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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO
PAULO ARTHUR MAURO
FINANÇAS E SUSTENTABILIDADE NO AGRONEGÓCIO:
COMPARAÇÃO DE GRANJAS DE SUINOCULTURA COM DIFERENTES NÍVEIS
DE BEM-ESTAR ANIMAL – GAIOLAS DE GESTAÇÃO E BAIAS COLETIVAS
RIO DE JANEIRO
2015
PAULO ARTHUR MAURO
FINANÇAS E SUSTENTABILIDADE NO AGRONEGÓCIO:
COMPARAÇÃO DE GRANJAS DE SUINOCULTURA COM DIFERENTES NÍVEIS
DE BEM-ESTAR ANIMAL – GAIOLAS DE GESTAÇÃO E BAIAS COLETIVAS
Dissertação de mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em
Administração, Instituto COPPEAD de
Administração, Universidade Federal do Rio
de Janeiro, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do título de Mestre em
Administração.
ORIENTADOR: PROF. CELSO FUNCIA LEMME
COORIENTADORA: DRA. CHARLI BEATRIZ LUDTKE
RIO DE JANEIRO
2015
Mauro, Paulo Arthur
M457f Finanças e sustentabilidade no agronegócio:
comparação de granjas de suinocultura com
diferentes níveis de bem-estar animal – gaiolas
de gestação e baias coletivas / Paulo Arthur
Mauro. -- Rio de Janeiro, 2015.
184 f.
Orientador: Celso Funcia Lemme.
Coorientadora: Charli Beatriz Ludtke.
Dissertação (mestrado) - Universidade Federal
do Rio de Janeiro, Instituto COPPEAD de
-Gradua
Administração, 2015.
1. Investimentos -
Sustentabilidade. 3. Suinocultura. 4.
Administração. I. Lemme, Celso Funcia, orient. II.
Ludtke, Charli Beatriz, coorient. III. Título.
PAULO ARTHUR MAURO
FINANÇAS E SUSTENTABILIDADE NO AGRONEGÓCIO:
COMPARAÇÃO DE GRANJAS DE SUINOCULTURA COM DIFERENTES NÍVEIS
DE BEM-ESTAR ANIMAL – GAIOLAS DE GESTAÇÃO E BAIAS COLETIVAS
Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Administração, Instituto COPPEAD de
Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como
parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre
em Administração.
Aprovada por:
_____________________________________________
Prof. Celso Funcia Lemme, D.Sc. – Orientador
(COPPEAD/UFRJ)
____________________________________________
Prof. Iran José Oliveira da Silva, D.Sc.
(ESALQ/USP)
_____________________________________________
Prof. Luiz Felipe Jacques da Motta, Ph.D.
(IAG/PUC-Rio)
Rio de Janeiro
2015
AGRADECIMENTOS
“Toda verdade provém da observação da natureza.”
Provérbio dos Nômades dos Himalaias
Ao Professor Celso Funcia Lemme, muito obrigado pela orientação. O trabalho com os
temas de sustentabilidade, bem-estar animal e com a indústria de alimentos me abriu
horizontes que eu jamais havia considerado. Certamente suas ideias inspiradoras e exemplo
de profissionalismo terão impactos em minha carreira que vão muito além dos resultados
acadêmicos.
À World Animal Protection, muito obrigado pela parceria. A realização deste trabalho não
teria sido possível sem o incentivo, a organização e a orientação da Dra. Charli Ludtke. À
Coordenadora Juliana Ribas e ao Gerente José Rodolfo Ciocca, muito obrigado pela paciência
com as diversas dúvidas e consultas feitas ao longo dos meses de trabalho.
A todos da Fazenda Miunça, muito obrigado pela receptividade. Ao Dr. Rubens
Valentini, obrigado pela abertura para realização do estudo de caso, por me receber em sua
residência de maneira bastante hospitaleira e por ser mais um “c ” b h
Suas experiências, acadêmica e como produtor, me ajudaram a enquadrar melhor o projeto.
Aos gerentes Marco Antônio e Wilson Silva, obrigado pela paciência com a coleta dos dados
e pelas verdadeiras aulas de suinocultura que vocês me deram. Ao pessoal de manejo dos
suínos, muito obrigado pela paciência e pela receptividade até mesmo nos jogos de dominó.
Aos Professores Iran Oliveira e Luiz Felipe Jacques da Motta, muito obrigado por
aceitarem o convite para a banca e pelas contribuições dadas. A experiência de vocês é de
grande valor para enriquecer o trabalho realizado.
Aos colegas de trabalho, muito obrigado pelo apoio. À Profa. Julia Eumira e à Patrycia
Sato, obrigado pela paciência, pelas explicações, pelo companheirismo e pela descontração
durante as visitas a campo.
Aos meus amigos do COPPEAD, obrigado pelas ideias, pela força nos momentos de
desânimo e pela paciência por me ouvirem contar, repetidas vezes e com a mesma
empolgação, histórias sobre suínos.
Aos colaboradores da secretaria, da biblioteca, da cantina, da limpeza e da segurança do
COPPEAD, obrigado por darem todo o suporte necessário aos alunos.
À minha família e aos meus amigos pessoais, muito obrigado pela compreensão durante
os anos de mestrado.
RESUMO
MAURO, Paulo Arthur. Finanças e sustentabilidade no agronegócio: comparação de
granjas de suinocultura com diferentes níveis de bem-estar animal – gaiolas de gestação
e baias coletivas. Rio de Janeiro, 2015. Dissertação (Mestrado em Administração) –
COPPEAD, Universidade Federal do Rio de Janeiro.
A presente dissertação teve como objetivo criar um modelo para avaliar a
sustentabilidade das granjas de suinocultura que enfrentam mudanças nos processos
produtivos buscando melhorias nos níveis de bem-estar animal. Assim, buscou-se construir
diretrizes e ferramentas que ajudam a mensurar o impacto das mudanças em cada uma das
perspectivas financeira, social e ambiental.
Dada a materialidade do tema de gestação de suínos para o contexto brasileiro, foi
realizado um estudo de caso com aplicação do modelo construído para comparar a
sustentabilidade de duas granjas: uma com alojamento em gaiolas individuais e outra com
gestação em baias coletivas.
O estudo de caso, além de testar o modelo proposto, traz resultados que servem de
referência para avaliar a instalação da gestação coletiva no Brasil. Consequentemente,
possibilita-se que os produtores e demais atores da cadeia façam a migração dos sistemas de
produção com movimentos mais conscientes.
Palavras-chave: sustentabilidade; suinocultura; bem-estar animal; análise de investimento
ABSTRACT
MAURO, Paulo Arthur. Finanças e sustentabilidade no agronegócio: comparação de
granjas de suinocultura com diferentes níveis de bem-estar animal – gaiolas de gestação
e baias coletivas. Rio de Janeiro, 2015. Dissertação (Mestrado em Administração) –
COPPEAD, Universidade Federal do Rio de Janeiro.
This study set out to assess the sustainability of pig farms that face changes in their
production processes due to animal welfare advancements. A set of guidelines and tools were
developed with the intent to help measure the impact of these changes in the respective
financial, social and environmental perspectives.
Given the materiality of the sows gestation crate topic to the Brazilian farming context, a
case study was conducted with the application of the proposed model to compare and verify
the sustainability of two different farms: one with sows housing in individual gestation crates,
and the other with a group housing gestation scheme.
In addition to testing the proposed model, this study also brings forth results that can help
verify the impacts generated by the application of group gestation housing systems in
Brazilian pig farms. Consequently it provides domestic farmers and other value chain
stakeholders with insights into how to adjust their productions systems in a more
conscientious way.
Key words: sustainability; pig farming; animal welfare; investment analysis.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Cadeia de Valor da Produção de Suínos ................................................................................. 8
Figura 2 - Curva de Kuznets Teórica para o Bem-Estar Animal .......................................................... 27
Figura 3 - Ilustração dos Sistemas de Produção Comparados ............................................................... 43
Figura 4 - Vista de Satélite da Unidade de Suínos da Fazenda Miunça ................................................ 61
Figura 5 - Modelos de Gestação nas Granjas Miunça e ECO-BEA ...................................................... 61
Figura 6 - Processos Produtivos nas Granjas Miunça e ECO-BEA ...................................................... 62
Figura 7 - Estrutura Organizacional da Fazenda Miunça ...................................................................... 64
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Histórico e Previsão de Consumo de Carnes Global ............................................................ 1
Gráfico 2 - Histórico e Previsão do Consumo de Carnes no Brasil ........................................................ 2
Gráfico 3 - Produção Mundial de Suínos em 2014 ................................................................................. 3
Gráfico 4 - Participação do Agronegócio no PIB Brasileiro ................................................................... 3
Gráfico 5 - Exportação Mundial de Suínos em 2014 .............................................................................. 4
Gráfico 6 - Contribuição da Exportação de Carnes para a Balança Comercial ....................................... 4
Gráfico 7 - Sensibilidade ao Preço: VPL por Matriz do Plantel ......................................................... 114
Gráfico 8 - Impacto da Cotação em Dólar das Máquinas de Alimentação no VPL ............................ 115
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Métodos de Avaliação para Impactos Ambientais da Agropecuária .................................. 10
Quadro 2 – Indicadores Ambientais para Comparação de Produções Convencionais e Orgânicas ...... 15
Quadro 3 - Quadro Resumo de Itens de Relevância para Dimensão Ambiental na Suinocultura......... 17
Quadro 4 - Quadro Resumo de Itens de Relevância para Dimensão Social na Suinocultura ............... 22
Quadro 5 - Protocolo para Avaliação de Bem-Estar de Matrizes e Leitões .......................................... 26
Quadro 6 - Legislações Europeias de Bem-Estar Animal ..................................................................... 34
Quadro 7 - Melhorias de BEA e impactos no preço dos alimentos ....................................................... 40
Quadro 8 - Resumo dos Itens de Relevância para Sustentabilidade Econômica na Suinocultura ........ 44
Quadro 9 - Método de aferição dos itens de relevância social .............................................................. 50
Quadro 10 - Modelo para tratamento das entrevistas da perspectiva social .......................................... 52
Quadro 11 – Exemplo de Cálculo do FCLE e FCLS ............................................................................ 54
Quadro 12 - Diferenciação das Granjas Miunça e ECO-BEA .............................................................. 62
Quadro 13 - Trechos de Entrevistas do Tema: Percepção da Comunidade Sobre as Granjas .............. 70
Quadro 14 - Trechos de Entrevistas do Tema: Enriquecimento do Trabalho no Campo ...................... 73
Quadro 15 - Trechos de Entrevistas do Tema: Geração de Emprego, Renda e Retenção nas Áreas Rurais 76
Quadro 16 - Trechos de Entrevistas do Tema: Relação Afetiva com os Animais e Estresse 1 de 2 ..... 78
Quadro 17 - Trechos de Entrevistas do Tema: Relação Afetiva com os Animais e Estresse 2 de 2 ..... 80
Quadro 18 - Trechos de Entrevistas do Tema: Treinamento e Desenvolvimento de Pessoas 1 de 2 .... 82
Quadro 19 - Trechos de Entrevistas do Tema: Treinamento e Desenvolvimento de Pessoas 2 de 2 .... 84
Quadro 20 - Trechos de Entrevistas do Tema: Eficiência no Manejo ................................................... 86
Quadro 21 - Trechos de Entrevistas do Tema: Desgaste Físico ............................................................ 88
Quadro 22 - Trechos de Entrevistas do Tema: Saúde e Segurança do Trabalhador ............................. 89
Quadro 23 - Trechos de Entrevistas do Tema: Satisfação e Engajamento no Trabalho ....................... 90
Quadro 24 - Trechos de Entrevistas do Tema: Imagem do Setor.......................................................... 92
Quadro 25 - Trechos de Entrevistas Relativos a Orientações Sobre Novas Granjas ............................ 94
Quadro 26 – Resumo da Avaliação Comparativa das Questões Sociais: ECO-BEA vs. Miunça ......... 96
Quadro 27 – Estrutura Resumida para Cálculo do FCLE em Granjas de Suinocultura ........................ 97
Quadro 28 - Detalhamento das Contas de Receita ................................................................................ 98
Quadro 29 - Detalhamento das Contas de Custos e Despesas .............................................................. 98
Quadro 30 - Detalhamento das Contas de Investimentos ...................................................................... 99
Quadro 31 - Estrutura Completa para Cálculo do FCLE em Granjas de Suinocultura ....................... 101
Quadro 32 - Taxas Livre de Risco ...................................................................................................... 103
Quadro 33 - Betas Desalavancados ..................................................................................................... 104
Quadro 34 - Prêmio de Risco de Mercado .......................................................................................... 104
Quadro 35 - Inflação Esperada ............................................................................................................ 105
Quadro 36 - Cenários Utilizados na Avaliação Financeira das Granjas ............................................. 108
Quadro 37 - Comentários Sobre os Princípios de BEA da OIE .......................................................... 168
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Comparação de Índices de Produtividade para Granjas Brasileiras ..................................... 38
Tabela 2 - Comparativo de Produtividade entre Gaiolas e Baias com Alimentadores Eletrônicos ...... 38
Tabela 3 - Aumento de Preços nos Suínos pela Adoção de Padrões Acima da Legislação .................. 41
Tabela 4 - Índices de Produtividade das Granjas ................................................................................ 109
Tabela 5 - Avaliação Financeira dos Cenários do Estudo de Caso (Perpetuidade, i = 7%) ................ 109
Tabela 6 - Avaliação Financeira dos Cenários do Estudo de Caso (Perpetuidade, i = 8%) ................ 110
Tabela 7 - Avaliação Financeira dos Cenários do Estudo de Caso (Perpetuidade, i = 9%) ................ 110
Tabela 8 - Avaliação Financeira dos Cenários do Estudo de Caso (10 Anos, i = 7%) ....................... 111
Tabela 9 - Avaliação Financeira dos Cenários do Estudo de Caso (10 Anos, i = 8%) ....................... 111
Tabela 10 - Avaliação Financeira dos Cenários do Estudo de Caso (10 Anos, i = 9%) ..................... 111
Tabela 11 - Indicadores Financeiros dos Fluxos de Caixa dos Quatro Cenários ................................ 112
Tabela 12 - Custo Estimado do Leitão Nascido Vivo ......................................................................... 113
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABCS - Associação Brasileira de Criadores de Suínos
ABIPECS - Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína
APV - Adjusted Present Value / Valor Presente Ajustado
BEA - Bem-estar Animal
CAPM - Capital Asset Pricing Model / Modelo de Precificação de Ativos Financeiros
CEPEA - Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada
EBIT / LAJIR - Earnings Before Interest and Taxes / Lucro Antes dos Juros e Imposto de
Renda
EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
ESALQ - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz
FAO - Food and Agriculture Organization of the United Nations / Organização das Nações
Unidas para Alimentação e Agricultura
FCD - Fluxo de Caixa Descontado
FCLE - Fluxo de Caixa Livre da Empresa
FCLS - Fluxo de Caixa Livre dos Sócios
IFB - Instituto Federal de Brasília
MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
MOD - Mão-de-Obra Direta
NOPAT - Net Operating Profit After Taxes / Lucro Operacional Após os Impostos
NOPLAT - Net Operating Profit Less Adjusted Taxes / Lucro Operacional Menos Impostos
Ajustados
OECD - Organisation for Economic Co-operation and Development / Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico
OIE - Office International des Epizooties / Organização Mundial da Saúde Animal
ROI - Return on Investment / Retorno sobre Investimento
TIR - Taxa Interna de Retorno
USDA - United States Department of Agriculture / Departamento de Agricultura dos Estados
Unidos
USP - Universidade de São Paulo
VPL - Valor Presente Líquido
WACC - Weighted Average Cost of Capital / Custo Médio Ponderado de Capital
WAP - World Animal Protection / Proteção Animal Mundial
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 1
1.1. Objetivo da Pesquisa ........................................................................................................................ 6
1.2. Delimitação ...................................................................................................................................... 6
2. REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................................................... 7
2.1. Caracterização dos Sistemas de Produção de Suínos ...................................................................... 7
2.1.1. Impactos Ambientais da Produção de Suínos ............................................................................. 10
2.1.2. Impactos Sociais na Produção de Suínos .................................................................................... 18
2.2. Bem-Estar Animal (BEA) .............................................................................................................. 23
2.2.1. Definição de Bem-Estar Animal ................................................................................................. 23
2.2.2. Métodos para Aferição do Nível de Bem-Estar Animal ............................................................. 25
2.3. Forças de Mudança na Cadeia de Produção de Suínos .................................................................. 28
2.3.1. Consumo Consciente ................................................................................................................... 28
2.3.2. Legislações de Bem-Estar Animal .............................................................................................. 33
2.4. Integração de Sustentabilidade, BEA e Avaliação Financeira ...................................................... 36
2.4.1. Estudos Relacionados à Viabilidade Técnica e Produtividade .................................................... 37
2.4.2. Estudos Relacionados a Impactos Monetários e Preço ............................................................... 39
3. MÉTODO DE PESQUISA ............................................................................................................... 47
3.1. Atores Envolvidos na Pesquisa ...................................................................................................... 47
3.2. Compreensão e Tratamento do Aspecto Operacional .................................................................... 48
3.3. Análise das Três Perspectivas de sustentabilidade ......................................................................... 49
3.3.1. Análise da Perspectiva Ambiental ............................................................................................... 49
3.3.2. Análise da Perspectiva Social ..................................................................................................... 49
3.3.3. Análise da Perspectiva Financeira ............................................................................................... 53
3.4. Limitações do Método .................................................................................................................... 58
4. APRESENTAÇÃO DO ESTUDO DE CASO .................................................................................. 60
4.1. Procedimento de Coleta e Tratamento de Dados ........................................................................... 64
5. RESULTADOS ................................................................................................................................. 67
5.1. Resultados do Pilar Ambiental ...................................................................................................... 67
5.2. Resultados do Pilar Social ............................................................................................................. 67
5.2.1. Modelo para Avaliação do Aspecto Social em Granjas de Suinicultura ..................................... 67
5.2.2. Resultado do Pilar Social para o Estudo de Caso ........................................................................ 69
5.3. Resultados do Pilar Financeiro ....................................................................................................... 97
5.3.1. Modelo para Avaliação do Pilar Financeiro ................................................................................ 97
5.3.1.1. Fluxo de Caixa Livre da Empresa para Granjas de Suinocultura ............................................. 97
5.3.1.2. Período de Projeção de Fluxos de Caixa Livre para Granjas de Suinocultura ....................... 102
5.3.1.3. Taxa de Desconto para Fluxos de Caixa de Granjas de Suinocultura .................................... 103
5.3.2. Resultado do Pilar Financeiro para o Estudo de Caso ............................................................... 107
5.3.2.1. Caracterização dos Cenários Estudados ................................................................................. 107
5.3.2.2. Resultados dos Cálculos Financeiros do Estudo de Caso ...................................................... 109
5.3.2.3. Geração de Valor na Granja ECO-BEA ................................................................................. 112
5.3.2.4. Análise de Sensibilidade dos Resultados ............................................................................... 114
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................... 116
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................ 119
APÊNDICE I: Roteiro de Entrevista para Aspectos Sociais ............................................................... 125
APÊNDICE II: Projeção de Fluxos de Caixa com Perpetuidade – Miunça AS-IS ............................. 127
APÊNDICE III: Projeção de Fluxos de Caixa com Perpetuidade – Miunça Modernizada ................ 130
APÊNDICE IV: Projeção de Fluxos de Caixa com Perpetuidade – ECO-BEA AS-IS ...................... 133
APÊNDICE V: Projeção de Fluxos de Caixa com Perpetuidade – ECO-BEA Cobre e Solta ............ 136
APÊNDICE VI: Projeção de Fluxos de Caixa com Terminação no Ano 10 – Miunça AS-IS ........... 139
APÊNDICE VII: Projeção de Fluxos de Caixa com Terminação no Ano 10 – Miunça Modernizada 142
APÊNDICE VIII: Projeção de Fluxos de Caixa com Terminação no Ano 10 – ECO-BEA AS-IS ... 145
APÊNDICE IX: Projeção de Fluxos de Caixa com Terminação no Ano 10 – ECO-BEA Cobre e Solta . 148
APÊNDICE X: Fluxo e Avaliação Financeira do Endividamento pelo Programa INOVAGRO ....... 151
APÊNDICE XI: Detalhamento dos Itens de Fluxo de Caixa .............................................................. 152
ANEXO I: Princípios de BEA da OIE ................................................................................................ 168
1
1. INTRODUÇÃO
Em 2014, a publicação Meat Atlas alertou para o crescente consumo de carne no mundo
em uma taxa superior ao crescimento populacional. Dentre os principais impulsionadores
desse aumento está o maior hábito de ingestão de proteína animal entre os moradores de áreas
urbanas – com destaque para o aumento das classes médias dos países em desenvolvimento
(CHEMNITZ; BECHAVA, 2014).
As expectativas da Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD)
e da Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO) são de que este
consumo continuará crescendo, com participação mais expressiva das carnes de suínos e aves,
por serem opções melhores para criações em grande escala, dado que são animais menores e
mantidos em grupos. Os peixes, apesar de representarem a maior quantidade de proteína
consumida globalmente, são em sua maior parte capturados e não produzidos em piscicultura.
Estas previsões estão compiladas no Gráfico 1.
Gráfico 1 - Histórico e Previsão de Consumo de Carnes Global
Fonte: OECD e FAO (2014)
Este potencial de crescimento do mercado de suínos, ganhou destaque em 2013, com o
valor de U$ 4,72 bilhões pagos pela gigante chinesa Shuanghui International Holdings para
aquisição da Smithfield Foods Inc., maior produtora global de carne suína (SINGH;
JEFFREY, 2013).
No Brasil, a ordem de preferência pelas proteínas animais é diferente. Os suínos, que têm
grande parcela do mercado internacional, ainda apresentam consumo modesto. Em 2015 serão
consumidas 10,6 milhões de toneladas de aves, 8,7 milhões de toneladas de bovinos e apenas
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3,1 milhões de toneladas de suínos – o que coloca o país como quinto colocado na lista de
consumidores globais em quantidade absoluta deste alimento. As quantidades consumidas
para peixes e ovinos são ainda menores, como pode ser visto no Gráfico 2.
Gráfico 2 - Histórico e Previsão do Consumo de Carnes no Brasil
Fonte: OECD e FAO (2014)
Contudo, a Associação Brasileira de Produtores de Suínos (ABCS) vê espaço para
alavancagem do consumo interno da carne, que ainda é limitado pela hábito e por um
preconceito histórico. Por meio de uma pesquisa de marketing, a entidade identificou as cinco
principais restrições ao incremento do consumo de carne de suínos no Brasil, sendo eles: (1)
preconceito com relação ao impacto sobre a saúde do consumidor; (2) cortes pouco práticos,
segundo a perspectiva do cliente; (3) cortes volumosos, associados a eventos festivos; (4)
apresentação inadequada nos pontos-de-venda, quase sempre associada a gordura; e (5) preço
elevado (ABCS, 2014) BCS v b h p j “U N v O h b
C Suí ”, que pretende atuar sobre toda a cadeia de valor para alterar a percepção do
consumidor sobre o produto.
Ainda assim, apesar do baixo consumo interno, o Brasil se coloca como quarto maior
produtor mundial de suínos, contribuindo para três por cento da quantidade global em peso –
como visto no Gráfico 3.
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Aves: Brasil
Bovinos: Brasil
Suínos: Brasil
Peixes: Brasil
Ovinos: Brasil
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Gráfico 3 - Produção Mundial de Suínos em 2014
Fonte: USDA (2014b)
Segundo a Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína
(ABIPECS) o bom potencial para criação de suínos do Brasil é propiciado pelos seus recursos
naturais, pela disponibilidade de grãos, pela existência de uma cadeia de produção integrada,
pelo status sanitário e pelo investimento existente em tecnologia (NETO, 2012).
A vocação do Brasil para a agropecuária se reflete em sua parcela do produto interno
bruto nacional, como pode ser visto no Gráfico 4. A cadeia completa, englobando insumos,
produção agrícola, indústria e distribuição totalizou 22,45% do PIB em 2013 – último dado
divulgado pelo CEPEA. A fatia da pecuária somente, também considerando a cadeia
completa, atingiu 6,87% do PIB no mesmo ano, levando em conta bovinos, suínos, aves e
outras carnes.
Gráfico 4 - Participação do Agronegócio no PIB Brasileiro
Fonte: CEPEA – ESALQ / USP 1
1 PIB CEPEA: http://cepea.esalq.usp.br/pib/ - Acesso em: 02/04/2015
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Deve-se considerar, ainda, que nem todo o valor do PIB da pecuária se destina ao
consumo interno. Em 2014, da produção brasileira de suínos, 83% se destinaram ao consumo
nacional e o restante foi encaminhado para exportação – principalmente na forma de cortes.
Este desempenho colocou o Brasil como quarto maior exportador de suínos, com uma fatia de
8% do mercado internacional – como pode ser visto no Gráfico 5.
Gráfico 5 - Exportação Mundial de Suínos em 2014
Fonte: USDA (2014b)
Com este quadro, a indústria de carne suína, tal como a de proteína animal como um
todo, vem contribuindo para a obtenção de uma balança comercial favorável para o país. Em
2014, quando a Balança Comercial brasileira apresentou seu primeiro déficit desde o ano
2000, as exportações totais de carne e de suínos continuavam seu crescimento – Gráfico 6.
Gráfico 6 - Contribuição da Exportação de Carnes para a Balança Comercial
Fonte: Ministério do Desenvolvimento - Secretaria de Comércio Exterior2
2 SECEX: http://www.mdic.gov.br//sitio/interna/interna.php?area=5&menu=4861&refr=1161
33% 31%
17%
8%
4% 2% 2% 1% 1% 0,3% 0,1% 0,5% 0
500
1.000
1.500
2.000
2.500
Valores em 1.000 Toneladas Equivalente Carcaça - % de Participação
-10
0
10
20
30
40
50
Bil
hõ
es (
US
$ F
OB
)
Saldo da Balança
Comercial
Exportação Total
de Carnes
Exportação de
Carne Suína
5
Vista a relevância do setor de proteína animal para o Brasil, e dentro dele do setor de
suínos, torna-se importante a identificação de questões condicionantes para o sucesso da
indústria.
Fatores de competitividade como custo da mão de obra, preço dos grãos, e taxa de
câmbio são intrínsecos aos negócios e velhos conhecidos das empresas do setor. Dados da
Interpig apresentados por Neto (2012b), por exemplo, mostram que em 2010 o custo da mão-
de-obra brasileira deixou de ser um fator de vantagem e passou a representar de 9% a 10% do
custo de produção, igual à média global. O Real depreciado, por sua vez, foi apontado em
2014 como um fator de vantagem para a exportação de carne de suínos (USDA, 2014a).
No entanto, mais recentemente, a cadeia de produção de carnes vem sofrendo novas
pressões para adotar padrões mais sustentáveis – que levem em consideração aspectos sociais,
ambientais e de bem-estar animal. Estas forças, que afetam o paradigma da indústria como um
todo e pedem uma mudança no atual modelo de negócio utilizado, têm sua origem no
crescimento do consumo consciente. Chemnitz e Bechava (2014) explicam o consumo
consciente com “c p u ” cu h h u p c p
consumidor de ir além de um papel passivo e se tornar um influenciador do processo
p u v U “c p u ” é u stakeholder na cadeia de alimentos que demanda
informações e baseia suas decisões de compra de acordo com quem produz e como produz,
Assim, pela demanda, ele pressiona a cadeia de valor.
A visão dos consumidores, então, se consolida na forma de legislações. No tangente às
pressões por bem-estar animal, diversas leis já foram feitas. Na União Europeia, por exemplo,
foram banidas as criações de vitelo em celas e as gaiolas de bateria para galinhas poedeiras. O
confinamento de matrizes suínas em gaiolas foi banido no Reino Unido, na União Europeia,
no Canadá, em nove estados americanos, e deve ser encerrada na Nova Zelândia e na
Austrália em 2015 e 2017, respectivamente.
Este novo cenário, que coloca restrições para os atuais modelos de negócio da pecuária,
traz a necessidade de adequações imediatas, mas também oportunidades de sucesso. Como
antecipação às legislações e resposta às maiores pressões do mercado, a Arcos Dorados,
f qu McD ’ é c L c u em 2014 aos seus maiores
fornecedores de carne suína que apresentassem, em dois anos, planos documentados para
limitar o uso de celas de gestação, adotando o sistema de criação coletiva como alternativa. O
movimento em busca do maior bem-estar animal afeta bastante o Brasil, por ser um dos
maiores mercados da empresa, e segue em h c u McD ’ E
Unidos – que visa eliminar o uso das celas em suas redes de suprimentos até 2022 (GLOBO
6
RURAL, 2014). A BRF também vem agindo no mesmo sentido e tem solicitado aos seus
fornecedores que as expansões das granjas sejam construídas no modelo de gestação em baias
coletivas (BASTOS, 2014).
Como empresa que já opera com sucesso segundo as novas demandas por bem-estar
animal podemos destacar, no Brasil, a companhia Korin, que possui uma ampla linha de
produtos que inclui proteína animal de aves e ovos (PERIN, 2012). Nos Estados Unidos, a
empresa Stonyfield Farm, iniciada em 1983 com apenas sete vacas, é hoje a terceira maior
marca de iogurtes e sorvetes orgânicos do país – com 360 milhões de dólares em vendas em
2010 – tendo 85% de suas ações vendidas para a Danone entre 2001 e 2003. Em entrevista
para a Bloomberg, o fundador e CEO da empresa Gary Hirshberg afirma que com a produção
de orgânicos não somente as companhias, mas também os acionistas, os fazendeiros, as vacas,
os consumidores e os empregados podem ganhar (HIRSHBERG, 2010).
1.1. OBJETIVO DA PESQUISA
Este trabalho tem como objetivo propor um modelo para avaliação de sustentabilidade no
campo do agronegócio, com destaque para os aspectos social e financeiro. Especificamente,
pretende-se construir um modelo genérico que sirva de guia para comparação entre granjas de
suinocultura convencionais e granjas que alteraram sua proposta de valor pela adoção de
métodos produtivos que melhoram o bem-estar animal.
Como objetivo adicional, buscou-se realizar um estudo de caso para comparar dois
métodos de criação de suínos: um com gestação individual em gaiolas e outro com gestação
em baias coletivas. Esta aplicação serve ao propósito de testar o modelo e também dá um
direcionamento para os produtores brasileiros à respeito da questão – dada a materialidade
que o tema de bem-estar animal tende a ganhar no país.
1.2. DELIMITAÇÃO
O presente trabalho possui duas delimitações de maior relevância: execução temporal e
escopo geográfico. O estudo foi realizado em contexto brasileiro no ano de 2014, sem
avaliação de perspectiva histórica ou comparação com outras localidades e granjas de suínos.
7
2. REVISÃO DE LITERATURA
A revisão de literatura está organizada em quatro blocos. O primeiro descreve o processo
de criação de suínos em diversos níveis de agregação. Assim, parte-se da visão geral da
cadeia de valor da carne de suínos para explicações mais detalhadas dos processos produtivos,
e estudos dos principais impactos ambientais e sociais. O segundo bloco apresenta o conceito
de bem-estar animal – relatando estudos específicos da área de veterinária que mostram o seu
caráter científico, independente de considerações éticas. Neste bloco estão listados, também,
os principais aspectos de bem-estar animal relacionados especificamente à produção de
suínos. O terceiro bloco caracteriza as duas forças que atualmente alteram o paradigma da
indústria de produção de carne suína e, assim, estão dedicadas uma seção ao tema de consumo
consciente e outra aos tópicos de legislações brasileiras e internacionais. Por fim, o quarto
bloco enfoca na integração dos aspectos de sustentabilidade no agronegócio, bem-estar animal
e avaliação financeira, buscando as interações destes conceitos já relatadas na literatura e
possíveis propostas metodológicas para avalições no agronegócio e em suinocultura.
2.1. CARACTERIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE SUÍNOS
Em 1956, Davis (1956) cunhou o termo “ gronegócio” – quando, segundo ele, as
operações de marketing e a agricultura haviam se aproximado de tal maneira que se tornaram
interdependentes. Os métodos de produção nas fazendas haviam se alterado não somente nas
operações, mas também em toda a sociedade rural de maneira física, social, educacional,
política, organizacional, moral e até mesmo espiritual.
O fazendeiro do século XIX fazia a maior parte de seus suprimentos, fazia o
processamento, armazenava e vendia seus produtos. Contudo, na agropecuária moderna, a
fazenda é inseparável das firmas que manufaturam suprimentos de produção e que vendem os
produtos. Assim, o agronegócio seria, por definição, o conjunto de todas as operações de
distribuição dos suprimentos, de fazenda, de manufatura e processamento, distribuição e
armazenagem (DAVIS, 1956).
Como um dos ramos do agronegócio, a cadeia de valor da carne e dos derivados de
suínos é composta por três macroprocessos – Fazenda, Processamento e Revenda – como
mostrado na Figura 1 (Q-PORKCHAINS, 2014a). Cada um destes macroprocessos é
composto por diversos processos de transformação, como produção de leitões, abate, desossa
e venda nos atacadistas ou varejistas. Estes processos podem ser totalmente verticalizados e
realizados por uma única empresa, principalmente nas etapas de Fazenda e Processamento,
contudo, é mais comum que haja divisão e especialização (DEFRA, 2010) – como no caso
8
dos Produtores Integrados, onde os fazendeiros recebem insumos e orientação técnica de
empresas e vendem seus produtos para um frigorífico especificado (EMBRAPA, 2000).
Figura 1 - Cadeia de Valor da Produção de Suínos
Fonte: Adaptado de Q-Porkchains (2014a)
Sem perder de vista a cadeia de valor completa, são de maior interesse deste trabalho as
etapas que ocorrem no macroprocesso de Fazenda, pois compreendem os processos nos quais
os animais passam a maior parte de suas vidas. Assim, é importante entender mais
detalhadamente os processos de genética, multiplicação, produção de leitões e engorda.
A primeira etapa da cadeia, relativa ao desenvolvimento genético, envolve a criação de
raças puras de suínos. Existem poucas granjas que trabalham com raças puras, as chamadas
granjas núcleo, que fornecem machos e fêmeas de boa linhagem para as demais granjas. A
segunda etapa da cadeia se refere ao cruzamento de diferentes raças puras para que resultem
em suínos com boa capacidade reprodutiva – geradores de leitões com bom crescimento e
especificações fisiológicas corretas para o mercado. As granjas que trabalham com
cruzamentos entre raças são chamadas de multiplicadoras. Os suínos gerados pelas
multiplicadoras e por granjas núcleo são, então, fornecidos para que sejam reprodutores em
granjas comerciais, atuando na produção de leitões para engorda e abate (DEFRA, 2010).
É importante notar que a cadeia de produção de suínos tem uma estrutura piramidal –
com poucas granjas núcleo, um número maior de granjas multiplicadoras e muitas granjas
comerciais – geradoras do produto destinado ao consumo final (DEFRA, 2010). No Brasil,
estas muitas granjas comerciais formam o elo mais fraco da cadeia, dado o número de
propriedades, sua dispersão geográfica, seu baixo grau de profissionalização e consequente
dificuldade de organização (EMBRAPA, 2000).
Com um olhar micro, das atividades na fazenda, o processo de criação de suínos para
abate leva em torno de 170 dias a partir do nascimento. Ele se inicia com a inseminação
artificial das matrizes, que permanecem 114 dias gestantes. Após nascidos os leitões, há um
período de aproximadamente vinte e três dias até o desmame – quando as matrizes voltam
para o início do ciclo e são inseminadas novamente após cinco dias. As leitegadas seguem
Atacadista
Varejista
Abate Desossa
Carne In Natura
Carne Processada
Consumidor
Cidadão
Genética Multiplicação
Produção de
Leitões Engorda
Fazenda Processamento Revenda Demanda
Suprimento de Bens e Serviços
9
então para a creche, onde permanecem por 40 dias com uma atenção maior e, após este
período, vão para a etapa de terminação, onde engordam e são encaminhados para o abate
(RECORD RURAL, 2009).
Dentro da cadeia de valor da produção de suínos (Figura 1), a sustentabilidade nas etapas
de Fazenda ganha especial importância, visto que a maior parte dos impactos e externalidades
geradas são consequências da produção primária e dos insumos relacionados. Quando uma
unidade de carne sai da fazenda para processamento e venda ao consumidor, ela já cumpriu a
maior parte do seu ciclo de vida (NGUYEN; HERMANSEN; MOGENSEN, 2012). Contudo,
é necessário se atentar para o fato de que a sustentabilidade na agropecuária não pode ser
entendida somente como uma questão ambiental, mas sim holística, que considera também as
perspectivas econômica e social (CASTELLINI et al., 2012; PAYRAUDEAU; VAN DER
WERF, 2005) – com efeitos em escala local, regional e global (PAYRAUDEAU; VAN DER
WERF, 2005).
Seguindo esta abordagem mais ampla, alguns autores realizaram avaliações de
sustentabilidade na agropecuária considerando diferentes dimensões. Castellini et al. (2012)
conduziram uma análise geral de sustentabilidade para criação de frangos com base em
indicadores ambientais, financeiros e sociais, adicionando ainda uma quarta dimensão, a
qualidade do produto.
Para suínos, Gomes et al. (2014) propuseram um modelo para avaliação das práticas de
sustentabilidade das granjas com base em quatro dimensões de sustentabilidade com pesos
diferentes: Dimensão Ambiental (com peso 0,4), Dimensão Econômica (com peso 0,3),
Dimensão Político-Espacial (com peso 0,2) e Dimensão Social (com peso 0,1). Já Casagrande
(2006) se utilizou do Método de Avaliação de Sustentabilidade (MAIS) de Oliveira (2002
apud CASAGRANDE, 2006), que avalia quatro dimensões de sustentabilidade: Dimensão
Ambiental, Dimensão Social, Dimensão Cultural e Dimensão Econômica. Cabe destacar que
apesar dos dois métodos de avaliação citados para suinocultura possuírem quatro perspectivas
cada um, as perspectivas político-espacial e cultural podem ser encaradas como
detalhamentos ou vertentes de perspectivas sociais.
Considerando a abordagem holística de sustentabilidade como englobando aspectos
ambientais, sociais e econômicos – cabe uma discussão, não exaustiva, sobre os trabalhos já
realizados nestas áreas. Os tópicos ambiental e social serão apresentados em seguida – e o
tópico econômico será discutido com maior detalhamento no item 2.4 - Integração de
Sustentabilidade, BEA e Avaliação Financeira.
10
2.1.1. Impactos Ambientais da Produção de Suínos
Do ponto de vista ambiental, a agricultura é sustentável se suas emissões poluentes e seu
uso de recursos naturais podem ser suportados pela natureza no longo prazo
(PAYRAUDEAU; VAN DER WERF, 2005), por isto, é tão importante que seus impactos
sejam aferidos.
Os métodos de avaliação de impactos ambientais, segundo Petit e Van Der Werf (2003),
geralmente se baseiam em cinco grandes fases principais: (i) definição de um objetivo global
– c “ v p c b ”; (ii) definição do(s) objetivo(s) específicos –
c “ u qu ” u “u ”; (iii) definição dos indicadores
para cada objetivo; (iv) medição dos indicadores; (v) análise e interpretação dos dados.
Payraudeau e Van der Werf (2005) concordam que os indicadores são a base para
avaliação dos impactos ambientais, e os classificam em três níveis. Indicadores de meio, por
exemplo, avaliam as entradas de um sistema, como a quantidade de água consumida.
Indicadores de emissão avaliam a contribuição para poluição, como nitratos emitidos.
Finalmente, indicadores de impacto dão informações diretamente sobre o impacto gerado –
podendo ser intermediários, como equivalente de CO2 (dióxido de carbono) emitido, ou
finais, como danos a qualidade do ecossistema. Contudo, esses indicadores finalísticos são de
altíssima complexidade para serem calculados. Assim, há um trade-off entre a utilização dos
indicadores de meio, de emissão e de impacto. Os de meio se apresentam como os mais
viáveis e os menos relevantes em termos ambientais; os de impacto, como os mais relevantes
e os menos viáveis; estando os de emissão em um nível intermediário.
Sobre as bases de indicadores, se apoiam diversos métodos de mensuração de impactos
ambientais da atividade agropecuária. Payraudeau e Van der Werf (2005) conduziram uma
revisão de seis métodos bastante utilizados que estão resumidos no Quadro 1.
Quadro 1 - Métodos de Avaliação para Impactos Ambientais da Agropecuária
Método Breve Descrição
Mapeamento de
Riscos Ambientais
Mapeia, seleciona e avalia riscos ambientais como, por exemplo, o vazamento de nitrato
ou pesticidas. Os risco são, então, caracterizados por uma combinação de variáveis,
simulações e indicadores, e têm seus perfis traçados.
Avaliação de
Impactos
Ambientais
Tem como objetivo avaliar o impacto ambiental de uma nova prática agrícola em uma
determinada região. Assim, o estudo se baseia no conceito de que o impacto de uma
atividade humana depende não somente das emissões, mas também da sensibilidade do
ambiente a sua volta. Este método pode englobar, ainda, questões sociais e econômicas.
Sistemas
Multiagente
Visa determinar se o uso de um recurso por um determinado grupo é sustentável. Assim, a
interação entre os diversos agentes e o recurso é modelada e analisada – podendo, além do
aspecto ambiental, englobar as perspectivas social e econômica. Pode-se avaliar, por
exemplo, o impacto das práticas de gestão de resíduos da suinocultura no uso de água.
11
Programação
Linear Múltipla
Busca maximizar, com modelos matemáticos, a produção de uma determinada região em
relação a suas aspirações econômicas, respeitando restrições sociais e ambientais.
Quaisquer impactos ambientais, sociais ou econômicos podem ser incluídos, desde que
seus indicadores sejam modelados matematicamente.
Indicadores
Agroambientais
Caracteriza o impacto ambiental de um sistema de fazenda de maneira geral a partir de
uma série de indicadores que estão listados em frameworks conceituais pré-definidos.
Análise do Ciclo
de Vida
Tem como objetivo avaliar o impacto da produção, do uso e do descarte de um
determinado produto. Combinam-se as poluições emitidas e os recursos consumidos em
um pequeno número de indicadores – podendo ser aferidos impactos locais, regionais e
globais.
Fonte: Adaptado de Payraudeau e Van der Werf (2005)
A Análise do Ciclo de Vida se coloca como um dos métodos mais utilizados. Payraudeau
e Van der Werf (2005) colocam que há um aumento de seu uso para culturas de vegetais, e
Reckmann, Traulsen e Krieter (2012) concordam que ela é uma ferramenta poderosa para
quantificar, avaliar e comparar bens e serviços em termos de impactos ambientais.
Casagrande (2006), atribuindo igual importância, mostra a Análise do Ciclo de Vida de
produtos e serviços como um dos itens do Método MAIS.
Nguyen, Hermansen e Mogensen (2012) foram além e adaptaram a Análise de Ciclo de
Vida com atribuição de valores monetários aos impactos gerados, avaliando os custos
ambientais da produção de suínos. Os dois primeiros passos, de inventário e caracterização
dos impactos – são comuns à Análise do Ciclo de Vida. No passo de inventário uma lista dos
recursos utilizados e das emissões associadas com todo o ciclo de vida é construída. E na
caracterização, os resultados dos inventários são agrupados e classificados em categorias de
impacto, como por exemplo: aquecimento global, acidificação, eutrofização, toxicidade
humana, uso de energia, uso da terra, etc. Por fim, o último passo diferencia os métodos ao
representar esses impactos em termos monetários.
Há, contudo, algumas restrições no método de Análise do Ciclo de Vida. Em primeiro
lugar, por ser um estudo intensivo em dados, há limitações relacionadas às conclusões que se
pode tirar. Especialmente no caso de suínos, os problemas existentes na coleta de dados
podem gerar perda de acurácia. Em segundo, a comparabilidade entre estudos distintos é
limitada. E em terceiro, as escolhas metodológicas e premissas são subjetivas (RECKMANN;
TRAULSEN; KRIETER, 2012). Nguyen, Hermansen e Mogensen (2012) adicionam, ainda,
ressalvas quanto aos métodos que buscam monetizar as externalidades, dado que há alta
incerteza quanto aos valores atribuídos aos diferentes impactos ambientais, com chances de
haver incompletude, pois nem todos os impactos ambientais relevantes são monetizáveis.
12
Vista a breve introdução aos métodos para avaliações de impactos ambientais e suas
principais restrições, é importante que sejam vistos alguns estudos realizados no campo de
sustentabilidade ambiental da produção de suínos e seus resultados.
Basset-Mens et al. (2007), com a mesma preocupação de Chemnitz e Bechava (2014)
para a emissão de gases de efeito estufa, compararam a performance ambiental de emissão de
gases de amônia e carbono em três modelos diferentes de criação de suínos: a agricultura
convencional (com animais criados em alta densidade, confinados, com piso ranhado), o
modelo de produção orgânica (correspondente às normas europeias de produção orgânica), e
o modelo de bem-estar Label Rouge – utilizado na França. Nos últimos dois modelos os
suínos são nascidos e criados ao ar livre até o desmame, quando são colocados em instalações
com frente aberta e palha.
A conclusão dos autores é dependente da escala de produção. Quando a emissão dos
gases foi avaliada por quilo de suíno produzido, o modelo tradicional apresentou as menores
emissões para a maior parte dos gases; enquanto o modelo orgânico apresentou as maiores.
Contudo, quando olhadas as emissões por hectare utilizado, o quadro se inverte, ficando o
melhor desempenho para o modelo orgânico, e o pior para o modelo tradicional. O modelo
Label Rouge fica intermediário em ambos os casos (BASSET-MENS et al., 2007).
Reckmann, Traulsen e Krieter (2013), por sua vez, estudaram o perfil ambiental das
produções de suínos na Alemanha com base em uma Análise do Ciclo de Vida que englobou
desde a produção de alimentos para os suínos até o abate e processamento dos cortes –
terminando antes da embalagem e revenda. Eles olharam três impactos principais: potencial
de aquecimento global, relativo ao aumento na temperatura causada por emissão de gases de
efeito estufa na atmosfera (medido em CO2-eq.); o potencial de eutrofização, relativo à
quantidade de nutrientes despejados no ambiente (medido em PO4-eq.); e o potencial de
acidificação, relativo à redução dos valores de pH no ambiente dada a liberação de
substâncias acidificantes (medido em SO2-eq.). As medidas foram expressadas sobre o peso
da carcaça.
É interessante observar os inventários de emissões da cadeia feitos por Reckmann,
Traulsen e Krieter (2013). A etapa de pré-produção dos suínos envolveu o uso de fertilizantes,
combustíveis fósseis e outros insumos para plantio dos grãos. Já o inventário para produção
dos suínos listou itens desde a produção até a fase de terminação com 120kg. Foram
considerados a quantidade de alimento consumida, as emissões da gestão dos dejetos, o
consumo de eletricidade para luzes, ventilação e alimentação, o uso de calor para os leitões, o
consumo de água, a disposição de carcaças de animais mortos, e o combustível fóssil para o
13
transporte. O inventário para o processo de abate, enfim, envolve o consumo de calor,
eletricidade, água, transporte e produz emissões para água e ar.
A avaliação final mostrou que, por quilo de suíno produzido, um potencial de
aquecimento de 3,22kg de CO2-eq./, um potencial de eutrofização de 23,3g de PO4-eq., um
potencial de acidificação de 57,1g de SO2-eq., sendo que o maior impacto em potencial de
aquecimento global advém da produção de alimentos; os maiores potenciais de eutrofização
são relacionados à alimentação e à produção de urina; e o maior potencial de acidificação
advém da emissão de amônia da gestão de dejetos dos suínos.
Em outro estudo, Nguyen, Hermansen e Mogensen (2012) calcularam o custo das
externalidades da produção de suínos na União Europeia por meio de uma Análise do Ciclo
de Vida, que englobou desde a produção dos alimentos até o envio do animal para o abate,
incluindo o tratamento e a aplicação do estrume. A análise dos autores foi separada em quatro
blocos. O primeiro referente à criação dos animais, o segundo à gestão dos dejetos, o terceiro
à produção de alimentos e o último relativo aos serviços de transporte e produção de calor e
eletricidade.
Do inventário completo utilizado no estudo merecem destaque, com foco apenas na etapa
de criação dos animais em granja, os seguintes itens: uso de energia elétrica, uso de calor e
emissões provenientes dos animais e da gestão de dejetos (NGUYEN; HERMANSEN;
MOGENSEN, 2012).
O mais interessante do estudo de Nguyen, Hermansen e Mogensen (2012) é que foi
encontrado um custo de externalidade de €1,9/kg de carne produzida, maior do que o preço
privado de mercado da carne, cotado em €1,4/kg. Assim, os autores sugerem que é importante
uma discussão a respeito da implantação de impostos ambientais para a produção da carne de
suínos – que seriam uma forma de compensação pelos danos gerados e não cobrados dos
produtores ou consumidores.
O estudo de Gomes et al. (2014), por sua vez, coloca que a sustentabilidade ambiental
das granjas de suínos começou a se tornar um problema com as criações intensivas, quando o
solo local deixou de absorver o grande volume de dejetos produzidos. Assim, os autores
lembram que os dejetos da suinocultura são geralmente manejados na forma líquida, com o
uso de pisos ripados para coleta, e acabam se tornando grande fonte poluidora de solos
agriculturáveis e recursos hídricos, além de emitirem fortes odores (SILVA; SILVA;
MELLO, 2010 apud GOMES et al., 2014).
Com esta ênfase, no modelo de avaliação de sustentabilidade criado por Gomes et al.
(2014), a dimensão ambiental dá destaque à produção e ao tratamento dos dejetos, ao
14
consumo e ao reaproveitamento de água, à contaminação do solo e do ar, e adicionalmente a
possíveis distâncias a serem percorridas com veículos a combustão.
O estudo de Peruzatto (2009), na mesma linha, chama atenção para o consumo de água e
para a produção de dejetos. Segundo o autor, o consumo de água para uma matriz na
maternidade, por exemplo, pode variar entre 20-35l/dia, e um suíno em engorda com peso de
50kg a 100kg pode beber de 5-10l/dia. Ainda, além do grande volume consumido pelos
animais, há a necessidade do uso de água para diluir a concentração das fezes e urinas
produzidas recentemente e tratá-las como resíduos líquidos, tornando seus manejos mais
fáceis. A quantidade de água utilizada na diluição é variável com o tipo de instalação e
hábitos do criador, mas varia de 5 a 10 litros / suíno / dia (SILVA, 2000 apud PERUZATTO,
2009).
Em outro estudo, na Bretanha, região que concentra o maior número de granjas de suínos
na França, Petit e Van der Werf (2003) coletaram a opinião de sete grupos de stakeholders
sobre as produções locais. Foram contemplados (1) os próprios produtores de suínos, (2)
fornecedores dos produtores de suínos, (3) indústria de transformação e varejo, (4) oficiais do
governo envolvidos com impactos ambientais de suínos, (5) cientistas envolvidos no tema, (6)
ativistas do meio ambiente e de consumo, e (7) consumidores.
Os stakeholders listaram a importância relativa de cinco itens em uma lista de nove
questões ambientais e sociais que foram dados como de responsabilidade dos fazendeiros de
suínos. Houve diferença entre o colocado pelos participantes, entretanto, 51% dos
respondentes listaram qualidade da água em primeiro ou segundo. Qualidade do solo foi
colocada em primeiro e segundo por 27% dos respondentes, e segurança do produto e
qualidade do ar vieram em terceiro e quarto respectivamente. Questões como qualidade da
paisagem, biodiversidade natural e da agricultura, sabor do produto e bem estar-animal foram
consideradas menores. (PETIT; VAN DER WERF, 2003)
Os stakeholders avaliaram, em seguida, o quão responsáveis os fazendeiros de suínos são
sobre determinadas questões ambientais. Odores desagradáveis vem em primeiro lugar como
atribuíveis aos fazendeiros de suínos (estando em primeiro ou segundo por 80% dos
respondentes), qualidade da água (65%) e poluição do solo (65%) em segundo e terceiro. A
responsabilidade pela deterioração do ambiente, redução dos recursos naturais e da paisagem
vieram depois – assim como aquecimento global. É interessante, além disso, notar a diferença
média de valores com os quais se atribuem os problemas aos fazendeiros. Os ativistas são
mais enfáticos, seguidos dos consumidores, da indústria de suprimentos e, por último, dos
fazendeiros em si. (PETIT; VAN DER WERF, 2003)
15
Petit e Van der Werf (2003) sugerem, então, que em pesquisas futuras sobre impactos
ambientais, objetivos específicos sobre qualidade do solo e do ar são essenciais, objetivos
sobre a qualidade da água e odores são em seguida os mais importantes e que não há
necessidade de se traçarem objetivos sobre ruídos.
O estudo de Tuomisto et al. (2012) utilizou indicadores para uma meta-análise de
comparação entre produções agropecuárias orgânicas e convencionais. Cabe destacar que a
comparação não envolvia somente produções de suínos, contudo, a listagem – colocada no
Quadro 2 – auxilia como base para identificação de pontos críticos da agropecuária em geral.
Quadro 2 – Indicadores Ambientais para Comparação de Produções Convencionais e Orgânicas
Indicadores Descrição Agrupamento
Biodiversidade Perda de biodiversidade dada a alteração dos
habitats e paisagens naturais.
Utilizado para medir o impactos /
emissões diretas das fazendas somente
Emissão de oxido
nitroso
Especialmente importante para a pecuária, pois
pode se originar na aplicação e gestão do
estrume. O gás contribui para o efeito estufa e
mudanças climáticas.
Utilizado para medir o impactos /
emissões diretas das fazendas somente
Emissões de
amônia
Advinda principalmente da gestão do estrume, a
amônia é o principal poluente acidificante da
agricultura.
Utilizado para medir o impactos /
emissões diretas das fazendas somente
Lixiviamento de
nitrogênio
Gera a contaminação de lençóis freáticos,
u f z c p ’ u
emissões de oxido nitroso.
Utilizado para medir o impactos /
emissões diretas das fazendas somente
Perda de fósforo Quando retirado do solo, o fósforo contribui para
a eutrofização dos lençóis freáticos.
Utilizado para medir o impactos /
emissões diretas das fazendas somente
Uso de matéria
orgânica do solo
Se refere a qualidade do solo, como estrutura,
grau de erosão, nível de carbono, etc.
Utilizado para medir o impactos /
emissões diretas das fazendas somente
Emissão de gases
de efeito estufa
Se refere aos principais gases emitidos, como
dióxido de carbono, metano e óxido nitroso,
medidos em equivalente-CO2.
Utilizado para compilação de emissões
do Ciclo de Vida como um todo
Potencial de
acidificação
Os principais poluentes são a amônia (NH3) e o
dióxido sulfúrico (SO2) – sendo medido em
equivalente SO2.
Utilizado para compilação de emissões
do Ciclo de Vida como um todo
Potencial de
eutrofização
Eutrofização se refere ao enriquecimento de
habitats aquáticos e terrestres com nutrientes
para vegetais, o que pode gerar um crescimento
elevado de altas e plantas – o que pode alterar os
ecossistemas.
Utilizado para compilação de emissões
do Ciclo de Vida como um todo
Uso de energia Uso direto e indireto em diversas etapas,
incluindo eletricidade e combustíveis fósseis.
Utilizado para compilação de emissões
do Ciclo de Vida como um todo
Uso da terra Área de recurso limitado requerida para
produção.
Utilizado para compilação de emissões
do Ciclo de Vida como um todo
Fonte: Adaptado de Tuomisto et al. (2012)
16
Os resultados mostraram que a agropecuária orgânica na Europa possui impactos
ambientais geralmente menores por unidade de área do que a agropecuária convencional, mas
nem sempre por unidade de produto. Assim, os autores colocam que não existe um melhor
modelo de fazenda para todas as circunstâncias (TUOMISTO et al., 2012).
Como último estudo a ser apresentado, Casagrande (2006) avaliou os impactos
ambientais e sociais gerados pela atividade de suinocultura no município de Toledo – Paraná,
comparando granjas com o uso do sistema convencional de tratamento de dejetos
(esterqueiras) com granjas que se utilizam de um Biossistema Integrado. Biossistemas
Integrados procuram maximizar o desenvolvimento sustentável, aplicando métodos e técnicas
que eliminam os resíduos produzidos em determinado processo produtivo, transformando-os
em matéria prima para outros processos. (CASAGRANDE, 2006).
As granjas sustentáveis estudadas por Casagrande (2006) eram equipadas com
biodigestores para geração de biogás (basicamente metano) a partir da fermentação da
biomassa – processo que pode reduzir em torno de 60% a carga de poluentes dos resíduos. O
material sólido retirado do biodigestor pode ser utilizado para fertilizantes, pois se encontra
em forma assimilável pelas plantas e sem cheiro ou bactérias nocivas. Já a parte líquida, se
destina a criação de algas para alimentação de peixes.
O estudo de Casagrande (2006), contudo, difere dos demais apresentados pois o método
MAIS utilizado pelo autor não pretende mensurar emissões e tampouco de quantificar
monetariamente os impactos ambientais das granjas, mas sim comparar as granjas em termos
de aplicação de boas práticas de gestão de sustentabilidade organizacional. Como exemplo,
avalia-se o grau no qual a granja realiza a análise do ciclo de vida de seus produtos – mas não,
efetivamente, o resultado destas análises. O resultado da aplicação do método por Casagrande
(2006) mostrou uma maior sustentabilidade na granja com biossistema integrado, enquanto a
outra mostrou- “ bu c u b ”
Vistos estes diversos estudos, é possível construir um quadro resumo que liste os
principais impactos ambientais relacionados à suinocultura. Pelo escopo deste trabalho, foram
colocados no quadro somente os impactos da criação dos suínos e tratamento dos dejetos
referentes ao Macroprocesso Fazenda (Figura 1). Impactos que seriam considerados em uma
análise completa do ciclo de vida, como contaminação por fertilizantes industriais na
produção do milho, não foram incluídos, pois quaisquer mudanças no sistema de produção de
fazenda não afetariam este tipo de contaminação de maneira relevante – a não ser pela
quantidade de ração ingerida pelos animais.
17
O Quadro 3 apresenta o resumo com os principais impactos, uma breve descrição do por
quê ocorrem, que tipos de indicadores são utilizados para medi-los, e que autores tratam do
tema em suas análises, mesmo que parcialmente.
Quadro 3 - Quadro Resumo de Itens de Relevância para Dimensão Ambiental na Suinocultura
Itens de Relevância
Ambiental Descrição Autores
Água (uso) O uso de água na criação de suínos ocorre
majoritariamente por três motivos: consumo de água
pelos animais, lavagem e desinfecção dos galpões e
tratamento dos dejetos de forma líquida.
O uso da água geralmente é medido com indicadores
de meio.
(CHEMNITZ;
BECHAVA, 2014;
GOMES et al., 2014;
PERUZATTO, 2009;
RECKMANN;
TRAULSEN; KRIETER,
2013)
Energia (uso) A energia consumida na criação de suínos pode advir
da eletricidade ou de combustíveis fósseis. O consumo
de energia elétrica acontece principalmente nos
equipamentos utilizados, como lavadoras,
escamoteadores, refrigeradores de ambiente, etc. Por
sua vez, os combustíveis fósseis são majoritariamente
consumidos no transporte dos animais, mas também
podem alimentar equipamentos como escamoteadores a
gás.
O uso de combustíveis fósseis geralmente é medido
com indicadores de meio.
(GOMES et al., 2014;
NGUYEN;
HERMANSEN;
MOGENSEN, 2012;
RECKMANN;
TRAULSEN; KRIETER,
2013; TUOMISTO et al.,
2012)
Terra (uso) O uso da terra se refere a área ocupada para criação dos
suínos e tratamento dos dejetos. Cabe neste item,
também a alteração da paisagem natural – que envolve
possíveis desmatamentos e alterações no local com
possíveis impactos no ecossistema local.
O uso de área de terra geralmente é medido com
indicadores de meio. Já para alteração da paisagem
natural, o indicador de meio é uma medida qualitativa.
Contudo, medidas de impactos no ecossistema podem
ser aferidas.
(CHEMNITZ;
BECHAVA, 2014;
PETIT; VAN DER
WERF, 2003;
TUOMISTO et al., 2012)
Água (contaminação) c c p ’ u p x c
suinocultura pode ocorrer pelo vazamento de efluentes
contaminados, pelo descarte incorreto de resíduos
sólidos, ou até mesmo pela aplicação errada de
fertilizantes derivados do estrume.
A contaminação pode ser estimada por indicadores de
emissão, como volume de dejetos líquidos gerado; ou
por indicadores de impacto, como o potencial de
eutrofização avaliado, por exemplo em termos de PO4-
eq.
(CHEMNITZ;
BECHAVA, 2014;
PERUZATTO, 2009;
PETIT; VAN DER
WERF, 2003;
RECKMANN;
TRAULSEN; KRIETER,
2013; TUOMISTO et al.,
2012)
18
Ar (contaminação) A contaminação do ar em criações de suínos tem duas
origens principais: a emissão direta por parte dos
animais, e as emissões provenientes do
armazenamento, transporte e tratamento dos dejetos.
Dentre os gases emitidos, são de grande importância os
geradores de efeito estufa, como o metano (CH4) e
oxido nitroso (N2O). Estas emissões são bastante
variáveis dependendo do método utilizado, mas
dificilmente são extintas. Um impacto paralelo a
emissão de gases são os odores provenientes das
criações de suínos – que acabam por ter também um
importante impacto social.
A contaminação do ar pode ser mensurada com
indicadores de emissão, que avaliam as quantidades
liberadas de substâncias específicas; ou com
indicadores de impacto como potencial de aquecimento
global mensurado em CO2-eq.
(BASSET-MENS et al.,
2007; CHEMNITZ;
BECHAVA, 2014;
GOMES et al., 2014;
NGUYEN;
HERMANSEN;
MOGENSEN, 2012;
PETIT; VAN DER
WERF, 2003;
RECKMANN;
TRAULSEN; KRIETER,
2012, 2013; TUOMISTO
et al., 2012)
Terra (contaminação) A contaminação do solo pode ocorrer seja por
vazamento de efluentes líquidos, pelo descarte
incorreto de resíduos sólidos e matéria seca ou pelo uso
errado de fertilizantes derivados dos dejetos.
A contaminação do solo pode ser mensurada com
indicadores de emissão; ou com indicadores de impacto
como o potencial de acidificação medido em SO2-eq.
(GOMES et al., 2014;
NGUYEN;
HERMANSEN;
MOGENSEN, 2012;
PETIT; VAN DER
WERF, 2003;
RECKMANN;
TRAULSEN; KRIETER,
2013; TUOMISTO et al.,
2012)
Uma última ressalva é importante a respeito dos impactos ambientais, principalmente
para a realização de comparações entre sistemas. A unidade funcional, utilizada como
denominador das análises, pode afetar de maneira significativa o resultado. Como exemplo,
no estudo de Basset-Mens et al. (2007), a classificação de sustentabilidade dos modelos de
produção de suínos orgânico, convencional e Label Rouge era invertida para as unidades
funcionais quilo de suíno produzido ou hectare utilizado. Da mesma maneira, o estudo de
Tuomisto et al., (2012) também mostrava que a agropecuária orgânica possuía melhores
resultados por unidade de terra utilizada, mas não por unidade de produto.
2.1.2. Impactos Sociais na Produção de Suínos
De acordo com o tripé de sustentabilidade, é importante que sejam vistos os impactos
sociais da suinocultura e, especificamente para este trabalho, impactos relativos ao
Macroprocesso Fazenda (Figura 1). Contudo, após a revisão de diversos estudos, concluiu-se
que pela natureza do objeto os impactos sociais têm suas fronteiras mais difusas do que os
impactos ambientais e, assim, suas origens e consequências são mais difíceis de serem
identificadas. De toda maneira, buscou-se organizar os itens de relevância social para análise
de sustentabilidade em granjas de suínos em dois grupos: impactos gerados pela granja que
19
afetam as comunidades no entorno e impactos gerados pela granja que têm efeitos
majoritariamente dentro de suas fronteiras, principalmente em seus empregados e gestores.
Olhando inicialmente os impactos gerados pelas fazendas de suínos nas comunidades do
entorno, cinco itens foram identificados: o sentimento da comunidade em relação as granjas, a
emissão de odores, os investimentos em inovação, o enriquecimento do trabalho no campo e a
geração de emprego, renda e retenção nas áreas rurais.
O primeiro item, referente à percepção e ao sentimento da comunidade ao redor sobre a
granja, ganha destaque no método MAIS (CASAGRANDE, 2006) e foi medido na pesquisa
realizada por Petit e Van der Werf (2003) com os stakeholders da produção de suínos na
Bretanha – França. Os autores avaliaram se os stakeholders consideravam a indústria de
suínos local como um ativo ou como uma desvantagem. Assim, descobriram que 93% dos
produtores de suínos e 100% dos seus fornecedores consideram as fazendas de suínos como
um ativo da região. Por outro lado, 58% dos cientistas, 78% dos ativistas e 54% dos
consumidores veem a mesma indústria como uma desvantagem para a área (PETIT; VAN
DER WERF, 2003).
O segundo item, relativo aos odores emitidos pelas criações, foi um dos aspectos citados
na pesquisa de Petit e Van der Werf (2003). E, apesar de colocado como um impacto maior
nas comunidades ao redor, afeta também alguns trabalhadores de granja, que se mostram
permanentemente preocupados com o cheiro que carregam e tem medo que este cheiro não
seja retirado com banhos e interfira em suas vidas pessoais (PORCHER, 2010).
O terceiro item, referente ao investimento em inovação, ganha relevância na Dimensão
Político-Espacial do modelo de Gomes et al. (2014). Segundo os autores, o desenvolvimento
tecnológico dos métodos utilizados contribui para o aumento na produção de alimentos e gera
oportunidades de ocupação e renda no meio rural. Assim, podemos vê-lo como um precursor
que nos leva ao quarto e ao quinto itens, também inspirados em Gomes et al. (2014).
O enriquecimento do trabalho no campo vem em quarto lugar, com a ressalva de que foi
listado separadamente da inovação pois entende-se que o enriquecimento do trabalho pode
advir mas não está necessariamente ligado a novas tecnologias. Sua origem pode estar nas
alterações simples do manejo e na mudança de consciência e responsabilidades do
trabalhador.
O último item, relacionado à geração de emprego, renda e retenção nas áreas rurais, além
de ser dado por Gomes et al. (2014) como uma consequência do desenvolvimento
tecnológico, também é apontado por Casagrande (2006) como importante para a avaliação
social da suinocultura.
20
Ainda sobre a retenção em áreas rurais, Coleman et al. (2000) usam uma ótica diferente –
não relacionada à disponibilidade de emprego ou aumento da renda. Os autores testaram a
eficácia de treinamentos com o objetivo de alterar a atitude e o comportamento dos
trabalhadores em relação aos animais. Foi analisado no estudo, também, se os treinamentos
gerariam o mesmo resultado em granjas comerciais médias e grandes, nas quais os efeitos das
pressão dos pares e a consequente homogeneidade dos comportamentos pode alterar a
efetividade do programa. Foram encontrados resultados que independem do tamanho das
granjas, com melhoria da atitude dos empregados, redução do medo dos suínos em relação
aos tratadores, melhoria na produtividade e, ainda, maior retenção dos que haviam recebido
treinamento – sendo 61% contra 47% de um grupo de controle seis meses após o treinamento.
Alterando o foco para o segundo grupo de impactos, que têm maior influencia dentro das
próprias fronteiras das granjas, outros sete itens foram vistos em estudos que tangenciam a
sustentabilidade social na suinocultura: relação afetiva com animais e estresse, treinamento e
desenvolvimento de pessoas, eficiência no manejo, desgaste físico, saúde e segurança do
trabalhador, satisfação e engajamento no trabalho e imagem do setor.
A relação entre os animais e os trabalhadores é tratada por Porcher (2010), que coloca
que o envolvimento afetivo é inevitável e é um componente necessário do trabalho com
animais – sendo um estado de bem-estar no qual o trabalhador está confortável com os
animais e os animais estão confortáveis com os trabalhadores. Contudo, o autor ressalta que a
u z f z v v “ p u ” uz u
múltiplos racionais do trabalho com animais a um único: o racional técnico-econômico de
“p uz qu qu cu ” O u p c c ô cos, especialmente os relacionais
e de afetividade foram reprimidos, gerando uma deterioração das relações homem-animal.
Assim, o sofrimento dos animais pode se espalhar para os trabalhadores, que reprimem seus
sentimentos, podendo, por isso, ter inúmeras patologias físicas e mentais (PORCHER, 2010).
Em resposta ao sofrimento, os trabalhadores desenvolvem mecanismos de defesa individual
que bloqueiam o processo de pensamento sobre questões que considerariam imorais, como o
corte de rabos e a morte de leitões pela agressão contra superfícies rígidas, tornando estas
práticas toleráveis. (PORCHER, 2010)
Por sua vez, a pesquisa de Coleman et al. (2000), que alterou a visão dos empregados em
relação aos suínos com treinamentos, avaliou percepção dos trabalhadores sobre os suínos
com questionamentos relacionados a higiene, gula, inteligência, humor e potencial dos bichos
para brincadeira e serem animais de estimação. Os autores questionaram, inclusive, a
21
frequência com a qual os trabalhadores acariciavam e conversavam com os animais. Com
estas perguntas, pode-se inferir o gosto pelos suínos.
Por fim, é interessante a colocação de Porcher (2010) em relação a diferença entre
homens e mulheres no tangente à relação afetiva com os animais. Segundo o autor, as
mulheres são mais conectadas aos animais e relutam em bater nos animais ou matá-los –
enquanto os homens estão mais interessados nos resultados técnicos.
O segundo item de relevância para a dimensão social dentro das fronteiras da granja se
refere ao treinamento e desenvolvimento de pessoas – com destaque para o trabalho de
Coleman et al. (2000) que tem aspecto como tema central. Os autores, em sua avaliação sobre
o impacto do experimento nos trabalhadores, fazem questionamentos relativos ao
conhecimento técnico e à vontade de aprender. São colocadas perguntas sobre o quanto os
empregados conversam sobre métodos de trabalho nas pausas, se eles fariam cursos nas folgas
se fossem disponíveis e o quanto sabem sobre doenças e fatores que afetam a reprodução de
suínos.
Gomes et al. (2014) e Casagrande (2006) também concordam sobre a importância do
tema e colocam o investimento em capacitação e desenvolvimento de pessoas em seus
métodos de avaliação de sustentabilidade para suinocultura – dado que afetam o dia a dia e a
qualidade do trabalho nas granjas. O que influencia, inclusive, no terceiro item de relevância
identificado, a eficiência no manejo, definida por Coleman et al. (2000) como sendo a
resposta comportamental dos suínos aos humanos e avaliada com questões relativas à
dificuldade percebida para mover os animais.
O quarto e quinto itens apontados na literatura, desgaste físico e saúde e segurança do
trabalhador, se tangenciam. A p u uí é c c “ x u v ”
“ ”, e o caráter manual e o ambiente compartilhado com os animais levam a muitas
lesões nas costas, braços, mãos, problemas de audição e respiratórios. O estresse, por sua vez,
é gerado pela pressão sobre os trabalhadores para lidarem com uma produção enxuta – e
podem até mesmo transpassar regras de segurança, como não lavar as maternidades entre
lotes diferentes (PORCHER, 2010).
Nestes temas, novamente Gomes et al. (2014), Casagrande (2006) e Coleman et al.
(2000) estão de acordo. Eles destacam a necessidade de critérios para prevenção de acidentes
na Dimensão Social, levando em consideração as condições de trabalho e a qualidade do ar.
A satisfação e o engajamento dos empregados no trabalho, por sua vez, são destacados
por Coleman e Bow (2014). Segundo os autores, para que os empregados cuidem dos animais
e os valorizem, são necessários mais do que treinamentos técnicos – e defendem a criação de
22
u “Círcu Cu ” qu c c o dono da fazenda, que valoriza seus supervisores
e cuida dos mesmos, que repassam esta atitude aos empregados, que repassarão aos animais.
Assim, eles colocam que é necessário que os tratadores sejam emocionalmente engajados na
atividade de criação de suínos. Para avaliar este engajamento, Coleman et al. (2000) se
utilizaram de questões sobre o tédio no trabalho, a crença em permanência na indústria e o
anseio pelo intervalo de almoço e final do expediente.
Por fim, o sétimo item de impacto dentro das fronteiras da granja com relevância para a
dimensão social de sustentabilidade se refere à imagem do setor, como apontado no Método
MAIS (CASAGRANDE, 2006). A suinocultura vem sofrendo fortes ataques relacionados aos
temas de bem-estar animal (COLEMAN; BOW, 2014; PETIT; VAN DER WERF, 2003;
PORCHER, 2010), problemas ocupacionais dos trabalhadores (PORCHER, 2010) e impactos
ambientais (PETIT; VAN DER WERF, 2003). Assim, os produtores estão cada vez mais
preocupados com a imagem negativa da indústria junto ao público em geral (PETIT; VAN
DER WERF, 2003), que pode impactar o moral de seus trabalhadores.
Vistos os estudos, o Quadro 4 apresenta um resumo dos principais impactos e itens de
relevância para análise do pilar social de sustentabilidade na suinocultura. Estes itens estão
separados de acordo com sua maior influência: comunidades ao redor (com marcadores C), ou
internamente nas próprias granjas (com marcadores G).
Quadro 4 - Quadro Resumo de Itens de Relevância para Dimensão Social na Suinocultura
Itens de Relevância
Social Descrição Autores
Impactos sobre as comunidades ao redor
[C1] Percepção da
comunidade sobre as
granjas
Se refere à percepção das comunidades ao redor. Se as
granjas são vistas como um ativo ou um malefício local.
(CASAGRANDE, 2006;
PETIT; VAN DER
WERF, 2003)
[C2] Emissão de odores Os odores gerados pelas criações de suínos podem se
propagar e atingir as comunidades do entorno, gerando
incômodo.
(PETIT; VAN DER
WERF, 2003;
PORCHER, 2010)
[C3] Investimento em
inovação
Se refere ao investimento em inovação colocado nas
granjas, seja em inovações tecnológicas, de manejo ou de
gestão.
(GOMES et al., 2014)
[C4] Enriquecimento do
trabalho no campo
O enriquecimento do trabalho é relativo ao aumento da
complexidade das funções, que podem ganhar maior
responsabilidade e necessitar de requisitos técnicos mais
elevados para preenchimento das vagas.
(GOMES et al., 2014)
[C5] Geração de
emprego, renda e
retenção nas áreas rurais
Se refere a oferta de empregos, aos níveis salariais e a
intenção de permanecer no emprego e no campo dos
trabalhadores da suinocultura.
(CASAGRANDE, 2006;
COLEMAN et al., 2000;
GOMES et al., 2014)
23
2.2. BEM-ESTAR ANIMAL (BEA)
A relevância do tema de bem-estar animal para animais de produção é colocada por
Broom e Molento (2004), que ressaltam que no mundo há mais animais de produção do que
animais domésticos. Assim, considerando a gravidade do problema e o número de animais
afetados, os ferimentos nas patas dos frangos de corte e galinhas poedeiras ocupam o primeiro
lugar na lista de severidade, seguidos pelo confinamento de matrizes suínas em gaiolas
(BROOM; MOLENTO, 2004).
Para melhor explicação a respeito do tema, o segundo bloco da revisão de literatura está
dividido em dois tópicos: o primeiro relativo à definição geral e o segundo relacionado aos
métodos propostos para mensuração do nível de bem-estar animal.
2.2.1. Definição de Bem-Estar Animal
O bem-estar de um individuo é seu estado e seu esforço em relação às tentativas de lidar
com o ambiente (BROOM, 1991). Um ambiente ruim requer muito esforço para que seja
suportado – gerando um bem-estar muito pobre; um ambiente bom, requer praticamente
nenhum esforço, gerando um elevado bem-estar. Entre estes extremos há um contínuo de
possíveis estados (BROOM, 1988). De maneira mais específica, quando um animal tem uma
necessidade, há uma reação comportamental ou fisiológica para que esta necessidade seja
sanada. Estas respostas buscam manter a estabilidade do animal e podem ser bem sucedidas
Impactos internos as granjas
[G1] Relação afetiva
com os animais e
estresse
Percepção dos empregados sobre os animais e sobre o
trabalho com animais.
(COLEMAN et al.,
2000; PORCHER, 2010)
[G2] Treinamento e
desenvolvimento de
pessoas
Se refere aos treinamentos e capacitações necessários
não somente para realização do manejo, mas também que
propiciem um entendimento mais amplo dos
trabalhadores sobre a suinocultura.
(CASAGRANDE, 2006;
COLEMAN et al., 2000;
GOMES et al., 2014)
[G3] Eficiência no
manejo
Facilidade no manejo dos animais no sistema de
produção utilizado.
(COLEMAN et al.,
2000)
[G4] Desgaste físico Esforço físico necessário para realização do trabalho –
não considerando lesões ou doenças decorrentes do
trabalho.
(PORCHER, 2010)
[G5] Saúde e segurança
do trabalhador
Acidentes e doenças decorrentes do trabalho – como
lesões por esforço repetitivo e doenças respiratórias dada
a exposição a gases.
(CASAGRANDE, 2006;
COLEMAN et al., 2000;
GOMES et al., 2014;
PORCHER, 2010)
[G6] Satisfação e
engajamento no trabalho
Grau de engajamento dos empregados com o trabalho e
perspectivas de crescimento.
(COLEMAN et al.,
2000; COLEMAN;
BOW, 2014)
[G7] Imagem do setor Se refere aos impactos que os ataques e críticas ao a
suinicultura podem ter sobre seus trabalhadores – em
termos de percepção sobre os animais, satisfação e
engajamento.
(CASAGRANDE, 2006;
COLEMAN; BOW,
2014; PETIT; VAN
DER WERF, 2003;
PORCHER, 2010)
24
facilmente, com grande dificuldade ou não gerarem o resultado esperado. O bem estar do
animal, então, é claramente afetado pela falha ou dificuldade em lidar com as respostas
necessárias ao ambiente (BROOM, 1991).
Tendo o esforço como o que caracteriza o bem-estar, uma observação interessante pode
ser feita em relação aos ambientes naturais. Nem sempre eles geram as melhores condições de
bem-estar, dado que podem existir problemas maiores, como predação, condições físicas
extremas e doenças. O bem-estar de animais de cativeiro pode ser elevado, mas deve ser
baseado nas medidas corretas e não em ideias pré-concebidas sobre ambientes que achamos
que acolherão bem os animais (BROOM, 1988).
Ainda, é importante diferenciar o bem-estar de sofrimento. O sofrimento se refere aos
sentimentos subjetivos do animal e frequentemente acontece junto com um estado de bem-
estar ruim, contudo, o bem-estar é um termo mais amplo. O bem-estar pode ser pobre na
ausência de sofrimento, durante o sono do animal – por exemplo – quando a experiência
subjetiva do sofrimento cessa. Além disso, não é desejável cientificamente que o bem-estar
animal seja definido em termos de experiências subjetivas (BROOM, 1991).
Assim, cientificamente, algumas medidas objetivas de bem-estar são: indicadores
fisiológicos de prazer; indicadores comportamentais de prazer; extensão com a qual
comportamentos preferidos são mostrados; variedade de comportamentos normais mostrados
ou suprimidos; grau de normalidade dos processos fisiológicos e anatômicos; aversão a
comportamentos; tentativas fisiológicas de adaptação ao ambiente; imunossupressão;
prevalência de doenças; tentativas comportamentais de adaptação ao ambiente; patologias
comportamentais; alterações cerebrais; prevalência de mudanças no corpo; habilidades de
crescer e reproduzir; expectativa de vida (BROOM, 2011).
Como exemplos relacionados ao bem-estar animal na produção de suínos podemos citar
a apatia e as estereotipias. Matrizes suínas com maior bem-estar são mais responsivas e notam
mais o ambiente e as mudanças em sua volta, enquanto matrizes em gaiolas são mais apáticas.
O comportamento estereotipado, ou estereotipia, também é uma resposta comportamental das
matrizes confinadas. A estereotipia é uma sequência repetitiva de movimentos que acontece
tão frequentemente em um dado contexto que não pode ser considerada como parte do
funcionamento normal do organismo do animal. Algumas estereotipias comuns em suínos são
a mordedura de barras, o acionamento dos bebedouros sem beber, balançar a cabeça e a
mastigação simulada – quando é feita a ação de mastigar sem nenhum alimento na boca.
(BROOM, 1988)
25
Broom (1991) lista, então, algumas implicações da definição de bem-estar: (1) o bem
estar é uma característica do animal e não algo que se provê; (2) o bem estar pode variar em
um contínuo de muito bom a muito ruim; (3) o bem estar pode ser medido de maneira
científica independente de considerações morais; (4) medidas de falha ou dificuldade em lidar
com o ambiente são medidas de bem-estar pobre; (5) o conhecimento das preferências do
animal dá informações sobre as condições que lhe geram bem estar; (6) os animais podem
usar uma variedade de métodos para lidar com o ambiente.
Em linha com este raciocínio, o Farm Animal Welfare Committee, do governo do Reino
Unido, coloca que o bem-estar dos animais engloba seu estado físico (saúde) e mental
(sensação) e deve ser considerado em termo das Cinco Liberdades (FAWC, 2011). Estas
liberdades, criadas em 1965 com o Relatório Brabell, representam os estados ideais a serem
atingidos – e não padrões mínimos aceitáveis.
São elas: (1) liberdade de fome e de sede: acesso à água fresca e a uma dieta saudável;
(2) liberdade de desconforto: ambiente adequado com abrigo e lugar para descanso; (3)
liberdade de dor, ferimentos ou doenças: prevenção ou tratamento rápido; (4) liberdade para
expressar o comportamento normal: com a provimento de espaço e acomodações adequados e
a companhia de animais da mesma espécie; (5) liberdade de medo e estresse: garantindo
condições e tratamento que não gerem sofrimento mental (FAWC, 2011)
A definição de padrões mínimos aceitáveis de bem-estar animal, por sua vez, é uma
decisão moral a ser tomada. Contudo, esta decisão de meta não influencia a medida; a
avaliação do nível de bem-estar é científica, o quanto se aceita é moral (BROOM, 1988).
Caso um animal seja morto por um tiro repentinamente, sem dor e de maneira
instantânea, há uma questão moral sobre esta morte, mas não uma questão de bem estar – pois
não houve o emprego de esforço para lidar com o ambiente. Da mesma maneira, pode-se criar
um animal com bem-estar até a hora do seu abate para que vire alimento (BROOM, 1988).
2.2.2. Métodos para Aferição do Nível de Bem-Estar Animal
Broom e Molento (2004) ressaltam que uma avaliação de bem-estar deve ser realizada de
forma completamente separada de questões éticas, apesar de prover informações para que
decisões éticas sejam tomadas em relação à situação avaliada. Além disto, diversas medidas
devem ser consideradas, e não apenas uma medida individual (BROOM, 1988). Definindo de
maneira mais precisa, existem quatro etapas em estudos relacionados a animais de produção.
A primeira etapa envolve considerações éticas e envolve a verificação de que existe um
problema. A segunda e a terceira etapas, envolvem a coleta e a análise dos dados de bem estar
26
animal – elas devem ser o mais científicas e objetivas possíveis. Por fim, o último passo
envolve a apresentação dos resultados e tomadas de decisão – que podem ser carregadas de
questões éticas (BROOM; MOLENTO, 2004).
Um exemplo para método científico de mensuração de bem-estar animal é o Protocolo
para Avaliação da Qualidade de Vida de Suínos, desenvolvido pelo Welfare Quality
Consortium (2009) – que conta com a participação de quarenta instituições europeias e quatro
latino-americanas. O método busca padronizar a avaliação, gerando uma pontuação final
global a partir de medidas majoritariamente aferidas do animal. Sua aplicação pode ser feita
para matrizes suínas, para leitões em crescimento e na fase de terminação.
O protocolo se organiza de maneira encadeada, sendo a avaliação final baseada em
quatro princípios, desdobrados em doze critérios, aferidos em aproximadamente trinta
medidas. As medidas são interpretadas e sintetizadas para produzirem a pontuação do critério,
que pode variar em uma escala de zero a cem. Sendo zero a pior situação possível, cinquenta
uma situação neutra, e cem a melhor situação – quando não é mais possível melhorar o bem-
estar.
Para avaliação de matrizes e leitões, por exemplo, o protocolo mostrado no Quadro 5 é
proposto:
Quadro 5 - Protocolo para Avaliação de Bem-Estar de Matrizes e Leitões
Critérios de Bem-Estar Medidas
Boa Alimentação 1
Ausência de
fome prolongada
Matrizes: Pontuação de condição do corpo
Leitões: Idade do desmame
2 Ausência de
sede prolongada
Matrizes e leitões: Suprimento de água
Bom Alojamento 3
Conforto para
descanso
Matrizes: Bursite, feridas nos ombros
Matrizes e leitões: Ausência de estrume no corpo
4 Conforto
térmico
Matrizes e leitões: Estado ofegante, amontoamento
5 Facilidade de
movimentação
Matrizes: Existência de espaço, uso de gaiolas
Boa Saúde 6
Ausência de
ferimentos
Matrizes e leitões: Manqueira
Matrizes: Feridas no corpo, lesões na vulva
7
Ausência de
doenças
Matrizes e leitões: Mortalidade, tosse, espirro, respiração
pesada, prolapso retal, diarreia
Matrizes: Constipação, metrite, mastite, prolapso uterino,
condições da pele, rupturas e hérnias, infeções locais
Leitões: Desordem neurológica, abertura de pernas
8
Ausência de dor
produzida pelo
manejo
Matrizes: Colocação de brincos no nariz, corte de rabo
Leitões: Castração, corte de rabo, e aparamento de dentes
Comportamento
Apropriado 9
Expressão dos
comportamentos
sociais
Matrizes: Comportamento social
10 Expressão de Matrizes: Estereotipias, comportamento exploratório
27
outros
comportamentos
11 Boa relação
homem animal
Matrizes: Medo de humanos
12
Estado
emocional
positivo
Matrizes e leitões: Avaliação comportamental qualitativa
Fonte: Adaptado de Welfare Quality Consortium (2009)
Cada medida proposta traz detalhada uma descrição de método para sua pontuação e
classificação exata. Por exemplo, para classificação do estado ofegante, delimita-se que
matrizes com uma taxa acima de vinte e oito respirações por minuto podem ser consideradas
ofegantes. São utilizados, então, critérios pré-definidos de conversão das medidas para
pontuações.
As pesquisas científica sobre bem estar animal culminaram, então, no lançamento dos
dez Princípios Gerais para o Bem-Estar de Animais em Sistemas de Produção pela
Organização Mundial da Saúde Animal – OIE. Estes princípios, que podem ser vistos no
Anexo I, focam o animal como primeira preocupação, sendo as melhorias na produtividade e
eficiência benefícios correlacionados, e servem de base para a criação de padrões específicos
para pecuária de diversas espécies de animais (FRASER et al., 2013).
Por fim, para uma avaliação das perspectivas futuras a respeito do bem-estar animal,
Frank (2007) testou a possibilidade da existência de uma Curva de Kuznets relacionada o
tema. Desta maneira, haveria uma expectativa de que o bem-estar geral dos animais fosse
reduzido em um primeiro momento de crescimento econômico, mas que aumentasse após um
ponto de saturação – retornando ao patamar inicial, mas com evolução econômica alta – como
visto na Figura 2.
Figura 2 - Curva de Kuznets Teórica para o Bem-Estar Animal
Fonte: Adaptado de Frank (2007)
O conceito testado por Frank (2007) se apoia sobre a ideia de que, em algum momento, o
crescimento econômico se apoiará ou será acompanhado de melhorias no bem-estar dos
Danos aos
Animais
Crescimento Econômico
Curva de Kuznets
para o BEA
28
animais. O que vai contra ideologias tradicionais de que o capitalismo estaria inevitavelmente
amarrado a exploração de animais em larga escala.
A hipótese de Frank (2007) considera, também, animais de laboratório e de estimação.
Contudo, com foco na agropecuária, a piora no nível de bem-estar animal teria ocorrido
incialmente com o uso de animais para transporte e força no campo e teria sido agravada pela
criação das técnicas intensivas de pecuária. Uma melhoria esperada, contudo, seria decorrente
do fato de que as preocupações altruístas quanto ao bem-estar animal podem ser consideradas
como algo que surge para rendas mais elevadas – o que, segundo o autor, estaria de acordo
com a teoria de hierarquia das necessidades de Maslow, que coloca as realizações altruístas
em níveis muito acima dos níveis básicos. O aumento da renda tende a permitir, ainda, que
mais organizações de proteção aos animais existam e façam mais pressão social (FRANK,
2007).
As evidências testadas são mistas e não podem garantir a existência de uma Curva de
Kuznets para o bem-estar animal. Entretanto, o aumento das legislações relativas ao tema, a
atual atenção da mídia para o assunto e a crescente abordagem da disciplina na academia
parecem ser positivamente relacionadas com a renda e sugerem que há pressão para que a
curva se concretize (FRANK, 2007).
2.3. FORÇAS DE MUDANÇA NA CADEIA DE PRODUÇÃO DE SUÍNOS
Na revisão de literatura, foram identificadas duas principais forças que atuam sobre a
cadeia de produção de suínos: o aumento do número de consumidores conscientes e o
surgimento de legislações que proíbem determinadas práticas de criação. É importante notar,
contudo, que ambas as forças são correlacionadas – sendo o surgimento das regulações uma
derivação legal dos desejos da população.
2.3.1. Consumo Consciente
A urbanização e as propagandas da mídia de massa fizerem com que os consumidores
formassem uma visão romântica dos sistemas de produção agrícola (KRYSTALLIS et al.,
2012), contudo a percepção de qualidade sobre os alimentos está mudando (BROOM, 2010).
Aos antigos fatores de análise para compra, como sabor, aparência, segurança e nutrição, se
adicionaram novos fatores como o bem-estar dos animais de produção, os impactos
ambientais, o pagamento justo aos produtores e a preservação das comunidades locais
(BROOM, 2010).
Glynn, Olynk e Wolf (2009) apontam que há um interesse crescente dos consumidores
em relação ao processo produtivo de seus alimentos e, com um olhar na produção de suínos,
29
especialmente a respeito do uso de gaiolas de gestação, dado que alguns grupos de
consumidores consideram crueldade esta prática que limita a mobilidade dos animais. Assim,
com o aumento da consciência dos consumidores, maior é a probabilidade de que eles
influenciem o mercado para uma compatibilidade com o que desejam – tanto na escolha do
produto, quanto da marca e dos canais de distribuição (SEBASTIANI; MONTAGNINI;
DALLI, 2012).
Esta influência já é vista em países desenvolvidos, onde os consumidores de carne estão
mais céticos quanto aos sistemas de produção e entendem o impacto da indústria no meio
ambiente, na saúde humana e no bem-estar animal. Como consequência disto, a demanda por
produtos feitos organicamente está aumentando e, em grandes cidades, novas redes de varejo
e seções especializadas nos supermercados estão começando a surgir (CHEMNITZ;
BECHAVA, 2014).
No Brasil, uma pesquisa realizada em 2006, 2010 e 2012 pelo Instituto Akatu com o
objetivo de verificar o comportamento sustentável dos consumidores mostrou que nos três
anos apenas 5% da população poderia ser classificada como consumidora consciente. É
interessante notar, também, que a pesquisa não identificou diferenças significativas para esta
proporção em segmentações geográficas e socioeconômicas – apesar da ligeira tendência de
maior adesão entre universitários das classes A, B, e pessoas acima de 45 anos (MATTAR,
2013).
Outra pergunta da mesma pesquisa, ainda, pode ser de grande relevância para o setor de
produtores de carnes. Os consumidores foram questionados sobre os critérios que consideram
mais importantes para desempate na compra entre produtos com os mesmos preço e
qualidade. O critério com o maior grau de importância atribuído foi a ausência de maus tratos
u p u b c 5 % “Mu I p ” 35%
“I p ” E u p c c é b c c u
proteção ambiental, empresa comprometida com redução do consumo de energia e selo de
garantia de boas condições de trabalho (MATTAR, 2013).
Olhando para o Brasil, China e União Europeia, Krystallis et al. (2012) avaliaram se as
atitudes dos consumidores para com a sustentabilidade em geral se refletia em sua atitude para
com os sistemas de produção de suínos. Os autores encontraram que apenas em pequenos
grupos sociais específicos esta paridade é verdadeira e que os consumidores mais regulares de
carne suína são também os mais indiferentes aos modelos de produção. Assim, o consumo de
carne é reduzido conforme os consumidores se caracterizam como mais sustentáveis e
apoiadores de fazendas de pequeno porte e bem-estar animal (KRYSTALLIS et al., 2012).
30
É interessante notar, ainda, que nos três locais pesquisados foram encontradas diferenças.
No Brasil e na União Europeia, fatores como o alojamento dos suínos e esforços para redução
de impacto ambiental geraram maior influência na opinião dos entrevistados. Na China, dado
que a maior parte da produção se dá em pequenas fazendas familiares, a questão de segurança
do alimento ganhou destaque (KRYSTALLIS et al., 2012). Vale lembrar, então, que o
consumidor ético não deixa de considerar critérios como preço e qualidade, mas adiciona
outros critérios ao processo decisório. São motivos que podem ser políticos, religiosos,
espirituais, sociais, relacionados ao meio ambiente, entre outros – ele se preocupa com o
efeito que a compra tem sobre o mundo em que vive (HARRISON ET AL., 2005 apud DE
SOUZA, 2011).
Entretanto, ap p u c “é c ” c c
diversos autores identificaram que os consumidores frequentemente não agem como declaram
– o que é caracterizado como uma falha atitude-comportamento (SEBASTIANI;
MONTAGNINI; DALLI, 2012). O pensamento dos consumidores dos suínos em relação aos
sistemas de produção, por exemplo, não parece influenciar sua decisão de compra
(KRYSTALLIS et al., 2012).
Sebastiani, Montagnini e Dalli (2012) ressaltam alguns atributos que impactam a falha
atitude-comportamento: os preços mais altos dos produtos, a potencial perda de qualidade, o
esforço adicional para selecionar estes produtos, a falta de informações sobre os atributos
éticos e a oferta limitada de produtos em revendas tradicionais. Assim, para os produtores, as
atitudes dos cidadãos podem ser mais importantes em termos de sua licença para trabalhar no
longo prazo do que em termos de venda de seus produtos no curto prazo. Isto pois, enquanto
as atitudes influenciam fracamente as decisões de compra, elas formam um debate que pode
ser relevante na alteração das políticas públicas (KRYSTALLIS et al., 2012).
A crescente onda de consumo consciente, contudo, gera também oportunidades. Como
colocado pelo projeto Q-Porkchains (2014b), as pessoas percebem a carne suína de duas
perspectivas diferentes: como cidadãos e como consumidores. Como cidadãos, elas notam os
diversos estágios envolvidos nos sistemas de produção – incluindo a criação, o abate e o
transporte. Elas, então, reagem a estes estágios baseadas em suas atitudes, experiências
pessoais e valores – e podem ter um desejo de participar do debate sobre a produção agrícola
e de alimentos (desejo de agir). Como consumidores, elas focam em critérios como qualidade
do produto, aspectos nutricionais, conveniência, variedade, entre outros. Contudo, a
propensão a pagar por um produto é influenciada pelas duas perspectivas – com os valores
pessoais influenciando a propensão a pagar.
31
Esta visão está em linha com o colocado por McInerney (2004), de que o bem-estar
animal possui algum valor econômico que independe do valor de uso do animal – esta parcela
se chama valor de existência. As pessoas contribuem financeiramente para causas das quais
não tirarão nenhum proveito apenas por saber que qu “ ” c x p
contribuições para salvar as baleias azuis (MCINERNEY, 2004). Na mesma lógica, a
propensão extra a pagar por produtos relacionados ao bem-estar animal ocorre por saber que a
criação foi feita da maneira apropriada. Desta forma, para os produtores, caso o custo das
melhorias possa ser compensando, há justificativa para aplicação de recursos (MCINERNEY,
2004).
Tully e Winer (2013) realizaram uma meta-análise de oitenta e três artigos para avaliar a
propensão a pagar por produtos socialmente responsáveis, que incluem produtos de limpeza
seguros, café de comércio justo e frutos dos mar sustentáveis. Os autores encontraram que,
em média, 60% dos consumidores estão dispostos a pagar um prêmio por produtos
sustentáveis, com este prêmio tendo uma média de 17,3%. Também, a disposição a pagar
variava de acordo com os atributos do produto. Atributos que beneficiam humanos (e.g.
práticas trabalhistas) receberam prêmios mais elevados do que os que beneficiam os animais
(e.g. gaiolas maiores) e o meio ambiente.
A propensão a pagar por produtos socialmente responsáveis se altera, também, de acordo
com a localidade do comprador e a origem do produto. Europeus e australianos têm uma
propensão a pagar por produtos socialmente responsáveis maior do que norte-americanos, e
significativamente maior do que sul-americanos e asiáticos (TULLY; WINER, 2013). E
Glynn, Olynk e Wolf (2009), ao estudarem a propensão a pagar dos consumidores por suínos
produzidos em modelos sem gaiolas de gestação encontraram uma evidência interessante. Os
autores avaliaram se esta propensão se alterava, também, de acordo com a origem da carne.
Para a pesquisa realizada em Michigan, os consumidores declararam uma propensão a pagar
maior para carne canadense, seguida da americana, e colocaram o maior desconto sobre a
carne brasileira.
As oportunidades que surgem com o aumento do consumo consciente, todavia, não se
restringem à maior propensão a pagar. Sebastiani, Montagnini e Dalli (2012) olharam o
consumo ético e seu impacto na indústria de alimentos e colocam que a demanda e a oferta de
produtos sustentáveis podem interagir para criar novos modelos de negócio desde a
idealização – transpassando a perspectiva tradicional de reação a demanda. Os autores citam o
exemplo do supermercado gourmet Eataly, que nasceu a partir de uma parceria entre o setor
32
privado e o movimento social Slow Food – que tem como bandeira o consumo de alimentos
bons, limpos e justos.
Nilsson, Tunçer e Thidell, (2004), por sua vez, veem oportunidades no uso dos selos de
certificação, que além de gerarem expectativas de um prêmio maior (NILSSON; TUNÇER;
THIDELL, 2004; TULLY; WINER, 2013), também criam vantagem competitiva e
diferenciação dos outros produtos no mercado (NILSSON; TUNÇER; THIDELL, 2004).
Alguns exemplos de selos de certificação são:
O Label Rouge3 que assegura determinados padrões de qualidade e características de
produção, foi estabelecido em lei, na França, no ano de 2006 pelo Ministério de
Agricultura do país. Uma diversa gama de produtos pode receber o selo, tal como
farinhas e pães, aves, laticínios, frutas e legumes, carnes e charutaria, e até mesmo
produtos elaborados – como raviólis, pizzas e mousses de chocolate. Para carnes, são
colocadas exigências de produção, de transporte, de abate e de comercialização.
O selo Freedom Food4, do Reino Unido, tem foco mais específico e se propõe a
assegurar o bem-estar animal de acordo com os padrões da Sociedade Real de Prevenção
à Crueldade contra Animais (RSPCA – sigla em inglês). As especificações se referem à
alimentação, disponibilidade de água, ambiente, manejo, saúde, transporte e abate
hu N R U McD ’ j c c uína com
certificação Freedom Food.
No Brasil, o selo Produto Orgânico Brasil5 garante que o bem atende a todas as
especificações colocadas pela certificadora privada nacional IBD. O selo pode ser
aplicado na agricultura, pecuária, aquicultura, cosméticos, vinhos e produtos processados
e de limpeza.
Vistos alguns exemplo de selos, Nilsson, Tunçer e Thidell (2004) sugerem que a grande
gama de certificações existentes no mercado, contudo, gera dúvida sobre sua confiabilidade.
Assim, os autores avaliaram a cred b “ c - ” c f c c
base em uma pesquisa de 58 selos.
Eles afirmam que os atributos que adicionam valor e dão credibilidade aos selos são
relacionados à estrutura de governança/controle do selo, ao diálogo da organização
responsável com stakeholders para criar critérios aceitos por todos, aos critérios de garantia de
3 Label Rouge: http://www.labelrouge.fr - Acesso em 03/04/2015
4 Freedom Food: http://www.freedomfood.co.uk - Acesso em 03/04/2015
5 Produto Orgânico Brasil: http://ibd.com.br/pt/IbdOrganico.aspx - Acesso em 03/04/2015
33
qualidade, à rastreabilidade da qualidade e do produto, à penetração no mercado, e à
transparência (NILSSON; TUNÇER; THIDELL, 2004). Contudo, apesar dos diferentes
esquemas existentes no mercado, as tentativas parecem não atingir seus objetivos – pois
pequenos grupos de consumidores ficam satisfeitos com alguns selos, mas a maior parte deles
não dá credibilidade quanto à qualidade do produto. Assim, Nilsson, Tunçer e Thidell (2004)
concluem que isto ocorre principalmente dada a falta de objetivos e valores claros, a falta de
terceiros que ajudem a definir critérios e garantam o compliance e a falta de uma cobertura
mais extensa que certifique os diversos atores da cadeia de suprimentos do alimento.
De Souza (2011) lembra que estes selos ainda são raros no Brasil e complementa
afirmando que eles surgem como uma antecipação para atender as demandas dos
consumidores em relação às questões regulatórias. Utilizados como canal de comunicação e
informação com os consumidores, os selos (ou value based labels) possibilitam, de inicio, a
segmentação do mercado e, ao longo do tempo, a mudança de condutas coletivas e processos
produtivos.
Glynn, Olynk e Wolf (2009), por sua vez, se contrapõem a De Souza (2011), tomando os
selos de certificação não como antecipações de legislações, mas como substitutos que
garantiriam um maior bem-estar dos consumidores pela permanência do poder de escolha.
Para os autores, a imposição de legislações que proíbam os métodos de criação – como as
gaiolas de gestação em suínos – restringem a escolha de uma população inteira e há dúvidas
sobre o desejo popular de tais regulações, sendo, assim, um sistema de certificação voluntária
mais adequado.
2.3.2. Legislações de Bem-Estar Animal
A segunda força que impacta na cadeia de produção de suínos, legislações e
regulamentações de bem-estar animal, já é uma realidade ao redor do mundo. Ao contrário de
Lawrence e Stott (2009), que acreditam que as iniciativas de mercado podem superar as leis
no incentivo ao desenvolvimento do bem-estar animal, Bennett, Kehlbacher e Balcombe
(2012) e Raineri et al. (2010) consideram que as intervenções do governo são importantes e
necessárias, pois os maus tratos aos animais são, na realidade, uma externalidade negativa
decorrente do uso de animais para fins econômicos. Assim, o bem-estar é um bem-público,
não é um bem de mercado; mesmo que alguns produtos tenham este atributo, ele não é
totalmente traduzível ao mercado.
34
Hoje, a União Europeia lidera a criação destas normas e serve como referência, tendo
vigentes cinco diretivas e duas regulamentações sobre bem-estar animal – como visto no
Quadro 6.
Quadro 6 - Legislações Europeias de Bem-Estar Animal
Regulamentações:
Foco Principais Impactos
Diretiva 98/58/EC:
Todos os animais de
produção
- Define os atores e animais sob as legislações de proteção.
- Define responsabilidades dos Estados e produtores sobre o bem-
estar animal
- Coloca recomendações gerais de BEA que regem sobre todos os
animais de produção
Diretiva 1999/74/EC:
Galinhas poedeiras
- Forçou os produtores a gradativamente abandonarem as gaiolas
de bateria tradicionais e sem enriquecimento
Diretiva 2008/119/EC:
Bezerros
- Proibiu as baias individuais, a amarração e manutenção no escuro
- Exige uma alimentação balanceada com ferro e fibras
Diretiva 2008/120/EC:
Suínos
- Proibiu, a partir de janeiro de 2013, a gestação em gaiolas
individuais
- Define o espaço mínimo por animal
- Exige a colocação de materiais para fuçar e enriquecimento
- Busca o fim voluntário da castração de suínos até 2018
Diretiva 2007/43/EC:
Frangos
- Define a densidade máxima específica para criações e exige
cursos de treinamento para produtores e manejadores.
Regulamentação 1/2005:
Transporte de animais
- Rege sobre requisitos de competência de quem transporta
- Regula a aprovação dos veículos
- Define intervalos de descanso em jornadas longas
- Coloca métodos e práticas que devem ser seguidos
Regulamentação 1099/2009:
Abate
- Define os procedimentos de operação a serem seguidos
- Dá as competências necessárias para realizar os procedimentos
- Há ainda um trabalho em andamento para garantir status de
equivalência para as carnes importadas pela União Europeia – o
que pode vir a afetar os produtores brasileiros.
Fonte: Adaptado de Dalla Villa (2013)
Muitas legislações relacionadas à produção de animais foram criadas por pressão popular
em votações, mas têm impactos que ultrapassam as fronteiras (BROOM, 2010), dado que
podem alterar a posição competitiva da indústria local no comércio internacional
(MAJEWSKI et al., 2012). Na Europa, os produtores apontam que as melhorias no bem-estar
dos animais podem gerar custos que não incorrem sobre seus concorrentes – e pressionam
para que as mesmas exigências sejam feitas para todos os que fornecem àquele mercado
(MOLENTO, 2005). Como exemplo, podemos citar a produção de vitelo, que quando foi
banida no Reino Unido, ainda permitia que os consumidores comprassem o mesmo tipo de
carne importada da Europa Continental. Assim, se desfavoreceu a indústria local sem
35
necessariamente reduzir o número de bezerros submetidos ao sistema de produção de vitelo
(MOLENTO, 2005).
A influência sobre o Brasil ficou evidente em fevereiro de 2013, quando foi assinado um
Acordo de Cooperação entre a União Europeia e o Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA) para estabelecer um intercâmbio regular de cooperação técnica para
o bem-estar de animais de produção. Assim, se busca o diálogo para troca de informações
técnico-científicas, a facilitação de futuras negociações sobre questões de BEA, a discussão
de impactos mútuos no comércio, e a coordenação de atividades e projetos (DALLA VILLA,
2013).
É interessante, ainda, notar que há menção à importação de alimentos na Diretiva
2008/120/EC da União Europeia, referente aos padrões para a criação de suínos. O Artigo 9
do documento coloca que a importação de animais para a Comunidade Europeia deve estar
sujeita a certificados emitidos por órgãos do país de origem, assegurando um tratamento aos
animais no mínimo equivalente ao imposto pela Diretiva (THE COUNCIL OF THE
EUROPEAN UNION, 2009).
Apesar do movimento em busca de acordos com a União Europeia e das possíveis
ameaças à importação, as legislações no Brasil ainda são mais brandas. A primeira legislação
brasileira relativa a animais foi o Decreto No 24.654 de 10 de Julho de 1934 – que definiu
como punição multa e prisão para aquele que realizar maus-tratos contra os animais. O
Decreto, que não está mais em vigor, lista trinta e um itens que são considerados maus-tratos
aos animais como, por exemplo, mantê-los em locais que lhes impeça o movimento ou fazer
um animal trabalhar por mais de seis horas sem descanso (BRASIL, 1934).
A Instrução Normativa No 56 de Novembro de 2008, do Ministério da Agricultura
Pecuária e Abastecimento (MAPA), estabelece procedimentos gerais de boas práticas de bem-
estar para animais de produção e de interesse econômico – o que abrange também aqueles
utilizados para esporte e trabalho. Contudo, somente é colocado que deve haver cautela no
manejo, com respeito aos animais, tratamento e dietas satisfatórias na criação e no transporte.
Não há recomendações explicitas, como nas diretivas europeias, tais como metragem exigida
(BRASIL, 2008).
Também do MAPA, a Instrução Normativa No 46 de Outubro de 2011, por sua vez,
estabelece um regulamento técnico para sistemas de produção animais e vegetais orgânicos.
Este documento traz normas técnicas claras para produção de bovinos, caprinos, suínos, aves,
entre outros animais. Como requisito para a produção de orgânicos, a Seção III da Instrução
Normativa se destina apenas à discussão do bem-estar animal – exigindo que sejam
36
respeitadas as cinco liberdades: nutricional (hunger), sanitária (desease), psicológica
(distress), ambiental (movement), e comportamento (behave naturally). Para suínos
especificamente, há a exigência de que seja oferecida uma cama com material manipulável,
como palha ou serragem, não sendo permitido o uso de piso ripado. Para orgânicos, ainda, o
Artigo 34 torna proibida a retenção permanente de animais em gaiolas, galpões, ou qualquer
outro método restritivo – devendo ser facultada aos animais a possibilidade de saída para área
externa por pelo menos seis horas no período diurno (BRASIL, 2011).
2.4. INTEGRAÇÃO DE SUSTENTABILIDADE, BEA E AVALIAÇÃO FINANCEIRA
A revisão de literatura aponta que a integração de sustentabilidade, bem-estar e avaliação
financeira ocorre majoritariamente por meio de dois canais: impactos em viabilidade técnica e
produtividade, e impactos diretos em valores monetários – como investimentos, custos e
alterações no preço – que podem atuar a favor ou contra os produtores. A maior propensão a
pagar dos consumidores, por exemplo, discutida no item 2.3.1 - Consumo Consciente, mostra
um possível aumento da lucratividade. Contudo, a ABIPECS aponta a inovação em bem-estar
animal como um fator que possivelmente aumentará os custos das granjas de suínos (NETO,
2012b).
Olhando a integração dos conceitos, Molento (2005) coloca que existe um conflito de
interesses entre o mínimo custo possível e a qualidade de vida dos animais. Na visão de
Gameiro (2007), esta tensão ocorre pois os sistemas de criação nos quais há maior bem-estar
animal geralmente se utilizam mais de fatores de produção escassos, como trabalho e recursos
naturais e consequentemente apresentam custos de produção mais elevados do que os
sistemas convencionais.
Por isso, os produtores de suínos são compreensivelmente relutantes em melhorar o bem-
estar animal, a não ser que o prêmio que eles extraiam exceda o aumento de custo incorrido
(SEIBERT; NORWOOD, 2011). Os sistemas com bem-estar animal para alojamento de
matrizes suínas na maternidade, por exemplo, na opinião de Guy et al. (2012) somente serão
adotados caso melhorem a lucratividade ou sejam neutros em custo para os fazendeiros – na
ausência de legislações. Lawrence e Stott (2009) se posicionam sobre esta mudança
reconhecendo o dilema, mas colocam que suas análises econômicas mostram que o impacto
na performance física e financeira não é tão diferente – e que assim, o sistema seria adotado.
Contudo, Christensen et al. (2012) colocam que há um limite para as melhorias feitas
pelos fazendeiros com base em oportunidades de mercado, sem exigências legais. Este limite
se dá por dois motivos principais: primeiramente, em dado momento, as melhorias de baixo
37
custo ou até mesmo lucrativas são todas implantadas – pois são as mais consensuais entre os
stakeholders – mas não são suficientes; em segundo lugar, o comércio internacional gera uma
competição que dificulta a implantação regional de uma melhoria custosa.
Assim, qualquer política designada para melhorar o bem-estar dos animais precisa de
uma avaliação econômica dos custos e benefícios associados (BENNETT; KEHLBACHER;
BALCOMBE, 2012) para que sejam implantados sistemas que atendam às necessidades de
bem-estar animal, que satisfaçam às expectativas do mercado e que mantenham a
sobrevivência econômica do produtor (WOOD, 2003).
Neste sentido, Gameiro (2007) sugere que sejam realizadas análises financeiras
tradicionais, como Taxa Interna de Retorno (TIR), payback, Valor Presente Líquido (VPL) e
Retorno sobre o Investimento (ROI) – complementadas por aspectos qualitativos do sistema.
Gomes et al. (2014) vão no mesmo sentido, sugerindo a avaliação de lucratividade da granja,
dos custos das instalações e dos sistemas de tratamento de dejetos. Por sua vez, Castellini et
al. (2012), sugerem que sejam utilizados três indicadores: lucro líquido por quilo, receita por
quilo e horas trabalhadas por cabeça de animal.
A importância da avaliação econômica dos custos e benefícios associados ao sistemas de
bem-estar animal fica evidente, também, com a pesquisa de Raineri et al. (2010). Os autores
compilaram setenta e um artigos brasileiros sobre bem-estar animal e verificaram que eles
abordam os seguintes temas: (i) comportamento do consumidor; (ii) viabilidade técnica e
econômica; (iii) regulamentação pública; (iv) políticas privadas de certificação.
Especificamente sobre suínos, foram identificados até 2010 treze artigos; sendo um relativo a
políticas públicas, cinco envolvendo abordagens diversas e sete relativos a viabilidade técnica
e/ou econômica.
Assim, torna-se pertinente investigar os dois canais que integram sustentabilidade, bem-
estar e avaliação financeira; olhando primeiramente os estudos relacionados a viabilidade
técnica e produtividade, e em seguida os referentes aos impactos majoritariamente
monetários. Por fim, algumas considerações serão adicionadas.
2.4.1. Estudos Relacionados à Viabilidade Técnica e Produtividade
Relacionado à viabilidade técnica e produtividade, Ludtke et al. (2012) e Ketchem e Rix
(2014) compararam os índices de produção de granjas de suínos que possuem modelos de
gestação convencional em gaiolas, contra granjas com gestação em baias coletivas e
alimentadores automáticos. O estudo de Ludtke et al. (2012) comparou duas granjas no Brasil,
38
e encontrou que os índices de produtividade por fêmea da granja com gestação coletiva se
mostraram iguais ou melhores, como visto na Tabela 1.
Tabela 1 - Comparação de Índices de Produtividade para Granjas Brasileiras
Variável Gestação em grupo de matrizes Gestação individual (gaiolas)
Aborto 0,961 ± 0,272 1,141 ± 0,207
Desmamados 12,077 ± 0,185 12,091 ± 0,174
Desmame/fêmea/ano 30,557 ± 0,243 29,591 ± 0,372
Mortes/desmame 7,639 ± 0,984 8,787 ± 0,263
Mumificados 2,706 ± 0,235 2,379 ± 0,168
Nascidos totais 14,726 ± 0,196 14, 598 ± 0,199
Natimortos 7,110 ± 0,378 6,947 ± 0,654
Partos/fêmea/ano 2,529 ± 0,023 2,477 ± 0,011
Peso/desmamados 6,243 ± 0,174 6,083 ± 0,055
Peso/nascidos/total 14,726 ± 0,196 14,596 ± 0,201
Repetição de cio 4,339 ± 0,851 4,500 ± 0,413
Taxa de parição 91,985 ± 1,056 91,604 ± 0,776
Fonte: Adaptado de Ludtke et al. (2012)
Ketchem e Rix (2014), por sua vez, encontraram resultados diferentes. Os autores
fizeram seus cálculos a partir de uma base de dados com informações de produtividade de
diversas granjas nos EUA – sendo utilizadas 565 fazendas com gestação convencional e 17
com gestação coletiva. Cabe a ressalva de que as fazendas com baias coletivas diferiam na
área disponível por animal, número de fêmeas por baia e número fêmeas por alimentador. Os
resultados principais estão resumidos na Tabela 2.
Tabela 2 - Comparativo de Produtividade entre Gaiolas e Baias com Alimentadores Eletrônicos
Nascidos Vivos /
Barrigada
Desmamados /
Barrigada
Leitões Desmamados
Ano / Fêmea
% Repetição
de Cio
Perda de Fêmea
por Morte
Gaiolas de Gestação (dados de 565 fazendas)
Máximo 14,47 13,31 33,63 24,0% 21,5%
Média 12,55 10,80 25,72 7,1% 7,5%
Mínimo 10,17 8,33 20,63 0,0% 1,5%
Baias Coletivas (dados de 17 fazendas)
Máximo 14,31 12,59 30,97 21,3% 10,6%
Média 12,37 10,15 24,08 7,1% 7,9%
Mínimo 10,07 8,87 21,07 1,5% 2,4% Fonte: Adaptado de Ketchem e Rix (2014)
Os índices de produtividade para a gestação em gaiolas se apresentam, na média, apenas
ligeiramente melhores, com exceção da repetição de cio. Vale destacar, contudo, a grande
variação nas taxas de produtividade entre e intra-modelos de granjas. Assim, a decisão sobre
39
qual modelo de granja adotar deve levar em consideração as diferenças de investimento e
qualquer variação de valor existente no produto final das granjas. (KETCHEM; RIX, 2014)
Outro estudo realizado por Ludtke e Dalla Costa (2007) tem foco na etapa de abate dos
suínos e olha a produtividade em termos da qualidade do produto. Segundo os autores, a
qualidade da carne a ser consumida é dependente do manejo no pré-abate e de fatores
estressantes (uso de bastões de choque, densidade no transporte) podem alterar o produto
resultando em perdas econômicas. O toucinho e o pernil, por exemplo, podem ter seu valor
reduzido até a quinta parte caso apresentem hematomas (CHEVILLON; LÊ JOSSEC 1996
apud LUDTKE; DALLA COSTA, 2007) e baixos índices de bem-estar podem resultar em
uma carne pálida mole e exsudativa.
Assim, Ludtke e Dalla Costa (2007) apontam as necessidades de melhoria do manejo e
de treinamento dos empregados, que vivem rotinas exaustivas perdendo a sensibilidade frente
ao comportamento do animal. O aumento dos custos aos produtores contudo, garante uma
possibilidade de exportação caso a Comunidade Europeia e outros países condicionem a
compra de produtos externos à aplicação de manejos diferenciados (LUDTKE; DALLA
COSTA, 2007).
2.4.2. Estudos Relacionados a Impactos Monetários e Preço
O segundo canal que integra os conceitos de bem-estar animal, sustentabilidade e
avaliação financeira é o impacto direto em itens monetário. Assim, para ilustrar este canal,
serão expostos seis estudos relacionados, mas com objetos diferentes.
O primeiro estudo, de McInerney (2004), afirma que o bem-estar pode ser elevado sem
aumento de custos em uma fase inicial, mas que não é surpresa nem inaceitável que um
aumento significativo venha em troca de algum custo econômico, dado que bens não podem
ser gerados sem algum uso adicional de recursos. A questão importante é o quão grandes são
os custos ou perdas de produtividade decorrentes da melhoria do bem-estar animal
(MCINERNEY, 2004).
McInerney (2004) coloca, então, que medir os custos das melhorias no nível de bem-
estar animal é algo que se faz de maneira direta. Primeiramente, deve-se fazer uma definição
clara do sistema de criação e dos recursos alterados para que os níveis de bem-estar sejam
atingidos; e, em segundo lugar, deve ser feita uma quantificação dos recursos utilizados e dos
resultados alterados – juntamente com uma avaliação econômico-financeira das mudanças.
Um efeito maior nos custos de produção pode ocorrer quando mudanças da legislação de
bem estar-animal impactam um sistema de produção inteiro, com a proibição de um método
40
ou práticas específicas que levam ao reajuste de como o rebanho é mantido. Estes são os
casos típicos nos quais grandes elementos de capital fixo precisam ser alterados, com
reinvestimentos ou custos de modificação (MCINERNEY, 2004). Alguns exemplos destes
impactos podem ser vistos no Quadro 7.
Quadro 7 - Melhorias de BEA e impactos no preço dos alimentos
Modificação Efeito estimado no
custo de produção (%)
Efeito em nível de varejo
Produto Alteração de preço (%)
Limitar transporte a 8
horas +3 Todas as carnes +1,44
Banir gaiolas para
matizes suínas gestantes +5
Carne suína
Embutidos
+1,9
+1,3
Banir confinamento de
frangos +30 Carne de frango +13,2
Banir gaiolas tipo
bateria +28 Ovos +17,9
Fonte: Adaptado de McInerney (2004)
Deve-se ter em mente, contudo, que o aumento dos custos de bem-estar animal impacta
somente a produção de matéria prima primária da cadeia de valor dos alimentos – e não todos
os estágios da cadeia. O cálculo do custo da melhoria para o consumidor, como visto na
última coluna do Quadro 7, requer uma análise mais complexa (MCINERNEY, 2004).
Um segundo estudo, conduzido por Majewski et al. (2012), apresenta uma análise de
custo-efetividade para avaliar as consequências financeiras de se elevar o nível de bem-estar
animal nas fazendas além das exigências públicas existentes na União Europeia. A
justificativa para a implantação de sistemas mais rígidos do que a legislação se baseia nas
diversas iniciativas privadas que regulam aspectos da criação de animais em fazenda,
transporte e abate. Estes padrões privados geralmente são mais rígidos do que as legislações
existentes (MAJEWSKI et al., 2012).
Foram avaliados três níveis diferentes de restrições: a base exigida pela legislação
europeia, uma restrição privada moderada com boa chance de adoção pelas fazendas e uma
restrição privada premium – similar às produções orgânicas – que seria aplicável a um número
restrito de pequenas fazendas (MAJEWSKI et al., 2012).
Assim, Majewski et al. (2012) construíram um modelo em planilha e colocam que há seis
áreas distintas nas quais melhorar o bem-estar animal pode resultar em melhoria das receitas
ou redução de custos (benefícios), ou ao contrário, pode gerar redução das receitas ou
aumento dos custos de produção: custos veterinários, de trabalho, mortalidade dos animais,
requerimento de alimentos, produtividade e necessidade de investimentos.
41
Os autores concluíram que o avanço do bem-estar além da legislação básica sempre gera
mais custos do que benefícios para os produtores – com o avanço para o modelo premium
sendo o mais custoso. Vale ressaltar, também, que os custos líquidos variam entre países –
dadas as alterações nos custos do trabalho, juros e preços de insumos. Países mais
desenvolvidos neste sentido se utilizam, também, de menos investimentos para se adequarem
a situação pretendida (MAJEWSKI et al., 2012).
Apesar do cálculo de Majewski et al. (2012) ter sido realizado também para vacas
leiteiras e gado de corte, os autores encontraram que a melhoria no bem-estar dos suínos é a
mais custosa a se fazer. Com um cenário que supõe 80% de adoção de avanço moderado e
20% de avanço premium, o aumento de preço gerado pode ser visto na Tabela 3.
Tabela 3 - Aumento de Preços nos Suínos pela Adoção de Padrões Acima da Legislação
Polônia Holanda Suécia Inglaterra Espanha Alemanha Macedônia Itália
18,39% 36,21% 21,85% 15,03% 30,46% 36,32% 15,47% 19,60%
Fonte: Adaptado de Majewski et al. (2012)
Leite et al. (2001), por sua vez, realizaram a avaliação econômica do Sistema Intensivo
de Suínos Criados ao Ar Livre (SISCAL), instalado na Paraná. A escolha por este tipo de
sistema se deu pois o aumento das exigências dos consumidores de carne suína vem
obrigando os produtores a mudarem seus sistemas de criação, contudo, a situação
socioeconômica exige que os novos sistemas reduzam os custos de produção, não demandem
altos investimentos e possibilitem a obtenção de bons índices de produtividade (LEITE et al.,
2001).
É interessante observar a metodologia utilizada por Leite et al. (2001). Inicialmente, os
autores fazem uma detalhada descrição do local de criação (com referência as construções,
equipamentos utilizados e fábrica de rações), das raças de matrizes e reprodutores
selecionados, assim como dos métodos de manejo. Leite et al. (2001), então, calcularam os
custos de implantação e produção do sistema. Os custos de implantação envolvem materiais
(instalação hidráulica, cerca elétrica, cabanas e abrigos, comedouros e fábrica de rações),
equipamentos (equipamentos da fábrica de rações), mão de obra e custo de pastagem. Os
custos de operação foram separados em custos fixos e custos variáveis. Nos custos fixos
foram considerados a depreciação de instalações e equipamentos, e os juros sobre capital
médio, capital reprodução e sobre animais em estoque. Nos custos variáveis, colocou-se
alimentação, mão de obra, produtos veterinários, transporte, energia e combustível,
manutenção e conservação e INSS.
42
É importante notar que o custo da terra não foi considerado – dado que a relevância se
encontra em comparar diferentes usos da terra em uma mesma área (LEITE et al., 2001). Por
fim, foram encontrados um custo de implantação de U$ 490,20 por matriz instalada e um
custo de produção de 0,62 U$/kg – considerados baixos, o que torna o sistema viável para
produção.
Seddon et al. (2013) trabalharam, em outro estudo, com a produção de suínos sem o uso
de gaiolas de parição na maternidade. Seu movimento prevê uma expansão da legislação da
União Europeia, que atualmente proíbe as gaiolas de gestação e que pode atingir as gaiolas de
maternidade. Desta forma, os autores buscam auxiliar os produtores, os formadores de
políticas públicas e outros stakeholders em momentos de decisão antes de investirem em
novos modelos de granja.
Para isto, Seddon et al. (2013) desenvolveram um modelo para simulação financeira que
estima o custo de produção de suínos em seis sistemas de produção diferentes: um modelo
convencional com maternidade em gaiola e cinco sistemas sem gaiola de parição. O modelo
está disponível online6 e sua utilização depende somente da entrada do tipo de acomodação
previsto (alojamento, piso, sistema de alimentação, etc.) e de dados de produtividade. Então,
com parâmetros pré-programados, são calculados os custo de produção de leitões de 8kg com
quatro semanas de idade.
Para construção do modelo, Seddon et al. (2013) fizeram uma pesquisa em fazendas do
Reino Unido com o objetivo de identificar os tipos de alojamento para matrizes na
maternidade existentes e em uso no mercado. Os custos de investimento foram avaliados de
acordo com cotações de diversas empresas especializadas na construção de fazendas, e os
custos de manutenção foram obtidos como um percentual do investimento em fazendas em
funcionamento. Por sua vez, custos unitários relacionados a alimentação, trabalho e
maquinário foram definidos utilizando um guia de custos para negócios. A validade do
modelo foi feita, por fim, pela comparação dos valores estimados por cálculo com as
performance reais de produtividade e financeira de fazendas existentes (SEDDON et al.,
2013).
Guy et al. (2012), trabalhando no mesmo tema, conduziram o quinto estudo apontado,
com o objetivo de comparar cinco sistemas de parição diferentes. Os itens financeiros
ressaltados pelos autores foram relativos a: forragem, tratamentos veterinários e
6 Modelo de Avaliação de Seddon et al. (2013): http://www.ncl.ac.uk/afrd/research/project/4378 - Acesso em:
12/07/2014
43
medicamentos, trabalho, utilidades, tratamento de dejetos, custos de construção e da terra, e
custos de alimentação – sendo este último o mais relevante.
Assim, considerando os investimentos, os custos de operação, as taxas de sobrevivência
dos leitões e facilidade de operação e gestão da fazenda, foram encontrados custos mais altos
para os sistemas sem gaiolas (GUY et al., 2012).
Por fim, no sexto estudo sugerido, Seibert e Norwood (2011) compararam quatro
sistemas de produção de suínos. O primeiro, mais utilizado, envolve o uso de gaiolas em todas
as etapas do processo. O segundo, traz a existência de pequenas baias na etapa de gestação. O
terceiro envolve um sistema de confinamento com ambiente enriquecido – com os suínos
soltos. E o último envolve a criação em pastagens abertas. Para melhor compreensão, vide a
Figura 3.
Figura 3 - Ilustração dos Sistemas de Produção Comparados
Fonte: Adaptado de Seibert e Norwood (2011)
Seibert e Norwood (2011) não apresentam uma lista detalhada de custos de produção a
serem considerados, sendo destacados apenas o investimento e os custos de trabalho e
alimentação. As estimativas totais de custo foram feitas das seguintes maneiras: para o
sistema de gaiolas de confinamento, os autores se utilizaram de orçamentos prontos – dado
44
que é o sistema mais adotado nos Estados Unidos. Para as baias, os autores estudaram os
custos de construção e conversão de sistemas de gaiolas com a manutenção dos galpões com
base em um software de orçamentação de granjas. Para o sistema de confinamento
enriquecido, o autor coletou informações de duas fazendas. E, por fim, para o último sistema,
foram utilizados custos amplamente disponíveis de produções orgânicas.
É importante ressaltar a diferença do modelo de baias avaliado por Seibert e Norwood
(2011) e os sistemas mais modernos que vem sendo adotados com alimentadores automáticos.
Os autores olharam um sistema com competição por alimento e, por isso, com grupos de no
máximo seis fêmeas, o que evitaria o excesso de lesões por brigas para formação de
hierarquia.
Os resultados de Seibert e Norwood (2011) mostram que em um cenário fictício, no qual
todos os suínos dos Estados Unidos fossem transferidos de gaiolas de gestação para baias
coletivas, os custos de transição seriam modestos. Assim, haveria um aumento de custos de
9% no nível das fazendas e de 2% no nível do varejo – caso tudo fosse repassado para o
consumidor. Em termos absolutos, isto representaria um aumento de US$ 0,0065 por onça de
carne. As migrações para os outros sistemas teriam custos aproximados elevados em 18% na
fazenda e 5% no varejo (SEIBERT; NORWOOD, 2011).
Seibert e Norwood (2011) fazem uma ressalva quanto às expectativas existentes sobre os
custos do bem-estar animal. Os autores colocam que o prêmio de preço para carnes com selos
de certificação encontradas hoje no mercado chegam a 200-300%, o que é incompatível com
os custos encontrados no estudo e apontam dois motivos para isto. O primeiro é referente às
margens colocadas pela cadeia, dado que estes alimentos têm sido vendidos em lojas
especializadas mais caras. Em segundo lugar, a distribuição eficiente de superlojas como o
Wal-Mart ainda não ganhou escala nos produtos do tipo. Assim, há aumento de custo não
relativo ao bem-estar animal que também está embutido no preço.
O Quadro 8 apresenta um resumo do canal de integração monetário entre bem-estar
animal, sustentabilidade e avaliação financeira.
Quadro 8 - Resumo dos Itens de Relevância para Sustentabilidade Econômica na Suinocultura
Estudo Método sugerido Itens monetários listados Autores
Efeito de melhorias
específicas de BEA
para diferentes
espécies no custo e
preço dos produtos
1) Definição do sistema de
criação
2) Listagem e quantificação
dos recursos alterados
3) Listagem e quantificação
dos outputs alterados
4) Avaliação econômico-
financeira das mudanças
--- (MCINERNEY
, 2004)
45
Nível de elevação
dos preços dos
produtos com
aumento dos
padrões de BEA
além da legislação
--- Seis áreas distintas a serem avaliadas:
Custos veterinários; Trabalho;
Mortalidade dos animais;
Produtividade; Alimentação;
Investimentos
(MAJEWSKI et
al., 2012)
Análise dos custos
de implantação e
de operação para
criação de suínos
ao ar livre
1) Descrição detalhada da
unidade, animais e manejo
2) Cálculo dos custos de
implantação e operação
Custos de implantação:
Materiais (instalação hidráulica, cerca
elétrica, cabanas e abrigos, comedouros
e fábrica de rações); Equipamentos
(equipamentos da fábrica de rações);
Mão de obra; Pastagem
Custos fixos de operação:
Depreciação de instalações e
equipamentos; Juros
Custos variáveis de operação:
Alimentação; Mão de obra; Produtos
veterinários; Transporte; Energia;
Combustível; Manutenção;
Conservação; INSS
(LEITE et al.,
2001)
Modelo para
cálculo do custo de
produção de suínos
com diferentes
sistemas de
maternidade
Para construção do modelo:
1) Pesquisa dos tipos de
alojamento utilizados no
mercado
2) Levantamento dos
investimentos com empresas
especializadas na construção
de granjas
3) Levantamento dos custos
de operação em guias de
negócio
4) Validação do modelo por
comparação dos resultados
com fazendas reais
O modelo está disponível online em:
http://www.ncl.ac.uk/afrd/research/proj
ect/4378
Último acesso em 3 de julho de 2014
Uma lista extensa e completa de itens
de relevância monetária pode ser
encontrada no Excel preparado pelos
autores.
(SEDDON et
al., 2013)
Cálculo de
diferença no custo
de criação de
suínos com
diferentes sistemas
de maternidade
---
Os seguintes itens são destacados:
Forragem; Tratamentos veterinários;
Medicamentos; Trabalho; Utilidades;
Tratamento de dejeto; Custos de
construção e da terra; Alimentação
(GUY et al.,
2012)
Comparação de
impactos nos
preços para quatro
sistemas de
produção de suínos
diferentes
--- São destacados apenas os seguintes
itens:
Investimento; Trabalho; Alimentação
* A lista completa de itens utilizados
foi solicitada por e-mail para os autores
(SEIBERT;
NORWOOD,
2011)
Apresentados estes estudos, duas ressalvas finais são importantes. A primeira, a respeito
da priorização de mudanças e existência de incentivos, e a segunda referente à presença do
bem-estar animal na pauta dos investidores.
Vistos os custos que podem ser incorridos no desenvolvimento do bem-estar animal, a
definição de prioridades destas melhorias é necessária pois os recursos existentes para isso
46
são escassos. Desta maneira, caso os stakeholders se movam em direções diferentes, pode
haver aplicação ineficiente destes recursos. Encarando o bem-estar animal como um bem, a
aplicação dos recursos deve ser priorizada em dois níveis diferentes: o primeiro relativo a
quanto de recursos deve ser aplicado à melhoria do bem-estar animal frente a outros bens e o
segundo – dentro de bem-estar animal, quais iniciativas merecem a aplicação de recursos
(CHRISTENSEN et al., 2012).
Os responsáveis pela gestão pública devem, então, ajustar os incentivos existentes para
que facilitem a execução das principais prioridades. Em mudanças de sistema nas quais há
uma situação ganha-ganha, não há necessidade de incentivos – como ocorre com a retirada de
suínos doentes para tratamento em outra área, o que reduziu a mortalidade dos animais.
Contudo, há investimentos para os quais os custos são incorridos pelo setor de suínos, mas os
benefícios são para os animais e para a população, então, devem ser dados incentivos que
façam valer a mudança interessante (CHRISTENSEN et al., 2012).
Por fim, cabe ressaltar que a discussão de bem-estar animal tem sido negligenciada no
tangente a investimentos socialmente e ambientalmente responsáveis – quando comparada a
pontos como mudanças climáticas ou direitos humanos (SULLIVAN; NGO; AMOS, 2012).
Sullivan, Ngo e Amos (2012) apontam que os filtros utilizados pelos fundos são muito
mais relacionados aos selos de segurança dos alimentos do que relativos a bem-estar animal e
que alguns motivos podem ser causadores desta atenção limitada: a percepção de que é uma
questão ética não relacionada ao negócio; o fato de somente afetar a indústria de alimentos;
falta de familiaridade dos investidores com o tema de bem-estar animal; falta de informação
pública sobre o assunto; uma percepção de que a população crescente exige práticas de
criações intensivas; falta de ferramentas para avaliação relativa de performance das empresas;
e a percepção de que práticas de bem-estar animal resultam em custos financeiros maiores
para as empresas (SULLIVAN; NGO; AMOS, 2012)
47
3. MÉTODO DE PESQUISA
O método utilizado na construção do modelo para comparação de granjas de suinocultura
será apresentado em quatro itens neste capítulo. O primeiro item mostra os diversos atores
envolvidos e os papéis que cumpriram no trabalho. O segundo apresenta a abordagem
utilizada para compreensão e tratamento do aspecto operacional da criação de suínos –
necessária para construção do modelo. O terceiro, então, descreve os métodos utilizados para
trabalhar cada uma das perspectivas de sustentabilidade consideradas – financeira, social e
ambiental. Por fim, são expostas as limitações do método.
3.1. ATORES ENVOLVIDOS NA PESQUISA
A criação de um modelo para avaliação de sustentabilidade em granjas de suinocultura
com considerações sobre bem-estar animal exige conhecimentos das áreas de administração,
veterinária e zootecnia. Desta maneira, este projeto só se tornou possível por estar inserido em
um ambiente de colaboração de diversos grupos de pesquisa e de uma unidade produtiva para
realização do estudo de caso. A interação entre as diversas instituições de pesquisa ocorreu
majoritariamente em reuniões realizadas por Skype e pela troca de arquivos via e-mail para
que fossem feitas as leituras, críticas, sugestões e validações. A interação com a Fazenda
Miunça, por sua vez, ocorreu em duas visitas a campo que serão descritas mais
detalhadamente no item 4.1 - Procedimento de Coleta e Tratamento de Dados, e pela troca de
arquivos e informações por e-mail.
Os atores envolvidos, seus papéis e responsabilidades serão descritos a seguir:
World Animal Protection (WAP)
A WAP é uma Organização Não Governamental (ONG) de proteção ao animais que
conta com uma linha da ação especializada na melhoraria do bem-estar dos animais de
produção. Além de idealizadora do projeto, a ONG foi responsável por formar o elo de
colaboração entre os diversos grupos de estudo envolvidos na pesquisa e por viabilizar a
entrada na Fazenda Miunça – essencial para realização do estudo de caso, construção e
validação do modelo.
Os profissionais da organização auxiliaram este trabalho com um amplo conhecimento
técnico em operações de criação de suínos, seus impactos, e sua relação com o bem-estar
animal. Este apoio foi essencial para o desenvolvimento e validação de determinadas etapas,
como o cálculo do número de gaiolas necessárias nas granjas.
48
Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ) – USP
Os pesquisadores da ESALQ contribuíram com conhecimentos técnicos a respeito da
criação de suínos, seus impactos e questões relacionadas ao bem-estar animal. Foi importante,
também, o acompanhamento feito por uma pesquisadora da ESALQ em ambas as visitas
realizadas para o estudo de caso, auxiliando na coleta de dados, no entendimento dos
processos produtivos e nas principais questões de bem-estar animal.
Instituto Federal de Brasília (IFB):
IFB contribuiu com conhecimento técnico a respeito dos métodos de produção de suínos,
seus impactos e bem-estar animal. Durante ambas as visitas a campo, uma pesquisadora do
instituto esteve presente e orientou a coleta de dados, assim como a realização de alguns
passos do trabalho. Esta pesquisadora desenvolveu um trabalho na Fazenda Miunça
relacionado à produtividade da gestação com cobre e solta em baias coletivas – que deu
origem a um dos cenários financeiros avaliados.
Fazenda Miunça
A Fazenda Miunça, localizada na Região de Planaltina, no Distrito Federal, teve um
papel de grande importância para realização desta dissertação. Como um dos expoentes da
mudança nos sistemas de criação de suínos no Brasil, seu proprietário permitiu livre acesso
aos dados financeiros e de produtividade da fazenda – viabilizando a realização de um estudo
de caso que apoiou o desenvolvimento e o teste do modelo em uma unidade produtiva real.
O estudo de caso está melhor descrito no item 4, mas cabe deixar explícito neste ponto
que a Fazenda Miunça tem duas instalações separadas de produção de suínos. A primeira, que
trataremos neste documento como Granja Miunça, é um modelo convencional de produção
industrial em gaiolas. A segunda, chamada de Granja ECO-BEA, é uma criação com gestação
em baias coletivas e alimentação individual automatizada.
3.2. COMPREENSÃO E TRATAMENTO DO ASPECTO OPERACIONAL
O primeiro passo para desenvolvimento desta dissertação foi um esforço para
compreensão dos processos de criação de suínos e das diferenças entre as práticas
convencional e em baias coletivas.
Inicialmente, os especialistas do grupo de pesquisa disponibilizaram diversos materiais
de leitura e vídeos. Estes materiais foram estudados e as dúvidas foram respondidas por
diversos integrantes do grupo de pesquisa. Ganharam destaque entre os materiais, o Manual
49
Brasileiro de Boas Práticas Agropecuárias na Produção de Suínos (ABCS; EMBRAPA,
2011), e a reportagem do programa de televisão Globo Rural7 realizada na Fazenda Miunça,
que explica ambos os modelos de criação de suínos. A construção do aspecto operacional foi
finalizada somente com a realização do estudo de caso – dado que durante as visitas à
Fazenda Miunça foram vistas as operações das granjas e as medidas de desempenho que são
acompanhadas pelos gestores.
Assim, como resultado, foram criados a representação gráfica dos processos e uma lista
final de indicadores de produtividade comumente acompanhados no setor. Ambos passaram
por um crivo dos gerentes da fazenda e dos especialistas do grupo de pesquisa.
3.3. ANÁLISE DAS TRÊS PERSPECTIVAS DE SUSTENTABILIDADE
O modelo proposto para avaliação de sustentabilidade em granjas de suinocultura se
apoia sobre três perspectivas: ambiental, social e financeira. Por serem perspectivas com
naturezas específicas, métodos diferentes foram utilizados para construção dos critérios que
avaliam cada uma individualmente. Contudo, em comum entre as três abordagens, pode ser
citada a especial atenção dada aos aspectos que podem diferenciar a sustentabilidade de
unidades produtivas em decorrência de alterações nos níveis de bem-estar animal.
3.3.1. Análise da Perspectiva Ambiental
A construção do pilar referente à avaliação do desempenho ambiental se apoiou apenas
sobre a revisão da literatura, que pode ser vista no item 2.1.1. Isto ocorreu por impossibilidade
técnica de se aferir os itens de impacto e por falta de informação durante a realização do
estudo de caso.
Assim, buscou-se, a partir dos artigos lidos, identificar os principais itens de relevância
ambiental no funcionamento das granjas de suínos, mas sem uma análise exaustiva e
detalhada a respeito destes impactos. Estes itens estão detalhados no Quadro 3 e englobam:
uso de água, uso de energia, uso da terra, contaminação da água, contaminação do ar e
contaminação da terra.
3.3.2. Análise da Perspectiva Social
A definição dos itens a serem avaliados na dimensão social das granjas de suínos se
iniciou com a revisão de literatura – que pode ser vista no item 2.1.2. Foram considerados
como relevantes para a análise os temas mais recorrentes e com maiores impactos, resumidos
7 Globo Rural – Fazenda Miunça: http://globotv.globo.com/rede-globo/globo-rural/v/fazenda-no-df-adota-
principios-de-bem-estar-animal-durante-prenhez-das-porcas/2423084/ - Acesso em 28/03/2014
50
no Quadro 4. É importante destacar que buscou-se contemplar itens que possam ter sua
diferenças decorrentes da mudança nos sistemas de produção implantados – apesar deste não
ser um fator exclusivo. Explicando melhor, a mudança do relacionamento dos empregados
com os animais pode ser influenciada pelo sistema de produção empregado. Contudo, não se
pode garantir que o sistema de produção é a único motivo pelo qual o relacionamento se
altera, dado que ele pode ser influenciado por treinamentos, por exemplo.
Para cada item listado no Quadro 4 foi pensada uma maneira de aferição possível – tais
como aferição direta dos valores ou indireta, por conversas com os empregados, especialistas,
gestores ou comunidade local – como vistas no Quadro 9. Por motivos didáticos, os itens de
relevância social foram numerados com um código entre colchetes – indicando C para os itens
relacionados às comunidades, e G para itens internos às fronteiras das granjas.
Quadro 9 - Método de aferição dos itens de relevância social
Itens de Relevância
Social Descrição Aferição
Impactos sobre as comunidades ao redor
[C1] Percepção da
comunidade sobre as
granjas
Se refere a percepção das comunidades ao
redor se as granjas são vistas como um
ativo ou um malefício local.
Indireta: Entrevista com comunidade
local e/ou empregados da granja
[C2] Emissão de odores Os odores gerados pelas criações de suínos
podem se propagar e atingir as
comunidades do entorno, gerando
incômodo.
Indireta: Entrevista com comunidade
local e/ou empregados da granja
[C3] Investimento em
inovação
Se refere ao investimento em inovação
colocado nas granjas, seja em inovações
tecnológicas, de manejo ou de gestão.
Direta: Valor investido no uso de
novas tecnologias de criação
Indireta: Entrevista com empregados
da granja e/ou especialistas em
produção, veterinária ou zootecnia
[C4] Enriquecimento do
trabalho no campo
O enriquecimento do trabalho é relativo ao
aumento da complexidade das funções,
que podem ganhar maior responsabilidade
e necessitar de requisitos técnicos mais
elevados para preenchimento das vagas.
Direta: Verificação dos requisitos
formais para preenchimento de vagas
Indireta: Entrevista com empregados
da granja
[C5] Geração de
emprego, renda e
retenção nas áreas rurais
Se refere a oferta de empregos, aos níveis
salariais e a intenção de permanecer no
emprego e no campo dos trabalhadores da
suinocultura.
Direta: Verificação do número de
empregados, salario médio e
benefícios
Indireta: Entrevista com empregados
da granja
Impactos internos às granjas
[G1] Relação afetiva
com os animais e
estresse
Percepção dos empregados sobre os
animais e sobre o trabalho com animais.
Indireta: Entrevista com empregados
da granja e/ou especialistas em
produção, veterinária ou zootecnia
[G2] Treinamento e
desenvolvimento de
pessoas
Se refere aos treinamentos e capacitações
necessários não somente para realização
do manejo, mas também que propiciem um
entendimento mais amplo dos
trabalhadores sobre a suinocultura.
Direta: Verificação das práticas
gerenciais da granja
Indireta: Entrevista com empregados
da granja e/ou especialistas em
51
Para aferição dos itens com necessidade de entrevista foi consultada uma especialista em
comportamento do consumidor e pesquisas qualitativas, que sugeriu que um roteiro de
perguntas fosse construído utilizando como referência teórica os Capítulos 7 e 8 do livro
Qualitative interviewing: the art of hearing data (RUBIN H.; RUBIN I., 2005). Preferiu-se a
realização de entrevistas abertas ao invés de questionários de múltipla escolha pela riqueza de
assuntos e detalhes que as conversas poderiam trazer. O guia, então, foi construído somente
para as perguntas principais, enfocando uma entrevista do tipo Árvore e Galhos – na qual
existe uma questão central de pesquisa que é quebrada em diversos temas abordados
separadamente, apesar de logicamente relacionados. Isto faz sentido pois, caso
perguntássemos aos entrevistados como eles avaliam o desempenho de cada granja em termos
de impactos sociais, p v v b í p “ h ” f
identificados na revisão de literatura e estão resumidos no Quadro 9. As perguntas de
acompanhamento (follow-up) e sondagens (probes) foram utilizadas mais livremente durante
as conversas dependendo das respostas dos entrevistados.
O guia completo para as entrevistas pode ser visto no Apêndice I e foi pensado com foco
nos empregados de granjas de suinocultura, pois são os entrevistados capazes de responder a
todos os itens de avaliação indireta. Os códigos entre colchetes do Quadro 9 podem ser
visualizados ao lado das perguntas do Apêndice I para indicar o tema que se espera abordar
com cada questão. Por serem temas correlacionados pode-se esperar mais de um tema na
mesma pergunta, mas garantiu-se que cada tema fosse abordado ao menos uma vez. A
condução das entrevistas no estudo de caso está descrita com maiores detalhes no item 4.1 -
produção, veterinária ou zootecnia
[G3] Eficiência no
manejo
Facilidade no manejo dos animais no
sistema de produção utilizado.
Indireta: Entrevista com empregados
da granja e/ou especialistas em
produção, veterinária ou zootecnia
[G4] Desgaste físico Esforço físico necessário para realização
do trabalho – não considerando lesões ou
doenças decorrentes do trabalho.
Indireta: Entrevista com empregados
da granja
[G5] Saúde e segurança
do trabalhador
Acidentes e doenças decorrentes do
trabalho – como lesões por esforço
repetitivo e doenças respiratórias dada a
exposição a gases.
Direta: Verificação dos índices de
acidente e afastamento
Indireta: Entrevista com empregados
da granja
[G6] Satisfação e
engajamento no trabalho
Grau de engajamento dos empregados com
o trabalho e perspectivas de crescimento.
Indireta: Entrevista com empregados
da granja
[G7] Imagem do setor Se refere aos impactos que os ataques e
críticas ao a suinicultura podem ter sobre
seus trabalhadores – em termos de
percepção sobre os animais, satisfação e
engajamento.
Indireta: Entrevista com empregados
da granja
52
Procedimento de Coleta e Tratamento de Dados, mas cabe destacar aqui um aspecto
importante. Rubin H. e Rubin I. (2005) colocam que quando as perguntas têm um tom
acusatório ou de julgamento, mesmo que não intencional, os entrevistados podem fazer
fachada (front), tentando passar uma imagem correta ou se justificar. Os autores citam o
exemplo de garçons entrevistados que tentavam passar uma imagem exagerada de extrema
cortesia com os clientes. Assim, dado que o bem-estar animal ainda é um tema polêmico,
houve bastante cautela na construção das perguntas, e principalmente durante a condução das
entrevistas para evitar que os entrevistados ficassem constrangidos a dar respostas
consideradas politicamente corretas.
As entrevistas realizadas foram gravadas e transcritas de maneira fiel ao falado pelos
entrevistados, como exemplo, expressões regionais ou jargões da área foram mantidos. Para o
modelo, propõe-se que o tratamento das entrevistas seja feito por meio de uma planilha, na
qual se dispõem os temas nas linhas e as falas dos entrevistados nas colunas. Desta maneira, é
possível que se analise e se faça uma síntese das opiniões dos diferentes entrevistados a
respeito de um mesmo tema. O Quadro 10 ilustra o tipo de tratamento dado para as
entrevistas.
Quadro 10 - Modelo para tratamento das entrevistas da perspectiva social
Entrevistado
1
(Granja A)
Entrevistado
2
(Granja A)
Entrevistado
3
(Granja B)
Entrevistado
4
(Granja B)
Síntese das
Percepções
(Granja A)
Síntese das
Percepções
(Granja B)
[C1]
Percepção da
comunidade
sobre as
granjas
Opinião do
entrevistado
1 sobre o
tema C1
Opinião do
entrevistado
2 sobre o
tema C1
Opinião do
entrevistado
3 sobre o
tema C1
Opinião do
entrevistado
4 sobre o
tema C1
Síntese das
opiniões dos
entrevistados
1 e 2
Síntese das
opiniões dos
entrevistados
1 e 2
... ... ... ... ... ... ...
[C5] Geração
de emprego,
renda e
retenção nas
áreas rurais
Opinião do
entrevistado
1 sobre o
tema C5
... ... ... ... ...
[G1] Relação
afetiva com
os animais e
estresse
Opinião do
entrevistado
1 sobre o
tema G1
... ... ... ... ...
Por fim, cabe ressaltar que além dos temas identificados previamente para avaliação e
comparação do desempenho social das granjas (incluídos no guia de entrevista), durante a
etapa de estudo de caso e análise das entrevistas verificou-se a possibilidade de surgimento de
53
temas ainda não levantados. Estes temas, caso considerados relevantes, seriam incluídos no
modelo final para avaliação de sustentabilidade das granjas de suinocultura.
3.3.3. Análise da Perspectiva Financeira
A construção do pilar para análise do desempenho financeiro das granjas de suinocultura
passou por duas etapas que serão detalhadas a seguir: a escolha do método de avaliação mais
adequado para atender aos objetivos do trabalho e a definição dos parâmetros e customização
do método para aplicação em granjas de suinocultura.
A primeira etapa se iniciou com uma revisão sobre os métodos disponíveis para
avaliações de empresas e projetos – cada um com suas especificidades e aplicações
recomendadas. Os métodos mais utilizados estão brevemente descritos a seguir; para um
aprofundamento no assunto recomenda-se a leitura de Koller, Goedhart e Wessels (2010) e/ou
Martelanc, Pasin e Pereira (2010).
Método Contábil/Patrimonial: estima o valor da empresa pelo seu patrimônio liquido
contábil, pelo seu valor de liquidação, de reposição ou do patrimônio liquido ajustado.
Assim, este método é indicado para casos muito específicos, quando o valor da empresa é
maior com a sua terminação do que em funcionamento. Ou seja, quando os ativos em si
forem mais rentáveis do que o valor presente líquido (VPL) dos rendimentos futuros
(MARTELANC; PASIN; PEREIRA, 2010).
Método dos Múltiplos: se baseia na ideia de que ativos semelhantes devem ter preços
semelhantes. Assim, ao identificar uma empresa idêntica ou parecida já avaliada, sugere-
se que sejam utilizados parâmetros comparativos para avaliar a empresa alvo. Por
exemplo, o valor da empresa A dividido por um indicador de referência – que pode ser o
lucro dessa empresa – gera um múltiplo que pode ser aplicado ao lucro da empresa B
para obter seu valor (MARTELANC; PASIN; PEREIRA, 2010).
O uso de múltiplos é recomendado quando o avaliador possui apenas alguns dados
básicos de uma empresa – tal como lucro liquido ou faturamento – e não há outra saída
ou para comparação com outros métodos. Contudo, algumas desvantagens são: a chance
de existirem diferenças nos fundamentos das empresas comparadas, a baixa qualidade das
informações, a especificidade de cada transação e o efeito manada caso um setor inteiro
esteja sub ou superavaliado (MARTELANC; PASIN; PEREIRA, 2010).
Método de Fluxo de Caixa Descontado (FCD): é o mais utilizado por consultorias,
bancos de investimento e é amplamente difundido no mercado financeiro. Nele o valor da
54
empresa é determinado pelo fluxo de caixa projetado, descontado a uma taxa que reflita o
risco associado ao investimento (MARTELANC; PASIN; PEREIRA, 2010).
Há essencialmente dois caminhos para avaliar um negócio pelo fluxo de caixa
descontado: a avaliação da participação dos acionistas somente (equity) e a avaliação da
empresa como um todo (firm) (MARTELANC; PASIN; PEREIRA, 2010) – sendo que
esta última pode ser feita diretamente pelo custo médio ponderado de capital (WACC),
ou pelo método do valor presente ajustado (APV) (KOLLER; GOEDHART; WESSELS,
2010).
No primeiro caminho de avaliação, focando somente no capital próprio, se utilizam os
fluxos de caixa livres para os sócios (FCLS), após a dedução de todas as despesas e
pagamentos dos juros e principal das dívidas, descontados pela taxa exigida pelos
investidores sobre o capital – devendo esta taxa ser coerente com o nível de alavancagem
da empresa.
No segundo caminho, o valor da empresa é obtido descontando-se os fluxos de caixa
esperados para a firma (FCLE) – ou seja, após a realização de todas as despesas
operacionais e impostos, mas antes do pagamento das dívidas. Este desconto pode, então,
ser feito pelo custo médio ponderado de capital (WACC) – quando a relação de dívida e
capital próprio é estável; ou pelo método APV, com o desconto feito a taxa exigida pelos
acionistas sem alavancagem, adicionando-se o valor presente do benefício fiscal pelo
endividamento – o que mantém o fluxo de caixa da estrutura de capital isolado
(KOLLER; GOEDHART; WESSELS, 2010).
Um exemplo genérico para o cálculo do FCLE e do FCLS é mostrado no Quadro 11.
Quadro 11 – Exemplo de Cálculo do FCLE e FCLS
Determinação do FCLE e do FCLS
Fluxo de Caixa Ano Exemplo
Receita Bruta 120.000
(-) Impostos sobre receita (18.000)
(-) Custos (48.000)
(-) Despesas (incluindo a depreciação) (24.000)
Ebit/Lajir 30.000
(-) Imposto de Renda / Contribuição Social sobre Ebit (34%) (10.200)
(=) Lucro operacional após IR (Nopat) 19.800
(+) Depreciação 5.500
(-) Investimentos (5.000)
(-) Variação do capital de giro (2.100)
(=) FCLE 18.200
(-) Juros (9.000)
55
(+) Imposto de Renda / Contribuição Social sobre os juros 3.060
(-) Amortizações de dívidas (3.000)
(=) FCLS 9.260
Fonte: Martelanc, Pasin e Pereira (2010)
Koller, Goedhart e Wessels (2010) ressaltam que a avaliação da empresa como um
todo pode até ser feita utilizando o WACC mesmo que haja alteração na estrutura de
capital, mas isso requer o ajuste da taxa a cada mudança – o que torna o processo mais
difícil.
( )
Onde (D) é o capital de terceiros em valor de mercado; ( ) é o custo do capital de
terceiros; (E) é o capital próprio em valor de mercado; ( ) é o custo do capital próprio;
( ) é o imposto marginal.
Vistos os métodos possíveis, buscou-se aquele mais adequado para o modelo de
avaliação financeira da suinocultura. Assim, o método deveria permitir a diferenciação de
criações com técnicas diferentes – o que exclui a abordagem por múltiplos; e deve ser usado
para avaliar a operação das granjas – o que não torna recomendável análises
contábeis/patrimoniais. Por fim, é interessante que o método permita a simulação com
diferentes estruturas de capital, dado que existem diversas linhas de financiamento do
governo focadas no desenvolvimento da agropecuária. Desta maneira, foi escolhido como
mais adequado o método do Fluxo de Caixa Descontado (FCD) e mais especificamente a
abordagem pelo Valor Presente Ajustado (APV). Esta escolha está em linha com o
recomendado por Gameiro (2007) – que sugere a realização de análises pelos cálculos de
Valor Presente Líquido (VPL), Taxa Interna de Retorno (TIR), Retorno sobre o Investimento
(ROI) e payback – e com o trabalho realizado por Perin (2012), que avaliou a produção de
ovos também com o uso de FCD.
Feita a escolha pela abordagem do APV, vale o alerta de Martelanc, Pasin e Pereira
(2010) de que apesar dos métodos de avaliação serem essencialmente quantitativos, o
processo de avaliação contempla muitos aspectos subjetivos inseridos nas premissas. Por isto,
devemos analisar as premissas cuidadosamente, pois são fundamentais para a qualidade do
método e para a confiabilidade dos resultados.
Este alerta nos leva à segunda etapa da construção do pilar de avaliação financeira –
relativa à definição dos parâmetros e customização do método de avaliação para aplicação nas
granjas de suinocultura. Foram definidos na segunda etapa: (a) a lista de itens de receita,
56
custos e despesas que compõem o cálculo do Fluxo de Caixa Livre para granjas de
suinocultura; (b) o tratamento a ser dado para a inflação no modelo; (c) o grau de
alavancagem do projeto a ser utilizado nas projeções do estudo de caso; (d) o tempo de
projeção a ser utilizado no modelo; (e) as taxas de desconto a serem utilizadas no estudo de
caso; (f) as avaliações de sensibilidade sugeridas no modelo e aplicadas no estudo de caso.
(a) Lista de itens de receita, custos e despesas para cálculo do Fluxo de Caixa Livre
A definição dos itens que compõem o Fluxo de Caixa Livre para granjas de suinocultura
se iniciou antes da entrada deste autor pra o grupo de pesquisa – e, assim, um primeiro esboço
das linhas que comporiam uma possível avaliação financeira já havia sido previamente
preparado.
O primeiro passo dado no escopo deste trabalho, então, foi a lapidação destas linhas
com base no modelo do Quadro 11 e na revisão de literatura a respeito do tema – como
mostrado no item 2.4. O Quadro 8 apresenta um resumo dos itens considerados relevantes –
com destaque para a planilha criada por Seddon et al. (2013) que traz uma listagem detalhadas
de itens.
Esta lista de itens foi, então, enviada e discutida com o grupo de pesquisa, para que os
especialistas dessem suas contribuições sobre o que deveria ser ajustado. Contudo, a etapa
final para fechamento dos itens ocorreu durante a realização do estudo de caso, melhor
descrita no item 4.1. Durante a visita as granjas pode-se observar e conversar com os gestores
e empregados sobre os itens que exigiam investimentos ou que geravam receita e custos no
processo produtivo. Nesta etapa foi também realizado um levantamento do valor destes itens
para que o teste do modelo fosse realizado.
(b) Tratamento da inflação
Para o modelo proposto seguiu-se a recomendação de Martelanc, Pasin e Pereira (2010)
e, por simplicidade, os fluxos foram projetados em moeda constante/real com incidência igual
da inflação sobre todos os itens.
(c) Grau de alavancagem utilizado no estudo de caso
Para teste do modelo, optou-se por realizar o estudo de caso das granjas levando-se em
consideração dois níveis de alavancagem diferentes: somente capital próprio dos investidores
e com financiamento por um programa do governo.
Esta abordagem é interessante pois, além de testar o modelo, tem a capacidade de
mostrar o impacto dos programas de incentivo na lucratividade de diferentes modelos de
suinocultura. Para isto, utilizou-se como base o Programa de Incentivo à Inovação
57
Tecnológica na Produção Agropecuária (INOVAGRO)8
do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) – que será melhor explicado a seguir.
O programa, que tem como clientes produtores rurais, pessoas físicas ou jurídicas e
cooperativas de produção, apresenta como objetivo:
Ap v c c p v c c
p p u v u p u v b p c
agropecuárias e de gestã p p u c p v
produtores rurais nos diferentes mercados consumidores.
Assim, são financiáveis os itens que estejam em conformidade com os Sistemas de
Produção Integrada PI-Brasil e Bem-Estar Animal – tais como construções, maquinários e
equipamentos para automação e adequação das instalações de diversas culturas, inclusive a de
suínos. A participação máxima do BNDES no projeto é de 100%, com limite de
financiamento de R$ 1 milhão por cliente individual ou R$ 3 milhões por empreendimento
coletivo, respeitado o limite individual por participante. O prazo máximo para pagamento do
empréstimo é de 10 anos – com 3 anos de carência – e uma taxa de juros de 4% a.a.. O
esquema de amortização envolve pagamentos semestrais ou anuais do principal, com os juros
pagos na mesma data da amortização9.
Visto isso, para o estudo de caso considerou-se um investidor individual que toma R$ 1
milhão de financiamento e o paga em 10 anos, sem o uso da carência.
(d) Tempo de projeção a ser utilizado no modelo
Não existem regras definidas sobre o horizonte de projeção do empreendimento,
contudo, Martelanc, Pasin e Pereira (2010) colocam que três variáveis devem ser consideradas
na definição deste prazo: o risco do empreendimento – quanto maior o risco menor o
horizonte do projeto que se sabe estimar de maneira confiável, o período transiente – tempo
necessário para que os fluxos entrem em estabilidade e as limitações de vida útil – tempo útil
do ativo principal ou predeterminação do prazo do projeto, como em concessões.
Assim, o método para definição do horizonte de projeção – tanto no modelo sugerido,
quanto no estudo de caso – se apoia sobre as três variáveis sugeridas por Martelanc, Pasin e
Pereira (2010), sobre a opinião de especialistas, e sobre constatações feitas com base nos
fluxos de caixa a partir do estudo de caso.
8 Inovagro BNDES: http://www.bndes.gov.br/ SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/Apoio_Financeiro/Pro
gramas_e_Fundos/inovagro.html – Acesso em 05/04/2015 9 Circular Inovagro BNDES: http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arqu
ivos/produtos/download/circulares/2015/15Circ001_AGRIS.pdf – Acesso em 05/04/2015
58
(e) Definição das taxas de desconto a ser utilizada no modelo
Para avaliação considerando fluxos de caixa livres para a empresa no modelo APV, deve-
se utilizar a taxa de desconto real exigida pelos acionistas sem alavancagem. Então, para
garantir consistência na taxa utilizada, sua estimativa foi realizada com o uso do CAPM de
três maneiras diferentes: duas estimativas a partir do mercado doméstico brasileiro e outra a
partir das taxas do mercado americano – com um modelo híbrido sugerido por Leal (2012).
Esta verificação é justificável pois segundo Martelanc, Pasin e Pereira (2010) o cálculo
do prêmio de risco para o Brasil não é recomendado, dado que não existem séries históricas
longas, a economia é turbulenta, há baixa representatividade de ações ordinárias na bolsa e
baixo disclosure. Assim, os autores recomendam a utilização dos valores das bolsas norte-
americanas em vez dos valores da Bovespa.
Por fim, é importante ter em mente que a escolha de uma taxa de desconto não é uma
ciência exata. Por isso, após as estimativas feitas, os fluxos de caixa foram descontados não
somente a uma taxa fixa, mas em um intervalo determinado.
(f) Avaliações de sensibilidade
Além disto, com base no resultado da aplicação do modelo no estudo de caso, foram
verificados os principais itens que impactavam os resultados dos diferentes sistemas de
produção. Assim, foram investigados índices de produtividade das granjas, o preço do suíno
no mercado, e a taxa de câmbio para importação de equipamentos.
3.4. LIMITAÇÕES DO MÉTODO
O método utilizado para construção do modelo para avaliação de sustentabilidade da
suinocultura apresenta algumas limitações que podem afetar os resultados obtidos. Uma
limitação geral é que o trabalho foi conduzido com estudo de caso em uma única fazenda e,
por isto, podem existir aspectos que seriam pertinentes para um modelo geral mas que não
foram visualizadas na fazenda visitada.
Para o pilar social, a primeira limitação se dá pois os assuntos abordados nas entrevistas
foram baseados nos artigos encontrados. Assim, podem existir aspectos importantes que não
foram abordados durante as conversas, mesmo mantendo as entrevistas um pouco abertas.
Outro ponto importante, em análise posterior das gravações, é que pode-se notar erros durante
a condução das entrevistas, com a colocação de exemplos na apresentação das perguntas
quando os entrevistados não iniciavam voluntariamente as respostas. Isto pode ter limitado a
liberdade de resposta e possivelmente incitado a criação de fachadas (fronts). Ainda, na
59
analise dos resultados feita como mostrado no Quadro 10 – há a aplicação de juízo de valor
do próprio autor na análise dos resultados.
Por fim, para o pilar financeiro, na realização do estudo de caso pode existir perda de
acurácia – dado que algumas aproximações e rateios foram utilizados. Estas aproximações
serão destacadas ao lado de cada item no capítulo 5 - Resultados, contudo, é importante ter
em mente que elas afetam somente o resultado comparativo entre as granjas do estudo de
caso, mas não o modelo em si.
60
4. APRESENTAÇÃO DO ESTUDO DE CASO
A lapidação e teste do modelo para comparação de granjas de suinocultura, foi feita com
um estudo de caso que foi viabilizado pela WAP, como visto no item 3.1. A Fazenda Miunça,
que abriu suas porteiras para realização do estudo, é de propriedade do Sr. Rubens Valentini,
ex-presidente da ABCS (Associação Brasileira de Criadores de Suínos), e está localizada no
município de Planaltina, na área do Programa de Assentamento Dirigido do Distrito Federal
(PAD-DF) – iniciado em 1977.
A propriedade tem uma área de 300 hectares e começou suas atividades com o cultivo de
limão e a criação de caprinos para produção de leite e queijos. Os resultados não se
mostraram atrativos, e a fazenda migrou para a atividade de piscicultura, com a venda de
alevinos. Novamente, não houve sucesso comercial e a produção de peixes foi descontinuada
– dando lugar a criação de suínos – que é a atividade principal do produtor há mais de 20
anos.
A granja de suínos ocupa uma área de aproximadamente 10 hectares da propriedade, e
está dividida em dois sítios de produção. O primeiro sítio, chamado aqui de Granja Miunça, é
o mais antigo – em operação há mais de 20 anos – e se utiliza de um modelo convencional de
produção com o uso de gaiolas de gestação. O segundo sítio, chamado de Granja ECO-BEA,
está em operação desde 2011 e emprega o modelo de gestação em baias coletivas. A expansão
da unidade produtiva para um modelo de baias coletivas se deu pela tendência de mercado
que o produtor percebeu na Europa e por incômodo da própria família Valentini com o fato
das matrizes passarem suas vidas em gaiolas. A Fazenda Miunça é pioneira neste tipo de
criação no Brasil.
A Figura 4 apresenta uma vista de satélite da unidade produtiva, marcadas as duas
granjas. À esquerda da Granja Miunça é possível ver as lagoas para tratamento de dejetos –
utilizadas por ambas as unidades. Os lagos vistos na parte inferior da foto são remanescentes
da produção de alevinos.
61
Figura 4 - Vista de Satélite da Unidade de Suínos da Fazenda Miunça
Fonte: Adaptado de Google Maps
Na Figura 5 estão fotos das instalações de gestação, que são a principal diferença entre as
unidades.
Figura 5 - Modelos de Gestação nas Granjas Miunça e ECO-BEA
A Fazenda Miunça trabalha com mais de uma raça de suíno, atuando como granja
comercial que produz leitões para engorda e abate, e como granja multiplicadora – com foco
na venda de matrizes para outras granjas e na produção para uso próprio. Por isto existem, em
meio as instalações da Granja Miunça, dois barracões compartilhados por ambas as unidades
Granja Miunça
Granja ECO-BEA
Granja Miunça Modelo de Gestação em Gaiolas
Granja ECO-BEA Modelo de Gestação em Baias Coletivas
62
onde funcionam a creche e a recria das leitoas selecionadas. Cabe destacar que não há
engorda dos leitões na Fazenda Miunça em nenhuma das granjas. Os leitões destinados ao
abate são transferidos para engorda em outra fazenda parceira e o ganho da venda dos suínos
terminados é repartido entre ambos os empreendedores. Para melhor compreensão do
funcionamento da fazenda, os processos produtivos estão representados na Figura 6.
Figura 6 - Processos Produtivos nas Granjas Miunça e ECO-BEA
É importante destacar o atual modo de funcionamento das etapas de gestação na ECO-
BEA. Após a cobertura, as matrizes são mantidas em gaiolas nos quarenta primeiros dias de
gestação e passam os setenta dias seguintes nas baias coletivas – antes de serem
encaminhadas para a maternidade. Este modelo é considerado um modelo cauteloso de
migração, pois existia o temor de que a soltura nas baias coletivas logo após a cobertura
pudesse gerar índices elevados de aborto. Contudo, experimentos mais recentes mostram que
não há diferenças significativas de perdas e, provavelmente, predominará no mercado um
modelo com cobertura e soltura direta nas baias coletivas – chamado de Cobre e Solta (CS). O
Sr. Rubens Valentini, inclusive, declarou em conversa que caso construísse uma nova granja
com foco em bem-estar animal, provavelmente a faria no modelo CS.
Continuando a caraterização de ambas as granjas, o Quadro 12 resume as principais
diferenças existentes em termos de infraestrutura para cada etapa de produção.
Quadro 12 - Diferenciação das Granjas Miunça e ECO-BEA
Etapa Miunça ECO-BEA
Flushing e
Cobertura
O flushing (estímulo ao cio) e a
cobertura (inseminação) são realizados
nos mesmos galpões que as etapas de
O flushing e a cobertura são realizados no mesmo
galpão que os 40 dias iniciais de gestação.
Flushing e
Cobertura
Gestação
(40 dias)
Gestação
(Restante)
Creche
Instalações Miunça
Instalações ECO-BEA
Gaiolas Gaiolas Gaiolas Gaiolas
Gaiolas Gaiolas Baias Coletivas Gaiolas
Flushing e
Cobertura
Gestação
(40 dias)
Gestação
(Restante)
Aguardo do
1º Flushing
Treinamento
Primíparas
Instalações Compartilhadas
Gaiolas
Baias Baias
Leitoas
selecionadas
para matriz
Venda de leitões
para engorda
Venda de leitões
para engorda
Baias Coletivas
Maternidade
Maternidade
Venda de leitoas
como matrizes Recria
63
gestação.
Gestação
(40 Dias)
Existem seis galpões de gestação na
Granja Miunça – totalizando 1840
gaiolas. Nestes galpões, há cochos no
chão que servem como comedouros e
bebedouros. Para alimento, os cochos
são abastecidos manualmente todas as
manhãs por funcionários que utilizam
carrinhos e pás para servirem as
porções de cada animal. Os chocos são,
posteriormente limpos, e a água é
aberta periodicamente para consumo
dos suínos.
Um único galpão mantém 580 gaiolas, com cochos no
chão que servem como bebedouros e comedouros. As
porções de alimentos dos animais são colocadas nos
cochos de manhã por meio de dutos de ração e drops
que estão conectados diretamente aos silos de
armazenamento. A água é aberta periodicamente para
completar os cochos com água fresca.
Gestação
(Restante)
O galpão de baias coletivas conta com bebedouros do
tipo nipple e um comedouro automático individual
para cada 80 matrizes. Os comedouros são abastecidos
por dutos conectados diretamente aos silos.
Maternidade Existem três galpões de maternidade,
totalizando 440 gaiolas. Para as
matrizes e para os leitões existem
comedouros em pote e bebedouros do
tipo nipple. Todos os comedouros são
abastecidos manualmente pelos
funcionários com carrinhos e pás.
Para conforto térmico dos leitões, há
escamoteadores feitos com lâmpadas
incandescentes.
O galpão de maternidade conta com 270 gaiolas. Os
comedouros e bebedouros das matrizes e leitões são
em pote e do tipo nipple, respectivamente, Para as
matrizes, os comedouros são abastecidos por meio de
drop e duto conectado diretamente ao silo de
armazenamento. Para os leitões, a ração é colocada
manualmente. Para conforto térmico, há um soprador
de ar fresco sobre a cabeça das matrizes, e
escamoteadores de placa no piso aquecidos com água
quente proveniente de um aquecedor a GLP.
Creche As leitoas são mantidas em piso elevado, e ficam distribuídas em grupos por sete salas. Cada sala
conta com dois comedouros em funil abastecidos manualmente pelos funcionários. Os
bebedouros são do tipo nipple, e há escamoteadores de lâmpada incandescente para conforto
térmico.
Recria As leitoas são abrigadas em baias com poucos animais, com comedouros em cocho e bebedouros
do tipo nipple. Os cochos são abastecidos manualmente pelos funcionários. Vale destacar que nas
baias são colocadas correntes e sacos pendurados para que as leitoas possam brincar.
Treinamento
Primíparas
As primíparas são mantidas em baias coletivas com
bebedouros do tipo nipple e uma máquina tonta de
alimentação que inicialmente funciona com as portas
abertas, depois entreabertas e por fim fechadas – para
que elas aprendam a se alimentar.
Aguardo do
1o Flushing
O aguardo do primeiro cio é feito nas
gaiolas de inseminação.
O aguardo do primeiro cio é feito nas gaiolas de
inseminação.
Há, ainda, infraestrutura compartilhada por ambas as granjas além dos galpões
finalísticos de creche e recria. Devem ser citados: o galpão dos cachaços e o laboratório para
preparação do sêmen, a fábrica de rações, os escritórios, os refeitórios, a oficina de
manutenção, a lavanderia para limpeza dos uniformes, os vestiários e o alojamento para
funcionários. Também compartilhado entre as granjas é o software de gestão das granjas, que
contém diversas informações quanto a produtividade e consumo de recursos. Este programa
foi essencial para a coleta de dados descrita no item 4.1.
Por fim, é importante que seja explicitada a estrutura organizacional e o quadro de
funcionários da granja. A Figura 7 resume a situação em junho de 2014.
64
Figura 7 - Estrutura Organizacional da Fazenda Miunça
É importante destacar a diferença de demanda por trabalho existente entre ambas as
operações das granjas, sendo a Miunça, por ser um modelo mais antigo com trato manual,
muito mais intensiva em mão-de-obra do que a ECO-BEA.
4.1. PROCEDIMENTO DE COLETA E TRATAMENTO DE DADOS
Duas visitas à Fazenda Miunça foram feitas para realização do estudo de caso. É
importante ressaltar que estas visitas não tiveram como objetivo somente a coleta de dados
para teste do modelo, mas também a observação das operações de suinocultura para que se
pudesse construir e refinar o modelo proposto.
A primeira visita foi realizada no período de 24 a 28 de março de 2014 – com a presença
de especialistas da ESALQ e da WAP. O primeiro dia da visita foi utilizado para
familiarização com as instalações e conhecimento dos processos de produção. Uma visita
guiada foi realizada com o Gerente de Unidade Produtiva e as dúvidas foram sanadas com as
especialistas. Nos dias que se seguiram observou-se pela granja o consumo de recursos
existente, e foram coletados os dados de produtividade e consumo no software de gestão. A
coleta de dados no sistema contou com o apoio das duas funcionárias do Escritório da
Unidade Produtiva – que auxiliaram ensinando a mexer no software e extraindo informações
específicas.
Nesta primeira visita, foi lapidada a lista de itens que compõem a avaliação financeira –
contudo, os valores monetários destes itens não foram coletados. Não foi realizado, também,
nenhum passo da dimensão social, dado que a falta de proximidade com os trabalhadores
geraria um desconforto em responder às perguntas.
Empreendedor
Gerente Geral
de Produção
Gerente de
Unidade Produtiva
Gestação
Miunça
Maternidade
Miunça
Gestação
ECO-BEA
Maternidade
ECO-BEA
Escritório Central
Escritório da
Unidade Produtiva
Serviços de
Suporte da UP
Fábrica de Ração Fazenda Parceira
para Terminação
Serviços de
Suporte da Fazenda
Composteira Lavanderia
Refeitório Parte Externa e Jardim
Manutenção
1 supervisor 2 funcionários
1 supervisor 10 funcionários
1 supervisor 10 funcionários
1 supervisor 21 funcionários
65
A segunda visita à fazenda, realizada de 19 a 25 de maio, teve como objetivos principais:
aperfeiçoar os itens coletados na primeira visita, coletar os valores monetários para os itens da
avaliação financeira pendentes na primeira visita, e conduzir a parte relativa avaliação social
da granja. Durante a segunda visita, estiveram presentes especialistas da ESALQ e do IFB.
A coleta dos valores monetários para os itens de avaliação financeira foi realizada com
um funcionário do Escritório Central da fazenda – responsável pelas compras e pelos
pagamentos a serem realizados. Um item de especial dificuldade foi o custo da ração – que
precisou ser estimado a partir de relatórios da fábrica. Após uma primeira tentativa de
construção dos fluxos de caixa (já após a segunda visita), valores com suspeita de erro foram
verificados com o proprietário da fazenda – todas as dúvidas foram sanadas por e-mail e em
uma reunião via Skype.
Para a vertente social do modelo, inicialmente validou-se o questionário a ser utilizado
com o Sr. Rubens Valentini, que autorizou seu uso com os funcionários e recomendou uma
conversa com a responsável por Recursos Humanos da fazenda. Ela, além de validar as
perguntas a serem feitas, também deu orientações a respeito do clima organizacional da
fazenda – levantando pontos que poderiam ser sensíveis, como o conflito entre dois
funcionários específicos. Cabe ressaltar que tanto o proprietário da granja quanto a
responsável pelo RH não alteraram nenhuma pergunta proposta na guia de entrevistas.
A seleção dos funcionários a serem entrevistados não foi feita com base em critérios
estatísticos e, assim, não se primou por um número mínimo de entrevistados e tampouco por
conseguir uma amostra aleatória. Buscou-se entrevistar os funcionários indicados pelos
gerentes como sendo os mais aptos a responder às perguntas (com base no seu tempo de casa,
no número de posições já ocupadas e na possibilidade de ter trabalhado em ambas as granjas).
Além disto, foi levado em consideração que as entrevistas não poderiam atrapalhar o
andamento das atividades da fazenda – o que impediu que todos os funcionários fossem
consultados.
Foram, então, seguindo o modelo apresentando no Apêndice I, realizadas as seguintes
entrevistas. No nível de gestão, foram consultados o Gerente Geral da Granja e o Gerente de
Unidade Produtiva, ambos técnicos em agropecuária. Na área de gestação da Granja Miunça
foi entrevistado o supervisor e dois funcionários de manejo – sendo que dois dos três são
formados na escola técnica de agropecuária. Já na área de maternidade da mesma granja
foram entrevistados o supervisor e três funcionários de manejo, sendo apenas um dos quatro
formado como técnico em agropecuária. Já na granja ECO-BEA, para a área de gestação
foram entrevistados o supervisor e dois funcionários de manejo, todos técnicos em
66
agropecuária. Para a maternidade também foram entrevistados o supervisor e dois
funcionários de manejo, nenhum deles com formação técnica. Ainda, olhando todo o grupo de
entrevistados, podem acrescentar que a idade média foi de 28 anos, sendo o entrevistado mais
jovem com 19 anos e o mais velho com 43 anos.
Cabe destacar que foi feita uma entrevista desconsiderada e não contabilizada na área de
gestação da granja Miunça. O funcionário, a pedido do seu supervisor, se apresentou para
conversa em uma sala ao lado do refeitório, mas não se sentiu à vontade para responder às
perguntas e a conversa foi encerrada rapidamente. Assim, esta entrevista foi desconsiderada
das análises e substituída por outra. A partir deste momento, alterou-se a estratégia de
realização das entrevistas e para que os funcionários ficassem mais confortáveis em responder
as perguntas, todas foram realizadas no local de trabalho, junto aos galpões. Todas as
entrevistas válidas foram gravadas.
É importante notar que o pilar ambiental não foi mais elaborado durante a pesquisa de
campo. Como apontado no item 3.3.1 não houve capacidade de aferição dos indicadores de
impacto ambiental – dada a ausência de conhecimentos técnicos e de instrumentos de
medição que permitissem, por exemplo, a aferição das emissões de amônia (NH3) em cada
sistema. A própria fazenda visitada também não dispunha, de imediato, destas medições.
Assim, com falta de informações, este pilar se resumiu à revisão de literatura.
Por fim, é importante ressaltar que em ambas as visitas diversas conversas foram
realizadas com o proprietário da fazenda Sr. Rubens Valentini. O produtor contribuiu de
maneira significativa para o enquadramento e condução do trabalho de campo, assim como
propôs e criticou análises que deveriam ser feitas em busca de um melhor modelo para
avaliação de granjas de suinocultura.
67
5. RESULTADOS
Este trabalho gerou dois resultados principais: um modelo preliminar para avaliação
social e financeira de granjas de suinocultura e a aplicação do modelo em um estudo de caso
considerando granjas com níveis diferentes de bem-estar animal. Além disto, foi feita uma
compilação dos itens que caberiam a um modelo para avaliação ambiental das granjas – sem
maior desenvolvimento.
Assim, a apresentação dos resultados está dividida em três itens, relacionados a cada um
dos pilares avaliados. Para cada um dos itens (social, financeiro e ambiental), pode-se ver a
explicação do modelo e um exemplo prático de uso que aponta as diferenças existentes entre
as Granjas Miunça e ECO-BEA.
5.1. RESULTADOS DO PILAR AMBIENTAL
A construção do pilar ambiental está apoiada somente sobre a revisão de literatura. Desta
maneira, o modelo de avaliação relativo a este aspecto se reduz à proposta de itens listados no
Quadro 3. Sua aplicação requer que cada um dos itens levantados – uso de água, uso de
energia, uso da terra, contaminação da água, contaminação do ar e contaminação da terra –
seja mensurado para a granja avaliada.
Contudo, a aferição dos itens levantados não foi possível durante estudo de caso pela
inexistência de informações previamente disponíveis na fazenda e pela impossibilidade
técnica de aferição dos itens. Entretanto, sem evidências científicas, há suspeita por parte dos
especialistas em suinocultura de que não há diferenças ambientais relevantes entre as granjas
Miunça e ECO-BEA em decorrência da mudança de gaiolas individuais para baias coletivas.
A instalação das máquinas de alimentação não representa um aumento significativo no
consumo de energia elétrica e fatores como uso de água e gasto de energia com
escamoteadores e sopradores não estão ligados diretamente ao abandono das gaiolas.
5.2. RESULTADOS DO PILAR SOCIAL
5.2.1. Modelo para Avaliação do Aspecto Social em Granjas de Suinicultura
Para avalição do aspecto social da sustentabilidade, recomenda-se a avaliação dos itens
do Quadro 9 por meio de entrevistas com os funcionários das granjas e a aferição direta dos
itens passíveis. O Apêndice I complementa como guia para entrevistas e o Quadro 10 sugere a
estrutura para análise das entrevistas.
Cabe destacar que durante a realização das entrevistas do estudo de caso, foram obtidos
aprendizados relacionados à execução do trabalho. Estes também compõem o resultado do
68
pilar social e podem auxiliar pesquisas futuras que venham a conduzir entrevistas com
trabalhadores da suinocultura.
Os tópicos abaixo resumem brevemente as dificuldades vividas e recomendações feitas
para projetos futuros:
Abordagem para Realização das Entrevista: Para entrevista com os trabalhadores da
produção, solicitou-se aos gerentes da granja que indicassem as pessoas mais aptas para
responder às perguntas – seja por maior tempo de casa, experiência em diversas áreas,
ou por se sentirem mais confortáveis em conversar. Assim, com a lista em mãos, os
supervisores de maternidade e gestação da ECO-BEA e Miunça explicaram brevemente
o projeto aos trabalhadores e os pediram que conversassem com o pesquisador.
Para a primeira entrevista, o supervisor de gestação da Miunça chamou um de seus
funcionários para que fosse entrevistado em uma sala mais confortável e reservada ao
lado do refeitório. A sala dispunha de mesa, cadeiras e era mais silenciosa do que os
galpões dos suínos. Durante a conversa, ficaram presentes na sala o funcionário e o
pesquisador. A entrevista, no entanto, não foi bem sucedida. Pela estranha situação de
ser intimado para conversar com um desconhecido que desejava gravar a conversa em
uma sala separada, o funcionário, compreensivelmente, não se mostrou à vontade para
responder a nenhuma das perguntas. Desta maneira, a entrevista foi encerrada na
terceira pergunta e invalidada. Para que isto não ocorresse novamente, as demais
entrevistas foram conduzidas de maneira mais informal, de pé, em meio aos galpões dos
animais – local de trabalho. Todos pareceram mais confortáveis para responderem às
perguntas e permitiram sem hesitação a gravação das conversas. Assim, para pesquisas
futuras, dois pontos de atenção devem ser considerados. Primeiramente, uma boa
comunicação deve ser feita aos funcionários sobre o objetivo do trabalho antes que
sejam convocados para as entrevistas. No estudo de caso, esta comunicação ficou a
cargo dos supervisores, que podem tê-la feito de maneiras diferentes. Em segundo lugar,
é importante que a situação das entrevistas gere conforto para os trabalhadores. No
estudo de caso, a conversa realizada no local de trabalho foi mais natural do que a
necessidade de se colocar em uma sala a parte.
Aproximação dos Entrevistados Antes da Coleta: Um acerto na condução do estudo
de caso foi a realização das entrevistas somente na segunda visita à Fazenda Miunça.
Isto deu ao pesquisador a chance de se familiarizar com o ambiente e com as pessoas da
granja antes de qualquer contato para pesquisa, e deu aos trabalhadores o conforto de já
o terem visto em outras situações que não a da entrevista. Para isto, foi favorável
69
também a realização de todas as refeições na cantina da granja – aumentando o contato
com o pessoal e o aprendizado pelo convívio.
Gravação das Entrevistas em Locais com Ruídos: A condução das entrevistas em
meio aos galpões acabou gerando muitos ruídos nas gravações – tornando diversos
trechos completamente ou parcialmente inaudíveis. As gravações foram realizadas com
um aparelho de telefonia celular, que ficou ligado dentro do bolso da camisa do
entrevistador – após a autorização dos entrevistados. Assim, para pesquisas futuras,
sugere-se uma maior aproximação do aparelho, ou o uso de aparelhos com microfone
direcional.
5.2.2. Resultado do Pilar Social para o Estudo de Caso
Para cada item de relevância para o aspecto social na suinocultura foi realizada uma
análise como mostrada no Quadro 10. Buscou-se compreender como os trabalhadores da
operação das granjas e seus gestores veem cada um dos temas – com especial atenção para
possíveis diferenças de percepção que possam ter origem nos modelos de produção distintos
das granjas Miunça e ECO-BEA. Contudo, é necessária certa parcimônia na generalização
destes resultados dado método utilizado: a amostra não foi aleatória e tampouco teve o
número de entrevistados definido com significância estatística.
Para melhor compreensão das análises, primeiro estão dispostos os resultados individuais
de cada item, com a exibição de interpretações das entrevistas, seguidas dos trechos
relacionados ao tema que permitiram tais conclusões. Foram utilizadas falas do funcionários
de manejo e dos gestores da organização. Para preservação dos entrevistados, apenas a
identificação da área foi feita – pois é necessária para avaliar possíveis diferenças geradas
pelas tecnologias de produção. Por fim, e após as análises individuais de cada item, uma
compilação geral sobre as questões sociais de ambas as granjas é construída.
[C1] Percepção da Comunidade Sobre as Granjas
Os funcionários das granjas Miunça e ECO-BEA, em sua maioria, consideram a fazenda
conhecida na região e, pelo seu discurso, podemos inferir que a comunidade a tem como um
ativo. Este status à propriedade foi gerado principalmente pela sua oferta de empregos e pela
fama que adquiriu por tratar seus empregados de maneira justa, com salários elevados e bons
benefícios complementares. Estes itens, no entanto, são dependentes de decisões de gestão, e
não do modelo produtivo, por isso não geram diferenciação entre as granjas.
Todavia, a criação da ECO-BEA alavancou a reputação da fazenda pela exposição da
mídia, o que atraiu os moradores da região. Assim, mesmo que novo modelo produtivo não
70
tenha trazido benefícios diretos para a comunidade e não seja gerador de apreciação, a
gestação em baias acabou por aumentar o conhecimento dos moradores a respeito da fazenda,
gerando orgulho para os empregados que trabalham na propriedade, considerada famosa por
ser moderna.
É importante ressaltar, contudo, que este efeito de aumento da reputação ocorrido na
Fazenda Miunça, por ser uma precursora do bem-estar animal no Brasil, não necessariamente
se propagará em outras propriedades, caso o sistema de gestação coletiva se torne mais
comum. Ou, possivelmente, ocorrerá em blocos com a modernização de cada primeira granja
em uma determinada região.
O Quadro 13 traz os trechos de entrevistas que embasaram as conclusões relativas à
percepção das comunidades sobre as granjas.
Quadro 13 - Trechos de Entrevistas do Tema: Percepção da Comunidade Sobre as Granjas
Gestores
“Eu acho que o que está pesando mais são as condições de trabalho. Esse fato de estar nas revistas e na
Globo, tudo isso gera uma curiosidade do pessoal que está de fora conhecer. Mas a maioria vem porque a
primeira coisa que falam é “na Miunça é muito bom de trabalhar, é o melhor salário da região, é a melhor
comida da região e lá o gerente almoça com a gente”.”
“Hoje ela é considerada na forma de tratamento de funcionários... Você pode procurar um funcionário, é uma
das empresas que melhor o funcionário ganha. (...) Ela é muito bem vista hoje na região, tanto é que tem 400
caras querendo entrar. (...) [O bem-estar] ajudou. Também ajudou. É um diferencial. A mídia, essa coisa, fez
ser reconhecida, né. Teve a reportagem e teve gente que me ligou no dia "te vi, você está aí até hoje",
entendeu?”
“...um dos focos, voltando um pouquinho e começando a fazer esse trabalho de gestão, era justamente
transformar a Miunça em um dos melhores lugares para se trabalhar na região até 2017. E não sendo a maior
porque nós temos empresas do lado que contratam 2000, outras 800, outras 1000 funcionários na época de
safra, não é isso? Mas ser um lugar bom de se trabalhar, agradável, justo, transparente e ao mesmo tempo que
as pessoas consigam falar “é um lugar que eu possa me identificar, que eu possa ganhar meu pão, que eu
possa crescer profissionalmente aqui.” (...) a tecnologia de gestação coletiva trouxe a mídia. Mas trouxe a
mídia e a mídia reportou que tem isso no Brasil funcionando. Beleza. E aí as pessoas falam "quero ver", e as
pessoas vieram e o que elas viram? Viram pessoas extremamente motivadas, trabalhando e mantendo o sistema
funcionando.”
“O tratamento é único e indiferente e o que muda e o que motiva e diferencia uma granja da outra é o nível de
tecnologia pelo tempo de construção. (...) Então naquela época o que tinha de tecnologia era aquilo ali
[Miunça] e o que tem hoje de tecnologia é isso [ECO-BEA]. Então tem isso, mas muitas vezes eu vejo o pessoal
lá [Miunça] motivado, só de ver que o nome é vinculado e teve muita reportagem relacionada a granja e bem-
estar e tal, mas acaba fazendo bem para o conjunto todo...”
ECO-BEA Gestação Miunça Gestação
"Tem uns que já saiu daqui e que falam até bem. Aqui
é outro serviço diferente porque o resto é tudo
lavoura. Então o povo procura coisa mais diferente,
se ficar só em lavoura enjoa e foi uma oportunidade
aqui e vem para cá mesmo. (...) Eu acho que [ficou
famosa pelo] trabalho mesmo, nem tanto pela
tecnologia porque quem usa mais aqui é só 3 pessoas
então é pouca gente.”
"...ela foi a primeira no Brasil né nesse bem-estar aí.
E todo mundo da escola agrícola vem visitando e vai
falando para os outros né, a pessoa já vai puxando..."
"O que destaca mais é a ECO-BEA, não é nem por
causa do salário, porque o salário não passa na
televisão, o que passa é a ECO-BEA. Isso é o que faz
ser o que ela é hoje. Antes ninguém sabia o que era,
71
"O pessoal fala bem. Foi a primeira granja que
implantou essa criação coletiva aqui e muita gente
sabe. Se você for conversar, tem muito colega meu
que sabe que essa foi a primeira. Acho que é a
primeira granja da região que fez isso, ai o pessoal...
(...) já teve reportagem, muita gente sabe."
"...ela foi um granja mundial há alguns tempos atrás,
então essa historia correu em internet e tal. Acho que
através disso que teve mais divulgação."
depois que criou a ECO-BEA, divulgou bem."
"Quando eu cheguei aqui a Miunça não era tão
conhecida, porque as pessoas que vinham trabalhar
geralmente vinham de fora e moravam aqui. Agora
hoje não, a Miunça já tem um ônibus que traz as
pessoas da cidade. Então hoje ela já é bastante
conhecida. (...) por crescer, ter bom resultados, gerar
emprego."
ECO-BEA Maternidade Miunça Maternidade
"Bom, veio muitos visitantes de fora, mas
normalmente se você chegar lá em Alphaville e falar
"sabe a granja Miunça?" poucos sabem. Conversar
com um e com outro poucos sabem o que é granja
Miunça, é todo por fora que não conhece aqui. Agora
tem toda uma pessoa, vamos supor suinocultores e
todos eles vem justamente para visitar a ECO-BEA
porque é top. Então é a melhor, mas pessoas comuns
e normais não sabem e não conhecem.”
"Também [é pela tecnologia], mas tem a estrutura do
funcionário também. Nós temos os nossos transportes
que pega nós, leva e traz, o café da manhã nosso.
Sobre essa parte de estrutura de funcionário, o
almoço também é muito bom. Nós temos diálogo com
o gerente e em outras empresas é difícil você ter um
diálogo com o gerente frente a frente. Nós aqui
podemos chegar com ele, é fácil de conversar com
ele, de ver ele, nas outras já não é tão fácil assim. Eu
conheço pessoas que trabalham em outros lugares e
eles dizem que o gerente é intocável, você
praticamente nem vê."
"... aqui na região a Miunça é muito [conhecida], é
bem falada. Na faixa salarial também é muito falada,
muito questionada (…) Então assim, na região, sim,
ela é famosa sim."
"Eu acho que [é conhecida] sim porque pela
entrevista que eles fazem aqui de vez em quando
passa no Globo Rural, a maioria da minha família lá
conhece e o pessoal da onde a gente trabalha tem
muita gente que assiste de manhã cedo, e não assistia
e agora já passa a assistir para conhecer mais aqui."
[C2] Emissão de Odores
Durante as entrevistas foram feitos comentários sobre os odores existentes no interior da
granja e sobre a dificuldade de adaptação que alguns funcionários apresentam. Entretanto, a
emissão de odores que possivelmente incomodariam comunidades vizinhas não foi citada por
nenhum entrevistado. Quando perguntado sobre o assunto, o proprietário da fazenda ressaltou
que a área é muito isolada e que, por este motivo, esta questão não era relevante neste caso
específico. Há suspeitas, contudo, de que a produção de dejetos seja semelhante em ambos os
sistemas – e que, desta maneira, a emissão de odores não seja diferenciada pela introdução de
práticas de bem-estar animal. É provável, todavia, que diferentes práticas de tratamento de
dejetos, não relacionadas ao bem-estar animal, possam alterar as emissões.
72
[C3] Investimento em Inovação
O tema de Investimento em Inovação não foi abordado em nenhuma entrevista realizada
por dois motivos. Primeiramente, a Pergunta 20 (“Ex f
c qu p c v ?”) acabou por não ser feita
em nenhuma das conversas, pois parecia senso comum que tanto o entrevistador quanto o
entrevistado conheciam ambas as granjas. Assim, a realização da pergunta soaria artificial nas
entrevistas e foi considerada desnecessária. A u 1 (“V cê ch qu é u p c
importante para quem vem traba h j ?”) gerou respostas relevantes.
Se pode suspeitar, por esses resultados, que para a maior parte dos trabalhos na qual o
entrevistador tenha familiaridade com os sistemas a Pergunta 20 não será feita. Assim como
não será feita caso os entrevistados não conheçam a granja que está sendo comparada – pois
não teriam embasamento para fazê-lo. Possivelmente, isto indica que para mensuração do
Investimento em Inovação é mais interessante que sejam feitos estudos e conversas prévias
com especialistas, assim como aferições diretas. Neste estudo de caso, o investimento em
inovação está mensurado de maneira direta para ambas as granjas no investimento do Fluxo
de Caixa visto no item 5.3 - Resultados do Pilar Financeiro.
[C4] Enriquecimento do Trabalho no Campo
O emprego de tecnologia na Granja ECO-BEA parece gerar para os funcionários maior
interesse pela atividade e maior enriquecimento do trabalho. Contudo, isto ocorre com
intensidade diferentes na maternidade e na gestação. Em ambas as áreas há enriquecimento
pelo emprego de tecnologias não relacionadas ao bem-estar animal – como o sistema de
distribuição de ração – que eliminam a realização de serviços mais simples, como o transporte
de alimento em carrinho e a distribuição com pás. Na gestação, todavia, este enriquecimento
vai além, com um impacto direto da alimentação individualizada, que permite aos
funcionários tratar os animais pelo acompanhamento de sua alimentação e com um impacto
indireto da redução do quadro de funcionários. Os que trabalham na gestação, apesar de terem
mais cobranças e responsabilização, também acabam se tornando mais multifuncionais – o
que é considerado interessante pelos funcionários. Além disto, a novidade do maquinário e o
método de produção ainda incomum no Brasil geram empolgação.
Este enriquecimento maior existente na gestação da ECO-BEA fez com que um
funcionário da área até mesmo declarasse que a formação em técnico é um pré-requisito para
o trabalho – pois acredita ser uma pecuária mais moderna e observa que todos os funcionários
73
da área são técnicos agrícolas – mesmo este não sendo um pré-requisito confirmado pelos
gestores para preenchimento das vagas.
Por fim, é importante notar que os funcionários da Granja Miunça, no geral, também
veem o serviço na ECO-BEA como melhor para os trabalhadores – não somente da gestação.
Isso gera um ciúme por parte dos trabalhadores da Miunça, que acham difícil aceitar
comparações em relação à ECO-BEA e acabam por ter a impressão de que o trabalho na outra
granja é mais fácil – alegando que, pelas instalações, há obrigação que os resultados sejam
muito melhores.
Este sentimento existente na Fazenda Miunça, onde as granjas e os funcionários
coexistem – com os mesmo gerentes, mesma área de almoço, mesmos vestiários – pode trazer
à tona uma reflexão a respeito do processo de mudança organizacional. Este aspecto será
melhor explorado no item [G6 - Satisfação e Engajamento no Trabalho], contudo não há
desejo por parte dos trabalhadores de migrar da Miunça para a ECO-BEA, o que pode sugerir
um medo da maior cobrança ou somente um temor natural pelo trabalho diferente.
Assim, para granjas que pretendam realizar uma migração faseada do modelo de
gestação convencional para a coletiva, pode ser interessante a implantação de programas de
job rotation para que todos os funcionários se adequem e entendam o sistema que um dia
predominará.
O Quadro 14 exibe os trechos de entrevistas que suportam as conclusões a respeito do
enriquecimento do trabalho no campo.
Quadro 14 - Trechos de Entrevistas do Tema: Enriquecimento do Trabalho no Campo
Gestores
“[Não técnicos podem fazer o trabalho da ECO-BEA] antes era gente assim [que não é técnico]. Para você
ver, teve um menino que foi embora da gestação da ECO-BEA, por questão de namorada. Nenhum técnico,
nem o supervisor, ninguém nunca atingiu o resultado dele. E ele tem o primeiro ano e aprendeu com a gente na
prática.”
“... tem uma diferença muito grande no conceito do projeto. Então eu tenho pessoas treinadas especificamente
para aquela planta [Miunça] e tem gente treinada especificamente para essa planta [ECO-BEA]. São coisas
distintas. O negócio é em cultura, mas a forma de trabalhar e o manejo é diferente. (...) [Na ECO-BEA] eu
consigo canalizar mais as pessoas para aquilo que faz diferença. (...) As pessoas chegam de manhã lá na
Miunça e ficam preocupadas que tem que tratar da forma mais rápida possível, porque pega um barracão de
400 matrizes lá e aí tem que colocar 03 quilos, por exemplo, para cada fêmea. E a caneca pesa 01 quilo. Então
estou falando de 04 quilos. Então aquilo começa e a caneca dele está pesando 01 quilo. E quando ele chega lá
no final essa caneca está pesando não sei quantos quilos no braço dele, e ele tem horário para acabar aquilo
rápido porque as fêmeas estão lá gritando e pedindo alimento o tempo inteiro. Aí quando ele termina de tratar
imediatamente ele já tem que começar com água, porque as fêmeas têm que tomar água. E na ECO-BEA o cara
chega, ele vai olhar no computador quantas fêmeas não se alimentaram no dia anterior e olhar primeiro o que
ele tem que fazer. Ai olha, tem 10 porcas, 05, 02 e aí ele anota onde que estão essas fêmeas e pega o PDA
[equipamento de leitura dos brincos] e vai levantar as fêmeas e olhar uma por uma e ver como está. Se tem
alguma machucada, se alguma morreu, se tem alguma com um comportamento diferente e tal. O ritmo é
totalmente diferente. Então o foco aqui [ECO-BEA] é no animal, e não estou preocupado em alimentá-lo, a
74
máquina faz isso pra mim. Lá embaixo [Miunça] não, eu estou focado na tarefa, que eu tenho que tratar, tenho
que tratar, tenho que tratar...”
“Se eu vou lá e falo alguma coisa assim "a Miunça consegue X resultado e a ECO-BEA consegue X
resultado"... Vou citar um exemplo de agora, desses dias. Nós temos a maternidade da Miunça com 26% de
mãe de leite. De 100 porcas, 26 são jogadas para a frente para ser mãe. De excesso, de refugo, de alguma
coisa de leitão que sobra. A ECO-BEA tem 11% "porque a instalação da ECO-BEA ajuda", aí o supervisor não
aceita ser comparado. Você tem 1.7 leitão a mais por porca na ECO-BEA, tem um consumo de 8kg por fêmea
na ECO-BEA e tem 7kg na Miunça. Tem 1kg a mais de consumo na ECO-BEA, mas tem 1.7 leitão a mais na
ECO-BEA. A relação é para cada leitão 0,5kg de ração. Então, o que tem na ECO-BEA mais de leitão, é o
consumo a mais de leitão que ela tem. Só que o peso da ECO-BEA é 6.3kg e na Miunça 5kg. Ela "tem erro, tem
alguma coisa", não aceitam. Tem essas coisas "ECO-BEA tem que dar muito mais".”
ECO-BEA Gestação Miunça Gestação
"...para essa área aqui eles contratam técnico.
Exclusivamente para essa área aqui da ECO-BEA.
(...) Porque aqui é uma suinocultura mais moderna."
"Quando cheguei aqui e o gerente me apresentou
tudo, gostei mais ainda. Eu não sabia que vinha
trabalhar direto nesse setor aqui, que tem as coisas
mais modernas da granja. Gostei demais das
máquinas. Mexer com máquinas modernas como
essas daqui é algo a mais né."
"Quando chegou para nós também era uma novidade,
agora a gente já acostumou [com as máquinas] só é
outro detalhe. A gente acostuma porque tem outros
serviços para gente fazer. Agora nós já acostumamos
com ela aí, já passa, já olha e já está pensando em
outro serviço."
"[O funcionário da gestação da ECO-BEA] tem que
fazer mais tarefas, por isso que ele tem que aprender
o que acontece tudo aqui. Ele tem que saber o que
acontece nos 2 barracões, nós 3 temos que saber. Se
não souber como é que eu faço? Eu preciso do cara
aqui e como é que eu vou fazer? (…) [O trabalho]
fica mais interessante, porque o cara sabe de tudo, se
você ficar só naquilo você fica meio... desiste, fica só
numa coisa. Aqui a gente separa um pouco."
"[O pessoal da ECO-BEA] gosta, eles se acham
porque trabalham na tecnologia. Quando eu
trabalhava lá em cima era desse jeito, porque na
ECO-BEA você não pega nada, é tudo no
computador. (…) Existe [ciúmes], ainda mais quando
a pessoa trabalha aqui e sobe para lá. (...) a ração,
vem no duto, você só puxa a cordinha e já tratou, é
fácil demais."
ECO-BEA Maternidade Miunça Maternidade
"Todo mundo que vem acha curioso e quer saber
como funciona, e vê uma novidade a mais do que eles
tem. Principalmente quem está na Miunça que vem
para a ECO-BEA e vê como é completamente
diferente o jeito das instalações, fica realmente mais
curioso."
"É tudo diferente, é tudo automatizado, o negócio é
assim e as porcas passam, comem a ração e saem.
Vem outra, é bom demais."
"[Na Miunça] é uma coisa antiga, aí já pensa que
não é eficiente, mas aqui não quer dizer que não é
eficiente. Lógico que tem uma eficiência maior [na
ECO-BEA], tem uma qualidade melhor e nem só no
animal, mas também o trabalhador, ele tem melhores
condições de trabalho também. Por exemplo, aqui
tem funcionário, lá pouco funcionário consegue fazer
o serviço. Aqui não tem arraçoamento, é só no
carrinho, lá já tem o maquinário para isso. Então até
a qualidade do serviço para o trabalhador é melhor.
[C5] Geração de Emprego, Renda e Retenção nas Áreas Rurais
Relacionado a este tema, os entrevistados apontaram questões a respeito da atração de
mão-de-obra e da retenção dos funcionários na empresa. Segundo os trabalhadores de ambas
75
as granjas, existe uma quantidade grande de pessoas da região interessadas em trabalhar nas
granjas e não parece existir diferença de atratividade em relação a Miunça ou ECO-BEA – o
que é corroborado pelos gestores, com exceção de um. Este gestor acredita que o modelo
diferente de produção da ECO-BEA é mais atraente para os jovens. Contudo, esta ideia não é
facilmente suportada pela principal percepção existente em relação à Fazenda (como
analisada no item [C1 - Percepção da Comunidade Sobre as Granjas]), tampouco pela ênfase
em atratividade gerada pela remuneração na fala de outro gestor. Possivelmente a ECO-BEA
se torna mais atraente quando há decisão de trabalho entre as granjas, mas provavelmente não
é geradora de maior aplicação de currículos para a fazenda.
Foram levantados outros dois aspectos importantes em relação à atratividade e aos novos
entrantes. A escala de trabalho, que envolve folga de um final de semana a cada duas semanas
de serviço, parece ser um fator desestimulante para possíveis candidatos – que tem buscado
um trabalho menos exigente. Além disto, quando iniciam seu trabalho na granja, há indícios
de que existe uma primeira barreira a ser vencida em relação ao odor da criação e às tarefas
envolvendo dejetos dos suínos.
Em relação à retenção, também não existe diferença aparente entre as granjas Miunça e a
ECO-BEA. A maior parte dos empregados pretende ficar e os que têm intenção de sair não
declaram a insatisfação com o trabalho como motivo principal, mas sim questões familiares
ou o desejo por estilos de vida que são incompatíveis com a escala de trabalho existente – tais
como voltar para a terra natal ou o curso de universidades mais distantes.
Foram citadas, em duas respostas, o aspecto de migração da mão de obra rural para as
cidades. Contudo, este ponto permaneceu inconclusivo, com duas opiniões diferentes. Um
gerente acredita que há intenção de migrar, mas um dos funcionários coloca que quem
trabalha neste tipo de serviço não pretende sair.
Por fim, além dos aspectos de atração de mão-de-obra e retenção dos funcionários
abordados pelos entrevistados, é importante analisar a geração de emprego e renda. A granja
ECO-BEA, por ser intensiva em tecnologia, acaba gerando menos empregos, apesar de mais
enriquecidos. Este enriquecimento, entretanto, também não se reflete no salário e nos
benefícios, que são decisões de gestão. No caso da Fazenda Miunça, todos os funcionários se
enquadram nas mesmas faixas salariais.
O Quadro 15 reúne as passagens que permitiram as conclusões sobre o tema.
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Quadro 15 - Trechos de Entrevistas do Tema: Geração de Emprego, Renda e Retenção nas Áreas Rurais
Gestores
“Eu posso te mostrar, a gente deve ter uns 400 currículos, então aqui tem dia que eles vão preencher a ficha, é
a gente mesmo que preenche. Tem dias que você tem que falar “volta na segunda porque tem muita coisa para
fazer” e ficamos só preenchendo ficha e o pessoal ligando. Eles sabem onde a gente mora e vai na nossa casa,
descola o telefone da casa, o celular particular e ficam pedindo. Eles brincam que para entrar aqui está pior
que concurso público, tem que ter muita sorte porque a fama foi crescendo e a gente fala “a rádio peão” é a
melhor, então eles mesmos que fazem a propaganda aqui da fazenda.”
“... para a geração nova, principalmente, [a ECO-BEA] é um trabalho que chama mais atenção e que encanta
mais porque as pessoas estão o tempo todo mexendo com tecnologia, com informática e estão tomando decisão
e analisando número, estão pensando e estão sendo críticas. Então isso atrai os jovens e isso mantém o espírito
de busca, de conhecimento aguçado.”
“Eu não acredito que a tecnologia que traz isso. Tem alguns que escolhem "eu quero aprender". Tem uns
preferem uma tecnologia melhor, então o cara "eu queria conhecer a ECO-BEA". Tem uns que não. Chega e
fala "não, para mim aqui está bom, está ótimo". Já teve vários funcionários de chegar para mim "eu queria ir
para a ECO-BEA". Se fosse para medir quantidade de funcionários que entraram e pediram pra mim que
queria ir para a ECO-BEA, é maior. Nunca vi um falar um falar assim "eu queria ir para a Miunça". Agora,
para a ECO-BEA já ouvi falar.”
“... como as pessoas nos últimos tempos estão migrando cada dia mais para a cidade, e mexer com suínos e
raspar bosta, falando o português que se usa, não é um negócio interessante para ninguém – o pessoal não
quer trabalhar com suinocultura. E quando você coloca tecnologia e mostra que é possível, que é um trabalho
digno, que é possível você ganhar um dinheiro, é possível comprar um carro, uma casa, como a grande
maioria dos nossos funcionários hoje tem carro, ganham dinheiro. Eles gostam do que fazem e colocam nas
redes sociais que “aqui é o lugar que eu trabalho”.”
“Quando eles chegam, eles assustam, a questão é que tem que acostumar com o cheiro. Eram acostumados
com o chiqueiro que tinham na casa, chegam lá e a quantidade de animais reunidos... Então assusta. A
primeira fase, a primeira semana é bem complicado para eles, mas depois eles pegam amor pelos animais e
não querem ir embora.”
“Quem vai [embora] mesmo é por algum problema sério, a maioria das pessoas é problema de família. Mas
não saem pelos animais e sim por problemas pessoais deles. Você pode perguntar, eles falam “eu quero ficar
aqui até quando eles quiserem”. Na região tem muitas oferta de emprego, só que é aquela coisa assim de
contrato, 3 meses e para. E hoje eles têm essa mentalidade que quanto mais tempo de casa tiver, melhor para
eles, eles podem se programar e planejar aqui, nas outras empresas na região não tem como.”
ECO-BEA Gestação Miunça Gestação
"Tem uns colegas lá em Marajó que estão querendo
vir e eu falo para eles, vai lá no escritório e faz o
cadastro lá para ver se vocês passam ou não."
"Eu conheço sim [gente interessada em trabalhar na
granja], até porque uns colegas técnicos agrícolas
estão vindo pra cá, e tenho até que comentar com o
gerente se eles podem contratar eles.”
"[Quem faz esse tipo de trabalho] pretende ficar,
porque se a pessoa for pensar e for para a cidade
hoje oitava série nem se fala mais, segundo grau não
vale nada também. (…) Pelo menos técnico. Daqui
uns dias também técnico não vai valer nada.”
“... muitos que eu conheci em Marajó eles falam
assim, arruma serviço lá para mim.”
“Tem, só que tem muita gente que vem e não
consegue ficar. (...) Porque não aguenta, tem gente
que não tem o estomago forte. A pessoa que é
estomago fraco, na hora que chega aqui e começa a
limpar as merdas, ela vai embora na hora. Tem uns
que nem almoça.”
“Sempre a gente ouve as pessoas perguntando se tem
vaga, sempre tem pessoas procurando.”
“Eu acho que me adaptei bastante e vou ficar com o
suíno. Eu gosto de trabalhar com eles…”
ECO-BEA Maternidade Miunça Maternidade
“Que eu conheça são poucos e a maioria vê a parte
financeira e não por questão de gostar e mexer com
“Uma coisa que eu acho, não só aqui, mas para a
suinocultura eu acho que pesa muito a escala de
77
suíno (...) vem pelo salário.”
“Conheço [gente interessada] sim. Tem pessoas que
moram com a gente em Marajó que se interessam em
trabalhar aqui e que inclusive já fizeram entrevista,
só que tem que esperar oportunidade, tem que ter
vaga.”
trabalho que é um pouco puxada né. Não é que é
puxada, você acaba folgando, se você for ver, você
folga toda semana, só que os dias são acumulados.
(...) A cada duas semanas trabalhadas, você folga
dois dias (...) as pessoas hoje elas estão buscando
mais trabalhar de segunda a sexta, é o que eu mais
ouço falar, o único questionamento, um ponto que
acaba sendo negativo nesse ponto é essa questão de
trabalho sábado e domingo, sabe. Só que é uma coisa
que eu acho inviável de ter alguma mudança por se
tratar de animal, não tem como.”
“Muita gente já me perguntou se não tinha vaga aqui
e eu falo que primeiro eu tenho que ver com o
gerente, se ele está contratando para depois eu dar a
resposta para vocês. (...) Tem uns que falam que é por
causa do salário, porque a aqui eles pagam bem, mas
têm outros que querem conhecer a granja também
porque nunca trabalhou mexendo com suíno, eles
trabalham mexendo com outra coisa e quer conhecer
como é aqui dentro, e sentem vontade de vir trabalhar
aqui.”
“[O gerente] deixou claro que se nós quiséssemos
crescer era só motivação, mostrar interesse, mostrar
serviço, mostrar que sabe e que queria crescer. Eu
acho que se a pessoa querer a oportunidade sempre
aparece. Tenho em mente isso, tendo a
oportunidade.”
[G1] Relação Afetiva com os Animais e Estresse
A relação afetiva com os animais e o estresse relacionado passam por quatro aspectos
principais abordados nas entrevistas. Por ser um item muito extenso, contudo, para facilitar a
compreensão, sua análise foi separada em dois blocos: o gosto pelos animais e a percepção de
docilidade, e a opinião sobre a qualidade de vida dos animais e a concordância com as
práticas de manejo realizadas.
Os funcionários da fazenda, de um modo geral, declaram que gostam dos suínos e os
veem como animais dóceis, que apenas reagem de maneira agressiva caso sejam tratados
indevidamente. Além disto, em sua maior parte, relatam que acreditam que animais possuem
sentimentos e que os tratam bem, apesar de algumas controvérsias. A despeito do pregado
pela gerência, alguns trechos de entrevistas com gestores e empregados mostram que, por
vezes, os funcionários acabam tratando os animais de maneira agressiva – mesmo conscientes
de que não é a forma correta de realizar o manejo.
Dois comentários de funcionários da Gestação e da Maternidade da granja Miunça
ganharam destaque entre os demais. Um dos funcionários relatou que, às vezes, acaba batendo
nos animais – mesmo sabendo que não deveria; outro colocou que prefere não pensar nos
78
animais como seres com sentimentos, mas que os vê como produtos que não podem ser
machucados para não perder valor. Apesar destes funcionários serem ambos da Miunça, pela
contraposição dos outros funcionários da mesma granja, não é possível afirmar que há uma
diferença de questões afetivas, tampouco de tratamento em comparação com a ECO-BEA de
maneira unânime. Assim, entende-se que a mudança do método de produção não altera o
gosto dos empregados pelos os animais, nem sua maneira de tratá-los – e que estes pontos
estão mais relacionado à cultura construída pela organização e à conscientização dada pelos
gestores para os funcionários, que são iguais no caso da Miunça e ECO-BEA.
O Quadro 16 mostra os trechos de entrevistas relativos a opinião dos funcionários quanto
ao gosto pelos animais e à percepção de docilidade.
Quadro 16 - Trechos de Entrevistas do Tema: Relação Afetiva com os Animais e Estresse 1 de 2
Gestores
“Eles [os funcionários] têm a consciência de que eles [os suínos] vão ficar por um certo período e depois vão
embora. Enquanto está embaixo da asa deles tem que fazer de tudo, tem que cuidar bem. (...) É lógico que toda
regra tem sua exceção, tem gente que tem dias que está meio nervoso, principalmente na hora de transferir as
porcas de baia, da gestação para a maternidade ou vice versa, aí que falam alguma coisa ou batem, mas se
alguém ver, se o colega ver, eles chamam atenção, falam “Opa, assim não. Você brigou com sua esposa?”.”
“O interessante é você colocar, e acho fundamental e trabalho muito isso com os meus funcionários, que o
funcionário sensibilize ele e a família com o animal e tenha dó do animal. Porque na hora que você tem dó do
animal, você vai tratar do animal na produção com mais carinho. E isso não quer dizer que você não vá comer
carne, não é isso, você está me entendendo? Mas que você proporcione ao animal uma vida digna. (...) É ter
uma produção sem sofrimento. Então eu acho fundamental isso porque é proteína. Nós precisamos produzir
alimento para o mundo. Não tem jeito.”
“Acho que em partes tem [afeto]. A menina que foi embora "morro de saudades das minhas porquinhas", você
vê sinceridade. Acho que boa parte tem um afeto pelo o que faz, pelos animais, o cuidado. Gostam dos animais,
mas uma medida para te falar, não sei te falar. Isso não posso dosar, não sei. Por mais que você conheça as
pessoas, você não conhece 100% o íntimo da pessoa. Aqui a gente prega muito... Eu falo assim "gostar é uma
palavra... Eu amo o que faço". Eu posso falar isso com brilho no olho, amo o que faço. (...) Pelo o que consigo
coletar tem pessoas em todos os setores que gostam e tem pessoas... Não é que não gosta, mas não consigo
perceber em que medida ele gosta. Se ele faz aquilo porque tem um salário no fim do mês e não tem outro
jeito.”
ECO-BEA Gestação Miunça Gestação
“Ele é dócil, eu acho o suíno bem inteligente e tem
hora que tem aquele mais nervoso mesmo que quer
atacar e quebrar tudo, mas ele é dócil.”
“...pega uma porca e solta, ela sai correndo, você vê
o tipo. O jeito do animal se demonstrar que está livre,
sai pulando, fica animado, solta ela no corredor e ela
vem pulando.”
“A equipe aqui nossa faz as atividades certinhas, não
vê ninguém estressado, xingando. Não vou mentir pra
você. Tem hora que você se estressa um pouquinho.
Mas você não vê ninguém batendo. O pessoal tem um
compromisso com o que faz e gosta do que faz.”
“Depende o jeito que você chega nele. Se você chegar
meio bravo com ele, ele vai responder bravo também.
Mas ele é dócil né.”
“Ele só se estressa se a gente estressar eles.
Dependendo do jeito que você chega na porca e ela
assusta, ela se estressa. Se você chegar com calma e
devagarzinho, ela não estressa não.”
“Pelo que eu vejo, pelo menos na gestação aqui, todo
mundo gosta de mexer com as porcas. Tem um que
até conversa com as leitoa e com as porca que parece
que é com uma pessoa. O cara gosta mesmo.”
“É, tem uns que gostam, uns que batem. Quando eu
79
“Quando você bate neles uma vez, apesar de sermos
racionais, estamos sendo animais com eles também.
Acho que todo ser vivo tem algum sentimento,
devemos tratar com jeito.”
me estresso eu bato mesmo, eu confesso. Quando não
estou estressado, eu não gosto de nada não. Não
estou nem aí. Mas quando não estou estressado eu
fico tranquilo. (...) Acho que elas tem [sentimentos],
se apegam a gente. Se você trata elas com carinho,
elas se apegam. Não sei se elas se acostumam ou se
apegam, mas tem sentimentos sim.”
ECO-BEA Maternidade Miunça Maternidade
“Para te falar a verdade eu acho que se existisse mini
porco pra mim criar um de estimação eu acho que
tinha um. (…) O animal só estressa a pessoa se a
pessoa primeiro estressar ele. E um animal desses te
estressa? Se tu ir lá e dar um tapa na bunda dele ele
estressa, não estressa? Aí ele vem te cutucar porque
tu está estressando ele, mas do normal você olhando
aqui, não estressa ninguém entendeu?”
“Ela não quer andar e a gente vai dando uma
batidinha e ela vai estressando. E isso você pode ver
quando a gente está trocando [de galpão], tem umas
que ficam irritadas com essa troca e quando vai subir
tem umas que são bem brutas.”
“... se você vai ali todos os dias e se dedica àquele
leitãzinho pequenininho, eles criam um certo afeto e
parece que eles já colocam "opa está vindo alguém
para me ajudar para eu poder mamar e para poder
engordar um pouquinho". E se você não liga ele fica
triste "meu Deus será que ninguém vai se lembrar de
mim?" e isso eu coloco que é a parte de sentimento
deles.”
“...como você falou do animal ter sentimento, você fez
essa pergunta, eu acredito sim, todos os animais são
assim. Esses animais brutos... Têm que ter um
carinho, não tem como um animal estar doente na
baia, você tem que pegar um remédio para ele porque
ele não vai sair para pegar o remédio, tem que ter
isso.”
“Quem faz o bicho ser dócil é a gente, porque o
animal ele não pensa, ou seja, ele não vai entender
que você quer tirar ele da gaiola. Agora se você
enfiar o dedo no olho dele, ele vai sair? Não vai. Se
você enfiar um saco na cabeça dele de uma vez ele
vai sair? Puxar ele pelo rabo, bater? Ele só vai ficar
mais agressivo.”
“...tem porca ali que tem gente que fala que ela não
pensa, mas ela tem hora que é a defesa dela mesmo.
Se você for pegar um leitão dela, ela morde,
dependendo do lugar onde você está ela morde. É a
mesma coisa de uma mãe com um filho, se for bater
em um filho dela, ela não vai gostar, é mesma coisa
se você vai pegar o leitão daquele ali, mesmo que
você vai cortar o rabinho, vai medicar e é para o bem
dele, ela está achando que você vai fazer alguma
coisa. Ela não sabe o que é, e está defendendo o que é
dela.”
“Ele pode até ter sentimento, eu não penso nisso não.
Mas antes nós que ele. É melhor nós não passarmos
fome, é melhor ele passar fome. (…) É lógico que o
funcionário não pode chegar e espancar o animal,
não é porque eu acho que animal tem que ser
espancado, ele não tem que ser porque senão ele vai
produzir menos, essa é a questão.”
“Na hora de colocar o leite, você tem que trocar o
leite, não deixar o leite azedo e você já tira por isso
aí. Você lava o cocho bem lavadinho e coloca o leite,
ele toma aquele leite e você vê que ele sai satisfeito,
para ele está bom. Agora você deixa aquele leite
azedo lá ele chega e sai de perto, nem lá ele quer ir
mais. Eles têm o sentimento deles, se você toda dia
troca o leite ele sempre vai estar alegre ali na baia,
você vai ver que cresce, engorda e está aquela
felicidade.”
A visão sobre a qualidade de vida dos animais da fazenda não é distinta para os
trabalhadores da granja ECO-BEA e da Miunça. Contudo, há uma diferença importante de
percepção que depende da lente utilizada pelo entrevistado para avaliar este aspecto. Alguns
empregados, quando questionados, focaram suas reflexões no atendimento das necessidades
básicas dos suínos, e acreditam que eles tem uma boa qualidade de vida em ambas as
unidades, com vantagens para a ECO-BEA dada a inexistência de gaiolas e o uso de outras
tecnologias, como o soprador sobre a cabeça das matrizes na maternidade. Outro grupo de
80
empregados, entretanto, enfocou a qualidade de vida dos animais com uma lente que avalia
sua trajetória de vida com destinação de abate e, assim, não acredita que os suínos tenham
uma vida boa.
Quanto ao manejo, os funcionários da gestação não citaram nenhuma prática que os
incomodasse. Contudo, funcionários da maternidade – tanto da Miunça quanto da ECO-BEA
– colocaram que mexer nos animais em excesso é algo que não deve ser feito. Na Miunça foi
citada, ainda, a extinta prática de castração física e na ECO-BEA a cesariana foi citada por
dois entrevistados e enfatizada pelo comentário de um gestor.
Pode-se concluir, no geral, que não há diferença de afeto ou maneira de tratamento dos
animais em decorrência dos modelos de produção, mas que há um reconhecimento por parte
dos empregados de que os animais têm uma vida melhor na ECO-BEA. Possíveis estresses
emocionais podem ocorrer mais provavelmente na maternidade, especificamente com a
realização das cesarianas – o que está ligado à práticas de bem-estar animal, mas não
diretamente à implantação das baias coletivas.
O Quadro 17 mostra a percepção dos funcionários sobre a qualidade de vida dos animais
e sobre as práticas de manejo realizadas.
Quadro 17 - Trechos de Entrevistas do Tema: Relação Afetiva com os Animais e Estresse 2 de 2
Gestores
“Depois que conhecem o novo sistema [ECO-BEA], ficam com dó das de lá de baixo [Miunça]. Lá elas não
comem a hora que querem, (...) só passa de manhã e depois é só água. Então eles têm essa consciência com os
animais.”
“Acho que é boa [a qualidade de vida]... Se eu me considerasse uma porquinha, acho que não...”
“A porca não tem condição de parir, hoje não temos treinamento para fazer uma cesariana sem sacrificar a
porca. A gente faz um anestésico local ali... (...) Se você perguntar para os funcionários, 100% não gostam de
fazer. Eu faço, mas acho horrível. “Não vou fazer”, aí você perde a porca, perde o leitão, perde tudo.”
ECO-BEA Gestação Miunça Gestação
“É uma vida boa. Tem água, alimentação,
medicação, a gente fica atento. Eu sei que não é só
isso né. Mas nesse ponto a gente sempre está
correndo atrás para deixar o melhor. Mas se
comparar aqui [ECO-BEA], essa área aqui com lá
debaixo [Miunça], esse daqui tem uma vida bem mais
tranquila porque está solto, né. Lá é gaiola.”
“Eu acho que os animais tem uma vida boa,
principalmente aqui na coletiva, tem espaço amplo.
Apesar que a comida, a ração ser controlada, mas
tem um espaço bem mais amplo do que nas gaiolas,
que não pode se mexer.”
“A diferença que tem é porque aqui elas estão soltas,
aqui elas ficam mais livres. (...) Parece que elas ficam
“Come, dorme, mas só que assim, só de ela ficar na
gaiola presa, ela já tem um stress né. Essas gaiolas aí
estressam. Às vezes você passa e elas estão mordendo
as grades lá, agitadas, aquilo é um stress porque não
tem nada para ela fazer né, tem que ocupar o tempo
com alguma coisa. “
“[A gaiola] estressa, porque elas brigam. A de lá
briga com essa, e a de cá briga com a outra. Se as
duas baterem na do meio ela fica doida. Ai ela
quebra a corrente e sai fora. (...) Pelo jeito é
tranquila a vida deles. Se não fosse tranquilo, eles
estariam todos estressados e gritando.”
“A vida deles não é muito boa não... Ficar preso aí,
se machuca o pé e não levanta mais, tem que
81
até mais animadas. Eu acho que essa é a diferença.” sacrificar porque não presta mais, se repetir já é
descarte. Se descartou já era, não presta mais não.
Por esse lado não é muito bom. Mas como na ECO-
BEA, lá é legal, lá eles tem a vida boa.”
“A vida deles é muito boa. A gente luta para que
ninguém agrida eles porque no passado eu já vi coisa
muito feia, já vi gente enfiar o dedo no olho de
animal, hoje não acontece isso mais, bater com
vassoura, isso no passado a gente via, é uma coisa
que sempre foi cobrada, mas no passado acontecia
mais.”
ECO-BEA Maternidade Miunça Maternidade
“Eu acho que [a vida dos suínos é boa] sim. E pela
adaptação da ECO-BEA, eu acho que eles tem toda
uma vida tranquila e calma. Tanto que aqui na
gestação [coletiva] você tem uma prova viva disso.
Olha, estão todos quietinhos de boa e tranquilos e
acho que ele tem uma boa vida sim.”
“Como a gente falou no início, é a estrutura, aqui
[ECO-BEA] nós temos ar, tem placa para esquentar,
tem o ar frio, não é um ar condicionado, mas é um ar
frio o tempo todo. Aqui é muito melhor. Já lá
[Miunça] não tem [ar frio], o calor é insuportável,
tem salas lá que o calor é tanto que as porcas não
param. Ficam em pé o tempo todo batendo.”
“Bom, vida de porco não é boa não. Coitadinho, os
bichinhos produz e tudo. (...) E se tem uma na sala
que ela não dá conta de parir, aí já entrou em
processo de parto e ela não conseguir parir, eles
sacrificam ela. Mete a faca e corta com tudo, e tira os
leitões e salva os leitões. Porque em mulher eles
fazem a cesariana e tira o bebê, tudo normal. Na
porca não, sacrifica o animal para salvar os filhotes.
Em porca eu não sei se tem essa técnica ainda para
salvar a mãe e os filhotes. A cesariana daqui é bem
louca, é matar mesmo.”
“Eu particularmente não gosto de fazer cesariana
(...) mas infelizmente nós precisamos, ou a gente
salva um ou a gente salva o outro. Eu não gosto. Eu
acho muito sofrimento, mas a gente precisa fazer.”
“... eu acho que quando a gente fica mexendo muito
com eles incomoda sim. E tem algumas porcas que
ficam irritadas na troca e incomoda sim.”
“[A gaiola incomoda] um pouco. Porque quando
você trabalha com um número maior de porca mais
velha como é o caso daqui, você tem porcas
grandes…”
“Eu acho que se eu fosse um animal era frustrante.
Por exemplo, o animal vive preso no caso, por isso
que é melhor pensar que ele não tem sentimento, para
não afetar. (...) Eu acho que lá em cima na ECO-BEA
tem uma qualidade [de vida] melhor porque o animal
não passa pelo estresse que passa aqui [Miunça],
porque aqui tem vários sistemas diferentes, tem uma
sala que é de um jeito e outra sala que é de outro,
sala velha com uma tecnologia muito antiga. (...) Só
que eu não estou preocupado com o estresse do
animal, eu estou preocupado se ele produz menos, os
resultados.”
“[Na ECO-BE] a porca tem mais espaço, o leitão tem
mais espaço né, o número de esmagado lá é menor
porque tem mais espaço dentro da baia. A instalação
no tempo de calor tem um canudo de um ar frio na
nuca dela que ajuda a refrescar bastante, então não
fica uma porca cansada né. Então é uma granja onde
você consegue manter a qualidade da porca e a
qualidade do leitão durante o ano todo.”
“O manejo quanto menos você mexer na leitegada,
mexer na porca, mexer nos leitões, você ganha.”
“Tem quase um ano que eles tiraram, porque aqui
castrava, é uma coisa que eu fazia que eles pediam,
mas eu não gostava. (...) Cortando mesmo no bisturi,
depois eu vou te mostrar ali, tem uma lâmina e tem o
corte do bisturi, tem uma mesinha e você colocava ele
virado para lá, colocava bunda dele para cá e você
passava a navalha nos cocos e puxava. Aquilo se
fosse da minha vontade eu não fazia, porque aquilo
machuca.”
[G2] Treinamento e Desenvolvimento de Pessoas
As perguntas relacionadas ao treinamento e ao desenvolvimento de pessoas levantaram
temas como o nível de conhecimento necessário para admissão de um funcionário e a maneira
82
de treinar os funcionários; e as possibilidades de crescimento e desenvolvimento do pessoal
dentro da granja. Assim como o item [G1 - Relação Afetiva com os Animais e Estresse], este
tópico também se revelou bastante extenso e os dois primeiros temas serão abordados
inicialmente, com o aspecto de crescimento tratado em seguida.
Os funcionários da Miunça, da ECO-BEA e da gestão concordam sobre o primeiro tema
citado, colocando que não são necessários conhecimentos técnicos para que se possa ser
admitido na granja. É até mesmo preferível que não haja experiência anterior em suinocultura
para que se evite a aplicação de práticas de manejo inadequadas e que possam ser trazidas de
trabalhos anteriores.
O conhecimento estudado pelos técnicos, contudo, é considerado como positivo, apesar
de insuficiente para a realização do trabalho. Para todos, o trabalho da granja se aprende em
treinamentos realizados on the job, com a orientação dos supervisores e de outros
funcionários mais experientes. Por isto, os funcionários geralmente iniciam seu trabalho com
tarefas mais simples de limpeza e seguem observando para, posteriormente, assumirem o
manejo dos animais.
Esta ausência de diferença entre as granjas ECO-BEA e Miunça ocorre principalmente
por uma decisão dos gestores, que buscam igualar o tratamento dos funcionários de ambas as
unidades independente da tecnologia de produção – como pode ser visto em seu discurso. É
interessante notar, então, que os empregados acabam por colocar como pré-requisito fatores
mais humanos relacionados à aprendizagem do que o conhecimento em si: interesse,
companheirismo, paciência, gosto por roça e por animais, e inexistência de nojo em relação
aos trabalho.
O Quadro 18 mostra os trechos de entrevistas que tratam sobre nível de conhecimento
necessário para admissão de um funcionário e os treinamentos.
Quadro 18 - Trechos de Entrevistas do Tema: Treinamento e Desenvolvimento de Pessoas 1 de 2
Gestores
“A ideia é treinar aqui. Eles têm preferência que não tenha trabalhado em outra granja para não ter nenhum
vicio.”
“... tem empresas que preferem o cara pronto, tem empresas que preferem fazer. A tendência nos últimos anos,
as granjas preferem fazer porque você faz o cara de acordo com aquela necessidade especifica.”
“Não interessa para qual setor, qualquer granja eu faço a mesma coisa. Não é excluído, não tem um
treinamento diferenciado.”
“Nosso treinamento é bom? Não é ruim. Você pode ir em qualquer funcionário (...) perguntar para ele, tenho
certeza que ele vai responder correto. Saber, eu tenho certeza que ele sabe. Se ele não responder é porque está
camuflando. Ele sabe.”
83
“... queremos aprofundar mais nessa questão de bem estar animal não só pela ECO-BEA, mas por causa do
sistema como um todo para produzir um suíno de boa qualidade, embarcar bem o suíno e chegar uma carne
com sabor interessante lá para o cliente no final. Porque se você produz o suíno com 110 quilos mais ou menos
em 160 dias e na hora de embarcar você vai lá e agride o animal, não fazendo o jejum alimentar correto, o
animal é embarcado estressado, e chega lá, abate esse animal e a carne vai estar ruim. E você perde todo o
processo que você fez aí em 09 meses desde a inseminação de uma porca quando você vendeu o suíno lá na
ponta. Então ele está a cada dia mais buscando enraizar essa questão do bem estar animal por isso, na cadeia
como um todo, mas aqui na ECO-BEA trabalhamos isso, como trabalhamos na Miunça.”
ECO-BEA Gestação Miunça Gestação
“...ter interesse já é bom, não precisa conhecer muito
de suíno não, quando ele chega aqui nós mandamos
ele para treinamento mesmo, a pessoa ensina mesmo.
Não tem que vir com experiência, não.”
“Tem que ter companheirismo, diálogo,
conhecimento, interesse, tudo isso ajuda muito no dia
a dia.”
“É bom [algum conhecimento], principalmente os
técnicos que estudam para isso, já vem sabendo.”
“Fora o técnico de agropecuária, lá no colégio que
eu fiz tinha uma granjinha pequena para nós estudar,
ai pegava lá, fazia parto. Ai tinha uma noção. (...) A
maioria aprendi aqui, foi muito pouco que eu aprendi
durante os cursos, mas aprimorei os conhecimentos
na área de suína foi aqui mesmo.”
“Aqui na granja quando comecei a trabalhar, ele me
ensinou trabalhando. Tudo que a gente foi fazer... Até
hoje ele sempre "faz desse jeito que é melhor". Não
sei se você já viu, a gente faz uns caminhos com uns
baldes, com gaiolas... Você vai aprendendo, né. Logo
de cara não colocam você para mexer. Eu comecei a
fazer limpeza e ia olhando, depois eles... Quando
você começa aqui, logo de cara você não... Sempre o
superior está no seu pé também.”
“O cara primeiramente tem que gostar de roça,
porque assim, aqui a gente procura muita gente que
pega que não tem profissão nenhuma né assim e você
acaba fazendo dele um suinocultor né. Mas se o cara
não gostar de roça...”
“Tem que gostar de mexer com criação, se não gostar
não adianta.”
“O cara vem, aí ele já vem e aprende na prática,
tudinho. Aí já ensina para ele, eu preciso dessa
função aqui, aí você vai aprendendo e vai vendo o
que o cara pode te ajudar no setor né. Esse tem bom
estudo, aquele ali sabe falar bem, aquele tem mais
atenção, aí você vai jogando ele num serviço mais
certo e treinando ele para aquilo né.”
“É no dia a dia. Vamos pegar assim, vou transferir
para aquela baia, daí você já vai com o cara, o
responsável por isso aqui, aí você já vai com o cara,
eu explico tudinho para ele, tem que sair assim, tem
que virar o corredor ali, tem que ir para o outro lado,
você não pode ficar na frente, você não pode puxar o
rabo na hora que ela estiver saindo, então você vai
explicando né. E dentro disso o cara vai anotando.
Vamos supor que você falou “você vai virar, passa na
frente dela aqui e vai cercar ela para ela virar para
cá”. Aí se o cara estiver fazendo errado, você já
chama, corrige, “não fica aí assim não porque pode
acontecer isso, isso”...”
ECO-BEA Maternidade Miunça Maternidade
“Eu acho no meu ponto de vista ele tem que entrar
para conhecer para depois dizer se realmente dá para
mexer com isso ou não.”
“Mexer com animal é complicado. Não é fácil mexer
com animal, você tem que saber, você tem que
começar como todos nós começamos do zero e ir
lapidando até você chegar em um conhecimento.
Porque você tem que perceber quando ele está
adoecendo, às vezes ele está afastado dos outros
leitões então já é alguma coisa.”
“Bom assim saber, saber eu acho que quando vem, a
gente não sabe de nada, mas a gente tem que ter
mesmo paciência porque os bichinhos dão trabalho
viu.”
“Treinamento sim, quando nós chegamos aqui eles
“... a pessoa ela chega praticamente nunca viu o
porco na panela né, muitas… (…) Então a pessoa
chega aqui achando que o tratamento é a mesma
coisa de porco caipira, você larga lá, deixa lá que o
bicho vai, e não é né.”
“Primeira coisa, ele tem que conhecer como é feito o
trabalho aqui dentro. Se ele vier e ninguém não
explicar nada, ele praticamente vai fazer tudo errado,
tem que conhecer passo a passo.”
“Quando você entra a gente vai ver qual vai ser a
função que ele vai fazer, mas de princípio quem entra
vai direto para o parto porque o parto é onde exige
mais. (...) Aonde a pessoa não pode ter frescura. Tem
que pegar no leitão mesmo, tem que tirar aquela
secreção que para muitos é nojento, tem que mexer
com sangue, tem que lidar com placenta. Então
84
pegam um funcionário mais antigo para dar
instruções para nós e aos pouquinhos vão soltando,
conversando muito praticando também na mesma
intensidade e depois vai soltando a gente aos
poucos.”
“... quando nós entramos aqui normalmente é para
olhar sala, aquela coisa básica e vai aprendendo a
olhar a sala e conforme vai pegando jeito eles vão
liberando, aí é interesse do funcionário também.”
assim, a parte do parto é a parte mais complicada
que tem. Se a pessoa passa pelo parto bem, ele dá
conta bem, entendeu? Então assim, o parto é um dos
treinamentos que mais exige.”
“Teve [treinamento para lidar com os porcos] porque
tem gente que quando chega você vai tocar o
leitãozinho para entrar lá para dentro e tem gente
que bate com vassoura, toca com o pé e você não
deve fazer isso porque machuca. (...) Aí ele ensinou
uma maneira mais fácil.”
O crescimento e o desenvolvimento de pessoal devem ser olhados em separado – dado
que o primeiro está ligado à carreira e o segundo ao aprendizado. Em relação ao crescimento,
a maior parte dos funcionários indica que há oportunidades caso haja esforço e desejo por
parte dos empregados; um gestor e um funcionário da gestação da Miunça inclusive citam
seus casos pessoais. Contudo, dois empregados da maternidade da ECO-BEA têm um
discurso de oposição. Esta contraposição, na realidade, não sugere diferença entre as granjas,
mas sim que os demais funcionários podem não ter sido sinceros, dando respostas que
considerariam corretas. Desta maneira, há incerteza sobre a percepção dos empregados quanto
às chances de crescimento. Esta inferência contrapõe o alegado pela gerência, de que existem
oportunidades e que elas são iguais para ambas as granjas, mas é coerente com a estrutura
organizacional horizontal de quarenta e dois funcionários, quatro supervisores e dois gerentes
– na qual o funil para crescer é bastante estreito.
Em termos de aprendizado todos parecem satisfeitos, mas parece existir diferença entre
as granjas ECO-BEA e Miunça, mesmo com os treinamentos sendo dados da mesma maneira,
e com a gerência aplicando igual tratamento em ambas as unidades. Isto ocorre pela redução
de quadro e maior enriquecimento dos cargos da ECO-BEA, principalmente na área de
gestação, como visto no item [C4]. Assim, os funcionários mais multifuncionais são
impelidos a se desenvolverem mais rapidamente para que possam integrar a equipe.
No Quadro 19 estão dispostos os trechos de entrevistas que possibilitaram as conclusões
relacionadas ao crescimento e ao desenvolvimento do pessoal dentro da granja
Quadro 19 - Trechos de Entrevistas do Tema: Treinamento e Desenvolvimento de Pessoas 2 de 2
Gestores
“O cara fala assim "vou embora porque aqui não me dá oportunidades". Eu falo toda hora para os meninos
assim, que é mentira. Eu sou exemplo disso. Se eu não tivesse oportunidades, eu não estaria onde estou, como
gerente. Tem horas que me perguntou "estou há 12 anos numa empresa só, será que acomodei?". O cara fala
"nossa, 12 anos", mas eu fico tremendamente satisfeito porque eu cresci com a empresa. A empresa cresceu. A
empresa hoje é um patamar totalmente diferente do passado e eu vejo que eu cresci junto a ela, com a
confiança do gerente, dos diretores. Eu cresci junto e fico super feliz.”
85
“É igual [oportunidade de crescimento na Miunça e na ECO-BEA]. Na minha visão é. Talvez na visão deles
não. Mas eu acho igual. Se a pessoa tem oportunidade de crescimento... Independente do setor hoje, nós temos
gente que trabalhou na Miunça e veio supervisionar aqui em cima. (...) Oportunidades são iguais. Eu não
concordo de modo algum de quem falar "não tem...". Tem dias que a gente senta para conversar e, as vezes, a
gente erra mais de confiar em alguém... Não é nem confiar, é dar oportunidade para o cara e depois o cara não
tem a bagagem, não tem experiência para tocar. As vezes, até uma retroação nesse sentido, mas pecando mais
por dar oportunidade do que por não dar.”
“Eles falam que o conhecimento que eu tenho aqui, qualquer outra granja que eu for trabalhar, ou se eu for ter
minha própria granja, ou uma granja de galinha, principalmente a questão da sanidade, eles têm muita
consciência e acham importante. É porque tudo que faz na granja tem um porque, então tem a consciência do
porque está fazendo.”
ECO-BEA Gestação Miunça Gestação
“Tem muito treinamento específico, isso depende
também não só dos treinadores, mas também do
aprendiz. Tem muita expectativa de oportunidade de
crescimento.”
“Acho que foi mais rápido [o desenvolvimento do
pessoal].”
“Aqui é o lugar para aprender. Porque eu cheguei
aqui e meu conhecimento era muito pouco. Aqui você
consegue... Os caras dão espaço, liberdade para você
aprender muito.”
“... eu vim para cá, eu fui aprendendo e teve
oportunidade sim. Poucos meses eu passei para
auxiliar de supervisão, na verdade antes era
encarregado e depois quando a granja cresceu né
teve oportunidade de crescimento também, aí passei
para supervisor.”
“Se a pessoa quiser continuar e subir de cargo, sobe.
Mas se quiser continuar que nem a gente está ai só
tratando e medicando pode também.”
“...tem bastante oportunidade, depende do interesse
da pessoa, se a pessoa quiser conhecer, as
oportunidades sempre surgem.”
ECO-BEA Maternidade Miunça Maternidade
“Eu acredito que tenha [chance de crescer], mas é
limitado né. Não é algo que abrange. Tem o seu
gerente, o seu encarregado, você pode almejar muito
conhecimento, como eu gosto. Aí você aprende, é
ilimitado, mas almejar algo meu mesmo já tive graças
a Deus proposta aí, mas eu nem... Conhecimento
porque eu sei que eu vou aprender um bocado, mas
em termos de coisas assim não.”
“É muito pouca [chance de crescer] assim... para te
dizer... porque assim, do tempo que eu estou aqui eu
ainda não vi nenhum dos meus colegas assim "é isso,
isso" e continua na mesma, é muito pouco. Então na
mesma.”
“Tem muitos que eles dão chance. Depende da
pessoa, da força de vontade, do seu querer. (…) Tem
gente que fica com um pé atrás e fica com medo de
querer pegar um cargo de mais responsabilidade e
não dar conta, aí depende dele.”
“... aqui eles investem em palestras, eles investem em
você. Aqui para não crescer só quem não quiser
mesmo né”.
[G3] Eficiência no Manejo
Nas maternidades da Miunça e ECO-BEA não parece existir diferença no manejo, que
apresenta a mesma dificuldade e eficiência. A complexidade do manejo nas maternidades se
dá pela maior delicadeza requerida para cuidar dos leitões recém nascidos – que são animais
mais frágeis.
Nas áreas de gestação da Miunça e ECO-BEA, contudo, há indicação de que os manejos
se diferenciam em decorrência dos modelos de produção. Pelas entrevistas, podemos inferir
que no sistema em baias coletivas as matrizes são mais dóceis, mas o manejo requer maior
86
paciência por parte do trabalhador, dado que os animais estão soltos. Na Miunça, entretanto, a
dificuldade do manejo se encontra no fato dos animais serem mais ariscos e na necessidade de
tratamento individual de cada gaiola – sem o ganho de comportamento em grupo que é
sugerido em uma das falas, apontando que na ECO-BEA as matrizes tendem a seguir as
outras.
É interessante notar, todavia, que um dos funcionários da gestação coletiva acredita que
seu manejo é mais difícil, enquanto dois funcionários da Miunça acreditam que o manejo em
baias é mais fácil. Esta aparente contradição parece ser normal – com as pessoas tendendo a
apontar o seu trabalho como mais complicado do que o trabalho alheio. Assim, recorrendo ao
comentário do gestor, pode-se resumir que há ganhos e perdas com a mudança do sistema,
tendo matrizes mais dóceis por um lado e com capacidade de movimento de grupo, mas
também sem grandes limitações de movimento, caso desejem se mover – o que exige mais
paciência.
Por fim, todos concordam que a prática torna o manejo mais fácil e que os suínos são
animais que aprendem rápido, o que facilita o trabalho. Uma última ressalva, que independe
do modelo de produção, é que os funcionários podem muitas vezes seguir os padrões sem
entender os motivos – como apontado pelo funcionário da maternidade da Miunça e
exemplificado pelo da ECO-BEA, que comenta não ser possível bater nos animais pelas
normas da empresa.
Os comentários relacionados a este tema estão colocados no Quadro 20.
Quadro 20 - Trechos de Entrevistas do Tema: Eficiência no Manejo
Gestores
“Não tem como não ser [diferente o trabalho]. Ele é suíno, mas tem procedimentos. E vamos falar um pouco
mais técnico, tem procedimentos que são totalmente diferentes. Por exemplo, a leitoa aqui entrou, selecionou.
E quando ela vai para a Miunça ela já entra em box, em gaiola, e aí ela entra em um ante flush e até chegar a
idade dela para a inseminação e continua inseminando, e ela continua em gaiola e ela vai estar em gaiola até
70, 80 dias de gestação para depois passar por um período só de baia de gestação coletiva e nem 100% da
produção consegue passar em baia de produção coletiva. Aqui na ECO-BEA não, ela já chega selecionada e
entra na máquina tonta, já na gestação coletiva, aprende a comer no equipamento, sem automatização. Depois
ela fica 21 dias e depois ela vai para a máquina automatizada. Não tem como você ter o mesmo procedimento
operacional padrão lá e aqui. São totalmente diferentes.”
“É [a porca na ECO-BEA é menos estressada do que a da Miunça]. Isso tenho certeza. Até o campo [ímpeto]
de fuga dela é menor. (...) Quando você vai conduzir ela [na ECO-BEA], você pode colar nela que ela não se
movimenta. Já lá [Miunça] tem um poder [ímpeto]de fuga maior. Você tem um limite de fuga, que você pegou,
ela foge. Você tem um animal mais dócil aqui [na ECO-BEA], mas quando você vai conduzir tem uma
dificuldade maior. Você tem que ter paciência, um manejo próprio para aquele setor. (...) Não é mais difícil. Se
você tem uma porca muito agressiva, repelente à você também não é legal.”
ECO-BEA Gestação Miunça Gestação
“É mais complicado, eu manejo muito mais do que
eles...”
“É fácil quando você aprende, antes de você
aprender é complicado. Eu me machucava era muito.
87
“Tranquilo. É um animal que aprende as coisas
rápido.”
“Na maternidade eu acho mais difícil porque é muito
delicado, tem que saber o momento certo de tirar e
colocar. A gestação é mais tranquila. Você sabe mais
como funciona. Mas na gestação precisa de jeito. Se
você não tiver jeito ela te joga no chão.”
“Tem as raças. Aqui trabalhamos muito com a DB
que é uma raça bem mais dócil do que a Large White,
que são brutas. É um animal muito curioso, você
tanto ensina quanto aprende com eles, isso é muito
interessante.”
Eu ia tentar cercar, mas não sabia cercar ela. Muitas
vezes você pega no queixo dela e levanta, ela perde a
força e você faz o que quer com ela, vira ela. Mas se
você não souber pegar, você põe a mão, levanta a
cabeça dela e ela perde o jeito.”
“[Nas baias] abriu o portão, uma saiu e a tendência
é acompanhar, porque na gaiola você tem que tirar
uma por uma. Lá na baia não, você abriu o portão,
começou a sair, as outras seguem a primeira que está
saindo. Esse aqui não, você abre a gaiola, tira
aquela, tira a próxima, é uma por vez.”
“É, bem mais fácil [nas baias] comparando com aqui
embaixo [Miunça].”
ECO-BEA Maternidade Miunça Maternidade
“Não é fácil de lidar não, você não pode estar
batendo, como eu te falei, às vezes a gente trabalha
com animal bruto e pesado, boi, vaca, cavalo e a
gente tem que arrochar senão não vai. E aqui eles
são brutos, mas a gente não pode estar arrochando
neles. (...) É por conta que você não pode estar
batendo, porque é norma da empresa, você não pode
bater como alguns fazem com colher, com cabo de
vassoura.”
“Não é tão fácil [o manejo], é regular e nem fácil e
nem difícil. Depende porque tem uns que são mais
bravos e outras já são mais dóceis, é como se fosse
gente e tem gente que eu acho que é mais fácil de
lidar com animal do que com pessoas entendeu? Eu
acho.”
“Eu acho que o mais difícil seria a pessoa entender o
que está fazendo, mas lá no fundo ela não faz isso, ela
faz um padrão. A empresa passa o padrão para ela e
ela vai fazer esse padrão. Por exemplo, tem que
levantar as porcas 3 horas, então fica fácil, você faz
no padrão que passa e o resto a gente pega na
prática mesmo.”
“Quando você chega é um pouco difícil, mas com o
passar do tempo você vai pegando a prática e fica
mais fácil você trabalhar com ele. (...) Quando eu
cheguei lá eu não sabia, e o menino tinha vez que me
pedia ajuda, eu falei “eu não ajudo porque eu não sei
ainda, vai ficar mais complicado ajudar você, pede
ajuda para quem já sabe que fica melhor.”
[G4] Desgaste Físico
Não há concordância dos empregados quanto nível de desgaste físico do trabalho. Alguns
o consideram leve e outros cansativo. Todavia, há diferenças aparentes entre as quatro áreas:
gestações e maternidades da Miunça e ECO-BEA.
O trabalho na gestação da ECO-BEA parece ser menos desgastante do que na Miunça.
Os funcionários apontam que o serviço é mais corrido e com maior responsabilidade
distribuída por um número pequeno de pessoas. Contudo, os serviços mais braçais – de
arraçoamento com carrinhos, por exemplo, foram eliminados pela introdução dos dutos e
máquinas de alimentação.
Nas áreas de maternidade o quadro se inverte, parecendo a maternidade da ECO-BEA
mais cansativa do que a da Miunça. Isto ocorre pelo número reduzido de funcionários em
decorrência do sistema de arraçoamento automático. Assim, apesar da eliminação do trabalho
com carrinhos de mão, há menos folga de capacidade e o número de gaiolas e salas que
precisam ser olhadas por empregado aumenta.
88
De maneira mais geral, dois aspectos interessantes surgiram nas entrevistas. A escala de
trabalho, com doze dias de serviço para dois de folga é um fator que parece aumentar o
cansaço. E funcionários oriundos de lavoura geralmente consideram o trabalho leve, pela
comparação com antigos serviços no sol e sem horário definido.
Os comentários relacionados ao desgaste físico podem ser lidos no Quadro 21.
Quadro 21 - Trechos de Entrevistas do Tema: Desgaste Físico
Gestores
“Isso, exige mais [na Miunça]. As salas são mais distantes, as vezes pela estrutura mesmo, eles tentam pular
para poder andar mais rápido porque eles tem um sentido aguçado de saber o que é aquele grito ou aquele
choro do leitão. Então tem hora que ele precisa ir rápido e tem que correr porque senão o leitão morre. Devido
a estrutura, é bem mais tranquilo na ECO-BEA.”
“... mesmo com a estrutura lá embaixo sendo bem antiga, o resultado também não deixa a desejar. Então lá é
mais gente, é mais complicado, é mais difícil, mas mesmo assim eles fazem acontecer, querem atingir o
resultado.”
“Não [é cansativo]. A Ana pesquisou, 90% dos nossos funcionários são satisfeitos, felizes aqui dentro. Tinha
alguns até com proposta melhor e falou se deixaria "não".”
ECO-BEA Gestação Miunça Gestação
“Eu acho [a ECO-BEA mais tranquila do que a
Miunça]. Tem mais cobrança, mas eu acho bem mais
tranquilo. (...) Acho que é o trabalho. Até o
equipamento de alimentação de suínos, não tem
aquela correria toda de empurrar caminho e tal. Os
maquinais já funcionam legal, então isso facilita
muito.”
“...o serviço avança mais [na ECO-BEA]. Por
exemplo, porque são menos pessoas e tem uma
máquina que ajuda a gente, mas cada pessoa tem que
ter mais responsabilidade, eu não posso deixar a
pessoa só para fazer uma coisa.”
“Na lavoura você não tem horário, né. Era para ser o
contrário, né. Como isso daqui é criação viva e não
pode esperar, tem que comer todo dia... Eu prefiro
trabalhar aqui porque é mais tranquilo.”
“... é um trabalho tranquilo. É uma rotina, mas é uma
coisa tranquila. De manhã é mais pesado, tratar e
transferir. Agora na parte da tarde é só medicar e
subir as porcas para a maternidade.”
“Cansativo é, mas só no começo, depois você vai
pegando o ritmo e fica fácil. Não sei se é porque eu
sou novo, mas não é muito cansativo não.”
“É cansativo, não é fácil não. Ainda mais que são
quinze dias direto, você começou na segunda, aí
passa o final da semana e na outra sexta-feira para
você folgar ainda. Então é bem puxado.”
ECO-BEA Maternidade Miunça Maternidade
“É cansativo. Eu digo sempre, “gente se tem uma
mulher gordinha e ela quer perder energia vem
trabalhar aqui que vai ficar magrinha”.”
“É um pouco [cansativo] sim, na ECO-BEA eu vim
cansar mais do que na Miunça. Como aqui na ECO-
BEA é reduzido, são poucas pessoas, e lá na Miunça
não. [Na Miunça] se faltar um você tem como suprir
e aqui [ECO-BEA] se faltar um funcionário que seja,
ao invés de olhar 2 salas você já olha 3 e parte para
fazer outras coisas. Aqui faltou um funcionário você
cansa, e trabalha no sábado e no domingo e folga o
outro e um fim de semana é mais arrochado porque é
menos funcionário ainda e é um pouco
“Aqui é um trabalho aonde, assim, você trabalha com
o corpo, mas mais ainda com a mente porque tudo
você tem que planejar. Você tem que planejar a porca
que você vai desmamar, você tem que planejar peso
de leitão porque o leitão não pode sair pequeno, você
tem que planejar se uma pessoa do nada não vem
trabalhar, sabe. Então assim, eu acredito que a parte
física é cansativa, mas você cansa mais a parte
mental.”
“... lá só o fato de você não precisar mexer com
sacaria, tipo você pegar um saco de 40 quilos, para
uma mulher né é mais puxado. Então lá o trato é
direto do silo já vem para a linha e já cai no cocho, é
89
sobrecarregado.” só regular a quantidade que você quer que ela
coma.”
“... eu acho até que o serviço é bem leve.”
“Aqui não é pesado. Onde eu trabalhava era pesado,
porque descarregava caminhão.”
[G5] Saúde e Segurança do Trabalhador
De maneira geral, há concordância em toda a fazenda de que os acidentes graves são
raros – e são minimizados por treinamentos e maior atenção. Não há diferença entre as
granjas e pequenas escoriações são consideradas normais – como pode ser visto nos trechos
de entrevistas selecionados para o Quadro 22.
Quadro 22 - Trechos de Entrevistas do Tema: Saúde e Segurança do Trabalhador
Gestores
“É muito difícil acontecer [acidente de trabalho]. Para te falar a verdade, eu trabalho aqui há três anos e
foram dois acidentes só. Um não teve nada a ver com os animais e o da Jaqueline [estagiária da WSPA que
quebrou o dedo] (...) foi um vacilo dela que deixou a mão.”
ECO-BEA Gestação Miunça Gestação
“... de vez em quando a gente raspa o dedo aqui, mas
não tem mais porque a gente já fala para não
acontecer, a gente vê o perigo antes de acontecer. Eu
vou tirar uma porca, eu treino o caboclo antes para
não acontecer acidente, porque senão acontece. Eu
mesmo quando eu cheguei, o suíno pegou eu com a
grade aqui jogou em cima das grades, esse braço
aqui ficou lá embaixo, desceu, saiu do lugar. Mas
ninguém me falou nada, só falou “pega a grade e sai
aqui na frente”. Hoje em dia não, o caboclo chega aí
e eu falo para ele “é assim, assim”.”
“Era para ter muito acidente porque o tanto de
gaiola de ferro que tem, mexe com vassoura, rodo,
mas não tem acidentes. É um animal que você
aprende a... Ele está parado, depois que você aprende
a mexer com ele é tranquilo, um animal como
qualquer outro.”
“É tranquilo. Só assim que às vezes a gente vai
encostar na parede assim, só de a gente bater na
parede assim já arranca... A gente não mexe com
serviço pesado, então qualquer coisinha que você
esbarra já, mas é só... Mas acidente dos anos que eu
estou aqui, foram poucos.”
“Já teve um que estava na ECO-BEA, a porca bateu
o rabo no olho dele e ele ficou ruim da vista. Ele foi
rapar o traseiro da porca na maternidade, e bateu o
rabo no olho dele. Que eu conheço é só isso. Só um
machucadinho as vezes, mas é irrelevante, não se
machuca de verdade.”
ECO-BEA Maternidade Miunça Maternidade
“Não, eu acho muito raro. Esses tempos atrás um
menino tomou um escorregão aí, mais nada e foi só
superficial mesmo. Mas dizer acidente não, é muito
raro.”
“Aqui mesmo não, de vez em quando é normal mesmo
que bate no ferro porque é ferro para todos os lados,
mas nada de acidente, é basicamente tranquila.”
“Tipo, você está transferindo uma porca e você não
bater o joelho em uma gaiola, sabe, essas coisas
assim acontecem. Mas acidente, acidente mesmo
muito difícil.”
“É coisa pequena, corte no dedo, um machuca e bate
a perna, mas nada grave, eu não vi nada grave ainda
não, o dedo [quebrado pela estagiária da WSPA] foi
o máximo.”
90
[G6] Satisfação e Engajamento no Trabalho
A satisfação e o engajamento no trabalho são temas relacionados ao item [C5 - Geração
de Emprego, Renda e Retenção nas Áreas Rurais]. Durante as conversas com os funcionários
de manejo e gestores da fazenda, foram abordados aspectos como: trabalho em equipe,
rivalidade existente entre as granjas, gosto pelo trabalho e intenção de permanecer.
O trabalho na granja é visto por todas as áreas como um trabalho em equipe e parece
existir uma melhor integração na equipe de gestação da ECO-BEA decorrente da redução de
quadro fruto do uso de tecnologia – dado que a área tem somente três funcionários. Há,
contudo, uma rivalidade apontada pelo gestor entre as granjas Miunça e ECO-BEA que foi
reforçada pelo discurso de um dos funcionários da ECO-BEA, alegando que ninguém gostaria
de mudar de granja. Pode-se inferir que esta rivalidade tem sua origem na medição de
resultados de ambas as granjas, que acaba por comparar o desempenho das unidades, o que
pode não ser bem aceito, como também visto no item [C4 - Enriquecimento do Trabalho no
Campo].
Tal aspecto sugere uma discussão em torno dos processos de divulgação de resultados e
responsabilização dos supervisores por tais números. Estes pontos não foram estudados no
decorrer do trabalho, mas possivelmente uma melhoria na maneira de comunicação pode
atenuar esta questão. Cabe ressaltar, contudo, que os modelos de produção diferentes podem
aumentar a competitividade, mas que ela possivelmente existiria mesmo com granjas iguais,
caso os resultados sejam calculados separadamente. Um esquema de job rotation para granjas
que convivam com modelos em paralelo, como visto no item [C4 - Enriquecimento do
Trabalho no Campo] pode ser proveitoso para que todos conheçam as dificuldades e
benefícios de ambas as unidades.
Em relação à satisfação com o trabalho e intenção de permanecer, não parece existir
diferença entre as granjas ou as áreas. Os funcionários estão satisfeitos e os que pretendem
sair não declaram descontentamento – mas sim questões pessoais.
O Quadro 23 compila os comentários relacionados à satisfação e ao engajamento no
trabalho.
Quadro 23 - Trechos de Entrevistas do Tema: Satisfação e Engajamento no Trabalho
Gestores
“[As equipes de ambas as granjas] funcionam muito parecidas, mas está muito no supervisor que comanda,
por isso que eu estou trabalhando muito a padronização.”
“Nos dois setores eu acredito que há uma rivalidade. (…) Por mais que a gente tente administrar, mas tem. É
tudo igual. O gerente é o mesmo, temos até questão de ter o mesmo gerente para ter o mesmo perfil. (...) Eu
tento administrar, já tentei criar algumas coisas, mas nunca anulei a zero essa rivalidade.”
91
“Quem está na Miunça não quer vir para a ECO-BEA, quem está na ECO-BEA não quer ir para a Miunça.
Pode perguntar lá, se quiser fazer uma pesquisa. Quantos funcionários você falar lá, quantos querem vir para
a ECO-BEA. E pode fazer aqui, quantos querem ir para a Miunça. Se você tiver 10%... Acho que você não vai
conseguir nenhuma, mas se você quiser fazer e testar para ver... O que está lá tem um vínculo com o
supervisor... Acho que o principal é a rivalidade entre os supervisores, isso transmite para a equipe. Não é da
equipe. Esse é o ponto essencial. Se o supervisor dissemina aquilo para a equipe dele... Se um dissemina e
começa a competir com o outro, o outro já revida também e começa... É igual maternidade e gestação, mesmo
na Miunça maternidade e gestação tem uma certa competitividade (...) são clientes internos.”
ECO-BEA Gestação Miunça Gestação
"Uma equipe menor igual a nossa aqui, acho que
você tem mais responsabilidade. Você tem que fazer
aquilo. Numa equipe maior talvez você fique mais...
Não tem tanta responsabilidade."
"... se você for trabalhar sozinho, geralmente você
não vai conseguir fazer nada. Eu trabalho nesse
galpão e sempre preciso deles para passar uma
porca, descer, tirar... Então ajuda muito, até
desenvolve mais."”
"Por enquanto eu pretendo continuar no suíno
mesmo."
"Quero continuar com suínos. Agricultura trabalhei 4
anos, soja, milho e outras coisas, mas é cansativo.
Aqui é menos cansativo. Aqui é questão de horário,
tem horário para chegar e horário para sair. Se você
parar para pensar aqui é ralação você não para, aqui
a gente trabalha até o último minuto. Aqui é criação
viva, né. Soja e milho pode esperar um pouquinho.
Aqui não. Tem que comer. Se tiver 10 porcos para
comer, tem que colocar os 10 porcos para comer.
Mas eu gostei."
“A gestação é equipe e é todo mundo unido. O
serviço da gente tem que sair sempre perfeito ou
quase perfeito, então a gente trabalha em equipe para
não deixar nada atrapalhar.”
“É porque em granja para ter um resultado você não
faz resultado sozinho, para você ter um resultado
você depende do resultado do outro. Por exemplo,
hoje eu estou na gestação, mas eu já estive na
maternidade, então quando eu estava na maternidade
eu recebia as porcas da gestação, hoje é o contrário,
hoje eu recebo bastante maternidade. Se o pessoal da
maternidade não cuidar bem da porca quando ela
chegar na gestação ela não vai ter condição de ser
inseminada. Então é aonde exige a equipe. Da mesma
forma nós da gestação hoje nós estamos mandado as
porcas, mas se eu não fiz um trabalho bom a
maternidade vai receber umas porcas ruins, não vai
dar o número de leitão que era para dar, vai dar um
peso baixo, que eles não vão atingir o peso do
desmame.”
“Acho que vou ficar um bom tempo aqui. É um lugar
tranquilo de se trabalhar, apesar da rotina, tudo que
você fez hoje, amanhã você vai fazer a mesma coisa,
mas não tem a dor de cabeça que você tinha lá fora.”
ECO-BEA Maternidade Miunça Maternidade
“... aqui a gente é bem parceiro e um a um está
sempre ajudando o outro.”
“É trabalho em equipe sim, tem as suas partes
individuais, mas no todo é a somatória de um com um
que dá o resultado, mas tem individual também, se
você não fizer a equipe sente.”
“... aqui eu aprendi a gostar muito da suinocultura,
de estar mexendo com os animais, eu já mexia com
animais, mas como suíno é uma coisa nova então eu
me entusiasmo e continua me entusiasmando. Mas eu
não pretendo ficar aqui não, porque eu pretendo
voltar para a minha terra.”
“Eu te falo com toda sinceridade, eu amo o que eu
faço e vejo o futuro entendeu? Enquanto eles
precisarem do meu serviço eu vou estar aqui e quero
aprimorar, se tiver mais palestras, se tiver mais
treinamento.”
“Lógico que toda equipe tem os seus altos e baixos
né, só que a gente procura sempre fazer. A gente
procura o máximo minimizar o trabalho individual,
lógico que buscando fazer com que eles, mostrar a
importância do trabalho individual que cada um
também tem que fazer a sua parte, mas sempre
buscando fazer um trabalho unido. Assim, um
depende do outro aqui.”
“[É equipe] sim e muito. Há um tempo atrás não era
nem tanto, era mais cada um era cada um, ele fazia o
dele e o outro tinha que fazer o dele, mas hoje não.
Hoje todo mundo ajuda todo mundo. Um está
apertado e o outro via lá e ajuda, eu nunca deixei ele
na mão.”
“Eu escolhi trabalhar assim nisso que eu gosto, que
eu amo o que eu faço, eu amo animal, amo minha
profissão. Uma coisa que antes eu achava muito
difícil era você transformar pessoas, hoje eu acho que
cada pessoa que eu consigo transformar um pouco
92
“... se falar para vir para lá [Miunça] acredito que
mais de 90%, quase 100% não quer vir trabalhar
aqui [ECO-BEA] de jeito nenhum. (...) Eu acredito
que também não [alguém da ECO-BEA ir para a
Miunça], mesmo aqui sendo uma correria muito
grande, eu tenho quase certeza que aqui nenhum vai
para lá também.”
para mim já é uma vitória muito grande, sabe.”
[G7] Imagem do Setor
Quando colocadas questões que incitavam discussões sobre a imagem do setor, surgiram
comentários relacionados ao tema em duas esferas distintas: a visão que ativistas possuem
sobre a suinocultura e a opinião sobre a suinocultura que é emitida no cotidiano dos
trabalhadores por pessoas de seus círculos sociais e convívio.
A esfera mais ampla, dos ativistas, critica a suinocultura por seus métodos de produção, e
acaba por atingir os funcionários da fazenda pelos meios de comunicação, principalmente
pelas redes sociais. Estas críticas parecem afetar de maneira igual aos funcionários de ambas
as granjas, dado que se sentem envolvidos em ambos os sistemas, mas podem ser amenizadas
pela alteração do modelo convencional para a produção em baias coletivas. Isto fica evidente
no discurso de um dos gestores e no de um funcionário da maternidade da Miunça em
referência à ECO-BEA.
A visão e as críticas emitidas por pessoas dos círculos sociais dos trabalhadores também
afetam igualmente a todos e não sofrem mudança dado o modelo de produção. Existe um
preconceito quanto ao trabalho nas fazendas de suínos – principalmente no tangente ao odor –
e que pode estar ligado ao desconhecimento das fazendas, como pode ser notado no
comentário de um funcionário da gestação da Miunça, que cita surpresa de pessoas externas
ao verem imagens reais da fazenda. Os trabalhadores da fazenda Miunça, contudo, parecem
estar criando maior orgulho do local que trabalham e se tornando mais imunes aos
comentários emitidos.
O Quadro 24 compila os comentários dos funcionários que tratam da imagem do setor.
Quadro 24 - Trechos de Entrevistas do Tema: Imagem do Setor
Gestores
“Esses dias eu estava em rede social (...) e uma amiga minha colocou logo de manhã (...) uma foto de uma
matriz. (...) E estava uma matriz muito bonita, com uns leitões muito bonitos na maternidade amamentando.
Ela colocou assim "me desculpe, logo de manhã colocar uma imagem tão chocante” e era uma porca mesmo
dentro de uma gaiola. E achei linda a foto e fantástica, e muito bem alimentados e bonitinhos e tal. Depende
muito da forma que se vê, o ponto de vista, você está me entendendo? Dentro da norma de bem-estar e de
produção os animais são muito bem tratados assim e bem alimentados. Quando eu falo assim bem tratados não
estou falando só do manejo com as pessoas, mas estou falando de sanitário, estou falando de nutrição.”
“Hoje nas redes sociais você não tem noção do que chega para eles. (…) Afeta [a equipe] e o nosso papel
93
como gestores e defensores da atividade é mostrar para eles que aquilo que está sendo colocado tem um
fundamento por trás, por isso até a parceria com a WSPA. Então tem um fundamento por detrás. Então vamos
buscar produzir o animal e não vamos parar de produzir animal. Nós fazemos um negócio muito bonito que é
produzir alimentos, e não podemos parar de fazer, mas fazendo de uma maneira correta, da melhor forma.”
“Existe [preconceito] da parte deles mesmo, do funcionário que tinha vergonha de falar. “Você trabalha
aonde?”; “Eu trabalho na granja”; “É granja de que?”; e demorava para responder. E hoje não. Hoje eu
acho que com todo esse trabalho que a gente vem fazendo eles tem orgulho de falar “Trabalho na granja de
suíno”; “Suíno? O que é suíno?”; “É de porco”; “Ah tá!”; “Mas porco, porco eu posso dizer que somos nós.
Porque lá eles têm veterinários, têm nutricionista e têm pessoas 24h cuidando deles.”; eu estou falando coisas
que eu ouço nas pesquisas. Isso é a consciência deles..”
“Um cara que está lá fora, ele tem um preconceito do suíno pelo cheiro "você trabalha naquele local?". Eu
tenho maior orgulho de falar "eu trabalho com suínos". Se alguém falar mal, eu me defendo. Eu me sinto
amargurado por dentro quando falam.”
ECO-BEA Gestação Miunça Gestação
“Tem preconceito, principalmente quem mora há
bastante tempo na cidade tem esse preconceito. Você
pode ver que a maioria que está aqui hoje
trabalhando na granja é da zona rural. Por quê?
Porque você manda gente da zona urbana trabalhar
com granja, só quem trabalha na zona rural que
trabalha na granja e tem pouca gente na zona rural e
tem muito serviço, tem muita lavoura. Por isso a
tecnologia está aumentando, porque não está tendo
mão de obra.”
"Lá fora tem gente que pergunta "não fede muito?".
Tem muita gente, mas é a minoria."
"Quando eu digo do trabalho para os meus amigos,
eles têm um preconceito “fede demais”, mas isso é
gostar. Muitos têm essa visão negativa aos suínos."
“Aí eu fui para lá passear uns dias lá e aí um cara
falando assim “a granja lá assim, o chiqueiro, não
sei o que”. Falei “não, vou te mostrar”. Aí tinha um
vídeo, “não, é isso aqui”. Aí o cara ficou assim, “isso
aqui que é lá...”.
“Os que eu conheço não gostariam de trabalhar aqui
porque falam que é com porco, é nojento e fedido.
Mas se você vir trabalhar mesmo, você vai ver que
não é tudo isso que pensam. Quando eu comecei aqui,
eu vi uma placenta e falei “não vou pegar na
placenta, negócio nojento”, mas é só acostumar. (...)
Preconceito é quando a pessoa não precisa, mas
quando ela está precisando, não tem preconceito.”
ECO-BEA Maternidade Miunça Maternidade
Feitas as mesmas perguntas, nenhum funcionário da
Maternidade da ECO-BEA fez comentários
relacionados à Imagem do Setor.
“Com certeza ainda é muito mal vista a suinocultura
no Brasil, mesmo tendo crescido muito eu acho que
mesmo assim continua. Não fala que trabalha na
suinocultura, fala que trabalha com porco, é um
campo muito mal visto ainda.”
“A ECO-BEA é muito bem vista por causa desse bem-
estar animal, a carne pode ter um preço maior, pode
ter um mercado maior para essa carne, então faz
diferença sim.”
[Não específica] Orientações para Novas Granjas
Quando perguntados sobre que dicas dariam para alguém que pretende abrir uma granja,
os entrevistados abordaram os seguintes temas: instalações, seleção genética dos animais e
equipe. A respeito das instalações, há uma concordância geral de que o modelo da ECO-BEA
é preferível, pois foca no bem-estar animal, aparenta ser mais eficiente e é o modelo que
predominará no mercado. Sobre a seleção genética dos animais, há sugestão de que haja a
94
escolha da raça dependendo do objetivo da granja – pois está diretamente ligada as
especificações do produto final. Por fim, o tema mais enfatizado foi relacionado à equipe.
Fica claro no discurso dos funcionários que as instalações e a tecnologia auxiliam no
atingimento do resultado das granjas, no entanto o trabalho em equipe e o modo de manejo
são diferenciais. Assim, qualquer novo empreendimento deve focar em uma seleção de
funcionários com paciência para lidar com os animais, realizar treinamentos não somente
focados em produtividade mas também no bem-estar dos suínos e contar com gerentes e
sistemas de gestão que motivem as equipes. Esta opinião dos funcionários, que é igual na
ECO-BEA e Miunça, pode ser vista no Quadro 25 e é coerente com os índices produtivos das
unidades – que superam índices de outras fazendas com igual tecnologia e seleção genética.
Quadro 25 - Trechos de Entrevistas Relativos a Orientações Sobre Novas Granjas
Gestores
“Hoje a gente vê a empresa Miunça num grande legado de comando, perfil de equipe, nesse sentido de
treinamento. Mas se ele deixar a equipe treinada com o propósito de fazer resultado, pensando nesse lado de
bem estar e não só como produção, mas como tratamento também, isso cria um clima legal, entendeu? Encarar
a suinocultura como um negócio de oportunidade e correr atrás, gostar. Se é alguém que vá trabalhar
diretamente, tem que gostar daquilo que vai fazer. Esse é o grande legado que temos aqui.”
ECO-BEA Gestação Miunça Gestação
“Já visitei varias granjas e a melhor instalação que
já conheci foi essa aqui. Em termos de bem estar,
espaço... Acho que aqui é um bom exemplo.”
“Em questão de funcionários... fazer entrevistas,
pegar caras bem pacientes. O cara que você vê que é
estressado, você fala "esse cara não serve". Tem que
pegar uns caras com paciência porque tem que ter
paciência para mexer com o bicho, muita paciência.
Não estou falando que o animal estressa, é que se
você pegar um cara estressado, ele vai machucar o
bicho e vai se machucar.”
“... agora hoje assim fora tem lugar que já não aceita
mais gaiola né. Então se eu fosse abrir, eu já abriria
no bem-estar porque no futuro vai querer trabalhar
só com isso né, então você tem que pensar para frente
também, porque granja é muito tempo né. Não vai
montar uma hoje para daqui dez anos você fechar né.
Você pretende montar uma hoje e ir produzindo
direto. Então como no mundo já tem muito isso de
bem estar, se tiver condição é melhor você montar...
Agora não tem condição, só tem condição para
montar a granja convencional, então não tem jeito
né.”
“Acho que as porcas em baias seria ideal, mas tinha
que ter um lugar de gaiola para você inseminar
elas.”
“Primeiro você tem que escolher uma raça que seja
boa, que produza bem, porque tem raça que não
produz bem. Aqui se você vai produzir carne ou se
você vai produzir matrizes, se você for produzir para
vender para frigorífico você vai produzir leitão que
tem mais carne, menos carcaça.”
“... primeiro você tinha que ter uma gerência bem
boa né e entender do negócio, porque às vezes você
“ah vou montar uma granja ali” mas não tem
ninguém que entende... “vou mexer, mas não
entendo”, você tem que ter uma teoria bem forte, uma
prática, pessoa que entende mesmo, se você não tiver
essa pessoa que entende, não adianta. E não deixaria
95
de fazer esse treinamento com as pessoas, motivação,
essas coisas são importantes na empresa.”
ECO-BEA Maternidade Miunça Maternidade
“Eu acho que eles estariam bem instalados e pra mim
qualquer empresário que for querer investir eu acho
que tem que pensar no bem-estar animal.”
“Se você fosse abrir não só uma granja, mas
qualquer negócio você tinha que lapidar as pessoas
que ia estar com você, isso é o mais importante. Tem
que lapidar porque tem muitas pessoas, mas não vai
ser todas que vai te dar aquele suporte, tem muitas
pessoas que nascem para ser, mas têm outras que
nascem para ser base desses que tem que ser, que te
segura, que te dá o chão quando você está apertado,
te serve de escada. Não tem a importância de ver a
pessoa crescer, ele tem o prazer de ver, tem pessoas
que são assim, tem outras que não. Então se a pessoa
for começar qualquer negócio ela tem que começar
com as pessoas, apesar das tecnologias grandes, o
que faz mover é a gente, nós que colocamos esse
negócio para frente. A ECO-BEA tem essa estrutura,
mas se não for nós ela não vai.”
“... com certeza uma instalação mais nova,
tecnologia mais nova com certeza são eficientes,
ninguém vai produzir um maquinário novo para ser
menos eficiente do que o que ela tem, sempre fez para
ultrapassar.”
“Hoje em dia quanto mais você conseguir reduzir a
mão de obra na sua granja, você ganha. Porque uma
das coisas que mais pesa na suinocultura é a mão de
obra né. E lógico que também você fazer uma granja
moderna também não vai sair muito em conta, mas eu
acredito que você reduzindo a sua mão de obra, você
paga todo o gasto que você teve em fazer. Então
quando você investe em tecnologias, você ganha
muito em não ter muitas pessoas trabalhando.”
“Importante? Uma coisa que é importante mesmo é a
equipe, sabe. Se você não tiver equipe, você não tem
resultado. Você pode ter o melhor salário, você pode
ter o melhor gerente, você pode ser o melhor
supervisor, mas se você não tiver pessoas que te
apoiam e que gostem do que fazem, você não tem
resultado. Você pode investir na melhor tecnologia do
mundo também porque nem tudo a pessoa vai fazer,
nem tudo a máquina vai fazer né. A máquina ela vai
fazer 50, 60%, só que querendo ou não você tem que
ter gente boa trabalhando para você e gente que
quer.”
Resumo da Avaliação Comparativa das Questões Sociais para Sistemas Com e Sem
Ênfase em Bem-estar Animal
Na dimensão social, há indicação de que existe vantagem para a granja ECO-BEA. Em
relação à granja Miunça, o modelo com bem-estar animal tem maior investimento em
inovação, o que gera enriquecimento do trabalho no campo, redução do desgaste físico dos
funcionários e melhoria da imagem do setor frente ao mercado e aos ativistas. Há, contudo, a
menor geração de emprego e renda no campo – dado que a tecnologia torna o negócio menos
intensivo em mão-de-obra sem aumentos salariais para os cargos mais enriquecidos. Contudo,
como contrapartida, a redução das equipes gera um desenvolvimento mais acelerado e
completo dos empregados.
O detalhamento de todos os itens avaliados pode ser visto no Quadro 26 que mostra, para
cada um dos itens do estudo de caso, o posicionamento da ECO-BEA em relação à Miunça e
um breve resumo da situação identificada nas análises individuais de cada tópico.
96
Quadro 26 – Resumo da Avaliação Comparativa das Questões Sociais: ECO-BEA vs. Miunça
Itens de Relevância
Social
ECO-BEA
/ Miunça Resumo da Situação
Impactos sobre as comunidades ao redor
[C1] Percepção da
comunidade sobre as
granjas =
A comunidade percebe a fazenda como um ativo, independente do
modelo de produção da granja, dada a geração de empregos e a fama
de tratar bem aos seus funcionários. Neste quesito, a ECO-BEA
apenas tornou a fazenda mais conhecida pela atração da mídia,
gerando orgulho para os funcionários.
[C2] Emissão de odores =
Não há diferenciação dos modelos produtivos pela emissão de odores,
que é mais influenciado pela técnica de tratamento de resíduos.
[C3] Investimento em
inovação
O investimento em inovação é maior na ECO-BEA, com aferição
direta vista nos fluxo de caixa do item 4.2.
[C4] Enriquecimento do
trabalho no campo
O enriquecimento do trabalho pela aplicação de tecnologias
relacionadas ao BEA ocorre pelo tratamento dos animais de maneira
individualizada, com acompanhamento de seu comportamento pelo
chip na orelha. Além disso, a redução de quadro de pessoal exige
profissionais multifuncionais e aumenta a complexidade do serviço.
[C5] Geração de
emprego, renda e
retenção nas áreas rurais
Há igual atração e intenção de ficar em ambas as granjas, com salários
também salários iguais. Contudo, pelo uso de tecnologia, há menor
geração de empregos – apesar de mais enriquecidos.
Impactos internos as granjas
[G1] Relação afetiva
com os animais e
estresse =
Não há indícios de que a relação afetiva com os animais e o estresse
sejam diferentes para os trabalhadores dos dois modelos de produção,
apesar de todos concordarem que a qualidade de vida dos animais é
melhor na granja ECO-BEA.
[G2] Treinamento e
desenvolvimento de
pessoas
Não há diferença entre as granjas no tangente ao nível de
conhecimento para contratação, tipos de treinamento ou oportunidades
de crescimento. Contudo, pela maior redução de quadro e
enriquecimento dos cargos, o desenvolvimento dos trabalhadores da
ECO-BEA é mais acelerado.
[G3] Eficiência no
manejo
≠
As dificuldades do manejo parecem diferentes, mas sem definir uma
granja como melhor. Na ECO-BEA, há indicação de que as matrizes
são mais dóceis, mas com uma necessidade maior de paciência pela
inexistência de limites físicos para o movimento dos suínos. Na
Miunça, por outro lado, apesar da limitação de movimentos trazidos
pelas gaiolas, os animais são mais ariscos e é necessário fazer a
movimentação uma a uma, sem o ganho de escala do grupo.
[G4] Desgaste físico
Nas áreas de gestação, que caracterizam a diferença de bem-estar entre
os modelos, sugere-se menor desgaste físico na ECO-BEA. Apesar do
serviço mais corrido pelo menor número de funcionários, a eliminação
do arraçoamento manual melhora o trabalho. Na maternidades,
contudo, que não caracterizam o modelo de bem-estar animal, a falta
de folga da ECO-BEA parece tornar o serviço mais cansativo, pois
apesar de inexistirem as atividades de arraçoamento, os funcionários
precisam olhar mais gaiolas e salas.
[G5] Saúde e segurança
do trabalhador = Não há diferenças entre os sistemas da Miunça e ECO-BEA quanto a
saúde e segurança dos trabalhadores, com baixos índices de acidentes.
[G6] Satisfação e
engajamento no trabalho
=
A satisfação dos trabalhadores, seu engajamento e intenção de
permanecer são iguais em ambas as granjas. Há, contudo, maior
integração da equipe de gestação da ECO-BEA, dado o número
reduzido de funcionários. Como ponto adicional, se ressalta a
competitividade existente as granjas pelo atingimento de metas.
[G7] Imagem do setor
Em uma esfera maior, de críticas de ativistas e do mercado, a granja
ECO-BEA pode melhorar a imagem da fazenda – ainda que os
funcionários se sintam atingidos de uma maneira geral por trabalharem
97
5.3. RESULTADOS DO PILAR FINANCEIRO
5.3.1. Modelo para Avaliação do Pilar Financeiro
O modelo de fluxo de caixa descontado proposto para avaliação de granjas de
suinocultura é constituído por três componentes: a estrutura de contas necessárias para se
encontrar o Fluxo de Caixa Livre da Empresa (FCLE), uma sugestão sobre os períodos de
projeção a serem utilizados e uma sugestão de taxas de desconto. Cada um dos três será
explicado a seguir.
5.3.1.1. Fluxo de Caixa Livre da Empresa para Granjas de Suinocultura
De maneira resumida, o Quadro 27 coloca a estrutura de contas que compõe o fluxo de
caixa livre para granjas de suinocultura.
Quadro 27 – Estrutura Resumida para Cálculo do FCLE em Granjas de Suinocultura
1. Receita Bruta Devem ser consideradas as receitas provenientes da
operação da granja.
(−) ICMS b c
O ICMS (Imposto sobre Operações relativas à Circulação
de Mercadorias e Prestação de Serviços de Transporte
Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação) incide
sobre todas as fontes de receita.
(=) Receita Líquida A receita líquida é, então, composta pela receita bruta
retirado o ICMS.
2. (−) Custos e Despesas Os custos de despesas caixa e não caixa da granja são
subtraídas da Receita Líquida.
(=) EBIT Subtraindo-se os custos e despesas da Receita Líquida,
obtém-se o EBIT.
(−) I p R / C bu S c Imposto de Renda e a Contribuição Social incorridos
sobre o EBIT.
(=) Lucro Operacional Após o IR (NOPAT) Retirando-se o IR e a CS do EBIT, obtém-se o Lucro
Operacional
3. (−) Investimentos
Para adequação da lógica econômica à lógica de fluxo de
caixa todos os investimentos e reinvestimentos devem ser
contemplados no cálculo.
(+) Depreciação
Por fim, é necessário que seja adicionada também a
despesa de depreciação descontada anteriormente, por ser
uma despesa não caixa. Seu único impacto no FCLE deve
ser a redução que gera no pagamento dos impostos.
(=) Fluxo de Caixa Livre da Empresa (FCLE) A partir do NOPAT, com a adição da Depreciação e
subtração dos investimentos, obtém-se o FCLE.
criando suínos. Contudo, em uma esfera reduzida, de críticas dos
amigos e comunidade, a existência da unidade de bem-estar animal
não gera mudanças.
Legenda:
() Desempenho da granja ECO-BEA superior ao da Miunça
( = ) Desempenho da granja ECO-BEA igual ao da Miunça
() Desempenho da granja ECO-BEA inferior ao da Miunça
( ≠ ) Diferente entre as granjas ECO-BEA e Miunça sem relação de superioridade
98
Os Quadros 28, 29 e 30 detalham, respectivamente, os itens de receita, os custos e
despesas e os investimentos que devem ser considerados para adequação da estrutura genérica
a uma avaliação financeira específica de granjas de suinocultura.
Quadro 28 - Detalhamento das Contas de Receita
1. Receita Bruta
Uma mesma granja pode obter receitas de diversas fontes com preços,
volumes, crescimentos e tendências diferentes, sendo necessário assim
que se detalhe cada uma delas. O somatório de todas as fontes de
receita compõe a Receita Bruta total.
(+) Venda de leitões
A venda de leitões para abate ou para que sigam para a fase de
terminação em outras em outras unidades é comum à maior parte das
granjas.
(+) Venda de reprodutores(as)
Granjas núcleo ou multiplicadoras podem ter receita decorrente da
venda de animais para serem utilizados como reprodutores – tanto
machos quanto fêmeas. Estes animais geralmente têm um preço
diferenciado em relação aos leitões vendidos para abate.
(+) Venda de suínos descartados
É comum, também, a receita obtida com a venda de suínos descartados
que são destinados ao abate mas que sofrem um desconto no preço da
carne – por serem animais mais velhos e por não serem castrados.
Um alerta importante relacionado as contas de receita é que estas iniciam seu
crescimento em períodos posteriores ao término dos investimentos na granja. Assim, deve-se
observar o planejamento e o ramp-up de produção e, provavelmente, detalhar as contas de
maneira mensal antes que atinjam estabilidade para previsão anual.
Quadro 29 - Detalhamento das Contas de Custos e Despesas
2. (−) Custos e Despesas Os custos e despesas caixa e não caixa devem ser considerados.
Itens de Consumo Custos com os itens consumidos no processo produtivo.
(−) R Devem ser contabilizados, para cada período, os custos
incorridos com os diferentes tipos de ração utilizados na granja.
(−) M c V c Os medicamentos e vacinas utilizados pelos animais também
devem ter seu custo calculado.
(−) T I f c dos Animais
O custo com tags de identificação deve incluir os brincos
utilizados na orelha dos animais, as tatuagens e o custo com chips
colocados nos animais para leitura por equipamentos.
(−) M p C b u Os materiais para cobertura incluem pipetas, diluentes, etc.
(−) M L p z
Nos materiais de limpeza, devem ser considerados não somente
os gastos com produtos utilizados diretamente na desinfecção das
granjas (como espumante); mas todos os gastos com produtos
necessários para o funcionamento da granja – como vassouras,
rodos, sabão em pó para lavagem dos uniformes, etc.
(−) I u p T D j Deve ser contabilizado, também, o custo com materiais para
tratamento de dejetos – como a palha de arroz
Pessoal Custos e despesas com salários, encargos e benefícios
(−) F h Op
Custo da mão de obra direta utilizada nos processos da granja,
como gestação, maternidade e terminação. Todos os empregados
envolvidos diretamente no processo produtivo devem ter seus
salários, encargos e benefícios contabilizados neste item.
(−) F h Sup Despesa com mão de obra relacionada ao suporte da produção –
como gerência, pessoal de manutenção, cantina, e apoio em geral.
99
Também devem ser colocados os salários, encargos e benefícios
individuais, caso existam.
(−) U f E I
Contabilização da despesa com uniformes e EPIs dos
funcionários – como botas, óculos, toucas e protetores
auriculares.
(−) B fíc
Despesa com outros benefícios possivelmente oferecidos pela
granja que não estão contemplados na folha de pagamento dos
funcionários – tal como transporte coletivo, alojamento, etc.
Utilidades Custo e despesas com utilidades
(−) Á u Custo com água utilizada na granja – tanto no processo produtivo
quanto nos chuveiros, lavanderia, refeitório, etc.
(−) E E é c
Custo com energia elétrica utilizada na granja. No caso de
grandes propriedades, é necessário que se discrimine
corretamente a energia que é utilizada na granja da que é
consumida nas habitações da fazenda, ou em outros cultivos e
criações.
(−) GL
Caso haja utilização de equipamentos que consomem GLP, tais
como aquecedores, é necessário que se contabilize o gasto com
gás.
(−) C u c Os gastos com serviços de comunicação, como internet e
telefonia devem ser incluídos.
(−) V ícu Gastos correntes com carros, caminhões, e tratores, tais como:
manutenção, combustível, seguro.
(−) Equ p C Custo dos equipamentos em comodato utilizados na granja.
Serviços Terceirizados
As granjas podem, ao invés de manter funcionários em seu
quadro e investir em equipamentos, terceirizar alguns serviços –
o que gera despesas recorrentes.
(−) S v v Despesas periódicas com serviços de veterinário terceirizado.
(−) S v u c Despesas com serviços de nutricionista para os animais.
(−) S v í c f
A granja pode ter investimento em caminhões e motoristas no
quadro de funcionários. Contudo, existe a possibilidade de que
serviços de logística e frete sejam contratados – e seu custo deve
ser considerado.
(−) S v c qu
das rações
Análises químicas para controle de qualidade da ração dos
animais geram despesas que devem, também, ser contabilizadas.
(−) Depreciação
Deve, ainda, ser considerada como despesa a depreciação dos
equipamentos e das construções da granja. Para períodos de
depreciação, sugere-se o uso de 25 anos para as construções, de
15 anos para equipamentos de alojamento (como gaiolas) e
alimentação individualizada e cinco anos para outros
equipamentos e veículos.
Cabe ressaltar que, assim como as receitas, os custos e despesas se iniciam após a final
dos investimentos com o início das operações – e há um crescimento de consumo até sua
estabilização. Por isto, é necessário que os anos iniciais de produção estejam com um
detalhamento mensal, permitindo avaliar o crescimento de cada um dos itens.
Quadro 30 - Detalhamento das Contas de Investimentos
3. (−) Investimentos
As contas de investimento têm um alto valor inicial,
decorrente da construção e montagem da granja; e
posteriormente se sustenta em um patamar mais baixo,
relacionado ao reinvestimento necessário para manter a
granja funcionando e a reposição de animais. É preferível
100
que as taxas de reinvestimento sejam estimadas
precisamente, contudo, uma boa aproximação para este
número é o valor da depreciação do ativo.
Animais de Produção Para início de funcionamento, é necessário compor o
plantel da granja, e posteriormente repor os animais.
(−) M z (Fêmeas de reprodução) Investimento na compra de matrizes.
(−) C ch (Machos para reprodução) Investimento na compra de cachaços.
Construção Civil Investimento feito nos prédios da granja.
(−) T
Valor pago no terreno para instalação da granja. É
importante fazer a ressalva de que algumas propriedades
tem área maior do que a área necessária para operação da
granja – por vezes voltadas a outras culturas. Para não
prejudicar a avaliação, deve ser considerada somente a
área relacionada à granja, aos serviços de suporte, e uma
possível margem de segurança.
(−) C u C v Op
Valor investido em construção civil da operação da granja
– considerando os galpões, pisos, etc. Para facilitar
análises futuras e comparações, pode ser interessante que
o valor das construções seja colocado de maneira
separada: gestação, maternidade, terminação, etc.
(−) Construção Civil de Serviços de Suporte
Valor investido na construção civil dos serviços de
suporte da operação, tais como refeitórios, escritórios,
compostagem, etc.
Equipamentos
Investimento estimado para todos os equipamentos
relacionados ao funcionamento da granja. Para facilitar
análises futuras e comparações, pode ser interessante que
os equipamentos sejam listados de acordo com sua
aplicação em gestação, maternidade, creche, terminação.
(−) Equ p j
Valor estimado dos equipamentos utilizados para
alojamento dos animais, tais como gaiolas individuais,
divisórias para gaiolas, escamoteadores, cortinados, etc.
(−) Equ p p
Investimento estimado em equipamentos de alimentação,
como cochos, bebedouros, dutos de transporte de ração e
drops, máquinas de alimentação individualizada, etc.
(−) Equ p C
Investimento estimado para equipamentos utilizados no
controle da granja – como computadores e leitores de chip
dos animais
(−) Ou Equ p Op
Serviços
Outros equipamentos utilizados na granja, como os do
laboratório de preparação do sêmen e as lavadoras de alta
pressão
(−) V ícu Valor estimado dos carros, caminhões e tratores a serviço
da operação da granja
Capital de Giro Líquido
Investimento em capital de giro da operação da granja. É
importante considerar não somente o investimento inicial,
mas também os ajustes no capital de giro – que pode
aumentar ou diminuir dependendo das condições de
produção, venda e compra.
(−) E qu R Valor de mercado do estoque de ração mantido na granja
– estimados os dias necessários de estoque.
(−) E qu M c V c Valor de mercado dos medicamentos e vacinas mantidos
em estoque – estimados os dias necessários de estoque.
(−) E qu T I f c
Animais
Valor de mercado dos tags de identificação mantidos em
estoque dados os dias de cobertura necessários.
(−) E qu de Materiais para Cobertura Valor de mercado dos materiais para cobertura mantidos
em estoque.
(−) E qu M L p z Valor de mercado dos materiais de limpeza mantidos em
estoque.
(−) E qu I u p T Valor de mercado dos insumos para tratamento de dejetos
101
Dejetos mantidos em estoque.
(−) F c c (c
receber)
Estimativa das contas a receber de acordo com o prazo de
financiamento dado aos clientes da granja.
(+) Financiamento por fornecedores (contas a
pagar)
Estimativa das contas a pagar de acordo com o prazo de
financiamento que os fornecedores dão para a granja.
Assim como as receitas e custos, os investimentos também seguem um cronograma de
aplicação – principalmente nas etapas de obras e instalação dos equipamentos. Portanto, para
os períodos iniciais, antes da estabilidade do capital de giro e dos reinvestimentos, pode ser
necessário que os fluxos de caixa sejam construídos mensalmente.
Vistos os detalhamentos e explicações das contas, o Quadro 31 traz um resumo mais
visual da estrutura para cálculo do FCLE em granjas de suinocultura.
Quadro 31 - Estrutura Completa para Cálculo do FCLE em Granjas de Suinocultura
Receita Bruta (−) S v c qu õ
(+) Venda de leitões para terminação (−) Depreciação
(+) Venda de reprodutores(as) (=) EBIT
(+) Venda de suínos descartados (−) I p R / C bu S c
(−) ICMS b c (=) Lucro Operacional Após o IR (NOPAT)
(=) Receita Líquida (−) Investimentos
(−) Custos e Despesas Animais de Produção
Itens de Consumo (−) M z
(−) R (−) C ch
(−) M c V c Construção Civil
(−) T I f c
Animais (−) T
(−) M p C b u (−) Construção Civil da Operação
(−) M L p z (−) C u C v S v Sup
(−) I u p T
Dejetos Equipamentos
Pessoal (−) Equ p j
(−) F h Op (−) Equipamentos para Alimentação
(−) F h Sup (−) Equ p C
(−) U f E I (−) Ou Equ p Op S v
(−) B fíc (−) V ícu
Utilidades Capital de Giro Líquido
(−) Á u (−) Estoque de Ração
(−) E E é c (−) E qu M c V c
(−) GL (−) E qu T I f c
(−) C u c (−) E qu M p C b u
(−) V ícu (−) E qu M L p z
102
(−) Equipamentos em Comodato (−) E qu I u p T D j
Serviços Terceirizados (−) F c c (c c b )
(−) S v v (+) Financiamento por fornecedores (contas a pagar)
(−) S v nutricionista (+) Depreciação
(−) S v í c f (=) Fluxo de Caixa Livre da Empresa
É importante ressaltar, contudo, que o uso da guia colocada no Quadro 31 não deve
ocorrer sem ajustes. As operações de diferentes granjas geram fluxos de caixa com perfis e
componentes distintos, o que pode tornar os itens listados mais ou menos relevantes. Como
exemplo, pode-se considerar a diferença existente de uma granja multiplicadora para uma
comercial – com a primeira tendo receitas decorrentes da venda de matrizes e a segunda
somente receitas de venda para abate.
Feita a adequação dos itens que devem ser estimados, restam as definições do período de
projeção e da taxa de desconto a serem utilizadas.
5.3.1.2. Período de Projeção de Fluxos de Caixa Livre para Granjas de Suinocultura
Como visto no item 3.3.3, a definição do período de projeção dos fluxos de caixa deve
levar em consideração as três variáveis sugeridas por Martelanc, Pasin e Pereira (2010): risco
do negócio, período transiente e estabilidade dos fluxos de caixa e limitações de vida útil dos
ativos.
O setor de produção de suínos é um setor de base e não há riscos que justifiquem uma
projeção de curto prazo. Além disto, a vida útil do ativo principal é longa – recaindo a decisão
sobre o período transiente. O elevado investimento nas granjas de suinocultura as
caracterizam como um negócio de retorno a longo prazo, o que foi confirmado pela análise
dos fluxos de caixa no estudo de caso e por conversas com especialistas e com o produtor de
suínos participante do estudo de caso Sr. Rubens Valentini.
Por isto, sugere-se que seja realizada uma avaliação financeira com operação de pelo
menos dez anos, com venda dos ativos no final do período, ou uma projeção com
perpetuidade sem crescimento a partir do último ano de projeção explícita. A seleção de dez
anos como prazo mínimo se baseia no prazo de pagamento concedido pelo BNDES no
Programa Inovagro, utilizado na simulação de alavancagem financeira. Como o programa tem
como objetivo fomentar o setor, pode-se imaginar que ele tenha um prazo de pagamento
compatível com objetivos do produtor. Já a ressalva a respeito do crescimento zero na
perpetuidade foi feita pelo risco de superavaliação de projetos com taxas de crescimento
perpétuas.
103
Um último ponto a ser considerado sobre o período de projeção dos fluxos é que para os
primeiros anos pode ser necessário um detalhamento mensal – dado o cronograma de
investimento e o crescimento gradativo dos custos e receitas.
5.3.1.3. Taxa de Desconto para Fluxos de Caixa de Granjas de Suinocultura
Como visto no método proposto, a definição de uma taxa de desconto não é uma ciência
exata. Por isto, foram feitas três estimativas distintas utilizando o modelo CAPM: duas
considerando fatores puramente domésticos do Brasil, e outra considerando um modelo
híbrido com dados dos EUA e do Brasil, sugerido por Leal (2012).
Para que os cálculos fossem realizados, as variáveis foram estimadas e estão dispostas
nos quadros a seguir. O Quadro 32 apresenta as taxas livres de risco utilizadas.
Quadro 32 - Taxas Livre de Risco
Taxas Livre de Risco:
Brasil Estados Unidos
Taxa livre de risco nominal estimada pela
NTN-F para 2025.10
Taxa livre de risco nominal estimada pela média
aritmética dos retornos anuais do T.Bond de
2005 a 2014.11
O Quadro 33 apresenta os betas desalavancados para os modelos domésticos e hibrido.
Para o Brasil, foram estimados dois betas, pois o primeiro cálculo, feito com base nas
principais empresas de processamento de proteína animal, gerou um valor abaixo de 0,5 – o
que, segundo o especialista consultado, pode apontar estimativas estatísticas pouco
confiáveis. Assim, foi seguida a indicação de Koller, Goedhart e Wessels (2010) que sugerem
um ajuste em direção a média do mercado para betas calculados com base em poucas
empresas. Este ajuste é feito com uma combinação linear dando 33% de peso para o mercado,
e 67% de peso para o valor estimado.
10 Rentabilidade do Tesouro Direto: http://www3.tesouro.gov.br/tesouro_direto/rentabilidade_novosite.asp -
Acesso em março de 2015 11
Damodaran Data Page: http://www.stern.nyu.edu/~adamodar/New_Home_Page/data.html - Acesso em março
de 2015
104
Quadro 33 - Betas Desalavancados
Betas Desalavancados:
Brasil Estados Unidos
Beta do setor estimado pela média aritmética dos
betas das seguintes empresas: BRF, Minerva,
JBS e Marfrig. 12
Beta do setor estimado por Damodaran para o
setor de fazendas e agricultura nos Estados
Unidos13
Koller, Goedhart e Wessels (2010) sugerem que
para betas calculados com base em poucas
empresas, se faça um ajuste em direção a média
do mercado considerando um peso de 67% do
Beta calculado.
Os prêmios de risco de mercado utilizados foram baseados na opinião de especialistas e
estão dispostos no Quadro 34.
Quadro 34 - Prêmio de Risco de Mercado
Prêmio de Risco de Mercado
Brasil Estados Unidos
Prêmio de risco de mercado para o Brasil
sugerido pelo especialista Prof. Dr. Ricardo Leal
Prêmio de risco de mercado para os Estados
Unidos sugerido por Koller, Goedhart e Wessels
(2010)
Considerações sobre o Prêmio de Risco de Mercado:
O mercado de capitais brasileiro é possui uma
amostra pequena, com alta concentração e
elevada volatilidade. A média aritmética
Koller, Goedhart e Wessels (2010) apresentam
em seu livro diversos cálculos para o prêmio
dado pelo mercado americano; e apesar das
12 Economática – Acesso em março de 2015
13 Damodaran Data Page: http://www.stern.nyu.edu/~adamodar/New_Home_Page/data.html - Acesso em março
de 2015
105
calculada do retorno anual do Ibovespa é de -
5,62% a.a. (de 2010 a 2014), 11,27% a.a. (de
2005 a 2014) e 20,99% a.a. (de 1995 a 2014).14
O mesmo comportamento se observa para a
média aritmética mensal anualizada –
considerando os mesmos períodos. Por isto, foi
usada a opinião de um especialista.
variações a maior parte dos cálculos gira em
torno de 5% a.a.. Até mesmo durante a crise
americana de 2009, o prêmio de mercado se
manteve relativamente estável.
Para adequação das taxas nominais aos fluxos estimados em moeda real, foi estimada a
inflação esperada para o Brasil – mostrada no Quadro 35.
Quadro 35 - Inflação Esperada
Inflação Esperada
NTN-F – NTN-B
A expectativa de inflação foi estimada com base em duas taxas de títulos de renda fixa do Tesouro
Direto Brasileiro – um com expectativa inflacionaria embutida, e outro indexado ao IPCA.
NTN-F para 2025 = 12,75% a.a. NTN-B para 2024 = 6,35% a.a.
Cálculo 1 do Custo de Capital:
CAPM Doméstico – Beta calculado com base nas empresas do setor sem ajuste
Equação 1: Custo de capital nominal
Moeda BRL
Equação 2: Transformação para taxa real
Moeda BRL
14 Séries Temporais Bacen: https://www3.bcb.gov.br/sgspub/consultarvalores/telaCvsSelecionarSeries.paint -
Acesso em março de 2015
106
Cálculo 2 do Custo de Capital:
CAPM Doméstico – Beta calculado por combinação linear das empresas e do mercado
Equação 1: Custo de capital nominal
Moeda BRL
Equação 2: Transformação para taxa real
Moeda BRL
Cálculo 3 do Custo de Capital:
CAPM Híbrido – Cálculo do custo de capital para o Brasil a partir do mercado americano
Equação 1: Custo de capital nominal para o setor brasileiro
Moeda USD
Cálculo com base no CAPM para o setor americano adicionado do
risco Brasil
- Taxa do risco país estimada a partir do ratings M y’
disponibilizada por Damodaran15
Esta taxa nominal para o setor brasileiro em dólares precisa ser ajustada para se adequar
aos fluxos projetados em reais. Assim, temos:
Equação 2: Transformação da taxa nominal de USD para BRL
Baseada na diferença de expectativa de inflação entre os países
15,52% a.a.
- Como referência para expectativa de inflação nos EUA foi utilizada a estimativa de
especialistas 16
15 Damodaran Data Page: http://www.stern.nyu.edu/~adamodar/New_Home_Page/data.html - Acesso em março
de 2015
107
Equação 3: Transformação para taxa real em moeda BRL
Os três cálculos indicaram custos de capital em torno de 8% a.a.. Contudo, dado que as
estimativas não são precisas, propõe-se que os projetos sejam avaliados em um intervalo de
taxas de 7% a.a. a 9% a.a..
5.3.2. Resultado do Pilar Financeiro para o Estudo de Caso
Os resultados serão apresentados a seguir de acordo com a seguinte estrutura.
Inicialmente, serão descritos os cenários estudados com base nas granjas da Fazenda Miunça,
assim como os fluxos de caixa que os caracterizam. Em seguida, os resultados dos cálculos
financeiros serão dispostos, trazendo uma análise mais aprofundada a respeito da geração de
valor. Por fim, serão colocadas as análises de sensibilidade feitas.
5.3.2.1. Caracterização dos Cenários Estudados
O estudo de caso foi realizado com base nos sítios de produção da Fazenda Miunça:
Granja Miunça, com gestação em gaiolas e Granja ECO-BEA, com os 40 dias iniciais da
gestação em gaiola e o restante em baias coletivas. Algumas simplificações foram adotadas; e
assumiu-se que todos os leitões produzidos seriam vendidos para terminação em outra
unidade. Foram desconsideradas, também, as fases de recria.
Além disto, apesar de serem apenas duas unidades produtivas, quatro cenários foram
avaliados, dois considerando a situação atual das granjas (AS-IS) e dois realizando ajustes de
modernização. A proposta de avaliar dois cenários fictícios com ajustes de modernização
surgiu pelo fato de que tanto a Granja Miunça quanto a Granja ECO-BEA não são modelos de
ponta atualmente: a Miunça por ser operada majoritariamente de forma manual, e a ECO-
BEA por contar com parte da gestação ainda em gaiola, quando há uma tendência da soltura
das leitoas em baia logo após a cobertura. Assim, simulou-se a existência de uma granja
Miunça Modernizada – com a implantação de sistemas automáticos de distribuição de ração;
e a existência de uma Granja ECO-BEA Cobre e Solta. Este último cenário só foi possível de
16 Financial Times – Capital Markets: http://www.ft.com/intl/cms/s/0/4ab6673a-ecf8-11e4-bebf-00 144feab7de.
html#axzz3eYxhSlAq - Acesso em junho de 2015
108
ser estudado graças ao experimento conduzido por Neves (2015) na fazenda que operou e
registrou os índices de produtividade de diversos lotes de leitoas com soltura nas baias após a
cobertura.
O Quadro 36 aponta as principais diferenças existentes entre os cenários criados e indica
os Apêndices nos quais se encontram os fluxos de caixa completos que os caracterizam. Estes
fluxos de caixa foram construídos a partir de estimativas específicas para cada granja e o
detalhamento de cada item utilizado pode ser encontrado no Apêndice XI.
Quadro 36 - Cenários Utilizados na Avaliação Financeira das Granjas
Miunça ECO-BEA
AS-IS
Considera a granja como
construída
Modernizada
Simula a implantação dos
sistemas de alimentação
para redução da mão de
obra
AS-IS
Considera a granja como
construída
Cobre e Solta (CS)
Simula a granja com todo
o período da gestação em
baias coletivas, com
gaiolas somente para
cobertura
Receita com base nos
índices médios de
produtividade aferidos
na Granja Miunça,
considerando os anos de
2012 e 2013
Receita com base nos
índices médios de
produtividade aferidos
na Granja Miunça,
considerando os anos de
2012 e 2013
Receita com base nos
índices médios de
produtividade aferidos na
Granja ECO-BEA,
considerando os anos de
2012 e 2013
Receita com base nos
índices de produtividade
dos lotes utilizados no
experimento de Cobre e
Solta
Investimento em granja
similar à implantada:
considerando a
distribuição manual de
ração em todos os
galpões
Investimento simulado
considerando o custo de
implantação de um
sistema automatizado de
distribuição de ração
Alteração dos custos
correntes dada a
redução na mão de obra
necessária para
alimentação dos animais
Investimento em granja
similar à implantada:
considerando gaiolas para
40 dias de gestação e
baias coletivas para o
restante do tempo
Investimento simulado
considerando apenas
gaiolas para cobertura e
aumentando o número de
baias para todo o período
de gestação
--- Projeções de Fluxos de Caixa Completas ---
Perpetuidade:
Apêndice II
Venda no Ano 10:
Apêndice III
Apêndice IV
Apêndice V
Apêndice VI Apêndice VII Apêndice VIII Apêndice IX
Os índices de produtividade utilizados para construção das receitas, citados no Quadro
36, estão resumidos na Tabela 4. Todos os dados para cálculo dos índices foram retirados do
sistema de controle da fazenda – mas cabe uma ressalva em relação aos índices calculados
para o cenário da ECO-BEA Cobre e Solta. No experimento, as leitoas eram soltas
diretamente nas baias coletivas após a cobertura e o desempenho de cada etapa era registrado.
109
Após o parto, entretanto, os leitões dos lotes do experimento e de lotes normais eram
u c u z “ ” – e, por isto, optou-se por utilizar uma taxa
única de peso desmamado por nascido vivo.
Tabela 4 - Índices de Produtividade das Granjas
Indicador Valor Estimado ECO-BEA AS-IS ECOBEA Cobre e Solta Miunça AS-IS e Mod.
Input # de Coberturas
Base: # de
coberturas
em 2013
3.350
Base: # de
coberturas em
2013
3.350
Base: Média
de coberturas
em 12/13
5.750
% Partos /
Coberturas Partos Realizados 92,75% 3.107 92,94% 3.113 91,17% 5.242
# Nascidos /
Parto # Nascidos Total 15,84 49.223 16,04 49.940 15,52 81.333
# de Vivos /
Parto # de Vivos 14,24 44.231 14,50 45.141 13,76 72.145
Peso Médio da
Leitegada /
Parto
Peso Total das
Leitegadas
(Kg) 19,34 60.078 19,52 60.787 19,33 101.351
Peso Médio do
Leitão Nascido
Vivo
Peso Total dos
Nascidos Vivos
(Kg) 1,36 60.078 1,35 60.787 1,40 101.351
Peso
Desmamado /
Nascidos Vivos
Peso Desmamado
(Kg) 5,74 253.913 5,74 259.138 5,02 362.225
Por fim, para cada um dos cenários foi considerada a possibilidade de endividamento
pelo programa Inovagro, do BNDES. O fluxo de caixa da dívida e seu impacto nos resultados
do investimento podem ser vistos no Apêndice X.
5.3.2.2. Resultados dos Cálculos Financeiros do Estudo de Caso
Os resultados estão dispostos abaixo, inicialmente considerando-se um horizonte
perpetuidade sem crescimento; e a seguir um horizonte de dez anos de operação com venda
dos ativos pelo valor contábil residual.
(A) Avaliação Financeira das Granjas de Suinocultura com Perpetuidade
Tabela 5 - Avaliação Financeira dos Cenários do Estudo de Caso (Perpetuidade, i = 7%)
Avaliação Financeira (i = 7%) Miunça AS-IS Miunça
Modernizada
ECO-BEA
AS-IS ECO-BEA CS
VPL do FCLE sem Endividamento: R$2.074.093,88 R$2.108.208,89 R$3.017.223,87 R$3.616.756,94
TIR sem Endividamento: 9,2% 9,1% 11,2% 11,9%
TIR Modificada sem Endividamento: 7,0% 7,0% 7,0% 7,0%
110
Payback Simples sem Endividamento: 11,8 anos 11,9 anos 9,9 anos 9,4 anos
Payback Descontado sem Endividamento: 19,9 anos 20,5 anos 14,5 anos 13,2 anos
(+) VPL do Benefício Fiscal da Dívida: R$59.817,29 R$59.817,29 R$59.817,29 R$59.817,29
(=) VPL Total com Endividamento: R$2.133.911,17 R$2.168.026,18 R$3.077.041,16 R$3.676.574,24
Tabela 6 - Avaliação Financeira dos Cenários do Estudo de Caso (Perpetuidade, i = 8%)
Avaliação Financeira (i = 8%) Miunça AS-IS Miunça
Modernizada
ECO-BEA
AS-IS ECO-BEA CS
VPL do FCLE sem Endividamento: R$1.001.224,47 R$963.811,48 R$2.004.280,77 R$2.514.781,92
TIR sem Endividamento: 9,2% 9,1% 9,9 anos 11,9%
TIR Modificada sem Endividamento: 8,0% 8,0% 8,0% 8,0%
Payback Simples sem Endividamento: 11,8 anos 11,9 anos 9,9 anos 9,4 anos
Payback Descontado sem Endividamento: 23,3 anos 24,2 anos 15,8 anos 14,2 anos
(+) VPL do Benefício Fiscal da Dívida: R$58.122,72 R$58.122,72 R$58.122,72 R$58.122,72
(=) VPL Total com Endividamento: R$1.059.347,19 R$1.021.934,20 R$2.062.403,49 R$2.572.904,64
Tabela 7 - Avaliação Financeira dos Cenários do Estudo de Caso (Perpetuidade, i = 9%)
Avaliação Financeira (i = 9%) Miunça AS-IS Miunça
Modernizada
ECO-BEA
AS-IS ECO-BEA CS
VPL do FCLE sem Endividamento: R$171.563,44 R$78.703,98 R$1.220.347,21 R$1.661.856,08
TIR sem Endividamento: 9,2% 9,1% 11,2% 11,9%
TIR Modificada sem Endividamento: 9,0% 9,0% 9,0% 9,0%
Payback Simples sem Endividamento: 11,8 anos 11,9 anos 9,9 anos 9,4 anos
Payback Descontado sem Endividamento: 29,9 anos 32,1 anos 17,6 anos 15,5 anos
(+) VPL do Benefício Fiscal da Dívida: R$56.516,69 R$56.516,69 R$56.516,69 R$56.516,69
(=) VPL Total com Endividamento: R$228.080,13 R$135.220,67 R$1.276.863,91 R$1.718.372,77
Como pode ser observado nas Tabelas 5, 6 e 7, considerando a perpetuidade das granjas,
para todas as taxas de avaliação os negócios se apresentam como viáveis com retorno acima
ou praticamente igual ao requerido. O melhor desempenho financeiro, contudo, se dá nos
cenários com gestação coletiva – tendo a ECO-BEA CS o maior VPL, seguida da ECO-BEA
AS-IS.
A comparação entre os dois cenários da granja Miunça também é interessante. Ambas
têm retornos muito próximos e para a taxa de desconto de 7% a granja modernizada apresenta
um VPL ligeiramente maior, mas esta comparação se inverte para taxas maiores. Este quadro
111
representa que para taxas de desconto menores, vale o investimento em máquinas para
transporte de ração em troca dos ganhos futuros com economias em mão-de-obra, mas isto
não se mantém conforme o custo de capital aumenta. Sobre esta leitura, contudo, cabe a
ressalva de que uma esperada economia de ração com a implantação dos maquinários não foi
contabilizada.
Por fim, cabe destacar os benefícios do endividamento que, se tomado, chegaria a
representar 42% do resultado da Miunça Modernizada – para uma taxa de desconto de 9%.
(B) Avaliação Financeira das Granjas de Suinocultura com Terminação no Ano 10
Tabela 8 - Avaliação Financeira dos Cenários do Estudo de Caso (10 Anos, i = 7%)
Avaliação Financeira (i = 7%) Miunça AS-IS Miunça
Modernizada
ECO-BEA
AS-IS ECO-BEA CS
VPL do FCLE sem Endividamento: R$(479.580,40) R$(633.105,79) R$256.447,16 R$529.345,10
TIR sem Endividamento: 5,6% 5,3% 8,0% 9,0%
TIR Modificada sem Endividamento: 6,1% 5,9% 7,6% 8,2%
Payback Simples sem Endividamento: 10 anos 10 anos 8,5 anos 7,9 anos
Payback Descontado sem Endividamento: Inexistente Inexistente 10 anos 10 anos
(+) VPL do Benefício Fiscal da Dívida: R$59.817,29 R$59.817,29 R$59.817,29 R$59.817,29
(=) VPL Total com Endividamento: R$(419.763,11) R$(573.288,50) R$316.264,45 R$589.162,40
Tabela 9 - Avaliação Financeira dos Cenários do Estudo de Caso (10 Anos, i = 8%)
Avaliação Financeira (i = 8%) Miunça AS-IS Miunça
Modernizada
ECO-BEA
AS-IS ECO-BEA CS
VPL do FCLE sem Endividamento: R$(787.561,15) R$(960.469,81) R$(6.246,52) R$250.446,68
TIR sem Endividamento: 5,6% 5,3% 8,0% 9,0%
TIR Modificada sem Endividamento: 6,5% 6,3% 8,0% 8,6%
Payback Simples sem Endividamento: 10 anos 10 anos 8,5 anos 7,9 anos
Payback Descontado sem Endividamento: Inexistente Inexistente Inexistente 10 anos
(+) VPL do Benefício Fiscal da Dívida: R$58.122,72 R$58.122,72 R$58.122,72 R$58.122,72
(=) VPL Total com Endividamento: R$(729.438,42) R$(902.347,08) R$51.876,21 R$308.569,41
Tabela 10 - Avaliação Financeira dos Cenários do Estudo de Caso (10 Anos, i = 9%)
Avaliação Financeira (i = 9%) Miunça AS-IS Miunça
Modernizada
ECO-BEA
AS-IS ECO-BEA CS
VPL do FCLE sem Endividamento: R$(1.071.418,12) R$(1.262.254,73) R$(248.976,00) R$(7.400,71)
TIR sem Endividamento: 5,6% 5,3% 8,0% 9,0%
112
TIR Modificada sem Endividamento: 6,9% 6,7% 8,4% 9,0%
Payback Simples sem Endividamento: 10 anos 10 anos 8,5 anos 7,9 anos
Payback Descontado sem Endividamento: Inexistente Inexistente Inexistente Inexistente
(+) VPL do Benefício Fiscal da Dívida: R$56.516,69 R$56.516,69 R$56.516,69 R$56.516,69
(=) VPL Total com Endividamento: R$(1.014.901,42) R$(1.205.738,04) R$(192.459,31) R$49.115,98
A avaliação considerando apenas dez anos de operação coloca condições mais severas
para os cenários, possivelmente pelo baixo valor contábil de terminação dos ativos. Como
consequência, nenhuma das granjas apresenta retorno suficiente para cobrir o custo de capital
a 9% – limite superior da faixa estipulada (a TIR do cenário ECO-BEA CS se aproxima com
8,97%). Assim, como na perpetuidade, o desempenho financeiro se ordena crescentemente da
Miunça Modernizada, Miunça AS-IS, ECO-BEA AS-IS e ECO-BEA CS, sendo as granjas
com gestação coletiva as únicas viáveis a uma taxa de desconto de 7% e o modelo com Cobre
e Solta o único viável a taxa de 8%.
5.3.2.3. Geração de Valor na Granja ECO-BEA
Nas análises financeiras realizadas, os dois cenários da granja ECO-BEA superam os da
granja Miunça – o que instiga um questionamento sobre a origem deste valor. A Tabela 11
reúne informações financeiras sobre os Fluxos de Caixa dos quatro cenários, sendo os
investimentos somados de maneira absoluta (desconsiderando descontos dada a distribuição
no tempo pelo cronograma de aplicação) e medidas correntes (como a receita) em
estabilidade.
Tabela 11 - Indicadores Financeiros dos Fluxos de Caixa dos Quatro Cenários
Indicadores Financeiros Miunça AS-IS Miunça
Modernizada
ECO-BEA
AS-IS ECO-BEA CS
Valor Total - - - -
Receita Bruta R$6.204.623,53 R$6.204.623,53 R$4.304.946,48 R$4.388.398,62
Margem EBIT (EBIT / Receita Bruta) 32,09% 33,08% 35,01% 36,09%
Custo e Despesa com MOD / Receita Bruta 13,10% 11,56% 7,76% 7,61%
Investimento
(excluindo o investimento no plantel) R$4.665.108,67 R$5.166.754,11 R$3.835.344,97 R$3.919.852,08
FCLE do Negócio em Estabilidade / Receita
Bruta 9,92% 10,58% 13,46% 14,36%
Pelo Número de Matrizes 2150 2150 1280 1280
Receita Bruta / Matriz R$2.885,87 R$2.885,87 R$3.363,24 R$3.428,44
EBIT / Matriz R$926,12 R$954,78 R$1.177,48 R$1.237,48
113
Custo e Despesa com MOD / Matriz R$377,96 R$333,49 R$260,86 R$260,86
Investimento / Matriz
(excluindo o investimento no plantel) R$2.169,82 R$2.403,14 R$2.996,36 R$3.062,38
FCLE do Negócio em Estabilidade / Matriz R$286,30 R$305,22 R$452,72 R$492,32
Podemos notar que o melhor desempenho financeiro da granja ECO-BEA frente a
Miunça (nos casos reais existentes e nos simulados) ocorre por uma combinação de dois
fatores. Nos modelos com bem-estar, o índices de produtividade dos animais são superiores
(Tabela 4), o que se reflete diretamente na receita bruta por matriz. Além disto, no modelo
com baias coletivas há um menor peso da mão-de-obra direta sobre a receita, o que ocorre
pelo maior números de matrizes por empregado – mesmo em comparação com a Miunça
Modernizada. Como consequência destas duas vantagens, a Margem EBIT dos modelos da
ECO-BEA gira em torno de 31%, contra 28% dos modelos Miunça – tendo um maior FCLE
estável por animal que é suficiente para compensar o investimento superior necessário para
fazer os ajustes de bem-estar.
Pode-se ainda, questionar, se o desempenho financeiro dos modelos da ECO-BEA não
ocorre somente pela estrutura mais moderna da maternidade – com escamoteadores de tapete
contra os de lâmpada incandescente da Miunça. Para sanar esta dúvida, foi feita uma análise
do custo da barrigada (parto) para cada cenário.
A Tabela 12 resume os principais custos correntes da etapa de gestação para as granjas
estudadas.
Tabela 12 - Custo Estimado do Leitão Nascido Vivo
Itens de Custeio Miunça
AS-IS
Miunça
Modernizada
ECO-BEA
AS-IS
ECO-BEA
Cobre e Solta
Consumo R$1.399.058,98 R$1.399.058,98 R$922.142,00 R$922.142,00
Ração R$1.279.260,88 R$1.279.260,88 R$830.822,29 R$830.822,29
Medicamentos R$21.097,62 R$21.097,62 R$17.004,31 R$17.004,31
Vacinas R$52.071,92 R$52.071,92 R$31.000,96 R$31.000,96
Brincos R$3.096,00 R$3.096,00 R$17.952,00 R$17.952,00
Material Cobertura R$43.532,55 R$43.532,55 R$25.362,45 R$25.362,45
MOD Gestação R$259.216,59 R$228.720,52 R$80.347,59 R$80.347,59
Investimento (Animais) R$698.612,18 R$698.612,18 R$415.251,40 R$415.251,40
Cachaços R$52.318,68 R$52.318,68 R$30.481,32 R$30.481,32
Matrizes R$646.293,50 R$646.293,50 R$384.770,08 R$384.770,08
Investimento (Depreciação) R$112.060,00 R$134.980,00 R$87.063,68 R$92.328,17
Construção Civil da Operação R$62.208,00 R$62.208,00 R$39.680,00 R$42.240,00
Equipamentos de Controle R$- R$- R$4.979,42 R$7.326,89
Equipamentos de Alimentação R$8.520,00 R$31.440,00 R$32.070,92 R$38.856,75
Equipamentos de Alojamento R$41.332,00 R$41.332,00 R$10.333,33 R$3.904,53
Total R$2.468.947,74 R$2.461.371,67 R$1.504.804,68 R$1.510.069,17
114
Nascidos Vivos 72.145 72.145 44.231 45.141
Custo / Nascido Vivo R$34,22 R$34,12 R$34,02 R$33,45
Os resultados mostram custos por leitão nascido vivo ligeiramente vantajosos para os
cenários da ECO-BEA – com maior destaque para o sistema de Cobre e Solta dada a maior
produtividade. Assim, podemos concluir que a gestação com bem-estar animal se coloca ao
menos em paridade de desempenho financeiro com o método convencional de gaiolas.
5.3.2.4. Análise de Sensibilidade dos Resultados
Foram feitas três análises de sensibilidade para a comparação entre os modelos. A
primeira em relação ao preço dos suínos, a segunda em relação à produtividade das granjas e
a última em relação à cotação do dólar. Por simplificação, as análises foram feitas somente
sobre os cenários com perpetuidade das operações e com taxa de desconto de 8% a.a..
Análise de Sensibilidade: Preço dos Suínos
A análise de sensibilidade em relação ao preço dos suínos foi feita com a utilização do
fator VPL / Matriz do Plantel – dado que a escala de produção das unidades tem
influência sobre a dimensão da receita, que pode alterar a sensibilidade ao preço.
O preço do suíno vivo utilizado como base para cálculo das receitas apresentadas no
item 5.3.2.2 foi de R$3,76/kg, e a sensibilidade foi feita para o intervalo de R$0,00/kg
até R$5,00/kg. O Gráfico 7 apresenta os valores plotados.
Gráfico 7 - Sensibilidade ao Preço: VPL por Matriz do Plantel
Os resultados mostram que para todos os preços de suíno que tornam o negócio viável
(VPL>0), os cenários da granja ECO-BEA apresentam um melhor desempenho. É
interessante observar, também, que os cenários da granja Miunça tem seu break-even
para preços mais elevados – tornando-se inviáveis mais facilmente.
R$(20.000,00)
R$(15.000,00)
R$(10.000,00)
R$(5.000,00)
R$-
R$5.000,00
R$10.000,00
R$- R$1,00 R$2,00 R$3,00 R$4,00 R$5,00
Operações com Perpetuidade - Taxa de Desconto = 8%a.a.
Miunça AS-IS Miunça Mod. ECO-BEA AS-IS ECO-BEA CS
115
Análise de Sensibilidade: Produtividade das Granjas
Nos cenários base construídos, a produtividade aferida diretamente da granja atribuiu
uma produção de 253.913kg anuais para a ECO-BEA AS-IS (com um VPL de R$ 2
milhões), e uma produção de 259.138kg para a ECO-BEA CS (com um VPL de R$
2,5 milhões). Todavia um dos fatores geradores de valor para os cenários de bem-estar
animal é exatamente a produtividade mais alta. Por isto, é interessante observar o que
acontece quando o desempenho dos cenários é reduzido.
Aplicando os mesmos índices de produtividade da Miunça para ambos os cenários da
ECO-BEA, temos uma produção anual de 201.035kg de leitões – o que gera um
resultado de negativo de R$3,24 milhões para o cenário AS-IS e negativo de R$3,37
milhões para o CS. Para que tenham o mesmo desempenho financeiro da granja
Miunça AS-IS no cenário base (VPL = R$1 milhão), a granja ECO-BEA AS-IS pode
perder até 3% de produtividade, produzindo 245.713kg de leitão e a ECO-BEA CS até
5%, produzindo 246.765kg.
Análise de Sensibilidade: Cotação do Dólar
A cotação do Dólar (R$/U$) é um fator de preocupação para os que pretendem adotar
os sistemas com bem-estar animal, dado que as máquinas de alimentação dos animais
são importadas para o Brasil. Contudo, este fator não parece ser impeditivo para a
mudança dos sistemas de produção.
Sabe-se que diversos itens de custo e investimento nas granjas estão atrelados ao
dólar, mas para uma análise que compara somente o diferencial entre os sistemas, cabe
avaliar o Dólar cotado somente para as máquinas de alimentação – mantendo tudo
mais constante. Fazendo isto, vemos que os desempenhos financeiros dos cenários
ECO-BEA somente se equiparam ao Miunça para uma cotação de R$ 6,50/U$. Na
época da cotação para realização dos cálculos (31 de julho de 2014) o valor de um
dólar estava em R$2,27. Assim, mesmo que haja desvalorização do Real frente ao
Dólar, os sistemas com bem-estar animal continuam sendo opções viáveis – como
visto no Gráfico 8.
Gráfico 8 - Impacto da Cotação em Dólar das Máquinas de Alimentação no VPL
R$-
R$1.000.000,00
R$2.000.000,00
R$3.000.000,00
Miunça AS-IS
Miunça Mod.
ECO-BEA AS-IS
ECO-BEA CS
116
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As cadeias de produção de proteína animal sofrem pressões e evoluem de acordo com o
contexto na qual estão inseridas. Em países como a China, a produção e a venda de carnes
ainda ocorre com animais inteiros, ou cortes realizados no próprio local de venda. O próximo
passo previsto para a indústria nestes países leva em conta pressões por questões sanitárias e
de higiene, com o provável aumento da produção e venda de cortes congelados e processados.
No outro extremo, países mais desenvolvidos, como a Inglaterra, apresentam grande avanço
em aspectos sustentáveis, como o bem-estar animal e a relação comercial justa entre os
produtores. Em posição intermediária neste contínuo, o Brasil começa a se movimentar, com
aumento do consumo consciente, da preocupação com o bem-estar animal e com adequação
dos modelos de negócio aos padrões dos mercados mais desenvolvidos.
O consumo doméstico para carnes e ovos advindos de fazendas que consideram o bem-
estar animal ainda é baixo e de nicho, contudo, os atores do ramo de alimentos devem ter em
mente que a demanda imediata não é o maior impacto gerado pelos consumidores, mas sim as
discussões a respeito do tema. Estes debates sinalizam tendências de mercado, oportunidades
de liderança empresarial e se concretizaram em leis que proíbem práticas de criação em
diversos países. Desta maneira, eles podem não reduzir a demanda de forma significativa, mas
se transformam “ c p operar” E p c f c p c uí p b
gaiolas de gestação em diversos países acabou por forçar a adequação dos produtores que não
acompanharam os sinais dados pelos consumidores – mesmo que ainda houvesse demanda
para seus produtos.
No Brasil, algumas empresas de processamento de carne e redes de fast food já
perceberam a forte tendência de extinção das gaiolas de gestação de suínos, dando lugar às
criações em baias coletivas. Por isto, solicitaram às suas granjas que apresentassem planos de
adequação dos processos produtivos. Assim, no contexto brasileiro, a pergunta a ser
respondida não é mais se as baias coletivas são o sistema que vigorará na criação de suínos.
As questões que permanecem em aberto são: há um pedágio econômico para os produtores se
adequarem ao novo modelo? Qual a melhor maneira de realizar a migração sem prejudicar os
fazendeiros? Deve ser imposta alguma legislação que acelere o processo? As linhas de
financiamento e fomento são suficientes?
Os objetivos desta dissertação estão diretamente atrelados ao primeiro questionamento:
há pedágio? Qual o impacto econômico da mudança? Assim, como resultado do trabalho, fez-
se um modelo genérico (descrito no item 5.3.1) que serve de guia para comparação de granjas
117
de suinocultura. Com ajustes no modelo para cada realidade, é possível que sejam verificados
os desempenhos financeiro e social de granjas com diferentes níveis de bem-estar animal,
com diferentes escalas, com investimentos em fase pré-operacional ou com reinvestimentos
para mudança dos sistemas de produção.
De maneira adicional, o estudo de caso atendeu ao objetivo complementar trazendo
algumas respostas para a comparação específica de granjas com gaiolas e com gestação
coletiva. Como visto item 5.3.2, quando as instalações são construídas já nos modelos
propostos, sem migração, tanto a análise por fluxo de caixa descontado quanto o cálculo do
custo do leitão nascido vivo apontam na mesma direção: a gestação em baias coletivas tem
desempenho financeiro superior à gestação em gaiolas, não impondo, no estudo de caso,
nenhum pedágio financeiro ao produtor para adequação às novas demandas do mercado. O
modelo de baias apresentou, ainda, ganhos sociais como cargos mais ricos, menor desgaste
físico e maior desenvolvimento dos funcionários.
Por fim, cabem algumas sugestões aos principais stakeholders deste trabalho. Aos
produtores de suínos e empresas processadoras, sugere-se que, independente dos resultados
do estudo de caso, usem os modelos para fazer suas próprias avaliações – considerando os
fatores humanos e o cronograma de desinvestimentos e investimentos mais adequados à sua
realidade. Ainda, após identificadas as necessidades de financiamento para uma transição de
modelos sem grandes impactos, sugere-se que os atores do setor se reúnam para construir uma
proposta única para os órgãos de fomento. De maneira coletiva, o setor tem maior chance de
adequar as linhas de financiamento, como o INOVAGRO, às necessidades de modernização
dos processos produtivos. Aos órgãos de fomento, sugere-se que adequem seus programas
para impulsionar o agronegócio brasileiro em direção ao padrão dos países mais
desenvolvidos.
Aos responsáveis pela regulação e formuladores de políticas públicas, sugere-se que não
seja imposta, em curto horizonte de tempo, nenhuma legislação restritiva ao métodos de
produção utilizados. Tal movimento poderia impactar os produtores menores, que precisam
investir para adequar suas granjas às novas demandas de mercado. O movimento dos
produtores tende a ocorrer de maneira natural, uma vez que há exigência das grandes
empresas de processamento, das cadeias de fast food e possivelmente haverá, também,
pressão por parte de grandes varejistas.
Aos órgãos de incentivo à inovação, cabe uma reflexão relacionada ao desenvolvimento
de tecnologias nacionais. O melhor método de criação em baias coletivas tem como base a
utilização estações eletrônicas de alimentação individual, hoje, importadas. Como visto no
118
estudo de caso, a sensibilidade do projeto ao Dólar não torna inviável a instalação do modelo
– que somente se equipara em rentabilidade à gestação de gaiolas com o Real com uma
improvável desvalorização. Entretanto, considerando que o Brasil é um dos maiores
produtores e exportadores de carne suína do mundo, e que a migração de modelos no país
acarretará na importação de centenas de máquinas, passa a ser uma oportunidade o
desenvolvimento de tecnologias nacionais. Assim, sugere-se a criação de programas que
ajudem o Brasil a se tornar líder não somente na exportação de commodities, mas também nos
bens de capital envolvidos em sua produção.
119
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125
APÊNDICE I: ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA ASPECTOS SOCIAIS
Este apêndice apresenta as perguntas relacionadas aos itens com necessidade de
mensuração indireta por entrevista apresentados no Quadro 9. Antes de cada pergunta, entre
colchetes, estão identificados os temas que abordam.
Vale ressaltar que as entrevistas não devem ser conduzidas de maneira rígida, podendo a
conversa fluir entre diferentes temas de maneira natural.
Ao se dirigir ao entrevistado:
“Mu b p c c c v E f z u b h
administração na Universidade Federal do Rio de Janeiro com o objetivo de contribuir para
melhoria das fazendas de suínos no Brasil. De maneira mais específica, estamos comparando
sistemas de criação tradicionais e sistemas com bem-estar animal para verificarmos aspectos
que possam melhorar a vida dos animais, os resultados da granja e o dia a dia dos
empregados. Por este motivo, te convidamos para conversar.
Dois aspectos importantes antes de começarmos. Primeiro não existem respostam certas
ou erradas para as perguntas. Nossa intenção é apenas ter uma conversa informal, pois
queremos a sua opinião e principalmente queremos aprender com a experiência profissional
que você tem. Segundo, as respostas que você der não serão identificadas, apenas utilizaremos
as ideias principais e suas contribuições. Acredito que nossa conversa deve durar de trinta
minutos a uma hora.”
Nome:__________________________________________________ Idade:____________
Função atual:___________________________________ Tempo na função:____________
Funções anteriores:___________________________________________________________
Tempo total de trabalho na granja:_______________________________________________
Experiência em outras granjas:__________________________________________________
Formação escolar:____________________________________________________________
1) [C5] Como você começou a trabalhar com suinocultura?
2) [C5] Como você veio trabalhar nesta granja específica?
3) [G2] Os empregados têm oportunidade de aperfeiçoamento profissional aqui na granja?
4) [G6] Como é a relação com a equipe?
5) [C5, G6] Quais são seus planos profissionais para o futuro?
126
6) [C1, C2, G7] Da sua convivência com o pessoal da região, as pessoas conhecem e
comentam sobre a granja?
7) [C5] Você conhece pessoas interessadas em vir trabalhar nesta granja?
8) [C4, G2] O que alguém que deseja trabalhar na granja precisa saber?
9) [C4, G2] Há algum treinamento específico que você sugere para quem venha trabalhar
na granja?
10) [C4, G2] Você fez algum treinamento para trabalhar aqui ou aprendeu na prática?
11) [C4, G1, G2] Você passou por algum treinamento sobre a forma de lidar com os suínos
e o seu comportamento?
12) [G1, G3] Como é trabalhar com os suínos? Eles são dóceis? O manejo é fácil?
13) [G4] O trabalho é muito cansativo?
14) [G5] É comum que ocorram acidentes com as pessoas durante o manejo dos suínos? E
doenças decorrentes do trabalho? Neste aspecto você acha que existe diferença entre o
sistema com gaiolas e o coletivo?
15) [G1] O que você acha que os empregados da granja sentem em relação aos suínos?
Sentimentos positivos ou negativos?
16) [G1, G6] Ainda falando dos trabalhadores da granja no geral. Você acha que eles fazem
práticas de manejo que prefeririam não fazer se existissem outras técnicas alternativas?
17) [G1, G7]Como você avalia as condições de vida dos animais na fazenda?
18) [Não específica] Você já trabalhou na outra granja [do modelo a ser comparado] ou em
granja semelhante? Quais são as principais diferenças que você percebe?
19) [Não específica] Comparando os dois sistemas, quais as vantagens e desvantagens para
os animais e trabalhadores?
20) [C3] Existem diferenças em termos de tecnologia e equipamentos entre o sistema de
gaiolas e o coletivo?
21) [C3, C4, C5, G2] Você acha que esse é um aspecto importante para quem vem trabalhar
na granja?
22) [Não específica] Que dicas você daria para alguém que vai abrir uma granja? Quais são
os pontos que você mais vê como positivos? Quais são os pontos que você
recomendaria que melhorassem?
23) [Não específica] Há algo mais que você gostaria de comentar sobre o trabalho nessa
granja ou em outras que tenha conhecimento, principalmente em relação ao tratamento
dado aos animais e sua relação com as condições de trabalho para os empregados?
127
APÊNDICE II: PROJEÇÃO DE FLUXOS DE CAIXA COM PERPETUIDADE – MIUNÇA AS-IS
Miunça AS-IS Det. Ano 0 Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Perpetuidade
Receita Bruta
R$- R$2.941.096,58 R$6.204.623,53 R$6.204.623,53 R$6.204.623,53 R$77.557.794,12
(+) Venda de leitões para terminação Det. 1 R$- R$2.741.966,44 R$5.784.532,76 R$5.784.532,76 R$5.784.532,76 R$72.306.659,47
(+) Venda de reprodutores(as) Det. 1 R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(+) Venda de suínos descartados Det. 1 R$- R$199.130,14 R$420.090,77 R$420.090,77 R$420.090,77 R$5.251.134,65
(−) ICMS b c Det. 2 R$- R$29.410,97 R$62.046,24 R$62.046,24 R$62.046,24 R$775.577,94
(=) Receita Líquida
R$- R$2.911.685,61 R$6.142.577,29 R$6.142.577,29 R$6.142.577,29 R$76.782.216,18
(−) Custos e Despesas
R$54.830,51 R$2.087.342,36 R$4.151.427,02 R$4.151.427,02 R$4.151.427,02 R$51.892.837,70
Itens de Consumo
R$11.327,79 R$1.229.437,36 R$2.593.538,86 R$2.593.538,86 R$2.593.538,86 R$32.419.235,72
(−) R Det. 3 R$7.722,57 R$894.332,52 R$1.889.350,48 R$1.889.350,48 R$1.889.350,48 R$23.616.880,99
(−) M c V c Det. 4 R$2.496,70 R$289.136,53 R$610.824,54 R$610.824,54 R$610.824,54 R$7.635.306,71
(−) T I f c Det. 5 R$739,56 R$3.239,62 R$3.096 R$3.096,00 R$3.096,00 R$38.700,00
(−) M p C b u Det. 6 R$177,94 R$20.606,33 R$43.532,55 R$43.532,55 R$43.532,55 R$544.156,94
(−) Materiais de Limpeza Det. 7 R$171,41 R$19.850,26 R$41.935,29 R$41.935,29 R$41.935,29 R$524.191,08
(−) I u p T D j Det. 8 R$19,62 R$2.272,10 R$4.800,00 R$4.800,00 R$4.800,00 R$60.000,00
Pessoal
R$4.606,36 R$533.451,07 R$1.126.958,95 R$1.126.958,95 R$1.126.958,95 R$14.086.986,86
(−) F h Op 0 R$3.321,46 R$384.650,35 R$812.605,28 R$812.605,28 R$812.605,28 R$10.157.566,00
(−) F h Sup Det. 10 R$1.093,49 R$126.634,19 R$267.525,06 R$267.525,06 R$267.525,06 R$3.344.063,25
(−) U f E I Det. 11 R$49,17 R$5.693,80 R$12.028,61 R$12.028,61 R$12.028,61 R$150.357,61
(−) B fíc Det. 12 R$142,24 R$16.472,74 R$34.800,00 R$34.800,00 R$34.800,00 R$435.000,00
Utilidades
R$425,82 R$49.313,67 R$104.179,15 R$104.179,15 R$104.179,15 R$1.302.239,38
(−) Á u Det. 13 R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(−) E E é c Det. 13 R$241,13 R$27.924,62 R$58.993,03 R$58.993,03 R$58.993,03 R$737.412,88
(−) GL Det. 13 R$- R$- R$- R$- R$- R$-
128
(−) C u c Det. 14 R$83,14 R$9.628,03 R$20.340,00 R$20.340,00 R$20.340,00 R$254.250,00
(−) V ícu Det. 15 R$93,19 R$10.792,48 R$22.800,00 R$22.800,00 R$22.800,00 R$285.000,00
(−) Equ p C Det. 16 R$8,36 R$968,54 R$2.046,12 R$2.046,12 R$2.046,12 R$25.576,50
Serviços Terceirizados
R$335,17 R$38.815,07 R$82.000,00 R$82.000,00 R$82.000,00 R$1.025.000,00
(−) S v v Det. 17 R$73,57 R$8.520,38 R$18.000,00 R$18.000,00 R$18.000,00 R$225.000,00
(−) S v u c Det. 17 R$49,05 R$5.680,25 R$12.000,00 R$12.000,00 R$12.000,00 R$150.000,00
(−) S v í c f Det. 17 R$212,55 R$24.614,43 R$52.000,00 R$52.000,00 R$52.000,00 R$650.000,00
(−) S v c qualidade das rações Det. 17 R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(−) Depreciação Det. 18 R$38.135,37 R$236.325,19 R$244.750,06 R$244.750,06 R$244.750,06 R$3.059.375,75
(=) EBIT
R$(54.830,51) R$824.343,25 R$1.991.150,28 R$1.991.150,28 R$1.991.150,28 R$24.889.378,48
(−) I p R / C bu S c Det. 2 R$(18.590,14) R$277.793,65 R$676.991,09 R$676.991,09 R$676.991,09 R$8.462.388,68
(=) Lucro Operacional Após o IR (NOPAT)
R$(36.240,38) R$546.549,60 R$1.314.159,18 R$1.314.159,18 R$1.314.159,18 R$16.426.989,80
(+) Depreciação Det. 18 R$38.135,37 R$236.325,19 R$244.750,06 R$244.750,06 R$244.750,06 R$3.059.375,75
(−) Investimentos
R$4.760.342,10 R$1.845.141,08 R$943.362,24 R$943.362,24 R$943.362,24 R$11.792.027,97
Animais de Produção
R$483.424,23 R$1.343.674,71 R$698.612,18 R$698.612,18 R$698.612,18 R$8.732.652,22
(−) M z Det. 19 R$455.224,95 R$1.262.582,86 R$646.293,50 R$646.293,50 R$646.293,50 R$8.078.668,70
(−) C ch Det. 20 R$28.199,27 R$81.091,85 R$52.318,68 R$52.318,68 R$52.318,68 R$653.983,52
Construção Civil
R$2.996.934,93 R$119.293,78 R$123.546,54 R$123.546,54 R$123.546,54 R$1.544.331,75
(−) T Det. 21 R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(−) C u C v Op Det. 21 R$2.453.346,78 R$97.656,11 R$101.137,50 R$101.137,50 R$101.137,50 R$1.264.218,75
Gestação
R$1.499.320,09 R$- R$- R$- R$- R$-
Maternidade
R$938.268,09 R$- R$- R$- R$- R$-
(−) C u C v S v Sup Det. 22 R$543.588,15 R$21.637,67 R$22.409,04 R$22.409,04 R$22.409,04 R$280.113,00
Equipamentos
R$1.443.830,02 R$117.031,41 R$121.203,52 R$121.203,52 R$121.203,52 R$1.515.044,00
(−) Equ p j Det. 21 R$1.054.213,88 R$69.640,55 R$72.123,20 R$72.123,20 R$72.123,20 R$901.540,00
Gestação
R$597.703,49 R$- R$- R$- R$- R$-
129
Maternidade
R$445.272,62 R$- R$- R$- R$- R$-
(−) Equ p p Det. 21 R$220.426,75 R$14.561,22 R$15.080,32 R$15.080,32 R$15.080,32 R$188.504,00
Gestação
R$123.208,02 R$- R$- R$- R$- R$-
Maternidade
R$94.869,02 R$- R$- R$- R$- R$-
(−) Equ p C Det. 21 R$- R$- R$- R$- R$- R$-
Gestação
R$- R$- R$- R$- R$- R$-
Maternidade
R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(−) Ou Equ p Op S v Det. 23 R$11.445,16 R$2.220,83 R$2.300,00 R$2.300,00 R$2.300,00 R$28.750,00
(−) V ícu Det. 24 R$157.744,22 R$30.608,81 R$31.700,00 R$31.700,00 R$31.700,00 R$396.250,00
Capital de Giro Total
R$(163.847,07) R$265.141,18 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu R Det. 3 R$316,73 R$8.321,13 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu M c V c Det. 25 R$588,94 R$15.472,61 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu T I f c Det. 25 R$2,99 R$78,42 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu M p C b u Det. 25 R$41,97 R$1.102,71 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu M L p z Det. 25 R$40,43 R$1.062,25 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu I u p T D j Det. 25 R$4,63 R$121,59 R$- R$- R$- R$-
(−) F c c (c a receber) Det. 25 R$- R$245.369,07 R$- R$- R$- R$-
(+) Financiamento por fornecedores (contas a pagar) Det. 25 R$164.842,77 R$6.386,59 R$- R$- R$- R$-
(=) FCLE
(Anos 0, 1 e Perpetuidade com Referência para i=8%) R$(4.758.447,10) R$(1.062.266,29) R$615.547,01 R$615.547,01 R$615.547,01 R$7.694.337,58
130
APÊNDICE III: PROJEÇÃO DE FLUXOS DE CAIXA COM PERPETUIDADE – MIUNÇA MODERNIZADA
Miunça Modernizada Det. Ano 0 Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Perpetuidade
Receita Bruta
R$- R$2.941.096,58 R$6.204.623,53 R$6.204.623,53 R$6.204.623,53 R$77.557.794,12
(+) Venda de leitões para terminação Det. 1 R$- R$2.741.966,44 R$5.784.532,76 R$5.784.532,76 R$5.784.532,76 R$72.306.659,47
(+) Venda de reprodutores(as) Det. 1 R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(+) Venda de suínos descartados Det. 1 R$- R$199.130,14 R$420.090,77 R$420.090,77 R$420.090,77 R$5.251.134,65
(−) ICMS b c Det. 2 R$- R$29.410,97 R$62.046,24 R$62.046,24 R$62.046,24 R$775.577,94
(=) Receita Líquida
R$- R$2.911.685,61 R$6.142.577,29 R$6.142.577,29 R$6.142.577,29 R$76.782.216,18
(−) Custos e Despesas
R$59.652,55 R$2.074.628,29 R$4.089.792,85 R$4.089.792,85 R$4.089.792,85 R$51.122.410,63
Itens de Consumo
R$11.324,59 R$1.229.066,91 R$2.592.756,23 R$2.592.756,23 R$2.592.756,23 R$32.409.452,94
(−) Ração Det. 3 R$7.722,57 R$894.332,52 R$1.889.350,48 R$1.889.350,48 R$1.889.350,48 R$23.616.880,99
(−) M c V c Det. 4 R$2.496,70 R$289.136,53 R$610.824,54 R$610.824,54 R$610.824,54 R$7.635.306,71
(−) T I f c Det. 5 R$739,56 R$3.239,62 R$3.096,00 R$3.096,00 R$3.096,00 R$38.700,00
(−) M p C b u Det. 6 R$177,94 R$20.606,33 R$43.532,55 R$43.532,55 R$43.532,55 R$544.156,94
(−) M L p z Det. 7 R$168,21 R$19.479,80 R$41.152,66 R$41.152,66 R$41.152,66 R$514.408,30
(−) I u p T D j Det. 8 R$19,62 R$2.272,10 R$4.800,00 R$4.800,00 R$4.800,00 R$60.000,00
Pessoal
R$4.209,81 R$487.528,23 R$1.029.943,20 R$1.029.943,20 R$1.029.943,20 R$12.874.289,96
(−) F h de Pagamento de Operação 0 R$2.930,70 R$339.397,37 R$717.004,66 R$717.004,66 R$717.004,66 R$8.962.558,24
(−) F h Sup Det. 10 R$1.093,49 R$126.634,19 R$267.525,06 R$267.525,06 R$267.525,06 R$3.344.063,25
(−) U f E I Det. 11 R$43,38 R$5.023,94 R$10.613,48 R$10.613,48 R$10.613,48 R$132.668,48
(−) B fíc Det. 12 R$142,24 R$16.472,74 R$34.800,00 R$34.800,00 R$34.800,00 R$435.000,00
Utilidades
R$436,95 R$50.602,43 R$106.901,76 R$106.901,76 R$106.901,76 R$1.336.271,98
(−) Á u Det. 13 R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(−) E E é c Det. 13 R$252,26 R$29.213,37 R$61.715,64 R$61.715,64 R$61.715,64 R$771.445,48
(−) GL Det. 13 R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(−) C u c Det. 14 R$83,14 R$9.628,03 R$20.340,00 R$20.340,00 R$20.340,00 R$254.250,00
131
(−) V ícu Det. 15 R$93,19 R$10.792,48 R$22.800,00 R$22.800,00 R$22.800,00 R$285.000,00
(−) Equ p C Det. 16 R$8,36 R$968,54 R$2.046,12 R$2.046,12 R$2.046,12 R$25.576,50
Serviços Terceirizados
R$335,17 R$38.815,07 R$82.000,00 R$82.000,00 R$82.000,00 R$1.025.000,00
(−) S v v Det. 17 R$73,57 R$8.520,38 R$18.000,00 R$18.000,00 R$18.000,00 R$225.000,00
(−) S v u c Det. 17 R$49,05 R$5.680,25 R$12.000,00 R$12.000,00 R$12.000,00 R$150.000,00
(−) S v í c f Det. 17 R$212,55 R$24.614,43 R$52.000,00 R$52.000,00 R$52.000,00 R$650.000,00
(−) S v c qu õ Det. 17 R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(−) Depreciação Det. 18 R$43.346,03 R$268.615,65 R$278.191,66 R$278.191,66 R$278.191,66 R$3.477.395,75
(=) EBIT
R$(59.652,55) R$837.057,33 R$2.052.784,44 R$2.052.784,44 R$2.052.784,44 R$25.659.805,56
(−) I p R / C bu S c Det. 2 R$(20.224,19) R$282.218,55 R$697.946,71 R$697.946,71 R$697.946,71 R$8.724.333,89
(=) Lucro Operacional Após o IR (NOPAT)
R$(39.428,36) R$554.838,78 R$1.354.837,73 R$1.354.837,73 R$1.354.837,73 R$16.935.471,67
(+) Depreciação Det. 18 R$43.346,03 R$268.615,65 R$278.191,66 R$278.191,66 R$278.191,66 R$3.477.395,75
(−) Investimentos
R$5.249.153,65 R$1.877.451,37 R$976.803,84 R$976.803,84 R$976.803,84 R$12.210.047,97
Animais de Produção
R$483.424,23 R$1.343.674,71 R$698.612,18 R$698.612,18 R$698.612,18 R$8.732.652,22
(−) M z Det. 19 R$455.224,95 R$1.262.582,86 R$646.293,50 R$646.293,50 R$646.293,50 R$8.078.668,70
(−) C ch Det. 20 R$28.199,27 R$81.091,85 R$52.318,68 R$52.318,68 R$52.318,68 R$653.983,52
Construção Civil
R$2.996.934,93 R$119.293,78 R$123.546,54 R$123.546,54 R$123.546,54 R$1.544.331,75
(−) T Det. 21 R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(−) C u C v Op Det. 21 R$2.453.346,78 R$97.656,11 R$101.137,50 R$101.137,50 R$101.137,50 R$1.264.218,75
Gestação
R$1.499.320,09 R$- R$- R$- R$- R$-
Maternidade
R$938.268,09 R$- R$- R$- R$- R$-
(−) C u C v S v Sup Det. 22 R$543.588,15 R$21.637,67 R$22.409,04 R$22.409,04 R$22.409,04 R$280.113,00
Equipamentos
R$1.932.640,82 R$149.321,87 R$154.645,12 R$154.645,12 R$154.645,12 R$1.933.064,00
(−) Equ p j Det. 21 R$1.054.213,88 R$69.640,55 R$72.123,20 R$72.123,20 R$72.123,20 R$901.540,00
Gestação
R$597.703,49 R$- R$- R$- R$- R$-
Maternidade
R$445.272,62 R$- R$- R$- R$- R$-
132
(−) Equ p p Det. 21 R$709.237,55 R$46.851,68 R$48.521,92 R$48.521,92 R$48.521,92 R$606.524,00
Gestação
R$454.654,94 R$- R$- R$- R$- R$-
Maternidade
R$247.022,24 R$- R$- R$- R$- R$-
(−) Equipamentos de Controle Det. 21 R$- R$- R$- R$- R$- R$-
Gestação
R$- R$- R$- R$- R$- R$-
Maternidade
R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(−) Ou Equ p Op S v Det. 23 R$11.445,16 R$2.220,83 R$2.300,00 R$2.300,00 R$2.300,00 R$28.750,00
(−) V ícu Det. 24 R$157.744,22 R$30.608,81 R$31.700,00 R$31.700,00 R$31.700,00 R$396.250,00
Capital de Giro Total
R$(163.846,32) R$265.161,01 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu R Det. 3 R$316,73 R$8.321,13 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu Medicamentos e Vacinas Det. 25 R$588,94 R$15.472,61 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu T I f c Det. 25 R$2,99 R$78,42 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu M p C b u Det. 25 R$41,97 R$1.102,71 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu de Materiais de Limpeza Det. 25 R$39,68 R$1.042,43 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu I u p T D j Det. 25 R$4,63 R$121,59 R$- R$- R$- R$-
(−) F c c (c c b ) Det. 25 R$- R$245.369,07 R$- R$- R$- R$-
(+) Financiamento por fornecedores (contas a pagar) Det. 25 R$164.841,26 R$6.346,95 R$- R$- R$- R$-
(=) FCLE
(Anos 0, 1 e Perpetuidade com Referência para i=8%) R$(5.245.235,99) R$(1.053.996,94) R$656.225,56 R$656.225,56 R$656.225,56 R$8.202.819,45
133
APÊNDICE IV: PROJEÇÃO DE FLUXOS DE CAIXA COM PERPETUIDADE – ECO-BEA AS-IS
ECO-BEA AS-IS Det. Ano 0 Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Perpetuidade
Receita Bruta
R$- R$2.040.617,50 R$4.304.946,48 R$4.304.946,48 R$4.304.946,48 R$53.811.831,03
(+) Venda de leitões para terminação Det. 1 R$- R$1.922.065,61 R$4.054.845,93 R$4.054.845,93 R$4.054.845,93 R$50.685.574,11
(+) Venda de reprodutores(as) Det. 1 R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(+) Venda de suínos descartados Det. 1 R$- R$118.551,90 R$250.100,55 R$250.100,55 R$250.100,55 R$3.126.256,91
(−) ICMS b c Det. 2 R$- R$20.406,18 R$43.049,46 R$43.049,46 R$43.049,46 R$538.118,31
(=) Receita Líquida
R$- R$2.020.211,33 R$4.261.897,02 R$4.261.897,02 R$4.261.897,02 R$53.273.712,72
(−) Custos e Despesas
R$50.098,04 R$1.425.551,44 R$2.754.718,44 R$2.754.718,44 R$2.754.718,44 R$34.433.980,49
Itens de Consumo
R$12.834,27 R$864.870,41 R$1.798.845,68 R$1.798.845,68 R$1.798.845,68 R$22.485.570,94
(−) R Det. 3 R$5.215,65 R$604.012,29 R$1.276.025,29 R$1.276.025,29 R$1.276.025,29 R$15.950.316,11
(−) M c V c Det. 4 R$1.849,69 R$214.207,59 R$452.531,02 R$452.531,02 R$452.531,02 R$5.656.637,79
(−) T I f c Det. 5 R$5.555,01 R$21.876,40 R$17.952,00 R$17.952,00 R$17.952,00 R$224.400,00
(−) M p C b u Det. 6 R$103,67 R$12.005,43 R$25.362,45 R$25.362,45 R$25.362,45 R$317.030,56
(−) M L p z Det. 7 R$90,64 R$10.496,60 R$22.174,92 R$22.174,92 R$22.174,92 R$277.186,48
(−) I u p T Dejetos Det. 8 R$19,62 R$2.272,10 R$4.800,00 R$4.800,00 R$4.800,00 R$60.000,00
Pessoal
R$2.162,97 R$250.488,14 R$529.176,64 R$529.176,64 R$529.176,64 R$6.614.708,02
(−) F h Op 0 R$1.364,80 R$158.054,17 R$333.902,33 R$333.902,33 R$333.902,33 R$4.173.779,13
(−) F h Sup Det. 10 R$638,57 R$73.951,66 R$156.228,92 R$156.228,92 R$156.228,92 R$1.952.861,50
(−) U f E I Det. 11 R$17,35 R$2.009,58 R$4.245,39 R$4.245,39 R$4.245,39 R$53.067,39
(−) Benefícios Det. 12 R$142,24 R$16.472,74 R$34.800,00 R$34.800,00 R$34.800,00 R$435.000,00
Utilidades
R$510,31 R$59.097,33 R$124.847,93 R$124.847,93 R$124.847,93 R$1.560.599,13
(−) Á u Det. 13 R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(−) E E é c Det. 13 R$42,55 R$4.927,87 R$10.410,53 R$10.410,53 R$10.410,53 R$130.131,63
(−) GL Det. 13 R$283,06 R$32.780,40 R$69.251,28 R$69.251,28 R$69.251,28 R$865.641,00
(−) C u c Det. 14 R$83,14 R$9.628,03 R$20.340,00 R$20.340,00 R$20.340,00 R$254.250,00
134
(−) Veículos Det. 15 R$93,19 R$10.792,48 R$22.800,00 R$22.800,00 R$22.800,00 R$285.000,00
(−) Equ p C Det. 16 R$8,36 R$968,54 R$2.046,12 R$2.046,12 R$2.046,12 R$25.576,50
Serviços Terceirizados
R$335,17 R$38.815,07 R$82.000,00 R$82.000,00 R$82.000,00 R$1.025.000,00
(−) S v v Det. 17 R$73,57 R$8.520,38 R$18.000,00 R$18.000,00 R$18.000,00 R$225.000,00
(−) S v u c Det. 17 R$49,05 R$5.680,25 R$12.000,00 R$12.000,00 R$12.000,00 R$150.000,00
(−) S v de logística e frete Det. 17 R$212,55 R$24.614,43 R$52.000,00 R$52.000,00 R$52.000,00 R$650.000,00
(−) S v c qu õ Det. 17 R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(−) Depreciação Det. 18 R$34.255,33 R$212.280,50 R$219.848,19 R$219.848,19 R$219.848,19 R$2.748.102,41
(=) EBIT
R$(50.098,04) R$594.659,88 R$1.507.178,58 R$1.507.178,58 R$1.507.178,58 R$18.839.732,22
(−) I p R / C bu S c Det. 2 R$(16.983,61) R$200.735,30 R$512.440,72 R$512.440,72 R$512.440,72 R$6.405.508,96
(=) Lucro Operacional Após o IR (NOPAT)
R$(33.114,43) R$393.924,58 R$994.737,86 R$994.737,86 R$994.737,86 R$12.434.223,27
(+) Depreciação Det. 18 R$34.255,33 R$212.280,50 R$219.848,19 R$219.848,19 R$219.848,19 R$2.748.102,41
(−) Investimentos
R$3.848.067,38 R$1.186.255,72 R$635.099,59 R$635.099,59 R$635.099,59 R$7.938.744,91
Animais de Produção
R$287.446,79 R$798.922,05 R$415.251,40 R$415.251,40 R$415.251,40 R$5.190.642,50
(−) M z Det. 19 R$271.017,65 R$751.677,24 R$384.770,08 R$384.770,08 R$384.770,08 R$4.809.626,02
(−) C ch Det. 20 R$16.429,14 R$47.244,82 R$30.481,32 R$30.481,32 R$30.481,32 R$381.016,48
Construção Civil
R$2.069.144,73 R$82.362,85 R$85.299,04 R$85.299,04 R$85.299,04 R$1.066.238,00
(−) Terreno Det. 21 R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(−) C u C v Op Det. 21 R$1.525.556,58 R$60.725,18 R$62.890,00 R$62.890,00 R$62.890,00 R$786.125,00
Gestação
R$956.356,44 R$- R$- R$- R$- R$-
Maternidade
R$559.401,03 R$- R$- R$- R$- R$-
(−) Construção Civil de Serviços de Suporte Det. 22 R$543.588,15 R$21.637,67 R$22.409,04 R$22.409,04 R$22.409,04 R$280.113,00
Equipamentos
R$1.590.896,03 R$129.917,66 R$134.549,15 R$134.549,15 R$134.549,15 R$1.681.864,41
(−) Equ p j Animais Det. 21 R$811.278,43 R$53.592,42 R$55.502,97 R$55.502,97 R$55.502,97 R$693.787,07
Gestação
R$149.430,69 R$- R$- R$- R$- R$-
Maternidade
R$653.199,63 R$- R$- R$- R$- R$-
135
(−) Equ p p Det. 21 R$585.649,80 R$38.687,57 R$40.066,76 R$40.066,76 R$40.066,76 R$500.834,54
Gestação
R$463.778,73 R$- R$- R$- R$- R$-
Maternidade
R$115.628,12 R$- R$- R$- R$- R$-
(−) Equ p C Det. 21 R$24.778,40 R$4.808,02 R$4.979,42 R$4.979,42 R$4.979,42 R$62.242,80
Gestação
R$24.002,54 R$- R$- R$- R$- R$-
Maternidade
R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(−) Ou Equ p Op S v Det. 23 R$11.445,16 R$2.220,83 R$2.300,00 R$2.300,00 R$2.300,00 R$28.750,00
(−) V ícu Det. 24 R$157.744,22 R$30.608,81 R$31.700,00 R$31.700,00 R$31.700,00 R$396.250,00
Capital de Giro Total
R$(99.420,16) R$175.053,16 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu R Det. 3 R$316,73 R$8.321,13 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu M c V c Det. 25 R$436,32 R$11.462,92 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu T I f c Det. 25 R$17,31 R$454,74 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu M p C b u Det. 25 R$24,45 R$642,45 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu M L p z Det. 25 R$21,38 R$561,71 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu I u p T D j Det. 25 R$4,63 R$121,59 R$- R$- R$- R$-
(−) F c c (c c b ) Det. 25 R$- R$170.244,13 R$- R$- R$- R$-
(+) Financiamento por fornecedores (contas a pagar) Det. 25 R$100.240,98 R$16.755,50 R$- R$- R$- R$-
(=) FCLE
(Anos 0, 1 e Perpetuidade com Referência para i=8%) R$(3.846.926,49) R$(580.050,64) R$579.486,46 R$579.486,46 R$579.486,46 R$7.243.580,77
136
APÊNDICE V: PROJEÇÃO DE FLUXOS DE CAIXA COM PERPETUIDADE – ECO-BEA COBRE E SOLTA
ECO-BEA CS Det. Ano 0 Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Perpetuidade
Receita Bruta
R$- R$2.080.175,23 R$4.388.398,62 R$4.388.398,62 R$4.388.398,62 R$54.854.982,76
(+) Venda de leitões para terminação Det. 1 R$- R$1.961.623,33 R$4.138.298,07 R$4.138.298,07 R$4.138.298,07 R$51.728.725,85
(+) Venda de reprodutores(as) Det. 1 R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(+) Venda de suínos descartados Det. 1 R$- R$118.551,90 R$250.100,55 R$250.100,55 R$250.100,55 R$3.126.256,91
(−) ICMS b c Det. 2 R$- R$20.801,75 R$43.883,99 R$43.883,99 R$43.883,99 R$548.549,83
(=) Receita Líquida
R$- R$2.059.373,48 R$4.344.514,63 R$4.344.514,63 R$4.344.514,63 R$54.306.432,93
(−) Custos e Despesas
R$50.920,58 R$1.430.896,10 R$2.760.535,11 R$2.760.535,11 R$2.760.535,11 R$34.506.688,92
Itens de Consumo
R$12.836,53 R$865.131,79 R$1.799.397,86 R$1.799.397,86 R$1.799.397,86 R$22.492.473,19
(−) R Det. 3 R$5.215,65 R$604.012,29 R$1.276.025,29 R$1.276.025,29 R$1.276.025,29 R$15.950.316,11
(−) Medicamentos e Vacinas Det. 4 R$1.849,69 R$214.207,59 R$452.531,02 R$452.531,02 R$452.531,02 R$5.656.637,79
(−) T I f c Det. 5 R$5.555,01 R$21.876,40 R$17.952,00 R$17.952,00 R$17.952,00 R$224.400,00
(−) M p Cobertura Det. 6 R$103,67 R$12.005,43 R$25.362,45 R$25.362,45 R$25.362,45 R$317.030,56
(−) M L p z Det. 7 R$92,90 R$10.757,97 R$22.727,10 R$22.727,10 R$22.727,10 R$284.088,74
(−) I u p T D j Det. 8 R$19,62 R$2.272,10 R$4.800,00 R$4.800,00 R$4.800,00 R$60.000,00
Pessoal
R$2.162,97 R$250.488,14 R$529.176,64 R$529.176,64 R$529.176,64 R$6.614.708,02
(−) F h Op 0 R$1.364,80 R$158.054,17 R$333.902,33 R$333.902,33 R$333.902,33 R$4.173.779,13
(−) F h Sup Det. 10 R$638,57 R$73.951,66 R$156.228,92 R$156.228,92 R$156.228,92 R$1.952.861,50
(−) U f E I Det. 11 R$17,35 R$2.009,58 R$4.245,39 R$4.245,39 R$4.245,39 R$53.067,39
(−) B fíc Det. 12 R$142,24 R$16.472,74 R$34.800,00 R$34.800,00 R$34.800,00 R$435.000,00
Utilidades
R$510,31 R$59.097,33 R$124.847,93 R$124.847,93 R$124.847,93 R$1.560.599,13
(−) Á u Det. 13 R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(−) E E é c Det. 13 R$42,55 R$4.927,87 R$10.410,53 R$10.410,53 R$10.410,53 R$130.131,63
(−) GL Det. 13 R$283,06 R$32.780,40 R$69.251,28 R$69.251,28 R$69.251,28 R$865.641,00
(−) C u c Det. 14 R$83,14 R$9.628,03 R$20.340,00 R$20.340,00 R$20.340,00 R$254.250,00
137
(−) V ícu Det. 15 R$93,19 R$10.792,48 R$22.800,00 R$22.800,00 R$22.800,00 R$285.000,00
(−) Equ p C Det. 16 R$8,36 R$968,54 R$2.046,12 R$2.046,12 R$2.046,12 R$25.576,50
Serviços Terceirizados
R$335,17 R$38.815,07 R$82.000,00 R$82.000,00 R$82.000,00 R$1.025.000,00
(−) S v v Det. 17 R$73,57 R$8.520,38 R$18.000,00 R$18.000,00 R$18.000,00 R$225.000,00
(−) S v u c Det. 17 R$49,05 R$5.680,25 R$12.000,00 R$12.000,00 R$12.000,00 R$150.000,00
(−) S v í c e frete Det. 17 R$212,55 R$24.614,43 R$52.000,00 R$52.000,00 R$52.000,00 R$650.000,00
(−) S v c qu õ Det. 17 R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(−) Depreciação Det. 18 R$35.075,60 R$217.363,78 R$225.112,69 R$225.112,69 R$225.112,69 R$2.813.908,58
(=) EBIT
R$(50.920,58) R$628.477,38 R$1.583.979,52 R$1.583.979,52 R$1.583.979,52 R$19.799.744,01
(−) I p R / C bu S c Det. 2 R$(17.262,37) R$212.068,36 R$538.553,04 R$538.553,04 R$538.553,04 R$6.731.912,96
(=) Lucro Operacional Após o IR (NOPAT)
R$(33.658,20) R$416.409,01 R$1.045.426,48 R$1.045.426,48 R$1.045.426,48 R$13.067.831,05
(+) Depreciação Det. 18 R$35.075,60 R$217.363,78 R$225.112,69 R$225.112,69 R$225.112,69 R$2.813.908,58
(−) Investimentos
R$3.927.066,10 R$1.194.625,22 R$640.364,09 R$640.364,09 R$640.364,09 R$8.004.551,08
Animais de Produção
R$287.446,79 R$798.922,05 R$415.251,40 R$415.251,40 R$415.251,40 R$5.190.642,50
(−) M z Det. 19 R$271.017,65 R$751.677,24 R$384.770,08 R$384.770,08 R$384.770,08 R$4.809.626,02
(−) C ch Det. 20 R$16.429,14 R$47.244,82 R$30.481,32 R$30.481,32 R$30.481,32 R$381.016,48
Construção Civil
R$2.131.244,03 R$84.834,73 R$87.859,04 R$87.859,04 R$87.859,04 R$1.098.238,00
(−) Terreno Det. 21 R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(−) C u C v Op Det. 21 R$1.587.655,88 R$63.197,06 R$65.450,00 R$65.450,00 R$65.450,00 R$818.125,00
Gestação
R$1.018.056,85 R$- R$- R$- R$- R$-
Maternidade
R$559.401,03 R$- R$- R$- R$- R$-
(−) C u C v S v Sup Det. 22 R$543.588,15 R$21.637,67 R$22.409,04 R$22.409,04 R$22.409,04 R$280.113,00
Equipamentos
R$1.607.795,97 R$132.529,06 R$137.253,65 R$137.253,65 R$137.253,65 R$1.715.670,58
(−) Equ p j dos Animais Det. 21 R$717.309,64 R$47.384,92 R$49.074,17 R$49.074,17 R$49.074,17 R$613.427,07
Gestação
R$56.463,59 R$- R$- R$- R$- R$-
Maternidade
R$653.199,63 R$- R$- R$- R$- R$-
138
(−) Equ p p Det. 21 R$684.837,16 R$45.239,81 R$46.852,59 R$46.852,59 R$46.852,59 R$585.657,33
Gestação
R$561.908,77 R$- R$- R$- R$- R$-
Maternidade
R$115.628,12 R$- R$- R$- R$- R$-
(−) Equ p C Det. 21 R$36.459,79 R$7.074,69 R$7.326,89 R$7.326,89 R$7.326,89 R$91.586,18
Gestação
R$35.318,16 R$- R$- R$- R$- R$-
Maternidade
R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(−) Ou Equ p Op S v Det. 23 R$11.445,16 R$2.220,83 R$2.300,00 R$2.300,00 R$2.300,00 R$28.750,00
(−) V ícu Det. 24 R$157.744,22 R$30.608,81 R$31.700,00 R$31.700,00 R$31.700,00 R$396.250,00
Capital de Giro Total
R$(99.420,69) R$178.339,38 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu R Det. 3 R$316,73 R$8.321,13 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu M c V c Det. 25 R$436,32 R$11.462,92 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu T I f c Det. 25 R$17,31 R$454,74 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu M p C b u Det. 25 R$24,45 R$642,45 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu M L p z Det. 25 R$21,91 R$575,69 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu I u p T D j Det. 25 R$4,63 R$121,59 R$- R$- R$- R$-
(−) F c c (c c b ) Det. 25 R$- R$173.544,34 R$- R$- R$- R$-
(+) Financiamento por fornecedores (contas a pagar) Det. 25 R$100.242,05 R$16.783,47 R$- R$- R$- R$-
(=) FCLE
(Anos 0, 1 e Perpetuidade com Referência para i=8%) R$(3.925.648,69) R$(560.852,42) R$630.175,08 R$630.175,08 R$630.175,08 R$7.877.188,55
139
APÊNDICE VI: PROJEÇÃO DE FLUXOS DE CAIXA COM TERMINAÇÃO NO ANO 10 – MIUNÇA AS-IS
Miunça AS-IS Det. Ano 0 Ano 1 Ano 2 Ano 3 ... Ano 9 Ano 10 Terminação
Receita Bruta
R$- R$2.941.096,58 R$6.204.623,53 R$6.204.623,53 R$6.204.623,53 R$1.050.226,93
(+) Venda de leitões para terminação Det. 1 R$- R$2.741.966,44 R$5.784.532,76 R$5.784.532,76 R$5.784.532,76 R$-
(+) Venda de reprodutores(as) Det. 1 R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(+) Venda de suínos descartados Det. 1 R$- R$199.130,14 R$420.090,77 R$420.090,77 R$420.090,77 R$1.050.226,93
(−) ICMS b c Det. 2 R$- R$29.410,97 R$62.046,24 R$62.046,24 R$62.046,24 R$10.502,27
(=) Receita Líquida
R$- R$2.911.685,61 R$6.142.577,29 R$6.142.577,29 R$6.142.577,29 R$1.039.724,66
(−) Custos e Despesas
R$54.830,51 R$2.087.342,36 R$4.151.427,02 R$4.151.427,02 R$4.151.427,02 R$-
Itens de Consumo
R$11.327,79 R$1.229.437,36 R$2.593.538,86 R$2.593.538,86 R$2.593.538,86 R$-
(−) R Det. 3 R$7.722,57 R$894.332,52 R$1.889.350,48 R$1.889.350,48 R$1.889.350,48 R$-
(−) M c V c Det. 4 R$2.496,70 R$289.136,53 R$610.824,54 R$610.824,54 R$610.824,54 R$-
(−) T I f c Det. 5 R$739,56 R$3.239,62 R$3.096,00 R$3.096,00 R$3.096,00 R$-
(−) M p C b u Det. 6 R$177,94 R$20.606,33 R$43.532,55 R$43.532,55 R$43.532,55 R$-
(−) M Limpeza Det. 7 R$171,41 R$19.850,26 R$41.935,29 R$41.935,29 R$41.935,29 R$-
(−) I u p T D j Det. 8 R$19,62 R$2.272,10 R$4.800,00 R$4.800,00 R$4.800,00 R$-
Pessoal
R$4.606,36 R$533.451,07 R$1.126.958,95 R$1.126.958,95 R$1.126.958,95 R$-
(−) F h Op 0 R$3.321,46 R$384.650,35 R$812.605,28 R$812.605,28 R$812.605,28 R$-
(−) F h Sup Det. 10 R$1.093,49 R$126.634,19 R$267.525,06 R$267.525,06 R$267.525,06 R$-
(−) U f E I Det. 11 R$49,17 R$5.693,80 R$12.028,61 R$12.028,61 R$12.028,61 R$-
(−) B fíc Det. 12 R$142,24 R$16.472,74 R$34.800,00 R$34.800,00 R$34.800,00 R$-
Utilidades
R$425,82 R$49.313,67 R$104.179,15 R$104.179,15 R$104.179,15 R$-
(−) Á u Det. 13 R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(−) E E é c Det. 13 R$241,13 R$27.924,62 R$58.993,03 R$58.993,03 R$58.993,03 R$-
(−) GL Det. 13 R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(−) C u c Det. 14 R$83,14 R$9.628,03 R$20.340,00 R$20.340,00 R$20.340,00 R$-
140
(−) V ícu Det. 15 R$93,19 R$10.792,48 R$22.800,00 R$22.800,00 R$22.800,00 R$-
(−) Equ p C Det. 16 R$8,36 R$968,54 R$2.046,12 R$2.046,12 R$2.046,12 R$-
Serviços Terceirizados
R$335,17 R$38.815,07 R$82.000,00 R$82.000,00 R$82.000,00 R$-
(−) Serviços de veterinário Det. 17 R$73,57 R$8.520,38 R$18.000,00 R$18.000,00 R$18.000,00 R$-
(−) S v u c Det. 17 R$49,05 R$5.680,25 R$12.000,00 R$12.000,00 R$12.000,00 R$-
(−) S v í c f Det. 17 R$212,55 R$24.614,43 R$52.000,00 R$52.000,00 R$52.000,00 R$-
(−) S v c qu õ Det. 17 R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(−) Depreciação Det. 18 R$38.135,37 R$236.325,19 R$244.750,06 R$244.750,06 R$244.750,06 R$-
(=) EBIT
R$(54.830,51) R$824.343,25 R$1.991.150,28 R$1.991.150,28 R$1.991.150,28 R$1.039.724,66
(−) I p R / C bu S c Det. 2 R$(18.590,14) R$277.793,65 R$676.991,09 R$676.991,09 R$676.991,09 R$353.506,38
(=) Lucro Operacional Após o IR (NOPAT)
R$(36.240,38) R$546.549,60 R$1.314.159,18 R$1.314.159,18 R$1.314.159,18 R$686.218,28
(+) Depreciação Det. 18 R$38.135,37 R$236.325,19 R$244.750,06 R$244.750,06 R$244.750,06 R$-
(−) Investimentos
R$4.760.342,10 R$1.845.141,08 R$943.362,24 R$943.362,24 R$943.362,24 R$(2.387.608,07)
Animais de Produção
R$483.424,23 R$1.343.674,71 R$698.612,18 R$698.612,18 R$698.612,18 R$-
(−) M z Det. 19 R$455.224,95 R$1.262.582,86 R$646.293,50 R$646.293,50 R$646.293,50 R$-
(−) C ch Det. 20 R$28.199,27 R$81.091,85 R$52.318,68 R$52.318,68 R$52.318,68 R$-
Construção Civil
R$2.996.934,93 R$119.293,78 R$123.546,54 R$123.546,54 R$123.546,54 R$(1.853.198,10)
(−) T Det. 21 R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(−) C u C v Op Det. 21 R$2.453.346,78 R$97.656,11 R$101.137,50 R$101.137,50 R$101.137,50 R$(1.517.062,50)
Gestação
R$1.499.320,09 R$- R$- R$- R$- R$-
Maternidade
R$938.268,09 R$- R$- R$- R$- R$-
(−) C u C v S v Sup Det. 22 R$543.588,15 R$21.637,67 R$22.409,04 R$22.409,04 R$22.409,04 R$(336.135,60)
Equipamentos
R$1.443.830,02 R$117.031,41 R$121.203,52 R$121.203,52 R$121.203,52 R$(436.017,60)
(−) Equ p j Det. 21 R$1.054.213,88 R$69.640,55 R$72.123,20 R$72.123,20 R$72.123,20 R$(360.616,00)
Gestação
R$597.703,49 R$- R$- R$- R$- R$-
Maternidade
R$445.272,62 R$- R$- R$- R$- R$-
141
(−) Equ p p Det. 21 R$220.426,75 R$14.561,22 R$15.080,32 R$15.080,32 R$15.080,32 R$(75.401,60)
Gestação
R$123.208,02 R$- R$- R$- R$- R$-
Maternidade
R$94.869,02 R$- R$- R$- R$- R$-
(−) Equ p C Det. 21 R$- R$- R$- R$- R$- R$-
Gestação
R$- R$- R$- R$- R$- R$-
Maternidade
R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(−) Ou Equ p Op S v Det. 23 R$11.445,16 R$2.220,83 R$2.300,00 R$2.300,00 R$2.300,00 R$-
(−) V ícu Det. 24 R$157.744,22 R$30.608,81 R$31.700,00 R$31.700,00 R$31.700,00 R$-
Capital de Giro Total
R$(163.847,07) R$265.141,18 R$- R$- R$- R$(98.392,37)
(−) E qu R Det. 3 R$316,73 R$8.321,13 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu M c V c Det. 25 R$588,94 R$15.472,61 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu T I f c Det. 25 R$2,99 R$78,42 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu M p C b u Det. 25 R$41,97 R$1.102,71 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu M L p z Det. 25 R$40,43 R$1.062,25 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu de Insumos para Tratamento de Dejetos Det. 25 R$4,63 R$121,59 R$- R$- R$- R$-
(−) F c c (c a receber) Det. 25 R$- R$245.369,07 R$- R$- R$- R$-
(+) Financiamento por fornecedores (contas a pagar) Det. 25 R$164.842,77 R$6.386,59 R$- R$- R$- R$-
(=) FCLE
(Anos 0 e 1 com Referência para i=8%) R$(4.758.447,10) R$(1.062.266,29) R$615.547,01 R$615.547,01 R$615.547,01 R$3.073.826,35
142
APÊNDICE VII: PROJEÇÃO DE FLUXOS DE CAIXA COM TERMINAÇÃO NO ANO 10 – MIUNÇA MODERNIZADA
Miunça Modernizada Det. Ano 0 Ano 1 Ano 2 Ano 3 ... Ano 9 Ano 10 Terminação
Receita Bruta
R$- R$2.941.096,58 R$6.204.623,53 R$6.204.623,53 R$6.204.623,53 R$1.050.226,93
(+) Venda de leitões para terminação Det. 1 R$- R$2.741.966,44 R$5.784.532,76 R$5.784.532,76 R$5.784.532,76 R$-
(+) Venda de reprodutores(as) Det. 1 R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(+) Venda de suínos descartados Det. 1 R$- R$199.130,14 R$420.090,77 R$420.090,77 R$420.090,77 R$1.050.226,93
(−) ICMS b c Det. 2 R$- R$29.410,97 R$62.046,24 R$62.046,24 R$62.046,24 R$10.502,27
(=) Receita Líquida
R$- R$2.911.685,61 R$6.142.577,29 R$6.142.577,29 R$6.142.577,29 R$1.039.724,66
(−) Custos e Despesas
R$59.652,55 R$2.074.628,29 R$4.089.792,85 R$4.089.792,85 R$4.089.792,85 R$-
Itens de Consumo
R$11.324,59 R$1.229.066,91 R$2.592.756,23 R$2.592.756,23 R$2.592.756,23 R$-
(−) R Det. 3 R$7.722,57 R$894.332,52 R$1.889.350,48 R$1.889.350,48 R$1.889.350,48 R$-
(−) M c V c Det. 4 R$2.496,70 R$289.136,53 R$610.824,54 R$610.824,54 R$610.824,54 R$-
(−) T I f c Det. 5 R$739,56 R$3.239,62 R$3.096,00 R$3.096,00 R$3.096,00 R$-
(−) M p C b u Det. 6 R$177,94 R$20.606,33 R$43.532,55 R$43.532,55 R$43.532,55 R$-
(−) M L p z Det. 7 R$168,21 R$19.479,80 R$41.152,66 R$41.152,66 R$41.152,66 R$-
(−) I u p T D j Det. 8 R$19,62 R$2.272,10 R$4.800,00 R$4.800,00 R$4.800,00 R$-
Pessoal
R$4.209,81 R$487.528,23 R$1.029.943,20 R$1.029.943,20 R$1.029.943,20 R$-
(−) F h Op 0 R$2.930,70 R$339.397,37 R$717.004,66 R$717.004,66 R$717.004,66 R$-
(−) F h de Pagamento de Suporte Det. 10 R$1.093,49 R$126.634,19 R$267.525,06 R$267.525,06 R$267.525,06 R$-
(−) U f E I Det. 11 R$43,38 R$5.023,94 R$10.613,48 R$10.613,48 R$10.613,48 R$-
(−) B fíc Det. 12 R$142,24 R$16.472,74 R$34.800,00 R$34.800,00 R$34.800,00 R$-
Utilidades
R$436,95 R$50.602,43 R$106.901,76 R$106.901,76 R$106.901,76 R$-
(−) Á u Det. 13 R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(−) E E é c Det. 13 R$252,26 R$29.213,37 R$61.715,64 R$61.715,64 R$61.715,64 R$-
(−) GL Det. 13 R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(−) C u c Det. 14 R$83,14 R$9.628,03 R$20.340,00 R$20.340,00 R$20.340,00 R$-
143
(−) V ícu Det. 15 R$93,19 R$10.792,48 R$22.800,00 R$22.800,00 R$22.800,00 R$-
(−) Equ p C Det. 16 R$8,36 R$968,54 R$2.046,12 R$2.046,12 R$2.046,12 R$-
Serviços Terceirizados
R$335,17 R$38.815,07 R$82.000,00 R$82.000,00 R$82.000,00 R$-
(−) S v v Det. 17 R$73,57 R$8.520,38 R$18.000,00 R$18.000,00 R$18.000,00 R$-
(−) S v u c Det. 17 R$49,05 R$5.680,25 R$12.000,00 R$12.000,00 R$12.000,00 R$-
(−) S v í c f Det. 17 R$212,55 R$24.614,43 R$52.000,00 R$52.000,00 R$52.000,00 R$-
(−) S v c qu õ Det. 17 R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(−) Depreciação Det. 18 R$43.346,03 R$268.615,65 R$278.191,66 R$278.191,66 R$278.191,66 R$-
(=) EBIT
R$(59.652,55) R$837.057,33 R$2.052.784,44 R$2.052.784,44 R$2.052.784,44 R$1.039.724,66
(−) I p R / C bu S c Det. 2 R$(20.224,19) R$282.218,55 R$697.946,71 R$697.946,71 R$697.946,71 R$353.506,38
(=) Lucro Operacional Após o IR (NOPAT)
R$(39.428,36) R$554.838,78 R$1.354.837,73 R$1.354.837,73 R$1.354.837,73 R$686.218,28
(+) Depreciação Det. 18 R$43.346,03 R$268.615,65 R$278.191,66 R$278.191,66 R$278.191,66 R$-
(−) Investimentos
R$5.249.153,65 R$1.877.451,37 R$976.803,84 R$976.803,84 R$976.803,84 R$(2.554.837,51)
Animais de Produção
R$483.424,23 R$1.343.674,71 R$698.612,18 R$698.612,18 R$698.612,18 R$-
(−) M z Det. 19 R$455.224,95 R$1.262.582,86 R$646.293,50 R$646.293,50 R$646.293,50 R$-
(−) C ch Det. 20 R$28.199,27 R$81.091,85 R$52.318,68 R$52.318,68 R$52.318,68 R$-
Construção Civil
R$2.996.934,93 R$119.293,78 R$123.546,54 R$123.546,54 R$123.546,54 R$(1.853.198,10)
(−) T Det. 21 R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(−) C u C v Op Det. 21 R$2.453.346,78 R$97.656,11 R$101.137,50 R$101.137,50 R$101.137,50 R$(1.517.062,50)
Gestação
R$1.499.320,09 R$- R$- R$- R$- R$-
Maternidade
R$938.268,09 R$- R$- R$- R$- R$-
(−) C u C v S v Sup Det. 22 R$543.588,15 R$21.637,67 R$22.409,04 R$22.409,04 R$22.409,04 R$(336.135,60)
Equipamentos
R$1.932.640,82 R$149.321,87 R$154.645,12 R$154.645,12 R$154.645,12 R$(603.225,60)
(−) Equ p j Det. 21 R$1.054.213,88 R$69.640,55 R$72.123,20 R$72.123,20 R$72.123,20 R$(360.616,00)
Gestação
R$597.703,49 R$- R$- R$- R$- R$-
Maternidade
R$445.272,62 R$- R$- R$- R$- R$-
144
(−) Equ p para Alimentação Det. 21 R$709.237,55 R$46.851,68 R$48.521,92 R$48.521,92 R$48.521,92 R$(242.609,60)
Gestação
R$454.654,94 R$- R$- R$- R$- R$-
Maternidade
R$247.022,24 R$- R$- R$- R$- R$-
(−) Equ p C Det. 21 R$- R$- R$- R$- R$- R$-
Gestação
R$- R$- R$- R$- R$- R$-
Maternidade
R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(−) Ou Equ p Op S v Det. 23 R$11.445,16 R$2.220,83 R$2.300,00 R$2.300,00 R$2.300,00 R$-
(−) V ícu Det. 24 R$157.744,22 R$30.608,81 R$31.700,00 R$31.700,00 R$31.700,00 R$-
Capital de Giro Total
R$(163.846,32) R$265.161,01 R$- R$- R$- R$(98.413,81)
(−) E qu R Det. 3 R$316,73 R$8.321,13 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu M c V c Det. 25 R$588,94 R$15.472,61 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu T I f c Det. 25 R$2,99 R$78,42 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu M p C b u Det. 25 R$41,97 R$1.102,71 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu M L p z Det. 25 R$39,68 R$1.042,43 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu I u p T D j Det. 25 R$4,63 R$121,59 R$- R$- R$- R$-
(−) F c c (c c b ) Det. 25 R$- R$245.369,07 R$- R$- R$- R$-
(+) Financiamento por fornecedores (contas a pagar) Det. 25 R$164.841,26 R$6.346,95 R$- R$- R$- R$-
(=) FCLE
(Anos 0 e 1 com Referência para i=8%) R$(5.245.235,99) R$(1.053.996,94) R$656.225,56 R$656.225,56 R$656.225,56 R$3.241.055,79
145
APÊNDICE VIII: PROJEÇÃO DE FLUXOS DE CAIXA COM TERMINAÇÃO NO ANO 10 – ECO-BEA AS-IS
ECO-BEA AS-IS Det. Ano 0 Ano 1 Ano 2 Ano 3 ... Ano 9 Ano 10 Terminação
Receita Bruta
R$- R$2.040.617,50 R$4.304.946,48 R$4.304.946,48 R$4.304.946,48 R$625.251,38
(+) Venda de leitões para terminação Det. 1 R$- R$1.922.065,61 R$4.054.845,93 R$4.054.845,93 R$4.054.845,93 R$-
(+) Venda de reprodutores(as) Det. 1 R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(+) Venda de suínos descartados Det. 1 R$- R$118.551,90 R$250.100,55 R$250.100,55 R$250.100,55 R$625.251,38
(−) ICMS b c Det. 2 R$- R$20.406,18 R$43.049,46 R$43.049,46 R$43.049,46 R$6.252,51
(=) Receita Líquida
R$- R$2.020.211,33 R$4.261.897,02 R$4.261.897,02 R$4.261.897,02 R$618.998,87
(−) Custos e Despesas
R$50.098,04 R$1.425.551,44 R$2.754.718,44 R$2.754.718,44 R$2.754.718,44 R$-
Itens de Consumo
R$12.834,27 R$864.870,41 R$1.798.845,68 R$1.798.845,68 R$1.798.845,68 R$-
(−) R Det. 3 R$5.215,65 R$604.012,29 R$1.276.025,29 R$1.276.025,29 R$1.276.025,29 R$-
(−) M c V c Det. 4 R$1.849,69 R$214.207,59 R$452.531,02 R$452.531,02 R$452.531,02 R$-
(−) T I f c Det. 5 R$5.555,01 R$21.876,40 R$17.952,00 R$17.952,00 R$17.952,00 R$-
(−) M p C b u Det. 6 R$103,67 R$12.005,43 R$25.362,45 R$25.362,45 R$25.362,45 R$-
(−) M Limpeza Det. 7 R$90,64 R$10.496,60 R$22.174,92 R$22.174,92 R$22.174,92 R$-
(−) I u p T D j Det. 8 R$19,62 R$2.272,10 R$4.800,00 R$4.800,00 R$4.800,00 R$-
Pessoal
R$2.162,97 R$250.488,14 R$529.176,64 R$529.176,64 R$529.176,64 R$-
(−) F h Op 0 R$1.364,80 R$158.054,17 R$333.902,33 R$333.902,33 R$333.902,33 R$-
(−) F h Sup Det. 10 R$638,57 R$73.951,66 R$156.228,92 R$156.228,92 R$156.228,92 R$-
(−) U f E I Det. 11 R$17,35 R$2.009,58 R$4.245,39 R$4.245,39 R$4.245,39 R$-
(−) B fíc Det. 12 R$142,24 R$16.472,74 R$34.800,00 R$34.800,00 R$34.800,00 R$-
Utilidades
R$510,31 R$59.097,33 R$124.847,93 R$124.847,93 R$124.847,93 R$-
(−) Á u Det. 13 R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(−) E E é c Det. 13 R$42,55 R$4.927,87 R$10.410,53 R$10.410,53 R$10.410,53 R$-
(−) GL Det. 13 R$283,06 R$32.780,40 R$69.251,28 R$69.251,28 R$69.251,28 R$-
(−) C u c Det. 14 R$83,14 R$9.628,03 R$20.340,00 R$20.340,00 R$20.340,00 R$-
146
(−) V ícu Det. 15 R$93,19 R$10.792,48 R$22.800,00 R$22.800,00 R$22.800,00 R$-
(−) Equ p C Det. 16 R$8,36 R$968,54 R$2.046,12 R$2.046,12 R$2.046,12 R$-
Serviços Terceirizados
R$335,17 R$38.815,07 R$82.000,00 R$82.000,00 R$82.000,00 R$-
(−) S v v Det. 17 R$73,57 R$8.520,38 R$18.000,00 R$18.000,00 R$18.000,00 R$-
(−) S v u c Det. 17 R$49,05 R$5.680,25 R$12.000,00 R$12.000,00 R$12.000,00 R$-
(−) S v í c f Det. 17 R$212,55 R$24.614,43 R$52.000,00 R$52.000,00 R$52.000,00 R$-
(−) S v c qu õ Det. 17 R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(−) Depreciação Det. 18 R$34.255,33 R$212.280,50 R$219.848,19 R$219.848,19 R$219.848,19 R$-
(=) EBIT
R$(50.098,04) R$594.659,88 R$1.507.178,58 R$1.507.178,58 R$1.507.178,58 R$618.998,87
(−) I p R / C bu S c Det. 2 R$(16.983,61) R$200.735,30 R$512.440,72 R$512.440,72 R$512.440,72 R$210.459,62
(=) Lucro Operacional Após o IR (NOPAT)
R$(33.114,43) R$393.924,58 R$994.737,86 R$994.737,86 R$994.737,86 R$408.539,25
(+) Depreciação Det. 18 R$34.255,33 R$212.280,50 R$219.848,19 R$219.848,19 R$219.848,19 R$-
(−) Investimentos
R$3.848.067,38 R$1.186.255,72 R$635.099,59 R$635.099,59 R$635.099,59 R$(1.806.863,04)
Animais de Produção
R$287.446,79 R$798.922,05 R$415.251,40 R$415.251,40 R$415.251,40 R$-
(−) M z Det. 19 R$271.017,65 R$751.677,24 R$384.770,08 R$384.770,08 R$384.770,08 R$-
(−) C ch Det. 20 R$16.429,14 R$47.244,82 R$30.481,32 R$30.481,32 R$30.481,32 R$-
Construção Civil
R$2.069.144,73 R$82.362,85 R$85.299,04 R$85.299,04 R$85.299,04 R$(1.279.485,60)
(−) T Det. 21 R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(−) C u C v Op Det. 21 R$1.525.556,58 R$60.725,18 R$62.890,00 R$62.890,00 R$62.890,00 R$(943.350,00)
Gestação
R$956.356,44 R$- R$- R$- R$- R$-
Maternidade
R$559.401,03 R$- R$- R$- R$- R$-
(−) C u C v S v Sup Det. 22 R$543.588,15 R$21.637,67 R$22.409,04 R$22.409,04 R$22.409,04 R$(336.135,60)
Equipamentos
R$1.590.896,03 R$129.917,66 R$134.549,15 R$134.549,15 R$134.549,15 R$(452.951,52)
(−) Equ p j Det. 21 R$811.278,43 R$53.592,42 R$55.502,97 R$55.502,97 R$55.502,97 R$(277.514,83)
Gestação
R$149.430,69 R$- R$- R$- R$- R$-
Maternidade
R$653.199,63 R$- R$- R$- R$- R$-
147
(−) Equ p p Det. 21 R$585.649,80 R$38.687,57 R$40.066,76 R$40.066,76 R$40.066,76 R$(200.333,81)
Gestação
R$463.778,73 R$- R$- R$- R$- R$-
Maternidade
R$115.628,12 R$- R$- R$- R$- R$-
(−) Equ p C Det. 21 R$24.778,40 R$4.808,02 R$4.979,42 R$4.979,42 R$4.979,42 R$24.897,12
Gestação
R$24.002,54 R$- R$- R$- R$- R$-
Maternidade
R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(−) Ou Equipamentos de Operação e Serviços Det. 23 R$11.445,16 R$2.220,83 R$2.300,00 R$2.300,00 R$2.300,00 R$-
(−) V ícu Det. 24 R$157.744,22 R$30.608,81 R$31.700,00 R$31.700,00 R$31.700,00 R$-
Capital de Giro Total
R$(99.420,16) R$175.053,16 R$- R$- R$- R$(74.425,92)
(−) E qu R Det. 3 R$316,73 R$8.321,13 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu M c V c Det. 25 R$436,32 R$11.462,92 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu T I f c Det. 25 R$17,31 R$454,74 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu M p C b u Det. 25 R$24,45 R$642,45 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu M L p z Det. 25 R$21,38 R$561,71 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu I u p T D j Det. 25 R$4,63 R$121,59 R$- R$- R$- R$-
(−) F c c (c c b ) Det. 25 R$- R$170.244,13 R$- R$- R$- R$-
(+) Financiamento por fornecedores (contas a pagar) Det. 25 R$100.240,98 R$16.755,50 R$- R$- R$- R$-
(=) FCLE
(Anos 0 e 1 com Referência para i=8%) R$(3.846.926,49) R$(580.050,64) R$579.486,46 R$579.486,46 R$579.486,46 R$2.215.402,29
148
APÊNDICE IX: PROJEÇÃO DE FLUXOS DE CAIXA COM TERMINAÇÃO NO ANO 10 – ECO-BEA COBRE E SOLTA
ECO-BEA CS Det. Ano 0 Ano 1 Ano 2 Ano 3 ... Ano 9 Ano 10 Terminação
Receita Bruta
R$- R$2.080.175,23 R$4.388.398,62 R$4.388.398,62 R$4.388.398,62 R$625.251,38
(+) Venda de leitões para terminação Det. 1 R$- R$1.961.623,33 R$4.138.298,07 R$4.138.298,07 R$4.138.298,07 R$-
(+) Venda de reprodutores(as) Det. 1 R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(+) Venda de suínos descartados Det. 1 R$- R$118.551,90 R$250.100,55 R$250.100,55 R$250.100,55 R$625.251,38
(−) ICMS b c Det. 2 R$- R$20.801,75 R$43.883,99 R$43.883,99 R$43.883,99 R$6.252,51
(=) Receita Líquida
R$- R$2.059.373,48 R$4.344.514,63 R$4.344.514,63 R$4.344.514,63 R$618.998,87
(−) Custos e Despesas
R$50.920,58 R$1.430.896,10 R$2.760.535,11 R$2.760.535,11 R$2.760.535,11 R$-
Itens de Consumo
R$12.836,53 R$865.131,79 R$1.799.397,86 R$1.799.397,86 R$1.799.397,86 R$-
(−) R Det. 3 R$5.215,65 R$604.012,29 R$1.276.025,29 R$1.276.025,29 R$1.276.025,29 R$-
(−) M c V c Det. 4 R$1.849,69 R$214.207,59 R$452.531,02 R$452.531,02 R$452.531,02 R$-
(−) T I f c Det. 5 R$5.555,01 R$21.876,40 R$17.952,00 R$17.952,00 R$17.952,00 R$-
(−) M p C b u Det. 6 R$103,67 R$12.005,43 R$25.362,45 R$25.362,45 R$25.362,45 R$-
(−) M L p z Det. 7 R$92,90 R$10.757,97 R$22.727,10 R$22.727,10 R$22.727,10 R$-
(−) I u p Tratamento de Dejetos Det. 8 R$19,62 R$2.272,10 R$4.800,00 R$4.800,00 R$4.800,00 R$-
Pessoal
R$2.162,97 R$250.488,14 R$529.176,64 R$529.176,64 R$529.176,64 R$-
(−) F h Op 0 R$1.364,80 R$158.054,17 R$333.902,33 R$333.902,33 R$333.902,33 R$-
(−) F h Sup Det. 10 R$638,57 R$73.951,66 R$156.228,92 R$156.228,92 R$156.228,92 R$-
(−) U f E I Det. 11 R$17,35 R$2.009,58 R$4.245,39 R$4.245,39 R$4.245,39 R$-
(−) B fíc Det. 12 R$142,24 R$16.472,74 R$34.800,00 R$34.800,00 R$34.800,00 R$-
Utilidades
R$510,31 R$59.097,33 R$124.847,93 R$124.847,93 R$124.847,93 R$-
(−) Á u Det. 13 R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(−) E E é c Det. 13 R$42,55 R$4.927,87 R$10.410,53 R$10.410,53 R$10.410,53 R$-
(−) GL Det. 13 R$283,06 R$32.780,40 R$69.251,28 R$69.251,28 R$69.251,28 R$-
(−) C u c Det. 14 R$83,14 R$9.628,03 R$20.340,00 R$20.340,00 R$20.340,00 R$-
149
(−) V ícu Det. 15 R$93,19 R$10.792,48 R$22.800,00 R$22.800,00 R$22.800,00 R$-
(−) Equ p C Det. 16 R$8,36 R$968,54 R$2.046,12 R$2.046,12 R$2.046,12 R$-
Serviços Terceirizados
R$335,17 R$38.815,07 R$82.000,00 R$82.000,00 R$82.000,00 R$-
(−) S v v Det. 17 R$73,57 R$8.520,38 R$18.000,00 R$18.000,00 R$18.000,00 R$-
(−) S v u c Det. 17 R$49,05 R$5.680,25 R$12.000,00 R$12.000,00 R$12.000,00 R$-
(−) S v í c f Det. 17 R$212,55 R$24.614,43 R$52.000,00 R$52.000,00 R$52.000,00 R$-
(−) Serviços de controle de qualidade das rações Det. 17 R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(−) Depreciação Det. 18 R$35.075,60 R$217.363,78 R$225.112,69 R$225.112,69 R$225.112,69 R$-
(=) EBIT
R$(50.920,58) R$628.477,38 R$1.583.979,52 R$1.583.979,52 R$1.583.979,52 R$618.998,87
(−) I p R / C bu S c Det. 2 R$(17.262,37) R$212.068,36 R$538.553,04 R$538.553,04 R$538.553,04 R$210.459,62
(=) Lucro Operacional Após o IR (NOPAT)
R$(33.658,20) R$416.409,01 R$1.045.426,48 R$1.045.426,48 R$1.045.426,48 R$408.539,25
(+) Depreciação Det. 18 R$35.075,60 R$217.363,78 R$225.112,69 R$225.112,69 R$225.112,69 R$-
(−) Investimentos
R$3.927.066,10 R$1.194.625,22 R$640.364,09 R$640.364,09 R$640.364,09 R$(1.838.725,22)
Animais de Produção
R$287.446,79 R$798.922,05 R$415.251,40 R$415.251,40 R$415.251,40 R$-
(−) M z Det. 19 R$271.017,65 R$751.677,24 R$384.770,08 R$384.770,08 R$384.770,08 R$-
(−) C ch Det. 20 R$16.429,14 R$47.244,82 R$30.481,32 R$30.481,32 R$30.481,32 R$-
Construção Civil
R$2.131.244,03 R$84.834,73 R$87.859,04 R$87.859,04 R$87.859,04 R$(1.317.885,60)
(−) T Det. 21 R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(−) C u C v Op Det. 21 R$1.587.655,88 R$63.197,06 R$65.450,00 R$65.450,00 R$65.450,00 R$(981.750,00)
Gestação
R$1.018.056,85 R$- R$- R$- R$- R$-
Maternidade
R$559.401,03 R$- R$- R$- R$- R$-
(−) C u C v S v Sup Det. 22 R$543.588,15 R$21.637,67 R$22.409,04 R$22.409,04 R$22.409,04 R$(336.135,60)
Equipamentos
R$1.607.795,97 R$132.529,06 R$137.253,65 R$137.253,65 R$137.253,65 R$(442.999,29)
(−) Equ p j Det. 21 R$717.309,64 R$47.384,92 R$49.074,17 R$49.074,17 R$49.074,17 R$(245.370,83)
Gestação
R$56.463,59 R$- R$- R$- R$- R$-
Maternidade
R$653.199,63 R$- R$- R$- R$- R$-
150
(−) Equ p p Det. 21 R$684.837,16 R$45.239,81 R$46.852,59 R$46.852,59 R$46.852,59 R$(234.262,93)
Gestação
R$561.908,77 R$- R$- R$- R$- R$-
Maternidade
R$115.628,12 R$- R$- R$- R$- R$-
(−) Equ p C Det. 21 R$36.459,79 R$7.074,69 R$7.326,89 R$7.326,89 R$7.326,89 R$36.634,47
Gestação
R$35.318,16 R$- R$- R$- R$- R$-
Maternidade
R$- R$- R$- R$- R$- R$-
(−) Ou Equ p Op S v Det. 23 R$11.445,16 R$2.220,83 R$2.300,00 R$2.300,00 R$2.300,00 R$-
(−) V ícu Det. 24 R$157.744,22 R$30.608,81 R$31.700,00 R$31.700,00 R$31.700,00 R$-
Capital de Giro Total
R$(99.420,69) R$178.339,38 R$- R$- R$- R$(77.840,33)
(−) E qu R Det. 3 R$316,73 R$8.321,13 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu M c V c Det. 25 R$436,32 R$11.462,92 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu T I f c Det. 25 R$17,31 R$454,74 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu M p C b u Det. 25 R$24,45 R$642,45 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu M L p z Det. 25 R$21,91 R$575,69 R$- R$- R$- R$-
(−) E qu I u p T D j Det. 25 R$4,63 R$121,59 R$- R$- R$- R$-
(−) F c c (c receber) Det. 25 R$- R$173.544,34 R$- R$- R$- R$-
(+) Financiamento por fornecedores (contas a pagar) Det. 25 R$100.242,05 R$16.783,47 R$- R$- R$- R$-
(=) FCLE
(Anos 0 e 1 com Referência para i=8%) R$(3.925.648,69) R$(560.852,42) R$630.175,08 R$630.175,08 R$630.175,08 R$2.247.264,47
151
APÊNDICE X: FLUXO E AVALIAÇÃO FINANCEIRA DO ENDIVIDAMENTO PELO PROGRAMA INOVAGRO
Benefício do
Endividamento Obs. Ano 0 Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6 Ano 7 Ano 8 Ano 9 Ano 10
Valor da Dívida
R$1.000.000 R$900.000 R$800.000 R$700.000 R$600.000 R$500.000 R$400.000 R$300.000 R$200.000 R$100.000 R$-
Amortização
R$- R$100.000 R$100.000 R$100.000 R$100.000 R$100.000 R$100.000 R$100.000 R$100.000 R$100.000 R$100.000
Pagamento de Juros 4% R$- R$40.000 R$36.000 R$32.000 R$28.000 R$24.000 R$20.000 R$16.000 R$12.000 R$8.000 R$4.000
(+) Benefício Fiscal
da Dívida 34% R$- R$13.600 R$12.240 R$10.880 R$9.520 R$8.160 R$6.800 R$5.440 R$4.080 R$2.720 R$1.360
Taxa de Desconto a.a.: 7% 8% 9%
VPL do Benefício Fiscal da Dívida: R$59.817,29 R$58.122,72 R$56.516,69
152
APÊNDICE XI: DETALHAMENTO DOS ITENS DE FLUXO DE CAIXA
Det. 0 - Cronograma de Investimento e Ramp-Up de Produção
Antes de iniciar o detalhamento das contas, é importante explicar a lógica de crescimento
dos fluxos de caixa. O cronograma de investimentos na granja, considerando obras e instalação
do maquinário, não ocorre pontualmente no tempo e nem de maneira homogênea; assim como
não é instantânea a construção do plantel de matrizes, tampouco o crescimento das receitas e dos
gastos.
Por isto, para os dois primeiros anos fez-se uma projeção de fluxo de caixa mensal. O
cronograma de obras e instalação de equipamentos foi baseado no orçamento real de outra granja
em construção na época do trabalho. O exemplo de um cronograma de construção do plantel foi
passado pelo proprietário da fazenda estudada, assim como o crescimento das receitas. O
crescimento dos custos foi colocado acompanhando o crescimento do plantel. Todos os
reinvestimentos, se iniciam após findos os investimentos.
Cabe notar que, apesar do esforço, o cronograma utilizado ainda é uma aproximação da
realidade. O crescimento dos custos acompanhando o aumento do plantel, por exemplo, sugere
que os empregados vão sendo contratados aos poucos – conforme a entrada dos animais – o que
não é verdade. Entretanto, considera-se que as aproximações utilizadas melhoram a avaliação
financeira sem adicionar demasiada complexidade.
Det. 0 Cronograma de Investimentos e Ramp-up de Produção
Mês 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Distribuição do Investimento
em Construção e Equipamentos 2,06 4,3 6,05 5,81 12,64 11,12 17,00 11,11 15,87 13,96 - -
Reinvestimento em Construção
e Equipamento - - - - - - - - - - 100 100
Distribuição do Investimento
Inicial em Animais - - - - - - - - - - 15,07 15,07
Reinvestimento em Animais de
Produção - - - - - - - - - - - -
Crescimento Acumulado da
Receita - - - - - - - - - - - -
Crescimento Acumulado dos
Custos e Despesas - - - - - - - - - - 1,49 3,77
Mês 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
Distribuição do Investimento
em Construção e Equipamentos - - - - - - - - - - - -
Reinvestimento em Construção
e Equipamento 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100
Distribuição do Investimento
Inicial em Animais 15,07 15,07 15,07 5,48 5,48 2,74 5,48 0,00 5,48 - - -
153
Reinvestimento em Animais de
Produção - - - - - - - - - 100 100 100
Crescimento Acumulado da
Receita - - - - 20,00 40,00 60,00 80,00 100 100 100 100
Crescimento Acumulado dos
Custos e Despesas 5,20 6,63 8,05 10,27 18,13 30,58 49,07 73,02 97,40 100 100 100
Os detalhamentos a seguir mostram os itens utilizados para previsão dos fluxos de caixa em
seu percentil máximo. Para os itens de investimento, a distribuição foi feita ao longo do período
até que todos os investimentos fossem realizados; e para itens correntes, utilizou-se os
crescimentos acumulados até que os itens atingissem sua totalidade.
Det. 1 - Receita
As receitas com animais novos foram estimadas tomando como base o peso de leitões
gerados em cada cenário, de acordo com os índices de produtividade estimados na Tabela 4. O
preço do cevado foi calculado pela média dos anos de 2013 e 2014 para o mercado de Minas
Gerais (R$ 3,76/kg)17
, e transformado no preço do leitão com um multiplicador de 4,25.
Já as receitas com animais descartados, foram estimadas considerando uma reposição de
40% do plantel por ano, um peso médio de 200kg do animal descartado, e um desconto de 35%
do valor da carne sobre o quilo do cevado. Considerou-se que não há venda de animais como
reprodutores.
Por fim, vale lembrar que as receitas foram aumentadas de acordo com o crescimento
acumulado mostrado no Det. 0.
Det. 1 Receita
Itens de Receita Miunça AS-IS/Modernizada ECO-BEA AS-IS ECO-BEA CS
Quantidade de leitões para terminação (kg) 362.225 253.913 259.138
Preço do leitão para terminação
(425% Cevado) R$15,97 R$15,97 R$15,97
Receita com leitões para terminação R$5.784.532,76 R$4.054.845,93 R$4.138.298,07
Quantidade de suínos descartados vendidos (kg) 172.000 102.400 102.400
Preço do suíno descartado (65% Cevado) R$2,44 R$2,44 R$2,44
Receita com suínos descartados R$420.090,77 R$250.100,55 R$250.100,55
17 Série de Preços do Suíno Vivo CEPEA: http://cepea.esalq.usp.br/suino/#
154
Quantidade de reprodutores(as) vendidos 0 0 0
Preço do(a) reprodutor(a) R$- R$- R$-
Receita com a venda de reprodutores(as) R$- R$- R$-
Total R$6.204.623,53 R$4.304.946,48 R$4.388.398,62
Det. 2 - Impostos
Para ICMS, utilizou-se o regime simplificado para produtores rurais, com a alíquota de 1%
sobre aplicada sobre a receita.
Para Imposto de Renda, utilizou-se a taxa 34% aplicada sobre o EBIT.
Det. 3 - Ração
O consumo de ração foi obtido pelos lançamentos da fazenda – considerando os diversos
tipos de ração dados na fase de gestação, na fase de maternidade e para os cachaços e treinamento
das primíparas nas máquinas de alimentação, por exemplo. O preço médio do quilo dos diversos
tipos de ração, assim com o consumo e custo total em cada fase estão dispostos abaixo. Para os
cenários construídos, considerou-se que não haveria alteração na curva de alimentação – mas um
aspecto importante deve ser ressaltado em relação à Miunça Modernizada.
Com a colocação dos dutos de distribuição de ração na Miunça Modernizada, seria normal se
esperar uma diminuição no desperdício de ração – em comparação com o modelo que considera a
distribuição manual. Contudo, para não se utilizar um fator arbitrário de economia, foi mantido o
mesmo consumo de ração, colocando-se os ganhos somente na economia de mão de obra.
Det. 3a Consumo Anual de Ração
Tipos de Ração Preço
Médio
Miunça AS-IS / Mod. ECO-BEA AS-IS / CS
Consumo (kg) Custo Consumo (kg) Custo
Rações para Gestação R$0,76 1.593.200 R$1.143.076,80 1.005.900 R$750.052,80
Rações para Maternidade R$0,81 769.000 R$610.089,60 562.125 R$445.203,00
Outras Rações (Reprodutor, Reposição) R$0,97 216.153 R$136.184,08 128.463 R$80.769,49
Total 2.578.353 R$1.889.350,48 1.696.488 R$1.276.025,29
Além do consumo anual de ração, verificou-se que as granjas mantinham um estoque
comum de alimentos no valor de R$ 18.000,00. Este estoque foi rateado igualmente entre ambos
155
os sítios, por acreditar-se que existe um ganho de escala, mas sem gerar diferenciação entre as
operações.
Det. 3b Estoque de Ração
Ração Valor do Estoque Critério de Rateio Investimento
Miunça AS-IS / Mod.
Investimento
ECO-BEA AS-IS / CS
Estoque de Ração R$18.000,00 Não Diferenciação R$9.000,00 R$9.000,00
Det. 4 - Medicamentos e Vacinas
O custo anual com medicamentos e vacinas foi obtido junto ao responsável pelas compras da
fazenda, que discriminou todos os itens consumidos, assim como a o sítio de destino de cada
item. Para medicamentos, não foi gerada nenhuma diferenciação entre os cenários atuais e os
cenários simulados.
Det. 4 Custo Anual com Medicamentos e Vacinas
Produtos Miunça AS-IS / Modernizada ECO-BEA AS-IS / CS
Medicamentos R$ 421.952,44 R$ 340.086,24
Vacinas R$ 188.872,10 R$ 112.444,78
Total R$ 610.824,54 R$ 452.531,02
Det. 5 - Tags de Identificação dos Animais
A estimativa dos custos com tags de identificação dos animais foi feita em conjunto com o
responsável pelas compras da fazenda e com o gerente das granjas. Assim, verificou-se a
quantidade de brincos e chips consumidos para reposição – assim como foi feito o cálculo para
investimento inicial com a construção do plantel.
Det. 5 Tags de Identificação dos Animais
Produtos Miunça AS-IS / Modernizada ECO-BEA AS-IS / CS Preço
Reposição Anual de Brincos (un.) 2.580 960 R$1,20
Reposição Anual de Chips (un.) 0 1.200 R$14,00
Total de Reposição R$3.096,00 R$17.952,00
Investimento Inicial em Brincos (un.) 2.150 1.280
Investimento Inicial em Chips (un.) 0 1.280
Total de Investimento Inicial R$2.580,00 R$19.456,00
156
Det. 6 - Materiais para Cobertura
O gasto anual com materiais para cobertura das fêmeas foi coletado com o responsável pelas
compras da fazenda. Como obteve-se somente um valor final para cada componente, foi
necessário realizar um rateio pelo número de coberturas realizado em cada granja.
Det. 6 Gasto Anual com Materiais para Cobertura
Produto Custo Anual Total ECO-BEA AS-IS / CS Miuça AS-IS / Modernizada
# Coberturas Custo Anual # Coberturas Custo Anual
Ampola R$15.080,00 3.350 R$5.551,43 5.750 R$9.528,57
Pipeta Leitoa R$23.400,00 3.350 R$8.614,29 5.750 R$14.785,71
Pipeta Matriz R$20.800,00 3.350 R$7.657,14 5.750 R$13.142,86
Diluente Longa Ação (5l) R$2.100,00 3.350 R$773,08 5.750 R$1.326,92
Diluente Comum (1l) R$675,00 3.350 R$248,49 5.750 R$426,51
Gel R$6.240,00 3.350 R$2.297,14 5.750 R$3.942,86
Manutenção do Laboratório R$600,00 3.350 R$220,88 5.750 R$379,12
Total R$68.895,00 - R$25.362,45 - R$43.532,55
Det. 7 - Produtos de Limpeza
O consumo anual de produtos de limpeza também foi estimado juntamente com o
responsável pelas compras das granjas. Todos os valores foram obtidos sem distinção dos sítios
nos quais eram consumidos. Assim, para os produtos de limpeza utilizados na desinfecção das
granjas foi feito um rateio com base nas áreas de produção; produtos de limpeza geral, como água
sanitária, rodos, vassouras, foram distribuídos igualmente; e produtos de higiene pessoal foram
rateados pelo número de funcionários.
Det. 7 Produtos de Limpeza
Rateio / Itens de Custo ECO-BEA AS-IS ECO-BEA CS Miunça AS-IS Miunça Mod.
Área das Granjas 6.000 6.226 9.700 9.700
Número de Empregados 12 12 34 30
Desinfecção das Granjas R$15.608,29 R$16.160,47 R$24.631,83 R$24.631,83
Limpeza Geral R$4.218,76 R$4.218,76 R$10.651,16 R$10.651,16
Higiene Pessoal R$2.347,87 R$2.347,87 R$6.652,29 R$5.869,67
Total R$22.174,92 R$22.727,10 R$41.935,28 R$41.152,66
157
Det. 8 - Insumos para Tratamento de Dejetos
Alguns dejetos sólidos da produção de suínos são tratados com o uso de palha de arroz. Este
insumo é resíduo de outros processos produtivos e o responsável pelas compras das granjas
estima que são utilizados duas caçambas de caminhão por mês – a um custo unitário de R$
200,00. É difícil estimar o uso da palha de arroz para cada granja, por isto optou-se pela não
diferenciação, dado que este não é um fator decisivo nos processos produtivos avaliados.
Det. 8 Insumos para Tratamento de Dejetos
Produto Consumo Anual Preço Custo Anual
ECO-BEA AS-IS / CS
Custo Anual
Miunça AS-IS / Modernizada
Palha de Arroz 48 R$200,00 R$4.800,00 R$4.800,00
Det. 9 - Folha de Pagamento das Operações
O custo da folha de pagamento das operações das granjas foi coletada diretamente com a
administração. Para o cenário da Miunça Modernizada, impôs-se a redução de custo de 12%,
proporcional ao número de empregados que sairiam com a entrada dos maquinários de
distribuição de ração.
Det. 9 Folha de Pagamento Anual das Operações (Mão de Obra Direta)
Áreas ECO-BEA AS-IS /CS Miunça AS-IS Miunça Modernizada
Total Anual Gestação R$79.189,76 R$255.207,05 R$225.182,69
Salários + Encargos R$74.696,96 R$238.733,45 R$210.647,16
Alimentação R$4.492,80 R$16.473,60 R$14.535,53
Total Anual Maternidade R$254.712,57 R$557.398,23 R$491.821,97
Salários + Encargos R$238.238,97 R$524.451,03 R$462.750,91
Alimentação R$16.473,60 R$32.947,20 R$29.071,06
Total R$333.902,33 R$812.605,28 R$717.004,66
Det. 10 - Folha de Pagamento de Suporte
A folha de pagamento referente aos empregados de suporte às operações também foi
coletada diretamente com a administração da granja, que já passou os valores considerando o
consumo dos recursos por cada sítio.
Det. 10 Folha de Pagamento Anual de Suporte
Áreas ECO-BEA AS-IS / CS Valor Miunça AS-IS / Modernizada
Gerência e Supervisão R$39.794,69 R$61.178,27
Salários + Encargos R$38.614,24 R$59.363,52
158
Alimentação R$1.180,45 R$1.814,75
Manutenção R$60.665,45 R$109.197,81
Salários + Encargos R$57.670,25 R$103.806,45
Alimentação R$2.995,20 R$5.391,36
Apoio R$55.768,78 R$97.148,98
Salários + Encargos R$51.725,26 R$93.105,46
Alimentação R$4.043,52 R$4.043,52
Total R$156.228,92 R$267.525,06
Det. 11 - Uniformes e EPIs
O gasto com uniformes e EPIs está condicionado ao número de funcionários em cada
granja. Assim, o gasto total coletado com o responsável pelas compras foi rateado pelo número
de pessoas.
Det. 11 Uniformes e EPIs
Produtos Consumo Anual Preço Valor ECO-BEA
AS-IS /CS
Valor Miunça
AS-IS
Valor Miunça
Modernizada
Roupa 232 R$32,00 R$1.936,70 R$5.487,30 R$4.841,74
Reparo de Roupas 1 R$1.200,00 R$313,04 R$886,96 R$782,61
Botas 180 R$32,00 R$1.502,61 R$4.257,39 R$3.756,52
Óculos 180 R$6,50 R$305,22 R$864,78 R$763,04
Toalhas 60 R$12,00 R$187,83 R$532,17 R$469,57
Total R$4.245,39 R$12.028,61 R$10.613,48
Det. 12 - Outros Benefícios Coletivos
Nas granjas estudadas, era oferecido um ônibus fretado para transportes dos trabalhadores
para os locais de sua residência. Nem todos faziam uso deste transporte e, para não gerar
diferenciação entres os modelos, o custo mensal do ônibus foi rateado igualmente entre ambas as
unidades.
Det. 12 Benefícios
Produtos Consumo Anual Preço Valor ECO-BEA
AS-IS /CS
Valor Miunça
AS-IS / Modernizada
Transporte (Ônibus Fretado) 12 R$5.800,00 R$34.800,00 R$34.800,00
Total R$34.800,00 R$34.800,00
159
Det. 13 - Energia Elétrica, Água e GLP
Os valores de energia e GLP consumidos na ECO-BEA e Miunça AS-IS foram coletados
com a administração da fazenda, e toda a água utilizada é coletada no em uma nascente local.
Contudo, os ajustes para os cenários de Cobre e Solta e Miunça Modernizada tiveram que ser
realizados.
Para o cenário Cobre e Solta, verificou-se que o consumo de energia das máquinas de
alimentação individual é insignificante – podendo ser utilizado o mesmo valor do cenário atual.
Já para a Miunça Modernizada, fez-se uma estimativa com base nos sistemas de transporte de
ração encontrados nos galpões da ECO-BEA. Foi suposto que cada galpão se utilizaria de seis
motores de 1cv para transporte da ração – sendo os da gestação ligados por quarenta minutos
apenas na parte da manhã, e os da maternidade duas vezes ao dia. Este custo foi adicionado ao
valor de energia elétrica dado pela administração.
Det. 13a Energia Elétrica, Água e GLP
Produtos Valor ECO-BEA 40/CS Valor Miunça As-Is Valor Miunça Modernizada
Água R$- R$- R$-
Energia Elétrica R$10.410,53 R$58.993,03 R$61.715,64
GLP R$69.251,28 R$- R$-
Total R$79.661,81 R$58.993,03 R$61.715,64
Det. 13b Ajustes para a Miunça Modernizada Tarifa Utilizada R$0,21
Item Quantidade de Motores Potência (KW) Horas funcionamento / dia Ajuste
Dutos de Ração da Gestação 36 0,74 0,7 R$1.361,30
Dutos de Ração da Maternidade 18 0,74 1,3 R$1.361,30
160
Det. 14 - Comunicação
Os valores mensais das contas de telefonia e internet utilizadas na granja foram coletadas
com o responsável por compras. Para não gerar diferenciação, e pela dificuldade de definir uma
partilha de uso, o valor foi repartido igualmente entre as granjas.
Det. 14 Comunicação
Produtos Consumo Anual Preço Valor ECO-BEA AS-IS / CS Valor Miunça AS-IS / Modernizada
Internet 12 R$550,00 R$3.300,00 R$3.300,00
Telefonia Fixa 12 R$240,00 R$1.440,00 R$1.440,00
Telefonia Celular 12 R$2.600,00 R$15.600,00 R$15.600,00
Total R$20.340,00 R$20.340,00
Det. 15 - Veículos
O gasto com combustíveis é o único corrente com veículos para as granjas estudadas,
tendo sido estimado juntamente com o responsável por compras da fazenda. Assim como a
comunicação, este gasto é difícil de ser rateado e não é afetado pelos modelos de produção das
granjas estudadas, assim, preferiu-se dividi-lo igualmente.
Det. 15 Veículos
Produtos Valor Total Valor ECO-BEA AS-IS / CS Valor Miunça AS-IS / Modernizada
Combustível Carros (Gasolina) R$21.600,00 R$10.800,00 R$10.800,00
Combustível Tratores (Diesel) R$24.000,00 R$12.000,00 R$12.000,00
Total R$22.800,00 R$22.800,00
Det. 16 - Equipamentos em Comodato
Verificou-se apenas o equipamento de corte de rabo e vacinação dos leitões como em
comodato. O custo foi alocado para cada uma das granjas.
Det. 16 Equipamentos em Comodato
Equipamento Custo Anual ECO-BEA AS-IS / CS Custo Anual Miunça AS-IS / Modernizada
Máquina de Corte de Rabo e Vacina R$2.046,12 R$2.046,12
161
Det. 17 - Serviços Terceirizados
Os valores pagos pelos serviços terceirizados da fazenda foram divididos igualmente entre as
granjas para não gerarem diferenciação nas análises financeiras. Isto, pois, acredita-se que cada
granja individualmente teria o mesmo gasto com estes serviços, não sendo justo onerar a granja
com maior escala.
Det. 17 Serviços Terceirizados
Produtos Consumo Anual Preço Valor ECO-BEA
AS-IS / CS
Valor Miunça
AS-IS/ Modernizada
Consultoria Nutricional 12 R$2.000,00 R$12.000,00 R$12.000,00
Veterinário 12 R$3.000,00 R$18.000,00 R$18.000,00
Frete para Transporte de Leitões 520 R$200,00 R$52.000,00 R$52.000,00
Total R$82.000,00 R$82.000,00
Det. 18 - Depreciação
A partir dos investimentos estimados, descritos nos detalhamentos que se seguem, foi
calculada a despesa anual com depreciação. Para as construções, estimou-se um período de
depreciação de 25 anos; para os equipamentos de alojamento (gaiolas, divisórias) e de
alimentação (cochos, maquinas de alimentação) foi utilizado um período de 15 anos; e para os
demais ativos, como computadores e veículo, utilizou-se um período de cinco anos.
Vale destacar que, por simplificação, o valor da depreciação foi utilizado como valor de
reinvestimento.
Det. 18 Depreciação Anual
Investimentos Períodos ECO-BEA AS-IS ECO-BEA CS Miunça AS-IS Miunça Mod.
Construção Civil da Operação 25 R$62.890,00 R$65.450,00 R$101.137,50 R$101.137,50
Construção Civil de Serviços de
Suporte 25 R$22.409,04 R$22.409,04 R$22.409,04 R$22.409,04
Equipamentos de Alojamento
dos Animais 15 R$55.502,97 R$49.074,17 R$72.123,20 R$72.123,20
Equipamentos para Alimentação 15 R$40.066,76 R$46.852,59 R$15.080,32 R$48.521,92
Equipamentos de Controle 5 R$4.979,42 R$7.326,89 R$- R$-
Outros Equipamentos de
Operações e Serviços 5 R$2.300,00 R$2.300,00 R$2.300,00 R$2.300,00
Veículos 5 R$31.700,00 R$31.700,00 R$31.700,00 R$31.700,00
Total R$219.848,19 R$225.112,69 R$244.750,06 R$278.191,66
162
Det. 19 - Investimento e Reposição de Matrizes
Para investimento em matrizes suínas, considerou-se a compra de animais com 200kg ao
preço do cevado calculado pela média dos anos de 2013 e 2014 para o mercado de Minas Gerais
(R$ 3,76/kg) – como visto no Detalhamento da Receita. Há um investimento inicial nos animais
para construção do plantel, e posteriormente a compra de matrizes para a reposição prevista de
40% do plantel por ano.
Vale destacar que o investimento inicial no plantel é distribuído ao longo de alguns meses, e
não ocorre todo no mesmo momento. O crescimento do plantel está representado no Det. 0.
Det. 19 Investimento / Reposição de Matrizes
Produtos ECO-BEA
AS-IS / CS
Miunça
AS-IS / Mod. Peso das Marrãs (kg) Preço/kg
Investimento Inicial em Marrãs (# de animais) 1.280 2.150 200 R$3,76
Custo do Investimento em Marrãs R$961.925,20 R$1.615.733,74
Reposição de Marrãs (# de animais) 512 860
Custo da Reposição de Marrãs R$384.770,08 R$646.293,50
Det. 20 - Investimento e Reposição de Cachaços
Assim como nas matrizes, a compra de cachaços também passa por um investimento inicial,
e pela posterior reposição dos animais. O número de animais e os preços foram verificados com o
responsável pelas compras da fazenda.
Det. 20 Investimento Inicial / Reposição de Cachaços
Produtos # de Animais Preço Valor ECO-BEA
AS-IS / CS
Valor Miunça
AS-IS / Mod.
Investimento Cachaços Comerciais (LM Supremo) 12,0 R$13.000,00 R$57.428,57 R$98.571,43
Investimento Cachaços Genética
( LW e Landrace) 6,0 R$400,00 R$883,52 R$1.516,48
Custo do Investimento em Cachaços - - R$58.312,09 R$100.087,91
Reposição Anual Cachaços Comerciais
(LM Supremo) 6,0 R$13.000,00 R$28.714,29 R$49.285,71
Reposição Anual Cachaços Genética
( LW e Landrace) 12,0 R$400,00 R$1.767,03 R$3.032,97
Custo da Reposição de Cachaços - - R$30.481,32 R$52.318,68
Det. 21 - Construção Civil da Operação
O valor da construção civil de cada cenário de operação teve que ser estimado, pois a
administração da Fazenda Miunça não possui um controle detalhado sobre este item, e tampouco
seriam valores atualizados (dada a construção da ECO-BEA em 2011 e da Miunça antes de
163
1995). A partir disto, decidiu-se que ao invés de se estimar o custo das instalações exatamente
existentes, seria interessante orçar as instalações com plantel e produtividades semelhantes.
O primeiro passo, então, foi calcular a quantidade de gaiolas, espaços de baia e
equipamentos necessários para cada cenário (tanto para gestação quanto para maternidade) . Com
o auxílio da especialista em produção de suínos M.Sc. Juliana Ribas, e as variáveis de entrada
foram definidas e os resultados calculados. A definição das áreas necessárias tomou como base a
Diretiva 2008/120/EC da União Europeia.
Variáveis de Entrada Definições
Número de matrizes Cálculo com base no plantel médio da Miunça e ECO-BEA para 2012 e 2013
Perdas gestacionais Calculado para 90% de taxa de parição - dado que os atuais 93% das granjas da Fazenda Miunça
são elevados demais para benchmarking
Período de gestação Baseado na Miunça e ECO-BEA - 117, aproximadamente
Taxa de reposição Padrão utilizado na ECO-BEA e Miunça: 40% do plantel
Idade Entrada na Gaiola Para Miunça, utilizou-se 150 dias, considerando a entrada direto da compra para a gaiola. Na
ECO-BEA, utilizou-se 205, considerando 15 dias para o flushing.
Idade Cobertura Prática utilizada hoje na Miunça e ECO-BEA, inseminação com 7,3 meses ou 220 dias.
Período de permanência na
gestação 42 dias para a ECO-BEA 42, 3 dias para o Cobre e Solta, e 114 dias para a Miunça
Período de adaptação na
maternidade Prática na Miunça e ECOBEA: 3 dias
Dias de lactação 24 dias - Média na Miunça e ECO-BEA
Período de lavação Padrão de 7 dias recomendado pelo Manual de Boas Práticas da Associação de Produtores
Nascidos Totais por Matriz Calculados individualmente a partir dos dados das granjas e do experimento de Cobre e Solta
realizado na ECO-BEA
Mortalidades na maternidade
e nascidos mortos
Calculados individualmente a partir dos dados das granjas e do experimento de Cobre e Solta
realizado na ECO-BEA
Necessidade de Baias e Máquinas
ECO-BEA 42
Gaiolas de Gestação 486 Sólida Ranhada Total
Espaços em baia leitoas 696 Comedouros para Matrizes 9 Área para Matrizes 905 662 1567
Espaços em baia marrãs 79 Comedouros para Marrãs 1 Área para Marrãs 75 54 129
Gaiolas de Maternidade 296 + 1 máquina tonta
ECO-BEA Cobre e Solta
Gaiolas de Gestação 108 Sólida Ranhada Total
Espaços em baia leitoas 1074 Comedouros para Matrizes 14 Área para Matrizes 1396 1020 2416
Espaços em baia marrãs 79 Comedouros para Marrãs 1 Área para Marrãs 75 54 129
Gaiolas de Maternidade 296 + 1 máquina tonta
Miunça
Gaiolas de Gestação 2116
164
Gaiolas de Maternidade 497
Recomendações da Diretiva 2008/120/EC da União Europeia - Artigo 318
“Item 1b: The total unobstructed floor area available to each gilt after service and to each sow when gilts and/or sows are
kept in groups must be at least 1,64 m2 and 2,25 m2 respectively. When these animals are kept in groups of fewer than six
individuals the unobstructed floor area must be increased by 10 %. When these animals are kept in groups of 40 or more
individuals the unobstructed floor area may be decreased by 10 %.”
“Item 2a: for gilts after service and pregnant sows: a part of the area required in paragraph 1(b), equal to at least 0,95 m2
per gilt and at least 1,3 m2 per sow, must be of continuous solid floor of which a maximum of 15 % is reserved for
drainage openings;”
Com as áreas, gaiolas e necessidade de maquinários calculados, utilizou-se o orçamento de
outra granja, em construção na época de realização do trabalho, para estimar os valores dos
cenários propostos. Este orçamento foi gentilmente cedido por um conhecido do Sr. Rubens
Valentini, e continha não somente o valor das obras, como também da maior parte dos
maquinários – como bebedouros, máquinas de alimentação, etc.
Assim, os valores dos prédios foram calculados para cada um dos cenários foi calculado com
base no custo médio da área construída do orçamento de base. Os equipamentos de alojamento
dos animais (gaiolas, escamoteadores, divisores de baias, cortinados, etc.), os equipamentos de
alimentação (cochos, drops, dutos de transporte de ração, máquinas de alimentação, bebedouros,
etc.) e os equipamentos de controle (computadores e leitores de chip) tiveram seu valor individual
coletado e multiplicado pela quantidade necessária.
Det. 21 Construção Civil da Operação
Setores ECO-BEA AS-IS ECO-BEA CS Miunça AS-IS Miunça Mod.
Prédios Gestação
- 1 galpão com 500
gaiolas
- 1 galpão com 10
baias
- 1 galpão com 8
baias e 60 gaiolas
- 1 galpão com 7
baias e 48 gaiolas
- 6 galpões com 355
gaiolas
- 6 galpões com 355
gaiolas
Valor da Construção R$992.000,00 R$1.056.000,00 R$1.555.200,00 R$1.555.200,00
Prédios Maternidade - 1 galpão com 296
gaiolas
1 galpão com 296
gaiolas
- 3 galpões com 166
gaiolas
- 3 galpões com 166
gaiolas
Valor da Construção R$580.250,00 R$580.250,00 R$973.237,50 R$973.237,50
Equipamentos Gestação R$660.960,96 R$678.053,67 R$747.780,00 R$1.091.580,00
18 http://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/PDF/?uri=CELEX:32008L0120&from=EN
165
Equipamentos de Alojamento dos
Animais R$155.000,00 R$58.568,00 R$619.980,00 R$619.980,00
Equipamentos para Alimentação R$481.063,84 R$582.851,20 R$127.800,00 R$471.600,00
Equipamentos de Controle R$24.897,12 R$36.634,47 R$- R$-
Equipamentos Maternidade R$797.482,08 R$797.482,08 R$560.272,80 R$718.096,80
Equipamentos de Alojamento dos
Animais R$677.544,48 R$677.544,48 R$461.868,00 R$461.868,00
Equipamentos para Alimentação R$119.937,60 R$119.937,60 R$98.404,80 R$256.228,80
Equipamentos de Controle R$- R$- R$- R$-
Total R$3.030.693,05 R$3.111.785,76 R$3.836.490,30 R$4.338.114,30
Det. 22 - Construção Civil de Serviços de Suporte
O valor investido na construção civil dos serviços de suporte foi estimado da mesma maneira
do que a operação – com base no orçamento de outra granja construída na época de realização do
trabalho. Entretanto, como estes serviços são partilhados pelas unidades produtivas, seus custos
foram divididos igualmente – pois não se acredita que a eliminação de uma das granjas reduziria
estes custos de maneira significativa. Assim, não se deseja gerar diferenciação a partir dos
serviços de suporte.
Det. 22 Construção Civil de Serviços de Suporte
Setores Valor ECO-BEA AS-IS / CS Valor Miunça AS-IS / Modernizada
Escritório + Cozinha + Lavanderia R$90.376,50 R$90.376,50
Compostagem R$366.151,00 R$366.151,00
Composteira R$21.259,00 R$21.259,00
Transbordo R$66.119,50 R$66.119,50
Galpão para Cachaços + Laboratório R$16.320,00 R$16.320,00
Total R$560.226,00 R$560.226,00
Det. 23 - Outros Equipamentos de Operação e Serviços (Comprados)
Os valores de outros equipamentos de operações e serviços não incluídos como
equipamentos da construção foram orçados individualmente no mercado – com consultas a sites
de lojas especializadas. Os equipamentos compartilhados entre as granjas e com difícil rateio
foram divididos igualmente para não gerar diferenciação entre os modelos.
166
Det. 23 Outros Equipamentos de Operação e Serviços (Comprados)
Equipamento Preço Custo ECO-BEA 40/CS Custo Miunça As-Is/Modernizada
Lavadora de Alta Pressão R$2.000,00 R$2.000,00 R$2.000,00
Equipamentos do Laboratório R$9.500,00 R$4.750,00 R$4.750,00
Microscópio R$2.000,00 R$1.000,00 R$1.000,00
Geladeira R$1.000,00 R$500,00 R$500,00
Balança R$4.000,00 R$2.000,00 R$2.000,00
Estufa R$1.500,00 R$750,00 R$750,00
Banho-maria R$1.000,00 R$500,00 R$500,00
Total R$11.500,00 R$11.500,00
Det. 24 - Veículos
Os veículos utilizados são compartilhados entre ambas as operações – e seus valores foram
estimados com base em pesquisas em diversos sites especializados. Os investimentos foram
divididos igualmente por ser difícil estimar um rateio justo, e para não gerar diferenciações
incertas entre as granjas.
Det. 24 Veículos
Equipamento Preço Custo ECO-BEA 40/CS Custo Miunça As-Is/Modernizada
Carro Passeio Compacto R$25.000,00 R$12.500,00 R$12.500,00
Picape Pequena R$37.000,00 R$18.500,00 R$18.500,00
Trator Agrícola Pequeno R$85.000,00 R$42.500,00 R$42.500,00
Trator Agrícola Pequeno R$85.000,00 R$42.500,00 R$42.500,00
Trator Carregadeira Pequeno R$85.000,00 R$42.500,00 R$42.500,00
R$158.500,00 R$158.500,00
Det. 25 - Políticas de Estoque e Financiamento
Ao contrário do controle de ração, que é feito de maneira mais rigorosa com lançamentos no
sistema, outros itens que compõem o Capital de Giro das granjas não tem seu controle tão
rigoroso. Assim, as políticas de estoque e financiamento foram estabelecidas juntamente com os
gerentes das granjas e com o proprietário da fazenda.
Os seguintes valores foram utilizados no cálculo do investimento necessário.
167
Det. 25 Políticas de Estoque e Financiamento
Política de Estoques
Medicamentos e Vacinas Estoque para 10 dias
Tags de Identificação dos Animais Estoque para 10 dias
Materiais para Cobertura Estoque para 10 dias
Materiais de Limpeza Estoque para 10 dias
Insumos para Tratamento de Dejetos Estoque para 10 dias
Política de Financiamento
Prazo de pagamento concedido aos clientes 15 dias
Prazo de pagamento dado pelos fornecedores 20 dias
168
ANEXO I. PRINCÍPIOS DE BEA DA OIE
Quadro 37 - Comentários Sobre os Princípios de BEA da OIE
Princípios da OIE Colocações de Fraser et al. (2013)
Princípio 1:
A seleção genética deve sempre levar em
consideração a saúde e bem-estar dos
animais.
A seleção genética com foco em aumento de produtividade
pode gerar problemas para os animais, como o caso de
bovinos selecionados para possuírem maior musculatura –
que acabam gerando fetos incompatíveis com o tamanho da
pélvis das vacas.
Princípio 2:
O ambiente físico, incluindo o substrato
(superfície de movimentação, de
descanso, etc.) deve ser adaptado para as
espécies e raças para que minimize o
risco de lesões e transmissão de doenças
ou parasitas para os animais.
Os autores colocam que alguns ambientes onde os animais
são mantidos contribuem diretamente para lesões nos
animais. Como exemplo, são citados os suínos mantidos em
piso de concreto que podem gerar lesões por pressão em
protuberâncias de ossos, como os ombros. Pisos com fendas
para coleta de dejetos também podem gerar lesões nos cascos
dos suínos, especialmente caso as dimensões não sejam
adequadas.
Princípio 3:
O ambiente físico deve permitir um
descanso confortável, seguro e
movimentos confortáveis, incluindo
mudanças normais de postura, e a
oportunidade de realizar tipos de
comportamento natural que os animais
são motivados a realizar.
Alguns tipos de ambientes podem levar a problemas de bem-
estar por restringirem os movimentos básicos e
comportamentos dos animais – o que pode levar a
comportamentos anormais, frustração e estresse psicológico.
Diversos desses problemas são gerados por superpopulação
de animais – tal como maior agressão, lesões e estresse em
matrizes gestantes. Ou pela restrição de movimentos gerada
em gaiolas – como nas galinhas poedeiras que são impedidas
de fazerem ninhos, um comportamento instintivo.
Princípio 4:
O agrupamento social de animais deve ser
gerido para permitir o comportamento
social positivo e minimizar lesões,
estresse e medo crônico.
Animais de produção são, por vezes mantidos em grupos
artificiais que podem, buscar interação social positiva ou
levar a agressões. Matrizes suínas, por exemplo, reconhecem
e respondem em paz a animais familiares, mesmo depois de
semanas de separação. Machos contudo, deixam seus grupos
na natureza quando atingem a maturidade sexual, e caso
sejam confinados com outros machos – isto pode gerar
agressões.
Princípio 5:
A qualidade, temperatura e humidade do
ar em espaços confinados deve suportar a
boa saúde do animal, e não ser aversivos
para os mesmos. Onde condições
extremas acontecem, os animais não
devem ser privados de utilizarem seus
métodos naturais de termo-regulação.
Os autores colocam que em galpões fechados de suínos, a
amônia e outros gases provenientes dos dejetos porem irritar
o trato respiratório dos animais, e o gás sulfídrico que pode
surgir quando o esterco é bombeado pode até mesmo ser
fatal.
Princípio 6:
Os animais devem ter acesso a água e
alimento suficientes, adequados para as
suas idades e necessidades, para manter a
saúde a produtividade e para prevenirem
Muitas décadas de pesquisa nutricional levaram a criação de
alimentos que atendem exatamente as necessidades dos
animais. Contudo, deve-se alertar para falhas como
micotoxinas nos alimentos.
169
fome, sede, desnutrição e desidratação
prolongada.
Princípio 7:
Doenças e parasitas devem ser prevenidas
e controladas o tanto quanto possível pelo
uso de boas práticas de manejo. Animais
com sérios problemas de saúde devem ser
isolados e tratados imediatamente ou
mortos humanamente caso o tratamento
não seja factível ou a recuperação
improvável.
Em sistemas de suínos, por exemplo, práticas rotineiras de
lavagem e desinfecção das acomodações entre lotes (com
esvaziamento total dos galpões para limpeza) podem evitar o
espalhamento de doenças, pois reduzem a concentração de
microrganismos.
Princípio 8:
Onde procedimentos dolorosos não
podem ser evitados, a dor gerada deve ser
tratada até onde os métodos atuais
permitem
Procedimentos como a castração foram identificados como
sendo dolorosos, dada a vocalização, reações físicas e
alterações hormonais nos animais. Em suínos, o lixamento
dos dentes de leitões para que não machuquem as tetas das
matrizes é por vezes feito. Mas sugere-se, por exemplo, uma
realização seletiva, mantendo os dentes dos leitões mais
fracos para que possam competir com os outros pelo leite.
Princípio 9:
O manejo de animais deve buscar uma
relação positiva entre humanos e animais,
e não deve causar lesões, pânico, medo
permanente ou estresse desnecessário.
A melhoria da relação homem animal não somente reduz o
estresse como facilita a alta produtividade em animais de
fazenda. Um manejo ruim pode afetar a saúde dos animais e
em menores taxas de crescimento e reprodução. Vacas
leiteiras, por exemplo, quando sujeitas a um manejo
agressivo, tem uma menor produção total de leite.
Os autores ressaltam ainda, que a seleção dos empregados é
uma importante oportunidade para melhoria do bem-estar e
da produtividade dos animais. Estudos passados mostram que
manejos com atitudes positivas para com os animais
geralmente atingem um desempenho comercial superior.
Ludtke e Dalla Costa (2007) chamam atenção também para a
necessidade de treinamento de pessoal, para que sejam
adotados princípios éticos que respeitem e tragam boas
condições aos animais, até mesmo na fase de pré-abate.
O FAWC (2011) considera que o manejo, treinamentos e a
supervisão são fatores chave o cuidado com os animais. A
organização coloca ainda, que modelos de gestão são
aceitáveis, mas sem o manejo competente o bem-estar dos
animais não pode ser assegurado corretamente.
Princípio 10:
Os donos e empregados que realizam o
manejo devem ter conhecimentos e
habilidades suficientes para garantir que
animais sejam tratados de acordo com
estes princípios.
Pesquisas mostram que o manejo e a produtividade podem ser
melhoradas com programas de treinamento voltados para as
atitudes e o comportamento dos empregados quanto aos
animais – podendo, também, eliminar instrumentos de
manejo como bastões de choque.
Fonte: Adaptado de Fraser et al. (2013)