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    Universidade Estadual de CampinasInstituto de Economia

    Ncleo de Economia Industrial e da Tecnologia (UNICAMP-IE-NEIT)Ministrio do Desenvolvimento, da Indstria e do Comrcio Exterior (MDIC)

    Ministrio da Cincia e Tecnologia (MCT)Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP)

    ESTUDO DA COMPETITIVIDADEDE CADEIAS INTEGRADAS NO BRASIL:

    impactos das zonas de livre comrcio

    Cadeia: Caf

    Nota Tcnica Final

    Campinas, Dezembro de 2002

    Documento elaborado pelos consultores Maria Sylvia Macchione Saes e Douglas Nakazone, com apoio,na rea de acesso a mercados, do consultor Andr Meloni Nassar. Este documento resultado do contratoentre a FECAMP (Fundao de Economia de Campinas) e a FIPE (Fundao Instituto de PesquisasEconmicas).

    Coordenao Geral do Projeto: Luciano G. Coutinho (NEIT-IE-UNICAMP), Mariano F. Laplane (NEIT-IE-UNICAMP), Nelson Tavares Filho (MDIC), David Kupfer (IE-UFRJ), Elizabeth Farina (FEA-USP) e RodrigoSabbatini (NEIT-IE-UNICAMP).

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    SUMRIO EXECUTIVO

    O Brasil o maior produtor e exportador de caf, com uma participao mdia de 24% nasexportaes mundiais. O agronegcio representa um pouco mais de 2,4% do comrcio

    externo brasileiro. Em 2001, o valor adicionado desse agronegcio foi de 3,2 bilhes de

    dlares. Nos ltimos anos, em funo da queda das cotaes internacionais do produto, o

    caf deixou de ser o principal item da pauta de exportao agrcola, ficando atrs do

    complexo soja, acar e carne de frango.

    O elemento tradicional de competitividade do caf o custo de produo, que determina as

    vantagens comparativas de um determinado pas em relao aos demais. Na produo do

    caf arbica o Brasil o pas que possui menor custo, que aliado produtividade tem

    garantido a manuteno e o crescimento da participao no mercado internacional. No caso

    do caf robusta, o Vietn, o segundo maior produtor mundial, supera em muito a

    produtividade mdia brasileira, devido ao seu sistema intensivo de cultivo. Este pas

    tambm tem custo de produo mais competitivo. Como resultado, observa-se a perda de

    participao da produo brasileira em alguns mercados, nos quais o caf robusta tem se

    mostrado muito mais um bem substituto do que complementar ao caf arbica brasileiro na

    composio dos blends.

    Embora o custo de produo seja o fator mais importante para determinar a

    competitividade, h que se ressaltar que o mercado de cafs especiais o que mais cresce

    no mundo. O Brasil tido como um fornecedor de quantidade, ao passo que os cafs da

    Colmbia, Guatemala, Costa Rica e Qunia, entre outros, so mais valorizados e recebem

    um prmio pela qualidade. O Brasil deixou cristalizar uma imagem de grande produtorde um nico tipo de caf - Santos, enquanto outros pases investiram pesadamente em

    imagem e qualidade.

    Vale observar que o Brasil tem vantagens, com relao aos outros produtores, por possuir

    um parque cafeeiro complexo e diverso, que produz uma grande variedade de tipos de

    bebidas. Neste sentido, o principal entrave competitivo, para o ingresso no mercado de

    especiais, a coordenao entre os segmentos do agronegcio. A prtica decomercializao instituda no mercado brasileiro da ausncia de valorizao do produto de

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    qualidade. Como conseqncia dessa seleo adversa, o produtor deixa de fazer

    investimento em qualidade. O resultado a predominncia do caf com grande nmero de

    defeitos.

    Nos ltimos anos, um movimento intenso em busca de qualidade e capacitao tecnolgica

    tem ocorrido em todas as regies produtoras. Os destaques vo para a fertirrigao e a

    introduo de uma nova forma de beneficiamento que resulta no caf cereja descascado.

    Nesse sentido, o Brasil tem liderado o processo tecnolgico com grandes perspectivas de

    aumentar sua participao no mercado internacional.

    Indstria Solvel e Torrado e Modo

    A indstria de solvel est praticamente voltada para o mercado externo e a sua expanso

    enfrenta trs tipos de dificuldades. Primeiramente, o aumento da produo de caf robusta

    na sia alarga o diferencial de preos entre a matria-prima do solvel no mercado externo

    e no Brasil, favorecendo as indstrias localizadas no mercado internacional. Em segundo

    lugar, o caf solvel brasileiro sofre barreiras tarifrias na Unio Europia, enquanto as

    indstrias dos pases concorrentes ou so isentas das taxas de importao, sob alegao de

    uma poltica de cooperao ao combate do narcotrfico, ou so taxadas com uma menoralquota, como no caso do Mxico e ndia. Por fim, a questo tributria gera distores que

    reduzem a competitividade do caf brasileiro.

    A indstria de caf torrado e modo, por sua vez, est voltada para o mercado interno e tem

    sofrido um grande processo de consolidao com o ingresso de empresas multinacionais. A

    grande atratividade do mercado brasileiro deve-se ao fato de o Brasil ser o segundo maior

    consumidor de caf mundial. A entrada do caf torrado e modo brasileiro no mercado

    internacional pode ser uma oportunidade. As altas margens de lucro das empresas l

    estabelecidas possibilitam menores barreiras entrada e um forte incentivo para as

    empresas brasileiras.

    Barreiras Tarifrias e Abertura

    O caf verde no sofre barreiras tarifrias, o mesmo no ocorre, entretanto, com o caf

    industrializado. Outros tipos de produto, como preparaes base de solvel e substitutos

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    de caf que contm caf, possuem tarifas elevadas nos EUA e na UE. O maior problema

    das estruturas tarifrias nas duas regies reside no fato de que o Brasil no se beneficia do

    mesmo tratamento tarifrio que os pases que fazem parte dos Sistemas Gerais de

    Preferncia (SGP). Isso significa que a desgravao tarifria ou a expanso do princpio da

    Nao Mais Favorecida para os SGP aumentaria muito a competitividade do caf solvel e

    torrado modo brasileiro.

    Embora o Brasil seja muito competitivo na produo rural, h que se considerar que a

    liberalizao possibilita o ingresso de caf verde dos pases produtores, participantes da

    ALCA, no Brasil. Com relao ao caf verde de pases da sia e frica, deve-se definir

    uma regra de origem que proba a triangulao. Os pases do bloco ficariam assim

    impedidos de exportar produtos de outros no participantes da zona de livre comrcio, com

    a tarifa interna. J a possibilidade da utilizao de mecanismos como draw-backpara a

    importao de caf robusta poderia aumentar a competitividade da indstria de solvel sem

    ameaar fortemente a produo nacional. Vale alertar que tal mecanismo no pode se

    constituir em estratgia de financiamento para as indstrias, com prazos e juros que tragam

    desvantagem para o setor agrcola.

    O ingresso de cafs dos pases produtores da ALCA configura-se, tambm, em umaoportunidade, possibilitando s torrefadoras brasileiras comporem variados blends, o que

    pode aumentar suas chances de entrada no mercado internacional.

    Propostas de polticas

    Sabe-se que competitividade futura no depende apenas de questes tarifrias, mas de um

    conjunto de estratgias individuais e coletivas. Por isso alm da proposta de remoo de

    barreiras tarifrias contra o caf brasileiro e negociar a incluso do Brasil no SGP (Sistema

    Geral de Preferncias), so listadas, a seguir polticas pblicas e aes privadas necessrias

    para melhorar ou manter a posio competitiva do agronegcio caf. Estas propostas foram

    discutidas em dois workshop realizados com representantes do setor (Anexo 7).

    (i) Criao de um Centro de Informao do Caf; (ii) Fomentar pesquisas que visem o uso

    alternativo de cafs de baixa qualidade; (iii) Adotar poltica de eliminao das distores

    tributrias; (iv) Incentivar a utilizao da BM&F; (v) Incentivar o uso de mercado futuro,

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    CPR e Contratos de Opo; (vi) Negociar a incluso do caf descascado brasileiro na Bolsa

    de Nova York; (vii) Fomentar pesquisa para o desenvolvimento de processos fsico-

    qumicos na anlise sensorial; (viii) Regulamentao tcnica no reconhecimento de

    certificao de origem e negociao de normas tcnicas e regras de origem; (ix) Defender a

    harmonizao de regras de auto-sustentabilidade e divulgar as boas prticas adotadas nas

    lavouras brasileiras; (x) incentivar a adoo de prticas de irrigao poupadoras de gua;

    (xi) Dar continuidade s parcerias entre governo/setor privado/instituies, para realizao

    de pesquisas; (xii) Incentivar a diversificao da produo rural e a boa gesto

    administrativa da propriedade rural; (xiii) Negociar a incluso do Brasil no SGP; (xiv)

    Divulgar linhas de financiamento para exportao de caf torrado e modo e solvel; (xv)

    Divulgar linhas de financiamento para importao de mquinas de empacotamento e

    embalagem e melhorar iseno tarifria; (xvi) Adquirir marcas de empresas de caf torrado

    j estabelecidas no mercado internacional; (xvii) Dar continuidade ao programa Sebrae de

    capacitao tcnica e gerencial para as empresas torrefadoras e criar um foco para

    exportao; (xviii) Possibilitar a importao de caf verde para a indstria; (xix) remover

    barreiras tarifrias.

    Por fim, no h sentido de se pensar o caf em termos de estratgias de polticas

    intervencionistas, como no passado. O caf no mais um produto estratgico para o Brasil,como at a dcada de 70, no qual a taxa de cmbio estava diretamente relacionada ao seu

    desempenho comercial. Alm disso, a entrada de novos produtores no mercado tornou

    incua qualquer tentativa de restrio da oferta, tal como ocorreu em 2000. As polticas

    para o setor devem estar ligadas aos interesses competitivos do agronegcio, dando

    condies ao setor privado de implementar estratgias. No existe razo em tecer polticas

    centralizadoras, quando o agronegcio do caf compreende uma diversidade muito grande

    de grupos estratgicos entre todos os seus segmentos. Os grupos estratgicos voltados aoscafs especiais tm interesses e demandas diferenciadas daqueles que esto voltados para o

    mercado de quantidade.

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    S U M R I O

    SUMRIO EXECUTIVO ______________________________________________________1

    INTRODUO_______________________________________________________________2

    PARTE A____________________________________________________________________4

    1 AMBIENTE INSTITUCIONAL E ORGANIZACIONAL: DA REGULAMENTAO

    DESREGULAMENTAO DO MERCADO DE CAF. ______________________________4

    1.1 O negcio caf e as organizaes ______________________________________10

    1.2 O Papel das Organizaes nos Pases Produtores _________________________ 142 MUDANAS NAS TENDNCIAS MUNDIAIS DO AGRONEGCIO NOSANOS 90________17

    2.3 A Oferta Mundial___________________________________________________ 17

    2.4 A Demanda Mundial________________________________________________ 23

    2.4.1 Demanda no Brasil ______________________________________________31

    PARTE B ___________________________________________________________________36

    3 MUDANAS RECENTES NAS TENDNCIAS DO AGRONEGCIO CAF DOBRASIL______36

    3.1 O agronegcio caf do Brasil e seus segmentos___________________________ 364 FATORES DE COMPETITIVIDADE DO AGRONEGCIO CAF DO BRASIL ___________40

    4.2 Fatores de competitividade na produo e comercializao do Gro Verde_____42

    4.2.1 Custos e Produtividade___________________________________________ 42

    4.2.2 Qualidade do caf: o problema de coordenao ________________________ 51

    4.2.3 A comercializao do caf verde: foco na quantidade ___________________ 54

    4.3 Fatores de competitividade para o solvel: custos da matria-prima e barreiras

    tarifrias________________________________________________________________ 61

    4.4 Fatores de competitividade para o Torrado e Modo _______________________69

    4.4.1 Torrado e modo no mercado internacional e a estrutura da indstria estrangeira

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    PARTE C___________________________________________________________________87

    5 SNTESE COMPARATIVA: HIATO ENTRE A COMPETITIVIDADE BRASILEIRA E O

    BENCHMARK MUNDIAL _________________________________________________87

    PARTE D___________________________________________________________________89

    6 DESAFIOS COMPETITIVOSEM UM AMBIENTE DEINTENSIFICAO DA

    LIBERALIZAO COMERCIAL____________________________________________89

    6.1 Metodologia Aplicada na Anlise de Acesso a Mercados ___________________ 89

    6.2 Caf Verde ________________________________________________________ 91

    6.3 Caf industrializado: torrado e modo e solvel___________________________ 95

    6.4 Cenrios para o Agronegcio Caf____________________________________ 101

    6.4.1 Situao Atual_________________________________________________ 101

    6.4.2 Integrao UE-Mercosul e ALCA _________________________________ 101

    PARTE E: CONCLUSES E PROPOSTAS DE POLTICAS ______________________103

    ANEXOS __________________________________________________________________122

    BIBLIOGRAFIA______________________________ ERRO! INDICADOR NO DEFINIDO.

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    NDICE DE GRFICOS

    Grfico 1 - Participao do Caf nas exportaes brasileira (%)_________________________ 6

    Grfico 2 - Estoques de Caf: Brasil e Mundo (milhes de sacas de 60 kg)________________ 7

    Grfico 3 - Participao do Brasil nas exportaes mundiais de caf (milhes scs de 60 kg) ___8

    Grfico 4 - Oferta mundial de caf e cotaes mdias OIC____________________________ 18

    Grfico 5 - Estoques nos pases produtores e consumidores (milhes scs) e preos OIC (cents

    US$/lb) _____________________________________________________________________ 20

    Grfico 6 - Produo mundial de caf por variedade: robusta e arbica (milhes sacas) _____21

    Grfico 7 Pases mais populosos do mundo e consumo per capita______________________ 23

    Grfico 8 Principais pases consumidores de caf no mundo (milhes de sacas de 60 kg) ___24Grfico 9 - Pases importadores: participao do caf brasileiro no blend e consumo per capita

    ___________________________________________________________________________ 26

    Grfico 10 - Consumo de caf nos EUA por tipo (xcaras por dia) _______________________28

    Grfico 11 - Consumo de caf no Brasil: per capita (kg por habitante) e total (milhes scs)___31

    Grfico 12 - Exportao de caf do Brasil: volume (milhes scs) e valor (milhes US$)______ 41

    Grfico 13 Cotao do caf colombiano e brasileiro (1969 a 2001) cents por libra peso __51

    Grfico 14 Participao dos delears internacionais 1998 ____________________________ 58Grfico 15 - Preo do caf robusta: Bolsa de Londres ( 1 posio com desgio de 20%) e

    Produtor So Gabriel da Palha (R$ por saca)_______________________________________ 64

    Grfico 16 Exportao de caf solvel (milhes de sacas)____________________________ 67

    Grfico 17 Evoluo do ndice de preos do caf: varejo e matria-prima (dez/91 = 100)___71

    Grfico 18 Exportaes brasileiras de caf torrado e modo __________________________ 76

    Grfico 19 Indstria de caf (torrado e modo e solvel): firma lder e participao das trs

    primeiras ____________________________________________________________________ 79

    Grfico 20 ndice de Preos do Caf: em gro (mdia OIC) e varejo (mercado americano)_ 81

    Grfico 21 Quem ganha com estratgias de mercado diferentes _______________________95

    Grfico 22 Evoluo dos contratos de CPR______________________________________ 128

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    NDICE DE TABELAS

    Tabela 1 Parque cafeeiro nos principais pases produtores (em milhes de ps) ..................... 19

    Tabela 2 Exportaes mundiais de caf arbica (em milhes de sacas) ................................... 22

    Tabela 3 Exportaes mundiais de caf robusta (em milhes de sacas).................................... 22

    Tabela 4 - Consumo anual per capita de bebidas no mercado norte-americano (gales = 3,8

    litros).............................................................................................................................................. 25

    Tabela 5 - Pases do Leste Europeu: Importao Total de Caf (equivalente em caf verde mil

    sacas de 60 kg)) ............................................................................................................................. 28

    Tabela 6- Exportao Mundial Mdia entre os perodos 1992-1996 e 1997-2001 (milhes scs) 40Tabela 7 -Produtividade da cafeicultura no Mundo (sacas por hectare) e participao dos pases

    produtores (%) na safra 2001........................................................................................................ 43

    Tabela 8 Produtividade de caf nas regies produtoras brasileiras (sacas por hectare) safra

    2002/03 .......................................................................................................................................... 44

    Tabela 9 -Custo de Produo e Produtividade dos principais pases produtores de caf robusta

    (mdia 1999/00 e 2000/01 ) ........................................................................................................... 45

    Tabela 10- Custo de Produo e Produtividade dos principais pases produtores de caf arbica(mdia safra 1999/00 e 2000/01)................................................................................................... 46

    Tabela 11 Estratificao das propriedades cafeeiras I rea (mil hectares) e Produo (mil

    sacas) ............................................................................................................................................. 48

    Tabela 12 Estratificao das propriedades cafeeiras II rea (mil hectares) e Produo (mil

    sacas) ............................................................................................................................................. 49

    Tabela 13 Caracterizao da cafeicultura em Minas Gerais..................................................... 49

    Tabela 14 Caracterizao da cafeicultura no Esprito Santo.................................................... 50

    Tabela 15 - Principais regies produtoras de caf arbica segundo classificao de bebida

    predominante................................................................................................................................. 53

    Tabela 16 Exportaes brasileiras de caf, por porto de embarque.......................................... 55

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    Tabela 17 - 15 maiores exportadoras brasileiras de caf verde (arbica e conillon) em mil sacas

    de 60kg........................................................................................................................................... 57

    Tabela 18 - ndice de concentrao das empresas exportadoras (1987 e 1997)........................ 58Tabela 19 - Participao das principais empresas de solvel nas exportaes (equivalente em

    sacas de 60 kg)............................................................................................................................... 63

    Tabela 20 Principais mercados do caf solvel brasileiro (equivalente em mil sacas de 60 kg)

    ....................................................................................................................................................... 67

    Tabela 21 Importaes brasileiras de caf torrado ................................................................... 72

    Tabela 22 Grau de Concentrao e HH para as torrefadoras brasileiras ................................ 75

    Tabela 23 Participao das firmas lderes na indstria de caf torrado e modo nos pases

    desenvolvidos................................................................................................................................. 78

    Tabela 24 Participao das firmas lderes no mercado de caf na Alemanha - 1998.............. 80

    Tabela 25 Participao das marcas lderes no mercado de caf na Frana............................ 80

    Tabela 26 Exportaes de caf torrado Volume (equivalente em sacas) e Valor (US$ mil)83

    Tabela 27 Exportaes brasileiras e reexportaes dos pases consumidores Caf Verde e

    Total Geral (incluindo verde, solvel e torrado) ........................................................................... 92

    Tabela 28 Tarifas de importao incidentes sobre as exportaes brasileiras de caf Caf em

    Gro............................................................................................................................................... 96Tabela 29 Tarifas de importao incidentes sobre as exportaes brasileiras de caf Caf

    Torrado .......................................................................................................................................... 97

    Tabela 30 Tarifas de importao incidentes sobre as exportaes brasileiras de caf Caf

    Solvel............................................................................................................................................ 98

    Tabela 31 - Matriz de Recomendaes - CADEIA CAF......................................................... 112

    Tabela 32 - Matriz de Recomendaes GRO VERDE........................................................... 112

    Tabela 33 - Matriz de Recomendaes TORRADO................................................................. 114

    Tabela 34 - Matriz de Recomendaes SOLVEL.................................................................. 115

    Tabela 35 - Impactos sobre os segmentos do Agronegcio Caf............................................... 120

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    INTRODUO

    Em 2001 o valor adicionado do agronegcio caf foi de US$ 3,2 bilhes1. Este agronegcio

    representa um pouco mais de 2,4% do comrcio externo brasileiro. Nos ltimos anos, em funoda queda das cotaes internacionais do produto, o caf deixou de ser o principal item da pauta

    de exportao agrcola brasileira. Em 2001 as exportaes de caf ficaram atrs do complexo

    soja, acar e carne de frango, conforme ANEXO 1.

    O caf emprega cerca de 3,5 milhes de pessoas, de acordo com estimativas realizadas a partir de

    dados do IBGE, sendo um dos setores com maior capacidade de gerao de empregos do Pas.

    Simulaes realizadas por NAJBERG & IKEDA (2001) indicam que, dado um aumento de

    produo de R$ 10 milhes na Indstria do Caf, o agronegcio demandaria um total de 960

    empregos, sendo 51 diretos, 529 indiretos e 380 referentes ao efeito-renda 2.

    A grande capacidade de gerar empregos possibilita que o setor contribua significativamente para

    a melhora das condies de vida da populao brasileira. Uma amostra com os principais

    municpios brasileiros produtores de caf revela que todos esto nos grupos de mdio e alto

    ndice de Desenvolvimento Humano (IDH).3 Dois teros dos municpios que tm como principal

    1 A estimativa do valor agregado da agroindstria cafeeira em 2001 foi obtida da seguinte forma: (a) valor da produo industrial(consumo de 13,5 milhes de sacas de 60 kg - 20% de perda na industrializao = 648 milhes kg X US$ 2,48/kg = 1,6 bilho) +solvel mercado interno (631 mil sacas x taxa de extrao de 0,40 = 15,1 milhes kg X US$ 16,14/kg = 244,4 milhes) = US$1,844; (b) exportao = US$ 1,33 bilho (verde e solvel). Valor adicionado a + b = US$ 3,17 bilhes. Foram considerados ospreos mdios dos produtos. Desprezam-se as variaes de estoques.

    2 O trabalho, que tem como base o Modelo de Gerao de Emprego do BNDES, calculou o nmero de empregos gerados a partirde um aumento hipottico de produo de R$ 10 milhes em cada um dos 41 setores da economia, a preos de junho de 2001 (adiviso dos setores seguiu a desagregao setorial utilizada pelo IBGE). O modelo abrange o emprego direto, o emprego indireto,que considera a introduo da cadeia produtiva, e ainda o que foi chamado de "emprego efeito-renda", que corresponde rendados trabalhadores que se transforma em consumo, ou seja, que estimula a produo em outros setores e realimenta o processo de

    gerao de emprego.3 O IDH uma medida do bem-estar da populao em um pas, uma regio ou um municpio que procura captar o quanto cadasociedade permite a seus membros o exerccio das escolhas bsicas. Para tanto, so consideradas trs dimenses: a longevidade, aeducao e a renda. A expectativa de vida ao nascer fornece o indicador para a primeira dimenso. A varivel educaocompreende a taxa de alfabetizao de adultos e a taxa de matrcula nos nveis primrio, secundrio e superior. A renda representada pelo Produto Interno Bruto real per capita, ajustado para refletir as diferenas entre pases na paridade do poder decompra.

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    atividade a produo de caf esto entre os 30% maiores. A contribuio da cafeicultura para o

    desenvolvimento humano da regio deve-se complexidade da cadeia produtiva, que requer, em

    diferentes propores, mo-de-obra no-qualificada e qualificada. Com isso, o agronegcio docaf acaba sendo um bom distribuidor de renda, o que uma das pr-condies para o

    desenvolvimento econmico e humano. Alm disso, a agricultura familiar responsvel por

    cerca de 25% da produo brasileira de caf, de acordo com pesquisas do Incra e da FAO.

    Estes indicadores mostram a importncia que o agronegcio tem para a sociedade e economia do

    Brasil. Por isso, a relevncia deste trabalho que busca analisar a competitividade da cadeia

    produtiva do caf, tendo em vista a constituio da rea de Livre Comrcio da Amricas

    (ALCA) e a criao de um acordo de livre comrcio entre o Mercosul e a Unio Europia (UE).

    O caf verde no sofre barreiras tarifrias, o mesmo no ocorre, entretanto, com o caf

    industrializado. Na consolidao da abertura comercial, h que se pensar prospectivamente, isto

    , sobre as possibilidades potenciais do agronegcio brasileiro de incrementar o valor agregado

    de suas exportaes. Isto poderia ocorrer pelo aumento das exportaes de solvel, caf torrado e

    modo e de outros derivados, mas tambm por meio da melhoria da qualidade do gro verde

    exportado. Deve-se tambm considerar as ameaas de entrada de cafs de outras origens no Pas,embora o Brasil seja muito competitivo na produo.

    O estudo est divido em cinco partes. Aps a Introduo, a Parte A analisa o ambiente

    institucional e organizacional do mercado de caf e as mudanas nas tendncias mundiais do

    agronegcio abordando os fatores relevantes que determinam o desempenho brasileiro no

    mercado. A Parte B aborda as mudanas nas tendncias do agronegcio caf no Brasil. A Parte C

    realiza uma sntese comparativa da competitividade brasileira e mundial. A Parte D analisa os

    desafios competitivos em um ambiente de liberalizao comercial. Por fim, a Parte E trata das

    concluses e propostas relacionadas integrao comercial e seus impactos esperados no

    agronegcio caf.

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    PARTE A

    1 AMBIENTE INSTITUCIONAL E ORGANIZACIONAL: DAREGULAMENTAO DESREGULAMENTAO DO MERCADO DE CAF.

    O ambiente institucional do agronegcio caf, definido como as regras do jogo que vigoram

    para os agentes deste setor, cumpre um papel importante, que tem influenciado a atuao e

    desempenho dos diversos pases produtores. No para menos, j que o mercado de caf tem

    uma longa histria de regulamentao, que se iniciou no comeo do sculo XIX.

    Nesta poca, o Brasil, que detinha trs quartos da produo mundial e dependia basicamente do

    produto em termos receitas cambiais (Grfico 1), iniciou uma poltica unilateral de sustentao

    de preos (ver Box 1, sobre a regulamentao do mercado brasileiro de caf). At os primeiros

    anos da dcada de 60, o Brasil fez vrias incurses para implementar acordos que obrigassem as

    demais naes produtoras a compartilhar o custo da poltica de valorizao. Com o fracasso

    dessas tentativas, o Pas teve que arcar sozinho com o nus da estabilizao do mercado.

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    Box 1 - Sntese da regulamentao no mercado brasileiro

    No plano interno a regulamentao, que se iniciou na rbita da comercializao (em 1906) com o objetivo de valorizar as receitasde exportao, acabou coordenando todo o sistema cafeeiro (produo rural, indstria de transformao e distribuio/consumo).Desde o incio dessa poltica vrios organismos foram criados, mas foi a cargo do Instituto Brasileiro do Caf (IBC) que acoordenao dos segmentos no s determinou a dinmica particular de cada um destes segmentos como tambm condicionou odesempenho e a dinmica do caf brasileiro no mercado externo.

    No segmento rural, um dos fatores que provavelmente impediu novas estratgias de comercializao foi o desestmulo qualidadeprovocado pela poltica de preos adotada pelo IBC. O preo de garantia refletia mais a preocupao dos reguladores com aexpanso e controle da produo de caf do que com a sua melhora. Houve momentos em que no havia diferena entre os preosde garantia para diferentes qualidades. Este fato levou deteriorao da qualidade global do caf brasileiro e acabou tendoimplicaes negativas sobre a imagem do caf exportado.

    A passagem do carter pontual da interveno, que se iniciou na rea da comercializao, para a coordenao do setor peloEstado, no pode ser evitada. Os resultados das polticas pblicas voltadas para valorizao do caf acabavam por estabelecercomplexas redes de aes e de reaes nos demais segmentos a elas relacionadas. Particularmente, tinha-se uma reao adversacom a adoo de polticas de restrio comercializao (visando a sustentao dos preos), que ocasionava estmulo ao aumentoda produo (no segmento rural), acabando por comprometer a eficcia dos resultados almejados.

    Este o motivo que explica que a partir da dcada de 60, quando o IBC se v diante de uma supersafra e estoques duas vezesmaiores que a demanda mundial, que se decide implementar a "Campanha para aumento do Consumo Interno de Caf" e criar aindstria de solvel. Tais medidas tinham como objetivo minimizar os custos de carregamento de estoques e procuravam manter apoltica de valorizao do produto no mercado internacional.

    No que diz respeito Campanha para aumento do consumo, as torrefadoras recebiam do IBC o caf verde a preo subsidiado e orepasse do subsdio aos consumidores era controlado por meio do tabelamento de preos do torrado e modo. Esta medidarepercutiu no acrscimo expressivo do consumo de caf no mercado brasileiro. De 1960 a 1969 o consumo interno aumentou 153% e o Brasil tornou-se o segundo maior consumidor de caf do mundo.

    A indstria, por sua vez, apresentou um aumento significativo da capacidade produtiva, pois a quota de caf do IBC, destinada acada empresa, era limitada pela sua capacidade de processamento. O estmulo ao aumento da capacidade produtiva, dado no incioda dcada de 60, ainda repercute sobre o setor e se mantm a nveis prximos a 60% de acordo com a Abic. Uma outra ao doEstado sobre o setor foi o controle de preos do caf no varejo com objetivo de manter sob controle o ndice de inflao. Otabelamento de preos no distinguia qualidades de cafs fixando um preo nico que os varejistas deveriam obedecer. Estaprtica foi a principal responsvel da imagem (para os consumidores, varejistas e autoridades governamentais) de que o caf umproduto homogneo.

    Outras duas medidas adotada pelo IBC, decorrentes das adotadas anteriormente, acabaram condicionando o desempenho dastorrefadoras. A primeira foi o controle da abertura de novas empresas, s revogado no incio da dcada de 1990. A segunda foi aproibio da entrada de empresas estrangeiras no mercado nacional. A autorizao do IBC para uma empresa multinacional atuarno mercado nacional ocorreu somente em 1978.

    Quanto indstria de solvel, em 1960, o IBC baixou a Resoluo 161, na qual criava as primeiras normas de incentivo suaimplantao. A autoridade governamental se comprometia a transferir dos seus estoques uma quota anual, de acordo com acapacidade de instalada de cada empresa, durante os seus quatro primeiros anos de funcionamento. Nos dois primeiros anos estasempresas poderiam pagar o caf verde com o produto manufaturado. Com o objetivo de adquirir caf subsidiado dos estoque doIBC as empresas ampliaram suas capacidades de produo muito acima do que o mercado poderia absorver. Assim, desde a suaimplantao, a indstria convive com o seu superdimensionamento, da mesma forma que ocorre com a indstria de torrefao,conforme ser discutido na seo 4.4.

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    Grfico 1 - Participao do Caf nas exportaes brasileira (%)

    Fonte: Bacha (1992) e Coffee Business.

    Vale assim salientar que o caf brasileiro tinha uma importncia macroeconmica, em termos

    de receita e a poltica visava patrocinar a industrializao. Ou seja, tinha um objetivo claro:

    maximizar receitas, embora com a sabida perda de participao no mercado.4

    Em 1962, foi institudo o primeiro Acordo Internacional do Caf (AIC), no mbito da

    Organizao Internacional do Caf (OIC), contando com 42 pases exportadores e 25 pases

    consumidores. A partir de ento, o mercado mundial passou a ser sistematicamente, com breves

    perodos de interrupes, objeto de uma poltica de sustentao de preos, que se manteve at

    julho de 1989.

    4 Delfim Netto, em entrevista para a Revista do Caf em 2001, avalia da seguinte maneira a poltica cafeeira dapoca: O que eu acho sobre o caf, isto: que ns cumprimos o ciclo. Ele foi um instrumento importantssimo parafinanciar o crescimento desse pas. Ele foi o catalisador dos investimentos, toda a estrada de ferro, os portos, toda aenergia, tudo acabou sendo ligado ao caf. O caf produziu, na verdade, as divisas que eram necessrias para ocomeo dessa industrializao. O caf fez o Brasil e o Brasil fez o caf. Mas hoje no o caf um produtocomum.

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    Como lder do mercado produtor de caf, o Brasil teve um papel central no sucesso da poltica de

    sustentao dos preos no mercado internacional. Em muitos momentos, os acordos foram

    efetivados porque o Pas se sujeitou a reduzir sua participao, firmando-se como ofertanteresidual, isto , retendo os estoques (Grfico 2), enquanto os concorrentes expandiam suas

    produes. Desta forma, a exportao brasileira ficava definida pela diferena entre a demanda

    mundial, no nvel de preos estabelecidos pela poltica acordada pelos membros do AIC, e a

    produo de todos os outros pases exportadores.

    Grfico 2 - Estoques de Caf: Brasil e Mundo (milhes de sacas de 60 kg)

    Fonte: Bacha (1992).

    Como resultado o Brasil foi, paulatinamente, reduzindo sua participao no mercado

    internacional. No incio do sculo o Pas era responsvel por cerca de 80% das exportaes

    mundiais de caf. Na dcada de 50 essa participao j havia se reduzido para cerca de 40% e, na

    dcada de 80, para 25%, conforme Grfico 3.

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    milhesdesacasde60kg

    Mundo Brasil

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    Grfico 3 - Participao do Brasil nas exportaes mundiais de caf (milhes scs de 60 kg)

    Fonte: Bacha (1992), USDA.

    No final da dcada de 80, observa-se uma postura diferente do Brasil nas negociaes das

    clusulas econmicas do AIC: no aceitar mais redues na sua participao no mercado

    internacional. A deciso brasileira implicou o rompimento do AIC, em 1989, com relao s

    clusulas econmicas, que determinam o sistema de quotas.

    O excesso de oferta mundial, do incio dos anos 90, resultou em queda vertiginosa dos preos e

    crise, no s para o setor, como para vrios pases, cuja economia depende significativamente da

    renda do produto. o caso de Burundi e Ruanda, em que o caf representa mais de 80% das

    receitas totais de exportaes. Outros pases, como Guatemala, Costa Rica e Qunia tambm

    quase no tm alternativas de receita cambial: ou plantam caf ou caf. Tal situao de crise

    induziu a institucionalizao de um novo organismo de regulamentao, a APPC (Associao dos

    Pases Produtores de Caf).

    E X P O R T A O D E C A F E M G R O : B R A S I L E D E M A I S P A S E SP R O D U T O R E S

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    B r a s i l M u n d o

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    A APPC5, criada em 1993 com o objetivo principal de reordenar a oferta 6, reinstalou o sistema de

    cotas. Entretanto, dada a nova configurao do mercado, o sistema fracassou. A oferta mundial

    de caf no depende mais significativamente do Brasil, conforme visto no Grfico 3. Houve oingresso de novos produtores o que diminuiu bastante o poder de monoplio brasileiro. Alm

    disso, importantes produtores no participam da organizao (Vietn e Mxico) e ao contrrio da

    OIC a APPC no congrega os pases consumidores, que tinham um papel importante na

    fiscalizao do sistema de cotas.

    Na verdade, a nova poltica de reordenamento do mercado s foi efetivamente testada em 2000,

    pois logo aps a sua criao, devido a problemas climticos no Brasil - geadas, em 1994 e seca

    em diversas regies, em 1997 - o mercado enfrentou uma forte restrio de oferta, tornando aatuao da poltica de regulamentao incua.

    J a partir de 1998, quando a oferta comeou a crescer, a dificuldade da administrao desse

    sistema foi logo percebida, vrios pases no cumpriram a cota acordada. Entretanto, foi em

    2000, que a poltica se revelou um fracasso. Apesar de o Brasil ter implementado um rgido

    controle de embarques, que significou perda de participao do mercado, os preos continuaram

    em forte queda com o ingresso no mercado de cafs de outras origens. A reao adversa gerou

    um descontentamento generalizado entre produtores, exportadores e industriais do setor no Brasilque obrigou o governo abandonar o acordo em 2001. Ao contrrio do que ocorria no passado, em

    que a posio monopolista do Brasil criava dificuldades de substituio do produto quando havia

    restrio da oferta, a partir do final dos anos 80, o caf brasileiro passou a ser rapidamente

    substitudo por outras origens.

    5 A APPC conta com a participao de 28 pases produtores.6 Os pases-membro da APPC acordaram em reter parte de suas exportaes, conforme os seguintes nveis de preosdo Indicador Composto da OIC: (i) em 20% das exportaes, quando abaixo de US$ 75 cents por libra-peso, (ii) em10% se entre US$ 75 e 80 cents/lb, e (iii) livre quando ultrapassarem 80 cents. O Programa aprovado em 2000tambm era dividido em trs etapas, mas com patamares diferentes. Primeira fase com reteno de 20% dasexportaes enquanto o preo indicativo composto calculado pela OIC no atingisse US$ 95 cents por libra-peso. Nasegunda fase, com o preo entre US$ 95 e 105 cents, a reteno seria suspensa, mas os estoques s comeariam a serdesovados numa terceira etapa, quando o preo superarasse 105 cents.

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    Para o Brasil, alm da queda de participao de mercado, o principal legado de 50 anos de

    poltica de restrio da oferta foi a imagem sedimentada no mercado internacional de que o caf

    brasileiro tem uma qualidade mdia que serve apenas para formar blends. Nesse sentido, acompetitividade brasileira depende de quanto maior o diferencial de preos entre o caf

    brasileiro e os cafs suaves, considerados de maior qualidade. O agravante desse quadro, o

    crescimento da participao do caf robusta no mercado internacional, particularmente do Vietn,

    que aliado s novas tecnologias na formao de blends tornou esse caf um substituto prximo do

    caf brasileiro7. Ou seja, o caf brasileiro por ter pouca especificidade passou a ser extremamente

    elstico, sendo substituindo rapidamente por outras origens.

    A questo atual que competitividade do setor e o ambiente institucional, que define asregras para o setor, devem estar alinhadas. No h mais sentido em pensar o caf em termos

    de estratgias de poltica macroeconmicas, entretanto, isso no significa minimizar o papel

    do ambiente institucional. Este deve propiciar aes que permitam que tais estratgias sejam

    realizadas. Sendo assim, no h como deixar de discutir o papel das organizaes internacionais

    e nacionais que representam o negcio caf.

    1.1 O NEGCIO CAF E AS ORGANIZAES

    Tanto a OIC como a APPC nasceram tendo como objetivo claro de servir de base poltica de

    regulamentao da oferta e operacionaliz-la. A estrutura administrativa da OIC grande e

    onerosa. O papel que a organizao tem desempenhado nos ltimos anos, de centralizar, coletar

    e divulgar informaes sobre o setor tem sido bastante criticada. Alm dos nmeros apresentados

    no serem precisos, a estrutura do servio cara em comparao com a realizada pelo setor

    privado. Diversos pases j propuseram a sua extino ou uma radical reformulao, alterando o

    foco de atuao e reduzindo custos oramentrios. Outros pases acreditam ainda que dificilmentea APPC ser atuante com a existncia simultnea de outro organismo de representao.

    7 Devido s caractersticas de qualidade e custo o caf robusta tem um desgio em relao ao arbica.

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    Toda essa crtica embute uma nova realidade mundial (menor intervencionismo, maior

    concorrncia e concentrao do poder econmico) em que as associaes de interesse privado

    esto inseridas. No se tem muita dvida de que o principal objetivo de uma associao deinteresse privado o de criar e defender as margens de seus associados. O problema como

    fazer isso dentro dessa nova realidade.

    As associaes estavam acostumadas a agir apenas como interlocutora com o Estado ou pases.

    A negociao no processo de controle de preos no Brasil um caso caracterstico de uma ao

    desse tipo. Esto a tambm contidas as demandas (oulobbies) por polticas que visam assegurar

    posies estveis e lucros de monoplio (manter cartis) por meio de regulamentaes.

    Subsdios diretos produo; controle sobre a entrada de novas firmas rivais (cotas deexportao); polticas que afetem as indstrias substitutas ou complementares e a fixao de

    preos de garantia, para obter taxas de retorno superiores s de concorrncia, so alguns dos

    exemplos das demandas dos grupos de interesse na busca de lucro extra-econmico. As clusulas

    econmicas dos AICs se enquadram dentro deste amplo espectro de aes tradicionais na busca

    de lucro via formao de cartel e restrio da oferta.

    De outro lado, as associaes podem adotar aes pr-competitivas, visando formulao de

    polticas setoriais. A proviso de informaes relevantes para o setor, apoiando o papel decoordenao vertical do sistema produtivo, com certeza ter impactos na competitividade do

    sistema. Compras conjuntas,marketing institucional e aes estratgicas que procuram

    posicionar melhor o sistema em relao ao mercado tambm esto no rol da atuao de uma

    organizao de interesse privado mais afeita s demandas atuais.

    Analisar os custos e os benefcios da manuteno de duas organizaes internacionais de caf no

    tarefa simples. Com o fim da regulamentao, a OIC perdeu a sua bandeira e a prpria razo de

    ser. Entretanto, tem buscado, talvez ainda com uma estrutura inadequada para os tempos atuais,

    de margens apertadas e forte concorrncia, reformular sua tarefa de defender os seus membros.

    Mas , sem dvida, um frum adequado para discusses conjuntas entre produtores e

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    consumidores, das questes que dizem respeito ao agronegcio do caf (restries tarifrias,

    poltica de expanso do consumo etc.). Neste sentido, a OIC tem implementado diversas aes

    para o desenvolvimento do caf, com preocupaes ligadas ao combate a doenas e pestes, melhoria da qualidade e comercializao no mercado internacional. Desde 1995, foram

    lanados 15 projetos8, financiados com recursos externos, principalmente do Commom Fund for

    Commodities (CFC) das Naes Unidas, totalizando cerca de US$ 60 milhes (OIC: 2002).

    O oramento total da OIC para cobrir custos operacionais e programas estimado em 2.523.000

    para a temporada 2001/02. Os custos so rateados entre os pases membros, proporcionalmente

    ao nmero de votos de cada um, que baseado no volume de exportaes/importaes de caf ao

    longo de quatro anos9. O Brasil, como maior exportador, responsvel pela maior contribuio, o

    que representa um custo prximo a US$ 1 milho por ano.

    A APPC, por sua vez, tenta reeditar aes tradicionais, dentro de um paradigma ultrapassado. A

    poltica de restrio da oferta prejudicial aos prprios membros no longo prazo ao possibilitar

    que os no membros aumentem sua participao no mercado. Como visto, a manuteno da

    poltica de reordenamento contra os objetivos do Brasil de ampliar sua fatia no comrcio

    internacional. Com o fracasso da poltica de ordenamento implementada em 2001, o Conselho daAPPC decidiu, em setembro do mesmo ano, encerrar as atividades administrativas e operacionais

    da entidade, eliminando a secretaria-executiva e os custos administrativos. A entidade funciona

    agora com um novo formato, sem estrutura fsica, mantendo apenas as estruturas jurdica e legal

    do convnio. Pases como Mxico e Honduras j declararam a possibilidade de integrar a

    entidade neste novo formato, de custos reduzidos.

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    Ver ANEXO 5.9 O sistema de votos conta com 2000 votos, sendo 1000 para os membros exportadores e 1000 para os importadores.

    Cada membro possui 5 votos, sendo que os votos restantes que so distribudos de acordo com as

    importaes/exportaes. Para 2001/02, o Brasil possui os 5 votos, mais 193 votos baseados na mdia de exportaes

    entre 1997 e 2000, de 19,04 milhes de sacas.

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    O fracasso das polticas de regulamentao e a crise da cafeicultura, com o empobrecimento de

    uma parcela significativa dos 25 milhes de produtores espalhados nos pases de terceiro mundo,

    tem levado ao movimento de ONGs, no sentido de propor aes para reverter este quadro.Grande parte dos produtores possuem reas com menos de 5 hectares e dependem diretamente do

    caf para o sustento de sua famlia.

    A Oxfam Internacional10 tem liderado tais aes, com o lanamento da campanha O que tem no

    seu caf. Entre as propostas, est a destruio de pelo menos 5 milhes de sacas de caf de baixa

    qualidade, a ser financiada por governos de pases ricos e por empresas torrefadoras

    (OBSERVATRIO SOCIAL, 2002).

    Sem entrar no mrito da dificuldade de coordenao de uma ao como esta, a experincia da

    regulamentao do mercado de caf j deixou claro que tais polticas provocam efeitos nefastos

    no mdio e longo prazos. Se para o Brasil o resultado foi a perda de participao de mercado,

    para o mundo a poltica refletiu em queda do consumo nos pases desenvolvidos. O excesso de

    oferta no ser solucionado por medidas artificiais. A regulamentao sempre cria brechas para

    aes oportunistas. Se a demanda quer caf de baixa qualidade, o mercado vai encontrar uma

    forma de supr-la.

    Isso no significa que nada pode ser feito. Ha aes que podem e devem ser adotadas olhando

    para a demanda em vez de controlar a oferta. Uma delas seria encontrar um destino mais nobre ao

    caf de baixa qualidade. O ITAL (Instituto Tecnolgico e Campinas), por exemplo, vem

    estudando a utilizao deste caf para a fabricao de um leo para a indstria de cosmticos.

    Pesquisas neste sentido deveriam ser incentivadas com verbas desses organismos internacionais,

    ao invs de dispender esforos para elevar os preos artificialmente e afastar a demanda.

    10 No Brasil, a Oxfam se associou Central nica dos Trabalhadores (CUT) e Confederao Nacional dos

    Trabalhadores na Agricultura (Contag)

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    1.2 O PAPEL DAS ORGANIZAES NOSPASES PRODUTORES

    Em funo da importncia econmica e social do caf, a maioria dos pases produtores criou

    organizaes especialmente voltadas para tecer estratgias para o setor e gerenciar a poltica

    internacional de regulamentao do mercado. Com a desregulamentao as funes tradicionais

    de gerenciamento da regulamentao deixaram de ter sentido. Entretanto, h uma srie de aes

    que dependem da existncia de mecanismo de coordenao dos agentes, seja por que no h

    incentivos agentes individuais as adotem, por exemplo investimento em pesquisa, estatsticas,

    aes cujos retornos so apropriados coletivamente, seja por que dependem da adeso de vrios

    agentes para que tenham efeito.

    A adaptao essa nova realidade no tem sido fcil. Na Colmbia, a Federao Nacional dos

    Cafeteros (Fedecaf), est em crise e ainda no encontrou uma sada. No Brasil, a criao do

    CDPC , embora com uma postura bem mais afeita polticas pr-competitivas do que o antigo

    IBC, tambm vem encontrando problemas de lidar com segmentos com objetivos muitas vezes

    antagnicos. Uma sntese das aes das duas entidades ser apresentada a seguir.

    2.2.1 Federao Nacional dos Cafeteros (Fedecaf)

    Criada em 1927, a Fedecaf administra o Fondo Del Caf com o objetivo de realizar vrias

    atividades entre as quais destacam-se programas de financiamento aos produtores, promocionais /

    marketing, de transferncia de tecnologia e de comercializao.

    A poltica da Fedecaf um exemplo de sucesso em termos de estratgia de diferenciao do

    caf. Desde os anos 1960 vem sendo empreendido esforo de propaganda e marketing tornando a

    marca Caf da Colmbia valorizada pelo mercado11.

    11 A Colmbia investiu cerca de US$ 100 milhes em marketing para promover o seu caf entre 1960 e 1995(TROCCOLI, 1997).

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    O diferencial de preo entre os cafs arbicas explicado por fatores reais, que consistem em

    fatores intrnsecos ao produto tal como qualidade e custo, mas tambm por fatores

    informacionais. Como o consumidor prefere o produto que lhe traz maiores informaes, o cafcolombiano passou a ser o mais demandado. O consumo freqente estabelece uma reputao

    sobre as caractersticas do produto, o que o torna cada vez mais diferenciado dos demais. A

    estratgia adotada pela Colmbia, que criou a idia de que os cafs suaves so melhores, refletiu

    nas embalagens dos cafs vendidos nos pases consumidores, na qual mesmo contendo no blend

    cafs do Brasil, a nica informao passada contm Caf da Colmbia.

    A administrao da comercializao do caf pela Federao permitiu Colmbia viabilizar sua

    estratgia de mercado de cafs de qualidade. O alto investimento em publicidade seguido poruma ao consistente de venda. Apesar da complexidade em gerir uma quantidade significativa

    de pequenos produtores, a Federao adota a poltica de rastrear a produo, o que possibilita

    detectar rapidamente problemas de qualidade.

    A Federao negocia cerca de um tero das exportaes totais de caf, tornando-a a maior

    exportadora mundial de caf. As exportaes so as maiores fontes de receita da organizao.

    Em poca de alta de preos repassado para o produtor apenas parte do valor das receitas, em

    pocas de crise o produtor subsidiado.

    O sucesso dessa estratgia parece entretanto estar se esgotando. De um lado, a produo tem

    sofrido doenas, a ferrugem tem atacado as lavouras desde 1983 e a broca desde 1989. De outro,

    os custos da Fedecaf tm sido superiores aos ganhos. Com isso, a Fedecaf est revendo a forma

    de comercializao completamente hierarquizada e cortando gastos com publicidade.

    2.2.1 Conselho Deliberativo de Poltica Cafeeira

    No Brasil, depois de cinco anos da extino do IBC, em outubro de 1996 foi institudo o CDPC

    (Conselho Deliberativo da Poltica Cafeeira) com o objetivo de agregar todas as entidades

    representativas do agronegcio caf.

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    Os segmentos do agronegcio caf so representados pelas seguintes organizaes: Confederao

    Nacional da Agricultura (CNA) e Conselho Nacional do Caf (CNC), que representam a

    produo; Associao Brasileira da Indstria do Caf (ABIC), que representa a indstria detorrefao e moagem, Associao Brasileira da Indstria de Caf Solvel (ABICS), que

    representa a indstria de solvel e o Conselho dos Exportadores de Caf Verde do Brasil

    (CECAF), que representa os exportadores, conforme Figura 1.

    Figura 1 - Organizaes representativas do agronegcio caf

    TORREFADOR

    ABIC

    SOLVEL

    ABICS

    EXPORTADOR

    FEBEC/ABECAF

    PRODUTOR CAF-VERDECNC / CNA

    O Conselho integrado por 14 membros: 7 representantes do governo, sendo 3 membros natos e

    4 titulares, 7 do setor privado, sendo 4 da lavoura (2 CNA e 2 CNC), e 1 da indstria de

    torrefao (ABIC), 1 da indstria do solvel (ABICS) e 1 da exportao (CECAF).

    As medidas adotadas at o momento se valeram dos recursos do Funcaf (Fundo de Defesa da

    Cafeicultura), constitudo de recursos provenientes da cota de contribuio aplicada sobre o caf.

    De acordo com dados do governo para 2002, o fundo soma cerca de R$ 2,2 bilhes, sendo cerca

    de R$ 500 milhes em caf (5 milhes de sacas), mais R$ 350 milhes disponveis nos bancos e

    cerca de R$ 1,3 bilho emprestados para os produtores. Deste recursos destinados a

    financiamentos, cerca de R$ 1,1 bilho tem prazo de retorno de 12 anos, com 3 anos de carncia e

    o restante tem prazo de 25 anos (PESA).

    Entre as principais aes estratgicas adotadas, destacam-se o Consrcio Nacional de Pesquisa

    liderado pela Embrapa e a criao do programa de marketing Cafs do Brasil.

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    Os desafios de uma entidade que agrega representantes de todo um agronegcio no so poucos.

    Como se sabe, nem todos os agentes do agronegcio esto de acordo com as estratgias adotadas

    pelo CDPC, notadamente s referentes a regulamentao do mercado.

    Esses impasses acabam por impedir que o CDPC se constitua em um frum de discusses sobre o

    setor. Na maioria das vezes, as decises acabam sendo tomadas extra conselho e apenas ali

    referendadas. Alm disso, embora haja um consenso entre os agentes do agronegcio da

    necessidade de aes de mdio e longo prazo, que sustentem ganhos de produtividade e eficincia

    em todos os segmentos, um conflito latente com relao ao financiamento dessas atividades. A

    capacidade do Funcaf em financiar atividades a fundo perdido est se esgotando. Entretanto, a

    necessidade de se criar um instrumento de captao permanente de recursos no tem sido bemvista. Um dos pleitos que fundamentaram a extino do IBC foi o fim da cobrana de

    contribuies compulsrias que oneravam os produtores.

    2 MUDANAS NAS TENDNCIAS MUNDIAIS DO AGRONEGCIO NOS ANOS 90

    Nesta seo sero apresentadas as principais tendncias do agronegcio caf no mundo, comnfase na anlise da oferta e demanda mundiais, visando a constituio de um cenrio deste

    mercado.

    2.3 A OFERTA MUNDIAL

    Desde meados da dcada de 90, a produo mundial de caf tem apresentado um aumento

    significativo, no acompanhado pelo consumo. A oferta excessiva, sobrepujando em quase 10% a

    demanda, elevou os estoques mundiais acarretando queda das cotaes (Grfico 4).

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    Grfico 4 - Oferta mundial de caf e cotaes mdias OIC

    Fonte: OIC.

    Em 2001 a produo mundial de caf alcanou o recorde de 120 milhes enquanto o consumo foi

    de 107 milhes de sacas. Desde a metade da dcada de 1990 que a produo mundial tem

    apresentado incrementos expressivos. A elevao dos preos, em decorrncia de geadas (em

    1994) e seca (em 1997) nas regies produtoras no Brasil, impulsionou este movimento, uma vez

    que os preos altos, aliados s baixas barreiras entrada atraram novos e antigos produtores para

    o setor. Houve expressivo crescimento do parque cafeeiro na maioria dos pases produtores, com

    destaque para o Vietn e Brasil, como pode ser observado na Tabela 1.

    -

    20

    40

    60

    80

    100

    120

    140

    1990

    1991

    1992

    1993

    1994

    1995

    1996

    1997

    1998

    1999

    2000

    2001

    minhesdesaca

    0

    50

    100

    150

    200

    250

    centsdedlarporlibrapes

    Produo Mundial Preos OIC

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    Tabela 1 Parque cafeeiro nos principais pases produtores (em milhes de ps)

    1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

    Brasil 3.120 3.170 3.080 3.380 3.753 Costa do Marfim 1.792 1.792 1.800 1.810 1.826 Colombia 3.740 3.700 3.950 3.710 4.000 Costa Rica 413 413 413 413 El Salvador 611 608 607 606 Equador 295 290 290 285 Filipinas 131 130 132 132 Honduras 805 831 862 872

    Guatemala 770 801 837 855 ndia 500 505 525 535 Indonsia 1.475 1.475 1.480 1.520 1.520 Qunia 270 273 274 276 Mxico 790 790 790 800 Nicargua 360 361 372 369 Peru 365 390 370 390 Venezuela 610 615 620 620 Vietn n/d n/d n/d n/d 425 438 TOTAL Acima 16.047 16.144 16.402 16.573 17.738 18.377

    Fonte: USDA

    O aumento da oferta mundial repercutiu no aumento dos estoques nos pases consumidores. No

    incio da dcada de 1990 os estoques tambm eram altos, mas a sua maior parte se concentrava

    nos pases produtores, especialmente no Brasil. Durante a dcada, os estoques foram sendo

    consumidos em funo da escassez de oferta, chegando aos nveis mais baixos em 1998. A partir

    da, o crescimento da oferta e dos embarques elevaram novamente os estoques, s que desta vez

    nas mos dos consumidores, que passaram a deter quase 50% deles (Grfico 5). Esta situao

    favorece muito o poder de barganha dos compradores, resultando, em 2001, em patamares depreos 60% menores do que os obtidos em 1997.

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    neste momento que a competitividade dos pases est sendo posta prova, pois preos altos

    aceitam ineficincia e ineficientes.

    Grfico 5 - Estoques nos pases produtores e consumidores (milhes scs) e preos OIC(cents US$/lb)

    Fonte: OIC.

    O crescimento da produo tem ocorrido de forma assimtrica entre as variedades arbica e

    robusta.12 Em 2001, o robusta representou quase 40% do total produzido ante uma participao

    12 Existem muitas espcies e variedades de caf. As espcies de importncia econmica so o Coffea arabica e o CoffeaCannephora (conhecida como Robusta). O arbica cultivado principalmente na Amrica do Sul e Central, Qunia e Tanznia,na frica. O robusta cultivado no Vietn, Brasil, Indonsia, Costa do Marfim e em vrios outros pases da frica, sia eOceania. O Brasil um dos poucos pases que produzem as duas espcies: o arbica e o robusta, aqui denominado de conillon. Aprimeira caracterstica dos Estados de Minas Gerais, So Paulo e Paran. A segunda plantada principalmente no Estado doEsprito Santo.

    -

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

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    45

    50

    1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001

    milhesdesacasde60kg

    0

    50

    100

    150

    200

    250

    centsporlibrapeso

    Consu mi dores P ro duto res Preos-OIC

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    de menos de 30% no incio da dcada de 90 (Grfico 6). O crescimento da produo de robusta

    tem resultado no deslocamento da mdia mundial de consumo em favor desta variedade, o que

    pode ser um dos fatores que contriburam para a queda do consumo de caf nos anos recentes,como veremos no prximo item, sobre a demanda mundial.

    Grfico 6 - Produo mundial de caf por variedade: robusta e arbica (milhes sacas)

    Fonte: OIC.

    As tabelas Tabela 2 e Tabela 3 mostram a participao das exportaes dos maiores pases

    produtores de caf no mundo, segundo as variedades arbica e robusta. As exportaes mundiais

    de caf robusta cresceram a uma taxa mdia de 7%, enquanto as de arbica aumentaram 2%,

    entre os anos 1997 e 2001. O Vietn merece destaque, ao apresentar taxa de crescimento de

    22,5% ao ano no mesmo perodo. O crescimento das exportaes brasileiras de caf robusta

    nestes anos tambm foi significativo, de 8,9% ao ano.

    6 8 6 9 6 7 6 4 5769 6 3

    7 4 71 77 6 8 7 3

    2 9 2 7 2 6 2 826

    313 3

    3 2 33

    434 6

    4 6

    0

    25

    50

    75

    100

    125

    90/91 91/92 92/93 93/94 94/95 95/96 96/97 97/98 98/99 99/00 00/01 01/02

    milhesd

    esacas

    Arbica Robusta

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    Tabela 2 Exportaes mundiais de caf arbica (em milhes de sacas)

    1997 % 1998 % 1999 % 2000 % 2001 % TaxaCrescimento

    1 Brasil 15,06 28 16,32 31 19,78 35 16,08 29 21,03 37 6,5%2 Colmbia 10,92 21 11,24 21 10,00 17 9,18 16 9,94 17 -3,9%3 Guatemala 4,21 8 3,51 7 4,68 8 4,84 9 4,10 7 2,7%4 Mxico 4,51 9 3,41 6 4,36 8 5,30 9 3,41 6 -1,2%5 Per 1,72 3 1,91 4 2,44 4 2,39 4 2,40 4 8,9%6 Honduras 1,72 3 2,33 4 1,99 3 2,88 5 2,39 4 8,7%7 Costa Rica 2,11 4 2,03 4 2,01 4 2,03 4 2,05 4 -0,5%8 ndia 1,22 2 1,09 2 1,47 3 1,83 3 1,65 3 11,1%9 El Salvador 2,76 5 1,69 3 1,80 3 2,54 5 1,52 3 -7,9%10 Etipia 1,98 4 1,92 4 1,82 3 2,00 4 1,39 2 -6,6%11 Nicaragua 0,71 1 0,93 2 0,93 2 1,30 2 1,36 2 16,4%12 Papua N.Guin 0,98 2 1,30 2 1,27 2 1,01 2 1,03 2 -1,6%13 Qunia 1,16 2 0,82 2 1,07 2 1,15 2 0,98 2 0,1%

    14 Indonsia 0,54 1 0,60 1 0,63 1 0,62 1 0,62 1 2,9%Subtotal 49,59 94 49,11 93 54,24 95 53,14 94 53,88 95 2,4%Outros 3,36 6 3,52 7 3,04 5 3,19 6 3,12 5 -2,5%Total Geral 52,94 100 52,64 100 57,28 100 56,33 100 56,99 100 2,2%

    Fonte: OIC.

    Tabela 3 Exportaes mundiais de caf robusta (em milhes de sacas)

    1997 % 1998 % 1999 % 2000 % 2001 %Taxa

    Crescimento

    1 Vietn 6,10 24 6,37 25 7,43 27 11,19 35 14,14 43 22,5%2 Indonsia 5,45 21 4,96 19 4,48 16 4,60 1 3,82 12 -7,8%

    3 Costa do Marfim 3,01 12 3,89 15 2,55 9 5,79 18 3,52 11 7,1%4 Uganda 3,15 12 2,95 11 3,51 13 2,22 7 2,74 8 -5,6%5 Brasil 1,67 6 1,82 7 3,38 12 2,00 6 2,49 8 8,9%6 ndia 1,35 5 2,08 8 2,38 9 2,61 8 2,32 7 13,1%7 Tailndia 1,09 4 0,78 3 0,51 2 0,97 3 1,17 4 3,6%8 Camares 1,22 5 0,70 3 1,09 4 1,11 3 1,06 3 1,8%9 Equador 0,61 2 0,69 3 0,52 2 0,31 1 0,30 1 -22,3%10 Madagascar 0,57 2 0,45 0,42 2 0,28 1 0,27 1 -19,6%11 Togo 0,31 1 0,17 1 0,27 1 0,28 1 0,19 1 -4,3%12 Tanznia 0,17 1 0,27 1 0,25 1 0,11 0 0,19 1 -6,5%13 Congo 0,52 2 0,35 1 0,39 1 0,32 1 0,17 1 -22,9%14 Rep. Centro Afr. 0,19 1 0,11 0 0,18 1 0,19 1 0,11 0 -5,5%Subtotal 25,41 99 25,59 99 27,36 99 31,97 99 32,50 99 7,1%

    Outros 0,33 1 0,31 1 0,27 1 0,21 1 0,20 1 -14,0%Total Geral 25,74 100 25,89 100 27,63 100 32,18 100 32,70 100 7,0%

    Fonte: OIC.

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    2.4 A DEMANDA MUNDIAL

    Nos ltimos 10 anos, a demanda mundial de caf tem crescido a uma taxa de 1% ao ano. H 50

    anos o consumo per capita de caf no mundo de cerca de 1 quilo/ano. Os Estados Unidos so os

    maiores consumidores do mundo, seguido pelo Brasil, Alemanha e Japo (Grfico 8). De acordo

    com a F.O. Licht, os Estados Unidos e o Brasil so os nicos pases em que se espera crescimento

    do consumo nos prximos anos.

    Uma anlise da relao entre os pases mais populosos do mundo e o nvel do consumo per capita

    de caf nestes pases, partir do Grfico 7, mostra que h aes que poderiam ser implementadas

    para o incremento do consumo mundial.

    Grfico 7 Pases mais populosos do mundo e consumo per capita

    Fonte: OIC e FAO

    -

    200

    400

    600

    800

    1.000

    1.200

    1.400

    China

    ndia

    EUA

    Indonsia

    Brasil

    Russia

    Paquisto

    Bangladesh

    Japo

    Nigria

    Mxico

    Alemanha

    Vietnam

    milhesdehab

    itantes

    0,0

    1,0

    2,0

    3,0

    4,05,0

    6,0

    7,0

    8,0

    kg/habitan

    te

    Populao Consumo per capita

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    Grfico 8 Principais pases consumidores de caf no mundo (milhes de sacas de 60 kg)

    Fonte: FO Licht

    O comportamento da demanda est relacionado principalmente s mudanas nos hbitos de

    consumo (SAES, 1999). Tanto no mercado americano como no europeu, as estatsticas indicam

    estagnao ou declnio do consumo de bebidas quentes. Para o caf, tal tendncia tem sido

    atribuda dificuldade de transmitir aos jovens uma imagem favorvel do caf e associao do

    caf a malefcios sade. entre os jovens que o consumo apresenta maior retrao. Em 1962,

    81% da populao de 20 a 29 anos nos EUA consumiam caf, enquanto em 1990 essa

    participao caiu para apenas 31,2%. Na faixa de 30 a 59 anos o consumo de caf caiu de 90,8%

    para 65,7% para o mesmo perodo (THE ECONOMIST, 1996: 96).

    Embora os dados da Tabela 4devam ser vistos com cautela, uma vez que se est comparando

    quantidade de produtos que so consumidos em doses diferentes, no h como negar a relativa

    perda de participao do caf no total de bebidas consumidas nos EUA. Quanto ao aumento doconsumo de gua, os dados confirmam a tendncia atual de aumento da ingesto de alimentos

    saudveis. No que diz respeito aos refrigerantes, no se pode deixar de mencionar os enormes

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    EUA Brasi l Alem . Japo Frana Itlia Esp.

    milhesdesacas

    2000 2005

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    gastos de investimentos em marketing das empresas dessas bebidas como um fator preponderante

    no avano do consumo mundial.

    Tabela 4 - Consumo anual per capita de bebidas no mercado norte-americano (gales = 3,8litros)

    Bebidas 1970 1975 1980 1985 1990 1995 1997 1999 2000

    Caf 35,7 33,0 27,2 26,8 26,2 21,5 19,7 17,5 17,2

    Refrigerante 22,7 26,3 34,2 40,3 46,8 51,4 53,7 54,6 55,1

    Cerveja 18,5 21,6 24,3 23,9 24,0 22,2 22,3 22,5 22,6

    Ch 5,2 7,3 7,3 7,3 7,0 6,9 7,0 7,1 7,1

    gua mineral ---- 1,2 2,4 4,5 8,1 10,2 11,5 12,1 13,5

    Fonte: FAS/SDA, 2000.

    A queda do consumo nos anos recentes tem sido relacionada adio excessiva de robusta nos

    blends. Devido ao aumento da oferta dessa variedade em relao ao caf arbica e o conseqente

    aumento do desgio entre eles, as torrefadoras internacionais passaram a substituir o caf arbica

    pelo robusta. Uma estratgia adotada a tecnologia de vaporizao do robusta, que utiliza o

    mesmo equipamento da descafeinizao, que permite reduzir a aspereza do paladar dessamatria-prima, neutralizando seu impacto nos blends (CAF, 1998:5).

    De acordo com Illy (2002), engenheiro qumico e presidente da torrefadora Illycaf, o excesso de

    robusta no blendleva o consumidor a diminuir a quantidade consumida da bebida. Ele argumenta

    que uma xcara de caf preparada com a variedade robusta tem em mdia o dobro de cafena

    comparada a mesma quantidade preparada com caf arbica. Como o consumidor, por hbito,

    toma uma quantidade constante de cafena por dia, se em uma xcara tem mais caf robusta e,

    portanto, mais cafena, o consumidor vai reduzir inconscientemente a quantidade tomada.

    Um fato interessante que pode significar uma vantagem a ser explorada pelo Brasil o alto

    consumo per capita de alguns pases que tem uma grande participao do caf brasileiro em seu

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    blend. O Grfico 9 mostra que na Dinamarca, na Sucia e na Blgica-Luxemburgo o consumo per

    capita superior a 7 quilos/ano e o caf brasileiro tem uma participao superior a 30% no blend.

    Embora necessite de maior comprovao emprica, esse fato tem sido atribudo caracterstica docaf brasileiro de possuir menos acidez em comparao aos cafs suaves.

    Grfico 9 - Pases importadores: participao do caf brasileiro no blend e consumo percapita

    Fonte: OIC

    A anlise dos grandes nmeros do consumo de caf, entretanto, no deixa transparecer uma outra

    importante transformao que est ocorrendo nos mercados consumidores: o crescimento do

    consumo em pases do Leste Europeu e de cafs especiais.

    No que se refere aos pases do Leste Europeu, as mudanas polticas ocorridas a partir do incio

    dos anos 1990 criaram a perspectiva de rpido crescimento destes mercados. Os cenrios mais

    otimistas indicavam expanso acima de 10% ao ano. Esta expectativa de crescimento, entretanto,

    foi frustrada. O que se viu foi um desempenho mais modesto, atribudo, em grande parte,

    38,4 37,7

    33,832,1

    28,0

    23,3 23,2

    20,5 20,0

    15,5

    13,3

    9,8

    7,4

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    40

    45

    Dinam

    arca

    Sucia

    Noruega

    Blgica

    -Lux

    .It

    liaJapo

    Finl

    ndia

    Alem

    anha

    Holan

    da

    Espanh

    aEU

    A

    Frana

    Reino

    Unid

    o

    %

    0

    1

    2

    3

    4

    5

    6

    7

    8

    9

    10

    11

    12

    Kgpercapita

    Par ti ci pa o Caf B ra si le ir o Con su mo Per c ap it a

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    restrio oramentria dos consumidores e a conseqente baixa qualidade do caf ofertado por

    empresas praticando guerra de preos.

    Em 10 anos, o consumo nestes pases aumentou cerca de 2,5% ao ano, ficando abaixo das

    expectativas, mas ainda assim significativo quando comparado taxa de crescimento global, que

    de cerca de 1% ao ano. Com isso, grandes empresas multinacionais esto se movimentando

    rapidamente e estabelecendo forte presena nestes mercados. Alm da possibilidade de rpido

    crescimento, tambm influiu o fato dos mercados consumidores dos pases de origem das

    multinacionais estarem, de modo geral, saturados. Por ser considerada uma regio de consumo

    emergente, onde o conhecimento do preparo convencional da bebida no muito difundido, abre-

    se espao particularmente para o consumo de caf solvel, de mais fcil preparo. A indstria

    brasileira de solvel, aproveitando-se desta tendncia, tem atuado fortemente neste mercado,

    como veremos na seo 4.3. Os pases de maiores destaques nesta regio so Polnia, Hungria e

    Repblica Tcheca. Atualmente, o grupo formado pela fuso das alems Tchibo e Eduscho lder

    de mercado em diversos pases do bloco.

    A mesma anlise vlida para o mercado chins, que apesar da tradio do ch, a perspectiva da

    abertura de mercado e do aumento da renda tem favorecido o ingresso de empresasmultinacionais. As importaes deste pas, entretanto, ainda so insignificantes, girando em torno

    do patamar de 250 mil sacas de caf.

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    Tabela 5 - Pases do Leste Europeu: Importao Total de Caf (equivalente em caf verde mil sacas de 60 kg))

    Pases 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 Taxa

    Polnia 249,9 1.787,1 1.671,6 1.849,5 1.770,7 1.938,8 2.273,6 2.304,6 2.413,9 17%Rssia n.d. 1.381,9 1.794,9 1.725,7 1.728,1 1.128,0 2.144,6 1.602,8 1.290,0 -1%Hungria 641,0 522,2 668,1 771,2 519,5 602,9 675,0 715,6 835,3 3%Rep.Tcheca n.d. n.d. 514,3 553,8 553,2 525,3 560,2 764,8 797,8 7%Romnia 335,5 603,2 425,3 347,4 551,3 696,6 631,0 595,3 511,4 5%Bulgria 200,2 182,2 397,4 462,7 515,4 272,2 294,2 305,6 358,7 4%Crocia n.d. 168,2 162,8 193,5 320,1 321,8 385,3 339,1 352,1 13%Eslovquia n.d. n.d. 288,5 256,7 249,4 235,1 251,7 257,4 286,2 0%Litunia n.d. 1,9 9,1 46,7 112,4 153,1 186,3 198,5 205,0 63%Letnia n.d. 20,3 59,8 22,6 29,5 65,8 143,7 159,0 185,6 32%Eslovnia n.d. 122,9 152,2 159,1 147,6 174,6 170,6 174,3 185,3 5%Estnia n.d. 16,4 51,1 83,1 107,5 116,9 141,1 134,7 133,0 25%Macednia n.d. 78,8 51,3 63,3 69,8 51,4 53,2 77,1 62,4 0%

    Total Acima - - 6246,4 6535,3 6674,5 6462,3 8217,9 8095,6 8067,9 5%

    Fonte: OIC

    No Grfico 10, pode-se observar que o maior consumidor de caf do mundo, os Estados Unidos,

    apresenta consumo per capita em queda para todos os tipos de caf, exceo do especial. De

    uma forma geral, essa tendncia observada em todos os pases desenvolvidos, embora os cafs

    especiais ainda representem muito pouco do total consumido.

    Grfico 10 - Consumo de caf nos EUA por tipo (xcaras por dia)

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    * Classificao especiais da National Coffee Association, que inclui espresso, cappuccino, latte, caf moka,gelado, alm do gourmet (em gro).Descafeinado no est separado de Regular e Solvel, ou seja, o consumo indicado destes dois tipos incluitambm o consumo do produto descafeinado.Fonte: USDA.

    O conceito de cafs especiais est intimamente ligado ao prazer proporcionado pela bebida. Tais

    cafs destacam-se por algum atributo especfico associado ao produto, ao processo de produo

    ou a servio a ele relacionado. Diferenciam-se por caractersticas como qualidade superior da

    bebida, aspecto dos gros, forma de colheita, tipo de preparo, histria, origem dos plantios,variedades raras e quantidades limitadas, entre outras. Podem tambm incluir parmetros de

    diferenciao que se relacionam sustentabilidade econmica, ambiental e social da produo, de

    modo a promover maior eqidade entre os elos da cadeia produtiva. Mudanas no processo

    industrial tambm levam diferenciao, com a adio de substncias, como os aromatizados, ou

    com sua subtrao, como os descafeinados. A ratreabilidade e a incorporao de servios tambm

    so fatores de diferenciao e, portanto, de agregao de valor(SEBRAE-MG, 2001: 68-69).

    Vale observar que todas estas categorias podem incluem caf solvel no seu processo defabricao.

    Consumo per capita de caf nos EUA -xcaras dia

    0,00

    0,20

    0,40

    0,600,80

    1,00

    1,20

    1,401,60

    1,80

    1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001

    xcarasdia

    Regular Solvel Descafeinado Especiais*

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    De acordo com o National Coffee Drinking Trends 2002 (apudLEMOS, 2002: 3), o nmero de

    consumidores dirios do segmento de cafs especiais aumentou de 7 milhes em 1997 para 27

    milhes em 2002 nos EUA. Ou seja cerca de 14% dos americanos so consumidores dirios destesegmento. Na pesquisa foram considerados especiais os cafs espresso, bebidas quentes e geladas

    a base de caf e cafs premium, em gro ou torrado e modo.

    Por vezes, estratgias de marketing fazem com que certos pontos de venda sejam identificados

    com lugares em que se adquire cafs especiais. o caso das lojas de convenincia ou coffee

    shops que tem impulsionado as vendas deste produto e atrado o consumidor jovem para este

    mercado. Estimativas da SCAA (Specialty Coffee Association of America) indicam que o

    mercado americano de cafs especiais totalizou US$ 10,74 bilhes em vendas no varejo em 2001.

    Desse total, as vendas de bebidas a base de caf alcanaram US$ 6,84 bilhes, sendo que o

    nmero de pontos de venda j chegou a 13,5 mil estabelecimentos. O restante, de US$ 3,87

    bilhes, refere-se ao total de vendas de gros especiais no mercado varejista. (SCAA: 2002)

    Um exemplo desse novo segmento o fenmeno da Starbucks Coffee Co. Em pouco mais de 10

    anos de existncia, a empresa possui mais de 5,6 mil pontos de venda, em diversos pases,

    incluindo 4,3 mil pontos nos EUA. As vendas em 2001 foram de US$ 2,65 bilhes, 22% maioresdo que as de 2000. A empresa tambm prev abrir ao menos 1,2 mil novas lojas em 2002 e 2003,

    como parte da sua estratgia de possuir 10 mil pontos de vendas em 60 pases em 2005 (ELAM:

    FP-7). O maior sucesso o frappuccino, bebida lctea gelada base de caf e de baixa caloria.

    Pesquisas mais recentes realizadas pelo Programa Caf Forever, que busca incrementar o

    consumo de caf na populao jovem americana, verificou que os jovens preferem bebidas doces

    s amargas, o que confirma o sucesso desses novos produtos a base de caf.

    Por trs do sucesso da Starbucks, est um investimento anual em propaganda que chega a US$ 15

    milhes. Seu crescimento induziu a entrada de outras redes como a Second Cup, que hoje tem

    forte presena no mercado americano e a segunda maior rede no mercado canadense. Outras

    redes, como a do McDonalds, tambm foram estimuladas a introduzir o item caf espresso em

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    suas lojas, em vrios pases. Em um espao reservado especialmente para a venda de caf,

    salgados e doces, o McCaf tem um diferencial importante: a parceria com a Nestl que

    desenvolveu caf espresso a partir do caf solvel.

    O fenmeno das vendas de cafs especiais nas cafeterias refletiu no mercado de torrado e modo

    das grandes multinacionais. A Procter & Gamble lanou uma linha de cafs gourmetcom 60

    variedades, tais como o caf orgnico, cultivado no Mxico, o raro Sumatra, entre outros. A

    estratgia da Procter & Gamble mostra que grandes empresas tambm esto atentas s tendncias

    de mercado e passam a explorar esses nichos. Alm disso, cerca de 85 torrefadoras oferecem

    cafs com selo fair trade expedido pela ONG TransFair USA (ROTTA, 2001).

    2.4.1 DEMANDA NO BRASILQuando se analisa a demanda mundial, no se pode deixar de considerar o Brasil, o segundo

    maior mercado consumidor. Da mesma forma que no mercado americano, verificou-se durante

    os anos 1980 queda do consumo per capita. Entretanto, no Brasil, esta tendncia foi revertida a

    partir da dcada de 1990 (Grfico 11).

    Grfico 11 - Consumo de caf no Brasil: per capita (kg por habitante) e total (milhes scs)

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    Fonte: ABIC

    Uma srie de fatores ainda inibe o crescimento do consumo de caf aos nveis alcanados na

    dcada de 60. Entre eles pode-se citar a imagem de que caf tudo igual, decorrente do

    tabelamento de preos que vigorou at o incio dos anos 90.

    No para menos, pois apesar de o Brasil ser o segundo maior consumidor de caf do mundo,

    indstria de torrefao restava um papel secundrio de absorver o caf no exportvel, por causa

    de sua qualidade inferior. Em termos de estratgia do mercado interno isso significou competio

    via preos e pouca diferenciao.

    Cabe observar que com o tabelamento de preos as empresas passaram a adotar, criativamente,uma competio por diferenciao s avessas. Dada a impossibilidade de vender o caf torrado e

    modo por preo superior ao da regulamentao, a maioria das empresas dispunha de dois tipos

    de caf no mercado: o tabelado e o de combate. Este ltimo conhecido por sofrer, no

    8,18,9

    6,97,5

    6,4

    8,2 8,58,9 9,1 9,3

    10,111,0

    11,512,2

    12,713,013,514,0

    15,0

    0

    2

    4

    6

    8

    1012

    14

    16

    1965

    1970

    1975

    1980

    1985

    1990

    1991

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    1993

    1994

    1995

    1996

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    2000

    2001

    2002

    2003

    milhesdesacasde

    60kg

    0

    0,5

    1

    1,5

    2

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    3,5

    4

    4,5

    5

    quilosporhabitante

    Total Per capita

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    processo de fabricao, uma torra mais intensa, de forma a disfarar o uso de caf verde de m

    qualidade, assim como a adio de outros produtos como milho, cevada, palha etc., que mesmo

    proibidos so constantemente encontrados nas anlises desses cafs. Esta situao comeou a sercontida depois da ao coletiva implementada pela Associao Brasileira da Indstria de Caf

    (ABIC) que criou a auto regulamentao conhecida como Selo de Pureza ABIC (SAES, 1997:

    152).

    O Selo teve um importante papel de excluir as empresas fraudadoras e significativamente

    percebido pelo consumidor, conforme foi verificado em pesquisa realizada pelo

    SEBRAE/PENSA (2001). Quase 80% da amostra de 300 consumidores, entrevistados em

    supermercados em Belo Horizonte e So Paulo,13 conhece o Selo de Pureza da ABIC e o leva em

    considerao no momento da compra (61%).

    A pesquisa SEBRAE/PENSA (2001) constatou que a grande maioria dos consumidores (92%)

    estaria disposta a pagar mais por um caf de qualidade. Alm disso, a pesquisa realizou

    degustao utilizando-se trs diferentes nveis, decrescentes, de qualidade de caf: gourmet,

    superior e tradicional. 14 Os consumidores degustavam uma dose de cada caf e davam sua

    opinio sobre aroma, sabor e corpo. O caf gourmet foi considerado mais gostoso que os demaistipos na degustao, com 43% de preferncia, seguido pelo tradicional e pelo superior. O

    resultado estatisticamente confivel ao nvel de 95% de significncia. Ou seja, os

    consumidores percebem, na mdia, que o caf gourmet mais gostoso que o tradicional, que por

    sua vez mais gostoso que o superior.

    13 A pesquisa foi realizada em quatro supermercados de classe de renda mdia alta e alta, dois em Belo Horizonte-

    MG e dois em So Paulo-SP.

    14 A escolha desses nveis baseou-se em estudo do Programa Cafs do Brasil (2000). Com relao composio dosblends, os cafs estavam previamente classificados em: a) Gourmet (bebida estritamente mole/mole, 100% arbica,0% de defeito preto, verde e ardido); b) Superior (bebida mole/dura, at 15% de robusta, com at 10% de pretos,verdes e ardidos); c) Tradicional (bebida dura/riada/rio, at 30% de robusta, 25% de preto, verde e ardido); d)Popular/Combate (sem atributo de qualidade).

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    Em pesquisa realizada em 2000, o Programa Cafs do Brasil (2000: 8) observou pouca

    diferenciao do caf vendido no mercado:

    a comoditizao do mercado de caf torrado e/ou modo que caracteriza osetor nos tempos atuais, tem sido marcada por uma substancial falta dediferenciao entre a maioria das marcas de caf, implicando em baixosvalores agregados, concorrncia predatria e resultados negativos para agrande maioria das empresas, de qualquer porte e tamanho.

    Dentro deste mesmo conceito, o Sindicaf (Sindicato da Indstria de Caf de So Paulo) criou a

    Campanha de Qualidade que entre suas aes, firmou um convnio com o Ital (Instituto de

    Tecnologia de Alimentos de Campinas) e o governo do Estado, para o lanamento do Selo So

    Paulo de Qualidade para o Caf Torrado e/ou Modo como parte do Programa de Qualidade Selo

    So Paulo, que prev a certificao de diversos produtos agroindustriais com qualidade superior.

    O maior objetivo do programa, alm de criar uma identificao nas prateleiras dos supermercados

    para os cafs Gourmet e Superior15, auxiliar o processo de elevao das exportaes de

    caf industrializado, de maior valor agregado (SINDICAF, 2002).

    A oferta de cafs especiais vem aumentando de forma acelerada. Grandes indstrias, como

    Melitta, Bom Dia e Cacique, passaram a investir em produtos de maior valor agregado. Para

    2002, a previso do Sindicaf de surgimento de 20 novas marcas de caf Gourmet e Superior,

    somando-se s 20 j existentes no mercado. Esta nova realidade do mercado brasileiro de caf

    tem condicionado as empresas do setor a adotar estratgias diferenciadas, como veremos no item

    4.4.

    15 A classificao segue a Resoluo SAA37, de 9/11/2001, que define Norma Tcnica para a fixao de identidadee qualidade do caf torrado em gro ou modo.

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    O Quadro 1 apresenta um resumo das principais concluses .

    Quadro 1 Quadro sntese

    Ambiente Institucional e Organizacional

    Desregulamentao no mercado internacional

    Reestruturao das organizaes:

    l novo papel das organizaes internacionais, estatais e privadas

    l surgimento das ONGs

    Mercado Internacional:

    Oferta Mundial crescente:

    lconcentrao dos estoques de caf nos pases consumidores

    laumento da participao da variedade robusta no total ofertado

    Demanda Mundial crescendo a uma taxa de 1,1% ao ano:

    lqueda na demanda de cafs tradicionais nos pases desenvolvidos

    laumento da demanda de cafs especiais

    Mercado Interno:

    Oferta crescente

    Forte crescimento da demanda na dcada de 90

    ldifuso e valorizao dos cafs especiais, embora ainda incipiente

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    PARTE B

    3 MUDANAS RECENTES NAS TENDNCIAS DO AGRONEGCIO CAF DOBRASIL

    3.1 O AGRONEGCIO CAF DOBRASIL E SEUS SEGMENTOS

    Os principais segmentos do sistema brasileiro do caf so os seguintes: i. fornecedores de

    insumos, mquinas e equipamentos; ii. produo primria; iii. primeiro processamento

    (maquinistas e cooperativas); iv. segundo processamento (empresas de torrefao e moagem,

    empresas de solvel e cooperativas); v. vendedores nacionais (exportadores, cooperativas e

    atacadistas); vi. Compradores internacionais (emp