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CCPE ANGOLA Relatório Final - SÍNTESE EXECUTIVA (Versão corrigida) I Síntese Executiva Avaliação do Programa 2002-2006 da Oxfam-Novib em Angola 1. Introdução O início das actividades da Oxfam-Novib em Angola deu-se na última fase da guerra civil (“guerra das cidades”), por volta do início da década de 1990. Como se analisou, ( 1 ) antes de 2002 a programação da ON no país conheceu um lento desenvolvimento com o apoio decisivo de alguns parceiros históricos (ACORD, ADRA, DW, OGB, etc.), mas ainda sem se configurar num programa coerente. Isso deveu-se, em parte, às próprias indefinições que caracterizavam a realidade angolana nessa fase histórica (de “nem guerra, nem paz”), que impediam de reduzir o peso dos modi operandi da ajuda humanitária ou de desenvolver actividades mais directamente comprometidas com a indução de processos endógenos de desenvolvimento. O período focado pela avaliação (2002-2006), ( 2 ) coincide com a emergência de uma nova fase histórica, que se convencionou chamar de “transição para o desenvolvimento”. No início dessa fase, a ON já possuía em Angola um portfolio que envolvia uma dezena e meia de contrapartes nacionais e internacionais. Essa média anual se manteria regularmente durante os anos abrangidos pela avaliação, ( 3 ) durante os quais foram financiados cerca de 40 projectos de 21 diferentes ONGs, de um valor global de cerca de 10,0 milhões. ( 4 ) Vale destacar que esse período coincide com “momentos” históricos simultâneos e decisivos, tanto no contexto “interno” do Programa em avaliação (dos contrapartes), quanto no “externo” (da Oxfam- Novib). Estes, por um lado, explicam parte das dificuldades -- o fim da guerra civil e o início de uma nova fase de transformações radicais do contexto angolano, com forte impacto no ambiente global das ONGs e nos grupos sociais alvo da programação da ON, por exemplo. Por outro, condicionaram e explicam o ambiente institucional e os objectivos da própria avaliação -- fase de grandes transformações no sistema da ajuda holandês e de intensificação da concorrência entre as ONGs “operadoras” dessa ajuda; a qual levou a uma corrida pela profissionalização e à construção de uma nova “cultura institucional” no seio dessas organizações, com a prioridade absoluta para a eficácia de resultados no curto e médio prazo, para assegurar a continuidade dos financiamentos. Nesse contexto, a ON contratou uma equipa de três consultores externos (Junho 2007) para produzir uma avaliação independente/imparcial e equilibrada dos resultados do seu Programa Angola durante o período acima mencionado. Visando-se, dessa forma, aferir a sua adequação ao contexto local, a sua contribuição para a indução de resultados de mudança nas políticas e nas práticas e, em última instância, subsidiar eventuais ajustes nas suas estratégias e melhorias na sua qualidade e eficácia. Estrutura do relatório O texto do relatório final da avaliação aqui sintetizado está organizado em quatro secções distintas: 1 Vd. capítulo 4 do Relatório. 2 Este período foi extrapolado durante o trabalho de campo (Novembro-Dezembro 2007), a pedido dos próprios contrapartes. Assim, a avaliação passou, na prática, a abranger igualmente os primeiros dez meses de 2007, quando a maior parte dos projectos iniciados em anos anteriores apresentavam já resultados mais consolidados. 3 Vd. detalhes na tabela 4.1 do capítulo 4 do Relatório. 4 Dados referentes ao período 2002-207. Vd. detalhes na tabela 01 desta síntese.

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CCPE ANGOLA Relatório Final - SÍNTESE EXECUTIVA (Versão corrigida)

I

Síntese Executiva

Avaliação do Programa 2002-2006 da Oxfam-Novib em Angola

1. Introdução

O início das actividades da Oxfam-Novib em Angola deu-se na última fase da guerra civil (“guerra das cidades”), por volta do início da década de 1990. Como se analisou, (1) antes de 2002 a programação da ON no país conheceu um lento desenvolvimento com o apoio decisivo de alguns parceiros históricos (ACORD, ADRA, DW, OGB, etc.), mas ainda sem se configurar num programa coerente. Isso deveu-se, em parte, às próprias indefinições que caracterizavam a realidade angolana nessa fase histórica (de “nem guerra, nem paz”), que impediam de reduzir o peso dos modi operandi da ajuda humanitária ou de desenvolver actividades mais directamente comprometidas com a indução de processos endógenos de desenvolvimento.

O período focado pela avaliação (2002-2006), (2) coincide com a emergência de uma nova fase histórica, que se convencionou chamar de “transição para o desenvolvimento”. No início dessa fase, a ON já possuía em Angola um portfolio que envolvia uma dezena e meia de contrapartes nacionais e internacionais. Essa média anual se manteria regularmente durante os anos abrangidos pela avaliação, (3) durante os quais foram financiados cerca de 40 projectos de 21 diferentes ONGs, de um valor global de cerca de € 10,0 milhões. (4)

Vale destacar que esse período coincide com “momentos” históricos simultâneos e decisivos, tanto no contexto “interno” do Programa em avaliação (dos contrapartes), quanto no “externo” (da Oxfam-Novib). Estes, por um lado, explicam parte das dificuldades -- o fim da guerra civil e o início de uma nova fase de transformações radicais do contexto angolano, com forte impacto no ambiente global das ONGs e nos grupos sociais alvo da programação da ON, por exemplo. Por outro, condicionaram e explicam o ambiente institucional e os objectivos da própria avaliação -- fase de grandes transformações no sistema da ajuda holandês e de intensificação da concorrência entre as ONGs “operadoras” dessa ajuda; a qual levou a uma corrida pela profissionalização e à construção de uma nova “cultura institucional” no seio dessas organizações, com a prioridade absoluta para a eficácia de resultados no curto e médio prazo, para assegurar a continuidade dos financiamentos.

Nesse contexto, a ON contratou uma equipa de três consultores externos (Junho 2007) para produzir uma avaliação independente/imparcial e equilibrada dos resultados do seu Programa Angola durante o período acima mencionado. Visando-se, dessa forma, aferir a sua adequação ao contexto local, a sua contribuição para a indução de resultados de mudança nas políticas e nas práticas e, em última instância, subsidiar eventuais ajustes nas suas estratégias e melhorias na sua qualidade e eficácia.

Estrutura do relatório

O texto do relatório final da avaliação aqui sintetizado está organizado em quatro secções distintas:

1 Vd. capítulo 4 do Relatório. 2 Este período foi extrapolado durante o trabalho de campo (Novembro-Dezembro 2007), a pedido dos próprios

contrapartes. Assim, a avaliação passou, na prática, a abranger igualmente os primeiros dez meses de 2007, quando a maior parte dos projectos iniciados em anos anteriores apresentavam já resultados mais consolidados.

3 Vd. detalhes na tabela 4.1 do capítulo 4 do Relatório. 4 Dados referentes ao período 2002-207. Vd. detalhes na tabela 01 desta síntese.

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II

A primeira secção (Parte I), introduz brevemente o contexto da avaliação e faz a sua abordagem metodológica (âmbito, métodos de campo, etapas do trabalho, atores, etc.). (5)

A segunda (Parte II), descreve o contexto global do Programa, resumindo as principais “transições” históricas do país nas últimas décadas (1975-2007). Para tal, essa secção aborda as questões mais relevantes pertinentes às estratégias e áreas de trabalho da Oxfam-Novib. Por fim, fornece uma visão global do Programa 2002-2006 e do posicionamento estratégico da ON em Angola. (6)

A terceira (Parte III), constitui o corpo principal da avaliação. Nesse sentido, faz uma síntese das avaliações de resultado dos contrapartes do Programa -- ou seja, dos files da avaliação específica de cada uma das ONGs -- organizando-a de acordo com os aims e SCOs mais destacados em Angola. Faz, ainda, uma breve análise das contribuições imputáveis ao apoio da Oxfam-Novib aos seus contrapartes (para a obtenção dos resultados aferidos) e apresenta as principais conclusões e recomendações da avaliação. (7)

A quarta e última secção (Anexos), apresenta os anexos mais relevantes da avaliação (calendário de trabalho, listagem dos entrevistados, bibliografia consultada, etc.). (8)

2. Abordagem metodológica

O coração da metodologia do estudo/avaliação foi, como dissemos, uma amostra das 13 principais ONGs apoiadas pela ON em Angola, seleccionadas para representar a ampla gama de parâmetros do universo dos contrapartes locais (temáticos, políticos, etc.). Essa amostragem representa cerca de 95% dos financiamentos do período 2002-2007 (€ 9,4 milhões).

O quadro analítico articula três vertentes essenciais e interdependentes, a saber: (i) o contexto geral do país; (ii) a análise institucional preliminar de cada um dos contrapartes (files), com foco nas principais actividades financiadas pelo Programa e nos impactos induzidos relacionados com os objectivos estratégicos de mudança da ON; e, por fim, (iii) uma breve análise das estratégias da Oxfam-Novib em Angola e sua contribuição para os resultados.

A equipa utilizou uma grande variedade de abordagens metodológicas para coletar e organizar as informações, tanto as “secundárias” (documentação e dados sobre a programação e os projectos) quanto as de carácter “primário” (dados, testemunhos, análises, exemplos, etc.). Esta últimas foram colectadas junto às equipas das ONGs e a outros actores locais directa ou indirectamente envolvidos (parceiros e colaboradores, formadores de opinião, etc.). Principalmente, através de entrevistas e de diferentes métodos participativos (reuniões de grupo e oficinas, e.g.).

A avaliação foi realizada em oito etapas principais. Estas variaram desde as etapas preparatórias iniciais, na Holanda e no Brasil (Junho - Julho 2007) e as destinadas à preparação do trabalho de campo em Angola (Setembro 2007), às etapas da execução do trabalho de campo propriamente dito (Outubro - Dezembro 2007) e às fases finais (Dezembro 2007 - Setembro 2008), dedicadas à organização e análise das informações colectadas no terreno, à preparação de sub-relatórios preliminares (files dos contrapartes) e à elaboração do Relatório Final (9)

5 Vd. detalhes nos capítulos 1 e 2 do Relatório. 6 Vd. detalhes nos capítulos 3 e 4 do Relatório. 7 Vd. detalhes nos capítulos 5, 6, 7, 8 e 9 do Relatório. 8 Além desses anexos, foram igualmente elaborados 13 relatórios (files) dos contrapartes (vd. lista no anexo I ). 9 Não se incluiu aqui uma última etapa do trabalho. Consagrada à discussão da primeira versão do Relatório Final e

à negociação dos ajustes finais no texto, propostas e síntese executiva -- entre os avaliadores, os contrapartes avaliados e a Oxfam-Novib (Outubro 2008 – Abril 2009).

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III

Constrangimentos e limites

Cabe ressaltar, por último, que a avaliação enfrentou três tipos de constrangimentos principais:

• Dimensão, diversidade e complexidade dos contrapartes e seus programas, o que levantou problemas de medição utilizando padrões genéricos/globais de desempenho e resultados ajustados à realidades angolana;

• Dificuldades práticas oriundas do contexto local, especialmente em face das limitações logísticas e da qualidade dos serviços disponíveis;

• Fatores “culturais” que limitaram a velocidade, a eficiência e a qualidade da avaliação; não raramente, estes se traduziram em insuficiências de documentação básica ou dados essenciais para permitir aferir a extensão e a qualidade das actividades, dos impactos, etc.

Com essas limitações, deve-se ter a precaução de considerar que este processo de avaliação representou apenas a “fotografia rápida” que foi possível fazer dos resultados do trabalho dos contrapartes (programas financiados pela ON) em contextos fortemente influenciados por factores externos. Incluindo-se nestes factores a acção dos demais doadores e parceiros ou as variadas formas de apropriação das dinâmicas de mudança pelos diversos atores sociais envolvidos. Por essa razão, os resultados aferidos não podem ser considerados como uma avaliação completa da globalidade, da vitalidade do trabalho ou do pleno potencial transformador das ONGs avaliadas.

3. Contexto angolano e suas “transições”

Este capítulo 3 do relatório esboça alguns dos mais importantes momentos da história e da sócio- economia do país no período 1961-2007, com especial atenção às transições ocorridas desde o fim da guerra civil (2002). Nele, descreve-se como, no início de 1975, o país viveu uma mudança radical da ordem colonial, centrada no comércio de commodities agrícolas, transitando paulatinamente para a predominância crescente das suas indústrias extractivas de petróleo/diamantes, em paralelo com a profunda desarticulação económica das zonas interiores e a crescente dependência das importações.

Duas últimas décadas

Em síntese, e para os fins desta avaliação, podem-se considerar como pontos mais relevantes ou ilustrativos dessa contextualização desde a “abertura política” do início da década de 1990: • Abandono da ideologia oficial “socialista” e desmontagem caótica do seu Estado-providência. O que

foi feito precipitadamente, jogando-se fora com a “água do banho” algumas das conquistas das décadas de 70 e 80 (na educação, na saúde, no acesso à moradia e emprego, etc.). Estas, não obstante das distorções e carências da “planificação socialista” e seus burocratas, garantiam perspectivas mínimas de reprodução social com níveis reduzidos de desigualdade;

• Fim da guerra civil e paulatina emergência de uma “guerra social” desarmada, na qual se confrontam o poder/influência da política e do dinheiro de poucos contra a falta de direitos efectivos (ou a desigualdade perante a lei) e a extrema pobreza de muitos;

• Balanço pós-guerra de forte destruição das infra-estruturas sociais, de produção, de comunicações e comerciais, dificultando sobremaneira a “reconstrução” sócio-económica equilibrada do país em termos territoriais e populacionais;

• Desenvolvimento em força de uma economia de “enclave” de base extractivista, apoiada por novos mercados/capitais externos, que conferiram maior “imunidade” e “poder de barganha” ao país face

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IV

às pressões “democratizantes” ou por mais transparência da parte dos seus tradicionais aliados e financiadores. Contudo, esse novo modelo exportador, embora crie uma “bolha” de consumo de luxo para uma ínfima elite, encontra-se amplamente desconectado da força de trabalho nacional e da “economia popular” em geral, tecendo poucos ou nenhuns vínculos com a maioria dos fluxos e dinâmicas da produção “país real”, das suas regiões interiores em particular;

• Avanço significativo das práticas de “capitalismo predatório” com a emergência, no seio de segmentos da elite política, de uma “classe empresarial” nativa, agressiva e patrocinada por um Estado patrimonialista, fortemente aliada ao capital “sem fronteiras” e, sobretudo, absolutamente alheia aos generosos compromissos do “contrato social” dos primeiros anos pós-independência;

• Balanço pós-guerra de forte deslocação populacional do campo para os subúrbios urbanos, especialmente na costa e na área de influência da cidade-capital (musseques), configurando-se numa agressiva “periferização” social e extrema precarização da malha urbana do país;

• Agravamento da insegurança e das perspectivas económicas nas zonas rurais/suburbanas, com o crescimento do sub-emprego, da informalidade e da subsistência precária da maioria das comunidades rurais e periféricas. Especialmente nos musseques de Luanda e nos subúrbios das capitais provinciais;

• Uma governação certamente mais “profissionalizada”, mas ainda com incipiente institucionalidade e sérios défices de democracia, de transparência e de legitimidade sociológica. Governação essa que tem revelado baixos níveis de tolerância, mesmo face a uma oposição ainda dividida e polarizada em Luanda, com pouco acesso aos meios de comunicação, fraco protagonismo e carente de propostas alternativas -- ou, em última instância, neutralizada pelas “benesses” da partilha do poder entre os antigos beligerantes;

• Forte emergência do protagonismo autónomo da “sociedade civil”, apenas “tolerada” pelos representantes do poder político-económico (ou reprimida quando demasiado “inconveniente”), mas com pouca tradição de organização e luta social, com sérias carências de qualificação e ainda marcada pela ideologia e modi operandi “assistencialistas” da década “humanitária” (1990). Mais recentemente, parte dessa SC organizada demonstra maior sensibilidade do que se supunha ao “canto das sereias” da cooptação política do Governo e das grandes corporações internacionais, ambos em busca de uma melhor imagem para uso externo;

• Papel e impacto ambíguos da “ajuda externa” e sua próspera “indústria” que na última década, salvo raras e honrosas excepções, revelaram menos talento para incentivar processos de desenvolvimento endógeno e sustentado do que para importar/impor paradigmas e modelos, ajudar a reproduzir situações de desestruturação/exclusão social e de dependência. Incluindo, uma certa conivência com a privatização descontrolada dos activos e serviços do sector público, a “humanitarização” dos gastos sociais e o agravamento dos níveis de vida e auto-suficiência alimentar da maioria da população, com sérios impactos no IDH do país.

Alguns desdobramentos do contexto político e social recente

Essa última tendência (da “indústria da ajuda externa”), manifestou-se principalmente em meados dos anos 90, em paralelo com o surgimento das ONG angolanas de tipo “moderno”, bem como com a entrada em força no país das agências humanitárias e de “ajuda” ao desenvolvimento internacionais. A maioria dessas ONG locais não emergiram "de baixo para cima” -- isto é, baseadas em membros e/ou iniciativas de base. Nasceram sim num contexto de intensas actividades de “emergência” em tempos de guerra. Tais como a distribuição de alimentos ou a prestação de serviços/cuidados primários de saúde. Assim, muitas dessas ONGs evoluíram de acordo com constantes mudanças e uma grande confusão de paradigmas e “prioridades emergenciais”, decorrentes de inúmeros hobbies

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V

e modismos promovidos pelas agências humanitárias. Com a falta de recursos alternativos, e sendo tratadas como meras receptoras passivas de novas temáticas, conceitos e métodos, a maioria das ONGs tiveram que se adaptar continuamente ao ambiente dos seus doadores, dos quais dependiam para sobreviver. E acabaram, de facto, por ser desencorajadas de construir seus próprios pontos de vista críticos e concepções alternativas (modelo de desenvolvimento para o país, seu papel na sociedade, sua missão, etc.). No fim das contas, a sociedade civil angolana “real” foi bastante negligenciada nessa dinâmica. Inclusive, as organizações baseadas em membros das comunidades ou em categorias sócio-profissionais (artesãos e outros profissionais autónomos, e.g.) e religiosas (Batistas e Católicos, e.g.). Embora alguns grupos de membros (assalariados, camponeses, mulheres, jovens, etc.) tenham sido organizados pelo partido no poder, essa organização ocorreu quase sempre de forma bastante artificial e anacrónica. Em grande parte, inspirada nas tradições da mobilização social anti-colonial e pró-emancipatória. Contudo, sendo desprovidos dos pré-requisitos organizacionais básicos exigidos pelos doadores, tais agrupamentos tenderam a ser “esquecidos” na estruturação dos processos e mecanismos mais avançados da “ajuda internacional”. As raras excepções surgiram no âmbito de algumas organizações e iniciativas ligadas aos movimentos religiosos. Algumas delas, inclusive, tiveram o mérito de contribuir para manter vivas as iniciativas de base comunitária. Durante a transição da guerra para o «desenvolvimento» aqui abordada (2002-2007) -- um período de boom económico, pelo menos em Luanda e em outras grandes cidades -- o Governo começou a endurecer sua posição com relação ao protagonismo de algumas ONGs. Especialmente das que reivindicavam direitos políticos para os movimentos de oposição, que pressionavam por maior transparência do Governo e das empresas, ou que traziam para a ordem do dia questões “inconveni-entes”, seja relacionadas com as práticas das elites locais na prossecução dos seus interesses, ou com a promiscuidade do seu segmento “empresarial” emergente com a esfera da governação. O clima de intimidação que resultou disso levou a maioria das ONGs locais -- já de si pouco politizadas – a afastarem-se ainda mais de qualquer tipo de veleidade ou de comprometimento explícito com posições e abordagens demasiado críticas. Hoje, são cada vez menos e encontram-se cada vez mais ameaçadas as ONGs que têm resistido a essa tendência dominante. Embora não se justifique, isso é perfeitamente compreensível e inevitável no contexto da extrema precariedade e fragilidade das instituições públicas angolanas -- em especial, do sistema judicial -- susceptíveis de oferecer alguma proteção para iniciativas cidadãs ou de confronto com os poderosos. Assim, somos forçados a concluir que, embora o contexto externo se tenha tornado muito mais complacente para com Angola -- na verdade, intensificou-se a concorrência internacional para o acesso às suas riquezas e à sua liderança política, com reflexos nas políticas externas e nas críticas desses países --, o contexto interno se tornou mais hostil para os activistas da sociedade civil angolana em geral, e para os defensores de direitos humanos em particular. Em conclusão, adaptar-se ainda mais aos imperativos dos doadores (e do Governo), e lutar pela sobrevivência é, cada vez mais, the name of the game em Angola.

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VI

4. Estratégia da Oxfam-Novib em Angola A programação actual da ON em Angola teve suas origens nos trabalhos da ACORD, uma agência baseada na Inglaterra, fundada pela Novib e várias outras ONGs internacionais na década de 80. O envolvimento da Novib em Angola começou com seu apoio financeiro a uma acção dessa ONG (Projecto Vissapa-Yela) no município de Kaluquembe (província da Huíla). (10) O qual, por sua vez, levou paulatinamente a uma série de acções conjuntas da ACORD e da ADRA, uma bem conhecida ONG angolana de desenvolvimento e várias outras ONGs locais e internacionais.

No período 1997-2001, a Novib expandiu consideravelmente a sua programação em Angola. Como vimos (capítulo 1 desta síntese), ao final desse período seu apoio já se dirigia regularmente para projectos de uma dezena e meia de ONGs, principalmente os geridos por ONGs internacionais, tais como ACORD, DW, GW, HRW e Oxfam-GB. No período 2002-2006, considerado de “transição para o desenvolvimento”, registou-se uma significativa acceleração das actividades e financiamentos da Oxfam-Novib em Angola. Inclusive, porque o país tornara-se um dos 19 Core Countries prioritários da estratégia internacional da organização. (11)

Estes esforços foram bastante consistentes com o plano estratégico de Oxfam Novib para a África Austral (2001-2004) e cada vez mais alinhados com as estratégias para a África Sub-Sahariana das outras Oxfams activas em Angola. Resumindo esses objectivos estratégicos, podemos dizer que eles se inseriram numa perspectiva de incremento dos investimentos (projectos/recursos, áreas temáticas, estratégias regionais de intervenção, etc.), para apoiar processos de democratização e de respeito dos DH ainda frágeis e, em paralelo, promover o desenvolvimento sustentável para fazer face a situações de accelerada deterioriação social, com níveis escandalosos de empobrecimento e vida/subsistência das populações. Situações essas decorrentes da conjugação de vários factores causais muito similares, embora com intensidade variável em função dos países: consequências de guerras-civis e de programas de “ajustamento estrutural”, má gestão dos Estados nas mãos de elites predatórias, desvalorização dos terms of trade, disfunções do investimento externo e da APD, etc.

No caso angolano, os principais desafios/constrangimentos das estratégias da Oxfam-Novib face a esse quadro, no período de pós-guerra e de “reconstrução” aqui avaliado (2002-2006), surgiram principalmente em dois domínios: (i) na selecção/diversificação de contrapartes locais com boa capacidade de absorção e gestão de financiamentos e, portanto, também na ampliação social e geográfica do seu Programa; (ii) na implantação das actividades e concretização dos resultados esperados (objectivos de mudança) nas diversas áreas temáticas de intervenção desse Programa.

Estas restrições deveram-se, no essencial, às dificuldades do contexto angolano. Principalmente às complexidades e descontinuidades nascidas da transição para a paz e desse complexo processo de “reconstrução”. (12) Por fim, não podemos deixar de considerar que as dificuldades foram igualmente influenciadas por factores institucionais. Em especial, como já dissemos, pelas reconfigurações ocorridas na última década no ambiente das ONGs angolanas, (13) que agravaram sensivelmente sua margem de manobra e capacidade de actuação. (14)

10 Projecto transferido para a periferia do Lubango (capital da Huíla), após o fracasso dos Acordos de Bicesse

(Setembro 1992), dando origem ao Projecto Sofrio-Caluva. 11 Significando que, como tal, deveria dotar-se de um Programa de País mais consistente e diversificado: actuando

simultaneamente em todos os 5 aims e 8 SCOs da Oxfam-Novib (vd. box na página 8 a seguir). 12 Vd. a análise exaustiva desse último “contexto de transição” no capítulo 3 do Relatório. 13 Vd. mais detalhes sobre essa análise institucional nos sub-capítulos 3.2 e 3.3 do Relatório. 14 Como já mencionamos, devem ser igualmente tomados em consideração factores institucionais “internos” à própria

ON (inseridos no “contexto de mudanças” analisado no capítulo 1 do Relatório). Os quais, de certa forma, não tenderam a facilitar o acompanhamento e expansão de Programas em realidades complexas como a de Angola.

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VII

5. Avaliação dos resultados do Programa 2002-2006

5.1 Análise dos contextos e acções sectoriais

Procurou-se fazer uma exaustiva análise do contexto e problemática sectoriais das principais áreas temáticas do Programa da ON em Angola (que correspondem aos aims 1, 2 e 4). Esta análise da evolução política, social e económica do país focou-se no período avaliado (2002-2007). Contudo, procurou-se contemplar igualmente alguns processos político-institucionais e sócio-económicos ocorridos antes desse período (décadas de 80 e 90). Pelo menos, aqueles que, na opinião dos avaliadores, mais influenciaram as actividades e condicionaram os resultados obtidos pelo Programa.

Para além desse exaustivo enquadramento sectorial introdutório, foram igualmente sintetizadas, para cada uma das principais áreas temáticas do Programa: (i) as informações sobre os contrapartes envolvidos em cada SCO e os resultados por eles esperados; (15) bem como (ii) as análises da avaliação dos resultados e mudanças alcançadas por essas ONGs com relação a cada um desses SCOs. (16) Sendo oportuno lembrar, uma vez mais, que todas essas sínteses foram realizadas a partir do material “bruto” produzido pelo trabalho inicial de campo da avaliação: os files que resumem a avaliação individual dos contrapartes (vd. lista no anexo I do Relatório). Nos quais essa avaliação se encontra mais contextualizada, pormenorizada e exemplificada (quantificada).

Não seria oportuno, nem viável, sintetizar aqui essa longa abordagem analítica (exposta nos capítulos 6, 7 e 8 do Relatório), sob pena de alongar demasiado esta síntese. Recomenda-se, portanto, que se tenham em mente as principais análises contextuais e conclusões sectoriais desses capítulos para facilitar a leitura das conclusões e recomendações mais gerais a seguir. Far-se-ão, quando oportuno, algumas referências a partes do texto desses capítulos (ou sub-capítulos), para facilitar a consulta de aspectos pertinentes dessas análises.

5.2 Focos e limitações da avaliação

Contrapartes avaliados do Programa 2002-2006

Como dissemos e se indica na tabela 01 a seguir, foram avaliados 13 contrapartes de um total de 21 ONGs. Essa amostragem, definida de comum acordo com a ON (Junho 2007), possui alta represen-tatividade do universo do Programa Angola: cerca de 62% dos contrapartes, de 80% dos projectos e de 95% dos financiamentos.

Principais temas ou SCOs avaliados

A avaliação desses 13 contrapartes e seus respectivos projectos conduziu à identificação de 7 objectivos estratégicos de mudança (SCOs) presentes em Angola entre os 8 SCOs da estratégia global da ON (vd. box a seguir). Destacam-se, contudo, 3 SCOs, que foram perseguidos por um maior número dos contrapartes. Razão pela qual, em consonância com as equipas dessas ONGs, eles foram considerados os mais significativos para fazer a avaliação dos resultados; a saber: SCO 1.1: Food and income security; SCO 2.1: Basic health services; SCO 4.1: Social and political participation.

15 As sínteses dos resultados esperados pelos contrapartes poderão ser consultadas nas seguintes partes do

Relatório: sub-capítulo 6.2 e tabela 6.2 (SCO 1.1); sub-capítulo 7.2 e tabela 7.3 (SCO 2.1 e SCO 2.2); sub-capítulo 8.5 e tabela 8.2 (SCO 4.1).

16 Essas avaliações encontram-se resumidas nas seguintes partes do Relatório: sub-capítulos 6.3, 6.4 e tabela 6.3 (SCO 1.1); sub-capítulos 7.3, 7.4 e tabela 7.4 (SCO 2.1 e SCO 2.2); sub-capítulo 8.6 e tabelas 8.4, 8.5 e 8.6 (SCO 4.1).

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VIII

Temáticas menos relevantes

Para além dos temas 1.2 e 2.2 pouco trabalhados no âmbito dos aims 1 e 2 priorizados pelo Programa da ON em Angola, três outros temas ficaram praticamente ausentes ou tiveram pouco destaque nos projectos avaliados, a saber:

Emergência e prevenção de conflitos: Como se analisou em pormenor (sub-capítulo 5.1 do Relatório), estes dois temas (SCOs 3.1 e 3.2), embora presentes na amostragem, foram conside-rados relativamente marginais ou pouco relevantes no Programa e actividades das ONGs. Razão pela qual não foram privilegiados nesta avaliação. (17)

Género: Este outro tema (SCO 5.1), que os avaliadores estimam estratégico (vd. recomendações), também teve pouco destaque. Isso se deveu, principalmente, à sua pouca presença de facto nas actividades dos 21 contrapartes no período considerado (2002-2006). (18) Mas deveu-se, igual-mente, à abordagem adoptada para trabalhar a temática género, a qual, em face das dificuldades do contexto local, (19) tendeu a incentivar uma actuação dita “transversal” das ONGs que diminuiu a relevância desse tema no Programa global. Em particular, inibindo, na prática, uma actuação temática consistente desse tipo nos projectos em geral. Ou facilitando o quase desaparecimento de projectos específicos destinados a públicos-alvo exclusiva ou maioritariamente femininos. (20)

17 Se as condições da avaliação o tivessem facilitado, a temática do SCO 3.2 poderia ter sido mais destacada na

avaliação de duas ONGs não sediadas em Angola (GW e HRW), a qual teve grande peso nas entrevistas com parceiros da ON ou lideranças e formadores de opinião em Luanda. Mas não foi possível aprofundar esse tema nos programas dessas ONGs (o qual teve, sem dúvida, maior pertinência no caso da GW).

18 Este tema (género) teve destaque, em termos de projecto específico, em apenas um caso (Rede Mulher). 19 Principalmente as dificuldades institucionais nas regiões trabalhadas pela ON (ausência de organizações femininas activas, credíveis e transparentes no seu funcionamento). 20 Embora alguns desses contrapartes tivessem planos para trabalhar essa área de forma “transversal”, articulando-a

com as demais. Todavia, isso pouco foi concretizado. Na região da Huíla, por exemplo, alguns deles (ACORD, ADRA e PRAZEDOR, e.g.) incluíram em seus programas acções voltadas para a questão de género. Contudo, não se constataram trabalhos destacados ou evidências de resultados muito significativos.

Strategic Objective Changes (SCOs) da Oxfam-Novib

Lembramos que os oito SCOs adoptados pela Oxfam-Novib a partir de 2005, baseados em cinco direitos humanos básicos (aims) da ONU, são os seguintes:

AIM 1 - Direito a meios para uma vida/subsistência sustentável SOC 1.1 Segurança alimentar e de renda

SCO 1.2 Emprego com base nos meios de vida/subsistência, comércio e mercado

AIM 2 - Direito a serviços sociais básicos SCO 2.1 Serviços básicos de saúde

SCO 2.2 Educação

AIM 3 - Direito à vida e à segurança SCO 3.1 Ajuda de emergência

SCO 3.2 Prevenção de conflitos

AIM 4 - Direito a ser ouvido SCO 4.1 Participação social e política

AIM 5 - Direito a uma identidade: género e diversidade

SCO 5.1 Identidade

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IX

Detalhes da avaliação dos contrapartes: “files” dos contrapartes

Para obter informações mais detalhadas sobre cada um dos contrapartes, recomenda-se vivamente a consulta sistemática dos files da avaliação individual de cada uma das 13 ONGs seleccionadas. (21) Essa consulta é quase obrigatória para melhor compreender as análises desta avaliação global do Programa no contexto particular de cada um dos contrapartes. Isto é, para se obterem pormenores sobre as análises contextuais e institucionais particulares, dados quantificados, aprofundamentos sobre os resultados obtidos e os factores que os condicionaram, etc. (22)

Tabela 01: Contrapartes – financiamentos, regiões geográficas e temáticas abrangidas pelo Programa 2002-2007. (*)

Projectos Financiamentos Origem Abrangência Geográfica (**) Abrangência Temática (SCO) ONG / Nr Euros País N/INT CUN HUI LUA NAM OUT. 1.1 2.1 2.2 3.1 3.2 4.1 5.1

Contrapartes avaliados 01 ACORD 3 1,973,025.00 UK

02 ADRA Huíla 5 1,219,911.00 Angola

03 ADRA Nac. 1 115,000.00 Angola

04 ASD 3 618,839.00 Angola

05 CLUSA 1 368,750.00 USA

06 DWA 4 1,532,503.00 Canadá

07 GW 2 837,148.34 UK

08 HRW 2 920,000.00 USA

09 Oxfam GB 6 852,370.06 UK

10 O. Intermón 1 343,674.86 Esp.

11 PRAZEDOR 2 459,250.00 Angola

12 Rede Terra 1 126,277.71 Angola

13 SOS Habitat 1 50,000.00 Angola

Sub-Total 32 9,416,748.97

Outros contrapartes 01 ASPALSIDA 1 39,305.76 Angola

02 ALSSA 1 75,000.00 Angola

03 Kixi-Crédito 1 139,000.00 Angola

04 MAFIKU 1 6,552.38 Angola

05 MAG 1 24,558.00 UK

06 Rede Mulher 1 105,000.00 Angola

07 SINPROF 1 67,902.00 Angola

08 SJA 1 48,500.00 Angola

Sub-Total 8 505,818.14

TOTAL 40 9,922,567.11 Fonte: Documentação da Oxfam Novib (Junho 2007) e observações de campo (Out. - Dez. 2007). Vd. detalhes nos anexos IVa, IVb e V do Relatório.

(*) Consideraram-se os AIMs e SCOs mais importantes desses contrapartes. Os financiamentos referem-se ao período 2002/2003 – 2006/2007. (**) Abrangência: N/INT (Nacional ou Internacional), CUN (Cunene), HUI (Huíla), LUA (Luanda), NAM (Namibe) e OUT (outras províncias).

21 Esses files encontram-se no volume II deste relatório (vd. informações no anexo I do Relatório). 22 Não obstante a elaboração preliminar desses files individuais, procuramos sintetizar os principais resultados das

actividades dos 13 contrapartes nos capítulos 6, 7 e 8 do Relatório. Em especial, nas diversas tabelas-síntese desses resultados que os acompanham (vd. tabelas 6.3, 7.4, 8.2, 8.4 e 8.5).

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X

Limites metodológicos e possíveis “desencontros”

Pressupostos metodológicos e foco: Esta avaliação, bem como suas conclusões e recomendações, não se referem especificamente a tal ou tal contraparte. Ela procurou construir uma visão sintética, globalizada e focada nas contribuições do Programa global da ON em Angola para a obtenção de mudanças sustentáveis, com base na análise de uma parcela representativa dos contrapartes. (23)

Avaliação não exaustiva das ONGs: Partindo desses pressupostos metodológicos, produziu-se uma avaliação não exaustiva dos projectos de algumas dessas ONG -- com base em pesquisa documen-tal, entrevistas/testemunhos, exemplos seleccionados e estimativas globais. Esta, dificilmente poderia esgotar a complexidade ou a abrangência real (geográfica, sectorial, etc.) dos seus programas ou dos resultados obtidos (vd. capítulo 2 desta síntese). (24) Por outro lado, nesse contexto, e muito embora a metodologia recomendada tenha sido aplicada com o máximo de dedicação e profissionalismo possível, podem ocorrer insuficiências nas análises da avaliação: do contexto, das actividades e seus resultados, da articulação inter-sectorial, etc.

Fotografia rápida do Programa: Consequentemente, um tal método de observação rápida no terreno, sem facilidades para aprofundar a busca de evidências relevantes (dos resultados obtidos, em particular), tampouco poderia esgotar o próprio Programa global (a totalidade dos contrapartes e parceiros, das actividades apoiadas, das sinergias criadas, etc.) ou a contribuição da ON. No máximo, como dissemos, apresenta-se uma “fotografia rápida” e circunscrita a um determinado momento histórico que busca ser representativa dos resultados obtidos pelo Programa e focar-se nos pontos fortes dessa contribuição da ON para os resultados obtidos pelos contrapartes.

Avaliação de resultados vs Avaliação institucional: Por último, do exposto acima decorre que não se devem tirar ilações excessivas ou fazer paralelismos simplistas entre os resultados obtidos por uma determinada ONG (das suas acções apoiadas pela ON) e a avaliação do seu programa global de actividades. Ou mesmo extrapolar a avaliação dessa ONG, aqui realizada no quadro específico da parceria com a ON, com a sua avaliação institucional global. Pois isso poderia originar “desencontros” entre os resultados dessa ONG aqui aferidos e a sua vitalidade, potencial, eficácia e sustentabilidade reais/globais (nos níveis institucional, organizacional, operacional, etc.). (25)

5.3 Conclusões e recomendações sobre os resultados Uma possível síntese Uma possível síntese geral dos resultados e conclusões levaria à seguinte recomendação geral: Urge procurar, por todos os meios, consolidar as "mais valias" oferecidas pela ON para a realização do pleno potencial da sua programação em Angola.

Ao priorizar leituras e abordagens mais criativas/dinâmicas da realidade local, a programação poderia valorizar e consolidar mais decisivamente as principais "mais valias" da Oxfam-Novib em serviços/ suportes específicos. Estas "mais valias", com relação às práticas das demais ONGs internacionais e

23 Esse nível de abstracção/globalização foi recomendado pela metodologia (Guidelines - ON, 2006) e enfatizado

pela entidade que assessora o programa de avaliações da ON (South Research). Sem ele, a avaliação correria o risco de sofrer distorções excessivas ou de se desviar para uma avaliação detalhada dos projectos e programas dos contrapartes (procedimento avaliativo que já ocorre de forma mais ou menos rotineira nos programas de país da ON), em detrimento da construção de uma visão mais global e estrutural da actuação da ON em Angola.

24 Cabe ressaltar que, não obstante essa metodologia rápida, os avaliadores procuraram trabalhar com o máximo profissionalismo e seriedade. Em particular, elaborando uma avaliação preliminar para cada contraparte (files já mencionados), que aprofunda cada uma das avaliações individuais das 13 ONGs da amostragem num outro volume deste relatório (volume II), com um total de 243 páginas de textos.

25 Vd. mais detalhes sobre essa questão no sub-capítulo 5.1 do Relatório.

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XI

doadores, surgem a partir de características já presentes ou embrionárias na actual programação da ON em Angola e devem, na maioria dos casos, ser ajustadas ou aprofundadas. Elas são multidiscipli-nares e socialmente inclusivas, não estão orientadas para o curto prazo e são, quase sempre, mais compatíveis com a obtenção de resultados sustentáveis de longo prazo. Por outro lado, elas dizem respeito a mudanças qualitativas nos processos e resultados dos projectos, que geralmente só podem ser obtidas com procedimentos operacionais flexíveis, a construção de "pontes" e sinergias entre diferentes actores sociais e institucionais do desenvolvimento (contrapartes, actores da sociedade civil organizada e segmentos do Estado e sector privado, entre outros).

Por último, recomenda-se que se evite, tanto quanto possível, a criação de iniciativas tipo “coutadas de caça” privadas ou que se limitem os esforços para desenvolver temas “pára-quedas”, de interesse quase que exclusivo da Oxfam-Novib e seus parceiros externos. Sobretudo, quando estes, embora podendo ser pertinentes ou estratégicos no universo das ONGs internacionais, ou mesmo coerentes com uma determinada leitura e interpretação da realidade angolana, são, não verdade, de difícil aceitação local (por inúmeras razões de contexto constatadas nos últimos anos e analisadas no Relatório) e/ou têm poucas perspectivas de apropriação social ou de impacto (mudança) significativos a curto/médio prazo.

Aim 1 - O direito a meios para uma vida/subsistência sustentável SCO 1.1 Segurança alimentar e de renda

Contrapartes avaliados

Tabela 2: Principais ONGs e projectos com actuação na área do SCO 1.1 Contraparte Projecto Período ACORD 01 Programa Trienal 2005 - 2007 ADRA Huíla 02 PADEAH 2002 - 2005 03 GAMBOS Fase III 2003 - 2004 04 ADRA - Antena Huíla 2004 - 2005 05 PAO – Plano de Acção Operacional 2006 - 2008 CLUSA 06 AgroMarket Produção Comercialização da Norte Huíla 2005 - 2007

Fonte: Dados dos files dos contrapartes (detalhes nos anexos IVa, IVb e V do relatório).

Síntese das conclusões

A avaliação consagrou uma parte específica à análise da evolução deste sector estratégico nos últimos anos (vd. sub-capítulo 6.1 do Relatório), desde o esquecimento da agricultura camponesa/ familiar e a emergência em força de um modelo “capitalista” para o campo, às distorções e insuficiên-cias dos programas oficiais para erradicar a pobreza e relançar a economia nas zonas rurais desestruturadas pela guerra. Nessa análise, evidencia-se uma ausência gritante: a falta de políticas públicas sectoriais amplas e consistentes para os mais pobres. Bem como a agravação dessa situação pela insegurança fundiária das populações menos endinheiradas. (26)

Há evidências de resultados muito positivos na contribuição do Programa para o aumento da segurança alimentar, do emprego e da renda, na redução dos níveis de pobreza, na indução de processos de desenvolvimento sócio-económico das comunidades e assim por diante. Estes resultados parecem, todavia, ser quase sempre algo limitados em termos sociais e espaciais. Por

26 As questões fundiárias e a luta pela terra apoiada pelo Programa são tratados no aim 4 a seguir.

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XII

outro lado, encontramos pouca evidência sobre a sua autonomia social ou a sua continuidade e sustentabilidade com base em processos endógenos. (27)

Resultados em outras áreas (como na auto-organização dos produtores rurais ou no acesso ao mercado) também foram observados, mas não puderam ser verificados mais concretamente, devido às limitações da avaliação. Não obstante, tivemos suficientes indícios de que estes resultados foram igualmente importantes e inovadores, mas bastante modestos em sua cobertura social e territorial. Também não se encontraram evidências de forte impacto positivo nas práticas e nas políticas no que se refere a uma subsistência sustentável -- resultado só atingível, como se sabe, a mais longo prazo. Cabe destacar, por fim, que os resultados na área fundiária (acesso e regularização de terras), que se articulam directamente com este macro-tema, são tratados adiante (vd. síntese do aim 4). (28)

Estes resultados globais, bastante mitigados, parecem ser o produto não só do difícil contexto sectorial, mas também de algumas insuficiências nas estratégias de actuação das ONGs ainda observáveis nesta fase de transição da “guerra” para o “desenvolvimento” (vd. detalhes no capítulo 6 do Relatório). Essa actuação parece ter sofrido uma certa influência dos paradigmas e modelos operacionais do período da “ajuda humanitária” (devida à inércia institucional e política do passado perceptível nesta transição), ou mesmo dos projectos de outros doadores (visão de curto prazo, pouca preocupação com a sustentabilidade, etc.). Por outro lado, ela sofreu as inevitáveis limitações impostas pela carência de recursos (êxodo de doadores) e de políticas públicas claras de apoio à economia popular e à agricultura familiar (em flagrante contradição com as políticas de incentivo ao “capitalismo agrário”, em voga desde 2004/2005). Por último, podem-se destacar também algumas das tradicionais insuficiências e fragilidades atribuídas às próprias ONGs locais (vd. sub-capítulo 8.3 do Relatório). Especialmente de 2005 em diante, devido a uma certa “hemorragia” de parte dos seus quadros mais antigos e experientes (fundadores/animadores das ONGs nos anos 90).

Essas insuficiências e fragilidades revelaram-se particularmente evidentes no que diz respeito a certos temas, como por exemplo:

• sistemas de produção (utilização de recursos, tecnologias adequadas de baixo custo, resgate ou preservação do know-how das comunidades, etc.);

• meios para agir, de forma concertada e eficaz, em moldes a promover a economia popular; • e construção de formas de pressão (lobbies locais, provinciais, regionais e nacional), destinadas a

promover políticas socialmente mais inclusivas, territorialmente mais abrangentes e económica-mente mais eficazes. Em suma, mais capazes de aumentar o potencial multidisciplinar e sinérgico do próprio Programa global da ON para obter resultados nesta macro-temática.

27 Esta dificuldade (como nas avaliações dos demais SCOs) foi possivelmente agravada pelas insuficiências de

“tempo de campo” e metodológicas já mencionadas (vd. capítulo 2 da síntese). Especialmente no contexto das dificuldades dos contrapartes para produzirem informação de base pertinente e fiável, a partir da realidade dos projectos (estudos, diagnósticos, dados quantificados, etc.) e focando mais os resultados do que os processos. A consulta sistemática deste tipo de informação poderia ter enriquecido sobremaneira esta avaliação. Vejam-se os casos exemplares da SOSH e da ADRA, nos quais foi possível reconstituir uma grande quantidade de dados e informações básicas. Nesses casos, graças ao forte comprometimento das equipas das ONGs, foi possível reduzir sensivelmente esse constrangimento com ganhos na avaliação qualitativa e quantitativa dos resultados.

28 Inclusive, em decorrência da actuação das ONGs sobre esse tema no período 2002-2006. Na ausência de uma nova legislação aprovada, esta actuação não teve a oportunidade de se focar na regularização das terras, mas sim na mobilização/luta pela aprovação e melhoria da nova legislação fundiária (ou seja, no reconhecimento dos direitos das populações rurais e urbanas). Por outras palavras, na luta para que a SC e suas organizações fossem “ouvidas” e seus direitos “reconhecidos no papel”. A maior excepção nesse cenário (igualmente tratada no aim 4), talvez tenha sido o caso da SOSH, cuja principal actuação extrapolou para o terreno mais concreto da denúncia/ resistência contra a espoliação de terras e moradias das populações nas periferias de Luanda. Domínio relativa-mente marginal no programa das demais ONGs envolvidas nessa temática fundiária, com raras excepções.

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XIII

Principais recomendações

Considerando as conclusões da avaliação nesta área, recomenda-se que a Oxfam Novib tome as medidas adequadas para:

i) Definir linhas de actuação estratégica mais claras (ou reforçar a eficácia das já existentes) para o desenvolvimento deste sector. Tanto quanto possível, esta actuação deve prosseguida com base na aprendizagem extraída da experiência acumulada e no diálogo construtivo entre os diversos participantes do Programa (contrapartes, parceiros, etc.) e suas “melhores práticas” com resultados e eficácia comprovados. Principais áreas-chave a serem consideradas:

• segurança alimentar e comercialização / renda: Mais atenção à contribuição para aumentar a produção e a rentabilidade da actividade agro-pecuária de pequena escala, incluindo a melhoria do armazenamento/conservação dos produtos dos pequenos agricultores familiares, incentivando a transformação dos excedentes da produção e facilitando a sua comercialização. Deverá haver um especial empenho na concepção e desenvolvimento de iniciativas colectivas e de micro-empresas, nas áreas do social business e do comércio justo;

• serviços de apoio à produção: Reforçar o contributo do Programa para o aumento dos serviços destinados à pequena produção agrícola/rural e artesanal de base familiar e associativa, através de um melhor acesso a insumos produtivos, tecnologias e serviços técnicos e financeiros adequados;

• auto-organização dos produtores e comunidades rurais e peri-urbanas: Continuar a incentivar o processo auto-organizativo de forma mais incisiva, trabalhando com o longo prazo (superando a visão imediatista e as metas limitadas à duração dos projectos), em moldes autónomos -- através de “grupos de interesse”, de cooperativas e associações de produtores, de consórcios de associa-ções comunitárias/locais, etc. Esta abordagem deve ser abrangente, ter o objetivo de envolver não só as ONGs mais profissionalizadas, mas também as organizações informais e o seu potencial “popular”. Em particular, deve-se visar o desenvolvimento das economias de escala e os "nichos" de produção, as iniciativas de micro-crédito, de solidariedade colectiva e de "investimento social" destinadas a promover a transformação e comercialização da produção;

• políticas públicas para os “mais pobres”: Reforçar a contribuição da ON para a definição de políticas públicas sectoriais destinadas a favorecer/incentivar o desenvolvimento da produção rural, do artesanato e da economia popular em geral, que constituem a base da subsistência (consumo, emprego e renda) das populações rurais e suburbanas pobres. Utilizando, para tal, ferramentas como as campanhas de sensibilização social, de advocacia social e de lobbying, a organização de grupos de pressão e o trabalho em rede das OSCs, etc. Merecem atenção especial as questões estratégicas nas quais foi já acumulada uma certa experiência no seio do Programa, como a luta pelo acesso à terra. Ou questões ainda pouco trabalhadas, como o micro-crédito, a assistência técnica e as facilidades para agregar valor (transformação) e facilitar o transporte e os fluxos de comercialização da produção da economia popular.

ii) Relacionado com o aim 5 – Papel e protagonismo social das mulheres: Reforçar os esforços e estratégias do Programa para contribuir para que esse papel-chave seja reconhecido, valorizado e consolidado na economia do país -- em especial, nas redes rurais e suburbanas de produção e comercialização de produtos e serviços -- ou no desenvolvimento endógeno das comunidades. Em termos práticos, os resultados desses esforços também deverão reflectir-se no acesso progressivo das mulheres a um papel social mais "visível" e activo, tanto em termos culturais quanto simbólicos, aspectos essenciais para aumentar o respeito dos seus direitos sociais e económicos. Esta recomen-dação assume dimensão vital para a construção de modelos e experiências de desenvolvimento mais justos/equitativos, democráticos e socialmente inclusivos e sustentáveis;

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XIV

iii) Intensificar os esforços para desenvolver uma abordagem do desenvolvimento mais balizada por medidas e iniciativas de qualificação dos actores sociais (em termos de RH e institucionais). Em termos práticos, esta abordagem deve ser apoiada, mais do que no passado, em programas para a melhoria contínua do pessoal dos contrapartes e das OSCs parceiras. Ela poderia, por exemplo, ser baseada em mais iniciativas de pesquisa-formação e, sempre que possível, na aprendizagem teórica e prática alimentada por experiências e acções-piloto monitoradas pelos próprios contrapartes. Essa abordagem e suas atividades devem ser devidamente articuladas e coerentes com as demais linhas de acção estratégica aqui recomendadas;

iv) Dar mais atenção à construção da memória institucional e metodológica do Programa. Esta memória deverá ser compartilhada pelos contrapartes e contribuir para facilitar a execução das actividades. Por outras palavras, facilitar o refinamento e a homogeneízação das estratégias e métodos de trabalho testados no campo, em moldes a conferir-lhes mais coerência, a permitir melhorar as competências e o potencial dos actores e a aumentar a qualidade do Programa global (eficiência e eficácia). Por fim, ela permitiria melhorar o processo de aprendizagem do Programa com base nos seus próprios "erros e acertos" ao longo do tempo, evitando repetir equívocos e dissemi-nando suas “melhores práticas”.

Aim 2 - O direito a serviços sociais básicos (29) SCO 2.1 Serviços básicos de saúde & SCO 2.2 Educação

Contrapartes avaliados

Tabela 3: Principais ONGs e projectos com actuação na área dos SCOs 2.1 e 2.2

Contraparte Projecto Período SCO 2.1 SCO 2.2 ACORD 01 Programa ACORD 2003 - 2004

02 Programa Trienal 2005 - 2007

DWA 03 Community Initiatives Programme 2001 - 2004

04 Community Initiatives Programme 2004 - 2006

05 PARCIL 2007 - 2009

OXFAM GB / Environ. Health Program Benguela 2001 - 2002 ❉

/ Sust. Env. Health Program Benguela 2002 - 2004 ❉

/ Projecto IEC na área VIH/SIDA 2006 - 2007 ❉

PRAZEDOR 06 Todos unidos contra o SIDA 2003 - 2006

07 Levanta-te, vamos combater o SIDA! 2006 - 2008

Fonte: Dados dos files dos contrapartes (detalhes nos anexos IVa, IVb e V do relatório). ❉ Projectos com actuação na área desses SCOs, mas não incluídos na avaliação.

Síntese das conclusões

Serviços básicos de saúde: Considerando o caso específico do direito à saúde, antes de mais nada aconselha-se uma leitura rápida da análise retrospectiva que destaca os avanços e recuos neste domínio durante o período 2002-2007 (vd., em particular, os sub-capítulos 7.3 e 7.4 do Relatório).

Em geral, os progressos obtidos neste domínio foram significativos, embora se relacionem com o que podemos considerar como foco do Programa. Isto é, as atenções de Oxfam-Novib centraram-se, num grau talvez excessivo, sobre a temática HIV/AIDS. O que possivelmente ocorreu em detrimento de maiores esforços para o reforço do sistema de saúde concebido globalmente. Em todo o caso, não

29 Vd. mais detalhes desta avaliação no capítulo 7 do Relatório.

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XV

obtivemos evidências de que se tenham desenvolvido suficientes iniciativas de coordenação de actividades ou complementaridades (de pesquisa, institucionais, de lobbying, de advocacy, etc.) para combater, em paralelo, outras endemias responsáveis pela maior parte do quadro geral de morbidade e mortalidade do país. (30) O qual, inclusive, dificulta sobremaneira o controle da expansão da AIDS ou a amenização da extrema pobreza nos meios rurais e suburbanos.

Numa avaliação mais global deste sector, tem sido preocupante o peso das inúmeras agências internacionais (OMS, ONU, Banco Mundial, etc.) e a sua visão da prevenção e tratamento, focada na vertente “tecno-industrial” geradora de businesses milionários à escala planetária (fornecimentos de preservativos, medicamentos, equipamentos/tecnologia, expertise, etc.). Poucos esforços têm sido feitos para estudar e actuar, em paralelo, nas suas dimensões sociológica e cultural, que condicionam fortemente os comportamentos sociais e a rapidez da reprodução/expansão da endemia no contexto africano (a exemplo da campanha ABC do Uganda). (31) Seja como for, até finais do período avaliado (2006/2007), estas agências polarizaram suas atenções (acções, recursos, assistência técnica, etc.) sobre o HIV/AIDS, exercendo uma possível influência excessiva sobre a actuação das ONGs locais nesse domínio relativamente restrito do “direito à saúde”.

O Programa da ON parece não ter conseguido escapar ou inovar de forma significativa com relação a esse contexto global. Por exemplo, para melhor valorizar a adequada visão holística do desenvolvi-mento com base em direitos defendida pela ON (que é mais interdisciplinar e multisectorial, e interliga dimensões como os DH e sociais, políticas públicas, combate à pobreza, diversidade cultural, etc.).

Mesmo com essas reservas sobre a estratégia sectorial, os resultados práticos do Programa com relação ao HIV/AIDS foram muito positivos, embora mais claramente detectáveis nos campos da disseminação da informação e das mudanças/ganhos na consciência social. Destacando-se que a programação foi polarizada na província de Huíla, em particular nos segmentos sociais mais urbanizados, com algumas “manchas” de actuação nas regiões interiores (eixo rodoviário de ligação com a Namíbia, e.g.).

Esses resultados, contudo, não podem ser imputados exclusivamente aos contrapartes avaliados, embora seja importante salientar que essas ONGs desempenharam um papel pioneiro e preponde-rante nessa área em toda a região Sul (coordenação da actuação em rede, e.g.). Parte dos resultados são fruto do envolvimento e actividades de uma ampla gama de ONGs suas parceiras e de outras entidades nacionais e internacionais que operam na região, com as quais o Programa soube se articular de forma bastante eficaz. O que significa dizer que esses resultados devem-se, em grande parte, às amplas sinergias incentivadas pelo Programa da ON nessa temática.

Não obstante esse sucesso, não colhemos evidências suficientes para afirmar que este trabalho tenha tido influência decisiva e sustentada sobre as políticas públicas nos vários níveis (municipal, regional ou nacional). Mesmo se esta influência foi significativa na tomada de consciência de alguns responsáveis municipais ou no envolvimento dessas administrações em acções conjuntas (com as ONGs), não ficou provado que ela induziu mudanças mais amplas, estruturais e permanentes. Também não foi possível determinar se a endemia está se expandindo, controlada ou em declínio nas zonas em causa, ou que tenha havido significativa mudança generalizada nos comportamentos sociais (superação dos tabus e preconceitos, redução notável dos comportamentos de risco, etc.).

Por fim, contrariamente às aparências e à retórica oficial, tudo indica que a participação da sociedade civil organizada (mais recomendada do que promovida de facto pelas grandes agências) é apenas

30 Entre estas, destacam-se a malária, a tuberculose e as doenças diarreicas (vd. sub-capítulo 7.1 do Relatório). 31 ABC: “Abstain, Be faithful and use Condoms”. Esta campanha teve um forte empenho das mais altas autoridades

do país, obteve resultados espectaculares e alterou radicalmente a expansão da endemia nesse país.

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XVI

tolerada pelas autoridades nacionais, mantida a uma certa distância das decisões de políticas públicas ou da distribuição da “parte do leão” dos recursos internacionais. E, em muitos casos, vista com grande desconfiança (e controlada com “mão de ferro”) pelos burocratas do poder.

Nesse contexto global, a possibilidade dos contrapartes da ON (ou das OSCs angolanas em geral) actuarem com maior determinação e eficácia, influenciarem as políticas públicas relacionadas com o HIV/AIDS ou alterarem decisivamente os comportamentos sociais de risco só poderiam ser muito limitadas, como comprovou esta avaliação. (32) Aliás, estas dificuldades não se restringem ao caso angolano. Elas têm vindo a ser observadas em acções conjugadas de combate ao HIV em muitos outros países da região. (33)

No caso de Angola e do Programa da ON, elas foram agravadas pelas próprias entidades e progra-mas do Governo, que acumulam disfunções e possuem níveis duvidosos de eficácia real na sua actuação (vd. análises do sub-capítulo 7.1 do Relatório). Por outro lado, é inegável que grande parte dos contrapartes e ONGs angolanas que trabalham com essa temática possuem sérias dificuldades para obter recursos, reconhecem necessidades de aprofundamento da sua competência técnico-científica (mesmo trabalhando principalmente na prevenção) ou para melhorar sua capacidade organizacional. Sobretudo, para se envolver de forma mais ampla e propositiva no terreno: liderando estudos, melhorando os métodos de divulgação social, abrangendo populações e áreas territoriais menos limitadas, produzindo dados estatísticos pertinentes e fiáveis, etc.

Por mais que os contrapartes da ON estejam incluídos entre as ONGs angolanas mais experientes, competentes ou de “referência” de bom trabalho nessa temática -- como de facto é nossa opinião que o sejam --, todos os indícios indicam que os constrangimentos desse ambiente institucional/ sectorial global têm sérios impactos sobre a eficácia do seu trabalho. Ou mesmo sobre a sua capacidade para influenciar as políticas ou assegurar mudanças sociais e comportamentais mais radicais e sustentáveis. Pelo menos, não obtivemos evidências que apontem para o contrário, nem temos motivo algum para supor que isso não ocorra.

Aliás, uma leitura mais atenta da avaliação de um dos contrapartes destacados nessa temática, na região da Huíla, deixa transparecer com clareza essas dificuldades conjunturais e os constrangi-mentos que elas representam para se obterem resultados de mudança consistentes. (34) Avaliação essa que coincide globalmente com as conclusões do “grupo focal” que reuniu as ONGs mais actuantes para debater esse tema na Huíla. (35).

Educação: A actuação do Programa Angola da ON no âmbito deste SCO foi relativamente modesta no período avaliado. Dentre a amostragem dos 13 contrapartes observados, (36) o que desenvolveu mais actividades relacionadas com o “direito à educação” foi a DW. (37) Contudo, seus esforços 32 Vd. análises do capítulo 7 do Relatório e sínteses por ONG nos files da ACORD, DW e PRAZEDOR. 33 Estudos recentes sobre os resultados das acções de divulgação/consciencialização social e combate à endemia,

em países como a Tanzânia, Zimbabué, África do Sul e outros, mostram que, apesar do incremento dos conheci-mentos entre os jovens e do impacto positivo em alguns comportamentos, essas intervenções não tiveram efeitos substanciais sobre a epidemia (ROSS, 2006; ROSS, 2007; JEWKES, 2008; MEMA, 2008a, MEMA, 2008b).

34 Vd. síntese no box 5.1 do sub-capítulo 5.2 do Relatório (p105). Mais detalhes no file da PRAZEDOR. 35 Lubango, 07.11.2007. Vd. detalhes sobre as ONGs participantes desse GF no anexo II do Relatório. 36 A considerar-se a globalidade dos 21 contrapartes do programa 2002-2007 (vd. tabela 1 desta síntese), poder-se-

ia incluir igualmente o projecto do SINPROF com actuação no domínio deste direito. Todavia, esse contraparte não foi incluído na amostragem da avaliação decidida com a ON (Junho, 2007). Por outro lado, a sua duração desconti-nuada (12 meses) e os valores envolvidos nesse apoio (menos de 1% dos financiamentos do Programa) por si só nos permitem pressupor que se tratou de uma actuação demasiado tópica para induzir resultados significativos.

37 De acordo com a programação inicial, outros dois contrapartes avaliados tiveram pequenas acções relacionadas, de forma mais ou menos indirecta, com esse SCO através de financiamentos da ON (ASD e ADRA). Contudo, não foi possível colher evidências claras sobre os resultados específicos nesse domínio. Note-se, por outro lado, que esses financiamentos foram (mais uma vez) bastante modestos e seus resultados práticos não foram destacados pelas equipas dessas ONGs nas discussões/reuniões da avaliação.

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polarizaram-se no apoio à construção de infra-estruturas escolares em 4 municípios da região de Luanda e o trabalho avançou muito pouco no domínio institucional (reforço das OSCs envolvidas), dos serviços de educação ou das políticas setoriais à escala municipal. Nesse contexto, a sua contribuição para o acesso das populações da periferia de Luanda à educação básica foi sem sombra de dúvidas concreta (embora sobretudo em termos de infra-estruturas), mas assumiu proporções bastante modestas para as necessidades reais dessas periferias. (38) Em tais condições, torna-se quase irrelevante tirar lições e ilações aplicáveis à globalidade do Programa ou desse sector.

Principais recomendações

Pelas razões e conclusões expostas acima, nossas recomendações centram-se na temática do HIV/AIDS que polarizou o Programa Angola. Elas contemplam, todavia, uma visão mais abrangente do direito à saúde básica --- ou uma melhor inserção dessa actuação temática no contexto global da saúde do país. Nessa conformidade, recomenda-se que a Oxfam-Novib tome medidas cabíveis para:

i) Incentivar a clarificação do papel das ONGs na luta contra o HIV/AIDS e o desenho de linhas estratégicas próprias de actuação nesse domínio. Ou seja, ajudar as ONGs para que estas possam dispor de condições para desenvolver o trabalho nesta área de forma a valorizar suas “mais valias” específicas (flexibilidade, base e sensibilidade sociais, etc.) e a aumentar a sua articulação e comple-mentaridade com os serviços e as entidades reguladoras do sector da saúde para poder, nas suas intervenções, ir além das medidas tópicas na área da prevenção. O objectivo dessa proposta não é substituir esses serviços e entidades oficiais na prestação de serviços básicos, pois eles são da alçada e responsabilidade primária do Estado. Entre os exemplos de áreas que representam janelas de oportunidade para implantar a estratégia recomendada, destacamos os estudos sociológicos ou a intensificação do uso de metodologias participativas para promover a qualificação/capacitação de ativistas sociais nessa área. Ou a organização/orientação de campanhas de sensibilização e prevenção mais alargadas/abrangentes, valorizando mais o papel estratégico das mulheres, com maior atenção às culturas e comportamentos sociais, etc;

ii) Ampliar a abordagem de trabalho das ONGs com relação ao direito aos serviços básicos de saúde. Para tal, seu actual foco no HIV/AIDS deveria ser gradualmente corrigido com mais esforços para alargar os temas a incluir nessa abordagem. Em especial, articulando o combate do HIV/AIDS com o combate paralelo das outras principais doenças endêmicas do país. Particularmente as de maior impacto na saúde pública, na qualidade de vida e na reprodução social dos segmentos populacionais mais expostos ou mais desfavorizados; (39)

iii) Dar continuidade, de forma mais sistemática, ao apoio à qualificação do trabalho das ONGs sobre o HIV/AIDS já iniciada. E, à medida do alargamento do foco dos serviços básicos de saúde a apoiar, igualmente sobre as principais doenças endêmicas a serem combatidas (recomendação ii) acima). Para tal, e aproveitando-se a experiência com o HIV/AIDS, deveriam continuar a ser incentivadas as modalidades de acção colectiva (trabalho em rede, e.g.) e aumentados os esforços para a construção de sinergias entre os contrapartes/projectos e seus parceiros. Contudo, sem reproduzir a prática de outros doadores, de incentivar "de cima para baixo” o trabalho de todas as ONGs com esta temática. Assim, para orientar a selecção de contrapartes e as decisões de financiamento, dever-se-á reforçar a ênfase sobre a qualidade das ONGs (reflectida na sua própria motivação, na capacidade de

38 Grande parte da reflexões e recomendações que poderiam ser feitas sobre essa experiência se encontram

detalhadas no corpo da avaliação (vd. sub-capítulos 7.3 e 7.4 e tabela 7.4 do Relatório). Vd. igualmente os detalhes e estimativas quantificadas dessa avaliação no file da DW.

39 Vd. análise no sub-capítulo 7.1 do Relatório.

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trabalho e na qualidade das propostas, processos e resultados). Mesmo que isso venha a criar dificuldades para a rápida expansão do Programa ou a provocar uma relativa redução no número de ONGs com esse foco apoiadas no futuro (hipótese pouco provável no caso do Programa da ON);

iv) Colocar a principal ênfase do Programa (nesta temática) na sua contribuição para incentivar o desenvolvimento das políticas públicas mais socialmente abrangentes/inclusivas e eficazes (provisão de serviços básicos de saúde com a visão ampla e integrada da recomendação ii) acima). Esta ênfase é de extrema importância para criar melhores condições de vida/subsistência, produção e reprodução social das populações/meios rurais e peri-urbanos que constituem o foco social e territorial do Programa. Em termos práticos, deveriam se intensificar o trabalho já iniciado e os incentivos para a articulação institucional e a actuação em rede em prol dessas políticas sociais. Mas com mais partilha de informações, mais qualificação de RH, mais estudos e diagnósticos e mais esforços conjugados de advocacia e lobby. Isso deveria envolver não só os contrapartes da ON, mas também outras OSCs e entidades nacionais e internacionais parceiras (incluindo sindicatos de categorias sócio-profissionais estratégicas, como professores, enfermeiros e jornalistas);

v) Relacionado com o aim 5 (género): Estes esforços deverão ser acompanhados de trabalho redobrado para incentivar o avanço do direitos das populações aos serviços sociais básicos (saúde, educação, etc.). E, a exemplo do aim 1 (recomendação ii)), muito especialmente no que diz respeito ao papel e status social das mulheres nessas questões/direitos. Essa ênfase é vital não só devido ao destacado potencial das mulheres na promoção da saúde e educação pública/comunitária (através de suas associações e organizações, e.g.), mas também devido ao papel eminentemente estruturante que elas assumem na vida das comunidades em geral e na formação da juventude em particular.

Aim 4 - Direito a ser ouvido

SCO 4.1 Participação social e política

Temas-chave

Para facilitar a avaliação, os desdobramentos e resultados do Programa avaliados neste domínio temático foram organizados e resumidos de acordo com três temas-chave: (i) democracia e boa governação; (ii) participação social e política da SC organizada e (iii) direito e acesso à terra. (40)

Contrapartes avaliados

Tabela 4: Principais ONGs e projectos com actuação na área do SCO 4.1

Contraparte Projecto Período SCO 4.1 ACORD 01 Blockfunding 2002

02 Programa Trienal 2005 - 2007

ADRA Huíla 03 PADEAH 2002 - 2005

04 FUPEP Fase II 2002 - 2004

05 GAMBOS Fase III 2003 - 2004

06 ADRA - Antena Huíla 2004 - 2005

07 PAO – Plano de Acção Operacional 2006 - 2008

ADRA Nac. 08 Centro de Informação e Documentação 2006

ASD 09 Direitos Cid. + Conv. Soc. Dem. II 2002 - 2003

10 Direitos Cid. + Conv. Soc. Dem. III 2004 - 2005

11 ASD DCCSD Fase IV (2006 - 2008) 2006 - 2008

40 Vd. todos os pormenores da avaliação desses diversos temas-chave no capítulo 8 do Relatório.

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Tabela 4: Principais ONGs... (continuação)

Contraparte Projecto Período SCO 4.1 DWA 12 Community Initiatives Programme 2001 - 2004

13 Community Initiatives Programme 2004 - 2006

14 PARCIL 2007 - 2009

/ PECE II (Civic Education Elections) 2007 - 2008 ❉ GW 15 Diamonds + Oil Research Campaign 2001 - 2003

16 Oil and Diamonds Angola Program 2003 - 2006

HRW 17 Research, advocacy & capacity building 2002 - 2005

18 Angola - Programa Trienal 2005 - 2008

OGB 19 JOAI (OGB - Intermón - Novib) 2003 - 2004

20 JOAI (OGB - Intermón - Novib) 2004 - 2005

21 JOAI (OGB - Intermón - Novib) 2005 - 2007

Rede Terra 22 Campanha Lei da Terra 2003 - 2005

SOSH 23 SOS Habitat Luanda 2005 - 2007

Fonte: Dados dos files dos contrapartes (detalhes nos anexos IVa, IVb e V do Relatório). ❉ Projecto com actuação na área desse SCO, mas não incluído na avaliação.

Síntese das conclusões

Esses temas são bastante díspares e suas conclusões e análises de resultados são complexas e "arriscadas". Em especial, por estarem relacionadas com uma avaliação de carácter eminentemente “político” e subjectivo, que decorre da própria metodologia (coleta de informações, opiniões e análises através da consulta de farta documentação e de reuniões, entrevistas e discussões de tipo “mesa redonda” ou “grupo focal”). Apesar desses riscos, chegou-se às seguintes conclusões (vd. também as análises do sub-capítulo 8.6 do Relatório): Democracia e boa governação: Foi feita uma longa descrição retrospectiva dos avanços e recuos neste domínio nos últimos anos (sub-capítulo 8.2 do Relatório). Em geral, os progressos concretos sobre os temas democracia e da boa governação foram muito tímidos e ambíguos, como o ilustra a conduta do Governo na gestão das receitas da economia extractiva. Além desses progressos terem sido bastante modestos, constatou-se que eles foram fortemente afectados por um ambiente económico e geo-estratégico marcado pelo crescimento exponencial dos rendimentos petrolíferos e a emergência de novas oportunidades e actores (destacando-se o mercado importador e o apoio financeiro da China). O que proporcionou uma considerável autonomia financeira a Angola, tornando o país mais imune do que no passado às pressões “democratizantes” internacionais (pelos menos, antes que esses países começassem a “flexibilizar” suas exigências para se adequar ao novo equilíbrio geo-estratégico e às ameaças à sua hegemonia económica na região Austral).

Em síntese, pode-se dizer que o maior sucesso do Programa nesta sub-área foi a sua contribuição para a manutenção da visibilidade ou dos focos nacional e internacional sobre essas questões em Angola (em especial, sobre a transparência da gestão pública dos recursos gerados pelo boom das exportações do petróleo). O que, como todos os indícios apontam, teve impacto sensível também no amadurecimento da opinião pública do país (embora de difícil mensuração), pelo menos nos meios urbanos e nos segmentos sociais mais intelectualizados. Participação social e política da SC organizada: Foi igualmente feita a descrição retrospectiva da problemática e dos avanços e recuos relativos ao papel e ao protagonismo da SC organizada em Angola no período (sub-capítulo 8.3 do Relatório).

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Nela, foram destacadas algumas das insuficiências e ameaças que têm caracterizado ou interferido nessa dinâmica nos últimos anos. Desde a diminuição dos doadores no pós-guerra às crescentes tensões com o Estado. Passando, entre outros, pela influência dos novos operadores e agências da “ajuda” internacional (seus novos modi operandi e exigências, e.g.); pelas ameaças institucionais devidas às constantes re-interpretações “governamentais” (do seu papel, campo de actuação, de “conveniência” política, etc.) e pelas insuficiências intrínsecas à maioria das ONGs (os deficit de legitimidade/representatividade social, de democracia interna ou de capacidade operacional, e.g.).

Nesse contexto, surgiram dúvidas sobre a sustentabilidade das ONGs locais, especialmente no que se refere ao seu financiamento, à rotatividade dos seus quadros mais treinados, aos riscos cada vez mais evidentes da cooptação política e à sua vulnerabilidade face às práticas autoritárias oficiais. Constataram-se, igualmente, algumas "oportunidades perdidas." Por exemplo, a programação da ON não conseguiu se destacar sensivelmente do padrão observado nas outras agências/ONGs interna-cionais, caracterizado pelo envolvimento ainda muito incipiente das organizações mais informais, comunitárias ou de membros (sindicatos, e.g.). Em contrapartida, e embora compreensível no contexto de transição 2002-2007, as organizações “intermediadoras” (das comunidades, das OSCs informais, etc.) e as iniciativas da classe média das zonas urbanas foram claramente favorecidas.

Os principais resultados de mudança do Programa da ON puderam ser observados na dinâmica associativa do Sul (especialmente na Huíla), com o aparecimento e consolidação das actividades de dezenas de OSCs e ONGs locais (em áreas muito variadas, que vão do desenvolvimento rural aos DH e ao HIV/AIDS). Cabendo ressaltar que estes resultados foram fruto de trabalho árduo e associado à criação de sinergias entre as ONGs e a uma abordagem de longo prazo (de construção/ apoio institucional e financeiro), cujos esforços iniciaram-se na década de 1990 (envolvendo não só a Oxfam-Novib, como também várias outras ONGs e agências internacionais).

Os resultados parecem menos claros e amadurecidos em outras regiões, nomeadamente em Luanda, ou em ONGs especializadas em serviços/trabalho no campo dos direitos humanos ou da advocacia social. Nestes domínios, os resultados do Programa têm se revelado bastante "esporádicos" e pouco abrangentes: envolveram muito menos ONGs, embora algumas delas com irrefutável destaque nacional e importância estratégica. (41) E, em geral, aqui obtiveram-se resultados com características de continuidade e de coerência/maturidade (metodológica e institucional, e.g.) incomparáveis aos encontrados na região Sul.

Cabe destacar, por fim, que o trabalho de algumas das ONGs internacionais apoiadas pelo Programa (42) verificou-se relativamente importante. Em particular, por conferir maior visibilidade nacional e internacional às decisões e políticas do Governo -- inclusive, as voltadas para as ONGs -- e, dessa forma, pela sua capacidade de ter um certo impacto “moderador”. Já com relação à sua capacidade de construir sinergias e relações de complementaridade com o trabalho do dia-a-dia das ONGs locais, constataram-se alguns resultados concretos, mas ainda muito incipientes. Direito e acesso à terra: Aqui, conforme se analisou em pormenor no sub-capítulo 8.4 do Relatório, os resultados mais palpáveis ocorreram em dois níveis: (i) em primeiro lugar, a contribuição dos contra-partes da ON (e seus parceiros) foi decisiva para colocar os problemas fundiários rurais e urbanos na agenda política do país, o que assume relevância histórica; (ii) mas e ela foi igualmente decisiva para a divulgação da problemática do acesso/direitos à terra das camadas sociais mais pobres. Em ambos os níveis, com evidências de ganhos substanciais de consciência social à escala nacional, em

41 ONGs como a SOSH e AJPD são bons exemplos dessa relevância estratégica nacional. Embora não se possa

atribuir seu amadurecimento e protagonismo unicamente (ou principalmente) ao apoio directo ou indirecto da ON. 42 GW e HRW.

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regiões rurais ou urbanas (embora mais acentuadamente na periferia do Lubango e em algumas parcelas dos subúrbios da aglomeração de Luanda, e.g.).

Os avaliadores, contudo, identificaram pelo menos uma oportunidade perdida na programação dos últimos anos, influenciada pela própria lentidão do processo de aprovação da nova Lei: a ausência de uma campanha massiva de escala nacional (coordenada com as demais agências e ONGs do país) visando a divulgação/sensibilização, o levantamento dos direitos costumeiros e adquiridos das populações e a preparação da legalização do seu acesso às terras, especialmente das comunidades pobres ou das regiões rurais mais isoladas. Tanto quanto foi possível aferir, e sem desmerecer os resultados positivos porventura obtidos, esse trabalho ocorreu apenas em casos muito específicos e em proporções territoriais/populacionais relativamente modestas. (43)

Principais recomendações

Em face das conclusões acima, recomenda-se que a Oxfam-Novib tome medidas urgentes para corrigir ou consolidar os seguintes aspectos:

i) Intensificar esforços para melhorar as abordagens práticas e a qualificação/competências das ONGs nestes domínios, inspirando-se em princípios já atrás enunciados (vd. recomendações i) e iii) do aim 1), enfatizando uma aprendizagem que combina teoria e prática, retro-alimentada (feedback) pelo acompanhamento e monitoramento das experiências e resultados de campo. Recomenda-se uma especial atenção aos estudos in loco e diagnósticos de carácter sociológico e sócio-cultural para melhor orientar o trabalho das ONGs nas várias vertentes do tema right-to-be-heard;

ii) Procurar “radicalizar” mais a actuação nestas áreas temáticas, superando o foco excessivo nos clássicos direitos civis "de primeira geração" e aprofundando a sua abordagem de forma mais integrada/articulada e sinérgica com os direitos económicos, sociais e culturais que fazem parte da filosofia e da visão holística da Oxfam-Novib (mais-valia importante da família Oxfam a enfatizar);

iii) Incentivar uma iniciativa/campanha maciça de informação e regularização fundiárias, que enfatize o direito do acesso à terra dos mais pobres dos meios rurais e suburbanos. Esta, deveria ser desenhada de forma a articular as OSCs/ONGs pertinentes à escala nacional e possuir vertentes e objectivos de trabalho complementares. Entre os quais destacamos os mais elementares:

• apoiar o estudo/levantamento da situação fundiária do país, em especial no que diz respeito aos direitos e práticas costumeiras de uso/posse da terra e aos conflitos existentes ou latentes;

• apoiar a difusão dos dispositivos da nova Lei, sensibilizando as comunidades sobre seus direitos e deveres, incluindo sobre a urgência de regularizar suas terras e as formas legais para tal;

• organizar uma campanha de regularização das terras familiares e comunitárias, bem como de administração/arbitragem legal dos conflitos dela decorrentes. Esta iniciativa deverá procurar legitimar esse processo através do incentivo à participação das populações/comunidades organizadas e suas lideranças no controlo das modalidades executivas;

• criar mecanismos práticos para facilitar a regularização de terras em cada região/província (destinados a reduzir custos e a facilitar viagens, contactos, negociações, etc.);

• garantir a continuidade do trabalho das ONGs com a comunicação social e as iniciativas de advocacia social e lobbying, com vistas a promover a revisão (pela Assembleia) da nova Lei e sua

43 Vd. detalhes nos files da ACORD e da ADRA, os contrapartes que mais se destacaram nesse domínio.

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regulamentação, em moldes a melhor proteger os direitos fundiários da população (muito em particular das comunidades rurais e das mulheres).

iv) Continuar a apoiar o desenvolvimento institucional e a incentivar a participação/protagonismo da SC organizada, mas aproveitando e valorizando mais as lições do Programa no passado. Em particular, a experiência de Huíla (FUPEP), com o intuito de reavivar o papel decisivo da Oxfam-Novib e seus parceiros no auxílio à formação dos RH e à qualificação/consolidação da capacidade das entidades da sociedade civil. Inclusive, alargando o apoio dessas iniciativas às OSCs mais informais, de base comunitária ou identitária, às comissões de moradores dos subúrbios, etc;

v) Redobrar esforços para revalorizar o papel social e reforçar as competências e o protagonismo de outro tipo de actores sociais estratégicos em Angola, evitando a marginalização ou a fragmentação de movimentos sociais históricos e com amplo leque de inclusão social: as organizações “de massa” ou “de membros” (sindicatos profissionais, associações de mulheres, associações de jovens/ estudantes, etc.). Janelas de oportunidades para desenvolver actuações em novas áreas/temas e para alargar a base social (e a sustentabilidade de resultados) do Programa global.

5.4 Conclusões e recomendações sobre estratégias, actores e PM&A (Planeamento, Monitoria & Avaliação)

a) Sobre estratégias, tomadas de decisão, actores e público-alvo

Síntese das conclusões

Os pormenores desta análise do Programa e suas conclusões podem ser consultados no capítulo 4 do Relatório. Entre as conclusões que merecem destaque, sublinham-se:

• a forte presença das grandes ONGs “profissionalizadas” e contrapartes estrangeiros no Programa 2002-2006, (44) situação quase incontornável (herdada da fase “humanitária”) nos primeiros anos dessa difícil fase de transição (inclusive, em face das insuficiências das próprias ONGs nativas);

• as dificuldades enfrentadas pela ON para diversificar esse portfolio (em termos institucionais ou geográficos) e para atingir, de maneira sensível, as pequenas OSCs e o “associativismo popular” em geral (ou as organizações de membros/massa em particular);

• um importante trabalho realizado e sinergias criadas com uma grande diversidade de parceiros institucionais e sociais (administrações e entidades do Estado, pequenas e grandes ONGs, redes temáticas de ONGs, doadores e agências bilaterais e internacionais, etc.);

• em geral, as estratégias e as temáticas da ON mostraram-se bastante ajustadas à realidade do país, mas tiveram maior poder de mobilização e obtiveram melhores resultados as que melhor se ajustaram/coincidiram com áreas de maior carência ou importância para a reconstrução/melhoria da vida das populações no período (subsistência ou reprodução social nos meios rurais e suburbanos, acesso a serviços básicos de saúde, e.g.); ou as que abordaram os principais macro-temas político-sociais e econômicos, surgidos no final da década de 90 e amadurecidos no pós-guerra (direitos humanos e civis, transparência governativa, democratização, protagonismo da SC, etc.);

44 Vd. as tabelas 4.1 e 4.2 do capítulo 4 do Relatório, por exemplo, onde se constata que quase 70% dos recursos

do período 2002-2007 destinaram-se a financiar programas e projectos de 8 parceiros internacionais sediados ou com actuação em Angola (38% dos contrapartes e 50% do projectos do período). Em termos geográficos, constata-se, igualmente, a primazia das ONGs sediadas na capital ou no estrangeiro (88% dos recursos).

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• cabendo mencionar, contudo, que foram identificadas algumas carências nessa actuação temática, a qual foi insuficientemente “casada” ou articulada com um forte incentivo às políticas públicas favoráveis aos mais pobres, de forma a criar bases mais institucionalizadas e globais (nacionais) para dinamizar as sinergias e os resultados dos projectos das ONGs em determinados temas -- sem prejuízo dos casos em que isso ocorreu de forma bastante satisfatória, mesmo se os resultados finais nem sempre foram os melhores (direito/acesso à terra, e.g.);

• quanto ao processo de tomada de decisões estratégicas, conforme se analisou detalhadamente (vd. sub-capítulo 4.2 do Relatório), este sofreu a inevitável influência dos padrões de actuação e escolhas da fase histórica de implantação da ON em Angola e do delicado processo de “mudanças” da própria Oxfam-Novib e suas novas exigências, o que introduziu certas inércias que dificultaram a expansão territorial e o rápido ajuste do Programa na fase “desenvolvimentista” do pós-guerra Não obstante, observaram-se rápidos avanços nesse processo de tomada de decisões de 2005 em diante, com maior nível de tecnicidade e clareza facultado pelo uso sistemático de parâmetros de orientação estratégica e técnica mais bem delineados pela ON. Ainda subsistem, no entanto, alguns progressos a fazer para melhorar ainda mais esse processo decisório. Seja para continuar a ajustar o foco do Programa às necessidades do desenvolvimento sustentável, ou a uma leitura mais realista e rápida do contexto local (e suas oportunidades); seja, para alargar sua base social ou enraizar o seu apoio nas OSCs da base da pirâmide social; seja para melhor valorizar/aproveitar as “mais valias” da ON; seja para reduzir o peso das inércias burocráticas ainda observáveis e accelerar as decisões com relação aos projectos, etc;

• observou-se, igualmente, um incipiente envolvimento do Programa com campanhas internacionais, (45) devido às dificuldades encontradas para as desenvolver no contexto do país (fraca “tradição”, pouco interesse ou sensibilidade da sociedade local, clima de insegurança, temas distanciados das preocupações da população e das OSCs, etc.);

• por fim, merece especial destaque o apoio flexível e estruturante da ON a algumas das ONGs mais importantes do espectro angolano, tanto “emergentes” como “profissionalizadas” (ACORD, ADRA, ASD, PRAZEDOR, SOSH, etc.). O que permitiu, a muitas delas, atravessar (ou mesmo amadurecer e crescer durante) uma fase particularmente carente de apoios internacionais às ONGs angolanas com características institucionais estruturantes (e durante a qual prevaleceu mais a vontade de instrumentalização das ONGs nativas do que do seu reforço institucional).

Principais recomendações

Considerando as conclusões acima, fazem-se as seguintes recomendações à Oxfam-Novib, cujos contornos se encontram detalhados no capítulo 5 do Relatório:

i) Alargar o leque dos actores sociais angolanos do Programa e reforçar o seu envolvimento directo, seja como público-alvo, contrapartes ou parceiros. Por exemplo, alargando-o às pequenas ONGs menos formalizadas, às organizações de massa ou de membros e às entidades do movimento sindical. Recomenda-se, ainda, aproveitar a experiência acumulada -- como no caso do FUPEP -- para criar novas iniciativas regionais nesse sentido, mais flexíveis e eficazes para canalizar o apoio da ON às pequenas organizações informais da SC, pequenas ONGs e organizações de membros. O que permitiria, complementarmente, assegurar a ampliação geográfica do Programa da ON nas novas frentes provinciais previstas com maiores garantias de sustentabilidade social/institucional e de obtenção de resultados de mudança futuros;

45 Com excepção, claro, dos programas dos contrapartes internacionais não sediados em Angola (GW e HRW).

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ii) Reforçar a actuação do Programa na área das políticas públicas, especialmente com relação às políticas voltadas para os mais pobres/excluídos. De forma a reforçar a base legal/institucional dos projectos e ampliar as suas sinergias e eficácia de resultados. Com já foi dito, isso deverá começar com as políticas específicas dos sectores de maior foco (e experiência acumulada) do Programa, tais como a promoção da economia rural e “popular” e das associações familiares/comunitárias, ou o acesso das populações mais excluídas aos serviços básicos de educação e saúde (estes últimos, concebidos com a visão integrada recomendada em 5.2.2 acima);

iii) Complementando a recomendação ii) acima: “radicalizar” e ampliar a abordagem das políticas públicas que se relacionam com os DH de “segunda geração” (direitos económicos, sociais e culturais), com vistas a alavancar e consolidar uma actuação concreta nessas áreas temáticas (através de projectos práticos) e diversificar os parceiros. Por exemplo, passando gradualmente do foco no HIV/AIDS para o foco na saúde básica das populações, concebida de forma integrada (ou seja, com base nas principais endemias e causas de morbidade/mortalidade associadas ao saneamento básico, ao consumo de água, às campanhas de sensibilização sanitária, etc. ). Ou superando o foco no ensino básico infantil, alargando-o com maior atenção à alfabetização/educação de jovens e adultos (das mulheres, em particular), à capacitação profissionalizante, etc. Outros exemplos de políticas com base em direitos que deveriam ser melhor trabalhadas pelo futuro Programa, para alavancar projectos concretos: direitos das mulheres, direito à habitação, à diversidade cultural/linguística, à informação social, direito do trabalho e sindical, etc.

Lembramos, uma vez mais, que a maioria desses exemplos de ampliação da abordagem sobre as políticas públicas constituem importantes janelas de oportunidade para alargar igualmente o leque das parcerias do Programa no sentido da recomendação i) acima. Isto é, para reforçar o seu trabalho/articulação com as organizações de mulheres, profissionais, sindicais e outras do mundo do trabalho/empresarial, com as organizações de membros/massa, com as organizações de base e ensino das igrejas, etc;

iv) Melhorar a reflexão e os esforços para consolidar as abordagens estratégicas do Programa com relação aos actores globais ou supra-territoriais e à articulação dos papeis das ONGs (internacionais e locais/nacionais) nessas abordagens. (46) Referimo-nos aqui às grandes corporações internacionais (ligadas à exploração dos recursos energéticos e minerais do sub-solo, à rede/estrutura bancária e financeira, à agro-indústria exportadora, etc.), que exercem forte influência sobre as políticas, a qualidade da governação e a canalização do investimento público do país, mas que, via de regra, tendem a escapar aos aparatos/controlos legais e institucionais dos países onde se implantam. Esta reflexão deverá envolver, como é claro, o redesenho de estratégias para requalificar e intensificar o trabalho/envolvimento do Programa com as ONGs internacionais históricas (tais como a HRW e a GW) ou as campanhas e o trabalho de lobby internacionais.

b) Sobre planeamento, monitoria e avaliação (PM&A)

Estas conclusões e recomendações referem-se, em grande parte, às avaliações realizadas nos capítulos 6, 7 e 8 do Relatório, que foram resumidas no sub-capítulo 5.3 desta síntese. Contudo, grande

46 Por outras palavras, desenvolver abordagens que tenham maior foco nas ONGs e nas prioridades/processos

angolanos (sociais, políticos e institucionais), com o apoio complementar e estratégico das grandes ONGs interna-cionais. Entendemos esta inversão como urgente porque, embora as ONGs internacionais centrem sua actuação a um nível externo/globalizado com relevância estratégica, elas possuem fraca implantação local e dificuldades para ampliar sua influência junto às ONGs angolanas (sobretudo às menos profissionalizadas). Nessas condições, seu trabalho acaba tendo um impacto in loco que, embora significativo, é bastante modesto em termos sociais/ sociológicos, escapando dificilmente aos limites das grandes capitais e das elites mais letradas do país.

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parte delas decorre igualmente das análises mais focadas na contribuição da Oxfam-Novib, que se encontram no capítulo 9 do Relatório e resumidas no capítulo 6 desta síntese.

Síntese das conclusões

Os pormenores da análise dos processos de planeamento, monitoria/acompanhamento e avaliação (PM&A) do Programa, e suas conclusões, são igualmente apresentados no capítulo 4 do Relatório. Entre as conclusões mais significativas, cabe destacar:

• fraca articulação dos projectos com ferramentas de planeamento estratégico (em especial, na fase da identificação, tais como uso dos diagnósticos tipo “marco zero”, uso do “quadro lógico”, etc.), a despeito dos (e sem desmerecer os) importantes progressos na análise dos riscos e oportunidades devidos à introdução do toolbox nos últimos anos;

• incipiente domínio e uso de ferramentas de gestão da informação, de monitoria regular e de avaliação ex post das acções (especialmente dos seus impactos), com incidência na qualidade do seu acompanhamento (reporting, pilotagem/ajustes, mensuração dos resultados, etc.);

• aumento da burocracia institucional, devido às crescentes competição e tendência irreversível para a “profissionalização” das grandes ONGs holandesas, como também ao impacto desta nova dinâmica na sofisticação dos processos administrativos/gerenciais, fenômenos estes com um significativo peso inercial e com previsíveis prejuízos na agilidade e acuidade do acompanhamento do Programa in loco (dos projectos, das transformações do contexto institucional, da dinâmica sócio-económica e seus nichos de oportunidade, etc.);

• reconhecida qualidade da gestão dos projetos/Programa da ON: a qual é geralmente considerada mais “aberta” às inovações, aos riscos e aos ajustes conjunturais do que a da maioria dos doadores; dotada de grande flexibilidade executiva; prevendo iniciativas complementares de reforço institucional das ONGs e/ou de reflexão/melhoria do trabalho com certas temáticas, etc. Características essas que tenderam a compensar grande parte das insuficiências acima citadas, não obstante alguns inconvenientes/excessos observados. (47)

Principais recomendações

Em vista dessas conclusões, fazem-se três grandes recomendações à Oxfam-Novib para melhorar os processos de PM&A do Programa e consolidar a reflexão/formulação e as abordagens estratégicas (global e sectoriais) que vêm sendo aplicadas em Angola. (48) Sublinha-se que, para produzir bons resultados práticos, a implantação dessas recomendações deveria ocorrer de forma tão complemen-tar e articulada quanto possível. Essas recomendações são:

i) Recomenda-se vivamente a criação de um Conselho Consultivo para apoiar a Oxfam-Novib a melhorar o planeamento, o acompanhamento e controlo do Programa Angola. Resumem-se as principais características desta recomendação no box da página a seguir: (49)

ii) Recomenda-se a instituição de um fundo para incentivar a produção de estudos e diagnósticos sobre políticas públicas (Fundo para Políticas Públicas), a fim de incentivar e consolidar as iniciativas e contribuições das organizações da sociedade civil para o desenho/desenvolvimento de políticas públicas inovadoras e mobilizadoras a favor dos mais pobres em Angola;

47 Haja vista, por exemplo, o excesso de “flexibilidade” observado no file da avaliação da ACORD. 48 Vd. mais detalhes no capítulo 5 do Relatório. 49 Vd. mais pormenores no sub-capítulo 5.3 do Relatório.

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iii) Recomenda-se uma política mais sistemática e apoiada em meios concretos (recursos, capacita-ções, trabalho em rede, etc.) no domínio do PM&A (Planeamento, Monitoria e Avaliação); incluindo uma maior valorização da aprendizagem com base nas práticas do Programa. Para tal, dever-se-ia intensificar o desenvolvimento/qualificação das capacidades locais (RH dos contrapartes e parceiros estratégicos) nestas áreas, apoiando-os na formação teórica e prática articuladas em três vertentes:

• utilização mais regular/sistemática de métodos adequados para diagnóstico (ou avaliação ex-ante) e planeamento dos projectos, para dotá-los de bases (“marco zero”, quadro/estrutura lógica, e.g.)

“Conselho Consultivo” do Programa: Características e resultados esperados

Papel: O Conselho proposto teria um duplo papel de crucial importância:

constituir uma vasta fonte de informação/consulta para ajudar a análise das tendências em Angola (macroeconômica, político-institucional, sectorial e sociológica), destinada a alimentar a formulação das estratégias da programação da ON;

constituir uma base para o acompanhamento mais regular/permanente do desenvolvimento da programação da Oxfam-Novib, bem como da sua relevância, vantagens estratégicas, parcerias, gestão de riscos/constrangimentos, medição de desempenho global, etc.

Objectivos e funções: O Conselho visaria desempenhar três funções essenciais com objectivos bem definidos no âmbito do Programa da ON: apoiar o desenvolvimento das estratégias sectoriais e a programação territorial, bem como

auxiliar o acompanhamento regular da sua implementação;

facilitar a concepção e implementação conjunta -- com os contrapartes estratégicos e funcioná-rios do sector público e privado -- de estudos e diagnósticos, propostas e outras acções/iniciati-vas destinadas a incentivar a melhoria das políticas públicas favoráveis ao grupo-alvo da ON;

consolidar o controlo e monitoria rotineira das acções, conferindo-lhes mais agilidade e eficácia.

Modalidades organizativas e funcionais: Não é recomendada uma estrutura “pesada”, tanto para manter custos baixos como para evitar a cristalização de poderes ou situações susceptíveis de interferência excessiva nas relações entre a ON e seus contrapartes. Assim, o funcionamento desse Conselho poderia, por exemplo, se dar através de quatro reuniões anuais, presididas por funcionários do secretado em Haia, e ser complementado por consultas/reuniões virtuais (via skype, e.g.).

Composição: Esse Conselho poderia ser composto por, no máximo, doze membros, todos eles voluntários por períodos de dois anos (renováveis uma única vez). Um terço deles seriam represen-tantes de cada uma das seguintes categorias de parceiros da ON: (i) contrapartes regulares do Programa; (ii) parceiros e contrapartes estratégicos e (iii) personalidades convidadas devido à sua reputação e perícia/conhecimento.

Secretariado, gestão da informação e consultoria: Obviamente, esse Conselho deveria ter um secretariado regular em Angola para organizar e apoiar o seu funcionamento global, sob a orientação da equipa de país em Haia. Por outro lado, ele poderia dotar-se de meios apropriados para melhorar os fluxos de informação/reflexão no universo do Programa e seus contrapartes (publicação de boletim regular) e, sempre que necessário, ter o apoio de consultorias ad hoc (para os processos de avaliação, desenvolver a sistematização de experiências, realizar estudos, etc.).

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que garanta maior consistência entre as atividades e os objectivos visados, bem como uma boa base de referência tanto para medir a sua evolução quanto os impactos/resultados alcançados;

• avaliações de processo/desempenho e de impacto/resultados (ou avaliação ex-post), com base em indicadores objectivos e mensuráveis, que permitam a estas organizações estabelecer sistemas simplificados e rotinas para monitorar seus projectos e estratégias de forma mais eficaz;

• desenvolver uma nova "cultura" de produção e gestão da informação relativa à actuação dessas organizações (e à construção da sua “memória institucional”), com destaque para o processo de sistematização/aprendizagem a partir dos erros e acertos de suas próprias práticas, ao qual essa nova cultura “informacional” ganharia muito a estar associada. Isso é necessário e urgente para aumentar a capacidade das ONGs para conceber, desenvolver e fundamentar suas propostas, para melhorar o planeamento das suas acções ou para qualificar a elaboração rotineira de relatórios ou desenvolver estudos, manuais metodológicos, etc.

6. Contribuição da ON para os resultados alcançados Esta análise do Programa foi amplamente desenvolvida no capítulo 9 do Relatório. Nele, poderão ser encontrados mais pormenores sobre estas diferentes modalidades de contribuição da Oxfam Novib para o alcance dos resultados avaliados, apenas resumidos neste capítulo.

6.1 Influência da contribuição financeira

Em geral, a contribuição financeira da Oxfam-Novib, foi considerada um apoio “estruturante” muito importante pela maioria dos 13 contrapartes avaliados. Globalmente, assegurou cerca de 43 por cento de todos os fundos recebidos por 62% desses contrapartes no período 2002-2007. (50)

Os financiamentos foram particularmente importantes na Huíla, onde representaram cerca de metade dos recursos de 5 das principais ONGs da região: ACORD, ADRA, CLUSA, DSA e PRAZEDOR. Em contra-partida, foram bastante modestos em Luanda, segunda região histórica do Programa. Esta polariza-ção nas duas regiões de maior implantação do Programa desde a década de 90 é reveladora das dificuldades de expansão territorial no período 2002-2006.

Contribuição financeira e focos temáticos de influência

Traduzindo esses financiamentos da ON na sua inquestionável influência sobre as acções/ desempenho temático das ONGs apoiadas, podemos dizer que ela foi mais acentuada nas três principais áreas temáticas do Programa, em particular nas três províncias do Sul. A saber :

• apoio ao desenvolvimento rural e à sustentabilidade dos meios de vida; (51) • reforço do papel das organizações da sociedade civil e pequenas ONGs das províncias do sul;

• prevenção e combate da epidemia do HIV/AIDS.

50 Referimo-nos aos 8 contrapartes para os quais foi possível obter dados globais relativamente fiáveis (sobre a

totalidade dos seus recursos no período avaliado). Vide mais detalhes na tabela 9.1 do Relatório. 51 Nesse bloco temático, englobamos várias actividades com vistas ao relançamento da produção camponesa/rural:

segurança alimentar, acesso à terra, organização dos camponeses, comercialização e o micro-crédito rural, etc.

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Contudo, embora em menor escala (por vezes, quase inconsistente), essa influência foi igualmente perceptível no protagonismo das ONGs, na sensibilização/tomada de consciência social ou na melhoria da situação das populações/comunidades sobre os temas:

• direitos humanos e civis (influência difusa em certas regiões ou OSCs da Huíla e Luanda);

• direito/acesso dos mais pobres aos serviços sociais de saúde básica e educação (influência modesta e focada nos subúrbios de Luanda);

• direito/acesso acesso dos mais pobres à moradia e às terras urbanas (subúrbios de Luanda).

Influência nos programas/actuação dos contrapartes

Assumindo que esse apoio financeiro exerceu igualmente uma certa influência nas estratégias, modi operandi e programas/portfolios desses contrapartes (constataram-se evidências dessa relação), podemos inferir, desse exercício de extrapolação, três níveis de influência bastante coincidentes com os níveis de comparticipação da ON nos programas dessas ONGs (considerando-se cerca de 70% dos contrapartes): (52)

• influência considerada forte em três ONGs locais (ADRA, ASD e PRAZEDOR), cuja actuação dependeu significativamente dos recursos “estruturantes” da Oxfam-Novib (entre 51% a 67%), e em duas ONGs internacionais (GW e HRW), cujas actividades em Angola foram fortemente subsidiadas, embora com maior propriedade no caso da segunda delas; (53)

• influência mais equilibrada no caso da ACORD, onde a comparticipação da ON foi de 32%, graças a uma situação conjuntural excepcional (forte apoio dos projectos do Banco Mundial);

• influência mais fraca ou quase marginal, por fim, em três outras ONGs (DWA, Rede Terra e SOSH), com apoios da Oxfam-Novib que variaram de 3% a 23% dos seus recursos. Cabendo destacar, todavia, que esse apoio foi decisivo/estratégico para esses contrapartes em determinadas situações conjunturais (SOSH) ou actuações/programas sectoriais (DWA).

6.2 Experiência do Programa e aprendizagem

Dois pequenos programas co-financiados pela Oxfam-Novib ilustram a problemática da coerência e consistência do Programa com o processo de refinação/aprendizagem com a prática. E merecem, portanto, especial reflexão: o CIP (da DW) e o FUPEP (da ADRA e vários parceiros).

Uma breve análise comparativa dessas iniciativas, (54) fornece evidências de que a influência da ON nem sempre consegue garantir e alimentar a coerência do Programa global. Em especial, o melhor aproveitamento das experiências/lições aprendidas ao longo do tempo, promovendo a replicação desse passivo de “boas práticas” em outras regiões. Constatou-se, portanto, que podem co-existir, no seu seio, níveis bastante diferenciados de custo-benefício, de eficácia de resultados finais, etc.

O maior problema subjacente a esta constatação, diz respeito às estratégias que deveriam ser adoptadas no futuro, a fim de evitar repetir tais situações contrastadas e inconsistentes. E um dos principais desafios que está em jogo, é o da identificação de novas parcerias/contrapartes capazes de "absorver" os financiamentos e de os usar para alcançar os melhores resultados finais.

52 Essa avaliação refere-se a 9 dos 13 contrapartes avaliados. Infelizmente, não pudemos obter dados globais sobre

os financiamentos dos outros 4 (ADRA Nacional/CID, CLUSA, OGB e Oxfam Intermón). 53 Obtivemos evidências de que essa influência da ON foi menor ou mais difusa no caso da GW do que no da HRW. 54 Vd. os pormenores dessa análise no sub-capítulo 9.1 e no box 9.1 do Relatório.

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À luz da experiência dos últimos anos, e a despeito dos casos de sucesso avaliados, concluímos que não bastará privilegiar a construção de capacidades das ONGs para aplicar/gerir os recursos da forma (profissional) que a Oxfam Novib deseja. Por mais "profissionalizadas" que essas ONGs possam ser, muitas delas poderão ter dificuldades para assegurar a utilização eficaz desses recursos, evitando o risco de uma grande parte deles serem absorvidos por uma sofisticada estrutura adminis-trativo-operacional. Sendo, portanto, necessário aumentar os esforços e recentrar as orientações dessa capacitação no sentido de aumentar a eficácia dos projectos, privilegiando a busca de resultados de mudança efectivos e reduzindo os seus custos operacionais.

Em outros termos, a Oxfam-Novib precisa contribuir mais decisivamente para construir certas capacidades dos contrapartes (abordagens/estratégias, metodologias/modalidades de trabalho, desenho de propostas executivas, etc.), e, dessa forma, tomar mais em consideração a construção da “memória” e o processo de aprendizagem (ou retro-alimentação) do próprio Programa -- ou o refinamento de sua própria experiência acumulada e o aprimoramento da sua capacidade de prender com seus erros e acertos. Ajudando, assim, a reduzir os riscos de retrocessos e a aumentar a eficácia no uso dos recursos (conforme já recomendamos em 5.4 acima).

6.3 Contribuição das políticas e práticas de gestão

A contribuição da ON nesta área da gestão dos programas foi, sem dúvida, mais decisiva na Huíla e nos contrapartes com influência “forte” ou “equilibrada” (vd. 6.1 anterior), beneficiários de financiamen-tos substanciais com carácter “estruturante” -- ou seja, de recursos que cobriram um vasto conjunto de actividades executivas e organizativas/institucionais: ACORD, ADRA, ASD e PRAZEDOR.

Essas e algumas outras ONGs (55) reconheceram influências/contributos metodológicos importantes da ON para o planeamento, a implantação e a gestão de seus projectos. Destaca-se, entre as ferramentas que materializaram essa influência, o toolbox desenvolvido pela Oxfam-Novib, cujos conceitos (oportunidades e riscos) aplicados na formatação inicial dos projectos teria ajudado a melhorar a sua execução e os seus resultados. Foram igualmente destacados os procedimentos de gestão financeira e auditoria dos projectos. Uma certa influência das políticas da ON nas visões e nas abordagens do desenvolvimento também foi referida por alguns de seus contrapartes mais antigos/ regulares, não obstante tenhamos verificado que, em geral, a contribuição para a construção de um amplo entendimento dessa “problemática desenvolvimentista” parece ter sido bastante limitada.

Por fim, e embora alguns contrapartes tenham mencionado uma contribuição da ON nos métodos de acompanhamento dos projectos com base nos resultados, (56) constatou-se pouca influência na melhoria dos sistemas de monitoria e, ainda menos, de avaliação ex post de projectos, com base em sistemas de indicadores de resultados. Também se verificaram carências importantes, e quase generalizadas, nas políticas de recolha e organização/gestão da informação no seio das organiza-ções, com impactos bastante negativos (na construção da memória institucional, na sistematização de experiências e melhores práticas, na aprendizagem com a prática, etc.). O que ajuda a explicar a enorme fragilidade destas ONGs nessas áreas (e muitas das dificuldades desta avaliação).

55 Além das quatro ONGs citadas, algumas outras alegaram igualmente ter sofrido uma certa influência dos métodos

da ON nesta área (CLUSA, DW e SOSH, e.g.). 56 Embora tenhamos constatado que, na maioria dos casos, esta prática não se tenha desenvolvido como seria de se

esperar no seio dos contrapartes. Constituindo mesmo uma das grandes fraquezas da maioria deles.

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6.4 Outras contribuições

Capacity building

Foram bastante destacados os esforços da Oxfam Novib neste domínio, sobretudo durante a segunda metade do período avaliado (2005-2007). Inclusive, através de pequenos financiamentos complementares do Programa. Infelizmente, não foi possível fazer um estudo mais aprofundado desse esforço da qualificação dos RH das ONGs. Mas tudo indica que ele ocorreu principalmente no campo dos Direitos Humanos, do HIV/AIDS e do processo eleitoral, através de iniciativas de debate e difusão da informação (seminários, conferências, estudos/publicações, etc.), de formações práticas e de visitas de estudo para troca de experiências. Há pouca evidência de capacitação fora dessas áreas. Em especial, sobre temas que privilegiassem a reflexão sobre abordagens sectoriais estratégicas que pudessem qualificar (inclusive, reajustando-o) e ampliar o protagonismo das ONGs durante essa nova fase de “transição para o desenvolvimento”.

Exemplo de capacidade pouco influenciada

Complexos temas do “desenvolvimento” no contexto angolano (também conhecidos como "desenvol-vimento rural", "relançamento da economia rural ou popular», «desenvolvimento comunitário", "segurança e soberania alimentar", etc.), que articulam várias vertentes de trabalho, têm ficado relativamente “adormecidas” na actuação/propostas da grande maioria das ONGs angolanas destes últimos anos. O que tem favorecido abordagens algo imaturas ou parciais, ainda bastante marcadas pelo assistencialismo do período “humanitário” (e muito ao gosto de alguns doadores).

Esta carência foi verificada igualmente no seio do Programa e tende, na prática, a dificultar ou negligenciar a defesa de parte significativa dos direitos sociais e econômicos relativos à base da subsidência da maioria da população. Em especial, no plano concreto (desenho e implantação de projectos executivos consistentes e eficazes em termos de resultados). (57) O que significa dizer que o incentivo ao “desenvolvimento” concebido como processo multi-disciplinar, sustentável e endógeno (auto-sustentado pelas comunidades/populações locais) irá exigir uma maior concentração dos esforços da Oxfam-Novib nestes temas no futuro.

PM&A e gestão da informação

Não obtivemos indícios claros de ter havido um esforço significativo e sustentado para construir este tipo de capacidades no seio das ONGs avaliadas. Como já dissemos, e tirando as excepções mencionadas na avaliação que confirmam a regra, estas constituem áreas de fragilidade institucional que continuam a merecer maior atenção e apoio por parte da ON.

Advocacia social, sinergias e campanhas

Advocacia social

Em geral, foram poucos destacadas as contribuições da Oxfam-Novib neste domínio. As quais parecem ter alcançado baixa visibilidade, não obstante o programa JOAI desenvolvido pela três Oxfam’s presentes em Angola. Tudo parece confirmar, portanto, a avaliação de que esse programa obteve retorno incipiente em termos práticos. Seja como for, seus esforços passaram relativamente despercebidos aos olhos da grande maioria dos contrapartes, de outras ONGs e dos observadores privilegiados angolanos consultados durante a avaliação.

57 Com a excepção notável do direito à terra rural e urbana, que foi bastante destacado no Programa, não obstante

os poucos resultados concretos.

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XXXI

Construção de sinergias

De um modo geral, ficou claro que os contrapartes, seus parceiros e demais interlocutores ouvidos pela avaliação consideram que as características da Oxfam-Novib (filosofia, visão, estratégias, modi operandi, etc.) assentam numa forte valorização das sinergias e, portanto, tendem a favorece-las. Sobretudo, em comparação com a maioria dos outros doadores, que tendem a estabelecer “terrenos de caça” reservados e a dificultar o diálogo institucional (sobretudo, com as ONGs nativas).

Entre as principais sinergias identificadas, destacam-se as que já possuem carácter histórico e/ou ocorreram intra-programa (entre os contrapartes da ON). Com especial relevo na região da Huíla (entre a ADRA e ACORD, por exemplo, cuja colaboração no FUPEP criou sinergias de trabalho com muitas outras OSCs da região Sul) ou em Luanda (entre a SOSH e a HRW, e.g.).

Foi igualmente destacado o poder sinérgico do trabalho em rede incentivado pela Oxfam-Novib (com colaborações e resultados práticos que vão muito além do universo dos contrapartes da ON). Com especial relevo para as redes temáticas da região Sul ou nacionais fortemente apoiadas pela ON (Terras e HIV/AIDS, e.g.). Em contrapartida, foram pouco percebidas e destacadas (excepto pela OGB e Oxfam Intermón) as sinergias criadas dentro da própria “família Oxfam” em Angola. Sobretudo, seus possíveis impactos no Programa global da Oxfam Novib.

Infelizmente, não foi possível aprofundar as inúmeras sinergias criadas no âmbito da implantação dos projectos/iniciativas das ONGs avaliadas apoiadas pela ON: com os outros contrapartes, com seus inúmeros parceiros, com grupos religiosos, com grandes ONGs e organismos internacionais, com as Administrações locais e demais entidades do Estado, etc.

Campanhas Internacionais:

Em geral, o impacto das campanhas e do trabalho de lobby internacional apoiados pela Oxfam e seu poder mobilizador foram bastante baixos entre a grande maioria dos contrapartes e parceiros consultados pela avaliação (ou em Angola em geral, pelo que pudemos perceber). As razões desse insucesso são amplamente analisadas no capítulo 8 do Relatório (vd. também tabela 8.5).