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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO FACULDADE DE ARQUITETURA, ENGENHARIA E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE EDIFICAÇÕES E AMBIENTAL Ary Biancardini Filho A QUESTÃO URBANO-HABITACIONAL EM CUIABÁ-MT: Uma análise dos efeitos da localização dos conjuntos habitacionais no período 1960 a 2010 Cuiabá - MT Fevereiro 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO

FACULDADE DE ARQUITETURA, ENGENHARIA E TECNOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE EDIFICAÇÕES E AMBIENTAL

Ary Biancardini Filho

A QUESTÃO URBANO-HABITACIONAL EM CUIABÁ-MT:

Uma análise dos efeitos da localização dos conjuntos habitacionais

no período 1960 a 2010

Cuiabá - MT

Fevereiro 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE ARQUITETURA, ENGENHARIA E TECNOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE EDIFICAÇÕES E AMBIENTAL

Ary Biancardini Filho

A QUESTÃO URBANO-HABITACIONAL EM CUIABÁ-MT:

Uma análise dos efeitos da localização dos conjuntos habitacionais

no período 1960 a 2010

Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Edificações e Ambiental da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), como requisito para a obtenção do título de Mestre em Engenharia de Edificações e Ambiental.

Orientador: Prof. Dr. Humberto da Silva Metello

Cuiabá - MT

Fevereiro 2014

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FICHA CATALOGRÁFICA

B577q Biancardini Filho, Ary.

A questão urbano-habitacional em Cuiabá-MT : uma análise dos efeitos da

localização dos conjuntos habitacionais no período 1960 a 2010 / Ary

Biancardini Filho. – 2014.

149 f. : il. color.

Orientador: Prof. Dr. Humberto da Silva Metello.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Mato Grosso, Faculdade

de Arquitetura, Engenharia e Tecnologia, Pós-Graduação em Engenharia de

Edificações e Ambiental, 2014.

Bibliografia: f. 133-141.

1. Cuiabá (MT) – Expansão urbana. 2. Programas habitacionais – Cuiabá

(MT). 3. Habitação – Interesse social. 4. Habitação – Políticas públicas. I.

Título.

CDU – 711(817.2)

Ficha elaborada por: Rosângela Aparecida Vicente Söhn – CRB-1/931

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a meus pais, Ary (in memorian) e Ana Tereza, responsáveis pela minha criação e formação, forjando o indivíduo que sou hoje; À minha filha, Rafaela, motivação maior para eu desejar me tornar uma pessoa melhor.

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RESUMO

BIANCARDINI FILHO, Ary. A questão urbano-habitacional em Cuiabá-MT: Uma análise dos efeitos da localização dos conjuntos habitacionais no período 1960 a 2010. Cuiabá – MT, 2014. 150p. Dissertação (Mestrado). Cuiabá: Programa de Pós-graduação em Engenharia de Edificações e Ambiental da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT); 2014. No Brasil, a demanda por habitação de interesse social é um dos graves problemas a serem equacionados, e o modo como essa questão é abordada atualmente tornou-se um dos principais fatores a influenciar a evolução do perímetro urbano de nossas cidades. Na cidade de Cuiabá, essa expansão urbana ocorreu de forma intensa e muitas vezes sem o planejamento adequado à partir, principalmente, da década de 1960, tendo como consequências uma série de deficiências na infraestrutura urbana. A deficiência ou carência dessa infraestrutura básica acabou por acarretar vários entraves e dificuldades para o pleno desenvolvimento das atividades sociais, econômicas e ambientais, e da própria qualidade de vida da população local. Sendo assim, a cidade de Cuiabá chega aos dias atuais sofrendo diversas consequências do crescimento urbano vertiginoso e, entretanto, desordenado. Este trabalho objetivou analisar, através de uma pesquisa bibliográfica e documental, a forma como os programas habitacionais dos governos federal, estadual e municipal foram implantados na cidade de Cuiabá e a evolução como se efetivou no seu perímetro urbano. Dessa análise verificou-se como a habitação de interesse social influenciou a expansão urbana da cidade e como esse processo gerou uma série de deficiências em relação à infraestrutura. A análise desse processo de crescimento desordenado e rarefeito, e das suas consequências para o município, pode contribuir com os poderes executivo e legislativo municipal no sentido de que sejam adotadas diferentes ações visando o adensamento urbano com a consequente otimização da infraestrutura urbana.

Palavras-chave: Habitação de interesse social. Programa habitacional. Expansão urbana de Cuiabá.

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ABSTRACT

BIANCARDINI FILHO, Ary. The urban-housing issue in Cuiabá-MT: An analysis of the effects of the location of housing in the period 1960-2010. Cuiabá – MT, 2014. 150p. Dissertation. Cuiabá: Programa de Pós-graduação em Engenharia de Edificações e Ambiental da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT); 2014. In Brazil, the demand for social housing is one of the serious problems to be resolved, and how this issue is addressed nowadays became one of the main factors influencing the evolution of the urban perimeter of our cities. In the city of Cuiabá, this urban expansion occurred intensively and often without adequate planning especially during the 60's and as a consequence a number of deficiencies in urban infrastructure. The deficiency or lack of this basic infrastructure eventually lead to various obstacles and difficulties to the full development of social, economical and environmental activities, and the local population's quality of life. Thus, the city of Cuiabá comes to present days suffering many consequences of vertiginous and disorderly urban sprawl. This study aims to analyze, through literature and documents' search, how the housing programs of the federal, state and municipal governments were implemented in the city of Cuiabá and how the evolution of its urban perimeter happened. From this analysis it was found how low income housing sections of the population influenced the urban expansion of the city and how this process has generated a number of shortcomings in relation to infrastructure. The analysis of this rarefied and disordered growth process and its consequences for the municipality, may contribute to the municipal, executive and legislative powers, in the sense that different actions are adopted viewing the urban density with a consequent optimization of the urban infrastructure.

Keywords: Social housing. Housing program. Cuiabá’s urban sprawl.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Cena de Debret retratando uma senhora brasileira em seu lar. ............... 24

Figura 2 - Cortiço na cidade de São Paulo em 1940. ............................................... 30

Figura 3 - Planta de Cuyabá, no ano de 1775. ......................................................... 50

Figura 4 - Plano da Vila do Cuyabá, datado de 1777. .............................................. 51

Figura 5 - Planta de Cuiabá datada de 1803. ........................................................... 53

Figura 6 - Planta da Villa do Senhor Bom Jezus do Cuyaba, na Capitania

de Matto Grosso, levantada pelo Sarg.to Mór do Real Corpo de

Engenheiros Joze Antônio Teixeira Cabral (1811). .................................... 54

Figura 7 - Planta da região do Porto, datada de 1892, feita por J.

Markwalder. ............................................................................................................. 55

Figura 8 - Mapa mostrando as cidades de Cuiabá e Várzea Grande. ...................... 58

Figura 9 - Vista panorâmica de Cuiabá à partir do Morro da Luz, década de

1910. ........................................................................................................................ 61

Figura 10 - Vista da Praça da República, com a torre da antiga catedral, ................ 62

Figura 11 - Colégio Estadual (Liceu Cuiabano), construído na década de

1940. ........................................................................................................................ 64

Figura 12 - Secretaria de Estado, construído da década de 1940. ........................... 64

Figura 13 - Imagem aérea mostrando as casas do conjunto Popular em

Cuiabá. .................................................................................................................... 67

Figura 14 - Casas do Conjunto Popular, década de 1950. ....................................... 68

Figura 15 - Planta indicando a cidade do século XVIII e o crescimento até

a década de 1950. ................................................................................... 69

Figura 16 - Planta com a situação do abastecimento de água na década de

1950. ........................................................................................................................ 69

Figura 17 - Planta com a situação da rede de esgotos na década de 1950. ............ 69

Figura 18 - Vista aérea de Cuiabá. ........................................................................... 70

Figura 19 - Imagem do centro de Cuiabá, mostrando a nova sede .......................... 71

Figura 20 - Foto da demolição da antiga Catedral, no ano de 1968. ........................ 76

Figura 21 - Imagem aérea sobrevoando o Campus da UFMT nos anos

1970, olhando em direção ao centro de Cuiabá. ..................................... 80

Figura 22 - Mapa da evolução urbana mostrando o Conjunto Cidade

Verde e os bairros do Projeto Cura. ........................................................ 85

Figura 23 - Mapa das regiões de Cuiabá. ................................................................ 93

Figura 24- Mapa mostrando a evolução do perímetro urbano aprovado

pelas legislações. .................................................................................... 95

Figura 25 - Número de empreendimentos por região no período 1971-1980. .......... 98

Page 9: 13.pdf

Figura 26 - Número de U.H. por região, no período 1971-1980. .............................. 98

Figura 27 - Mapa indicando os bairros onde foram implantados os

conjuntos no período 1971-1980. ............................................................ 99

Figura 28 - Conjuntos habitacionais do período 1971-1980 em relação ao

perímetro oficial de 1974. ...................................................................... 100

Figura 29 - Conjuntos habitacionais do período 1971-1980 em relação ao

perímetro oficial de 1978. ...................................................................... 101

Figura 30 - Número de empreendimentos por região no período 1981-1990. ........ 102

Figura 31 -Número de U.H. por região, no período 1981-1990. ............................. 103

Figura 32 - Mapa indicando os bairros onde foram implantados os

conjuntos no período 1981-1990. .......................................................... 104

Figura 33 - Conjuntos habitacionais do período 1991-2000 em relação ao

perímetro oficial de 1982. ...................................................................... 105

Figura 34 - Número de empreendimentos por região no período 1991-2000. ........ 106

Figura 35 - Número de U.H. por região no período 1991-2000. ............................. 107

Figura 36 - Mapa indicando os bairros onde foram implantados os

conjuntos no período 1991-2000. .......................................................... 107

Figura 37 - Conjuntos habitacionais do período 1991-2000 em relação ao

perímetro oficial de 1994. ...................................................................... 108

Figura 38 - Número de empreendimentos por região no período 2001-2010. ........ 110

Figura 39 - Número U.H. por região, no período 2001-2010. ................................. 110

Figura 40 - Mapa indicando as regiões onde foram implantados os

conjuntos no período 2001-2010. .......................................................... 111

Figura 41 - Mapa com a evolução urbana da cidade de Cuiabá. ............................ 112

Figura 42 - Mapa indicando a localização das unidades PSF em Cuiabá,

em relação aos conjuntos habitacionais implantados no período

1991-2010. ............................................................................................ 120

Figura 43 - Mapa com os conjuntos habitacionais do período 1991 a 2010,

em relação às vias pavimentadas e sem pavimentação de

Cuiabá. .................................................................................................. 121

Page 10: 13.pdf

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Evolução da população. ...................................................................... 78

Tabela 2 - Tabela indicando o número de U.H.’s construídas na cidade

de Cuiabá, no período 1968/1983. ...................................................... 88

Tabela 3 - Legislação referente ao perímetro urbano de Cuiabá. ......................... 94

Tabela 4 - Tabela indicando os conjuntos habitacionais construídos na

cidade de Cuiabá. ............................................................................... 96

Tabela 4 - Tabela indicando os conjuntos habitacionais construídos na

cidade de Cuiabá. (cont.) .................................................................... 97

Tabela 5 - Conjuntos habitacionais construídos em Cuiabá no período

1971-1980. .......................................................................................... 97

Tabela 6 - Conjuntos habitacionais construídos em Cuiabá no período

1981-1990. ........................................................................................ 102

Tabela 7 - Conjuntos habitacionais construídos em Cuiabá no período

1991-2000. ........................................................................................ 106

Tabela 8 - Conjuntos habitacionais construídos em Cuiabá no período

2001-2010. ........................................................................................ 109

Tabela 9 - Assentamentos informais, segundo a Prefeitura Municipal de

Cuiabá. .............................................................................................. 114

Tabela 10 - Loteamentos alvo de regularização fundiária em Cuiabá a

cargo da Cohab-MT (1996). .............................................................. 114

Tabela 11 - Localidades ocupadas na cidade de Cuiabá com o

respectivo número de lotes................................................................ 115

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LISTA DE SIGLAS

APMT – Arquivo Público de Mato Grosso

BNH – Banco Nacional da Habitação

CEF – Caixa Econômica Federal

Cohab/MT – Companhia de Habitação Popular do Estado de Mato Grosso

CURA – (Projeto) Comunidade Urbana para Recuperação Acelerada

ETFMT – Escola Técnica Federal de Mato Grosso

FAE – Fundo de Água e Esgoto

FAR – Fundo de Arrendamento Residencial

FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador

FCP – Fundação da Casa Popular

FCVS - Fundo de Compensação das Variações Salariais

FDS – Fundo de Desenvolvimento Social

FETHAB - Fundo de Transporte e Habitação

FGTS – Fundo de Garantia do Tempo de Serviço

Fimaco – Programa de Financiamento de Material de Construção

FINEP/GAP – Financiadora de Estudos e Projetos / Grupo de Arquitetura e Planejamento

Fnhis – Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social

Fundhap – Fundo de Habitação Popular

HIS – Habitação de Interesse Social

IAP – Instituto de Aposentadoria e Previdência

IAPI – Instituto de Aposentadoria e Previdência dos Industriários

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IBH – Instituto Brasileiro de Habitação

ICM – Imposto sobre Circulação de Mercadorias

IFMT – Instituto Federal de Mato Grosso

Inocoop – Instituto de Orientação às Cooperativas Habitacionais

Intermat – Instituto de Terras de Mato Grosso

IPI – Imposto sobre Produtos Industrializados

IPDU - Instituto de Planejamento e Desenvolvimento Urbano

IPTU – Imposto Predial e Territorial Urbano

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ISS – Imposto Sobre Serviços

MISC – Museu da Imagem e do Som de Cuiabá

Ndihr – Núcleo de Documentação e Informação Histórica Regional

OGU – Orçamento Geral da União

ONU – Organização das Nações Unidas

PAIH - Plano de Ação Imediata para Habitação

PAR – Programa de Arrendamento Residencial

PIN – Programa de Integração Nacional

PlanHab – Plano Nacional de Habitação

Planasa – Plano Nacional de Saneamento

PMCMV – Programa Minha Casa Minha Vida

PNH – Política Nacional de Habitação

Prodoeste – Programa de Desenvolvimento do Centro Oeste

PROHASP - Programa Habitacional para os Servidores Públicos

PROHEMP - Programa Habitacional Empresa

Profilurb – Programa de Financiamento de Lotes Urbanizados

PSF – Programa Saúde da Família

SBPE – Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo

Serfhau - Serviço Federal de Habitação e Urbanismo

SINFRA/MT - Secretaria de Estado de Infraestrutura (Mato Grosso)

SFH – Sistema Financeiro de Habitação

SNH – Sistema Nacional de Habitação

SNHIS –- Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social

UBS – Unidades Básicas de Saúde

UPC - Unidade Padrão de Capital do BNH

Page 13: 13.pdf

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 15

JUSTIFICATIVA ......................................................................................... 16

PROBLEMA DA PESQUISA ...................................................................... 18

OBJETIVO GERAL .................................................................................... 18

OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...................................................................... 18

HIPÓTESE ................................................................................................. 19

ESTRUTURA DO TRABALHO ................................................................... 19

1 REVISÃO DA POLÍTICA HABITACIONAL ........................................................... 22

1.1 A HABITAÇÃO POPULAR NO BRASIL .................................... 24

1.1.1 O período da escravatura ....................................................... 24

1.1.2 A imigração européia .............................................................. 25

1.1.3 Indústria da construção habitacional .................................... 26

1.1.4 A casa operária em São Paulo ................................................ 27

1.1.5 A questão higiênica e de salubridade .................................... 27

1.1.6 A favelização: origens, causas e contraposição ................... 28

1.1.7 Programa habitacional: período Vargas ................................ 29

1.1.8 Habitação para a classe trabalhadora .................................... 30

1.1.9 Os trabalhadores de baixa renda ........................................... 31

1.1.10 Atuação da Fundação da Casa Popular (FCP) ...................... 31

1.1.11 Aperfeiçoamento do crédito habitacional .............................. 32

1.1.12 Governo Jânio Quadros (1961) ............................................... 32

1.1.13 Governo Castelo Branco (1964 – 1967): criação do

Banco Nacional de Habitação (BNH) ..................................... 32

1.1.14 A função do BNH ..................................................................... 33

1.1.15 Os Programas desenvolvidos pelo BNH................................ 36

1.1.16 A Nova República: falência do BNH ....................................... 37

1.1.17 O Governo Collor (1990 – 1992) .............................................. 38

1.1.18 O Governo Itamar Franco (1992 – 1995) ................................ 38

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1.1.19 O fim do SFH e a transição para o SNH ................................. 39

1.1.20 O Governo Fernando Henrique Cardoso (1995 –

2003) ........................................................................................ 39

1.1.21 O Governo Luiz Inácio Lula da Silva (2003 – 2011) ............... 40

1.1.22 A crise habitacional se transforma em problema

urbano ..................................................................................... 41

2 REVISÃO HISTÓRICA: EVOLUÇÃO URBANA DE CUIABÁ-MT ......................... 44

2.1 O CICLO DA MINERAÇÃO: A FUNDAÇÃO DA CIDADE. ........ 44

2.2 O CICLO DA SEDIMENTAÇÃO ADMINISTRATIVA

(1820 – 1968) ........................................................................... 51

2.3 AS PRIMEIRAS RUAS DO ARRAIAL ....................................... 53

2.4 CRESCIMENTO URBANO, NOVAS VIAS PÚBLICAS ............. 54

2.5 O SURGIMENTO DA CIDADE DE VÁRZEA GRANDE ............ 57

2.6 A INFLUÊNCIA DOS IMIGRANTES NA ARQUITETURA

CUIABANA ............................................................................... 59

2.7 AS CARACTERÍSTICAS URBANÍSTICAS NO FINAL DO

SÉCULO XIX ............................................................................ 60

2.8 A CONSOLIDAÇÃO DE CUIABÁ COMO CENTRO

COMERCIAL DA REGIÃO ........................................................ 61

2.9 PROPOSTA PARA MUDANÇA DA CAPITAL ........................... 62

2.10 EVOLUÇÃO URBANA COM O CICLO DA

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA .................................................... 63

3 METODOLOGIA DE PESQUISA ......................................................................... 73

4 A CIDADE DE CUIABÁ À PARTIR DA DÉCADA DE 1960 .................................. 76

4.1 O CICLO DA MODERNIZAÇÃO (A PARTIR DE 1968) ............. 77

4.2 CUIABÁ A PARTIR DE MEADOS DE 1980 .............................. 87

5 A IMPLANTAÇÃO DOS CONJUNTOS HABITACIONAIS .................................... 93

5.1 Conjuntos habitacionais implantados no período 1971-

1980 ......................................................................................... 97

5.2 Conjuntos habitacionais implantados no período 1981-

1990 ....................................................................................... 101

Page 15: 13.pdf

5.3 Conjuntos habitacionais implantados no período 1991-

2000 ....................................................................................... 105

5.4 Conjuntos habitacionais implantados no período 2001-

2010 ....................................................................................... 109

5.5 INVASÕES E REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA ....................... 113

5.6 OUTROS PROGRAMAS HABITACIONAIS ............................ 116

5.6.1 Os Programas Habitacionais do Governo do

Estado ................................................................................... 116

6 ANÁLISE E RESULTADOS ............................................................................... 118

6.1 CONCLUSÕES....................................................................... 129

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 132

7.1 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ...................... 133

REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 134

APENDICE “A” – IMAGEM AMPLIADA DA FIGURA 27 ........................................ 143

APENDICE “B” – IMAGEM AMPLIADA DA FIGURA 28 ......................................... 144

APENDICE “C” – IMAGEM AMPLIADA DA FIGURA 29 ........................................ 145

APENDICE “D” – IMAGEM AMPLIADA DA FIGURA 32 ........................................ 146

APENDICE “E” – IMAGEM AMPLIADA DA FIGURA 33 ......................................... 147

APENDICE “F” – IMAGEM AMPLIADA DA FIGURA 36 ......................................... 148

APENDICE “G” – IMAGEM AMPLIADA DA FIGURA 37 ........................................ 149

APENDICE “H” – IMAGEM AMPLIADA DA FIGURA 40 ........................................ 150

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Em cada época, a arquitetura é produzida e utilizada de um modo diverso, relacionando-se de uma forma característica com a estrutura urbana em que se instala. As principais cidades brasileiras e seus edifícios foram em grande parte estruturados nos séculos passados e funcionam precariamente nos dias atuais. O estudo de sua evolução ajudará a transformá-los. (REIS FILHO, 2004, p. 15) A análise do momento atual é, pois, o ponto de partida do estudo da estrutura urbana. Mas ela só não basta. É preciso ir além, e demonstrar que momentos atuais são também influenciados por momentos anteriores, que legaram ao espaço atual forma e conteúdo. [...]. (ABREU, 2006, p. 30)

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15

INTRODUÇÃO

A proposta de pesquisar a evolução do perímetro urbano da capital mato-

grossense, Cuiabá, vinculado à implantação dos diferentes conjuntos habitacionais

de interesse social na cidade é um tema que vem de encontro com o

desenvolvimento urbano da região e seu processo evolutivo, que proporciona um

aprofundamento na história e no processo evolutivo desta cidade, tanto urbano

quanto político, permitindo uma visão mais detalhada de como ela vem se

transformando no período compreendido de 1960 a 2010, sendo esta delimitação

temporal feita em função de ser a partir dos anos 1960, com o aumento da migração

vindo principalmente da região sul e sudeste, para a região norte do Estado, em

função das políticas públicas de ocupação do território, e a questão habitacional se

tornou também um problema crucial, além da infraestrutura urbana das cidades

mato-grossenses.

Porém, a motivação maior para a escolha do tema, foi identificar a relação

entre a localização dos conjuntos habitacionais e o processo de urbanização do

município de Cuiabá, com o objetivo de verificar como esta implantação acarretou os

problemas urbanos que hoje a cidade enfrenta, de forma a possibilitar uma análise

sobre como a habitação de interesse social atuou sobre o espaço urbano da cidade.

Dessa forma, o objetivo deste trabalho, frente às questões que envolvem a

evolução urbana do município, é de estabelecer a discussão do impacto causado

pela localização dos diversos empreendimentos de habitação de interesse social em

seu tecido urbano, ao gerar novos vetores para o crescimento do perímetro urbano,

trazendo em seu bojo as questões da adequação da infraestrutura, como

pavimentação, redes de água e esgoto, iluminação pública, por exemplo, e da

mobilidade urbana, elementos estes que afetam o orçamento do Estado e do

município, e que, quando implantados de forma deficiente, podem trazer graves

consequências para a saúde e o bem-estar da população, de forma geral.

Este trabalho pretende demonstrar como a implantação dos conjuntos

habitacionais populares levou a um direcionamento no crescimento da cidade de

Cuiabá – Mato Grosso, o qual nem sempre teve o necessário planejamento por

parte dos órgãos públicos, nas áreas federal, estadual e municipal.

Page 18: 13.pdf

16

JUSTIFICATIVA

Considerando a habitação um direito essencial, conforme o artigo XXV da

Declaração Universal dos Direitos Humanos1, e após a Constituição de 1988, na

qual estabelece a moradia como direito fundamental do indivíduo, e que se observa

atualmente os diferentes avanços nos últimos anos em relação às políticas públicas

vinculadas, também, a um progresso perceptível nas condições econômicas e

sociais da população, houve, portanto uma grande melhoria também nos programas

habitacionais, intensificada pelos Governos Federal, Estadual e Municipal. Porém

ainda há muito a ser feito nessa área, com o objetivo de atenuar os históricos

problemas que são verificados através das pesquisas, que nos apresentam um

déficit habitacional brasileiro, cujos números variam conforme a fonte e a

metodologia empregada, sendo de aproximadamente 3,8 milhões de unidades

habitacionais, segundo estimativas da Caixa Econômica Federal (CAIXA, 2011), e

de aproximadamente 5,5 milhões, de acordo com a Fundação João Pinheiro

(MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2011). Da existência desse déficit à própria qualidade

das habitações que são construídas, ainda há muito a ser melhorado. Acredita-se

ser esta uma oportunidade para avaliar como se encontra equacionada essa

questão na cidade de Cuiabá.

Para entender como se apresenta a questão da habitação de interesse social

em Cuiabá, cidade que na iminência de completar seus 300 anos apresentou nos

últimos 50 anos um crescimento rápido e desordenado, fez-se necessário conhecer

profundamente como se deu o seu desenvolvimento, de forma a compreender

melhor como foi gerado o espaço urbano que hoje se apresenta. A Vila do Senhor

Bom Jesus do Cuiabá, fundada por bandeirantes em 1719 quando estes, na busca

de índios para “prear”2, se deparam com o ouro abundante e resolvem se

estabelecer nesse local, alternou em sua curta existência, momentos de crescimento

acelerado e estagnação, indo, em um período relativamente curto de tempo, de

pequena vila a capital do Estado considerado atualmente como um dos maiores

produtores de grãos do país. Para melhor compreender a evolução urbana dessa

1 Proclamada em 10 de dezembro de 1948, pela resolução 217 A (III) da Assembléia Geral das

Nações Unidas, trata-se do direito das pessoas a um padrão de vida capaz de assegurar, a si e a sua família, saúde e bem estar, incluindo a habitação entre essas garantias. 2 Conforme FERREIRA (2004), o significado de preador, derivado de prear + dor, é aquele que preia,

que aprisiona, de onde vem que prear é sinônimo de aprisionar.

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17

cidade fez-se necessário aprofundar a pesquisa em sua história, visando entender a

partir de que condicionantes se formou o espaço urbano que hoje se apresenta.

Para atingir esse objetivo, fez-se necessário um levantamento das políticas

públicas federais para o setor, no período compreendido de 1960 a 2010, intervalo

delimitado em função das primeiras manifestações de um pensamento de

abrangência nacional para o problema habitacional, finalizando com a política

habitacional implementada na gestão que finalizou no ano de 20103, com o objetivo

de verificar como o assunto foi abordado. O período da pesquisa em relação à

cidade de Cuiabá, parte dos anos 1960 pelo fato de ter sido esse o período de

grande crescimento da população, em função da implantação dos programas

federais de ocupação do território, os quais tiveram como resultado um aumento na

migração para a região, gerando consequentemente uma demanda por habitação

popular, saúde, transporte, escola e equipamentos sociais.

É importante destacar que esta pesquisa não levará em consideração a

problemática das invasões e assentamentos informais, que ocorreram no período

definido, bem como os programas habitacionais que tinham como premissa os

sistemas de mutirão ou autoconstrução. Também não serão estudadas as tipologias

habitacionais ou as técnicas construtivas empregadas nesses empreendimentos.

Não é intenção, também, desta pesquisa apresentar planilhas ou cálculos que

demonstrem em bases matemáticas ou econômicas os custos dos

empreendimentos.

Outro elemento a ser desconsiderado neste trabalho são estudos a respeito

do município vizinho de Várzea Grande, no qual, apesar da evidente vinculação

entre ambas as cidades, com uma grande relação de complementaridade em

diversas funções, tais como o transporte urbano e gerenciamento de resíduos, entre

outros, considera-se que no aspecto habitacional estas podem ser analisadas de

forma separada, fato reforçado pela separação entre ambas se dar pelo curso do

Rio Cuiabá. Dessa forma, o objetivo desta pesquisa é, através de uma observação

empírica4 e apoiada em uma revisão cronológica, apresentar uma série de dados

que permitam visualizar as possíveis implicações dos conjuntos habitacionais que

3 Período 2003-2010 corresponde à gestão do Presidente Luís Inácio Lula da Silva.

4 De acordo com Ferreira (2004) empírico é algo “derivado de experimento ou de observação da

realidade”.

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18

são estabelecidos no perímetro urbano do município durante o período analisado, na

ampliação desses limites.

PROBLEMA DA PESQUISA

O presente trabalho objetiva responder à seguinte questão: qual a influencia

das políticas publicas para a habitação de interesse social na formação e ocupação

do perímetro que delimita a área urbana da cidade de Cuiabá-MT?

OBJETIVO GERAL

Identificar de que forma a aplicação das políticas públicas para a habitação de

interesse social influenciou o desenvolvimento do espaço urbano da cidade de

Cuiabá, a capital do Estado, no período que vai de 1960 a 2010, relacionando-se a

implantação dos diferentes programas habitacionais com a evolução do perímetro

urbano, bem como detectar a existência de um planejamento dessa evolução por

parte dos órgãos de gerenciamento na área federal, estadual e municipal.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Para a consecução do objetivo geral da presente pesquisa, delinearam-se os

objetivos de carácter específicos, que buscam:

a) Analisar o processo de evolução urbana da cidade de Cuiabá,

verificando a influencia dos diversos programas habitacionais

em seu desenho atual;

b) Identificar os programas habitacionais que foram implementados

na cidade de Cuiabá, no período compreendido entre 1960 a

2010;

c) Verificar a ocorrência de ingerências externas (dos governos

estadual e federal) no processo de evolução do município,

vinculando especificamente à questão da habitação de interesse

social;

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19

d) Associar as interferências desse processo aos problemas

urbanos que a cidade apresenta no atual estágio de

desenvolvimento.

HIPÓTESE

No Brasil, o modelo como normalmente ocorre a implantação dos programas

habitacionais, na forma de grandes conjuntos, tem o poder de influenciar fortemente

o perímetro urbano das cidades, uma vez que a implementação destes necessita da

utilização de grandes áreas desocupadas, além de intensificar a execução de

inúmeros benefícios como: abastecimento de água, rede de esgoto, setor elétrico,

asfalto, comércio e outros. Nesse sentido a finalidade desta pesquisa é observar o

crescimento da cidade de Cuiabá sob a ótica da implantação dos conjuntos

habitacionais, verificando os diferentes reflexos provocados no perímetro urbano,

permitindo estabelecer a relação existente entre essa implantação e a evolução da

cidade.

Dessa forma, a hipótese colocada é estabelecer de que a maneira foram

implantados os diversos conjuntos habitacionais na cidade de Cuiabá podendo este

ser considerado como um fator determinante na formação do perímetro atual do

município.

ESTRUTURA DO TRABALHO

Apresenta-se na Introdução a estruturação desta dissertação, expondo-se a

justificativa para a proposta desta pesquisa, o problema a ser abordado assim como

os objetivos almejados, além da hipótese a ser verificada.

A parte 1 traz uma revisão da política habitacional no Brasil e discorre sobre o

processo histórico dessa questão no país, colocando em ordem cronológica o início

dos problemas da habitação de interesse social e as propostas voltadas para a

solução desse tema.

A parte 2 aborda o processo evolutivo da cidade de Cuiabá desde sua

fundação, abordando seu crescimento até o início dos anos 1960.

A parte 3 apresenta a metodologia a ser aplicada para a execução da

pesquisa.

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20

A parte 4 mostra a evolução da cidade de Cuiabá, a partir dos anos 1960 até

o ano de 2010, com o foco na questão da habitação de interesse social e a sua

influencia nas alterações do seu perímetro urbano.

A parte 5 apresenta os conjuntos habitacionais, com seus números e a

localização, com o objetivo de que se possa observar a forma como os

empreendimentos foram implantados no espaço urbano que hoje vivenciamos, por

período e por regiões da cidade. Apresenta também alguns dados a respeito da

questão das invasões e das ações de regularização fundiária executadas no

município, além de apresentar alguns dos programas, voltados para a habitação de

interesse social, desenvolvidos pelo Governo do Estado de Mato Grosso.

A parte 6 traz as análises e as conclusões da pesquisa que foi desenvolvida

neste trabalho.

A parte 7 traz as considerações finais e sugestões para trabalhos futuros.

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21

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22

1 REVISÃO DA POLÍTICA HABITACIONAL

O direito à habitação consta da Constituição Federal de 1988, em seu artigo

6º, como um direito social, esta ainda não é um bem acessível a todos os cidadãos

de nosso país. Nas palavras de Peixoto (2008, p. 13), “adquirir a casa própria pode

ser considerada como a principal evidência de sucesso e de conquista social” sendo

considerada uma conquista pessoal e familiar desejada por muitos brasileiros.

Porém o que vem a ser este bem, almejado por tantas pessoas?

O conceito do que seja uma habitação pode assumir diversas formas. Nas

palavras de Palermo (2009), “para o usuário, a habitação não é apenas abrigo”

sendo também cenário de rituais e modos de vida, local onde se realizam os sonhos

de segurança e crescimento social.

Segundo Carpintéro (1997):

Todos os indivíduos possuem determinadas necessidades, físicas, biológicas e culturais, e para satisfazê-las é necessário um local. Esse “local”, ou melhor, esse espaço deverá fazer parte de uma determinada realidade que poderá ser diferenciada por muitos fatores, como por exemplo: clima, cultura, tempo cronológico, etc. [...]. Portanto, a “habitação” é uma parte da representação desse espaço (necessidade) em que o indivíduo traz para dentro de um “espaço físico” as necessidades orgânicas, culturais, bem como todo seu projeto de vida. [...] (CARPINTÉRO, 1997, p. 191)

De acordo com Martucci (1990), citado por Pereira (2007) “existe uma

diferenciação entre casa enquanto invólucro que divide espaços externos e internos,

moradia quando ela se identifica com o ‘modo de vida’ dos seus usuários e

habitação como a casa e a moradia integradas ao espaço urbano, [interagindo] com

todos os elementos que este espaço urbano oferece”. Dessa forma:

Podemos então compreender que o produto casa, é o abrigo onde se aplicam as inovações tecnológicas, construtivas e projetuais. É também a moradia, transformada por seu usuário para refletir sua imagem e atender a suas necessidades, o que só pode ser alcançado pela permanência e legitimação de uso. É ainda habitação, quando está inserida em um contexto urbano, servida por redes de infra-estrutura, permitindo ao morador, portanto, o acesso à “cidade legal”. (PEREIRA, 2007, p. 22)

Para Palermo (2009, p. 55), a habitação deve ser analisada segundo três

dimensões, quais sejam:

a) a dimensão físico espacial, simbolizando o edifício com sua dimensão

urbana de inserção, na qual deve permitir autonomia ao morador para

decidir pelo contato social ou pelo isolamento. Esta é sua dimensão

física, como abrigo e proteção, devendo prover a segurança física e

induzir à permanência;

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23

b) a dimensão antropológica, é a dimensão simbólica, que funciona como

cenário da vida familiar, devendo prover sensação de pertencimento e

segurança emocional. Esta dimensão retrata a simbiose entre o

morador e o plano físico do edifício, devendo ser o local de realização

pessoal, atendendo às necessidades e aspirações familiares,

necessidades presentes e futuras, bem como suas aspirações sociais;

c) a dimensão funcional, que é referencial de propriedade e espaço

privado, no qual a família expressa cultura, crenças, aspirações e

define seu papel na sociedade. Essa dimensão utilitária é que a define

como local de repouso, devendo favorecer a reposição das energias e

facilitar as atividades domésticas, sendo assim, pressupõe o

atendimento programático e a adequação ao grupo residente.

Para Malard (2002), citada por Leite (2006), “a experiência de morar é, pois, a

de usufruir de um território delimitado fisicamente, caracterizado socialmente e

qualificado ambientalmente”. Em seu trabalho, Leite (2006) levanta a questão da

adequação da visão corrente do que seja uma habitação, assim se referindo:

[...] A compreensão da problemática da habitação exige a mudança de paradigma do que representa a habitação para as pessoas. O conceito primitivo de que a casa representa um abrigo, um lugar de proteção e segurança contra intempéries, inimigos e outros agentes agressores. Neste nível é que os programas habitacionais sempre atuaram: um abrigo cujo resultado também é pouco significante para os usuários e a sociedade. (LEITE, 2006, p. 65)

Segundo Abiko (1995), “habitação popular é um termo genérico que define

uma determinada solução de moradia voltada para a população de baixa renda”.

Para este trabalho, é importante o conceito exposto por esse autor, define-se que a

habitação cumpra suas funções é necessário, além de conter um espaço

confortável, seguro e salubre, deve-se estar integrado de forma adequada ao seu

entorno, isto é, ao ambiente que a cerca.

Com relação aos requisitos básicos que caracterizam a Habitação de

Interesse Social, Larcher (2005, p. 11) estabelece que:

a) é financiada pelo poder público, mas não necessariamente produzida

pelos governos, podendo a sua produção ser assumida por empresas,

associações e outras formas instituídas de atendimento à moradia;

b) é destinada sobretudo a faixas de baixa renda que são objeto de ações

inclusivas, notadamente as faixas até 3 salários mínimos;

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24

c) embora o interesse social da habitação se manifeste sobretudo em

relação ao aspecto de inclusão das populações de menor renda, pode

também manifestar-se em relação a outros aspectos, como situações

de risco, preservação ambiental ou cultural.

1.1 A HABITAÇÃO POPULAR NO BRASIL

1.1.1 O período da escravatura

Com a finalidade de melhor descrever a evolução da questão habitacional no

Brasil, é importante reportar que até a abolição, cabe ao escravo as tarefas diárias,

tanto na construção como na manutenção das habitações (Figura 1). Reis Filho

(2004, p. 21) define que a produção da arquitetura estava baseada no trabalho

escravo, apresentando um nível tecnológico dos mais precários, chegando o autor a

dizer que “a simplicidade das técnicas denunciava, assim, claramente, o primitivismo

tecnológico de nossa sociedade colonial [...]” (REIS FILHO, 2004, p. 26)

Figura 1 - Cena de Debret retratando uma senhora brasileira em seu lar.

Fonte: Bandeira, 2009.

Ao expor as características que a habitação vai apresentar até a abolição da

escravatura, tanto Lemos (1989, p. 11-12) quanto Costa (2006, p. 107-108)

relacionam a extrema dependência do funcionamento dessa habitação à mão de

obra do escravo, sem a qual esta acaba “aos poucos deixando de funcionar,

tornando-se mesmo inabitável devido ao desconforto.” (COSTA, 2006, p. 107)

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25

Para Reis Filho (2004) a precariedade de nossas cidades também pode ser

relacionada à presença do escravo, na qual segundo ele “a ausência de

equipamentos adequados nos centros urbanos, quer para o fornecimento de água,

quer para o serviço de esgoto, e mesmo, a deficiência do abastecimento, eram

situações que pressupunham a existência de escravos no meio doméstico [...].”

(REIS FILHO, 2004, p. 28)

É nesse período imediatamente anterior ao fim do Império que a questão

habitacional começa a se manifestar. Segundo Aragão (2003):

[...] O país era eminentemente agrário e a população rural constituída, em grande parte, por escravos e seus descendentes, que tinham, na senzala, mais uma forma de abrigo coletivo do que propriamente uma casa, no conceito de habitação familiar. À medida que o instituto da escravidão começou a debilitar-se, [...], começaram a aumentar, nos povoados, vilas e, em menor escala, nas cidades, as habitações individuais construídas com materiais rústicos (taipa, adobe e palha) e extremamente deficientes em suas condições de higiene. O deslocamento para atividades produtivas de parte dos capitais anteriormente destinados ao financiamento do tráfico de escravos e o êxito da lavoura cafeeira, na metade do século, também atuariam como elementos propulsores do estabelecimento de pequenas indústrias e de investimentos estrangeiros na infra-estrutura, que contribuíram para aumentar a população urbana e as necessidades habitacionais nas cidades. (ARAGÃO, 2003, p. 65)

Em relação a esse período, é pertinente a observação de Arias Neto (2011, p.

203-204) referente à percepção, logo após a abolição do tráfico negreiro, de que a

escravidão estava condenada, sendo necessária a busca de uma resposta para o

problema da mão-de-obra para as lavouras de café. Ele cita que, apesar de em fins

do século XIX o contingente de homens livres pobres significar três quartos da

população, o trabalho assalariado na lavoura sofria o estigma da escravidão, sendo

necessária a busca de um trabalhador imbuído da ideologia do trabalho livre, o qual

se formava na Europa.

1.1.2 A imigração européia

Para Reis Filho (2004, p. 43), “com a decadência do trabalho escravo e o

início da imigração européia desenvolveu-se o trabalho remunerado e

aperfeiçoaram-se as técnicas construtivas” passando as cidades e as habitações a

contar com serviços de água e esgoto, a partir de equipamentos vindos do exterior,

que tem a importação facilitada em função das vantagens auferidas com a

exportação crescente do café. A esse respeito, Farah (1996, p. 138) diz que é a

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26

partir da expansão da atividade cafeeira5 que a atividade construtiva sofre sua

recomposição mais radical, na qual se destacam “a substituição do trabalho escravo

pelo trabalho assalariado, a imigração européia, a emergência do trabalho industrial,

o desenvolvimento dos transportes e a importância crescente das cidades”.

1.1.3 Indústria da construção habitacional

É nesse momento, relacionado à expansão da economia cafeeira, que Farah

(1996) identifica o surgimento de uma indústria da construção civil, que passa a

englobar, além da construção de edificações, outros setores como ferrovias, portos e

infraestrutura urbana, deixando “de se organizar como autoprodução, passando a

constituir-se como atividade independente”. (FARAH, 1996, p. 138)

Segundo o autor, essa condição leva a novas situações, que começam a se

tornar visíveis, e nas maiores cidades brasileiras se consolida um processo de

segregação espacial, começando a se definir bairros residenciais exclusivos para as

classes dominantes, em oposição aos bairros operários, o que vem a romper com “a

tendência de homogeneidade das moradias urbanas, que caracterizara o período

colonial. [...]”. (FARAH, 1996, p. 139)

Em relação ao desenvolvimento das cidades nesse momento e à importância

do imigrante nesse processo, Lemos (1979) nos diz que:

[...] As fábricas trouxeram para a cidade novas levas de imigrantes. Imigrantes de toda natureza, desde o agricultor ignorante e simplório até pessoas de alta qualificação que vieram a chamado da alta burguesia paulista ou à cata de oportunidades variadíssimas. Assim, e de repente, as cidades paulistas e a própria capital, viram-se repletas de engenheiros, arquitetos, mestres-de-obras, pedreiros, marceneiros, carpinteiros, pintores e estucadores de variada origem e conhecimentos. [...]. (LEMOS, 1979, p. 114-116)

Em outro trabalho, Lemos (1976) assim se refere:

[...] Com as leis abolicionistas e com o incremento maior da imigração estrangeira, as nossas cidades, na segunda metade do século XIX, começaram a sofrer problemas decorrentes de incontrolada densidade demográfica agravada pelo pequeno ou quase nulo poder aquisitivo das novas massas populacionais. O agregado do fazendeiro, o mulato e o negro libertos vieram trazer para nossas cidades modorrentas um novo problema: onde alojar gente fugida do cabo da enxada e pessoas requisitadas pela pequena indústria. Em São Paulo, o século XIX terminou, ou melhor, a Primeira Grande Guerra começou mostrando a cidade cheia de cortiços, de “cabeças-de-porco”, transbordando de gente que tão cedo não iria encontrar meios de morar melhor. (LEMOS, 1976, p. 174)

5 Segundo Prado Júnior (2008) o desenvolvimento da lavoura cafeeira no Brasil tem início no último

decênio do século XIX, tendo sua derrocada no ano de 1929, com a crise da Bolsa de Nova York.

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27

1.1.4 A casa operária em São Paulo

É importante destacar, em relação à habitação da população, que segundo

Lemos (1976, p. 174), a casa operária, executada pelo próprio morador ou de

empreitada, começa a surgir a partir da iniciativa do operário estrangeiro, o qual

ganhava melhor e tinha mais necessidade de conforto, além de mais cultura e

experiência, aliado ainda a um senso de poupança, elementos ausentes no mestiço

humilde brasileiro, acostumado ao paternalismo da classe dominante. Ele cita que é

na ultima década do século XIX que tem inicio as construções operárias em grande

escala, quando os bairros periféricos de então, hoje absorvidos pelo crescimento da

cidade de São Paulo, começam a mostrar, aqui e ali, casinhas operárias.

1.1.5 A questão higiênica e de salubridade

Inicia-se o século XX com um crescente agravamento do problema da

moradia popular, tendo isso reflexos inclusive no aspecto higiênico, sendo essa a

primeira abordagem percebida no momento em que se parte para tentar solucionar

essa questão.

Por essa época, a grande preocupação das autoridades era em relação às

condições higiênicas das habitações, em função dos inúmeros surtos epidêmicos

que atingiram as cidades brasileiras, como as citadas por Bonduki (2004)

relacionadas ao Estado de São Paulo, que ocorreram em 1892 (febre amarela -

Santos), 1893 (febre amarela e cólera –morbo – São Paulo), 1918 (gripe espanhola

– São Paulo), as citadas por Maciel (1992) que ocorreram em Mato Grosso em

1901 e 1906 (varíola - Cuiabá), a década de 1910 (surtos de lepra, malária,

esquistossomose, sífilis e doença de Chagas), bem como todo o conjunto de fatores

que leva à Revolta da Vacina, citada por Benchimol (2011), que ocorre no Rio de

Janeiro em 1904.

Para Bonduki (1998) é nesse período que surgem os primeiros indícios de

segregação espacial, o que teve como repercussão o fato de os diferentes estratos

da sociedade sofrerem de maneiras diversas os efeitos da crise urbana que começa

a atingir a cidade. Essa segregação espacial vai garantir “à elite áreas de uso

exclusivo, livres da deterioração, além de uma apropriação diferenciada dos

investimentos públicos” (BONDUKI, 1998, p. 20). Se referindo à cidade de São

Paulo, o autor diz que, “até 1870, com exceção das chácaras periféricas, quase não

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28

havia diferenças funcionais de um ponto a outro da cidade” (BONDUKI, 1998, p. 20-

21).

Falando do Rio de Janeiro, Abreu (2006) assim se refere ao final do século

XIX em relação ao esgotamento do sistema escravista e o aumento no fluxo de

imigrantes estrangeiros:

[...] Resultou daí um processo de crescimento populacional acelerado via migração, que agravou consideravelmente o problema habitacional da cidade, pois levou ao adensamento ainda maior dos cortiços e ao recrudescimento das epidemias de febre amarela que assolavam a cidade periodicamente. (ABREU, 2006, p. 57)

Nos primeiros anos do século XX uma série de melhoramentos urbanos tem

início nessa cidade, os quais visam, além da remodelação das vias, “três objetivos

complementares: saúde pública, circulação urbana e transformação das formas

sociais de ocupação dos espaços atravessados pelas novas artérias” (BENCHIMOL,

2011, p. 258). Ele cita que é na área central que “residia o nó górdio da renovação

urbana: a expropriação de um conjunto socialmente diferenciado de ocupantes do

espaço e sua apropriação por outros grupos, depois de ser modificado e valorizado

pelos poderes públicos”. (BENCHIMOL, 2011, p. 261)

Esses melhoramentos tem o objetivo de “desarticular a trama de relações cuja

permanência, ali, se tornara incompatível com a cidade requerida pelo grande

capital, e com a capital requerida pelo Estado republicano.” (BENCHIMOL, 2011, p.

261)

1.1.6 A favelização: origens, causas e contraposição

Essa intervenção força a população que residia neste espaço a perder a sua

moradia, levando parte da população que não dispunha de meios para se mudar

para os subúrbios a perambularem pelo centro. É a partir da favela que tem início

uma nova forma de apropriação do espaço da cidade, conforme descreve Benchimol

(2011, p. 265):

[...] os subúrbios constituíam alternativa de moradia para segmentos das camadas médias como funcionários públicos, militares, empregados do comércio ou trabalhadores especializados, que possuíam remuneração estável e suficiente para as despesas de transporte, aquisição de terreno, construção ou aluguel de uma casa. Os subúrbios eram inviáveis para a multidão que vivia do ganho e da viração, e para os operários que recebiam ‘diárias’ irrisórias, sem nenhuma estabilidade de emprego. Assim, ao lado das tradicionais habitações coletivas, aflorou na paisagem do Rio nova modalidade de habitação popular: a favela.

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29

Em relação a essa intervenção, Aragão (2003) assim se manifesta:

[...] Na ausência de novas unidades habitacionais e com o previsível aumento dos aluguéis nos bairros centrais, a população pobre buscou abrigo nos morros e nas áreas periféricas imediatas, dando início ao processo de favelização que ainda hoje marca o Rio de Janeiro. A resposta do governo central à crise da habitação foi excessivamente tímida e se resumiu à construção de três conjuntos, totalizando 120 unidades geminadas, em zona lindante com o centro antigo da cidade. [...]. (ARAGÃO, 2003, p. 66)

Apenas a título de informação, Bonduki (1998) relata uma única experiência

de produção pública nesse período, provavelmente a mesma relatada por Aragão

(2003) a pouco, apesar da diferença no número de unidades relatadas. O autor

assim se refere:

As 105 unidades habitacionais sobrepostas pela Prefeitura do Distrito Federal na rua Salvador de Sá, no Rio de Janeiro, foram as primeiras moradias promovidas pelo setor público no país. Desvinculada de qualquer política habitacional, num período em que o Estado tratava a questão social como caso de polícia, era apenas uma resposta política às fortes críticas que o governo de Pereira Passos vinha sofrendo por ter despejado milhares de pessoas para a abertura da Avenida Central, [...]. Foi uma iniciativa isolada da República Velha, assim como as 40 casas populares construídas no Recife pela Fundação A Casa Operária, órgão criado pelo governo de Pernambuco, em 1926. [...] (BONDUKI, 1998, p. 71)

A respeito de outra experiência, esta ocorrida no Recife, Aragão (2003) indica

que a Fundação A Casa Operária foi criada na gestão do governador Sérgio Loreto

“com a finalidade de edificar habitações para aluguel a famílias pobres” (ARAGÃO,

2003, p. 67), reunindo recursos do governo estadual e de doações privadas, tendo

construído quatro vilas operárias no Recife.

Apesar dessa preocupação com a questão higienista e uma maior intervenção

do poder público na produção da habitação popular, durante o período da Primeira

República o quadro pouco evolui.

1.1.7 Programa habitacional: período Vargas

Aragão (2003) indica que a ação direta do Estado no campo habitacional

somente teria alguma significação no período Vargas, denominado “Estado Novo”

(1937/1945), quando a ação Federal se realiza através dos Institutos de Previdência,

a nível nacional, e da Prefeitura do então Distrito Federal. Segundo ele, os primeiros

reorientam suas atividades, deslocando-as progressivamente dos financiamentos

individuais para a construção de conjuntos de grande porte, de forma a obter, além

de ganhos na quantidade e velocidade na produção de novas unidades

habitacionais, uma redução do custo, através da economia de escala.

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30

1.1.8 Habitação para a classe trabalhadora

Bonduki (1998) relata que o clima político, econômico e cultural da ditadura

Vargas colocou o tema da habitação social com uma força jamais vista

anteriormente. Segundo ele “o problema da moradia emergiu como aspecto crucial

das condições de vida do operariado, pois absorvia porcentagem significativa dos

salários e influía no modo de vida e na formação ideológica dos trabalhadores”.

(BONDUKI, 1998, p. 73)

Nesse momento, a habitação da classe trabalhadora passa a um novo

patamar nos debates. A questão sanitária passa para um segundo plano, ganhando

relevância a questão da “habitação vista como condição básica de reprodução da

força de trabalho e, portanto, como fator econômico na estratégia de industrialização

do país” e “a habitação como elemento na formação ideológica, política e moral do

trabalhador e, portanto, decisiva na criação do ‘homem novo’ e do trabalhador-

padrão que o regime queria forjar, como sua principal base de sustentação política”

(BONDUKI, 1998, p. 73). A esse respeito, Bonduki (1998) diz que a partir de 1930 a

questão principal passa das questões de salubridade, como já dito anteriormente,

para a viabilização do acesso desse trabalhador à casa própria, com o objetivo de se

erradicar espaços insalubres (Figura 2).

Figura 2 - Cortiço na cidade de São Paulo em 1940.

Fonte: Campos; Gama; Sacchetta, 2004.

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31

Em referencia a esse período, Coelho (2002) diz que:

[...] Durante o período populista (a partir da ditadura Vargas), a intervenção do Estado na questão habitacional começa a apresentar uma maior expressão tanto no aumento das experiências pontuais como nos importantes passos rumo a uma formulação de política de intervenção no setor habitacional. Assim a questão habitacional, passou a acontecer de maneira clientelista e através do chamado “paternalismo governamental”, que se aproveitava do cenário criado pelos Institutos de Previdência e Caixas Econômicas que financiavam o setor habitacional. (COELHO, 2002, p. 12)

1.1.9 Os trabalhadores de baixa renda

Bonduki (1998) afirma que até a década de 1930 era raro que operários e

trabalhadores de baixa renda, e mesmo a grande maioria da classe média, fossem

donos de sua moradia, uma vez que não existiam moradias subsidiadas bem como

linhas de financiamento com essa finalidade.

O mesmo autor afirma que:

[...] Para o trabalhador urbano, a casa própria simbolizava o progresso material. Ao viabilizar o acesso à propriedade, a sociedade estaria valorizando o trabalho, demonstrando que ele compensa, gera frutos e riqueza. Por outro lado, a difusão da pequena propriedade era vista como meio de dar estabilidade ao regime, contrapondo-se às idéias socialistas e comunistas. Com isso, o Estado estaria disseminando a propriedade em vez de aboli-la e, assim, promovendo o bem comum. Os trabalhadores, deixando de ser uma ameaça, teriam na casa própria um objetivo capaz de compensar todos os sacrifícios; já o morador do cortiço ou da moradia infecta estava condenado a ser revoltado, pronto para embarcar em aventuras esquerdistas para desestabilizar a ordem política e social. (BONDUKI, 1998, p. 84)

A abordagem da questão habitacional nesse período tem um forte viés

ideológico. Sendo assim, a partir de 1930 o objetivo passou a ser a viabilização do

acesso à casa própria, através da intervenção pública no processo de produção. “A

habitação operária torna-se, portanto, área crucial para a manutenção da ordem

econômica, política e social” (BONDUKI, 1998, p. 86).

Nesse período, a produção habitacional fica a cargo dos Institutos de

Aposentadoria e Pensões (IAP), criados na década de 1930 para cada categoria

profissional, que apesar de não terem a produção de moradias como prioridade,

tiveram uma atuação muito marcante nessa área.

1.1.10 Atuação da Fundação da Casa Popular (FCP)

Após o fim do Estado Novo, em 1946, o governo Federal oferece uma solução

para o problema habitacional, com a criação da Fundação da Casa Popular (FCP),

em 1 de maio de 1946. Em função de questões políticas e econômicas, bem como

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32

da falta de organização dos setores que se beneficiariam com a criação da FCP,

ficou inviabilizado seu sucesso.

A respeito da produção da FCP, Bonduki (1998, p. 115) nos traz o seguinte

balanço:

[...] Em dezoito anos, a Fundação da Casa Popular (FCP), primeiro órgão criado no âmbito federal com a atribuição exclusiva de solucionar o problema habitacional, produziu 143 conjuntos com 18.132 unidades habitacionais. No mesmo período, os Institutos de Aposentadoria e Previdência, que não tinham como objetivo específico enfrentar a questão da moradia, viabilizaram a edificação de 123.995 unidades habitacionais, sem contar os milhares de apartamentos financiados para a classe média.

1.1.11 Aperfeiçoamento do crédito habitacional

Analisando o período de 1940 a 1960, a política de habitação consistiu

basicamente em oferta de crédito para a aquisição da casa própria, sendo essa

função exercida principalmente pelas Caixas Econômicas e pelos Institutos de

Aposentadorias e Pensões (IAP’s). Segundo Aragão (2003) a atuação da Fundação

da Casa Popular praticamente paralisa seus investimentos a partir de 1960,

enquanto nesse período os Institutos de Previdência Federais concentram os seus

recursos na construção de Brasília.

1.1.12 Governo Jânio Quadros (1961)

Durante o curto período de seis meses dessa gestão, começa a ser gestado

um plano com duas linhas de atuação. A primeira linha, de caráter emergencial,

destinada à construção de 100 mil novas habitações em um período de dezoito

meses, através da FCP, utilizando recursos federais e externos, e a segunda linha

que previa a transformação da FCP em uma nova entidade, denominada Instituto

Brasileiro de Habitação (IBH). Na primeira etapa as atividades se limitariam ao meio

urbano, produzindo unidades que seriam entregues semi-acabadas de forma a

reduzir custos, podendo assim atender um maior numero de famílias. Na segunda

etapa, já como IBH, atuaria também em áreas rurais.

Entretanto, esse programa não foi levado adiante nem no governo Jânio

Quadros e nem naquele que o seguiu, João Goulart (1961 – 1964).

1.1.13 Governo Castelo Branco (1964 – 1967): criação do Banco

Nacional de Habitação (BNH)

Com a tomada do poder pelos militares e a percepção de que uma política

habitacional, da mesma forma que ocorrera no período de exceção de Getúlio

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33

Vargas, poderia ser fonte de apoio junto às camadas populares, leva à

implementação de um conjunto de ações baseadas nas propostas que já eram

executadas no Estado da Guanabara pelo governo de Carlos Lacerda, cujas bases

eram: “prioridade para a habitação de baixa renda, desfavelamento, financiamento

originário fundamentalmente de recursos públicos e autonomia financeira e

administrativa” (ARAGÃO, 2003, p. 82).

Baseando-se nessas premissas iniciais o governo Castelo Branco (1964 –

1967) encaminha mensagem governamental ao Congresso Nacional. Assim, em 21

de agosto de 1964, é sancionada a lei 4.380 que instituiu o Banco Nacional da

Habitação (BNH) e o Serviço Federal de Habitação e Urbanismo (SERFHAU). O

Serviço Federal de Habitação e Urbanismo surgiu a partir da transformação da

Fundação da Casa Popular, com o objetivo de ser o órgão técnico do Banco

Nacional da Habitação.

Em relação a esse período, Vizioli (1998, p. 16-17) assim se refere:

[...] intensificando o aumento dos problemas urbanos, nos anos 1961-1964, a crise brasileira tornou-se bastante grave, tanto política como economicamente. A crise econômica manifestou-se através da redução dos índices de investimentos, diminuição da entrada de capital externo, queda da taxa de lucro e o agravamento da inflação conjuntamente com uma intensa politização das massas urbanas.

1.1.14 A função do BNH

É nesse contexto, que “a reforma urbana centrada na habitação foi

considerada estratégica pelos governantes após 1964, por seu alto significado

econômico, político e social” (VIZIOLI, 1998, p. 19), que é criado o BNH, o qual, a

partir de 1967 quando passa a gerir os recursos do Fundo de Garantia por Tempo

de Serviço (FGTS), “tornar-se ia o segundo banco do país em termos de magnitude

de recursos disponíveis, precedido apenas pelo Banco do Brasil” (BOLAFFI, 1982, p.

42). Aquele autor reafirma isso mais a frente quando cita além da gestão do FGTS a

implantação do “Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo, carreando para os

seus cofres recursos que o tornariam uma das principais potências financeiras do

país e talvez a maior instituição mundial voltada especificamente para o problema da

habitação” (BOLAFFI, 1982, p. 50).

As atividades do BNH são assim descritas:

[...] Apesar de sua denominação, o BNH, pela extensão e variedade de seus Programas, era muito mais do que um Banco de Habitação e transformou-se, ao longo de sua existência, no principal instrumento de financiamento dos equipamentos urbanos do país, à exceção da energia

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34

elétrica, vias públicas, saúde e educação. (ARAGÃO, 2003, p. 150, grifo do autor)

Segundo Aragão (2003, p. 151-152), a atuação do BNH abrangia:

a) as diferentes etapas da produção de habitações, com a aquisição e

urbanização de terrenos;

b) os variados tipos de oferta de moradia a partir do lote urbanizado, com

ou sem casa, até a habitação completa, uni e multifamiliar;

c) as obras de infraestrutura urbana complementares à construção de

conjuntos habitacionais (água potável, esgotamento sanitário, rede de

energia elétrica, abertura e pavimentação de vias de acesso,

construção de equipamentos comunitários públicos, como escolas,

creches, postos médicos, centros de lazer, etc. e pequenos centros

comerciais para pequenas empresas destinadas ao atendimento de

necessidades básicas das populações dos conjuntos, tais como

mercearias, padarias, lavanderias, farmácias, consultórios médicos e

dentários etc.);

d) projetos de desenvolvimento urbano específicos, como os de

saneamento básico das cidades e a urbanização de áreas

parcialmente habitadas mas carentes de infraestrutura de serviços

(favelas e loteamentos incompletos) ou a reurbanização de áreas

decadentes;

e) os chamados Programas de pré-investimento, como elaboração de

planos diretores e a realização de pesquisas básicas vinculadas aos

setores de habitação e desenvolvimento urbano;

f) programas de apoio à indústria de materiais de construção, através do

financiamento de investimentos e de capital de giro às empresas

produtoras.

Apesar da amplitude dos recursos à disposição, o BNH teve, durante a sua

existência, apenas a função de arrecadador dos recursos financeiros, os quais eram

transferidos para agentes privados intermediários. Bollafi (1982, p. 54) afirma que

“mesmo a cobrança das prestações devidas ao BNH é confiada a uma variedade de

agentes financeiros [...] as quais, além de reterem uma parte dos juros, conservam

os recursos financeiros provenientes das prestações recebidas durante um ano,

antes de os devolverem ao BNH”.

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35

A atuação do BNH, em seus primeiros dez anos, Bolaffi (1982, p. 55) afirma

que “apesar de instituído o Serviço Federal de Habitação e Urbanismo, com o

objetivo de criar condições e estímulos para o planejamento urbano, ao abdicar da

gestão dos créditos que concede, o BNH somente contribuiu para agravar os

problemas urbanos”. Outra crítica feita à atuação do BNH diz respeito ao destino dos

recursos, quando o banco deixa de atender à população de baixa renda, que foi sua

atribuição primária, passando a atender cada vez mais aos grupos de renda mais

alta, saindo também do campo da habitação e entrando no campo do

desenvolvimento urbano (VIZIOLI, 1998, p. 22).

Em relação às críticas à atuação do BNH, até o ano de 1970, Aragão (2003)

assim se refere:

[...] A concentração no setor habitacional e, neste, na área ‘social’ (89% do número de unidades e 60% das aplicações), não impediu que o BNH fosse alvo de fortes críticas na imprensa, no Congresso e da parte de destacados especialistas nos temas habitacional e urbano. Localização inadequada, deficiências na infra-estrutura e na construção dos conjuntos, falhas nos critérios de seleção dos adquirentes, foram indicados, entre outras, como causas de dificuldades na comercialização das habitações e de elevação dos índices de inadimplência dos mutuários (BOLAFFI, 1977: 28-29). Na verdade, porém, a principal causa dos insucessos do Programa, à época, residia no achatamento dos salários reais, acentuado a partir de 1964. A situação se refletiria na capacidade dos Agentes do BNH na área social – as COHABs – honrarem seus compromissos com o Banco, além de dificultar a comercialização de conjuntos de Cooperativas e do Programa “Mercado de Hipotecas”[...]. (ARAGÃO, 2003, p. 158)

A partir do triênio 1971/73, as aplicações na área de interesse social se

reduziriam em 45% em relação ao período anterior, ganhando expressão os setores

de saneamento e de apoio à indústria de materiais de construção. Nesse período,

busca-se também “uma participação mais efetiva de estados e municípios na

programação dos seus investimentos em habitação e maior articulação, no nível

local, entre aqueles investimentos e o planejamento urbano” (ARAGÃO, 2003, p.

159). Em 1974, com a crise do petróleo, e o consequente aumento nos custos da

construção civil, aliado ao reconhecimento da incapacidade financeira dos estados

para “integralizar, simultaneamente, o Fundo de Água e Esgotos (FAE) e o Fundo de

Habitação Popular (FUNDHAP), levaram a administração do BNH a reformular

parcialmente as normas do PLANHAP e a ampliar as modalidades de operação no

setor” (ARAGÃO, 2003, p. 160).

De acordo com aquele autor, as reformulações “deram novo dinamismo às

aplicações do BNH na Área de Interesse Social, com um contínuo e expressivo

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36

incremento no número de unidades habitacionais na faixa das COHABs, cuja média

passou de 13 mil no biênio 1973/74, para 110 mil, no período 1975/78” (ARAGÃO,

2003, p. 161-162). O mesmo autor indica que:

[...] O auge da produção do BNH no campo habitacional foi alcançado no quinqüênio 1979/83, quando a média anual do número de unidades financiadas se elevou a 227 mil, das quais 209 mil (92%), na Área de Interesse Social e 145 mil (63%), na faixa de COHABs. Segundo o Relatório do BNH de 1984, as atividades do PROMORAR (urbanização de favelas) responderam por 27% dos financiamentos concedidos no segmento de baixa renda, no período indicado [...] (ARAGÃO, 2003, p. 162)

1.1.15 Os Programas desenvolvidos pelo BNH

De acordo com Metello (2009), os seguintes programas voltados para a

habitação foram implementados pelo BNH:

a) O Programa de Erradicação da Sub-habitação (PROMORAR): criado com a finalidade de erradicar as sub-habitações desprovidas das condições mínimas de serviços, conforto e salubridade, promovendo a recuperação dessas sub-habitações. Este foi o único programa que atuou no próprio espaço onde se localizavam as sub-habitações, proporcionando, dessa forma, a permanência dessas populações nas áreas anteriormente habitadas;

b) O Programa de Financiamento de Lotes Urbanizados (PROFILURB): oferece ao trabalhador a oportunidade de adquirir um lote de terreno urbanizado, ou seja, que já conte com serviços de distribuição de água, luz e instalações de esgoto sanitário. Através deste programa, o adquirente do lote pode construir a sua casa como melhor lhe convier, podendo inclusive obter financiamento para a compra de materiais de construção, pelo Programa Financiamento da Construção (FICAM);

c) O Programa de Companhias de Habitação (COHAB): as COHAB’s são empresas controladas pelos governos estaduais ou municipais, com vistas à produção e comercialização de habitações para as famílias de baixa renda (até 5 vezes o maior salário mínimo vigente no país, de acordo com o PLANHAP). Além dessa operação principal, as COHAB’s possuem uma operação complementar com a finalidade de conceder crédito para a execução de infraestrutura e equipamentos comunitários públicos, correspondentes às habitações e lotes urbanizados financiados;

d) Os Programas de Cooperativas Habitacionais: voltado para as cooperativas habitacionais, associações sem fins lucrativos e com personalidade jurídica de direito privado, que podem ser do tipo aberto (quando congregam quaisquer pessoas) ou de tipo fechado (agrupando profissionais de mesma categoria, classe ou corporações, tais como cooperativas sindicais, carteiras hipotecárias de clubes, caixas militares e outras);

e) O Programa Nacional de Habitação para o Trabalhador Sindicalizado de Baixa Renda (PROSINDI): voltado para o trabalhador sindicalizado que ganha, no máximo, até 6 salários mínimos. Possibilitava a construção em terrenos cedidos pela União, Estados, Municípios ou entidades estatais, em locais próximos às periferias urbanas, e utilizando os sindicatos como apoio, inclusive para a produção das unidades habitacionais, através de cooperativas habitacionais dos trabalhadores;

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37

f) O Programa Habitacional para os Servidores Públicos (PROHASP): objetiva proporcionar aos funcionários públicos em geral, dos diversos níveis, condições para a aquisição de casa própria através da formação de Cooperativas habitacionais de servidores em todo país. Através da PROHASP, o servidor poderia obter, do Agente Financeiro, financiamento para aquisição de habitação já construída, construção de unidades em terreno próprio, recuperação de sua moradia e outras modalidades de financiamento permitido no Programa;

g) O Programa Habitacional Empresa (PROHEMP): destinava a promover a aplicação através de empresas públicas ou privadas, urbanas ou rurais, recursos do SFH, para produção e /ou comercialização de habitações, destinadas aos seus empregados, servidores, associados ou contribuintes;

h) O Plano da Casa Rural (PLACAR): destinado ao financiamento, com juros subsidiados da construção ou melhoria da habitação, bem como obras complementares de infra-estrutura para mini-produtores, pequenos produtores (proprietários ou não de imóvel rural) e trabalhadores rurais. O Plano, de acordo com as diretrizes do Ministério do Interior, era executado nas regiões mais carentes, iniciando-se pelo Nordeste. O PLACAR era desenvolvido em harmonia com outras ações de apoio ao desenvolvimento rural;

i) O Programa para Construção de Unidades Habitacionais nas Reservas Indígenas (PROTABA): este programa, de acordo com convênio entre o BNH e a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), desenvolvia projetos levando em consideração os costumes e tradições indígenas, e a FUNAI a seleção de investimento;

j) O Projeto Operário: que tinha o objetivo de atender a necessidade cada vez maior de formar mão-de-obra especializada para a construção civil, ao mesmo tempo em que eram realizados os empreendimentos habitacionais. Através do Projeto Operário, o BNH, em convênio com diversos órgãos estaduais, treinou pedreiros, carpinteiros, bombeiros hidráulicos, eletricistas, armadores, pintores, mestres-de-obras, enquanto trabalhavam na construção de casas para a faixa de população mais carente. (METELLO, 2009)

O BNH atuou também nas área de saneamento básico e desenvolvimento

urbano, além de programas de apoio técnico e financeiro.

1.1.16 A Nova República: falência do BNH

A partir de 1984, ocorre uma gradual diminuição nos investimentos,

provocando “redução de mais de um terço no Orçamento de Aplicações do BNH, em

termos reais (UPC6)” o que aliado a “um aumento da inadimplência dos tomadores

dos recursos do Banco (mutuários finais, estados, municípios, COHABs, empresas

de saneamento, etc) reduziu, expressivamente, o valor do retorno dos empréstimos

ao mesmo tempo em que a arrecadação líquida do FGTS continuou a cair”

(ARAGÃO, 2003, p. 164).

6 UPC é a Unidade Padrão de Capital do BNH

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38

Esse período coincide com a retomada democrática, sendo relatado desta

forma:

No início de 1985, quando se implantou a então chamada ‘Nova República’, o quadro existente no setor habitacional apresentava, resumidamente, as seguintes características: baixo desempenho social, alto nível de inadimplência, baixa liquidez do sistema, movimentos de mutuários organizados nacionalmente e grande expectativa de que as novas autoridades pudessem resolver a crise do sistema sem a penalização dos mutuários. (AZEVEDO, 2007, p. 15)

Em 1986, durante o governo Sarney (1985 - 1990) o BNH é extinto7 e

incorporado à Caixa Econômica Federal (CEF), demonstrando a falta de prioridade

para as questões urbanas e, em especial, a habitacional, que deixam de contar com

uma instituição dedicada ao assunto.

1.1.17 O Governo Collor (1990 – 1992)

Segundo Azevedo (2007, p. 19) é lançado o “Plano de Ação Imediata para

Habitação (PAIH), [...] apresentado como medida emergencial, se propunha a

financiar em 180 dias cerca de 245 mil habitações, [...] totalmente financiado com

recursos do FGTS”. Ainda segundo Azevedo (2007, p. 19):

O Paih possuía três vertentes: ‘programa de moradias populares’ (unidades acabadas), ‘programa de lotes urbanizados‘ (com ou sem cesta básica de materiais) e ‘programa de ação municipal para habitação popular’ (unidades acabadas e lotes urbanizados). Enquanto para os dois primeiros programas os agentes promotores eram variados (Cohab, Cooperativas, Entidades de Previdência, Carteiras Militares etc.), para o último este papel caberia exclusivamente à prefeitura. A coordenação geral ficaria a cargo do Ministério de Ação Social / Secretaria Nacional da Habitação, atuando a Caixa Econômica Federal como banco de segunda linha, isto é, com a responsabilidade de implementar os programas através dos agentes promotores.[...]

De acordo com o mesmo autor, o PAIH não logrou êxito em suas metas,

tendo o prazo de execução passado de 180 dias para 18 meses, e o custo unitário

majorado, o que reduziu de 245 mil para 210 mil as unidades produzidas.

1.1.18 O Governo Itamar Franco (1992 – 1995)

Azevedo (2007, p. 20) afirma que neste período “houve uma busca de

mudança nos rumos da política habitacional especialmente no referente às classes

de baixa renda, por meio dos programas Habitar Brasil8 e Morar Município, que

funcionavam fora do Sistema Financeiro da Habitação”.

7 A extinção do BNH se deu pelo Decreto-Lei N

o. 2.291, de 21 de Novembro de 1986.

8 Programa voltado para famílias com renda de até 3 salários mínimos, operado pela Secretaria de

Estado de Desenvolvimento Urbano/Presidência da Republica (SEDU/PR), utilizando recursos da OGU, os quais são repassados a fundo perdido.

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39

O governo passa a atuar em duas frentes, buscando terminar “cerca de 260

mil casas financiadas pelo governo anterior, através das linhas de financiamento

tradicionais (FGTS), recursos do Fundo de Desenvolvimento Social (FDS) e verbas

orçamentárias” e também lançando o “Programa Habitar Brasil, voltado para

municípios de mais de 50 mil habitantes, e o Morar Município, destinado aos

municípios de menor porte.” (AZEVEDO, 2007, p. 21)

1.1.19 O fim do SFH e a transição para o SNH

Durante a gestão Itamar, apesar da exigência da composição de Conselhos e

fundos destinados à questão habitacional, o governo não logrou êxito na formação

de um fundo federal para a implementação de uma política habitacional, ficando os

programas dependendo de verbas orçamentárias ou de recursos provisórios,

fragilizando-os.

1.1.20 O Governo Fernando Henrique Cardoso (1995 – 2003)

Azevedo (2007, p. 23) afirma que esta gestão estabelece algumas iniciativas

para viabilizar a questão habitacional, propondo algumas ações, quais sejam,

continuar os esforços visando o saneamento do FGTS, com o objetivo de proteger

os recursos dos trabalhadores, bem como ampliar a capacidade de investimento

habitacional; securitizar a dívida do Fundo de Compensação das Variações Salariais

(FCVS) com os agentes financeiros e o FGTS; e implementar novas formas de

captação de recursos para o setor imobiliário a partir de empresas de capitalização e

seguros, fundos mútuos e fundações de previdência privada, entre outros.

Dentro dessa política, havia a intenção de reforçar o papel dos governos

municipais como agentes promotores da habitação popular. Desse período,

merecem destaque os seguintes programas: “Programa de Conclusão de

Empreendimentos Habitacionais”, que visava recuperar investimentos já realizados

com recursos do FGTS; “Programas de Crédito Direto ao Cidadão”, voltados para

famílias com até oito salários mínimos de renda média, possibilitando a oferta de

crédito para a aquisição de materiais de construção; “Pro-Moradia9” e “Programa

9 De acordo com Aragão (2003, p. 434) o Programa de Atendimento Habitacional através do Poder

Público (PRO-MORADIA) é um programa voltado para estados ou municípios, onde este contrai o empréstimo e é o responsável pelo retorno do mesmo. Os empréstimos são destinados à urbanização de áreas, aquisição e/ou produção de lotes urbanizados, aquisição de materiais de construção, infraestrutura de “conjuntos-problema” e construção de habitações para famílias no estratos inferiores de renda. Tem finalidades similares ao Habitar Brasil, voltado para famílias com

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40

Habitar Brasil” para o setor social, estes voltados para o poder público e financiados

com recursos do FGTS e OGU; e por fim, o “Programa de Arrendamento Residencial

(PAR)”, voltado para uma clientela na faixa de quatro a seis salários mínimos.

(AZEVEDO, 2007, p. 24)

Segundo Barcelos (2011) o programa PAR foi instituído em 1991 com o

objetivo de construir unidades habitacionais para pessoas com renda de 3 a 10

salários mínimos, na forma de arrendamento, em que o arrendatário paga uma

parcela do arrendamento por 15 anos e, após esse período, o imóvel poderá ser

adquirido pelo usuário, estando o programa ainda entre os disponíveis no portfólio

da Caixa Econômica Federal (CEF), não sendo porém incentivado, em função de

algumas de suas características.

1.1.21 O Governo Luiz Inácio Lula da Silva (2003 – 2011)

Neste período se observa a construção de uma política habitacional mais

estável, através da criação da Secretaria Nacional de Habitação, vinculada ao

Ministério das Cidades, que propõe o Sistema Nacional de Habitação de Interesse

Social (SNHIS), estipulando que estados e municípios interessados em integrar o

novo sistema deveriam criar fundos, conselhos e planos locais de Habitação de

Interesse Social, sendo seguido, em 2007, pelo lançamento do Plano de Aceleração

do Crescimento (PAC), destinado a investimentos em infraestrutura, sendo previstos

investimentos em habitação e saneamento básico.

Em 2009 é lançado o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), em

substituição ao Programa PAR, com o objetivo de atender a famílias com renda de

até 10 salários mínimos, estabelecendo patamares de subsídios diretos,

proporcionais à renda das famílias (CARDOSO; ARAGÃO; ARAÚJO, 2011, p. 4).

Neste programa, o promotor do empreendimento passa a ser o setor privado,

ficando a Caixa Econômica Federal (CEF) responsável pela análise e aprovação dos

projetos, bem como a contratação e medição das etapas finalizadas. Aos estados e

municípios cabe organizar a demanda por habitação, através de cadastros

encaminhados à Caixa, para a seleção dos beneficiários, além de poder criar

condições para facilitar a produção, através de desoneração tributária e da

renda de até 3 salários mínimos, porém o mesmo é operado pela Caixa Econômica Federal, com recursos do FGTS, que devem portanto ser reembolsados.

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41

flexibilização da legislação urbanística e edilícia dos municípios (CARDOSO;

ARAGÃO; ARAÚJO, 2011, p. 5-6).

Segundo o Ministério das Cidades (2010), o programa prevê 3 níveis de

atendimento, com relação à renda familiar:

i. até 3 salários mínimos;

ii. entre 3 e 6 salários mínimos;

iii. entre 6 a 10 salários mínimos.

1.1.22 A crise habitacional se transforma em problema urbano

Em relação à problemática habitacional exposta para este trabalho e a

importância de se avaliar as políticas públicas, reside nas diversas consequências

que podem ser verificadas em relação à aplicação prática dessas ações na cidade

de Cuiabá, a ser abordado em capitulo posterior. Porém, de forma a preparar para

essa abordagem, cabe aqui ressaltar as principais características dos espaços

resultantes dos programas relacionados às características da produção habitacional

no período do BNH, onde Bolaffi (1982, p. 57) faz a seguinte afirmação:

[...] Aparentemente, o principal fator responsável pela deterioração física, social e econômica das cidades brasileiras é o processo periférico de crescimento, ou seja, o padrão descontínuo de expansão da mancha urbana, típico e facilmente perceptível nas grandes cidades do país [...]

O mesmo autor estabelece que:

[...] é importante chamar a atenção para o fato de que o processo periférico do crescimento, além de ser responsável pela formação da periferia [...], implica também a deterioração permanente e progressiva dos setores centrais da metrópole e o habitat urbano como um todo. (BOLAFFI, 1982, p. 58)

A respeito das consequências dessa ocupação periférica, e dentro do

contexto deste trabalho, o autor resume nas seguintes implicações:

[...] A expansão descontínua da mancha urbana aumenta as distancias, encarece os investimentos para a implantação de serviços públicos, eleva os custos de operação e de manutenção existentes. Enquanto porções do solo urbano parcial ou totalmente atendidas permanecem ociosas, contingentes cada vez maiores da população se instalam em áreas não servidas. E enquanto a periferia surge e se amplia, a baixa utilização dos serviços instalados condena o poder público à incapacidade permanente de resolver um problema que, paradoxalmente, o crescimento econômico e demográfico somente contribuíram para agravar. (BOLAFFI, 1982, p. 58)

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42

Esta é a situação que hoje é observada nas grandes cidades brasileiras, que

sofrem em maior ou menor escala, com as consequências na implantação dos

programas habitacionais.

Em relação aos programas habitacionais que hoje são inseridos em nossas

cidades, é pertinente a observação feita por Cardoso; Aragão; Araújo (2011) onde

diz que a politica habitacional relacionada ao Programa Minha Casa Minha Vida,

cujo modelo de implantação é baseado na execução das edificações pela iniciativa

privada, com o objetivo de auferir ou ampliar os lucros na operação, traz embutidos

duas possibilidades de atingir essa meta, sendo um deles o aumento da

produtividade, com a consequente redução dos custos de execução das edificações,

e a outra, o ganho obtido com a redução do preço pago pela terra. Como o aumento

da produtividade traz a necessidade da ampliação no tamanho dos

empreendimentos, com uma maior padronização, uma vez que nossas técnicas

construtivas não primam muitas vezes pela racionalidade, esse ganho na escala traz

a necessidade de terrenos com maiores dimensões, o que vem reforçar o processo

de periferização. De maneira semelhante ao relatado por Bolaffi, em seu trabalho o

autor assim se refere:

[...] As consequências enfrentadas neste processo pela população de baixa renda são notórias. Sem outras alternativas para obtenção da casa própria, este grupo se sujeita a ocupar os distantes conjuntos habitacionais. Desta forma, passam a arcar com elevados custos de transporte no trajeto casa-trabalho-casa, afetando a saúde por conta da dura rotina de deslocamento e dificuldade nos acessos aos serviços e equipamentos básicos. Os reflexos também são sentidos pelos poderes públicos locais, devido o aumento na demanda por investimentos no setor de transporte público, ampliação das redes de abastecimento de água, esgotamento sanitário e rede viária e, em muitos casos, também pela necessidade de implantação de equipamentos

de educação e saúde. (CARDOSO; ARAGÃO; ARAÚJO, 2011, p. 8)

O PMCMV, com o objetivo de limitar o tamanho dos conjuntos habitacionais,

evitando assim os grandes espaços segregados característicos da produção do

BNH, define o limite máximo para cada empreendimento, em 500 unidades

habitacionais ou condomínios compostos de até 250 habitações. Porém, na visão do

autor:

[...] este tipo de regra não impede a estratégia empresarial de formação de grandes glebas parceladas e novos conjuntos de grande extensão aprovados de forma fracionada, apresentando a mesma tipologia [...]. O resultado aponta que no Brasil estão sendo construídos grandes blocos de conjuntos a partir do agrupamento de uma média de 3,3 empreendimentos, resultando em conjuntos habitacionais com cerca de 1000 unidades

habitacionais em média. [...]. (CARDOSO; ARAGÃO; ARAÚJO, 2011, p. 9)

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43

Continuando em suas considerações, o autor afirma que “considerando que o

PMCMV não prevê recursos para a construção de equipamentos urbanos, a

construção destes grandes conjuntos poderá trazer mais problemas de habitação do

que necessariamente solucioná-los” (CARDOSO; ARAGÃO; ARAÚJO, 2011, p. 10).

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44

2 REVISÃO HISTÓRICA: EVOLUÇÃO URBANA DE CUIABÁ-MT

Nesta temática desenvolve-se o estudo da evolução urbana da capital mato-

grossense de forma a compreender o passado deste tecido urbano, como surgiu e

se formou, a partir de ingerências externas, primeiro pelas determinações da Coroa

portuguesa, e posteriormente com as interferências das esferas Federal e Estadual.

É desse conjunto de intervenções que resulta a cidade que hoje se apresenta

e são expressão direta dessa evolução os desafios a serem enfrentados.

Em relação à história da cidade, segundo Freire (1988, p. 17-18) pode-se

distinguir três ciclos de produção do espaço:

a) o Ciclo da Mineração, que se estende desde a fundação da mesma até

1820 quando passa, de fato, a sediar a capital da Província de Mato

Grosso;

b) o Ciclo da Sedimentação Administrativa, que vai de 1820 a 1968,

quando dinamitaram a Catedral do Bom Jesus, o mais importante

monumento barroco do Centro-Oeste, coincidindo com a abertura do

portal mato-grossense da Amazônia para o avanço das fronteiras,

mediando a expansão capitalista para as imensas áreas do Norte do

Estado;

c) o Ciclo da Modernização, incrementado a partir de 1968 quando

efetivamente se inicia a diversificação das funções urbanas da cidade,

sob o influxo das frentes pioneiras.

2.1 O CICLO DA MINERAÇÃO: A FUNDAÇÃO DA CIDADE.

A informação mais antiga da presença de europeus, ou seus descendentes,

nesta região é anterior à descoberta de ouro por Pascoal Moreira Cabral Leme, o

fundador de Cuiabá. Antes dele e seus homens aqui chegarem, conforme relatado

por Cuiabá (2013, p. 21), por aqui estiveram Manoel Bicudo de Campos e seu filho,

Antônio Pires de Campos, no local que Bicudo denominou de São Gonçalo.

Passados mais de 40 anos dessa primeira ocorrência, retornaria Antônio Pires de

Campos a esse local com o objetivo de prear índios e, ao regressar a São Paulo,

encontra-se com a bandeira de Pascoal Moreira Cabral, indicando a este o local em

que se deu a captura dos índios: São Gonçalo Velho, como ele renomeara o antigo

arraial de seu pai.

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45

Na busca pelos índios, os bandeirantes de Pascoal Moreira Cabral começam

a subir o Rio Coxipó e acabam sofrendo um ataque dos indígenas, sendo forçados a

retroceder ao São Gonçalo Velho, onde ficara parte dos homens. É quando a sorte

lhes sorri, encontrando ouro na barra do Mutuca, um tributário do Coxipó. (CUIABÁ,

2013, p. 21)

De acordo com Cuiabá (2013, p. 21-22), era o ano de 1719 e esse local, sede

da primeira povoação de Mato Grosso, foi denominado de Arraial da Forquilha, hoje

se localiza o Distrito do Coxipó do Ouro. A notícia da descoberta de ouro logo

chegou à Capitania de São Paulo, através de emissário para o Governador da

capitania, Conde de Assumar. Enquanto isso, no Arraial da Forquilha, os

bandeirantes que ali se encontravam, sob as ordens de Pascoal Moreira Cabral, se

organizaram e assinaram a Ata de Fundação do Arraial do Cuiabá, sendo este

aclamado como guarda-mor regente, com o objetivo de acautelar-se dos problemas

que surgiriam com o afluxo de migrantes, além de questões envolvendo a

segurança, hierarquia e posse das lavras.

Em relação à fixação neste território, Davidson (1973), citado por Rosa

(1996), traz informações dando conta da preocupação, por parte da Coroa

portuguesa, da fixação de mineiros e povoadores na área descoberta, de forma a

consolidar a posse da região. Essa decisão é tomada à partir de ponderações

enviadas ao Conselho Ultramarino pelo Ouvidor Geral de São Paulo, Rafael Pires

Pardinho. A respeito desse Ouvidor, Rosa (1996) o identifica como sendo o

responsável pela definição da ordenação urbana de Paranaguá e de Curitiba, ambas

em 1721, na qual esteve pessoalmente. Ainda em relação ao ouvidor, o autor assim

se refere, citando o trabalho de Delson (1979):

[...] O Ouvidor Pardinho exemplificava, com clareza, o tipo de delegado metropolitano empenhado em consolidar a face fixadora, urbanizadora, da colonização. Em 1721 deslocou-se para Paranaguá, ali delineando pessoalmente a traça urbana: Ruas alinhadas por corda, proibição de edificação de casa “no mato” e, sim, na própria Vila, se possível juntas umas às outras – com isso visando prevenir eventuais ataques e, também, impor homogeneidade ao desenho da Vila. Ordenou também a abertura de um Largo, em frente à Igreja Matriz, de modo a criar uma Rua espaçosa fronteando a igreja, destinada principalmente à passagem de procissões, ritual urbano por excelência, Rua com uma calha de no mínimo 10 metros, para que a igreja ficasse “mais decente e visível”. O mesmo ordenamento urbanizador Pardinho impôs a Curitiba, também em 1721. (DELSON, 1979, p. 73-74, apud ROSA, 1996, p. 66-67, grifo do autor)

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46

A menção a essa “traça urbana” serve como indício de uma cultura de

urbanização por parte dos portugueses, em contraposição à ideia usual, de que as

cidades brasileiras surgiam de uma forma espontânea e sem planejamento. Em seu

trabalho, Rosa (1996, p. 37) discorrendo a respeito da maneira como o que ele

define de “dimensão pública do espaço urbano” fala que este “colocava-se, portanto,

como prioridade para a política urbanizadora portuguesa desde os primeiros

momentos da colonização propriamente dita no Brasil, no Século XVI”, e faz

referencia a outro trabalho, citando um trecho dele:

[...] este verbo, ‘arruar’ de que não existe equivalente noutra língua, acompanhará todo o processo de formação das cidades nos territórios ocupados por Portugal. (...) arruar, ou ‘fazer arruação’ era o ato de abrir e delinear as ruas dos assentamentos urbanos por meio de cordas e (...) bússola. Uma verdadeira atitude de projeto efetuada sobre o próprio terreno. (ARAÚJO, 1988, p. 260, apud ROSA, 1996, p. 37)

Em outra passagem, Rosa (1996) reafirma essa intenção urbanizadora ao se

referir a um grupo de homens que parte de Sorocaba, em 1719 acompanhando

Fernando Dias Falcão, que viria depois a se tornar Regente das Minas do Cuiabá,

na qual relata a presença em numero significativo de artesãos e mineradores

experientes. Segundo ele, entre março e setembro de 1721, uma nova leva de

imigrantes traz ao menos “12 homens com experiência de vida urbana, sendo 5

providos com Patentes militares e honorárias e 4 sacerdotes [...]” (ROSA, 1996, p.

71). O autor, se baseando em escritos de Barbosa de Sá, diz que “a chegada

desses imigrantes desencadeou, reforçou ou no mínimo coincidiu com a mudança

do primeiro local do arraialamento” (ROSA, 1996, p. 72) e transcreve:

[...] chegados ao Arraial que é hoje a Capela de São Gonçalo, mudaram-se todos para o Rio Coxipó acima, lugar chamado hoje a Forquilha, onde formaram Arraial e levantaram Igreja com o título de Nossa Senhora da Penha de França, [...]. (SÁ, 1975, p. 13, apud ROSA, 1996, p. 72)

Por essa época é nomeado Governador e Capitão General de São Paulo e

Cuiabá, Rodrigo César de Menezes. De acordo com Cuiabá (2013), a fixação ao

local, em que hoje se encontra o núcleo inicial da cidade de Cuiabá, se deu mais

tarde:

[...] Entretanto, o sítio urbano de Cuiabá não teria por berço definitivo a povoação da Forquilha. Apenas quatro anos passados de sua formação, a população da Forquilha mudar-se-ia para o centro do que hoje é Cuiabá, onde Miguel Sutil, um lavrador sorocabano, descobriu veio mais rico de ouro, na verdade o mais rico já descoberto no Brasil até então. O local da mancha aurífera hoje guarda a Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São

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Benedito, construída no terreno das “Lavras do Sutil”, nome das catas de onde despontaria Cuiabá. (CUIABÁ, 2013, p. 22)

Em relação à descoberta das lavras, comumente atribuída a dois escravos

que trabalhavam para Miguel Sutil, Rosa (1996) traça um panorama diferente. Em

seu trabalho o autor descreve Miguel Sutil como um “pesquisador de ouro nas terras

do Curitiba nos anos 1690, onde deixou ‘minas’ com seu nome [...]” (ROSA, 1996, p.

76), indicando que talvez estas lavras do Cuiabá já houvessem sido descobertas por

outrem, sendo essa informação sonegada aos demais habitantes do arraial. A esse

respeito, o autor assim se refere:

[...] Foi na ausência dos Leme que o experiente Miguel Sutil de Oliveira “descobriu”, e “por acaso”, as jazidas do Córrego Prainha, provocando imediata e intensa concentração populacional nesse descoberto, a “mancha de ouro mais copiosa que se tem achado em todo o Brasil”. (ROSA, 1996, p. 76)

É dessa forma que tem início a ocupação da área que hoje é conhecida como

Centro Histórico de Cuiabá. A respeito desse acontecimento, Rosa (1996, p. 93)

afirma que é na ausência dos Leme, em fins de 1722, que se estabelece Miguel Sutil

de Oliveira no entorno das cabeceiras do Prainha, sendo em suas proximidades

erguida, pelo Capitão-Mor Jacinto Barbosa Lopes, a Igreja do Senhor Bom Jesus do

Cuiabá.

Ainda com o objetivo de reforçar uma intenção urbanizadora por parte dos

bandeirantes que aqui chegaram, Rosa (1996) indica a procedência desse Jacinto

Barbosa Lopes, o responsável pela execução da igreja que se tornaria a Matriz do

Arraial do Senhor Bom Jesus do Cuiabá, demonstrando ser ele um homem já

experimentado nesse tipo de função, tendo sido anteriormente signatário do Termo

de elevação da Vila do Ribeirão do Carmo e Vereador naquela localidade, hoje a

cidade de Mariana, além de ter sido responsável pela construção da Igreja Matriz

daquela povoação. (ROSA, 1996, p. 71 e 89)

Em relação à localização dessa igreja, assim relata:

[...] foi erguida a cerca de um quilômetro das Lavras do Sutil, [...] As lavras ficavam nas encostas dos morros da margem oriental ou esquerda do córrego depois denominado Prainha. A igreja ficava no altiplano ocidental ao córrego, num patamar sobranceiro e distanciado do local propriamente da exploração mineral. Teve sua face frontal voltada para o córrego, seu Oriente; foi postada, além disso, a meio caminho entre dois outros pequenos córregos, tributários do principal, a Norte e Sul. A escolha do local distinguia claramente o território da igreja do território das lavras. Como igreja que “logo serviu de Freguesia”, segundo Barbosa de Sá

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48

(ou seja: Matriz), o templo erguido por Lopes instaurava um polo de atração edificado, que ao mesmo tempo emanava eixos potenciais de ligação com qualquer outro espaço significativo, em particular com as lavras e com o porto. (ROSA, 1996, p. 96)

Em sua descrição, Rosa (1996) inicialmente traça um paralelo com a

implantação da Matriz da Vila do Carmo, para em seguida descrever a conformação

do núcleo inicial da cidade de Cuiabá, assim relatando:

[...] Marco inicial referenciador do centro urbano do Arraial/Vila do Senhor Bom Jesus do Cuiabá, a Igreja/Matriz edificada por Jacinto Barbosa Lopes em certa medida evocava a configuração espacial da Vila do Carmo, nas Gerais: em meio a dois afluentes de córrego fronteiro e em arco, balizado a oriente por morros. Configuração que se aproxima de um “modelo”, iluminado por normatizações seculares. [...]. As Lavras comunicavam-se com o Porto através do próprio córrego Prainha e, por terra, através de um “caminho que vai para o Porto” e que, em seu trecho até pontear a Matriz, recebeu o nome de Rua de Baixo, em contraponto com a “Rua Direita de Cima”, que posteriormente ligava a Matriz ao “Sítio da Mandioca”; da Matriz até o Córrego das Almas, que lhe ficava ao Sul, havia uma “Rua da Igreja” ou “Rua da Sé”. Num morro a Sudoeste foi erguida Capela a Nossa Senhora do Bom Despacho. (ROSA, 1996, p. 100, grifo do autor)

Em 1726, o Capitão-general Rodrigo César de Menezes organiza numerosa

flotilha com o objetivo de levá-lo de São Paulo a Cuiabá. A partida se dá em 16 de

julho, de Araritaguaba (Porto Feliz), descendo o rio Tietê, chegando a Cuiabá quatro

meses depois, em 15 de novembro de 1726. Essa flotilha era composta de trezentas

canoas que traziam cerca de três mil pessoas acompanhando o governador. Em

primeiro de janeiro de 1727, Dom Rodrigo alçou o arraial à condição de vila,

instalando a Câmara e inaugurando o Pelourinho. O mesmo permaneceu em Cuiabá

até 5 de julho de 1728, quando retornou a São Paulo, porem ele não era mais

governador desde agosto de 1727. (CUIABÁ, 2013, p. 22)

Um dado importante a ser levado em consideração é que, segundo “declara

Joseph Barbosa de Sá em seu relato que, cinco anos após a descoberta das minas,

Cuiabá contava cerca de 3.000 habitantes.” (CUIABÁ, 2013, p. 79). Baseando-se

nesse dado, pode-se concluir que a comitiva que acompanhava o governador

Rodrigo César de Menezes praticamente dobra a população da cidade, a qual tinha

praticamente todo o seu abastecimento feito através das monções, expedições

fluviais que se aproveitavam do período de cheia dos rios para facilitar a sua

navegação.

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49

Com relação ao abastecimento de alimentos da região nos primeiros anos de

fundação e ao longo do século XVIII, Freire (1997, p. 35) relata que:

[...] dependia quase inteiramente das monções que de tempos em tempos vinham de São Paulo, em demoradas e perigosas travessias. As suas ricas lavras de fácil exploração mantinham seus habitantes permanentemente comprometidos com os trabalhos de mineração. Poucos se dedicavam à produção de alimentos, e os resultados das primeiras roças eram desalentadores, pela baixa produtividade, pelas pragas e pelas doenças. (FREIRE, 1997, p. 35)

O Arraial, que nas palavras de Freire (1988, p. 18) “desde o início, teve uma

existência cheia de atribulações, alternando períodos de relativa estabilidade com

períodos de escassez extrema e enormes provações” deve ter sentido o impacto da

chegada dessa comitiva. A respeito das condições de vida na Vila do Senhor Bom

Jesus do Cuiabá, Maciel (1992) relata que além da violência, um dos mais sérios e

constantes problemas que se apresenta à administração pública é relativa ao

abastecimento de gêneros alimentícios, dizendo que não são poucos os relatos de

períodos de miséria absoluta, de fome e de mortes resultantes dessa situação.

A posição geográfica aliada à necessidade de se manter um controle do

acesso à região conduz à citação, por parte de Rosa (1996), do trabalho de

mestrado de Elmar Figueiredo Arruda, de 1987, o qual “aponta, em parte

introdutória, ‘impedimentos’ para o crescimento demográfico mato-grossense na

primeira metade dos setecentos: restrições de acesso às minas do Cuiabá por

Rodrigo César de Menezes; proibição por 10 anos, da comunicação terrestre com

Goiás [...]” (ARRUDA, 1987, p. 26-28, apud ROSA, 1996, p. 20), resultando em um

isolamento proposital da cidade em relação ao restante da colônia.

Em relação aos melhoramentos urbanos, Rosa (1996) cita a edificação, nos

anos 1740/1750, dos Armazéns Gerais e da Intendência, e a partir de 1769, obras

de manutenção de fontes e pontes, além de novas intervenções de urbanização,

mais amplas. (Rosa, 1996, p. 139-140). E continua:

[...] Em fins dos anos 1770 intensificaram-se e ampliaram-se as intervenções no espaço urbano da Vila: desapropriações e aterro na “Praça Real”, “conserto” no Largo da Matriz, aterro e calçamento da Rua de Cima, retificação da Rua da Matriz, aterro da Rua Formosa, retificação da Rua do Oratório, conserto da Fonte “atrás da Matriz”, conservação do Córrego Cruz

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50

das Almas, retificação e obras na “estrada do Caminho do Porto”, conserto da “calçada do Porto” e conserto da Rua da Caridade, no Mundéu

10.

De tal forma que por volta de 1787 as principais “inovações” já tinham sido estabelecidas – embora só por volta de 1810 estivesse concluída a conformação com que a Vila Real, depois Cidade, atravessaria toda a primeira metade do século XIX.

11 (ROSA, 1996, p. 42)

A Figura 3 representa a planta da vila no ano de 1775, mostrando como se dá

a sua ocupação. Em relação a esse primeiro período da história urbana de Cuiabá,

Freire (1988) define dois pólos de atração do crescimento da vila:

[...] o da mina do Rosário, [...], e o do Porto Geral, que fazia, através do rio Cuiabá, a ligação da vila com o restante da colônia. Esses dois pólos aparecem claramente visualizados no Plano de Cuiabá de 1780 que mostra o esquema urbano da vila no final do século XVIII. (FREIRE, 1997, p. 22)

Figura 3 - Planta de Cuyabá, no ano de 1775.

Fonte: sem autor, apud Costa; Diener, 2000.

A Figura 4, indica o plano da cidade de Cuiabá, no ano de 1777, mostrando a

sua divisão em duas áreas, com a concentração na região do Rosário, e o Porto,

meio de ligação da vila com a colônia.

10

CONTA do Procurador Tesoureiro do Senado da Câmara (...), do presente ano de 1777; mss.,

Avulsos, Lata 1778A, APMT. 11

PLANO da Vila do Cuiabá, junto do Rio deste Nome (...) segundo as Observações Astronômicas que nela se formou em 1786 (...) mss., aquarelado, Centro de Operações Cartográficas do Exército, Rio de Janeiro. Planta da Vila do Sr. Bom Jesus do Cuiabá (...), Levantada em 1811 (...) mss., Arca 23.4.20, Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.

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51

Figura 4 - Plano da Vila do Cuyabá, datado de 1777.

Fonte: Rosa, 1996.

O espaço situado entre essas duas áreas ainda se apresenta sem ocupação

nesse período.

2.2 O CICLO DA SEDIMENTAÇÃO ADMINISTRATIVA (1820 – 1968)

Para este ciclo Freire (1997, p. 53) estabelece uma subdivisão, relacionando

três momentos de transformação urbana para a cidade de Cuiabá, sendo:

a) o primeiro, abrangendo o período de euforia pela mudança da capital

da Província de Vila Bela da Santíssima Trindade para Cuiabá e a

estagnação da mineração em fins do século XIX;

b) o segundo, abrangendo o breve surto açucareiro do final do século

XIX, o extrativismo da borracha no início do século XX e o marasmo

econômico que se lhe segue, durante as quatro primeiras décadas

deste século;

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c) o terceiro momento, iniciando com a Interventoria, no Estado Novo,

estendendo-se até o final da década de 60.

Em seu trabalho, Freire (1988, p. 27) considera “a mudança da Capital da

Província para Cuiabá como um fato decisivo na produção e fixação de

características urbanísticas desse ciclo”. Nesse primeiro momento, quando ocorre a

mudança oficial da Capital de Vila Bela para Cuiabá, uma vez que, de acordo com

Rosa (1996, p. 255):

[...] Vila Bela deixara de ser a capital praticamente desde os últimos anos 1790, mergulhando em decadência irreversível; Cuiabá tornara-se a Capital de fato no mínimo desde 1807 e inexoravelmente expandia-se.[...] (ROSA, 1996, p. 157)

Segundo o mesmo autor, já em 1798:

[...] Caetano de Miranda Montenegro12

propunha à Secretaria de Estado, entre outras medidas, “franquear aos mineiros as minas do Coxipó e do Paraguai”- o que significava a liberação da exploração diamantífera; e “a mudança da Capital para Cuiabá ou Vila Maria”. [...] (ROSA, 1996, p. 308)

A respeito dessa proibição, é oportuno citar o trecho do trabalho de Rosa

(1996) em que estabelece a passagem de cinco visitantes pela Vila Real, que aqui

chegaram em 1º de setembro de 1786 com o objetivo de fazer observações

geográficas e astronômicas, descreve o fato de um deles receber uma carta do

governador se mostrando em desacordo com seu interesse manifestado de “visitar”

as áreas diamantíferas do Cuiabá:

[...] as Reais Ordens me mandam precisamente considerar as diversas cabeceiras do Rio Paraguai, em que se supõe alguma porção de diamantes, a fim de que por nenhum modo sejam acessíveis a pessoa alguma, desejando se praticável for contentar ao empenho aliás louvável que V. Mcê me significa na sua carta, de passar a alguns dos referidos lugares, se entende bem que unicamente para neles fazer algumas observações astronômicas [...].

13 (ROSA, 1996, p. 266)

Nesse sentido, cabe ressaltar que, ainda vigorava a proibição, baixada por

Rodrigo César de Menezes, de que as pessoas pudessem transitar livremente pela

região. Em relação a isso, o autor continua:

[...] Entre fevereiro e novembro de 1800, o Governador deixou Vila Bela e permaneceu na Vila Real, onde liberou a mineração no Rio Coxipó, - medida menos importante pelos seus resultados, que pela quebra da proibição de mais de meio século.

12

O governador Caetano Pinto de Vasconcelos Miranda Montenegro. 13

Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres a Antonio Pires da Silva Pontes; Vila Bela,

11.06.1786; mss., Livro de Registro de Correspondência, fo. 134, APMT.

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53

O conflito armado com os vizinhos espanhóis em 1801, contribuiu ainda mais para consolidar uma profunda rearticulação da importância do Cuiabá e do Mato Grosso, apontando claramente para a eleição da Vila Real do Senhor Bom Jesus como “espaço do poder” na Capitania. [...] (ROSA, 1996, p. 309, grifo nosso)

A respeito desse tema considera-se interessante e pertinente um comentário

feito por esse autor em que é possível perceber a influencia de elementos externos

no desenvolvimento de Cuiabá. Ele assim se refere:

[...] os dois momentos prejudiciais à evolução de Cuiabá foram-no não por determinantes intrínsecas à localização e à organização espacial da Vila: foram, sim, determinados por forças externas – a “ambição” e “prepotência” de Rodrigo César de Menezes; a decisão metropolitana executada por Rolim de Moura de estabelecer a sede do governo no Guaporé. [...]. (ROSA, 1996, p. 161)

2.3 AS PRIMEIRAS RUAS DO ARRAIAL

Observa-se na Figura 5 a conformação do espaço urbano no ano de 1803,

com a ocupação acontecendo apenas na área localizada nas imediações do córrego

do Prainha.

Figura 5 - Planta de Cuiabá datada de 1803.

Fonte: Adonias, 1993.

A Figura 6 permite confirmar o relato das características da cidade nesse

período, feita por Maciel (1992), em que descreve o Largo da Mandioca como o local

onde aglutinaram-se as primeiras habitações e onde surgiram as três primeiras ruas

do arraial, as quais convergiam ao mesmo ponto, o Largo da Matriz. Estas vias

tinham as denominações de rua de Baixo, de Cima e do Meio descritas por aquele

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autor como ruas “sem qualquer preocupação com o alinhamento, descrevendo

curvas, ora alargando-se, ora estreitando-se, sempre desiguais e cortadas aqui e ali

por becos e vielas ainda mais tortuosos”. (MACIEL, 1992, p. 23)

Figura 6 - Planta da Villa do Senhor Bom Jezus do Cuyaba, na Capitania de Matto Grosso, levantada pelo Sarg.to Mór do Real Corpo de Engenheiros Joze Antônio Teixeira Cabral (1811).

Fonte: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro apud Costa; Diener, 2000.

Do Largo da Matriz a cidade ligava-se, rumo ao sul ao Porto, pela rua Bela do

Juiz, atual Treze de Junho, e pelo antigo caminho do Porto. Entre a cidade e o Porto,

apenas um imenso vazio. No Porto, em função da navegação e do comercio

importador e exportador, fixaram-se muitas residências e grandes casas comerciais.

No outro extremo, ao norte, com limite inicialmente definido pela Igreja do Rosário,

surgem os bairros da Mandioca e Baú, este ultimo, nas palavras deste autor, desde

sua origem habitado pelos pobres da capital. Rumo ao oeste, a cidade se estendia

através das ruas da Boa Morte e do Lavapés, antigo caminho de tropeiros que deu

origem ao bairro do mesmo nome, também moradia da população pobre da cidade.

E continua:

[...] Durante muito tempo circunscrita por estas ruas e pelas praças da Matriz, do Palácio, e Marquês de Aracati, a cidade de Cuiabá cresceu muito lentamente, ocupando os espaços vazios existentes ao longo da margem direita do Córrego da Prainha, em direção ao norte e até as margens do Rio Cuiabá. (MACIEL, 1992, p. 22-23)

2.4 CRESCIMENTO URBANO, NOVAS VIAS PÚBLICAS

A cidade de Cuiabá começa a passar por modificações, inclusive nas

questões relativas à base de sustentação econômica, quando com o ouro

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55

começando a escassear, começa a haver uma diversificação nas atividades

produtivas, principalmente na camada dominante, que passa a progressivamente

substituir a atividade mineradora pelas atividades agropastoris (FREIRE, 1998, p.

27-28). Outro elemento para a dinamização do comércio passa pelos cofres

públicos, devido ao grande número de funcionários públicos que se constituíam em

um significativo grupo de consumidores de produtos externos.

Esse período, porém, foi o momento do crescimento urbano, que ocorre no

sentido do “Rosário em direção ao Porto, estruturando duas vias de ligação: uma

pela margem direita do Prainha, em continuação à rua Bella do Juiz; outra pela

margem esquerda, a partir da Santa Casa, um caminho em que se delineia uma rua

dos Pescadores, posteriormente denominada rua Nova, atual rua D. Aquino”

(FREIRE, 1988, p. 36). Conforme aquele autor, na região do Porto, entre a rua Bella

do Juiz (hoje rua 13 de junho) e a Conde D’Eu (hoje XV de Novembro), a construção

do Arsenal de Guerra (atual Sesc Arsenal), do Quartel da 1ª Linha (atual

Ganhatempo), do Laboratório Pirotécnico e da Cadeia Pública (atual Centro de

Reabilitação Dom Aquino Corrêa) promove o ordenamento dessas importantes vias

públicas (Figura 7).

Figura 7 - Planta da região do Porto, datada de 1892, feita por J. Markwalder.

Fonte: Costa; Diener, 2000.

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56

Maciel (1992) cita duas tentativas registradas de alterar a aparência da

cidade, uma de 1850, através de um projeto de lei regulamentando a distribuição e

extensão das ruas, e o Código de Posturas Municipais14, aprovado em 1880, os

quais pouco ou nenhum efeito prático tiveram na organização física da cidade, em

função da falta de recursos, da dificuldade de comunicação com o restante do país

ou mesmo pelo decréscimo populacional, resultante da Guerra do Paraguai (1865 –

1870) e das epidemias que se alastraram na cidade.

Segundo Gomes (2009, p. 2-3), quando ocorre o franqueamento da

navegação no rio Paraguai, em 1856, através do Tratado de Aliança, Comércio,

Navegação e Extradição, firmado entre Brasil e Paraguai, a cidade de Cuiabá passa

por um processo de imigração, recebendo pessoas de diversas nacionalidades, o

que permite maior proximidade entre os países platinos e a Província de Mato

Grosso, e facilita a mobilidade de contingentes estrangeiros nessa região. Esse fluxo

é interrompido durante a Guerra do Paraguai, sendo retomado a partir de 1870.

Esse trajeto, que foi denominado de “rota do Prata” ou “caminho das águas”,

prevaleceu até 1914, quando a construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil

possibilitou a ligação da região sul do Estado de Mato Grosso com o litoral paulista.

Em seu livro, Sá (1980) comenta sobre esse fato dizendo o seguinte:

[...] Lembrei-me do Imperador Dom Pedro II, que foi apologista das estradas de ferro, e quando soube que Cuiabá era a única capital de província do Império, que para ligar-se com a Corte precisava ir ao estrangeiro, ficou

muito impressionado e mandou que se estudasse uma estrada de ferro de Uberaba até Cuiabá.

14

A respeito do Código de Posturas Municipais citado, além de Maciel (2009), em nenhuma outra das fontes pesquisadas foi encontrada menção a tal documento. Em relaç ão às fontes daquele autor, faz-se necessário transcrever o seguinte:

Uma advertência faz-se necessária quanto à origem da documentação utilizada, já que a maior parte das fontes disponíveis compõe-se de escritos deixados por sua elite letrada (comerciantes, políticos, profissionais liberais, clero, acadêmicos e historiadores, enfim seus intelectuais de modo geral) em inúmeros relatórios administrativos, na profusão de periódicos e ensaios literários, nas narrativas de viagens e nos registros iconográficos sobre a cidade. [...].

Nesse sentido, estarei trabalhando com as representações construídas pelos intelectuais da cidade, buscando por um lado, resgatar os valores, os projetos e as contradições que expressem seus interesses e, de outro, as coordenadas mais gerais do poder que exerciam. Pouco me interessou, porém, averiguar e discutir a fidelidade historiográfica dessas fontes, em geral comprometidas com a intenção de fazer projetar a grandeza e a riqueza do estado. Não foi também minha intenção confrontá-las com outras fontes numa tentativa de recuperar a realidade “tal qual ela aconteceu”, mas apenas resgatar as expectativas e as intenções de um determinado grupo e a forma como ele pretendeu, muitas vezes, moldar a cidades de acordo com seus sonhos de progresso e modernidade. (MACIEL, 2009, p. 11-12)

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57

De fato, naquela época, a ligação da capital de Mato Grosso com a Corte era feita por via fluvial, descendo o Cuiabá, depois o Paraguai e o Paraná até Buenos Aires, e daí, por via marítima, até o Rio de Janeiro. (SÁ, 1980, p.24, grifo nosso)

De acordo com Gomes (2009), antes da abertura da rota fluvial o caminho

terrestre que ligava o Mato Grosso a Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Rio de

Janeiro era longo, precário e oneroso, em viagens que podiam durar seis meses,

dificultando o escoamento da produção local e encarecendo as mercadorias

importadas. Para Mato Grosso, esse tratado com o Paraguai estabeleceu uma

importante hidrovia de comunicação com o exterior, permitindo firmar relações

comerciais com os países do Prata e da Europa, possibilitando uma nova fase de

prosperidade econômica, social e cultural, além de um movimento sem precedentes

de importação de produtos nacionais e estrangeiros e exportação dos produtos

locais, como poaia, charque, borracha, couro e erva-mate. (GOMES, 2009, p. 78)

O trajeto fluvial, segundo Freitas (2003) assim descreve:

[...] Assim, as saídas de Cuiabá para São Paulo e Rio de Janeiro se processavam por via fluvial. Seguiam o trajeto descendo o Rio Cuiabá e Paraguai até Corumbá, prosseguindo até Assunção, Buenos Aires e Montevidéu . A viagem prosseguia em navios de maior porte para o porto de Santos e Rio de Janeiro, perfazendo um total de aproximadamente trinta dias, o que representou um progresso para o estado. As mercadorias que chegavam a Cuiabá demoravam aproximadamente 30 dias, isto porque o percurso era longo e com trocas de embarcações, com porto alfandegário em Corumbá. (GOMES, 2009, p. 52-53)

2.5 O SURGIMENTO DA CIDADE DE VÁRZEA GRANDE

Em relação à Guerra do Paraguai, Freire (1997) cita uma interferência desse

período que teria reflexos no futuro. Assim ele descreve:

[...] A Guerra do Paraguai estende seus reflexos à fisionomia da cidade. No Porto Geral, às margens do Cuiabá, implanta-se o acampamento militar Couto Magalhães, dando origem à formação de um bairro popular, que irá atingir grande densidade populacional na primeira metade do século XX. Em frente ao Porto, na margem direita do Cuiabá, forma-se um novo núcleo urbano, a partir de acampamento e prisão militar. Esse núcleo mais tarde dará origem à cidade de Várzea Grande. (FREIRE, 1997, p. 56)

É importante destacar que, segundo a Fundação Candido Rondon (1980),

“muito próximo ao sítio urbano de Cuiabá começou a se desenvolver o núcleo

populacional de Várzea Grande como decorrência de ter sido na época, ponto de

pouso dos viajantes e boiadeiros que buscavam outras paragens como Nossa

Senhora do Livramento e Poconé”.

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58

É apenas a partir da década de 1920 que esse povoado começa a receber

novos migrantes e apresentar um maior crescimento populacional, se mantendo

como área distrital de Cuiabá e apresentando em 1940 uma população de 3.942

habitantes, sendo 67,3% desse total localizados na zona rural. É somente em 1948

que Várzea Grande é elevada à categoria de município, sendo que em 1950

apresentava “uma população de 5.503 habitantes, sendo que deste total, 2.774

localizavam-se na sede municipal”. (FUNDAÇÃO CANDIDO RONDON, 1980, p.31-

32).

A Figura 8 representa como as duas cidades apresentam um estreito

relacionamento, sendo a divisa naturalmente definida pelos contornos do Rio

Cuiabá, elemento natural que limita os municípios e define essa fronteira através de

suas curvas.

Figura 8 - Mapa mostrando as cidades de Cuiabá e Várzea Grande.

Fonte: Google Maps, 2014

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59

Segundo Garcia (2010) é na década de 1960 que se acelera o processo de

crescimento do município, que vem a ser reforçado nos anos 1970 pela política de

integração nacional do governo federal. A construção da BR 163, ligando Cuiabá a

Santarém, faz de Várzea Grande o corredor natural para a Amazônia, sendo fator

determinante para um constante fluxo migratório, nesse período, que provoca

grande impacto socioeconômico e cultural, além de trazer como consequência uma

descontrolada ocupação do espaço urbano.

2.6 A INFLUÊNCIA DOS IMIGRANTES NA ARQUITETURA CUIABANA

Outra consequência dessa comunicação através da “rota do Prata” é citada

por Gomes (2009) que assim se refere:

[...] Com o franqueamento da navegação do rio Paraguai, em 1856, através do Tratado de Aliança, Comércio, Navegação e Extradição, firmado entre o Brasil e a nação paraguaia, houve maior proximidade entre os países platinos e a Província/Estado de Mato Grosso, facilitando a mobilidade de contingentes estrangeiros nesta região, espaço onde ocorreram diferentes experiências históricas de deslocamentos e fixação de grupos populacionais de diversas nacionalidades. Desde então, muitos

italianos chegaram em Mato Grosso em busca de trabalho e oportunidades de negócios nas principais cidades, vilas e povoações dessa região. Com a Guerra da Tríplice Aliança, entre 1865 e 1870, o fluxo de estrangeiros para o Mato Grosso, via rota do Prata, foi interrompido. Após esse conflito e a reabertura da navegação do rio Paraguai, em 1870, esta Província/Estado começou a receber novas correntes imigratórias, sendo que esse movimento tornou-se mais ativo pós-1880.(GOMES, 2009, p. 3-4, grifo nosso)

É somente a partir de 1914, com a construção da Estrada de Ferro Noroeste

do Brasil, ligando a região sul do Mato Grosso ao litoral paulista, que se percebe

uma gradativa diminuição no movimento de imigrantes pela Rota do Prata.

A respeito da diversidade cultural que forma a população de Cuiabá no final

do século XIX e início do século XX, Gomes (2001) relata a contribuição que esses

imigrantes, principalmente os italianos, deixaram na arquitetura da cidade. Cita o

exemplo de dois irmãos, João Sardi e José Sardi que:

[...] assim que chegaram a Cuiabá, no final do século XIX, pelas suas habilidades e experiências na área de arquitetura e construção, logo ficaram conhecidos na cidade, deixando suas marcas na arquitetura urbana em Cuiabá. Com arte e criatividade, foram aos poucos modificando e eliminando os beirais e introduzindo as platibandas, dando novas formas e contornos às fachadas das casas e sobrados da cidade. Um exemplo dessas transformações na arquitetura da cidade, trazendo à tona novos gostos, percepções, estéticas e formas de dar a ver interesses e valores referentes aos hábitos de bem morar [...]. (GOMES, 2001, p. 75)

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60

Com relação à composição da população cuiabana nesse período, Gomes

(2001) descreve sua composição como “formada por brancos, pardos, negros e

caboclos, além de um grupo reduzido, comumente chamado de ‘forasteiros’,

composto por estrangeiros de diversas nacionalidades, como bolivianos, paraguaios,

uruguaios, argentinos, portugueses, italianos, espanhóis, franceses e outros [...]”.

Aquele autor cita que as primeiras notícias da presença italiana na cidade de Cuiabá

são feitas nas descrições de viagem de Hercules Florence, participante da

expedição do Barão Langsdorff, que se refere à presença de um negociante italiano

na cidade quando da chegada da expedição a Cuiabá, em 30 de junho de 1827.

Ainda a respeito da influencia dos imigrantes na formação da arquitetura local,

tem-se as palavras do memorialista local, Lenine Póvoas, que diz:

[...] Até o término da Guerra da Tríplice Aliança, contra o governo do Paraguai, a Capital mato-grossense tinha a fisionomia de uma autêntica vila do norte de Portugal, da região do Minho ou do Trás-os-Montes. Predominavam as casas beirais, as fachadas despidas de ornatos, as janelas retas na sua parte superior, os caixilhos de guilhotina, as rótulas que abriam para fora. Os construtores italianos, espanhóis e gregos foram que introduziram em Cuiabá as platibandas, eliminando beirais; as fachadas passaram a ser decoradas; as janelas encimadas com arcos e mouriscos, quase sempre com vitrôs coloridos; as venezianas e os postigos por trás das mesmas, substituíram os caixilhos e as rótulas; surgiram as sacadas decoradas com balaústres. O bom gosto das novas construções fez com que muitos particulares reformassem as fachadas de suas casas, introduzindo a platibanda e outros elementos ‘modernos’. E assim a Cuiabá do século 19 começou a perder a autenticidade de sua origem portuguesa. (PÓVOAS, 1989, p. 88)

2.7 AS CARACTERÍSTICAS URBANÍSTICAS NO FINAL DO SÉCULO XIX

Desse período, Freire (1997) assim se refere:

[...] No final do século XIX, tem início o segundo momento do ciclo urbanístico que estamos descrevendo e examinando. Caracterizou-se pela adoção de novos modelos na arquitetura, por um maior adensamento da mancha urbana conferindo maior nitidez ao traçado das ruas, pela consolidação do Porto Geral e início da integração da pequena localidade de Coxipó da Ponte, sede do distrito de mesmo nome. A principal característica urbanística desse momento é a estabilidade da mancha urbana que vai se adensando, sem evidências de ampliação do seu tamanho. (FREIRE, 1997, p. 90-91)

É nessa época que começam a ser implantados serviços urbanos pela

iniciativa privada, surgindo a linha do bonde de tração animal, em 1891, e a ligação

de duzentos telefones, em 1912. Através da documentação que restou da Câmara

Municipal de Cuiabá, Maciel (1992) nos mostra que esses anos foram de intensa

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61

mobilização por melhorias urbanas, apontando registros sobre a desapropriação de

casas e terrenos no perímetro urbano, para a regularidade das artérias urbanas

(1911); criação de impostos sobre muros construídos dentro do perímetro urbano

(1912); aprovação de lei concedendo terrenos, auxílio e isenção de impostos aos

interessados em organizar os serviços de iluminação elétrica, abastecimento de

água e esgotos da capital (1913) além de concessão de favores a indivíduos,

sociedades ou empresas que construíssem, na capital, casas higiênicas e baratas

para aluguel. (MACIEL, 1992, p. 6515). Cabe ressaltar que este é o primeiro

momento em que é possível perceber, nesta pesquisa, uma preocupação com a

questão da moradia, apesar desse autor não ter se aprofundado no assunto.

A Figura 9 mostra a cidade de Cuiabá em 1910, vista a partir do Morro da

Luz, evidenciando assim a área ocupada nesse período.

Figura 9 - Vista panorâmica de Cuiabá à partir do Morro da Luz, década de 1910.

Fonte: Album Graphico (Ayala; Simon, 1914).

2.8 A CONSOLIDAÇÃO DE CUIABÁ COMO CENTRO COMERCIAL DA REGIÃO

Segundo Sá (1980), nesse período Cuiabá se apresenta como um centro

abastecedor dos seringais localizados no interior do estado e ponto de passagem

para a exportação da borracha, que seguia por via fluvial até o porto de Montevidéu.

Essa efervescência comercial citada a pouco se modifica quando “com o

declínio das usinas de cana-de-açúcar e da exportação de borracha, Cuiabá passa

por um período de profunda estagnação econômica”. (FREIRE, 1997, p.107).

Segundo esse autor, em decorrência dessa decadência, poucas mudanças ocorrem

na fisionomia da cidade, destacando como “novidade de maior realce a construção

15

A informação é citada na pagina 85 do trabalho, sendo acompanhada de uma nota que está reproduzida na página 93 do mesmo.

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62

de pequeno complexo de campo de aviação entre Cuiabá e Coxipó e que veio a

transformar-se, mais tarde, em pólo de crescimento urbano, incorporando nova área

ao sítio urbano” (FREIRE, 1997, p. 113). Essa área que hoje corresponde ao Campo

Velho, nas imediações do Pico do Amor, começa a ser ocupado pela população, em

substituição à área de chácaras que circundava a cidade.

A Figura 10 apresenta imagem a partir da Praça da República, na qual

percebe-se a ocupação no período, sendo possível observar que o Morro da Luz

continuava praticamente sem apropriação.

Figura 10 - Vista da Praça da República, com a torre da antiga catedral, tendo ao fundo o Morro da Luz.

Fonte: Album Graphico (Ayala; Simon, 1914).

2.9 PROPOSTA PARA MUDANÇA DA CAPITAL

É importante destacar um fato interessante e curioso deste período, levantado

por Maciel (1992), o qual demonstra a decepção dos habitantes com a estagnação

da cidade, e diz respeito a uma proposta, aprovada pela população local no final da

década de 1920, para a criação de uma nova cidade no alto da Chapada dos

Guimarães. Nas palavras do autor:

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63

[...] Essa cidade, cuja planta obedeceria ‘às melhores prescrições do urbanismo’, seria ‘aberta em amplas ruas, praças e avenidas’ e deveria transformar-se num ‘complemento de nossa capital’. Caberia a ela realizar o que Cuiabá não havia conseguido em 200 anos: atrair imigrantes estrangeiros, iniciando ‘o povoamento do planalto’ central do estado. Mariópolis, a cidade idealizada e que habitava o sonho dos cuiabanos, deveria possuir todas as condições que faltavam em Cuiabá: boa localização, planejamento, salubridade e clima adequados, elementos considerados ‘essenciais à formação de uma grande cidade’.

16 (MACIEL,

1992, p. 81)

2.10 EVOLUÇÃO URBANA COM O CICLO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Este período de estagnação na evolução urbana só seria rompido alguns

anos depois, durante o Estado Novo.

Tem início segundo Freire (1988), com a gestão do Interventor Júlio Strubing

Müller, período em que, em virtude da política fiscal centralista de arrecadação que

assegurava às capitais recursos financeiros com que antes estas não contavam,

associado às políticas de ocupação da Amazônia e do Centro-Oeste, implementadas

por Getúlio Vargas, Cuiabá passa a contar com recursos financeiros para a

construção de novos edifícios, o que permitirá o redirecionamento da cidade. Esse é

um período que apresenta uma série de obras públicas, algumas delas vinculadas

ao que se convencionou chamar de “Obras Oficiais” e outras vinculadas a outros

programas17.

Em relação a esse período, Freire (1997) assim se refere:

[...] Ao contrário do momento anterior, esse momento traz em seu bojo fixação de sólidos pontos de amarração do crescimento urbano. Por isso mesmo pode ser melhor visualizado no desenho da cidade, porque imprimiu traços indeléveis, novos marcos de urbanização que rompem com a fisionomia barroca tradicional e imprimem nova dinâmica ao traçado urbano (FREIRE, 1997, p. 114)

16

“A Nova Cidade”. O Democrata, no. 88, 14 de julho de 1927, p. 2. O nome Mariópolis, segundo esse artigo, havia sido escolhido “pela vontade popular” numa justa homenagem ao então presidente do estado, Mário Correa da Costa, idealizador desse projeto. A idéia, no entanto, não passou do lançamento da pedra fundamental, sendo discutida durante algum tempo pela imprensa cuiabana. 17 A abertura da Av. Getúlio Vargas, onde antes existia a antiga rua Poconé; construção da

Residência dos Governadores, atual MT Fomento, construção do Grande Hotel, atual sede da Secretaria Estadual de Cultura; construção do Cine Teatro Cuiabá; construção da Secretaria Geral, atual Arquivo Público do Estado de Mato Grosso; construção do Tribunal de Justiça, atual Metamat; construção do Colégio Estadual; construção da Ponte Júlio Müller; construção da Estação de Tratamento de Água, localizada na rua Presidente Marques; construção do pavilhão de comando do 16º Batalhão de Caçadores, atual 44º Batalhão de Infantaria Motorizada, na avenida 31 de Março, obra esta contratada diretamente pela 9ª. Região Militar do Exército Brasileiro; construção do Centro de Saúde, edifício localizado na esquina da rua 13 de junho e rua Dom Bosco, atual Central de Regulação de Saúde do Estado, contratada diretamente junto ao Ministério da Educação e Saúde.

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64

Em seu trabalho, Freire (1997) informa que “a avenida Vargas foi aberta com

caixa de 17 metros, rompendo com o padrão tradicional de ruas estreitas,

introduzindo no discurso viário da cidade o conceito moderno de via pública”

(FREIRE, 1997, p. 117), tendo parte dela sido pavimentada em concreto e outra

parte em calçamento de pedra. Como forma de estimular a ocupação dessa

avenida, “o Governo facilitou às elites locais acesso aos lotes, com a garantia de

construção de moradias de alto padrão. [...]”. (FREIRE, 1997, p. 120).

A respeito da forma de ocupação dos lotes dessa avenida, Sá (1980) nos diz

que:

[...] com o prolongamento da Avenida Presidente Vargas desde a rua Batista das Neves até o seu final, os lotes de terrenos, exceto o trecho do Colégio Estadual, ficaram sem construções e o governo doou lotes a quem, mediante contrato, assumisse o compromisso de construir, dentro do prazo de 6 meses para início da obra. (SÁ, 1980, p. 201)

As Figuras 11 e 12 apresentam duas das chamadas “Obras Oficiais”, ambas

construídas nesse período, na Av. Getúlio Vargas, pela Empresa de Engenharia

Coimbra Bueno, sediada no Rio de Janeiro.

Figura 11 - Colégio Estadual (Liceu Cuiabano), construído na década de 1940.

Fonte: Casa Barão de Melgaço apud Freitas, 2011.

Figura 12 - Secretaria de Estado, construído da década de 1940.

Fonte: Casa Barão de Melgaço apud Freitas, 2011.

Para a execução dessas obras a empresa deslocou para Cuiabá um

engenheiro, de nome Cássio Veiga de Sá, a fim de gerenciar os trabalhos. Uma boa

parte das informações referentes a esse período vem dessa fonte, através de um

trabalho de cunho memorialista, em que são relatadas muitas das características da

cidade. Chegando a Cuiabá ao final de 1938, descreve a falta de comunicações,

estradas, mão-de-obra e materiais com que se depara, indicando como essas obras

puderam ser levadas a termo, apesar de tantas restrições. A respeito dessa falta de

insumos, Sá (1980, p. 60) assim se refere:

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65

[...] Ao planejar as Obras Oficiais, a Seção Técnica de Coimbra Bueno levou em conta que o conceito de obras a realizar era bem diverso das raras e pequenas construções que surgiram em Cuiabá, considerando que numa construção se distinguem os materiais básicos e os materiais de acabamento. Estes não eram, de modo algum, encontrados na praça de Cuiabá, nem na qualidade nem na quantidade, e quanto aos de composição, eu deveria pesquisar. Os materiais de acabamento, devidamente relacionados, foram adquiridos em São Paulo, e o Estado criou um almoxarifado no porto para estocar esses materiais e atender às obras nas ocasiões oportunas. [...].

E prossegue, indicando a logística envolvida na aquisição dos insumos:

[...] Quanto à madeira, embora Mato Grosso possuísse grandes matas, a madeira de lei não havia em Cuiabá, nem serrarias capazes de fornecer peças serradas na escala que precisávamos. [...]. As listas de materiais necessários para a construção de cada edifício foram muito bem organizadas pela seção técnica de Coimbra Bueno, porque a firma tinha construído a nova capital de Goiás, e tinha experiência em conduzir obras à distância dos centros fornecedores. As listas de materiais eram enviadas ao escritório de São Paulo que providenciava a sua aquisição de modo a não faltar e não sobrar material. Mas sempre havia uma pequena falta, quer por modificação, quer por atraso na chegada dos materiais, e recorríamos ao comércio local que muitas vezes contribuía para solucionar os problemas, [...]. (SÁ, 1980, p. 61-62)

Mais a frente, descreve-se como se dava o transporte desse material até a

cidade de Cuiabá:

[...] Os materiais eram despachados na estrada de Ferro Paulista até Bauru, para baldeação em vagões da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, [...]. Seus trens cargueiros, morosos, chegavam a Porto Esperança, onde não havia armazéns e a carga era descarregada na barranca do rio. Os armadores daquela época [...] traziam as cargas e passageiros para Cuiabá. Os materiais que recebíamos de São Paulo tinham nesse percurso uma demora em média de três meses. (SÁ, 1980, p. 63)

Por essa época, cita a existência de uma alternativa para o transporte de

passageiros por via terrestre, que saia de Cuiabá indo até Campo Grande, utilizando

a estrada para Chapada e passando por Rondonópolis, sendo esse trajeto realizado

em “jardineiras” cuja viagem podia levar de três dias, no período seco, a dez dias no

período das chuvas, inexistindo por essa época transporte regular de cargas por

essa estrada.

Em relação à mão-de-obra, Sá (1980) faz referencia a dois mestres de obra,

austríacos de origem, que foram os responsáveis pelas obras nesse período, sendo

os trabalhadores, em sua grande maioria, procedentes de Rio de Janeiro ou São

Paulo, chegando através de via terrestre, além de marceneiros portugueses. Já em

relação aos materiais básicos, assim se refere:

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[...] Para a construção da residência, tínhamos apenas a pedra, areia que extraíamos do rio Cuiabá, cal que vinha de Nobres e tijolos que inicialmente foram feitos pela Polícia Militar. As telhas coloniais de fabricação São Caetano, a serralheria, as esquadrias de madeira, os tacos de soalho, a cerâmica, o material elétrico e hidráulico e o de todo acabamento vieram de São Paulo. [...]. (SÁ, 1980, p. 72)

Sá (1980) cita que para a construção da Secretaria Geral, o Estado

desapropriou dezessete casas, construídas em barro socado, as quais foram

demolidas. Dessa demolição ele aponta que restaram “apenas telhas, ladrilhos,

janelas e portas” (SÁ, 1980, p. 76), material este que foi levado a leilão. Em relação

a isso, é interessante um comentário feito pelo autor, que vai de encontro ao tema

específico deste trabalho, o qual é reproduzido abaixo:

[...] Depois que percorri os arredores de Cuiabá compreendi a grande procura pelos materiais de demolição. Em Cuiabá não existiam favelas. O menos favorecido construía sua casinha, aforando terreno da prefeitura, utilizando sua própria mão de obra e às vezes com a ajuda de parentes, empregando adobe que ele mesmo fazia no local e portas, janelas, telhas e pisos de demolição. Com o tempo revestia as paredes da casa para ali morar com a família. (SÁ, 1980, p. 76, grifo nosso)

Em relação a esse período, é importante destacar uma observação daquele

autor acerca da importância desse conjunto de obras:

[...] O conjunto das Obras Oficiais realizadas no Governo Júlio Müller alterou o aspecto da cidade, quer pelas edificações que na verdade constituiram (sic) uma fase de renovação, quer pela finalidade a que se destinavam tais edificações, pelo seu papel na vida da cidade e pelo seu despertar de uma longa fase de paralisação. [...](SÁ, 1980, p. 177-179)

E ressalta:

[...] Considerando que antes do início das Obras Oficiais não havia na cidade emprego para trabalhadores braçais, ociosos até então, foi relevante o papel desempenhado pelas novas construções proporcionando emprego a cerca de 1.000 trabalhadores. [...] [...] Com a contratação dos especialistas que vieram para Cuiabá, as Obras Oficiais representaram uma escola que adaptou os elementos locais aos novos métodos e aprimorou a mão de obra, elevando o seu nível de classificação e remuneração. [...]. (SÁ, 1980, p. 179-180)

Esse período de profundas alterações no tecido urbano da cidade, após

décadas de estagnação, se encerra em novembro de 1945, quando Getúlio Vargas

é deposto e chega ao fim o período de Júlio Müller como Interventor do Estado,

tendo como consequência o fim das Obras Oficiais. Falando do período posterior ao

das Obras Oficiais, Freire (1997, p. 121) assim se refere:

[...] Cessada a febre de construções públicas, a cidade entrar em ritmo de crescimento vegetativo, interrompido, mais tarde, com a construção de 104

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67

casas populares nas imediações do Quartel 16° BC, com recursos federais, durante o governo do cuiabano Eurico Gaspar Dutra, que também destinou verbas para a construção de um pequeno estádio, no largo do Arsenal, entre a Cadeia Pública e o Arsenal de Guerra. A prefeitura construiu, na avenida Ponce, o Mercado Municipal.

Por sua localização relativamente afastada do centro, e configuração bem

definida de ruas, lotes e praças, o chamado Bairro Popular contribuiu para

impulsionar e disciplinar o crescimento da região oeste da cidade (FREIRE, 1997).

Na Figura 13 observa-se claramente qual era a conformação espacial da cidade no

período em questão, permitindo visualizar a área ocupada no município.

Figura 13 - Imagem aérea mostrando as casas do conjunto Popular em Cuiabá.

Fonte: Arturo apud Freitas (2011)

Em relação ao projeto das casas populares, Barcelos (2011) cita a lei no 11,

que autoriza a doação de terrenos à Fundação Casa Popular, órgão federal

responsável pela construção, e a lei no 15, que desapropriou vários terrenos nas

proximidades da Avenida Getúlio Vargas, os quais foram doados à Fundação Casa

Popular. A respeito desse conjunto, Castor (2013) diz que este foi uma resposta do

então presidente Eurico Gaspar Dutra aos problemas de ordem sanitária e

habitacional que castigavam sua terra natal. As unidades foram construídas em

1949, tendo a cidade de Cuiabá sido contemplada com 72 casas, as quais foram

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68

distribuídas em uma área plana da região noroeste da cidade, entre as “obras

oficiais” do Colégio Estadual (Liceu Cuiabano) e do quartel do 16 BC. Ele assim as

descreve:

[...] Casas térreas com alvenaria de tijolos cerâmicos, telhas de barro e esquadrias de madeira foram dispostas isoladamente no interior dos pequenos lotes (12x30m), de modo a favorecer a iluminação e a ventilação natural dos cômodos. Tal solução urbanística rompia com o padrão das antigas moradias cuiabanas, estas sim de origem genuinamente colonial, que não contavam com recuos laterais nem frontais [...]. (CASTOR, 2013, p. 200-201)

O conjunto contava com unidades com dois, três e quatro quartos, de acordo

com o projeto assinado pelo engenheiro da Construtora Comércio Ltda., sr. José

Garcia Neto. A Figura 14 mostra uma imagem dessas habitações, cujas vias

somente seriam asfaltadas por volta de 1972 (FREITAS, 2003a).

Figura 14 - Casas do Conjunto Popular, década de 1950.

Fonte: Arturo - Acervo: Misc apud Freitas (2011)

A Figura 15 apresenta a cidade no ano de 1953, sendo que nela é possível

observar a ocupação praticamente do mesmo perímetro verificado nos mapas que

relatam seu desenvolvimento, apresentando um adensamento em direção ao

noroeste, em função da abertura da avenida Getúlio Vargas e da ocupação

promovida pelo Conjunto Popular, além de uma apropriação mais definida na região

sudoeste, onde o bairro do Porto se consolida.

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69

Figura 15 - Planta indicando a cidade do século XVIII e o crescimento até a década de 1950.

Fonte: Azevedo, 1953.

Com relação ao abastecimento de água tratada, este se resumia ao centro

antigo e à região próxima à estação de tratamento, situada na rua Presidente

Marques, construída no período das Obras Oficiais e ainda hoje em funcionamento

(Figura 16).

Figura 16 - Planta com a situação do abastecimento de água na década de 1950.

Fonte: Azevedo, 1953.

Já em relação à rede de esgoto, esta encontrava-se restrita ao centro antigo,

contando com um pequeno trecho na região do Porto, sendo possível presumir,

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70

através dessa imagem, que o mesmo era despejado no córrego do Prainha (Figura

17).

Figura 17 - Planta com a situação da rede de esgotos na década de 1950.

Fonte: Azevedo, 1953.

A Figura 18 mostra uma vista aérea da cidade, nos anos 1950.

Figura 18 - Vista aérea de Cuiabá.

Fonte: Perfil socioeconômico de Cuiabá, vol. V/ Acervo: Ademar Poppi/C&C

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71

Em 1954 a cidade começa a verticalizar, quando é inaugurado, em um terreno

de esquina voltado para a Praça da Matriz, o Hotel Centro América, e em 1963 é

finalizado o Palácio Alencastro, então sede do governo e hoje sede da Prefeitura

Municipal de Cuiabá. Na Figura 19, cuja data pode ser estabelecida entre 1963

(término das obras do Palácio Alencastro) e 1968 (demolição da catedral), pode-se

observar a ocupação do centro histórico da cidade, podendo-se notar também o

edifício da antiga Escola Técnica Federal de Mato Grosso (ETFMT), atual Instituto

Federal de Mato Grosso (IFMT).

Figura 19 - Imagem do centro de Cuiabá, mostrando a nova sede da Prefeitura e a antiga Catedral.

Fonte: Acervo pessoal de Delormel Castor, editado pelo autor, 2014.

Visualiza-se um cenário de poucas mudanças, seja nas características

construtivas, seja na evolução urbana do município, transmitindo uma imagem de

monotonia e esquecimento. É na década de 1960, com o início da construção da

rodovia Cuiabá-Porto Velho (BR 364), que começam a chegar os primeiros

migrantes a Cuiabá, marcando o final do segundo ciclo da evolução urbana da

cidade. Freire (1997) diz:

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[...] é nesse contexto que a expansão descontínua e o despojamento emergem como principais marcas da identidade urbana e arquitetônica de Cuiabá. A descontinuidade do espaço urbano resulta, historicamente, do peso e da intervenção do poder público na evolução urbana e na forma

assumida pela prática dessa intervenção em momentos cruciais da história da cidade e de seu povo. [...] (FREIRE, 1997, p. 34, grifo nosso)

Nas palavras daquele autor, “Cuiabá deixa de ser uma cidade de fim-de-linha

para assumir a posição de medianeira urbana do projeto de ‘integração nacional’ da

amazônia meridional” (FREIRE, 1988, p. 55). É a partir desse fluxo migratório e do

crescimento que ocorre nas cidades do Centro-Oeste, em função da inauguração de

Brasília, que tem início o crescimento vertiginoso da cidade.

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73

3 METODOLOGIA DE PESQUISA

Efetua-se primeiramente um levantamento bibliográfico com a finalidade de

embasar e justificar os momentos históricos e a evolução urbana da capital mato-

grossense: Cuiabá - MT, de modo a determinar como se deu esse processo e quais

são os elementos que condicionaram a forma atual da cidade. Através dessa

investigação e obtendo várias informações junto à Prefeitura Municipal de Cuiabá,

Arquivo Público Estadual e diversas bibliotecas, procedeu-se a um levantamento

documental e histórico. Entre os principais órgãos públicos como o Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Instituto de Terras de Mato Grosso

(INTERMAT) e a Caixa Econômica Federal (CEF) desenvolveu-se uma pesquisa de

forma a se obter diversos mapas e dados relativos aos empreendimentos

habitacionais, bem como a dados populacionais do período estudado, na qual foi

possível constatar que o crescimento da cidade se deu em um período de tempo

relativamente recente, o que permitiu que se definisse a abrangência desta pesquisa

de 1960 a 2010.

De posse de várias informações, efetuou-se a demarcação no mapa da

cidade de como ocorreu a ocupação desse território pelos conjuntos habitacionais

em intervalos de 10 em 10 anos. A escolha desse intervalo de tempo se deu em

função de que a Prefeitura Municipal de Cuiabá-MT já disponibilizava dados

referentes à evolução territorial do município utilizando-se desse interstício de

tempo, o que permitiu uma melhor visão desse processo. Concomitante a isso,

foram pesquisados os conjuntos habitacionais implantados no município e

determinada a sua localização aproximada no mapa da cidade, gerando vários

mapas referentes a cada um dos períodos estudados, quais sejam, 1961 a 1970,

1971 a 1980, 1981 a 1990, 1991 a 2000, finalizando em 2001 a 2010.

Os procedimentos metodológicos adotados para cada um dos objetivos

específicos são:

a) Com relação à identificação de como as politicas públicas da habitação de

interesse social influenciaram o desenvolvimento do perímetro urbano, os

procedimentos metodológicos foram estabelecidos em:

i. Pesquisa bibliográfica visando a compreensão de como ocorreu o

desenvolvimento da cidade e a evolução da expansão urbana;

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74

ii. Levantamento documental com o objetivo de obter várias

informações a respeito dos empreendimentos habitacionais e

representa-los nos mapas da cidade;

iii. Levantamento das diretrizes que são estabelecidas nos planos

diretores aprovados pelos órgãos da Prefeitura Municipal, no

período da pesquisa;

iv. Análise do material coletado para identificar de que maneira a

implantação dos conjuntos habitacionais afetou os problemas que

hoje a cidade enfrenta.

b) Com relação à implantação dos conjuntos habitacionais no perímetro

urbano, os procedimentos foram estabelecidos em:

i. Estudo dos mapas que indicam a evolução da cidade no período

da pesquisa, gerando novos documentos com a localização dos

conjuntos habitacionais de interesse social por intervalo de 10

anos;

ii. Analisar a nova documentação e localizar cada empreendimento,

verificando como estes se inserem no contexto urbano do período

em estudo.

c) Com relação a detectar a existência de um planejamento dessa evolução

por parte dos órgãos municipais, os procedimentos foram estabelecidos

em:

i. Pesquisa bibliográfica e documental com a finalidade de identificar

as diretrizes da evolução do município, em um determinado

momento histórico (caso tenham existido), relacionando-as com as

decisões tomadas;

ii. Levantamento dos planos diretores aprovados pelo município, no

período da pesquisa;

iii. Análise do material coletado de forma a verificar se essas ações

passaram por um planejamento prévio, sendo resultado de

estudos e estratégias de ocupação do território.

Page 77: 13.pdf

75

d) Com relação à verificação de ingerências externas (Estadual ou Federal)

no processo de evolução do município, vinculada especificamente à

questão da habitação de interesse social, os procedimentos foram

estabelecidos em:

i. Pesquisa bibliográfica e documental com a finalidade de identificar

as diretrizes da evolução do município, em um determinado

momento histórico (caso tenham existido), relacionando-as com a

implantação dos conjuntos habitacionais no tecido urbano.

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76

4 A CIDADE DE CUIABÁ À PARTIR DA DÉCADA DE 1960

Em relação ao desenvolvimento ocorrido nesse período, a Fundação Candido

Rondon (1980) cita como fatores que influenciaram a intensificação desse fluxo

migratório a estratégia de desenvolvimento brasileiro do período, em que o Centro-

Oeste e a Amazônia passam a “desempenhar o papel de abastecedoras de

matérias-primas para as indústrias e gêneros alimentícios para a população do

Sudeste”. (FUNDAÇÃO CANDIDO RONDON, 1980, p. 34)

Na divisão temporal proposta por Freire (1988), é a partir do evento da

demolição da antiga catedral, que pode ser observado na Figura 20, que tem início o

próximo ciclo, marcando o desejo dos cuiabanos de abraçar o progresso e a

modernidade.

Figura 20 - Foto da demolição da antiga Catedral, no ano de 1968.

Fonte: Freitas, 2011.

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77

Na esteira da consolidação da ocupação do território, a cidade começa a

modernizar suas avenidas e sua infraestrutura. A avenida da Prainha é canalizada, a

avenida XV de Novembro é asfaltada e recebe iluminação a vapor de mercúrio.

4.1 O CICLO DA MODERNIZAÇÃO (A PARTIR DE 1968)

Em relação a esse novo momento vivido pela cidade de Cuiabá, é pertinente

expor o diagnóstico feito pelo Plano de Desenvolvimento Local Integrado, do inicio

dos anos 1970, que traz referencia aos estímulos que o Governo Federal dava aos

investimentos locais em paralelo à abertura de estradas, integrando esta região ao

resto do país. Esse documento assim se refere a essa nova condição assumida por

Cuiabá:

[...] Em consequência, a cidade vem adquirindo o papel de porta de entrada para um grande vazio demográfico, que só agora começa a desenvolver-se e para o qual funciona como centro administrativo e de abastecimento. Cuiabá representa, desse modo, um pólo de atração regional que poderá gerar problemas insolúveis caso não sejam equacionados com a devida antecedência, o que se procura fazer com o Primeiro Plano de Desenvolvimento Local Integrado da Cidade. (PLANO..., [197-], p. 3-4)

Em relação a esse desenvolvimento, “na década de 60, o sítio urbano de

Cuiabá passa a sofrer as transformações ocasionadas pelas consequências das

políticas de integração das áreas periféricas e expansão das fronteiras agrícolas

para o interior brasileiro”. (FUNDAÇÃO CANDIDO RONDON, 1980, p. 59)

A respeito desse crescimento, Castor (2013) assim se refere:

[...] Os habitantes de Cuiabá, que somavam 57.869 habitantes em 1960, verão esse numero saltar para 100.865 em dez anos, para alcançar 212.984 em 1980. [...] Cuiabá não estava preparada para um crescimento tão rápido. Bairros populares expandem se (sic) desordenadamente pela periferia, enquanto as classes dirigentes investem no centro. [...] (CASTOR, 2013, p. 267)

Apesar desse crescimento vigoroso verificado na capital, o segundo conjunto

habitacional só veio a ser implantado na cidade no ano de 1966. O Núcleo Cidade

Verde, também conhecido como Cohab Velha, implantado através da Companhia de

Habitação Popular do Estado de Mato Grosso (COHAB)18, sendo considerado por

Freire (1997) como o primeiro núcleo de habitação popular de iniciativa estadual,

visto que o Conjunto Popular foi um presente do presidente Dutra à sua cidade natal.

18

Era governador no período, Fernando Corrêa da Costa (janeiro de 1961 a janeiro de 1966), sendo prefeito, Helio Palma de Arruda (1961 a 1963) e posteriormente, Vicente Emilio Vuolo (1963 a 1967).

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78

O mesmo autor diz que a localização desse conjunto foi viabilizada pela construção

da ponte nova sobre o rio Cuiabá, no ano de 1964, fortalecendo a ligação com a

cidade de Várzea Grande e estimulando a extensão da rua Barão de Melgaço.

Aquele mesmo autor afirma que como a implantação do núcleo da COHAB

demandasse por infraestrutura (água, energia, pavimentação) este acabou por

transformar-se em pólo de atração do crescimento na direção oeste. Com isso, as

áreas entre o centro e o novo núcleo foram valorizadas e passaram a atrair o

interesse da especulação imobiliária, que lança novos loteamentos urbanos. Porém,

de acordo com Freitas (2003a, p. 26), somente depois de 1972, o local recebe

pavimentação.

Reafirmando o impacto desse núcleo, a Fundação Candido Rondon (1980,

pp. 62-63) diz que “a implantação deste núcleo habitacional veio contribuir não só

para estender a cidade para esta direção, como também para a valorização do

espaço deixado entre este núcleo e o centro da cidade”.

Para melhor visualizar o incremento populacional a que foi feita referencia a

pouco, é importante verificar os números desse crescimento, conforme exposto na

Tabela 1, baseado em dados de Cuiabá (2012).

Tabela 1 - Evolução da população. Fonte: o autor, 2014.

Ano População

1724 3.000

1791 14.543

1872 35.987

1890 17.81519

1900 34.339

1960 57.860

1970 100.865

1980 212.984

1991 402.813

2000 483.346

2010 551.098

Na Tabela 1 pode-se observar que à partir de 1960 a população da cidade de

Cuiabá tem um aumento de mais de 100% a cada 10 anos, com esse ritmo de

crescimento só arrefecendo a partir do ano 2000. De acordo com os dados

19

Em relação ao decréscimo populacional indicado, Cuiabá (2012, p. 79) afirma que a literatura não registra fato que contribua para as alterações populacionais em Cuiabá, tendo registros apenas da ocorrência de surto de varíola em 1867, anterior ao primeiro censo realizado, o que poderia indicar prováveis deficiências dos censos de 1872 e de 1890.

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79

indicados, entre 1960 e 1990, a população praticamente dobra a cada intervalo de

10 anos.

Em relação à organização dos bairros da capital, são importantes as palavras

de Freitas (2003a) que diz:

Ocupei-me neste tempo dos meus “planos setoriais”, estudando os bairros da cidade, que estavam entregues ao próprio destino, sem nenhuma disciplina para a ocupação do solo. Era necessário dar a eles um plano de arruamento para alinhamento e salvar áreas livres, que ainda eram possíveis. [...]. Elaborava estes planos dos bairros afastados, pois, não havia cobertura pelo antigo plano da Coimbra Bueno; a cidade havia crescido além dele. [...] (FREITAS, 2003a, pp. 15-16)

Nesse momento, o Plano de Desenvolvimento Local Integrado assim

diagnostica o crescimento da cidade:

O desenvolvimento da cidade se deu de forma espontânea a partir do núcleo central mais antigo, em direção a Várzea Grande e Coxipó, ao longo do Córrego Prainha. Essa expansão ocorreu dentro dos padrões tradicionais da atividade imobiliária, através da criação de numerosos loteamentos desprovidos de requisitos essenciais de infraestrutura e superestrutura criando grandes vazios no perímetro urbano. De tal forma foi o crescimento da atividade imobiliária, que nos últimos dez anos, enquanto a população dobrou, a área loteada para uso urbano quintuplicou. Tal procedimento provocou uma baixa densidade de ocupação para o perímetro urbano, sendo de 42 habitantes por hectare para a área localizada dentro da Av. Miguel Sutil e de 22 para a área destinada à utilização urbana. Esse tipo de ocupação do solo dificulta a harmonização do crescimento da Cidade, sobretudo a incontrolada abertura de novos loteamentos sem infraestrutura básica e sem nenhum sentido de integração entre os diversos bairros e loteamentos. (PLANO..., [197-], p. 5-6)

É nos primeiros anos de 197020 que surge a preocupação com a demarcação

da avenida que contorna a cidade, hoje chamada de Perimetral bem como a

iniciativa, por parte da prefeitura, de se elaborar um “Código de Obras e Urbanismo”

para a cidade. A esse respeito a Fundação Candido Rondon (1980, pp. 67-68) diz

que esse anel rodoviário, aberto no final dos anos 1960 e pavimentado no período

1976/1979, veio contribuir enormemente para a expansão horizontal da cidade,

favorecendo em muito a expansão do tecido urbano com a criação de inúmeros

loteamentos, muitos dos quais reservados apenas como reserva de valor,

intensificando o processo de especulação imobiliária.

20

Era governador no período, Pedro Pedrossian (janeiro de 1966 a março de 1971), sendo prefeito, Frederico Carlos Soares de Campos (1967 a 1969) e posteriormente, Bento Machado Lobo (1969 a 1971).

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80

É também nesse período que são construídos os primeiros blocos da Cidade

Universitária, hoje UFMT, evento que logo se configuraria como mais um vetor de

crescimento para a cidade, desta feita em direção ao Coxipó.

Na Figura 21 é possível perceber no lado esquerdo da imagem a Av.

Fernando Correa da Costa, com as instalações do antigo presídio na parte superior

da mesma. Pode-se verificar também o início da ocupação do Campus, com a

piscina, o ginásio de esportes e os primeiros blocos, bem como o princípio da

ocupação do bairro Boa Esperança.

Figura 21 - Imagem aérea sobrevoando o Campus da UFMT nos anos 1970, olhando em direção ao centro de Cuiabá.

Fonte: Acervo Fotográfico Memória SECOMM – UFMT, editado pelo autor, 2014.

Descrevendo a Cuiabá dos anos 1970, Freire (1997) assim se refere:

A pressão demográfica sobre a cidade provoca um processo de adensamento da mancha urbana em direção à periferia das áreas incorporadas, de ocupação rarefeita, estimula o processo de expansão, pela apropriação de espaços intermediários. Uma característica marcante do desenho da cidade de Cuiabá é o caráter “espalhado” de seu sítio. Desde o início ele se esparrama em áreas de ocupação descontínua. [...] (FREIRE, 1997, p. 149)

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81

E continua:

A implantação da Universidade Federal de Mato Grosso e a construção de suas instalações na avenida Fernando Correa polarizam o crescimento na direção do Coxipó da Ponte, rapidamente integrando esse pequeno conjunto à malha urbana de Cuiabá. O trecho da Fernando Correa que vai do centro à universidade atravessa, inicialmente, áreas de habitação popular e ocupação rarefeita. [...] (FREIRE, 1997, p. 150)

A respeito da influencia do campus da UFMT no contexto urbano de Cuiabá, é

pertinente citar:

Dentre a demanda por novos equipamentos, a FUFMT –(Fundação Universidade Federal de Mato Grosso) e a sua constante ampliação, passa a constituir também, em um ponto de atração, uma vez que é o mais completo estabelecimento de ensino superior para atender um espaço tão amplo, cujos limites extravasam a própria fronteira oeste brasileira. (FUNDAÇÃO CANDIDO RONDON, 1980, p. 37)

E complementa mais a frente dizendo que:

Em direção ao Coxipó, muito embora existisse ainda uma ocupação bastante rarefeita, já começava a surgir na Av. Fernando Corrêa alguns estabelecimentos de serviços ou de comércio de maior porte. Mas, mesmo assim, constituía o espaço dito periférico de Cuiabá, abrigando em suas áreas menos valorizadas os grupos sociais de mais baixo poder aquisitivo. (FUNDAÇÃO CANDIDO RONDON, 1980, p. 63)

No ano de 197421 ocorre uma grande enchente no rio Cuiabá que acaba por

atingir o bairro Terceiro, segundo Freire (1997, p. 172) “um aglomerado denso de

habitações populares, formado espontaneamente pela população de baixa renda

desde meados do século passado”, sendo essa população transferida para outro

local, ao lado do Núcleo Cidade Verde, da COHAB. Porem, os barracões que

deveriam ser provisórios, passaram a ser habitação permanente transformando o

local, denominado “Novo Terceiro numa grande favela, uma realidade nova para

aquela população, mesmo os mais pobres entre eles.”(FREIRE, 1997, p. 175)

Segundo Freire (1997), parte dessa população removida engajou-se em um

processo de invasões que atingiram esparsamente várias áreas da cidade, em

especial em alguns trechos da Avenida Perimetral, nas imediações do bairro São

João dos Lázaros, bairro que era ele próprio fruto do primeiro surto de invasões, no

final da década de 1960.

21

Era governador no período, José Manuel Fontanillas Fragelli (março de 1971 a março de 1975), sendo prefeito, José Vilanova Torres (1971 a 1975).

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82

Durante a gestão de José Fragelli (1971 – 1975) é feita a definição da área

para o Centro Político-Administrativo (CPA) e a construção de algumas unidades,

bem como a construção do Estádio Verdão, assim como o Núcleo COESA, na

Cidade Alta, e o COOPEMA, no Coxipó. A respeito da localização do Centro

Político-Administrativo, Vilarinho Neto (1982) afirma que:

Com a decisão de transferir o novo Centro Político-Administrativo para a zona norte da cidade, o Estado induziu o crescimento urbano naquela direção, que quando da implantação da UFMT havia se dado na direção do Coxipó [...]. (VILARINHO NETO, 1982, p. 89, grifo nosso)

Com isso aquele autor afirma que, em função da construção do CPA e com a

expansão da cidade em todas as direções, “teve Cuiabá seu crescimento

extrapolado o perímetro urbano delimitado pelo Decreto no 417/35” (VILARINHO

NETO, 1982, p. 91)

Vilarinho Neto (1982), falando a respeito da cidade e seu crescimento diz que

“no momento atual, mesmo a expansão urbana em ritmo acelerado, ainda existe em

Cuiabá a presença, dentro do perímetro urbano, de grandes vazios comprometidos

com loteamentos aprovados e pertencentes a pessoas ligadas ao poder”

(VILARINHO NETO, 1982, p. 6), complementando que nos últimos anos haviam

surgido vários núcleos habitacionais, sendo que “no momento atual, o Estado está

induzindo o crescimento da cidade em direção ao Centro Político Administrativo –

CPA, no setor norte da cidade.” (VILARINHO NETO, 1982, p. 6).

Em relação à localização do Centro Político Administrativo, a justificativa

apresentada foi “o acelerado adensamento das unidades comerciais e de serviços

no centro da cidade e o consequente aumento dos problemas de tráfego e

estacionamento, fez com o que o executivo estadual transferisse os órgãos públicos

federais e estaduais para uma nova área [...]” (FUNDAÇÃO CANDIDO RONDON,

1980, p. 67), provocando um movimento de descentralização das atividades em

relação ao centro original da cidade.

Falando da implantação do Centro Político Administrativo, Rivera (2006)

afirma que já nos anos 1970, em função do crescimento até aquele momento, o

impacto no centro da cidade tornava as atividades ali desenvolvidas insuportáveis.

Esse autor diz que o adensamento descontrolado, congestionou as ruas, dificultando

o transito e o acesso da população aos órgãos responsáveis pelos serviços públicos.

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83

Para solucionar esses problemas o governo do Estado constrói o CPA, para onde

desloca a sua sede. Ela continua dizendo que “como resultado dessa iniciativa

implantou-se novo eixo de crescimento e, com isso, a expansão do sítio urbano pela

incorporação de novas áreas, criando, entretanto, um vazio entre o CPA e a mancha

urbana existente [...]”. (RIVERA, 2006, p. 107).

Em seu trabalho, Souza (2007) aborda a condição de vida de parte população

que se deslocou para a cidade de Cuiabá, grupo este que não se integra ao

mercado de trabalho e que gera uma “reconfiguração dos espaços sociais do estado

de Mato Grosso e, mais precisamente, da cidade de Cuiabá” (SOUZA, 2007, p. 33).

O autor cita que:

O período correspondente às décadas de setenta e oitenta do século XX tem um peso significativo para este estudo sobre as mobilidades populacionais em Cuiabá, a partir da década de noventa. É um período de intenso movimento populacional no estado e em Cuiabá. A cidade de Cuiabá se constitui como um ponto de entrecruzamento dos deslocamentos sociais para as áreas de “frentes agrícolas” e de mineração em todo o Mato Grosso. Um tempo de acentuadas e rápidas transformações sociais, econômicas, políticas que marcam este período nomeado de tempo do progresso, da modernidade e do desenvolvimento. (SOUZA, 2007, p. 32)

E continua, ao falar desses deslocamentos:

[...] Constituem-se em componentes reveladores dos processos sociais pelos quais se deu, de maneira autoritária e violenta, a reocupação do território amazônico, ocupado por índios, caboclos, seringueiros e pequenos agricultores. No âmbito de uma política autoritária, instaurada pelo golpe militar de 1964, os projetos de modernização e desenvolvimento nacional convergiam para os espaços amazônicos incentivados por diferentes programas como o PIN (Programa de Integração Nacional), o PRODOESTE (Programa do Desenvolvimento do Centro Oeste). Nesse projeto de modernização nacional, a ocupação das fronteiras e dos espaços considerados “vazios” justificava-se como questão do desenvolvimento político e econômico. [...] (SOUZA, 2007, pp. 33-34)

E finaliza afirmando que:

[...] Ao mesmo tempo que vários programas foram criados, incentivando a grande produção agrícola e pecuária, posseiros e pequenos agricultores eram pressionados, muitas vezes com violência, a deixarem suas terras. Da mesma forma, trabalhadores que chegavam das diferentes regiões do país em busca de se estabelecer numa propriedade não encontravam nenhum apoio para realizarem seus propósitos. [...] (SOUZA, 2007, p. 35)

Falando das demandas dessa “grande produção agrícola”, Rivera (2006) diz

que “a nova estrutura produtiva só poderia ser acessada por investidores de perfil

empresarial em condições de implantar processos produtivos altamente tecnificados,

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84

com maquinários sofisticados operados por mão-de-obra altamente especializada”

(RIVERA, 2006, p. 48).

Segundo aquele autor, dessa forma passa a concentrar mais capital, com

pouca absorção de mão-de-obra, o que virá a pressionar o mercado de trabalho

urbano, uma vez que as cidades passam a receber o excedente que o campo

expulsava. É essa população que vai se dirigir aos núcleos urbanos, e Cuiabá, por

sua condição de capital do estado passa a receber um grande contingente de

migrantes.

A Fundação Candido Rondon (1980) assim se refere a essa situação:

[...] Para agravar ainda mais o processo de urbanização de Cuiabá, esta sofre ainda as consequências das iniciativas, muitas vezes “malogradas” da colonização oficial e particular, iniciada nos anos 40. Acrescenta-se ainda, que a estrutura fundiária do Estado, de características extremamente concentradora tem provocado gradativamente a evasão do homem do campo, contribuindo assim, para o agravamento do problema da urbanização de Cuiabá, cujo núcleo de melhor estrutura estadual, é aquele de maior atração para a mão-de-obra liberada do setor primário da economia. (FUNDAÇÃO CANDIDO RONDON, 1980, p. 37, grifo nosso)

Ao descrever a cidade de Cuiabá no final dos anos 1970, Garcia (2010) assim

se refere:

Cuiabá, como capital do Estado de Mato Grosso, não estava estruturada para receber tamanho contingente, e os problemas urbanos sofridos pelas grandes cidades surgiram, e se agravaram de forma rápida. Durante a década de 1970, era difícil encontrar habitação disponível, tanto na capital, como na vizinha, Várzea Grande. Faltava tudo, desde infra-estrutura (água, luz, pavimentação...), equipamentos públicos e serviços (escolas, hospitais, creches). As pessoas, especialmente as mais humildes, se instalaram em loteamentos clandestinos, em áreas “griladas”, em áreas de preservação permanente e em terras públicas. (GARCIA, 2010, p. 19)

Para melhorar a questão da infraestrutura dos bairros da periferia, o município

busca o apoio de programas do governo federal, que segundo as normas vigentes

no BNH nesse momento, deveriam ser executados através dos Projetos Cura –

Comunidade Urbana para Recuperação Acelerada.

A respeito desse projeto, que foi implementado nesta capital no ano de

197522, Vilarinho Neto (1982, p. 6) diz que com “a extrapolação do crescimento

urbano, a área considerada ‘periférica’ tornou-se central, sendo constituídas por

22

Era governador no período, José Garcia Neto (março de 1975 a agosto de 1978), sendo prefeito, Manoel Antonio Rodrigues Palma (1975 a 1979).

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85

bairros de classe média e de classe de baixo poder aquisitivo, que passaram a ser

objetos de intervenção do Estado, sendo reurbanizados. [...]”

Para essa ação, “inicialmente foram escolhidas 5 áreas dessa periferia e

selecionadas 3 áreas para ser implantado [...]” (VILARINHO NETO, 1982, p. 7). Os

bairros em questão, definidos como periferia, são o Quilombo (abrangendo os

bairros Quilombo e Santa Helena), Araés e Lixeira (abrangendo os bairros Lixeira,

Baú e São João dos Lázaros), e na Figura 22 pode-se observar a localização das

referidas áreas em relação ao tecido urbano atual, bem como o Conjunto Cidade

Verde, construído pela COHAB.

Figura 22 - Mapa da evolução urbana mostrando o Conjunto Cidade Verde e os bairros do Projeto Cura.

Fonte: Cuiabá (2012), editado pelo autor, 2014.

Como resultado da ação do Projeto Cura, a melhoria dos bairros selecionados

levou a um processo de expulsão dos antigos moradores, de menor poder aquisitivo,

em função da valorização dos imóveis e terrenos. Nesse período, de acordo com

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86

Freitas (2003a) já se percebe a ocorrência de invasões, como a que deu origem ao

Núcleo Praeiro, para onde deveriam ser transferidos invasores do Loteamento

Quilombo. A respeito desse período, Bomfim (2010) diz que:

Diante das ocupações que ocorriam não só em Cuiabá, mas também em outras cidades brasileiras, o governo resolveu investir na construção de conjuntos habitacionais. [...] Na década de 70 a ocupação ilegal de terras urbanas aparecia como uma prática que comprometia a urbanização de Cuiabá. Em uma matéria publicada em 1971 dizia-se que centenas de famílias estavam residindo ilegalmente em extensas áreas de terras devolutas. [...] [...] Sugeria-se que o primeiro passo para o fim das ocupações ilegais seria a municipalidade fazer um levantamento das terras devolutas e, depois, “pôr em prática um programa de longo alcance visando a expansão do perímetro urbano de Cuiabá, com a abertura de novas ruas, levando água, luz e esgoto, três palavras que representam progresso”. (BOMFIM, 2010, p. 125)

Das pressões desencadeadas pelas invasões nasce o conjunto habitacional

Grande Terceiro, com 701 casas, construído pela COHAB nas imediações do

Campo Velho. Com o rápido aumento populacional desse período, logo são

implantados dois outros conjuntos habitacionais, o COOPHEMA e o COOPHAMIL,

com financiamento do BNH e execução pela iniciativa privada. A respeito do

COOPHAMIL, Freitas (2003a) diz que este “fora iniciado de modo clandestino, pois o

seu projeto absurdo em áreas de risco de alagamentos pelo rio não dava condição

de sua aprovação”.

Em referencia a esse período, Garcia (2010, p. 76) diz que “em 1974 Cuiabá

já contava com um Plano de Desenvolvimento Local Integrado – PDLI, e uma vasta

legislação urbanística como Lei de Zoneamento e Parcelamento do Solo, Lei do

Perímetro Urbano e um Código de Obras”, tudo aos moldes do SERFHAU, e, como

na maioria das cidades brasileiras, sem implementação.

Em 1976 tem inicio a construção do conjunto habitacional CPA-I, tendo sido

implantado no perímetro do Centro Político-Administrativo, em área cedida pelo

Governo do Estado, tendo continuidade, no período 1980-1985 com a construção de

mais três conjuntos, denominados CPA-II, CPA-III e CPA-IV. No entendimento de

Vilarinho Neto (1982), “ao verificar a área que está sendo ocupada por estes

conjuntos habitacionais, fica claro que o objetivo é a ligação destas ao conjunto

habitacional da COHAB no Coxipó, definindo um cinturão de conjuntos

habitacionais, que irão supervalorizar a área vazia compreendida entre os conjuntos

habitacionais e o centro da cidade”.

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87

No ano de 1979, na zona noroeste da cidade foi construído o novo Terminal

Rodoviário, ao lado da avenida Miguel Sutil, também chamada de Perimetral,

limitando-se com o bairro Santa Helena. De acordo com Castor (2013), no início dos

anos 1980 começa a ser construído o núcleo habitacional Tijucal, em terreno de 168

hectares situado no extremo leste de Cuiabá.

4.2 CUIABÁ A PARTIR DE MEADOS DE 1980

Em seu trabalho, Bomfim (2010) cita o discurso proferido nesse período pelos

periódicos locais, em que são levantadas as dificuldades no processo de

desenvolvimento da cidade, com “a ocupação de terras urbanas e o aparecimento

de enormes favelas em Cuiabá” (BOMFIM, 2010, p. 27). O autor, baseado no que é

noticiado no período, assim se refere:

Cuiabá, como lugar de passagem, havia se tornado um entreposto de migrantes pobres, desempregados e famintos. Alguma coisa parecia ter saído errado, pois as correntes migratórias não eram tão controláveis como se esperava. Terras invadidas, mendigos pelas ruas, praças repletas de comerciantes, aumento da criminalidade, crianças infratoras eram situações produzidas por um processo de modernização, mas que não eram aceitas como modernas. Eram praticas vistas como uma ameaça a imagem de modernidade que estava sendo construída para a cidade. (BOMFIM, 2010, p. 27)

Ao falar da associação que surge nesse período em relação ao antigo centro

e o restante da cidade, esse autor diz que “nos anos 80 a configuração espacial de

Cuiabá havia mudado e, além do Centro Político Administrativo, apareceram vários

bairros populosos que eram como novas cidades, contando com serviços e comércio

antes oferecido apenas no Centro”. (BOMFIM, 2010, p. 39)

Ao falar da nova relação que se apresenta, esse autor assim se refere:

Até meados dos anos 70, não apenas a maior parte do comércio varejista concentrava-se no lugar identificado como Centro da cidade, como também Bancos, cinemas, restaurantes, melhores praças, ruas asfaltadas, avenidas, sinalização de trânsito, tornavam esse lugar valorizado social, econômica e culturalmente. Os “melhoramentos” urbanísticos partiam desse lugar estendendo-se progressivamente em seu entorno. Na década de 80 ficou mais visível que a centralidade da cidade estava em declínio, com comércio e serviços aparecendo em outros lugares e um Shopping Center sendo construído fora do centro Nesse momento, quando atividades antes concentradas em um único lugar espalhavam-se, acontecia um movimento inverso com o deslocamento das pessoas que viviam no entorno, na chamada periferia, em direção ao Centro: ambulantes, crianças pobres, mendigos e mesmo consumidores que vinham em busca dos produtos de que precisavam. [...]. (BOMFIM, 2010, p. 114)

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88

É no início dos anos 1980 que um grupo de trabalho da prefeitura, sob

orientação da Fundação Prefeito Faria Lima, se reúne para elaborar uma nova

legislação urbanística para Cuiabá, que resultou nas Leis No. 2.021/1982 (Lei de

Parcelamento do Solo), Lei No. 2.022/1982 (dispondo sobre construções, reformas e

ampliações) e a Lei No. 2.023/1982 (dispondo sobre o uso do solo urbano).

A respeito da produção de habitações pela COHAB no estado, Barcelos

(2011) cita que “o ápice do número de unidades entregues foi em 1979, com outro

período de intensa produção de 1982 a 1988, retomando somente em 1991, já em

1996, foram entregues as últimas unidades.” O autor continua dizendo que, com a

extinção da COHAB as habitações passaram a ser supridas pelos programas

disponíveis na Caixa ou com recursos dos próprios interessados.

Segundo dados da Financiadora de Estudos e Projetos / Grupo de Arquitetura

e Planejamento – FINEP/GAP (1983), relativos ao período 1968/1983, o número de

unidades construídas, nesse período, na cidade de Cuiabá foi de 16.330, tendo três

momentos de maior intensidade, que foram os anos de 1978, 1981 e 1983,

conforme indica a Tabela 2.

Tabela 2 - Tabela indicando o número de U.H.’s construídas na cidade de Cuiabá, no período 1968/1983. Fonte: FINEP-GAP (1983), adaptado pelo autor, 2014.

Ano No. U.H.'s Entidade promotora

1968 365 COHAB-MT

1972 589 COHAB-MT

1977 944 COHAB-MT

1978 1.490 COHAB-MT

1979 944 COHAB-MT

1980 789 COHAB-MT

1981 2.654 COHAB-MT

1983 7.510 COHAB-MT

1983 1.045 PLANOESTE

TOTAL 16.330

No ano de 1986 o BNH é extinto, conforme já indicamos anteriormente, sendo

a COHAB-MT extinta somente em 1996, através da Lei 6.763. Em seu trabalho,

Aquino (2009) descreve as três fases que caracterizaram a existência da instituição:

[...] A primeira delas se caracterizou pela produção, comercialização e

legalização dos Conjuntos Habitacionais edificados pela COHAB-MT, tendo

Page 91: 13.pdf

89

se verificado, até o início da década de 1980, o pleno cumprimento das etapas contratuais, ou seja, a aquisição do terreno, a construção dos imóveis, a infraestrutura do lugar, a regularização da propriedade (registro do loteamento) e as averbações com o respectivo “habite-se”. [...] A segunda fase, que se estendeu da década de 1980 até o período de desativação do BNH (1985) e da assunção dos financiamentos habitacionais pela CEF, a COHAB-MT deixou de cumprir o que era previsto nos contratos de produção de moradias. [...] A terceira fase culminou com o processo de extinção da COHAB-MT nos termos da Lei Estadual n

o. 6.763/96, cujos fatores principais, como já

dissemos, foram herdados do passado e levaram o governo a tomar essa decisão. Dentre eles, destacam-se os seguintes:

exaurimento dos recursos do FGTS e do SFH para a habitação;

inclusão dos custos de infraestrutura nos financiamentos, elevando o valor das prestações;

aumento do índice de inadimplência;

aumento da taxa de juros;

falta de uma política habitacional no Estado que permitisse a continuidade dos programas. (AQUINO, 2009, pp. 139-140)

No inicio da década de 1990, a Prefeitura de Cuiabá, através do órgão técnico

de planejamento, o IPDU, elabora o Plano Setorial de Habitação, o qual busca

analisar “a problemática existente e procura redirecionar o papel da municipalidade

no trato dessa questão, bem como reformular a sua relação com as comunidades

beneficiadas, buscando o bem-estar da população mais carente do município [...].”23

O Plano Setorial de Habitação (1994?), “é o cumprimento de uma diretriz do

Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano que conterá em sua proposta de

intervenção no quadro habitacional, a Política Municipal de Habitação, fazendo

assim cumprir as determinações da Lei Orgânica Municipal [...]” (PLANO..., 1994?, p.

6).

Nesse documento é citado que a transformação provocada pelo grande

crescimento demográfico da cidade, em um curto período de tempo, não foi

acompanhada por uma estruturação compatível dos poderes públicos, no que tange

á organização da cidade, trazendo como consequência “o aparecimento de

loteamentos clandestinos, a proliferação de favelas e as invasões de áreas públicas

e privadas, refletindo a falta de um planejamento que ordenasse e disciplinasse a

ocupação do espaço urbano.” (PLANO..., 1994?, p. 9).

23

Trecho da mensagem enviada à Câmara dos Vereadores de Cuiabá pelo prefeito José Meirelles, no ano de 1994.

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90

Ao se referir à questão do financiamento para a produção habitacional nesse

período, eis a análise apresentada:

Hoje, apesar de os recursos continuarem a ser captados, sua utilização se restringe à financiamento a particulares e à grandes empreendimentos; não se fala mais em articular-se recursos à uma política habitacional voltada para as populações de média e baixa-renda, a liberação de recursos a estados e municípios se dá esporadicamente para alguns pequenos programas ou projetos isolados. (PLANO..., 1994?, p. 12)

No diagnóstico feito por esse plano, consta a observação de que nesse

período já se observa um “percentual significativo de vazios urbanos, equivalendo

quase ao percentual das áreas ocupadas dentro do perímetro.” (PLANO..., 1994?, p.

18). E continua dizendo que “a existência de um percentual tão alto de vazios

urbanos acena para a possibilidade da implantação de pequenos loteamentos

populares dentro do perímetro urbano.” (PLANO..., 1994?, p. 18). Afirma também

que, segundo dados fornecidos pela COHAB, o numero de unidades habitacionais

construídas no final da década de 1980 para 1990 reduziu-se drasticamente, com as

ações restringindo-se à regularização fundiária e concessão de lotes urbanizados,

estimando-se nesse período “um déficit habitacional no Município de mais ou menos

29.826 domicílios.” (PLANO..., 1994?, p. 24). O documento em questão também traz

como diagnóstico que “a falta de estrutura do Poder Público Municipal em atender à

crescente demanda bem como a intervenção desordenada dos Poderes Públicos

Estadual e Federal sobre o espaço Municipal agravaram o problema”. (PLANO...,

1994?, p. 34).

Segundo Barcelos (2011, p. 52), em relação à produção habitacional no

estado, “há interrupções no fornecimento de habitação de 1992 a 1999, com

exceção em 1996, com fornecimento de 100 unidades entregues pela COHAB/MT”.

Aquino (2009) afirma que estas ultima unidades foram entregues na cidade de Água

Boa.

A respeito do programa PAR, Barcelos (2011) cita que de 2000 a 2002 foram

construídos condomínios residenciais com média inferior a 200 unidades

habitacionais, o que propiciou uma maior ocupação dos vazios da malha urbana.

Com a entrada do governo estadual como parceiro do PAR, a partir de 2003, a

implantação que era na forma de condomínio passa a ser feita na forma de

loteamento, o que gerou incremento substancial no numero de unidades

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91

habitacionais por empreendimento. A partir de 2009 o programa é substituído pelo

Programa Minha Casa Minha Vida que, de acordo com Logsdon (2012), no período

de recorte desta pesquisa não produziu nenhuma unidade.

Até o final de 2012, haviam quatro conjuntos habitacionais desse programa, o

Conjunto Jamil Boutros Nadaf, localizado no bairro Nova Conquista, em uma área de

14,75 hectares, contando com 322 lotes (que no período relatado pelo autor ainda

não haviam sido entregues as unidades); o Residencial Nilce Paes Barreto, situado

no bairro Pascoal Ramos, em área de 19,78 hectares, contando com 500 lotes, cuja

entrega ocorreu em março de 2012; o Residencial Nova Canaã, localizado na área

de expansão urbana próxima ao bairro Três Barras, em área de 48 hectares,

apresentando 1.188 lotes, cuja entrega ocorreu em novembro de 2011; e o

Residencial Alice Novack, localizado no bairro Pascoal Ramos, em uma área de

16,27 hectares, contando com 423 lotes, cuja entrega ocorreu em março de 2012.

Na revisão da evolução urbana da cidade de Cuiabá, pode-se concluir que na

década de 1960 e 1970 obteve um grande crescimento na expansão urbana da

cidade com um ritmo acelerado em função da grande migração, principalmente da

região Sul-Sudeste do Brasil e a mobilidade populacional do interior do Estado para

a capital mato-grossense, intensificando grandes invasões nas áreas urbanas

públicas, privadas e de preservação permanente, dando origem a vários bairros

como Núcleo Praeiro, Planalto, Quilombo e outros.

Observa-se nesse período um grande vazio entre o Centro Histórico e a

periferia da área urbana, apesar da implantação dos diversos loteamentos e dos

núcleos habitacionais aprovados pela Prefeitura Municipal de Cuiabá que induziu o

crescimento da cidade em diferentes bairros populares como CPA I, II, III e IV, quer

eram como novas cidades, contando com serviços e comércio local, antes

oferecidos apenas no centro da cidade.

Esse período consolidou uma série de legislações urbanísticas como o Plano

de Desenvolvimento Local Integrado (PDLI), a Lei de Loteamento e Parcelamento do

Solo, e o Código de Obras.

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92

A cidade obteve vários benefícios, principalmente no Norte com o Centro

Político Administrativo, a Oeste a região do Porto e a do Coxipó da Ponte com a

Cidade Universitária.

É importante também destacar a falta de estrutura para atender a crescente

demanda do déficit habitacional, pelo crescimento da cidade com uma intervenção

desordenada pelos poderes públicos Estadual e Federal em atender uma

infraestrutura básica no abastecimento de água, luz, esgoto, pavimentação,

locomoção, entre outros, e ações na área social com equipamentos públicos e

sociais como escolas, hospitais, centros de saúde, creche, entre outros.

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93

5 A IMPLANTAÇÃO DOS CONJUNTOS HABITACIONAIS

Este capítulo tem o objetivo de indicar a localização dos diversos conjuntos

habitacionais na cidade de Cuiabá observando como podem ter influenciado no

crescimento da área urbana. Para que se atinja este objetivo, indicar-se-á

primeiramente como a Prefeitura Municipal dividiu a cidade em regiões Norte, Sul,

Leste e Oeste, sendo essa divisão a referencia utilizada neste trabalho.

Observa-se na Figura 23, a divisa natural da cidade de Cuiabá com o

município de Várzea Grande, que é determinada pelo rio Cuiabá, que acaba por

influenciar a distribuição das regiões, ficando a região Leste inserida entre as

regiões Norte e Sul.

Figura 23 - Mapa das regiões de Cuiabá.

Fonte: IPDU, adaptado pelo autor, 2014.

Page 96: 13.pdf

94

É fundamental que se perceba essa organização para que seja possível

verificar quais foram os vetores de crescimento no período estudado e como se deu

a ocupação do território.

Para que se analise a evolução do município é primordial verificar-se também

como a legislação referente ao perímetro urbano de Cuiabá vai sendo

implementada, de forma a acompanhar, ou em alguns momentos adequar, o

perímetro urbano real ao perímetro urbano legal. Com esse objetivo foi feito um

resumo das leis que, à medida que são promulgadas, foram alterando o perímetro

urbano da cidade, conforme indicado na Tabela 3.

Tabela 3 - Legislação referente ao perímetro urbano de Cuiabá. Fonte: Evolução do Perímetro Urbano de Cuiabá – 1938 a 2007. IPDU - Cuiabá, 2007.

Lei no Observações Perímetro

urbano

Ato 176

(jul/1938)

2,59km

2

534

(4 de julho de 1960)

Delimita as áreas urbanas e suburbanas da cidade 4,50km

2

1.346

(12 de março de 1974)

Delimitou as áreas urbanas e de expansão urbana da cidade 48,45km

2

1.537

(25 de abril de 1978)

Redefine as áreas urbanas e de expansão urbana 104,98km

2

1.601

(12 de março de 1979)

Dispôs sobre a Zona de Expansão Urbana

2.023

(9 de novembro de 1982)

Dispôs sobre o uso e a ocupação do solo, definindo a nova zona

urbana 153,06km

2

A Lei Complementar no 003, de 1992 (Lei do Plano Diretor)

determina, em uma de suas diretrizes, a incorporação ao

perímetro urbano das parcelas urbanas localizadas fora dos

limites do perímetro

3.412

(30 de dezembro de 1994)

Define o novo limite urbano do município denominado de

Macrozona Urbana 251,94km

2

4.485

(29 de dezembro de 2003)

Recomendação de ampliação do perímetro urbano na região do

Sucuri (devido a equívoco outra área é aprovada) (256,31km

2)

4.598

(8 de julho de 2004)

Revoga lei anterior e incorpora a região do Sucuri 252,58km

2

4.719

(30 de dezembro de 2004)

Amplia o limite urbano, incorporando a área indicada na lei 4.485

de 2003 254,57km

2

Lei Complementar 150

(29 de janeiro de 2007)

Proíbe a ampliação do perímetro urbano pelo período de 10 anos 254,57km

2

Em relação ao que dispõe a lei 4.485/2003, recomendando a ampliação do

perímetro urbano, assim se refere a documentação oficial:

Em 2003, diante da construção de núcleo habitacional municipal em área contígua à zona urbana, destinado a reassentamento de moradores de áreas inundáveis, o Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano (CMDU) recomendou ampliar o perímetro urbano na região do Sucuri.

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95

Entretanto, a Câmara Municipal aprovou de forma equivocada e o prefeito

Roberto França sancionou da mesma forma a Lei n.o

4.485, em dezembro de 2003, ampliando a área na região da Rodovia Arq. Hélder Cândia, via de acesso ao Distrito da Guia.

Em julho de 2004, o perímetro urbano municipal seria novamente alterado pela Lei n.

o 4.598, sob o prefeito Roberto França, que revogou a lei anterior

para finalmente incorporar a região do Sucuri e permitir a construção do Núcleo Habitacional do Sucuri. Destarte o perímetro urbano passou a contar 252,58 km

2.

Entretanto, em dezembro de 2004, com a sanção do prefeito Roberto França à Lei n.

o 4.719, o perímetro urbano ganhou mais 1,99 km

2. A nova

área incorporada era a definida pela Lei n.o

4.485, com o que a macrozona urbana veio a ter 254,57 km

2. (CUIABÁ, 2012, p. 42-43, grifo nosso)

A delimitação física dessas alterações no espaço urbano de Cuiabá pode ser

verificada na Figura 24, que indica a mancha ocupada pela cidade em cada um dos

períodos citados na Tabela 3.

Figura 24- Mapa mostrando a evolução do perímetro urbano aprovado pelas legislações.

Fonte: Cuiabá (2007), editado pelo autor, 2014.

De 1960 a 1974, a área ocupada pelo perímetro legal de Cuiabá salta de

4,50km2 para 48,45km2, um aumento considerável, equivalente a 10 vezes a área

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96

anterior. Apenas quatro anos após essa alteração, em 1978, nova mudança na

legislação altera o perímetro de 48,45km2 para 104,98km2, dobrando de área. Em

1982, os limites passam a ocupar a área de 153,06km2. Em 1994 é definido o limite

da Macrozona Urbana, estipulado em 251,94km2. Desse período até o ano de 2013,

foram propostas 3 pequenas alterações nesse perímetro, conforme citado

anteriormente, sendo que em 2004 é proposta até uma pequena diminuição no

mesmo, até essa área se estabilizar em 2007, através da Lei Complementar 150,

que estabelece o perímetro urbano em 254,57km2, proibindo novas ampliações

nessa área pelo período de 10 anos24.

A Tabela 4 indica, em ordem cronológica, todos os conjuntos habitacionais

construídos na cidade de Cuiabá, incluindo os pioneiros, Conjunto Popular, de 1948,

o Núcleo Cidade Verde (Cohab Velha), de 1966, e o Conjunto Nova Cuiabá (Cohab

Nova), de 1970, indicando os bairros e a região onde foram implantados na cidade.

Tabela 4 - Tabela indicando os conjuntos habitacionais construídos na cidade de Cuiabá. Fonte: Prefeitura Municipal (2010), Freire (1997) e Aquino (2009), adaptado pelo autor (2014).

NOME DO CONJUNTO25

BAIRRO REGIÃO

Popular Popular Oeste

Núcleo Cidade Verde (Cohab Velha) Cidade Alta Oeste

Conjunto Nova Cuiabá (Cohab Nova) do Porto Oeste

Grande Terceiro Grande Terceiro Leste

COOPHEMA Coophema Sul

COOPHAMIL Coophamil Oeste

CPA-I Morada da Serra Norte

João Ponce de Arruda Cohab São Gonçalo Sul

COOPHAS (Morada do Ouro) Morada do Ouro Norte

CPA-II Morada da Serra Norte

CPA-III Morada da Serra Norte

CPA-IV Morada da Serra Norte

Jd. Industriário Jd. Industriário Sul

Jd. Presidente II Jd. Presidente Sul

Pq. Atalaia Parque Cuiabá Sul

Tijucal Tijucal Sul

Jd. Imperial I Jd. Imperial Leste

Cohasumt26

Jd. Universitário Leste

Santa Inês Resid. Santa Inês Leste

Res. São Carlos Resid. São Carlos Leste

Terra Nova Terra Nova Leste

Jd. Santa Amália Barra do Pari Oeste

Res. Araçá (Jd. Araçá) Barra do Pari Oeste

24

Conforme o Art. 89 da Lei Complementar No. 150, de 29 de janeiro de 2007, que trata do Plano

Diretor de Desenvolvimento Estratégico de Cuiabá. 25

A nomenclatura informada segue aquela apresentada pelas fontes dos dados, inclusive as abreviações. 26

Cooperativa dos Funcionários da UFMT.

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97

Tabela 5 - Tabela indicando os conjuntos habitacionais construídos na cidade de Cuiabá. (cont.) Fonte: Prefeitura Municipal (2010), Freire (1997) e Aquino (2009), adaptado pelo autor (2014).

NOME DO CONJUNTO BAIRRO REGIÃO

Jd. Vila Real Despraiado Oeste

Morada do Ouro II Morada do Ouro Norte

Res. Paiaguás Paiaguás Norte

Jd. Industriário - 2 etapa Jd. Industriário Sul

Res. Ilza Therezinha Picoli Pagot (PAR) Area de Exp. Urb. 2 Norte

Res. Wantuil de Freitas (PAR) Area de Exp. Urb. 2 Norte

Avelino Lima Barros São Sebastião Sul

Salvador Costa Marques Zona Exp. Urb. do Manduri Sul

Acácia do Coxipó (PAR) Jd. Universitário Leste

Res. Topázio (PAR) Jd. Universitário Leste

Recanto do Salvador (PAR) Recanto dos Pássaros Leste

Res. Claudio Marchetti (PAR) Área de Exp. Urb. Leste

Res. Maria de Lurdes (PAR) Área de Expansão Urbana Leste

Res. Recanto do Salvador (PAR) Área de Exp. Urb. Leste

Res. Despraiado (PAR) Despraiado Oeste

Milton Figueiredo (PAR) Área de Exp. Urb. Oeste

Para observar melhor o processo de ocupação do espaço urbano pelos

conjuntos habitacionais no período da pesquisa, foram geradas Tabelas e mapas

com intervalos de 10 anos, onde é indicada a localização dos mesmos no tecido

urbano de Cuiabá, conforme observa-se a seguir.

5.1 Conjuntos habitacionais implantados no período 1971-1980

Na Tabela 5 pode-se observar os conjuntos habitacionais que foram

implantados em Cuiabá no período 1971-1980, indicando a região onde foram

construídos e o número de U.H. de cada um dos empreendimentos.

Tabela 6 - Conjuntos habitacionais construídos em Cuiabá no período 1971-1980. Fonte: Composição dos Bairros de Cuiabá (IPDU – Cuiabá, 2010), Freire (1997),

Aquino (2009), Pedrollo (2008), adaptado pelo autor (2014).

REGIÃO NOME DO CONJUNTO No U.H.

Norte CPA-I 944

COOPHAS (Morada do Ouro) 1.045

Sul COOPHEMA 355

João Ponce de Arruda27

789

Oeste COOPHAMIL 1.497

Leste Grande Terceiro 701

TOTAL 5.331

Do exposto na Tabela 5 obtém-se a Figura 25 que traz o número de

empreendimentos por região nesse período indicado, onde é possível observar as

27

Conforme indicado na Tabela 4, o Conjunto João Ponce de Arruda, definido pela documentação oficial como núcleo habitacional, está localizado no bairro Cohab São Gonçalo, sendo este bairro composto também pelo assentamento informal São Gonçalo III.

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98

regiões Norte e Sul como aquelas que receberam mais empreendimentos, dois em

cada região, e as regiões Leste e Oeste com um empreendimento cada.

Figura 25 - Número de empreendimentos por região no período 1971-1980.

Fonte: o autor, 2014.

A Figura 26 demonstra a quantidade de U.H. por região da cidade, verifica-se

que, apesar das regiões Norte e Sul terem recebido mais empreendimentos no

período de 1971 a 1980, observa-se que a região Norte recebeu o maior número de

unidades, em dois empreendimentos, seguida pela região Oeste, apesar desta

apresentar apenas um empreendimento.

Figura 26 - Número de U.H. por região, no período 1971-1980.

Fonte: o autor, 2014.

A Figura 27 mostra a localização aproximada dos empreendimentos,

indicando o bairro onde foram implantados.

1.989 1.144

1.497 701

0

2.000

4.000

6.000

8.000

10.000

12.000

norte sul oeste leste

Número de unidades por região

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99

Figura 27 - Mapa indicando os bairros onde foram implantados os conjuntos no período 1971-1980.

Fonte: IPDU, adaptado pelo autor, 2014.

A Figura 28 apresenta a localização dos empreendimentos em relação à

mancha urbana delimitada pela Lei No. 1.346, de 1974, estando, no período

indicado, apenas o Coophamil e o Grande Terceiro dentro dos limites delimitados

por essa lei.

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100

Figura 28 - Conjuntos habitacionais do período 1971-1980 em relação ao perímetro oficial de 1974.

Fonte: IPDU, adaptado pelo autor, 2014.

A Figura 29 indica a localização dos conjuntos habitacionais em relação à Lei

No. 1.537, de 1978, quando o perímetro urbano de Cuiabá passa de 48,45km2 para

104,98 km2, momento em que, em relação aos empreendimentos executados nessa

década, apenas o Conjunto João Ponce de Arruda, situado no bairro Cohab São

Gonçalo, fica fora dos limites demarcados por essa legislação.

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101

Figura 29 - Conjuntos habitacionais do período 1971-1980 em relação ao perímetro oficial de 1978.

Fonte: IPDU, adaptado pelo autor, 2014.

5.2 Conjuntos habitacionais implantados no período 1981-1990

A Tabela 6 apresenta os conjuntos habitacionais que foram implantados em

Cuiabá no período 1981-1990, indicando a região onde foram construídos e o

número de U.H. de cada um dos empreendimentos, sendo possível observar pelos

dados relacionados, que este período apresenta o maior número de unidades

executadas em todo o intervalo de abrangência da pesquisa.

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102

Tabela 7 - Conjuntos habitacionais construídos em Cuiabá no período 1981-1990. Fonte: Composição dos Bairros de Cuiabá (IPDU – Cuiabá, 2010), Freire (1997),

Aquino (2009), adaptado pelo autor (2014).

REGIÃO NOME DO CONJUNTO No U.H. REGIÃO NOME DO CONJUNTO N

o U.H.

Norte

CPA-II 2.654 Oeste

Res. Araçá (Jd. Araçá) 344

CPA-III 4.600 Jd. Vila Real 120

CPA-IV 3.832

Leste

Jd. Imperial I 1152

Sul

Jd. Industriário 391 Cohasumt 600

Jd. Presidente II 407 Santa Inês 912

Pq. Atalaia 195 Res. São Carlos 976

Tijucal 3.910 Terra Nova 1.040

Oeste Jd. Santa Amália 196 TOTAL 21.329

Do exposto na Tabela 6 resulta a Figura 30 apresentando o número de

empreendimentos por região nesse período indicado, onde pode-se observar a

região Leste como aquela que mais empreendimentos recebeu, em número de

cinco, seguida pela região Sul que recebe quatro, e as regiões Norte e Oeste

recebendo três empreendimento cada uma.

Figura 30 - Número de empreendimentos por região no período 1981-1990.

Fonte: o autor, 2014.

A Figura 31 demonstra a quantidade de U.H. por região da cidade, onde se

verifica que, apesar da região Norte ter recebido um numero menor (03) de

empreendimentos no período, como demonstrado na Figura anterior, ela recebe

uma quantidade de unidades superior à soma da todas as outras regiões, sendo que

a região Leste, que recebeu o maior numero de empreendimentos, tem apenas a

terceira posição no numero de U.H. construídas (4.680 unidades), vindo logo após a

região Sul.

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103

Figura 31 -Número de U.H. por região, no período 1981-1990.

Fonte: o autor, 2014.

O grande numero de unidades na região Norte se dá em função da

consolidação da área do Conjunto Habitacional do CPA que, após ter recebido

quase mil unidades em sua primeira etapa, neste período recebe, nos três

empreendimentos que são implantados (CPA II, CPA III e CPA IV), e que vem a

definir o que hoje se conhece como CPA, mais de onze mil unidades, se

consolidando a partir desse momento como uma das regiões mais importantes da

cidade, tanto política como economicamente.

Na Figura 32 verifica-se a localização aproximada dos empreendimentos,

indicando o bairro onde estes foram implantados. Nessa região destaca-se a grande

dispersão que se observa na implantação dos conjuntos habitacionais nas regiões

Leste e Sul da cidade, deixando enormes vazios entre os mesmos.

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104

Figura 32 - Mapa indicando os bairros onde foram implantados os conjuntos no período 1981-1990.

Fonte: IPDU, adaptado pelo autor, 2014.

A Figura 33 traz a localização dos conjuntos habitacionais em relação ao

perímetro urbano estabelecido pela Lei No. 2.023, de 1982, quando a área urbana de

Cuiabá passa de 104,98 km2 para 153,06 km2, mostrando que, em relação aos

empreendimentos executados nessa década, apenas o Jardim Industriário fica fora

dos limites demarcados.

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105

Figura 33 - Conjuntos habitacionais do período 1981-1990 em relação ao perímetro oficial de 1982.

Fonte: IPDU, adaptado pelo autor, 2014.

5.3 Conjuntos habitacionais implantados no período 1991-2000

A Tabela 7 traz a indicação dos conjuntos habitacionais implantados em

Cuiabá no período 1991-2000, apresentando a região onde foram construídos e o

número de U.H. de cada um dos empreendimentos. É relevante informar que desses

empreendimentos indicados na Tabela 7, com exceção do Morada do Ouro II e do

Residencial Paiaguás, todos os outros pertencem ao Programa PAR, do governo

federal.

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106

Tabela 8 - Conjuntos habitacionais construídos em Cuiabá no período 1991-2000. Fonte: Composição dos Bairros de Cuiabá (IPDU – Cuiabá, 2010), Freire (1997),

Aquino (2009), Barcelos (2011a), adaptado pelo autor (2014).

REGIÃO NOME DO CONJUNTO No U.H.

Norte

Morada do Ouro II 1.883

Res. Paiaguás 320

Residencial Jardim Vitória “A” 129

Residencial Jardim Vitória “B” 160

Sul

Jd. Industriário – 2a etapa 993

Residencial Coxiponés 160

Residencial Morada do Faval 117

Residencial Santo Antonio 160

Residencial Morro de Santo Antonio 160

Oeste Residencial Jardim Antártica 180

TOTAL 4.262

Do que foi indicado nessa tabela obtém-se a figura 34 que apresenta o

número de empreendimentos por região no período 1991-2000.

Figura 34 - Número de empreendimentos por região no período 1991-2000.

Fonte: o autor, 2014.

A Figura 35 demonstra a quantidade de U.H. por região da cidade, sendo é

possível observar que, apesar de a região Norte ter recebido um numero menor de

empreendimentos (04) em relação à região Sul (05), ela ainda recebe uma

quantidade de unidades superior (2.492 unidades), não apenas à região Sul, mas à

soma da todas as outras regiões, sendo que a região Leste não recebe nenhum

empreendimento no período.

Page 109: 13.pdf

107

Figura 35 - Número de U.H. por região no período 1991-2000.

Fonte: o autor, 2014.

Na Figura 36 pode-se verificar a localização dos empreendimentos do período

1991-2000, indicando a região e o bairro onde estes foram implantados.

Figura 36 - Mapa indicando os bairros onde foram implantados os conjuntos no período 1991-2000.

Fonte: IPDU, adaptado pelo autor, 2014.

Page 110: 13.pdf

108

Na Figura 37 percebe-se um agrupamento dos conjuntos habitacionais, dois a

dois, nas regiões Norte e Sul, visto serem esses, conjuntos do Programa PAR, com

um numero relativamente pequeno de unidades habitacionais, mantendo eles a

seguinte proximidade:

a) Residencial Jardim Vitória “A” e Residencial Jardim Vitória “B”, na região

Norte;

b) Residencial Coxiponés e Residencial Morada do Faval, na região Sul;

c) Residencial Santo Antônio e Residencial Morro de Santo Antônio, também

na região Sul.

Figura 37 - Conjuntos habitacionais do período 1991-2000 em relação ao perímetro oficial de 1994.

Fonte: IPDU, adaptado pelo autor, 2014.

Page 111: 13.pdf

109

5.4 Conjuntos habitacionais implantados no período 2001-2010

A Tabela 8 traz a indicação dos conjuntos habitacionais implantados em

Cuiabá no período 2001-2010, mostrando a região e o número de U.H. de cada um

dos empreendimentos. Apresenta também a indicação de 6 conjuntos do Programa

Minha Casa Minha Vida (PMCMV) os quais, apesar de não estarem ainda

implantados no período da pesquisa, foram considerados apenas pela possibilidade

de se observar a localização dos mesmos no tecido urbano da cidade. São eles os

conjuntos: Residencial Nova Canaã, Residencial Alice Novack, Residencial Jamil

Boutros Nadaf, Residencial Nova Canaã II, Residencial Nilce Barreto e Residencial

Altos do Parque.

Tabela 9 - Conjuntos habitacionais construídos em Cuiabá no período 2001-2010. Fonte: Composição dos Bairros de Cuiabá (IPDU – Cuiabá, 2010), Freire (1997), Aquino (2009), Barcelos (2011a), Logsdon (2012), adaptado pelo autor (2014).

REGIÃO NOME DO CONJUNTO No U.H.

Norte

Residencial Mirante de Cuiabá 165

Residencial Pádova 238

Residencial Ilza Therezinha Picolli Pagot 482

Residencial Wantuil de Freitas 428

Residencial Buritis 486

Residencial Nova Canaã (PMCMV) 499

Residencial Jamil Boutros Nadaf (PMCMV) 322

Residencial Nova Canaã II (PMCMV) 499

Sul

Condomínio Ipê Amarelo 140

Condomínio Paschoal Moreira Cabral 170

Condomínio Flor do Cerrado 284

Condomínio Marechal Rondon 305

Residencial Altos do São Gonçalo 344

Condomínio Domingos Sávio Brandão Lima Jr. 209

Condomínio Jardim Botânico 108

Residencial Esperança 157

Residencial Salvador Costa Marques 456

Residencial Avelino Lima Barros 500

Residencial Belita Costa Marques 488

Residencial Alice Novack (PMCMV) 423

Residencial Nilce Paes Barreto (PMCMV) 500

Residencial Altos do Parque (PMCMV) 472

Oeste Residencial Despraiado 430

Leste

Condomínio Recanto 140

Residencial Acácia do Coxipó 122

Residencial Maria de Lurdes 487

Residencial Recanto do Salvador 362

Residencial Topázio 120

Residencial Cláudio Marchetti 473

TOTAL 9.809

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110

Do exposto na Tabela 8 obtém-se a Figura 38 que apresenta o número de

empreendimentos por região em que se observa a região Sul como a que mais

empreendimentos recebeu, com quatorze (14) unidades, seguida pela região Norte

que recebe oito (08), e a região Leste que recebe seis (06) conjuntos. A região

Oeste recebe apenas um empreendimento (01).

Figura 38 - Número de empreendimentos por região no período 2001-2010.

Fonte: o autor, 2014.

A Figura 39 apresenta o número de U.H. edificadas no período, sendo

possível constatar a predominância da região Sul, seguida pelas regiões Norte e

Leste em número de unidades.

Figura 39 - Número U.H. por região, no período 2001-2010.

Fonte: o autor, 2014

Verifica-se nas Figuras 38 e 39 uma tendência de ocupação das regiões

Leste e Sul, sendo que na região Norte, uma parte considerável dos

empreendimentos habitacionais foi implantado no espaço definido pelo Plano Diretor

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111

como Área de Expansão Urbana. Essa Área de Expansão Urbana aparece indicada

em amarelo na Figura 40. Na mesma Figura 40, os elementos indicados com

quadrados vermelhos são os conjuntos residenciais do PMCMV, locados de acordo

com Logsdon (2012).

Figura 40 - Mapa indicando as regiões onde foram implantados os conjuntos no período 2001-2010.

Fonte: IPDU, adaptado pelo autor, 2014.

Para efeito de comparação, a Figura 41 apresenta o mapa com a evolução

urbana de Cuiabá em sua história, e assim é possível verificar o contexto em que

atualmente estão sendo implantados os conjuntos habitacionais, podendo-se

Page 114: 13.pdf

112

observar inclusive, a presença de grandes espaços desocupados dentro desse

perímetro. Com o objetivo de permitir melhor visualização das distancias em relação

ao centro, foram traçados vários raios concêntricos de 1km, partindo de um ponto

central da praça Alencastro, situada no centro histórico da cidade para que, dessa

forma, se possa mensurar a expansão dessa ocupação à partir do marco inicial do

surgimento da cidade, hoje denominado de “Centro Histórico”, possibilitando assim

uma melhor visualização da direção que toma o desenvolvimento urbano de Cuiabá.

Figura 41 - Mapa com a evolução urbana da cidade de Cuiabá.

Fonte: IPDU, adaptado pelo autor, 2014.

Neste estudo os valores representados nas Tabelas e Figuras proporcionam a

verificação de que a cidade de Cuiabá teve um crescimento expressivo

principalmente na direção sul, a qual engloba as regiões administrativas

denominadas de Leste e Sul, conforme indicado anteriormente, exibindo esta área

da cidade uma ampliação muito mais significativa do que aquela verificada na região

administrativa Oeste, que apesar de apresentar a limitação do rio Cuiabá, tem áreas

de expansão na região noroeste que não se encontram aproveitadas. Enquanto para

a região sul verificou-se um crescimento do perímetro urbano que atinge em torno

Page 115: 13.pdf

113

de 17km de raio, na região noroeste este prolongamento não chega a 6km, e na

região nordeste, este chega a 10km.

Não obstante o fato da região Sul ser a via de saída para os estados de Mato

Grosso do Sul e São Paulo, e contar com o Distrito Industrial da cidade, não se

observou nas pesquisas dados que justifiquem ser esses os fatores determinantes

para sua ocupação, acreditando ser muito mais determinante a questão da

especulação fundiária como critério para essa expansão.

Apesar de atualmente bairros como Pedra 90 e Tijucal terem desenvolvido

uma área de comércio e diversos serviços na comunidade, podendo se caracterizar

como novas centralidades urbanas, estas atividades se desenvolvem muito mais em

decorrência das distancias a serem percorridas até o centro da cidade de Cuiabá do

que em função de uma vocação desses espaços. Mesmo o Distrito Industrial não

pode ser indicado como fator para a ocupação desses espaços, uma vez que seu

desenvolvimento só vem a ocorrer nos últimos anos.

A implantação do Distrito Industrial nessa região, que ocorre em função da

rota de acesso aos estados do Sul do país, acontece de forma lenta, vinculada mais

ao desenvolvimento das áreas residenciais do entorno do que ao próprio

desenvolvimento do Distrito Industrial, que a princípio deveria ser o fator

determinante para essa ocupação. Ainda que não seja possível afirmar que esse

crescimento se deu apenas em função da habitação de interesse social, o que se

percebe é um predomínio desta função nessas localidades, o que leva à conclusão

de que a ocupação e desenvolvimento dessas regiões decorre da implantação dos

conjuntos habitacionais em seu entorno.

5.5 INVASÕES E REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA

Apesar de não incorporar a pesquisa de forma direta, é importante destacar a

relação dos assentamentos informais e os loteamentos com problemas fundiários,

que também contribuíram para o crescimento da área urbana da cidade.

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114

Segundo dados da Prefeitura Municipal de Cuiabá, na Tabela 9 estão

indicadas as áreas consideradas como assentamentos informais28:

Tabela 10 - Assentamentos informais, segundo a Prefeitura Municipal de Cuiabá. Fonte: Cuiabá (2010); Cuiabá (2010a), adaptado pelo autor (2014).

PERÍODO ASSENTAMENTO REGIÃO

PERÍODO ASSENTAMENTO REGIÃO

1960 São Mateus Leste

1990

Jd. Liberdade Sul

1970 Vila Verde Sul 8 de Abril Leste

Barbado Leste 21 de Abril Leste

1980

Getúlio Vargas Sul Jd. Renascer Leste

Castelo Branco Leste 10 de Julho Leste

Santa Angelita Oeste Altos da Serra Leste

Jd. Ubirajara Oeste Dr. Fábio Leite Leste

1990

Aguas Nascentes Norte Antonio Dias Oeste

Jd. Itapuã Norte Antos da Boa Vista Oeste

Paiaguás I Norte Pq. Amperco Oeste

Tres Poderes Norte

2000

Serra Dourada Norte

Jd. Nova Conquista Norte Império do Sol Sul

Santa Tereza Norte Jd. Botânico Sul

Santa Tereza (N. Paraíso II) Norte Vista da Chapada Sul

São Gonçalo III Sul Belinha Leste

Em seu trabalho, Aquino (2009) apresenta dados relacionados aos

loteamentos alvo de regularização fundiária em Cuiabá, a cargo da Cohab-MT,

conforme apresentado na Tabela 10.

Tabela 11 - Loteamentos alvo de regularização fundiária em Cuiabá a cargo da Cohab-MT (1996). Fonte: Cohab-MT (1996), apud Aquino (2009).

LOTEAMENTO NO LOTES

LOTEAMENTO NO LOTES

Águas Nascentes 338 Osmar Cabral 1.104

Centro América I 504 Tancredo Neves 762

Centro América II 304 Três Barras II 832

Fortaleza 805 Três Lagoas 102

Jardim 1º. de Março 1.861 Três Poderes 308

Jardim Nova Conquista 360 Vila Nova 62

Jardim Brasil 873 Vila Rosa 186

Jardim Florianópolis I 1.700 Pedra 90 (1ª. parte) 6.870

Jardim Florianópolis II 237 Novo Mato Grosso II 94

Jardim Itapuã 692 Pedra 90 (2ª. parte) 1.630

Jardim União 1.585 São João Del Rey 1.508

Jardim Vitória 2.434 Tijucal 120

João Bosco Pinheiro 439 TOTAL 25.710

28 Segundo Cuiabá (2010, p. 19), é vulgarmente chamado de invasão ou grilo. É a ocupação de uma área, de propriedade pública ou privada, predominantemente para fins de moradia, sem a autorização do titular de domínio, podendo ou não haver a abertura de vias públicas. Em Cuiabá, geralmente, no ato da ocupação de uma área, seus ocupantes marcam seus terrenos de acordo com o projeto de parcelamento a ser executado, com as vias e as áreas destinadas a equipamentos comunitários e lazer. Em função disso, tais assentamentos não são classificados pelo IBGE como favelas.

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115

Segundo os dados, apontados por aquele autor, o número de lotes alvo de

regularização chega a 25.710. Outro programa, este da Prefeitura de Cuiabá, citado

pelo mesmo autor é o PROTEGE29 – Programa Terra da Gente, que tem por

finalidade realizar a regularização fundiária urbana das áreas de interesse social do

município. O programa foi instituído em 1984, tendo funcionado até 1989, e sendo

retomado a partir de 1993.

A Tabela 11, adaptada pelo autor, indica as localidades, o numero de lotes e

o ano de invasão dos locais.

Tabela 12 - Localidades ocupadas na cidade de Cuiabá com o respectivo número de lotes. Fonte: Aquino (2009), adaptado pelo autor (2014).

ANO LOCALIDADE No. LOTES ANO LOCALIDADE N

o. LOTES

1973 Jd. Leblon II 108

1987

Barreiro Branco 136

Jardim Leblon 961 Vila Verde 72

1974 Praieiro 477 São Francisco 169

1975 Novo Terceiro 342 São Gonçalo 180

1976 Jd. Santa Izabel 1.025

1988

Castelo Branco 64

1977 C. dos Pinheiros 303 Jardim Ubirajara 261

Cancha 97 Getúlio Vargas 348

1978 Carumbé 387 1989 Santa Angelita 101

Canjica 911 1990

Jardim Eldorado 281

1979

Pólvora 82 Campo Verde 142

Ribeirão do Lipa 284 1992 Santa Laura 185

Quilombo 68

1994

Dr. Fábio 6.000

Barbado 436 Santa Tereza 396

Campo Velho 190 Ouro Fino II 170

Ana Poupina 97 1995 P. Amperco 168

Barro Duro 567

1996

Altos da Glória 270

Jd. Novo Colorado 645 Guiaicurus II 61

A. da Boa Vista 394 Passaredo 198

Quarta-feira 318 Lagoa Azul 135

Aldeia/D. Aquino 230 Paiaguás 438

S. J. dos Lázaros 423 Bela Vista II 585

Novo Horizonte 892 1997 Liberdade 358

Planalto 908

1998

T. de Crescer 1.462

1984 Novo Paraiso 691 1º. de Julho 154

1985 Novo Mato Grosso 414 Lote Duque de Caxias 338

1986

Umuarama 530 Renascer 120

Três Barras 1.080 TOTAL 25.989

Ouro Fino I 337

29

Segundo Aquino (2009), o Programa foi criado pela Lei Municipal no. 2.219, de 27 de outubro de 1984, com o

objetivo de atuar indiferentemente em áreas de domínio Federal, Estadual, Municipal e Particular.

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116

De acordo com os dados apresentados na Tabela 11, as invasões

referenciadas geraram um numero de 25.989 lotes, em um período de 25 anos.

Como são áreas que foram ocupadas sem um planejamento, nelas há uma carência

de espaços públicos para uso da população e para a implantação dos serviços

públicos, gerando assim ambientes urbanos sem condições adequadas para os

residentes no local, além do impacto que causam no tecido urbano.

5.6 OUTROS PROGRAMAS HABITACIONAIS

O objetivo aqui é de apenas para indicar a presença de outros programas

vinculados à questão da HIS que foram implementados na cidade de Cuiabá, no

período da pesquisa.

De acordo com Aquino (2009, p. 126), “a experiência da COHAB-MT com

programas de autoconstrução pode ser dividida em três fases, tendo sido o

PROFILURB e o PROMORAR os principais programas realizados nas duas

primeiras fases e o João de Barro, o destaque na terceira”. Ainda de acordo com o

mesmo autor, a primeira fase teve inicio na segunda fase da década de 1970,

estendendo-se até o inicio da década de 1980, período em que se introduziu a

estratégia de autoconstrução nos programas governamentais, via BNH; a segunda

fase teve inicio na década de 1980, quando se introduziram os mutirões

habitacionais gerenciados diretamente pelo Estado; e a terceira na década de 1990.

Através do estudo realizado obteve-se os seguintes programas de mutirão e

autoconstrução que tiveram aplicação na cidade de Cuiabá:

a) Programa Profilurb, que beneficiou 378 famílias na localidade São

Gonçalo (Cuiabá);

b) Programa João de Barro, que beneficiou 861 familias;

c) Programa Promorar, que beneficiou 1806 familias;

d) Programa Ficam, que beneficiou 1608 familias.

5.6.1 Os Programas Habitacionais do Governo do Estado

Segundo Barcelos (2011), o Fundo Estadual de Transporte e Habitação

(FETHAB), foi criado pelo Governo do Estado de Mato Grosso através da Lei 7.882,

de 30 de dezembro de 2002, cuja arrecadação é proveniente da cobrança sobre o

valor do óleo diesel, frete, produção agrícola e pecuária mato-grossense.

Page 119: 13.pdf

117

Metello (200-?) afirma que, dos recursos arrecadados, 30% são destinados

para a construção de casas populares em todo o Estado de Mato Grosso, ficando os

70% restantes direcionados para a pavimentação e manutenção de rodovias

estaduais, além da recuperação de estradas vicinais. Aquele autor afirma que os

recursos para a área habitacional são direcionados ao “Programa Meu Lar”, do

governo estadual, que contem os seguintes subprogramas:

a) Núcleos Habitacionais;

b) Bolsa Material de Construção (BMC);

c) Casa Fácil;

d) Morar Melhor

De acordo com Metello (200-?), 50% das unidades habitacionais do Programa

Meu Lar são destinadas a trabalhadores públicos do Estado, complementando que

dentro do Programa de Arrendamento Residencial (PAR), executado pelo Governo

do Estado em parceria com a Caixa Econômica Federal, 50% das casas construídas

nos conjuntos habitacionais são destinadas a servidores públicos. Cita ainda dados

da Secretaria de Infra-estrutura do Governo do Estado, de 2004, informando que

“em Cuiabá há os seguintes conjuntos residenciais: Recanto, no bairro Recanto dos

Pássaros, Botânico, no bairro Coophema, Marechal Rondon, nos Distritos

Industriais, Altos do São Gonçalo, no Parque Atalaia, Sávio Brandão, no Coxipó e

Mirante do Cuiabá, no bairro Bela Vista, este último é 100% destinado aos

servidores públicos.” (METELLO, 200-?)

Barcelos (2011, p. 52) afirma que a partir de 2003 a Secretaria de Estado de

Infraestrutura (SINFRA/MT) surge como “gestora da questão habitacional,

aumentando sensivelmente o número de unidades custeadas pelo governo do

estado”, passando a infraestrutura a ser aportada como contrapartida. Segundo

aquele autor, “a implantação que antes era na forma de condomínio, de propriedade

do FAR, passa a ser loteamento, e consequentemente apenas as unidades

habitacionais e seus respectivos lotes são de propriedade do FAR”.

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118

6 ANÁLISE E RESULTADOS

O estudo do processo de implantação dos conjuntos habitacionais de

interesse social na cidade de Cuiabá, Mato Grosso, no período da pesquisa de 1960

a 2010, permite que sejam obtidas algumas conclusões sobre seus efeitos no tecido

urbano.

O processo de urbanização das cidades brasileiras, que ocorre na maioria

das vezes de forma intensa e desorganizada a partir do inicio do século XX,

principalmente nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio

Grande do Sul, vai ocorrer na cidade de Cuiabá na segunda metade do século XX,

vinculado às políticas de ocupação do território nacional. Nesse processo de

urbanização, Reis Filho (2009, p. 105) afirma que, com diferença de grau e

intensidade, todas as cidades brasileiras exibem uma série de problemáticas como

emprego, habitação, transportes, lazer, abastecimento de água, coleta de esgotos,

educação e saúde, os quais são generalizados e revelam as enormes carências da

população.

No caso de Cuiabá, é importante ressaltar que esse processo legou à cidade

diversos problemas em áreas como habitação, transportes, lazer, abastecimento de

água, rede de esgotos, coleta de lixo, educação, saúde, entre outros, os quais são

influenciados diretamente pela forma de ocupação, bem como a extensão que a

cidade assume nesse período.

Através da pesquisa realizada, é possível constatar que em Cuiabá, em

diversos momentos da sua evolução, a implantação dos conjuntos habitacionais se

deu em áreas externas ao perímetro oficial, como ocorreu com o Conjunto João

Ponce de Arruda, localizado no bairro Cohab São Gonçalo, no período 1971 – 1980

e o Jardim Industriário no período 1981 - 1990, estando assim fora da área de

atuação dos órgãos públicos. Em função disso, visto que uma parte significativa da

infraestrutura como asfalto, rede de água e esgoto, transporte público, entre outros,

tem seu atendimento relacionado aos órgãos oficiais, verifica-se que esses

elementos não foram contemplados no momento de implantação dos conjuntos

habitacionais.

Observa-se, ainda hoje, que o processo de urbanização continua intimamente

ligado à questão do valor do solo urbano, percebendo-se uma falta de conexão entre

Page 121: 13.pdf

119

as necessidades básicas da população e a implantação das unidades habitacionais.

Dessa maneira, a expansão da cidade da forma como se deu, sem um controle e

planejamento efetivo por parte da Prefeitura Municipal de Cuiabá, levou a uma

escassez de serviços básicos principalmente à população mais carente, o que acaba

por onerar todo o conjunto da população.

A constatação dessa maneira de ocupação do solo urbano vem de encontro à

afirmação de Singer (1978) de que o acesso a serviços urbanos tende a privilegiar

determinadas localizações em medida tanto maior quanto mais escassos forem os

serviços em relação à demanda da população. Isso faz com que em muitas cidades

brasileiras, a ocorrência de uma rápida expansão em função do número de

habitantes, em geral nas áreas periféricas, leve essa escassez no atendimento a

nível crítico, acentuando assim a valorização de áreas bem servidas. Com isso,

estas áreas acabam destinadas à camada mais rica, ficando a população de baixa

renda muitas vezes relegada às zonas pior servidas, e por isso mais baratas, que se

caracterizam por áreas longínquas e desprovidas dos serviços e dos equipamentos

urbanos essenciais.

Como um exemplo desse tipo de carência na cidade de Cuiabá, pode ser

citada a questão da saúde pública, em que o atendimento básico deveria ser

priorizado com o objetivo de se evitar que condições impróprias de vida ou mesmo

enfermidades de fácil tratamento em seus estágios iniciais, acabem por se agravar,

resultando em maiores custos para o seu tratamento. Com essa intenção, o governo

federal disponibiliza aos entes federativos o Programa Saúde da Família (PSF)30,

com o objetivo de oferecer esse atendimento primário, nas imediações da moradia

da população, de forma a possibilitar a educação em saúde e o acompanhamento

das condições de vida dos habitantes.

Observa-se na Figura 42 um levantamento atual de todas as Unidades

Básicas de Saúde (UBS) da rede de saúde pública de Cuiabá, vinculadas ao

Programa PSF, contendo a localização dessas unidades juntamente com a

30

De acordo com Brasil (2006) o Programa Saúde da Família (PSF) se caracteriza por ser um programa voltado ao fortalecimento da atenção básica à saúde, denominado no âmbito da gestão da saúde como Atenção Primária, voltado ao atendimento familiar com a proposta de desenvolver ações de educação permanente em saúde, com o compromisso de promoção à saúde, mudança nos hábitos e padrões de vida dessa população, tendo um território de abrangência vinculado a uma população de 2.400 a 4.000 pessoas (600 a 1.000 famílias).

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120

localização de todos os conjuntos habitacionais implantados do ano de 1991 até

2010. Dessa forma é possível visualizar a inadequação na área de cobertura desse

atendimento, sendo claramente perceptível a ausência de unidades PSF nas

imediações de muitos dos conjuntos habitacionais. É importante ressaltar que os

moradores desses conjuntos são normalmente das camadas mais necessitadas da

população, sendo justamente o público-alvo desse tipo de ação.

Figura 42 - Mapa indicando a localização das unidades PSF em Cuiabá, em relação aos conjuntos habitacionais implantados no período 1991-2010.

Fonte: Cuiabá (2012), adaptado pelo autor, 2014.

Com relação à pavimentação das vias públicas, a Figura 43 apresenta um

diagnóstico das áreas pavimentadas e sem pavimentação na cidade de Cuiabá até o

ano de 2010, contendo a localização dos conjuntos habitacionais executados no

período que vai de 1991 até 2010, o que permite verificar que muitas das áreas onde

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121

foram implantados os conjuntos habitacionais ainda não contam com a

pavimentação das vias.

Figura 43 - Mapa com os conjuntos habitacionais do período 1991 a 2010, em relação às vias pavimentadas e sem pavimentação de Cuiabá.

Fonte: Cuiabá (2012), adaptado pelo autor, 2014.

Dados da Prefeitura Municipal (CUIABÁ, 2012) informam uma extensão de

1.192.151,04m de vias pavimentadas na cidade, com 632.172,86m de vias sem

pavimentação. A ausência de pavimentação das vias públicas ocorre até mesmo em

localidades próximas aos núcleos mais povoados da cidade, como as áreas no

entorno da Avenida do CPA, um dos eixos viários mais valorizados do município,

fato que só começa a ser corrigido no ano de 2013.

A mesma situação de inadequação em relação à infraestrutura também pode

ser percebida em relação à coleta de esgoto onde, segundo dados da Prefeitura

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122

Municipal (CUIABÁ, 2012), a cidade de Cuiabá apresenta rede coletora de 648,29

km, com essa rede composta por três sistemas distintos, sendo eles: o sistema misto

(águas pluviais e esgoto), o sistema separador absoluto (coleta separadamente o

esgoto e as águas pluviais) e o sistema condominial (coleta dentro dos lotes

urbanos). Em muitos conjuntos habitacionais da região foram executados sistemas

isolados de esgotamento sanitário.

Na cidade de Cuiabá, também em função das características da ocupação do

território, torna-se inviável economicamente a implantação de uma rede de coleta de

esgotos adequada e estruturada, uma vez que essas redes passarão,

necessariamente, por grandes áreas desocupadas que, apesar de gerarem custo de

implantação, não trarão retorno ao investimento feito no sistema. Mesmo nas

situações em que a oferta de serviços e infraestrutura está adequada, não se pode

deixar de levar em consideração os custos tanto de implantação como de

manutenção destes, que certamente serão de maior monta em função da baixa

densidade de ocupação do território.

A esse respeito, Acioly (1998) diz que, em princípio, especialistas em

habitação tem assumido que, quanto maior a densidade da ocupação31, melhor será

a utilização e maximização da infraestrutura e solo urbano. Parte-se da suposição de

que altas densidades garantem a maximização dos investimentos públicos, incluindo

infraestrutura, serviços e transporte, e ainda permitem a utilização eficiente da

quantidade de terra disponível. Porém, o mesmo autor alerta que assentamentos de

alta densidade podem também sobrecarregar e mesmo causar uma saturação das

redes de infraestrutura e serviços urbanos, trazendo consequências danosas ao

meio ambiente e ao desenvolvimento humano. Dessa condição derivam problemas

como a concentração, saturação das redes de infraestrutura e ineficiências que

podem ser observadas nos diferentes sistemas urbanos como tráfego, drenagem,

abastecimento de água e esgotamento sanitário, que logo se tornam saturados e

obsoletos.

31

Para Ferrari (2004), densidade é o índice que estabelece relações diretas entre grandezas sócio-econômicas ou físicas e uma unidade de espaço ou volume. Neste caso, a densidade representa o número total da população de uma área urbana específica, expressa por uma unidade de terra ou solo urbano, ou o total de habitações de uma determinada área urbana, expressa em habitações por uma unidade de terra, sendo utilizada como unidade para as áreas urbanas, em geral, o hectare. A unidade de 1 hectare equivale a 10.000 m

2.

Page 125: 13.pdf

123

Para Acioly (1998), em contraponto, as ocupações sob baixas densidades

causam impactos na capacidade de pagamento e de retorno financeiro, sendo

geralmente providas de serviços públicos a custos elevados, com manutenção cara

e transportes coletivos técnica e economicamente inviáveis. As baixas densidades

acarretam longas redes de infraestrutura, em potencial estado de ociosidade, para

um número reduzido de consumidores, elevando assim os custos de investimento

tanto na instalação quanto na operação do sistema.

De acordo com Mascaró (2005), as deficiências de infraestrutura reduzem a

qualidade de vida e prejudicam a produtividade, diminuindo a renda das pessoas.

Ele prossegue dizendo que um dos maiores desafios do crescimento equilibrado e

duradouro das populações é provê-las de serviços urbanos em quantidade e

qualidade suficientes. Em nossa realidade atual, na maioria das vezes, apesar dos

vultosos investimentos feitos com recursos públicos nesse setor, estes ainda não se

convertem em serviços públicos de qualidade, tampouco apresentam custos

acessíveis para a população.

Para Acioly (1998) a capacidade de pagamento e o retorno financeiro em

áreas de baixa densidade, que são geralmente providas de serviços públicos a

custos altíssimos, com manutenção caríssima e transportes coletivos econômica e

praticamente inviáveis, tem sido alvo de debates em locais tão distintos quanto a

África do Sul, Nova Zelândia e Califórnia. Para ele, um dos principais argumentos

para se encorajarem as altas densidades urbanas está ligado à eficiência na

provisão e manutenção das infraestruturas e serviços urbanos. Em sua visão, os

argumentos são simples: baixa densidade significa longas redes de infraestrutura

para poucos consumidores e, portanto, altos custos de investimentos per capita

tanto na instalação quanto na operação.

Mascaró (2005) cita o caso de São Paulo, em que investimentos em

infraestrutura poderiam minimizar os 1,7 bilhão de horas/ano desperdiçadas pela

população no transito, trazendo economia de combustível e diminuição na poluição

ambiental. Acioly (1998) diz que um sistema de transporte público eficiente requer

Page 126: 13.pdf

124

densidades médias e altas32, a fim de poder oferecer um serviço frequente, barato e

eficiente. Para isso também é necessária uma pavimentação de qualidade, que

minimize os custos operacionais, proporcionando maior vida útil aos equipamentos e

mais conforto para os usuários.

Por todos esses fatores, a continuidade da ocupação do tecido urbano é da

maior importância, com o objetivo de evitar a ociosidade da infraestrutura e a

minimizar os trajetos do transporte público. Para Mascaró (2005), um dos problemas

mais sérios existentes nas cidades latino-americanas é a demora para serem

ocupadas extensas áreas urbanas. Em suas palavras, “a falta de ocupação de

grandes áreas urbanas, a maioria na periferia da cidade, mas não exclusivamente

nelas, cria sobre custos para as prefeituras locais que têm de pavimentar, manter e

varrer muito mais do que seria necessário” (MASCARÓ, 2005, p. 197). Esse

aumento de custo pode ser verificado também nas concessionárias de luz, água e

esgoto, que muitas vezes precisam estender seus ramais e linhas de abastecimento

por grandes áreas desocupadas, gerando custos para todo o sistema.

Após a análise desses argumentos, pode-se perceber que a ocupação na

cidade de Cuiabá encontra-se rarefeita em diversas localidades, o que tem como

provável consequência um aumento no custo de implantação e manutenção dessa

infraestrutura para que a mesma ofereça um serviço de qualidade. Esse custo,

invariavelmente, sairá do bolso dos contribuintes, seja na forma de um preço mais

alto para os serviços, seja na forma de subsídios do poder público para que se

obtenham tarifas mais baixas.

Em relação ao que se percebe no município de Cuiabá, outro fator importante

a ressaltar em relação à implantação dos conjuntos habitacionais é que, após um

breve período em que o Programa PAR tentou privilegiar empreendimentos com um

número reduzido de unidades, que possibilitavam a ocupação dos vazios existentes

na cidade, o que se verifica atualmente é um retorno ao modelo dos núcleos

habitacionais com grande número de unidades, que necessitam de extensas áreas

32

Em relação a valores atribuídos para conceituar densidades médias e altas, Acioly (1998, p. 11) afirma que “o estudo reconhece que a percepção sobre densidade varia imensamente de um país para outro e mesmo entre cidades de um mesmo país”, sendo influenciadas pelo contexto cultural.

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125

para sua implantação, e que acabam por gerar na maioria das vezes grandes

intervenções nos terrenos.

Em função disso, a implantação dos conjuntos habitacionais ocorre em áreas

distantes do centro, em entornos relativamente desertos, trazendo consequências,

também, para o próprio dia a dia dos moradores, em relação ao desenvolvimento do

comércio na região, bem como, para o lazer dessa população. Na questão do

comércio, por estarem em áreas que não apresentam uma ocupação significativa,

este acaba sendo incipiente, quando existe, sendo necessário um maior

adensamento da região para que possa se desenvolver. Nesse período, os

moradores acabam necessitando se deslocar para outros bairros com o objetivo de

suprir as suas necessidades, ocorrendo o mesmo em relação ao lazer e recreação

desses indivíduos, uma vez que a baixa densidade inviabiliza o estabelecimento de

uma oferta adequada de opções de lazer para essa população.

É fundamental salientar a baixa oferta de opções de lazer e recreação para a

população mais carente na cidade de Cuiabá. Na atualidade a cidade conta com

poucas opções de parques públicos e áreas verdes nos bairros, e aquela que

sempre foi a forma de lazer tradicional da população, o banho de rio, já não é mais

possível, seja pela falta de qualidade da água no entorno da cidade, seja pelas

grandes distancias a serem percorridas para que se encontre locais com condições

satisfatórias.

É significativo observar que esses deslocamentos, tanto para suprir as

necessidades do dia a dia como para o lazer, acabam onerando ainda mais o custo

de vida, sendo o transporte coletivo um dos fatores que tem maior peso no conjunto

de despesas dessa população. O aumento das distancias dos conjuntos em relação

às áreas centrais da cidade traz grandes consequências para toda a população,

elevando o custo das passagens do transporte público, fato agravado pelas

condições de pavimentação das vias, levando a um aumento generalizado nos

custos de implantação e manutenção da infraestrutura básica, dessa forma

onerando os custos dos serviços ofertados à população.

Ou seja, o aumento nas distancias a serem percorridas pelo transporte

público, bem como a baixa densidade dos espaços, que tem como consequência

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126

menos usuários para o sistema em muitos trajetos, aumenta o custo desse

transporte, o que aliado às condições das vias traz prejuízos para toda a população.

Outro elemento essencial a ser evidenciado, decorrente da pesquisa

efetuada, é em relação às condições das habitações produzidas no período. A

produção atual tem como características a falta de qualidade, seja na parte projetual,

seja na parte construtiva, além de não se caracterizar pela inserção plena dos

conjuntos no tecido urbano.

Um ponto importante, exposto por Fortunato; Caldeira; Lima (2012), é a

questão de como atender a imensa demanda por habitações preocupando-se não

apenas com a quantidade das mesmas, mas também com a qualidade33 e com a

sua plena inserção no tecido urbano, de forma a reduzir as desigualdades sociais e

possibilitando a integração entre antigas e novas áreas e infraestruturas urbanas. A

esse respeito, Moretti (1997, p. 14) alerta para o “risco de se levar em conta apenas

as limitações econômico-financeiras, oficializando-se os critérios utilizados nas

ocupações espontâneas, mesmo que subumanos, por ser esta a alternativa

economicamente viável para a população dos estratos de mais baixa renda”.

O que é possível constatar nas habitações produzidas atualmente é uma

deterioração nas características construtivas e de espaço de vivencia das moradias,

que se refletem na qualidade de vida dos moradores. Habitações com espaço

insuficiente ao número de habitantes ou inadequado às funções a que se destinam,

falta de adequação aos fatores climáticos, impossibilidade ou dificuldade na

ampliação dos imóveis, em decorrência de uma implantação inadequada, entre

outros fatores são identificados em muitos estudos que tratam do assunto. Todas

essas características acabam levando à necessidade de alterações nos imóveis as

quais, em sua grande maioria, acabam sendo feitas sem o acompanhamento de

técnicos especializados, gerando inadequações tanto nos novos espaços como nas

condições técnicas dessas obras.

33

O conceito de qualidade da habitação pode ser relacionado a diversos aspectos, desde a qualidade na execução da edificação, passando pelas características construtivas e chegando até ao espaço construído e sua adequação às necessidades de seus usuários.

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127

É dentro desse contexto que se torna essencial frisar a não utilização dos

mecanismos contidos no Estatuto da Cidade34 bem como a defasagem na estrutura

da Prefeitura Municipal mobilizada para o trato do planejamento urbano do

município. Em relação ao Estatuto da Cidade, cujo objetivo é fornecer instrumentos

para a administração municipal de forma a garantir o pleno desenvolvimento das

funções da propriedade urbana e da política urbana do município, ainda não é

possível verificar no planejamento da cidade de Cuiabá a utilização de mecanismos

que possibilitem a recuperação dos investimentos públicos que resultam em

valorização dos imóveis, bem como a implantação do IPTU progressivo no tempo,

dentre outros.

É importante apresentar a conjuntura em que ocorre o desenvolvimento da

cidade de Cuiabá, que se dá sob os auspícios do governo militar que se instala no

país após 1964, estando submetido ao processo político e à estrutura tributária

desse período. Segundo Serra (1991), após a reforma tributária empreendida em

1967, a União ficou com os recursos do Imposto sobre Produtos Industrializados

(IPI) e o Imposto de Renda, os estados ficaram com o Imposto sobre Circulação de

Mercadorias (ICM) e o municípios com o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU)

e o Imposto sobre Serviços (ISS), além de uma participação no ICM e no Fundo de

Participação dos Municípios (FPM).

Como o período em questão foi de urbanização acelerada, e de forma

desorganizada, os municípios não tinham condições de manter a base de cobrança

do IPTU atualizada, tendo, no entanto, uma demanda crescente por serviços de

saúde e educação, bem como de infraestrutura. Todos esses fatores tornaram os

governos municipais extremamente dependentes dos governos estadual e federal.

Nas palavras de Serra (1991, p. 62) “ao mesmo tempo em que se promovia

uma política econômica que tem como consequência a aceleração do processo de

urbanização, são retirados das autoridades municipais os recursos necessários para

enfrentarem a situação, levando-os a recorrer aos financiamentos [...]”. Segundo

aquele autor, devido a esses “mecanismos financeiros de coação, os municípios

34

O Estatuto da Cidade trata-se da Lei 10.257, regulamentada em 2001, que tem o objetivo de normatizar os artigos 182 e 183 da Constituição Federal de 1988. Através dela o Estado passa a contar com mecanismos para a implementação da política urbana, visando ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.

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128

perderam controle sobre os seus serviços autônomos de água e esgoto, verifica-se

que boa parte da cidade passava agora a ser planejada, projetada, financiada e

construída por entidades totalmente fora do controle da Prefeitura”. (SERRA, 1991,

p. 63).

Como característica do período, Arretche (1993) cita o fato de governadores e

prefeitos de capitais, e de cerca de 150 cidades de médio e grande porte, serem

selecionados pela cúpula militar da época, não tendo sua autoridade derivada do

voto popular. Além disso, os governadores e prefeitos detinham escassa autonomia

fiscal, em decorrência da centralização financeira que concentrou os principais

tributos nas mãos do governo federal.

Desta forma, segundo Arretche (1993), o Estado moldou a centralização

financeira e administrativa como uma das principais características institucionais. As

políticas federais de habitação e saneamento básico eram formuladas, financiadas e

avaliadas por uma agência federal e executadas por uma série de agencias locais

dela dependentes. Essa situação só vai mudar, em termos, em meados dos anos

1980, quando a redemocratização, com a retomada das eleições diretas para todos

os níveis de governo, e a descentralização fiscal da Constituição de 1988 alteraram

a natureza das relações intergovernamentais.

No caso de Cuiabá, como capital do Estado, cabe ressaltar que somente a

partir de 1985 o prefeito passa a ser eleito através de eleição direta, sendo até esse

momento o cargo preenchido por uma escolha pessoal do governador, estando

assim submetido às suas interferências.

É também importante observar a falta de adequação da estrutura

administrativa de nossas cidades para lidar com a questão urbana. Em relação a

isso, Maricato (2008) comenta que “diante do intenso crescimento urbano, as

máquinas administrativas foram se adequando, mas nunca se estruturaram ou se

modernizaram para enfrentar os problemas decorrentes desse crescimento”,

dizendo ainda que estas “continuam com uma estrutura administrativa paroquial,

completamente despreparada para a dimensão dos desastres decorrentes das

deficiências de drenagem, esgotos, poluição do ar, congestionamento no trânsito,

controle do uso e da ocupação do solo etc.” (MARICATO, 2008, p. 75)

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129

Em relação a nossa pesquisa, Cuiabá (1991, p. 8) cita que “no primeiro

quadriênio dos anos 70 a Prefeitura Municipal em convenio com o SERFHAU,

realizou aquele que pode ser considerado o primeiro e único Plano Diretor completo

para a cidade”, o qual foi denominado de Plano Diretor de Desenvolvimento Local

Integrado (PDLI), o qual apesar de promulgado como Lei Municipal não teve suas

propostas implementadas. Somente em 1990 começa a ser implantado o setor

responsável pelo planejamento urbano da cidade de Cuiabá, que recebe o nome de

Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Urbano de Cuiabá – IPDU. Com isso, como

pôde ser observado na pesquisa, durante o período de maior desenvolvimento de

Cuiabá, o município não conta com um aparato técnico dedicado a definir os

parâmetros para o crescimento e ocupação do seu perímetro urbano.

Em relação à estrutura do planejamento urbano da cidade de Cuiabá, que já

era defasado e inadequado, é importante ressaltar, inclusive, retrocessos em

questões já encaminhadas anteriormente, como a extinção, na última gestão

municipal (2009-2012), do órgão dedicado especificamente ao planejamento urbano,

o Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Urbano (IPDU), o que vem alijar ainda

mais esse processo. Com a atual situação, a cidade retorna à situação que

apresentava no período inicial desta pesquisa, os anos 1960, quando seu vigoroso

crescimento não foi devidamente acompanhado pelos órgãos públicos de forma a

que fossem analisadas as consequências das decisões tomadas naquele momento.

Hoje o município e seus moradores colhem os resultados do que foi

executado naquele momento. De que forma está sendo feito o planejamento dos

próximos 50 anos, que resultarão das ações executadas neste momento, acrescidas

dos problemas já existentes resultantes do período anterior, ou seja, nos dias de

hoje está sendo construída a Cuiabá do amanhã. Que problemas serão legados

para os futuros moradores?

6.1 CONCLUSÕES

Levando em consideração os objetivos definidos no início deste trabalho, eis

as conclusões apresentadas:

a) Com relação à análise do processo de evolução urbana da cidade de Cuiabá,

verificando a influencia dos programas habitacionais em seu desenho atual,

conclui-se, ao observar a ocupação da cidade com o foco na localização dos

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130

conjuntos habitacionais, ser possível identificar claramente que as diretrizes

traçadas para a implementação da habitação social, sempre voltada para a

redução de custos dos empreendimentos em detrimento de uma visão mais

abrangente da implantação destes no tecido urbano foi decisivo para a forma

urbana que a cidade assume atualmente. Ao se deixar de observar como

outros custos estão envolvidos, tais como a implantação da infraestrutura, o

dia a dia da população em seus deslocamentos, entre outros, gera graves

consequências para a cidade e, principalmente, para a administração

municipal, que se vê às voltas com os altos custos para a oferta dos serviços

mínimos e indispensáveis ao bem estar da população, afetando de forma

negativa toda a cidade.

b) Com relação à identificação de quais programas habitacionais foram

implementados na cidade de Cuiabá, no período da pesquisa, conclui-se que

os programas vinculados à Cohab e aqueles relacionados à autoconstrução e

mutirão foram, em algum momento, aplicados no município, assim como os

programas PAR e PMCMV. Os programas voltados para os servidores

públicos federais tiveram ao menos uma ocorrência, no caso a Cohasumt,

sendo que nos conjuntos habitacionais executados pela Cohab uma parcela

das habitações era destinada aos funcionários públicos estaduais. Não foram

encontradas informações referentes à implementação de programas do BNH

vinculados às cooperativas habitacionais, aos trabalhadores sindicalizados ou

às empresas.

c) Com relação à verificação da ocorrência de ingerências externas, na área

estadual e federal no processo de evolução do município, vinculando

especificamente à questão da habitação de interesse social pôde ser

demonstrado que as políticas federais de ocupação do território nacional

foram elemento decisivo para o grande crescimento verificado em Cuiabá no

período de 1960 a 2010, não só pelo fato de provocarem o deslocamento de

grandes contingentes populacionais para a região, mas também, e

principalmente, por não oferecerem condições e programas para que essas

populações pudessem se fixar nos novos territórios, gerando assim uma

grande migração para os centros mais desenvolvidos de cada região, o que

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131

no caso do Mato Grosso, pelo fato de Cuiabá ser a capital, teve reflexos no

grande fluxo que a cidade recebe no período. Fluxo este que chega a um

local que não dispõe de uma estrutura de suporte, tanto em termos de

pessoal como de recursos, adequada para receber essa população, aliado a

um período em que ocorre uma centralização dos recursos por parte do

governo federal, limitando ainda mais as ações possíveis de serem

executadas pela administração municipal. Concomitantemente a isso,

observa-se também algumas ingerências estaduais, no sentido de determinar

a instalação de algumas benfeitorias na cidade, que irão determinar fortes

eixos de crescimento para a localidade, tais como a construção do Centro

Político Administrativo, o campus da UFMT, entre outros.

d) Com relação à associação das interferências desse processo aos problemas

urbanos que a cidade apresenta no presente, conclui-se que esse

crescimento sem planejamento resultou em um espaço urbano extremamente

disperso, o que acarreta grandes prejuízos para a população e para o poder

público, com consequências inclusive na capacidade de investimento do

município.

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132

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

À partir da pesquisa desenvolvida e detalhada neste trabalho, é possível

perceber o enorme desafio que se coloca atualmente para a organização da

estrutura urbana do município de Cuiabá. A constatação de que o grande

crescimento urbano verificado na cidade no período estudado não foi objeto de um

planejamento por parte das autoridades, privilegiando a utilização do solo urbano em

detrimento das necessidades da população mais carente pode ser considerado

como uma das causas dos problemas que hoje a cidade enfrenta.

Em função disso, o que se pode observar é uma cidade que cresceu de forma

desorganizada, sem a ocupação de vastas áreas, as quais são retidas com o

objetivo de aguardar uma maior valorização, com claro prejuízo para o bem estar da

população mais carente que se vê obrigada, através dos programas oficiais ou da

invasão, a viver em locais cada vez mais distantes das áreas centrais, o que traz

perdas não só a essa população como à cidade como um todo que precisa estender

a pontos cada vez mais distantes a infraestrutura urbana necessária, elevando os

custos de implantação e manutenção dos sistemas.

Esse fenômeno continua ocorrendo na atualidade, apesar de hoje os órgãos

dirigentes já contarem com os mecanismos regulamentados a mais de uma década

pelo Estatuto da Cidade. Com isso pode-se observar a cidade distender-se cada vez

mais em seus limites, apesar dos grandes vazios facilmente identificáveis em

qualquer deslocamento pela cidade, trazendo com isso reflexos nos custos

relacionados à baixa densidade urbana e à ociosidade de grande parte da

infraestrutura, bem como trazendo distorções como as verificadas nas tarifas de

transporte público locais e nos tempos dispendidos nos deslocamentos urbanos,

claramente incompatíveis com uma cidade com o porte populacional de Cuiabá.

Também em função dessa ocupação desordenada e pouco densa, é possível

perceber a pouca abrangência ou mesmo má qualidade na infraestrutura e nos

serviços urbanos, onde as grandes distancias a serem percorridas tem como

consequência altos custos para a implantação ou manutenção dos serviços, em um

nível aceitável de qualidade.

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133

7.1 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Como recomendação para trabalhos futuros esta pesquisa deixa como

sugestão:

a) A avaliação da implantação dos conjuntos habitacionais em termos

econômicos, relacionando os impactos provocados pelo tipo de ocupação

dispersa que apresenta a cidade de Cuiabá, levando em conta os custos de

implantação da infraestrutura básica e a manutenção de áreas extensas;

b) Analisar a expansão urbana na região do Campus II da UFMT, na estrada

para Santo Antonio do Leverger, identificando qual o impacto ambiental e a

infraestrutura básica que será implementada no entorno com a instalação do

mesmo, de forma a se verificar a influencia que um empreendimento desse

porte pode trazer à região circundante e a influencia do mesmo como vetor de

crescimento para a cidade.

A proposta de comparação entre a situação encontrada em Cuiabá, e muitas

outras cidades brasileiras, com áreas mais densas e mais centralizadas pode

resultar em grandes benefícios para a condução das políticas publicas na área de

gerenciamento urbano, em que se insere a questão da habitação de interesse social,

com o objetivo de mudar o enfoque que permeia a questão onde se observa o custo

apenas de uma parte do processo, sem que se meça o impacto de determinada

operação em todo o contexto. Ou seja, analisa-se o custo da implantação dos

conjuntos, buscando-se terrenos ou localidades com o menor custo de aquisição,

sem que se leve em consideração o custo que tal implantação trará para a cidade e

sua coletividade, na forma de infraestrutura básica, serviços urbanos, transporte,

saúde, educação, entre outros, bem como os custos envolvidos na manutenção dos

sistemas.

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134

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