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4516 Anais do XIX Congresso Brasileiro de Automática, CBA 2012. ISBN: 978-85-8001-069-5 ILHAMENTO INTENCIONAL  DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA PARA AUMENTO DA CONFIABILIDADE DO SISTEMA R ARAEL R. LONDERO, CAROLINA M. AFFONSO, MARCUS V. A.  NUNES  Faculdade de Engenharia Elétrica, Universidade Federal do Pará  Rua Augusto Corrêa No. 01, Guamá, 66075-110, Belém, Pará, Brasil  E-mails: [email protected],[email protected] Abstract  Traditionally, interconnection standards avoid islanding operation of distributed generation (DG) due to the con- cerns of equipment failure and safety issues. Howeve r, allowing the islanded operation of distributed generation may enhance re- liability to final consumers and decrease outage cost by providing an alternative power source when there is an interruption in the upstream network. This paper presents an impact study case of a operational strategy regarding planned islanding operation of distributed generation in a Brazilian system. The analysis presented in this paper includes the behaviour of the islanded sys- tem under load following and load rejection, faults and varying short-circuit level. In order to successfully adopt the intentional islanding strategy, the results show that some adjustments are necessary to automatically change DG controls after islanding, maintaining voltage and frequency levels within the normative standards in the islanded sy stem. Keywords  Distributed generation (DG), dynamic performance, impact study, planned islanding. Resumo  Tradicionalmente normas técnicas recomendam que a operação da geração distribuída (GD) de forma ilhada seja evitada, de modo que os geradores devem ser desconectados do sistema imediatamente após a detecção do ilhamento. Com a  presença da GD, surge a possibilidade de ilhamento intencional, que ocorre ao manter a geração distribuída desconectada da geração principal atendendo parte da rede, aumentando a confiabilidade do sistema, reduzindo custos associados a interrupções no fornecimento de energia elétrica. Neste contexto este artigo apresenta um estudo de impacto da estratégia de ilhamento intencional de uma geração distribuída do tipo PCH em um sistema real localizado na região norte do Brasil. As análises apresentadas neste artigo incluem o comportamento do sistema ilhado diante de variações na carga e faltas, além de um estudo acerca do nível de curto-circuito antes e após o ilhamento. Os resultados mostram que o procedimento de ilhamento intencional seja adotado com sucesso, são necessárias adequações para alteração automática dos controles dos geradores distribuídos após o ilhamento, de forma a manter os níveis de tensão e frequência dentro dos padrões normativos no sistema ilhado. Palavras-chave  geração distribuída (GD), desempenho dinâmico, ilhamento intencional. 1 Introdução O uso de fontes de geração distribuída tem se tornado cada vez mais evidente em diversos países,  principalmente pela necessidade do uso de fontes limpas de energia. As tecnologias aplicadas a geração distribuída (GD) compreendem geradores baseados em biomassa, microturbinas, células combustíveis, geradores eólicos, energia solar, pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e etc.A geração distribuída tem como característica a utilização de pequenas unidades geradoras instaladas mais próximas aos centros de consumo, muitas vezes conectadas diretamente a clientes ou subestações de distribuição (Jenkins, 2000). Este tipo de geração pode ser utilizado de modo isolado, suprindo a demanda local, ou de modo integrado, fornecendo energia ao restante do sistema elétrico (Mahat, 2010). O aumento do nível de penetração da GD tem  possibilitado adotar novas estratégias operacionais que podem contribuir para manter a confiabilidade do sistema. Uma destas estratégias refere-se ao ilhamento intencional, que é um procedimento  planejado da operação, tal qual uma manobra, em que formam-se ilhas elétricas no sistema com a geração distribuída atendendo uma determinada  parcela da carga. O ilhamento intencional pode ocorrer por motivos inesperados, como faltas no sistema, ou por situações planejadas como a manutenç ão programada. A operação da GD de modo ilhado e conectado a rede principal possui condições de funcionamentos  bem distintos, sendo necessário estudo do nível de falta, coordenação dos relés de proteção e atendimento da tensão e frequência em níveis aceitáveis. Devido a estas questões técnicas e de segurança, a prática atualmente utilizada pelas concessionárias e recomendada pelos principais guias técnicos é desconectar todos os geradores da rede isolada tão logo ocorra um ilhamento (Cigré 1999; IEEE 2000).  No entanto, o ilhamento intencional pode ser utilizado para minimizar os danos causados por grandes perturbações nos sistemas elétricos, mantendo o atendimento a parte do sistema ou a cargas prioritárias, aumentando a confiabilidade da rede e melhorando o índice de desempenho referente ao número de consumidores desernegizados (FEC). O ilhamento intencional nada mais é do que a abertura coordenada de disjuntores com intuito de isolar o sistema de distribuição que contém a geração distribuída. Alguns autores apresentam estudos referentes ao ilhamento intencional (Fuangfoo, 2007; Seca, 2005). Porém, vale lembrar que este  procedimento deve fazer parte de um plano contendo uma série de estudos.  Neste contexto, este artigo apresenta um estudo de caso da estratégia de ilhamento intencional com

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  • 4516

    Anais do XIX Congresso Brasileiro de Automtica, CBA 2012.

    ISBN: 978-85-8001-069-5

    ILHAMENTO INTENCIONAL DA GERAO DISTRIBUDA PARA AUMENTO DA

    CONFIABILIDADE DO SISTEMA

    RARAEL R. LONDERO, CAROLINA M. AFFONSO, MARCUS V. A. NUNES

    Faculdade de Engenharia Eltrica, Universidade Federal do Par

    Rua Augusto Corra No. 01, Guam, 66075-110, Belm, Par, Brasil

    E-mails: [email protected],[email protected]

    Abstract Traditionally, interconnection standards avoid islanding operation of distributed generation (DG) due to the con-

    cerns of equipment failure and safety issues. However, allowing the islanded operation of distributed generation may enhance re-

    liability to final consumers and decrease outage cost by providing an alternative power source when there is an interruption in

    the upstream network. This paper presents an impact study case of a operational strategy regarding planned islanding operation

    of distributed generation in a Brazilian system. The analysis presented in this paper includes the behaviour of the islanded sys-

    tem under load following and load rejection, faults and varying short-circuit level. In order to successfully adopt the intentional

    islanding strategy, the results show that some adjustments are necessary to automatically change DG controls after islanding,

    maintaining voltage and frequency levels within the normative standards in the islanded system.

    Keywords Distributed generation (DG), dynamic performance, impact study, planned islanding.

    Resumo Tradicionalmente normas tcnicas recomendam que a operao da gerao distribuda (GD) de forma ilhada seja

    evitada, de modo que os geradores devem ser desconectados do sistema imediatamente aps a deteco do ilhamento. Com a

    presena da GD, surge a possibilidade de ilhamento intencional, que ocorre ao manter a gerao distribuda desconectada da

    gerao principal atendendo parte da rede, aumentando a confiabilidade do sistema, reduzindo custos associados a interrupes

    no fornecimento de energia eltrica. Neste contexto este artigo apresenta um estudo de impacto da estratgia de ilhamento

    intencional de uma gerao distribuda do tipo PCH em um sistema real localizado na regio norte do Brasil. As anlises

    apresentadas neste artigo incluem o comportamento do sistema ilhado diante de variaes na carga e faltas, alm de um estudo

    acerca do nvel de curto-circuito antes e aps o ilhamento. Os resultados mostram que o procedimento de ilhamento intencional

    seja adotado com sucesso, so necessrias adequaes para alterao automtica dos controles dos geradores distribudos aps o

    ilhamento, de forma a manter os nveis de tenso e frequncia dentro dos padres normativos no sistema ilhado.

    Palavras-chave gerao distribuda (GD), desempenho dinmico, ilhamento intencional.

    1 Introduo

    O uso de fontes de gerao distribuda tem se

    tornado cada vez mais evidente em diversos pases,

    principalmente pela necessidade do uso de fontes

    limpas de energia. As tecnologias aplicadas a gerao

    distribuda (GD) compreendem geradores baseados

    em biomassa, microturbinas, clulas combustveis,

    geradores elicos, energia solar, pequenas centrais

    hidreltricas (PCHs) e etc.A gerao distribuda tem

    como caracterstica a utilizao de pequenas

    unidades geradoras instaladas mais prximas aos

    centros de consumo, muitas vezes conectadas

    diretamente a clientes ou subestaes de distribuio

    (Jenkins, 2000). Este tipo de gerao pode ser

    utilizado de modo isolado, suprindo a demanda local,

    ou de modo integrado, fornecendo energia ao restante

    do sistema eltrico (Mahat, 2010).

    O aumento do nvel de penetrao da GD tem

    possibilitado adotar novas estratgias operacionais

    que podem contribuir para manter a confiabilidade do

    sistema. Uma destas estratgias refere-se ao

    ilhamento intencional, que um procedimento

    planejado da operao, tal qual uma manobra, em

    que formam-se ilhas eltricas no sistema com a

    gerao distribuda atendendo uma determinada

    parcela da carga. O ilhamento intencional pode

    ocorrer por motivos inesperados, como faltas no

    sistema, ou por situaes planejadas como a

    manuteno programada.

    A operao da GD de modo ilhado e conectado a

    rede principal possui condies de funcionamentos

    bem distintos, sendo necessrio estudo do nvel de

    falta, coordenao dos rels de proteo e

    atendimento da tenso e frequncia em nveis

    aceitveis. Devido a estas questes tcnicas e de

    segurana, a prtica atualmente utilizada pelas

    concessionrias e recomendada pelos principais guias

    tcnicos desconectar todos os geradores da rede

    isolada to logo ocorra um ilhamento (Cigr 1999;

    IEEE 2000).

    No entanto, o ilhamento intencional pode ser

    utilizado para minimizar os danos causados por

    grandes perturbaes nos sistemas eltricos,

    mantendo o atendimento a parte do sistema ou a

    cargas prioritrias, aumentando a confiabilidade da

    rede e melhorando o ndice de desempenho referente

    ao nmero de consumidores desernegizados (FEC).

    O ilhamento intencional nada mais do que a

    abertura coordenada de disjuntores com intuito de

    isolar o sistema de distribuio que contm a gerao

    distribuda. Alguns autores apresentam estudos

    referentes ao ilhamento intencional (Fuangfoo, 2007;

    Seca, 2005). Porm, vale lembrar que este

    procedimento deve fazer parte de um plano contendo

    uma srie de estudos.

    Neste contexto, este artigo apresenta um estudo

    de caso da estratgia de ilhamento intencional com

  • 4517

    Anais do XIX Congresso Brasileiro de Automtica, CBA 2012.

    ISBN: 978-85-8001-069-5

    gerao distribuda do tipo PCH em um sistema

    Brasileiro. O estudo realizado analisa o sistema

    ilhado quando sujeito a variaes na demanda e

    faltas, alm de anlises do nvel de curto-circuito.

    Este artigo est estruturado como segue. A seo

    2 apresenta o sistema utilizado com dados reais de

    operao. A seo 3 apresenta os casos especficos

    em que o ilhamento ocorre e procedimentos para sua

    formao. Os resultados so apresentados na seo 4.

    A seo 5 apresenta as principais concluses deste

    estudo.

    2 Sistema de Estudo

    O sistema utilizado neste artigo localiza-se na

    regio norte do pas e est conectado com o Sistema

    Interligado Nacional Brasileiro (SIN). A Figura 1

    apresenta o diagrama uinfilar do sistema composto

    basicamente por linhas de transmisso de 230kV e

    138kV e duas fontes de gerao de energia: a gerao

    principal, com capacidade de 8,1 GW, e a gerao

    distribuda, com capacidade de 30MW. Os principais

    centros de carga representam pequenas cidades. A

    Tabela 1 apresenta a gerao e demanda de potncia

    ativa e reativa para a condio de carga pesada do

    sistema, a qual utilizada nos estudos por ser uma

    situao mais pessimista. Nota-se que a potencia

    instalada da GD no atende a demanda da rea

    ilhada.

    Tabela 1. Gerao e demanda do sistema (MW/MVar)

    Gerao Demanda

    MW MVar MW MVar

    Sistema principal 151,3 -38,9 129,2 31,9

    rea ilhada 27,0 2,2 43,6 9,3

    A fonte de gerao distribuda modelada por um

    gerador sncrono de polos salientes com 2 mquinas

    de 12,5MVA e 1 mquina de 10,84MVA,

    representadas por um modelo de quinta ordem

    (Kundur, 1994). A tenso nominal do gerador de

    6,9kV com frequncia nominal de 60Hz.

    Existem duas polticas adotadas por

    concessionrias para o controle do sistema de

    excitao de geradores distribudos: tenso constante

    ou fator de potncia constante (Jenkins, 2000). O

    modo fator de potncia constante usualmente

    adotado por produtores independentes com o

    objetivo de maximizar a produo de potncia ativa,

    a qual ressarcida. Assim, neste trabalho adotou-se o

    modo de controle de fator de potncia constante de

    acordo com as prticas adotadas pelas

    concessionrias de energia. Para a modelagem dos

    reguladores de tenso foi adotado o modelo IEEE

    tipo 1 (Kundur, 1994) e para os reguladores de

    velocidade o modelo utilizado segue a referencia

    (IEEE, 1992).

    A componente de potncia ativa das cargas nas

    barras de 13,8kV foi considerada como 50%

    impedncia constante e 50% potncia constante, e a

    componente de potncia reativa como 100%

    impedncia constante conforme sugerido pelo

    Operador Nacional do Sistema (ONS, 2008).

    Os esquemas de proteo adotados neste estudo

    seguem as prticas empregadas na concessionria e

    so apresentados na Tabela 2. As simulaes

    computacionais foram realizadas utilizando os

    softwares ANAREDE para estudos de fluxo de carga

    e ANATEM para anlise de transitrios

    eletromecnicos, ambos desenvolvidos pelo CEPEL.

    Tabela 2. Esquemas de proteo

    Tempo de

    atuao Localizao

    Proteo de distncia 80 ms todas as LTs

    Proteo de subtenso 60 ms LT 800-5150

    Proteo de sub-frequncia 2 s barras 755 e 760

    Figura 1. Diagrama do sistema de estudo.

    500kV

    6410

    13.8kV

    230kV

    6420

    230kV

    6415

    230kV

    6510 230kV

    6530

    230kV

    6540

    13.8kV

    230kV

    750

    13.8kV

    138kV

    800

    138kV

    5150

    13.8kV

    755

    138kV

    5160 13.8kV

    760 138kV

    5155

    138kV

    5170 138kV

    5165

    138kV

    780

    GD 6.9kV

    751

    752

    753

    Gerao

    Principal

    230kV

    5200

    230kV

    5205 230kV

    5210

    13.8kV

    69kV

    REA ILHADA

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    Anais do XIX Congresso Brasileiro de Automtica, CBA 2012.

    ISBN: 978-85-8001-069-5

    3 Ilhamento Intencional

    O ilhamento pode ser ocasionado por faltas no

    sistema ou pela necessidade de manuteno

    programada. Este estudo tem como foco o ilhamento

    ocasionado pela ocorrncia de curtos-circuitos na

    rede.

    Quando uma falta ocorre em uma das linhas de

    transmisso (6420-6415, 6415-6510, 6510-6530,

    6530-6540), a gerao principal desconectada aps

    a eliminao da falta pela abertura da linha de

    transmisso. A gerao distribuda ento

    responsvel pelo atendimento de toda a demanda do

    sistema. No entanto, a potncia instalada da GD

    (27MW) menor que a demanda, ocasionando um

    afundamento de tenso. O rel de sub-tenso da LT

    800-5150 atua desconectando parte do sistema,

    isolando a regio indicada na Figura 1 pela linha

    tracejada. Neste momento forma-se uma ilha onde a

    carga maior do que a potncia fornecida pela

    gerao distribuda. Como consequncia a frequncia

    do sistema ir diminuir e o rel de sub-frequncia ir

    atuar desconectando parte das cargas das barras 760

    e 755 de modo a equilibrar a gerao e a demanda,

    restaurando a frequncia do sistema para 60Hz. A

    Figura 2 apresenta o sistema ilhado aps o corte

    parcial da carga ser aplicado.

    Assim, em casos emergenciais, ao invs de

    desconectar a GD a estratgia efetuar o ilhamento

    intencional de modo a minimizar as cargas

    desconectadas do sistema, mantendo o suprimento de

    energia em parte da rede. A GD tem ento dois

    esquemas bsicos de operao: conectado a rede

    principal e ilhado. Como estes dois modos de

    operao possuem requisitos bem distintos, este

    artigo apresenta um estudo de impacto analisando os

    seguintes aspectos do sistema ilhado:

    atendimento a variaes da carga;

    nvel de curto-circuito;

    faltas.

    Figura 2. Sistema ilhado.

    4 Anlise de Caso Ilhado

    4.1 Atendimento a variaes da carga

    Em um sistema ilhado, a gerao distribuda deve

    ser capaz de atender a variaes na demanda em

    nveis apropriados de tenso e frequncia, visto que a

    demanda de energia eltrica no permanece constante

    ao longo do tempo. Nesta seo so apresentados

    resultados referentes a capacidade da gerao

    distribuda acompanhar variaes na carga a cada 5

    segundos conforme ilustra a Figura 3. Neste caso

    simulou-se uma rejeio de carga de 20% da

    demanda total do sistema.

    A Figura 4 apresenta as variaes que ocorrem na

    tenso durante as variaes da carga nos principais

    centros de carga do sistema ilhado. Nota-se que

    quando a demanda do sistema aumenta a tenso cai e

    vice-versa. Os resultados mostram que a gerao

    distribuda capaz de absorver as variaes de carga.

    0 5 10 15 20 25 30 3523

    24

    25

    26

    27

    28

    29

    30

    31

    Tempo (segundos)

    Dem

    anda T

    ota

    l do S

    iste

    ma (

    MW

    )

    20%

    rejeio de carga

    Figura 3. Variao na carga.

    0 5 10 15 20 25 30 350.96

    0.98

    1

    1.02

    1.04

    1.06

    1.08

    Tempo (segundos)

    Tenso (

    p.u

    .)

    barra 760

    barra 755

    Figura 4. Comportamento da tenso durante variaes na carga.

    A Figura 5 apresenta a potncia ativa e reativa

    durante as variaes de carga. O aumento na

    demanda do sistema seguido por um aumento na

    potncia ativa do gerador. Todas as mquinas da GD

    dividem a carga do sistema na mesma proporo

    devido ao mesmo estatismo. Quando a tenso

    decresce o gerador injeta potncia reativa para

    138kV

    5150

    13,8kV

    755

    138kV

    5160 13,8kV

    760 138kV

    5155

    138kV

    5170 138kV

    5165

    138kV

    780

    Gerao

    Distribuda 6.9kV

    751

    752

    753

    5,1MW

    0,6MVar

    20,1MW

    5,1MVar

    1,5MW

    0,3MVar

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    Anais do XIX Congresso Brasileiro de Automtica, CBA 2012.

    ISBN: 978-85-8001-069-5

    manter o nvel de tenso.

    0 5 10 15 20 25 30 350

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    Tempo (segundos)

    Pot

    ncia

    Tota

    l F

    orn

    ecid

    a p

    ela

    GD

    Potncia activa (MW)

    Potncia reativa (MVar)

    Figura 5. Comportamento da potncia fornecida pela GD durante

    variaes na carga.

    A Figura 6 mostra que o sistema permanece em

    sincronismo durante as variaes de carga. A

    frequncia diminui quando a demanda total do

    sistema aumenta e vice-versa. Uma rejeio de carga

    de 20% cria um desvio de frequncia de

    aproximadamente 2 Hz por menos de 5 segundos.

    Conclui-se assim que a GD consegue operar

    apropriadamente de modo ilhado no que se refere a

    variaes na carga.

    0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50-1.5

    -1

    -0.5

    0

    0.5

    1

    1.5

    2

    Tempo (segundos)

    Desvio

    de F

    requncia

    (H

    z)

    Figura 6. Desvio de frequncia durante variaes na carga.

    4.2 Nvel de curto-circuito

    A proteo do sistema eltrico fundamental para

    manter a estabilidade na ocorrncia de uma falta, e

    consequentemente precisa estar dimensionada de

    forma adequada. Um dos parmetros utilizados para

    dimensionar a proteo corretamente a avaliao do

    nvel de curto circuito ou associadamente, a corrente

    de curto-circuito.

    O nvel de curto-circuito expresso em MVA e os

    valores de corrente e tenso so usados em kA e kV,

    respectivamente (Jenkins, 2000). Para o clculo do

    nvel de curto-circuito, aplica-se uma falta na barra a

    qual se deseja obter o nvel de curto-circuito, e em

    seguida calcula-se a corrente de curto-circuito nesta

    barra. Efetua-se o clculo do nvel de curto-circuito

    pela equao (1).

    S = 3 VL ICC (1)

    onde VL tenso de linha nominal do barramento e

    ICC a corrente de curto-circuito.

    O nvel de curto-circuito de um sistema pode

    variar significativamente quando operando no modo

    ilhado ou conectado a rede. No entanto, o sistema

    deve ter nveis adequados de esquemas de proteo

    nos dois modos de operao. Para realizar esta

    anlise aplicou-se um curto-circuito trifsico nas

    barras para os casos: modo ilhado e modo conectado

    a rede. A Tabela 3 apresenta os nveis de curto-

    circuito obtidos para todos os casos em uma base de

    100 MVA. Os resultados mostram nveis de correntes

    de curto-circuito bem inferiores no modo ilhado.

    Assim, faz-se necessrio um estudo detalhado para

    redimensionamento dos elementos da proteo, para

    que a mesma funcione adequadamente para as duas

    situaes.

    Tabela 3. Nveis de curto-circuito

    Modo de

    Operao

    Corrente de curto-circuito (p.u.)

    Barra 755 Barra 760 Barra 780 Barra 5170

    Conectado 0,795 1,420 1,730 1,80

    Ilhado 0,522 0,739 0,966 0,99

    4.3 Faltas

    O sistema ilhado em geral uma rede mais fraca.

    Sendo assim, para se adotar uma estratgia de

    ilhamento intencional deve-se analisar o

    comportamento do sistema diante de faltas em

    diversos pontos. Para esta anlise foram aplicados

    trs tipos de faltas isoladamente:

    Falta 1: curto-circuito trifsico franco aplicado

    em 40% da linha 5170-780. A falta eliminada pela

    atuao da proteo e abertura da linha aps 80ms.

    Falta 2: curto-circuito trifsico franco aplicado

    na barra 755. A falta eliminada pela atuao da

    proteo e desconexo da barra aps 80ms.

    Falta 3: curto-circuito trifsico franco aplicado

    na barra 760. A falta eliminada pela atuao da

    proteo e desconexo da barra aps 80ms.

    As Figuras 7 e 8 apresentam as variaes de

    frequncia e tenso na ocorrncia da falta 1 quando o

    rel de subtenso da barra 760 projetado para atuar

    em 70ms e 95ms, respectivamente. Embora a falta 1

    ocorra prximo da GD, o afundamento de tenso no

    gerador (barra 751) menor do que na barra 760.

    Isto se deve ao fato do gerador injetar potncia

    reativa durante a falta para manter o nvel de tenso

    na barra 751. Assim, nota-se que a tenso na barra

    760 atinge nveis inaceitveis, e dependendo do

    ajuste do rel de subtenso, pode haver ou no o

    desligamento da barra 760. Quando o rel atua em

    70ms, a barra 760 desconectada do sistema

    ocasionando uma elevao da frequncia pelo

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    Anais do XIX Congresso Brasileiro de Automtica, CBA 2012.

    ISBN: 978-85-8001-069-5

    desequilbrio carga x gerao, como mostra a Figura

    7. Neste caso a proteo de sobre-frequcia da

    gerao distribuda atuaria ocasionando o

    desligamento da unidade de gerao, inviabilizando a

    operao de forma ilhada.

    No entanto, quando o rel atua em 95ms, com

    temporizao superior ao tempo de eliminao da

    falta (80ms), a tenso na barra 760 se recupera, de

    modo que a proteo de subtenso desta barra no

    atua. Neste caso os nveis de frequncia permanecem

    aceitveis. Assim, faz-se necessrio o ajuste

    adequado da proteo.

    0.9 1 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 2.0

    0

    0.2

    0.4

    0.6

    0.8

    1

    Tempo (segundos)

    Tenso (

    p.u

    .)

    barra 751(GD)

    barra 760

    1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

    58

    60

    62

    64

    66

    68

    Tempo (segundos)

    Fre

    quncia

    (H

    z)

    Figura 7. Afundamento de tenso e frequncia para falta 1 com

    tempo de atuao do rel de subtenso igual a 70ms.

    0.9 1 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 20

    0.2

    0.4

    0.6

    0.8

    1

    Tempo (segundos)

    Tenso (

    p.u

    .)

    barra 751(GD)

    barra 760

    1 2 3 4 5 659

    60

    61

    62

    63

    Tempo (segundos)

    Fre

    quncia

    (H

    z)

    Figura 8. Afundamento de tenso e frequncia para a falta 1 com

    tempo de atuao do rel de subtenso igual a 95ms.

    A Figura 9 apresenta o comportamento da tenso e

    frequncia durante a falta 2. Nota-se novamente que

    o afundamento de tenso na barra 751 em que est

    conectada a GD menor do que na barra 760. Neste

    caso, o afundamento de tenso permanece em nveis

    aceitveis. J a variao de frequncia ocasionada

    pela falta 2 mais severa. Isto ocorre pelo fato de

    que uma parcela bem mais significativa da carga

    desconectada com a ocorrncia da falta (5,1MW).

    Ainda assim, aps a falta o sistema ilhado permanece

    estvel.

    0.9 1 1.1 1.2 1.3 1.4 1.50

    0.2

    0.4

    0.6

    0.8

    1

    1.2

    1.4

    Tempo (segundos)

    Tenso (

    p.u

    .)

    barra 751 (GD)

    barra 760

    1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5 5.5 659

    60

    61

    62

    63

    Fre

    quncia

    (H

    z)

    Tempo (segundos)

    Figura 9. Afundamento de tenso e frequncia durante a falta 2.

    A Figura 10 apresenta o impacto ocasionado pela

    falta 3 na tenso das barras 751 e 755 e na frequncia

    do sistema ilhado. Esta falta tem como consequncia

    a perda de uma grande parte da carga do sistema

    (71,7%), fazendo com que o afundamento de tenso e

    a variao na frequncia sejam mais severos. A

    frequncia do sistema ilhado bastante prejudicada

    com a sada da carga da barra 760. O transitrio

    inadequado assim como o erro de regime, o qual

    deve ser corrigido para que o procedimento de

    ilhamento intencional seja adotado. Esta situao

    ocasionaria o desligamento instantneo da gerao

    distribuda por sobre-frequnncia, inviabilizando a

    operao de modo ilhada do sistema.

    1 1 1.1 1.2 1.3 1.4 1.50

    0.2

    0.4

    0.6

    0.8

    1

    1.2

    1.4

    Tempo (segundos)

    Tenso (

    p.u

    .)

    barra 751 (GD)

    barra 755

    1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5 5.5 6

    60

    62

    64

    66

    68

    Fre

    quncia

    (H

    z)

    Tempo (segundos)

    Figura 10. Afundamento de tenso e frequncia durante a falta 3.

    5 Concluso

    Este artigo tem por objetivo analisar os impactos

    tcnicos ocasionados pelo ilhamento intencional de

    uma gerao distribuda do tipo PCH em um sistema

    real localizado na regio norte do Brasil, com a

    finalidade de manter o atendimento de energia a parte

    da carga local. Para tal, foram realizadas simulaes

    estticas e dinmicas avaliando a capacidade do

    sistema ilhado acompanhar variaes na carga, nveis

    de curto-circuito e o comportamento do sistema

    diante da ocorrncia de faltas.

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    Anais do XIX Congresso Brasileiro de Automtica, CBA 2012.

    ISBN: 978-85-8001-069-5

    Os resultados mostram que a gerao distribuda

    capaz de atender as variaes na carga local quando

    operada de modo ilhado. Em relao a proteo, os

    resultados mostram que o sistema ilhado apresenta

    nveis de curto-circuito mais baixos do que o sistema

    interligado. A alterao dos nveis de curto-circuito

    requer um novo ajuste dos elementos da proteo

    para que possa ocorrer a operao do sistema no

    modo ilhado.

    Em relao a ocorrncia de faltas, devido o

    sistema ilhado ser bastante radial, invariavelmente,

    qualquer falta aplicada resulta em uma perda de

    carga. Quando o sistema ilhado perde um grande

    bloco de carga, os impactos so mais severos.

    Durante a falta a gerao distribuda injeta grandes

    quantidades de potncia reativa para tentar sustentar

    o nvel de tenso das barras que so controladas

    remotamente, enquanto que as barras que so

    desprovidas de controle de tenso os afundamentos

    de tenso so mais severos.

    Os resultados mostram que a estratgia de

    ilhamento intencional pode trazer muitos benefcios

    aos produtores independentes e aos consumidores,

    desde que sejam feitas as adequaes necessrias no

    sistema.

    Agradecimentos

    Os autores agradecem ao suporte financeiro recebido

    pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento

    Cientfico e Tecnolgico).

    Referncias Bibliogrficas

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