104 modulo penal resumo da aula 8

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Direito Penal O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 1 www.enfaseonline.com.br Sumário 1 Resultado e Relação de Causalidade ............................................................ 2 1.1 Conceitos de Resultado ........................................................................ 2 1.2 Classificação Quanto à Importância do Resultado Para a Consumação dos Crimes.................................................................................................................... 3 1.3 Relação de Causalidade ........................................................................ 4 1.3.1 Teoria da Conditio Sine Qua Non .................................................... 5 1.3.1.1 Regresso Ad Infinitum................................................................... 6 1.3.1.2 Insuficiências da Teoria da Conditio.............................................. 7 1.3.2 Estudo da Causalidade no Código Penal .......................................... 9 1.4 Associação de Causas ........................................................................... 9 2 Resolução dos Problemas .......................................................................... 10

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  • Direito Penal

    O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir

    da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementao do estudo em

    livros doutrinrios e na jurisprudncia dos Tribunais.

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    Sumrio

    1 Resultado e Relao de Causalidade ............................................................ 2

    1.1 Conceitos de Resultado ........................................................................ 2

    1.2 Classificao Quanto Importncia do Resultado Para a Consumao

    dos Crimes....................................................................................................................3

    1.3 Relao de Causalidade ........................................................................ 4

    1.3.1 Teoria da Conditio Sine Qua Non .................................................... 5

    1.3.1.1 Regresso Ad Infinitum...................................................................6

    1.3.1.2 Insuficincias da Teoria da Conditio..............................................7

    1.3.2 Estudo da Causalidade no Cdigo Penal .......................................... 9

    1.4 Associao de Causas ........................................................................... 9

    2 Resoluo dos Problemas .......................................................................... 10

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    1 Resultado e Relao de Causalidade

    Em breve sntese:

    - Objetivo 1) ao + relao de causalidade + resultado + 2) imputao

    Tipo

    - Subjetivo dolo + elementos subjetivos especiais

    O tipo penal a descrio da conduta proibida, sendo a ferramenta do princpio

    da legalidade. Essa contm a descrio propriamente dita do comportamento objetivo,

    ou seja, aquilo que pode ser percebido no mundo e, depois do finalismo, contm

    tambm as intenes do sujeito com aquele comportamento. Dessa forma, o tipo

    penal possui um aspecto objetivo e um subjetivo.

    At o momento, estuda-se ainda o tipo objetivo. Nas aulas anteriores, J foi

    abordado o tema sobre ao. Hoje, sero abordados os temas resultado e relao de

    causalidade. Aps o trmino dessa primeira parte, ser abordado o tema imputao,

    que, vale ressaltar, tambm faz parte do tipo objetivo.

    1.1 Conceitos de Resultado

    Existem dois conceitos de resultado: naturalstico e jurdico. Trabalha-se, no

    direito penal, com o primeiro conceito.

    Vale dizer que o resultado jurdico aquele presente em todo crime, sendo, na

    verdade, sinnimo de leso a bem jurdico. Viu-se que todo crime exige leso ou perigo

    de leso a bem jurdico, por conta do princpio da lesividade. A violao de domiclio,

    por exemplo, crime de mera conduta e, ainda assim, exige violao ao bem jurdico

    inviolabilidade do domiclio.

    O que interessa para o estudo do conceito de resultado o conceito

    naturalstico, que significa a modificao no mundo externo que se segue conduta.

    Assim, alguma coisa muda no mundo em decorrncia da sua conduta, sendo esta

    modificao tida como relevante para o direito penal e, com isso, selecionada pelo

    ordenamento ptrio.

    O crime de violao de domiclio descreve apenas uma conduta, sem prever

    qualquer tipo de resultado. O legislador poderia ter selecionado alguns resultados

    especficos, mas assim no o fez. Isso no significa que no haja resultados possveis.

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    Por sua vez, em alguns tipos, o legislador descreve alguns resultados como algo

    possvel e importante.

    Portanto, resultado naturalstico modificao no mundo causada pela

    conduta do sujeito, que tenha sido conceituada como relevante pelo legislador,

    independentemente da previso expressa de resultado.

    O resultado uma questo discutida nos tipos penais. Quem seleciona um

    resultado como importante o prprio legislador, inexistindo, por sua vez, no mundo

    da natureza.

    1.2 Classificao Quanto Importncia do Resultado Para a Consumao

    dos Crimes

    a) Crime de mera conduta

    Conduta = Consumao

    b) Crimes Formais

    Conduta Resultado Consumao

    Nos crimes de mera conduta, o tipo penal no descreve necessariamente um

    resultado como decorrente de uma conduta, havendo apenas a descrio de uma

    conduta, cuja realizao por si gera a consumao do delito.

    Os crimes formais, por sua vez, so aqueles em que o legislador descreve uma

    conduta e um resultado, como consequncia daquela, porm no o exige para a

    consumao do delito. Assim, o legislador, em que pese descrever o resultado, no o

    exige para que haja crime consumado. O exemplo clssico o crime de extorso, em

    que a vantagem patrimonial prescindvel para a consumao do crime, bastando a

    exigncia da vantagem por meio da violncia.

    Quando o resultado nos crimes formais ocorre, tem-se o exaurimento do crime,

    ensejando a aplicao de uma pena maior. Alm disso, vale ressaltar, a jurisprudncia

    admite o flagrante, inclusive na fase do exaurimento.

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    Como regra, o ingresso de coautor ou partcipe no curso da atividade criminosa

    tem como limite a consumao. Ocorre, contudo, que nos crimes formais boa parte da

    doutrina (Nilo Batista e Jurarez Cirino dos Santos) admite tal ingresso mesmo que no

    exaurimento, em se tratando de crimes formais.

    Observao: admite-se a tentativa nos crimes de mera conduta, sobretudo se a

    conduta fracionvel, isto , realizvel em vrios atos. Vale ressaltar que, mesmo

    quando a conduta no fracionvel (crime de mera conduta unissubsistente),

    dependendo da teoria a ser adotada, possvel falar em tentativa.

    c) Crimes Materiais

    Conduta + Resultado = Consumao

    Nos crimes materiais, o legislador descreve uma conduta e um resultado, sendo

    que a consumao depende da ocorrncia do resultado. Do contrrio, o crime ser

    tentado.

    1.3 Relao de Causalidade

    A relao de causalidade s importante no estudo dos crimes materiais. Por

    exemplo, ao efetuar disparos contra algum, levando a vtima a bito, mas no por

    conta dos disparos, o agente responder apenas pelo crime tentado.

    Nota-se, assim, que, no ocorrendo a relao de causalidade, o agente

    responde pela tentativa.

    No crime de mera conduta, nem mesmo existe resultado e, com isso, no se

    estuda a relao de causalidade. Nos crimes formais, existe a descrio de um

    resultado, que, por sua vez, irrelevante para a consumao do crime, de maneira que

    tambm no se estuda a relao de causalidade nesses crimes.

    Vale notar que, na prtica, a relao de causalidade s ser importante nos

    crimes que envolvem leso corporal e morte, ainda que o crime seja material.

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    Responsabilidade jurdico-penal pelo resultado

    - Relao de causalidade (fsica)

    2 Etapas +

    - Imputao

    Viu-se que nos crimes materiais, o resultado importante para a consumao.

    Ento, quando se fala de relao de causalidade e de imputao, discute-se a

    responsabilidade jurdico-penal pelo resultado, ou seja, se o sujeito vai responder por

    um crime tentado ou consumado.

    Depois do funcionalismo, a responsabilidade jurdico-penal pelo resultado tem

    duas etapas. A primeira a relao de causalidade fsica (art. 13, caput). Ultrapassada

    essa etapa, passa-se segunda etapa, que a prpria imputao, onde questes

    valorativas e princpios jurdicos sero analisados. Vale notar que nenhuma etapa pode

    ser pulada, de maneira que somente ser possvel o estudo da imputao, se houver

    relao de causalidade fsica (naturalstica).

    CP, Art. 13 - O resultado, de que depende a existncia do crime, somente

    imputvel a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ao ou omisso sem a

    qual o resultado no teria ocorrido.

    1.3.1 Teoria da Conditio Sine Qua Non

    Inicialmente, no estudo da responsabilidade jurdico-penal, ser analisada a

    realizao de causa e efeito na natureza, isto , a relao entre a conduta e o resultado

    naturalstico. Aps, j na teoria da imputao, reduz-se a abrangncia criada pela

    etapa da relao de causalidade.

    Buscando justificar a relao de causa e efeito naturalstica, a teoria da conditio

    sine qua non (equivalncia dos antecedentes) cria um procedimento hipottico de

    eliminao, de maneira que todos os antecedentes que contribuem para um resultado

    so igualmente considerados causa para o aquele.

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    Procedimento Hipottico de Eliminao

    Exemplo:

    A (vtima vai praia) + B (Antnio atira na vtima) + C (Tsunami na praia) = D

    (morte de Cludio - vtima)

    A teoria da conditio afirma que qualquer antecedente que contribua para o

    resultado causa. Dessa forma, o procedimento hipottico de eliminao afirma que,

    para se descobrir se um antecedente causa, deve-se apag-lo hipoteticamente e,

    permanecendo o resultado, aquele antecedente no ser considerado causa. No

    exemplo apresentado, Antnio responder apenas por tentativa, tendo em vista que,

    mesmo eliminando a sua conduta, o resultado morte permaneceria.

    Em outro exemplo, se a vtima apenas levou um tiro e morreu, inexistindo

    Tsunami, permanecendo o resultado, tem-se que o disparo de arma de fogo deu causa

    ao resultado e, portanto, o agente responder pelo crime consumado.

    Se uma pessoa est prestes a morrer por conta de ter sofrido diversas facadas

    e, diante disso, um sujeito antecipa a sua morte, por exemplo, dando-lhe um golpe

    final, deve-se tomar em considerao o resultado exatamente como ocorre, no seu

    momento e na sua forma de aparecimento. Com isso, para a vtima morrer naquele

    momento e daquela forma, de forma que o golpe final ser considerado como causa

    daquele resultado. Isso porque, para o estudo da relao de causalidade, o resultado

    deve ser analisado em concreto e no em abstrato (no basta afirmar que o resultado

    ocorreria, independentemente do golpe final).

    1.3.1.1 Regresso Ad Infinitum

    Exemplo:

    A (Antnio fabrica a faca) + B (Antnio vende a faca para Cludio) + C

    (Cludio doa a faca para Jos) + D (Jos d uma facada na vtima) = E (vtima morre)

    Para estudar a relao de causalidade e a teoria da conditio, atravs do

    procedimento hipottico de eliminao, interessa o resultado em concreto e tudo o

    que aconteceu antes considerado causa. Para o resultado morte decorrente de uma

    facada, com aquela apresentada no exemplo, o ato de fabricar a faca tido como

    causa, de maneira que, apagando-o, o resultado morte desaparece. Isso no significa

    dizer que Antnio o responsvel penalmente pelo resultado morte. Todavia, ainda

    assim, a sua conduta considerada causa para o resultado morte. Da mesma forma

    qualquer dos demais antecedentes.

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    Antes da teoria da imputao, o finalismo justificava a impossibilidade de punir

    Antnio e Cludio no elemento subjetivo (ausncia de elemento subjetivo de Antnio

    e Cludio), tendo em vista que poca o tipo objetivo se esgotava na causalidade

    fsica, limitando o regresso ad infinitum. Hoje o tipo objetivo formado por ao,

    resultado, relao de causalidade fsica e imputao.

    Observao: relao de causalidade fsica s existe nas aes.

    Se a me, por exemplo, encontra o seu filho esfaqueado e deixa de socorr-lo,

    ela responder por homicdio doloso, tal qual aquele que deu a facada. Ocorre que

    fisicamente a vtima morre da facada e no da omisso da me. Assim, a omisso

    apenas um juzo de valor, no dando causa fsica a resultados.

    Nos crimes omissivos, com isso, tanto prprios quanto imprprio, inexiste

    relao de causalidade fsica, existindo apenas a imputao.

    1.3.1.2 Insuficincias da Teoria da Conditio

    a) a teoria da conditio serve apenas para confirmar um juzo de causalidade que

    a cincia oferea, no servindo para descobri-lo.

    Exemplo: (Roxin) Mulheres tomaram remdios para enjoo e, por conta disso,

    vrias crianas nasceram deficientes. Em um primeiro momento, no se sabia que

    aqueles resultados tinham sido causados pelo remdio, de maneira que, antes de a

    cincia descobrir o motivo constatado, em nada servia a teoria da conditio.

    Portanto, a teoria da conditio no busca descobrir a causalidade, mas apenas

    confirmar tal raciocnio.

    b) causalidade alternativa ou hipottica quando o resultado causado se teria

    produzido igual e no mesmo momento, porm por outro sujeito.

    Exemplo: (Roxin) Diane de homicdio ocorrido em um campo de concentrao

    nazista, o soldado que executou os disparos afirmou que, caso ele no tivesse

    realizado a conduta, outro soldado teria feito do mesmo modo e no mesmo instante.

    Essa hiptese sempre irrelevante para o estudo da relao de causalidade.

    H, contudo, uma situao concreta que pode gerar alguma dvida. Trata-se da

    hiptese em que a vtima ingere uma dose de veneno que j seria suficiente para

    mat-la. Na mesma situao, outra dose de veneno tambm por si suficiente para

    matar ingerida pela vtima. Assim, isoladamente, cada situao suficiente para

    gerar o resultado.

    A (dose 1 de veneno) + B (dose 2 de veneno) = C (resultado morte da vtima)

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    Diante desse problema, a teoria alem apresenta a ideia de causalidade

    segundo s leis da natureza. Pela lei da natureza, a pessoa morreu por conta das duas

    doses de veneno, independentemente de apenas um isoladamente ser suficiente para

    matar a vtima.

    No exemplo do veneno, no faria sentido pelas leis da natureza que nenhuma

    dose de veneno fosse causa para o resultado, de maneira que, apagando A ou B, o

    resultado no desaparece. Assim, esse adendo tem como objetivo evitar essas

    concluses desarrazoadas.

    c) Causalidade alternativa - quando cada uma das condies era suficiente,

    isoladamente, para produzir o resultado.

    d) quando cada dose de veneno , em si, insuficiente, todas sero consideradas

    causa em conjunto (o mesmo raciocnio aplicado s decises colegiadas, em relao

    aos votos )

    No exemplo dos venenos, imaginemos que, para a vtima morrer por conta do

    veneno, ela necessita de uma dose mnima de 10 ml. No caso, A e B ministram, cada

    um, uma dose igual correspondente a 5 ml, de maneira que a vtima morre. Nota-se

    que a conduta isolada de A no gera a morte da vtima, levando o agente a responder

    por tentativa. Nesse caso, a conduta de A e de B causa para o resultado morte,

    havendo associao de causas independentes.

    Por conta das dificuldades encontradas, a doutrina hoje trabalha com a ideia de

    causalidade segundo uma lei, em que estar presente a causalidade quando se

    acrescentarem a uma ao modificaes no mundo exterior temporalmente

    posteriores que, segundo as leis da natureza por ns conhecidas, estavam a ela ligadas

    de modo necessrio, e que se apresentem como um resultado tpico.

    A doutrina alem sugere um pequeno adendo ideia de causalidade da teoria da

    conditio sine qua non. Para essa viso, a ideia de causalidade deve ser aferida

    tomando-se em conta as leis da natureza: trata-se da ideia de causalidade segundo

    uma lei. Para essa viso, um determinado antecedente ser causa sempre que

    pudermos dizer, segundo as leis da natureza conhecidas at aquele momento, que

    contribuiu para o resultado.

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    1.3.2 Estudo da Causalidade no Cdigo Penal

    O CP brasileiro adota, no art. 13, caput, a teoria da conditio sine qua non e o

    seu procedimento hipottico de eliminao. Nota-se que nesse dispositivo o legislador

    tratou da causalidade fsica.

    Existe, porm, uma impreciso no artigo, tendo em vista que a omisso nunca

    causa fsica.

    Para se estudar a responsabilidade pelo resultado, deve-se passar por uma

    primeira etapa, que a relao de causalidade fsica. Posteriormente, tem-se a

    segunda etapa, que a imputao.

    O Cdigo at trabalha com a ideia de imputao, mas de forma muito limitada

    (art. 13, 1 do CP), o que ser analisado a seguir.

    CP, art. 13, 1 - A supervenincia de causa relativamente independente exclui a

    imputao quando, por si s, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto,

    imputam-se a quem os praticou.

    1.4 Associao de Causas

    (i) Causas absolutamente independentes

    A (tiro na praia) + B (Tsunami) = C (morte)

    Ocorre quando dois resultados atuam completamente distintos para a

    produo do resultado. Nos casos em que os antecedentes no se associam, trabalha-

    se com o procedimento hipottico, achando a causalidade. No caso, o tiro no foi

    causa para a morte da vtima, de maneira que o agente responde por tentativa.

    O problema surge quando os antecedentes se associam, gerando o que

    denominado de curso causal extraordinrio. Assim, o agente que efetua disparos de

    arma de fogo contra algum, que vem a falecer por conta de um incndio no hospital,

    responde pelo homicdio consumado, tendo em vista que, sem os tiros, a vtima no

    teria sido levada para o hospital.

    (ii) Causas relativamente independentes

    A (Antnio atira na vtima) + B (vtima queimada em um incndio no hospital)

    = C (vtima morre)

    Pelo mtodo da eliminao hipottica, apagando-se o tiro, o resultado morte

    desapareceria, havendo associao das causas, assim como ocorre nas doses de

    veneno ministradas em associao. O problema que essa associao pode levar a

    uma punio injusta. Assim, muito embora em muitos casos haja relao de

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    causalidade fsica, a pessoa no ser responsabilizada penalmente. Diante disso, o art.

    13, 1 do CP busca definir situaes em que a responsabilidade penal ser afastada.

    As causas relativamente independentes so:

    a) Causa antecedentes/preexistente

    Exemplo: hemofilia + tiro = morte

    De forma geral, a teoria da imputao no afasta a responsabilidade penal em

    se tratando de causa preexistente. H, ento, causalidade fsica e imputao, de

    maneira que o art. 13, 1 do CP no afasta a responsabilidade nos casos de causa

    preexistente.

    b) Causas concomitantes

    Exemplo:

    Tiro

    + = Morte

    Ataque cardaco

    As causas so antecedentes, concomitantes ou supervenientes ao antecedente

    (condio) a ser pesquisado, buscando-se descobrir se tal condio causa para o

    resultado.

    O art. 13, 1 do CP tambm no trata da hiptese de causalidade

    concomitante. Com isso, no so excludas a causalidade fsica e a imputao.

    c) Causa relativamente independente

    Exemplo: Tiro + incndio no hospital (superveniente) = C (morte)

    possvel que a condio pesquisada se associe a outra que acontea depois. O

    art. 13, 1 do CP trata apenas desse caso. Apenas em alguns casos, a

    responsabilidade penal ser excluda. Esse tema ser retomado na prxima aula.

    2 Resoluo dos Problemas

    Questo 1. O policial civil Cludio estava em servio no bairro de Copacabana

    quando foi surpreendido por um tiroteio entre traficantes locais, que acabaram por

    atingi-lo no brao. Ato contnuo, por reflexo, seu dedo encolheu e ele apertou o

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    gatilho, vinco a matar o passante Andr, que tentava se esconder atrs de um carro.

    Pergunta-se:

    a) como deve ser qualificada jurdico-penalmente a conduta de Cludio?

    A teoria do delito ser sempre estudada de forma escalonada, iniciando-se pela

    ao, passando-se pela tipicidade, pela ilicitude e fechando na culpabilidade. Por

    exemplo, no se fala em inimputabilidade se no houver ao.

    No caso, no houve ao por parte de Cludio, por conta da excluso da ao

    por ato-reflexo e, portanto, a conduta do agente no tem como ser criminosa.

    b) caso o passante Andr tivesse tempo de se defender, e assim atirar em

    Cludio, como justificar a sua atuao?

    A questo trata de um estado de necessidade e no de uma legtima defesa,

    que pressupe agresso injusta, que, por sua vez, sempre ser uma ao, ressalvada a

    hiptese de omisso imprpria (se equipara a uma ao). No havendo conduta,

    inexiste agresso e, por isso, o revide no pode ser em legtima defesa, mas somente

    em estado de necessidade.

    Questo 2. Jos e Miguel, donos do posto de gasolina Dois Irmos, poluram

    o leito de um rio situado no municpio de Silva Jardim, no Rio de Janeiro, ao nele

    lanarem resduos, tais como graxas, leo, lodo, areia e produtos qumicos, resultantes

    da atividade do estabelecimento. Denunciada apenas a pessoa jurdica pelos crimes

    previstos nos arts. 54, 2, V e 60, da Lei 9.065, foi impetrado um habeas corpus para

    trancamento da ao penal, cuja tese principal consistia na invocao do brocardo

    societas delinquere non potest. Como voc decidiria o caso, atento jurisprudncia do

    STJ e do STF?

    O primeiro ponto a ser abordado na questo a possibilidade de pessoa

    jurdica cometer crime, apresentando as duas correntes, destacando, inclusive, a

    posio predominante na doutrina brasileira, em que a pessoa jurdica no capaz de

    ao, que pressupe o elemento vontade e que s pode partir de um aparelho

    psquico presente no homem, e a corrente predominante na jurisprudncia, que

    admite a responsabilidade penal da pessoa jurdica por conta da previso

    constitucional.

    Admitida a possibilidade de pessoa jurdica possuir responsabilidade penal,

    deve-se destacar a observncia da dupla imputao, ou seja, s possvel denunciar

    pessoa jurdica em conjunto com pessoa fsica. Essa ideia, contudo, vem sendo

    contestada no prprio STF.

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    Por fim, no cabvel HC no caso, tendo em vista que o remdio em questo

    busca tutelar a liberdade de locomoo, o que no est em jogo quando a questo

    envolve pessoa jurdica.