1.1 teorias da comunicaÇÃo e jornalismo

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« Teorias da Comunicação Teoria Hipodérmica Posted by analisesdejornalismo em agosto 16, 2009 Por Bruno Barros Barreira Esta foi uma das primeiras tentativas de estudar a comunicação, ainda nos anos 1920 e 1930. É importante lembrar também que a Teoria Hipodérmica faz parte da chamada Escola Americana de Comunicação ou do grupo da chamada Pesquisa Administrativa – que incluem as pesquisas financiadas por grandes corporações privadas, interessadas em verificar quais os efeitos da comunicação sobre a massa. Ou seja, não é difícil de imaginar, portanto, que ela possuía um foco bastante interessado na publicidade e propaganda. Essa teoria ganhou grande destaque também principalmente por causa da bem-sucedida campanha de Hitler, na Alemanha nazista, que conseguia forte apoio popular, para pôr em prática seus ideais. Conceituação A Teoria Hipodérmica vê a sociedade como uma massa homogênea de Indivíduos, substancialmente iguais, não distinguíveis. Portanto, não acredita que a massa disponha de regras de comportamento, tradições ou estrutura organizacional. Ou seja, não vê um contato relacional abundante entre os cidadãos, pois acredita que estes interagem muito pouco entre si. Assim, a Teoria Hipodérmica vê um isolamento dos indivíduos. Assim, quando as comunicações conseguem atingir esses indivíduos isolados, a persuasão acontece facilmente, com grande efeito, sem resistências. Por isso essa teoria também é conhecida como Teoria Bala, devido ao forte impacto atribuído a mensagem enviada por um Meio de Comunicação. O Modelo da Teoria Hipodérmica

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Page 1: 1.1 TEORIAS DA COMUNICAÇÃO E JORNALISMO

« Teorias da Comunicação

Teoria Hipodérmica

Posted by analisesdejornalismo em agosto 16, 2009

Por Bruno Barros Barreira

Esta foi uma das primeiras tentativas de estudar a comunicação, ainda nos anos 1920 e 1930. É importante lembrar também que a Teoria Hipodérmica faz parte da chamada Escola Americana de Comunicação ou do grupo da chamada Pesquisa Administrativa – que incluem as pesquisas financiadas por grandes corporações privadas, interessadas em verificar quais os efeitos da comunicação sobre a massa.

Ou seja, não é difícil de imaginar, portanto, que ela possuía um foco bastante interessado na publicidade e propaganda. Essa teoria ganhou grande destaque também principalmente por causa da bem-sucedida campanha de Hitler, na Alemanha nazista, que conseguia forte apoio popular, para pôr em prática seus ideais.

Conceituação

A Teoria Hipodérmica vê a sociedade como uma massa homogênea de Indivíduos, substancialmente iguais, não distinguíveis. Portanto, não acredita que a massa disponha de regras de comportamento, tradições ou estrutura organizacional. Ou seja, não vê um contato relacional abundante entre os cidadãos, pois acredita que estes interagem muito pouco entre si. Assim, a Teoria Hipodérmica vê um isolamento dos indivíduos.

Assim, quando as comunicações conseguem atingir esses indivíduos isolados, a persuasão acontece facilmente, com grande efeito, sem resistências. Por isso essa teoria também é conhecida como Teoria Bala, devido ao forte impacto atribuído a mensagem enviada por um Meio de Comunicação.

O Modelo da Teoria Hipodérmica

A Teoria Bala possui uma estrutura bem simples, representada pela seguinte formula:

E → R.

Onde E significa estímulo e R resposta. A forma de dualidade mostra que o E é um elemento crucial que compreende todo o indivíduo, de onde se espera que uma resposta seja produzida inevitavelmente. Ou seja, o indivíduo pode ser controlado, manipulado e induzido a agir.

O Desenvolvimento da Teoria Hipodérmica – O modelo de Laswell

Nesse caso, apesar de um certo avanço, a estrutura comunicacional ainda é entendida pela formula E → R. Isso significa que a compreensão existente ainda se baseia que o

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Emissor trabalha sozinho, sem ser influenciado pelas respostas do público. Assim, fica claro que o Emissor é Ativo e o público, sempre, Passivo.

A comunicação ainda é vista como intencional e orientada e toma como irrelevante as relações interpessoais do destinatário. Seguindo, portanto, esse entendimento básico da Teoria Hipodérmica, Laswell desenhou a seguinte estrutura:

1. Quem2. Diz o quê

3. Por qual canal,

4. A quem,

5. Com qual efeito

Como pode-se perceber a questão nuclear do modelo de Laswell totalmente correspondente a estrutura ER. Por isso, os livros mais atuais não fazem divisão quando expõem a Teoria Hipodérmica e a estrutura comunicacional de Laswell, dada a mesma nuclearidade de ambas.

Mas indagações importantes começaram a ser observadas. Ao tentar observar os esfeitos na prática dos esforços de comunicação, Laswell percebeu que a questão era mais complexa do que sua base teórica previa. O que deu início a novas pesquisas que superaram a Teoria Hipodérmica com seu núcleo ER.

As novas teorias foram Teoria Empírico-Experimental, Tória Empírica de Campo, Teoria Estrutural-Funcionalista e Teoria dos Usos e Gratificações. Vamos estudar cada uma delas nos próximos itens.

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Teoria da Abordagem Empírico-Experimental ou da Persuasão

Posted by analisesdejornalismo em agosto 17, 2009

Por Bruno Barros Barreira

O modelo comunicacional da Teoria Empírico-Experimental (ou da Persuasão) permanece semelhante ao da Teoria Hipodérmica, mas com a adição do fator psicológico. Assim, sua formula representa uma revisão da relação mecanicista e imediata do E→R (Estímulo → Resposta), para a seguinte formula: E→FP→R (Estímulo→Fatores Psicológicos→Resposta).

Ao enxergar dessa forma, a abordagem de estudo deixa de ser global – baseado na crença de que todo estímulo gera uma reação (behaviorista) – para se tornar direcionada com o intuito de entender qual a melhor maneira de aplicar a comunicação com sucesso persuasivo e entender os eventuais insucessos dessas tentativas.

Ou seja, a Teoria Empírico-Experimental (ou da Persuasão) acredita que a persuasão (objeto da pesquisa) é algo possível de se alcançar. Assim, para que os efeitos esperados sejam alcançados, a comunicação deve-se adequar aos fatores pessoais do destinatário. Portanto, diferente da Teoria Hipodérmica, não toma como irrelevante as características pessoais do destinatário.

Usos

Assim como a teoria hipodérmica, a teoria empírico-experimental faz parte do grupo das chamadas pesquisas administrativas (Comunication Research) da Escola Americana de Comunicação. Foi aplicada como suporte para campanhas eleitorais, informativas, propagandísticas e publicitárias. Seu uso tem duração definida, com objetivos claros. Ela é intensa, pode ser avaliada e é usada por instituições dotadas de poder e autoridade.

Pressupostos para aplicação

O processo para a aplicação da Teoria Empírico-Experimental obedece a observação mais pormenorizada a dois itens:

1) O destinatário (audiência)

2) Fatores ligados a mensagem

Esses dois itens foram destrinchados em alguns princípios que, segundo a teoria, pode garantir o sucesso da campanha persuasiva.

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1) Fatores ligados ao destinatário (audiência)

a) O interesse do indivíduo em querer adquirir informação. Isso significa que para existir sucesso numa campanha, é necessário que o próprio público queira saber mais sobre o assunto que está sendo transmitido.

b) Exposição seletiva. Trata-se de saber escolher quais veículos de informação irão atingir o público-alvo com maior precisão. Exemplo: rádio? Televisão? Também serve para os produtores dos veículos descobrirem seus públicos e saber o que eles querem ver, ouvir ou ler.

c) Percepção seletiva – os indivíduos não se expõem aos Meios de Comunicação num estado de nudez psicológica, pois são revestidos e protegidos por predisposições existentes. Como exemplo, as crenças religiosas, ideologias liberais ou conservadoras, partidarismo, preconceitos, empatias com o emissor etc.

d) Memorização seletiva – o indivíduo tende a guardar somente aquilo que é mais significativo para ele em detrimento dos outros valores transmitidos, chamados aqui de secundários. Mas também pode ocorrer o efeito latente, onde a mensagem persuasiva não tem efeito algum no momento imediato em que é transmitido, mas com o passar do tempo, o argumento rejeitado pode passar a ser aceito.

2) Fatores relativos à mensagem

a) A credibilidade do comunicador. Estudos mostram que a mensagem a mensagem atribuída a uma fonte confiável produz uma mudança de opinião significativamente maior do que aquela atribuída a uma fonte pouco confiável. Mas a pesquisa não descarta que, mesmo na fonte não confiável, pode ocorrer o efeito latente.

b) A ordem das argumentações. A maior força de um dos argumentos influenciam a opinião numa mensagem com múltiplos pontos de vista. Fala-se que um efeito primicy caso se verifique a maior eficácia dos argumentos iniciais. E efeito recency, caso se verifique que os argumentos finais são mais influentes.

c) O caráter exaustivo das argumentações. Tenta argumentar um assunto de forma exaustiva até esgotá-lo para convencer a opinião pública.

d) A explicação das conclusões de um determinado fato/acontecimento. Chama-se alguém com autoridade no assunto, para analisar um acontecimento ou fato, mas não há dados suficientes se esse tipo de persuasão realmente ocorre.

Conclusão

A Teoria Empírico-Experimental afirma que pode haver influência e persuasão na comunicação. Mas a influência e a persuasão não são indiscriminadas e constantes. Ou seja, não ocorre pelo simples fato de acontecer o ato de comunicar, como cria a Teoria Hipodérmica. Assim, a pesquisa empírico-experimental observou que deve ser

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atendida a necessidade de atenção ao público-alvo e suas características psicológicas. Dessa forma, ela acredita que a comunicação pode obter efeitos consideráveis.

Teoria da Abordagem Empírica em Campo ou “dos efeitos limitados”

Posted by analisesdejornalismo em agosto 26, 2009

Por Bruno Barros Barreira

Essa teoria da comunicação possui uma orientação sociológica. Assim, a perspectiva psicológica da Teoria da Abordagem Empírico-Experimental (ou da Persuasão) é deixada de lado. Agora, na Teoria da Abordagem Empírica em Campo ou “dos efeitos limitados”, o olhar da pesquisa recai sobre toda a mídia de forma global, a partir do ponto de vista da capacidade geral de influência sobre o público.

Portanto, o principal problema-objeto persiste na capacidade de influência da mídia sobre o público, mas com uma diferença em relação às pesquisas precedentes. Se a Teoria Hipodérmica falava em manipulação rápida e a Empírico-Experimental se ocupava da persuasão; esta está voltada para o conceito de influência não exercida apenas pela mídia, mas contemplando os relacionamentos comunitários, onde os meios de comunicação são apenas um componente à parte.

Isso significa que ela consiste em unir os processos de comunicação de massa às características do contexto social em que eles se realizam. Sendo assim, a teoria se aprofunda mais especificamente em dois itens: 1) diferenciação de públicos e seus modelos de consumo de comunicação de massa e 2) a mediação social que caracteriza o consumo.

1) O primeiro item é destrinchado nos seguintes pontos:

1.1 A pesquisa sobre o consumo dos meios de comunicação de massa

1.2 Análise de conteúdo – saber o que o consumidor extrai do conteúdo

1.3 Características dos ouvintes – saber o que o programa significa para os ouvintes; qual seu apelo. A quem atrai? Sexo, idade, grupos sociais.

1.4 Estudos sobre as gratificações – o que determinado programa significa para elas? Qual o apego emocional?

Resumindo, o primeiro item apresenta, desde o início, uma análise mais complexa do que uma simples questão quantitativa. Em primeiro lugar, ela investiga os efeitos pré-seletivos e os efeitos sucessivos. Ou seja, o meio seleciona o próprio público e apenas posteriormente exerce alguma influência sobre ele.

Claramente, a abordagem mostra que esta pesquisa também faz parte do grupo chamado de Pesquisa Administrativa. Ou seja, as pesquisas que foram incentivadas por grupos empresariais interessadas em explorar os Meios de Comunicação de Massa. Em

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seu período histórico de desenvolvimento,tais estudos foram desenvolvidos por Lazarsfeld, principalmente interessado em entender os impactos do rádio sobre a sociedade.

2) O segundo item: a “mediação social” que caracteriza o consumo, preocupa-se, portanto, com o “contexto social e os efeitos dos meios de comunicação de massa”.

Aqui, a pesquisa compreende que os efeitos provocados pelos meios de comunicação de massa dependem das forças sociais que prevalecem num determinado período. Ou seja, ela diz respeito às dinâmicas sociais que se cruzam com os processos de comunicação. Assim, não é à toa que as pesquisas mais famosas dessa área estão voltadas com maior interesse em entender o processo de formação da opinião pública em determinadas comunidades, observando as forças sociais que prevalecentes no local.

É justamente neste ponto que surgiu a figura do “líder de opinião”. Sua descrição é de um sujeito interado e interessado nos assuntos da mídia, que pode influenciar a opinião de seus concidadãos da mesma comunidade. Temos aqui, claramente, o famoso efeito “two-step flow of comunication” de Lazarsfeld, que enxerga a comunicação ocorrendo em dois níveis. Primeiro a comunicação atinge o líder de opinião, para depois ela ser repassada para os demais membros dessa comunidade (pastores, líderes sindicais, chefes comunitários, partidos políticos, associação de moradores, entre outros).

Fica mais fácil, portanto, entender porque essa teoria se chama Abordagem Empírica em Campo ou “dos efeitos limitados”, pois vê claramente a limitação da comunicação dos mídias em atingir a sociedade como um todo de maneira uniforme. Graficamente, a abordagem é representada da seguinte forma:

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No entanto, a pesquisa reconhece que esse é apenas um dos caminhos formadores da opinião pública. O outro modo seria o da cristalização das opiniões, que emerge das interações recíprocas dos componentes do grupo. Estes estariam acima dos líderes de opinião, pois interagem entre si num processo complexo, que é o da influência pessoal. O que marca uma compreensão totalmente diversa da teoria hipodérmica e sua superação. Os efeitos dos Meios de Comunicação de Massa são, em última análise, limitados.

Assim, de modo geral, a Teoria da abordagem Empírica sustenta que a eficácia da comunicação de massa é largamente vinculada e dependente de processos de comunicação internos à estrutura social em que vivi o indivíduo e que são efetuados pela mídia.

Como conclusão, pode-se dizer que o modelo da influência interpessoal salienta, de um lado, a não-linearidade do processo com que se determinam os efeitos sociais da mídia e, de outro, a seletividade intrínseca à dinâmica de comunicação. E, nesse caso, encontra-se menos vinculada aos mecanismos psicológicos do indivíduo (como queria a Teoria da Persuasão) do que à rede de relações sociais – que constitui o ambiente em que vive o indivíduo.

Teoria funcionalista

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Ir para: navegação, pesquisa

A teoria funcionalista aborda globalmente os meios de comunicação de massa no seu conjunto. A questão de fundo já não são os efeitos, mas as funções exercidas pela comunicação, o que a distancia das teorias precedentes. Consiste, resumidamente, em definir a problemática dos mass media a partir do ponto de vista do funcionamento da sociedade e da contribuição que os mass media dão a esse funcionamento. Dessa forma, a Teoria funcionalista representa uma importante etapa na crescente e progressiva orientação sociológica da communication research.

[editar] Contexto

Pós Segunda Grande Guerra

[editar] Principais autores

Merton, Lasswell, C. Wright, Schramm, De Fleur, Blumler, Katz, Max Webber

[editar] Aspectos Importantes

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O equilíbrio e a estabilidade do sistema provêm das relações funcionais que os indivíduos e os subsistemas ativam no seu conjunto.

A palavra-chave desta teoria é função

A lógica que regulamenta aos fenômenos sociais é constituída por relações de funcionalidade que visam à solução de quatro problemas fundamentais, ou imperativos funcionais, que todo sistema social deve enfrentar:

1) A Manutenção do modelo e o controle das tensões 2) A adaptação ao ambiente 3) A perseguição do objetivo 4) A integração

No que diz respeito ao problema da manutenção do esquema de valores, o subsistema das comunicações de massa é funcional, na medida em que desempenha parcialmente a tarefa de realçar e reforçar os modelos de comportamento existentes no sistema social.

A função é entendida como conseqüência objetiva da ação.

As funções podem ser diretas ou indiretas, latentes ou manifestas.

À medida que a abordagem funcional se enraíza nas ciências sociais, os estudos sobre os efeitos passam da pergunta "O que é que os mass media fazem às pessoas?" para a pergunta " O que é que as pessoas fazem com os mass media?"

Os mass media são eficazes na medida em que o receptor experimenta satisfaçoes a suas necessidades

Tanto o emissor, como o receptor são parceiros ativos

[editar] As funções das comunicações de massa

Wright apresenta em Milão, em 1959, um ensaio pelo qual descreve-se uma estrutura conceitual que deveria permitir inventariar , em termos funcionais, as ligações complexas que existem entre os mass media e a sociedade. São elas: Relativa à sociedade:

Alerta os cidadãos contra perigos e ameaças

Fornece instrumentos para se exercitar certas atividades, como por exemplo, as trocas econômicas

Relativas ao indivíduo:

Atribuição de posição social e prestigio às pessoas que são objeto de atenção dos mass media

O reforço do prestígio por ser um cidadão bem informado

O reforço das normas sociais, caráter ético, confirmando as normas sociais, denunciando seus desvios à opinião pública.

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Melvin De Fleur salienta a função que particulariza a capacidade de resistência dos mass media aos ataques

[editar] As disfunções das comunicações de massa

O fato do fluxo informativo dos mass media circular livremente pode ameaçar a estrutura fundamental da própria sociedade

A exposição a grandes quantidades de informação pode provocar a chamada "disfunção narcotizante"

[editar] A hipótese dos "Usos e Gratificações"

Mesmo que diferenciemos as necessidades das funções, é possível conceber, em termos funcionais, a satisfação das necessidades sentidas pelos indivíduos (Wright, 1974). Katz, Gurevitch e Haas (1973 distinguem cinco classes de necessidades que os mass media satisfazem:

Necessidades cognitivas: aquisição e reforço de conhecimentos e de compreensão

Necessidades afetivas e estéticas: reforço da experiência estética, emotiva

Necessidades de integração a nível social: reforço dos contatos interpessoais

Necessidades de integração a nível da personalidade: segurança, estabilidade emotiva

Necessidade de evasão; abrandamento das tensões e dos conflitos

Esta hipótese articula-se em cinco pontos fundamentais:

A audiência é concebida como ativa

Depende da audiência relacionar a escolha do mass media, com a satisfação da necessidade

Os mass media competem com outras fontes de satisfação das necessidades

Muitos dos objetivos da utilização dos mass media podem conhecer-se através de dados fornecidos pelos destinatários

Devem suspender-se os juízos de valor acerca do significado cultural das comunicações de mass

A hipótese dos usos e satisfações implica um deslocamento da origem do efeito do conteúdo da mensagem, para todo o contexto comunicativo. A atividade seletiva e interpretatva do destinatário, baseada sociologicamente na estrutura das necessidades do indivíduo, passa a constituir parte estável do processo comunicativo, formando uma dos seus componentes não elimináveis.

É neste quadro, que toda a hipótese do efeito linear do conteúdo dos mass media sobre as atitudes, valores ou comportamentos do público é invertida, na medida em

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que é o receptor que estabelece se existirá, pelo menos, um processo comunicativo real.

Os mass media não são a única fonte de satisfação dos vários tipos de necessidades sentidas pelos indivíduos

[editar] Críticas

Esse modelo teórico está próximo a um funcionalismo psicológico ao supor que a mídia existe para suprir necessidades. Se esse modelo influenciar demandas sociais, será difícil explicar como grupos diversos possam vir a fazer "uso" de conteúdos idênticos para todos e deles derivarem alguma "satisfação".

Os usos e gratificações:

Os usos e gratificações: A teoria dos usos e gratificações é talvez, de entre as teorias que, na tradição norte-americana de pesquisa, rejeitam os efeitos totais, uma das que revelou uma maior sistematização. Já não se pretende apenas descobrir o efeito simples e directo do meio sobre a audiência, senão antes as necessidades que as pessoas conseguem satisfazer com a utilização desse mesmo meio. Ou seja, pretende-se identificar o tipo e grau satisfação alcançado por um determinado meio de comunicação e as consequências que este representa para os valores e as condutas desse grupo.

Com efeito, a principal mudança de perspectiva a que se assistiu com os usos e gratificações consiste no pressuposto segundo o qual “mesmo a mensagem do mais potente dos mass media não pode influenciar um indivíduo que não faça uso dela no contexto sócio-psicológico em que vive” (Katz, 1959 citado por Wolf, 1987: 61). Esta teoria pretende realçar a forma como a recepção das mensagens é produzida de acordo com as necessidades do receptor e não apenas de acordo com os desejos do emissor. Por isso, aponta como um elemento essencial dos seus pressupostos uma percepção da audiência como um conjunto activo e diversificado, que tem capacidade de escolha e de interpretação das mensagens, de acordo com necessidades e desejos particulares que espera satisfazer através dos meios de comunicação. Trata-se de um modelo que refuta a hipótese informacional protagonizado pela transmissão unilateral de dados.

Entre os trabalhos que fazem parte do acervo teórico deste tipo de análise contam-se os seguintes: O trabalho de Berelson, realizado durante uma greve de um jornal nova-iorquino, em que se identificam funções desempenhadas pelos jornais na perspectiva dos leitores como sejam a) interpretar e fornecer explicações sobre os comportamentos; b) constituir um elemento central na vida quotidiana; c) ser uma fonte de descontracção d) constituir prestígio social e) ser um instrumento de contacto social; f) ser um ritual da vida quotidiana (Berelson, 1949); O estudo de Bertha Herzog que revelou que as novelas diárias servem para responder a alguns dos problemas quotidianos das mulheres sugerindo padrões de comportamento adequados (Herzog, 1944);

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Um estudo israelita sobre os usos da televisão durante a Guerra do Yom Kippur que mostrou que a rádio era a principal fonte usada para obter informação enquanto a televisão desempenhava um papel de redução de tensões.

O recente estudo de Zelizer e Allan sobre a enorme dependência demonstrada em relação aos media no sentido de conseguirem extrair um sentido para acontecimentos desmesurados do 11 de Setembro acaba por confirmar algumas das hipóteses levantadas nomeadamente por Katz em relação aos usos da televisão por determinadas comunidades como sucedeu com Israel em relação à Guerra do Kippur. Um repórter do New York Times especulou sobre o pesadelo que teria sucedido se a transmissão noticiosa, nomeadamente por televisão, tivesse sido afectada (Zelizer e Allan, 2003: 4-5).

Por outro lado, os atributos teóricos despertados pela hipótese de usos e gratificações apontam para uma certa tipologia de necessidades que os media satisfazem: a) necessidades cognitivas relacionadas com a aquisição e reforço de conhecimentos e de compreensão; b) necessidades afectivas e estéticas relacionadas com a experiência estética, subjectiva e emotiva; c) necessidades de integração e de consequente incremento da estabilidade emotiva, da segurança e da credibilidade social; d) necessidades de integração social; e) necessidades de evasão e de abrandamento dos conflitos e tensões (Katz, Gurevitch e Haas, 1973 citado por Wolf, 1987: 63).

Apesar das possibilidades demonstradas, surgiram dúvidas de natureza teórica por vezes suscitadas pelos próprios criadores da teoria. Katz, Blumer e Gurevitch (1974: 30) admitiram, com efeito, a possibilidade de os media serem responsáveis pela criação das necessidades que satisfazem. Dito de outra forma, será possível questionar se os meios jornalísticos não determinarão de antemão a gama de satisfações e de gostos entre as quais a audiência poderá escolher posteriormente. Nesta caso, o facto de um entrevistado por uma sondagem declarar que uma determinada necessidade foi satisfeita não indica o verdadeiro grau de funcionalidade do meio na sua capacidade de responder a uma necessidade.

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Teoria crítica da sociedade

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Ir para: navegação, pesquisa

Teoria Crítica da Sociedade é uma abordagem teórica que, contrapondo-se à Teoria Tradicional, de tipo cartesiano, busca unir teoria e prática, ou seja, incorporar ao pensamento tradicional dos filósofos uma tensão com o presente. A Teoria Crítica da Sociedade tem um início definido a partir de um ensaio-manifesto, publicado por Max Horkheimer em 1937, intitulado "Teoria Tradicional e Teoria Crítica". Foi utilizada, criticada e superada por diversos pensadores e cientistas sociais, em face de sua própria construção como teoria, que é autocrítica por definição. A Teoria Crítica é comumente associada à Escola de Frankfurt.

[editar] Citação

"Em meu ensaio "Teoria Tradicional e Teoria Crítica” apontei a diferença entre dois métodos gnosiológicos. Um foi fundamentado no Discours de la Méthode [Discurso sobre o Método], cujo jubileu de publicação se comemorou neste ano, e o outro, na crítica da economia política. A teoria em sentido tradicional, cartesiano, como a que se encontra em vigor em todas as ciências especializadas, organiza a experiência à base da formulação de questões que surgem em conexão com a reprodução da vida dentro da sociedade atual. Os sistemas das disciplinas contém os conhecimentos de tal forma que, sob circunstâncias dadas, são aplicáveis ao maior número possível de ocasiões. A gênese social dos problemas, as situações reais nas quais a ciência é empregada e os fins perseguidos em sua aplicação, são por ela mesma consideradas exteriores. – A teoria crítica da sociedade, ao contrário, tem como objeto os homens como produtores de todas as suas formas históricas de vida. As situações efetivas, nas quais a ciência se baseia, não são para ela uma coisa dada, cujo único problema estaria na mera constatação e previsão segundo as leis da probabilidade. O que é dado não depende apenas da natureza, mas também do poder do homem sobre ele. Os objetos e a espécie de percepção, a formulação de questões e o sentido da resposta dão provas da atividade humana e do grau de seu poder." (Max Horkheimer, Filosofia e Teoria Crítica, 1968, em Textos Escolhidos, Coleção Os Pensadores, p. 163)

[editar] Caracterização

Um dos principais objetivos do Instituto de Pesquisas Sociais era o de explicar, historicamente, como se dava a organização e a consciência dos trabalhadores industriais. Entretanto, os pressupostos teóricos da Escola de Frankfurt se estenderam a diversas áreas das relações sociais, entre elas a Comunicação Social, o Direito, a Psicologia, a Filosofia, a Antropologia, entre outras.

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A teoria parte do princípio de uma crítica ao caráter cientificista das ciências humanas, ou seja, de uma crítica da crença irrestrita na base de dados empíricos e na administração como explicação dos fenômenos sociais (por exemplo, como crítica ao Funcionalismo). A preocupação, pautada pela organização dos trabalhadores, está centrada, principalmente, em entender a cultura como elemento de transformação da sociedade. Neste sentido, a Teoria Crítica utiliza-se de pressupostos do Marxismo para explicar o funcionamento da sociedade e a formação de classes, e da Psicanálise para explicar a formação do indivíduo, enquanto elemento que compõe o corpo social. Esta postura se fortalece, principalmente, com o Nazismo e o Fascismo na Europa. Um dos principais questionamentos se dava no sentido de entender como os indivíduos se tornavam insensíveis à dor do autoritarismo, negando a sua própria condição de indivíduo ativo no corpo social.

Como o Instituto era patrocinado com recursos judeus, além de sua explícita linha marxista de análise, os pesquisadores como Max Horkheimer (diretor) e Theodor Adorno, entre outros, se veêm obrigados a deixar a Alemanha Nazista, fugidos da perseguição de Hitler. Já nos Estados Unidos, estes pesquisadores acompanham o surgimento do que os funcionalistas chamam de "Cultura de Massa" com o desenvolvimento de novas tecnologias de comunicação, principalmente o Rádio. Os pensadores da Escola de Frankfurt contestam o conceito de Cultura de Massa, no sentido de que ele seria uma maneira "camuflada" de indicar que ela parte das bases sociais e que, portanto, seria produzida pela própria massa.

Ainda nos anos 1940, os pesquisadores de Frankfurt propõem o conceito de Indústria Cultural em substituição ao conceito de Cultura de Massa. Pensadores como Adorno e Lazarsfeld chegaram a desenvolver pesquisas em conjunto, buscando aproximar os conceitos do Funcionalismo com o da Teoria Crítica. Entretanto, a proposição de Indústria Cultural e de Cultura de Massa estavam distantes demais.

[editar] Propostas da Teoria Crítica

Ela propõe a teoria como lugar da autocrítica do esclarecimento e de visualização das ações de dominação social, visando não permitir a reprodução constante desta dominação (na verdade, esta formação crítica a que se propõem os pensadores de Frankfurt pode ser entendida como um alerta à necessidade do esclarecimento da sociedade quanto às ordens instituídas). Neste sentido, a Teoria Crítica visa oferecer um comportamento crítico nos confrontos com a ciência e a cultura, apresentando uma proposta política de reorganização da sociedade, de modo a superar o que eles chamavam de "crise da razão" (nova crítica ao Funcionalismo). Eles entendiam que a razão era o elemento de conformidade e de manutenção do status quo, propondo, então, uma reflexão sobre esta racionalidade.

Desta forma, há uma severa crítica à fragmentação da ciência em setores na tentativa de explicar a sociedade (ordens funcionais - a sociedade entendida como sistemas e sub-sistemas). Assim, propõem a dialética como método para entender a sociedade, buscando uma investigação analítica dos fenômenos estudados, relacionando estes fenômenos com as forças sociais que os provocam. Para eles, as disciplinas setoriais desviam a compreensão da sociedade como um todo e, assim, todos ficam submetidos à razão instrumental (o próprio status quo) e acabam por desempenhar uma função de manutenção das normas sociais. A dialética se dá no sentido de entender os fenômenos estruturais da sociedade (como a

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formação do capitalismo e a industrialização, por exemplo), fazendo uma crítica à economia política, buscando na divisão de classes os elementos para explicar a concepção do contexto social (como o desemprego, o terrorismo, o militarismo, etc.). Em resumo, há uma tentativa de interpretar as relações sociais a fim de contextualizar os fenômenos que acontecem na sociedade. Partindo deste pressuposto, as ciências sociais que "reduzem" seus estudos à coleta e classificação de dados (como acontece com a pesquisa norte-americana) estariam vedando a si próprias a verdade, porque estariam ignorando as intervenções que constantemente ocorrem no contexto social.

A Teoria Crítica tem uma agenda clara. Ela não adota uma postura anti-management, mas percebe acadêmicos da área como ideólogos, servindo aos interesses de grupos dominantes. Sua meta maior é criar sociedades e organizações livres da dominação, em que todos possam contribuir e desenvolver-se.

[editar] Pontos positivos/contribuições

Visão estrutural, radicalidade crítica, procura enxergar além das aparências. Exercício do raciocínio dialético e da complexidade analítica, inspiradora de reflexões sobre nós e o mundo. Perspectiva macrossocial, que procura vislumbrar a complexidade do sistema, do qual os meios de comunicação em massa são uma parte. Quadro conceitual fornece elementos de crítica à sociedade de modo geral e às relações de dominação.

[editar] Pontos negativos

Elitismo cultural – crença excessiva no potencial da alta cultura. Pessimismo analítico, que conduzem (por vezes) à passividade. A incapacidade de resolução viável dos problemas apresentados.

[editar] Expoentes

Horkheimer, Pollock, Löwenthal, Adorno, Benjamin, Marcuse, Habermas

Teoria culturológica

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Ir para: navegação, pesquisa

A teoria culturológica é uma teoria da comunicação criada na década de 1960, principalmente a partir da obra de Edgar Morin "Cultura de massa no século XX: o espírito do tempo"[1].

Esta teoria parte de uma análise da teoria crítica, segundo a qual os mídia seriam o veículo para a alienação das massas. Os culturólogos, por seu lado, vêem a cultura como uma fabricação dos mídia, fornecendo às massas aquilo que elas desejam: uma informação transformada por imagens de grande venda e uma arte produzida na óptica da indústria, ou seja, massificada e vendida pelos mídia como se fosse uma imagem da realidade em que as pessoas vivem.

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Segundo eles, a cultura nasce de uma forma de sincretismo, juntando a realidade com o imaginário

Luiz Beltrão e sua Teoria da Folkcomunicação

Postado por Tamara Beghini às 19:47

Por:Tamara Beghini

Luiz Beltrão

Pernambucano de Olinda foi o pioneiro da pesquisa científica sobre os fenômenos comunicacionais na universidade brasileira. Nascido em 8 de agosto de 1918, Luiz Beltrão foi fundador do Instituto de Ciências da Informação, primeiro centro acadêmicos nacional de estudos midiáticos, e da primeira revista de ciências da comunicação (Comunicações & Problemas), na Universidade Católica de Pernambuco, em 1963. Tornou-se também o primeiro doutor em comunicação no Brasil (Universidade de Brasília, 1967). Sua obra ganhou reconhecimento nacional e prestígio internacional, nos âmbitos do jornalismo e da comunicação de massa. Foi ao mesmo tempo, educador, pesquisador e divulgador científico. Luiz Beltrão faleceu em Brasília em 1986.

Beltrão formou toda uma geração de professores e pesquisadores da comunicação. E converteu os resultados das suas pesquisas em material didático, difundido na sala de aula ou estocado em livros direcionados a jovens estudantes e profissionais.

Tem uma vasta bibliografia comunicológica, subdividida em três segmentos:

a) Teoria e Pesquisa da Folkcomunicação;

b) Fundamentos teóricos da Comunicação de Massa;

c) Teoria e pesquisa do Jornalismo. Além disso, publicou livros de reportagem, contos e novelas, dedicando-se ao memorialismo na sua última fase de produção intelectual.

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Teoria da Folkcomunicação

Um estudo dos agentes e dos meios populares de informação de fatos e expressão de idéias (Tese de Doutoramento), Brasília, UnB, 1967.

Material retirado do livro: Folkcomunicação: teoria e metodologia.

São Bernardo do Campo: Umesp, 2004.

Comunicação é o problema fundamental da sociedade contemporânea - sociedade composta de uma imensa variedade de grupos, que vivem separados uns dos outros pela heterogeneidade de cultura, diferença de origens étnicas e pela própria distância social e espacial.

Os grupos constitutivos da sociedade ora estão organizados com uma missão específica a cumprir e interesses definidos a salvaguardar, como é o caso do Estado, da Igreja, do sindicato ou da empresa; ora são informais, ligados apenas espiritualmente por certas idéias filosóficas, interesses gerais e experiências comuns à espécie humana - como a Nação, os crentes, os trabalhadores, os consumidores.

Há, entretanto, na sociedade contemporânea, não obstante as características próprias e os conflitos de interesses imediatos de cada grupo, uma unidade mental, decorrente da própria natureza humana dos seus componentes e de um universal consenso. Os grupos acham-se, assim, vinculados a uma ordem semelhante de idéias e a um propósito comum: - adquirir sabedoria e experiência para sobreviver e aperfeiçoar a espécie e a sociedade. Sabedoria e experiência, sobrevivência e aperfeiçoamento que só se conseguem mediante a comunicação, - o processo mínimo, verbal e gráfico pelo qual, os seres humanos intercambiam sentimentos, informação e idéias.

Os grupos que compõem a sociedade atual são, entretanto, grandes, heterogêneos e dispersos. Não mais podem ser reunidos, como os atenienses na Ágora ou os romanos no Fórum, para que ouçam as mensagens e tomem decisões. Em conseqüência, a comunicação direta, pessoal, cara a cara, permitindo o diálogo com as suas reações imediatamente constatadas, tornou-se limitada, de efeitos pouco rendosos e apuração lenta. Para a sociedade de massa, exige-se a comunicação maciça, coletiva, que, utilizando diferentes instrumentos e técnicas, fornece mensagens de acordo com a identidade de valores dos grupos e, dando curso a diferentes pontos de vista, fomenta os interesses comuns, ora desintegrando ora criando solidariedade social.

A comunicação coletiva não se faz entre um indivíduo e outro como tal, mas em forma colegiada: o comunicador é uma instituição ou uma pessoa institucionalizada, que transmite a sua mensagem, não para alguém em particular, mas para quantos lhe desejam prestar atenção.

Embora estabelecida através de uma distância de tempo, espaço ou espaço-tempo, entre as partes e, aparentemente, unilateral, desde que, em regra, é feita através de um meio técnico construído de tal forma que somente o comunicador “fala”, constitui um diálogo, tanto como a comunicação pessoal.

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Nesta, o comunicador envia mensagem ao receptor que reage, tornando-se comunicador para enviar mensagem de retorno ao primeiro comunicador, tornado receptor, visando outra reação. E o processo se reinicia ou se interrompe, pondo termo ao fenômeno comunicativo. Na comunicação pessoal, privada, há interrupções periódicas e mesmo definitivas da atividade comunicativa entre o comunicador e o receptor - que são indivíduos entregues a diversas outras atividades, algumas das quais dispensam a comunicação. Mesmo porque o comunicador pessoal é movido por interesse particular, a sua mensagem tem um caráter predominantemente interesseiro. Devo falar com o meu chefe no escritório todos os dias, mas quando me transfiro de ocupação, posso até mesmo deixar inteiramente de estabelecer contato com ele.

Na comunicação coletiva, porém, o órgão comunicador só exerce uma espécie de atividade - a comunicativa. Não há, portanto, interrupções do circuito ou perda de contato entre os dois elementos - o agente e o paciente do processo. Assim, embora a comunicação coletiva seja, tecnicamente, unilateral, os receptores na verdade alimentam o diálogo, utilizando outros meios mecânicos para manifestar a sua reação, que não se reclama seja necessariamente em palavras. Porque a resposta à mensagem, na comunicação coletiva, não é discussão, mas ação.

Daí que a investigação dos meios utilizados para a reação dos receptores e a avaliação do seu conteúdo, através de inquéritos e pesquisas que se traduzem em cálculos e estimativas, em classes e médias, tem de ser objeto contínuo da atividade do comunicador coletivo, a fim de orientar a sua própria conduta, em favor dos desejos e necessidades do órgão receptor, também coletivo.

Simultaneamente com a caracterização da sociedade de massa e o estabelecimento do império dos símbolos, que marcam o auge da competição individual e coletiva, mas reclamam como nunca um certo tipo de consenso na ação social, verificou-se a revolução tecnológica na comunicação. Iniciada com a publicação de impressos e a instituição dos correios, foi acelerada neste século com o cinema, o rádio e a televisão.

A nova situação ampliou o campo do comunicador coletivo e, conseqüentemente, exigiu o estudo e a investigação. Mais mesmo dos efeitos, uma vez que a escolha dos meios, canais, métodos e técnicas para tornar eficientes e produtivas as comunicações depende de um balanço sistemático das reações às mensagens expedidas.

Nos tipos de comunicação direta, a avaliação da reação é automática, facilitada pela singeleza do processo. Mas na comunicação coletiva a reação tem de ser inferida: há que captá-la, analisá-la e submetê-la a confronto com outros fatos e circunstâncias sociais, sob diferentes ângulos e adotando diferentes critérios e métodos. A avaliação, aqui, deixa de ser automática para ser ponderada.

Folkcomunicação é, assim, o processo de intercâmbio de informações e manifestação de opiniões, idéias e atitudes da massa, através de agentes e meios ligados direta ou indiretamente ao folclore.

A folkcomunicação também se especializa, torna-se caracterizada de acordo com os seus objetivos e efeitos combinados.

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"Cultural Studies"

Nos anos 50 e 60, surge em Inglaterra um projecto que procura estudar as práticas culturais quotidianas, no contexto do protagonismo dos media. Nascido no Center of Contemporary Cultural Studies (CCCS) em Birmingham, é conhecido actualmente por Cultural Studies ou Estudos Culturais. Em parte, os Cultural Studies surgem, precisamente, como resposta intelectual às mudanças preconizadas por Walter Benjamim, em 1930, e por Adorno e Horkheimer, nos anos 40 do século XX: ao impacto da televisão, dos jornais, das revistas e da publicidade, e ao advento das subculturas e das novas formas de cultura popular, que começaram a ter protagonismo enquanto mediada pelos meios de comunicação de massa e novas tecnologias. É neste período que é abandonada a “Cultura” para se afirmarem várias culturas e práticas culturais.

No entanto, não podemos desprezar as políticas culturais desenvolvidas por Mathew Arnold (1822-1898) e Frank Raymond Leavis (1895-1978) que predominaram nos estudos ingleses até metade do século XX e que estiveram na origem dos Cultural Studies. Mathew Arnold foi dos primeiros teóricos a falarem de “cultura popular”, mesmo que o tenha feito de um modo radicalmente negativo, oposta à “verdadeira” cultura e emergente da desordem social e política que se vivia então na Inglaterra. Cultura era para este teórico “o melhor que se tenha pensado e dito no mundo” por uma minoria intelectual, que assentava nos clérigos. Frank Raymond Levis continua com esta concepção arnoldiana de cultura, opondo-se veementemente à cultura de massa. A cultura popular é sinónimo de mau gosto, superficialidade e declínio. São os cânones da literatura e das artes que devem salvar a humanidade. (Sousa, 2004: 20).

São considerados fundadores dos Cultural Studies Richard Hoggart (“The Uses of Literacy”, 1957), Raymond Williams (“Culture and Society”, 1958) e Edward Thompson (“The Making of the English Working Class”, 1963). Mais tarde, junta-se Stuart Hall, que tem também um papel decisivo na emergência deste projecto. Estes teóricos pegam de forma definitiva nos temas de cultura popular, cultura do operariado e cultura de massa, dando-lhes importância enquanto objectivo de estudo, o que constitui, de facto, uma ruptura com o passado. Richard Hoggart foi o primeiro a elevar a cultura popular a objecto de investigação científica, pesquisando no seio das classes operárias britânicas sobre os hábitos e estilos de vida dessas pessoas, ou seja, a sua cultura. Também Thompson e Williams estudam a cultura a partir dos exemplos populares.

O traço distintivo dos Cultural Studies é o papel central que atribuem aos media nas mudanças sociais e culturais; nesse sentido, estes estudiosos defendem que a análise cultural deverá integrar tanto a cultura idealista, que se focaliza no ideal de perfeição intelectual e artística, como a cultura patrimonial, centrada nos registos, memórias e documentos produzidos pela humanidade e a cultura de práticas quotidianas. No entanto, a cultura de massas não é somente um produto dos media – é o resultados das sociedades policulturais modernas.

Num dos seus livros mais importantes, “The Sociology of Culture”, Raymond Williams relembra a dificuldade em definir o termo “cultura”, traçando uma curta cronologia da evolução deste conceito quanto ao seu significado, desde o sinónimo “cultivo” e a partir do século XVIII como

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cultivo do espírito e uma forma de vida dos iluminados. Williams distingue ainda três significados comuns do termo “cultura”: como estado mental diferenciado (uma pessoa culta); como processos do seu desenvolvimento (“interesses culturais”); e meios desses processos (cultura como artes e trabalhos intelectuais). Estes significados coexistem com a definição antropológica de “uma forma de vida” de um grupo ou pessoa.

Segundo este sociológico, usa-se a palavra “cultura” em dois sentidos: para designar todo um modo de vida, reflectido nas actividades culturais, como linguagem, estilos artísticos e trabalho intelectual, e numa perspectiva de “ordem social” (“a whole social order”) no seio de uma cultura específica, em que os estilos artísticos e trabalhos intelectuais derivam de outras actividades sociais. Estas duas vertentes integram-se na perspectiva idealista e materialista, respectivamente (Sousa, 2004: 39).

Esta definição de cultura tem uma relação directa com o seu carácter “ordinário”, isto é, algo usual e comum a todas as pessoas, sejam elas de classe alta sejam de baixa. Deste modo, rompe também com a classificação da cultura de “elite” ou “popular”. A cultura não se restringe à produção artística, mas inclui todas as expressões e significações de valores de um povo. Parte do seu projecto é, precisamente, estudar a “cultura comum” em oposição à de massa ou à de “elite”, uma divisão que, segundo Williams, não existe.

Até hoje, foi criado e desenvolvido um espaço de discussão variada sobre as várias dimensões da cultura (seja ela alta ou baixa, de elite ou popular) e das suas vertentes sociológica, antropológica e até económica. Mas o importante é que todos os estudos se centram nos media e nos novos media para compreender os diversos fenómenos culturais são só a nível local como global.

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Teoria matemática da comunicação ou Teoria da informação é a primeira teoria da comunicação que começa a germinar no pós-guerra, no âmbito da Matemática e da engenharia elétrica, e ao nível das telecomunicações.

Em julho e outubro de 1948, o matemático estadunidense Claude Shannon (1916-2001), considerado o pai da teoria da informação, publica o artigo científico intitulado Teoria Matemática da Comunicação ("A Mathematical Theory of Communication"), no Bell System Technical Journal. Em 1949, Shannon com o também matemático estadunidense Warren Weaver (1894-1978) publicam juntos o livro Teoria Matemática da Comunicação (The Mathematical Theory of Communication), contendo reimpressões do artigo científico anterior de forma acessível também a não-especialistas - isto popularizou os conceitos

Nestas publicações é apresentado um modelo linear de comunicação, simples mas extraordinariamente eficiente na detecção e resolução dos problemas técnicos da comunicação. A teoria matemática da comunicação visava a precisão e a eficácia do fluxo informativo, procurando não se cingir apenas à área da engenharia, mas servir de referência a qualquer âmbito da comunicação. Pretendia, assim, ser adaptável a qualquer processo de comunicação, independentemente das características dos seus componentes.

Sinal Sinal (recebido)

| |

Fonte de Informaçao --> Transmissor --> Canal --> Receptor --> Destinatario

^

|

Fonte de ruido

Esta teoria expandiu-se em 3 níveis:

- Técnico: condições/características técnicas dos dispositivos para uma boa transmissão da informação.

- Semântico: não é um nível importante, pois não interessa o significado da mensagem, mas sim que o que é transmitido é aquilo que é recebido.

- Eficácia: transmissão clara, sem ruído, com que a mensagem é recebida.

Estes são 3 níveis a considerar em qualquer teoria da comunicação, mas, no caso da Teoria Matemática da Comunicação, o nível técnico é o mais importante e o mais desenvolvido. Norbert Wiener também contribuiu para esta teoria, pois foi o “pai” da cibernética, a ciência do controle da comunicação. A sua principal contribuição foi no nível da aplicação de um conceito de “ruído” não só físico, mas englobando também tudo aquilo que impossibilita a correcta recepção da informação. A cibernética desenvolveu-se querendo figurar em todas as áreas da comunicação, pois afirma que os princípios da regulação e retroacção dos sistemas são universais, sendo aplicados com êxito a inúmeras áreas de conhecimento.

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TEORIAS DO JORNALISMO

Teoria do Gatekeeper ou Teoria da Ação Pessoal

Posted by analisesdejornalismo em agosto 20, 2009

Por Bruno Barros Barreira

O termo Gatekeeper significa “Guardião do portal”. Só por essa definição já podemos notar claramente que a teoria repousa sobre o processo de produção e seleção de notícias, partindo da ação pessoal do profissional da área: o jornalista – mais especificamente na função de editor, já que a figura do Gatekeeper mostra um agente que decide o que se transformará efetivamente em fato ou acontecimento noticiado, ou se serásimplesmente descartado.

Em termos acadêmicos, sabe-se que a Teoria do Gatekeeper é uma das primeiras a surgir na literatura específica do jornalismo. Seus contornos foram traçados na década de 1950, por David Mannig White. O pesquisador acompanhou a rotina do “Mr. Gate”, um edior não identificado, para entender como se dava os critérios de noticiabilidade e entender porque as noticias são como são.

White chegou à conclusão de que o processo de escolha é extremamente subjetivo, apesar dos pressupostos de objetividade do jornalismo. E que o editor, em última instancia, representa um funil que seleciona as notícias, decidindo arbitrariamente o que seria ou não publicado. Ou seja, White descreveu que o jornalista baseia-se em seu próprio conjunto de experiências, atitudes e expectativas.

Críticas à Teoria do Gatekeeper

De uma forma geral, as críticas dos estudiosos da área recaem na visão limitada de White em querer analisar todo o jornalismo simplesmente a partir da figura do editor ou jornalista. Isso porque, dessa forma – apesar das teorias atuais não negarem a subjetividade da profissão – as análises do Gatekeeper não consideram fatores externos que influenciam nas decisões do profissional.

Enfim, a questão organizacional, a linha editorial, o público alvo, audiência, concorrência entre outros fatores importantes ficam de fora. Um claro exemplo é a semelhança dos produtos jornalísticos, como os jornais impressos ou os telejornais que possuem quase o mesmo leque de cobertura noticiosa, com os mesmos assuntos.

Uma das primeiras teorias que contestaram as afirmações de White foi a Teoria Organizacional, mostrando as influências do ambiente de trabalhos sobre o jornalista.

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A Teoria do Espelho

Posted by analisesdejornalismo em agosto 15, 2009

Por Bruno Barros Barreira

De acordo com esta teoria, as notícias de um bom jornalismo representam a realidade em sua forma fiel. Ou seja, ela acredita que o bom jornalismo consegue transmitir a realidade perfeitamente, como um espelho reproduz a imagem. A imparcialidade, aqui, é vista como completamente possível, pois crê que o jornalista é, como um profissional honesto, um “comunicador desinteressado”.

O que isso significa? Para a Teoria do Espelho, o jornalista não deixará que suas paixões políticas e toda a sua formação cultural interfiram na comunicação. Isso significa que nem mesmo a sua forma de ver o mundo, com seus conceitos de bom e mal, irão prejudicar a reportagem ou notícia.

A Teoria do Espelho parte da própria formação da sociedade capitalista democrática, onde o princípio de imparcialidade sempre foi visto como fundamental para a livre circulação da informação na sociedade, vista como um direito do cidadão. Daí o princípio histórico do jornalismo em ser imparcial, se conter aos fatos, sem distorcer a verdade.

Contestações

No entanto, os estudos de mídia e jornalismo mais recentes mostram ser impossível que os jornalistas consigam, de fato, reproduzir a verdade como um todo. Isso porque a “verdade” pode variar de acordo com o conjunto de crenças culturais e valores sociais em que se encontra.

Por exemplo, será que a verdade para um muçulmano é a mesma para um cristão? Será que a verdade para um capitalista é a mesma para um socialista? Ou melhor, será que a forma de ver o mundo para um trabalhador é a mesma forma de ver o mundo para um empresário? A resposta é simples: não. Onde está verdade, então?

Podemos perceber, portanto, que a “verdade” não é algo tão simples. Muitas vezes, a “verdade” é algo construído ao longo da existência de uma sociedade através de sua cultura. Por isso, cada vez mais, a Teoria do Espelho é rejeitada pelos estudiosos da área, já que ela chega a ser inocente em sua crença.

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Teoria Organizacional

Na teoria organizacional, o fator econômico é o mais influente, pois o jornalismo é um negócio que busca o lucro. A organização está voltada para obter mais receitas que despesas.O departamento mais importante é o comercial, que reserva espaço para a publicidade, antes do espaço das notícias. O jornalista é socializado na política editorial da organização por meio de uma lógica de recompensa e punições. Ele se conforma com as normas editoriais, que passam a ser mais importantes do que as crenças individuais.

TEORIA ETNOGRAFICA

A palavra etno quer dizer cultura. A teoria etnográfica só ocorre a partir do momento em que existe uma pesquisa de campo, onde o pesquisador vai se despir de sua cultura para vivera cultura do outro.

Nessa metodologia o pesquisador não deve apenas conhecer profundamente a cultura que esta estudando, deve também se apropriar dela, fazer parte de sua dinâmica.

A teoria etnográfica consiste nas diferentes formas de ver o mesmo fato. O jornalista deve despir-se de suas visões estereotipadas para enxergar diferentes angulações e contextos. Ver com as lentes do outro.

Segundo Roberto DaMatta, para vestir a capa de etnólogo, é preciso realizar uma dupla tarefa: transformar o exótico em família e o familiar em exótico.

O método etnológico, acoplado à perspectiva teórica do newmaking, parece colocar uma pá de cal na teoria instrumentalista ao perceber que as rotinas profissionais têm muito mais influência na produção das notícias do que uma possível conspiração manipuladora da imprensa. Ou seja, a maior influência do jornalista é a sua propria cultura.

TEORIA DO ESPIRAL DO SILENCIO

O conceito da Teoria da Espiral do Silêncio surgiu pela primeira vez em 1972, no 20º Congresso Internacional de Psicologia, em Tóquio. Nesse congresso, vários intelectuais participaram com papers, artigos, debates e diversas mesas.

Uma das participantes foi a pesquisadora alemã Noelle-Neuman que apresentou o paper Return to the concept of powerful mass media. Studies of broadcasting 9. No entanto, veio a público somente nos Estados Unidos em 1984, doze anos depois da primeira apresentação, em forma de livro e intitulado Espiral do Silêncio.

Para Noelle-Neuman, as pessoas tendem a esconder opiniões contrárias à ideologia majoritária (que ajuda a manter o status quo) e dificulta na mudança de hábitos, porque o pensamento é hegemônico e linear, baseado no senso da maioria. Seria o senso comum?

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A opção pelo silêncio, diz a pesquisadora alemã, é causada pelo medo da solidão social, que se propaga em espiral e, algumas vezes, pode até esconder desejos de mudança presentes na maioria silenciosa. Esses desejos são sufocados pela espiral do silêncio, pois que os indivíduos são influenciados pelo que os outros dizem como também pelo que imaginam que eles poderiam dizer.

Cada vez que alguém se vê com opinião contrária do grupo em questão, com medo de não ser receptivo, prefere o silêncio à solidão. É um livro * que precisa ser lido, interpretado e discutido pela maioria dos discentes, principalmente pelo estudante de jornalismo.

A mudança, diz Noelle-Neuman, só ocorre se houver um sentimento de que ela já é dominante, mas isso demora muito a acontecer, pois que depende da mídia. Observe o que a autora diz sobre essa questão:

O resultado é um processo em espiral que incita os indivíduos a perceber as mudanças de opinião e a segui-las até que uma opinião se estabelece como atitude prevalecente, enquanto as outras opiniões são rejeitadas ou evitadas por todos, à exceção dos duros de espírito. Propus o termo espiral do silêncio para descrever este mecanismo psicológico.

A mídia privilegia as opiniões dominantes consolidando-as e ajudando-a, dessa forma, a calar as minorias (na verdade, maiorias) isoladas. Aqui, a teoria da espiral do silêncio aproxima-se da teoria dos definidores primários, pois ambas as teorias defendem que a tal prioridade é causada pela facilidade de acesso de uma minoria privilegiada (fontes institucionais) aos veículos de informação, afirma Noelle-Neuman.

Nesse sentido, a maioria silenciosa não se expressa e nem é ouvida pela mídia, o que leva à conclusão, diz Noelle-Neuman, de que o conceito de opinião pública é totalmente distorcido.

A Teoria da Espiral do Silêncio defende que os indivíduos buscam a integração social por meio da observação da opinião dos outros e procuram se expressar dentro dos parâmetros da maioria para evitar o isolamento. Para Felipe Pena (2006)**, um exemplo típico de espiral do silêncio encontra-se no período de eleições: os candidatos que estão à frente tendem a receber mais votos, pois a maioria entende que se ele está à frente é porque deve ter preferência da maioria e, portanto, deve ser bom e merece ser eleito.

Outro exemplo que o autor cita refere-se à convivência em bairros, muitas vezes, os indivíduos não se manifestam com reclamações com medo do isolamento. A Teoria do Espiral do Silêncio trabalha com três mecanismos condicionantes, que juntos influenciam a mídia sobre o público, que não chega a ser tão absoluta como na teoria hipodérmica, mas é decisiva para consolidar os valores da classe dominante e formar a percepção da realidade. Os mecanismos são:

1) Acumulação: excesso de exposição de determinados temas na mídia;

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2) Consonância: forma semelhante como as notícias são produzidas e veiculadas;

3) Ubiqüidade: presença da mídia em todos os lugares.

TEORIA DA NOVA HISTORIA

A Teoria da Nova História assemelha o jornalista biógrafo ao historiador. Os teóricos da Nova História são franceses, ou seja, foi na França que este estudo iniciou-se. Michel de Certeau é um protagonista. Para Certeau, reflexão é necessária, precisa-se refletir sobre a produção dos fatos, porque a metodologia histórica insiste desde sempre para o inventário e não à construção do discurso. O primeiro momento, portanto, é de reflexão.

História é a arte da encenação, isto é, a combinação de um lugar social, de práticas científicas e de uma escrita, afirma Certeau. A história e o jornalismo não reconstituem a verdade, mas, interpretam-na. Mesmo preocupados com o público, os jornalistas estão subordinados a regras institucionais e seguem modelos. Deve-se, segundo Certeau, analisar o discurso histórico dentro da instituição a qual pertence e organizá-lo, (Re) estruturá-lo.

A história é cheia de lacunas, há buracos gigantescos em torno de fins de um período e inícios de outro. A maior parte não foi revelada, é desconhecida, é mistério, não está escrita, é metonímia, é metáfora oculta. Desconhecemos o passado. Nesse sentido, o jornalista é o reflexo dos acontecimentos, assim como o historiador. Estes sempre esbarram em problemas como: o desconhecimento do final da história, o excesso de informação, a falta de confiabilidade das fontes, o não acesso aos arquivos, etc.

Outro problema é a influencia da mídia que cria um consenso comum, um ideário coletivo. O que a realidade propõe, o imaginário dispõe. Pena utiliza o discurso de Pierre Nora sobre o suicídio de Marilyn Monroe, para exemplificar tais afirmações. Instalou-se a idéia de drama, de tragédia, de star system, beleza interrompida para tornar-se um acontecimento e tanto. O mundo viu a tragédia da mulher mais bonita e polêmica da época.

No caso de Marilyn, depois disso tudo, pergunta-se: o que, de fato, é verdade, nessa biografia? Quais são os aspectos desconhecidos pela história, pela mídia, pelos biógrafos? Esse ícone foi criado? Há verdades nessas histórias sobre a surreal Marilyn Monroe do presidente dos EUA? Quem foi essa mulher que acompanhava de perto todas as questões políticas americanas?

M.M: uma beleza ingênua, um símbolo sexual irresistível, mulher forte que palpitava nas questões presidenciais? Nessa história biográfica paira o desconhecido, há lacunas somente. A investigação jornalística, hoje, descobriria fatos que, talvez, pudesse mudar a história política dos Estados Unidos.

Mas, ela não foi a única, Lady Diane sofreu e morreu tragicamente, os paparazzi interromperam-lhe a vida? Ou a vida lhe era pesada demais, ela também foi um exemplo de

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beleza interrompida devido ao desprezo inglês pelo diferente, irreverente e espontâneo.

Para Pena, “a fronteira entre imaginário e real e evento e cotidiano caminha para a dissolução, forçando o jornalista a pensar em formas alternativas de representação do acontecimento. Para se criar (história e biografia) faz-se necessário pensar sobre os critérios, as metodologias, no discurso e a possibilidade de análise, deve-se pensar nos conceitos éticos, estéticos, refletindo-se sobre as força simbólicas de condução e construção de eventos e suas próprias demandas”.

O consumidor aguarda esse produto, desejo-o, conforta-se nele, rebela-se nele, identifica-se nele, alimenta-se dele e, assim ininterruptamente. O consumidor aspira ao produto, é um desejo profundo, incontido, absurdo e absoluto. Para Pena, esse movimento é bastante perigoso, porque o consumidor determina o produto e vice-versa, criando um círculo vicioso interminável.

Isso significa que não há tempo nem espaço para a reflexão. Outros fatores impedem esse processo metodológico, são eles: a busca pelo furo de reportagem, o dead line, o imediatismo, a visão falaciosa e a narrativa do fôlego curto são realidades que impedem a qualidade da grande reportagem no que tange à construção de uma biografia.