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Diego Beggiao

PE. SEBASTIÃO CASARA,

SEGUNDO FUNDADOR

DO INSTITUTO CAVANIS

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CONGREGAÇÃO DAS ESCOLAS DE CARIDADE INSTITUTO CAVANIS

PREFÁCIO

Gabriel de Rosa

1- No dia 02 de maio de 1973, na celebração do bicentenário dos nascimento dos Irmãos Cavanis,

os quais, já está em andamento o processo de beatificação, teve em Veneza, no Palácio Ducal, uma

conferência, onde foi acenado as atitudes que Rosmini teve com eles. Em 1833 Rosmini visitou os

estabelecimentos da Congregação das Escolas de Caridade, experimentando, pela animação, uma

“doce consolação”. Escreveu a Pe. Marcos Antonio Cavanis: “Tendo a Providência feito que tam-

bém me encontre nas mãos a promoção de qualquer casa religiosa e de qualquer colégio, não é ma-

ravilhoso se sinto por eles não somente estima, mas uma afeto especial. Portanto, permita-me de

considerá-los como meus irmãos no Senhor e tenham a caridade de considerar e tratar-me como ir-

mão e companheiro ”. 1

Agora esses três ensaios do Pe. Diego Beggiao, de Luciano Malusa e de Gianni Bernardi, pela oca-

sião de um outro centenário, aquele da morte do Pe. Sebastião Casara (1811-1898), o segundo Fun-

dador do Instituto Cavanis, representam uma nova contribuição de grande importância para o co-

nhecimento de quanto o rosminianismo tenha contado na história do Instituto Cavanis, mas, sobre-

tudo, da personalidade do segundo Fundador, organizador de primeira ordem e artífice da ascensão

do Instituto e, estudioso apaixonado e, também filósofo, do pensamento de Rosmini. E com amou

Rosmini e defendeu sua obra, também quando as polêmicas anti-rosminianas começaram ser parti-

cularmente acesas, encontram aqui um resumo bem documentado.

Beggiao conta os momentos mais empenhativos e dolorosos do Pe. Casara, as tantas incompreen-

sões e polêmicas das quais foi objeto pelo simples fato de declarar-se Rosminiano convicto: “ Eu

sou – escrevia o Cardeal Patriarca Agostini – jamais fiz mistério das minhas convicções

filosóficas”. O Cardeal, por sua vez, escrevendo ao secretário de Estado do Papa Leão XIII, o Car-

deal Ludovico Jacobini, considerava o Superior do Instituto Cavanis “pio e dócil”, porém ficaria

“muito contente” se o transferisse para um outro lugar.

O texto da minha conferência Os Irmãos Cavanis e a Sociedade Religiosa Veneziana no clima da Restauração em G. 1

da Rosa, História dos Santos, Laterza, Bari 1990, pp 183-200! 3

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Qual era a preparação filosófica de Cassara, para despertar tantos temores no Cardeal, mas sobretu-

do para despertar a dura reação de “Civiltà Cattolica”?. “Casara – escreve Malusa – deu uma con-

tribuição não tão grande, mas digna de respeito” no sulco da filosofia rosminiana. Ele “não era um

estudioso da filosofia (...) mas de qulquer modo era um grande interprete seja de Rosmini como

também de S. Tomás de Aquino”. O coração da problemática dizia respeito à natureza da luz inte-

lectual. A verdade é que aos Bispos do Veneto, mas não somente a eles, que pouco interessava a

exegese do pensamento de Rosmini; o que lhes preocupava era que o nome de Rosmini estava liga-

do aos tumultos despertados nos “ambientes católicos com idéias fora do normal e se não perigosas

também em ambito político”(Malusa), nem podiam ser esquecidas as posições eclesiológicas mani-

festadas nas Cincos Chagas.

Estava implícito, sem duvida, o fator político, com o nome de Rosmini, ao programa

Neoguelfo(partido político) do ’48 a bloquear o projeto de Casara para uma utilização didática e

formativa do sistema filosófico de Rovereto.

2- Em um de seus ensaios mais belos e intensos Angelo Gambasin, analisando o papel de Casara,

membro da comissão sobre a fé no primeiro Concilio Provincial do Veneto acontecido em Veneza

no outono de 1859, colocava às claras os aspectos ou os momentos de afinidade espiritual com An-

tonio Rosmini. Casara queria convencer os Padres do Concilio “a introduzir nos estudos filosóficos

do Clero Veneto o pensamento Rosminiano demonstrando-lhes a atualidade e a conveniência”, mas

não para fazer doutores ou filósofos, mas porque estava convencido que o pensamento do Roverato

“pudesse ser de ajuda aos padres e aos intelectuais católicos empenhados no terreno ascético em

trabalhos como aquele do Instituto Cavanis, não é por nada que é “da Caridade”, em perfeita conso-

nância com o Instituto Rosminiano”(Malusa).

Mesmonessa medida programática, as dificuldades e as incompreensões as quais Casara andou ao

encontro com sua idéia de fazer do Concilio Provincial do Veneto o terreno para a experiência da

lição Rosminiana, tanto filosófica com espiritual, foram numerosas e fortes. Amplamente partilhada

a orientação nos Concilios do tempo que andava em direção contrária: pedia-se o retorno às tradi-

ções, a consolidação no ensino neo-tomista nas escolas dos seminários e do método da teologia con-

traversista de Belarmino, a reafirmação da natureza jurídica-terrena da Igreja e do Primado do Ju-

risdição do Papa. Por trás deste programa, de restauração doutrinal e disciplinar, tinham perdido as

esperanças, os mal entendidos e o fracasso dos movimentos de ’48-49, a fuga do Papa a Gaeta e a

queda na desgraça de Rosmini. A cultura contra revolucionária, tendo Donoso Cortes na linha de ! 4

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frente, ajudado a fortalecer a linha dura do tradicionalismo católico, porque foi isso que alimentou a

escolha do nem eleitos nem eleitores ou até o não expedido, tendo ainda o medo do socialismo, que

tinha feito a sua entrada em cena, com a revolução de Paris de 24 de fevereiro de 1848, “feita exclu-

sivamente fora da burguesia e contra ela”(Tocqueville). O socialismo não desapareceu com o bona-

partismo, continuou a incomodar nos tribunais e corredores dos governos de toda a Europa.

Casara sabia do medo e da desconfiança dos Bispos, mas também sabia do atraso da educação e

formação do clero. Daí a sua proposta de retirar - por assim dizer - das cinco chagas aquilo que era

possível e praticável, o modelo vital de ensino, livre, isto é, o da “pequena obra” do contexto políti-

co de quarenta e oito, da ocasionalidade das polêmicas e das confusões rabiosas que acompanharam

sua publicação, e em vez de, exaltar a qualidade do texto como um meio adequado para renovamen-

to religioso e espiritual do clero. Poderia ser feita a renovação automaticamente, sem o consenti-

mento, permissão dos princípios, começando com um conselho provincial, que, no entanto, ocorreu

sob o olhar atento da censura do império Asburgico? Casara, seguindo Rosmini, sabia que a reforma

eclesiástica poderia ocorrer não por fora, mas dentro e na Igreja, como ele esperava, quando foi fei-

to o Concílio de Trento, Pólo, Sadoleto, Fregoso, o veneziano Contarini. Esses nomes foram menci-

onados por Rosmini na introdução às Cinco Chagas, constituíam, portanto, a quantidade de leitura

da "pequena obra" em sintonia com o Evangelho.

Parece-me que Casara apontasse sobre três elementos para a re-educação do clero: o papel dos pá-

rocos, a pregação e o ensinamento nos seminários, uma mudança que poderia ter iniciado da perife-

ria, quase em um sussurro, apenas entre os bispos venezianos; daí o seu entusiasmo ao propor, no

explicar, no tratamento, em 1859, com os bispos a grande renovação eclesial. Em suma, ele não es-

colheu o caminho do compromisso frontal, mas da moderação persuassiva, que pelo restante foi a

conotação mais evidente da tradição política e literária, que descendia da filosofia de Rosmini. Ca-

sara conhecia suas limitações, nunca o seu esforço seria o de abrir as portas dos seminários para a

filosofia de Rosmini e jamais deixaria o recinto da submissão e da obediência ao seu bispo e ao

Papa: esta história foi contada com referências precisas por parte de Beggiao e de Malusa.

O Superior Geral, o "segundo Fundador" do Instituto dos Cavanis, não se envolveu na confusão

anti-temporalista que dividiu o mundo católico. Partindo da reforma interna da Igreja, o resto viria

por si só, esta foi a sua convicção. Não havia outra maneira de resolver o problema? Para colocar o

Rosminianismo, juntamente com os textos de S. Thomas, na cultura do clero?

Não foi a escolha de Casara por Rosmini ditado pela paixão teorética: ele não era um que se dedi-

casse à pesquisa filosófica – bem esclarecido por Malusa - não era em, sentido próprio, um especu-! 5

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lativo, não procurava para si um lugar no campo de filósofos; a verdade era que na leitura, na pes-

quisa e na estimulante prosa de Rosmini, o fascínio apresentado por seu filosofar sobre aquele "di-

vino" que torna conhecível a realidade, Casara estava convencido de que os textos de Rosmini po-

deria ser de grande ajuda para reforma ao interno do clero e da Igreja. Casara advertia muito bem,

como Gambasin escreveu, "o risco da materialidade", em que poderia cair o ato de fé, quando fosse

fundado por si mesmo, exclusivamente no conhecimento dos documentos: “embora, certa e perfeita,

não alegrará, antes será prejudicial ao máximo", assim dizia Casara. Parafraseando o texto do supe-

rior Geral dos "Cavanis", Gambasin escreveu: "a única profissão de fé interior e sincera poderia

conter a força centrífuga destrutivas desenvolvidas dentro da Igreja Católica na época da Contra-

reforma; do jansenismo ao racionalismo e ao liberalismo; faz encontrar pontos de convergência en-

tre a filosofia e a revelação, deixando de lado o espirito humano das "falsas opiniões" desencadea-

das da visão iluminista que sobressaltando a religião como um critério seguro e a única maneira de

alcançar a verdade, afirmava a impossibilidade prática da mente humana a reconhecer a verdadeira

religião".

Enquanto discutindo com as tendências racionalizadoras, Casara não se aliou com os tradicionalis-

tas, com os defensores do "nada de mudanças", mas se fez, como já dissemos, o promotor da “edu-

cação vital'', que está ancorado às fórmulas essenciais do Cristianismo, de maneira ‘agostiniana’ lhe

penetra o sentido mais profundo e sublime. Ao modelo tridentino belarminiano de pregação ca-

tequética Casara, propunha o modelo "vital", interior de Rosmini. Ele desceu com uma rara amabi-

lidade de linguagem, aos conselhos práticos sobre como dar o catecismo: "E, sendo que, não são

apenas de pequenos em estatura e idade, mas muitos menos de instrução religiosa, mesmo nas clas-

ses mais altas, e entre as pessoas, inclusive, eruditas e profissionais em seus negócios, cultos em

literatura e estudos seculares , por isso é de extrema importância a pregação catequética realizada de

modo que não esteja acima da inteligência do rude e ao mesmo tempo atenda as necessidades do

culto, que seja consistente na doutrina e ao mesmo tempo fácil e familiar, que dê um pão saudável e

nutritivo, mas explicados e detalhados como lhes é necessário, que seja digno e agradável, com dis-

cursos nobres de estilo popular para que gostem os cultos, mas claro para os simples, de modo que

todos entendam os simples e até mesmo os ignorantes".

Não foi um trabalho fácil que, de um dia para o outro, se poderia obter os novos párocos catequis-

tas: Casara sabia muito bem que, sob a Áustria, os párocos se tornaram - como escreveu Gambasin -

"mais como instrutores de ciências que formadores de bons costumes, possuíam técnicas de didáti-

cas que tinham relações com a ordem objetiva da doutrina que é absoluta e imutável, mas não o ! 6

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aprofundamento e assimilação da doutrina ". Estamos longe de um conceito objetivo, mnemônico,

da pregação e do ensinamento; em Casara – escrevia ainda Gambasin "ecoa a intuição dos grandes

mestres como Clemente e Orígenes da escola de Alexandria, de estudo cristão que traz à vida as

sementes da verdade eterna encontradas na filosofia e as ciências humanas".

3- Os Ensaios de Beggiao e de Bernardi colocam bem às claras como este desejo de uma reforma

interna da Igreja, iniciando da palavra anunciada para chegar à filosofia de Rosmini, surpreendeu o

Patriarca de Veneza, GiusepPe. Sarto, ao ponto de ter que admitir que "com tanto instrumentos de

estudo", o Superior Geral, "havia formado uma convicção interior e ninguém poderá condená-lo, se

nas discussões liberais o propuzesse", e reconheceu "a sua (de Casara) inquestionável boa fé”.

Um reconhecimento importante, mas singular, porque, como observou Malusa, então, para os jesuí-

tas da "Civiltà Cattolica", um Cornoldi e um outro Liberadore, que, enquanto eram reflexões espe-

culativas, "o sustentar as teses de Rosmini" não pertencia à liberdade "de discussão”. Se dermos

uma olhada em todo o percurso da controvérsia anti-rosminiana, mesmo que limitada ao Veneto,

que dizer sobre a linguagem brutal e de baixo nível daquele tradicionalismo intransigente – penso

ao Scotton – que, se tornaram fortes de conivência com o meio ambiente da cúria Romana, criou

um clima de inquisição sobre quantos se declarassem seguidores das idéias de Rosmini e, em geral,

sustentadores daquilo que vem genericamente chamado de "catolicismo liberal"?

4- No entanto, o Rosminianismo havia também se difundido no Veneto: próprio a biografia de Ca-

sara, o seu Diário, a sua correspondência comprovam. É mais um esforço importante que vem com

estes testes para investigar e descobrir as rotas, conhecidas e desconhecidas, do Rosminianismo no

Veneto, mas também fora do Veneto. Há alguns anos, trabalhando no meu ensaio sobre o vicentino

Fedele Lampertico, a mais alta expressão da escola econômica moderada Veneta, me dei conta de

que quanto ele era um convicto sustentador do Rosminianismo e, como ele se inspirou para a sua

luta política para superar o conflito entre a Igreja e o Estado liberal. Em 1872, em um discurso que

fez em Veneza, ao Instituto Veneto de Ciências, Letras e Artes, que provavelmente conheciam Ca-

sara - disse: "Como é difícil hoje imaginar quão extraordinariamente vigorosa foi a eficácia de An-

tonio Rosmini e de Vicenzo Gioberti, que, levantando os espíritos da baixeza dos materialistas e das

misérias da dúvida e, associando intimamente a religião e a pátria permitiu ao ítalo Renascimento

consciência de si, serenidade da fé, virtude de propósitos, força irresistível”. Mas a investigação

sobre a sorte, como dizem, oculto ou aparente, do Rosminianismo, também na vida política e civil ! 7

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devem ser feitos além do ambiente regional ”. Foi mencionado em meu breve discurso no Simpósio 2

Internacional que se realizou em Roma em setembro de 1998. Lembro-me espantado que aprendi no

curso de minhas discussões noturnas com Luigi Sturzo, entre 1954 e 1959, que ele - em momentos

em que os escritos de Rosmini, as Cinco Chagas, e a Constituição segundo a justiça social eram

todos no lndice - ensinou a filosofia de Rosmini no Seminário de Caltagirone. Evidentemente, é fá-

cil reconhecer o fluxo de tensões filosóficas Rosminianas em muitos escritos de Sturzo, não para

que o Rosminiamo seja conteúdo das aulas. Mas as chamadas, sugestões que vêem das obras de

Rosmini são sentidas nas vibrações mais vivas dos "sermões" sobre a liberdade e os direitos do in-

divíduo (Sturzo). Há também um sinal na última proposta que ele fez em 1958 para reformar o Se-

nado, que ri-mandava ao pensamento de Rosmini para constituir um tribunal político, que, como

bem vê Joel Solari, foi um caso de jurisprudência política para garantir não só da injustiça, “mas

contra a incerteza da justiça " 3

Isso, na minha opinião, é uma investigação que está na espera para ser feita, se requer que o dis-

curso sobre a filosofia de Rosmini não continue a ser reservada somente aos adeptos da pesquisa,

para aqueles que Malusa chamaria de "estudiosos da filosofia". Rosmini não escreveu para ser con-

teúdo de aulas, mas "para satisfazer apenas a mente", como ele alertou, mas "por uma religião livre

para comunicar-se ao coração dos 'povos' sem ingerência de príncipes e de governos".

Re-envio ao meu ensaio: Fedele Lampertico e o Moderalismo Veneto, em G. da Rosa, Tempo Religioso e Tempo His2 -tórico, Edição de História e Literatura, Roma 1988, vol III, pp. 221-229.

G. Da Rosa, Uma re-leitura das "Cincos chagas" de Antonio Rosmini, em Edição de História e Leteratura, Roma 3

1998, voI. III, pp. 229-258! 8

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PREFIL BIOGRÁFICO DO PE. SEBASTIÃO CASARA

Diego Beggiao

Por ocasião do primeiro centenário da morte do Pe. Sebastião Casara, o Instituto Cavanis , encami4 -

nhou à redação estes apontamentos biográficos, que representam simplesmente um início de pesqui-

sa e contribuição a quem quiser estudar mais profundamente sua vida e suas obras.

Os convites de alguns historiadores que estimulavam um maior conhecimento deste intelectual, 5

"conhecido na nossa Itália pela sua doutrina e virtude" , conseguiram, neste ínterim, algumas res6 -

postas. Refiro-me à "Positio", obra do Ofício Histórico da Congregação para a Causa dos Santos, no

estudo do Pe. Aldo Servini do Instituto Cavanis, onde se delineia uma breve e documentada biogra7 -

O Instituto Cavanis nasceu em Veneza no início do século XIX. Fundada por dois irmãos Venezianos condes Antonio 4

Angelo (nascido16/1/1772) e Marco Antonio (nascido em 19/05/1774) Cavanis, ambos tinham tomado o exemplo de seu pai, uma carreira como secretários da República de Veneza. Sairam do ofício, num curto intervalo entre um e outro, foram ordenados sacerdotes. Em 1802, fundaram uma Congregação Mariana e iniciaram a educação da juventude. Com o retorno do domínio Asburgico em Veneza, após a derrota de Napoleão em 1814, os dois Irmãos passaram para um plano de fundarem duas Congregações, masculinas e femininas, que apresentaram ao Imperador por meio do patriarca Francesco Maria Milesi. Eles tiveram a aprovação em 19 junho 1819 e teve inicio a Congregação das Escolas de Cari-dade. Em 1821, um decreto do governo reduziu o ensino elementar e o ginásio a um ensino privado, mas não foi menor a freqüência dos alunos. Levou 15 anos para abrir uma segunda casa em Lendinara (Rovigo). Em 1835, Gregório XVI aprovou a nova Congregação dos Clérigos Seculares das Escolas de Caridade. Um ano depois foi emetido o Breve Apostólico que teve em 1837 a aprovação real e 16 de julho de 1838 o Cardeal Patriarca Jacopo Monico erigiu solene-mente a nova Congregação. Em 1859, o imperador reconheceu o ginásio Cavanis a prerrogativa de publicidade. Os dois Veneráveis Irmãos continuaram a atividade educativa até as últimas energias físicas e, depois de sofrimentos dolorosos, mesmo moral, Pe. Marcos morreu em 11 de Outubro de 1853 e Pe. Angelo 12 de março de 1858. Ver F. S. Zanon, Os Servos de Deus Pe. Antonio Angelo e Pe. Marcos Antonio condes Cavanis, história documentada de suas vidas, Volu-me 2, Veneza 1925.

G. Da Rosa, Os Irmãos Cavanis e a Sociedade Veneziana Religiosa no Clima da Restauração. Pesquisas de história 5

social e religiosa, 1973, p.165-186, S. Tramontin, os documentos relativos à questão Rosmeniana relacionada com o período do Patriarcado do Cardeal Domenico Agostini (1877-1891), Rosmini e o Rosminianismo no Veneto, Mazziana, Verona, 1970, pp.253-263.

Assim foi apresentado pelo Cardeal Patriarca Agostini, em "A Defesa" XXII (1888), n. de 24 de março.6

... Venetiarum Beatificationis et servos Canonizationis de Antonii Angeli et Marci Antonii Cavanis Clericorum Saecu7 -larium para Scholis Charitatis, Cavanis Institutos vulgares, Positio super virtutibus introductione causae et ex officio concinnata, Romae ( ...para a Beatificação e a Canonização dos Servos de Deus Antonio Angelo e Marcos Antonio Ca-vanis, Sacerdotes Seculares das Escolas de Caridade, conhecidos como Instituto Cavanis e, para a introdução da causa e sobre as virtudes, preparadas com diligência pelo oficio responsável, Roma 1979). (A partir de agora, o trabalho será citado: Positio)

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fia. Deve ser levada em conta, também, a ótima contribuição de Maria Leonardi e o trabalho da 8

tese de M. Chizzali . 9

O objetivo principal desse estudo é alargar a pesquisa com documentos que se referem ao Pe. Casa-

ra, como segundo Fundador da Congregação dos Irmãos Antônio Ângelo e Marcos Antônio Cava-

nis, da qual foi, também, Superior Geral por trinta anos. Esta pesquisa confirma e completa os estu-

dos publicados até hoje e poderá interferir nas narrações biográficas mais amplas, pelo fato que

concede largo espaço aos escritos de Pe. Casara, a fim de colher diretamente a sua voz. Esta publi-

cação, proveniente de várias fontes (Pe.Diego Beggiao: P. Sebastiano Casara; L. Malusa: La Fe-

deltà al lume della Verità; G. Bernardi: Il Concilio Provinciale Veneto, da una Chiesa sottomessa a

una Chiesa libera) e repartida por setores biográficos, limita-se necessariamente a uma descrição

completa e auspiciosa, da personalidade de Pe. Casara. Evita-se retomar, documentações e temas

tratados nos escritos publicados anteriormente.

Estudos

Poucas notícias dos seus primeiros anos e da juventude foram transmitidas para nós. Nascido em

Veneza, mas originário de Malo, na Província de Vicenza, nasceu na Paróquia de Santo Estêvão, aos

11 de maio de 1811, sendo seus pais Francisco e Vittoria Franchini. O Senhor Francisco era vende-

dor de cereais e no período mais promissor administrava algumas casas de comércio. Nutria grande

estima pelos Cavanis e, por isso, queria que seus dois filhos freqüentassem as Escolas de Caridade.

Homem de grande fé suportou, com paciência exemplar, a morte do filho mais velho, seu braço di-

reito na condução dos negócios e o declínio dos mesmos, bem como outras desgraças familiares. O

menino Sebastião começou a freqüentar as escolas quando estava com mais de cinco anos, e distin-

M. Leonardi, Sebastião Casara: um Rosminiano na Igreja de Veneza, em A Igreja de Veneza de 1849 até o início do 8

século XX, Veneza 1987, p.227-249. O capítulo é tomado a partir da tese discutida na Universidade de Pádua, da mes-ma autora: Sebastião Casara e o Rosminianismo escritos e debates de 1857-1876, Faculdade de Letras e Filosofia, ano acadêmico 1980-1981, rel.A. Vecchi.

M. Chizzali, A Pedagogia de Sebastião Casara terceiro Fundador do Instituto Cavanis, tese de doutorado na Universi9 -dade de Pádua, Faculdade de ciências da Educação, no ano letivo de 1995-1996, Rel. M. Chiaranda Zanchetta.! 10

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guia-se pela sua inteligência . Com onze anos de idade teve que interromper os estudos até 1828 . 10 11

Os médicos diagnosticaram uma grave doença da vista . Foi neste ano que decidiu fazer parte do 12

Instituto. Entrou na "Casetta" da Congregação, inaugurada, oito anos antes, com o ingresso do Fun-

dador Pe. Antônio Ângelo Cavanis . 13

Apesar da longa ausência da escola, não encontrou nenhuma dificuldade em enfrentar os estudos,

pelo contrário, distinguia-se pelos seus dotes congênitos. Terminou os estudos do ginásio

(1828-1831) e se matriculou nos cursos filosóficos e teológicos (1831-1837), conseguindo a nota

máxima em todas as matérias: “de primeira classe com eminência” . Manifestou logo uma desta14 -

cada inclinação para a especulação filosófica.

Foi ordenado sacerdote, em 23 de setembro de 1837. No ano seguinte, após a ereção canônica da

Congregação, vestiu o hábito religioso e foi agregado ao novo Instituto junto ao Fundador Pe. Mar-

cos Cavanis . Conseguiu a habilitação ao ensinamento nas escolas primárias em 1833. Em 1840, 15

foi habilitado para o Ginásio. Fazendo os dois exames de Estética e de História austríaca, na Uni-

versidade de Pádua, conseguindo sempre, a nota máxima . 16

Com a idade de 22 anos, ministrava aulas de filosofia e teologia, no Curso Teológico . No ano se17 -

guinte, em prova da estima, que os Fundadores tinham por ele, presidia estas disciplinas, no Institu-

to.

Por algum tempo, os documentos nada dizem dele, mas querendo explicar a grande estima que ele

conquistou, só é possível graças a sua profunda preparação cultural.

Em 1852, Pe. Antônio Ângelo, pelas suas precárias condições de saúde, abandonou o seu cargo de

Superior Geral e se demitiu em favor do Pe. Vitório Frigiolini. Tratou-se de uma escolha premedita-

Ver Positio, p. 807.10

Na informação pode ser lido à margem da página do libreto eclesiástico emitido pelo seminário patriarcal, onde se 11

afirma que os anos de interrupção dos estudos são de 1822 até 1828, quando começou o ginásio. A notícia corrige a imprecisão que se encontra na Positio p.807.

O enfraquecimento da visão representa uma desvantagem preocupante, especialmente nos últimos dez anos.12

V. Zanon, I., p 490. Lembrei-me da “casetta”, onde, em comum com os dois irmãos Fundadores, teve inicio a vida 13

dos primeiros congregados: era insalubre, pobre e inadequada. Casara, que sonhava com uma casa nova, somente de-pois de quase 50 anos poderá construir um ambiente acolhedor para a sua comunidade.

Arquivo do Instituto Cavanis de Veneza (doravante AICV) b.41.14

Positio p. 456.15

AlCV, b. 41.16

AlCV, b. 12, f. 1, 184817

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da, que dá para entender quando se pensa, neste Padre, de apenas 34 anos, dotado de grande espiri-

tualidade, de natural sabedoria e equilíbrio, dotes muito semelhantes às características ascéticas do

mesmo Venerável Servo de Deus. Pediram ao Patriarca Mutti que estivesse presente à coordenação

da sucessão. Embora não fosse necessário, o Patriarca pediu o parecer da comunidade que respon-

deu com a unanimidade dos votos. Após um mês, Pe. Casara escreveu: "O nosso bom Padre age

com sabedoria, com perspicácia, desembaraço e coragem".

Superior geral

Infelizmente, após 3 meses, o novo Superior Geral faleceu e foi proposta uma nova eleição. (Elei18 -

to em 06.07.1852, faleceu em 21.10.1852. O Pe. GiusepPe. Dal Col escreveu uma breve biografia,

que em 1871, foi estudada por São João Bosco. Ele achou esta biografia muito bonita e mandou im-

primi-la em Turim) Já se falava do Pe. Casara como a pessoa mais acreditada e estimada por todos

para a sucessão. Se os Fundadores não houvessem indicado Frigiolini alguns anos atrás, de certo,

Pe. Casara teria conseguido o favor dos confrades. Sabemos isso, também, por uma carta muito

confidencial, escrita de seu próprio punho ao Pe. Marchiori, seu contemporâneo e amigo. Alguns

confrades indicaram claramente Pe. Casara que, a respeito disso, poucas semanas depois, anotou

algumas suas reflexões . 19

Eleito em 06/07/1852, morreu em 21.10.1852. O Pe. GiusepPe. Da Col, teve uma pequena biografia, em 1871, que 18

foi avaliada por Dom João Bosco, e estes achou muito bonita e será impressa no ano seguinte, em Turim. AlCV, Diário, 26/07/1871. Sobre este documento, foi desenvolvido em cinco volumes na data de 22/12/1852, diz: "Aqui (em memó-ria) o diário, iniciado e escrito pelo Pe. Sebastião Casara". Nascido como um protocolo com letras de partida e de che-gada, que nem sempre tem o número de registro, e se desenvolve a cada dia com lembranças e comentários breves so-bre pessoas e circunstâncias. É a mão de Casara até 30 de agosto de 1885, o fim de seu governo. Como Casara propôs será sempre citado como Diário e não Memórias, como infelizmente tem sido feito até agora.

"Portanto, agradeço ao Senhor de coração pelo que aconteceu (nomeação de Frigiolini) e, estou feliz; e mais ainda 19

quanto conforto se comparado ao presente com o caso hipotético se tivesse tocado para mim. Meu Beppo, eu não serei capaz de ser Superior, mesmo se você acredita, e eu me alegro por considerar-me e de me observar, porque sempre mais me convenço de permanecer nesta persuasão e evidência. Você pensa de outra forma, de modo a mostrar-me, e do que me disse o Padre (Frigiolini) de você; e por isso que falo a você, e peço-te, de agradecer ao Senhor porque não se realizou o seu desejo, e reze para que nunca o seja. Não te negarei que em algum momento eu não creia de ser bom em alguma coisa. Mas, graças a Deus, são momentos de curta duração, a crença é tão leve e superficial, que é muito fácil de remover e deixa o lugar cheio para a ação livre e eficaz para a íntima convicção de que sempre mais se confirma. "Disto também o bom Pe. Tita (Traiber) que se expressou positivamente sobre mim em sua primeira carta ao Padre. E o Padre (Frigiolini) também gostou e fez-me ler e riu da surpresa que tinha que fazer e a fez. Este bom padre, então, mostra que pensa como o Pe. Tita e me trata tão bem a ponto de confundir-me, me conta tudo, me pergunta, me faz ler as car-tas, em suma, quer-me muito bem" (AICV, b.7, Agosto de 1852). Eis como se expressou o Pe. João Batista Traiber com o novo Superior Geral: "Encontrei tudo isso para ajustar, tudo para organizar, mas com a ajuda da boa cabeça e bom coração do nosso amado Pe. Casara poderei fazer muito"(AICV, b. 18. LZ - f.179. Lendinara. 10 de julho de 1852)! 12

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Pe. Marchiori, na espera da eleição, após a notícia do imprevisto desaparecimento de Frigiolini,

escreveu ao Casara: "Tenho o prazer de dar-lhe um abraço afetuoso, por enquanto; quiçá, em outro

tempo, terei que beijar a sua mão com reverência" . Para o Pe. Casara será uma vigília de angústia: 20

já os confrades o indicavam abertamente. Desabafou mais uma vez, com Pe. Marchiori, para evitar

um cargo já certo . 21

Foi esta sua virtude de humildade que tinha alimentado a estima dos confrades e que transparece

constantemente em suas cartas juvenis; virtude que se tornará, cada vez mais notável, quando sa-

cerdote e Superior, pois todas as suas cartas, também aos leigos, são impregnadas de humildade e

assim o seu "Diário".

Nesta ocasião, da nova votação, e será a última, recorreu-se à autoridade do Patriarca. O Diário re-

lata com sobriedade: "Decreto do Patriarca que, após a apuração dos votos dos sacerdotes, elege e

nomeia novo Superior e "Prepósito da Congregação", o Pe. Sebastião Casara” . 22

Folheando o Diário e a correspondência, desde o início nota-se uma grande agilidade e naturalidade

no governo da Congregação. O Instituto era modestíssimo, dividido nas duas únicas comunidades,

de Veneza e Lendinara, contando com apenas uma dúzia de sacerdotes e alguns irmãos leigos e es-

tudantes. Quando apareceram as primeiras dificuldades, a personalidade e o caráter atento, paciente

e discreto do Pe. Casara tranqüilizava os confrades e os ajudava a superar facilmente os obstáculos

mais árduos.

AICV b. 18 - L Z-f.19220

"Tenho o coração apertado e angustiado com o que está por acontecer para mim. Seja feita a vontade do Senhor em 21

tudo e por todos os aspectos, e Nossa Senhora Santíssima mostre-se Mãe piedosa: vou lhe repetindo, sugerindo-me a quem crê por aquilo que têm para me dar de coração. Mas, Beppo meu! Para você, que não tenho escondido nada, digo a você: Eu rezei e chorei soluçando muito, para obter uma palavra que fizesse cessar-me a árdua tarefa, expondo com toda a sinceridade as minhas razões; mas não consegui. Louvado seja Deus, que me ajuda diante dos meus infinitos deméritos; eu não temo dificuldades nem rejeito as fadigas, mas meus deméritos e meus defeitos, meus vícios, minha inércia para tanta coisa, e as várias qualidades em mim contrárias ao cargo de Superior, tudo isso me faz tremer e temer. Por isso eu estava inconsolável e chorava e chorarei. Tenho medo que a minha escolha não seja (se se realizasse) uma punição para mim e um dano para a pobre Congregação! Ah que tem até demais! Ah, que já não é capaz de sustentar mais! Beppo, meu Beppo, tem piedade de meu estado, e ajuda–me com as orações. Ó Deus! Acho que eu estaria pronto a sacrificar a vida, se assim deleite ao Senhor. Mas a minha pobre alma, assim tão pobre, tão fraca, com uma carga tão grande! Mas os interesses da Congregação, nestes momentos, e o bem de muitas almas confiadas nas suas mãos tão angustiantes! "(AICV, b.7-27/10/1852)

AICV, Diário, 9 de novembro de 185222

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É necessário lembrar que naquele tempo, estavam vivos os dois Fundadores, freqüentemente en-

fermos, com todas as dolorosas conseqüências de uma longa e sofrida velhice, sobretudo no caso do

mais ancião, com intermitente debilidade mental . 23

Em 1854, foi inaugurada a Igreja de Santa Inês, um evento preparado pelos Fundadores com gasto

de muitas energias. Pe. Casara encaminhou e concluiu todas aquelas operações de aquisição, refor-

mas e práticas burocráticas para a reabertura do lugar de culto, à distância de 44 anos do seu fecha-

mento! A cerimônia solene foi realizada no dia 15 de agosto, com a presença do Pe. Antônio Ânge-

lo . Até anoitecer a Igreja foi freqüentada por "uma multidão festejadora" . 24 25

Este acontecimento mostrou-se não menos importante, considerando que a vida dos Padres Cavanis

era empenhada inteiramente na escola.

Pe. Casara ensinava também filosofia e teologia aos clérigos e, com pesar, conseguia dedicar só par-

te do tempo às suas “matérias preferidas”. Além disso ocupava-se da Casa de Veneza, sendo Reitor

e mantinha relações com a Casa de Lendinara. Acrescente-se também a preocupação cotidiana pelas

angústias econômicas e, daí, os pedidos contínuos de subsídios aos antigos e novos benfeitores.

Havia muito a fazer com o Instituto Feminino que, naqueles anos, hospedava uma centena de moças

e, não em último lugar, com os compromissos sacerdotais de pregação e de confissões em diversos

conventos femininos. Jornadas cheias de ocupações, muitas vezes monótonas, cansativas, bem co-

23- O Pe. Marcos lamentava a maneira de como se mantinha a administração: queria tudo fosse registrado e passasse 23

pelas mãos do Superior e não do procurador (tesoureiro): "Eu me encontrei na necessidade de declarar-lhe que não devo e não posso fazer diversamente de que ele apenas tinha descrito "( Diário, 17 de janeiro de 1853) E, no entanto, um amigo recomendou ao Pe. Marcos para reservar um tempo para descansar no continente. "Não queria isso!" escreve Casara, que a pedido de seu assentimento, continuou: "Eu digo com todas e melhores formas muitas e fortes razões provando o contrário, mas, de fato, não consegui nada. É angústia e desolação a um grau extremo. Desaba-fa, chorando como uma criança; quando vai para a quarto, se diz, quase agonizando (...) vai e volta pelo corredor, abai-xo e acima, entra em qualquer sala, fala com aqueles que pode”. Acalmou-se só depois de falar com o confessor (AICV, Diário, 10 de Maio 1853). O Padre Antônio Angelo já estava, de algum tempo "na confusão da mente, e apreensivo por muitas necessidades; está convencido que deve ser obedecido em tudo o que ele quer, e queria dois para cuidar dele todas as noites, queria que se fizesse pouco (...) nada de escolas (...) gostaria de contar tudo ao Patriarca, e obter dele todo suprimento”. Mesmo o Bispo Moro, vigário-geral e seu confessor, o convenceu. Pe. Casara concluiu: "Suas intenções são sempre a mesma, boas e de consciência, mas a sua fraqueza mental não lhe permite conhecer e de convencer-se do verdadeiro estado das coisas ... assim, ele tem a oportunidade de exercer e fazer os outros a exercerem muito a paciência”(AICV, Diário, 20 de fevereiro de 1853) Ele apresentou-se por ocasião das profissões dos religiosos. O Superior achou por bem informar Pe. Antonio, mas ele está "contrário ao máximo para o presente e pede para esperar o fim do ano escolar". Pe. Casara foi forçado a receber os votos de modo "privadíssimo". Somente dois meses depois, puderam ser repetidos publicamente, com o consentimento do Fundador(AICV, Diário, 1. 3 em junho de 1853)

"Fazendo-se acompanhar na igreja, e estando de boa vontade por um bom tempo, com admiração religiosa e devota 24

emoção dos presentes".(AlCV, Diário, 1,15 em agosto de 1854)

“Foi uma festa de religiosa alegria e de sinceros sentimentos de gratidão e de veneração para os nossos dois Fundado25 -res. E, o vivo e o falecido, oh quanto foram nominados e abençoados”(Idem)! 14

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nhecidas por aqueles que dedicavam constante presença e ação educativa aos meninos, dentro e fora

das aulas escolares.

Ao findar do primeiro triênio da sua designação, Pe. Casara convocou o Capítulo para as eleições.

Foi uma novidade absoluta. Ainda faltavam às Regras a segunda parte relativa ao governo da Con-

gregação, porque os Fundadores não conseguiram prepará-la adequadamente. Queriam uma boa

verificação e adiavam a redação porque permanecia escasso o número dos congregados. Assumiu a

responsabilidade deste trabalho complicado, o próprio Pe. Casara. Após tê-lo submetido às observa-

ções das duas Comunidades de Veneza e Lendinara, ao parecer dos mais velhos, considerou oportu-

no apresentá-lo ao Patriarca na ocasião da visita pastoral . 26

Este primeiro Capítulo Provincial da Congregação foi dirigido, "segundo o regulamento já prepara-

do" com grande sobriedade de preparativos e na simplicidade. "O Prepósito fez uma lúcida exposi-

ção oralmente" sobre a situação da Congregação. Apresentou a condição econômica em que "as dí-

vidas ficam quase inteiramente cobertas pelos créditos, na miséria dos tempos atuais". Depois "com

palavras de sincera humildade, dobrando os joelhos, pediu perdão à Comunidade pelas suas faltas 27

e, reconhecida, digna de louvor, pelos presentes, a sua administração, retirou-se modestamente para

o seu lugar de simples membro do atual Capítulo" . 28

Quando foi feita a votação, Pe. Casara foi aprovado por unanimidade . 29

“Entreguei ao Patriarca o trabalho feito para o nosso Regulamento do qual estava envolvido por algum tempo, e fi26 -nalmente o levei a um final perfeito"( Diário, 3 de maio de 1855). A carta informava: "Finalmente, tenho o conforto de enviar-lhe o trabalho a Vossa Excelência, que desde o dia 8 de Novembro 1852 me foi recomendado", e acrescentou o desejo de "pedir e obter a aprovação da Santa Sé”, permitindo e, de que era necessário primeiro um período de experi-mentação(AICV, b. 34, n. 24)

Este gesto de simplicidade humilde, em linha com a reconhecida e cultivada virtude da humildade de Casara encon27 -trado no texto do manuscrito de 1806 das Constituições Escolápias de Chioggia. O texto era bem conhecido por que era muito consultado para a elaboração dos regulamentos adotado como experimentação no primeiro Capítulo Provincial. Título do texto: Constitutiones Praesbyterorum Saecularium Congregationis S. Josephi Calasanctii seu Sanctae lnstitu-tionis et Scholarum Piarum. (Constituições dos Sacerdotes Seculares da Congregação de São José de Calasanz, ou seja, do Santo Instituto e das Escolas Pias); Chioggia 1806. No AICV, cópia manuscrita em 02 de setembro de 1841, Depar-tamento das Regras

AICV, Atas do Capitulo, primeira seção, 14 de setembro de 1855, b. 3428

Recebi demonstrações de cordial alegria, e estou agradecido pelos sentimentos que meus companheiros têm por mim, 29

mas Deus sabe que eu não amo a não ser a sua santíssima vontade, e só por isso, manifestada na eleição, estou contente pela minha confirmação. E serei, mesmo se tivesse que me encontrar levantado sobre a cruz; era um presságio do dia sexta-feira e da festa (da Exaltação da Santa Cruz) que celebramos hoje. Na verdade, para isso, se alguma vez aconte-cer, eu serei mais feliz, e acreditarei ser privilegiado, estando na cruz ao lado de meu Jesus (Diário, 14 de Setembro de 1855)

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Encontros rosminianos

Pouco antes da convocação do Capítulo Provincial chegou a notícia da morte do Abade Antônio

Rosmini. Na Congregação, era conhecida a admiração e a amizade do Pe. Casara, ao grande filóso-

fo, que remontava ao período juvenil dos seus estudos. Através de uma carta escrita, quando ainda

jovem sacerdote, em 1841, tivemos conhecimento de quão grande era a sua estima. Escreveu ao Pa-

dre Bernardo Fusari, vice-reitor do Colégio Vigiliano de Trento, pedindo para adquirir os textos, em

uso, no Instituto Filosófico dos Rosminianos em Domodóssola, pois "não só convencido, mas ena-

moradíssimo das doutrinas rosminianas, e me aplico quando puder, com todo o espírito e prazer".

Declarou também que não tinha a coragem de escrever diretamente ao Rosmini , e acrescentou: 30

"não poderia expressar a estima, a veneração, o afeto vivo que eu sinto por aquele grande homem;

nem posso dizer-lhe o desejo que arde no meu peito de instruir as nossas jovens esperanças, segun-

do os seus ensinamentos e o seu verdadeiro espírito" . 31

Seis anos depois, decidiu escrever diretamente ao Rosmini para conhecer suas outras publicações

que saíram após a Teodicéia. Seguiram-se mais duas cartas, em 1853 e 1854; essas obteriam respos-

ta autografadas do mesmo Rosmini, ao qual dirigiu-se com "Meu veneradíssimo Padre" e com a

confiança humilde, simples e transparente, virtudes que serão reconhecidas por todos.

Na ocasião do decreto Dimittantur, emitido pelo Sto. Ofício, após o exame das Obras de Rosmini,

aprendemos que "por mais de um amigo recebi congratulações como de uma grande e muito feliz

sorte" . Escrupuloso em apontar os nomes dos novos amigos Rosminianos, é acreditável que, neste 32

ano, trata-se de congratulações apenas do ambiente veneziano, no qual já tivera possibilidade de ser

conhecido como rosminiano douto e convencido.

A ocasião da morte de Rosmini, em 01 de Julho de1855, marcou o início de uma importante rede de

relações com os primeiros amigos Rosminianos. Pe. Casara desejando ter notícias detalhadas sobre

a sua morte, dirigiu-se diretamente a Stresa e ao Pe. Francisco Puecher; mas os trabalhos para a

eleição do novo Superior não permitiram a este último, senão uma gentil resposta.

Para não querer roubar nenhum momento daquele grande homem, que luta tanto pelo precioso bem comum”(Centro 30

Internacional de Estudos Rosminiano, Stressa, A, I, XVI, PI

Idem31

Centro Internacional de Estudos Rosminiano, A, I. XXX, Stressa, 185432

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Escreveu então ao abade Antônio Missiaglia em Verona . Este sacerdote será o que lhe abrirá mui33 -

tas portas de conhecimentos importantes e iniciará uma correspondência cada vez mais ativa. Desta

é necessário partir, para entender em profundidade, o estudioso de Santo Tomás e de Rosmini, fora

dos confins venezianos numa amizade sincera e procurada com pessoas representativas da cultura . 34

Os professores Missiaglia e Pestalozza o estimularam tanto, que publicou uma pequena obra sua:

“A Luz do Olho Corpóreo e Aquela do Intelecto. Paralelo observado pelo F. P. V. e ilustrado com

doutrinas do Santo Doutor de Aquino, conforme em tudo, àquelas do célebre Abade Antônio Ros-

mini".

O anonimato escondido sob a sigla F. P. V. Filalete Pe. Veneziano, é um ato de prudência do Pe. Ca-

sara, porque não queria que a sua pequena Congregação tivesse que sofrer prejuízo pela oposição

com os Jesuítas da revista "Civiltà Cattólica", “por ser a pequena obra polêmica e contra a "Civiltà

Cattólica", ainda que não o diga" . 35

O opúsculo logo deu-lhe notoriedade e conseguiu o sucesso de mais duas edições . O Pe. Missia36 -

glia fez propaganda dele e ficou entusiasmado como os seus amigos Rosminianos e lhe deu mais

coragem: "lembre-se, porém que, o senhor, com este opúsculo contraiu diante dos homens e de

Deus a obrigação sacrossanta de não manter inertes e escondidos, por exagerada timidez, os dons

intelectuais que o Senhor lhe proporcionou. E nós todos deste primeiro ensaio dissemos a nós mes-

mos "ab ungue leonem". O senhor pensará no futuro em desempenhar-se com o público dos estudi-

osos” . Em outra carta, depois de ter lido o exame crítico na revista "Civiltà Cattólica", tendo o Pe. 37

Casara respondido de maneira confidencial e privada, o repreendeu amigavelmente: "Penso que a

decisão tomada de responder através de um meio confidencial e privado não será muito conhecida

“É a primeira vez que escrevo a este sacerdote, com o qual nunca tive correspondência. Escrevo-lhe por que ele sem33 -pre foi um defensor de Rosmini (...) e, porque agora ele é elogiado por seus magníficos artigos que publica nos jornais”(AICV, Diário, 24 de julho de 1855)

Cito os mais importantes: Pe. Alessandro Pestalozza (Milão), Prof. Carlos Paganini (Pisa), Pe. André Strosio 34

(Trento), Pe. Leopoldo Palatini (Údine),Dom Pietro M. Ferrè (Bispo de Casale), Pe. Vicenzo Papa (Verona), Pe. Ber-nardino da Portogruaro, Pe. Francesco Angeleri (Verona), Pe. Vicenzo de Vit (Pádua), Pe. Francesco Paoli (Trento), Luigi Sernagiotto(Veneza), Pe. Antônio Cicuto (Concórdia), os bispos João Batista Scalabrini e Jeremias Bonomelli, Pe. Luigi de Pavessich (Dalmazia), Pe. Giuseppa Buroni(Torino), Dom Lorenzo Gastaldi (Arcebispo de Torim), Pe. Antô-nio Stoppani (Lecco)

AICV, Diário, 18 de fevereiro de 185735

O Abade L. Le Mersisier, da Escola dos Carmelitas de Paris, em 1836 pediu a permissão para Casara, concedida de 36

imediato, para traduzir o livro e imprimi-lo na França(AICV, carta de 27 de outubro de 1836, b. 1.).

AICV, Casara, carta de 4 de março de 1857, b.4. 37

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como aquela decisão “festeira” da Senhora Civiltà". E prosseguiu louvando-o: "O Autor faz nela a

melhor demonstração de sua mente clara e profunda" . 38

Estes apontamentos não querem pôr o acento sobre as apaixonadas defesas das doutrinas rosminia-

nas, nem relatar os escritos, mais polêmicos em jornais e revistas, ou citar na correspondência cada

vez mais internas, ou catalogar a bibliografia . 39

Contrastes

O ano de 1857 representará uma etapa importante para a Congregação: a sua consolidação, com a

abertura da terceira Casa de Possagno, na Diocese de Treviso e a conclusão de uma negociação lon-

ga e atormentada com o Bispo Dom João Antônio Farina. A esta Diocese fora confiada a Casa da

Fundação Canova, próxima do Templo que o escultor Antonio Canova tinha construído na sua cida-

de natal. A condição de aceitar a administração da Paróquia, como compromisso estável para a

Congregação, atrapalhava o desenvolvimento dos acordos, até chegar aos limiares da ruptura, por

ser, o apostolado paroquial, considerado estranho ao Carisma Cavanis.

Pe. Casara manifestou dotes de firmeza, de habilidade e de realismo para superar a resistência dos

confrades e a decisão do Bispo. É certo que ponderou o risco de sair da linha mestra do espírito Ca-

vanis, mas, uma vez que entendeu a vontade de Deus — inclinação esta que herdara dos Fundado40 -

res e se tornara fé habitual de sua vida — a conclusão para a aceitação da nova fundação, foi enca-

AICV, Casara, carta de 7 de maio de 1857, b. 4. Uma semana antes, o Missiaglia lhe dava esta notícia interessante, 38

regressando de Milão, que ontem tinha se encontrado junto ao Pestalozza com Manzoni: “Fizemos também aceno da “Civiltà Cattolica” e do artigo contra o seu escrito, e Manzoni, colocou suas mãos na fronte, combatendo aqueles mise-ráveis censuradores”(AICV, Casara, carta de 1 de maio de 1857, b. 4).

Envio esta parte do ensaio de Luciano Malusa e aquela, acima citada, tese de doutorado de Maria Leonardi: pesquisa 39

acurada e crítica: este último trabalho merece impressão.

40- Depois de ter elencado suas observações, ele escreve com palavras fortes: "e se poderia ter algum peso, em avali40 -ar os argumentos opostos, a convicção de que, o último de todos em méritos e virtudes, mas pelo ofício e lugar é o pri-meiro entre eles, e que, mesmo que todos acreditem que diz a verdade, protestando de que não tem nenhum outro obje-tivo senão a Deus e Sua glória, sem intenção de honra, de comodo ou mesmo de interesse para a Congregação, eu não duvido que por ter confirmado com expressa e especial declaração (...) estou convencido de que não posso perder esta oportunidade, a qual está sendo oferta, parece-me, por Deus”(Relatório, 30 de novembro de 1856, em AICV, 1856, b. 34). No relatório do seguinte Capítulo Provincial reafirmou suas convicções sobre a aceitação de Possagno: "Quanto mais eu penso sobre isso, meus irmãos (e eu pensei seriamente por que necessariamente tinha a parte principal) e, tanto mais me reafirmo na doce convicção de poder e no dever de dizer: O dedo de Deus está aqui: esta foi a vontade de Deus, esse foi seu trabalho, esta é uma verdadeira e especialíssima bênção com que Deus se agrada de nos confortar"(AICV, Ca-pítulo Provincial de 1858, b. 34)! 18

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minhada para uma feliz conclusão. Após algumas semanas chegou a aprovação e a bênção do Fun-

dador, Pe. Antônio Ângelo, ainda vivo . 41

Lembrei a Fundação de Possagno somente porque esta fundação pode ser atribuída por inteiro à

prudência e à habilidade do Pe. Casara. Mas nem tudo era tão tranqüilo como parecia. A aprovação

da nova abertura, que ele conseguiu arrancar dos Conselheiros Gerais, deixará um rastro de oposi-

ção que irá manifestar-se logo em seguida. A resistência por parte dos conselheiros em dar o con-

sentimento para a nova abertura deve ser atribuída ao fato de que a nova abertura teria deixado des-

providas de pessoas necessárias às outras duas Casas, com prejuízo do exercício do ensino nas esco-

las . O descontentamento persistia e se entrevê pelas palavras do relatório de abertura do Capítulo 42

Provincial, de 1858. O Pe. Casara disse que a Casa de Possagno "marca uma época na história da

Congregação e será, espero, lembrada nas nossa memórias". As palavras, apesar de enfatizadas, ti-

nham a capacidade de infundir coragem e, sem dúvida, eram proféticas.

O clima entre os Confrades não era certamente sereno e o Pe. Casara estava consciente disso e pe-

diu para deixar o cargo: "Desejo ardentemente que seja eleito um novo Superior mais digno do que

eu e mais apto a promover a verdadeira e única, e queria dizer também delicada e florida, santifica-

ção dos Congregados". Inesperadamente, a relação tornou-se desabafo pessoal, a tal ponto que se

transformou em entusiasmo comovente, revelando a grande riqueza interior. Nunca mais encontra-

remos confidências assim detalhadas e significativas.

Ao traçar as qualidades de um bom Superior Geral, delineou, inconscientemente, uma autobiografia

moral que ele tinha na estima dos Confrades . E pediu, novamente, uma eventual substituição: 43

41- Positio, p. 758. Casara, na relação de abertura do capitulo provincial de 1858 revelou que o Pe. antônio Angelo 41

“conhecia o impenho que a Providência havia anexado ao neo pároco Pe. Da Col, e o nosso venerando fundador e en seguida, sobrevivendo, teve outras vezes momento de serenidade e de vigor que se pode entender tudo e com clareza de que coisa se tratava, de saber muito bem e plenamente que se estava assumindo uma paróquia e deu consentimento e, ficou contente e, abençoou mais vezes, amplamente e, nas formas mais expressas ao impenho que se assumia e ao es-colhido para apoiá-lo”(AICV, Capitulo Provincial, 1858, b. 34).

Contrários e intérpretes desta perplexidade os padres G. B. Traiber e G. Paoli. As escolas de Lendinara, reduzidas a 42

particular, definhava pelo número de alunos, uma vez que estes andavam para Pádua, forçados a fazer os exames. Acon-tece que ainda se tratava desse temor, mais do que pelo fato de assumirem a Paróquia em si, quando quatro anos depois, no Capítulo Provincial de 1861, será próprio Pe. Traiber, o mais zelante opositor a aceitar Possagno, que pergunta na quarta sessão, para examinar o desejo expresso do bispo de Adria, Dom Camillo Benzon, para "assumir o cargo de ad-ministrar por qualquer tempo uma paróquia em sua diocese"(AICV, Capítulo Provincial de 1861, b. 46).

"Um Superior que não inculca só nos Capítulos, mas em cada ocasião a humilde obediência, a pobreza, a compostu43 -ra, o silêncio, a exata observância das regras também as mais pequenas e em cada coisa a reta intenção, o verdadeiro espírito de fé, de piedade religiosa e de férvida caridade, para informar, animar, para que se torne precioso cada um dos nossos atos interno e externo, como pelo meu dever e meu sentimento procurando de fazê-los sempre; mas também se aplica pela potência milagrosa do exemplo, como a adição de peso, força e virtude eficaz às suas exortações; um Supe-rior, que une à seriedade a doçura, à firmeza a discrição, a prudência com a conversa franca e com a séria admoestação, e com severas repreensões: um Superior, que respeitado e amado por todos, sem exceção, se aplica a todos, trata com a mansidão e a eficácia de Cristo, para aproximar-se cada dia mais intimamente"(Idem, pp. 4-5).

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"Este é um sincero e ardentíssimo voto, esta é a manifestação e a súplica que tinha necessidade de

fazer a vocês, faz tempo; e agora que a fiz, com esperança de ser atendido, sinto-me aliviado. Não

me retiro, não, das fadigas; não quero fugir, não, do sofrimento; quando precisares e for possível,

estou aqui para oferecer-me e fadigar ainda mais. Mas farei isso com maior prazer por obediência,

farei com muita alegria como operário que trabalha na vinha queridíssima sob o governo e os cui-

dados de um experto, trabalhador e amoroso lavrador".

O começo foi uma verdadeira e própria autodefesa:

“Quero esperar que todos tenham aceito que eu nada mais cultivei na mente e no coração, do que o

bem da Congregação e de cada um dos congregados; que nunca me esquivei das fadigas nem me

prevaleci da autoridade do meu cargo para descansar (…) assim como não falhei ao meu costume

de prestar-me de boa vontade, na necessidade, às obras que costuma-se chamar baixas e servis. Sa-

bem, também, aqueles das outras duas Casas o que eu fiz, no desempenho do meu dever, e por gra-

ça de Deus sempre de coração, em tudo o que requeria-se o meu conselho, a minha direção, a minha

obra; aqueles desta Família foram testemunhas, todos os dias, da minha vida. Sei que para alguém

era desagradável o meu comportamento que parecia altivo e o rosto sério, ou de poucas palavras.

Mas Deus sabe, se eu fiz isso por falta de amor, por falta de estima dos meus confrades ou por causa

de meu forte caráter ou de forte ressentimento. Certo, apesar do esforço contínuo de não alterar-me,

com a graça de Deus, de conservar, em cada encontro, a calma interior e a paz, não podia, porém,

ficar sempre, fisicamente, de bom humor: ainda mais, por índole não sou exteriormente muito ale-

gre e falador; e cada um pode imaginar que, não raramente, eu estava ocupado por muitos pensa-

mentos e necessariamente diversos.

Conscientemente me abstive de manifestações de complacência e de louvor, que teria feito com

prazer, para não dar aos confrades ocasião de algum perigo de envaidecimento. Além disso declaro,

expressamente e com toda sinceridade que o meu escasso falar, afinal, dependia muito freqüente-

mente também da convicção de dever agir assim. Quando e na medida que foi necessário, útil, con-

veniente, sempre gostei de comunicar aos confrades os acontecimentos e de pedir o conselho deles,

o conforto, o auxílio. Fora destes casos, falei pouco ou conversei somente com um ou outro indivi-

dualmente, conforme parecia-me conveniente. Por ciúme de poder, por presunção, de doutrina e

prudência, por falta de afeto aos confrades, nunca fiquei calado; Deus é minha testemunha. Por fim

acrescento que nunca, por quanto me lembro, tive de arrepender-me do silêncio prudentemente con-

servado.

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Mas, talvez, os estudos, aos quais mostrei de aplicar-me nestes dois últimos anos , me distraíram 44

dos meus deveres, me levaram a faltar com os meus confrades? Não me atrevo a declarar-me em

tudo e inteiramente inocente: porém simultaneamente não hesito em afirmar que, certamente, houve

conseqüências más. No entanto, nunca me comprometeram assim como poderia imaginar: apliquei-

me só em breves intervalos, em vários retalhos de tempo, aproveitando todos os momentos. Assegu-

ro depois que, nenhuma vez, me cansei por causa deles, tanto que sentisse menos vigor de mente e

de forças nas minhas ocupações ordinárias.

No fim, por causa deles, não sei ter nunca encarregado outros nem sequer duma carta. A minha saú-

de boa e constante me favoreceu em achar tempo, assim não tive necessidade de secretário. Com

todas as demais ocupações cotidianas e os epistolários de contínua correspondência, consegui es-

crever de minha mão, e também copiar, freqüentemente, quanto necessitava: relatórios, pedidos,

reclamações, dissertações…e de minha mão, sempre cuidadosamente, escrevi também tudo o que

podia merecer alguma memória, no Diário da Congregação. Se para tudo isso exigia-se alguma ra-

pidez e clareza de compreensão, e facilidade na expressão, fui favorecido pela qualidade mesma dos

estudos, para os quais me sinto inclinado. Afinal, acredito, apesar do pouquíssimo tempo à minha

disposição, não levei nenhum prejuízo aos leigos, antes, talvez, alguma vantagem à Congregação.

No mesmo tempo parece que não ressoou inútil a minha débil voz, em levantá-la pela honre defesa

da santíssima verdade; só a Deus rendo inteiramente glória com todo o meu espírito.

Precisamente pela honra da verdade, além de tirar qualquer ocasião, qualquer sombra de má edifi-

cação, decidi-me a falar, também de mim, tendo de vencer, em fazê-lo, uma pequena repugnância.

Porém, encerro repetindo que estou aqui sempre prontíssimo, em qualquer condição, a tudo em que

posso valer; e que o meu voto sincero e ardente é de poder trabalhar incansável sob a direção de ou-

trem, na obediência."

A relação do Pe. Casara não dissipou o desapontamento dos Padres que tinham avaliado a aceitação

da Casa de Possagno. A verificação tornou-se evidente pelas indicações das eleições que se segui-

ram imediatamente. Precisaram 3 turnos de votação antes de alcançar a confirmação do Pe. Casara,

no cargo de Superior Geral: os dois votos que faltavam foram dados só no quarto escrutínio ! 45

Aludindo à sua pequena obra filosófica já citada, e a sua correspondência com amigos Rosminianos.44

Uma segunda prova veio quando, na segunda sessão, foi decidido por unanimidade "que, para a aceitação de uma 45

nova fundação é necessário quatro votos no Conselho". Para Possagno obteve três dos cinco votos! (AICV, Capítulo Provincial de 1858, atas 1 e 2, b. 34). A este respeito, é significativo aquilo que o Diário destaca: "Não pareciam todos os ânimos igualmente dispostos, mas também cada coisa aconteceu de forma ordenada, tudo foi discutido em paz, tudo foi tratado e concluído com persuasão e com caridade"(AICV, Diário, 17 de setembro de 1858).

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Lemos no Relatório Capitular que o Pe. Casara notou as críticas sobre os seus estudos rosminianos,

como se o tivesse distraído dos cuidados da Congregação. Havia-se defendido explicando as suas

razões. Agora estava em preparação, ao cuidado dele, um livro, que será imprimido com rapidez,

em maio de 1859. O título: "Exposição, do princípio filosófico de Antônio Rosmini e sua harmonia

com a doutrina católica, com um apêndice sobre a ordem dos estudos teológicos" . Com relação 46

aos estudos teológicos teve uma troca de correspondência com o rosminiano Pe. Francisco Paoli.

Em sua carta, Paoli "expôs o método de estudos teológicos planejado e traçado segundo a ocasião,

por Rosmini; é coisa bonita e agradável também assim" . Este explica a origem do apêndice que 47

lhe interessava ter em mão, junto com o opúsculo. De fato, o Patriarca Ângelo Ramazzotti era 48

promotor do primeiro Concílio Provincial Veneto, que deveria ocorrer em Veneza, no período de 18

de outubro - 04 de novembro de 1859. No dia 04 de março iniciaram-se as sessões para o plano

preparatório do trabalho.

O Pe. Casara participou na qualidade de teólogo. No arquivo da Congregação não existem docu-

mentos que testemunhem este novo cargo. Certamente era conhecido como presidente do estudo

teológico do Instituto. Sabemos de sua função, no Seminário, como confessor dos clérigos, durante

os anos de 1854-1857, e a sua freqüente relação com os professores do seminário . 49

Pouco depois da abertura do Concílio, enviou ao Patriarca o seu livrinho logo que foi publicado, e

após uma semana o remeteu a todos os Bispos do Trivêneto. As intenções do Pe. Casara eram evi-

dentes, e logo em seguida recebeu a resposta . 50

As divergências, levemente filtradas, mas presentes no Capítulo Provincial de 1858, pareceram su-

peradas na ocasião do Capítulo sucessivo de 1861. Infelizmente foi só aparência. Pelo menos a du-

O livro foi impresso por Frizierio, Verona, 1859, 141 pp 44).46

AICV, Diário, 16 de janeiro de 1859.47

Angelo Ramazzotti Francesco nasceu em Milão em 1800, formou-se em Direito em Pavia, entrou nos Oblatos de 48

Rho, se torna bispo de Pavia em 1850. Foi promovido Patriarca de Veneza em 1858, onde permaneceu até sua morte em 1862.

Em maio de 1858 foi convidado para um debate teológico em Francesco da Vigna, junto com dois Dominicanos e o 49

Provincial dos frades Menores Reformados, Pe. Bernardino de Portugruaro. “Os Dominicanos argumentaram de forma sistemática, eu livremente”(AICV, Diário, 26 de maio de 1858).

O bispo de Chioggia Jacobo de Foretti lhe respondeu reconhecendo “a necessidade de tratar sobre os estudos no si50 -nodo, como sendo um assunto importante”(Diário, 8 de junho de 1859). Ao Pe. Paoli, dois meses antes, ao comunicar a impressão do “libretto” confidenciava “daquilo que espero do Sinodo”(Diário, 12 de abril de 1859). Sobre Casara, teólogo, no primeiro Concilio Provincial Veneto, que ocupou um lugar proeminente na primeira das três sessões sobre a fé, permanecendo o ensaio de Gianni Bernardi que trata expres-samente nesta publicação. Encontra-se também em A. Gambasin, Religião e Sociedade das Reformas Napoliônicas à Idade Liberal, Liviana, Pádua 1974, pp 39-169.! 22

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reza nas exposições haviam sido atenuadas, as Casas pretendiam tornar-se presentes, com pedidos

mais conscientes, até perceber que adquiriram mais credibilidade em apresentar propostas, incluin-

do verificações e controles. O Pe. Casara respondia com uma clareza viva, penetrante e persuasiva,

quando se tratava de dizer a última palavra. Deixava que a discussão fosse esclarecida em liberdade,

mas era franco quando precisava sublinhar a impropriedade de algumas decisões.

Na abertura do Capítulo falou com equilibrado otimismo sobre o estado da Congregação, também

quando tocou em assuntos bastante delicados, como os recursos econômicos da Congregação . 51

Mas o Instituto estava crescendo, vagarosamente, quanto ao número de religiosos. Em Possagno foi

inaugurado o primeiro Noviciado regular, digno deste nome. As Escolas em Veneza eram completas

e em Lendinara a Escola particular foi autorizada para adquirir a qualificação de Seminário Episco-

pal, com exames internos; assim as classes floresceram novamente . 52

Nesta circunstância discutiu-se também sobre o hábito religioso, com os "complementos" (escapu-

lário e gola) de uso monástico. O que se queria era mais simplicidade . 53

O Pe. Casara deu notícias também sobre o Instituto Feminino. A Casa para as meninas dependia

economicamente da renda da Congregação mas estava perto de um futuro mais garantido. Existia

desde 21 de fevereiro do corrente ano, um projeto de uni-la à Congregação fundada por Matilde de

Canossa . No entanto, o Município, após muito interesse e trabalho do Pe. Casara, adquiriu o mos54 -

teiro das Eremitas , e já tinha pronto um ato de entrega para o uso. 55

Correm, infelizmente, tempos calamitosos. Aumentou de maneira exagerada os impostos públicos e agravou-se a 51

situação, aumentou muito também o preço dos alimentos e das roupas, diminuem, no entanto, as esmolas, e diminuíram as rendas"(AlCV, Relatório, Capítulo Provincial de 1861, b. 46.

Aquelas escolas adquiriram um nome cheio de significado ou apenas de honra, mas agora também de bênçãos, e de 52

uma vida própria e querida para nós"(Idem).

“Foi decidido de maneira absoluta de abandonar, agora e para sempre, esta forma de pensamento”(Idem). Retomei 53

neste argumento porque no Capítulo anterior foi expresso pelo próprio Casara "o parecer do abençoado Pe. Marchiori, falecido, que seria conveniente abandonar e deixar a batina e adotasse um sinal de monges ou de frades e não de religio-so seculares como nós somos. E notei que nas Regras aprovadas é dito que a Congregação vai ter a batina clerical, que esta adição foi, então, solicitada à Santa Sé para que os padres acreditassem que estariam respondendo ao desejo de Sua Eminência o Patriarca Mônico, não porque era essa a primeira intenção deles, que foi observada em várias ocasiões por pessoas também sábias que nossa veste está em descordança com a natureza de nosso Instituto. As observações não encontraram, em geral, aquela oposição que poderia ter sido capaz de imaginar". Foi decidido a adiar para a próxima oportunidade a decisão definitiva(AICV, Ata da terceira sessão do Capítulo Provincial de 1858, b. 34).

AICV, Diário, 21 de fevereiro de 1861.54

AICV, Diário, 27 de março de 1861. Com uma cerimônia solene do Cardeal Patriarca Trevisanato, onde, leu o decre55 -to de 2 de junho de 1863, com o qual a comunidade do Instituto Feminino funde-se com o Instituto das Canossianas, colocando o hábito.

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O Superior Geral encerrou o relatório pedindo, também nesta ocasião, que fosse liberado do

cargo . Tratava-se de uma esperança vã. Em anotação, antecipou que "tinha decidido de não aceitar 56

uma nova eleição". Estava no ar uma dúvida, amplamente discutida, e que nasceu quando foi deci-

dido que se deveria conciliar as eleições do Superior Provincial e dos Reitores, observando as Cons-

tituições aprovadas pela Sta. Sé e as Regras manuscritas, ainda em experimentação. Os Reitores de-

viam ser eleitos pelos membros de cada Família e não pelo Superior Geral, com o seu Definitório,

como tinha sido feito antes. Além disso, o Superior Geral era também Reitor da Casa primária de

Veneza; por isso esta Família Religiosa não podia eleger o seu Reitor senão nomeando-o também

Superior Geral. Na Assembléia Capitular, a dificuldade foi resolvida com uma solução radical, por

medo de criar um transtorno na Congregação: o Superior Geral devia ser eleito como na primeira

votação de 1852, que não previa limitação de tempo nem triênios. Pe. Casara teria de permanecer

no cargo até que a Sta. Sé aprovasse as Regras manuscritas. Por enquanto, também, os Reitores de-

viam conservar o seu mandato.

Renúncia

Em 05 de outubro de 1862, no Diário, lemos que o Pe. Casara se retirou por uma semana junto ao

seu amigo Pároco de Dosson de Dolo (VE) Pe. Inácio Motti . A notícia causou maravilha. Longe 57

de seus confrades, amadureceu alguma decisão? Pelo mesmo Diário, logo após estes dias, conhe-

cemos uma cerrada correspondência entre ele e os dois Definidores de Lendinara, Pe. Traiber e Pe.

Spernich. Desta correspondência inexplicavelmente não existe nada no Arquivo. O conteúdo destas

cartas parece misterioso, mas é grave demais e carregado de suspeitas para permanecer longamente

obscuro.

No fim de novembro, finalmente, uma pista e uma indicação: Pe. Casara comunicou aos dois defi-

nidores "uma determinação, por mim já tomada, do que irei efetuar" . Após alguns dias: "De Len58 -

dinara me apresentam alguns motivos para me retirar da supradita determinação. Para mim não são

“De mim mesmo não digo nada, por que já sabeis, quanto serei contente em me tornar o último na Congregação e 56

reparar, com exemplos que eu desejo dar, uma obediência humilde, feliz e religiosa"(AlCV, Capítulo, cit)..

Pe. Ignazio Motti, veneziano, professor de Bíblica e de História da Igreja no seminário, depois pároco em Dosson de 57

Dolo, retirou-se para Gambarare, onde morreu em 1893.

AICV, Diário, 29 novembro 1862.58

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motivos suficientes" . Entretanto a troca de cartas se tornou febril, até que o Pe. Casara concluiu: 59

"Ao Pe. Traiber declaro clara e firmemente que resolvi renunciar ao cargo de Superior com o térmi-

no do Ano Escolar; por isso o advirto que disponha a tempo as coisas" . 60

À comunidade de Veneza notificou a sua decisão de renunciar ao cargo com as seguintes palavras:

"por aquela razão que me obrigou até hoje, agora acredito, ser esta a vontade de Deus" . 61

O Capítulo, chamado Extraordinário, foi convocado para o dia 1º de setembro de 1863. Nesta data o

Diário relata: "Deo gratias! Chegou finalmente o momento de despojar-me do ofício de Superior.

Hoje se reuniu a Assembléia já convocada para a minha renúncia, e a eleição do novo Superior. Po-

rém, antes de fazer a renúncia, a fim de que cada coisa comece e se cumpra com segura e válida re-

gularidade, expus, à votação, cinco pontos; foram todos aceitos . Feito isso, li a formal renúncia e 62

entreguei chaves e selos. Deo gratias, Deo gratias, Deo gratias!" . No ato de renúncia, lido na as63 -

sembléia, determinou:

"Cada um pode imaginar quantas coisas agora eu deveria dizer, mas certamente seriam demais, e

talvez em parte não oportunas, outras não necessárias. Digo, então, só duas. A primeira é que eu

termino com o meu amor todo inteiro e vivo à minha querida Congregação, a todos e a cada um dos

membros que a compõem. Deus conhece o quanto eu sempre os tenho amado. Nem direi ter algo a

perdoar a ninguém, pois não sei ter tido algo contra alguém ou desdém, ou ressentimento, ou má-

goa, ou raiva, ainda que, às vezes possa ter parecido. Antes, por isso e por qualquer outro motivo e,

sob qualquer aspecto, peço perdão de todo coração, primeiramente a Deus e depois a todos os pre-

sentes e, neles e por eles, a todos os membros da Congregação, de qualquer desagrado dado por

mim a alguém, de todas as minhas faltas, de todos os maus exemplos, de todo prejuízo causado por

mim, de qualquer maneira, à Congregação. Era esta a segunda coisa que eu tinha a declarar” . 64

AICV, Diário, 3 dezembro 1862.59

AICV, Diário, 2 janeiro 1863. 60

AICV, Capitolo Extraordinário de 1° setembro 1863, b. 46.61

Estas são as cinco coisas que foram pedidas: 1) que a votação secreta seja aceita ou não de maneira proposta e moti62 -vada na carta circular para a eleição do novo Superior Geral; 2) que seja proposto e decidido sobre o tempo do mandato do Superior Geral; 3) que a reunião se ocuPe. somente com a eleição do Superior Geral, porque foi convocada com esta finalidade; 4) pertencem aos cuidados do novo Superior Geral escolher o conselho da comunidade local da primeira casa; 5) se o novo Superior Geral é escolhido entre os capitulares presentes, apenas com estes e com o Superior Geral tenham o direito de eleger o definidor que falta. Todos os cinco números obtiveram a votação unânime, exceto o tercei-ro, que teve apenas um voto negativo (Idem).

AICV, Diário, 1 setembro de 1863.63

AICV, Capitulo Extraordinário de 1863, b. 46.64

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Para integrar a crônica deste Capítulo extraordinário é necessário dizer que foi eleito Superior, com

unanimidade de votos, o Pe. João Batista Traiber. O lugar de primeiro Definidor foi conferido, por

unanimidade, ao Pe. Casara, não obstante, as suas repetidas resistências . 65

Com surpresa, no ano seguinte, num Capítulo chamado Provincial e limitado à nomeação de alguns

cargos, o mesmo Pe. Casara renunciou, também ao ofício de Definidor e, apesar do "pedido" para

ele continuar, ficou firme na recusa . 66

A esta altura é lícito perguntar-se o porquê de um ato tão grave como a renúncia ao cargo de Supe-

rior. Um tal comportamento chegou imprevisto, pois provinha de um homem considerado generoso,

votado com verdadeira doação ao serviço de todos e aos cargos, mais pesados ou insignificantes. A

explicação apareceu, pouco a pouco, porque Pe. Casara sempre se esquivou em fazer valer o Diário.

As dificuldades foram notadas na aceitação da Casa de Possagno. O herdeiro testamentário do Ca-

nova, o nobre FeliPe. Canal, empenhado com outros dois colegas em cuidar da fundação, tinha en-

frentado despesas não indiferentes para a construção das escolas, do Internato, da Igrejinha, do No-

viciado e da Biblioteca ; naturalmente, esperava muito do empenho dos Padres…Esses obrigavam-67

se a "instituir escolas gratuitas respeitando as matérias e o número, por quanto, as circunstâncias do

lugar, do tempo, e da nossa condição o permitem" . 68

O Superior se achou limitado em conciliar os legítimos pedidos da fundação e a escassez de pesso-

al. Surgiram os maus humores que conhecemos, mas que pareciam superados no Capítulo de 1861.

O Pe. Casara estava passando alguns dias junto ao amigo Pároco, Motti. É provável que naqueles

dias tenha amadurecido a idéia de lavrar um memorial para lembrar, aos herdeiros Canova, os com-

promissos das duas partes a respeito de Possagno; compromissos, que aos Confrades, pareciam de-

masiadamente graves. Pe. Casara teve a sensação de ter ficado sozinho, junto ao Pe. Da Col, Pároco

e Reitor de Possagno e sobretudo previu a divisão que ameaçava pesadamente a Congregação: uma

desgraça a ser evitada. De fato, após dois meses da renúncia, o novo Superior retirou duas pessoas

Na reunião de abertura do capítulo havia declarado: “creio igualmente ser a vontade de Deus, que não aceite, pelo 65

menos por um bom tempo, qualquer encargo de autoridade, nem mesmo secundária, ou parcial, ou indireta, e também sobre isso estou determinado e decidido”.

AICV, Capítulo Provincial, 1864, b. 47. 36.66

“Magnifica livraria nova, pintada, protegida por vidros, e número abundante de livros, muito dos quais são agradabi67 -líssimos”(AICV, Reflexões Carara para o Superior Geral, b. 47).

Idem.68

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da Casa de Possagno, enterrando os planos de desenvolvimento para não prejudicar a comunidade

de Lendinara.

O Pe. Casara sentiu-se obrigado a defender a causa e preparou algumas reflexões muito claras e

comparativas sobre as duas fundações: Lendinara e Possagno, em que defendeu esta última, tam-

bém por motivos de "verdadeira justiça". Esclareceu “o número dos sacerdotes em Possagno não

foi, arbitrariamente, aumentado pelo Superior Pe. Casara, sem o consentimento dos outros Padres e,

no Capítulo de 1861, todos tinham conhecimento disso tudo”. Naturalmente, referiu o Memorial do

ano precedente que, ninguém ignorava. Concluiu: "parece que o assunto mereça séria

ponderação" . Assim foram evidentes, as motivações da renúncia. 69

Em 04 de maio de 1864, o Pe. Da Col convidou o Superior a tomar decisões porque os executores

testamentários as esperavam, e estavam perplexos, pois, em vez de ampliar a obra pela qual tinham

gastado muito, agora vem reduzida notavelmente", ainda mais que puseram uma escolha-ultima-

tum: assumir ou abandonar . No mês seguinte, mais uma vez Pe. Casara interveio, fazendo obser70 -

vações sobre os pareceres expostos por vários Padres e esclareceu os termos das dificuldades pro71 -

postas. Com paciente análise, indicou como superá-las.

Em 15 de agosto, o Superior Geral Pe. Traiber confiou ao Patriarca Trevisanato que ele não queria 72

abandonar Possagno, mas que devia submeter-se à maioria das Padres que não achavam justas as

razões dos Pe. Casara e do Pe. Da Col. Na sua resposta, o Patriarca reconheceu a impossibilidade de

mandar outros religiosos a Possagno, desejando simplesmente que o Canal não levasse para frente o

projeto de retirar os Padres, entrando assim só parcialmente na controvérsia .

As coisas pioraram, de tal maneira que num relatório do Pe. Da Col lemos que o Canal se tornava,

cada vez mais, hostil e recusava qualquer conciliação . Seguiram numerosos documentos em que a 73

oposição se fez mais áspera nos termos, entre os pareceres do Superior e do Pe. Casara. Não se

achou uma saída.

Idem.69

AICV, carta de Pe. Da Col, 4 de maio de 1864, b. 47.70

Trata-se dos padres Pietro Spernich, GiusepPe. Rovigo, Giovanni Paoli, GiusepPe. Bassi, Tito Fusarini, e Francesco 71

Mihator (AICV, Observações de Casara, 16 de junho de 1864, b. 47.

GiusepPe. Luigi Trevisanato, nasceu em Veneza em 1801, ensinou grego, hebraico e exegese biblica. Bispo de Vero72 -na em 1852, no mesmo ano foi transferido para Udine. Em 1862 se torna patriarca de Veneza. Morreu em 1877.

AICV, Relatório de 12 de julho de 1865, b. 47.73

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A controvérsia ocupou todo o triênio Traiber, cujo governo, bastante enigmático não deixou espe74 -

ranças de conseguir a concórdia.

Em janeiro de 1866, Pe. Casara, preocupado, escreveu: "O atual Superior parece decidido a não

aceitar uma reeleição". Infelizmente, sobrevieram outras circunstâncias bem mais graves, assim que

a questão foi abandonada. No horizonte se apresentava um futuro incerto e ameaçador . 75

Novamente superior geral

As notícias que circulavam no início do ano eram verdadeiras: Pe. Traiber não queria ser reeleito

Superior. No 1º de setembro de 1866, ao findar o seu triênio, reuniu o Capítulo, só da Família de

Veneza, porque os contatos com o continente estavam interrompidos pela guerra. Declarou que não

se candidatava para o sucessivo triênio e convidou os confrades a eleger um novo Superior. O insó-

lito procedimento era justificado pelas complicações bélicas. A maioria votou no Pe. Casara que,

após forte resistência a todos os convites, cedeu e assumiu o cargo sob a condição que se convocas-

se um Capítulo regular, logo que fosse possível . 76

Tem-se esse sentimento até mesmo das poucas cartas enviadas e o Diário permanece quase em silêncio. Casara, sem74 -pre ele a escrever-lo, esclarece nossa curiosidade que "as memórias são raras porque o Pe. Casara não as fez, se não aquelas que estão em seu conhecimento ou de qualquer coisa que ele faça parte"(AICV, Diário, 27 de abril de 1865).

Dentro da aliança ítalo-prussiana haviam começado as hostilidades contra a Áustria, que para a Itália constituiu a 75

terceira guerra de independência. Embora desmembrou-se Custoza e Lissa, o Reino da Itália obtinha, com a mediação de Napoleão III, a anexação do Vêneto e Mântua, com plebiscito prévio dos habitantes dessas províncias (Armistício de Cormons, 12 de agosto - Paz de Viena, 03 outubro de 1866).

Esta mudança importante para a vida da Congregação merece descrição direta que o faz Casara no Diário. "Esta ma76 -nhã, o Pe. Traiber, que hoje completou três anos em seu trabalho, convocou um capítulo da família, não podendo, o Provincial estar presente, por estar impedido de chegar aqueles das outras duas casas, até que não se deixem livres os caminhos e as comunicações com o continente. Ele propôs, então, que seja feita a eleição do Superior Geral, pelo me-nos temporariamente, sim, porque ele terminava seu mandato e também por seu estado de saúde, e devido às circuns-tâncias angustiantes dos tempos não se sentia em condições de continuar. Por outro lado, eu propus, por várias razões que se continuasse sem alterações, até que se abrissem os caminhos, e logo que chegassem aqui os das outras duas ca-sas, seria possível fazer tudo de forma regular. E as minhas razões eram mais do que um reconhecimento justo, mas o Pe. Traiber insistiu afirmando de não poder mais continuar (...). Foi pedindo aos outros em geral, então eu acreditei que de acordo com as notícias dos votantes, que pelas razões expostas e em parte acenadas de que eu estava firmíssimo em não aceitar, e abster-se de nomear-me. Foi longa, em conseqüência, a disputa entre aqueles que queriam me induzir a mim e eu estava inflexível pela declaração feita. No final, apesar da minha determinação, foi feita a votação, da qual resultou que fui eleito; mas nem mesmo isso foi sufici-ente para que eu suplicasse. Acreditava firmemente diante de Deus de não aceitar. Finalmente, depois de renovadas ora-ções (das atas: “então o Pe. Fusarini propôs de ir à capela para rezar a Ladainha da SS. Virgem Maria para implorar da Tesoureira das graças divinas a determinação do Pe. Casara ao cargo de Superior Geral) não consegui resistir por mais tempo, e concordei, declarando, porém, de aceitar apenas até ao capítulo provincial, naquela ocasião dever-se-á renovar a eleição sem levar em conta esta; e eu também declarei aquilo que posso e tenho que dizer, de não ser re-eleito" (AICV, Diário, 1 de setembro de 1866)! 28

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Ainda não tinha sido assinado o armistício, quando já se falava de hostilidade contra os religiosos.

De fato, foi emitida, a Lei 7 de julho de 1866, a respeito da supressão das corporações religiosas e

dos bens eclesiásticos; um decreto de 28 de julho estendia a lei da supressão às Províncias do Reino

da Itália.

Na Congregação se sentiu este clima de angústia, por primeiro, em Lendinara . 77

Na expectativa da ordem de fechar todas as obras, Pe. Casara tentou salvar pelo menos a escola e

enviou uma súplica ao Ministério da Instrução . Porém, ao fim do ano chegaram os módulos a se78 -

rem preenchidos por conta da Finança régia (Ministério das Finanças) . 79

Supressão

Aos 02 de maio de 1867, o Conselho de Administração do Fundo para o Culto, declarou judicial-

mente, que aos Institutos Cavanis era aplicável o artigo 1º da Lei sobre a supressão de 07 de julho

de 1866 . 80

A ação do Pe. Casara para evitar a supressão se tornou tão incessante, que interessou todas as pes-

soas respeitáveis, conhecidas, até alguns amigos rosminianos. Tudo foi inútil . 81

Um mês depois que foram postos os selos/lacres nas casas e sucessivamente confiscadas pelo Mi-

nistério da Fazenda Pública, Pe. Casara fez o pedido de aquisição, começando pelos ambientes das

"Temos o compromisso de acelerar a supressão, que é prevista como certa"(AICV, Diário, 20 outubro 1866).77

AICV ,Diário, 7 de dezembro de 1866.78

Respondeu-se, "mas com todas as retificações e declarações pedidas a índole dos nossos dois institutos, masculino e 79

femenimo"(Diário de 29 de dezembro de 1866). Dois dias depois, veio um novo apelo com a qual pediu-se uma declaração: "que não sejamos incluídos na lei da su-pressão". E em 30 janeiro de 1867, o mesmo Casara que acompanhava uma nova exposição da natureza dos nossos Institutos na prefeitura, para que a transformasse com a finalidade do Culto. Na formulação da lei, o legislador se deu conta das várias categorias das Instituições que professavam a vida religiosa e, para compreender todas elas, ele havia cuidadosamente elencadas. Casara esperava que o Instituto Secular Cavanis, como muitos outros, onde emitiam votos simples e temporário, não fosse afetado pela lei, confiando no fato que o direito canônico da época não os reconhecesse como Instituto Religioso. (Cfr Problemas de História da Igreja. Desde o Vaticano I ao Vaticano II. Relatório de G. Roc-ca, Roma, 1988, p. 239-294).

Do Diário: “Portanto, a decisão foi tomada mesmo no dia do aniversário do primeiro princípio de tudo, esse foi o 80

primeiro domingo de Maio de 1802, que naquele ano caiu no dia 2; e a comunicação nos chega hoje que celebramos a querida festa do patrocínio de São José! Será que é possível que a Santíssima Virgem e São José estejam indignados contra nós? Ou devo entender essa dupla coincidência como um importante apelo a esperar, para que não se realize a dissolução ameaçada? Quero absolutamente esperá-lo” (AICV, Diário, 12 de maio de 1867).

Em 20 de maio assume o cargo de Reitor de Possagno, em 24 de setembro em Veneza, 30 de novembro Lendinara.81

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escolas. Os Confrades acolheram a notícia com entusiasmo e foram rapidamente conquistados pela

sua coragem . 82

As incógnitas ligadas à aquisição da casa no leilão, foram inteligentemente previstas pelo Pe. Casa-

ra que anotou: "Aqui estamos em grande perigo para com a nossa casa. Os bons amigos nossos da

Junta do Governo não existem mais e os novos têm pensamento diferentes e sei positivamente que,

pelo menos agora, querem fazer guerra a nós no leilão publico, porém não perco a esperança. Com

a ajuda santa de Deus nunca mais quero perdê-la" . 83

No ano seguinte, por ocasião do seu onomástico, anotou com prazer: "Fizeram manifestações vivís-

simas de afeto e gratidão por aquilo que fiz antes e depois da supressão; fiquei contente por estar-

mos todos unidos e termos continuado a nossa vida, em tudo e em toda parte, como se nada tivesse

acontecido" . 84

No espaço de 4 anos foram readquiridos todos os bens e restituída a Igreja de Santa Inês, onde re-

pousavam os corpos dos amados Fundadores. No relatório apresentado ao Capítulo Provincial, 85

convocado após longo intervalo, em 1883, Pe. Casara deu conta detalhada das despesas para a recu-

peração dos bens. É impressionante a soma total se comparada aos preços atuais: tratava-se de bi-

lhões. O que o Pe. Casara fez, para encontrar os fundos financeiros, sabendo que não podia confiar

em fundos econômicos, inexistentes na Congregação?

Apresentou as ofertas em leilão com uma esperança e uma ousadia incríveis. Folhando o Diário, dia

a dia, dá para descobrir as duas únicas vias percorridas para alcançar o fim: absoluta confiança na

Temos consciência da plena confiança que os co-irmãos tinham de Casara de um episódio em 1872. Estes tinham 82

manifestado a decisão que se reunissem em Capítulo para a eleição do Superior Geral, e eis o testemunho do Diário: "Hoje reuniu-se em capitulo, sem a minha presença, os sacerdotes desta casa (de Veneza), mas por minhas ordens , para não eleger o "próprio" para o capitulo provincial, por que queria reunir para a eleição do Superior Geral, concordaram, em vez de querer que eu continue sem eleição até que dure o estado atual das coisas"(AICV, Diário, 31 de agosto de 1872).

AICV, Casara, Carta ao Pe. Da Col de 22 de outubro de 1870, b. 7. Está ai há dois meses, sem esconder a satisfação, 83

anunciou: "A casa foi comprada de volta! Mas subiu de 12000 para 22400, mas novamente é nossa. E também temos que agradecer muito e muito o Senhor por que não subiu ainda mais o preço"(Cfr. AICV, Casara, Carta ao Pe. Da Col de 16 de dezembro de 1870, b. 7).

AICV, Diário, 20 de janeiro de 1868.84

Como vimos, a igreja de S. Inês foi reaberta para o culto em 1854. Infelizmente, 12 anos depois, a perfuração de um 85

poço artesiano feito perto da igreja, causando uma erupção de água, lama e areia, com a duração de 7 horas e com um jato de água que atingia 40 metros de altura. A falha foi vista na ábside e na parede do corredor direito que determina-ram a interdição imediata e a fecharam. Após a supressão, Casara conseguiu evitar que fosse leiloada; demonstrando com declarações escritas de técnicos e de amigos que o Estado não teria obtido nenhum benefício pela venda, apresen-tava um pedido com uma grande lista de assinaturas onde se demonstrava a veneração do povo junto ao túmulo dos Fundadores e, pediu ao Patriarca para que pedisse por meio da diocese a doação da igreja. A Superintendência de Fi-nanças enviou o documento de doação para a cúria patriarcal em 07 de setembro de 1871. Apenas feita a restauração pelos padres, o Cardeal Trevisanato a consagrou, com grande participação do público, em 18 de agosto de 1872(AICV, Diário).! 30

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Providência e o incessante bater às portas pedindo dinheiro. Foram centenas as cartas despachadas

pedindo ajudas econômicas, petições escritas com o estilo simples e singelo do homem de fé. Todos

os seus amigos, que eram muitos, foram informados do seu plano de recuperação dos bens e solici-

tados a fornecer endereços de pessoas que poderiam ajudar. Não havia problemas se, freqüentemen-

te, as respostas não fossem negativas, ou se fossem ofertas irrisórias . Certamente não faltavam 86

benfeitores famosos , e cada dia transcorria sob o signo da Providência . 87 88

Comprometido, na luta para a recuperação dos bens, com incrível coragem, projetou e iniciou a

construção da nova casa para residência da comunidade : uma idéia sonhada há muitos decênios… 89

20 anos antes dizia: "Uma das causas da pequenez do nosso número é a angústia e a posição da casa

habitada por nós, que, a primeira vista, parece triste e insalubre…ninguém pode negar que seja infe-

liz a aparência dela, assim como é apertada e incômoda a situação dela separada do local das esco-

las e da Igreja” . No ano seguinte, a construção, ainda não acabada, tornou-se o assunto na corres90 -

pondência dos confrades das outras duas Casas. O Pe. Casara alimentou o entusiasmo e as esperan-

ças, respondendo a todos com otimismo e com a informação sobre o progresso dos trabalhos. Na

Por meio do jornal "Veneto Católico", que havia feito uma campanha de promoção em favor dos Cavanis, a cidade de 86

Veneza ofereceu 79,50 liras.

Distiguiam-se, e por vários anos, a condessa Loredana Gatterburg Morosini e PrínciPe. GiusepPe. Giovanelli.87

AICV, Casara, Carta ao Pe. João Batista Larese, reitor da Lendinara, 6 de agosto de 1877, b. 7.88

Em 20 de janeiro, dia de s. Sebastião foi abençoada a primeira pedra. "Dentro de um vidro, fechado por outro maior, 89

que introduzido de cabeça para baixo, cobrindo a borda toda com cera, para que não entre umidade, colocou-se três medalhas, uma do atual amaríssimo Cardeal Patriarca GiusepPe. Luigi Trevisanato, uma com a efígie do Santo Padre, lançada por ocasião do Concílio Ecumênico Vaticano I, e uma de S. José de Calasanz e, escrito em pergaminho, a se-guinte inscrição, escrita pelo Pe. Chiereghin: «Deo auctore, ad incrementum Congregationis, quam pueris christiane educandis Antonius Angelus et Marcus Antonius Comites de Cavanis, summis exantlatis laboribus, domesticisque opi-bus insumptis instituendam curarunt, auspicalis lapis novae domus positus fuit, anno ab Incarnatione Dominica MDCC-CLXXVII, Pontificatus Pii Pp IX trigesimo primo, XIII kal. Feb. Pervigilio Sanctae Agnetis, in cuius proxima ecclesia ossa Venerabilium Fundatorum beatam resurrectionem espectant. Faxit Deus ut p. Sebastianus Casara, modernus Con-gregationis Praepositus opus, quod die in honorem martyris Sebastiani festo auspicatur, quamprimum videat perfectum. (Com a ajuda de Deus, para o crescimento da Congregação, que para a educação da juventude Pe. Antonio Angelo e Pe. Marcos Antonio, irmãos Cavanis, depois de passarem grandes tribulações e de terem empregado todo o patrimônio da familia, preocuparam-se em fundar uma Congregação, foi colocado a primeira pedra da nova casa no ano do Nascimen-to de Nosso Senhor de 1877, no ano XXXI do pontificado de Pio IX, no dia 20 de janeiro, vigilia de Santa Inês, na Igreja próxima à capela que se encontram os restos mortais dos Veneráveis Fundadores, onde esperam a beata ressurrei-ção. Queira Deus que o Pe. Sebastião Casara, novo Superior Geral da Congregação, veja chegar ao fim, quanto antes, a obra que está sendo inaugurada no dia festivo em honra do Santo Mártire, São Sebastião. Abençoei a pedra na qual es-tava gravada uma cruz sob as iniciais PSCP (Pe. Sebastão Casara, Pôs) e embaixo a data de 20/01/1877",(AICV, Diário, 20 de janeiro de 1877.

AICV, Relatório ao Patriarca Mutti, 3 de maio de 1855, B.34. Três anos depois, ele escreveu sobre o assunto: "A 90

“casetta” causa desgosto pela aparência, e me convenceu que deve ser realmente prejudicial para a saúde das pessoas que ali vivem. E também, sabemos com certeza de que mais de um, entendendo-se bem inclinado à nossa Congregação, não tiveram coragem para se juntar a nós por causa da casa. Mas tudo isso não era para nós motivo de tristeza, e sim de renúncia e de aceitação (...) à Vontade divina que ainda não nos fornecia sequer os meios suficientes para começar uma nova"(AICV, Diário, 2 de janeiro de 1858).

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ocasião de seu onomástico recebeu os parabéns dos Padres e escreveu: "Fui literalmente afogado

por afetuosíssimas manifestações com que quiseram acompanhar as felicitações pelo meu onomás-

tico" . 91

Para solicitar ofertas, enfrentou uma viagem, segundo ele, inesquecível, que atingiu Milão, Casale,

Monza, Lodi, Rho, Stresa e Domodóssola. A ocasião era favorável para um encontro com os religi-

osos rosminianos e com estudiosos lombardos de Rosmini, aos quais tinha dado oportunidade de

conhecê-lo através dos seus escritos e artigos em revistas especializadas e jornais. A viagem prepa-

rada, com cuidado pelo amigo de Arluno, Pe. GiusepPe. Prada, se transformou numa acolhida triun-

fal, sinal da grande consideração conquistada . Os religiosos rosminianos deixaram claro que eles o 92

incluíam entre os mais válidos defensores do sistema filosófico rosminiano . 93

Antirosminismo

Após anos de relativa bonança, através das cartas dos amigos e nos encontros pessoais, apareceram,

os primeiros conflitos de ataques ao Rosmini e surgiam também vozes de condenação. Com a "Ci-

viltà Cattólica", em primeiro lugar, bem personificada pelo Pe. Cornoldi e, em seguida, toda uma 94

fileira de tomistas, retomava vigor o ataque à filosofia rosminiana. Recomeçava a discussão sobre a

questão do "Dimittantur", ao redor do qual se acenderam infinitas polêmicas. Partindo, assim de

AICV, Diário, 20 de janeiro de 1878. A nova casa será inaugurada oficialmente no início de 1881, com a benção do 91

Patriarca. Diário, 8 de janeiro de 1881. O dia de s. Sebastião foi reservado para festejar. Comentário de Casara: “Os co-irmãos não sabiam o que fazer ou pensar mais para expressar a grandeza de sua afeição; e eu confuso pela consciência de não merecer e pelo conhecimento do quanto cada um tinha feito no período da construção, (...) não podia, no entanto, não sentir-me confortado e feliz com um sinal de certíssimo e grande da bondade da alma de meus co- irmãos, e do vín-culo amoroso que envolve todos nós (...) que devem alegrar-se nossos Fundadores no Paraíso"(AICV, diário, 20 de ja-neiro de 1881.

É interessante notar que Casara em 1858 tornou-se membro correspondente da Academia de Ciências, Letras e Artes 92

de Bassano del Grappa, de 1859 pertence à Academia de Agiati Rovereto e de 1863 da Academia dos Quiriti em Roma.

O Pe. João Zardo, com a autorização de seus superiores, que ensina filosofia no seminário de Treviso, em uma carta 93

de 1863 define Casara como "o nosso maior e nobre amigo, um verdadeiro pilar do sistema de Rosminiano, e convida-o assim: Rev.mo Padre continue a nos querer bem, e a defender a verdade e a justiça; terá problemas, pelo menos pode ter a certeza que serás respeitado e amado por todos aqueles poucos que querem a todo custo ser objetivos e não subje-tivos"(cfr M. Leonardi, tese de doutorado, p. 40).

João Maria Cornoldi, S.J. (Veneza 1822 - Roma 1892). Desde 1880, faz parte do grupo da "civiltà cattolica", e foi 94

diretor por três anos. Eminente figura no panorama do Neo tomismo regional, intransigente e implacável com a filosofia de Rosmini e a combateu com eficácia quando o Papa Leão XIII o escolheu como conselheiro. Sobre Cornoldi ver em pesquisa documentada e completa de L. Malusa, neo-tomismo e intransigência católica, vol. I: A contribuição de João Maria Cornoldi para o renascimento do tomismo, LPL, Milão 1986.! 32

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longe, difundiam-se as acusações . Segundo a "verdade na caridade", Pe. Casara não se esquivou 95

dos debates e participou na defesa da causa com inúmeros artigos nos jornais. Logo que saiu a ter-

ceira edição da sua pequena obra "A Luz do Olho…", foi bem delicado em remeter um exemplar ao

Papa Leão XIII e um ao Cardeal Lourenço Nina, Secretário de Estado. Esse respondeu com uma

carta publicada no "Ateneo Ilustrado", de Turim, aos 22 de fevereiro de 1880 e freqüentemente 96

citada como documento consolador, em vista do simpósio tomístico de 07 de março no Palácio Al-

temps e da Audiência no Vaticano.

Pe. Casara não quis faltar a este evento "como representante da nossa pequeníssima Congregação,

como estudioso e seguidor de Santo Tomás". Promoveu com entusiasmo a iniciativa de fazer com

que participassem os amigos rosminianos "quanto maior fosse o número melhor". Convidou tam-

bém Pe. Lanzoni, Superior do Instituto da Caridade, mas ele não achou conveniente aceitar . 97

O Diário nos transmitiu notícias detalhadas da viagem e da permanência em Roma, nos dias entre

25 de fevereiro a 11 de março de 1880. Em Florença encontrou-se e foi hóspede do Sacerdote Antô-

nio Stoppani . A respeito do simpósio romano, cuidou de anotar com admiração que, “enquanto 98

pensava-se e dava-se por certo que teriam falado contra a filosofia rosminiana, ninguém disse uma

sílaba, nem sequer indiretamente...Pe. Cornoldi não falou dos filósofos católicos, pois entre eles,

disse: não há diferenças substanciais, mas só em casos opináveis, e acrescentou: perdoemo-nos re-

ciprocamente" . Também na audiência "não se profere o nome de Rosmini. Pe. Stoppani e os ou99 -

Sabemos que as obras de Rosmini foram absolvidos em 1854 por um decreto da S. Congregação dos livros, assim 95

dito, proibidos, sendo presidente nas reuniões o mesmo Pio IX, sob a acusação de heterodoxia com as palavras dimit-tenda esse o Dimittantur (Deve ser demitido ou sejam demitidos): que não era lícito impor censura sobre assuntos reli-giosos e com respeito à fé e à sã moral.

"Rev.mo Padre, juntamente com a carta da vossa Rev.ma Paternidade, foi-me enviando o opúsculo, que me apresso a 96

dar os devidos agradecimentos. Tenho o prazer de poder garantir que o S. Padre o acolheu expressando seu contenta-mento: É claro que o cuidado incessante, que é cercado, não lhe permitirão de percorrê-lo, nem mesmo para mim seja mais fácil de fazer isso, mas a sua devoção para a Santa Sé, e sua reputação garantirão sua qualidade. Enquanto isso, seja-lhe de conforto a Bênção Apostólica que lhe estou enviando como penhor da soberana acolhida, (...) L. Cardo Nina. Roma 29 de janeiro de 1880". Lorenzo Nina (Recanati 1812 - Roma 1885), nomeado cardeal pelo Papa Pio IX em 1877, teve o encargo de Assessor do Santo Ofício.

Explica a recusa: "Mas, quanto a mim, não acho oportuno sair daqui. Eu tive mortificações em Roma nesses meses 97

de tribulações e trevas: encontro-me na coordenação do Instituto Rosminiano, e caiu sobre mim um golPe. do alto, pode ser muito desagradável para meus queridos co-Irmãos"(AlCV, Casara, Carta 07 de fevereiro de 1880, b. 4).

O Pe. A. Antonio Stoppani, 1824-1891, cientista, estudioso e Rosminiano, estava em Florença, onde ele era professor 98

de geologia e geofísica. Casara descreveu-o assim: "pessoa que possue um talento raro, de grande erudição e ciência, principalmente em coisas geológicos e naturais, e uma eloqüência singolaríssima"(AlCV, Diário, 26 de fevereiro de 1880).

Não escondeu uma dúvida sobre Cornoldi: "Vamos ver se o fato corresponderá às palavras: de que não são sem 99

medo"(AlCV, Casara, Carta ao Pe. Da Col, 14 de Março de 1880, b. 7).! 33

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tros estão contentíssimos, e foi dito ao Stoppani, como coisa certa, que o pensamento do jornalista

Albertário não era aceito pelo Santo Padre" . 100

Voltando de Roma, Pe. Casara, descobriu que foi alvo de um vergonhoso ataque do Albertário, num

longo artigo publicado no "Osservatore Cattólico", sob a forma de uma "verdadeira ou suposta cor-

respondência, em que me coloca ao lado de Voltaire". A alusão do jornal aparecia evidente no epi-

sódio de Voltaire, que dedicou a sua tragédia "O Maometto", a Benedetto XIV, pedindo a benção

apostólica; o Papa agradeceu, abençoando-o. O episódio foi relacionado com a recente carta do Se-

cretário de Estado, Cardeal Nina ao Pe. Casara. Esse, ausente porque se encontrava em Roma, foi

defendido logo pelo jornal "Véneto Católico", que deu honra ao ofendido, testemunhando que "toda

Veneza o circunda de bem merecida veneração". Duas semanas depois o Pe. Casara pediu que o

jornal retirasse as acusações “ não por causa da lei mas segundo justiça e caridade!”. Mas o jornal

não acatou o convite e não publicou mais nada . 101

Em agosto de 1883, Pe. Casara foi reeleito Superior Geral com votação unânime. Esta estima dos

confrades decerto agradou ao Padre, porém debaixo deste plebiscito de votos, escondia-se ainda al-

gum mau humor.

A leitura das atas do desenvolvimento do Capítulo Provincial, ajuda-nos hoje a intuir, e ainda mais

do que a nós ao Pe. Casara na época, que existia velada, algumas críticas que, anos atrás, teriam

sido impensáveis. No grupo mais jovem dos Padres levantava-se algumas vozes, embora isoladas,

que visavam a uma mudança de governo. No fundo se acusava esta resistência à renovação, como

Casara deliberadamente deu notícias deste "indigno endereço para provocar aberta e diretamente a condenação da 100

proposta Rosminiana"; na verdade, se apressou em escrever ao Mestre de S. Palácio, Pe. Vincenzo Gatti porque se re-cusasse a fazê-lo. David Albertario (1846-1902) é conhecido como giornalista e polêmico sanguinário. Sua história é a história de seu jornal o “Observatore Cattolico" de Milão. Polemizou agudamente com o Stoppani e com os bispos Sca-labrini e Bonomelli.

Comentou, escrevendo ao Pe. Da Col: "Não espero nada de Albertario, que também me honraram com seus insultos, 101

e me fezeram ir contente",(AlCV, Casara, Carta ao Pe. Da Col, 14 de março de 1880, b. 7).! 34

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sintoma de uma oligarquia dos anciãos; e não somente isso, pois não foi escondida tão pouco algu-

ma voz divergente sobre o rosminianismo do Superior . 102

O Patriarca Agostini e o Padre Casara

As polêmicas se tornaram cada vez mais animadoras e sobre o Pe. Casara aproximava-se a amargu-

ra de dias difíceis porque tomou, apaixonadamente, a defesa do filósofo de Rovereto.

Pequenos acontecimentos precederam imediatamente estes desgostos. O historiógrafo Ruggero

Bonghi , ex-Ministro da Educação, simpatizante do filósofo Rosmini, nutria dúvidas sobre a capa103 -

cidade da Igreja em abrir-se à verdade e à seriedade histórica, propensa sempre a provar as teses

pré-constituídas. Em Veneza, o jornal "Veneto Cattolico", havia atacado estas críticas, atribuindo-

lhe os desvios da matriz filosófica rosminiana . O Pe. Casara transcreveu um tópico do "Ateneo" 104

de Turim, em defesa do Bonghi e o enviou à Diretoria do jornal veneziano , incluindo carta de 105

acompanhamento; o mesmo fez com o Patriarca Cardeal Agostini . No dia seguinte, 21 de setem106 -

Na véspera do Capítulo Provincial aconteceu um pequeno incidente que poderia alimentar desaprovações, que se 102

verificaram, de fato, em detrimento de Casara. Transcrevo a narrativa que ele mesmo faz ao Pe. Da Col. Trata-se da madre Maria (Marietta) Granziera do Instituto feminino, grande benfeitora dos padres, saiu da Congregação das Irmãs Canossianas. "A oposição contínua e crescente com a madre não podia satisfazer a todos, que desagradava positivamen-te alguns, foi desaprovada, e por mais de uma, talvez, fosse interpretada com maldade. Foi relatado ao Patriarca de for-ma que ele pensou que deveria dar um basta, e não encontrou outra maneira que a remoção da freira. Estive apenas uma vez com o Patriarca, depois nunca mais o ouví, antes, fui deixado de fora de propósito. [Casara era o diretor do Instituto feminino]. Enquanto isso, aconteceu alguns incidentes graves que influenciou negativamente na casa: houve acusações suportadas pela pobre freira. Para simplificar: no sábado deveria partir com a Superior de Verona, que tinha vindo com o propósito de levá-la para Trento. O fato, a causa, modo, tudo ajudaram a colocar a freira em um estado tal de agitação e de alteração que eu tinha firme o princípio, como de um apelo, de ter que levá-la rapidamente não a Trento, mas São Clemente [no manicônio]. Entre esta decisão e a expectativa de que ela iria matar de tristeza sua mãe, uma santa velha de 85 anos de idade, a um certo ponto eu não pude me conter mais. Então, fui sem ser chamados onde estavam os dois secretários do Patriarca, e disse que, mesmo se removessem a Irmã, eu não poderia permitir. A Trento não: deve, em vez disso, assistir sua mãe, a quem eu não posso, em sã consciência permitir que este fato cause a sua morte. E assim foi. Agora, infelizmente, ela fala para todos os lados e em todos os sentidos, alguns a favor e, tem outros que a condena, culpam ou defendem o Patriarca, o Instituto, as Irmãs, e com os exageros habituais, acréscimos, invenções fantásticas; nem eu certamente fiquei fora desses discursos",(AICV, Casara, Carta Pe. Da Col, 5 de julho de 1883, b. 7).

Ruggero Bonghi (1826-1895), historiador, político, ex-ministro da Educação, nutria simpatias por Rosmini e queria 103

propor a filosofia à cultura leiga da qual ele fazia parte.

"Pobre Bonghi! com aquela inteligência que seria poderoso, foi assim enganado por seu Rosminianismo e de seu 104

conseqüente liberalismo",(“Veneto Católico”, 14 de setembro de 1883, n. 204.

Da Universidade: "É tempo de pôr fim a semelhantes insinuações maliciosas e caluniosas contra um sistema que tem 105

por autor um homem erudito e santo, que é seguido por um grande número de digníssimas pessoas",(Cfr. AICV, Diário, 20 de setembro de 1883).

Domenico Agostini (1825-1891) formou-se em Direito e Filosofia na Universidade de Pádua, por dois anos ficou na 106

Companhia de Jesus, encardinou-se no clero diocesano de Treviso. Bispo de Chioggia em 1871, em 1877 tornou-se Patriarca de Veneza e, depois foi feito Cardeal, (Cfr A. Niero, Os Patriarcas de Veneza: de Lorenzo Giustiniani aos nos-sos dias, Studium, Veneza, 1961, pp. 194-198.

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bro de 1883, o Diário relata: "recebo esta manhã uma carta do Patriarca (…) em resposta à minha

instância para a consagração de dois diáconos, consentindo, também por esta vez (estas últimas pa-

lavras, sublinhadas por Pe. Casara), que os candidatos sejam examinados por nós. Avisa-me tam-

bém que, para o próximo ano escolar, me comunicará as suas intenções e determinações a respeito

dos estudos e dos nossos alunos de filosofia e teologia" . Pe. Casara escreveu ao Patriarca que 107

"lhe marcasse, quanto antes, dia e hora para uma audiência" . No entanto chegou outra carta do 108

Patriarca: "na qual me declara ser sua intenção e vivo desejo que os nossos clérigos freqüentem as

escolas do Seminário". Imediato foi o comentário e a reação "Pela gravidade da coisa e não poden-

do decidir sozinho, e muito mais, pelo motivo que ele não diz, mas que eu creio ser a verdadeira

causa de sua determinação, vou lhe responder a propósito. Antes de falar disso com os confrades,

quero um documento bem fundamentado a meu respeito" . Logo, seguiu mais uma carta do Patri109 -

arca "que mantém firme a sua intenção e fala diretamente sobre o sistema filosófico rosminiano. A

esta parte eu irei responder com todo o respeito mas, abertamente, para a outra parte responderá a

Congregação" . 110

A resposta amargurada e enérgica que o Pe. Casara deu merece ampla citação: "Para corresponder

às intenções e seguir o vivo desejo, que Sua Eminência me manifestava com a Sua respeitável carta

de 31 outubro p.p., a nossa Congregação deveria destruir um fato que aos nossos Padres, custou dez

anos de preocupações, dificuldades e fadigas. Um fato pelo qual, repetidamente, no coração do in-

verno, um deles foi a Viena e, na última vez, com tanto cansaço que, por doença gravíssima, pôs em

perigo a própria vida. Fato, pelo qual, junto a Autoridade Civil, os nossos Padres foram sempre va-

lidamente apoiados pelo Patriarca Mônico, de bendita memória, fato, que afinal conseguiram, numa

maneira quase milagrosa, prêmio para a fé deles, conhecida então por todos como fé indomável: a

concessão e reconhecimento do ensino interno de filosofia e teologia. Para sustentar esse estudo os

jovens Sacerdotes da Congregação sujeitaram-se aos exames em todos os ramos de estudo filosófi-

co junto do régio Liceu, e para aquele de teologia sujeitaram-se aos exames no Seminário Patriarcal.

Portanto sem o consentimento dos meus Confrades, em coisa tão grave, eu não poderia absoluta-

mente nem sequer manifestar à Sua Eminência alguma disponibilidade. Além do mais nem sei

quanta disponibilidade poderia encontrar neles.

AlCV, Diário, 21 de setembro de 1883.107

AlCV, Diário, 03 de novembro de 1883108

AlCV, Diário, 06 de novembro de 1883109

AlCV, Diário, 10 de Novembro de 1883.110

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Page 37: 10 Cavanis-Pe Sebastiao Casara No dia 02 de maio de 1973, na celebração do bicentenário dos nascimento dos Irmãos Cavanis, os quais, já está em andamento o processo de beatificação,

Todavia, se Sua Eminência o exige, não me recuso de comunicar a eles o desejo que o senhor mani-

festou para mim. Antes, porém, é para mim indispensável poder positivamente, assegurá-los que de

maneira nenhuma, a determinação improvisa de Sua Eminência, provém de desconfiança sobre a

ortodoxia dos meus princípios científicos. Mas Infelizmente tenho argumentos, mais que suficien-

tes, para ser obrigado a crer nisso, e com dor e pesar o admitem os anciãos e os mais dignos de

meus confrades. Nem é necessário dizer, agora, o quanto profundamente eu esteja amargurado.

Com 73 anos de idade, nasci e sempre vivi em Veneza: percorri os meus estudos de filosofia e teo-

logia com pleno louvor no Seminário Patriarcal. Fui educado no espírito dos dois santos Irmãos Ca-

vanis, que em mim colocaram toda a confiança e manifestaram o mais tenro afeto, gozei sempre,

também, da confiança de todos os Patriarcas, desenvolvi na Diocese ofícios muito importantes, fui

eleito, pelos confrades, Superior da Congregação, à qual presido faz 30 anos, tendo iniciado, ainda

vivos, os dois Santos Fundadores.

Agora devo crer, que o venerado atual Patriarca tenha suspeita da minha ortodoxia! Devo sentir,

também, a angústia que, tão grave suspeita, recaia sobre a minha amadíssima Congregação que, re-

centemente, deu prova de manter em mim a sua pleníssima confiança! Eminência! Se me sinto an-

gustiado, e tenho motivo, não posso e não devo ficar em tão grande angústia.

Mas eu sou rosminiano! Eis a causa de tudo. Sim, e nunca escondi as minhas convicções filosóficas

e nunca, até agora, diminui, por causa delas, a plena confiança de todos aqueles que me conhece-

ram, e dos Patriarcas que precederam Sua Eminência. Afinal, a profissão dos princípios filosóficos

seguidos, por mim não se limitou somente em discursos. Comecei a manifestá-la, publicamente,

pela imprensa desde 1857, e sempre com o meu nome em destaque em cada publicação e com as

devidas aprovações.

Julgue-se a minha ortodoxia através destas publicações; envio à Sua Eminência todas aquelas que

possuo, com aberto e formal pedido, que sejam submetidas ao exame, também da Santa Sé, se for

necessário, e sejam julgadas, com toda severidade. Nunca tive, nem tenho agora, outro amor, senão

à verdade da Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana. Se, por acaso, contra qualquer intenção e

vontade me tivesse afastado, serei feliz em reconhecer o involuntário erro, confessá-lo e reprová-lo

com toda a minha alma. Tal é o espírito que me infundiram os santos meus Fundadores, e que eu

guardo como tesouro inestimável e herança infinitamente preciosa” . 111

AICV, Casara, carta de 6 novembre 1883, b. 4. 109 Ver carta no apêndice, pp. 183111

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Alguns dias depois, o Patriarca respondeu amplamente e motivou as razões pelas quais, os alunos

Cavanis, de filosofia e teologia, teriam de freqüentar as aulas do Seminário. Estes os principais mo-

tivos: a experiência de um ensinamento uniforme; o sistema rosminiano tinha idéias simplesmente

toleradas; haviam Dioceses onde o clero estava dividido, um verdadeiro cisma, entre os que aderi-

am ao rosminismo e os que estavam firmes, "no eixo da autoridade"; Santo Padre ordenou de seguir

somente a filosofia de Santo Tomás; Pe. Casara fazia proselitismo no Seminário para as doutrinas

rosminianas, fazendo uso para discussões e promovendo assinaturas ao periódico "La Sapienza".

O Pe. Casara analisava cuidadosamente cada passo, talvez para defender-se ou ser defendido pelos

Padres anciãos aos quais delegou a responsabilidade de dar uma resposta sobre o que competia a

eles. O Patriarca não deixou de sustentar a sua posição e declarou abertamente: "ainda que no sis-

tema filosófico, eu esteja completamente em oposição com o seu" . 112

O Pe. Casara não sabia que estava sob o controle do Patriarca. De fato, o encontramos indiretamen-

te lembrado numa carta do Patriarca ao Papa Leão XIII: "a dizer a verdade, aqui, em Veneza, há um

só rosminiano, mas é piedoso e dócil e, por isso, não tem partido". Em outra carta enviada ao Secre-

tário de Estado, Cardeal Ludovico Jocobini, no ano seguinte, escrevia: "Lembro à Sua Eminência

que aqui, por graça de Deus, temos um só rosminiano de pulso, o Superior de uma Congregação de

Clérigos Regulares (Cavanis), o qual, para falar a verdade, é piedoso e dócil; porém estaria muito

mais contente se não morasse aqui, porque tem alguém que comunga com as suas idéias” . 113

Os Padres anciãos responderam imediatamente à carta do Cardeal Agostini, e escreveram: "Só 114

com pesar poderíamos acreditar que será destruída uma conquista dos nossos Padres, por isso apro-

vamos plenamente tudo o que escreveu o nosso Superior Geral. Quanto ao fato de resignarmo-nos

com situação atual, Eminência, deixe-nos dizer abertamente, não sentimos vontade de fazê-lo. Se

não é questão de ortodoxia, salientavam: "Porquê deveria-se chegar a um fato tão grave e público?

Como se poderia justificar diante do povo? Como impedir ou dissipar as suspeitas que surgiriam

Por trás das palavras desta frase amadureceu alguma coisa que faz pouco tempo que conhecemos e que lança luz 112

sobre o assunto Patriarca - Casara. O Cardeal Agostini há muito conhecia o Pe. Cornoldi, do qual havia traduzido para o latim as aulas da filosofia. Não esqueçamos que, jovem sacerdote, havia tentado uma experiência com os jesuítas por dois anos, e talvez, não podemos excluir qualquer contato desde então. Pe. Cornoldi pediu ao Patriarca de ser formal-mente promotor no Santo Ofício por um pedido de exame do sistema Rosminiano e, conseguida a promoção, deu-lhe, para que fizesse seu, um esquema de cinco proposições: uma síntese do pensamento de Rosmini. O Patriarca tinha-lhe transcritas e as enviou à Congregação Romana. A condenação das 40 proposições Post obitum em 1888 teve inicio, sem dúvida, deste ato de Cardeal Agostini.(Cfr. Sobre estes precedentes em L. Malusa Neo tomismo, vol. I, pp. 388-395). Sobre este pano de fundo, tinha poucos meses de vida, e, com clareza, Casara não tinha conhecimento, ama-durece a decisão do Patriarca sobre o ensinamento na Escola Cavanis.

Arquivo Secreto Vaticano, Secretaria de Estado, rubr. 3, fasc. 2.113

AICV, Endereço A assinatura: G. Rovigo, G. Da Col, D. Sapori, G. Chiereghin, 1884, b. 50.114

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contra o Superior Geral e toda a Congregação”? Em particular, alegavam dois motivos "pelos quais

julgamos não poder corresponder ao seu desejo":

O primeiro porque precisava "guardar, fortalecer e aumentar sempre nos jovens alunos da Congre-

gação o espírito próprio do Instituto; espírito que, tanto mais cria raízes e alimenta-se, quanto mais

se respira na própria atmosfera da Família Religiosa;

o segundo porque, querendo conservar e formar o espírito do Instituto é melhor e mais convincente

treinar nos exercícios próprios do mesmo Instituto como era nas intenções dos nossos Padres. E nós

esperamos que Sua Eminência irá superar completamente qualquer receio, também a respeito do

Mestre, que atualmente é o Superior Geral. Nós o conhecemos bastante e oxalá todos os eclesiásti-

cos tivessem os princípios católicos, apostólicos, romanos como ele. Temos a absoluta certeza que,

em obséquio ao Santo Padre, ele evitará até de nomear Rosmini e aderirá estreitamente a Santo Al-

fonso na moral e a Santo Tomás na dogmática. Não temos medo de assegurar plenamente à Sua

Eminência que pode confiar em tudo no Pe. Casara...Quando passarem as razões, para que aconteça

quanto Sua Eminência deseja, nos consolaremos, esperando que o senhor se liberte, também, do

pensamento desta preocupação" . 115

Passaram-se três meses; o Patriarca calava-se. O nosso Superior escreveu, então, para ele: "Passado

algum tempo sem ter uma resposta, continuamos com plena segurança, tranqüilidade e sem inter-

rupções, o ensinamento teológico. Considerando aceito e aprovado pelo seu respeitoso silêncio

tudo o que os meus confrades lhe expuseram e lhe garantiram. Porém, não negamos que teríamos

gostado e teria sido de grande conforto uma sua positiva declaração".

O silêncio do Cardeal é indecifrável , mas também a decisão do Pe. Casara foi imprevista Ele ti116 -

nha escrito de novo ao Cardeal Agostini para obter uma audiência a fim de conhecer: " quais erros

acharam nos meus trabalhos e esclarecer ou acrescentar naquilo que lhe escrevi sobre o que aconte-

AICV, Endereço, cit. O episódio é intrigante, porque neste período o pensamento de Rosmini não tinha sido conde115 -nado em nenhum ato da Santa Sé.

Casara confidenciou ao Pe. Da Col de ter pego a caneta porque uma conversa privada com um dos anciãos "nada 116

poderia ter dito de novo ou de diferente daquilo que já foi escrito. O patriarca acredita ou não acredita. Se acredita, o que foi escrito é suficiente; se não acredita, que peso vai adicionar a repetição ao vivo daquilo que já foi escrito. Em vez disso, eu acredito de ter feito a coisa agradável ao Patriarca, liberando-o com a minha carta de uma conversa des-necessária e na qual não saberia o que dizer",(AICV, Casara, Carta a Da Col, de 11 de fevereiro de 1884, b.7).

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ceu no Instituto Feminino" . Comentava sobre o Patriarca: "Agora lhe resta o embaraço da audi117 -

ência que, cedo ou tarde, não pode negar a mim e...vamos ver quando for" . 118

Passado um mês, Pe. Casara insistia para ser recebido, e mandou uma carta "respeitosa mas sincera

e séria". Pediu um encontro com o Patriarca e pediu para ser acompanhado por um confrade que lhe

fosse testemunha e desejava que o Cardeal "convide um canônico como assessor e o Chanceler,

para redigir o processo verbal, a ser lido e subscrito por mim e entregue depois em cópia

autêntica" . 119

A proposta parece audaz. Logo chegou a resposta na qual se dizia que o encontro "não depende da

minha vontade" e que ficavam sempre íntegros “os sentimentos de estima e de reverência".

A carta reanimou o Pe. Casara, que agora pedia, também, que fosse aceita a ordenação de um diá-

cono. Chegou logo a segunda resposta dizendo que era aceito o pedido de ordenação do diácono, e

nesta se sublinhava que teria sido suficiente, o exame feito pelos Padres. Sobre o pedido de uma

audiência nem uma palavra. Parecia agora que, para o Pe. Casara, a coisa mais urgente fosse infor-

mar sobre o caso acontecido no Instituto das Canossianas e que a tensão se limitasse só a este 120

fato, do qual dependia uma "forte recriminação do Cardeal de Verona, Luiz de Canossa, que patro-

cinava as Irmãs. Talvez a reação do Superior e dos Padres à decisão de transferir o estudo dos Clé-

rigos no Seminário, fez com que o Patriarca desistisse de sua posição. De fato a questão nunca mais

aparece.

Tristezas e aborrecimentos

Tratava-se da história, narrada acima, da Irmã Canossiana Maria Granziera,(AICV, Casara, Carta ao Patriarca, 4 de 117

fevereiro de 1884, b. 7).

AICV, Casara, a Da Col, cit. 118

. AICV, Casara, Carta a Da Col, 22 de março de 1884, b. 4.119

"No final deste mês completa um ano da chegado das eremitas; se ele não falar, falaremos nós. Vamos falar sobre o 120

Instituto feminino, falaremos por nós, eu vou falar por mim. Não perderemos o devido respeito, mas é necessário que termine bem clara, precisa, definitiva",(AICV, Casara, a Da Col, 10 de junho de 1884, b.7).! 40

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Apareceu, no entanto, para o Pe. Casara outro desgosto por causa do jovem Padre José Morelli , 121

que havia pedido e conseguido um colóquio com o Patriarca . Este, voltando da audiência "contou 122

muitas coisas, entre elas, que ao Patriarca desagradou a minha eleição...Naquele dia cabia-me falar

em Capítulo... Fiz um discurso no qual, em maneira suave, com todos os cuidados de prudência e de

caridade, terminei concluindo que, não posso mais esperar de ser escutado de boa vontade; propus

então, que em lugar do discurso, no Capítulo, seja feita a leitura de algum livro para religiosos. To-

dos ficaram sentidos e a minha proposta não foi aceita. Pe. Morelli, ao contrário, e o Pe. Martini , 123

incrivelmente deram-se por ofendidos, e, no sábado, dia seguinte, o Morelli voltou ao Patriarca" . 124

Esse o atendeu e, estando ainda perturbado, foi tranqüilizado e voltou para casa com um bilhete do

Cardeal, avisando que haveria de vir visitar os Padres "em forma amigável e privada".

"Então, veio ontem, o Patriarca, bem afável e terno e se apressou em dizer-me que vinha como ami-

go, velho amigo e de coração. Pensava que fosse seu dever interceder para os dois, e ficou surpreso

e felicíssimo ao ouvir de mim, que por eles mesmos tinham-se pacificado" . 125

"Um jovem com um bom coração; mas tem um temperamento que cria obstáculos e constrangimentos para os co-121

irmãos; com discursos perturba a harmonia dentro da família e ameaça ir embora",(AICV, Atas do capitulo definitório, 1883, b.50).

A partir de um texto de Miorelli, quase delirante, sabemos das acusações que se referem ao patriarca: mexem-se 122

com as regras para salvar um indivíduo, quer saber quem votou Casara, e por que e se é considerado quase todos Ros-minianos e, outras queixas semelhantes, (AICV, Casara carta a Da Col, 7 de junho de 1884, b. 7).

Pe. Michele Marini saiu do Instituto em 1887, agora "também fisicamente, pois de espírito já tinha saído há muito 123

tempo",(AICV, Diário, 4 de Julho de 1887).

AICV, Casara, Carta a Da Col, 17 de junho 1884.B. 7).124

Casara pede por favor, ao Cardeal para ouvir os padres Bassi, Rovigo, Sapori e Chiereghin que tinham preparado 125

(motu proprio, disse) "uma declaração escrita em que abordavam os estudos, a minha eleição, e do Capítulo. E ele: prontamente e quanto ficou contente. Leram-lhe a declaração, e conversaram sobre tudo com plena liberdade, e encon-traram tal correspondência que, quando terminaram a longa conversa, vieram dizer-me que não entendiam o porque de tanta alegria. Então eu fui recebido com carinho exuberante, à minha vez disse livremente sobre os vários pontos que eu achava necessário, e lembrei-me (...) Foi chamar a comunidade, que veio toda, e com a qual se enterteu por um bom tempo, mostrando contentíssimo por estar com eles". Comentário nosso: "era necessário um pouco de desconcentração para que purificasse o ar, e se fizesse tranquilo (...) Confiemos em Deus: Deixemos que Deus faça: não desanimemos nunca, nem ficaremos confusos, mas acabaremos sempre com a obrigação de agradecê-lo de coração por cada dificul-dade e de cada amargura",(AICV, Casara, a Da Col, cit).

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Na “Memória”, lida ao Patriarca neste dia, merece que relatemos os sentimentos expressos sobre o

Pe. Casara: "Nós o lembramos como segundo Fundador do Instituto ; há 30 anos continua a obra 126

dos nossos Padres com o exemplo e com a palavra. Foi principalmente mérito seu, se o Instituto,

combatido pela lei de supressão, continuou a sua obra. A sua serenidade corajosa, a sua confiança

sem limite na Providência, o seu estudo amoroso e incessante em procurar, em tudo, o Senhor; o seu

apego à Igreja, são para nós uma escola contínua... Imagine Sua Eminência a pena dolorosa que ex-

perimentamos, na última sexta-feira, quando o Superior, no Capítulo semanal, com voz comovida,

dizia: "Aqui, onde a minha palavra não pode ser ouvida com prazer, por ser julgada suspeita, não

falarei mais à Comunidade. E poderia ele ter agido diversamente, após a declaração daquele nosso

confrade e o boato sem fundamento nenhum que seguiu, que à Sua Eminência desagradou a reelei-

ção do nosso Superior Geral? 127

O Chanceler Dom Marchiori apressou-se a comunicar as impressões manifestadas pelo Patriarca,

após a visita aos Cavanis: "Veja que ar de santidade se respira no Instituto Cavanis. Anteontem, saí

de lá verdadeiramente edificado, emocionado em ouvir do Pe. Casara as declarações do seu afeto

para com todos os seus confrades e da caridade com que desculpou o erro do Pe. Martini e Pe. Mo-

relli” . 128

Segunda renúncia

O Pe. Casara havia-se enganado que "a tempestade tivesse purificado o ar" . Não era assim; de 129

fato, no ano seguinte, renunciou ao cargo de Superior.

Este é o primeiro documento que atribui a Casara o título de Segundo Fundador. Pe. Antonio dalla Venezia em sua 126

anotação, retomando na nota 152, chama-o de Terceiro Fundador; e assim também em uma lápide que se encontrava na porta da igreja de Santa Inês, onde lembravam-se dos trabalhos de restauração realizados por Casara; placa colocada 30 anos após sua morte, e, finalmente, no necrológio, presumivelmente proveniente do Pe. Chiereghin, retorna-se a qualifi-cá-lo novamente como o Segundo Fundador: «haec documenta unicum nostrum solatium in morte admodum Rev. Pat. Sebastiani Casara, quem praecipuo amore veluti patrem colebamus et alterum a Fundatoribus Instituti auctorem maxima prosequebamur reverentia». Cfr. Liber Defunctorum. (Estes documentos constituem o nosso único conforto sobre a morte do Rev.mo Pe. Sebastião Casara, que era estimado com sincero amor, como um pai e era honrado com a máxima reverência como sendo o Segundo Fundador do Instituto, depois dos Fundadores.(Cfr no Livro dos Defuntos).

AlCV, endereçado ao Patriarca, 16 de junho de 1884, b. 50.127

AlCV, Diário, 20 de junho de 1884.128

AlCV, Casara, Carta a Da Col, 17 de junho de 1884, b. 7. 58.129

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"Tenho bastante motivos para acreditar que, a minha obra como Superior, não é mais útil à Congre-

gação; e isso, é mais que suficiente para convencer-me ser vontade de Deus a minha demissão. Para

alguns, a minha autoridade é já intolerável, para outros, sou causa de que, as minhas científicas

convicções, levam dano à Congregação. Alguém julga que, a Congregação, tenha sofrido prejuízo

por aquilo que aconteceu no Instituto Feminino... Acredita-se em tudo o que se ouve de qualquer

pessoa de fora da Congregação; nunca se fala comigo para conhecer a realidade das coisas. Censu-

ram a minha conduta e criticam sem respeito... Acrescenta-se, a isso, a forte e fundada minha persu-

asão que não tenho cumprido o meu dever em relação às escolas e no que se refere a vida da Comu-

nidade, especialmente, em ajudar cada um no exercício das virtudes, em cultivar o espírito da Con-

gregação, com amorosas correções,... com meios eficazes de caridade" . 130

Os definidores provinciais, não obstante as pressões contra, aceitaram a contragosto e "com dor

muito acentuada", a decisão, e pediram a Deus que "se torne para o bem de todos o que se apresenta

como grande desgraça" Será eleito para o novo cargo de Superior, o Pe. Domenico Sapori, que se

apressou em nomear o Pe. Casara, Vigário Geral, Diretor das Escolas, Presidente das Conferências

de Moral e encarregado de formular a 2ª parte das Regras . Junto com estes cargos, será eleito 131

primeiro para o ofício de Definidor Provincial, e depois Definidor Geral, até a morte . 132

Post Obitum

O Pe. Casara havia celebrado, há poucos meses, o seu jubileu sacerdotal, cercado pelo afeto dos

confrades, dos ex-alunos, da estima dos estudiosos e admiradores e da veneração de alguns bispos,

quando, de repente, para quem não tinha dúvida da força do Dimittatur, no número 21-22 março

1888 do diário católico veneziano “La Difesa” foi publicado o Decreto do Santo Oficio Post obitum

onde se condenavam quarenta teses rosminianas. Imediatamente, no dia seguinte, Pe. Casara enviou

ao Patriarca Agostini, pelas mãos do Superior Geral Pe. Da Col, sucessor do Pe. Sapori, uma carta

AICV, Carta aos Definidores, 15 de junho de 1886, b. 50.130

Com o novo Superior Geral, Casara fará mais, de sua própria mão, o diário e este documento irá inspirar a muito 131

como valiosa fonte de informação.

Até o ano de 1891, pela primeira vez, após a aprovação das Regras, a cada três anos se realize o Capitulo, até agora 132

Provincial, passa a ser chamado de Capítulo Geral, de acordo com as Novas Constituições.! 43

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de submissão ao Decreto Pontifício . O Cardeal foi logo visitar o Pe. Casara para manifestar-lhe 133

apreço e afeto. Eis a íntegra da carta que é bem conhecida pelos historiadores:

Eminência Rev.ma., tomei conhecimento pelo jornal La Difesa do dia 21-22 de março n.º 67, do

texto em latim do Decreto de 14 dezembro de 1887 do Santo Ofício, publicado pelo Em.mo Card.

Mônaco La Valletta com data de 07 de março, contendo o elenco em latim das 40 teses rosminianas

condenadas no mesmo Decreto. Ontem à noite tomei conhecimento, no mesmo jornal de 22-23 de

março, n.º 68, das teses traduzidas em italiano. Faz muitos anos que sou conhecido como estudioso

das Obras de Rosmini e comungo convicto, mas sozinho no nosso pobre Instituto, do sistema filo-

sófico dele. Declaro à Em.cia V. Rev.ma que pura e simplesmente, da forma melhor e com os sen-

timentos de profundíssima veneração e devoção plena à Santa Sé, que os nossos dois Venerandos

Fundadores nos inspiraram, durante os trinta anos de convivência com eles e pelo grande exemplo

dado pelo próprio Rosmini que com certeza agora iria renovar, da mesma forma e com os mesmos

sentimentos aceito sem condições o Decreto e humildemente me submeto.

Se V.a Em.cia achar oportuno tornar pública esta minha declaração, ficaria muito contente e muito,

muito mais ficaria agradecido a V. Em.cia se levasse a conhecimento do Santo Padre esta minha de-

claração, Ele que aprovou e confirmou o Decreto.

Pedindo a sua bênção, Pe. Sebastião Casara.

No mesmo dia 23 de março o diretor de “La Difesa” recebia uma carta do Patriarca:

“O piedoso Padre Sebastião Casara da Venerável Congregação das Escola de Caridade, conhecido

na nossa Itália pela sua doutrina e virtudes, com prontidão e docilidade que muito enaltecem a hon-

ra dele, entregou-me hoje esta carta que lhe envio. O Pe. Casara confirma plena submissão ao juízo

decretado pelo Santo Ofício acerca de algumas tese do Abade Rosmini-Serbiati, do qual o Pe. Casa-

ra foi até hoje profundo conhecedor e defensor. O Pe. Casara manifesta o desejo que este seu ato

seja conhecido publicamente, portanto, peço, senhor Diretor, que a íntegra desta carta seja publica-

da no seu jornal, para edificação de todos. O Pe. Casara nesta carta, abertamente se dá a conhecer

assim como nós sempre o temos conhecido e estimado: homem de fé viva e profunda, amante since-

ro da verdade, reto em todas as suas intenções. Espero que o nobre e louvável exemplo deste vene-

rando sacerdote seja imitado por todos aqueles que publicamente seguiam a filosofia do Abade

Rosmini-Serbiati que foi um homem digno e de grandes virtudes e que se ainda fosse vivo, repetiria

com certeza, aquelas palavras memoráveis que ele escreveu em Palestrina depois da condenação de

AICV, 23 de março de 1888.133

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dois livros seus no dia 19 de outubro de 1849: “Com toda sinceridade do meu coração me submeto

àquilo que a competente Autoridade achou por bem pronunciar.”

Atenciosamente, Veneza 23 de março de 1888

Domenico Cardeal Agostini, Patriarca . 134

O patriarca transmitiu logo ao Papa “em cópia conforme” da submissão de Casara, acompanhada

com uma relação que queria torná-la conhecida. Escrevia, entre outro: “O ato do Pe. Casara foi para

mim de grande consolação porque em Veneza ninguém que, eventualmente, aprecie as obras de

Rosmini, tem a doutrina, a autoridade do Rev.do Padre; nenhum goza de veneração que se compare

a ele; mas, o primeiro direito a tanta consolação é por vós” 135

A publicação da carta de submissão no jornal “La Difesa” teve grande repercussão, despertou res-

sonância na Itália e, chegavam inúmeras respostas de congratulações. Entre outras, recordo aquelas

dos bispos de Mântova, dom GiusepPe. Sarto , de Pádua, dom GiusepPe. Callegari , de Udine, 136 137

dom Giovanni Maria Berengo , de Vigevano, dom Pietro de Gaudenzi e, entre os outros nomes, de 138

Pe. Bernardino da Portogruaro, Ministro Geral do Menores e, da “Civiltà Cattolica”, de Pe. Giovan-

ni Maria Cornoldi! 139

Dom Domenico Pio Rossi, dominicano, bispo de Concordia- Portogruaro enviou uma circular para

a sua diocese, onde informava do decreto do Santo Oficio e se congratulava publicamente com o

Pe. Casara pelo ato realizado que lhe fazia “grande honra” e o mencionava como exemplo para o

seu clero; ao mesmo tempo escrevia também uma carta ao nosso para renovar-lhe a estima e pedin-

AICV, Casara, b. 3.134

O Cardeal Rampolla, secretário de Estado respondeu que o Papa "demostrou notável disposição ao tomar conheci135 -mento da bela declaração feita por Pe. Casara a respeito das doutrinas Rosminianas»,(AICV, Casara, b. 3).

Sempre estive convencido de que o Rev.mo Pe. Casara, fosse férvido sustentador do sistema de Rosmini na profun136 -da convicção, que aquelas doutrinas concordassem plenamente com a doutrina da Igreja; nem o Pe. Casara pode ser confundido com certos Rosminianos, que não leram nem sequer os prefácios de suas obras, mas que se professam tais com grande insulto àquele que é ótimo; pois sob esse nome eles querem cobrir aquele outro liberal: homens mais ou menos abertos, sempre muito negativos para com a Igreja. Mas não é deste número o nosso piedoso Casara, ao qual fará o favor de beijar a sua mão por mim, declarando-lhe, que sempre lhe quis muito bem, e hoje sinto por Ele venera-ção, e também eu (... ) agradeça-lhe pelo grande bem, que leva para a Igreja Católica sua vida exemplar",(AICV, Casa-ra, Carta de Mons. G. Sarto, a Pe. Da Col, b).

Permitam-me de alegrar-me contigo por um ato pelo qual crescerá, mil vezes, em todos aqueles que julgam reta137 -mente a estima merecidamente querida por Seu talento e pelo Seu conhecimento, e, pelo qual, o coração do Santo Padre será consolado e pela ajuda na edificação a todos os fiéis",(AICV, Casara, Carta de Mons. G. Callegari, b.3).

"Deixe-me que estamPe. em espírito sobre a veneranda face um beijo cheio de afeto. Bravissimo!",(AICV, Casara, 138

Carta de Mons. G. M. Berengo, b. 3).

"Abraço-o com todo o coração e, faço-lhe as maiores felicitações (...) O sacrifício da mente para a autoridade do 139

Vigário de Jesus Cristo é o mais nobre que possa ser feito",(AICV, Casara, Carta G.M. Cornoldi, b. 3). ! 45

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do colaboração para que convidasse o rosminiano Pe. Antonio Cicuto de sua diocese, que sabia 140

que era seu amigo, a fazer também ele um ato de “plena submissão e perfeita adesão”. Sabe-se que

o bispo de Concordia numa carta pastoral havia atacado com violência o rosminianismo, professado

abertamente por Cicuto e, Casara não havia se desinteressado na ocasião . 141 142

Ao bispo Rossi o nosso responde de ter lido, na carta circular, “não sem pena” que depois do decre-

to “cada questão é terminada: não é mais lícito disputar e desentender do infalível oráculo”, e lhe

disse, com clareza, que não podia aceitar que um pronunciamento papal fosse ato de infabilidade e,

que não se pode “confundir os atos de autoridade com aqueles de infabilidade ”. O bispo rebateu 143

como se fosse um verdadeiro ato de infabilidade porque o Papa havia “julgado um fato dogmáti-

co ”. Por sua vez replicou Casara que não via na definição pontifícia uma imposição como de ver144 -

dade revelada ou estritamente conjunta à revelação e que não se tratava de uma afirmação “ex

cathedra”, nesse caso dificilmente se poderia evitar o escolho de não contrariedade com o “dimit-

tantur” de Pio IX. O bispo Rossi, rejeitou com impaciência estas argumentações e, concluiu de que-

rer interromper as correspondências, acusando Casara de ser responsável pela não adesão de Cicudo

porque o “discípulo havia aprendido muito bem a lição do mestre”. O julgamento duro e desagradá-

Antonio Cicuto (1817-1895) estava em contato com Casara desde 1857. Professor no Seminário de Udine, foi reti140 -rado de ensino por razões políticas, tendo encorajado os seminaristas a juntar-se com os patriotas em 1848. Aceitou a pequena e pobre paróquia de Bagnarola em Portogruaro, onde continuou seus estudos, escrevendo ensaios de filosofia e teologia em defesa de Rosmini, que muitas vezes provocou polêmicas e críticas. Havia cultivado, por um certo tempo, a idéia de entrar nos Cavanis; também por isso trocava com frequência correspondência com Casara.

Pe. Cornoldi não perdeu a oportunidade de rever a carta pastoral na "Civiltà Cattolica".141

Em 1886 Casara escreve um texto que diz respeito de uma pastoral de um bispo contra Rosmini, onde rejeita as ale142 -gações de Mons. Rossi, que o acusa de pré-conceitos e de não conhecer nem mesmo as capas das Obras Rosminianas,(Cfr M. Leonardi, tese, p. 46).

Cfr. S. Casara, A Infalibilidade Pessoal do Papa, "Veneto Cattolico», n. 92, 1872. Em AlCV, Apêndice sobre a Infa143 -libilidade Papal, Manuscrito autografado, que faz parte do grande arquivo intitulado: Sobre a liberdade da vontade, b.8.

O intransigente Bispo de Concordia revelava certa visão infabilista excessiva, tendo em conta que esta doutrina, há 144

poucos anos após o encerramento do Concílio Vaticano I, tinha feito progressos consideráveis.! 46

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vel do bispo havia amargurado profundamente o nosso , que esperava qualquer repercussão peno145 -

sa . No entanto, no dia 03 de outubro, o patriarca escreveu ao Superior Geral Pe. Da Col pedindo 146

para responder a uma pergunta da S.R. D. A Inquisição desejava conhecer se “o Pe. Sebastião Casa-

ra estava muito sentido porque os jornais tinham alterado suas declarações, impressas logo após a

condenação das 40 Preposições de A. Rosmini” e, haveria “escrito ao Sacerdote Cicuto, da diocese

de Concordia, que foi chamado à adesão enquanto ele teria vontade de fazer um simples ato de

submissão, que é ato de obediência disciplinar pedido sempre de cada verdadeiro católico à Santa

Sé”. A procura da Inquisição romana foi pedida certamente em conseqüência da carta que o bispo 147

de Concordia tinha enviado ao patriarca no dia 21 de maio, quando havia interrompido há poucos

dias o relacionamento epistolar com Casara. Nesta o bispo Rossi denunciava: “Saiba Vossa Emi-

nência Rev.ma que o Pe. Sebastião Casara não fez um ato sincero de adesão ao Decreto da S. Con-

gregação do S. Oficio, confirmado e aprovado pelo sumo Pontífice, mas somente um ato simples de

submissão, isto é, de obediência disciplinar. Advirto-o disto porque se o crê oportuno em sua pru-

dência possa perguntar a ele mesmo explicações”. O cardial Agostini perguntou ao Casara de ofere-

cer “os necessários esclarecimentos” para responder às perguntas da S. Sé.

Estes esclarecimentos de Casara: das “alterações” sobre os jornais não sabia nada, porque tinha lido

somente “La Difesa”, nem podia sentir-me ofendido. “Mas talvez, quer dizer daquilo que se refere à

minha declaração publicada com o titulo de adesão e, como tal apreciada no sentido que eu entendo

e declarasse de reconhecer o Decreto como Ato de verdade Pontifícia Infalibilidade: o que verdadei-

ramente eu não unir: mas isto se refere à segunda questão à qual devo minha resposta”. Do segundo

ponto deu uma resposta detalhada que é bom citá-la integralmente. “Antes de tudo devo advertir

A acusação feita não agradou também o bispo de Pádua, que escreveu: "A estima sincera que tenho por você, me 145

esforço para expressar-lhe um fato que aconteceu neste Episcopado. Pessoa de outra diocese e não de Veneza, disse que lhe foi dito que está correndo vozes que o Rev.do Cicuto tenha recebido de você uma carta, em que tranquiliza-o sobre a declaração, com a qual ele aderia à condenação das 40 proposições rosminianas dizendo que é uma adesão esterna e pro forma somente. Ao que pegou fogo, e com uma vivacidade, temo a gravidade, talvez, excessiva do Bispo, exclamou que isso era impossível, que aqueles que proclamam tal infâmia eu proclamo caluniador atrevido, porque conheço muito bem o Pe. Casara para admitir apenas a possibilidade de quanto se refere. E disse que ele é igualmente rosminiano e mais, e infinitamente mais e, verdadeiro sacerdote católico, e colocarei a minha mão no fogo para provar sua fé e sua lealdade. Foi uma explosão que naturalmente impôs silêncio. Mas depois, pensando sobre, pareceu-me meu dever de advertir-lhe sobre esses rumores: porque no seu caso eu bramerei caso tenha notícias sobre minhas Regras. Os Sacerdo-tes Rosminianos de Concordia também me fezeram um Rosminiano, e me fezeram correr até nos jornais. Em tudo isso, ele vai ver que é uma prova sincera da minha amizade e estima que tenho de sua virtude, que gosto de dar testemunho desde 1880 ao Sumo Pontífice",(AICV, Casara, Carta de Mons. G.Caliegari, 28 de julho de 1888, b.3).

Cfr S. Tramontin, em Rosmini e o Rosminianismo no Veneto, Mazziana, 1970. Tramontin mostra que ignora as 146

correspondências Rossi-Casara e confessa: "quais foram os desenvolvimentos da questão, não estamos em condições de saber."

A carta é marcada por S.Tramontin em Rosmini, cit. pp. 262 - 146 AICV, Carta de A. Cicuto de 2 de abril de 1888, 147

b, 3.! 47

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que eu, seja pela voz ou que tenha escrito, jamais qualifiquei minha submissão um ato disciplinar,

porque poderia ser entendido por qualquer um no sentido de uma simples obediência exterior, não

informado da humilde e devota ausência da vontade. Eu não a entendi assim, quando Cicuto, ele por

primeiro e depois por si, no dia 2 de abril, depois, isto é, que foi publicada a minha submissão no

dia 23 de março, escrevia-me: “Eu não acrescento ponto sobre a submissão pura e simples como ato

puramente disciplinar, sem do qual de conseqüência em conseqüência andaria logicamente à anar-

quia ”. A caridade não pensa no mal, diz São Paulo: e muito mais vos abriga, quando conhece os 148

sentimentos ortodoxos e verdadeiramente católicos de quem fala. E eis porque ao responder-lhe não

lhe fiz referência à fórmula por ele usada e, somente acreditei de poder e dever assegurar-lhe que

não se exige demais. E por certo nem podia dizer-lhe de outra maneira, convencido que estava que

se tratava somente de obediência e, não de adesão de fé a um Ato de verdade Pontifícia Infalível.

Portanto, nem tive dificuldades de escrever neste sentido, no dia 7 de abril ao mesmo bispo de Con-

cordia e, de sustentar com razões e grande autoridade, no dia 20 a afirmação. E, confesso que estou

verdadeira e fortemente triste pela sua última afirmação, da qual deixou claramente a entender

como já pensava de mim. Senti-me ferido próprio no coração, nem poderei fechar a epistolar cor-

respondência sem fazer-lhe conhecer quanto me havia entristecido.

Graças a Deus sou aluno dos veneráveis Cavanis: vivi trinta anos com eles e a mais preciosa heran-

ça que conservo deles é a devoção mais profunda, a submissão mais ilimitada, o relacionamento

mais íntimo e obsequioso ao Sumo Pontífice , Vigário augusto e venerado de N. Senhor Jesus 149

Cristo: ao qual amparo sempre e unido quero e firmemente confio para o meu viver e morrer. E,

oportuna, e depois, oportuníssima me vem esta ocasião para declarar que creio, quero crer e, com a

AICV, carta de A. Cicuto, de 2 de abril de 1888, b.3148

O Pe. Casara seja ao Cardeal Agostini, seja ao ato de submissão ao decreto de condenação das 40 proposições Ros149 -minianas, bem como ao Santo Ofício, sempre declarou sua fidelidade ao Papa, em comunhão perfeita com os sentimen-tos dos Fundadores. A prudente delicadeza de colocá-los na melhor clareza possível foi seu sinal constante de amor que nutria por eles e pela Congregação. Pe. Zanon, no volume II, pp. 469-473, advertiu claramente sobre esse sentimento de Casara e acentua não sem forçar ao críticar o Rosminianismo, por medo das repercussões sobre as informações do processo para a causa de beatificação dos dois Irmãos Cavanis, do qual Casara era a principal testemunha e herdeiro espiritual. Acreditamos também na imparcialidade do julgamento do Zanon, mesmo de boa fé, quando comunica a in-dependência de convicção entre seu padre Gianantonio, antirosminiano convencido, e Casara. Mas não disse tudo sobre o seu padre Gianantonio. Professor de Arquitetura Naval e máquinas a vapor em uma escola técnica em Veneza, foi o autor de trabalhos científicos, alguns dos quais foram publicados na "Ciência Italiana", comunicação periódica da Aca-demia filosófica e médica de S. Tomás de Aquino com sede em Bolonha. A academia era uma criatura de Pe. Cornoldi, já encontrado nestas páginas, o mais intransigente neo-tomista anti Rosminiano, esforçado promotor de iniciativas para fazer com que as proposições Rosminianas fossem condenadas. Gianantonio Zanon, em comemoração de Cornoldi, escreveu que "o mérito principal do filósofo de Veneza [Cornoldi] foi o de ter promovido a condenação pelo Santo Ofí-cio, frustrando assim o "sisma" que estava se preparando na Itália". Este testemunho é fruto de confidência do próprio Cornoldi. Parece improvável que o Pe. Zanon não estivesse ciente da estreita relação de seu padre com o famoso jesuíta. (Sobre Cornoldi - G. Zanon. Cfr. Malusa, neo-tomismo, p.389).! 48

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ajuda de Deus sempre creditarei com o Papa e, tudo, absolutamente tudo, que o Papa propõe ou

propusesse para crer: e reprovo e condeno e, sempre reprovarei ou condenarei quanto o Papa repro-

va, proscreve e condena, ou jamais cresse de reprovar, proscrever e condenar. “Comecei assim de

bom grado a minha resposta e com minha verdadeira alegria de ânimo a fecho e termino ” 150

Últimos anos

Os últimos anos de vida do Pe. Casara foram cheios de atividades , de modo compatível com a 151

idade avançada e a forte diminuição da vista. Exerceu com dedicação o ministério da Reconciliação

em vários Institutos Femininos. Viveu cercado pela veneração dos confrades e inúmeros admira152 -

dores, visitado pelos amigos estudiosos, que gozaram, até o fim, da vivacidade da sua inteligência e

memória . Foi um auxílio precioso ao Superior Geral e não apenas pelos seus sábios conselhos. O 153

Pe. Chiereghin testemunhava admirado: "Era a nossa glória". 154

AICV, Casara, carta ao Patriarca por S. R. U Inquisição, 3 de outubro de 1888, b.3.150

Com o final de seu Governo, reduziu-se drasticamente a documentação sobre Casara, por isso temos de confiar qua151 -se que exclusivamente sobre o que nos deixaram escrito as memórias após sua morte.

Tirado das três cartas pequenas, talvez recortes da tipografia, pouco visíveis entre as cartas dos arquivo, as li em 152

letra minúscula escrita a mão pelo Pe. Antonio della Venezia, alguns pensamentos sobre Casara, talvez fosse as anota-ções por ocasião de uma comemoração, que reproduzo na íntegra: "O venerável Pe. Casara pode ser considerado como Terceiro Fundador do Instituto. Eu o conheci apenas tina entrado na Congregação (11 de Novembro de 1877), quando eu tinha 16 anos, e pareceu-me um santo. Fiquei impressionado com seus sermões e exortações especialmente sobre humildade: muitas vezes ele falou dessa virtude, e sempre incentivava a sua prática, sempre um exemplo perfeito dessa virtude fundamental dava com a própria vida, ele que tinha uma mente tão vasta e uma inteligência tão aguda. Era amantíssimo da pobreza, pode-se dizer até escrupulosamente, tanto que, virava do aveso os envelopes de correspondên-cias velhas para economizar os novos: e cuidava de cada pequena coisa, e vigiava sobre tudo. Era inflamado com o amor de Deus e de amor ao próximo: tinha realmente o espírito de oração. Rezava sempre: mesmo em trens, nas viagens, nas ruas, nos bairros, em casa, na passagem de um lugar para outro. Ele levou a Congregação por muitos anos, com grande sabedoria e nos momentos mais crítico e mais tempestuosos, armado com uma fé inabalável em Deus, a sua memória sempre será uma bênção para a nossa Congregação",(AICV, Casara, b.7).

"Havia como examinador sinodal e como censor eclesiástico, a rara vantagem de ser profundo, não só em filosofia, 153

mas também em teologia, era versatíssimo nos principais Santos Padres latinos, e tinha a Sagrada Escritura e São Tomás de Aquino, por assim dizer, na ponta do dedo. Uma memória feliz que lhe permitia citar com a máxima certeza textual longas passagens latinas dos Santos Padres ou do Texto Sagrado e, suas opiniões, uma vez faladas, formavam, como que, uma espécie de autoridade, à qual ninguém se opunha"(L. Sernagiotto, O M. R. Padre Sebastião Casara, "Rasseg-na Nazionale", 1898). Deve ser dito que este documento incorre em algumas muitas imprecisões.

João Chiereghin: Dois heróis da Educação Popular, Veneza, 1909, pp.122-132.154

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O amigo Sernagiotto, que o visitava freqüentemente deixou-se conquistar não apenas pelo forte 155

talento do Pe. Casara, mas também, por sua vida santa. Lembra-se com as seguintes palavras daque-

le sacerdote ancião, octogenário, "humilde e fraco, que pelas ruas caminhava levemente encurvado,

de óculos e olhos abaixados". Era difícil reconhecer nele “o célebre Pe. Casara, aquele brilhante que

nenhum filósofo e teólogo descuidava de visitar, chegando a Veneza, por algumas horas, e do qual

muitos falavam’. Aquele homem, encurvado pelos anos, se encontrava com freqüência pelas ruas

estreitas de Veneza, quando andava, ao redor, a bater às portas e conseguir ajudas para os seus po-

bres, que "eram os seus prediletos e privilegiados". "Caridade, caridade, caridade" , dizia com o 156

rosto cheio de entusiasmo a todos que o convidavam a não se cansar demais . Parecia repetir o 157

comportamento do Pe. Marcos Antônio; aliás, o Pe. Da Col o definiu "cópia fiel e verdadeiro retra-

to" dos dois Irmãos Fundadores . 158

Conseguiu celebrar o seu sexagésimo aniversário presbiteral: uma festa inesquecível para o Institu-

to, para os seus ex-alunos e para os seus amigos. Alguns meses depois adoeceu. Monsenhor Luiz De

Pavissich escreveu sobre os seus últimos dias: "Estava reduzido quase a um esqueleto e fraco 159

como uma criança" . 160

No Sábado Santo, dia 09 de abril de 1898, foi surpreendido pela morte "para cantar o Aleluia com o

Senhor Ressuscitado", ou como se expressou o Pe. Da Col: "feliz passagem para o céu do bendito

Pe. Casara". O povo acorreu numeroso às Exéquias, exclamando: "morreu um santo".

O Pe. João Chiereghin, que sempre viveu perto de Casara e foi também secretário, apenas leu o artigo de Sernagiot155 -to, escreveu-lhe para desaprovar: "As insinuações contra a Congregação do Índice(livros proibidos) e da Companhia de Jesus", mas acima de tudo, por julgar como ato de fraqueza a submissão ao Post Obitum. Além disso, o impresso as 40 proposições Rosminianas condenadas pelo Decreto Post obitum, que Sernagiotto diz ser de Casara, "não foi um ato de soberbio protesto, mas fruto de uma verdadeira simplicidade de coração. Cumpriu seu dever de submeter-se, mas, ao mesmo tempo, por não se tratar de um Decreto irreformável, não pode resistir a uma voz (...) e escreve humilde e res-peitoso C .. ) Já não publicamente C .. ) Assim, ninguém poderia entender mal C ( ... ) Escondeu-se sob o véu das ini-ciais G.F. E por que ele, senhor Conte, tirou o véu? Acredita ter feito com tal honra ao Pe. Casara?”. Transcrevi estas linhas de Chiereghin porque confirmam a autoridade da atribuição da obra acima indicada a Casara e removem as incer-tezas.(AlCV, Casara, bj).

Chiereghin, cit.156

Sobre a santidade da vida de Casara consulte as páginas escritas por testemunhas diretas: Chiereghin, Zanon pp. 157

466-473 e da Positio pp. 807-813.

Do testemunho escrito, não documentado, de Pe. Servini.158

Dom Luigi de Pavissich (1823-1905), da Dalmácia, um homem de cultura, historiador, filósofo e Rosminiano, esta159 -va em correspondência freqüente com Casara e, seu grande amigo.

A despedida comovente dos co-irmãos é descrita com páginas tocantes pelo Pe. Chiereghin, na obra citata. 160

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O Cardeal Patriarca Sarto, futuro São Pio X, que mais vezes fora visitar o enfermo , quis partici161 -

par da última despedida, na Igreja de Santa Inês, com um elogio fúnebre que impressionou viva162 -

mente os presentes que ocupavam a igreja . 163

O Pe. Da Col tinha pedido duas vezes, ao Patriarca, o discurso por ele recitado com admiração e

louvor por todos os que o escutaram. Ele se recusava pela sua rara modéstia , porém temos confi164 -

ança que não deixará os nossos humildes pedidos sem efeito . 165

Para os historiadores não se tratava de modéstia: de fato, havia tocado no assunto do rosminismo.

Monsenhor De Pavissich, que ainda não conhecia o texto publicado, lembrava: "nem calou a respei-

to da devoção que, o santo teólogo e filósofo, professava para a santidade e doutrina teológica do

Monsenhor Sarto nomeado chanceler do bispado desde 1875 em Treviso, por causa do cargo, encontrava-se muitas 161

vezes com Casara, que reunia-se na cúria com o Bispo Federico Zinelli, amigo dos tempos do Sínodo Provincial, e para tratar da paróquia de Possagno. Desde então, a correspondência tornou-se mais freqüentes e criou estima recíproca. Em 1892, Monsenhor Sarto tornou-se bispo de Mântua, quando soube de uma grave doença de Casara. Com a afabilidade de costume, dirigindo-se ao Pe. Da Col, escreveu: "Diga as mais afetuosas recomendações de ter todo o cuidado (por-que eu também sou um médico), desejo-lhe muitos anos de vida, por causa de homens como pais dos sacerdotes e de padres como o Rev.mo Pe. Sebastião quase se perdeu o molde". Sobre o Patriarca Sarto e Casara temos um bom teste-munho do padre Rosminiano Umberto Scatturin, veneziano, aluno dos Cavanis de 1888-1892, professor no Colégio de Canôva de Possagno nos anos 1895-1900. "Note-se que o Pe. Casara era estimado pelo Patriarca GiusepPe. Sarto, que o tinha feito censor e consultor Sínodal e, o Pe. Casara recorria para pedir conselhos e orientação quando aparecia sérias dificuldades que, sozinho não sabia resolver. Esta notícia o mesmo Papa Pio X confidenciou ao padre Geral do Instituto Rosminiano Pe. Bernardino Balsari que apresentou-se ao mesmo Pio X, logo depois de ser nomeado Papa, na primeira visita de homenagem". O S.d. D. Pe. Basílio Martinelli confirma o testemunho: "O Santo Pio X, como Patriarca de Ve-neza, aconselhava-se com nosso Pe. Casara "(Pensamentos, 1954,533,5). O citado Pe. Scatturin declara: "Eu estava presente no funeral de Casara, feito em abril de 1898, na igreja de Santa Inês (...) Estava presente o Cardeal GiusepPe. Sarto, o qual fez um elogio fúnebre, que soou para todos os presente como preságio de um santo (...) Em um ponto o orador fez a seguinte objeção: pode-se observar: Pe. Casara era notoriamente Rosminiano (...) agora, como se pode, depois do decreto Post Obitum condenando as 40 proposições de A. Rosmini, ou seja, pode-se dizer, em toda a doutrina filosófica e teológica de Rosmini, que esta seja seguida por um verdadeiro e san-to católico, devoto e respeitoso à autoridade da Igreja, como sempre foi o Pe. Casara? Eu respondo: O Pe. Casara não fazia distinção de pessoas, ele amava e adorava a verdade profunda e sinceramente, e com essa verdade repousava, nem se preocupava com outras coisas"(Arquivo Rosminiano, Stresa, sem assinatura).

Dom Orione (fundador dos Filhos da Divina Providência e Beato), testemunhou sobre as virtudes, no caso do S. d. 162

D. Pio X, depôs: "Foi um ato de justiça e coragem ter feito o intervento no funeral de Pe. Casara, conhecido Rosminia-no, e de ter realizado o elogio fúnebre. Dada a paixão que animou a luta Rosminiana, e tendo em conta a vida santa do Pe. Casara e de sua obediência à Santa Sé após o Post Obitum o fazer-lhe o elogio fúnebre, enquanto a paixão na dispu-ta foi tão transcendida, ao ponto de por sombras sobre o espírito da disciplina e lealdade para com a Santa Sé do mesmo Padre, foi um ato de coragem e de justiça (... ). O fato de recusar-se o S. d. D. de entregar o texto de seu discurso para aqueles que queriam públicá-lo, estimo-o como um ato de prudência, para que não se abusasse (...) Isso eu aprendi com os Padres do Instituto Cavanis, agora mortos, os discípulos de Casara, homens conhecidos por serem dignos de confian-ça, de grande preparação cultural e moral". Positio super virtutibus, pars altera, Depositiones testium, (Posição sobre as virtudes, segunda parte, testemunhas dos textos) - Vaticano 1949, paragrafi 689-690, pp. 649-650.

O elogio fúnebre pronunciado por Sarto e entregue um resumo por ele ao Conde Serrnagiotto, que foi impresso na 163

"Rassegna Nazionale", art. cit., pp. 1819. Cfr. Positio, que que se encontra também na p. 812.

O patriarca assim justificou a recusa, em uma carta ao Sernagiotto: "Lamento não poder atender o seu pedido, por164 -que, se certas coisas, são ditas em circunstâncias favoráveis, deixando uma boa impressão, meditadas com a mente fria, são julgadas como merecem ou pelo menos, como jogo retórico. Por esta razão e também porque eu escrevi rapidamen-te essas palavras, quiz aparecer de maneira indiscreta para os bons Padres Cavanis, que me fizeram o pedido para im-primir"(Sernagiotto, cit. Pp. 18-19).

Diário, 14 de abril de 1898.165

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seu imortal amigo Roveretano. Falando dele não polemizou nem deixou de acenar aos vários pro-

blemas e dificuldades. Poderiam escutá-lo tranqüilamente os mais ásperos contraditores do Rosmi-

ni" . 166

Nas Exéquias o Patriarca Cardeal Sarto definiu o Pe. Casara chamando-o "meu pai", "vir simplex et

rectus". Escolhendo esta passagem bíblica, tinha atingido o alvo: não se tratava apenas de feliz in-

tuição, mas convicção de quem o havia freqüentado, conhecido e estimado com veneração. Seis 167

anos antes, em 1893, quando foi nomeado Patriarca de Veneza, em audiência de Leão XIII, disse em

resposta ao Papa: "Santo Padre, com prazer trocaria a minha alma por aquela do Pe. Casara" . 168

Passaram-se muitos anos, melhor, um século, contudo a história do Pe. Sebastião Casara não pare-

ce, para nós, história remota, ao contrário, contém sua particular singularidade que apresenta mais

do que atual: a sua santidade . 169

Extraído dos Atos, Academia dos Agiati, fasc. I, vol. IV, janeiro-junho 1898: Comemoração do Reverendíssimo Pe. 166

Sebastião Casara. Sobre a veneração que Casara nutria por Rosmini, Scatturin escreveu: "Dos padres do Instituto Ca-vanis, digníssimos de fé, foi-me dito que as últimas palavras do Pe. Casara, antes de sua morte foram: morro com a convicção de que A. Rosmini será declarado santo e doutor da Igreja: haec est fides mea reposita in sinu meo»(esta é a minha fé, colocada em meu coração). Arquivo Rosminiano, Stresa, cit.

O Servo de Deus Pe. Basílio Martinelli, religioso Cavanis, que em seus pensamentos havia definido Pe. Casara 167

como o homem "tudo era a vontade de Deus", poucos meses antes de sua morte, confidenciou ao Pe. A. Servini: "Eu nunca conheci alguém mais santo do que o Pe. Casara".

Depoimento de Pe. Umberto Scatturin, Veneziano. A declaração em Ugo Honam, O decreto Post Obitum, extraído 168

da "Revista Rosminiana", 1948, p.23.

Nas orações para o primeiro mês da morte do Pe. Casara, foi lida a carta do Monsenhor Francesco Cherubin, mais 169

tarde Bispo de Feltre e Belluno, que dizia: "Virá o dia em que os seus restos mortais serão aproximados com as cinzas dos dois santos Irmãos Cavanis". É a esperança de que estas palavras se tornem proféticas. Estavam de acordo também Pe. Da Col e os co-irmãos: "Os amigos do Instituto de Veneza recolheram uma quantia que servirá para, quando a lei permitr, transportar do cemitério público à nossa Igreja, os restos mortais do nosso saudosíssimo Padre"( Diário, 12 de maio de 1898).! 52

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INDICE

PREFÁCIO – Gabriele De Rosa 3

LINHAS DE UMA BIOGRAFIA 11

Estudos 13

Superior Geral 15

Encontros Rosminianos 20

Contrastes 23

Renúncia 32

Novamente Superior Geral 37

Supressões 39

Anti-Rosminianismo 44

Patriarca Agostini e Casara 48

Dores 55

Segunda Renúncia 57

Após a Morte 58

Últimos Anos 66

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