1 a anÁlise do discurso e o ensino de lÍngua … · a análise do discurso como disciplina, com...

17
1 A ANÁLISE DO DISCURSO E O ENSINO DE LÍNGUA MATERNA VIVIANE BORDIN 1 ALEXANDRE SEBASTIÃO FERRARI SOARES 2 RESUMO: Este artigo é o relato da aplicação de material pedagógico desenvolvido com o objetivo de introduzir nos conteúdos trabalhados em língua portuguesa o referencial teórico da Análise do Discurso de linha francesa, buscando interpretar textos de forma mais ampla, mais profunda do que aquelas trazidas pelos livros didáticos, usando elementos da realidade do aluno e, em um segundo momento, elementos de outras disciplinas. Para tanto foi produzido um material didático chamado Folhas, cujo objetivo primordial é tornar os conteúdos escolares mais dinâmicos e atrativos aos alunos. Por exigência do tipo de material escolhido, a interdisciplinaridade deve sempre estar presente e as disciplinas escolhidas para fazerem parte do mesmo foram Arte e Sociologia. Como elemento delimitador, foi escolhido o tema gênero, ou seja, o papel da mulher na sociedade, retratado através de material publicitário, quadro abstrato, poesia e música. PALAVRAS-CHAVE: ANÁLISE DO DISCURSO. ENSINO. MULHER. PROPAGANDA. ABSTRACT: This article is a report of the application of teaching materials developed with the aim of introducing in the content worked in Portuguese language the theoretical framework of discourse analysis of the French line, seeking to interpret texts in a broader, more profound way than that found in textbooks using elements of student's reality and in a second time, elements of other subjects. Thus, it was produced an educational material called Folhas, whose primary objective is to make educational content more dynamic and attractive to students. By requirement of the type of the chosen material, interdisciplinarity should always be present and the subjects chosen to be part of it were Art and Sociology. As part delimiter, it was chosen the theme of gender, ie the role of women in society, portrayed through advertising material, abstract painting, poetry and music KEY-WORDS: DISCOURSE ANALYSIS .EDUCATION. WOMAN. ADVERTISEMENT. INTRODUÇÃO Desde 2003, a Secretaria Estadual de Educação do Paraná (SEED) está em processo de elaboração das diretrizes curriculares para a educação básica no estado. Vários encontros foram realizados, em diversas cidades, em diferentes momentos, colhendo informações dos professores sobre a realidade escolar existente e procurando alternativas para tornar o ensino de língua materna e das demais disciplinas mais eficiente. Além da reformulação dos pressupostos teóricos, A autora é professora de língua portuguesa no Colégio Estadual Professor Victório Emanuel Abrozino – Ensino Fundamental e Médio, em Cascavel, Paraná. 2 Professor orientador, atua na Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, campus de Cascavel.

Upload: dangnhi

Post on 27-Nov-2018

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

1

A ANÁLISE DO DISCURSO E O ENSINO DE LÍNGUA MATERNA

VIVIANE BORDIN1 ALEXANDRE SEBASTIÃO FERRARI SOARES2

RESUMO: Este artigo é o relato da aplicação de material pedagógico desenvolvido com o objetivo de introduzir nos conteúdos trabalhados em língua portuguesa o referencial teórico da Análise do Discurso de linha francesa, buscando interpretar textos de forma mais ampla, mais profunda do que aquelas trazidas pelos livros didáticos, usando elementos da realidade do aluno e, em um segundo momento, elementos de outras disciplinas. Para tanto foi produzido um material didático chamado Folhas, cujo objetivo primordial é tornar os conteúdos escolares mais dinâmicos e atrativos aos alunos. Por exigência do tipo de material escolhido, a interdisciplinaridade deve sempre estar presente e as disciplinas escolhidas para fazerem parte do mesmo foram Arte e Sociologia. Como elemento delimitador, foi escolhido o tema gênero, ou seja, o papel da mulher na sociedade, retratado através de material publicitário, quadro abstrato, poesia e música. PALAVRAS-CHAVE: ANÁLISE DO DISCURSO. ENSINO. MULHER. PROPAGANDA. ABSTRACT : This article is a report of the application of teaching materials developed with the aim of introducing in the content worked in Portuguese language the theoretical framework of discourse analysis of the French line, seeking to interpret texts in a broader, more profound way than that found in textbooks using elements of student's reality and in a second time, elements of other subjects. Thus, it was produced an educational material called Folhas, whose primary objective is to make educational content more dynamic and attractive to students. By requirement of the type of the chosen material, interdisciplinarity should always be present and the subjects chosen to be part of it were Art and Sociology. As part delimiter, it was chosen the theme of gender, ie the role of women in society, portrayed through advertising material, abstract painting, poetry and music KEY-WORDS: DISCOURSE ANALYSIS .EDUCATION. WOMAN. ADVERTISEMENT. INTRODUÇÃO

Desde 2003, a Secretaria Estadual de Educação do Paraná (SEED) está em

processo de elaboração das diretrizes curriculares para a educação básica no

estado. Vários encontros foram realizados, em diversas cidades, em diferentes

momentos, colhendo informações dos professores sobre a realidade escolar

existente e procurando alternativas para tornar o ensino de língua materna e das

demais disciplinas mais eficiente. Além da reformulação dos pressupostos teóricos, A autora é professora de língua portuguesa no Colégio Estadual Professor Victório Emanuel Abrozino – Ensino Fundamental e Médio, em Cascavel, Paraná. 2 Professor orientador, atua na Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, campus de Cascavel.

2

foram organizados os conteúdos, separando-os por eixos estruturantes, exceto a

disciplina de língua portuguesa, que se organizou em torno de um único eixo: o

discurso enquanto prática social.

A partir daí surgiram as indagações sobre o que é, efetivamente, discurso?

Como efetivar a abordagem dialógica presente nas diretrizes em sala de aula?

Enfim, conceituar, entender e aplicar o trabalho com esta abordagem, sem cair no

senso comum, fazendo a opção por trabalhar sob a vertente da Análise do Discurso

de orientação francesa (doravante AD). Conforme explicita Mussalim (2001, p. 102):

Falar em Análise do Discurso pode significar, num primeiro momento, algo vago e amplo , praticamente pode significar qualquer coisa, já que toda produção de linguagem pode ser considerada “discurso ” (grifos meus)

Se tudo pode ser considerado discurso, de que forma o estudo da AD francesa

poderia dar conta da questão do ensino da forma como foi proposto pelas diretrizes

curriculares do estado? Em Orlandi ( ):

“a análise de discurso não é uma resposta a essas questões . Ela vai mostrar que para respondê-las é necessário deslocar-se de terreno constituindo outra região teórica em que o sócio-histórico e o linguístico se relacionam de maneira constitutiva e não periférica. O que liga o dizer a sua exterioridade é constitutivo do dizer”. (ORLANDI, 2006 p. 14) (grifos meus)

Tendo em vista esta articulação da Análise do Discurso com outras áreas do

conhecimento, optou-se pela construção de um material didático no formato Folhas,

da Secretaria de Estado da Educação, conforme segue:

O Projeto Folhas é um projeto de Formação Continuada que oportuniza ao profissional da educação a reflexão sobre sua concepção de ciência, conhecimento e disciplina, que influencia a prática docente. O Projeto Folhas integra o projeto de formação continuada e valorização dos profissionais da Educação da Rede Estadual do Paraná, instituído pelo Plano Estadual de Desenvolvimento Educacional. O Folhas, nesta dimensão formativa, é a produção colaborativa, pelos profissionais da educação , de textos de conteúdos pedagógicos que constituirão material didático para os alunos e apoio ao trabalho docente. (SEED, 2009, grifo meu)

3

O formato Folhas foi escolhido justamente porque ele não pretende ser um

material cristalizado em livro, porém o nome deriva justamente de serem folhas

soltas a serem organizadas pelo professor regente, de acordo com suas

necessidades em sala de aula. A ideia é procurar o material que mais se encaixe no

conteúdo trabalhado no Portal Dia a Dia Educação da SEED e imprimir na própria

escola. É um material passível de contribuições de outros professores que o

utilizaram em suas aulas, ou seja, ele não é um material dogmático, que não pode

sofrer modificações.

Com o formato do trabalho escolhido e de posse das orientações sobre como

elaborar o projeto Folhas, houve a seleção do corpus a ser analisado e esta seleção

foi pautada na interdisciplinaridade, requisito do projeto Folhas. Tendo em vista as

questões de que as disciplinas deveriam valorizar a historicidade e as relações

sociais estabelecidas, optou-se pelas disciplinas de Artes e Sociologia.

Artes foi escolhida para compor uma das relações interdisciplinares em virtude

de ter, em seus pressupostos, a questão da historicidade. O componente de

apreciação estética também foi levado em consideração, porém, ao apreciar uma

obra artística, tem-se a seguinte questão: é belo? Mas é belo para quem, em que

situação, de que forma? Respostas que só podem ser buscadas a partir das

condições históricas dadas, conforme abaixo:

Nas aulas de Arte, os conteúdos devem ser selecionados a partir de uma análise histórica , abordados por meio do conhecimento estético e da produção artística, de maneira crítica, o que permitirá ao aluno uma percepção da arte em suas múltiplas dimensões cognitivas e possibilitará a construção de uma sociedade sem desigualdades e injustiças. (DIRETRIZES, ARTE, 2009, p.53, grifos meus )

Sociologia é a outra disciplina escolhida para também tecer a outra relação

interdisciplinar e auxilia na interpretação dos objetos simbólicos, uma vez que esta

interpretação ocorre mediada pelas relações sociais e como estas relações foram se

construindo historicamente.

4

Toda ciência, como um produto histórico , está em constante processo de construção e se vale do conhecimento acumulado pelos intelectuais que lançaram as bases teórico-metodológicas do pensar a realidade com método e arguto espírito de indagação. São clássicos, diz o sociólogo norte-americano Robert Merton (1970), os pensadores que requerem releituras e impulsionam o pensamento, fazem avançar as ideias, suscitam aspectos novos de análise, enfim, surpreendem o leitor. (DIRETRIZES, SOCIOLOGIA, 2009, p.54, grifos meus )

APRESENTAÇÃO DA TEORIA

A análise do discurso insere-se na perspectiva da AD francesa, entendendo-

a com a disciplina surgida na França nos anos 60, como uma ruptura ao

estruturalismo vigente, onde a questão do sujeito e sua relação com a ideologia não

era levado em consideração nas análises linguísticas efetuadas, ou como explicita

Mussalim (2003, p. 102) “A língua não é apreendida na sua relação com o mundo,

mas na estrutura interna de um sistema fechado sobre si mesmo”.

Desta forma, o objeto de estudo da AD de orientação francesa é a

materialidade do discurso, como ele se apresenta, em que formações discursivas ele

se apóia e ganha legitimidade, “assim, o discurso foi para Pêcheux e continua sendo

para nós, analistas de discurso dessa vertente teórica, o objeto de uma busca infinita

que nos instiga a prosseguir a pesquisa nesse complexo e infindável campo de

estudos” (FERREIRA, 2008).

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A análise do discurso como disciplina, com seus próprios pressupostos

teóricos, surgiu nos anos 60, a partir do embricamento de três linhas de

pensamento: a linguística, a psicanálise e o marxismo. A AD questiona a linguística,

quando afirma que a linguagem não é transparente, pelo contrário, é opaca e está

sujeita a diversas interpretações. Questiona também o marxismo em relação ao

modo de ver o mundo: o homem é um sujeito histórico, faz e produz história, porém

nem sempre este entendimento é automático. A contribuição da psicanálise é

deslocar a noção de homem para a noção de sujeito, afetado pelo inconsciente e

pela ideologia.

5

A respeito da AD, Orlandi (1996, p. 23) afirma que é “uma disciplina de

entremeio, é uma disciplina não positiva, ou seja, ela não acumula conhecimentos

meramente, pois discute seus pressupostos continuamente”.

O objeto de estudo da AD é o discurso, entendido como a “palavra em

movimento, prática de linguagem” (ORLANDI, 2001). Se é movimento, então deve

considerar o discurso em sua historicidade. A ideia é de que o discurso não se

encerra em si mesmo, que ele sempre pode sofrer deslocamento e significar de

forma diferente, pode assumir diferentes efeitos de sentidos, dependendo dos

interlocutores.

O sujeito, para a AD, não é o indivíduo inserido em sua realidade, surgido

como o Adão mítico, iniciador de tudo e de todos os discursos, ditos “originais”. O

sujeito da AD é aquele atravessado e constituído pela ideologia que o cerca. É um

sujeito que tem um limite de ação imposto por suas práticas discursivas, ele tem a

ilusão de que fala e faz o que quer, não tendo consciência que, na verdade, é um

sujeito assujeitado, ou seja, está limitado às formações discursivas a que está

circunscrito, conforme veremos adiante. Segundo ORLANDI (2001, p. 46), a

ideologia “faz parte, ou melhor, é a condição para a constituição do sujeito e dos

sentidos”.

A ideologia na AD tem uma perspectiva diferente da ideologia no marxismo.

Neste a ideologia “é um conjunto de falsas representações da realidade, que servem

para legitimar e consolidar o poder das classes dominantes” (BACK, 2007, p. 25). Já

a ideologia para a AD não tem esta característica. Para ela, a ideologia não é

necessariamente uma falsidade, mas simulação “em que são construídas

transparências (como se a linguagem não tivesse a sua materialidade, sua

opacidade) para serem interpretadas por determinações históricas” (ORLANDI,

1996).

A partir da ideologia de cada sujeito ou grupo de sujeitos, temos o conceito

de formação discursiva que, conforme ORLANDI (2006, p. 17) é “a projeção, na

linguagem, das formações ideológicas”. A conjuntura sócio-histórica é o que vai

determinar o que vai ser dito ou não, já ditos Podemos falar em formação discursiva

religiosa, familiar, educacional, etc. Mas isto não ocorre de forma estanque em

determinada formação discursiva. Várias formações discursivas se cruzando,

repetindo-se, sendo esquecido e dito de novo vai formar o interdiscurso, a memória

do dizer, ou como prefere ORLANDI (2006, p. 18) “Aquilo que preside todo o dizer”.

6

Por formação discursiva entende-se que são as representações das

formações ideológicas no discurso, ou seja, a partir do lugar social onde o sujeito

está inserido, está “determinado o que pode e o que deve ser dito” (ORLANDI, 2001

p. 43). O sujeito não está inserido apenas em uma formação discursiva, podem ser

várias ao mesmo tempo, num constante entrelaçamento entre elas. Como exemplo,

pode-se falar na formação discursiva do professor, do médico, do sindicalista.

A noção de formação discursiva está ligada ao conceito de interdiscurso,

entendendo-se este como “um conjunto de discursos (de num mesmo campo

discursivo ou de campos distintos) que mantém relações de delimitação recíproca

uns com os outros” (CHARAUDEAU, 2004 p. 286).

Quando da formulação dos discursos, pode-se perceber a presença de dois

tipos de esquecimentos. O esquecimento dois é o esquecimento que acontece

quando da enunciação. O sujeito “esquece” que o sentido pode ser outro que não o

que ele “pretendia”. Já o esquecimento número um da ordem do inconsciente, é

aquele em que o sujeito imagina ser a origem do discurso e que ele depende apenas

de sua vontade.

Outros conceitos importantes para AD são: a paráfrase e a polissemia. O

funcionamento da linguagem se dá em torno deste paradoxo. A paráfrase é o que se

mantém ao dizer, é o mesmo sentido, sem possibilidade de se ter outra leitura, no

entanto, diz o mesmo de outra maneira. Já a polissemia é a possibilidade de ruptura

no sentido, é aquilo que foge ao que é esperado. Desta forma, a língua se forma a

partir desta tensão entre o que é esperado e o que escapa ao previsível.

Com relação às condições de produção dos discursos, pode-se afirmar que,

conforme as circunstâncias da enunciação, os sujeitos situar-se-ão de forma social,

histórica e ideológica. Não se pode deixar de falar da memória, condição

indispensável para acionar estas condições de produção, pois estas acionam os

mecanismos do dizer.

Análise do corpus

É próprio do ser humano estar sempre procurando explicações para tudo

que o rodeia. Isto inclui também interpretar, a partir de seu conhecimento prévio, a

linguagem. Segundo Eni Orlandi:

7

“A interpretação está presente em toda e qualquer manifestação de linguagem . Não há sentido sem interpretação. Mais interessante ainda é pensar os diferentes gestos de interpretação, uma vez que as diferentes linguagens , ou as diferentes formas de linguagem , com suas diferentes materialidades, significam de modo distinto ” (ORLANDI 1996, p.9, grifos meus)

A cada gesto interpretativo, buscamos sentido, buscamos saber de que

modo as coisas significam. Necessário complementar que “Não há sentido sem

interpretação” e que “o sentido está sempre em curso” (ORLANDI, p. 9 e p. 11), ou

seja, conforme a atuação do tempo, pode-se mudar a maneira de interpretar, a

maneira de olhar.

Analisar pressupõe conhecer quem analisa (sujeito), de que lugar ele

analisa (momento histórico), de que forma, sob quais condições, enfim, requer mais

do que atenção, requer saber que o sentido sempre pode ser outro, que os leitores

não são donos do objeto que analisaram. A este respeito, Orlandi (1996, p. 13) afima

que o sentido é aberto, porém ele não é solto no tempo e no espaço:

não é porque é aberto que o processo de significaçã o não é regido , não é administrado. Ao contrário, é por esta abertura que há determinação . O lugar mesmo do movimento é o lugar do trabalho da estabilização e vice-versa (grifos meus).

Tendo isto em vista estas considerações, o material produzido pretende

fazer um caminho de análise a partir das questões de gênero, analisando o tema

mulher sob diferentes aspectos e nos diferentes objetos simbólicos. Por gênero,

entende-se que “é um conceito que se refere às relações estabelecidas pela

sociedade e não pela natureza, entre mulheres e homens e não apenas um conceito

que se refere apenas às mulheres”, conforme afirma Makoski-Lombardi (2006, p.

25).

Como corpus de análise que foram usados para compor o material didático,

foram selecionados dois quadros, duas músicas, uma propaganda (veiculada em

revistas e televisão) e uma poesia.

Os quadros foram escolhidos por terem sido criados por mim, justamente como

provocação na questão de como analisar objetos simbólicos sem o devido

embasamento no tempo e no espaço, sendo que o primeiro quadro é uma pintura

8

abstrata, com poucas cores, onde a predominância do cinza. Em um primeiro

momento, parece uma cabeça ou, dependendo de quem observa, um mapa. Como

as cores são simbolicamente pesadas, tristes, a impressão que pode ficar é que as

condições de produção deste quadro não foram muito boas, que existe uma certa

perturbação mental de quem produziu. Como já está caracterizado como uma obra

abstrata, não se permite ver com clareza a quais formações discursivas pode

pertencer.

O segundo quadro é uma releitura de um quadro de Mondrian e já é possível

perceber o contraste entre o primeiro quadro e este. Alegre, com cores básicas e

cores primárias, não passando despercebido em relação a outras obras.

A explicação sobre como o quadro foi feito surgiu como uma resposta aos

alunos sobre as condições em que o quadro foi feito. Às vezes são feitas análises

baseadas somente na materialidade, ou seja, o quadro e não se pensa nas

condições de produção do mesmo.

Existem muitas formas de olhar? Quando você vê um texto, um quadro, ouve uma música, vê o jeito de uma pessoa se vestir, você consegue perceber a intenção de quem criou este objeto ou para quê? É próprio do ser humano interpretar tudo o que está ao seu redor. Quando falamos em “olhar” não estamos nos referindo somente ao ato físico de “ver alguma coisa”, até porque as pessoas com deficiência visual não conseguem fazê-lo, mas “olhar” vai mais além de usar os olhos, tem a ver com as nossas experiências, do nascimento e até agora. Vamos começar nosso “caminho de olhar” neste Folhas pela figura que está na Tv Pen-drive:

Figura 1

9

(Viviane Bordin, 2008)

Em seguida, temos duas questões que remetem ao objeto em análise:

O que você acha que é? É possível entender o que o autor quis “dizer” com esta obra? A partir destes questionamentos, podemos nos perguntar e responder muitas coisas, mas será que existe uma metodologia para interpretar tudo o que nos rodeia? Discuta com seus colegas e professor estas duas questões e faça o registro por escrito.

Contextualizando a obra (ou satisfazendo a sua curiosidade) A figura que está acima é um quadro que foi criado numa oficina de pintura (arte) em 2008. Foi feito da seguinte forma: primeiro foi passado cola branca na tela e espalhado com um pente. Após foi aplicada a tinta “spray” em várias cores. Depois do quadro seco, foi lavado em água corrente para retirar a cola (você sabia que as baratas adoram cola? Por isso ela tem que ser tirada do quadro, senão vira comida de barata urgh!) e demarcado os espaços em branco com caneta de retroprojetor. Viu como é fácil fazer um quadro abstrato! Misturando: falamos em quadro abstrato, mas não dissemos que de onde saiu este termo. Confira a seguir:

A principal característica da pintura abstrata é ausência de

relação imediata entre suas formas e cores e as formas e cores de um ser. Por isso, uma tela abstrata não representa nada da realidade que nos cerca, nem narra figurativamente alguma cena histórica, literária, religiosa ou mitológica. (SANTOS, 1999 pág. 159)

Para saber mais:

10

Procure na biblioteca de sua escola, o livro didático público de Arte. No capítulo 2 temos alguns exemplos de quadros abstratos. Peça para seu professor agendar um horário no laboratório de informática para ter acesso a mais quadros abstratos e discuta com seus colegas quais autores vocês acharam mais interessantes e por qual motivo. Como você pôde perceber até agora, sem a devida contextualização do quadro, ficaria muito difícil você dizer qualquer coisa a respeito dele. Com os textos, figuras, propagandas, enfim, tudo o que está ao nosso redor também acontece isto. Para que você interprete é necessário que você tenha alguns elementos para fazer uma análise ampla das mensagens que podem estar representadas em determinado objeto. Isto é os teóricos chamam de condições de produção do discurso. Poderíamos chamar também de contexto, porém este é “cada vez menos utilizado, pois ele minimiza a dimensão interacional do discurso e o caráter construído enquanto dado da situação de comunicação” MAINGUENEAU, 2006, p. 31). E de que forma analisar as condições de produção do discurso podem nos ajudar a compreender este objeto? A partir de questionamentos feitos diante do que vai ser analisado já podemos ter pistas do que ele quer dizer. Ao perguntarmos o quê, como, por quê, para quem, quem fez, já teremos um direcionamento na questão da interpretação. Veja a seguir uma releitura de um quadro do pintor abstracionista Mondrian:

Figura 2

(Viviane Bordin, 2008)

Sem pesquisar a época em que Piet Mondrian viveu, quem foram seus inspiradores no mundo da arte, você vai achar que é bem fácil fazer estes quadros retos e que basta usar tinta e régua para termos uma obra de arte. Mas não é bem assim. Mãos à obra, vamos pesquisar sobre Mondrian e ver o que ele quis “dizer” com seus quadros e de que forma “olhá-los”. O quadro abaixo é do pintor espanhol Pablo Picasso, cujo nome é “mulher chorando”.

11

Figura 3

(Livro didático Público - Arte, 2006 p. 31)

O quadro apresentado como transição do trabalho para a questão feminina é o

quadro “Mulher chorando” de Pablo Picasso. Esta transição foi necessária para

colocar uma delimitação no corpus a ser analisado: a questão de gênero. No quadro,

apesar das cores fortes usadas, que teoricamente deveriam ser alegres,

envolventes, tornam-se deprimentes, chocante ao mostrar a figura estilizada de uma

mulher chorando, dividida, certamente fazendo uma referência ao período histórico

no qual o pintor vivia, em plena guerra civil espanhola. Pode-se também perceber

uma formação discursiva de que a mulher é sempre condenada a chorar, não

podendo agir para evitar que aconteçam tais coisas, como guerras e matanças.

Atividades: Você consegue “enxergar” uma mulher neste quadro? O que será que passou na cabeça do Pablo Picasso para fazer um quadro assim?

Na passagem a seguir, pretende-se mostrar que, mesmo entre músicas com

o mesmo tema, ou seja, provenientes de formações discursivas semelhantes, pode-

se haver a ruptura com os papéis esperados. Na música 1, aparece a figura da

mulher, idealizada, voltada para as questões da maternidade. Já na música 2, a

mulher se coloca numa posição contraditória, às vezes santa, às vezes pecadora.

Conseguimos resgatar aqui os conceitos de paráfrase e polissemia. Paráfrase do

discurso machista, no qual a mulher deve estar em casa esperando o seu homem e

há polissemia ao mostrar que existem outras possibilidades para figura feminina,

12

além daquele discurso3. Na música dois, aparece uma palavra que representa a

condição contraditória da figura feminina: beaidetificadas, misturando a palavra

beata (santa) com a palavra AIDS. Ao misturar palavras de formações discursivas

diferentes, cria-se um efeito para mostrar esta contradição.

Aproveitando o tema do quadro exposto (mulher), vamos escutar e analisar

também as letras destas duas músicas:

Música 01: Mulher (Sexo Frágil) Erasmo Carlos Composição: Erasmo Carlos e Narinha Dizem que a mulher é o sexo frágil Mas que mentira absurda Eu que faço parte da rotina de uma delas Sei que a força está com elas Vejam como é forte a que eu conheço Sua sapiência não tem preço Satisfaz meu ego se fingindo submissa Mas no fundo me enfeitiça Quando eu chego em casa à noitinha Quero uma mulher só minha Mas pra quem deu luz não tem mais jeito Porque um filho quer seu peito O outro já reclama a sua mão E o outro quer o amor que ela tiver Quatro homens dependentes e carentes Da força da mulher Mulher, mulher Do barro de que você foi gerada Me veio inspiração Pra decantar você nessa canção Mulher, mulher Na escola em que você foi ensinada Jamais tirei um dez Sou forte mas não chego aos seus pés

Música 02: Todas as Mulheres Do Mundo Cássia Eller Composição: Rita Lee Mães assassinas, filhas de Maria Polícias femininas, nazis judias Gatas, gatunas, quengas no cio Esposas drogadas, tadinhas, mal pagas Toda mulher quer ser amada Toda mulher quer ser feliz Toda mulher se faz de coitada Toda mulher é meio Leila Diniz Garotas de Ipanema, minas de Minas Loiras, morenas, messalinas Santas sinistras, ministras malvadas Imeldas, Evitas, Beneditas estupradas Repete refrão. Paquitas de paquete, Xuxas em crise Macacas de auditório,velhas atrizes Patroas babacas, empregadas mandonas Madonnas na cama, Dianas corneadas Repete refrão. Socialites plebéias, rainhas decadentes Manecas alcéias, enfermeiras doentes Madrastas malditas, superhomem sapatas Irmãs La Dulce beaidetificadas

3 O que temos percebido, por exemplo, nas revistas voltadas para o público feminino (quase que de forma geral), é que mesmo quando a mulher é independente, tem uma profissão etc., ela ainda significa a partir daquele lugar de objeto. Precisa estar/ser bonita para o seu homem.

13

Repete refrão. Faz parte das condições de produção do discurso a forma como o autor

cria a música, a letra, quais as efeitos de sentido que quer obter ao elaborar a sua obra. Agora vamos entrar em um outro conceito também necessário para que interpretemos as coisas. As duas músicas que estão nos quadros têm a mesma temática, porém seguem caminhos diferentes.

Você é capaz de determinar estes caminhos? Por que os autores seguiram este ponto de vista?

Neste trecho, marca-se o território de circulação dos discursos, ou seja, não é

qualquer discurso que pode ser efetivado em qualquer lugar. Existem regras não

escritas do que pode ser dito e quem pode dizer e em que situações.

Quando encontramos exemplos assim, dizemos que as músicas

pertencem a formações discursivas diferentes. Os sentidos que vamos dar a cada música depende de qual formação discursiva nos encontramos no momento.

Imagine um exemplo, você é um garoto que está apaixonado, então certamente irá se identificar mais com a idealização da mulher que aparece na música 1. Agora, se você levou um “fora” de sua garota, a música 2 vai parecer pouco, perto dos sentimentos negativos em relação às mulheres em geral.

Voltando à questão das duas músicas, elas vão circular em situações completamente diferentes. No primeiro existe a exaltação da figura feminina e seu elogio, então o ambiente em que ela vai circular deve ser mais familiar, da casa, dos cuidados com os filhos. Já a segunda música segue outro caminho, onde a figura feminina definitivamente não é elogiada.

Agora vamos voltar nosso olhar para um anúncio publicitário do xampu Seda Teens. Veja a figura abaixo:

Figura 4

(Revista Capricho, junho/2008)

A escolha das cores para o anúncio do xampu já nos denuncia a que veio.

Cores fortes, chamativas e o uso do símbolo de trânsito para negar o acesso ao

produto anunciado para pessoas maiores de dezoitos anos. Para dar mais

credibillidade ao comercial, meninas macérrimas aparecem em situações de

movimento, com leveza. A primeira vista são excluídas as pessoas mais velhas em

relação ao consumo do produto. Já a segunda, mais cruel ainda, exclui as próprias

14

adolescentes, que não estejam no padrão de beleza apresentados, de serem

consumidoras do xampu. Entra-se aqui no universo propagado pela mídia que

mulher bonita é mulher magra, excluindo outros tipos de beleza. Outra observação é

que não existem meninas negras ou de outras etnias na propaganda apresentada.

O vídeo publicitário é curto, aparecendo quatro seqüências de ações a

seguir descritas:

Cena a: No corredor de uma escola, duas senhoras passam por um rapaz e

lhe piscam o olho, em seguida saem dando risadas, ou seja, depois de uma

determinada faixa etária, as emoções devem ser extremamente controladas, que

determinados comportamentos sociais não são mais tolerados.

Cena b: duas senhoras dançam numa máquina de fliperama, usando roupas

justas e curtas, fazendo caretas diante do “escore” do jogo. As roupas fazem

questão de marcar que o corpo não é mais aquele da juventude e que determinados

divertimentos devem ser apenas para os adolescentes;

Cena c: várias senhoras, algumas de pijamas, outras de camisola, dançam

e fazem guerra com os travesseiros, sendo ressaltados os corpos com um certo

excesso de peso. Cabe aqui o contraponto com a cultura de magreza absoluta, além

da publicidade querer moldar comportamentos, quer moldar corpos também, numa

lógica perversa que faz com que muitas meninas parem de comer para se encaixar

no perfil exigido pela sociedade de consumo.

Cena d: adolescentes pulam, ressaltando corpos magros, como se

estivessem numa cama elástica, dando bastante movimento aos cabelos brilhantes

e com roupas coloridas. Nesta última cena, fica evidente o poço que separa as

gerações. As adolescentes que não se encaixam neste perfil, ficaram de fora do

comercial: as gordinhas e as negras não apareceram.

Esta propaganda estava na revista Capricho em junho de 2008, como parte de uma campanha publicitária do xampu Seda Teens, juntamente com o filme que o professor vai passar na TV Pen-Drive que foi exibido na televisão, dividida em quadros. Observe estes quadros e responda aos seguintes questionamentos: O que você achou da propaganda? Segundo seu ponto de vista, quais foram as condições de produção deste filme? Para quem este tipo de produto é dirigido? Você acha que existe alguma relação entre a figura que saiu na revista e o filme?

15

Observando do ponto de vista ético, este tipo de publicidade é válido?

Como último objeto simbólico a ser analisado, a poesia de Adélia Prado

retrata um ponto de vista diferente sobre o papel sofredor na mulher na sociedade,

indo além da simples paráfrase do poema de Carlos Drummond de Andrade,

alternando momentos libertários com momentos conservadores. Se existe a

liberdade, por que condicioná-la ao “casamento” e à “beleza”?

Às vezes na poesia também percebemos que o autor também direciona a sua produção para um público já previamente selecionado. Veja se você consegue perceber isto no poema abaixo, de Adélia Prado.

O poema abaixo foi trabalhado de forma a revelar aos alunos que os

discursos conversam entre si, não estão fechados em relação a outros discursos.

Apesar de ser um poema com uma faceta libertária, Adélia Prado acaba revelando

uma formação discursiva machista ao revelar que “Não sou feia que não possa

casar”. Para a mulher poder casar, deve carregar em si o modelo de beleza vigente

na sociedade da época, mesmo que esta beleza não seja plena.

INTERTEXTUALIDADE

Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto, desses que tocam trombeta, anunciou: vai carregar bandeira. Cargo muito pesado pra mulher, esta espécie ainda envergonhada. Aceito os subterfúgios que me cabem, sem precisar mentir. Não sou feia que não possa casar, acho o Rio de Janeiro uma beleza e ora sim, ora não, creio em parto sem dor. Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina. Inauguro linhagens, fundo reinos — dor não é amargura. Minha tristeza não tem pedigree, já a minha vontade de alegria, sua raiz vai ao meu mil avô. Vai ser coxo na vida é maldição pra homem. Mulher é desdobrável. Eu sou.

16

Atividades: Para que tipo de público você acha que o poema foi escrito? Lendo o poema, você consegue fazer relação com outro poema que você

já tenha lido?

CONCLUSÃO

O trabalho de interpretação de objetos simbólicos diversos sob a ótica da

AD, mostrou-se importante no sentido de trabalhar a criticidade dos alunos, afetadas

por livros didáticos repetitivos e previsíveis. Saber que o sentido sempre pode ser

outro abre um leque de possibilidades antes ignoradas e cria novas estratégias de

reflexão.

Reflexão esta que é pertinente não somente para as aulas de língua

portuguesa, mas que pode ser um recurso interpretativo nas demais disciplinas e

pode ajudar a desvelar algumas contradições presentes em nossa sociedade.

Ter consciência do assujeitamento revelado nos materiais publicitários, as

mensagens implícitas nas músicas, as formações discursivas preconceituosas, pode

ajudar na constituição de um sujeito ativo em seu meio, que tenha consciência de

que não vai mudar o mundo, mas pelo menos vai saber o seu lugar nele.

REFERÊNCIAS:

BACK, Norberto. A sociologia clássica. Em Introdução à Sociologia: concepção política e sindical. Brasília: CNTE, 2007.

CHARAUDEAU , Patrick e MAINGUENEAU , Dominique. (Organização Trad. Fabiana

Komesu). Dicionário de Análise do discurso. São Paulo: Contexto, 2004. FERREIRA, Maria Cristina Leandro. Por que a análise do discurso francesa?

Disponível em http://www.discurso.ufrgs.br/ acessado em 16 de setembro de 2008.

MAINGUENEAU , Dominique. Novas tendências em Análise do discurso. Campinas:

Pontes, 3ª Ed 1997 MAINGUENEAU, Dominique. Termos-chave da análise do discurso. Belo Horizonte:

Ed. UFMG, 2006

17

MAKOSKI-LOMBARDI, Sheila Priscila. Desenvolvimento rural e gênero: a participação das mulheres na organização de um movimento social – o caso Crabi – PR. Dissertação de Mestrado (Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional e Agronegócio) Universidade do Oeste do Paraná – Campus de Toledo. p 25-30).

MUSSALIM , Fernanda, BENTES, Anna Christina. Introdução à linguística: domínios

e fronteiras. Volume 2, São Paulo: Cortez, 2001. MUSSALIM , Fernanda. A construção de identidades femininas no discurso

publicitário. Estudos da Língua(gem). Vitória da Conquista, v. 5, n.1, p. 109-124, junho 2007.

ORLANDI, Eni P. Interpretação, autoria, leitura e efeitos do trabalho simbólico. Rio

de Janeiro: Vozes, 1996. ORLANDI, Eni P. Introdução às Ciências da Linguagem: discurso e textualidade.

Campinas. SP: Pontes, 2006. ORLANDI, Eni P. Análise de Discurso: princípios e procedimentos. Campinas, SP:

Pontes, 2001. PARANÁ . Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes curriculares da educação

básica – Arte. Curitiba: SEED, 2009. PARANÁ . Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes curriculares da educação

básica – Língua Portuguesa. Curitiba: SEED, 2009. PARANÁ . Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes curriculares da educação

básica – Sociologia. Curitiba: SEED, 2009. PARANÁ . Secretaria de Estado da Educação.Projeto Folhas, acesso no dia 03 de

dezembro de 2009, em http://www.diadiaeducacao.pr.gov.br/portals/portal/projetofolhas/index.php?logado=ok&PHPSESSID=2009120718464342

REVISTA CAPRICHO . Edição de junho de 2008. SANTOS, M.G.V.P. História da arte. São Paulo. Ática, 1999 VÍDEO PUBLICITÁRIO DO XAMPU SEDA TEENS. Acessado em 18 de setembro

de 2008, disponível em http://youtube.com/watch?v=54tHij91cQs&NR=1 VÁRIOS AUTORES . Arte. Curitiba: SEED-PR, 2006. VOESE, Ingo. Análise do discurso e o ensino de língua portuguesa. São Paulo:

Cortez, 2004 – (Coleção aprender e ensinar com textos; v.13 / coord. Geral Adilson Citelli, Lígia Chiappini).