1 introdução trabalho faz de conta

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3 1 INTRODUÇÃO Este trabalho visa elucidar a importância do brincar no desenvolvimento infantil e, foi elaborado para o cumprimento das exigências da disciplina de “Práticas Sociais e Subjetividade” do curso de psicologia da Universidade Paulista – UNIP/Bauru. O mesmo tem como objetivo contribuir ao discente maior compreensão das condições históricas, práticas sociais e discursos que possibilitam a constituição das subjetividades contemporâneas. A partir da proposta da disciplina, foi eleito um tema específico, onde se optou por “lazer”, com ênfase no fenômeno “brincar de faz de conta”, de crianças de 4 a 12 anos de idade, em locais públicos. Sendo o local escolhido para a observação, uma brinquedoteca que conta com vários espaços de brincar, como: um cantinho para bebês; um espaço para leitura onde os livros ficam expostos em estantes de madeira em forma de árvores fixas nas paredes, e logo a frente das estantes há vários pufs coloridos onde as crianças sentam-se e/ou deitam com os livros nas mãos; há também mesas e cadeiras do tamanho das crianças; um biombo que armazena várias roupas, fantasias, chapéus e outros acessórios; no centro da brinquedoteca há um grande tapete azul emborrachado, e sobre ele várias almofadas, logo a frente uma grande estante de madeira com vários nichos onde ficam armazenados muitos brinquedos, como bonecas de pano, fogão, cafeteira, torradeira, todos de madeira, há também carros, animais de pano e de plástico, vários jogos, etc; uma

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Page 1: 1 Introdução Trabalho Faz de Conta

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1 INTRODUÇÃO

Este trabalho visa elucidar a importância do brincar no desenvolvimento

infantil e, foi elaborado para o cumprimento das exigências da disciplina de “Práticas

Sociais e Subjetividade” do curso de psicologia da Universidade Paulista –

UNIP/Bauru. O mesmo tem como objetivo contribuir ao discente maior compreensão

das condições históricas, práticas sociais e discursos que possibilitam a constituição

das subjetividades contemporâneas.

A partir da proposta da disciplina, foi eleito um tema específico, onde se optou

por “lazer”, com ênfase no fenômeno “brincar de faz de conta”, de crianças de 4 a 12

anos de idade, em locais públicos.

Sendo o local escolhido para a observação, uma brinquedoteca que conta

com vários espaços de brincar, como: um cantinho para bebês; um espaço para

leitura onde os livros ficam expostos em estantes de madeira em forma de árvores

fixas nas paredes, e logo a frente das estantes há vários pufs coloridos onde as

crianças sentam-se e/ou deitam com os livros nas mãos; há também mesas e

cadeiras do tamanho das crianças; um biombo que armazena várias roupas,

fantasias, chapéus e outros acessórios; no centro da brinquedoteca há um grande

tapete azul emborrachado, e sobre ele várias almofadas, logo a frente uma grande

estante de madeira com vários nichos onde ficam armazenados muitos brinquedos,

como bonecas de pano, fogão, cafeteira, torradeira, todos de madeira, há também

carros, animais de pano e de plástico, vários jogos, etc; uma mini cozinha do

tamanho de uma criança de 6 a 10 anos, com armário, pia e fogão e junto dela

vários utensílios de cozinha, como panelas, pratos, talheres e muitos outros; e há

também no espaço, um palco com uma lousa que ocupa toda parede.

Partindo de um estudo bibliográfico, da análise de alguns discursos

veiculados na mídia e das observações reais feitas, procurou se apontar importantes

argumentos sobre o tema.

Com base na teoria sócio-histórica de Lev Vygotsky, este trabalho tem como

justificativa o fato de que toda criança brinca e “ao brincar, ela assume papéis e

aceita regras próprias da brincadeira, executando, imaginariamente, tarefas para as

quais ainda não esta apta”.

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Vygotsky (1998) aponta que a brincadeira não é uma simples atividade que

dá prazer à criança, primeiro porque muitas atividades podem fazê-lo e segundo

porque nem sempre ela é prazerosa. Além disso, ele assinala o termo faz de conta,

também chamado de jogos dramáticos, que diz respeito a uma atividade imaginativa

em que a criança expressa seus desejos e necessidades internas. As crianças

possuem necessidades, que vão mudando ao longo do crescimento, e essas

necessidades são os fatores que dão motivação e incentivo a elas. E é aí que

Vygotsky introduz o faz de conta como sendo de grande importância para o

desenvolvimento infantil, uma vez que é através do brinquedo e das atividades

lúdicas que a criança vai, de certa forma, satisfazer essas necessidades.

A criança muito pequena, por ser totalmente dependente de outra pessoa,

satisfaz seus desejos imediatamente, o intervalo entre um desejo e sua satisfação é

muito curto. Já durante a idade pré-escolar surge uma grande quantidade de

tendências e desejos que não podem ser realizados imediatamente. A partir dessa

idade, então, as crianças passam a usar a fantasia e a imaginação para criar

situações imaginárias em que os desejos irrealizáveis podem se realizar. Essas

situações são o que Vygotsky chama de brincadeira (VYGOTSKY, 1998).

A partir disso pode-se perceber que para o autor, a situação imaginária não é

simplesmente um fator existente em algumas brincadeiras, ela é a característica que

define o brinquedo. Sendo assim, o brinquedo só existe em função da situação

imaginária (VYGOTSKY, 1998).

Outro ponto ressaltado por Vygotsky é a presença de regras nas atividades

lúdicas. A situação imaginária tem na sua base as regras, ou seja, quando a criança

está encenando um papel nas brincadeiras de faz de conta ela obedece às regras

da função deste papel. Então, o que na vida real passa despercebido pela criança,

na brincadeira torna-se uma regra no comportamento. Por exemplo, quando a

criança se fantasia no papel de mãe, ela encena o papel a partir do que ela

considera como sendo as regras de ser mãe. E da mesma forma que em uma

situação imaginária existe a presença de regras de comportamento, um jogo com

regras contém uma situação imaginária (VYGOTSKY, 1998).

Para uma criança com menos de três anos de idade, é essencialmente

impossível envolver-se numa situação imaginária, uma vez que isso seria uma forma

nova de comportamento que liberaria a criança das restrições de seu ambiente

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imediato Vygotsky, (1998). Uma criança muito pequena não possui a capacidade de

separar o significado do campo de percepção visual, ou seja, ela é incapaz de

separar o objeto do seu significado real. Quando se pede à criança que repita a

sentença “Tânia está de pé”, quando na verdade Tânia está sentada a sua frente,

ela não conseguirá fazê-lo, e mudará a frase para, “Tânia está sentada”. Ela não é

capaz de operar com um significado contraditório à informação perceptual presente,

nessas crianças o objeto dita a elas, o que ela tem que fazer, o objeto em si

determina a ação da criança (OLIVEIRA, 2004).

Já na fase pré-escolar, quando se tem a brincadeira, o objeto perde sua força

determinadora, podendo ser ressignificado pela criança. Por exemplo, a criança

junta algumas cadeiras, coloca algumas bonecas e diz que está dirigindo um ônibus

com passageiros, ou seja, a situação foi definida pelo significado estabelecido e não

pelos elementos reais concretamente presentes (OLIVEIRA, 2004).

As atividades lúdicas, por proporcionarem intensa elaboração imaginativa,

motivação para a realização das necessidades, habilidade em ressignificar, bem

como o desenvolvimento de regras, permitem o desenvolvimento da criança

(VYGOTSKY, 1998).

“Assim, o brinquedo cria uma zona de desenvolvimento proximal da criança.

No brinquedo, a criança sempre se comporta além do comportamento habitual de

sua idade, além de seu comportamento diário; no brinquedo é como se ela fosse

maior do que é na realidade” (VYGOTSKY, 1998).

A fantasia e a imaginação são elementos fundamentais para que a criança

aprenda mais sobre as pessoas, sobre o eu e sobre o outro. O jogo simbólico

permite à criança vivências do mundo adulto e isto possibilita a meditação entre o

real e o imaginário (VYGOTSKY, 1998).

Ao brincar de faz de conta, as crianças buscam imitar, imaginar, representar

e comunicar de uma forma específica que uma coisa pode ser outra, uma pessoa

pode ser uma personagem, uma criança pode ser um objeto ou um animal, e pode

se fazer de conta que um lugar é outro (OLIVEIRA, 2004).

Segundo a mídia: Revista Crescer (2008), no artigo “Brincar pra quê” destaca que as crianças que ficam muito tempo sem brincar, se tornam menos

criativas e menos imaginativas, essa falta atua no aumento da obesidade infantil. Os

cientistas afirmam que a brincadeira é uma parte central do crescimento e do

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desenvolvimento neurológico e que o brincar gera um caminho importante para as

crianças construírem cérebros complexos, habilidosos, responsáveis, socialmente

adaptáveis e cognitivamente flexíveis. Pois a criança enquanto brinca utiliza muito

sua capacidade de imaginação, representação e imitação.

Segundo relatou Smith (1997), na reportagem, Brincar pra quê, há muitos

benefícios na brincadeira e muitos deles estão relacionados a preparação para a

vida adulta. Na brincadeira a criança aprende a importância da negociação, a

conviver com regras e resolver conflitos.

Segundo Oliveira, (2004) mesmo na brincadeira de faz de conta há regras

que devem ser seguidas, pois as atividades a serem desenvolvidas tem uma

correspondência pré-estabelecida com as que ocorrem na vida real.

Na mídia Plataforma do letramento, no artigo “A brincadeira é o próprio aprendizado”, uma caixa de papelão se transforma em automóvel, depois se torna

uma boneca e ainda vira berço. Nas mãos e imaginação das crianças qualquer

objeto ganha vida e se transforma em brinquedos.

Nessas brincadeiras as crianças se descobrem a elas mesmas, ao outro e ao

mundo, de forma divertida e prazerosa, porém segundo a reportagem essa

capacidade que é própria da criança, está sendo deturpada pela educação atual,

onde as crianças não criam mais seus próprios brinquedos, a capacidade de

imitação e imaginação das crianças está ficando de lado (VYGOTSKY, 1998).

Segundo Vygotsky (1998), “é no brinquedo que a criança aprende a agir

numa esfera cognitiva, ao invés de uma esfera visual externa, dependendo das

motivações e tendências internas, e não pelo dos incentivos fornecidos pelos objetos

externos”.

No brincar, a criança consegue separar pensamento de objeto, e a ação

surge das ideias, não das coisas, por exemplo, um pedaço de madeira torna se um

boneco. Isso representa uma grande evolução na maturidade da criança (OLIVEIRA,

2004).

A mídia, Globo Repórter, G1, no artigo “Brincadeiras de rua no interior do RJ, fazem sucesso em cidade dos EUA”, Ferreira relata a importância desse

brincar, destacando que a criança não precisa de muita coisa, pois o próprio meio

fornece recursos.

Page 5: 1 Introdução Trabalho Faz de Conta

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A brincadeira de rua é um jogo, e assim como no faz de conta, também é uma

atividade regida por regras que devem ser seguidas, e isso implica em estratégias e

participação, a criança brincando de bola se imagina como um jogador famoso,

brincando com um galho, ela faz de conta que é uma espada, porque como explica

Vygotsky, para a criança a situação é definida pelo significado estabelecido pela

brincadeira e não pelos elementos reais concretamente presentes (OLIVEIRA,

2004).

E para explicar o comportamento das crianças ao brincar, a mídia Revista

Crescer (2015), no artigo ”Brincadeira de faz de conta: quando as crianças entram nessa fase”, relata que de 2 a 6 anos de idade é a época em que as

crianças passam a ter interesse por brincar de escolinha, casinha, super-herói, e

percebe-se nessa fase que elas manipulam objetos e lhes atribui significados que

são diferentes do real. Já a partir dos 6 anos de idade as crianças são mais

centradas em si, conseguem se colocar no lugar do outro, é a fase em que brincam

com outros, diversas brincadeiras entram nessa fase, desde uma partida de futebol

até uma de xadrez.

O comportamento das crianças pequenas é determinado pelas características

das situações concretas em que elas se encontram. Só quando adquirem a

linguagem, passando, portanto a ser capaz de utilizar a representação simbólica, é

que elas terão condições de libertar seu funcionamento psicológico dos elementos

concretamente presentes no momento atual. Vygotsky exemplifica que na

brincadeira de faz de conta, a criança é levada a agir num mundo imaginário, onde a

situação é definida pelo significado estabelecido pela brincadeira e não pelos

elementos reais concretamente presentes (OLIVEIRA, 2004).

Page 6: 1 Introdução Trabalho Faz de Conta

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2 PROCEDIMENTOS

O presente trabalho foi desenvolvido a partir de um processo de coleta de

dados através da técnica da observação simples, onde é dada ao pesquisador a

possibilidade de observar de maneira espontânea os fatos que ali ocorrem.

O mesmo tem como objetivo, contribuir ao discente maior compreensão das

condições, históricas, práticas, sociais e discursos que possibilitam a constituição

das subjetividades contemporâneas.

A observação caracteriza-se pela coleta de dados que permite a socialização

e consequentemente a avaliação do pesquisando.

As informações obtidas através da observação colocam o pesquisando sob a

influência do que acontece na realidade, e não sob a influencia de suposições,

interpretações e/ou preconceitos, tais informações são mais objetivas do que as

informações obtidas através do senso comum.

A observação pode ser utilizada em diferentes situações de aplicação da

psicologia, é uma prática fundamental para o psicólogo sendo importante ferramenta

de coleta de dados.

A observação foi realizada por uma aluna/estagiária e ocorreu da seguinte

forma: a aluna se deslocava até um clube público onde tem uma brinquedoteca , ou

seja, um espaço mágico criado para dar oportunidade às crianças de brincar de

forma enriquecedora, ao chegar observava o espaço em geral e focava no

fenômeno de observação, acomoda-se em algum ponto do espaço permanecendo a

uma distância de aproximadamente 4 a 5 metros.

Ao observar, a aluna buscou identificar o fenômeno “Brincar de faz de conta”,

através da comunicação verbal e não verbal.

Os sujeitos observados são crianças com idades entre 4 e 12 anos de idade.

A observação aconteceu sempre dentro da brinquedoteca do clube, sendo

que a mesma continha medidas aproximadas de 15 metros de comprimento por 5

metros de largura.

As observações duravam o tempo máximo de 1hora e 30 minutos, somando

um total de 20 horas de elaboração de relatório parcial e 20 horas de relatório final.

Como instrumentos de pesquisa, para registro do fenômeno, foi utilizado, a

técnica da observação, prancheta, papel e caneta.

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E para registro das informações o aluna elaborou relatórios com a descrição

do fenômeno tal como se apresentava, bem como, a compreensão com relação ao

mesmo.

Para melhor compreensão do fenômeno o aluna descreveu em detalhes todos

os comportamentos do sujeito observado, tais como, os gestos, as falas e as

expressões.

Para a análise dos dados foi realizada uma pesquisa na mídia sobre o

fenômeno da brincadeira de faz de conta. Os meios de comunicação consultados

foram: Revista Crescer (2008), artigo: Brincar pra quê?; Revista Plataforma do

Letramento, artigo: A brincadeira é o próprio aprendizado; Programa Globo Repórter,

artigo: Brincadeira de rua no interior do RJ faz sucesso em cidade dos EUA; e

Revista Crescer, artigo: Brincadeira de faz de conta, quando as crianças entram

nessa fase. Foram selecionados apenas conteúdos que fizeram referência ao

fenômeno do trabalho, a partir da leitura e/ou da escuta atenta.

Para a avaliação dos resultados coletados junto ao discurso veiculado a mídia

foi usada a Abordagem Sócio-Histórica, focando aspectos primordiais do teórico Lev

Vygotsky apresentados na forma textual, objetivando-se assim, construir um quadro

teórico de referência para análise e discussão dos dados.

Page 8: 1 Introdução Trabalho Faz de Conta

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3 DISCUSSÃO

Durante as observações a aluna realizava um reconhecimento geral do local,

olhando livremente para diversos pontos da brinquedoteca, com o objetivo de se

ambientar e captar dentro daquele contexto seu foco, o fenômeno do brincar de faz

de conta. Quando Vygotsky (1998) discute o papel do brinquedo ele se refere

basicamente à brincadeira de faz de conta, como brincar de casinha, de escolinha,

brincar com o cabo de vassoura como se fosse um cavalo, mas basicamente

concentra se na brincadeira do faz de conta que é um brinquedo baseado em

regras. Segundo a mídia Revista Crescer (2008) as crianças que ficam muito tempo

sem brincar se tornam menos criativas, porque o brincar constrói cérebros

complexos e habilidosos, socialmente adaptáveis e flexíveis, porque enquanto a

criança brinca ela utiliza muito sua capacidade de imaginação, representação e

imitação.

O contexto ambiental utilizado para as observações trata-se de um ambiente,

amplo, arejado com diversificado acesso de brinquedos educativos que valorizam o

ato lúdico por meio das brincadeiras e brinquedos da cultura popular e do faz de

conta.

O artigo: Uma leitura de Vygotsky sobre o brincar na aprendizagem e no

desenvolvimento infantil destaca que o aprendizado é um aspecto necessário para o

desenvolvimento das funções psicológicas, as quais são organizadas pela cultura e,

assim, caracterizam-se como especificamente humanas. Há o percurso natural do

desenvolvimento definido pela maturação humana, mas é o aprendizado junto ao

contato do individuo com um ambiente cultural que possibilita o acontecer dos

processos psicológicos internos. O desenvolvimento da pessoa está extremamente

ligado a sua relação com o ambiente sócio-cultural e só irá vingar se tiver o contato

e o suporte de outros indivíduos de sua espécie. O desenvolvimento fica impedido

de ocorrer na falta de situações propícias ao aprendizado. Com isso, é possível

entender que o brincar auxilia a criança nesse processo de aprendizagem. Ele vai

proporcionar situações imaginárias em que ocorrerá o desenvolvimento cognitivo e

irá proporcionar, também, fácil interação com pessoas, as quais contribuirão para

um acréscimo de conhecimento. Dessa forma, é imprescindível a utilização de

brincadeiras no meio pedagógico, pois hoje as crianças vivem isoladas em

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apartamentos pequenos, só brincam dentro de suas casas, pois seus pais estão

sempre envolvidos em seus trabalhos e não tem tempo de praticar alguma

recreação com seus filhos, mas, foi interessante observar que o público que

frequenta lugares como as brinquedotecas, são crianças, sempre acompanhadas

de um adulto, que geralmente são: pai, mãe, babas, avós. Esses lugares são

confortáveis para todos pois é um espaço que apresenta iluminação e ventilação

adequadas, acomodações para as crianças e para os adultos que as acompanham,

como bancos, pufs, almofadas e tapetes.

E também há grande quantidade de brinquedos, e os mesmos são bem

diversificados, de acordo com as idades das crianças, como: bonecas de pano,

bichos de pelúcia, mesas e cadeiras na altura adequada das crianças, fantoches de

vários tipos de animais, estantes com livros, lousa, fantasias e tecidos, muitos

brinquedos de madeira com aspecto rústico, como: cama de boneca, carros, fogão,

mini casas; artigos de cozinha, como: torradeira, prato, colher, frigideira; muitos

alimentos como: frutas, caixa de leite, fatias de pão, de queijo, caixa de leite e

também um fogão e armário com pia são confeccionados em madeira, esse fogão e

armário com pia é algo que atrai muito a atenção das meninas, pois os mesmos são

da altura das crianças e imitam os de uma cozinha verdadeira.

Outro ponto bastante atrativo do espaço é um cantinho montado

especialmente para bebês, pois o mesmo contem almofadas quadradas que se

encaixam em todo o piso e em parte da parede numa altura aproximada de 1 metro,

isso dá liberdade para os bebês para que possam brincar sem o risco de se

machucar, pois a maioria ainda não sabe andar direito.

O artigo: Uma leitura de Vygosty sobre o brincar na aprendizagem e no

desenvolvimento infantil mostra que crianças muito novinhas ainda estão privadas

de envolver-se em uma situação imaginária. Isso ocorre porque o comportamento

dessa criança é determinado, de maneira considerável, pelas condições em que a

atividade ocorre: ela ainda se restringe ao que o ambiente imediato lhe proporciona.

O espaço dos livros também é bastante chamativo, pois os mesmos ficam

inseridos em nichos de estantes em formato de árvore e o que chama a atenção é

que todas as crianças retiram os livros se sentam para ler nos pufs e ao terminar

devolvem os mesmos de volta nas estantes, os livros não ficam jogados pelo chão.

Page 10: 1 Introdução Trabalho Faz de Conta

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O artigo, O faz de conta e o desenvolvimento infantil, mostra que o brinquedo

tem para a criança um significado muito forte, pois é a ponte que liga a imaginação à

brincadeira. Com ele a criança pode imaginar e dar novos significados tanto a

objetos que não seja necessariamente um brinquedo, como aos brinquedos.

Vários aspectos chamaram a atenção com relação ao fenômeno do brincar de

faz de conta. Para Vygotsky (1998), no artigo, Uma leitura de Vygotsky sobre o

brincar na aprendizagem e no desenvolvimento infantil, a imaginação surge

originalmente da ação. Assim, podemos inverter a velha frase que afirma que o

brincar da criança é a imaginação em ação. A situação imaginária de qualquer

brincar está incutida de normas de comportamento. Dessa forma, é possível concluir

que não existe brinquedo sem regras, mesmo que não sejam as regras

estabelecidas a priori; o brincar está envolvido em regras da sociedade. Por

exemplo: a criança imagina-se como mãe de uma boneca; nesse brincar ela irá

obedecer às regras do comportamento maternal. O papel que a criança representa e

a relação dela com o objeto sempre derivarão das regras, o brincar de casinha,

especificamente o brincar de cozinhar, predominado por meninas, onde foi

observado, a imitação das crianças. As meninas quando realizam essa brincadeira

demonstram que estão imitando através de ações verbais e não verbais. Nas ações

não verbais, ao fazer de conta que cozinha, ela coloca as panelas sobre as bocas do

fogão, retira a tampa da panela e faz de conta que prova a comida, para sentir o

tempero, leva os utensílios da cozinha até a pia para lavar, depois que termina de

servir a comida; quando está comendo, coloca o garfo no prato em seguida leva a

boca; faz movimentos de vai e vêm para cortar o bolo, todas essas ações mostra

como elas se utilizam de regras nessa brincadeira.

Segundo o artigo, A percepção da brincadeira de faz de conta, por crianças

de uma instituição da educação infantil, a oportunidade de se envolver no jogo

simbólico coletivo pode estimular na criança a necessidade de utilizar uma

linguagem mais socializada, com características de conversação. A emergência de

conflitos durante o jogo motivaria a criança a utilizar uma linguagem comunicativa

para a resolução dos mesmos, na observação, as ações verbais são verificadas,

quando a criança chama outras para almoçar ou quando ela diz que vai preparar um

lanche e também ao perguntar se o alimento que preparou está bom. Nessa

brincadeira a criança está representando, desempenhando papeis sociais, ela está

Page 11: 1 Introdução Trabalho Faz de Conta

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imaginando-se como uma mãe. Como explica Vygotsky (1998) o brinquedo é

também uma atividade regida por regras, pois as atividades desenvolvidas tem uma

correspondência pré-estabelecida, com aqueles que ocorrem na vida real.

Segundo a reportagem que relata o brincar das crianças na rua, também

mostra que essas brincadeiras são regidas por regras, devendo haver participação e

estratégias e onde há imaginação e imitação, pois a criança que brinca de bola é

muito comum se imaginar sendo um determinado jogador, e ao brincar com um

galho ela geralmente da um significado ao objeto, ou seja, imagina que o galho seja

uma espada, por exemplo, (OLIVEIRA, 2004).

Foi observado que ao brincar com as bonecas, também um brincar

predominantemente executado por meninas, onde as mesmas brincam de várias

formas com esse brinquedo, uma delas senta a boneca em uma cadeira, enquanto

prepara a comida, em seguida se ajoelha em frente a boneca e dá de comer para a

mesma, em seguida da suco e fruta para a boneca, em seguida caminha com a

mesma no colo , fazendo-a dormir e a coloca na cama; outra garota tem sua boneca

como filha e relata que a mesma está doente, leva-a ao médico e dá medicação;

outras executam cuidados de higiene com a boneca, pois relatam e encenam que

estão dando banho nas bonecas; uma outra criança deu as bonecas o papel de

alunos, pois ao brincar de escolinha onde ela era a professora utilizou várias

bonecas como alunos ; houve também um brincar com as bonecas, onde a criança

deu a boneca o papel principal, pois a criança interpretava as falas entre as

bonecas, ela fazia com que as bonecas dialogassem.

Esse brincar foi expresso através de comportamentos verbais e não verbais,

através da imitação do seu convívio familiar, ou seja, encenações que fazem parte

da realidade externa da criança há muitas expressões através de gestos, posturas,

algumas interpretações foram caracterizadas pelo jogo simbólico, onde o, “como se”,

foi utilizado para dar significado aos objetos.

Segundo Vygotsky (1998), o brinquedo é para a criança um mediador entre a

realidade externa que ela observa dos adultos a sua volta, suas vontades e a

realidade do que é realmente certo a fazer, essa posição que o brinquedo tem na

vida da criança é a chamada zona de desenvolvimento proximal, por isso podemos

afirmar que o brincar de faz de conta e as brincadeiras é algo essencial para o

desenvolvimento da criança.

Page 12: 1 Introdução Trabalho Faz de Conta

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Algumas crianças representaram o brincar, através da imitação de

personagens, segundo a teoria, esse brincar é típico em idades da pré escola, essa

fantasia leva a criança para um mundo que lhe dá possibilidade de vivenciar

aventuras estimulando desta forma a criatividade e imaginação. Esse brincar foi

executado somente por meninas sendo que uma representou uma personagem

clássica das histórias infantis, imitando a chapeuzinho vermelho, ela encena toda

história, colocando todos os personagens, caçador, lobo, vovó, carrega as frutas em

uma cesta, ela faz uma encenação completa da história. Numa outra observação

também foi visto a imitação de personagens, quando a criança faz de conta ser uma

princesa, ela baseia essa brincadeira num vestido longo que ela representa usando

um tecido amarrado na cintura que chega até o chão, quando ela caminha o tecido

(vestido) se arrasta pelo chão.

Isso é característico do faz de conta, pois ele possibilita que a criança

expresse sua capacidade de dramatizar e aprender a representar, tomando como

referencia a imagem de uma pessoa, de uma personagem ou de um objeto como,

por exemplo, visto no livro de Vygotsky, quando o cabo de vassoura se transforma

em cavalo (VYGOTSKY, 1998).

Segundo Vygotsky (1998) a transferência de significados é facilitada pelo fato

de a criança reconhecer numa palavra a propriedade de um objeto, ela vê não a

palavra, mas o objeto que ela designa. A criança precisa brincar de simbolismo para

estabelecer mais relações sobre o modo de relacionar-se com as pessoas.

Também foi observado o brincar através da montagem de peças, uma criança

ao juntar várias peças de plástico em formato da letra “c”, ao terminar ela utilizou

uma bolinha, dando um sentido a sua montagem, pois a bolinha desceu deslizando,

como se estivesse em um tobogã. E, outra criança utilizou peças de madeira, onde

formou um cercado que utilizou para guardar animais e carros, ou seja, nesse

brincar as crianças constroem o brinquedo e os cenários para suas brincadeiras, o

que chamou a atenção nesse brincar é que essas crianças brincaram sozinhas.

Esse é um dos brinquedos da categoria dos brinquedos cognitivos, ou seja, exigem

atividades intelectuais e criativas, onde segundo Vygotsky (1998) a situação é

definida pelo significado estabelecido pela brincadeira, e não pelos elementos reais

concretamente presentes. Ao brincar com um tijolinho de madeira como se fosse um

carrinho, por exemplo, ela se relaciona com o significado e não com o objeto

Page 13: 1 Introdução Trabalho Faz de Conta

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concreto que tem nas mãos, foi o que fizeram as crianças observadas, deram

significado aos objetos que tinham nas mãos, ou seja, transformaram as peças,

dando significado de tobogã e de cercado pra animais e carros.

Como na mídia Plataforma do letramento, no artigo: A brincadeira é o próprio

aprendizado, nela é relatado que nas mãos e imaginação das crianças qualquer

objeto ganha vida e se transforma em brinquedos, como uma caixa de papelão se

transforma em automóvel, depois se torna uma boneca e ainda vira um berço, ou

seja, a criança se relaciona com o significado e não com o objeto.

Outra brincadeira onde as crianças deram significado ao objeto que tinham

nas mãos foi onde os meninos fizeram dobraduras com papel, criando aviões, em

seguida por meio do faz de conta, levaram os aviões para voar onde imaginaram

que os mesmos caiam atrás de uma montanha, ou que o avião ao aterrissar amassa

o bico e vai ser levado para uma oficina, e também utilizaram o “como se” ao imitar

com a boca o som de um avião voando, como visto no artigo, A percepção da

brincadeira de faz de conta, por crianças de uma instituição da educação infantil, nos

relata que a brincadeira de faz de conta, jogo de ficção ou de imaginação, jogo

dramático e jogo simbólico são algumas das diversas denominações atribuídas ao

fenômeno de brincar, imprimindo significados aos objetos, simulando ser outro

personagem ou criando contextos imaginários

Page 14: 1 Introdução Trabalho Faz de Conta

16

4 CONCLUSÃO

Percebe-se que ao brincar de faz de conta, as crianças ao mesmo tempo em

que desenvolvem habilidades importantes, também trabalham alguns valores da

vida, observam alguns aspectos do cotidiano e são capturados por representações

sociais sobre determinados acontecimentos.

A brincadeira de faz de conta se desenvolve a partir das atitudes e desejos

dos participantes que usam certos objetos na definição de uma situação onde há

determinadas regras. Foi observado que as crianças maiores têm maior controle

sobre as histórias que criam, onde notou se que elas planejam e distribuem com

mais facilidade os papeis que a compõem, e também constroem cenários para neles

brincar.

Com o desenvolvimento a criança também passa a apreciar jogos de regras,

onde criam formas de alcançar um determinado objetivo, algo que as crianças antes

da idade pré-escolar ainda não fazem.

A partir da teoria estudada, ficou claro que as crianças conforme ampliam seu

domínio em relação à estrutura básica de um jogo de faz de conta, passam sugerir

modificações nos personagens, enredo ou regras de uma brincadeira.

Segundo o autor estudado, se por um lado a criança de fato reproduz e

representa o mundo por meio das situações criadas nas atividades de brincadeiras,

por outro lado tal reprodução não se faz passivamente, mas mediante um processo

ativo de reinterpretação do mundo, que abre lugar para a invenção e a produção de

novos significados saberes e práticas.

O brincar é um importante processo psicológico, fonte de desenvolvimento e

aprendizagem. As brinquedotecas que foram a única fonte de informação desse

trabalho, além de muitos brinquedos, também proporcionam muitas vivencias e

aprendizagens sobre vários aspectos, elas são espaços destinados para

oportunização do brincar livre e espontâneo, gerando momentos de agir sem a

espera de resultados.

Pode se concluir que as brincadeiras de faz de conta são essenciais para o

desenvolvimento da criança, quando a mesma é direcionada de forma saudável ela

experimenta momentos prazerosos e de muita descontração. Este é o momento em

Page 15: 1 Introdução Trabalho Faz de Conta

17

que a criança desenvolve sua criatividade, e a partir da brincadeira ela fica mais

descontraída com o outro, assim aumentando a sua autoestima afetiva.

Page 16: 1 Introdução Trabalho Faz de Conta

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