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  • Unidade II I 1 I Qeoeconomia

    0 que so tcnica e tecnologia? Chama-se tcnica qualquer instrumento (ou

    conhecimento) que implica uma demonstrao de inteligncia humana, uma forma de inventar um mtodo ou um objeto que facilite algum trabalho ou que sirva para controlar as foras da natureza de alguma maneira.

    A tecnologia vista como uma tcnica avanada, resultado da aplicao do conhecimento cientfico, da cincia moderna que nasceu ou se consolidou nos sculos XVII e XVIII e prossegue at os nossos dias. Assim, o arco e a flecha, a espada e o escudo, etc, utilizados pelos agrupamentos humanos durante sculos ou milnios, so considerados tcnicas. O computador, o avio moderno, o foguete espacial, a bomba atmica, o rob e a fibra ptica, entre outros instrumentos ou aparelhos, so considerados tecnologias. Toda tecnologia uma tcnica, mas o inverso no verdadeiro.

    Tambm ideias ou teorias, elementos no materiais, enfim, podem ser considerados tecnologias: um software

    ou programa para computador, um novo mtodo administrativo mais racional e produtivo, o mapeamento gentico de uma planta ou animal, etc. Em suma, tecnologia uma tcnica especial e moderna, resultante da aplicao do conhecimento cientfico, todo produto cientfico (ideias ou coisas materiais) que tem aplicao prtica para a humanidade, geralmente ligada ao avano das conquistas humanas sobre a natureza, at mesmo sobre a nossa prpria natureza

    (para se viver mais, para curar doenas antes incurveis, etc).

    evidente que, quanto maior for o grau de desenvolvimento tecnolgico de uma sociedade, maior ser o seu nvel de independncia ou autonomia (embora nunca total) em relao aos elementos da natureza. Esse grau varia muito no tempo e no espao. As sociedades atuais, notadamente aps a Revoluo Industrial, via de regra possuem tcnicas bem mais avanadas que as sociedades do passado e, dessa maneira, modificam a natureza original num grau bem maior.

    A industrializao da humanidade A atividade industrial a que mais profundamente

    modifica o espao geogrfico. Ela incentiva a gerao de tecnologia, produz novas mquinas, aumenta o consumo de energia, amplia as trocas entre as regies e os pases, desenvolvendo, assim, o comrcio e os meios de transporte.

    Antes da indstria moderna, que nasceu em meados do sculo XVIII, havia somente o artesanato e a manufatura1. A indstria moderna, que no incio era identificada com a fbrica e as suas chamins (hoje no mais, pois falamos tambm em "indstrias, ou fbricas, sem chamins", como nas indstrias produtoras de softwares), consiste numa produo em massa e padronizada. Em massa porque produz com o uso de modernas mquinas, que fabricam milhares de produtos num tempo curto. E estandardizada ou padronizada

    porque os produtos so feitos por mquinas em srie, sendo todos iguais. Assim, a Revoluo Industrial foi o momento em que a humanidade -ou melhor, alguns pases e regies especficos - se industrializou, isto , implantou a indstria moderna, com intensa mecanizao e produo massificada ou em srie. A industrializao pode ser dividida em diferentes tipos ou modelos e, principalmente, em trs etapas. Do ponto de vista poltico-econmico, podemos dizer que houve trs modelos de industrializao: a clssica ou original, a planificada e a tardia, perifrica ou retardatria. Do ponto

    de vista da complexidade tecnolgica e do transcorrer do tempo, ela pode ser dividida em trs etapas ou fases: a Primeira, a Segunda e a Terceira Revoluo Industrial.

    Vamos examinar, resumidamente, cada um desses modelos e etapas.

    Industrializao clssica ou original A industrializao clssica ou original de uma forma

    geral foi tpica dos pases desenvolvidos, o atual Primeiro Mundo. Como o prprio nome diz, foi a primeira, a original, bem anterior s demais.

    Comeou na Inglaterra, em meados do sculo XVIII, e, no sculo XIX, espalhou-se para outros pases da Europa e de outros continentes (Estados Unidos, Japo). Esses pases pioneiros na revoluo industrial formaram as primeiras "sociedades de consumo" do planeta, os pases afluentes ou desenvolvidos. Da o desenvolvimento econmico durante muito tempo, desde meados do sculo XVIII, ter sido considerado sinnimo de industrializao.

    Hoje em dia se valorizam mais outros elementos, principalmente o desenvolvimento social (padro ou qualidade de vida de uma populao), mas no h dvidas de que a industrializao constitui o alicerce que permite uma elevao na qualidade de vida: maior produo econmica e energtica e, consequentemente, mais escolas e hospitais, mais alimentos, mais residncias, maior quantidade de equipamentos de

    lazer, etc. Origens: do feudalismo ao capitalismo As origens da industrializao clssica so

    praticamente as mesmas do capitalismo, sistema socioeconmico baseado numa economia de mercado e numa sociedade de classes. Por economia de mercado devemos entender a situao em que predominam as empresas particulares e o mercado desempenha o papel

    principal nas decises econmicas. Tais decises so tomadas pelos donos das empresas privadas (os capitalistas ou burgueses) ou ento como mais comum nos dias de hoje, com o predomnio das sociedades annimas (com milhares de acionistas) por seus representantes (diretores e administradores). O objetivo principal da empresa capitalista a busca de lucros.

    O capitalismo, embora tenha comeado timidamente nos sculos XV e XVI, s se tornou o sistema dominante e atingiu o seu estgio pleno com a Revoluo Industrial e a urbanizao que a acompanhou. Esse sistema socioeconmico s existe de fato capitalismo pleno com a indstria moderna e com a sociedade urbanizada.

  • Unidade II I 2 I Qeoeconomia

    O perodo que vai do sculo XVI ao XVIII pode ser considerado uma etapa primitiva do capitalismo (o capitalismo comercial), mas no ainda o capitalismo plenamente desenvolvido. O capitalismo, como mostra o estudo da histria, surgiu aps o feudalismo, sistema socioeconmico predominante na Europa durante a Idade Mdia (sculo V ao XV). A transio do feudalismo para o capitalismo pleno, tendo como etapa fundamental a Revoluo Industrial, foi um processo longo, que durou vrios sculos. Esse processo significou no somente uma mudana de sistema socioeconmico, mas tambm, como vimos, uma nova maneira de encarar o espao e de agir sobre ele, o incio de uma verdadeira produo do espao. Com o desenvolvimento do comrcio e o crescimento urbano causado pelas constantes fugas dos camponeses dos feudos para as cidades a partir do sculo XI, houve um progressivo enfraquecimento do feudalismo. Isso porque tal sistema socioeconmico fundamentava-se numa economia natural, com base na agricultura e na qual

    cada feudo produzia tudo aquilo de que necessitava, havendo pouco comrcio. Com a expanso do comrcio, a economia de mercado (de trocas) aos poucos ocupou o lugar da economia natural. Esse processo foi acompanhado pelo surgimento de uma nova classe, a burguesia, que se tornou cada vez mais poderosa.

    A sociedade feudal era dividida em duas principais classes: os servos camponeses, que trabalhavam em troca de proteo e do uso em proveito prprio de uma poro de terras do feudo; e os senhores feudais a classe dominante, proprietria dos feudos.

    Com a expanso do comrcio e, a partir do sculo XV, com a manufatura, desenvolveu-se uma nova relao de trabalho, diferente da relao servil: a relao assalariada. Nessa relao, os camponeses que fugiram para as cidades trabalhavam para os burgueses em troca de um salrio, passando assim a ser proletrios e no mais servos.

    Industrializao planificada A industrializao planificada ocorreu somente no

    sculo XX, no antigo Segundo Mundo, isto , os pases denominados socialistas e que adotavam economias planificadas.

    A economia planificada, que praticamente no existe mais nos dias de hoje, consistiu numa tentativa de superar a economia capitalista ou de mercado. Numa economia planificada, os meios de produo (fbricas, bancos, fazendas, empresas de seguros ou de finanas, etc.) so estatais e, no lugar do mercado, o que norteia a produo e os preos so os planos. Estes, que podem ser anuais ou plurianuais (geralmente quinquenais), so elaborados por rgos tcnicos embora sempre exista uma evidente influncia poltica ou setores estatais encarregados de fixar metas (quanto se vai produzir neste ou naquele setor durante certo tempo, onde comprar matrias-primas, a que preos vender, etc). Ou seja, a economia planificada mais centralizada que a economia de mercado, em que cada empresa planeja a sua atividade, faz os seus planos para o futuro.

    A partir do final dos anos 1980, quase todas as economias planificadas se tornaram, em maior ou menor grau, economias de mercado. Esse tipo de economia existiu durante vrias dcadas do sculo XX, em vrios pases a ex-Unio Sovitica, a Polnia, a antiga Alemanha Oriental, a Hungria, etc. , e produziu um tipo especfico de industrializao, a planificada.

    Essa industrializao consistiu num notvel esforo para ampliar os estabelecimentos industriais, com um amplo predomnio das empresas estatais e a nfase nas indstrias pesadas ou de meios de produo (siderrgica, metalrgica, petroqumica, de cimento e outras). Ela foi importante para o avano industrial dos pases que adotavam economias planificadas.

    Industrializao tardia, perifrica ou retardatria Essa forma de industrializao a que nos interessa

    mais de perto por ter ocorrido no Brasil. Trata-se de uma industrializao que, como o nome sugere, foi historicamente atrasada em relao original e ocorreu em muitos pases subdesenvolvidos, o chamado Terceiro Mundo, ou Sul geoeconmico. Foi mais comum no sculo XX, embora, em alguns casos, tenha se iniciado de forma tmida no fim do sculo XIX.

    Ela difere dos outros dois tipos por vrias razes. Entre elas, menciona-se que: > geralmente, feita com uma grande participao de capitais estrangeiros, ao contrrio das outras duas (a clssica e a planificada), nas quais predominam os capitais nacionais; > tem por base um maior desenvolvimento das in-dstrias de bens de consumo, diferentemente da industrializao planificada, em que predominam as indstrias de base, e da clssica, que caracterizada por um desenvolvimento equilibrado entre esses dois tipos de indstria; > utiliza basicamente tecnologia estrangeira, ao

    contrrio dos outros dois tipos de industrializao, que criam ou adaptam as tecnologias em funo de suas realidades.

    Quanto diferena entre Primeira, Segunda e Terceira Revoluo Industrial, pode-se afirmar que cada uma assinalou um momento de desenvolvimento tecnolgico.

    Primeira Revoluo Industrial A Primeira Revoluo Industrial, feita com bases

    tcnicas mais simples (mquina a vapor, carvo como principal fonte de energia, fora de trabalho no especializada nem qualificada), ocorreu at o fim do sculo XIX. Caracterizou-se pelo fato de o Reino Unido (Inglaterra) ter sido a grande potncia mundial - e principal exemplo de industrializao - e as indstrias txteis, o se-tor de vanguarda.

    Segunda Revoluo Industrial A Segunda Revoluo Industrial exigiu uma base

    tcnica mais complexa (refino do petrleo, que se tornou a principal fonte de energia do sculo XX, mquinas e motores mais sofisticados e movidos a energia eltrica, mo de obra especializada) e predominou do fim do

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    sculo XIX at meados dos anos 1970. Ela se prolonga at os nossos dias, uma vez que uma imensa parte do globo ainda no ingressou, de fato, na Terceira Revoluo Industrial e, ao mesmo tempo, existem diversos pases subdesenvolvidos - em especial na frica e no sul e sudeste da sia - que nem sequer consolidaram o estgio da Segunda Revoluo Industrial.

    Os Estados Unidos foram a grande potncia econmica e o principal modelo de industrializao dessa fase ou estgio da Revoluo Industrial, caracterizada ainda pelo predomnio da indstria automobilstica e outras indstrias a ela ligadas (petroqumica, siderrgica, metalrgica, etc).

    Taylorismo e fordismo Dentro da Segunda Revoluo Industrial dois

    aspectos ou processos se destacam, ambos tpicos do sculo XX: o taylorismo e, especialmente, o fordismo.

    O taylorismo, organizao do trabalho sistematizada pelo engenheiro estadunidense Frederich W Taylor por volta de 1900, consiste na rgida separao do trabalho por tarefas e nveis hierrquicos (executivos e operrios). Existe um controle sobre o tempo gasto em cada tarefa e um constante esforo de racionalizao, para que a tarefa seja executada num tempo mnimo. O tempo de cada trabalhador passa a ser vigiado e cronometrado, e aqueles que produzem mais em menos tempo recebem prmios como incentivo; com o tempo, todos sero

    obrigados a produzir num tempo mnimo certa quantidade de peas ou produtos. O taylorismo aumenta a produtividade da fbrica e a explorao do trabalhador, que passa a produzir mais em menos tempo.

    Como complemento do taylorismo, surgiu na dcada de 1920 o fordismo, termo que vem do nome do industrial estadunidense Henry Ford, um pioneiro da indstria automobilstica no incio do sculo passado. Esse processo consiste num conjunto de mtodos voltados para produzir em massa, em quantidades nunca vistas anteriormente. Ele absorve algumas tcnicas do taylorismo e vai alm: trata de organizar a linha de montagem de cada fbrica para produzir mais, controlando melhor as fontes de matrias-primas e de energia, a formao da mo de obra, os transportes, o aperfeioamento das mquinas para ampliar a produ-o, etc. O fordismo buscava ampliar a produo e o consumo. Seu grande lema era "produo em massa e consumo em massa". O fordismo marcou a supremacia industrial dos Estados Unidos no sculo XX e foi adotado em praticamente todos os pases desenvolvidos. Nos demais pases, houve ou em alguns casos, ainda h um fordismo parcial, localizado apenas em algumas reas ou setores econmicos especficos e atingindo somente uma pequena parcela da populao. Dessa forma, nos pases perifricos ou subdesenvolvidos, como regra geral no houve a completa generalizao do fordismo, princi-palmente no seu aspecto social o consumo em massa, que pressupe um bom poder aquisitivo para a imensa maioria da populao , a no ser no fim do sculo XX

    em alguns Estados: Coreia do Sul, Taiwan, Cingapura e Hong Kong (hoje reincorporado China).

    A lgica do fordismo consiste na seguinte ideia: para produzir em massa necessrio que existam consumidores para comprar toda essa produo (de automveis, por exemplo, o grande smbolo do fordismo). Ora, para isso, torna-se necessrio um imenso mercado consumidor, e a maioria da populao de qualquer pas constituda pelos trabalhadores; logo, preciso pagar bem aos trabalhadores para que eles possam comprar, possam consumir em grandes quantidades, o que aumenta a produo e os lucros.

    Ao contrrio do taylorismo, que se preocupava mais com a mxima utilizao do tempo de trabalho do operrio, o fordismo se preocupa tambm com o tempo livre e, principalmente, com o consumo. No se trata apenas de trabalhar mais intensamente, como no taylorismo, e sim de trabalhar menos, com maior especializao e produtividade, e consumir mais. A generalizao do fordismo, dessa forma, foi um dos fatores que ajudaram na melhoria dos padres de vida dos pases desenvolvidos no sculo XX.

    Terceira Revoluo Industrial ou revoluo tcnico-cientfica A Terceira Revoluo Industrial, tambm de-

    nominada revoluo tcnico-cientfica, encontra-se em andamento desde meados dos anos 1970 e dever desenvolver-se mais plenamente no transcorrer do sculo XXI. Ela se iniciou tanto nos Estados Unidos, sobretudo na Califrnia (informtica, telecomunicaes), como no Japo (robtica, microeletrnica) e na Europa ocidental, em particular na Alemanha (biotecnologia, qumica fina). marcada pelo predomnio de indstrias altamente sofisticadas, como as mencionadas, e que exigem muita tecnologia e maior qualificao da fora de trabalho.

    Na Segunda e, principalmente, na Primeira Re-voluo Industrial, a procura por mo de obra barata e sem qualificao era imensa, assim como tinham muita importncia as matrias-primas em geral.

    Agora, com o avano da revoluo tcnico-cientfica, diminui a procura por fora de trabalho pouco qualificada, que pode ser substituda por robs, e tambm ocorre uma desvalorizao das matrias-primas em geral, pelo menos da imensa maioria delas (minrios, produtos agrcolas, etc).

    Isso porque aumenta constantemente a reciclagem de produtos, e as indstrias de novos materiais criam novas matrias-primas (novas ligas metlicas, novos materiais para gravao de som e imagem, para a fuselagem de avies, para os automveis, etc), que utilizam produtos mais abundantes e baratos.

    O importante passa a ser a tecnologia e, conse-quentemente, as pesquisas cientficas e tecnolgicas. Metais raros so substitudos por outros mais abundantes, produzem-se novas variedades de gneros agrcolas e desenvolvem-se fontes de energia em laboratrios, entre tantas outras inovaes.

    Desse modo, em termos relativos diminui a im-portncia da natureza - isto , o tamanho do territrio de

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    um pas, os seus recursos naturais em geral - e aumenta o valor da cincia e da tecnologia com o seu alicerce ou a sua base, que a educao. Em outras palavras, aumenta muito o valor dos chamados "recursos humanos" ou, como afirmam alguns autores, do "poder cerebral": novas ideias e tcnicas, funcionrios qualificados e com maior escolaridade, etc.

    A Terceira Revoluo Industrial utiliza muito mais a cincia e a tecnologia do que as duas anteriores. por esse motivo que se fala em "revoluo tcnico-cientfica" para design-la. No decorrer da Histria, a humanidade sempre criou e utilizou recursos tcnicos - basta lembrar o controle do fogo, a inveno da roda, a domesticao de animais e plantas h milhares de anos, etc. Mas a regra geral era que, primeiro, se conhecesse algo na prtica e, depois, viesse a teoria, isto , a cincia. Nas ltimas dcadas, isso mudou: os novos setores de ponta em tecnologia e na indstria representam aplicaes de conhecimentos cientficos - da microfsica, da ecologia, de teorias avanadas da matemtica, da gentica, etc. -, que, no incio, foram considerados "inteis", ou seja, conhecimento puro e sem aplicao. Alm disso, a importncia da cincia e da tecnologia avanada mudou radicalmente. Em vez de serem apenas um elemento a mais, at mesmo dispens vel, como ocorria anteriormente, elas passaram a ser elementos centrais, aqueles que comandam o ritmo e os rumos das mudanas.

    Do fordismo produo flexvel

    A Terceira Revoluo Industrial representa tambm uma progressiva mudana nos mtodos de produo e de trabalho, no consumo, nas relaes entre as empresas e seus funcionrios e entre as empresas e os consumidores. a passagem do fordismo para o ps-fordismo, tambm conhecido como produo flexvel. O Japo foi o grande exemplo dessa nova organizao capitalista, seguido pela Alemanha e por outros pases. Mas, desde os anos 1990, praticamente todas as economias desenvolvidas, inclusive a estadunidense (que at os anos 1980 criticava o "modelo apons"), vm, em maior ou menor grau, imitando ou adaptando alguns mtodos japoneses e se modernizaram. O fordismo, como vimos, implica produo em massa, utilizando a linha de montagem e a padronizao dos bens ou servios, alm de consuni de massa. Para tanto, existe uma prioridade da produo, da empresa, sobre o consumidor, visto somente pelo seu poder de compra a funo da publicidade massificar, fazer as pessoas desejarem alguma coisa, mesmo que no rrecisem dela nesse mtodo existe uma imensa produo e ao mesmo tempo, um grande desperdcio: pois se produz em enormes quantidades, sem preocupaes com a qualidade das merciorias; depois se vende ou se tenta vender . Nos custos de produo j se embute o desperdcio (artigos defeituosos em grande quantidade, objetos que no encontram compradores, o que encarece os produtos. Para amenizar esse problema est se introduzindo o just-in-tme, um mtodo de produo que parte das

    necessidades do consumidor, fabricando somente o necessrio e com grande controle de qualidade. Para comparar, podemos lembrar que as indstrias Ford, quando foram para o Reino Unido nas primeiras dcadas do sculo XX, passaram a fabricar automveis exatamente iguais aos dos Estados Unidos, at mesmo com o volante do lado esquerdo (os ingleses preferem do lado direito), tal a necessidade de massificao.

    As empresas japonesas nas dcadas de 1970 e 1980, e hoje at as estadunidenses e as europeias, j fabricavam carros e outros bens personalizados, ou seja, ao gosto de cada cliente ou consumidor, com detalhes e diferenas que o fordismo jamais levou em considerao. Com essa mudana, o desperdcio diminui e tambm a relao produo-consumo passa a ser mais igualitria, com in-fluncias recprocas.

    Mas essa mudana precisa de outra, que lhe complementar: a substituio da linha de montagem (na qual cada objeto produzido de forma idntica aos demais, com controle de tempo sobre cada trabalhador) por uma produo mais flexvel. Isso facilitado pela informtica, pela robo-tizao e pelo uso de uma fora de trabalho mais qualificada, que substitui a mo de obra tcnica e repetitiva predominante no fordismo. Na Segunda Revoluo Industrial, a fora de trabalho em geral era especializada - no no sentido de qualificao ou estudos, e sim no de fazer uma s atividade - e mecnica, com atividades repetitivas. Por isso, eram necessrios horrios rgidos, com controle

    sobre o uso do tempo de cada funcionrio. Hoje ocorre uma mudana. Com a Terceira Revoluo Industrial, as atividades se tornam mais criativas e exigem mais qualificao, mas, ao mesmo tempo, o horrio j no to importante. Mais da metade dos trabalhadores nos Estados Unidos, por exemplo, j tem um horrio flexvel. Eles devem trabalhar seis ou sete horas por dia, mas podem comear s 8 ou s 11 horas; se comearem a jornada mais cedo, terminaro antes, caso contrrio ficaro at mais tarde. O controle do ponto, do horrio, j perdeu importncia para a qualidade do trabalho.

    Com isso, a influncia dos funcionrios aumenta, apesar de diminuir a necessidade da fora de trabalho. Precisa-se a cada dia de menos trabalhadores, porm mais qualificados e importantssimos para o funcionamento da produo flexvel. A mo de obra criativa substitui aos poucos a fora de trabalho tcnica. Por esse motivo, esses funcionrios qualificados passam a ser essenciais numa empresa moderna, mais importantes que as matrias-primas ou as fontes de energia.

    Novas regies industriais ou tecnopolos Por causa da importncia da cincia e da tecnologia,

    hoje as novas regies industriais, aquelas de tecnologia de ponta ou de vanguarda, no se localizam mais nas reas onde existem matrias-primas (carvo, minrios), como ocorria nas velhas regies industriais. Elas se encontram principalmente nas proximidades de importantes centros de pesquisa e de ensino universitrio.

  • Unidade II I 5 I Qeoeconomia

    Algumas vezes, existe uma coincidncia entre as velhas e as novas regies industriais, ou uma continuao delas, tais como os casos de Paris, Londres, Tquio ou Milo, mas o importante no mais a existncia de recursos naturais nem mesmo o mercado consumidor local, e sim as universidades e institutos de pesquisas que existem nessas reas.

    H inmeros exemplos dessas novas regies industriais de ponta, que renem centros produtores de tecnologia e indstrias de informaes ou biotecnolgicas. Alguns autores chamam essas novas regies industriais da Terceira Revoluo Industrial de tecnopolos. O grande exemplo o Vale do Silcio (Silicon Valley), a 48 km ao sul de So Francisco, no condado de Santa Clara, entre Palo Alto (onde est a Universidade de Stan-ford, considerada a iniciadora e impulsionadora desse polo tecnolgico) e San Jos, na costa oeste dos Estados Unidos.

    Outros exemplos importantes de tecnopolos so: a chamada Route 128, perto de Boston e do Instituto Tecnolgico de Massachusetts, no nordeste dos Estados Unidos; a regio de Tquio, no Japo; a regio Paris-Sud, no sul de Paris, Frana; o chamado Corredor M4, ao redor de Londres, Reino Unido; a regio de Milo, na Itlia; as regies de Berlim e do Vale do Neckar (onde se encontram a Universidade de Heidelberg e o Instituto Max Plank de biotecnologia), na Alemanha.

    A cincia e a tecnologia se desenvolvem princi-palmente em universidades e institutos de pesquisas,

    que so muito comuns - e de ti-ma qualidade nessas regies, onde h uma integrao entre as indstrias de alta tecnologia e esses institutos e universidade.