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5/22/2018 07-slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/0755cf94f1550346f57ba57d9b 1/17 129 Exercícios de estilo com “sotaque  tupiniquim”: Luiz Rezende tradutor  de Raymond Queneau Márcia Arbex | UFMG Resumo: Este artigo propõe uma análise comparativa dos Exercices de style de Raymond Queneau e sua tradução por Luiz Rezende. Considerando o tradutor como um leitor e também um mediador cultural, refletiremos sobre a questão da tradutibilidade dos jogos de linguagem e a das representações; abordaremos os paratextos que envolvem a tradução brasileira no esboço de uma poética da tradução e observaremos que a tradução exigiu criações e recriações, tendo o tradutor por diversas vezes radicalizado e ampliado os efeitos dos jogos verbais do autor. Palavras-chave: Tradução, jogos verbais, representação, Raymond Queneau, Luiz Rezende, Oulipo.

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  • 129

    Exerccios de estilo com sotaque

    tupiniquim: Luiz Rezende tradutor

    de Raymond Queneau

    Mrcia Arbex | UFMG

    Resumo: Este artigo prope uma anlise comparativa dos Exercices de stylede Raymond Queneau e sua traduo por Luiz Rezende. Considerando otradutor como um leitor e tambm um mediador cultural, refletiremos sobre aquesto da tradutibilidade dos jogos de linguagem e a das representaes;abordaremos os paratextos que envolvem a traduo brasileira no esboo deuma potica da traduo e observaremos que a traduo exigiu criaes erecriaes, tendo o tradutor por diversas vezes radicalizado e ampliado osefeitos dos jogos verbais do autor.Palavras-chave: Traduo, jogos verbais, representao, Raymond Queneau,Luiz Rezende, Oulipo.

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    O eixo e a roda: v. 18, n. 1, 2009

    Um dtour pelas artes e os nmeros

    Proponho iniciar esta reflexo fazendo um breve paralelo entre osExercices de style (1947) de Raymond Queneau (Havre, 1903-1976) e o livro Un

    Cabinet damateur (1979), do tambm oulipiano1 Georges Perec, paralelo que

    visa sobretudo a nos aproximar da noo de traduo em jogo na verso brasileira.

    Un Cabinet damateur narra a histria de um homem de negcios e

    colecionador de arte, Hermann Raffke, que solicita a um suposto pintor americano

    de origem alem, Heinrich Krz, que faa seu retrato diante de sua coleo de

    obras de arte. O pintor americano rene ento em uma nica tela mais de cem

    quadros, redues minuciosamente executadas das obras do colecionador. O sucesso

    do retrato, entretanto, repousa, diz o narrador, numa surpresa maravilhosa que o

    torna mais que a representao anedtica de um museu privado. De fato, o

    pintor incluiu o seu prprio quadro no quadro, bem como o colecionador sentado

    em seu gabinete, vendo na parede ao fundo, no eixo de seu olhar, o quadro que

    o representa no ato de contemplar sua coleo de quadros, e todos esses quadros

    novamente reproduzidos, e assim por diante ().2 Cria-se, portanto, como

    podemos perceber, um efeito de mise en abyme ao infinito bastante espetacular.

    O suposto artista, entretanto, no se limitou a esse jogo de quadros

    dentro de quadros, fingindo obedecer s regras do trompe-lil ao copiar, a cada

    vez, cpias to fiis quanto possvel de cpias. Ao contrrio, ele se obrigara a

    respeitar a seguinte contrainte, bem ao gosto dos oulipianos, ou seja jamais

    copiar estritamente seus modelos e parecia encontrar um prazer maligno em

    introduzir sempre uma minscula variao.3

    1. O Oulipo, Ouvroir de Littrature Potentielle ou Ateli de LiteraturaPotencial, foi fundado em 1960 por Raymond Queneau e Franois Le

    Lionnais, com a participao de escritores, matemticos e artistas. A proposta

    do grupo era a de inventar novas formas poticas ou romanescas, a partir

    de experincias da matemtica e da literatura. No stio do grupo, o

    Oulipo def inido como um atel i em que se fabrica l i teratura

    potencialmente, ou seja, de la l i t trature en quanti t i l l imite,

    potentiellement productible jusqu la fin des temps, en quantits normes,

    infinies pour toutes fins pratiques, a partir da inveno de regras ou

    contraintes. Cf. .

    2. PEREC. A coleo particular, seguido de A viagem de inverno, p. 18.

    3. PEREC. A coleo particular, seguido de A viagem de inverno, p. 20.

  • Belo Horizonte, p. 1-212

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    Em Exercices de style, Raymond Queneau tambm brinca seriamente

    com a noo de simulacro, uma modalidade transgressora de traduo,4 de

    multiplicidade e de repetio diferente, ao elaborar com rigor e imaginao uma

    srie de 99 variaes de uma mesma e sempre diferente histria, cujo original

    abolido. Poderamos dizer ainda, insistindo no paralelo com as artes, que Exercices

    de style teria algo em comum com as estampas japonesas de And Hiroshige

    (1797-1858), artista que busca traduzir as imagens do mundo movente, captar nas

    paisagens o jogo do eterno e do efmero, realizando as Cem vistas de Edo, as

    Trinta e seis vistas do monte Fuji ou ainda as Sessenta e poucas vistas das provncias

    do Japo.

    As variaes de estilo francesas

    Na gnese de Exercices de style encontra-se, entretanto, no a pintura,

    mas a msica. Segundo o autor, ao sair de um concerto em que assistiu Arte da

    fuga, de Bach, em companhia de Michel Leiris, os amigos teriam dito que seria

    bem interessante fazer algo naquele gnero no plano literrio, construir uma obra

    por meio de variaes proliferando quase at o infinito em torno de um tema

    bastante reduzido. O projeto teve incio em 1942 quando o autor escreve uma

    srie de 12 exerccios com o ttulo de Le dodcadre (Dodecaedro). Os demais

    textos foram escritos aos poucos e somente em 1947 o autor atinge o nmero 99,

    dizendo que a preguia e o receio de cansar o leitor o fizeram parar. Acrescenta

    ainda que esta seria uma quantidade suficiente: nem muito nem pouco: o ideal

    grego.5 So, portanto, 99 textos de tamanho varivel, mas relativamente curtos,

    sem ordem lgica aparente, como variaes em torno de uma histria mnima

    cujos elementos so: um encontro em um nibus, uma breve discusso entre os

    passageiros, um encontro em frente estao, um chapu, um boto. O quase

    apagameto da histria parece indicar que Queneau, como sugere Renard, vai ao

    4. A mimeses (...) pensada como uma modalidade transgressora detraduo que junta de modo aportico fidelidade (na cpia) e criao

    (desvio, diferena). SELIGMANN-SILVA. Elogio da mimesis, p. 22.

    5. QUENEAU citado por RENARD. Dossier, p. 171-172. As tradues dostextos crticos cujos originais so em francs foram realizadas pela autora

    deste ensaio.

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    O eixo e a roda: v. 18, n. 1, 2009

    encontro de Flaubert quando este afirma que no h assuntos nem belos nem

    feios, sendo o estilo por si s uma maneira absoluta de ver as coisas.6

    Sem querer prosseguir demasiadamente pela via matemtica,

    lembremos que Queneau no deixa nada ao acaso.7 Seu interesse pelos nmeros

    pode ser comprovado a cada publicao, a cada testemunho. O nmero 99 aparece,

    por exemplo, em 1956, na antologia que ele prope para uma biblioteca ideal,

    composta de 99 ttulos. Georges Perec tambm compe a La Vie mode demploi

    (1978) em 99 captulos, livro dedicado memria de Queneau. Por outro lado, o

    nmero 99 pressupe uma abertura e uma continuao possvel uma

    potencialidade, oferecendo a cada um a oportunidade de realizar o centsimo

    exerccio, ou a centsima traduo, seja ela interlingual, como o caso da traduo

    brasileira, seja ela intersemitica, como o espetculo criado por Yves Robert em

    1949, bem como os exerccios de estilo paralelos pintados, desenhados ou

    esculpidos por Carelman e os 99 exerccios tipogrficos feitos por Massin.8

    Enciclopedismo, paixo pela matemtica, classificaes e

    enumeraes, os exerccios so como uma enciclopdia de lxicos, de registros,

    de estilos, que vo do concreto ao abstrato, do burlesco ao srio, do vulgar ao

    precioso, do familiar ao formal. Um rpido olhar sobre a lista dos 99 ttulos permite

    constatar a erudio do autor, que demonstra no apenas seus conhecimentos em

    retrica, quanto em linguagem popular, incluindo as grias e o seu neofrancs,

    falado por Zazie. Os exerccios incluem ainda o resgate de palavras arcaicas que

    conotam historicamente os textos, a criao de neologismos, as manipulaes de

    letras e sons; a explorao de campos lexicais como o dos cincos sentidos ou os

    reinos vegetal e animal. Alm dos elementos apontados acima, em Exercices de

    style h uma grande concentrao de expresses metafricas, trocadilhos, chaves,

    6. FLAUBERT citado por RENARD. Dossier, p. 187.

    7. Il ma t insupportable de laisser au hasard le soin de fixer le nombredes chapitres de ces romans, diz o autor em Technique du roman, a

    respeito de seus romances Le Chiendent, Gueule de Pierre e Les Derniers

    Jours. QUENEAU. Btons, chiffres et lettres, p. 29.

    8. Renard sugere a consulta da lista dos 122 exerccios de estilo possveisque Queneau props no anexo edio dos exercices de style

    accompagns de 33 exercices de style parallles peints, dessins ou sculpts

    par Carelman et de 99 exercices de style typographiques de Massin

    (Gallimard, 1963). Os 99 exerccios podem remeter ainda, de acordo

    com o crtico, assinatura do escritor. RENARD. Dossier, p. 189.

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    provrbios e jogos de linguagem em geral que constituem certamente um desafio

    suplementar para o tradutor.

    As variaes de estilo tupiniquins

    Se considerarmos que a traduo s existe no reino da diferena;

    melhor dizendo: no espao do contnuo diferenciar, a traduo de Luiz Rezende

    constitui ento apenas um elo numa cadeia de novas tradues e de outros

    originais.9 Portanto, comporta criaes e adaptaes, tendo o tradutor por diversas

    vezes radicalizado e ampliado os efeitos dos jogos de linguagem de Queneau,

    optando por lanar mo, sempre que possvel, do repertrio oral e escrito brasileiro,

    aproximando-se ora de uma abordagem etnocntrica,10 como a define Antoine

    Berman, ora de um processo de transcriao, no sentido de Haroldo de Campos.11

    Os paratextos que acompanham a traduo dos Exerccios de estilo

    so particularmente instrutivos a esse respeito. Trata-se de uma apresentao

    intitulada escrevendo que se vira escrevedor e de um posfcio, Agora que

    vocs j leram, assinados pelo tradutor Luiz Rezende, alm de anexos e uma

    bibliografia. Os paratextos, de acordo com Danielle Risterucci-Roudnicky, tm a

    importante funo de mediao lingustica e intercultural entre a obra original e o

    leitor. Segundo a autora, os prefcios chamados de transferncia visam a preparar

    o destinatrio estrangeiro a um universo distante do seu, tematizam a passagem

    9. SELIGMANN-SILVA. Double bind: Walter Benjamin, a traduo comomodelo de criao absoluta e como crtica, p. 36.

    10. A traduo etnocntrica, de acordo com Berman, uma traduo que,do ponto de vista cultural, ramne tout sa propre culture, ses normes

    et valeurs. Este tipo de traduo, comum na tradio ocidental, tambm

    hipertextual, do ponto de vista literrio e, do ponto de vista filosfico,

    platnica. Dois princpios esto na base da traduo etnocntrica: o

    primeiro afirma que a obra estrangeira deve ser traduzida em funo do

    leitor, ou seja, este no deve sentir que se trata de uma traduo; o

    segundo diz que se deve traduzir o texto de maneira a dar a impresso

    que foi o prprio autor que o escreveu se ele o tivesse escrito na lngua

    alvo. A esse tipo de traduo o autor contrape e defende a traduo

    tica, potica e reflexiva. BERMAN. La Traduction et la lettre ou lauberge

    du lointain, p. 99.

    11. CAMPOS. Da traduo como criao e como crtica, p. 31-48.

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    O eixo e a roda: v. 18, n. 1, 2009

    de uma cultura outra por meio de informaes, esclarecimentos e comentrios

    lingusticos, literrios e culturais que veem fornecer pontos de referncia ao leitor.12

    A apresentao de Luiz Rezende, corresponde, de fato, ao que prope

    a autora. Trata-se de um prefcio que figura como um ato simblico que

    testemunha das diversas funes do tradutor,13 como por exemplo a funo de

    crtico: Luiz Rezende inicia sua apresentao relatando a gnese dos Exerccios de

    estilo de Queneau, situando o autor no contexto histrico literrio, indicando os

    pontos fortes de sua obra. O tradutor destaca a defesa e ilustrao do neofrancs,

    sua potica estudadamente espontnea, suas atividades no Oulipo, menciona a

    tica queneliana do riso e enfatiza que o laborioso plumitivo descasca chaves,

    provrbios e lugares comuns, guarda a polpa para o uso renovado e varre os

    escombros de um golpe de pena que, forosamente, deixa traos textuais,14

    resumindo metaforicamente a prtica de Queneau nesse campo.

    Um bom exemplo disso o exerccio intitulado Maladroit, no qual

    encontramos uma das frases-chave da arte potica de Queneau: Cest en crivant

    quon devient criveron,15 traduzida por escrevendo que se vira escrevedor,

    pardia do provrbio francs Cest en forgeant quon devient forgeron (forjando

    se faz o forjeiro), afirmando a literatura comme ouvroir e instituindo o escritor

    como um eterno aprendiz, cuja tarefa est no contnuo exerccio da literatura.

    O tradutor reserva para o posfcio, de carter nitidamente ensastico,

    como um labortorio da obra traduzida,16 suas consideraes sobre uma potica

    da traduo. Fornece o que ele chama modestamente de dicas de leitura, mas

    que so de fato anlises detalhadas de certos exerccios que necessitam, segundo

    ele, serem decifrados (aqueles que recorrem por exemplo a artifcios lgico-

    matemticos e a figuras de retrica), revelando dessa forma sua concepo de que

    a obra estrangeira deve ser traduzida em funo do leitor.

    12. RISTERUCCI-ROUDNICKY. Introduction lanalyse des uvres traduites,p. 48.

    13. RISTERUCCI-ROUDNICKY. Introduction lanalyse des uvres traduites,p. 52.

    14. REZENDE. escrevendo que se vira escrevedor, p. 13

    15. QUENEAU. Exercices de style, p. 80.

    16. RISTERUCCI-ROUDNICKY. Introduction lanalyse des uvres traduites,p. 52.

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    Assim, para construir seu Lipograma, Rezende se inspirou na traduo

    italiana de Umberto Eco, optando por radicalizar seus efeitos, por achar que esta

    a melhor, e talvez nica, fidelidade a tal sucesso de jogos de linguagem.17Assim

    como fez Perec em La Disparition, Queneau optou por eliminar a vogal e de

    seu Lipogramme:

    Voici.

    Au stop, lautobus stoppa. Y monta un zazou au cou trop long, qui avait

    sur son caillou un galurin au ruban mou. Il sattaqua aux panards dun

    quidam dont arpions, cors, durillons sont avachis du coup; puis il bondit

    sur un banc et sassoit sur un strapontin o nul ny figurait.

    Plus tard, vis--vis la station Saint-Machin ou Saint-Truc, un copain lui

    disait: Tu as ton raglan un bouton quon a mis trop haut.

    Voil.18

    Rezende, por sua vez, radicaliza produzindo cinco lipogramas sem

    as vogais a, e, i, o, u, respectivamente. A ttulo de comparao com o Lipogramme

    de Queneau, vejamos as primeiras frases de dois dos cinco lipogramas de Rezende:

    2

    Um dia, com o sol nos pncaros, subi num nibus da linha S lotado. Ia

    l um rapaz com o gog muito comprido, usando um tapa-miolos fofo

    cuja fita fora substituda por um fio tranado.

    3

    Tudo comeou com o sol a pleno prumo, graas aos cus logo chegou

    o fresco S, pena que lotado. Dava nos olhos, l dentro, um tresloucado

    de pescoo longo em excesso e touca mole decorada com um cordo

    tranado.19

    A questo da intradutibilidade central nesse tipo de trabalho

    colocada no momento em que o tradutor compara a sncope queniana com seu

    equivalente em nosso malemolente sotaque tupiniquim, resultando, como ele

    17. REZENDE. Agora que vocs j leram, p. 144.

    18. QUENEAU. Exercices de style, p. 111.

    19. QUENEAU. Exerccios de estilo, p. 103-104.

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    diz, numa mistura de capiau e portugus de botequim, difcil de evitar.20 O

    tradutor observa esse alto ndice de intradutibilidade tambm em outros exerccios:

    nos que tiram partido dos tempos verbais (considerando que as estruturas do

    francs e do portugus diferem profundamente21

    ) e no calembour, por exemplo,

    baseado na aproximao de dois enunciados distintos e relativamente complexos

    [que] podem possuir rigorosamente o mesmo encadeamento fnico,22 como ocorre

    em Homophonique: Ange ouvert my dit sur la pelle deux formes dun haut

    obus (est-ce?), jai peine sus un je nomme ( Coulomb!) avec de ladresse autour

    du chat beau.(...).23 Luiz Rezende, explica que

    a reguralidade prosdica do francs, sistematicamente acentuado no final

    de cada grupo sinttico e com suas slabas finais tonas no pronunciadas,

    eliminando quase todo trao oral de gnero e nmero, permite jogos de

    linguagem praticamente impossveis em outros idiomas.24

    Assim, em D (quase) na mesma, o tradutor oferece a bem-

    humorada verso Adia pra tudo. Ontem vinha nu fresco esse tal cr Tino

    como raramente Jaci viu. Se eu pesco s hmen sou esta vai-s-pau dando seu

    coco concha pele em volta ! Enfio esse quesito transa do Eno atira (...)25

    , mas

    considera que seu prprio texto parte a modesta parafonia que veio substituir a

    homofonia do exerccio original (...) ignora uma regra de ouro do calembour: um

    texto em aparncia andino remetendo a um duplo sentido.26

    A traduo dos trocadilhos e da contrepterie (contrapeidos) dizem

    respeito ao mesmo problema. De acordo com Paulo Rnai, as definies mais

    correntes do trocadilho no chamam a ateno para o elemento essencial do

    conceito, que, segundo ele, a impossibilidade de traduzi-lo para outras lnguas:

    impossibilidade s vezes parcial, pois alguns se podem traduzir para algum idioma

    20. REZENDE. Agora que vocs j leram, p. 145.

    21. REZENDE. Agora que vocs j leram, p. 152.

    22. REZENDE. Agora que vocs j leram, p. 146.

    23. QUENEAU. Exercices de style, p. 127.

    24. REZENDE. Agora que vocs j leram, p. 146.

    25. QUENEAU. Exerccios de estilo, p. 119.

    26. REZENDE. Agora que vocs j leram, p. 146.

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    afim, mas nenhum para qualquer idioma. Mas o fato de que certas lnguas tenham

    mais pendor que outras para os jogos de palavras leva o autor a considerar que

    um jogo de sentidos (em geral) intraduzvel, pois perde todo o chiste na

    traduo.27 O tradutor literrio precisa ter um esprito zombeteiro e se encontrar

    em um momento feliz de inspirao, diz Rnai, para resolver tais proezas, qualidades

    que no faltaram ao tradutor de Queneau ao transpor o Contre-petteries Un

    mour vers jidi, sur la fate-plorme autire dun arrobus, je his un vomme au fou

    lort cong et lentapeau chour dune tricelle fesse. (...)28 para o trocadilho:

    Dei o mia, prol a sumo. Na flataporma daquesse ele ia um rapa rego de piscoo

    de peru, ds mesurado, e uma fichinha no tapu chequevava. (...).29

    Os jogos de linguagem, por visarem a explorao da ambiguidade

    do sentido e estarem ligados prpria substncia de cada lngua, colocam questes

    prximas da traduo potica.30 Diante dos jogos de palavra, o domnio dos

    instrumentos lingusticos e a criatividade do tradutor talvez no sejam suficientes

    para tir-lo do impasse com o qual muitas vezes se depara, assim como ocorre

    com o tradutor de poesia, na apreciao de Mrio Laranjeira.31 Nesse sentido,

    observamos no texto traduzido a recorrncia de procedimentos hipertextuais, tais

    como a adaptao, a transformao, o pastiche e a pardia, que se caracterizam

    por um elo gerativo livre,32 quase ldico, a partir de um original. Nestes casos, as

    fronteiras entre uma traduo livre, que recua diante de certas particularidades

    27. RNAI. Defesa e ilustrao do trocadilho, p. 50.

    28. QUENEAU. Exercices de style, p. 130.

    29. QUENEAU. Exerccios de estilo, p. 122.

    30. Antoine Berman chama a ateno para o valor atribudo ao intraduzvelna poes ia . Segundo e le , o fa to de a poes ia ser cons iderada

    tradicionalemente intraduzvel significa que, por um lado, ela no pode

    ser traduzida, devido relao infinita que institui entre o som e o

    sentido; por outro, ela no deve ser traduzida, uma vez que sua

    intraduzibilidade constitui sua verdade e seu valor. BERMAN. La

    Traduction et la lettre ou lauberge du lointain, p. 42.

    31. LARANJEIRA. Potica da traduo, p. 43.

    32. De acordo com Berman, a traduo etnocntrica necessariamentehipertextual, pois remete a qualquer texto gerado por imitao, pardia,

    pastiche, adaptao, plgio, ou qualquer outro tipo de transformao formal,

    a partir de um texto j existente. BERMAN. La Traduction et la lettre ou

    lauberge du lointain, p. 29 e 36.

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    O eixo e a roda: v. 18, n. 1, 2009

    do texto (e o modifica por conseguinte) e a transformao confessa, segundo

    Berman, so pouco ntidas.33

    O tradutor Luiz Rezende fala de adaptao quando atualiza certos

    exerccios, aproximando-os de ns, histrica e geograficamente, como o caso

    de Filosfico, em que os jarges cientficos e filosficos so nacionalizados para

    refrescar o interesse do conjunto.34 A consequncia dessa adpatao atualizada

    , por exemplo, um esvaziamento completo de todo o contexto do existencialismo

    sartriano evocado em pano de fundo no exerccio Philosophique de Queneau.

    Da mesma forma, nos casos em que Queneau realizou pardias e

    pastiches literrios, o tradutor diz ter tentado restituir com as armas de nossos

    plumitivos, julgando prefervel lanar mo da matria escrita nacional.35 Ao

    Paysan de Queneau, Rezende responde com um Sertanejo, genial colagem

    em que a traduo do autor francs se associa pardia de Joo Guimares Rosa,

    como podemos observar nos trechos seguintes:

    PAYSAN

    Javions pas de ptits bouts de papiers avec un numro dssus, mais jsommes

    tout dmme mont dans steu carriole. Une fois que jmy trouvons sus

    steu plattforme de steu carriole qui zappellent comma eux zautres un

    autobus, jeumsentons tout serr, tout gueurdi et tout racornissou. Enfin

    aprs qujeuyons paill, je jtons un coup doeil tout alentour de nott

    peursonne et quest-ceu queu jeu voyons-ti-pas? un grand flandrin avec

    un dces cous et un dces couv-la-tte pas ordinaires.(...)36

    SERTANEJO

    Nonada. nibus que o senhor viu foi a gosto no, Deus esteja. Povo prascvio.

    Tm de morar longe daqui, na Contrescarpa, Campo Retado, custante viagem

    e ainda vo fuzuando nas piores esfregas e com nsias de se travarem com

    os viventes em endemoninhamento ou com encosto. De primeiro, ali na

    plataforma, eu fazia e mexia, e pensar no pensava. Mas o diabo vige

    dentro do homem, e logo a cachorrada em volta pegou a latir. ()27

    33. BERMAN. La Traduction et la lettre ou lauberge du lointain, p. 37.

    34. REZENDE. Agora que vocs j leram, p. 151.

    35. REZENDE. Agora que vocs j leram, p. 150.

    36. QUENEAU. Exercices de style, p. 147.

    37. QUENEAU. Exerccios de estilo, p. 134.

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    139

    Do ponto de vista intercultural, o tradutor tambm julgou apropriado

    fazer certas adaptaes. Ele explica que o exerccio chamado Interrogatoire foi

    adaptado em Ocorrncia para que o leitor desavisado identifique com mais

    facilidade com o planto de delegacia, menos burocrtico do que o espao cultural

    francs em que predominaria uma certa indiferena fria e polida.38 Assim, nas

    perguntas feitas pelo delegado francs observa-se que o jargo policial se associa ao

    emprego do verbo no pass simple, e inverso do pronome, como na frase: Quy

    remarqutes-vous de particulier? ou Cest incident eut-il un rebondissement?,39

    provocando, a meu ver, mais um efeito cmico de preciosismo deslocado,

    destinado, da parte do delegado, a impressionar o interlocutor, do que sinal de

    indiferena ou frieza, representaes estereotipadas com frequncia atribudas aos

    franceses. Na traduo para o portugus, o jargo policial permanece Algum

    elemento particular? ou a atitude do elemento era to suspeita quanto a

    indumentria e a anatomia?, seje objetivo, a altercao deixou sequelas?40 ,

    mas o registro alterado e o tradutor ope suposta frieza do francs, uma certa

    vulgaridade da linguagem do delegado brasileiro.

    Na verdade, observa-se que esses processos de adaptao recobrem,

    em geral, como explica Berman, formas sincrticas, na medida em que o tradutor

    ora traduz literalmente, ora traduz livremente, ora faz um pastiche, adapta:

    Le syncrtisme est typique de la traduction adaptatrice, et il se rclame en

    gnral dexigences la fois littraires (lgance, etc.) et purement

    linguistiques, la non-correspondance des structures formelles des deux

    langues obligeant, selon lui, tout un travail de re-formulation. Cest sur

    la base de ces exigences que lhypertextualit discrte prend son essor.41

    Um exemplo significativo desse procedimento seria o exerccio

    Metaforicamente.42 Ao texto francs condensado e breve, o tradutor oferece

    uma verso em que o preciosismo alterna com o exotismo, a traduo literal com

    a criativa. Para indicar o momento em que se passa a ao: o meio-dia, Queneau

    38. REZENDE. Agora que vocs j leram, p. 150.

    39. QUENEAU. Exercices de style, p. 65.

    40. QUENEAU. Exerccios de estilo, p. 66.

    41. BERMAN. La Traduction et la lettre ou lauberge du lointain, p. 38.

    42. QUENEAU. Exerccios de estilo, p. 22.

  • 140

    O eixo e a roda: v. 18, n. 1, 2009

    utiliza simplesmente au centre du jour, enquanto Rezende recorre a uma longa

    metfora, acrescida de uma referncia geogrfica nacional: O astro apolneo parecia

    ter imobilizado seu to clere curso em zenital posio e dardejava implacvel no

    meridio escaldante como as dunas de Copacabana. A metfora utilizada por

    Queneau para indicar o nibus un coloptre labdomen blanchtre foi,

    por outro lado, traduzida literalemente, num coloptero de alvo abdomen, bem

    como a expresso le tas de sardines voyageuses,43 referindo-se aos passageiros

    no nibus, encontrou equivalncia na frase tal sardinhas em lata.

    Os exerccios de Queneau, em que predominam as locues, imagens,

    provrbios e que dizem respeito sobretudo ao vernacular, permitem observar

    outros procedimentos utilizados pelo tradutor. Em Botanique, por exemplo,

    Queneau explora todo o campo semntico da botnica, selecionando com cuidado

    as expresses metafricas a ele relacionado:

    BOTANIQUE

    Aprs avoir fait le poireau sous un tournesol merveilleusement panoui,

    je me greffai sur une citrouille en route vers le champ Perret. L, je

    dterre une courge dont la tige tait monte en graine et le citron surmont

    dune capsule entoure dune liane. Ce cornichon se met enguirlander

    un navet qui pitinait ses plates-bandes et lui crasait les oignons. Mais,

    des dattes! fuyant une rcolte de chtaignes et de marrons, il alla se

    planter en terrain vierge. (...)44

    Luiz Rezende responde ao desafio com a mesma intensidade,

    lanando mo do vernacular local:

    BOTNICO

    Depois de ficar um tempo esperando ali plantado como um p de

    couve na estufa, consegui me enxertar numa abbora que ia voltando

    para a horta, lotada s pencas. J tinha l criado razes um aipim deste

    tamanho!, com a copa amarrada por um broto de cip. O pepino comeou

    quando o banana em questo resolveu descascar umas abobrinhas contra

    o maracuj-esquecido-na-gaveta ao lado que, segundo seu coco pouco

    43. QUENEAU. Exercices de style, p. 11.

    44. QUENEAU. Exercices de style, p. 131.

  • Belo Horizonte, p. 1-212

    141

    adubado, fincava-lhe batatas nos canteiros apenas para deix-los mais

    vermelhos que pitanga. Uma salada completa, mas antes que a vaca

    tussisse a srio o tal aspargo cortou o abacaxi pela raiz, com medo de

    levar uma castanha nos bagos, e lanou os galhos em busca de nova

    chacrinha. ()45

    Assim, a expresso francesa faire le poireau, que significa esperar

    muito tempo de p, foi traduzida por ficar um tempo esperando ali plantado,

    garantindo a equivalncia semntica. Nota-se, entretanto, o acrscimo de como

    um p de couve, que vem acentuar a conotao nacional e compensar de certa

    forma a ausncia do legume alho-por. O repertrio brasileiro de expresses

    metafricas rico nesse campo semntico: o personagem de Queneau, designado

    de cornichon (pepino), ou seja, niais, imbcile (ingnuo, imbecil), foi traduzido

    oportunamente pelo nosso conhecido banana, enquanto a expresso se mettre

    enguirlander, que, no registro familiar significa engeuler (xingar, brigar

    verbalmente), encontrou equivalncia no pepino, sinnimo de confuso, problema

    indigesto, de difcil soluo. O tradutor tambm acrescentou expresses como

    lotada s pencas ao se referir ao nibus cheio, uma salada completa ou cortar

    o abacaxi pela raiz, e aproveitou para citar nossos mais tpicos espcimens: a

    cana-caiana, o aipim, o broto de cip, o maracuj-esquecido-na gaveta, o coco, a

    pitanga, em contraponto aos europeus: tournesol, citrouille, navet, chtaignes e

    marrons.

    Respeitando o estilo e a contrainte animalesca, Luiz Rezende

    compe Zoolgico explorando o repertrio nacional e radicalizando mais uma

    vez as metforas por meio de acrscimos:

    (...) De repente, a vaca foi para o brejo. O girafdeo virou bicho, soltando

    os cachorros para cima de um pau-de-arara que peruava por ali e lhe

    dava nos cascos mas, antes que o bicudo sacudisse suas plumas, o

    galinho fechou o bico e fugiu da rinha, esvoaando feito barata tonta

    para um poleiro largado s moscas. (...)46

    45. QUENEAU. Exerccios de estilo, p. 123.

    46. QUENEAU. Exerccios de estilo, p. 126.

  • 142

    O eixo e a roda: v. 18, n. 1, 2009

    As grias e expresses idiomticas tambm constituem um domnio

    de predileo de Queneau. Para citar apenas alguns exemplos, em

    Gastronomique,47 encontramos o type tarte, adjetivo que substitui bobo,

    ridculo (sot, ridicule), traduzido por maria-mole. A expresso long comme

    un jour sans pain, referindo-se ao pescoo extremamente longo do personagem,

    foi eliminada ou condensada em pescoo; a expresso Mais il cessa rapidement

    de discuter le bout de gras inspirou uma reformulao mais consequente da

    parte do tradutor: No meio do cuscuz, largou a bananosa, apimentada demais a

    seu gosto e, para no tomar umas bolachas na receita, foi esfriar a massa numa

    frma dando sopa por ali. (...).48

    O tradutor assume, por vezes, o papel de um pastichador, uma vez que

    a potencialidade criativa dos exerccios quenianos permite sua continuao ad infinitum.

    Luiz Rezende, desta vez autor, cria seis exerccios brasileiros, como foram chamados,

    e os publica em anexo com os ttulos sugestivos de Papo de botequim, Pisando na

    jaca, Brasileirinho, Tupinacara, Samba do crioulo doido e D samba.

    E no sem uma ponta de humor que o tradutor sinaliza para a

    natureza transgressiva de sua iniciativa, dizendo que inserir exerccios de prpria

    lavra o pecadilho do tradutor de Queneau.49

    traduzindo que se vira tradutor

    Aproveitando esse discreto mea-culpa do tradutor Luiz Rezende,

    concluiremos retomando nossa introduo e nos perguntando se, tal qual o artista

    falsrio que pintou a espetacular mise en abyme no quadro de Un Cabinet damateur,

    de Georges Perec, o tradutor no teria algo de um genial e exmio pastichador? 50

    47. QUENEAU. Exercices de style, p. 135.

    48. QUENEAU. Exerccios de estilo, p. 125.

    49. REZENDE. Agora que vocs j leram, p. 150.

    50. Uma afirmao de Berman nos conduz igualmente na direo dessapequena provocao. O crtico avana que a diferena entre o copista e

    o falsrio em pintura seria equivalente diferena entre o tradutor e o

    pastichador, pois tanto o tradutor quanto o pastichador visam a identificar

    o sistema estilstico de uma obra e a reproduzi-lo, mas a inteno do

    tradutor se limitaria a reproduzir um texto j existente, enquanto o

    pastichador produziria um texto novo. BERMAN. La Traduction et la

    lettre ou lauberge du lointain, p. 36.

  • Belo Horizonte, p. 1-212

    143

    Diramos que, da mesma forma que o artista, na histria de Georges

    Perec, ao pintar a prpria histria de suas obras atravs da histria das obras

    alheias, tivesse conseguido, por um instante, contrariar a ordem estabelecida da

    arte e reencontrar a inveno alm da enumerao, a manifestao espontnea

    alm da citao, a liberdade alm da memria,51 o tradutor, enquanto leitor de

    uma obra, realiza um trabalho de reescrita e cria um outro texto que no cpia

    do primeiro, mas sim testemunho do seu original testemunho diferido, como

    sempre acontece com as imagens da memria.52

    Se, como diz Italo Calvino, cada vida uma enciclopdia, uma

    biblioteca, um inventrio de objetos, uma amostragem de estilos, onde tudo pode

    ser continuamente remexido e reoordenado de todas as maneiras possveis,53

    podemos afirmar que Luiz Rezende busca no repertrio brasileiro a fonte de sua

    enciclopdica, renova e reoordena a lngua e recolhe na matria nacional os objetos

    dos mais inusitados aos mais banais, sem jamais perder de vista o dilogo com

    Raymond Queneau.

    Longe de querer finalizar dizendo que tudo no passa de um samba

    do crioulo doido, alis, ttulo de um dos exerccios brasileiros de Rezende,

    preferimos concluir citando os versos de D samba,54 de autoria do tradutor:

    l vem o S das onze, amor,

    eu no posso mais fic,

    sou feito maracan desplumado,

    se no bico longe

    fico sem arroz e caramingu (bis)

    v de estribo sem pag,

    vem do lado um almofada

    p de valsa

    e voz de fada

    mais bom de farra e pescoo (bis)

    51. PEREC. Un Cabinet damateur, p. 25.

    52. BARRENTO citado por LAGE. Walter benjamin, tradutor de Baudelaire.

    53. CALVINO. Seis propostas para o prximo milnio, p. 138.

    54. REZENDE. Anexos: Exerccios de Estilo Possveis, Exerccios Brasileiros,Bibliografia, p. 179.

  • 144

    O eixo e a roda: v. 18, n. 1, 2009

    num espera no (bis)

    nis cai na dana sem tard,

    vai zabumba no bonde a balan,

    reco-reco no coreto, vem ganz

    no sei de onde e eu relano o lundu,

    mas corta o breque do cara-de-pi (bis)

    o vozinha de sissi

    diz que o vizinho,

    bafo de pinga e caracu,

    t afim dusseusp pis

    s pra sacane (bis)

    mais nis tudo sabe a onda

    (boquinha de siri)

    que ele vem e vai na ronda

    bate caixa d o mi

    (refro)

    samba aqui, pega no ganz,

    t chegando a hora,

    o S na avenida vai entr

    e na plataforma

    S samba comea a rol

    Exercising on style with a tupiniquimaccent:Luiz Rezende translator of Raymond Queneau

    Abstract: This article proposes a comparative analysis of the Exercices deStyle de Raymond Queneau and its translation by Luiz Rezende. Consideringthe translator as a reader and cultural mediator, we will focus on thetranslatability of language games and representations, discuss the paratextswhich involves Brazilian version in a poetics of the translation, and observethat this translation demanded creations and recreations, having the translatorfor several times radicalized and expanded the effects of verbal games of theauthor.Keywords: Translation, Verbal Games, Representation, Raymond Queneau,Luiz Rezende.

  • Belo Horizonte, p. 1-212

    145

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