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1. Sumário-Executivo 

❖ O debate, no Brasil, sobre a intervenção federal na segurança pública do Rio                         

de Janeiro somou, entre as 10h do dia 06/03 e as 10h do dia 13/03, 93,6 mil                                 

menções no Twitter (redução de 76% em relação à semana passada); 

❖ O debate apresenta-se mais regionalizado, sendo o principal tópico de                   

discussão (40% do debate) a distribuição de flores por soldados a moradoras                       

da comunidade Vila Kennedy; 

❖ Ações na Zona Oeste fizeram emergir o debate entre grupos de moradores e                         

cidadãos da região, discutindo o crime, o tráfico de drogas, as ações                       

militares e o cotidiano da interação com os soldados; 

❖ O debate polarizado está concentrado em dois grupos: enquanto um critica                     

a iniciativa (20,7%), destacando falta de combate ao tráfico de armas e ao                         

crime organizado; outro (19,3%) enaltece a presença dos militares e defende                     

intensificação do uso da força;  

❖ O debate relacionado à Câmara dos Deputados mobilizou 960 postagens,                   

concentrando-se na atuação da Casa no tema da segurança; 

❖ No Rio de Janeiro, o tema mobilizou 35,2 mil menções (queda de 63%),                         

sendo as palavras mais usadas “vila” e “kennedy”, aparecendo em 16,9 mil e                         

15,9 mil postagens, respectivamente; 

❖ No debate local, destaque para posts que tratam desde tópicos operacionais                     

da intervenção até questões institucionais da segurança pública.   

 

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2. O debate no Brasil 

A intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro, vigente desde 20 de                           

fevereiro, continuou mobilizando o debate público no Twitter ao longo da última semana,                         

somando, entre as 10h do dia 06/03 e as 10h do dia 13/03, 93,6 mil menções. O volume é                                     

75,6% menor do que o da semana anterior, quando a FGV DAPP coletou 384,2 mil                             

menções entre as 10h do dia 27/02 e as 10h de 06/03. 

Mapa de interações sobre a intervenção federal Período de análise: 10h de 06/mar às 14h de 12/mar | Fonte: Twitter 

 Fonte: Twitter | Elaboração: FGV DAPP 

 

 

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Com a queda geral no debate nacional sobre a presença dos militares no Rio de Janeiro,                               

já arrefecido o impacto político e eleitoral sobre o assunto, tornou-se mais regional, no                           

Twitter, a abordagem temática da intervenção federal. O grafo coletou 76,5 mil retuítes                         

entre as 10h de terça-feira (6) e as 14h de segunda (12), sendo o principal tópico de                                 

discussão, participando de mais de 40% dos maiores grupos, a ação dos militares no Dia                             

Internacional da Mulher — soldados presentearam com flores as moradoras da                     

comunidade Vila Kennedy. 

O principal cluster do grafo, em laranja, com 31,4% do debate, orbita inteiramente em                           

torno de um tuíte extremamente popular, objeto de mais de 18 mil retuítes: uma foto de um                                 

soldado, dentro de um ônibus, dando uma flor a uma moradora idosa. Os comentários                           

decorrentes dessa postagem ironizam a suposta cobertura da imprensa sobre o aspecto                       

violento da interação entre militares e os habitantes das comunidades, com o mesmo                         

debate também aparecendo nos grupos em roxo (4,5%) e amarelo (5,8%). 

A presença das Forças Armadas em comunidades da Zona Oeste do Rio fez emergir,                           

contraposta à visão externa e opinativa sobre a intervenção federal, predominante até o fim                           

de fevereiro, diversos grupos de moradores e cidadãos comuns da região discutindo o                         

crime, o tráfico de drogas, as ações militares e o cotidiano da interação com os soldados.                               

Nos clusters roxo e amarelo, esses subtópicos dividem atenção com as flores às mulheres,                           

reproduzindo, em isolamento frente a outros grupos, espaços específicos de interação                     

entre membros das comunidades da região de Bangu. No cluster cinza (4,8%), esse perfil é                             

ainda mais notável e diversificado quanto aos temas: há mensagens positivas de elogio                         

aos militares, com atores manifestando vontade de se alistar; referências ao crime                       

organizado local; e sobre a rotina geral das comunidades. 

Por isso, apenas dois grupos preservam a polarização sobre a atuação das Forças                         

Armadas na segurança do Rio: o grupo em vermelho (20,7%) persiste crítico à iniciativa,                           

destacando como problemas maiores da violência a falta de combate ao tráfico de armas                           

nas fronteiras e a ausência de esforços contra chefes do crime organizado que, nem                           

sempre, vivem nas favelas. O grupo em azul (19,3%), onde estão os perfis ligados ao                             

 

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Exército e institucionais, enaltece o impacto positivo da presença dos militares no Rio, os                           

valores atribuídos às Forças Armadas e a necessidade de intensificação do uso da força                           

para vencer os criminosos. 

2.2. A Câmara no debate 

O debate no Twitter sobre a intervenção federal relacionado à Câmara dos Deputados                         

mobilizou, no período analisado, 960 postagens (cerca de 2,7% do debate no país sobre o                             

assunto). Na comparação com o relatório anterior, houve redução de 71% no volume,                         

quando foram registradas 3,5 mil postagens. 

O debate relativo à Câmara se manteve relativamente estável ao longo da semana, não                           

ultrapassando 8 tuítes por hora em nenhum momento. Nessa parte do debate, que                         

continua pulverizado, destacam-se, dentre outros tópicos, cobranças de maior                 

envolvimento do Congresso Nacional com questões de segurança pública, um repasse de                       

R$ 230 milhões ao Ministério da Segurança e a suposta coincidência de atores políticos                           

torcerem para o mesmo time. 

Também destacam-se menções a observatórios criados para fiscalizar as ações dos                     

militares. Durante o período analisado, 310 postagens (ou 32,3% do debate) fazem                       

referências a estas iniciativas de forma genérica. Destas, 18 citam, especificamente, o                       

Observatório Legislativo do Estado do Rio de Janeiro (Olerj). A publicação com maior                         

repercussão questiona a legitimidade de órgãos de fiscalização das ações das Forças                       

Armadas, alegando falta de uma “fiscalização” da violência. Outro tuíte atribui um caráter                         

político a esse instrumento. 

2.3. Debate regional 

Cerca de 38% dessa discussão está concentrada no próprio estado do Rio: 35,2 mil                           

menções. São Paulo (21%) e Minas Gerais (6%), estados que fazem fronteira com o estado,                             

 

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são os outros dois que mais participam da discussão. No entanto, o Espírito Santo                           

apresenta apenas 1% do volume de menções associado ao tema: 3,5 mil tuítes no estado. 

3. O debate no Rio de Janeiro  

No estado do Rio de Janeiro, observa-se que o tema mobilizou, no período analisado, 35,2                             

mil menções. Registrou-se um pico de menções entre as 12h e as 14h do dia 08/03, com                                 

uma média de 214 postagens por hora (ou 3,5 postagens por minuto). Esse pico aconteceu                             

algumas horas após a distribuição de flores por militares a moradoras na Vila Kennedy, na                             

Zona Oeste do Rio. Assim como o debate no país, o volume de menções ao tema, dentro                                 

do estado do Rio, diminuiu em comparação com esse volume na semana anterior, cerca                           

de 63,5%. O gráfico a seguir mostra que o volume de menções no período analisado. 

 

O debate desta semana deu maior atenção à ação do Exército de distribuir flores a                             

mulheres na Vila Kennedy. Durante o período analisado, as palavras mais usadas foram                         

“vila” e “kennedy”, aparecendo em 16,9 mil e 15,9 mil postagens (ou 48% e 45%),                             

 

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respectivamente. Outras palavras relativas ao assunto do debate, que tiveram grande                     

repercussão, foram “globo”, que aparece em 10,5 mil postagens e é associada,                       

majoritariamente, à ação na Vila Kennedy e a uma suposta omissão de veículos de                           

comunicação em noticiar a entrega de flores; “intervenção”, em 6,3 mil postagens (ou                         

18%); e “segurança”, em 2,8 mil postagens (ou 8%). O gráfico abaixo mostra as dez                             

palavras mais usadas em toda a discussão. 

 

O Ministério da Segurança Pública mobilizou 740 postagens no debate regionalizado. A                       

maior parte delas se concentrou nos primeiros dois dias do período analisado (06/03 e                           

07/03), quando um total de R$ 230 milhões foi transferido ao órgão pela Câmara dos                             

Deputados. A maioria das postagens reproduz ou comenta declarações feitas pelo ministro                       

Raul Jungmann. A postagem mais compartilhada nessa parte do debate, porém, critica o                         

fato de o ministro não ter sido convocado pelo presidente Michel Temer para tratar de                             

questões de segurança pública. 

 

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3.1. Emojis e hashtags mais usadas 

A hashtag mais usada durante o período analisado foi #somostodosrj, que aparece em 372                           

postagens (ou 1% do debate), seguida de #intervençãomilitar, #intervenção e                   

#regimemilitar, em 276, 264 e 228 postagens, respectivamente (cerca de 0,7% cada).                       

Quanto aos emojis, os mais usados no debate foram o das palmas (ɶ ), que aparece em                               

669 postagens (ou 1,9% do debate) e o jornal (β ), em cerca de 317 postagens (ou 0,9%).                                 

Os emojis das palmas e da coroa, assim como a hashtag #somostodosrj, são usados em                             

postagens que parabenizam ações de militares.  

3.2. Tuítes com maior interação 

O tuíte mais compartilhado, com 18,6 mil retuítes, retrata militares distribuindo flores às                         

mulheres na Vila Kennedy. Além desse, foi bastante compartilhada uma postagem que                       

defende a nomeação de um militar para ministro da Defesa ao mesmo tempo em que                             

questiona o fato de um condenado pela Justiça ser presidente da República.  

Os outros tuítes mais compartilhados, citados e comentados abordam uma operação de                       

ordenamento urbano da prefeitura do Rio que promoveu a derrubada de quiosques e                         

barracas em uma praça na Vila Kennedy, além de diversas postagens feitas pelo chefe do                             

Exército brasileiro, o general Eduardo Villas Bôas. 

3.3. O teor do debate  

O debate desta semana associado à intervenção federal no Rio de Janeiro concentrou-se                         

em diversos eventos ocorridos na Vila Kennedy, relacionados diretamente ou não à ação de                           

militares. Além das publicações sobre a demolição de quiosques no bairro e sobre a                           

distribuição de flores a mulheres, como já mencionado anteriormente, ainda repercute nas                       

redes a presença do tráfico na região, com a volta das barricadas, e o caso da igreja                                 

assaltada. Esses episódios apontam que mesmo com a presença de militares ainda são                         

noticiados casos de violência na cidade que repercutem nas redes sociais. Entre os                         

 

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comentários, usuários indicam uma sensação de impotência diante da banalização da                     

violência no Rio de Janeiro, e alguns defendem o endurecimento das ações contra                         

criminosos. 

Temas como a nomeação de um militar para ministro da Defesa repercutiram nas redes                           

sociais, principalmente, entre os apoiadores da intervenção federal que afirmam não ser                       

este fato um problema grave. Nas postagens de perfis pessoais, também são expressadas                         

críticas à suposta perseguição da mídia às Forças Armadas, além de mensagens de apoio                           

a medidas que vêm sendo tomadas, como a exoneração dos servidores da SEAP após a                             

descoberta de um “motel” na cadeia de Benfica.  

A notícia de que a ONU está preocupada com o uso das Forças Armadas foi divulgada em                                 

vários perfis no Twitter, principalmente aqueles ligados a meios de comunicação.                     

Curiosamente, a notícia gerou também reações de apoio à intervenção, com o argumento                         

de que a ONU nunca esteve preocupada com os efeitos do crime organizado na vida da                               

população.  

Também repercutiu nas redes, como uma crítica ao governo Temer, a redução dos                         

investimentos do governo no monitoramento de fronteiras, em postagens que ressaltam                     

que as drogas e as armas usadas pelos traficantes do Rio entram pelas fronteiras.  

4. Considerações finais 

Quase um mês após o anúncio da intervenção federal na segurança pública do Rio de                             

Janeiro, o debate encontra-se ainda com forte nível de polarização entre grupos que                         

apoiam e criticam a medida e destacam aspectos políticos e abrangentes sobre a                         

segurança pública no país. No entanto, já se identifica crescente regionalização do tema,                         

com maior participação de cidadãos do Rio de Janeiro — e, em especial, de comunidades e                               

bairros em que a presença dos militares se faz mais efetiva.  

 

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A tendência, conforme já indicado na análise da semana anterior, é de postagens que                           

reflitam situações relacionadas diretamente à intervenção a ao cotidiano dos moradores,                     

que vão desde tópicos operacionais, como as ações na Vila Kennedy, até questões                         

institucionais, como a indicação dos novos comandos da PMERJ e da PCERJ, a destinação                           

da verba para o monitoramento de fronteiras e os impactos do confronto entre militares e                             

criminosos. 

A postura da atuação das Forças Armadas é abordada nas postagens a partir de                           

perspectivas distintas, refletindo essa polarização. Ao mesmo tempo em que é enaltecida,                       

por um grupo considerável de atores, a entrega de flores para moradoras da Vila Kennedy                             

em celebração do Dia Internacional da Mulher, usuários destacam o posicionamento da                       

ONU sobre a intervenção: o órgão sinalizou preocupação com a atuação militar nas                         

comunidades. 

Outro ponto que merece atenção é a repercussão da retirada dos comerciantes na Vila                           

Kennedy. Embora esta tenha sido uma ação de ordem pública coordenada pelo governo                         

municipal, ela repercutiu devido à presença dos militares no local para liberação das                         

barreiras colocadas pelos traficantes. Neste sentido, entende-se que a ação articulada com                       

outros agentes públicos, como a prefeitura, repercute também na relação com os                       

moradores. 

 

 

 

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