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Universidade Estadual de CampinasInstituto de Economia
Ncleo de Economia Industrial e da Tecnologia (UNICAMP-IE-NEIT)Ministrio do Desenvolvimento, da Indstria e do Comrcio Exterior (MDIC)
Ministrio da Cincia e Tecnologia (MCT)Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP)
ESTUDO DA COMPETITIVIDADEDE CADEIAS INTEGRADAS NO BRASIL:
impactos das zonas de livre comrcio
Cadeia: Caf
Nota Tcnica Final
Campinas, Dezembro de 2002
Documento elaborado pelos consultores Maria Sylvia Macchione Saes e Douglas Nakazone, com apoio,na rea de acesso a mercados, do consultor Andr Meloni Nassar. Este documento resultado do contratoentre a FECAMP (Fundao de Economia de Campinas) e a FIPE (Fundao Instituto de PesquisasEconmicas).
Coordenao Geral do Projeto: Luciano G. Coutinho (NEIT-IE-UNICAMP), Mariano F. Laplane (NEIT-IE-UNICAMP), Nelson Tavares Filho (MDIC), David Kupfer (IE-UFRJ), Elizabeth Farina (FEA-USP) e RodrigoSabbatini (NEIT-IE-UNICAMP).
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SUMRIO EXECUTIVO
O Brasil o maior produtor e exportador de caf, com uma participao mdia de 24% nasexportaes mundiais. O agronegcio representa um pouco mais de 2,4% do comrcio
externo brasileiro. Em 2001, o valor adicionado desse agronegcio foi de 3,2 bilhes de
dlares. Nos ltimos anos, em funo da queda das cotaes internacionais do produto, o
caf deixou de ser o principal item da pauta de exportao agrcola, ficando atrs do
complexo soja, acar e carne de frango.
O elemento tradicional de competitividade do caf o custo de produo, que determina as
vantagens comparativas de um determinado pas em relao aos demais. Na produo do
caf arbica o Brasil o pas que possui menor custo, que aliado produtividade tem
garantido a manuteno e o crescimento da participao no mercado internacional. No caso
do caf robusta, o Vietn, o segundo maior produtor mundial, supera em muito a
produtividade mdia brasileira, devido ao seu sistema intensivo de cultivo. Este pas
tambm tem custo de produo mais competitivo. Como resultado, observa-se a perda de
participao da produo brasileira em alguns mercados, nos quais o caf robusta tem se
mostrado muito mais um bem substituto do que complementar ao caf arbica brasileiro na
composio dos blends.
Embora o custo de produo seja o fator mais importante para determinar a
competitividade, h que se ressaltar que o mercado de cafs especiais o que mais cresce
no mundo. O Brasil tido como um fornecedor de quantidade, ao passo que os cafs da
Colmbia, Guatemala, Costa Rica e Qunia, entre outros, so mais valorizados e recebem
um prmio pela qualidade. O Brasil deixou cristalizar uma imagem de grande produtorde um nico tipo de caf - Santos, enquanto outros pases investiram pesadamente em
imagem e qualidade.
Vale observar que o Brasil tem vantagens, com relao aos outros produtores, por possuir
um parque cafeeiro complexo e diverso, que produz uma grande variedade de tipos de
bebidas. Neste sentido, o principal entrave competitivo, para o ingresso no mercado de
especiais, a coordenao entre os segmentos do agronegcio. A prtica decomercializao instituda no mercado brasileiro da ausncia de valorizao do produto de
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qualidade. Como conseqncia dessa seleo adversa, o produtor deixa de fazer
investimento em qualidade. O resultado a predominncia do caf com grande nmero de
defeitos.
Nos ltimos anos, um movimento intenso em busca de qualidade e capacitao tecnolgica
tem ocorrido em todas as regies produtoras. Os destaques vo para a fertirrigao e a
introduo de uma nova forma de beneficiamento que resulta no caf cereja descascado.
Nesse sentido, o Brasil tem liderado o processo tecnolgico com grandes perspectivas de
aumentar sua participao no mercado internacional.
Indstria Solvel e Torrado e Modo
A indstria de solvel est praticamente voltada para o mercado externo e a sua expanso
enfrenta trs tipos de dificuldades. Primeiramente, o aumento da produo de caf robusta
na sia alarga o diferencial de preos entre a matria-prima do solvel no mercado externo
e no Brasil, favorecendo as indstrias localizadas no mercado internacional. Em segundo
lugar, o caf solvel brasileiro sofre barreiras tarifrias na Unio Europia, enquanto as
indstrias dos pases concorrentes ou so isentas das taxas de importao, sob alegao de
uma poltica de cooperao ao combate do narcotrfico, ou so taxadas com uma menoralquota, como no caso do Mxico e ndia. Por fim, a questo tributria gera distores que
reduzem a competitividade do caf brasileiro.
A indstria de caf torrado e modo, por sua vez, est voltada para o mercado interno e tem
sofrido um grande processo de consolidao com o ingresso de empresas multinacionais. A
grande atratividade do mercado brasileiro deve-se ao fato de o Brasil ser o segundo maior
consumidor de caf mundial. A entrada do caf torrado e modo brasileiro no mercado
internacional pode ser uma oportunidade. As altas margens de lucro das empresas l
estabelecidas possibilitam menores barreiras entrada e um forte incentivo para as
empresas brasileiras.
Barreiras Tarifrias e Abertura
O caf verde no sofre barreiras tarifrias, o mesmo no ocorre, entretanto, com o caf
industrializado. Outros tipos de produto, como preparaes base de solvel e substitutos
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de caf que contm caf, possuem tarifas elevadas nos EUA e na UE. O maior problema
das estruturas tarifrias nas duas regies reside no fato de que o Brasil no se beneficia do
mesmo tratamento tarifrio que os pases que fazem parte dos Sistemas Gerais de
Preferncia (SGP). Isso significa que a desgravao tarifria ou a expanso do princpio da
Nao Mais Favorecida para os SGP aumentaria muito a competitividade do caf solvel e
torrado modo brasileiro.
Embora o Brasil seja muito competitivo na produo rural, h que se considerar que a
liberalizao possibilita o ingresso de caf verde dos pases produtores, participantes da
ALCA, no Brasil. Com relao ao caf verde de pases da sia e frica, deve-se definir
uma regra de origem que proba a triangulao. Os pases do bloco ficariam assim
impedidos de exportar produtos de outros no participantes da zona de livre comrcio, com
a tarifa interna. J a possibilidade da utilizao de mecanismos como draw-backpara a
importao de caf robusta poderia aumentar a competitividade da indstria de solvel sem
ameaar fortemente a produo nacional. Vale alertar que tal mecanismo no pode se
constituir em estratgia de financiamento para as indstrias, com prazos e juros que tragam
desvantagem para o setor agrcola.
O ingresso de cafs dos pases produtores da ALCA configura-se, tambm, em umaoportunidade, possibilitando s torrefadoras brasileiras comporem variados blends, o que
pode aumentar suas chances de entrada no mercado internacional.
Propostas de polticas
Sabe-se que competitividade futura no depende apenas de questes tarifrias, mas de um
conjunto de estratgias individuais e coletivas. Por isso alm da proposta de remoo de
barreiras tarifrias contra o caf brasileiro e negociar a incluso do Brasil no SGP (Sistema
Geral de Preferncias), so listadas, a seguir polticas pblicas e aes privadas necessrias
para melhorar ou manter a posio competitiva do agronegcio caf. Estas propostas foram
discutidas em dois workshop realizados com representantes do setor (Anexo 7).
(i) Criao de um Centro de Informao do Caf; (ii) Fomentar pesquisas que visem o uso
alternativo de cafs de baixa qualidade; (iii) Adotar poltica de eliminao das distores
tributrias; (iv) Incentivar a utilizao da BM&F; (v) Incentivar o uso de mercado futuro,
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CPR e Contratos de Opo; (vi) Negociar a incluso do caf descascado brasileiro na Bolsa
de Nova York; (vii) Fomentar pesquisa para o desenvolvimento de processos fsico-
qumicos na anlise sensorial; (viii) Regulamentao tcnica no reconhecimento de
certificao de origem e negociao de normas tcnicas e regras de origem; (ix) Defender a
harmonizao de regras de auto-sustentabilidade e divulgar as boas prticas adotadas nas
lavouras brasileiras; (x) incentivar a adoo de prticas de irrigao poupadoras de gua;
(xi) Dar continuidade s parcerias entre governo/setor privado/instituies, para realizao
de pesquisas; (xii) Incentivar a diversificao da produo rural e a boa gesto
administrativa da propriedade rural; (xiii) Negociar a incluso do Brasil no SGP; (xiv)
Divulgar linhas de financiamento para exportao de caf torrado e modo e solvel; (xv)
Divulgar linhas de financiamento para importao de mquinas de empacotamento e
embalagem e melhorar iseno tarifria; (xvi) Adquirir marcas de empresas de caf torrado
j estabelecidas no mercado internacional; (xvii) Dar continuidade ao programa Sebrae de
capacitao tcnica e gerencial para as empresas torrefadoras e criar um foco para
exportao; (xviii) Possibilitar a importao de caf verde para a indstria; (xix) remover
barreiras tarifrias.
Por fim, no h sentido de se pensar o caf em termos de estratgias de polticas
intervencionistas, como no passado. O caf no mais um produto estratgico para o Brasil,como at a dcada de 70, no qual a taxa de cmbio estava diretamente relacionada ao seu
desempenho comercial. Alm disso, a entrada de novos produtores no mercado tornou
incua qualquer tentativa de restrio da oferta, tal como ocorreu em 2000. As polticas
para o setor devem estar ligadas aos interesses competitivos do agronegcio, dando
condies ao setor privado de implementar estratgias. No existe razo em tecer polticas
centralizadoras, quando o agronegcio do caf compreende uma diversidade muito grande
de grupos estratgicos entre todos os seus segmentos. Os grupos estratgicos voltados aoscafs especiais tm interesses e demandas diferenciadas daqueles que esto voltados para o
mercado de quantidade.
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S U M R I O
SUMRIO EXECUTIVO ______________________________________________________1
INTRODUO_______________________________________________________________2
PARTE A____________________________________________________________________4
1 AMBIENTE INSTITUCIONAL E ORGANIZACIONAL: DA REGULAMENTAO
DESREGULAMENTAO DO MERCADO DE CAF. ______________________________4
1.1 O negcio caf e as organizaes ______________________________________10
1.2 O Papel das Organizaes nos Pases Produtores _________________________ 142 MUDANAS NAS TENDNCIAS MUNDIAIS DO AGRONEGCIO NOSANOS 90________17
2.3 A Oferta Mundial___________________________________________________ 17
2.4 A Demanda Mundial________________________________________________ 23
2.4.1 Demanda no Brasil ______________________________________________31
PARTE B ___________________________________________________________________36
3 MUDANAS RECENTES NAS TENDNCIAS DO AGRONEGCIO CAF DOBRASIL______36
3.1 O agronegcio caf do Brasil e seus segmentos___________________________ 364 FATORES DE COMPETITIVIDADE DO AGRONEGCIO CAF DO BRASIL ___________40
4.2 Fatores de competitividade na produo e comercializao do Gro Verde_____42
4.2.1 Custos e Produtividade___________________________________________ 42
4.2.2 Qualidade do caf: o problema de coordenao ________________________ 51
4.2.3 A comercializao do caf verde: foco na quantidade ___________________ 54
4.3 Fatores de competitividade para o solvel: custos da matria-prima e barreiras
tarifrias________________________________________________________________ 61
4.4 Fatores de competitividade para o Torrado e Modo _______________________69
4.4.1 Torrado e modo no mercado internacional e a estrutura da indstria estrangeira
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PARTE C___________________________________________________________________87
5 SNTESE COMPARATIVA: HIATO ENTRE A COMPETITIVIDADE BRASILEIRA E O
BENCHMARK MUNDIAL _________________________________________________87
PARTE D___________________________________________________________________89
6 DESAFIOS COMPETITIVOSEM UM AMBIENTE DEINTENSIFICAO DA
LIBERALIZAO COMERCIAL____________________________________________89
6.1 Metodologia Aplicada na Anlise de Acesso a Mercados ___________________ 89
6.2 Caf Verde ________________________________________________________ 91
6.3 Caf industrializado: torrado e modo e solvel___________________________ 95
6.4 Cenrios para o Agronegcio Caf____________________________________ 101
6.4.1 Situao Atual_________________________________________________ 101
6.4.2 Integrao UE-Mercosul e ALCA _________________________________ 101
PARTE E: CONCLUSES E PROPOSTAS DE POLTICAS ______________________103
ANEXOS __________________________________________________________________122
BIBLIOGRAFIA______________________________ ERRO! INDICADOR NO DEFINIDO.
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NDICE DE GRFICOS
Grfico 1 - Participao do Caf nas exportaes brasileira (%)_________________________ 6
Grfico 2 - Estoques de Caf: Brasil e Mundo (milhes de sacas de 60 kg)________________ 7
Grfico 3 - Participao do Brasil nas exportaes mundiais de caf (milhes scs de 60 kg) ___8
Grfico 4 - Oferta mundial de caf e cotaes mdias OIC____________________________ 18
Grfico 5 - Estoques nos pases produtores e consumidores (milhes scs) e preos OIC (cents
US$/lb) _____________________________________________________________________ 20
Grfico 6 - Produo mundial de caf por variedade: robusta e arbica (milhes sacas) _____21
Grfico 7 Pases mais populosos do mundo e consumo per capita______________________ 23
Grfico 8 Principais pases consumidores de caf no mundo (milhes de sacas de 60 kg) ___24Grfico 9 - Pases importadores: participao do caf brasileiro no blend e consumo per capita
___________________________________________________________________________ 26
Grfico 10 - Consumo de caf nos EUA por tipo (xcaras por dia) _______________________28
Grfico 11 - Consumo de caf no Brasil: per capita (kg por habitante) e total (milhes scs)___31
Grfico 12 - Exportao de caf do Brasil: volume (milhes scs) e valor (milhes US$)______ 41
Grfico 13 Cotao do caf colombiano e brasileiro (1969 a 2001) cents por libra peso __51
Grfico 14 Participao dos delears internacionais 1998 ____________________________ 58Grfico 15 - Preo do caf robusta: Bolsa de Londres ( 1 posio com desgio de 20%) e
Produtor So Gabriel da Palha (R$ por saca)_______________________________________ 64
Grfico 16 Exportao de caf solvel (milhes de sacas)____________________________ 67
Grfico 17 Evoluo do ndice de preos do caf: varejo e matria-prima (dez/91 = 100)___71
Grfico 18 Exportaes brasileiras de caf torrado e modo __________________________ 76
Grfico 19 Indstria de caf (torrado e modo e solvel): firma lder e participao das trs
primeiras ____________________________________________________________________ 79
Grfico 20 ndice de Preos do Caf: em gro (mdia OIC) e varejo (mercado americano)_ 81
Grfico 21 Quem ganha com estratgias de mercado diferentes _______________________95
Grfico 22 Evoluo dos contratos de CPR______________________________________ 128
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NDICE DE TABELAS
Tabela 1 Parque cafeeiro nos principais pases produtores (em milhes de ps) ..................... 19
Tabela 2 Exportaes mundiais de caf arbica (em milhes de sacas) ................................... 22
Tabela 3 Exportaes mundiais de caf robusta (em milhes de sacas).................................... 22
Tabela 4 - Consumo anual per capita de bebidas no mercado norte-americano (gales = 3,8
litros).............................................................................................................................................. 25
Tabela 5 - Pases do Leste Europeu: Importao Total de Caf (equivalente em caf verde mil
sacas de 60 kg)) ............................................................................................................................. 28
Tabela 6- Exportao Mundial Mdia entre os perodos 1992-1996 e 1997-2001 (milhes scs) 40Tabela 7 -Produtividade da cafeicultura no Mundo (sacas por hectare) e participao dos pases
produtores (%) na safra 2001........................................................................................................ 43
Tabela 8 Produtividade de caf nas regies produtoras brasileiras (sacas por hectare) safra
2002/03 .......................................................................................................................................... 44
Tabela 9 -Custo de Produo e Produtividade dos principais pases produtores de caf robusta
(mdia 1999/00 e 2000/01 ) ........................................................................................................... 45
Tabela 10- Custo de Produo e Produtividade dos principais pases produtores de caf arbica(mdia safra 1999/00 e 2000/01)................................................................................................... 46
Tabela 11 Estratificao das propriedades cafeeiras I rea (mil hectares) e Produo (mil
sacas) ............................................................................................................................................. 48
Tabela 12 Estratificao das propriedades cafeeiras II rea (mil hectares) e Produo (mil
sacas) ............................................................................................................................................. 49
Tabela 13 Caracterizao da cafeicultura em Minas Gerais..................................................... 49
Tabela 14 Caracterizao da cafeicultura no Esprito Santo.................................................... 50
Tabela 15 - Principais regies produtoras de caf arbica segundo classificao de bebida
predominante................................................................................................................................. 53
Tabela 16 Exportaes brasileiras de caf, por porto de embarque.......................................... 55
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Tabela 17 - 15 maiores exportadoras brasileiras de caf verde (arbica e conillon) em mil sacas
de 60kg........................................................................................................................................... 57
Tabela 18 - ndice de concentrao das empresas exportadoras (1987 e 1997)........................ 58Tabela 19 - Participao das principais empresas de solvel nas exportaes (equivalente em
sacas de 60 kg)............................................................................................................................... 63
Tabela 20 Principais mercados do caf solvel brasileiro (equivalente em mil sacas de 60 kg)
....................................................................................................................................................... 67
Tabela 21 Importaes brasileiras de caf torrado ................................................................... 72
Tabela 22 Grau de Concentrao e HH para as torrefadoras brasileiras ................................ 75
Tabela 23 Participao das firmas lderes na indstria de caf torrado e modo nos pases
desenvolvidos................................................................................................................................. 78
Tabela 24 Participao das firmas lderes no mercado de caf na Alemanha - 1998.............. 80
Tabela 25 Participao das marcas lderes no mercado de caf na Frana............................ 80
Tabela 26 Exportaes de caf torrado Volume (equivalente em sacas) e Valor (US$ mil)83
Tabela 27 Exportaes brasileiras e reexportaes dos pases consumidores Caf Verde e
Total Geral (incluindo verde, solvel e torrado) ........................................................................... 92
Tabela 28 Tarifas de importao incidentes sobre as exportaes brasileiras de caf Caf em
Gro............................................................................................................................................... 96Tabela 29 Tarifas de importao incidentes sobre as exportaes brasileiras de caf Caf
Torrado .......................................................................................................................................... 97
Tabela 30 Tarifas de importao incidentes sobre as exportaes brasileiras de caf Caf
Solvel............................................................................................................................................ 98
Tabela 31 - Matriz de Recomendaes - CADEIA CAF......................................................... 112
Tabela 32 - Matriz de Recomendaes GRO VERDE........................................................... 112
Tabela 33 - Matriz de Recomendaes TORRADO................................................................. 114
Tabela 34 - Matriz de Recomendaes SOLVEL.................................................................. 115
Tabela 35 - Impactos sobre os segmentos do Agronegcio Caf............................................... 120
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INTRODUO
Em 2001 o valor adicionado do agronegcio caf foi de US$ 3,2 bilhes1. Este agronegcio
representa um pouco mais de 2,4% do comrcio externo brasileiro. Nos ltimos anos, em funoda queda das cotaes internacionais do produto, o caf deixou de ser o principal item da pauta
de exportao agrcola brasileira. Em 2001 as exportaes de caf ficaram atrs do complexo
soja, acar e carne de frango, conforme ANEXO 1.
O caf emprega cerca de 3,5 milhes de pessoas, de acordo com estimativas realizadas a partir de
dados do IBGE, sendo um dos setores com maior capacidade de gerao de empregos do Pas.
Simulaes realizadas por NAJBERG & IKEDA (2001) indicam que, dado um aumento de
produo de R$ 10 milhes na Indstria do Caf, o agronegcio demandaria um total de 960
empregos, sendo 51 diretos, 529 indiretos e 380 referentes ao efeito-renda 2.
A grande capacidade de gerar empregos possibilita que o setor contribua significativamente para
a melhora das condies de vida da populao brasileira. Uma amostra com os principais
municpios brasileiros produtores de caf revela que todos esto nos grupos de mdio e alto
ndice de Desenvolvimento Humano (IDH).3 Dois teros dos municpios que tm como principal
1 A estimativa do valor agregado da agroindstria cafeeira em 2001 foi obtida da seguinte forma: (a) valor da produo industrial(consumo de 13,5 milhes de sacas de 60 kg - 20% de perda na industrializao = 648 milhes kg X US$ 2,48/kg = 1,6 bilho) +solvel mercado interno (631 mil sacas x taxa de extrao de 0,40 = 15,1 milhes kg X US$ 16,14/kg = 244,4 milhes) = US$1,844; (b) exportao = US$ 1,33 bilho (verde e solvel). Valor adicionado a + b = US$ 3,17 bilhes. Foram considerados ospreos mdios dos produtos. Desprezam-se as variaes de estoques.
2 O trabalho, que tem como base o Modelo de Gerao de Emprego do BNDES, calculou o nmero de empregos gerados a partirde um aumento hipottico de produo de R$ 10 milhes em cada um dos 41 setores da economia, a preos de junho de 2001 (adiviso dos setores seguiu a desagregao setorial utilizada pelo IBGE). O modelo abrange o emprego direto, o emprego indireto,que considera a introduo da cadeia produtiva, e ainda o que foi chamado de "emprego efeito-renda", que corresponde rendados trabalhadores que se transforma em consumo, ou seja, que estimula a produo em outros setores e realimenta o processo de
gerao de emprego.3 O IDH uma medida do bem-estar da populao em um pas, uma regio ou um municpio que procura captar o quanto cadasociedade permite a seus membros o exerccio das escolhas bsicas. Para tanto, so consideradas trs dimenses: a longevidade, aeducao e a renda. A expectativa de vida ao nascer fornece o indicador para a primeira dimenso. A varivel educaocompreende a taxa de alfabetizao de adultos e a taxa de matrcula nos nveis primrio, secundrio e superior. A renda representada pelo Produto Interno Bruto real per capita, ajustado para refletir as diferenas entre pases na paridade do poder decompra.
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atividade a produo de caf esto entre os 30% maiores. A contribuio da cafeicultura para o
desenvolvimento humano da regio deve-se complexidade da cadeia produtiva, que requer, em
diferentes propores, mo-de-obra no-qualificada e qualificada. Com isso, o agronegcio docaf acaba sendo um bom distribuidor de renda, o que uma das pr-condies para o
desenvolvimento econmico e humano. Alm disso, a agricultura familiar responsvel por
cerca de 25% da produo brasileira de caf, de acordo com pesquisas do Incra e da FAO.
Estes indicadores mostram a importncia que o agronegcio tem para a sociedade e economia do
Brasil. Por isso, a relevncia deste trabalho que busca analisar a competitividade da cadeia
produtiva do caf, tendo em vista a constituio da rea de Livre Comrcio da Amricas
(ALCA) e a criao de um acordo de livre comrcio entre o Mercosul e a Unio Europia (UE).
O caf verde no sofre barreiras tarifrias, o mesmo no ocorre, entretanto, com o caf
industrializado. Na consolidao da abertura comercial, h que se pensar prospectivamente, isto
, sobre as possibilidades potenciais do agronegcio brasileiro de incrementar o valor agregado
de suas exportaes. Isto poderia ocorrer pelo aumento das exportaes de solvel, caf torrado e
modo e de outros derivados, mas tambm por meio da melhoria da qualidade do gro verde
exportado. Deve-se tambm considerar as ameaas de entrada de cafs de outras origens no Pas,embora o Brasil seja muito competitivo na produo.
O estudo est divido em cinco partes. Aps a Introduo, a Parte A analisa o ambiente
institucional e organizacional do mercado de caf e as mudanas nas tendncias mundiais do
agronegcio abordando os fatores relevantes que determinam o desempenho brasileiro no
mercado. A Parte B aborda as mudanas nas tendncias do agronegcio caf no Brasil. A Parte C
realiza uma sntese comparativa da competitividade brasileira e mundial. A Parte D analisa os
desafios competitivos em um ambiente de liberalizao comercial. Por fim, a Parte E trata das
concluses e propostas relacionadas integrao comercial e seus impactos esperados no
agronegcio caf.
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PARTE A
1 AMBIENTE INSTITUCIONAL E ORGANIZACIONAL: DAREGULAMENTAO DESREGULAMENTAO DO MERCADO DE CAF.
O ambiente institucional do agronegcio caf, definido como as regras do jogo que vigoram
para os agentes deste setor, cumpre um papel importante, que tem influenciado a atuao e
desempenho dos diversos pases produtores. No para menos, j que o mercado de caf tem
uma longa histria de regulamentao, que se iniciou no comeo do sculo XIX.
Nesta poca, o Brasil, que detinha trs quartos da produo mundial e dependia basicamente do
produto em termos receitas cambiais (Grfico 1), iniciou uma poltica unilateral de sustentao
de preos (ver Box 1, sobre a regulamentao do mercado brasileiro de caf). At os primeiros
anos da dcada de 60, o Brasil fez vrias incurses para implementar acordos que obrigassem as
demais naes produtoras a compartilhar o custo da poltica de valorizao. Com o fracasso
dessas tentativas, o Pas teve que arcar sozinho com o nus da estabilizao do mercado.
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Box 1 - Sntese da regulamentao no mercado brasileiro
No plano interno a regulamentao, que se iniciou na rbita da comercializao (em 1906) com o objetivo de valorizar as receitasde exportao, acabou coordenando todo o sistema cafeeiro (produo rural, indstria de transformao e distribuio/consumo).Desde o incio dessa poltica vrios organismos foram criados, mas foi a cargo do Instituto Brasileiro do Caf (IBC) que acoordenao dos segmentos no s determinou a dinmica particular de cada um destes segmentos como tambm condicionou odesempenho e a dinmica do caf brasileiro no mercado externo.
No segmento rural, um dos fatores que provavelmente impediu novas estratgias de comercializao foi o desestmulo qualidadeprovocado pela poltica de preos adotada pelo IBC. O preo de garantia refletia mais a preocupao dos reguladores com aexpanso e controle da produo de caf do que com a sua melhora. Houve momentos em que no havia diferena entre os preosde garantia para diferentes qualidades. Este fato levou deteriorao da qualidade global do caf brasileiro e acabou tendoimplicaes negativas sobre a imagem do caf exportado.
A passagem do carter pontual da interveno, que se iniciou na rea da comercializao, para a coordenao do setor peloEstado, no pode ser evitada. Os resultados das polticas pblicas voltadas para valorizao do caf acabavam por estabelecercomplexas redes de aes e de reaes nos demais segmentos a elas relacionadas. Particularmente, tinha-se uma reao adversacom a adoo de polticas de restrio comercializao (visando a sustentao dos preos), que ocasionava estmulo ao aumentoda produo (no segmento rural), acabando por comprometer a eficcia dos resultados almejados.
Este o motivo que explica que a partir da dcada de 60, quando o IBC se v diante de uma supersafra e estoques duas vezesmaiores que a demanda mundial, que se decide implementar a "Campanha para aumento do Consumo Interno de Caf" e criar aindstria de solvel. Tais medidas tinham como objetivo minimizar os custos de carregamento de estoques e procuravam manter apoltica de valorizao do produto no mercado internacional.
No que diz respeito Campanha para aumento do consumo, as torrefadoras recebiam do IBC o caf verde a preo subsidiado e orepasse do subsdio aos consumidores era controlado por meio do tabelamento de preos do torrado e modo. Esta medidarepercutiu no acrscimo expressivo do consumo de caf no mercado brasileiro. De 1960 a 1969 o consumo interno aumentou 153% e o Brasil tornou-se o segundo maior consumidor de caf do mundo.
A indstria, por sua vez, apresentou um aumento significativo da capacidade produtiva, pois a quota de caf do IBC, destinada acada empresa, era limitada pela sua capacidade de processamento. O estmulo ao aumento da capacidade produtiva, dado no incioda dcada de 60, ainda repercute sobre o setor e se mantm a nveis prximos a 60% de acordo com a Abic. Uma outra ao doEstado sobre o setor foi o controle de preos do caf no varejo com objetivo de manter sob controle o ndice de inflao. Otabelamento de preos no distinguia qualidades de cafs fixando um preo nico que os varejistas deveriam obedecer. Estaprtica foi a principal responsvel da imagem (para os consumidores, varejistas e autoridades governamentais) de que o caf umproduto homogneo.
Outras duas medidas adotada pelo IBC, decorrentes das adotadas anteriormente, acabaram condicionando o desempenho dastorrefadoras. A primeira foi o controle da abertura de novas empresas, s revogado no incio da dcada de 1990. A segunda foi aproibio da entrada de empresas estrangeiras no mercado nacional. A autorizao do IBC para uma empresa multinacional atuarno mercado nacional ocorreu somente em 1978.
Quanto indstria de solvel, em 1960, o IBC baixou a Resoluo 161, na qual criava as primeiras normas de incentivo suaimplantao. A autoridade governamental se comprometia a transferir dos seus estoques uma quota anual, de acordo com acapacidade de instalada de cada empresa, durante os seus quatro primeiros anos de funcionamento. Nos dois primeiros anos estasempresas poderiam pagar o caf verde com o produto manufaturado. Com o objetivo de adquirir caf subsidiado dos estoque doIBC as empresas ampliaram suas capacidades de produo muito acima do que o mercado poderia absorver. Assim, desde a suaimplantao, a indstria convive com o seu superdimensionamento, da mesma forma que ocorre com a indstria de torrefao,conforme ser discutido na seo 4.4.
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Grfico 1 - Participao do Caf nas exportaes brasileira (%)
Fonte: Bacha (1992) e Coffee Business.
Vale assim salientar que o caf brasileiro tinha uma importncia macroeconmica, em termos
de receita e a poltica visava patrocinar a industrializao. Ou seja, tinha um objetivo claro:
maximizar receitas, embora com a sabida perda de participao no mercado.4
Em 1962, foi institudo o primeiro Acordo Internacional do Caf (AIC), no mbito da
Organizao Internacional do Caf (OIC), contando com 42 pases exportadores e 25 pases
consumidores. A partir de ento, o mercado mundial passou a ser sistematicamente, com breves
perodos de interrupes, objeto de uma poltica de sustentao de preos, que se manteve at
julho de 1989.
4 Delfim Netto, em entrevista para a Revista do Caf em 2001, avalia da seguinte maneira a poltica cafeeira dapoca: O que eu acho sobre o caf, isto: que ns cumprimos o ciclo. Ele foi um instrumento importantssimo parafinanciar o crescimento desse pas. Ele foi o catalisador dos investimentos, toda a estrada de ferro, os portos, toda aenergia, tudo acabou sendo ligado ao caf. O caf produziu, na verdade, as divisas que eram necessrias para ocomeo dessa industrializao. O caf fez o Brasil e o Brasil fez o caf. Mas hoje no o caf um produtocomum.
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Como lder do mercado produtor de caf, o Brasil teve um papel central no sucesso da poltica de
sustentao dos preos no mercado internacional. Em muitos momentos, os acordos foram
efetivados porque o Pas se sujeitou a reduzir sua participao, firmando-se como ofertanteresidual, isto , retendo os estoques (Grfico 2), enquanto os concorrentes expandiam suas
produes. Desta forma, a exportao brasileira ficava definida pela diferena entre a demanda
mundial, no nvel de preos estabelecidos pela poltica acordada pelos membros do AIC, e a
produo de todos os outros pases exportadores.
Grfico 2 - Estoques de Caf: Brasil e Mundo (milhes de sacas de 60 kg)
Fonte: Bacha (1992).
Como resultado o Brasil foi, paulatinamente, reduzindo sua participao no mercado
internacional. No incio do sculo o Pas era responsvel por cerca de 80% das exportaes
mundiais de caf. Na dcada de 50 essa participao j havia se reduzido para cerca de 40% e, na
dcada de 80, para 25%, conforme Grfico 3.
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Mundo Brasil
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Grfico 3 - Participao do Brasil nas exportaes mundiais de caf (milhes scs de 60 kg)
Fonte: Bacha (1992), USDA.
No final da dcada de 80, observa-se uma postura diferente do Brasil nas negociaes das
clusulas econmicas do AIC: no aceitar mais redues na sua participao no mercado
internacional. A deciso brasileira implicou o rompimento do AIC, em 1989, com relao s
clusulas econmicas, que determinam o sistema de quotas.
O excesso de oferta mundial, do incio dos anos 90, resultou em queda vertiginosa dos preos e
crise, no s para o setor, como para vrios pases, cuja economia depende significativamente da
renda do produto. o caso de Burundi e Ruanda, em que o caf representa mais de 80% das
receitas totais de exportaes. Outros pases, como Guatemala, Costa Rica e Qunia tambm
quase no tm alternativas de receita cambial: ou plantam caf ou caf. Tal situao de crise
induziu a institucionalizao de um novo organismo de regulamentao, a APPC (Associao dos
Pases Produtores de Caf).
E X P O R T A O D E C A F E M G R O : B R A S I L E D E M A I S P A S E SP R O D U T O R E S
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B r a s i l M u n d o
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A APPC5, criada em 1993 com o objetivo principal de reordenar a oferta 6, reinstalou o sistema de
cotas. Entretanto, dada a nova configurao do mercado, o sistema fracassou. A oferta mundial
de caf no depende mais significativamente do Brasil, conforme visto no Grfico 3. Houve oingresso de novos produtores o que diminuiu bastante o poder de monoplio brasileiro. Alm
disso, importantes produtores no participam da organizao (Vietn e Mxico) e ao contrrio da
OIC a APPC no congrega os pases consumidores, que tinham um papel importante na
fiscalizao do sistema de cotas.
Na verdade, a nova poltica de reordenamento do mercado s foi efetivamente testada em 2000,
pois logo aps a sua criao, devido a problemas climticos no Brasil - geadas, em 1994 e seca
em diversas regies, em 1997 - o mercado enfrentou uma forte restrio de oferta, tornando aatuao da poltica de regulamentao incua.
J a partir de 1998, quando a oferta comeou a crescer, a dificuldade da administrao desse
sistema foi logo percebida, vrios pases no cumpriram a cota acordada. Entretanto, foi em
2000, que a poltica se revelou um fracasso. Apesar de o Brasil ter implementado um rgido
controle de embarques, que significou perda de participao do mercado, os preos continuaram
em forte queda com o ingresso no mercado de cafs de outras origens. A reao adversa gerou
um descontentamento generalizado entre produtores, exportadores e industriais do setor no Brasilque obrigou o governo abandonar o acordo em 2001. Ao contrrio do que ocorria no passado, em
que a posio monopolista do Brasil criava dificuldades de substituio do produto quando havia
restrio da oferta, a partir do final dos anos 80, o caf brasileiro passou a ser rapidamente
substitudo por outras origens.
5 A APPC conta com a participao de 28 pases produtores.6 Os pases-membro da APPC acordaram em reter parte de suas exportaes, conforme os seguintes nveis de preosdo Indicador Composto da OIC: (i) em 20% das exportaes, quando abaixo de US$ 75 cents por libra-peso, (ii) em10% se entre US$ 75 e 80 cents/lb, e (iii) livre quando ultrapassarem 80 cents. O Programa aprovado em 2000tambm era dividido em trs etapas, mas com patamares diferentes. Primeira fase com reteno de 20% dasexportaes enquanto o preo indicativo composto calculado pela OIC no atingisse US$ 95 cents por libra-peso. Nasegunda fase, com o preo entre US$ 95 e 105 cents, a reteno seria suspensa, mas os estoques s comeariam a serdesovados numa terceira etapa, quando o preo superarasse 105 cents.
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Para o Brasil, alm da queda de participao de mercado, o principal legado de 50 anos de
poltica de restrio da oferta foi a imagem sedimentada no mercado internacional de que o caf
brasileiro tem uma qualidade mdia que serve apenas para formar blends. Nesse sentido, acompetitividade brasileira depende de quanto maior o diferencial de preos entre o caf
brasileiro e os cafs suaves, considerados de maior qualidade. O agravante desse quadro, o
crescimento da participao do caf robusta no mercado internacional, particularmente do Vietn,
que aliado s novas tecnologias na formao de blends tornou esse caf um substituto prximo do
caf brasileiro7. Ou seja, o caf brasileiro por ter pouca especificidade passou a ser extremamente
elstico, sendo substituindo rapidamente por outras origens.
A questo atual que competitividade do setor e o ambiente institucional, que define asregras para o setor, devem estar alinhadas. No h mais sentido em pensar o caf em termos
de estratgias de poltica macroeconmicas, entretanto, isso no significa minimizar o papel
do ambiente institucional. Este deve propiciar aes que permitam que tais estratgias sejam
realizadas. Sendo assim, no h como deixar de discutir o papel das organizaes internacionais
e nacionais que representam o negcio caf.
1.1 O NEGCIO CAF E AS ORGANIZAES
Tanto a OIC como a APPC nasceram tendo como objetivo claro de servir de base poltica de
regulamentao da oferta e operacionaliz-la. A estrutura administrativa da OIC grande e
onerosa. O papel que a organizao tem desempenhado nos ltimos anos, de centralizar, coletar
e divulgar informaes sobre o setor tem sido bastante criticada. Alm dos nmeros apresentados
no serem precisos, a estrutura do servio cara em comparao com a realizada pelo setor
privado. Diversos pases j propuseram a sua extino ou uma radical reformulao, alterando o
foco de atuao e reduzindo custos oramentrios. Outros pases acreditam ainda que dificilmentea APPC ser atuante com a existncia simultnea de outro organismo de representao.
7 Devido s caractersticas de qualidade e custo o caf robusta tem um desgio em relao ao arbica.
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Toda essa crtica embute uma nova realidade mundial (menor intervencionismo, maior
concorrncia e concentrao do poder econmico) em que as associaes de interesse privado
esto inseridas. No se tem muita dvida de que o principal objetivo de uma associao deinteresse privado o de criar e defender as margens de seus associados. O problema como
fazer isso dentro dessa nova realidade.
As associaes estavam acostumadas a agir apenas como interlocutora com o Estado ou pases.
A negociao no processo de controle de preos no Brasil um caso caracterstico de uma ao
desse tipo. Esto a tambm contidas as demandas (oulobbies) por polticas que visam assegurar
posies estveis e lucros de monoplio (manter cartis) por meio de regulamentaes.
Subsdios diretos produo; controle sobre a entrada de novas firmas rivais (cotas deexportao); polticas que afetem as indstrias substitutas ou complementares e a fixao de
preos de garantia, para obter taxas de retorno superiores s de concorrncia, so alguns dos
exemplos das demandas dos grupos de interesse na busca de lucro extra-econmico. As clusulas
econmicas dos AICs se enquadram dentro deste amplo espectro de aes tradicionais na busca
de lucro via formao de cartel e restrio da oferta.
De outro lado, as associaes podem adotar aes pr-competitivas, visando formulao de
polticas setoriais. A proviso de informaes relevantes para o setor, apoiando o papel decoordenao vertical do sistema produtivo, com certeza ter impactos na competitividade do
sistema. Compras conjuntas,marketing institucional e aes estratgicas que procuram
posicionar melhor o sistema em relao ao mercado tambm esto no rol da atuao de uma
organizao de interesse privado mais afeita s demandas atuais.
Analisar os custos e os benefcios da manuteno de duas organizaes internacionais de caf no
tarefa simples. Com o fim da regulamentao, a OIC perdeu a sua bandeira e a prpria razo de
ser. Entretanto, tem buscado, talvez ainda com uma estrutura inadequada para os tempos atuais,
de margens apertadas e forte concorrncia, reformular sua tarefa de defender os seus membros.
Mas , sem dvida, um frum adequado para discusses conjuntas entre produtores e
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consumidores, das questes que dizem respeito ao agronegcio do caf (restries tarifrias,
poltica de expanso do consumo etc.). Neste sentido, a OIC tem implementado diversas aes
para o desenvolvimento do caf, com preocupaes ligadas ao combate a doenas e pestes, melhoria da qualidade e comercializao no mercado internacional. Desde 1995, foram
lanados 15 projetos8, financiados com recursos externos, principalmente do Commom Fund for
Commodities (CFC) das Naes Unidas, totalizando cerca de US$ 60 milhes (OIC: 2002).
O oramento total da OIC para cobrir custos operacionais e programas estimado em 2.523.000
para a temporada 2001/02. Os custos so rateados entre os pases membros, proporcionalmente
ao nmero de votos de cada um, que baseado no volume de exportaes/importaes de caf ao
longo de quatro anos9. O Brasil, como maior exportador, responsvel pela maior contribuio, o
que representa um custo prximo a US$ 1 milho por ano.
A APPC, por sua vez, tenta reeditar aes tradicionais, dentro de um paradigma ultrapassado. A
poltica de restrio da oferta prejudicial aos prprios membros no longo prazo ao possibilitar
que os no membros aumentem sua participao no mercado. Como visto, a manuteno da
poltica de reordenamento contra os objetivos do Brasil de ampliar sua fatia no comrcio
internacional. Com o fracasso da poltica de ordenamento implementada em 2001, o Conselho daAPPC decidiu, em setembro do mesmo ano, encerrar as atividades administrativas e operacionais
da entidade, eliminando a secretaria-executiva e os custos administrativos. A entidade funciona
agora com um novo formato, sem estrutura fsica, mantendo apenas as estruturas jurdica e legal
do convnio. Pases como Mxico e Honduras j declararam a possibilidade de integrar a
entidade neste novo formato, de custos reduzidos.
8
Ver ANEXO 5.9 O sistema de votos conta com 2000 votos, sendo 1000 para os membros exportadores e 1000 para os importadores.
Cada membro possui 5 votos, sendo que os votos restantes que so distribudos de acordo com as
importaes/exportaes. Para 2001/02, o Brasil possui os 5 votos, mais 193 votos baseados na mdia de exportaes
entre 1997 e 2000, de 19,04 milhes de sacas.
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O fracasso das polticas de regulamentao e a crise da cafeicultura, com o empobrecimento de
uma parcela significativa dos 25 milhes de produtores espalhados nos pases de terceiro mundo,
tem levado ao movimento de ONGs, no sentido de propor aes para reverter este quadro.Grande parte dos produtores possuem reas com menos de 5 hectares e dependem diretamente do
caf para o sustento de sua famlia.
A Oxfam Internacional10 tem liderado tais aes, com o lanamento da campanha O que tem no
seu caf. Entre as propostas, est a destruio de pelo menos 5 milhes de sacas de caf de baixa
qualidade, a ser financiada por governos de pases ricos e por empresas torrefadoras
(OBSERVATRIO SOCIAL, 2002).
Sem entrar no mrito da dificuldade de coordenao de uma ao como esta, a experincia da
regulamentao do mercado de caf j deixou claro que tais polticas provocam efeitos nefastos
no mdio e longo prazos. Se para o Brasil o resultado foi a perda de participao de mercado,
para o mundo a poltica refletiu em queda do consumo nos pases desenvolvidos. O excesso de
oferta no ser solucionado por medidas artificiais. A regulamentao sempre cria brechas para
aes oportunistas. Se a demanda quer caf de baixa qualidade, o mercado vai encontrar uma
forma de supr-la.
Isso no significa que nada pode ser feito. Ha aes que podem e devem ser adotadas olhando
para a demanda em vez de controlar a oferta. Uma delas seria encontrar um destino mais nobre ao
caf de baixa qualidade. O ITAL (Instituto Tecnolgico e Campinas), por exemplo, vem
estudando a utilizao deste caf para a fabricao de um leo para a indstria de cosmticos.
Pesquisas neste sentido deveriam ser incentivadas com verbas desses organismos internacionais,
ao invs de dispender esforos para elevar os preos artificialmente e afastar a demanda.
10 No Brasil, a Oxfam se associou Central nica dos Trabalhadores (CUT) e Confederao Nacional dos
Trabalhadores na Agricultura (Contag)
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1.2 O PAPEL DAS ORGANIZAES NOSPASES PRODUTORES
Em funo da importncia econmica e social do caf, a maioria dos pases produtores criou
organizaes especialmente voltadas para tecer estratgias para o setor e gerenciar a poltica
internacional de regulamentao do mercado. Com a desregulamentao as funes tradicionais
de gerenciamento da regulamentao deixaram de ter sentido. Entretanto, h uma srie de aes
que dependem da existncia de mecanismo de coordenao dos agentes, seja por que no h
incentivos agentes individuais as adotem, por exemplo investimento em pesquisa, estatsticas,
aes cujos retornos so apropriados coletivamente, seja por que dependem da adeso de vrios
agentes para que tenham efeito.
A adaptao essa nova realidade no tem sido fcil. Na Colmbia, a Federao Nacional dos
Cafeteros (Fedecaf), est em crise e ainda no encontrou uma sada. No Brasil, a criao do
CDPC , embora com uma postura bem mais afeita polticas pr-competitivas do que o antigo
IBC, tambm vem encontrando problemas de lidar com segmentos com objetivos muitas vezes
antagnicos. Uma sntese das aes das duas entidades ser apresentada a seguir.
2.2.1 Federao Nacional dos Cafeteros (Fedecaf)
Criada em 1927, a Fedecaf administra o Fondo Del Caf com o objetivo de realizar vrias
atividades entre as quais destacam-se programas de financiamento aos produtores, promocionais /
marketing, de transferncia de tecnologia e de comercializao.
A poltica da Fedecaf um exemplo de sucesso em termos de estratgia de diferenciao do
caf. Desde os anos 1960 vem sendo empreendido esforo de propaganda e marketing tornando a
marca Caf da Colmbia valorizada pelo mercado11.
11 A Colmbia investiu cerca de US$ 100 milhes em marketing para promover o seu caf entre 1960 e 1995(TROCCOLI, 1997).
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O diferencial de preo entre os cafs arbicas explicado por fatores reais, que consistem em
fatores intrnsecos ao produto tal como qualidade e custo, mas tambm por fatores
informacionais. Como o consumidor prefere o produto que lhe traz maiores informaes, o cafcolombiano passou a ser o mais demandado. O consumo freqente estabelece uma reputao
sobre as caractersticas do produto, o que o torna cada vez mais diferenciado dos demais. A
estratgia adotada pela Colmbia, que criou a idia de que os cafs suaves so melhores, refletiu
nas embalagens dos cafs vendidos nos pases consumidores, na qual mesmo contendo no blend
cafs do Brasil, a nica informao passada contm Caf da Colmbia.
A administrao da comercializao do caf pela Federao permitiu Colmbia viabilizar sua
estratgia de mercado de cafs de qualidade. O alto investimento em publicidade seguido poruma ao consistente de venda. Apesar da complexidade em gerir uma quantidade significativa
de pequenos produtores, a Federao adota a poltica de rastrear a produo, o que possibilita
detectar rapidamente problemas de qualidade.
A Federao negocia cerca de um tero das exportaes totais de caf, tornando-a a maior
exportadora mundial de caf. As exportaes so as maiores fontes de receita da organizao.
Em poca de alta de preos repassado para o produtor apenas parte do valor das receitas, em
pocas de crise o produtor subsidiado.
O sucesso dessa estratgia parece entretanto estar se esgotando. De um lado, a produo tem
sofrido doenas, a ferrugem tem atacado as lavouras desde 1983 e a broca desde 1989. De outro,
os custos da Fedecaf tm sido superiores aos ganhos. Com isso, a Fedecaf est revendo a forma
de comercializao completamente hierarquizada e cortando gastos com publicidade.
2.2.1 Conselho Deliberativo de Poltica Cafeeira
No Brasil, depois de cinco anos da extino do IBC, em outubro de 1996 foi institudo o CDPC
(Conselho Deliberativo da Poltica Cafeeira) com o objetivo de agregar todas as entidades
representativas do agronegcio caf.
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Os segmentos do agronegcio caf so representados pelas seguintes organizaes: Confederao
Nacional da Agricultura (CNA) e Conselho Nacional do Caf (CNC), que representam a
produo; Associao Brasileira da Indstria do Caf (ABIC), que representa a indstria detorrefao e moagem, Associao Brasileira da Indstria de Caf Solvel (ABICS), que
representa a indstria de solvel e o Conselho dos Exportadores de Caf Verde do Brasil
(CECAF), que representa os exportadores, conforme Figura 1.
Figura 1 - Organizaes representativas do agronegcio caf
TORREFADOR
ABIC
SOLVEL
ABICS
EXPORTADOR
FEBEC/ABECAF
PRODUTOR CAF-VERDECNC / CNA
O Conselho integrado por 14 membros: 7 representantes do governo, sendo 3 membros natos e
4 titulares, 7 do setor privado, sendo 4 da lavoura (2 CNA e 2 CNC), e 1 da indstria de
torrefao (ABIC), 1 da indstria do solvel (ABICS) e 1 da exportao (CECAF).
As medidas adotadas at o momento se valeram dos recursos do Funcaf (Fundo de Defesa da
Cafeicultura), constitudo de recursos provenientes da cota de contribuio aplicada sobre o caf.
De acordo com dados do governo para 2002, o fundo soma cerca de R$ 2,2 bilhes, sendo cerca
de R$ 500 milhes em caf (5 milhes de sacas), mais R$ 350 milhes disponveis nos bancos e
cerca de R$ 1,3 bilho emprestados para os produtores. Deste recursos destinados a
financiamentos, cerca de R$ 1,1 bilho tem prazo de retorno de 12 anos, com 3 anos de carncia e
o restante tem prazo de 25 anos (PESA).
Entre as principais aes estratgicas adotadas, destacam-se o Consrcio Nacional de Pesquisa
liderado pela Embrapa e a criao do programa de marketing Cafs do Brasil.
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Os desafios de uma entidade que agrega representantes de todo um agronegcio no so poucos.
Como se sabe, nem todos os agentes do agronegcio esto de acordo com as estratgias adotadas
pelo CDPC, notadamente s referentes a regulamentao do mercado.
Esses impasses acabam por impedir que o CDPC se constitua em um frum de discusses sobre o
setor. Na maioria das vezes, as decises acabam sendo tomadas extra conselho e apenas ali
referendadas. Alm disso, embora haja um consenso entre os agentes do agronegcio da
necessidade de aes de mdio e longo prazo, que sustentem ganhos de produtividade e eficincia
em todos os segmentos, um conflito latente com relao ao financiamento dessas atividades. A
capacidade do Funcaf em financiar atividades a fundo perdido est se esgotando. Entretanto, a
necessidade de se criar um instrumento de captao permanente de recursos no tem sido bemvista. Um dos pleitos que fundamentaram a extino do IBC foi o fim da cobrana de
contribuies compulsrias que oneravam os produtores.
2 MUDANAS NAS TENDNCIAS MUNDIAIS DO AGRONEGCIO NOS ANOS 90
Nesta seo sero apresentadas as principais tendncias do agronegcio caf no mundo, comnfase na anlise da oferta e demanda mundiais, visando a constituio de um cenrio deste
mercado.
2.3 A OFERTA MUNDIAL
Desde meados da dcada de 90, a produo mundial de caf tem apresentado um aumento
significativo, no acompanhado pelo consumo. A oferta excessiva, sobrepujando em quase 10% a
demanda, elevou os estoques mundiais acarretando queda das cotaes (Grfico 4).
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Grfico 4 - Oferta mundial de caf e cotaes mdias OIC
Fonte: OIC.
Em 2001 a produo mundial de caf alcanou o recorde de 120 milhes enquanto o consumo foi
de 107 milhes de sacas. Desde a metade da dcada de 1990 que a produo mundial tem
apresentado incrementos expressivos. A elevao dos preos, em decorrncia de geadas (em
1994) e seca (em 1997) nas regies produtoras no Brasil, impulsionou este movimento, uma vez
que os preos altos, aliados s baixas barreiras entrada atraram novos e antigos produtores para
o setor. Houve expressivo crescimento do parque cafeeiro na maioria dos pases produtores, com
destaque para o Vietn e Brasil, como pode ser observado na Tabela 1.
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Produo Mundial Preos OIC
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Tabela 1 Parque cafeeiro nos principais pases produtores (em milhes de ps)
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
Brasil 3.120 3.170 3.080 3.380 3.753 Costa do Marfim 1.792 1.792 1.800 1.810 1.826 Colombia 3.740 3.700 3.950 3.710 4.000 Costa Rica 413 413 413 413 El Salvador 611 608 607 606 Equador 295 290 290 285 Filipinas 131 130 132 132 Honduras 805 831 862 872
Guatemala 770 801 837 855 ndia 500 505 525 535 Indonsia 1.475 1.475 1.480 1.520 1.520 Qunia 270 273 274 276 Mxico 790 790 790 800 Nicargua 360 361 372 369 Peru 365 390 370 390 Venezuela 610 615 620 620 Vietn n/d n/d n/d n/d 425 438 TOTAL Acima 16.047 16.144 16.402 16.573 17.738 18.377
Fonte: USDA
O aumento da oferta mundial repercutiu no aumento dos estoques nos pases consumidores. No
incio da dcada de 1990 os estoques tambm eram altos, mas a sua maior parte se concentrava
nos pases produtores, especialmente no Brasil. Durante a dcada, os estoques foram sendo
consumidos em funo da escassez de oferta, chegando aos nveis mais baixos em 1998. A partir
da, o crescimento da oferta e dos embarques elevaram novamente os estoques, s que desta vez
nas mos dos consumidores, que passaram a deter quase 50% deles (Grfico 5). Esta situao
favorece muito o poder de barganha dos compradores, resultando, em 2001, em patamares depreos 60% menores do que os obtidos em 1997.
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neste momento que a competitividade dos pases est sendo posta prova, pois preos altos
aceitam ineficincia e ineficientes.
Grfico 5 - Estoques nos pases produtores e consumidores (milhes scs) e preos OIC(cents US$/lb)
Fonte: OIC.
O crescimento da produo tem ocorrido de forma assimtrica entre as variedades arbica e
robusta.12 Em 2001, o robusta representou quase 40% do total produzido ante uma participao
12 Existem muitas espcies e variedades de caf. As espcies de importncia econmica so o Coffea arabica e o CoffeaCannephora (conhecida como Robusta). O arbica cultivado principalmente na Amrica do Sul e Central, Qunia e Tanznia,na frica. O robusta cultivado no Vietn, Brasil, Indonsia, Costa do Marfim e em vrios outros pases da frica, sia eOceania. O Brasil um dos poucos pases que produzem as duas espcies: o arbica e o robusta, aqui denominado de conillon. Aprimeira caracterstica dos Estados de Minas Gerais, So Paulo e Paran. A segunda plantada principalmente no Estado doEsprito Santo.
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5
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15
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1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
milhesdesacasde60kg
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centsporlibrapeso
Consu mi dores P ro duto res Preos-OIC
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de menos de 30% no incio da dcada de 90 (Grfico 6). O crescimento da produo de robusta
tem resultado no deslocamento da mdia mundial de consumo em favor desta variedade, o que
pode ser um dos fatores que contriburam para a queda do consumo de caf nos anos recentes,como veremos no prximo item, sobre a demanda mundial.
Grfico 6 - Produo mundial de caf por variedade: robusta e arbica (milhes sacas)
Fonte: OIC.
As tabelas Tabela 2 e Tabela 3 mostram a participao das exportaes dos maiores pases
produtores de caf no mundo, segundo as variedades arbica e robusta. As exportaes mundiais
de caf robusta cresceram a uma taxa mdia de 7%, enquanto as de arbica aumentaram 2%,
entre os anos 1997 e 2001. O Vietn merece destaque, ao apresentar taxa de crescimento de
22,5% ao ano no mesmo perodo. O crescimento das exportaes brasileiras de caf robusta
nestes anos tambm foi significativo, de 8,9% ao ano.
6 8 6 9 6 7 6 4 5769 6 3
7 4 71 77 6 8 7 3
2 9 2 7 2 6 2 826
313 3
3 2 33
434 6
4 6
0
25
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75
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125
90/91 91/92 92/93 93/94 94/95 95/96 96/97 97/98 98/99 99/00 00/01 01/02
milhesd
esacas
Arbica Robusta
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Tabela 2 Exportaes mundiais de caf arbica (em milhes de sacas)
1997 % 1998 % 1999 % 2000 % 2001 % TaxaCrescimento
1 Brasil 15,06 28 16,32 31 19,78 35 16,08 29 21,03 37 6,5%2 Colmbia 10,92 21 11,24 21 10,00 17 9,18 16 9,94 17 -3,9%3 Guatemala 4,21 8 3,51 7 4,68 8 4,84 9 4,10 7 2,7%4 Mxico 4,51 9 3,41 6 4,36 8 5,30 9 3,41 6 -1,2%5 Per 1,72 3 1,91 4 2,44 4 2,39 4 2,40 4 8,9%6 Honduras 1,72 3 2,33 4 1,99 3 2,88 5 2,39 4 8,7%7 Costa Rica 2,11 4 2,03 4 2,01 4 2,03 4 2,05 4 -0,5%8 ndia 1,22 2 1,09 2 1,47 3 1,83 3 1,65 3 11,1%9 El Salvador 2,76 5 1,69 3 1,80 3 2,54 5 1,52 3 -7,9%10 Etipia 1,98 4 1,92 4 1,82 3 2,00 4 1,39 2 -6,6%11 Nicaragua 0,71 1 0,93 2 0,93 2 1,30 2 1,36 2 16,4%12 Papua N.Guin 0,98 2 1,30 2 1,27 2 1,01 2 1,03 2 -1,6%13 Qunia 1,16 2 0,82 2 1,07 2 1,15 2 0,98 2 0,1%
14 Indonsia 0,54 1 0,60 1 0,63 1 0,62 1 0,62 1 2,9%Subtotal 49,59 94 49,11 93 54,24 95 53,14 94 53,88 95 2,4%Outros 3,36 6 3,52 7 3,04 5 3,19 6 3,12 5 -2,5%Total Geral 52,94 100 52,64 100 57,28 100 56,33 100 56,99 100 2,2%
Fonte: OIC.
Tabela 3 Exportaes mundiais de caf robusta (em milhes de sacas)
1997 % 1998 % 1999 % 2000 % 2001 %Taxa
Crescimento
1 Vietn 6,10 24 6,37 25 7,43 27 11,19 35 14,14 43 22,5%2 Indonsia 5,45 21 4,96 19 4,48 16 4,60 1 3,82 12 -7,8%
3 Costa do Marfim 3,01 12 3,89 15 2,55 9 5,79 18 3,52 11 7,1%4 Uganda 3,15 12 2,95 11 3,51 13 2,22 7 2,74 8 -5,6%5 Brasil 1,67 6 1,82 7 3,38 12 2,00 6 2,49 8 8,9%6 ndia 1,35 5 2,08 8 2,38 9 2,61 8 2,32 7 13,1%7 Tailndia 1,09 4 0,78 3 0,51 2 0,97 3 1,17 4 3,6%8 Camares 1,22 5 0,70 3 1,09 4 1,11 3 1,06 3 1,8%9 Equador 0,61 2 0,69 3 0,52 2 0,31 1 0,30 1 -22,3%10 Madagascar 0,57 2 0,45 0,42 2 0,28 1 0,27 1 -19,6%11 Togo 0,31 1 0,17 1 0,27 1 0,28 1 0,19 1 -4,3%12 Tanznia 0,17 1 0,27 1 0,25 1 0,11 0 0,19 1 -6,5%13 Congo 0,52 2 0,35 1 0,39 1 0,32 1 0,17 1 -22,9%14 Rep. Centro Afr. 0,19 1 0,11 0 0,18 1 0,19 1 0,11 0 -5,5%Subtotal 25,41 99 25,59 99 27,36 99 31,97 99 32,50 99 7,1%
Outros 0,33 1 0,31 1 0,27 1 0,21 1 0,20 1 -14,0%Total Geral 25,74 100 25,89 100 27,63 100 32,18 100 32,70 100 7,0%
Fonte: OIC.
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2.4 A DEMANDA MUNDIAL
Nos ltimos 10 anos, a demanda mundial de caf tem crescido a uma taxa de 1% ao ano. H 50
anos o consumo per capita de caf no mundo de cerca de 1 quilo/ano. Os Estados Unidos so os
maiores consumidores do mundo, seguido pelo Brasil, Alemanha e Japo (Grfico 8). De acordo
com a F.O. Licht, os Estados Unidos e o Brasil so os nicos pases em que se espera crescimento
do consumo nos prximos anos.
Uma anlise da relao entre os pases mais populosos do mundo e o nvel do consumo per capita
de caf nestes pases, partir do Grfico 7, mostra que h aes que poderiam ser implementadas
para o incremento do consumo mundial.
Grfico 7 Pases mais populosos do mundo e consumo per capita
Fonte: OIC e FAO
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200
400
600
800
1.000
1.200
1.400
China
ndia
EUA
Indonsia
Brasil
Russia
Paquisto
Bangladesh
Japo
Nigria
Mxico
Alemanha
Vietnam
milhesdehab
itantes
0,0
1,0
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3,0
4,05,0
6,0
7,0
8,0
kg/habitan
te
Populao Consumo per capita
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Grfico 8 Principais pases consumidores de caf no mundo (milhes de sacas de 60 kg)
Fonte: FO Licht
O comportamento da demanda est relacionado principalmente s mudanas nos hbitos de
consumo (SAES, 1999). Tanto no mercado americano como no europeu, as estatsticas indicam
estagnao ou declnio do consumo de bebidas quentes. Para o caf, tal tendncia tem sido
atribuda dificuldade de transmitir aos jovens uma imagem favorvel do caf e associao do
caf a malefcios sade. entre os jovens que o consumo apresenta maior retrao. Em 1962,
81% da populao de 20 a 29 anos nos EUA consumiam caf, enquanto em 1990 essa
participao caiu para apenas 31,2%. Na faixa de 30 a 59 anos o consumo de caf caiu de 90,8%
para 65,7% para o mesmo perodo (THE ECONOMIST, 1996: 96).
Embora os dados da Tabela 4devam ser vistos com cautela, uma vez que se est comparando
quantidade de produtos que so consumidos em doses diferentes, no h como negar a relativa
perda de participao do caf no total de bebidas consumidas nos EUA. Quanto ao aumento doconsumo de gua, os dados confirmam a tendncia atual de aumento da ingesto de alimentos
saudveis. No que diz respeito aos refrigerantes, no se pode deixar de mencionar os enormes
0
5
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EUA Brasi l Alem . Japo Frana Itlia Esp.
milhesdesacas
2000 2005
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gastos de investimentos em marketing das empresas dessas bebidas como um fator preponderante
no avano do consumo mundial.
Tabela 4 - Consumo anual per capita de bebidas no mercado norte-americano (gales = 3,8litros)
Bebidas 1970 1975 1980 1985 1990 1995 1997 1999 2000
Caf 35,7 33,0 27,2 26,8 26,2 21,5 19,7 17,5 17,2
Refrigerante 22,7 26,3 34,2 40,3 46,8 51,4 53,7 54,6 55,1
Cerveja 18,5 21,6 24,3 23,9 24,0 22,2 22,3 22,5 22,6
Ch 5,2 7,3 7,3 7,3 7,0 6,9 7,0 7,1 7,1
gua mineral ---- 1,2 2,4 4,5 8,1 10,2 11,5 12,1 13,5
Fonte: FAS/SDA, 2000.
A queda do consumo nos anos recentes tem sido relacionada adio excessiva de robusta nos
blends. Devido ao aumento da oferta dessa variedade em relao ao caf arbica e o conseqente
aumento do desgio entre eles, as torrefadoras internacionais passaram a substituir o caf arbica
pelo robusta. Uma estratgia adotada a tecnologia de vaporizao do robusta, que utiliza o
mesmo equipamento da descafeinizao, que permite reduzir a aspereza do paladar dessamatria-prima, neutralizando seu impacto nos blends (CAF, 1998:5).
De acordo com Illy (2002), engenheiro qumico e presidente da torrefadora Illycaf, o excesso de
robusta no blendleva o consumidor a diminuir a quantidade consumida da bebida. Ele argumenta
que uma xcara de caf preparada com a variedade robusta tem em mdia o dobro de cafena
comparada a mesma quantidade preparada com caf arbica. Como o consumidor, por hbito,
toma uma quantidade constante de cafena por dia, se em uma xcara tem mais caf robusta e,
portanto, mais cafena, o consumidor vai reduzir inconscientemente a quantidade tomada.
Um fato interessante que pode significar uma vantagem a ser explorada pelo Brasil o alto
consumo per capita de alguns pases que tem uma grande participao do caf brasileiro em seu
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blend. O Grfico 9 mostra que na Dinamarca, na Sucia e na Blgica-Luxemburgo o consumo per
capita superior a 7 quilos/ano e o caf brasileiro tem uma participao superior a 30% no blend.
Embora necessite de maior comprovao emprica, esse fato tem sido atribudo caracterstica docaf brasileiro de possuir menos acidez em comparao aos cafs suaves.
Grfico 9 - Pases importadores: participao do caf brasileiro no blend e consumo percapita
Fonte: OIC
A anlise dos grandes nmeros do consumo de caf, entretanto, no deixa transparecer uma outra
importante transformao que est ocorrendo nos mercados consumidores: o crescimento do
consumo em pases do Leste Europeu e de cafs especiais.
No que se refere aos pases do Leste Europeu, as mudanas polticas ocorridas a partir do incio
dos anos 1990 criaram a perspectiva de rpido crescimento destes mercados. Os cenrios mais
otimistas indicavam expanso acima de 10% ao ano. Esta expectativa de crescimento, entretanto,
foi frustrada. O que se viu foi um desempenho mais modesto, atribudo, em grande parte,
38,4 37,7
33,832,1
28,0
23,3 23,2
20,5 20,0
15,5
13,3
9,8
7,4
0
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Dinam
arca
Sucia
Noruega
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Finl
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Alem
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A
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%
0
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Kgpercapita
Par ti ci pa o Caf B ra si le ir o Con su mo Per c ap it a
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restrio oramentria dos consumidores e a conseqente baixa qualidade do caf ofertado por
empresas praticando guerra de preos.
Em 10 anos, o consumo nestes pases aumentou cerca de 2,5% ao ano, ficando abaixo das
expectativas, mas ainda assim significativo quando comparado taxa de crescimento global, que
de cerca de 1% ao ano. Com isso, grandes empresas multinacionais esto se movimentando
rapidamente e estabelecendo forte presena nestes mercados. Alm da possibilidade de rpido
crescimento, tambm influiu o fato dos mercados consumidores dos pases de origem das
multinacionais estarem, de modo geral, saturados. Por ser considerada uma regio de consumo
emergente, onde o conhecimento do preparo convencional da bebida no muito difundido, abre-
se espao particularmente para o consumo de caf solvel, de mais fcil preparo. A indstria
brasileira de solvel, aproveitando-se desta tendncia, tem atuado fortemente neste mercado,
como veremos na seo 4.3. Os pases de maiores destaques nesta regio so Polnia, Hungria e
Repblica Tcheca. Atualmente, o grupo formado pela fuso das alems Tchibo e Eduscho lder
de mercado em diversos pases do bloco.
A mesma anlise vlida para o mercado chins, que apesar da tradio do ch, a perspectiva da
abertura de mercado e do aumento da renda tem favorecido o ingresso de empresasmultinacionais. As importaes deste pas, entretanto, ainda so insignificantes, girando em torno
do patamar de 250 mil sacas de caf.
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Tabela 5 - Pases do Leste Europeu: Importao Total de Caf (equivalente em caf verde mil sacas de 60 kg))
Pases 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 Taxa
Polnia 249,9 1.787,1 1.671,6 1.849,5 1.770,7 1.938,8 2.273,6 2.304,6 2.413,9 17%Rssia n.d. 1.381,9 1.794,9 1.725,7 1.728,1 1.128,0 2.144,6 1.602,8 1.290,0 -1%Hungria 641,0 522,2 668,1 771,2 519,5 602,9 675,0 715,6 835,3 3%Rep.Tcheca n.d. n.d. 514,3 553,8 553,2 525,3 560,2 764,8 797,8 7%Romnia 335,5 603,2 425,3 347,4 551,3 696,6 631,0 595,3 511,4 5%Bulgria 200,2 182,2 397,4 462,7 515,4 272,2 294,2 305,6 358,7 4%Crocia n.d. 168,2 162,8 193,5 320,1 321,8 385,3 339,1 352,1 13%Eslovquia n.d. n.d. 288,5 256,7 249,4 235,1 251,7 257,4 286,2 0%Litunia n.d. 1,9 9,1 46,7 112,4 153,1 186,3 198,5 205,0 63%Letnia n.d. 20,3 59,8 22,6 29,5 65,8 143,7 159,0 185,6 32%Eslovnia n.d. 122,9 152,2 159,1 147,6 174,6 170,6 174,3 185,3 5%Estnia n.d. 16,4 51,1 83,1 107,5 116,9 141,1 134,7 133,0 25%Macednia n.d. 78,8 51,3 63,3 69,8 51,4 53,2 77,1 62,4 0%
Total Acima - - 6246,4 6535,3 6674,5 6462,3 8217,9 8095,6 8067,9 5%
Fonte: OIC
No Grfico 10, pode-se observar que o maior consumidor de caf do mundo, os Estados Unidos,
apresenta consumo per capita em queda para todos os tipos de caf, exceo do especial. De
uma forma geral, essa tendncia observada em todos os pases desenvolvidos, embora os cafs
especiais ainda representem muito pouco do total consumido.
Grfico 10 - Consumo de caf nos EUA por tipo (xcaras por dia)
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* Classificao especiais da National Coffee Association, que inclui espresso, cappuccino, latte, caf moka,gelado, alm do gourmet (em gro).Descafeinado no est separado de Regular e Solvel, ou seja, o consumo indicado destes dois tipos incluitambm o consumo do produto descafeinado.Fonte: USDA.
O conceito de cafs especiais est intimamente ligado ao prazer proporcionado pela bebida. Tais
cafs destacam-se por algum atributo especfico associado ao produto, ao processo de produo
ou a servio a ele relacionado. Diferenciam-se por caractersticas como qualidade superior da
bebida, aspecto dos gros, forma de colheita, tipo de preparo, histria, origem dos plantios,variedades raras e quantidades limitadas, entre outras. Podem tambm incluir parmetros de
diferenciao que se relacionam sustentabilidade econmica, ambiental e social da produo, de
modo a promover maior eqidade entre os elos da cadeia produtiva. Mudanas no processo
industrial tambm levam diferenciao, com a adio de substncias, como os aromatizados, ou
com sua subtrao, como os descafeinados. A ratreabilidade e a incorporao de servios tambm
so fatores de diferenciao e, portanto, de agregao de valor(SEBRAE-MG, 2001: 68-69).
Vale observar que todas estas categorias podem incluem caf solvel no seu processo defabricao.
Consumo per capita de caf nos EUA -xcaras dia
0,00
0,20
0,40
0,600,80
1,00
1,20
1,401,60
1,80
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
xcarasdia
Regular Solvel Descafeinado Especiais*
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De acordo com o National Coffee Drinking Trends 2002 (apudLEMOS, 2002: 3), o nmero de
consumidores dirios do segmento de cafs especiais aumentou de 7 milhes em 1997 para 27
milhes em 2002 nos EUA. Ou seja cerca de 14% dos americanos so consumidores dirios destesegmento. Na pesquisa foram considerados especiais os cafs espresso, bebidas quentes e geladas
a base de caf e cafs premium, em gro ou torrado e modo.
Por vezes, estratgias de marketing fazem com que certos pontos de venda sejam identificados
com lugares em que se adquire cafs especiais. o caso das lojas de convenincia ou coffee
shops que tem impulsionado as vendas deste produto e atrado o consumidor jovem para este
mercado. Estimativas da SCAA (Specialty Coffee Association of America) indicam que o
mercado americano de cafs especiais totalizou US$ 10,74 bilhes em vendas no varejo em 2001.
Desse total, as vendas de bebidas a base de caf alcanaram US$ 6,84 bilhes, sendo que o
nmero de pontos de venda j chegou a 13,5 mil estabelecimentos. O restante, de US$ 3,87
bilhes, refere-se ao total de vendas de gros especiais no mercado varejista. (SCAA: 2002)
Um exemplo desse novo segmento o fenmeno da Starbucks Coffee Co. Em pouco mais de 10
anos de existncia, a empresa possui mais de 5,6 mil pontos de venda, em diversos pases,
incluindo 4,3 mil pontos nos EUA. As vendas em 2001 foram de US$ 2,65 bilhes, 22% maioresdo que as de 2000. A empresa tambm prev abrir ao menos 1,2 mil novas lojas em 2002 e 2003,
como parte da sua estratgia de possuir 10 mil pontos de vendas em 60 pases em 2005 (ELAM:
FP-7). O maior sucesso o frappuccino, bebida lctea gelada base de caf e de baixa caloria.
Pesquisas mais recentes realizadas pelo Programa Caf Forever, que busca incrementar o
consumo de caf na populao jovem americana, verificou que os jovens preferem bebidas doces
s amargas, o que confirma o sucesso desses novos produtos a base de caf.
Por trs do sucesso da Starbucks, est um investimento anual em propaganda que chega a US$ 15
milhes. Seu crescimento induziu a entrada de outras redes como a Second Cup, que hoje tem
forte presena no mercado americano e a segunda maior rede no mercado canadense. Outras
redes, como a do McDonalds, tambm foram estimuladas a introduzir o item caf espresso em
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suas lojas, em vrios pases. Em um espao reservado especialmente para a venda de caf,
salgados e doces, o McCaf tem um diferencial importante: a parceria com a Nestl que
desenvolveu caf espresso a partir do caf solvel.
O fenmeno das vendas de cafs especiais nas cafeterias refletiu no mercado de torrado e modo
das grandes multinacionais. A Procter & Gamble lanou uma linha de cafs gourmetcom 60
variedades, tais como o caf orgnico, cultivado no Mxico, o raro Sumatra, entre outros. A
estratgia da Procter & Gamble mostra que grandes empresas tambm esto atentas s tendncias
de mercado e passam a explorar esses nichos. Alm disso, cerca de 85 torrefadoras oferecem
cafs com selo fair trade expedido pela ONG TransFair USA (ROTTA, 2001).
2.4.1 DEMANDA NO BRASILQuando se analisa a demanda mundial, no se pode deixar de considerar o Brasil, o segundo
maior mercado consumidor. Da mesma forma que no mercado americano, verificou-se durante
os anos 1980 queda do consumo per capita. Entretanto, no Brasil, esta tendncia foi revertida a
partir da dcada de 1990 (Grfico 11).
Grfico 11 - Consumo de caf no Brasil: per capita (kg por habitante) e total (milhes scs)
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Fonte: ABIC
Uma srie de fatores ainda inibe o crescimento do consumo de caf aos nveis alcanados na
dcada de 60. Entre eles pode-se citar a imagem de que caf tudo igual, decorrente do
tabelamento de preos que vigorou at o incio dos anos 90.
No para menos, pois apesar de o Brasil ser o segundo maior consumidor de caf do mundo,
indstria de torrefao restava um papel secundrio de absorver o caf no exportvel, por causa
de sua qualidade inferior. Em termos de estratgia do mercado interno isso significou competio
via preos e pouca diferenciao.
Cabe observar que com o tabelamento de preos as empresas passaram a adotar, criativamente,uma competio por diferenciao s avessas. Dada a impossibilidade de vender o caf torrado e
modo por preo superior ao da regulamentao, a maioria das empresas dispunha de dois tipos
de caf no mercado: o tabelado e o de combate. Este ltimo conhecido por sofrer, no
8,18,9
6,97,5
6,4
8,2 8,58,9 9,1 9,3
10,111,0
11,512,2
12,713,013,514,0
15,0
0
2
4
6
8
1012
14
16
1965
1970
1975
1980
1985
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
milhesdesacasde
60kg
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
5
quilosporhabitante
Total Per capita
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processo de fabricao, uma torra mais intensa, de forma a disfarar o uso de caf verde de m
qualidade, assim como a adio de outros produtos como milho, cevada, palha etc., que mesmo
proibidos so constantemente encontrados nas anlises desses cafs. Esta situao comeou a sercontida depois da ao coletiva implementada pela Associao Brasileira da Indstria de Caf
(ABIC) que criou a auto regulamentao conhecida como Selo de Pureza ABIC (SAES, 1997:
152).
O Selo teve um importante papel de excluir as empresas fraudadoras e significativamente
percebido pelo consumidor, conforme foi verificado em pesquisa realizada pelo
SEBRAE/PENSA (2001). Quase 80% da amostra de 300 consumidores, entrevistados em
supermercados em Belo Horizonte e So Paulo,13 conhece o Selo de Pureza da ABIC e o leva em
considerao no momento da compra (61%).
A pesquisa SEBRAE/PENSA (2001) constatou que a grande maioria dos consumidores (92%)
estaria disposta a pagar mais por um caf de qualidade. Alm disso, a pesquisa realizou
degustao utilizando-se trs diferentes nveis, decrescentes, de qualidade de caf: gourmet,
superior e tradicional. 14 Os consumidores degustavam uma dose de cada caf e davam sua
opinio sobre aroma, sabor e corpo. O caf gourmet foi considerado mais gostoso que os demaistipos na degustao, com 43% de preferncia, seguido pelo tradicional e pelo superior. O
resultado estatisticamente confivel ao nvel de 95% de significncia. Ou seja, os
consumidores percebem, na mdia, que o caf gourmet mais gostoso que o tradicional, que por
sua vez mais gostoso que o superior.
13 A pesquisa foi realizada em quatro supermercados de classe de renda mdia alta e alta, dois em Belo Horizonte-
MG e dois em So Paulo-SP.
14 A escolha desses nveis baseou-se em estudo do Programa Cafs do Brasil (2000). Com relao composio dosblends, os cafs estavam previamente classificados em: a) Gourmet (bebida estritamente mole/mole, 100% arbica,0% de defeito preto, verde e ardido); b) Superior (bebida mole/dura, at 15% de robusta, com at 10% de pretos,verdes e ardidos); c) Tradicional (bebida dura/riada/rio, at 30% de robusta, 25% de preto, verde e ardido); d)Popular/Combate (sem atributo de qualidade).
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Em pesquisa realizada em 2000, o Programa Cafs do Brasil (2000: 8) observou pouca
diferenciao do caf vendido no mercado:
a comoditizao do mercado de caf torrado e/ou modo que caracteriza osetor nos tempos atuais, tem sido marcada por uma substancial falta dediferenciao entre a maioria das marcas de caf, implicando em baixosvalores agregados, concorrncia predatria e resultados negativos para agrande maioria das empresas, de qualquer porte e tamanho.
Dentro deste mesmo conceito, o Sindicaf (Sindicato da Indstria de Caf de So Paulo) criou a
Campanha de Qualidade que entre suas aes, firmou um convnio com o Ital (Instituto de
Tecnologia de Alimentos de Campinas) e o governo do Estado, para o lanamento do Selo So
Paulo de Qualidade para o Caf Torrado e/ou Modo como parte do Programa de Qualidade Selo
So Paulo, que prev a certificao de diversos produtos agroindustriais com qualidade superior.
O maior objetivo do programa, alm de criar uma identificao nas prateleiras dos supermercados
para os cafs Gourmet e Superior15, auxiliar o processo de elevao das exportaes de
caf industrializado, de maior valor agregado (SINDICAF, 2002).
A oferta de cafs especiais vem aumentando de forma acelerada. Grandes indstrias, como
Melitta, Bom Dia e Cacique, passaram a investir em produtos de maior valor agregado. Para
2002, a previso do Sindicaf de surgimento de 20 novas marcas de caf Gourmet e Superior,
somando-se s 20 j existentes no mercado. Esta nova realidade do mercado brasileiro de caf
tem condicionado as empresas do setor a adotar estratgias diferenciadas, como veremos no item
4.4.
15 A classificao segue a Resoluo SAA37, de 9/11/2001, que define Norma Tcnica para a fixao de identidadee qualidade do caf torrado em gro ou modo.
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O Quadro 1 apresenta um resumo das principais concluses .
Quadro 1 Quadro sntese
Ambiente Institucional e Organizacional
Desregulamentao no mercado internacional
Reestruturao das organizaes:
l novo papel das organizaes internacionais, estatais e privadas
l surgimento das ONGs
Mercado Internacional:
Oferta Mundial crescente:
lconcentrao dos estoques de caf nos pases consumidores
laumento da participao da variedade robusta no total ofertado
Demanda Mundial crescendo a uma taxa de 1,1% ao ano:
lqueda na demanda de cafs tradicionais nos pases desenvolvidos
laumento da demanda de cafs especiais
Mercado Interno:
Oferta crescente
Forte crescimento da demanda na dcada de 90
ldifuso e valorizao dos cafs especiais, embora ainda incipiente
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PARTE B
3 MUDANAS RECENTES NAS TENDNCIAS DO AGRONEGCIO CAF DOBRASIL
3.1 O AGRONEGCIO CAF DOBRASIL E SEUS SEGMENTOS
Os principais segmentos do sistema brasileiro do caf so os seguintes: i. fornecedores de
insumos, mquinas e equipamentos; ii. produo primria; iii. primeiro processamento
(maquinistas e cooperativas); iv. segundo processamento (empresas de torrefao e moagem,
empresas de solvel e cooperativas); v. vendedores nacionais (exportadores, cooperativas e
atacadistas); vi. Compradores internacionais (emp