para que o afeto colegiado que deve animar fundamentalmente a hierarquiaseja levado a uma aplicao concreta (n 23).

    So membros da CNBB, com iguais direitos, os Ordinrios do lugar de qualquer rito(exceto os vigrios gerais), os coadjutores, auxiliares e outros bispos titulares, em comunhocom a Santa S, que tenham residncia cannica no Brasil (Art. 2 dos Estatutos).

    2. HistriaA Assemblia de instalaoda CNBB foi realizada de 14 a 17 de outubro de 1952, na

    cidade do Rio de Janeiro. Durante estes 13 anos de sua existncia realizaram-se 6 assembliasordinrias assim relacionadas: 1 Assemblia Ordinria Belm, 1953. Temas debatidos: Espiritismo; Imigrao;

    Reforma Agrria; Ao Catlica e Apostolado dos leigos; Liga Eleitoral Catlica. 2 Assemblia Ordinria Aparecida, 1954. Temas debatidos: Ao Catlica e

    Apostolado dos leigos; Liturgia: Projeto de ritual portugus-latino; Protestantismo;Famlia; Reforma agrria; Ajuda espiritual, cultural e econmica ao clero.

    3 Assemblia Ordinria Serra Negra, 1956. Temas debatidos: Ao Catlica eApostolado dos leigos; Modernizao do apostolado; Meios de divulgao; Formaoda opinio pblica atravs dos agentes de publicidade; A Igreja e o mundo operrio;

    O problema dos nossos seminrios. 4 Assemblia Ordinria Goinia, 1958. Temas debatidos: Parquia: dignasustentao do clero e das obras paroquiais; Influncia das estruturas sociais sobre a

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    vida religiosa da parquia; Levantamento prtico e eficiente da parquia; Papel dosleigos na ao missionria da parquia; Parquia e liturgia; Parquia e misso; Papeldo proco na espiritualizao das estruturas sociais da Parquia; Relaes do prococom o bispo e a cria diocesana.

    5 Assemblia Ordinria Rio de Janeiro, 1962. Temas debatidos: Plano deEmergncia.

    6 Assemblia Ordinria Roma, 1964: Reformulao dos Estatutos;Reestruturao da Conferncia.

    Alm destas assemblias ordinrias que marcaram a vida da CNBB e da Igreja no Brasil,realizaram-se igualmente vrios encontros regionais de bispos, visando responder a problemasespecficos e situaes peculiares de determinadas regies. Assinalamos de modo especial:

    1 Reunio dos prelados da Amaznia - Belm, 1964; 1 Encontro dos bispos do Nordeste - Campina Grande, 1956; 2 Reunio dos prelados da Amaznia-Belm, 1957; 2 Encontro dos bispos doNordeste-Natal, 1959; Encontro dos bispos da Bacia do Rio Doce - Cel. Fabriciano, 1961; Reunio das Provncias Eclesisticas de So Paulo - S. Paulo, 1960; Reunio dos bispos e prelados de Minas Gerais - Belo Horizonte, 1961; Reunio dos bispos e prelados de Gois - Goinia, 1962.Aps o lanamento do Plano de Emergncia (abril de 1962) e a criao das comisses e

    secretariados regionais, estes encontros se multiplicaram e comearam a fazer parte da vidaordinria da Conferncia, contribuindo vigorosamente para seu fortalecimento, eficincia evitalidade.

    Durante este perodo foi tambm intensificado o entrosamento com as Ordens,Congregaes e Institutos religiosos e com a CRB, verificando-se consequentemente uma

    crescente insero das comunidades religiosas na pastoral de conjunto. A CNBB tem participado efetivamente do Conselho Episcopal Latino-Americano(CELAM) atravs de seus delegados.

    Por ocasio da VI Assemblia realizada em Roma, durante a 3Sesso conciliar, comautorizao especial da Sagrada Congregao Consistorial, foram reelaborados os Estatutos ereformuladas suas estruturas provisoriamente, at que o trmino do Conclio possibilite umaformulao e estruturao mais definitiva de acordo com o conjunto de decises a seremtomadas pelo Vaticano II.

    3. rgos constitutivos Atualmente a Conferncia exerce suas atividades atravs dos rgos constitutivos

    seguintes:a) a Assemblia geral, rgo supremo da CNBB, presidida e dirigida pela comisso

    central, e que deve se reunir ordinariamente a cada dois anos, e extraordinariamente sempreque necessrio;

    b) a Comisso central, rgo diretor da CNBB, dependente da assemblia, cujasresolues deve cuidar sejam executadas. Constituem a comisso central: os cardeais do Brasile o titular da arquidiocese na Capital Federal, como membros natos; o presidente e os doisvice-presidentes, o secretrio geral, o tesoureiro geral, os secretrios nacionais, os secretrios

    regionais. Devem reunir-se ordinariamente cada semestre, e extraordinariamente sempre quenecessrio;

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    c) o Secretariado geral, a quem compete, sob a dependncia da assemblia e dacomisso central, suscitar, auxiliar, executar e coordenar toda a dinmica e atividades daCNBB;

    d) osSecretariados nacionais, que atravs do respectivo secretrio, e em harmonia como secretariado geral, respondem perante a assemblia por setores de especial interesse da vidae ao da Igreja;

    e) as Comisses regionais, que constitudas por todos os membros da CNBBpertencentes regio so o rgo de planejamento e orientao da pastoral de conjunto, nombito da regio, em consonncia com as diretrizes do plano nacional;

    f) os Secretariados regionais, que, sob a direo do respectivo secretrio e emdependncia das comisses regionais, devem suscitar, dinamizar, executar e coordenar todasas atividades da CNBB na regio;

    g) as Comisses episcopais, que a assemblia geral venha a nomear para atender sexigncias da Santa S e soluo de problemas de interesse da Igreja no Brasil;

    h) Instituies por ela criadas.4. Eleio dos membros e manuteno dos servios

    O presidente, os vice-presidentes, o secretrio geral, os secretrios nacionais so eleitospela assemblia; os secretrios regionais pela respectiva comisso regional.

    Os servios nacionais da CNBB so mantidos:a) pela contribuio das circunscries eclesisticas;b) pela cooperao financeira dos santurios;c) por doaes ou legados;d) por eventuais receitas.

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    II

    O Plano de Pastoral de Conjunto

    .Para efetivao de seus objetivos e melhor servio Igreja, a CNBB vem tentando

    planejar suas atividades. O esforo mais decisivo neste sentido foi o Plano de Emergncia.

    1. Plano de Emergncia, Conclio, Plano de Pastoral de ConjuntoElaborado e lanado pelo episcopado nacional, em abril de 1962, por pedido expresso

    do Papa Joo XXIII, o Plano de Emergncia marcou decisivamente, nestes trs ltimos anos, aIgreja no Brasil. Por falta de dados mais completos e cientficos, de uma reflexo j maisamadurecida sobre nossa situao, de instrumentos a serem ainda criados, e sobretudo pela

    premncia da ao a empreender, o Plano de Emergncia no quis ser um plano global eacabado. Preferiu empreender a renovao de alguns setores da vida da Igreja, que pareciamvitais: a parquia, o ministrio sacerdotal, o sistema educacional catlico, a ao da Igreja nocampo scio-econmico; e, a partir destes setores, um primeiro esforo de pastoral deconjunto em nvel diocesano, regional e nacional.

    Sobre todos estes aspectos, o Plano de Emergncia formulou princpios, sistema,diretrizes concretas e previu a criao de determinados instrumentos e estruturas: secretariadosregionais, CERIS, equipes de assessoria, etc.

    Todos estes elementos passaram a constituir as diretrizes que orientaram grande partedas atividades da CNBB em nvel nacional e regional, e fundamentaram e apoiaram a

    montagem e desenvolvimento de planos de trabalho em nvel diocesano e paroquial,adotando o ritmo e a aplicao cabveis em cada situao.Em fevereiro de 1965, elevavam-se:- a 93 o nmero de circunscries eclesisticas que haviam adotado integralmente o

    Plano de Emergncia como base de renovao;- a 73 o nmero daquelas que simpatizavam e tentavam realizar algo.Mais perceptvel ainda foi a dinamizao que provocou em nvel regional e nacional,

    abrindo novas perspectivas de ao para a Igreja e uma base mais ampla e concreta para oexerccio da co-responsabilidade episcopal. Todo este esforo, porm, ganhou amplitudeinesperada e cobertura total com a realizao do Conclio Vaticano II que, sob o sopro do

    Esprito Santo, empreendeu um gigantesco esforo de renovao de toda a Igreja.

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    Sentiu-se, porm, a necessidade de dar seguimento ao Plano de Emergncia,atualizando-o, e comear a concretizar, no Brasil, os caminhos abertos Igreja pelo VaticanoII.

    Assim foi elaborado este Plano de Pastoral de Conjunto.

    2. Objetivos do Plano de Pastoral de ConjuntoO Plano de Emergncia baseou seu esforo de renovao no mistrio da Igreja como

    comunidade: prolongamento e presena viva do mistrio de Cristo. O Vaticano II significou,para toda a Igreja, uma clara e esplndida tomada de conscincia, uma explicitao de seuprprio mistrio e a disposio firme de renovar-se segundo a imagem que Cristo nela desejafazer brilhar.

    Nesta perspectiva, situamos o objetivo geral do Plano de Pastoral de Conjunto, que :

    Criar meios e condies para que a Igreja no Brasil se ajuste, o mais rpida e

    plenamente possvel, imagem de Igreja do Vaticano II.

    A formulao e realizao deste objetivo contm quatro aspectos importantes:a) a renovao de Igreja, no Brasil, conforme a imagem de Igreja do Vaticano II.

    Comparando nossa situao atual com aquilo que o Conclio quer que seja a Igreja,poderemos estabelecer os objetivos gerais e especficos desta renovao, seus princpios,opes e diretrizes mais importantes;

    b) a criao de meios e condies. A renovao , antes de tudo, dom de Deus,garantido indefectivelmente sua Igreja, e resposta livre dos homens. Como instrumentosdisponveis nas mos divinas, o que podemos e devemos fazer criar os meios e as condiespara que ela se realize o mais plenamente possvel;

    c)

    o tempo em que se realizar esta renovao. No podemos prev-lo pelos motivosacima aludidos. Mas, como membros vivos da Igreja, desejamos com ardor e zelo que seja omais rpido possvel, conscientes de que a renovao plena s se efetuar na segunda vindado Senhor, por sua interveno direta e dom gratuito.

    Podemos, porm, e devemos prever as atividades a realizar, para criarmos os meios e ascondies que Deus espera e quer de nossa colaborao. este, alis, o sentido da aoapostlica.

    Para no ficar apenas em princpios e diretrizes, e descer a detalhes mais concretos, parapoder acompanhar melhor a evoluo histrica e garantir uma presena sempre adaptada daIgreja, arbitramos em cinco anos o tempo de previso das atividades da CNBB contidas noPlano de Pastoral de Conjunto. Seu desenvolvimento e execuo se processaro de janeiro de1966 a dezembro de 1970.

    d) a continuidade desta renovao. O Plano dever dar continuidade, segurana eprogresso ao da Conferncia, tornar-se um instrumento privilegiado de aplicao doafeto colegiado e da co-responsabilidade e solicitude episcopal. Em 1970 poder serelaborado o Plano seguinte, para um prazo, ento, de 4 anos. Como as assemblias gerais daConferncia se realizam de dois em dois anos, teremos alternadamente uma assemblia pararenovao dos mandatos e estudo de aspectos especiais do plano em vigor ou de assunto deinteresse particular da Igreja, e outra assemblia para elaborao, discusso e sano do novoPlano.

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    3. Diretrizes fundamentais de ao: objetivo geral e objetivos especficos de aoda Igreja.

    Para promover a renovao da Igreja no Brasil, conforme a imagem de Igreja doVaticano II, necessitamos, em primeiro lugar, definir os grandes objetivos, princpios, opes,diretrizes que devem orientar a ao e, em vista deles, precisar as atividades e tarefas a

    desenvolver. Baseamos esta definio de diretrizes, objetivos e tarefas em dois grupos dereflexes, que se completam e interpenetram:

    - a formulao aplicada ao Brasil dos objetivos de ao da Igreja explicitados peloVaticano II;

    - a tomada de conscincia da situao da Igreja no Brasil (suas necessidades,exigncias e possibilidades), luz do Conclio e dos dados reais de que dispomos nomomento.

    *

    Sintetizando as grandes perspectivas da Lumen Gentium, e em especial do captuloprimeiro, podemos afirmar que o objetivo geral de ao da Igreja :

    Levar todos os homens plena comunho de vida com o Pai e entre si em Jesus Cristo,

    no dom do Esprito Santo, pela mediao visvel da Igreja.

    O Plano de Emergncia, conforme j assinalamos, fundamentou a renovao paroquial,sacerdotal e educacional no ministrio da Igreja como comunidade. Este Plano de Pastoral deConjunto continua a mesma perspectiva, mas a amplia e aprofunda luz do Conclio,explicitando-lhe a riqueza: a Igreja a comunho de vida dos homens com o Pai e entre si,

    em Jesus Cristo, no dom do Esprito Santo, comunicada e manifestada pela mediao dacomunidade visvel.O objetivo ltimo de todo o mistrio de salvao esta comunho de vida interpessoal

    dos homens em Cristo, e por Cristo, com toda a Trindade. Esta relao interpessoal de amor dom gratuito de Deus, que tanto amou o mundo, que lhe deu seu Filho unignito (Jo 3, 16),mas exige igualmente dos homens uma resposta livre e pessoal de amor.

    Este desgnio de salvao, Cristo o realiza e manifesta na comunidade visvel de Igreja,de tal modo que a sociedade provida de rgos hierrquicos e o Corpo Mstico, a assembliavisvel e a comunidade espiritual... formam uma s realidade constituda de elementos divinose humanos (Lumen Gentium n 8).

    Prolongamento, presena viva e atuante em Cristo, a comunidade de Igreja participa deseu trplice mnus: proftico, sacerdotal e rgio.

    Em um primeiro momento de renovao pastoral, numa aplicao acomodatcia, oPlano de Emergncia denominou o mnus proftico de comunidade de f, o mnussacerdotal de comunidade de culto e o mnus rgio de comunidade de caridade. Por motivosprticos ligou algumas atividades do ministrio da palavra (pregao, catequese, movimentobblico) comunidade de f; reuniu as atividades litrgicas na comunidade de culto; e fezdepender da comunidade de caridade a ao missionria dos movimentos leigos, omovimento vocacional, a promoo social e a organizao da comunidade paroquial.

    Esta sistematizao tem o seu fundamento e valor. A Igreja , e ser sempre, umacomunidade. Nela estar sempre presente e atuante o ministrio da palavra, a vida litrgica e

    especialmente eucarstica, a ao missionria, a formao na f de todos os membros do povode Deus, a presena da Igreja no desenvolvimento humano, a organizao visvel da prpria

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    comunidade eclesistica. Atravs destas atividades a Igreja exerceu e exercer sempre seumnus proftico, sacerdotal e rgio.

    O agrupamento, porm, destas atividades em comunidade de f, de culto e de caridadeera acomodatcio. A f e a caridade so duas virtudes teologais que devem informar todas asatividades pastorais e todos os aspectos da vida da Igreja. A eucaristia, por exemplo, porexcelncia o sacramento da caridade e, ao mesmo tempo, o mysterium fidei.

    O mnus sacerdotal e o culto cristo, por sua vez, no se restringem vida litrgica,embora nela tenham fonte e sua mxima realizao. Todas as atividades apostlicas e a vidaevanglica de um leigo so exerccios de seu sacerdcio comum e culto espiritual.

    O Vaticano II aprofundou e explicitou riquezas insondveis do mistrio de Cristo e daIgreja, autenticando-as com a garantia do magistrio hierrquico. luz do Conclio,retornamos e ampliamos todas as atividades e diretrizes pastorais do Plano de Emergncia,mas demo-lhes uma sistematizao mais profunda, mais orgnica e mais conforme asperspectivas conciliares. Este reagrupamento e esta sistematizao tomaram como critrio osseis objetivos especficos de ao da Igreja. Em cada um deles Cristo e a comunidade de Igrejaexercem seu mnus proftico, sacerdotal e rgio.

    *

    Como primeiro objetivo especfico, nossa ao pastoral visa a renovar e dinamizar aIgreja no seu prprio ministrio de comunidade, estreitando sua unidade visvel.

    Este objetivo requer a renovao de todos os membros do povo de Deus para uma vidaevanglica mais autntica, para o melhor desempenho da misso a que foi chamado, para umaproveitamento mais pleno e comunitrio dos carismas que lhe foram comunicados peloEsprito Santo. Exige especialmente o pleno exerccio do ministrio hierrquico: do colgioepiscopal, tendo o Papa como cabea visvel, da Conferncia episcopal, do bispo em sua

    diocese ou no desempenho da tarefa especial que lhe foi confiada, do presbitrio unido a seubispo.Este objetivo requer ainda a renovao das diversas estruturas em que se realiza esta

    comunidade de Igreja: comunidade de base, a parquia, a zona pastoral, a diocese, as regiespastorais, a Conferncia episcopal, o Conselho continental, a Igreja universal.

    *

    Nossa segunda reflexo visa a renovar as atividades fundamentais da comunidade deIgreja e seus nveis de realizao. semelhana do organismo humano, a Igreja possui umadinmica permanente de crescimento extensivo. Aprofundando a unidade do todo, exerceatividades diversas em nveis diversos.

    A atividade mxima e o nvel supremo de realizao da Igreja o ministrio eucarstico,que constitui a fonte e o ponto culminante de toda a sua vida. Em funo da eucaristia, e deladimanando, desenvolve-se toda a vida sacramental e litrgica, especialmente os sacramentosdo batismo e da confirmao, que com ela constituem os sacramentos da iniciao crist.

    Em funo da eucaristia e dos sacramentos, mas os precedendo e preparando,aprofundando e continuando, a Igreja proclama, explicita e interioriza em todos os seusmembros o ministrio da Palavra de Deus, na pregao, na catequese, na comunicao dadoutrina, para que a vida de f, esperana e caridade, a vida no Esprito Santo, neles cresa ese intensifique.

    Para aqueles que ainda no chegaram f e ao conhecimento de Cristo, e ainda noesto inseridos na comunidade visvel, para aqueles que, embora batizados, vivam apenas

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    famlia humana e sua presena concreta na histria dos homens. Este constitui nosso sextoobjetivo que assim formulamos:

    - Levar o Povo de Deus a uma maior comunho de vida em Cristo, atravs de suainsero como fermento na construo de um mundo segundo os desgnios de Deus.

    *

    Nestes seis objetivos, que esto por sua vez em funo do objetivo geral, reagrupamostodas as atividades pastorais preconizadas pelo Plano de Emergncia, agora ampliadas eaprofundadas pelo Conclio.

    Estes seis objetivos constituem-se pois nas seis diretrizes fundamentais ou nas seis linhasde trabalho, que orientaro a pastoral da Igreja no Brasil, nos prximos cinco anos.

    Em cada uma destas linhas de ao so previstas, por sua vez, em um nvel maior dedetalhes, as atividades mais importantes a serem desenvolvidas para sua aplicao.

    Assim, por exemplo, a promoo de organizao, da catequese paroquial, da catequese

    escolar nos diversos nveis, etc., so atividades que tornaro efetivo o terceiro objetivo ou aterceira linha de trabalho.Os bispos do Brasil, no exerccio de sua co-responsabilidade e solicitude episcopal,

    apresentam-nas, no como normas jurdicas, mas como diretrizes pastorais, que devemorientar a ao de todos aqueles pessoas e instituies que desenvolvem atividadespastorais, respeitados os carismas e vocao especfica de cada um. Estas diretrizes, sobretudono seu objetivo geral e nas suas seis linhas de trabalho, so muito amplas e de realizao alongo prazo. E assim como elas prolongam e ampliam as diretrizes do Plano de Emergncia,podero, por sua vez, ser retomadas, continuadas e aprofundadas pelos planos subseqentes.

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    segunda parte

    Diretrizes fundamentais da aopastoral

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    Nosso objetivo renovar a Igreja no Brasil, conforme a imagem de Igreja do Vaticano II., pois, importante precisar, detalhar as diretrizes desta renovao luz do Conclio e dasituao concreta da Igreja em nosso pas. Apresentamos a justificativa geral das decisespropostas e as linhas de trabalho que as devem orientar e realizar.

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    I

    Justificativa geral

    Algumas constataes e reflexes fundamentam estas diretrizes que daro unidade eeficincia Pastoral de Conjunto, em todos os nveis (nacional, regional e diocesano), e atodo o esforo de renovao.

    Analisemos as mais importantes.

    1. Em que sentido podemos planejar a ao da Igreja A Constituio Lumen Gentium nos fala no librrimo desgnio do Pai que, na sua

    sabedoria e bondade, salvou em Cristo os cados em Ado, dando-lhes o poder de setornarem filhos segundo a imagem de seu Unignito, congregando na Santa Igreja todosaqueles que chegaram ao conhecimento da Verdade.

    A Igreja, prefigurada desde a origem do mundo, preparada na histria do povo de Israele na Antiga Aliana, constituda na era presente, manifestada pela efuso do EspritoSantificador, a realizao, no tempo, deste desgnio do Pai at sua consumao gloriosa, nofim dos sculos (Lumen Gentium, n 21).

    Este desgnio constitui o plano fundamental, decisivo, para toda a humanidade. Todosos outros planos adquirem sentido na medida em que o tomam como ponto de referncia,com ele colaboram e nele se integram.

    Quis, porm, a bondade do Pai constituir homens que, como continuadores da misso

    do Filho, sob o impulso do Esprito Santo, cooperassem na realizao do plano divino.Esta misso apostlica perene e indefectvel na Igreja, por garantia do prprio Cristo

    (Mt 28, 20), mas alcana maior ou menor plenitude conforme a qualidade da cooperaohumana. a graa divina que converte, incorpora a Cristo na Igreja, e faz crescer at aplenitude da caridade. Deus, porm, quer realizar este mistrio atravs de instrumentoshumanos.

    Planejar a ao da Igreja significa, pois, esforar-se por assegurar mais plena e adequadacooperao humana realizao do plano divino, no respeito e na fidelidade total ao desgniodo Pai, ao do Filho, ao dom do Esprito Santo e livre resposta dos homens.

    2.Tomada de conscincia da situao da Igreja no Brasil

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    Para planejarmos qualquer empreendimento necessitamos conhecer objetivamente a

    situao: suas necessidades e possibilidades. No possumos ainda uma anlise cientificaglobal sobre os diversos aspectos da Igreja, em nosso pas. Os estudos parciais existentes e otestemunho de pessoas qualificadas j nos permitem, no entanto, um conhecimento razovel,capaz de informar melhor as decises.

    a) Necessidades e exignciasEsta anlise pode parecer negativa, porque no pretende ser um balano global e uma

    avaliao completa da presena da Igreja, mas apenas a focalizao de alguns aspectosfundamentais, que esto a exigir renovao. Podemos sintetiz-los em quatro captulos:

    Os nveis de motivao religiosa e a ao pastoral que os alimentaSomos um pas predominantemente catlico (93,49% - IBGE 1960) com uma

    percentagem quase total de batizados. Este dado, porm, toma matizes bem variados, quando

    analisamos o nvel e o tipo de motivao religiosa que animam estes batizados. Existe,realmente, um forte esprito religioso, principalmente nas reas rurais e urbanas de migraorecente, mas a grande maioria vive apenas uma f implcita, pois jamais fizeram uma adesoexplcita e pessoal a Cristo, nico Salvador. Esta constatao vlida, mesmo para a boaparte daqueles que assistem freqentemente ou mesmo dominicalmente Missa.

    Em relao ao conjunto de batizados, constitui reduzida minoria o grupo dos quechegaram a esta adeso pessoal e explcita, e procuram viver como membros ativos,participantes da Igreja. Mesmo entre os que possuem melhor compreenso do cristianismo,predominam os motivos de mera salvao individual, com sria deficincia do sentido evivncia de Igreja.

    Completando este quadro, devemos assinalar o sincretismo religioso, que animanumerosos grupos de nossa populao, e o florescimento de cultos africanos, sobretudo entreas camadas populares.

    Esta situao toma expresses e aspectos diversos nos vrios grupos que compem acomunidade nacional: dirigentes da economia e da poltica, intelectuais, tcnicos, proletriosrurais e urbanos, operrios qualificados, profissionais liberais, classe mdia tradicional, jovensdos diversos meios sociais. Uma crise de f amplia-se sobretudo nos grandes centros urbanos.

    A ao pastoral est, em grande parte, absorvida pela ao sacramental e pelaadministrao de obras. O anncio missionrio, a catequese, o aprofundamento doutrinal etoda a educao da f ocupam um lugar insignificante no conjunto, e a Palavra que transmitida carece muitas vezes de seiva evanglica e de encarnao, que lhe possibilitematingir os grupos a que se dirige.

    Numa sociedade patriarcal, de evoluo lenta, institucionalmente quase identificada coma Igreja, este tipo de pastoral no encontra maiores problemas, e consegue manter a situao,pois a f transmite-se, em grande parte, pelo prprio ambiente e estruturas da sociedade.

    A situao brasileira no , porm, a de uma cristandade definida nestes termos e, porisso, nos leva a uma orientao clara e precisa: a necessidade de empreender,predominantemente um esforo de educao da f, atravs de todos os instrumentos queCristo proporciona sua Igreja, para que a grande maioria dos batizados chegue f explcita.Em outras palavras, nossa situao requer que orientemos a ao da Igreja numa perspectivamarcantemente missionria, capaz de:

    - provocar a converso e a primeira adeso pessoal a Cristo;- conduzir a uma explicitao e aprofundamento da f;

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    - inserir organicamente na Comunidade de Igreja;- assumir, purificar e elevar os autnticos valores da cultura e do gnio do nosso povo

    (Lumen Gentium n 13).

    A comunidade de IgrejaA Igreja foi constituda comunidade visvel, que realiza e expressa a incorporao dos

    homens a Cristo e sua participao na vida divina. A converso e a adeso pessoal a Cristosignificam ao mesmo tempo a insero na comunidade visvel da Igreja pela f e pelossacramentos. Quando a f apenas implcita ou insuficiente, as comunidades de Igrejaperdem o seu vigor; e reciprocamente, a falta de comunidades vivas responsvel peloenlarguecimento da vida teologal, pelo ritualismo, por um cristianismo que permanece apenasao nvel da f implcita.

    Mais uma vez sentimos a necessidade de uma pastoral em que educao da f e vidasacramental no se separem nem se aponham, mas integrem-se dentro do equilbrio exigidoem cada situao concreta, visando construo da comunidade de Igreja.

    Por outro lado, a comunidade visvel condicionada pelas estruturas nas quais se

    realiza. No Brasil, estas estruturas esto a exigir uma renovao.

    *

    Na realidade, a estrutura de base a parquia. Existem atualmente em nosso pas, 4.604parquias, com 17.658 habitantes, como mdia demogrfica e 1.848 km2, como mdiaterritorial. Para compreendermos a diversidade, mesmo quantitativa, includa nesta mdia,basta considerarmos os dois casos extremos: a parquia de SantAna em Itaiutuba, prelazia deSantarm (Par), com 186.966 km2 e 13.793 habitantes, e a parquia de Nossa Senhora deCopacabana, com 120 mil habitantes, num reduzido espao territorial (CERIS, 1964).

    Nestas circunstncias, muito difcil construir uma comunidade paroquial viva. No ,pois, de estranhar que a maioria dos cristos no se sinta membro vivo, responsvel eintegrante da Igreja e que a parquia se torne uma estrutura predorninantemente jurdica eadministrativa.

    *

    Faz-se urgente uma descentralizao da parquia, no necessariamente no sentido decriar novas parquias jurdicas, mas de suscitar e dinamizar, dentro do territrio paroquial,comunidades de base (como as capelas rurais) onde os cristos no sejam pessoas annimasque apenas buscam um servio ou cumprem uma obrigao, mas sintam-se acolhidos eresponsveis, e delas faam parte integrante, em comunho de vida com Cristo e com todosos seus irmos.

    *

    Numa sociedade patriarcal e primitiva, a parquia forma como que uma ilha e torna-sequase auto-suficiente. Numa sociedade que se tecnifica e urbaniza, ela torna-seprogressivamente insuficiente, sem condies de garantir isoladamente uma presena efetivade Igreja. Criam-se situaes humanas que no podem receber uma resposta conveniente aonvel paroquial, pois o ultrapassam inteiramente. So um conjunto de fenmenos, de aspectos

    culturais, linhas de evoluo, problemas que marcam todo um espao geogrfico, constituindoo que se convencionou chamar zona humana e que exige uma resposta pastoral integrada.

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    Impe-se, pois, a formao e o incremento das zonas pastorais, que coordenem a ao dasparquias e respondam, em conjunto, aos fatores gerais que influenciam a zona.

    *

    A acentuao jurdica e administrativa da pastoral e uma teologia insuficiente sobre o

    episcopado levam muitos a encararem a diocese como uma simples reunio de parquias,comprometendo a unidade vital e bsica da Igreja particular. Uma das tarefas urgentes dapastoral dar estrutura diocesana toda a sua riqueza eclesiolgica, com as conseqnciasprticas que dela decorrem.

    A prpria comunidade diocesana sente-se hoje insuficiente. H desafios lanados Igreja que superam as possibilidades de uma diocese, e exigem uma ao regional, sub-regional ou nacional. A co-responsabilidade e a solicitude universal do episcopado encontram,assim, vasto campo de exerccio e aplicao concreta. Urge, pois, a dinamizao e ofortalecimento da CNBB e da comunho eclesistica dos bispos, no colgio episcopal, tendo oPapa como cabea. nesta perspectiva que deve ser empreendida uma renovao de

    estruturas de Igreja.

    Os diversos membros do povo de DeusQueremos tambm chamar a ateno para alguns aspectos da situao presente nos

    diversos membros do povo de Deus, em especial presbteros, religiosos e leigos. Presbteros Existem no Brasil 4.628 sacerdotes seculares (CERIS 1961) e 7.515

    sacerdotes religiosos (CERIS 1963). Sem desconhecer as deficincias quantitativas,queremos assinalar outros dados do problema que nos parecem importantes.

    Hoje fala-se, muito amide, de crise sacerdotal. Ela existe de fato. Mas crise decrescimento e maturidade. Em relao aos sacerdotes, podemos situ-la nos seguintes

    aspectos:- Necessidade de tomar conscincia e viver o que essencial ao sacerdcio dopresbtero. Muitos sentem-se inseguros, caem no relativismo ou agarram-se aaspectos acidentais.

    - Necessidade de realizar a sntese harmnica de sua personalidade como sacerdote,com integrao de todos os aspectos, em sintonia com o momento histrico atual, esolidrio com toda comunidade humana.

    - Necessidade de viver a consagrao no celibato, como opo consciente e livre,como caminho do perfeio na caridade.

    - Necessidade de descentralizar o ministrio. A maioria das atividades realizadas pelossacerdotes no so especificamente presbiteriais. Podem ser assumidas por outrosministros, como os diconos.

    - Necessidade de reformular o tipo de relacionamento com o bispo, com outrossacerdotes, com leigos, com no catlicos e no cristos.

    Considerando que na situao de Igreja no Brasil a ao pastoral repousa em grandeparte no ministrio dos presbteros, podemos avaliar a importncia decisiva da superaodesta crise e da renovao do ministrio sacerdotal.

    *

    Religiosos Existem atualmente 7.515 religiosos-sacerdotes, 4.200 religiosos nosacerdotes e 37.747 religiosas (CERIS - 1964). Percebe-se, em geral, a necessidade de uma

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    melhor encarnao e adaptao da vida religiosa nossa realidade. Impe-se, nesse caso, umaprofundamento do que essencial a cada Ordem, Congregao ou Instituto, conforme ocarisma do fundador, expresso nas constituies, para uma adaptao s exigncias da Igrejae da vida crist em nosso pas. Reconhecemos a envergadura da tarefa que preocupa, hoje, aIgreja universal, mas no podemos permanecer inativos.

    Uma questo de grande importncia a insero das comunidades religiosas na Pastoral

    de Conjunto, diocesana, regional e nacional. Seu encaminhamento em slidas baseseclesiolgicas vital para a ao da Igreja no Brasil.

    *

    Leigos A grande maioria encontra-se na situao anteriormente descrita, de uma fimplcita, sem adeso pessoal ao mistrio do Cristo, nem insero consciente e responsvel nacomunidade de Igreja.

    Outros, em nmero mais reduzido, vivem um cristianismo que lhes proporcione umasalvao individualista, sem se considerar membros vivos da comunidade eclesial.

    Constituem minoria os que tm conscincia da posio do leigo, membro do povo deDeus. Estes, em geral, vivem hoje uma sria tenso, entre sua fidelidade comunidadehumana e Igreja. Esta questo, porm, um aspecto de toda a problemtica das relaesIgreja-Mundo e do tipo de presena da Igreja em nosso tempo.

    *

    Complementaridade e integrao desses diversos membros Hoje comea a haver umdespertar, um esforo para reconhecer no apenas o papel especfico de cada um, mastambm sua complementaridade e integrao como membro do povo de Deus. Este esforo ,

    porm, muito incipiente. Resta-nos grande caminho a percorrer. A realizao deste objetivodever ser o fruto de um intenso trabalho de educao da f, de reformulao de algumasestruturas internas da Igreja e de novas formas concretas de sua presena no mundo.

    Presena da Igreja no mundoH uma solidariedade fundamental entre o povo de Deus e o povo dos homens, pois o

    povo de Deus precisamente o povo dos homens convocados e reunidos em Cristo, na Igreja.Sociedade visvel, constituda e organizada neste mundo, a Igreja est a servio dacomunidade dos homens, para revelar-lhes o sentido de sua existncia e histria, comunicar-lhes a vida divina, reunir os filhos de Deus dispersos e, assim, realizar o desgnio do Pai.Servidora, a Igreja tambm acolhedora da comunidade dos homens, assumindo seus valorese os ritmos de sua histria, purificando-os e elevando-os. Esta sua atitude no meraadaptao ou concesso, nem simples pedagogia, mas exigncia de seu prprio mistrio3.

    Esta presena da Igreja uma das questes fundamentais da ao pastoral, e temassumido formas variadas ao longo da histria, precisamente porque estas formas dependem,em parte, do contexto histrico em que se realizam.

    Baseados na situao concreta da comunidade humana, podemos caracterizar em trstipos principais a presena da Igreja no contexto histrico brasileiro.

    - A presena da Igreja em reas de evoluo lenta, de estrutura patriarcal e economiade subsistncia.

    3 R. P. J. M. R. Tillard OP Notre Pastorale mise en question.

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    Nestas reas ela chamada, muitas vezes, a desenvolver uma ampla tarefa decivilizao.- A presena da Igreja em reas em vias de desenvolvimento, em transformao de

    estrutura, em estgio pr-terico de civilizao.A comunidade humana comea a assumir mais adultamente suas responsabilidades,e a Igreja, conservando certas tarefas de civilizao, passa progressivamente ao

    papel de testemunha, animao e fermento.- A presena da Igreja em reas tecnificadas e urbanizadas.

    Neste contexto, ela assume uma ou outra tarefa de civilizao, como testemunho dacaridade, mas sua funo decisiva de animao e fermento, revelando aos homenso verdadeiro sentido e destino dos seus esforos.

    Convm notar que estes trs tipos de reas no so trs etapas estanques, mas seinterpenetram no espao e no tempo. Podemos encontrar as trs situaes nos limites de umamesma diocese.

    No podemos, porm, esquecer nem deixar de prever, sem queimar etapas, que a

    evoluo se orienta no sentido do terceiro tipo. Amentalidade tcnica e urbana e o conjuntode valores e contravalores que ela implica marcam, hoje, grupos significativos de nossasmetrpoles e constituiro a mentalidade do homem de amanh.

    Constatando, ao mesmo tempo, o aceleramento destas transformaes, sentimos anecessidade de uma presena dinmica da Igreja que respeite, acompanhe e fomente umcrescimento orgnico da sociedade.

    O homem da sociedade que hoje comea a desaparecer apoiava-se, de preferncia, nopassado e nas estruturas constitudas. O novo tipo de homem que surge volta-se,predominantemente, para o futuro, para o que h de mais profundamente pessoal,comunitrio e dinmico em cada ser humano. A presena da Igreja no pode ser uma

    presena de quem vai a reboque, mas de quem prev, se antecipa e assume os ritmos dahistria.Esta tarefa no fcil para a Igreja, no Brasil, onde coexistem as mais primitivas

    comunidades e grupos empenhados nos mais avanados processos da tecnificao eurbanizao. Impe-se pastoral um esforo de grande realismo, flexibilidade, capacidadecriadora, compreenso e aceitao das diversidades, sem querer impor, a situaes todspares, modelos fixos e rigidamente pr-estabelecidos.

    b) Possibilidades da Igreja no BrasilApesar das necessidades e exigncias que apontamos acima, devemos render graas ao

    Pai pelas vastas possibilidades efetivas e potenciais de que a Igreja dispe, hoje, no Brasil.No o caso de fazermos, aqui, seu levantamento e avaliao. Tudo o que antes assinalamoscomo elementos que necessitam de renovao (clero, laicato, comunidades religiosas,estrutura paroquial e diocesana, etc.) podemos, sob outros aspectos, apresentar como pontosde apoio mui decisivos, aos quais podemos imprimir um sempre maior rendimento.

    Queremos, no entanto, chamar a ateno para dois fatores especiais que, no momento,nos parecem os mais importantes e dinmicos.

    Plano de EmergnciaFoi um dos frutos mais abenoados da Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil,

    suscitado pelo carisma proftico de Joo XXIII. Como plano de emergncia seu objetivo

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    principal era provocar um despertar generalizado e preparar a Igreja para uma profundarenovao. Este objetivo foi atingido.

    Superando as previses mais otimistas, o Plano de Emergncia tornou-se, efetivamente,uma bandeira e um roteiro de renovao paroquial. Em grande nmero de dioceses deu incios mais variadas experincias de renovao paroquial e empreendeu uma sria renovao doministrio sacerdotal. No aspecto educacional e scio-econmico, a par de atividades e

    realizaes, logrou principalmente uma reflexo mais profunda sobre a presena da Igrejanestes diversos campos, possibilitando, agora, uma ao de maior envergadura.

    Suscitou dinamismos, energias novas e latentes, sobretudo provocou maiorentrosamento, colaborao e integrao entre os diversos membros do Corpo Mstico deCristo e os diversos organismos e instituies que desenvolvem ao apostlica.

    Renovou algumas estruturas diocesanas e possibilitou ao episcopado uma ao regionale nacional mais efetiva, atravs da constituio dos regionais, reformulao e ampliao daCNBB em nvel nacional. Foi uma primeira tentativa de pastoral de conjunto, nestes diversosnveis. Criou sobretudo uma mstica e uma esperana de renovao.

    Neste particular merece especial destaque a ao empreendida pelo Movimento por um

    Mundo Melhor que, atravs de cursos realizados, em todo o pas, para sacerdotes, religiosas eleigos, renovou-lhes o esprito comunitrio e os levou a se comprometerem decisivamentecom o Plano de Emergncia e o esforo de conjunto da Igreja no Brasil.

    Conclio Vaticano IIPodemos afirmar que o Plano de Emergncia preparou a Igreja no Brasil para a

    aplicao das decises conciliares. Mas podemos igualmente assegurar que o Vaticano II criouo clima, meios e condies para a ao pastoral empreendida pelo Plano de Emergncia.

    A renovao litrgica encontra-se hoje em pleno desenvolvimento. A ConstituioLumen Gentium j comea a ser conhecida, debatida, assimilada e vivida, com

    repercusses na mentalidade pastoral. Percebe-se real expectativa em torno de vrios outrosdecretos e constituies, especialmente de documentos como o Da liberdade religiosa, AIgreja no mundo de hoje, Vida e ministrio sacerdotal, etc. Cursos, conferncias, debatessobre temas conciliares despertam o mais vivo interesse. So numerosos os grupos desacerdotes, religiosos e leigas dispostos a assimilar, aprofundar, viver as grandes decises doVaticano II e cooperar em sua execuo. Este clima intensifica-se e constitui uma das maioresesperanas de renovao.

    3. Objetivo geral e objetivos especficos de ao da IgrejaO Plano de Emergncia baseava a renovao paroquial, sacerdotal e educacional na

    Igreja como comunidade. luz das experincias realizadas e sobretudo do Vaticano II,podemos explicitar mais detalhadamente e com maior preciso e profundidade este mistrio.

    Analisemos, pois, seu contedo luz do Conclio e das exigncias pastorais eexplicitemos melhor o objetivo geral e os objetivos especficos de ao da Igreja.

    a) Objetivo geralA Lumen Gentium apresenta-nos Cristo como a luz dos povos e afirma que a Igreja ,

    em Cristo, como que sacramento ou sinal instrumento da ntima unio com Deus e da

    unidade de todo o gnero humano (n 1).

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    Nele e por Ele, Deus quis libertar o homem do pecado e da morte e introduzi-lo na suaintimidade e comunho de vida. Por sua encarnao, vida e morte, ressurreio e ascenso,Cristo estabeleceu a Nova Aliana e, pelo dom do Espirito Santo, constituiu o novo povo deDeus, de quem Cabea. O estado deste povo o da dignidade e da liberdade dos filhos deDeus, em cujos coraes habita o Esprito Santo como num templo. Sua lei o mandamentonovo de amor, como o prprio Cristo nos amou (Jo 13,14). Sua meta o Reino de Deus

    iniciado pelo prprio Deus na terra, a ser estendido mais e mais at que, no fim dos tempos,seja consumado por ele prprio, quando aparecer Cristo, nossa vida (Col. 3,4), e a prpriacriatura ser libertada do cativeiro da corrupo para a gloriosa liberdade dos filhos de Deus(Rom 8, 21). Assim, este povo messinico, embora no abranja atualmente todos os homense, por vezes, aparea como um pequeno rebanho, , contudo, para todo o gnero humano,grmen finssimo de unidade, esperana e salvao. Constitudo por Cristo em comunho devida, caridade e verdade, por Ele ainda assumido como instrumento de redeno de todos,e enviado ao mundo inteiro como luz do mundo e sal da terra... (Mt 5, 13-16).

    O novo Israel que, caminhando no presente tempo, busca a futura cidade perene (Heb13,14), tambm chamado Igreja de Cristo (Mt 16,18) pois o prprio Cristo adquiriu-a com o

    seu sangue (At 20,28), encheu-a do seu Esprito e dotou-a de meios aptos de unio visvel esocial. Constituiu-se assim sua cabea, fez dela seu Corpo Mstico, difundindo sua prpria vidanaqueles que crem, fazendo-os participar, pelos sacramentos, de sua morte e glorificao,tornando-os membros deste Corpo e membros uns dos outros (Rom 12-15).

    Deus convocou e constituiu a Igreja comunidade congregada daqueles que, crendo,voltam seu olhar a Jesus, autor da salvao e princpio da unidade e da paz a fim de que elaseja para todos e para cada um sacramento visvel desta salutfera unidade. Devendoestender-se a todas as regies da terra, ela entra na histria dos homens enquantosimultaneamente transcende os tempos e os limites dos povos (Lumen Gentium n 13).

    Mas assim como Cristo realizou a obra da redeno na pobreza e na perseguio, assim

    a Igreja chamada a palmilhar o mesmo caminho a fim de comunicar aos homens os frutosda salvao. Entre as perseguies do mundo e as consolaes de Deus, ela avana comoperegrina, anunciando a cruz e a morte do Senhor, at que venha (1 Cor 11, 26). Mas fortalecida pela fora do Senhor ressuscitado, a fim de vencer pela pacincia e pela caridadesuas aflies e dificuldades, tanto internas como externas, para poder revelar ao mundo omistrio dEle, embora sob as vestes da sombra, porm com fidelidade, at que no fim sejamanifestada em plena luz (Lumen Gentium n 8).

    A Igreja para a qual somos todos chamados em Cristo Jesus e na qual, pela graa deDeus, adquirimos a santidade, s se consumar na glria, quando chegar o tempo darestaurao de todas as coisas (At 3, 12) e, com o gnero humano, tambm o mundo todo,que intimamente est ligado com o homem e que por ele chega ao seu fim, ser perfeitamenterestaurado em Cristo... (Lumen Gentium n 48).

    Neste desgnio divino de salvao situamos a misso da Bem-aventurada Virgem nomistrio do Verbo Encarnado e do Corpo Mstico, como tambm os deveres dos homensremidos para com a Me de Deus, Me de Cristo e Me dos homens, mormente dos fiis. AVirgem Maria, que na Anunciao do Anjo recebeu o Verbo de Deus, no corao e no corpo,e trouxe ao mundo a Vida, reconhecida e honrada como verdadeira Me de Deus e doRedentor. Em vista dos mritos de seu Filho, foi redimida de modo mais sublime e unida a Elepor um vnculo estreito e indissolvel, dotada com a sua misso e dignidade de ser Me doFilho de Deus e, por isso, filha predileta do Pai e sacrrio do Esprito Santo.

    Por este dom de graa exmia, supera de muito todas as outras criaturas celestes e

    terrestres, mas ao mesmo tempo est unida, na estirpe de Ado, com todos os homens aserem salvos. Mais ainda: a me dos membros de Cristo porque cooperou, pela caridade,

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    para que, na Igreja, nascessem os fiis que so membros desta Cabea. E por causa disso saudada tambm como membro supereminente e de todo singular da Igreja, como seu tipo emodelo excelente na f e na caridade. E a Igreja Catlica, instruda pela Esprito Santo, honra-a com afeto de piedade filial como me amantssima (Lumen Gentium n 53).

    Dentro desta viso global que nos apresenta o Conclio, podemos entrever toda ariqueza deste mistrio escondido desde os sculos em Deus e agora revelado aos seus santos

    apstolos e profetas pelo mesmo Deus, conforme o plano eterno que Ele realizou em CristoJesus Nosso Senhor (Ef 3, 9-11). Numa formulao de saber tradicional podemos afirmar queo objetivo geral deste plano divino ou da Igreja :

    Levar todos os homens comunho de vida com o Pai e entre si por Cristo, no dom doEsprito Santo, pela mediao visvel da Igreja.

    b) Objetivos especficos A Igreja , por conseguinte, comunho de vida em Cristo e, ao mesmo tempo, a

    comunidade visvel que a expressa e realiza. Mas a sociedade provida de rgos hierrquicose o Corpo Mstico de Cristo, a assemblia visvel e a comunidade espiritual, a Igreja terrestre ea Igreja enriquecida de bens celestes, no devem ser consideradas como duas coisas, masformam uma s realidade complexa que se compe de elementos divinos e humanos... EstaIgreja, constituda e organizada neste mundo como uma sociedade, a Igreja Catlica,governada pelo sucessor de Pedro e pelos bispos em comunho com ele, embora fora de sua visvel estrutura se encontrem vrios elementos de santificao e de verdade. (LumenGentium n 8).

    De outro lado, ela profundamente dinmica, deve crescer extensivamente,na medidada expanso histrica e demogrfica da humanidade. E chamada principalmente a um

    crescimento interior e orgnico nos seus membros: desde o ato inicial do novo nascimento at medida da idade madura da plenitude de Cristo (Ef 4, 13). O cristo s chegar lenta eprogressivamente plena comunho de vida em Cristo, devendo, sem cessar, defender-secontra as foras do mal, numa luta que s terminar com a morte.

    Dinmica, ela umaIgreja pobre. A comunho de vida em Cristo se realiza como domde Deus e resposta livre dos homens. Cristo a realiza em sua Igreja como o pobre de Jav,isto , no dom e na disponibilidade total a Deus e no servio aos homens. A Igreja no , porconseguinte, uma fora poltica, mas algo a servio da comunho de vida dos homens emCristo. Realiza sua misso no despojamento, nas contradies e perseguies, buscandosempre encontrar os homens no mais ntimo de sua pessoa, para revelar-lhes o sentido de suaexistncia e de seu destino, ajudando-os na sua realizao em comunho com os outroshomens e na transformao do universo, em Cristo. Continuadora de Cristo, ela deve sercapaz de encontrar todos os homens, mesmo os mais miserveis e frustrados, para ajud-los atomar conscincia de sua dignidade e a participar do processo de comunho com todos osoutros homens.

    Dinmica e pobre, ela tambm uma Igreja peregrina, pois j essencialmente ahumanidade nova, a comunidade de caridade, a comunho de vida em Cristo, mas emestado de tenso, em estado de esperana. Todos os bens divinos j lhe foram comunicados,mas em grmen, que ainda no atingiram seu pleno desenvolvimento. Seus fiis conhecem oDeus de Jesus Cristo, mas sob o vu da f. Amam-no, mas o objeto amado no aindapossudo em plenitude, provocando uma tenso em busca da posse total e definitiva. Devero

    passar pela morte e retomar seus corpos aps uma longa espera.

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    Cristo quis que a Igreja mesma, sob Seu influxo, realizasse este crescimento, em buscade sua plenitude. Ela um corpo que se constri e se renova a si mesma, em unio vital coma sua Cabea e sob a fora do Esprito Santo que a anima interiormente.

    Estes meios so: a comunidade visvel e o ministrio hierrquico, a Palavra de Deus, ossacramentos (tendo como centro culminante a eucaristia) o testemunho vivo de todos os fiis(pastores, religiosos e leigos), e sua presena ativa e diversificada na construo do mundo em

    vista do Reino que h de vir, mas que j est presente e cresce aqui em baixo.Todos estes meios visam a realizar mais plenamente a comunho de vida em Cristo; isto

    , construir a Igreja; e, s mesmo tempo, eles pertencem Igreja, em quem encontram suafonte e sua fora.

    O Plano de Emergncia j empreendeu um esforo para renovar e desenvolver todosestes meios. Nosso esforo consiste em fazer com que eles sejam exercidos o amaisplenamente possvel, conforme o desgnio do Pai para a Igreja que vive hoje no Brasil.

    O Plano de Emergncia tomou-os como base de renovao, agrupando-os em torno dotrplice critrio: comunidade de f, de culto, de caridade. Como j expusemos na 1 Parte, estePlano de Pastoral de Conjunto retoma todos estes meios fundamentais de ao da Igreja,

    agrupando-os, porm, em torno dos seis objetivos especficos de ao da Igreja, assimformulados:

    1 - Levar o Povo de Deus, reunido na Igreja Catlica, a uma maior comunho de vidaem Cristo, atravs da realizao sempre maisplena de sua unidade visvel.

    2 - Levar todos os homens primeira adeso pessoal a Cristo, atravs do annciomissionrio da Palavra e do testemunho devida evanglica.

    3 - Levar o povo de Deus a uma maior comunho de vida em Cristo, atravs da Palavrae do testemunho evanglico, que iluminam e alimentam.

    4 - Levar o povo de Deus a umamaiorcomunho de vida em Cristo, atravs do culto

    litrgico integral e das celebraes da Palavra.5 - Levar o povo de Deus a uma maior comunho de vida em Cristo, atravs de umaautntica ao ecumnica.

    6 - Levar o povo de Deus a uma maiorcomunho de vida em Cristo atravs de suainsero como fermento na construo do mundo, segundo os desgnios de Deus.

    Alm de tudo que j explicitamos anteriormente, esta sistematizao da ao pastoraltem a grande vantagem de nos mostrar os meios de ao da Igreja em sua ligao e relaovital com o objetivo a que se destinam.

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    II

    Linhas fundamentais de trabalho

    Baseados nos objetivos gerais e especficos, anteriormente expostos, podemos elaboraras linhas de trabalho que orientam a renovao pastoral.

    Tomando como ponto de partida os seis objetivos especficos, estabelecemos seis linhasfundamentais de trabalho.

    Aps apresentar justificativas, elementos sobre os quais assentam as linhas de trabalho, proposto um certo nmero de atividades, que efetivam e contretizam as linhas de trabalhorespectivas.

    As atividades previstas distinguem-se em dois grupos, conforme sua relao ao objetivo. As atividades que realizam diretamente o objetivo so chamadas atividades-fins: por ex.,promover e organizar a catequese paroquial. As atividades que preparam e visam s

    atividades-fins so denominadas atividades-meios, por ex., formar catequistas.

    O que se entende por projeto, programa, plano.

    As atividades previstas em cada linha de trabalho passam a constituir um projeto,quando algum (a diocese, a CNBB, uma Ordem ou Congregao religiosa, ou qualqueroutro organismo de Igreja) se prope assumi-las e realiz-las, definindo responsabilidade,prazos, custos, etc...

    Por exemplo, a atividade meio de formar catequistas passar a ser um projeto nomomento em que a diocese X resolve assumir e realizar esta formao de catequistas, atravs

    da organizao de diversos cursos, que comearo e terminaro em datas prefixadas, comresponsveis, mtodo, local e custos definidos.Como as respectivas atividades, de que so a concretizao, os projetos tambm se

    destinguem em projetos-fins e projetos-meios.Podemos agrupar vrias projetos segundo critrios diversos. Por ex., podemos agrup-

    los conforme o objetivo que visam: a unidade da comunidade eclesial catlica, a aomissionria, a ao catequtica, etc... Podemos tambm agrup-los segundo as tcnicas quedesenvolvem: pesquisa, reflexo pastoral, formao de pessoal, etc...

    Um grupo de projetos reunidos sob o mesmo critrio constitui o que chamamos umprograma.

    O conjunto de dois, trs, quatro ou mais programas constitui um plano.

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    Esta distino entre projeto, programa e plano pode ser aplicada em diversos nveis. Assim, a CNBB, em nvel nacional, ter o seu plano, seus programas e seus projetos.Igualmente, uma diocese ter seu plano diocesana, seus programas e seus projetos.

    LINHA DE TRABALHO N 1

    Promover uma sempre mais plenaunidade visvel no seio da Igreja Catlica

    Justificativa4

    Visando a uma cada vez mais plena comunho de vida em Cristo, a Igreja realiza-sesempre em comunidade visvel.

    So incorporados plenamente sociedade da Igreja os que, tendo o esprito de Cristo,aceitam a totalidade de sua organizao e todos os meios de salvao nela institudos, e, nasua estrutura visvel regida por Cristo atravs do Sumo Pontfice e dos bispos se unem comEle pelos vnculos da profisso de f, dos sacramentos, do regime eclesistico e da comunho.No se salva, contudo, aquele que, no perseverando na caridade, permanece no seio daIgreja com o corpo mas no com o corao'' (Lumen Gentium n 14).

    Por instituio divina, a Santa Igreja estruturada e regida com admirvel variedade.Mas todos so um s Corpo, em Cristo, e membros uns dos outros. Comum a dignidade dosmembros pela regenerao em Cristo; comum, a graa dos filhos; comum, a vocao perfeio.

    Ainda que alguns, por vontade de Cristo, so constitudos mestres, dispensadores dosmistrios e pastores em benefcio dos demais, reina, contudo, igualdade quanto dignidade eao comum de todos os fiis na edificao do Corpo de Cristo. Porquanto a distino que oSenhor estabeleceu entre os ministros sacros e o resto do povo de Deus traz em si certa unio,pois que os pastores e os damas fiis esto intimamente relacionados entre si.

    Esta Igreja Cristo fundou-a nos apstolos e edificou-a sobre o bem-aventurado Pedro,seu Prncipe, sendo ele prprio a pedra angular (Ap. 21, 14; Mt. 18; Ef. 2, 20). Estes apstolos- instituiu-os maneira de Colgio ou grupo estvel, frente do qual colocou Pedro, escolhido

    dentre os mesmos como Cabea e quis que os sucessores dos apstolos, isto , os bispos,fossem, em sua Igreja, pastores at a consumao dos sculos, e, junto com o sucessor dePedro, Vigrio de Cristo, Cabea visvel de toda a Igreja, regessem a Casa de Deus.

    Assim como, por disposio do Senhor, S. Pedro e todos os apstolos constituem umcolgio apostlico, paralelamente, o Romano Pontfice, sucessor de Pedro, e os bispossucessores dos apstolos, esto unidos entre si. Algum constitudo membro do corpoepiscopal pela sagrao sacramental e pela hierrquica comunho com o Chefe e os membrosdo Colgio.

    Enquanto composto de muitos, este Colgio exprime a variedade e a universalidade dopovo de Deus; enquanto unido sob um chefe, exprime a unidade do rebanho de Cristo.

    4 A maior parte desta justificativa citao quase literal da Lumen Gentium.

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    O Romano Pontfice, como sucessor de Pedro, o perptuo e visvel princpio efundamento da unidade, tanto dos bispos como da multido de fiis. E os bispos so o visvelprincpio, e fundamento da unidade em suas igrejas particulares, constitudas segundo aimagem da Igreja universal, nas quais e pelas quais subsiste a Igreja Catlica, una e nica. Poreste motivo cada bispo representa sua Igreja, e todos, juntamente com o Papa, representam aIgreja inteira, no vnculo da paz, do amor e da unidade. Cada bispo que preside a Igreja

    particular exerce seu governo pastoral sobre a poro do povo de Deus a ele confiada e nosobre outras igrejas, nem sobre a Igreja universal. Mas enquanto membro do Colgioepiscopal e sucessor legtimo dos apstolos cada qual, por instituio e preceito de Cristo, obrigado a ter solicitude pela Igreja universal. O cuidado de anunciar o Evangelho por toda aterra compete ao Corpo de pastores, pois a todos eles, em comum, deu Cristo a ordem,impondo-lhes um ofcio comum.

    As Conferncias episcopais podem, hoje, contribuir com mltipla e fecunda fora paraque este afeto colegial seja levado a uma aplicao concreta.

    Como vigrios e legados de Cristo os bispos governam as Igrejas particulares que lhesforam confiadas, com conselhos, exortaes e exemplos, mas tambm com autoridade e

    poder sagrado. Este poder que eles pessoalmente exercem, em nome de Cristo, prprio,ordinrio e imediato, embora seu exerccio seja, em ltima anlise, regido pela autoridadesuprema e possa definir-se segundo a utilidade da Igreja e dos fiis.

    O bispo, enviado pelo Pai de Famlia para governar sua famlia, deve ter diante dosolhos o exemplo do Bom Pastor, que veio no para ser servido, mas para servir (Mt. 20,28;Mc. 10,45), e para dar sua vida pelas ovelhas (Jo. 10,11).,

    Por sua vez, os fiis devem estar unidos a seu bispo, como a Igreja a Jesus Cristo e JesusCristo ao Pai, para que todas as coisas se harmonizem pela unidade e transbordem para aglria de Deus (Cor 4,15).

    Os presbteros, embora no possuam o pice do pontificado e no exerccio do seu poder

    dependam dos bispos, esto contudo com eles unidos na dignidade sacerdotal em virtude dosacramento da Ordem, segundo a imagem de Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote (Heb. 5,1-10;7,24; .9,11-28), so consagrados para pregar o Evangelho, apascentar os fiis e celebrar oculto divino.

    Solcitos cooperadores da Ordem episcopal, formam, com o bispo, um nico presbitrio.Em cada comunidade