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INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAO E TRABALHO

Dissertao de Mestrado em Administrao Educacional

Socializao Escolar no Ensino Secundrio.Percursos Formativos e Imagens da Escola e da Escolarizao

Vtor Manuel Cerveira Gomes

Porto, Dezembro de 2010

Socializao Escolar no Ensino Secundrio. Percursos Formativos e Imagens da Escola e da Escolarizao _______________________________________________________________________________

INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAO E TRABALHO

Dissertao de Mestrado em Administrao Educacional

Socializao Escolar no Ensino Secundrio.Percursos Formativos e Imagens da Escola e da Escolarizao

Orientadora: Professora Doutora Conceio Alves Pinto

Vtor Manuel Cerveira Gomes

Porto, Dezembro de 2010

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Socializao Escolar no Ensino Secundrio. Percursos Formativos e Imagens da Escola e da Escolarizao _______________________________________________________________________________

Dedicado

Cinda e Joana: o que de mais precioso tenho

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Socializao Escolar no Ensino Secundrio. Percursos Formativos e Imagens da Escola e da Escolarizao _______________________________________________________________________________

AGRADECIMENTOS

Professora Doutora Conceio Alves Pinto, que sempre se mostrou disponvel para me auxiliar ao longo desta difcil tarefa, aqui deixo as minhas palavras de gratido. A todos os professores do mestrado que me prepararam para poder chegar a este estdio de formao tanto na dimenso pessoal como profissional. minha famlia, em especial minha esposa e minha filha, que me encorajaram e nunca reclamaram das minhas ausncias. Aos colegas de mestrado pelos incentivos que me deram. A todos os professores que colaboraram na distribuio do questionrio. Aos alunos que preencheram o questionrio. A todos os colegas que de algum modo me apoiaram e ajudaram.

A todos, muito obrigado!

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Socializao Escolar no Ensino Secundrio. Percursos Formativos e Imagens da Escola e da Escolarizao _______________________________________________________________________________

RESUMOTodo o processo socializador modela atitudes e pensamentos. A Escola, proporcionando aos seus alunos uma multiplicidade de experincias, contribui decisivamente para formao da individualidade de cada um. Durante alguns anos, o Ensino Secundrio em Portugal deu respostas semelhantes ao crescente nmero de alunos que a chegavam. Perante a heterogeneidade de pblicos que acederam a este nvel de ensino, a Escola sentiu algumas dificuldades em responder eficazmente a todos eles. Alguns sentiram-se desiludidos com o servio educativo prestado e abandonaram a escola sem obterem a qualificao pretendida. Com a abertura dos cursos Profissionais e Tecnolgicos nas escolas pblicas abriu-se uma nova via de formao, de curta durao, que conferia aos alunos uma certificao profissional. Actualmente, embora a maioria ainda escolha os cursos Cientfico-Humansticos, projectando um percurso escolar no ensino superior, existe j um grupo assinalvel de alunos matriculados nos cursos Profissionais e Tecnolgicos que aposta numa via de formao que proporcione a entrada mais cedo no mercado de trabalho. Procurando perceber se as representaes que cada indivduo faz do mundo que o rodeia e o sentido que atribui escolarizao dependem do percurso formativo em que est inserido, organizmos uma investigao junto de uma amostra de alunos que frequentam o Ensino Secundrio em escolas pblicas. Os resultados que obtivemos neste estudo levam-nos a afirmar que, apesar de chegarem ao Ensino Secundrio alunos que tm da escola e da escolarizao imagens distintas, para as quais contribuem variados factores, os processos socializadores encetados pela Escola promovem uma aproximao na forma como os vrios alunos valorizam a formao obtida e no entendimento de como esta contribui para o desenvolvimento pessoal e profissional de cada indivduo.

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Socializao Escolar no Ensino Secundrio. Percursos Formativos e Imagens da Escola e da Escolarizao _______________________________________________________________________________

ABSTRACTAll socializing processes model attitudes and thoughts. By providing its students with a variety of experiences, the school contributes decisively to the formation of their individuality. For some time, the secondary education system in Portugal gave similar opportunities to the growing number of students who attended it. Given the heterogeneity of the individuals who have accessed this level of education, the school system experienced some difficulties in responding effectively to all of them. Some pupils felt disillusioned with the educational service provided and dropped out of school without obtaining the required qualifications. The creation of Technological and Vocational courses in public schools opened up a new short term training system, which provided the students with a professional certification. Today, although most students still choose Science or Humanistic courses, with a goal of taking a course in higher education, there are already a remarkable number of individuals enrolled in Professional and Technological education, designed to provide training to an earlier entry into the labour market. A research was conducted with a sample of pupils attending secondary education in public schools, seeking to understand whether the perception that each individual has of the world around him and whether the meaning attributed to their academic instruction depends on the training path that each student chooses. The results of this study lead us to say that, despite arriving at the high school level with different perception of school and schooling, for which various factors have contributed, the socialization processes undertaken by the school promote a convergence in the way many students value and perceive the training received and how this understanding contributes to the personal and professional development of each individual.

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Socializao Escolar no Ensino Secundrio. Percursos Formativos e Imagens da Escola e da Escolarizao _______________________________________________________________________________

RSUMTout le procd de socialisation modle les attitudes et penses. Lcole, en offrant ses lves une varit dexpriences, contribue de manire dcisive la formation de lindividualit de chacun. Pendant quelques annes, lenseignement secondaire au Portugal a donn des rponses semblables au nombre croissant dtudiants qui y est arriv. En prsence de lhtrognit de publics qui ont accd ce niveau denseignement, lcole a eu quelques difficults rpondre efficacement tous. Quelques-uns ont t dus avec le service ducatif fourni et ont abandonn lcole sans obtenir la qualification prtendue. Avec louverture des cours professionnels et technologiques dans les coles publiques, sest ouvert un nouveau systme de formation, de courte dure, qui donnait aux lves une certification professionnelle. Actuellement, bien que la plupart des lves choisisse des cours Scientifique - Humanistes, pensant un parcours scolaire dans lenseignement suprieur, il y a dj un groupe remarquable dlves inscrits dans les cours professionnels et technologiques qui investi une voie de formation qui permette lentre prcoce dans le march du travail. Cherchant comprendre si les reprsentations que chaque individu fait du monde qui lentoure et le sens quil attribue la scolarisation dpendent du parcours formatif o il est inclus, nous avons organis une investigation auprs dun groupe dlves qui frquentent lenseignement secondaire dans des coles publiques. Les rsultats obtenus dans cette tude nous permettent daffirmer que, malgr larrive lenseignement secondaire dlves qui ont des images distinctes de lcole et de la scolarisation, pour lesquelles contribuent divers facteurs, les procds qui socialisent commencs par lcole permettent un rapprochement de la manire comme les plusieurs lves valorisent la formation reue et comprennent comment celle-ci contribue pour le dveloppement personnel et professionnel de chaque individu.

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Socializao Escolar no Ensino Secundrio. Percursos Formativos e Imagens da Escola e da Escolarizao _______________________________________________________________________________

NDICERESUMO ABSTRACT RSUM NDICE DE GRFICOS INTRODUO GERAL PARTE I INTRODUO GERAL INTRODUO 1. SOCIALIZAO 16 21 24 5 6 7 15 16

1.1. Agentes de Socializao....................................................................................................................................25 1.1.1. Socializao primria..............................................................................................................................26 1.1.2. Socializao secundria..........................................................................................................................282. ESTILOS EDUCATIVOS PARENTAIS 32

2.1. Prticas educativas familiares...........................................................................................................................34 2.1.1. Prticas educativas e meio social..........................................................................................................35 2.2. Expectativas familiares face Escola.............................................................................................................373. REPRESENTAES SOCIAIS DA ESCOLA 40

3.1. Estratgias familiares na definio dos percursos escolares ......................................................................42 3.2. Formas de (con)viver (n)a escola....................................................................................................................45 3.2.1. Construo da identidade na adolescncia.........................................................................................47 3.2.2. O aluno actor social: dimenso relacional da escola ........................................................................49 3.2.3. O conflito no espao escola: o clima de justia da escola...............................................................52 3.3. Clima de escola e aprendizagem: a dimenso educativa.............................................................................56 3.3.1. Da escola transmissiva escola construtiva.......................................................................................58 3.3.2. As desigualdades escolares....................................................................................................................62CONCLUSO 66

_______________________________________________________________________________ 8

Socializao Escolar no Ensino Secundrio. Percursos Formativos e Imagens da Escola e da Escolarizao _______________________________________________________________________________PARTE II INTRODUO 1. CONTEXTO DA REALIZAO DA PESQUISA 73 77

1.1. Contexto Geogrfico Social .........................................................................................................................77 1.2. Contexto da Dinmica das Escolas................................................................................................................792. METODOLOGIA UTILIZADA 79

2.1. Tcnicas de investigao...................................................................................................................................79 2.2. Instrumento de Pesquisa ..................................................................................................................................813. AMOSTRA 87

3.1. Caractersticas Pessoais.....................................................................................................................................87 3.1.1. Gnero......................................................................................................................................................87 3.1.2. Idade..........................................................................................................................................................88 3.2. Caractersticas Familiares .................................................................................................................................89 3.2.1. Nvel de Instruo do Pai e da Me ....................................................................................................90 3.2.2. Nvel de Instruo Familiar (NIF) ......................................................................................................91 3.3. Caractersticas Escolares...................................................................................................................................92 3.3.1. Ano Frequentado....................................................................................................................................92 3.3.2. Curso frequentado..................................................................................................................................94 3.3.3. Histrico Escolar ....................................................................................................................................94 3.3.4. Classificao Final do 9 Ano...............................................................................................................974. ESTILO EDUCATIVO PARENTAL 98

4.1. Exigncia comportamental (indicador parcelar e indicador recodificado) .............................................99 4.2. Apoio Parental (indicador parcelar e indicador recodificado).................................................................101 4.3. Estilo educativo parental: indicador nico discriminado .........................................................................103 4.3.1. Variaes do Estilo Educativo Parental ...........................................................................................106 4.3.1.1. Estilo Educativo Parental segundo a Idade ...........................................................................107 4.3.1.2. Estilo Educativo Parental segundo o Gnero........................................................................108 4.3.1.3. Estilo Educativo Parental segundo o NIF..............................................................................109 4.3.1.4. Estilo Educativo Parental segundo o Curso frequentado ....................................................110 4.3.1.5. Estilo Educativo Parental segundo o Histrico Escolar ......................................................112 4.4. Em sntese. ...................................................................................................................................................1135. A ESCOLHA DO PERCURSO ESCOLAR NO ENSINO SECUNDRIO 114

5.1. Curso frequentado...........................................................................................................................................115 5.1.1. Variaes da escolha do curso com as caractersticas escolares e familiares dos respondentes .......................................................................................................................................115 _______________________________________________________________________________ 9

Socializao Escolar no Ensino Secundrio. Percursos Formativos e Imagens da Escola e da Escolarizao _______________________________________________________________________________ 5.1.1.1. Escolha do curso segundo a classificao final obtida no 9 ano .......................................116 5.1.1.2. Escolha do curso segundo o histrico escolar .......................................................................117 5.1.1.3. Escolha do curso segundo o NIF ............................................................................................118 5.1.1.4. Escolha do curso segundo o estilo educativo parental .........................................................119 5.2. Em sntese ....................................................................................................................................................1206. CLIMA RELACIONAL 121

6.1. Conflitualidade entre alunos ..........................................................................................................................122 6.1.1. Conflitualidade entre alunos: indicadores parcelares .....................................................................123 6.1.2. Conflitualidade entre alunos: Indicador agregado ..........................................................................124 6.1.3. Variaes da Conflitualidade entre alunos com as caractersticas escolares dos respondentes na amostra global ......................................................................................................125 6.1.4. Variaes da conflitualidade entre alunos nas subamostras .........................................................126 6.1.4.1. Conflitualidade entre alunos segundo o curso na subamostra do 10. ano .......................127 6.2. Cooperao entre alunos................................................................................................................................128 6.2.1. Cooperao entre alunos: indicadores parcelares...........................................................................129 6.2.2. Cooperao entre alunos: indicador agregado ................................................................................130 6.2.3. Variaes da Cooperao entre alunos com as caractersticas escolares dos respondentes na amostra global ......................................................................................................130 6.2.4. Variaes da cooperao entre alunos nas subamostras ...............................................................131 6.2.4.1. Cooperao entre alunos segundo o curso na subamostra do 10. ano .............................132 6.3. Relacionamento professor/aluno .................................................................................................................132 6.3.1. Relacionamento professor/aluno: indicadores parcelares ............................................................134 6.3.2. Relacionamento professor/aluno: Indicador agregado.................................................................134 6.3.3. Variaes do Relacionamento professor/aluno com as caractersticas escolares dos respondentes na amostra global ......................................................................................................135 6.3.4. Variaes relacionamento professor/aluno nas subamostras......................................................136 6.3.4.1. Relacionamento professor/aluno segundo o curso na subamostra do 10. ano...............137 6.4. Equidade na relao professor/aluno..........................................................................................................138 6.4.1. Equidade na relao professor/aluno: indicadores parcelares.....................................................139 6.4.2. Equidade na relao professor/aluno: indicador agregado ..........................................................139 6.4.3. Variaes da Equidade na relao professor/aluno com as caractersticas escolares dos respondentes na amostra global ......................................................................................................140 6.4.4. Variaes da equidade na relao professor/aluno nas subamostras.........................................142 6.4.4.1. Equidade na relao professor/aluno segundo o curso na subamostra do 10. ano .......142 6.4.4.2. Equidade na relao professor/aluno segundo o curso na subamostra dos 11./12. anos...............................................................................................................................................143 6.5. Em sntese ....................................................................................................................................................1447. CLIMA DE JUSTIA 146

7.1. Igualdade das regras ........................................................................................................................................146 7.1.1. Igualdade das regras: indicadores parcelares....................................................................................147 7.1.2. Igualdade das regras: indicador agregado.........................................................................................148 7.1.3. Variaes da Igualdade de regras com as caractersticas escolares dos respondentes na amostra global.....................................................................................................................................149 7.1.4. Variaes da igualdade das regras nas subamostras .......................................................................150 7.1.4.1. Igualdade das regras segundo o curso na subamostra do 10. ano .....................................151 _______________________________________________________________________________ 10

Socializao Escolar no Ensino Secundrio. Percursos Formativos e Imagens da Escola e da Escolarizao _______________________________________________________________________________ 7.2. Aplicao das regras ........................................................................................................................................152 7.2.1. Aplicao das regras: indicadores parcelares ...................................................................................152 7.2.2. Aplicao das regras: indicador agregado.........................................................................................153 7.2.3. Variaes da Aplicao das Regras com as caractersticas escolares dos respondentes na amostra global.....................................................................................................................................154 7.2.4. Variaes da aplicao das regras nas subamostras........................................................................155 7.3. Em sntese ....................................................................................................................................................1568. CLIMA EDUCATIVO 157

8.1. Apoio s aprendizagens..................................................................................................................................158 8.1.1. Apoio s aprendizagens: indicadores parcelares .............................................................................159 8.1.2. Apoio s aprendizagens: indicador agregado ..................................................................................159 8.1.3. Variaes do Apoio s aprendizagens com as caractersticas escolares dos respondentes na amostra global ...............................................................................................................................160 8.1.4. Variaes do Apoio s aprendizagens nas subamostras................................................................161 8.2. Desempenho escolar dos alunos ..................................................................................................................162 8.2.1. Desempenho escolar dos alunos: indicadores parcelares..............................................................163 8.2.2. Desempenho escolar dos alunos: indicador agregado...................................................................164 8.2.3. Variaes do Desempenho escolar dos alunos com as caractersticas escolares dos respondentes na amostra global ......................................................................................................165 8.2.4. Variaes do Desempenho escolar dos alunos nas subamostras................................................166 8.2.4.1. Desempenho escolar dos alunos segundo o Curso na subamostra do 10. ano...............167 8.3. Percepo do valor da aprendizagem ..........................................................................................................168 8.3.1. Percepo do valor da aprendizagem: indicadores parcelares......................................................169 8.3.2. Percepo do valor da aprendizagem: indicador agregado...........................................................169 8.3.3. Variaes da Percepo do valor da aprendizagem com as caractersticas escolares dos respondentes na amostra global ......................................................................................................170 8.3.4. Variaes da Percepo do valor da aprendizagem nas subamostras.........................................172 8.3.4.1. Percepo do valor da aprendizagem segundo o estilo educativo parental na subamostra do10. ano ....................................................................................................................................173 8.3.4.2. Percepo do valor da aprendizagem segundo o curso na subamostra dos 11. e 12. anos...............................................................................................................................................174 8.4. Qualidade da aprendizagem...........................................................................................................................175 8.4.1. Qualidade da aprendizagem: indicadores parcelares......................................................................176 8.4.2. Qualidade da aprendizagem: indicador agregado ...........................................................................176 8.4.3. Variaes da Qualidade da aprendizagem com as caractersticas escolares dos respondentes na amostra global ......................................................................................................177 8.4.4. Variaes da Qualidade da aprendizagem nas sub - amostras .....................................................178 8.4.4.1. Qualidade da aprendizagem segundo o estilo educativo parental na subamostra do 10. ano ................................................................................................................................................179 8.5. Em sntese ....................................................................................................................................................1819. SENTIDO ATRIBUDO ESCOLARIDADE 183

9.1. Sentido atribudo escolaridade no desenvolvimento profissional .......................................................184 9.1.1. Sentido atribudo escolaridade no Desenvolvimento profissional: indicadores parcelares .............................................................................................................................................185 9.1.2. Sentido atribudo escolaridade no Desenvolvimento profissional: indicador agregado ......186 _______________________________________________________________________________ 11

Socializao Escolar no Ensino Secundrio. Percursos Formativos e Imagens da Escola e da Escolarizao _______________________________________________________________________________ 9.1.3. Variaes do sentido atribudo escolaridade no desenvolvimento profissional com as caractersticas dos respondentes na amostra global.....................................................................187 9.1.3.1. Sentido atribudo escolaridade no desenvolvimento profissional segundo o ano de escolaridade .................................................................................................................................188 9.1.4. Variaes do Sentido atribudo escolaridade no desenvolvimento profissional nas sub - amostras.............................................................................................................................................189 9.2. Sentido atribudo escolaridade no desenvolvimento pessoal e social .................................................190 9.2.1. Sentido atribudo escolaridade no desenvolvimento pessoal e social: indicadores parcelares .............................................................................................................................................190 9.2.2. Sentido atribudo escolaridade no desenvolvimento pessoal e social: indicador agregado ...............................................................................................................................................192 9.2.3. Variaes do sentido atribudo escolaridade no desenvolvimento pessoal e social com as caractersticas dos respondentes na amostra global................................................................19310. SENTIDO ATRIBUDO ESCOLARIDADE E CLIMA RELACIONAL E EDUCATIVO 195

10.1. Dimenses relacional e educativa do clima de escola.............................................................................196 10.1.1. Clima relacional: indicador agregado ......................................................................................................196 10.1.2. Clima educativo: indicador agregado......................................................................................................198 10.2. Variaes do sentido atribudo escolaridade no desenvolvimento profissional com dimenses do clima de escola nas amostras..................................................................................199 10.2.1. Sentido atribudo escolaridade no desenvolvimento profissional segundo o clima relacional na amostra global .............................................................................................................200 10.2.2. Sentido atribudo escolaridade no desenvolvimento profissional segundo o clima educativo na amostra global.............................................................................................................202 10.3. Variaes do sentido atribudo escolaridade no desenvolvimento pessoal e social com dimenses do clima de escola nas amostras..................................................................................204 10.3.1. Sentido atribudo escolaridade no desenvolvimento pessoal e social segundo o clima relacional na amostra global .............................................................................................................205 10.4. Em sntese..................................................................................................................................................207CONCLUSO BIBLIOGRAFIA ANEXOS 208 214 224

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Socializao Escolar no Ensino Secundrio. Percursos Formativos e Imagens da Escola e da Escolarizao _______________________________________________________________________________

NDICE DE QUADROSTabela 1: Sentido atribudo escolaridade: chave de leitura ............................................................................ 84 Tabela 2: Clima de escola: chave de leitura.......................................................................................................... 86 Tabela 3: Composio da amostra por gnero ................................................................................................... 87 Tabela 4: Composio da amostra por idade ...................................................................................................... 88 Tabela 5: Habilitaes literrias do pai e da me dos respondentes ............................................................... 90 Tabela 6: Composio da amostra por nvel de instruo familiar ................................................................. 91 Tabela 7: Composio da amostra por ano de escolaridade frequentado ..................................................... 93 Tabela 8: curso em que esto matriculados: indicador parcelar....................................................................... 94 Tabela 9:Composio da amostra por retenes no ano de escolaridade frequentado .............................. 94 Tabela 10: Composio da amostra por retenes em outros anos de escolaridade................................... 95 Tabela 11: Histrico escolar reprovao / no reprovao. Indicador recodificado............................... 96 Tabela 12: Nvel obtido no final do 9 ano ......................................................................................................... 97 Tabela 13: Exigncia comportamental ................................................................................................................. 99 Tabela14: Apoio Parental......................................................................................................................................102 Tabela 15: Estilo educativo parental ...................................................................................................................104 Tabela 16: Variaes do estilo educativo parental............................................................................................106 Tabela 17: Estilo educativo parental segundo a idade.....................................................................................107 Tabela 18: Estilo educativo parental segundo o gnero..................................................................................108 Tabela 19: Estilo educativo parental segundo o NIF ......................................................................................109 Tabela 20: Estilo educativo parental segundo o curso frequentado .............................................................110 Tabela 21: Estilo educativo parental segundo o Histrico escolar ...............................................................112 Tabela 22: Variaes da escolha do curso com as caractersticas escolares e familiares dos respondentes ...........................................................................................................................................................116 Tabela 23: Escolha do curso segundo a classificao final do 9 ano ..........................................................116 Tabela 24: Escolha do curso segundo o Histrico escolar.............................................................................117 Tabela 25: Escolha do curso segundo o nvel de instruo familiar.............................................................118 Tabela 26: Escolha do curso segundo o estilo educativo parental................................................................119 Tabela 27: Conflitualidade entre alunos: indicadores parciais........................................................................123 Tabela 28: Conflitualidade entre alunos: indicador agregado.........................................................................124 Tabela 29: Variaes da Conflitualidade entre alunos na amostra global ....................................................125 Tabela 30: Variaes da Conflitualidade entre alunos nas subamostras ......................................................126 Tabela 31: Conflitualidade entre alunos segundo o curso na subamostra do 10. ano.............................127 Tabela 32: Cooperao entre alunos: indicadores parciais .............................................................................129 Tabela 33: Cooperao entre alunos: indicador agregado ..............................................................................130 Tabela 34: Variaes da cooperao entre alunos com as caractersticas escolares dos respondentes..131 Tabela 35: Variaes da cooperao entre alunos nas subamostras.............................................................131 Tabela 36: Cooperao entre alunos segundo o curso na subamostra do 10. ano...................................132 Tabela 37: Relacionamento professor/aluno: indicadores parciais...............................................................134 Tabela 38: Relacionamento professor/aluno: indicador agregado ...............................................................134 Tabela 39: Variaes do relacionamento professor/aluno com as caractersticas escolares dos respondentes ...........................................................................................................................................................135 Tabela 40: Variaes do relacionamento professor/aluno nas subamostras..............................................136 Tabela 41: Relacionamento professor/aluno segundo o curso na subamostra do 10. ano....................137 _______________________________________________________________________________ 13

Socializao Escolar no Ensino Secundrio. Percursos Formativos e Imagens da Escola e da Escolarizao _______________________________________________________________________________ Tabela 42: Equidade na relao professor/aluno: indicadores parciais .......................................................139 Tabela 43: Equidade na relao entre professores e alunos: indicador agregado.......................................140 Tabela 44: Variaes da equidade na relao professor/aluno com as caractersticas escolares dos respondentes ...........................................................................................................................................................141 Tabela 45: Variaes da equidade na relao professor/aluno nas sub- amostras ....................................142 Tabela 46: Equidade na relao professor/aluno segundo o curso na subamostra do 10. ano.............143 Tabela 47: Equidade na relao professor/aluno segundo o curso na subamostra dos 11./12. anos..........................................................................................................................................................143 Tabela 48: Igualdade das regras: indicadores parcelares..................................................................................148 Tabela 49: Igualdade das regras: indicador agregado.......................................................................................149 Tabela 50: Variaes da igualdade de regras com as caractersticas escolares dos respondentes............150 Tabela 51: Variaes da igualdade de regras nas subamostras.......................................................................150 Tabela 52: Igualdade de regras segundo o curso na subamostra do 10. ano.............................................151 Tabela 53: Aplicao das regras: indicadores parcelares .................................................................................152 Tabela 54: Aplicao das regras: indicador agregado.......................................................................................153 Tabela 55: Variaes da aplicao das regras com as caractersticas escolares dos respondentes ..........154 Tabela 56: Variaes da aplicao das regras nas subamostras......................................................................155 Tabela 57: Apoio s aprendizagens: indicadores parcelares ...........................................................................159 Tabela 58: Apoio s aprendizagens: indicador agregado ................................................................................160 Tabela 59: Variaes do apoio s aprendizagens com as caractersticas escolares dos respondentes...161 Tabela 60: Variaes do apoio s aprendizagens nas subamostras...............................................................161 Tabela 61: Desempenho escolar dos alunos: indicadores parcelares............................................................163 Tabela 62: Desempenho escolar dos alunos: indicador agregado.................................................................164 Tabela 63: Variaes do desempenho escolar dos alunos com as caractersticas escolares dos respondentes ...........................................................................................................................................................165 Tabela 64: Variaes do desempenho escolar dos alunos nas subamostras ...............................................166 Tabela 65: Desempenho escolar dos alunos segundo o curso na subamostra do 10. ano .....................167 Tabela 66: Percepo do valor da aprendizagem: indicadores parcelares....................................................169 Tabela 67: Percepo do valor da aprendizagem: indicador agregado.........................................................170 Tabela 68: Variaes da percepo do valor da aprendizagem com as caractersticas escolares dos respondentes ...........................................................................................................................................................171 Tabela 69: Variaes da percepo do valor da aprendizagem nas subamostras.......................................172 Tabela 70: Percepo do valor da aprendizagem segundo o estilo educativo parental na subamostra do 10. ano...............................................................................................................................................................173 Tabela 71: Percepo do valor da aprendizagem segundo o curso na subamostra dos 11./12. anos..........................................................................................................................................................174 Tabela 72: Qualidade da aprendizagem: indicadores parcelares....................................................................176 Tabela 73: Qualidade da aprendizagem: indicador agregado .........................................................................177 Tabela 74: Variaes da qualidade da aprendizagem com as caractersticas escolares dos respondentes ...........................................................................................................................................................178 Tabela 75: Variaes da qualidade da aprendizagem nas sub- amostras......................................................178 Tabela 76: Percepo da qualidade da aprendizagem segundo o estilo educativo parental na subamostra do 10. ano.........................................................................................................................................179 Tabela 77: Sentido atribudo escolaridade no desenvolvimento profissional: indicadores parcelares..................................................................................................................................................................185 Tabela 78: Sentido atribudo escolaridade no desenvolvimento profissional: indicador agregado......186 Tabela 79: Variaes do sentido atribudo escolaridade no desenvolvimento profissional com as caractersticas pessoais e escolares dos respondentes......................................................................................187 Tabela 80: Sentido atribudo escolaridade no desenvolvimento profissional segundo o ano de escolaridade .............................................................................................................................................................188 _______________________________________________________________________________ 14

Socializao Escolar no Ensino Secundrio. Percursos Formativos e Imagens da Escola e da Escolarizao _______________________________________________________________________________ Tabela 81: Variaes do sentido atribudo escolaridade no desenvolvimento profissional nas subamostras ...................................................................................................................................................................189 Tabela 82: Sentido atribudo escolaridade no desenvolvimento pessoal e social: indicadores parcelares..................................................................................................................................................................190 Tabela 83: Sentido atribudo escolaridade no desenvolvimento pessoal e social: indicador agregado ...................................................................................................................................................................192 Tabela 84: Variaes do sentido atribudo escolaridade no desenvolvimento pessoal e social com as caractersticas pessoais e escolares dos respondentes.................................................................................193 Tabela 85: Clima relacional: indicador agregado ..............................................................................................197 Tabela 86: Clima educativo: indicador agregado ..............................................................................................198 Tabela 87: Variaes do sentido atribudo escolaridade no desenvolvimento profissional com dimenses do clima de escola ..............................................................................................................................199 Tabela 88: Sentido atribudo escolaridade no desenvolvimento profissional segundo o clima relacional na amostra global .................................................................................................................................200 Tabela 89: Sentido atribudo escolaridade no desenvolvimento profissional segundo o clima relacional na subamostra dos alunos dos 11. e 12. anos ..............................................................................201 Tabela 90: Sentido atribudo escolaridade no desenvolvimento profissional segundo o clima educativo na amostra global .................................................................................................................................202 Tabela 91: Sentido atribudo escolaridade no desenvolvimento profissional segundo o clima educativo na subamostra dos alunos dos 11. e 12. anos..............................................................................202 Tabela 92: Variaes do sentido atribudo escolaridade no desenvolvimento pessoal e social com dimenses do clima de escola nas amostras......................................................................................................204 Tabela 93: Sentido atribudo escolaridade no desenvolvimento pessoal e social segundo o clima educativo na amostra global .................................................................................................................................205 Tabela 94: Sentido atribudo escolaridade no desenvolvimento pessoal e social segundo o clima educativo na subamostra dos alunos dos 11. e 12. anos..............................................................................206

NDICE DE GRFICOS

Grfico 1: Composio da amostra por gnero ................................................................................................. 87 Grfico 2: Composio da amostra por idade .................................................................................................... 89 Grfico 3: Composio da amostra por ano de escolaridade frequentado ................................................... 93 Grfico 4: Composio da amostra por retenes no ano de escolaridade frequentado ........................... 95 Grfico 5: Composio da amostra por retenes em outros anos de escolaridade................................... 96 Grfico 6: Histrico escolar ................................................................................................................................... 97 Grfico 7: Nveis de Exigncia Comportamental ............................................................................................100 Grfico 8: Nveis de Apoio Parental...................................................................................................................103

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INTRODUO GERAL

Hoje, inegvel para qualquer sociedade que a sua capacidade de usar o conhecimento, de criar novo conhecimento e de o difundir representa um factor fundamental para atingir nveis de qualidade de vida superiores. Para tal, essencial que os pases sejam capazes de desenvolver os seus sistemas educativos e as suas organizaes escolares de forma a responderem a estes novos desafios. A inovao tecnolgica, a crescente complexidade do trabalho, as rpidas mudanas estruturais associadas s profisses, a expanso da educao de nvel superior e a necessidade de trabalhadores qualificados tendem a estimular o desejo e a necessidade de progresso escolar ou de formao no mundo global. As crises econmicas, a subalternizao do papel socializador da famlia e os desafios da sociedade do conhecimento levam a que a sociedade seja muito mais exigente relativamente ao papel da Escola. medida que a sociedade se vai tornando mais complexa, mais difcil e contraditria se torna a definio do que a educao deve ser. Ao longo dos ltimos anos, temos vindo a assistir a uma evoluo dos sistemas educativos, evoluo essa, intimamente, relacionada com a procura de respostas s solicitaes e expectativas da sociedade em geral e da economia, em particular. De facto, as presses sobre a sociedade fazem-se sentir, igualmente, sobre as organizaes escolares. A Escola como organizao, prope-se formar cidados aptos para a vida na sociedade actual. Sempre que a sociedade muda, a Escola tende a mudar, adequando-se s novas necessidades. Ser desejavelmente uma organizao flexvel e adaptativa que se molda ao meio que a rodeia. A Escola tem representado, principalmente nas ltimas dcadas, um espao alvo de permanentes mudanas, quer do ponto de vista das polticas educativas quer do ponto de vista social. _______________________________________________________________________________ 16

Socializao Escolar no Ensino Secundrio. Percursos Formativos e Imagens da Escola e da Escolarizao _______________________________________________________________________________ A realidade escolar portuguesa coloca o ensino, no que respeita a vrios parmetros, abaixo dos restantes pases europeus. Parmetros, como as taxas de abandono escolar e de reprovao so um dos indicadores que importa ter em considerao na aferio do grau de desenvolvimento de um pas. Em Portugal, pelos elevados nveis atingidos nestes indicadores negativos, essas taxas constituem um problema que urge resolver. A interveno para a resoluo deste problema passa pela valorizao da educao. Esta valorizao implica que cada aluno efectue o seu percurso educativo e formativo numa via de ensino mais adequadas ao seu perfil. Nesse sentido surgiram, nas escolas pblicas, cursos que possibilitam aos alunos o prosseguimento dos estudos secundrios em percursos distintos, segundo as suas capacidades, aptides e interesses pessoais. Cursos que estando, preferencialmente, orientados para a atribuio de uma certificao profissional, permitem que um grupo de alunos que, antes, tendencialmente, abandonava os sistemas de ensino, permanea, agora, na Escola, concluindo com xito o Ensino Secundrio. E a partir da uns ingressam no mercado de trabalho e outros, tendo reencontrado o sentido do trabalho acadmico, encaram a possibilidade de prosseguir para o ensino superior Sabendo-se que a sobrevivncia escolar fortemente marcada pela origem social dos alunos (cfr. ALVES-PINTO, 1995, p.54) e que as trajectrias vocacionais dos jovens so influenciadas, no s pelas famlias mas tambm pela Escola (ibid, pp. 65-71), importa saber se esta est a corresponder s aspiraes dos seus alunos, proporcionando, mesmo que por vias distintas, uma formao que vai ao encontro dos interesses de cada um. Centrando-nos na problemtica das relaes entre a socializao escolar e as imagens que os alunos dos vrios cursos do Ensino Secundrio tm da Escola e da Escolarizao, procuramos responder questo: Estar a escola secundria a conseguir uma aproximao na socializao dos seus alunos, ainda que por via de diferentes percursos escolares?. Dito noutros termos, ser que a frequncia de cursos de cariz profissionalizante recrutam alunos diversos, no s nas origens sociais, nas caractersticas escolares assim como nas representaes que tm da escola e do trabalho _______________________________________________________________________________ 17

Socializao Escolar no Ensino Secundrio. Percursos Formativos e Imagens da Escola e da Escolarizao _______________________________________________________________________________ escolar? No termo de percursos diversificados assistimos a um aprofundamento das diferenas das representaes da vivncia escolar ou pelo contrrio um esbatimento dessas diferenas? Este estudo foi estruturado em duas partes: uma referente pesquisa terica efectuada, e outra relativa ao estudo emprico realizado a partir de um inqurito por questionrio. A primeira parte subdivide-se em trs captulos, cada um abordando um conceito especfico. No primeiro aborda-se o conceito socializao. Aps a identificao dos principais agentes de socializao, caracterizam-se os processos de socializao primria e secundria. No segundo, tendo presente os estilos educativos parentais, centramos a anlise nos processos educativos que ocorrem no seio das famlias e na implicao que tm na vida escolar do aluno. No terceiro captulo abordamos o conceito das representaes sociais da escola. Porque a escola um espao e um tempo de interaco (re)criado pelos seus intervenientes, referimos o papel das representaes sociais na (co)vivncia do aluno com os outros membros da comunidade escolar. Evidencia-se o estatuto de actor social do aluno e as consequncias que desse estatuto advm para a vivncia na escola: a construo de uma identidade pessoal e social num ambiente que, por vezes, poder ser de conflito com outras identidades pessoais e sociais. Referem-se, tambm, algumas ideias chave da evoluo do Sistema Educativo Portugus ocorrida da ditadura at actual democracia poltica. Na segunda parte, constituda por dez captulos, explicitamos o contexto em que foi realizada a pesquisa, a estrutura do inqurito e respectivas chave de leitura dos diferentes indicadores utilizados, a caracterizao da amostra, os resultados obtidos e o seu tratamento estatstico assim como a anlise interpretativa dos mesmos. O fio condutor para a anlise dos indicadores recolhidos apresenta trs desenvolvimentos. Em primeiro lugar, na senda de autores que salientaram que as atitudes face escola esto mais dependentes das prticas educativas familiares e/ou dos estilos educativos familiares, quisemos integrar no s a caracterstica familiar relativa s habilitaes acadmicas dos pais mas tam_______________________________________________________________________________ 18

Socializao Escolar no Ensino Secundrio. Percursos Formativos e Imagens da Escola e da Escolarizao _______________________________________________________________________________ bm um indicador dos estilos educativos familiares. Este indicador passar a integrar as anlises subsequentes, a par das habilitaes acadmicas parentais. Num segundo momento, procurmos perceber como os alunos vem a escolha de curso, tentando analisar essa escolha segundo caractersticas individuais e familiares. De seguida procurmos captar indicadores relativos s imagens da Escola e da Escolarizao percepcionadas pelos alunos, centrando a nossa ateno no clima de escola, tendo optado por centrar a nossa ateno por um lado no clima relacional, por outro no clima de justia e por outro ainda no clima educativo. Nesta anlise do clima procurmos resposta nossa pergunta sobre o eventual aprofundamento ou eventual atenuao das diferenas de representaes no incio do ciclo (10 ano) e nos anos subsequentes (11 e 12 anos) Finalmente, apresentaremos uma concluso do que entendemos ser de particular pertinncia realar em resultado do projecto de investigao efectuado.

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Parte I FUNDAMENTAO TERICA_______________________________________________________________________________

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INTRODUO atravs da socializao que o indivduo se pode desenvolver como pessoa e ser admitido na sociedade. A socializao um processo fundamental no apenas para a integrao da pessoa na sua sociedade, mas tambm para continuidade dos sistemas sociais. Embora a socializao seja mais intensa durante a infncia e a adolescncia, , no entanto, um processo permanente, porque mudando de grupo e de posio social, os indivduos tm de se adaptar a novas situaes sociais e essa adaptao feita atravs da aprendizagem de novos modos padronizados de agir e mesmo de pensar. Ademais, todas as sociedades esto em permanente transformao, mudando os padres de organizao. Isto requer do indivduo, para que se possa adaptar s transformaes do seu ambiente social, a assimilao de novos padres de comportamento desenvolvidos na sociedade, pois s assim ele integrar as novas regras e se integrar, plenamente, na nova ordem social. O papel da escola nos processos de socializao das crianas e jovens foi ganhando interesse cientfico medida que a escolarizao se generalizou a todas as crianas. Se antes esta aco socializadora se limitava a um reduzido nmero de jovens, tendencialmente provenientes de famlias que tinham uma maior familiaridade com a cultura escolar, a massificao do ensino ocorrida na segunda metade do sculo passado, a par quer da melhoria da condio econmicas das famlias, quer da crescente interiorizao do valor da educao permitiu que um maior nmero de jovens tivesse percursos escolares cada vez mais longos e diferenciados. Procurando responder maior importncia que passou a ter para a formao dos jovens, a escola foi adaptando a sua aco socializadora, de forma a poder responder diversidade de pblicos que a demandavam. Se antes esta aco era entendida como o resultado da influncia das geraes mais velhas sobre as geraes mais novas, agora ela entendida como um processo multidireccional, em que a interaco entre socializadores e socializados influencia as representaes e _______________________________________________________________________________ 21

Socializao Escolar no Ensino Secundrio. Percursos Formativos e Imagens da Escola e da Escolarizao _______________________________________________________________________________ os significados que uns e outros tm de si e do mundo que os rodeiam (cfr. ALVES-PINTO, 2008, pp.20-22). A multiculturalidade que hoje existe na escola vai dando a cada interveniente no processo possibilidades de vivenciar experincias sociais diversificadas, em funo da multiplicidade de interesses pessoais que cada um transporta para a escola. As redes de relaes em que participa (ibid, p.24), permitem a cada um construir a sua identidade no de uma forma fixa e rgida mas em modalidades flexveis e estratgicas (ibidem). As escolhas que um jovem aluno vai sendo obrigado a tomar ao longo da sua vida, a opo de continuar ou abandonar a escola, a preferncia por determinado curso, a matrcula numa escola pblica ou privada, por exemplo, estaro relacionadas com as suas redes de relaes, sero maioritariamente da responsabilidade do jovem ou sero influenciadas pelas pessoas que o rodeiam? BORGES (2008, p.147), diz-nos que todo o processo de tomada de deciso, mesmo quando aparece como individual, vive no s das escolhas pessoais, individuais, mas tambm de todas as influncias que advm quer dos outros, quer do dos grupos em que o actor se encontra inserido, quer do ambiente que o rodeia. Os processos de deciso aparecem-nos, assim, fortemente condicionados por foras externas ao indivduo e no s pelas percepes e interpretaes que cada um possa fazer da realidade. Nesta perspectiva, a escola assume capital importncia nas tomadas de deciso de cada jovem, pois, enquanto organizao, tem responsabilidades acrescidas na formao de todos aqueles que a demandam. No passado a escola no conseguia responder eficazmente pluralidade de interesses dos jovens, contribuindo com isso para que muitos a abandonassem precocemente. Hoje, com a diversificao de respostas formativas, a escola procura responder a esta crescente multiplicidade de interesses, tentando com isso aumentar a escolaridade dos jovens e responder s diferentes necessidades de formao pessoal reveladas por cada um.

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Socializao Escolar no Ensino Secundrio. Percursos Formativos e Imagens da Escola e da Escolarizao _______________________________________________________________________________ A imagem que o jovem constri do seu futuro vai ser condicionada pela valorizao que conseguir atribuir escola e ao trabalho escolar. Os diferentes percursos formativos propostos aos jovens pelo sistema de ensino, a deciso de continuar ou abandonar a escola, o maior ou menor grau de influncia que tenha sofrido condicionaro as suas decises, pois as representaes sociais que os jovens fazem da escola, e dos diferentes percursos escolares, vo construindo-se e reconstruindo-se nos grupos, e pelos grupos, em que o indivduo se vai inserindo, sendo o resultado, como refere ABRIC (1997, p.13), de um processo e produto de uma actividade mental e da leitura que cada um faz de acontecimentos tendo em conta o Eu de cada um e do grupo. Se nenhum indivduo uma ilha isolada, as interaces que estabelecer ao longo da sua vida permitiro, a si e aos outros, dar inteligibilidade a algumas das suas aces e decises (cfr. BORGES, o.c. pp.122-150).

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1. SOCIALIZAO

Para a Sociologia, socializao significa transmisso e assimilao de padres de comportamento, normas, valores e crenas, bem como o desenvolvimento de atitudes e sentimentos colectivos pela comunicao simblica. Socializao, portanto, o mesmo que aprendizagem, no sentido mais amplo dessa expresso. ROCHER (1989, p. 126) define-o como o processo pelo qual ao longo da vida a pessoa humana aprende e interioriza os elementos scioculturais do seu meio, os integra na estrutura da sua personalidade sob a influncia de experincias de agentes sociais significativos e se adapta assim ao ambiente social em que deve viver. De modo similar, ALVES-PINTO (1995, p. 117) designa-o como o processo atravs do qual o ser humano cresce no interior da cultura da sua comunidade de origem. Refere DUBET (1994, p.142) que a socializao, so as expectativas, as ambies programadas, so os cdigos, que explicam, para l da racionalidade das opes ligadas ao contexto, as condutas dos indivduos. Embora a socializao tenha especificidades durante a infncia e a adolescncia, , no entanto, um processo permanente, porque, mudando de grupo e de posio social, os indivduos tm de se adaptar a novas situaes sociais e essa adaptao feita atravs da aprendizagem de novos modos de agir e mesmo de pensar. A socializao suporia [...], predominantemente, a adaptao do indivduo sociedade em que nasceu e em que cresceu (ALVES-PINTO, o.c., p.119). atravs da socializao que a pessoa se desenvolve e pode ser admitido na sociedade. A socializao , portanto, um processo fundamental no apenas para a integrao do indivduo na sua sociedade, mas tambm para continuidade dos sistemas sociais. A socializao no um processo que se inicia e termina em certo perodo. _______________________________________________________________________________ 24

Socializao Escolar no Ensino Secundrio. Percursos Formativos e Imagens da Escola e da Escolarizao _______________________________________________________________________________ Os estudos clssicos da sociologia da educao abordam dois espaos de socializao tradicionais - a famlia e a escola (cfr. DURU-BELLAT e VAN ZANTEN, 1992). Para ROCHER (o.c., p.127) este processo comea nascena, continua pela vida fora e s acaba com a morte. Inicialmente, a criana socializa-se a partir dos contactos com os familiares. A famlia surge, portanto, como o primeiro dos agentes de socializao.

1.1. Agentes de Socializao

A importncia da socializao nos primeiros anos de vida do indivduo indubitvel. Ao sair do grupo familiar a criana forada a inserir-se em vrios outros grupos, continuando a sua aprendizagem. medida que a criana se torna adulta, vai ingressando em inmeros grupos onde solicitada a representar diferentes papis, em conformidade com o seu estatuto de membro do grupo. Assim, a integrao em grupos, sejam eles desportivos, culturais, religiosos, polticos, laborais, etc., exige que assimile novas regras e padres no sentido de agir da maneira certa. ALVESPINTO (o.c., p. 130) considera que uma das condies absolutamente indispensveis [para atingir a maturao pessoal] a existncia de espaos onde a relao seja possvel [], espaos onde os jovens se sintam em relao com outros jovens e tambm com outros adultos capazes de relao com eles. Os espaos sociais exteriores famlia vo ganhando, cada vez mais, importncia no processo de socializao. Dos novos espaos a escola surge, realmente, como o grande espao de socializao.

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Socializao Escolar no Ensino Secundrio. Percursos Formativos e Imagens da Escola e da Escolarizao _______________________________________________________________________________ O elevado nmero de anos que passam nos bancos escolares e a funo prpria da escola ministrar os conhecimentos e desenvolver as capacidades necessrias transformao da criana num ser til sociedade -, conferem-lhe esse estatuto de grande agente de socializao. No mundo de hoje assistimos, no entanto, ao florescimento de outro importante e avassalador agente de socializao: os meios de comunicao de massas. A rdio, a televiso, a imprensa escrita, o cinema, a internet, constituem hoje poderosos instrumentos de aprendizagem, uma vez que incutem nas crianas e jovens normas, crenas, valores, modelos de conduta, etc., isto , modelam os comportamentos de todos. A socializao , assim, um processo dinmico e permanente. Se certo que a famlia funciona, primordialmente, na infncia, no podemos, contudo, recusar a importncia da escola, dos meios de comunicao e de outros agentes na socializao durante toda a nossa vida. A importncia e o papel de cada agente de socializao varia no tempo e de sociedade para sociedade. Da que a famlia tenha sido no passado, e talvez ainda hoje o seja, agente quase permanente de socializao, pese embora em modalidades que vo evoluindo. Se a famlia o agente dominante na infncia, a escola domina na pr-adolescncia e na adolescncia, partilhando o seu papel com os grupos de amigos.

1.1.1. Socializao primria

O recm-nascido vem ao mundo num grupo que se caracteriza, no s mas tambm, pela cultura que permite que os seus membros vivam, interajam e interpretem os vrios aspectos da sua experincia social. Mas quando nasce a criana s indirectamente tem acesso a esta cultura. Progressivamente vai-se integrando e aprendendo a atribuir sentido s modalidades de interaco e de comunicao que vai experimentando. _______________________________________________________________________________ 26

Socializao Escolar no Ensino Secundrio. Percursos Formativos e Imagens da Escola e da Escolarizao _______________________________________________________________________________ medida que toma contacto com o ambiente grupal que a rodeia, a criana torna-se, rapidamente, um ser cultural. Efectivamente, a criana vai tomando conscincia do que lhe exterior, repetindo e imitando atitudes e comportamentos que descobre nos outros indivduos, inicialmente nos seus familiares. A famlia, elo entre o ser biolgico e o cultural, uma instituio muito importante no processo de aprendizagem. na famlia que se vai dar a primeira socializao da criana. A famlia transmite aos seus descendentes um nome, uma cultura, um estilo de vida moral, tico e religioso. No obstante, mais do que a extenso de cada um desses recursos, cada famlia responsvel por uma maneira singular de vivenciar esse patrimnio. atravs da famlia, e no seu seio, que so proporcionadas criana as primeiras interaces com o meio, fsico e social, que a rodeia. Esta forma de socializao apelidada por BERGER e LUCKMAN (1999) como socializao primria. Para estes autores, os saberes bsicos incorporados pelas crianas da sua prpria relao com os adultos responsveis pela socializao. pela socializao primria que so interiorizadas normas e valores, assim como formas de relacionamento. atravs desta forma de socializao que a criana vai descobrir as coisas com que contacta mas tambm o universo simblico em que essas coisas se inscrevem e adquirem significado (ALVES-PINTO, 2003, p.29). A criana vai perceber o ambiente que a rodeia em funo da importncia que os adultos com quem interage do desse ambiente. Confrontadas com as mudanas que tm vindo a ocorrer na Sociedade, muitas famlias compartam com outras instituies, creches, jardins-de-infncia ou amas, a responsabilidade de socializar a criana. Actualmente, desde cedo a criana interage com variadas lgicas de actuao, com diversas formas de aceitao do certo e doerrado, que podem dificultar a interiorizao do outro generalizado. Ora o outro generalizado que permite a participao na rede de relaes jogando com a antecipao das expectativas recprocas. Esta variedade de mundos algo difcil de perceber e de aceitar pela criana pois esta fase da sua socializao caracteriza-se pelo facto de _______________________________________________________________________________ 27

Socializao Escolar no Ensino Secundrio. Percursos Formativos e Imagens da Escola e da Escolarizao _______________________________________________________________________________ o mundo dos adultos significativos no ser visto como um entre possveis, mas antes como o mundo, tout court (ALVES-PINTO, 1995, p.122). O desenvolvimento da criana nesta fase requer, com uma particular intensidade, que haja uma convergncia de atitudes entre os vrios actores responsveis pela sua socializao A apropriao e o respeito das normas que devem pautar a relao com os outros de igual e/ou diferente estatuto social nem sempre est suficientemente apropriada por todas as crianas que chegam escola, ficando, em parte, esta forma de socializao a cargo desta instituio. A socializao primria acaba quando a criana construiu a figura do outro generalizado, isto , quando percebe que num grupo, numa comunidade so as regras de interaco quem organiza as relaes entre as pessoas e destas com o mundo. Ora, toda a criana que chega escola j fechou o processo de socializao primria. Esse processo pode ter sido bem ou mal sucedido, mas, desejavelmente dever estar adquirido. A socializao secundria ir continuar o processo de socializao do indivduo.

1.1.2. Socializao secundria

ALVES-PINTO (o.c., p.124) levanta a seguinte questo: At que ponto muitas das crianas nas nossas escolas dispem de pontes entre seu mundo significativo (com que chegam escola) e o universo significativo que lhes imposto na socializao escolar?. Quando os processos de socializao vividos no seio da famlia e outras instncias de apoio famlia no so congruentes com os processos de socializadores da escola, a socializao escolar torna-se problemtica, provocando alteraes na forma de agir dos professores e na representao que os jovens fazem da instituio de ensino (cfr.THIN, 2006, pp.215-217).

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Socializao Escolar no Ensino Secundrio. Percursos Formativos e Imagens da Escola e da Escolarizao _______________________________________________________________________________ Numa primeira fase, a escola, atravs do ensino pr-primrio, representa a continuao da socializao primria, transmitindo criana novos conhecimentos acerca do mundo que a rodeia, novas formas de expresso, novas noes acerca da sua conduta; numa fase posterior, representa (ou deveria representar) uma preparao para o ingresso na vida activa (cfr. MONTANDON, 1994, pp.154-155). Contudo, convm no esquecer que a famlia continua a ter um papel relevante na socializao do aluno, por isso, escola e famlia, estejam disso conscientes ou no, esto em relao e comunicao permanente. Na figura sociolgica do go-between, as interaces entre famlia e escola, a alternncia do estatuto criana-aluno, as comunicaes entre as duas instituies so bem descritas por PERRENOUD na medida em que a criana, voluntria ou involuntariamente, coloca a escola e a famlia em contnua comunicao (cfr. PERRENOUD, 1995, p.91). Apesar das diferenas existentes nos vrias fases de escolarizao, cada uma [famlia e escola] chamada a jogar um papel educativo e a exercer um controlo sobre as condutas da criana, embora nenhuma domine, por si s, a situao (ibid, p.93). No passado, a escola sempre apresentou a tendncia de introduzir barreiras entre os seus diferentes nveis de escolaridade e respectivos pblicos E o que era pedido escola caracterizava-se por uma profunda ambiguidade: a escola era responsvel pela expanso do acesso ao conhecimento ao mesmo tempo que contribua para o fortalecimento de um saber restrito a poucos. A escola constitua-se como um mecanismo reprodutor das desigualdades, que levaria o adolescente a comportarse de maneira a realizar o que dele esperava a sociedade (cfr. BOUDON, 1973, pp. 69-70). Hoje a escola confrontada com uma enorme complexidade de interesses e presses, por vezes atravessados por ambiguidades e antagonismos, que condicionam a actuao dos vrios actores, o que traz a esta cooperao uma importncia fundamental. Pais e professores por vezes, concertam as suas atitudes educativas; noutras ocasies ignoram-se ou praticam um dilogo de surdos. No entanto, mesmo quando as relaes directas so cortadas ou reduzidas sua mais simples _______________________________________________________________________________ 29

Socializao Escolar no Ensino Secundrio. Percursos Formativos e Imagens da Escola e da Escolarizao _______________________________________________________________________________ expresso, pais e professores, permanecem interdependentes e continuam a comunicar atravs da criana (PERRENOUD, o.c., p.93). Actualmente, a escola tem necessidade de actuar no s no contedo bsico do desenvolvimento do conhecimento, mas tambm tem que permitir momentos de aco ao aluno, que deve ser visto como sujeito participativo do seu conhecimento e construtor dos valores que so fundamentais para a sua vida. A educao escolar desempenha um papel de socializao, contribuindo para a interiorizao pelo indivduo dos valores da sociedade. Assim, o aluno acaba por assumir um papel activo, como actor social, na definio das situaes de aprendizagem (DIOGO, 1998, p. 64). Neste sentido, a escola constitui ainda uma instituio de primeira linha na constituio de valores que indicam os rumos pelos quais a sociedade trilhar o seu futuro, promovendo uma intensa socializao entre pares e entre classes (cfr. ABRANTES, 2003). A socializao secundria no se esgota na socializao escolar. O aluno, o estudante participa numa multiplicidade de espaos de socializao o grupo de amigos do bairro, o grupo desportivo, os grupos de lazer, grupos de chat - . Desta diversidade de experincias socializadores decorre uma tambm pluralidade de referenciais, umas vezes distantes entre si outras vezes mesmo contraditrios. O indivduo no est completamente socializado em referncia a determinado instncia de socializao, no porque existam elementos que impeam o processo, mas porque o processo no tem unidade, no redutvel a um programa nico. Considera DUBET que existe alguma coisa de inacabado e de opaco na experincia social do indivduo contemporneo, porque no h adequao absoluta entre a subjectividade do actor e a objectividade do sistema. No existe uma socializao total, pois ocorre uma espcie de separao entre a subjectividade do actor e a objectividade de seu papel. E essa socializao no total, no porque ele escape influncia do social, mas porque a sua experincia desenvolve-se em palcos mltiplos e no congruentes (cfr. DUBET, 1994, pp. 95-100).

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Socializao Escolar no Ensino Secundrio. Percursos Formativos e Imagens da Escola e da Escolarizao _______________________________________________________________________________ A influncia de outros grupos, por exemplo, os que dominam os novos processos de produo de informao acabam por se tomar nos grupos de referncia para grande parte das crianas e jovens, ao mesmo tempo que os grupos sociais (famlia e escola) privilegiados at ento, vem o seu poder e estatuto diminuir, sendo obrigados a resistir ou a adaptar-se (cfr. LAHIRE, 2003, p.34). LAHIRE afirma que a famlia, a escola, os amigos e/ou as mltiplas instituies culturais com quem o jovem convive, apresentam situaes heterogneas, concorrentes e s vezes contraditrias, no que se refere aos princpios da socializao. A coerncia dos esquemas de aco que os indivduos podem interiorizar depende, portanto, da coerncia dos princpios de socializao a que esto submetidos. Desde que um indivduo esteja simultnea e continuamente no seio de uma pluralidade de mundos sociais, no homogneos e s vezes contraditrios, ou no seio de universos sociais relativamente coerentes, mas apresentando em certos aspectos contradies, ele est exposto a um conjunto de esquemas de aco no homogneos, no unificados, e consequentemente a prticas heterogneas, variando segundo o contexto social que ser levado a valorizar (cfr. LAHIRE, o.c., pp. 32-36). Por isso, em nossa opinio evidente a necessidade de um programa de formao dos professores em competncias que lhes permitam ajustarem-se s mudanas do mundo contemporneo, sendo capazes de suprir e atender aos jovens alunos, adequando o currculo das escolas e as prticas pedaggicas para acolhimento desta clientela que cada vez mais se afasta dos clientes ideais e que desde cedo comea a fazer uma experincia de socializao fragmentada. Esta situao exige uma maior colaborao entre a famlia e a escola. Mas mais do que falar de famlia importa falar de famlias. E isto no tanto em termos da constituio do agregado familiar, onde a diversidade tambm grande, mas sobretudo das prticas educativas familiares. So estas que com efeito mais nos interessam aqui, uma vez que so elas que ou convergem ou divergem das prticas educativas levadas a cabo pela escola. _______________________________________________________________________________ 31

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2. Estilos educativos parentais

A famlia o primeiro sistema social no qual o ser humano inserido, desde o seu nascimento. A famlia o lugar indispensvel para a garantia da sobrevivncia e da proteco integral dos filhos e demais membros. ela que propicia os alicerces afectivos e materiais necessrios ao desenvolvimento e bem-estar dos seus membros. Uma das funes que deve ser assegurada pela famlia a transmisso de valores. Esta transmisso contribui para a integrao das novas geraes na sociedade global. Contudo DURUBELLAT e VAN ZANTEN consideram que esta funo tem actualmente menor expresso, devido ao ritmo acelerado das mudanas sociais que conduzem inexistncia de diferenas entre as geraes, como indicia um grande nmero de trabalhos, principalmente anglo-saxnicos. O ponto da situao realizado no incio dos anos 90 faz ressaltar que o meio social das famlias, o nvel de educao, a sua profisso e o seu rendimento exercem uma influncia decisiva por um lado sobre os valores e objectivos que as guiam na educao das crianas, e por outro lado nos meios que utilizam para os atingir (cfr. DURU-BELLAT e VAN ZANTEN, 1992, p.169). As mudanas que se tm verificado nas relaes entre pais e filhos, decorrentes das transformaes pelas quais as famlias vm passando, tm levado a uma crescente interesse sobre o papel dos pais na educao dos filhos. Vrios estudos tm demonstrado que o estilo educativo parental tem uma influncia significativa em diversas reas do desenvolvimento dos filhos. Foram os trabalhos realizados em 1966 por D. Baumrind que alavancaram o estudo dos estilos parentais integrando tanto os aspectos do comportamento como os afectivos envolvidos na educao dos filhos. Para a autora, os pais so agentes essenciais na socializao dos filhos. _______________________________________________________________________________ 32

Socializao Escolar no Ensino Secundrio. Percursos Formativos e Imagens da Escola e da Escolarizao _______________________________________________________________________________ Na abordagem tipolgica das prticas parentais de socializao, D. Baumrind procurou explicar como os padres de controlo parental poderiam afectar o desenvolvimento dos filhos, verificando que as diversidades na configurao dos elementos de paternidade principais como afectividade, envolvimento, exigncias de maturidade e superviso produziam variaes no modo como os filhos respondem influncia paterna. Estudos posteriores, realizados em 1983 por E. Maccoby e J. Martin, reorganizaram a tipologia de D. Baumrind definindo duas dimenses: exigncia (demandingness) e responsividade (responsiveness) em relao aos filhos. A diferenciao dos estilos educativos parentais seria obtida pela conjugao da nfase atribuda ao controlo, superviso e exigncia comportamental, com o nvel de resposta percebida pelos filhos em relao ao apoio educativo e emocional que lhes prestado pelos pais. A exigncia parental inclui as atitudes dos pais que procuram de alguma forma controlar o comportamento dos filhos, disponibilizando-se como agentes socializadores, impondo-lhes limites e estabelecendo regras e expectativas de desempenho. A responsividade diz respeito s atitudes que os pais tm para com os filhos e que visam, atravs do apoio educativo e emocional, favorecer o desenvolvimento da autonomia e da autoafirmao dos jovens (cfr. TEIXEIRA et all, 2004 pp.433-434). Daquela conjugao resultam quatro estilos educativos parentais. Por um lado os pais do tipo autoritrio autocrtico esperam que os filhos lhes obedeam dando-lhes poucas ou nenhumas explicaes, no aceitando quaisquer exigncias dos educandos. Proporcionam um meio pouco caloroso, com uma reduzida comunicao e onde o castigo fsico habitual. Por outro lado os pais do tipo indulgente permissivo so considerados responsveis, apesar de evitarem controlar o comportamento dos filhos. Por outro lado ainda os pais do tipo autorizado recproco querem que os seus filhos sejam capazes de se auto-regular e sejam socialmente responsveis. E por fim o tipo _______________________________________________________________________________ 33

Socializao Escolar no Ensino Secundrio. Percursos Formativos e Imagens da Escola e da Escolarizao _______________________________________________________________________________ indiferente no envolvido refere-se aos pais que no se envolvem com seus papis de pais e a longo prazo, as componentes do papel parental tendem a diminuir cada vez mais, s vezes mesmo a desaparecer, at restar uma mnima relao funcional entre pais e filhos (cfr.BAUMRIND, 1991, p.62). Estilos parentais e prticas educativas so conceitos, por vezes tratados pela literatura, como sinnimos, outras, como concepes diferentes. Os dois conceitos referem-se ao processo de socializao das criana e jovens, estando estreitamente ligados entre si.

2.1. Prticas educativas familiares

As prticas educativas parentais correspondem a comportamentos definidos por contedos especficos e por objectivos de socializao; diferentes prticas parentais podem ser equivalentes para um mesmo efeito nos filhos. As prticas so estratgias com o objectivo de suprimir comportamentos considerados inadequados ou de incentivar a ocorrncia de comportamentos adequados (cfr. ALVARENGA, 2001). A atitude da famlia face escolaridade do filho(a) tem um impacto determinante no processo de socializao das crianas e jovens e que esse envolvimento deve ter como principais finalidades articular as prticas escolares com as prticas educativas familiares (cfr. BARROSO, 1995, p.13). DURU-BELLAT e VAN ZANTEN afirmam que no domnio dos mtodos educativos que as diferenas entre os meios sociais foram mais documentadas aps o Ps-Guerra, com estudos que evidenciavam que as famlias dos meios populares recorriam mais frequentemente vigilncia e s punies corporais, enquanto que as classes mdias utilizavam mais as punies de ordem psicol-

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Socializao Escolar no Ensino Secundrio. Percursos Formativos e Imagens da Escola e da Escolarizao _______________________________________________________________________________ gica (cfr. o.c., pp.170-172). Com todas as mudanas ocorridas entretanto na sociedade ser relevante perceber se essas diferenas perduram e se se manifestam de igual maneira.

2.1.1. Prticas educativas e meio social

Na sntese realizada no incio dos anos 90 sobre os estudos realizados sobre as prticas educativas nos diferentes meios sociais constataram-se diferenas relevantes. Nas classes populares atribuda grande importncia submisso e conformidade com as regras exteriores; adoptado mais frequentemente como principio educativo o controlo externo do comportamento da criana. Por sua vez, nas classes dos meios sociais mais favorecidos valorizada a originalidade e a iniciativa que marcam uma certa distncia em relao aos constrangimentos externos; como princpio educativo valoriza-se a liberdade da criana e a sua expresso pessoal. Tambm as funes que se reconhece escola na dupla vertente instrucional e educativa varia com o meio social (cfr. SEABRA, 2000, pp.71-93). Este estudo mostra que as famlias de meios populares defendem que deve existir uma troca de informao, mas no deve haver interferncias das famlias em relao escola. Por isso a escola encarada como algo exterior e superior. Embora esteja de certa forma difundida a ideia que estas famlias no se interessam pela escola, algumas investigaes mais recentes tm revelado precisamente o contrrio, ou seja, estas famlias tm revelado um significativo investimento na escolaridade dos filhos, assim como mostram desejo em acompanhar a escolarizao dos filhos, mas so confrontadas com um sentimento de impotncia que lhes advm das dificuldades que tm para acompanhar as matrias escolares e tambm para acompanhar os assuntos tratados nas reunies (cfr. DIOGO, o.c. pp.36-37; cfr. DAVIES, et all, 1989, p.114).

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Socializao Escolar no Ensino Secundrio. Percursos Formativos e Imagens da Escola e da Escolarizao _______________________________________________________________________________ A criana pode ser envolvida por pessoas que representam princpios de socializao, tipos de orientao a respeito da escola muito diferentes, at mesmo opostos. A oposio ou a contradio pode estabelecer-se, conforme os casos, entre o controlo moral muito estrito e a indulgncia, entre a diverso e o esforo escolar, entre uma sensibilidade muito grande para com tudo o que diz respeito escola e uma menor afectividade para as tarefas educativas escolares. SEABRA (1999, p.32) refere que os estudos tm assinalado que (...) os pais de classe mdia tm maiores aspiraes quanto ao futuro profissional dos filhos e maiores expectativas que essas aspiraes se realizem e sentem-se mais eficazes na conduta em relao escola que os pais de classes populares. Contudo, prtica comum em qualquer dos grupos sociais, verificar-se que o horizonte educativo e profissional desejvel para os filhos se situa, quase sempre, acima daquele que foi obtido pelos encarregados de educao. Sendo vista por muitos pais como um meio de promoo social, a escolaridade das crianas sentida pelas famlias de forma dspar quer nos contactos (comunicao) que tm com a escola, quer na participao directa nos trabalhos escolares (cfr. LAHIRE, 2003, p.45) ou mesmo no apoio educativo que prestam aos seus filhos. Por isso, o recurso a explicaes deixa de ser uma prtica apenas mobilizada pelas famlias quando os filhos correm o risco de perder o ano escolar, para se transformar numa prtica recorrente para se garantir o acesso s fileiras escolares mais ambicionadas (S e ANTUNES, 2007, p.148). As famlias vm utilizando um vasto conjunto de estratgias de forma a elevar ao mximo, no mbito da competitividade, as hipteses de sucesso dos filhos, revelando possurem projectos para os filhos e elevadas expectativas em relao escolaridade.

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2.2. Expectativas familiares face Escola

Uma parcela dos pais (sobretudo os mais desprovidos diante dos saberes e da pedagogia escolares) no participa regularmente no trabalho escolar, ou intervm apenas quando os resultados pioram substancialmente. Para esses pais, o q